A Queda Do Céu - Seminário
A Queda Do Céu - Seminário
A Queda Do Céu - Seminário
A QUEDA DO CÉU
Palavras de um Xamã Yanomami
São Paulo, Companhia das Letras, 2015.
METODOLOGIA
Escutas posteriormente traduzidas da
língua Yanomami para o francês e
organizadas pelo antropólogo Bruce Albert
DAVI KOPENAWA YANOMAMI
Nascido em c. 1956 em Marakana, extremo norte do Amazonas.
Quase toda sua comunidade de origem foi dizimada por
doenças de brancos missionários. Trabalhou para a FUNAI
como agente indígena e posteriormente como tradutor.
Tornou-se aprendiz do xamã da comunidade Watori nos anos
1980 e teve intensa trajetória política até 1999 numa defesa do
povo yanomami e da demarcação de suas terras. Em 2004
tornou-se presidente fundador da associação Hutukara.
1988 - Prêmio Global 500 da ONU
1989 - Prêmio Right Livelihood da Survival International
1992 - Homologação da Terra Yanomami na RIO-92
1999 - Condecorado com a Ordem de Rio Branco
2008 - Honra ao Mérito Especial Bartolomé de las Casas
2009 - Honra ao mérito pelo MinC
BRUCE ALBERT
Nascido no Marrocos em 1952, doutor em antropologia
pela Université de Paris Nanterre e pesquisador sênior do
IRD Paris. Desenvolve trabalhos com os Yanomamis
20. Na cidade
"São como formigas. Andam para um lado, viram de
repente e continuam para outro. Olham sempre para o
chão e nunca veem o céu."
Davi Kopenawa. Newsweek, 1991.
Sobre os habitantes de NYC
"Pouco antes de viajar, tinha pegado malária e a febre
me queimava novamente. Fiquei encolhido na cama,
num quarto de hotel, no alto de um prédio grande. Eu
tinha conseguido adormecer havia pouco quando, de
repente, tive a sensação de ser tragado por um imenso
vazio. [...] Mas, por fim, os xapiri que me acompanhavam
conseguiram segurar minha imagem. [...] Os espíritos
napënapëri dos antigos brancos quiseram testar minha
força e meu conhecimento" (423 p.)
"Assim eu pude conhecer muitos desses xapiri
estrangeiros de danças magníficas, que se refugiaram
nas alturas depois de os brancos terem passado muito
tempo sem chamá-los" (424 p.)
TOUR EIFFEL
"apesar de ninguém saber, essa casa é em tudo
semelhante à imagem das casas de nossos xapiri,
cercadas por todos os lados de inúmeros
caminhos luminosos. [...] Hou! Esses forasteiros
ignoram a palavra dos espíritos, mas apesar disso,
sem querer, imitaram suas casas!" (424-425 pp.)
OBELISCO DA PLAGE DE LA
CONCORDE
"Não param de repetir que é ruim nos flecharmos
uns aos outros por vingança. E no entanto, seus
próprios antepassados eram belicosos a ponto de
ir até lugares muito remotos só para saquear a
terra a terra de quem não tinha feito nada a eles."
(428 p.)
MUSÉE DE L'HOMME
"As imagens desses antepassados foram capturadas ao mesmo tempo que esses objetos foram roubados
pelos brancos, em suas guerras. Por isso digo que são posse dos espíritos. No entanto, as imagens desses
ancestrais retidas há tanto tempo nessas casas distantes, não podem mais vir até nós para dançar. Não somos
mais capazes de fazer ouvir suas palavras na floresta, pois seus caminhos até nós foram cortados há tempo
demais" (426 p.)
"Mas sobretudo vi lá, em outras caixas de vidro,
cadáveres de crianças com a pele enrugada. Tudo
isso acabou me deixando furioso. Pensei: 'de onde
vem esses mortos? Não seriam antepassados do
primeiro tempo?' [...] 'É preciso queimar esses "No final, os que me escutavam,
corpos! Sues rastros devem desaparecer! É mau constrangidos, tentando me
pedir dinheiro para mostrar tais coisas! Se os acalmar, responderam: 'Não fique
brancos querem mostrar mortos, que moqueiem tão chateado! Tudo isso está
seus pais, mães, melheres ou filhos, para expô-los exposto apenas para todos poderem
aqui, em lugar de nossos ancestrais!" (427 p.) conhecer!'" (428 p.)
SANGUE YANOMAMI
"Afinal, depois de ver todas as coisas
daquele museu, acabei me
perguntando se os brancos já não
teriam começado a adquirir também
tantas de nossas coisas só porque
nós, Yanomami, já estamos
começando também a desaparecer"
(429 p.)
PONTE TRIBOROUGH
"certa noite, foi a imagem de uma moça das
águas, uma irmã de Tuëyoma. [...] Há muito tempo,
essa moça dos rios deixou nossa floresta e se
perdeu muito longe nos confins das águas. É por
isso que sua imagem vive hoje debaixo de uma
grande ponte dessa cidade de Nova York. Vi que
os brancos sabem desenhá-la e me disseram que
lhe dão o nome de sereia" (431-432 pp.)
"chamo-os de Yanomae tsë pë, como
nós, não só porque se parecem
conosco, mas também porque são a
gente que foi criada no primeiro tempo
SIDNEY HILL, ONU - 2009