Sebenta CAT David PDF
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Introdução .................................................................................................................................... 3
Contencioso Administrativo no Divã da História ............................................................................. 5
Traumas do Contencioso Administrativo .................................................................................... 5
Evolução da Justiça Administrativa ............................................................................................. 7
Modelos de Justiça Administrativa ............................................................................................... 15
Modelo Objetivista vs. Subjetivista ...................................................................................... 15
Os Modelos Organizativos ................................................................................................... 16
Os Modelos Processuais ou Operativos: .............................................................................. 17
Comparação Sistema Francês vs. Inglês .............................................................................. 18
Contencioso Administrativo no Divã da Constituição Portuguesa ................................................. 21
A CRP do Processo Administrativo............................................................................................ 22
Até 1976: ............................................................................................................................. 22
1º Período CRP 1976: 1976 – 1986...................................................................................... 23
Revisão Constitucional 1982 ................................................................................................ 23
Revisão Constitucional 1989 ................................................................................................ 24
Revisão Constitucional 1997 ................................................................................................ 25
Reforma 2002/04................................................................................................................. 26
Reforminha de 2015 ............................................................................................................ 27
Meios Processuais e Disposições Fundamentais........................................................................... 29
ELEMENTOS DO PROCESSO ........................................................................................................ 36
1. Tribunais Administrativos .................................................................................................. 36
Pressupostos Processuais ................................................................................................... 37
2. Sujeitos (Partes) .................................................................................................................. 44
Pressupostos Processuais ................................................................................................... 47
3. Objeto ................................................................................................................................. 63
Pedido ................................................................................................................................. 63
Causa de Pedir .................................................................................................................... 64
AÇÃO ADMINISTRATIVA ............................................................................................................... 71
Impugnação de Atos Administrativos ........................................................................................... 75
Pressupostos Processuais (em Razão do Objeto) Impugnação AA .......................................... 77
1. IMPUGNABILIDADE DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ........................................................... 78
2. TEMPESTIVIDADE DA IMPUGNAÇÃO ................................................................................ 88
3. NÃO ACEITAÇÃO DO ATO IMPUGNADO............................................................................ 89
Condenação à Prática de Atos Administrativos............................................................................. 90
Pressupostos Processuais (em Razão do Objeto) ser a Condenação à Prática ........................ 93
Impugnação de Normas Regulamentares ..................................................................................... 96
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Introdução
Estudo do PROCESSO ADMINISTRATIVO – regras de conduta a observar pelos sujeitos
processuais na propositura e desenvolvimento da sequência encadeada de atos jurídicos
(ação), cujos termos correm perante uma estrutura específica de tribunais (Tribunais
Administrativos).
Mário Aroso de Almeida: são aplicados ao Processo Administrativo todo um conjunto de conceitos
fundamentais que, embora tenham sido historicamente elaborados no âmbito e por referência ao
Processo Civil, se devem hoje entender como conceitos fundamentais da Teoria Geral do
Processo.
• Com a propositura da ação pelo Autor constitui-se a instância, ou seja, a relação jurídica
processual que se vai desenvolver entre as partes e o tribunal ao longo de toda a
pendência da causa.
o A regularidade da constituição da instância depende da observância de um
conjunto de requisitos de admissibilidade do julgamento do mérito da causa, a
que é dado o nome de pressupostos processuais.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
• O tribunal só pode pronunciar-se sobre o objeto do processo tal como ele foi
determinado pelas partes.
o Identifica-se com o pedido e a causa de pedir, podendo depois ser ampliado ou
restringido durante a pendência da causa, por iniciativa dos sujeitos
processuais.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
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Direito Administrativo não foi decretado por via legislativa e surgiu como uma resposta a necessidades
históricas – mantiveram-se os Parlamentos (Tribunais compostos por nobreza) em que os revolucionários
não confiavam (já se opunham ao rei, ir-se-iam opor a esta nova ordem social com as suas ideias de classe
dominante) pois não iriam reconhecer os direitos de todos os cidadãos. Por isso criam uma nova estrutura
em que coloca os litígios da Administração com civis
➢ Surge primeiro o direito processual/adjetivo e, da jurisprudência, cria-se o direito
material/substantivo – com as sucessivas decisões surge um corpo de regras sólidas que se
autonomiza
2
Devido à conceção de Montesquieu de que o poder judicial “julga os diferendos dos particulares”
3
Em França, por detrás de cada um dos poderes está a ideia de Estado – um ente todo-poderoso que se
esconde por detrás da Administração e vai obrigar à criação de um contencioso especial, pois é
inconcebível o seu julgamento por um qualquer juiz, já que esta é uma realidade soberana dotada de
privilégios exorbitantes.
4
Até lá eram “órgãos da Administração” (Marcello Caetano)
5
Protege a Administração. Maurice Hauriou: salvaguarda a lógica do poder administrativo; Otto Bachof:
salvaguarda a Administração Agressiva (aquela que quando atua é para exercer a força física sobre os
particulares)
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O que está em causa é a submissão e ainda hoje muita doutrina não reconhece que os particulares têm
direitos subjetivos.
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Jellineck: “direito subjetivo dos indivíduo, no domínio do direito público, consiste exclusivamente na
capacidade de fazer mover as normas jurídicas no interesse individual” - objetivo e subjetivo confundem-
se e diluem-se um no outro
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Mas não era exclusivo – iniciou-se em França mas nem todos os países adotaram; Reino Unido era o
tribunal comum que julgava a Administração – existia sem estar sujeito aos traumas pois o poder judicial
era entendido como autónomo dos demais e tanto se aplicava a privados como a entidades públicas
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Otto Mayer na Alemanha, Marcello Caetano em Portugal, Maurice Hauriou em França, Santi Romano
em Itália.
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1872 – 1889: Justiça Delegada – chefe de Estado delega no Conselho de Estado os poderes de
decisão
• Transforma o Conselho de Estado num órgão de decisão, que toma a decisão definitiva
em nome do chefe de Estado, por causa da delegação de poderes.
o VPS: mas não é aqui que nascem os tribunais administrativos, uma vez que o
Conselho de Estado ainda é um órgão da Administração. Há transformações,
mas ainda estamos no sistema do administrador-juiz:
1. Nada muda na natureza do Conselho de Estado – não há distinção
orgânica entre a secção de julgamento e a secção administrativa, tudo
era atribuído ao mesmo órgão.
2. Vigora a teoria do “ministro-juiz” – o Ministro era a 1ª instância do
Contencioso Administrativo, obrigando-o a decidir sobre a sua ação e
só depois se recorria para o Conselho de Estado. Marca a realidade até
aos nossos dias11.
3. Meio processual para controlar as decisões da Administração é o
Recurso – sendo a primeira apreciação jurisdicional de um ato pelo juiz,
era uma verdadeira ação. No entanto, era o Recurso de uma apreciação
da Administração12.
4. Delegação de Poderes – continua a considerar-se o Conselho de Estado
como um órgão da Administração, pois a delegação de poderes é um
mecanismo estadista através do qual um órgão competente transfere a
outro órgão administrativo competente o exercício da função. E o órgão
delegante não perde a competência, podendo revogar a delegação ou
substituir os atos jurídicos.
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Revolução Francesa trouxe uma conceção do princípio da separação de poderes enviesado – “julgar a
Administração ainda é Administrar”.
11
Recurso Hierárquico Obrigatório – algo que vem do sistema do administrador-juiz e que nos dias de hoje
não faz qualquer sentido; é regra que foi afastada pela jurisprudência do Conselho de Estado, com a
superação dos traumas da infância difícil do contencioso administrativo (VPS)
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Trauma que já foi superado em Portugal, mas que em França continua a ser “recour de plein juridiction”.
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Estamos prante uma realidade Administrativa, que vai ser exportada para outros Estados,
acompanhando o liberalismo
• VPS: mas não é uma realidade liberal – em Inglaterra havia liberalismo, mas um outro
modelo liberal de entendimento da administração e uma outra organização de
Tribunais. Também não é necessariamente liberal porque estados autoritários ou
mesmo Estados totalitários vão adotar esta realidade.
o Administração não diz o Direito nem o define, como fim (isso cabe aos
Tribunais); usa o Direito como meio para satisfazer as necessidades coletivas.
Ex: controlador aéreo dizer para avião voar é um ato administrativo, é uma
indicação de caráter técnico, sendo um ato que é um meio para atingir um
resultado que a ordem jurídica atribui àquele comportamento
▪ Ato já não tem nada de definitivo (isso permanece dos traumas) e
atribui bens aos cidadãos deixando de ser executório e sem poder ser
aplicado coativamente. Ex: ter uma bolsa de estudo (Estado não pode
obrigar-te a usar); pedir uma pensão; pedir autorização para contruir.
Se bem que há atos de realização coativa, como os da Polícia.
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Regulava a prestação de trabalho devido à realidade da “miséria operária”. Em pleno fulgor até aos
anos 70 em que começaram as crises
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Ernst Forsthoff
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• REINO UNIDO: até ao séc. XIX não havia Direito Administrativo e a Administração
subordinava-se ao common law, sendo julgada pelos Tribunais comuns
o Lógica britânica era a do cumprimento voluntário das decisões da
Administração Pública, não tendo de se pedir autorização ao Tribunal.16
▪ Aparentemente a Administração era integralmente controlada, mas,
havia largas exceções para os atos do monarca17.
15
Dando também origem ao Direito Administrativo cujo fim não é a defesa da Administração, mas sim
dos direitos dos particulares
16
Era uma lógica de uma Administração Judiciária (para se obter a execução coerciva tinha de se ir a
Tribunal) em vez de Administração Executiva (Administração Pública não precisa dos Tribunais para levar
a cabo a transformação da realidade – execução coerciva dos atos não carece de autorização judicial), daí
pressupor o cumprimento pelos cidadãos.
17
Isto não permitia um controlo total e nos anos 90 o TJUE condenou o Reino Unido por não controlar
suficientemente.
• Sistema inglês apresenta um conjunto de condicionamentos e de limitações que põem em causa
a plenitude e eficácia do sistema. O juiz autolimita a sua apreciação no domínio do poder
discricionário e tende a predominar um entendimento amplo da discricionariedade, que torna
menos efetivo o controlo judicial.
• Apesar de jurisdição única, existem regras processuais diferentes para os litígios administrativos,
pelo que o controlo da maior parte das decisões administrativas não era possível através dos
meios processuais genéricos (“appeal”), mas somente através de meios específicos
(“prerrogative orders”), nem sempre acionados pelos particulares. Os meios específicos não
eram utilizáveis contra a Coroa, enquanto tal, o que tornava muito difícil o controlo da atuação
dos órgãos administrativos superiores, sobretudo o Governo.
• Essa ineficiência levou a que se criassem os Administrative Tribunals – tarefas administrativas e
jurisdicionais
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• Nos outros países, que receberam o Contencioso Administrativo por lei, vão ser
transformados também através da lei.
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Apenas numa primeira instância há especialização do Tribunal; em Portugal há tribunais administrativos
(especializados da base até ao topo) – o grau de especialização varia de país para país
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Movimento de Constitucionalização levou à tutela plena dos direitos dos particulares, em que
juízes protegem os seus direitos.
➢ Lógica de que a cada direito cabe uma ação
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Constitucionalização do Contencioso Administrativo
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Portugal:
• Art. 211º/3 CRP – os Tribunais Administrativos (integrando-se na lógica judicial) julgam
são relações jurídicas administrativas
• Art. 268º/4 e 5 CRP – princípio da tutela efetiva e plena de todos os direitos.
o VPS: artigo mais-que-perfeito
França:
• Tribunal Constitucional, 1980 – jurisdição administrativa é uma realidade do poder
judicial e não do poder administrativo.
• Tribunal Constitucional, 1987 – há um direito fundamental de usar a justiça
administrativa, um direito fundamental de utilizar o contencioso administrativo e que
este direito existe para a tutela dos direitos dos particulares.
VPS: foi o Conselho Constitucional Francês que, através destas duas decisões, mudou
constitucionalmente o contencioso.
Reino Unido:
• A partir dos anos 70, os Tribunais britânicos vão dizer que a decisão pertence a um
tribunal é um princípio geral de direito constitucional material britânico
• Também no Reino Unido, o controlo integral da administração passa a ser uma realidade
no sistema britânico – estabelece-se um mecanismo que tem um tribunal especializado
em razão da matéria, que é o “administrative court”.
o Há um tribunal administrativo no Reino Unido que se ocupa da “judicial review”
de todas as decisões dos órgãos máximos e dos outros da administração.
o Este tribunal administrativo, passa a chamar-se assim nos finais dos anos 80,
mas é um tribunal que vem do chamado “tribunal do rei ou da rainha” que já
existia desde do inicio século e já controlava os atos do monarca com uma série
de exceções.
Itália:
• Revisão Constitucional com papel decisivo do Tribunal Constitucional, 1998 – dualidade
de jurisdições no seio da função (teorização da distinção entre direitos subjetivos e
interesses legítimos que depois deu origem aquelas classificações tripartidas: direito
subjetivo, interesse legitimo e interesse difuso) deixa de existir21.
20
VPS: “Direito Administrativo é Direito Constitucional concretizado”. E este Direito, entendido no sentido
da dupla dependência de que fala a doutrina alemã, na medida em que o Direito Administrativo depende
do Direito Constitucional porque o Direito Constitucional estabelece os grandes princípios contidos na lei
e o Direito Constitucional depende do Administrativo porque é justamente com a ação da Administração
e dos Tribunais que ele se concretiza e não se transforma num mero nomen iuris.
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Divisão do direito italiano que nunca existiu em Portugal. Em Portugal, quer os direitos subjetivos quer
os interesses legítimos no domínio da função administrativa, eram da competência dos tribunais
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2. EUROPEIZAÇÃO DO CAT
UE passa a ser a principal fonte de Direito Administrativo produzindo conjuntos de normas que
o vêm modificar e uniformizar (ex: contratação pública europeia)
➢ União Europeia vem introduzir uma nova dimensão na superação dos Traumas
Iniciais
A reforma portuguesa de 2004 está associada a reformas europeias, em todos os países da UE,
que começaram em 1996 no Reino Unido e acabaram em 2010/2011.
➢ VPS: Não há nenhum país europeu que não tenha feito uma reforma do Contencioso
Administrativo, alargando os poderes do juiz e estabelecendo a tutela cautelar – lógica
da europeização.
administrativos. Não era um critério de repartição de competência. Ela desapareceu também no direito
italiano em 1988 e depois com o Código de 2000. Portanto, hoje, não existe.
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VIEIRA DE ANDRADE:
Modelo Objetivista vs. Subjetivista
Função do Contencioso:
• Obj – visa, em primeira linha, a defesa da legalidade e do interesse público.
• Subj – tutela de direitos ou posições jurídicas individualizadas dos particulares.
Objeto do Processo:
• Obj – versa sobre um ato ou sobre a legitimidade do exercício do poder administrativo.
• Subj – processo que coloca a tónica na lesão das posições jurídicas subjetivas do
interessado.
Outros Critérios:
• consoante a entidade competente para o controle é uma autoridade administrativa ou
pode ser um juiz;
• consoante o juiz apenas pode determinar a anulação dos AA ilegais ou possui poderes
de plena jurisdição;
• consoante a execução das sentenças depende um juízo de oportunidade da
Administração ou efetivamente vincula a sua atuação;
• consoante o controlo da atuação da Administração é total (incluindo a sua actividade
interna) ou é apenas um controlo de legalidade, etc.
São assim, vários os parâmetros ou pressupostos que podem indicar num ou noutro sentido: o
entendimento do Princípio da separação de poderes entre a Administração e os tribunais, o
tipo e o grau de vinculação jurídica da atividade administrativa, o conceito de interesse
público (que engloba igualmente a consideração dos interesses privados em presença) ou as
garantias fundamentais dos administrados.
➢ Assim, a opção atual por um modelo processual de justiça administrativa há-de
necessariamente referir-se ao contexto resultante da evolução referida, sendo
tendência dos dias de hoje a opção por um modelo subjectivista ainda que não puro
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Os Modelos Organizativos
Tendo em conta o órgão a quem é atribuída a competência para decidir (órgãos da
Administração ativa, tribunais, ou autoridades “judiciárias” – estes últimos órgãos
administrativos independentes, com funções de controle), pode-se dizer que existem 3
modelos básicos de organização ou Modelos organizativos:
1- Modelo Administrativista – é o modelo do “administrador-juiz”, de “autotutela”, de
“jurisdição reservada ou conservada”, em que a decisão final dos litígios
administrativos compete aos órgãos superiores da Administração ativa
• Para este modelo contribui a máxima “julgar a administração é ainda
administrar” – é o modelo do Estado liberal, no qual o contencioso é visto
como instrumento de realização dos interesses públicos estaduais, existe
manifesta indiferença perante o poder judicial, e defende-se um modelo de
separação dos poderes que atribui um carácter de liberdade à Administração
estadual, sujeita apenas à fiscalização política.
4- Modelos Mistos
• Modelo administrativista mitigado: a decisão final sobre as questões
contenciosas cabe a órgãos administrativos superiores (embora estes se
designem por “tribunais administrativos”), embora implique um procedimento
jurisdicionalizado que conta com a intervenção de órgãos administrativos
independentes, a quem cabe dar o seu parecer em ordem a temperar o
arbítrio da atividade administrativa e, desse modo, assegurar a garantia legal
dos particulares;
• Modelo judicialista mitigado: as decisões contenciosas são dadas por
verdadeiros tribunais judiciais, mas as sentenças por eles ditadas não têm
verdadeira força executiva ou esta encontra-se limitada perante a
Administração (esta sujeita a publicação por esta, ou dependendo da boa
vontade administrativa em executar).
