Nas Mãos de Deus - Opus Dei
Nas Mãos de Deus - Opus Dei
Nas Mãos de Deus - Opus Dei
mãos de Deus
— Introdução.
— 1. Abraão, nosso pai na fé.
— 2. Vocação e missão de Moisés.
— 3. Davi.
— 4. O profeta Elias.
— 5. Maria, modelo e mestra de fé.
— 6. A fé do centurião.
— 7. São Pedro e o caminho da fé.
— 8. Marta e Maria.
INTRODUÇÃO
J. VERDIÁ
MAIO DE 2017
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1. ABRAÃO, NOSSO PAI NA FÉ
JAVIER YÁNIZ
[1] Gn12, 1-2.
[2] Gn17, 5.
[3] Bíblia de Navarra (tomo I, 1997), comentário a Gn17, 5.
[4] Cfr. Gn18-19.
[5] São Josemaria, Caminho, n. 471.
[6] Catecismo da Igreja Católica, n. 2570.
[7] Catecismo da Igreja Católica, n. 144.
[8] Hb11, 1.
[9] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 145.
[10] Gn22, 2.
[11] Gn22, 12-14.
[12] São Josemaria, Carta 24-XII-1951, n. 3, em A. Vázquez de Prada, O
fundador do Opus Dei, vol. 3, Quadrante, São Paulo 2004, p. 159.
[13]Hb10, 23
[14] Cfr. Rm 4, 18.
[15] Francisco, Audiência geral, 10-IV-2013.
[16] Gn22, 8.
[17] Francisco, Audiência geral, 3-IV-2013.
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2. VOCAÇÃO E MISSÃO DE MOISÉS
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3. DAVI
O rei Davi ocupa um lugar relevante na Sagrada Escritura. À sua vida são
dedicadas mais páginas que a nenhum outro personagem do Antigo Testamento,
exceto Moisés. Ele “é por excelência o rei "segundo o coração de Deus", o
pastor que ora por seu povo e em seu nome, aquele cuja submissão à vontade de
Deus, cujo louvor e arrependimento serão o modelo da oração do povo”[1].
Depois de ter considerado o papel da fé na vida de Moisés e a profunda relação
existente entre a sua confiança em Deus e ao assumir com radicalidade a própria
vocação, o exemplo de Davi pode servir-nos para apreciar, entre outros aspectos,
como a vida de fé traz consigo uma atitude ativa de confiança e abandono nas
mãos de Deus, um empenho por buscar, sem desânimos, a correspondência total
aos desígnios divinos, um esforço por recomeçar a luta espiritual sem
abatimento, uma e outra vez, com novo vigor, depois de uma queda no pecado;
sem confundir tudo isso com um vago sentimento de presunção no próprio valor
pessoal ou de confiança superficial na misericórdia divina.
Nas mãos de Deus
Os livros de Samuel e Primeiro de Reis[2] descrevem com grande realismo a
história de Davi: uma vida cheia de altos e baixos, em que o autor sagrado
enfatiza o fato de que Deus sempre o atende e que o filho de Jessé se coloca
sempre confiantemente nas mãos de Deus, recorrendo a Ele, especialmente nos
momentos de maior perigo. Davi se abandona completamente nas mãos do
Senhor, com “a certeza de que, por mais duras que sejam as provas, difíceis os
problemas e pesado o sofrimento, nunca cairemos das mãos de Deus, essas mãos
que nos criaram, nos sustentam e nos acompanham no caminho da vida, porque
as guia um amor infinito e fiel”[3]. Junto a isto, chama a atenção a maneira em
que em Davi vão se cumprindo os desígnios divinos. É ungido rei pelo profeta
Samuel, porque o Senhor o escolheu, apesar de que no momento histórico da sua
chamada era considerado o de menor valor entre seus irmãos, pois: o olhar de
Deus não é como o do homem.O homem vê a aparência, o Senhor vê o
coração[4]. A unção, certamente, não concedeu por si só o trono a Davi: devia
lutar – pondo sempre a sua confiança em Deus – contra a oposição de Saul e
suportar muitas contradições em todos os lugares antes de ser aclamado e
ungido, primeiro como rei de Judá pela sua tribo e, sete anos mais tarde, como
rei de todo Israel[5], superando a resistência dos partidários de Isbaal, filho de
Saul. Afirma então o texto bíblico que Davi percebeu que o Senhor o
confirmava como rei sobre Israel e exaltava sua realeza, por causa do seu
povo Israel[6].
