Tecnicas Expandidas e Processos de Aprendizagem
Tecnicas Expandidas e Processos de Aprendizagem
Tecnicas Expandidas e Processos de Aprendizagem
ESCOLA DE MÚSICA
Salvador
2013
RUAN SANTOS DE SOUZA
Salvador
2013
Catalogação na fonte
CDD: 780.72
Copyright by
Abril, 2013
iii
iv
AGRADECIMENTOS
Aos meus orientadores, Prof. Dr. Ana Cristina Tourinho e Prof. Dr. Mario Ulloa, por
sistema.
À minha família pelo apoio, amor, compreensão e incentivo de seguir nesta carreira.
esses anos.
Aos meus colegas Afonso Celso, Diego Esteves, Gilberto Stefan, Igor Vasconcelos,
João Almy, Natanael Ourives e Ricardo Arôxa pela colaboração com o material de pesquisa e
discussões essenciais.
À minha querida amiga Cássia Muniz pelo cuidado e atenção na revisão do texto.
RESUMO
repertório vanguardista para violão solo com técnicas expandidas a partir da observação dos
Mario Ulloa).
No primeiro capítulo será feita uma revisão de literatura abordando como temas
referencial teórico em que este estudo está fundamentado. Será apresentada, no segundo
capítulo, uma breve investigação sobre como a música contemporânea vem sendo abordada
análise das suas matrizes curriculares, a fim de avaliar o contato proposto pela universidade
campo, bem como, uma breve análise sobre seus principais aspectos e os resumos biográficos
dos seus compositores. E por fim, os estudos de caso serão descritos e analisados no quinto
capítulo, portanto, algumas inferências serão explicitadas individualmente caso a caso, para
nas considerações finais estes dados serem cruzados, proporcionando inferências de caráter
indutivo.
vii
ABSTRACT
This research aims to investigate the strategies used in the preparation of avant-garde
repertoire for classical solo guitar with expanded techniques, from observation of student´s
learning processes of instrument (degree in Guitar on the Music School of the Federal
In the first chapter will be made a review of the literature addressing as "Extended
Techniques” and "Contemporary Music and Music Education", in addition to portraying the
theoretical framework on which this study is based. Will be presented in the second chapter, a
brief research about how contemporary music has been addressed in music courses of the
UFBA (Federal University of Bahia), specifically in the course mentioned before, through the
analysis of their curricular arrays, in order to assess the proposed contact by the university
The third chapter will describe how the survey was methodologically organized,
informing the tools used and their goals, where they will be exposed the criteria for choice of
In the fourth chapter will be presented the musics selected for field research, as well
as a brief analysis of its main aspects and biographical summaries of their composers. And
finally, the case studies will be described and analyzed, in the fifth chapter, therefore, some
inferences will be made case-by-case basis, for in final considerations these data will be
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................. v
RESUMO.................................................................................................................................. vi
LISTA DE FIGURAS............................................................................................................... x
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
2.1. Contextualização........................................................................................................... 26
LISTA DE EXEMPLOS
Exemplo 7 - Fragmento da peça “La Espiral Eterna” de Leo Brouwer. 7ª página, 4º sistema.
.................................................................................................................................................. 86
LISTA DE FIGURAS
Figura 2 - Bula de instruções para a execução de "Central Guitar" de Egberto Gismonti. ... 103
xii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2 - Fragmento do Diário de Estudo de X, após Segundo Encontro Individual. ......... 109
INTRODUÇÃO
episódio ocorrido em 2008, em que um dedicado estudante da classe do Prof. Dr. Mario Ulloa
se viu em apuros ao ser indicado, pelo seu professor, para estrear uma obra contemporânea
americano Jack Fortner. Em que o indivíduo relatou, em conversas informais, ter perdido
cerca de 2 kg em seu peso corporal após esta experiência enriquecedora, devido às poucas
desde a compreensão das grafias nãotradicionais até a execução dos trechos de notação
O indivíduo ainda declarou ter obtido certo sucesso na compreensão e execução das
técnicas expandidas somente após as explicações presenciais do autor nos ensaios agendados
próximo à data do evento, visto que a obra não continha uma bula especificando detalhes de
como executar as técnicas expandidas, apenas descrições superficiais no corpo da peça (por
exemplo: bater no tampo do instrumento, mas sem indicações de como e onde bater
especificamente); além de não ter disponível a orientação do seu professor de curso durante o
processo de aprendizagem nesta peça. Este estudante de violão foi muito aplaudido e elogiado
pela plateia (em maior parte composta por músicos profissionais e estudantes) e pelos
satisfatório.
2
Considerando o sucesso obtido por este indivíduo surgiu uma indagação: outros
linguagem incomum? Portanto, esta pesquisa foi idealizada com o intuito de investigar como
vanguardistas com técnicas expandidas, com a seguinte questão central: Quais as estratégias
Este capítulo traz um levantamento bibliográfico das questões que circundam esta
em pesquisas no Brasil e no exterior, com intuito de delimitar o que vem sendo considerado
significante para tal investigação, que traz à reflexão como vem sendo abordado o ensino de
Estes novos sons tornaram-se musicalmente utilizáveis. Como os clusters, que está
entre os primeiros exemplos, foram introduzidos no piano pelo compositor americano Henry
Cowell nos anos 20 e o “Piano preparado” trazido com singularidade pelo americano John
Cage nos anos 40. Há, também, uma considerável quantidade de novas possibilidades na
utilização do vibrato com a língua, nos instrumentos de sopro; nos instrumentos de cordas, o
uso de partes do corpo do instrumento para sons percussivos, diversos tipos de trêmolo,
glissando; além de sons falados e murmurados como palavras, sílabas, letras, gritos, gemidos,
nas peças vocais, e, por vezes, em peças instrumentais. (GROUT; PALISCA, 1994, p. 744).
não usuais de se tocar um instrumento musical [...]” 1 (ISHII, 2005, p.1, tradução do autor).
Em pesquisas no Brasil vem sendo adotados dois termos para a tradução desta expressão, o
Onofre e Alves (2010) 3, Pontes (2010) 4, e Tokeshi (2005), traduziram a expressão para o
1
The term extended technique is commonly used to describe an unconventional technique of playing a musical
instrument. (ISHII, 2005, p.1)
2
GARZON, M. Reflexos da Técnica em ...como os regatos e as árvores. 83 f. Dissertação (Mestrado em
Música), Universidade Federal da Bahia, Escola de Música, Salvador, 2008. (não consta nas Referências deste
trabalho)
3
ONOFRE, M; ALVES, J. A técnica expandida e a utilização do silêncio como elementos de articulação na peça
Frai Testi Dedicati alle Nubi de Salvatore Sciarrino. In: XX CONGRESSO DA ANPPOM, 2010, Florianópolis.
Anais eletrônicos... 2010. (não consta nas Referências deste trabalho)
5
português como “técnica expandida”. Daldegan (2009), Freitas (2010), Romão (2012) 5,
A pesquisadora Sonia Ray (2011) afirma que há conflitos conceituais acerca do tema
Em orientação editorial aos autores dos artigos enviados a revista “Música Hodie”
(2011) em seu volume 11, número 2, como presidente do conselho editorial da revista
acadêmica, Sonia Ray justifica sua escolha entre as traduções da expressão extended
technique:
4
PONTES, V. Técnicas expandidas – um estudo das relações entre comportamento postural e desempenho
pianístico sob o ponto de vista da ergonomia. 135 f. Dissertação (Mestrado em Música). Universidade do Estado
de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. (não consta nas Referências deste trabalho)
5
ROMÃO, P. Técnicas Estendidas: reflexões e aplicações ao violão. In: II SIMPÓSIO BRASILEIRO DE PÓS-
GRADUANDOS EM MÚSICA (SIMPOM), 2012, Florianópolis. Anais eletrônicos... 2012. (não consta nas
Referências deste trabalho)
6
TOFFOLO, R. Considerações sobre a técnica estendida na performance e composição musical. In: XX
CONGRESSO DA ANPPOM, 2010, Florianópolis. Anais eletrônicos... 2010. (não consta nas Referências deste
trabalho)
6
apresentadas por Ray (2011), deu-se em virtude de uma reflexão acerca da tradução do verbo
ações de “fazer com que algo alcance”, “esticar ou continuar”; e também, “adicionar algo com
Aurélio Século XXI” 11, “Dicionário Houaiss Eletrônico” 12, “iDicionário Aulete” 13,
7
http://dictionary.cambridge.org/
8
http://www.collinsdictionary.com/
9
Dicionário disponível em SmartPhones Nokia (E63, E71 e outros), derivado do Kernerman Semi-Bilingual
Dictionaries que é baseado na abordagem semi-bilíngüe lexicográfica para estudantes de línguas estrangeiras,
desenvolvido por Lionel Kernerman. Unido ao MOT GlobalDix 3.0 que é derivado de Chambers Concise Usage
Dictionary de C.M. Schwarz e M.A. Seaton,. © K Dicionaries Ltd. 2007.
10
to (cause something to) reach, stretch or continue; to add to something in order to make it bigger or longer.
(CAMBRIGE, 2011). To draw out or be drawn out; stretch, [...], tr to increase (a building, etc) in size or area;
add to or enlarge, [...], tr to broaden the meaning or scope of [...], tr to lay out (a body) at full length, [...], tr to
strain or exert (a person or animal) to the maximum, [...], to carry forward. (COLIINS, 2013). To make longer
or larger: He extended his vegetable garden. (KERNERMAN, 2007)
11
NOVO Dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI. Versão 3. Lexicon Informática Ltda, 1999. 1 CD-ROM.
12
DICIONÁRIO Houaiss Eletrônico da Língua Portuguesa. Versão 3. Editora Objetiva Ltda, 2009. 1 CD-
ROM.
13
http://aulete.uol.com.br
7
mais superfície a, desdobrar o que estava enrolado, dilatar, alongar, espalhar”. Apoiado nestas
mesmas fontes o verbo “expandir” traz também alguns empregos não abordados pelo seu
sinônimo em questão, tais como: “para fazer crescer, desenvolver; para ampliar
interliterais, sem alterar o corpo nem a família tipográfica”. (AULETE; VALENTE, 2013;
Por conseguinte, pode-se concluir que “técnica expandida” é a expressão que melhor
se adéqua, neste trabalho, ao que vem sido considerado por extended technique, pois tanto
tradicional, perceptível nos significados “dar mais superfície a, alongar, espalhar” (presentes
nos dois termos “estender” e “expandir”); quanto traduz o conceito em que às “técnicas
significados “para fazer crescer, desenvolver” (estes notados apenas no termo “expandir”,
baseado nas fontes supracitadas); apesar da sugestão para tradução do termo extend como
geralmente, considerando que eles não são especializados no idioma português para refletir as
ações de ambos os dedos das mãos direita e esquerda. Na mão esquerda, é preciso pressionar
as cordas com as pontas dos dedos em direção ao braço do instrumento, sobre uma região das
casas (que são partes dispostas no espelho ou escala, dividas por barras metálicas chamadas
trastes ou tratos), e na mão direita pinçar ou deslizar os dedos sobre as cordas, infringindo
levemente uma determinada força em sentido perpendicular a elas. Esta forma tradicional de
extrair sons do instrumento foi abordada na música para violão do século XIX em obras de
entre outros.
tradicional de tocar, ruídos e sons percussivos são bastante conhecidos entre os estudantes,
professores e pesquisadores de violão solo no Brasil. Por exemplo: percutir o tampo, aro,
braço, cavalete, entre outras partes do corpo do instrumento; glissandos com a ponta da unha
arranhando a corda indicada, de revestimento de aço, por grande parte da sua extensão
provocando um som agudo e rápido; cruzar as cordas que possuem revestimento de aço e
pinçá-las extraindo um som semelhante ao de uma caixa clara (snare drum); puxar as cordas
para que elas rebatam contra os trastes produzindo sons estalados (pizzicato alla Bartók);
entre outros elementos técnicos que geram timbres peculiares não explorados em épocas
anteriores.
Grande parte destes estudantes desconhece as expressões que são usadas para
denominar os tais elementos técnicos, estas são: extended techniques, técnicas extendidas,
segunda metade do século XX. Como afirma a pesquisadora Teresinha Prada (2010):
para a música aspectos não ortodoxos, a maior parte da música do século XX para violão
falas, novas formas de glissando, pizzicatos e trêmolos (com o uso de objetos extraindo
timbres peculiares). Segundo Robert Lunn (2010), compreende-se também como técnica
expandida o uso de uma técnica tradicional de uma nova maneira. Onde o autor exemplifica
que os harmônicos artificiais “foram comumente usados desde antes do século XIX, mas
arpejos rápidos apenas com harmônicos artificiais, é uma maneira diferente de uso” 15 (LUNN,
que delimita o seu escopo de pesquisa, considera que as técnicas expandidas, não são
14
Blog [Não Paginado]
15
[...] artificial harmonics are commonly used before 1900, but quickly arpeggiating chords using only artificial
harmonics would be using artificial harmonics in a different way [...]. (LUNN, 2010, p.2)
16
This study deals with sounds produced by using traditional instruments. These “new” performance techniques
on traditional instruments are not simply inventions of the twentieth century but are extensions of traditional
techniques such as muting, harmonics, glissandi, and percussive sounds established in music from the nineteenth
century. (ISHII, 2005, p. 8)
10
Em “Extended Techniques for the Classical Guitar: A Guide for Composers”, LUNN
pelas fontes primárias de som. O primeiro capítulo traz as técnicas executadas pela mão
esquerda como glissandi, muting over, vibratos e bi-tones 17; no segundo capítulo o autor
aborda as técnicas executadas essencialmente pela mão direita, onde apresenta outras
capítulo são apresentados três tipos de sons percussivos como: percussão nas cordas, tambora
capítulo quatro, o autor investiga o uso de objetos para aquisição de novos timbres, no qual
substituição da mão direita quanto da mão esquerda no momento da produção de som através
scordatura, termo italiano usado para denominar a “afinação diferenciada das cordas soltas do
instrumento em relação a uma afinação padrão pré-estabelecida” 19. E por fim, no sexto
capítulo são apresentadas outras técnicas as quais, segundo o autor, não se enquadravam em
nenhum dos capítulos anteriores, portanto o intitulou como “Miscellaneous Techniques”, onde
são apresentados diversos exemplos em obras que sugerem tocar as cordas entre a pestana
(nut) e as tarraxas com a mão esquerda ou direita, além de abordagens com harmônicos ou
rasgueados simultaneamente.
17
Em vídeo disponibilizado na internet, Robert A. Lunn demonstra no violão alguns dos exemplos das técnicas
expandidas tratadas no primeiro capítulo do seu trabalho. Disponível em:
http://www.youtube.com/watch?v=p5r8Giss9hs. Acesso em: 10 de jan. 2013.
