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1A ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL NO TERCEIRO SETOR E A RELAÇÃO


COM A PROTEÇÃO SOCIAL

MARIA DO AMPARO DO NASCIMENTO¹

HENRIQUE MENESES RIBEIRO²

RESUMO

O espaço sócio ocupacional do assistente social está em constante transformação. Sendo a


contemporaneidade, mais especificamente os últimos 20 anos, de extrema importância para
compreendermos as novas configurações do trabalho e o novo perfil exigido para o assistente social,
é impensável desvencilhar este processo dos fenômenos sociais, políticos, culturais e econômicos que
são transversais a qualquer sociedade. Embora o surgimento das primeiras organizações de pessoas
em busca de algum direito que não era atendido via estado seja datado de meados do séc. XX, é na
década de 1990 que o terceiro setor e suas organizações não governamentais crescem de forma
exponencial, agregando diversos profissionais, entre eles o assistente social. Sendo assim, neste
trabalho será discutida de forma crítica a proteção social a grupos vulnerabilizados e os efeitos
macrossocietários que o neoliberalismo impõe tanto as políticas sociais quanto ao espaço sócio
ocupacional do assistente social, levando-se em consideração o atual projeto ético político da profissão.

Palavras Chave: Proteção Social. Terceiro Setor. Deficiência. Serviço Social. Neoliberalismo.

ABSTRACT

The socio-occupational space of the social worker is constantly changing. Since the
contemporaneousness, more specifically the last 20 years, of extreme importance to understand the
new configurations of the work and the new profile required for the social worker, it is unthinkable to
unravel this process of social, political, cultural and economic phenomena that are transversal to any
society. Although the emergence of the first organizations of people in search of some right that was not
attended via state is dated of the middle of the century. XX, it is in the 1990s that the third sector and its
non-governmental organizations grow exponentially, adding several professionals, among them the
social worker. Thus, this paper will critically discuss social protection to vulnerable groups and the
macro-social effects that neoliberalism imposes both social policies and socio-occupational space of the
social worker, taking into account the current political ethical project of the profession.

Key Words: Social Protection. Third Sector. Deficiency. Social Work. Neoliberalism.

1
Graduada em Serviço Social pela Faculdade Adelmar Rosado- FAR. Pós graduanda em Serviço Social,
Direitos Sociais e Políticas Sociais- FAR. E-mail: [email protected].
² Assistente Social, mestrando em Políticas Públicas. Professor da pós-graduação da Faculdade
Adelmar Rosado- FAR. E-mail: [email protected].
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INTRODUÇÃO

O presente artigo tem por objetivo discutir acerca da atuação do assistente


social em organizações do terceiro setor e a relação deste com o atendimento à
grupos historicamente vulnerabilizados na sociedade, como no recorte aqui utilizado,
pessoas com deficiência.
De acordo com os dados do IBGE (CENSO, 2010), 23,91% da população
brasileira possui algum tipo de deficiência, totalizando aproximadamente 45,6 milhões
de pessoas. Desde a gênese da profissão que o serviço social trabalha com pessoas
com deficiência, entretanto o que foi modificado ao longo do tempo foi a concepção-
não só do assistente social, mas de toda a sociedade sobre este grupo populacional,
pois foi necessário superar a errônea concepção de “incapazes” ou “inválidos” para
sujeitos de direitos.
Entretanto, embora no decorrer da história da proteção social no Brasil se
percebam avanços em termos de legislação, a inclusão de pessoas com deficiência
na sociedade ainda se constitui em um grande desafio na atualidade para a efetivação
daquilo que é resguardado em lei.
Partindo desta realidade, esta pesquisa buscou analisar de forma crítica a
evolução do sistema de proteção social brasileiro, passando pelo marco legal da
Constituição Federal de 1988 que representou avanços no campo social para todos
os brasileiros até os dias atuais, que posteriormente são seguidos pelas reformas
neoliberais no sistema de proteção social do país, nos quais percebe-se a crescente
mercantilização dos direitos sociais e desresponsabilização do estado frente às
necessidades sociais básicas.
Faz –se relevante um estudo acerca deste tema pois, além de interesse para
os assistentes sociais enquanto categoria politicamente organizada e projeto ético
político bem definido, as novas configurações das políticas sociais metamorfoseiam
também os diversos espaços sócio ocupacionais da profissão. Também é de interesse
de toda a sociedade, uma vez que é através do conhecimento da realidade que é
possível superar barreiras e maximizar oportunidades, na perspectiva de que o
conhecimento é ferramenta imprescindível para a efetivação de direitos sociais.
Para tanto, foi realizado estudo fundamentado em pesquisa bibliográfica de
caráter qualitativo, para que desta forma sejam ampliados os conhecimentos acerca
do tema. O trabalho está dividido em 4 momentos, a saber: o primeiro faz um resgate
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histórico acerca da evolução do padrão de proteção social brasileiro; o segundo faz


