Pomares Mata Atlântica - Orientações para o Cultivo Agroecológico de Pomares de Mata Atlântica
Pomares Mata Atlântica - Orientações para o Cultivo Agroecológico de Pomares de Mata Atlântica
Pomares Mata Atlântica - Orientações para o Cultivo Agroecológico de Pomares de Mata Atlântica
SUMÁRIO
Prefácio - 04
PARTE I - CONHECENDO OS POMARES
Pomares Mata Atlântica - 08
Como Usar este Material - 10
PARTE II - DESCOBRINDO CULTIVOS NATURAIS
Onde Estamos - 14
Por que Cultivar Orgânicos
e Alimentos Agroecológicos? - 16
O que são Agroflorestas? - 18
PARTE III - DAS SEMENTES À COLHEITA
Implantando o Pomar - 24
Como Produzir Sementes e Mudas? - 26
Preparar o Solo e Plantar - 34
Cuidados após o Plantio - 36
Como Nutrir - 38
Colher e Beneficiar - 42
De Olho no Ecomercado - 44
MATRIZ F.O.F.A. - 47
Direção Geral: Gabriel Menezes ANOTAÇÕES - 47
Coordenação do Projeto: Maurício Santos CROQUI DE SUA PROPRIEDADE - 48
Pesquisa e Organização: Cláudia Prudente e Hamilton Trajano
Redação e Edição: Heloisa Bio TABELA DE ESPÉCIES USADAS - 52
Revisão: Ana Cecilia Bruni SUGESTÕES DE LEITURA - 54
Projeto Gráfico e Diagramação: Felipe Sleiman ANEXOS - 55
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PREFÁCIO
Cultivar um pomar de Mata Atlântica
atualmente é ser parte de um movimento
que visa a recuperação florestal de um dos
biomas mais ricos e importantes do planeta,
que chega a ter até 300 espécies diferentes
de árvores em um único hectare de terra.
Porém, não basta recuperar a floresta,
é necessário tornar o solo produtivo e fonte
de renda para o produtor rural. É esta a filosofia
do Pomares Mata Atlântica, conduzido pelo
Instituto AUÁ com financiamento do Fundo
de Recursos Hídricos do Estado de SP - FEHIDRO.
Queremos resgatar a importância do produtor
familiar e do espaço rural, pois estes são
estratégicos para conciliar o desenvolvimento
local e a proteção do meio ambiente.
Além disso, a capacitação dos agricultores
para o manejo agroecológico com
a diversificação de sua produção tem como
importante finalidade a proteção dos recursos
hídricos no território do Alto Tietê, onde
a relação entre a demanda e a disponibilidade
de água vem aumentando a cada dia.
Reconhecer a vocação de cada propriedade,
o perfil de quem maneja este espaço e permitir
um plano de manejo que recupere as funções
ecológicas da terra, inserindo o produtor
como agente dessa mudança, são princípios
fundamentais do projeto. Finalmente, a criação
dessas agroflorestas com espécies nativas
deve estar conectada com o ecomercado,
possibilitando o acesso dos consumidores
a esses produtos, o fortalecimento deste
modelo e o aproveitamento sustentável
de toda nossa biodiversidade.
Instituto AUÁ
2018
Técnico do AUÁ apresenta o projeto em encontro no Vale do Paraíba
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PARTE I
CONHECENDO
OS POMARES
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POMARES MATA ATLÂNTICA
O Pomares Mata Atlântica é um empreendi- O Instituto AUÁ atua por meio do Empório
mento do Instituto AUÁ, que possui Mata Atlântica abrindo estes mercados
um projeto aprovado no Comitê de Bacia para as espécies nativas, inicialmente
do Alto Tietê e financiado pelo Fundo
de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo
com o Cambuci dos produtores do Alto
da Serra do Mar e, atualmente, com espécies
A DIVERSIDADE
– FEHIDRO. O projeto pretende contribuir como a Uvaia e o Araçá e novos produtos DE ESPÉCIES
com a preservação da água ao mesmo beneficiados, como as polpas e os sorvetes.
tempo em que oferece uma alternativa
Sabemos que as monoculturas
DA MATA ATLÂNTICA
de desenvolvimento no campo por meio
de sistemas agroflorestais com espécies convencionais e a criação de gado Cambuci – Araçá COM VALOR
em larga escala têm impactado Jaracatiá – Uvaia – Abiu
da Mata Atlântica, os quais estamos
chamando de pomares de Mata Atlântica. negativamente a fertilidade do solo. COMERCIAL
Ao mesmo tempo em que os cultivos Imbuia - Guajuvira - Cabreúva
O projeto acontece em áreas agrícolas
da região das Cabeceiras do Alto Tietê, agrícolas em um país tropical exigem Juçara – Jequitibá – Pau-brasil É ENORME
nos municípios de Salesópolis, Biritiba-Mirim atenção especial no cuidado com o solo
e seus microorganismos. Ambos fatores Jabuticaba – Pitanga – Aroeira
e Mogi das Cruzes.
reforçam a importância de adotarmos cada Cambucá – Erva-mate – Caraguatá
Na fase inicial do projeto, houve ampla vez mais formas agroecológicas de manejo, Peroba-rosa - Jequitibá-rosa - Ipês
divulgação do Pomares Mata Atlântica que incluam a diversificação e o policultivo.
nos municípios envolvidos, com o convite Grumixama – Gabiroba – Jerivá
O Projeto Pomares Mata Atlântica capacita
aos produtores rurais deste território para
os produtores para esta transição,
Jacarandá-paulista - Jacarandá-roxo
conhecerem mais sobre o potencial Guapuruvu - Guabiroba - Araucária
das espécies nativas e aderirem à segunda ao mesmo tempo em que são desenvolvidos
fase, que envolve a capacitação técnica mercados para as espécies nativas, visando a Aroeira - Araticum - Araribá - Guaco
distribuição de benefícios para toda a cadeia
em rede, para a produção agroecológica
produtiva, por meio do comércio justo.
Macela - Espinheira-santa
e em sistemas agroflorestais, além Erva-baleeira - Fáfia
de assistência a cada propriedade. Esperamos que o produtor seja o
O objetivo é aumentar as terras com cultivos protagonista desta mudança, consciente
entre outros...
sustentáveis, com pelo menos 100 hectares da necessidade de desenvolver valores de
cadastrados no projeto, conservando cuidado consigo mesmo, com o outro que
o meio ambiente e promovendo está ao seu redor e com o ambiente natural
o desenvolvimento econômico local. que o cerca.
