Introdu+º+úo e Investiga+º+úo de Segmento
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O que é a investigação?
Muito provavelmente o cinema policial tem sido uma boa oportunidade de discussão do
tema. Mas a ficção nem sempre é a melhor oportunidade para reflexão sobre a investigação como
método de respeito aos direitos fundamentais do cidadão.
Povoam nosso imaginário os incríveis detetives dos filmes e da literatura policial que tudo
podem em nome da lei.
Investigar é uma atividade instigante pela emoção de percorrer labirintos que sempre levarão
à explicação de um delito. Esse é o foco romântico da investigação criminal. Só que a prática requer
conhecimentos e métodos sistematizados para que o resultado sempre seja a correta construção da
verdade.
O que é investigar?
Veja a definição encontrada no dicionário Aurélio: Investigar. [ Do Lat. Investigare. ] V. t. d.
1. Seguir os vestígios de. 2. Fazer diligências para achar; pesquisar, indagar, inquirir: investigar as
causas de um fato. 3. Examinar com atenção; esquadrinhar. (Ferreira, 1975, p. 781)
Veja que todas as definições são compatíveis com o contexto do processo de busca da prova:
seguir os vestígios; fazer diligências para achar; pesquisar; indagar; inquirir; examinar com atenção;
e esquadrinhar. São realidades que se complementam num contexto interdisciplinar.
Critérios de classificação
Há provas produzidas pelo investigador cujas atividades, na estrutura funcional, estão
diretamente vinculadas ao controle da autoridade policial, ou seja, acontece, via de regra, no âmbito
do cartório da organização policial. Exemplo disso é o que ocorre com a coleta de depoimentosr,e
conhecimentoes, outros, feita sob a coordenação direta do delegado.
Enquanto isso, a prova baseada em vestígios materiais, tem sua produção em laboratórios e é
executada por peritos sem uma subordinação funcional direta autoridade policial. Essas
circunstâncias possibilitam a classificação do processo investigatório em cartorária e técnico-
científica.
O conceito de investigação criminal como um conjunto de procedimentos sistematizados
sugere uma segunda modalidade de classificação no que diz respeito aos momentos em que é
praticada. Com essa visão, Mingardi (2005, p. 11) oferece uma classificação da investigação do
homicídio, que também pode ser aplicada no contexto da investigação criminal, como sendo
investigação preliminar e investigação de segmento.
Aula 1 – Princípios
O procedimento investigatório para cumprir sua função tutelar dos direitos fundamentais
precisa moldar-se em princípios que possibilitem essa adequação.
Princípios são regras básicas que determinam condutas obrigatórias e impedem adoção de
procedimentos com eles incompatíveis. Eles são os fundamentos de determinados procedimentos e
elementos de ação transversal em todos os atos públicos.
Sendo a investigação criminal ato da Administração Pública, incidem sobre ela princípios
que fundamentam a gestão dessa administração, bem como princípios específicos da metodologia
de execução técnico - cientifica.
Os princípios aplicados à investigação são regras de operacionalidade da função protetora de
direitos fundamentais que lhe é imposta.
Quanto maior o grau de lesividade do ato investigatório, maior deverá ser o cuidado do
investigador com as garantias protetoras do investigado.
Suas práticas diárias como agente público têm sido norteadas com essa percepção?
O marco inicial dos princípios que regem a investigação criminal é o artigo 37, da
Constituição Federal que formula os fundamentos legais que deverão servir de referência para todos
os atos da Administração Pública.
Art. 37. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (...)
Princípio da legalidade
Foi visto que no Estado Democrático de Direito todos deverão se submeter à supremacia da
lei. O princípio da legalidade é a pedra de toque do Estado de Direito e estabelece dois tipos de
relação, uma com a Administração Pública, outra com o cidadão.
Relação com a Administração Pública
A atuação da administração pública só pode ser operada em conformidade com a lei. É uma
relação de submissão.
Relação com o cidadão
É permitido ao cidadão fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Não poderá ser obrigado a
fazer o que não lhe é determinado por lei. É uma relação de autonomia que resulta no princípio da
liberdade do ser humano, configurado, também, na Constituição Federal com um dos princípios
fundamentais:
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. (CF, artigo
5º, inciso II)
O princípio da legalidade é direito fundamental de cidadania, que servirá de base para todos
os demais princípios. Observe que a definição dada pela norma constitucional ao vocábulo lei não é
restrita, é abrangente, compreendendo a lei propriamente dita e todo o contexto jurídico em que ela
está contida. Significa que as normas que regulam a investigação criminal, mesmo as
administrativas (portarias, ordens de serviços, protocolos de procedimentos, etc.) estão nesse
contexto e deverão respeitar o princípio da legalida de.
Princípio da impessoalidade
A impessoalidade na investigação criminal significa que as atitudes do investigador deverão
refletir objetividade no atendimento do interesse público, sem qualquer possibilidade de promoção
pessoal do agente ou da autoridade.
O interesse público contido na investigação criminal é o de explicar o fato acontecido, para
que os dados coletados possam formar a prova necessária para aplicação da pena justa ao infrator.
Não cabe utilizar a investigação para promoção pessoal de quem quer que seja. O ato de
investigar não deve ser usado para prejudicar ou beneficiar determinada pessoa.
Princípio da moralidade
A moralidade da administração pública está relacionada com aquilo que a sociedade, em
determinado momento, considerou eticamente adequado, moralmente aceito.
As práticas da investigação terão que estar de acordo com a opinião moral vigente no grupo
social, como honestidade, bondade, compaixão, equidade e justiça.
As decisões tomadas para o processo da investigação deverão adequar-se aos valores que a
sociedade adota como linha para a relação de convivência das pessoas e dessas para com o
ambiente.
Princípio da publicidade
O significado fundamental do princípio da publicidade é de transparência.
Esse termo aplicado à investigação criminal, cuja natureza tem como elemento principal o
sigilo, é possível?
Transparência na administração pública tem como objetivo o controle que poderá ser feito
pela própria administração, pelo poder judiciário e pelo cidadão.
O controle da gestão pública exercido pelo cidadão é garantia fundamental de direitos
assegurada em vários itens constitucionais do artigo 5º, como o de receber dos órgãos públicos
informações de interesse particular, coletivo ou geral (inciso XXXIII); o de obtenção de certidões
em repartições públicas (inciso XXXIV); e conhecimento de informações relativas à pessoa
interessada, constantes de bancos de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou
de caráterpúblico (inciso LXXII).
E na investigação, como se aplicaria esse princípio?
Como toda regra, o princípio não é absoluto. A própria Constituição impõe limite, colocando
como exceção ao direto à informação, as hipóteses de sigilo:
[...] Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (CF,
artigo 5º, inciso XXXIII)
A transparência é a regra. A exceção está expressa na lei.
Todos os atos da investigação são necessariamente sigilosos?
Em princípio não. No caso da investigação criminal, devem ser considerados dois aspectos:
O contexto da apuração de interesse da sociedade em geral, pois diz respeito demandas
imediatas de bem-estar da coletividade; e O aspecto de ato operacional específico, cujo interesse é
mediato.
