A Historicidade de Jesus - Geografia
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A Historicidade de Jesus - Geografia
fontes extra-bíblicas
30 DE DEZEMBRO DE 2016 / DOLLYNHOPURITANO
Yamauchi também nos lembra de uma citação interessante feita por Paul
Maier sobre esse período de escuridão, em uma nota de rodapé do seu livro
sobre Pôncio Pilatos (1968):
“Esse fenômeno, evidentemente, foi visível em Roma, Atenas e outras cidades
do Mediterrâneo. Segundo Tertuliano foi um evento cósmico ou mundial.
Flegão, um outro grego da Cária, escreveu uma cronologia pouco depois de
137 dC em que narra como no quarto ano das Olimpíadas de 202 (ou sejam
33dC), houve um grande eclipse solar, e que anoitecei na sexta hora do dia,
de tal forma que até as estrelas apareceram no céu. Houve um grande
terremoto na Bitínia, e muitas coisas saíram fora de lugar em Nicéia”
– (MAIER, Paul, Pontius Pilate, p.366; IN: STROBEL, Lee, Em defesa de
Cristo, Vida, 1998, 111)
Com essas declarações de Talo, corroboradas pela opinião de Flegão,
podemos auferir pelo menos três conclusões interessantes: (1) Na ocasião
da morte de Cristo, houve um evento cósmico que foi conhecido em
diferentes partes do mundo antigo de modo impressionantemente similar
ao registro das escrituras; (2) O evangelho, ou pelo menos a história da
crucificação de Cristo, já era conhecida na região do Mediterrâneo por
volta do ano 50dC; (3) Aqueles que não acreditavam na história cristã já
ofereciam diferentes explicações para as informações que tinham acesso.
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Talmude é a transliteração da
palavra hebraica que significa “instrução, aprendizado”, proveniente da
raiz do termo que significa “ensinar” ou “aprender”. O Talmude é composto
por dois diferentes compêndios: (1) com a produção de citações anteriores
ao ano 200dC., e provavelmente posteriores a 70dC., é conhecida
como Mishná; (2) com a produção possivelmente posterior ao ano 500dC,
que é conhecida como Gemará, que nada mais é do que o comentário
à Mishná.
Segundo Habermas, a Mishná é resultado de uma tradição oral judaica
transmitida de geração a geração e que foi “organizado por temas pelo Rabi
Akiba antes de sua morte em 135 dC. Seu trabalho foi revisado pelo Rabi
Meier. O projeto ficou pronto por volta de 200 dC pelo Rabi Judá”
(HABERMAS, Gary, Historical Jesus, College Press, 1996; pp.202). Sobre a
produção do Talmud, F.F. Bruce, com mais detalhes, afirma:
“O vultoso corpo de casuística legal, ‘a tradição dos anciãos’ referida no Novo
Testamento, havia sido legado oralmente de geração a geração,
avolumando-se mais e mais com o correr dos anos. O primeiro passo no
sentido da codificação de todo esse material foi dado agora [pouco após a
queda de Jerusalém]. O segundo deu-o o grande Rabino Akiba, o primeiro a
sistematiza-lo consoante com os assuntos. Após a morte heroic de Akiba, por
ocasião do fracasso da revolta de Bar Cocbá contra Roma, em 135 dC,
procedeu a revisão e lhe continou a obra seu siscípulo, Rabino Meier. A obra
de codificação chegou ao termo final por volta do ano 200, mercê do Rabino
Judá, presidente do sinédrio de 170 a 217, Esse código completo de
jurisprudência religiosa assim compilado é conhecido pelo designativo de
Mishná” (BRUCE, F.F., Merece Confiança o Novo Testamento. Vida Nova,
1965, pp.131)
Em função do caráter da Mishná, um compêndio jurídico judaico feito por
fariseus, não é de se esperar que muitas citações fossem feitas a Jesus ou a
seus seguidores, afinal, esse não é o tipo de literatura para apresentação de
histórias. Entretanto, em pouquíssimas citações que se faz, ou a Cristo ou
aos cristãos, encontramos comentários hostis, porém, servem para atestar
a historicidade de Cristo. Na Mishná,na 43ª seção do Sanhedrin,
encontramos a seguinte declaração a respeito de Jesus Cristo:
“Na véspera da Páscoa eles penduraram Yeshu e antes disso, durante
quarenta dias o arauto proclamou que [ele] seria apedrejado ‘por prática de
magia e por enganar a Israel e fazê-lo desviar-se. Quem quer que saiba algo
em sua defesa venha e interceda por ele’. Mas ninguém veio em sua defesa e
eles o penduraram na véspera da páscoa” (GEISLER, Norman, Enciclopédia
de Apologética, VIDA, 2001, pp.450)
A primeira pergunta que deveríamos fazer é quem é Yeshu? Seria ele uma
referência a Jesus Cristo? Na versão judaica de Jacob Shachter, H.
