Pesquisa Organismos Universitc3a1rios de Direitos Humanos Digital PDF
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HUMANOS
Organismos Universitários
de D ireitos H umanos
D I R E IT O S
Projeto “Fortalecimento de Organismos Universitários de
DE
Prática e Advocacia em Direitos Humanos no Brasil”
U N IV E R S IT Á R I O S
ORGANISMOS
–
PESQUISA
2015
São Paulo
Pesquisa - Organismos
Pesquisa Universitários
– Organismos de Prática
Universitários e Advocacia
de Prática e
em Direitos Humanos no Brasil.
Advocacia em Direitos Humanos no Brasil
Obra
Obra realizada
realizada com
com apoio
apoio da
da Fundação
Fundação Ford
Ford Foundation,
Foundation, nono âmbito
âmbito do
do Projeto
Projeto
Organismos
Organismos Universitários de Prática e Advocacia em Direitos Humanos no Brasil.
Universitários de Prática e Advocacia em Direitos Humanos no Brasil.
Tiragem:
Tiragem:
1ª edição – 2015 – 750 exemplares impressos
1ª edição – 2015 – 750 exemplares impressos
Impresso no Brasil
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Distribuição Gratuita
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Capa: Artgraph
Editoração Eletrônica: Artgraph
Impressão e Acabamento: Artgraph
Rua Alexandre Levi, 183 - Cambuci
CEP 01520-000 - São Paulo - SP - Brasil
Tels: 11 3399-2272 / 3271-3831 / 3275-3193
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Catalogação da
Catalogação da publicação
publicação na
na fonte.
fonte
Pesquisa -–Organismos
OrganismosUniversitários
UniversitáriosdedeDireitos
DireitosHumanos/
Humanos/Saule Júnior,
Saule Júnior, Nelson
Nelson al.]al.]
[et[et
São Paulo, 2015
mm
184 p.; 210 x 297 mm.
Demais autores: Bortoni, Gabriel; Cardoso, Guthemberg; Dora, Denise; Fernandes, Rodrigo;
Guedes, Íris; Jacob, Valena; Lapa, Fernanda.
Trabalho realizado no âmbito do Projeto Fortalecimento de Organismos Universitários de
Prática e Advocacia em Direitos Humanos no Brasil firmado entre a Fundação Ford/Ford Foun-
dation e a Fundação São Paulo (mantenedora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo),
com
com apoio
apoio da
da Faculdade
Faculdade de
de Direito/Departamento
Direito/Departamento 66 -- Direitos
Direitos Difusos
Difusos ee Coletivos.
Coletivos.
Ano: 2013-2015
Ano: 2013-2015
ISBN:
ISBN: 978-85-62882-20-3
978-85-62882-20-3
Resumo
Resumo dada obra:
obra: 1.
1. Organismos
Organismos Universitários
Universitários de
de Direitos
Direitos Humanos,
Humanos, 2.
2. Os
Os diferentes
diferentes mo-
mo-
delos de organismos universitários, 3. Balanço dos resultados das pesquisas quanti e quali-
delos de organismos universitários, 3. Balanço dos resultados das pesquisas quanti e quali-
tativas, 4. Diretrizes e propostas pedagógicas aos organismos universitários, 5. Registro de
tativas, 4. Diretrizes e propostas pedagógicas aos organismos universitários, 5. Registro de
experiências.
experiências
Apoio
Ford Foundation
Grão-Chanceler
Cardeal Dom Odilo Pedro Scherer
Equipe de Pesquisa
Coordenação
Nelson Saule Júnior
Pesquisadores
Denise Dora (UniRitter) – set./13 a maio/14
Fernanda Lapa (Univille)
Gabriel Bortoni (PUC-SP)
Guthemberg Cardoso (UFPB)
Íris Guedes (UniRitter)
Rodrigo Fernandes (PUC-SP) – set./13 a fev./14
Valena Jacob (CIDHA-UFPA)
Colaboradora
Priscilla Soares de Oliveira (PUC-SP)
Estagiárias de pesquisa
Fabiane Baltruchaitis (PUC-SP)
Rafaella Mendes (PUC-SP)
Equipe técnica
Bianca Pyl (jornalista)
Delana Cristina Corazza (socióloga)
Equipe administrativa
Cláudia Mioto
Mara Araújo
Izilda dos Santos
Gisele Pereti
Carina Silva
Professores Colaboradores
Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
26 de novembro de 2014
Celeste Maria Gama Melão (PUC-SP)
Guilherme Assis de Almeida (USP)
Jacques Távora Alfonsin (UNISINOS)
José Geraldo de Souza Júnior (UNB)
I INTRODUÇÃO............................................................................................. 11
9
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
V CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................... 73
VI BIBLIOGRAFIA............................................................................................. 75
ANEXOS................................................................................................................ 185
I. Questionário.............................................................................................. 187
II. Lista de Contatos...................................................................................... 193
III. Boletins Informativos.............................................................................. 217
10
I
Introdução
1. Esse projeto é uma iniciativa de um grupo de instituições acadêmicas que contam com organismos de atuação no campo dos direitos
humanos por intermédio de Clínicas de Direitos Humanos e Núcleos de Advocacia em Direitos Humanos. Dele fazem parte as seguintes
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
instituições: Clínica de Direitos Humanos da Amazônia da Universidade Federal do Pará – UFPA, Centro de Ciências Jurídicas da
Universidade Federal da Paraíba – UFPB, Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns da Pontifícia Universidade Católica de São
Paulo – PUC-SP, Clínica de Direitos Humanos da Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE e Clínica de Direitos Humanos do
Centro Universitário Ritter dos Reis – Uniritter do Rio Grande do Sul. Esse projeto conta com o apoio da Fundação Ford.
2. Para maiores informações sobre os boletins, acesse: <http://escritoriomodelo.pucsp.br/>.
12
I. Introdução
13
II
1. LAPA, Fernanda Brandão. Clínicas de Direitos Humanos: uma proposta pedagógica para a educação jurídica no Brasil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2014. p. 72.
15
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
com a criação de diversas clínicas jurídicas, foram criadas clínicas específicas para
tratar do tema dos direitos humanos, ou seja, as clínicas de direitos humanos que, por
sua vez, têm conseguido ter um impacto social em todo o continente.
Não existe um conceito único, modelo ou formato de clínica de direitos huma-
nos, como sustenta Hurwitz (2011, p. 101): “Eu acho que a maioria concorda que
não existe um paradigma único para as clínicas de direitos humanos. Elas são diver-
sas e, como a advocacia em direitos humanos em si, inovadora e contextualizada.”2
Em geral, a clínica de direitos humanos nos EUA é um curso prático que tem como
referência o direito internacional e que engaja os estudantes em técnicas de advocacia
em direitos humanos (HURWITZ, 2006, p. 38).
É importante destacar que este tipo de clínica geralmente não é centrado no
atendimento individual de pessoas (client-centred), como outras clínicas fazem
(ex.: clínicas de refugiados ou imigrantes). As estratégias, segundo ela, às vezes,
são jurídicas (litígio, assistência jurídica, advocacia legislativa), mas, na maioria
das vezes, são “não jurídicas” (educação em comunidades, investigação e elabo-
ração de relatórios). Outras vezes, são realizadas em tribunais, contudo, o que é
mais comum, na imprensa, nas ruas, em espaços governamentais e em conferências
mundiais (HURWITZ, 2006). Assim, a advocacia em direitos humanos envolve o
litígio, o monitoramento, a elaboração de relatórios, o desenho de políticas e legis-
lações, a organização e o loobying. “As clínicas de direitos humanos têm por obje-
tivo introduzir esta variedade de práticas aos estudantes de Direito, e a engajá-los
criticamente e na prática no desenvolvimento de uma ou mais dessas habilidades”3
(HURWITZ, 2006, p. 39).
A maioria das clínicas de direitos humanos na América do Norte e na América
Latina trabalha com atividades de extensão, ou seja, os estudantes têm que se rela-
cionar com entidades parceiras para desenvolver seus projetos; já as atividades de
Programas de Direitos Humanos, por exemplo, estão mais focadas em pesquisas e
atividades de ensino, como seminários e debates institucionais. Hurwitz observa que
algumas faculdades de Direito nos EUA têm ambos: programas e clínicas de direitos
humanos. Afirma, ainda, que a primeira clínica de direitos humanos surgiu em 1989
e que, atualmente, existem pelo menos em 15 faculdades de Direito das 185 creden-
ciadas nos EUA (HURWITZ, 2006).
Para os estudantes de Direito, participar de clínicas de direitos humanos du-
rante a graduação pode trazer inúmeros benefícios. Primeiro, eles aprendem que
o Direito pode ser um meio para mudanças sociais e não um fim em si mesmo. E,
2. No original: “I think most would agree that there is no single paradigm for human rights clinics. They are diverse and, like human rights
advocacy itself, innovative and context specific.”
3. No original: “Human Rights clinics aim to acquaint law students with this variety of practice, and to engage them critically and practically
in developing one or more of these skills.”
16
II. Dos Diferentes Tipos de Organismos Universitários de Direitos Humanos
Há cinco pontos fortes da educação clínica para servir como meio de formação
de defensores de direitos humanos, segundo Rick Wilson: em primeiro lugar, o foco
geral do método de ensino recai sobre os estudantes e na aprendizagem, e não nos
professores e no ensino, assim, “[...] aprendem a confirmar em suas próprias expe-
riências e julgamentos e a obter autossuficiência, em vez de depender do professor
como uma fonte ‘especializada’ de todas as respostas para todas as questões” (WIL-
SON. In: CLAUDE; ANDREOPOULOS, 2007, p. 393). Em segundo lugar, normas
teóricas são testadas e analisadas pelo professor e pelo estudante na vida real; em
terceiro lugar, o método está centrado tanto no processo de resolução de conflitos
como no conteúdo das próprias leis; em quarto lugar, o método de clínica permite
que o estudante use soluções criativas e autodeterminadas na solução de problemas,
ao contrário da aplicação rígida da lei. E, por fim, em quinto lugar, o estudante de-
senvolve não apenas as capacidades cognitivas, mas também as respostas afetivas e
emocionais para as questões envolvidas, ou seja, as leis teóricas.
[...] não podem ser separadas da realidade da experiência humana, muitas vezes
brutal dentro da qual a lei é vivida. Respostas emocionais, poderosas a violações de
direitos humanos devem ser reconhecidas, discutidas e reconciliadas com normas
jurídicas, algumas vezes, frias e aparentemente insensíveis, envolvidas na resolução
de casos reais. (WILSON. In: CLAUDE; ANDREOPOULOS, 2007, p. 394)
Por fim, pelo fato de ser caracterizada como um espaço de diferentes técnicas
e abordagens de ensino, pesquisa e extensão, as clínicas constituem verdadeiros
4. No original: “[...] legal, factual and advocacy writing; good oral communication; the ability to think organised even under pressure and with
competing demands; to work in teams; to develop strong research skills, including factual research and research in international and domestic
Law; and the ability to recognise and resolve issues of Professional roles and responsabilities.”
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
5. Sobre a distinção entre assessoria jurídica e assistência jurídica, reproduzimos a lição de José Geraldo de Sousa Júnior: “(...) mas é
necessário que façamos a distinção entre assessoria jurídica e assistência judiciária, os dois pilares da atividade de extensão desenvolvida por
estudantes de Direito. A assistência judiciária, geralmente prestada pelos Escritórios Modelo das faculdades, tem a função de dar um amparo
legal gratuito às pessoas carentes que não podem pagar um advogado para resolver as suas demandas. Essa atividade visa também ministrar
ensino jurídico prático aos alunos do curso de Direito.(...) O trabalho de assessoria jurídica é mais abrangente, uma vez que o apoio prestado
visa em última instância à emancipação e à autonomia dos grupos sociais oprimidos por meio da educação para a cidadania.” (Relatório
do Núcleo de Assessoria Jurídica em Direitos Humanos e Cidadania. Universidade de Brasília, Decanato de Extensão, Cadernos de
Extensão, 2º semestre de 1993).
6. Os denominados Serviços de Assessoria Jurídica Gratuita (SAJU’s) são entidades universitárias que desenvolvem os serviços de asses-
soria de forma mais pontual, atendendo diretamente demandas que lhe são levadas pelos seus assistidos.
18
II. Dos Diferentes Tipos de Organismos Universitários de Direitos Humanos
7. “O (...) autor (Boaventura de Sousa Santos) sustenta ter sido o movimento estudantil dos anos 1960 o porta-voz das reivindicações mais
radicais no sentido da intervenção social da universidade e foram eles os responsáveis por imprimir no imaginário simbólico de muitas
universidades e de muitos universitários a concepção mais ampla de responsabilidade social.” (Ensino do Direito, Núcleos de Prática e de
Assessoria Jurídica. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 3, n. 6, p. 123-144, jul./dez. 2006)
8. Ensino do Direito, Núcleos de Prática e de Assessoria Jurídica. Veredas do Direito, Belo Horizonte, v. 3, n. 6, p. 123-144, jul./dez. 2006.
9. No artigo 3º, III, da Lei nº 10.861/2004, Lei que institui o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior – SINAES, observa-
mos a necessidade da contrapartida social da universidade: “considerada especialmente no que se refere à sua contribuição em relação
à inclusão social, ao desenvolvimento econômico e social, à defesa do meio ambiente, da memória cultural, da produção artística e do
patrimônio cultural.”
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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II. Dos Diferentes Tipos de Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Nos anos compreendidos entre 2007 até os dias atuais, diversos centros de re-
ferências foram criados em consonância com o Plano Nacional de Direitos Humanos
III. Os centros criados estão espraiados por todo o país, uns de forma perene com
constante financiamento, outros de forma sazonal; este organismo, uma vez criado,
contribui e muito para a vida social da população local atendida.
Os centros de referência em direitos humanos estão sendo implementados, em
larga escala, em diversas instituições de ensino superior. As universidades por meio
de seus servidores estudantes e professores, dão um conhecimento abalizado no to-
cante à defesa de direitos humanos, constituindo o locus adequado para o atendi-
mento interdisciplinar, transdisciplinar e metadisciplinar das pessoas e populações
atendidas.
10. SOUSA JÚNIOR, José Geraldo de. Ensino do Direito, Núcleos de Prática e de Assessoria Jurídica. Veredas do Direito, vol. 03, n. 06,
p. 133. Belo Horizonte, 2006.
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II. Dos Diferentes Tipos de Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
15. SAULE JÚNIOR, Nelson. A Assistência Jurídica como Instrumento de Garantia dos Direitos Urbanos e Cidadania, Direito Cidadania e
Justiça. Editora Revista dos Tribunais, p. 162.
16. Relatório do Núcleo de Assessoria Jurídica em Direitos Humanos e Cidadania. Universidade de Brasília, Decanato de Extensão, Ca-
dernos de Extensão, 2º semestre de 1993, apud SOUSA JÚNIOR, José Geraldo, ibidem.
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II. Dos Diferentes Tipos de Organismos Universitários de Direitos Humanos
A “assessoria jurídica”, por sua vez, caracteriza-se por sua prestação de servi-
ços usualmente vinculada aos Núcleos de Prática Jurídica e tem como função pro-
porcionar ao estudante de direito condições efetivas para desenvolver e exercitar
sua práxis social – práxis aqui compreendida não apenas como a face técnico-prá-
tica do Direito, mas a capacidade criativa de reflexão do fenômeno jurídico a partir
de um contato direto com a realidade social. Sendo assim, fundamental que a relação
estabelecida seja de um diálogo mais intenso com a sociedade, que envolva a efetiva
inserção nos contextos sociais e não somente um mero contato distante. Conforme
o Relatório sob análise:
O trabalho de assessoria jurídica é mais abrangente, uma vez que o apoio pres-
tado visa em última instância à emancipação e à autonomia dos grupos sociais
oprimidos por meio da educação para a cidadania. Pretende-se instrumentalizar
as necessidades da sociedade, mas busca-se também estimular a sua organização
e o seu fortalecimento para que ela possa, de maneira autônoma, desenvolver
os meios para reivindicar seus direitos e sanar as suas carências do cotidiano,
constituindo-se, pois, como sociedade civil.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
17. Caio Santiago, Paulo L. Martins, Rafaela Oliveira e Vivian Barbour. A experiência do SAJU-USP na Vila Itororó: Assistência e Assessoria
podem caminhar juntas? Disponível em <http://ibdu.org.br/eficiente/ repositorio/Projetos-de-Pesquisa/congressos-e-seminarios/ama-
zonas-2004/99.PDF>.
26
III
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
28
III. Balanço dos Resultados da Pesquisa Aplicada
29
pesquIsa – organIsmos unIversItárIos de dIreItos Humanos
30
III. Balanço dos Resultados da Pesquisa Aplicada
Nota-se, assim, que há qualitativamente uma presença muito maior nas regiões
sudeste e sul entre a população que vive com até 1/2 salário mínimo per capita por
núcleos universitários de atendimento, ou seja, aparentemente, não podemos dizer
que a contrapartida social das universidades consegue seguir o passo da própria de-
manda por acesso à justiça advinda da população economicamente hipossuficiente
da região. A população, portanto, depende de outras formas de acesso ao Poder Judi-
ciário, notadamente as defensorias públicas, em cada uma das regiões do país.
Infelizmente, o grau de institucionalização das Defensorias Públicas ainda está
longe de ser o ideal, destoando muito de estado para estado e absorvendo, em menor
ou maior grau, a demanda por atendimento quando considerado o número absoluto
da população hipossuficiente.
Pois bem. Agora que conseguimos visualizar a demanda por usuário dos nú-
cleos universitários em números absolutos, é importante dissecar este dado entre as
universidades públicas e privadas, de modo a refletir qual contribui de forma mais
notável em seu aspecto social:
31
pesquIsa – organIsmos unIversItárIos de dIreItos Humanos
Tal dado, apesar de científico e bastante verossímil, não está apto, porém, a re-
fletir idealmente o número absoluto da “contrapartida social”, seja em atendimentos,
seja em beneficiários indiretos.
Isto porque notamos durante a pesquisa que existem diversos organismos, es-
pecialmente os denominados “Escritórios Modelo”, que ainda não possuem infraes-
32
III. Balanço dos Resultados da Pesquisa Aplicada
33
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Muitas vezes, o núcleo adota uma regra de mesclar as poucas bolsas de estágio
que possui com a antiguidade dos estagiários que compõem o núcleo – prestigiando
com remuneração os integrantes mais antigos. É o caso, por exemplo, da UFO (entre-
vistada no segundo boletim durante o evento promovido pela ANDHEP). Em outros
casos, realiza processo seletivo específico dentre todos os estagiários e não estagiários
para selecionar os beneficiários das bolsas – é o caso, por exemplo, da UFRJ, entre-
vistada na elaboração do terceiro boletim informativo.
Ocorre que, de uma forma ou de outra, notamos que os estágios voluntários
vêm, muitas vezes, em conjunto com a obrigatoriedade do estágio no núcleo univer-
sitário, nem que seja só por um período:
34
III. Balanço dos Resultados da Pesquisa Aplicada
35
pesquIsa – organIsmos unIversItárIos de dIreItos Humanos
36
III. Balanço dos Resultados da Pesquisa Aplicada
37
pesquIsa – organIsmos unIversItárIos de dIreItos Humanos
Outras parceiras frequentes no cenário das universidades – neste caso, não ne-
cessariamente onerosas – têm sido as Defensorias Públicas estaduais e o próprio Po-
der Judiciário, conforme o gráfico abaixo:
38
III. Balanço dos resultados da pesquIsa aplIcada
39
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Tal divisão, quando dissecada entre universidades públicas e privadas, geram tal
indicador:
Universidades Privadas
Universidades Públicas
Como vimos, não há grande distorção entre os temas abordados pelas univer-
sidades públicas e privadas. O pequeno desvio notado deve ter decorrido, pela nossa
40
III. Balanço dos Resultados da Pesquisa Aplicada
41
IV
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
44
IV. Questões para uma Proposta Pedagógica para os Organismos Universitários de Direitos Humanos
b) Aspecto Pedagógico: do ponto de vista pedagógico, qual o melhor modelo a ser adotado pelos Or-
ganismos Universitários de DH?
Prós • eventual desinteresse individual não compromete o
aprendizado da totalidade dos estudantes;
• aplicável em larga escala (grande número de estu-
dantes);
CORRELAÇÃO/DEDUÇÃO
• prescinde de preparo/capacitação específica dos
Hipótese na qual o organismo
profissionais, que já dominam o método tradicional de
universitário observa a grade
ensino (aplicação prática dos conhecimentos teóricos).
curricular do curso de Direito e
busca desenvolver as atividades Contras • demanda prévio conhecimento teórico (técnico-ju-
práticas em conformidade com rídico) para a aplicação na prática;
o conteúdo programático minis-
• inferência de soluções tradicionais/menos criativas;
trado em sala de aula (método
subsuntivo) • o método subsuntivo é privilegiado em detrimento
da leitura e análise crítica da legislação;
• manutenção do estudante na “zona de conforto”
do processo de aprendizagem (postura passiva ante
o ensino).
45
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
46
IV. Questões para uma Proposta Pedagógica para os Organismos Universitários de Direitos Humanos
1. Vinculação
A vinculação entre o Núcleo de Prática Jurídica e a Universidade deve levar em
conta qual o objeto e quais são os projetos a serem desenvolvidos no organismo uni-
versitário.
Isto porque, se o projeto tiver como objetivo a formação de um jurista – a fim de
preencher uma lacuna prática dentro do curso de Direito –, afigura-se mais oportuna
a vinculação do Núcleo diretamente à Faculdade de Direito, proporcionando, assim,
uma maior simetria entre o projeto acadêmico do curso e do organismo.
No entanto, se o objetivo do Núcleo for a formação complementar do aluno
de direito como um “gerenciador de conflitos”, apresenta-se mais oportuna a vin-
culação do Núcleo diretamente à Universidade. Isto porque o objetivo do organis-
mo universitário e os projetos estão vinculados ao desenvolvimento do aluno como
catalisador e solucionador de conflitos – o que não necessariamente esta atrelado a
uma grade jurídica.
Sendo assim, de extrema relevância o papel da interdisciplinariedade – nota-
damente na resolução de conflitos sociais, de modo a tornar a vinculação direta à
faculdade de direito um eventual empecilho na “centralização” de demandas e na
perspectiva eminentemente jurídica dos problemas apresentados.
47
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
4. Papel na formação
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IV. Questões para uma Proposta Pedagógica para os Organismos Universitários de Direitos Humanos
6. Relevância/Impacto social
Como solução ideal encontrada pelos grupos de trabalho do Workshop está a
atuação do Núcleo Universitário tanto em demandas individuais como em coletivas.
Tal fator não só amplifica a qualificação do corpo discente como também pro-
jeta o Núcleo de Prática Jurídica no mercado como um potencial expert em diversas
áreas do direito.
Um modelo bastante interessante proposto seria a inicial amplificação do aten-
dimento (tutelas individual e coletiva) com a posterior desconcentração do Núcleo
em distintos órgãos que lhe integram – o que acarreta maior especialidade em cada
área e eventualmente pode trazer demandas externas financeiramente interessantes
para o Núcleo em razão da sua reconhecida expertise.
7. Produção de conhecimento
No aspecto da produção de conhecimento do Núcleo, destacou-se dentro dos
grupos de trabalho tanto a sua relevância quanto a necessidade de delimitação acadê-
mica dos professores que integram o organismo. Explicamos.
É que foi reconhecido que os professores do Núcleo normalmente são estimula-
dos a participar de campanhas afetas a sua área de ensino. Sendo assim, é importante
que a produção do conhecimento fique atrelada às cadeiras dos professores que inte-
gram o Núcleo.
Destaca-se, portanto, tanto i) a relevância social e acadêmica da produção de co-
nhecimento quanto ii) a sua delimitação de acordo com os professores que integram
a direção acadêmica do Núcleo.
49
V
51
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
52
V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
53
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
54
V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
exigência normativa para que esta disciplina exista, a temática dos direitos humanos
deve estar contemplada no Projeto – Pedagógico do curso de direito.
A pesquisa demonstrou que é importante que haja uma área programática e
uma disciplina específica de direitos humanos no curso de Direito para garantir que
a temática seja apropriada por todos os estudantes, de modo a contribuir com um
conhecimento sobre as situações de injustiça e de desigualdade que têm impactado
em especial as pessoas e grupos sociais com maior gral de vulnerabilidade.
A constituição de uma área programática e uma disciplina em direitos huma-
nos é um passo importante para um projeto pedagógico do ensino do direito, mas
não é suficiente. É preciso associar o desenvolvimento do conhecimento teórico
sobre os direitos humanos com a realidade social, com as situações reais que impac-
tam esses direitos como a existência da pobreza, formas de discriminação existente
em nossa sociedade como a racial e de gênero e as condições de desigualdade social
e econômica.
Essa associação passa pela vivência e experiência dos estudantes nos organis-
mos de prática de direitos humanos nas diversas modalidades que foram objeto de
pesquisa (clínicas de direitos humanos, Escritórios Modelo, centros de referência,
SAJU – Serviços de Assistência Jurídica). Os estudantes conseguirão compreender
melhor como se dão a proteção e a promoção dos direitos humanos se relacionarem
o que aprendem em sala de aula, na disciplina específica, com as atividades de ad-
vocacia, assessoria e consultoria em direitos humanos e de forma complementar a
realização de estudos e pesquisas proporcionadas pelos organismos universitários de
direitos humanos.
Oportuna, sobre este tema, a fala da professora Celeste Gama Melão, durante o
Seminário Nacional sobre Organismos Universitários de Direitos Humanos:
55
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
56
V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
18. Fonte IBGE/PNAD. In: Acesso ao Ensino Superior no Brasil: A Contribuição dos Programas Federais no Período Recente. Disponível
em <http://novo.fpabramo.org.br/sites/default/files/fpa-comunica-14.pdf>.
19. BRASIL. Comitê Nacional de Educação em Direitos Humanos. Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos. Brasília: Secretaria
Especial dos Direitos Humanos. Ministério da Educação, Ministério da Justiça, UNESCO, 2009, p. 38-39.
57
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Desta forma, além da construção dos próprios direitos humanos, LAPA22 aduz
ainda que a educação em direitos humanos visa formar mais defensores desses direi-
tos, devendo para tal considerar as dimensões sociais, econômicas, políticas, cultu-
rais e afetivas do discente, in verbis:
20. Idem.
21. BENEVIDES, Maria Victoria. Educaçao em Direito Humanos: do que se trata? In: Programa Ética e Cidadania. Disponível em: <http://
gajop.org.br/justicacidada/wp-content/uploads/9_benevides.pdf>>. Acesso em: 10.dez.2014.
22. LAPA, Fernanda Brandão. Clínica de Direitos Humanos – uma proposta metodológica para a educação jurídica no Brasil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2014. p. 54.
58
V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
[...] e qual seria então o papel dos organismos de direitos humanos? É ser um
contraponto ou ser um organismo que estabelece uma outra possibilidade, ou-
tras aberturas para a formação dos alunos dentro do curso, no sentido de ter
essa oportunidade que quebre essa perspectiva de todos os que saem dos cursos
de direito tenham, como foi colocado pelo prof. José Geraldo; perspectiva de ter
estudado não dentro de um curso de direito, mas sim num curso de normas.
Então acho que é uma questão relevante pensar qual deve ser, dentro do ensino
jurídico, o papel desses organismos nos estudantes. Por exemplo, uma questão
importante: todos os estudantes do curso têm que passar pelos organismos de
prática de direitos humanos? Um curso como o da PUC, que tem quase 2.000
alunos, como se faz isso, qual é o desafio entre você ter uma perspectiva de uma
qualificação dos alunos na área de direitos humanos, ou um grau de dedicação
59
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
dentro de um curso que possa estabelecer essa perspectiva? Então hoje nós te-
mos, claro, uma prioridade nas matérias tradicionais, que os alunos ficam cinco
anos estudando, como é o direito civil, e no máximo se pode pensar que esses
alunos vão ter seis meses para estar atuando ou participando de uma experiên-
cia, uma vivência? Será que é isso que nós queremos? Ou será que é inverter,
será que não seria o ideal para os alunos terem durante cinco anos, estarem na
prática de organismos de direitos humanos, tendo algumas vivências, experiên-
cias diferenciadas? Então essa é outra questão também que estamos colocando.
É óbvio que essa vivência é uma vivência diferenciada por alguns motivos, e ela
é diferenciada positivamente, a meu ver, porque se estrutura no campo ético da
emancipação, da possibilidade de emancipação, seja emancipação no sentido de
poder exercer um direito efetivamente ético, ou ao menos buscar essa via, um
direito de realização de justiça, seja pela via da própria experiência individual
– ou profissional, ou cidadã – ou na verdade as duas imbricadas, como aluno,
advogado, como sociólogo, como assistente social, como todos os atores da as-
sessoria jurídica popular que é uma assessoria de natureza social; ela não é uma
assessoria de natureza técnica, ela é uma assessoria de natureza ética.
E aí vale dizer que ok, nossos alunos passam sim por uma experiência positiva
nesse sentido ético quando têm a oportunidade de estar nesses núcleos, nes-
sas clínicas, nesses Escritórios Modelo enfim, nessas unidades de referência de
defesa de direitos humanos e de protagonismo também de direitos humanos,
porque eles vão, primeiro, desfragmentar o conhecimento – o conhecimento
na academia é absolutamente fragmentado, isolado, compartimentalizado, com
louváveis exceções, porém, não posso dizer que haja, pela menos eu não conhe-
ço, nenhum experiência de descompartimentalização na área do direito. Ainda é
um ensino tradicional positivista de uma grande forma, embora já não tão posi-
tivista como era, o que é um dado muito importante, mas ainda é uma forma de
apresentar o direito de maneira reducionista pelo viés do positivismo – que eu
não vou falar, porque o Professor José Geraldo falou amplamente – e por outro
lado um conhecimento tecnicista, pior que tecnicista, que é fragmentado.
Então é óbvio que essa experiência, essa vivência marcante nos escritórios e
nas unidades de referência de Direitos Humanos são vivências que desfrag-
mentam esse saber – na medida das suas limitações, é óbvio, mas elas têm isso
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V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
prática de direitos humanos, podendo essa prática ser feita em outras instituições e
organismos de direitos humanos como ONGs; nos organismos governamentais como
os conselho de direitos humanos.
Um modelo no qual os estudantes tenham que cumprir com uma carga horária
relativa às horas obrigatórias de prática jurídica nos organismos universitários de
direitos humanos e uma disciplina de direitos humanos pode ser um modelo a ser
considerado para uma proposta pedagógica sobre a formação do estudante em direi-
tos humanos no curso do direito.
Por que essas pesquisas mostraram que os juízes não conhecem os tratados, não
têm conhecimento da sua implicação, e o ministro dizia que não só deveria levar
em conta isso, como deveria também aplicar do ponto de vista das suas decisões
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V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
Por exemplo, a prática eu acho que devia ser condutora de todo o curso, o curso
devia começar no Núcleo de Pratica Jurídica e não na sala de aula. (...)
A sala de aula empobrece por que reduz o campo, focaliza num programa específi-
co. E a gente perde a diversidade. Então essa ideia é dar intersecção dessas dimen-
sões que não podem ser estanques, têm que ser trabalhadas com uma criatividade
que tomem como referência, que ali são diretrizes e não uma grade curricular.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
(...) Se a gente colocar no programa todos os temas que existem por demanda
de alunos, por demanda de professores ou do campo, o currículo teria que ter
500 disciplinas. Então não é possível, mas os estudantes expandem, por que eles
amplificam o tempo de permanência e constroem suas semanas jurídicas, seus
seminários, seus eventos, e aí eles chamam quem eles querem, os temas que eles
querem e a forma como eles querem dialogar a apropriando tudo isso ao currícu-
lo pelas atividades complementares ou pela extensão, que algumas universidades
já apropriam o crédito de extensão por que tem alguns movimentos chamados
extra muros que querem a extensão como elemento integralizador do currículo,
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V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
projeto pedagógico a área territorial numa cidade ou região no qual o organismo vai
atuar seja nos casos individuais seja nos coletivos.
23. LAPA, Fernanda Brandão. Clínica de Direitos Humanos – uma proposta metodológica para a educação jurídica no Brasil. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2014, p. 132.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
tos humanos tais como Pedagogia, Serviço Social, Psicologia, Sociologia, Educação e
Comunicação. Um projeto pedagógico deve ter como objetivo propiciar um ambiente
de aprendizado diferenciado: pelo contato direto do estudante com pessoas e grupos
sociais vulneráveis; por uma prática multiprofissional e interdisciplinar, assistido por
uma equipe qualificada de advogados orientadores e/ou professores de direitos huma-
nos vinculados a esses organismos por intermédio da Faculdade de Direito.
Para uma coerência com a proposta pedagógica que vem sendo apresentada,
a produção do conhecimento em direitos humanos deve ter objetivos que viabilizem a
formação de profissionais do direito que promovam a função social do direito. Entre
esses objetivos, podemos destacar:
• trabalhar a (re)significação da atuação do profissional do Direito diante de
uma sociedade complexa e globalizada, integrando razão e sensibilidade em
bases ética, solidária e (co)responsável socialmente;
• investir fortemente nos processos de formação dos estudantes de direito e de
outras áreas do conhecimento relacionadas à prática dos direitos humanos,
garantindo uma estrutura de estágio que articule teoria/prática e pesquisa,
com o objetivo de favorecer o autoconhecimento de cada um;
• propiciar experiências de trabalho e de práticas sociais extramuros universi-
tários, catalisadoras do conhecimento adquirido no ambiente acadêmico;
• atuar de forma transdisciplinar buscando construir novas metodologias de
ações acadêmico-sociais em parceria e integração com outras áreas do conhe-
cimento;
• apontar novos paradigmas para validar cientificamente a experiência da prá-
tica de direitos humanos.
É essencial que o projeto pedagógico dos organismos universitários de direitos
humanos tenha como objetivos estruturantes contribuir na construção de um projeto
educacional do direito especialmente no que tange ao currículos e projetos pedagógi-
cos dos cursos de Direito, procurando demonstrar a importância e a necessidade da
incorporação das práticas jurídico-sociais que se dão pela atuação em direitos huma-
nos, no aspecto preventivo, restaurativo e, principalmente, coletivo, para influenciar,
bem como na formação de um novo perfil do profissional do Direito comprometido
com os direitos humanos por meio de novas metodologias de ensino teórico-prático,
pesquisa e extensão.
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V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
ponsável pelas atividades acadêmicas com ênfase no ensino jurídico – e, inclusive, tal
postura é recomendável para manutenção de um vínculo institucional e acadêmico
mais forte com a respectiva Universidade.
No entanto, em que pese a óbvia recomendação, foi denotado na pesquisa que,
infelizmente, muitos dos organismos universitários de direitos humanos se encon-
tram instalados para o cumprimento da exigência do MEC: instituir uma prática
jurídica que por ser dirigida à população necessitada ou grupos sociais vulneráveis
não tem como essa prática ser dissociada das questões sociais. Surge como um grande
desafio tirar da concepção teórica da prática jurídica social para uma atuação desses
organismos que integre as duas formas de atuação jurídica e social sendo fundamen-
tal para isso a atuação interdisciplinar.
Sendo assim, independentemente da nomenclatura adotada pelo Organismo
(Escritório Modelo, SAJU ou Clínica de Direitos Humanos), fato é que muitos não
desempenhavam um trabalho social, bastando-se em si mesmos para cumprimento
de uma mera “exigência burocrática”. Não contavam com professores, advogados ou
estagiários suficientes para cumprir as finalidades de sua criação.
Todavia, voltando-se ao ideal na atividade dos organismos – e saindo um pouco
da realidade constatada, fato é que a presença de um coordenador acadêmico é essen-
cial, tanto para o fortalecimento do vínculo institucional com a Universidade em si,
quanto para a direção de estratégias de aprendizado a serem implementadas – con-
duzindo o organismo, por intermédio de seus diversos profissionais, ao diferencial
acadêmico proporcionado por este organismo universitário.
E este diferencial encontra-se presente em diversas vertentes, notadamente: i)
a experiência interdisciplinar; ii) a humanização do alunado; iii) o empoderamento
dos alunos; e iv) a contrapartida social dada pela universidade.
Da mesma forma em que se destacaram as necessidades e vantagens do orga-
nismo sob um aspecto didático e acadêmico, também não se pode deixar de lado a
importância de uma organização que viabilize um aparato administrativo responsável
pela organização, andamento e, quando for o caso, prestação de contas do organismo
universitário. Entretanto, para que tal estrutura administrativa exista, na maioria das
vezes, são essenciais o empenho e a disposição da coordenação do próprio organis-
mo, o que exige diálogo com a instituição de ensino ou auxílio financeiro externo
para proporcionar a manutenção de tal aparato.
