Oficina de Análise Linguística
Oficina de Análise Linguística
Oficina de Análise Linguística
EXPLORANDO
ALGUNS GÊNEROS
E EXERCITANDO A
ANÁLISE
LINGUÍSTICA
Organização:
Profa. Alcione Tereza Corbari
CURSO PDE
2016
0
Página
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
A PARTIR DO TEXTO “HISTÓRIA DO BEBUM”
Ensino Fundamental
INTERPRETANDO O TEXTO
1) O texto humorístico se caracteriza RESPOSTA: A expectativa inicialmente criada é a de que a
por quebrar a expectativa do leitor. senhora estaria se referindo ao bebum com a expressão “tipo
imundo”, e a companhia que leva a essa conclusão seria o porco
Que expectativa é essa? A partir de (ou seja, o porco não seria uma companhia “adequada”). A frase
que frase essa expectativa é criada? que cria essa expectativa é “conhece-se um tipo imundo por sua
companhia no mundo!”.
Que parte do texto ocorre essa
A quebra da expectativa ocorre nos três últimos versos, quando
1
entendeu que o bebum não seria boa companhia (por esse viés,
quem teria “salvação” seria o porco, se não andasse com más
companhias).
RESPOSTA: A expressão refere-se a uma situação ruim; no
2) Explique o significado da caso desse texto, refere-se à percepção do bebum de que não
expressão “via a coisa preta”. conseguiria se manter em pé.
4) Que palavras no texto têm a Essa atividade explora a noção de campo semântico e de
manutenção temática. Sugere-se fazer exercícios oral apontando
ver com “bebum/bêbado”? outros substantivos ou outras expressões, para que os alunos
relacionem a outras palavras (por exemplo, se a história falasse de
“acidente de trânsito”, provavelmente envolveria palavras como
5) Considere o título do texto. “carro”, “policial”, “motorista” etc.
b) Agora, reflita com seus colegas: Sugere-se trabalhar oralmente a ideia de que não há sinônimos
perfeitos, apenas quase-sinônimos; trocar uma palavra por outra
a troca por outro substantivo é implica em mudança de nuances de sentido. Por exemplo, se fosse
usado o substantivo “bêbado”, se perderia a marca de oralidade e o
pertinente, considerando o sentido tom jocoso que carrega o substantivo “bebum”.
que dá ao texto?
RESPOSTA: Causa: a fala da senhora; Consequência: a saída do
6) Há no texto uma relação de porco.
causa e consequência. Ou seja, Pode-se aproveitar essa questão para explorar oralmente a noção
adverbial da oração “ouvindo isso”, que pode ser interpretada
algo acontece como consequência como uma oração temporal (“quando ouviu isso”), mas que
de outra coisa que aconteceu também carrega uma noção de causa (“porque ouviu isso”).
d) Identifique elementos linguísticos que Obs.: A expressão “naquela hora” também marca tempo, mas
relaciona fatos que ocorrem simultaneamente.
mostram que os fatos ocorreram um após
o outro. A atividade c) permite explorar duas características da sequência
narrativa, conforme aponta Adam (2008):
- a sucessão de eventos: consiste na delimitação de um evento
e) Identifique no texto palavras que o inserido em uma cadeia de eventos alinhados em ordem temporal;
narrador usa para referenciar o lugar
- o processo: a narrativa deve ter começo, meio e fim. A
em que ocorreu a história. estruturação básica da sequência narrativa parte da ideia de
processo. Para que haja o fato, é necessário que ocorra uma
transformação.
RESPOSTA: “a rua”, “sarjeta”, “lá”, “ali”. Também é possível explorar os momentos da narrativa a
partir desses elementos (especialmente da expressão “eis
Essa atividade, que explora a coesão textual, permite explorar quando”, que estabelece o conflito).
mais uma característica formal da sequência narrativa: o uso
de locativos.