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
2- Modelo alemão
Porque instaurado após a II Guerra Mundial, recebeu influências do direito anglo-saxónico,
que preconizava uma “proteção judicial efetiva dos administrados”:
a) é um modelo judicialista: institui-se a jurisdicionalização total (material, processual e
orgânica) do contencioso administrativo, isto é, a instituição de uma verdadeira
“justiça administrativa”, dentro da lógica própria comum a todos os tribunais;
b) reconhecem-se meios de ação de jurisdição plena quando estejam em causa direitos
ou posições jurídicas subjetivas dos cidadãos, independentemente da prática de AA
lesivos (deixando de se reconhecer o recurso contencioso de anulação como o núcleo
essencial do sistema);
c) acentuação dos aspectos subjectivistas no processo administrativo, designadamente
no que diz respeito aos poderes e deveres processuais das “partes”, aos efeitos da
sentença ou à execução das decisões judiciais.
Comprovada a insuficiência dos modelos objetivistas para assegurar uma proteção judicial
efetiva dos direitos dos particulares, ter-se-ão ultrapassados os modelos objetivistas puros,
caminhando-se atualmente no sentido de uma tendência de subjectivização da justiça
administrativa.
➢ Não se pode, porém, ignorar que a finalidade da justiça administrativa, a de assegurar
a juridicidade da atividade administrativa, não passa apenas pela proteção jurídica dos
direitos e interesses dos particulares, inclui também a garantia da prossecução do
interesse público, a defesa da legalidade (e, por consequência, também dos interesses
dos particulares, sobretudo de interesses difusos).
o Vieira de Andrade: opção mais adequada para o legislador será uma
construção normativa que combine, sem preconceitos, aspetos de ambos os
modelos, aproveitando, na medida do possível, as vantagens de cada um.
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Caracterizam o Direito Administrativo como nasceu e como se desenvolveu
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Crítica de Dicey: sistema francês não tinha controlo sobre a sua administração pois Conselho de Estado
não era concebido como tribunal e era entendido como desdobramento do poder executivo. Tribunais
Administrativos eram favoráveis à Administração porque julgavam em causa própria.
➢ Não tinha muita razão porque no Direito Inglês também havia prerrogativas da coroa.
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Não tem a ver com execuções prévias e ações executivas – pois a maior parte dos atos administrativos
não são suscetíveis de execução coativa nem há privilégios de execução.
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VPS discorda de Freitas do Amaral, pois em Inglaterra não se tem de ir a tribunal antes de executar
(execução judicial das decisões) pois o particular cumpre voluntariamente as decisões sem ser necessário
executá-las
26
O High Court is very very low, é a ordem mais baixa do sistema jurisdicional apesar de se chamar High.
O High Court é um tribunal especializado na primeira instância porque depois o recurso das decisões do
High Court dá-se para os tribunais judiciais normais, dá-se em ultima análise para o Lord’s Justice que está
na House of Lords e que exerce as funções correspondentes ao Supremo Tribunal de Justiça.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
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Centralização – uma única pessoa/entidade jurídica; Concentração – um único órgão de poder decide
(centralizado e concentrado: todos os atos são imputáveis a uma única entidade – Estado em que como
centro de poder surge o Governo)
Descentralização – várias pessoas coletivas; Desconcentração – vários centros de poder
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Em Portugal, o CAT foi trazido por Mouzinho da Silveira (1832) – tentativa relativamente cedo
de introduzir um sistema de dualismo jurisdicional.
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VIEIRA DE ANDRADE:
→ O contencioso administrativo português passou de um modelo administrativista
mitigado para um modelo judicialista, passando por um modelo quase
judicialista, embora esta evolução não tenha sido linear, tendo antes havido
momentos de interregno e de excepção, com avanços e recuos, ao sabor da
discussão doutrinária e da luta política (veja-se o modelo judicialista mitigado que
vigorou de 1926 a 1930, ou o modelo administrativista puro do “Ministro-juiz”
que tivemos entre nós entre 1846 e 1848).
Processo Administrativo era expressão falsa – não havia efetivamente um processo judicial.
Vieira de Andrade: período corresponde à adoção entre nós do “Modelo francês”, em que o
contencioso-regra se consubstanciava no recurso de anulação de Atos Administrativos, de
base claramente objetivista.
• Jurisdição limitada no plano substancial e processual
• Posição dominante da autoridade administrativa
• Poderes limitados – quer pela necessidade de decisão administrativa prévia, quer pela
exclusão do controle judicial do uso de poderes discricionários, quer pela regra da
proibição de condenação e de injunção judicial contra as autoridades administrativas.
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MAR: apesar do ETAF ainda ter patente muitas noções dos traumas iniciais, como a disposição que
impedia os Tribunais Administrativos de conhecer e aplicar Direito Privado.
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VPS: Mudanças pouco efetivas – legislador não soube fazer legislação e em vez de fazer uma
nova lei, manteve tudo em vigor, mesmo quando já não havia sequer nada para utilizar
➢ CAT era uma manta de retalhos, sendo realidade inadmissível.
➢ Apesar das grandes alterações de 1985, fica tudo praticamente na mesma –
oportunidade perdida que teve um grande impacto nos anos 90.
Vieira de Andrade:
• No plano SUBSTANCIAL, a jurisdição administrativa é considerada a jurisdição
especializada nas questões jurídico-administrativas, nascidas das relações jurídicas de
direito administrativo, que implica, para que os tribunais possam cumprir a sua função,
a plenitude dos meios de acesso à jurisdição administrativa;
• No plano PROCESSUAL, reforça-se um Princípio de favorecimento do processo,
admitindo-se, entre outras medidas, as providências cautelares não especificadas, etc.
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Nos anos 90 Comissão faz um Código que Governo não implementa por ser fraco
➢ VPS: apesar de resolver algumas questões.
Criam-se ações e meios processuais semelhantes aos do Processo Civil – com as diferenças
necessárias devido a estarmos no âmbito de relações jurídicas administrativas.
Evolui-se num sentido de aperfeiçoamento das garantias das posições jurídicas substantivas
dos cidadãos.
➢ Abandona-se a ideia do recurso contra atos como contencioso-regra; possibilita-se ao
juiz condenar a Administração na prática de Atos Administrativos devidos; consagra-se
uma proteção cautelar adequada; etc.
29
Vieira de Andrade: princípio que apenas resultava implicitamente da redação anterior.
30
Vieira de Andrade: Na realidade, desde logo o Art. 268º CRP não pretende estabelecer uma
regulamentação global da justiça administrativa, mas apenas definir as garantias dos administrados nas
suas relações com a Administração.
➢ Não assume, assim, uma função densificadora, não pretendendo regular em pormenor o
processo administrativo, deixando tal tarefa de conformação dos seus aspetos fundamentais ao
legislador ordinário.
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VPS: grande novidade é que particular já não vai meramente anular atos da Administração.
• Ele pede a condenação da Administração e obriga a fazer o que devia ter sido feito – faz
valer os seus direitos.
• Sentenças deixam de ser meramente de anulação: à anulação soma-se a condenação
o Particular pede a satisfação do seu interesse e reconstituição da sua situação.
▪ Anular algo que já tinha surtido efeitos não serve para nada; a essa
anulação tem de se adicionar o ordenar a Administração a agir.
• Sentenças de anulação não correspondem à tutela do particular
o VPS: desde os anos 80 que refere que o recurso de anulação não é verdadeiro
recurso e sim uma ação. Mas não só de anulação, pois particular teria que, para
tutelar o seu direito, usar processo executivo (que vem da realidade
traumática).
Reforma 2002/04
Em 1999 o Congresso de Justiça Administrativa elabora um manifesto a estabelecer o que era
preciso fazer no âmbito do CAT, transformando o Processo no que era estabelecido pela CRP e
pela UE
➢ Pontapé inicial para o processo de revisão
➢ Começou logo a discutir-se em 2000
➢ Reforma surge em 2002 – após 2 anos da aprovação, a reforma entra em vigor em
2004
o Surgem 2 diplomas:
▪ ETAF (art. 4º alarga o âmbito do CAT a todas as relações
Administrativas, mas o resto ainda tinha lógica do passado) – diploma
fraquinho (VPS)
▪ CPTA – respeitava a CRP e é parecido ao atual
o Essencial mantém-se desde 2004
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
VPS: surge realidade esquizofrénica em que não havia diferença entre Ação Especial (ato e
regulamento) e Ação Comum (outros)
➢ Isto é um disparate porque a diferença era substancial e não processual; há aqui uma
confusão entre o critério substancial e o critério processual.
o Tudo cabia na especial e não havia nada na comum – troca de nomes
➢ Em 2015 acabou esta dualidade esquizofrénica
o Mas, agora há 4 ações sob o mesmo nome – há várias ações dentro de uma só
em que o legislador resolveu misturar critérios processuais com critérios
substantivos
Reforminha de 2015
Surge na sequência da revisão do CPA e não há alterações de fundo, somente sendo alteradas
algumas formulações.
➢ Fechou-se um pouco as normas jurídicas.
Houve uma valorização das Providências Cautelares: em todos os casos estabelecem-se regras
para o juiz as decidir (já não vigorando as presunções de 2004).
Não se ultrapassa todos os problemas: pedido de suspensão de ato administrativo conta com
a Administração ter 15 dias para poder parar o ato.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
ART. 4º ETAF
Ultrapassou as visões clássicas do CAT
• Legislador adotou todos os critérios para introduzir na jurisdição administrativa tudo
o que são relações de natureza administrativa, no quadro da função administrativa.
o Tudo aquilo que corresponda ao exercício da função administrativa, seja
realizado por uma autoridade administrativa ou por um particular no exercício
da função administrativa.
o Tudo aquilo que corresponda a qualquer forma de atuação (seja ato, seja
contrato, seja regulamento, seja atuação material) é suscetível de ser conhecido
pelo tribunal e de originar pedidos de natureza administrativa.
o Veio conciliar o universo do contencioso com o universo do direito
administrativo, que era uma realidade que até aí estava desencontrada.
31
Isto é de acordo com a CRP?
➢ Miguel Assis Raimundo: o que não estiver no âmbito das outras alíneas e seja administrativo
pode entrar pela alínea o. Mas estas alíneas têm uma função de excluir ao serem taxativas?
Alínea o veio explicitar que o art. 4º é exemplificativo – fórmula estranha de fazer enunciação
exemplificativa.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
VPS: normas que abrem o CPTA têm a ver com a superação dos traumas
➢ Traves mestras de um processo que passa a ser de partes
Art. 1º CPTA
Vieira de Andrade: consagra o princípio segundo o qual as leis que regulam o
contencioso administrativo não pretendem ser exaustivas.
➢ CPTA e ETAF definem o regime base aplicável à matéria de contencioso
administrativo mas, nas matérias para as quais esteja previsto um regime especial,
será supletivamente aplicável a Lei Processual Civil (maxime o CPC), ainda que
com as necessárias adaptações.
Art. 2º CPTA
Desde 1997 que se concebe o CAT para tutelar os particulares – nova realidade de superação
de traumas.
➢ Desde a revisão constitucional de 1997 que houve uma verdadeira revolução
coperniciana no modo como encontra formulada a garantia constitucional de acesso à
Justiça Administrativa, uma vez que agora passam a ser os diferentes meios
processuais que “giram” à volta do princípio da tutela plena e efetiva dos direitos dos
particulares e não o contrário.
o É um Processo Administrativo que faz corresponder a cada direito do particular
um adequado meio de defesa em juízo.
29
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
VPS: Legislador vem estabelecer um princípio idêntico ao do Processo Civil – o princípio de que
a CADA DIREITO DO PARTICULAR CORRESPONDE UM MEIO PROCESSUAL ADEQUADO PARA O
TUTELAR.
• Não se diz uma ação porque, no CAT as ações não são diferenciadas em razão do pedido.
o Todos os pedidos são possíveis no CAT
o Todos cabem na Ação Administrativa dos art. 37º e ss. CPTA, que repete o que
se estabelece no art. 2º - particular pode pedir tudo o que corresponde à tutela
dos seus direitos.
• Art. 2º CPTA concretiza o art. 268º/4 CRP e todos os pedidos são possíveis no quadro de
uma ação administrativa
VPS: critica formulação da alínea a) – junção típica do processo administrativo relacionada com
os traumas da infância difícil.
• As ações de anulação são ações constitutivas, porque implicam uma decisão do tribunal.
• As ações de declaração de nulidade são simplesmente apreciativas, porque o juiz limita-
se a constatar que o ato não produz efeitos.
• Portanto, não deviam estar juntas, mas é uma tradição.
3232
Separação de Poderes: entendido como Tribunal Administrativo não poder fazer Atos
Administrativos.
30
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Ao referir os Princípios, tal transforma a legalidade do Direito Público, integrando o mérito neste
âmbito. Ex: princípio da proporcionalidade e outros permitem um controlo do poder
discricionário.
➢ Nova lógica de abertura aos princípios.
31
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 4º CPTA
Não só tudo pode ser pedido ao tribunal, como tudo pode ser cumulado
➢ Princípio da Livre Cumulabilidade de Pedidos,
Pedidos podem ser cumulados desde que entre eles se estabeleça uma certa relação de
conexão que a justifique a cumulação.
VPS: “tudo” introduz a totalidade das relações administrativas, de acordo com a CRP e CPTA.
➢ É possível levar a juízo no mesmo processo/ação tudo o que emana de uma relação
jurídica administrativa.
Deixa de ser através de processos autónomos e separados, que eram feitos sequencialmente.
➢ Levava muito tempo.
➢ Agora tudo vai imediatamente no mesmo processo ao juiz e tudo isso é objeto do
contencioso administrativo
o Possibilidade de levar a integralidade do direito da relação jurídica que foi
lesado, independentemente desta lesão ter ocorrido simultaneamente por
atos, contratos e regulamentos e independentemente das realidades que estão
em juízo.
VPS: cumulação de pedidos leva a que haja só uma ação, sendo isso o mais adequado
➢ Não fazia sentido a dualidade esquizofrénica que o legislador tinha estabelecido com a
AÇÃO COMUM e a AÇÃO ESPECIAL33
33
Existia a dicotomia Ação Administrativa Comum e Ação Administrativa Especial
• Comum – todos os litígios administrativos não especialmente regulados
• Especial – processos relativos a atos e regulamentos administrativos
32
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
o Não fazia sentido uma distinção com base nestes critérios, separando o
contencioso dos atos e regulamentos do outro contencioso, quando o juiz
gozava de plenos poderes em todas as ações.
o Não faz sentido utilizar uma distinção com base em critérios substantivos e não
processuais
▪ Conceção que derivava dos traumas, havendo ainda uma ideia de
“poder” administrativo que justificaria regras excecionais para atos e
regulamentos administrativos – mas isto já não faz sentido pois todo o
Contencioso Administrativo é de plena jurisdição
▪ Troca de Nomes/Identidades – Ação Comum no CAT, no duplo sentido
de mais frequente e mais característica, é, efetivamente, a denominada
Ação Administrativa Especial.
Art. 5º CPTA
Permissão da cumulação em casos de urgência.
➢ Não vem consagrar o que está no Processo Civil.
No Processo Civil, se há pedidos urgentes cumulados com pedidos principais, então ficam todos
pedidos principais.
No Processo Administrativo, se há pedidos urgentes cumulados com pedidos principais, então:
i. Ficam todos pedidos urgentes (implica a simplificação de tudo);
ii. Aplica-se a regra da urgência aos urgentes e as outras aos principais
VPS: Faz sentido existir esta possibilidade de cumulação, pois tutela urgente tem âmbito
significativo no CAT e é necessário haver agilização processual.
➢ Vieira: os pedidos especiais que seguem uma tramitação específica podiam ser
um obstáculo à cumulação de pedidos – num processo poderia haver vários tipos
de tramitação. A solução prevista é que se correspondem a formas de processos
diferentes entre si, os pedidos seguem a forma de ação administrativa especial.
Art. 6º CPTA
i. Importante contributo para a igualdade é a obrigatoriedade das partes ao pagamento de
custas (art. 189º).
ii. Tal como no Processo Civil, consagra-se a possibilidade de os tribunais administrativos
aplicarem sanções a qualquer uma das partes por litigância de má fé.
33
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 7º CPTA
VPS: necessidade desde artigo surge na sequência de, até 2004, os Tribunais Administrativos
serem “juízos de formalidades” – atendia-se muito a vícios formais.
Juiz não pode limitar-se às questões formais e resolver o caso somente com base em ilegalidades
formais – porque o vício formal seria corrigido mas a substância não, pelo que o particular
colocaria outra ação para a tutelar.
➢ Art. 95º - juiz tem de analisar e decidir sobre todos os aspetos do pedido das partes
Solução que consagra que o CAT deve ser dirigido para uma justiça material e não uma justiça
formal.
➢ Portanto, se há dúvida quanto a ter legitimidade pelo art. 55º/1/a, deve admitir-se à luz
do art. 7º.
Art. 8º CPTA
Vem de uma discussão já desde a reforma de 1985 que estabelecia poderes processuais de
intervenção semelhantes, entre a Administração e os particulares, mas formulados de forma
diferente.
• A administração não tinha dever se contestar e remetia, sim, o processo ao juiz – sendo
isso um sucedâneo do ónus de impugnação.
o Mas, o ónus de impugnação existe sem ser sucedâneo e corresponde a um
dever de contestar.
▪ VPS: ónus de contestar existe sempre e é uma decorrência do processo
de partes.
▪ Não existe é o ónus de impugnação especificada (sanção do Processo
Civil de que o que não é contestado é tudo como provado) – devido à
natureza do CAT (prossecução do interesse público e etc.).
➢ Daí que dever da Administração de enviar ao Tribunal é um
dever de cooperar – mas isso não é sucedâneo do ónus de
impugnação.