Neste mesmo sentido, podemos analisar o quão necessário é uma estrutura ad-
ministrativa, assim como a manutenção de um espaço físico adequado e voltado para
as demandas dos organismos envolvendo a temática de Direitos Humanos. Em de-
terminados casos, foi possível identificar que a existência de um espaço físico trans-
forma o ambiente propício para o encontro dos próprios integrantes, aumentando
assim a ocorrência de debates e discussões. Ter um local onde possam ser dispostos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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V. Diretrizes e recomendações pedagógicas para os organismos universitários de direitos humanos
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V
Considerações Finais
Essa pesquisa tem o mérito de ter criado uma ferramenta de consulta às insti-
tuições de ensino superior da área do direito sobre a organização, forma de atuação e
sustentabilidade dos Organismos Universitários de Direitos Humanos e de contribuir
com o primeiro registro nacional de um conjunto de organismos que atuam com base
nos princípios da cooperação e solidariedade, que possam promover troca de conhe-
cimento, informações, experiências e atividades no campo da prática dos direitos
humanos. Podemos dizer que foram dados os primeiros passos para a formação de
uma rede nacional de organismos universitários de direitos humanos sendo impor-
tante uma parceria mais institucional com a ANDHEP que congrega um coletivo de
juristas, professores e pesquisadores universitários no campo dos direitos humanos.
A perspectiva de ser desenvolvida uma proposta pedagógica para a organiza-
ção, desenvolvimento e fortalecimento institucional desses organismos universitá-
rios tem como ponto de partida os elementos essenciais que foram acima apresenta-
dos. Como passos necessários é a manutenção do mapeamento com as instituições
de ensino superior uma vez que um número relevante de instituições em especial as
privadas não chegaram a responder ao questionário da pesquisa realizada. É preciso
também pensar na continuidade da construção de uma proposta pedagógica para
o desenvolvimento desses organismos em parceria com os organismos institucio-
nais responsáveis pelo ensino do direito em especial o Ministério da Educação e a
Comissão de Ensino Jurídico da OAB, bem como de construir um diálogo com as
instituições de pesquisa CAPEs e CNPq que possam apoiar linhas de pesquisa so-
bre os organismos universitários de direitos humanos que poderiam ser articulados
com o Ministério da Justiça e a Secretaria de Direitos Humanos, como o programa
pensando o direito.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Outro aspecto diz respeito à formação de uma rede nacional de organismos uni-
versitários de direitos humanos que podem ter um papel importante de articulação
para influenciar as instituições de ensino superior, professores e estudantes sobre
o ensino jurídico com uma valorização da prática de direitos humanos no curso de
direito. Para tanto, é importante que essa rede nacional tenha parceiros de organiza-
ções da sociedade civil que possam trazer para o campo da universidade as diversas
realidades sobre a situação de direitos humanos em nosso país.
74
VI
Bibliografia
75
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
SANTIAGO, Caio, MARTINS Paulo L.; OLIVEIRA Rafaela; BARBOUR Vivian. A expe-
riência do SAJU-USP na Vila Itororó: Assistência e Assessoria podem caminhar juntas?
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Mão de Alice. O Social e o Político na Pós-Modernidade. Porto: Edições Afrontamento,
1994.
SAULE JÚNIOR, Nelson. A Assistência Jurídica como Instrumento de Garantia dos Di-
reitos Urbanos e Cidadania, Direito, Cidadania e Justiça. Coordenadores: DI GIOGI,
Beatriz; CAMPILONGO, Celso Fernandes; PIOVIZAN, Flavio. São Paulo: Editora
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Documentos Consultados
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no Grupo de Trabalho de Direito durante o III Colóquio Internacional de Direitos
Humanos – 1. ed. 2003 – PESQUISA DE INOVAÇÕES NA ADVOCACIA EM DIREI-
TOS HUMANOS. Texto e Pesquisa: Joana Zylbersztajn e Simone O. Ladeira. Coorde-
nação: Carlos Portugal Gouvêa, Liliana Lyra Jubilut e Luiz Fernando Villares.
PESQUISA – Olhares Populares sobre Direitos e Justiça na Cidade de São Paulo. Pon-
tifícia Universidade Católica de São Paulo. Núcleo de Prática Jurídica “Dom Paulo
Evaristo Arns”, São Paulo, 2012.
PORTARIA Nº 1.886, DE 30 DE DEZEMBRO DE 1994. Ministério da Educação. Di-
retrizes sobre Ensino do Direito.
RESOLUÇÃO Nº 9, DE 29 DE SETEMBRO DE 2004. Ministério da Educação. Dire-
trizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Direito.
Relatório do Núcleo de Assessoria Jurídica em Direitos Humanos e Cidadania. Uni-
versidade de Brasília, Decanato de Extensão, Cadernos de Extensão, 2º semestre de
1993, apud SOUSA JÚNIOR, José Geraldo, ibidem.
76
VII
1. Introdução
Realizado na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo no dia 26 de no-
vembro de 2014, o Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos
Humanos discutiu os desafios dos Direitos Humanos no Ensino do Direito e no
combate às violações de Direitos, na prática dos direitos humanos, bem como a
necessidade de uma atuação da advocacia baseada nos princípios da cooperação e
da solidariedade.
Os resultados dos debates fomentados pelo Seminário seguem transcritos abaixo.
Palestrantes
José Geraldo de Souza Júnior – coordenador do Núcleo de Estudos da Paz e Di-
reitos Humanos da Universidade de Brasília (UnB) e professor da Faculdade de Direito
da UnB
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Bem brevemente eu só gostaria de comentar que esse projeto apoiado pela Fun-
dação faz parte de um projeto mais amplo, que a Fundação vem desde o início dos
anos 2000, final dos anos 90, tentando avançar no fortalecimento de uma infraestru-
tura de Direitos Humanos universitária. A Fundação já apoiou a formação de mestra-
dos e doutorados em Direitos Humanos, como por exemplo, a Universidade Federal
do Pará, na Universidade Federal da Paraíba. E uma segunda etapa foi buscar que
esses cursos de pós-graduação oferecessem aos alunos um espaço de prática, no sen-
tido de poder haver um desenvolvimento profissional desses estudantes, com base
nos princípios e nas ações relacionadas aos Diretos Humanos nacionais e aos sistemas
internacionais.
No momento, além desse projeto que estamos apoiando no sentido de mapear
o perfil, a atuação, a forma de inserção acadêmica, a relação com os currículos, as di-
ferenças entre esses organismos em universidades privadas e universidades públicas,
a forma como os profissionais atuam, os tipos de causas que esses organismos pro-
porcionam. A Fundação Ford também recentemente em parceria com o Fundo Brasil
de Direitos Humanos fez um edital público apoiando dez organismos universitários
de assessoria popular para avançar a temática do litígio estratégico, da advocacia
estratégica no Brasil nas áreas de Direitos Humanos, no sentido de que dado hoje as
dimensões das violações de direitos e a complexidade que essas violações alcançaram
no sentido de envolver uma gama de diversos direitos, afetar uma multiplicidade de
populações vulneráveis, compreendemos que é fundamental haver um comprome-
timento, um envolvimento das universidades nesse aspecto; porque as organizações
não governamentais sozinhas não têm conseguido dar conta dessa demanda frente
aos desafios colocados, que envolvem não apenas violações pelos estados, mas tam-
bém por empresas, por exemplo. É nesse sentido que temos apoiado esses projetos e
estamos muito contentes de estar aqui e ver os resultados dessa pesquisa.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
ria trabalhar com esse enfoque, pelo menos três desafios: um desafio de natureza
mais epistemológica, que seria pensar um pouco os paradigmas, considerando que
esse assunto Direitos Humanos parece ser um tema que mobiliza um certo consenso
quando o abordamos, mas na verdade a exemplo daquelas questões cruciais que San-
to Agostinho indicava – estou falando Santo Agostinho porque eu estou aqui em uma
universidade católica não é isso? (...) Indicava, se nós não nos perguntamos o que é
todo mundo sabe o que é (...) quando começamos a aferir propriamente a questão
aí começamos a achar que não sabemos nada. Direitos Humanos é um desses temas,
porque parece que todo mundo sabe o que é, é um discurso, entra em todos os recor-
tes de conversação, desde conversação a congressos filosóficos, mas eu tenho dúvida
se nós sabemos exatamente o que são direitos e o que é ser humano. Nós aparente-
mente não temos dúvida sobre isso, mas será? Hegel dizia, por exemplo, que não
nascemos homem – ele não falava ainda em linguagem inclusiva: nós nos tornamos
homem; ele dizia que o homem não era a resultante biológica da sua origem natural.
Ele era um ser histórico; a humanidade era uma construção e, por conseguinte, nesta
construção há graus de humanização, e graus de difícil ingresso na dimensão huma-
nizadora, por exemplo, a própria condição da mulher grega não tinha uma referência
de inclusão, linguagem de gênero, não foi visto como um ser humano completo se-
não muito recentemente, ontem era o dia internacional de enfrentamento à violência
contra a mulher. Por que dias como este existem? Porque essa referência da plenitude
humana na mulher não está dada no contexto da sociedade, ontem tinha um artigo
na Folha de São Paulo em homenagem a Marcio Thomas Bastos lembrando alguns
fatos da sua história de ministro, não a de advogado, e entre os elementos marcantes
dessa história estava, por exemplo, lembrar que ele foi o promotor da reforma do
judiciário pelo encaminhamento das discussões em torno da Emenda 45, o garante
do debate, do desarmamento, estatuto do desarmamento, que ele foi o formulador
da tese da autonomia da Polícia Federal, para que ela não fosse um organismo de
feitoria de capazia do governo, mas com a capacidade autônoma de abrir inquérito
e, por exemplo, atingir o próprio coração da estrutura administrativa, mas lembrava
também que ele foi um dos formuladores de repúdio ao princípio jurídico da legítima
defesa da honra, uma categoria criada para absorver homicidas homens numa cultu-
ra de machismo, porque a recíproca nunca foi verdadeira, porque não há uma única
homicida mulher absolvida pela legítima defesa da honra. Então essas categorias são
categorias em construção. O novo papa tem lembrado que constituir a dimensão de
luta por direitos humanos é uma questão de evangelho, não é uma questão de comu-
nismo, não é isso? Ele lembra que – “não me chame de comunista porque eu estou
pedindo” – e falou num encontro recente em que ele recebeu movimentos populares,
entre os representantes dos movimentos populares o Presidente Evo Morales, que
nunca foi recebido pelo papa porque a diplomacia do Vaticano não lhe dava a admis-
são, entrou na audiência porque foi representado, sendo presidente da república, não
como tal, mas como líder de movimento social indígena, e nesse ponto ele dizia que
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
mês de novembro também completa seu centenário, Raimundo Faoro, Darcy Ribeiro,
etc.. Estamos dizendo, lembrando, que essa dimensão, ou pós-colonial de formação
da nossa sociedade embutiu na nossa identidade elementos de negação, de alienação
do humano, originários do patriarcalismo, do racismo, do machismo, entre outros fa-
tores, que, enquanto tal, são por definição, excludentes, negadores do humano, basta
ver que a gente já tinha em 1824 uma Constituição escrita no paradigma dos Direitos
do Homem, modelo revolucionário francês, segundo qual, conforme a declaração
de 1789, não seria Constituição aquela que não assegurasse a proteção aos Direitos
Humanos, e, entretanto, formávamos numa sociedade que seguiu formalmente esse
modelo, criou uma Constituição com essas características, todo homem nasce livre e
igual, mas isso em 1824, quando o modelo de produção da nossa sociedade, 1824 é
antes de 1888, era escravocrata, e o que era o escravo senão era livre e igual em direi-
tos? Era coisa. O regime jurídico dele era o de mercadoria. Ele podia ser comprado,
vendido. Então, como nós aprendemos no direito civil em relação à coisa, podería-
mos usar, fruir e abusar. E se abusou muito, se fruiu muito.
Esse é um ângulo. O outro ângulo é o do direito, que nós também achamos, se
não nos pergunta nós sabemos o que é, qualquer um sabe, isso é direito, mas quando
nós mergulhamos o problema aparece. Por que de fato nós não temos clareza sobre
o que essa categoria representa. E não temos clareza do ponto de vista epistemológi-
co evidentemente. Por que o modo de configurar o nosso objeto está articulado a
elementos de construção que representam o transitar, como eu disse, paradigmatica-
mente entre modos de conhecer. Por exemplo, a modernidade criou um modo de
conhecer que se inscreve na cientificidade diferente das racionalidades pré-moder-
nas. Hoje se pergunta a qualquer estudante de direito: o que é direito? Ele vai dizer:
a ciência das normas, não é isso? Se na pré-modernidade se perguntasse a qualquer
estudante de direito: o que é direito? Ele iria dizer: é a arte do justo e do bom. Olha
aí a diferença de objeto, o justo e o bom, para as normas, porque em relação às nor-
mas os elementos prescritivos são formais e meramente lógicos. Por exemplo, lei de
segurança é norma, ato institucional é norma. E foi com base nesses artefatos nor-
mativos que se estudava nas faculdades de direito que nós assimilamos ideias de que
as normas são vazias de conteúdo, são expressões de poder, e que cabe tudo, basta
que venha de uma autoridade, ainda que essa autoridade seja usurpadora do que
representa a legitimidade do próprio direito. Isso é banal? Não é. Porque serviu a um
modelo de poder, e pior, é uma evocação atual, por que tem gente à beça, inclusive
jovens, nas ruas pedindo a volta desse poder. Pedindo a volta desse poder. Quer di-
zer, embarcando nessa mesma confusão, de que não sabe o que é direito, e até do
ponto de vista mais elementar. Nós aprendemos na faculdade, se se toma aquela lei-
zinha básica que fundamenta o direito positivo brasileiro, a Lei de Introdução ao
Direito Brasileiro, assim chamada hoje, ela foi chamada no passado de Lei de Intro-
dução ao Código Civil, e que dizia duas coisas: a primeira é que cuidado a nós esta-
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pela democracia. Por quê? Por que inscrito na Constituição pela iniciativa legislati-
va, que agora queremos fechar, dizendo que o decreto exorbitou. Esse decreto que a
Câmara já anulou, espero que o Senado não confirme, mas que não adianta nada
revogá-lo. Porque participação não é um dado cartorário, é um dado da política e
participação nós vamos ter permanentemente, a rua está aí pra isso. Então, o regime
é o democrático. Democracia, diz Marilena Chauí, é invenção, é criação permanente
de direitos, inclusive contra legem. E o outro dado que esse dispositivo da Constitui-
ção indica é que há outros direitos que não o do elenco que derivam da natureza do
regime, mas que derivam também dos Direitos Humanos, por que se refere à adoção
dos enunciados decorrentes dos tratados sobre Direitos Humanos que o Brasil aco-
lhe, e, por conseguinte, em escala internacional há uma contínua formulação de
categorias de novas juridicidades cujo referencial são os Direitos Humanos. Agora o
Ministério da Justiça, Comissão de Anistia e Secretaria Nacional de Justiça editaram
todo o acervo da jurisprudência da Corte Interamericana de Direitos Humanos, em
português, e em impresso e em digital. É um fenômeno de empiria para orientar a
leitura dos operadores de direito, que, todavia, não estudam esses temas na faculda-
de, nem nas suas práticas, pesquisa fomentada pelo Ministério da Justiça, que agora
tem áreas de apoio. O CEJUS, na Secretaria da Reforma do Judiciário com inúmeros
editais para esses temas, a (...) que é “Pensando direito” (...) o primeiro caso, assisti
a apresentação que o Nelson Saule fez lá no Ministério da Justiça, de um dos temas
objeto de pesquisa sobre a questão urbana, os conflitos urbanos, no mesmo dia foi
apresentado um sobre a questão rural, os conflitos rurais, e a nova ministra do de-
senvolvimento agrário escreveu um artigo na Folha de São Paulo para lembrar que
uma “ongzinha”, conhecidamente hostil ao agronegócio, havia formulado aquele
projeto de pesquisa, introduzia a subtração do Judiciário da sua função essencial que
é administrar os conflitos, e era um absurdo que o Ministério patrocinasse isso, e o
Ministro da Secretaria Geral da Presidência Gilberto Carvalho, que estava na mesa
participando do debate fosse o seu fiador. Então, nesse repertório, fiquei feliz de ver
que o Ministro Lewandowski ao assumir a presidência agora, advertiu os magistra-
dos: é preciso considerar essa jurisprudência. Porque essas pesquisas mostraram que
os juízes não conhecem os tratados, não têm conhecimento da sua implicação, e o
ministro dizia que não só deveria levar em conta isso, como deveria também aplicar
do ponto de vista das suas decisões os referenciais contidos nas jurisprudências dos
tribunais supranacionais. Eu li que ali ele estava dizendo que o Caso Araguaia vai ser
revisto, foi o que eu li ali, mas também é o que eu li, que ele disse que não há uma
boa jurisprudência que não se inspire na dimensão dos Direitos Humanos. Mas se
nós não temos referenciais epistemológicos na formação para tal, os Direitos Huma-
nos passam a ser aquilo que os Datenas... E no caso da nossa conjuntura atual, que
a cidadania se tornou a cidadania de consumo e não de direitos, então nós reivindi-
camos coisas, bens, formas de estar socialmente satisfeito e não de ser solidário, esse
perigo realmente existe.
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cação; para você saber dizer palavras bonitas, mas para você também saber agir no
mundo. Agir no mundo para transformá-lo.
Construir os projetos é levar em conta um pouco do que as diretrizes indicaram,
elementos que possam potencializar não apenas as habilidades de memória para sa-
ber da lei, e não precisamos disso, basta um aplicativo; mas saber articular isso, saber
construir as ligações entre os saberes que dão conta desse processo. E uma das formas
é trabalhar no sentido de estruturar as práticas jurídicas. Teoricamente as práticas
foram imitação do modo de divisão do trabalho e da estrutura oficial do país, era
o Escritório Modelo, ainda que muitos deles tivessem ganhado, como daqui, tives-
sem inserido a ideia de assessoria jurídica popular. Aliás, me lembro muito, na 10ª
Conferência da OAB, em que, isso foi em 1990, em que se discutiu os movimentos
sociais, eu até apresentei uma tese sobre a emergência dos novos sujeitos, os sujeitos
coletivos de direitos e seu protagonismo a partir de sua inscrição na prática dos mo-
vimentos sociais e um jovem estudante lá, apresentou uma moção que foi aprovada,
o jovem advogado chamava Nelson Saule Junior, foi aprovada na assembleia final
da Ordem dos Advogados, na sua conferência contra esses limites dos Escritórios
Modelo por que a prefeita Luiza Erundina que havia feito em nome da demanda dos
movimentos sociais uma política pública de acesso à justiça, permitindo que a muni-
cipalidade celebrasse convênios com as Assessorias Jurídicas Populares, e o Tribunal
de Contas vetou isso com base em parecer da Ordem dos Advogados local de que isso
violava a condição de livre-concorrência entre os trabalhos advocatícios. E o Nelson
Saule Júnior apresentou uma moção que foi aprovada, que cabia a OAB apoiar as As-
sessorias Jurídicas por que eram a expressão atualizada das práticas orientadas pelo
diálogo com os sujeitos coletivos de direitos, os movimentos sociais, inscritas, essas
dimensões na leitura das juridicidades emergentes pelo protagonismo criador dos
direitos humanos; está lá até hoje, nos anais da OAB, essa promoção que permanece.
Há poucos dias nos reunimos, os reitores, eu era reitor da UNB nesse tempo, com
movimentos sociais do Tribunal de Contas para defender a possibilidade de criação
das turmas especiais de direitos para assentados da reforma agrária que estavam sen-
do criados com hostilização desta turma da nova ministra (...) Não! Estou pedindo o
seu apoio minha tese, não estou apontando você, (...) Não estou dizendo já fiz a tese.
Estou pedindo seu apoio a minha tese. E que dizia para direito, se ao menos fosse
pedagogia, mas direito para essa gente que no campo não tem nada a ver com ques-
tões que estão ligadas ao jurídico que é um problema ligado à vida da cidade (...) Elas
foram afinal aprovadas, o tribunal se convenceu, não no julgamento do processo, mas
no diálogo com os movimentos, e o Superior Tribunal de Justiça, também, com base
no fundamento dos novos parâmetros de Direitos Humanos inscritos nos discursos
dos movimentos sociais que precisam de um contexto de prática adequada para que
se faça esse diálogo porque os velhos escritórios aplicam normas. Você vai lá fazer
uma consulta, não sinto muito, mas o seu caso não está enquadrado em nenhuma
lei. (...) As novas práticas questionam a lei. A lei não é um ponto de chegada, é um
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
ponto de partida, vão além dela, como faziam os juristas mais críticos do século XIX;
pensem quando eles inventaram a tese das lacunas dos ordenamentos, ou da analo-
gia, ou da possibilidade de princípios, nem é coisa nova, mas questionam e ao fazê-lo
inserem na discussão sobre o reconhecimento de subjetividades que se emancipam
o alargamento contínuo do catálogo dos Direitos Humanos, porque os Direitos Hu-
manos, para encerrar, não são como eu disse nem as leis, nem as declarações, nem os
monumentos ou as ideias, são esses processos de lutas que são constituintes, são pro-
cessos de lutas que são constituintes, constituintes de quê? De novas juridicidades,
de enquadramentos de novos conflitos, de atualização contínua da democracia como
invenção de Direitos Humanos.
São esses três desafios que eu acho importante colocar como uma referência,
inclusive para que as alterações curriculares ou os projetos; olha a capilaridade, mil
e duzentos cursos, mil e duzentos Núcleos de Práticas Jurídicas, fora o que se estru-
tura nas extensões universitárias, por exemplo, lá na minha UnB, fora no Núcleo da
Prática Jurídica, nós temos os Promotores Legais Populares, a Assessoria Jurídica
Popular, Roberto Lyra Filho... e universitários vão as escolas para fazer educação para
os Direitos Humanos, que articuladamente e indissociavelmente, ensino, pesquisa e
extensão, possam potencializar essa tremenda energia realizadora que está colocada,
galvanizada, numa consciência aberta de profissionais que, para serem verdadeira-
mente profissionais, tem que ser sensíveis as dimensões políticas do universo social
em que eles se movem no qual atuam, cada um de nós cumpre uma função teórica,
sim! Técnica, mas orientada por uma função política, social, que nós precisamos
saber articular que é uma das características desses novos modelos que estão em ges-
tação que espero que as clínicas possam se inspirar.
Professor Nelson; agradeço a oportunidade e espero ter podido contribuir.
90
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
jurídica, uma referência de Direitos Humanos, mas que é para mim uma referência
pessoal. Eu me lembro até hoje, nos anos de 1987 que é o Direito Achado na Rua, não
é? Vejam que é pré-Constituição de 1988, eu era estudante da Faculdade de Direito
do Largo São Francisco, na verdade era o ano que eu devia ter me formado, mas eu
não me formei; tive uma crise existencial, enfim, foi bom; me formei depois e o Direi-
to Achado na Rua, eu li muito bem o texto do João Mangabeira, que é tio do Manga-
beira Unger, é tio avô dele, inspirador da vida de Mangabeira Unger como político e
que realmente essa categoria que José Geraldo coloca de juridicidade emergente. Vo-
cês sabem que Américo Brasilense, que é rua em Santo Amaro, que a tese dele de na
verdade de direito na USP é uma discussão sobre a quem pertence o tesouro achado?
Tem uma discussão muito interessante no Código de Civil sobre o título de haver
achado, que é o ato fato jurídico. Que quando você acha um tesouro, você não quer
achar um tesouro, ninguém sai por aqui por Perdizes querendo achar um tesouro, a
pessoa acha, então ela não tem a intencionalidade de fato e esse título do José Geral-
do eu acho que realmente até o professor Tércio comentava comigo que ele achava o
título genial e depois eu fiz um livrinho de entrevista, que eu nunca publiquei, mas
que está aí chamado O direito descoberto no dizer, que é esta questão de tentarmos ver
o direito... sentir o direito, fora do mundo das normas, e aí eu começo o que eu gos-
taria de dizer.. Tem a primeira questão que eu queria abordar; quando a gente fala em
termos de Direitos Humanos e de uma prática de Direitos Humanos, a mim parece
que o primeiro desafio vai ser enfrentar essa discussão com o direito que nós temos
hoje: Brasil vinte e seis de novembro de dois mil e quatorze, e que continua sendo um
direito baseado nas ordens, ou seja, a mentalidade das nossas faculdades de direito,
em sua grande maioria, é essa. Eu vejo apesar dos tablets, celulares, smartphones, eu
vejo vários estudantes das faculdades de direito, eu vejo e acredito, eu vejo mas é um
dado empírico, carregando vade mecums, vade mecums cada vez maiores, cada vez
maiores. E os professores, meus colegas continuam ensinando preponderantemente
as normas. Para desespero dos estudantes de direito, que veem que as normas não
têm nada a ver com a realidade. A primeira tensão que será enfrentada acho que vai
ser essa. Que todos os Centros de Referências em Direitos Humanos, os Departamen-
tos Jurídicos de Direitos Humanos, Clínicas de Direitos Humanos que estão envoltos
nesse grande rol, que o Nelson escolheu muito bem esse nome de Organismos Uni-
versitários de Direitos Humanos, eles vão enfrentar essa tensão em relação ao ensino
do direito tradicional. Mas ao mesmo tempo os Direitos Humanos não vão poder
abrir mão desse direito. Já citei a Janaina, vou citar o Guthemberg Cardoso, vou citar
também a Fernanda Lapa, gostaria de falar da presença da Letícia Osório aqui tam-
bém, que será citada, então citar o Guthemberg para lembrar de uma pesquisa que a
ANDHEP está realizando do incidente de deslocamento de competência que veio via
Emenda Constitucional 45, de 2004, e o único IDC, incidente de deslocamento que
funciona é o IDC da Paraíba, (...) de um defensor e advogado de Direitos Humanos,
o Manoel Matos, funciona por que foi federalizado, mas a federalização não funcio-
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
nou, o e Guthemberg depois explica para vocês por que não funcionou. (...) E por
que não funcionou? Eu estava conversando com o Guthemberg, não funcionou por que
os juízes se sentem ameaçados, por que o judiciário não funciona. E lembrando uma
afirmação que o meu colega (...) em relação à Lei Maria da Penha chegou à conclusão,
depois de anos de aplicação da lei, que a lei não deveria ser aplicada pelo poder judi-
ciário, mas sim por organizações da sociedade civil, como por exemplo as Promoto-
rias Legais Populares. E eu estava falando com o Guthemberg que eu tenho vontade
de colocar isso nas recomendações do nosso estudo do IDC que a federalização não
deveria ser implementada pela Justiça Federal, mas vocês concordam comigo que em
questão da Lógica do razoável, do Recaséns Siches, que eu não posso falar isso. Eu
como professor de direito não posso fazer essa afirmação, mas o que eu posso, e é o
que eu farei, é que as recomendações pelo deslocamento de competência elas devem
ser acompanhadas pela sociedade civil como um todo e nesse “sociedade civil como
um todo” os Organismos Universitários de Direitos Humanos têm um papel, essa
palavra está na moda e essa palavra eu sei que tem a ver com gênero pelo seguinte: eu
aprendi que a palavra estratégia foi inventada ao mesmo tempo que foi descoberto o
valor da dama no jogo de xadrez, a pecinha da dama no jogo de xadrez. Temos que
começar a pensar em termos do feminino e do masculino, como pensamos em termos
de tensão e complementaridade. E nessa dicotomia de complementaridade o direito
talvez seja o masculino, pensando no paradigma de uma sociedade, o modelo hete-
rossexual e falocêntrico e os Direitos Humanos seria o feminino, o que está sempre
ameaçado. E eu começo, estou no meio da minha fala de hoje, a lembrar, e digo isso
a vocês com todo coração que a minha universidade está sendo conhecida por causa
de estupros, e eu não sei se vocês viram que as alunas estudantes do curso de medi-
cina colocaram uma faixa lá ontem e está tendo uma discussão de uma criação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito na Assembleia Legislativa de São Paulo para
discutir estupro na Faculdade de Medicina, e aí o prefeito Fernando Haddad fez uma
afirmação que me parece bastante adequada dizendo: “são esses médicos acusados de
estupro que vão atender mulheres no futuro.” E o diretor da Faculdade de Medicina
escreveu um artigo tentando criar uma estratégia de defesa de que Direitos Humanos
é questão de saúde. Aí eles chamam a turminha dos Direitos Humanos, quando toda
a questão de violência ultrapassa qualquer limite de razoabilidade, chama-se a turma
dos Direitos Humanos. E é bem interessante pensar em termos de estupro porque daí
vemos funcionar normativamente essa tensão e complementaridade entre a norma e
o mundo dos Direitos Humanos que é o mundo dessa juridicidade emergente. Então,
eu peço para os penalistas para que colaborem comigo, por que nós tínhamos crime
contra os costumes, o estupro no qual vítima só podia ser mulher, e o atentado vio-
lento ao pudor. Uma sociedade seja da modernidade líquida, da pós-modernidade, da
hipermodernidade, da modernidade reflexiva, seja lá o que o for, não tem mais senti-
do falar em pudor. Como não tem mais sentido falar em pudor, não tem um tipo pe-
nal do atentado violento ao pudor, mas continua existindo um tipo penal de estupro
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
só que no título de crimes contra dignidade sexual. Nós temos que começar a discutir
não só a questão do tipo penal estupro, mas o que significa um crime contra a digni-
dade sexual. E a mim parece que o crime contra a dignidade sexual extravasa o cam-
po meramente dogmático do Direito Penal, e é uma questão de Direitos Humanos. E
sendo uma questão de Direitos Humanos, e uma questão desafiadora de Direitos
Humanos, e é um desafio absolutamente contemporâneo. Saiu até no destaque, esses
jornaizinhos que se distribuem nos faróis da cidade, está lá a faixa das estudantes de
medicina. Eu como professor estou discutindo isso; eu discuti isso na minha última
aula, no curso de contabilidade, uma outra orientanda minha discutia a milhão com
as meninas da contabilidade gênero, limite e vulnerabilidade, por que acho que te-
mos sim, não que discutir estupro, mas dignidade sexual. E essa discussão de digni-
dade sexual tem que ser uma discussão sem pudor, despudorada. Fiquem tranquilos
que eu não vou fazer uma striptease aqui, talvez eu já esteja fazendo uma striptease
como estudioso da dogmática jurídica. A minha relação de amor e ódio com o direito
vem nessa perspectiva de ver a riqueza do mundo do direito no mundo da juridicida-
de emergente, em vez de vocês, fazendo um salto quântico com o início da ANDHEP,
e é o início também do curso da Federal do Pará, da Federal da Paraíba e da Univer-
sidade de São Paulo, Direitos Humanos, área de consideração do direito, até que de-
pois de exatos sete anos, em 2011, e conseguimos que Direitos Humanos entrassem
na área interdisciplinar da CAPES, a próxima luta é transformar Direitos Humanos
em uma área interdisciplinar própria, o que daria uma qualidade maior para o curso.
Mas nessa mesa que o José Geraldo fez referência, eu fiz as contas, com UFBA, UFG,
UFP, UnB e USP tivemos mais de mil candidatos para os cursos interdisciplinares de
Direitos Humanos que estão absolutamente vinculados, não institucionalmente, mas
no mesmo universo de reflexão com os Organismos Universitários de Direitos Huma-
nos. E eu penso que um dos desafios dos Organismos Universitários de Direitos Hu-
manos é pensar pessoa. E como o José Geraldo falou do Papa Francisco e a última
encíclica do Papa Francisco é a alegria do evangelho. E o Papa Francisco vai falar que
alegria é um dom da pessoa, e pessoa quem é? É um indivíduo em relação. Para os
cristãos uma dita relação de amor, uma dita relação amorosa e o que vai ser dito e que
deus é a pessoa absoluta, e tentando aqui uma figura imagética desse deus como pes-
soa absoluta, pensar no Corcovado, que está sempre de braços abertos, ele está sem-
pre de braços abertos e para ele que estou indo, ao Rio de Janeiro, e é por isso que,
não só por uma razão cristã, que eu ando pensando no Corcovado; mas faço uma
experiência, a experiência da Clínica Luiz Gama de Direitos Humanos, que criaram
uma ouvidoria da população de rua, e esse apesar de ser um caso que na maioria dos
casos é de pessoas de menor renda, é de extrema complexidade, para pensarmos nes-
sa transição de pessoa para sujeito de direito. E apesar de ser uma prática dos movi-
mentos sociais, apesar de ser uma prática que o sujeito envolvido (...) é uma prática
que dá àquele ou àquela que está trabalhando com o tema um enorme enriquecimen-
to no seu raciocínio jurídico.
93
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
A etapa em que estamos atualmente, e que deve ser enfrentada por todos nós de
uma maneira conjunta, a etapa de oferecer uma maior – e aí eu abro aspas – “digni-
dade científica” para todo esse campo dos direitos humanos, que é um campo com-
plexo, porque você tem várias vertentes, tem várias raízes, tem várias perspectivas
de trabalho, e tem uma tensão de complementaridade como eu falei no início com o
campo do direito e a forma possível de oferecer maior dignidade científica para esse
tema é o trabalho de pesquisa e reflexão que os Organismos Universitários de Direitos
Humanos têm como principal tarefa do seu mandato.
Muito obrigado a todas e todos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
com o Roberto Lyra, o pai, era o auge do debate criminal no Brasil. O Roberto Lyra,
pai, era promotor. Ele diz assim: “formei-me em direito por decreto.” Porque ele
dizia que foi aluno ao tempo do Estado Novo e no sítio o ditador considerou, para
superar o problema dos movimentos de rua, diplomáveis todos os alunos que esti-
vessem no último ano do curso, independente de exames, então ele é formado em
direito por decreto. “E nunca, nunca assisti a uma aula de direito penal.” Então, eu
disse: mas Ministro aonde foi que o senhor aprendeu? Ele disse: na faculdade. Aon-
de? Ele disse: “na cantina, nos debates, na conversa de sarau, nos espaços amplia-
dos da classe que não são a sala de aula.” A sala de aula empobrece porque reduz o
campo, focaliza num programa específico, e se perde a diversidade. Essa ideia é dar
intersecção dessas dimensões que não podem ser estanques, têm que ser trabalha-
das com uma criatividade que tomem como referência, que ali são diretrizes e não
uma grade curricular. Olhem a ideia antiga de encadeamento. O outro ângulo é que
lembrando um pouco do (...) que é autor citado na sua tese; que o conhecimento,
inclusive o universitário, só se realiza se atender a um binômio; que binômio? Ele
diz: é pesquisa e autoria. Para que o estudante seja protagonista, não seja autômato,
não seja cabeça cheia, para lembrar (...) ou morram cabeça cheia, depositando ali
muitas informações, mas sejam cabeça benfeita, para que ele problematize. Então,
ele precisa construir essas relações. E no caso dessas diretrizes são dois elementos
que foram indicados, mas pouco explorados e em geral rejeitados pelo burocratis-
mo da gestão curricular. Um é a questão de uma monografia que é defendida em
banca e que é trabalhada por orientação e que precisa refletir a integração entre
pesquisa e extensão. E o outro são as atividades complementares que são exata-
mente sobre o currículo autônomo dos estudantes, aquilo que eles elaboram para
amplificar o tempo de formação, expandir o seu universo. E que deve ser feito por
iniciativa dele, estudante, em temas que ele selecione, em que as direções não po-
dem interferir, elas podem validar, no sentido de apropriar, pra ver a pertinência,
pra evitar a gincana das horas complementares. Mas no seu valor elas são uma auto-
nomia do estudante de construir um programa que eles criticam no formalismo do
programa oficial. Como eles querem o curso. Com quem que eles querem dialogar,
como eles querem expandir. Por que o curso por mais que se alarguem as horas,
nunca vai dar conta de todos os temas que existem. Se nós colocarmos no progra-
ma todos os temas que existem por demanda de alunos, por demanda de professo-
res ou do campo, o currículo teria que ter 500 disciplinas. Então, não é possível,
mas os estudantes expandem, porque eles amplificam o tempo de permanência e
constroem suas semanas jurídicas, seus seminários, seus eventos, e aí eles chamam
quem eles querem, os temas que eles querem e a forma como eles querem dialogar
a apropriando tudo isso ao currículo pelas atividades complementares ou pela ex-
tensão, que algumas universidades já apropriam o crédito de extensão porque têm
alguns movimentos chamados extramuros que querem a extensão como elemento
integrador do currículo.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Graça Xavier
Bom dia! Eu sou a Graça Xavier, coordenadora dos movimentos de moradia. Eu
estava ouvindo as duas palestras e achei o tema bem interessante, porque eu sou for-
mada em direito, mas tenho essa relação de amor e ódio. Não gosto do direito porque
discordo de uma série de coisas que não funcionam na prática. E falando da matéria
em si, do curso de direito, ouvindo as duas falas eu fiquei convencida que é importan-
te ter essa matéria. Porque eu fiz o curso de direito, então você escuta falar de Direitos
Humanos só aquilo que os meios de comunicação falam, só a parte ruim dos meios
de comunicação. Você não conhece de verdade o que tem por trás da área de Direitos
Humanos. E eu só vim aprender quando eu comecei a fazer curso específico na área
de Direitos Humanos, que tem todas as violações dos direitos e as ferramentas do
direito que não são usadas na proteção daqueles que deveriam ser usadas. Tem uma
pergunta que eu gostaria que (...) que é sobre o papel do judiciário. A cada vez que
encaminhamos as coisas, percebemos que vem a decisão completamente contrária
àquilo que acreditamos que deveria ser resultado do judiciário. Então, eu pergunto
sobre essa questão do judiciário e essa questão da matéria no curso de direito, da
questão de prática; falou-se bastante sobre a questão de não só aprender na sala de
aula, aprender fora de aula. Claro que há essa questão da grade curricular mesmo,
essa questão das experiências, da vivência na prática, no dia a dia, que nós aprende-
mos muito mais que mesmo no curso de direito.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Delana Corazza
Meu nome é Delana, eu sou socióloga. E na verdade conversando com uma
advogada que trabalhou no Escritório Modelo, ela me contou um episódio no debate
do direito à moradia com uma juíza que não conhecia um programa que é o auxí-
lio-moradia, que eles dão um certo valor para as famílias que não é suficiente para
eles adquirirem casa. Ela foi explicar esse programa e começou a falar do processo
de urbanização da cidade de São Paulo, explicando para a juíza, e a juíza a cortou na
hora dizendo: “olha, aqui vamos falar de lei, não de política!” Esse é um parêntese.