Além disso, pode-se trabalhar campos semânticos (rua,
sarjeta), outro aspecto da coesão textual.
a) Se a história fosse narrada em 3ª pessoa, seria Essa atividade explora a noção de concordância
nominal (número) e concordância verbal
necessário alterar que elementos do texto? (número e pessoa).
Observação: Alguns dos classificados não foram aqui considerados por se considerar que envolver conhecimentos intertextuais e de mundo
que possivelmente dificultariam a leitura por um aluno do Ensino Fundamental. O texto completo apresenta 18 anúncios e pode ser
acessado neste endereço: http://www.cursoacesso.com.br/wp-content/uploads/Luis-Fernando-Verissimo-Com%25C3%25A9dias-Para-Se-Ler-Na-Escola.pdf.
5
Página
ESTABELECENDO RELAÇÕES INTERTEXTUAIS
1) Nesse texto, o autor faz brincadeiras com a própria língua e RESPOSTA: Deus, Noé, Leda, Dr.
com os objetos a serem vendidos, como se fossem classificados de Frankstein, Nero, A. G. Bell, Barba
Azul, Robinson Crusoé, Michelangelo,
jornais, fazendo uma relação intertextual com histórias reais e prefeitura de Pisa, Cristóvão
fictícias diversas. Considerando o conteúdo de cada classificado, Colombo.
complete as lacunas com o nome dos anunciantes. Sugere-se tratar do conceito de
intertextualidade antes de responder
Dr. Frankestein - Leda - Nero - Cristóvão Colombo - Noé - A. G. Bell -
às questões, mostrando aos alunos
Barba Azul - Robinson Crusoé - Michelangelo - prefeitura de Pisa - Deus que esse texto só adquire significado
(conforme a intenção de seu autor) se
Abaixo, apresentamos algumas informações que o ajudarão a forem recuperados os textos a que os
responder a essa questão e a interpretar o texto de Luís Fernando classificados se remetem.
Veríssimo. Escreva nos parênteses o nome do classificado que tem
relação com cada fragmento.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Barba_Azul)
(____________________________________) (____________________________________)
Frankenstein tnc ou o Moderno Prometeu (Frankenstein: vertical, a torre começou a inclinar-se para sudeste logo
or the Modern Prometheus, no original em inglês), mais após o início da construção, em 1173, devido a uma
conhecido simplesmente por Frankenstein, é um romance fundação mal construída e a um solo de fundação mal
de terror gótico com inspirações do movimento romântico, consolidado, que permitiu à fundação ficar com
de autoria de Mary Shelley, escritora britânica nascida assentamentos diferenciais. A torre atualmente se inclina
em Londres. É considerada a primeira obra de ficção para o sudoeste.
científica da história1 . O romance relata a história de (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Torre_de_Pisa)
Victor Frankenstein, um estudante de ciências naturais que
constrói um monstro em seu laboratório.
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Frankenstein) (____________________________________)
Por que Nero mandou pôr fogo em Roma?
Calma lá! Os historiadores modernos acreditam que o mais
(____________________________________) provável é que o fogo tenham nascido por um acidente - e
Cristóvão Colombo (República de Génova, 1451 – não provocado por Nero. A única certeza é que houve
Valladolid, 20 de maio de 1506) foi realmente um incêndio arrasador, que começou entre 18 e
um navegador e explorador genovês, responsável por 19 de julho do ano 64 d.C. e destruiu boa parte de Roma,
liderar a frota que alcançou o continente americano em 12 causando grande quantidade de mortes, embora o número
de outubro de 1492, sob as ordens dos Reis Católicos total não seja conhecido.
de Espanha, no chamado descobrimento da América. (Fonte: http://mundoestranho.abril.com.br/materia/por-
Empreendeu a sua viagem através do Oceano que-nero-mandou-por-fogo-em-roma)
Atlântico com o objectivo de atingir a Índia, tendo na
realidade descoberto as ilhas das Caraíbas (Antilhas) e,
mais tarde, a costa do Golfo do México na América
Central. (____________________________________)
(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Crist%C3%B3v%C3% Jardim do Éden - Criado para o homem
A3o_Colombo ) O Jardim do Éden é descrito em Gênesis, capítulos 2 e 3.
