Apontamentos - REflexões Do POETA
Apontamentos - REflexões Do POETA
Apontamentos - REflexões Do POETA
Estância 92
A justificação reside no esforço denodado que está na base dos feitos praticados.
Os nobres esforçam-se para que a sua memória não fique atrás da dos seus
antepassados.
2. Estância 93
3. Estância 94
Vasco da Gama esforça-se por mostrar que as navegações dos antigos heróis -
Ulisses e Eneias -, tão celebradas no mundo, não merecem tanta glória como a sua, que
é tão extraordinária que "o céu e a terra espanta".
3.2. Refira o motivo por que Virgílio, o autor da Eneida, canta Eneias (além da
grandi-
osidade dos feitos).
4. Estância 95
5. Estância 97
Todos os grandes capitães latinos, gregos ou bárbaros, além dos grandes feitos
que cometeram, eram dados às letras, algo que não sucede com os portugueses, que as
desprezam. Deste modo, não há nenhum capitão português celebrado na poesia, o que
revela o seu desprezo pelas letras e, consequentemente, a sua ignorância.
6. Estância 98
7. Estância 99
8. Estância 100
8.1. Refira o móbil da «acção» das Tágides.
O poeta apela a que ninguém desista de praticar grandes feitos, visto que serão
recompensados de uma maneira ou de outra.
9. Síntese
b) Por outro lado, destaca a importância do registo futuro dos grandes feitos como
meio de
glorificação do povo português e incentivo ao surgimento de novos heróis.
CANTO VI
As reflexões feitas pelo poeta nestas estâncias sugerem o perfil do herói épico,
que se resigna à dureza da vida e enfrenta com convicção, abnegação, espírito de
sacrifício e coragem as dificuldades que se lhe apresentam. O herói é o que
concretiza trabalhos árduos e perigosos na guerra e no mar, em condições
climatéricas e existenciais deploráveis. Só deste modo, conseguindo superar todas as
dificuldades e provações, é possível alcançar um estatuto honroso, destacando-se dos
restantes seres humanos pelo seu carácter grandioso. Por outro, indiretamente, pode
ver-se neste passo da obra a crítica camoniana à elite do seu tempo, “acusando” os
nobres de serem passivos, fracos, privilegiados, insatisfeitos e alienados da
realidade.
CANTO VII
No início deste canto (estâncias 3 a 14), Camões elogia os portugueses, porém, no
final, o seu tom é de crítica. Esta aparente contradição explica-se se tivermos em
conta que os portugueses que o poeta elogia e apresenta como exemplo, são os
heróis do passado, com Vasco da Gama à cabeça. No entanto, os portugueses
criticados são os contemporâneos de Camões, que, aparentemente, esqueceram o
heroísmo e a grandeza dos seus antepassados.
Neste passo da obra, estamos no exato momento em que o Catual visita as naus
portuguesas, sendo recebido por Paulo da Gama, enquanto seu irmão Vasco é
recebido no palácio do Samorim. Ao ver as bandeiras com pinturas alusivas a feitos e
heróis da História de Portugal, o chefe indiano mostra curiosidade em saber o que
cada uma delas representa. Paulo da Gama prepara-se para satisfazer o desejo do
Catual e narrar episódios da História de Portugal, no entanto Camões interrompe a
narração e invoca as ninfas do Tejo e do Mondego para que o auxiliem nessa árdua
tarefa.
Na estância 78, o poeta autocaracteriza-se como «insano e temerário» (dupla
adjetivação), aventureiro e receoso do «caminho tão árduo, longo e vário» (tripla
adjetivação, exclamação e metáfora) por que se vai aventurar, isto é, narrar novos
episódios da História de Portugal, agora pela voz de Paulo da Gama, ao Catual de
Calecute, a pedido deste e a propósito dos símbolos das bandeiras. Assim, o poeta
dirige-se às ninfas do Tejo e do Mondego (apóstrofe do verso 3, estância 78),
solicitando-lhes inspiração para a tarefa. A leitura das restantes estâncias deste
passo de Os Lusíadas sugere que, além do já exposto, o poeta se sente desalentado,
por isso necessita de um reforço de inspiração.
Nos últimos quatro versos desta estância, Camões faz uso de uma imagem para
“justificar” a invocação («Vosso favor invoco» - v. 5) dirigida às ninfas: a sua
empresa / tarefa reveste-se de tal grandiosidade e é de tal monta que, se as ninfas
não o auxiliarem, ele receia não conseguir levá-la a cabo, a de cantar os feitos
gloriosos dos portugueses.
Entre as estâncias 79 e 81, o poeta, numa reflexão de tom marcadamente
autobiográfico (atestado pelo uso da primeira pessoa e pelo conteúdo biográfico),
salienta que tem vindo sempre a cantar os feitos lusos e, em simultâneo, luta pela
sua pátria e elenca as dificuldades, as misérias e os perigos que tem enfrentado /
sofrido / corrido (vide esquema do poema), comparando-se, no final da estância 79,
a Cânace, personagem mitológica que se suicidou e escreveu ao irmão Macareu uma
carta de despedida, com a pena na mão direita e a espada na outra (segundo Ovídio,
baseado em Eurípides, Cânace foi obrigada pelo pai, que lhe enviou uma espada, a
cometer suicídio como punição pelo facto de ter mantido uma relação incestuosa
com o irmão, da qual nasceu uma criança que foi morta pelo avô, que a lançou aos
cães). Essa comparação aponta para o facto de o poeta aliar à sua coragem na guerra
a sua faceta de artista (estância 79, vv. 7-8). A espada simboliza as batalhas em que
o poeta participou, o seu lado guerreiro, enquanto a pena remete para a sua obra
literária, para a arte, para a escrita.