34
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Conclusão VPS
Além do CAT se ter tornado de plena jurisdição, o legislador estabeleceu também disposições
gerais aplicáveis a todos os meios processuais relativas a elementos, pressupostos e formas
de processo.
➢ Analisaremos os elementos do Processo Administrativo que são, como nos demais
domínios processuais, as realidades constitutivas essenciais, sem as quais não chega a
haver sequer processo: Sujeitos, Objeto (Pedido + Causa de Pedir).
35
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
ELEMENTOS DO PROCESSO
Além do CAT se ter tornado de plena jurisdição, o legislador estabeleceu também disposições
gerais aplicáveis a todos os meios processuais relativas a elementos, pressupostos e formas de
processo.
➢ Analisaremos os elementos do Processo Administrativo que são, como nos demais
domínios processuais, as realidades constitutivas essenciais, sem as quais não chega a
haver sequer processo: Sujeitos, Objeto (Pedido + Causa de Pedir)34.
o Noção comum a todas as disciplinas processuais: são realidades que existem
sempre.
o Aroso: A regularidade da constituição da instância depende da observância
de um conjunto de requisitos de admissibilidade do julgamento do mérito
da causa.
▪ Estes requisitos são indispensáveis para que, no processo
declarativo, possa ser proferida uma decisão sobre o mérito da
causa, pelo que tornam admissível a decisão de mérito35.
1. Tribunais Administrativos
Art. 209º CRP – em Portugal existe uma dualidade de jurisdições, existindo os tribunais judiciais
e o tribunais administrativos
Art. 210º, 211º e 215º CRP – apenas se referem aos tribunais judiciais
Art. 212º CRP – STA é o órgão superior da hierarquia de uma das jurisdições de tribunais.
• Art. 212º/3 CRP – competência dos Tribunais Administrativos36
• Art. 57º ETAF
34
Sujeitos Processuais (Administração e Particular intervindo no quadro do Processo) + Pedido (o que se
pede ao juiz que decida, podendo ser mediato ou imediato) + Causa de Pedir (facto escolhido que leva o
autor ao Tribunal, analisado na ótica da lesão do direito – ideia de ato lesivo)
35
Art. 89º CPTA tem elenco exemplificativo de questões que, não sendo supridas, obstam ao
conhecimento do mérito da causa, dando, por isso, origem à absolvição da instância.
• Exceções Dilatórias – conduzem a decisões de mera forma, que não se pronunciam sobre o
mérito da causa e apenas adquirem força de caso julgado formal no âmbito do processo a que
põem termo, sem se projetarem como caso julgado material.
o Este elenco corresponde, pela negativa, ao elenco dos principais pressupostos
processuais.
o Há uns que aqui não constam: interesse processual (art. 39º), que é de âmbito geral
o Algumas coincidem com o art. 577º CPC, concluindo-se que há exceções dilatórias que
são comuns ao processo administrativo e ao civil.
36
Existência de um Tribunal Arbitral do Desporto não viola art. 213º/2 CRP?
• Tem de se atender quanto ao que se considera núcleo duro do Direito Administrativo. Nas
matérias desportivas é algo tão especializado que faz sentido – é fatia pequena dos atos
administrativos e em que há grande especialização.
• CRP não veda esta situação.
• Lei do TAD remete subsidiariamente para o CPTA e quanto há recurso vai para o Tribunal
Administrativo de Círculo.
36
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Pressupostos Processuais
Requisitos cujo preenchimento depende a competência do tribunal para julgar a causa
• Identificação dos requisitos de cujo preenchimento depende a competência do
tribunal para julgar a causa que é submetida à sua apreciação.
37
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 4º ETAF concretiza o art. 212º/3 CRP (nomeadamente através da regra geral do art. 4º/1/o
ETAF)
➢ Aplica-se o critério da existência de um litígio sobre uma relação jurídica
administrativa ou fiscal.
Mas em primeira linha não está o critério constitucional da existência de uma relação jurídica
administrativa ou fiscal.
➢ Em primeiro lugar procura indagar-se se sobre a específica matéria em causa existe
disposição legal que dê resposta quanto a qual a jurisdição competente.
➢ Na prática, só um universo residual de situações é que implica resolver a questão da
delimitação do âmbito da jurisdição por aplicação direta do critério da relação jurídica
administrativa (art. 4º/1/o ETAF).
38
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Alínea a)
• Não é possível proceder à impugnação direta de atos legislativos nos Tribunais
Administrativos, a menos que esses atos, emanados sob a forma de ato legislativo,
contenham decisões materialmente administrativas e não sejam, por isso, nessa parte,
do ponto de vista material, manifestação do exercício da função legislativa.
• Não é possível proceder à impugnação de atos da função política. O controlo deste tipo
de atos é efetuado somente a nível político e não pelo poder jurisdicional
o Não é fácil determinar se um certo ato jurídico exprime o exercício da função
política.
o Acórdão 1143/06 STA: função política corresponde à prática de atos que
exprimem opções fundamentais sobre a definição e prossecução dos interesses
ou fins essenciais da coletividade.
o Afonso Rodrigues Queiró: são atos do poder executivo sem sujeição à lei
ordinária, sem propósito de traduzir, mediata ou imediatamente, numa atuação
individual e concreta, uma volição própria do legislador ordinário. Todos os atos
que não sejam de aplicação ou atuação da lei ordinária. A atividade política do
Executivo é a Constituição em ato – não a lei em ato, como sucede, pelo
contrário, com a atividade administrativa.
39
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Alínea a)
• Restringe o alcance do art. 4º/1/f.
Alínea b)
VPS critica esquizofrenia pois entende que se devia transferir todo o “direito laboral
administrativo” para a jurisdição administrativa ou para os tribunais judiciais.
Alínea c), d)
• Restringe o âmbito do art. 4º/1/a, b, subtraindo ao âmbito da jurisdição administrativa
alguns casos especiais de fiscalização da legalidade de atos administrativos.
Não existem tribunais administrativos de competência especializada, pelo que no seio dos
Tribunais Administrativos não existem, por isso, regras de distribuição de competência em razão
da especialização material dos tribunais.
37
MAR: tem de ser um conceito restrito, para garantir que não há muitas situações a não serem sindicadas
pelos Tribunais Administrativos.
40
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
A revisão de 2015 imprimiu ao art. 44º ETAF uma precisão de que os Tribunais Administrativos
só são competentes para julgar os processos em matéria administrativa, com exclusão dos que
têm por objeto litígios emergentes de relações jurídicas tributárias ou fiscais.
ETAF confia a generalidade das competências em primeiro grau de jurisdição aos Tribunais
Administrativos de Primeira Instância – Tribunais Administrativos de Círculo.
ETAF reserva, em todo o caso, para os tribunais superiores a competência para conhecer, em
primeiro grau de jurisdição, alguns processos.
➢ Nesses casos a ação deve ser proposta logo perante um tribunal superior.
o Art. 24º ETAF – STA
o Art. 37º ETAF – TCA
41
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Adoção de um critério funcional: atividade desempenhada é administrativa, apesar de ser privado a exercê-la
Solução seria os tribunais judiciais julgarem a propriedade e depois os administrativos julgarem a indemnização.
➢ Tribunal prefere não fazer isto e sugerir a “competência de conexão” porque a responsabilidade era
acessória e o resto era principal.
MAR: art. 4º/1/i ETAF podia resolver o caso; mas não é líquido que esta norma legitime os Tribunais Administrativos
a discutir Direitos Reais
Para resolver estes conflitos, é o Plenário do STA que conhece: art. 29º ETAF
➢ Segue a tramitação prevista nos art. 109º e ss. CPC, com as adaptações que resultam
dos artigos 135º e ss. CPTA.
42
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
43
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
2. Sujeitos (Partes)
Sujeitos jurídicos do processo declarativo.
Os processos do CAT hoje são processos de partes, superando-se assim os traumas de infância
da doutrina do “processo ao ato” (Laferrière).
➢ Nessa lógica tradicional, nem o particular nem a Administração eram considerados
como partes, estando em juízo para colaborar com o particular na defesa da legalidade
e do interesse público.
o Particular e administração não eram considerados partes
o Não se concebia que havia relação entre particular e administração – particular
era um administrado, subordinado como objeto do poder administrativo;
Administração era tida como um poder que estava no juízo para auxiliar o
tribunal38 pois ela tinha o mesmo interesse do juiz na descoberta da melhor
realização da lei e do interesse público.
Esquecia-se a realidade substantiva e cria-se uma realidade processual suis generis – no CAT isto
significava considerar que o particular não tinha direitos mas gozava de legitimidade para estar
em juízo, atribuindo-lhe uma posição processual que não era igual à da Administração39.
• Teoria da Legitimidade (Marcello Caetano) surgiu porque não se queria enquadrar o CAT
como um processo aberto a todos.
o A Administração era encarada como Autoridade Recorrida e auxiliava o Tribunal
na tarefa de estabelecer a legalidade – o “interesse da Administração é o
mesmo que o do tribunal, está interessado no cumprimento preciso,
inteligente, adequado, oportuno da lei”
o O particular tinha de ter interesse processual direto, pessoal e legítimo –
significa que estava em causa uma posição jurídica pessoal (substantiva de
vantagem) tutelada pelo direito.
o Substancializou-se a noção de interesse.
▪ Não se admitiam direitos, porque o contencioso era objetivo. Mas o
particular tinha de ter interesse processual direto, pessoal e legítimo,
ou seja, tinha de ter um direito.
38
Administração ao lado do juiz – vem do trauma originário
39
De acordo com os cânones clássicos, a legitimidade constituía o critério de acesso ao juiz e esta era
determinada em razão do interesse (direto, pessoal e legítimo) dos particulares no afastamento do ato
administrativo da ordem jurídica.
➢ Hoje, a legitimidade decorre da alegação da posição de parte na relação material controvertida
– atribuição de legitimidade, na relação processual, é em razão da posição dos sujeitos e da
alegação de direitos e deveres recíprocos, na relação jurídica substantiva.
o Assegura-se agora uma ligação entre a relação material substantiva e a relação
processual, fazendo com que os participantes no processo sejam os sujeitos efetivos da
relação material.
44
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Particulares vão exercer os seus direitos subjetivos e os seus interesses legalmente protegidos.
VPS: Crítica entre os Direitos Subjetivos, Interesses Legítimos e Interesses Difusos
➢ O que está em causa quando se fala em posições subjetivas de vantagem é a forma
como a Ordem Jurídica protege os particulares.
Freitas do Amaral:
• Direitos – Administração confere posições de vantagem aos particulares (lei pode
atribuir direito subjetivo mediante uma norma jurídica que expressamente qualifica)
• Interesses Legalmente Protegidos – posições de vantagem decorrem dos deveres da
Administração, daí ser substancialmente diferente.
o VPS: olhando para o Direito Civil é exatamente a mesma coisa um vendedor ter
o dever de entregar e o comprador ter o direito de receber.
o Numa relação jurídica haver um dever estabelecido no interesse de outrem é
conferir um direito a esse outrem.
o Lei pode estabelecer um dever da Administração no interesse do particular, o
qual, no âmbito de uma relação jurídica, é correlato da posição de vantagem do
particular.
o A única explicação é dos traumas, porque era difícil conceber direitos contra a
Administração toda poderosa.
• Interesses Difusos – correspondem aos Direitos Fundamentais que a CRP estabelece. O
que está em causa são bens públicos, pelo que não é suscetível de se apropriar por
ninguém.
o VPS: mas os direitos também não podem ser apropriados.
o Há faculdade de aproveitamento de um bem que é público, no âmbito do
interesse público.
o Ordem Jurídica pode atribuir um direito subjetivo mediante uma disposição
constitucional (consagradora de um “estatuto”), que atribui aos particulares a
possibilidade de fruição individual de um bem jurídico (que é “'coletivo”, ou de
‘todos”), de forma livre de agressões ilegais provenientes de entidades públicas
ou privadas – interesses difusos são direitos subjetivo públicos decorrentes da
CRP
o Estamos perante uma permissão normativa de aproveitamento desse bem.
Ninguém põe em causa a proteção objetiva, mas, simultaneamente há uma
permissão de utilizar esse bem no interesse individual.
45
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Isto tem apenas a ver com a forma como o legislador atribuiu os direitos.
➢ A pretensa distinção das categorias de direito subjetivo, de interesse legítimo e de
interesse difuso assenta, mais do que em supostas características materiais
diferenciadas, sobretudo, numa distinção de ordem formal, que é a que decorre da
utilização pela ordem jurídica de diferentes técnicas de atribuição de posições de
vantagem, ainda que conduzindo a resultados idênticos.
o Atribui sempre Direitos – têm é conteúdos muito diferentes e correspondem a
múltiplas realidades
o Independentemente da técnica jurídica utilizada, encontramo-nos perante
posições substantivas de vantagem, destinadas à satisfação de interesses
individuais, possuindo idêntica natureza ainda que podendo apresentar
conteúdos diferenciados
AÇÃO PÚBLICA – exercida por entidades públicas, no exercício de um dever de ofício e não por
particulares, em defesa dos seus direitos ou interesses.
AÇÃO POPULAR – ações propostas por cidadãos na defesa de valores que interessam ao
conjunto da comunidade, sem terem necessariamente de respeitar individualmente aos
autores.
• CPTA configura em duas modalidades:
o Art. 9º/2 – universo das ações que podem ser intentadas em defesa de valores
e bens constitucionalmente protegidos. Concretização do art. 52º/3 CRP
o Art. 55º/2 – ação popular de impugnação de atos administrativos praticados
por órgãos autárquicos, que qualquer cidadão recenseado na localidade
respetiva pode intentar nos termos do art. 55º/2
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Ministério Público
Aroso: CPTA reconhece amplos poderes para propor ações junto dos tribunais administrativos,
em defesa da legalidade, do interesse público e de interesses difusos.
➢ Art. 9º/2, 55º/1/b, 68º/1/c, 73º/3, 77º/1, 77º-A/1/b, 77º-A/1/c, 104º/2
Conjunto de papéis que pode desempenhar nos Tribunais Administrativos: art. 51º ETAF
Art. 11º/1/parte final – Ministério Público pode representar o Estado, fazendo as vezes de seu
advogado, nas ações administrativas que sejam propostas contra este.
➢ Art. 10º/2 – patrocínio já não incumbe ao Ministério Público
Intervenção do MP nos processos em que não é parte (art. 85º) visa contribuir para o melhor
esclarecimento dos factos ou a melhor aplicação do direito nos processos da ação
administrativa em primeiro grau de jurisdição – emissão de um parecer sobre o mérito da causa
ou requerimento a solicitar a realização de diligências instrutórias.
➢ Intervenção não é obrigatória e só tem lugar na fase processual que o art. 85º prevê, e
só quando o Ministério Público considere que ela se justifica, em função da relevância
da matéria em causa.
➢ Não pode versar sobre questões de índole processual, mas apenas sobre questões de
caráter substantivo.
Pressupostos Processuais
Requisitos que as pessoas que figuram como partes na ação têm de preencher para
poderem intervir como partes em juízo e para que se possa e deva reconhecer que é entre
elas que a questão controvertida num determinado processo deve ser debatido em juízo.
➢ Para que alguém esteja em posição de figurar como parte num processo administrativo,
tem de preencher todos estes pressupostos:
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 8º-A CPTA (introduzido em 2015) – podem ser partes em ações, podendo estar por si
próprias em juízo, no âmbito da ação administrativa, os sujeitos jurídicos dotados de
personalidade jurídica e de capacidade de exercício de direitos.
• Soluções reconhecidas pelo art. 8º-A/3
o Solução do art 10º/2 implica atribuir personalidade e capacidade judiciária aos
Ministérios, pese embora eles não tenham personalidade nem capacidade
jurídica.
o Solução do art. 10º/6 implica a atribuição de personalidade e capacidade
judiciária aos órgãos públicos, pese embora eles não tenham personalidade
nem capacidade jurídica.
• Art. 8º-A/5 – preceito sana ele próprio, diretamente, a irregularidade ocorrida, sem
necessidade de sanação pela parte legítima e dotada de personalidade e capacidade
judiciária.
PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
Legislador 2015 resolveu tomar uma posição diferente da de 2004.
➢ VPS: também não é adequada.
48
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
o Regra do CAT é que quem praticou o ato é que responde por ele.
LEGITIMIDADE PROCESSUAL
Legitimidade Processual não se reporta, em abstrato, à pessoa do autor ou do demandado,
mas afere-se em função da concreta relação que (alegadamente) se estabelece entre as partes
e uma concreta ação, com um objeto determinado.
➢ CPTA assume como pressuposto processual e não como uma condição de procedência
da ação, cuja titularidade se afere, portanto, por referência às alegações produzidas
pelo autor.
➢ VPS: Legitimidade afere-se em relação ao Direito – titularidade de posições jurídicas
substantivas
o Critério da legitimidade passou a ser a relação jurídica material – tal como
qualquer outra disciplina contenciosa
o Reconhecimento que a legitimidade serve para fazer a ponte entre a justiça
administrativa e o direito material.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 9º/1 tem critério comum de aplicabilidade residual, circunscrita aos tipos de litígios cuja
estrutura se aproxima do modelo do Processo Civil e que, estatisticamente, não são os mais
representativos no CAT, correspondendo apenas aos casos que não são objeto de um regime
especial próprio.
Os regimes especiais alargam a legitimidade ativa, além dos limites reportados à alegada
titularidade da relação material controvertida definida no art. 9º/1.
➢ Este alargamento é necessário pois há tipos de situações em que o litígio não pressupõe
a pré-existência de uma relação jurídica entre as partes. Ex: pessoa reage contra a
licença de construção que foi atribuída ao seu vizinho.
