Justiça Ambiental e Racismo Ambiental No Brasil
Justiça Ambiental e Racismo Ambiental No Brasil
Justiça Ambiental e Racismo Ambiental No Brasil
DEPARTAMENTO DE DIREITO
por
2016.2
por
Monografia apresentada ao
Departamento de Direito da Pontifícia
Universidade Católica do Rio de
Janeiro (PUC-Rio) para a obtenção do
Título de Bacharel em Direito.
2016.2
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço a Deus e aos meus pais Vânia e Zeirton, por
serem a minha força e me apoiarem incondicionalmente – o seu amor, a sua fé
em mim e no meu potencial são o meu combustível para nunca desistir de tentar
superar as barreiras que surgem em meu caminho.
Aos professores Thula Pires e Francisco Guimaraens, que contribuíram
substancialmente para a minha formação jurídica e me ensinaram que a
interpretação do Direito vai muito além da mera leitura de normas positivadas.
Aos amigos queridos que a Pontifícia me presenteou, que tornaram os
últimos cinco anos mais divertidos e especiais do que eu poderia imaginar.
E, finalmente, ao Rafael, por ter sido meu porto seguro, presença
constante, e quem me ajudou juntar e colar os cacos todas as vezes que me
quebrei nesses últimos cinco anos.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo promover um diálogo construtivo
quanto a análise da problemática ambiental, centrada na gramática da justiça
social e utilizando o arcabouço metodológico e epistemológico da Teoria Crítica
da Raça. Sob a perspectiva da justiça ambiental, entende-se que não há efetiva e
completa repartição igualitária das referidas externalidades, isto é, que esses
males não são democraticamente distribuídos e sentidos de forma não
individualizada. Ao revés, haveria uma distribuição desproporcional de tais
externalidades negativas. Em razão disso, aponta-se a importância de analisar o
papel do direito no contexto apresentado e da utilização de referências e
parâmetros que permitam a sua interpretação a partir de uma concepção da
sociedade brasileira informada pelos seus princípios constitutivos, pensados a
partir de sua própria historicidade ao revés da adoção e transposição de
parâmetros eurocentrados de análise. Levando em consideração o contexto da
gênese e desenvolvimento da unidade celular que formaria a sociedade brasileira,
propõe-se a adoção de uma perspectiva que tenha em conta também as relações
estabelecidas no plano latino-americano e caribenho e com o continente africano.
Introdução
Inicialmente, cumpre elucidar que o presente trabalho não se dedica
a atestar a existência ou não de casos de racismo ambiental no Brasil: não
se trata aqui de pesquisa empírica que dispute a possibilidade de se fazer tal
afirmação. O objetivo do trabalho é, na realidade, promover um diálogo
construtivo a respeito da questão com dois interlocutores distintos: o
operador do Direito, que pode não estar familiarizado com pautas
concernentes à luta por justiça ambiental; e com pesquisadores, ativistas e
advogados que atuam em prol da justiça ambiental, da justiça social e que
lutam contra o racismo ambiental.
À conta disso, parte-se de noções assentadas no seio do movimento
por justiça ambiental, apresentadas oportunamente ao longo do trabalho,
sem que se furte de historicamente fundamentá-las. Adota-se a premissa de
que o Direito se constitui também à medida que reflete as relações raciais e
de que estas, no Brasil, seriam marcadas por profunda desigualdade,
sobretudo à luz dos indicadores “raça” e “classe” – que receberam destaque
no recorte efetuado no presente trabalho. É que, em razão dessa
constatação, pode-se dizer que o Direito incorpora relações de
subalternização e desigualdades presentes no corpo social, que seriam
consequentemente também incorporadas às instituições, norteando e
reafirmando práticas que permitiriam a perpetuação e constante atualização
e manutenção dessas relações de desigualdade. Daí exsurge, note-se, a
evidente importância de discutir a problemática que aqui se apresenta no
âmbito do estudo do direito, considerando que o movimento e papel que o
direito exerce nessa dinâmica pode vir a atentar contra princípios por ele
consagrados.
Para o primeiro interlocutor, o que se chama à atenção é justamente a
necessidade de refletir a respeito do papel que o direito exerce nessa
dinâmica e da adoção de parâmetros de estudo do direito que levem em
conta a existência de relações de hierarquização social historicamente
forjadas na sociedade brasileira. Isto é, há que se notar que o direito,
7
1
Por “problemática ambiental” refere-se ao conjunto de ônus e externalidades negativas que
afligem o meio ambiente em sua amplitude, isto é, não apenas ecologicamente concebido.
10
2
A genealogia traçada por Solórzano et al (2001) inclui também como influenciadores da Teoria
Crítica da Raça os Ethnic Studies, Cultural Nationalism, US/Third World Feminism, Marxist/Neo-
Marxist e Internal Colonial. Os autores indicam, ainda, que a Teoria Crítica da Raça viria se
expandindo para incorporar ramos como: LatCrit, FemCrit, AsianCrit, WhiteCrit e TribalCrit
(Solórzano et al, 2001, p. 93-94)
3
O que se traduz livremente para: “o trabalho de estudiosos progressistas do direito que
objetivariam desenvolver uma jurisprudência que leva em consideração o papel do racismo no
direito americano e que trabalha pela eliminação do racismo como parte de um objetivo maior de
eliminação de todas as formas de subordinação”.
11
4
Traduziu-se livremente do inglês: “(1) A standard that would subject all governmental action
with a racially disproportionate impact to strict judicial scrutiny would cost too much; such a
standard, the Court argues, would substantially limit legitimate legislative decision making and
would endanger the validity of a "whole range of [existing] tax, welfare, public service, regulatory
and licensing statutes"; (2) a disproportionate impact standard would make innocent people bear
the costs of remedying a harm in which they played no part;' (3) an impact test would be
inconsistent with equal protection values, because the judicial decision maker would have to
explicitly consider race; and (4) it would be inappropriate for the judiciary to choose to remedy the
racially disproportionate impact of otherwise neutral governmental actions at the expense of other
legitimate social interests” (Lawrence III, 1987, p. 320-321).
12
5
Não se adentra aqui aos contornos que o termo recebe tecnicamente pelo Direito Penal.
13
6
A respeito desse referencial metodológico, ver Scheurich e Young (1997).
7
No que os autores assim exemplificam: positivismo, pós-positivismos, neorrealismos,
construtivismos, pós-modernismos, dentre outros (Scheurich & Young, 1997, p. 12).
8
Os autores trabalham os seguintes graus ou níveis de racismo: individual racism, institutional
racism, societal racism e civilizational racism. No presente trabalho ganham maior destaque o
institutional racism ou racismo institucional, porquanto categoria à qual se relaciona o racismo
14
Por ato de racismo ostensivo9, busca-se referir àqueles atos que são
externalizados, conscientes e intencionais, praticados por indivíduo(s) de
um grupo racial com o objetivo de ofender indivíduo(s) de outro grupo
racial, em razão da raça.10 Já existe atualmente no Brasil um consenso
socialmente estabelecido no sentido de que o racismo é inaceitável, o que,
inclusive, impulsionou a tomada de uma série de medidas político-jurídicas,
tais como: a ratificação e internalização da Convenção Internacional sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial, a instituição do
Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/2010) e a criminalização do
racismo e da injúria racial.
