Introdu+º+úo e Investiga+º+úo de Segmento

Fazer download em odt, pdf ou txt
Fazer download em odt, pdf ou txt
Você está na página 1de 49

Escola Superior de Policial Civil do Estado do Paraná

Prof. Luiz Renato Blanchet


Material de introdução a investigação e investigação de seguimento.
Textos retirados dos cursos de investigação do SENASP.

A investigação criminal como instrumento de defesa da cidadania

Aula 1 - Modelos de polícia e investigação policial

Quando se fala em modelo de polícia a pergunta a ser respondida é:


A que tipo de sociedade ela deve servir?
O pacto político firmado em 1988 pela sociedade brasileira foi no sentido de formatar um
Estado Democrático de Direito fundado nos princípios de: Soberania; Cidadania; Dignidade da
pessoa humana; Valores sociais do trabalho; Livre iniciativa; e Pluralismo político.
Para garantir esse modelo de sociedade, será preciso uma nova configuração idéia de
segurança pública concebida como tutela de direitos e não de preservaçãoda ordem pública, pois
são diferentes as concepções.
A diferença das concepções de tutela de direitos e de preservação da ordem pública é
apontada pelo texto introdutório de um manual sobre a relação polícia e direitos humanos, editado
pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados:
Uma polícia para a preservação da “ordem”, afinal, só pode ser concebida como uma instituição a
serviço da manutenção do status quo braço armado. Estado voltado, sempre que necessário, contra
as “classes perigosas”. (ROLIM, 2000, p. 9)
A idéia de segurança pública associada a “tutela de direitos” remete a um conjunto de
direitos básicos que devem ser garantidos. A percepção de segurança para cidadão é a que está
relacionada com o respeito aos seus direitos fundamentais.
Como os serviços de segurança pública são de atendimento da integralidade da cidadania, a
polícia faz parte de uma rede interdisciplinar de tutela dos valores de sustentação do Estado
Democrático de Direito, num processo complexo cooperativo e complementar.
A investigação criminal é uma das ferramentas utilizadas pela polícia na prestação dos
serviços de garantia do cidadão.
As práticas infracionais atentam contra o sistema de direitos fundamentais que garante a
sobrevivência de uma sociedade democrática. Como visto, a razão de ser da polícia é garantir o
livre e pacífico exercício desses direitos. Portanto, a investigação criminal deverá se adequar às
demandas decorrentes dos mesmos.
A sociedade precisa mesmo de uma polícia?
Jaume Curbet (1983, p. 75) remete a reflexão sobre o tema com uma citação escritor francês Balzac
que diz: “Os governos passam, as sociedades morrem, mas a polícia é eterna.” Há dois pontos de
vista a serem considerados a partir dessa assertiva:
Apesar de todas as mudanças políticas e sociais operadas, as polícias continuam modeladas
em princípios que não atendem as demandas das comunidades. Seja qual for o modelo de
sociedade, esta sempre precisará da tutela da organização policial.
Num sistema de garantias de direitos fundamentais, de que adiantaria, por exemplo, o direito
à moradia se o cidadão não pudesse permanecer em casa com tranqüilidade e segurança?
A primeira Constituição Francesa de 1791, já declarava a importância da tutela policial dos
direitos do homem e do cidadão, quando dizia em seu artigo 12, conforme citação de Ballbe
(1983 ): “A garantia dos direitos do homem e do cidadão necessita de uma força pública. Esta força
se institui, portanto, para benefício de todos e não para a utilidade particular daqueles que a têm a
seu cargo.”
Tanto a nossa Constituição (1988), como a Francesa (1791) resultam na garantia da
soberania do Estado, no respeito ao exercício dos atos de cidadania e da dignidade de cada cidadão,
bem como dos valores sociais e das liberdades. Sendo assim, práticas da investigação criminal
devem refletir a certeza de que cada uma delas tutela a garantia do modelo político adotado pelo
Estado Democrático de Direito.
A investigação criminal necessita refletir o benefício a toda comunidade, pois tem dupla
função, prevenir e reprimir a prática de delitos.

Módulo 2 - Investigação criminal: aspectos conceituais

Aula 1 - Conceito e finalidade

O que é a investigação?
Muito provavelmente o cinema policial tem sido uma boa oportunidade de discussão do
tema. Mas a ficção nem sempre é a melhor oportunidade para reflexão sobre a investigação como
método de respeito aos direitos fundamentais do cidadão.
Povoam nosso imaginário os incríveis detetives dos filmes e da literatura policial que tudo
podem em nome da lei.
Investigar é uma atividade instigante pela emoção de percorrer labirintos que sempre levarão
à explicação de um delito. Esse é o foco romântico da investigação criminal. Só que a prática requer
conhecimentos e métodos sistematizados para que o resultado sempre seja a correta construção da
verdade.
O que é investigar?
Veja a definição encontrada no dicionário Aurélio: Investigar. [ Do Lat. Investigare. ] V. t. d.
1. Seguir os vestígios de. 2. Fazer diligências para achar; pesquisar, indagar, inquirir: investigar as
causas de um fato. 3. Examinar com atenção; esquadrinhar. (Ferreira, 1975, p. 781)
Veja que todas as definições são compatíveis com o contexto do processo de busca da prova:
seguir os vestígios; fazer diligências para achar; pesquisar; indagar; inquirir; examinar com atenção;
e esquadrinhar. São realidades que se complementam num contexto interdisciplinar.

O resultado da ação de investigar é a investigação que complementada pelo adjetivo


criminal, foca na reconstrução do cenário de um delito.

Conceito de investigação criminal


O mesmo dicionário Aurélio valida a compreensão sinonímica da ação investigativa quando
registra: “Investigação. [Do lat. Investigatione.] S. f. 1. Ato ou efeito de investigar; busca, pesquisa.
2. Indagação minuciosa; indagação, inquirição. (1975, p. 781)
Tanto as definições do verbo que expressa o agir e o sentir dos executores, como as do
nome, que expressam o resultado daquelas ações, nos levam à percepção de que a investigação é um
conjunto de atos que se complementam.
Então, você pode dizer que:
Investigação criminal é o conjunto de procedimentos interdisciplinares, de natureza
inquisitiva, que busca, de forma sistematizada, a produção da prova de um delito penal.

Finalidade da investigação criminal


A produção da prova penal ocorre no Brasil, em grande parte, na fase que antecede o
processo, por meio do inquérito policial. A finalidade da investigação criminal é coincidente com a
finalidade daquele procedimento, dividida em três eixos: remota, mediata e imediata.
Finalidade remota – A aplicação da lei penal e a tutela dos direitos fundamentais do cidadão;
Finalidade mediata – Produzir subsídios para a promoção da paeçloã o penal Ministério
Público ou pelo ofendido; e
Finalidade imediata – Apuração de provas das circunstâncias e autoria das infrações penais
para indiciamento do paeultao ar utoridade policial.
Aula 2 - Classificação da investigação criminal
Foi visto que a investigação criminal é um conjunto de procedimentos do qual participam
vários conhecimentos( interdisciplinar). Esse processo tem a coordenação direta ou indireta da
autoridade policial, de forma integrada e complementar.
Os dados tanto poderão ser coletados de vestígios deixados em objetos relacionados com a
prática do delito, como do depoimento de pessoas que, de alguma forma têm ou tiveram algum
vinculo com o fato investigado.
É a natureza funcional do investigador que irá determinar um dos critérios de classificação
da investigação criminal.

Critérios de classificação
Há provas produzidas pelo investigador cujas atividades, na estrutura funcional, estão
diretamente vinculadas ao controle da autoridade policial, ou seja, acontece, via de regra, no âmbito
do cartório da organização policial. Exemplo disso é o que ocorre com a coleta de depoimentosr,e
conhecimentoes, outros, feita sob a coordenação direta do delegado.
Enquanto isso, a prova baseada em vestígios materiais, tem sua produção em laboratórios e é
executada por peritos sem uma subordinação funcional direta autoridade policial. Essas
circunstâncias possibilitam a classificação do processo investigatório em cartorária e técnico-
científica.
O conceito de investigação criminal como um conjunto de procedimentos sistematizados
sugere uma segunda modalidade de classificação no que diz respeito aos momentos em que é
praticada. Com essa visão, Mingardi (2005, p. 11) oferece uma classificação da investigação do
homicídio, que também pode ser aplicada no contexto da investigação criminal, como sendo
investigação preliminar e investigação de segmento.

Classificação quanto à natureza funcional do investigador

Investigação criminal cartorária


A investigação criminal cartorária é aquela desenvolvida sob o controle técnico funcional
direto da autoridade policial, no âmbito do cartório da organização.
EXEMPLOS: Ordem de serviço expedida a uma equipe de profissionais da seção de investigação
para localizar determinada testemunha ou para identificar as testemunhas de um determinado delito,
e o reconhecimento de um suspeito.

Investigação criminal técnico-científica


A investigação criminal técnico-científica é aquela desenvolvida pelos peritos, sob a
coordenação técnico-operacional indireta da autoridade policial. É feita mediante requisição da
autoridade que preside a investigação.
EXEMPLOS: A análise de mancha de sangue feita pelo perito no local de crime, necropsia feito
pelo legista.

Classificação quanto ao momento da execução

Investigação criminal preliminar


A investigação criminal preliminar é aquela que se inicia logo após a notícia crime e
continua até a liberação do local pela polícia.
EXEMPLO: A investigação no local de crime.

Investigação criminal de segmento


ponto de partida os indícios ou provas obtidas na investigação preliminar.
EXEMPLO: Os exames periciais e os depoimentos coletados após a liberação do cenário.
Essas duas modalidades são gerais, abrangem a investigação cartorária e a técnico científica.

Módulo 3 - Investigação criminal: princípios fundamentais

Aula 1 – Princípios

O procedimento investigatório para cumprir sua função tutelar dos direitos fundamentais
precisa moldar-se em princípios que possibilitem essa adequação.
Princípios são regras básicas que determinam condutas obrigatórias e impedem adoção de
procedimentos com eles incompatíveis. Eles são os fundamentos de determinados procedimentos e
elementos de ação transversal em todos os atos públicos.
Sendo a investigação criminal ato da Administração Pública, incidem sobre ela princípios
que fundamentam a gestão dessa administração, bem como princípios específicos da metodologia
de execução técnico - cientifica.
Os princípios aplicados à investigação são regras de operacionalidade da função protetora de
direitos fundamentais que lhe é imposta.
Quanto maior o grau de lesividade do ato investigatório, maior deverá ser o cuidado do
investigador com as garantias protetoras do investigado.
Suas práticas diárias como agente público têm sido norteadas com essa percepção?

Aula 2 - Princípios constitucionais da investigação criminal

O marco inicial dos princípios que regem a investigação criminal é o artigo 37, da
Constituição Federal que formula os fundamentos legais que deverão servir de referência para todos
os atos da Administração Pública.
Art. 37. A Administração Pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade,
moralidade, publicidade e eficiência (...)

Princípio da legalidade
Foi visto que no Estado Democrático de Direito todos deverão se submeter à supremacia da
lei. O princípio da legalidade é a pedra de toque do Estado de Direito e estabelece dois tipos de
relação, uma com a Administração Pública, outra com o cidadão.
Relação com a Administração Pública
A atuação da administração pública só pode ser operada em conformidade com a lei. É uma
relação de submissão.
Relação com o cidadão
É permitido ao cidadão fazer tudo aquilo que a lei não proíbe. Não poderá ser obrigado a
fazer o que não lhe é determinado por lei. É uma relação de autonomia que resulta no princípio da
liberdade do ser humano, configurado, também, na Constituição Federal com um dos princípios
fundamentais:
Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. (CF, artigo
5º, inciso II)
O princípio da legalidade é direito fundamental de cidadania, que servirá de base para todos
os demais princípios. Observe que a definição dada pela norma constitucional ao vocábulo lei não é
restrita, é abrangente, compreendendo a lei propriamente dita e todo o contexto jurídico em que ela
está contida. Significa que as normas que regulam a investigação criminal, mesmo as
administrativas (portarias, ordens de serviços, protocolos de procedimentos, etc.) estão nesse
contexto e deverão respeitar o princípio da legalida de.
Princípio da impessoalidade
A impessoalidade na investigação criminal significa que as atitudes do investigador deverão
refletir objetividade no atendimento do interesse público, sem qualquer possibilidade de promoção
pessoal do agente ou da autoridade.
O interesse público contido na investigação criminal é o de explicar o fato acontecido, para
que os dados coletados possam formar a prova necessária para aplicação da pena justa ao infrator.
Não cabe utilizar a investigação para promoção pessoal de quem quer que seja. O ato de
investigar não deve ser usado para prejudicar ou beneficiar determinada pessoa.

Princípio da moralidade
A moralidade da administração pública está relacionada com aquilo que a sociedade, em
determinado momento, considerou eticamente adequado, moralmente aceito.
As práticas da investigação terão que estar de acordo com a opinião moral vigente no grupo
social, como honestidade, bondade, compaixão, equidade e justiça.
As decisões tomadas para o processo da investigação deverão adequar-se aos valores que a
sociedade adota como linha para a relação de convivência das pessoas e dessas para com o
ambiente.

Princípio da publicidade
O significado fundamental do princípio da publicidade é de transparência.
Esse termo aplicado à investigação criminal, cuja natureza tem como elemento principal o
sigilo, é possível?
Transparência na administração pública tem como objetivo o controle que poderá ser feito
pela própria administração, pelo poder judiciário e pelo cidadão.
O controle da gestão pública exercido pelo cidadão é garantia fundamental de direitos
assegurada em vários itens constitucionais do artigo 5º, como o de receber dos órgãos públicos
informações de interesse particular, coletivo ou geral (inciso XXXIII); o de obtenção de certidões
em repartições públicas (inciso XXXIV); e conhecimento de informações relativas à pessoa
interessada, constantes de bancos de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou
de caráterpúblico (inciso LXXII).
E na investigação, como se aplicaria esse princípio?
Como toda regra, o princípio não é absoluto. A própria Constituição impõe limite, colocando
como exceção ao direto à informação, as hipóteses de sigilo:
[...] Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de
interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade,
ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. (CF,
artigo 5º, inciso XXXIII)
A transparência é a regra. A exceção está expressa na lei.
Todos os atos da investigação são necessariamente sigilosos?
Em princípio não. No caso da investigação criminal, devem ser considerados dois aspectos:
O contexto da apuração de interesse da sociedade em geral, pois diz respeito demandas
imediatas de bem-estar da coletividade; e O aspecto de ato operacional específico, cujo interesse é
mediato.
A apuração de provas da prática de um delito, como ato geral de gestão pública, deve ser do
conhecimento da comunidade, para que tenha segurança jurídica quanto à garantia de proteção de
seu bem-estar. Entretanto, mesmo sendo de seu interesse, os procedimentos operacionais de
apuração, em regra, são executados em sigilo, exatamente para garantir a execução da investigação.
Já imaginou se a polícia anunciar antecipadamente as estratégias que irá aplicar na
investigação de delitos praticados por quadrilhas de tráfico de drogas? É pouco provável que
consiga alguma prova.
Princípio da eficiência
Esse princípio também é de observância prioritária e universal no exercício de toda
atividade administrativad o Estado. O termo remete à definição de boa administração vinculada à
produtividade, profissionalismo e adequação técnica do exercício funcional às demandas do
interesse público.
A administração pública e seus profissionais, no exercício das atividades funcionais, deverão
a plicar os recursos avaliando a relação de custo-benefício, buscar a otimização de recursos, aplicar
os critérios técnicos e legais necessários para maior eficácia possível em benefício da boa qualidade
de vida do cidadão. E, ainda, respeito ao investimento na formação profissional.
A aplicação prática do princípio na investigação criminal se concretiza com todos os
cuidados necessários para sua eficácia, desde o planejamento, com a escolha adequada dos meios,
até os cuidados com a proteção aos direitos fundamentais das pessoas envolvidas no processo e com
a legalidade na coleta da prova.
Saiba mais...
Segundo Pazzaglini (2000, pag. 32) , “o administrador público tem o dever jurídico de, ao
cuidar de uma situação concreta, escolher e aplicar, dentre as soluções previstas e autorizadas pela
lei, a medida eficiente para obter o resultado desejado pela sociedade”.

Aula 3 - Princípios operacionais da investigação criminal

A operacionalidade da investigação criminal é sustentada pelo tripé formado pelos


princípios da compartimentação sigilosa, do imediatismo e da oportunidade.

Princípios da compartimentação sigilosa


Compartimentar é o mesmo que compartir, ou seja, dividir em compartimentos. Ainda,
conforme definições encontradas nos dicionários, distribuir por vários indivíduos ou lugares. Os
dois significados são compatíveis com o sentido posto para o princípio em análise.
O sigilo é inerente à própria arquitetura da investigação criminal. Imagine se informações
colhidas nesse processo pudessem ser devassadas por qualquer pessoa. Provavelmente, a polícia
nunca apuraria provas de um delito. Diz a lei processual penal:
[...]Art. 20 A autoridade assegurará ao inquérito policial o sigilo necessário à elucidação do fato ou
exigido pelo interesse da sociedade. (Código de Processo Penal)
A prática demonstra que a regra de conduta pós-delito adotada pelo infrator é de esforço
máximo para “deletar” o maior número possível de vestígios que possam ligá-lo à cena do crime.
O sigilo tem o fim de proteção dos dados que deverão ser submetidos à verificação quanto à
sua validade e credibilidade como prova.
Compartimentar a investigação é dividi-la, literalmente, em pequenas porções. como se
fossem pequenas caixas dentro de uma caixa maior, cada uma preservando sua parte do todo, mas
estão interligadas por um setor de controle e filtragem. uma estratégia para operacionalizar o sigilo.
Dependendo da complexidade da investigação, o sigilo só será possível com a partição de
atos. Os compartimentos terão que ser estanques, fechados, para impedir a troca de informações
dentro do próprio grupo que investiga um mesmo delito.
Compartimentação sigilosa é o processo de separação, por partes estrategicamente definidas,
da investigação criminal, para evitar que haja troca de informações entre os grupos de
investigadores, garantindo o maior grau possível de sigilo e o êxito da investigação.
Como fazer isso?
O exemplo mais prático é da investigação dos crimes de extorsão mediante seqüestro. Por
via de regra é preciso que a investigação ocorra em vários campos, envolvendo grupos de trabalho
diversos e específicos em frentes diferentes.
A complexidade do evento requer atividades como reconhecimento de ambientes,
negociação, rastreamento de informações, análise de dados, vigilância, proteção pessoas, etc.
A diversidade de atos, de investigadores e ambientes, aumenta o risco de “vazamento” de
informações. A solução é dividir essas informações em pequenas “caixas” sob o controle de um
grupo gestor.
Imagine que um dos investigadores que esteja fazendo o reconhecimento seja capturado
pelos infratores. O passo seguinte será colher dele, a qualquer custo, tudo que saiba sobre a
operação policial. Caso conheça todos os procedimentos da operação, a probabilidade de que venha
a delatar é muito grande, dependendo dos métodos aplicados pelos infratores.
A compartimentação deverá ocorrer tanto em relação aos grupos de investigação entre si,
como em relação dos grupos com a comunidade que corresponde aos demais servidores da unidade
policial e ao público externo.