18
striking the bridge to make the strings vibrate. (HAWKINS, 2009, p. 40)
19
(STEFAN, 2010, p. 418)
11
expandidas nela abordadas, que o instrumentista passa a não apenas emitir som por seu
instrumento e sim ocupar seu papel de intérprete da obra de forma geral, em que expressões
faciais e corporais, falas, gritos, podem fazer parte da sua performance, quando sugeridas na
Nova”, Gilberto Mendes em “Uma Odisséia musical: dos mares do sul à elegância pop/art
déco”, Heloisa Valente em “Os cantos da voz: entre o ruído e o silêncio”, Teresinha Prada em
Em seguida, Stefan (2012) sugere a classificação das técnicas expandidas por dois
As discussões que abarcam este tema são ainda muito recentes para uma definição
consolidada sobre o que se deve, ou não, considerar por técnica expandida. E em se tratando
de técnicas expandidas para violão, o assunto torna-se ainda mais complexo, haja vista que
muito do que conhecemos hoje por fazer parte da técnica tradicional no violão foi
sistematizado nas últimas décadas do século XIX por Francisco Tárrega (1854-1909). Afirma
[...] foi ele quem defendeu o uso do violão sobre a perna esquerda,
levantada com o auxílio de um banquinho; foi ele quem
definitivamente aboliu o uso do dedo mindinho apoiado sobre o tampo
do violão, liberando assim a mão direita para um uso mais inventivo,
passeando ao longo das cordas e obtendo um colorido mais aveludado
ao tocar próximo à escala, [exemplifica] honesto e afirmativo sobre a
boca do instrumento [exemplifica] ou mais metálico e pontiagudo ao
13
Percebe-se, então, múltiplas possibilidades por vieses que intercambiam várias áreas
eletrônicas.
Nota-se que enquanto silenciamos, torna-se mais evidente a existência dos sons, tais
eletrônicos. John Cage, em seu livro “Silence: lectures and writings”, 1961, concluiu que
“[...] na verdade, por mais que tentemos fazer silêncio, não conseguimos [...]” 21 (CAGE,
1961, p. 8). O autor ainda observou que “[...] sempre está acontecendo algo que produz som
20
Transcrição do Programa da Rádio Cultura FM de São Paulo. Website. Disponível em:
<http://aadv.110mb.com/zanon_aadv-01.html>. Acesso em: 15 de jul. 2011. [Não Paginado]
21
[...] In fact, try as we may to make a silence, we cannot [...]. (CAGE, 1961, p. 8)
14
[...]” 22 (CAGE, 1961, p. 191), e ainda se nada à sua volta estiver produzindo som, algo como
Muitos destes sons no ambiente são denominados pelos músicos tradicionais por
“ruído”. Contudo, apresenta-se bastante pertinente a definição sugerida por Murray Schafer
em seu livro “O Ouvido Pensante”: “Ruído é qualquer som indesejado” (SCHAFER, 1991, p.
138).
Após essas considerações, SCHAFER (1991) nos faz refletir que sons musicais
tradicionais (notas musicais com vibração regular), uma vez que indesejados, também podem
executada nas salas de concerto, bem como, pouco valorizada pelo público da “música
22
[...] Something is always happening that makes a sound [...]. (CAGE, 1961, p. 191)
15
repertório dos seus alunos ou no conteúdo sonoro abordado nas aulas de apreciação musical.
música brasileira “popular” ou “erudita”, ainda assim estão estreitados na linguagem tonal.
como ZAGONEL (1999), DALDEGAN (2009), CUERVO (2008), BORGES (2008). Nota-se
contemporânea pós-tonal, pois a música é uma representação da vida de sua época, e esta é,
HARNONCOURT, 1988)
16
iniciativa pedagógica com base na música contemporânea, afirma que “nossa vida está
inserida nos elementos que se encontram dentro das obras de Xenakis, Messiaen, Ohana ou
qual nos submetemos nos impede de escutar o contemporâneo” (ZAGONEL, 1999, p. 5), ou a
escutamos com total estranhamento. Contudo, é importante notificar que “trabalhar com a
música contemporânea não significa que é preciso negar o passado; ao contrário, é primordial
preservar a tradição cultural da qual somos hoje o fruto” (ZAGONEL, 1999, p. 6).
questão: “[...] é necessário, para o jovem, conhecer a linguagem musical do passado, para
depois ser iniciado na linguagem musical do presente?” (ANTUNES, 1990) 23, e afirma em
seguida: “Estou certo de que a resposta é não”. Antunes, ainda ressalta a importância da
aproximação entre o jovem e a música contemporânea como forma de atrair sua atenção e o
23
Website [Não Paginado]
17
[...]
música contemporânea para jovens iniciantes. Concluindo que reações mais positivas na
aceitação de repertório nãotradicional são obtidas em crianças de até dez anos de idade.
métodos e estudos que abordam técnicas expandidas para flauta transversal, para flautistas
estudo.
preferências musicais e familiaridade com o repertório surgem como um dos seus temas mais
relevantes, onde uma pesquisa de campo foi desenvolvida para a investigação deste aspecto,
na qual a escuta informal de CD’s foi incluída como ferramenta, tendo por finalidade
trabalho. A autora junto aos colegas compositores elaborou pequenos estudos bem simples,
peças em duo e peças para flauta solo, a fim de tornar aplicável a iniciantes no instrumento
desenvolvimento das tais técnicas. Para isso, foi preparada pela autora uma lista de técnicas e
sujeitos.
selecionadas, onde estas sugestões foram preparadas a partir de um estudo de campo, no qual
o repertório tradicional era trabalhado paralelamente com algumas das peças compostas pela
encontradas, assim como formas de solucioná-las. No capítulo sexto está descrito um estudo
19
para este trabalho, por uma das crianças presentes na pesquisa de campo.
A música contemporânea reflete uma realidade atual e que deve ser entendida como
parte dos conhecimentos difundidos em música, seja no ensino superior ou além. Tal
válidas. Isso contribui para uma educação musical mais ampla, democrática e aberta.
musical contemporânea em suas aulas, sem receios. Crianças postas em contato com este
Quando as crianças desejam fazer aula de música, nota-se que o motivo principal é o
Percebe-se que a linguagem musical contemporânea é mais bem aceita pelos jovens e crianças
do que pelos adultos, pois estes já têm opiniões fixas e preferências estabelecidas. (CUERVO,
24
Observação derivada de resultados de pesquisas científicas citadas e também derivada de experiência pessoal
em aulas tutoriais.
20
de uma metodologia que há tempos vem sendo organizada, possibilitando que os estudantes
atinjam altos níveis de técnica instrumental e compreensão musical. Porém, faz-se necessário
indivíduo, em paralelo à música tradicional de sistema tonal, contribuindo assim para uma
violão da UFBA, vamos utilizar como referencial teórico as considerações colocadas por
SLOBODA (2008). Este autor investiga a performance musical tecendo reflexões sobre as
habilidades de leitura à primeira vista, “ensaio” (isto é, o estudo de preparação de uma peça
Performance Musical” por acreditar que desta parte poderemos extrair contribuições
o meio musical. Assim, baseados na semelhança dos cérebros humanos, é possível identificar
certos aspectos da aquisição de habilidades comuns que são compartilhadas pelos seres
utilizam as técnicas expandidas. Como veremos oportunamente estas peças não fazem parte
21
do repertório ou do trabalho rotineiro dos sujeitos da pesquisa. Por este motivo, estaremos nos
reportando ao contato inicial com a partitura, à sua primeira semana de estudo e como se deu
o desenrolar dos estudos, que foi feito sem a ajuda de um professor durante o período letivo,
ressaltando que em dois dos casos os sujeitos estavam em recesso das aulas por conta da
dedicou à peça desta investigação enquanto fazia aulas e atividades exigidas nas disciplinas
do curso.
Sloboda considera que a “[...] leitura à primeira vista em música não é ensinada nem
de forma rigorosa e nem ocorre cedo no curso do desenvolvimento infantil, como é o caso da
encontrar sujeitos que tiveram a sua iniciação musical ao instrumento aprendendo “de
ouvido”, isto é, por imitação de posições de acordes pertencentes a uma composição musical
simples, geralmente uma melodia com letra, na qual aprenderam a cantar e a se acompanhar.
Quando a leitura musical tradicional é aprendida por estas pessoas, elas já possuem certa
aprendizado de violão no Brasil o qual revela uma relação de distância entre violonistas e
com a leitura, o que significa tocar e ler simultaneamente, e segundo Sloboda, por vezes este
resolve memorizando a nova peça na primeira oportunidade, de modo que a execução não
Autores como Henrique Pinto em “Violão: um olhar pedagógico” (2005, p. 31), John
Sloboda em “Explorando a mente musical” (2005, p. 19) e Philip Fine, Anna Berry e Burton
ability” (2006, p. 432), recomendam que o desenvolvimento da leitura à primeira vista deva
ser feito através de peças que ofereçam padrões e formas claros, como peças do período
clássico, por exemplo, em que tonalidade, escalas, arpejos estão claramente dispostos e
este tipo de técnica de leitura, na qual os princípios de coerência são utilizados, não pode ser
e, sobretudo, o uso de formas de produção sonora nãousuais (técnicas expandidas) que, por
isto é, do período que o intérprete fica em contato com a peça, na tentativa de tocá-la com
fluência. Este período de estudo visa “[...] aprimorar a execução até que a mesma atinja um
certo critério de adequação, já que a leitura à primeira vista nem sempre produz uma execução
totalmente satisfatória” (SLOBODA, 2008, p. 87-88). Nos casos que esta pesquisa investiga
com peças de técnica expandida, este período vai se revelar como o mais crucial para a
compreensão das peças, não somente decifrar as bulas ou realizar os efeitos solicitados, mas
pouco experientes tendem a usar como principal estratégia “simplesmente tocar uma mesma
passagem por muitas vezes, esperando, como se fosse possível, que ela fique boa como se
fosse uma roupa que está sendo passada a ferro” (SLOBODA, 2008, p. 117-118).
23
preciso mais do que a repetição do mesmo trecho, afirmando ser necessário “quebrar em
pequenas partes” as passagens problemáticas. Além disso, salienta que estes “experts”
acreditam que para conhecer uma peça musical se faz necessária “a formação de
representações múltiplas da mesma”, visto que os executantes de nível médio não têm um
Para uma melhor análise dos dados desta pesquisa, a etapa “ensaio” sugerida por
Sloboda (2008), será utilizada para auxílio na compreensão de cada um dos estudos de caso,
isoladamente e depois nas inevitáveis conexões que deverão ser feitas entre os sujeitos, todos
os alunos de um mesmo professor, curso, em uma mesma escola. O objetivo geral dos estudos
de caso aqui, não se finda em uma “performance expert”, mas na observação do processo de
Sloboda ainda acredita que “um dos grandes entraves dos alunos é a exigência de
p. 121). Desta forma, é possível que um aluno possa conseguir tocar uma passagem com
algum aspecto (dinâmica, fraseado) sob controle, mas é esperado que ele perca este controle
se lhe for solicitado algum outro aspecto no qual ele não tenha pensado. Nas peças escolhidas
existe uma quantidade de novas demandas que implicam em decifrar códigos antes de
Em alguns casos a experiência prévia pode contar muito. Uma interessante estratégia
de aprendizagem é poder relacionar estruturas musicais anteriores à nova peça que está sendo
24
aprendida. Sloboda exemplifica dizendo que “podemos nos lembrar de um acorde estranho
como sendo um acorde familiar ao qual foi acrescido ou retirado algo, ou de uma melodia
estranha como uma passagem interrompida de uma escala” (SLOBODA, 2008, p. 123).
Naturalmente que estas relações vão ser impactadas por eventos semelhantes em outras
situações, e tende-se a utilizar os eventos passados no novo material a ser estudado, bem
Ainda que não estejamos falando apenas de notas escritas na pauta, vamos nos referir
idioma), cuja, de início, apresenta-se como de difícil execução. Sloboda traz como exemplo a
música para piano de Olivier Messiaen, que “é frequentemente vista como impossível de ser
executada pelos pianistas de formação clássica, quando estes se deparam com ela pela
primeira vez”, pois não contém elementos (escalas e arpejos) tradicionais, mas as experiências
algumas considerações acerca do produto mais ou menos acabado do ensaio, baseados nas
estratégias pessoais utilizadas por cada sujeito e que pode alcançar diferentes níveis de
chamado aqui de “performance expert”. Vale salientar que alguns músicos (como os
violonistas profissionais Fábio Zanon, Mario Ulloa, entre outros, relacionando ao contexto
desta investigação) podem executar eximiamente diversas obras, ainda que desconhecidas,
25
sem muitos ensaios. Como afirma Sloboda: “uma boa leitura à primeira vista (e, de fato, um
EM INSTRUMENTO DA UFBA
a fim de observar com que frequência a música contemporânea vem sendo contemplada.
também serão feitas, as quais se estenderão em discussões sobre o ato de compor para o
instrumento.
2.1. Contextualização
recursos sonoros dos próprios instrumentos e da voz, ampliando a técnica convencional”, pois
que, estes “sons harmônicos, glissandos, pizzicatos diversos, enfim, tudo o que até agora era
tratado como efeito adicional colocará o instrumentista e o cantor no âmago do mundo sonoro
Faz-se necessário a intervenção dos professores, por sugestão ou estímulo, para que
esta linguagem musical apresente-se cada vez mais próxima dos seus alunos, futuros
intérpretes de música erudita, que por sua vez, se fará mais próxima dos seus respectivos
ouvintes. De acordo com tal realidade, o compositor e professor Ernst Widmer, em 1968, no
(OCA) 25, realizando uma série de eventos, seminários e concertos promovendo a interação da
O evento “Música de Agora na Bahia” (MAB) 26, realizado pela OCA é uma série de dezenas
de atividades que englobam: concertos, projeções sonoras, seminários, palestras, mini recitais
grupo de música da cidade de Salvador, fundado na segunda metade do ano 2011, que se
pesquisa, a participação deste instrumento nas obras já publicamente exibidas (como “Nav
Tirs Nekadus Hibridus” de Paulo Rios Filho, “Oxowusí” de Alexandre Espinheira, “Modos
no Trapiche” de Pedro Kroger), nas quais apresenta uma exploração sem revelo, em vistas dos
variados recursos timbrísticos e polifônicos que o instrumento se mostra capaz. O violão nas
peças compostas, até o presente momento, restringe-se à execução de acordes, escalas, frases
melódicas, harmônicos, golpes no tampo e no cavalete, porém com raridade pode observar
25
http://www.ocaocaoca.com
26
http://www.musicadeagoranabahia.com
27
http://www.camaraufba.blogspot.com.br/
29
seções contrapontísticas que o violão seja enfatizado, bem como, o uso das técnicas tambora e
pizzicato. Todavia, surge o seguinte questionamento: será que a explicação desta exploração
limitada está relacionada às peculiaridades que o violão apresenta para compor? Ou pelo
instrumento apresenta. Uma das características de maior destaque que o violão tem é a
variedade de possibilidades de executar a mesma nota ou mesma frase musical (com a mesma
altura) em cordas e/ou digitações diferentes, por vezes facilitando a prática ou por vezes
execução de uma mesma altura de nota ou frase musical podem gerar dificuldades na leitura à
primeira vista, bem como, na preparação da obra por instrumentistas menos experientes, como
relacionadas à mão direita que o bom senso do compositor ou intérprete pode não ser
escrever ou sugerir os dedilhados, mas que esse trabalho compete ao intérprete. Ao tentar
2001, p. 14), já que o violonista experiente poderia encontrar soluções com mais rapidez e
eficácia, seja este o professor ou o intérprete. E estende-se relatando sua preferência, na qual
30
[...] por muito tempo houve uma certa resistência ou bloqueio por
parte dos compositores em conferir ao violão uma linguagem mais
moderna. Isso pode ter sido por dois grandes motivos: primeiro
porque o violão é um instrumento extremamente idiomático, ligado a
fortes concepções do passado, e segundo porque possui uma técnica
minuciosa para se compor, ou seja, não é um instrumento de
realização acessível e aparente - vários pormenores vêm à tona na
hora de compor. (PRADA, 2010) 29
Neste contexto, em revisão bibliográfica na sua tese, ULLOA (2001) traz à reflexão
28
The guitar is an instrument [...] which possess a true charm when performed by really good players. It is
almost impossible to write well for the guitar without being a player on the instrument. The majority of
composers who employ it, are, however, far from knowing its powers; and therefore they frequently assign it
things to play, of excessive difficulty, of little sonorousness, and little effect. (BERLIOZ, 1856, p. 66 e 67)
29
Blog [Não Paginado]
31
e consequentemente, pode-se afirmar que “não é necessário ser violonista ou ter habilidades
violonísticas para ser capaz de compor para esse instrumento”. (ULLOA, 2001, p. 81)
entre compositores e violonistas da EMUS-UFBA. Pois, estas duas grandes “escolas” 30, sejam
transmitido pela Rádio Educadora FM de São Paulo, ZANON (2008) pronuncia-se sobre
30
Termo entendido, aqui, por um conjunto de adeptos e/ou seguidores de um mestre ou sistema, com
determinada concepção técnica e estética de arte.
