Politicas Educ. - Ziliotto e Gisi
Politicas Educ. - Ziliotto e Gisi
Politicas Educ. - Ziliotto e Gisi
Resumo
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Doutoranda em Educação pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR), Mestre em Educação pela
Universidade Federal do Paraná (UFPR). E-mail: [email protected].
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Doutora em Educação pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Professora Titular
do Programa de Pós-Graduação em Educação da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR). E-mail:
[email protected].
ISSN 2176-1396
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Introdução
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Lei Federal nº 10.098 de 19 de dezembro de 2000, estabelece normas e de acessibilidade para as pessoas com
deficiência como adequação arquitetônica para acessibilidade, a aquisição de recursos de tecnologia assistiva para
promoção de acessibilidade pedagógica, nas comunicações e informações, a aquisição e desenvolvimento de
material didático e pedagógico acessíveis e aquisição e adequação de mobiliários para acessibilidade (BRASIL,
2002).
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desenvolvimento de todo o processo educativo” (BRASIL, 2005). Lodi (2013) observa que o
decreto supracitado, dispõe sobre os processos educacionais específicos das pessoas surdas,
enfatizando a necessidade de implantação da educação bilíngue para esses alunos,
Para Lodi (2013), a Libras além de ser a língua de interlocução entre professores e
alunos, também é a língua de instrução, responsável por mediar os processos escolares, e a
escrita do português nos processos educacionais como decorrente da organização pedagógica,
na medida em que as atividades, os textos complementares à sala de aula e os livros didáticos
indicados para leitura são escritos em português, o que lhe garante também status de língua de
instrução.
O decreto acima mencionado evidencia ainda, uma diferenciação na configuração da
continuidade da escolarização de alunos surdos usuários da língua brasileira de sinais, partindo
do pressuposto que em estando matriculado em escolas da rede regular de ensino, nas etapas
finais do ensino fundamental e do ensino médio, o aluno já possua domínio da língua de sinais
anteriormente adquirida por meio da interação com seus pares surdos em escolas bilíngues, e
assim, propõe o serviço de tradutor e intérpretes de Libras para as diferentes áreas do
conhecimento. Associado a esta questão, e em seu Art. 23, o decreto nº 5.626/05 destaca a
presença em sala de aula de intérpretes de língua de sinais:
Para a inclusão dos alunos surdos, nas escolas comuns, a educação bilíngue - Língua
Portuguesa/LIBRAS, desenvolve o ensino escolar na Língua Portuguesa e na língua
de sinais, o ensino da Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita
para alunos surdos, os serviços de tradutor/intérprete de Libras e Língua Portuguesa e
o ensino da Libras para os demais alunos da escola (BRASIL, 2008, p. 17)
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Quadros (2006) discute que nesta perspectiva, a língua brasileira de sinais é legitimada
e assegura o ensino do português escrito como segunda língua, garantindo o direito linguístico
ao surdo de ter acesso aos conhecimentos acadêmicos na língua de sinais.
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O Ministério da Educação desenvolveu em parceria com os sistemas de ensino, programas e ações voltadas a
Formação Inicial de Professores em Letras/Libras, Formação inicial de professores em curso de Pedagogia
Bilíngue Libras/Língua Portuguesa, Certificação de proficiência em Libras, entre outros (BRASIL, 2005).
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Figura 1 - evolução no número de matrícula de alunos surdos no ensino comum na Educação Básica
modalidade oral, a qual o aluno surdo não domina completamente devido ao impedimento
auditivo, além de ser para estes alunos sua segunda língua. Assim, os estudantes surdos estão
expostos a práticas educacionais voltadas a maioria ouvinte, à medida que a escola numa
proposta monolíngue não se adapta às suas necessidades educacionais especiais, podendo
acarretar inúmeras consequências em sua trajetória acadêmica.
Nunes (2015), retrata a preocupação dos sete primeiros surdos doutores e professores
de universidades federais, ao afirmarem que a educação inclusiva permite o convívio de todos
os alunos entre si, mas não tem garantido o aprendizado dos surdos, e defendem uma escola
que seja bilíngue para surdos como sendo o espaço educacional possível para o surdo ter acesso
ao conhecimento.
Desta forma, a garantia de oferta do ensino bilíngue para surdos é a mais adequada a
esta população, pois pressupõe professores que dominem a língua brasileira de sinais e
ministrem os conteúdos acadêmicos na língua natural do surdo como primeira língua, e na
modalidade escrita da língua portuguesa como segunda língua. Além deste fator, a presença de
professores surdos nas etapas da educação infantil e do ensino fundamental I, assegura o
desenvolvimento de uma educação bicultural, favorecendo a identidade da criança surda que
está se apropriando da língua de sinais.
Conforme as legislações educacionais vigentes, é necessário que as instituições de
ensino comum ofertem educação bilíngue aos surdos, em especial nas etapas da educação
infantil e anos iniciais do ensino fundamental, pressupondo muito mais que apenas a presença
de intérpretes de Libras, como indicado pela política inclusiva, e sim, como defende Quadros
(2006), a proposição por uma escola pública de qualidade em língua de sinais, com professores
bilíngues e professores surdos, respeitando a peculiaridade linguística dos alunos com surdez.