Também tive a oportunidade de trabalhar no Escritório Modelo como sociólo-
ga, numa equipe interdisciplinar, e eu lembro que tinha uma questão que era muito
forte que era montante de trabalho. De alguma maneira, os estagiários do direito que
trabalhavam com regularização fundiária, eles tinham um montante menor do que
se esperaria para um estagiário de direito, de petições, tudo. E esse era um grande
desafio, porque para cada petição o estudante ia até a favela, ia até a comunidade,
conhecia a história de cada morador, tinha que pensar de toda estrutura, tinha uma
questão da própria formação em direito, então articulava-se com outros movimentos
sociais e com outras organizações para essa questão da formação.
Esses dois exemplos são: o desafio é, como o próprio direito, a própria univer-
sidade de alguma maneira cobra que um tipo de postura, e quando você inova pensa
em ampliar esse olhar, há uma resistência pela própria faculdade e pelo próprio estu-
dante que fala: “eu vejo que o meu colega faz um monte de coisas que eu ainda não
aprendi, por que eu estou indo nessa favela?” Então, eu gostaria que o senhor falasse
um pouco desse desafio.
Respostas
Prof. Nelson Saule Júnior
Acho que uma das preocupações que nós temos é o limite entre a prática de di-
reitos humanos que é desenvolvida numa instituição acadêmica com relação à prática
de Direitos Humanos que é desenvolvida por exemplo dentro de uma entidade que
desenvolve um apoio para defesa dos Direitos Humanos, sejam ONG’s, os próprios
movimentos sociais como é aqui o movimento de moradia, que tem as Assessorias
Jurídicas populares que dão apoio para suas lutas sociais. Podemos pensar que essa
própria questão que você colocou, as distinções desses vários tipos de atuação, como
elas podem ser, nessa perspectiva mais institucional do próprio ele é incorporado.
Porque aqui mesmo na PUC se verificarmos antes das diretrizes do MEC, tive-
ram várias gerações que trabalharam com advocacia popular, direitos humanos, mas
fora da Universidade. Eram profissionais formados aqui. A maioria, vindos dos mo-
vimentos estudantis, já tinham uma base de uma formação política e social, e aí pas-
saram a desenvolver várias organizações que atuaram na Assessoria Jurídica Popular.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Foi importante, formou muita gente, mas ao mesmo tempo não teve uma repercussão
dentro aqui da Universidade. Hoje é o contrário. Nós temos um Escritório Modelo,
um grupo de profissionais, de estudantes de várias áreas, e temos tido uma maior
dificuldade na perspectiva de ampliação da atuação dessas assessorias populares fora
dos campos mais institucionais pela conjuntura da realidade que nós temos de apoios
financeiros para estar nesse trabalho.
Então, como você vê isso numa possibilidade de potencializar novamente até
dentro do estímulo as universidades e como uma perspectiva da própria formação
dos estudantes, da própria perspectiva de ensino do direito; essa possibilidade de
potencializar essas ramificações que vêm justamente da rua, que não vêm aqui da
academia. Como é que se pode ir criando esses laços numa perspectiva mais estraté-
gica pedagógica a respeito de uma diretriz, por exemplo, que esteja sendo colocada aí
dentro da perspectiva do ensino do direito?
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
versidade, têm políticas de cotas para índios, para negros, então não quer dizer que
não tenha mérito, embora, como eu disse, se todo mundo está diplomado qualquer
um poderia entrar. A escola tem que ser bem aparelhada para torná-los diferentes na
entrada e fazê-los iguais na saída.
Na nossa política de cotas, isso acontece. Não há uma relação de inferioriza-
ção na saída, só há uma separação na disputa. Tem nota de corte para todo mundo.
Os que concorrem ao vestibular de cotas concorrem entre si, mas têm que ter de-
sempenho, senão não entra. Por isso, quando eles estão lá dentro eles saem iguais.
Aliás, em algumas áreas até (...) por que entram fatores subjetivos, aproveitar a
oportunidade, se organizar do ponto de vista da luta política pela conquista. Uma
das provas que juntamos em defesa das cotas foram fotografias de antes e depois. As
primeiras fotografias eram da Escandinávia, a segunda era da sociedade brasileira.
Essa questão deriva daí.
Quais os problemas que precisam ser enfrentados em decorrência dessa com-
plexidade? Quer dizer, a reforma do ensino em direito jogou para o sistema sele-
tivo tanto de acesso quanto de habilitação de profissões, concursos pras carreiras
jurídicas e exame de ordem para a advocacia. Uma sugestão de que as perguntas
não podem ser apenas mais competição de memória, elas têm que ser articuladas,
desenvolvidas de forma problemática, por exemplo, o ENEM tenta trabalhar a tese
da interdisciplinaridade e de ligações dos saberes, uma pergunta nunca é de uma
matéria só, é de muitas matérias, articuladas e qual a solução do mesmo modo é
dada, você entrega texto de lei, por exemplo, no ENEM pode consultar, agora a
metodologia do ensino qual é? Proíbe consultar. Quando um advogado recebe um
pedido ele diz: vou estudar seu caso. Quando o juiz vai dar uma sentença e ele diz:
Vou examinar os fundamentos. Quando o professor chama o estudante de direito
proíbe ele. Eu tentei seguir o modelo dos exames, minhas provas podem ter con-
sulta e pode conversar à vontade, mas eu dou problemas, não dou perguntas de
memória. Pode consultar à vontade. Eu pego questão de jornal.
No primeiro provão, os alunos me perguntaram: que livro devo levar no exame?
Porque muitas escolas davam kit provão, quer dizer, livros novos para os alunos, por
que eles não tinham o hábito de usar, porque o professor só ditava, ditava. Eu falava,
leve um livro com o qual você esteja familiarizado, que saiba consultar, que saiba
manusear. Têm essas questões e as provas têm que tentar se ajustar a isso. O exame
da ordem já tenta fazer isso. Introduziu os Direitos Humanos, questões de sociedade
não apenas de técnica, mas é um exame de certificação, porque é um exercício pro-
fissional então pressupõe alguns requisitos, por exemplo, se fizer uma petição pre-
judicando o interesse do cliente o juiz representa contra o advogado na Ordem dos
Advogados para que se abra um processo disciplinar por inépcia, por incompetência,
por incapacidade. Então, é um exame de habilitação, o outro é um exame de admis-
são, quer dizer, então eu tenho que trabalhar essas estratégias.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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zer assim: não dá para separar política de direito. O Supremo inclusive dialoga com
isso, abre audiências públicas para a sociedade, nessa Ação de Descumprimento de
Preceito Constitucional do caso das cotas o ministro relator, que por sinal era o atual
presidente Lewandowski convocou uma audiência pública, ouviu toda sociedade,
ouviu Demétrio Magnoli, ouviu a menina que entrou com a ação que foi aluna nos-
sa na faculdade de direito da UnB. E depois eu fui ao ministro Lewandowski e disse
olha a tese dela está aqui, e foi uma das dez que foram defendidas sobre esse tema, as
outras nove dizem outra coisa.
Então, essa tensão existe, e isso está sendo a novidade no sistema em que a nossa
cultura social e aqueles vícios da nossa origem; quais são os vícios da nossa origem?
Eu mencionei três: patriarcalismo, patrimonialismo, machismo; mas têm outros: tem
coronelismo, tem clientelismo, tem nepotismo, tem “prebentismo”, tem cunhadismo;
tudo isso são categorias de autores do seu campo. Não é isso? Incluindo um que ce-
lebra 100 anos de vida – se vivo estivesse – neste mês de novembro: Victor Lins Leal,
que escreveu “Coronelismo e (...) de voto”, para falar da transição de uma cultura de
favor para assumir uma cultura de direitos. E os direitos são republicanos; têm que
ser constituídos na esfera pública, no diálogo, na formação livre de opinião. Esse é
um problema tenso, por quê? Porque o nosso colonialismo ainda não foi superado;
e a nossa cultura de conhecimento é recente do ponto de vista da sua estruturação.
Por exemplo, na América do Sul, as universidades existem em países de origem
espanhola desde o século XVI; São Marcos no Peru, muito por conta dos jesuítas;
Santo Domingos; Córdoba, na Argentina, que mudou o paradigma de universidade
no mundo. Essa reivindicação que temos de eleger reitor, de ter paridade, é de Cór-
doba, da plataforma de Córdoba, e entendendo que a universidade não é uma torre
de marfim, mas é um lugar de construção, de interlocução e de saberes. A nossa,
quando é que foi criada? Século XX! Século XX. Então, para quem foi criada? Para
a elite burocrática, diplomática, e da magistratura, que confirma o mundo dos que
trocam favores.
Porque transformou os referenciais de uma classe patrimonialista, machista,
racista, no direito comum, ungido pelo estamento judicial que é extraído dessa
classe. É assim que não só a magistratura – que é toda ela formada pelos bacharéis
de direito – como a política: até 20 anos atrás, 90% dos presidentes da República
eram bacharéis em direito; e até quatro anos atrás nunca tínhamos tido uma presi-
dente mulher, não é isso? Então, essa tensão que está aí colocada é a agenda suben-
tendida a toda discussão que a gente faça, porque temos que discutir currículo, com
relação à atualização das questões técnicas, das questões profissionais, das questões
políticas, das questões sociais.
Mas tem que discutir também isso que vocês estão chamando organismos uni-
versitários; como eles se estruturam, como eles dialogam para além do universo
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
tradas ou não, que diziam: com base na legalidade que está aí eu não consigo nada;
então há um direito que sustente a minha tese? Eu disse: há! E tem vertentes teóri-
cas pra sustentá-lo e vertentes políticas pra legitimá-lo. Como o que está aí, que tem
vertente teórica pra legitimar, e vertente política pra legitimá-lo. A tese do Estado
como criador do direito, e a tese da sociedade como realizadora do direito. A tese
do monismo jurídico, que é hipótese da possibilidade do monopólio da jurisdição
pelo aparato institucional; e a tese do pluralismo, que a tese de convencimento de
que quando o Estado declara só declara, mas têm direito de produção, e às vezes de
competição, o que precisamos desenvolver são os critérios de aferição, de legitima-
ção política e teórica; o que aparentemente agora os juízes se dão conta; que eles
não são neutros, mas têm tecnologia suficiente para ajudá-los a serem objetivos;
que eles não são deuses ou iluminados, onipotentes. Mas eles têm que dialogar, têm
que ouvir, têm que construir sentido. O que um pouco a universidade também está
começando a fazer. Graças a educadores como Paulo Freire, que foram mostrando
a necessidade dessa construção de espaços de interligação entre os saberes, Edgard
Morrant. A partir desses instrumentos, é ver como é que se dá o diálogo entre os
saberes, a ligação entre o conhecimento que habilita e domínio das competências
que derivam disso e que são sempre renovadas, a cada dia temos capacidade de
fazer essa renovação, e ir experimentando, a maravilha da contemporaneidade pa-
radigmática é que tudo é experimentação.
Aliás, Boaventura de Sousa Santos diz isso também, vi que ele também é parte
da sua bibliografia. O Estado é uma experimentação, por isso que discutimos; parti-
cipação, democracia direta, tudo é experimentação. O conhecimento é base de pro-
cessos de experimentação. As formas organizativas são formas também. Tem que ir
experimentando. Tem lá o Escritório Modelo, vem o Núcleo de Prática Jurídica, um
e outro são capazes de fazer esse campo de validação experimental. Por exemplo,
os juízes começaram a descobrir um monte de coisas que eu acho – e a professora
poderia induzir a Ford a fazer o que outros setores já estão fazendo – os catálogos,
os atlas, as cartografias das práticas experimentadoras de renovação. Por exemplo, a
senhora disse que está fazendo esse acompanhamento: faça um catálogo disso, defina
o paradigma, como se construiu a metodologia; e aí qualquer outro vai poder dizer
assim: “se eu soubesse que podia ser feito assim, eu tinha condições de fazer igual
ou melhor”. O prêmio Inovare, que é da Fundação Getúlio Vargas com o Conselho
de Justiça e o Ministério da Justiça, pega coisas que os juízes estão fazendo, justiça
comunitária, por exemplo, ou outras estratégias de mediação, que sem reduzir a qua-
lidade da ação judicante, reduz a arrogância adjudicadora. E permite que as partes
construam formas de solução para os seus conflitos. Então, os prêmios. As pessoas
têm essa metodologia ao longo da história.
Rousseau, por exemplo, ficou famoso por quê? Porque ganhou um prêmio
da Academia de Dijon defendendo uma tese de monografia que se fazia naquele
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Lyra dizia ciência, filosofia, arte, experiência mística; quando o último cientista
chegar ao topo da montanha do conhecimento, vai encontrar lá sentadinho esperan-
do por ele um místico, que não sabe como chegou lá, porque ele não reflete casuisti-
camente, causalmente: ele se transporta, no meio de seus êxtases ele se projeta, mas
chega lá; Santa Tereza... chega lá! A racionalidade não está porque você seleciona um
modo de conhecer, está porque você integra todos eles. Acho que é preciso trabalhar
todas essas questões.
O positivismo é uma vertente, porque trouxe um dado empírico que colocou
um obstáculo à abstração metafísica; você imagina uma coisa assim como os juízes
fazem, na primeira, deixa que a minha bela alma se expanda, aí eu vou atrás da
legislação: eu já vi juiz do Supremo dizer isso, é uma epifania; então o positivismo
superou isso porque disse: “não, vá demonstrar, vá buscar o causal, vá buscar o
nexo causal disso.” Agora, ele reduziu. Ao reduzir, ele empobreceu o conhecimen-
to, porém, ele não é uma arbitrariedade, ele é um viés e, como tal, retórica, e em
última análise ideologização; então, é preciso ter clareza sobre a dimensão ideoló-
gica – mas também clareza sobre a construção explicativa, e aí saber o que é feito,
acho que é importante saber os códigos, por exemplo. A civilização construiu um
instrumento de defesas de garantias por meio desses instrumentos, que temos que
saber usar, temos que saber fazer. Uma oficina de Direitos Humanos que ensinar a
fazer habeas corpus, tem que dizer que qualquer um pode fazer; como os presos já
aprenderam, eles fazem habeas corpus até num papel higiênico, e chega ao Supremo.
Então, tem que pensar a crítica, mas tem que lembrar que o formal, o científico,
construiu também referências de busca de aproximação ao objeto que é praticável,
mas praticável com um olhar emancipatório, não constrangedor. Precisamos co-
nhecer como a Teoria do Direito Constitucional opera; o que é poder constituinte;
precisa conhecer, para poder, por exemplo, fazer a discussão agora do plebiscito, da
reforma política; precisa conhecer, senão eles vão dizer: “não pode porque a teoria
diz que não pode!” Uma teoria diz que não pode, a teoria que no século XIX funda-
mentou o constitucionalismo nascente do Estado Nacional em formação; mas que
não parou naquele modelo do século XIX, e que hoje pode até ter características
dessa experimentação que levou Boaventura de Sousa Santos a dizer que o Estado
em alguma medida um novíssimo movimento social; não por acaso ouvimos essa
discussão no debate eleitoral recente.
Então, tem que ter a crítica, mostrar os limites da formação jurídica, reivindi-
car um papel social novo, mas tem que saber operar nesse campo, tem que estudar.
A clínica tem que também dar elementos de validação científica aos Direitos Hu-
manos, dialogando com os elementos interculturais, filosóficos. Lamentavelmente,
porque estamos emergindo, temos que ser mais, porque tem que ser técnico e polí-
tico, tem que ser teórico e prático, tem que ser científico e interdisciplinar; é uma
tarefa, essa é a tarefa de quem inova, tem que assumir essa responsabilidade. Os
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
outros não, se encastelam e (...) Há que mudar tudo? Arruma uma lei e sem proble-
ma, fica lá, está resolvido. Temos que dizer mais paciência, por isso, que estamos
aqui e eles estão lá.
(...)
Eu fui à Bahia recentemente participar de um evento de lançamento de um atlas
das ocupações de Salvador, o evento era na universidade, e a pesquisa era assinada
por muitos acadêmicos, mas também por representantes dos movimentos sociais,
a pesquisa foi formatada e realizada e interpretada por uma mesa de acadêmicos e
membros dos movimentos sociais; e apresentação foi feita do mesmo modo, quem
apresentou a pesquisa foram os dirigentes, os autores populares da pesquisa. Dá para
fazer isso.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Foram feitos recortes na pesquisa; e como o professor José Geraldo bem colo-
cou, há uma diversidade muito grande nas universidades sobre formas de organiza-
ção de organismos universitários de direitos humanos, desde centros de defesa de
direitos humanos, clínicas de direitos humanos, centros de referência em direitos
humanos, que não necessariamente estão vinculados aos cursos de Direito. Até pelo
objetivo da pesquisa, tivemos que fazer um corte de não abranger toda essa diversi-
dade (o que fica como uma questão até de recomendação da nossa pesquisa, que isso
é uma necessidade de ser feito, essa sugestão do catálogo, do mapeamento ainda pre-
cisa ser feito). Buscamos fazer um corte linear pegando os cursos de Direito, focando
principalmente na graduação, mas também não excluímos a possibilidade de fazer o
mapeamento das clínicas e outros organismos vinculados aos programas de pós-gra-
duação do Direito.
Inicialmente, nós fizemos um roteiro da pesquisa com várias questões relacio-
nadas à perspectiva de identificarmos e mapearmos melhor os componentes rela-
cionados à forma de organização desses organismos, desde a perspectiva de a forma
da composição entre professores, profissionais, alunos, setor administrativo; ter um
olhar mais apurado de como estão estruturados esses organismos, qual a sua relação
institucional na universidade, qual o grau de institucionalização desses organismos
dentro das universidades, dentro dos próprios programas de Direito.
Outro campo que também pesquisamos diz respeito à forma de atuação desses
organismos, no sentido de se trabalham com uma dimensão, uma perspectiva dos
direitos humanos de um trabalho mais de direitos individuais; se trabalham também
com a perspectiva de direitos coletivos; quais são as temáticas com as quais esses
organismos estão trabalhando; o campo de abrangência: se trabalham numa perspec-
tiva de uma determinada cidade, uma determinada região; então, essa extensão da
abrangência territorial também foi uma questão importante que buscamos identificar.
Há o campo também relacionado a qual é o público com o qual esses organis-
mos têm trabalhado: se são grupos sociais vulneráveis mais específicos; se são apenas
para organizações da sociedade civil, se trabalham com uma comunidade dentro de
um determinado território; a identificação também do público-alvo desses organis-
mos foi um outro elemento que nós buscamos identificar nessa pesquisa.
E os parceiros com quem esses organismos estão trabalhando, se estão traba-
lhando com movimentos sociais, com organizações não governamentais, se estão
trabalhando com governos, se estão trabalhando com a Defensoria Pública, se
estão trabalhando com o Ministério Público; enfim, quais são as parcerias, quais
são os campos de trabalhos de parcerias e de alianças que esses organismos tenham
desenvolvido.
E por fim, outro ponto importante diz respeito à questão da sustentabilidade;
como esses organismos têm uma sustentabilidade, tanto na perspectiva institucional
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
e financeira; como é estruturada a parte dos recursos dentro desses organismos tam-
bém foi outro ponto que nós identificamos.
E nos boletins que nós já publicamos há alguns resultados; está até sendo feita a
sistematização desses cenários numa amostragem que nós conseguimos abranger de
um conjunto de instituições que nos responderam à pesquisa.
Nós temos uma amostragem de um número de mais de oitenta instituições que
chegaram a nos responder, dentro de um universo bem maior; principalmente a maior
dificuldade de termos um retorno foi das universidades privadas, das faculdades de
direito privadas; e depois para que nós tivéssemos um aprofundamento um pouco
maior sobre os próprios retornos que foram feitos dessas instituições, nós selecio-
namos e identificamos algumas instituições que pelo próprio roteiro, pelas próprias
respostas nós consideramos que poderíamos estar estabelecendo um pouco mais de
segurança, uma qualificação maior sobre essa diversidade dos organismos. Algumas
a Íris já apresentou; nós selecionamos por regiões, na região Norte, Nordeste, Sul,
Sudeste, algumas instituições que foram campo de uma investigação um pouco maior
para o desenvolvimento dessa pesquisa.
Fruto desse trabalho, há alguns elementos que nós estamos considerando como
importantes para pensar essa proposta pedagógica, com relação a principalmente os
desafios que nós temos considerando essa diversidade (ou até multiplicidade) de or-
ganismos que podemos ter como possibilidade de constituirmos nas universidades;
considerando principalmente os núcleos de prática jurídica, os Escritórios Modelo
(como é o caso aqui da PUC), as clínicas de direitos humanos (como são as clínicas
que nós temos na UNIRITTER; em Joinville e na Universidade Federal da Paraíba, a
do Pará e outras universidades), os serviços de assistência jurídica (SAJU’s, que são
organismos universitários que temos em várias universidades), e têm os centros de
referência e um conjunto de organismos que a gente considerou.
Baseado nessa diversidade, nós estamos trabalhando com algumas questões que
consideramos importantes para a perspectiva de pensar nessas diretrizes para pen-
sarmos como deve ser a forma do desenvolvimento desses organismos universitários.
Um dos pontos que estamos levando em consideração diz respeito ao papel que esses
organismos têm dentro das próprias universidades com relação a qual deve ser o grau
de institucionalização no ensino jurídico e no ensino superior desses organismos.
Enfim, como se deve estabelecer uma institucionalização que fortaleça a proxi-
midade desses organismos universitários de direitos humanos terem condições para
desenvolver as suas atividades, as suas funções, as suas missões, buscando ter um
corpo qualificado de professores, profissionais, estudantes, e podendo desenvolver as
várias possibilidades de trabalho, de atuação dentro desses organismos. Essa é uma
questão importante que nós verificamos na pesquisa, que há uma fragilidade ainda da
institucionalização desses organismos perante as próprias instituições, por exemplo:
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
em muitos casos, não se tem nem um coordenador bem definido para esses organis-
mos; ou esse coordenador não tem um reconhecimento institucional para essa função
dentro da instituição; muitas vezes é um trabalho parcial de um professor que vai
desenvolver um trabalho dentro desses organismos. Então, essa institucionalização
passa pelo próprio reconhecimento dos profissionais, dos acadêmicos professores e
de uma estrutura necessária para o desenvolvimento do trabalho.
O segundo ponto que vem (...) com o que o prof. José Geraldo colocou, que
precisaremos refletir um pouco mais agora, aprofundar: se é pertinente nós pensar-
mos como estratégico, dentro da perspectiva da prática de direitos humanos a adoção,
como institucionalização, da matéria de direitos humanos, seja como uma disciplina,
conhecendo, claro, e tendo como ponto de partida que há uma diversidade cultural
no nosso país (para pensarmos nas questões dos direitos humanos na região da Ama-
zônia, por exemplo, vai ter uma perspectiva de dimensão de determinados temas
e assuntos que vai ser bem diferente aqui da região Sudeste, pelas características,
pela questão até da diversidade cultural). E, portanto, até na perspectiva de fazer um
programa nacional de uma matéria de direitos humanos, temos que considerar essa
diversidade cultural existente, e também as próprias realidades sociais, que são muito
distintas nas diversas regiões do país. Então, esse é o outro ponto que estamos levan-
do em consideração para pensar o estabelecimento dessas diretrizes.
A outra diz respeito a como se estabelece a interface de uma matéria, de uma
área de conhecimento de direitos humanos com os organismos de prática de direitos
humanos. O professor Jose Geraldo traz aqui uma provocação: será que então a pró-
pria matéria não deve ser a prática dos organismos de direitos humanos, e daí você
passa a estabelecer algumas áreas de estudos e de conhecimento, de pesquisa, para a
formação dos estudantes, todos os que estão envolvidos nesse programa de educação
em direitos humanos nas universidades? Delinear uma diretriz, claro que precisa ter
essa vinculação, porque, pego aqui o exemplo da PUC: nós temos a matéria de di-
reitos humanos dentro do curso de direitos humanos, mas necessariamente ela não
é uma matéria que está vinculada ao campo do Escritório Modelo da PUC. Não há
essa vinculação clara, definida, dentro do programa aqui da PUC, por exemplo. E
nós verificamos que isso também é uma situação mais geral. Então como é que nós
trabalhamos com essa interface das matérias com os organismos de prática de direi-
tos humanos e a potencialidade da produção do conhecimento fazendo essa relação
dentro do campo do ensino com a prática dos direitos humanos?
Outra diretriz também que temos que considerar como uma questão importante
é qual o papel desses organismos na formação dos estudantes. O Pedro colocou aqui
uma preocupação dos estudantes em ter mais uma formação técnica ou mais legal, e
qual seria então o papel dos organismos de direitos humanos? É ser um contrapon-
to ou ser um organismo que estabelece outra possibilidade, outras aberturas para a
formação dos alunos dentro do curso, no sentido de ter essa oportunidade que se
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
quebre essa perspectiva de todos os que saem dos cursos de direito tenham, como foi
colocado pelo prof. José Geraldo, perspectiva de ter estudado não dentro de um curso
de direito, mas sim num curso de normas. É uma questão relevante pensar qual deve
ser dentro de uma diretriz de uma educação em direitos humanos no ensino jurídico,
qual deve ser o papel desses organismos nos estudantes.
Por exemplo, uma questão importante, todos os estudantes do curso têm que
passar pelos organismos de prática de direitos humanos? Um curso como o da PUC,
que tem quase 2.000 alunos, como se faz isso, qual é o desafio entre você ter uma
perspectiva de uma qualificação dos alunos na área de direitos humanos, ou um grau
de dedicação dentro de um curso que possa estabelecer essa perspectiva? Hoje nós
temos, claro, uma prioridade nas matérias tradicionais, que os alunos ficam cinco
anos estudando, como é o direito civil, e no máximo se pode pensar que esses alunos
vão ter seis meses para estar atuando ou participando de uma experiência, uma vi-
vência? Será que é isso que nós queremos? Ou será que é inverter, será que não seria
o ideal para os alunos terem durante cinco anos, estarem na prática de organismos de
direitos humanos, tendo algumas vivências, experiências diferenciadas? Essa é outra
questão que estamos colocando.
Outro ponto que é também um ponto que identificamos – que não é só a
questão dos estudantes, porque se não existe essa formação no curso de direito,
quem vão ser os protagonistas na perspectiva acadêmica desses programas, desses
projetos, quer dizer: nós temos que formar professores com esse perfil, com essa
qualificação. Tem que haver uma estratégia de como isso se dá: se vai-se estimular
com os programas que já existem de pós-graduação em direitos humanos, se isso
passa a ser uma necessidade estratégica de pensar essa dimensão de forma mais es-
tratégica no país; porque você tem algumas experiências em algumas regiões e em
algumas outras você não tem nenhum programa de pós-graduação estratégico, para
pensar na formação de professores e pesquisadores e acadêmicos na área de direitos
humanos. Isso tem que estar pensado numa proposta pedagógica, numa estratégia
de um plano pedagógico.
Prof. José Geraldo estava falando que os juízes estão fazendo uma reflexão sobre
a sua função, sua missão dentro dessa realidade; e os professores: vão ficar totalmente
isentos disso? Quer dizer: continuam como se estivessem todos aqui fechados numa
sala de cristal e não ter nenhuma perspectiva de potencialização, de uma qualificação
ou, quem sabe, até uma requalificação? Esse é outro ponto.
O outro ponto também diz respeito se é estratégico ou não, para esses orga-
nismos, não só pensar na perspectiva dos estudantes das universidades, mas outra
questão fundamental que é a formação, qualificação de profissionais para o campo
dos direitos humanos, e não só profissionais pensando em advogados. Aqui está a
Delana Corazza, que teve uma experiência muito rica como socióloga no Escritório
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Essa motivação foi importante, porque era exatamente ver o que eram os anti-
gos espaços que se têm hoje dentro dos cursos de direito, e os novos, e o que hoje
estão fazendo os antigos espaços também, e como eles dialogavam. Num primeiro
momento, foi um pouco a ideia de fazer um mapeamento, que é o que vocês vão
perceber no boletim e no relatório final da pesquisa, que é um levantamento de
dados, que foi através de entrevista, foi enviado para as universidades; o Nelson já
comentou um desafio que foi o problema da resposta, a quantidade, o que geral-
mente tem no decorrer de pesquisa (...).
Mas o primeiro recorte desses espaços acabou ficando: núcleos de práticas
jurídicas e Escritórios Modelo, centros de referência em direitos humanos, e den-
tro deles a ideia da assessoria jurídica universitária popular, alguns como o SAJU,
outros dentro de Escritório Modelo (como aqui na PUC, que faz assessoria jurídica
universitária) e dentro do centro de referência, por exemplo, que também tem as-
sessoria jurídica universitária; e as clínicas de direitos humanos, que é esse outro
espaço que está surgindo; tem algumas no Brasil, e que nós começamos a mapear
todos esses espaços.
Foi um pouco ver esses espaços, a motivação toda (...) não sei se vocês co-
nhecem um pouco o processo de reformas curriculares dos cursos de Direito, mas
nós tivemos alguns impactos aqui entre documentos formais. Tivemos em 94 uma
portaria específica que foi a primeira revisão das diretrizes curriculares do curso
de direito, e que foi onde surge exatamente o núcleo de prática jurídica, como um
espaço de prática: na década de 90.
Em 2004, temos outra resolução do MEC, que é a Resolução nº 09, que de
novo vem complementar essa revisão de 94: foram dez anos, e agora estamos em
2014; então, na nossa lógica (...) parece que nós fazemos ciclos, que a crise é cons-
tante, quando estudamos direito, trabalhamos com educação jurídica, vemos que a
crise é algo que está aí no dia a dia, todo mundo está vendo os problemas da nossa
formação, dos nossos profissionais, que saem dos cursos de direito, conseguimos
ter dados para diagnosticar esse problema; então eu diria que a crise do ensino ju-
rídico já é antiga. O que temos visto são essas tentativas de revisões e de reformas
de como podemos mudar um pouco esse quadro. Estamos novamente nesse pro-
cesso (...) porque mesmo na pesquisa nossa, que foram esses vários espaços, cada
um de nós tinha uma experiência: eu tinha experiência em clínicas, o Guthemberg
da Paraíba tinha experiência em centro de referência, as outras aqui também em
clínicas, o prof. Nelson em Escritório Modelo; então cada um tentou contribuir um
pouco, obviamente com a sua experiência pessoal, e que, no meu caso, é de clínica
de direitos humanos.
Qual foi o primeiro desafio de mapear clínicas no Brasil, de forma geral? Pri-
meiro, por ser recente; segundo, será que toda clínica de direitos humanos tem o
nome “de direitos humanos”, ou – eu tenho uma “clínica de meio ambiente”: eu
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
enquadro isso dentro de clínicas de direitos humanos? Há uma clínica aqui na FGV,
por exemplo, em São Paulo, onde tem seis clínicas jurídicas; há uma clínica de di-
reitos e empresas, então isso entra em clínicas de direitos humanos? Tem o nome,
entra, mas e a clínica de (...), apesar de fazer trabalhos; então, um primeiro recorte
ficou talvez difícil pela terminologia.
(...) só para trazer que, dentre algumas clínicas que foram encontradas, temos
algumas que são realmente só um esboço, de algumas que existem que consegui-
mos localizar e enquadrar como clínicas de direitos humanos. A Federal da Paraíba
tem o centro de referência, mas eles estão num processo de construção dessa ideia
de uma metodologia clínica; outro espaço que não é o centro de referência, não é
um núcleo de prática, mas que seria uma clínica: a Federal do Pará; a Federal do
Mato Grosso; a USP, que até o prof. Guilherme comentou, que é a Luiz Gama (não
sei se tem alguém aqui da Luiz Gama), que também já tem uma natureza diferente
das outras, que isso também fica interessante, que é mais dos estudantes; a UNIVIL-
LE, da qual eu participo; a UNIRITTER; a Estadual do Amazonas; a FGV; a Federal
de Minas Gerais acabou a construção de uma clínica de direitos humanos.
Quando fazemos o mapeamento meio por cima (...) não passam de 15, mes-
mo. O que já é um dado, porque eu não acho tão pouco, para algo que está sur-
gindo realmente no século XXI; você não tem histórico de clínicas, esse nome
dentro dos cursos de direito, porque isso é uma metodologia que não havia no
Brasil antes disso.
O foco da pesquisa – isso aqui tudo o professor Nelson acabou falando nos
elementos – é que dentro desses espaços a discussão ficou um pouco sobre “quem
é o público-alvo, no centro de referência; quem é o público-alvo na clínica; quem
é dos SAJU’s; é o mesmo público-alvo; estamos falando de professores, que tipo de
professores; professor tem que ser advogado, como no núcleo de prática; para ser
um professor de clínica, ele precisa ser advogado; para ser um professor de SAJU,
ele precisa ser advogado; ele vai peticionar, não vai peticionar?” Essa era um pouco
a motivação; e nas entrevistas buscamos um pouco isso; fomos perguntando “quem
são os professores desse espaço; têm quantos advogados; são remunerados, são vo-
luntários; têm convênios com a Defensoria Pública; é ela que peticiona ou não é?”
(dependendo do espaço que se está discutindo). A área de atuação: um pouco por
temáticas desses espaços, com que eles mais trabalham; núcleos de prática – tive-
mos muita resposta obviamente “núcleos de prática” porque todo curso de direito
tem um núcleo de prática; então enquanto não chegamos em 15 clínicas, tivemos
números aí já muito maiores de núcleos de prática; e vocês vão perceber que as
áreas temáticas por região são interessantes porque obviamente isso dialoga; existe
uma rede amazônica de clínicas, que trabalham mais com o meio ambiente, com
violência rural, que geralmente são os casos de violação que vemos, mais graves, na
região Norte do Brasil.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Hoje se você vai numa universidade grande, nos EUA, você vai ter 80, 100 clí-
nicas jurídicas no curso de direito; que são optativas, os alunos – grande parte faz –
escolhem a área temática que eles gostam, e fazem. Às vezes de direitos humanos, às
vezes de empresarial, às vezes só de penal, se quer ser criminalista.
E a lógica delas também foi mudando. Na América Latina então só (...) eu tive
a oportunidade de visitar algumas clínicas nesses espaços, e eu fui tentando estudar
um pouco porque elas surgiram. Nos EUA, Canadá e depois América Latina e por
que o Brasil não veio nesse barco da década de 90. A minha impressão é que viemos
com esse movimento da assessoria jurídica universitária; então tivemos um processo
de extensão universitária – prof. José Geraldo aqui seria testemunha viva disso, com
o “direito achado na rua”, com outras experiências que eram riquíssimas dentro da
universidade; e muito mais ricas às vezes do que as próprias clínicas que estavam
surgindo noutros espaços.
Eu particularmente defendo a existência de clínicas – porque não é todo mundo
que defende a existência de clínicas no Brasil – simplesmente para isso, para que a
gente contribua na formação de defensores de direitos humanos. E esse conceito é
lato, não é defensor, como falou o prof. Nelson, que temos, de repente, engessado,
que é o defensor que a gente associa a “militante”; mas não, é qualquer profissional
do direito que vá trabalhar com defesa de direitos – e aí eu diria que são todos. E
quem trabalha com defesa de direitos vai trabalhar com direitos humanos. É o juiz,
é o promotor, é o advogado, que pode ser trabalhista, pode ser empresarial, pode ser
o que quer que seja, mas ele vai trabalhar com defesa de direitos, então necessaria-
mente ele também é um defensor de direitos humanos. E esse é um conceito até da
própria ONU, sobre defensores de direitos humanos, não é o cargo que você tem, mas
a ação que te torna um defensor desses direitos.
Por que o Brasil é um espaço que eu considero riquíssimo para esse tipo de
educação? Porque temos uma experiência de educação em direitos humanos que
dá um banho em diversos países. Temos um histórico, principalmente nas univer-
sidades, e de metodologia – pegando Paulo Freire, só para colocar um – mas todo
mundo que vem trabalhando nas universidades há muito tempo, desde a redemo-
cratização (e até antes) com práticas pedagógicas de educação em direitos huma-
nos. Então se se usa essa experiência e se agrega isso à educação clínica – que isso
nós não temos experiência (...) não é tanto o espaço onde ela vai fazer isso, mas é
como ela vai relacionar esses saberes que o prof. José Geraldo estava falando, que
não interessa se é na sala de aula, ou se às vezes é na escada ou é em outro lugar;
mas quando deixamos solto isso no currículo, a maioria não passa por ele.