31
Áudio disponível em: <http://vcfz.blogspot.com.br/2008/03/116-agustin-barrios-soln-ayala-mrio.html>.
Acesso em: 11 fev. 2013.
33
composição para violão. Alertando que, “de modo geral, os alunos de composição
desconheciam texturas, recursos técnicos, grafias e sonoridades que têm sido exploradas no
2001, p.2). Também declara que este trabalho é “uma tentativa de minimizar frequentes
2001, p. 4).
positivos, variados recursos sonoros e técnicos do violão foram explorados nas obras
tal linguagem, outros aparentemente demonstram afinidade, porém não buscam interação
Em exemplo a esta iniciativa por parte dos intérpretes, vale salientar que grandes
célebre violonista espanhol Andrés Segóvia (1893-1987), após sua estréia em Paris em 1924,
consolidado internacionalmente sua carreira e ter realizado suas primeiras gravações em 1927,
34
fez contato com os compositores mais destacados para escreverem obras originais para violão;
Em geração posterior, violonista inglês Julian Bream, ao mesmo tempo em que mantinha uma
atividade de concertos com o repertório tradicional, estreava ao menos uma “obra de larga
32
escala” por temporada. (JUNIOR, 2001; ULLOA, 2001; ZANON, 2004). Afirma Mario
Ulloa:
Curriculares do curso se fez necessária, a fim de compreender a relação (ou falta dela) entre
Percebe-se que parte considerável dos alunos que ingressam no curso é de família
com baixa renda, seja de cidades do interior da Bahia, da capital ou de outros estados, que, na
maioria dos casos, não tiveram uma preparação musical no ensino básico. Talvez a
ensino de boa qualidade, em suas cidades, seja a principal responsável por esta deficiência.
Sobre esta realidade, em entrevista cedida a esta pesquisa em 2012, Mario Ulloa considera:
32
Entende-se por um conjunto de obras relacionadamente compostas, gerando uma obra de tamanho e
complexidade grandes.
35
Ainda relata que os estudantes ingressam no curso superior de música “[...] e quase
ninguém sabe ler bem a primeira vista, as leituras são péssimas, as pessoas não tem uma
cultura musical de repertório erudito de música clássica” (ULLOA, 2012). Com tal
depoimento, percebe-se que todo este aprendizado fica destinado à graduação, e ainda revela
músicos “como sendo uma coleção de peças que todo estudante de instrumento deveria tocar,
ou pelo menos conhecer” (FIREMAN, 2007, p. 109). O autor após retratar esta realidade,
posiciona-se:
Contudo, FIREMAN (2007) aponta que esta escolha de repertório está atrelada a
uma avaliação do professor sobre as condições do aluno, tendo em vista “objetivos imediatos
que podem não ser alcançados rapidamente” (FIREMAN, 2007, p. 98). E ainda ressalta:
repertório ao relatarem que “essas exigências são feitas pela maioria das escolas e cursos de
nota-se que a música contemporânea é também sugerida como parte integrante do repertório
destaque, inclusive em nível internacional, como: Henrique Rebouças, João Carlos Victor,
João Paulo Figueirôa, Mateus Dela Fonte, Vladimir Bonfim; executaram publicamente obras
contemporâneas para violão solo e música de câmara, seja em recitais de fim de semestre ou
em recitais de formatura, por sugestão do orientador. Todavia, pode-se concluir que a música
contemporânea vem sendo menos abordada nas aulas práticas do que a música tradicional
com linguagem tonal. Vale considerar que, por consentimento do orientador, os alunos
escolhem peças para estudar e integram-nas ao seu repertório, mas a música contemporânea
não faz parte destas escolhas, em muitos dos casos, talvez por desconhecimento e/ou sentirem
estranheza.
contemporânea, de certo modo, “muito difícil tecnicamente”, sendo este “um dos problemas
38
no sentido da exploração do repertório contemporâneo, que inclua novos sons, com iniciantes
profissionais) contendo técnica expandida para violão, a fim de intervir na aproximação dos
mais conhecidas pelos futuros instrumentistas e futuros compositores. Como aporte para a
elaboração destas obras ULLOA (2001) (vide pag. 32) e LUNN (2010) (vide pag. 10)
apresentam-se como ferramentas primordiais. E como exemplo para esta iniciativa com
alunos iniciantes, é possível orientar-se por DALDEGAN (2009), dado que, em seu
mostra como uma expressão dificultosamente compreensível para grande parte dos músicos
violão desde a Escola de Música e Artes Cênicas (EMAC) até sua transformação em Escola
Apesar da Escola de Música e Artes Cênicas ter surgido no ano de 1968, após a
matrizes curriculares a partir de 1971, pois constava como a mais antiga das matrizes no
Sistema Acadêmico (computadorizado), com seu acesso restrito pelo colegiado. A provável
justificativa para isto é que o ano de 1971 foi um marco histórico na EMAC, no qual o
ingresso ao ensino superior de música passou a ser apenas possível através de provas escritas
Em primeira instância, é preciso frisar que apenas uma leitura sobre as matrizes
sítios oficiais da UFBA, não parece ser suficiente para uma análise profunda da abordagem da
música contemporânea em quaisquer dos cursos. Este subtópico não se propõe a realizar uma
revisão aprofundada acerca do currículo da EMUS, visto que demandaria entrevistas com
coleta de dados, pois exigiria muito tempo e fugiria dos objetivos do nosso trabalho. Por isso,
da UFBA.
40
Instrumento, da área de artes, com habilitação em Cordas (Violino, Viola, Cello, Violão,
documento informa a duração do curso em anos como: mínima (três anos), média (quatro
anos), máxima (cinco anos). Outra grande seção de disciplinas disponíveis é a seção
“Optativas”, na qual apenas é necessária a escolha de duas delas durante o curso inteiro. Por
horária das disciplinas. Como justificativa, no final dos documentos em questão é exposta
uma nota:
Atenção:
Sob o enfoque do fim ao qual este subtópico foi delimitado, notam-se ausentes
33
Anexo 1 (vide pág. 142-143) – Matriz Curricular de Instrumento (1971)
41
produção de obras artísticas altamente ricas em diversidade e criatividade. Era por sua vez,
qual primava pelo fazer artístico. Esta disciplina reunia um corpo discente heterogêneo em
níveis de compreensão dentro das suas áreas, por exemplo, músicos experientes de orquestra
sinfônica unidos a iniciantes das áreas de teatro e/ou dança. Portanto, o resultado desta
estudantes. 34
vocais (coro a capela e voz acompanhada), não restringindo a linguagem musical a ser
34
Informações adquiridas em conversas informais (presenciais, telefônicas ou virtuais) com professores da
universidade que viveram esta época, após ser consultado o mais antigo dos catálogos existentes no Colegiado,
datado em 1978, onde consta o registro da disciplina, mas sem sua ementa.
35
Disponíveis no sítio oficial da Superintendência Acadêmica da UFBA (SUPAC): www.supac.ufba.br
42
utilização funcional. Exigência mínima para fins de verificação: obra para conjunto misto”.
Uma investigação mais aprofundada foi feita, com finalidade de obter maiores
resultados quanto ao índice de procura destas disciplinas, bem como, quais estudantes as
disciplina ART106, datada em 1978 (a única existente entre estas disciplinas), que
"Dar subsídios para composição musical, seja erudita ou popular para técnica de
arranjo e de instrumentação, além de preparar para o ensino das matérias teóricas. (harmonia,
contraponto e outras)”.
apresenta todo seu conteúdo relacionado à música do século XX, como o “manejo específico
referido curso. Este foi reorganizado em oito semestres, porém as disciplinas estavam
disciplinas, e após uma “leitura flutuante” 36 tornou-se notável a grande quantidade em horas
cadeia. Estando descritas para estas disciplinas 630h referentes a dois semestres escolares (15
semanas cada), o que representa 21h por semana em aulas de prática instrumental. Enquanto
respectivas em cadeia trazem uma carga horária de 120h em dois semestres escolares,
sucessoras em cadeia, onde o treino auditivo e a leitura musical eram (e continuam sendo) os
representando 2h semanais.
sistema do código de registro das disciplinas de ART para MUS, observando, assim, que os
cursos de música foram desvinculados dos cursos de Teatro e Dança. Segundo PERRONE
(2008), “em 1988, depois de várias negociações entre a Reitoria e os diversos Departamentos
36
“leitura intuitiva, muito aberta a todas as idéias, reflexões, hipóteses, numa espécie de brain-storming
individual” (BARDIN, 1977, p. 75)
37
A disciplina “Percepção Musical I” não constava como existente nas matrizes curriculares, até esta data, por
ser considerada uma disciplina de nível elementar, dispensável aos aprovados no exame de seleção (vestibular)
atestando sua aptidão musical.
44
que compunham a Escola de Música e Artes Cênicas houve a desanexação, passando então as
três escolas a terem gestões independentes” (PERRONE, 2008, p. 148). O núcleo de música
É válido ressaltar que, neste ano, a carga horária das disciplinas práticas MUS200
“Instrumento I”, e suas sucessoras em cadeia, obtiveram uma drástica queda passando a
representar 30h por dois semestres escolares, ou seja, o graduando em violão a partir de então
curricular de 2004 apresenta “aumento” na carga horária na maioria das disciplinas, por conta
MUS200 “Instrumento I”, e suas respectivas em cadeia, passaram a representar 34h para dois
instrumental.
setembro de 1995, em que foram oferecidos cursos, oficinas e master classes. Dentre estes é
ministrado por Thomas Patterson (Estados Unidos). Neste abrangente período de duas
Musical do Séc. XX Para Violão”, ocorrido nos três primeiros dias do mês de Agosto no ano
2000, tendo como docentes Paulo Amorim (Portugal) e Ricardo M. Bordini (Brasil).
Após tantos anos sem grandes mudanças na estrutura, em 2010, os cursos da Escola
“Violão” como habilitação do curso em questão, além de ter sido estendido em sua duração:
teóricas que eram Obrigatórias passaram por reajustes de natureza as relocando para
“História das Artes I – Música” foi alterada para MUSA77 “História da Música I”, mantendo
carga horária de 51h semestrais e dispensando seu pré-requisito, sendo recomendada desde o
MUSD05 “Seminários em Instrumento II”, as quais lhes foram distribuídas 68h semestrais
anteriormente na classe do Prof. Dr. Mario Ulloa. As suas ementas, bem como das suas
seguinte texto:
abrange períodos da história da música desde a Renascença (onde foram transcritas para
violão obras dos seus antecessores como o Alaúde e a Vihuela) até o período contemporâneo.
permitindo cada estudante ter o seu progresso individualmente, com atividades indicadas para
a melhoria das suas dificuldades peculiares. ULLOA (2012), expressa sua satisfação sobre o
permite a sugestão dos alunos sobre as obras que desejam preparar, possibilitando maior
pouco contato com esta linguagem musical. Portanto, quando o aluno demonstra progresso
tradicional, o professor sugere que estes preparem obras contemporâneas, porém, raramente
pode-se perceber que foi criada uma quantidade significativa de disciplinas de natureza
do Violão II”, MUSC46 “Prática de Conjunto para Violonistas I”, MUSC88 “Prática de
Conjunto para Violonistas II” e MUSC57 “Correpetição para Violonistas I”, todas estas com
também com cargas horárias de 34h por semestre escolar, onde, a partir de então, os
formatura.
48
intitulada por “Transcrições de Obras Orquestrais para Violão”, oferecida com carga horária
igual às demais supracitadas. Ainda no âmbito das disciplinas de natureza Optativa, nota-se a
currículo anterior passaram a serem reorganizadas como Optativas, foram: FCH002 “Estética
I”, MUS172 “História das Artes – Música III”, MUS231 “Fundamentos da Música”, MUS011
permaneceram sem modificação de código nem título não se apresentam no sistema como
“semestralizadas”, contudo não caberia ao escopo desta pesquisa investigar como estão sendo
abordadas na prática.
Algumas das novas disciplinas nesta Matriz Curricular reformada merecem atenção
SUPAC), que pontua: atividades práticas voltadas ao ensino de violão para alunos iniciantes
(com e sem leitura musical); métodos, metodologia, jogos e exercícios; leitura e discussões de
aplicada em turmas do curso de extensão, onde estes temas são divididos entre as duas
pôde-se perceber que a MUSC55 tem como finalidade uma abordagem mais teórica do que
estudantes de violão para o mercado de trabalho, estes que, após a conclusão do bacharelado,
prestavam-se a dar aulas do instrumento como a sua principal atividade profissional. Função
unidade: “O instrumentista pode execer [sic] suas atividades como solista, recitalista,
Pode trabalhar numa estação de rádio ou TV, numa gravadora, participar de concertos e
apresentações”. 38
Observa-se que os graduados que não cursaram esta disciplina e se mostram aptos no
ingressaram antes de 2010 (que não participaram do novo sistema curricular), em muitos dos
pesquisa é a MUSC58 “Literatura do Violão”, com carga horária de 34h totais (equivalentes à
1h/semana), planeja a audição crítica e a análise de obras para violão desde a renascença até a
atualidade, tanto originais quanto transcritas. Percebe-se que somente um semestre, com
atuais (com exploração de novas sonoridades, peças com técnicas expandidas, intervenção
38
Website. Disponível em: <http://www.escolademusica.ufba.br/graduacao/instrumento>. Acesso em: 28 fev.
