Goiania em Mosaico Miolo Integral1 PDF
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REITOR
Prof. Wolmir Therezio Amado
CONSELHO EDITORIAL
Edival Lourenço - União Brasileira de Escritores
Getúlio Targino - Presidente da Academia Goiana de Letras
Heloísa Helena de Campos Borges - Presidente da Academia Feminina de Letras
Heloísa Selma Fernandes Capel - Universidade Federal de Goiás
Maria do Espírito Santo Rosa Cavalcante Ribeiro - Pontifícia Universidade Católica de
Goiás
Márcia de Alencar Santana - Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Maria Luísa Ribeiro - Presidente da Academia Goianiense de Letras
Regina Lucia de Araújo - Pesquisadora
Roberto Malheiros - Pontifícia Universidade Católica de Goiás
Ademir Luiz da Silva
Eliézer Cardoso de Oliveira
(Organizadores)
GOIÂNIA EM MOSAICO
visões sobre a capital do cerrado
Goiânia, 2015
© 2015 by Ademir Luiz da Silva
Eliézer Cardoso de Oliveira
(Orgs.)
Comissão Técnica
Biblioteca Central da PUC Goiás
Normalização
Roberta do Carmo Ribeiro; Juliana Guimarães Rézio
Revisão
Célio Otacílio da Silva
Editoração Eletrônica
Einstein Augusto; Arnaldo Salustiano
Capa
Félix de Pádua
Ajustes finais de capa
Eduardo Bilemjian
Foto da capa (Inauguração do busto de Pedro Ludovico)
Este livro foi financiado pelo projeto de “Implantação e estruturação do Mestrado Interdisciplinar
em Territórios e Expressões Culturais no Cerrado”, do edital CAPES/FAPEG 11/2012, Auxílio
n. 1664/2013, com vigência de 22/07/2013 à 21/07/2016.
ISBN 978-85-7103-886-8
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida, armazenada em
um sistema de recuperação ou transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico,
mecânico, fotocópia, microfilmagem, gravação ou outro, sem escrita permissão do editor.
Impresso no Brasil
SUMÁRIO
Apresentação...................................................................................... 7
Eduardo Quadros
6 Sumário
APRESENTAÇÃO
Eduardo Quadros
Múltipla Goianidade
8 Apresentação
te tornara-se, na época, o erro a ser evitado, a criação de Brasília, duas
décadas depois, retomara essa concepção topográfica da governabili-
dade para aperfeiçoá-la.
Contudo, por princípio, todo poder gera contrapoderes e todo
controle cria resistências. A dominação jamais flui como um rio in-
tempestivo. Este livro ressalta, portanto, as curvas das margens, re-
compondo personagens e eventos dantes marginalizados na versão
historiográfica hegemônica. De repente, surge um operário sofrendo
um acidente grave no trabalho; na esquina, um protestante pregando
a salvação; imigrantes passeando deslocados; enquanto tantos outros
reproduzem os padrões da vidinha rural. Uma cidade modernista, mas
com a Capital sertaneja. Os autores, aqui, reunidos penetram através da
“Vila Nova” dos trabalhadores, pelos terreiros e centros espiritas, au-
xiliam-nos a escutar os tambores das congadas, os acordes distorcidos
do rock’n’roll e as ricas rimas do rap. Cidades múltiplas, sendo uma só.
O que as tornara invisíveis? Por que tantos sons inaudíveis? Ain-
da bem que nem todos foram atraídos pelo canto de sereia do desenvol-
vimento... Afinal, essa não tem sido a tarefa intermitente da pesquisa
na área das Ciências Humanas? Ser profundamente crítica, indo muito
além do que se apresenta? O crescimento capitalista reifica as vidas que
submergem ao ritmo ensurdecedor de suas máquinas. Então, esta obra
interdisciplinar cumpre o dever ético e acadêmico, ao re-humanizar
tantos sujeitos que vem construindo o novo Goiás, cotidianamente.
Sem desprezar o nível jurídico, estatal, cultural, monetário, psíqui-
co ou estético, nas páginas a seguir os reencontraremos, compondo mo-
saicos exemplares. Claro, mosaicos que somos todos nós. Este livro conta
histórias do todo por suas partes. Aprendemos com seus capítulos (nova-
mente?) a contemplar a paisagem goianiense, por meio das suas diversas
cores, dando plena atenção às pinceladas que compõem a arte de viver.
9 Eduardo Quadros
PARTE 1
POLÍTICA, MODERNIDADE E
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO
GOIÂNIA: A CAPITAL DO SERTÃO
Introdução
Conclusão
Referências
Introdução
Explicações iniciais
5 Cf. termo de contrato de 2 de março de 1936, em que o Sr. Antonio Canêdo cede
ao Estado de Goiás, “todos os direitos e exclusividade para extração de pedras
do morro “Ressaco”, situado em terras de sua propriedade...”, MONTEIRO, Ofé-
lia, 1938, p. 413-414.
6 Cf. termos de contratos entre o Estado de Goiás e diferentes indivíduos, tran-
scritos em Ofélia Monteiro, p. 414ss; ver também correspondência enviada pelo
engenheiro Abelardo Coimbra Bueno (corresponsável pela Superintendência
das Obras da Nova Capital) ao Governador, em que fala da “manutenção de ma-
terial empregado pelos empreiteiros” encarregados da extração de areia, saibro e
cascalho, APL, pasta 76.