Pelo menos nas experiências que eu pude acompanhar, os SAJU’s são fantásti-
cos, mas qual é a porcentagem dos estudantes de direito que passam pelos SAJU’s?
Outras experiências interessantes de educação em direitos humanos são excelentes;
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
mas a porcentagem dos alunos é muito pequena, porque eles não têm que fazer aqui-
lo. A maioria dos nossos estudantes não tem tempo para fazer extensão, e eles não são
obrigados a fazer. E se vão fazer necessariamente não é com direitos humanos. Então,
essa ideia de, de repente, colocar no currículo a extensão como obrigatoriedade pode
ser interessante, que não vai ser só ir a seminário completar a questão de atividades
complementares.
Mas o que me parece é que essas habilidades que a metodologia clínica traz
não é só judicial: o que muitas vezes os núcleos de prática acabam absorvendo mais
como a questão do litígio, da petição. E a clínica não tem esse foco: a metodologia
clínica, pelo menos da forma que eu também defendo e várias outras pessoas é
muito mais rica pelas suas habilidades estratégicas, isso faz você pensar no proble-
ma e do problema pensar em criativas soluções; e nessas soluções talvez uma seja
o litígio. Mas ele também tem que ser estratégico, ele tem que servir para alguma
coisa, porque não é ele que vai resolver o seu problema social, econômico, político,
de direitos humanos.
Às vezes, não temos um espaço (como estudante que fui e continuo sendo, mui-
tas vezes, participando nesses espaços); vemos que é difícil o estudante passar por um
lugar onde ele tenha oportunidade de pensar em estratégia; ele vai ter que entender o
que é o Executivo, o Judiciário e o Legislativo na prática, porque ele vai saber que a
sua solução tem que pensar em tudo isso: “já tem lei/não tem lei; política pública não
tem/tem, não funciona; ação judicial serve para quê; vamos entrar com um controle
de constitucionalidade, por quê, para quê, o que vai fazer”.
E, realmente, agora, fechando (porque eu estava contando os meus 15 minutos
para não passar da hora com vocês); o que eu fiz no livro (na verdade eu recortei
muito ele; a tese ficou bem maior porque era uma pesquisa, então tem os dados, aná-
lise de dados): aqui eu cortei praticamente dois ou três capítulos da tese para deixar
agradável a leitura.
E reescrevi até a linguagem; um capítulo ficou sobre educação em direitos hu-
manos, pegando os marcos no Brasil de políticas públicas; depois, direitos humanos
nos cursos jurídicos no Brasil (então, educação em direitos humanos lato, depois
isso dentro das universidades brasileiras e nos cursos jurídicos), pegando um pou-
co essas reformas e o que é que temos – porque essas reformas são excelentes, essa
resolução e portaria; tudo o que queremos está aí já, a questão é que não temos
essa indissociabilidade de ensino, pesquisa e extensão, não temos um espaço que
faça isso ao mesmo tempo. Temos a sala de aula, espaços de pesquisa e espaço de
extensão, e o estudante não vê essa relação ao mesmo tempo, o que na metodologia
clínica ele faz.
O que o terceiro capítulo vai tratar são sete pressupostos metodológicos que
eu acredito que sejam importantes para o Brasil para formar defensores de direitos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
humanos. Muitos já são feitos; talvez, haja muito mais e eu até comento, o nome
“clínica” sinceramente para mim não é importante; onde isso vai ser feito, também
não é importante; eu só gostaria que existisse um núcleo de prática que fizesse to-
dos esses pressupostos que eu considero o mínimo que formariam um bom defen-
sor de direitos humanos dentro de um curso jurídico.
Essa leitura é importante, porque às vezes você tem resistência pelo nome: eu
já tive alguns debates, falam “meu Deus, mas isso é imperialismo, você está trazen-
do a clínica que é uma coisa dos EUA”, “não, tudo bem, então tira o nome ‘clínica’,
vamos chamar ‘x’ esse espaço e vamos discutir o que interessa”, porque não é o
nome que aqui é importante, mas o que é que queremos e o que há que precisa ser
melhorado e o que não tem que gostaríamos que tivesse.
Eu vou passar só os nomes deles; toda a fundamentação disso vai estar no li-
vro. Está disponível também para quem quiser, acho que já está nas livrarias (saiu
há pouco tempo; três semanas); e é da Lumen Juris, mas eles têm bastante distri-
buição.
O compromisso com a justiça social, me parece um [pressuposto] importan-
tíssimo.
Metodologia participativa; eu trago alguns enfoques de como fazer isso; me
parece que a experiência brasileira; temos bastante isso mas não no ensino formal:
se vocês pensarem, Paulo Freire é muito mais trazido na educação popular, na edu-
cação não formal, nos projetos de extensão mas não pensamos nisso na sala de aula,
então como fazemos isso num ambiente que não é na educação popular (mas não é
só a questão do Paulo Freire, então, tem outras; a questão do litígio estratégico que
a América Latina faz em diversas clínicas de forma boa, também), são experiências
que me parecem que para a educação clínica seriam boas.
Articulação da teoria com a prática, que é o óbvio, toda reforma tentamos tra-
zer isso, mas como é essa questão de se ver exemplos práticos, então o que me pa-
rece que um profissional hoje precisa: negociar, saber argumentação jurídica, saber
usar tecnologia virtual, saber fazer entrevista, fazer simulações.
São práticas pedagógicas; eu estou agora, por causa desse edital da Fundação
Ford, na UNIVILLE vamos trabalhar com os moradores de rua, a população de rua,
que até nos inspiramos muito no que foi feito aqui no Observatório, na USP, junto
com a Defensoria Pública. Mas o que está mais interessante agora eu diria que está
na parte dos estudantes, que vão participar, não só estudantes da UNIVILLE; os
estagiários da Defensoria Pública, o pessoal da Secretaria de Assistência Social; cria-
mos vários parceiros e todo mundo interessado em ir para a rua fazer uma formação
conjunta. E, para mim, o que mais foi importante é: eu não posso levar meus alunos
para ir para a rua, sem eles terem ideia do que é conversar com um morador de rua,
e eu também não sei. Então, vamos ver quem faz isso. Pegamos os militantes que já
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
fazem isso há anos e a Secretaria de Assistência Social e estamos dando uma forma-
ção, de entrevista “você vai chegar lá com o seu questionário pré-estruturado, ele é
um morador de rua, você é o defensor, você é (...), você é não-sei-quem, e (...), você
agora vai entrevistar”. Isso parece bobagem, mas é tão importante. Eles se sentem
tão mais confiantes, porque as dúvidas surgem é nesse momento. E às vezes na sala
de aula você não consegue fazer nem ter tempo para fazer essas estratégias. Enfim,
ações judiciais tanto coletivas, rascunhos de projetos de lei.
Interação (quarto pressuposto), atividade de ensino, pesquisa e extensão, de
que forma você consegue fazer isso, integrado num semestre de clínica, por exem-
plo, o estudante passar por tudo isso ao mesmo tempo. Aí (aqui seriam exemplos),
um enfoque interdisciplinar, que é dificílimo, eu (...) o dilema é: como fazemos
isso? O dilema dos mestrados interdisciplinares, o que é juntar professores de vá-
rias áreas profissionais? Será que isso é interdisciplinaridade, será que isso é uma
multi (...) como será que se dialoga saberes para a solução de problemas?
A questão de pressupostos fáticos que até o Nelson já falou bastante, que me
parece fundamental para qualquer espaço.
Reconhecimento institucional, cada universidade tem autonomia para fazer
como quiser; a questão de ter recurso garantido, porque temos vítimas que estão
participando de projetos conosco, acabou o recurso, acabou o projeto, como é que
eu continuo? Digo “não, sinto muito, não vou poder continuar porque o prof. já
não ganha, o aluno já não é bolsista”? Então como é que você trabalha com o im-
pacto social com essa fragilidade institucional?
E o público-alvo universitário, que me parece que o Brasil é também fantástico
em inovação: as clínicas, geralmente, as tradicionais, tirando um pouco algumas
experiências na Europa, trabalham com graduação, porque a lógica é formar o ad-
vogado; é formar o profissional do direito que vai sair. No Brasil, as primeiras clí-
nicas – não digo “a primeira” porque a nossa foi uma das primeiras e trabalha com
graduação só, mas a maioria tem surgido na pós-graduação. A Federal do Pará é na
pós-graduação; a UNIRITTER é na pós-graduação, e isso é novidade: quando vamos
conversar com alguns professores de clínicas de outros países eles falam “imagina,
pós-graduação, clínica não faz pesquisa” e eu falo “mas no Brasil faz. Faz, e deve
fazer (...)” pesquisa, porque eles fazem busca de dados, relatórios, levantamento
dos dados, mas eles não chamam isso de pesquisa, de produção de conhecimento,
e o que nós estamos fazendo com a graduação e pós-graduação. E essa relação vai
ser muito rica e diferente do que temos no mundo.
E a questão dos professores; que o dilema é sempre lembrarmos que o foco é
acadêmico; nosso público-alvo não é a vítima – que é difícil isso, porque nós não
somos uma ONG: o nosso público-alvo da estrutura tem que ser esse aluno, é ele
quem tem que se formar. Que é o dilema às vezes do núcleo de prática, que tem que
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
atender muita gente por causa dos dados que às vezes se pede, porque o núcleo de
prática tem que ter muito atendimento, de acesso à justiça (não estou falando da
PUC aqui, mas estou falando do geral que vemos), e que aí você tem a dificuldade
do aluno que fica perdido nesse processo; você tem que cumprir prazos numéricos,
de dados numéricos, e o aluno não aprende nada do processo, do que ele está fa-
zendo ali. E muitos convênios com a Defensoria Pública são criticados, por isso, em
algumas universidades, porque eles acabam atendendo muita gente, mas o aluno se
perde nesse processo; que o foco não é o acesso à justiça: o foco tem que ser o alu-
no. E isso na clínica também pode ser um dilema, se você se preocupa mais com o
impacto social e não com a formação do aluno. Então, eu sempre falo; o projeto que
trabalhamos talvez não seja o mais importante naquele momento para Joinville, ou
para quem estivermos trabalhando, mas é o que vai ser pedagogicamente melhor
para os meus alunos. É o que eles estão preparados e eu para trabalhar.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
de várias formas, é uma dessas pessoas que marcou a vida de muitos de nós e ainda
marca. Porque a militância que ele tem é algo muito especial, mas mais do que isso o
que ele tem é uma aura, uma coisa que transborda e que eu realmente quando reme-
moro me encho de ânimo. Antes de eu montar aqui minhas ideias, as contribuições
que eu gostaria de trazer para vocês, eu até comentei com o professor Jacques que
eu fui ler um texto dele que eu não conhecia e fiquei encantada, eu falei assim, “não
preciso falar mais nada, basta eu pegar o texto dele, pedir ordem e ler; e é de uma
esperança que eu acho que, esperança naquele sentido de esperançar, não de espera,
de agir mesmo que é uma injeção de ânimo”. Então, por tudo isso, muito obrigada
e desde já parabéns a todos que protagonizaram essa pesquisa, parabéns à Fundação
Ford, especialmente na pessoa da Letícia Osório a quem queremos tão bem que deu
suporte para que esse estudo pudesse ser feito.
Já entrando um pouco naquilo que eu gostaria de trazer para vocês eu entendo
que talvez não seja inédita essa pesquisa, porém ela vem romper com um ciclo muito
longo de nenhuma pesquisa mais aprofundada sobre a questão da advocacia popular,
então eu acho que isso não acontece à toa, isso tem um contexto por trás, uma con-
juntura que fez com que isso irrompesse no final de 2013 e acredito que seja um pas-
so importante, significativo daqui para frente, para retomada de algumas coisas que
são fundamentais, tanto para o exercício da assessoria jurídica popular, da advocacia
popular, como para marcos e status e estatutos que precisamos transmutar, mudar,
aprimorar e avançar, avançar no curso de direito, acredito piamente nisso.
Minhas colocações serão um pouco nesse sentido, o que nos foi pedido foi
refletir sobre a importância dos organismos de defesa de direitos humanos univer-
sitários para o curso de direito, para a formação do aluno do direito, e aí eu vou co-
locar também outros alunos, mas especialmente de direito, e como é que podemos
entender a contribuição que esses organismos dão. Para mim, é absolutamente irre-
futável, inquestionável a contribuição que esses organismos trazem, seja nas formas
atuais, seja ao longo de toda a história que eles representam. O que não podemos
esquecer e que a meu ver devemos sempre analisar e reviver, para que possamos
reedificar essa história dentro do contexto em que vivemos e diante dos dilemas e
demandas que nós recebemos, mas demandas e dilemas que nós vivemos também,
como pessoas, como cidadãos, alunos, professores e advogados populares, profis-
sionais e atores de assessoria jurídica popular. Entendo que a base histórica de toda
essa luta é algo que permeia todos os formatos de organismos que ouvimos falar e
que hoje aqui pela manhã já foram trabalhados de certa forma na apresentação de
alguns resultados parciais da pesquisa.
Independentemente do formato, a contribuição é enorme, por vários motivos, já
falaremos disso um pouco mais adiante. Ao mesmo tempo, para mim, ela é irrefutá-
vel porque é uma ação que, por mais que tenha também suas idiossincrasias, porque
estamos na vida e nós não somos perfeitos, ela resgata a eticidade do direito, porque
125
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
vai ao âmago das questões que o direito precisa olhar, analisar, resolver quando for
preciso ou no mínimo mediar, em termos do quê? De felicidade humana. Nós não
estamos falando de outra coisa, mas das possibilidades reais que temos de sensibili-
zarmos seja alunos, professores, juízes, colegas de outras áreas, políticos, governantes
etc., ou seja, como é que nós podemos permear essas relações de modo a sensibilizar
para a possibilidade de realização mínima da felicidade humana e assim lembrando
um pouco Mohan, uma felicidade que não é intrínseca, mas que é planetária, quer
dizer, nós temos que nos colocar nesse lugar planetário e é nesse lugar que eu vejo,
sem nenhuma modéstia, a contribuição dos organismos universitários. Eles foram,
e ainda são, o grande diferencial nos cursos de direito que conseguem, de alguma
forma, dialogar com esses organismos. E quando não é diálogo, mesmo de uma ma-
neira autônoma, os organismos são uma marca indelével, porque a vivência que eles
trazem, em vários âmbitos, é uma marca que fica; e guardadas as nossas contradições,
internas e próprias, de qualquer forma essa marca é transformadora. E nós aqui po-
deríamos passar a tarde dando exemplos dessa possibilidade real de transformação
através dos organismos universitários de defesa de direitos humanos. Mas acho que
alguns aspectos merecem ser ressaltados e a meu ver não podem ser esquecidos – não
acho que estejam sendo, mas é preciso ressaltar.
É óbvio que essa vivência é uma vivência diferenciada por alguns motivos, e
ela é diferenciada positivamente, a meu ver, porque se estrutura no campo ético da
emancipação, da possibilidade de emancipação, seja emancipação no sentido de po-
der exercer um direito efetivamente ético, ou ao menos buscar essa via, um direito
de realização de justiça, seja pela via da própria experiência individual – ou profis-
sional, ou cidadã – ou na verdade as duas imbricadas, como aluno, advogado, como
sociólogo, como assistente social, como todos os atores da assessoria jurídica popular
que é uma assessoria de natureza social; ela não é uma assessoria de natureza técnica,
ela é uma assessoria de natureza ética. E aí vale dizer que nossos alunos passam sim
por uma experiência positiva nesse sentido ético quando têm a oportunidade de estar
nesses núcleos, nessas clínicas, nesses Escritórios Modelo, enfim, nessas unidades de
referência de defesa de direitos humanos e de protagonismo também de direitos hu-
manos, porque eles vão, primeiro, desfragmentar o conhecimento – o conhecimen-
to na academia é absolutamente fragmentado, isolado, compartimentalizado, com
louváveis exceções, porém, não posso dizer que haja, pela menos eu não conheço,
nenhuma experiência de não compartimentalização na área do direito.
Ainda é um ensino tradicional positivista de uma grande forma, embora já não
tão positivista como era, o que é um dado muito importante, mas ainda é uma forma
de apresentar o direito de maneira reducionista pelo viés do positivismo – que eu não
vou falar, porque o professor José Geraldo falou amplamente – e por outro lado um
conhecimento tecnicista, pior que tecnicista, que é fragmentado. Porque quando o
técnico, ou a técnica, ou a tecnologia consegue abaixar um pouco suas barreiras para
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
dialogar com a sensibilidade, a razão e a lógica que vêm de outras formas do saber e
de outras formas do viver, ela tem um papel interessante até, nós não podemos des-
cartar; no entanto, não é isso que acontece.
Então, é óbvio que essa experiência, essa vivência marcante nos escritórios e nas
unidades de referência de Direitos Humanos são vivências que desfragmentam esse
saber – na medida das suas limitações, é óbvio, mas elas têm isso como um valor, e
isso que é fundamental, num espaço em que a intersecção de áreas de conhecimento,
a intersecção de experiências, a intersecção de dados históricos favorece a sedimen-
tação de um campo bastante fecundo pra que esse aluno saia de outra forma, melhor,
no mínimo mais sensibilizado em relação às demandas sociais. Ele sai – eu lhes falei
sobre o texto do Professor Jacques Alfonsin que li agora recentemente – ela falava do
quanto dentro de sala de aula é muitas vezes desestimulante, porque o ensino às ve-
zes é chato mesmo, não traz de direito essa ligação com a possibilidade da dignidade
humana, a possibilidade da felicidade humana, a possibilidade pelo menos relativa de
realização da justiça. Esse ensino compartimentalizado e tecnocrático é desestimu-
lante; isso não quer dizer que, nas grades que nós temos – e algumas delas já têm, por
exemplo, a disciplina Direitos Humanos – que Direitos Humanos também não esteja
sendo dado dessa forma desestimulante, o que acaba fazendo com que até percamos
“terreno”.
Então, nós precisamos pensar o quanto a desfragmentação do conhecimento
na área do direito pode acontecer apenas pelo viés da introdução curricular de uma,
duas ou três disciplinas. Eu não acredito nisso: eu acredito numa conjunção de for-
matos e numa conjunção metodológica que seja criativa, participativa – como eu
creio que a Fernanda colocou aqui –, mas, além disso, integrativa. Eu acho que se
não houver, na base de nossas ações, um desejo e um valor de realmente compreen-
der a realidade, e compreender – lembrando de novo do Lohan – não é simplesmente
diagnosticá-la, mas é “se colocar no lugar de”, “abraçar” – se nós não tivermos esses
valores não importa a fórmula que a gente construa aqui, ainda que seja uma fórmula
coletivamente construída. Equações, temos muitas, mas se não houver a possibilidade
de, com criatividade, integrar metodologias e áreas do saber, ao mesmo tempo em
que se dê, no currículo, a possibilidade de que o aluno pratique e aprenda de forma
participativa, chegamos no que podíamos fazer; daqui para frente, então, não vejo
como dar um salto quântico.
Como eu acredito que chegou a hora do salto quântico, porque eu tive a sorte de
vivenciar isso ao longo do tempo, alguns saltos quânticos na área da assessoria jurídi-
co popular, na área da advocacia popular; e eu acho que nós estamos nesse momento,
aliás nós estamos socialmente no momento de darmos alguns saltos quânticos, eu
faria isso através de uma agenda bem ampliada de ações, não apenas através do de-
senho de um programa metodológico – essa é uma das pontas que eu vejo, eu acho
que seria fundamental que pudéssemos realmente mapear, seguir no mapeamento
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
mais aprofundado de todas as benesses que esses organismos trazem, por um lado
para a academia, por outro lado, importantíssimo, para a sociedade, e, a partir desse
mapeamento, ou conjuntamente, já eleger uma agenda de ação que pudesse ser pau-
tada em esferas que não só esferas onde se discute o desenho acadêmico; traduzindo
em miúdos, eu acho que nós temos que sair para rua, discutindo a importância do
aprendizado transversal, que pode se dar através de organismos dessa natureza.
Eu acredito que a disciplina seja muito importante, não só de Direitos Humanos,
mas se realmente não estiver na transversalidade do programa e da grade ela corre um
sério risco de não ser eficaz, por um lado; por outro lado, se os nossos organismos
também não conseguirem encontrar um caminho para sair de sua endogenia – por-
que, de fato, nós dialogamos bastante entre nós, e eu acho que na área da assessoria
jurídico-popular carecemos ainda de sair um pouco das nossas próprias estruturas,
dos nossos próprios espaços, e pegar esse espaço fértil que nós temos e oferecer em
outros espaços, para dialogar com eles: seja com o Poder Público, o Ministério da
Educação, um Ministério específico da Justiça e alguns outros, a própria Presidência
da República, por que não? Seja para dialogar com institutos, organizações institu-
cionais internacionais que reconhecem já há algum tempo a potência desse tipo de
ação, porém, estão ainda bastante tímidas nas ações efetivas de apoio, seja para dia-
logarmos também com a sociedade, eu acho que está na hora de abrir de novo esses
muros. Isso foi feito quando nós ainda não tínhamos a institucionalização acadêmica
dos núcleos tempos atrás; foi toda uma luta muito grande, muito sedimentada, os
meus colegas de Escritório Modelo me perdoem, mas eu vou ter que rememorar – a
época, por exemplo, da Constituinte, 87 e 88, foi fundamental, quando foram esses
movimentos que montaram a emenda popular que criou a obrigação do Estado de –
ou o reconhecimento pelo menos, e a possibilidade –, a obrigação mesmo de oferecer
assistência jurídica popular; na verdade, o conceito era assistência judicial, era mais
reducionista ainda: nós que mudamos para jurídica, e agora precisa mudar porque
ainda está como assistência, nós precisamos aprimorar conceitos.
Abrindo um pouco esses muros, conseguimos melhorar a qualidade da forma-
ção do aluno desde que tenhamos paciência e valores que realmente nos coloquem
numa linha de diálogo transversal; é possível fazer isso no currículo de qualquer área,
mesmo Engenharia, é possível fazer o diálogo transversal; muitas pessoas no mundo
fazem, no Brasil também; lembremos Paulo Freire, se pegarmos algumas áreas que
realmente são herdeiras dos valores do Paulo Freire, elas fazem esse diálogo trans-
versal; nós temos que fazer também. As metodologias precisam ser integrativas e
participativas para que elas possam estimular o aluno, porque o aluno, quando nunca
ouviu falar dessa realidade, a não ser teoricamente, ao chegar aos nossos organismos,
realmente leva um banho, um choque de realidade que o sensibiliza.
Muito difícil um aluno que passa por uma dessas unidades não levar consigo o
mínimo de sensibilidade para os esquemas de exclusão social e de alienação ideolo-
128
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
gizada. Porém, muitas vezes, ainda saem numa camada superficial de sensibilidade,
de sensibilização: nós precisamos aprofundar essas camadas. Aqueles que chegam já
com um perfil mais firme, mais sólido, no que diz respeito à responsabilidade social,
muitas vezes também se perdem no questionamento exacerbado sobre o sistema,
então, o direito não serve para nada porque ele é apenas uma superestrutura que só
serve para maquiar, para garantir, para ser a garantia daqueles que estão no poder.
Não é assim! O próprio professor José Geraldo hoje dizia “por mais que não gostemos
do formato, existem estruturas de defesa de direitos que ali estão, e que precisamos
olhar e trabalhar com elas”, mas fazendo embasado – e aí, naquilo que eu realmente
acho que não pode ser esquecido – no eixo da emancipação, que é valor e, ao mesmo
tempo, prática, ação. Então, falar de emancipação e de prática emancipatória não é
simplesmente teorizar sobre alguns aspectos. É mais do que isso, é incorporar um
valor da compreensão, um valor da luta não conflituosa, mas transformadora – isso
não quer dizer que ela não vá conflitar em algum momento, mas o mote dela não é
o conflito, mas a possibilidade de transpor o conflito – e ao mesmo tempo falar de
emancipação é falar da possibilidade de abraçar junto, quer dizer, de se colocar no
outro lugar.
Então, muitas vezes, nós, nos nossos organismos, discutimos qual é a estratégia
melhor: é a coletiva, é a individual, é a trans? Eu sou partidária, inclusive a minha
experiência de vida tem me mostrado que a melhor maneira é a integração. No Escri-
tório Modelo, nós temos uma grande área que é de tutela individual, e esse trabalho
está sendo muito interessante em alguns aspectos no direito de família, por exemplo;
porque ele fala mais constantemente, mais diretamente com o Poder Judiciário, en-
tão ele tem um potencial transformador importante. Ao mesmo tempo, ele sozinho
não significa nada se não estiver trabalhando em consonância com a tutela coletiva,
porque esta dá o salto coletivo. Então, nós precisamos integrar as coisas; o valor da
emancipação, enquanto forma ética de estar no mundo – Fábio Konder Comparato
diz isso, que quando estamos falando de fundamentos, fundamentos da vida, funda-
mentos do direito, fundamentos da área de formação do direito e das outras áreas, nós
estamos falando, na verdade, de um modelo de vida.
Então, escolher a ação e o valor emancipatório como fundamento desse novo
tempo que nós temos pela frente é não desprezar o que está lá atrás, mas ao mesmo
tempo reedificar as nossas práticas libertadoras. Precisamos pensar. E aí entra o
componente valoroso da crítica, do posicionamento crítico, que os nossos organis-
mos conseguem de alguma forma, ainda que minimamente, incutir na prática, no
cotidiano dos nossos alunos, mas não necessariamente conseguem levar isso para
dentro do curso; essa é uma grande dificuldade ainda; eu não vejo como sendo im-
possível – já vou dizer como e também já vou tentar terminar a minha fala – mas
temos muita arrogância dentro de nós ainda, mesmo sendo profissionais, estudan-
tes, partidários, representantes de uma ala que quer a liberdade como movimento
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
da vida, como possibilidade real de estar no mundo. Então esse valor e essa atitude
crítica também precisam sair um pouco dos nossos textos teóricos e embarcar nas
nossas próprias vivências.
Eu faço aqui, por exemplo, uma crítica ao nosso status enquanto Escritório
Modelo Dom Paulo Evaristo Arns que talvez sirva como exemplo para espelhar algu-
mas críticas e reflexões que todos possam fazer. Nós temos quinze anos de existên-
cia, fizemos este ano; por nós, já passaram, tanto do ponto de vista da tutela coletiva,
como do ponto de vista da tutela individual, e também da mediação, que abrimos
alguns anos atrás, já passaram mais de 120 mil pessoas. É uma joia preciosa isso, do
ponto de vista da intervenção social, e também uma joia preciosa do ponto de vista
da formação do aluno e dos profissionais que por ali passaram. Então, guardadas as
dificuldades que temos de fazer uma melhor formação – porque nós somos carentes
disso ainda – a vivência nesse espaço fértil de intersecção de saberes proporcionou
efetivamente melhoria de qualidade de vida de 120 mil pessoas; isso não é desprezí-
vel. E, assim como nós, outros organismos. No entanto, o nosso organismo, dialoga
quase nada dentro da própria faculdade: por questões conjunturais, por questões es-
tratégicas, porque até o presente momento nós tivemos que nos focar e nos dedicar-
mos todos nós a sedimentar esses espaços junto a outros atores, como, por exemplo,
o Poder Judiciário, mesmo assim ainda não está sedimentado; como, por exemplo, os
parceiros do poder público, com quem a gente dialoga; como, por exemplo, inclusi-
ve os parceiros dos movimentos sociais. E no caso da tutela individual, as pessoas, o
cidadão individualmente e sua família. Então, se conjunturalmente nós não tivemos
condições de fazer esse diálogo, hoje de forma ainda bem caótica, nós estamos re-
pensando isso, porque nós precisamos adentrar no currículo; agora, é impressionan-
te a velocidade pela qual nós temos sido aceitos durante este ano de 2014, quando
nós resolvemos abrir um pouco essas muralhas; vínhamos fazendo isso no âmbi-
to institucional, no diálogo com as autoridades institucionais da universidade sem
grande sucesso. Então, este ano, resolvemos fazer de outra forma; claro que houve
mudanças conjunturais que nos auxiliaram, porém, quando demos a ver, difundi-
mos, divulgamos a significância e o significado desse trabalho em pequenos fóruns:
nós fomos já reconhecidos. E, por exemplo, uma daquelas questões que nós não so-
licitamos, mas que era nossa pauta, e que nós tivemos, ganhamos agora – ganhamos
entre aspas – de bom grado, foi o reconhecimento de que, pela Direção da Faculdade
(com quem nós temos várias divergências), mas eles reconheceram que é preciso
que todos os alunos, obrigatoriamente, passem por esta unidade de referência em
Direitos Humanos que é o Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns. Como fa-
zer isso? Nós temos que ser criativos, porque aqui na PUC, por exemplo, são 500
alunos por semestre; como fazê-los passar? Então, aí, criativos nós somos, porque
se nós enfrentamos os poderes instituídos, especialmente o poder econômico numa
linha de defesa dos que são excluídos e não têm acesso ao mínimo de dignidade
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
humana, como é que não vamos ser criativos para estruturar metodologias que nos
apontem possibilidade de fazer todos passarem por esse centro de referência – como
um locus de intersecção entre ensino, pesquisa e extensão, e diálogo de saberes, eu
tendo mais para esse formato. Como é que nós não vamos ser criativos? Nós sabe-
remos como fazer isso. E aqui começamos dando um pequeno passo: a partir do 2º
semestre de 2015, todos os alunos terão que passar 30 horas no Escritório Modelo,
em atividades que se chamam “complementares”; essas atividades complementares
nós vamos desenhar a partir de agora, mas não é nada que vocês não conheçam: são
fóruns, jornadas, visitações, conferências, mergulhos na temática. Isso nunca tinha
acontecido, é um grande ganho, passou por alguns de nós um pouco assim “será
que podemos acreditar nisso?”. Só que já é portaria, já está regulamentado; então, os
alunos da PUC de São Paulo, do Direito, a partir do ano que vem, passarão obriga-
toriamente em algum momento pelo Escritório Modelo. O nosso desejo era que eles
todos estagiassem no Escritório Modelo, não sei como é que um dia a gente chegará
lá; mas, então, a metodologia integrativa permite que você aplique novas formas de
aprendizado, que é um aprendizado de mão dupla, não é um aprendizado simples-
mente contemplativo, ele é um aprendizado crítico e ativista, participativo mesmo.
Essas metodologias, se não existem, nós temos capacidade de criá-las.
Acho que, então, a contribuição dos organismos é fundamental, e agora entendo
que está na hora deles ganharem um status institucional e social de outra envergadu-
ra; e aí isso pra mim passa, como disse já, por uma agenda que intersecte várias áreas,
mas que possibilite um diálogo, no nível nacional, tanto com os poderes instituídos,
como com a academia, como com os fóruns sociais e nós temos que estar lá, fazendo
esse debate, nós não estamos, nós estamos sempre entre nós, eu acho que precisamos
encontrar fomento e possibilidade de fazer esse diálogo nacional; ao mesmo tempo
acho, que nesse diálogo teremos condições, pelo menos algumas condições de sensi-
bilizarmos certos setores, certas academias e universidades também, pra que a gente
possa adentrar um pouco mais no status institucional da prática emancipatória que
vem através da assessoria jurídico-popular interdisciplinar e integral. Que seria, por
exemplo, o MEC: o MEC tem já sementes já germinadas pra que a gente possa dar
um passo adiante e dizer: olha, não basta mais você dizer que lá na Portaria de 1994,
reeditada pela de 2002, reeditada pelo Parecer do Conselho Nacional de Educação
agora recentemente de que as diretrizes para o curso de direito se embasem na pos-
sibilidade de formação humanística, ampla, crítica e responsável do ponto de vista
social do aluno do direito – isso ele já fala. Está na hora dele dizer isso e regulamentar
que todas as faculdades de Direito deverão, de alguma forma instituir Centros de Re-
ferência na Defesa dos Direitos Humanos e na prática emancipatória; depois a gente
aprimora o título, o importante é o valor que está atrás. E acredito que haja algum
espaço; e se não houver, nós precisamos cavar esses espaços.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Por outro lado, internacionalmente, nós precisamos também nos fazer ver. Há
pouco tempo atrás, duas semanas atrás, eu estive num evento que o Nelson Saule, jun-
to com o Instituto Pólis e outras instituições organizaram, um evento mundial sobre o
direito à cidade que discutiu, até a Letícia Osório também estava, sobre o modelo, des-
culpe, sobre o status, o estado do direito em relação à possibilidade de uma cidade sus-
tentável. E ali a gente ouvia gente do mundo todo e hoje, pensando nessa minha fala,
eu dizia: gente, como que a gente não faz esse diálogo de uma forma mais organizada,
não fragmentada? Porque óbvio, de forma fragmentada fazemos, um vai pra África,
outro vai pra..., então, eu estou propondo uma agenda que articule essa possibilidade
de difundir e sedimentar essa prática emancipatória também com organismos e par-
ceiros internacionais; ao mesmo tempo, nessa agenda, eu acredito que tenha que estar
também o diálogo com os nossos parceiros internos; exemplo: Defensoria Pública do
Estado de São Paulo ou de qualquer outro estado. A dificuldade que a gente encontra
com eles não é a de reconhecimento formal do trabalho significativo que fazemos para
a libertação e a emancipação social, a dificuldade que a gente encontra com eles é a de
que esse reconhecimento venha modular os instrumentos de parceria. Para começar,
na base muitos defensores – porque uma coisa é você tratar com o comando, com as
autoridades, outra coisa é você lidar no dia a dia como vocês nossos profissionais e
estagiários lidam; um defensor público que as vezes está ali sobrecarregado, como
sempre, ele acha que nós somos um braço estendido deles, e não um parceiro. Isso
precisa mudar, e o diálogo precisa ser um diálogo amplo, não pode ser só o Escritório
Modelo dialogando com a Defensoria Pública do Estado de São Paulo; eu penso dessa
forma. Acho que tem que se dar esse salto também nesse diálogo.
O diálogo com os juízes: queiramos ou não, eles são parceiros, são atores como
nós, da possibilidade de realização de justiça. Nós precisamos aprofundar o diálogo
com eles, é possível. E, normalmente, a gente fica, como também nós temos um
pouco de soberba, esperando que isso aconteça, que sejamos convidados pra uma pa-
lestra.. nunca, particularmente, fazendo até um mea culpa, como coordenação do Es-
critório Modelo, nunca propus pros meus colegas de coordenação que nós fossemos
até a Escola da Magistratura propor uma formação, ou pelo menos um evento pra que
eles pudessem conhecer melhor quem nós somos. Então acho que essa agenda, ela é
fundamental. Mas, se ela for só uma agenda de conversa, não vai adiantar muito. Ela
precisa então, no meu modo de ver, estar estruturada no mapeamento desses benefícios
e aí, diferentemente da Fernanda, eu não entendo que o nosso foco seja só o aluno,
ou prioritariamente o aluno; nunca entendi dessa forma, não sei se me equivoco.
Mas, para mim, estão em igual estatura o aluno a ser formado, sensibilizado,
preparado para uma experiência profissional e cidadã, tanto quanto o beneficiário
do nosso trabalho, da nossa proposta; pra mim, estão em pé de igualdade, o foco pra
mim não prioriza o aluno, mesmo sendo uma unidade de origem acadêmica como
é, por exemplo, o Escritório Modelo. Eu acho que as unidades de origem acadêmica
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
têm responsabilidade igual sobre a questão social; são formatos diferentes, metodo-
logias diferentes, limitações também estruturais que não a transformem numa ONG,
estamos discutindo isso também no Escritório Modelo: afinal de contas quem nós
somos? Somos uma ONG ou somos uma unidade acadêmica?
Eu, na verdade, acredito que somos, e deveríamos ser, um pouco de tudo; não
poderíamos ser apenas uma unidade acadêmica, como também não poderíamos ser
apenas uma ONG. E aí faço uma análise que é muito própria minha, nunca me dispus
a compartilhar, mas aqui eu vou compartilhar com vocês de que, na seara da eman-
cipação, da luta emancipatória, há um estreitamento de possibilidades do Terceiro
Setor de atuar efetivamente na defesa dos direitos humanos. Há dificuldades de finan-
ciamento, há dificuldades de transpor certas questões formais, por exemplo, a CPI
que foi montada do Terceiro Setor, ela foi um desastre no final dela, está superdifícil
tocar adiante convênios e apoios internacionais e nacionais que possam financiar o
trabalho. Então, eu acho que houve um pequeno estreitamento, se eu não estiver
enganada, mas, ao mesmo tempo, está nos organismos como os de prática emancipa-
tória jurídico-social acoplados a instituições de natureza universitária é importante
pelo lado de levar a universidade para fora, mas é importante também pelo lado de
trazer o que está fora para o nosso quinhão de responsabilidade. Eu estou achando
que estamos tendo condições boas para manter o trabalho de inserção social, é isso
que eu estou querendo defender, e não focar apenas nos trabalhos mais teóricos, mais
de pesquisa que são fundamentais, não podem ser abortados. Por isso, que eu propo-
nho uma integração e uma otimização de tudo isso através desse começo de agenda.
