Ergonomia
Ergonomia
Ergonomia
Ergonomia
Presidente
Rodrigo Galindo
Conselho Acadêmico
Alberto S. Santana
Ana Lucia Jankovic Barduchi
Camila Cardoso Rotella
Cristiane Lisandra Danna
Danielly Nunes Andrade Noé
Emanuel Santana
Grasiele Aparecida Lourenço
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
Paulo Heraldo Costa do Valle
Thatiane Cristina dos Santos de Carvalho Ribeiro
Revisão Técnica
Simone Nunes Pinto
Editorial
Adilson Braga Fontes
André Augusto de Andrade Ramos
Cristiane Lisandra Danna
Diogo Ribeiro Garcia
Emanuel Santana
Erick Silva Griep
Lidiane Cristina Vivaldini Olo
ISBN 978-85-522-0139-7
1. Ergonomia. I. Título.
CDD 620.82
2017
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
Avenida Paris, 675 – Parque Residencial João Piza
CEP: 86041-100 — Londrina — PR
e-mail: [email protected]
Homepage: http://www.kroton.com.br/
Sumário
Unidade 2 | Macroergonomia 55
Ergonomia: conceitos e
história
Convite ao estudo
Prezado aluno,
Exemplificando
Exemplificando
Você vai a uma consulta médica. Chegando lá, o sistema que o médico
utiliza para fazer sua receita não funciona. O médico fica preocupado e
leva mais tempo para lhe atender. Os outros pacientes aguardam aflitos
com o atraso, e a recepcionista do local precisa responder a todos sobre
o porquê da demora. O médico tenta fazer o sistema funcionar e não
consegue, fazendo a receita de seus medicamentos à mão, mas sabendo
que precisará lançar no sistema posteriormente para gerar um controle de
suas consultas. Ao sair do local, você recebe uma mensagem perguntando
como foi o atendimento. Você dá uma baixa pontuação devido ao
problema do sistema. A empresa, então, entende que aquela pontuação
baixa diz respeito ao médico e, por isso, ele deve ser penalizado de alguma
forma por não ter atendido às expectativas do cliente.
Assimile
Como você pôde perceber no texto, o principal papel da ergonomia é
adaptar o trabalho ao ser humano que o executa, considerando seus
aspectos físicos, mentais e as características da organização do trabalho.
Perceba que, ao falarmos em “organização”, não estamos nos referindo
ao contrário de “bagunça”. O termo “organização do trabalho” vem da
engenharia e diz respeito a regras, ritmos e processos existentes na
empresa para controlarem como o trabalho é realizado. É importante,
caro aluno, que você perceba que em todo trabalho devemos observar
as características da organização, assim como os aspectos físicos
e psicológicos do ser humano que executa o trabalho. Essas três
dimensões não ocorrem separadamente.
Pesquise mais
Para saber mais sobre ergonomia e a importância de se conhecer o
trabalho real, assista aos vídeos do programa Fantástico da Rede Globo,
referentes ao quadro “Chefe Secreto”, disponíveis no link < http://g1.globo.
com/fantastico/quadros/chefe-secreto/>. Esse quadro mostra diversas
situações nas quais os chefes se disfarçam de trabalhadores comuns em
sua própria empresa e verificam as condições reais e dificuldades que
esses trabalhadores enfrentam todos os dias, podendo assim melhorar as
condições de trabalho a partir de de situações que ele mesmo vivenciou.
Resolução da situação-problema
Como aprendemos ao longo desta unidade de ensino,
podemos verificar que não há um padrão que atenda a todos as
situações de trabalho. Cada trabalho é único e apenas a pessoa que
o desempenha pode identificar suas particularidades, dificuldades
e especificações, que nem sempre são de ordem física. Ao analisar
um trabalho, devemos ter um olhar sistêmico e interdisciplinar,
sabendo que não existe um trabalho puramente braçal. Ao
pressupor que os trabalhadores utilizam apenas aspectos físicos,
ignoramos aspectos cognitivos, como memorização, aprendizado
e tomada de decisões, além dos métodos e das regras contidos
na organização do trabalho. Um checklist jamais conseguirá
analisará a totalidade de um trabalho, e não é possível que entenda
o trabalho real. A ergonomia não trata apenas de aspectos físicos
mas também de aspectos organizacionais, ambientais e cognitivos.
Reflita
Todo ser humano tem características e preferências quando se trata de
trabalho. Pense você: você prefere ficar o tempo todo na mesma posição
ou gosta de alternar sua postura quando tem vontade? Você prefere
mexer em programas de computador que são intuitivos ou prefere ter
dificuldades para acessá-los? Você sente cansaço se fica muito tempo
de pé? O que acontece se você tenta ler alguma coisa no escuro? Como
você se sente quando alguém lhe culpa por alguma coisa que não foi de
sua responsabilidade?
Reflita
Já aconteceu de você tentar utilizar um celular e não conseguir? Ou
precisar ajudar sua mãe a ajustar o canal da televisão porque ela não sabe
mexer no controle remoto? Já teve dificuldade em montar um material
com o manual de instruções e desistir no meio? Já se confundiu com
alguma placa que não estava com a informação clara? Nosso cérebro já
tem armazenado um conhecimento prévio o qual está sendo acionado
constantemente. Ao interagir com uma máquina, ela precisa fazer
sentido para você, frente aos conhecimentos que você já tem. Além
disso, ao manuseá-la, ela deve possibilitar o seu melhor ajuste corporal,
para evitar desconfortos.
Exemplificando
Empresas que atuam com produção em massa, criando produtos em
larga escala, geralmente, utilizam linhas de produção para realizar suas
tarefas. A linha de produção é constituída por uma esteira em torno da
qual diversos trabalhadores permanecem lado a lado, onde cada um
faz apenas uma parte do processo. Por exemplo, em uma indústria de
cosméticos, para fazer um perfume: um trabalhador só coloca os frascos
vazios na esteira, o do lado aciona a máquina para envasar o perfume,
o seguinte coloca a válvula que espirra o perfume, o seguinte coloca a
tampa, o seguinte coloca o rótulo e o último guarda o frasco pronto na
caixa. Essa fragmentação faz com que cada trabalhador faça apenas um
Todo ser humano prefere que seu tempo seja controlado por ele
mesmo, e não imposto por uma máquina, pela gerência, pelos clientes
ou colegas. Além disso, o homem acelera seu próprio ritmo, deixando
de respeitar os limites do seu corpo, toda vez que se sente motivado
para isso.
As pessoas se sentem bem quando são solicitadas a resolver
problemas, pois são encaradas como pessoas que pensam e agem, e
não como máquinas.
Frederick Wislow Taylor, criador da Administração Científica do
Trabalho, trouxe o conceito de “homem-médio”, que tentava padronizar
os tempos e métodos da tarefa como se todas as pessoas fossem
iguais. O homem não pode ser considerado como uma máquina.
Temos capacidades sensitivas e motoras que funcionam dentro de
certos limites e que variam de uma pessoa a outra e ao longo do tempo
para uma mesma pessoa.
Existe o que chamamos de variabilidade interindividual (as pessoas
são diferentes entre si) e intraindividual (como nós mesmos mudamos)
e que precisam ser consideradas. Somos diferentes entre nós e não
estamos iguais o tempo todo. Envelhecemos e nossas capacidades
se modificam, também acumulamos experiência e aprendizado. Além
disso, seres humanos organizam-se coletivamente para seu trabalho
e uma atenção especial deve estar centrada nisso: quando as pessoas
competem entre si ou não possuem espírito de equipe, a cooperação
não encontra espaço para acontecer naturalmente, o que atrapalha os
processos de trabalho. Nas atividades humanas, a cooperação tem um
papel importante, muito mais que a competitividade.
A macroergonomia
Quando analisamos uma situação de trabalho para propor melhorias,
precisamos entender em qual nível de complexidade se encontram os
problemas que identificamos. Algumas vezes, podemos encontrar um
balcão que está muito baixo para uma operação. Aqui, basta realizar
a troca do balcão, ou elevar sua altura, sendo esse problema visível,
pontual e de fácil entendimento. Aqui, utilizamos a microergonomia,
uma visão mais simplificada e pontual do estudo ergonômico.
A macroergonomia trata de uma análise mais global, sistêmica,
olhando o sistema de produção como um todo. Aqui, vemos o
funcionamento da empresa, suas regras, suas hierarquias e de que
forma aquela situação de trabalho interage e é influenciada pelos
processos como um todo.
Figura 1.1 | Ação macroergonômica
Assimile
A ação ergonômica transforma o trabalho após identificar problemas
relacionados à tarefa. A ergonomia mexe no trabalho, traduz o que ele
realmente deve ser. Se em um setor de carga e descarga os trabalhadores
estão se queixando de dores nas costas, não basta pedir que eles façam
exercícios. A dor já está ali. Não estaremos atuando na causa. Um estudo
do “por que estão surgindo dores nas costas” deve ser realizado, e a
transformação do trabalho deve ocorrer para eliminar o fator causal.
Pesquise mais
Agora que já aprendemos mais sobre ergonomia e sua importância
para adaptar as situações de trabalho às características psicofisiológicas
dos trabalhadores, complemente seus conhecimentos lendo o artigo
Integrando a ergonomia ao projeto de engenharia: especificações
ergonômicas e configurações de uso. Disponível em: <http://www.
scielo.br/pdf/gp/v21n4/aop_073313.pdf>. Acesso em: 26 mar. 2017.
Exemplificando
Vamos entender a diferença entre tarefa e atividade: a tarefa diz respeito
ao que a empresa prescreveu para que fosse realizado pelo trabalhador.
A atividade é como o trabalhador usa de sua mente e seu corpo para
executar a tarefa. Imagine um rapaz chamado Rafael, que trabalha em um
banco como gerente de relacionamento. A tarefa de Rafael é atender aos
clientes, abrir contas, oferecer empréstimos e títulos de capitalização, tirar
dúvidas dos clientes, desbloquear cartões, acessar o sistema de computador
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
Modificar a situação de trabalho sem considerar a opinião do
trabalhador e sem possibilitar a sua participação nesse processo,
geralmente, traz uma diversidade de problemas que surgem ao
Assimile
Antropometria é a parte da antropologia que trata da mensuração do
corpo humano e de suas partes. Para o dimensionamento de objetivos,
produtos e postos de trabalho, utilizamos os conceitos de antropometria
para assegurar a adaptação às características físicas das pessoas.