Protocolo de compartimentação
No protocolo deverão constar todos os procedimentos que serão adotados para preservação
da compartimentação sigilosa:
Determinar o número de compartimentações (de grupos operacionais);
Definir o grupo de investigadores;
Determinar os dados que serão coletados pelo grupo;
Definir a base de execução e gestão das atividades;
Estabelecer regras de comando e de comunicação;
Estabelecer regras de segurança das informações; e
Estabelecer as estratégias de ação e determinar o prazo.

Princípio do imediatismo

Outro fundamento operacional da investigação é o princípio do imediatismo. Trata da


condição de ação imediata para a tomada da decisão que irá desencadear processo investigativo. O
termo imediato tem as definições de seguido, logo, depois, próximo, instantâneo.
Imediatismo na investigação não tem relação com a imprudência ou precipitação. A
necessidade de eficácia, falada no princípio constitucional correspondente, não comporta desleixo
com o plano de investigação.
Mesmo no procedimento mais simples sempre haverá a necessidade de breve plano para o
início da investigação.
O princípio do imediatismo impõe que, recebida a notícia da infração, o desencadeamento
da investigação seja pronto e breve, mas em condições que garantam sua eficiência e eficácia.
O plano inicial deve ser breve, pois provisório e necessário para formulação das hipóteses
preliminares.
Quanto mais tempo o investigador levar para iniciar a investigação, maior será risco de
perda de informaçõesO. s primeirosm omentosd epois do crime são potencialmente mais
promissores para a investigação. É o período em que os vestígios estão mais evidentes.
O tempo é fator de eficácia ou ineficiência da investigação. Quanto mais deixado passar,
encarrega-sed o desaparecimentdoe vestígios e da memória das testemunhas. Facilita também, a
contra-investigação dos infratores.

Princípio da oportunidade

O imediatismo e a oportunidade, a parentemente paradoxais, são ações complementares.


Também está contido no princípio da eficiência como possibilidade prática de dar qualidade ao ato
de investigação. Os dois princípios são pontos de equilíbrio mútuo.
O princípio da oportunidade significa que o investigador, com plano breve e seguro, deverá
conceber o momento mais favorável, mais conveniente para iniciar o processo de busca das provas.
A aplicação dos princípios do imediatismo e da oportunidade evita a precipitação de atos
que possam dificultar ou prejudicar a eficácia do resultado.

Módulo 4 - Fundamento legal da investigação criminal

Aula 1 - Contextualização dos fundamentos

A investigação criminal é um conjunto de atos da Administração Pública. Atos


administrativos que são orientados por princípios que dão legitimidade às práticas do investigador.
No Estado Democrático de Direito a legalidade é o fundamento de todos os atos da
administração.
Você já deve ter ouvido o provérbio latino que diz: “Todo poder vem da lei”. A lei é a
sustentação de toda a arquitetura da investigação criminal. Para ter validade, preciso que cada parte
do processo seja formatada de acordo com o modelo definido em lei.
O modelo jurídico dos atos está expresso tanto na Constituição Federal como Código de
Processo Penal e em outras leis especiais que regulamentam atividades específicas de investigação
criminal, como a “infiltração” de policiais em grupos organizados.
O ato de investigar, por sua natureza, é invasivo, por isso, precisa de controle absoluto para
que o dano causado seja sempre o estritamente necessário para coleta da prova.

Aula 2 - O controle na Constituição Federal

A Constituição Federal é a estrutura de todo o sistema político e jurídico do Estado. Suas


normas estabelecem o formato jurídico, político e social da República Federativa do Brasil.
O texto do primeiro módulo do curso revela a inserção das polícias num contexto de defesa
de direitos fundamentais do cidadão, nos quais está contida a segurança pública e, dentro dessa, as
atividades de apuração das infrações penais.
A tutela de direitos desemboca em controle de liberdades e limitação de direitos individuais
e coletivos, pois a proteção impõe a colocação de anteparos que garantam o limite das
individualidades. Ocorre que a preservação dos valores que compõem esses direitos requer
equilíbrio entre o ato de controle e as liberdades do indivíduo.
O texto constitucional cuidou de delinear os métodos de equilíbrio entre o procedimento
policial e os direitoinsv edsot igado no artigo 5°, que trata dos direitos e garantias fundamentais e
enumera os direitos e deveres individuais coletivos:
[...] Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes. (CF, artigo 5º )
Eles são valores fundamentais, garantidores da existência da pessoa humana como membro
de uma sociedade democrática. Princípios que norteiam todas as normas de controle da cidadania.
O ato de investigar é bidimensional. Ao mesmo tempo protege e limita os direitos do
cidadão.
O modelo de polícia concebido pela Constituição Federal é de organização garantidora de
direitos e prestadora de serviços, valores que replicam na investigação criminal.
Dos direitos e deveres formatados nos incisos do artigo 5°, da CF, os que mais tangenciam a
operacionalidade da investigação criminal são estes:

Exigências ilegais;
[...] II - Ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão virtude de lei.
Como visto anteriormente, é o outro lado do princípio da legalidade. É a parte que cabe ao cidadão
na relação com a lei. Enquanto o agente público só pode fazer o que a lei permite, do cidadão só
pode ser cobrado como obrigação aquilo que a lei diz que ele deve ou não fazer.

Prática de atos não abusivos;


[...] III - Ninguém será submetido à tortura nem ao tratamento desumano ou degradante.
Essa norma vem desconstruir, de uma vez por todas, o paradigma da força do poder como
ferramenta básica da investigação criminal.
O principal fator de movimentação da busca da prova do crime é a legalidade.

Resguardo da intimidade das pessoas; e


[...]X - São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XI - A casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do
morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia,
por determinação judicial; e
XII - É inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, dados e das
comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a
lei estabelecer para fins de investigação criminal instrução processual penal.
São três princípios que resguardam uma das mais importantes condições de sobrevivência do ser
humano: a intimidade.
A intimidade é condição básica do bem-estar da pessoa humana; a possibilidade de ter, só para si,
momentos e ambientes destinados à reflexão e recomposição de sua natureza. Essa necessidade é
contemplada em um dos fundamentos, já vistos, Estado Democrático de Direito: o respeito “à
dignidade da pessoa humana”.

Provas ilegais.
[...] LVI - São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
A legalidade é a essência de toda a ação da administração pública. Não é isso? É a compensação das
liberdades concedidas tanto ao cidadão como à administração pública.A prova é o elementof
undamentanl a aplicaçãod a pena. É a única possibilidade para o Estado estabelecer a relação
jurídica entre ele e o suspeito da prática de um delito, por isso, todas as informações de explicação
da prática delituosa não poderão ser contaminadas por atos abusivos.
Essa contaminação poderá ocorrer tanto na metodologia da coleta quanto na análise dos dados. Uma
hipótese formulada com base em preconceitos poderá levar a um resultado não verdadeiro que
manchará todo um processo.
EXEMPLO: Um roubo ocorrido nas proximidades de uma “favela”. A primeira hipótese do
investigador é de que o autor seja morador daquele núcleo, baseado apenas nas condições
econômicas e sociais daquele ambiente.
As variáveis, que são mais fruto do preconceito do que de um estudo científico, poderão não ser
verdadeiras e desencadear uma série de procedimentos abusivos, A Constituição ainda formula os
princípios de gestão da administração pública vistos no módulo anterior.

Aula 3 - O controle no Código de Processo Penal

No Código de Processo Penal estão as normas de regulamentação operacional investigação.


Do artigo 6 ao 250, no Código de Processo Penal - CPP, estão as regras de operacionalidade
do procedimento. Vão desde o recebimento da notícia do crime até aos procedimentos
metodológicos de coleta e análise dos dados de prova, tanto material quanto testemunhal.

Na preservação do cenário do crime


[...] Art. 6° Logo que tiver conhecimento da prática da infração penal, a autoridade policial deverá:
I – Dirigir-se ao local, providenciando para que não se alterem o estado e conservação das coisas,
até a chegada dos peritos criminais. (Código de Processo Penal)

Metodologia da investigação criminal no CPP

A metodologia adotada no CPP é o da pesquisa descritiva, utilizando técnicas padronizadas


de coleta sistêmica de dados.
O Código de Processo Penal arquiteta um processo metodológico com abordagem clara de
interdisciplinaridadee complementaridaddeo s atos de investigação criminal.
O modelo adotado é de co-participação, justaposição de diferentes disciplinas atores que
desenvolvem um processo de complementação das atividades.

Código de Processo Penal


[...] II - Apreender os objetos que tiverem relação com o fato, após liberados pelos peritos criminais;
III - Colher todas as provas que servirem para o esclarecimento do fato e suas circunstâncias;
IV - Ouvir o ofendido;
V - Ouvir o indiciado, com observância, no que for aplicável, do disposto no Capítulo III, do Título
Vll, deste Livro, devendo o respectivo termo ser assinado por 2 (duas) testemunhas que Ihe tenham
ouvido a leitura;
VI - Proceder o reconhecimento de pessoas e coisas e as acareações; outras perícias;
VIII - Ordenar a identificação do indiciado pelo processo datiloscópico, se possível, e fazer juntar
aos autos sua folha de antecedentes; e
IX - Averiguar a vida pregressa do indiciado, sob o ponto de vista individual, familiar e social, sua
condição econômica, sua atitude e estado de ânimo antes e depois do crime e durante ele, e
quaisquer outros elementos que contribuírem para a apreciação do seu temperamento e caráter.
Art. 7o Para verificar a possibilidade de a infração ter sido praticada de determinado modo, a
autoridade policial poderá proceder a reprodução simulada dos fatos, desde que essa não contrarie a
moralidade ou a ordem pública.
Art. 10. O inquérito deverá terminar no prazo de 10 (dez) dias, se o indiciado tiver sido preso em
flagrante, ou estiver preso preventivamente, contado o prazo, nessa hipótese, a partir do dia em que
se executar a ordem de prisão, ou no prazo de 30 (trina) dias, quando estiver solto, mediante fiança
ou sem ela.
§ 1o A autoridade fará minucioso relatório do que tiver sido apurado e enviará autos ao juiz
competente.
[...] Art. 20. A autoridade assegurará no inquérito o sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido
pelo interesse da sociedade.

A coleta e análise dos dados


A coleta e análise dos dados que irão possibilitar a verificação das hipóteses formuladas
estão regulamentas nos capítulos que tratam:
Do exame de corpo de delito e das perícias em geral, do artigo 158 ao 184;
Do interrogatório do acusado, do artigo 185 ao 196;
Das testemunhas, do artigo 202 ao 225;
Do reconhecimento de pessoas e coisas, do artigo 226 ao 228;
Da acareação, artigos 229 e 230;
Dos indícios, artigo 239; e
Da busca e apreensão, do artigo 240 ao 250.

Módulo 5 - A lógica aplicada à investigação criminal


Aula 1 - Processo científico da investigação criminal

Todas as formas de conhecimento pretendem compreender a realidade. A diferença entre o


conhecimentoc ientíficoe as demais formas, como é o caso do conhecimento do senso comum, é a
maneira como se procede para sua obtenção.
Para Denker (2007, p. 29), “o conhecimento científico se caracteriza pela reflexão e intenção
de construção de um corpo metodicamente ordenado de conhecimentos, orientado pelo emprego
certifico”.
O processo da investigação criminal corresponde ao processo de produção de um
conhecimento científico?
Nesse processo há o emprego de métodos científicos?
O que é um método científico?
Leia o conceito de Denker (2007, p. 29): “Método científico é um conjunto de regras ou
critérios que servem de referência no processo de busca da explicação ou elaboração de previsões
em relação a questões ou problemas específicos”.
Diz, ainda, a autora, que o emprego do método é que faz com que o conhecimento seja
considerado científico. Para ela, são três os elementos que formam a base investigação científica e
caracterizam o conhecimento como ciência: a teoria, método e a técnica.
O Código de Processo Penal e outras normas complementares estabelecem uma
metodologia, ou seja, uma maneira concreta de se realizar a busca do conhecimento (prova) de uma
realidade específica (o ato delituoso).

O processo da investigação
Analisando o padrão geral da investigação científica, é possível constatar, como diz Copi
(1981, p. 391), que “o detetive, cujo objeto não é idêntico ao do cientista puro, mas cuja abordagem
e técnica para a investigação dos problemas ilustram, claramente, o método científico”.
Toda investigação parte de um problema. O problema é a questão que se pretende resolver: o
fato (crime?) apresentado para o investigador.
O processo da investigação criminal não é diferente. Há um problema (o fato), formulação
de hipótese (Crime? Homicídio?...) e uma conclusão (crime tal, praticado de determinada forma por
determinada pessoa).

Processo de Investigação criminal

Problema = Formulação de hipótese = Conclusão

Formulação do problema
Para iniciar uma investigação não basta um fato que sugira a prática de um crime. É preciso
que o investigador, tal qual o cientista, de forma reflexiva, formule indagações.
Segundo John Dewey, citado por Copi (1981, p. 392), “todo pensamento reflexivo – termo
que inclui tanto a investigação criminal quanto a pesquisa científica – é uma atividade de resolução
de problemas”. A conclusão de Copi (1981, p. 392 ) é de que, “antes que o detetive ou o cientista
metam ombros a uma tarefa, tem que sentir primeiro a presença de um problema”.
Formular um problema diante de um fato, muitas vezes de aparente insignificância jurídica,
nem sempre é tarefa fácil. Ainda segundo Copi, a mente ativa vê problemas onde a pessoa obtusa só
vê objetos familiares.
Sherlock Holmes, criação literária ontológica do escritor inglês A. Conan Doyle, é a mais
emblemática e clássica referência ao detetive astuto, capaz de solucionar até o mais desconcertante
mistério.
Usando esse herói dos contos policiais, Copi (1981, p. 392), descreve uma visita que o Dr.
Watson fizera a Holmes numa época de Natal quando o viu utilizando uma lente e pinças para
examinar antiga cartola, sem brilho, rasgada em muitos lugares e de uso impossível. Depois das
saudações, H olmes disse ao intrigado Watson, referindo-se à sua estranha tarefa: “Peço-lhe que não
encare este objeto como uma velha cartola, e sim, como um problema intelectual.”
O certo é que aquela cartola os levou a uma das suas mais interessantes aventuras que não
teria existido se o detetive Holmes não a tivesse visto, desde o princípio, como um problema.

Problema

O que é um problema então? Podemos caracterizar um problema como um fato ou um grupo


de fatos, para qual não dispomos de qualquer explicação aceitável, que pareça incomum ou que não
se adapte às nossas expectativas ou preconceitos. (COPI, 1981, p. 392) Na investigação criminal, o
problema é o fato posto diante do investigador como elemento no mundo jurídico e que requer uma
definição das circunstâncias em que ocorreu. É o caso sob investigação.

Análise do caso

Leia o caso:
O cadáver de uma mulher jovem é encontrado no aterro sanitário que fica fora da área
urbana. Estava sem a cabeça e as duas mãos que tinham sido decepadas. Junto ao corpo, também
decepados, estavam os membros inferiores da vitíma.
Há uma explicação aceitável para esse fato?
Está o investigador diante de circunstâncias próprias para a formulação de um problema que
mereça ser investigado?
A formulação do problema requer do investigador informações doutrinárias sobre a
repercussão do evento (condutas criminosas) no mundo jurídico, tendo como referencial os
conhecimentos produzidos a respeito e aqueles sobre as circunstâncias até então conhecidas (dados
do boletim de ocorrência).

Formulação da hipótese preliminar na investigação criminal

Diante do problema, o investigador dará início a um processo de raciocínio que o leva a


conclusões, a partir das premissas formuladas. As observações iniciais dados conhecidos levarão o
investigador a um processo de hipóteses do fato para que possa emitir suas primeiras opiniões sobre
o caso.
Evidentemente não é possível chegar a uma conclusão antes do exame de um número
razoável de provas, entretanto, também não é possível colher dados para serem analisados sem que
haja uma suposição do caso.
As informações iniciais permitirão a formulação das primeiras hipóteses a serem testadas
com a análise dos dados, ou seja, serão levantadas as teorias iniciais sobre natureza do delito, as
possíveis circunstâncias e a metodologia a ser aplicada investigação. Inicialmente não precisa ser
uma teoria completa e nem é possível, mas deve ser o suficiente para traçar as linhas gerais da
investigação e permitir seleção dos dados a serem examinados.
Na prática...
Volte ao caso apresentado.
No primeiro momento a única informação é que houve a morte de uma mulher, cuja cabeça
e membros foram decepados.
Na cena, o investigador terá a possibilidade de observar uma série de informações que o
levarão a formular as primeiras hipóteses.
Exemplo: Houve um homicídio. O crime não ocorreu no local onde foi encontrado o cadáver.
As circunstâncias conhecidas sugerem essas possibilidades. Não há marcas de luta, nem
manchas de sangue que sugiram ser aquele o local da prática do evento.
O processo seguinte é coletar dados que possam confirmar ou não, as hipóteses preliminares
ou auxiliar em novas formulações.
Para se iniciar uma investigação séria, diz Copi (1981,p . 395) que a hipótese preliminar é
tão importante quanto a existência do próprio problema.
Claro que as primeiras hipóteses, quase sempre, são decorrentes de conjecturas baseadas em
experiências anteriores. Serão sempre incompletas e, muitas vezes, diferentes da solução final do
caso, mas de extrema importância como fonte movedora da busca das provas.
Hipótese é uma suposição feita pelo investigador na tentativa de responder o problema (o
fato questionado). É a resposta provável de qual, como e quem praticou o crime, que precisa ser
testada pela investigação.
Compilação de dados adicionais na investigação
É certo que as informações iniciais quase sempre são insuficientes para a apuração total do
caso. Mesmo a situação em que há prisão em flagrante do autor, sempre requer investigação
complementar.
O investigador competente verá nesses fatos preliminares a possibilidade de construir
hipóteses que poderão conduzi-lo à explicação total do evento.
O investigador não poderá se deixar conduzir apenas pela obviedade dos fatos, mas analisar
com cuidado cada uma das informações.
Quantas informações complementares poderão ser colhidas no cenário? Marcas de pneus de
veículos, de calçados, objetos que poderão relacionar aquele cadáver outro cenário e testemunhos. A
observação criteriosa do ambiente levará a outras reflexões, hipóteses e dados adicionais.

Formulação da hipótese definitiva

Formuladas todas as hipóteses preliminares, os fatos decorrentes deverão ser avaliados


quanto à relevância e validade como prova. A análise de validação usará como padrão o modelo
legal de prova.
A elaboração de uma hipótese envolve um processo criador que tem suporte tanto na
imaginação como no conhecimento do investigador. Esse processo poderá receber estímulos da
percepção e de observações feitas no contexto do fenômeno.
Mesmo a hipótese mais simples exige do investigador uma capacidade ampla percepção dos
fatos em toda sua integralidade.
Na prática...
Volte ao caso.
O investigador, ao se deslocar, provavelmente, baseado nos conhecimentos acumulados com
estudos e fatos anteriores, irá formular suas primeiras hipóteses.
Por exemplo, poderá considerar que, em situação parecida, havia um crime passional como
explicação.