As espécies nativas que serão usadas
nos pomares representam uma grande
oportunidade para esse desenvolvimento,
conforme será possível aumentar
a disponibilidade dessas matérias-primas,
investir em técnicas sustentáveis e criar
mercados para esses produtos.
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COMO USAR ESTE MATERIAL
Este material tem a intenção de orientar de produtores que resultarão em múltiplos
o produtor familiar a construir e manejar saberes, os quais surgem como grande
os pomares de Mata Atlântica, colocando tesouro deste projeto.
os passos essenciais para situá-lo neste
caminho. São apresentados os conceitos Além de estudar as ferramentas apresentadas
básicos e as técnicas que permitem aqui, use este material como forma
a produção agroecológica de espécies de registro de seus aprendizados e de sua
da Mata Atlântica, como frutas, plantas percepção sobre os cultivos ao longo
medicinais, condimentares, ornamentais do projeto.
e melíferas com potencial de mercado. Nele você encontrará os conteúdos, técnicas
e ferramentas que serão desenvolvidos
Sabemos que o público do projeto pelos técnicos no decorrer da capacitação.
é composto por uma variedade de Esta acontecerá entre fevereiro de 2018
pessoas e experiências, desde agricultores e janeiro de 2019, em dois momentos
tradicionalmente ligados à terra até novos diferenciados: o Encontro Formativo em cada
produtores que saíram da cidade para município, com o objetivo de apresentar
o campo, em busca da prática agroecológica. e debater os temas deste material; as visitas
Assim, as informações deste material devem técnicas aos produtores selecionados
ser vivenciadas na prática de acordo para acompanhamento dos conteúdos
com o perfil de cada produtor, como única trabalhados e estruturação dos pomares
forma de fazerem as mudanças desejadas de Mata Atlântica.
em sua terra.
Organize sua agenda para participar
Cada um possui suas potencialidades, do Encontro Formativo e receber os técnicos
seu jeito de fazer e sua vocação específica, em sua propriedade e tenha sempre caderno,
o que demanda construir junto com a equipe lápis ou caneta para fazer suas anotações
do projeto o desenho ideal de seu pomar.
Serão as trocas vivenciadas nesta rede Conte com o nosso apoio e boa formação!
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DESCOBRINDO
CULTIVOS
NATURAIS
PARTE II
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ONDE ESTAMOS
Estamos em uma das regiões mais Apesar de ser considerada uma das cinco
importantes para a produção de água florestas mais ricas e ameaçadas
no Estado de São Paulo e, especialmente, do planeta, a Mata Atlântica garante
para a Região Metropolitana de SP. o clima, a qualidade do ar, do solo e de rios
Os municípios de Salesópolis, Biritiba-Mirim e nascentes que abastecem as cidades
e Mogi das Cruzes estão, em boa parte e sustenta as atividades humanas. Possui
ou no todo, localizados na Área de Proteção mais de 20 mil espécies de plantas, das quais
aos Mananciais da Bacia Hidrográfica 8 mil são endêmicas, que só existem ali.
do Alto do Tietê, que abriga as nascentes
do rio Tietê e é responsável pelo As causas dos impactos sobre esta floresta
abastecimento de uma população de mais tão importante têm sido inúmeras, desde
de 4,5 milhões de habitantes na Região os desmatamentos sucessivos e sua
Metropolitana. exploração predatória, com ocupação
desordenada, urbanização e modelos
Este território das cabeceiras do Alto Tietê agrícolas insustentáveis, até o consumo
também está totalmente inserido no bioma excessivo e a consequente poluição
Mata Atlântica, responsável por garantir de água e solo.
a qualidade de vida da população como
um todo. Porém, restam hoje somente 12,5%
da Mata Atlântica original, em 17 Estados,
onde vivem quase 80% dos brasileiros.
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POR QUE CULTIVAR ORGÂNICOS
E ALIMENTOS AGROECOLÓGICOS?
A agricultura orgânica e agroecológica nasce e ecológica, a maximização dos benefícios
de sistemas baseados em processos naturais sociais, a minimização da dependência
e o nome “orgânico” vem de “organismo”, de energia não-renovável, empregando,
em que a agricultura funciona com base sempre que possível, métodos culturais,
nos princípios da natureza. Isso vai além biológicos e mecânicos, em contraposição
da simples eliminação do uso de agrotóxicos, ao uso de materiais sintéticos, a eliminação
mas inclui a ativação da vida no solo, do uso de organismos geneticamente
a diversificação e produção de matéria modificados e radiações ionizantes,
orgânica, o respeito às épocas de produção em qualquer fase do processo de produção,
e ao clima de cada região. Neste modelo, processamento, armazenamento,
a propriedade é pensada e manejada de distribuição e comercialização, e a proteção
forma integrada. do meio ambiente”.
Assim, também é importante valorizar
A agricultura orgânica inclui a valorização sistemas agrícolas organizados localmente
do aspecto humano e social, onde e incentivar a integração entre os diferentes
o agricultor é visto como o produtor segmentos da cadeia produtiva e de
do conhecimento sobre a terra. E provoca consumo de produtos orgânicos, além da
uma série de resultados positivos, regionalização da produção e comércio
como alimentos de maior qualidade, desses produtos. E para sua comercialização,
fortalecimento da economia local, melhor os produtos orgânicos devem ser certificados
qualidade de vida para quem planta por um organismo reconhecido oficialmente.
e para quem consome, conservação do solo,
preservação da água e manutenção No caso da comercialização direta
da biodiversidade e das sementes aos consumidores por parte dos agricultores
tradicionais. familiares, é possível estarem inseridos em
processos próprios de organização e controle
Na Lei de Produção Orgânica (10.831 social, previamente cadastrados junto ao
de 2003), o sistema orgânico é aquele que órgão fiscalizador. Neste caso, a certificação
adota técnicas que otimizam o uso dos será facultativa, uma vez assegurada aos
recursos naturais e respeitam a integridade consumidores e ao órgão fiscalizador
cultural das comunidades rurais, “tendo por a rastreabilidade do produto e o livre acesso
objetivo a sustentabilidade econômica aos locais de produção ou processamento.
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O QUE SÃO AGROFLORESTAS?
