Fundamentos Da Educação IV PDF
Fundamentos Da Educação IV PDF
Fundamentos Da Educação IV PDF
Fundamentos da Educação 4
Fundamentos da Educação 4
Volume 1 - Módulos 1 e 2 Módulo 1 - Cultura e cotidiano escolar.
A sala de aula. Ética e educação.
Apoio:
Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
Rua Visconde de Niterói, 1364 – Mangueira – Rio de Janeiro, RJ – CEP 20943-001
Tel.: (21) 2334-1569 Fax: (21) 2568-0725
Presidente
Masako Oya Masuda
Vice-presidente
Mirian Crapez
Material Didático
ELABORAÇÃO DE CONTEÚDO Departamento de Produção
Cláudio de Carvalho Silveira
Marcia Souto Maior Mourão Sá EDITORA PROGRAMAÇÃO VISUAL
Maria Helena Figueiredo Medina Tereza Queiroz André Freitas de Oliveira
Miguel Angel de Barrenechea COORDENAÇÃO EDITORIAL Sanny Reis
Sandra Albernaz de Medeiros Jane Castellani ILUSTRAÇÃO
Sueli Barbosa Thomaz REVISÃO TIPOGRÁFICA Sami Souza
COORDENAÇÃO DE DESENVOLVIMENTO Luciana Nogueira Duarte CAPA
INSTRUCIONAL Patrícia Paula Sami Souza
Cristine Costa Barreto
COORDENAÇÃO DE PRODUÇÃO GRÁFICA
DESENVOLVIMENTO INSTRUCIONAL PRODUÇÃO Fábio Rapello Alencar
E REVISÃO Jorge Moura
Ana Tereza de Andrade
Luciana Messeder
Marcia Pinheiro
Copyright © 2005, Fundação Cecierj / Consórcio Cederj
COORDENAÇÃO DE LINGUAGEM Nenhuma parte deste material poderá ser reproduzida, transmitida e gravada, por qualquer meio
Maria Angélica Alves eletrônico, mecânico, por fotocópia e outros, sem a prévia autorização, por escrito, da Fundação.
S587f
Silveira, Cláudio de Carvalho.
Fundamentos da educação 4. v. 1/ Cláudio de Carvalho
Silveira et al. – Rio de Janeiro: Fundação CECIERJ, 2009.
256p.; 19 x 26,5 cm.
ISBN: 85-7648-263-0
Governador
Sérgio Cabral Filho
Universidades Consorciadas
UENF - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO UFRJ - UNIVERSIDADE FEDERAL DO
NORTE FLUMINENSE DARCY RIBEIRO RIO DE JANEIRO
Reitor: Almy Junior Cordeiro de Carvalho Reitor: Aloísio Teixeira
AULA
Definição de cultura
Meta da aula
Introduzir o conceito de cultura.
objetivos
INTRODUÇÃO Imagine que, ao viajarmos em nosso trem, vemos pessoas por todos os lados. Elas
estão conversando, lendo, comendo, recebendo quem chega e despedindo-se de
quem vai. Carregam consigo objetos como: revistas, livros, malas, bolsas, roupas,
telefones e aparelhos de som portáteis. Caso perguntemos a ocupação delas,
poderão responder que são médicos, engenheiros, advogados, artistas, alfaiates,
professores, comerciantes, operários etc. Algumas são da Região Sudeste, outras
terão vindo do Norte, Nordeste, Sul ou Centro-Oeste, com sotaques e hábitos
característicos de sua terra. Poderemos encontrar até mesmo estrangeiros que
não falam português e que têm costumes bastante diferentes dos brasileiros.
Alguns passageiros poderão sentar ao nosso lado nessa viagem e puxar conversa
sobre futebol, música, telenovela, filme, teatro, política e outros tantos assuntos
do nosso conhecimento – ou não. Ao longo do trajeto, poderemos encontrar
estações construídas com estilos arquitetônicos diferentes. Do mesmo modo,
poderemos conhecer gente de todo tipo, que nos causa simpatia ou repulsa.
Em tudo isso, você pode perceber ao menos uma coisa: as pessoas possuem
modos distintos de ser, pensar e agir, que variam de acordo com o lugar
(geográfico e social) em que vivem. Entretanto, como explicamos, por que há
tantas maneiras de viver? É isso que pretendemos abordar aqui ao tratarmos
do significado de cultura.
O QUE É CULTURA?
8 CEDERJ
MÓDULO 1
representam a felicidade e a liberdade; preocupam-se com o sentido da
1
vida e da morte, organizam o tempo, criam a família, estabelecem práticas
AULA
como economia e política, adquirem conhecimentos como a arte, a filosofia,
a ciência e a religião. Os homens também elaboram métodos e técnicas de
construção de equipamentos e máquinas para atender às suas necessidades
do cotidiano (como o nosso próprio trem!), assim como estipulam as
regras e leis que controlam o convívio coletivo nas várias dimensões da sua
vida. Ao longo do tempo, tudo isso é transmitido às demais gerações que
vão nascendo. Estes, por sua vez, mantêm algumas coisas que lhe foram
ensinadas, criando e modificando outras (ALVES, 1982).
Todo esse conjunto complexo e diferenciado que os homens
elaboram é o que constitui a CULTURA. Ela, então, é produzida pelos C U LT U R A
homens que vivem em sociedade. Daí, não haver sentido algum dizer Não se pode
reduzir o conceito
que tal ou qual indivíduo não tem cultura. Isso seria o mesmo que de cultura ao de
folclore. Ele é
dizer que ele não é humano no sentido pleno da palavra, porque a sua
apenas um dos
vida seria impossível de ser vivida, a não ser no convívio com outros vários aspectos
da cultura de uma
seres de sua espécie. Como você sabe, o isolamento total e absoluto de sociedade.
um indivíduo, desde seu nascimento, impede o desenvolvimento de suas
capacidades perceptivas e intelectivas, que somente são possíveis de existir
na interação com os outros. É essa interação a base da vida coletiva, em
que ele aprende a pensar e a agir, passando a ter noção de si mesmo, dos
outros e do mundo que o cerca. É através da linguagem que os homens
se relacionam mutuamente, criam e desenvolvem os diversos significados
para aquilo que pensam e fazem ao longo da vida.
Por essa razão, podemos dizer que os homens constroem a realidade
em que vivem, para dar sentido a si mesmos e ao mundo (BERGER;
LUCKMAN, 1978). Retomando o que foi dito, podemos dizer que a CONJUNTO DE
cultura é “um todo complexo que inclui conhecimentos, crença, arte, T E I A S VA R I A D A S
moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos A variedade cultural
entre os povos
como membro da sociedade” (LARAIA, 1993 p. 25). Aliás, Geertz (1989) representa a relativiza-
ção de hábitos e
já disse que a cultura é um CONJUNTO DE TEIAS VARIADAS que os próprios costumes que muitos
homens teceram para dar significado a si mesmo. acham naturais.
Segundo Geertz, os
balineses limam os
dentes caninos, não
gostam de comer em
público nem estimulam
suas crianças a
engatinhar para não
parecerem animais.
CEDERJ 9
Fundamentos da Educação 4 | Definição de cultura
CULTURA E SOCIALIZAÇÃO
10 CEDERJ
MÓDULO 1
interna de cada sociedade é diversificada, maiores as possibilidades de
1
um indivíduo pertencer a vários grupos e às suas culturas específicas
AULA
(conhecidas pelo nome de subculturas). Por exemplo, alguém que nasce
na sociedade brasileira aprende a ser brasileiro. Porém, há brasileiros
que são católicos, protestantes, muçulmanos, ateus, budistas, policiais,
escritores, atletas amadores e profissionais de várias outras modalidades,
artistas, políticos etc.
Os sociólogos caracterizam o nível geral como de socialização
primária, pois ele é responsável pelo ensinamento dos aspectos
fundamentais da cultura de uma sociedade. O nível específico,
relacionado a cada grupo social, é chamado socialização secundária,
porque é o aprendizado da expressão própria de cada ambiente particular
estabelecido no interior de uma sociedade. Quanto mais complexa a
sociedade é, mais padrões, normas, saberes, funções e valores existem.
Assim, a socialização secundária é uma realidade sempre presente na
vida dos indivíduos. Eles poderão sempre aprender, e tanto mais quanto
sejam introduzidos nos muitos espaços sociais existentes.
Qual é o lugar da escola? A escola é um lugar responsável pelos
dois níveis de socialização. A cultura que ela transmite e ajuda a criar
é a reprodução do conjunto geral e específico de cada sociedade. Seus
conteúdos se destinam a formar indivíduos que cumprirão as variadas
funções, tarefas, carreiras, trajetórias, identidades e estilos de vida
possíveis na coletividade. Isso explica por que a estrutura curricular do
sistema de ensino ou estabelecimento escolar pode ser entendida como
uma produção da realidade social na qual a educação está inserida.
Ao mesmo tempo que existe o aprendizado da nacionalidade, da
história, das crenças de um
país, há a aquisição dos diversos
entendimentos e procedimentos
necessários ao funcionamento
das instituições sociais.
C E D E R J 11
Fundamentos da Educação 4 | Definição de cultura
ATIVIDADE 1
A
E
Explique a seguinte afirmação em função do significado do conceito de
ccultura:
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_______________________________________________________________
_______________________________________________________________
12 CEDERJ
MÓDULO 1
os motivos alegados para afirmar a superioridade dos colonizadores
europeus sobre os indígenas e negros há séculos, e isso repercute no tipo
1
de tratamento preconceituoso que todo o chamado Primeiro Mundo
AULA
mantém até hoje em relação ao Terceiro e Quarto Mundos.
É sabido que o etnocentrismo representa um fenômeno que
ocorreu e existe ainda em todas as sociedades, explicando muitos de
seus problemas. A constatação desse fato não significa a aceitação de sua
existência. Incentivar um comportamento etnocêntrico é fazer crescer
a discriminação e a exclusão. Por outro lado, uma sociedade razoável
e efetivamente democrática precisa aprender a conviver com as suas
diferenças internas, fazendo valer a diversidade cultural em suas infinitas
combinações. Assim, é necessário manter um certo nível de tolerância e
igualitarismo para dar vazão à multiplicidade de maneiras dos variados
grupos que a constituem. Esse aspecto é essencial para a formação
profissional dos educadores, por causa das funções que a escola e as outras
organizações sociais possuem na produção / reprodução da cultura.
Enfim, o cotidiano escolar está cheio de manifestações de indivíduos
originários da pluralidade de grupos sociais e suas subculturas. Ao levar
isso em conta, poderemos pensar em melhores formas de relacionamento
e integração dos saberes e práticas que circulam no seu interior, dentro de
P E R S P E C T I VA
uma PESRPECTIVA MULTICULTURAL (MC LAREN, 1997). O campo dos estudos M U LT I C U LT U R A L
culturais é muito amplo e rico para analisarmos o pensar e o fazer no Os Parâmetros
Curriculares
âmbito educacional. Nossa viagem de trem é uma maneira de explorarmos
Nacionais (PCN)
vários momentos dessa realidade. Assim, estamos dando apenas estabelecem
as diretrizes
algumas voltas em determinados percursos para aprender relacionadas com a
um pouco mais sobre quem somos, quem são os diversidade cultural
DIVER da sociedade
S ID A D
E outros, o que fazemos e onde podemos brasileira que o
CULTU sistema de ensino
RAL seguir como artífices e produtos das
deve levar em conta
diversas formas de vida em nas disciplinas
que adota.
nossa sociedade.
C E D E R J 13
Fundamentos da Educação 4 | Definição de cultura
RESUMO
ATIVIDADES FINAIS
Moro num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza.
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MÓDULO 1
2. Comente os principais aspectos da cultura que estão presentes na educação escolar,
1
através da criação formal e informal de hábitos e valores em seu interior.
AULA
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PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
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2
AULA
Tipos de cultura
Meta da aula
Apresentar os tipos de cultura.
objetivos
Pré-requisito
Para melhor compreensão desta aula, você deve
rever a Aula 1 – Definição de cultura.
Fundamentos da Educação 4 | Tipos de cultura
INTRODUÇÃO Você viu na aula anterior que o entendimento de cultura é algo complexo, por
causa da abrangência do tema. As sociedades atuais possuem grande variedade
cultural interna, tornando a qualificação de seus tipos um trabalho enorme para
qualquer analista. Uma das maneiras de fazer essa qualificação é relacionar esses
tipos aos níveis de sua produção. Assim, temos, por exemplo, a cultura erudita,
a popular e a de massa. Essa classificação obedece aos níveis hierárquicos que
estão relacionados geralmente à estrutura de classes sociais. Entretanto, levar
a cabo essa tarefa não é tão simples por causa do fenômeno de produção
e difusão dos bens culturais, realizados através dos meios de comunicação:
é muito fácil associar a ópera à vida da elite e o forró à vida dos pobres sertanejos
do Nordeste. Mas, se falarmos nas festas juninas, veremos que existe grande
participação de pessoas que pertencem às duas classes. Isso também ocorre
no futebol, que alcança todos os níveis sociais: os mais ricos, os mais pobres
e os membros da classe média. Todos se incomodam com uma derrota ou se
alegram com uma vitória da seleção brasileira, independentemente da condição
econômica. Com o desenvolvimento dos meios de comunicação, essa mistura
tem se mostrado cada vez maior, através das facilidades de acesso e utilização
massificada dos produtos musicais, literários, cinematográficos, televisivos etc.
É bom lembrar que nosso trem possui vagões que transportam pessoas de
C U LT U R A E R U D I TA hábitos e níveis culturais diferentes. Veremos então o que isso significa.
A influência européia
no Brasil, sobretudo
de origem francesa, A CULTURA ERUDITA
espanhola, inglesa e
italiana, marcou as
bases da cultura erudita A CULTURA ERUDITA fica em um vagão equipado com som ambiente
entre nós, a partir da
de peças musicais clássicas, além de paredes decoradas com quadros de
evangeliza-ção da Igreja
Católica e da vinda da pintores famosos mundialmente. Ela constitui a produção do ambiente
família real, com D. João
VI. Ele trouxe artistas, e sua manifestação relacionadas aos mais ricos, poderosos e educados
intelectuais e fundou
instituições como a atual
da sociedade. Nesse caso, temos os principais escritores, pintores,
Biblioteca Nacional e o músicos, poetas, escultores etc., que se tornaram clássicos, por terem
Jardim Botânico.
sido considerados os mais importantes e influentes em sua época.
18 CEDERJ
MÓDULO 1
Assim, eles passaram a ser referências básicas dessas manifestações em
2
muitas sociedades. Por exemplo, temos pintores como Michelângelo ou
AULA
escritores como Shakespeare, reconhecidos como clássicos em todo o
mundo. Eles são como os pilares da produção artística em seus próprios
países de origem e nos demais; também é esse o caso de compositores
como Bach e Beethoven. Como exemplos de artistas brasileiros, temos
o compositor Carlos Gomes e o poeta Castro Alves
fazendo parte desse grupo. As obras destes artistas
encontram-se nas principais salas de concerto, galerias
de arte, bibliotecas etc., onde o acesso e a utilização são
restritos à camada social superior, com hábitos, gostos
e estilos considerados nobres e refinados.
Em diferentes épocas, a vida cultural brasileira
esteve associada aos ciclos econômicos da cana-de-
açúcar, da mineração, do café, da borracha, do fumo e
da industrialização. Os principais artistas e intelectuais
produziram suas obras para o consumo da elite,
considerada a “nata” da sociedade por ser proprietária
das riquezas econômicas em cada um desses ciclos. Desde
então até hoje, essa elite tem contato privilegiado com o
que de melhor tem sido produzido nas mais importantes
capitais do mundo, como Paris, Roma, Londres, Nova
Iorque, Tóquio, Madri etc. Assim, mesmo para a
realidade de um país pobre como o nosso, os 5% da
camada superior da sociedade, influenciada pela cultura
estrangeira, procura acompanhar de perto aquilo que
Figura 2.1: A cultura erudita.
é praticado e valorizado nos teatros, museus, salas de
música e centros culturais dos países desenvolvidos.
C U LT U R A
A CULTURA POPULAR POPULAR
A cultura popular
A chamada CULTURA POPULAR é aquela produzida e consumida pela brasileira é muito
parcela considerada inferior da população, que se compõe de cerca de identificada com o que
se chama manifesta-
70% dos habitantes do nosso país. Seus hábitos e costumes, valores, ções folclóricas
adicionais, estabelecidas
gostos e estilos são tidos como pouco refinados. Nesse caso, os vagões ao longo da história
do nosso trem entoam a música de várias regiões do país, identificada e dinamizadas pela
variada criação regional,
com as características específicas de ritmos e rituais conhecidos pelo tanto no campo quanto
nas cidades.
povo, como o samba, a moda de viola, o forró, o bumba-meu-boi,
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Fundamentos da Educação 4 | Tipos de cultura
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MÓDULO 1
ATIVIDADE 1
A
2
O Carnaval e o futebol são traços culturais emblemáticos de nossa
AULA
ssociedade. Além desses, que outras formas de produção cultural são
identificadoras da nossa realidade e podem ser discriminadas?
id
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A CULTURA DE MASSA
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Fundamentos da Educação 4 | Tipos de cultura
A CIRCULARIDADE DA CULTURA
22 CEDERJ
MÓDULO 1
origem africana e popular e o segundo, de origem bretã e erudita. Ambos
2
estão presentes na vida de todas as classes sociais brasileiras, a partir
AULA
do desenvolvimento do rádio no Brasil nas primeiras décadas do século
passado. O samba foi difundido do Rio de Janeiro para outras regiões,
IDENTIDADE
transformando-se em símbolo da IDENTIDADE BRASILEIRA, desde a época em BRASILEIRA
que Donga lançou Pelo Telefone, primeiro samba gravado em disco Sobre a nossa
identidade brasileira
em nosso país. Não é apenas no Carnaval que o samba está presente. expressa na
MPB temos, por
Ele faz parte das raízes da Música Popular Brasileira (MPB), expressa
exemplo,Caetano
em diversas produções artísticas. O próprio termo “Popular” da MPB Veloso que já cantava:
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Fundamentos da Educação 4 | Tipos de cultura
RESUMO
ATIVIDADE FINAL
Faça um relato sobre uma escola de sua comunidade e tente perceber quantas
diferenças culturais estão presentes nela, segundo o modo de viver dos indivíduos
e grupos, nos segmentos docente, discente e familiar.
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24 CEDERJ
MÓDULO 1
PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
2
AULA
Se você compreendeu a diferenciação feita entre os tipos de cultura e percebeu
também que existe uma relação complexa entre elas, por causa da circularidade
cultural, então está preparado para a próxima aula. Não deixe de fazer as
atividades, pois elas são fundamentais para que você compreenda esta aula.
Se você ficou com alguma dúvida, releia a aula com atenção e tente refazer as
atividades e, se necessário, peça ajuda ao seu tutor.
C E D E R J 25
3
AULA
Cultura patente e cultura latente
Meta da aula
Apresentar as características da cultura patente
e latente na vida escolar.
objetivos
INTRODUÇÃO No curso da nossa viagem, percebemos que pessoas e paisagens vêm e vão.
Em alguns momentos, peças e utensílios da composição precisam ser trocados;
algumas normas e padrões da ferrovia e hábitos dos passageiros são modificados,
outros permanecem em nome da tradição ou transformam-se em nome da
modernidade, tudo em nome do bom funcionamento dos equipamentos ou do
conforto e preservação da maneira pela qual as instituições e indivíduos vivem.
Tal fato nos remete a pensar que a cultura da sociedade possui elementos
e padrões que permanecem há muito tempo enquanto tais, e outros que
existem de maneira ainda incipiente, sendo desenvolvidos com o passar
do tempo. Por essa razão, é importante pensar a historicidade das normas
culturais. Os elementos culturais que existem foram construídos pela dinâmica
da transformação social, ao passo que ela mesma cria outras formas de pensar
e agir das instituições e indivíduos. Tanto as idéias quanto as finalidades dos
padrões e artefatos culturais são estabelecidos de maneira transitória, como
um processo de criação e recriação constante.
Tais padrões e artefatos são, ao mesmo tempo, constituídos (isto é, estabelecidos
como tais; instituídos na realidade) e constituintes (ou seja, não existem ainda
plenamente, mas podem ser efetivados; instituintes, pois estão por fazer-se)
(CASTORIADIS, 1986). Este sentido apontado aqui será usado respectivamente
para dar significado à cultura patente e à cultura latente, a fim de abordar as
formas de vida escolar. No âmbito da vida social, os padrões sociais definem
aqueles indivíduos e grupos que são considerados normais ou desviantes,
segundo a lógica de cada grupo social/sociedade. Mas, como a cultura
é dinâmica e razoavelmente diferenciada, alguém pode ser considerado
“louco” ou “subversivo” num determinado momento e conservador noutro
(VELHO, 1984). Isso ocorre também no caso dos padrões de pensamento e
comportamento encontrados na escola, em relação aos seus membros docentes,
discentes e funcionários.
Lembramos que os padrões culturais são relativos, tanto ao ambiente coletivo,
quanto à história de cada sociedade. Assim, podemos aprender a “relativizar”
nossa própria maneira de perceber as coisas que nos cercam. Portanto,
28 CEDERJ
MÓDULO 1
devemos pensar em que medida a pedagogia adotada por nós representa
3
o conservadorismo ético-político, reprodutor das desigualdades e dos efeitos
AULA
perversos do sistema, sendo apenas uma “técnica de adestramento” dos
indivíduos, tornando-os sujeitos adequados aos interesses do sistema social
(SAHLINS, 2003), (DA MATTA, 1987).
CULTURA PATENTE
C E D E R J 29
Fundamentos da Educação 4 | Cultura patente e cultura latente
30 CEDERJ
MÓDULO 1
habitante das trevas: costumamos usar o termo “alunos” ao invés
3
de “estudantes”. Há nisso uma diferença etimológica e pedagógica
AULA
importante, pois, “aluno” significa o indivíduo sem a luz do conhecimento,
enquanto “estudante” quer dizer aquele que tem um brilho nos olhos,
por causa do fascínio pelo saber e a motivação em aprender.
ATIVIDADE 1
A
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___
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___
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CULTURA LATENTE
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Fundamentos da Educação 4 | Cultura patente e cultura latente
32 CEDERJ
MÓDULO 1
políticos e grupos, não levando em consideração o seu aspecto de serviço
3
público tão necessário à integração econômica, política e cultural dos
AULA
indivíduos na sociedade?
O refazer das relações e das práticas escolares ainda pode ser
modificado, no caso de algumas modalidades culturais, cujas relações
cotidianas repousam no espaço escolar. Conforme dito anteriormente,
preocupamo-nos muito com aspectos estéticos, como roupas e
cabelos dos outros, se estão de acordo com os padrões vigentes de
consumo, estabelecidos pela sociedade. Entretanto, não percebemos
de maneira suficiente que isso é parte da diversidade cultural, a partir
das manifestações étnicas, regionais, comunitárias, religiosas e artísticas,
que fazem parte de todos os segmentos representados na vida escolar.