34
QUANT. CAPITAL QUANT. CAPITAL QUANT. CAPITAL QUANT. CAPITAL QUANT. CAPITAL QUANT. CAPITAL QUANT. CAPITAL
I. INDUST. 3 75% 236.522 94% 11 61% 75.435 66% 40 82% 440.601 86% 77 68% 1.088.064 56% 123 71% 1.137.327 65% 204 71% 2.367.224 73% 458 71% 5.345.173 68%
1. Indústrias
1 2% 257 - 2 2% 24.189 1% 3 2% 92.683 5% 5 2% 308.082 10% 11 2% 425.211 5%
extrativas
2. Indúst. de
3 75% 236.522 94% 10 56% 70.060 62% 32 65% 409.639 80% 67 59% 992.621 51% 97 56% 685.163 39% 159 56% 1.289.063 40% 368 57% 3.683.068 47%
transform.
3. Indúst. de
construção 1 6% 5.375 5% 6 12% 28.166 6% 8 7% 71.254 4% 23 13% 359.481 20% 39 14% 765.298 24% 77 12% 1.229.574 16%
civil
4. Serv. ind. e
de utilidade 1 2% 2.539 - - 1 - 4.781 - 2 - 7.320 -
pública
II. ATIV.
1 25% 14.768 6% 5 28% 13.815 12% 9 18% 69.348 14% 27 24% 716.101 37% 43 25% 548.295 31% 71 25% 748.814 23% 156 24% 2.111.141 27%
COMERC.
1. Com. ata-
2 11% 6.020 5% 2 4% 14.424 3% 2 2% 59.404 3% 8 5% 55.977 3% 20 7% 240.714 7% 34 5% 376.539 5%
cadista
2. Com. mis-
1 25% 14.768 6% 3 7.795 7% 4 8% 12.031 2% 14 12% 592.830 30% 21 12% 362.586 21% 34 12% 426.771 13% 77 12% 1.416.781 18%
to (**)
3. Com. de
3 6% 42.893 8% 11 10% 63.867 3% 14 8% 129.732 7% 17 6% 81.329 3% 45 7% 317.821 4%
imóveis
III. ATIV.
DOS SERV. 1 6% 12.149 11% 9 8% 151.191 8% 8 5% 72.672 4% 9 3% 114.518 4% 27 4% 350.530 4%
TRANSP.
IV. ATIV.
MERCADO
1 6% 12.442 11% 2 1% 1.550 - 3 - 13.992 -
DE CRÉ-
DITO
TOTAL 4 100% 251.290 100% 18 100% 113.841 100% 49 100% 509.949 100% 113 100% 1.955.356 100% 174 100% 1.758.294 100% 286 100% 3.232.106 100% 644 100% 7.820.836 100%
9 AHEG, Livro de Registro de Imóveis – 1939, Estante 47. Aqui, uma curiosidade:
o oficial do cartório naquela época era o “tenentista” (da Coluna Prestes e outros
movimentos) Atanagildo de Queiroz França, conhecido como Atanagildo França.
Referências
A crise da legalidade
Nome:
Data de nascimento:
1 – Em qual bairro de Goiânia você morava no ano de 1961?
2 – Qual era sua ocupação em 1961?
3 – Tinha conhecimento da situação política brasileira em 1961?
4 – Qual sua opinião sobre o Governo de Mauro Borges?
5 – Como ficou sabendo do Movimento da Legalidade, promovi
do por Mauro Borges?
6 – Você acha que o governador Mauro Borges fez bem em
resistir? Por quê?
7 – Você testemunhou a movimentação das tropas? O que você viu?
8 – Você participou diretamente ou indiretamente da ação?
9 – Qual o impacto da movimentação das tropas em seu bairro?
O que as pessoas comentavam?
Considerações finais
Referências
Introdução
Visitei Goiânia em 1937. Uma planície sem fim, que tinha algo
de terreno baldio e campo de batalha, eriçada de postes elétri-
cos e estacas de agrimensores, deixava entrever uma centena de
casas novas dispersas pelos quatro cantos do horizonte. A mais
importante de todas era o Hotel, um paralelepípedo de cimento
que fazia lembrar, no meio daquela planície, uma aerogare ou um
forte; de boa vontade lhe chamaríamos de ‘bastião da civiliza-
ção’, expressão usada já não num sentido figurativo, mas direto
que adquiria um valor singularmente irônico. Pois nada podia
ser tão bárbaro, tão desumano, como essa iniciativa no deserto
(LEVI-STRAUSS, 1996, p. 119).
O crime da Rua 74
foi ele quem definiu os termos de cada uma das tratativas, deci-
diu quais reféns seriam soltos e quais seguiriam no cárcere e es-
tabeleceu a moeda de troca, de doze reféns por oito automóveis,
conferindo as marcas e modelos pedidos16.
15 “No Comando do Circo”. Revista Veja. Editora Abril. n. 15, 1 0 abr. 1996.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_10041996.shtml>.
Acesso em: 18 set. 2013.
16 “No Comando do Circo”. Revista Veja. Editora Abril. n. 15, 10 abr. 1996.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_10041996.shtml>.
Acesso em: 18 set. 2013
17 “No Comando do Circo”. Revista Veja. Editora Abril. n. 15, 10 abr. 1996.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_10041996.shtml>.
