CODEX 08 O Que e Thelema
CODEX 08 O Que e Thelema
CODEX 08 O Que e Thelema
O que é Thelema?
por Frater Goya
É muito comum você ouvir a seguinte questão: “Se fazer o que quero é da Lei, então
posso fazer tudo. E se minha vontade for beber todas? E se quiser matar alguém?”
Antes de mais nada é preciso dizer que a Verdadeira Vontade não tem nada haver
com isso. “Mas o que é então?” – Respondendo sem estar fugindo da questão – Se você
precisa perguntar o que é, então ainda não descobriu. Essas afirmações de justificar a Lei
pelos excessos é um subterfúgio infantil que tentam ridicularizar o que deveria ser sagrado.
Qual é então o limite da Lei? É o bom senso. Ou seja, fazer aquilo que é contra sua
natureza ou contra a de outrem, é uma deturpação da Lei. Em nenhum momento se afirma
que a Lei se justifica pelo excesso. Quando no livro da Lei se fala em excesso, é no sentido
de superar suas próprias limitações. (veja em AL II, 7-72 Mas excede! excede! Esforça-te
A Lei da Vontade e do Amor, não é apenas uma norma de conduta individual, mas
também social. Desde o séc. XIX até a primeira metade do séc. XX, a sociedade ocidental
tinha uma cultura socialista, onde o estado gerenciava o cidadão. Esse conceito baseia-se na
premissa que a sociedade é quem gerencia e forma o indivíduo. A proposta de Thelema é
exatamente o oposto. O indivíduo é o gerador e gerente da sociedade. No modelo anterior, a
maior virtude do indivíduo, é a obediência. No modelo proposto por Thelema, a
contribuição/colaboração do indivíduo é que conta.
Apesar do modelo aparentemente solitário (todo homem e toda mulher é uma
estrela), é a soma desses indivíduos que gera uma sociedade. Grupos de estrelas viram
constelações, grupos de constelações viram galáxias e assim sucessivamente. Ao mesmo
tempo que a unidade é o mínimo de percepção do indivíduo, ninguém está só. Por mais
solitário que pareça estar, faz parte de um grupo maior. A própria individualidade é uma
ilusão. Como uma pedra atirada n’água, nossos atos afetam diretamente o universo próximo
a nós. Engana-se quem se vê como indivíduo isolado do mundo, assim como também
engana aquele que só realiza algo pelo bem da maioria. Ambos perdem.
No final do Livro da Lei, o autor propõe que o livro seja destruído ou jogado fora,
sob pena de se tornar um foco de pestilência. Na verdade, essa é a pista mais importante
que o estudante no caminho de Thelema pode ter. Após a primeira leitura deste livro
mágicko, ele perde sua magia e se torna um texto comum. Basear sua vida pelo Livro da
Lei, é ignorar todo seu conteúdo. Ou seja: Se você faz exatamente aquilo que está escrito
no livro da Lei, você não estará fazendo a sua Vontade, mas a Vontade de Crowley.
Se você não apreende o caminho para a Verdadeira Vontade na primeira leitura, não
pegará nem mesmo na centésima. Como disse, depois da primeira vez, ele se transforma
apenas num livro comum, para referência de estudo, não de prática mágicka.
Ao terminar de ler o livro, guarde-o bem. De preferência esqueça onde guardou.
Depois, descubra sua Verdadeira Vontade e pratique-a. Esse é o segredo. A aceitação da
Lei de Thelema não transforma o Livro da Lei numa espécie de Bíblia, mas fazê-lo é
condenar a si mesmo.
Num de nossos encontros aqui no CIH, perguntamos aos membros, qual era a
Verdadeira Vontade de cada um. Das respostas dadas, uma em especial merece mais
atenção: Um membro respondeu – “A minha vontade é ter maior estabilidade financeira,
para poder me dedicar mais aos estudos.” Para muitos essa resposta pode parecer ideal, mas
na verdade ela mostra o desconhecimento do que é Vontade.
1
Devemos aqui informa r ao leitor que esse trecho entre colchetes é um texto de humor. Nada disso aconteceu.
É apenas para refrescar sua mente, que no momento irá se apagar, apag, ap...
É muito fácil perceber um derrotista padrão. Basta alguém levantar uma idéia, um
projeto, e logo surgem as acertivas padrão do derrotista:
“Isso não vai funcionar...”
“Veja bem, é preciso avaliar...”
“Tente ver pelo outro lado...”
“A coisa não é tão fácil...”
A lista é longa...
E logo depois desse início, desfiam uma série de razões pelas quais o projeto
proposto não funcionaria, SEM AO MENOS TENTAR!!!!
Normalmente, podemos dizer depois de muito observar desses elementos, que eles
se ocultam num pseudo conhecimento de tudo e de todos, exceto da sua própria ignorância.
Colocam as pessoas, as circunstâncias, Deus e o mundo contra qualquer coisa além do seu
sentimento miserável de derrota e auto-piedade.
O derrotista ainda tenta se passar por pioneiro e investigador das possibilidades,
dizendo:
“Todos os dias eu tento, mas existe sempre alguma coisa que me atrapalha...”
“Eu tenho tantas coisas para fazer que não me sobra tempo...”
“Bem que eu gostaria de fazer, mas tenho outras coisas pra me ocupar...”
“Eu tentei, mas você sabe, a família tira todo nosso tempo...”
“Você acha fácil? Tente gerenciar uma casa e fazer isso pra ver se dá certo...”
“Já analisei e fui atrás de tudo isso, mas não vi ninguém que tenha dado certo...”