uma análise entre as contrarreformas do estado e suas implicações para as políticas
sociais; o terceiro busca relacionar de forma crítica uma das “novas” formas de trato
às expressões da questão social, para que por fim, seja analisado sob o ponto de vista
do atual projeto ético político da profissão, os rebatimentos do contexto econômico
nas políticas sociais e consequentemente no processo de trabalho do assistente
social.

1. PROTEÇÃO SOCIAL, PESSOA COM DEFICIÊNCIA E ASSISTÊNCIA


SOCIAL
A Proteção Social não nasceu de forma abrupta. Ela surgiu devido à
necessidade de se estabelecer sistemas de segurança aos variados riscos que o ser
humano pode passar ao longo da vida, tais como incapacidades, doenças, fome,
velhice, dentre outros. A assistência a grupos considerados vulneráveis sempre
existiu, porém as ações eram antes atribuídas como uma responsabilidade das
famílias e que às vezes eram amparadas por instituições religiosas tais como a igreja
católica, não nascendo portanto com a concepção de direito (JARDIM, 2013).
No que diz respeito especificamente ao cuidado às pessoas com deficiência,
este inicialmente foi relegado a ações filantrópicas e da igreja, devido à ausência da
ação do Estado junto a este segmento social. Durante muito tempo, estes foram
colocados à margem da sociedade, por vezes segregada em instituições asilares, por
serem consideradas como “anormais” (NETO, 2014).
Durante um longo tempo a deficiência foi entendida apenas como uma
disfunção biológica, e por vezes erroneamente considerada como um fato de azar ou
má sorte, sendo subjugada aos cuidados familiares. Seguindo esta visão,
considerava-se que a pessoa com deficiência é que deveria adaptar-se à sociedade
para poder conviver com outras pessoas.
No contexto brasileiro, com a aprovação da Constituição Federal de 1988,
ocorre a ampliação dos direitos sociais. Os principais avanços, conforme Jaccourd
(2009) são: “a definição da seguridade social como sistema básico de proteção social,
o reconhecimento da assistência social como política pública, obrigação do Estado
em prestar serviços universais, gestão decentralizada, e participação social”. A
Seguridade Social é composta pelo “famoso tripé” formado entre as políticas
de assistência social, previdência social e saúde. Sendo a assistência social política
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pública que deve ser prestada a quem dela necessitar, faz-se necessária a reflexão
entre pobreza e deficiência no Brasil, uma vez que há a noção de atrelar minorias ao
empobrecimento.
A questão da deficiência (...) foi historicamente estudada e concebida como
um fenômeno pessoal, tornando-se a história do indivíduo a história da sua
deficiência, sem que se estabelecesse relação com o processo de exclusão
e participação das camadas subalternas inerente ao desenvolvimento
capitalista (SILVEIRA BUENO, 1993, p. 138).

Embora a constituição de 1988 e a Lei orgânica da Assistência Social -LOAS


apontem para o reconhecimento de direitos de segmentos sociais mais vulneráveis,
ainda era necessário por em prática os recém criados investimentos no campo do
social.

