2 Teorias Da Personalidade 5f - Erik Erikson As Crises Psicossociais

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6.1.3.4 Erik Erikson: As Crises Psicossociais

Erikson (1902–1994) nasceu na Alemanha, numa família judaica de classe


média, convertendo-se posteriormente ao protestantismo. Fez sua formação
psicanalítica em Viena, com Anna Freud. No período da Segunda Guerra Mundial,
exilou-se nos Estados Unidos, onde se dedicou à análise de crianças e adolescentes.
Filiou-se à escola da Psicologia do Ego, aproximando-se depois da corrente do
culturalismo, o que o levou a enfatizar a importância dos efeitos sociais na formação
da personalidade (ZIMERMAN, 2001).

Ao mesmo tempo em que manteve as bases centrais da teoria freudiana,


Erikson apresentou significativas inovações ao destacar o ego como parte
independente da personalidade, relegando as funções do id a segundo plano, ao
aprimorar os estágios de desenvolvimento e ao reconhecer o impacto na
personalidade das forças culturais e históricas. Para ele, embora os fatores biológicos
inatos sejam importantes, não explicam completamente o processo de
desenvolvimento, o qual é principalmente influenciado pelas interações sociais e a
aprendizagem (SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002).

Sua abordagem de estágios contínuos se concentra no desenvolvimento da


personalidade durante toda a vida, formulando o crescimento humano em oito etapas,
do nascimento à morte. Regido pelo princípio epigenético (epi = sobre), o
desenvolvimento depende de forças genéticas, predeterminantes na evolução dos
estágios. Entretanto, os fatores ambientais/sociais influenciam a forma com que as
fases se realizam (SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002).

Outro de seus pressupostos se baseia na ideia de que todos os aspectos da


personalidade podem ser explicados em termos de momentos críticos ou crises,
inevitáveis em cada fase do desenvolvimento. As crises se constituem por confrontos
com o ambiente, envolvendo uma mudança de perspectiva, ou seja, exigindo a
reconcentração da energia instintiva de acordo com as necessidades de cada estágio
do ciclo vital, quando o nosso ambiente requer determinadas adaptações. É com a
resolução dos conflitos próprios de cada fase que se torna possível a progressão
normal do desenvolvimento (SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002).

Dessa forma, um conflito em cada fase faz a pessoa se deparar com formas
bem e mal adaptadas de reagir. Quando há uma resposta negativa à crise, isto é, se

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o conflito é mal resolvido, haverá menor possibilidade de uma adaptação adequada.
Por outro lado, quando a crise é resolvida satisfatoriamente, surgem as forças
básicas ou virtudes, oportunizadas pelos diferentes estágios. Essas forças são
interdependentes: uma força básica só se desenvolve quando a força associada à
fase anterior for confirmada. No entanto, para Erikson, o ego deve incorporar
maneiras tanto positivas como negativas de lidar com as crises, de forma sempre
equilibrada (SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002).

Erikson dividiu o desenvolvimento da personalidade em oito estágios


psicossociais, sendo os quatro primeiros semelhantes às fases oral, anal, fálica e de
latência propostas por Freud. Assim, temos: a fase oral-sensorial; a fase muscular-
anal; a fase locomotora-genital; fase de latência; a adolescência; início da fase adulta;
a idade adulta; e a maturidade (SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002).

Em cada um desses períodos, vemos o estabelecimento de um “sentimento


de” ou “sentido de”, como uma aquisição interior que marca uma etapa de conquista
ou seu reverso patológico (FIORI, 1982). Assim, a cada estágio corresponde uma
determinada forma positiva e negativa de reação:

Formas positivas
Idades versus formas
Estágio Forças básicas
aproximadas negativas de
reagir

Confiança versus
Oral-sensorial Nascimento- 1 ano Esperança
desconfiança

Autonomia versus
Muscular-anal 1-3 anos Vontade
dúvida, vergonha

Locomotora- Iniciativa versus


3-5 anos Objetivo
genital culpa

6-11 anos até Diligência versus


Latência Competência
puberdade inferioridade

Adolescência 12-18 anos Coesão da Fidelidade


identidade versus

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confusão de
papéis

Idade jovem Intimidade versus


18-35 anos Amor
adulta isolamento

Generatividade
Adulto 35-55 anos Cuidado
versus estagnação

Maturidade e Integridade versus


55 + anos Sabedoria
velhice desespero

Fonte: Adaptado de SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002, p. 208.

Seguiremos com uma sucinta descrição das etapas psicossociais:

Confiança X desconfiança – Nesta fase inicial da infância, a criança aprende a


receber e aceitar o que lhe é dado para conseguir doar. A confiança básica como
força fundamental desta etapa nasce da certeza interior e da sensação de bem-estar
físico e psíquico, que advém da uniformidade, fidelidade e qualidade no provimento
da alimentação, atenção e afeto proporcionados principalmente pela mãe. A
desconfiança básica se desenvolve na medida em que não encontra resposta às
necessidades, dando à criança uma sensação de abandono, isolamento, separação e
confusão existencial. Porém, alguma desconfiança é inevitável e significativa para a
formação da prudência e da atitude crítica. Da resolução da antítese
confiança/desconfiança surge a esperança como sentido e significado para a
continuidade da vida, de acordo com a frase: “Eu sou a esperança de ter e dar”
(BORDIGNON, 2005).