O Senhor criou o Jardim especificamente para Adão, o
primeiro homem, o qual Deus tinha formado. Em Gênesis
(____________________________________) 2:8-9, lemos: "Ora, o Senhor Deus tinha plantado um
jardim no Éden, para os lados do leste; e ali colocou o
A torre pendente de Pisa (em italiano Torre pendente di homem que formara. O Senhor Deus fez nascer então do
Pisa), ou simplesmente, Torre de Pisa, é solo todo tipo de árvores agradáveis aos olhos e boas para
um campanário (campanile ou campanário autônomo) da alimento. E no meio do jardim estavam a árvore da vida e
catedral da cidade italiana de Pisa. Está situada atrás a árvore do conhecimento do bem e do mal."
da catedral, e é a terceira mais antiga estrutura na praça (Fonte: http://www.allaboutgod.com/portuguese/jardim-
da Catedral de Pisa (Campo dei Miracoli), depois da do-eden.htm)
catedral e do baptistério. [...] Embora destinada a ficar na
Fonte: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,anuncios-de-imoveis-guardam-a-memoria-de-sao-paulo,156654e>
PRODUZINDO O GÊNERO
Você tem algo que gostaria de Se grande parte da turma tiver um produtor que realmente
gostaria de anunciar, o professor pode propor a confecção de um
vender, trocar ou alugar? Crie um folder para circular no colégio, tendo como público alvo outros
classificado para anunciá-lo. alunos.
PRODUZINDO HUMOR
Sugere-se que sejam abordados, antes dessa atividade, os
E agora, que tal vender xampu para CLASSIFICADOS POÉTICOS, de Roseana Murray.
careca? E um dente de leite? Imagine Nesta página estão publicados alguns deles:
uma situação hilária e crie um <http://ideiasepalavrasnossas.blogspot.com.br/2013/04/classific
classificado. Você também pode criar um
9
ados-poeticos.html>.
Página
classificado poético.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
A PARTIR DE PARTE DO TEXTO “VOU PARA SÃO PAULO”
Ensino Fundamental
No texto “Vou para São Paulo”, Sérgio Capparelli faz uma brincadeira com a linguagem, citando
o lugar aonde vai (bairros da cidade de São Paulo), o meio usado para ir até lá e o modo como
chega até lá (coisas que vai fazendo pelo caminho).
Veja abaixo a primeira estrofe, conforme foi proposta pelo autor:
Vamos brincar com os versos de Sérgio Caparelli? Forme estrofes de quatro versos a partir dos
quadros abaixo. A última palavra do segundo verso deve rimar com a última palavra do quarto
verso (como “pé” e “chiclé”, na estrofe acima).
O objetivo dessa atividade
Bairro aonde Meio de
Coisas que faz pelo caminho não é que os alunos
vai locomoção cheguem às estrofes
conforme foram propostas
A São Miguel Vou de avião Comendo fatias Tomando sorvete. pelo autor, mas que
organizem estrofes
Ao Ibirapuera Vou de trenó Chupando laranja Contando potoca. semanticamente coerentes
A Itaquera Vou de triciclo Jogando xadrez De grão-de-bico. e sigam a estrutura
sintática proposta pelo
Ao Butantã Vou de carroça Dizendo mentira E fazendo troça. autor.
Ao Jabaquara Vou de skate Fazendo salada Com alho no pão. Essa atividade pode servir
de base para trabalhar
A Santo Amaro Vou de metrô Dizendo segredos De pão-de-ló. noções relativas à estrutura
do gênero Poema (rima,
E para casa Vou de motoca Comendo cebola Pro meu avô. versos, estrofe, verso), além
da coesão recorrencial.
