II. Capi Tulo 1. Os Dois Brac Os Do Direito Financeiro
II. Capi Tulo 1. Os Dois Brac Os Do Direito Financeiro
II. Capi Tulo 1. Os Dois Brac Os Do Direito Financeiro
1. Receita Pública
Receitas Patrimoniais
Receitas patrimoniais são as que provêm da gestão dos bens de que o Estado é titular
ou que tem à sua disposição para satisfação das suas necessidades. O Estado é
proprietário de inúmeros bens. O património do Estado compõe ativos e passivos.
O património do Estado é muito importante para fazer receitas sem ser necessário
recorrer ao aumento de impostos ou ao crédito público.
No âmbito do património do Estado, pode-se distinguir também entre:
• Património duradouro: É aquele que permanece na esfera jurídica do Estado
para além do período orçamental, mais de um ano (estes bens têm de ser
amortizados).
• Património não duradouro: É aquele cuja permanência na esfera jurídica fica
aquém de um período orçamental, menos de um ano (meios monetários, títulos
de curto prazo).
Esta distinção entre património duradouro e não duradouro é muito importante por três
razões:
1. É sobre esta distinção que assenta a classificação económica utilizada nos nossos
mapas orçamentais: receitas correntes e de capital.
a. Receitas correntes: São as que não alteram a situação ativa ou passiva do
património duradouro do Estado.
b. Receitas de capital: São as que alteram essa situação.
2. É esta distinção que permite distinguir a dívida flutuante da dívida fundada,
consoante os ativos/passivos que lhe correspondem vão ou não para além do período
orçamental.
3. É esta distinção que permite autonomizar o património de Tesouraria do património
do Estado.
a. Património de Tesouraria: Corresponde aos meios monetários do Estado e
aos meios de liquidez de curto prazo (património não duradouro).
Estes bens estão sujeitos a um regime jurídico próprio que está consagrado no Decreto
Lei nº 280/2007. Estes bens estão fora do comércio jurídico, não podendo ser
vendidos, e também não nos podendo ser apropriados por usucapião. No entanto,
podemos pedir ao Estado, a concessão de uma licença para uso privativo (Exemplo:
água luso, apropriam-se da fonte).
Nem todos os bens que estão na esfera jurídica do Estado estão no domínio público.
Há bens, por exemplo bens imóveis que o Estado arrenda, compra para instalar os
seus serviços, que não fazem parte do domínio público. São bens do Estado sujeitos
ao domínio privado. Seria excessivo estender o domínio público a todos os bens do
Estado.
*O Estado pode fazer dinheiro com este mesmo património. Quando tem imóveis, o
Estado procura tirar receitas deles. As receitas não são muito expressivas. As receitas
mais expressivas em Portugal são as tributárias e creditícias.
*Ordem de grandeza da dívida pública: 120% do PIB.
Receitas Creditícias
A referência ao crédito público nos pode levar a pensar tanto em receita como em
despesa. Ao abrigo do crédito público, tanto podemos considerar o Estado num papel
devedor como num papel credor.
Quando se fala em receita creditícia está-se a dizer que o Estado se colocou na
posição de devedor a alguém para pedir dinheiro emprestado.
Dívida Pública
! Conjunto de todas as situações passivas de que o Estado é titular
A dívida pública serve para financiar o défice do orçamento. O défice do orçamento é
a insuficiência das receitas patrimoniais tributárias para pagarem todas as despesas do
Estado.
Há uma falha de mercado que está intimamente ligada com a existência destas
agências que é a assimetria de informação. As agências servem para fornecer a todo o
mercado informações sobre as Empresas ou o Estado. Nós para estarmos no comércio
jurídico temos de pagar a estas agências para avaliarem as nossas contas e
transmitirem a informação ao mercado. É necessário, ninguém vai comprar um título
de dívida às escuras.
Dívida Acessória
• Na dívida acessória não é o Estado que se assume como principal devedor. O
Estado assume a dívida apenas subsidiariamente.
