Atas
Atas
em Educação
Matemática
2015
Representações Matemáticas
Sociedade
Portuguesa de
Investigação em
Educação
Matemática
Investigação em Educação
Matemática
2015
Representações Matemáticas
Editores
Editores convidados: Manuel Vara Pires, Rosa Tomás Ferreira, António Domingos,
Cristina Martins, Helena Martinho, Isabel Vale, Nélia Amado, Susana Carreira, Teresa
Pimentel.
Comunicações – GD1................................................................................................................................. 67
Cálculo mental com números racionais: representações mentais dos alunos ...................... 69
Representações: janelas para a compreensão do raciocínio estatístico de crianças de
5 e 6 anos ............................................................................................................................. 85
A construção do conceito de número racional através de múltiplas representações ............ 99
A congruência de conversões entre representações em tarefa com padrões no 6.º
ano de escolaridade ............................................................................................................ 115
Representações matemáticas e sua transformação na aprendizagem de métodos
formais algébricos .............................................................................................................. 131
Raciocínio quantitativo aditivo de alunos de 2.º ano: a importância das
representações .................................................................................................................... 149
Desvendando o mistério da vírgula: as representações de números decimais numa
turma de 4.º ano ................................................................................................................. 165
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EIEM 2015
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TEMA DO ENCONTRO
1
Tema do Encontro
REPRESENTAÇÕES MATEMÁTICAS
Leonor Santos
Presidente da SPIEM
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Mas do que falamos quando nos referimos às representações matemáticas? “Num sentido
lato, uma representação é uma configuração que pode representar algo de alguma forma”
(Golding, 2008, p. 178). Em particular, uma representação matemática é “um constructo
mental ou físico que descreve aspetos da estrutura inerente a um conceito e a inter-relação
entre este e outras ideias” (Tripathi, 2008, p. 438). Construídas através de regras
definidas, as representações matemáticas são traduzidas por signos e pelas suas relações
complexas (Duval, 2006).
De acordo com cada autor, assim podemos encontrar diferentes tipologias para
caracterizar as representações matemáticas. Representações internas e externas
distinguem as imagens mentais que criamos sobre os objetos e processos matemáticos
das que usamos para comunicar com outros (Cuoco, 2001). Entre os diferentes sistemas
de representações matemáticas podemos ter: o verbal/sintático, que inclui a capacidade
de linguagem natural, competência lexicográfica, associação verbal, gramática e sintaxe;
o sistema de imagem, visual/espacial; o sistema táctil/cinestésico; os sistemas de códigos
auditivos/rítmicos; os sistemas formais notacionais, que incluem as configurações
internas pessoais, sistemas simbólicos convencionais da matemática (numeração, notação
algébrica,…) e modo de os manipular; os sistemas de planificação, regulação e controlo
executivo que orientam na resolução de problemas, incluindo estratégias de raciocínio,
heurísticas, e capacidades metacognitivas; e o sistema afetivo, onde se encontram as
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EIEM 2015
Por seu turno, muitos professores têm também dificuldades na compreensão de várias
representações matemáticas (e.g., Ma, 1999). No entanto, o domínio das representações
matemáticas é essencial para um conhecimento pedagógico do conteúdo sólido, na aceção
de Shulman (1986). O uso que os professores fazem das várias representações influencia
o que os alunos conseguem fazer e compreender com elas. Os professores necessitam
proporcionar aos alunos experiências de aprendizagem que os ajude a dar sentido às
representações que utilizam, procurando interligar os vários tipos de representações.
Além disso, a discussão coletiva acerca do uso de várias representações para lidar com
uma mesma situação matemática ajuda os alunos a compreender a estrutura matemática
por trás de cada representação e a perceber como é que as várias representações se
interligam (Abrahamson, 2006).
4
uma aprendizagem matemática com compreensão, e o painel que procura confrontar e
discutir diversos olhares e perspetivas sobre o tema das representações matemáticas. Em
seguida apresenta os diferentes textos produzidos, agrupados por grupo de discussão. Três
grupos de discussão foram constituídos: As representações e a aprendizagem
matemática, As representações e o conhecimento profissional dos professores, e As
representações e as práticas de ensino e recursos. Contamos que o contributo dado pelos
diversos autores para a publicação da Investigação em Educação Matemática,
Representações matemáticas, possa inspirar e impulsionar a continuação da investigação
nesta área da educação matemática.