2013. [Não Paginado]
50
disciplina para sua concretização não se mostra suficiente para a ampla proposta contida em
sua ementa.
contemporânea no curso em questão, é oportuno sugerir uma iniciativa de mudança para este
quadro: a alteração da natureza Optativa para Obrigatória e/ou ainda de título nas disciplinas
41), existentes desde a matriz curricular de 1973, pouco conhecida e pouco ofertada. Pois,
Acredita-se na necessidade de haver uma disciplina para lidar apenas com a música
dos sécs. XX e XXI, a fim de que os instrumentistas desta época relacionem-se com tal
linguagem musical. ULLOA (2012) declara que é importante que o indivíduo, dentro da sua
É prudente acreditar que o título que as tais disciplinas carregam, não despertam
feito para melhor compreensão, onde o mais antigo acessível encontrava-se datado em 1999.2,
solicitadas, já que estas eram de duração anual e só poderiam ser ofertadas no primeiro
dois alunos, um do curso Licenciatura e outro do curso Instrumento, contudo nota-se em seu
termino um aumento no número de alunos para cinco, com três ingressos do curso
alunos de Instrumento. Em 2002, totalizaram oito pedidos de vaga para MUS106, seis destes
de vaga se manteve em oito, porém houve uma redução no índice de solicitações pelos
de Licenciatura. No ano 2004, o número total de solicitações voltou a crescer indicando sete
enquanto Regência progride para quatro inscritos e Licenciatura apresentam dois inscritos. Já
em 2006, o índice de pedido de vagas reduziu por metade, houve apenas quatro solicitações e
disciplina MUS106 não foi ofertada. Mas em 2009, houve três solicitações, uma de Regência
e duas de Licenciatura. Foi registrada, neste ano (2009), a última oferta da disciplina
esta disciplina se encontraria burocrática e de difícil sucesso, ressaltando ainda que estaria à
beira de ser considerada como inexistente, apesar de constar na reformulada Matriz Curricular
respectivas em cadeia, a partir do seu baixo índice de solicitações, visto na análise documental
acima relatada, não despertam interesse na maioria dos bacharelandos em Violão da referida
instituição, por motivos que podem ser especulados, tais como: 1) o desconhecimento, tanto
significado distinto da sua proposta real, significado este que faz os estudantes de
(2009), YIN (2001) e HILL e HILL (1998), utilizando como ferramentas de pesquisa os
UFBA. A amostra foi composta por três estudantes do curso Instrumento, especificamente, da
classe do Prof. Mario Ulloa, em que as características mais relevantes para escolha de cada
sujeito foram dedicação e assiduidade, analisadas e indicadas pelo seu professor de curso.
Como requisito mínimo os alunos que participaram da pesquisa deveriam ter cursado dois
contemporâneo com técnicas expandidas, para violão solo, dos bacharelandos em Violão da
Segundo YIN (2001), “Um estudo de caso é uma investigação empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real [...]” (YIN, 2001, p. 32).
pelo pesquisador e um primeiro encontro foi agendado. Para melhor captar as perspectivas
dos sujeitos acerca da música contemporânea e da técnica expandida, foi organizado este
primeiro encontro em grupo como uma triangulação 39 de métodos, no qual foram aplicados
No décimo quinto capítulo do seu livro, FLICK (2009) revela, como distintas, quatro
• Entrevistas de Grupo.
estimulada pelo entrevistador, não permitindo que participantes individuais ou grupos parciais
39
“Essa palavra-chave é utilizada para designar a combinação de diversos métodos, grupos de estudo, ambientes
locais, e temporais e perspectivas teóricas distintas para tratar de um fenômeno” (FLICK, 2009, p. 361).
55
dominem com suas opiniões ou relatos, a entrevista e/ou todo o grupo, para então, adquirir
maior abrangência possível ao tópico/tema. Patton apud FLICK (2009) destaca que:
propiciam:
• Discussões em Grupo
destacam nas discussões em grupo, relevando-se como geradores dos principais conteúdos a
serem utilizados na pesquisa. FLICK (2009) afirma que “ao contrario da entrevista de grupo,
a discussão em grupo estimula um debate e utiliza a dinâmica nele desenvolvida como fontes
• Grupos Focais
FLICK (2009) afirma que os dados e insights “seriam menos acessíveis sem a interação
autor ainda relata que “os grupos focais podem ser entendidos e utilizados como simulações
189).
• Narrativas Conjuntas
abordagem foi desenvolvida para um tipo específico de pesquisa, o estudo de família. O autor
declara, também, que existe a possibilidade de utilizar esta noção de narrativas conjuntas em
evidente que a “Entrevista de Grupo” foi a ferramenta utilizada no Estudo de Caso, nesta
pesquisa, como primeiro contato entre o pesquisador e os sujeitos. Este encontro não
objetivava produzir dados e conteúdos para a pesquisa através da interação entre os sujeitos,
apenas foram agrupados para que os mesmos acordassem qual das três obras selecionadas e
execução das peças estiveram acessíveis aos sujeitos, na qual, os mesmos, em comum acordo,
escolheram suas distintas peças para estudo. Os Termos de Consentimento foram distribuídos,
responder um questionário, que informaram sua relação com o instrumento, sua preferência
escolha da peça, ocorreram três encontros semanais com cada um dos sujeitos e estas etapas
do processo de estudo foram registradas. Também como registro, foi sugerido aos sujeitos, a
utilização de um diário de estudo para auxílio na posterior análise dos dados, onde deveriam
notificar todo procedimento feito em seus estudos relacionados a preparação para execução da
obra (seja: escuta, pesquisa, execução de trechos, etc.). Estes encontros semanais se
instrumental, em que o sujeito poderia interromper sua execução, em qualquer momento, para
explicitar alguma dificuldade ou informação significativa que lhe viesse à memória. Todos os
investigação fundamentados por FLICK (2009) e HILL e HILL (1998), justificando, ainda, os
seus interesses.
3.2.1. Questionários
O questionário, assim como os métodos para analisar os dados foram planejados com
o objetivo de testar as hipóteses, as quais se revelam como: “o gosto pelo repertório a ser
questionário no âmbito das ciências sociais aplicadas podem ter vários objectivos [sic] gerais.
Neste contexto o termo ‘objectivo [sic] geral’ refere-se ao tipo geral de informação que as
perguntas que não solicitem o tipo de informação que se pretende captar, além disso, “[...] os
relacionadas diretamente à subtópicos, onde os autores indicam o que fazer, ou não fazer, para
40
Todo o texto presente nesta tabela foi extraído do “documento de trabalho” de Hill eHill (1998).
60
O primeiro questionário, por ter sido aplicado como uma ferramenta inclusa na
campo onde o respondente precisava preencher os seus dados pessoais. Em seguida, foram
perguntas voltadas a conhecer a relação dos sujeitos com o instrumento, com os seguintes
conteúdos: o primeiro contato com o violão; de que forma se deu o aprendizado; o início dos
estudos do violão solo; a rotina de estudo, no presente momento, em carga horária, e ainda, o
temas: convivência com os pais; experiência musical dos pais; preferência musical dos pais; e,
linguagem contemporânea (com e sem técnicas expandidas), desde suas compreensões sobre a
respectivamente, os seguintes quesitos: o motivo dos sujeitos terem escolhido tais peças; o
que atraiu a atenção dos sujeitos nas peças; a autodescrição do processo de estudo, ressaltando
os aspectos positivos e negativos. Esta última pergunta foi distinta para o sujeito Y, pois seu
conteúdo visava obter dados sobre sua desistência em prosseguir com sua participação na
pesquisa.
63
individuais com cada sujeito. Estas foram planejadas para ocorrerem em semanas seguidas,
porém houve contratempos e os sujeitos ficaram com a peça por mais de três semanas, porém
“entrevistas narrativas” (FLICK, 2009, 165-172). Pois, estas entrevistas foram iniciadas com
uma “pergunta gerativa de narrativa” a partir de uma situação inicial (“como se deu o
processo de estudo da peça, nesta semana?”), e então, alguns eventos relevantes, que surgiram
obtidos com a prática da semana foram apresentados, onde, na área em que esta investigação
atua, se fez necessária a execução instrumental atrelada às narrações. FLICK (2009) descreve
a entrevista narrativa:
narração do sujeito, e por sua vez, nos dados obtidos, FLICK (2009) alerta a importância de
um comportamento adequado por parte do entrevistador, afirmando ser “[...] crucial para a
qualidade dos dados desta narrativa que ela não seja interrompida nem obstruída pelo
entrevistador”. O autor frisar que quaisquer perguntas, avaliações ou comentários não devem
64
ser feitas neste momento, por outro lado, sugere que o entrevistador sinalize com “hmms”,
demonstrando sua empatia com a história narrada e perspectiva do narrador: “Ao agir assim,
ele auxilia e estimula o narrador a continuar sua narrativa até o final” (FLICK, 2009, p. 166).
Embora, seja uma competência natural, e muitas vezes cotidiana, narrar os fatos pode
se apresentar como um enorme estorvo para sujeitos com alto grau de timidez, por isso nem
posterior análise, registros estes, que se demonstraram indispensáveis pelo formato específico
após desistência de um dos sujeitos, buscando assim uma nova indicação, o professor de
violão foi entrevistado. Esta entrevista semiestruturada, com temas e perguntas predefinidos
semiestruturada, sugerida por Andreas Witzel em seu trabalho “The Problem Centered
(FLICK, 2009, p. 157). Este método apresenta, como principais, os seguintes critérios:
entrevista, as questões sobre o perfil dos estudantes com sua falta de preparação prévia e, por
sua vez, a relação dos mesmos com a música contemporânea; como “orientação ao objeto”, as
questões sobre a construção do repertório dos estudantes durante o curso, além das reflexões
justificativas para as indicações feitas nesta investigação relacionadas aos critérios pré-
estabelecidos. Por conseguinte, uma nova indicação de sujeito, com justificativa, foi
investigar a maneira como o repertório dos bacharelandos é construído, e por sua vez, em que
dedicação nos estudos e boa leitura musical, características estas, avaliadas pelo seu professor
do instrumento, quem indicaria os alunos como possíveis sujeitos para o pesquisador contatá-
los posteriormente.
universidade, amigos ou professores, pois o objetivo da pesquisa visou investigar como estes
níveis elementares. Concluintes também não foram indicados por estarem concentrados na
descritos a seguir, pode-se perceber que as suas relações iniciais com o instrumento, e por sua
Dentre os sujeitos que contribuíram com a pesquisa, seja de forma integral ou parcial,
conservatório estadual; por meio de aulas em domicilio com professor particular; e, por conta
3.4.1. Sujeito W
Seu primeiro contato com o violão se deu aos 11 anos de idade, em uma escola
privada de música, onde iniciou o seu aprendizado em Violão Solo. Em 2009.1 ingressou no
bacharelado em Violão na classe do Prof. Dr. Mario Ulloa. Enquanto entrevistado, sujeito W
cursava o oitavo semestre, porém após aderiu à nova Matriz Curricular reorganizada em 2010,
em que seus créditos com as disciplinas já cursadas, além de outros critérios, precisariam ser
reavaliados.
grupo”, W declara estar medianamente satisfeito com o seu ritmo de estudo prático ao
instrumento, afirmando se dedicar por 6 horas diárias ao violão com exceção dos fins de
semana.
bem como, a bossa nossa, o forró, os sambas e pagodes, o reggae, o rap, o hip hop e outros
estilos como a “música popular” instrumental, especificamente, o chorinho e o jazz. Aos quais
costuma frequentar apresentações públicas na cidade em que reside, sejam estas, shows,
recitais solos. A música contemporânea é, para este sujeito, todo o repertório composto no
último século e neste, contendo peculiaridades sonoras observáveis nas obras desta década.
Ainda afirma ter alguma experiência com esta linguagem, pois executou peças de
compositores do século XX, como Heitor Villa-Lobos (1887-1959) e Frank Martin (1890-
1974).
No mesmo questionário, W pontua que apreciar música contemporânea pode ser uma
questão de criar hábito, pois nela é comum a exploração de material musical que contraste os
3.4.2. Sujeito X
Seu primeiro contato com o violão não se pôde saber com precisão, pois morou toda
sua infância com seu pai músico, especificamente, violonista de acompanhamento. Contudo,
foi aos 14 anos de idade que X teve sua primeira lição ao violão, em um conservatório
estadual de música, no qual concluiu o curso preparatório de violão em 2011. No mesmo ano,
Violão, em 2012.1, na classe do Prof. Dr. Mario Ulloa, portanto, durante as entrevistas,
cursava o primeiro semestre. Por este motivo, a principio, X não estaria atendendo todas as
especificações contidas nos critérios de inclusão da pesquisa, pois não cursou as disciplinas de
natureza obrigatória oferecidas nos dois primeiros semestres. Porém, a justificativa para este
69
ainda, experiências musicais em níveis elementares, a qual este sujeito não se enquadra, haja
vista ter estudado por quatro anos (um ano e meio no curso de iniciação musical e dois anos e
musical fluente, estando ela, sempre posta à prova nas disciplinas “Seminários em
Instrumento”, que foi avaliada, recentemente, como “excelente” pelo seu professor de curso 41.
Com seu ritmo de tudo contabilizado entre 6 a 8 horas diárias, X declara estar
samba, além de música erudita, especificamente, a música instrumental para violão solo e
várias obras orquestrais e camerísticas. Ele revela ter frequentado shows de forró e MPB,
recentemente, assim como concertos de música erudita em geral, sendo estes últimos
estuda a obra “Ponteio e Tocatina” de Lina Pires de Campos, a qual considera contemporânea.
3.4.3. Sujeito Y
A partir do interesse do seu pai em adquirir o violão para, então, aprendê-lo, o sujeito
Y com 13 anos de idade, iniciou suas primeiras lições ao instrumento por intermédio de um
41
Ocasião relatada pelo sujeito em suas entrevistas narrativas individuais.
70
classe do Prof. Dr. Mario Ulloa. Cursava, enquanto entrevistado, o oitavo semestre, porém
como aderiu à nova Matriz Curricular reorganizada em 2010, seus créditos com as disciplinas
Com sua relação de estudo com o violão contabilizada em 5 horas diárias, em média,
Y atribui nota 4 para medida de satisfação com seus estudos, afirmando, assim, estar
satisfeito.
Sua preferência musical atende a diversos gêneros, sejam eles jazz, rock, música
clássica, reggae e, em geral, música brasileira. Frequenta, sempre que possível, aos shows dos
Para Y, a música contemporânea é uma música mais livre, desprendida dos preceitos
escola de Viena, como o dodecafonismo, serialismo, minimalismo. Declara, ainda, que esta
linguagem musical é estranha aos seus ouvidos, já que sua preferência musical é centrada no
campo tonal, portanto, uma música totalmente fora destes parâmetros ainda lhe causa um
devido estranhamento.
investigação.
71
3.4.4. Sujeito Z
Este Sujeito foi convidado para participar da pesquisa, por uma ocasião especial, a
em Violão da classe do Prof. Dr. Mario Ulloa, após desistência do sujeito Y. Portanto, todos
os nossos encontros ocorreram mais tardiamente e foram individuais, nos quais foi repetido
O Sujeito Z, teve seu primeiro contato com o violão aos 10 anos de idade, quando
de amigos de maneira informal. Após interessar-se pelo curso superior em música, procurou
se preparar com um amigo mais experiente, que lhe ensinou a ler partitura. Tentou vestibular
por dois anos, 2009.1 e 2010.1, para o curso Licenciatura, nos quais foi reprovado. Em 2011.1
ingressou no bacharelado em Violão, na classe do Prof. Dr. Mario Ulloa, e no momento das
extremamente satisfeito com seus estudos, contabilizados entre 8 e 10 horas diárias, alguns
Sua preferência musical se resumia ao rock, e ainda, relatou que não escutava axé,
nem pagode, nem MPB, nem música clássica, nem qualquer outro gênero musical.