Regime Comum
Art. 9º/1: Titularidade da Relação Material Controvertida
➢ Legitimidade para discutir qualquer relação jurídica controvertida em juízo corresponde
a quem alegue ser parte nessa relação jurídica (= art. 30º e 31º CPC).
o VPS: sempre que alguém alegue ser parte na relação material controvertida é o
mesmo que dizer que esse alguém alega ser titular de direitos subjetivos ou de
posições substantivas de vantagem no âmbito da relação jurídica
administrativa.
o Autor é parte legítima em razão dos direitos subjetivos ou das posições de
vantagem de que alegadamente é titular na relação jurídica administrativa, o
que vale para todos os meios processuais e para todos os pedidos.
40
Art. 52º/3 CRP diz que a lei tem de dizer os casos e termos em que prevê
➢ VPS: mas eles são direitos, pelo que não é preciso concretizarem-se e podem ser invocados, para
serem tutelados.
50
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
VPS: Faria sentido conservar a Ação Pública e a Ação Popular, como auxiliar da ação
administrativa – são realidades importantes mas que têm função de complemento quanto à
tutela jurídica subjetiva.
• Mas MP não pode estar a usar de ação pública e ser o único em julgamento, estando ao
lado dos juízes – Portugal já foi condenado pelo TJUE neste âmbito.
O que é perigoso é o “independentemente de ter interesse pessoal” – mas é que se tem interesse
pessoal tem o direito de usar a ação jurídica subjetiva.
➢ Esta confusão entre as duas coisas não faz sentido.
VPS e Sérvulo Correia propõe interpretação corretiva42: critério para distinguir do nº1 e do nº2
é o interesse pessoal.
➢ Art. 9º/2 não pode haver interesse na demanda, se não, não é uma Ação Popular e sim
uma Ação Subjetiva.
➢ “Independentemente” tem de ser entendido no sentido negativo – no sentido de que não
pode ter interesse.
o A diferença tem de assentar na existência de uma posição substantiva de
vantagem e atuação nesse âmbito (subjetiva) ou não (ação popular).
VPS: pode existir a ação complementar mas é muito pouco frequente – não é o núcleo essencial
do processo mas pode estar cá.
O Ator Popular ou Ator Público não tem interesse subjetivo, mas ele vai ter posição processual
de parte.
• nº1: direito subjetivo e posição processual de parte
• nº2: não têm direito subjetivo, mas ocupam posição processual de parte
MAR: é Ação Popular ou não dependendo da forma como autor configura a ação
➢ Ele pode configurar como popular e aí somente tem título de legitimidade para intervir
processualmente.
41
Mas a Ação Popular não é, em si mesma, uma forma de processo – ela tem tramitação própria mas
reveste-se de uma das formas de processo previstas para o CAT
42
Pois legislador criou um equívoco que decorre de uma má transposição do Direito Brasileiro.
51
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Tanto o Ator Popular como o Ator Público agem para a defesa da legalidade e do interesse
público.
➢ CAT desempenha aqui uma função predominantemente objetiva, de tutela da legalidade
e do interesse público, o que também é uma função essencial da Justiça Administrativa
num Estado de Direito.
Regimes Especiais
Legitimidade Ativa nas AÇÕES DE IMPUGNAÇÃO DE ATOS ADMINISTRATIVOS43
Art. 55º/1/a: Alegação de “interesse direto e pessoal”
• Legitimidade individual para impugnar atos administrativos não tem de basear-se na
ofensa de um direito ou interesse legalmente protegido, mas basta-se com a
circunstância de o ato estar a provocar, no momento em que é impugnado,
consequências desfavoráveis na esfera jurídica do autor, de modo que a anulação ou
nulidade do ato lhe traz uma vantagem direta (jurídica ou económica).
o Pessoal – tem de ser o uma utilidade que reivindique para si próprio, de modo
a poder afirmar-se que o impugnante é considerado parte legítima porque alega
ser, ele próprio, o titular do interesse em nome do qual se move no processo.
o Direto – questão de saber se o interesse é atual e efetivo, estando numa
situação de lesão que justifique a utilização do meio impugnatório.
▪ STA: deve ser apreciado por referência ao conteúdo da Petição Inicial,
em função das vantagens que o impugnante alega poderem advir-lhe
da anulação do ato, sendo que os efeitos decorrentes da anulação
devem repercutir-se, de forma direta e imediata, na esfera jurídica do
impugnante. Tem legitimidade para impugnar quem recebe um
benefício dessa impugnação e está em condições de o receber,
repercutindo-se imediatamente na esfera do interessado.
▪ Aroso: isto não tem que ver com a legitimidade processual mas sim com
o interesse processual
43
MAR: Legitimidade Especial do art. 55º põe o problema de saber se este artigo amplia os critérios gerais
da legitimidade do art. 9º ou se apenas os densifica
➢ MAR: em alguns casos, o art. 55º amplia, em homenagem ao Objetivismo, pois há uma defesa
da legalidade objetiva (organização de respeito ao Direito).
➢ VPS: discorda de uma leitura do art. 55º de forma diferente ao art. 9º, pois tem que se ter sempre
em conta a tutela dos direitos dos particulares.
52
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art 55º/1/c
Entidades Públicas: É necessário que o ato impugnado contenda com os interesses legalmente
estabelecidos como atribuições dessa pessoa coletiva.
• Ex: quando pessoa coletiva é destinatária do ato cujos efeitos se projetam diretamente
na sua própria esfera jurídica; quando há decisão sobre matéria que entidade pública
tenha poderes de intervenção e etc.
• É necessário que o poder de impugnar esteja expressamente previsto no quadro das
competências de algum dos órgãos da entidade pública em causa.
Entidades Privadas: Associações de qualquer tipo podem atuar, no respeito pelo princípio da
especialidade, em defesa dos direitos e interesses dos seus associados.44
• O sentido do preceito não é o de reconhecer às pessoas coletivas privadas legitimidade
para atuarem em defesa das suas próprias situações jurídicas, contra situações que
afetem a sua existência, património, condições de funcionamento, atividade e etc. –
legitima é as pessoas coletivas privadas em causa a atuar processualmente com vista a
tutelar processualmente direitos e interesses que levaram à sua constituição.
• Do ato constitutivo de cada entidade tem de resultar a delimitação dos fins que essa
entidade cumpre defender: esses serão os fins para defesa dos quais o CPTA confere
legitimidade processual ativa.
Art. 55º/1/d
• Apenas se admite a impugnação dos atos em causa quando estes ponham em causa as
condições do órgão impugnante para o exercício, sem interferências ou perturbações
ilegais, da competência que lhe tenha sido atribuída.
o Basta um ato que afete indiretamente as competências45.
• Admite-se a impugnabilidade de atos que, no plano intra-administrativo, sejam
praticados por órgãos de uma entidade pública e se dirijam a outros órgãos
pertencentes a essa mesma entidade (VPS: relações inter-orgânicas).
Art. 68º/1/a: dedução do pedido de condenação só está ao acesso de quem alegue um direito
ou, pelo menos, um interesse legalmente protegido à emissão de ato ilegalmente recusado ou
omitido.
44
MAR: sucedâneo da alínea a), servindo também para permitir a defesa coletiva de interesses individuais
➢ E aí reside a diferença quanto à alínea f), que se refere a interesses difusos
45
MAR: temos de ponderar se não pode haver aqui uma questão de falta de interesse processual, devido
ao art. 169º/6 CPA.
53
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
• Pedido que tem uma carga de tutela subjetiva superior aos pedidos de anulação.
• Funda-se na própria legitimidade do interessado, no plano substantivo, para requerer a
prática do ato no âmbito do correspondente procedimento administrativo.
• Só após passar pelo art. 67º é que existe uma situação de omissão ou recusa
juridicamente relevante, para o efeito de permitir, nos termos do art. 68º, a dedução de
um pedido de condenação, dirigido contra a Administração.
46
Legitimidade para impugnar Regulamentos (art. 73º) é diferente da Legitimidade para impugnar Atos
(art. 55º).
➢ O ato que aprova regulamento não é ato administrativo, pois há processo próprio para os
Regulamentos.
54
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 77º-A/1/d: mais frequente impugnação de contratos por terceiros que nele não são partes
– ilegalidades no âmbito do procedimento pré-contratual exigido.
Contencioso dos Procedimentos de Massa – art. 97º/1/b e 99º CPTA – remete para o regime
da ação administrativa na matéria de pressupostos processuais.
Contencioso Pré-Contratual – art. 97º/1/c e 100º e ss. CPTA – remete para o regime da ação
administrativa na matéria de pressupostos processuais.
Intimação Prestação de Informações – art. 104º e ss. CPTA – art. 104º/1 reafirma a
aplicabilidade do critério comum do art. 9º/1
Intimação Proteção de DLG – art. 109º e ss. CPTA – legitimidade assenta na alegação da
titularidade de uma situação substantiva lesada, ou em risco de ser lesada.
55
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 10º/2 tem exceção quanto aos Ministérios e Secretarias Regionais47 – isto é explicado
historicamente devido ao CAT ser tradicionalmente um processo feito a um ato.
➢ Art. 10º/7 – os Ministérios podem ter legitimidade passiva. Ex: pedido de reparação de
danos que seja cumulado no processo de impugnação de ato administrativo ou de
condenação à prática de ato administrativo.
o Aroso: art. 11º/1 deve ser lido tendo em conta que só há lugar à representação
pelo Ministério Público num processo administrativo que vise o Estado
enquanto não, não podendo haver esta representação quando a ação se refere
a uma concreta ação ou omissão de um órgão integrado num Ministério
Art. 10º/4 leva à conclusão de que só existe ilegitimidade passiva se for citado um órgão que
não pertença à pessoa coletiva48, ao Ministério ou à Secretaria Regional no qual se integra o
órgão ao qual a ação ou omissão é imputável.
= art. 78º/3 e 82º/2
VPS: Pessoa Coletiva Pública não está em condições de poder continuar a funcionar como
único sujeito de imputação de condutas administrativas em razão da complexidade da
organização administrativa e da natureza multifacetada das modernas relações
administrativas multilaterais.
• Administração é realidade de tal maneira desconcentrada e decentralizada que há
multiplicidade de poderes de decisão no quadro da Administração Pública.
• Realidade do Direito Administrativo de hoje não se compatibiliza com a lógica das
pessoas coletivas públicas.
47
Aroso: onde está “Ministérios” podem incluir-se ouras realidades como o Conselho de Ministros, a
Presidência de Conselho de Ministros, Ministros sem Ministérios (que se integram na PCM), Primeiro-
Ministro e etc.
➢ Estas entidades podem ser demandadas.
➢ Autor está sempre salvaguardado pelo art. 10º/4
48
Art. 10º/2 ao não ser observado é irrelevante, pelo art. 10º/4 (e art. 8º-A/5)
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Para que o Contencioso seja verdadeiramente subjetivo, não faz sentido chamar a um litígio o
Ministro das Finanças por ato administrativo de funcionário de terrinha – regra subjetivista de
chamar a juízo os autores dos atos, que são os órgãos.
Atribuições são dos órgãos, que são aqueles que atuam no quadro da função administrativa.
Há uma série de entidades que são órgãos, tendo uma série de atribuições, mas que não se
enquadram no quadro de uma pessoa coletiva. Ex: PGDR
Princípio da legalidade assumiu amplitude que entra dentro da pessoa coletiva – relações entre
órgãos administrativos são relações jurídicas e é a lei que estabelece
• Não há o dogma da impermeabilidade da pessoa coletiva do Direito Privado.
o Superação do dogma da impermeabilidade da pessoa jurídica
• Esta é a lógica do princípio da legalidade: define relações entre os órgãos e quais as suas
atribuições.
Otto Mayer: dentro da Administração há relações especiais de poderes que não são permeáveis
nem pelo princípio da legalidade nem pelos direitos fundamentais – uma vez que não havia
relações jurídicas dentro da administração.
• Considerar a pessoa coletiva, sem ter em conta o princípio da legalidade, levava a esta
consequência.
• Deixando de existir as relações especiais de poder, há consequências para o CAT, que
tem de se abranger aos órgãos, devido à existência de relações administrativas.
o Afastamento da teoria das relações especiais de poder (pois tudo o que acontece
no interior de uma pessoa jurídica também está submetido à lei e aos direitos
fundamentais).
Direito Italiano fala em servizzi como realidade substitutiva da pessoa coletiva ou dos órgãos.
• VPS: falar em serviços, em Portugal, não é boa solução. Mas os pressupostos estão
certos, pois não faz sentido continuar a falar em pessoas coletivas de direito público.
o VPS: no direito público a personalidade jurídica é conceito artístico e não jurídico
– o que conta no Direito Publico é a capacidade de exercício, que cabe aos
órgãos.
o Deve considerar-se os órgãos, sendo essa a realidade essencial e só depois,
artisticamente, é que se decide se se imputa à pessoa coletiva.
o Na prática, quem é chamado são os órgãos – essa é a boa regra do CAT.
▪ Embora seja essa a boa regra (de serem chamados os órgãos), face às
relações administrativas, não há essa regra face à responsabilidade civil.
➢ Na responsabilidade civil quem responde é a pessoa coletiva.
➢ Realidade dual e esquizofrénica que o legislador não resolveu –
devia ter unificado as regras de legitimidade e estabelecer
sempre os órgãos.
Deve relativizar-se a ideia de personalidade jurídica das entidades públicas e dar-se primazia à
atuação dos órgãos, fazendo das autoridades administrativas sujeitos funcionais de relações
jurídicas, dotados de capacidade jurídica própria, admitindo-se assim a existência de relações
inter-orgânicas.
➢ Os sujeitos das relações administrativas, além das pessoas coletivas, também podem
ser os órgãos administrativos
57
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 10º/3 (introduzido em 2015): se autoridade for independente considera-se que é do Estado.
➢ Há uma ficção.
o VPS: se é independente, é independente para tudo.
o Não pode ser dependente quando vai a tribunal.
o Apesar desta situação aparente, quem é chamado é o autor do ato (autoridade
independente) – órgão de autoridade que atua a título independente.
Pluralidade de Partes
Legislador ainda não resolveu da forma mais adequada a complexidade do Direito
Administrativo.
➢ Maior parte das relações jurídicas são atos multilaterais, no quadro da Administração
Infraestrutural.
➢ Além dos sujeitos ativos e passivos há outras pessoas que são afetadas pelo ato.
A questão específica que agora se coloca é a de saber em que medida é que, num processo
intentado pelo autor contra uma determinada autoridade administrativa (de acordo com a
lógica “bilateral”), devem também ser chamados a juízo os demais sujeitos da relação
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
multilateral (independentemente do facto de cada um deles poder, ou não, intentar uma ação
autónoma, num processo próprio), de modo a que o tribunal possa considerar todos os
interesses em causa e emitir uma sentença produtora de efeitos em relação a todos os
intervenientes da relação jurídica material.
➢ Assim, o que está aqui em questão já não é o problema do alargamento da legitimidade
para intentar uma ação própria em juízo, mas sim o de fazer intervir, num processo
iniciado por outrem, os demais sujeitos da relação multilateral controvertida.
o Com a Coligação e o Litisconsórcio há uma abertura do processo aos sujeitos da
relação jurídica multilateral, permitindo-se que eles intervenham no CAT para a
proteção conjunta dos respetivos direitos.
Art. 10º/9 tem alcance que permitem admitir o Litisconsórcio Voluntário Passivo49.
49
VPS: legislador não teve coragem de adotar explicitamente a figura do Litisconsórcio.
Do LADO ATIVO temos vários mecanismos de concentração de várias ações que são postas contra o
mesmo ato:
Art. 28º - Apensação de Processos
• Realidade que corresponde a litisconsórcio voluntário ativo
• Várias ações com o mesmo pedido e causa de pedir – em vez de serem julgados separadamente,
são julgados em conjunto devido a tratar-se do mesmo pedido e mesma causa de pedir
Antes de 2015: Juiz notava que havia pedidos e causas de pedir iguais em ações diferentes.
➢ A que tinha sido instaurada primeiro seguia até ao fim e depois os outros podiam aderir à decisão
judicial (suspendendo o correr dos outros processos), ou pedir julgamento autónomo.
Pós 2015: Processo Urgente – art. 99º e ss.
Contencioso dos procedimentos massa = processos-massa
• Aplica-se a todas as situações em que há mais de 50 pedidos relativamente à mesma realidade e
corresponde a 1 de 3 situações.
• Há decisão urgente porque o que está em causa são atos administrativos de natureza coletiva,
que têm uma multiplicidade de sujeitos. Portanto, geram os mesmos problemas que têm o
mesmo pedido e a mesma causa de pedir.
o Há feixe de atos administrativos que tem de ser resolvido com celeridade.
o Ex: recrutamento; colocação de professores; etc.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
• Regra de legitimidade plural passiva, que permite que uma ação seja proposta, não
apenas contra entes públicos, mas também contra particulares que também sejam
partes na relação jurídico-administrativa controvertida.
• Situações de pluralidade subjetiva subsidiária (art. 39º CPC) – por subsistir uma dúvida
razoável e fundada sobre a titularidade da relação material controvertida, é permitida
ao autor a dedução subsidiária do mesmo pedido, ou a dedução de pedido subsidiário
contra réu diverso do demandado a título principal
Também pode haver litisconsórcio voluntário ou necessário ativo – art. 32º e 33º CPC ex vi art.
1º CPTA.
Domínios em que a ação é proposta contra a entidade que praticou ou que omitiu/recusou o
ato, mas, em que há sujeitos privados envolvidos no litígio, na medida em que os seus
interesses coincidem com os da Administração ou, pelo menos, podem ser diretamente
afetados na sua consistência jurídica com a procedência da ação.