Reflita
Não existe homem-médio. Mas então, como podemos agir para
garantir o máximo de adaptabilidade das pessoas a um mesmo posto
de trabalho? Pensando em tudo o que já foi aprendido em ergonomia,
lembre-se de que cada situação é única, porém, garantir o máximo de
margem de manobra e autonomia podem ser saídas interessantes para
problemas relacionados à concepção de novas situações de trabalho.
Assimile
Já aconteceu de você preferir comprar uma impressora nova a tentar
consertar a que já tem? Ou já saiu correndo porque sua avó não sabia
como manusear o controle da televisão e trocou de canal sem querer?
Avançando na prática
Macroergonomia
Convite ao estudo
Prezado aluno, nesta unidade, começaremos a sistematizar
nossos estudos em Ergonomia aprendendo a realizar uma Análise
Ergonômica do Trabalho, cuja obrigatoriedade consta na Norma
Regulamentadora 17, do Ministério do Trabalho e Emprego.
Dessa forma, aprenderemos cada etapa da Análise Ergonômica
do Trabalho, como sistematizar seu estudo, como estruturar
os registros de tudo que é visto, falado e acordado na empresa,
sempre com a participação dos trabalhadores envolvidos na
situação de trabalho escolhida para ser analisada.
Bons estudos!
Seção 2.1
Etapas, métodos e técnicas da intervenção ergonômica
Diálogo aberto
U2 - Macroergonomia 57
Não há um modelo pronto e são diversos os exemplos de
documentos que sistematizam uma Análise Ergonômica do Trabalho,
porém existem algumas etapas básicas que precisam ser seguidas
para se garantir que os aspectos mais importantes da situação de
trabalho sejam analisados.
58 U2 - Macroergonomia
apontado na NR 17 como objetivo da ergonomia, é imprescindível a
expressão do trabalhador, pois só ele pode confirmar a adequação
das soluções propostas.
Sabemos que é difícil para técnicos acostumados a lidar com
números e valores objetivos terem de levar em conta a opinião dos
trabalhadores e se basearem nela para realizar mudanças no trabalho.
Como “provar” que essa solução será melhor? Onde estão os números?
Onde estão as tabelas que identificam riscos em uma atividade?
É sempre importante, ao iniciar um estudo em ergonomia,
capacitar as pessoas e ensiná-las sobre os objetivos e a metodologia da
ergonomia, para evitar expectativas que induzam a números que não
fazem sentido. Lembre-se de que a origem das atuais inadequações
existentes no mundo do trabalho deve-se, em grande parte, à
separação radical entre a concepção das condições e organização do
trabalho e a sua execução (por exemplo, na Administração Cientifica
do Trabalho de Taylor, vista na Unidade 1). Ao se ignorar a opinião
do trabalhador e tentar apontar tudo objetivamente, esquecemos
aspectos cognitivos essenciais nas condições de trabalho. Essas
condições se referem ao levantamento, ao transporte, descarga
de materiais e mobiliário, equipamentos, às condições ambientais,
ao posto de trabalho, à organização do trabalho e aos aspectos
cognitivos (treinamentos, aprendizado, decisões).
Reflita
É importante apontar que a organização do trabalho não deve ser
considerada intocável e passível de ser modificada apenas por iniciativa da
empresa. Os trabalhadores devem ter voz a respeito de como o trabalho
é conduzido e seus saberes devem ser considerados na concepção de
cada aspecto do trabalho. Precisamos nos perguntar até que ponto as
regras, os ritmos, as metas e os indicadores condizem com a realidade.
Será que o trabalhador é avaliado verdadeiramente pelo seu trabalho?
Será que o sistema implantado realmente facilita o trabalho?
U2 - Macroergonomia 59
Norma Regulamentadora nº 17. Eles estão esquematizados na Figura
2.1 e serão vistos em detalhes ao longo desta seção.
60 U2 - Macroergonomia
esse documento irá tratar. Toda situação de trabalho precisa ser
analisada para identificar seus aspectos reais, porém, uma vez que
não há queixas e problemas apontados, aquela situação não precisa
ser estudada. Esse é um processo construtivo e participativo para a
resolução de um problema complexo que exige o conhecimento das
tarefas, da atividade desenvolvida para realizá-las e das dificuldades
enfrentadas para se atingir o desempenho e a produtividade exigidos.
A demanda pode ser de saúde (acidentes e doenças), social
(reclamação de sindicato), legal (multas, notificações e fiscalizações) e
para melhorar a qualidade de um produto ou serviço para ganhos de
produtividade. Ela deve ser discutida e reconstruída pelo ergonomista
e seus interlocutores logo nos primeiros contatos. A origem do
problema, algumas vezes, não é o que havia sido explicado e pode
ser que não estivesse claro a todos os envolvidos.
Após análise da demanda e do contexto para situar o problema
a ser analisado, o segundo passo é: 2) análise global da empresa.
Aqui, precisamos identificar características próprias da empresa para
contextualizar a situação de trabalho. Dessa forma, identificamos
localização geográfica, situação econômica, grau tecnológico, quem
são seus clientes, sua regulamentação (regras internas, procedimentos,
políticas, estratégias), tipos de produto e serviço (inclusive, padrões
de qualidade e certificações), estrutura administrativa (organogramas
e fluxogramas de processos que estejam relacionados à demanda),
características das matérias-primas, variações sazonais da produção,
principais tarefas, arranjo físico (leiaute), automação, metas produtivas,
capacidade de produção, índice de produtividade e organização do
trabalho (horários, turnos, cadências, ritmos, remuneração, forma de
contratação e exigências).
Esse mapeamento é importante para identificar, inclusive, as
melhorias a serem propostas.
Em seguida, precisamos realizar o terceiro passo: 3) análise da
população trabalhadora. Devemos mapear a política de pessoal, faixa
etária, se há rotatividade, tempo de casa, experiência, categorias, níveis
hierárquicos, características antropométricas, pré-requisitos, nível de
escolaridade e capacitação (quais treinamentos específicos a empresa
proporciona para cada tarefa), estado de saúde e absenteísmo.
Devemos conhecer os trabalhadores para entender como
melhorar o trabalho para eles. É importante ressaltar que, ao tratar da
U2 - Macroergonomia 61
idade e do tempo de casa dos trabalhadores, não apontamos a média
de idade, e sim as faixas etárias em histograma.
Exemplificando
A Figura 2.2 mostra um exemplo de descrição de faixa etária de uma
população de trabalhadores.
62 U2 - Macroergonomia
trabalho real. Realizar reuniões iniciais para identificar a participação
de cada ator naquela situação de trabalho e o que cada um pensa
sobre a demanda do estudo é essencial.
Por exemplo: um engenheiro de processos pode acreditar que
seu sistema de indicadores de desempenho seja a melhor forma de
identificar os melhores trabalhadores e busca apontar como elegíveis
para promoção apenas os trabalhadores que se dão bem com esse
sistema. Pode acontecer, na realidade, de trabalhadores altamente
capacitados não serem bem avaliados pelo sistema, o qual não
considera aspectos reais do trabalho.
Assim, o quinto passo é: 5) descrição das tarefas (prescritas e reais) e
das atividades desenvolvidas para executá-las (como o trabalhador age,
pensa, usa seu corpo e sua mente). É importante que a descrição da tarefa
permita compreender o que o trabalhador deve fazer (a tarefa), como
proceder para atingir esse objetivo (atividade) e as dificuldades que enfrenta.
Nessa descrição, devemos mapear dados: a) sobre os trabalhadores
(formação necessária, quem faz o que, o que utiliza, de quem precisa,
aspectos biomecânicos e antropométricos, posturas utilizadas, para onde
olha e de quais informações precisa, demanda cognitiva, decisões a serem
tomadas, ações imprevistas, com quem precisa se comunicar, de quem
e do que depende, deslocamentos necessários); b) dados do posto de
trabalho (dimensões, órgãos de comando, sinalizações, princípios de
funcionamento de máquinas e ferramentas, problemas aparentes), como
quinas vivas, panes e falta de calibração, por exemplo; c) interação homem
x máquina (informações necessárias, improvisações, gambiarras, principais
regulações em relação ao homem, ao posto, ao sistema); d) dados
ambientais (conforto térmico, iluminamento, ruído que possa atrapalhar
na concentração e causar desconforto, vibração, questões tóxicas).
Assimile
Iluminação e iluminamento são duas coisas diferentes. Iluminação é o
efeito provocado pela luz. Digamos que é a luz que sai de uma fonte
natural (janela) ou artificial (lâmpadas). Iluminamento é o quanto de luz
incide sobre uma superfície. Pode ser que em um ambiente haja muita
iluminação, mas alguns postos de trabalho podem ser prejudicados
(por exemplo, por questões de leiaute inadequado). Assim, problemas
específicos de iluminamento podem levar ao desconforto visual ou
ainda podem limitar a visibilidade de informações importantes.
U2 - Macroergonomia 63
Ao descrever a tarefa e como a atividade surge, precisamos mapear
as exigências do trabalho. Algumas perguntas devem ser feitas: quais os
esforços dinâmicos (movimentos, deslocamentos, carregamento de
peso) e estáticos (duração e frequência de postura exigida)?; Quais são as
exigências sensoriais, Quais órgãos dos sentidos são recrutados, cores,
sinais luminosos, sons, estímulos, comandos e grau de precisão exigido?
Quanto mais rígidas as regras e o grau de precisão de alguma
tarefa, mais limitado estará o trabalhador. Quanto maior a margem
de manobra (flexibilidade e autonomia) do trabalhador, mais fácil de
adequar o sistema às suas necessidades.
O sexto passo é: 6) estabelecimento de um pré-diagnóstico
e, como o nome indica, ainda não é o diagnóstico final. Nessa
etapa, deve ser explicitado às várias partes envolvidas tudo o que foi
entendido e analisado com relação à tarefa e situação de trabalho
motivada pela demanda. Assim, tudo será validado, podendo o
ergonomista continuar com essas conclusões ou abandoná-las
como hipótese para o problema, verificando se tudo que analisou até
então faz sentido para o estudo.
Em seguida, temos o sétimo passo: 7) observação sistemática.