Agroflorestas são plantios em que cultivos dimensionar de forma simples: fragmentos A escolha das espécies para compor A presença de espécies herbáceas e
agrícolas são combinados a espécies e condições de conservação da vegetação o sistema agroflorestal produtivo é muito arbustivas, por exemplo, é muito importante
da floresta. Fazer agrofloresta é identificar nativa e exótica; presença de corpos d’água complexa, pois deve considerar a elevada para o estabelecimento futuro das árvores,
os mecanismos de funcionamento da vida e nascentes e dinâmica da água no meio; biodiversidade vegetal existente nas pois funcionam como um viveiro natural.
na prática de fazer agricultura, orientando tipos de relevo e declividade; tipos de solo; florestas tropicais, o que inclui não só É o caso do abacaxi, da mandioca, do feijão
o sistema para a produção de alimentos e quais as áreas produtivas. as árvores, mas infinitas plantas que de porco e do feijão guandu, conhecidas
em meio à produção de biodiversidade A função socioambiental da propriedade habitam as copas e galhos e desenvolvem- por “plantas cuidadoras” ou “plantas mãe”,
e da troca entre os seres vivos. e suas conexões na paisagem, assim como se no chão dos bosques, formando com funções como a de fixar nutrientes
fatores externos de pressão e a ameaça inúmeras “camadas” ou estratos. no solo para as futuras árvores.
Como o desenho de uma agrofloresta
sempre irá depender dos objetivos de cada ao fogo, localização e logística, também
produtor, estes sistemas podem apresentar influem no planejamento.
composições diferentes, adaptando-se Também é fortemente recomendado
MANEJO
ao potencial e às características de cada que o planejamento deste sistema seja feito
área. Isso depende de um arranjo espacial em diálogo com toda a família agricultora
e temporal planejado com antecedência, e a rede em que está envolvida. Conversar
cujo primeiro passo é a avaliação sobre seus objetivos, sua vocação e seus
do espaço disponível pensando-se nas sonhos, preferencialmente envolvendo SUCESSÕES
atividades que serão desenvolvidas ali. as mulheres, homens, jovens e idosos, ECOLÓGICAS
ajudará a entender a necessidade de todos, BIODIVERSIDADE SOLO/CLIMA
Devemos levar em conta diferentes passos como o sistema deve ser desenhado
para planejar o sistema agroflorestal, que e que espécies utilizar. Tudo isso aumentará
envolvem levantar o histórico de uso da a chance dos agricultores se envolverem CICLOS
propriedade e seu contexto atual, além de profundamente com a proposta. PRODUTIVIDADE BIOGEOQUÍMICOS
PRIMÁRIA
LUZ
FOTOSSINTESE RELAÇÕES
ECOLÓGICAS
PRODUTIVIDADE
PRIMARIA
ALIMENTO
HOMEM/MULHER
Foto de agrofloresta, feita por um drone, retirada do site www.silmaradefreitas.com.br Desenho das redes: Steenbock, Walter. Agrofloresta: prendendo a produzir com a natureza
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É possível ainda utilizar espécies altamente . Para áreas com baixa fertilidade,
eficientes na produção de biomassa, como recomendam-se espécies “adubadeiras”
fontes de matéria orgânica, para melhorar a em alta densidade.
fertilidade do solo e manter a umidade para
A Legislação Brasileira define as outras espécies na sucessão ecológica. . Evite juntar espécies que ocupam
o mesmo estrato (espaço vertical relativo
Sistemas Agroflorestais como Para ser produtivo nos diferentes estratos à necessidade de luz) ao mesmo tempo.
“sistemas de uso e ocupação do solo da floresta, o manejo desse sistema envolve
plantios bastante densos, o que potencializa . Deixe espaço suficiente entre linhas
em que plantas lenhosas perenes são a produtividade. Mas, em termos gerais, de plantas (árvores e outras) para permitir
manejadas em associação com plantas para dimensionar o melhor espaçamento o manejo.
herbáceas, arbustivas, arbóreas, culturas e adubação de uma agrofloresta com
nativas, é importante levar em conta os . Dimensione canteiros, ilhas ou núcleos
agrícolas, forrageiras em uma mesma seguintes fatores: a fertilidade do solo; de acordo com as pessoas que irão manejá-
unidade de manejo, de acordo a disponibilidade de sementes, estacas, los (alcance do braço).
com arranjo espacial e temporal, mudas; as fontes de matéria orgânica
. Árvores e arbustos, considerados
(folhas, galhos, madeira) e adubos (esterco,
com alta diversidade de espécies cinza, composto, pó de rocha, pó de serra);
ótimos produtores de biomassa, podem
ser plantados mais próximos a outras
e interações entre estes a disponibilidade de mão de obra para
árvores que permanecerão mais tempo
componentes”. manejo e as principais funções daquela
no sistema e que crescem mais devagar
espécie como parte do sistema.
(madeiras de lei, frutíferas), contanto que
E fique de olho nestas dicas para estes produtores de biomassa possam ser
a implantação de uma agrofloresta: podados periodicamente.
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PARTE III
DAS SEMENTES
À COLHEITA
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IMPLANTANDO O POMAR
O pomar de Mata Atlântica que iremos à conservação da água e das espécies Um viveiro de produção de mudas pode
construir é definido como um sistema da Mata Atlântica, aproximando o agricultor ser elemento estratégico para a rede que
agroflorestal de “silvicultura nativa”, de um restaurador de florestas. estamos formando, pois funciona como
direcionado para as áreas de uso um berçário para o plantio e garantirá
alternativo ou as áreas comuns da Os desenhos ou croquis dos pomares serão os frutos de amanhã. Deve-se buscar
propriedade, visando o aproveitamento exercitados junto a cada agricultor, com uma área destinada ao desenvolvimento
comercial das espécies ali plantadas. as diferentes combinações de espécies e rustificação dessas mudas, onde
arbóreas, herbáceas e de hortaliças, a partir permanecerão até que tenham tamanho
O principal objetivo desse sistema será criar
de suas características para a sucessão suficiente para serem transplantadas
o povoamento de árvores nativas junto com
ecológica e a estratificação do pomar. ao local definitivo.
espécies anuais com potencial para atender
Será recomendado um número mínimo
um mercado em desenvolvimento, que inclui Assim, há forte ênfase na produção
de espécies, assim como a maior eficiência
as frutíferas, medicinais, condimentares de mudas neste projeto, que como se vê
na ocupação do espaço em função destes
e ornamentais, além das hortaliças inclui cuidados com a escolha do local para
extratos agrícolas e florestais.
agroecológicas em geral. Com isso, é possível o viveiro, os recipientes usados, os substratos
o máximo retorno para o investimento No entanto, é preciso destacar que o sucesso para produção, escolha das sementes,
econômico feito na terra. de qualquer atividade no campo está quebra da dormência, tipos de semeadura
A implantação do pomar depende diretamente relacionado à qualidade das e repicagem, irrigação, adubação, rustificação
de diversos fatores motivacionais, mudas usadas e, no caso do Pomares Mata e transplante para o campo. Agricultores já produzem mudas nativas em Salesópolis
desde a produção econômica sustentável Atlântica, à produção dessas mudas feita
até a segurança alimentar, sempre associados a partir da escolha das sementes.