➢ Relações jurídicas relacionadas com o exercício de poderes da Administração são
complexas no plano subjetivo, apresentando-se com uma estrutura poligonal ou
multipolar, que envolve um conjunto mais ou menos alargado de pessoas cujos interesses
são afetados pela conduta da Administração.
Carla Amado Gomes: critica muito este artigo – não se pode abusar dos processos urgentes, porque se
tudo for urgente deixa de haver processos urgentes
➢ VPS: concorda em abstrato, mas, na prática, não faz sentido porque há só 3 casos consagrados.
O mecanismo faz sentido, embora pudesse ser aperfeiçoado.
João Raposo: há processos massa (art. 98º) e os processos massinha (art. 78º).
➢ Os processos massa são adequados para a tutela destas situações, o maior problema estão nos
processos massinha
o VPS: concorda. Havia mais críticas à versão de 2004 do que a esta. No entanto, o que
devia ser feito era a introdução da figura do litisconsórcio.
60
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
A discussão é se a Administração agiu de modo ilegal, não podendo o processo ser definido por
referência às situações subjetivas dos Contrainteressados.
➢ Mas essa circunstância não retira aos Contrainteressados a sua qualidade de
verdadeiras partes no litígio, para o efeito de se verem demandados em juízo.
➢ Art. 10º/1/parte final, 57º, 68º/2
VPS: Em vez de regular em termos gerais a atuação de todos os sujeitos processuais, o legislador
regula, neste contexto de impugnação, os “contrainteressados”.
➢ Anteriormente era a constituição como Assistente.
o Agora tomou-se a decisão correta de assumir este contrainteressado como
parte no processo.
▪ Se ele é parte que intervém no processo, ela tem de ser citada.
▪ Devia ter-se instituído como litisconsórcio necessário.
o Devido a multilateralidade das relações administrativas, como não se sabe
quem pode ser afetado devem demandar-se todos para assegurar o efeito útil
da ação
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 89º/4/f – ilegalidade da coligação é uma exceção dilatória do CAT que, obsta ao
prosseguimento do processo e acarreta a absolvição da instância.
Mas, a situação de coligação ilegal de demandados, que ocorre quando um autor formula
pedidos distintos relativamente a diferentes demandados, sem que entre eles subsistam os
requisitos de conexão objetiva, pode ser suprida pelo art. 12º/3
➢ Se autor identificar o pedido que pretende ver apreciado no processo, haverá absolvição
da instância em relação aos demais pedidos, que poderão ser deduzidos
autonomamente, aproveitando o autor os efeitos substantivos decorrentes da data da
entrada da primeira petição, desde que se respeite os prazos do art. 12º/4.
➢ Havendo absolvição da instância de todos os pedidos é porque autor não deu satisfação
ao convite do tribunal – art. 87º/7
Na coligação ilegal de autores mais não resta que a absolvição da instância e a apresentação
de novas petições, nos termos do art. 12º/4.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
3. Objeto
Trata-se de assegurar a ligação entre a relação jurídica material e a relação jurídica processual,
determinando quais os aspetos da relação jurídica substantiva, existente entre as partes, que
foram trazidos a juízo.
→ Questões jurídicas sobre as quais o tribunal é chamado a pronunciar-se no âmbito desse
processo através da emissão da correspondente sentença.
Duas teorias:
• Substancialista – o que releva é o modo como a parte qualifica juridicamente aquilo que
leva a juízo;
o Releva o Pedido
• Processualista – o que releva são os factos levados a juízo, independentemente das
qualificações jurídicas.
o Releva a Causa de Pedir
Uma noção adequada do objeto do processo deve proceder a uma ligação do pedido e da
causa de pedir, considerando-os como dois aspetos do direito substantivo invocado.
• Pedido e Causa de Pedir apresentam-se como verso e reverso da mesma medalha
(Mandriolli), sendo que a medalha de que estas duas perspetivas são duas faces, é o
direito substancial.
o Modo correto de olhar para o Objeto do Processo é de forma eclética.
o Não se deve olhar apenas aquilo que o particular vem pedir ao juiz (direito que
afirma perante o tribunal) mas também a realidade jurídica processual dos
factos.
• É a relação material entre as partes que entra no processo, através da alegação de um
direito subjetivo que é “filtrado” por intermédio do pedido e da causa de pedir.
• Mário Aroso de Almeida: O objeto do processo define-se por referência à pretensão
formulada pelo autor – identificada pelo pedido e pela causa de pedir que por ele foram
deduzidos.
Antes havia uma perspetiva dualista, consoante fosse contencioso de anulação ou contencioso
de ações.
➢ Com a Reforma do CAT, estando agora plenamente jurisdicionalizado, isto deixou de ser
encarado assim.
Tendo em conta a ligação entre a relação jurídica material e a processual, que se espelha no
objeto do processo, há que analisar os problemas do Pedido e da Causa de Pedir.
Pedido
Efeito pretendido pelo seu autor o direito que esse efeito visa defender.
Manuel de Andrade: enunciação da forma de tutela jurisdicional pretendida pelo autor e do
conteúdo e objeto do direito a tutelar.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
O CAT hoje significa (invertendo a ordem da enunciação) que todos os direitos das
relações administrativas (e fiscais) são suscetíveis de proteção jurídica e que, para a
respetiva tutela, podem ser formulados todos os pedidos, de acordo com as formas
processuais adequadas.
Nos casos de Ação Popular, só há que considerar a vertente do pedido imediato, pois só nessas
hipóteses circunscritas, e não em todas as circunstâncias, é que o CAT desempenha diretamente
uma função objetiva – mas não em moldes clássicos pois o Ator Público e o Ator Popular
figurarão num processo organizado segundo uma estrutura de natureza subjetiva.
Causa de Pedir
Conceção muito marcada pelos traumas da infância difícil do CAT
Doutrina clássica do CAT tende a considerar – por razões práticas, de facilidade de julgamento
e razões de ordem teórica como a da amplitude do caso julgado – que o que relevava para a
determinação da causa de pedir eram as alegações do autor referentes ao ato administrativo,
nomeadamente a saber qual o tipo de invalidade que o ato enferma e qual a forma dessa
invalidade.
➢ VPS: Portanto, a doutrina objetivista não era assim tão objetivista pois tinha esta
conceção ao subjetivismo.
A causa de pedir, no âmbito de um sistema em que todos os meios processuais são de plena
jurisdição, deve ser sempre entendida, não em termos absolutos ou abstratos, mas de forma
conexa com as pretensões formuladas pelas partes, as quais, por sua vez correspondem a
direitos subjetivos dos particulares, no caso da ação para defesa de interesses próprios (a maior
parte dos casos), ou são, antes, um mero expediente formal para a tutela da legalidade e do
interesse público num processo de partes, como sucede com a ação pública e a ação popular.
50
Antes, o pedido imediato era confundido com o objeto do processo
➢ Forma traumática de olhar para o Pedido que ainda se espelha no art. 50º/1 ao falar de “objeto”.
Objeto de processo reconduzido à dimensão de pedido imediato.
64
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 95º - define em termos adequados o que é o objeto do processo quanto à causa de pedir
➢ VPS: juiz deve decidir todas as questões que foram suscitadas pelas partes, não
podendo deixar nenhuma de lado e respondendo a todas até ao fim (na lógica do art.
6º/7º)
Art. 95º/1: regra da causa de pedir do CPTA é aquela segundo a qual o Tribunal deve decidir
todas a questões que as partes tenham submetido à sua apreciação e não pode ocupar-se
senão das questões suscitadas.
➢ Tem o alcance de determinar o objeto do processo como este sendo configurado
essencialmente pelas alegações das partes, devendo a causa de pedir ser determinada
em razão das pretensões dos sujeitos.
65
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 95º/2
Introduzido com a revisão 2015
Art. 95º/3
A partir de 2015 já não parece tanto uma contradição com o art. 95º/1.
➢ VPS: nunca foi
Art. 95º/3/1ª parte: Noma tem como objetivo que julgador aprecia a integralidade dos direitos
alegados pelo particular, evitando-se que o juiz conheça apenas da primeira ilegalidade
apreciada, a pretexto que isso, só por si, bastaria para inquinar a validade da atuação
administrativa.
➢ Isto traria consequências nefastas em termos de caso julgado.
o Apesar de cada uma delas, só por si, gerar a invalidade, a cumulação de todas
gera um resultado diferente – uma fatia do bolo envenenado leva à morte,
todas as fatias levam a uma morte mais dolorosa
➢ O que está em causa é como se analisa a causa de pedir e em que medida isso vai levar
a considerar-se uma lógica do contraditório ou inquisitório.
o Objeto do processo é determinado por aquilo que o particular alega e o juiz tem
de conhecer todas as invalidades
Art. 95º/3/2ª parte: Qual a amplitude deste dever do juiz identificar a existência de causas de
invalidade diversas das que tenham sido alegadas? Ele está limitado pelos factos trazidos a juízo
pelas partes ou poe ir além destes?
VPS: juiz não pode trazer factos novos, pois não é uma parte – juiz identifica causas de
invalidade distintas das alegadas, tendo sempre como limite os factos trazidos a juízo e o modo
como foram trazidos pelas partes.
➢ Não se introduz factos novos e apenas se identifica/individualiza ilegalidades distintas
das referenciadas pelo autor, desde que elas resultem das alegações das partes que
introduziram os factos em juízo.
o Muitas vezes não é sequer possível dissociar completamente factos de
alegações, uma vez que o Tribunal não lida diretamente com a realidade e sim
com a reconstrução desta, feita a partir dos “filtros” do pedido e da causa de
pedir, tal como configurados pelas partes.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
2. Juiz deve conhecer integralmente o que as partes levaram a juízo – deve conhecer
integralmente as ilegalidades da atuação administrativa que está em causa.
• Alarga os poderes do juiz, no que respeita ao conhecimento do objeto do
processo, por desligar a causa de pedir do mecanismo do ato administrativo,
possibilitando a apreciação direta dos direitos dos particulares e dos factos
causadores da respetiva lesão.
• Felizmente o legislador afastou o conceito de “vícios” – não está limitado pelos
vícios do ato administrativo que está a ser alegado51.
51
Utilização dos vícios do ato administrativo como realidade limitadora do que podia ser alegado e do
que o juiz podia conhecer
➢ Rui Machete: vícios eram frestas através das quais entrava o ato administrativo, mas, por onde
não podia entrar todo o ato administrativo.
VPS: critica o conceito de Vícios Administrativos – basta alegar se a Legalidade é Orgânica, Formal,
Material e etc. isso é que determina a Causa de Pedir.
VPS: lista ilógica que não esgota os vícios existentes e deixa muito a desejar, do ponto de vista científico. É
desnecessária pois em nenhuma lei desde os anos 80 se fala nestes vícios. O que a ordem jurídica portuguesa exige é
que haja um pedido e uma causa de pedir – particular não tem de invocar os vícios nem se tem de utilizar esta lista.
67
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
o Isto não deve ser confundido com uma conceção objetivista, pois isso
faria do juiz uma parte processual com poderes para configurar o objeto
do processo através da causa de pedir e traria problemas ao caso
julgado (VPS discorda de Vieira de Andrade).
Aroso de Almeida: juiz pode carrear factos novos para o processo52 (mas tem mudado a perspetiva
ao dizer que é dentro do alegado pelas partes – VPS: então não são novos)
• Miguel Teixeira de Sousa: admite que pode porque o MP pode.
o VPS: Mas o MP e o Juiz não têm funções iguais (VPS)
▪ Uma coisa é considerar que o Ministério Público é uma parte no
processo administrativo e que, em razão disso, pode configurar as
pretensões em juízo, formulando pedidos e carreando factos novos
para o processo;
▪ Outra coisa é admitir que o juiz, que, por definição, não é, nem pode ser
uma parte, venha a fazer o mesmo, sem estar limitado pelo objeto do
processo, tal como configurado pelas partes.
• Discute abstratamente a questão da maior ou menor extensão com que se pretende
configurar a pretensão anulatória que é deduzida no processo de impugnação de atos
administrativos.
o VPS: não pode ser isto porque ela não está separada da atuação material lesiva
de direitos
• Leva à conclusão que todas as possíveis causas de invalidade de que padeça o ato
impugnado integram a mesma causa de pedir, pelo que a identificação, pelo tribunal,
de qualquer uma delas não o afasta do objeto do processo – com o consequente
alargamento dos poderes inquisitórios que o art. 90º/1 confere ao juiz, pois a procura
da verdade material pelo juiz só tem como fronteira os limites do processo53.
• André Gonçalves Pereira: teoria dos vícios é absurda – lógica de fazer corresponder cada um dos vícios a
um aspeto do ato administrativo está viciada pois o mesmo aspeto do ato pode dar origem a mais vícios
(competência dá origem a 2 vícios); vício de forma é chamado a desempenhar uma função que não é dele
(pois não se autonomiza do procedimento), pois corresponde a duas realidades do ato administrativo
(procedimento e forma); aspeto material é dividido e cria-se uma falsa distinção (violação de lei
transformação em violação DA lei – não tem qualificação e cabem todos os atos ilícitos).
• De fora ficam os vícios de vontade da Administração.
VPS: esta qualificação era incompleta pelo que se deveriam considerar outros vícios que não estes. Só discorda de
Gonçalves Pereira quando este queria autonomizar o vício de falta de causa.
Hoje em dia nada obriga a que se utilize esta qualificação, mas continua a ser usada.
Identificar os vícios é a forma de identificar a causa de pedir.
VPS utiliza sempre a designação lógica, embora por vezes admita que se possa aludir historicamente aos vícios.
➢ O importante é qualificar elemento material e isso não passa pela teoria dos vícios do ato administrativo.
52
Aroso: art. 95º/3 não constitui expressão do princípio iure novit curia pois impõe-se ao Tribunal que
identifique, ele próprio, a existência de causas de invalidade diversas das que tenham sido alegadas.
• Está em causa a identificação, no episódio da vida que foi trazido a juízo, de ilegalidades diversas
daquelas que foram alegadas pelo autor, pois quanto maior for o número de vícios que o tribunal
identifique por sua própria iniciativa, maior será a extensão das preclusões que da sentença se
projetarão sobre o ulterior exercício do poder por parte da Administração.
53
Aroso: Todas as possíveis causas de invalidade de que padeça o ato impugnado integram a mesma causa
de pedir, que se reporta ao ato impugnado na globalidade das causas de invalidade que contra ele possam
ser deduzidas, sem que a identificação em juízo de qualquer uma delas envolva, por isso, uma ampliação
do objeto do processo.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
➢ VPS: Aroso parte de uma noção de direito subjetivo vindo do direito processual
– teoria de Mário Aroso de Almeida quanto aos Direitos Subjetivos é que
cimenta a sua posição quanto ao art. 95º/3 (juiz pode carrear factos novos, pois
se o direito é afastar a ilegalidade isso também pode ser feito pelo juiz).
▪ Daí considera que o direito subjetivo do particular perante atuações
administrativas consiste numa pretensão anulatória, dirigida à
eliminação do ato impugnado da ordem jurídica e, com ela, a cessação
da situação de perturbação por ele causada – Direito de Reação54
▪ VPS discorda: Na ordem jurídica portuguesa uma coisa é o direito de
ação, que permite a proteção jurídica subjetiva mediante a atuação dos
tribunais e outra coisa são os direitos subjetivos de que os particulares
são titulares.
❖ Reduzir-se-ia tudo ao direito de agir em juízo – não se pode
confundir com os direitos subjetivos para os quais esse direito
de agir existe.
❖ O que está em causa é um direito subjetivo lesado pela atuação
da Administração e não um direito a afastar a ilegalidade.
❖ Não se pode confundir o direito de agir e os direitos subjetivos
para os quais se consagra o direito de agir.
▪ Isto cria uma categoria especial de direitos subjetivos fundada, não nas
situações jurídicas dos respetivos titulares, mas nas atuações do sujeito
oponente na relação jurídica material, já que o conteúdo do direito
corresponderia ao ato administrativo, o que é um contrassenso.
Isto não significa, contudo, como já se referiu, que o juiz não tenha visto ampliados os seus
poderes de conhecimento do objeto do processo, sempre no limite dos direitos invocados
pelas partes, ao ser-lhe permitido aceder direta e plenamente ao pedido e à causa de pedir
alegados, sem a “mediação” objetivista e limitadora dos vícios, e sem ter mesmo de se
confinar apenas ao ato administrativo impugnado.
• Pelo que, no direito português, haverá que distinguir entre a ação para defesa de
direitos, em que a pretensão processual deduzida em juízo corresponde aos direitos
subjetivos dos particulares, numa concreta relação jurídica, que delimitam os poderes
do juiz relativamente ao objeto do processo, e a ação pública e a ação popular, através
das quais se processa a tutela direta da legalidade e do interesse público, mas mediante
um processo de partes, pelo que, também aí, o tribunal se encontra condicionado pelas
alegações dos sujeitos processuais relativas ao pedido e à causa de pedir.
54
Direito reativo de agir contra a ilegalidade. No momento da lesão surge um direito a reagir e afastar a
ilegalidade, que se concretiza no direito de ação.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Em síntese, a partir do momento em que todo o CAT se tornou de plena jurisdição, o objeto do
processo deve ser considerado de maneira diferente, não em razão do meio processual ou das
formas de atuação administrativa mas sim em razão da função desempenhada pelo meio
processual, distinguindo consoante esteja em causa uma Ação para Defesa de Interesses
Próprios ou uma Ação Popular ou Pública.
55
Aroso de Almeida: Requisitos de cujo preenchimento a lei faz depender a admissibilidade do julgamento
do mérito do processo, em razão do seu objeto.
70
Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
AÇÃO ADMINISTRATIVA
Ação administrativa tutela alguns dos mais importantes direitos subjetivos das relações
administrativas.