Filmar, fotografar, observar livremente, entrevistar (questionários,
roteiros semiestruturados) e realizar grupos focais são métodos de
coleta de informação. Avaliar conforto de acordo com a opinião de
um único trabalhador pode não ter validade geral. Deve-se conversar
com diversos trabalhadores e, principalmente, validar com eles se o
que você entendeu e escreveu faz sentido para todos. Realize grupos
em que as pessoas falam livremente sobre o que elas fazem. Perguntar
o que uma pessoa faz e como é seu trabalho é um início poderoso.
Você pode se surpreender com a quantidade de informações e
saberes que partem das verbalizações dos trabalhadores.
Ao pedir para que o trabalhador reflita sobre o que faz e sobre
a importância do que faz, você já causa uma transformação: o
reconhecimento do sentido no trabalho é um dos caminhos que leva
à saúde.
Caso encontre alguma frase importante, você pode citá-la na
análise, jamais identificando quem a disse. Um termo de consentimento
assegurando a confidencialidade das informações é essencial.
Existem, na literatura, alguns modelos de checklists utilizados em
ergonomia. Lembre-se de que nenhum deles consegue mapear
64 U2 - Macroergonomia
uma situação de trabalho em sua totalidade. Conversar com os
trabalhadores e valorizar seus saberes e opiniões é muito importante.
Mesmo assim, esses checklists e ferramentas podem ser utilizados
como métodos auxiliares, sempre complementados pela opinião
do ergonomista, devido à limitação deles. Alguns exemplos são:
Equação Niosh de levantamento e transporte de cargas, Rapid Upper
Limb Assessment (Rula), Occupational Repetitive Action (Ocra), Strain
Index, Checklists de Couto, entre outros.
Pesquise mais
Para saber mais sobre os checklists utilizados em ergonomia, leia o
Capítulo 2 da dissertação de mestrado de Joellen Ligeiro, intitulada
Ferramentas de Avaliação Ergonômica em Atividades Multifuncionais:
A contribuição da Ergonomia para o design de ambientes de trabalho,
de 2010, disponível em: <https://www.faac.unesp.br/Home/Pos-
Graduacao/MestradoeDoutorado/Design/Dissertacoes/joellen-ligeiro.
pdf>. Acesso: em: 27 abr. 2017.
Além disso, para entender melhor a limitação dos checklists, leia o artigo A
contribuição da ergonomia para a identificação, redução e eliminação da
nocividade do trabalho, de Ada Ávila Assunção e Francisco P. A. Lima (2003),
disponível em: <http://www.forumat.net.br/at/sites/default/files/arq-paginas/a_
contribuicao_da_ergonomia_para_a_ident._reducao_e_eliminacao_da_
nocividade_cap_rene_mendes.pdf> acesso em: 27 abr. 2017.
U2 - Macroergonomia 65
Reflita
Dessa forma, é possível propor uma solução simplificada para essa
situação, como a troca da ferramenta de corte?
66 U2 - Macroergonomia
Você realiza a primeira visita à agência bancária para identificar qual a
demanda que levou à sua contratação.
Dessa forma, você identifica que a demanda inicial é a modificação
do mobiliário.
Ao visitar o banco para iniciar a análise ergonômica do trabalho dos
gerentes de relacionamento para a modificação do seu mobiliário, você
precisa identificar que as etapas da intervenção ergonômica são: 1)
identificação e reformulação da demanda; 2) análise global da empresa;
3) análise da população de trabalhadores; 4) definição da situação a
ser estudada; 5) descrição da tarefa; 6) pré-diagnóstico; 7) observação
sistemática; 8) diagnóstico; 9) validação do diagnóstico; 10) propostas de
melhorias e projetos; 11) cronograma de ação; 12) acompanhamento.
Para uma boa análise do mobiliário e realização de considerações
pertinentes, essa análise deve ser feita considerando os saberes
dos trabalhadores e sua opinião sobre o conforto com relação ao
mobiliário, entendendo quais as facilidades e dificuldades que ele
representa na realização da tarefa.
Ao analisar a tarefa, a população de trabalhadores e as características
da empresa, podemos traçar um plano de ação contextualizado à
realidade da empresa e de seu grau tecnológico, além de adequar as
características fisiológicas da população de trabalhadores específica
daquela empresa. Ao analisar a tarefa na escolha das características
do mobiliário, podemos garantir que os trabalhadores foram ouvidos,
opinaram e que foram observados todos os aspectos da utilização
daquele mobiliário que podem influenciar na realização do trabalho.
Avançando na prática
U2 - Macroergonomia 67
você retire essa informação de seu relatório. O que é preciso fazer
nessa situação?
Resolução da situação-problema
É necessário registrar a realidade do trabalho e propor melhorias.
Não há importância em registrar um problema voltado à ergonomia.
O que é preciso é montar um cronograma e manter o foco nas
modificações que devem ser feitas para adequar o trabalho às
características psicofisiológicas dos trabalhadores. Lembre-se de
que é o seu nome que estará vinculado às informações coletadas
e existe responsabilidade civil e criminal com relação à omissão de
informações referentes à saúde e segurança no trabalho. Oriente o
empregador a manter as informações e direcionar as energias para
modificações que não serão benéficas apenas aos trabalhadores, mas
sim a toda a empresa.
68 U2 - Macroergonomia
características antropométricas, pré-requisitos, nível de escolaridade e
capacitação (e quais treinamentos específicos a empresa proporciona para
cada tarefa), estado de saúde e absenteísmo.
Com relação à Análise Ergonômica do Trabalho, qual das etapas a seguir
trata do mapeamento dos elementos mencionados?
a) Análise global da empresa.
b) Descrição da tarefa.
c) Análise da população trabalhadora.
d) Análise global da situação de trabalho.
e) Monitoramento de absenteísmo.
U2 - Macroergonomia 69
70 U2 - Macroergonomia
Seção 2.2
Fisiologia humana e sobrecargas no trabalho
Diálogo aberto
U2 - Macroergonomia 71
A função do ergonomista sempre é compreender o trabalho para
transformá-lo. Para isso, é fundamental conhecer preceitos básicos
relacionados ao funcionamento do corpo humano, para propor
adequações que respeitem as limitações e os riscos de saúde que
podem aparecer quando projetamos de forma inadequada um
ambiente ou uma situação de trabalho.
72 U2 - Macroergonomia
Reflita
Já percebeu como é comum as pessoas reclamarem que é segunda-
feira e festejarem que a sexta-feira chegou? Passamos grande parte das
nossas horas produtivas trabalhando. Pense: dormimos, acordamos,
trabalhamos, estudamos e voltamos para casa. A sexta-feira vira símbolo
do final de uma maratona cansativa e estressante. O final de semana torna-
se uma premiação aos trabalhadores cansados daquele trabalho que não
os motiva, não lhes traz sentido, significado, ou desenvolvimento pessoal.
Pesquise mais
Para saber mais sobre as questões que geram motivação e
sustentabilidade no trabalho, leia a tese de doutorado de Claudio Marcelo
Brunoro, apresentada em 2013, na Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, com o título Trabalho e sustentabilidade: contribuições
da ergonomia da atividade e da psicodinâmica do trabalho. Disponível
em: <http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/3/3136/tde-19092014-
105026/pt-br.php>. Acesso em: 7 maio 2017.
U2 - Macroergonomia 73
Reflita
É preciso tomar cuidado com indicadores de desempenho. Geralmente,
setores voltados à análise de processos criam indicadores de desempenho
voltados a números, vendas e metas, desconsiderando totalmente o fator
humano. Essas metas não se relacionam com a realidade do trabalho e,
muitas vezes, levam os trabalhadores a criarem mecanismos de defesa
para conseguirem trabalhar sendo avaliados o tempo todo. Pense:
avaliar apenas o valor da venda sem considerar o tempo gasto para dar
atenção ao cliente? Avaliar o tempo de atendimento sem perceber todo
esforço e demanda cognitiva para resolver um problema? Criar metas
que causem competição entre trabalhadores do mesmo setor?
74 U2 - Macroergonomia
limites, que variam entre as pessoas e ao longo do tempo; 7) suas
capacidades sensorimotoras modificam-se com o envelhecimento,
mas perdas eventuais são compensadas por estratégias e experiência;
8) organizam-se coletivamente para gerenciar a carga de trabalho, ou
seja, nas atividades humanas, a cooperação tem um papel importante,
muito mais que a competitividade.
Para criar um posto de trabalho ou desenhar uma situação de
trabalho, deveríamos sempre priorizar as características descritas.
Um posto de trabalho, mesmo quando projetado levando em
consideração as características antropométricas, pode acabar
se tornando desconfortável por outros fatores (organizacionais,
ambientais e sociais).
Biomecânica ocupacional
A biomecânica ocupacional é a ciência que estuda movimentos
corporais e forças relacionados ao trabalho. Vamos abordar alguns
dos princípios básicos de biomecânica ocupacional e os principais
pontos de atenção para se priorizar a saúde dos trabalhadores quando
interagirem com seu posto de trabalho, máquinas, ferramentas e
materiais.
Nosso corpo é a máquina mais extraordinária que existe. Células
unem-se para formar tecidos, os quais se unem para formar sistemas.
Em biomecânica ocupacional, priorizamos a forma como nossos
ossos, músculos e articulações funcionam e interagem nas situações
de trabalho.
Nossos músculos são constituídos em seu centro por feixes de
fibras e em suas extremidades por tendões. Os tendões inserem-
se nos ossos, fixando o músculo que, ao contrair, movimenta o
segmento corpóreo no qual está localizado.
U2 - Macroergonomia 75
Figura 2.3 | Estrutura muscular
Pesquise mais
Atualmente, é muito fácil encontrar vídeos e animações que representam
o corpo humano com grande precisão. Como sugestão de pesquisa,
verifique no YouTube vídeos sobre a articulação do ombro, a coluna
vertebral e mãos e punhos. Experimente usar como palavras-chave
“biomecânica” e “anatomia” junto às articulações que deseja conhecer
melhor. Sugerimos alguns vídeos:
Biomecânica da coluna:
76 U2 - Macroergonomia
Biomecânica do ombro:
Biomecânica do cotovelo:
U2 - Macroergonomia 77
Figura 2.4 | Alavancas do corpo humano
78 U2 - Macroergonomia
Figura 2.5 | Coluna vertebral
U2 - Macroergonomia 79
Figura 2.6 | Disco intervertebral
80 U2 - Macroergonomia
Quanto mais baixa estiver a carga, pior será o movimento para
transportá-la. O movimento de flexão de coluna associado à rotação
ou ao carregamento de peso traz um sério risco para a coluna,
especialmente para a região lombar, que suporta todo esse peso.