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COMO PRODUZIR SEMENTES
E MUDAS?
Sementes são os elementos de reprodução É preciso observar o momento de início de A seguir, as matrizes devem ser marcadas É importante lembrar que na Mata
das plantas e, portanto, o insumo essencial abertura dos frutos, pois logo em seguida com seu número de identificação em Atlântica as plantas ocorrem próximas
em qualquer processo de restauração elas serão rapidamente dispersadas, plaquetas e pode ser usado ainda um umas das outras, formando as chamadas
florestal. E para isso, a colheita das restringindo a colheita. Neste estágio, mapa, com esquema de trilha, anotações colônias. Nelas, surgem plantas adultas
sementes é ação básica para produzir a semente atinge o máximo de seu poder sobre rios, pontes, entre outras referências. da mesma família, mas para colher
mudas e subsidiar o plantio. Sua qualidade germinativo e vigor, ou seja, daí em Após a identificação e marcação, faça visitas sementes de boa qualidade deve-se
dependerá sempre de fatores genéticos, diante iniciará o processo de deterioração, periódicas às árvores para acompanhar o evitar o parentesco entre árvores.
biológicos e físicos e quanto mais alto for influenciado pelas condições do ambiente. florescimento, a frutificação e o amadureci- Assim, busque marcar árvores matrizes
o grau de pureza, a variabilidade genética Este “ponto de maturidade” varia muito mento dos frutos, informações que serão de várias famílias diferentes, que devem
e a maturidade das sementes, melhor para em função da espécie e do local, mas anotadas em uma caderneta de campo para estar distante entre si pelo menos
os pomares e para a recuperação florestal. alguns indicadores práticos podem ajudar cada espécie, facilitando trabalhos futuros. 100 metros.
Produzir sementes de qualidade é um na avaliação do melhor momento,
desafio, mas você pode iniciar observando a exemplo da coloração, tamanho, odor
mais sobre as espécies de árvore de onde e frequência de visitação de animais nos
irá coletar, como se reproduzem e mesmo pés. Pode ser muito útil ter um calendário
sua relação com os animais, além de notar de colheita com os períodos de frutificação
fatores ambientais como a presença e floração das espécies que serão usadas
de água, luz e o tipo de solo. (informações que se encontram em livros
e sites, mas devem ser ajustadas com
A própria diversidade das florestas tropicais a época de cada localidade).
brasileiras traz dificuldades, conforme Resumindo...
há vários tipos de frutos e sementes que Outro procedimento inicial é a
só existem em uma localidade e com identificação e marcação das matrizes
característica muito diversas de polpa, permanentes de onde serão coletadas um lote de sementes de boa qualidade
aroma, cores, secos, espinhos, pêlos, as sementes, as quais serão responsáveis provêm da colheita em diversas matrizes
formatos, tamanhos etc, além de exigirem pela produção de boa qualidade das
árvores nativas regionais. Os maciços
de locais conhecidos, na época certa,
tratamentos diferenciados em cada caso.
destas árvores devem ser identificados e livres do ataque de insetos ou fungos,
Um bom começo é conhecer um pouco mais de acordo com sua localização e indicação com boa capacidade de germinar,
sobre a forma e a estrutura das sementes, de espécies.
como se dispersam e como encontram um podendo ter passado por processos
novo microambiente. E basicamente os frutos Lembre-se que as matrizes trazem consigo como o beneficiamento que melhoraram
de onde são coletadas, dividem-se em dois ferramentas de adaptação ao ambiente onde
se encontram. Essas matrizes para colheita a qualidade do lote.
tipos: carnosos ou com polpa envolvendo as
sementes, os quais costumam ser usados por devem ser saudáveis, com bom porte, copas
animais na alimentação; e os frutos secos ou bem formadas e livres de doenças. Devem
não suculentos, com sementes aladas. ainda estar em plena maturidade, vigorosas
e com boa produção, pois árvores jovens
Então, qual o momento ideal para ou muito velhas frutificam em pequena
realizarmos a colheita das sementes? quantidade e com qualidade inferior.
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Como saber qual a melhor época para a e secagem à sombra, despolpamento, secagem Em alguns casos, a imersão em água
colheita de sementes? à meia-sombra, acondicionamento em sacos quente (70º a 100ºC, durante 1 hora ou até
de sombrite até a abertura natural ou até 24 horas), ou choques de temperaturas,
Faça uma lista das espécies desejáveis e suas mesmo abertura mecânica forçada, sempre alternando a imersão em água quente
prováveis épocas de frutificação, com o local seguidas de pesagem e acondicionamento. e fria, também são práticas recorrentes
de colheita das sementes. A partir daí, as
em viveiros florestais.
observações de campo são imprescindíveis, Após a colheita das sementes, será necessário
pois quando os frutos amadurecem, deve- beneficiá-las, o que consiste numa série Superada a dormência, procedemos então
se colhê-los imediatamente para se evitar de operações para retirar impurezas, à semeadura e germinação. É possível
perdas. Como já dito, a cor, a textura, a forma sementes de outras espécies e promover a usar canteiros de semeadura, com posterior
e os sinais de abertura, são ótimos indicativos homogeneização do lote quanto a tamanho, transferência para o recipiente, ou semear
visuais do amadurecimento dos frutos. peso e forma das sementes. O produto final diretamente nos recipientes de produção,
deve ter o máximo de qualidade fisiológica, como os tubetes e saquinhos. Semear direto
A seguir, os frutos colhidos serão colocados que irá se refletir no sucesso do plantio
em sacos plásticos identificados com o nome em canteiros é um bom caminho quando
e recuperação da área. as sementes são muito pequenas e é difícil
da espécie, o local de colheita, o número
da árvore matriz e a data da colheita. O beneficiamento manual é o método sua distribuição individualizada ou quando
mais empregado para espécies nativas, se deseja aproveitar a maior quantidade
Os principais métodos de colheita de eliminando-se sementes chochas, imaturas possível de mudas.
frutos são: e quebradas, pedaços de frutos, folhas
Os canteiros podem ser construídos em
. Diretamente do chão, com lonas ou redes ou qualquer outro detrito vegetal.
madeira ou alvenaria, no chão ou suspensos,
de apoio: em árvores de porte pequeno Curiosamente, no caso do Cambuci com 30 centímetros de profundidade. São
é possível colher os frutos diretamente e de outras espécies com sementes muito preenchidos com uma camada de brita,
ou com o auxílio de tesouras de poda. pequenas na polpa, alguns agricultores uma de areia grossa e substrato por cima.