Atualmente, escuta bastante música erudita, em especial, a música instrumental para violão
solo, porém continua ouvindo rock, especificamente, as músicas da banda Metallica (de
subgênero conhecido como Thrash Metal), banda esta, que Z declarou ser fã. Revelou, então,
72
que tem frequentado, ultimamente, apenas aos concertos de entrada franca e recitais de
colegas da universidade.
para se entender e tocar, que não segue uma sequência lógica. Afirmou também, não a
conhecer seguramente e não ter grandes experiências. Contudo, declarou ter iniciado,
recentemente, por sugestão de Ulloa, o estudo da obra “Sonata” (1990), para violão solo, do
compositor e violonista cubano Leo Brouwer (1939-), dedicada a Julian Bream, na qual
apresentou ao seu professor, o terceiro movimento “Toccata de Pasquini”. Relatou, ainda, que
encontrou dificuldades técnicas nesta experiência, apontando nota 3 numa escala de 1 a 5 (em
que 1 significa “não encontrei nenhuma dificuldade” e 5 significa “não consegui tocá-la”),
O sujeito afirmou acreditar que é necessário um contato mais frequente com obras
contemporâneas para que deixem de ser estranhas e se tornem agradáveis. Ainda exemplificou
algumas obras que o agrada, como as “Quatre Pièces Brèves” (1933) do compositor suíço
Leo Brouwer.
CAPÍTULO IV – APRESENTAÇÃO DAS OBRAS E SEUS
COMPOSITORES
escolha das mesmas, bem como, trará à luz uma breve análise dos seus principais aspectos.
Antes de tudo, notamos que seria pertinente relatar os dados biográficos dos compositores das
obras envolvidas na pesquisa, estes dados, portanto, serão explanados no primeiro subtópico a
seguir.
o Estudo de Caso, pois são desconhecidos por muitos dos músicos não envolvidos com a
internacionalmente, tanto como compositor quanto como violonista virtuoso. Ele recebeu
primeiro lugar, em seu país natal, ele fundiu estilos populares da própria nação com técnica e
textura contemporâneas. Em seu CD de 1988, "Epic...", ele usou formas de música popular
74
criando um gênero híbrido verdadeiro, desconstruindo o samba, jazz, com recursos de música
nova. Em segundo lugar, seu trabalho vem abordando novas técnicas para instrumentos
acústicos.
Janeiro (UFRJ), tendo estudado com os professores Dr. Rodolfo Caesar (1950-) e Dr. Ricardo
Tacuchian (1939-). Em 1993, fez aulas particulares com compositor britânico Brian
Universidade de Columbia, na qual estudou com Mario Davidovsky (1934-) e Lerdahl Fred
(1943-). Em muitas de suas peças, Kampela emprega técnicas expandidas para instrumentos
contemporânea na América do Sul, Europa, Ásia e EUA. Suas peças estão sendo gravadas por
muitos intérpretes da nova música. Mais recentemente, o pianista Jenny Lin gravou sua obra
"Nosturnos" como primeira faixa do seu CD "The Eleventh Finger", lançado pela gravadora
Koch. Composições de Kampela também foram executadas no Weill Hall (parte do Carnegie
Hall), Concerto Merkin Hall, Teatro Miller, Colégio Mannes, Rua 92 Y, Americas Society, e
em clubes locais subterrâneos e espaços como Satalla, The Cutting Room, Cornelia Street
Café, etc. Fez turnê junto tocando em grupo, em lugares diversos como a Cidade do México,
São Paulo, Estrasburgo, Outreach Festival em Schwaz, na Áustria, entre outros. (CURY,
Nascido em 1947, na cidade do Carmo (Rio de Janeiro), filho de pai libanês e mãe
italiana, iniciou seus estudos musicais no Conservatório Nova Friburgo e ao piano com
Kacques Klein aos 5 anos de idade, e mais tarde, em sua adolescência, buscou experiências
Em 1967, foi estudar em Paris, onde teve aulas de orquestração e análise com Nadia
Festival da Canção de 1968, com a canção “O Sonho”, que já trazia um pouco da linguagem
Em 1969, lançou seu primeiro disco, Egberto Gismonti, com forte influência da
música instrumental. A hesitação das gravadoras brasileiras com o seu estilo o levou a
procurar refúgio em selos europeus, pelos quais lançou vários álbuns pelas décadas seguintes.
nas raízes do Brasil o levou a estudar a música indígena do Brasil, morando por um breve
período, em 1971, com os índios yaw aiapiti do Alto Xingu; passou a dedicar-se mais a flauta
apresentar-se pelo mundo a fora. Entre os diversos músicos com os quais se relacionou,
76
destacam-se Naná Vasconcelos, Marlui Miranda, Charlie Haden, Jan Garbarek, André
um dos únicos compositores do país donos de seu próprio acervo. Ele relançou parte de sua
elétrica (seu primeiro instrumento) aos 16 anos, por intermédio de um amigo “autodidata” que
lhe prestava lições aos finais de semana. Stefan teve contato com o violão concomitantemente
1993, passou a fazer aulas de Violão Solo em uma escola de música privada na cidade em que
residia, onde em uma audição no fim do ano seguinte, em 1994, o maestro Victor Marques
Diniz se interessou pelo talento do novato violonista, convidando-o para integrar a Sociedade
Belas Artes do Paraná (EMBAP), na classe de violão do Prof. Luis Cláudio Ribas Ferreira
(1965-), que também foi aluno de Valdomiro Prodóssimo, marcando sua conclusão de curso
Sua trajetória como compositor iniciou desde suas primeiras experiências como
instrumentista que compõe para violão. Desenvolveu o exercício de compor ao passo que
Até o ano 2004, sua preferência musical e toda a sua base de formação era calcada,
contemporânea se deu pela busca de outras relações sonoras, distintas da hierarquia proposta
pelo tonalismo. A primeira obra, a qual o próprio autor considera ter linguagem
Rochosas”. Obra esta que o violonista Dr. Marcelo Fernandes executou por grande parte do
composição de sua autoria, “Chanel #5”, encomendada pelo Prof. Dr. Orlando Fraga à
orquestra de violões da EMBAP, teve sua estreia realizada no auditório Bento Mossurunga,
em Curitiba.
Os critérios para a escolha das peças foram pessoais, em que o pesquisador delimitou
composta para violão solo; que houvesse registro disponibilizado na internet; e que
43
explorassem as técnicas expandidas pelo viés “de ordem mecânica” (vide pág. 11), visto
que nas técnicas expandidas “por deslocamento de contexto” 44 (vide pág. 11), os sujeitos,
Percussion Study, organizadas assim: Percussion Study I (1990), peça para violão solo
dedicada ao violonista Pablo Marques; Percussion Stydy II (1993), peça para violão solo,
dedicada a Elliot Carter, em que o executante deve fazer uso de uma colher; Percussion Study
III (1997), peça para violão solo, com intervenções vocais do próprio violonista; Percussion
Study IV (2003), para viola de orquestra que deve ser executada com técnica violonística.
42
Informações cedidas pelo compositor em março de 2013.
43
(STEFAN, 2012, p. 22)
44
(STEFAN, 2012, p.22)
45
Segundo CURY (2006) esta obra foi composta em 1990, porém no programa “O Violão Brasileiro” ZANON
(2008b) informa que a mesma obra foi composta em 1991.
79
Esta composição, também conhecida como “Danças Percussivas” (nome usado para
os dois primeiros estudos quando executados sem os demais), foi premiada em 1995 no
O fator de maior relevância para preferência da utilização desta obra, neste trabalho,
deu-se pela abordagem das técnicas expandidas em mesmo grau de importância que a
O autor não só indica o golpe no tampo do instrumento, mas em que região do tampo, bem
como, em que parte da lateral do violão, cavalete ou cordas, além de indicar o dedo ou a
forma como executar a nota percussiva. Kampela em sua peça exige absoluto controle do
violonista, não apenas como e onde os golpes devem ser executados, mas com o ritmo e o
andamento precisamente indicados, tornando deveras complexa sua execução. Como se pode
símbolos gráficos não usuais numa partitura de música tradicional. Estes símbolos >
indicam golpes no instrumento. O símbolo > indica golpear com a mão esquerda a nota
especificada sem prender corda com a mão direita, uma técnica expandida chamada pelo autor
por tapping technique (mas, também conhecida por bi-tones 46). Os outros dois símbolos
indicam a execução de golpes no tampo, sendo um golpe com o dedo polegar da mão
direita acima da boca do instrumento, e significando uma tapa (slap) com a mão esquerda
na parte inferior dianteira do tampo (abaixo da boca do instrumento) 47. Outras técnicas
expandidas como (tambora), (pizzicato alla Bartók), entre outros, são abordadas no
46
(LUNN, 2010, p. 20-22)
47
Informações retiradas da bula manuscrita de Arthur Kampela, contida no trabalho de CURY (2006, p.49)
81
Outro fator de destaque, que influenciou na escolha desta peça, foi sua popularidade
Kampela: um guia para intérpretes”, CURY (2006) analisa detalhes na construção desta obra,
bem como sua devida execução, com certo cuidado. E notifica que as inovações trazidas nesta
peça “podem assustar músicos que, embora experientes no instrumento, não estejam
familiarizados com o estilo e as técnicas empregadas”, ressaltando que “muito do que foi
desenvolvido por Kampela não foi ainda assimilado por grande parte dos violonistas
O curioso é que esta obra, apesar de não ter nada de casual em sua
construção, já trás algumas constantes da abordagem violonistica que
Gismonti explora como improvisador. O uso da percussão na mão
esquerda com elemento melódico, essa preferência por arpejos que
cria um contínuo sonoro e passagens executadas unicamente pela mão
esquerda que tem o ritmo marcado por intervenções incisivas da
direita. (ZANON, 2008a)
82
glissandi 48 microtonais, conhecidos por bending glissandi (LUNN, 2010, p. 9-10) ou bend
instrumento, pizzicato alla Bartók, glissando de mão direita, bi-tones ou tapping, dentre
aparece sinalizada com “M E”, ao passo que executa arpejos com a mão direita nas cordas
48
Glissandos executados com a mão esquerda, referidos assim em LUNN (2010, p. 5-13)
83
Os dois asteriscos neste trecho, direcionam a uma nota de rodapé que indica deixar
soar a quinta corda, visto que em interpretações de música tradicional o violonista, com bom
senso, prenderia as demais cordas não requisitadas deixando apenas soar a nota sol da
segunda corda. No compasso seguinte do mesmo sistema, surge a primeira indicação de golpe
da peça, neste caso o autor não especifica detalhadamente onde o fazê-lo, pois a nota de
rodapé (a qual os três asteriscos direcionam) apresenta apenas “Golpe” (vide em Exemplo 4):
Exemplo 4 - Fragmento da peça “Central Guitar” de Egberto Gismonti. 5º sistema, último compasso.
duas aparições de técnica expandida nos exemplos supracitados 49, se mostrou como fator
49
O que difere da sequência de notas percussivas consecutivas, vistas em Percussion Study I. (vide Exemplo 1)
84
interessante para sua utilização na pesquisa, em vista da pouca experiência notada nos
referidos estudantes de violão, seja de escuta ou de execução, evitando assim causar espanto
compositor carrega consigo e se revela em sua obra, visto que o jazz é bastante apreciado
“II – Torpor” e “III – Eclosão”. Dedicou a Régis Frias, regente formado pela Universidade
Estadual de São Paulo (UNESP), o qual sugeriu o título da obra por alusão à "Noite
“adolescência rockeira” da década de 1990. Gilberto Stefan declara que a obra expressa a
reclusão involuntária devido à síndromes despertadas após ter sofrido um assalto à mão
armada.
composicional que cruza as fronteiras de estilos musicais como o rock (metal) e a Música
Clássica, trazendo a idiomática do Death Metal, Hardcore de Nova Iorque e Heavy Metal
que o compositor propositalmente não deixa claro sua proposta central, a qual aparece no
85
terceiro movimento em que os subgêneros do rock (metal) estão indicados por seção. O
primeiro movimento “I – Opressão” foi inspirado no subgênero Doom Metal (estilo conhecido
por bandas como Black Sabbath, My Dying Bride), aliado as obras de Manuel de Falla e de
Leo Brouwer. O segundo movimento “II – Torpor”, inspirado no subgênero Black Metal
quando atacar a nota com som de unha na mão direita ou com som da polpa do dedo polegar,
descrita pelo autor como “gema”, bem como, a exploração de timbres “Dolce” e “Metálico”.
Vale ressaltar a aparição de uma grafia distinta das já tradicionalmente conhecidas, no quinto
compasso.
Com grafia similar à usada por Kampela para a execução de golpes, Stefan indica um
glissando em pizzicato feito com a mão esquerda que está simultaneamente executado com
86
trêmolo na mão direita, esta técnica expandida de pizzicato se mostra semelhante à técnica
Exemplo 6 - Fragmento de “Royal Winter Music” de Hans Werner Henze, 1º movimento "Gloucester".
Compassos 101-102.
Exemplo 7 - Fragmento da peça “La Espiral Eterna” de Leo Brouwer. 7ª página, 4º sistema.
Por fim, o terceiro movimento “III – Eclosão” apresenta uma coletânea dos
subgêneros do rock, inspirados por bandas como Sick of it All, Sepultura, Suffocation, Iron-
Maiden e Atrocity. Nele são retratados elementos como pedais duplos de bateria, acordes
50
Som abafado produzido com os dedos da mão esquerda encostados levemente na corda sem imprimir força, e
as mesmas cordas pinçadas com a mão direita, podendo ser usado tanto ritmicamente quanto melodicamente.
Tipicamente, esta técnica é indicada pelo uso de um X no lugar da “cabeça da nota” (notehead), ou ainda junto à
nota (vide exemplos em Exemplo 6 e Exemplo 7). O som produzido é composto principalmente de “ruído”, mas
há também uma altura que pode ser ouvida dentro do “ruído”. (LUNN, 2010, p. 13-14, tradução do autor)
87
página, 1° sistema.
bula como “percussão sul tasto” 51. Nesta peça, são possíveis duas formas de execução, com a
mão direita golpeando as cordas na região da casa 12, quando grafado abaixo do pentagrama
(fazendo analogia a tradicional escrita para piano), e, como neste exemplo, com a mão
esquerda golpeando as notas indicadas em pestana com indicador 52, grafado acima do
pentagrama.
51
Expressão musical, de idioma italiano, entendida por golpear o braço do instrumento, visto que tasto é o que
chamamos no Brasil por “casa”, contidas na tastiera ou “escala” do violão. Então, sul tasto significa “na casa”.