Freedman debaixo da supervisão do Rabi I. Epstein, logo na introdução
encontramos uma declaração interessante sobre o papel desse documento
histórico para os cristãos:
“Aos olhos dos estudantes cristãos, o Sanhedrin sempre ocupou um lugar de
predileção entre os tratados do Talmude em função da luz que ele é capaz
de apresentar sobre o julgamento de Jesus de Nazaré. Não é sem
significância que quando Reuchlin, o cristão campeão do aprendizado
judaico, procurou em toda a Europa para encontrar uma cópia do Talmude,
o único tesouro que conseguiu encontrar foi o Sanhedrin” (SHACHTER, Jacob,
FREEDMAN, H., EPSTEIN, I., Sanhedrin, Translated into english with notes,
glossary and índices, pp.xii)
Sobre o Talmud e sua alusão à figura histórica de Jesus Cristo, Wilcox
afirma:
“A literatura tradicional judaica, embora mencione Jesus só muito raramente
(e, seja como for, tem de ser usada com muita cautela), respalda a alegação
do evangelho de que ele curava e fazia milagres, embora atribua tais
atividades à magia. Além disso, ela preserva a lembrança de Jesus como
professor, diz que ele tinha discípulos (cinco) e que, ao menos no período
rabínico primitivo, nem todos os sábios haviam concluído que ele era
‘herege’ou ‘enganador’.” (WILCOX, M., Jesus in the light of his Jewish
environment, n25.1, 1982, pp.133; IN: STROBEL, Lee, Em Defesa de
Cristo, pp.112)
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Luciano de Samosata (125 d.C. – 181 d.C.), foi um
escritor sírio que escrevia em grego ático e em suas obras aproveitava para
tratar com escárnios e sátiras o cristianismo e o seu fundador, Jesus
Cristo. Em uma obra intitulada The Death of Peregrinus, na qual trata de
satirizar a vida de Peregrinus Proteus, Luciano apresenta uma informação
interessante a respeito de Cristo e dos cristãos:
“Os cristãos, como sabes, adoram um homem até hoje – o personagem
distinto que introduziu seus rituais insólitos e foi crucificado por isso (…)
Essas criaturas mal orientadas começam com a convicção geral de que são
imortais o que explica o desdém pela morte e a devoção voluntária que são
tão comuns entre ele; e ainda foi incutido neles pelo seu legislador original
que são todos irmãos, desde o momento que se convertem, e vivem segundo
as suas leis. Tudo isso adotam como fé, e como resultado desprezam todos os
bens mundanos considerando-os simplesmente como propriedade comum”
(Death of Pelegrine 11-3; IN: GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética
– Vida 2002, pp.450)
Robert Voorst atesta que nessa sentença não existem dúvidas de
autenticidade e é consistente com o que se conhece de Luciano (VOORST,
Robert E. Jesus outside the New Testament: An introduction to the ancient
evidence. Eedermnans, 2000, pp.60), o que já nos induz a considerar as
implicações dessa citação. Nesse caso, mais uma vez seguimos Habermas:
“(1) Somos informados de que Jesus era adorado pelos cristãos; (2) Também
nos informa que Jesus iniciou novos ensinos na Palestina (sendo que o local é
oferecido em outra parte não mencionada da seção II); (3) que Ele foi
crucificado por causa dos seus ensinamentos. Jesus ensinou seus seguidores
certas doutrinas, como (4) que os cristãos são irmãos; (5) a partir do