Fonte: <http://www.cascavel.pr.gov.br/arquivos/13072009_mapa-base_05-2009.pdf>.
No quadro abaixo, apresentamos alguns meios de transporte que você pode citar em seu
poema (e também pode usar aqueles citados por Capparelli ou outros meios não citados
no quadro).
Avião, kart, helicóptero, balão, dirigível, carro, caminhão, ônibus, Sugere-se aproveitar esse quadro
para mostrar aos alunos figuras de
motocicleta, metrô, trem, dromedário, camelo, patineti, buggy, meios de transportes que eles
bitrem, carro de boi, carruagem, jirico, bonde, mula, burrico, podem não conhecer, por não existir
na localidade em que vivem, como
velocípede, teleférico, riquixá, o riquixá (usado na Ásia) e o jirico
(típico do meio rural), por exemplo.
Observe a estrutura que deve seguir: Não foram citados meios de
transporte aquáticos, mas nada
1º verso: Preposição + Nome do bairro (Não esqueça de impede que os alunos os citem, uma
vez que o poema é fictício, e não
usar iniciais maiúsculas) precisa respeitar as características
geográficas da cidade, pois a
2º verso: [Pronome - opcional] + verbo + meio de verossimilhança é dispensável nesse
locomoção (formado por preposição + substantivo) gênero textual.
Veja um exemplo:
Ao Cascavel Velho
0
Eu vou a cavalo
Página
Dando pinote,
Cantando de galo.
SUGESTÕES DE ATIVIDADES
A PARTIR DO TEXTO “PARA QUE NINGUÉM A QUISESSE ”
Ensino Médio
As atividades abaixo foram apresentadas no artigo intitulado “EXPLORANDO A COESÃO
TEXTUAL NO GÊNERO CONTO: PROPOSTAS DE EXERCÍCIOS DE ANÁLISE LINGUÍSTICA”,
apresentado na 18ª Jornada e Estudos Linguísticos e Literários (Unioeste – Marechal Cândido
Rondon), em 2015.
***
Primeiramente, enfatizamos que, com a proposta de atividades apresentadas
abaixo, estamos fazendo dois recortes. O primeiro é relativo ao lugar da análise
linguística no texto. Conforme orientam as DCEs (PARANÁ, 2008), a análise
linguística é uma prática didática complementar às práticas de leitura, oralidade e
escrita. Assim, é imprescindível que, antes de se chegar aos exercícios aqui propostos,
seja feito um trabalho adequado de leitura e interpretação do texto, considerando o
contexto de produção, circulação e recepção do gênero em estudo. A propósito, trata-
se de um texto que pode ser mote para um trabalho mais amplo com a temática
‘violência de gênero’.
Sugere-se também que o professor estimule a prática de reflexão linguística a
partir de uma abordagem oral, antes de aplicar exercícios escritos, especialmente se
a análise linguística não for uma prática constante nas aulas de Língua Portuguesa.
O segundo recorte que fazemos diz respeito ao conteúdo que é posto para
análise: a coesão textual e outros conteúdos correlatos, como os processos de
coordenação e subordinação, por exemplo. Esse recorte é justificado por esse material
ser apresentado como exemplos de exercícios de análise linguística, ou seja, não se
pretende aqui esgotar as possibilidades de trabalho com o texto-base. Vale observar
que o conto sob análise é rico em recursos linguísticos significativos (como o uso do
verbo tosquiar, por exemplo), que devem ser trabalhados pelo professor.
Feitas as ressalvas postas acima, apresentamos, abaixo, o texto a partir do
qual são propostos os exercícios, dados na sequência:
1
Página
Para que ninguém a quisesse
1 Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse
2 a bainha dos vestidos e parasse de se pintar. Apesar disso, sua beleza chamava
3 a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse os decotes, jogasse fora
4 os sapatos de saltos altos. Dos armários tirou as roupas de seda, da gaveta tirou
5 todas as jóias. E vendo que, ainda assim, um ou outro olhar viril se acendia à passagem
6 dela, pegou a tesoura e tosquiou-lhe os longos cabelos.