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5
CONFERÊNCIA PLENÁRIA
7
Conferência Plenária
Analúcia D. Schliemann
Tufts University, Medford, MA – Estados Unidos da América
1
Esta palestra baseia-se em estudos em sala de aula sobre álgebra, funções e represntações na escola
primária (http://ase.tufts.edu/education/earlyalgebra/default.asp), desenvolvidos com David W. Carraher,
Bárbara M. Brizuela e outros. Estes estudos foram financiados pela National Science Foundation através
dos auxílios à pesquisa de números 9722732, 9909591 e 0310171.
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EIEM 2015
Schoenfeld, 1999; Schwartz & Yerushalmy, 1992). Reconhece-se também que o ensino
de matemática que enfatiza relações, incluindo as relações funcionais (ver Carraher &
Schliemann, no prelo e Teixidor-i-Bigas, Carraher & Schliemann, 2012) pode promover
uma melhor compreensão sobre operações aritméticas, frações, proporções e geometria,
inter-relacionando estes tópicos como parte, na expressão utilizada por Vergnaud (1996),
de um campo conceitual mais amplo.
A contribuição de uma abordagem para o ensino da álgebra com base em funções deve-
se, em parte, à variedade de representações matemáticas para funções e ao fato de que
equações e inequações podem ser interpretadas como comparações de funções e, como
tal, podem ser resolvidas não apenas pela manipulação simbólica mas também
geometricamente, através da comparação dos gráficos das funções em questão. Por outro
lado, funções podem ser representadas verbalmente e podem emergir da consideração de
relações entre quantidades físicas e situações da vida diária, o que constitui pontos de
entrada importantes para o ensino de matemática, especialmente nas séries iniciais.
Por outro lado, as operações aritméticas podem ser interpretadas como funções e, como
tal, atividades envolvendo funções podem ser desenvolvidas desde a escola primária
(Carraher & Schliemnn, 2007, no prelo; Carraher, Schliemann & Brizuela, 1999, 2000,
2005; Schliemann, Carraher & Brizuela, 2007). Multiplicação por 7, por exemplo, é
construída como uma relação de um conjunto de valores (inputs) para outro conjunto de
valores (outputs) de forma que a cada input corresponde um output. Na medida em que
os estudantes trabalham com relações aritméticas entre conjuntos de valores, ao invés de
apenas memorizar resultados de computações específicas, eles podem considerar funções
lineares como 7x+b e discutir e compreender propriedades gerais das operações
aritméticas. A compreensão de funções permite introduzir o estudo de equações como
10
Conferência Plenária
comparações entre duas funções. Por exemplo, 5+x=8 pode ser tratada como a
comparação entre f(x)=5+x e g(x)=8. Neste caso, apenas a solução x=3 satisfaz a equação;
todos os outros valores de x falsificam a equação. Isto permite unificar e inter-relacionar
o estudo e aprendizagem de equações e inequações.
Naturalmente, as ideias discutidas acima e adotadas, pelo menos em parte, por propostas
de currículos de matemática (ver National Council of Teachers of Mathematics Standards,
2000 para os Estados Unidos), precisavam ser validadas por estudos empíricos em sala
de aula.
Nossas entrevistas com crianças de 7 a 11 anos de idade (Schliemann, et al, 2007) sobre
situações de comparações entre conjuntos de objetos apresentados concretamente, em
diagramas, ou em enunciados verbais, já haviam demonstrado que, desde os sete anos de
idade, as crianças compreendiam que a igualdade entre duas quantidades com número de
elementos conhecidos ou desconhecidos permanece após transformações idênticas nas
duas quantidades comparadas. No entanto, estudos e avaliações de intervenções escolares
visando promover a representação de funções e o raciocínio algébrico eram raros. Para
responder à pergunta sobre se crianças na escola primária poderiam desenvolver, em sala
de aula, uma compreensão inicial de variáveis, funções, equações e suas múltiplas
representações, iniciamos em1995 uma série de estudos longitudinais sobre o raciocínio
algébrico e a representações de funções entre crianças de terceira à quinta série escolar.