momento da conversão e (6) depois que os falsos deuses são negados (tais
quais os da Grécia). Adicionalmente, esses ensinos incluíam (7) adorar a Jesus
e (8) viver de acordo com suas leis; (9) Luciano também se refere a Jesus
como sábio” (HABERMAS, Gary, Historical Jesus, College Press, 1996; pp.206-
7)
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Mara Bar-Serapião era um filósofo estoico
da província romana da Síria que tornou-se amplamente conhecido em
função de uma carta que teria escrito a seu filho, também chamado
Serapião, que segundo Robert E. Voorstpor fora escrita volta do ano 73 dC
(VOORST, Robert E. Jesus outside the New Testament: An introduction to the
ancient evidence. Eedermnans, 2000, pp.53). Em função dessa carta
tornou-se uma das primeiras referências não judaica e não cristã a se
referir a Jesus Cristo. Ela foi publicada pela primeira vez no século XIX por
Willian Cureton, que acreditava que Mara Bar-Serpaião era cristão
sofrendo perseguição, opinião que os mais recentes acadêmicos rejeitam
veementemente. Sobre essa carta, F.F. Bruce atesta:
“É uma carta enviada por um cidadão sírio, chamado Mara Bar-Serapião, ao
filho de nome Serapião. Mara Bar-Serapiaão achava-se encarcerado por essa
época, mas escrevia com o propósito de estimular ao filho na aquisição
da sabedoria e ressaltava que aqueles que se davam à perseguição dos
sábios eram fatalmente vítimas de infortúnios” – (BRUCE, F.F., Merece
Confiança o Novo Testamento, Vida Nova, 1965, pp.148)
Para demonstrar o fato de que a perseguição de sábios leva a infortúnios,
Mara Bar-Serapião afirma:
“Que proveito os atenienses abtiveram em condenar Sócrates à morte? Fome
e peste lhe sobrevieram como castigo pelo crime que cometeram. Que
vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao pôr em fogo em Pitágoras?
Logo depois sua terra ficou coberta de areia. Que vantagem os judeus
obtiveram com a execução do seu sábio rei? Foi logo após esse acontecimento
que o reino dos judeus foi aniquilado. Com justiça Deus vingou a morte desses
três sábios: os atenienses morreram de fome; os habitantes de Samos foram
surpreendidos pelo mar; os judeus arruinados e expulsos de sua terra, vivem
completamente dispersos. Mas Sócrates não está morto, ele sobrevive aos
ensinos de Platão. Pitágoras não está morto; ele sobrevive na estátua de
Hera, Nem o sábio rei está morto; ele sobrevive nos ensinos que deixou” – (IN:
GEISLER, Norman, Enciclopédia de Apologética, Vida, 2003, pp.451)
A mais importante controvérsia, entretanto, refere-se a identidade do
Sábio Rei: O sábio Rei é de fato Jesus Cristo? Por exemplo, Farrel Till
defende que o Sábio Rei seja Jesus Cristo, pelo simples fato de que
“pretensos messias eram encontrados às dúzias na Judéia” (TILL, Farrell,
“The ‘Testimony’ of Mara Bar-Serapion“, The Skeptical Review 1995;
IN: http://www.theskepticalreview.com/tsrmag/4mara95.html; em
03/05/2011). Jeffery Jay Lowder, seguindo Farrel defende ainda que
também é possível que o Professor da Justiça, mencionado nos manuscritos
de Quran também pudesse ser a referência a quem Mara Bar-Serapião
endereça (LOWDER, Jeffery, J., Josh McDowell’s “Evidence” for Jesus: Is It
Reliable?;
IN: http://www.infidels.org/library/modern/jeff_lowder/jury/chap5.ht
ml#mara; em 03/05/2011).