Noutro giro, é frequente a observância do racismo velado ou
dissimulado, isto é, de atos de discriminação não explícitos, na sociedade
brasileira. Válido citar os resultados de pesquisa realizada pela
Universidade de São Paulo, em 1988, sob a coordenação de Schwarcz, que
denotam a forte presença do aspecto velado do racismo no Brasil: enquanto
98% dos entrevistados negaram possuir qualquer preconceito de cor, 99%
responderam afirmativamente quando indagados a) se conheciam alguém
com preconceito de cor; e b) se teriam uma relação próxima com o sujeito
preconceituoso (Schwarcz, 1996, p. 100). Existe não só uma rudeza
implícita no racismo brasileiro como também a dificuldade dos brasileiros
em se reconhecer no papel do discriminador.
A dificuldade só aumenta quando se migra para categorias de
racismo estrutural como o racismo institucional e o racismo epistemológico.
Essas modalidades, diferente do racismo individual, não se limitariam ao
trato intersubjetivo, sendo mais abrangentes. É que, equivocadamente, o
indivíduo, ao avaliar questões de racismo estrutural ou sistêmico, indaga-se
se ele especificamente, enquanto indivíduo, seria capaz de inferiorizar outro
ser humano em virtude da sua cor ou raça. Ocorre que essa visão
particularizada e incompleta não dá conta das formas estruturais de racismo,
que transcendem o trato intersubjetivo e se manifestam em reflexos da
coletividade.11
É necessário, pois, que se desagregue a avaliação das formas de
racismo estrutural – institucional e civilizacional – do plano individual, vez
que tais categorias são objetivamente aferidas e sua caracterização não se
vincula ao plano das intenções do agente que pratica o ato racialmente
discriminatório. O racismo institucional, por sua vez, se verifica quando
instituições ou organizações, inclusive educacionais, operam mediante
procedimentos padrão que (intencionalmente ou não) prejudicam membros
de determinados grupos raciais em relação aos membros da raça dominante
(Scheurich & Young, 1997, p. 5).12 Leve-se em conta que, historicamente,
narrativas e produções científicas racistas – algumas das quais se expõe
adiante – bem como processos políticos bem definidos, criaram e
assentaram as bases para a manutenção de um sistema desigual de
oportunidades e privilégios baseados na noção de raça (Solórzano & Yosso,
2002). Daí advém ideias que passam a integrar um “senso comum” e são
incorporados pelo imaginário social, herança da construção de um legado
de privilégios raciais.
Atente-se para o fato de que a indeterminação ou não
reconhecimento da relevância do fator “raça” como variável em pesquisas,
sobretudo num país que tem um importante histórico de discriminação
racial, fortalece a reprodução do racismo institucional. Outra categoria de
11
Para Scheurich e Young, “researches, just like other members of this society, typically judge
their own lack of racism based on personal evaluations that they do not, as an individual, have a
negative judgment of another person just because that person is a member of a particular race.
While this individualized, conscious, moral or ethical commitment to anti-racism is a significant
and meaningful individual and historical accomplishment, the fact that it restricts our
understanding of racism to an individualized ethical arena is a barrier to a broader, more
comprehensive understanding of racism – for society and for researchers” (ibid., p. 5)
12
Adaptado do inglês: “institutional racism exists when institutions or organizations, including
educational ones, have standard operating procedures (intended or unintended) that hurt members
of one or more races in relation to members of the dominant race [...]. Institutional racism also
exists when institutional or organizational cultures, rules, habits or symbols have the same biasing
effect” (ibid., p. 5)
16
13
Traduzido do inglês “Societal racism, then, can be said to exist when prevailing societal or
cultural assumptions, norms, concepts, habits, expectations, etc. favor one race over one or more
other races”. (ibid., p. 6)
14
Veja-se que, por exemplo, a noção mais difundida e propagada do que compõe o núcleo familiar
adequado ou quais características formam o “cidadão de bem” é extraída de noções culturais
dominantes e experiências históricas, que transcendem a trajetória de vida de cada um dos
indivíduos membro dessa sociedade.
15
A definição de Scheurich e Young, em inglês: “[...] epistemological racism comes from or
emerges out of what we have labeled as the civilizational level – the deepest, most primary level of
a culture of people. The civilizational level is the level that encompasses the deepest, most primary
level of a culture of people. The civilizational level is the level that encompasses the deepest, most
primary assumptions about the nature of reality (ontology), the ways of knowing that reality
(epistemology), and the disputational contours of right and wrong or morality and values
(axiology) – in short, presumptions about the real, the true, the good.” (ibid., p. 6)
17
16
Tais como: a dignidade da pessoa humana (art. 1º, inciso III, da CRFB), a erradicação da
pobreza e das desigualdades sociais (art. 3º, III, da CRFB), a promoção do bem e a consequente
negativa à todas as formas de discriminação (art. 3º, IV, da CRFB), o repúdio ao racismo (art. 4º,
VIII, CRFB), o direito à igualdade (art. 5º, caput, CRFB). Na medida em que promove a
institucionalização da desigualdade e do tratamento desigual a cidadãos igualmente reconhecidos,
atenta-se também contra o princípio republicano e o Estado Democrático de Direito.
18
17
Consigne-se que não se pretende esgotar argumentos que denotem a existência de um sistema de
supremacia branca ou de subalternização de grupos raciais historicamente prejudicados por
práticas institucionais, mas destaca-se o seguinte apontamento: “A raça branca, o que Stanfield
(1985) tem chamado de ‘uma privilegiada parcela da população’ (p. 389), tem
inquestionavelmente dominado a civilização ocidental durante toda a Modernidade (centenas de
anos). Quando qualquer grupo – com uma extensa e complexa civilização – significativamente
domina outros grupos por centenas de anos, os modos do grupo dominante (suas epistemologias,
ontologias, axiologias) não só se tornam os moldes dominantes de civilização, mas esses moldes
também se tornam tão profundamente enraizados que não tipicamente vistos como ‘naturais’ ou
normas apropriadas ao invés de construções sociais historicamente desenvolvidas.” (Stanfield,
1985 apud Scheurich & Young, 1997, p. 7)
19
18
Ambas as nomenclaturas utilizadas foram adaptadas dos estudos de Bulllard (2000; 2002), de
modo que por “ambientalistas tradicionais” deve-se compreender o movimento ambientalista
norte-americano em favor da conservação ambiental surgido na década de 1890, em oposição aos
“ambientalistas modernos” cujas raízes remetem o movimento pelos direitos civis da década de
1960. Em sua obra, o autor menciona três grupos distintos: environmentalists, social justice
advocates e economic boosters. Contudo, optou-se no presente trabalho por aludir-se somente às
duas primeiras categorias, correspondendo a primeira ao que se chama de “ambientalistas
tradicionais” e a segunda aos aqui chamados “ambientalistas modernos”, respectivamente. A fim
de completamente esclarecer as definições, vale explicitar que, para Bullard, “environmentalists
are concerned about leisure and recreation, wild life and wilderness presenvation, pollution
abatement and industry regulation”, enquanto “social justice advocates’ major concerns includes
basic civil rights, social equity, economic mobility and institutional discrimination”, o que se
traduziu livremente no corpo do texto. (Bullard, 2000, p. 9)
22
19
Por “passivos ambientais” designa-se a presença de externalidades negativas e a existência de
danos provocados ao meio ambiente lato sensu, sejam provocados por empreendimentos de ordem
econômica ou de outra natureza. Cumpre elucidar que não se atribui à expressão, no corpo deste
trabalho, o valor específico de obrigação de curto prazo em prol de ações que visem a reparação ou
atenuação de danos ambientais produzidos por determinada empresa. Portanto, não se utiliza a
expressão no sentido técnico-jurídico do termo.