Qual não foi a minha surpresa, ao perceber que do meu dia, esses rituais básicos, se
feitos um a um na seqüência, ocupariam extraordinários 20 minutos! Ou seja, concluímos
daí que pode ser tudo, menos falta de tempo.
O derrotista crônico, que sempre tenta abortar qualquer projeto, mesmo os seus
próprios, perde prazos, responde errado, e sempre tem uma desculpa na ponta da língua
para justificar sua falta.
É preciso se aprender de uma vez por todas, que os deuses não farão pelos homens o
que estes devem fazer por si mesmos. Quando se lida com Thelema, aprendemos que não
existem limites, que tudo é possível e que não há derrota a não ser em nós mesmos.
Uma vez contaminado não resta alternativa a não ser combater com rapidez e
violência esse sentimento, antes que ele tome conta de seu ser por completo. No Codex 08,
já havíamos falado que é extremamente complicado trabalhar com a Verdadeira Vontade,
pois a maioria das pessoas nem mesmo sabem que isso existe. Mas para o estudante de
Thelema, o derrotismo pode ser um tiro de misericórdia numa vontade moribunda. Por que
digo isso?
No cristianismo (especificamente falando, já que é a religião dominante no mundo),
as pessoas são criadas num sentimento que é um misto de humilhação e conformismo, que
acaba por violentar toda e qualquer manifestação da Verdadeira Vontade. Alguns poderão
querer me corrigir dizendo que o cristianismo fala em humildade, e não em humilhação.
Concordaria com isso se não fosse o amplo exemplo que temos no mundo atual onde os
excluídos sociais (em grande parte vinculados à alguma facção do cristianismo) são
habituados a verem a si mesmos como os escolhidos de Deus, enquanto os que estão acima
deles limpam as botas em suas esposas e filhos. Será isso humildade? Acho que não.
Visto que o cristianismo é uma das maiores religiões do mundo, somos
bombardeados com seus conceitos em rádios, tv’s, livros, jornais, etc. apelando para um
sentimento “cristão” que existe em cada um de nós. Onde isso entra em relação à Vontade e
o Derrotismo?
Tolerar, entre outras coisas, pode ser interpretado como admitir, aquiescer, boa
disposição para ouvir com paciência opiniões opostas às suas, ou ainda, uma atitude de
quem reconhece aos outros o direito de manifestar diferenças de conduta e de opinião,
mesmo sem aprová-las. Observado sob a luz de Thelema se torna o contraponto da mesma
e tão importante quanto a Lei. Por que?
É hábito comum entre os Thelemitas, para não dizer conduta unânime, usar o “Faça
o que queres, há de ser o todo da Lei” traduzido como: “o que importa é minha opinião e
Partindo da premissa que a menor parte concebida para o Ser Humano é ele mesmo,
é natural admitir que este se sinta o centro do Universo, ou como dizia Pitágoras, “O
Homem é a medida de todas as coisas”. Essa visão no entanto, pode induzir a erros, tais
como: o MEU espaço, a MINHA opinião, a MINHA casa, a MINHA vontade. Será que
realmente possuímos tudo isso? Ou será que acreditamos naquilo que é mais confortável?
Quando usamos expressões como: “Não admito tal coisa”, “Você não tem esse
direito”, “Eu sou mais importante”, estamos infringindo o limite do bom senso. TODOS
sem exceção tem tanto direitos como deveres em relação ao mundo que o cerca. A criação
de padrões de comportamento, longe de ser um regulador saudável daquilo que é aceito ou
não pela maioria, se transforma no martelo do juízo que condena a tudo e a todos. Não
existe preconceito até que se estabeleça algo como tal.
O objetivo aqui é justamente estender a questão do que deve se interpretar como o
“nosso limite”. Nenhum homem é uma ilha, e portanto, vive em conjunto com outros
homens3 , devendo se ajustar ao convívio dos demais.
Para que não haja uma interpretação errônea do que é a liberdade thelêmica,
devemos entender definitivamente, que a restrição é o grande inimigo4 . A história nos dá
inúmeros exemplos que os grandes limitadores são ao mesmo tempo, os maiores libertinos.
Todo aquele que tenta induzir o comportamento de outros segundo suas próprias regras, é
um inimigo da Vontade, pois esta se baseia num perfeito equilíbrio entre as partes onde
cada um sabe a parte que lhe cabe realizar.
Usar seus critérios para estabelecer regras de condutas aos outros é perder o critério
daquilo que é bom para si mesmo. Podemos citar inúmeros exemplos na sociedade humana
onde vários problemas poderiam ser contornados se a tolerância fosse devidamente
observada.
2
Observando sob esse ângulo, vemos que aquilo que devia libertar se torna uma prisão, limitando àqueles que
estão fora do “nosso” limite. Ou seja: tudo aquilo que não sou eu, deve estar para o lado de lá. Existe melhor
definição de limite?
3
Aqui o termo homem se aplica ao Ser Humano enquanto espécie, não ao ser do sexo masculino.
4
“A palavra de pecado é restrição, ó homem” – Liber Al (1, 41)
Tolerar o outro, é respeitar a escolha alheia, mesmo que nos desagrade, mostrando
um respeito que vai além do nosso próprio umbigo. Alguns poderiam usar um subterfúgio
infantil e dizer: “Então eu devia aceitar um criminoso que sente no meu lado e ficar tudo
bem?” Ou ainda: “Devo tolerar tudo que é errado?”.
Obviamente a regra de ouro aqui é o bom senso. Ninguém deve aceitar algo que lhe
desagrade profundamente, mas ao mesmo tempo, não deve usar isso como premissa para
impor a SUA vontade a alguém.
Fr. Goya
“O Amor é a Lei, Amor sob Vontade”