Se num primeiro momento, portanto, parecia que Davi estava chegando ao
trono e estabelecendo o seu reino por meio da sua valentia e astúcia, na
realidade, em sua história vemos cumprir-se que a atitude do homem de fé é
olhar para a vida, em todas as suas dimensões, sob uma perspectiva nova: a
que Deus nos dá [7]. A Sagrada Escritura nos permite apreciar, além disso, que
Deus conta com as iniciativas e esforços do homem para realizar seus projetos...
O que teria acontecido se Davi, homem de fé, tivesse pensado que para receber o
que Deus havia prometido bastava deixar o tempo passar, ou, simplesmente,
esperar que o povo fosse aclamá-lo?
Há muitos momentos na história de Davi onde podemos contemplar o
exemplo da sua fé ativa, que o move a fazer o que deve e confiar em que Deus
está a seu lado assegurando o seu êxito. Um caso bem conhecido é o seu
combate contra Golias, aquele gigante do exército filisteu de uns três metros de
altura e bem treinado para a guerra. O texto bíblico detém-se em descrever a
corpulência e a armadura do filisteu e como era desproporcional que Davi, até
então um pastor de gado, inexperiente na guerra, cuja única arma era sua funda,
o enfrentasse. Porém, na verdade, o maior contraste estava na atitude que movia
os dois combatentes: a soberba do filisteu, para insultar as fileiras do Deus
vivo[8], choca diante da fé de Davi, que sai para o combate em nome do Senhor
dos exércitos[9] convencido de que o Senhor, que me salvou das garras do
leão e do urso, salvar-me-á também das mãos desse filisteu[10].
É essa fé que também move Davi a preparar-se da melhor forma possível
para o combate: escolhe como arma a funda, cujo poder conhece bem, e
seleciona cuidadosamente as pedras que vai lançar. Os meios são
desproporcionais diante do equipamento do inimigo, porém com eles conseguirá
a vitória. Cumprem-se aqui, cabalmente, essas palavras de São Josemaria: Serve
ao teu Deus com retidão, sê-Lhe fiel... e não te preocupes com mais nada.
Porque é uma grande verdade que, “se procuras o reino de Deus e a sua
justiça, Ele te dará o resto – o material, os meios – por acréscimo”[11]. Por
outro lado, a fé e confiança de Davi no Senhor o levam a explorar toda a sua
habilidade. É uma lição que deixa ao cristão que deve levar adiante as obras que
Deus põe em suas mãos: Aquele que vive sinceramente a fé, sabe que os bens
temporais são meios, e emprega-os com generosidade, de modo heroico[12].
Davi atua colocando todos os meios ao seu alcance e abandona nas mãos de
Deus os resultados da sua ação. A sua fé no Senhor faz com que não perca o
ânimo, inclusive quando as circunstâncias adquirem tons dramáticos: Diferentes
textos das Escrituras, nas suas múltiplas alusões, confirmam-nos que inter
médium montium pertransíbunt aquæ (Sl 103/104, 10). Essa certeza contrapõe-
se até ao menor sinal de desalento, ainda que os obstáculos possam atingir
grandes alturas; e este é o caminho oportuno para que cheguemos ao Céu,
certos de que as águas divinas purificam e também impulsionam todas as nossas
limitações para chegar a estar com Deus [13].
La humildade de saber voltar a Deus
Ao mesmo tempo, a vida de Davi reflete outro aspecto importante desse
saber-se nas mãos de Deus. A narração bíblica expõe com detalhes alguns graves
pecados de Davi dos quais, por sua fé e confiança em Deus, conseguiu purificar-
se alcançando o perdão divino. Nesse sentido, talvez o episódio mais conhecido
foi o seu gravíssimo pecado de adultério com Betsabé seguido do assassinato de
Urias, seu legítimo esposo[14]. Um pecado que é fruto de uma vontade fraca,
que terminou distorcendo e obscurecendo todo um amplo horizonte de graças
divinas recebidas.
O segundo livro de Samuel conta que estando por começar a guerra contra os
Amonitas, Davi enviou seu exército para o combate. Ele, no entanto,
permaneceu em Jerusalém. O texto bíblico descreve gradualmente as
circunstâncias que conduziram à queda mortal de Davi: abandona seu dever de
dirigir o exército, como era então costume habitual entre os reis, preferindo ficar
confortavelmente na cidade; passa o dia ocioso, levantando-se ao entardecer e
passeando tranquilamente pelo terraço; deixa a vista vagar de um modo
indiscreto e imprudente; aceita a tentação; envia mensageiros para informar-se
da possibilidade de atuar de acordo com o seu desejo; e finalmente comete o
gravíssimo pecado de adultério. A tudo isto se seguiu um pecado talvez ainda
maior: planejar meticulosamente a morte do legítimo esposo de Betsabé, Urias o
hitita, um de seus oficiais mais leais, valente e generoso, enumerado entre o
grupo dos grandes heróis do reino davídico em 2 Sam 23, 39.