A apuração de provas da prática de um delito, como ato geral de gestão pública, deve ser do
conhecimento da comunidade, para que tenha segurança jurídica quanto à garantia de proteção de
seu bem-estar. Entretanto, mesmo sendo de seu interesse, os procedimentos operacionais de
apuração, em regra, são executados em sigilo, exatamente para garantir a execução da investigação.
Já imaginou se a polícia anunciar antecipadamente as estratégias que irá aplicar na
investigação de delitos praticados por quadrilhas de tráfico de drogas? É pouco provável que
consiga alguma prova.
Princípio da eficiência
Esse princípio também é de observância prioritária e universal no exercício de toda
atividade administrativad o Estado. O termo remete à definição de boa administração vinculada à
produtividade, profissionalismo e adequação técnica do exercício funcional às demandas do
interesse público.
A administração pública e seus profissionais, no exercício das atividades funcionais, deverão
a plicar os recursos avaliando a relação de custo-benefício, buscar a otimização de recursos, aplicar
os critérios técnicos e legais necessários para maior eficácia possível em benefício da boa qualidade
de vida do cidadão. E, ainda, respeito ao investimento na formação profissional.
A aplicação prática do princípio na investigação criminal se concretiza com todos os
cuidados necessários para sua eficácia, desde o planejamento, com a escolha adequada dos meios,
até os cuidados com a proteção aos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com
a legalidade na coleta da prova.
Saiba mais...
Segundo Pazzaglini (2000, pag. 32) , “o administrador público tem o dever jurídico de, ao
cuidar de uma situação concreta, escolher e aplicar, dentre as soluções previstas e autorizadas pela
lei, a medida eficiente para obter o resultado desejado pela sociedade”.
Protocolo de compartimentação
No protocolo deverão constar todos os procedimentos que serão adotados para preservação
da compartimentação sigilosa:
Determinar o número de compartimentações (de grupos operacionais);
Definir o grupo de investigadores;
Determinar os dados que serão coletados pelo grupo;
Definir a base de execução e gestão das atividades;
Estabelecer regras de comando e de comunicação;
Estabelecer regras de segurança das informações; e
Estabelecer as estratégias de ação e determinar o prazo.
Princípio do imediatismo
Princípio da oportunidade
Exigências ilegais;
[...] II - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão virtude de lei.
Como visto anteriormente, é o outro lado do princípio da legalidade. É a parte que cabe ao cidadão
na relação com a lei. Enquanto o agente público só pode fazer o que a lei permite, do cidadão só
pode ser cobrado como obrigação aquilo que a lei diz que ele deve ou não fazer.
Provas ilegais.
[...] LVI - São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
A legalidade é a essência de toda a ação da administração pública. Não é isso? É a compensação das
liberdades concedidas tanto ao cidadão como à administração pública.A prova é o elementof
undamentanl a aplicaçãod a pena. É a única possibilidade para o Estado estabelecer a relação
jurídica entre ele e o suspeito da prática de um delito, por isso, todas as informações de explicação
da prática delituosa não poderão ser contaminadas por atos abusivos.
Essa contaminação poderá ocorrer tanto na metodologia da coleta quanto na análise dos dados. Uma
hipótese formulada com base em preconceitos poderá levar a um resultado não verdadeiro que
manchará todo um processo.
EXEMPLO: Um roubo ocorrido nas proximidades de uma “favela”. A primeira hipótese do
investigador é de que o autor seja morador daquele núcleo, baseado apenas nas condições
econômicas e sociais daquele ambiente.
As variáveis, que são mais fruto do preconceito do que de um estudo científico, poderão não ser
verdadeiras e desencadear uma série de procedimentos abusivos, A Constituição ainda formula os
princípios de gestão da administração pública vistos no módulo anterior.
O processo da investigação
Analisando o padrão geral da investigação científica, é possível constatar, como diz Copi
(1981, p. 391), que “o detetive, cujo objeto não é idêntico ao do cientista puro, mas cuja abordagem
e técnica para a investigação dos problemas ilustram, claramente, o método científico”.
Toda investigação parte de um problema. O problema é a questão que se pretende resolver: o
fato (crime?) apresentado para o investigador.
O processo da investigação criminal não é diferente. Há um problema (o fato), formulação
de hipótese (Crime? Homicídio?...) e uma conclusão (crime tal, praticado de determinada forma por
determinada pessoa).
Formulação do problema
Para iniciar uma investigação não basta um fato que sugira a prática de um crime. É preciso
que o investigador, tal qual o cientista, de forma reflexiva, formule indagações.
Segundo John Dewey, citado por Copi (1981, p. 392), “todo pensamento reflexivo – termo
que inclui tanto a investigação criminal quanto a pesquisa científica – é uma atividade de resolução
de problemas”. A conclusão de Copi (1981, p. 392 ) é de que, “antes que o detetive ou o cientista
metam ombros a uma tarefa, tem que sentir primeiro a presença de um problema”.
Formular um problema diante de um fato, muitas vezes de aparente insignificância jurídica,
nem sempre é tarefa fácil. Ainda segundo Copi, a mente ativa vê problemas onde a pessoa obtusa só
vê objetos familiares.
Sherlock Holmes, criação literária ontológica do escritor inglês A. Conan Doyle, é a mais
emblemática e clássica referência ao detetive astuto, capaz de solucionar até o mais desconcertante
mistério.
Usando esse herói dos contos policiais, Copi (1981, p. 392), descreve uma visita que o Dr.
Watson fizera a Holmes numa época de Natal quando o viu utilizando uma lente e pinças para
examinar antiga cartola, sem brilho, rasgada em muitos lugares e de uso impossível. Depois das
saudações, H olmes disse ao intrigado Watson, referindo-se à sua estranha tarefa: “Peço-lhe que não
encare este objeto como uma velha cartola, e sim, como um problema intelectual.”
O certo é que aquela cartola os levou a uma das suas mais interessantes aventuras que não
teria existido se o detetive Holmes não a tivesse visto, desde o princípio, como um problema.
Problema
Análise do caso
Leia o caso:
O cadáver de uma mulher jovem é encontrado no aterro sanitário que fica fora da área
urbana. Estava sem a cabeça e as duas mãos que tinham sido decepadas. Junto ao corpo, também
decepados, estavam os membros inferiores da vitíma.
Há uma explicação aceitável para esse fato?
Está o investigador diante de circunstâncias próprias para a formulação de um problema que
mereça ser investigado?
A formulação do problema requer do investigador informações doutrinárias sobre a
repercussão do evento (condutas criminosas) no mundo jurídico, tendo como referencial os
conhecimentos produzidos a respeito e aqueles sobre as circunstâncias até então conhecidas (dados
do boletim de ocorrência).
Fontes de hipóteses
Vamos buscar no cinema, mais uma vez, subsídios para nossos estudos. Essa extraordinária
fonte de lazer passa o estereótipo do perfil do detetive policial como sendo arrojado, racional e frio.
James Bond e tantos outros povoam o imaginário humano. Algo bem distante da figura do cientista
conforme visto no módulo anterior.
Na literatura, entretanto, é possível encontrar outro modelo de investigador próximo da
realidade.