Por fim, eu acredito piamente que fórmulas nós temos várias, mas que é pre-
ciso adotar novamente, talvez, uma postura crítica, mas efetivamente crítica, e não
aquela crítica prepotente da qual nós não escapamos também; um posicionamento
crítico em relação ao que podemos e ao que queremos. E é aí que eu acho que vem a
questão central, que é o resgate efetivo das práticas éticas e emancipatórias, porque
muitos de nós fazem isso, mas alguns não fazem, e vão maculando tudo isso. Então,
acho que, se nós pudermos fazer essa crítica de uma forma mais aprofundada – e aí
eu acho que a pesquisa foi um passo inicial importantíssimo, muito significativo, nós
vamos ter condições de institucionalizar melhor toda a formação, todo o potencial
de formação acadêmico, todo o potencial de formação e experiência prática, e tam-
bém todo o potencial de autoconhecimento. E aí estou dizendo autoconhecimento
das nossas próprias organizações e autoconhecimento individual, como cidadãos que
participam da vida.
Eu queria só mostrar pra vocês, eu vou finalizar por aqui, queria dizer pra vocês
como é que eu vejo os organismos de defesa de direitos humanos inseridos em qual-
quer curso, em qualquer área, mas inseridos especialmente na vida como um todo,
de maneira ampla; eu trouxe uma coisinha pra gente pensar junto: vocês conhecem
essa pedra? É um cristal mutilado; ele é diferente do cristal tradicional porque ele tem
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
ção e com quem lapida, ela quebra. É preciso que a gente se molde, flexibilize e ao
mesmo tempo busque lá na essência a nossa crítica pra esse padrão ético, que eu
acho que é o padrão emancipatório que todos e todas na história já defenderam e
já atuaram por isso.
Eu acho que é um início de conversa e eu estou sempre à disposição. Agradeço
de novo por poder estar aqui com vocês. Obrigada!
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
que que estamos fazendo aqui dentro. Porque ai nós trazemos aqui pra dentro as
angústias, as tristezas, os sofrimentos de toda essa gente que é vítima da violação
dos direitos humanos. Por isso que nesse primeiro momento não custa – as expe-
riências das pessoas são muito perigosas porque o meu ambiente é outro que não
é o de vocês, não é? Mas lá na nossa pequena ONG Acesso, Cidadania e Direitos
Humanos, que é extremamente semelhante ao que a Professora Celeste colocou
aqui como Escritório Modelo, porque lá nós temos a seguinte estratégia: em conta-
to com o povo, vítima da violação dos direitos humanos, a nossa primeira atitude
é a do silêncio. Nós não entramos em ambiente algum falando, porque se nós en-
trarmos falando nós já vamos ir com o discurso das respostas, sem conhecermos as
verdadeiras perguntas; é o silêncio. Por que vocês aqui no Escritório Modelo não
sei se já tiveram essa experiência: as vezes, vai uma mãezinha lá, com um problema
de família, começa a falar e ah!, eu já tenho aqui a resposta, nós vamos entrar com
uma ação de alimentos; nós não conseguimos dar chance pra mulher abrir a boca.
Então, isso me parece fundamental: o respeito à constatação do drama vivido pela
pessoa. Em segundo lugar, é o gesto; vou dar um exemplo da Associação de Mora-
dores: uma Associação de Moradores se reúne para discutir como se defender de
uma ação de reintegração de posse; ah, nós já temos a ação na cabeça, vamos entrar
com a contestação, vamos pedir a revogação da liminar.. Calma! O protagonista da
defesa dos direitos humanos é o sujeito de direitos, é aquele que não está sendo
reconhecido nem como ente. Então, o nosso primeiro gesto, nisso que a Professora
Celeste colocou entre o individual e o coletivo, sabermos organicamente – organis-
mo vem de orgânico – começarmos a fazer parte daquela comunidade, o que não é
fácil; porque as vezes são visitas até o local do conflito, duas, três, quatro vezes por
mês, pelo menos pra saber o que é que está acontecendo lá. E só em terceiro lugar,
porque agora a comunidade “esse aí é dos nossos”, já começaram a nos identificar:
estivemos em silêncio, ouvimos, estamos fazendo os gestos, estamos presentes lá..
ah, então está, esse aí é dos nossos; nós ganhamos confiança daquele povo. Então
aí é que vem a palavra, mas nossa palavra agora está orientada pelas verdadeiras
perguntas. Então me parece que essa técnica da aporia, essa realidade, quebrar essa
dicotomia entre teoria e prática, estarmos junto às vítimas das violações de direitos
humanos, isso, pra voltar ao Paulo Freire que a Celeste também colocou, faz de nós
não um ensino, mas sim um aprendizado, aprendizado e ensino, essa relação dialé-
tica que há entre o povo e nós.
Diante disso, quando nós formos usar a nossa palavra, aqui vem o segundo
ponto, qual é o juízo de valor – para não enganarmos o povo – sobre a efetividade
das garantias dos direitos humanos? Nós podemos dizer ao povo, por exemplo, como
as vezes precipitadamente alguns colegas, no afã até de ajudar: não, vocês podem ter
certeza de que nós vamos fazer e acontecer, e a reintegração de posse não vai ser jul-
gada assim ou assado. Eu acho que manda, o mínimo de humildade, que a gente co-
137
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
nheça a fragilidade do direito diante do mercado; de cada cem ações eu acho – agora
por experiência pessoal, pode ser até que vocês tenham um outro percentual – mas eu
acho que de cada cem ações que atuei lá em Porto Alegre nessa ONG que nós estamos
lá, especialmente nas possessórias, se nós tivemos uns 5% de liminares indeferidas,
sentenças julgadas a nosso favor foi muito. Porque a superioridade de poder que
mercado tem, a especulação imobiliária tem, o descumprimento da função social da
propriedade tem, é extraordinário, né?! Isso de nós transmitirmos – é claro que não
podemos matar a esperança, essa é a última coisa que pode se fazer – dizermos real-
mente para o povo aquilo que ele tem que ouvir, a verdade que ele tem que ouvir. As
coisas no funcionamento da defesa dos direitos humanos são extremamente difíceis.
E também esses organismos universitários, que têm todo esse cabedal atrás de si, de
possibilidade, de estudo, ele vai ter condições, desde que respeite que a dignidade
humana que é defendida, ela é indelegável, e o protagonista dessa defesa é o povo,
ele vai ser o assessor, o defensor, ele vai ser aquele que vai instrumentalizar a defesa
jurídica, mas ele não pode, como diz a nossa experiência, dizer para o povo “venham
atrás de mim que eu que to com a razão, eu que tenho o direito na mão” – não é bem
assim. Ele tem que trabalhar com o povo, e não para o povo – aliás até como ensina
a própria Teologia da Libertação.
Uma coisa que eu sempre discuti com as nossas comunidades pobres do Rio
Grande do Sul, e isso serve aqui também apenas para discussão futura, porque vo-
cês podem ter uma experiência mais rica e até melhor do que a minha é colocar o
fracasso das nossas três principais ordens constitucionais: a ordem econômica do
ter – ali todo mundo está numa pior, gente pobre; a ordem política do poder – jus-
tamente por não ter, é gente que também não tem poder; e o principal, como diz
o Ellacuría, a ordem social do ser – nós estamos tratando com gente que não é, e
gente que não é porque uma minoria é, Aí começa a primeira conscientização, ou
seja, nós estamos em conflito, especialmente em matéria de terra – que é a área em
que eu mais atuo e me sinto mais à vontade – de gente que tem um espaço, mal uti-
lizado, antissocialmente utilizado, e que impede que aquele que não é seja; o limite
passa a ser este. O último livro do Boaventura, não posso esquecer de lembrar isso
a vocês, “O Direito dos Oprimidos”, ele coloca isso de uma maneira sem podermos
esquecer, gente: nós trabalhamos com dois tipos de sociedade, a sociedade sujeito –
que é essa que é –, e a sociedade objeto – que é essa que não é –; sendo que a socie-
dade objeto é tratada pela sociedade sujeito como dejeto. Ele chega a explorar essa
questão da sociologia das ausências, ou seja, é como se o pobre não existisse, como
se a violação de seus direitos humanos não existisse. E se nós passarmos disso para
os direitos humanos, nós vamos ver que a reação da sociedade – agora já não é mais
o Boaventura falando, então, talvez, isso seja muito parte da nossa experiência par-
ticular lá – o que que a sociedade sujeito não tolera e não aceita? É a insegurança.
Vocês podem ver que tudo lá, se nós formos aos programas de televisão, aos noti-
138
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
ciários, tanto da globo, como da globo news, 90% é um descalabro, é uma crônica
policial, a insegurança bate, entra dentro da casa da gente, é banditismo, é Datena,
é Willian Boner, aquela gente não fala de outra coisa que não seja banditismo, e
polícia bateu e são tudo uns cafajestes, é um troço assim né?! Eles não falam ou-
tra coisa. Agora, vejam a grande diferença, gente: essa insegurança é de quem já é,
quem já tem, quem já pode, portanto, as três ordens constitucionais estão mais do
que respeitadas. Agora ela considera inaceitável, até de uma maneira hipócrita a so-
ciedade sujeito, mas ela tolera a injustiça social. Essa violência, injustiça social, os
desmandos do mercado, o descumprimento da função social da propriedade, aquilo
que deixa o povo à margem da possibilidade de ter, de poder e de ser, essa ela tolera.
Por que é preciso uma vigilância muito grande porque quando nós vamos usar o
nosso instrumento – que é a lei, além da nossa palavra, da nossa presença, do nosso
testemunho, nosso instrumento é a lei – eu acho, gente, que quando a gente usa a
lei, tem que estar muito advertido – e aqui já estou passando para o problema do
julgar – tem que estar muito advertido a serviço do que ela está. Porque como diz
muito bem Marx (...), como é que a lei reflete a realidade, conta Marx? Como um
espelho; a lei espelha a realidade; eu se levanto o braço direito na frente do espelho,
a imagem refletida é a esquerda, a minha é a direita, mas a imagem está refletindo a
esquerda. Essa imagem eu acho extraordinária, pra nós vermos o grau de alienação
– viu, longe de mim, Professora Celeste, dizer que é o que acontece aqui na PUC
– mas o ensino do direito na maior parte das nossas faculdades é de uma imagem
invertida. Quer dizer, a gente entra na sala de aula, ouve uma teoria extraordinária
e aí vem o Professor com as fichinhas amarelecidas – não é o caso do Nelson Saule,
nem da Celeste – aí vem ele com aquelas fichinhas amarelecidas e diz assim: gente,
Ihering e Savigny quando definiram a posse disseram que havia dois tipos – a teoria
objetiva, de Ihering, e a teoria subjetiva, de Savigny. Isso é uma coisa do Iluminis-
mo, gente, é lá do início do século XVIII; quer dizer, a posse necessária, aquela do
alimento, aquela da comida, o cara está repetindo Ihering e Savigny, mas pelo amor
de Deus! E olha, gente, eu tenho tido bastante experiência nesse ponto, então eu
acho que os organismos de tutela universitários, como é o caso do Escritório Mode-
lo, teriam também, a gente viu pelo pronunciamento da Celeste as dificuldades que
o Escritório tem de organicamente fermentar o ensino aqui dentro, mas acho que
há duas coisas que temos que escandalizar, eu não deixo de repetir. Eu dava aula lá
na Unisinos e era obrigado a examinar o Ihering e o Savigny, que estão virados em
pó já, os dois, e o mais grave é isso: é que o Ihering e o Savigny, na verdade, para
a época deles, atualizaram o direito romano, ou seja, sacudiram as escamas que o
direito romano vinha trazendo até ali. Nós não nos libertamos até agora nem das
Organizações Filipinas e Manuelinas, continuamos ainda... o Professor de direito
das coisas ainda, na primeira aula de direito de propriedade chega pra vocês e diz
assim: o direito de propriedade é erga omnes; que significa o erga omnes? Erga om-
nes é uma expressão do direito de propriedade da época do direito romano, ou seja,
139
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
contra todos; e o cara diz “contra todos” sem corar; o cara diz “o direito de proprie-
dade é um direito que vale contra todos” e não cora com isso. Quer dizer, função
social, essa coisa toda, não aparece.
Então, esse julgamento que nós temos que fazer das nossas próprias fragilidades,
né... Mesmo para nós que, em vez de descermos – como a gente costuma observar –,
descer até o povo, né?! Nós temos que subir até o povo, porque pelo parágrafo único
do artigo 1º da nossa Constituição o soberano é ele – embora essa seja uma expressão
também extremamente hipócrita: nós sabemos que não é assim. O primeiro artigo da
Declaração Universal dos Direitos do Homem é a mesma coisa: todos nascem iguais
perante a lei; como é que nós vamos comparar uma criança que está nascendo numa
viatura policial com a criança que está nascendo numa maternidade de luxo? É esse
espelho, é essa mão esquerda que a gente levanta a direita... que nós temos que ver.
E nessa suspeita, se vocês acharem que a palavra “suspeita” da lei está sendo muito
violenta, então vamos usar a palavra “discernimento”; mas esse discernimento nós
somos obrigados a fazer: o nosso próprio instrumento é detentor de uma cultura de
dominação; a palavra mais praticada pela Celeste aqui durante a intervenção dela foi
a ética emancipatória, ela nem falou em direito emancipatório, não é?! Coisa que nos-
so querido Boaventura também sublinha muito: passarmos de um direito regulatório
para um direito emancipatório.
Ela generosamente citou um texto meu aí, que o mérito não foi meu daquele
texto, mas da minha inspiração de um perseguido Professor de Filosofia do Direito,
Filosofia da UFRGS, perseguido pelo regime militar; eu gosto muito de procurar
assim pessoas que deram seu sangue, deram sua liberdade em defesa dos Direitos
Humanos.. esse é o Professor Emani Fiori. Eu conheci pessoalmente, tive o privilégio
de conhecer esse Professor do Rio Grande do Sul, já faleceu há anos; ele escreveu o
Prefácio da Pedagogia do Oprimido e ele fornece três discernimentos – se vocês qui-
serem, em vez de “suspeitas” – pra gente ver como o povo tem dificuldade de passar,
agora usando Boaventura, da condição de sociedade objeto para a condição de socie-
dade sujeito.
O primeiro que ele coloca é o da mistificação, ou seja, fazermos da lei, vocês
podem ver os latifundiários ou as pessoas que oprimem dizerem: bom, mas isso aí é
um desrespeito à lei, isso é um desrespeito à lei, isso aí é um desrespeito à lei; nunca
eles falam nas leis do respeito, nunca a dignidade humana passa em primeiro lugar,
aliás só quem desrespeita a lei em nosso país é a sociedade objeto, a sociedade sujeito
como já tem o seu inteiro poder e o ser garantido por ela está bem; então, a efetivi-
dade dessas garantias dessa sociedade objeto precisa também estar vacinada com a
mistificação que se faz da lei, e escandalizar a interpretação e a aplicação que se faz
dela com base nessas hipocrisias, né, da mão esquerda refletindo a da direita, fazendo
o principal o espelho e deixando a realidade aqui fora. Isso é muito pungente nas
regras de processo: não, perdeu o prazo, ou a prova não era autorizada; então passa
140
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
141
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
jurídico perfeito. Até essa expressão me parece extremamente inadequada, né; como
chamar o contrato de ato jurídico perfeito? Quem é que contrata uma empregada
doméstica sem exigir tudo que ela tem que fazer? Qual a liberdade que ela tem nesse
caso, ou um operário desempregado, fazer do contrato um ato jurídico perfeito? É
um ato jurídico profundamente imperfeito, e ele é fonte de muita injustiça; e isso
precisa ficar muito claro; o organismo do... vocês vão encontrar várias consultas de
gente que vai ali com o contrato na mão pra provar que aquele ato não foi perfeito;
tanto não foi perfeito que está praticando uma injustiça tremenda, não é?!
O direito adquirido. Raciocinem comigo, gente. Vamos raciocinar com o espaço
físico, a terra. Como é que o direito adquirido sobre terra pode ser considerado uma
coisa intocável? Um latifúndio urbano, como aconteceu lá no Rio Grande do Sul um
latifúndio que ocupava uma área maior que 4 (quatro) municípios lá no Rio Grande
do Sul, numa zona lá. E lá todo mundo diz que nem se pode fazer reforma agrária,
num latifúndio desse tamanho; o direito adquirido não pode mais ser considerado
direito conservado. Todos os juristas hoje falam que a função social da propriedade
faz parte do núcleo do direito; se ela não está cumprindo, se o direito adquirido sobre
a terra não está cumprindo a função social da propriedade não é que ele possa ser
agredido como inválido, ele tem que ser agredido como inexistente. O único caso
que eu conheço, gente, para vocês verem o absurdo do direito adquirido, o único
caso que eu conheço em que toda a sociedade, todo o brasileiro, vocês que estão aqui
sentados, pagam pela prática de um ato ilícito é a indenização por desapropriação de
um latifúndio que não cumpre sua função social. Nós pagamos por um cara que nos
causa prejuízo; é o único caso em que um prejuízo é remunerado. Pra vocês verem
como essa mão esquerda da lei é o principal, ele passa a ser o principal; passa a ser o
principal de uma maneira tal que nos convence também – não, o proprietário ter que
ser remunerado. O artigo 1228 do Código Civil, que todo mundo considerou uma
grande coisa, um juiz, diante de uma multidão de réus que ele vê que já estão ali há
muito tempo, ele próprio pode decretar a desapropriação; e o parágrafo seguinte diz
que ele tem que pagar. A primeira coisa que o Executivo vai falar é “olha, nós não
temos verba preparada pra isso que o Sr. está mandando pagar aí”.
E a outra coisa, a coisa julgada. Vocês devem ter acompanhado em algumas
revistas de jurisprudência as questões das hiperindenizações. Lá no Rio Grande do
Sul, em Cachoeirinha, houve um caso extraordinário. Sempre se citava o exemplo
da indenização que o Tele Santana tinha ganho do São Paulo depois de trabalhar lá
a vida inteira no São Paulo, tinha ficado lá um tempão, ele parece que ganhou 300
mil reais de indenização. Esse cara, o advogado, procurador de Cachoeirinha entrou
com uma reclamatória contra o município e por conluio ou não com os colegas dele
ninguém reclamou nada, perderam todos os prazos, o negócio foi indo, foi indo, foi
indo, ele ficou com uma indenização superior a do orçamento do município, gente;
e isso é coisa julgada. Como é que se pode tornar intocável – ah, bom, mas então
142
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
temos que entrar com uma rescisória – mas quando é todo o poder público que está
sendo vítima disso, que não foi parte na ação, né, todo o município vai pagar isso aí...
Então, essa história, eu sei que eu to aqui colocando uma porção de coisas, mas esses
dogmas todos tornam o espelho principal em relação à realidade, gente. E a lei não
pode fazer isso, gente, não pode.
Agora eu ia falar nisso, mas acho que o José Geraldo, o José Geraldo falou para
vocês no direito achado na rua aqui hoje de manhã?! Falou, não é?! Eu só ia dizer
isso, que esse direito legal ignora o direito achado na rua que é esse do diálogo, que
eu falei pra vocês, do silêncio, do gesto e da palavra! E o pluralismo jurídico, que tem
origem em outro lugar, não é dentro da universidade, nem dentro do poder público.
Bom, uma ideia que eu queria colocar pra vocês, que é uma coisa que eu acho
extraordinária, mas eu tenho até medo de colocar, porque já tem gente queimando
isso, mas é uma ideia extraordinária, para terminar.
É o seguinte: todo nosso ordenamento jurídico, todo ele é fruto da colonização
europeia. Todo nosso ordenamento jurídico, toda fonte hermenêutica de interpreta-
ção e aplicação, é europeu, não é nativo. O que a Constituição do Equador fez e o
que a Constituição da Bolívia fez? Venezuela também, até um certo ponto, mas espe-
cialmente a da Bolívia e a do Equador. Seria interessante, Celeste e Nelson, fazermos
um estudo, vamos desafiar aqui este auditório, fazer um estudo das Constituições do
Equador e da Bolívia. É uma tentativa que está havendo em toda a América Latina, de
se criar um constitucionalismo latino-americano, e o que vale mais às nossas heran-
ças, que são tão saudáveis; aqueles exemplos que alguns professores nossos davam
que um índio nunca vai numa fonte ou num rio pescar um peixe que não volte pra
casa, mesmo que seja um só, sem repartir com todos. Esse espírito de fraternidade,
de solidariedade, ?! Essa maneira do pobre matar, pelo menos no meio exposto do
capitalismo o que ele tem de mais nocivo, né? Ou seja, o capitalismo o que é que
diz? Quanto mais é melhor. Se eu tenho muito, o muito nunca me chega, eu tenho
que sempre acumular. Qual é essa nova perspectiva? É o suficiente para todos! E é
uma perspectiva que, por incrível que pareça a vocês, bebe na fonte da etimologia da
palavra, porque economia é uma palavra que vem do grego “oikos” = casa, “nomos”
= norma; as normas da casa, ou seja, aquilo que é partilhado para todos, dentro de
casa. Coragem, gente!
143
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Perguntas
Pedro Muniz
Boa tarde a todos e todas mais uma vez. Na verdade, não é nem uma pergunta;
às vezes estamos acostumados a, quando estamos numa palestra ou numa apresen-
tação, vir aqui para frente e perguntar ou fazer uma intervenção. Porque falar aqui,
enquanto aluno de Direito; é muito bom quando ouvimos esse outro lado; porque na
academia, nós que estamos do lado de cá somos minoria. Era só, na verdade, para dar
um agradecimento aos lutadores e às lutadoras que estão do lado de cá e que espe-
lham-se nas (...) de geração. É só isso mesmo. A todos vocês.
Julia Moretti
Também agradecer a presença do professor Jacques, que nos inspira há muito
tempo; sua filha também, Betânia; e a professora Celeste e o professor Nelson que
estão aqui, que contam a história desse escritório, que é realmente um espaço de luta
muito importante.
A pergunta que eu coloco para a professora Celeste, e o professor Jacques, é a
seguinte: como nós fazemos para fazer do Direito um espaço de luta legítima? Por-
que também não podemos desconstruir o Direito; como fazemos para reconstruir o
conceito de posse, reconstruir o conceito de propriedade? Como fazemos para, sem
negar as estruturas normativas? Porque ao mesmo tempo, são conquistas da huma-
nidade nós construirmos um sistema de normas, em que não dependamos mais da
avaliação do justo e do bom daquele que está no poder, simplesmente. Nós temos
momentos na história em que o Direito era um Direito da Força. Hoje continuamos
tendo um Direito da Força, talvez mascarado pelas normas mas nós já avançamos,
porque incorporamos dentro do Direito o conflito.
Como? Na advocacia popular, o nosso grande dilema é: como, sem negar o Di-
reito, trabalhar com ele para a transformação? A pergunta que eu coloco para vocês é
esta; é um equilíbrio às vezes difícil. Sem negar as instituições, sem negar os ganhos
da norma, da segurança, ou da justiça, que construímos; mas como reconstruí-las?
Rafael Macedo
Boa tarde. Na verdade, eu estava pensando – com a apresentação da professora
Celeste, depois com a do professor Jacques; e com a pergunta do Pedro: nós, os apli-
cadores de Direitos Humanos, sempre pensamos que devemos aplicar os Direitos Hu-
manos, e nós sempre criticamos como isso não é ensinado na faculdade, e demons-
tramos isso. Nós explicamos para todos: “isso não deve acontecer, isso é uma forma
errada de se passar.” Mas o que falta – e isso eu sinto falta, e é uma coisa que, fazer
parte de um Escritório Modelo; trabalhar com os estudantes de Direito numa fase em
144
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
que eles estão ainda bem embrionários. Nós demonstramos que, potencialmente, eles
podem fazer tudo. Evidentemente que eles podem ser conduzidos de um lado ou de
outro; mas o que sempre falta é explicar o porquê. Por que ele vai ser conduzido de um
lado, e por que ele vai ser conduzido do outro?
Porque em determinado momento do ensino jurídico se apresentam as teorias
clássicas, e assim é demonstrado, e assim se têm as convicções. Geralmente, em de-
terminado momento, lá pelo segundo, terceiro ano da faculdade, começamos a abrir
um pouco mais as perspectivas, e falar: “mas espera, têm outras coisas que nós po-
demos fazer também com o Direito.” Começa uma dicotomia. E eu sempre vi isso
como um “grande mal” dos Direitos Humanos: é uma noção de que o observador
dos Direitos Humanos descobriu algo diferente que aquele tradicional ainda não viu.
E por isso se sente de alguma forma superior a esse tradicional e deixa de explicar
para esse tradicional porque ele não pode fazer de algo diferente. Uma pergunta bem
simples: por que eu tenho que respeitar o Direito da sociedade-objeto, se eu sou a
sociedade-sujeito? É que nós partimos pelo pressuposto – que é muito óbvio que eu
devo partir; eu tenho que respeitar, mas não é, necessariamente.
Na palestra de hoje de manhã, do professor Jose Geraldo, inclusive, ele fez a
observação: que a maioria dos juízes vem da classe média, média alta; isso tem uma
lógica com essas pessoas com que nós trabalhamos; a aplicação do direito novo. Falta
um pouco, não só trabalharmos o direito novo, mas – até fazendo uma analogia com
os rutilhos, da professora Celeste – nós temos que contaminar um pouco os métodos
tradicionais. Para que a pessoa, quando nós fizermos uma observação dos Direitos
Humanos, não tenha que defender a si mesma.
Às vezes, quando nós criticamos, por exemplo – por que é que o Datena é tão
caricato daquele jeito? Porque em determinado momento o defensor de Direitos Hu-
manos foi bastante rigoroso, e que num outro momento mais passado ainda os defen-
sores de Direitos Humanos sofreram uma outra violência, e aí ficamos numa teoria do
espelho eterna, que nunca para.
Noam Chomsky fez uma observação na época do 11 de setembro; ele falava:
“caíram as torres, mas o fundamentalismo islâmico (...) o imperialismo americano.”
Mas o mal é o mesmo. Às vezes, os defensores de Direitos Humanos têm um discurso
um pouco exclusivo; diria excludente, na verdade: exclui aquele que poderia ser um
parceiro. E o Direito pode ser parceiro; o Direito na verdade é algo que pode ser tra-
balhado; o Direito mais tradicional pode ser um parceiro.
A importância do núcleo de prática é também pegar o operador do Direito, não
só o tema em si – mas também contaminar o operador do Direito, para que sendo
ele defensor, juiz, promotor, um grande empresário de uma grande empresa (que
vai ter os interesses da empresa), mas que não precisa ser um violador de direitos. O
meu comentário, minha observação – talvez uma crítica, também – ao nosso próprio
145
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
posicionamento: nós temos que ter um caráter um pouco mais abrasivo; nós temos
que nos infiltrar; e não só fazer dois times, como se fosse muito óbvio que houvesse o
“time do bom” e o “time do mau”. Sendo que, em verdade, a luta é por todos; existe
um motivo para isso.
Janaína Gomes
Boa tarde. Sou a Janaína; eu coordeno a Clínica de Direitos Humanos Luiz Gama,
da USP, com o Alcir que está aqui hoje, também. Nós viemos prestigiar o evento, pa-
rabenizar. Obrigada. É um evento super-rico. É uma satisfação estar aqui.
Eu faço pós-graduação, em Direitos Humanos também, e é muito legal estar
aqui e ver que nós compartilhamos um dilema existencial, especialmente com o Es-
critório Modelo – que a professora comentou –, que é: se nós somos uma ONG, se
nós fazemos uma assessoria, se nós fazemos uma formação para o nosso aluno; se nós
realmente mudamos a vida dessas pessoas quando atuamos com elas.
O nosso público é, mais especificamente, população em situação de rua; mas o
tempo todo temos demandas da sociedade. Gostaria que a senhora aprofundasse um
pouco isso; como podemos dar conta desse dilema que discutimos o tempo todo na
Clínica, e felizmente não é um dilema só nosso, não é um problema que nós não es-
tejamos maduros ou estruturados: é um problema que todos nós carregamos. A pro-
fessora Fernanda também chegou a tocar nesse assunto. O nosso foco é a formação
do aluno, mas às vezes temos discussões: “será que essa troca não é egoísta?”, porque
aprendemos tanto mais da realidade do que somos capazes de dar. Quando fazemos
uma ouvidoria comunitária para ocupação em situação de rua; frequentamos também
espaços políticos, recebemos muito mais do que damos. Essa é a nossa conversa na
Clínica o tempo todo. Gostaria que talvez os senhores explorassem isso um pouco.
E o (...) comunitário é uma pergunta relacionada com isso, mas não é uma
pergunta fechada. O professor Jacques falou que eles têm como postura chegar em
silêncio em um espaço: acho isso muito interessante; sou formada em Antropologia:
é uma tentativa que faço na Clínica. É um aspecto em comum que o Direito tem com
a Antropologia; (...) muito de Ciências Sociais e como isso se relaciona um pouco,
mas que o desafio da Antropologia é enxergar o outro – e o do Direito também, do
Direito que queremos praticar. Nós queremos enxergar o outro, queremos ver a alte-
ridade. Como podemos lidar com isso e mostrar para o aluno do Direito que ele tem
que enxergar; não é um silêncio de só ouvir e não absorver mas é aquele silêncio que
enxerga, que percebe o outro. Esse dilema de como é que nós podemos transferir para
nós e para os alunos, para os nossos parceiros, como podemos transformar o opera-
dor do Direito que aprende a falar e a ditar a realidade, em um operador do direito
que aprende a realidade e não fala por ela, mas, com ela em parceria? Esse é o dilema
que nós temos hoje na Clínica. Aproveito para apresentar esse nosso dilema, e que
estamos aceitando contribuições e ajuda nesse debate. Obrigada.
146
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Delana Corazza
Boa tarde. Gostaria de agradecer a fala dos professores. Eu fiz uma entrevista
uma vez com um defensor público do Estado, Carlos Loureiro que era coordenador
do Núcleo de Habitação e Urbanismo da Defensoria. Ele estava um pouco desanimado
com o próprio Direito, e ele falava que era o momento de nós tentarmos buscar o vi-
gor popular, e refundar esse vigor popular talvez de algumas décadas atrás e que ele
achava que não era pelo Direito.
Porque, na verdade, a minha conversa com ele era no sentido de como fomentar
isso dentro da universidade, e ele falou que tinha perdido um pouco essa expectativa.
Ele achava que pelo contrário, era o momento de nós nos despirmos um pouco do
nosso saber técnico, do saber técnico do Direito – eu não sou advogada, sou sociólo-
ga; mas ele falava que há diversas coisas que não se aprende na faculdade: que olhar
para o outro, que escutar, não se aprende na faculdade. Era o momento de se despir e
ir até a favela, até a comunidade, para reviver; para tentar recuperar esse vigor popu-
lar. Isso dialoga um pouco até com a pergunta da Julia, no sentido de qual o papel do
Direito, como fazer do Direito um instrumento? E o Carlos falou para mim que não
é pelo Direito; então eu pergunto: qual o papel do Direito, e até onde nós podemos ir
enquanto advogado popular, enquanto sociólogo...?
147
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
148
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
arrogante, porém, facilmente tolhido pela falta de esperança, falta de autoestima, até
pela arrogância que é o pior de todos os problemas – egos não faltam, para nós todos.
Por outro lado também, talvez tentando pegar um pouco daquilo que o Rafael
trouxe de como é que nós também nos encastelamos neste ou naquele papel e se jul-
gando melhor ou pior, como é que descartamos o outro também. De fato, deveríamos
aprender a ouvir, compreender e se colocar do outro na faculdade. Diferentemente
do que o Carlos disse, na faculdade nós não aprendemos nada disso, nós deveríamos
aprender. Não aprender; deveríamos fortalecer isso, porque isso é uma postura de
vida que você pode assumir e pode estimular, ou pode não assumir e não estimular.
Não interessa se você defende os Direitos Humanos; se você é da defesa do mundo-
-objeto ou da defesa do mundo-sujeito, você pode assumir essas posturas. O compo-
nente ético é o componente que precisa ser trabalhado profundamente entre nós e de
nós para os outros.
Falar sobre ética entre nós é muito importante. Se nós vamos ser uma ONG, isso
é uma formalidade; na origem, eu posso ser uma unidade acadêmica, isso não quer
dizer que eu não possa fazer o que a ONG faz e vice-versa. Se eu continuar, como
ONG, como unidade acadêmica, como unidade somente estudantil que tem mais
autonomia, encastelada em minha arrogância, então dá licença, não precisa ser nada;
ou seja o que você quiser porque você não vai estar trabalhando pela efetividade de
direitos. Porque só fazemos isso em cima desse comportamento ético emancipatório.
Como fazer para levar isso para as pessoas? Primeiro, temos que levar para nós
mesmos. Tenho passagens da minha vida que eu, às vezes, queria apagar (...) eu não
tive ética naquele momento, ou não tive uma ética total. Mas, enquanto eixo de vida,
é preciso estimular o comportamento ético, o comportamento de defesa das liber-
dades; passa por aí. O que significa, também, Rafael, dizer que não há ingenuidade.
Não pode haver ingenuidade da nossa parte, porque a vida não tem o componente da
ingenuidade se quisermos observá-la e vivê-la na sua amplitude.
E, por fim, o papel do Direito, em primeiro lugar é um papel de intersecção. Ele
não faz nada sozinho. Não sei se eu seria tão radical, mesmo muito desanimada, de
dizer como o Carlos Loureiro disse, que não passa pelo Direito. Eu sou mais propen-
sa, pela minha experiência, a dizer, passa também pelo Direito. Mas passa pela visão
meio ingênua e ao mesmo tempo atenta de entender que não podemos perder o vigor,
como ele chamou, vigor popular. Às vezes, também ficamos nas nossas redomas e
não conseguimos nos renovar. Não é porque eu sou defensor dos Direitos Humanos
que eu sou realmente justo, equilibrado. Um componente crítico é supersignificativo
para quem atua com o Direito, sejam os advogados, os operadores do Direito da área
ou não, como o seu caso como socióloga, que é tão importante. Como travar um
diálogo efetivamente interdisciplinar, multiprofissional, se não conseguimos ouvir o
outro? Não passa só pelo Direito, mas o Direito tem um papel fundamental por causa
149
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
do formato de sociedade que nós temos, então, não é desprezível; ao contrário: é pre-
ciso olhar para ele com bastante responsabilidade. Ao mesmo tempo, se o Direito não
sabe ouvir, o operador do Direito precisa saber, senão ele só reproduz os esquemas
persecutórios, a não ser que ele já tenha optado por esse lado, o que pode acontecer
com muita frequência. Muitas vezes, você vai pegar um juiz que não está preparado,
ou que está despreparado de alguma forma por exemplo, para lidar com a questão
da criança e do adolescente, que o Eduardo lidou durante tanto tempo. Ele não tem
o menor preparo para sentir, com sensibilidade mesmo, o que aquela criança é, e o
que ela vive, e o que ela deseja. E, às vezes, num trabalho com ele nós conseguimos.
Mas existem aqueles que não têm sensibilidade nenhuma e não querem ter, também.
Como é que nós fazemos? Vamos parar de lutar? Não! Nós vamos escandalizar. Há
momentos em que se tem que escandalizar; seja numa petição, numa peça inicial,
numa prova de direito, ou numa negociação, com a própria sociedade – porque às
vezes também é preciso dizer para o movimento popular, “espera um pouquinho,
estou aqui para ouvir; você tem que também me dar um espaço de troca”. Essas são
bases de valores que podem nos ajudar. Mas o Direito é um instrumento de intersec-
ção – deveria ser; mas ele pode também não ser porque ele tem, como todo fenômeno
social, uma dialética de contrariedade, e ele acaba indo para um lado ou para o outro.
No (...) que está colocado socialmente, ele é um instrumento opressor, mas ele tam-
bém desoprime em alguns pontinhos através de alguns rutilhos. Um dia a pedra vai
se transformar, eu tenho certeza.
150
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
de muito mérito. Eu estava vibrando com isso, fiz todo um (...) do Sul a respeito des-
se acórdão, não durou dois meses. A vida do defensor dos Direitos Humanos é uma
vida muito complicada. Não demorou dois meses, e um colega do Gilson Dipp, num
caso idêntico, praticamente, decisão também do Superior Tribunal de Justiça, deferiu
o pedido de intervenção para ser cumprida a ordem de reintegração de posse. Mas
eu queria deixar bem claro isso: as brechas da lei, àquilo que a lei nos favorece, por
exemplo, as garantias devidas aos direitos humanos fundamentais e sociais, que não
são cumpridas; nós temos que ter habilidade para fazer isso. E outra coisa importan-
te é que a nossa presença não pode ser turística. Quem defende direitos humanos é
melhor nem se meter nisso se é para fazer uma “visitinha” lá e nunca mais aparecer,
porque aí desmoraliza não só a própria defesa dos direitos humanos, não só aquele
que defende os direitos humanos, como a própria causa dos direitos humanos.