23
20
A título exemplificativo, vale a menção ao caso Love Canal e ao caso Warren County, ambos
importantíssimos em conferir visibilidade e alavancar politicamente a luta contra o racismo
ambiental, tanto do ponto de vista da mobilização social atingida como do impacto do cenário
político nacional. Dentre a série de estudos produzidos naquele país, merecem destaque o “Toxic
Waste and Race in the United States”, que foi o primeiro estudo nacional produzido pela
Comission for Racial Justice, e o conduzido pela United States General Accounting Office, em
1983, a respeito da alocação de dejetos de material perigoso em Warren County.
21
No original: “fair treatment and meaningful involvement of all people regardless of race, color,
national origin, or income with respect to the development, implementation, and enforcement of
environmental laws, regulations and policies. Fair treatment means that no group of people,
including racial, ethnic, or socio-economic groups, should bear a disproportionate share of the
negative environmental consequences resulting from industrial, municipal, and commercial
operations or the execution of federal, state, local and tribal programs and policies”. (Bullard,
2002, p. 4).
24
22
Em 1978, houve o emblemático caso de contaminação química em Love Canal, Niagara, estado
de Nova Iorque. Em 1982, descobriu-se que um aterro para depósito de solo contaminado seria
instalado numa comunidade negra em Warren County, Carolina do Norte. Em 1983, num estudo
conduzido pela United States General Accounting Office, constatou-se que três em quatro aterros
de material perigoso havia sido alocado em comunidades negras, embora estes correspondessem a
aproximadamente apenas 20% da população da região, que abrangia oito estados norte-
americanos. Em 1991, a Greenpeace aferiu que, no sudeste de Chicago, num contingente
populacional de cento e cinquenta mil pessoas, dentre as quais oitenta e um por cento correspondia
a negros e latinos, estavam localizados cinquenta aterros de lixo tóxico, cem fábricas e cento e três
depósitos abandonados de lixo tóxico. (Herculano, 2008, p.3)
23
Ao longo do período descrito foram conduzidos estudos que descobriram a preferência pela
alocação de ônus ambientais em sítios próximos ou contidos em comunidades de minorias étnicas
nos Estados de Nova Iorque, Carolinas do Norte e do Sul, Alabama, Flórida, Kentucky, Mississipi,
Louisiana (parte sul), Chicago (sudeste), Califórnia, Los Angeles (na zona leste, de ocupação
latina) e em mais de 36 reservas indígenas. (ibid., p. 2-3).
24
No original: “refers to environmental policies, practices, or directives that differentially affect
or disadvantage (whether intentionally or unintentionally) individuals, groups, or communities
based on race or colour (…) is reinforced by governmental, legal, economic, political and military
institutions.” (Bullard, 2002, p. 2).
25
25
No original: “actions or practices carried out by members of dominant (racial or ethnic) groups
that have differential and negative impact on members of subordinate (racial and ethnic) groups”
(ibid., p. 2).
26
Por exemplo, “há racismo ambiental quando um órgão, entidade, organização ou estrutura social
cria um fato social hierárquico – estigma visível, espaços sociais reservados –, mas não reconhece
as implicações raciais do processo” [de criação do mesmo]. (Santos, I. A. A., 2015, p. 27).
26
27
No item supra foram apresentadas duas perspectivas: a dos “ambientalistas tradicionais” e dos
“ambientalistas modernos”. Admite-se, ainda, existirem apostas em outros olhares de
enfrentamentos da problemática ambiental.
28
Explica-se: cuida-se aqui não somente de avaliar o grau de impacto das mais diversas formas de
poluição ambiental ao meio ambiente ecológico, mas também vislumbrar em que medida questões
sociais e políticas afetam o grau de exposição de determinados povos a tipos específicos de ônus
ambientais. Parte-se da premissa de que externalidades ambientais negativas, especialmente no
contexto urbano, não atingem a todos de maneira igualitária e democrática, mas afeta de forma
distinta e desproporcional grupos específicos.
28
29
A distinção terminológica não indica uma cisão no movimento, mas denota a especialização que
as articulações e alianças políticas permitiam, à luz da diversidade da natureza das denúncias que
emergiam.
30
30
Em tradução livre: Associação de Proprietários de Casas em Love Canal.
31
Substância utilizada em sistemas de produção industrial que apresenta riscos à saúde humana e
que podem, inclusive, contaminar o solo e a água. Uma vez absorvida pelo organismo, pode ser
transportada pela corrente sanguínea e provocar danos ao fígado, bem como ocasionar problemas
de pele, oculares, dentre outros.
31
32
O título do estudo produzido era Siting of harzadous waste landfills and their correlation with
racial and economic status surrounding communities.
33
A região objeto do referido estudo abrangia os Estados do Alabama, Carolinas do Norte e do
Sul, Flórida, Geórgia, Kentucky, Mississipi e Tennessee.
34
Merece menção também o caso Cancer Alley, apresentado por Herculano (2008), que expõe o
fato da alocação do maior aterro comercial de lixo tóxico do país estar localizado numa região em
que a população negra corresponderia a noventa por centro da população total.
35
Dentre os casos que inspiraram a legislação em comento é possível destacar os de “leucemia
infantil em Woburn, Massachussets; más-formações congênitas em San José, Califórnia;
ocorrência de crianças sem cérebro em Brownsville, Texas; câncer pancreático e cânceres no
sistema nervoso de crianças vizinhas à fábrica da Kodak, em Rochester, Nova York”
(HERCULANO, 2001, p. 215-238)
32
36
Toxic Waste and Race in the United States foi o primeiro estudo nacional produzido pela
Comission for Racial Justice. Dedicava-se a aferir características demográficas das áreas de
alocação de depósitos de dejetos. O relatório resultante concluiu que a variável determinante no
processo de alocação dos sítios de dejetos era, efetivamente, a característica do ponto de vista
étnico-racial da comunidade que seria submetida ao ônus ambiental, eis que superava outras
variáveis tais como o indicador socioeconômico da população ou o valor imobiliário.