Segundo consta em uma das apostilas da Academia de Polícia Civil do DF, o escritor inglês
Frederick Forsyth, em seu livro “O dia do Chacal”, traçou o perfil de um investigador quando se
referiu ao inspetor Claude Lebel, que dizia saber ter sido sempre um bom policial, lento, preciso,
metódico, infatigável. Era conhecido na polícia judiciária como esquisitão, um homem metódico
que detestava publicidade e se furtava a dar as entrevistas coletivas.
O policial é o reflexo da imagem da polícia. Ele corresponde à expectativa de “mercado”
com sua imagem profissional respondendo as seguintes perguntas:
O que ele é? De que forma poderá ajudar profissionalmente seus semelhantes?
Qual é o perfil do investigador criminal que uma sociedade democrático de direito quer
como tutor de seus direitos fundamentais?
Qual é o perfil do investigador prestador de serviço?
No que diz respeito à primeira pergunta, o primeiro módulo do curso o levou a essa reflexão.
Como diz Balestreri (2002),“ o policial é um ator social envolvido diretamente nas cenas de
construção da realidade; é um protagonista de direitos e de cidadania; o policial é um pedagogo; o
policial é, antes de tudo, um cidadão.”
Para Balestreri (2002), é um novo paradigma educacional mais abrangente, essa inclusão do
policial na dimensão de agente educacional. Para ele, como outras, profissão policial é formadora
de consciências e de opiniões, portanto o policial “um pleno e legítimo educador”, dimensão
inabdicável, “explicitada através de comportamentos e atitudes”.
É nesse contexto que devemos refletir e construir o perfil profissional do policial
investigador.
A natureza garantidora de direitos do processo investigatório exige de seus executores
atributos e habilidades específicas, adequadas ao propósito de busca da verdade de uma
determinada prática delituosa.
Perceba que há um novo paradigma de cidadania: as competências requeridas por essa
sociedade terão que corresponder às suas novas demandas.
Atributos fundamentais
Aula 3 – Interdisciplinaridade
Você pôde perceber que a produção da prova não é linear, mas uma rede complexa de
saberes que interagem e se complementam. Esse processo é incompatível com a fragmentaçãot
radicionalmentee ncontrada na apuração da prova. Aqui, fragmentação é concebida como
dissociação, falta de diálogo e falta de unidade sistêmica dos conhecimentos.
No processo de investigação, participam personagens, como o delegado, que coordenaa
investigação; o investigador de polícia (agente/inspetor) ; o perito criminal, o legista, o
papiloscopista e o escrivão e, muitas vezes, com o apoio policial militar e/ou do bombeiro militar
e/ou guarda municipal.
Cada um tem sua competência funcional legal e regimental, exercendo papel importante no
processo. São visões voltadas para o mesmo objeto de estudo, mas tendo como referencial o
conteúdo de seu campo disciplinar. E para que esses conhecimentos possam interagir e produzir um
corpo de prova que explique o fato é preciso que os profissionais dialoguem entre si formando uma
rede de conteúdos.
Saiba mais...
Para Cordeiro e Silva (2005), romper com a fragmentação do conhecimento não significa
excluir a sua unidade, mas sim articulá-lad e forma diferenciada, possibilitando o diálogo entre os
diferentes campos do conhecimento e a contextualização desses conteúdos frente ao processo
investigatório.
Metodologias de interação
Para que haja diálogo entre os investigadores terão que ser adotados alguns procedimentos
metodológicos que concebam técnicas para romper os filtros que impedem a conexão entre eles.
A investigação criminal é uma realidade que só pode ser entendida com uma abordagem
interdisciplinar.
Para superar a fragmentação da investigação criminal deverão ser adotados métodos que
possibilitem a colaboração e a troca de informações entre os atores do processo, com protocolos que
possibilitem: Não deixar dúvida quanto à coordenação técnica única da investigação; Criar
interfaces de relacionamento recíproco entre os atores da investigação; Coordenação técnico-
processual; e Estimular a decisão grupal.
Toda busca da investigação criminal está voltada para a prova na verificação hipóteses
formuladas quanto ao fato investigado. Segundo Noronha( 1983), "provar é fornecer no processo, o
conhecimento de qualquer fato, adquirindo para si e gerando em outro a convicção da substância ou
verdade do mesmo fato”.
Para outro processualista, Tourinho Filho (2003, p. 476), “provar é, antes de mais nada,
estabelecer a existência da verdade”. Para Malatesta ([s.d.], p. 19), “a prova é o meio objetivo pelo
qual o espírito humano se apodera da verdade”.
O que é a verdade?
Depois de profunda análise sobre o processo mental de apoderação da verdade, Malatesta
([s.d.], p. 21) diz que a verdade é, em geral, a conformidade da noção ideológica com a realidade.
O citado autor, filósofo jurista da virada do século XIX para o século XX, aplica ideologia
no sentido de pensamentos teóricos desenvolvidos a partir de fatos sociais. Segundo ele, a verdade
buscada na investigação dos delitos, adequando a uma linguagem atual, seria a conformidade dos
referenciais teóricos do investigador com a realidade retratada pela ordenação lógica dos vestígios
colhidos pela investigação.
Objeto da prova
objeto da prova é o convencimento do julgador. Mas, se objeto for considerado como aquilo
que deve ser provado, o objeto da prova são todos os fatos (Circunstâncias ou coisas de natureza
diversa, como lugares, pessoas, coisas, documentos, etc.) decorrentes do problema objeto da
investigação.
Não há uma hierarquia entre as provas. O valor da prova é determinado pela harmonia com
as demais, portanto não há método de investigação mais importante que o outro. A investigação
técnico-científica e a cartorária se complementam.
É como um jogo de quebra-cabeça onde cada peça da prova terá que ser devidamente
encaixada entre as demais, completando o todo. Isso significa que o depoimento de uma testemunha
que narra uma circunstância deverá se adequar ao vestígio deixado como prova do fato descrito. Daí
a importância da interação entre os investigadores, conforme visto no módulo que aborda a
interdisciplinaridade da investigação criminal.
Esse entendimento decorre da aplicação dos seguintes princípios: Do livre convencimento
motivado (nos crimes comuns). Da íntima convicção (no júri).
Provas complementares
São aquelas r epresentadas por elementos ou dados auxiliares que, em geral, reforçam, confirmam
as demais provas.
EXEMPLOS: A identificação criminal, a folha de antecedentes, relatórios sobre a vida do indiciado,
a reprodução simulada do fato, etc.
Valorizar a prova é ter cuidado objetivo com o conhecimento produzido para que ele possa
ser valorado pelo juiz no momento de confirmá-la como explicação verdade. Os cuidados objetivos
não são privilégios apenas da prova material. A prova subjetiva também poderá receber esses
cuidados que se traduzem na atenção que é dada às testemunhas e vítimas, antes, durante e depois
de seus depoimentos.
Elas são depositárias de um conhecimento de prova que precisa ser preservado da mesma
forma que o objeto que contém um vestígio. A mesma preocupação com a inviolabilidade da prova
material terá que se manifestar quanto ao testemunho.
O cuidado com a qualidade da prova reflete o necessário respeito aos direitos garantias
fundamentais do cidadão no Estado Democrático de Direito. Reflete respeito à dignidade das
pessoas. Será visto na técnica de entrevista que a busca da informação que se encontra na memória
das pessoas é um processo delicado que exige cuidados especiais do investigador.