Deve-se evitar posicionar cargas em alturas baixas e, sempre que
possível, aplicar a equação Niosh de levantamento e transporte de
cargas para analisar situações.
Além disso, existem diferentes alturas para bancadas de acordo
com a natureza e o objetivo do trabalho: quanto mais precisão visual
necessária, mais alta a bancada; quando maior necessidade de força,
mais baixa a bancada (para facilitar o uso da coluna).
U2 - Macroergonomia 81
Membro superior – ombro e braços
A articulação do ombro é uma das mais complexas do corpo
humano, pois permite o maior grau de liberdade de movimentos
(flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e rotação
externa). Essa articulação é composta por três ossos: a escápula, a
clavícula e o úmero (osso do braço).
Todo nosso corpo é interligado por isso qualquer alteração em uma
estrutura pode influenciar direta ou indiretamente em outra. É o que
acontece no ombro. Se o trabalhador realizar atividades manuais sem um
apoio adequado para os antebraços, esse peso permanece sustentado
pelos ombros. Caso não haja equilíbrio entre as forças dos músculos do
ombro, uns podem movimentar mais a articulação ao que outros, e esse
desequilíbrio pode levar ao impacto de estruturas dentro da articulação.
No ombro, existe uma estrutura gelatinosa chamada bursa, localizada
entre estruturas musculares e ósseas para auxiliar na absorção de impacto.
Essa estrutura pode inflamar quando há sobrecarga de movimentos
ou exigência de força. Os tendões e as estruturas musculares também
podem inflamar ou romper, especialmente em situações nas quais
é necessário elevar o ombro acima de 90°. Quando realizamos esse
movimento, há uma grande aproximação entre as estruturas do ombro,
podendo haver um impacto.
Exemplificando
Quando um objeto está muito alto, ou algum comando de uma
máquina, ou uma ferramenta, essa situação leva o trabalhador a elevar os
ombros para poder alcançar o objeto. Faz parte do trabalho, mas é um
movimento que pode levar ao desconforto e a possíveis lesões. Limitar
a altura dos objetos a serem manipulados é um bom exemplo de ação
que protege o ombro.
82 U2 - Macroergonomia
Membro superior – mãos e punhos
Nossa mão é extremamente inervada, tem diversos músculos e
ossos, o que possibilita uma infinidade de movimentos e capacidade
de destreza e sensibilidade. O dimensionamento incorreto da força
e a velocidade de movimentos exigidos nesse segmento podem
gerar limitações nas tarefas, podendo provocar acionamentos
acidentais ou ainda sobrecarga do sistema musculoesquelético.
Essas exigências inadequadas, a repetitividade, os desvios extremos
e frequentes do punho, a concentração de pressão, a vibração e
exposição ao frio têm levado a um aumento nos diagnósticos de
doenças ocupacionais em membros superiores, como síndrome do
túnel do carpo, tenossinovites e tendinites.
Assimile
O sufixo “-ite” indica inflamação quando falamos em doenças. Portanto,
tendinite é a inflamação dos tendões; tenossinovite é a inflamação da
bolsa sinovial que contorna o tendão; bursite é a inflamação da bursa.
A síndrome do túnel do carpo é uma das afecções mais comuns nos ambientes
de trabalho. Essa doença é causada pela pressão sobre o nervo mediano, no
punho, o que leva à perda de força, dores e parestesias (sensações cutâneas
subjetivas, como formigamento). O nervo mediano chega à mão através de um
canal formado pelos ossos do punho (ossos carpais), mantidos juntos por uma
membrana resistente (ligamento carpal transversal). Esse espaço é chamado
de túnel do carpo, uma estrutura rígida por onde também passam diversos
músculos. Qualquer inchaço de tecido adjacente (provocado por repetitividade
ou exigência de força, por exemplo) pode ocasionar compressão do nervo,
causando a síndrome do túnel do carpo.
Figura 2.8 | Disposição das estruturas do túnel do carpo
U2 - Macroergonomia 83
Fisiologia e carga física do trabalho
Como vimos, cada uma das principais estruturas corporais precisa
de atenção para que possa atuar com o melhor desempenho e menor
risco. Obviamente, não conseguimos dissociar nosso corpo de nossa
mente. Sempre que notarmos questões físicas (que são mais visíveis),
devemos nos aproximar e valorizar os saberes dos trabalhadores em
questões cognitivas também.
A sigla LER significa lesões por esforços repetitivos, sendo também
denominada como distúrbios osteomusculares relacionados ao trabalho
(DORT). São doenças caracterizadas pelo desgaste de estruturas do
sistema musculoesquelético que atingem várias categorias profissionais.
Geralmente, são causadas por movimentos reincidentes e contínuos
com consequente sobrecarga dos nervos, músculos e tendões. O
esforço excessivo, má postura, estresse e condições desfavoráveis de
trabalho também contribuem para o seu aparecimento.
Para não haver implicações legais e aumentar o desempenho do
corpo nas diferentes situações de trabalho, é preciso ter atenção aos
tipos de risco que podem estar presentes.
Alguns outros preceitos podem ser observados em relação à
fisiologia e biomecânica no trabalho. Um deles é a questão do
trabalho estático versus o trabalho dinâmico. No trabalho dinâmico,
existem contração e relaxamento dos músculos, o que aumenta o
volume do sangue circulado e permite um melhor relaxamento e
alternância da musculatura. O trabalho estático é aquele que exige
contração contínua para manter uma determinada posição, o que
diminui o fluxo sanguíneo e pode sobrecarregar a musculatura.
O trabalho muscular intenso pode ativar o mecanismo de eliminação
do calor gerado pelo metabolismo. Durante o movimento, há uma
melhor irrigação sanguínea e, portanto, maior abastecimento de oxigênio.
De maneira geral, a concepção dos postos de trabalho não leva
em consideração o conforto do trabalhador, mas sim as necessidades
da produção. Nas posturas predominantemente em pé, por exemplo,
há tendência à acumulação do sangue nas pernas (resultando em
varizes e sensação de peso); tensão muscular permanentemente
para manter o equilíbrio dificulta a execução de tarefas de precisão;
e a penosidade, ou seja, o esforço causado pela posição em pé
pode ser reforçada se o trabalhador ainda tiver que manter posturas
inadequadas dos braços (acima do ombro, por exemplo), inclinação
84 U2 - Macroergonomia
ou torção de tronco ou de outros segmentos corporais. Só devemos
escolher essa postura se forem necessários deslocamentos
contínuos, manipulação de cargas ou exigência de aplicação de
força para baixo. Do contrário, devemos priorizar a postura sentada,
sempre favorecendo que o trabalhador possa alternar entre as duas
quando quiser. Sentado, o esforço postural (estático) e as solicitações
sobre as articulações permitem melhor controle dos movimentos
pelo que o esforço de equilíbrio é reduzido, sendo a melhor postura
para trabalhos que exijam precisão. Essa postura leva a menor gasto
energético e maior conforto.
Basicamente, esses são alguns princípios que podem auxiliar
a entender as principais questões voltadas às sobrecargas físicas
relacionadas ao trabalho. Há uma infinidade de situações, e abordamos
aqui as que motivam as maiores discussões em ergonomia.
U2 - Macroergonomia 85
Avançando na prática
Atendendo a lei
Descrição da situação-problema
Você é o ergonomista contratado por uma grande rede de
supermercados para realizar a análise da carga e descarga de um
dos Centros de Distribuição. Chegando lá, você nota que todas as
cargas estão posicionadas sobre paletes no chão e que pesam 60
kg. Ao conversar com o empregador, você aponta essa questão e
ele diz que a CLT indica o peso de 60 kg, por isso está atendendo
a lei. O que você diz ao empregador?
Resolução da situação-problema
Embora 60 kg conste como peso máximo na CLT, em momento
algum ela cita que toda situação deva ter esse peso. A Norma
Regulamentadora nº 17 deixa claro que não se pode carregar um
peso que possa causar risco à saúde dos trabalhadores. Nesse caso,
é necessário realizar a Análise Ergonômica do Trabalho no setor,
estipular um peso e uma transformação em toda situação, levando
em conta as variáveis da Niosh e a opinião dos trabalhadores.
86 U2 - Macroergonomia
2. A coluna vertebral é uma estrutura flexível composta por 33 vértebras
divididas nas seguintes regiões: cervical (pescoço), com 7 vértebras;
torácica (tronco), com 12 vértebras; lombar (região da cintura), com 5
vértebras; sacro (região do quadril), com 5 vértebras fundidas; e o cóccix
(ponta final da coluna) tem de 4 a 5 vértebras, também fundidas.
Com relação à coluna vertebral, assinale a alternativa correta.
a) Existe uma estrutura cartilaginosa entre as vértebras chamada disco
intervertebral.
b) Lordose é uma das doenças que pode afetar a coluna vertebral.
c) Cifose é uma das doenças que pode afetar a coluna vertebral.
d) O peso máximo que alguém pode carregar individualmente é 60 kg.
e) O peso máximo a ser carregado em qualquer situação de trabalho é 23 kg.
U2 - Macroergonomia 87
88 U2 - Macroergonomia
Seção 2.3
Atividade do ergonomista
Diálogo aberto
U2 - Macroergonomia 89
Quanto mais informações e ideias forem trocadas entre diferentes
profissionais, maior será o entendimento daquele universo de
trabalho. Formar equipes e criar espaços para diálogos e trocas de
ideias é essencial para que a abordagem ergonômica faça sentido e
seja eficiente.
Um ergonomista pode atuar em diversas esferas: pode auxiliar no
design de um novo produto; pode verificar se um website é intuitivo e
de fácil navegação; pode analisar a organização do trabalho e verificar
se as metas e os indicadores de desempenho estão adequados à
realidade dos trabalhadores; pode analisar o projeto de uma nova
linha de produção; pode propor melhorias em uma nova fábrica;
pode auxiliar no redimensionamento de um posto de trabalho; pode
verificar o fluxo de processos de uma determinada empresa; pode
contribuir com a sugestão de troca de ferramentas de um determinado
processo; pode propor alternativas a processos de retrabalho e fluxos
obsoletos; entre tantos outros.