Fontes de hipóteses

Os fatores que estimulam o processo de formulação da hipótese na investigação são,


segundo Denker (2007, pp. 94/95):
Observação – Estabelecimento associativo de relações pela observação dos fatos do dia-a-
dia.
Resultado de outras pesquisas ( investigações–) A repetição de experimentos (hipóteses)
permite que se tenha uma idéia da regularidade com que os fatos ocorrem.
Teorias – Elas verificam a validade das explicações teóricas.
Intuição – São propostas pelo pesquisador (investigador).

Informações, intuição experiência

O ensinamento de Pádua (2005, p. 46) é de que “a vivência, a área de especialização, a


criticidade e a intuição do pesquisador são fatores relevantes nessa fase do processo heurístico
(Processo de descoberta), fatores que garantem a produção do conhecimento científico”.
Aplicando essa teoria das fontes de hipóteses à investigação criminal, certo é para formular
uma possibilidade sobre a ocorrência do delito, o investigador deverá considerar as informações
conhecidas, suas experiências profissionais, o conhecimento acadêmico adquirido, sua capacidade
de intuir, dosando tudo isso com uma visão global e crítica do contexto.

Verificação das conseqüências das hipóteses


A boa hipótese permitirá que o investigador passe dos fatos iniciais para outros novos fatos
em que a existências ó foi possível de verificar com a hipótese preliminar.
A característica operacional da hipótese é ser passível de verificação, segundo Pádua (2005,
p. 45), para quem essa verificação pode ser realizada de duas maneiras:
Pela observação – Estudo dos fenômenos tais como se apresentam; e Pela experimentação –
Estudo dos fenômenos em condições determinadas pelo pesquisador.
Para a investigação criminal, aplica-se a técnica da observação. Toda hipótese deve ser
plausível e estar relacionada a uma teoria, no caso, o direito penal e todo conhecimento transversal
ao tema (sociologia, psicologia, medicina, engenharia, conhecimentos técnico-operacionais, etc.).
A verificação da hipótese, feita pela investigação, é a confirmação ou não dos elementos de
interpretação formulados provisoriamente.
No caso que está sendo analisado...
A hipótese preliminar aponta para a possibilidade de que o crime tenha ocorrido em outro
lugar. Essa hipótese está fundada no resultado da observação do local de encontro do cadáver que
resultou na localização de um tíquete de estacionamento pago, que levou a um prédio de escritórios,
daí a uma sala e às testemunhas apontaram um suspeito.
A constatação é de que o suspeito fora visto, tarde da noite, colocando uma caixa pesada no
porta-malas de seu veículo. Fato comprovado pelo vídeo das câmeras do circuito interno do prédio.
Que outra hipótese você formularia com base nessas variantes diante do fato questão?
O mais provável é de que o conteúdo da caixa deveria ser o cadáver da vítima. A
investigação pericial feita no veículo e no escritório do suspeito constatou a presença de sangue da
vitima.

Você faria novas hipóteses?


Se a caixa não estava junto do cadáver, provavelmente fora abandonada em algum lugar.
Onde? Uma busca constatou que estava na lixeira do prédio onde reside o suspeito dentro dela uma
faca suja de sangue.
Na caixa havia uma etiqueta com o endereço do escritório do suspeito, manchas de sangue e
fragmentos de impressões digitais.
Exames periciais indicaram que o sangue era da vítima e as impressões digitais, do suspeito.
Observações detalhadas no cenário onde estava o cadáver, indicaram sinais de que os
membros decepados da vitima haviam sido ocultados naquele mesmo local.
Com as impressões digitais foi possível fazer a identificação da vítima.
Também, sob as unhas do cadáver, havia fragmentos de tecidos de pele humana,
constatando-se por exame de DNA, serem do rosto do suspeito.
O processo investigativo sistematizado levou o investigador à verificação dos fatos
decorrentes de hipóteses formuladas.
Testemunhas informaram que a vítima freqüentava o escritório. Fotos e bilhetes, ali
encontrados, comprovaram que ela era amante do amante do suspeito que ameaçava terminar o
romance e resolveu matá-la diante da ameaça que ela fazia de revelar o caso para sua esposa.
No contexto das hipóteses preliminares e fatos, o investigador constrói a hipótese final que
explica o fenômeno submetido ao processo de investigação.
Nesse caso, houve um homicídio praticado pelo suspeito, motivado pela reação uma
chantagem.
Aplicação da hipótese
Naturalmente, o investigador não quer apenas uma explicação dos fatos. Por uma questão
legal sua missão também é apontar o autor do delito. Toda a teoria construída terá que ter uma
aplicação prática para apontar o autor, dizer onde poderá ser encontrado e submetido a julgamento.
As conseqüências deduzidas a partir das hipóteses, passaram a ser a demonstração da
verdade, por meio dos exames periciais, dos testemunhos e das observações do investigador
cartorário, que será submetida à validação no processo judicial.
Essa é a imagem da investigação criminal. Tal como o processo de uma pesquisa científica,
movida por um raciocínio correto e ordenado, a partir de fatos que levam a uma hipótese testável
que, além de explicar os fatos que compõem o fenômeno investigado, ainda permite aplicações
práticas com o julgamento do autor.

Módulo 6 - Perfil profissional do investigador

Aula 1 - O perfil do policial

Vamos buscar no cinema, mais uma vez, subsídios para nossos estudos. Essa extraordinária
fonte de lazer passa o estereótipo do perfil do detetive policial como sendo arrojado, racional e frio.
James Bond e tantos outros povoam o imaginário humano. Algo bem distante da figura do cientista
conforme visto no módulo anterior.
Na literatura, entretanto, é possível encontrar outro modelo de investigador próximo da
realidade.
Segundo consta em uma das apostilas da Academia de Polícia Civil do DF, o escritor inglês
Frederick Forsyth, em seu livro “O dia do Chacal”, traçou o perfil de um investigador quando se
referiu ao inspetor Claude Lebel, que dizia saber ter sido sempre um bom policial, lento, preciso,
metódico, infatigável. Era conhecido na polícia judiciária como esquisitão, um homem metódico
que detestava publicidade e se furtava a dar as entrevistas coletivas.
O policial é o reflexo da imagem da polícia. Ele corresponde à expectativa de “mercado”
com sua imagem profissional respondendo as seguintes perguntas:
O que ele é? De que forma poderá ajudar profissionalmente seus semelhantes?
Qual é o perfil do investigador criminal que uma sociedade democrático de direito quer
como tutor de seus direitos fundamentais?
Qual é o perfil do investigador prestador de serviço?
No que diz respeito à primeira pergunta, o primeiro módulo do curso o levou a essa reflexão.
Como diz Balestreri (2002),“ o policial é um ator social envolvido diretamente nas cenas de
construção da realidade; é um protagonista de direitos e de cidadania; o policial é um pedagogo; o
policial é, antes de tudo, um cidadão.”
Para Balestreri (2002), é um novo paradigma educacional mais abrangente, essa inclusão do
policial na dimensão de agente educacional. Para ele, como outras, profissão policial é formadora
de consciências e de opiniões, portanto o policial “um pleno e legítimo educador”, dimensão
inabdicável, “explicitada através de comportamentos e atitudes”.
É nesse contexto que devemos refletir e construir o perfil profissional do policial
investigador.
A natureza garantidora de direitos do processo investigatório exige de seus executores
atributos e habilidades específicas, adequadas ao propósito de busca da verdade de uma
determinada prática delituosa.
Perceba que há um novo paradigma de cidadania: as competências requeridas por essa
sociedade terão que corresponder às suas novas demandas.

Aula 2 - Competência profissional


O que são competências?
Citado por Cordeiro e Silva (2005, p. 42), o educador francês Perrenoud, diz que:
Denomina-se “competências profissionais” o conjunto de conhecimentos, habilidades e atitudes
necessárias para garantir sua atuação na profissão.
Mapeá-las exige metodologia específica visando responder às perguntas que possam
englobar:
O que este profissional precisa saber?
O que ele irá fazer?
Que atitude deverá ter?
Ainda com apoio do ensinamento de Cordeiro e Silva, para compreensão do que seja o perfil
profissional, veja o exemplo de competências profissionais no emprego adequado da arma de fogo:
Dentre os conhecimentos, habilidades e atitudes que essa competência engloba, é destacado como
exemplo: Conhecimentos sobre o armamento: características físicas, componentes e princípios da
utilização das armas de fogo; Habilidades que os possibilitem a usá-las: postura, empunhadura, etc.;
e Atitudes que possam ajudá-los na hora da decisão em diferentes cenários, em diversas situações,
tendo como premissa básica a valorização de vidas. (Cordeiro e Silva, 2005, p. 42)
Conhecimento diz respeito aos saberes conceituais (se refere a conceitos, leis saberes
historicamente sistematizados); as habilidades, aos conteúdos de procedimentos, de como executar
os atos da profissão; atitudes, a valores que irão determinar a tomada de decisão, a ação e reação em
diferentes contextos.
Não há como desvincular o “perfil profissional” das “competências profissionais”
rigidamente formatadas pela educação profissional do indivíduo, baseada em um modelo centrado
no desenvolvimento do pensamento crítico e reflexivo; da atitude reflexiva; e da organização do
pensamento.
Perceba que há uma nova metodologia de construção do perfil do investigador.
Não é mais possível ter como referência apenas o indecifrável conceito de “tirocínio
policial”.
A abordagem sobre o perfil profissional está diretamente relacionada com o processo de
formação que responda questões sobre o tipo de conhecimento necessário para o exercício da
profissão; sobre as habilidades que deverão ser adquiridas ou desenvolvidas; e, fundamentalmente,
sobre as atitudes que deverão ser adotadas como resultado da formação, para situarem-se e agirem
na realidade profissional. Essas competências se tornam características qualitativas, ou seja,
atributos do profissional.
Imagine o policial que diante de uma situação crítica, um roubo com grave ameaça à vítima,
por exemplo, não sabe que decisão tomar para contenção e controle situação de crise.
E o investigador que recebendo o boletim de ocorrência do desaparecimento de uma criança
que estava na escola, não adota medidas adequadas para imediata apuração.

Aula 3 - Atitudes imprescindíveis ao investigador

Quais sãos as atitudes imprescindíveis ao investigador eficiente, humano, cidadão e


prestador de serviço público? O profissional da investigação deverá desenvolver algumas
“características básicas”, como:
Ser pró-ativo;
Ser flexível;
Estar propenso a mudanças;
Ter sentido de oportunidade;
Ser aberto à inovação e à criatividade;
Ter atitude de suspeição;
Ter versatilidade;
Ser amistoso;
Ser curioso;
Ser observador;
Ter bom senso,
Ser cauteloso;
Ter paciência; e
Ter persistência.
Estes deverão ser os atributos da postura adotada pelo investigador criminal como
sustentação de suas atitudes diante da situação problema em seu dia-a-dia profissional.

Atributos fundamentais

Ser pró-ativo é a característica de sempre sair na frente dos acontecimentos. Sempre se


antecipar. Não esperar, por exemplo, pelo resultado do laudo pericial para elaborar e executar o
plano de investigação.
Ser flexível. A investigação é um processo complexo que envolve diferentes profissionais e
diferentes contextos. A flexibilidade permite a sinergia positiva necessária no grupo para o êxito do
procedimento.
Estar propenso a mudanças. Sabendo que a investigação é um projeto sujeito vários fatores
de risco que poderão ocorrer durante a execução, o investigador terá que ter uma postura que
possibilite aceitar e adotar mudanças de estratégias.
Ter sentido de oportunidade. Decorre de um dos princípios básicos da investigação. O
investigador dever ter a percepção do contexto para conhecer e saber como quando agir.
Ser aberto à inovação e à criatividade. Modelos antigos e desgastados devem ceder lugar aos
novos e atualizados. O investigador deve estar atento e aberto a novos conhecimentos, novas
estratégias e ferramentas que facilitem, agilizem e tornem eficaz a investigação. Deve construir
novas habilidades que otimizem seu serviço.
Ter atitude de suspeição. O investigador não deve tomar nada como definitivo.
Sempre suspeitar que por trás da informação colhida há outra para ser analisada. Só assim
terá motivação para dinamizar a investigação com novas hipóteses.
Ter versatilidade. Ser capaz de se adequar às diferentes possibilidades de investigação.
Ser amistoso. A capacidade de relação amiga oferece possibilidades de contatos e
colaboração. Inclui-se também a cortesia.
Ser curioso. O desejo de saber, de buscar informações é a natureza básica da investigação.
Ser observador. O uso dos sentidos tem papel fundamental na ação do investigador. A
capacidade de observação reflexiva é fundamental na formulação de hipóteses.
Ter bom senso. Na avaliação das informações colhidas, é preciso saber discernir entre o
verdadeiro e o falso, para evitar abusos e injustiças.
Ser cauteloso. A precaução evita conclusões precipitadas, baseadas apenas em suposições.
Ter paciência. O processo de investigação tem data de começo, mas o final depende de uma
série de fatores, que poderão até ser previsíveis, mas, muitas vezes, incontroláveis pelo investigador.
Ter persistência. É uma conseqüência da paciência. Fator importante na busca de provas.
Naturalmente que não se trata de uma relação que esgote as atitudes necessárias do
investigador nem poderia ser, pois, estando relacionadas com o saber profissional, sua construção
está vinculada também ao conhecimento adquirido.

Módulo 7 - A interdisciplinaridade da investigação criminal

Aula 1 - Uma abordagem sistêmica da investigação

Para compreender e construir o processo de investigar como uma ferramenta capaz de


produzir informações que formatem a prova da prática de um delito é preciso percebê-lo e tratá-lo
como parte de um todo.
O que isso significa?
A investigação criminal está inserida em um contexto onde várias partes interagem
provocando uma sinergia para a construção do processo de aplicação da pena.
A investigação é executada por vários atores com conhecimentos, noções, procedimentos e
competências de outras disciplinas, que se completam para a explicação de um determinado
problema.
Nas práticas investigativas de medicina legal, de perícia criminal ou de informações
testemunhais, está um complexo de saberes diversos voltados para o estudo uma determinada
conduta tida como delito penal. O processo da investigação portanto, configurado a partir de um
conjunto de saberes diversos que, de forma organizada, interagem para, juntos, construírem a
representação de uma conduta criminosa.

O que lembra esse processo?


Diz a teoria dos sistemas que um sistema pode ser visto como um todo organizado ou
complexo; uma combinação de coisas ou partes, formando um todo complexo ou unitário. Ou
ainda, um sistema é um conjunto de partes coordenadas para realizar determinadas finalidades.
Como essa teoria repercute no processo da investigação criminal?
Cada um dos atores do processo – delegado, agentes, peritos e outros eventualmente
incluídos formam esse conjunto de elementos organizados que interagem na produção de um único
conhecimento.
De nada adianta a impressão digital colhida na cena do crime sem que esteja contextualizada
com os demais elementos para qduee s deera ixpee nas uma evidência. O conhecimento da
papiloscopia terá que interagir com os demais para que possa transformar aquele fragmento em
representação da situação investigada, ou seja, em prova.
A investigação criminal é um sistema aberto em permanente interação com o ambiente, com
o qual troca energia, matéria e informação. Esse é um processo necessário para que o sistema se
mantenha organizado internamente e evolua.
Como todo sistema, investigação não é uma simples soma ou agregado de elementos, mas
um todo coerente e indivisível. Nesse contexto cada elemento tem seu papel e valor. Muito embora
cada um formate sua representação com base nos critérios e normas próprias da disciplina de seu
domínio, há uma inter-relação desses diferentes campos do conhecimento para explicar o mesmo
objeto de estudo.
Sendo um sistema, a estabilidade e a funcionalidade da investigação se sustentam no
cumprimento das regras sistêmicas e no empenho e motivação de seus membros.
A principal regra sistêmica é a que estabelece a necessidade de compreensão existência de
diferentes pontos de vista, que interagem para explicar o que é visto. O sucesso da investigação
depende da visão sistêmica do investigador.
Esses pontos de vista são formados pelos saberes diversos operados pelos atores da
investigação, em ações interdisciplinares.

Aula 2 - Abordagem interdisciplinar da investigação criminal

A abordagem sistêmica da investigação criminal remete às teorias “da vista de um ponto” e


“de um ponto à vista”.
O que dizem essas teorias?
Cordeiro e Silva (2005) fazem clara abordagem sobre o tema de forma aplicável ao processo
da investigação. A reflexão é ilustrada com o desenho de um ponto branco em um fundo escuro.
Primeiro sugere que você diga do que se trata. Depois, que faça a mesma pergunta para várias
pessoas. O resultado serão respostas diferentes, para a mesma pergunta.
Por quê? Porque, afirmam os autores, “a imagem que você vê não é um ponto vista, mas a
vista de um ponto, o que comprova que existem diferentes pontos de vista para explicar o que
vemos”.
A descrição do fato em si, feita no boletim de ocorrência, não oferece uma resposta exata
sobre o tipo de delito que fora praticado. Para consolidar essa percepção, os mesmos autores
remetem à seguinte reflexão:
A compreensão de realidade exige o conhecimento de diversas formas de leitura que podem
ser convergentes, divergentes, concorrentes e excludentes para a explicação da mesma realidade.
(Cordeiro e Silva, 2005, p. 23)
Na prática, a aplicação dessas teorias resulta na criação de uma teia de informações
envolvendo todos os profissionais da investigação, cada um com sua parcela de responsabilidade
autonomia intelectual, dialogando e contextualizando as diferentes percepções de uma determinada
realidade.
As disciplinas que interferem na construção da realidade possibilitam o conhecimentog lobal
das circunstânciaqs ue envolvema prática do delito.
Entretanto só é possível o processo se houver diálogo entre elas.
Muito embora existam diversas formas de leitura da realidade investigada, elas,
necessariamente, terão que ser convergentes, sob pena de que não possam explicála na sua
integralidade.
A interdisciplinaridade é um novo modelo adotado pela educação moderna, mas deslocado
para a gestão do conhecimento nas administrações pública e privada.

Aula 3 – Interdisciplinaridade

O que é interdisciplinaridade e como pode ser aplicada à investigação criminal?


Segundo Cordeiro e Silva (2005), a interdisciplinaridade "é uma dimensão metodológica –
modo de trabalhar conhecimento.”
Para Weil, citado por Cordeiro e Silva, interdisciplinaridade é: A conseqüência de uma visão
integradora do universo e do conhecimento humano, que tende a reunir em conjuntos cada vez mais
abrangentes o que foi dissociado pela mente humana. A interdisciplinaridade trata da síntese ou
correlação de duas ou várias disciplinas, instaurando um novo nível de discurso caracterizado por
uma nova linguagem descritiva e novas relações estruturais. (Cordeiro e Silva, 2005, 31)
Veja o que diz Piaget, citado por Dencker: A interdisciplinaridade é uma inter-relação
orgânica dos conceitos das diferentes disciplinasa té o ponto de constituiru ma nova unidade
formada com as proposições de cada uma das disciplinas particulares. Isso compreende um
processo de integração interna e conceitual que rompe a estrutura de cada disciplina para construir
um conjunto axiomático novo e comum a todas elas, com a finalidade de dar visão unitária de um
setor do saber. (Piaget apud DENCKER, 2007 p. 41)
A interdisciplinaridade busca integrar os conhecimentos pelos seus pontos comuns para
propiciar uma visão ampla e integral da realidade que é observada.
No processo de busca da prova há a participação de diferentes atores com visões de diversos
campos do conhecimento, não há dúvida de que a investigação criminal terá que ter uma abordagem
metodológica que favoreça a inter-relação dessas disciplinas.
A realidade analisada é o fenômeno do crime. Os conhecimentos diversos são operados
pelos peritos e por investigadores cartorários. Cada um analisa parte do crime. Como cada análise é
feita do mesmo fato, há similaridades nos resultados, que se complementarão dando visão unitária
da investigação.
A interdisciplinaridade na investigação criminal deve ser estimulada já no planejamento do
processo. O plano operacional deverá estabelecer uma metodologia que possibilite e valorize a
relação e inter-relação dos diversos profissionais que, embora tenham o ponto de vista de seu campo
disciplinar, devem perceber, aceitar e colaborar com a integralidade da investigação.
Saiba mais...
Ainda segundo referência de Denker (2007), para o educador Piaget, o conjunto de
conhecimentos científicos configura uma totalidade, porque a realidade analisada em cada ciência é
isomórfica, fazendo com que as análises realizadas em campos campo ajudem a esclarecer outro.