• O Estado poderá conceder garantias pessoais apenas sob a forma de fiança ou
aval. Estas garantias são concedidas a título excecional e o fundamento para a
sua atribuição deve ser o manifesto interesse para a economia nacional (artigo
1º do DL 112/97).
• A concessão destas garantias está sujeita a um regime rigoroso. Elas
dependem da verificação cumulativa dos requisitos referidos no artigo 9º do
DL 112/97:
o Para conceder uma garantia, o Estado deve ter participação na empresa
ou interesse nesse investimento;
o O Estado tem de exigir o projeto concreto de investimento;
o A empresa tem que oferecer garantias de que vai assumir a sua dívida e
de que tem condições para o fazer;
o Tem que provar que a garantia do Estado é imprescindível para fazer
aquele investimento.
o O Estado nunca pode assumir dívidas de outra pessoa, com o
fundamento de que essa pessoa é incapaz de assumir o compromisso.
! Este regime da dívida acessória está no DL 112/97, de 16 de setembro.
2. A Despesa Pública
A grande surpresa quando estudamos a Despesa Pública é que esta está muito menos
estudada do que a Receita Pública. Não está estudada porque durante o século XX,
entregou-se a despesa pública à decisão política. Os juristas não tinham nada a dizer;
era uma decisão soberana do Estado. Chegados ao século XXI, vê-se que esta visão
de despesa pública é ridícula porque se temos a receita pública desenvolvida, não faz
sentido que a despesa pública também não esteja desenvolvida.
Assim, a receita cobrada pelo Estado sob forma de imposto, necessária para o
desempenho das suas funções, era calculada em função do montante de despesa
pública reputada essencial para o seu funcionamento.
Esta visão liberal está na base do entendimento clássico no que toca ao equilíbrio
orçamental:
• O endividamento só deveria ser contraido em casos extermos.
• As despesas não devem ser financiadas por recurso ao crédito público.
• Deveriam ser apenas financiadas por receitas provenientes de impostos e da
gestão do património.
Visão mais socializante ! Visão que temos desde a última metade do século XX. A
Despesa Pública passou a ser vista como um meio de o Estado fazer redistribuições de
riqueza. A Despesa Pública assume uma dimensão gigantesca. O Estado é melhor do
que os privados a fazer investimento.
Hoje o Estado é visto como um filtro: o papel exato do Estado consiste em orientar o
rendimento nacional nesta ou naquela direção, sem o destruir. O Estado não consome,
ele redistribui.
Hoje, a despesa privada não é tida como melhor do que a despesa pública pelo facto
de ser privada. Há despesas públicas mais úteis do ponto de vista económico, uma vez
que a sua produtividade é superior àquela que procederia da iniciativa privada.
• Nesta perspectiva, a despesa pública não é necessariamente sinónimo de
perda.
ii. A crescente afirmação da despesa pública como matéria jurídica e não mais
exclusivamente económica ou política.
Consumos
Estamos a falar das despesas que têm a ver com a existência do próprio estado –
consumo público.
Quando se fala em consumo do Estado está se a referir às despesas de funcionamento
do Estado, ou seja, às despesas correntes do consumo público. O Consumo público =
despesas de pessoal + despesas de aquisição de bens e serviços correntes. Juntando-se
ainda a este agreggado os encargos correntes da dívida pública, que são normalmente
objeto de tratamento separado pela sua variabilidade e para permitirem uma mais fácil
contabilização dos saldos primários.
Transferências
!As transferências são uma componente da despesa pública, correspondente a
prestações unilaterais do Estado dirigidas a outro ente económico (público ou
privado) sem que se verifique qualquer contraprestação por parte deste último.
Também podem ser internas ou externas. Feitas dentro do país ou fora do país.
Dentro das transferências internas temos:
→ Transferências ao setor público
o Administrações públicas: fundos e serviços autónomos, administração
local, Segurança Social e Regiões Autónomas.