Tem um vasto âmbito de aplicação e permite a formulação de uma grande variedade de
pedidos, correspondendo a uma grande diversidade de efeitos das sentenças
➢ VPS: meio processual de banda larga ou “super-ação”
o Cabem distintas sub-ações, que são qualificadas em razão do pedido.
Circunstância de haver uma única forma de processo não significa uma unificação total dos
processos administrativo, nem mesmo ao nível da respetiva tramitação.
➢ A circunstância de haver uma única forma de processo: Ação Administrativa não implica
que seja só uma.
o A ação administrativa dobra-se em muitas.
▪ Entre estas diferentes subações – em que se misturam critérios
processuais e critérios substantivos – o legislador dedicou à Impugnação
de Atos Administrativos mais artigos (15) e tratou-a com mais atenção.
▪ Pedido de condenação é radicalmente novo e muda a natureza e
estrutura do CAT – tem 5 artigos.
• O que é velho e conhecido tem 15 artigos, o que é novo só tem
5.
• Legislador deixa em aberto as realidades novas.
Tal como no Processo Civil, os pedidos podem dar origem a: sentenças declarativas, sentenças
de condenação, sentenças constitutivas.
Com a revisão de 2015 todos os processos passam a ser submetidos a uma única forma de
processo: Ação Administrativa (art. 37º)
➢ Mesmo após 2015 continuou a distinguir-se as pretensões relativas a atos administrativos
e a regulamentos, havendo pressupostos processuais específicos e um regime próprio
que não se aplica aos demais tipos de pretensões
➢ Integração numa única forma de processo de uma série de pedidos: através da ação
administrativa pode pedir-se uma série de situações.
o Escapa apenas à ação administrativa os regimes de urgência: 5 formas (art. 97º
e ss.)
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Ação Administrativa é a irmã da Ação Declarativa Comum do CPC, hoje também sujeita a uma
forma comum, na qual convivem alguns processos especiais.
➢ Desde 2015 que no CAT se passa o mesmo: há uma forma processual única onde
entram todos os pedidos.
Esta Ação Administrativa única veio substituir uma dualidade/dicotomia: opunha Ação
Administrativa Especial à Ação Administrativa Comum.
➢ Havia dificuldade em conciliar um pedido de impugnação de um ato e um pedido de
indemnização na sequência dessa impugnação.
Unificação da Ação Administrativa Comum e a Ação Administrativa Especial não significa que
tenha havido uma homogeneização das anteriores ações, a dois níveis:
1º. Meios Processuais – apesar da unificação, o legislador não podia ter deixado de
continuado a regular de forma mais específica aquilo que são as pretensões típicas do
CAT.
• Há regras particulares e mais densificadas em relação a pressupostos
processuais das formas típicas da administração.
• Isto significa que, embora existir uma única forma de processo (ação
administrativa), consegue-se identificar no CPTA diferentes meios processuais
(diferentes blocos de meios processuais com pressupostos processuais
específicos).
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
2. Fase de Saneamento:
• Despacho pré-saneador
• Eventual realização de audiência prévia
3. Fase de Instrução:
• Se houver necessidade faz-se prova
o Temas da prova enunciados genericamente – grandes acontecimentos que
rodeiam os acontecimentos fácticos da ação
o É com base em temas da prova que se define a instrução no CAT
• São as regras do DPC que regulam
5. Fase da Decisão:
• Obedece a regra de decisão singular – cabe a 1 juiz
o Há decisão de facto e de direito
o Pode haver remissão a título prejudicial para o STA – caso muito complexo sobre
matérias novas. STA faz pronúncia de Direito vinculativa.
• Art. 94º CPTA
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
➢ Desvios:
o art. 78º/2/e, 79º/3;
o 81º/3, 81º/6 (citação de contrainteressados);
o 83º/4 (regime de revelia: só há ónus de impugnação justificada em certos tipos
de ação – parece que nas ações relativamente a atos e normas há tratamento
mais favorável à administração, o que corresponde à velha dicotomia em que a
AAE estava sujeita a situações mais favoráveis);
o 84º (elemento específico da Ação Administrativa pois as entidades demandadas
têm de enviar o processo instrutor – só se justifica quando tem a ver com
impugnação de atos ou impugnação de normas; o dever é diferente e existe ou
não dependendo do tipo da ação);
o 85º/3 (MP pode intervir em qualquer ação para se pronunciar sobre o mérito,
mas, nas ações de impugnação de atos pode fazer mais coisas e providenciar de
diligências instrutórias além daquelas das partes);
o 90º/4;
o 95º/3, 95º/7.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
VPS: Legislador tratou com “carinho” esta sub-ação, expresso em numerosas e detalhadas
disposições.
➢ Especial cuidado no tratamento tem que ver com uma espécie de “homenagem
póstuma” do legislador ao anterior Recurso de Anulação.
Este Recurso de Anulação não era um recurso e não era apenas de anulação
• Era uma ação chamada de recurso – tratava-se da primeira apreciação jurisdicional de
um litígio emergente de uma relação jurídica administrativa; era um meio processual de
impugnação de atos administrativos destinado a obter a primeira definição do Direito,
feita por um Tribunal.
o Havendo separação entre Administração e Justiça, tudo o que se passou no seio
da Administração não se transpõe, como recurso, para a função jurisdicional.
o Isto já era assim mas continuava com o nome antigo, que correspondia a uma
tradição clássica de promiscuidade – monismo entre procedimento e processo
(Marcello Caetano).
o Não há continuidade entre a ação da Administração e a ação do Tribunal e Juiz
não está limitado a apreciar o direito (como nos recursos) e pode conhecer os
factos.
• Não tinha somente um efeito de anulação – os efeitos da sentença não se esgotavam
no efeito demolitório.
o O que particular obtinha através da anulação não satisfaz as suas pretensões.
o Porque o ato já foi executado (dada à autotutela executiva da Administração),
pelo que a sentença de anulação não reconstitui o particular na situação em que
estaria caso não tivesse havido o ato administrativo.
o Ex: ordem de demolição e casa destruída.
o Particulares têm de ser restituídos à situação em que estariam se não tivesse
havido o ato administrativo ilegal.
o O efeito da sentença era a anulação, mas tal não chegava para satisfazer as
pretensões dos particulares, pelo que ao lado se criavam efeitos da sentença que
proviam às pretensões dos particulares – teria que haver, posteriormente ao
processo declarativo, um processo de execução das sentenças de anulação de
atos administrativos para que seja compensado pelas ilegalidades.
VPS: foi uma boa solução o facto da reforma do Contencioso Administrativo ter posto termo ao
Recurso de Anulação
➢ Agora há uma ação de impugnação de atos administrativos, em que se possibilita a
apreciação da integralidade da relação jurídica administrativa, a propósito da
impugnação de um ato administrativo lesivo.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Se atos administrativos foram praticados sem observar determinado requisito de validade, ele
é inválido e significa que pode ser atacado, perante a própria Administração e perante os
tribunais.
➢ Se a invalidade do ato for reconhecida, ele é destruído, desaparecendo da Ordem
Jurídica e reconstituindo-se a situação que deveria existir se esse ato nunca tivesse sido
praticado.
VPS57: a enumeração só tem situações de cumulação aparente – isto é explicado pelos traumas
da infância difícil, pois o legislador não estava a pensar no que é habitual ver-se nos outros
domínios processuais, mas sim na realidade anterior do recurso de anulação.
➢ Razão pela qual o legislador chamou cumulações foi por preocupações de transformar
a realidade do CAT – faz sentido que tenham tido este tratamento porque para o CAT
eram verdadeiras cumulações;
o O CAT só se ocupava com a anulação e tudo o mais não tinha a ver com a ação
declarativa.
Todos os pedidos são admissíveis e que o objeto da apreciação jurisdicional se deve ampliar do
“processo ao ato” para o juízo sobre a relação jurídica administrativa.
• Mas, por outro lado, o legislador toma como “medida” dessa transformação o anterior
recurso de anulação, pelo que qualifica tudo aquilo que vá além da “simples anulação”
como uma “verdadeira e própria” cumulação de pedidos.
Com a impugnação do ato, a Administração deve ser condenada a repor a situação anterior e
garantir os direitos do particular – isso deve ser logo feito na ação administrativa.
➢ AÇÃO ADMINISTRATIVA: permite-se não apenas a apreciação judicial do ato
administrativo, mas de toda a relação jurídica controvertida, mediante a
admissibilidade de todos os pedidos necessários à tutela dos direitos dos particulares.
56
Teixeira de Sousa: hipóteses de cumulação do art. 4º são cumulações aparentes – pois pedir anulação
e condenação é cumulação aparente, uma vez que é o mesmo pedido e causa de pedir.
57
Elogia reforma 2015: esta realidade das cumulações tinha uma cláusula de salvaguarda que foi
revogada (no antigo art. 47º/3)
➢ Essa cláusula dizia que se particular se esquecesse de pedir a condenação ainda podia utilizar o
processo de execução de sentenças para pedir essa condenação.
o Isso desapareceu e faz todo o sentido – correspondia ao posicionamento clássico.
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Anulação de Atos Administrativos – o ato produz efeitos, a título precário, podendo ser
destruídos desde o início se o ato for anulado.
• Decorre do regime da anulabilidade do art. 163º CPA.
• Origina uma sentença constitutiva que tem o alcance de destruir retroativamente o ato
anulado, constituindo a Administração no dever de restabelecer uma situação que,
tanto quanto possível, se aproxime daquela que deveria existir se o ato nunca tivesse
sido praticado (art. 173º CPA).
Art. 50º/1 – impugnação de atos administrativos só tem por objeto a anulação ou a declaração
de nulidade de tais atos.
➢ A declaração de inexistência de ato administrativo não constitui objeto de um processo
impugnatório, na medida em que o que o autor se propõe é, precisamente, demonstrar
que não foi praticado um ato administrativo pelo que se configura o objeto do processo
de um modo que nega a existência de um ato passível de impugnação.
o Portanto, o primeiro pressuposto processual é que exista um ato administrativo
passível de ser impugnado junto dos Tribunais Administrativos = recorribilidade
do ato administrativo.
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Impugnabilidade do ato não é uma questão de “natureza”, nem uma característica substantiva
dos atos administrativos.
➢ Os atos impugnáveis são todos aqueles que, em razão da sua “situação”, sejam
suscetíveis de provocar uma lesão ou de afetar imediatamente posições subjetivas de
particulares.
Todos os atos administrativos são, por definição, impugnáveis, pelo que a impugnabilidade
depende apenas do simples preenchimento do conceito, com a reunião dos respetivos
elementos constitutivos (art. 148º CPA) – é por referência a estes elementos que, em primeira
linha, se identifica um ato administrativo, independentemente da entidade que o pratique e da
forma sob a qual seja praticado.
➢ Art. 51º/1 – ao termos ato administrativo, temos ato impugnável
Pelo art. 148º CPA vemos que é necessário que haja conteúdo decisório – para que um ato
jurídico concreto possa ser qualificado como um ato administrativo, é necessário que ele seja
uma decisão, exprimindo uma resolução que determine o rumo de acontecimentos ou o sentido
de condutas a adotar.
➢ Não têm só conteúdo decisório os atos finais dos procedimentos administrativos, mas
também os atos praticados ao longo dos procedimentos que, ainda que parcialmente,
definam situações jurídicas dos interessados, determinando o direito aplicável a certa
questão, em termos que já não possam ser objeto de reapreciação em momento ulterior
do procedimento – decisões interlocutórias.
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Art. 51º/2/a admite que não são apenas impugnáveis os atos finais, que põem termo a
procedimentos administrativos, mas também podem ser impugnados atos que não sejam o ato
final do procedimento.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Desde que tenham conteúdo decisório, pode aplicar-se a atos cujos efeitos se esgotam no plano
intra-administrativo.
Não precisa de esperar pelo final do procedimento, mas podem esperar – não precludindo a
possibilidade de impugnar a decisão final (art. 51º/3).
➢ Daí que, perante um ato de procedimento lesivo dos seus direitos, o particular possa
escolher entre impugnar desde logo essa atuação, ou esperar antes pela decisão final do
procedimento, sem que o seu direito fundamental à proteção judicial possa ser por isso
afetado.
A doutrina discute, dentro do universo dos atos jurídicos que são adotados sob a forma
legislativa, aqueles que devem ser qualificados como legislativos do ponto de vista formal e
material e aqueles que são formalmente legislativos mas contêm decisões materialmente
administrativas.
• É Materialmente Administrativa quando adotada ao abrigo de lei anterior (ou
concomitante) em cujos pressupostos já se encontram assumidas as opções políticas
primárias que competiam ao legislador – portanto, é uma decisão produzida no
exercício de uma competência administrativa que, como tal, está previamente
tipificada na lei e que, portanto, apenas pode envolver a eventual realização de opções
circunscritas a aspetos secundários, menores ou instrumentais em relação às opções
já contidas nessa lei.
o Tem um papel condicionado e subordinado de concretização, de realização
prática do interesse geral superiormente definido pelo legislador.
Atos administrativos publicados sob a forma de ato legislativo está sujeito a vacatio legis, pelo
que os efeitos dos comandos neles contidos não se produzem imediatamente com a publicação
– resulta do art. 59º/1
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Ex: ato que vem fixar o prazo final para o cumprimento de uma obrigação imposta por ato
precedente, sob ameaça de execução forçada
• Embora este ato surja no seguimento de uma definição introduzida pelo ato anterior, o
certo é que introduz um efeito jurídico inovador, modificando o quadro pré-existente.
o O que sucede com o ato de execução de um ato administrativo anterior é que
ele tem um conteúdo misto que, em parte, é confirmativo do ato exequendo,
mas em parte é inovador, introduzindo ele próprio uma decisão dirigida a
modificar a ordem jurídica.
▪ Ele não pode ser impugnado na parte que assume, pressupõe ou
reafirma uma decisão contida em ato anterior (mesmo que tenha os
mesmos vícios e invalidades, não se pode invocar contra ele o que já se
podia ter invocado contra o ato anterior).
• A não ser que preencham os requisitos do art. 53º/2.
▪ Ele pode ser impugnado na parte que acrescenta novo efeitos jurídicos
àqueles que já tinham resultado do ato anterior e que podem ser
contrários às regras às quais devem obediência – art. 53º/3
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Requisito do Conteúdo Positivo do Ato – enquadramento dos atos de conteúdo misto, positivo
e negativo
Ao contrário do que sucedia no regime anterior do CPTA, o conceito de ato administrativo
impugnável não compreende, hoje, entre nós, os atos administrativos de conteúdo negativo
➢ Só os atos de conteúdo positivo podem ser objeto de um processo de impugnação,
dirigido à respetiva anulação ou declaração de nulidade.
Reação contenciosa contra atos de conteúdo negativo passa pela dedução do competente
pedido de condenação à prática de um ato administrativo que satisfaça a pretensão do autor.
➢ Art. 51º/4 e 67º/1/b CPTA
o Art. 51º/4: só tem em vista as situações em que, contra o ato de indeferimento,
tenha sido deduzido um pedido de estrita anulação, ou seja, a anulação e nada
mais que a anulação, pois se, pelo contrário, o autor tivesse pedido a anulação,
mas também a condenação à prática do ato devido, não havia razão para exigir
a substituição da petição.
▪ Aroso: Se o autor não corresponder ao convite que o tribunal lhe tenha
dirigido para substituir a petição, deve entender-se, naturalmente, que a
não substituição da petição obsta ao prosseguimento do processo,
conduzindo à absolvição da instância.
• O preceito assume que não é adequado pedir a anulação de um
ato de indeferimento e, portanto, que, em princípio um tal pedido
não pode proceder.
• Oportunidade de o autor substituir é para o Tribunal chegar a
uma decisão de mérito – afloramento do art. 87º/7.
58
MAR: Art. 51º/3 é exceção de que atos endoprocedimentais estão sujeitos a ónus de impugnação
autónoma.
➢ Não pode ficar à espera e tem de atacar o ato que o exclui do procedimento.
➢ Ato que abre o concurso tem efeitos externos que é o de ele poder ser lesado – pode impugnar
pelo art. 51º/3
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Em suma:
Isto é apenas quanto aos indeferimentos e não quanto aos Atos Administrativos de revogação
ou anulação – estes têm o alcance de destruir/fazer cessar efeitos pelo que têm um conteúdo
positivo, portanto poem ser impugnados.
Com a revisão de 2015 ficou claro que a condenação à prática de atos administrativos não só
pode ter lugar em situações de omissão (art. 67º/1/a), recusa (art. 67º/1/b) mas também
como reação à prática de atos administrativos de conteúdo positivo parcial (art. 67º/1/c) – se
administração praticar ato que não dá cabal provimento às pretensões do autor, o caminho não
tem de passar pela impugnação do ato, pelo simples facto de existir um ato administrativo
impugnável de conteúdo positivo (pode ir logo pela condenação).
➢ Pode servir para os casos em que o ato é parcialmente indeferido – pede-se que seja
praticado nos termos em que tal devia ter sido feito.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
ART. 54º CPTA: Requisitos da Eficácia do Ato – relacionado com o Interesse Processual
Não se pode afirmar que um ato tem de ser eficaz para ser impugnado – pode é dizer-se que
nos caos em que a produção de efeitos do ato esteja dependente do preenchimento de
condições legais ou de condição ou termo impostos mediante cláusula acessória incluída no
conteúdo do próprio ato, o ato não pode ser impugnado enquanto não estiverem preenchidas
essas condições – art. 54º/1
Art. 54º/2 – situações que dão a faculdade de se impugnar logo o ato administrativo mesmo que
não estejam preenchidos os requisitos de que depende o início da produção dos seus efeitos.
a) Situação de lesão efetiva – mas art. 54º/3 salvaguarda que, apesar da solução do art.