. Na copa das árvores: método mais difícil, possuem a prática de retirar o miolo da polpa A semeadura é feita a lanço e, em seguida,
pois exige que o colhedor atinja a copa e com as sementes (usando uma colher) as sementes são cobertas com fina camada
para isso, deve saber manejar equipamentos e misturá-lo diretamente no substrato, de substrato peneirado com espessura
de segurança que o acompanham. em linhas ao longo de uma telha. equivalente ao diâmetro das sementes.
Na sequência, separam em saquinhos Pode-se acrescentar palha de arroz, capim
A poda de frutos em árvores altas, exige as plantas que germinaram. seco, serragem, etc, para manter a umidade.
um equipamento denominado “podão”, Finalmente, ele deve ser protegido contra
que consiste numa tesoura de poda alta Com as sementes beneficiadas, é necessário o sol direto e a chuva, utilizando-se
para o corte de galhos distantes, que pode realizar a quebra de dormência para sombrite e plástico. Após a germinação
aumentar de tamanho com a ajuda algumas espécies, pois a dormência é um das sementes nos canteiros, realiza-se a
de extensores, devendo estar sempre estágio que impede sua germinação. Para repicagem das mudas para os recipientes.
na posição vertical na hora da montagem. isso, podem ser empregadas várias técnicas
ou tratamentos, mas a forma mais freqüente É possível ainda, realizar a semeadura
Os frutos colhidos também devem passar de quebra da dormência é a chamada diretamente no recipiente, o que oferece
por uma separação individual, com técnicas escarificação das sementes, lixando-as algumas vantagens: simplifica as operações,
Exemplo da ferramenta podão
que podem ir da lavagem em água corrente e gastando seu tegumento. evita danos à raiz e traumas na repicagem,
29
além de apressar o processo de produção
de mudas. Sua execução é mais fácil com
sementes de tamanho médio e de fácil
manipulação.
Neste caso, o número de sementes
empregado em geral é maior, uma vez que
são utilizadas mais de uma semente por
recipiente, de forma a assegurar
o aproveitamento de pelo menos uma planta
(as outras são repicadas ou cortadas com
tesoura). É comum o uso de 2 a 5 sementes
por recipiente.
O sombreamento deve levar em conta se
a espécie é pioneira ou não-pioneira, sendo
mais adequado para as espécies pioneiras
o plantio em pleno sol ou com sombrites
de até 30% de filtro de luz, e para o caso
das não-pioneiras, deve-se proceder
à semeadura em telados de 50%.
A irrigação é uma das etapas de produção
de mudas que requer maior atenção. Deve-
se proceder à irrigação nos períodos mais
frescos do dia pela manhã (até às 10 horas)
e tarde (após às 16 horas).
Vale lembrar que o excesso de água é
mais prejudicial às plantas do que a falta
dela. Excesso favorece o aparecimento
de doenças, lava os nutrientes, impede a
circulação de ar e o crescimento das raízes.
E deve-se ter cuidado para que os respingos
de água não removam as sementes do
substrato, prejudicando a germinação
e o estabelecimento das plântulas nos
canteiros. A irrigação, nesta fase, deve ser
mais freqüente do que quando as mudas
já estão maiores.
Sementes de Juçara germinando
31
As principais doenças em um viveiro são dentro do próprio canteiro ou entre canteiros, A seguir, é feita a rustificação com a função O transporte das mudas deve ser feito com
o tombamento e doenças de folhas. agrupando plantas de mesmo tamanho de preparar as mudas para as condições que cuidado para que não se quebre o torrão,
O tombamento é ocasionado por fungos e evitando desequilíbrios na competição. as plantas irão encontrar em campo. O período o que provoca um índice muito grande de
presentes no solo e seu sintoma é a queda das de rustificação varia entre 15 e 30 dias, com perdas de plantas. Finalmente, você irá notar
plantas dentro do saquinho ou tubete. Para evitá- À medida que as mudas se desenvolvem, o seguinte procedimento: seleção das melhores sua qualidade no campo a partir de alguns
lo, devemos utilizar substratos prontos livres de irão necessitar de maior área para que cresçam plantas (descartar plantas doentes e plantas parâmetros importantes: uniformidade na altura,
patógenos ou proceder a uma descontaminação de forma saudável. Quando vemos que estão raquíticas ou deformadas); transporte para local rigidez da haste principal, números de folhas
do substrato através de solarização. iniciando a competição entre si, realizamos com pleno sol; diminuição da irrigação; e tamanho da copa, aspecto visual vigoroso,
a remoção e posteriormente a seleção, e interrupção da adubação. ausência de tombamento, ausência de insetos
Com relação às plantas invasoras, o controle com a intenção de separar as mudas por e doenças e de plantas concorrentes no solo.
deve ser executado em todo o viveiro e não tamanho e fazer a abertura das mesmas, Recomenda-se que todas os lotes de mudas
somente nos canteiros. Também é interessante ou seja, aumentar a área espacial para 17% sejam identificados, informando-se o nome
realizar a “dança no viveiro”, que consiste na de ocupação dos canteiros. da espécie e o estágio sucessional.
remoção das mudas de um local para outro,
Os parâmetros de qualidade
das mudas para ida ao campo
são inúmeros, como o aspecto
nutricional (visual), altura que deve
estar acima de 20cm, o diâmetro
do colo que deve estar acima de 3mm,
e proporcionalidade entre
a massa aérea (folhagem)
e sistema radicular bem formado.
33
PREPARAR O SOLO E PLANTAR
Antes de iniciar o plantio das mudas no Os compostos orgânicos que serão usados o crescimento de espécies invasoras, além de melhor qualidade e devolvê-lo para
campo, o agricultor deve ter em mente na adubação já devem ter sido adquiridos de gerar material orgânico para nutrição o fundo do berço.
atividades necessárias para o preparo ou preparados na propriedade, calculando- permanente.
do solo: a roçada, a demarcação, abertura se o tempo de amadurecimento destes 4. Plantar a muda, cuidando de alinhar o colo
de berços, preparo e correção do solo. A sequência do plantio está resumida aqui: da mesma à superfície e centralizar a muda
composto antes de ser aplicado no berço.