2. A SEGURIDADE SOCIAL NO BRASIL E A CONTRARREFORMA DO


ESTADO
A Lei 8742/93 (Lei Orgânica da Assistência Social-LOAS), em um dos seus
objetivos refere-se à proteção social de pessoas com deficiência e sua habilitação e
reabilitação no mercado de trabalho, além da sua integração à vida comunitária
(BRASIL, 1993). Observa-se de acordo com o texto da LOAS no tocante aos seus
objetivos que “proteger” é a marca da referida lei.
Entretanto, a década de 1990, período que segue após a promulgação da
Constituição Federal, foi uma fase de reforma nas políticas sociais, período este no
qual são postas as ideais neoliberais na economia do país, afetando o desempenho e
consolidação de tais políticas (PEREIRA, 2007).
Nesse sentido, conforme analisa Draibe (1990), as políticas sociais no Brasil
possuem dois momentos de grandes mudanças: no final da década de 1980, com a
promulgação da nova Constituição Federal, e já na década de 1990, com as reformas
neoliberais. O segundo momento trata de um contexto de crise econômica, e como
resposta à mesma, houve a proposição de reformas nas políticas econômicas e
sociais, fundamentadas na lógica neoliberal.
No que se refere à política de assistência social, as principais recomendações
e mudanças foram, de acordo com Pastorini e Galdízia (2007):
- Parcerias entre instituições públicas e organizações da sociedade civil
(dentre elas empresas privadas, associações voluntárias, ONGs) com o
intuito de buscar sinergias para reduzir a pobreza;
- Focalização das ações assistenciais para as populações comprovadamente
necessitadas, como forma de obter mais eficácia e eficiência dos programas
sociais, assim como da utilização dos escassos recursos;
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- Solidariedade, entendida como engajamento ético de quem está


preocupado com a situação de miséria em que vive parte da população
mundial, dessa forma, se substitui a ética da solidariedade que cimenta as
políticas universais, pela ética da deficiência.
Do ponto de vista legal, além da Constituição Federal de 1988 e da LOAS,
foram publicados outros instrumentos jurídicos que visavam a garantia de direitos da
pessoa com deficiência, como a lei 7853/89 que dispõe sobre o apoio às pessoas
portadoras de deficiência, sua integração social e posteriormente regulamentada pelo
Decreto 3298/99; além das leis 10.098 e 10048 que avançam em aspectos
relacionados à acessibilidade.
É no processo de inclusão e garantia dos direitos sociais da pessoa com
deficiência que entra o assistente social. Tendo em vista que durante muito tempo
este segmento foi visto como “a margem da sociedade”. Uma vez que o serviço social
é influenciado pelos fatores sociais, econômicos e políticos da sociedade, verifica-se
que com o avanço do neoliberalismo no Brasil na década de 1990, há sensíveis
alterações na divisão social e técnica do trabalho, atingindo a prática do assistente
social mediante a constituição de novas requisições para este profissional (ALENCAR,
2009).
Em 2015, é publicada a Lei nº 13146 - Lei Brasileira de Inclusão- também
conhecida como Estatuto da Pessoa com Deficiência. Nesse contexto, percebe-se
avanços no que corresponde ao conceito de deficiência, uma vez que este não está
restrito somente a concepções médicas e biológicas:
Art. 2º Considera-se pessoa com deficiência aquela que tem impedimento de
longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir sua participação plena e
efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.
§ 1º A avaliação da deficiência, quando necessária, será biopsicossocial,
realizada por equipe multiprofissional e interdisciplinar e
considerará: (Vigência)
I - os impedimentos nas funções e nas estruturas do corpo;
II - os fatores socioambientais, psicológicos e pessoais;
III - a limitação no desempenho de atividades; e
IV - a restrição de participação (BRASIL, 2015).
Considerando que o assistente social tem contribuído de modo a viabilizar a
participação dos usuários, a democratização das instituições e a ampliação dos
direitos sociais (CFESS, 1999), é notória a importância deste profissional na
efetivação da proteção social junto à pessoas com deficiência.
Partindo da concepção do modelo social da deficiência, compreendemos esta
como uma questão de vivência em sociedade, transferindo a ela a responsabilidade
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pelas desvantagens das limitações corporais do individuo e a sua capacidade em


prever e se ajustar a diversidade. Em outras palavras, a sociedade é que é incapaz
de lidar com as particularidades daquele individuo, e ela quem deve se ajustar a ele.
O que caracteriza a deficiência são as dificuldades que as pessoas com
alguma alteração física ou mental encontram em se relacionar ou se integrar
na sociedade. A deficiência não deve ser entendida como sinônimo de
doença, pois é fenômeno social que surge com maior ou menor incidência a
partir das condições de vida de uma sociedade, de sua forma de organização,
da atuação do Estado, do respeito aos direitos humanos e dos bens e
serviços disponíveis para a população (BAMPI; GUILHEM; ALVES, 2010 p.
5).
O Serviço Social enquanto profissão tem caráter político, critico e interventivo
que colabora para a emancipação dos sujeitos e a reprodução das relações sociais
(IAMAMOTO, 2012). É por meio de seu caráter interventivo que a profissão vem
adentrar na realidade das expressões da questão social, intervindo no sentido de
emancipar os sujeitos, através de serviços, informações, programas e políticas
públicas, visando a preservação, defesa e ampliação dos direitos dos usuários.