Autonomia X vergonha e dúvida – Nesta etapa há a maturação muscular, do


sistema retentivo e eliminatório (controle dos esfíncteres), e da capacidade de
verbalização. Há o desenvolvimento da autonomia (autoexpressão da liberdade
física, locomotora e verbal), e da heteronomia (capacidade de receber orientação e
ajuda do outro). Porém, um excessivo sentimento de autoconfiança e a perda de
autocontrole podem fazer surgir a vergonha e a dúvida, como impossibilidade de
desenvolvimento psicomotor, higiênico e de verbalização, e o sentimento de ser

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incapaz e insegura de si e de suas qualidades. A virtude que pode nascer é a
vontade de aprender, de discernir e decidir, de tal forma que o conteúdo dessa
experiência pode ser expressa como: “Eu sou o que posso querer livremente”
(BORDIGNON, 2005).

Iniciativa X culpa – A dimensão psicossexual desta fase corresponde ao início


(na realidade ou fantasia) da aprendizagem sexual (identidade de gênero e
respectivas funções sociais, e Complexo de Édipo), no desenvolvimento cognitivo e
afetivo. A culpa e o medo podem nascer do fracasso nessas aprendizagens. O justo
equilíbrio entre os sentimentos de iniciativa e culpa resulta na virtude de propósito ou
objetivo, o desejo de ser, de fazer e conviver, sintetizados na expressão: “Eu sou o
que posso imaginar que serei” (BORDIGNON, 2005).

Diligência X inferioridade – No período de latência diminuem os interesses


pela sexualidade, e a infância se desenvolve em direção à diligência ou indústria, à
aprendizagem cognitiva, para a formação do futuro profissional, da produtividade e da
criatividade. É o inicio da aprendizagem escolar e sistemática. A força antagônica é o
sentimento de inferioridade, de inadequação e incapacidade para a aprendizagem.
Da resolução dessa crise nasce a competência pessoal e profissional, expressa na
frase: “Eu sou o que posso aprender para realizar um trabalho” (BORDIGNON, 2005).

Identidade X confusão de papéis – É nesta fase que se resolve a crise da


identidade básica do ego, quando se forma a autoimagem, a integração das ideias
sobre nós mesmos e o que outros pensam sobre nós (SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S.
E., 2002). Do contrário, há a confusão de papéis, a insegurança e incerteza na
formação da identidade. A relação social significativa é a formação de grupo de
iguais, pelo qual o adolescente busca sintonia e identificação afetiva, cognitiva e
comportamental. A força específica que nasce da constância e da construção da
identidade é a fidelidade, isto é, a consolidação dos conteúdos da identidade,
estabelecida como projeto de vida, e expressa na frase: “Eu sou o que posso crer
fielmente” (BORDIGNON, 2005).

Intimidade X isolamento – A intimidade é a força que leva o jovem adulto a


confiar em alguém como companheiro no amor e no trabalho, integrar-se em filiações
sociais concretas e desenvolver a ética necessária para ser fiel a esses laços, ao
mesmo tempo em que impõem sacrifícios e compromissos significativos. Por outro
lado, o isolamento afetivo, o distanciamento ou a exclusividade se expressam no
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individualismo e no egocentrismo sexual e psicossocial, individual ou os dois. A
virtude que nasce dessa resolução é o amor, como dedicação e doação aos outros e
à sociedade, e assim se expressa: “Nós somos o que amamos” (BORDIGNON,
2005).

Generatividade X estagnação – Nesta fase psicossexual, prevalece a


generatividade, ou preocupação com as próximas gerações, que é basicamente o
cuidado e a educação dos próprios filhos, dos filhos de outros e da sociedade. O
antagonismo expresso neste momento reflete a força da geração e do
desenvolvimento da vida humana ou a sua extinção, e por isso representa a cada
pessoa a mais essencial e significativa qualificação, determinando sua experiência de
vida ou de morte. Sua superação é importante para a capacidade de amar e trabalhar
para o bem dos outros, mais distantes daqueles de seu círculo familiar. A virtude
própria desse período é o cuidado, o sentimento de responsabilidade universal para
todos os filhos e para todo trabalho humano, expresso assim: “Eu sou o que cuido e
zelo” (BORDIGNON, 2005).

Integridade X desespero – Na integridade, os modos e os sentidos anteriores


são resignificados à luz dos valores e das experiências deste momento. A soma de
todos os modos psicossexuais tem um significado integrador. Há a aceitação de si, a
integração emocional de confiança e autonomia, a vivência do amor universal, a
segurança e confiança em si e nos outros. A falta ou a perda dessa integração ou de
seus elementos se expressam no sentimento de desespero, no temor à morte, na
desesperança. A força básica é a sabedoria, que recorda o saber acumulado durante
toda a vida, a compreensão dos significados da vida, que se expressa na síntese: “Eu
sou o que sobrevive em mim” (BORDIGNON, 2005).

Por fim, para Erikson, o homem tem a capacidade para atingir forças básicas,
solucionar cada conflito de maneira positiva e dirigir conscientemente seu
crescimento, apresentando, assim, uma imagem otimista da natureza humana
(SHULTZ, D. P.; SHULTZ, S. E., 2002).

6.1.3.5 Os “Elementos de Psicanálise” de Bion

Wilfred Ruprecht Bion (1897–1979) nasceu na Índia, onde vivendo até os 7


anos, quando foi levado à Inglaterra para estudar em um internato. Lá se formou em
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