37
De acordo com os dados apresentados por Bullard (2000) em Dumping in Dixie: race, class and
environmental equality, seria inegável a predominância da variável “raça” na escolha, visto que se
aferiu a preferência em submeter comunidades de minorias étnicas a piores condições ambientais
mesmo quando, comparativamente às alternativas, essas comunidades tinham indicador
socioeconômico mais elevado.
33
38
A perspectiva com a qual alguns autores analisam a temática da injustiça ambiental no Brasil em
certa medida se alinha à adotada no presente trabalho, que advoga o uso de uma “metodologia
colorida”, sob o paradigma da justiça ambiental e da Teoria Crítica da Raça. Desse modo, atenta-
se à possibilidade de determinados levantamentos técnicos e científicos, bem como a produção de
determinados dados, serem influenciados por uma perspectiva racial discriminatória. Por essa
razão, foram também utilizadas fontes de pesquisa que consideram fontes frequentemente
negligenciadas pela epistemologia dominante. Sobre “metodologia colorida” ver Scheurich e
Young (1997).
39
O resultado é apresentado por Herculano (2008, p. 3).
40
“There is a racial divide in the way the US government cleans up toxic waste sites and punishes
polluters. White communities see faster action, better results and stiffer penalties than
communities where blacks, Hispanics and other minorities live. This unequal protection often
occurs whether the community is wealthy or poor” (Cole & Foster, 2001, p. 57).
34
41
Disso decorrem diversos obstáculos à análise do racismo ambiental – sobretudo no Brasil – já
que a discriminação institucional é pouco aparente e sua demonstração normalmente impõe a
análise de estatísticas racialmente específicas quanto ao órgão sob exame. O principal problema é
que, no Brasil, tais dados são deveras escassos, sendo habitual que, em nome da impessoalidade e
isonomia – e, curiosamente, produzindo resultados avessos às mesas – não se anota ou registra
dados racialmente relevantes. Veja-se, por outro lado, que não se pode deixar de questionar ou
buscar meios alternativos aptos a denotar a institucionalização da discriminação racial neste país
em virtude da invisibilização de cor ser traço das metodologias e epistemologias dominantes.
42
No original: First National People of Color Environmental Leadership Summit.
43
Houve o processo de internacionalização do movimento, eis que países que compartilhavam
semelhante processo de subjetivação racial experimentavam o mesmo problema, temperadas as
35
46
Como leciona Bullard, o “[...] clamor por justiça ambiental e econômica não termina nas
fronteiras dos EUA, mas estende-se às comunidades e nações que são ameaçadas pela exportação
de resíduos perigosos, produtos tóxicos e indústrias sujas” (Bullard, 2002, p. 59)
37
47
De acordo com o autor, “o regime parasitário sob o qual nasceram e viveram as colônias da
América do Sul influiu naturalmente sobre o seu viver posterior, quando já emancipadas. Há no
caráter das novas nacionalidades uma série de qualidades – vícios – que são o resultado imediato
desse mesmo regime imposto pelas nações ibéricas. Essas qualidades traduzem a influência natural
do parasita sobre o parasitado, influência constante, fatal mesmo, nos casos de parasitismo social,
máxime quando o parasitado procede diretamente do parasita, quando é gerado e educado por ele”
(BOMFIM, 2005, p. 135)
38
48
Dentre os estudos e pesquisas publicados, destaque-se os seguintes: WAGLEY, C. et al. Race
and class in rural Brazil, publicado em 1953; NOGUEIRA, O. Relações raciais no município de
Itapetininga. In: Relações raciais entre negros e brancos em São Paulo, e Preconceito racial de
marca e preconceito racial de origem, ambos publicados no ano de 1955; e, por fim, BATISDE, R.
e FERNANDES, F. Relações raciais entre negros e brancos, também publicado em 1955. Acerca
da história do Projeto Unesco, pertinente ver MAIO, M. C. A história do Projeto Unesco: estudos
raciais e ciências sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Iuperj, 1997.
39
49
De acordo com Hofbauer, “somente com o desmonte dos projetos políticos ideologicamente
fundamentados em concepções raciais, depois da Segunda Guerra Mundial, que a comunidade
acadêmica internacional fez um esforço para desqualificar o conceito de raça como critério único
40
de definição e explicação das diferenças humanas” (Hofbauer, 2006, p. 219). Foi desenvolvido o
Projeto Unesco como esforço de elaborar uma campanha de combate ao ódio racial. O Brasil, que
não só se apresentava como uma democracia racial mas também como um país que rechaçava o
preconceito de cor, foi escolhido como laboratório de estudos.
50
Métraux assumiu a direção do Setor no ano de 1950, era antropólogo e já possuía vasta
experiência em pesquisas etnológicas em relação a índios e negros na América Latina.
51
De acordo com o autor, seria “[...] muito importante estudarem-se as relações raciais sob um
certo número de condições distintas e, nesse caso, é imprescindível que, mais uma vez, o estudo
não fique restrito à situação na Bahia e à sua volta” (Klineberg apud Maio, 1999, p. 144-145).
41
52
Note-se que “partindo de uma perspectiva de branqueamento, que termina por sustentar a
realização gradual de valores paradigmáticos supremos (religioso-morais, biológico-evolutivos,
cultural-civilizatórios), um “mais escuro” pode ser visto como um ser que – a longo prazo –
contribui para o aperfeiçoamento desse “projeto societal”. Mas pode ser considerado também
moral, biológica e culturalmente “inferior” àquele que consegue apresentar-se como “menos
escuro”. Assim, qualquer denominação de cor e/ou raça ganha uma forte carga de ambiguidade.
Essa ambiguidade, que marca os processos de inclusão e exclusão e que pode ser interpretada
como uma consequência da força do ideário do branqueamento, foi provavelmente também uma
das razões porque o Brasil oficial conseguiu, com sucesso, apresentar-se durante tanto tempo como
país não-racista” (Hofbauer, 2006, p. 213)
53
Válido o apontamento de Hofbauer a respeito da alforria: “não provocava um rompimento com
as estruturas de domínio; não era garantia de uma “vida em liberdade”. O Brasil escravista não
permitia a existência de um “cidadão livre”. A sociedade era marcada por laços de dependência, de
lealdades, de poder patrimonial. O liberto não constituía a antítese do escravo, mas apenas um –
possível – passo em direção à diminuição da exploração direta, um precondição para ocupar uma
posição menos desprivilegiada no jogo de manipulação dos laços de pertencimento.” (ibid., p.
150).