7 Agora podia viver descansado. Ninguém a olhava duas vezes, homem nenhum
8 se interessava por ela. Esquiva como um gato, não mais atravessava praças. E
9 evitava sair.
10 Tão esquiva se fez, que ele foi deixando de ocupar-se dela, permitindo que fluísse
11 em silêncio pelos cômodos, mimetizada com os móveis e as sombras.
12 Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade da
13 mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela.
14 Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite, tirou do bolso
15 uma rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos.
16 Mas ela tinha desaprendido a gostar dessas coisas, nem pensava mais em
17 lhe agradar. Largou o tecido numa gaveta, esqueceu o batom. E continuou
18 andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda.
(COLASANTI, Marina. Para que ninguém a quisesse. In: Contos de amor rasgados. Rio de Janeiro,
Rocco, 1986. p. 111-112)
Com este exercício, pretende-se levar o aluno à reflexão sobre uma locução conjuntiva que introduz uma
oração subordinada de teor adverbial sem, contudo, ter como foco o trabalho com a nomenclatura
gramatical. Espera-se que o estudante observe como esse título se relaciona com o texto e como aí
significa. Já no título, antes mesmo de se chegar ao corpo do texto, a autora expõe a finalidade das ações
da personagem masculina, o que contribui para a formação da imagem de um namorado/marido
ciumento, agressor, violento (violência simbólica). Assim, o título reforça o sentido do texto, ao mesmo
tempo em que adianta as características da personagem masculina. Um leitor que não concorda com a
perspectiva machista já de início tem um sentimento de indignação em relação às atitudes dessa
personagem. Trata-se, pois, de uma estratégia de envolvimento do leitor.
2
Página
2) Considerando o texto todo, RESPOSTA: a) Personagem
feminina: “a” (a quisesse),
a) Circule os elementos de coesão que dizem respeito aos “a sua mulher”, “se””(se
protagonistas e identifique as classes gramaticais a que pintar), “sua”, “ela” (dela),
“-lhes”, “a” (a olhava),
pertencem. “ela”, “ela” (dela), “ela”, “a
b) Entre os elementos circulados, não se verificam os nomes das mulher”, “lhe”, “-lhe”, “ela”;
personagem masculina:
personagens. Isso prejudica a coerência do texto? Na resposta a “sua” (sua mulher), “ele”,
essa questão, formule hipóteses sobre os sentidos pretendidos pela “ele”, “seus”, “lhe”.
autora ao escolher não nomeá-las.
Este exercício, que envolve a referenciação, possibilita o trabalho com a classe gramatical pronome, uma
vez que, com exceção dos sintagmas nominais “sua mulher” e “a mulher”, todas as outras formas de
referência aos protagonistas é feita por meio dessa classe gramatical (pronomes pessoais retos e oblíquos,
reflexivos e possessivos). Porém, mais do que trabalhar a nomenclatura em si, propõe-se reflexão sobre a
funcionalidade de tais elementos no texto. Nesse conto, o uso dos pronomes vai muito além do objetivo
de evitar a repetição, função bastante conhecida dessa classe gramatical, e de criar uma rede coesiva no
texto. Ao não nomear as personagens e referenciá-las pelas expressões nominais acima citadas e,
principalmente, por meio de pronomes, garante-se um tratamento universal ao tema, haja vista a violência
contra a mulher ser um fenômeno universal, que atinge todas as classes sociais, etnias, religiões e
culturas. Nesse sentido, para além da coesão interna do texto, essa estratégia tem significado essencial
para os sentidos propostos pela autora.