54º/2/a, ainda existe um natural direito de tutela conta a própria inexecução ilegítima.
b) Situação de ameaça de lesão – o art. 7º impede que o juiz administrativo proceda a uma
interpretação restritiva deste preceito.
• É para agir contra atos ainda não eficazes mas que, segundo um juízo de
normalidade, e de acordo com a experiência da vida, haja fortíssima
probabilidade ou quase certeza de que o ato irá produzir efeitos e, portanto,
exista um fundado receio das consequências que resultarão da produção de
efeitos e eventual execução do ato (ainda) ineficaz
Estas situações são faculdades e não ónus – o que significa que se não impugnarem o ato
(ainda) ineficaz, os interessados não veem precludida a possibilidade de procederem à sua
impugnação no momento em que ele venha a produzir efeitos.
➢ Não existe ónus de impugnar o ato enquanto ele não se tornar eficaz – não são aplicáveis
à impugnação de atos ineficazes as regras de contagem de prazos de impugnação, que
têm exclusivamente em vista a impugnação de atos produtores de efeitos.
o Isto resulta do art. 59º/1 (com a redação de 2015).
Regra de que o ato administrativo só pode ser impugnado quando se encontrem reunidas as
condições de que depende a sua capacidade para produzir efeitos é tradicionalmente
apresentada como um dos componente em que se desdobra o pressuposto processual da
impugnabilidade do ato administrativo.
➢ Aroso: justifica-se a sua autonomização – eficácia é elemento extrínseco do ato
administrativo, que não tem a ver com a sua substância nem com a natureza (intrínseca)
dos efeitos que o ato se destina a introduzir na ordem jurídica.
o É responder à questão de saber se, em determinado momento, o ato já está em
condições de originar consequências que possam justificar a sua impugnação.
Raciocínio do art. 54º é que o ato ineficaz (ainda) não introduz qualquer modificação na ordem
jurídica que possa ser removida através da anulação do ato ou origine uma situação de facto
que fundamente a necessidade da declaração da sua nulidade.
➢ Questão resume-se em saber se existe um interesse processual/interesse em agir junto
dos tribunais contra um ato administrativo que não esteja em condições de projetar os
seus efeitos na ordem jurídica.
o Em princípio, parte-se da presunção de que não existe interesse em impugnar
atos administrativos que (ainda) não estejam em condições de lesar ninguém.
o Mas CPTA não consagra esta regra em absoluto e admite que podem haver
situações de interesse em agir que justifiquem o seu afastamento.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
O CPTA não exige, em termos gerais, que os atos administrativos tenham sido objeto de prévia
impugnação administrativa para que possam ser objeto de impugnação contenciosa.
➢ Das soluções consagradas nos art. 51º e 59º/4 e 5, decorre, por isso, a regra de que a
prévia utilização de vias de impugnação administrativa não é necessária para aceder à
via contenciosa.
o Não é necessário, para haver interesse processual no recurso à impugnação
perante tribunais administrativos, que o autor demonstre ter tentado
infrutiferamente obter a remoção do ato que considera ilegal por via
extrajudicial.
Revisão de 2015 foi tanto ao nível do CPA e do CPTA – no quadro destas 2 reformas as
realidades alteram-se
• CPA estabeleceu que se uma lei especial exigia esse recurso hierárquico necessário então
deve seguir certos requisitos – significa implicar a existência de um pressuposto
processual
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
o VPS discorda – legislador voltou atrás, até antes de 2004, e está a cometer uma
inconstitucionalidade.
o Manifestação dos traumas da infância difícil.
o Já foi afastada em todos os países da UE, inclusive em França, onde nasceu.
• CPTA era o único sítio onde tinha de estar os pressupostos processuais, mas este código
não previu como pressuposto processual o recurso necessário.
o VPS: se não há norma com esse conteúdo, foi porque legislador afastou
expressamente essa orientação ao não consagrar o recurso necessário como
pressuposto processual.
▪ Não inclui a norma, portanto ela deixa de fazer sentido, quer pela CRP,
quer pela lei.
▪ Não há na nossa Ordem Jurídica a possibilidade de haver recurso
hierárquico necessário59.
AROSO DE ALMEIDA faz interpretação restritiva deste regime jurídico: só revoga a regra geral
do CPA e não as regras especiais que estão em lei especial e podem prever o recurso hierárquico
necessário.
CPTA não tem o alcance de afastar as múltiplas determinações legais avulsas que instituem
impugnações administrativas necessárias.
• Na ausência de determinação legal expressa em sentido contrário, os atos
administrativos com eficácia externa são imediatamente impugnáveis perante os
tribunais administrativos sem a necessidade da prévia utilização de qualquer via de
impugnação administrativa.
o Só estão sujeitas a impugnação administrativa necessária nos casos em que isso
seja expressamente previsto na lei, em resultado de uma opção consciente e
deliberada do legislador, quando este a considere justificada.
59
Também não era necessário porque não era eficaz – não conferia nenhuma tutela aos particulares o
pois na maior parte dos casos confirma-se a decisão anterior e a reclamação/recurso não é procedente.
➢ Do ponto de vista prático esta não é uma forma de tutelar os particulares.
➢ VPS: dever-se-ia criar um órgão diferente aos que intervêm no processo que, sendo
independente, apreciava aquele procedimento. Mandar os mesmos reapreciar de novo não é
boa ideia.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
o Lei especial pode adicionar um requisito adicional que vem acrescer aos demais,
decorrentes da lei geral, do qual depende a impugnabilidade jurisdicional do
ato.
VASCO PEREIRA DA SILVA discorda: não faz sentido que o recurso hierárquico possa continuar a
ser exigido como condição prévia de impugnação, mesmo quando já não pode mais continuar a
ser considerado uma condição de impugnação ou pressuposto processual
• As normas especiais limitavam-se a reiterar a regra geral, portanto a revogação desta
tem implícita a revogação de todas as outras (admitindo que sim, só vale para o futuro
– e mesmo essas seriam inconstitucionais);
o O afastamento da regra geral implica o afastamento de todas as normas avulsas
que são a confirmação da regra geral.
• Se já não é mais um pressuposto processual de impugnação de atos administrativos,
então a exigência de recurso hierárquico em normas avulsas deixa de ter
consequências contenciosas pelo que essas normas caducam, pelo desaparecimento
das circunstâncias de direito que as justificavam (falta o objeto);
• Art. 7º é contraditório com esta situação.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
2. TEMPESTIVIDADE DA IMPUGNAÇÃO
MAR: Os prazos do art. 58º só começam a correr nos termos do art. 59º
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Art. 59º/5 garante ao interessado a faculdade de, a todo o momento, prescindir desse efeito
suspensivo e proceder à impugnação contenciosa do ato na própria pendência da impugnação
administrativa.
➢ O interessado continua, portanto, a poder, ao mesmo tempo, impugnar o mesmo ato
pela via administrativa e pela via contenciosa, assim como deduzir o correspondente
pedido de providência cautelar de suspensão da eficácia.
➢ VPS: Pode ir a tribunal independentemente de ter havido resposta do superior
hierárquico ou não.
Para que a impugnação seja admitida, é necessário que o autor não tenha praticado, de modo
espontâneo e sem reserva, ato incompatível com a vontade de impugnar.
➢ Só uma aceitação livre, incondicionada e sem reservas é que pode ser qualificada como
aceitação do ato – só releva a aceitação do ato anulável.
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Ação de condenação na prática do ato devido é meio radicalmente novo no quadro do CAT e
muda a natureza do CAT
• Permite condenação da Administração, cujo objeto é a pretensão do particular
• Meio processual exclusivamente subjetivo – legislador disse claramente que o objeto
do processo era o direito do particular e nunca nenhuma atuação administrativa
• Meio processual de grande amplitude – vale contra omissões (não atuação da
administração) mas também contra atos de conteúdo negativo (onde basta o
indeferimento parcial)
• Meio que permite controlo do poder discricionário
Art. 66º e 71º indicam que o objeto da condenação administrativa é a pretensão material do
interessado.
➢ O processo de condenação é um processo em que o autor faz vale a posição subjetiva
de conteúdo pretensivo de que é titular, pedindo o seu cabal reconhecimento e dela
fazendo, portanto, o objeto do processo.
Valoriza o pedido mediato sobre o imediato, adotando uma conceção ampla de objeto do
processo – tanto quando se está num caso de omissão ilegal como quando se trata de um caso
de conteúdo negativo, o objeto do processo é a pretensão do interessado e não o ato de
indeferimento, cuja eliminação da ordem jurídica resulta diretamente da pronúncia
condenatória.
• Objeto nunca é o ato administrativo – subespécie de ação não é configurada com um
processo impugnatório por referência a um ato.
• Objeto é a pretensão do interessado – é uma ação para defesa de interesses próprios,
visando defender o direito subjetivo do particular que foi lesado pela omissão ou pela
atuação ilegal da administração (pelo que o objeto do processo é o direito subjetivo do
particular no quadro da concreta relação jurídica administrativa).
o A “pretensão” nada mais é do que o direito subjetivo do particular na concreta
relação jurídica administrativa, para cuja defesa ele atua em juízo.
90
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Esta é uma impugnação de plena jurisdição – a eliminação do ato negativo tem lugar no
âmbito de um processo dirigido à condenação à prática de outro ato administrativo no lugar
daquele que foi praticado, pelo que o seu objeto não se centra no ato negativo e sim na pretensão
dirigida à prática do ato devido e, portanto, na questão de saber se, no momento em que ao
tribunal cumpre decidir, estão preenchidos os elementos constitutivos da pretensão e não
existem elementos impeditivos, modificativos ou extintivos que lhe possam ser contrapostos.
Art. 71º repete regra geral do art. 95º: Tribunal pronuncia-se sobre a pretensão material do
interessado na sua totalidade
➢ Complementa e afirma a natureza subjetivista: art. 72º - o objeto é o direito do
particular.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
➢ Mas o tribunal deve dizer e aplicar o Direito em toda a extensão com que as normas e
os princípios jurídicos sejam chamados a intervir para dirimir litígios jurídico-
administrativos e, portanto, cabe ao tribunal determinar todas as vinculações a observar
pela Administração na emissão do ato devido.
o Este é o sentido do art. 71º CPTA.
▪ Os tribunais administrativos não julgam da conveniência ou
oportunidade da atuação administrativa (art. 3º/1) mas não podem
deixar de exercer, em plenitude, a função (jurisdicional) de que estão
incumbidos, pronunciando-se em toda a extensão em que as normas
jurídicas aplicáveis o permitam, sobre os termos em que a
Administração deve definir o Direito através da prática do ato
administrativo que lhe cumpra emitir.
o VPS: Sentenças não se devem limitar a cominar a prática de um ato
administrativo e devem determinar, em concreto, qual o âmbito e o limite das
vinculações legais – isto é o que significa explicitar as vinculações a observar
pela Administração na emissão do ato devido.
Art. 71º/2 vem dizer que para conhecer do total direito do particular o juiz pode apreciar o
exercício do poder discricionário (quando há várias opções de atuação administrativa).
➢ Juiz deve explicitar as vinculações da Administração – o “não” que aparece no início é
posto em causa com esta disposição.
o VPS: explicitar é dizer o que significa aplicar ao caso concreto o poder
discricionário – é dar indicações qual o modo correto do poder discricionário
(vem das sentenças indicativas do Direito Alemão)
o Não é substituir-se à Administração – pode é dizer o que a Administração pode
fazer para comprimir essas vinculações (limita esse poder discricionário).
VPS: O que o legislador agora diz de forma mais clara é que mesmo quando não há somente
uma única solução possível para o caso, o juiz tem de vir explicitar as vinculações e condenar
a Administração no caso a agir segundo uma delas.
• O juiz é sempre obrigado a determinar um conteúdo de uma atuação Administrativa –
juiz goza da possibilidade de controlo do poder discricionário.
• Mas não há muitos casos na realidade em que juiz tenha tido a possibilidade de utilizar
este poder do juiz.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
da ação, uma vez que estes afetam aqueles mesmos direitos e aquela mesma relação jurídica
que foi trazida a juízo.
• Objeto do processo das ações de condenação corresponda à concreta relação jurídica
material, tal como se configura no momento em que a decisão vai ser proferida, para
que não se verifique um desfasamento entre aquilo que está em juízo e a relação
material
VPS: O que aqui está só pode fazer sentido numa lógica de pedido alternativo do particular –
quando juiz considera que não estão reunidos os pressupostos processuais da ação de
condenação.
Parece ser contraditório do art. 51º/4, que sugere que não se faça uma Impugnação de Atos
Administrativos e sim uma Ação de Condenação.
➢ VPS: reconduz ao interesse processual, pois na Impugnação pode não haver interesse
uma vez que a Administração vai emitir novo ato que pode voltar a não satisfazer o
interessado – daí ser mais profícuo recorrer ao pedido de condenação
o Miguel Assis Raimundo: o que o art. 51º/4 tem é uma ideia de informar o
particular que há meio mais benéfico para si, mas não pode ser considerado
obrigatório.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Também pode haver a dedução de um pedido de condenação à prática de ato devido quando
a Administração tenha praticado um ato administrativo de conteúdo ambivalente (de
conteúdo positivo e negativo), que frustra as pretensões do interessado.
➢ Mas não é necessário que se peça requerimento – art. 67º/4 CPTA
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Prazos
→ Art. 69º CPTA
o Remissão para a ação de impugnação tem de ser entendida nos termos mais
genéricos.
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Quando um particular é objeto de uma decisão que considera ilegal ele pode e deve reagir
contra essa decisão concreta, suscitando o incidente da ilegalidade da norma regulamentar
aplicada.
➢ Tribunal pode recusar-se a aplicar a norma regulamentar por considerá-la ilegal.
VPS: não faz sentido que um processo destinado a apreciar a legalidade de um regulamento,
a título principal, tenha como resultado, verificada a existência dessa invalidade, uma
declaração de ilegalidade de uma norma geral e/ou abstrata, mas que só vale para aquele caso
concreto.
➢ O conceito de “caso concreto” não é claro – se for um ator popular a defender a
legalidade sem possuir interesse direto na demanda, a lei equipara-o ao particular para
efeito de aplicação deste regime.
60
Critica-se legislador do CPA por ter estreitado o regulamento ao dizer de forma expressa que
regulamentos são gerais e abstratos porque em relação de realidade programáticas, a maior parte das
normas de qualificação tem uma destas caraterísticas não tem as duas.
61
Esta solução resolve problemas de outra natureza – Planos ambientais, urbanísticos e etc. – que
normalmente só têm uma destas características mas devem ser consideradas normas na mesma.
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Afeta o Estado de Direito – já que permite a subsistência da ilegalidade, apesar dela ter sido
declarada pela sentença, pondo em causa os princípios da unidade e da coerência, assim como
da certeza e da segurança do ordenamento jurídico.
Originalidade da reforma de 2002/2004 e que tinha vindo a ser defendida por João Caupers.
➢ Paulo Otero também sugeriu a criação de um mecanismo análogo ao da fiscalização da
constitucionalidade por omissão.
Revisão de 2015 veio clarificar que o que está em causa é uma verdadeira condenação –
reconhece-se a existência de deveres e impõem o respetivo cumprimento, estabelecendo um
prazo para o efeito que a eventual inobservância desse prazo constitui um ato de desobediência
em relação à sentença, que habilita o beneficiário da mesma a desencadear mecanismos de
execução.
➢ Verificada a existência do dever de regulamentar e julgada a ilegalidade decorrente da
omissão do respetivo cumprimento, a sentença tem como efeito dar disso
conhecimento à entidade competente, fixando prazo, para que a omissão seja suprida
(art. 77º/2)
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A inércia regulamentar, para além de um prazo razoável, constituía em si mesma uma violação
de um dever jurídico de regulamentar, decorrente expressa ou implicitamente da norma legal.
➢ Há um dever de regulamentar que resulta de forma direta ou indireta da incompletude
ou da inexequibilidade de atos legislativos.
62
O que é que se fez em 2004?
➢ VPS - UM DISPARATE
o Confundiu mecanismo de ilegalidade do regulamento (tem que ver com validade da
norma geral e abstrata, apreciando a norma, dimensão que obriga a objeto de processo
que avalia a norma em termos gerais e abstratos) com apreciação incidental da
inconstitucional. Com apreciação incidental do regulamento corresponde a declaração
de ilegalidade, intenta uma declaração de ilegalidade no caso concreto. Realidade
inconstitucional.
o Acórdão Kuhner não limita efeito – confusão entre fiscalização incidental do
regulamento e declaração de ilegalidade, com eficácia no caso concreto
o Estabelece proteção que desprotege o particular, incompreensível. Em 1997 a revisão
constitucional tinha criado 268/5 º CRP – direito fundamental de reagir contra atos
abusivos cuja natureza subjetiva podia ser regulamentar.
▪ Assim, diminui intervenção no contencioso regulamentar e vem dizer que
órgãos com competência para atuar no limite, órgãos públicos em geral, ação
popular, e particular parte legítima de 2.º e 3.º linha atrás do MP, proteção
apenas com ato que o afetasse.
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Noção de contrato público é controversa – apesar de ter havido grandes alterações ainda há
algumas resistências doutrinárias quanto ao entendimento da realidade.
• O conceito de contrato administrativo assentava numa dualidade esquizofrénica
o Era simultaneamente visto como um acordo de vontades (Negócio Jurídico
Bilateral) entre a Administração e os particulares e como o exercício de poderes
unilaterais exorbitantes ou autoritários por parte das Autoridades públicas.
• VPS: Conceito bifronte que consegue ser, ao mesmo tempo, bilateral e unilateral,
consenso de vontades e supremacia (ou submissão) de uma parte em face da outra,
instrumento de cooperação e mecanismo de sujeição.