44
54
Maio relata a decisão que Métraux comunica por carta: “Contrariamente a meus planos
anteriores, a Bahia não será mais o foco de nosso projeto. Estudaremos as relações raciais como
estas aparecem em quatro comunidades e nos concentraremos no problema de mobilidade social
na cidade de Salvador. Por outro lado, deveremos nos concentrar na situação racial em São Paulo,
que está em vias de se deteriorar rapidamente. Dr. Costa Pinto empreenderá um estudo semelhante
– porém em maior escala – no Rio de Janeiro. Espero conseguir, no final do ano, um quadro da
situação racial no Brasil que seja próximo da realidade e que cubra, ao mesmo tempo, tanto seus
aspectos positivos quanto os negativos” (Métraux apud Maio, 1999, p. 150).
45
55
Azevedo, um dos pesquisadores do Projeto, rejeitava a premissa de que brancos e negros seriam
grupos claramente delimitados. Apontando a existência de uma relação entre o status social e a
cor, o autor “descreve o branqueamento como um fenômeno fundamentalmente social”. Afirma,
ainda, a possibilidade, no Brasil, do acesso a um determinado capital eminentemente branco –
como dinheiro, educação, “boas maneiras” e “boas relações pessoais” – permitiriam que um
“mulato claro” ocupasse um lugar “socialmente branco”, reconhecendo que isso não se aplicaria a
negros de pele escura. Conclui que “para adquirir status, o escuro necessita assimilar-se cultural e
socialmente ao branco adotando sua ‘epiderme social’” (Hofbauer, 2006, p. 266)
46
adota-se aqui paradigma diverso. Ocorre que, como se verá, até mesmo os
estratos socioeconômicos se organizaram a partir de indicadores raciais, o
que não deve ser desconsiderado. À conta disso, o indicador racial afetará o
trato social mesmo quando razoavelmente nivelado o patamar
socioeconômico.
É somente a partir da segunda metade do século XX que a percepção
da existência de uma relação entre a justiça ambiental e a justiça social
começa a receber certa notoriedade no Brasil. Atualmente, a persecução da
justiça social é amplamente consagrada. A questão se encontra presente em
todo o texto constitucional que consagra o princípio da dignidade humana
(art. 1º, inciso III, CRFB), a construção de uma sociedade igualitária (art.
5º, caput, CRFB), a erradicação da pobreza (art. 3º, inciso III, CRFB), a
extinção de todas as formas de discriminação (art. 3º, inciso IV, CRFB), o
direito ao meio ambiente equilibrado (art. 225, caput, CRFB), o valor social
do trabalho (art. 1º, inciso IV, CRFB), etc. Conquanto seja necessário
apontar que a discussão a respeito da injustiça ambiental chegue ao Brasil
com claro aporte internacional, o presente trabalho busca analisá-la a partir
de conjunturas e elementos particulares à sociedade brasileira.
Ademais, busca-se apontar – e se valer de – instrumentos aptos a
conferir certa visibilidade às possíveis formas de racismo ambiental na
nossa sociedade, sobretudo no campo da habitação e do direito à cidade.
Entende-se ser possível, a partir do olhar sobre o passado, compreender a
construção de pilares que sustentam a manutenção de uma série de tensões
e injustiças raciais no contexto urbano, especialmente na cidade do Rio de
Janeiro. A lente que se utiliza para analisar o presente se presta a visibilizar,
ao menos em certa medida, alguns dos graus de discriminação sofridos pela
população negra e seus efeitos, bem como expor as dificuldades que obstam
maiores avanços em determinadas análises.
Uma das peculiaridades brasileiras é o vínculo do racismo com a
desigualdade social, laço que não ocorre necessariamente com a alocação
racista de ônus ambientais nos EUA. Por isso, é necessário, para aprofundar
48
57
Leia-se o seguinte excerto: “O povo-nação não surge no Brasil da evolução de formas anteriores
de sociabilidade, em que grupos humanos se estruturam em classes opostas, mas se conjugam para
atender às suas necessidades de sobrevivência e progresso. Surge, isto sim, da concentração de
uma força de trabalho escrava, recrutada para servir a propósitos mercantis alheios a ela, através de
processos tão violentos de ordenação e repressão que constituíram, de fato, um continuado
genocídio e um etnocídio implacável. Nessas condições, exacerba-se o distanciamento social entre
as classes dominantes e as subordinadas, e entre estas e as oprimidas, agravando as oposições para
acumular, debaixo da uniformidade étnico-cultural e da unidade nacional tensões dissociativas de
caráter traumático.” (ibid., p. 23).
52
58
De modo que Ribeiro (2005, p. 20) afirma que o país se colocaria, no cenário internacional,
como “proletariado externo”.
53
59
François Bernier, como aponta Hofbauer (2006), em 1684, aplicaria o conceito de raça para
categorizar agrupamentos humanos com base em suas características físicas – ou fenotípicas – no
artigo “Nouvelle division de la terre, par les différentes espèces ou races d’hommes”; o conceito
de raça já seria expandido, em relação ao uso original, por Pierre Charron, em 1601, em “De la
sagesse”.
60
Existem discussões a respeito da noção de “raça” como “dado biológico” ou “construção
social”. Embora, para autores como Wulf D. Hund exista um consenso no sentido de que o
conceito se trataria de uma construção social, haveria ainda discussões sobre tal fenômeno
consistir num “fato social” ou em “invenção”, dentre outras controvérsias. Sobre o assunto, ver
Hofbauer (2003).
61
Ressalte-se: “Lineu subdivide o grupo homo em quatro categorias, juntando-lhe ainda dois
grupos misteriosos (pouco definidos pelo autor), denominados ferus e monstrosus: (1) Europaeus
albus: engenhoso, inventivo; branco, sanguíneo. É governado por leis. (2) Americanus rufus:
contente com sua sorte, amante da liberdade; moreno, irascível. É governado pelos costumes. (3)
Asiaticus luridus: orgulhoso, avaro; amarelado, melancólico. É governado pela opinião. (4) Afer
niger: astuto, preguiçoso, negligente, negro, fleumático. É governado pela vontade arbitrária de
seus senhores [...]” (Hofbauer, 2006, p. 104). Veja-se, ainda, que um dos mais importantes teóricos
da raça, Gobineau, defendia que “a raça negra – chamada por ele também de hamitas e, menos
frequentemente, de “variedade negra” – encontra-se no “degrau mais baixo da escada” da
humanidade. Atribui aos negros que “nunca sairão do círculo mais estreito” um “caráter de
animalidade” [...]” (ibid., p. 126).
55
62
A adoção de um projeto de branqueamento como política de Estado é noticiada nos debates da
Assembleia Constituinte de 1823, em que se debatia a concessão ou não do título de cidadão
brasileiro a escravos forros, sendo-lhes imposto como condição o exercício de ofício ou cargo num
contexto de ampla exclusão de negros do mercado de trabalho formal. As pretensões de
incorporação de brancos e exclusão de negros se evidenciaria nas entrelinhas dos debates travados,
que buscavam sempre alternativas que beneficiassem brancos e o embranquecimento da população
(Rodrigues, J. H., 1974).