Acesso em: 18 set. 2013.
18 “No Comando do Circo”. Revista Veja. Editora Abril. n. 15, 10 abr. 1996.
Disponível em: <http://veja.abril.com.br/arquivo_veja/capa_10041996.shtml>.
Acesso em: 18 set. 2013.
Conclusão
Referências
Referências
Camila Gouveira;
Mateus Bezerra;
Bruno Ninomia;
Anderson Jalles;
Hugo Salomão;
Gleibiane Tavares;
Cristiano Arrais.
a) b)
a) b)
c) d)
Referências
J. G. Coelho Mendonça
Referências
CULTURA, RELIGIOSIDADE
E IMAGENS
VISUALIDADE E HISTÓRIA REGIONAL:
UM ESTUDO DO ÁLBUM DE GOIAZ
7 A fotomontagem é uma técnica criada no século XIX, surgiu como um dos re-
flexos entre as disputas que envolveram a pintura, considerada arte, e a fotografia,
desconsiderada enquanto tal. A partir desse momento, diminuiu-se o fosso entre
processo mecânico e criação artística. O fotógrafo, assim como o pintor, era capaz
de exaltar o belo, criar sensações, cumprir desejos e manifestar originalidade.
Considerações Finais
Referências
2 Termo utilizado pelo Sr. Air Gomes, em entrevista concedida a mim no dia 29,
ago. 2008, em Goiânia.
Tal lote ficava localizado na Rua 201, que hoje se chama Av. Co-
lombino de Bastos, n° 232, Setor Vila Nova. Assim, em 1953, foi cons-
truída a sede definitiva do Centro, que recebeu o nome de Centro
Eclético Espiritualista Tenda do Caminho. Apesar da forte orientação
kardecista, o Centro realizava trabalhos dentro da Umbanda, inclusi-
ve com a realização de curas. O primeiro presidente da instituição foi
o Dr. Colombino, que permaneceu à frente à Instituição até sua morte
em 1958, quando a Dª Antonieta assumiu a presidência da casa.
Mas que tipo de Umbanda era praticado neste primeiro Centro
fundado na Capital goiana? A Umbanda é uma religião bastante di-
versificada, apresentando características diferentes que variam de um
Centro para outro. Segundo os relatos de Dª Antonieta, a Tenda do
Caminho praticava o que ela chamava de “Umbanda Branca”. Este ter-
mo é bastante utilizado para se referir a uma Umbanda com forte in-
fluência kardecista e na qual a presença da doutrina espírita condicio-
nava o trabalho espiritual. Segundo palavras da própria Dª Antonieta,
6 Entrevista com Sr. Air Gomes, realizada por mim, em 29 mar. 2008, em Goiânia.
7 Cf. CAMARGO, 1961.
8 Entrevista com Sr. Luís Fernandes Salles e Elmo Rocha, realizada em 16/11/06
por Eliesse Scaramal como parte do projeto ABEREM: África no Brasil - es-
tudo de comunidades, religiosidades e territórios (SCARAMAL, Eliesse. Pro-
jeto ABerem – África no Brasil, estudos de comunidades, religiosidades e
territórios. Anápolis, GO: UEG; CieAA; UFG; CNPq. 2006).
9 Entrevista com Sr. Luís Fernandes Salles e Elmo Rocha, realizada em 16 nov.
2006, em Goiânia, por Eliesse Scaramal.
10 Entrevista com Sr. Luís Fernandes Salles e Elmo Rocha, realizada em 16 nov.
2006, em Goiânia, por Eliesse Scaramal.
Referências
Introdução
4 Idem.
verdade sobre o mundo e as coisas nele existentes. Sendo assim, segundo as pala-
vras do citado filósofo, o discurso “não é simplesmente aquilo que manifesta (ou
oculta) o desejo, é, também, aquilo que é objeto do desejo, e visto que o discurso
não é simplesmente o que traduz [...] o sistema de dominação, mas aquilo por que,
pelo que se luta, o poder do qual nós queremos apoderar” (FOUCAULT, 2002, p. 10).
7 O projeto urbanístico de Goiânia foi produzido pelo arquiteto Atílio Correia
Lima, que se inspirou nos projetos das cidades de Versalhes (França) e Karl-
sruhe (Alemanha), além de trazer influências da cidade de Washington (Esta-
dos Unidos da América) (MELLO, 2006).
8 Colonialidade do poder consiste em “um modelo de poder especificamente
moderno que interliga a formação racial, o controle do trabalho, o Estado e a
produção de conhecimento” (QUIJANO, apud TORRES, 2010, p. 414).
9 Seu terreiro, inicialmente, chamava-se Cabana Pena Branca e mais tarde passou
a se chamar Ilê Iba Ibomin.
10 Foi líder da casa de umbanda Centro Espírita São Sebastião, situado no Bairro
Pedro Ludovico.
11 Líder da casa de umbanda Centro Espírita Anjo Ismael, situada no Bairro Jardim
Goiás.
12 Iaô é a pessoa em processo de iniciação. Quitanda de iaô é a “cerimônia pública
[...] realizada após a terceira saída pública das iaôs recém-iniciadas. Nela, cada
iaô vende em leilão objetos que fabricou ou usou durante o período de reclusão.
O produto das vendas se destina a cobrir os gastos da iniciação” (LOPES, 2004).