3. TERCEIRO SETOR, SERVIÇO SOCIAL E PESSOA COM DEFICIÊNCIA


Como já discutido no decorrer deste trabalho, o conceito de deficiência passou
por diversas modificações e atualmente é bastante amplo, englobando um rol de
direitos, garantias e obrigações (DESTRO, 2017). É no processo de inclusão e
garantia dos direitos sociais da pessoa com deficiência que se insere o assistente
social, de forma a atender as diversas expressões da questão social que lhe são
demandadas em seu cotidiano de trabalho.
Através de um rol de instrumentos e técnicas, dentre eles a escuta qualificada,
é possível ao assistente social desvelar as demandas trazidas pelos usuários em tela,
permitindo a estes o acolhimento e os encaminhamentos necessários. Por meio da
prática de ações socioeducativas, o assistente social também pode contribuir para o
empoderamento das pessoas com deficiência e seus familiares.
Determinadas expressões da deficiência não necessitam apenas de
adequações nos ambientes e valores sociais para tratar a deficiência com
mais igualdade. Alguns tipos de deficiência necessitam de políticas de
proteção social no sentido da garantia de direitos básicos que protege a
dignidade humana (SANTOS, 2010, p. 96) .
É sabido que no atual contexto de dominação e exploração pelo sistema
capitalista a condição de sujeito de direitos é inviabilizada devido a lógica
mercantilizante das relações sociais oriundas deste sistema econômico. No contexto
econômico de busca desenfreada pela maximização dos lucros, a pessoa com
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deficiência encontra dificuldades na sua participação plena e efetiva na sociedade,


além de barreiras em direitos sociais básicos, tais como o acesso ao mercado de
trabalho, acesso à saúde e educação (CFESS, 2017).
É nesse cenário de mercantilização de direitos sociais básicos e retração do
estado em suas obrigações para com a sociedade que surgem diversas instituições
incluídas no chamado terceiro setor. Podemos citar como categorias representativas
do terceiro setor: Organizações Não Governamentais (ONGs), Organizações da
Sociedade Civil com Interesse Público (OSCIP), Organizações Sem Fins Lucrativos
(OSFL), Organizações Filantrópicas, Institutos Empresariais, entre outros.
Após a década de 1990, quando o Estado brasileiro passa por uma
contrarreforma, fruto da adoção ao ideário neoliberal ocorre um crescimento
exponencial de ONGS, visto que o Estado passa a se desonerar de responder às
sequelas da questão social, repassando essa incumbência à sociedade civil
(BEHRING; BOSCHETTI, 2011). É neste contexto que as organizações não
governamentais passam a atuar, em parceria com o próprio Estado, executando e
coordenando projetos e programas passando a necessitar dos mais distintos
profissionais para executarem tais serviços, entre eles o assistente social.
O serviço social tem nas expressões da questão social o seu objeto de trabalho.
Essas expressões se manifestam na sociedade de diversas formas, pelo qual
compete ao assistente social identificá-las, buscando transformar e modificar
realidade dos usuários a partir de uma visão crítica, respeitando os contextos histórico,
social, cultural, político e as condições de vida da população usuária.
O crescente processo de divisão e especialização do trabalho estabelece
formas diferentes de condições de trabalho entre entes públicos e privados, impelindo
novas atribuições e papeis profissionais; assumindo diversas dimensões a depender
das intencionalidades do profissional e de outros determinantes estruturais.
O serviço social surge como uma “especialização do trabalho, uma profissão
particular inscrita na divisão social e técnica do trabalho coletivo da sociedade”
(IAMAMOTO, 2003 p. 22) e conforme a lei 8662/93 (lei de regulamentação da
profissão) desempenha diversas competências e atribuições privativas nos mais
diversos espaços sócio ocupacionais onde se insere.
O terceiro setor tem sido um dos espaços que a população, em contextos
neoliberais, tem recorrido buscando a satisfação de necessidades básicas. Nas
palavras de Montaño (2002) “o terceiro setor representa o novo trato que é dado a
8