Aplicada a calagem e o adubo orgânico no 1. Abrir o berço removendo parte do solo no berço. Cobrir a muda com a terra restante.
A limpeza do local com a remoção
berço, deve-se misturar então um pouco da mais fértil e acomodando-o ao lado.
e destinação de resíduos, assim como 5. Pressione levemente a muda no solo para
terra e aguardar alguns dias antes do plantio.
a regularização do terreno, são atividades 2. Remover o restante do solo mais profundo, firmá-la, coloque o tutor cuidadosamente
a serem realizadas somente nos casos em Chegou a hora de iniciar o plantio, qual e acomodar separadamente. Em seguida, para não ferir as raízes e faça o amarrio
que haja necessidade, devendo sempre o primeiro passo? retirar o saco da muda cuidadosamente para em oito, de forma que a muda não fique
atender à legislação vigente. Já o cercamento evitar desfazer o torrão. Cuide de recolher encostada diretamente no tutor.
do local para evitar depredações e invasões Faça o cálculo de quantas mudas serão
o saco plástico.
é algo bastante recomendado. utilizadas de acordo com o espaçamento 6. Por fim, cubra a muda com a palhada da
utilizado para as espécies escolhidas e o 3. Misturar os insumos orgânicos com a terra roçada, protegendo-a.
O preparo do berço com antecedência modelo de distribuição definido no seu
também é decisivo para o estabelecimento croqui. Uma boa ilustração é considerarmos
e desenvolvimento adequado das mudas, e uma área de 1 hectare (10 mil m2), com
esta é uma atividade que requer tempo para a distribuição de frutíferas em linha e com
permitir aos insumos orgânicos ali depositados espaçamento de 6 m x 6 m. Ou seja, a cada
serem incorporados realmente no solo. 6 metros teremos uma muda e os mesmos
6 metros se repetirão entre as linhas de
A dimensão dos berços deverá ser no mínimo
plantio. Utilizando este modelo, teremos
de 40 x 40 x 40 cm, o que facilitará
então 277 mudas de frutíferas plantadas,
o estabelecimento das mudas no pós-plantio.
recomendando-se a aquisição de mais
Estas dimensões podem ser aumentadas
10% de mudas para reposição de eventuais
quanto maiores forem o tamanho do saco
perdas, ou seja, o total de 304 mudas.
e do torrão das mudas, imaginando sempre
dois palmos além do tamanho do torrão A área de plantio deverá estar isenta de
(nas laterais e na profundidade) para resíduos e regularizada, recomendando-se,
proporcionar um bom espaço de ainda, o controle prévio de formigas,
desenvolvimento das raizes. de preferência com métodos compativeis
com o manejo agroecológico do pomar.
A realização da calagem, ou seja, aplicação
de calcário na área, proporcionará equilíbrio Ao redor de cada berço, num raio de 0,5
em locais onde o solo está ácido, permitindo metros, deve-se realizar o coroamento
com que os nutrientes a serem incorporados das mudas ou capina da vegetação,
no berço sejam realmente absorvidos pelas visando reduzir a competição da planta
raízes. Todos os elementos precisam estar por luz. A palhada oriunda da capina pode
disponíveis e ativos para tornarem-se ser colocada ao redor de cada muda,
participantes deste ciclo de crescimento. favorecendo a umidade no solo e impedindo Como Fazer Uma Cova Para Plantio de Pomar - retirado do site estudeagronomia.blogspot.com.br
35
CUIDADOS APÓS O PLANTIO
As podas são um cuidado essencial no . A poda mantendo o galho principal com
manejo do pomar, pois favorecem a entrada seus galhos secundários.
de luz nos vários “andares” da agrofloresta,
permitindo acelerar o processo sucessional. . A poda de galhos inferiores para formação
de copa, “sem saia embaixo do pé”.
Árvores e arbustos maduros são
rejuvenescidos pela poda, podendo ser A poda é feita na ligação do galho com
podados e aproveitar sua matéria vegetal a galho principal, nunca no meio do galho,
devidamente picada e bem distribuída para mantendo-se o formato de copa da árvore.
recobrir o solo, tomando-se o devido cuidado O importante é sempre podar os galhos com
para que os galhos e troncos fiquem em ferramentas bem afiadas e em bisel, isto é,
contato direto com o solo. Mas lembre-se chanfrado.
de identificar a planta existente abaixo
daquela que será podada, que irá substituí-la Não há necessidade de aplicar nenhum
no próximo consórcio. produto no galho podado, pois a própria
planta desenvolve resistência para se
O Cambucizeiro é uma boa referência de
proteger do ataque de insetos e doenças.
manejo para algumas orientações gerais
Mas é preciso manter adubações periódicas
sobre a poda. Nas árvores de Cambuci,
para permitir a resistência natural.
a poda tem a função de facilitar a colheita,
sendo feita na fase de desenvolvimento Um último fator chave é não deixar lascar a
da muda e em três situações diferentes: casca da árvore no momento da poda, pois
. A poda do galho principal, com o objetivo isso abre caminho para a contaminação desta
de diminuir o tamanho da planta para região, por conta da exposição e do acúmulo
facilitar a colheita. de umidade na região podada.
37
COMO NUTRIR
Quando falamos de adubação estamos Há formas específicas de adubação do pomar,
tratando sempre da nutrição vegetal, ou seja, as quais devem ser melhor conhecidas:
dos elementos presentes ou incorporados
ao solo capazes de nutrir os vegetais. . Controle do mato ou adubo verde com
plantas espontâneas do local: a vantagem
Esses nutrientes são elementos químicos, deste modelo é incorporar grande variedade
disponíveis na natureza, com a força para de plantas espontâneas, disponibilizando
fazer os vegetais crescerem, realizarem suas uma grande variedade de nutrientes no solo.
funções biológicas e ainda se defenderem
do ataque de insetos e doenças. . Uso de adubo verde com plantio
intencional de espécies produtoras
Numa floresta como a Mata Atlântica, com de massa verde e fixadoras de nitrogênio:
alta diversidade vegetal, onde é possível podem ser inseridos coquetéis de sementes
encontrar mais de 300 espécies arbóreas de culturas que possuem características
por hectare, são as próprias folhas que, ao benéficas como adição de nutrientes ao solo,
cair, entram em processo de decomposição poder de combater insetos de doenças
e transformam-se em nutrientes suficientes e de melhorar as condições química, física
para alimentar a floresta. e biológicas do solo.