[...] quando a gente veio pra cá a gente não tinha esse, né, não era
desse jeito, era diferente. Era muito mato e tinha muito buraco,
tinha muito lote baldio, né, que fala, quando joga lixo, e o bura-
cão. Aí foi mudando, modernizando, né, ficando melhor. Veio
energia, não tinha energia, não tinha asfalto, na época a gente
usava era os lampiões, que a gente comprava gasolina. Gasolina
não, querosene, né, tinha uns botecos ali pra cima, tinha que ir lá
24 Seu terreiro se chama Ilê Axé Onilewá e se situa no Bairro Buriti Sereno, em
Aparecida de Goiânia.
Eu falei: ‘eu vou fazer esse trem, eu vou raspar essa cabeça’. Re-
solvi assim, do nada, e minha família toda contra, contra: ‘é,
mas nós não vamos te ajudar, nós não vamos te ajudar’, porque
o poder aquisitivo estava lá embaixo, né. Mas eu falei: ‘eu vou
arrumar esse dinheiro’. Menina, eu comecei a pintar cerâmica,
panelinha, jarra, tudo quanto é coisa, e ia pra feira vender. Eu
tirei minha obrigação todinha tirada da cerâmica, da pintura
que eu fazia, porque eu pinto cerâmica, os barros, né, como di-
zia. E eu fui só melhorando. Com seis meses que eu conheci o
Candomblé, com seis meses eu já estava fazendo, não fiz antes
porque não tinha dinheiro. Aí fiz o santo, dei obrigação, ras-
pei a minha cabeça, entendeu? Foi muito sacrificado pra mim,
Depois dos meus quatorze anos foi que eu me mudei pra Goiâ-
nia. Primeiro eu fui pra Uberaba, conhecer Uberaba, e gostei de
Uberaba, chegando lá eu conheci o Neto. Aí o Neto me chamou
pra conhecer Goiânia, aí eu fui conhecer Goiânia. Nesse ínterim
aí, de, deu ir pra Goiânia, de sair de Uberaba e ir pra Goiânia,
era pra eu ficar dias só, acabei ficando meses e nunca mais saí
de lá. Porque aí eu chegava, eu tava na casa do Marques, que é o
amigo do Neto, lá na Vila Nova, e Marques começou a divulgar
meu nome pra tudo quanto é lugar, falando de mim e tal. Aí eu
acordava de manhã com a casa cheia de gente pra jogar búzios
[...]. Aquela coisa, assim, de gente, de gente, de gente. Aí eu fui
jogando, fui ficando. Numa dessas, desses meus jogos, esse que
é meu filho de santo lá de Goiânia, que cedeu a casa no Jardim
América pra eu construir um candomblé. Ele morava nos fun-
dos e a frente toda do terreno, porque lá do Jardim América os
terrenos são enormes [...]. Ele construiu um barracão pra eu to-
car candomblé. Aí eu fui e trouxe Logunedé do Rio de Janeiro
e fiquei lá em Goiânia e fui fazendo obrigações do povo, aí foi
chegando gente, foi chegando gente30.
Considerações Finais
Adriane Damascena
Alex Ratts
1 Este artigo é fruto da tese de Adriane Damascena (2012), orientada por Alex
Ratts e vinculada ao laboratório de Estudos de Gênero e Étnico-Raciais do Insti-
tuto de Estudos Sócio-Ambientais da Universidade Federal de Goiás, onde são
desenvolvidos outros estudos e pesquisas com as Festas do Rosário e Congadas
em várias cidades do Estado.
2 Fonte: disponível em: <http://congadavilajoaovaz.blogspot.com.br/p/musicas.html>.
Antes mesmo do amanhecer, no domingo, dia seguinte ao le-
vantamento do mastro, há uma série de preparativos para que tudo
dê certo na Festa de Nossa Senhora do Rosário e também na conga-
da. Tudo para não se chegar tarde ao café da manhã, um exercício de
comunhão que antecede e prepara os ternos para acompanhar a con-
dução da coroa até a igreja e a uma longa jornada de visitas. O dia é
repleto de compromissos, de momentos que celebram o espírito comu-
nitário, e do espírito de irmandade de receber quem queira participar.
É uma ocasião de reencontro entre os pares, entre aqueles que têm a
mesma crença, a mesma origem, a mesma fé e a mesma força. Tudo
isso sendo sacralizado com a bênção de Nossa Senhora do Rosário e
dos demais santos pretos.
Hoje eu to feliz
Chegou o nosso dia
Começou a festa boa
Da Virgem Maria
(Terno 13 de Maio)
Eu sou um africano
Eu vim para o Brasil contra a vontade
Trabalhar na escravidão, de dia e de noite
Sem poder ter liberdade6
Referências
Fonte: recenseamentos do IBGE de1980, 1991, 2000, 2010 e Revista Exame, 2013.3
3 Conforme os dados do censo de 1980, 1991, 2000 e 2010. Sendo que os dados
de 2010 em Goiânia tem o acréscimo de pesquisas publicadas pela Revista Exa-
me em 2013.