Aí podemos ter a oportunidade de deixar de ser racistas, machistas,
etnocêntricos, dogmáticos, moralistas etc. a fim de instituirmos a
convivência com a diversidade em suas infinitas combinações, em todos
os momentos e espaços sociais, inclusive nas relações cotidianas do
ambiente escolar.
Sobre a produção e a reprodução do conhecimento escolar, podemos
admitir que as práticas de avaliação podem ser menos comprometidas com
a “objetividade” de uma nota e o somatório de pontos para se concluir
um curso ou uma série. Na avaliação, podemos considerar os aspectos
informais e de construção do conhecimento, ao invés do utilitarismo e
do imediatismo do conteúdo programático materializado no currículo.
Ela pode desenvolver a capacidade dos estudantes e motivá-los a “aprender
a aprender”. Em outros termos, essas práticas levam à institucionalização
de uma nova forma de ensinar, na qual a autoridade docente não é
confundida com autoritarismo, e tampouco a liberdade e a criatividade
discente confundem-se com individualismo. Portanto, a criação de um
espaço pedagógico com base na cooperação e no diálogo, é fundamental
para estabelecer um novo ser nas relações cotidianas e de maior duração
no ambiente escolar.
Outro aspecto importante para a relação ensino-aprendizagem
escolar é a utilização dos meios de comunicação. Eles podem ser capazes
de reinventar a dinâmica desse processo, pois estabelecem outro tipo de
lógica para a informação e o conhecimento produzidos através deles.
Este aspecto é importante para repensar até mesmo a disposição espacial
da escola e das salas de aula tipicamente construídas, segundo a tradição da
cultura oral e escrita, oriundas da era pré-informática e computacional.
C E D E R J 33
Fundamentos da Educação 4 | Cultura patente e cultura latente
34 CEDERJ
MÓDULO 1
3
RESUMO
AULA
A cultura da sociedade é um processo em construção de padrões que possuem
formas estabelecidas e outras que estão por fazer-se. A realidade é construída
e reconstruída com significações e objetivos distintos. Por isso mesmo, é bom
pensarmos que a escola que conhecemos e vivenciamos tem um determinado
ordenamento, mas pode comportar outros, sem que, necessariamente, tudo seja
posto de lado. Isto vale para as práticas de ensino-aprendizagem e o material
que é utilizado como ferramenta desse processo, assim como para indumentária
e a estética, que são configuradas segundo alguma concepção pedagógica. Vale
também para a dimensão simbólica, ou seja, para a representação daquilo que
fazemos dentro da escola: a valorização de certas idéias e atitudes responsáveis
pela aceitação e pela rejeição de seus membros.
ATIVIDADE FINAL
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Fundamentos da Educação 4 | Cultura patente e cultura latente
PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
36 CEDERJ
4
AULA
Organização escolar
Meta da aula
Descrever a escola como uma organização
relacionada à cultura da sociedade.
objetivos
Pré-requisito
Para um melhor entendimento desta aula, você deverá
rever a Aula 3 – Cultura patente e cultura latente.
Fundamentos da Educação 4 | Organização escolar
INTRODUÇÃO O trem há de sempre trafegar pelos trilhos, caso contrário, tudo vira caos.
Um acidente de percurso é algo sempre problemático para seus manobristas,
administradores, passageiros e também para aqueles que se encontram na
estação à espera de alguém ou da entrega de alguma encomenda.
Dizemos com freqüência que vamos para a escola ensinar e aprender
cultura. Mas nem sempre percebemos que a própria escola é fruto da cultura
produzida pela sociedade. Aqui é importante assinalar não somente o saber
institucionalizado em áreas de conhecimento/ disciplinas, mas também levar em
conta o modo de pensar e agir no ambiente escolar, tão internalizado e pouco
problematizado por nós. Nesse caso, nem sempre consideramos devidamente
a construção de novos trilhos e seus percursos por onde possamos viajar.
Você já viu nas aulas anteriores que a escola é uma organização cultural como
outras tantas instituições da vida em sociedade. Nesse sentido, ela não está
desvinculada de tudo o que acontece ao seu redor. Desde a arquitetura dos
prédios até o conteúdo de cada aula, tudo é parte do conjunto da produção
cultural. Segundo apontamos anteriormente, de um jeito ou de outro, a escola
é o resultado dessa padronização que existe como tal, de forma patente, ou
que se modifica a partir do que está latente e suscetível de se concretizar.
Há elementos materiais e não-materiais na produção cultural da sociedade.
Os materiais são o próprio espaço físico construído, disposto em prédios, pátios,
quadras de esporte, muros, portões, uniformes, livros, cadernos, computadores,
canetas, mesas, carteiras, quadro-de-giz, vídeo, comida etc. Os não-materiais,
que se encontram presentes no ambiente escolar, são representados pela
simbologia dos diversos sentidos da aprendizagem, do ensino, da motivação,
do sucesso, do fracasso, das vitórias e derrotas esportivas, do companheirismo
entre docentes, discentes, responsáveis e funcionários, enfim, da cidadania e
do bem-estar social etc; todos estão presentes na interação dos indivíduos que
habitam esse ambiente .
Daremos ênfase aos elementos não-materiais (ou simbólicos) como o saber,
as idéias e valores que estabelecem a importância do funcionamento e dos
objetivos da instituição escolar na sociedade. Os dois tipos de elementos
culturais são mantidos tradicionalmente ou modificados pela dinâmica da
mudança cultural.
38 CEDERJ
MÓDULO 1
FORMAS E FINALIDADES DA CULTURA ESCOLAR
4
AULA
É sabido que a cultura escolar é reproduzida para a manutenção
das relações sociais. Quer isto dizer que os conhecimentos produzidos e
reproduzidos na escola, através de disciplinas, cursos e séries, formam
os indivíduos para se adequarem ideológica e politicamente ao sistema
social (BOURDIEU, 1992). Eles são “formados”, isto é, são postos
numa forma (molde) instituída socialmente. A cultura escolar cria e
legitima um conjunto de maneiras de pensar e agir baseadas na distinção
e no mérito, e que todos têm de seguir para ter sucesso na vida. Os saberes
e os estabelecimentos escolares vão se organizando numa hierarquia
em que uns possuem maior prestígio do que outros. Essa atribuição
de prestígio está relacionada às possibilidades de melhor ingresso nas
carreiras consideradas mais rentáveis e bem-vistas. Ao escolher uma delas,
está-se avaliando as próprias possibilidades de conseguir uma colocação
profissional no serviço público ou na iniciativa privada.
Nos cursos de Educação Básica, uma pessoa que se orienta para
estudar mecânica pode avaliar se isso lhe dará alguma condição favorável
de, ao chegar ao nível superior, ingressar na carreira de Engenharia,
visando, assim, possuir boa quantidade de capital financeiro. Em
contrapartida, alguém que estuda em escola de formação geral, talvez
não se veja com tantas chances de arriscar a candidatar-se às carreiras
tecnológicas ou biomédicas, em que existe bastante concorrência, por
serem “profissões de futuro”. Tal pessoa pode resolver concorrer à
universidade na área de Ciências Humanas/Sociais, por julgar que haja
cursos mais “fáceis” de serem seguidos. Todos sabem ou julgam saber
que, nesse caso, o ganho financeiro é menor, com algumas exceções,
tais como: Direito, Administração, Psicologia, Economia, Comunicação
Social e Relações Internacionais. Entretanto, estudar Filosofia, Ciências
Sociais, Pedagogia, História, Serviço Social ou Belas Artes representa
ter um capital cultural alto, a ponto de a pessoa ser considerada “muito
culta”, apesar do fato de, supostamente, viver com um capital financeiro
reduzido em relação aos profissionais das outras áreas.
Essa mentalidade e esse costume são difundidos pela cultura
escolar, em consonância com outras organizações, como a família, os
meios de comunicação e grupos religiosos. Os estudantes são, geralmente,
estimulados a pensar no resultado/utilidade da educação. Por isso, os
mais novos estão sempre respondendo a si mesmos e aos mais velhos à
famosa pergunta: “O que você vai ser quando crescer?”
C E D E R J 39
Fundamentos da Educação 4 | Organização escolar
ATIVIDADE 1
A
P
Procure conferir as avaliações feitas pela imprensa brasileira em relação
à
às carreiras universitárias e faça uma reflexão sobre as perspectivas de
in
inserção dos indivíduos na estrutura de ocupação profissional existente
n
na sociedade. Redija um texto registrando suas conclusões.
__
________________________________________________________________
________________________________________________________________
__
________________________________________________________________
__
________________________________________________________________
________________________________________________________________
________________________________________________________________
Figura 4.1: As finalidades não “Ciências” Sociais?!) é por eles desprezado. Tais disciplinas são,
do saber escolar. portanto, relegadas ao segundo plano, por muitos professores, estudantes
e seus responsáveis.
As Humanidades são, assim, consideradas por muitos como
“inúteis” e uma maneira de “encher lingüiça”, existindo como uma
mera forma de cumprir exigências formais e completar o tempo da vida
escolar. Algumas pessoas, inclusive, corroborando uma proposta bastante
defendida por muitos, afirmam que as atividades esportivas e lúdicas
40 CEDERJ
MÓDULO 1
deveriam substituir as disciplinas da área das Ciências Humanas, pois
4
acreditam que representam uma perda de tempo estudar assuntos “que
AULA
não levam à nada, nem chegam à conclusão nenhuma”.
Entretanto, é importante assinalar que esses saberes “inúteis”
são responsáveis tanto para as instituições sociais controlarem política,
econômica e culturalmente os indivíduos, quanto para a formação
da cidadania, através da compreensão, análise e questionamento da
organização e funcionamento do sistema social. Será que não seria
importante termos um conhecimento humanístico que nos ajudasse a
fornecer uma dimensão real de quem somos e como é o nosso mundo e
podermos nos associar, mobilizar e intervir para modificá-lo coletivamente?
Não somos nem seremos apenas profissionais e consumidores. Há outros
papéis sociais desempenhados por nós, como os de eleitor, condômino,
passageiro, hóspede, pedestre, pai, mãe, filho, paciente etc. que dependem
da boa articulação entre direitos e deveres, contribuindo, inclusive, para
a nossa formação de cidadãos, não é mesmo?!
C E D E R J 41
Fundamentos da Educação 4 | Organização escolar
42 CEDERJ
MÓDULO 1
Por fim, é bom chamar a atenção para a necessidade de questionar
4
e reinventar a cultura escolar e as suas finalidades: o que podemos e queremos
AULA
fazer da escola é uma pergunta a ser respondida por aqueles que estão dentro
e fora dela, juntamente com as demais organizações sociais.
RESUMO
O sucesso e o fracasso estão presentes também na cultura escolar, à medida que constrói
e/ou reforça uma cultura discriminatória, rotulando aqueles que são considerados os
mais e os menos aptos, segundo critérios arbitrários e padrões de pensamento e
comportamento existentes no contexto social. Tal postura pode ser questionada a
partir das considerações sobre a percepção de que a cultura da sociedade é plural e
diversa e a escola deve saber trabalhar com tais características.
C E D E R J 43
Fundamentos da Educação 4 | Organização escolar
ATIVIDADE FINAL
____________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
_____________________________________________________________
Você precisa ser estudioso, ________________________________________________________
bonzinho, falar direito,
_____________________________________________________
se vestir melhor e cortar
o cabelo, se quiser _____________________________________________________
passar de ano.
___________________________________________________
__________________________________________________
PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
Nesta aula, você pôde compreender como a escola é parte da cultura geral da
sociedade em suas idéias e práticas. Você percebeu que, apesar disso, a escola
possui uma cultura institucional que mantém mentalidade e comportamento
próprios? Foi capaz de entender que a cultura escolar forma estereótipos falsos
e discriminadores a respeito de tipos de pessoas e áreas de conhecimento? A que
conclusões você chegou a esse respeito? Procure conversar com o seu tutor e seus
colegas, discutindo os resultados das pesquisas propostas nas atividades.
44 CEDERJ
5
AULA
As diferentes formas
de cotidianos escolares
Meta da aula
Apresentar a dimensão cotidiana
da vida escolar.
objetivos
Pré-requisito
Para um melhor entendimento desta aula, você deverá
rever a Aula 4 – Organização escolar.
Fundamentos da Educação 4 | As diferentes formas de cotidianos escolares
INTRODUÇÃO Todos os dias, o trem que vai e vem, passando por vários lugares, circula
de uma estação a outra, com seu grupo de passageiros e sua tripulação.
As pessoas trocam impressões sobre a viagem e fazem comentários sobre suas
vidas fora daquele ambiente. Uns passageiros pensam que a viagem poderia
oferecer melhores condições de conforto e bem-estar; outros estão satisfeitos
com o que encontram. Os funcionários da ferrovia conversam entre si e com
os passageiros sobre os motivos que eles têm para viajar; aproveitam e falam
também do seu grau de satisfação ou insatisfação com a vida que levam. Tudo
isso é formulado dentro de um conjunto bastante amplo de temas, problemas
e questões que recebe graus de valorização diversos, segundo as variações de
percepção e comportamento das pessoas envolvidas.
Neste caso, você verá que a ordem social não pode ser vista apenas a partir
do conjunto de determinações coletivas que estabelecem os padrões de
comportamento e pensamento dos indivíduos e grupos sociais; é necessário
levar em conta que eles dão sentido à realidade, a partir de suas percepções
e definições da situação em que estão envolvidos. Os indivíduos são, assim,
considerados atores sociais, que possuem uma dada percepção sobre o seu
papel e, segundo a qual, representam-no dentro do drama coletivo, conforme
a sua leitura das condições estabelecidas coletivamente. Os indivíduos e grupos
agem como se estivessem num palco, representando determinados papéis e
funções sociais que criam, reproduzem ou reelaboram a partir do significado que
dão a elas. Por isso, dizemos que tais indivíduos e grupos são atores sociais.
46 CEDERJ
MÓDULO 1
social, por exemplo. Isso significa que um mesmo indivíduo exerce vários
5
papéis sociais por meio dos quais interage com outros tantos indivíduos
AULA
participantes dos grupos em que está inserido. Em cada uma dessas
situações, eles estão organizados como grupos e definem os significados
de suas próprias características e dos demais de um determinado modo
(BERGER; LUCKMAN, 1984).
Temos aqui a construção do sentido da ordem social, de maneira
variada e multifacetada. Isto só é possível porque os indivíduos e grupos
interagem entre si definindo, de maneira comum, os significados possíveis
e as linhas de atuação coerente com eles. A compreensão do fenômeno
da interação social possibilita o entendimento de como seus atores
constroem suas representações acerca de si mesmos e dos outros com
os quais se relacionam.
A validade desse tipo de abordagem reside na possibilidade de
entendermos as relações cotidianas entre os diferentes atores num dado
contexto social. A partir daí, podemos, sem deixar de lado a visão
sobre o todo, perceber a diversidade social, tomando como base as
dimensões grupais e comunitárias. Isto é o que se chama abordagem
microssociológica, na qual podemos olhar para o interior de um tipo
de família, de seção de trabalho, de vizinhança, de unidade escolar e até
mesmo de sala de aula e observar as razões do comportamento daqueles
que fazem parte desses pequenos mundos (COULON, 1995).
Essa modalidade de olhar sobre a realidade sociocultural permite
que observemos a relação professor-aluno em sua escola ou sala de aula,
identificando as situações de conflito e
negociação entre os dois tipos de atores e
como elas se materializam no seu cotidiano.
Com isso, podemos retratar as diferentes
dimensões e modos de construção dos
significados desse cotidiano, de
acordo com a percepção docente,
discente ou do corpo administrativo,
dos responsáveis, da comunidade
e dos empregadores (públicos ou
privados) e seus representantes.
C E D E R J 47
Fundamentos da Educação 4 | As diferentes formas de cotidianos escolares
ATIVIDADE 1
A
R
Recolher relatos e depoimentos de professores e alunos sobre as suas
rrelações na sala de aula durante um ano/período letivo escolar.
___________________________________________________
___________________________________________________
____________________________________________________
____________________________________________________
48 CEDERJ
MÓDULO 1
De repente, alguns comentam com a professora sobre o que aconteceu
5
no dia anterior, quando a polícia e os bandidos do bairro trocaram tiros.
AULA
Tal fato dificultou a chegada de seus pais em casa, à noite, porque as
ruas estavam cercadas. A professora, apavorada, tenta então aproveitar
o assunto para falar da importância de a comunidade se manter unida e
cobrar do governo maior atuação na área de segurança pública e não apenas
se preocupar em policiar as áreas nobres da cidade, visando a uma maior
repercussão nos meios de comunicação da cidade, do estado, do país e do
exterior. Assim, ela pede aos alunos que façam uma redação sobre a situação
vivenciada para que possam expressar como vêem a questão da criminalidade /
violência na própria vida e na de suas famílias e vizinhos.
Mais tarde, na hora do recreio, a professora relata o assunto para
os colegas que estão lanchando juntos na sala de professores. A maioria
trouxe a comida de casa, já que o salário está curto. Nesse momento,
inicia-se a discussão sobre o plano de carreira e o reajuste salarial
prometido pelo governo, mas que ainda não tem percentual nem data
para entrar em vigor. No meio da conversa, chega a moça que vende
produtos de beleza e lingerie; ela não obtém muito sucesso, pois muitos
pedem para que passe na semana do pagamento, quando podem pagar
(de preferência, em três vezes ou mais).
É hora de voltar, pois toca o sinal de retorno às salas; a funcionária
vem avisar que a diretora pediu para todos entregarem os novos
formulários de cadastro no dia seguinte, porque a Secretaria de Educação
está exigindo pressa. Ela lembra ainda que, na semana seguinte, haverá
reunião para tratar dos detalhes do novo planejamento pedagógico que a
coordenadoria regional mandou fazer. Alguém aproveita a oportunidade
e reclama que não há água na escola e os ventiladores de muitas das salas
estão quebrados. Depois de retornar às aulas, todos ouvem um grande
estrondo: foi um cabeção-de-negro que um grupo de alunos estourou no
banheiro feminino. Enquanto isso, ela pensa que faltam, ainda, 16 anos
para se aposentar e duas horas para voltar para casa correndo, porque é
a “explicadora” dos filhos de sua vizinha. Ao final da tarde, sai correndo
para o curso de especialização, chega atrasada sem ter lido o texto
recomendado pelo professor cujo título é “A Profissão Docente”.
C E D E R J 49
Fundamentos da Educação 4 | As diferentes formas de cotidianos escolares
50 CEDERJ
MÓDULO 1
5
RESUMO
AULA
Os indivíduos e grupos, enquanto atores sociais, agem de acordo com os
significados que constroem sobre si e os outros numa determinada situação social.
Isso configura a existência de um determinado modo de ser e pensar que é próprio
de cada coletividade, tendo, assim, a sua constituição cultural própria.
ATIVIDADE FINAL
Exemplifique isso com uma situação corriqueira que ocorra em sala de aula.
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________
PERGUNTAS DE AVALIAÇÃO
Você entendeu que a cultura escolar se materializa nas relações cotidianas entre
as pessoas, enquanto interações feitas entre professores, estudantes, responsáveis
e funcionários? Percebeu também que cada contexto produz um tipo de cotidiano
diferente dentro da estrutura social?
C E D E R J 51
6
AULA
O espaço da sala de aula
Meta da aula
Contribuir para que o leitor deste texto enriqueça sua
percepção do espaço da sala de aula.
objetivos
Pré-requisitos
Para uma melhor compreensão desta aula, você deve relembrar
os conteúdos apresentados nas Aulas 1 a 5 deste módulo.
Fundamentos da Educação 4 | O espaço da sala de aula
INTRODUÇÃO Para você, pode parecer uma redundância que a temática desta esta aula seja
sobre o espaço da sala de aula. Ele é seu conhecido de todos os dias e faz
parte, junto com seus alunos, de seu cotidiano. Por que, então, propor este
tema que parece tão trivial, talvez até mesmo banal? É justamente na sala de
aula que acontece o desenrolar do processo de ensino-aprendizagem em toda
a sua complexidade. É também nesse espaço que as relações entre o professor
e seus alunos se desenvolvem, evidenciando ser aí que se tecem aprendizagens,
idéias, valores, desejos, atitudes. O professor tem, nesse espaço, a possibilidade
de exercer sua atividade com autonomia. Ao fechar a porta da sala de aula,
ele se encontra dentro de uma dimensão que constitui um mundo peculiar,
carregado de experiências – das mais intensas às mais fluidas – e que poderão
deixar marcas nas lembranças das crianças que por aí passaram, continuam
passando e hão de passar.
A sala de aula é, portanto, uma espécie de “laboratório” em que se encontram
presentes amostras dos problemas contemporâneos, seja os que dizem respeito
à comunidade onde você vive, seja os que estão ocorrendo no plano mundial.
Ela é, sob certos aspectos, um espelho daquilo que todos vivenciam e, ao mesmo
tempo, um espaço gerador de sentimentos e emoções e de idéias para os que
fazem parte da comunidade humana.
A proposta desta aula é que você se torne mais capaz de “reconhecer” o
espaço onde trabalha, para melhor identificar ou interpretar o universo que
está no seu entorno. Tal exercício de reflexão poderá ajudá-lo a compreender
melhor algumas questões que se apresentem, aparentemente, insolúveis ou
insuperáveis no seu dia-a-dia. Constantemente, a profissão docente exige
capacidades, tais como a inventividade e a sensibilidade, que constituem
habilidades difíceis de ser trabalhadas num currículo acadêmico, embora sejam
tão importantes nos dias de hoje.
Antes de começar a leitura desta aula, sugerimos que você faça o seguinte
“exercício”:
54 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADE 1
A
6
a. Procure se lembrar do tempo em que você freqüentava a escola.
AULA
Oqque mais lhe agradava em sua sala de aula? O que lhe desagradava? Você
sentia esse espaço como sendo seu? Ou ele lhe era estranho? A decoração
sen
(objetos, cartazes, desenhos etc.) da sala era criada pela professora? Os
(ob
alunos podiam opinar sobre a decoração da sala? Como a sala era arrumada?
alu
Como eram suas mesas? Havia coisas escritas sobre as mesas? Havia
Co
possibilidade de os alunos manifestarem seus gostos e interesses? Esses
pos
gostos e interesses estavam expressos em sala de aula?
gos
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
_________________________________________________________________
COMENTÁRIO
Esperamos que, ao terminar esta atividade, você tenha estabelecido relações entre
sua experiência como aluno e sua prática como professor, a fim de formular um
juízo crítico ao confirmar ou repensar suas práticas cotidianas em sala de aula.