Vamos pensar: o que todas as situações listadas têm em comum?
Todas precisam que alguém olhe a realidade do trabalho de fora,
sem pré-julgamentos, buscando apenas otimizar o que já existe e
aproveitando a sabedoria dos envolvidos. Muitas vezes, observamos
que cada profissional está centrado apenas em seu setor, em sua
realidade, e que já tem uma visão preestabelecida do que ocorre ao
seu redor. O ergonomista aparece como um tradutor da realidade.
Através de questionamentos-chave sobre o que ocorre no dia a dia
da empresa, ele propõe uma reflexão sobre a realidade do trabalho e,
assim, um novo olhar sobre o que sempre aconteceu.
Reflita
Já aconteceu de existir na sua casa algum aparelho com defeito? Existe
uma perda de tempo ou alguma tarefa é atrapalhada por ele, mas você
sempre deu um jeito de transpor esse obstáculo e se acostumou com o
aparelho com essa limitação? De repente, aparece alguém de fora: uma
visita, um profissional que veio consertar outra coisa, um parente que
não visita há algum tempo. Essa pessoa olha o aparelho com defeito e,
de repente, identifica como consertar o problema. Parecia tão simples,
tão rápido, mas você, que sempre esteve ali, já não enxergava mais como
alterar aquela realidade que já nem incomodava mais. Como dica, assista
ao vídeo em que Antônio Abujamra recita o texto Eu sei, mas não devia,
90 U2 - Macroergonomia
de Marina Colasanti, no Programa Provocações (TV Cultura), disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=ruN_LR60ZfQ> . Acesso em:
16 maio 2017.
Exemplificando
Imagine a seguinte situação: em uma agência bancária, estão dois
gerentes de relacionamento. Naquele horário, geralmente, estão três
gerentes, porém um está em uma reunião externa. Eles são avaliados
mensalmente por diversos indicadores de desempenho, e um deles
é a satisfação do cliente (mensurada através do número de elogios e
reclamações). Um dia, entra um cliente no banco com muita pressa,
pois é o único dia e o único horário que tem disponível naquela semana.
Esse mesmo cliente já havia tentado realizar uma transação via internet
e aplicativos de celular, porém, por questões de segurança, isso não foi
permitido (sendo por esse motivo que fora ao banco pessoalmente). Ao
chegar, o cliente pega fila (o que já o deixa irritado) e o tempo de espera
piora com a lentidão do sistema e o afastamento de um dos gerentes.
Quando finalmente é atendido, o sistema cai e o problema não pode
ser resolvido. O cliente fica extremamente aborrecido e realiza uma
reclamação, que pontua negativamente o trabalho do gerente. Pense
a respeito: foi culpa do gerente? Esse indicador realmente reflete a
realidade do seu trabalho? Foi levado em consideração que a meta se
manteve a mesma, mesmo com menos pessoas no local?
U2 - Macroergonomia 91
Ergonomia como atividade profissional
Para resolver questões relacionadas a inadequações da tarefa
que causam constrangimentos aos trabalhadores, o profissional
ergonomista realiza uma análise de todos os aspectos que influenciam
na situação de trabalho, compreendendo o que acontece na realidade
e propondo melhorias que transformem esse trabalho para que haja
maior conforto, segurança e desempenho eficiente.
Desta forma, o ergonomista será o profissional que realizará a
Análise Ergonômica do Trabalho, estudo que visa entender as variáveis
e a complexidade que existem em cada trabalho.
No Brasil, a profissão do ergonomista ainda não é regulamentada.
A Associação Brasileira de Ergonomia (Abergo) é uma associação
sem fins lucrativos que une os profissionais de ergonomia e procura
estudar e divulgar as interações das pessoas com a tecnologia, a
organização e o ambiente, considerando as suas necessidades,
habilidades e limitações.
De acordo com a Abergo, o ergonomista é o profissional que
tem as seguintes competências: investigar, avaliar e reconstruir as
demandas de projetos ergonômicos, assegurando a ótima interação
entre as variáveis envolvidas no trabalho; entender as bases teóricas
para planejamento ergonômico; aplicar uma abordagem integrada em
suas análises; entender as exigências para gerenciamento de riscos;
entender a diversidade de fatores que influenciam o desempenho
humano e suas inter-relações; demonstrar compreensão de
métodos de mensuração pertinentes para a avaliação e o projeto
em ergonomia; reconhecer seu escopo pessoal de competência
(sabendo de suas limitações); analisar e interpretar os achados das
investigações; apreciar o efeito de fatores que influenciam a saúde e
o desempenho humano; consultar adequadamente as observações
e interpretação de dados de seus levantamentos; analisar diretrizes,
normas e legislação que influenciam a atividade; tomar decisões
justificáveis para transformação do trabalho; documentar os achados
ergonômicos de forma adequada; manter a documentação e o registro
adequados do projeto e intervenção; prover um relatório em termos
compreensíveis pelo cliente e apropriados ao projeto; determinar
a compatibilidade da capacidade humana com as solicitações
planejadas ou existentes; determinar como ocorre a interação entre
as características, habilidades, capacidades e motivações de uma
92 U2 - Macroergonomia
pessoa e a organização, os ambientes planejados ou existentes,
os produtos manuseados, equipamentos, sistemas de trabalho,
máquinas e tarefas; determinar se um problema é tratável por uma
intervenção ergonômica; adotar uma visão holística da ergonomia
no desenvolvimento de soluções; desenvolver estratégias para
implementar um novo projeto que estabeleça um local de trabalho
saudável e seguro; comunicar-se de forma efetiva com o cliente e as
pessoas com quem interage profissionalmente; fazer recomendações
apropriadas para projeto ou intervenção ergonômica; entender
as hierarquias dos sistemas de controle; esboçar recomendações
apropriadas para projeto; gestão organizacional; seleção de pessoal,
educação, desempenho humano; supervisionar a aplicação do plano
ergonômico; avaliar e monitorar os resultados da implementação;
produzir reflexão ou pesquisa avaliativa relevante para a ergonomia;
demonstrar compromisso com uma prática ética e altos padrões
de desempenho; e reconhecer forças e limitações pessoais e
profissionais, sabendo o impacto da ergonomia na vida das pessoas.
Essas são algumas das várias funções e competências do
profissional ergonomista listadas pela Norma Abergo 1001. Perceba a
seriedade das competências listadas. O ergonomista é um profissional
que provoca a reflexão das pessoas acerca do seu trabalho, e essa é
uma grande responsabilidade.
U2 - Macroergonomia 93
Quando tratamos de informações organizacionais, pode
acontecer de sermos confrontados com questões delicadas (e até
mesmo constrangedoras). É preciso ter cautela se isso acontecer. A
empresa deve sempre ser comunicada durante a realização da Análise
Ergonômica do Trabalho, e não apenas ao final dela. Em cada etapa,
feedback e entrega parcial (junto a uma reunião de repasse) podem
reduzir os riscos de situações de conflito.
Os ergonomistas, para solucionar questões complexas
relacionadas ao trabalho, devem ter um conhecimento avançado
em diversos campos e ciências. Dessa forma, a ergonomia é uma
disciplina transdisciplinar, de acordo com a demanda que motiva a
condução da análise.
Uma abordagem multidisciplinar refere-se a um conjunto de
disciplinas que tratam, ao mesmo tempo, de uma determinada
questão (cada uma em sua área). Em uma abordagem interdisciplinar,
já há possibilidade de troca de instrumentos, técnicas, metodologias
e conceitos entre as disciplinas, havendo diálogo entre elas. Por
fim, na abordagem transdisciplinar (na qual enquadramos a
ergonomia), busca-se resolver um problema do mundo real com
base na experiência acadêmica e não acadêmica (saber profissional),
articulando conhecimentos e propondo soluções que transcendem
o âmbito de cada disciplina e surgem por meio de uma articulação
que gera uma nova visão da natureza e da realidade.
Pesquise mais
A abordagem transdisciplinar da ergonomia vem da necessidade de lidar
com problemas complexos. Edgar Morin, pensador contemporâneo que
estuda as ciências da complexidade, traz a importância de não sermos
reducionistas e não simplificarmos algo aparentemente fácil de resolver.
94 U2 - Macroergonomia
A complexidade do trabalho depende das propriedades do sistema
técnico, do contexto organizacional e de certas características dos
resultados, como a gravidade das consequências das ações do
trabalhador e o grau de irreversibilidade. Em alguns casos, os erros
são tolerados e podem ser fontes de aprendizagem quando podem
ser corrigidos. Em outros, são inadmissíveis devido à gravidade e
irreversibilidade dos efeitos. Quanto mais rígido é um sistema, mais
difícil se torna manobrar os imprevistos que surgem continuamente.
U2 - Macroergonomia 95
graduação. De qualquer forma, a atuação multiprofissional dessa
prática faz com que a profissão do ergonomista permeie diversas
outras e não encontre um fim em si mesma.
Obviamente, para uma ação eficaz, o apoio da alta administração
da empresa é essencial, e isso se consegue com muito diálogo
para a transformação do olhar sobre qualquer que seja o problema
que gerou a demanda da Análise Ergonômica do Trabalho. Muitos
profissionais estão acostumados a ver o problema de um ponto de
vista particular. É preciso que sejam feitos esforços para derrubar
barreiras que separam as profissões, para que todos trabalhem
cooperativamente na solução de problemas.
A melhor forma de fazer isso é com a realização de reuniões
periódicas, de curta duração, com esses profissionais, para discutir
conceitos, apresentar resultados e mantê-los informados sobre a
evolução dos trabalhos. Quando surgir algum problema em que se
torne necessário pedir a colaboração de algum deles, ela poderá
ser obtida mais rápido, com menor resistência, pois o assunto já é
sabido. O ergonomista, seja na concepção (análise de um projeto
antes de sua execução, projetando uma atividade futura proválvel),
na correção (realizar ajustes em situações reais que já existem), ou
na conscientização (capacitação e treinamentos para elucidar fatores
ergonômicos), tem atuação participativa e necessita de escuta ativa.