→ Transferências ao setor privado
o Administrações privadas: Associações de beneficiência, associações
de futebol, associações de socorros mútuos, automóvel clube de
Portugal, Cruz Vermelha, Federações Desportivas, Fundação Calouste
Gulbenkian, Instituições particulares de ensino e de investigação,
organizações religiosas, sindicatos
Dentro das transferências para o exterior, compreendem-se as contribuições para a
União Europeia e transferências para países terceiros e organizações internacionais.
O destacamento desta componente da despesa, nos faz pensar da dimensão que deve
ter esta transferência. A identificação das transferências constitui um claro alerta no
sentido do escrutínio da sua produtividade. Por vezes as transferências correspondem
a situações de retirada de fundos a setores produtivos para beneficiar outros cuja
utilidade social ou económica seria nula, ou mais baixa. Esta questão adquire relevo
nas transferências para o setor privado, de forma a evitar a sua excessividade, e
sempre que possível, até mesmo a improdutividade da despesa pública.
O rendimento social de inseção (RSI) é uma transferência que o Estado faz para o
sector privado, que dificilmente será produtiva, mas mesmo assim devemos dá-la
porque é dada com um objetivo de justiça social. Nas transferências tem-se sempre de
fazer este juízo de se compensa ou não compensa fazer essa despesa.
Investimentos
Os investimentos englobal todas as despesas de capital. Abarcam todo o conjunto de
despesas com efeitos na formação de capital fixo, que perduram no tempo,
estendendo-se os seus efeitos para além do período orçamental a que dizem respeito.
O Estado começa a pouco e pouco a assumir algumas despesas sociais. Até aos século
XIX quem era preso pagava a sua alimentação na prisão, a partir do século XIX o
Estado começa a assumir as despesas para com os presos. Aos poucos o Estado
começa a assumir despesa.
Final do século XX: Estado de total justiça social (Prof. Maria da Glória).
! 3 críticas de três autores libertários:
• Nozick: Tem uma visão impar no pensamento libertário contemporâneo. Ele é
o mais radical, porque defende uma visão do Estado híper-individualista. Os
direitos devem ser concebidos de acordo com uma visão puramente
deontológica. Os direitos devem ser concebidos sem qualquer contaminação
consequentalista. O direito mais importante é o direito de propriedade. O
direito de propriedade deriva do direito de pertença a nós próprios. Eu só sou
livre se considerar que me pertenço a mim próprio. Se o direito de propriedade
é o mais importante, Nozick vai impedir toda e qualquer cobrança do Estado
que tenha caráter redistributivo. Só aceita distribuições de bens no mercado se
elas tiverem algumas características: Só é justo o direito de propriedade de
uma coisa se essa coisa tiver sido inicialmente apropriada de forma justa
(justiça na distribuição de bens).
• Hayek: Valor da liberdade. O Estado não tem tarefas redistributivas porque a
redistribuição de bens se dá no mercado, que é o sítio mais adequado para
ocorrerem as trocas. O intervencionismo do Estado é fonte de coerção
(coagindo as pessoas a fazerem despesa não querida) e vê-se a raiz do
totalitarismo.
• Buchanan: O objetivo dele é voltar ao laissez-faire. A crítica principal que
Buchanan faz é que a despesa é feita sem controlo democrático. O Estado está
assente numa lógica de gastar sem tributar, ou seja, quando chegamos ao
século XX vemos um Estado muito assente no recurso ao crédito e não
justifica cada aumento de despesa junto aos contribuintes. Sobretudo, critica a
despesa pública tal como é feita no século XX. O Estado não é sincero naquilo
que diz sobre os gastos públicos. A despesa é um instrumento privilegiado
para beneficiar certos sujeitos económicos. Foi Buchanan que fala das falhas
do Estado que geram despesa: lobby e grupos de interesse que afastam mais o
Estado das necessidades do eleitor médio; burocracia e a ideia da opacidade da
atuação pública; fala da ilusão fiscal. Ele propõe a redução da despesa.