Aula 4 - Como superar a fragmentação da investigação criminal

Você pôde perceber que a produção da prova não é linear, mas uma rede complexa de
saberes que interagem e se complementam. Esse processo é incompatível com a fragmentaçãot
radicionalmentee ncontrada na apuração da prova. Aqui, fragmentação é concebida como
dissociação, falta de diálogo e falta de unidade sistêmica dos conhecimentos.
No processo de investigação, participam personagens, como o delegado, que coordenaa
investigação; o investigador de polícia (agente/inspetor) ; o perito criminal, o legista, o
papiloscopista e o escrivão e, muitas vezes, com o apoio policial militar e/ou do bombeiro militar
e/ou guarda municipal.
Cada um tem sua competência funcional legal e regimental, exercendo papel importante no
processo. São visões voltadas para o mesmo objeto de estudo, mas tendo como referencial o
conteúdo de seu campo disciplinar. E para que esses conhecimentos possam interagir e produzir um
corpo de prova que explique o fato é preciso que os profissionais dialoguem entre si formando uma
rede de conteúdos.
Saiba mais...
Para Cordeiro e Silva (2005), romper com a fragmentação do conhecimento não significa
excluir a sua unidade, mas sim articulá-lad e forma diferenciada, possibilitando o diálogo entre os
diferentes campos do conhecimento e a contextualização desses conteúdos frente ao processo
investigatório.

Metodologias de interação

Para que haja diálogo entre os investigadores terão que ser adotados alguns procedimentos
metodológicos que concebam técnicas para romper os filtros que impedem a conexão entre eles.
A investigação criminal é uma realidade que só pode ser entendida com uma abordagem
interdisciplinar.
Para superar a fragmentação da investigação criminal deverão ser adotados métodos que
possibilitem a colaboração e a troca de informações entre os atores do processo, com protocolos que
possibilitem: Não deixar dúvida quanto à coordenação técnica única da investigação; Criar
interfaces de relacionamento recíproco entre os atores da investigação; Coordenação técnico-
processual; e Estimular a decisão grupal.

Módulo 8 - Valorização da prova

Aula 1 - Aspectos conceituais, objetivos e princípios

Toda busca da investigação criminal está voltada para a prova na verificação hipóteses
formuladas quanto ao fato investigado. Segundo Noronha( 1983), "provar é fornecer no processo, o
conhecimento de qualquer fato, adquirindo para si e gerando em outro a convicção da substância ou
verdade do mesmo fato”.
Para outro processualista, Tourinho Filho (2003, p. 476), “provar é, antes de mais nada,
estabelecer a existência da verdade”. Para Malatesta ([s.d.], p. 19), “a prova é o meio objetivo pelo
qual o espírito humano se apodera da verdade”.

O que é a verdade?
Depois de profunda análise sobre o processo mental de apoderação da verdade, Malatesta
([s.d.], p. 21) diz que a verdade é, em geral, a conformidade da noção ideológica com a realidade.
O citado autor, filósofo jurista da virada do século XIX para o século XX, aplica ideologia
no sentido de pensamentos teóricos desenvolvidos a partir de fatos sociais. Segundo ele, a verdade
buscada na investigação dos delitos, adequando a uma linguagem atual, seria a conformidade dos
referenciais teóricos do investigador com a realidade retratada pela ordenação lógica dos vestígios
colhidos pela investigação.

Objeto da prova

objeto da prova é o convencimento do julgador. Mas, se objeto for considerado como aquilo
que deve ser provado, o objeto da prova são todos os fatos (Circunstâncias ou coisas de natureza
diversa, como lugares, pessoas, coisas, documentos, etc.) decorrentes do problema objeto da
investigação.
Não há uma hierarquia entre as provas. O valor da prova é determinado pela harmonia com
as demais, portanto não há método de investigação mais importante que o outro. A investigação
técnico-científica e a cartorária se complementam.
É como um jogo de quebra-cabeça onde cada peça da prova terá que ser devidamente
encaixada entre as demais, completando o todo. Isso significa que o depoimento de uma testemunha
que narra uma circunstância deverá se adequar ao vestígio deixado como prova do fato descrito. Daí
a importância da interação entre os investigadores, conforme visto no módulo que aborda a
interdisciplinaridade da investigação criminal.
Esse entendimento decorre da aplicação dos seguintes princípios: Do livre convencimento
motivado (nos crimes comuns). Da íntima convicção (no júri).

Aula 2 - Classificação das provas

Doutrinariamente, as classificações mais comuns e compreensíveis de provas, são as


seguintes:

Provas objetivas (materiais)


São aquelas representadas por vestígios produzidos ou decorrentes da conduta tida como infração
penal. São aquelas constatáveis materialmente por meio de exame pericial.
EXEMPLOS: As provas representadas pelos laudos dos exames de lesões corporais, exames de
armas, drogas, substâncias orgânicas, etc.

Provas subjetivas (informativas)


São aquelas representadas por depoimentos de testemunhas, autor e vítimas.
EXEMPLOS: Termos de declarações, de interrogatórios, de reconhecimento, etc.

Provas complementares
São aquelas r epresentadas por elementos ou dados auxiliares que, em geral, reforçam, confirmam
as demais provas.
EXEMPLOS: A identificação criminal, a folha de antecedentes, relatórios sobre a vida do indiciado,
a reprodução simulada do fato, etc.

Provas Indiciárias (circunstanciais)


“Considera-se indício a circunstância conhecida e provada, que, tendo relação com o fato, autorize,
por indução, concluir-sea existênciad e outra ou outras circunstâncias.” (Artigo 239, do CPP)
EXEMPLO: A circunstância de que alguém foi visto, junto ao corpo da vítima de homicídio, logo
depois de ouvidos os estampidos, segurando a arma utilizada para efetuar os disparos que causaram
sua morte.
A prova deverá explicar as circunstâncias e a autoria do delito, para que o juiz determine a
culpa ou inocência e aplique ou não, a pena no autor.
Ocorre que aplicar a pena não é tarefa simples, pois requer metodologia que possibilite sua
adequação à medida certa da culpa do infrator. Ninguém pode pagar além do que deve. Nesse
contexto estão envolvidos preceitos constitucionais que dão garantia ao exercício pleno da
cidadania e à subsistência do processo democrático.
A Constituição Federal estabelece a regra geral da aplicação da pena com o princípio da
individualização da pena. Diz o texto constitucional (art. 5º):
[...] XLVI - A lei regulará a individualização da pena (...).
Ao fixar a pena, o juiz obedece a critérios que o obrigam a limitá-la à conformidade da necessidade
e da suficiência para reprovação e prevenção do crime, de acordo com o Código Penal.
Código Penal
[...] Art. 59 - O juiz, atendendo à culpabilidade, aos antecedentes, à conduta social, à personalidade
do agente, aos motivos, às circunstâncias e conseqüências do crime, bem como ao comportamento
da vítima, estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para reprovação e prevenção do
crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie pena, se cabível.
Novamente a Carta Política Brasileira impõe princípio para a coleta da prova. Diz a Constituição
Federal:
[...] LVI - São inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos.
Veja que o valor político dado à prova como elemento de convicção do juiz, dentro do
contexto de aplicação da pena na medida certa, é fator de séria reflexão para o investigador da prova
criminal.
A sistemática de aplicação da pena leva o juiz a considerações reais sobre simplesmente, ele
não lhes dar o devido valor.
EXEMPLOS:O s antecedentes ociais do autor que, muitas vezes, nem são investigados. Nesse rol
entram as relações com os vizinhos, com o grupo social (clubes, bares, etc.) e com o grupo
profissional. Essas são provas complementares que devem ser investigadas pela polícia.
Outro exemplo de costumeiro descuido da investigação é quanto às conseqüências da prática
delituosa. O efeito dessa na vida familiar, social e profissional da vitima.
Todas essas informações são fatores que contribuem para a dosimetria da pena pelo juiz.

Aula 3 - Valorização da prova

Valorizar a prova é ter cuidado objetivo com o conhecimento produzido para que ele possa
ser valorado pelo juiz no momento de confirmá-la como explicação verdade. Os cuidados objetivos
não são privilégios apenas da prova material. A prova subjetiva também poderá receber esses
cuidados que se traduzem na atenção que é dada às testemunhas e vítimas, antes, durante e depois
de seus depoimentos.
Elas são depositárias de um conhecimento de prova que precisa ser preservado da mesma
forma que o objeto que contém um vestígio. A mesma preocupação com a inviolabilidade da prova
material terá que se manifestar quanto ao testemunho.
O cuidado com a qualidade da prova reflete o necessário respeito aos direitos garantias
fundamentais do cidadão no Estado Democrático de Direito. Reflete respeito à dignidade das
pessoas. Será visto na técnica de entrevista que a busca da informação que se encontra na memória
das pessoas é um processo delicado que exige cuidados especiais do investigador.
Guarda e custódia de vestígios

Os cuidados que estão dentro de maior possibilidade de controle da polícia são os referentes
à prova material, ou seja, aos vestígios encontrados na cena do crime.
Na cena do crime o investigador poderá encontrar os mais variados vestígios, como sangue,
espermas, urina, fragmentos de pele, armas, documentos, impressões papiloscópicas, etc., que
servirão de informação para a construção da prova. Nesse meio, há substâncias com tempo de
permanência restrito que precisam de acondicionamentos e manejos especiais. Esse tempo depende
de fatores como suporte e o meio onde se encontra, além da natureza da própria substância.
O acondicionamento correto dos vestígios possibilita a construção adequada e lógica da
prova, pois garante a execução de contraprovas e a complementação de investigações periciais.
Evita também que os vestígios se percam ao longo do processo de investigação e de
julgamento dificultando a validação da prova pelo juiz. A guarda adequada de todos os vestígios
recolhidos pela investigação criminal possibilita a elaboração do histórico e da preservação da
cadeia de custódia de cada vestígio.

Aula 4 - Cadeia de evidências

O cuidado com as provas se reflete na ordem lógica dada a toda investigação. A investigação
criminal é um processo científico que parte de um problema, formulando hipóteses, coletando dados
que, analisados e interpretados, poderão confirmar ou não a afirmação feita. Há um raciocínio
ordenado que precisa ser preservado, sem a quebra de qualquer um dos seus elos.
A leitura do inquérito deverá mostrar que a investigação tem um começo, meio fim, e que os
passos do mesmo estão concatenados, segundo leciona Mingardi (2005, p. 75).
Os investigadores precisam cuidar para que a cadeia de evidências seja mantida intacta.
Mingardi (2005) ainda diz: qualquer que seja a prova, material, testemunhal ou uma
confissão, os responsáveis pela investigação têm de poder demonstrar que:
A prova foi colhida de forma lícita; e A prova surgiu da investigação, não apareceu do nada.
Cadeia de evidências é a seqüência ordenada e lógica da rede de informações colhidas na
investigação, de modo a demonstrar que são frutos de ato investigativo lícito e têm validade como
prova das circunstâncias e autoria do delito.
Para Mingardi (2005. p. 76), a construção da cadeia de evidências deve mostrar:
Que houve o crime;
Como foi praticado;
Que o acusado tinha motivos para cometê-lo;
Que ele era detentor dos meios para cometê-lo; e
Que ele teve a oportunidade para cometê-lo.

Essa rede terá sustentação nas provas colhidas cuja licitude será demonstrada cadeia de
custódia.
Os arquivos dos tribunais estão cheios de casos em que a polícia desenvolve todo o processo
de investigação, enchendo o inquérito com informações tidas como prova da verdade do fato e o
resultado é a absolvição do acusado, não por falta de provas, mas por dúvidas na legitimidade de
sua coleta.
Lamentavelmente as nossas academias não desenvolvem com eficácia a técnica de estudos
de casos tendo como objeto essas investigações.
Uma análise histórica dos casos que pautaram as colunas policiais dos jornais mostrará
algumas dezenas deles.
Aproveitando a ilustração didática do professor Mingardi (2005), num trabalho pesquisa já
referido, leia na página seguinte um caso notório no mundo todo que ilustra bem a necessidade dos
cuidados com a cadeia de evidências na investigação criminal.
Nos Estados Unidos, o mais conhecido exemplo é o do ex-jogador de futebol americano O.
J. Simpson, acusado de ter matado a ex-mulher e um rapaz a facadas.
Nesse caso, a polícia encontrou uma cena de crime completa: sangue, peças vestuário,
pegadas e uma trilha de sangue que revelava o caminho seguido pelo criminoso.
Seguindo essas pistas, os policiais chegaram à casa de O. J. Simpson, onde encontraram:
manchas de sangue no carro, nas suas meias e no chão do jardim. O exame de DNA confirmou que
era das vítimas.
A estratégia dos advogados de defesa foi simples: contestaram as provas materiais,
afirmando terem sido plantadas, mal coletadas, etc. Nisso foram ajudados pela imprensa, com
imagens de policiais manipulando evidências sem trocar as luvas, ou seja, contaminando as provas.
Além disso, a cena do crime não tinha sido bem isolada, havia muitas pessoas no local.
Resultado: absolvição.
É evidente que se ele fosse um “João Ninguém” teria sido condenado, mas isso não altera o
fato que a promotoria perdeu o caso porque não conseguiu estabelecer uma sólida cadeia de
evidências.

A importância da cadeia de evidências

O exemplo do ex-jogador de futebol americano O. J. Simpson é muito utilizado nas


academias de polícia dos EUA ou da Inglaterra, para demonstrar a necessidade de manter intacta a
cadeia de evidências. Mingardi (2005, pp. 74 e 75) Muito embora haja alguma diferença entre o
sistema judicial americano e o brasileiro, a lógica de valoração da prova pelo juiz é a mesma:
demonstração verdade pela prova e licitude na coleta.
O investigador terá que considerar a investigação pelas perspectivas da acusação e da
defesa. Só assim terá a possibilidade de verificar se há alguma falha que comprometer a
credibilidade das informações colhidas.
Ao dar a investigação por encerrada, ainda deverá fazer-se a seguinte pergunta: como
advogado de defesa, o que eu faria para desacreditar todas as informações colhidas como prova
desse crime?

Investigação criminal 2

Módulo 1 – Planejamento da investigação criminal

Aula 1 – Planejamento

A prática criminosa exige, cada vez mais, um grau de resposta eficiente e eficaz do Estado.
As novas tecnologias trazem grandes benefícios para a humanidade, mas, em contrapartida,
oferecem maiores possibilidades à instrumentalização do crime.
O resultado é a sofisticação das práticas delituosas exigindo maior esforço das organizações
de segurança pública na busca de conhecimentos que melhorem sua efetividade. Dentre eles está o
conhecimento que possibilite melhora na qualidade do planejamento das ações.
Imagine que você deseja comprar um carro novo, viajar para a Europa ou organizar a festa
de casamento de sua filha. Com certeza, sua intenção é de que tudo dê certo, mas, para que isso
ocorra, é preciso fazer um cuidadoso planejamento.

O que é planejamento?
Parta do seguinte raciocínio: a compra do carro, a viagem para a Europa e a festa de
casamento de sua filha não acontecerão apenas porque você quer. Seu querer é importante, porém,
não resolve por si só. Precisa de outro fator, a construção metódica desse querer.
Para realizar uma festa, é preciso escolher a data, a hora e o local onde será realizada, bem
como levantar os custos, contratar o bufê, escolher a igreja, definir o local da festa e tantas outras
atividades.
Fazer uma festa que irá durar por algumas horas requer cuidados especiais, imagine uma
investigação criminal que poderá levar anos.
Já é possível ter uma idéia do que é o planejamento?
Veja alguns conceitos:
- Planejar é conhecer e entender o contexto; é saber o que se quer e como atingir os objetivos; é
saber como se prevenir; é calcular os riscos e buscar minimizá-los; é preparar-se taticamente; é
ousar as metas propostas e superar-se de maneira contínua e constante. Planejar não é só vislumbrar
o futuro, é também uma forma de assegurar a sobrevivência e a continuidade dos negócios. Isso
ocorre à medida que se formalizam programas e procedimentos que capacitam os profissionais a
atuarem de modo consciente e conseqüente, face às eventualidades que se apresentam no cotidiano
das organizações. (CHIAVENATO & SAPIRO, 2004)
- Para Zimmermann (Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos),
planejar é “tornar claro aonde se quer chegar, tomar as decisões e escolher as ações que acreditamos
que possam nos levar ao objetivo desejado”.
E o filósofo romano Sêneca também nos leva a refletir sobre o planejar quando afirma: “Se
você não sabe para onde vai, todos os ventos parecerão desfavoráveis”.
Isso não é uma verdade? Antes de qualquer tomada de decisão, a atitude mais conveniente
não é estabelecer um rumo, um objetivo, um ponto de chegada?
O planejar é um processo que envolve um modo de pensar que nos leva a indagações, e
essas nos conduzem a questionamentos sobre o que fazer, como fazer, quanto fazer, para quem
fazer, por que, por quem e onde fazer.
Contextualizando a investigação com esses raciocínios, é possível afirmar que o exercício
do planejamento tende a reduzir as incertezas que destroem o processo decisório da investigação,
provocando aumento da probabilidade de se alcançar às metas estabelecidas, na busca das
explicações para o fenômeno objeto da pesquisa.
Planejamento
- O que fazer?
- Como fazer?
- Quando fazer?
- Quanto fazer?
- Para quem fazer?
- Por que
- Por quem?
- Onde fazer?
Variáveis a serem consideradas
Por ser o planejamento um processo contínuo de pensamento sobre o futuro, ele deverá ser
objeto de constante reavaliação de curso e de ações alternativas a serem tomadas, visto que estará
submetido a fatores diversos que o influenciarão, como: falta de recursos, greves, morte de
testemunhas, fuga do suspeito, etc., ou seja, não basta planejar, terá que haver um acompanhamento
permanente das ações, reavaliando as estratégias, num processo decisório constante, considerando
um contexto ambiental interdependente e mutável.
Esses fatores que interferem no planejamento são chamados de variáveis e decorrem da
pressão ambiental que afeta a investigação, resultantes de forças externas e internas.
- As forças externas estão em contínua alteração com diferentes níveis de intensidade de influência,
decorrem de fatores fora do contexto da investigação e sua modificação não está ao alcance do
investigador.
Exemplos: Decisão judicial mandando suspender uma diligência; evolução tecnológica
possibilitando novos métodos para a investigação; uma nova lei que descriminaliza uma conduta.
- As forças internas resultam de fatores integrantes da instituição e estão dentro da possibilidade de
serem modificadas.
Exemplos: Escassez de recursos humanos e falta de recursos financeiros.
Princípios do planejamento
Alguns princípios operacionais dão o norte do planejamento. Dentre os gerais são
ressaltados:
- Princípio da precedência
Significa que o planejamento deve ser a função administrativa que vem antes das outras, na
busca da resolução dos problemas. Em resposta ao “como vai ser feito”, o planejamento assume o
início do processo.
- Princípio da maior penetração e abrangência
Consiste no fato da atividade de planejamento provocar uma série de modificações nas
características do sistema, com envolvimento da conduta das pessoas e atividades na absorção de
novas tecnologias.
- Princípio da maior eficiência, eficácia e efetividade
Consiste em que o planejamento deve procurar maximizar os resultados e minimizar as
deficiências.
Para Oliveira (2007), tais princípios têm os seguintes significados:
- Eficiência
Fazer as coisas da maneira adequada; resolver problemas; cuidar dos recursos aplicados;
cumprir o dever e reduzir custos.
- Eficácia
Fazer as coisas certas; produzir alternativas criativas; maximizar a utilização dos recursos;
obter resultados e aumentar o lucro.
- Efetividade
Manter-se sustentável no ambiente; apresentar resultados globais ao longo do tempo;
coordenar esforços e energias sistematicamente.