Sem
Religiosidade Católicos Evangélicos Espíritas
religião
Acre 381007 239589 224111 8905
Alagoas 225619 469472 302209 17066
Amapá 425459 187163 38787 2781
Amazonas 2071453 1085480 209952 14800
Bahia 9158613 2440925 1688785 157777
Ceará 6663512 1236435 361819 46756
Distrito Federal 1455134 690982 236528 89836
Espírito Santo 1873280 1164242 364469 36593
Goiás 3535980 1685680 486914 147740
Maranhão 4899250 1130399 431148 12505
Mato Grosso 1925472 745178 234214 38044
Mato Grosso do Sul 1455323 648831 225784 46610
Minas Gerais 13802790 3957520 986626 419094
Pará 4828198 2026332 528547 33924
Paraíba 2898656 571015 213214 23175
Paraná 7268935 2316213 485086 108805
Pernambuco 5801397 1788973 914954 123798
Piauí 2653135 302982 106722 9840
Rio de Janeiro 7324315 4696906 2493704 647572
Rio Grande do Norte 2406313 487948 203055 24826
Rio Grande do Sul 7359675 1959088 631128 343784
Rondônia 742950 528150 224111 8905
Roraima 221379 136480 58480 4084
São Paulo 24781288 9937853 3357862 1353193
Santa Catarina 4565793 125495 204421 98973
Sergipe 1579480 243330 177620 22266
Tocantins 944467 318776 82307 8940
Total 123280173 42275437 15335810 3845877
Fonte: <www.fontedavida.com.br>.
Referências
Referências
[...] desde 84 eu sempre tive uma ligação assim com a dança, com,
com o break, desde a época que eu via Michael Jackson dançar eu
me empolguei, me envolvi, aí, em 84, eu comecei a fazer aqueles
passos, entendeu?7
8 Revista Caros Amigos Especial: Movimento hip hop: a periferia mostra seu mag-
nífico rosto novo, n. 3, set. 1998, p. 29.
9 HERSCHMANN, Micael. O funk e o hip-hop invadem a cena. Rio de Janeiro:
Editora UFRJ, 2000; MARTINS, Rosana. Hip Hop: o estilo que ninguém segura.
Santo André, SP: ESETec, 2005.
10 Ibidem.
11 DAYRELL, Juarez. A música entra em cena: o rap e o funk na socialização da
juventude. Belo Horizonte: UFMG, 2005.
12 LAITANO, Gisele Santos. Os territórios, os lugares e a subjetividade pela escrita
no Movimento Hip-Hop, no bairro Restinga, em Porto Alegre, RS. Espaço e
Cultura, Rio de Janeiro: UERJ/NEPEC. n. 3, , p. 33-40, dez. 1996.
13 AMORIM, Lara S. de. Cenas de uma revolta urbana: movimento Hip Hop na
periferia de Brasília. In: Pós – Revista Brasiliense de Pós Graduação em Ciências
Sociais da Universidade de Brasília. Ed. Temática, ano 2, n. 1. Brasília: Kata-
cumba, 1998.
14 Cf. DAMASCENO, Francisco. J. G. O movimento hip hop organizado do Ceará/
MH2O-CE (1990-1995). Dissertação (Mestrado em História) – PUC-SP, São
Paulo, 1998.
15 Breakin. Dir: Joel Silberg. EUA, 1983. O filme narra a história de um grupo de
break que tenta o sucesso na Broadway.
16 Beat Street. Dir: Stan Lathan. EUA, 1984. Misturando ficção e realidade com a
participação de b.boys, djs e rappers da cena novaiorquina conta a história dos
sonhos e desejos dos jovens que buscaram na cultura hip hop uma possibilidade
para conseguir superar as adversidades do ambiente decadente em que se tran-
formara o Bronx.
17 Entrevista realizada em 02 fev. 2007.
18 FARIA, Paulo de Assis. ‘A história do Heavy Metal em Goiânia: 1982-2012’. Dis-
ponível em: <http://wikimetal.uol.com.br/site/a-historia-do-heavy-metal-em-
goias-1982-a-2012/>. Acesso em: 28 ago. 2013.
20 Segundo o dançarino Frank Ejara, os estilos de dança hip hop são “o B. boying,
que surgiu no Bronx, entre 1975/76. O B. boy dança “Top Rock”, “Footwork”,
“Freeze” e “Power Move”. Dança que usa, basicamente, o chão como apoio
para os passos. [...] O Locking dança as técnicas criadas por Don Campbellock
durante o “Soul Train”, na década de 70, quando fez um movimento em que
fechava os braços. Locking significa “travar, fechar”. A partir deste passo, outros
foram criados como “Stop and Go”, “Scoobot”, “Skeeter”, “Scooby Doo” etc. [...]
foi criado em Los Angeles, entre 1969/70, e não tem uma ligação direta com o
B. boy (...) o Popping, estilo de dança que surgiu em Fresno, na Califórnia, entre
1977/78, foi criado por Boogaloo Sam. [...] consiste, basicamente, na contração
da musculatura dos braços, pernas e peito. O passo mais famoso do Popping foi
popularizado por Michael Jackson, o “Back Slide”, aquele passo de andar para
trás [...] Brooklyn Rock (Up Rock), estilo que simula uma luta, foi criado por
dois dançarinos do Bairro do Brooklyn, em Nova Iorque, entre 1968/69. Eram
eles: Rubber Man e Apache. Em 71, o Up Rocking original desapareceu, porém
os B. boys do bairro do Bronx continuaram a fazer alguns passos.” RAP & CIA
Collection. São Paulo: Escala, 2006, s/p.