Guarda e custódia de vestígios
Os cuidados que estão dentro de maior possibilidade de controle da polícia são os referentes
à prova material, ou seja, aos vestígios encontrados na cena do crime.
Na cena do crime o investigador poderá encontrar os mais variados vestígios, como sangue,
espermas, urina, fragmentos de pele, armas, documentos, impressões papiloscópicas, etc., que
servirão de informação para a construção da prova. Nesse meio, há substâncias com tempo de
permanência restrito que precisam de acondicionamentos e manejos especiais. Esse tempo depende
de fatores como suporte e o meio onde se encontra, além da natureza da própria substância.
O acondicionamento correto dos vestígios possibilita a construção adequada e lógica da
prova, pois garante a execução de contraprovas e a complementação de investigações periciais.
Evita também que os vestígios se percam ao longo do processo de investigação e de
julgamento dificultando a validação da prova pelo juiz. A guarda adequada de todos os vestígios
recolhidos pela investigação criminal possibilita a elaboração do histórico e da preservação da
cadeia de custódia de cada vestígio.
O cuidado com as provas se reflete na ordem lógica dada a toda investigação. A investigação
criminal é um processo científico que parte de um problema, formulando hipóteses, coletando dados
que, analisados e interpretados, poderão confirmar ou não a afirmação feita. Há um raciocínio
ordenado que precisa ser preservado, sem a quebra de qualquer um dos seus elos.
A leitura do inquérito deverá mostrar que a investigação tem um começo, meio fim, e que os
passos do mesmo estão concatenados, segundo leciona Mingardi (2005, p. 75).
Os investigadores precisam cuidar para que a cadeia de evidências seja mantida intacta.
Mingardi (2005) ainda diz: qualquer que seja a prova, material, testemunhal ou uma
confissão, os responsáveis pela investigação têm de poder demonstrar que:
A prova foi colhida de forma lícita; e A prova surgiu da investigação, não apareceu do nada.
Cadeia de evidências é a seqüência ordenada e lógica da rede de informações colhidas na
investigação, de modo a demonstrar que são frutos de ato investigativo lícito e têm validade como
prova das circunstâncias e autoria do delito.
Para Mingardi (2005. p. 76), a construção da cadeia de evidências deve mostrar:
Que houve o crime;
Como foi praticado;
Que o acusado tinha motivos para cometê-lo;
Que ele era detentor dos meios para cometê-lo; e
Que ele teve a oportunidade para cometê-lo.
Essa rede terá sustentação nas provas colhidas cuja licitude será demonstrada cadeia de
custódia.
Os arquivos dos tribunais estão cheios de casos em que a polícia desenvolve todo o processo
de investigação, enchendo o inquérito com informações tidas como prova da verdade do fato e o
resultado é a absolvição do acusado, não por falta de provas, mas por dúvidas na legitimidade de
sua coleta.
Lamentavelmente as nossas academias não desenvolvem com eficácia a técnica de estudos
de casos tendo como objeto essas investigações.
Uma análise histórica dos casos que pautaram as colunas policiais dos jornais mostrará
algumas dezenas deles.
Aproveitando a ilustração didática do professor Mingardi (2005), num trabalho pesquisa já
referido, leia na página seguinte um caso notório no mundo todo que ilustra bem a necessidade dos
cuidados com a cadeia de evidências na investigação criminal.
Nos Estados Unidos, o mais conhecido exemplo é o do ex-jogador de futebol americano O.
J. Simpson, acusado de ter matado a ex-mulher e um rapaz a facadas.
Nesse caso, a polícia encontrou uma cena de crime completa: sangue, peças vestuário,
pegadas e uma trilha de sangue que revelava o caminho seguido pelo criminoso.
Seguindo essas pistas, os policiais chegaram à casa de O. J. Simpson, onde encontraram:
manchas de sangue no carro, nas suas meias e no chão do jardim. O exame de DNA confirmou que
era das vítimas.
A estratégia dos advogados de defesa foi simples: contestaram as provas materiais,
afirmando terem sido plantadas, mal coletadas, etc. Nisso foram ajudados pela imprensa, com
imagens de policiais manipulando evidências sem trocar as luvas, ou seja, contaminando as provas.
Além disso, a cena do crime não tinha sido bem isolada, havia muitas pessoas no local.
Resultado: absolvição.
É evidente que se ele fosse um “João Ninguém” teria sido condenado, mas isso não altera o
fato que a promotoria perdeu o caso porque não conseguiu estabelecer uma sólida cadeia de
evidências.
Investigação criminal 2
Aula 1 – Planejamento
A prática criminosa exige, cada vez mais, um grau de resposta eficiente e eficaz do Estado.
As novas tecnologias trazem grandes benefícios para a humanidade, mas, em contrapartida,
oferecem maiores possibilidades à instrumentalização do crime.
O resultado é a sofisticação das práticas delituosas exigindo maior esforço das organizações
de segurança pública na busca de conhecimentos que melhorem sua efetividade. Dentre eles está o
conhecimento que possibilite melhora na qualidade do planejamento das ações.
Imagine que você deseja comprar um carro novo, viajar para a Europa ou organizar a festa
de casamento de sua filha. Com certeza, sua intenção é de que tudo dê certo, mas, para que isso
ocorra, é preciso fazer um cuidadoso planejamento.
O que é planejamento?
Parta do seguinte raciocínio: a compra do carro, a viagem para a Europa e a festa de
casamento de sua filha não acontecerão apenas porque você quer. Seu querer é importante, porém,
não resolve por si só. Precisa de outro fator, a construção metódica desse querer.
Para realizar uma festa, é preciso escolher a data, a hora e o local onde será realizada, bem
como levantar os custos, contratar o bufê, escolher a igreja, definir o local da festa e tantas outras
atividades.
Fazer uma festa que irá durar por algumas horas requer cuidados especiais, imagine uma
investigação criminal que poderá levar anos.
Já é possível ter uma idéia do que é o planejamento?
Veja alguns conceitos:
- Planejar é conhecer e entender o contexto; é saber o que se quer e como atingir os objetivos; é
saber como se prevenir; é calcular os riscos e buscar minimizá-los; é preparar-se taticamente; é
ousar as metas propostas e superar-se de maneira contínua e constante. Planejar não é só vislumbrar
o futuro, é também uma forma de assegurar a sobrevivência e a continuidade dos negócios. Isso
ocorre à medida que se formalizam programas e procedimentos que capacitam os profissionais a
atuarem de modo consciente e conseqüente, face às eventualidades que se apresentam no cotidiano
das organizações. (CHIAVENATO & SAPIRO, 2004)
- Para Zimmermann (Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos),
planejar é “tornar claro aonde se quer chegar, tomar as decisões e escolher as ações que acreditamos
que possam nos levar ao objetivo desejado”.
E o filósofo romano Sêneca também nos leva a refletir sobre o planejar quando afirma: “Se
você não sabe para onde vai, todos os ventos parecerão desfavoráveis”.
Isso não é uma verdade? Antes de qualquer tomada de decisão, a atitude mais conveniente
não é estabelecer um rumo, um objetivo, um ponto de chegada?