O relato mostra, paradigmaticamente, a impressionante capacidade do
coração humano de fazer o mal, apesar das boas disposições previamente
existentes e da abundância de dons divinos recebidos. Davi age de uma forma
sem precedentes se consideramos a fé que havia mostrado no passado; porém
deixou que a inveja e a sensualidade corrompessem a sua vontade. O
ensinamento que o texto sagrado oferece é evidente: quando a busca do bem e do
progresso na amizade com Deus é negligenciada, a vontade tende a distorcer-se
até obscurecer totalmente a inteligência, levando o homem a cometer os crimes
mais dolosos. Todos os cristãos podem cair neste perigo; por isso São Josemaria
deixou escrito: Não te assustes nem desanimes ao descobrir que tens erros..., e
que erros! Luta por arrancá-los. E, desde que lutes, convence-te de que é bom
que sintas todas essas fraquezas, porque, de outro modo, serias um soberbo: e
a soberba afasta de Deus. [15].
O profeta Natã será o meio usado por Deus para tirar o rei da sua triste
situação. Natã utilizará uma parábola de inusitada beleza, uma das primeiras que
encontramos na Bíblia, apresentando-a como um fato real. O profeta expõe o
caso de um homem rico que tinha ovelhas e bois em abundância, mas que, para
acolher um hóspede, não querendo fazer uso de seus bens, tira de um homem
pobre da cidade o único que tinha e amava, uma ovelhinha que era para ele como
uma filha[16]. Diante da indignação de Davi, Natã mostrará ao rei que ele era
esse homem rico, que havia abusado da confiança de Urias e o havia despojado
do seu maior bem. Davi não pode deixar de reconhecer o seu grave pecado e a
enorme injustiça que tinha cometido: Pequei contra o Senhor[17]. Deve-se
acrescentar algo particularmente notável na recriminação de Natã: a nobre
delicadeza, que não desfoca a claridade com que o profeta fez o rei compreender
o mal gravíssimo que tinha cometido, levando-o assim a uma verdadeira e
sentida compunção.
Com as suas palavras, Natã consegue despertar a consciência e a fé de Davi,
e o anima a buscar o perdão divino, que lhe é dado ao confessar o seu pecado
diante do Senhor. Foi o início de uma nova vida, que levou o rei a aproximar-se
ainda mais do Deus de Israel. Temos de um exemplo vivo de como no caminho
para a santidade, é importante lutar para não cair, mais é ainda mais importante
não ficar caído no chão[18]. Segundo uma antiga tradição, a dor manifestada por
Davi diante da consciência do seu pecado ficou registrada no Salmo 50,
conhecido como o salmo Miserere. Nesta oração, por um lado o salmista
reconhece com verdadeira dor o mal cometido, confessa o seu pecado, que
significa uma ofensa a Deus e se dirige a Ele pedindo-lhe que pela sua bondade e
misericórdia o purifique[19]; por outro lado, mostra a sua confiança plena na
misericórdia divina, pois reconhece que a graça de Deus é mais forte do que a
sua miséria[20], e faz um propósito firme e decidido: se compromete, como
manifestação do seu arrependimento sincero, a mudar de vida e a mostrar aos
homens os caminhos de Deus para que se convertam[21].
O Salmo reflete bem qual devia ser a disposição interior de Davi quando
percebeu claramente a magnitude do seu pecado. Não pensou que estivesse
perdido, não deixou que a sua queda o mantivesse afastado de Deus, mas o levou
a buscar a misericórdia divina, sabendo que era muito maior do que o seu
pecado, por mais terrível que fosse. Um exemplo que a Escritura oferece para as
nossas vidas, para a nossa mesquinhez e debilidade, que a soberba se empenha
em tornar grande.Neste torneio de amor, não nos devem entristecer as nossas
quedas, nem mesmo as quedas graves, se recorremos a Deus com dor e bom
propósito, mediante o sacramento da Penitência. O cristão não é nenhum
colecionador maníaco de uma folha de serviços imaculada[22]. Tantas vezes
somos nós mesmos, por assim dizer, que não estamos dispostos a nos perdoar,
porque gostaríamos de não falhar, ser perfeitos, irrepreensíveis.