21 Entrevista com Dj Ruizão, realizada em 10 dez. 2006.
22 Rapper's delight. Sugar Hill Gang, EUA, 1978.
23 Genius of love. Tom Tom Club, Inglaterra, 1981.
Essas músicas são Músicas Negras, o funk, o rap, o hip hop [...].
Os sucessos nos meus bailes foram todos de música negra [...] se
eu mostrar as capas dos discos você verá são tudo preto. O úni-
co branco que lançou e foi vaiado foi o Vanilla Ice, e depois o
Eminem, mas eu nunca dei valor, não gostei das músicas dele, ele
queria matar a mãe dele, eu nunca toquei música dele.
36 Entrevista com Aluísio, Mr. Black, grupo Sociedade Black. 26 de novembro de 2002.
37 INOCENCIO, Nelson. Relações raciais e implicações estéticas. In: OLIVEIRA,
D. D. de; et alii. (Orgs.). 50 anos depois: relações raciais e grupos socialmente
segregados. Brasília: Movimento Nacional de Direitos Humanos, 1999. p. 30.
Em 1983, formei o grupo Kães de Rua, meu irmão foi para São Pau-
lo e não achou os b. boys, e meu patrão Nonato foi e pagou a passa-
gem para eu ir. Chegando lá descobri a São Bento, que era o pico. Aí
vim aqui em Goiânia mostrar como é que era que os cara dançava,
né? O que os caras estavam dançando lá em São Paulo. A maioria
43 Reza a lenda que Roberto Carlos teria dito que Goiânia seria uma “fazenda as-
faltada”. A característica rural da cidade foi reforçada pelo sucesso da música
sertaneja que fez da cidade um importante celeiro de celebridades musicais
como Leandro e Leonardo, Zezé di Camargo e Luciano, entre outros. Por essa
vocação, a cidade é ainda hoje um centro de irradiação desse estilo musical, e
como já dito quase foi transformada em Capital country. Nos anos 2000, com a
consolidação dos festivais de rock da gravadora Monstro, surgiram o título de
“Goiânia rock city” e “Seattle brasileira”. CARRIJO, Aline F. Goiânia pelo camin-
ho do rock: processo de construção das cenas de rock independente a partir de
1990.. Dissertação (Mestrado) – UFRJ, Rio de Janeiro, 2012.
50 Linóleo, emborrachado liso, especial para a dança, conseguido com muito custo
para amenizar atritos com o solo e com os proprietários dos estabelecimentos
que possuíam uma calçada lisa para a prática do breakin.
51 Quando criança, na década de 1980, vinha com a família para Goiânia visitar
minha avó materna que morava na Vila Novo Horizonte, lembro que a linha do
transporte público fazia o trajeto do centro para o Garavelo, um bairro distante
do centro. Em 2004, ao assumir vaga em concurso da rede estadual de educação,
fui lotado no Colégio Villa Lobos no Garavelo, uma escola com 20 anos de idade
que possuía um pátio de terra para as atividades esportivas. No trajeto para o
Garavelo, grandes áreas desabitadas, servindo à especulação imobiliária.
52 GONÇALVES, Alexandre R. A construção do espaço urbano de Goiânia (1933-
1968). Goiânia: UFG; PPGH, 2002.
O que se faz mister é que o governo goiano tudo faça com o esco-
po de poder fornecer aos habitantes da futura capital força e luz
Referências
2 O conceito de “frente pioneira”, desenvolvido por José de Souza Martins (2009, p. 39)
nas suas investigações sobre a fronteira, aponta para os aspectos sociais, econômicos
e políticos, assim como os atores, atividades e atitudes presentes na ocupação das
“frentes de expansão” que se abriram no Brasil ao longo do século passado.
4 Tratar historicamente Goiânia como uma “cidade nova de fronteira” é uma ên-
fase da historiografia contemporânea de Goiás no que concerne principalmente
às reflexões possíveis depois da tese de Chaul (1997) que lida com os “limites
da modernidade”, questionando tanto o conceito de decadência produzido pela
historiografia goiana do século XVIII e XIX quanto a noção de atraso produzida
nos estudos sobre a Primeira República (desdobramento ideológico da deca-
dência), ou, inclusive, a imagem de modernidade e progresso projetada a partir
da construção da nova Capital.
6 Eis o esforço de todo este trabalho, eis o objetivo que delimita todas as neces-
sidades de argumentação, desde o primeiro capítulo até o presente momento e
principalmente a partir deste.
7 Nesse sentido, Alberto Tassinari (2001, p. 13) afirma que a arte moderna for-
mou-se tanto a partir quanto contra o naturalismo de matriz renascentista que
a precedeu. De modo que, caso seu início seja de 1870, foi em relação a mais
de quatro séculos que ela se posicionou. O autor explica que, além dos estilos
de época, um mesmo esquema espacial genérico, o da perspectiva artificial, en-
globa a arte do século XV ao XVIII. Assim, uma compreensão por negação do
espaço da arte moderna sempre foi possível.
Figura 03: Sem título. Octo marques. Óleo sobre tela. 1964.