O planejar é um processo que envolve um modo de pensar que nos leva a indagações, e
essas nos conduzem a questionamentos sobre o que fazer, como fazer, quanto fazer, para quem
fazer, por que, por quem e onde fazer.
Contextualizando a investigação com esses raciocínios, é possível afirmar que o exercício
do planejamento tende a reduzir as incertezas que destroem o processo decisório da investigação,
provocando aumento da probabilidade de se alcançar às metas estabelecidas, na busca das
explicações para o fenômeno objeto da pesquisa.
Planejamento
- O que fazer?
- Como fazer?
- Quando fazer?
- Quanto fazer?
- Para quem fazer?
- Por que
- Por quem?
- Onde fazer?
Variáveis a serem consideradas
Por ser o planejamento um processo contínuo de pensamento sobre o futuro, ele deverá ser
objeto de constante reavaliação de curso e de ações alternativas a serem tomadas, visto que estará
submetido a fatores diversos que o influenciarão, como: falta de recursos, greves, morte de
testemunhas, fuga do suspeito, etc., ou seja, não basta planejar, terá que haver um acompanhamento
permanente das ações, reavaliando as estratégias, num processo decisório constante, considerando
um contexto ambiental interdependente e mutável.
Esses fatores que interferem no planejamento são chamados de variáveis e decorrem da
pressão ambiental que afeta a investigação, resultantes de forças externas e internas.
- As forças externas estão em contínua alteração com diferentes níveis de intensidade de influência,
decorrem de fatores fora do contexto da investigação e sua modificação não está ao alcance do
investigador.
Exemplos: Decisão judicial mandando suspender uma diligência; evolução tecnológica
possibilitando novos métodos para a investigação; uma nova lei que descriminaliza uma conduta.
- As forças internas resultam de fatores integrantes da instituição e estão dentro da possibilidade de
serem modificadas.
Exemplos: Escassez de recursos humanos e falta de recursos financeiros.
Princípios do planejamento
Alguns princípios operacionais dão o norte do planejamento. Dentre os gerais são
ressaltados:
- Princípio da precedência
Significa que o planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na
busca da resolução dos problemas. Em resposta ao “como vai ser feito”, o planejamento assume o
início do processo.
- Princípio da maior penetração e abrangência
Consiste no fato da atividade de planejamento provocar uma série de modificações nas
características do sistema, com envolvimento da conduta das pessoas e atividades na absorção de
novas tecnologias.
- Princípio da maior eficiência, eficácia e efetividade
Consiste em que o planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as
deficiências.
Para Oliveira (2007), tais princípios têm os seguintes significados:
- Eficiência
Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados;
cumprir o dever e reduzir custos.
- Eficácia
Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos;
obter resultados e aumentar o lucro.
- Efetividade
Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo;
coordenar esforços e energias sistematicamente.
Adequando a orientação de Denker (2007, p. 160), você pode dizer que a escolha da técnica
de investigação deve ser adotada com a seguinte metodologia:
- A técnica que será empregada em cada investigação dependerá do problema que está sendo
investigado, dos objetivos e da disponibilidade de recursos para realização do projeto.
- As técnicas não se excluem; poderão ser empregadas em uma mesma investigação metodologias e
técnicas diversas, conforme a variável que está sendo analisada e a fase do projeto em que se
encontra.
- É recomendável iniciar a investigação por um estudo exploratório, para tomar conhecimento da
situação, o que possibilitará ao investigador decidir quais serão os métodos necessários às fases
posteriores.
Técnicas preliminares de investigação
Diante de um fato, o investigador precisa executar um processo preliminar de observações e
reflexões para poder formular as primeiras hipóteses sobre a natureza do problema que lhe é
apresentado (se é crime e que tipo), o autor (quem teria interesse, meios e oportunidade para
praticá-lo) e as circunstâncias em que possa ter ocorrido (quando, onde e como aconteceu).
Para isso terá que recorrer a algumas técnicas preliminares que estão em um contexto chamado de
estudo exploratório.
Estudo exploratório é um estudo de diagnóstico desenvolvido para análise de “onde se está”
e “como se está”. Visa um maior conhecimento do fenômeno apresentado e não necessita de uma
hipótese. Envolve levantamento de dados das circunstâncias e do ambiente onde ocorreu o evento.
São estudos preliminares para demonstrar a realidade existente, a partir de uma observação
sistêmica para configuração do diagnóstico do fato que é colocado para investigação.
Referencial do estudo exploratório
O estudo exploratório utiliza os dados de:
- Fontes secundárias: “Referem-se ao material conhecido e organizado segundo um esquema
determinado.” (DENKER, 2007, p. 156) São informações que não têm relação direta com o caso,
mas dizem do caso ou do ambiente onde ele aconteceu.
Exemplos: Publicações de jornais, reportagens de TV, mapas, catálogos telefônicos, bases de dados
e bancos de dados.
- Estudo de caso: É uma forma de colocar o investigador diante de uma situação prática, onde irá
refletir e praticar conceitos e técnicas. O caso é um problema vivido pela organização que exige
uma análise ou decisão. Aplicado ao estudo exploratório para o plano de investigação, será a análise
de uma situação investigada anteriormente, similar ao fato objeto do planejamento atual. É a
oportunidade de aprendizagem com os erros e acertos já praticados.
Esse tema será tratado em unidade própria.
Exemplo: Um crime ocorrido e apurado, cujas características são as mesmas do que está sendo
apurado.
- Observação informal:
É o método de coleta preliminar de informações necessárias às primeiras hipóteses e ao
plano inicial. É aplicada por meio do reconhecimento.
Exemplo: Antes de iniciar a investigação de um possível latrocínio ocorrido em uma região de
comércio no centro da cidade, o investigador se desloca à cena para colher as primeiras
informações, registrar suas impressões iniciais e, com isso, elaborar seu plano operacional.
Levantamento de meios e modos
O estudo exploratório também serve para levantamento dos meios e modos aplicados pelo
infrator na prática do delito, o que é chamado de “modus operandi” (modo de fazer).
Os meios dizem respeito à técnica aplicada. Os instrumentos utilizados do planejamento ao
exaurimento da conduta delituosa. Eles poderão ser documentos, armas, equipamentos de
comunicação, etc.
Meios = técnicas aplicadas
Os modos dizem respeito à metodologia do crime. O criminoso observou a conduta diária da
vítima? Fez uma abordagem velada? Utilizou métodos de simulação, etc.?
Modos = metodologia do crime
O reconhecimento é uma técnica de observação visual direta ou por meios eletrônicos, que
requer memorização e descrição dos dados observados. É uma atividade preliminar de investigação
que também ocorre durante o estudo exploratório. Busca as primeiras informações sobre as
atividades do investigado, as características ambientais e geográficas de um determinado sítio.
É uma técnica que busca a coleta dados sobre o ambiente operacional e o alvo específico.
Oferece parâmetros para a percepção do grau de risco do procedimento investigatório.
Grau de risco - É o grau de relevância do reflexo das possíveis ameaças, sobre a
investigação criminal. O risco é caracterizado pela probabilidade de uma ocorrência, multiplicada
pelo impacto que ela terá sobre a investigação.