Essa questão é importante, e era de se esperar que céticos questionassem
sua veracidade comoreferência a Jesus Cristo, entretanto, devemos
lembrar que existem ao menos sete declarações feitas por Mara Bar-
Serapião que nos auxiliam a identificar o Sábio Rei: (1) Ele foi executado;
(2) ele era sábio; (3) Foi executado pouco antes da destruição de
Jerusalém; (4) Sua execução foi anterior à dispersão dos judeus; (5) os
judeus foram responsáveis por sua morte; (6) ainda sobrevive por meio
dos ensinos que deixou; (7) foi referido como rei.
Diante disso, devemos indagar qual personagem dentre das dúzias de
candidatos a messias poderiam se enquadrar em todas as características
do Sábio Rei de Mara. A primeira observação que fazemos é que a proposta
de Lowder não pode se enquadrar na citação de Mara pelo simples fato de
que o Professor da Justiça, citado nos manuscritos do mar morto, não é
apresentado no mesmo documento como tenho sido executado, apesar de
ter sido perseguido.
Outra observação que podemos fazer é que todas as mais famosas
sugestões para o Rei Sábio, como Onias III e Judas o Essênio também não
podem ser referidos, pelo simples fato de que o Rei Sábio de Mara foi
executado pouco antes da queda de Jerusalém e da dispersão dos judeus.
Se Onias fosse a referência, a dispersão dos judeus teria acontecido nada
menos do que 240 anos mais tarde do que realmente aconteceu. Já com
Judas o Essênio, seriam apenas 170 anos. Apesar da carta de Mara Bar-
Serapião conter algumas dificuldades históricas relacionadas a Atenas e a
Samos, um equívoco de tantos anos seria ainda improvável.
Por fim, a última controvérsia levantada por céticos refere-se ao fato de
que Mara Bar-Serapião atribui a morte de Cristo aos judeus, o que se sabe
que tecnicamente não é a informação mais correta, afinal, a morte de Cristo
aconteceu nas mãos do romanos. É impressionante que esse seja de fato
um argumento plausível para contestar a referência a Jesus Cristo nessa
carta. O Novo Testamento está repleto de citações que atribuem a culpa aos
judeus, como a primeira pregação de Pedro, por exemplo. Outro detalhe
que se levanta quando se fala do antissemitismo na igreja primitiva, atenta-
se a exatamente esse fato. Aliás, essa é uma das evidências que se tem para
um carta mais antiga, afinal é bem provável que Mara Bar-Serapião tinha
conhecimento da mensagem cristã da morte de Cristo como encomendada
por judeus.
Ou seja, ainda que seja controvertida, essa carta oferece uma descrição
interessante sobre Jesus Cristo, como Habermas sugere:
“Dessa passagem aprendemos: (1) que Jesus era considerado um homem
virtuoso; (2) Ele é apresentado duas vezes como um Rei Judeu, possivelmente
em referência aos próprios ensinos de Cristo sobre si mesmo, ao qual os
seguidores mencionavam, ou ainda da frase escrita sobre sua cabeça na
cruficicação; (3) Jesus foi executado injustamente pelo judeus que pagaram
por seus atos errados sofrendo brevemente o julgamento posteriormente,
provavelmente uma referência a queda de Jerusalém para o exército
romano; (4) Jesus vive nos ensinamentos dos cristãos primitivos, que é um
indicativo de que Mara Bar Serapião não era cristao” – (HABERMAS, Gary,
Historical Jesus, College Press, 1996; pp.208)
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As reivindicações históricas são fortes quando apoiadas por múltiplas fontes independentes.
As reivindicações históricas, que também são atestadas pelos inimigos são mais propensas a
serem autênticas, pois os inimigos são antipáticos, e muitas vezes hostis testemunhas.
As afirmações históricas que são apoiadas por testemunhos primitivos são mais confiáveis e
menos prováveis de serem o resultado de um desenvolvimento lendário. [11]
Portanto, quando é investigado um evento histórico “os pentes do historiador passam através
dos dados, considerando todas as possibilidades, e procura determinar qual melhor cenário
explica esses dados.”