É interessante notar que estas substâncias Vale lembrar que o objetivo da adubação
decompostas e incorporadas ao solo verde é proporcionar matéria orgânica,
proporcionam uma “liga na terra”. Mas para proteção do solo, manutenção da
fazer a decomposição destes nutrientes temperatura, água e nutrientes suficientes
entram em ação agentes especiais, os micro para manter o solo próximo a um equilíbrio, Métodos de nutrição orgânica do solo, com cobertura morta
e macro organismos que se alimentam diminuindo assim o custo da produção. Ao
. Cobertura morta: técnica responsável por e se colocarmos culturas da mesma família na
das partes mortas e restos das plantas em longo dos anos, com o ponto de equilíbrio do
manter a temperatura e umidade do solo sequência em um mesmo pedaço de chão,
seus processos biológicos. Eles processam sistema, a quantidade de insumos adquiridos
em níveis favoráveis ao desenvolvimento da ano após ano, estas irão consumir os mesmos
e disponibilizam os nutrientes antes é menor e, com isso, o lucro é maior pois o
vida no solo, com macro e micronutrientes. nutrientes, havendo um esgotamento destes.
integrantes da estrutura das plantas, agora agricultor produzirá em sua propriedade
Lembrando que temperaturas acima de 20ºC
para o solo, em pequeníssimas partículas grande parte dos insumos usados na lavoura. . Policultivo de pomares de Mata Atlântica:
podem exterminar uma variedade grande
para serem absorvidas, pelas raízes, em o cultivo de várias culturas numa mesma
. Cultivo mínimo: em solos de um país organismos do solo, além de diminuir a
uma mistura com água e solo. área, planejado com culturas nativas da mata
tropical como o Brasil, quanto mais quantidade de água essencial para
o desenvolvimento da planta. atlântica com potencial de mercado, possui
De forma simplificada, cria-se uma espécie revolvemos o solo mais sua potência
vantagens como: diminuição do ataque de
de “suco mineral” rico em nutrientes e água, se desestrutura, ocorrendo a desagregação
. Rotação de culturas: nada mais é do que insetos e doenças; aumento da fertilidade
capaz de ser absorvido e utilizado pelas de partículas de solo que estavam antes
a troca de cultura de lugar, de extrema de solo; aumento da diversidade de cores
plantas. Este é o principal funcionamento unidas, em condições para a manutenção
importância para a agroecologia, pois é e aromas que causam uma confusão no
a ser compreendido na nutrição vegetal e na e equilíbrio da vida no local. Assim,
uma forma de prevenir doenças e ataque de aparelho visual de determinados insetos;
dinâmica da vida no solo, promovendo-se é importante o cultivo com o mínimo de
insetos. As plantas são divididas por famílias, aumento de determinados odores liberados
plantas fortalecidas e nutridas contra movimentação no solo que irá disponibilizar
que gostam de determinados nutrientes, pelas plantas que causam confusão no
o ataque de insetos e doenças. substâncias às raízes.
39
aparelho olfativo dos insetos; aumento pronto para uso pelas plantas, isto é ,
das plantas companheiras que ajudam húmus. Suas vantagens são: arejamento
no desenvolvimento de outras plantas. do solo e dissolução da argila; prevenção
da erosão e neutralização de toxinas;
. Biofertilizante: “bio” significa vida condições saudáveis para antibióticos
e “fertilizante” significa o que fertiliza naturais, minhocas e fungos benéficos; solo
ou fecunda, ou seja, biofertilizante é a mais fácil de ser trabalhado com melhores
fertilização por meio da vida. O processo características de aeração, retenção de água
pelo qual conseguimos este produto que e resistência à erosão.
contém nutrientes, hormônios, álcool,
fenóis, microorganismos benéficos etc, é . Aplicação de biofertilizante na irrigação:
a fermentação feita pelos microrganismos prática muito eficiente, de baixo custo e de
encontrados nos insumos. São produtos rápida assimilação.
fáceis de preparar porque seus insumos são . Calagem: incorporação de Cálcio e
fáceis de encontrar, tais como galão, leite, Magnésio para regular o P.H. do solo.
cinzas, cascas, açúcar etc.
Finalmente, se decidir Incorporar composto
. Composto orgânico: o princípio básico orgânico produzido na propriedade, lembre-
da produção de composto orgânico está se que esta operação requer grande volume
na transformação dos restos orgânicos de matéria orgânica e um micro trator à
pelos microrganismos do solo em material disposição, para o transporte do material.
Uso de palhada e diferença de solos Preparo do biofertilizante para alimentar o solo vivo
41
COLHER E BENEFICIAR
É de suma importância para o produtor A seguir, devem ser seguidas as fases de:
buscar o beneficiamento de seus produtos, seleção do fruto, padronização do ponto
especialmente na fruticultura das nativas de maturação; higiene pessoal e dos
da Mata Atlântica, onde o beneficiamento equipamentos e instrumentos; uso de água
do fruto começa na colheita. potável, tanque de inox ou azulejo; fluxo
de processamento; sanitização dos frutos;
No caso do Cambuci, a fase da colheita é
empacotamento; armazenamento
onde ocorrem os maiores problemas, com
e distribuição.
perdas da ordem de 50%, sendo a atividade
mais frágil da produção. Mas todo o cuidado Caso ocorra a decisão por construir uma
é pouco ao beneficiar, pois esta atividade agroindústria artesanal, o ambiente deve
exige bastante profissionalismo. prever instalações especiais com janelas e
outras aberturas como requisitos essenciais.
É na fase da colheita que podemos
economizar com sanitizantes, água Ao longo do curso, serão apresentadas
e trabalho, ou seja, quanto menos o fruto boas práticas ou normas que garantem ao
vier contaminado com impurezas, menos consumidor o quanto aquele alimento é
insumos teremos que usar para sua saudável livre de contaminação, pois o que
higienização e, portanto, menos recursos é um microrganismo para o solo para o ser
financeiros. humano pode ser a causa de morte fatal.
É importante conhecer então o ponto O processo de produção requer atenção em
de maturação do fruto e mesmo vir a usar todas as fases, desde a escolha da semente
uma rede embaixo das árvores, tornando até a preocupação com a venda. E tudo isso
a atividade mais rentável, pois há menor depende de um planejamento que inclua a
perda de frutos no chão. comercialização da produção.