Detalhes sobre as lições e atividades nos três estudos encontram-se em Carraher &
Schliemann, 2007, no prelo; Carraher, Schliemann, & Brizuela, 1999, 2000, 2005;
Carraher, Schliemann, & Brizuela, & Earnest, 2006, no prelo; Carraher, Schliemann, &
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EIEM 2015
Descreveremos parte dessas atividades e seus resultados, com ênfase nas representações
produzidas e adotadas pelos estudantes ao longo das intervenções. Para um dos estudos
descreveremos também resultados coletados três anos após o fim da intervenção.
Variáveis e tabelas
No início da terceira série implementamos duas aulas sobre o conceito de função,
utilizando “O Problema das Caixas de Bombons”. Em uma das versões desta atividade,
as crianças manipulavam duas caixas de bombons, representavam a situação e discutiam
quantos bombons João e Mary teriam, a partir da seguinte descrição:
João e Maria têm, cada um, uma caixa de bombons. As duas caixas
contêm exatamente o mesmo número de bombons. Maria tem três
bombons a mais em cima de sua caixa. Desenhe ou escreva alguma
coisa que compare as quantidades de bombons de João e Maria.
(a) (b)
(c) (d)
(e)
Figura 1: Exemplos de representações produzidas pelas crianças.
12
Conferência Plenária
Ao representarem a situação, dois terços das crianças atribuíram um valor específico para
a quantidade nas caixas (exemplo a), outras atribuíram mais de um valor para as caixas
(exemplo b), e alguns não incluíram nenhum valor para o número de bombons em cada
caixa, desenhando as caixas opacas (exemplo d), com letras para indicar talvez o dono da
caixa (exemplo c) ou com uma interrogação em cada caixa (exemplo e).
Quando uma criança dizia não saber ou não querer dar uma resposta, ou quando utilizava
um ponto de interrogação, o professor discutia esses casos e enfatizava que, de fato, a
caixa podia conter qualquer número de bombons. A essa altura propunha então
representar qualquer número possível de bombons dentro da caixa por uma letra, N. As
crianças facilmente aceitavam a sugestão. No entanto, algumas delas afirmavam que N
era um número como nove ou noventa ou o número 14 (a posição de N no alfabeto).
Outras propunham atribuir o mesmo símbolo aos dois protagonistas da estória.
Também não era imediatamente evidente que alguém pudesse adicionar algo à letra para
expressar o total de Maria como uma expressão matemática ou como uma função de N.
Entretanto, após uma nova fase de discussão, algumas crianças propunham que, se John
tinha N bombons, Maria tinha N+3 e que, qualquer que fosse a quantidade que John tinha,
Mary tinha 3 a mais, ou que a diferença era sempre 3.
A reta numérica
Nas aulas seguintes as crianças passaram a trabalhar com retas numéricas, representando
operações aditivas como movimentos ao longo de linhas que incluíam números positivos
e negativos.
Após um período de familiarização com a reta numérica onde todos os valores eram
conhecidos, introduzimos uma reta onde as posições eram identificadas como mostra a
Figura 2. Os alunos expressaram operações aditivas nessa reta para solucionar problemas
de adição e subtração onde o valor inicial era desconhecido.
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EIEM 2015
No quadro superior da Figura 3, a criança escreveu que não sabia qual a quantia nos cofres
e simplesmente escreveu N. No quadro no meio, a quantidade de dinheiro em cada cofre
no domingo é representada como N e a quantidade na segunda feira como N+3. O quadro
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Conferência Plenária
inferior mostra a relação entre as quantias na terça feira, representadas como N+3-5=N-2
para John e N=3-3=N para Mary.
Tom é 4 polegadas mais alto que Maria. (Tom is 4 inches taller than
Maria.)
Maria é 6 polegadas mais baixa que Leslie. (Maria is 6 inches shorter
than Leslie.)
Desenhe a altura de Tom, a altura de Maria e a altura de Leslie.