12 Estima-se que Octo Marques já desenhava suas paisagens desde os anos 1930,
mas sabe-se que é nos anos 1940 que inicia sua carreira. Desde então e até as
primeiras documentações sobre arte em Goiás, foi sempre considerado um “pi-
oneiro” (como é possível verificar no Catálogo da Exposição “Pioneiros: artes
plásticas em Goiânia”, de 1994). Contudo, levou uma vida sacrificada e hoje sua
memória artística padece na dispersão e no esquecimento. Foi o que se verificou
ao longo desta pesquisa através do recolhimento de impressões via entrevistas
e, também, no processo de busca por obras do artista. Há, entretanto, uma pub-
licação recente sobre sua vida e obra: Octo Marques: Trajetória de um artista,
de Elder Rocha Lima, publicado pelo ICBC – Instituto Casa Brasil Central em
2010. Neste trabalho, procuramos apenas expor a análise de sua obra a uma
perspectiva contextual própria ao recorte empreendido.
13 Aline Figueiredo (1979, p. 96) comenta sua obra, diagnosticando uma pintura
realista, formalmente ingênua, de colorido bem dosado, retratando uma icono-
grafia goiana cujo temário é a paisagem das boiadas e dos boiadeiros. Sua obra
é mencionada por Sobral no Catálogo da exposição “Trajetórias e perfis: arte
goiana na coleção do MAC”, do Museu de Arte Contemporânea, em Goiânia no
ano 2000, como pioneira no exercício da linguagem visual em Goiás. A Galeria
Bauhaus de Goiânia (www.galeriabauhaus.com.br) o define como “primitivo”,
“paisagista” que realiza uma “pintura de gênero”. Documenta também que Octo
Marques já tinha atividade de artista desde 1928, realizando retratos de cenas
de ex-votos para os romeiros da Festa de Trindade. Em 1934, era colaborador e
ilustrador da revista Vida Doméstica, e, em 1943, faz xilogravuras para revistas
e jornais.
15 Aline Figueiredo (1979, p. 93-94) explica que em fins dos anos 1940, já em 1947,
a Sociedade Pró-arte de Goiás deixava de existir, provavelmente, por problemas
financeiros e posteriormente em 1951, falece o Dr. Neddermeyer, deixando con-
sternados os intelectuais goianos e enfraquecendo, definitivamente, a iniciativa,
que perdia sua principal liderança.
16 O termo é utilizado por Sobral (1995, p. 11) em artigo sobre Ritter para o Ca-
tálogo da Exposição de Arte Contemporânea Ato ALL.
17 Luís Curado foi economista, escultor e xilógrafo. Sua atuação é marcada pela
ação pedagógica na área de ensino de Arte na EGBA, acrescida de seu papel
de animador das artes e suas incursões como artista plástico, especialmente
na gravura (xilogravura). Curado teria transitado por várias áreas das artes,
entre elas a música, o teatro, a cenografia, a escultura, o desenho, a terraco-
ta, a pintura, as colagens e a iluminação cênica (GOYA, 1998, p. 108). É o
primeiro artista a fazer gravura em Goiânia e foi responsável pela elevação
da serigrafia ao nível comercial (idem, p. 114). Sobre Curado, vale dizer
que, apesar de ter sido um dos mais importantes articuladores das artes em
Goiás, termina sua vida relegado ao esquecimento por parte dos artistas, in-
clusive das novas gerações. “Desde a extinção da EGBA, o artista, ressentido
com a destruição da escola e com sua exclusão do quadro de docentes da
Faculdade de Arquitetura da UFG, recluiu-se na ETFG, voltando-se para o
magistério secundarista completamente esquecido no meio cultural e artís-
tico” (Idem, p. 120). A pouca ênfase dada a Luis Curado seria justificada por
alguns, segundo Goya, em função de sua atividade artística representativa,
porém tímida, já que sempre se dedicou mais às questões ligadas à articula-
ção pedagógica e artística.
18 O termo “diletantismo desorientado” foi introduzido no debate por Goya (1998,
p. 109), que não mostra exatamente como teve acesso ao juízo. Entretanto, o
diagnóstico de Curado é importante para este trabalho e será retomado posteri-
ormente.
dos valores culturais nacionais. Nos últimos anos, alguns estudiosos têm
pesquisado a existência do movimento na América do Sul. Isso se daria,
entre outras razões, pela forte presença italiana no continente (ENCICLO-
PÉDIA ITAÚ CULTURAL de artes visuais. Disponível em: <itaucultural.
org.br/aplicexternas/enciclopédia>.
22 Não só Aline Figueiredo, mas também Menezes (2010), Sobral (2009) e Goya
(1998) escreveram sobre a visita de Curado à Cidade de Goiás e seu encontro
com Confaloni.
23 Segundo Goya (1998, p. 77), em 1952 o Arcebispo de Goiás, Dom Emanuel
Gomes de Oliveira preparava-se para criar a Universidade Católica – ainda
chamada Universidade de Goiás – vendo o esforço de Curado, Ritter e Confa-
loni e desejando mais uma faculdade para completar o conjunto necessário, os
convida a anexar seu projeto a este maior. Figueiredo (1979, p. 94) conta que
Luis Curado é quem cuida das questões processuais e propriamente do modelo
pedagógico da Escola, que foi pensado a partir do curso da Escola Nacional de
Belas Artes do Rio de Janeiro.
26 Como um das poucas pessoas em Goiânia que poderia falar de arte naquele
momento, esse texto mostra um exercício de elaboração de Ritter encontrado
em arquivo datilografado, papel guardado pela família e publicado no Catálogo
da Exposição de Gustav Ritter no MAG em 2009.