A atividade pode servir ainda de mote para a reflexão sobre como a construção e reconstrução de objetos
de discursos (no caso, as personagens) pode ocorrer sem que se recorra a sintagmas nominais cujo núcleo
seja um substantivo. Nesse caso, a caracterização das personagens não está relacionada, portanto, à
forma como são nominadas no texto, mas é construída pelo leitor a partir da descrição de suas atitudes.
Com este exercício, propõe-se trabalhar com a noção da anáfora e catáfora. Os alunos precisarão
identificar o referente do pronome possessivo sua que aparece posteriormente, também em forma de
pronome (ele, linha 2), conforme já observado no exercício anterior. Além disso, sugere-se uma reflexão
sobre a exclusão do pronome possessivo. Tal subtração resultaria em mudança de sentido no texto,
embora não prejudicaria a formação do texto no nível sintático. Observa-se, primeiramente, que a falta
do pronome lançaria o sintagma nominal (a mulher) ao nível da indeterminação, o que não teria sentido
nesse texto, além de anular o pressuposto de que há uma relação conjugal entre as personagens do conto.
Em segundo lugar, cita-se que o pronome possessivo sua envolve uma noção de posse e objetificação, por
parte da personagem masculina, que é muito significativa no texto, uma vez que é esse sentimento que
desencadeia as ações de violência simbólica que permeiam o texto. Assim, esse elemento de coesão passa
a ter realce no texto, uma vez que expõe a motivação das ações da personagem masculina, o que orienta
a interpretação do enredo e contribui para a construção da personagem masculina.
3
Página
4) Considerando o primeiro período do texto, responda às
questões abaixo:
Porque os homens olhavam demais para a sua mulher, mandou que descesse a bainha dos
vestidos e parasse de se pintar.
5) O segundo período é iniciado pela locução conjuntiva concessiva Apesar de (linha 2),
composta por uma locução conjuntiva (apesar de) + um pronome demonstrativo (isso).
Apesar disso, sua beleza chamava a atenção, e ele foi obrigado a exigir que eliminasse
os decotes, jogasse fora os sapatos de saltos altos.
Com este exercício, espera-se estimular a reflexão sobre os múltiplos sentidos que podem ser
introduzidos pela conjunção e, superando a visão posta pela gramática tradicional, a principal
referência da maioria dos livros didáticos. Além disso, propõe-se reflexão sobre como esse elemento
significa nesse conto em específico. Aqui, a conjunção introduz uma espécie de conclusão, ou, ainda,
de consequência, dada a partir da perspectiva do namorado/marido, como se sua ação não pudesse
ter sido outra a não ser a que ele tomou, análise que é reforçada pela conjunção verbal foi obrigado.
Nesse sentido, um leitor que não concorda com a perspectiva machista fica ainda mais indignado com
a personagem masculina. Esse e os outros elementos analisados podem ser apontados pelo professor
como exemplos da habilidade da autora em lidar com os elementos linguísticos para trabalhar a emoção
e os sentimentos do leitor, envolvendo-o na história.
Pode-se dizer que os elementos destacados neste exercício mostram a seguinte passagem no ciclo
5
10) Observe os sintagmas nominais uma rosa de cetim (linha 15) e a rosa (linha 18). No
primeiro caso, a expressão é introduzida por um artigo indefinido; no segundo, por artigo
definido. Considerando tais expressões, responda:
a) É possível inverter essa ordem, ou seja, substituir no texto as expressões acima por a rosa
de cetim e uma rosa, respectivamente? Justifique sua resposta.
b) Considerando o texto, é possível introduzir ambas as expressões com o artigo definido sem
prejuízo de sentido? Justifique.
Este exercício busca mostrar a relação dos artigos na introdução e manutenção de objetos de discurso,
questão que, em geral, acaba ficando de fora de uma análise embasada nos moldes tradicionais.