Do ponto de vista substantivo considerava-se que devia existir um regime jurídico “especial”
(de direito público) para os contratos administrativos e outro “comum” (de direito privado)
para os demais contratos em que interviesse a Administração.
Há evolução que resulta do direito europeu e que foi recebida no CCP e que passa pela
eliminação da distinção esquizofrénica do passado de haver contratos privados vs. contratos
públicos – surge da doutrina francesa.
• No decurso da evolução do funcionamento do sistema, na segunda metade do séc. XIX
começaram a surgir na Europa contratos administrativos que envolvem a prossecução
das políticas públicas. Ex: instalação de gás para iluminação pública e etc.
• O Conselho de Estado, em face dos montantes e da importância que está em causa,
alargou o âmbito de aplicação desse regime. Alargando o âmbito do contencioso
administrativo sem qualquer justificação para abranger estes contratos.
• Doutrina francesa procurou um mecanismo teórico para distinguir entre os contratos
administrativos e os privados, da Administração, que estavam submetidos ao direito
civil.
o Havia uma realidade esquizofrénica: havia dois tipos de contratos realizados
pela Administração sujeitos a regimes diferentes e sindicados em tribunais
diferentes.
Nos anos 80, a doutrina portuguesa pôs em causa esta distinção – Maria João Estorninho vem
originar a discussão.
➢ Maria João Estorninho foi a percursora doutrinária para uma unidade de tratamento de
toda a atividade contratual da Administração Oública – movimento de sentido
convergente, através do qual se tem vindo a reconhecer que, nem o “contrato
administrativo” é tão exorbitante quanto isso, nem os contratos privados da
Administração são exatamente iguais aos contratos celebrados entre particulares, o que
reflete desde logo uma eventual, aproximação entre todos os contratos da
Administração.
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➢ Doutrina aponta que, então, não há uma diferença assim tão grande quanto ao contrato
em si – a única diferença é quanto ao exercício da função administrativa (estar ou não
em causa o exercício dessa função).
o João Caupers, VPS, MRS aderiram a esta posição mas o resto da doutrina não.
➢ Não há diferença entre o contrato público e o privado se ambos exercerem a função
administrativa.
DUE seguiu esta tendência – construção de um mercado comum e de uma união económica e
monetária (com elementos de união política) implica a existência de regras comuns em matéria
de contratação administrativa.
➢ No final dos anos 80 e início dos anos 90 a UE introduz o conceito de contrato público,
que se aplica a todos os contratos do exercício da função administrativa.
o Sucessivas diretivas comunitárias acabam com a distinção entre contratos de
direito privado e público.
o Chegou-se à conclusão de contrato administrativo tinha pouca expressão na UE
(só França, Itália, Espanha, Portugal) e não havia distinção entre contrato de
direito público e direito privado.
São sindicáveis:
• Contratos com eficácia substitutiva de ato administrativo;
• Contratos total ou parcialmente regulados pelo Direito Administrativo;
• Contratos celebrados, mesmo entre 2 particulares, colaborando com a Administração
no exercício da função administrativa.
Reforma de 2015
VPS: Legislador errou ao chamar “contrato administrativo” mas a solução é que a esses se aplica
o regime do contrato público.
➢ Desapareceu a distinção da nossa ordem jurídica.
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Mesmo o legislador de 2015, ao fingir que está tudo na mesma – art. 200º CPA – legislador diz
que mantém a distinção mas não há bases legais: quem regula esta matéria é o CCP – não tem
consequências na ordem jurídica.
➢ A realidade jurídica afastou este dualidade.
o Contratos ditos administrativo ou são todos os contratos públicos ou não há
nenhum submetido ao Direito Privado.
Mas legislador fez norma ideológica – contratos com objeto passível de ato administrativo
• Por ato poder ser substituído por ato administrativo não há caducidade dos direitos dos
particulares para impugnar
• Põe em causa o art. 268º/4 e é inconstitucional – enquanto o direito existe o particular
pode ir a tribunal.
• Não faz sentido dizer que por a administração ter feito um contrato em vez de um ato
isso faz precludir o prazo de um ano para impugnar.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Problema existe quanto à maior parte das atuações administrativas suscetíveis de causar uma
lesão – muitas são atuações de caráter técnico que não se distinguem das atuações de caráter
privado, mas que são feitas no âmbito da função administrativa.
➢ A distinção entre gestão pública e gestão privada é esquizofrénica.
Ex: médico trabalha no SNS. No mesmo consultório atende particulares, fora das horas de
trabalho. A atividade é a mesma.
VPS: não faz sentido dizer que há um ambiente diferente, que é exatamente o mesmo. Não há
nenhuma razão para esta esquizofrenia e separar a responsabilidade civil pública por atos de
gestão pública e a responsabilidade civil pública por atos de gestão privada.
Em 2007 aprova-se outra lei mas que não corresponde à lei apresentada por Rui Medeiros e
Maria Lúcia Amaral.
Lei 67/2007 ficou aquém das expetativas
➢ A expressão “atuação regulada por disposições ou princípios de direito administrativo”,
em termos amplos, fazendo-a corresponder a todo o universo da função administrativa,
não é menos certo que a outra expressão utilizada, “prerrogativas de poder público”
parece apontar para a necessidade de se proceder a distinções de regime dentro da
função administrativa, permitindo à doutrina e jurisprudência fazer “ressuscitar” a
antiga distinção entre “gestão pública” e “gestão privada”, que se julgava
definitivamente extinta.
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Diploma de 2015 aprimorou a linguagem mas ainda não se consegue perceber se houve
alteração de jurisprudência – mas tinha de haver.
➢ VPS: apesar de toda a mudança, ainda há pedidos reconvencionais que são remetidos
para os tribunais comuns – isso é um disparate e inconstitucional. Inverte as regras
processuais.
o Forma de resolver isso ainda mais clara que a solução de 2015 era falar em
matérias conexas – matérias relacionadas com a responsabilidade, mesmo não
sendo pública, tem de haver um só tribunal a decidir sobre essas matérias.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
TUTELA URGENTE
Aproxima-se da Tutela Cautelar por serem processos concebidos para dar respostas rápidas e
céleres aos processos.
Afasta-se, pois os Processos Urgentes decidem o fundo da causa e os Cautelares apenas
previnem.
➢ VPS: foi uma boa ideia a introdução desta distinção
VPS: Tem de se admitir outros pedidos além dos da exclusão dos cadernos eleitorais – podem
haver outras sentenças que não seja a anulação
➢ Elas têm de ser interpretadas de forma corretiva pois não têm a ver com a CRP nem com
as outras normas do CPTA.
➢ Podem haver pedidos de anulação
Legislador 2015 quando fala da cumulação de pedidos permite cumular tanto urgentes e
principais. E permite cumulá-los em conjunto.
Pressupostos Processuais
Art. 97º remete para o regime da ação administrativa em matéria de pressupostos processuais,
sendo aplicável quase todo o regime.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
processos que podem dar origem procedimentos relativos a concursos de pessoal, realização
de provas de recrutamento e etc. com mais de 50 pessoas.
VPS: os que têm mais de 20 e menos de 50: “processos de massinha” – têm procedimento
diferenciado.
➢ Decide-se uma ação e depois pergunta-se no final se querem aderir à decisão ou se
querem uma decisão autónoma.
Pressupostos Processuais
Revisão de 2015 veio responder à questão de saber se o eventual não exercício da faculdade de
impugnação dos documentos conformadores do procedimento pré-contratual precludia a
possibilidade da impugnação dos atos administrativos que, ao longo procedimento, viessem a
ser praticados bem como a faculdade de impugnar o ato final.
➢ Art. 103º consagra uma solução de não preclusão.
VPS: tem sido pouco utilizado e mais em casos políticos para criar movimento da opinião pública.
➢ Origem no contencioso francês – compensação do manter o recurso de anulação mas
havia esta válvula de escape para o juiz condenar a Administração.
Está em causa a possibilidade de reagir contra situações que aconteçam no momento e que
sem essa reação não havia outra possibilidade de reagir.
➢ Uma espécie de habeas corpus no Contencioso Administrativo
o Essa foi a primeira lógica deste mecanismo.
Em última ratio do sistema faz sentido – para as situações que não tenham outra tutela.
63
VPS: DLG têm regime que se aplica analogamente a todos os direitos da mesma natureza; portanto
aplica-se a outros direitos. Todos são direitos iguais, juridicamente, portanto pode aplicar-se a tudo.
Problema não pode ter a ver com a categoria de direito e sim com a natureza.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Este é um instrumento (dirigido tanto à Administração como a Particulares) que se define pelo
conteúdo impositivo da tutela jurisdicional a que se dirige, cobrindo de modo transversal todo o
universo das relações jurídico-administrativas.
Ex: manifestação contra PR estrangeiro em visita a Portugal – não faz sentido tutela cautelar
(porque não se suspende agora e decido mais tarde, uma vez que esta ação tem um caráter de
atualidade); faz sentido a tutela urgente
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Pressupostos Processuais
Forma de Processo
Os processos urgentes têm 5 formas especiais de processo neles previstas, sendo instituídas
efetivamente em razão da urgência na obtenção de uma pronúncia sobre o mérito da causa,
por forma mais célere do que a que resulta da tramitação da ação administrativa.
➢ Art. 36º/1 classifica como formas de processo urgente por forma a serem-lhes aplicáveis
os art. 36º/2, 3 e 147º.
Intimações
Dirigem-se à emissão de uma imposição – pronúncia de condenação que, com caráter de
urgência, é proferida no âmbito de um processo de cognição sumária.
➢ Art. 110º configura esta ação de um modo polivalente/geometria variável consoante
intervenha num caso de urgência normal (art. 110º/1 e 2) ou de especial urgência (art.
110º/3).
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
TUTELA CAUTELAR
Num processo cautelar, o autor num processo declarativo, já intentado ou a intentar, pede ao
tribunal a adoção de uma ou mais providências, destinadas a impedir que, durante a pendência
do processo declarativo, se constitua uma situação irreversível ou se produzam danos de tal modo
gravosos que ponham em perigo no todo ou pelo menos em parte, a utilidade da decisão que ele
pretende obter naquele processo.
➢ Art. 112º/1 CPTA – processo sem autonomia, funcionando como preliminar ou incidente
do processo declarativo.
Antes da reforma 2004 só havia suspensão da eficácia – demasiado restrito e que quase nunca
era deferido.
➢ Violava normas da UE que tinham condenado os diversos países por ausência da tutela
cautelar.
Características:
INSTRUMENTALIDADE – só pode ser desencadeado por quem tenha legitimidade para intentar
um processo principal e depende deste (art. 113º/1)
SUMARIEDADE – o que está em causa é obviar, em tempo útil, as ocorrências que possam
comprometer a utilidade do processo principal.
➢ Tribunal procede a meras apreciações perfunctórias, baseadas num juízo sumário sobre
os factos a apreciar, evitando antecipar juízos definitivos que só devem ter lugar no
processo principal.
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Que a doutrina já tinha defendido – único novo é o pedido condenatório na tutela cautelar (alínea i).
➢ Freitas do Amaral criticava esta inovação
o VPS: DFA não leu o artigo até ao fim – é necessário que haja um fundado receio; não
precisa de espera que haja a aplicação do ato para reagir contenciosamente, basta haver
fundado receio.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Pressupostos Processuais
Legitimidade – art. 112º/1
• Não pertence apenas aos particulares mas também a todos aos que recorrem à justiça
administrativa.
• Tem de se ter em conta os interesses que o requerente visa assegurar (art. 120º)
Podem ser requeridas em momento anterior ou após a propositura da ação principal – art.
114º/1
➢ Não há qualquer prazo dentro do qual a adoção possa ser requerida, mas, se ação
principal está sujeita a prazo, após esse prazo já não pode ser intentado um processo
cautelar (rejeição liminar, art. 116º/2/f)
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Durante este período, a entidade não pode iniciar ou prosseguir a execução do ato e aqueles
que eventualmente pratique podem ser declarados ineficazes pelo tribunal.
➢ Opera extrajudicialmente, sem estar dependente da decisão do juiz (ao contrário do
art. 131º).
Em comum com o art. 131º tem a intenção de evitar o periculum in mora do processo cautelar.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Estas são as condições processuais exigidas para que se possa dar resposta à situação
substantiva de urgência, o que tenderá a acontecer quando as questões submetidas não tenham
grande complexidade.
Risco do retardamento da tutela que deverá ser assegurada pela sentença do processo
principal.
Jurisprudência tem sido excessivamente exigente no que se refere à concretização dos prejuízos
que o requerente poderá sofrer.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Antes de 2015 a relevância dada era diferente consoante estivessem em causa providências
conservatórias ou antecipatórias.
➢ Formulação adotada em 2015 significa que só se estabelece o requisito de fumus boni
iuris quando a pretensão formulada no processo principal seja provavelmente julgada
procedente.
o A possibilidade de conceder uma providência cautelar, até à entrada em vigor
do CPTA, nunca tinha estado dependente da formulação de qualquer juízo sobre
o bem fundado da pretensão impugnatória do requerente.
TCA Sul: “Por sua vez, o "fumus boni iuris" traduz-se na aparência do bom direito face à
probabilidade de procedência da pretensão a deduzir na acção principal, o que é aferido
através de um juízo meramente perfunctório.”
Relativamente aos critérios de concessão das providências cautelares, o novo CPTA de 2015 pôs
termo à dicotomia de critérios para as providências conservatórias e antecipatórias, para as
quais se exigia o "fumus boni iuris" qualificado, sendo agora os critérios de concessão idênticos,
independentemente da natureza da providência requerida.
➢ O legislador elegeu como critérios de decisão cumulativos das providências
cautelares: primo, o "periculum in mora" e secundo, o "fumus boni iuris” (nº1)
Após a verificação positiva destes dois critérios, seguir-se-á, ainda, um juízo de prognose de
ponderação de interesses (n°2) e de um juízo sobre a proporcionalidade, adequação e
necessidade da medida requerida (n°3), a qual se deve limitar ao necessário para afastar a
tesão dos interesses defendidos pelo requerente, podendo o juiz conceder medida diversa.
Começaremos por apreciar o ''fumus boni iuris", por razões de procedência lógica, face à
natureza jurídica da providência requerida, após o que apreciaremos o "periculum in mora" e a
ponderação de interesses.
Não se vislumbra num juízo perfunctório que a autorização de utilização do local para o exercício
da atividade da Requerente possa vir a ser concedida pelo Tribunal na ação principal, faltando o
requisito do “ fumus boni iuris”.
➢ Atento o exposto, fica logicamente prejudicada a apreciação do “ periculum in mora” e
da ponderação de interesses relativamente a esta providência.
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
Do disposto neste art. 120º n.ºs 1 e 2 infere-se que constituem condições de procedência das
providências cautelares:
2) “Fumus boni iuris” (aparência de bom direito) – ser provável que a pretensão formulada ou a
formular no processo principal venha a ser julgada procedente (art. 120º n.º 1, 2ª parte, do CPTA
revisto), e
Quanto ao requisito do fumus boni juris, cumpre destacar que a revisão do CPTA de 2015
modificou a sua relevância, quer no que se refere à sua suficiência para o decretamento da
providência
➢ Vieira de Andrade: Antes de 2015, nas situações intermédias, que correspondem à
grande maioria dos casos, em que há uma incerteza prima facie relativamente à
existência da ilegalidade ou do direito do particular, a lei optava por uma graduação, em
função do tipo de providência requerida: a) se a probabilidade fosse maior, isto é, “se
fosse provável que a pretensão principal viesse a ser julgada procedente nos termos da
lei", podia ser decretada a providência, mesmo que fosse antecipatória; b) se a
providência pedida fosse apenas uma providência conservatória, já não era preciso que
se provasse ou que o juiz ficasse com a convicção da probabilidade de que a pretensão
fosse procedente, bastando que não fosse manifesta a falta de fundamento da
pretensão principal ou a existência de circunstâncias que obstassem ao seu
conhecimento do mérito.
➢ Por outras palavras, a lei bastava-se com um juízo negativo de não-improbabilidade
(non fumus malus) da procedência da ação principal para fundar a concessão de uma
providência conservatória, mas obrigava a que se pudesse formular um juízo positivo
de probabilidade para justificar a concessão de uma providência antecipatória.
➢ A eliminação desta diferenciação, em 2015, pode justificar-se pela dificuldade e
eventual inadequação, em alguns casos, da distinção conceitual entre as providências,
mas significa objetivamente uma maior exigência de prova feita ao requerente para a
obtenção de medidas cautelares conservatórias - e, portanto, um maior relevo
negativo da juridicidade material.
Com efeito, a simplicidade, provisoriedade e sumariedade, face à urgência que caracteriza este
meio cautelar, não se coadunem com a ideia de que os vícios devam ser apreciados
exaustivamente, até porque tal apreciação envolveria, no presente caso, uma análise cuidada
do processo disciplinar, mormente de toda a prova aí recolhida e da tramitação desse processo,
de forma a poder aferir-se dos invocados vícios do processo disciplinar e do ato suspendendo.”
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Sebenta CAT – 2018/2019 DNB
➢ Dito de modo inverso, embora a apreciação de procedência dos vícios imputados ao ato
suspendendo não seja compatível com uma exaustiva análise da situação, sob pena de
se esgotar nesta apreciação o mérito da ação principal, dessa análise terá que resultar
já um juízo afirmativo de probabilidade da ilegalidade do ato ou da norma.
MAR comenta: nova orientação de 2015 pode ser inconstitucional, devido às especificidades do
CAT – uma vez que se o ato não for suspenso, o ato vai ser executado, pois existe o benefício da
execução prévia que não existe no Direito civil.
➢ Pode impedir-se as medidas adequadas à necessidade de tutela.
➢ Ex: não consigo demonstrar logo a procedência e tenho a construção demolida.
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