52
Este movimento usa scordattura com a 6ª corda afinada em Ré
88
página, 3° sistema.
usando o símbolo para indicar golpes no tampo, sejam acima da boca com o dedo polegar
ou abaixo da boca com a mão esquerda, e o símbolo x para indicar golpes sobre o cavalete ou
ponte do instrumento.
compositor no Teatro Prosa Sesc em Campo Grande – MS, foi selecionada para apresentação
Logo, a escolha desta obra de técnicas expandidas se mostrou atraente para esta
com os estudantes da graduação em Violão da UFBA, seja esta preferência ainda presente
53
Informações retiradas da entrevista com Gilberto Stefan no programa de rádio “Clássicos 104”, apresentado
pelo maestro Eduardo Martelli em 2012, disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=L8DGlWqmMwI>.
E retiradas também do texto disponível na descrição do vídeo disponibilizado pelo autor em:
<http://www.youtube.com/watch?v=Yof79y126lc>. Acessados em: 15 set. 2012.
CAPÍTULO V – DESCRIÇÃO DOS CASOS E ANÁLISE DOS DADOS
As descrições dos casos foi o objetivo deste capítulo, sendo a análise dos dados
conexões dos autores apresentados na fundamentação teórica com os citados durante o corpo
sujeitos, no qual a análise e a descrição destes dados foram dispostas no subtópico “Perfil dos
Sujeitos” (vide pág. 67). Portanto, este capítulo tem como objetivo descrever os resultados,
bem como a análise dos dados coletados em pesquisa de campo. As questões que investigam a
relação dos sujeitos com a música contemporânea reaparecerão aqui, acrescidas das
compreensões, dos mesmos, sobre as técnicas expandidas como forma de auxiliar o leitor.
instrumento de coleta dos dados junto ao questionário acima mencionado, tendo como
objetivo a elucidação e a extensão de alguns dados fornecidos. Vale ressaltar que os três
sujeitos que afirmaram ter ouvido falar ou tentado definir uma conceituação para o termo
Para auxiliar na compreensão dos dados, os diários de estudo foram utilizados pelo
questionário final, aplicado via email, também foram expostos na introdução de cada caso,
Para uma análise eficiente, os dados foram filtrados a partir da leitura flutuante e
depois cruzados para estabelecer conclusões a respeito do ocorrido. Nos subtópicos a seguir
serão relatados os estudos, caso a caso, com suas respectivas entrevistas narrativas/gravação
de execução instrumental.
5.1. O Caso W
Escolha esta feita através do acordo entre os indivíduos presentes na entrevista de grupo, em
que W ficou responsável por preparar a obra “Danças Percussivas I”, a qual lhe despertou
novas grafias, além de conhecer o compositor, mais da sua obra, a importância de seu
trabalho, complementando ainda, ter adquirido “uma quantidade de informação sobre música
W pontua que o estudo de uma peça contemporânea com técnicas expandidas, ainda
na graduação, foi um ponto positivo importante pra ele. Contrapondo isto, um ponto negativo,
notificado pelo sujeito, foi a dificuldade de lidar com uma notação nova e sem bula. A entrega
91
da partitura da peça, sem sua respectiva bula, serviu para investigar como o estudante se
estratégias seriam utilizadas para a interpretação dos tais símbolos, sendo que este sujeito,
perante aos outros, foi quem declarou ter maior contato com esta linguagem musical. Esta
ausência da bula lhe foi justificada como inexistente para a “Dança Percussiva I”, visto que a
bula existente não se encontrava disponível em anexo à peça quando abordada isoladamente.
A bula, publicada pelo autor, após obra premiada, está contida em anexo ao conjunto das duas
peças “Danças Percussivas I” e “Danças Percussivas II”, pois esta trata as particularidades das
obras conjuntamente.
Com partitura em mãos, W declarou que a sua primeira iniciativa foi escutar a
música, após ter encontrado duas versões na internet, as quais violonistas distintos
não é tão livre a ponto de ser muito diferente uma da outra”. Acompanhar, através da leitura, a
obra sendo executada em nível expert, apresentou-se como uma impossibilidade para o
sujeito, por conta dos símbolos “desconhecidos” em sua notação. W revelou ter perdido o
fluxo da leitura muito constantemente, a ponto de não conseguir concluir a obra: “[...] a
notação é tão estranha pra mim que eu não consegui acompanhar, então, chegava em um certo
ponto que eu me perdia. Aí, eu não consegui chegar até o final da música, ouvindo e
92
Por não conhecer muitos dos símbolos utilizados nesta peça, sua estratégia de estudo
(já ao violão) foi a tentativa de executar os trechos que estavam em notação tradicional, que o
sujeito demarcou em cores: laranja para a digitação indicada e verde para os sinais que lhe
eram desconhecidos. Então, percebeu que grande parte da obra era novidade para ele: “depois
de dar uma olhada mais, de analisar direitinho, eu cheguei à conclusão que [...] não conheço
quase a totalidade [...] das notações que ele bota aqui de técnica expandida”.
Nesta primeira fase, a qual revelou não ter estudado todos os dias, contabilizando 1
hora/dia de estudo, aproximadamente, para quatro dias seguidos durante a semana, W alertou
as dificuldades que lhe pareceram mais salientes: “eu acho que [...] as dificuldades maiores
dessa peça são, justamente, por ser um estudo percussivo, o ritmo, porque [...] é tocada rápido
e as figuras rítmicas, as notas, são em divisões muito pequenas”, além de ressaltar que as
fórmulas de compasso utilizadas na peça e suas mudanças consecutivas eram novidade para
ele (vide Exemplo 10). Outra grande dificuldade revelada por W foi a quantidade de grafias
“estranhas” que, ainda neste encontro, não sabia como executar precisamente.
A aparição das primeiras indicações de execução por escrito, para alguns símbolos
utilizados na obra, é notada na quarta página da partitura, onde aparecem descritos: para o
símbolo (que indica golpear o tampo com o polegar) o texto “parte inferior do tampo”
(lower soundboard); e, para o símbolo x “unhas no lado inferior do violão” (Nails at the
W relata ter ficado confuso sobre como deveria executar os golpes com as unhas.
melhor, primeiro ouvindo, eu já tinha suspeitado que ele faz com a unha, mas ele faz aqui
direita]”, e ainda, completa: “o ‘lado inferior’ quer dizer o lado mesmo [alisa a lateral do
violão], na parte inferior”. Essa forma de aprendizagem, verificada na situação descrita por
W, pôde ser classificada por aprender “de ouvido” 54 (TOURINHO, 1995, p. 180). Sobre este
54
“Aprendizado oral, por imitação direta de um modelo” (TOURINHO, 1995, p. 180)
94
exatamente? Já que não tem só essa figura [apontando para ], tem mais de uma figura
[apontando para ], o que elas querem dizer?”. É importante frisar que o símbolo
(pizzicato alla Bartók), utilizado na peça, era de conhecimento do sujeito, e não foram
Como característica marcante nos finais das entrevistas narrativas, questões sobre as
impressões e/ou estímulo com relação à preparação da obra, no presente momento, são
abordadas. E, neste caso, as impressões e/ou estímulos não foram alterados desde a entrevista
de grupo, tanto positivamente quanto negativamente. W afirmou que: “a peça em si, ouvindo
até o final, inicialmente, não me causou nenhuma emoção”, porém, salientou a angústia que
ressaltando que a mesma poderia fazer parte do seu repertório, mas precisaria de muito tempo
pra deixá-la em nível de “performance expert”: “seria uma coisa que levaria tempo pra
montar, mas, ao mesmo tempo, eu acho que ela traria uma evolução muito grande como
95
músico erudito e como violonista, de um modo geral”. Sobre esta ultima afirmativa,
Sua estratégia de estudo na primeira semana foi a leitura geral da obra, em que
então, concentrou seu tempo de estudo na tentativa de encontrar o significado dos símbolos
que desconhecia, com pesquisas via internet, onde o sujeito afirmou ter encontrado apenas
textos acadêmicos referentes ao compositor ou suas obras em geral, mas nada especificamente
O sujeito W revelou que, a partir de então, o enfoque seria dado em partes isoladas
como estratégia para a continuidade dos estudos, visto que a tentativa de progredir
o mesmo, relatou ter estudado por quatro dias com carga horária irregular, utilizando como
justificativa o fato de não estar estudando apenas esta obra. O sujeito descreveu que, no
primeiro dia de estudo, leu os textos já pesquisados e deu seguimento a pesquisa textual, a fim
“Estudos Percussivos I”, “Percussion Study I”, entre outras), afirmou ter encontrado um
obras para violão de Edino Krieger e Arthur Kampela”, que trata sobre as notações da obra
abordada neste caso. Este artigo traz uma tabela, elaborada pelo próprio autor, com as
Figura 1 - Fragmento do artigo "Elementos Percussivos Estruturais: uma abordagem em obras para
violão de Edino Krieger e Arthur Kampela" de Mário da Silva, 65ª página, Anais do II Simpósio
A partir disto, W passou a compreender os símbolos descritos e seu novo objetivo foi
preparar apenas a primeira página, seguindo o estudo da obra. Para fins de facilitar a leitura, o
97
sujeito escreveu próximo a cada símbolo, exatamente o significado que constava em sua
Após demonstrar o seu progresso da semana de estudo, que foi a compreensão das
notações utilizadas na obra, W revela que enfocou na execução dos cinco primeiros
compassos da primeira página, os quais considerou não estarem devidamente preparados, por
conta da baixa velocidade que conseguia executá-los, e afirmou que “[...] agora dá pra evoluir
continuidade aos estudos desta obra, em que se pôde observar que o desestímulo, quiçá a
desistência, está atrelado às dificuldades encontradas, sem resolução, para a execução da obra.
objetivo de preparar a primeira página, visto que, para este segundo encontro preparou apenas
conta de uma viagem feita pelo sujeito, na qual não levaria o instrumento. O adiamento da
entrevista/gravação pareceu uma decisão sensata, em vista do pouco contato com o violão, e
por sua vez, com a obra, contato este, extremamente necessário, considerando o pouco tempo
98
qualquer iniciativa em prol da obra estudada, até o agendamento da terceira entrevista. Vale
frisar aqui a gentileza dos sujeitos, em geral, em ceder o tempo das suas férias para o estudo
ocorreu em duas semanas após o encontro anterior. O sujeito W relatou ter se dedicado à obra
por cinco dias, desde o ultimo encontro, na semana da gravação, contabilizando em média
preparação da primeira página, sendo que esta execução não se propôs a ser uma
contida na peça), em vista do pouco tempo trabalhado para uma obra que exige grandes
habilidades técnicas. Por conseguinte, foi pedido ao sujeito que executasse a obra, então, o
sujeito reiniciou sua execução, concluindo-a no fim da primeira página. Mesmo com a
execução lenta, ainda em nível de “ensaio”, este sujeito demonstrou sucesso em seu objetivo
primeira página da obra, declarando que após delimitar sua meta, não tentou avançar mais
compassos.
99
No fim da entrevista, questões que abordam o interesse pela linguagem musical, bem
como, o que esta peça proporcionou enquanto experiência com as técnicas expandidas foram
Eu acho que essa experiência foi o ápice que tive na minha relação
com música contemporânea para violão, e gera umas reflexões a
respeito da minha posição como profissional de música erudita e
também da relação do violão aqui na academia [UFBA], por exemplo,
com a música contemporânea. É que eu acho que tá muito distante.
Mas ouvir uma peça dessa não chega a ser fácil, às vezes não gera
muito sentimento como quando você ouve uma peça do repertório
tradicional.
relação do violão com a música contemporânea, quando o sujeito ressaltou: “eu acho que tá
muito distante”. Em seguida, quando afirmou: “Mas ouvir uma peça dessa não chega a ser
fácil [...]”, reforçou a necessidade da abordagem desta linguagem musical no curso superior,
em geral, visto que, o pouco contato com a mesma, contribui significativamente para tal
sucesso parcial na preparação da obra, visto que, o mesmo, objetivou apenas executar uma
página dentre doze existentes. Recordando, ainda, que sua execução não foi feita na
inferir que o indivíduo se mostrou capaz de executar a obra, mas somente após uma dedicação
Provavelmente, seu desenvolvimento seria mais veloz se, em sua formação musical
e/ou apreciação, houvesse uma relação com a música contemporânea contendo técnicas
expandidas, em que o “desconhecimento” das grafias nesta peça poderia, ainda, existir (pois,
geralmente, muitos elementos gráficos contidos nas partituras são de própria autoria dos
recente), mas a técnica e, por sua vez, a sonoridade não causariam “estranhamento”, o qual
gerou certo desestímulo. Considerando também que a ausência da bula, que explicaria como
sujeito W (aprender “de ouvido”), mesmo com a ausência de bula, se tivesse uma maior
dificuldade para compreensão e execução, que, por sua vez, ocuparia um menor espaço do
5.2. O Caso X
A escolha da obra a ser utilizada neste caso também se deu através do acordo entre
os sujeitos presentes na “entrevista de grupo”. X ficou responsável pela peça que mais o
interessou, “Central Guitar” de Egberto Gismonti. A bula, anexada a esta peça, apresentou-se
como fator singular para X, mostrando-se como o principal motivo para sua escolha, além de
ter sido composta por um compositor famoso, X disse: “Bem, por se tratar de um compositor
101
que já tinha ouvido falar bastante, me senti interessado em estudar uma peça de sua autoria”.
Portanto, o sujeito X relatou, em síntese, o ocorrido nas entrevistas narrativas, estas que serão
Por fim, o sujeito salientou, como ponto positivo, no questionário final aplicado via
email, sobre sua experiência com as técnicas expandidas propostas pela obra, as mesmas que
metas de estudo:
Considerando que a obra continha vários elementos na partitura que não eram do seu
que no primeiro dia não tentou fazer leitura no instrumento, a qual seria a sua iniciativa
Sua dedicação para a preparação da obra fez com que X estudasse por seis dias
restantes três dias 3h de estudo/dia, totalizando 12h de estudo da obra para o primeiro
encontro, estando incluso nesta contagem todos os procedimentos como a escuta, análise e a
presentes na “Central Guitar”, justificando que há indicações de movimentos que ele não
Eu li alguns trechos que ele pede pra executar com a mão esquerda e
continuar na direita, coisa que eu nunca fiz antes, daí, foi tudo novo
pra mim. É uma experiência boa, eu acho que tem que partir daí
mesmo.
Sobre esta indicação de “tocar com a mão esquerda” (M E), X afirmou que, em
primeira instância, não compreendeu, mas a partir do momento que pegou o instrumento para,
salientou foi a de “aumentar a nota em ¾ de tom”, que, para ele, apresentou-se como a maior
dificuldade encontrada na obra, até o momento, e ainda assumiu não ter encontrado solução.
Contudo, alguns elementos presentes na bula como: respiração normal, respiração breve,
Por se tratar de uma obra grande, em vista do pouco tempo de investigação, após a
execução, e assim, não conseguindo manter uma leitura fluente, X usou como estratégia a
marcação na partitura (através de um pincel “marca texto”) das passagens que não saberia
como executar para, então, iniciar a leitura no instrumento enfocando os tais trechos.