Mostre o que os números 4 e 6 representam.
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EIEM 2015
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Conferência Plenária
Figura 7: Criança tentando representar 5 horas de trabalho em uma linha e 10 dólares em outra
linha paralela.
Figura 8: Três crianças (no centro da foto) representando três pontos para a relação “2 dólares
para cada hora de trabalho”.
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EIEM 2015
“Mike e Robin têm, cada um, uma certa quantidade de dinheiro. Mike
tem 8 dólares na sua mão e o resto do seu dinheiro em sua carteira.
Robin tem três vezes a quantidade de dinheiro que Mike tem em sua
carteira. Quem tem mais dinheiro, Mike ou Robin?”
De início, várias crianças achavam que Robin tinha mais dinheiro porque ele tinha “três
vezes mais.” Outras achavam que Mike tinha mais por que ele tinha 8 dólares.
As produções escritas dos alunos (ver exemplos na Figura 9) revelam o enorme progresso
desde a lição sobre as Caixas de Bombons, onde dois terços das crianças atribuíam um
único valor para o número de bombons em cada caixa. Na aula sobre o Problema das
Carteiras, aproximadamente dois terços dos 63 estudantes no estudo usaram a
representação algébrica para a situação e 12% deles produziram desenhos ou tabelas
listando várias possibilidades. Apenas 22% representaram a situação atribuindo um único
valor para a quantidade de dinheiro na carteira de Mike.
Figura 9: Exemplo de representação algébrica e de uso de tabelas para o problema das carteiras.
Em seguida, a partir das sugestões dos estudantes, o professor completava uma tabela
com os valores possíveis para a quantidade de dinheiro na carteira e para os totais de Mike
e de Robin (ver Figura 10). Com base nos valores da tabela, também com a colaboração
de vários estudantes, eles construíram e analisaram os gráficos representando as
quantidades de dinheiro que Mike e Robin poderiam ter em função da quantidade de
dinheiro na carteira. Ao discutir e analisar os dados da tabela e os gráficos, as crianças
18
Conferência Plenária
percebiam que a resposta à questão “Quem tem mais dinheiro?” dependia da quantidade
de dinheiro na carteira: com menos de quatro dólares, Mike tinha mais dinheiro; com 4
dólares na carteira, Mike e Robin tinham a mesma quantia; com mais de 4 dólares, Robin
tinha mais dinheiro.
Esta e outras aulas da quarta série foram idealizadas para expressar a ideia que as
equações representam comparações entre duas funções. Outro objetivo era preparar os
alunos para trabalhar, na quinta série, com equações como objetos algébricos a serem
diretamente manipulados.
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EIEM 2015
Os estudantes notaram diferentes aspectos do problema como, por exemplo, que era um
problema semelhante ao problema das carteiras resolvido seis semanas antes, que uma
mesa tem 13 bombons a mais que a outra nas sacolas e uma mesa tem um tubo a mais que
a outra. Inicialmente a maioria dos estudantes expressou que eles não poderiam descobrir
quantos bombons haviam nos tubos ou nas caixas. No entanto, em uma das classes, após
apenas 14 minutos desde o início da aula, um deles explica que cada tubo deve ter 13
bombons de forma que um tubo mais os sete bombons na sacola é o mesmo que os 20
bombons na sacola da outra mesa. Outro estudante diz que o número de bombons nas
caixas não importa e propõe eliminar as duas caixas, explicando que elas contêm o mesmo
número de bombons e não são necessárias para descobrir o número de bombons nos tubos.
Após a discussão entre os alunos, o professor pediu que alguém demonstrasse que existem
realmente 13 bombons em um tubo. Um aluno sugeriu usar a letra N para representar cada
tubo e outros afirmaram que deviam usar outra letra para as caixas. Cada aluno passou
então a representar o problema por escrito, usando desenhos ou letras para representar
variáveis. O exemplo na Figura 12 mostra o uso de desenhos e letras por um estudante
para representar a quantidade de bombons em um tubo. Ele então cancelou uma caixa e
um tubo em cada um dos conjuntos, comparou 20 a N+7, decompôs 20 em 13 + 7 e
cancelou 7 em cada lado, obtendo assim 13 como igual a N.