43
DE OLHO NO ECOMERCADO
O ecomercado é um conceito criado pela com benefícios para a recuperação da em São Paulo, é um importante ponto de ecomercado, o Instituto inaugurou em
Unesco em 1996, e que significa considerar floresta. É importante ficarmos de olho venda desses produtos diretamente dos Osasco um galpão de 500 metros quadrados
a conservação da natureza e o bem-estar nas oportunidades que vêm sendo criadas agricultores dos biomas para milhares de com escritório, e desde agosto de 2017, duas
das pessoas como o centro das atividades para estes produtos com nativas: consumidores da cidade. câmaras frias de 30 toneladas cada, além
produtivas. Este novo tipo de mercado unifica de uma equipe de quatro pessoas fixas e,
os aspectos sociais, econômicos e ambientais, . Entre 2014 e 2017, o AUÁ circulou 90 . O AUÁ também oferece um serviço de buffet a partir de novembro, quatro representantes
pois busca-se intervir no meio natural de toneladas de frutos e polpas, além de mais de e oficinas gastronômicas chamado Sabor comerciais externos.
modo coerente com os limites da natureza, 200 itens derivados doces, salgados e bebidas Nativo, proporcionando uma experiência
sem destruir sua capacidade de se renovar. de Cambuci e outras espécies nativas no gastronômica com a biodiversidade, a . A inserção no mercado de produtos
entorno da Serra do Mar de São Paulo. agroecologia e o ecomercado, atendendo da Mata Atlântica já envolve em 2018 cerca
Ao introduzir as espécies nativas diferentes organizações. de 70 estabelecimentos gastronômicos,
da Mata Atlântica no ecomercado, . Inaugurado em março de 2016 e gerido em 30 de varejo, 7 indústrias e 2 prefeituras
o Instituto AUÁ busca distribuir os ganhos conjunto com o Instituto ATÁ, o Boxe Mata . Com a missão de viabilizar logística e municipais com a merenda escolar.
econômicos a toda a cadeia produtiva, Atlântica do Mercado Municipal de Pinheiros, comercialização para os produtos do
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MATRIZ F.O.F.A. ANOTAÇÕES
Ao conhecer as forças, oportunidades, fraquezas e ameaças que influem nos negócios é possível planejar
e projetar soluções competitivas mais eficientes.
Forças Oportunidades
PONTOS FORTES
Fraquezas Ameaças
PONTOS FRACOS
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CROQUI DE SUA PROPRIEDADE ANO 1 - PLANEJAMENTO
Desenhe o croqui do sistema agroflorestal de sua propriedade nas próximas páginas.
(use legenda de cores e espécies, conforme os exemplos abaixo)
Imagens retiradas da publicação “Sistemas Agroflorestais com Juçara”, de autoria de Fernando Silveira Franco,
Suzana Marques Rodrigues Alvares e Samuel Carvalho Ferreira da Rosa
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ANO 7 ANO 15
51
ESPÉCIE
QUANTIDADE
PLANTADA
ESPAÇAMEN-
TO (mt)
ANO DE
PLANTIO
PRODUTO
INÍCIO DA
PRODUÇÃO
SAZONALI-
DADE
DA SAFRA
1
ANO
7
ANO
TABELA DE ESPÉCI ES CULTIVADAS
PRODUÇÃO (kg)
15
ANO
COR NO
CROQUI
ESPÉCIE
QUANTIDADE
PLANTADA
ESPAÇAMEN-
TO (mt)
ANO DE
PLANTIO
PRODUTO
INÍCIO DA
PRODUÇÃO
SAZONALI-
DADE
DA SAFRA
1
ANO
7
ANO
PRODUÇÃO (kg)
15
ANO
COR NO
CROQUI
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SUGESTÕES DE LEITURA ANEXOS
. Lei de Produção Orgânica 10.831 de 2003 - . PIÑA-RODRIGUES, F.C.M. “Guia Prático para Exemplo de como registrar a colheita de sementes
https://goo.gl/4vkdFq a Colheita e Manejo de Sementes Florestais
Tropicais”. Rio de Janeiro, Idaco, 2002.
. Site Viva Terra - www.vivaterra.org.br FICHA DE COLHEITA DE SEMENTES
. PINÃ-RODRIGUES, F.C.M.; AGUIAR, I..B.
. Site da AAO – Associação de Agricultura “Maturação e dispersão de sementes”,
Orgânica – www.aao.org.br In: AGUIAR, I.R.; PINÃ-RODRIGUES, F.C.M;
FIGLIOLIO, M.B.(Ed.) Sementes Florestais Ficha N º Lote Nº:
. Site do Instituto AUÁ - http://institutoaua.
Tropicais. Brasília: ABRATES, 1993. p.215-74
org.br/conteudo-aua/publicacoes/ Identificação do Maciço/Colônia:
. Steenbock, Walter. “Agrofloresta : aprendendo
. “Guia de Árvores com Valor Econômico” a produzir com a natureza” / Walter Steenbock; Espécie: Nome Vulgar:
– Eduardo Malta Campos Filho e Paolo Fabiane Machado Vezzani. – Curitiba : Fabiane
Alessandro Sartorelli. Machado Vezzani, 2013. 148p. il. Nome Científico:
. Atlas da SOS Mata Atlântica – www.sosma.org.br . Miccolis, A. et al. “Restauração Ecológica
com Sistemas Agroflorestais: como conciliar
. “Orientações para plantio, colheita e conservação com produção. Opções para
comercialização de espécies florestais nativas Data da Colheita: Coletor:
Cerrado e Caatinga” / Andrew Miccolis ... [et
da Mata Atlântica no Estado de São Paulo” - al.]. Brasília: Instituto Sociedade, População
Embrapa, 2018. Local:
e Natureza – ISPN/Centro Internacional de
Pesquisa Agroflorestal – ICRAF, 2016. Quantidade Matrizes Colhidas:
. FIGLIOLIA, M.B.; AGUIAR, I.B. Colheita de
Sementes. In: Sementes Florestais Tropicais.. . Goetch, Ernst. “Homem e Natureza na agricultura”.
Brasília – ABRATES. 1993. p.275-302. 1ª ed. Recife: Recife Gráfica Editora. 1995. Quantidade Colhida: Kg Tipo de Fruto:
Vegetação de Ocorrência:
Coloração do Fruto:
Observação:
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