Questão Social na contemporaneidade”. Redução de gastos sociais eliminando-se


programas e reduzindo-se benefícios, restrição de direitos e pouco estímulo ao
controle social fazem parte do fenômeno que explica a existência do terceiro setor.
É sabido que o terceiro setor, mesmo com todos os aspectos que demandam
atenção que já foram elencados anteriormente, intervém na perspectiva do
atendimento as necessidades sociais de grupos historicamente vulnerabilizados,
atuando onde a atuação do poder público é insuficiente.
Na medida em que amplos setores da população ficarão descobertos pela
assistência estatal – precária, focalizada e descentralizada, ou seja, ausente
em certos municípios e regiões e sem cobertura para significativos grupos
populacionais – e também não terão condições de acesso aos serviços
privados (caros), transfere-se à órbita da “sociedade civil” a iniciativa de
assisti-la mediante práticas voluntárias, filantrópicas e caritativas, de ajuda
mútua ou auto-ajuda. É neste espaço que surgirá o “terceiro setor”,
atendendo a população “excluída” ou parcialmente “integrada”. Isto se
constitui como “uma luva” na mão do projeto neoliberal (Montaño, 2002 p. 3)
A noção de terceiro setor, está intimamente ligada a noção de ajuda-mútua,
voluntariado, associativismo, Organizações Não Governamentais e sociedade. Como
os espaços sócio ocupacionais do assistente social estão intrinsecamente ligados às
respostas socialmente dadas a questão social, a profissão sofre alterações na sua
demanda e no seu campo de atuação, na sua modalidade de intervenção e no seu
vínculo empregatício (MONTAÑO, 2002).
Sendo o atendimento nestas instituições voltado para grupos e segmentos
sociais específicos, ele tem por base os princípios da seletividade e da elegibilidade
do atendimento social. Ao atuar em ONGS (as quais são formadas por princípios de
ajuda e solidariedade), o assistente social deve refletir sobre o risco de
desprofissionalização do seu atendimento social (ALENCAR, 2009).
O assistente social além de trabalhar no atendimento direto aos usuários, em
organizações do no terceiro setor pode exercer funções de gerenciamento,
assessoria, consultoria e dentre outras competências e atribuições, devido as suas
competências teórico metodológicas, técnico operativas e o aparato legal da
profissão. Todavia, conforme Netto (1996) o trabalho nestas organizações configura-
se a uma processualidade que produz a fragmentação do mercado de trabalho e que
pode, inclusive, acarretar a desagregação profissional.
Nas organizações do terceiro setor o assistente social trabalha de forma
conjunta com outros profissionais. Embora possua um processo de trabalho próprio,
o assistente social não detém todos os meios para efetivar seu trabalho [...] depende
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de recursos previstos nos programas e projetos da instituição que o requisita e o