56
63
“Com efeito, desde os anos 1870, teorias raciais passam a ser largamente adotadas no país –
sobretudo nas instituições de pesquisa e de ensino brasileiras predominantes na época [...]. Já em
maio de 1888, saía em vários jornais brasileiros um artigo polêmico, assinado por Nina Rodrigues,
onde o famoso médico da escola baiana concluía que “os homens não nascem iguais. Suppõe-se
uma igualdade jurídica entre as raças, sem a qual não existiria o Direito”. Dessa maneira, e
solapando o discurso da lei, esse “homem de sciencia”, logo após a abolição formal da escravidão,
passava a desconhecer a igualdade, e o próprio livre arbítrio, em nome de um determinismo
científico e racial.” (Schwarcz, 1996, p. 87-88)
57
64
Houve quem se insurgisse contra as ideias pregadas pelo racismo científico, mas essas vozes não
receberiam grande notoriedade. Bomfim já em 1905 definia as relações forjadas pelos
colonizadores como parasitária de povos africanos e nativo-americanos (ou ameríndios). O autor
criticava a Teoria Científica do Valor das Raças, hegemônica na sociologia oficial europeia e
estadunidense. Afirmava não só a igualdade racial como a aptidão de negros para o progresso –
premissa que era amplamente rechaçada por intelectuais e cientistas da época. Defendia-se que a
mestiçagem sul-americana formaria populações inferiores e que o efeito desse cruzamento inter-
racial seria a regressão moral e intelectual. Bomfim, já àquela época, rebatia sob o argumento de
que a mistura de raças viabilizaria a duração e civilização dos povos, sendo a sociedade mestiça,
em relação a muitos dos seus elementos de origem, superior.
58
69
“O racismo ambiental não se configura apenas por meio de ações que tenham uma intenção
racista, mas igualmente por meio de ações que tenham impacto racial, não obstante a intenção que
lhes tenha dado origem” (Herculano, 2008, p. 16).
63
70
Em São Paulo, a população negra seria desalojada como etapa de concretização de um projeto
urbanístico que demandava obras de “melhoramento da capital”, as quais redefiniriam a face da
cidade o acesso ao espaço público. Tratou-se de um “processo de limpeza” do Centro que, segundo
Rolnik, consolidaria o Bexiga como território negro em São Paulo. As obras teriam seu ápice no
período de 1899 a 1914. Já no Rio de Janeiro, o processo, “drástico e violento”, ficaria conhecido
como a “era do bota-abaixo”. Iniciadas em 1904, as obras demoliriam os mais importantes
quilombos da cidade – como enumera Rolnik: “a região portuária da Saúde e Gamboa e os cortiços
e habitações coletivas da Cidade Nova (Sacramento, Santa Rita, Santana e Santo Antônio) (1989,
p. 43) – afetando, inclusive, as relações de trabalho, na medida que houve o estreitamento de
oportunidades de trabalho para a população negra com a reorganização espacial. No Rio de
Janeiro, ademais, haveria justificativas sanitárias para o uso de medidas autoritárias, em grande
medida fortalecidas pelo racismo científico que se consolidara dentre a elite intelectual.
71
Dados do Recenseamento Geral da República dos Estados Unidos do Brasil, datados de 31 de
dezembro de 1890, apontam que, naquele ano, 48% dos não-brancos inseridos no mercado de
trabalho exerciam o trabalho doméstico e 16% não possuíam ofício. Além disso, os bairros
proletários seriam habitados majoritariamente por imigrantes brancos, apresentando porcentagem
de pretos e pardos sensivelmente inferior à média da cidade. Anote-se que foram levantados dados
dos seguintes bairros: Sé, Santa Efigênia, Consolação, Bráz, Frequesia do Ó e Penha. (Rolnik,
1989).
72
Veja-se o exemplo do Código de Posturas do Município de São Paulo, de 6 de outubro de 1886
(Arquivo Histórico Washington Luís): o diploma efetuou a proibição de práticas típicas de
territórios negros. As quituteiras foram proibidas de vender seus quitutes, os mercados populares
deveriam ser transferidos e os pais de santo não mais poderiam trabalhar.
64
73
A autora explica que os quilombos urbanos eram identificados, ainda, pela não proletarização de
sua população. Destaca, ainda, o corpo do negro como espaço seu, em virtude da sua importância
cultural, manifestada na linguagem corporal contrária ao padrão moral judaico-cristão. (Rolnik,
1989, p. 42)
74
“Segregação, quer dizer, diferenciação residencial segundo grupos, significa diferencial de renda
real – proximidades às facilidades da vida urbana como água, esgoto, áreas verdes, melhores
serviços educacionais, e ausência de proximidade aos custos da cidade como crime, serviços
educacionais inferiores, ausência de infraestrutura, etc. Se já existe diferença de renda monetária, a
localização residencial implica em diferença maior ainda no que diz respeito à renda real” (Negri,
2008, p. 138)
65
75
É bem de ver que “As reformas realizadas no final do século XIX e início do século XX
lançaram modelos estéticos e paisagísticos de embelezamentos das cidades e de ocultamento da
pobreza. Para isso, ocorreu a regulação da atuação de alguns instrumentos urbanísticos, como a
legalização de atuação do mercado imobiliário, implantação de projetos de saneamento ambiental
e paisagismo, enquanto a população de baixa renda era expulsa para as áreas mais afastadas da
cidade. Era a conjugação do modelo de embelezamento das cidades e segregação sócio-espacial
das camadas mais pobres da sociedade” (Negri, 2008, p. 146).
67
76
Merece destaque a correlação existente entre a caracterização da rua como território negro
(Rolnik, 1989), a marginalização da população negra e o seu encarceramento em massa como
resultado da política criminal adotada nas últimas décadas (Santos, 2015) e a produção desses
espaços de segregação espacial. É certo que os afetos exercem grande poder sobre os indivíduos e
a vida em sociedade. O medo, em particular, sobretudo quando inflamado, alimentado, tem
enorme potencial desagregador das relações humanas e é capaz de obstruir a formação de laços de
fraternidade, dificultando encontros ampliadores de potência. Veja-se o relato trazido por Vargas
(2005) a respeito do caso da comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, que denota a
complexidade da questão.
72
77
A Lei de Terras, “apesar de muito conhecida por criar valor de troca para o solo rural, também o
fez em relação ao solo urbano. A autora lembra que esta lei diferencia pela primeira vez na história
brasileira o que é solo público e o que é solo privado” (Maricato apud Negri, 2008, p. 147).
73
78
“Uma primeira iniciativa de releitura da experiência norte-americana por entidades brasileiras
deu-se pela realização de um material de discussão elaborado e publicado por iniciativa da Ong
Ibase, da representação da Comissão de Meio Ambiente da Central Sindical CUT no Rio de
Janeiro e de grupos de pesquisa do Ippur/UFRJ. Os três volumes da série Sindicalismo e justiça
ambiental (Ibase/CUT-RJ/Ippur-UFRJ, 2000) tiveram circulação e impacto restrito, mas
estimularam outros grupos da universidade, do mundo das ONG e do sindicalismo a explorar o
veio de tal debate, o que levou à organização do Seminário Internacional Justiça Ambiental e
Cidadania, realizado em setembro de 2001 na cidade de Niterói” (Acserald, 2010, p. 111).