C E D E R J 55
Fundamentos da Educação 4 | O espaço da sala de aula
56 CEDERJ
MÓDULO 1
Lá se vivenciam experiências, muitas delas invisíveis aos olhos do
6
professor. Seria bom poder estar atento e sensível ao que se passa nesse
AULA
universo para que ele se torne mais nítido e para ampliar a compreensão
de quem são e como são os seus alunos.
ATIVIDADE 2
A
Co
Como você costuma utilizar esses conhecimentos que seus alunos
trazem para a sala de aula? Você costuma fazer uma ponte entre tais
tra
conhecimentos e o conteúdo a ser trabalhado durante a aula? Procure
co
fazer uma lista de assuntos que sejam do interesse de seus alunos. Isto
faz
pode ajudá-lo a preparar suas aulas!
po
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
___________________________________________________
COMENTÁRIO
Através desta atividade, gostaríamos que você percebesse como suas aulas
poderiam se tornar mais ricas partindo de um diálogo com os alunos.
C E D E R J 57
Fundamentos da Educação 4 | O espaço da sala de aula
58 CEDERJ
MÓDULO 1
TODO ESPAÇO É HUMANO
6
AULA
Todo espaço ocupado por seres humanos apresenta indicações
mais ou menos intensas de quem aí habita. Até nas celas, os prisioneiros
deixam as marcas da sua presença revelando suas preocupações,
necessidades e interesses. Desde a Pré-História, os habitantes das cavernas
deixavam para o futuro desenhos muito interessantes reproduzindo suas
percepções do mundo em que viviam. Portanto, uma sala de aula é
também a expressão daqueles que nela estão presentes diariamente.
O ambiente de uma sala de aula pode nos dizer como vivem e como
se sentem as crianças que freqüentam aquele espaço. É importante assinalar
que nem sempre apenas um sinal pode nos induzir a tirar conclusões
precipitadas. Uma sala em desordem não significa necessariamente que
a turma seja indisciplinada. A desordem pode representar a expressão
de atividades que exigiram das
crianças muito movimento. Ela
pode significar, também, que a
turma não estaria sentindo a sala
de aula como sendo sua, mas como
um espaço estranho e distante de
sua realidade. Isto quer dizer que
a ordem ou a desordem, por si
mesmas, não significam muita
coisa a respeito de um grupo, mas
é necessário que se estabeleçam
relações com o que está sendo
vivido nesse espaço.
C E D E R J 59
Fundamentos da Educação 4 | O espaço da sala de aula
60 CEDERJ
MÓDULO 1
APENAS UM ESPAÇO COLETIVO?
6
AULA
Gaston Bachelard, importante filósofo francês, produziu uma
grande obra dentre a qual se destaca “A poética do espaço”. Nela, ele
chama a atenção para os vários significados assumidos pelos espaços.
Considera a importância, para nossa vida dos recantos que trazem
reconforto; do espaço do armário que reflete quem somos, afinal, nos
estendemos no espaço do entorno que é nosso território; do sótão da
casa de nossa infância – um espaço de devaneios e sonhos; dos cantos
em que guardamos nossos tesouros ou nossos segredos de infância ou
da vida adulta. Há espaços que representam um refúgio. Há outros
que adquirem as feições de um palco de teatro, semelhante à sala de
aula, ou ainda há cantos para onde nos recolhemos a fim de refletir ou
simplesmente nos deixar ficar sós.
Pode-se dizer, então, que os alunos se apropriam de determinados
espaços da sala de aula. Preste atenção na regularidade com que as
mesas e cadeiras são ocupadas por determinadas crianças. Em geral,
elas procuram sentar-se junto a seus amigos e assim estabelecem um
território que é marcado por mochilas, por exemplo, indicando a quem
pertence aquela região da sala de aula.
A mesa da professora ou do professor, maior e de frente para a
turma, estabelece, pela posição que ocupa, seu valor hierárquico em
relação aos alunos. Antigamente, marcava-se a posição superior do
professor com a presença de um platô que deixava sua mesa acima das
dos alunos, numa nítida alusão ao respeito devido ao docente.
Um outro aspecto que caracteriza a organização da sala de aula
é o enfileiramento das carteiras, fazendo lembrar a disciplina militar,
demonstrada silenciosamente aos alunos desde o primeiro momento
em que entram em sala de aula. Essa forma de organizar as carteiras é
utilizada por muitos professores para estabelecer uma classificação que
indica os “melhores”, os “medianos” e os “piores” alunos. É, também,
muito comum reconhecer a “turma da bagunça”, sentada nas últimas
fileiras de carteiras.
C E D E R J 61
Fundamentos da Educação 4 | O espaço da sala de aula
CONCLUSÃO
RESUMO
Esta aula tratou do espaço da sala de aula, tendo como foco central a idéia de
que nela estão presentes inúmeros sinais que ajudam a compreender as diferentes
expressões da subjetividade grupal. São valorizadas diferentes manifestações, como
a importância dos espaços escolhidos por grupos de alunos, a organização (ou
desorganização) da sala, o ambiente criado no espaço da sala de aula.
ATIVIDADE FINAL
A partir do ponto de vista adotado pela aula que você leu, assinale com um x
uma das alternativas:
62 CEDERJ
MÓDULO 1
6
COMENTÁRIO
AULA
Esta atividade tem como objetivo verificar se você compreendeu o conteúdo
desta aula, as informações sobre a próxima aula e levou em conta a idéia de
que no espaço da sala de aula ocorrem múltiplas e variadas interações.
AUTO-AVALIAÇÃO
C E D E R J 63
A organização interna
AULA
das turmas e a construção
do conhecimento
Meta da aula
Apresentar as diferentes possibilidades de tecnologias
educacionais e suas aplicações no cotidiano escolar.
objetivos
66 CEDERJ
MÓDULO 1
Durante muito tempo, a Psicologia enfatizou a idéia, quase
7
exclusiva, de que a interação professor-aluno era garantia de
AULA
aprendizagem bem-sucedida e que as relações estabelecidas entre
alunos, no decorrer das atividades educacionais em sala de aula,
tinham uma influência secundária no processo de aprender, e quando
não-indesejável ou desagradável, também sobre o rendimento escolar.
É óbvia a dependência dessa idéia de uma concepção de ensino que vê
o professor como o agente educacional por excelência, encarregado de
transmitir o conhecimento, e o aluno como um receptáculo mais ou
menos ativo da ação transmissora do professor. Portanto, não é estranho
que nessa concepção pedagógica tente-se reduzir à mínima expressão
as relações aluno-aluno, sistematicamente neutralizadas como fonte
potencial de condutas perturbadoras na turma, e que o planejamento
das aulas repouse sobre a primazia do trabalho individual dos alunos e
sobre a interação professor-aluno.
Sem pretender, em absoluto, ignorar a importância dessa interação
professor-aluno, suficientemente respaldada do ponto de vista empírico, é
possível também afirmar, sob a ótica da concepção construtivista, que as
relações entre alunos – ou, o que é equivalente, a relação do aluno com seus
companheiros, com seus iguais – influenciam, de forma decisiva, o processo
de socialização, a aquisição de aptidões e de habilidades, o controle dos
impulsos agressivos, o grau de adaptação às normas estabelecidas, a
superação do egocentrismo, a relativização progressiva do ponto de vista
próprio, o nível de aspiração e o rendimento escolar.
Entretanto, o impacto da interação com o grupo de iguais sobre
as variáveis mencionadas não é evidentemente constante nem em
intensidade, nem em sentido. Em outras palavras, não basta colocar
os alunos uns ao lado dos outros e permitir que interajam para obter
automaticamente, ou em um passe de mágica, alguns efeitos favoráveis.
O elemento decisivo não é a quantidade da interação, e sim a natureza dessa
interação. Ao tomar consciência desse fato, as pesquisas em Psicologia da
Educação dirigiram sua atenção para as diversas modalidades de práticas
pedagógicas, baseadas ou não na concepção construtivista, e também
para os tipos de organização social das atividades de aprendizagem que
possibilitariam pautas interativas entre alunos.
C E D E R J 67
Fundamentos da Educação 4 | A organização interna das turmas e a construção do conhecimento
KURT LEWIN Embora a tarefa tenha sido abordada por diferentes perspectivas
Nasceu em Mogilno, teóricas, as excelentes revisões de Hayes (1976), Michaels (1977), Johnson
Alemanha, e estudou em
e Johnson (1979), Slavin (1980) e Pepitone (1981), para citar apenas alguns,
universidades de Friburgo,
Munique e Berlim. Em mostram que a atenção dos pesquisadores concentrou-se prioritariamente
1914, doutorou-se em
Psicologia pela universidade no estudo de três formas básicas de organização social das atividades
de Berlim, onde também
estudou Matemática e
escolares, denominadas: cooperativa, competitiva e individualista.
Física. Fez pesquisas sobre Na perspectiva da teoria de campo de KURT LEWIN, essas formas
a associação e a motivação
e começou a desenvolver de organização foram operacionalizadas atendendo ao tipo de
sua teoria de campo, que
apresentou a psicólogos nos interdependência que existe entre os alunos, em relação à tarefa a realizar
Estados Unidos, durante ou o objetivo a ser alcançado no decorrer das atividades de aprendizagem.
o Congresso Internacional
de Psicologia, realizado Desse modo, seguindo formulações prévias de Lewin (1935) e de Deutsch
em Yale em 1929.
Em seus trinta anos de (1949), Johnson (1981) definiu as três organizações mencionadas da
atividade profissional, Lewin
seguinte forma:
dedicou-se à área ampla-
mente definida da motivação – Numa situação cooperativa, os objetivos dos participantes estão
humana. Suas pesquisas
enfatizaram o estudo do estreitamente vinculados; assim, só é possível para cada um deles alcançar
comportamento humano, em
seu contexto físico e social
seus objetivos se, e apenas se, os outros alcançarem os seus – os resultados
total (LEWIN, 1936, 1939). que cada membro do grupo persegue são, portanto, benéficos para os
A característica notável da
Psicologia Social de Lewin demais com os quais está interagindo cooperativamente.
é a dinâmica de grupo,
a aplicação de conceitos – Numa situação competitiva, ao contrário, os objetivos dos
relativos ao compor- participantes estão também relacionados, mas de forma excludente: um
tamento individual e
grupal. Assim como o participante pode alcançar a meta a que se propôs se, e apenas se, os outros
indivíduo e o seu ambiente
formam um campo não alcançarem as suas – cada membro do grupo persegue, portanto,
psicológico, também o
resultados que lhe trazem benefícios pessoais, mas que são prejudiciais aos
grupo e o seu ambiente
compõem um campo demais participantes com os quais está associado competitivamente.
social. Os comportamentos
sociais ocorrem no interior – Por último, na situação individualista, não existe qualquer
de entidades sociais
simultaneamente existentes
relação entre os objetivos que os participantes pretendem atingir: ainda
como subgrupos, membros que um membro alcance ou não o objetivo fixado, isso não influi sobre
de grupos, barreiras e
canais de comunicação, o fato de os outros participantes alcançarem ou não os seus; ou seja,
e delas resultam. Dessa
forma, o comportamento perseguem-se resultados individualmente benéficos, sendo irrelevantes
do grupo é uma função do os resultados obtidos pelos demais.
campo total existente em
qualquer momento dado. A abordagem teórica do condicionamento operante de Skinner
também se propôs uma definição operativa da organização social das
tarefas escolares. Os autores que se situam nessa linha definem uma
organização cooperativa quando a recompensa que cada participante recebe
é diretamente proporcional aos resultados do trabalho do grupo. Numa
organização competitiva, pelo contrário, apenas um membro do grupo
68 CEDERJ
MÓDULO 1
recebe a recompensa máxima, enquanto os outros recebem recompensas
7
menores. Finalmente, numa organização individualista, os participantes
AULA
são recompensados com base nos resultados de seus trabalhos pessoais,
com total independência do que alcançaram os outros membros. O critério
fundamental nesse caso é, portanto, a maneira como se distribuem as
recompensas entre os participantes da organização, em lugar do tipo de
interdependência com relação à consecução dos objetivos.
De ambas as perspectivas, executaram-se inúmeras investigações
com a finalidade de estudar a influência desses três tipos de organização
social das atividades escolares sobre diferentes aspectos dos processos
de ensino e de aprendizagem, em particular dos que se referem à
interação que se estabelece entre os alunos e à sua relação com o nível
de rendimento.
Quanto ao primeiro ponto, os resultados estão amplamente de
acordo. As experiências de aprendizagem cooperativa, comparadas às
de natureza competitiva e individualista, favorecem o estabelecimento de
relações muito mais positivas entre os alunos, caracterizadas pela simpatia,
atenção, cortesia e respeito mútuo, assim como por sentimentos recíprocos
de obrigação e de ajuda. Tais atitudes positivas estendem-se, além disso, aos
professores e ao conjunto da instituição escolar. Contrário ao que acontece
nas situações competitivas, em que os grupos se configuram sobre a base de
uma relativa homogeneidade do rendimento acadêmico dos participantes
e costumam ser altamente coerentes e fechados, nas situações cooperativas
os grupos são, em geral, mais abertos e fluidos e se constituem sobre a base
de variáveis como a motivação ou os interesses dos alunos.
Quanto à influência dos tipos de organização social das atividades
A META-ANÁLISE permite
de aprendizagem sobre o nível de rendimento dos participantes, Johnson determinar a probabilidade
de que os resultados de
e seus colegas isolaram as variáveis supostamente responsáveis por uma diferentes investigações
incidência desigual e submeteram os resultados de 122 investigações possam ser atribuídos
ao acaso, como que se
– todas elas realizadas com amostras de alunos dos Estados Unidos – obtivesse uma panorâmica
de conjunto das tendências
a uma META-ANÁLISE. Eis algumas conclusões que, pelas características que surgiram pelos
do trabalho realizado pelos pesquisadores, podem ser consideradas um resultados disponíveis em
um dado momento.
balanço dos conhecimentos atuais sobre o tema.
C E D E R J 69
Fundamentos da Educação 4 | A organização interna das turmas e a construção do conhecimento
70 CEDERJ
MÓDULO 1
– As formas de agrupamento propostas pelas distintas metodologias
7
de ensino correspondem fundamentalmente a três razões: necessidades
AULA
organizativas, necessidade de atender à diversidade dos alunos e
importância atribuída pelas propostas metodológicas aos conteúdos
escolares e comportamentais.
– Desde o século XVI, o trabalho em grandes grupos tem sido
a forma mais habitual de organizar os alunos em turmas nas escolas.
Essa forma de agrupamento dos alunos obedece a uma concepção – os
alunos de uma mesma idade são fundamentalmente iguais, aprendem do
mesmo modo e no mesmo tempo. O professor atua com o grupo como se
este fosse um todo homogêneo; assim, o discurso geralmente é unidirecional
e a forma de ensinar corresponde a um esquema que consiste em exposição,
memorização do que foi exposto, verbalização do memorizado, por meio
de uma prova oral ou escrita e sanção sobre o resultado.
Para poder atender à diversidade dos alunos e à aprendizagem
de conteúdos de diferentes naturezas, é preciso haver estruturas
organizativas complexas que atendam às potencialidades das distintas
formas de agrupamento. É indispensável não desprezar nenhuma das
possibilidades educativas oferecidas por cada uma delas: turma, grupos
pequenos (fixos e móveis) e trabalho individual; e, em cada um deles,
homogêneos ou heterogêneos.
A turma, além de ser a forma habitual de organizar os alunos na
escola, oferece várias possibilidades, tanto organizativas como estritamente
didáticas. Em uma perspectiva construtivista, o trabalho pedagógico
com a turma é apropriado quando se trata de planejar conjuntamente
as atividades, as exposições, a distribuição de tarefas, as explicações, a
apresentação de modelos, os debates, a assembléia etc. Mas quando se trata
de conteúdos procedimentais e atitudinais, cujo domínio exige que sejam
prestadas ajudas específicas com relação à competência que cada aluno
tem do conteúdo, é preciso procurar formas organizativas que permitam
prestar ajudas pertinentes a cada um deles sem que o resto da classe fique
à toa. A distribuição de alunos em pequenos grupos, quer sejam fixos ou
móveis, homogêneos ou heterogêneos, permite atribuir a cada um deles
tarefas concretas e estruturadas, possibilitando ao professor se deslocar e
prestar as ajudas necessárias conforme o nível de realização das tarefas.
C E D E R J 71
Fundamentos da Educação 4 | A organização interna das turmas e a construção do conhecimento
72 CEDERJ
MÓDULO 1
relevante como ajuda para a criação de ZDP. A divergência possibilita
7
a criação de desafios e exigências para cada participante do grupo e os
AULA
pontos de vista alternativos também proporcionam ajudas e apoios que
forçam a reconstrução, em um nível superior, dos próprios esquemas de
conhecimento como saída para o conflito de opiniões.
RESUMO
ATIVIDADES FINAIS
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Fundamentos da Educação 4 | A organização interna das turmas e a construção do conhecimento
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COMENTÁRIO
Quando propomos atividades em grupos, em sala de aula, estamos respaldados
por um ou mais objetivos de aprendizagem, direcionando o ensino – nesse caso,
configurado como uma tarefa de grupo – para que os alunos possam construir um
conhecimento autônomo e significativo.
Podemos agrupar os alunos de diferentes maneiras: por afinidades de interesse,
por níveis de capacidade intelectual (por exemplo, aqueles que consideramos
“mais espertos”), por gênero e assim por diante. Entretanto, tais agrupamentos não
devem ser imutáveis, senão correremos o risco de homogeneizar a diversidade,
regulamentar os intercâmbios entre alunos e sufocar a possibilidade de operação
intelectual compartilhada entre alunos.
74 CEDERJ
MÓDULO 1
AUTO-AVALIAÇÃO
7
AULA
Max Weber afirma que as coisas só podem ser compreendidas se forem observadas
a sangue-frio e em profundidade, apreendendo sua objetividade. Acredito que
compreendemos melhor a realidade quando a observação se dá “ao longo do
processo”, conferindo-lhe uma perspectiva. No caso da organização da sala de
aula, ao dar-lhe uma nova perspectiva, nos tornaremos melhores educadores e mais
otimistas em relação à aprendizagem de nossos alunos. Compreenderemos melhor
nossas turmas se, em primeiro lugar, abordarmos as mudanças no comportamento
de nossos alunos que atualmente precederam seus modos de ser. Então, procure
percorrer a história de sua turma através das etapas de sua aprendizagem, como
uma história das invenções infantis.
C E D E R J 75
8
AULA
A subjetividade
presente na sala de aula
objetivos
78 CEDERJ
MÓDULO 1
eram experiências reais, mas devido à quantidade e à intensidade das
8
referidas experiências, começou a desconfiar de que se tratavam, de fato,
AULA
de fantasias. Assim, deveria haver algo nas experiências infantis que
fizesse emergir tais fantasias, e essa alguma coisa deveria ser de natureza
sexual. Na época em que Freud estava formulando essas questões, a tese
sobre sexualidade humana postulava que sua ocorrência acontecia na
puberdade, fase em que o organismo se torna apto para procriar. Ele
acreditava que essa tese deveria ser revista. E foi o que fez.
Em 1905, Freud escreve Três ensaios para uma teoria sexual; um
deles é intitulado A sexualidade infantil. Nesse trabalho, Freud mostra
que o impulso sexual humano – a pulsão sexual – pode ser dividido em
pulsões parciais, que, como veremos mais adiante, é uma questão muito
importante para a Educação.
Freud demonstra que a pulsão sexual, da maneira como a
percebemos em ação em um adulto, é composta de pulsões parciais, e
podemos vê-las nas preliminares de qualquer ato sexual. Antes do advento
e do domínio do interesse genital, tais pulsões parciais são vividas
livremente pela criança, cujo interesse pela cópula ainda não despertou.
Assim, podemos deduzir que essas pulsões ainda não dispõem de
um objeto preciso para o qual possam se dirigir. A criança conduzirá seu
impulso para um objeto sexual só quando puder reunir todas as pulsões
para conformar a genitalidade. Antes desse momento, cada pulsão poderá
se ligar, no máximo, ao prazer que puder extrair do órgão a que estiver
vinculado, como, por exemplo, olho, no caso da contemplação; boca,
no caso da sucção do polegar etc. Como podemos ver, a criança dirige
sua sexualidade para o próprio corpo e só buscará outro corpo quando
estiver em pleno desenvolvimento da genitalidade.
Freud afirma que as pulsões parciais possuem um caráter errático,
ou seja, não se fixam como o instinto e são capazes de intercambiar os
objetos que lhes satisfazem, portanto, de uma certa maneira, a pulsão
sexual pode trilhar vias socialmente úteis. E esse é um ponto que interessa à
Educação: a pulsão sexual é passível de desvio para outras finalidades que
não as propriamente sexuais, logo, pode ser sublimada. Daí Freud apontar
que a Educação terá papel fundamental no processo de sublimação.
C E D E R J 79
Fundamentos da Educação 4 | A subjetividade presente na sala de aula
80 CEDERJ
MÓDULO 1
sujar nessa tarefa. Aliás, nunca entendi por que as crianças não podem
8
se sujar na escola, já que isso faz parte do brincar e o ato de brincar
AULA
promove desenvolvimento. Esta proibição em relação ao ato de se sujar
parece ser uma das regras escolares obsoletas, mantidas pelo puro prazer
que o adulto sente em se ver obedecido pelas crianças. Muitas vezes,
e sem se dar conta, os professores deixam seus alunos submetidos a
diversas proibições inúteis e prejudiciais à formação, desenvolvimento
e construção de conhecimento.
Freud usou o conceito de sublimação para pensar a função da
Educação e, em seu texto de 1913, que trata do interesse educacional
da Psicanálise, aponta que os educadores precisam ser informados de que a
tentativa de supressão das pulsões parciais não só é inútil como pode gerar
efeitos como a neurose. Isso porque ele sempre desconfiou de que a hostilidade
da civilização se manifestava na forma de uma educação repressora, que só
poderia estar convidando os alunos a se tornarem neuróticos.
A hipótese freudiana de uma “vocação neurótica” da humanidade,
embora descarte, por um lado, a ação política como uma causa
fundamental da repressão, por outro lado, acredita que as classes
sociais no poder utilizam, em benefício próprio, a repressão já em uso
por outros meios.
Mas a desconfiança de Freud vai mais longe ainda por entender que
a sublimação não é um mecanismo consciente, não podendo, portanto,
ser controlada de fora para dentro do sujeito. Como ele mesmo afirma,
excessos não se curam com bons conselhos. Sendo assim, o uso exagerado
de bons conselhos em sala de aula não promove o bem-estar no território
do psiquismo dos alunos, já que as bases necessárias à sublimação são
fornecidas pelas pulsões sexuais parciais e claramente perversas, como
no exemplo da argila.