A análise dos riscos deve ser feita durante a elaboração do planejamento da investigação,
definindo todos os cuidados que deverão ser adotados para os planos se concretizem.
Dependendo do grau de dificuldade da investigação, poderão ser identificados os tipos de
controles que deverão ser implementados a curto, médio de longo prazo. (Fonte: PORTO, Gilberto.
Riscos sob Controle. Correio Braziliense, Brasília, 8 de junho de 2008. Trabalho & Formação
Profissional, p. 2.)
O reconhecimento poderá ser aplicado na fase que antecede o planejamento de outras
modalidades de investigação, como a campana e a infiltração.
- Reconhecimento é o ato pelo qual o agente examina atentamente as pessoas e o ambiente, através
da correta utilização dos sentidos, olhando com atenção todos os aspectos e circunstâncias, e o
maior número possível de dados, para posteriormente condensá-los em relatórios (croquis)”.
(SILVA & FERRO & SILVA, p. 32)
Reconhecimento
O reconhecimento descreve a localização exata do alvo, endereço completo com mapas,
fotos, desenhos e pontos de referência; características do alvo com uma descrição generalizada da
área urbana, (mapas da cidade, favela, região industrial, comercial residencial, etc.); descrição
específica de dimensões, tipo de construção, atividades desenvolvidas; usuários e freqüentadores do
ambiente, instalações; vias de acesso e fuga, segurança, cobertura; meios de transportes, itinerários,
horários, dias da semana; locais de estacionamento, sentidos, entradas e saídas; condições
climáticas; postos de observação, fixação de bases de vigilância, etc. (SILVA & FERRO & SILVA,
p. 32)
O reconhecimento elabora um retrato fiel do ambiente onde será desenvolvido o
procedimento policial. É uma visão antecipada do cenário da investigação. Ajudará a formulação
das hipóteses preliminares do fenômeno investigado.
Dependendo do grau de risco tanto para a eficácia da investigação quanto para integridade
física do investigador, do investigado e demais pessoas que possam vir a ser envolvidas, o
reconhecimento poderá ser ostensivo ou velado, com ou sem meios de disfarce do observador.
O reconhecimento é fundamental para o desenvolvimento de um planejamento eficaz e para
a reavaliação dos planos operacionais.
Descrição
Depois de observar os dados e informações, vem a necessidade de registrá-los para que
possam ser analisados e validados como confirmação da hipótese levantada.
Descrever é expor, narrar de forma circunstanciada pela palavra escrita ou falada tudo o que
foi observado pelo investigador.
No sistema jurídico brasileiro, onde o inquérito policial é uma peça escrita, a investigação
resulta em relatos escritos, que tanto poderão ser uma informação do investigador cartorário como
um laudo do perito ou do legista, ou termos e autos.
O investigador irá descrever em sua informação, ambientes, circunstâncias, objetos, pessoas
e suas próprias conclusões a respeito da hipótese levantada.
Descrição de pessoas
Você já tentou descrever uma pessoa depois de observá-la?
Fazer a descrição de pessoas não é tão simples como parece. Requer metodologia própria
que possibilite ao encarregado da análise a reunião coerente e organizada das observações, num
processo de verificação de sua confiabilidade como resposta ao problema.
A descrição terá que ter dados suficientes para confirmar ou não a hipótese levantada, por
exemplo, sobre o suspeito de autoria. Nesse caso deverá responder a pergunta: a pessoa observada e
registrada tem as características do suspeito descrito pela testemunha?
Técnica de descrição de pessoas
O melhor na descrição das pessoas consiste em começá-la pela cabeça, seguindo-se para os
membros inferiores até os pés, de forma detalhada.
Na descrição geral das pessoas devem ser observados fatores, como: a raça, o sexo, a idade
aparente se não for possível a informação correta, a estatura, o peso (aparente), a compleição, a cor
e o tipo do cabelo e dos olhos, a cor da pele, a presença ou ausência de bigodes, barba, a condição
dentária, cicatrizes e marcas, uso de óculos e peculiaridades físicas, tipo, cor e aspecto da roupa, etc.
Nem sempre é possível obter-se a completa descrição da pessoa suspeita, mas, mesmo a
descrição parcial pode ser de valor inestimável, principalmente quando submetida à análise
comparativa com outros dados.
Descrição física geral e particular de pessoas
- Nome (nomes usados, vulgo);
- Sexo, raça, cor, nacionalidade;
- Idade (aparente pelo menos);
- Estatura (presumível, comparando-a com a própria ou de outra pessoa);
- Peso (presumível);
- Compleição física (gordo, magro, esguio, forte, encurvado, ombros caídos, obeso, estômago
proeminente, etc.);
- Marcas e cicatrizes (naturais, produzidas ou tatuagens);
- Modo de falar (forte, suave, rouco, grosso, fino, lento, rápido, gagueira, sotaques, gírias);
- Modo de andar (coxeando, etc.);
- Defeitos físicos; e
- Tipos de cabeça, sobrancelhas, nariz, boca, dentes, bigode, orelhas, barba, pescoço, ombros,
tórax, braços e mãos.
Descrição da indumentária
- Camisa: cor, material, modelo;
- Gravata: cor, material, modelo; e
- Calça, paletó, cintos, sapatos, luvas, jóias, óculos, etc.
Numa descrição de pessoas devem ser registrados os dados imutáveis. A descrição deve ser
honesta, realista, sem influências pessoais ou preconceituosas. Devem ser particularizadas, pois as
descrições genéricas pouco servem para a investigação.
Observe no indivíduo, não o que de comum possa existir, mas o que de particular apresenta,
isso permitirá uma identificação mais segura.
Planificação da campana
Foi visto a importância do planejamento na investigação criminal. Sem ele, é pouco
provável que se atinja seu objetivo de forma eficaz. Ele evita improvisações, desperdícios de tempo
e recurso.
O plano de operação é a materialização das metas propostas e de como executá-las. Cada
diligência deverá ter seu plano, por mais simples que seja.
O investigador não deve se lançar despreparado à campana, sem um plano. Imprevistos
poderão ocorrer pondo em risco não só a investigação, mas sua própria segurança.
Há momentos em que os dados que o investigador precisa para construção da prova estão
em ambientes fora de seu alcance em situações normais. Entretanto, é importante que ele colha
esses dados pessoalmente.
Como operacionalizar esse procedimento?
Com a técnica de infiltração. O ato é realmente de penetração e permanência em um
ambiente.
A infiltração consiste na penetração velada e dissimulada em ambientes onde são planejadas
ou executadas atividades delituosas, para a coleta de dados que possam explicar as circunstâncias e
autoria desses delitos.
Essa é a modalidade de investigação de maior risco para o investigador. Daí a necessidade
de um planejamento sério que diminua esse risco e aumente a garantia de sucesso.
O plano operacional para execução da infiltração, além de cuidar das necessidades comuns,
como definir os tipos de dados que deverão ser coletados, recursos, procedimentos a serem
adotados, requer outros cuidados específicos.
O plano obedecerá às normas impostas nas Leis n° 9.034/95 (Repressão ao crime
organizado) e n° 11.343/2006 (Repressão ao tráfico ilícito de drogas), conforme visto na primeira
fase deste curso.