Aula 2 – Tipos e planejamento

O planejamento divide-se em três níveis:


- Planejamento estratégico
Diz respeito à formulação de objetivos de longo prazo e à seleção dos recursos de ação a
serem seguidos. Trata das políticas para alcançar a missão institucional. Seu reflexo imediato
alcança toda instituição. Normalmente é de responsabilidade dos níveis mais altos da hierarquia
administrativa.
Exemplo
O plano plurianual da Secretaria de Segurança Pública de redução dos crimes violentos no
estado.
- Planejamento tático
Relaciona-se aos objetivos de mais curto prazo, com estratégias e ações que, geralmente,
afetam só parte da instituição. É como se fosse a decomposição dos objetivos, das estratégias e
políticas estabelecidas no planejamento estratégico e é desenvolvido pelos níveis organizacionais
intermediários.
Exemplo
O plano da Polícia Civil estabelecendo estratégias para enfrentamento ao crime de roubo a
banco no estado, durante seis meses.
- Planejamento operacional
É a formalização, via de regra, por meio de documentos escritos, da metodologia de
desenvolvimento e de implantação estabelecida. Nesse nível estão os planos de ação ou os planos
operacionais.
Exemplo
O plano operacional da delegacia especializada na apuração de roubos a bancos, detalhando
a prática operacional do enfrentamento aos roubos a banco.
Plano operacional
Por uma questão metodológica do curso, será abordado com maior ênfase, o planejamento
operacional da investigação criminal. Para compreender o plano operacional da investigação, é
preciso colocá-lo dentro de um contexto.
Você percebeu que o plano está contido em um processo que é o planejamento. Esse
processo é parte de outro maior que é o projeto.
O que é um projeto?
Projeto é um empreendimento não repetitivo, caracterizado por uma seqüência lógica de
eventos, com início, meio e fim, que se destina a atingir um objetivo claro e definido, sendo
conduzido por pessoas dentro de parâmetros pré-definidos de tempo, custo, recursos envolvidos e
qualidade. (PMBOK, 2000. Slide curso Gerenciamento de Projetos) Segundo Zimmermann
(Apostila eletrônica do curso Elaboração e Gerenciamento de Projetos), “projeto é um conjunto de
atividades inter-relacionadas e direcionadas à obtenção de um ou mais produtos (bens ou serviços)
únicos, com tempo e custos definidos.”
Na investigação criminal, pode-se dizer que o empreendimento ou conjunto de atividades é
o inquérito policial cujo destino é a apuração da prova de um determinado delito.
No planejamento, o plano operacional é a ferramenta utilizada para organizar as ações,
detalhando prazos, responsabilidades, custos, os subprodutos a serem obtidos, como será
acompanhado e os instrumentos necessários para tal.
A investigação não comporta improvisos, descuidos que afetem a qualidade e efetividade do
resultado.
Os delitos que hoje mais afligem as comunidades são produzidos “em larga escala” por
verdadeiras “organizações”. O sucesso das polícias no combate a esses delitos passa pela sua
capacidade de também se organizar e se antecipar às mudanças e adaptações dos criminosos aos
novos ambientes.
Como conseguir isso? → Planejando suas ações de forma criteriosa e lógica.
Charles Darwin dizia que as espécies vivas que sobrevivem não são as mais fortes e nem as
mais inteligentes, são aquelas que conseguem adaptar-se e ajustar-se às demandas do meio
ambiente.
Esse é o segredo para a investigação criminal conseguir resultados satisfatórios. Ser
organizada e planejada, suficientemente, para conseguir ajustar-se e adaptar-se às demandas de uma
sociedade acossada pelo crime organizado.

Aula 3 – Como elaborar um plano operacional da investigação criminal

O plano operacional da investigação é um documento onde serão descritos os objetivos da


investigação e os passos necessários para que esses objetivos sejam alcançados.
O plano permitirá a diminuição dos riscos, incertezas, a identificação e restrição dos erros,
antes que ocorram na prática.
Para elaborar um plano operacional da investigação, você poderá utilizar algumas
ferramentas que possibilitam a colocação ordenada das metas e estratégias para alcançá-las.

Plano de ação da investigação (5W 1H)


1. O QUÊ? WHAT?
Ação a ser desenvolvida: Descrever a investigação a ser apurada, definindo cada ação a ser
executada.
2. QUEM? WHO?
Executores: Nomear os executores e o coordenador.
3. POR QUÊ? WHY?
Justificativa: Descrever as razões. Enumerar os objetivos.
4. QUANDO? WHEN?
Período de execução: Descrever durante quanto tempo será executada a investigação. Como
não há uma previsão de tempo para se concluir uma investigação, colocar o prazo do inquérito
policial.
5. ONDE? WHERE?
Local da coordenação: Indicar o local de onde será feita a gestão das atividades.
6. COMO? HOW?
Técnicas: Descrever as técnicas a serem aplicadas para cada ação.
No plano operacional, o nível da informação é detalhado, analítico, contemplando
pormenores
específicos de uma ação. Diz respeito ao detalhamento, no nível de operação, das ações e
atividades necessárias para atingir os objetivos e metas fixadas no plano estratégico da
investigação. O plano estratégico da investigação está no CPP e nas normas complementares.

Módulo 2 – Coleta de dados e informações na investigação criminal

Aula 1 – Coleta de dados


Concluída a primeira fase da investigação – o planejamento, o investigador parte para a
coleta de dados e informações. É a fase que busca obter informações sobre a realidade específica,
ou seja, as circunstâncias em que ocorreu o delito e quem o teria praticado.
São diversas maneiras e ferramentas para operá-la: a entrevista, a análise de vestígios, a
interceptação telefônica, a interceptação ambiental, a análise de imagens e a análise de sinais.
A formulação da ferramenta de coleta é feita em função do fenômeno investigado e das
variáveis necessárias para sua explicação.
Todos os dados e informações levantados terão que ter relação com o fato em apuração para
que possam ser validados como prova.
Há diferença entre dados e informação? Qual é a utilidade prática desses conceitos para a
investigação criminal? E conhecimento, você sabe o que é?
Atividade
Fazendo uso dos conhecimentos adquiridos até aqui, tente conceituar dado, informação e
conhecimento e compare com o texto seguinte. Utilize o caderno de anotações para guardar sua
resposta.
Para SANTIAGO Jr, dados podem ser considerados: “Uma seqüência de números e
palavras, sob nenhum contexto específico. Entretanto, quando os dados são organizados com a
devida contextualização, há a informação. Já o conhecimento é a informação organizada, com o
entendimento de seu significado.” (SANTIAGO Jr., 2004, p. 27)
Dados – São informações fora de um contexto, sem valor suficiente para compreensão de
um fenômeno, ou seja, o meio pelo qual a informação e o conhecimento são transferidos.
Exemplos: Datas, local, hora do crime, perfil da vitima, um fragmento de impressão digitado, um
respingo de sangue, etc.
Fora de um contexto histórico e geográfico específicos, esses registros não têm compreensão
suficiente para explicar o fato em apuração.
Informação – São dados organizados, manipulados e tratados dentro de um contexto,
contendo algum significado como explicação do fato em apuração.
Exemplos: A notícia de que alguém foi visto, pouco antes do crime, saindo da casa onde foi
encontrado o cadáver da vítima. A significação dada às gotículas de sangue encontradas na cena do
crime como indicativas de que a vítima teria sido conduzida para aquele ambiente já ferida ou de
que o autor teria saído da cena do crime com alguma lesão.
E conhecimento, o que é?
Conhecimento é a informação organizada, contextualizada e com o entendimento de todos
seus significados. É resultado da interpretação da informação e de sua aplicação em algum fim,
especificamente para gerar novas hipóteses, resolver problemas ou tomar decisões.
Exemplo: A pessoa que foi vista saindo da casa onde foi encontrado o cadáver da vítima era seu ex-
marido, que, enciumado, deu-lhe dois tiros no peito e depois fugiu para Madri levando as duas
filhas menores.
Metodologia da investigação criminal
Muito embora não se possa dizer que o objetivo do investigador criminal seja idêntico ao do
cientista puro, não há dúvida de que sua abordagem e técnica para investigação dos problemas
ilustram, claramente, o método da ciência, conforme visto na unidade que trata da lógica aplicada a
esse procedimento policial.
A investigação criminal, tal como a pesquisa cientifica, é um processo de construção de
conhecimentos sobre fatos que integram a sociedade e repercutem no mundo jurídico.
O procedimento sistemático da investigação é orientado por regras que são a base do método
científico aplicado. O método científico consiste em uma série de procedimentos realizados pelo
investigador, o qual, da mesma forma que o cientista puro, se empenha para reduzir a possibilidade
de erro.
Até o juiz validar as provas apuradas, ao prolatar a sentença, o investigador trabalha com
possibilidades de que tenha apurado as circunstâncias e autoria do delito. Se assim não fosse, estaria
contrariando o principio constitucional da presunção da inocência previsto no artigo 5º, inciso LVII,
da Constituição Federal que diz: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de
sentença penal condenatória.”
Produção do conhecimento
A produção do conhecimento probatório de um delito é desenvolvida por meio de
metodologia própria.
Veja alguns conceitos para melhor compreensão:
- Metodologia é a maneira concreta de realizar a busca de conhecimento. Engloba tudo o que é feito
para adquirir as informações desejadas, de maneira racional e eficiente.
- Método é a forma ordenada de proceder ao longo de um caminho. O conjunto de processos ou
fases empregadas na investigação, na busca de conhecimento. Ele pode ser um processo intelectual
e operacional.
- Técnica é a prática, o como fazer a investigação.
O método da investigação é adequado ao contexto em que ela se encontra. Para aquisição do
conhecimento na investigação criminal, você pode observar a realidade ou a interpretar os fatos de
diferentes maneiras.

Aula 2 – Escolha da técnica de investigação

Adequando a orientação de Denker (2007, p. 160), você pode dizer que a escolha da técnica
de investigação deve ser adotada com a seguinte metodologia:
- A técnica que será empregada em cada investigação dependerá do problema que está sendo
investigado, dos objetivos e da disponibilidade de recursos para realização do projeto.
- As técnicas não se excluem; poderão ser empregadas em uma mesma investigação metodologias e
técnicas diversas, conforme a variável que está sendo analisada e a fase do projeto em que se
encontra.
- É recomendável iniciar a investigação por um estudo exploratório, para tomar conhecimento da
situação, o que possibilitará ao investigador decidir quais serão os métodos necessários às fases
posteriores.
Técnicas preliminares de investigação
Diante de um fato, o investigador precisa executar um processo preliminar de observações e
reflexões para poder formular as primeiras hipóteses sobre a natureza do problema que lhe é
apresentado (se é crime e que tipo), o autor (quem teria interesse, meios e oportunidade para
praticá-lo) e as circunstâncias em que possa ter ocorrido (quando, onde e como aconteceu).
Para isso terá que recorrer a algumas técnicas preliminares que estão em um contexto chamado de
estudo exploratório.
Estudo exploratório é um estudo de diagnóstico desenvolvido para análise de “onde se está”
e “como se está”. Visa um maior conhecimento do fenômeno apresentado e não necessita de uma
hipótese. Envolve levantamento de dados das circunstâncias e do ambiente onde ocorreu o evento.
São estudos preliminares para demonstrar a realidade existente, a partir de uma observação
sistêmica para configuração do diagnóstico do fato que é colocado para investigação.
Referencial do estudo exploratório
O estudo exploratório utiliza os dados de:
- Fontes secundárias: “Referem-se ao material conhecido e organizado segundo um esquema
determinado.” (DENKER, 2007, p. 156) São informações que não têm relação direta com o caso,
mas dizem do caso ou do ambiente onde ele aconteceu.
Exemplos: Publicações de jornais, reportagens de TV, mapas, catálogos telefônicos, bases de dados
e bancos de dados.
- Estudo de caso: É uma forma de colocar o investigador diante de uma situação prática, onde irá
refletir e praticar conceitos e técnicas. O caso é um problema vivido pela organização que exige
uma análise ou decisão. Aplicado ao estudo exploratório para o plano de investigação, será a análise
de uma situação investigada anteriormente, similar ao fato objeto do planejamento atual. É a
oportunidade de aprendizagem com os erros e acertos já praticados.
Esse tema será tratado em unidade própria.
Exemplo: Um crime ocorrido e apurado, cujas características são as mesmas do que está sendo
apurado.
- Observação informal:
É o método de coleta preliminar de informações necessárias às primeiras hipóteses e ao
plano inicial. É aplicada por meio do reconhecimento.
Exemplo: Antes de iniciar a investigação de um possível latrocínio ocorrido em uma região de
comércio no centro da cidade, o investigador se desloca à cena para colher as primeiras
informações, registrar suas impressões iniciais e, com isso, elaborar seu plano operacional.
Levantamento de meios e modos
O estudo exploratório também serve para levantamento dos meios e modos aplicados pelo
infrator na prática do delito, o que é chamado de “modus operandi” (modo de fazer).
Os meios dizem respeito à técnica aplicada. Os instrumentos utilizados do planejamento ao
exaurimento da conduta delituosa. Eles poderão ser documentos, armas, equipamentos de
comunicação, etc.
Meios = técnicas aplicadas
Os modos dizem respeito à metodologia do crime. O criminoso observou a conduta diária da
vítima? Fez uma abordagem velada? Utilizou métodos de simulação, etc.?
Modos = metodologia do crime
O reconhecimento é uma técnica de observação visual direta ou por meios eletrônicos, que
requer memorização e descrição dos dados observados. É uma atividade preliminar de investigação
que também ocorre durante o estudo exploratório. Busca as primeiras informações sobre as
atividades do investigado, as características ambientais e geográficas de um determinado sítio.
É uma técnica que busca a coleta dados sobre o ambiente operacional e o alvo específico.
Oferece parâmetros para a percepção do grau de risco do procedimento investigatório.
Grau de risco - É o grau de relevância do reflexo das possíveis ameaças, sobre a
investigação criminal. O risco é caracterizado pela probabilidade de uma ocorrência, multiplicada
pelo impacto que ela terá sobre a investigação.
A análise dos riscos deve ser feita durante a elaboração do planejamento da investigação,
definindo todos os cuidados que deverão ser adotados para os planos se concretizem.
Dependendo do grau de dificuldade da investigação, poderão ser identificados os tipos de
controles que deverão ser implementados a curto, médio de longo prazo. (Fonte: PORTO, Gilberto.
Riscos sob Controle. Correio Braziliense, Brasília, 8 de junho de 2008. Trabalho & Formação
Profissional, p. 2.)
O reconhecimento poderá ser aplicado na fase que antecede o planejamento de outras
modalidades de investigação, como a campana e a infiltração.
- Reconhecimento é o ato pelo qual o agente examina atentamente as pessoas e o ambiente, através
da correta utilização dos sentidos, olhando com atenção todos os aspectos e circunstâncias, e o
maior número possível de dados, para posteriormente condensá-los em relatórios (croquis)”.
(SILVA & FERRO & SILVA, p. 32)
Reconhecimento
O reconhecimento descreve a localização exata do alvo, endereço completo com mapas,
fotos, desenhos e pontos de referência; características do alvo com uma descrição generalizada da
área urbana, (mapas da cidade, favela, região industrial, comercial residencial, etc.); descrição
específica de dimensões, tipo de construção, atividades desenvolvidas; usuários e freqüentadores do
ambiente, instalações; vias de acesso e fuga, segurança, cobertura; meios de transportes, itinerários,
horários, dias da semana; locais de estacionamento, sentidos, entradas e saídas; condições
climáticas; postos de observação, fixação de bases de vigilância, etc. (SILVA & FERRO & SILVA,
p. 32)
O reconhecimento elabora um retrato fiel do ambiente onde será desenvolvido o
procedimento policial. É uma visão antecipada do cenário da investigação. Ajudará a formulação
das hipóteses preliminares do fenômeno investigado.
Dependendo do grau de risco tanto para a eficácia da investigação quanto para integridade
física do investigador, do investigado e demais pessoas que possam vir a ser envolvidas, o
reconhecimento poderá ser ostensivo ou velado, com ou sem meios de disfarce do observador.
O reconhecimento é fundamental para o desenvolvimento de um planejamento eficaz e para
a reavaliação dos planos operacionais.