Assimile
Evitar erros é mais fácil do que corrigi-los. Dessa forma, se um produto
ou serviço ainda está no papel, é mais fácil redesenhá-lo do que corrigi-
lo após ser fabricado. Obviamente, muito só é visto após o protótipo e
a confecção, mas pensar numa situação adversa pode evitar muitos
problemas futuros. A abordagem da “atividade futura provável” de
François Daniellou trata da possibilidade de concepção de um projeto
imaginando-se diferentes formas de atividades futuras. Assim, considera-
se a variabilidade das situações de trabalho tendo como ponto de partida
“situações de referência”. Longe de representarem um modelo, elas
permitem a ampliação das oportunidades de decisões e de opções de
projeto.
96 U2 - Macroergonomia
O ergonomista é o profissional que busca trazer soluções ao
trabalho que proporcionem maior autonomia; tempo para se tomar
a decisão e agir; recursos alternativos; grau de cooperação na
equipe; melhoria da gestão; melhoria na carga de trabalho aceitável
e possibilidade de espaços de discussão com relacionamentos
aceitáveis e satisfatórios no trabalho. Para isso, ele analisa
documentos (para constituir e reconstruir a demanda, analisando
a empresa globalmente); realiza entrevistas não estruturadas (para
não induzir as verbalizações dos trabalhadores e não determinar
o caminho da conversa); observação do trabalho real (registros,
filmagens, fotografias, entrevistas); descrição das tarefas; registro das
verbalizações (registrar as falas dos trabalhadores é essencial para se
alcançar o trabalho real); autoconfrontação (coloca o trabalhador em
situação de trabalho, observando suas ações, de forma que ele pode
esclarecer, tanto para o ergonomista como para ele mesmo, seus
comportamentos e suas ações).
Finalizando, esperamos que tenha compreendido qual o papel do
ergonomista e, principalmente, a responsabilidade e importância de
sua atuação no mundo do trabalho.
U2 - Macroergonomia 97
aproveitando a sabedoria dos envolvidos, atuando como um tradutor
da realidade. Por meio de questionamentos-chave sobre o que
ocorre no dia a dia da empresa, o ergonomista propõe uma reflexão
sobre a realidade do trabalho e, assim, um novo olhar sobre o que
sempre aconteceu. A atividade multiprofissional é de fundamental
importância para solucionar um problema complexo que exige que
estudemos suas partes e que seja proposta uma reflexão com todos
os atores envolvidos e diferentes profissionais para que a realidade do
trabalho seja compreendida para ser transformada de maneira eficaz.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
A Análise Ergonômica do Trabalho é um estudo voltado à
complexidade do trabalho. O Manual de Aplicação da Norma
Regulamentadora nº 17 traz 12 passos para a realização dessa
análise e mostra a importância de se consultar os trabalhadores
e valorizar seus saberes em todo o processo. O principal objetivo
da ergonomia é transformar o trabalho. É de extrema importância
a orientação postural e consciência das posições e escolhas
98 U2 - Macroergonomia
biomecânicas mais favoráveis ao trabalhador, porém apenas isso
não transforma o trabalho. Mais uma vez, jogamos apenas no
trabalhador a responsabilidade de não adoecer. Como plano de
ação, regularizar a altura das cargas e transformar a organização
do trabalho (metas, ritmos e métodos) através de um cronograma
de prioridades que satisfaça a necessidade de trabalhadores e
empresa torna-se extremamente necessário para que o problema
seja resolvido com eficiência.
U2 - Macroergonomia 99
Analise as afirmações, atribua V para verdadeiro ou F para falso e assinale a
alternativa que indica a sequência correta.
a) F - V - V - V.
b) V - F - F - F.
c) F - F - V - V.
d) V - V - V - V.
e) F - F - F - F.
100 U2 - Macroergonomia
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102 U2 - Macroergonomia
Unidade 3
Convite ao estudo
Caro aluno!
Bons estudos!
Seção 3.1
NR 17 e anexos
Diálogo aberto
Relembrando a situação hipotética do nosso Convite ao estudo,
você é contratado como ergonomista para realizar uma análise
ergonômica do trabalho em uma empresa de telemarketing. A
empresa está iniciando um Comitê de Ergonomia, porém nunca
realizou uma Análise Ergonômica do Trabalho, e os contratantes
acreditam que estejam com toda a situação sob controle, uma vez
que todos os postos de trabalho estão dimensionados conforme
os aspectos de mobiliário apontados no anexo II da Norma
Regulamentadora nº 17 (que trata do assunto). Ao visitar o ambulatório
médico, você detecta que grande parte dos afastamentos médicos na
empresa se dá por motivos de infecção urinária e doenças mentais.
Para iniciar seu trabalho como ergonomista, você pode identificar as
etapas para iniciar uma análise ergonômica do trabalho e as principais
características desse tipo de trabalho?
Dessa forma, ao iniciar a realização da análise ergonômica do
trabalho na empresa, você precisa se amparar na legislação para
apontar quais aspectos devem ser transformados no trabalho dos
atendentes de telemarketing para solucionar os problemas apontados
pelo departamento médico. Para isso, você precisará relembrar: o
que estabelece a Norma Regulamentadora nº 17? De quanto em
quanto tempo deve ser realizada a analise ergonômica do trabalho?
Quais aspectos devem ser considerados com relação ao mobiliário
dos atendentes? Quais aspectos relacionados ao trabalho podem
influenciar na saúde mental desses trabalhadores?
Para que você consiga responder a esses e outros questionamentos,
esses conteúdos serão abordados de forma contextualizada na seção
Não pode faltar.
Tenha um excelente estudo!
Assimile
Esforço, pensamento, relacionamento e dedicação. Jastrzebowski
destaca a importância de se mobilizar os quatro aspectos: físico-motor,
estético-sensorial, mental-intelectual e espiritual-moral. Assim, dando
origem à palavra ergonomia unindo as palavras ergon e nomos (trabalho
e regras, respectivamente; regras para o trabalho), o pesquisador polonês
cria a palavra que está sendo tão difundida no mundo hoje.
Pesquise mais
Para saber mais, leia o Capítulo II do livro A Máquina que Mudou o Mundo
(WOMACK; JONES; ROOS, 1992), que traz o extraordinário estudo do
Massachussetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos, sobre a
indústria automobilística. O livro retrata suas várias fases, desde a produção
artesanal até a produção em massa, chegando à produção enxuta, que
perdura até hoje. Na obra, os autores apontam fatos sobre as automatizações,
a chegada de trabalhadores de todas as partes do mundo (que recebiam,
inclusive, um minicurso de inglês para poderem se comunicar minimamente
na empresa), a produção do Ford T (carro padronizado na cor preta que
vinha com um manual de instruções sobre a manutenção do carro e de
suas peças). O International Motor Vehicle Program (IMVP), título do estudo,
é um referencial histórico que traz em detalhes as transformações do
trabalho nessa indústria e em outras que seguem o mesmo modelo e é
uma leitura enriquecedora para ergonomistas.
Histórico da NR 17
Com a chegada dos computadores, na década de 1980, tivemos
um aumento na quantidade de trabalhadores que atuavam com
digitação. Em 1986, diante dos numerosos casos de tenossinovite
ocupacional entre digitadores, os diretores da área de saúde do
Sindicato dos Empregados em Empresa de Processamento de Dados
no Estado de São Paulo (SINDPD/SP) fizeram contato com a Delegacia
Regional do Trabalho, em São Paulo, e com a Fundação Jorge Duprat
de Figueiredo (Fundacentro) – um centro de pesquisas relacionado à
saúde e segurança do trabalho, vinculado ao Ministério do Trabalho e
Emprego –, para buscar respostas para os fatores causadores dessas
doenças e proposições de melhoria.
Após alguns estudos, foram identificados o pagamento de prêmios
de produção, a ausência de pausas, a prática de horas extras e a dupla
jornada de trabalho, entre outros.
Durante 1988 e 1989, a Associação de Profissionais de
Processamento de Dados (APPD nacional) realizou reuniões com
representantes da Secretaria de Segurança e Medicina do Trabalho
(SSMT) em Brasília, da Fundacentro e da DRT/SP para elaborar um
projeto de norma que estabelecesse limites à cadência de trabalho
e proibisse o pagamento de prêmios de produtividade, bem como
estabelecesse critérios de conforto para os trabalhadores de sua base,
que incluíam o mobiliário, a ambiência térmica, a ambiência luminosa
e o nível de ruído.
Nesse mesmo período, o Ministério do Trabalho convocou
toda a sociedade civil para que organizasse seminários e debates
Reflita
Apenas digitadores foram estudados, e as regras deveriam ser agora para
todos. Além disso, os estudos que apontaram fatos para a redação da
NR 17 vieram da França. Vamos pensar a respeito: na França, precursora
da Ergonomia da Atividade, não estabelecemos valores fechados para
situações de trabalho por saber que cada situação é diferente e depende
do contexto no qual está inserida. Assim, na redação da NR 17, os seus
redatores sabiam do perigo em estabelecer limite de peso para caixas
e quantificar pausas de forma metódica. Pouco tempo para escrever,
apenas uma profissão como estudo de base e sem poder colocar
parâmetros exatos. Esse foi o contexto no qual a NR 17 foi escrita.
Não bastassem essas complicações, precisamos também entender o
contexto no qual uma norma regulamentadora é escrita.
Interpretação da NR 17
A Norma Regulamentadora pode ser consultada no site do
Ministério do Trabalho e Emprego. Em seu item 17.1, aponta
que seus objetivos são voltados a estabelecer parâmetros que
permitam a adaptação das condições de trabalho às características
psicofisiológicas dos trabalhadores, de modo a proporcionar
um máximo de conforto, segurança e desempenho eficiente.
Essas condições de trabalho incluem aspectos relacionados ao
levantamento, transporte e descarga de materiais, ao mobiliário, aos
equipamentos e às condições ambientais do posto de trabalho e à
própria organização do trabalho.
Perceba que a norma não trata de valores, números e regras.
Assim, em seu item 17.1.2, ela torna obrigatória a realização da análise
ergonômica do trabalho, devendo abordar, no mínimo, as condições
de trabalho, conforme citadas anteriormente.