Fase final
O plano de ação também deverá prever os procedimentos a serem adotados pelo infiltrado
na fase final da diligência. Nessa fase, ele já terá as informações que procurava, em muitos casos, a
confirmação da prática do delito ou a identificação e paradeiro de pessoas e coisas, quando então
poderá haver uma ação policial de repressão.
Nos contatos com a base de gestão da diligência, o infiltrado passa circunstâncias que
propiciarão um plano para a fase final. Serão respondidas questões como: Quando deverá ocorrer a
prisão do infrator observado? Quando e como deverá ocorrer o resgate do infiltrado?
Contudo, como regra geral, não deverá o infiltrado agir sozinho no desfecho da diligência,
executando, por exemplo, prisões.
Qualquer que seja a forma do desfecho da diligência terá que haver extremo cuidado com a
retirada do investigador infiltrado.
Liberação da cena do crime Segundo Geberth (1997, p. 25), citado por MINGARDI (2006,
p. 55), “esse é um momento crítico, pois as autoridades devem tentar manter a cena do crime sob
seu controle durante o maior tempo possível, o que possibilita a coleta de mais dados à medida que
as informações ficam disponíveis.”
Com essa preocupação são importantes as recomendações do citado pesquisador: Para ele
(Geberth) existe uma regra que ajuda a determinar quando liberar a cena: não liberar a cena até
terminar a coleta de evidências, a pesquisa, todas as entrevistas com testemunhas ou interrogatórios
com suspeitos.
Antes de sair da cena é recomendado observá-la da perspectiva da defesa e ter certeza de
que não deixou passar nada de relevante. (MINGARDI, 2006, p. 55)
A liberação do local é atribuição da autoridade policial coordenadora da investigação.
A experiência tem demonstrado que algumas vezes, principalmente quando a delimitação da
zona da cena não é feita com o devido cuidado, após a saída do perito, são identificados outros
vestígios em ambiente fora do perímetro de investigação técnico-científica. Essa possibilidade é
mais factível quando a cena do crime está localizada em campo aberto.
Exemplo: Numa ocorrência de homicídio, o cadáver da vítima foi encontrado abandonado em uma
área de cerrado em adiantado estado de mumificação. Havia várias partes de ossos e vestes
espalhadas por uma grande área. Feitas as verificações e coletas, o local foi liberado pela equipe da
investigação preliminar. No dia seguinte, assumindo o caso, a equipe da investigação de segmento
retornou ao local e, reavaliando detalhadamente a cena, encontrou novos vestígios que não tinham
sido identificados pelos investigadores do local.
Cuidados para a liberação
É recomendável que antes de liberar a cena, se repita todo o processo feito para o
isolamento, principalmente, se for num ambiente muito extenso.
Havendo dúvidas quanto à existência ou não de vestígios que não foram recolhidos, o
ambiente deverá continuar isolado para reexame, se for ocaso. Essa possibilidade é mais provável
em ambientes escuros e amplos ou com muitos compartimentos ou, ainda, em ambientes abertos
sob chuva. Nesses casos deverão ser montadas estratégias com uso de equipamentos que facilitem a
visibilidade dos vestígios.
Diário de investigação
O investigador não pode confiar demasiadamente em sua memória. Deve manter registro
detalhado e sistematizado das informações coletadas. Essa necessidade se torna evidente na medida
em que a investigação avança, aumenta seu grau de complexidade e maior é o volume de
informações que precisam ser devidamente preservadas.
Convém fazer um registro diário de tudo que é coletado. Esse processo possibilita que o
investigador tenha o controle das informações colhidas e, ao final, sistematize todas elas facilitando
a análise e validação.
As anotações das informações colhidas na cena do crime permitirão aos que irão conduzir a
investigação de segmento, ter acesso a referências sobre tudo o que foi e não foi investigado.
Observações e registros auxiliarão na elaboração de planos e metas.
Os equipamentos eletrônicos existentes permitem maior rapidez e segurança nas anotações,
muito embora ainda seja válida a velha caderneta de papel. Ande sempre com ferramentas que
possibilitem rápidas anotações.
Há todo um processo de transformação dos dados colhidos na investigação que dirá como
ocorreu o delito. Esse processo é a análise dos dados da investigação.
Feita a coleta dos dados, o investigador deve concentrar sua atenção na análise e
interpretação das informações formatadas.
O objetivo é dispor as informações de maneira sistematizada, para que possam ser
transformadas em resposta ao problema posto inicialmente. Para que isso ocorra é preciso uma
análise da credibilidade dessas informações como prova do delito em apuração.
Você viu na análise das informações colhidas em depoimentos de testemunhas, vítimas e
suspeitos, que a credibilidade passa pelos parâmetros de validade e confiabilidade.
A interpretação dará sentido mais amplo aos dados, possibilitando sua conexão com o
conhecimento existente (a história do fato).
Metodologia de análise
Nenhum dado da investigação poderá ser interpretado isoladamente. O conhecimento
apurado na investigação, para ser validado como prova, deve ser considerado no seu contexto.
Esse contexto envolve todas as informações colhidas pela investigação, tanto a cartorária
como a técnico-científica – depoimentos, relatórios do agente investigador cartorário, laudos
periciais, reconhecimentos, relatórios de atividades financeiras, relatórios sobre atividades fiscais,
etc.
Para reforçar esse conhecimento e demonstrar alguma praticidade, veja alguns métodos
postos para análise de dados que poderão ser adequados à investigação criminal. Segundo
Davenport & Prusak, citados por Santiago Jr. (2004, p. 29), a transformação da informação em
conhecimento é possível a partir da:
- Comparação
Entendimento sobre como as informações relativas a um determinado assunto podem ter
alguma relação ou aplicação em outras situações.
- Conseqüência
Implicação que determinada informação pode trazer para a tomada de alguma decisão e/ou
ação.
- Conexão
Relação entre a informação adquirida e um conhecimento já existente.
- Conversação.
Interpretação daquela informação a partir do entendimento sobre o que as pessoas pensam
sobre ela. René Magritte disse: “Tudo quanto vemos, esconde alguma coisa”.
A prática e a pesquisa científica têm confirmado essa assertiva. Na investigação de um
delito, o investigador deve ter a habilidade de sempre esgotar todas as possibilidades de
manipulação e observação dos dados colhidos, para poder inseri-los ou filtrá-los do contexto da
prática delituosa objeto da apuração.
Não há dúvida que a investigação criminal é um sistema complexo de coisas, fatos ou
circunstâncias que formam uma rede de dados, exigindo cuidados especiais na gestão e na análise,
para que dela sejam extraídas as informações que serão validadas como prova.
Gestão e análise dos dados da investigação remetem ao conceito de qualidade, pois o
objetivo desse processo é moldar a prova com as condições necessárias para explicação do fato
investigado.
O produto final da investigação é a prova da prática de um delito e de sua autoria. Esse
produto terá que ter qualidade para ser eficaz no que se propõe. A matéria-prima da prova é o
conhecimento produzido com as explicações sobre fato delituoso.
E o que é qualidade?
O conceito moderno de qualidade, de acordo com a ciência da Administração é de que se
trata da satisfação do cliente quanto à adequação do produto ao uso.