79
Evidentemente, não se ignora a existência de formas de resistência negra e seus esforços de
integração ao corpo social e ao mercado desde o período colonial. O destaque realizado denota
escolha que tão-só se presta a exemplificar esse esforço dentro do recorte efetuado no presente
trabalho, eis que empreendida no período abordado e relativa à segregação espacial racialmente
discriminatória.
80
De acordo com Rolnik (1989, p. 45), uma das iniciativas da FNB em São Paulo foi a compra de
terrenos em loteamentos na periferia com o propósito de viabilizar a formação de bairros negros
com estrutura para o núcleo familiar e a vida em comunidade.
74
81
Sobre a Rede Brasileira de Justiça Ambiental consultar <http://www.justicaambiental.org.br>.
82
O Colóquio logrou promover debates de cunho acadêmico e político a respeito da promoção da
justiça ambiental no país e visava “[...] ampliar o diálogo e a articulação entre sindicatos,
movimentos sociais, ambientalistas e pesquisadores, no sentido de estimular o fortalecimento da
luta por justiça ambiental no Brasil” (Acserald et al apud Rammê, 2012, p. 49).
75
83
Daí advém uma série de críticas de teóricos da justiça ambiental ao atual modelo econômico;
“[...] embora o núcleo da crise provocada pelo capitalismo na conjuntura da globalização
neoliberal seja econômico, é no meio ambiente e nas relações socioambientais que os resultados da
atual conjuntura econômica se mostram mais avassaladores” (Rammê, 2012, p. 60).
76
84
De acordo com a United Nations Development Program (UNDP), esses mesmos 20% da
população mundial seriam os responsáveis pelo consumo de 45% de toda carne e peixe
produzidos, bem como pelo consumo de 68% da eletricidade no mundo. Além disso, essa mesma
parcela da população consumiria 84% do papel fabricado e 87% de todos os automóveis ao redor
do globo. Os resultados constam do Human Development Report, publicado pela Oxford Univ.
Press, em 1992.
77
85
O autor traz à baila exemplo da distribuição de resíduos tóxicos no Rio de Janeiro: “Segundo
estimativas da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de
Janeiro, são produzidos anualmente no Estado 240 mil toneladas de resíduos tóxicos. Desse
volume, estima-se não haver controle algum por parte das agências ambientais sobre 120 mil
toneladas (50%). A Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente (FEEMA), órgão
78
É que
“a constatação da desigualdade ambiental, tanto em termos de
proteção desigual como de acesso desigual, nos leva a
reconhecer que o que está em jogo não é simplesmente a
sustentabilidade dos recursos e do meio ambiente, ou as
escolhas técnicas descoladas da dinâmica da sociedade, mas sim
as formas sociais de apropriação, uso e mau uso desses recursos
e desse ambiente.” (ibid., p. 76).
Um quarto fator apontado por Rammê (2012) seria a “neutralização
da crítica potencial”, que pode se manifestar de múltiplas formas:
“Uma forma decorre da ação estratégica de grandes setores da
economia global que incutem a ideia de que a contaminação e a
poluição são um mal necessário decorrente da necessidade de
desenvolvimento. Outra forma é a prática, por grandes empresas
e indústrias, de ações políticas simpáticas aos olhos de
comunidades carentes, visando a evitar o surgimento de
manifestações que venham a questionar as condições de
funcionamento de atividades poluidoras ao meio ambiente ou
prejudiciais à saúde das comunidades vizinhas. Também os
discursos de negação das injustiças ambientais, de
culpabilização dos pobres, de descrédito ou ridicularização de
reivindicações de cunho ecológico ou cultural, são exemplos de
estratégias de neutralização de críticas e reivindicações contra
injustiças ambientais” (Rammê, 2012, p. 64)
Acserald critica fortemente o chamado sistema de “neutralização de
críticas” que agentes privados utilizariam atualmente. Para o autor, a
“modernização tecnológica” fomentada por esses atores visaria tão somente
compatibilizar o crescimento econômico com as preocupações ecológicas,
de modo que estas não venham a obstruí-lo, impedindo a perda da
superioridade relativa da qual gozam os agentes dominantes. Não haveria,
portanto, uma preocupação real em combater efetivamente e por completo
as mazelas da problemática ambiental, efetivamente promovendo um
modelo sustentável de desenvolvimento e que aplacasse todas as
ambiental do Estado, por sua vez, estima haver 24 mil indústrias funcionando sem controle das
agências ambientais, muitas delas contribuindo para a produção desse lixo tóxico. Mas além das
fontes incontroladas situados no próprio Estado, registra-se um fluxo de resíduos proveniente de
fora, de São Paulo, Minas Gerais e Bahia, um deslocamento licenciado para a queima em fornos
do Rio de Janeiro, mas que, em parte, estima-se, para evitar o pagamento dos custos de
incineração, resulta no lançamento em despejos clandestinos ao longo do percurso, no usufruto das
fragilidades do aparelho fiscalizatório. Esses despejos clandestinos, bem como a alocação de
plantas industriais que oferecem maior risco, concentram-se efetivamente em áreas pobres da
periferia metropolitana da cidade do Rio de Janeiro” (Acserald et al, 2009, p. 80).