Quando a norma traz o termo “Análise Ergonômica do Trabalho”,
ele já faz alusão ao trabalho do Professor Wisner e à sua metodologia,
e é isso que nunca ficou muito claro para empresas, ergonomistas
e auditores fiscais. Como vimos em nossa Unidade 2, existe
uma metodologia para se fazer essa análise, e ela não tem uma
Anexos I e II da NR 17
O primeiro anexo da norma refere-se ao trabalho de operadores de
check-out, ou seja, caixas de supermercados. Aqui, por se tratar de uma
situação específica de trabalho, a norma procura estabelecer alguns
números e regras, para assegurar as mínimas condições de conforto,
segurança e desempenho eficiente. Perceba que são “condições
Exemplificando
Em uma de minhas análises, escutei o depoimento de alguns atendentes
sobre pegarem muito trânsito e chegarem famintos ao trabalho,
comendo tão rápido que não conseguem comer devagar nem quando
estão em casa. A pausa de 20 minutos leva o tempo de desconectar
do terminal, descer até a área livre, comer e voltar. Existem prédios de
diversos andares e sem elevador. Alguns apontam que são monitorados
pelo horário de fazer a pausa, mas se cai uma ligação, eles devem
atender e isso é indicado como quebra para receber a meta. Existem
diversos tipos de trabalho que se caracterizam como teleatendimento,
mas não chamam a atividade assim, mantendo a jornada de trabalho e
parâmetros do anexo II fora da regularidade.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
É preciso verificar o desvio de funções. O anexo II da NR 17,
em seu item 1.1.2, estabelece que se entende como trabalho de
teleatendimento/telemarketing aquele cuja comunicação com
interlocutores clientes e usuários é realizada a distância por
intermédio da voz e/ou mensagens eletrônicas, com a utilização
simultânea de equipamentos de audição/escuta e fala telefônica e
sistemas informatizados ou manuais de processamento de dados.
Diálogo aberto
Você é convidado como ergonomista para realizar uma análise
ergonômica do trabalho em uma empresa de telemarketing. A
empresa possui 10.000 funcionários espalhados em diversas cidades
pelo Brasil, possui certificação internacional de ISO 9001, ISO 45001
e SA 8000 e presta serviço de venda através do teleatendimento para
grandes empresas de telefonia (aparelhos celulares, pacotes de dados
e planos pós e pré-pago de ligações). Essa empresa possui certificação
internacional de Qualidade, Saúde e Segurança no Trabalho e de
Responsabilidade Social. Quais impactos essas certificações podem
trazer para os aspectos relacionados à ergonomia na empresa? Quais
os requisitos de base de cada normatização? Quais as vantagens para
a empresa em realizar uma certificação internacional nesses aspectos
e quais as suas responsabilidades?
Para solucionar esse estudo de caso, vamos ao item Não pode
faltar do nosso estudo.
Agir Planejar
Agir de acordo com o avaliado, Estabelecer uma meta ou identifcar um
determinar e confeccionar novos planos problema.
de ação, promovendo a melhoria Analisar sistematicamente e definir o
contínua. PLANO DE AÇÂO.
Checar
Realizar
Monitorar e avaliar periodicamente
Executar as atividades conforme
os resultados, confrontando com o
mapeadas no PLANO DE AÇÃO para
planejado, objetivos, especificações e
analisar sua eficácia na realidade.
consolidando resultados.
Assimile
Como pode ser visto, esses sete princípios buscam o engajamento de
equipes com foco em resultados e na tomada de decisões baseada em
evidências. Analisando cuidadosamente esses princípios, precisamos
ser cautelosos e verificar se o foco em resultados e o estabelecimento
de indicadores que não condizem com a realidade do trabalho podem
estar gerando adoecimentos e problemas com conforto, segurança e
desempenho eficiente dos trabalhadores.
Exemplificando
Historicamente, há uma série de fatos relacionados a ações irresponsáveis
com o meio ambiente. Para saber mais, veja o exemplo da empresa
Volkswagen, que utilizou um programa para mascarar a emissão de
poluentes em carros a diesel. Leia a matéria Que vias a Volks pode seguir
após o escândalo das emissões, de Luísa Melo, no site da Revista Exame,
disponível em: <http://exame.abril.com.br/negocios/que-vias-a-volks-
pode-seguir-apos-o-escandalo-das-emissoes/>. Acesso em: 13 jun. 2017.
Reflita
Ainda existe trabalho escravo. Atualmente, novas formas de limitação
à liberdade dos trabalhadores surgiram. Há diversos exemplos nas
indústrias de confecção, carvoarias, empresas de limpeza e muitas
outras. A Convenção Suplementar sobre Abolição da Escravatura, do
Tráficoo de Escravos e das Instituições e Práticas Análogas à Escravatura,
da ONU, conceitua a Servidão por Dívida como
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
É importante que ambos os sistemas sejam integrados e que os
responsáveis por cada sistema de gestão recebam treinamento e
aprendam a importância de se atingir padrões de qualidade sem que
isso ocorra em detrimento da saúde do trabalhador. Buscar um novo
tipo de tampa ou verificar uma forma de seu posicionamento e não
sobrecarregar os membros superiores dos trabalhadores é essencial
para que a empresa opere de forma coesa e com alinhamento entre
processos e prioridades.
Diálogo aberto
Relembrando a nossa situação-problema para esta unidade de
estudos, você é convidado como ergonomista para realizar uma
Análise Ergonômica do Trabalho em uma empresa de telemarketing. A
empresa possui 10.000 funcionários espalhados em diversas cidades
pelo Brasil, possui certificação internacional de ISO 9001, ISO 45001
e SA 8000 e presta serviço de venda através do teleatendimento
para grandes empresas de telefonia (aparelhos celulares, pacotes de
dados e planos pós e pré-pago de ligações). A empresa está iniciando
um Comitê de Ergonomia, porém nunca realizou uma Análise
Ergonômica do Trabalho, e os contratantes acreditam que estejam
com toda a situação sob controle, já que todos os postos de trabalho
estão dimensionados conforme os aspectos de mobiliário apontados
no anexo II da Norma Regulamentadora nº 17. Ao visitar o ambulatório
médico, você detecta que grande parte dos afastamentos médicos na
empresa se dão por motivos de infecção urinária e doenças mentais.
Para concluir sua análise ergonômica do trabalho, é de extrema
importância que você converse com o Comitê de Ergonomia para
alinhar suas sugestões de melhoria em ergonomia com os demais
programas existentes na empresa. Nesse cenário, é importante
verificar: quais outras normas regulamentadoras se relacionam com a
NR 17 de Ergonomia? Por que é importante alinhar esses programas?
Qual a importância do Comitê de Ergonomia e em quais fases da
análise ergonômica do trabalho ele deve estar envolvido?
Para responder essas e outras questões, veja o item Não pode faltar
do nosso estudo. É importante ter em mente que entender sobre a
legislação que nos cerca – não apenas sobre ergonomia, mas de tudo
que influencia nosso dia a dia – pode ajudar a nos tornar mais críticos,
a nos proteger e a proteger as pessoas ao nosso redor, além de poder
criar uma visão crítica de transformação do mundo. Parabéns por todo
o estudo até o presente momento! Vamos em frente!
NR 4 - Serviços Especializados em
NR 22 - Segurança e Saúde
Eng. de Segurança e em Medicina
Ocupacional na Mineração
do Trabalho
NR 5 - Comissão Interna de
NR 23 - Proteção contra Incêndios
Prevenção de Acidentes
NR 6 - Equipamentos de Proteção NR 24 - Condições Sanitárias e de
Individual – EPI Conforto nos Locais de Trabalho
NR 7 - Programas de Controle
NR 25 - Resíduos Industriais
Médico de Saúde Ocupacional
NR 27 - Registro Profissional do
NR 9 - Programas de Prevenção de Técnico de Segurança do Trabalho
Riscos Ambientais no MTB (Revogada pela Portaria
GM n.º 262/2008)
NR 10 - Segurança em Instalações
NR 28 - Fiscalização e Penalidades
e Serviços em Eletricidade
NR 36 - Segurança e Saúde no
NR 18 - Condições e Meio
Trabalho em Empresas de Abate
Ambiente de Trabalho na Indústria
e Processamento de Carnes e
da Construção
Derivados
Assimile
As Normas Regulamentadoras (NR) são um conjunto de requisitos e
procedimentos relacionados à segurança e medicina do trabalho, de
observância obrigatória às empresas privadas, públicas e órgãos do
governo que possuam empregados regidos pela Consolidação das
Leis do Trabalho (CLT), de responsabilidade do Ministério do Trabalho
e Emprego. Já as Normas Técnicas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) buscam aplicar regras e procedimentos de forma a
estabelecer diretrizes ou características mínimas para atividades ou para
seus resultados, visando à obtenção de um grau ótimo de ordenação
em um dado contexto.
Exemplificando
Os anexos I e II da NR 17 surgiram por demandas específicas que
ocorreram em um contexto histórico e um diferente cenário de quando a
norma foi originalmente criada. Novas profissões surgirão com os avanços
da tecnologia e com necessidades criadas pelo homem e sua evolução.
Nossa legislação acompanha essas transformações, havendo atualizações
que podem incluir ou excluir aspectos relacionados ao trabalho.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
A aplicabilidade das normas deve ser coesa à realidade do
trabalho. Não se trata apenas de insalubridade, mas da necessidade
de se realizar um trabalho com níveis de ruído que não atrapalhem a
concentração e o andamento das atividades. Assim, deve-se consultar
a NR 17 e as normas NBR 10151 e 10152 (que tratam da avaliação do
ruído e sua aceitabilidade para proporcionar conforto acústico) para
verificar questões de conforto acústico e verificar um melhor local
para alocação das impressoras.
Aplicação da Ergonomia
Convite ao estudo
Prezado aluno, é com extrema alegria que iniciamos a nossa
última unidade de estudos, a Unidade 4. Depois de uma longa
jornada entendendo o que é Ergonomia e desmistificando diversas
questões relacionadas ao mundo do trabalho, entendemos o papel
da Análise Ergonômica do Trabalho em conhecer para transformar
a realidade e tornar o trabalho mais confortável, seguro e com
melhor desempenho. Aprendemos, até o presente momento,
a importância do trabalho em nossas vidas e os aspectos legais
que fazem com que a Ergonomia seja regulamentada, no Brasil ,
pela Norma Regulamentadora nº 17, do Ministério do Trabalho e
Emprego, e demais regulamentações. Agora é hora de finalizarmos
nossos estudos em Ergonomia, estruturando uma proposta
comercial e identificando como realizar transformações no
trabalho após uma Análise Ergonômica do Trabalho participativa
e construtiva, identificando como criar um projeto e imaginar uma
atividade futura provável após mapear os pontos mais importantes
com os demais interlocutores.