Não é apenas uma questão de perfeição técnica. Não basta que a prova esteja adequada ao
modelo descrito na lei. Ela terá que ser adequada às necessidades de explicação jurídica de um
determinado delito.
Uma mancha de sangue coletada em um local de crime, poderá estar tecnicamente adequada
à metodologia descrita na lei, mas não ser a prova ideal para aquele delito.
A qualidade dessa prova depende de cuidados durante sua produção, análise dos dados e
gestão do conhecimento deles decorrente.
Foi visto que o processo de coleta de provas para apuração de um delito, dependendo da
complexidade do evento, poderá produzir um grande número de informações.
A análise das informações envolve o processo cognitivo e esse envolve operações mentais
da inteligência humana.
Faz parte desse processo a visualização da informação, ou seja, a inteligência visual que é
parte essencial da inteligência humana, na sua capacidade de percepção ou cognição dos símbolos,
códigos e sinais, conforme ensinam Ferro Jr. e Dantas (ibidem).
A análise das informações geradas pela investigação nos leva ao laborioso e complexo
estudo de dados impondo elevado grau de dificuldade para a compreensão de sua credibilidade
como prova.
Veja o comentário de FEW em citação feita por Ferro e Dantas: (...) “freqüentemente o
melhor da nossa compreensão emerge quando olhamos para “desenhos dos dados”. Isto, segundo
FEW, ocorreria em função da visão ser o sentido dominante nos seres humanos. No mesmo passo, o
autor ensina que ao examinarmos dados propriamente apresentados visualmente, algumas vezes
experimentamos “rasgos de reconhecimento” que somente ocorreriam, após horas de laborioso
estudo para possibilitar a mesma espécie de “descoberta”. Tal descoberta seria o ápice do processo
cognitivo.” (FERRO Jr. e DANTAS, ibidem).
Essa capacidade de melhor percepção e compreensão dos dados visualizados se torna
ineficaz diante de um cenário extremamente complexo.
A complexidade e a moderna atividade investigativa criminal
Para melhor compreensão da complexidade da investigação criminal, sugiro a leitura do
texto, que faz parte do trabalho de Ferro e Dantas, onde analisam a complexidade e a moderna
atividade investigativa policial.
Apesar do aparente caos formado pela complexidade das informações que deverão ser
analisadas, elas não estão soltas no contexto, e sim, interligadas, vinculadas, estabelecendo uma
conexão que precisa ser ressaltada à percepção do investigador.
A tecnologia da informação (TI) entra como ferramenta importante na visualização dessa
rede de vínculos que irão possibilitar a percepção de todo o contexto do delito. Com ela surge a
chamada inteligência artificial (IA) formatada a partir de tecnologia surgida com a moderna ciência
da computação.
A TI é uma ferramenta estratégica e facilitadora da análise e gestão do conhecimento na
investigação. Ela permite a transmissão e o acesso rápido a um enorme volume de informações,
tornando ágil seu processo de tratamento, manipulação e interpretação.
O uso da tecnologia permite ao investigador ter acesso a interpretações de dados e
informações sobre ligações telefônicas, registros, sinais, cadastros e conversas, de forma ágil e
sistemática.
Com aplicação da TI é possível descobrir e interpretar vínculos que, a olho nu, são
imperceptíveis ao investigador que se acha diante de um grande volume de dados.
Métodos
Um dos métodos aplicados na investigação criminal para análise de dados é a análise de
Vínculos (AV).
A AV é uma técnica de busca de dados, com a possibilidade de estabelecer conexões entre
eles, desenvolvendo modelos baseados em padrões dessas relações, ou seja, por meio de um
programa de computador, o investigador visualiza e conhece todos os vínculos estabelecidos entre
os dados colhidos, desenhado graficamente essa rede de conexões que irá formatar exatamente
todas as condutas que deram causa à prática delituosa.
Segundo lecionam FERRO e DANTAS no seu referido artigo, a técnica da AV engloba a
captura, o armazenamento e a diagramação de informações pertinentes aos chamados “alvos
monitorados” (suspeitos, vitimas, ambientes, etc.). Permite a visualização gráfica de relações entre
pessoas, objetos, dados, etc., as quais, por um processo normal de análise, passariam despercebidas
do investigador.
São utilizadas como ferramentas da AV aplicativos de informática como o i-2 “The Analyst’s
Notebook”, da Tempo Real, e o Nexus, da Digitro.
Objetivo da análise global
Qual o sentido da análise global das informações coletadas pela investigação criminal? É a
consolidação de sua credibilidade como prova. Não basta supor, por exemplo, que um grupo de
pessoas investigadas pela prática de roubos e extorsões, formava uma quadrilha. É preciso que a
investigação demonstre que entre elas havia uma associação com vínculos psicológicos, destinada à
prática de delitos.
Da mesma forma, no caso de crime organizado, não basta, diante de uma série de
informações, como depoimentos, registros bancários, contas telefônicas, registros patrimoniais, etc.,
afirmar que se trata de uma organização criminosa, sem que os fatores que determinam as
características de uma organização sejam devidamente demonstrados na investigação.
Para Ferro e Dantas, nesse caso, terá que ser demonstrado que o grupo formava uma
associação estruturalmente organizada e vinculada, caracterizada por hierarquia, divisão de tarefas e
diversificação de áreas de atuação, com o objetivo de delinqüir visando à obtenção de lucro
financeiro e, eventualmente, vantagens político-econômicas e controle social, adquirindo dimensão
e capacidade para ameaçar interesses e as instituições nacionais e estaduais, conforme conceito
difundido pela Escola de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência.
Benefícios das informações colhidas
A análise das informações é a sistematização do conhecimento construído na investigação,
consolidando os vínculos recíprocos entre atores do delito e desses com a conduta delituosa.
A análise é o processo de testificação, validação e codificação das informações para
transformá-las em conhecimento chamado prova, que irá fundamentar o processo de julgamento do
infrator.
Esse conhecimento não deve se perder nas burocracias de um processo sem que reverta em
benefícios para a gestão de novos casos.
As informações colhidas durante a investigação, formam um ativo intangível que agrega
valores às demais atividades da polícia como prestadora de serviço público.
Nesses conhecimentos há um know-how técnico, criatividade e inovações que precisam ser
mantidos ao alcance da organização policial para o processo de reutilização no aprendizado de seus
agentes.
Aplicando-se à segurança pública os ensinamentos de SANTIAGO (2004, p. 24), pesquisas
comprovam que iniciativas voltadas para a gestão do conhecimento podem trazer grandes
benefícios para:
- Tomada de decisão do coordenador da investigação;
- Gestão dos atores envolvidos no processo de investigação;
- Resposta às demandas apresentadas pelo problema investigado;
- Desenvolvimento de habilidades dos profissionais da investigação criminal;
- A produtividade da investigação;
- Eficácia dos resultados;
- Compartilhamento das melhores práticas com outras polícias; e
- Redução de custos.
Estes são fatores que nem sempre são levados em consideração pelo sistema penal –
Polícias, Ministério Público e Poder Judiciário. Quase sempre as informações colhidas na
investigação não são revestidas em benefício de políticas públicas voltadas para o bem estar da
comunidade, no enfrentamento da violência.