Aula 3 – Técnicas básicas de investigação criminal

A técnica é o como fazer a investigação. Estabelecido o objetivo da investigação, vem a


escolha da técnica a ser adotada.
A técnica é a investigação em concreto. Portanto, escolher o meio correto de investigação é
fundamental para sua eficácia. A escolha depende da natureza do crime e das informações a serem
colhidas. Como em toda atividade profissional, é preciso seu total domínio pelo investigador.
É importante também lembrar que uma técnica não elimina a possibilidade do uso de outra.
Numa investigação, poderão ser aplicadas várias técnicas.
Neste curso, serão analisadas algumas técnicas que são elementares em toda investigação
criminal.
As técnicas de investigação criminal têm como elementos básicos: a observação, a
memorização e a descrição.
Observação
Os instrumentos primários da investigação são os sentidos do investigador. A intensidade
sensorial tem relação direta com o resultado da investigação. Quanto maior sua capacidade de
percepção global do ambiente, maior será a probabilidade de compreender e encontrar a explicação
correta para o delito.
Investigar é observar a realidade. Grande parte das informações que o investigador procura
poderá ser obtida pela observação direta dos fatos. Muitas dessas informações estão codificadas e
precisam de uma leitura cuidadosa.
Exemplo: Anúncios em jornais poderão conter códigos de comunicação entre membros de uma
quadrilha que pratica tráfico de seres humanos.
A cena do evento é sempre rica de informações que dependem de criteriosa observação para
serem vistas.
Questões básicas na observação
Seja qual for o propósito da investigação, o investigador deverá responder quatro questões,
segundo Denker (2007, p. 127):
- O que deve ser observado
Um documento? Uma pessoa ou grupo de pessoas? Um ambiente? Um vestígio? Um fato? O plano
deverá fazer constar a natureza do alvo observado e a finalidade da observação, ou seja, que tipo de
evidência você pretende encontrar no ambiente, pessoa ou objeto observado que possa estabelecer
uma relação entre ele (ou outra pessoa) e o fenômeno investigado.
- Como registrar as informações
Diz respeito à ferramenta que irá ser utilizada para registro das informações que o investigador
pretende encontrar. A tecnologia de hoje é rica em equipamentos para esse fim e isso terá que ser
previsto nos recursos necessários, para que não haja o risco do investigador deixar de registrar o
dado ou a informação observada.
- Que processos devem ser adotados para garantir a exatidão.
O investigador deverá indicar no plano quais são os procedimentos que poderão garantir a
confiabilidade dos dados coletados.
Denker(2007) cita os seguintes exemplos de processos para verificação da confiabilidade
dos dados:
Permanência prolongada no campo de observação. Quanto mais tempo demore a observação
e quanto maior for o número de detalhes registrados, maiores serão as possibilidades de verificação
da confiabilidade das informações colhidas; O questionamento por pares. Pedir a colaboração de
outros investigadores envolvidos na análise dos dados; A triangulação, ou seja, investigar um
mesmo ponto mais de uma maneira; e A análise de outras hipóteses. O investigador deverá analisar
outras possíveis hipóteses para o caso e cruzá-las com a que está sendo verificada.
- Que relação deve existir entre o observador e o observado.
Esse processo é fundamental, principalmente nas técnicas de entrevista e infiltração, onde o
observador interage diretamente com o observado. Esse critério poderá evitar erros que ponham em
risco a investigação e o próprio investigador.
Observar na investigação envolve o pensar reflexivo, a capacidade de sentir e ver problemas
e respostas por mais obscuras que estejam.
Memorização
A memorização é o primeiro processo adotado para o registro das informações colhidas ou
dados observados, durante a investigação criminal.
O desempenho da memória é a chave para o sucesso da observação, bem como para a
qualidade da atividade profissional do investigador.
A memória é que nos define como indivíduos. Ela permite que você administre sua vida
pessoal e profissional. Ela não é um simples banco de dados; influencia seu modo de ver a vida, de
reagir diante dos fatos.
Uma memória ativa e poderosa é a base da nossa qualidade mental global. Entretanto, a
memória poderá falhar temporariamente devido ao estresse, cansaço ou trauma, afetando as
atividades da pessoa.
As faculdades da memória são responsabilidades da parte do cérebro chamado de córtex. As
informações sensoriais são enviadas, a todo o momento, ao córtex, e o recebimento dessas
informações é coordenado pela parte do cérebro chamada de hipocampo que as organiza em
memórias.
Há entre o córtex e o hipocampo uma rede de circuitos programados para formar a
associações entre diferentes informações sensórias sobre o mesmo objeto, evento ou
comportamento.
Muito embora o cérebro seja inundado de informações pelos sentidos, nem todas elas são
vitais para a nossa sobrevivência, por isso o processo de filtragem feito pelo hipocampo, guardando
aquilo que precisará ser relembrado no futuro. É o processo de associações multissensoriais do
cérebro que irá permitir que você lembre das informações armazenadas.
Exemplo: Quando você encontra uma pessoa, seu cérebro liga um nome a algumas informações
sensoriais como a aparência, o timbre de voz, e o faz lembrar do nome vinculado àquelas
informações.
Importância para a investigação
A investigação é fundamentalmente a coleta de dados e informações e, dependendo da
técnica aplicada, o suporte de registro inicial será apenas a memória do investigador.
Você verá que algumas técnicas, como a infiltração, exigirão do investigador a plena
capacidade de memorizar informações de forma segura para que possa ser revista depois.
Durante o processo de observação, quanto maior for a rede sensorial do investigador, mais
segura será a retenção dessas informações para acesso futuro, ou seja, quanto maior for o número de
sentidos que você utilize para registrar informações sobre um objeto, pessoa ou evento, maior será a
possibilidade de registrá-las e lembrá-las prontamente.
Exemplo: Ao conhecer uma pessoa, se você usar apenas a visão, terá menor possibilidade de
relembrar seu nome. Entretanto, se você ao conhecer uma pessoa, usar todos os sentidos, ao tentar
lembrar seu nome irá ter mais informações associativas, como uma calvície, a aspereza da pele da
mão, forte cheiro de cigarro, voz macia, etc.
O processo associativo é fortalecido pela capacidade de utilização de todos os nossos
sentidos na coleta de dados e de informações, facilitando sua consolidação.
Pesquisas científicas demonstram que a utilização dos sentidos é um processo que precisa
ser estimulado diariamente sob pena de que seja reduzido gradativamente.
Melhoria da memória
O potencial de memória tem relação direta com a capacidade de coleta de dados pelo
investigador.
Melhorar esse potencial trará benefícios incalculáveis para a qualidade das informações
buscadas na investigação. O primeiro efeito é o aumento na confiança do investigador nas suas
habilidades profissionais ao conseguir lembrar de informações de forma rápida e correta.
Outro efeito da melhora da memória é a eficiência no desempenho da investigação,
principalmente economizando tempo na busca de anotações para lembrar de informações, muitas
vezes, vitais na resolução de problemas e tomadas de decisões.
O importante é que sua memória pode ser treinada com técnicas que a ensinarão a fazer o
que você decidir.

Descrição
Depois de observar os dados e informações, vem a necessidade de registrá-los para que
possam ser analisados e validados como confirmação da hipótese levantada.
Descrever é expor, narrar de forma circunstanciada pela palavra escrita ou falada tudo o que
foi observado pelo investigador.
No sistema jurídico brasileiro, onde o inquérito policial é uma peça escrita, a investigação
resulta em relatos escritos, que tanto poderão ser uma informação do investigador cartorário como
um laudo do perito ou do legista, ou termos e autos.
O investigador irá descrever em sua informação, ambientes, circunstâncias, objetos, pessoas
e suas próprias conclusões a respeito da hipótese levantada.
Descrição de pessoas
Você já tentou descrever uma pessoa depois de observá-la?
Fazer a descrição de pessoas não é tão simples como parece. Requer metodologia própria
que possibilite ao encarregado da análise a reunião coerente e organizada das observações, num
processo de verificação de sua confiabilidade como resposta ao problema.
A descrição terá que ter dados suficientes para confirmar ou não a hipótese levantada, por
exemplo, sobre o suspeito de autoria. Nesse caso deverá responder a pergunta: a pessoa observada e
registrada tem as características do suspeito descrito pela testemunha?
Técnica de descrição de pessoas
O melhor na descrição das pessoas consiste em começá-la pela cabeça, seguindo-se para os
membros inferiores até os pés, de forma detalhada.
Na descrição geral das pessoas devem ser observados fatores, como: a raça, o sexo, a idade
aparente se não for possível a informação correta, a estatura, o peso (aparente), a compleição, a cor
e o tipo do cabelo e dos olhos, a cor da pele, a presença ou ausência de bigodes, barba, a condição
dentária, cicatrizes e marcas, uso de óculos e peculiaridades físicas, tipo, cor e aspecto da roupa, etc.
Nem sempre é possível obter-se a completa descrição da pessoa suspeita, mas, mesmo a
descrição parcial pode ser de valor inestimável, principalmente quando submetida à análise
comparativa com outros dados.
Descrição física geral e particular de pessoas
- Nome (nomes usados, vulgo);
- Sexo, raça, cor, nacionalidade;
- Idade (aparente pelo menos);
- Estatura (presumível, comparando-a com a própria ou de outra pessoa);
- Peso (presumível);
- Compleição física (gordo, magro, esguio, forte, encurvado, ombros caídos, obeso, estômago
proeminente, etc.);
- Marcas e cicatrizes (naturais, produzidas ou tatuagens);
- Modo de falar (forte, suave, rouco, grosso, fino, lento, rápido, gagueira, sotaques, gírias);
- Modo de andar (coxeando, etc.);
- Defeitos físicos; e
- Tipos de cabeça, sobrancelhas, nariz, boca, dentes, bigode, orelhas, barba, pescoço, ombros,
tórax, braços e mãos.
Descrição da indumentária
- Camisa: cor, material, modelo;
- Gravata: cor, material, modelo; e
- Calça, paletó, cintos, sapatos, luvas, jóias, óculos, etc.
Numa descrição de pessoas devem ser registrados os dados imutáveis. A descrição deve ser
honesta, realista, sem influências pessoais ou preconceituosas. Devem ser particularizadas, pois as
descrições genéricas pouco servem para a investigação.
Observe no indivíduo, não o que de comum possa existir, mas o que de particular apresenta,
isso permitirá uma identificação mais segura.

Aula 4 – Coleta de dados por meio de informantes


A coleta de dados por meio do informante é uma busca de informações para norteio da
investigação. É uma observação intermediária de suporte, baseada em fonte secundária.
O informante não é uma testemunha do evento. É alguém que tem informações
complementares à investigação.
Poderá ser a pessoa que conhece as características físicas do suspeito de autoria do crime,
ou, ainda, a pessoa que exerce alguma atividade que, pela natureza e ambiente onde ocorre, tem
informações importantes para o norteio da investigação. Exemplo: O barbeiro de confiança do
suspeito que escute suas confidências.
Informante é a pessoa que, não pertencendo à polícia, colabora com o investigador, criando
facilidades ou fornecendo informações negadas para a verificação da prova.
O informante poderá ser recrutado de forma induzida ou voluntária. Seu recrutamento
deverá ocorrer entre pessoas que têm ou tiveram algum potencial relacionamento com a pessoa,
dado ou ambiente de quem se quer informação.
O informante é um elemento desconhecido no processo da investigação. Seu papel é
fornecer dados preliminares ao investigador, o auxiliando na leitura do caso, para que possa
formular as hipóteses preliminares.
Exemplos: Alguém que conhece o suspeito e sabe que em sua terra natal já cometeu crimes
idênticos; ou que ouviu dizer quem seria o autor do crime; ou que conhece uma circunstância
idêntica a descrita por testemunhas, como um veículo com as mesmas características do que fora
utilizado pelo autor.
O informante complementa ou confirma as informações colhidas por outros meios. Muitas
vezes é quem anuncia, em primeira mão, informações explicativas ou aponta a melhor pista a
seguir.

Fatores de motivação do informante


Os motivos que podem levar alguém a prestar uma informação ao investigador, vão desde a
simples vontade de colaborar, passando pela consciência do seu papel de cidadão, até a vingança.
Esses motivos deverão ser conhecidos e avaliados. A avaliação é facilitada pela verificação
da pertinência da informação oferecida. Significa analisar sua vinculação com o contexto da
investigação e se é efetivamente essencial.
Os motivos que levam alguém a informar são variados. Dentre eles:
- Medo;
- Vingança;
- Vaidade;
- Desejo de reparação - legalista/justiça;
- Mercantilismo – contrapartida; e
- Altruísmo – amor ao próximo – abnegação.
Utilização do informante e da informação
Deverão ser adotados critérios objetivos para a utilização do informante. A instituição
policial adotará um protocolo de recrutamento e utilização do informante e da informação
produzida.
Deverá definir critérios de análise, gestão e aplicação da informação.
A informação será verificada antes que seja aplicada, quanto a credibilidade e potencialidade
da fonte. Esse processo evita que o investigador seja levado para rumos que só interessam ao
informante.
REFLITA... Considere a possibilidade de que a motivação do informante seja a vingança.
Isso poderá levá-lo a executar uma busca planejada por um condômino que, não gostando do
sindico, se sentirá recompensado com a situação vexatória a que ele será submetido com a ação
policial em seu apartamento, pela suspeita de pedofilia, por exemplo.
A informação não avaliada quanto a pertinência, poderá contaminar todo um processo de
investigação, tirando sua credibilidade”.
Critérios de utilização do informante
Alguns critérios serão adotados na utilização do informante para que a sua participação
tenha eficácia. São eles:
- Como fonte imediata no levantamento de informações e, ainda, como fonte mediata, suprindo as
dificuldades da polícia no acesso a dados ou informações;
- Não conferir atribuições policiais ao informante;
- Não dar informações aos informantes, mas deles colher todas as informações possíveis;
- Não se promiscuir o investigador, com o informante;
- Tratá-lo com respeito;
- Manter, sempre que possível, o sigilo da identidade e da imagem do informante; e
- Sempre confrontar as suas informações com outras existentes, buscando avaliar o nível de
fidedignidade do informante e da idoneidade da informação.
O informante é o olho avançado da investigação. É a consolidação do preceito constitucional
do artigo 144, caput, da Constituição Federal, quando diz que a segurança pública é dever do
Estado, direito, mas, também, responsabilidade do cidadão.

Aula 5 – Coleta de dados por meio da campana

A campana ou vigilância é outra modalidade técnica da investigação criminal. Muitas vezes


o investigador terá que permanecer por horas ou dias observando pessoas, ambientes, objetos ou
circunstâncias, para colher dados importantes para a produção de informações na investigação
criminal.
A vigilância poderá ser de pessoas procuradas pela justiça, criminosos em atuação, e até de
testemunhas e vitimas que precisam ser encontradas.
- Campana – É a observação contínua e discreta de pessoas, ambientes, objetos ou circunstâncias,
com o objetivo de obter dados que formulem informações relacionadas com a prova do delito.
KASALES citado por SILVA & FERRO & SILVA (Apostila de Planejamento Estratégico, Tático e
Operacional), define o termo vigilância como: “A sistemática observação e registro de um espaço
aéreo, locais, pessoas, lugares, coisas, por meios visuais, auditivos, eletrônicos, fotográficos e
filmagens.”
Tipos de campana
Na campana, a observação deverá ser sistemática e contínua, pois qualquer lacuna poderá
comprometê-la ou até inutilizá-la por completo.
A campana poderá ser móvel ou fixa.
- Campana móvel – É aquela em que o investigador segue a pessoa observada em seu
deslocamento, a pé ou em veículo.
Exemplo: Observação de pessoa que se desloca por vários pontos da cidade, durante o planejamento
e execução de um delito.
- Campana fixa – É aquela em que a observação é feita de um ponto fixo, do qual o investigador
não se desloca.
Exemplo: Observação da janela de um apartamento, do movimento de um ponto de tráfico de
drogas.

Planificação da campana
Foi visto a importância do planejamento na investigação criminal. Sem ele, é pouco
provável que se atinja seu objetivo de forma eficaz. Ele evita improvisações, desperdícios de tempo
e recurso.
O plano de operação é a materialização das metas propostas e de como executá-las. Cada
diligência deverá ter seu plano, por mais simples que seja.
O investigador não deve se lançar despreparado à campana, sem um plano. Imprevistos
poderão ocorrer pondo em risco não só a investigação, mas sua própria segurança.

Aula 6 – Coleta de dados por meio da infiltração

Há momentos em que os dados que o investigador precisa para construção da prova estão
em ambientes fora de seu alcance em situações normais. Entretanto, é importante que ele colha
esses dados pessoalmente.
Como operacionalizar esse procedimento?
Com a técnica de infiltração. O ato é realmente de penetração e permanência em um
ambiente.
A infiltração consiste na penetração velada e dissimulada em ambientes onde são planejadas
ou executadas atividades delituosas, para a coleta de dados que possam explicar as circunstâncias e
autoria desses delitos.
Essa é a modalidade de investigação de maior risco para o investigador. Daí a necessidade
de um planejamento sério que diminua esse risco e aumente a garantia de sucesso.
O plano operacional para execução da infiltração, além de cuidar das necessidades comuns,
como definir os tipos de dados que deverão ser coletados, recursos, procedimentos a serem
adotados, requer outros cuidados específicos.
O plano obedecerá às normas impostas nas Leis n° 9.034/95 (Repressão ao crime
organizado) e n° 11.343/2006 (Repressão ao tráfico ilícito de drogas), conforme visto na primeira
fase deste curso.
Fase final
O plano de ação também deverá prever os procedimentos a serem adotados pelo infiltrado
na fase final da diligência. Nessa fase, ele já terá as informações que procurava, em muitos casos, a
confirmação da prática do delito ou a identificação e paradeiro de pessoas e coisas, quando então
poderá haver uma ação policial de repressão.
Nos contatos com a base de gestão da diligência, o infiltrado passa circunstâncias que
propiciarão um plano para a fase final. Serão respondidas questões como: Quando deverá ocorrer a
prisão do infrator observado? Quando e como deverá ocorrer o resgate do infiltrado?
Contudo, como regra geral, não deverá o infiltrado agir sozinho no desfecho da diligência,
executando, por exemplo, prisões.
Qualquer que seja a forma do desfecho da diligência terá que haver extremo cuidado com a
retirada do investigador infiltrado.

Aula 7 – Coleta de dados por meio da entrevista


A entrevista é outra técnica aplicada na busca de dados para apuração do delito. Seu objetivo
é obter informações sobre o fato objeto da investigação, por meio de testemunhos.
Consiste numa lista de indagações em que o investigador procura colher as informações
necessárias para formulação ou confirmação de uma hipótese. O conhecimento produzido por meio
da entrevista é a referência de um relato verbal e de sinais não-verbais do entrevistado sobre o fato
vivenciado por ele.
Pela entrevista, o investigador capta a realidade de um evento pela visão do entrevistado. É
ferramenta fundamental na coleta de informações na tentativa de responder as questões básicas da
investigação: Quem? O que? Quando? Onde? Por quê? Como? Sua característica principal é a
informalidade. É aplicada, em regra, para ouvir testemunhas, vítimas e suspeitos. Poderá ser
utilizada, também, como auxiliar de outra técnica de investigação, como infiltração, campana e
informante.
No sistema processual brasileiro, a entrevista aplicada à investigação criminal poderá ter
caráter de estudo exploratório que antecede o planejamento de uma atividade operacional como a
busca e apreensão, a campana, etc.
O investigador deverá estar seguro dos objetivos da entrevista, para garantir a obtenção de
informações relevantes e reveladoras. Para isso terá que se preparar elaborando um plano de ação.
Para DENKER (2007, p.165), “entrevista é uma comunicação verbal entre duas ou mais pessoas,
com grau de estruturação previamente definido, cuja finalidade é a obtenção de informações de
pesquisa”.
Entrevista é uma situação de comunicação, antes de tudo vocal, num grupo de duas ou mais
pessoas, mais ou menos voluntariamente reunidas, num relacionamento progressivo, entrevistador e
respondente, com o propósito de elucidar fatos inerentes à situação investigada, de cuja revelação o
perito espera tirar certo benefício. (CERQUEIRA, p. 56)
Os dois conceitos relatam a característica principal da entrevista: a interação entre pessoas.
Uma tem o dado, outra busca esse dado. É um jogo de troca de informações.