C E D E R J 81
Fundamentos da Educação 4 | A subjetividade presente na sala de aula
82 CEDERJ
MÓDULO 1
primeira ocasião de um conflito psíquico, na medida em que certas
8
opiniões, através das quais as crianças vivenciam uma preferência de
AULA
natureza pulsional, mas que não são “boas” aos olhos dos adultos,
entram em oposição com outras baseadas na autoridade das pessoas
maiores, mas que não lhes convêm. Este conflito psíquico pode se
converter precocemente em uma cisão psíquica.
C E D E R J 83
Fundamentos da Educação 4 | A subjetividade presente na sala de aula
84 CEDERJ
MÓDULO 1
8
RESUMO
AULA
A psicanálise registra a “preciosa contribuição à formação do caráter dada pelas
pulsões perversas e não-sociais da criança, se estas não forem submetidas ao
recalque e desviadas de seu fim primitivo, graças ao processo conhecido pelo nome
de sublimação, em direção a fins mais válidos”. Não é pela coerção que se pode
atingir tal fim, e menos ainda reprimindo pela força as pulsões. Segundo Freud,
"nossas mais altas virtudes se elevaram, mediante formações reativas e sublimações
das nossas piores disposições. A educação deveria evitar escrupulosamente o
sufocamento de tão preciosos mecanismos de ação, e limitar-se a estimular os
processos através dos quais essas energias tomam rumos mais sadios".
A definição dos fins da educação fornecida aqui por Freud nada tem de original.
A idéia de que todo empreendimento educativo deve obter a conciliação dos direitos
do indivíduo com as exigências da sociedade não lhe é própria. Cabe à educação
resolver as eventuais contradições entre seus respectivos fins. Contudo, compete ao
educador fazer justiça às reivindicações de seus alunos (indivíduos), como a de não
ver limitadas, além do necessário, suas possibilidades de ação e de satisfação.
ATIVIDADES FINAIS
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C E D E R J 85
Fundamentos da Educação 4 | A subjetividade presente na sala de aula
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5. Veja, agora, as estratégias que você utilizou para alcançar os “bons” resultados dessa
segunda listagem e se estas podem ser usadas para os comportamentos inadequados.
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86 CEDERJ
9
AULA
As dimensões esquecidas
da sala de aula e da escola
objetivos
88 CEDERJ
MÓDULO 1
Agora, podemos ver mais de perto as características que configuram
9
a originalidade desse ofício do aluno:
AULA
• não foi escolhido pelo sujeito;
• é dependente de um terceiro, não somente nas suas finalidades
e condições principais, mas nos seus detalhes e, sobretudo, na sua
fragmentação e na sua relação de tempo;
• está sob o olhar e o controle permanente de terceiros – não só
em relação aos resultados, mas também quanto às modalidades;
• está sujeito a uma avaliação das qualidades e dos defeitos da
pessoa, da sua inteligência, da sua cultura e do seu caráter.
• levar broncas;
• responder à chamada;
90 CEDERJ
MÓDULO 1
Diante dos ritos escolarmente instituídos, só resta ao aluno aprender
9
o mais rápido possível a arte do disfarce, da mentira e da hipocrisia –
AULA
“ficar esperto” e ver qual a melhor maneira de enganar seus professores,
fornecendo-lhes as respostas que, de antemão, sabe que serão “as certas”,
embora não acredite nelas e não tenha esse conceito construído.
Muitos autores têm denunciado o caráter destruidor da pressão
escolar – é o caso de Ferrière, quando cria as escolas ativas; de Claparède,
quando apela para a “educação funcional”; de Freinet, quando entra
em dissidência contra a instrução pública massificada; de Neil, quando
funda Summerhill; de Pain, quando faz a crônica da escola-caserna e
de psicanalistas como Bettelheim, Dolto e Manoni, quando analisam a
violência e o tédio da escolaridade cotidiana. Isso significa que o problema
não é novo; como afirma Perrenoud,
Uma das dimensões mais esquecidas pela escola, por incrível que
possa parecer, é o tempo presente. Não vivemos esse tempo na escola,
estamos sempre preparando os alunos para o futuro e dizendo isso a eles.
Por conta desse esquecimento do presente, vemos o aluno passar dez ou
quinze anos de sua existência sentado nos bancos escolares, ameaçado ao
longo de todos esses anos de fracassar na vida se não trabalhar o suficiente,
se não estudar o suficiente, se não se interessar o suficiente etc.
Acredito que é dessa lógica invertida do tempo que decorre a
desenfreada corrida dos alunos pelas notas, já que o essencial é sobreviver
até o próximo bimestre, semestre, ou, próximo ano letivo. Ao internalizar
que os valores educacionais estão colocados no futuro, os alunos tratam
de criar estratégias para sobreviver às regras presentes, incluindo as
menos recomendáveis, do ponto de vista pedagógico ou ético – colar nas
provas, copiar seus trabalhos de livros e/ou de outros colegas, decorar
os textos didáticos em vez de estudar ou tentar compreendê-los etc.
A preocupação com os artifícios e as aparências tem um lugar privilegiado
no ofício dos alunos, e os pais, como nos aponta Perrenoud, "olhos postos
no diploma final e no emprego, reforçam muitas vezes esta tendência".
C E D E R J 91
Fundamentos da Educação 4 | As dimensões esquecidas da sala de aula e da escola
92 CEDERJ
MÓDULO 1
Se aceitarmos esse tipo de análise sociológica, muito próxima
9
da Psicologia Social e da psicanálise, podemos admitir que o tipo de
AULA
funcionamento que, há tantos anos, favorece a organização escolar
condiciona profundamente as competências e as estratégias que os alunos,
ao tornarem-se adultos, mobilizarão no interior de outras organizações.
Isso nos leva a uma outra questão: que modos de relacionamento a
organização escolar nos impele a internalizar?
Uma forma de tentar responder a essa questão é identificar o
currículo oculto nas rotinas cotidianas escolares que geram, segundo
Eggleston (1977) sete tipos de aprendizagens que favorecem regularmente
o funcionamento da escola sem figurar nos objetivos oficiais do ensino.
De maneira esquemática, podemos resumir as sete aprendizagens da
seguinte forma:
– O aluno aprende a “viver na multidão” – vive constantemente sob
o olhar dos outros, em um espaço relativamente exíguo para a concentração
de indivíduos que comporta; em contrapartida, aprende também a isolar-se,
a ignorar e/ou tolerar os diversos tipos de interrupções.
– Aprende-se a “matar o tempo”, a esperar, a acostumar-se
ao aborrecimento e à passividade como um ingrediente inevitável da
vida escolar.
– Aprende-se a submissão à avaliação do outro – do professor e
dos colegas da turma.
– Junto ao aprendizado visto, o aluno saberá como satisfazer as
expectativas de professores e colegas, para deles obter a estima, os elogios
ou qualquer outra forma de recompensa.
– Também acontece o aprendizado de vida em uma sociedade
hierarquizada e estratificada – aprende-se a ver como “normais e
legítimas” a desigual distribuição do poder e a existência de indivíduos
ou grupo de indivíduos com status diferenciados.
– Aprende-se a controlar ou, no mínimo, a influenciar junto aos
colegas, o ritmo do trabalho escolar e a progressão dos conteúdos em
aula, através de diversas estratégias: fazer novas perguntas, mostrar que
não entendeu as explicações fornecidas pelo professor, pedir mais prazos
para o trabalho etc.
– E, por fim, aprende-se a funcionar em grupo restrito, a partilhar
e a utilizar os valores e os códigos de comunicação para convivência
nesse grupo (pp. 110-113).
C E D E R J 93
Fundamentos da Educação 4 | As dimensões esquecidas da sala de aula e da escola
RESUMO
Nesta aula fizemos uma visita às rotinas escolares e a sua função organizadora
dentro da longa marcha da escolaridade. Trabalhamos com o conceito de ofício
de aluno, currículo oculto e cultura escolar, sempre sublinhando as articulações
desses conceitos com a avaliação dos alunos, as aprendizagens conquistadas,
embora clandestinas, e o sentido do trabalho escolar. O objetivo principal era
dar visibilidade as dimensões esquecidas da sala de aula e do cotidiano da escola,
vividos por professores e alunos em constante interação.
94 CEDERJ
MÓDULO 1
ATIVIDADES FINAIS
9
1. Quando você escuta dizer que crianças e adolescentes já não têm “gosto
AULA
pelo estudo”, “não valorizam mais” a escola ou “não se esforçam mais”, a
que fatores escolares você atribui maior influência na determinação desses
comportamentos?
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4. Que rotinas escolares poderiam ser extintas e quais deveriam ser mantidas?
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C E D E R J 95
10
AULA
As relações presentes
na sala de aula
Meta da aula
Descrever um estudo de caso como recurso para se
pensar as práticas cotidianas em sala de aula.
objetivos
INTRODUÇÃO Ao entrar pela porta de uma sala de aula, encontra-se uma grande diversidade
de subjetividades, ou seja, de seres singulares, que interagem em efervescência,
em intensidades diversas e que passeiam por diferentes caminhos que se
manifestam através de diferentes comportamentos. As curiosidades infantis
estão sempre carregadas de perguntas cujas respostas requerem cuidado por
parte de quem responde; em outras palavras, aquele que responde torna-se
responsável (a palavra responsável quer dizer: aquele que responde por) pelo
que diz ou mesmo pelo que omite.
As crianças estão sempre procurando saber até onde lhes é permitido ir e se a
relação que têm com o professor e colegas poderá lhes dar sustentação para
o que deseja conhecer ou saber.
A sala de aula, assim como a família, constituem os universos nos quais as
crianças estão inseridas e é daí que elas retiram saberes para interpretar o mundo
que as circunda. É de muita importância a forma pela qual são recebidas em
sala de aula pelos seus pares e pelo professor. Além disso, há diversas formas
de interação entre os grupos de crianças e delas brotam relações de liderança
em brincadeiras que podem significar, por exemplo, como estão vivendo o
cotidiano familiar e escolar.
Nesta aula, serão apresentadas idéias que discutem a complexidade das relações
que ocorrem na sala de aula em seu cotidiano.
Na escola
A professora da turma de educação infantil recebe uma nova
aluna em classe. Rostinho lindo e sério, a menina de quatro anos se
recusa a participar das atividades propostas que provocam o imediato
entusiasmo das crianças. Nossa gatinha se isola de todos e mostra forte
98 CEDERJ
MÓDULO 1
negativismo, afastando-se dos colegas e tentando de todas as maneiras
10
determinar as próprias regras, como a hora do lanche ou o local da escola
AULA
onde preferia ficar. Por vezes, agride um colega batendo nele. Quando
a professora exige que peça desculpas, ela o faz chorando, com raiva,
e se dizendo injustiçada. A gatinha se mantém isolada dos colegas sem
interagir com adultos e crianças.
Os profissionais do estabelecimento não acreditam que a gatinha
selvagem possa superar as “dificuldades” e vir a interagir normalmente
com seus companheiros de turma. No entanto, a professora percebe
nela uma expressão de tristeza, quase de depressão. Ela decide então
marcar um encontro com os pais para conversar e procurar saber mais
sobre a história da menina. A ANAMNESE feita pela escola não continha ANAMNESE
informações suficientes. Histórico descritivo
feito com base
Fica-se sabendo, então, que a gatinha selvagem vinha freqüentando nas lembranças e
várias escolas até que chegou àquela em que se encontrava. Nenhuma vivências da família,
relativas à história de
das instituições foi capaz de lidar com o “problema”; o resultado, pois, vida do aluno.
A família
Quanto às relações familiares, a situação era a seguinte: os pais
tinham um casamento considerado estável, com uma boa situação
financeira, aparentemente sem conflitos conjugais graves. O pai
atualmente viaja com muita freqüência para atender às demandas de
trabalho; isso lhe rende um bom salário, o que permite à família um
padrão de vida confortável. No entanto, no passado, quem cuidou do
bebê foi o pai, já que na época ele se encontrava desempregado e cabia
à mãe o sustento da casa. A “gatinha” alimentou-se com mamadeiras
perfeitamente bem até que, por volta dos oito meses de idade, o pai
começou a trabalhar, e a mãe assumiu a posição que ele ocupara, ou
seja, a de cuidar da menina. Esse período coincidiu com o aparecimento
de fortes gripes no bebê, acompanhadas de febre alta; depois de alguns
meses, porém, desapareceram quase por completo.
A mãe mostrou-se extremamente cuidadosa e preocupada com
a saúde da filha, no entanto, até os dias de hoje, a menina dorme no
quarto dos pais, pois tem muitos pesadelos quando passa a noite em seu
próprio quarto. Além disso, o pai mostra-se muito amoroso com a filha
e é incapaz de dizer “não” a ela.
C E D E R J 99
Fundamentos da Educação 4 | As relações presentes na sala de aula
A professora
A professora observa e acompanha a “gatinha selvagem” com
atenção, procurando, de todas as formas, criar condições para que
a pequenina participe das atividades, de maneira interativa com os
colegas. Durante os dois primeiros meses do ano letivo tudo parecia ser
infrutífero. Nada repercutia na determinação da menina de se manter
distante e isolada; o diálogo com os pais, os convites para participar
de brincadeiras ou a leitura de histórias não a motivavam. Nada ou
aparentemente nada era aceito e nada parecia indicar o caminho que
pudesse gerar uma relação educativa naquele espaço escolar. Havia uma
barreira difícil de transpor.
A professora se preocupava com as possíveis conseqüências futuras
na vida de sua linda aluna. Sabendo que “beleza não põe mesa”, ela é
dotada de uma profunda consciência do importante papel da escola, que
não se resume apenas à transmissão de conteúdos. A escola é, para ela, um
espaço de socialização, de aprendizagem de valores, de transformação,
de novas perspectivas e de preparação para lidar com o que o mundo e
a vida propõem e irão propor às crianças. A professora se preocupa com
o que a “gatinha” sofreu por não ter sido aceita nas escolas pelas quais
passou. Ela sabe também que as crianças são extremamente perceptivas
e que, por outro lado, dispõem ainda de poucos recursos cognitivos e
afetivos para enfrentar os erros que os adultos também cometem.
A professora tem grande clareza sobre seu papel profissional.
Ela sabe que o processo de ensino-aprendizagem não pode ser visto
isoladamente, já que os seres humanos constituem-se num todo, no qual
a cognição, os afetos e as emoções não se encontram separados como
partes de um jogo de montagem.
Até que...
100 C E D E R J
MÓDULO 1
O que você faria?
10
Sabemos que existem muitas possibilidades de intervenção para
AULA
cada situação vivida em sala de aula. Cada professor tem sua maneira
própria de estabelecer relações com seus alunos e busca soluções de
acordo com seus conhecimentos pedagógicos e suas experiências
profissionais (TARDIF, 2002).
No entanto, vamos propor duas alternativas, tendo consciência,
porém, de que elas não seriam as únicas possíveis.
C E D E R J 101
Fundamentos da Educação 4 | As relações presentes na sala de aula
estar imbuído da idéia de que o aluno é vazio, que não sabe e deverá
ser nutrido pelo professor, tido como a fonte do saber, modelo para o
futuro cidadão que será cultivado e moldado para a ordem e o bom
funcionamento da sociedade.
Nela não há por que exercer um pensamento crítico, pois o
propósito é modelar os indivíduos para que se adaptem – no sentido de
se submeterem – às regras e às normas instituídas.
De acordo com essa concepção educativa, a solução possível seria
encaminhada através de elementos que pudessem indicar preocupação
com a manutenção da ordem, considerando a menina a única responsável
por suas ações. Citamos como exemplo:
• No âmbito da linguagem falada: “você não sabe se comportar”,
“você precisa aprender a se comportar”, “você é a única que
faz essas coisas”, “seja uma boa menina”, “você não é uma
boa menina”, “porque você não é igual aos outros?”, “você é
malvada”, “você é desobediente...”.
• No âmbito das relações: tendência a criar um ambiente de
discriminação, acentuando o isolamento da menina através de
diversas punições disciplinares; tendência a se reforçar uma imagem
do “aluno problema”, alimentando o mecanismo conhecido como
“profecia auto-realizadora”. Esse mecanismo é observado com
freqüência nos diferentes grupos sociais, assim como nas escolas,
apresentando-se da seguinte maneira: quando alguém se mostra
diferente do que se espera ou do que se imagina, de imediato se
estabelece uma palavra ou expressão que definiria essa pessoa
(estereótipo). Sendo assim, para uma pessoa mais reservada, por
exemplo, alguém que passa por um período de vida mais difícil pode
ser reconhecida como “a complicada”, ou “a tímida”. A profecia
auto-realizadora provoca, no grupo, o surgimento e o reforço de
atitudes preconceituosas, gerando sofrimento para aquele que as
sofre além de realimentar o comportamento apresentado pela
pessoa em questão.
102 C E D E R J
MÓDULO 1
• A impossibilidade de a menina se tornar “uma boa menina”
10
(o que exatamente é “ser uma boa menina?”) e ser convidada a
AULA
se retirar da escola.
• Adaptar-se ao modelo, tornar-se aceitável pelo estabelecimento
escolar e desenvolver outros meios de manifestar suas dificulda-
des e dúvidas relativas a ela mesma, às pessoas com quem convive
e ao mundo que a cerca. É bom lembrar que se os adultos mais
próximos (família e profissionais da escola) não se mobilizaram
para decifrá-la, dificilmente a menina desenvolverá meios
aceitáveis para se expressar socialmente.
C E D E R J 103
Fundamentos da Educação 4 | As relações presentes na sala de aula
104 C E D E R J
MÓDULO 1
O que terá acontecido?
10
Apresentaremos algumas possibilidades que não se excluem:
AULA
1. A professora foi capaz de se tornar criança para brincar com a
menina sem, no entanto, esquecer a condição de adulta e responsável. Ela
se deu conta de que, enquanto pedisse à menina que viesse para o mundo
da sala de aula, nada mudaria. Resolveu, então, entrar no mundo da
menina, ou seja, passou a brincar a brincadeira proposta pela “gatinha”,
sem com isso se perder no jogo comandado por ela própria. Quer isso
dizer que a professora abandonou, por alguns instantes, sua condição
de adulto, permitindo-se assumir um papel infantil. Tal atitude permitiu
à menina sentir-se respeitada e percebida como pessoa.
2. A professora funcionou como mediadora ou como facilitadora,
permitindo à “gatinha” sentir-se segura para se arriscar a conhecer a
realidade escolar. Dessa forma, também foi possível à menina compreender
que havia alguém que cuidava dela, sem que isso implicasse punição ou
excessivo controle.
3. A brincadeira funcionou como um momento em que predominou
a liberdade: não havia papéis predeterminados, não havia regras impostas a
serem cumpridas. Os poucos instantes de atividade lúdica foram suficientes
para mostrar à menina que não havia um perdedor e um ganhador. Na
realidade, as duas, professora e “gatinha”, ganharam. Em outras palavras,
aquele instante lúdico permitiu criar um vínculo no qual predominou a
confiança e a alegria entre as duas.
C E D E R J 105
Fundamentos da Educação 4 | As relações presentes na sala de aula
CONCLUSÃO
ATIVIDADE FINAL
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__________________________________________________________________________
RESPOSTA COMENTADA
Lembre-se de que sua reflexão e postura pessoal deverão, principalmente,
demonstrar coerência. Ser um professor que exige disciplina não é um “pecado”
ou um erro. O propósito desta aula é mostrar que uma atitude radical e sem crítica
pode ser geradora de novos problemas no comportamento dos alunos.
106 C E D E R J
MÓDULO 1
AUTO-AVALIAÇÃO
10
AULA
Ao final desta aula você deve ter compreendido a importância de considerar
diferentes abordagens – disciplinadora e compreensiva – para que se possa
desenvolver o senso crítico em relação às práticas cotidianas em sala de aula.
Se você sentir necessidade, converse com seu tutor, pois o diálogo é um caminho
que nos ajuda a melhor compreender os fenômenos complexos que ocorrem no
nosso dia-a-dia.
C E D E R J 107
Cultura e cotidiano escolar –
11
AULA
A sala de aula
Ética e Educação
Pré-requisito
Esta aula contém uma síntese das
dez aulas passadas. Para uma efetiva revisão, retome o material
de estudo, condição essencial para solidificar
as aquisições já feitas.
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
AULA 1
TEMA: DEFINIÇÃO DE CULTURA
Final de campeonato
Assinantes de TV paga Desportistas
colegial de handball
110 C E D E R J
A aprendizagem dos aspectos fundamentais da cultura de uma
11
sociedade compõe a socialização primária, enquanto a aprendizagem
AULA
correspondente a cada grupo social é chamada socialização secundária.
A escola produz trabalhos com os dois níveis de socialização ao explorar
conteúdos na dinamização de sua estrutura curricular no processo de
formação dos indivíduos componentes de dada cultura, dada realidade.
Compatibilizam-se currículo e realidade.
O etnocentrismo supõe a superioridade de um padrão cultural
qualquer, apesar de identidades e culturas guardarem a mesma condição
de igualdade. Discriminação e exclusão são efeitos do comportamento
etnocêntrico. Ao contrário, tolerância e igual aceitação da diversidade
cultural promovem a configuração democrática de uma sociedade.
O tratamento da multiplicidade cultural se constitui em missão
da escola ao relacionar e integrar saberes e práticas.
AT
ATIVIDADE
AULA 2
TEMA: TIPOS DE CULTURA
C E D E R J 111
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
112 C E D E R J
A
ATIVIDADE
11
2. Um exemplo de cultura popular é o hábito de contar histórias de
AULA
bruxas que as crianças residentes na região da Lagoa da Conceição,
Florianópolis, têm. As tardes de sábado são dedicadas a isto. São feitos
relatos sobre lobisomens, pessoas que se transformaram em árvores,
histórias de pescadores e muito mais. Leia uma destas histórias:
AULA 3
TEMA: CULTURA PATENTE E CULTURA LATENTE
C E D E R J 113
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
ATIVIDADE
AT
ATIVIDADE
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__________________________________________________________________
114 C E D E R J
11
COMENTÁRIO
AULA
Se você pensou em autoritarismo, poderia ter produzido algo como
“Núcleo Educacional de Democratização”, mas, se trabalhou com a
idéia de criatividade, que tal “Posto de Criatividade Avançada”?
AULA 4
TEMA: ORGANIZAÇÃO ESCOLAR
C E D E R J 115
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
AT
ATIVIDADE
AULA 5
TEMA: AS DIFERENTES FORMAS DE COTIDIANOS
ESCOLARES
116 C E D E R J
A mesma realidade educativa é tida pelo grupo/escola com
11
significações múltiplas, fruto de percepções construídas nos processos
AULA
interativos estimuladores das capacidades de adaptação, harmonização,
conflito e resistência às ações uns dos outros.