104
[...] eu não vou olhar ela toda [a peça] e tentar compreender tudo,
porque, senão, não vou conseguir tocar nada. Então, vou pegar um
trecho, principalmente, os trechos de coisas que eu não compreendo e
vou tentar assimilar eles no instrumento. Foi aproximadamente o que
eu fiz, nesse primeiro momento.
uma analogia interessante com a sua linguagem nativa: “É como se você pegasse um texto em
português e, em determinado momento, você parasse e não conseguisse mais ler, porque não
entendia o que estava escrito”. Em seguida, o sujeito X revela dois problemas encontrados: 1)
problema musical, de entender a música como um todo, pois, até o momento, lhe parecia uma
colagem de fragmentos.
A escuta com a partitura em mãos foi também uma ferramenta utilizada neste caso, a
qual, mesmo com uma excelente leitura (avaliada em aula pelo seu professor do instrumento),
Nesta escuta, o sujeito afirmou que mesmo vendo o vídeo, não conseguiu
Também como ferramenta, além desta escuta, o sujeito buscou informações no livro
“Teoria da Música” de Bohumil Med, que, segundo X, o autor trata, em seu último capítulo, a
“notação moderna” de maneira geral, não abordando especificamente o violão. Contudo, esta
fonte não se apresenta como ideal para tal pesquisa, visto que o livro “Teoria da Música”
Questões acerca das sensações geradas a partir do contato com esta linguagem
que tal obra tem para sua futura carreira, também se mostraram como fatores interessantes
para esta investigação. Em resposta a estas indagações, o sujeito afirmou ter sentido certo
estranhamento por não ter contato frequente com este tipo de música. Afirma, ainda, não ter
sentido desestímulo algum, pelo contrário, gerou empolgação em tentar entender e a tentar
Esta narrativa acima, feita por X, pode ser fundamentada por SLOBODA (2008),
quando afirma que “[...] a maioria dos professores reconhece que o ensaio é transferível, de
modo que cada peça ensaiada diminui a necessidade de ensaios para peças futuras. [...]”
tempo disponibilizado para estudo da obra não sofreria grandes alterações e afirmou acreditar
que maiores progressos seriam alcançados para os encontros seguintes, após a compreensão
O segundo encontro, ocorreu quatro dias após o período previamente planejado (uma
semana), por conta da mudança de endereço residencial do sujeito. Ainda que tenha sido
apresentada uma distância maior entre estes encontros perante os anteriores, a concentração
totais de estudo entre as entrevistas. Contudo, apesar de X ter dedicado menos tempo ao
estudo da obra, afirmou ter alcançado um rendimento tão proveitoso quanto o demonstrado no
semana, no ponto de vista de execução foi uma semana [...] pouco produtiva, mas, em
compensação, a peça está ficando mais clara. Eu tô vendo o vídeo mais vezes [...], é o que tá
me ajudando muito”.
positivos, investiu mais tempo em observar a sua única referência de execução da peça, até o
presente (Central Guitar executada por Eduardo Minozzi Costa). Tal observação, mais
frequente e atenciosa, permitiu que os trechos, com as técnicas antes não compreendidas,
fossem esclarecidos, como por exemplo: o símbolo “M E”, em que o compositor indica que
devem ser tocadas as descritas notas apenas com mão esquerda; e o aumento de ¾ de tom,
através da execução da técnica bend (vide Exemplo 2 e Exemplo 3). Até este momento, o
sujeito X relatou ter executado, sem dificuldades, do primeiro compasso até o fim da segunda
107
página, salvo exceção dos trechos marcados, ainda não compreendidos, que foram pulados
X declarou, também, que sua maior dificuldade foi sanar o problema por conta
própria, sem orientação, em que compreende a necessidade de pesquisar para obter sucesso.
na qual teve como aspiração executar toda a peça, demonstrando as dificuldades encontradas
Questões sobre a inclusão desta obra em seu repertório pessoal (pleiteando uma
apresentação pública), bem como, a importância da obra para uma carreira acadêmica foram
presente no sujeito X, em que ele relatou não ter sido alterado desde o último encontro:
efetivada no prazo previamente esquematizado, pois, o sujeito necessitou viajar, que passou a
não ter data prevista de volta depois de decretada a greve dos professores federais em 2012.1,
entrevista anterior, no entanto, sua concentração em horas de estudo se apresentou cada vez
mais reduzido. Observa-se na tabela, a seguir, os dados obtidos através do seu diário de
aproximadamente, um mês em contato com a peça. O sujeito justificou o pouco estudo com a
falta de motivação para a continuidade da preparação da obra, visto que, não estava
desde a entrevista anterior, disse o sujeito. Porém, não obteve sucesso na interpretação de
outros elementos, como por exemplo, a indicação “notes qui sonnent par sympathie”, que
mesmo depois de ter traduzido como “notas que soam por simpatia”, X relatou não ter
conseguido compreender, nem encontrar a forma que executaria. Afirmou, então, que esta
dificuldade contribuiu, significativamente, para seu desestímulo, visto que a esta expressão
indicado por X, o pesquisador questionou sobre o tempo que o sujeito investia nos estudos da
peça, e o mesmo, relatou não conseguir se dedicar tempo superior a 40min para cada dia, pois,
não conseguia resolver determinadas partes e, todavia, não continuava o estudo. O sujeito X,
desta obra, que considerou bastante complexa: “eu até me interessaria mais tendo orientação
111
de alguém. [...] Vou ser sincero, não conseguiria montar sozinho”. O sujeito, ainda, salientou
execução dos trechos com técnica expandida, pode-se inferir que a aproximação dos
estudantes com esta linguagem musical vanguardista é de extrema importância, pois o sujeito,
dotado de habilidades técnicas para a execução desta obra, não demonstrou sucesso em suas
metas por ter se desestimulado ao não encontrar respostas para suas dúvidas, relacionadas às
qual relatou que a principal causa do seu desestímulo foi não ter compreendido a descrição
“notas que soam por simpatia”. Considerando que a expressão “vibração por simpatia”,
também conhecida como “ressonância por simpatia”, é usualmente utilizada para indicar a
vibração de uma corda não tocada a partir da execução de uma nota, com frequência sonora
comum, em outra corda. Esta vibração é tratada na música tradicional para violão como um
fator a ser evitado, geralmente, com o “abafamento” das tais cordas não tocadas, para que a
nota escrita não ultrapasse sua duração preestabelecida, já que esta nota seria acionada
duplamente uma através da corda tangida e outra “por simpatia”. Contudo, nesta obra
(Central Guitar) o compositor faz uso das notas vibradas “por simpatia”, simbolizando-as e
indicando-as textualmente na partitura em diversas ocasiões (vide Exemplo 3). Assim, torna-
se pertinente afirmar que, esta iniciativa de Gismonti pode ser classificada, aqui nesta
pesquisa, como uma técnica expandida “de ordem mecânica” (vide pág. 12), pois, a
112
É oportuno frisar, também, que informações a respeito de tal expressão, poderiam ser
facilmente adquiridas através de pesquisa via internet, na qual o sujeito sanaria suas dúvidas e
avançaria na preparação da peça, quiçá executando-a por completo, tendo em vista sua
mais.
5.3. O Caso Y
instrumental, pelo fato do sujeito ter desistido de participar da pesquisa, poucos dias após a
“entrevista de grupo”.
Em questionário final, aplicado via email, com perguntas específicas a cada caso,
buscamos investigar o motivo pelo qual o sujeito escolheu sua peça, bem como, os fatores que
Em seguida o sujeito declara ter desistido da investigação por dois motivos: 1) por
achar que não teria tempo suficiente para se dedicar na preparação da obra; e, 2) porque
Observando o perfil do sujeito enquanto é analisado o seu caso, pode-se concluir que
presunçosamente árdua. Pois, sem ao menos ter tentado ler a partitura, informou seu
5.4. O Caso Z
todos os seus encontros com o pesquisador foram individuais. O seu primeiro contato visou
como ferramenta em triangulação com o questionário inicial. Porém, o que se mostrou como
característica peculiar, neste encontro (em comparação às “entrevistas de grupo”), foi a escuta
da obra com partitura em mãos, solicitada pelo sujeito. Esta escuta estava descrita no termo de
consentimento como disponível aos sujeitos da pesquisa, contudo, não foi solicitada pelos
diferentemente dos outros, não teve direito de escolha. Na tentativa de reproduzir o primeiro
contato com Z, de forma estritamente semelhante ao primeiro contato com os demais sujeitos
(“entrevista de grupo”), prezando pela fidelidade da pesquisa na coleta dos dados, uma
simulação desta escolha da obra dentre as três existentes foi feita, porém, o sujeito não foi
114
informado que havia uma peça específica que deveria preparar, então, as partituras das três
Z aparentou-se interessado pela “Central Guitar”, por conhecê-la e ter sido composta
por um compositor que lhe é inspirador (afirmando, gostar muito das obras do Gismonti); e
também pela “Morte Transfigurada”, a priori por apresentar leitura mais fácil, afirma ele,
eliminando assim, a “Danças Percussivas I”, visto suas complexidades (gráfica e rítmica)
facilmente notáveis. Após a explanação das características das peças, o sujeito tendenciado a
escolher a “Central Guitar”, mas ainda sem ter definido a sua escolha, demonstrou,
repentinamente, um grande interesse pela obra “Morte Transfigurada”, possivelmente por ter
percebido (a partir da explanação das características das peças) a abordagem dos subgêneros
do rock no terceiro movimento “III- Eclosão”. Logo, o pesquisador o informou que, em vista
do seu ingresso por substituição de um dos sujeitos, esta foi a peça designada para o seu Caso,
“Morte Transfigurada” foram: 1) o contato com uma obra do repertório violonístico com
agendada para duas semanas após o primeiro contato, o sujeito Z relatou ter encontrado
dificuldades na execução dos trechos que exigiam muitas repetições consecutivas, declarando
Seu trabalho com a obra iniciou logo após o primeiro contato descrito há pouco, em
que declarou ter escutado mais três vezes a peça com partitura em mãos, conseguintemente,
iniciou a tentativa de execução dos primeiros compassos, que se fez necessário o treino com
uso do metrônomo e a escolha de uma digitação particular, a fim de facilitar sua execução e
Nesta entrevista, após ter narrado seu processo de estudo, Z foi solicitado a executar
o referido trecho, que habilmente ágil e com naturalidade, o sujeito executou as duas
entre os dois primeiros encontros. Nesta preparação, a escuta se mostrou como ferramenta
indispensável para o sujeito, o qual recorreu algumas vezes à gravação disponível na internet,
116
com o objetivo de sanar dúvidas referentes à execução das técnicas expandidas abordadas,
dado que, no segundo dia de estudo, o sujeito revelou: “[...] ainda preciso do auxílio da
música para entender algumas partes de técnica expandida”. Pode-se afirmar, então, que o seu
procedimento descrito pela Prof. Dr. Cristina Tourinho como “aprender de ouvido” (vide pág.
93).
É importante notificar, também, que desde o terceiro dia de estudo, Z já havia lido as
duas páginas do “I – Opressão” e, no mesmo dia, iniciou a leitura do segundo movimento “II
– Torpor”, preparando, então, paralelamente as duas partes da obra. Z afirma que “[...] depois
acerca do estímulo/motivação foram abordadas, em que o sujeito declarou que sua aceitação
vem sendo gradualmente alterada, ao passo que escuta e estuda a obra seu interesse aumenta:
Pra sentar e dizer: “vou estudar isso!”, por ser algo desconhecido [...],
cria uma barreira [...]. Você fica [pensando]: “pô será que é isso?”,
“será que é aquilo?”. Aí, [...] você tem que arriscar pra ver se acerta
[...].
pelos sujeitos investigados nesta pesquisa, influencia diretamente em sua disposição para
executá-la. Esta conclusão pode ser fundamentada por TOURINHO (1995), quando afirma
que “[...] o estímulo ao repertório que o aluno aprecia e valora pode se constituir em uma
117
Esta entrevista, ocorrida na semana seguinte, como planejado para a pesquisa, foi
relatou ter se dedicado por apenas 2h na semana, sendo que a justificativa para tal frequência
foi a sua aplicação na preparação de outra peça sugerida pelo seu professor de instrumento
acadêmico do curso, o que se apresentou como uma variável, pois as suas horas de dedicação
curso.
Torpor”, na qual encontrou dificuldades técnicas e as resolveu com facilidade, que puderam
ser conferidas em sua entrevista narrativa feita em triangulação com a gravação de execução
instrumental, execução esta que não se encontrava em nível de “performance expert”, mas,
em nível de “ensaio” já com certa fluência. Vale frisar que apenas o último sistema deste
segundo movimento não foi executado, pois Z afirmou não o ter compreendido por falta de
Analisando o diário de estudo, foi possível perceber que a escuta, nesta etapa, ainda
continuava sendo a principal ferramenta de auxílio, e também, pôde-se notar que o “II-
início deste estudo paralelo está datado como 24 de setembro de 2012. Este processo de
118
fundamentado por SLOBODA (2008), em que o autor afirma que para um bom resultado na
aprendizado do aluno através de um exemplo prático do seu professor quando demonstra uma
fermata.
por várias horas, informando, em seguida, que não haveria condições de concentrar-se no
estudo desta peça, por não sentir a devida atração e não despertar o seu interesse. Contudo,
Após o sujeito ter relatado sobre como se deu o estudo desta peça, nesta semana, a
ver uma coisa diferente, mas eu não me imagino tocando isso, porque não me sinto preparado
[...]”.
119
O sujeito afirmou não estar preparado para compreender e executar uma música com
elementos tão complexos, e, apesar de ter demonstrado, na primeira entrevista narrativa, que
peça com seriedade (refletindo digitação, buscando sua melhor sonoridade e treinando com
metrônomo), revelou que não pretende por a obra “Morte Transfigurada” em seu repertório
atual, Z argumenta: “Eu acho que seria muito cedo pra tocar isso. Eu preciso de uma base
mais sólida, porque essas novas técnicas são muito mais complexas pra entender e pra tocar.
apresenta gradual aceitação, afirmando que “[...] depois de algumas escutas ela [a obra] não
soa mais tão ruim”. E, ainda, salienta a necessidade do contato dos intérpretes com a música
você não escutar, por isso que as pessoas tem este preconceito mesmo, não escutam ou escuta
uma vez e acabam dizendo: ‘pô, não gostei!’. [...] agora se escutasse outras peças antes, já
estimado. Primeiro, porque um adiamento foi pedido por parte do sujeito, justificando não ter
estudado; e, segundo, por parte do pesquisador, quando envolvido em uma pequena colisão
veicular sem ferimentos. Portanto, esta entrevista ocorreu 17 dias após a segunda
entrevista/gravação.
120
descrevendo sua característica persistente informou que quando sente prazer ou está
confortável fazendo algo, ele investe, naturalmente, um tempo enorme em tal atividade sem
sentir qualquer desconforto. Contudo, se a atividade não o agrada, uma barreira é criada a
A partir desta narrativa, a entrevista enfocou investigar os motivos que levaram esta
desistência, onde o sujeito Z relatou não saber com precisão os motivos específicos, mas
acredita que a dificuldade técnica exigida para execução do terceiro movimento (III- Eclosão),
pode ter sido um dos fatores responsáveis, além da linguagem diferente, a qual ele não estava
habituado a lidar.