O Senhor nos ama do jeito que somos. “Ele sempre nos espera, ama-nos,
perdoou-nos com o seu sangue e perdoa-nos cada vez que nos dirigimos a Ele
para pedir o perdão”[23]. Ele é nosso Pai, que nos conhece melhor do que nós
mesmos e responde à nossa debilidade com a sua infinita paciência; de fato, o
caminho para a santidade “é uma espécie de diálogo entre a nossa fraqueza e a
paciência de Deus – um diálogo, que, se entrarmos nele, nos dá esperança”[24].
Deus não quer que condescendamos com as nossas faltas: deseja e nos ajuda
para que caminhemos pelos caminhos da vida interior com elegância, com
soltura, sem termos medo de cair porque sabemos que estamos nas suas mãos,
prontas a nos perdoar e a nos abençoar; porque sabemos que, se cairmos, com a
sua graça que nunca nos faltará podemos voltar a nos levantarmos e a caminhar
melhor que antes. Por isso, “a paciência de Deus deve encontrar em nós a
coragem de regressar a Ele, qualquer que seja o erro, qualquer que seja o pecado
na nossa vida”[25].
De tudo isso nos dá exemplo Davi, que sabe oferecer ao Senhor o que Ele
mais deseja: um coração contrito[26], amante, completamente dirigido a Ele,
com a confiança posta nele. Todos podemos nos dirigir a esse rei bíblico que,
com todas as suas debilidades, soube ser “um orante apaixonado, um homem que
sabia o que quer dizer suplicar e louvar”[27].
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4. O PROFETA ELIAS
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7. SÃO PEDRO E O CAMINHO DA FÉ
JAVIER YÁNIZ
[1] Cfr. Mt 6, 30; 8, 26; 16, 8; 17, 20; Lc 12, 28.
[2] Bento XVI, Motu próprio Porta fidei, 11-X-2011, n. 6.
[3] Mt 14, 22-23.
[4] Mt 14, 24.
[5] São João Crisóstomo, In Matthaeum homiliae, 50, 1.
[6] Mt 14, 25.
[7] Cromácio de Aquileia, In Matthaei Evangelium tractatus, 52, 2.
[8] Mt 14, 26
[9] Mt 24, 27.
[10] Mt 14, 28
[11] Mt 14, 29.
[12] Cfr. Mt 14, 30.
[13] Mt 14, 30
[14] São Josemaria, Sulco, n. 462.
[15] Mt 14, 30.
[16] Cfr. Mt 14, 31-32.
[17] Francisco, Homilia, 2-VII-2013.
[18] Francisco, Homilia, 2-VII-2013.
[19] São Josemaria, Vía Sacra, V estação.
[20] Sal 144 [143], 7.
[21] São Josemaria, Forja, n. 356.
[22] Mt 8, 27.
[23] Mt 16, 16.
[24] Francisco, Ângelus, 29-VI-2013.
[25] Cfr. Mt 16, 22.
[26] Cfr. Mt 19, 27.
[27] Cfr. Mt 26, 33-35.
[28] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29-VI-2013, n. 13.
[29] Bento XVI, Audiência geral, 24-V-2006.
[30] Jo 21, 15.
[31] Bento XVI, Audiência geral, 24-V-2006.
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8. MARTA E MARIA
JUAN CHAPA
[1] Cfr. Lc 8, 40.
[2] Lc 10, 38.
[3] Cfr. Catecismo da Igreja Católica, n. 26.
[4] Catecismo da Igreja Católica, n. 163.
[5] Gal 5, 6.
[6] Bento XVI, Carta enc. Deus Caritas est, 25/12/2005, n. 1.
[7] Francisco, Carta enc. Lumen fidei, 29/06/2013, n. 13.
[8] Lc 10, 40.
[9] Tg 2, 17-18.
[10] Cfr. Conc. de Trento, Decreto sobre a justificação, cap. 10.
[11] Catecismo da Igreja Católica, n. 1815, referindo-se ao Concilio de
Trento.
[12] Santo Agostinho, Enarrationes in Psalmos 32, 2, 9.
[13] Cfr. São Josemaria, Caminho, n. 317; Sulco, n. 111; Forja, n. 155;
Amigos de Deus, n. 198, etc.
[14] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 222.
[15] Lc 10, 41-42.
[16] Lc 12, 30-31.
[17] Lc 10, 39
[18] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 222.
[19] Bento XVI, Discurso à Cúria Romana, 22/12/2005.
[20] São Josemaria, Anotações tomadas numa tertúlia, 4/06/1970, em J.
Echevarría, Carta pastoral, 6/10/2004.
[21] Cfr. Caminho, nn. 269 e 322.
[22] Lc 8, 21
[23] Catecismo da Igreja Católica, n. 162.
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