E com isso já aproveito também para socorrer aquela outra companheira nos-
sa, que levantou as dificuldades do Judiciário. Porque o defensor dos direitos hu-
manos é um testemunho também; ele paga um alto custo por isso. Ele começa a
ser marcado; inclusive a sociedade-sujeito marca esse cara: “esse aí é um aloprado”,
“não dá pra se contar com esse sujeito”, “esse aí precisa ser domado”. Isso é uma
coisa que tem que ser bem pesada, porque o Judiciário também começa a (...) em
determinado advogado. Eu tive um caso numa Câmara de Tribunal no Rio Grande
do Sul, em que havia seis inconstitucionalidades presentes no deferimento da limi-
nar. E como eu tinha contado antes aquela história da outra relatora (...) eu estive
assistindo um agravo de instrumento; não sei aqui em São Paulo, mas lá no Rio
Grande do Sul não se permite sustentação oral em agravo, só em apelação. Aqui não
sei se é assim também. Não houve uma palavra sobre as seis inconstitucionalidades
que estavam provadas. Todos os desembargadores fizeram o seguinte: o MST é um
movimento de origem, mais do que justificado, é o chamado direito adversativo;
a reforma agrária é uma necessidade, esse povo está passando muita fome, o MST
– mas aí vem o final, como é que foi o julgamento –, mas é um movimento que
perdeu completamente o seu endereço: aí vem um juízo de valor. Não tinha nada
a ver com o processo, é aquilo de julgar o pobre pelo que ele é, e não pelo que ele
faz. Esse foi o julgamento.
Essas dificuldades com o Judiciário e com a sociedade-sujeito nós vamos ter que
enfrentar, não tem como. O desânimo, como colocou a Celeste muito bem; o desâni-
mo é falta de fé. Não estou nem falando de fé espiritual; estou falando em falta de fé
daquilo que nós fazemos. Porque os direitos humanos não trabalham pela aplicação
da lei: eles trabalham pela implantação de outra justiça que não é essa aí. Por isso,
é que eles se chamam “humanos”: “húmus” = terra; mão; é uma construção, é uma
constituição. Constituição é uma palavra, que aqui no Brasil, a Constituição só olha
para trás. Mas como? A própria palavra “constituição” está dizendo, “tem que olhar
para frente”, constituir. Criação; a criatividade a que fez referência a Celeste.
151
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
O desânimo é falta de fé: “eu não acredito no que estou fazendo”, “vou desa-
nimar, é melhor eu ficar na minha.” Nós só vamos fortalecer a opressão e a injustiça
social. E esse vigor popular, esse ensino que está despido desse contato com a realida-
de. O problema do oprimido é o problema do oprimido: enquanto nós não sentirmos
também no Escritório Modelo como é estar sendo oprimido por não ter o espaço que
tem, continua tendo mesmo problema dos oprimidos. Ele é que tem que resolver o
problema dele; nós somos solidários com ele. “O problema é teu”; não é essa indi-
ferença; é ficar junto com; solidariamente. A Celeste usou uma palavra linda, “com-
preender”: até a etimologia da palavra nos diz bem o que é: “com” já diz que é mais
de um, companhia; “prender”, vou aproveitar e dar um abraço nela. Quer dizer, nós
só compreendemos mesmo aquilo que abraçamos. Aliás, os namorados e as namora-
das sabem muito bem disso. Enquanto não estamos juntos com esse povo, enquanto
somos turistas lá a coisa não acontece.
Lema do capitalismo: qual é o principal lema do capitalismo que manda mais do
que a todas as instituições e que é exatamente o contrário dos direitos humanos; qual
é o lema daquilo que é superior a todo poder: eu só sou se derroto você. O lema do
capitalismo é esse: eu só sou se derroto você, nem que eu tenha que pisar em cima do teu
pescoço. A chamada competitividade. Eu tenho que te esmagar, eu tenho que vencer.
Sempre mais é o melhor, não o suficiente para todos.
E qual é o lema dos direitos humanos? Eu só sou se você também é. Para
encerrar, porque acho que vocês já estão cansados, e nós também: eu não queria
sair daqui sem pedir um favor. Eu consegui uma listinha de todos os que estão fre-
quentando; vocês poderiam colocar aqui, na saída, uma estrelinha? Porque estou
fazendo, do lado do nome de vocês, para quem tiver curiosidade; estou recebendo
críticas, estou tendo chance de escrever dois textos por semana naquele site de Belo
Horizonte; aquele site me deu essa oportunidade. Falei para vocês que eu estive lá,
não é? Estou escrevendo dois textos e as críticas de vocês seriam muito boas para
aprimorar isso. Eu tenho recebido muitas críticas em Belo Horizonte. Tem um cara
lá que (...) mandou dizer para mim: “melhor do que Satanás, só tu.” O cara não
gosta das coisas que eu escrevo.
Queria concluir com uma expressão do Walter Benjamin, um sujeito que se
suicidou, ele era um grande pensador, e ele sabia que era judeu. Ele estava foragido
na Espanha, ou um país aí, e a Gestapo descobriu. E ele, para não cair na Gestapo
– era aquilo que eu estava dizendo para vocês, eu respeito muito essas pessoas que
morreram em defesa da própria dignidade e da dignidade alheia. O que diz o Walter
Benjamin: “a tradição – vejam que nós enfrentamos em todos os programas (...) – nos
ensina que o Estado de exceção em que vivemos é, na verdade, regra geral (mesmo
na democracia, é regra geral). Precisamos construir um conceito de história (ou seja,
essa historicidade de ir até a (...) do povo massacrado, humilhado, desprezado) que
corresponda a nossa verdade (e dê resposta a isso – nós estamos em um Estado de ex-
152
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
ceção). Nesse momento (ou seja, nesse momento histórico) percebemos que a nossa
tarefa é criar um verdadeiro Estado de emergência.”
Que palavra. Ou seja, nós estamos todos sendo pressionados por uma violação
massiva de direitos humanos da qual o Estado é cúmplice. Nós temos que ter a ener-
gia e o poder – aquela pergunta feita aqui, também; a menina chegava tão angustiada:
“mas afinal de contas, estou há seis anos trabalhando nisso, e como é que isso acon-
tece?” Esse é o drama e essa é a angústia de todo o não ser. Essa menina está mos-
trando com isso que ela está identificada. Vamos procurar esse Estado de emergência
e vamos criar essa energia e vamos criar este poder. E vamos trabalhar por esse povo
humilhado, desprezado. Coragem, gente...
153
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
nas públicas. Mas vou trazer aqui os desafios, e se for o caso nos debates aprofun-
damos, o professor Jose Geraldo, bem como o Professor Guilherme, falaram sobre o
índice do deslocamento de competência do caso Manoel Matos que já esta agora com
mais de 40 volumes na justiça federal, e temos mais ou menos o conhecimento do
que a gente vivencia na prática, lá na Paraíba, e no estado vizinho do Pernambuco.
E também no tocante das outras perspectivas que estamos saindo dos muros
da universidade federal da Paraíba e buscando esses novos direitos, essas novas
perspectivas, que a gente chama lá de novos olhares nas novas perspectivas na
construção do direito. Na carreira jurídica, na figura do conhecimento jurídico
como um todo.
Eu preparei alguns slides, serei breve em razão do avançado da hora, mas que-
ro que vocês perguntem porque é a partir do debate que a gente enaltece as ideias a
serem discutidas. Estamos em estados distantes, mas, as vezes, temos características
próprias e deficiências próprias seja em São Paulo seja no estado da Paraíba.
E felizmente temos aqui uma notícia boa, a questão da chuva, a gente lá na
Paraíba isso, é comum. A gente passar 3, 4, 5 anos sem uma chuva sequer, princi-
palmente no interior do estado. Aí pessoal, inicialmente, como eu faço parte agora
de uma equipe nova de um curso novo, no tocante à UFPB. Temos um curso lá de
direito que já tem mais de 60 anos, porém, por conta da reestruturação universitária,
o volume, a gente promove, deve promover, desde 2009 uma nova perspectiva, um
novo curso de direito na própria faculdade da UFPB.
Por isso, temos dois cursos de direito em uma universidade só. Mas como é que
pode isso?! A figura do promover esta perspectiva. Eu faço parte deste novo curso
de direito, de Santa Rita, a gente fica somente 25 km da sede, antigamente oficial, do
curso de direito de João Pessoa.
Mas eu vou trilhando aqui os caminhos e trazer os novos profissionais que estão
trilhando um novo caminho para o direito no estado da Paraíba. Neste caso, a liber-
dade acadêmica que é de Santa Rita, no caso funcionamos com outro curso de direito.
Esta liberdade nos levou um pouco a sair daquela grade curricular, tão já fala-
da pela professora Celeste falou, professor Jose Geraldo e professor Guilherme de
Almeida, nesta figura sedimentada e centralizada que é a grade curricular de direito.
Uma grade curricular muitas vezes antiga, muitas vezes não reformulada e não
discutida em diversas áreas. Temos praticamente a convenção do ensino jurídico da
OAB que abordam esta nova condição, de trabalharmos melhor essa grade curricular,
esse novo curso de direito no nosso país.
E demais, seriam aqueles ditames que o próprio MEC estabelece em 2004 e 94,
no tocante a especificar o que vem a ter e o que não pode ter, vamos dizer assim, no
ensino jurídico, no âmbito do Ministério da Educação.
154
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
E, pra sair desta esfera do sectarismo da grade curricular originária que temos
aí, praticamente, 9 períodos ou 4 anos e meio de direito civil na nossa grade, temos aí
o curso todinho permeando o direito penal, buscamos uma alternativa plausível que
dá também pra universidade privada trilhar – que foi a extensão universitária.
A partir da CF, temos a o tripé da universidade: ensino, pesquisa e extensão. Nós
lá focamos na extensão.
Temos um autor paraibano que traz justamente esta abordagem, busca anteci-
par as próprias figuras da pesquisa e do ensino, ou seja, a gente trilhar um caminho
extrassala de aula para esses novos direitos. O direito achado na rua como diz o
professor Jose Geraldo. Temos essa prática efetiva seja nos muros da universidades
seja fora dela.
A gente como professor universitário, cujo corpo é formado eminentemente por
professores com dedicação exclusiva, não podemos sequer advogar. Temos esse cami-
nho que ou o professor faz esse tripé ensino, pesquisa e extensão ou sequer ele perde
o regime de dedicação exclusiva e perde a carga horária de 40 horas.
Vários professores que trilharam esse caminho objetiva buscar, a partir da ex-
tensão universitária, esse novo módulo.
Ao sair da universidade e buscar o hospício – não é porque a gente do direito
é anormal não –, mas nós buscamos em diversos grupos e segmentos essa nova si-
tuação de que os atores sociais, os sujeitos/objeto – como disse o professor Jacques
Alfonsin – estariam esquecidos. Esquecidos quer seja pelo poder público, quer seja
pela própria atuação legislativa.
Por isso, fomos atrás desses novos atores e novos agentes no estabelecimento
de direitos de cidadania a essas pessoas, seja requerendo a parte mais administrativa,
mais singela do próprio estado, seja possivelmente trilhando a partir de parcerias
novos caminhos jurisdicionais na defesa do direito dessas pessoas – seja no próprio
hospício, dos internados – seja no próprio sistema carcerário.
No tocante à figura dos hospícios, ou de casa de guarida de pessoas especiais,
tivemos uma grande conquista no tocante a essa situação. Hoje em dia a gente não
trabalha mais com a figura do manicômio, com a figura de penas para essas pessoas
consideradas “anormais”.
São medidas tomadas, lógico dependendo da gravidade de cada interno, são
medidas próprias sem a ideia de prender – não existe mais a figura do choque elétrico
para tratamento de internos naquela unidade. Isso aí já foi um avanço grande, que
viu que a universidade estando lá se tem, ao menos, uma pressão de um organismo
específico universitário para defesa desses direitos.
E, buscando essa alternativa, saindo da faculdade, nós fomos ousados no tocan-
te a mexer na nova grade curricular.Todos os professores partem do princípio de que
155
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
temos que trabalhar com os alunos uma teoria crítica do direito. A partir dessa base,
a teoria crítica do direito, temos que reestruturar nossa grade curricular. Colocamos
na nossa grade curricular, de forma obrigatória, duas disciplinas que eram esquecidas
– mas não deixam de ser extremamente importantes, a primeira delas foi a DGSV –
Direito dos Grupos Socialmente Vulneráveis.
Pela primeira vez, tratamos este tema na academia de forma obrigatória. Além
do mais, ainda é pré-requisito a cadeira de direitos humanos. Ou seja, são duas dis-
ciplinas que enfrentamos o conservadorismo do curso antigo, desde a década de 50.
A gente pensou, o salto quântico, pelo menos por um ano esses estudantes de direito
vão ver direitos humanos.
Tanto na cadeira que é pré-requisito DGSV seja na cadeira de direitos huma-
nos propriamente dita. Buscamos fora, para depois ingressar na nossa academia.
Ou seja, de trabalhar dentro da cabeça dos professores também, que deveriam ter
essas novas duas cadeiras. Ou seja, é um fenômeno que fomos pra extensão pra a
partir da extensão a gente voltar pro ensino. É uma questão cíclica da própria uni-
versidade.
E também só para lembrar vocês, de que é um patamar lato sensu, as universida-
des gozam de independência no ensino pesquisa e extensão, e a gente busca isso in-
cessantemente. Temos proporcionalmente, em toda a faculdade, o maior número de
projetos de extensão no tocante à extensão das ciências humanas. E eu vou mostrar
aqui a partir do eixos temáticos, especialmente do Centro de Referência de Direitos
humanos, que é a nossa mola mestra a partir da defesa dos direitos humanos no or-
ganismo universitário.
Nós atribuímos centro de referência de direitos humanos por força de editais
específicos, seja pelo edital do MEC, seja pelo edital da secretaria especial de direitos
humanos – que no caso aqui a PUC também já teve alguns editais que participaram,
como o balcão de direitos, a gente trabalha aqui da mesma forma.
E aqui pessoal o objetivo de cada organismo desse, o objetivo lá do centro de
referência, justamente é atender as pessoas menos favorecidas, a questão do próprio
estudante, como falou a professora Celeste, a gente também tem esse viés.
Atender a população, anteder o estudante mesmo, aí gente temos o diferencial
com outros cursos de direito, seja de toda a região.
A gente não trabalha só os editais, mas também focamos o trabalho com os
alunos de psicologia e serviço social. Ou seja, esse caráter interdisciplinar invade a
seara de multidisciplinar. A gente trabalha essa figura dentro dos nossos editais – em
especial aqueles que trabalham o sistema carcerário, questão fundiária, etc.
E aqui pessoal eu trago um pouco um esboço do que a professora Fernanda fa-
lou nessa seara da evolução desses organismos universitários. Lógico, essa gradação
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
que começa com o escritório de prática forense, pode ter sinônimo com um escri-
tório de prática forense com características ímpar. Estou falando em uma gradação
cronológica, não de mérito dos núcleos em si.
Temos essa figura do escritório de prática forense, aí vamos falar da década
de nossos pais, avós... e temos essa figura de que o bacharel em direito, ele é for-
mado necessariamente para ser advogado. Não é nem um defensor da cidadania,
vamos dizer assim que é o sistema basilar. Ele é um advogado, propriamente, um
advogado.
Muito embora hoje os cursos jurídicos em sua maioria, embora tenha alguns
que se insurjam contra eles, são cursos jurídicos formados para somente quem faz
concursos. SAJU, Escritório Modelo de advocacia, que é o caso de vocês, original-
mente tratar litígio individual para depois tratar o coletivo/estratégico por assim
dizer, principalmente na década de 70/80.
SAJU’s advocacia popular sempre permeou o Rio Grande do Sul. Na Bahia
vocês têm os SAJU’s que foram os primeiros 50/60 anos dessa assistência jurídica
popular, advocacia popular. Coloquei aí uma barra que indica a mesma situação
que pode ter a participação de professores universitários também nos SAJU’s. Mas a
criação, o molde como é formado inicia com os estudantes.
Núcleos de prática jurídica, começa aí na década de 90, exigência do próprio
MEC em ter um núcleo de prática jurídica nas universidades, no ano de 2004.
Configuração do núcleo de prática nas atividades complementares, obrigató-
rias ou não obrigatórias, a partir da prática jurídica que você tem, principalmente,
aí no último ano do curso, 7, 8, 9 período.
E depois temos essa nova perspectiva, que aqui posso até adequar na figura da
nossa apresentação, do nosso seminário, que são os novos organismos. Estágios de
praticas jurídicas. Ou seja, são a partir de determinados atores, a partir de determi-
nados conflitos sociais, você tem um novo viés pra defesa de direitos, seja de caráter
individual que é o mais comum, até o mais coletivo.
E, aqui, propriamente, colocamos esse estágio de prática jurídica no final da
década de 90 começo dos anos 2000 e agora no ano 2010 pra frente você tem essa
nova iniciação com o estudante de direito. Que não está sedimentado em nenhuma
grade curricular estes novos institutos.
A gente fala de clínica, mas clínica é extra grade curricular, em sua maioria
de forma voluntária. Você tem uma busca pela institucionalização, mas o centro de
referência não está institucionalizado.
A gente participa de editais, e tem ganhado em alguns, em específico para
distribuir bolsas para os alunos. Mas pode ser que cheguemos ao ponto que a gente
não mais participe e fique o CRDH. A gente não quer deixar essa peteca cair.
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Temos a prática simulada, a prática real, e a discussão que paira agora, sobre
essas novas práticas, é que todo núcleo de prática jurídica vai ter que estabelecer
em parceria com tribunais de justiça, com MPE e MPF, temos que estabelecer a for-
ma como meio alternativo de resolução de conflitos.
Tem uma mediação, arbitragem, e tem a resolução específica do CNJ, Resolu-
ção 125. Ela prevê que todos os tribunais, sem exceção têm que promover este tipo
de prática.
Muitos tribunais, lógico, não querem dispor de funcionários para essa forma
alternativa. E muitos magistrados, para este fim, firmam parcerias com universida-
des privadas – o que não deixa de ser um ganho para o aluno de direito
Também temos a formação de promotores populares. O estudante pode ser ca-
pacitado também para formar pessoas em direitos. Não deixa de ser prática jurídica
você capacitar pessoas, especialmente os direitos da cidadania. Começando aí com
o direito de registro indo aí para os direitos de cidadania como um todo.
Vocês podem ter certeza que este será o novo olhar para este novo núcleo de
prática que está sendo fomentado – possibilidade de o estudante ser um agente
multiplicador dos direitos de cidadania. Por isso pessoal, é importante que vocês
trabalhem essa perspectiva também. O empoderamento do estudante para o em-
poderamento das pessoas também. Porque capacitando pessoas, elas vão fazer a
difusão desses direitos, especialmente aqueles de cidadania.
E pessoal chegamos no foco da nossa experiência. CRDH foi um centro criado
principalmente em 2009, inicialmente com o sistema muito precário. A gente prati-
camente não tinha sala, não tinha material humano pra trabalhar. Só alguns alunos,
advogados, pra trilhar esse caminho que felizmente tivemos, desde 2009.
E felizmente nós temos alguns pontos que louvaram a formação deste centro
de referência. Inicialmente o corpo de professores, especialmente de Santa Rita,
são professores na maioria das situações, egressos do próprio programa de mes-
trado em direitos humanos da própria FPB. Ou seja, os professores proferiram
o metrado stricto sensu e se capacitaram pra tal e felizmente estão passando nos
concursos por lá.
Eu sou exemplo disso.
Apesar de ser professor de direito do trabalho, também envolve direitos hu-
manos. Estou aí no campo dos direitos sociais de segunda dimensão, mas aí tam-
bém há direitos humanos. Felizmente são professores vocacionados, advogados
militantes de movimentos sociais, que já trabalharam a partir de sua temática a
defesa de direitos humanos. Eu já trabalhei, particularmente no direito à terra.
Fiquei muito feliz em ter sido mencionado, na questão da função social da pro-
priedade rural lá no nordeste. A gente trabalhou muito esta questão da sanção-
-prêmio, da desapropriação.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
para o Núcleo – pois uma coisa é comum em todos eles, proporcionar aos alunos uma
visão diferenciada do método de aprendizado jurídico.
Independentemente de qualquer forma que o núcleo se mantenha, e aqui faço
um paragrafo pra explicar um pouco sobre os quatro modelos adotados que estuda-
mos na pesquisa:
Inicialmente a gente dividiu o objeto em Escritórios Modelo, SAJU’s, clínicas de
direitos humanos e CRDH.
Os Escritórios Modelo iniciaram como a primeira experiência, como o professor
Guthemberg pontuou na evolução histórica. Eles foram criados nos EUA no século
19. Nas clínicas jurídicas que se inspiraram no projeto de ensino das faculdades de
medicina, reconheceu-se a necessidade de ensinar os alunos na prática. Mas como o
próprio dr. Guthemberg também falou era um projeto mais voltado à advocacia e ao
desempenho das habilidades argumentativas dos alunos.
Foi um movimento de superação no ponto de vista do ensino do direito, mas
hoje já se encontra ultrapassado.
Os SAJU’s vieram logo depois, e têm como maior marca não necessariamente
judicializar as demandas. É um trabalho mais interdisciplinar e extrajudicial, auxi-
liar população que é o objeto do trabalho realizado não necessariamente judiciali-
zando.
Os SAJU’s também têm uma marca diferencial dos Escritórios Modelo – como
um modelo geral, um tronco de características comuns mais frequentes entre um e
outro – está a participação maior dos estudantes, uma iniciativa maior por parte dos
estudantes. Isto se deu no Brasil após período ditatorial, na necessidade de fornecer
uma contrapartida social por parte das universidades.
Hoje a gente falou bastante sobre função social da propriedade, função social do
contrato, e também é importante a gente lembrar da função social da universidade:
para que difundir tanto conhecimento? Para fornecer uma contrapartida e um poder
de influência maior na sociedade que se aproveita disso.
Também fizeram parte do estudo as clínicas de direitos humanos e os CRDH,
que até os professores, Valena e Guthemberg me corrijam se eu estiver errado, traba-
lham de uma forma mais centralizada em casos estratégicos.
Não se preocupam especificamente com o atendimento individual de cada usuá-
rio, mas de estudar casos que alteram indiretamente – ou diretamente em caso de
ações coletivas – um número muito grande de usuários, por meio do estudo de um
caso específico.
É o que acontece em ações de controle concentrado de constitucionalidade,
uma consultoria, a parte mais estratégica dos dissídios que lhe são levados.
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VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Expliquei isso porque a nossa pesquisa dividiu o objeto entre esses quatro nú-
cleos, os principais modelos que são encontrados no país. Existem outros modelos, e
muitos que são limítrofes entre um modelo e outros, mas para adoção de um método
científico dividimos por estes principais conceitos.
Por exemplo depois de três anos do Escritório Modelo eu não sei exatamente
onde ele se identifica, lembrando CABM que as coisas não o são pelo nome que lhe são
dados, mas pelo que eles de fato são. O Escritório Modelo é um pouco de todos eles.
Muitas das entidades que estudamos são híbridas, mas como é normal do direito
tentamos colocar cada um dentro de uma respectiva caixa pelas suas características.
Vamos falar especificamente dos gráficos:
Como ficou exposto durante um tempo, as clínicas de direitos humanos hoje
representam só 10% dos organismos que pesquisamos. Os SAJU’s 19%, os CRDH 2%
e 69% de Escritórios Modelo. Mas isso não significa que só existam só isso de CRDH,
é porque o corte metodológico utilizado na pesquisa foi: universidades, somente, e o
curso de direito.
E como eu tinha falado os CRDH e as clínicas de direitos humanos, especial-
mente o CRDH não atuam necessariamente com a faculdade de direito. O CRDH não
se preocupa necessariamente com direito ou não, basta que prestem direitos huma-
nos, por este veículo ou não – por isso pode estar vinculado a outras faculdades.
A divisão por regiões e números, imaginem como de 0 a 20 de baixo para cima
– pois houve um problema com a transição dos dados. Imaginem cada região do país
com seus números absolutos de cada tipo de núcleo universitário diferente.
O maior deles como se vê foi o sudeste, com Escritórios Modelo seguido pelos
SAJU’s. Encontramos também um número um pouco menor de CRDH que no Nor-
deste, por exemplo. Vemos que isso foi um reflexo muito grande da presença das
universidades privadas e públicas.
Isso porque as universidades públicas que têm um fomento mais constante,
aparentemente têm uma presença maior das universidades publicas com Clínicas de
direitos humanos. Das universidades privadas o número é menor, que é a GV que é
faculdade. E da própria Uniritter que faz parte da pesquisa – por isso não colocamos
ela como objeto.
Isso mostra uma predominância muito maior nas privadas do modelo de Escri-
tório Modelo e SAJU. Conseguimos notar essa vinculação entre ser pública com mais
clínicas e CRDH que as privadas. Por região, vemos que 45% dos núcleos estão no
sudeste, 19% no sul, 14% no norte, 20% no nordeste e somente 2% no centro-oeste.
Esse gráfico não me deixou satisfeito, eu olhei pra ele e achei muito estranha
essa distribuição pelo sudeste, por núcleos por região. Fui atrás dos dados do IBGE
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
para dar uma olhada na renda per capita destes domicílios, pois talvez isso explicasse
um número absoluto maior no sudeste o que demandaria um atendimento maior.
Também não adiantou. Somente 11,1% ganham até meio salario mínimo no sudeste,
o principal foco de atendimento dos Escritórios Modelo. Isso também não seria uma
resposta do porquê existem tantos no sudeste.
Foi aí que lembrei que, independentemente disso, os núcleos universitários se
vinculam a universidades. Logo, pela presença muito grande de universidades priva-
das no sudeste e a exigência do MEC de que as universidades possuam este núcleo,
fornecem os ingredientes para um número tão grande de núcleos nesta região. O que
é um pouco preocupante. Isso porque vemos nos dados do IBGE que é necessário ter
uma defensoria muito bem estruturada para dar conta da demanda tão expressiva da
região.
Como a maior parte do atendimento é da DPE sua organização é bem assimé-
trica nas regiões do país, de modo que não se pode designar um padrão. Dividindo
os dados entre públicas e privadas, vemos que no sudeste possuímos o dobro de
universidades privadas que na presença das públicas. E o número das públicas é pra-
ticamente constante em todas as regiões do país. Como o número de universidades
públicas é o mesmo em todas as regiões do país, menos do centro-oeste e sul – que
já têm um número reduzido, vemos que tem uma participação muito expressiva das
universidades privadas no sudeste.
O que também se relaciona com a concentração de renda da população que cria
uma demanda de mais universidades e de mais núcleos de prática jurídica. Os nú-
cleos divididos por natureza da instituição, também sendo as públicas as azuis e pri-
vadas as vermelhas. Podemos ver que as clínicas de direitos humanos possuem mais
públicas que privadas. Os CRDH só têm públicas, privadas só encontramos uma. Os
Escritórios Modelo estão bem distribuídos, tem bastantes públicas e privadas, e da
mesma forma os SAJU’s.
Partindo agora quanto aos alunos, o que foi uma questão bastante importante
e notei especialmente na parte das entrevistas das universidades. Pois selecionamos
algumas de regiões do país, de forma mais expressiva por número de atendimento
ou expressão acadêmica. E nessas entrevistas vimos uma preocupação muito grande
de todos os núcleos como manter os alunos estimulados a manter o vínculo com os
núcleos. Não há necessariamente bolsas, só 40% dos núcleos oferecem bolsas no país.
3% estão em outro tipo de remuneração, como cursos oferecidos pela própria univer-
sidade. E os outros 57% trata-se de trabalho voluntário.
A maneira de distribuição dessas bolsas também não se dá de maneira uni-
forme. Alguns adotam o critério de antiguidade para recompensar o comprometi-
mento dos alunos, os estagiários mais antigos são os que são contemplados com
as bolsas. Outros utilizam provas, como é o caso da UFRJ, que utiliza uma prova
164
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
específica para alunos e para não alunos e quem tirar as melhores notas entra como
bolsista, os outros como voluntários.
O critério de antiguidade é utilizado por exemplo na UFU. Vemos que não neces-
sariamente há uma vinculação entre a forma de distribuição das bolsas com a natureza
da universidade. Vimos duas públicas, duas federais que adotam critérios distintos.
Mas todas elas, e uma coisa é importante ressaltar das entrevistas, traçaram um per-
fil socialmente mais engajado dos estudantes que entram nestes núcleos de prática.
Muitos deles permanecem como voluntários, e continuam até o período máximo do
estágio que é permitido, seja por vontade, ideologia ou engajamento social maior. Essa
é uma característica constante que foi identificada entre todas as entrevistas que fiz
(UNESP< UFU< UFRJ e UNG, além da minha própria experiência com a PUC-SP).
Quanto à obrigatoriedade do vínculo, isso também é uma questão interessante.
Vimos que o número de voluntários que é 57% coincide com o número de obrigação
de ingressar no próprio Escritório Modelo, que é de 56%. Então, praticamente, em
todos os lugares em que não há bolsas, é obrigatório que o aluno passe por lá como
disciplina. Muitos deles utilizam o sistema de créditos, que é o caso da UFRJ – você
escolhe qual a matéria que você quer fazer dentro do núcleo e comparece, pega seus
casos e trabalha no núcleo de forma obrigatória. Opcional, que se confunde muito
com as que oferecem bolsa, estão nas privadas. É o caso da UNG da PUC e como
pública também da UNESP.
Outra coisa importante também vista na pesquisa é a origem dos recursos. Por-
que uma frequente encontrada é que todos os núcleos pretendem atender um maior
número de pessoas possíveis, faz parte da própria ideologia do núcleo – salvo quando
se tratar de um “núcleo de fachada”, o que encontramos também muitas vezes infe-
lizmente, só pra cumprir a portaria do MEC.
Não há como nós dizermos isso com propriedade, mas vimos pela pesquisa que
muitos não têm professores, coordenadores e possuem um número bastante inex-
pressivo de alunos. Mais para cumprir um requisito burocrático do que pra dar uma
contrapartida social. Uma outra constante é que todos pretendem se expandir e não
possuem recursos suficientes para tanto. Vimos que 69% decorrem de financiamento
público – que não se confunde com o financiamento da própria universidade, caso
pública. Ou seja, salário de professores, estagiários, etc. não entram nesses 69%.
Este é o valor que universidades recebem de organismos públicos pelo desem-
penho de outra atividade. E vimos as atividades das mais criativas, destaco aqui da
UFU, que celebraram convênio com o MPE para empoderamento e auxílio aos de-
nominados “superendividados”. Eles faziam uma triagem dos usuários que tinham
problemas com os órgãos de proteção ao crédito, prestavam assessoria jurídica e a
remuneração deste convênio se dava por TACs firmados em ações coletivas em defesa
dos consumidores.
165
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Caso se lembrem no CDC uma das sanções quando ocorrer violação coletiva
aos direitos do consumidor é a imposição de multa que será revertida para programas
sociais. Portanto, o financiamento do núcleo de prática jurídica decorre do TAC a ser
celebrado com o MP. Foi uma forma bastante criativa para conseguir financiamento
para um programa social importante.
Uma outra que também foi bem interessante, foi um convênio celebrado com o TJRJ
para formação de peritos criminais. A universidade do RJ selecionou professores de me-
dicina legal, direito penal e professores da faculdade de química para prestar cursos para
o Poder Judiciário para formação de novos peritos que forem aprovados em concurso.
Contribuições individuais infelizmente não encontramos como forma de finan-
ciamento expressiva. Fundações nacionais, nós podemos falar por exemplo da funda-
ção Ford, é um exemplo de recurso externo arrecadado. E fundações internacionais
representam 16% do financiamento geral. No caso das parcerias, que é o próximo
gráfico, não há relação com o financiamento necessariamente. Muitas vezes eles cele-
bram essas parcerias pra receber encaminhamentos e ter uma efetiva demanda.
Muitas vezes a DPE, o maior deles com 17%, outro expressivo são as ONGs com
8%, organizações populares e movimentos sociais 15% e o Poder Judiciário com 22%,
uma parcela bastante significativa de encaminhamentos.
O que achei surpreendente neste gráfico é a pouca participação da OAB. Pois a
DPE ainda não possui tanta capilaridade, de modo que a OAB faz as suas vezes por
convênio. Não obstante só 10% dos encaminhamentos são feitos pela parceria da
OAB, o que é um dado que surpreende um pouco.
E o último gráfico, pra ser bem rápido, primeiro traz os dados das universidades
privadas e depois das púbicas, que têm relação com a demanda. Ou seja, quais os temas
tratados dentro do núcleo de prática: vimos que são praticamente os mesmos temas.
Tem um pouco mais de direito ambiental nas públicas que nas privadas e tem um pou-
co maior sobre o tema trabalho escravo nas públicas que nas privadas. De resto, vimos
que são bastante semelhante. A grande diferença, que foi um dado muito rico que con-
seguimos, foi pela demanda em razão da região. O que foi bem perceptível.
As demandas que tratam do tema campo, não há grande volume do sudeste, tra-
balho escravo estão nas regiões norte e nordeste – não encontramos quase ninguém
que trate o tema na região sudeste, por exemplo. Indígenas a gente nota mais na re-
gião norte. E isso foi um dado muito bom. Apesar do número absoluto dos núcleos
não seguir uma constante da demanda, a distorção que existe entre as matérias sim,
essa obedece uma regionalização maior sobre cada um temas.
166
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
cialmente, depois o Gabriel, nosso colega que também deixou o Escritório Modelo.
Mas isso é bom professor, mostra que o organismo universitário os prepara bem e
onde quer que eles vão, farão um bom trabalho.
Como já foi dito, nós da Universidade Federal do Pará temos uma clínica de
direitos humanos, uma proposta inicialmente financiada pela Fundação Ford, nós
temos um bom espaço e estamos correndo atrás da institucionalização da nossa
clínica. Estamos em processo de alteração do PPC e pretendemos colocar a clínica
como outro espaço de prática jurídica, pois já temos um SAJU. Temos um SAJU e
uma clínica de direitos humanos.
Sou professora de direito na graduação, concluí meu doutorado agora em de-
zembro, e posso entrar na clínica como um estágio da pós-graduação. Porque a
nossa CDH é vinculada ao programa de pós-graduação. A gente está institucional-
mente reconhecido como prática na pós-graduação em direitos humanos.
No Brasil, de 2010 a 2012 a Fundação Ford investiu em programas de pós-gra-
duações em direitos humanos, e investiu na UFPB e UFPA. Eu sou doutoranda
deste programa de pós-graduação e agora trabalho na clínica da UFPA. Foi uma
coisa meio híbrida, espero acabar o doutorado e entrar na clínica como professora
no ramo do trabalho escravo.
Então temos um laboratório jurídico na pós-graduação para os alunos da pós
exercerem uma prática jurídica. Então aqui, em março de 2011 a gente ingressou
neste laboratório jurídico como espaço destinado à prática jurídica. Mas a clínica
também tem participação de alunos de graduação, pois vários são os projetos den-
tro da CDH.
Nós lá contamos com bolsas e tanto os alunos da pós-graduação quanto da
graduação são bolsistas da clínica. Porém, os professores da clínica só podem ser
professores da pós-graduação pois ela está vinculada à pós-graduação. Lembrando
um pouco a fala da Fernanda Lapa, o objetivo é difundir a ideia do que é clínica de
direitos humanos no Brasil. Porque pra gente parece uma coisa nova mas na Amé-
rica Latina e na América como um todo já é usual.
Mas como espaço, eu até brinco, eu acho que o Escritório Modelo da PUC está
mais para Clínica do que para Escritório Modelo mesmo. Como nós temos os dois
espaços lá na minha universidade, dá pra ver que são realidades bem diferentes. O
nosso núcleo é núcleo, o daqui não. E não importa bem a nomenclatura, e sim a
metodologia utilizada.
E qual metodologia é essa? A metodologia participativa. Que o foco se dá no
usuário. Quando eu estou na sala de aula ensinando o foco é o professor, podemos
fazer o máximo, levar casos para a sala de aula, mas mesmo assim o foco é o pro-
fessor, pois tenho que dizer quais são os pressupostos e pré-requisitos para fazer a
167
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
peça. E temos que ter ementa da disciplina, conteúdo programático, e dar um con-
teúdo mínimo de acordo com o MEC. E na pós-graduação de direito vemos alunos
reclamando que a professora não deu os conteúdos tal e tal.
Então há uma exigência pragmática do conteúdo. E nas clínicas, nos organis-
mos universitários como um todo, ele vai trabalhar com uma metodologia partici-
pativa – onde o foco vai ser o aluno porque ele vai ter que resolver aquele determi-
nado problema, aquele determinado conflito. E esse conflito é sempre relacionado
com o envolvimento social.
O nosso objetivo quanto professor de direito é ter o aluno comprometido com
a justiça social. A maioria dos alunos da clínica e eu sou meio híbrida – pois sou
aluna e professora – os professores da clínica são todos oriundos do movimento
social. Tivemos uma participação com os movimentos sociais e é, por isso, que a
gente pensa diferente. E isso é um pouco das características destes espaços.