A discussão e produção escrita dos alunos nesta aula revelou uso de notação e raciocínio
algébricos e estratégias para a resolução de equações com base na compreensão da
situação com que lidavam e não apenas aplicação de regras de manipulação de símbolos.
20
Conferência Plenária
Restava ainda analisar o impacto dessas experiências em exames escritos. Com este
objetivo, em um de nossos estudos com um total de 50 alunos em dois grupos
consecutivos, comparamos, no fim da quinta série, os resultados desses 50 alunos em um
teste escrito aos resultados de um grupo controle no mesmo teste. O desempenho do grupo
de intervenção no teste escrito foi significativamente melhor nos itens relacionados à
intervenção e semelhante ao do grupo controle nos demais itens (ver Figura 13).
Figura 13: Média de respostas corretas ao término da intervenção (quinta série) para itens
relacionados e não relacionados à intervenção.
Uma das questões no teste encontra-se na Figura 14, com as respostas dadas por uma das
crianças.
Figura 14: Exemplo de resposta a item do teste escrito sobre a representação e resolução de
problemas utilizando notação algébrica e equações.
21
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Nas respostas a este problema, 68% das crianças representaram as duas regras e a equação
e 45% resolveram a equação. Apenas um estudante propôs transformações diferentes nos
dois lados da igualdade.
Dois ou três anos depois, quando os alunos que participaram da intervenção cursavam a
sétima ou oitava séries, conseguimos contactar 19 deles para que respondessem a um
novo teste escrito sobre conteúdo mais complexo. Em comparação com um grupo
controle (ver Figura 15), este grupo apresentou resultados significativamente melhores
em itens relacionados a representação e resolução de problemas algébricos e resultados
melhores, embora não significativos, nos itens envolvendo gráficos.
Figura 15. Número médio de respostas corretas sobre gráficos e equações para cada grupo, dois
ou três anos após a intervenção.
Discussão
A avaliação das intervenções que desenvolvemos demonstra a viabilidade da inclusão de
variáveis, funções, equações e suas múltiplas representações no currículo de matemática
para a escola primária. Além disto, nossos resultados sugerem que o enfoque que
adotamos para o ensino de matemática, privilegiando o acesso a funções e suas
representações, tem o potencial de promover aprendizagem duradoura. O impacto da
intervenção se faz notar nos resultados de exame escrito ao fim da intervenção e dois ou
três anos depois.
Os dados coletados em sala de aula mostram que a discussão de relações funcionais entre
quantidades favorece o uso de raciocínio algébrico entre crianças jovens, inicialmente
expresso verbalmente e através de notação não convencional. Essas representações
intuitivas podem, progressivamente, dar lugar às representações matemáticas
convencionais. A virtude principal desta transição de representações intuitivas a
representações convencionais consiste em possibilitar a aprendizagem dos procedimentos
matemáticos com base na compreensão de relações, em lugar de promover o uso de regras
memorizadas sem compreensão.
22
Conferência Plenária
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26
Conferência Plenária
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27-45). Nottingham, UK: University of Nottingham, Shell Center for Mathematical
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Vergnaud, G. (1996). The theory of conceptual fields. In L. Steffe & P. Nesher (Eds.), Theories
of mathematical learning (pp. 219-239). Mahwah, NJ: Lawrence Erlbaum.
27
Conferência Plenária
PAINEL PLENÁRIO
29
Painel Plenário
Susana Carreira
Universidade do Algarve e Unidade de Investigação do IE, Universidade de Lisboa
[email protected]
Apresentação do painel
Neste painel, cujo objetivo é discutir a temática das representações matemáticas no ensino
e aprendizagem da Matemática, participam investigadores que no âmbito dos seus
projetos e trabalhos de investigação deram uma atenção especial às representações
matemáticas e as elegeram como parte do seu objeto de estudo. Os membros do painel
trazem naturalmente perspetivas diferenciadas e interesses distintos no que respeita ao
estudo das representações matemáticas, partilhando todavia a convicção de que se trata
de uma questão preponderante na aprendizagem e no ensino da Matemática. A
diversidade de pontos de vista foi aliás intencional e espelha-se, por exemplo, nos tópicos
curriculares que cada um aborda, nos níveis de escolaridade em que desenvolvem a sua
pesquisa, no foco sobre o aluno ou sobre o professor, nas linhas teóricas que adotam e
nos resultados que apresentam decorrentes dos seus estudos.