Pesquisas realizadas pelos estudiosos da área da surdez, evidenciam a necessidade de
análise sobre a educação dos surdos, dada sua complexidade e especificidades linguísticas.
Ressaltam a necessidade do uso efetivo da língua de sinais para o desenvolvimento cognitivo
da criança surda por considerarem que a mesma funciona como suporte do pensamento, e
defendem uma proposta de educação bilíngue por constatarem que o aluno surdo desenvolve
uma aprendizagem visual, ou seja, seu canal de comunicação é essencialmente viso-espacial e
não auditivo.
Goldfeld (1997), afirma que a língua brasileira de sinais pode ser adquirida pela criança
surda espontaneamente por ser sua língua natural, evitando atrasos linguísticos e destaca a
importância de todos os profissionais perceberem a importância da língua de sinais no
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desenvolvimento da criança surda, uma vez que a língua sinalizada possibilita a internalização
da linguagem e o desenvolvimento das funções mentais, como a abstração, memória,
generalização, atenção, dedução, entre outras.
Os estudos de Capovilla e Raphael (2004) evidenciam a importância da língua de sinais
para o desenvolvimento cognitivo das crianças surdas, como aquela que lhe possibilita pensar
e se comunicar, devendo, portanto, ser ofertada para servir de metalinguagem para aquisição da
língua escrita. Para estes pesquisadores,
Para Quadros (1997), o ensino bilíngue oferta ao aluno surdo condições de competência
em duas línguas de modalidades diferentes, considerando como primeira língua (L1) a língua
brasileira de sinais, e como segunda língua (L2), a língua portuguesa na modalidade escrita.
Ainda para esta autora, a língua de sinais é considerada como língua natural ao surdo e é através
dela que se desenvolve a linguagem, favorecendo os aspectos psicossociais, cultural e
linguístico da cultura surda.
Se a língua de sinais é uma língua natural adquirida de forma espontânea pela pessoa
surda em contato com pessoas que usam essa língua e se a língua oral é adquirida de
forma sistematizada, então as pessoas surdas têm o direito de ser ensinadas na língua
de sinais. A proposta bilíngue busca captar esse direito (QUADROS, 1997, p. 27).
Conforme Lacerda (1998), o objetivo da educação bilíngue é que a criança surda possa
ter um desenvolvimento cognitivo-linguístico equivalente ao verificado na criança ouvinte,
garantindo-lhe o acesso às duas línguas: a língua de sinais e a língua majoritária, ou seja, a
língua portuguesa.
Souza (1998), afirma que a língua de sinais deve subsidiar a educação dos alunos surdos,
e defende que a escolaridade dos estudantes surdos deveria se dar em escolas que tomassem
como ponto de partida a língua de sinais como a língua de instrução educacional.
Para Nunes (2015), a defesa do bilinguismo no ensino para os surdos, abrange a
compreensão da língua de sinais e de sua representação para os surdos, bem como significa
uma forma de comunicação que funciona como pré-requisito para outras aprendizagens como
português e matemática.
Fernandes (2007) ressalta que apenas estar inseridos na escola comum sem proposta
educacional bilíngue, não possibilita que as necessidades educacionais especiais dos alunos
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as bases de uma gestão democrática”. Esses conselhos gestores de políticas públicas, segundo
Tatagiba (2005, p.209): “constituem uma das principais experiências de democracia
participativa [...] representam uma conquista inegável do ponto de vista da construção de uma
institucionalidade democrática entre nós”. Entende-se, também, que essa participação não é
tarefa simples, pois requer, como ponto de partida para a avaliação de políticas educacionais
métodos que possibilitem a análise crítica das propostas que, pelas vinculações e
direcionamentos, são reguladoras.
Nesse contexto, conforme o tipo de participação do grupo envolvido, segundo Gohn
(2007, p. 14), o processo torna-se democrático ou simplesmente vai apenas “reiterar
mecanismos de regulação5” centralizados. Por isso, é importante analisar na literatura como
ocorre e se ocorre a participação da população ao avaliar políticas educacionais de acesso e
permanência na educação superior.
Os avanços na Constituição Federal de 1988 resultaram no envolvimento de grupos
sociais que buscavam maior atenção para os problemas sociais. Segundo Borges e Pereira
(2016, p. 565) já se formaram vários conselhos de direitos da pessoa com deficiência no país
conforme o levantamento feito pelo Conade - Tabela 01
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Tomamos a palavra regulação na explicação de Barroso (2005, p. 727), de que por estar “associada, em geral, ao
objetivo de consagrar, simbolicamente, um outro estatuto à intervenção do Estado na condução das políticas
públicas. Muitas das referências que são feitas ao ‘novo’ papel regulador do Estado servem para demarcar as
propostas de ‘modernização’ da administração pública das práticas tradicionais de controle burocrático pelas
normas e regulamentos que foram (e são ainda) apanágio da intervenção estatal”.
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Considerações Finais
REFERÊNCIAS
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