O professor Nelson Saule também conhecido nacionalmente e mundialmente
envolvido com essas questões sociais. Participa efetivamente do movimento social.
E queremos formar esses defensores de direitos humanos e não os meros ope-
radores do direito. Aquele profissional que estará comprometido com a justiça so-
cial e os direitos humanos. Formar juízes com esse olhar, promotores com esse
olhar. A gente está desenvolvendo recentemente este projeto com um defensor in-
teramericano, da comissão interamericana e para nossa surpresa só existem dois no
Brasil.
Esse defensor é lá da DPEPA e estamos trabalhando em um caso que vou falar
pra vocês e vou dizer como ele soube que poderia lá atuar. A Defensoria fez uma
parceria com nosso programa de pós-graduação, abriu seus horizontes, e viu que
poderia ter uma atuação voltada ao direito internacional para além. E nós só temos
hoje dois defensores da comissão interamericana aqui no Brasil. Então, a nossa me-
todologia é essa, de aproximação com a prática jurídica, sempre mediante o estudo
de casos paradigmáticos, de estudo de casos de direitos humanos. E vocês verão
que temos linhas de atuação bem distintas.
E aí são eventos com alunos da clínica de capacitação de formação. A gente
sempre traz professores de clínicas bem estruturadas na América Latina, e eles aca-
bam vindo para dar a formação para nossos alunos. E é bem interessante e diferente
o trabalho e a prática na clínica jurídica – promover a qualificação profissional do
acadêmico em direitos humanos, tanto da graduação quanto da pós.
E quais são as nossas linhas de atuação: nós temos duas linhas de atuação
na nossa clínica. Atualmente, temos dois professores desenvolvendo atividades da
clínica na linha de direitos econômicos sociais e culturais, e vamos ter a linha de
direito internacional, que desenvolve projetos específicos.
168
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Nos direitos econômicos sociais e culturais, até pela nossa região, a gente
acaba tendo a necessidade de ter projetos de pesquisa, desenvolver atividades de
consultoria, voltada aos problemas sociais da nossa região amazônica.
E aí especificamente no estado do Pará que é conhecido, infelizmente, por
todas as mazelas sociais. A gente então vai desenvolver várias parcerias com ór-
gãos públicos para reconhecimento dos direitos territoriais dos povos indígenas,
quilombolas, e demais populações tradicionais. Tivemos um aluno na pós que é de
uma comunidade indígena. Ele concluiu o doutorado dele e outras duas indígenas
também participaram.
Infelizmente são poucos porque há uma dificuldade em razão do alto envolvi-
mento com a própria comunidade. A gestão e manejo florestal também é um tema
que tratamos lá na clínica. A questão de parcelamento do solo, e o professor Nelson
é superfamoso lá entre a gente. Tudo bem que ele está mais voltado para a área ur-
bana, mas toda a doutrina formada sobre isso ele é super-hiperfamoso.
E a nossa linha de direito internacional, essa é a campeã de opção dos alunos.
O nosso processo, nós realizamos editais de seleção dos alunos. Tanto para os bol-
sistas quanto para os voluntários. Fazemos uma pré-seleção para ver com que aluno
nós iremos trabalhar – se exige um pouco de conhecer esse aluno.
A maioria dos alunos optam pelo direito internacional, isso tem atraído muito
interesse porque nossa clínica participa das competições em Washington, aqui em
São Paulo, e isso dá visibilidade pra clínica. Eles nem querem saber dos projetos, só
querem o direito internacional por causa da competição, querem viajar. Mas depois
acabam vendo que existem outros projetos muito interessantes e migram para estes
outros projetos.
Nossos alunos acabam produzindo muito, vão para os principais congressos,
apresentam trabalhos, e a gente fica muito realizado – porque a gente acaba verifi-
cando que o trabalho que a gente desenvolve em pesquisa e extensão vem motivan-
do nosso aluno, ao formar com temas totalmente voltados para a defesa de direitos
humanos.
A gente, nessa linha de atuação de direito internacional, a gente vem capacitar
para ensinar como funcionam os sistemas de proteção internacional e também de
simulações de casos que estão na comissão, a partir disso eles conhecem também
todo o mecanismo processual, eles dão um show nesse aspecto.
Eu fui num encontro nessa área e a aluna me explicou sobre o processo do
caso que eu estava estudando, ela sabia de tudo. Então, os alunos que estão lá, em
que pese não tenham participado diretamente de um caso, eles acabam conhecendo
o processo pelas linhas que a gente desenvolve.
Vou dar uma passada pelos objetivos específicos porque vou para as atividades
que estão envolvidas com os objetivos. As atividades são voltadas ou para a pro-
169
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
170
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
Belo Monte, que queria um apoio do Pará, a OAB do Pará deu apoio, apesar do meu
voto contra. Os cidadãos nem sabiam o resultado, os cemitérios da cidade seriam
inundados de acordo com o projeto.
Como é que vai ser feito? Vai ser inundado o cemitério e qual é o resultado?
Vão retirar os corpos e entes queridos das pessoas e colocar em outro lugar? Não!
Não tinha nenhum projeto pra isso, era só inundar. E quem tinha dinheiro iria pa-
gar para tirar seu ente, quem não tinha deixaria ele lá.
E isso fora a questão da doença, imagine inundar um cemitério. O estudo de
impacto ambiental previa varias ações para preservação da fauna específica, de uma
tartaruga. Nada contra, mas quando vemos o tratamento mais cuidadoso com a
fauna do que com a população menos favorecida – que está sendo afetada por este
grande projeto.
Tanto é que agora desenvolvemos vários trabalhos relacionados com essas hi-
drelétricas. Este projeto está em desenvolvimento, fazemos o acompanhamento do
impacto ambiental e licenciamento. E temos parceria com os movimentos sociais e
outros pesquisadores e MPF.
Temos um projeto relacionando as comunidades quilombolas, que faz um
acompanhamento de todos os projetos de reconhecimento da comunidade, e acom-
panha o desenvolvimento do processo no INCRA. Precisamos esclarecer essa co-
munidade sobre como se dá esse andamento. Porque em que pese eles não terem
conhecimento jurídico devem ser esclarecidos sobre como se dá e o porquê da de-
mora no processo das comunidades.
Desenvolvemos um projeto, que foi concluído, de consultoria para identificar
dentro do sistema interamericano qual o melhor mecanismo de acesso do Poder
Público ao sistema interamericano para discutir a saúde pública no município de
Belém.
Qualquer trabalho que vamos desenvolver, como desenvolvemos um trabalho
gratuito e de qualidade, a gente não vai atrás do problema, o problema vem até nós.
Não é aquela demanda individual, é uma demanda coletiva, mas é uma demanda
que tem uma atividade metodológica diferenciada com o aluno e ele vai criar esse
conhecimento. Não é o professor que vai fazer a pesquisa, é o aluno que vai atrás e
vai trazer esse resultado. Construímos junto como vai ser desenvolvido o projeto.
Também teve um caso muito conhecido de uma adolescente que foi presa jun-
to com vários homens numa cela. Eu acompanhei esse caso pessoalmente, na época
pela OAB porque sou da comissão de direitos humanos, e foi terrível. Teve uma
repercussão muito negativa pro estado e o MPEPA pediu auxílio pra gente, porque
essa parte de direito internacional, vamos ser bem conscientes de que os órgãos
públicos não detêm esse conhecimento. Há uma necessidade de demanda externa,
171
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
172
VII. Seminário Nacional dos Organismos Universitários de Direitos Humanos
voltados para a defesa de direitos humanos, bem como parceria com o Poder Públi-
co, notadamente em consultoria.
A estrutura da clínica temos a professora Luly Fisher que está ingressando na
clínica, e temos bolsistas voluntários e remunerados.
As fontes de financiamento dos nossos bolsistas são dos alunos do PPGB da
bolsa CAPES enquanto os discentes da graduação recebem CNPQ, os editais PIBIC
e Fundação Ford.
Muito obrigada.
173
VIII
175
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
176
VIII. Registros de Experiências de Organismos Universitários de Direitos Humanos
Aliado a este ensino prático, a UFRJ celebra outras parcerias que estimulam o
corpo discente e correspondem às expectativas de contrapartida social da universi-
dade, dentre os quais, destacamos: i) projeto gringo legal; ii) regularização fundiária
e atendimento à população da comunidade da maré; iii) formação em peritos crimi-
nais; e iv) auxílio na elaboração de registros tardios.
Dentre as várias experiências universitárias pesquisadas, a UFRJ ganha destaque
no aspecto de orientação de seus alunos, quantitativa e qualitativamente.
• Escritório de Assessoria Jurídica Popular – Universidade Federal de Uber-
lândia (UFU)
O Escritório foi criado como assistência judiciária em 1969 e tem passado por
reconfiguração a partir do ano de 2010. A partir daí, o projeto pedagógico foi alte-
rado, e o objetivo passou a ser o de assessoria jurídica popular, fazendo um aten-
dimento mais amplo, envolvendo coletivos. É um órgão que trabalha com estudos
afrobrasileiros, além de diversas ONGs. Dentre as parcerias estão a ONG Instituto
Educacional Oré, ONG SOS Mulher e Família, relativa a questões de gênero, em
Uberlândia, LGBT com o projeto “Em cima do salto”, ONG Triângulo Trans, Co-
missão da Verdade, da qual o escritório é parceiro e com o Ministério Público atua
num projeto sobre questões de superendividamento e PROCON Municipal e Esta-
dual, mantido pelo MPE.
Há dois projetos pedagógicos desenvolvidos no âmbito do Escritório da UFU.
50% da carga horária exigida pelo estágio obrigatório deve ser realizada dentro do nú-
cleo. Semestralmente, passam pelo organismo entre 70 e 80 alunos. Há opção para se
estagiar por mais um semestre e diluir a carga horária. O estudante pode, ainda, depois
do cumprimento da carga horária obrigatória, permanecer como estagiário voluntário.
Só há dois bolsistas dentre os alunos. O processo seletivo dos estudantes bolsis-
tas consiste em uma prova aberta para todos os alunos, sejam eles voluntários ou não.
Antes do projeto pedagógico se tornar obrigatório, havia uma média de 30 voluntá-
rios por semestre. Os alunos voluntários são aqueles que detêm um perfil de maior
preocupação social. Como voluntário, o estudante pode ficar no Escritório por até
dois anos, entretanto, não existe impedimento a que permaneça por mais tempo no
estágio. A avaliação dos alunos é feita mediante critérios, como pontualidade, cum-
primento de tarefas, acompanhamento de audiências. Na modalidade de atendimento
por assistência, os alunos têm contato com processos.
Número de processos ativos: 857. Inativos: 3.993 (desde 2007). Em 2014, fo-
ram realizadas 373 triagens socioeconômicas e 305 assistidos foram efetivamente
atendidos.
Entre os casos paradigmáticos, é válido citar a situação de assistidos homosse-
xuais que ajuizaram ação de reconhecimento de maternidade socioafetiva; outro caso
177
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
178
VIII. Registros de Experiências de Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VIII. Registros de Experiências de Organismos Universitários de Direitos Humanos
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Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
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VIII. Registros de Experiências de Organismos Universitários de Direitos Humanos
183
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
184
Anexos
I
Questionário1
2.1. Telefones/e-mail:
2.2. Endereço:
1. Preencher um questionário para cada Organismo de Direitos Humanos da mesma Instituição de Ensino Superior.
187
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
3.1. Telefones/e-mail:
OBS.: NOS ITENS ABAIXO, PODERÃO SER ASSINALADAS MAIS DE UMA ALTER-
NATIVA.
188
I. Questionário
7. Corpo Acadêmico/Técnico
7.1. Possui coordenador: ( ) sim ( ) não
a) Possui remuneração específica2: ( ) sim ( ) não
b) Possui carga horária específica: ( ) sim ( ) não
9. Sustentabilidade financeira:
9.1. Possui recursos próprios oriundos da Instituição de Ensino Superior.
( ) sim ( ) não
a. Destinação do recurso recebido:
( ) remuneração de coordenador e/ou professores
( ) remuneração da equipe administrativa
2. A remuneração e a carga horária específica dizem respeito ao exercício da função de coordenador no Organismo de Direitos Humanos
e não de coordenação de projetos de pesquisa/extensão vinculados ao organismo.
3. A remuneração e a carga horária específica dizem respeito ao exercício da função de professor no Organismo de Direitos Humanos e
não pela vinculação a projetos de pesquisa/extensão vinculados ao organismo.
4. Esse item deverá ser assinalado somente se o advogado não exercer a função de professor do item 6.2.
5. O gestor administrativo não se confunde com a figura do coordenador do Organismo de Direitos Humanos do item 6.1.
189
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
( ) infraestrutura6
( ) bolsa ou remuneração de estagiários
( ) remuneração do corpo técnico
10. Parcerias8:
( ) Defensoria Pública ( ) ONG’s ( ) Poder Judiciário
( ) Ministério Público ( ) Administração Pública Federal, Estadual ou Municipal
( ) Organizações Populares/Movimentos Sociais ( ) OAB
( ) Fóruns e Redes de Cidadania/Direitos Humanos
Outros:_________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
6. A infraestrutura envolve o espaço físico, energia elétrica, telefone, água, material administrativo, etc.
7. A infraestrutura envolve o espaço físico, energia elétrica, telefone, água, material administrativo, etc.
8. A parceria envolve formas de cooperação, apoio, atuação, encaminhamentos, convênios, termos de parceria que podem implicar ou
não em recursos financeiros para o Organismo de Direitos Humanos.
190
I. Questionário
9. Envolve a formulação de pareceres, consultas e peças jurídicas para organismos governamentais e não governamentais.
191
II
Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
REGIÃO NORDESTE
Nome:
NÚCLEO DE PROMOÇÃO À FILIAÇÃO/
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISAS SOBRE
DIREITO, SOCIEDADE E VIOLÊNCIA
Contato:
Telefone:
NPJ: 82 3215-5165;
CESMAC (Centro
Núcleo de prática
Universitário Escritório Modelo: 62 3215-5207/5125
jurídica
CESMAC)
Endereço: Rua Iris Alagoense, s/n. –
Maceió/AL
E-mail: [email protected]
Responsável:
Coordenação do Curso de Direito: Fernando
Sérgio Tenório de Amorim
Telefones/e-mail: [email protected]
193
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS
Faculdade de Psicologia
Contato:
Telefone: 84 8702-4034
Clínica de direitos Endereço: Rua Dr. Xavier da Cunha, 1212
humanos – Bairro de Capim Macio – CEP: 59.080-030 –
Natal/RN
E-mail: [email protected]
[email protected]
Responsável:
UNIFACEX (Centro Richard Medeiros de Araújo
Universitário Nome:
FACEX)
NÚCLEO DE PRÁTICA JURIDICA
Contato:
Telefone: 84 3235-1415 (Ramais 240 e 252)
e 84 3235-1422/84 8702-4034
194
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 74 3611-7363 (ramal 220)
UNEB Endereço: Av. Edgard Chastinet, s/n. –
Núcleo de prática
(Universidade do São Geraldo – Juazeiro/BA
jurídica
Estado da Bahia) E-mail: [email protected]
Responsável:
Tilemon Gonçalves dos Santos
Telefones/e-mail: 87 8808-8554/
[email protected]
Nome:
PROGRAMA DE DIREITOS HUMANOS DA
UFCG- PRODIH
Contato:
UFCG Núcleo de prática Telefone: 83 3522-3200
(Universidade jurídica; centro
Federal de Campina de referência em Endereço: Rua Sinfrônio Nazaré, s/n. –
Grande) Direitos Humanos Centro Sousa/PB
Responsável:
Dra. Edjane E. Dias da Silva
Telefones/e-mail: 83 8731-0194/
[email protected]
Nome:
CENTRO DE REFERÊNCIA EM DIREITOS
HUMANOS DO SEMIÁRIDO
Contato:
Telefone: 84 3317-8266/3317-8224
UFERSA Endereço: Universidade Federal Rural do
Centro de
(Universidade Semiárido – Avenida Francisco Mata, 572 –
referência em
Federal Rural do Bairro Costa e Silva – Mossoró/RN – CEP:
Direitos Humanos
Semi-Árido) 59.625-900 – próximo ao prédio da reitoria
E-mail: [email protected]
Responsável:
Ana Maria Bezerra Lucas
Telefones/e-mail: 84 8701-7326/9411-7852
[email protected]
195
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA “NEGRO COSME”
UFMA Contato:
Núcleo de prática
(Universidade Telefone: 98 8147-2612
jurídica; serviço de
Federal do Responsável:
assessoria jurídica
Maranhão)
Lucylia Gonçalves França
Telefones/e-mail: 98 3272-8416
[email protected]
Nome:
CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS
Contato:
Telefone: 83 3208-2559
UFPB (Universidade Clínica de Direitos Endereço: Av. João Machado, s/n. – Jaguaribe
Federal da Paraíba) Humanos – Fórum Cível da Capital
Responsável:
Guthemberg Cardoso Agra de Castro
Telefones/e-mail: 83 8854-9949/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA E SERVIÇO
UFPE (Universidade Núcleo de prática DE ASSESSORIA JURÍDICA
Federal de jurídica; serviço de Contato:
Pernambuco) assessoria jurídica Telefone: 81 2126-7888
Responsável:
Artur Stanford da Silva
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 84 3232- 7784
UERN Endereço: Avenida Dr. João Medeiros Filho,
(Universidade Núcleo de prática s/n. – Potengi – Natal/RN – CEP: 59.120-555 –
do Estado do Rio jurídica Complexo Cultural de Natal
Grande do Norte) E-mail: [email protected]
Responsável:
Déborah Leite da Silva
Telefones/e-mail: 84 9127-7335
[email protected]
196
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA – ESCRITÓRIO
MODELO
Contato:
UFRN
(Universidade Núcleo de prática Telefone: 84 3342-2309
Federal do Rio jurídica E-mail: [email protected]
Grande do Norte)
Responsável:
Prof. Thiago Oliveira Moreira
Telefones/e-mail: 84 9406-6110/84 3215-3541
[email protected]
Nome:
CENTRO DE CIDADANIA – CECI
Contato:
Telefone: 71 3344-7252/3203-3906
Endereço: Rua Dr. José Peroba, 251 – Steep –
Salvador/BA
197
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
REGIÃO SUL
Nome:
SERVIÇO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA
GRATUITA DO CESF E SOLUÇÕES
ALTERNATIVAS DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS
E NÚCLEO DE PRÁTICAS JURÍDICAS
Contato:
Telefone: 54 3268-2288
CESFAR (Centro Endereço: Rua 14 de Julho, 339 – Centro –
Núcleo de prática Farroupilha/RS – CEP: 95.180-000
de Ensino Superior
jurídica; serviço de
Cenecista de E-mail: [email protected];
assessoria jurídica
Farroupilha) [email protected]
Responsável:
Juceli Pergher Uberti – assistente de
coordenação
Patrícia M. Wartha – coordenação do núcleo
de práticas jurídicas
Cesar Augusto Modena – coordenador do
Curso de Direito
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
URI (Universidade Telefone: 55 3744-9252
Regional Integrada Núcleo de prática
do Alto Uruguai e jurídica Endereço: Rua Assis Brasil, 709 – Bairro
das Missões) Itapagé – Frederico Westphalen/RS
Responsável:
Aquelino Domingos Corbari
Telefones/e-mail: [email protected]
Nome:
ESCRITÓRIO MODELO DE ASSISTÊNCIA
JURÍDICA – EMAJ
UFSC (Universidade
Núcleo de prática Contato:
Federal de Santa
jurídica Telefone: 48 3721-9410/3721-6523
Catarina)
Endereço: Campus Universitário João David
Ferreira Lima – Trindade – Florianópolis/SC –
CEP: 88.040-900
198
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
E-mail: [email protected]
Responsável:
Professora Vera Lúcia Teixeira
Telefones/e-mail: 48 9982-9676
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
Contato:
UFSM Telefone: 55 3220-9217
(Universidade Núcleo de prática Endereço: Rua Marechal Floriano Peixoto,
Federal de Santa jurídica 1176 – Centro – CEP: 97015-372
Maria)
Responsável:
Everton MiralhaMassia
Telefones/e-mail: 55 9911-9265/
[email protected]
Nome: NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 41 3310-2724
Endereço: Praça Santos Andrade, 50 – Centro
UFPR (Universidade Núcleo de prática – Curitiba/PR
Federal do Paraná) jurídica E-mail: [email protected]
Responsável:
Maria Candida do Amaral Kroetz
Telefones/e-mail: 041 3310-2744/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Núcleo de prática
jurídica; outros Telefone: 51 3586-8800 – Ramal 8648
FEEVALE
(NADIM – Núcleo Endereço: Câmpus II ERS-239, 2755 –
(Universidade
de Apoio aos CEP: 93352-000 – Novo Hamburgo/RS
Feevale)
Direitos da
Responsável:
Mulher)
Haide Maria Hupffer
Telefones/e-mail: 51 3586-8800, ramal: 8668/
[email protected]
199
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE ESTUDOS E PESQUISA EM
VIOLÊNCIA, ÉTICA E DIREITOS HUMANOS –
NEPEVEDH
Contato:
Telefone: 51 3320-3546
PUC-RS (Pontifícia
Outros (Núcleo Endereço: Av. Ipiranga, 6681, Prédio 15, sala 348
Universidade
de pesquisa em – Bairro Partenon – CEP: 90.619-900 – POA/RS
Católica do Rio
Direitos Humanos)
Grande do Sul) Responsável:
Patrícia Krieger Grossi
Telefones/e-mail: 51 3320-3546
[email protected]
Pró-Reitoria de Extensão: [email protected]
Pró-Reitoria Acadêmica: [email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 42 3220-3000/3300
UEPG Secretaria da Reitoria: 42 3220-3223
(Universidade Núcleo de prática
Estadual de Ponta jurídica E-mail: [email protected]
Grossa) Endereço: Rua XV de Novembro, s/n. ao lado
do 301 – Centro – Ponta Grossa/PR
Responsável:
Rauli Gross Junior
Telefones/e-mail: 42 3220-3398/[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA: DIREITO –
SOCIEDADE E CIDADANIA
Contato:
UNIANDRADE Telefone: 41 3219-4290
(Centro Núcleo de prática
Universitário jurídica Endereço: Rua João Scuissiato, 01 – Santa
Uniandrade) Quitéria – CEP: 80.310-310 – Curitiba/PR
Responsável:
Alcio Manoel de Sousa Figueiredo
Telefones/e-mail: 41 3022-5649 /
[email protected]/
200
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
GRUPO DE PESQUISA EM DIREITOS
HUMANOS – GPDH
Contato:
Telefone: 41 3213-8827/41 3213-8753
Outros (grupo Endereço: Rua Chile, 1678 – Rebouças –
de pesquisa e Curitiba/PR
competição em
E-mail: [email protected]
julgamentos
simulados) Responsável:
José Mario Tafuri
Telefones/e-mail: [email protected].
br/41 3213-8753
Central de Atendimento: 41 3213-8770
E-mail: [email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
UNICURITIBA Telefone: 41 3213-8827/41 3213-8753
(Centro Endereço: Rua Chile, 1678 – Rebouças –
Universitário Núcleo de prática
Curitiba/PR
Curitiba) jurídica
E-mail: [email protected]
Responsável:
José Mario Tafuri
Telefones/e-mail: 41 3213-8753 /
[email protected]
Nome:
PROGRAMA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA
“EDUCAÇÃO PARA A PAZ – ÉTICA,
CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS” – PIC RI
Contato:
Outros (programa Telefone: 41 9114-8900
de iniciação Endereço: Rua Chile, 1.678 – Rebouças –
científica) CEP: 80.220-181
E-mail: [email protected]
Responsável:
Rafael Pons Reis
Telefones/e-mail: 41 3213-8706/coord.
[email protected]
201
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 47 3551-1197
Endereço: Rua Dorival Luz, 123 – Bairro Santa
Terezinha – Brusque/SC
UNIFEBE (Centro
Núcleo de prática E-mail: [email protected];
Universitário de
jurídica Responsável:
Brusque)
José Carlos Shmitz
Telefones/e-mail: 47 3551-1887/
[email protected]
Coordenador do curso: Professor José
Carlos Schimitz
E-mail: [email protected]
Nome:
CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS
Contato:
Endereço: Rua Orfanotrófio, 555 – Alto
Clínica de direitos Terezópolis – Porto Alegre/RS
UNIRITTER (Centro
humanos; serviço
Universitário Ritter E-mail: [email protected]
de assessoria
dos Reis) Responsável:
jurídica
Augusto Tanger Jardim
Telefones/e-mail: 51 3230-3350/
[email protected]
Central de atendimento: 51 3230-3333/3027-7300
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA/
ESCRITÓRIO MODELO
Contato:
Telefone: 48 3279-1920/3279-1356
UNISUL
Endereço: Av. Pedra Branca, 25 – Cidade
(Universidade Núcleo de prática
Universitária Pedra Branca – Palhoça/SC
do Sul de Santa jurídica
Catarina) E-mail: [email protected]
Responsável:
Virginia Lopes Rosa (coordenadora do curso
de Direito)
Telefones/e-mail: 3279-1026/
[email protected]
202
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 49 3551-2102
Endereço: Rua Getúlio Vargas, 2125 – Bairro
UNOESC Flor da Serra – CEP: 89.600-600 – Joaçaba/SC
(Universidade do Núcleo de prática
Oeste de Santa jurídica E-mail: [email protected];
Catarina) [email protected]
Responsável:
Cristhian Magnus De Marco
Telefones/e-mail: 49 3551-2038/
[email protected]
Coordenador do curso: Roni Edson Fabro
REGIÃO SUDESTE
Nome:
ESCRITÓRIO MODELO “DOM PAULO
EVARISTO ARNS”
Contato:
Endereço: R. João Ramalho, 295 – São Paulo/
PUC-SP (Pontifícia
SP – CEP: 05.008-001
Universidade Núcleo de prática
Católica de São jurídica Telefone 11 3873-3200
Paulo)
E-mail: [email protected]
Responsável:
Nelson Saule Jr.
Telefones/e-mail: 11 99962-1732/
[email protected]
Nome:
CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS E
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Clínica de direitos Contato:
FGV (Fundação
humanos; núcleo
Getúlio Vargas) E-mail: [email protected];
de prática jurídica
[email protected]
Responsável:
Cassia Hirai
203
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA “DR CARLOS
PUC-CAMP FOOT GUIMARÃES”
(Pontifícia Núcleo de prática Contato:
Universidade jurídica; serviço de E-mail:
Católica de assessoria jurídica [email protected]
Campinas)
Telefones: 19 3343-7084 (Pró-Reitoria de
Extensão e Assuntos Comunitários);
19 3735-5875 (faculdade de Direito)
Nome:
UNIDADE AUXILIAR CENTRO JURÍDICO
SOCIAL
Contato:
Telefone: 16 3706-8900
UNESP Endereço: Av. Eufrásia Monteiro Petráglia, 900
(Universidade – Jardim Petráglia – Franca/SP – CEP: 14.409-160
Núcleo de prática
Estadual Paulista
jurídica Centro Jurídico Social – telefone: 16 3706-8873
Júlio de Mesquita
Filho) E-mail: [email protected]; denise@franca.
unesp.br (responsável CJS)
Responsável:
Coordenador NPJ: Allan Morais
E-mail: [email protected];
[email protected]
Nome:
UNIDADE AVANÇADA DE ATENDIMENTO
JUDICIÁRIO – UAAJ E ESCRITÓRIO DE
ASSISTÊNCIA JURÍDICA – EAJ
Contato:
Telefone: 11 2464-1687/2464-1701
2464-1700 (Serviços de Clínicas e Laboratórios)
UNG (Universidade Núcleo de prática
Guarulhos) jurídica Clínica de Assistência Jurídica: 2937-
7544/2937-7545/2464-1701
Endereço: Praça Tereza Cristina, 88 –
Guarulhos/SP
Responsável:
Coordenação NPJ – Luciana Aparecida
Guimarães
Telefones/e-mail: [email protected]
204
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
SAJU – UNIB
Contato:
Telefone: 11 5694-7954
UNIB
Serviço de Endereço: Avenida Interlagos, 1329 – Chácara
(Universidade
assessoria jurídica Flora – São Paulo
Ibirapuera)
Responsável:
Prof. Márcio Rodrigues
Telefones/e-mail: 11 98308-3578/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA E SAJU
Telefone:
Central de Relacionamento: 11 2633-9000
UNINOVE Núcleo de prática
(Universidade Nove jurídica; serviço de Departamento de Marketing e Parceria da
de Julho) assessoria jurídica UNINOVE: 11 3385-9088
E-mail: [email protected]
Responsável:
Coordenador do curso: Prof. Leandro Lima:
[email protected]/11 3665-9323
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
UNIVALE
Núcleo de prática Campus Armando Vieira
(Universidade Vale
jurídica Central: 33 3279-5200
do Rio Doce)
Responsável:
Coordenadora do curso: Beatriz Dias Coelho
([email protected])
Nome:
ESCRITÓRIO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
USJT (Universidade Núcleo de prática “PROFESSOR ALBERTO MESQUITA DE
São Judas Tadeu) jurídica CAMARGO”
Contato:
Telefone: 11 2799-1991
205
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Endereço: Rua Marcial, 91 – Mooca – São
Paulo/SPl
Responsável:
José Ricardo Carrozzi
Telefones/e-mail: 11 2799-1992 /
[email protected]; [email protected]
Nome:
SAJU Cidade
Contato:
Serviço de
assessoria jurídica Telefone: 11 3101-1767
E-mail: [email protected]
Departamento Jurídico XI de Agosto: 3107-
1932/[email protected]
USP (Universidade Nome:
de São Paulo) CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS “LUIZ
GAMA”
Contato:
Clínica de direitos
Telefone: 11 96062-0600/16 99103-9892/
humanos
3111-4082 /9 9198-8288
E-mail: [email protected]
Responsável:
AlcyrBarbin Neto
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
UNIBAN ABC
(Universidade Núcleo de prática Contato:
Bandeirante – jurídica E-mail: [email protected]
Unidade ABC)
Responsável:
Monika Barros Padilha
Nome:
UNIBAN MARTE CENTRO DE ATENDIMENTO JURÍDICO – CAJ
(Universidade Contato:
Núcleo de prática
Bandeirante –
jurídica E-mail: [email protected]
Unidade Campo de
Marte) Responsável:
Monika Barros Padilha
206
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
UNESC SERRA NÚCLEO DE PRÁTICA E SAJU
(Centro Núcleo de prática
Universitário do jurídica; serviço de Responsável:
Espírito Santo – assessoria jurídica Coordenador do Curso de Direito do
Unidade Serra) Campus II (Serra): Dr. Francisco Serrano
Martins ([email protected])
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 34 3671-7020
CESG (Centro de Endereço: Avenida Francisco Resende Filho,
Núcleo de prática
Ensino Superior de 35 – Boa Esperança – São Gotardo/MG
jurídica
São Gotardo) E-mail: [email protected]
Responsável:
Rafhael Lima Ribeiro
Telefones/e-mail: 31 9312-3225 /
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
UNIFENAS Contato:
ALFENAS
Núcleo de prática Secretaria Geral dos Cursos 35 3299-3229
(Universidade José
jurídica E-mail: [email protected]
do Rosário Vellano
– Unidade Alfenas) Responsável:
Coordenadora do curso: Dra. Ivânia Gorete
Pereira [email protected]/35 3299-3231
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA “ARY
PENNA FONTENELLE E NÚCLEO DE PRÁTICA
JURÍDICA “PEDRO MONTEIRO”
UBM (Centro Contato:
Núcleo de prática
Universitário de Telefone: 24 3325-0225
jurídica
Barra Mansa)
Endereço: R. Vereador Pinho de Carvalho, 267
– Centro – Barra Mansa/RJ – CEP: 27.330-550
e Rua 35, 714 – Fazenda Santa Cecília – Barra
Mansa/RJ – CEP: 27.261-140
E-mail: [email protected]; [email protected]
207
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Responsável:
Gabriela Quinhones de Souza
Telefones/e-mail: 24 3325-0350/
[email protected]
Nome:
ESCRITÓRIO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 19 3452-3029
208
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
ESCRITÓRIO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA
UNIP JUNDIAÍ Contato:
(Universidade Núcleo de prática
Paulista – Unidade jurídica E-mail: [email protected];
Jundiaí) Telefone: 11 4815-2333 (Central de Atendimento)
Responsável: Dra. Fernanda Favre (fernanda@
favre.adv.br)
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 11 3767-5874
UNIP CIDADE
UNIVERSITÁRIA E-mail: [email protected]
(Universidade Núcleo de prática Auxiliar de coordenação: alessandra.
Paulista – jurídica [email protected]
Unidade Cidade Coordenação: [email protected]
Universitária)
Responsável:
Profª Drª Célia Rosenthal Zisman
Telefone: 11 99156-9052
E-mail: [email protected]
Nome:
ESCRITÓRIO DE ASSISTÊNCIA JURÍDICA
DA UNIVERSIDADE PAULISTA – CAMPUS
SANTOS
UNIP SANTOS
Contato:
(Universidade Serviço de
Paulista – Unidade assessoria jurídica E-mail: [email protected]
Santos) Central de Atendimento 13 4009-2000
Coordenação do curso: 13 4009-2058/4009-2007
Responsável:
Luiz Guilherme; [email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
UFRJ (Universidade
Núcleo de prática Contato:
Federal do Rio de
jurídica Telefone: 21 2508-0913
Janeiro)
Endereço: Rua Moncorvo Filho, 08 – Centro –
Rio de Janeiro/RJ – CEP: 20.211-340
209
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Responsável: Professor Francisco Ramalho
Ortigão Farias
Telefones/e-mail: 21 99925-3914/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE DIREITOS HUMANOS
UFOP Responsáveis:
(Universidade Outros (programa
Federal de Ouro de extensão) Júlio Aguiar de Oliveira – coordenador docente;
Preto) Mariane Mascarenhas Dias – coordenadora
discente;
Camila Silva Pauline – coordenadora discente
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
210
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
UFMG DIVISÃO DE ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA
(Universidade Núcleo de prática “PROFESSOR PAULO EDSON”
Federal de Minas jurídica
Gerais) Contato:
E-mail: [email protected]
Nome:
ESCRITÓRIO DE ASSESSORIA JURÍDICA
POPULAR
Núcleo de Contato:
UFU (Universidade
prática jurídica
Federal de E-mail: [email protected]; esajup@fadir.
e assistência
Uberlândia) ufu.br; [email protected]
judiciária
Responsável:
HelvecioDamis de Oliveira Cunha
E-mail: [email protected]
Nome:
CENTRO DE REFERÊNCIA EM DIREITOS
HUMANOS – CRDH “AMARILDO DE SOUZA”
Contato:
UNIRIO
Centro de Telefone: 21 2286-2274
(Universidade
referência em
Federal do Estado Endereço: Voluntários da Pátria, 107 –
direitos humanos
do Rio de Janeiro) Botafogo – Rio de Janeiro
E-mail: [email protected]
Responsável:
Jadir Anunciação de Brito
Nome:
CENTRO JUDICIÁRIO DE SOLUÇÃO DE
CONFLITOS E CIDADANIA – CEJUSC
Contato:
UNISALESIANO
Outros (Centro Telefone: 14 3533-5001
LINS (Centro
judiciário de
Universitário Endereço: Rua Nove de Julho, 1000-A –
solução de
Católico Salesiano Centro – Lins/SP. CEP: 16.400-110
conflitos e
Auxilium – Unidade E-mail: [email protected];
cidadania)
Lins)
Responsável:
MÁRIO NISHIMOTO
Telefones/e-mail: 14 3533-5001 /
[email protected]
211
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA E ESTÁGIOS
– NACE
Contato:
Telefone: 68 3901-2710
Endereço: Campus Universitário, BR 364, Km
UFAC 04 – Distrito Industrial – CEP: 69.915-900, Rio
Núcleo de prática
(Universidade Branco/AC
jurídica
Federal do Acre) E-mail: [email protected];
[email protected]
Responsável:
Prof. Msc. Ana Carolina Couto Lima de
Carvalho
Telefones/e-mail: 68 9945-4345/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
UFAM Telefone: 92 3305-2881
(Universidade Núcleo de prática
Federal do jurídica E-mail: [email protected]
Amazonas) Responsável:
Marina das Graças Paula Araújo
Telefones/e-mail: 92 3305-4654/3305-4651/3305-
2885
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 95 3621-3148
UFRR Endereço: Av. Cap. Ene Garcez, 2413 – Bairro:
Núcleo de prática
(Universidade Aeroporto – Boa Vista/RR
jurídica
Federal de Roraima) E-mail: [email protected]
Responsável:
Aldir Menezes Cavalcante
Telefones/e-mail: 95 3621-3121
[email protected]
212
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
UFT (Universidade Telefone: 63 3232-8024/3217-1988/3215-8828
Núcleo de prática
Federal do
jurídica E-mail: [email protected]
Tocantins)
Responsável:
Vinícius Pinheiro Marques
Telefones/e-mail: 63 8406-6658
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 96 3312-1794/9902-7276
UNIFAP
Núcleo de prática Endereço: Rodovia JK, km 02 – Campus
(Universidade
jurídica Marco Zero – Bloco 02
Federal do Amapá)
Responsável:
Sabrina Carvalho Verzola
Telefones/e-mail: 96 9902-7276/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
213
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS DA
AMAZÔNIA – CIDHA
Clínica de direitos
humanos Responsável:
Cristina Tereza
UFPA (Universidade Telefones/e-mail: [email protected]
Federal do Pará)
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Núcleo de prática Responsável:
jurídica
Márcia Cristina dos Santos Rêgo
Telefones/e-mail:
[email protected]
Nome:
CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS E DIREITO
UEA (Universidade AMBIENTAL – CDHDA
Clínica de direitos
do Estado do
humanos Responsável:
Amazonas)
Silvia Loureiro
E-mail: [email protected]
REGIÃO CENTRO-OESTE
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA E ASSISTÊNCIA
JURÍDICA – NPAJ
Contato:
Telefone: 67 3410-2465
UFGD
(Universidade Núcleo de prática Endereço: Rua João Rosa Góes, 1.761 – Vila
Federal da Grandes jurídica Progresso – Dourados/MS
Dourados)
Responsável:
Antonio Zeferino da Silva Junior
Telefones/e-mail: 67 8126-9304/
[email protected];
[email protected]
214
II. Lista de Contatos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
OBSERVATÓRIO DE SISTEMA PENAL E
DIREITOS HUMANOS – PROJETO DE
EXTENSÃO: FORMAÇÃO DE DEFENSORES
DE DIREITOS HUMANOS EM ÁREAS DE
Outros (projeto ASSENTAMENTOS
de extensão das Contato:
faculdades de
Endereço: Rua Quintino Bocaiúva, 2100 – Jd.