79
86
A crítica apresentada se relaciona também ao questionamento da cultura do consumismo
fomentada pelo modelo capitalista. O capitalismo de consumo, de acordo com Lipovetsky,
passaria por três eras: (a) a primeira delas entre 1880 e 1945, em que os mercados locais seriam
substituídos por mercados nacionais, impactando os meios de produção, transporte e comunicação,
e iniciando o chamado processo de “democratização do desejo” – o consumo se tornaria sinônimo
de felicidade, simbolizando status social; (b) a segunda fase é descrita como a emergência da
“sociedade de consumo de massa”, do pós-guerra à década de 1970; o crescimento econômico, a
elevação da produtividade e do poder de compra ampliaria significativamente o mercado
consumidor – é nessa fase que haveria o “boom” de diversificação de produtos e redução da sua
durabilidade, elevando a produção de lixo; (c) a terceira fase é a da “sociedade de hiperconsumo”,
que potencializa a produção, a publicidade, os sonhos, o descarte, a produção de lixo e a poluição
ambiental – seriam incorporados à sociedade de consumo mesmo os mais pobres, que priorizariam
a obtenção de objetos “desejo de consumo” como forma de evitar maior “humilhação social” e
tentativa de diminuir o gap que marca uma sociedade profundamente hierarquizada; É que aqueles
que não são capazes de consumir determinados produtos experimentam verdadeira exclusão social,
sendo estigmatizados como pertencentes a uma “subclasse social”. (Rammê, 2012, p. 56-58)
80
87
Não se nega que a questão apresenta desafios: “Não há dúvida de que o locus por excelência da
evidenciação da injustiça ambiental está exatamente nos contextos intra-urbanos. A verificação de
dados internacionais, nacionais, regionais ou até municipais acerca da distribuição dos riscos
ecológicos, de um modo geral, não explicita sua sobreposição aos mais pobres. Isto se dá porque a
coincidência socioespacial entre privação social e privação ambiental costuma ficar encoberta
pelas “médias” alcançadas por aquele dado território em geral, em termos de renda ou de provisão
de serviços” (ACSERALD et al, 2009, p. 50)
81
88
O projeto realizou o levantamento de 15 a 30 casos por estado, sendo contabilizadas denúncias a
partir de janeiro de 2006, inclusive aquelas originadas em fatos anteriores, levando em
consideração: a) o tipo de população atingida e o local do conflito (povos indígenas, operários,
quilombolas, agricultores familiares, moradores em encostas, ribeirinhos, pescadores e outros
tantos, urbanos ou rurais); b) o tipo de dano à saúde (contaminação por chumbo, desnutrição,
violência física, dentre outros) e de agravo ambiental (desmatamento, queimada, contaminação do
solo e das águas por agrotóxicos, por exemplo); c) a síntese do conflito e o contexto ampliado do
mesmo, apresentando os principais responsáveis pelo conflito, as entidades e populações
envolvidas na luta por justiça ambiental, os apoios recebidos ou não (como participação de órgãos
governamentais, do Ministério Público e de parceiros da sociedade civil), as soluções buscadas
e/ou encontradas; d) os principais documentos e fontes de pesquisa usadas na pesquisa sobre o
caso (MAPA DA INJUSTIÇA AMBIENTAL E SAÚDE NO BRASIL, 2010, metodologia).
89
Os resultados estão disponíveis no sítio
<http://www.conflitoambiental.icict.fiocruz.br/index.php?pag=resumo>. Acesso em 15 de nov. de
2016.
84
90
Os resultados atuais não foram ainda disponibilizados, pelo que não é possível tecer
comparações e verificar se, sob a mesma metodologia, seria possível verificar alterações ou a
concretização da projeção de aumento dos conflitos urbanos.
85
91
O estudo concluiu que somente 67,2% da população preta e parda tinha acesso a água canalizada
e rede geral de distribuição, no ano de 1999, contra 82,8% da população branca, em todo o
território nacional. No que diz respeito ao acesso a tratamento de esgoto e fossa séptica, registrou-
se que enquanto 62,7% da população branca tinha acesso, somente 39,6% de negros – pretos e
pardos – estavam em condições semelhantes; nas regiões Norte e Nordeste, vale notar, este
indicador aponta que apenas 12,7% e 19,8% de negros, respectivamente, teriam acesso a esgoto
tratado e fossa séptica.
87
92
Acessível pelo link: <http://www.cppnac.org.br/wp-content/uploads/2013/11/Mapa-do-
Racismo-Ambiental-no-Brasil.pdf> Acesso em: 16 de nov. de 2016.
88
93
Tome-se como exemplo o fato de que o Mapa da Injustiça Ambiental e Saúde no Brasil
identifica que, das populações que sofrem injustiça ambiental, 18% é indígena, o que corresponde
a 0,25% da população nacional;
89
94
Veja-se que, de acordo com Herculano (2008), “a irresponsabilidade ambiental das empresas
atinge em primeiro lugar e com maior intensidade as mulheres, a quem cabe frequentemente a
lavagem dos uniformes de trabalho contaminados de seus maridos ou o manejo de recipientes de
agrotóxico transformados em utensílios de cozinha.” (Herculano, 2008, p. 12)
93
96
Vale dizer, o que se levanta não é novidade no cenário brasileiro, os ideais incorporados nessa
perspectiva já compunham o leque de pautas de ícones como Abdias Nascimento e Guerreiro
Ramos que já teriam levantado questões acerca do multiculturalismo e da noção de supremacia
branca, o que se refletiria na atuação do Teatro Experimental Negro – TEN.
95
97
É de se notar que “a proposta de fomentar técnicas investigativas sobre esse prisma orienta-se
pela tentativa de promover o diagnóstico presente da ideologia que sustenta o racismo, nomeando
as lesões racistas e empoderando suas vítimas, que passam a falar por elas mesmas. Serão as suas
experiências as fontes privilegiadas de uma forma de produzir conhecimento que até então
impediu que elas ecoassem - por exigências de suposta neutralidade, objetividade e universalidade.
Se as estatísticas não mostram a real situação social dos negros, porque a exigência de uma postura
estatal color blind impedia que produção de dados fosse orientada por cortes de cor ou raça,
gênero, orientação sexual, filiação religiosa, etc., e se as investigações até então dotadas de
cientificidade estavam pautadas no ideal cartesiano ou não atribuíam ao critério raça um locus
privilegiado de análise, só a experiência pode demonstrar e denunciar as marcas cotidianas do
enfrentamento ao racismo e suas principais implicações.” (Silva, 2015, p. 73).
98
Conclusão
Diante do contexto apresentado, é possível compreender o ponto
nodal da análise que ora se empreende: o anseio de inaugurar um diálogo
construtivo à luta por justiça ambiental, de modo que se permita a
pluralidade e ampliação de lentes e mecanismos de análise utilizados. A
compreensão dos males de origens do problema, defende-se, demanda a
riqueza que uma produção coletiva que se fortalece na multiplicidade pode
oferecer. Há que se repensar o processo de estruturação de nossas
instituições e refletir acerca do processo pelo qual se constituiu o nosso
povo, especialmente a partir de referenciais não exclusivamente
eurocentradas ou de lentes gestadas a partir da experiência europeia.
O recorte que aqui se estabeleceu dá enfoque à adição à análise da
injustiça ambiental a parâmetros racialmente referenciados como epicentro
de análise. Não se exclui, porém, o estímulo a olhares que logrem
posicionar outros vetores e parâmetros que lancem luz sobre aspectos
frequentemente obscurecidos nesse cenário. Como dito, a repetida análise
da questão tendo o elemento socioeconômico como vetor primordial é útil e
benéfica, ainda que incompleta.
Insta salientar que não apenas se postula a adoção do fator “raça”
como uma das variáveis centrais de análise, como uma revisão e reflexão a
respeito das metodologias e epistemologias empregas no estudo do direito e
das questões relativas à justiça ambiental no Brasil. A reflexão que se
buscou instigar diz respeito aos perigos de, sob recortes metodológica e
epistemologicamente não distinguem diferentes graus de discriminação,
haver certo apagamento ou invisibilização de determinadas formas de
violência. O fato da questão racial no Brasil ser frequentemente mascarada
pela forte desigualdade social do país provoca – frequentemente – a adoção
de lentes que são primordialmente referenciadas pelo caractere
socioeconômico, afastando dos holofotes as raízes da discrepância
socioeconômica observada.
100
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