Seu interesse pela obra surgiu a partir da sua proximidade com o rock, sendo este o
gênero musical que a obra está diretamente inspirada, especialmente, o terceiro movimento
“III- Eclosão” que faz menção aos seus subgêneros. No entanto, Z, em seu momento atual, diz
não estar mais ligado a este gênero musical, afirmando: “a fase que eu estou vivendo hoje não
é mais essa, porque eu vivo por fases. Quando eu não estou estudando ‘valendo’ 55 eu me
55
Gíria local utilizada como sinônimo de “muito”, “de verdade”, “concentrado”, “bem”, “bom”.
121
interesso por outras coisas [...]”, e ainda, concluiu declarando que quando está enfocado em
dificuldades encontradas por trecho. Vale ressaltar que os dois primeiros movimentos da obra
foram executados fluentemente, mas, ainda não declarados como prontas pelo sujeito. O
último sistema, que havia ficado pendente na entrevista anterior, foi executado com clareza.
Portanto, ele afirmou que, no terceiro movimento, desde sua introdução, se deparou com
dificuldades técnicas e não foram compreendidas, nem resolvidas, por a falta de experiência.
“Tema 1”, com sua velocidade indicada; como os únicos trechos lidos neste terceiro
movimento e cheios de dificuldades técnicas, as quais ele não conseguiu resolver, por
Leo Brouwer, como exemplo de sucesso, em que esta obra de 20 páginas, também de
linguagem contemporânea com algumas técnicas expandidas (como o pizzicato alla Bartók e
“Seminários em Instrumento III”. Z reinterou, com exemplo desta Sonata, que quando o
atribuição dos valores de importância das peças pelo sujeito, refletindo como as avaliaria a
ponto de definir qual obra o agrada. Para tanto, foi-lhe questionado como seria, supostamente,
o resultado desta investigação, se a “Morte Transfigurada” fosse uma obra recomendada por
seu professor de violão? E, em seguida, Z respondeu: “Mário pede uma música, eu começo a
tocar. [Se] vejo que não tá saindo nada, não vou insistir [...]. Eu falo: ‘eu vou partir pra outra
coisa, talvez mais na frente eu veja isso’, entendeu?”. Confirmando, assim, que o resultado
estudo entregue ao pesquisador após o fim das entrevistas, não constavam anotações sobre o
estudo do terceiro movimento “III- Eclosão”, apenas as consideração datadas até o dia 11 de
Pode-se concluir, então, que os poucos dias que o sujeito dedicou, por 20min, ao estudo da
“Morte Transfigurada”, segundo os seus relatos, tiveram como objetivos a tentativa de leitura
Por fim, sua gravação de execução instrumental, neste encontro, se deu com a obra
“Sonata” de Leo Brouwer, a qual executou fluentemente, com poucos erros. Z, ainda,
demonstrou que vinha refletindo as frases, motivos e seções da obra para uma melhor
interpretação, fruto de uma dedicação de, aproximadamente, 7 horas por dia (estudo iniciado
capacidade técnica e musical apta a executar a obra “Morte Transfigurada”, visto nas primeira
com fluência e sem grandes erros ou dificuldades. Porém, foi no terceiro movimento, em que
o compositor explora mais técnicas expandidas, as quais exigem certo virtuosismo, que Z se
desestimulou a ponto de não prosseguir na preparação da obra. Fica evidente, neste caso, que
o fator de maior responsabilidade pela conclusão da preparação de uma obra é o interesse pela
estudo é fundamentado (vide CAPÍTULO I, pág. 3-25), percebeu-se que o termo extended
discussões acerca dos elementos que podem ser assim classificados, têm despertado grande
interesse nos pesquisadores. Visto que, em tão pouco tempo de pesquisas, parece improvável
a delimitação e a conceituação de algo deveras complexo, que transita entre várias áreas da
música (como composição, performance e estrutura do instrumento 56); pois, os trabalhos mais
bacharelado em violão foi apresentada, a fim de avaliar o contato proposto pela universidade
entre este bacharelando e a música contemporânea (vide CAPÍTULO II, pág. 26-52). Pôde-se
constatar, sobretudo, que não consta no currículo oficial do curso, disciplinas enfocadas na
56
Entendido aqui pelo uso de scordatura, bem como, de materiais entre as cordas ou outras partes do instrumento
para a manipulação de timbres (Violão Preparado).
125
Foram levantadas, ainda neste capítulo, reflexões acerca do pouco preparo musical
prévio que os alunos recém-ingressos geralmente apresentam, o que pode ser considerado um
dos principais motivos pela baixa frequência na abordagem de repertório contemporâneo nas
Nesta perspectiva, uma questão surge: Será que apenas existem peças com
linguagem vanguardista, para violão solo, exigindo alto nível técnico instrumental? Contudo,
seja através de grupo de pesquisa ou por iniciativa própria, a fim de tratar as mesmas
existência de peças com linguagem vanguardista para violão que abordem questões técnicas
elementares, a inexistência destas peças vem sendo aceita como verdade. Portanto, sua
abordagem nas aulas práticas se mostra inviável durante certo período, até que os estudantes
compressão das expressões indicadas) e melhorem sua leitura musical para que consigam
encarar tal repertório com maiores possibilidades de sucesso. Vale ressaltar que estas
reflexões e conclusões, do Capítulo II, podem ser feitas para o curso Instrumento em geral,
com exceção da habilitação em Percussão que vem apresentando, ao longo dos anos, uma
126
relação estreita com o curso Composição. O Grupo de Percussão da UFBA 57, que surgiu na
década de 1960 e permanece ativo, estreia diversas peças de estudantes e graduados com
(vide CAPÍTULO V, pág. 89-123). Portanto, será apresentada aqui a análise dos dados
coletados nas entrevistas dos quatro sujeitos (com o desistente incluso), após terem sido
indutivo, visualizar com maior clareza alguns aspectos importantes para esta investigação.
Estes foram: 1) como a música contemporânea para violão é concebida pelos estudantes de
Violão da EMUS-UFBA e que experiências tiveram com esta música; 2) que impressões os
bacharelandos em Violão têm ao entrar em contato com tal linguagem musical, em respeito às
recorrentes nas respostas dos sujeitos W, X e Z. O sujeito Y, por outro lado, argumentou que
é “uma música mais livre, desprendida dos preceitos harmônicos estabelecidos no século
XVIII”, contudo, relatando a pouca frequência que escuta esta linguagem musical declara que
“[...] é uma música estranha para os meus ouvidos”. Enquanto o sujeito Y afirmou não ter
lido 58, estudado ou executado peças de repertório contemporâneo, os três outros sujeitos
57
http://www.escolademusica.ufba.br/conjuntos-musicais/grupo-de-percussao
58
Referindo-se aqui à leitura à primeira vista
127
nos níveis “ensaio” ou “performance expert”. (vide “Perfil dos Sujeitos”, pág. 67-72)
questionário, perguntas foram feitas sobre as impressões que a música contemporânea causa
sujeitos. Afirmações pertinentes sobre este aspecto surgiram, o sujeito W disse: “[...] apreciar
música contemporânea pode ser uma questão de criar hábito para escutá-la [...]”, em outra
ocasião, Z concordou afirmando: “não é muito fácil de entender, é muito complexo, [...] você
precisa de um certo contato pra poder curtir mais”, enquanto X que não emitiu posição
pessoal referente ao seu gosto musical diz: “Música que vem enriquecendo cada vez mais o
repertório violonístico com texturas musicais [...]”. Contudo, sobre o mesmo aspecto, o
sujeito Y tenta justificar suas impressões da seguinte maneira: “o meu gosto musical ainda é
centrado no campo tonal, mesmo parcial, uma música totalmente fora desses parâmetros ainda
investigar a compreensão do termo por parte dos indivíduos investigados, em que um dos
sujeitos afirmou nunca ter ouvido falar, dois deles afirmaram ter escutado o termo, mas não
lhe conseguiria atribuir definição alguma, e o outro afirmou: “entendo que são técnicas que
uma técnica convencional executadas de forma nova”. Então, nas entrevistas narrativas deste
sujeito, foi-lhe questionado desde quando e por quais fontes atingiu esta compreensão sobre
128
através da disciplina “Pedagogia do Violão I”, na aula em que analisavam o livro “Piano-
Santiago. Esta aula foi mediada pelo pesquisador desta investigação, em tirocínio docente
contemporânea presente no livro citado 59, que vem sendo utilizado, geralmente, por muitos
educadores apenas com enfoque na linguagem musical tradicional. Logo, questões sobre o
silêncio, piano preparado, violão preparado e técnicas expandidas foram expostas. Isto
ocorreu em momento antecedente à seleção dos sujeitos para a amostra desta pesquisa.
Neste cruzamento de dados e análise dos casos, pôde-se perceber que os sujeitos
tiveram como primeira ação, para início da preparação da obra, a escuta com partitura na mão.
E como segundo passo, W (sem bula) e Z (com bula) estabeleceram como estratégia a
tentativa de execução apenas das partes com notação tradicional na tentativa de obterem uma
ideia geral da obra, ignorando os trechos com grafias desconhecidas não os executando.
Porém, X afirmando ter escolhido uma estratégia diferente da comum, como segundo passo,
dedicou-se em tentar decifrar a bula. Pôde-se perceber, em todos os casos, que os sujeitos
enfocaram seus estudos na preparação dos trechos com técnica expandida, possivelmente por
59
Maria B. Parizzi Fonseca e Patricia Furst Santiago, no artigo “Pianobrincando – Atividades de Apoio ao
Professor: uma revisão crítica de suas contribuições no passado e suas perspectivas para o futuro”, publicado no
Anais do XIV Encontro da ABEM59 (2004), trazem à vista uma aplicação do livro abordando a música
contemporânea desde as primeiras lições ao piano no ensino infantil.
129
vídeo/áudio da obras, o que torna claro a necessidade de um modelo para a imitação quando
sucesso na compreensão de algumas das técnicas expandidas presentes nas obras. Contudo,
após observação destes dados cruzados, surge uma questão: Como seria o processo de
aprendizagem das técnicas expandidas contidas em peças inéditas (sem qualquer registro) por
estes futuros violonistas profissionais (já sem tutoria)? Provavelmente não apresentariam
Portanto, é pertinente inferir que aproximar o estudante a esta linguagem musical (seja através
incitando os alunos à busca por informações e experiências com esta música), proporcionaria
utilizadas na música contemporânea. Vale ressaltar que o sujeito W, o qual demonstrou ter
maior contato com a música contemporânea, após ter adquirido uma bula para a descrição dos
símbolos utilizados por Kampela, conseguiu decifrá-los com maior facilidade através da
sujeitos, estas foram: 1) fazer marcações na partitura notificando o que sabiam ou não
sabiam, estratégia esta também alertada por Sloboda (2008) quando relata a necessidade de
“quebrar [as passagens] em pequenas partes” durante a etapa “ensaio” (SLOBODA, 2008, p.
imitação ou “de ouvido”, como salienta TOURINHO (1995, p. 180). Também em comum
desistência no estudo das peças, perceptível em todos estes casos, foi a não familiaridade
causada pelo pouco acesso dos sujeitos a esta linguagem musical (desde o período inicial dos
seus estudos no instrumento), afirmando não se sentirem preparados para tocar este repertório.
Após análise destes dados, pôde-se inferir, indutivamente, que os estudantes do curso
preferência musical deles ou por não ter sido proposto este contato em seu aprendizado). Esta
preparação da obra, mesmo que estejam preparados tecnicamente e musicalmente para tal
execução.
estudantes de música com a linguagem contemporânea mais vanguardista, desde sua iniciação
musical com mais amplitude, tornando assim o futuro instrumentista apto a executar a música
de hoje sem grandes dificuldades de aceitação, contribuindo assim para um maior número de
preparação da obra? Possivelmente sim, visto que, isto é proposto nas disciplinas “Seminários
propuseram a atingir nesta investigação não apresentaram o resultado esperado pelos mesmos,
131
alimentada pela falta de contato com a música contemporânea com técnicas expandidas.
[...]”, o autor ainda afirma que a motivação “parecer ser” uma “condição essencial da
abordagem desta linguagem com seus alunos iniciantes no instrumento, educadores que,
geralmente, rejeitam as determinadas formas de tocar, dos seus alunos, quando fogem às
nas disciplinas “Seminários em Instrumento”, que por sua vez, interferiria no tempo dedicado
universidade, recesso este, estendido com a greve dos professores federais. Apenas o caso Z,
que surgiu após desistência do sujeito Y, ocorreu em paralelo às aulas do curso, no qual o
sujeito declarou ter encontrado dificuldades para se dedicar à preparação da obra da pesquisa
em paralelo à peça exigida na sua disciplina prática de violão, em que o sujeito apresentou o
primeiro e segundo movimentos da obra em nível de “ensaio” com notável fluência nas duas
132
repertório contemporâneo.
dispunham de um modelo presencial para imitar, contudo, as dificuldades das peças tiveram
que ser resolvidas a partir dos próprios conhecimentos dos sujeitos. Estas variáveis foram:
tutorial presencial. Quanto aos “problemas de leitura rítmica complexa”, a falta de preparação
musical em nível elementar, precedente ao ingresso no curso superior, apresenta-se como uma
bula”, percebe-se que o pouco contato com as técnicas expandidas, considerando as relatadas
orientação para direcionamento de estudo”, apesar de ter sido planejada previamente a fim de
treinados com repertório tradicional durante a maior parte do curso e, em alguns casos, apenas
com este repertório, mostrou-se como um fator desmotivador um dos casos, tornando clara a
dispusessem de orientação do seu professor de violão na preparação das obras utilizadas, pois
O tempo de dedicação no estudo das obras foi insuficiente para o preparo das peças,
visto que o período mais longo detectado teve duração de 3h em 1 dia. Possivelmente, por
costume na preparação das peças durante o curso; período de férias; e, baixa prioridade na
dedicação à pesquisa. Sabe-se que este período de dedicação mencionado não é suficiente
para preparar uma obra com tamanha complexidade, e ainda, em se tratando de violonistas
Outro aspecto que se mostra relevante nesta pesquisa é a carência de obras para
violão solo com técnicas expandidas elaboradas pelos compositores da UFBA, sejam
estudantes, formados ou professores (vide CAPÍTULO II, págs. 29-34). Como tentativa de
auxiliar na mudança desta realidade exposta, esta pesquisa sugere para trabalhos futuros a
habilidade instrumental para serem aplicados nos cursos oferecidos pela EMUS-UFBA, sejam
de extensão ou de graduação.
Também como trabalho futuro, poderia ser planejada uma pesquisa experimental,
com a criação de uma disciplina ofertada pela instituição, para a aproximação dos estudantes
de Instrumento com a linguagem musical aqui investigada, solicitando obras para violão solo
134
a uma classe de alunos do curso Composição. Conseguintemente, estas obras seriam indicadas
aos participantes do grupo experimental pelos seus professores de curso, para então, serem
catalogação das técnicas expandidas para violão utilizadas no repertório solo e de câmara,
com seus símbolos e suas respectivas execuções, que pode ser fundamentada por LUNN
(2010) e ULLOA (2001), resultando assim, em um guia para intérpretes e compositores das
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136
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__________. Os brasileiros adotivos I: Agustin Barrios, Solón Ayala, Mário Ulloa, Eduardo
apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São