Bons estudos!
156 U4 - Aplicação da Ergonomia
Seção 4.1
Projetação ergonômica do sistema humano x
tarefa x máquina
Diálogo aberto
Para a primeira seção da Unidade 4, vamos retomar a situação-
problema proposta no Convite ao estudo, para auxiliar na
sistematização dos conhecimentos adquiridos em nossa unidade.
Um desenvolvedor de softwares contrata você como ergonomista
para auxiliá-lo a criar um sistema de computador para a recepção
de hóspedes em um hotel. Seu papel será muito simples: verificar
os aspectos de usabilidade, acessibilidade e ergodesign envolvidos
na interação das pessoas com esse sistema. Ao iniciar a análise dos
aspectos de usabilidade no programa de computador, você percebe
que precisa realizar uma reunião inicial com o desenvolvedor para
montar sua proposta comercial e o contrato, para formalizar a
demanda do trabalho. Quais são os aspectos primordiais a serem
considerados ao realizar uma proposta comercial de análise
ergonômica do trabalho? Por que é preciso reformular a demanda
e explicar o que é ergonomia a todos os envolvidos? Quais aspectos
devem ser considerados na interação homem x máquina para
assegurar saúde, conforto e desempenho eficiente dos usuários?
Para responder a essas e outras questões, vamos iniciar o Não
pode faltar da nossa seção. Como um ergonomista, você não é
apenas um investigador de possíveis soluções de problemas: e sim
um articulador da verdade junto aos trabalhadores, mostrando as
melhores opções e facilitando diálogos acerca do trabalho real.
Como um agente de transformações, inspire-se e bons estudos!
Assimile
Para Fleury e Fleury (2001), em seu artigo científico intitulado
Construindo o conceito de competência, competência é uma
característica subjacente a uma pessoa que está relacionada com
desempenho superior na realização de uma tarefa ou em determinada
situação, envolvendo aptidões (talento natural da pessoa que pode
ser aprimorado), habilidades (demonstração de um talento particular
na prática) e conhecimentos (o que as pessoas precisam saber para
desempenhar uma tarefa).
Assimile
O saber tácito é aquele de difícil verbalização, o que limita que possa
ser transferido por meio da linguagem formal. Uma pessoa pode
saber como fazer algo, sem conseguir articular aos outros em maiores
detalhes. O conhecimento construído para a realização do trabalho real
é produzido pela inteligência do corpo, através da qual o sujeito enfrenta
as provas que o mundo real apresenta e assimila respostas, aprende
comportamentos, hábitos e práticas, além de propor diálogos e desafios.
De acordo com o estudioso Michael Polanyi, o conhecimento tácito vem
da interiorização das nossas experiências com o mundo. Só podemos
aprender uma teoria matemática praticando sua aplicação, pois a
sabedoria real está na habilidade de usá-la. Não é olhando para as coisas,
mas interiorizando nossa interação com elas que compreendemos seu
significado conjunto.
Propostas e contratos
Exemplificando
A tese de Carlos Antonio Ramirez Righi (2002), intitulada Modelo para
implantação de programa de ergonomia na empresa – MipErgo, traz
um modelo de proposta voltado à Ergonomia da empresa Ford. Para
saber mais sobre um modelo de proposta em Ergonomia e itens a serem
explorados na elaboração do contrato, leia o subitem 2.3.6 “Programas
Corporativos de Ergonomia”.
Pesquise mais
No Brasil, o texto da Organização Internacional do Trabalho foi traduzido
pela Fundacentro em 2001, como o documento intitulado Pontos de
Verificação Ergonômica - Soluções Práticas e de Fácil Aplicação para
Melhorar a Segurança, a Saúde e as Condições de Trabalho.
Avançando na prática
Resolução da situação-problema
A Análise Ergonomica do Trabalho parte da análise e
reconstrução da demanda que a motiva. Ao se propor uma solução
sem analisar o trabalho real, entender as tarefas da trabalhadora e
considerar suas opiniões, pode-se estabelecer um diagnóstico e
posterior proposta de solução superficiais e que não melhoram as
condições de conforto, segurança e nem melhoram o desempenho
da trabalhadora. Uma solução eficaz seria marcar uma reunião
com o empregador e explicar os princípios da ergonomia e sua
metodologia, destacando a importância da análise, reformulando,
assim, a demanda antes da proposta comercial.
Diálogo aberto
Nesta seção, vamos tratar de aspectos mentais relacionados ao
trabalho. Na aplicação da Ergonomia, é preciso que o ergonomista
tenha visão ampla sobre os processos de trabalho e sobre como a
tarefa é realizada, identificando os constrangimentos que podem
advir do trabalho. Para pensar sobre os aspectos mentais e o papel
da Ergonomia, vamos retomar nossa situação-problema: um
desenvolvedor de softwares contrata você como ergonomista para
auxiliá-lo a criar um sistema de computador para a recepção de
hóspedes em um hotel. Seu papel será muito simples: verificar os
aspectos de usabilidade, acessibilidade e ergodesign envolvidos na
interação das pessoas com esse sistema.
A Ergonomia Cognitiva leva em consideração aspectos voltados
ao aprendizado, à percepção, cognição e memória. Pensando que
você será o ergonomista responsável em considerar esses aspectos
no desenvolvimento do software, é importante que você relembre:
o que é percepção? O que é cognição? Por que um design que não
considera o usuário durante o processo de criação pode induzir a
erros e perda de produtividade?
Para responder a essas e outras questões, vamos à seção Não
pode faltar do nosso estudo! Agora, vamos fazer uma breve imersão
pelos caminhos da mente no trabalho e vamos enxergar de perto a
beleza do processo de aprendizado.
Exemplificando
Em psicologia e design, falamos sobre o conceito de Gestalt, teoria
sobre a essência da forma completa, que trata do nosso reconhecimento
visual das figuras e formas inteiras, em que o todo é maior do que apenas
a soma de suas partes.
Proximidade
Similaridade
Continuidade
Fechamento
Simetria
Ergodesign
Avançando na prática
Diálogo aberto
Vamos relembrar a situação-problema da nossa unidade: um
desenvolvedor de softwares contrata você como ergonomista para
auxiliá-lo a criar um sistema de computador para a recepção de
hóspedes em um hotel.
A Ergonomia tem um papel fundamental na preservação da saúde
dos trabalhadores e na melhora da produtividade na empresa. Com
os seus conhecimentos em Ergonomia, você já sabe que nunca é
possível conhecer o trabalho real sem conversar com os trabalhadores
e sem trazer à luz os seus saberes referentes ao fazer profissional.
Dessa forma, é importante que você se lembre por que é importante
compreender o trabalho para transformá-lo. Quais são os aspectos
cognitivos, ambientais e organizacionais a serem considerados em
uma análise ergonômica do trabalho? Por que é importante realizar a
validação dos resultados obtidos na análise ergonômica?
Essas e outras questões serão respondidas ao longo da nossa
última seção e ao finalizar nossa disciplina de Ergonomia. Com
orgulho, sabemos que você será um grande agente de transformação
envolvido no mundo do trabalho.
Reflita
Suponhamos que sua família more em outro estado e fique difícil visitá-
la sempre. Dessa forma, você encontra formas de acompanhar o que
acontece a distância. Redes sociais, troca de mensagens e ligações são
formas de contato via meios relacionados a telefone e internet. Vamos
pensar: isso assegura que você saberá tudo o que está acontecendo por
lá? Imagens, conclusões a respeito do que está vendo nas redes sociais
e ligações breves mostram tudo que está acontecendo do outro lado?
A intervenção ergonômica
Como diria Albert Einstein: “A mente que se abre a uma nova ideia
jamais voltará ao seu tamanho original”. Não se acostume em como
as coisas são impostas. Busque o melhor. Transforme. Analise. Crie
formas de mostrar seu ponto de vista. O trabalho tem papel central nas
nossas vidas, então por que ele não pode ser realizado de uma maneira
mais saudável e feliz?
Contamos com você para ser esse agente de transformação! Que
sua vida seja repleta de sucesso!
Todas essas conexões deixarão o seu olhar cada vez mais atento
e rico em detalhes para poder transformar o mundo do trabalho com
suas análises e propostas de melhoria. Seja aquele que enxerga o real,
A cronoanálise perfeita
Descrição da situação-problema
Em uma grande fábrica de cosméticos, chegou uma nova
linha de produção. Importada do Japão, a linha era quase
totalmente automatizada, tendo como processos manuais apenas
o abastecimento de frascos de vidro, fechamento das tampas e
guarda nas caixas. Para o primeiro teste da linha, são chamados os
trabalhadores mais experientes da fábrica, sendo feitos os testes de
intervalos de tempo que cada tarefa estava consumindo. Assim, foi
feita a cronoanálise (cronometragem de cada tarefa e seu tempo,
encontrando uma média de tempos para estabelecer um padrão
de acordo com a produção). Após dois meses de funcionamento,
quatro trabalhadores se afastaram com problemas nas costas e
na região do ombro. Quando questionados pelo médico, eles
disseram que não conseguiam se adaptar à linha de produção
(que possuía pontos nos quais pessoas de estatura de mediana ou
alta não conseguiam se posicionar de forma confortável) e que,
muitas vezes, os ritmos de produção acabavam gerando muitos
movimentos repetitivos e sem pausas para descanso.
O que poderia ter sido feito para evitar esses problemas?
Resolução da situação-problema
Toda nova situação de trabalho demanda uma Análise
Ergonômica do Trabalho inicialmente. Antes da compra da linha
de produção, seria interessante a análise do projeto, para realizar
alterações ainda em sua concepção. Por vir do Japão, onde a
população possui características antropométricas diferentes da
do Brasil, é possível que haja pontos na linha de produção que
precisem ser redimensionados com base na população atual. Além
disso, o teste para a cronoanálise utilizando apenas trabalhadores
experientes pode se afastar da realidade, na qual há uma variabilidade
inter e intraindividual dos trabalhadores que pode interferir nesses
tempos. É interessante pensar alternativas em que os trabalhadores
possuem uma meta de produção, mas têm autonomia sobre os
tempos e as formas de parada para descompressão.