contrata (IAMAMOTO, 1998, p.63).
Sendo este um dos espaços demandantes da mão de obra do serviço social,
ele também vai condicionar a prática profissional. Como já mencionado, o terceiro
setor pode ser visto como a representação do “novo” trato conferido à questão social
na atualidade, e a atuação do assistente social pode se dar algumas vezes de forma
despolitizada, tendo, portanto, “sentidos e resultados sociais bem distintos, o que
altera o significado social do trabalho técnico-profissional, bem como ainda seu nível
de abrangência” (ALENCAR, 2009, p.458).
Há nesse contexto também uma mudança significativa na execução das
politicas sociais. Estas são implementadas de forma fragmentada e focalizada em
detrimento do caráter universal inicialmente planejado. Muitas destas ONGS
desempenham suas atividades junto aos usuários demandantes pautadas pela ótica
da filantropia e da caridade, suprimindo a noção de direito social.
Em muitas destas instituições, o assistente social trabalha de forma voluntária,
com vínculos empregatícios fragilizados, pois desta forma não gera vínculos
trabalhistas nem previdenciários com a organização, o que reflete de forma negativa
para a profissão, uma vez que isto pode remontar um retorno as práticas caritativas e
voluntaristas do serviço social (IPEA, 2011). Todavia, conforme nos esclarece
Montaño (1999, p. 73):
Se entendermos a emergência do Serviço Social como produto histórico,
síntese de lutas de classes condensadas no projeto hegemônico burguês,
quando o Estado toma para si a resposta das seqüelas da “questão social” e
dentro da divisão sociotécnica do trabalho, a tese de o Serviço Social evoluir
(como organização e profissionalização) da caridade e da filantropia é
rejeitada; não há evolução ou continuidade direta entre filantropia e Serviço
Social, e sim ruptura, descontinuidade. Neste sentido, a reforma (neoliberal)
do Estado não promove uma “refilantropização do Serviço Social”. Se este
ultimo não surge, não evolui daquela, mal poderia retornar àquilo que nunca
foi. Não há, portanto, uma passagem paulatina de práticas profissionais dos
assistentes sociais para práticas filantrópicas dos mesmos. O que se
processa, na verdade, é uma perda do espaço profissional-ocupacional dos
assistentes sociais, que deixa lugar a – porém não evolui em – um aumento
das práticas filantrópicas.
Diante do exposto, verifica-se que independente do segmento social que
majoritariamente o assistente social trabalhe e em quaisquer dos espaços que o
profissional se insira, para que sua prática profissional seja elucidada, é necessário
ter conhecimento acerca das suas características enquanto trabalho, seus vínculos
com o processo de distribuição das riquezas e as relações com os diferentes sujeitos
sociais que fazem parte desse processo (IAMAMOTO, 2009).
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É válido destacar que o assistente social norteado pelo atual projeto ético
político da profissão, pode responder as demandas dos seus usuários de forma critica
voltadas a garantia de direitos. Para isso é necessário que o profissional tenha
consciência acerca dos limites e possibilidades de sua intervenção, detendo o
conhecimento acerca dos recursos institucionais e intersetoriais disponíveis para o
atendimento as demandas que lhe são postas.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Salvaguardar grupos historicamente desprotegidos, tais como idosos, pessoas
com deficiência, crianças, entre outros, representa uma avanço na perspectiva da
garantia de direitos em qualquer sociedade. Porém, no atual contexto social, de
restrição de direitos e desresponsabilização estatal frente as necessidades humanas
básicas, muitos segmentos “excluídos” e marginalizados tem a esperança de garantia
de direitos ao buscar a ajuda no terceiro setor, já que suas necessidades não foram
respondidas de forma efetiva pelo estado.
É inegável que estas instituições contribuem para o atendimento de algumas
necessidades imediatas da população demandante. Porém, faz-se necessário
analisar criticamente este processo. É preciso ter no horizonte a construção de
relações sociais que não se pautem na capacidade da pessoa em como ser útil ou
não para a produção, mas no reconhecimento de ser desigual para participar da
sociedade.
Com a tendência de fragmentação das políticas sociais e o atendimento voltado
para grupos específicos, verifica-se a dificuldade em relação a materialização da
intersetorialidade, pois, a complexidade dos problemas sociais exige a integração dos
diversos atores sociais e organizacionais na gestão das políticas sociais, privilegiando
a ação intersetorial.
Não é somente nas políticas sociais que o neoliberalismo e suas
contrarreformas se espraiam. A precarização das relações de trabalho, inclusive as
do assistente social, faz com que muitos profissionais recorram ao terceiro setor e
submetam-se a frágeis vínculos empregatícios, uma vez que nem o estado e nem o
mercado conseguem absorver toda a mão de obra disponível.
É nesse processo que o olhar crítico do assistente social revela sua
importância, por ser este o profissional capacitado para decifrar questões camufladas
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em uma sociedade repleta de desigualdades sociais advindas do processo de


dominação da sociedade pela exploração do sistema capitalista.
O serviço social enquanto profissão e categoria ética articulada deve defender
os direitos de pessoas com deficiência e todos os segmentos vulnerabilizados aos
quais trabalha, na perspectiva de materialização do que preconiza o atual projeto ético
político da profissão.
Pessoas com deficiência, idosos, e a classe trabalhadora de modo geral devem
ter seus direitos assegurados no campo da defesa da seguridade social pública, na
perspectiva de que as políticas sociais devem garantir acesso a bens e serviços
elementares à vida; quanto no campo da ética e direitos humanos, para que sejam
pensadas a partir das necessidades e reivindicações dessas pessoas, e não a partir
do que se entende como mais adequado e limitado a recursos disponíveis e residuais
(CFESS, 2017).
É nesse sentido que deve haver a mobilização coletiva da categoria, guiada
pelo projeto ético político da profissão, buscando não apenas a valorização de
interesses classistas, mas sim pela luta por mais direitos e menos restrições.
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