A inversão proposta não seria possível, pois, no primeiro caso, “À noite, tirou do bolso uma a rosa de
cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos”, pressuporia o conhecimento partilhado entre autor
e leitor sobre a existência desse elemento (rosa) relacionado àquele enredo, o que, de fato, não ocorre.
Também por esse motivo não seria possível introduzir os dois sintagmas nominais com artigo definido.
No segundo caso, “E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a uma rosa
desbotava sobre a cômoda”, o uso do artigo indefinido indicaria a introdução de um novo objeto de
discurso, o que não condiz com o texto conforme proposto pela autora, pois trata-se de uma referência
a elemento anteriormente introduzido.
6
Página
11) Considere este fragmento:
E continuou andando pela casa de vestido de chita, enquanto a rosa desbotava sobre a cômoda”.
a) A expressão destacada indica que a ação expressa na oração por ela introduzida:
i) sempre ocorreu.
ii) ocorreu antes de outra ação.
iii) ocorreu depois de outra ação.
iv) ocorreu ao mesmo tempo em que outra ação ocorria.
v) é interrompida.
b) Além de introduzir o sentido acima explicitado, a conjunção sob análise é responsável por
introduzir uma situação que, pode-se dizer, metaforiza a condição da mulher. Como o
enunciado apresentado após a conjunção, que traz predicação sobre um objeto, pode ser
relacionado à imagem da personagem feminina?
Com este exercício, espera-se que o estudante observe não apenas a noção semântica de tempo
concomitante, mas também o valor da conjunção no conto. Ela introduz uma oração que metaforiza a
condição da mulher, uma vez que a rosa pode ser tomada como um símbolo da mulher que passa por
um violento processo de anulação de sua beleza e feminilidade.
Nesse sentido, o sintagma nominal vestido de chita representa a nova personagem reconstruída pelo
homem, enquanto os substantivos/sintagmas nominais batom, corte de seda, rosa de cetim
simbolizam a beleza e feminilidade, características que foram “arrancadas” da mulher.
Uma frase de encadeamento esperado, considerando o teor do texto, seria “então, ela voltou a se
cuidar”, por exemplo. Essa conclusão é redireciona pela conjunção mas, apontando para outra direção.
15) Há uma parte do texto em que fica explicitado que a mulher é considerada pelo homem
um simples objeto de desejo.
a) Copie do texto o fragmento em questão.
b) Que elemento coesivo contribui para se chegar a essa interpretação?
Neste exercício, o aluno é levado a identificar o fragmento em que revela a mulher como simples objeto
de desejo pelo homem (Uma fina saudade, porém, começou a alinhavar-se em seus dias. Não saudade
da mulher. Mas do desejo inflamado que tivera por ela). Além disso, propõe-se uma reflexão sobre
o valor da conjunção mas, que, aqui, tem sentido de ressalva (não x → mas y), que é diferente do valor
da conjunção adversativa empregada no início do último parágrafo, por exemplo.
8
Página
16) Observe este fragmento:
“Então lhe trouxe um batom. No outro dia um corte de seda. À noite, tirou do bolso uma
rosa de cetim para enfeitar-lhe o que restava dos cabelos”.
Apenas no último período dessa sequência encadeia-se à oração principal uma oração
adverbial final, introduzida pelo elemento coesivo para.
Considerando essa observação, levante hipóteses sobre o motivo de não se explicitar tal
relação também nos dois primeiros períodos.
Neste exercício, espera-se que o aluno levante hipóteses sobre conteúdos que precisem estar
explicitados e aqueles que podem estar subentendidos. No caso desta questão, a explicitação de orações
adverbiais finais nas duas primeiras orações deixaria o texto incoerente, considerando o nível de
informatividade requerido. Já em relação à última oração, a explicitação da finalidade é necessária,
uma vez que o leitor não compartilha com o produtor do texto conhecimentos suficientes para deduzir
a finalidade da rosa, por não ter um uso tão óbvio quanto os outros dois elementos citados no parágrafo.
9
Página