Na aula em questão, você realizou a tarefa de recolhimento de
relatos e depoimentos. Utilizando os registros, sublinhe tudo que pareça
importante, mas só considere referências para a área emocional e a idéia
de reconhecimento pessoal.
AT
ATIVIDADE
6. DESCOBRINDO...
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AULA 6
TEMA: O ESPAÇO DA SALA DE AULA
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Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
A
ATIVIDADE
118 C E D E R J
AULA 7
11
TEMA: A ORGANIZAÇÃO INTERNA DAS TURMAS E A
AULA
CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO
C E D E R J 119
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
AT
ATIVIDADE
120 C E D E R J
As estruturas organizativas complexas não contemplam as
11
potencialidades das várias formas de agrupamento. Tal ocorre em razão
AULA
da diversidade dos alunos e da aprendizagem de conteúdos de natureza
diversa. Turma, grupos, trabalho individual e critério de homogeneidade
e heterogeneidade serão considerados.
A turma tem caráter organizativo e didático, numa perspectiva
construtivista em trabalhos conjuntos e no trato de procedimentos e
atitudes, com ajudas pertinentes e específicas na direção da competência
do aluno. A ajuda pelo professor considerará:
• Os esquemas de conhecimento dos alunos a partir dos significados
e dos sentidos que já possuíam em relação ao conteúdo em questão.
• A provocação de desafios no questionamento de significados e
sentidos e sua modificação numa direção desejada.
Tanto a ajuda sistemática e planejada prestada pelo professor,
quanto a interação cooperativa entre os alunos favorecem a criação
do ZDP (Zona de Desenvolvimento Proximal), distância entre o nível
de resolução de uma tarefa alcançada de forma independente e o
nível alcançado com a ajuda de um colega.
Eis algumas das respostas que podem ser dadas ao se proporcionar
educação, recorrendo-se a diferentes tecnologias: métodos, artifícios e
ferramentas pedagógicas.
AT
ATIVIDADE
C E D E R J 121
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
AULA 8
TEMA: A SUBJETIVIDADE PRESENTE NA SALA DE AULA
122 C E D E R J
O professor, um adulto recalcado sexualmente, tem dificuldade
11
para responder às perguntas formuladas pelos alunos e responde com
AULA
divagações e até censura. É o início precoce de um conflito psíquico,
pois a referência de natureza pulsional infantil não é declarada, em
virtude dos julgamentos e conveniências dos adultos amparados por
sua autoridade.
A origem do recalque se alicerça mais na proibição imposta no
dizer e menos na proibição imposta no agir. Aquilo que não se diz não
pode ser pensado conscientemente. Fica instalada a censura sobre a
palavra, e este erro educacional trará como conseqüência, em última
instância, o comprometimento da independência, ou seja, o exercício
da função intelectual.
As práticas educacionais de repressão das pulsões não consideram
os interesses da coletividade, os interesses individuais, os desejos da
criança. O processo de educação para a realidade fica comprometido
ao desconsiderar a realidade psíquica. As indicações fornecidas pela
psicanálise podem se tornar contribuições de porte para a conduta do
professor em prol da formação do indivíduo.
AT
ATIVIDADE
C E D E R J 123
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
AULA 9
TEMA: AS DIMENSÕES ESQUECIDAS DA SALA DE AULA
E DA ESCOLA
124 C E D E R J
com status diferenciado. Acrescente-se, ainda, as aprendizagens de
11
relação com o tempo, relação entre o espaço privado e público e relação
AULA
com as regras e saberes.
A escola possui uma cultura que lhe é própria. É um lugar de
confrontos e encontros, e um espaço para o exercício qualificado do
ofício do aluno.
O panóptico
É um olho invisível à nossa visão, mas que tudo observa. Tudo vê e não
é visto. Coisa pensada por Foucault. Os “pardais” de trânsito, câmeras
de segurança e tal são aplicações disso.
Como comentar esta fala? Troque idéias com seu tutor ou um colega.
AULA 10
TEMA: AS RELAÇÕES PRESENTES NA SALA DE AULA
C E D E R J 125
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar – A sala de aula. Ética e Educação
AT
ATIVIDADE
11. Releia, na Aula 10, o estudo de caso. Lance mão de todo o material de
estudo referente a esta aula. Desenhe o prédio de cada uma das escolas
dos casos. Personifique o estudante de uma e outra ao final do processo
escolar. Se necessário, recorra outra vez a revistas em quadrinhos.
126 C E D E R J
12
AULA
Os desafios éticos
da Educação
Meta da aula
Compreender a importância da ética para o
aprofundamento das questões educativas.
objetivos
INTRODUÇÃO Fernando Savater, importante teórico espanhol, em Ética para meu filho, alude à
importância da ética. Não se trata apenas de um assunto especializado destinado
àqueles que estudam Filosofia, mas de uma disciplina que nos leva a refletir
sobre o sentido da conduta humana. Portanto, a ética compete a todos; a
Educação, por sua vez, não pode deixar de atiçar os alunos à discussão sobre
os valores, o comportamento, as diversas atitudes que devem ser adotadas ao
longo de suas vidas.
Contudo, se nos fosse perguntado qual é uma das principais funções da escola,
responderíamos, sem dúvida, que seria a que consiste em buscar desenvolver o
potencial dos alunos por meio do aprendizado de disciplinas específicas como
Português, Matemática, História, Ciências etc. Essa resposta, apesar de também
correta, está diretamente ligada a outros aspectos igualmente importantes.
Não se poderia deixar de mencionar a tarefa de qualificar os alunos para o
ingresso no mercado de trabalho, de estimulá-los à convivência em grupo ou
de aprimorarem sua capacidade comunicativa. Todas essas características, no
entanto, ainda se mostram insuficientes, se não levarmos em conta o aspecto
ético da atividade pedagógica.
Porém, antes de continuar esta questão, devemos propor algumas perguntas
fundamentais para a compreensão desta aula: Você sabe o que é Ética? Já
discutiu sobre questões éticas com seus amigos? Já disse “Tal político não tem
ética.”? Você já se perguntou o que esse termo significa?
Sem dúvida, deve ter levantado essas questões. Por isso, esta aula será muito
importante para esclarecer situações que você aborda no seu dia-a-dia,
embora não conheça claramente o conteúdo daquilo que você está falando.
Comecemos, portanto, com uma pergunta fundamental:
O que é ética?
128 C E D E R J
ÉTICA: ORIGEM E CONCEITUAÇÃO
12
AULA
A palavra ética remonta ao termo grego êthos. Esse termo
significava habitação, moradia. Tal definição remete à idéia de um lugar
de onde se sai e para o qual se regressa. Alude, assim, ao caráter geral
do homem, às suas atitudes e posturas mais estáveis, aos parâmetros que
norteiam sua conduta. Desse modo, uma reflexão ética precisa levar em
conta a plenitude da vida humana.
Para nos aprofundar ainda mais na questão estudada, um
dicionário filosófico e um de Língua Portuguesa fornecem importantes
subsídios. Assim Abbagnano define Ética:
C E D E R J 129
Fundamentos da Educação 4 | Os desafios éticos da Educação
ATIVIDADE
130 C E D E R J
12
AULA
Após a leitura desses trechos e uma breve análise do mapa (que você pode encontrar
no site www.agenciaaids.com.br), analise a postura ética da Conferência Episcopal
Espanhola: Por que seria imoral o uso de camisinhas? Quais seriam as normas éticas
que estariam sendo feridas ao apregoar o seu uso? Por que a religião se opõe ao
uso das camisinhas, se são úteis para a prevenção da AIDS? Reflita também sobre a
postura do Ministério da Saúde do Brasil: Quais os motivos que o levam a incentivar
o uso de camisinhas e, inclusive, a distribuí-las gratuitamente? Esse dinheiro público
é gasto adequadamente? Não se trata de uma questão individual? Trata-se de um
problema social que leva ao controle da conduta individual? Você acha que a escola
deve abrir espaço para discutir questões de sexualidade, como as levantadas nas
matérias lidas?
ARGUMENTAÇÃO ARGUMENTAÇÃO
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Fundamentos da Educação 4 | Os desafios éticos da Educação
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RESPOSTA COMENTADA
ÉTICA E EDUCAÇÃO
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lembremos a descrição feita por Marilena Chauí (2000):
AULA
percorrendo praças e ruas de Atenas (...), Sócrates perguntava aos
atenienses, fossem jovens ou velhos, o que eram os valores nos
quais acreditavam e que respeitavam ao agir. Que perguntas lhes
fazia ele? Indagava: O que é a coragem? O que é a justiça? O que
é a piedade? O que é a amizade? A elas os atenienses respondiam
serem virtudes. Sócrates voltava a indagar: O que é a virtude?
Retrucavam os atenienses: É agir em conformidade com o bem. E
Sócrates questionava: Que é o bem? (p. 339).
C E D E R J 133
Fundamentos da Educação 4 | Os desafios éticos da Educação
ATIVIDADE
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AULA
o respeito mútuo.
O APRENDIZADO DA CIDADANIA
diversidade e
Aula de hoje: ética,
respeito às diferenças
C E D E R J 135
Fundamentos da Educação 4 | Os desafios éticos da Educação
136 C E D E R J
que se torna possível o aprendizado da cidadania. Isso exigirá a formação
12
de um ambiente escolar no qual todos estejam cientes de seus direitos e
AULA
deveres e que as diferenças sejam respeitadas.
Em suma, um projeto pedagógico comprometido com o
fortalecimento dos processos de humanização e democratização das
relações sociais requer, como pressuposto, o aprofundamento do diálogo
entre o par aluno-professor, “condição fundamental”, de acordo com
Paulo Freire, “para a verdadeira educação” (FREIRE, 1975, p. 98).
ATIVIDADES FINAIS
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C E D E R J 137
Fundamentos da Educação 4 | Os desafios éticos da Educação
RESPOSTA COMENTADA
Você pode ter pensado que a mídia, principalmente através dos modelos
que estão em contínua exposição, exaltando sua beleza e triunfo individual,
deixa de lado valores como o espírito de cooperação e a solidariedade. Você
pode ter listado diversas propostas para serem realizadas na escola, visando
a fomentar a consciência cidadã dos alunos, como: realizar debates, na
turma, sobre direitos, deveres, cidadania etc.; criar um jornal em que todos
os alunos se manifestem sobre diversas questões da atualidade; promover
palestras, com professores convidados, sobre direitos humanos, ecologia,
exclusão social etc. Você pode ter listado essas ou outras propostas, mas o
importante é que tenha percebido a importância da escola para desenvolver
a consciência cidadã dos alunos.
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RESPOSTA COMENTADA
138 C E D E R J
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RESUMO
AULA
A escola não se restringe à atividade pedagógica; através dela é possível pensar
a cultura dentro de uma perspectiva ética, levando em conta as diferenças,
fomentando o compromisso comum de promover uma vida em sociedade, baseada
na tolerância e no respeito mútuo. A proposta de uma educação guiada por valores
éticos só é possível por meio do diálogo e do entendimento de que as diferenças
são inerentes à vida em grupo, principalmente em sociedades fundamentadas em
princípios democráticos.
AUTO-AVALIAÇÃO
Você compreendeu que a escola não possui apenas uma função pedagógica,
no sentido de transmitir conhecimentos? Ficou claro também que um dos
principais desafios éticos de uma instituição educacional consiste justamente na
sua capacidade de estabelecer um diálogo entre as diferentes formas de avaliar
o mundo e as coisas? Você está ciente de que educar passa pelo desafio de criar
cidadãos a partir de uma discussão ética que envolva, num único movimento, a
vida escolar e a vida social? Se suas respostas foram positivas, vá em frente; em
caso contrário, releia os conteúdos da aula e procure o tutor no seu pólo.
A Aula 13, Ética na Sala de Aula, propõe uma reflexão sobre o papel ético do
professor, cuja missão, além de passar conhecimentos, é contribuir na formação
moral dos alunos.
C E D E R J 139
Fundamentos da Educação 4 | Os desafios éticos da Educação
Leituras recomendadas
Para ampliar seus conhecimentos sobre o tema tratado nesta aula, sugiro as seguintes
leituras:
Apologia de Sócrates. In: Diálogos de Platão. Coleção Os Pensadorers. São Paulo: Nova
Cultural, 1999.
Desta forma, você poderá aperfeiçoar ainda mais sua prática profissional. Boa leitura!
MOMENTO PIPOCA
MO
As
Assista, com seus colegas, a Nenhum a menos, filme chinês do famoso diretor
Zhang Yimou (que dirigiu o clássico Lanternas vermelhas). Trata-se da história
Zh
de uma jovem de apenas 18 anos que, na época da denominada Revolução
Cultural, tem que assumir uma turma de crianças, num povoado muito pobre
Cu
de uma cidade interior da China. Ela carece totalmente de experiência para
lecionar, mas aos poucos, com uma persistência inquebrantável, consegue
lec
cativar todos os alunos. Porém, seu papel não se restringe a isso: muitas das
ca
crianças devem abandonar a escola para conseguir dinheiro, a fim de subsistir.
cri
Assim, a pequena professora vai atrás de todas as crianças, para que possam
continuar na escola e ter uma formação melhor para batalhar na vida. O que
acha do papel ético e da atitude cidadã da professorinha chinesa?
140 C E D E R J
13
AULA
Ética na sala de aula
Meta da aula
Esclarecer o papel ético do professor, cuja interferência
é marcante para a formação moral dos alunos.
objetivos
Pré-requisito
Para melhor entendimento desta aula, sugerimos que você
reveja a Aula 12, Os desafios éticos da Educação.
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
O professor deve esti- À medida que almeja promover uma educação crítica e libertária, a escola está
mular, na sala de aula, diretamente envolvida com a formação ética dos alunos. Independente da
a reflexão sobre con-
dutas e valores, assim questão do conteúdo a ser transmitido, a tarefa de refletir sobre as condutas e os
como estimulará uma
conduta ética por valores faz parte do cotidiano de uma instituição pedagógica. Para implementar
parte dos alunos.
o debate ético em sala de aula, somos levados a pensar tanto na existência de
uma disciplina específica quanto no desenvolvimento de estratégias que estejam
presentes no exercício cotidiano do magistério. Uma opção não invalida a outra,
mas faz-se necessário que fiquemos atentos para alguns fatores.
142 C E D E R J
Em primeiro lugar, o educador, além de ser responsável por facilitar a aquisição
13
de conhecimentos, também acaba funcionando, inevitavelmente, como um
AULA
agente transmissor de valores morais, notadamente de modo implícito, seja
na forma de expor seu saber, seja tomando a sua conduta como parâmetro
a ser seguido, ou expressando juízos a respeito da conduta dos alunos (o que
ocorre em termos disciplinares ou, simplesmente, na avaliação do desempenho
de cada um). Assim, a tarefa de apregoar os bons costumes ou o respeito à
autoridade não esgota as implicações éticas da postura do educador.
Em segundo lugar, não basta apresentar as diretrizes que norteiam determinada
teoria ética, querendo, com isso, incutir os fundamentos de uma reflexão
sistemática. Nos dois casos, corre-se o risco de fornecer elementos puramente
teóricos, ou seja, estranhos à experiência concreta dos alunos. É necessário que
o ensino da ética se vincule à realidade vivenciada pelos alunos. Será pouco
proveitoso transmitir, por exemplo, a ética de Sócrates, Platão, Kant etc.,
se esses conhecimentos não se articularem com a vida dos estudantes. É muito
mais interessante promover debates, em torno dessas teorias, que aludam às
vivências dos discentes.
Pensemos no caso dos sofistas, como PROTÁGORAS, que ensinavam que PROTÁGORAS
Filósofo natural
“o homem é a medida de todas as coisas”. Com isso, sustentavam que não de Abdera,
havia uma verdade universal, que cada indivíduo, conforme a sua necessidade, contemporâneo de
Sócrates, famoso por
perspectiva ou situação, podia escolher a versão dos fatos que fosse de sua sua tese relativista do
homo-mensura.
maior conveniência. Assim, por exemplo, se temos necessidade de passar Na Aula 18,
na prova, devemos escolher “colar”, já que é o mais proveitoso para nós. A origem da
profissão docente,
Porém, não há outros valores que devem ser respeitados? Não haverá normas, de Fundamentos
da Educação 3,
de interesse geral, que devam ser acatadas? Se todos “colassem”, teria algum você pode rever
posturas sofísticas,
sentido dar prova? No caso, poderíamos suprimir as provas?
aprofundadas
É importante que os alunos possam se colocar diante desse exemplo concreto, detalhadamente.
tão presente no seu cotidiano, promovendo uma reflexão ética que não se
reduz a um raciocínio abstrato.
Sugerimos, então, que discuta com seus colegas do pólo sobre o problema
ético envolvido no fato de “colar” ou não “colar” nas provas. Sintetize os
argumentos a favor e contra.
C E D E R J 143
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
144 C E D E R J
Essa consideração, aplicada especificamente ao problema da
13
Reflexão de hoje:
produção e da transmissão do conhecimento, também se mos- t r a A ética na escola, com um
AULA
espaço dialógico de
bastante eficaz para o caso do ensino da ética, tendo em vista construção conjunta
que não basta o professor determinar previamente o que
é certo ou errado, para que os alunos sejam, num
segundo momento, capazes de distinguir o que
é moralmente correto do que não é. Limitar-se
a esse tipo de atuação pode ser tido como uma
forma de doutrinação, que facilmente conduziria
à rigidez ou, o que seria pior, à transformação do
discurso docente em um punhado de palavras vazias.
O educador cria condições para o desenvolvimento de ações éticas
ao manifestar um comportamento coerente e DIALÓGICO. Da mesma forma DIALÓGICO
Relativo ao diálogo;
que há uma assimilação dos conteúdos por meio do que é dito, também em forma de diálogo.
há uma assimilação decorrente do modo como o educador age diante A educação dialógica
implica troca
de situações cotidianas. permanente entre
professor e alunos.
Em ambos os casos, não há como deixar de lado a tarefa de
repensar continuamente, e na medida do possível, a própria inserção
na prática pedagógica.
C E D E R J 145
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
ATIVIDADES
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CAZUZA _________________________________________________________________
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Foi um cantor
popular que adotou _________________________________________________________________
uma postura _________________________________________________________________
transgressora e _________________________________________________________________
irreverente com
relação às convenções
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sociais. O que você _________________________________________________________________
acha dele? _________________________________________________________________
É um exemplo de
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indivíduo livre ou
trata-se apenas de um 2. Analise a relação que é estabelecida, na sua escola, entre os
“rebelde sem causa”?
professores e os alunos. Há discussões sobre cidadania, direitos e
deveres? Promova a seguinte discussão, de grande atualidade, com os
professores e os integrantes da sua turma: deve haver cotas reservadas,
na universidade, para negros e outros grupos geralmente discriminados?
As cotas reparam a discriminação ou, ao contrário, trata-se de uma
outra forma de discriminação? Sintetize, por escrito, os argumentos a
favor e contra as cotas na universidade, sem ultrapassar as 15 linhas.
Entre em contato com seus colegas do pólo e compare suas respostas:
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146 C E D E R J
A EDUCAÇÃO ÉTICA
13
AULA
Para SARTRE, a liberdade é o próprio fundamento do ser do homem.
Ela está na raiz de seu comportamento, porque sempre temos de
escolher. Nesse sentido, o homem é essencialmente livre, não pode
abdicar da liberdade, como disse Sartre, “o homem está condenado
a ser livre” (GALLO, 2002, p. 77).
JEAN PAUL
Como você viu, tornar-se um indivíduo ético não é algo que pode SARTRE
(1905-1980)
ser simplesmente ensinado. O aprendizado da ética está diretamente
relacionado com a possibilidade de intensificar o grau de participação Filósofo francês que
colocou a liberdade
ativa dos alunos. Daí se poder afirmar que, para que isso ocorra, faz-se como uma questão
fundamental da
necessário transformar o ambiente de sala de aula num espaço que filosofia.
favoreça a manifestação do diálogo, criando a possibilidade de elaborar
conjuntamente o saber. Recorrendo mais uma vez a Paulo Freire:
“a situação do ensino constrói não apenas o aluno, mas também o
professor, pois (...) ele também é um sujeito em construção no processo”
(SILVA; TUNES, 1999, p. 45).
O principal objetivo de uma pedagogia orientada eticamente
consiste em proporcionar o desenvolvimento tanto da autonomia
intelectual quanto do pensamento crítico:
C E D E R J 147
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
148 C E D E R J
ATIVIDADES FINAIS
13
AULA
Esta atividade é muito importante para que você atinja os objetivos desta aula.
Realize-a com afinco e dedicação.
• Projetos interdisciplinares.
• Cotidiano escolar.
• Relação escola/comunidade.
C E D E R J 149
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
Você conseguiu avaliar até que ponto é eticamente desejável que todas as questões
abordadas em sala de aula tornem-se passíveis de discussão e questionamento?
Haveria, na sua opinião, limites para discutir e questionar? Por exemplo: a escola
visitada aceita que os alunos proponham conteúdos tais como: violência na cidade,
ecologia, política internacional etc.? E atividades como música, dança, teatro,
eventos religiosos etc.? ou isso depende exclusivamente do currículo estabelecido?
Os envolvidos no processo educativo dialogam com os alunos, aceitam discutir
as decisões adotadas ou apelam simplesmente para o respeito à autoridade para
justificar seus atos e as orientações dadas aos alunos?
150 C E D E R J
13
AULA
COMENTÁRIO
Se você abordou a maioria destas questões em seu texto, você conseguiu alcançar
os objetivos desta aula. Parabéns!
2. Leia esta matéria da Folha de S. Paulo e reflita sobre a postura ética de uma
professora que, em sala de aula, colocou fita crepe na boca dos seus alunos para
que se mantivessem calados; analise também a postura ética do diretor, que
encontra atenuantes para essa conduta, afirmando que a docente agiu “por
brincadeira”.
Em Várzea Paulista, crianças dizem que tiveram boca fechada. Professora é acusada de calar aluno
com fita crepe.
A mãe de uma criança de sete anos registrou boletim de ocorrência no qual acusa uma professora
de usar fita crepe para calar o aluno em sala de aula, na escola estadual Natanael Silva, em Várzea
Paulista (SP).
Outras duas mães de alunos da mesma classe – 1ª série de ensino fundamental – afirmam que seus
filhos também tiveram a boca fechada com fita crepe no mesmo dia (...) A professora, identificada
apenas como Maria Ivone, admitiu, por meio da diretoria da escola ter usado a fita crepe, mas diz
que agiu por brincadeira. Ela afirmou que os três alunos permaneceram três minutos com a fita.
O diretor da escola, Eduardo Mafassoli, disse ontem que a professora admitiu a ele ter feito a punição
por brincadeira. ‘Não posso tolerar esse tipo de atitude. Mas ela alega que fez por brincadeira, e
não podemos crucificá-la’. A professora disse que, mesmo depois de ter ‘calado’ os alunos, eles
continuaram zombando dela. Alegando à reportagem que errou, Maria Ivone afirmou que o caso
ocorreu em ‘um momento que a classe extrapolou’” (Folha cotidiano. São Paulo, Terça-feira, 7 de
dezembro de 2004).