Na estância 81, finalizada a enumeração dos infortúnios que pautaram a sua
vida, introduz um novo a que dá destaque através do articulador «ainda», criando a
sensação de instabilidade: como se já não bastassem os tormentos que teve de
suportar, acresce que. Em vez de os seus patrícios e contemporâneos o premiarem,
pelo contrário, ingratos, «inventam-lhe» novos trabalhos e privações.
Na estância 82, dirige-se novamente às ninfas, apostrofando-as, para criticar,
socorrendo-se da ironia, os «valerosos» senhores de Portugal que, em vez de
acarinharem e glorificarem aqueles que, como ele, através da poesia / arte, cantam
os feitos ilustres dos portugueses, os maltratam, são ingratos. E qual é a
consequência desta postura? A desmotivação das futuras gerações de poetas, que se
sentirão inibidos de cantarem os feitos lusos. Deste modo, Camões procura criticar a
incultura, o desinteresse pela arte e a ingratidão dos portugueses. Dito de outra
forma, os grandes senhores não amam a arte nem incentivam as artes, o que fará
com que os grandes feitos do futuro não sejam cantados e, portanto, deles não fique
memória. Critica ainda a ambição desmedida e o facto de sobreporem os seus
interesses aos do «bem comum e do seu Rei», a dissimulação, o abuso de poder e a
exploração do povo.
4.º momento (estância 87): Intenções do poeta: cantar apenas aqueles que,
arriscando a vida por Deus e pelo seu rei, merecem a imortalidade.
CANTO VIII
Vasco da Gama permanece nas naus e decide não desembarcar, visto que já não
confia no ambicioso Catual, pois já o traíra, era muito ambicioso («cobiçoso»), corrupto
(«corrompido») e «pouco nobre». Por outro lado, Gama espera vir a descobrir a verdade
com o tempo, daí também a sua decisão.
Ora, esta referência ao sucedido a Vasco da Gama é o exemplo que serve de ponto
de partida para a reflexão do poeta, que adverte, a partir do verso 5 da estância 96, para
o efeito corruptor do dinheiro, que tanto sujeita os ricos como os pobres.
Na estância 97, o poeta apresenta três casos através dos quais pretende provar a
sua tese enunciada na estância anterior, isto é, que exemplificam o poder negativo dos
bens materiais – dinheiro e ouro -, que levam à adoção de atitudes inesperadas.
O primeiro exemplo refere-se ao rei da Trácia, que assassinou Polidoro, filho de
Príamo, rei de Troia, com o único fito de lhe roubar o ouro. De facto, para o salvar,
quando a cidade estava prestes a cair em poder dos Gregos, o rei enviou-o com ouro ao
rei da Trácia que, todavia, se apoderou do ouro e o assassinou.
O segundo caso refere-se a Dánae, filha de Acrísio, rei de Argos (Grécia), que foi
encerrada numa torre para que não procriasse e, deste modo, fosse anulada uma profecia
de um oráculo que anunciou a morte do soberano às mãos de um neto. Porém, Júpiter
metamorfoseou-se em chuva de ouro, introduziu-se na torre e engravidou-a. Desse ato
nasceu Perseu, que, concretizando a profecia, assassinou o avô.
O último exemplo alude a Tarpeia, uma jovem romana que, na esperança de obter
anéis de ouro dos Sabinos que sitiavam Roma, lhes abriu as portas da cidade. No
entanto, os inimigos não a pouparam, esmagando-a sob as joias e os escudos, tendo
assim ficado soterrada.
Nas estâncias 98 e 99, o poeta prossegue a enumeração dos efeitos negativos do
dinheiro:
a. corrompe o pobre e o rico (estância 96);
b. leva ao assassínio (exemplo do rei da Trácia);
c. conduz à traição (est. 98, v. 1): os soldados rendem-se quando as suas fortalezas ainda
se encontram abastecidas;
d. conduz à traição e à falsidade entre os amigos;
e. transforma o mais nobre em vilão (est. 98, vv. 3 a 6): a ambição material pode levar
nobres, capitães ou virgens a renderem-se ao seu poder, mesmo tendo consciência de
que a sua honra ficará manchada;
f. corrompe as ciências, os juízes e as consciências, levando-as a agir contra os seus
princípios morais e culturais (est. 98, vv. 7-8);
g. distorce / perverte a interpretação dos textos (est. 99, vv. 1-2);
h. manipula as leis e a justiça, que se aplicam arbitrariamente (est. 99, v. 2);
i. fomenta o perjúrio (est. 99, v. 3);
j. fomenta a tirania nos reis (est. 99, v. 4);
k. corrompe os membros do clero, ainda que sob uma capa de virtude.