Aula 10 – Métodos de investigação preliminar


A investigação criminal ocorre em dois momentos:
- Investigação preliminar
Este é o primeiro momento, que acontece, depois da notícia, quando a autoridade policial se
desloca para o cenário do crime buscando seu isolamento e preservação para a busca da prova.
- Investigação de segmento
O segundo momento acontece quando esgotadas todas as possibilidades de busca de
informações na cena, a investigação se desloca para o cartório da unidade encarregada do
procedimento e para os laboratórios periciais.
Esta aula abordará a investigação preliminar. A investigação na cena do crime
Embora toda investigação seja importante para a apuração do delito, o cenário do crime é
extremamente relevante e, se bem cuidado, é nele que o investigador encontrará dados
fundamentais para a produção da prova e compreensão do problema.
A cena do evento é, quase sempre, o ponto de partida da investigação. A Criteriosa e
sistemática análise no local do crime é parte de extrema relevância na busca da prova.
Algumas evidências na cena são latentes e precisam ser colhidas com ajuda de
equipamentos específicos. Outras são visíveis a olho nu. Todas precisam ser devidamente
preservadas para a coleta em seu estado natural. Há evidências fugazes e precisam de cuidados
especiais, sob pena de que se percam com a ação do tempo ou de manipulação inadequada. Poderão
ser removidas e destruídas com a indevida movimentação de pessoas.
Exemplo: Pequenas gotas de sangue, saliva e esperma.
O Código de Processo Penal determina a imediata proteção da cena do crime. Especialistas
no assunto divergem a respeito do tempo em que as provas começam a desaparecer. Varia entre 24 e
72 horas esse tempo e depende de fatores, como nível de proteção (isolamento) do ambiente e
condições climáticas.
Segundo MINGARDI, uma pesquisa conduzida pela Rand Corporation 21 coloca a questão
da seguinte forma:
A grande maioria das soluções de casos ocorre, graças ao trabalho dos policiais de patrulha,
a quem se devia a identificação do criminoso no local do crime ou a procedimentos policiais de
rotina. (MINGARDI, 2006, p. 37).
A cena do delito é o ambiente de maior evidência da interdisciplinaridade da investigação
criminal. Nele estão, lado a lado, conhecimentos diversos operados pelos investigadores cartorários
e técnico-científicos (legistas, peritos criminais e papiloscopista), além dos profissionais de outras
funções, como: bombeiros militares, policiais militares, guardas municipais, agentes de trânsito,
agentes penitenciários e outros eventualmente convocados.
Veja citação de SPINDULA sobre o comentário feito pelo perito da Scottdale Police Crime
Lab, Dwayne S. Hildebrand a respeito dos vestígios deixados pelo autor no local de crime, e reflita
sobre a importância da cena do crime para a investigação, visto a riqueza de informações sobre o
delito, das quais é “fiel depositário”. Citação de SPINDULA Onde quer que ele (autor) ande, o que
quer que ele toque ou deixe, até mesmo inconscientemente, servirá como testemunho silencioso
contra ele. Não impressões papilares e de calçados somente, mas, seus cabelos, as fibras das suas
roupas, os vidros que ele quebre, as marcas de ferramentas que ele produza, o sangue ou sêmen que
ele deposite. Todos esses e outros transformam-se em testemunhas contra ele. Isto porque
evidências físicas não estarão equivocadas, não perjuram contra si mesma. (SPINDULA, p. 6) Para
que o investigador compreenda o valor das informações que irá encontrar no local de crime, é
preciso que se intere de alguns conceitos que irão levá-lo a refletir sobre o tema.
Para isolar e preservar a cena do delito é preciso definir o espaço a ser considerado como tal.
Por isso, o conceito espacial do local de crime deve ser compreendido numa leitura que vá além das
fronteiras do espaço físico onde estejam as evidências ou o próprio corpo do delito (cadáver, vítima
de lesões, documentos, armas, etc).
Para formulação do conceito deve ser considerado todo o processo que envolve a ação do
criminoso na prática do delito, ou seja, o caminho do crime, que vai da cogitação ao exaurimento da
conduta.
Exemplo
O crime de homicídio deve ser investigado desde o momento em que houve a decisão de
cometê-lo, passando pelo planejamento, execução, até a consumação. Cada um desses momentos
poderá ter ocorrido em um ambiente específico, deixando vestígios que contribuirão para a
produção da prova.
Um só crime poderá ter tido uma seqüência, com etapas praticadas em vários locais e esses
deverão ser conhecidos, preservados e examinados.
Local de crime
Local de crime é o espaço físico onde tenha ocorrido um delito ou onde se encontre qualquer
vestígio relacionado com a preparação, execução ou consumação desse delito.
Para melhor compreensão prática classifica-se o local de crime:
Quanto ao estado de preservação:
- Idôneo – Aquele que se encontra intacto, tal como foi deixado pelo autor do delito. Sem alterações
do seu estado.
- Inidôneo – Aquele cujas características originais foram alteradas. Não se encontra mais como fora
deixado pelo infrator. É um local violado.
A violação tanto pode ser feita pelo autor, para dificultar sua identificação, como por outras
pessoas que, inadvertidamente, ali ingressam para socorrer a vítima ou por simples curiosidade. Ou,
ainda, pelo agente que tomou as primeiras providências para delimitação e preservação do local.
Quanto ao espaço físico:
- Imediato – É o local propriamente dito. Aquele onde ocorreu a execução do delito.
- Mediato – É o espaço físico constituído pelas adjacências do local imediato, onde existam
vestígios do delito.
- Relacionado – É o local que, mesmo separado fisicamente dos locais imediato e mediato, está a
eles conectado por vestígios do delito. Onde tenha ocorrido uma das seqüências da prática do delito.
A diferença entre os locais mediato e relacionado é que o local mediato está fisicamente
ligado ou nas proximidades do local imediato, enquanto o relacionado não.
Isolamento e preservação do local de crime
O isolamento e a preservação são medidas essenciais que antecedem a coleta de dados
deixados na cena do crime. São procedimentos fundamentais para o sucesso da investigação no
ambiente em que ocorreu o delito.
O isolamento é a primeira providência a ser adotada pela polícia ao tomar conhecimento do
delito. Isolar é, no sentido literal do termo, separar de qualquer contato com pessoas e coisas que
não estejam relacionadas com ele ou com a investigação. Portanto, dele não poderão ser retirados
ou alterados quaisquer vestígios antes da investigação (exame) pericial. Da mesma forma, nele não
poderão ser inseridos quaisquer outros dados que alterem os vestígios do delito. Essas medidas
evitarão que o ambiente seja adulterado e possibilite erros na interpretação dos dados ali observados
e colhidos.
A chegada rápida na cena do crime é condição principal para proteção das evidências antes
que sejam destruídas, alteradas ou perdidas.
Para isolamento da cena do crime, tudo deverá ser considerado possível vestígio. A
confirmação disso ficará por conta do perito. Essa medida tem como objetivo evitar que no
reconhecimento do espaço a ser considerado e isolado como local de crime, provas materiais
importantes para a apuração do crime fiquem de fora do exame pericial.
O isolamento possibilita a proteção da zona de investigação técnico-científica do local de
crime, da ação de pessoas e qualquer outra ação alheia ao processo.

Preservação do local de crime


A coleta dos vestígios deixados no local de crime requer sua preservação tal como foram
deixados pela conduta do criminoso.
A delimitação e o isolamento são as fases preliminares da preservação. Sem esse processo é
muito difícil ou impossível executar a preservação, pois essa é a conseqüência das fases anteriores.
Preservar o local do crime é garantir a inviolabilidade e a permanência das informações ali
deixadas.
A preservação diz respeito, também, à prova testemunhal. Ela deverá ser identificada e
preservada para prestar as primeiras informações sobre o que sabe do delito.
A eficácia da preservação do ambiente do delito tem relação direta com a eficácia da
investigação. Muitos dos fracassos na coleta de provas têm origem no descuido com o local de
crime.

Aula 11 – Investigação no local de crime


O exame pericial é a principal investigação no local de crime, atribuição exclusiva do perito.
O local deverá ser preparado com o isolamento e preservação, garantias da necessária autonomia
desse investigador na coleta dos vestígios.
Antes do exame pericial, o investigador cartorário não pode interferir nas provas materiais.
Não pode tocar, examinar, recolher ou alterar a posição de qualquer dado.
Geralmente, o executor do reconhecimento, delimitação e preservação do local é o policial
de operação de rua. Não sendo dele a competência para iniciar a investigação cartorária, sua
conduta deverá se limitar àquele processo. Mas, isso não o impede de identificar e colher as
primeiras informações de possíveis testemunhas, vítimas ou suspeito, que deverão ser repassadas à
equipe de investigação do caso.
Ainda que haja limites de atuação do investigador cartorário nesse ambiente, eles são
específicos no que diz respeito à coleta de prova material.
Levantamento das primeiras hipóteses
Os limites impostos ao investigador cartorário na cena do crime não o impedem de
acompanhar a investigação do perito, de forma cuidadosa com a preservação, observando, colhendo
e repassando informações ao investigador técnico-científico, formulando suas primeiras hipóteses.
A busca sistemática de informações no cenário do delito deve ser um trabalho de equipe,
cada um fazendo sua parte, sem interferir na autonomia do outro, mas colaborando com a troca de
informações.
O investigador cartorário poderá sair da cena do crime com a hipótese definitiva. As
observações cuidadosas desse ambiente poderão permitir a descrição do “modus operandi ” ( modo
de praticar o crime ) e do perfil do autor. Cada vestígio ali deixado está carregado de informações
sobre os fatos ocorridos e sobre as pessoas envolvidas. Cabe ao investigador decifrá-los.
Os dados colhidos na cena do crime contribuirão para o planejamento da investigação como
um todo e para os planos operacionais, em especial as entrevistas.
Esse processo só será possível se houver interação entre as duas modalidades de
investigação (cartorária e técnico-científica). Não há qualquer fundamento técnico-científicolegal
que justifique o distanciamento dos dois investigadores na cena do crime e em nenhum outro
momento da investigação.
Reavaliação das zonas de controle
Antes do perito entrar na zona de investigação técnico-científica, ele deve participar de
“briefing” com o coordenador da investigação, os investigadores cartorários e o agente que
delimitou as zonas de investigação.
O “briefing” tem o objetivo de inteirar o perito das informações colhidas até ali, indicação
dos limites das zonas de investigação e segurança e reavaliação, se necessário, dos limites dessas
zonas.
Ao final, haverá um “debriefing” para troca de novas informações que subsidiarão as
estratégias para a investigação de segmento que se desenvolverá dali em diante.
Não pode haver, nesses contatos, qualquer interferência na necessária autonomia técnica dos
investigadores.
Investigação cartorária no local de crime
Mesmo havendo uma autoria conhecida, ela poderá ser, inicialmente, só uma hipótese que
precise ser verificada pela investigação. A verificação pode levar o policial à prisão do infrator, se
for o caso.
Os métodos que podem ser adotados para a prisão do infrator são:
- Abordagem e coleta de testemunhos no local de crime;
- Processo de abordagem de pessoas no local de crime; e
- Processo de Identificação do autor.

Investigação pericial no local de crime


A investigação mais efetiva na cena do crime diz respeito à coleta de provas materiais.
Esse processo, que é desenvolvido, em regra, pelo perito criminal e pelo papiloscopista,
depende da colaboração dos demais investigadores, especialmente na delimitação do ambiente onde
se encontram os vestígios.
Identificadas as informações deixadas na cena do crime, o investigador pericial as recolhe
para análise, interpretação e validação como elemento de prova. Essa coleta pode ocorrer por vários
meios:
- Fotografias,
- Filmagens,
- Desenhos e
- Técnicas de remoção.

Liberação da cena do crime Segundo Geberth (1997, p. 25), citado por MINGARDI (2006,
p. 55), “esse é um momento crítico, pois as autoridades devem tentar manter a cena do crime sob
seu controle durante o maior tempo possível, o que possibilita a coleta de mais dados à medida que
as informações ficam disponíveis.”
Com essa preocupação são importantes as recomendações do citado pesquisador: Para ele
(Geberth) existe uma regra que ajuda a determinar quando liberar a cena: não liberar a cena até
terminar a coleta de evidências, a pesquisa, todas as entrevistas com testemunhas ou interrogatórios
com suspeitos.
Antes de sair da cena é recomendado observá-la da perspectiva da defesa e ter certeza de
que não deixou passar nada de relevante. (MINGARDI, 2006, p. 55)
A liberação do local é atribuição da autoridade policial coordenadora da investigação.
A experiência tem demonstrado que algumas vezes, principalmente quando a delimitação da
zona da cena não é feita com o devido cuidado, após a saída do perito, são identificados outros
vestígios em ambiente fora do perímetro de investigação técnico-científica. Essa possibilidade é
mais factível quando a cena do crime está localizada em campo aberto.
Exemplo: Numa ocorrência de homicídio, o cadáver da vítima foi encontrado abandonado em uma
área de cerrado em adiantado estado de mumificação. Havia várias partes de ossos e vestes
espalhadas por uma grande área. Feitas as verificações e coletas, o local foi liberado pela equipe da
investigação preliminar. No dia seguinte, assumindo o caso, a equipe da investigação de segmento
retornou ao local e, reavaliando detalhadamente a cena, encontrou novos vestígios que não tinham
sido identificados pelos investigadores do local.
Cuidados para a liberação
É recomendável que antes de liberar a cena, se repita todo o processo feito para o
isolamento, principalmente, se for num ambiente muito extenso.
Havendo dúvidas quanto à existência ou não de vestígios que não foram recolhidos, o
ambiente deverá continuar isolado para reexame, se for ocaso. Essa possibilidade é mais provável
em ambientes escuros e amplos ou com muitos compartimentos ou, ainda, em ambientes abertos
sob chuva. Nesses casos deverão ser montadas estratégias com uso de equipamentos que facilitem a
visibilidade dos vestígios.

Qualquer estratégia deverá ser em comum acordo com a equipe de investigação


técnicocientífica que deverá ser chamada ao local caso sejam encontrados novos vestígios.

Aula 12 – Métodos de investigação de segmento


Você viu que a investigação de segmento é a continuação da investigação preliminar
desenvolvida na cena do crime. Ela envolve tanto a investigação cartorária quanto a
técnicocientífica.
Mesmo nos casos em que ocorra a prisão do autor durante a investigação preliminar, sempre
há necessidade de atos investigatórios de seguimento para a identificação de co-autores, quando for
o caso, a coleta de provas testemunhais e matérias que se encontrem em locais relacionados
identificados posteriormente e, ainda, para a busca de provas complementares.
Nesse caso, os métodos não divergem dos que são aplicados durante a investigação
preliminar, mas são mais diversificados, visto o maior espaço de tempo, principalmente, quando se
trata de autor desconhecido ou conhecido sem ter sido preso em flagrante delito.

Cuidados na entrevista do suspeito


Nos cuidados com o suspeito, obrigatoriamente, terão que estar incluídos, principalmente, os
que dizem respeito aos seus direitos fundamentais.
A condição jurídica do suspeito de autoria, que usufrui os direitos do autor inconteste, é
sempre uma das dificuldades práticas que o investigador encontra na apuração dos delitos.
Ele não é obrigado a falar. Não é obrigado a incriminar-se. Pode não falar a verdade sem as
conseqüências do falso testemunho. Tem direito ao acompanhamento do advogado e de dar
informação sobre seu paradeiro para os familiares. Entretanto, se for o autor do delito, será
depositário de informações fundamentais para a investigação, cuja coleta dependerá da habilidade
técnica do entrevistador.
Diante desse cenário, o investigador terá que adotar alguns cuidados especiais para preservar
e colher a primeira versão do depoimento do suspeito, sem a contaminação com fatores naturais
decorrentes de sua autodefesa, como a construção de um álibi.
O investigador deverá observar a linguagem simbólica do suspeito que lhe dirá muito mais
que a linguagem falada. Observar e anotar seu estado emocional, a linguagem corporal, os vestígios
que possam impregnar suas vestes e corpo, como pequenas lesões e fraturas (arranhões, hematomas,
fraturas de unhas, etc.), marcas de violência em sua roupa (rasgos, falta de botões, marcas de
objetos, etc.) e odores.
O suspeito deve ser mantido separado das testemunhas e de outros suspeitos. A entrevista
deverá ser com perguntas estruturadas. Qualquer álibi que o suspeito apresente deverá ser
imediatamente verificado.
Regra básica para a entrevista com o suspeito:
Nunca entrevistar um suspeito sem ter em mãos informações suficientes para isso.
Outros Métodos de investigação de segmento
Além das informações colhidas com testemunhos, com os vestígios encontrados na cena, no
próprio corpo do suspeito e na sua história antecedente, há outras possibilidades bastante eficazes
para apuração do delito:
Fazer o reconhecimento direto do suspeito – o suspeito poderá ser submetido ao
reconhecimento por testemunhas ou vítima (ou até por outro autor ou suspeito) do fato.
Formalizar, de imediato, todas as informações das testemunhas e vitimas – o depoimento
formal evitará dificuldades futuras no inquérito para localização das pessoas e servirá de
fundamento para o requerimento de prováveis atos judiciais cautelares como prisões e buscas e
apreensões.
Como o inquérito policial é formal (escrito), logo após a seção de entrevistas, os
depoimentos das testemunhas e vítimas deverão ser tomados por escrito pela autoridade
competente.
Intercâmbio policial - Manter intercâmbio permanente com outras delegacias para o
confronto de informações que indiquem pistas da autoria.
Consulta aos bancos dados disponíveis – a consulta aos bancos de dados é uma ferramenta
importante para a investigação criminal.

Diário de investigação
O investigador não pode confiar demasiadamente em sua memória. Deve manter registro
detalhado e sistematizado das informações coletadas. Essa necessidade se torna evidente na medida
em que a investigação avança, aumenta seu grau de complexidade e maior é o volume de
informações que precisam ser devidamente preservadas.
Convém fazer um registro diário de tudo que é coletado. Esse processo possibilita que o
investigador tenha o controle das informações colhidas e, ao final, sistematize todas elas facilitando
a análise e validação.
As anotações das informações colhidas na cena do crime permitirão aos que irão conduzir a
investigação de segmento, ter acesso a referências sobre tudo o que foi e não foi investigado.
Observações e registros auxiliarão na elaboração de planos e metas.
Os equipamentos eletrônicos existentes permitem maior rapidez e segurança nas anotações,
muito embora ainda seja válida a velha caderneta de papel. Ande sempre com ferramentas que
possibilitem rápidas anotações.