C E D E R J 151
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
RESUMO
152 C E D E R J
AUTO-AVALIAÇÃO
13
AULA
Você percebeu que no ensino da ética é importante que o professor esteja
disponível para interagir de forma aberta e sincera com os alunos? O quanto lhe
pareceu correto que tomar essa diretriz como objetivo a ser alcançado, sempre
que possível, evita não apenas que as decisões sejam tomadas de forma isolada,
o que gera inevitavelmente arbitrariedades, como também permite que haja
humanização das relações entre alunos e professores? Ficou claro que introduzir
a reflexão ética no processo pedagógico implica desenvolver a capacidade criativa
e incentivar os alunos a agirem de forma livre e autônoma? Se essas questões
ficaram claras para você, vá em frente!
Leituras recomendadas
LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora? Novas exigências educacionais e
profissão docente. São Paulo: Cortez, 2002.
LINHARES, Célia. A escola e seus profissionais. Rio de Janeiro: Agir, 1997.
SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 1996. Leia este instigante
texto, em que o autor espanhol se dirige a seu filho, de uma forma simples e direta, para transmitir
parâmetros éticos vinculados às experiências cotidianas.
C E D E R J 153
Fundamentos da Educação 4 | Ética na sala de aula
MOMENTO PIPOCA
M
Ao mestre com carinho, famoso filme com o ator negro Sidney Poitier no
A
papel
p de um professor que, mesmo discriminado pela sua cor, consegue,
por
p causa de seus conhecimentos, conduta, postura ética inquestionável
e com grande afeto pelos alunos, influenciar profundamente uma turma
que
q inicialmente o rejeitava.
Sociedade
S dos poetas mortos, de Peter Weir, no qual Robin Willians
interpreta
in um singular professor que consegue, não só com suas posturas
teóricas, mas com suas atitudes, interferir nos valores, condutas e idéias de
toda uma turma. O filme mostra o papel ético do professor; esclarece como
as atitudes do docente, na sala de aula, são marcantes para a formação
ética dos alunos.
154 C E D E R J
14
AULA
A ética na escola
Meta da aula
Esclarecer a importância da reflexão ética na escola, que
visa promover o diálogo e a convivência solidária
e democrática entre todos os seus participantes.
objetivos
Pré-requisitos
Para melhor compreensão desta aula, sugerimos que
você reveja as Aulas 12, Os desafios éticos da Educação,
e 13, Ética na sala de aula, os conceitos de Ética, Paidéia,
diferença, diversidade, pluralidade e dialógico, dentre outros.
Fundamentos da Educação 4 | A ética na escola
Você viu, nas aulas anteriores, a idéia de que uma das principais
funções da escola reside em preparar os indivíduos para a vida em
sociedade. Essa tarefa requer a instauração de um processo gradual
de conscientização dos alunos, de tal forma que eles sejam levados
a refletir sobre a sua inserção no mundo que os rodeia. Um modo
eficiente de promover esse aprendizado reflexivo consiste em incentivar o
desenvolvimento da capacidade de raciocínio crítico. Tendo em vista que
a escola se mostra como o lugar, por excelência, do debate e da criação
de pensamento, ela inevitavelmente ocupará o papel de laboratório da
experiência ética.
A problematização dos valores requer também que seja discutido
como ocorrem as relações pessoais no interior do estabelecimento escolar.
Essa proposta pedagógica está centrada, sem dúvida, num primeiro
momento, na relação entre professor e aluno, mas também não pode
deixar de lado diretores, coordenadores e funcionários ligados, direta
ou indiretamente, àquele espaço físico, incluindo os pais dos alunos,
cuja influência é fundamental no processo pedagógico. Todos estão
envolvidos, em maior ou menor grau, quando se trata de pensar questões
éticas que estejam relacionadas com a mútua dependência entre liberdade
e responsabilidade e com o desenvolvimento das noções de cidadania e
solidariedade. O sucesso desse empreendimento depende diretamente do
desenvolvimento de relações harmoniosas e do estreitamento do vínculo
afetivo entre todos aqueles que fazem parte da comunidade escolar.
Você também não pode se esquecer de que o ensino da ética
precisa ser contextualizado, isto é, ele só faz sentido se estiver inserido em
situações direcionadas a resolver problemas que se mostrem fundamentais
156 C E D E R J
ou urgentes para o bom andamento da vida em grupo. A seqüência:
14
escutar o professor, anotar o que ele diz, decorar o que foi registrado e
AULA
passar tudo devidamente organizado para a prova exclui do ato de pensar
a livre reflexão e a capacidade de avaliar. De certo modo, a ética não é
simplesmente ensinada, ela é construída passo a passo. Como resultado final
desse processo conjunto e transformador, o aprendizado de uma cidadania
ativa e responsável, na qual todos estejam aptos para manifestar os seus
pontos de vista, é viabilizado. O exercício do pensamento democrático é
imprescindível para a constituição de um ambiente plural e sem exclusões.
Daí a importância da escola no mundo contemporâneo.
A escola democrática deve ser plural: todos devem ser ouvidos, todos
os pontos de vista devem ser respeitados; os que pensam de forma
diferente não devem ser excluídos.
C E D E R J 157
Fundamentos da Educação 4 | A ética na escola
158 C E D E R J
A
ATIVIDADES
14
1. Escute a música Maluco Beleza, de RAUL SEIXAS. Reflita sobre os
AULA
conteúdos apresentados na canção e defina se a comunidade com a
qual você interage respeita aqueles que são “diferentes”, incluindo os
que são considerados “malucos”. Em sua opinião, essa aceitação ou
rejeição dos diferentes tem influência na convivência escolar? Realize
uma síntese final, por escrito, de sua reflexão, utilizando as linhas
disponíveis abaixo.
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RAUL SEIXAS
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Cantor popular que
apresentou, nas suas
músicas e atitudes,
uma postura 2. Na Aula 13, você teve a oportunidade de visitar uma escola e entrevistar
chocante e rebelde. alguns de seus integrantes. A partir desta vivência, reflita sobre o tema
Você acha que ele
era realmente um
participação política. A escola estimula a reflexão sobre questões sociais
“maluco beleza” ou esses problemas não são valorizados por serem considerados alheios
ou tratava-se ao currículo escolar? As questões de racismo, engajamento político,
simplesmente de
cidadania e ecologia são valorizadas e abordadas ou, ao contrário, são
um sujeito excên-
trico, inadaptado esquecidas por serem consideradas extracurriculares? A partir de sua
às normas e percepção, realize uma síntese escrita dos argumentos apresentados
convenções sociais? com, no máximo, 10 linhas.
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C E D E R J 159
Fundamentos da Educação 4 | A ética na escola
160 C E D E R J
alunos barulhentos ou desatentos. Nesses casos, antes de puni-los ou
14
falar duramente com eles, o docente deve tratar de discutir suas condutas,
AULA
mostrar que há possibilidades melhores de agir e que esses alunos, ao
abandonarem essas atitudes, podem ser mais valorizados pelos próprios
colegas e por todos os que convivem nesse espaço educativo.
Em outras palavras, cabe àquele que é educador manter atitudes
coerentes com os valores de uma convivência entre cidadãos livres e cons-
cientes. Nada mais natural e espontâneo do que tratar de forma educada os
funcionários; conversar sempre de maneira civilizada e coerente em situações
de conflito; pedir favores com gentileza e saber agradecê-los em seguida; ser
responsável pela devida manutenção e
arrumação do local utilizado (por exem-
plo, guardando brinquedos, tampando
canetas, organizando os materiais da
sala de aula e mesmo seus próprios
pertences etc.); contribuir com a limpeza
(principalmente limpando o que sujou)
e ser solidário com o companheiro em
situações difíceis (nos momentos de tris-
teza ou de dor). Também os momentos
de alegria devem ser partilhados: festas,
aniversários, datas comemorativas, final
Figura 14.1
de ano etc.
Figura 14.2: A escola democrática deve estimular o encontro solidário entre todos
os seus integrantes: alunos, pais de alunos, professores, funcionários, diretores etc.
C E D E R J 161
Fundamentos da Educação 4 | A ética na escola
162 C E D E R J
defendendo que compete a cada grupo social definir sua própria tábua de
14
valores, não cabendo mais nada a ser dito sobre o assunto. Deste modo,
AULA
a pluralidade cultural, levada ao seu limite, tornaria inócua a discussão,
posto que parte da idéia de que cada comunidade torna-se o seu próprio
parâmetro de avaliação. Porém, mesmo reconhecendo a diversidade de
valores e as diferenças culturais, o professor deve tentar equacionar esses
conflitos, deve adotar caminhos de ação para resolver as contradições
que acontecem no espaço escolar. Fundamentalmente, deve procurar
mediar e estimular o diálogo entre os grupos em conflito.
Neste ponto, lembramos novamente a Aula 12, de Fundamentos
da Educação 3, Módulo 1, onde analisamos o conflito de valores que
surge da diversidade cultural:
C E D E R J 163
Fundamentos da Educação 4 | A ética na escola
vista ético, a escola deve assumir cada vez mais seu papel de pensar a
conduta individual dentro de uma sociedade plural, na qual o que pode
parecer certo para um mostra-se inadequado para outro.
A
ATIVIDADE
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RESPOSTA COMENTADA
164 C E D E R J
ATIVIDADE FINAL
14
AULA
Imagine que você seja um professor de uma turma do Ensino Médio. Agora,
experimente criar uma atividade para sua classe, cujos alunos serão convidados a
refletir sobre uma situação, criada ou selecionada por você, que envolva algum
dilema moral. Registre todas as etapas envolvidas na criação de sua atividade:
• Que estratégias podem ser criadas para conduzir a discussão (por exemplo, a
divisão da turma em grupos)?
Mostre seu trabalho ao tutor e, se possível, discuta-o com seus colegas de pólo.
Lembre-se, também, de anotar suas principais dificuldades na elaboração da atividade.
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RESPOSTA COMENTADA
C E D E R J 165
Fundamentos da Educação 4 | A ética na escola
RESUMO
AUTO-AVALIAÇÃO
Ficou claro, para você, a importância de o educador proporcionar meios para que
os alunos tornem-se agentes sociais conscientes e responsáveis? A qualidade do
relacionamento pessoal entre todos os sujeitos do processo educativo – professores,
alunos, pais, dirigentes, funcionários etc. – contribui decisivamente para que se crie
um clima de confiança e respeito. No entanto, o ensino da ética na escola requer
também, e principalmente, o desenvolvimento de um pensamento crítico. Além
do mais, quando se trata de discutir valores e atitudes, até que ponto é necessário
levar em conta o componente cultural? Você se deu conta de que, numa sociedade
democrática, o que se mostra aceitável para um determinado grupo pode entrar
em choque com o que outro grupo considera bom e correto? Se essas questões
não ficaram claras para você, volte a ler a aula e procure a tutoria.
166 C E D E R J
INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA
14
AULA
A Aula 15, A ética no convívio social, pretende refletir sobre o papel fundamental
da reflexão ética para a vida coletiva, que permite ao indivíduo harmonizar seus
interesses pessoais com as normas sociais.
Leituras recomendadas
CANDAU, Maria Vera (Org.). Somos tod@s iguais? Escola, discriminação e educação em direitos
humanos. Rio de Janeiro: DP&Ä, 2003. Veja a profunda reflexão de Candau sobre diversidade
cultural, direitos humanos e discriminação da mulher, dos negros e de outros setores marginalizados
da nossa sociedade.
FRANCO, Creso e KRAMER, Sonia (Org.). Pesquisa e educação: história, escola e formação de
professores. Rio de Janeiro: Ravil, 1997.
PLATÃO. A república. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1996. Veja, principalmente, os Livros II
e III, onde o autor detalha como deve ser a formação ético-pedagógica do cidadão e como deve
ser a organização da escola ideal.
MOMENTO PIPOCA
As
Assista a O caminho para casa, de Zhang Yimou (diretor de Nenhum a menos
e LLanternas vermelhas, já citado na Aula 12), em que se narra a história de
um jovem professor que chega a um povoado rural onde praticamente todos
os habitantes participam da construção de uma escola para a comunidade.
É interessante perceber como os diversos membros da comunidade se
empenham na construção da escola, adotando, junto com o professor, os
em
alunos e outros integrantes da escola, uma atitude ética e cidadã, valorizando
alu
a educação e o trabalho solidário em prol de um ideal comum.
C E D E R J 167
15
AULA
A ética no convívio social
Meta da aula
Esclarecer a importância da ética para que o indivíduo
possa exercer sua liberdade, respeitando, ao mesmo
tempo, as normas da sua sociedade.
objetivos
Pré-requisitos
Para melhor compreensão desta aula, sugerimos que você
reveja as Aulas 12, Os desafios éticos da Educação; 13, Ética
na sala de aula; e 14, Ética na escola. As noções de Ética,
Paidéia, diferença, singularidade, pluralidade, Parâmetros
Curriculares Nacionais, solidariedade, dentre outras, serão
muito importantes para o entendimento adequado dos
problemas abordados.
Fundamentos da Educação 4 | A ética no convívio social
INTRODUÇÃO (...) esses outros que inventamos/ os Outros nos inventam/ nos
recriam/ a sua imagem e a sua semelhança/nos convencem de que
finalmente somos Outros/ e somos Outros, claro/ felizmente somos
Outros (BENEDETTI, 1974, p. 122).
170 C E D E R J
MÓDULO 2
têm direito de emitir suas opiniões, de expressá-las e de organizar-se a
15
DIREITOS
partir delas. Não seria correto, pois, impor o silêncio ou obrigar que N AT U R A I S
AULA
alguém tenha de esconder seus pontos de vista. São aqueles que
asseguram a
qualquer indivíduo
A idéia de sociedade (...) pressupõe a existência de indivíduos o direito à vida,
à liberdade e à
independentes e isolados, dotados de DIREITOS NATURAIS e individuais, igualdade, dentre
que decidem, por um ato voluntário, tornarem-se sócios ou outros.
associados para vantagem recíproca e por interesses recíprocos
(Ib., p. 400).
Robinson Crusoe
Célebre romance de Daniel Defoe que narra as curiosas aventuras
de um náufrago que vive durante 28 anos numa ilha deserta,
totalmente isolado da civilização. Seria ele um animal apolítico?
A
ATIVIDADE
C E D E R J 171
Fundamentos da Educação 4 | A ética no convívio social
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172 C E D E R J
MÓDULO 2
Esse aspecto metodológico, contudo, caminha ao lado de um
15
elemento prático, tendo em vista que,
AULA
do ponto de vista moral, o indivíduo deve sempre estar em forma,
preparado ou disposto; e isto é o que se queria dizer, tradicionalmente,
quando se falava numa pessoa virtuosa, como disposta sempre a
preferir o bem e a realizá-lo (VÁZQUEZ, 2001, p. 215).
ATIVIDADES
A
2 Leia este trecho do poema La casa de las odas, de PABLO NERUDA, e reflita sobre
2.
a importância da vida em sociedade, sugerida no texto. Comente, elaborando
um
u texto de no máximo 15 linhas, as diferenças que há entre uma postura
individualista
i e outra que prega a solidariedade. Analise, especificamente,
a proposta de Neruda: o poeta, nos seus versos, procura harmonizar a sua
i
individualidade com o interesse da comunidade?
dos mares.
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MÓDULO 2
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15
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AULA
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RESPOSTA COMENTADA
C E D E R J 175
Fundamentos da Educação 4 | A ética no convívio social
outros e (...) exigir respeito pela própria vez”; reconhecer que, apesar
de poderem “ser discutidas e modificadas”, as regras “são necessárias
para a vida em comum”; partir do princípio de “que todos somos iguais
e igualmente dignos de respeito” (1988, p. 72). Esses simples preceitos
são a base para a formação de uma consciência ética.
176 C E D E R J
MÓDULO 2
Apesar do que diziam os críticos de sua época, Rousseau
15
não defendia um retorno aos bosques, isto é, à vida selvagem. Sua
AULA
preocupação era apontar um caminho para que o indivíduo readquirisse
os mais elevados valores humanos, valores como a bondade, a piedade,
o amor. Para isso, é necessário voltar a ser livre. O problema é como
articular a vontade coletiva com a individual. Esse impasse se resolve
com a elaboração de um “contrato social”. Nele, os indivíduos não se
relacionam em termos de submissão, mas a partir da participação ativa
de cada um na sociedade em que vive. O exercício da liberdade está, neste
caso, em consonância com a obediência às leis elaboradas coletivamente.
Daí que a liberdade moral sonhada por Rousseau é “única a tornar o
homem verdadeiramente senhor de si mesmo, porque o impulso do puro
apetite é escravidão, e a obediência à lei que se estatuiu a si mesma é
liberdade” (Ib., p. 78).
O que dissemos anteriormente mostra que no convívio social há
um componente político, sem o qual não seria possível obter qualquer
tipo de consenso. Como assinala Chauí, a invenção da atividade política
se deve a, pelo menos, dois fatores importantes:
C E D E R J 177
Fundamentos da Educação 4 | A ética no convívio social
ATIVIDADES FINAIS
1. Você que é morador do Rio de Janeiro deve ter percebido que, nos últimos
anos, a grande maioria dos prédios da cidade está colocando cada vez mais
grades, pretexto de proteção e segurança. Muitas vezes, essas grades avançam
muitos metros sobre a calçada, quase impedindo a passagem de pedestres, além
de oferecer uma lamentável imagem, desagradável esteticamente, de vivermos em
prisões particulares. Mesmo que a colocação de grades esteja limitada por diversas
disposições, as autoridades não fazem questão de penalizar essa proliferação que
atenta contra a vida dos cidadãos e a estética da cidade. Muitos afirmariam
que os moradores dos prédios têm o direito de se proteger, mas ao mesmo tempo
atentam contra a circulação dos pedestres. Redija um comentário por escrito, de
no máximo 20 linhas, analisando se estamos diante de um caso de exercício da
liberdade individual dos moradores desses prédios ou se, ao contrário, se trata de
um desrespeito, por parte deles, às normas coletivas?
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178 C E D E R J
MÓDULO 2
2. “Maurício está vendo o final do Jornal Nacional com Sandra, sua namorada. Não
15
foram para a escola hoje, e esperam para ver o último capítulo da novela das oito,
AULA
que há muito tempo não começa nem às oito nem às oito e meia. Às 20h30min., o
jornal termina e eles ficam felizes, pois isso é difícil de acontecer. – Oba, já vai começar a
novela! Mas a decepção é imediata; a TV anuncia: “Interrompemos nossa programação
para transmitir o horário eleitoral gratuito, conforme determinação do Ministério
da Justiça. Voltamos a seguir com a programação normal.” – Ah, não! Teremos que
agüentar aqueles chatos de novo! Maurício e Sandra desligam-se da TV enquanto
namoram no sofá, mas, de vez em quando, ainda vêem na tela aquelas mesmas caras
de sempre, que certamente estarão fazendo, de novo, as mesmas promessas. Desligam
a TV e voltam ao namoro. Novela mesmo, só mais tarde” (GALLO, 2002, p. 25).
Analise a postura de Maurício e Sandra, os jovens da história. Eles têm uma postura
crítica diante da realidade? Eles apenas estão preocupados com seus interesses
individuais. Namoro, diversão, ou eles têm consciência política? Responda essas
questões por escrito, elaborando um texto de no máximo 15 linhas.
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Fundamentos da Educação 4 | A ética no convívio social
RESUMO
A participação na vida social requer não apenas que o indivíduo saiba expressar suas
opiniões pessoais, mas também que adote uma postura ética. É necessário que cada
um esteja sempre disposto a agir de forma justa e correta. Isso só ocorre quando o
indivíduo assume o compromisso de interagir de forma democrática com a vontade
coletiva. Aqui se coloca o problema da liberdade: para sermos livres temos de levar
em conta as exigências do convívio em sociedade. Nesse sentido, a obediência às leis
constitui uma etapa importante de nossa reflexão e da nossa formação ética.
AUTO-AVALIAÇÃO
A Aula 16, Ação moral e prática educativa, pretende refletir sobre as diferenças que
existem entre os conceitos de moral e ética, assim como destacar a importância de
estimular a reflexão e a crítica constantes no processo educativo, com a finalidade
de resolver harmoniosamente os conflitos vividos no âmbito escolar.
180 C E D E R J
MÓDULO 2
Leituras recomendadas
15
AULA
Leia o romance Robinson Crusoe, de Daniel Defoe. Trata-se de um navegante jovem e aventureiro
que, ao naufragar, ficou confinado a viver em uma ilha durante 28 anos, apenas com seu amigo
Sexta-Feira. É interessante refletir, a partir da experiência do personagem do romance, sobre se
um indivíduo isolado teria necessidade de adotar padrões éticos ou, ao contrário, poderia agir
apenas pelo arbítrio da sua vontade, numa espécie de vida extramoral.
Do contrato social, de Jean-Jacques Rousseau, o autor suíço analisa os alicerces de uma
sociedade, baseada num contrato social, que visa ao equilíbrio entre liberdade individual e
interesse coletivo.
Nietzsche e Deleuze. Bárbaros e civilizados, de Daniel Lins e Peter Pal Pelbart. Esta coletânea
de textos, partindo das teorias de Nietzsche e Deleuze, analisa com profundidade e clareza os
limites e conflitos que existem na constituição das diversas culturas. Sugerimos, dentre os diversos
artigos, O aristocrata nietzschiano: para além da dicotomia civilização e barbárie, de Barrenechea,
Miguel Angel, em que é discutida a linha tênue que existe entre bárbaros e civilizados, entre cultos
e incultos, entre violência e civilização.
MOMENTO PIPOCA
M
Tróia, protagonizado por Brad Pitt, narra as lutas entre gregos e troianos.
O filme mostra principalmente a atuação do maior guerreiro dos gregos,
Aquiles, que age principalmente por interesses pessoais – vaidade, desejo
de fama, ira e afã de vingança. Também há outros personagens que, muito
além de interesses coletivos, agem para satisfazer suas paixões pessoais.
Interessante filme para ver a articulação entre o individual e o coletivo, entre
o respeito ao interesse da comunidade e os apetites pessoais.
Veja também, a trilogia do cineasta polonês Krystof Kioslowski: A liberdade é
azul, A igualdade é branca e A fraternidade é vermelha. O diretor tece uma
metáfora instigante sobre as relações sociais e os desejos e ilusões individuais
na atualidade, inspirado nas três cores da bandeira francesa – azul, branca e
vermelha –, aludindo aos três princípios da Revolução Francesa: liberdade,
igualdade e fraternidade.