Direito e Relações
América – Faculdade de Direito e Relações
Internacionais)
Internacionais
Responsável:
Prof. Dr. Gustavo de Souza Preussler
Telefones/e-mail: 67 8170-2259/
[email protected]
Nome:
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM
DIREITOS HUMANOS E CIDADANIA – FADIR
Contato:
215
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
INSTITUIÇÃO DE MODALIDADE DO
CONTATO/RESPONSÁVEL
ENSINO SUPERIOR ORGANISMO
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
UnB (Universidade Núcleo de prática
Responsável:
de Brasília) jurídica
Suzana B. Viegas de Lima
Telefones/e-mail: [email protected]
Nome:
UFMT CLÍNICA DE DIREITOS HUMANOS E MEIO
(Universidade Clínica de direitos AMBIENTE
Federal de Mato humanos Responsável:
Grosso) Patryck de Araújo Ayala
Telefones/e-mail: [email protected]
Nome:
NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA
Contato:
Telefone: 62 3209-6316
Endereço: Campus I – Praça Universitária, Av.
UFG (Universidade Núcleo de prática Universitária, esquina com 5ª Avenida, s/n.
Federal de Goiás) jurídica – Setor Universitário – Goiânia, Goiás – CEP:
74.605-220
Responsável:
Cláudia Pereira Quintino
Telefones/e-mail: 62 8517-3661/
[email protected]
Nome:
NÚCLEO DE ASSESSORIA JURÍDICA E
PESQUISA EM DIREITOS HUMANOS
Contato:
Telefone: 62 3310-6616/3310-6652
Núcleo de Endereço: Av. Universitária Km. 3,5 – Cidade
UNIEVANGÉLICA
prática jurídica; Universitária – Anápolis/GO – CEP: 75.083-515
(Centro
outros (núcleo
Universitário de E-mail: [email protected];
de pesquisa em
Anápolis) [email protected]
Direitos Humanos)
Responsável:
Profa. Me Aline SeabraToschi, Prof. Dr. Rildo
Mourão e Profa. Me Mariane Morato Stival
Telefones/e-mail: 62 3310-6616/3310-6652 /
[email protected]
216
III
Boletins Informativos
B O L E T I M I N F O R M AT I V O - E D I Ç Ã O 1
EM MOVIMENTO
Organismos Universitários de Prática e Advocacia em Direitos Humanos no Brasil
25 de janeiro de 2014
217
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
A formação de organismos universitários com atuação no campo dos direitos humanos é um processo recente no
cenário brasileiro, por isso que o primeiro passo do projeto, que já está em andamento, é realizar uma pesquisa através
da aplicação de um questionário nos cursos de direito das instituições de ensino superior, com a finalidade de se
identificar e analisar os vários tipos de organismos de direitos humanos existentes, considerando, por exemplo, as
temáticas abordadas, tipos de atuação (pesquisa, advocacia, educação) formas de organização, de gestão e de
institucionalização, meios de financiamento e parcerias.
Em seguida será feita uma sistematização e avaliação das experiências constantes, que servirá como subsídio
importante para a formulação de uma proposta pedagógica e metodológica para o fomento, desenvolvimento e
fortalecimento institucional dos organismos de prática dos direitos humanos nas instituições de ensino superior.
Nessa proposta serão contemplados aspectos como papel e missão, finalidades e objetivos, formas de organização,
funções e formas de atuação desses organismos contendo apontamentos para a advocacia em Direitos Humanos em
prol da justiça social. Para a elaboração dessa proposta, será realizada uma oficina nacional no mês de maio, em
João Pessoa, na Universidade Federal da Paraíba, com o objetivo de promover o debate público, bem como, colher
sugestões e recomendações.
A partir do mapeamento dos organismos universitários de direitos humanos e da chamada pública para a construção
de uma proposta pedagógica para o desenvolvimento desses organismos nas instituições de ensino superior, o projeto
visa também contribuir com a formação de uma rede nacional de organismos universitários de direitos humanos,
baseada nos princípios da cooperação e solidariedade.
Considerem essa breve apresentação do projeto “Fortalecimento de Organismos Universitários de Prática e Advocacia
em Direitos Humanos no Brasil” como um convite para participar e colaborar com as atividades e a produção dos
trabalhos mencionados para fins de fomento e o fortalecimento desses organismos que pretende contribuir com a
promoção dos direitos humanos em nosso país.
O Centro de Referência dos Direitos Humanos baseia-se numa arejada compreensão dos tradicionais “Balcões de
Direito”, pretendendo contribuir com a democratização do acesso à justiça agregando trabalhos de mediação de
conflitos, assessoria jurídica popular e apoio psicossocial.
No ano de 2010, foi criado o Centro de Referência em Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba
(CRDH/UFPB), que constitui um espaço de defesa e promoção dos Direitos Humanos a grupos socialmente vulneráveis
do Estado da Paraíba, especificamente nos municípios de João Pessoa e Rio Tinto.
Desde a implantação do CRDH/UFPB, foram criados cinco eixos temáticos: Questão Agrária; Demandas Urbanas;
Gênero, Saúde e Combate à Homofobia; Formação em Direitos Humanos e Mediação de Conflitos; Defensores de
Direitos Humanos; Questão Potiguara e Sistema Carcerário; suas atividades envolveram a participação de
professores/as do Curso de Direito, bem como estudantes de graduação e pós-graduação em Direito, Psicologia,
Serviço Social, Enfermagem, dentre outras áreas, afirmando uma concepção metodológica e pedagógica
interdisciplinar baseada no diálogo constante com as comunidades, organizações não governamentais e movimentos
sociais assessorados.
Atualmente, as atividades desenvolvidas pelo CRDH/UFPB contribuem para o empoderamento dos grupos assessorados;
projetam a participação discente/docente em processos de mobilização política e luta por direitos; acentuam a
participação em espaços diversos (Conselhos, Instituições Públicas, Sistema de Justiça, Grupos de Estudo, Redes, Fóruns
e Articulações), fortalecendo a luta de cada grupo; e estimulam a multiplicação das informações nas comunidades e
nos espaços de intervenção.
O Centro de Referência em Direitos Humanos da Universidade Federal da Paraíba (CRDH/UFPB) foi constituído,
inicialmente, a partir de Convênio entre a UFPB e a Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República
(SDH/PR), nos anos de 2010 (julho-dezembro) e 2011 (janeiro-abril), a partir de emenda parlamentar do Deputado
Federal Luiz Couto (PT/PB).
218
III. Boletins Informativos
Desde a sua criação, o CRDH/UFPB foca sua atenção na demanda social existente, articulando ensino, pesquisa e
extensão, através de um amplo processo político-pedagógico de integração dos docentes, discentes e sociedade civil
organizada, possibilitando intervenções e acompanhamento de situações de violações de direitos humanos
apresentadas pelo Relatório sobre a situação dos Direitos Humanos no Estado da Paraíba no ano de 2009, enquanto
momento de sua criação, articulando os dados e fatos narrados no Relatório da Comissão de Direitos Humanos e
Minorias da Câmara dos Deputados/as Federais confeccionado através de visitas in loco e da realização de audiências
públicas para discussão e encaminhamento dos temas no Estado da Paraíba no ano de2009.
A equipe do CRDH/UFPB, formada por professores/as do curso de Direito da UFPB, não litiga no Poder Judiciário (devido
ao Regime de Dedicação Exclusiva e aos impedimentos legais/normativos na prestação desse tipo de assistência
judicial), porém presta informações aos sujeitos interessados que buscam auxílio, acompanha fases processuais e
inquisitoriais, realiza oficinas, minicursos, palestras e participa de atividades nas comunidades ou através de
manifestações públicas mobilizadas pelos grupos assessorados, principalmente através de extensionistas,
pesquisadores/as, estagiários/as e colaboradores/as dos cursos de Direito, Psicologia, Serviço Social, Enfermagem,
dentre outros. Destaque-se que nos casos atendidos pelo CRDH em que se identifica a necessidade de assistência
judicial, são realizados encaminhamentos para as Defensorias Públicas (do Estado e da União), bem como para outros
órgãos que atuam na área. Porém, de acordo com a natureza dos casos que chegam ao CRDH, faz-se necessária a
contratação de advogado para o acompanhamento e ajuizamento de ações nos casos considerados emblemáticos e
que representam demandas coletivas.
Nos seus campos de atuação, constatam-se elementos da assessoria jurídica popular, mediação de conflitos, apoio
psicossocial, educação jurídica popular, produção de documentários, realização de oficinas de capacitação e
formação de agentes públicos e pessoas da sociedade civil organizada e interlocução com o Estado, visto que,
atualmente, o CRDH/UFPB compõe a Comissão de Direitos Humanos do Conselho Federal de Psicologia, Núcleo de
Estudos Afro brasileiros e Indígenas (NEABI – UFPB), a Comissão Estadual da Verdade e da Preservação da Memória da
Paraíba (GT Mortos e Desparecidos / GT Gênero), Núcleo de Cidadania e Direitos Humanos (NCDH – UFPB), Comissão
de Direitos Humanos (CDH – UFPB), Comitê Paraibano Memória, Verdade e Justiça, Comissão de Jornalista da Verdade
(Paraíba), Frente Drogas e Direitos Humanos (vinculada ao Conselho Regional de Psicologia da Paraíba), Instituto de
Pesquisa Direitos e Movimentos Sociais (IPDMS).
Atualmente, os eixos de atuação possuem as seguintes temáticas: 01 – Terra/Território; 02 – Gênero e Saúde; 03 – Direitos
Humanos e Mediação de Conflitos; 04 – Saúde Mental e Direitos Humanos; e 05 – Sistema Carcerário. A partir de cada
eixo são executados os projetos de extensão, que, atualmente, são os seguintes: “Ymyrapytã: populações tradicionais e
meio ambiente”; “Educação popular, gênero e acesso à justiça: construindo direitos, promovendo cidadania”;
“Assessoria jurídica a pessoas especiais: um espaço de cidadania”; “Cidadania em extensão: acesso à justiça e
mediação de conflitos”; “Cidadania e direitos humanos: educação jurídica popular no Complexo Psiquiátrico Juliano
Moreira”; e “Subjetividade e Direitos Humanos: apoio psicossocial e monitoramento das condições do cárcere na
Paraíba”.
O Programa de Pós Graduação em Direito da Universidade Federal do Pará inaugurou, em março de 2011, o
Laboratório em Direitos Humanos, que tem por finalidade associar a pesquisa da Pós-Graduação à extensão
acadêmica, desenvolvendo atividades que potencializem a pesquisa empírica e criem um ambiente privilegiado de
informação e apoio à efetividade dos Direitos Humanos.
O presente Laboratório de Direitos Humanos abriga a Clínica de Direitos Humanos da Amazônia (CIDHA) na perspectiva
de integrar ações de pesquisa e extensão, as quais são desenvolvidas pelos docentes, discentes da referida Pós-
Graduação e discentes da Graduação em Direito.
A CIDHA atualmente tem duas linhas específicas de ação, mas que estão interligadas, a saber:
1) Direitos Econômicos, Sociais e Culturais: pesquisa e fomento de políticas públicas relacionadas com ordenamento
territorial, gestão e manejo agroflorestal, regularização fundiária (pequena, média e grande propriedade),
reconhecimento de áreas quilombolas e populações tradicionais, demarcação das áreas indígenas e criação de
unidades de conservação.
2) Internacional: capacitação dos discentes para acionar, juntamente com organizações não governamentais e
movimentos sociais, os Sistemas Internacionais de Proteção, em casos paradigmáticos de violações de direitos
humanos.
219
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Objetivos:
Geral: Promover a qualificação profissional e a prática em direitos humanos dos estudantes da Graduação e Pós-
Graduação em Direito da UFPA.
Específicos:
. Fomentar, quando necessário, a proposição de demandas judiciais nacionais e internacionais na defesa dos direitos
humanos, proporcionando vivência processual aos estudantes, em parceria com outras entidades;
. Incentivar intervenções do poder público e da sociedade civil na tutela dos direitos humanos;
. Aprofundar a discussão multidisciplinar sobre direitos humanos, com enfoque na legislação agroambiental e nos
tratados internacionais;
. Capacitar os estudantes para realizar pesquisas acadêmicas voltadas para os direitos humanos na Amazônia,
objetivando a produção de dissertações, artigos científicos e monografias;
. Estudar a legislação, jurisprudência nacional e internacional dos direitos humanos, confeccionando bancos de dados;
PROMOÇÃO DE DIREITOS:
PROTEÇÃO DE DIREITOS:
. Criação e manutenção de banco de dados de jurisprudências e legislação nacional e tratados internacionais sobre
direitos humanos;
. Consultoria para entidades governamentais na criação e desenvolvimento dos programas e projetos afetos às
temáticas da CIDHA;
. Os discentes do Programa de Pós graduação em Direito da UFPA recebem bolsa da CAPES, enquanto que os
discentes da graduação recebem bolsas do CNPQ advindas dos Editais PIBIC e PIBEX, bem como da Fundação Ford
(financiamento de bolsas de iniciação científica para os discentes de graduação e manutenção das atividades da
Clínica).
FUNCIONAMENTO:
A Clínica é coordenada pela Professora Doutora Cristina Figueiredo Terezo e funciona de segunda à sexta, de 8:00hs às
18:00hs, nas dependências do Laboratório de Direitos Humanos da Universidade Federal do Pará.
PARCERIAS:
Rede Amazônica de Clínicas de Direitos Humanos formada pelas seguintes Universidades: Universidade Federal do Pará,
Universidade Federal do Oeste do Pará, Universidade Federal do Mato Grosso, Universidade do Estado do Amazonas e
Universidade de Brasília.
220
III. Boletins Informativos
A Clínica de Direitos Humanos de Universidade da Região de Joinville – UNIVILLE é um projeto universitário que existe
desde 2007 e busca unir ensino, pesquisa e extensão. Seu objetivo principal é promover a educação em direitos
humanos para o maior número de pessoas possível, sejam acadêmicos, professores, ativistas ou profissionais do direito
por meio de grupos de estudos, projetos de pesquisa e extensão, participação em simulados internacionais e nacionais,
realização de eventos acadêmicos, etc. Para alcançar tamanho objetivo, conta com a participação de alunos,
professores e funcionários da universidade, assim como diversos colaboradores.
Para participar da Clínica de Direitos Humanos, os acadêmicos interessados se inscrevem por meio de um edital que é
aberto semestralmente e seleciona 10 participantes por período.
1. Grupo de Estudo Teórico em Direitos Humanos, com encontros semanais, momento em que se estuda a construção
histórica dos direitos humanos, bem como se desenvolvem debates sobre temas atuais da área;
2. Grupo de Estudo Preparatório para Simulados Internacionais de Direitos Humanos, que visa preparar os alunos para
participarem de simulações da ONU e OEA; e
3. ConBate: Congresso para debater Direitos Humanos, que é organizado semestralmente pelos alunos da Clínica. O
objetivo do evento é trazer para discussão questões atuais de direitos humanos onde dois professores são convidados a
“combaterem” sobre o tema, um falando a favor e outro contra.
Já na área de pesquisa, a ClínicaDH realiza projetos de pesquisa os Direitos Humanos, assim como dá suporte para
projetos de iniciação científica e trabalhos de conclusão de curso relacionados à Direitos Humanos.
Por fim, na área de extensão, a Clínica de Direitos Humanos promove as seguintes atividades:
1. Projeto Educar Direitos Humanos, que consiste na formação de professores de escolas primárias em direitos humanos,
cidadania e democracia;
2. CineDebate Direitos Humanos, que é um espaço de cinema e debate sobre temas de direitos humanos, com
especialistas, aberto à comunidade de Joinville; e
3. Curso Anual de Direitos Humanos, que é realizado em parceria com o Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos
(IDDH), para capacitação de defensores dos direitos humanos (do governo e da sociedade civil) de todas as regiões do
país.
Adicionalmente, a ClínicaDH trabalha com casos escolhidos pelos estudantes e professores por semestre/ano. O
objetivo é que o grupo busque possíveis soluções (políticas, jurídicas, sociais, econômicas) para o caso de direitos
humanos e faça as intervenções que tiverem ao seu alcance. A ClínicaDH não interpõe diretamente medidas judiciais,
sempre em parceria com entidades e organizações de direitos humanos. Em 2013, por exemplo, a ClínicaDH trabalhou
na elaboração de um relatório sobre os parâmetros nacionais e internacionais para as prisões. Este relatório foi resultado
de uma solicitação da Defensoria Pública da União a ClínicaDH para subsidiar uma Ação Civil Pública sobre a situação
prisional em Santa Catarina. Maiores informações sobre este e outros projetos ver: www.facebook.br/clinicadh
O Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns é uma Unidade de Prática Jurídica da Faculdade de Direito da PUC-SP, que
compõe o seu Núcleo de Prática e operacionaliza a previsão curricular de estágio para os alunos do Direito, através da
prestação dos serviços de Assessoria Jurídica Popular gratuita.
Criado por força de Norma Federal editada pelo Ministério da Educação, que fixa as diretrizes curriculares do curso de
Direito, desde sua origem está vinculado ao Núcleo de Prática Jurídica da Faculdade de Direito, conforme seu
Regimento Interno aprovado pelo Conselho Universitário (CONSUN), de acordo com o processo R-02/2000 e o Projeto
Pedagógico do Curso de Direito, aprovado pelo Conselho de Ensino e Pesquisa (CEPE) em 21/11/2006 e pelo (CONSUN)
20/12/2006.
221
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
Unidade referencial de experiência comunitária e de luta pela cidadania e pela emancipação social, expressa a opção
comunitária da PUC/SP através do compromisso social da Faculdade de Direito para com seus alunos e para com a
população, especialmente a que se encontra em situação social vulnerável.
Suas raízes e origens são na verdade seus marcantes diferenciais, justamente porque emergiu do amplo movimento pela
institucionalização e pelo reconhecimento do trabalho de Assessoria Jurídica Popular.
São seus objetivos principais e regulamentares: (*) a formação e capacitação do aluno através da disponibilidade de
vagas para estágio profissional e complementação de horas de prática, desenvolvimento de extensão e pesquisa; (*) e a
prestação de serviços gratuitos à população vulnerável econômica e socialmente, individuais e coletivos, através da
Assessoria Jurídica Popular, da Assistência Jurídica e da Mediação de Conflitos, atuando de forma multiprofissional e
interdisciplinar.
O trabalho de Assessoria Jurídica Popular se estrutura através de três grandes áreas de prestação do serviço, organizadas
da seguinte forma:
a) Área do Contencioso Individual, que presta o serviço de assistência jurídica gratuita em demandas individuais no âmbito
do direito civil, direito de família, bem como nas curadorias especiais. Advogados, Assistentes Sociais e Psicólogos,
juntamente com estagiários, alunos dos cursos de Direito, Serviço Social e Psicologia, fazem diariamente atendimento direto
e individual à população e dão suporte sócio jurídico aos beneficiários, através da propositura de ações e da elaboração
de defesas processuais e também orientação psicológica e de serviço social;
b) Área dos Projetos Sociais: realiza trabalho interdisciplinar para a defesa jurídica coletiva visando à garantia dos direitos
fundamentais, tais como direito à moradia, direito à comunicação, direito da criança e adolescente, entre outros.
Advogados, Assistentes Sociais e Sociólogo, juntamente com estagiários, prestam assistência jurídica e social a
comunidades, por meio da propositura de ações, realização de oficinas de formação em direitos e orientações sociais.
Além do serviço prestado à população de baixa renda, os estudantes lidam com essas temáticas e aprendem, na prática,
a compreender a diversidade social em que estão inseridos e a intervir positivamente nessa realidade.
Em ambas as atuações, a área trabalha no sentido de estimular a consciência de direitos, mitigar as desigualdades sociais
e viabilizar o acesso à justiça.
c) Núcleo de Mediação e Prevenção de Conflitos: a atividade de mediação representa uma forma não-adversarial
(consensual) de resolução de controvérsias, na qual as partes, por meio de diálogo franco e pacífico, têm a possibilidade,
elas próprias, de solucionarem seu conflito, contando com a figura do mediador, terceiro imparcial que facilitará a
conversação entre elas. A mediação possibilita a transformação da "cultura do conflito" em "cultura do diálogo", na medida
em que estimula a resolução dos problemas pelas próprias partes. A valorização das pessoas é um ponto importante, uma
vez que são eles os atores principais e responsáveis pela resolução da divergência. Ela é aplicada aos casos individuais e
coletivos com potencial para tanto, triados dentre o rol de atendimento realizado no Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo
Arns.
Favorecer o amplo acesso à Justiça é a motivação do Escritório Modelo Dom Paulo Evaristo Arns.
Tem como público-alvo o indivíduo e os grupos e comunidades ditas carentes da Capital de São Paulo, abordando os
problemas emergentes na cidade, como: discriminação; violência urbana; crianças e adolescentes de rua; população que
vive em condições precárias de habitabilidade nas favelas, cortiços e loteamentos irregulares nos bairros da periferia; a
degradação ambiental; os casos de violação do meio ambiente; a situação de desemprego e aumento da pobreza; a
participação da população na gestão das políticas e dos recursos públicos.
Busca meios de erradicação das desigualdades sociais e promove a convivência pacífica e harmônica entre os indivíduos.
222
III. Boletins Informativos
São suas bases de ação: a proteção, a garantia e a conscientização de Direitos, e, para tanto, prima por gerar para o
aluno estagiário do Direito – também de algumas outras áreas como Serviço Social, Psicologia, Sociologia, Educação e
Comunicação, um ambiente de aprendizado diferenciado: pelo contato direto do aluno com a população; através da
ação integrada numa prática multiprofissional e interdisciplinar, assistido por uma equipe bem qualificada de advogados
orientadores e coordenado por professores da Faculdade de Direito.
Assim, procura preparar o aluno para, como futuro profissional do Direito, atuar com enfoque contemporâneo, humanista
e multidisciplinar, visando dar-lhe flexibilidade e olhar prospectivo e sensível para as questões apresentadas pela realidade
e incentivar posturas responsáveis do ponto de vista jurídico e social.
OBJETIVOS
• Disponibilizar orientação jurídica e informação sobre direitos humanos e cidadania às pessoas e comunidades em
situação social vulnerável, de forma multiprofissional e interdisciplinar e integrada com as demais áreas profissionais da
PUC/SP alinhadas com a Assessoria Jurídica Popular, bem como organizações não governamentais, instituições, agentes
sociais e entidades comunitárias que atuam nessa seara;
• Realizar trabalho interdisciplinar para a defesa jurídica coletiva visando à garantia dos direitos fundamentais, tais como
direito à moradia, direito à comunicação, direito aos novos imigrantes de São Paulo (latino-americanos e africanos), direito
da criança e adolescente, entre outros, tutelando casos de interesse coletivo das comunidades dos moradores de cortiço,
favelas e loteamentos irregulares, consultoria e assessoria às suas associações, grupos e movimentos;
• Buscar solução dos conflitos através da boa administração dos mesmos e prevenção da sua má administração através
de realizações de tentativas de mediação, sensibilização e capacitação da população e do aluno sobre os meios
pacíficos de solução e prevenção de conflitos, através de palestras e momentos de formação;
• Prestar tutela individual de referência à população menos favorecida através do atendimento, orientação e defesa de
direitos, judicial e extrajudicialmente;
• Resgatar a cidadania dos assistidos através de um trabalho interdisciplinar, integrando as áreas do Direito, do Serviço
Social e da Psicologia e propiciar meios para que os assistidos se conscientizem de seus direitos como cidadãos;
• Buscar a inclusão social através da conscientização dos valores da paz e da tolerância e também instrumentalizar o
acesso à justiça pela via da pacificação social;
• Sedimentar avanços jurídicos na regularização, fortalecimento da participação social, ampliação do acesso territorial a
serviços sociais e do acesso à Justiça.
A Clínica de Direitos Humanos da UniRitter foi criada em 2012, inicialmente como atividade de extensão do Programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu /Mestrado em Direitos Humanos da UniRitter. A criação da Clínica DH’s tinha como objetivo
criar um ambiente de debate entre alunos e professores sobre direitos humanos e os desafios que ainda assombram nosso
país neste campo.
Após 30 anos de regime democrático, verifica-se a permanência de graves violações de direitos fundamentais, que se
naturalizam na sociedade brasileira gerando um padrão de racismo institucional, intolerância religiosa, homofobia,
violência contra mulheres, tortura e extermínio de população prisional, discriminação regular contra setores mais
vulneráveis da população. Percebe-se que o ensino jurídico tradicional não ensina a lidar com estas questões de forma
eficiente e resolutiva, e que a pratica jurídica decorrente faz “vista grossa” para a dimensão social dos problemas que
chegam aos tribunais.
1. Renovar o repertório de metodologias de ensino jurídico, trazendo para alunos, e mesmo para os professores, novas
questões epistemológicas de produção de conhecimentos através de estudos de caso; busca pela melhor aplicação da
legislação disponível no país; conexão com situações concretas, e repetitivas, de violações de direitos humanos e criação
de um grupo dinâmico dentro da universidade para debater direitos.
2. Encontrar remédios jurídicos para casos emblemáticos de discriminações institucionais que não têm sido alvo de
medidas concretas por parte do Poder Público para sua resolução. A proposta é, através da seleção de casos, criar uma
dinâmica de estudos e debates e propor medidas jurídicas concretas para seu encaminhamento aos tribunais, inovando
assim na construção de estratégias jurídicas que enfrentem os problemas identificados, analisados pelo grupo, e que ainda
exigem uma mobilização da comunidade jurídica para sua solução.
223
Pesquisa – Organismos Universitários de Direitos Humanos
A partir de um projeto apoiado pela Fundação Ford, a Clínica de Direitos Humanos começou efetivamente a funcionar
em março de 2012, com a realização do 1º Encontro Nacional de Clínicas de Direitos Humanos em 16 e 17 de abril de
2012 no campus de Porto Alegre da UniRitter que congregou representantes de programas de Pós-Graduação em
Direitos Humanos, Clínicas de Direitos Humanos e Escritórios-Modelo de diversas instituições para debater o perfil destas
novas iniciativas no país.
Durante o ano de 2012, a CDH concentrou-se na construção de uma representação para fins de propositura de ADPF
contra a Criminalização da “Pederastia” no Código Penal Militar, voltada para o debate sobre a compatibilidade da
criminalização da pederastia em face da Constituição da República de 1988. Trata-se de avaliar a (in)coerência deste
tratamento jurídico tendo como parâmetro direitos humanos e direitos fundamentais, bem como propor medida
concreta diante desta violação baseada em discriminação que persiste, na sociedade brasileira em geral, e nas forças
armadas, em particular, voltada contra homossexuais. A CDH elaborou uma representação para a Procuradoria Geral
da República que foi entregue em evento solene, realizado no Auditório D da UniRitter, durante a realização de uma
conferência da Subprocuradora Geral da República, Dra. Deborah Duprat, com a presença do Reitor, Dr. Flávio Ritter
dos Reis e de professores do Curso de Mestrado e da Graduação. A representação contou com o apoio, o prestígio e
a participação da ANIS – Instituto de Bioética e Direitos Humanos (Brasília), do NUANCES – Grupo pela Livre Expressão
Sexual (Porto Alegre), do Instituto Edson Néris (São Paulo), do GADVS (Grupo de Advogados pela Diversidade Sexual,
São Paulo) e do Núcleo de Pesquisa em Sexualidade (NUPSEX), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A
Procuradoria-Geral da República propôs a ADPF, recebida eletronicamente no sítio do Supremo Tribunal Federal sob a
numeração 291, precisamente objetivando reparar violações aos direitos humanos em virtude da aplicação do art. 235
do Código Penal Militar, norma não recepcionada pela Constituição de 1988.
Em 2013, a Clínica de Direitos Humanos elegeu o caso do Presídio Central de Porto Alegre para atuação como amicus
curiae. O Fórum da Questão Penitenciária do Rio Grande do Sul, que congrega diversas entidades gaúchas,
denunciou o Estado Brasileiro à Comissão Interamericana de Direitos Humanos por graves violações de direitos
humanos ocorridas no Presídio Central de Porto Alegre, pedindo Medidas Cautelares, hoje sob o número 8/2013 - MC 8
-13 - da CIDH. A Clínica de Direitos Humanos passou a ser responsável pela elaboração de peças processuais para
alimentar o caso da CIDH, que evoluiu bastante neste último período. O governo brasileiro foi citado para manifestar-
se, o Estado do RS está prestando informações à CIDH, o Fórum da Questão Penitenciária do RS voltou a se manifestar
e a OAB Federal está também aderindo ao caso.
A Clínica de Direitos Humanos está atualmente sob a coordenação dos professores Gilberto Schäfer, Roger Raupp Rios
e Paulo Gilberto Cogo Leivas. O modelo da CDH da UniRitter está ainda em construção, mas algumas características já
estão consolidadas, em especial a ênfase em casos coletivos, como alternativa ao atendimento individualizado
prestado pelos serviços de assistência judiciária e defensoria pública; estes continuam sendo muito relevantes mas não
estão direcionados à produção de impacto estratégico e social. Embora a CDH da UniRitter atualmente funcione
como atividade de extensão, foi aceito pela instituição que disciplinas de prática jurídica sejam vinculadas à CDH, o
que poderá produzir resultados ainda mais instigantes para o próximo período.
1.SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ADPF 291 - Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental. Disponível em
http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=4462545. Acesso em: 23 de nov. de 2013.
2.As entidades que subscreveram e assinam o documento de representação compõem o Fórum da Questão
Penitenciária e são a Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul - AJURIS, Associação do Ministério Público do Rio
Grande do Sul - AMPRGS, Associação dos Defensores Públicos do Estado do Rio Grande do SUL - ADPERGS, Conselho
Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul - CREMERS, Conselho da Comunidade para Assistência aos
Apenados das Casas Prisionais Pertencentes às Jurisdições da Vara De Execuções Criminais e Vara De Execução De
Penas e Medidas Alternativas De Porto Alegre, Instituto Brasileiro de Avaliações e Perícias de Engenharia – IBAPE,
Instituto Transdisciplinar de Estudos Criminais – ITEC e Themis Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero.
224
III. Boletins Informativos
Início do Mapeamento
Com o intuito de mapear os Organismos Universitários de Direitos Humanos no Brasil, a proposta inicial era que fossem
utilizados os dados das Instituições de ensino superior fornecidos pelo Ministério da Educação.
Para tanto, foi feita uma consulta no site do e-MEC (Sistema de Regulação do Ensino Superior), na qual obtivemos os
dados de 1197 Instituições de ensino superior por todo o Brasil que possuem Faculdade de Direito.
Em seguida, enviamos solicitações para a Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior – SERES – no portal
do Ministério da Educação, requisitando informações sobre os organismos de Direitos Humanos existentes nas Faculdades
de Direito daquelas Instituições cujos dados foram colhidos no site do e-MEC.
Paralelamente às demandas que enviamos à SERES pelo portal do MEC e ao INEP através do e-mail fornecido na resposta
da SERES, fizemos solicitações pelo Sistema Eletrônico do Serviço de Informação ao Cidadão (portal e-SIC), sistema este
regulamentado pela lei 12.527, de 18 de novembro de 2011 e previsto no inciso XXXIII do artigo 5º, no inciso II do § 3º do
artigo 37 e no §2º do artigo 216 da Constituição Federal. Dessa maneira, a solução seria fazer solicitações ao e-SIC de
cada Instituição individualmente. No entanto, só foi possível enviar demandas referentes às Universidades Federais, posto
que estas são as únicas Instituições dentre as ligadas ao Ministério da Educação que estão vinculadas pela lei nº.
12.527/2011.
Assim, conjuntamente com as demandas enviadas ao portal e-SIC relacionadas às Universidades Federais, coletamos os
dados de contato das Coordenações, Direções e/ou Secretarias das Faculdades de Direito nos sites das Instituições de
ensino e pelo portal e-MEC, começando pelas Instituições da Região Sudeste, para que pudéssemos solicitar a
participação delas em nosso projeto. A maior dificuldade encontrada nesta primeira parte do mapeamento foi o contato
direto com os responsáveis, principalmente, dos setores de Coordenação e Direção das Faculdades de Direito, posto que
tais responsáveis são os que melhor conhecem o funcionamento de cada organismo de Direitos Humanos existente em
suas Faculdades.
O questionário enviado às Instituições acima referidas para o fornecimento de dados para a pesquisa, passou por três
etapas de aplicação, nas quais houve um aperfeiçoamento dos itens a serem respondidos de acordo com nossas
percepções de eventuais dificuldades ou dúvidas no preenchimento do formulário e com base nas discussões trazidas à
tona pelos pesquisadores no seminário realizado no dia 21 de novembro, na UNIVILLE, na cidade de Joinville.
Com o questionário, procuramos obter os dados de contato da Instituição de ensino superior e seu organismo de Direitos
Humanos correspondente: (nome da Instituição, nome do organismo, nome do responsável pelo preenchimento,
endereço, telefone e e-mail para contato); o tipo do organismo (SAJU, Clínica de Direitos Humanos, Escritório Modelo,
etc.); o vínculo institucional do organismo de Direitos Humanos (programa de graduação, pós-graduação ou extensão
universitária); o perfil e a origem dos estudantes que ingressam no organismo e o vínculo com este, o meio de ingresso no
organismo e na Instituição de ensino; a estrutura do corpo acadêmico e técnico do organismo (existência ou não e
quantidade de coordenadores, professores e advogados e suas respectivas remunerações e carga horária); eventuais
profissionais de outras áreas (assistente social, pedagogo, psicólogo, cientista social, etc) envolvidos no trabalho realizado
pelo organismo; equipe administrativa envolvida; sustentabilidade financeira (recursos próprios ou externos e origem e
destinação de tais recursos); parcerias do organismo; áreas de atuação (campo, cidade, ambiental, trabalho escravo,
etc); tipos de atividade desenvolvidas no organismo de Direitos Humanos e o público alvo que tal organismo atende.
Entendemos a importância de reunir os dados de cada organismo de Direitos Humanos de modo que sejam identificados
elementos comuns e divergentes entre eles, para que dessa maneira se possa estabelecer um plano pedagógico e
metodológico com estratégias para fomentar e fortalecer institucionalmente as atividades realizadas por estes organismos
no âmbito dos direitos humanos.
Através da aplicação do questionário e da análise e tabulação dos dados coletados pelos pesquisadores, será possível
realizar uma definição de estratégias para consolidar os organismos brasileiros de prática e advocacia em Direitos
Humanos, sempre levando em conta a especificidade e o campo de ação de cada um deles e buscando mecanismos
para uma atuação temática comum ao grupo, que é um dos objetivos principais da realização de tal projeto, e por essa
razão, a importância da participação de todas as instituições de ensino superior.
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Próximos eventos
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D S T Q Q S S
VIII Encontro Nacional da ANDHEP 28 a 30 de abril de 2014
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www.escritoriomodelo.pucsp.br/
www.cidh.ufpa.br
www.clinicadedireitoshumanos.blogspot.com.br/
www.crdhufpb.blogspot.com.br
www.uniritter.edu.br
Pesquisadores participantes:
Estagiária:
Fabianne Figueiredo ( PUC/SP)
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Pesquisa
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Organismos Universitários
de D ireitos H umanos
D I R E IT O S
Projeto “Fortalecimento de Organismos Universitários de
DE
Prática e Advocacia em Direitos Humanos no Brasil”
U N IV E R S IT Á R I O S
ORGANISMOS
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