Métodos de investigação de segmento


- Leitura cuidadosa das informações existentes
O primeiro cuidado a ser adotado pelo investigador que irá dar continuidade à investigação é
ler, cuidadosamente, todas as informações registradas durante a investigação preliminar (boletim de
ocorrência, depoimentos, relatórios, laudos, etc.).
- Retornar à cena do crime
O retorno à cena do crime permite ao investigador que prossegue a investigação, ter uma
percepção concreta de tudo que foi relatado nos registros que leu. A visão do local trará maior
possibilidade para a formulação de novas hipóteses.
- Conversa com os profissionais envolvidos nos atos preliminares (investigadores cartorários e
técnico-científicos, bem como os outros profissionais que prestaram apoio, principalmente, os que
chegaram primeiro à cena do crime)
Essa entrevista dos colegas que atuaram na investigação preliminar serve para
complementar as informações colhidas nos registros lidos.
Muitas vezes há informações importantes que não são registradas, por esquecimento
momentâneo dos investigadores ou não são repassadas pelo profissional que prestou apoio, mas
poderão ser lembradas depois.
- Entrevista das testemunhas, vítimas e informantes
Entrevistar testemunhas, vítimas e informantes é um processo importante para a formulação
de novas hipóteses ou para verificação das que já foram feitas, ainda que sejam aquelas já
entrevistadas ou cujos depoimentos foram tomados formalmente.
- Determinar quem poderia obter vantagem ou teria motivos ou interesse para cometer o crime
Formulada a hipótese de pessoas que tenham motivo para a prática do crime e formatado o
perfil do suspeito, o investigador deverá fazer um minucioso levantamento da vida pregressa de
cada uma delas, procurando fortalecer suas convicções.
- Verificar quem tenha tido oportunidade para cometer o crime
No momento do crime, quais as pessoas que estariam próximas da vítima? Quais as pessoas
que teriam o ensejo, mesmo eventual, de cometer o crime? Quais as pessoas que estiveram com a
vítima? Quais as pessoas que procuraram a vítima, antes da prática do crime?
- Determinar quem teria capacidade ou equipamentos necessários para a execução do crime
Dos suspeitos quem estaria apto a praticar o crime? Quem teria o instrumento utilizado pelo
infrator? Quem teria habilidade para manusear o instrumento utilizado?
- Consultar o arquivo de “modus operandi”
Estabelecer uma analogia entre o modo de fazer de outros delitos da mesma natureza e o que
está sendo investigado.
- Relacionar e investigar as pessoas de quem suspeitam os amigos, parentes e inimigos da vítima.
Também de quem suspeitam as testemunhas e informantes.
- Manter permanente conexão com os investigadores peritos
Buscar dados colhidos por eles que possam auxiliar na elaboração do plano operacional.
- Buscar informações constantes em outros ambientes
Adotar técnicas de investigação que possibilitem a observação em bancos de dados
auxiliares: lojas de vendas de armas, lojas de compra de objetos usados, etc.
- Recorrer aos procedimentos das novas tecnologias
As novas tecnologias oferecem uma série de possibilidades ao processo da investigação
criminal.
- Entrevista de suspeitos
Surgindo um suspeito, seu interrogatório formal não poderá ocorrer antes que a investigação
tenha coletado dados de prova suficiente para assegurar a credibilidade do ato. Uma entrevista sem
dados de sustentação fortalece o entrevistado suspeito, por tomar como blefe do investigador,
qualquer pergunta que se faça. A não ser que a técnica da entrevista seja o blefe.
A respeito desse tema, o professor Guaracy Mingardi faz a seguinte anotação em sua
pesquisa:
Se um suspeito foi preso, e estiver na cena, a regra é retirá-lo imediatamente de lá. Isso tanto
para prevenir a contaminação da cena por ele, quanto para prevenir que a cena contamine suas
roupas. De acordo com conhecida teoria da transferência e troca de Edmond Locard, sempre alguns
vestígios do local ou da vítima ficam no homicida e vice-versa. Também é fundamental guardar
com segurança toda e qualquer evidência que se encontre no suspeito (sangue, armas, fragmentos,
etc.). Enquanto estiver próximo à cena, ele deve ser mantido afastado de todos, exceto do pessoal
diretamente ligado à investigação.
Os policiais que o conduzirão à delegacia devem ser instruídos para não conversar com ele.
Se ele disser alguma coisa, no entanto, eles deverão anotá-la. Também não devem conversar sobre a
investigação na frente dele. Chegando ao distrito não podem permitir que o suspeito lave as mãos
ou faça qualquer coisa que possa provocar a perda de evidências. (MINGARDI, 2006, p.54)
Tecnologia da Informação
Com a Tecnologia da Informação (TI), os bancos de dados são fontes de recursos
inimagináveis para o investigador diligente.
As próprias polícias mantêm bancos com informações, das quais o investigador não pode
prescindir. Exemplo disso são os bancos com registros dos boletins de ocorrências onde sempre
haverá algum dado que, com a devida análise, poderá abrir caminho para hipóteses consistentes.
Acompanhando os ensinamentos do pesquisador MINGARDI, veja outro fato que registra
em sua pesquisa sobre a investigação de homicídios, a importância da técnica de consulta aos
bancos de dados.
Um indivíduo foi morto e o boletim de ocorrência registrou como homicídio de autoria
desconhecida. Ocorre que ele tinha registrado Vários BOs contra sua mulher e ela contra ele.
Ela por agressão e ele por ameaça. Num deles, inclusive, o morto dizia que sua mulher teria
contratado três indivíduos para matá-lo, dando o primeiro nome dos supostos matadores.
Durante os meses em que o inquérito ficou no Distrito, essa informação não constou dos
autos, ou seja, não foi consultado o banco de dados da própria polícia que mantém esses registros.
Em contrapartida, logo depois do caso ir para o DHPP, esses documentos foram anexados ao
inquérito. (MINGARDI, 2006, p.33)
Muitas vezes, as informações necessárias para formular as hipóteses estão diante dos seus
olhos, mas não consegue percebê-las.
Bancos de dados eletrônicos
Com algumas variações de acordo com a região, estes são alguns dos bancos de dados
eletrônicos que o investigador poderá utilizar para colher informações:
- Arquivos de boletins de ocorrências;
- Arquivos de antecedentes criminais;
- Arquivos de controle de inquéritos policiais;
- Arquivos de mandados de prisão;
- Arquivos do Departamento de Trânsito;
- Disque-Denúncia;
- Cadastros comerciais (SPC, SERASA, etc.); e
- Infoseg, do MJ com várias informações: criminais, carcerárias, carteira de habilitação e porte
de arma.
O investigador consciente da importância de suas atribuições para a sociedade, não abre mão
desses meios, muitas vezes, difíceis de acesso, mas possíveis.
Módulo 3 – Análise de dados e gestão do conhecimento produzido pela investigação

Aula 1 – Análise, interpretação e gestão dos dados da investigação

Há todo um processo de transformação dos dados colhidos na investigação que dirá como
ocorreu o delito. Esse processo é a análise dos dados da investigação.
Feita a coleta dos dados, o investigador deve concentrar sua atenção na análise e
interpretação das informações formatadas.
O objetivo é dispor as informações de maneira sistematizada, para que possam ser
transformadas em resposta ao problema posto inicialmente. Para que isso ocorra é preciso uma
análise da credibilidade dessas informações como prova do delito em apuração.
Você viu na análise das informações colhidas em depoimentos de testemunhas, vítimas e
suspeitos, que a credibilidade passa pelos parâmetros de validade e confiabilidade.
A interpretação dará sentido mais amplo aos dados, possibilitando sua conexão com o
conhecimento existente (a história do fato).
Metodologia de análise
Nenhum dado da investigação poderá ser interpretado isoladamente. O conhecimento
apurado na investigação, para ser validado como prova, deve ser considerado no seu contexto.
Esse contexto envolve todas as informações colhidas pela investigação, tanto a cartorária
como a técnico-científica – depoimentos, relatórios do agente investigador cartorário, laudos
periciais, reconhecimentos, relatórios de atividades financeiras, relatórios sobre atividades fiscais,
etc.
Para reforçar esse conhecimento e demonstrar alguma praticidade, veja alguns métodos
postos para análise de dados que poderão ser adequados à investigação criminal. Segundo
Davenport & Prusak, citados por Santiago Jr. (2004, p. 29), a transformação da informação em
conhecimento é possível a partir da:
- Comparação
Entendimento sobre como as informações relativas a um determinado assunto podem ter
alguma relação ou aplicação em outras situações.
- Conseqüência
Implicação que determinada informação pode trazer para a tomada de alguma decisão e/ou
ação.
- Conexão
Relação entre a informação adquirida e um conhecimento já existente.
- Conversação.
Interpretação daquela informação a partir do entendimento sobre o que as pessoas pensam
sobre ela. René Magritte disse: “Tudo quanto vemos, esconde alguma coisa”.
A prática e a pesquisa científica têm confirmado essa assertiva. Na investigação de um
delito, o investigador deve ter a habilidade de sempre esgotar todas as possibilidades de
manipulação e observação dos dados colhidos, para poder inseri-los ou filtrá-los do contexto da
prática delituosa objeto da apuração.
Não há dúvida que a investigação criminal é um sistema complexo de coisas, fatos ou
circunstâncias que formam uma rede de dados, exigindo cuidados especiais na gestão e na análise,
para que dela sejam extraídas as informações que serão validadas como prova.
Gestão e análise dos dados da investigação remetem ao conceito de qualidade, pois o
objetivo desse processo é moldar a prova com as condições necessárias para explicação do fato
investigado.
O produto final da investigação é a prova da prática de um delito e de sua autoria. Esse
produto terá que ter qualidade para ser eficaz no que se propõe. A matéria-prima da prova é o
conhecimento produzido com as explicações sobre fato delituoso.
E o que é qualidade?
O conceito moderno de qualidade, de acordo com a ciência da Administração é de que se
trata da satisfação do cliente quanto à adequação do produto ao uso.
Não é apenas uma questão de perfeição técnica. Não basta que a prova esteja adequada ao
modelo descrito na lei. Ela terá que ser adequada às necessidades de explicação jurídica de um
determinado delito.
Uma mancha de sangue coletada em um local de crime, poderá estar tecnicamente adequada
à metodologia descrita na lei, mas não ser a prova ideal para aquele delito.
A qualidade dessa prova depende de cuidados durante sua produção, análise dos dados e
gestão do conhecimento deles decorrente.

Aula 2 – Uso da tecnologia da informação (TI)

Foi visto que o processo de coleta de provas para apuração de um delito, dependendo da
complexidade do evento, poderá produzir um grande número de informações.
A análise das informações envolve o processo cognitivo e esse envolve operações mentais
da inteligência humana.
Faz parte desse processo a visualização da informação, ou seja, a inteligência visual que é
parte essencial da inteligência humana, na sua capacidade de percepção ou cognição dos símbolos,
códigos e sinais, conforme ensinam Ferro Jr. e Dantas (ibidem).
A análise das informações geradas pela investigação nos leva ao laborioso e complexo
estudo de dados impondo elevado grau de dificuldade para a compreensão de sua credibilidade
como prova.
Veja o comentário de FEW em citação feita por Ferro e Dantas: (...) “freqüentemente o
melhor da nossa compreensão emerge quando olhamos para “desenhos dos dados”. Isto, segundo
FEW, ocorreria em função da visão ser o sentido dominante nos seres humanos. No mesmo passo, o
autor ensina que ao examinarmos dados propriamente apresentados visualmente, algumas vezes
experimentamos “rasgos de reconhecimento” que somente ocorreriam, após horas de laborioso
estudo para possibilitar a mesma espécie de “descoberta”. Tal descoberta seria o ápice do processo
cognitivo.” (FERRO Jr. e DANTAS, ibidem).
Essa capacidade de melhor percepção e compreensão dos dados visualizados se torna
ineficaz diante de um cenário extremamente complexo.
A complexidade e a moderna atividade investigativa criminal
Para melhor compreensão da complexidade da investigação criminal, sugiro a leitura do
texto, que faz parte do trabalho de Ferro e Dantas, onde analisam a complexidade e a moderna
atividade investigativa policial.
Apesar do aparente caos formado pela complexidade das informações que deverão ser
analisadas, elas não estão soltas no contexto, e sim, interligadas, vinculadas, estabelecendo uma
conexão que precisa ser ressaltada à percepção do investigador.
A tecnologia da informação (TI) entra como ferramenta importante na visualização dessa
rede de vínculos que irão possibilitar a percepção de todo o contexto do delito. Com ela surge a
chamada inteligência artificial (IA) formatada a partir de tecnologia surgida com a moderna ciência
da computação.
A TI é uma ferramenta estratégica e facilitadora da análise e gestão do conhecimento na
investigação. Ela permite a transmissão e o acesso rápido a um enorme volume de informações,
tornando ágil seu processo de tratamento, manipulação e interpretação.
O uso da tecnologia permite ao investigador ter acesso a interpretações de dados e
informações sobre ligações telefônicas, registros, sinais, cadastros e conversas, de forma ágil e
sistemática.
Com aplicação da TI é possível descobrir e interpretar vínculos que, a olho nu, são
imperceptíveis ao investigador que se acha diante de um grande volume de dados.
Métodos
Um dos métodos aplicados na investigação criminal para análise de dados é a análise de
Vínculos (AV).
A AV é uma técnica de busca de dados, com a possibilidade de estabelecer conexões entre
eles, desenvolvendo modelos baseados em padrões dessas relações, ou seja, por meio de um
programa de computador, o investigador visualiza e conhece todos os vínculos estabelecidos entre
os dados colhidos, desenhado graficamente essa rede de conexões que irá formatar exatamente
todas as condutas que deram causa à prática delituosa.
Segundo lecionam FERRO e DANTAS no seu referido artigo, a técnica da AV engloba a
captura, o armazenamento e a diagramação de informações pertinentes aos chamados “alvos
monitorados” (suspeitos, vitimas, ambientes, etc.). Permite a visualização gráfica de relações entre
pessoas, objetos, dados, etc., as quais, por um processo normal de análise, passariam despercebidas
do investigador.
São utilizadas como ferramentas da AV aplicativos de informática como o i-2 “The Analyst’s
Notebook”, da Tempo Real, e o Nexus, da Digitro.
Objetivo da análise global
Qual o sentido da análise global das informações coletadas pela investigação criminal? É a
consolidação de sua credibilidade como prova. Não basta supor, por exemplo, que um grupo de
pessoas investigadas pela prática de roubos e extorsões, formava uma quadrilha. É preciso que a
investigação demonstre que entre elas havia uma associação com vínculos psicológicos, destinada à
prática de delitos.
Da mesma forma, no caso de crime organizado, não basta, diante de uma série de
informações, como depoimentos, registros bancários, contas telefônicas, registros patrimoniais, etc.,
afirmar que se trata de uma organização criminosa, sem que os fatores que determinam as
características de uma organização sejam devidamente demonstrados na investigação.
Para Ferro e Dantas, nesse caso, terá que ser demonstrado que o grupo formava uma
associação estruturalmente organizada e vinculada, caracterizada por hierarquia, divisão de tarefas e
diversificação de áreas de atuação, com o objetivo de delinqüir visando à obtenção de lucro
financeiro e, eventualmente, vantagens político-econômicas e controle social, adquirindo dimensão
e capacidade para ameaçar interesses e as instituições nacionais e estaduais, conforme conceito
difundido pela Escola de Inteligência da Agência Brasileira de Inteligência.
Benefícios das informações colhidas
A análise das informações é a sistematização do conhecimento construído na investigação,
consolidando os vínculos recíprocos entre atores do delito e desses com a conduta delituosa.
A análise é o processo de testificação, validação e codificação das informações para
transformá-las em conhecimento chamado prova, que irá fundamentar o processo de julgamento do
infrator.
Esse conhecimento não deve se perder nas burocracias de um processo sem que reverta em
benefícios para a gestão de novos casos.
As informações colhidas durante a investigação, formam um ativo intangível que agrega
valores às demais atividades da polícia como prestadora de serviço público.
Nesses conhecimentos há um know-how técnico, criatividade e inovações que precisam ser
mantidos ao alcance da organização policial para o processo de reutilização no aprendizado de seus
agentes.
Aplicando-se à segurança pública os ensinamentos de SANTIAGO (2004, p. 24), pesquisas
comprovam que iniciativas voltadas para a gestão do conhecimento podem trazer grandes
benefícios para:
- Tomada de decisão do coordenador da investigação;
- Gestão dos atores envolvidos no processo de investigação;
- Resposta às demandas apresentadas pelo problema investigado;
- Desenvolvimento de habilidades dos profissionais da investigação criminal;
- A produtividade da investigação;
- Eficácia dos resultados;
- Compartilhamento das melhores práticas com outras polícias; e
- Redução de custos.
Estes são fatores que nem sempre são levados em consideração pelo sistema penal –
Polícias, Ministério Público e Poder Judiciário. Quase sempre as informações colhidas na
investigação não são revestidas em benefício de políticas públicas voltadas para o bem estar da
comunidade, no enfrentamento da violência.

Módulo 4 – Elaboração do relatório

Aula 1 – O relatório da investigação criminal


A fase final da investigação, tal qual na pesquisa científica, é a elaboração do relatório. O
êxito da investigação criminal depende, também, do relato que o investigador faz com as
informações coletadas.
O relatório deve ser uma seqüência lógica dos fatos apresentados, numa linguagem clara e
direta. Ele deve indicar os elementos de destaque, ser completo, preciso, objetivo, claro e conciso.
A primeira regra a ser considerada pelo autor do relatório é de que se trata de uma peça para
ser lida. Significa que sua apresentação e conteúdo devem ser elementos de atração.
O relatório não é um fim em si mesmo, é um meio de comunicação para transmitir uma
mensagem que precisa ser lida e compreendida, sem perder tempo.
Finalidades do relatório
Para Dencker (2007, p. 315), o relatório tem duas finalidades:
Fornecer relato permanente, global e coerente de uma investigação, um estudo ou pesquisa;
e Fornecer a informação necessária à tomada de decisões.
A investigação criminal é a operacionalização do plano de investigação configurado no
inquérito policial que, ao final, será objeto de um relatório global de todo o processo, sendo
encaminhado ao juiz.
O relato do investigador é o registro das informações que irão ser submetidas à análise e
interpretação global.
Há, portanto, na investigação, dois relatos importantes a serem considerados:
- Relatório preliminar, e
- Relatório final.
Relatório preliminar (ou informação)
É o registro feito pelo investigador dos dados e informações que serão submetidas à análise
e interpretação do gestor da investigação.
Exemplo: Relato com o resultado de diligências determinadas pelo presidente do inquérito; o laudo
do investigador pericial.
O relatório preliminar tem importância fundamental na formatação da ordem lógica da
investigação. É ele que irá possibilitar o desenho da cadeia de evidências.
É como se fosse o elo que vai conectando de forma ordenada e lógica, cada informação
colhida.
Considerando o conceito global de investigação criminal (cartorária e técnico-científica), o
laudo pericial, didaticamente, está dentro do conceito de relatório preliminar.
Relatório final
É o relato final, global, com o resultado de todo o processo da investigação elaborado pela
autoridade policial que presidiu o inquérito, com o registro da análise e interpretação feita dos dados
e informações colhidas.
O relatório final registrará todo o processo da investigação, dando a ordem lógica, as
hipóteses levantadas e comprovadas (linhas de investigação), como se deu a comprovação
(verificação), toda a cadeia de evidências (a ordem lógica das provas), o resultado (a comprovação
da prática do delito e indicação da autoria) e a conclusão.
Conclusão
Neste módulo, você teve oportunidade de estudar o tema que trata a elaboração do relatório
da investigação.
Dois aspectos importantes foram abordados: um quanto ao aspecto formal literário da peça e
o outro quanto à sua função técnica na investigação criminal.
No que diz respeito à sua formalidade, você viu que para atender sua funcionalidade como
peça informativa, o investigador não pode deixar de considerar que se trata de uma peça literária
que precisa ser lida e compreendida pelo seu destinatário.
Quanto à sua função técnica, é o instrumento que irá possibilitar a leitura lógica da cadeia de
evidências das provas, permitindo uma visão permanente e global da investigação, além das
necessárias tomadas de decisões.

Você também pode gostar