C E D E R J 181
16
AULA
Ação moral e prática
educativa
Meta da aula
Esclarecer a diferença entre ética e moral, mostrando a
importância desta distinção para a prática educativa.
objetivos
Pré-requisitos
Para o melhor entendimento desta aula, sugerimos que você releia
as Aulas 12, Os desafios éticos da Educação; 13, A ética na sala de
aula; 14: Ética na escola e 15, A ética no convívio social. Os conceitos
de Ética, Paidéia, diferença, diversidade, pluralidade, dialógico,
Parâmetros Curriculares Nacionais, solidariedade, direitos naturais,
política, dentre outros, serão importantes para o entendimento
adequado dos conteúdos abordados.
Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
184 C E D E R J
MÓDULO 2
O fato de que os valores são históricos, não eternos e imutáveis,
16
está demonstrado pela contínua mudança nos costumes e parâmetros
AULA
que vivemos na sociedade atual. Num mundo regido por contínuas
alterações tecnológicas, pelas permanentes transformações impostas
por novos instrumentos, por sofisticadas engenhocas que mudam nossas
vidas, os valores não podiam permanecer imutáveis. Princípios morais
que pareciam inamovíveis mostram-se cada vez mais mutáveis.
Torna-se fácil perceber, nos dias atuais, que a própria estrutura
familiar, calcada em parâmetros patriarcais, em que o homem era a cabeça
visível do grupo, está sendo profundamente alterada. Cada vez mais, as
mulheres são chefes do grupo familiar; cada vez mais estão engajadas no
mundo do trabalho, ao mesmo tempo que se sacrificam para dar conta
do lar. Muitas vezes são os avós que cuidam da educação das crianças,
quando os pais são pouco presentes ou até ausentes, devido as suas
obrigações laborais ou por outros motivos.
A crise do modelo patriarcal de família, profundamente minado
no século passado e em notória bancarrota no atual, tem trazido a erosão
de valores que eram considerados inalteráveis, como a indissolubilidade
do matrimônio, a exigência de virgindade dos consortes, a necessidade de
que os parceiros se unam em matrimônio – civil e religioso – para terem
o direito à coabitação. Esses valores, atualmente, não têm muita validade
ou pelo menos não são corroborados pela maioria dos invidívuos.
O divórcio já é uma prática geralmente aceita, a virgindade já não é mais
uma condição necessária – à exceção de sociedades muito tradicionais,
como as de alguns países orientais –, e a convivência sem casamento é
uma prática cada vez mais comum.
C E D E R J 185
Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
ATIVIDADE
186 C E D E R J
MÓDULO 2
16
Proponha um debate ético com os seus colegas de turma. Organizem-se em
AULA
três grupos. Um grupo deverá analisar a postura adotada pelas autoridades
judiciais norte-americanas que decidiram deixar Terri morrer, já que, segundo
os médicos que a acompanhavam, seu quadro era irreversível. Outro grupo
comentará, depois, a postura dos pais da doente que se opunham a deixá-
la morrer enquanto ela apresentasse sinais vitais. O terceiro grupo discutirá
a postura da Igreja, que também questionou categoricamente a prática da
eutanásia. Elabore, posteriormente, uma síntese, de no máximo 15 linhas, dos
argumentos apresentados. Finalmente, em cinco linhas, apresente a sua própria
opinião sobre a questão.
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RESPOSTA COMENTADA
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Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
188 C E D E R J
MÓDULO 2
16
MORAL (lat. Moralia; in. Morals; fr. Morale; al. Moral;
it. Morale). 1. O mesmo que Ética. 2. Objeto da Ética,
AULA
conduta dirigida ou disciplinada por normas, conjunto dos
mores. Neste significado, a palavra é usada nas seguintes
expressões: “M. dos primitivos”, “M. contemporânea”
(ABBAGNANO, 1999, p. 682).
C E D E R J 189
Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
ATIVIDADE
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190 C E D E R J
MÓDULO 2
16
RESPOSTA COMENTADA
AULA
Você pode ter percebido que as morais são variáveis, mudam de uma
sociedade para outra, de tempos em tempos. Há costumes que para
um grupo são fundamentais e para outros são chocantes. No entanto, a
Ética, como disciplina filosófica mais ampla, analisa os princípios gerais
da conduta humana. Assim, podemos dizer que é ético o direito à vida,
à dignidade, à igualdade etc. Dessa forma, a ética pode esclarecer que
uma determinada moral não respeita princípios universais do agir. Nesse
sentido, você pode ter assinalado que a eliminação dos deficientes estava
acorde com os parâmetros morais de Esparta; porém, numa reflexão mais
abrangente, pode ter mostrado que esse procedimento era moral nessa
época e sociedade, mas feria normas éticas universais.
EDUCAÇÃO E DIÁLOGO
C E D E R J 191
Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
Ao dar-se conta das era uma virtude que conduzia inevitavelmente à felicidade.
implicações e questões No mundo moderno, essa preocupação com o desenvolvimento
éticas da prática peda-
gógica, o educador abre de uma postura virtuosa está intrinsecamente ligada à elaboração de uma
caminho para trabalhar
em conjunto os desafios atividade pedagógica criticamente construída, na qual seja possível não
do cotidiano.
apenas questionar o que é reproduzido inconscientemente pelos indivíduos,
mas também melhorar a qualidade das relações humanas, no sentido de
atingir um maior grau de confiança e respeito entre todos.
192 C E D E R J
MÓDULO 2
Trabalhar a educação ética exige que o educa-
16
dor, além de se comportar de forma honesta e
AULA
coerente, saiba respeitar a legítima idios-
sincrasia de cada um dos alunos. Para que
isso ocorra, o educador deve evitar uma
atitude de neutralidade, o que na verdade
é praticamente impossível, tendo em vista
que ele está influenciado por valores que
fizeram parte de sua própria história e que
o constituem enquanto docente.
Libâneo considera que
ATIVIDADES FINAIS
C E D E R J 193
Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
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2. Leia estes versos do poeta chileno Pablo Neruda, de Veinte poemas de amor y una
canción desesperada, em que o poeta fala com muita dor do seu amor perdido.
Posso escrever os versos mais tristes esta noite. Eu a amei, e às vezes ela
também me amou/ Em noites como esta eu a tive entre os meus braços. Beijei-a
tantas vezes sob o céu infinito. (...)/ Posso escrever os versos mais tristes esta
noite. Pensar que não a tenho. Sentir que a perdi/ Ouvir a noite imensa, mais
imensa sem ela. (...)/ Que importa que o meu amor não pudesse guardá-la.
A noite está estrelada e ela não está comigo./ (...) Minha alma não se contenta
com tê-la perdido. Nós, os de então já não somos os mesmos./ Já não a amo,
é verdade, mas quanto a amei. Minha voz procurava o vento para tocar o seu
ouvido. (...) Já não a amo, é verdade, mas talvez a ame. É tão curto o amor,
e é tão longo o esquecimento./ Porque em noites como esta eu a tive entre
os meus braços, a minha alma não se contenta com tê-la perdido./ Ainda que
esta seja a última dor que ela me causa, e estes sejam os últimos versos que
lhe escrevo (1988, pp. 46-7).
194 C E D E R J
MÓDULO 2
Discuta com os colegas do pólo a concepção amorosa manifestada no poema de
16
Neruda. O poeta escreveu esses versos no século passado. Proponha uma outra
AULA
discussão comparando os valores amorosos do passado e da atualidade. Uma paixão
tão intensa como a transmitida pelos versos é uma coisa antiquada? Nesta época,
tão vertiginosa, as pessoas devem amar livremente e sem compromissos ou tentar
estabelecer laços mais sólidos? Sintetize os argumentos apresentados e conclua
apresentando sua opinião. Elabore sua resposta nas linhas abaixo:
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter percebido que, na atualidade, todos os valores parecem estar
em xeque. Uma das instituições mais minadas são as relações amorosas. Você,
com certeza, deve conhecer poucos casais que permanecem juntos ao longo
dos anos. Neruda escreveu Vinte poemas de amor em 1924, numa época
em que as separações não eram freqüentes e as paixões pareciam intensas,
duradouras. Você deve ter percebido, pela sua própria experiência, que hoje
as coisas são muito diferentes: os valores estão em permanente mudança. No
caso do amor, diante de tantas consignas contraditórias transmitidas pela mídia,
pela psicanálise, pelo senso comum, pelo consumismo atual, é preciso que você
possa determinar qual o rumo a escolher, qual o valor a adotar.
C E D E R J 195
Fundamentos da Educação 4 | Ação moral e prática educativa
RESUMO
AUTO-AVALIAÇÃO
196 C E D E R J
MÓDULO 2
Leituras recomendadas
16
AULA
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. São Paulo: Companhia das Letras, 1998. Nietzsche
realiza uma importante análise do surgimento histórico dos diversos valores, nas diversas
sociedades, mostrando que não há moral eterna e imutável, mas diversas morais surgidas por
interesses concretos dos diversos grupos que constroem os valores.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Brasília: Unb, 2001. O pensador grego, no livro de ética que
dedica a seu filho Nicômaco, mostra que a chave de toda conduta virtuosa é adotar um caminho
equilibrado, um meio-termo, fugindo dos excessos e dos defeitos.
MOMENTO PIPOCA
M
C E D E R J 197
Cultura e cotidiano escolar
17
AULA
A sala de aula
Ética e Educação
objetivo
Pré-requisito
Esta aula contém uma síntese das
cinco aulas passadas. O domínio dos
conceitos contidos em cada uma delas
é fundamental para que a revisão possa
ser altamente proveitosa.
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
200 C E D E R J
MÓDULO 2
17
Nada do que foi será
De novo
AULA
Do jeito que já foi um dia
Tudo passa...
Tudo sempre passará...
(Lulu Santos)
Com certeza, Ética e Educação já não são mais um mistério para
você. É coisa do passado. Já passou. Ainda assim, vamos rever este duo
temático de um outro jeito.
C E D E R J 201
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
!
Educação para a paz
Uma campanha Mundial de Educação para a Paz foi lançada em Haia em 1999.
Em todo o mundo cresce a consciência da necessidade de envolver a juventude num
processo que capacite os jovens para transformarem o mundo de forma firme, ativa e pacífica
(CONIC, CF 2005, no. 51).
202 C E D E R J
MÓDULO 2
17
A capacidade de persuasão do exemplo é a principal ferramenta
no processo educacional relativo a atitudes e à autonomia. O professor
AULA
em ação, que trabalha a importância de cultivar os valores, organiza
um ambiente propício a debates e à exposição de opiniões, ao mesmo
tempo que transmite modos de ser e agir que em muito contribuem para
a construção sólida de uma reflexão crítica.
ATIVIDADE
REFLEXO
Sem o reflexo na água, o homem jamais perceberia dentro de si a
presença de uma alma (Joseph Péladan).
SOLUÇÃO
A solução da questão social não se chama igualdade, mas
fraternidade (Julius Langhen).
RENOVAR
Sem renovar o coração é impossível construir algo novo. O homem
de hoje,apesar da aparente liberdade, é, de fato, voltado apenas para
si mesmo. Preciso aprender a ser aberto para o outro, a ser aberto
para acolher, mas também para doar. É preciso viver para o outro,
viver o outro. Daqui parte toda transformação (Miloslav Vik).
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C E D E R J 203
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
204 C E D E R J
MÓDULO 2
17
é também rico de contradições e controvérsias, ficando a convivência
ética sujeita a conflitos insolúveis ou de difícil resolução.
AULA
A escola fomentadora de sólido teor ético incentivará a convivência
em termos solidários, pensando a conduta individual numa sociedade
plural. O diálogo sem preconceitos, o debate de idéias e a construção
ativa dos sentimentos de autonomia e responsabilidade direcionarão a
prática voltada para a ética.
Por último, cabe um olhar sobre o professor, ídolo, modelo,
exemplo, ao se refletir sobre a convivência ética na escola e na sala
de aula.
O respeito no modo de se relacionar com os demais, as reações
tolerantes, a aceitação das diferenças, a discussão sobre as condutas
ao invés da censura sumária são maneiras de conduzir-se em meio aos
demais, alunos e outros. Enfim, uma considerável gama de disposições
exteriorizadas, coerentes com os valores de especial convivência entre
cidadãos livres e conscientes, servem como parâmetro de atitudes
solidárias manifestadas efetivamente no “estar na escola” pelos
professores.
ATIVIDADE
C E D E R J 205
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
OXIGÊNIO
Cada um de nós deve ser como o oxigênio: purificar o ar
e fazer crescer a vida à sua volta (Louis-Marie Parent).
PEQUENA MANCHA
206 C E D E R J
MÓDULO 2
17
TEMA: A ÉTICA NO CONVÍVIO SOCIAL (AULA 15)
AULA
Nós somos vinculados a experiências e influências coletivas a que
estamos expostos. Há uma dimensão comum na interação humana com
elementos de caráter político, social e cultural presentes na experiência
pedagógica. O processo educacional escolar ocorre no espaço adequado
para a reflexão ética, é o espaço-tempo apropriado a uma participação
ativa e solidária, à harmonização da vontade pessoal com a vontade
coletiva.
A existência privada e a existência pública são faces da condição
humana. A isonomia e a isegoria são peculiares à participação política
na vida em grupo. O sujeito ético desenvolve a capacidade de refletir
sobre os próprios atos e delibera conduzido por sua consciência moral.
Atua no espaço público, ancorado em juízos de valor, enquanto reflete
sobre normas de conduta adotadas, assume compromissos e sustenta
suas escolhas.
O papel do processo educacional é o de contribuição para a
implementação de um estado equilibrado entre o indivíduo e o meio em
que ele vive. A heterogeneidade cultural e a diversidade ética e política
são entraves ao equilíbrio entre homem e sociedade. Ao contrário, a
consciência ética, pelo apoio a preceitos vivenciados no cotidiano; a
postulação de uma pedagogia crítica e reflexiva baseada no diálogo;
a proposta de tornar a sala de aula uma comunidade de investigação;
as implementações de uma filosofia para crianças são iniciativas em
prol de harmoniosas relações interativas do homem com o mundo que
o cerca.
A participação ativa do ser no grupo do qual faz parte se depara
com o problema do cotejo da vontade coletiva com a vontade individual
e o exercício da liberdade expressado pela obediência voluntária a leis
elaboradas coletivamente.
Convívio social e existência ética se articulam na resolução de
conflitos e no desenvolvimento de um comportamento responsável
e consciente.
C E D E R J 207
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
ATIVIDADE
LIBERDADE
Liberdade é uma conquista, não uma dádiva; ela exige uma pesquisa
permanente. Pesquisa que só existe no ato responsável daquele
que o realiza. Ninguém possui a liberdade, como condição para ser
livre; ao contrário, se luta pela liberdade porque não se possui. A
liberdade não é um ponto ideal, fora dos homens, em frente do qual
eles se alienam. Não é uma idéia que se faz mito. É uma condição
indispensável ao movimento de pesquisa no qual os homens estão
inseridos porque são seres inconclusos (Paulo Freire).
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208 C E D E R J
MÓDULO 2
17
TEMA: AÇÃO MORAL E PRÁTICA EDUCATIVA (AULA 16)
AULA
ATIVIDADE
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Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
210 C E D E R J
MÓDULO 2
17
dos choques de interesses pertinentes ao relacionamento humano, se
considerarmos a idiossincrasia do aluno como elemento singular no
AULA
universo discente.
ATIVIDADE
C E D E R J 211
Fundamentos da Educação 4 | Cultura e cotidiano escolar • A sala de aula • Ética e Educação
O ARTISTA
Nenhum tipo de trabalho é insignificante...
Se um homem é chamado para ser varredor de rua, deveria varrê-la
assim como Michelangelo pintava, como Beethoven compunha música, ou como
Shakespeare escrevia poesia.
Deveria varrer a rua tão bem que todas as legiões do céu e
da terra diriam:
– Vejam um grande varredor de rua que faz bem o seu trabalho.
Procurem descobrir para qual tarefa são chamados, e depois
ponham-se a fazê-la apaixonadamente (Martin Luther King).
212 C E D E R J
18
AULA
Avistando o
destino planejado
Meta da aula
Avaliar os conhecimentos adquiridos
nas aulas que compõem os dois primeiros
módulos desta disciplina.
objetivo
Desperar jamais
Aprendemos muito nesses anos
Afinal de contas não tem cabimento
Entregar o jogo no primeiro tempo
Nada de correr da raia
Nada de morrer na praia
Nada! Nada! Nada de esquecer
214 C E D E R J
MÓDULO 2
que houver feito, seguindo as recomendações constantes nas várias aulas.
18
Isso também não é novidade, nesse tipo de aula sempre pedimos isso a
AULA
você. Lembra-se?
Esta avaliação foi estruturada tomando por base o que cada um dos
professores, autores das aulas, considera importante que você reflita.
Desta maneira, lhe serão feitas perguntas, apresentados questio-
namentos, solicitadas comparações, interpretações e análises, para que
você possa rever pontos importantes, consolidar saberes adquiridos,
dirimir dúvidas e estimar o que eventualmente deverá ser revisto e estu-
dado novamente.
Leia, atentamente, cada uma das questões e procure entender o que
está sendo solicitado. Em seguida, volte ao texto de cada uma das aulas
estudadas até aqui e tente localizar a origem de cada uma das questões.
Finalmente, tente preparar sua resposta. Com isso, certamente, você
estará preparado para vivenciar o que lhe aguarda nessa estação. Não
se esqueça de que a viagem nas Terras dos Fundamentos está chegando
ao fim, mas que com tudo que foi semeado por nós, e cuidado por você,
irá florescer a cada passo da sua vida profissional e acadêmica. Portanto,
de posse de todo o material didático, procure:
DESCREVER
EXPLICAR
RESPONDER
216 C E D E R J
MÓDULO 2
j) Para Aristóteles, a Ética deve fomentar um comportamento equi-
18
librado na vida em sociedade ou, ao contrário, deve estimular a adoção
AULA
de atitudes extremadas?
JUSTIFICAR AS AFIRMATIVAS
CITAR
C E D E R J 217
Fundamentos da Educação 4 | Avistando o destino planejado
ELABORAR
218 C E D E R J
19
AULA
Padrões estéticos e
prática educativa
Meta da aula
Demonstrar que a questão do gosto e
da preferência estética pessoais deve ser
desenvolvida no processo educativo.
objetivos
INTRODUÇÃO Dar estilo a seu caráter – eis uma grande e rara arte! Aquele que a exerce
sua arte e sua razão. (...) Por fim, quando a obra está consumada, torna-se
nas coisas pequenas como nas grandes: se o gosto era bom ou ruim não é
algo tão importante como se pensa – basta que tenha sido um só gosto!
220 C E D E R J
MÓDULO 2
19
Uma reflexão crítica sobre esses valores estéticos pode ser feita
através do contato com obras de arte. Para isso, devemos compreender
AULA
que o fazer artístico não se situa apenas no plano das sensações, dos
sentimentos, dos sentidos. A atividade racional não está dissociada da
Arte tendo em vista que, para que possamos desfrutar dela, precisamos
tanto de organizar idéias quanto de situá-las historicamente. A partir do
momento em que percebemos que há uma função pedagógica na obra
de arte, percebemos que os padrões estéticos com os quais convivemos ÉDIPO REI
decorrem de um determinado contexto sociocultural. A prática Esta tragédia, escrita
pelo dramaturgo
pedagógica, ao incorporar esse tipo de reflexão, está contribuindo, grego Sófocles
(497-406 a.C) que
diretamente, para que o aluno e futuro cidadão tenha uma compreensão narra as desventuras
crítica dos valores estéticos disseminados pelos meios de comunicação. Eis de um rei que mata
o próprio pai e casa
uma questão importante para analisarmos os padrões estéticos na nossa com sua mãe, tem
uma vigência que
prática educativa. A arte não tem exclusivamente uma dimensão sensível; ultrapassa as épocas.
Até a atualidade os
a nossa percepção estética pode ser apurada, educada; há diversos
seus densos conflitos
critérios racionais para aproximarmos da arte; não se trata de pura éticos, psicológicos
e religiosos causam
efusão, sensação, sentimento. Assim, por exemplo, a educação estética impacto e são
fonte de intensas
pode nos ajudar a avaliar um drama sutil de situações bem tramadas, de emoções estéticas.
conflitos profundos, com personagens com um perfil psicológico definido
– como por exemplo, a tragédia ÉDIPO REI, de Sófocles – e diferenciá-lo,
talvez, da última novela, em que as situações são apelativas, abusa-se
da violência e do sexo para gerar emoções rápidas, as personagens são
caricaturas para estimular o riso fácil etc.
ATIVIDADE
C E D E R J 221
Fundamentos da Educação 4 | Padrões estéticos e prática educativa
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RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter percebido que, em nossa sociedade, somos
bombardeados por mensagens que nos ensinam o que é belo
e o que é feio. Geralmente essas mensagens visam estimular o
consumo: mulheres e homens de uma beleza padronizada nos
indicam que roupas devemos usar, que lugares freqüentar, que
obras de arte apreciar etc. Mas você pode ter percebido que há
outras formas de sentir e avaliar as coisas que nos cercam: uma
mulher julgada nos parâmetros convencionais como feia pode ser
bela para nós; um poema, profundamente triste, pode nos transmitir
alegria e beleza.
222 C E D E R J
MÓDULO 2
19
ou simplesmente tradicionalmente aceitos. Para dar conta dessa
ESTÉTICA
problemática do gosto, surgiu no século XVIII uma disciplina, de cunho
AULA
“Estética é a tradução
filosófico, que tem por meta desenvolver uma reflexão que permita da palavra grega
aesthesis, que significa
fundamentar nossos juízos sobre o “belo” ou o “feio”, ou a arte em conhecimento
sensorial, experiência,
geral: a ESTÉTICA.
sensibilidade. Foi
Para avançarmos na nossa reflexão, o uso dos dicionários, mais empregada para
referir-se às artes, pela
uma vez, é um meio fecundo para esclarecermos o problema focalizado. primeira vez, pelo
alemão Baumgarten,
Assim, Abbagnano (1999) assinala: “É com a doutrina do Belo como por volta de 1750”
perfeição sensível que nasce a Estética. ‘Perfeição sensível’ significa, (CHAUÍ, 2000, p. 321).
C E D E R J 223
Fundamentos da Educação 4 | Padrões estéticos e prática educativa
224 C E D E R J
MÓDULO 2
19
Assim, os parâmetros estéticos mudam, nas diversas sociedades,
nos diversos períodos históricos. Houve épocas, por exemplo na
AULA
pintura, em que se cultuava a reprodução exata dos modelos. A beleza
estava associada a uma representação bastante fidedigna dos objetos
apresentados nos quadros. Neste ponto, a arte renascentista foi um
paradigma, um modelo que durante muitos séculos influenciou a
humanidade. Até nos nossos dias, artistas como Michelangelo, Leonardo,
Rafaelo são considerados gênios pictóricos, clássicos de todos os tempos.