27 Sobre as experiências modernistas na Europa e na América Latina, procuramos
formalizar esclarecimentos para que a experiência em Goiás possa ser enten-
dida como fluxo e desdobramento destas.
28 Mesmo que aqui não tenhamos dado atenção específica à narrativa católica,
vale explicar a composição da obra: os cinco primeiros mistérios são dos “Go-
zosos”, que vão da Anunciação até o encontro no Templo; os cinco seguintes
são os mistérios “Dolorosos”, da agonia do Horto até a morte na cruz; os cinco
últimos são os “Gloriosos” que vão desde a ressurreição até a coroação de Nos-
sa Senhora, sendo os três últimos passagens que não constam no Evangelho.
Neste trabalho, faz-se mais importante a compreensão das especificidades da
representação no que diz respeito à preocupação de adaptação das cenas reli-
giosas à paisagem de Goiânia.
29 Esses fatos, quase anedóticos, são relatados por PX Silveira (1991, p. 30-31) em
livro sobre Confaloni, mas foram verificados também por esta pesquisa de outro
modo. Em visitas à Cidade de Goiás por onde e com quem se conversava a respeito
do Frei ou da referida obra, tinha-se algum fragmento da estória, muitas delas es-
pecialmente contadas por Frei Marcos, italiano que atualmente cuida do convento
dos Dominicanos, anexo à Igreja do Rosário, que chegara a Goiás nos anos 1960.
30 Nos anos 1960, Confaloni realiza algumas pinturas muito próximas à abstra-
ção, sem, contudo, abandonar por completo a figura humana. Isso pode ser
verificado em duas pinturas do ano de 1969, uma presente na coleção do MAG
e outra referente ao acervo pessoal desta pesquisadora. Não julgamos essencial,
no contexto desta reflexão, trazer essas obras ao texto, uma vez que elas estão
dissociadas da iconosfera reunida para análise.
31 Em entrevista realizada em 09 de abril de 2009 com o artista (nascido na Ci-
dade de Goiás, em 1948, se mudou para Goiânia um ano depois), presente
no filme documentário Mudernage (doc. DIG. 2009), verificou-se a proximi-
dade de Siron com os artistas-professores que preconizam o modernismo em
Goiás. Com treze anos frequentava, juntamente com Roosevelt, o atelier de D.
J. Oliveira, depois passou a sair para pintar com esses professores (Frei, Oliveira
e Cléber) e também com outros artistas nos arredores das cidades goianas. Ain-
da, frequentou o atelier de Cléber e chegou a dividir, nos anos 1970, atelier com
Frei Confaloni. O Frei, na época, pintava, constantemente, madonas e Siron,
logo depois, também realizou uma série de madonas. Aparece aí um conflito
estético interessante, pois às suas madonas Siron chamou de “macacos” e con-
struiu uma atmosfera nada piedosa, mas aterrorizante. O Frei, em contrapar-
tida, pintou madonas sofridas, porém resignadas por vezes, fazendo algumas
outras envoltas em desespero. Apresentaremos aqui uma madona de Confaloni
e uma de Siron deste período, que podem ser vistas na coleção do MAC.
Referências
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1997.
BENJAMIN, Walter. A origem do drama barroco alemão. Trad.
Sérgio Paulo Rouanet. São Paulo: Brasiliense, 1984.
______ . Passagens. São Paulo: UFMG; Imprensa Oficial do Estado de
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Gilberto (Org.). Arte e sociedade: ensaios de sociologia da arte. Rio
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CHAUL, Nars Nagib Fayad. A construção de Goiânia e a
transferência da capital. Goiânia: CEGRAF; UFG, 1988.
______ . Caminhos de Goiás: da construção da decadência aos limites
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ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL de artes visuais. Disponível
em: <itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopédia
FIGUEIREDO, Aline. Artes plásticas no centro-oeste. Cuiabá:
UFMT; Museu de Arte e de Cultura Popular, 1979.
GOYA, Edna de Jesus. A arte da gravura em Goiás: raízes e
evolução. Dissertação (Mestrado em Artes Visuais) – Universidade
Federal de Goiás; Universidade de São Paulo, Goiânia, 1998.
MARTINS, José Souza. Fronteira: a degradação do outro nos
confins do humano. São Paulo: Contexto, 2009.
Camila Gouveia
Graduada em História pela Universidade Federal de Goiás.
Mateus Bezerra
Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Goiás.
Bruno Ninomia
Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Goiás.
Anderson Jalles
Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Goiás.
Hugo Salomão
Graduado em Geografia pela Universidade Federal de Goiás.
Gleibiane Tavares
Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal de Goiás.
Cristiano Arrais
Doutorado em História pela Universidade Federal de Minas Gerais.
Professor do curso de História e da Pós-graduação em História da
Universidade Federal de Goiás.
E-mail: [email protected]
J. G. Coelho Mendonça
Doutorado em História pela Universidade Federal de Goiás. Promotor
de Justiça em Goiás.
E-mail: [email protected]
Adriane Damascena
Doutorado em Geografia pela Universidade Federal de Goiás.
Assessoria técnica do Governo do Estado de Sergipe.
E-mail: [email protected]
Alex Ratts
Doutorado em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo
(2001). Professor da Universidade Federal de Goiás.
E-mail: [email protected]