Estes artistas se destacaram por tentar reproduzir a natureza, por mostrar
uma natureza embelezada. Um caso notável é o de Leonardo da Vinci
que estudava anatomia para recriar adequadamente as figuras humanas,
e aprofundava matemáticas para atingir formas e proporções geométricas
perfeitas nas suas pinturas.
Contudo, houve diversos movimentos, principalmente no século
passado, como cubismo, surrealismo, expressionismo, impressionismo e
outras correntes inovadoras que desdenharam reproduzir, mais ou menos
fielmente, a natureza e tentaram traduzir, mesmo de forma aparentemente
anárquica ou caótica, a expressão, a impressão, o inconsciente, o mundo
interno dos artistas. Esse tipo de arte visava inventar e recriar um mundo
próprio do artista, sem seguir um modelo predeterminado.
ATIVIDADE
C E D E R J 225
Fundamentos da Educação 4 | Padrões estéticos e prática educativa
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GUERNICA ________________________________________________________________
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Mostra de forma não
naturalista o caos da ________________________________________________________________
Guerra Civil Espanhola ________________________________________________________________
e é considerada uma
das obras de arte mais
importantes do século RESPOSTA COMENTADA
XX. O autor espanhol Você pode ter percebido que os parâmetros de beleza mudam de
Paulo Picasso
época para época. Pode ter apontado que a Gioconda representa um
(1881-1973) foi
um artista genial, modelo de beleza que tenta recriar a imagem presente na natureza.
revolucionário. Já Guernica pode parecer feio, para quem espera a reprodução exata
de um modelo – no caso a Guerra Civil Espanhola –, pode sentir
que a imagem é caótica e não representa uma situação específica.
Mas você pode também perceber que Picasso, numa visão muito
pessoal, tentou traduzir o caos da guerra com imagens e projeções
interiores, subjetivas. Finalmente, você pode ter chegado à conclusão
de que, na arte, não é possível estabelecer critérios quantitativos,
determinando quando uma obra é mais bela do que outra.
226 C E D E R J
MÓDULO 2
19
PEDAGOGIA E OBRA DE ARTE
AULA
Abordar questões estéticas na prática pedagógica não se restringe
a fazer despertar sentimentos e sensações agradáveis: a atividade artística
representa um meio de expressar idéias de forma organizada. Para isso,
faz-se necessário entender o significado de uma obra de arte. Gallo (1997)
nos aponta várias funções que ela pode desempenhar:
C E D E R J 227
Fundamentos da Educação 4 | Padrões estéticos e prática educativa
228 C E D E R J
MÓDULO 2
19
rádio ou tevê exploram hoje — sem o mesmo refinamento da arte
— a capacidade que a feiúra tem de impressionar o espectador
AULA
(FEITOSA, 2004, p. 136).
ATIVIDADE FINAL
C E D E R J 229
Fundamentos da Educação 4 | Padrões estéticos e prática educativa
RESPOSTA COMENTADA
Você deve ter percebido que os contos de fadas tradicionais mostram
uma imagem bastante estereotipada de beleza e feiúra, de bem e mal,
de bons costumes e maus costumes. Geralmente, há princesas bonitas
e bondosas, ogros e bruxas terríveis e maldosos; príncipes maravilhosos
e salvadores. Finalmente, triunfam os bons e bonitos e os maus e feios
são punidos justamente. Neste filme, você pode ter percebido que se
brinca com todos esses paradigmas: os príncipes nem sempre são tão
bonitos e bondosos, os ogros não são tão terríveis. Este desenho pode
ser entendido como uma brincadeira com a relatividade das categorias
estéticas e dos clichês de beleza existentes na sociedade consumista.
RESUMO
AUTO-AVALIAÇÃO
230 C E D E R J
MÓDULO 2
19
INFORMAÇÃO SOBRE A PRÓXIMA AULA
AULA
A Aula 20, Arte na Educação, propõe aprofundar as relações entre Arte e Educação,
mostrando como o ensino da arte na escola pode favorecer o desenvolvimento
integral da personalidade do aluno.
Leituras recomendadas
Explicando a filosofia com arte, de Charles Feitosa, analisa a importância que a arte teve na
história do pensamento. Nas obras de arte, encontramos idéias, expressões e visões de mundo
fundamentais para a nossa cultura. Além disso, o autor mostra como é possível enxergar uma
estética que não só acolha o convencionalmente denominado belo, mas também reflita sobre o
valor estético da feiúra.
O nascimento da tragédia, de Friedrich Nietzsche (1993). O autor alemão analisa a importância
da arte, fundamentalmente da arte trágica, para todas as instâncias da vida; inclusive, a arte é
um veículo fundamental para a formação integral do homem.
MOMENTO PIPOCA
MO
Sh
Shine narra a história do genial pianista David Helfgott, de tumultuada vida
pessoal, cujo pai era extremamente violento e rigoroso. O músico teve
pe
sérias perturbações psíquicas, porém desenvolveu uma capacidade artística
sé
extraordinária. O filme mostra como é possível transformar as dores da vida
ex
em inspiração artística fundamental.
O homem elefante (1980), de David Lynch, narra a história trágica de um
homem deformado, vítima de uma estranha doença; porém a sua feiúra não
ho
impede
im que ele possa ser um homem fascinante, possuidor de uma beleza
que foge aos parâmetros conhecidos, suscitando desejos e erotismo incom-
preensíveis para os códigos de sedução convencionais.
C E D E R J 231
20
AULA
Arte na Educação
Meta da aula
Demonstrar a relação entre o aprendizado da arte, no
espaço escolar, o desenvolvimento da criatividade e
o contato com a diversidade.
objetivos
Pré-requisito
Para melhor compreensão desta aula, sugerimos que você reveja a
Aula 19, Padrões estéticos e práticas educativas. Os conceitos de
belo, feio, Estética, feiúra, dentre outros, serão importantes para o
seu entendimento das questões abordadas.
Fundamentos da Educação 4 | Arte na Educação
ser que sofre na vida pode viver sem essa aparência, assim como
ninguém pode viver sem o sono (NIETZSCHE, apud DIAS, 1994, p. 7).
234 C E D E R J
MÓDULO 2
para entender o mundo e a vida. Assim, encontramos um músico como FRANK
20
ZAPPA (Apud FEITOSA, 2004, p. 26) que coloca a arte e a beleza artística, pecu-
AULA
liarmente na música, acima do conhecimento racional:
F R A N K Z A P PA
(1940-1993)
Lembre-se: informação não é conhecimento; conhecimento não é Músico norte-
sabedoria; sabedoria não é verdade; verdade não é beleza; beleza não americano, exímio
é amor; amor não é música; música é o que há de melhor. guitarrista que
Da música Joe´s Garage, do álbum homônimo de 1979. revolucionou a arte
popular.
Assim também ocorre com as crianças: elas mostram que são dotadas de
habilidades psicomotoras.
C E D E R J 235
Fundamentos da Educação 4 | Arte na Educação
ATIVIDADE
1. “Bebida
“ é água/Comida é pasto/Você tem sede de quê?/Você tem fome de
quê?/A gente não quer só comida/A gente quer comida, diversão e arte/A gente
quê
não quer só comida/A gente quer saída para qualquer parte/A gente não quer só
comida/A gente quer bebida, diversão, balé/A gente não quer só comida/A gente
com
quer a vida como a vida quer”. O início da letra da música “Comida” do conjunto Titãs
que
coloca num mesmo plano a satisfação de necessidades biológicas e a satisfação de
colo
necessidades artísticas. Você acredita que a arte pode ser considerada uma atividade
nec
tão importante para a vida humana quanto a alimentação? Responda por escrito,
elaborando um texto de, no máximo,
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RESPOSTA COMENTADA
236 C E D E R J
MÓDULO 2
O ENSINO DA ARTE
20
A Lei de Diretrizes
e Bases da
AULA
A ida a exposições, museus, apresentações teatrais e musicais Educação Nacional
(Lei número 5.692),
constituem formas de entrarmos em contato com o universo artístico. instituída em 1971,
Mas, outra forma possível é através da escola. A confluência entre torna obrigatório a
disciplina Educação
arte e ensino foi consolidada, no Brasil, com a inclusão da Educação Artística nos
currículos escolares
Artística no currículo escolar. No entanto, num primeiro momento,
de 1º e 2º graus.
ela era experimentada como uma atividade de cunho recreativo e não
como uma área de conhecimento autônoma, com conteúdos específicos.
Essa situação se deve a alguns equívocos que precisam ser esclarecidos.
É nesse sentido que tanto se mostra inadequado conceber o ensino da
arte como uma simples atividade de lazer e recreação quanto uma espécie
de apêndice da prática educativa ou mesmo uma prática secundária em
relação a disciplinas como história, geografia, matemática, português
etc. Tanto no caso do fazer recreativo quanto na crença de que há
uma hierarquia de saberes, deixa-se de lado os aspectos propriamente
educativos da arte.
No final da década de 1980, a professora Ana Mae Barbosa A sala de aula
elaborou a expressão arte-educação para indicar uma redefinição da pode ser um
espaço artístico?
concepção de ensino e aprendizagem da arte nas escolas. A partir dela, Acostumados a
aulas burocráticas e
discursivas, às vezes
a visão contemporânea do ensino da arte, relacionada à arte como não entendemos
que esse pode ser
objeto do saber, baseia-se na construção, na elaboração, na cognição o lugar da criação,
e procura acrescentar à dimensão do fazer, da experimentação, a da experimentação,
possibilidade de acesso e de entendimento do patrimônio cultural onde o aprendizado
não seja algo
da humanidade (PILLAR, 1992, p. 4). oposto ao prazer, à
alegria de brincar e
fazer arte.
Essa nova postura por parte do educador favorece, sem dúvida,
não apenas um maior contato com as manifestações culturais que fazem
parte do cotidiano do aluno, como também favorece a
ampliação e a criação de novas possibilidades de
expressão. É importante ressaltar que não se trata
simplesmente de desenvolver um dom natural com
que cada um nasce. Se concebemos o ambiente da
sala de aula como um espaço vivo no qual alunos e
professores possam se tornar efetivamente agentes
de construção e reconstrução da realidade, então
a interação entre Arte e Educação se mostra como
um instrumento fundamental para o desenvolvi-
mento de técnicas que permitam exercitar a imagi-
nação, a auto-expressão, a descoberta e a invenção.
C E D E R J 237
Fundamentos da Educação 4 | Arte na Educação
Arte e diversas
Daí podermos considerar que a prática educativa aliada a uma
formas de ver o atividade artística permite que o aluno experimente toda a diversidade de
mundo. Na sala de
aula, as crianças, ao valores, de sentidos e de intenções que compõem o mundo em que ele habita.
brincarem, podem
perceber que a O que pretendemos ressaltar é que a atividade artística certamente estimula
realidade é como o desenvolvimento progressivo da capacidade de criação pessoal. Mas seu
um caleidoscópio,
em que é possível efeito pedagógico mais importante consiste em ampliar a capacidade de o
enxergar inúmeras
formas de ver o aluno construir aos poucos um significado para si mesmo e para os que o
universo.
rodeiam, de maneira que ele possa olhar o mundo de formas diferentes.
Como ressalta Chauí, “A arte inventa um mundo de cores, for-
mas, volumes, massas, sons, gestos, texturas, ritmos, palavras
para nos dar a conhecer o nosso próprio mundo” (CHAUÍ,
2000, p. 325).
Em suma, na medida em que a educação
estética proporcionada pelo ensino da arte habilita
ao diálogo e à compreensão de outros códigos
culturais, de valores singulares e universais das
diferentes culturas, ela se revela como uma forma
de investigação que desperta a atenção de cada um para sua maneira parti-
cular de sentir. É nesse sentido que devemos levar em conta que
238 C E D E R J
MÓDULO 2
20
ATIVIDADE
AULA
2. Billy Elliot é um filme inglês que relata a história de um adolescente que,
em atividades extracurriculares, praticava boxe junto com outros colegas
da sua idade. Porém, contra todos os desejos do seu pai e do seu irmão
mais velho, de profissão mineiros e profundamente machistas, decide,
em vez de praticar boxe, fazer aulas de balé escondido de todos os seus
conhecidos. Quando seu pai e seu irmão descobrem que Billy dança,
num primeiro momento, o censuram violentamente. O que você acha
dessa situação? Você acha que na turma da escola que você freqüenta
poderia se implementar, além de música e canto, balé também para os
meninos? Essa atividade artística poderia fazer parte do currículo oficial
das escolas? Responda elaborando um texto de, no máximo, 10 linhas.
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RESPOSTA COMENTADA
B I L LY E L L I O T
Você pode ter percebido que a arte estimula a sensibilidade, além de É um filme
aguçar o entendimento e a compreensão da realidade. Mas, ainda existe instigante, já que
mostra que a
uma tradição bastante racionalista e utilitária que afirma que o essencial é
escolha de uma
que os alunos apreendam conteúdos “úteis” para seu futuro desempenho determinada forma
profissional. Além disso, você pode ter reparado que há determinadas artística, no caso
o balé, sempre é
artes vinculadas, preconceituosamente, à falta de masculinidade, fraqueza, muito rica para
debilidade de caráter etc., como o balé. Nesta aula, tentamos mostrar que a formação da
sensibilidade e
a escola deve mexer com os preconceitos, com a miopia para observar
do intelecto dos
outras formas de compreender a realidade. Assim, você pode ter entendido alunos. Além
que o balé pode ser praticado com proveito por homens e mulheres, tanto do mais, o filme
mexe com o pré-
como a música, o canto, o teatro e outras formas artísticas, pois a prática conceito machista
da arte não tem nada a ver com a opção sexual de cada um. de que haveria
artes “pouco
masculinas”.
C E D E R J 239
Fundamentos da Educação 4 | Arte na Educação
20
simples valorização da produção do aluno, mas abrange a instauração
AULA
de processos criativos que estimulem os sentidos, favorecendo à
percepção e à imaginação. Além disso, se entendemos a arte como uma
ferramenta propulsora para o desenvolvimento da capacidade criadora
do ser humano, não basta ter acesso à produção artística, é necessário
também ser capaz de reelaborá-la, ou seja, nenhum padrão deve ser
imposto, nem sequer deve-se evitar o lugar comum da repetição de
fórmulas prontas e acabadas.
O ensino da arte está calcado na construção de uma prática que se
questiona e se fundamenta continuamente, que instiga o aluno a perceber
o mundo cultural das imagens, dos sons e das outras manifestações
sensíveis que permeiam o seu cotidiano, que articulam o contexto
universal com o ambiente no qual ele convive seja no contexto escolar,
seja na comunidade a qual ele pertence.
Esse projeto de resgatar a criatividade, a autonomia e o poder
de intervenção na realidade, de despertar anseios, talentos e habilidades
que desconhecemos em nosso ser, tem um potencial transformador único
tendo em vista que permite a instauração de novas possibilidades de vida.
Queremos dizer com isso que a prática artística colabora, diretamente, para
o desenvolvimento do ser humano, já que favorece o cultivo de valores
fundamentais como os ideais democráticos, o exercício da liberdade, a
capacidade de pensar de forma autônoma e crítica, entre outros.
A encenação ou a
Um autor que valorizou profundamente a prática da arte e da filo- leitura dramática
de peças de teatro,
sofia em sala de aula foi o teórico norteamericano Matthew Lipman (ver
em sala de aula,
Aula 15, A ética no convívio social, de Fundamentos da Educação 4) que pode ser uma
forma instigante
elaborou um método para transformar a sala de aula numa verdadeira de motivar os
alunos a discuti-
Comunidade de Investigação, onde as crianças rem e refletirem
não só repetem ou recriam conceitos e idéias, sobre a sociedade
e o mundo que os
mas também são criadoras, investigadoras da cerca. Tal qual
a proposta de
realidade, produtoras de novos conhecimentos. Lipman que usa
Para tal, ele implementou diversas técnicas. o teatro como um
meio essencial na
Uma das mais destacadas foi a elaboração de educação.
C E D E R J 241
Fundamentos da Educação 4 | Arte na Educação
ATIVIDADE FINAL
e leite, bebe.
Mas depois que você tenha comido e renovado os teus vestidos te beijarei,
te direi adeus e te abrirei a porta para que retomes o teu caminho.
Ninguém, nem eu nem ninguém, pode andar o teu caminho por ti;
242 C E D E R J
MÓDULO 2
Não está longe, está ao teu alcance.
20
Talvez estejas nele, sem sabê-lo, desde que nasceste:
AULA
Acaso o encontres subitamente na terra ou no mar...
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RESPOSTA COMENTADA
Você pode ter respondido que cada aluno, cada indivíduo, cada integrante da
sala de aula é um ser único, excepcional, irrepetível. Assim, não há fórmulas
definidas nem acabadas para o desenvolvimento de cada um. Conforme
mostramos nesta aula, a arte permite vislumbrar múltiplas formas de perceber
o mundo, as atividades estéticas levam a que cada um construa o seu
C E D E R J 243
Fundamentos da Educação 4 | Arte na Educação
RESUMO
AUTO-AVALIAÇÃO
Você percebeu que a atividade artística pode ser um meio de despertar não apenas
o interesse pelo que os colegas fazem, mas também por outras culturas e períodos
da história da humanidade? Ficou claro que o fazer artístico e a apreciação de
obras de arte envolvem tanto a elaboração crítica de pensamentos quanto a
expressão de sentimentos e o despertar de sensações? Acreditamos que o ensino
da arte, no ambiente escolar, requer o respeito aos mais diversos gostos, opiniões
e preferências estéticas.
244 C E D E R J
MÓDULO 2
CONSIDERAÇÕES FINAIS
20
AULA
Caros alunos,
Leituras recomendadas
DIAS, Rosa Maria. Nietzsche e a música. A autora analisa a importância da arte na formação do
jovem Nietzsche. Mostra como a influência pessoal do genial músico Richard Wagner marcou
o percurso do jovem filósofo. Também mostra a importância essencial que o pensador alemão
outorgou à música e à tragédia, como elementos constitutivos de toda a cultura ocidental.
WHITMAN, Walt. Canto a mi mismo. O poeta norte-americano mostra o valor essencial da arte
para cantar todas as possibilidades da vida. Também destaca o papel da autonomia, da liberdade
e da escolha pessoais na formação de cada homem.
MOMENTO PIPOCA
M
C E D E R J 245
Fundamentos da Educação 4
Referências
Aula 1
Aula 2
COELHO NETO, José T. O que é indústria cultural? São Paulo: Brasiliense, 1985.
ORTIZ, Renato. Cultura brasileira e identidade nacional. São Paulo: Brasiliense, 1988.
Aula 3
248 CEDERJ
Aula 4
BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. São Paulo: Perspectiva, 1992.
Aula 5
Aula 6
MORAIS, Regis (Org). Sala de aula, que espaço é esse? Campinas, SP: Papirus, 1999.
CEDERJ 249
Aula 7
JOHNSON, DavidW.; JONSON, Roger. Conflict in the classroom: controversy and le-
arning. Review of Educational Research, v. 49, p. 51-70, 1981.
SLAVIN, Robert E. Classroom reward structure analytical and practical review. Review
of Educational Research, v. 50, p. 241-272, 1980.
Aula 8
FREUD, Sigmund. Obras Completas. Madrid: Biblioteca Nueva. Nesta aula, usamos os
seguintes textos: v. 1: Três ensaios para uma teoria sexual, 1905; v. 2: Múltiplo interesse
da Psicanálise, 1913; v. 2: Teorias sexuais infantis, 1908; v. 3: Mal-estar na civilização,
1930; v. 3: O futuro de uma ilusão, 1927.
KUPFER, Maria Cristina. Freud e a educação: o mestre do impossível. 2. ed. São Paulo:
Scipione, 1992.
250 CEDERJ
Aula 9
EGGLESTON, John. The Sociology of the School Curriculum. Londres: Routledge et Kegan,
1977.
Aula 10
Aula 12
APOLOGIA de Sócrates. Diálogos de Platão. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Coleção
os pensadores).
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.
CEDERJ 251
HOUAISS, Antônio. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2001.
SAVATER, Fernando. Ética para meu filho. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
Aula 13
ARAÚJO, Ulisses Ferreira; AQUINO, Julio Groppa. Os direitos humanos na sala de aula:
a ética como tema transversal. São Paulo: Moderna, 2001.
FREIRE, Paulo. Aprendendo com a própria história. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1987.
GALLO, Sílvio (Coord.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia. São Paulo: Papirus, 2002.
Aula 14
AQUINO, Júlio Groppa. Ética na escola: a diferença que faz diferença. In: ______. Diferenças
e preconceito na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1998.
GALLO, Sílvio (Org.). Ética e cidadania: caminhos da filosofia. São Paulo: Papirus,
2002.
252 CEDERJ
Aula 15
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.
LIPMAN, Matthew. A filosofia vai à escola. Tradução de Maria Elice de B. Prestes ; Lucia
Maria Silva Kremer. São Paulo: Summus, 1988. (Coleção novas buscas em educação).
LINS, Daniel; PELBART, Peter Paul. Nietzche e Deleuze: Bárbaros e civilizados. São
Paulo: Annablume, 2004.
RAWLS, John. Justiça e democracia. Tradução de Catherine Audard. São Paulo: Martins
Fontes, 2000.
ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os
pensadores, v. 1).
______. Princípios do direito político. São Paulo: Nova Cultural, 1999. (Os pensadores,
v. 1)
Aula 16
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Mário Gama Kury. 4. ed. Brasília: UNB,
2001.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.
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NERUDA, Pablo. Veinte poemas de amor y una canción desesperada. In: ______.
Antologia Poética. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1988.
NIETZSCHE, Friedrich. Genealogia da moral. São Paulo: Cia das Letras, 1998.
Aula 19
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.
DUARTE JÚNIOR, João Francisco. O que é beleza. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
(Coleção primeiros passos).
FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
GALLO, Sílvio. Estética: arte e vida cotidiana. In: ______. Ética e cidadania: caminhos
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NIETZSCHE, Friedrich. A gaia ciência. São Paulo: Cia. das Letras, 1998.
Aula 20
BARBOSA, Ana Mae. A imagem no ensino da arte: anos oitenta e novos tempos. São
Paulo: Perspectiva, 1991.
CHAUÍ, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. São Paulo: Ática, 2000.
254 CEDERJ
DUARTE JUNIOR, João Francisco. Por que arte-educação? Campinas, SP: Papirus,
1991.
______. O que é beleza. 3. ed. São Paulo: Brasiliense, 1991. (coleção primeiros passos).
FEITOSA, Charles. Explicando a filosofia com arte. Rio de Janeiro: Ediouro, 2004.
CEDERJ 255
I SBN 85 - 7648 - 263 - 0
9 788576 482635