Paula Teixeira tem, como base do seu estudo, os recursos tecnológicos que acompanham
os manuais escolares, seja no ensino básico ou no secundário, e analisa as representações
que os professores têm das aulas que lecionam com a aplicação desses recursos
tecnológicos, em tópicos de álgebra e de geometria.
31
EIEM 2015
Problematização do tema
Uma breve análise das ideias trazidas pelos membros do painel poderá conduzir-nos
rapidamente a algumas ideias gerais:
32
Painel Plenário
Nas contribuições dos membros deste painel surgem ideias, dados e resultados que nos
permitem revisitar algumas das controvérsias históricas associadas ao estudo e à
teorização das representações matemáticas. Mas para além dessas, as oportunidades de
convergência parecem igualmente abundantes. Assim, mais do que reiterar as
complexidades que o estudo das representações acarreta, parece-nos que esta é uma boa
oportunidade para encontrar fios condutores, em torno de algumas questões que
pretendem acima de tudo alimentar o debate.
33
EIEM 2015
Referências bibliográficas
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Behavior, 17(2), 283-301.
Hegedus, S., & Moreno-Armella, L. (2009). Intersecting representation and communication
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Kaput, J. (1998). Representations, iinscriptions, descriptions and learning: A kaleidoscope of
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Mathematics, 48, 21-46.
Panasuk, R., & Beyranevand, M. (2011). Preferred representations of middle school algebra
sudents when solving problems. The Mathematics Educator, 13(1), 32-52.
34
Painel Plenário
Ana Henriques
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Introdução
As representações estatísticas têm sido amplamente investigadas, atendendo ao seu
importante papel no desenvolvimento da literacia e raciocínio estatístico dos alunos. O
modo como os alunos tiram vantagem das características das representações e das ações
de transnumeração que realizam sobre elas não tem, contudo, merecido a mesma atenção,
particularmente quando são usados recursos tecnológicos. Nesta comunicação debruço-
me sobre esta temática, apresentando alguns resultados de um estudo que visa analisar as
representações estatísticas e as ações de transnumeração que são usadas por alunos do
ensino básico, quando utilizam o software TinkerPlots, para apoiar o seu raciocínio
estatístico. Discuto, em particular, quais os propósitos das ações realizadas e o seu
contributo na emergência desse raciocínio, bem como as dificuldades que os alunos
revelaram nestes processos.
35
EIEM 2015
O termo representação tem sido usado, frequentemente, para referir objetos externos
(tabelas, gráficos, símbolos) que expressam, de forma convencionada, ideias matemáticas
(Duval, 2006). No entanto, a função destes objetos não é apenas designar ou retratar ideias
ou relações estatísticas mas também apoiar o trabalho com essas ideias. Uma vez que
cada representação tem um conjunto de características únicas e as suas próprias
convenções e regras estruturais para a trabalhar, podem ser usadas operações particulares
que transformam a sua estrutura sem afetar a relação ou ideia estatística que ela designa.
Por exemplo, uma representação gráfica de um conjunto particular de dados pode ser
alterada sobrepondo-lhe um símbolo representando uma medida de centro ou uma linha
de ajustamento, sem alterar a relação estatística originalmente retratada. Apesar disso, a
representação agora aumentada promove evidências e significados de relações estatísticas
adicionais entre os dados e/ou medidas que poderão ser mais exploradas. As
representações estatísticas são, por isso, ferramentas essenciais na transnumeração,
componente fundamental no raciocínio estatístico descrita como o processo de
transformar dados numa representação, alterar representações ou coordenar várias com a
intenção de gerar compreensão (Wild & Pfannkuch, 1999).
Estudos prévios, como os de Chick e Watson (2001) e Chick (2003), sugerem que os
processos de transnumeração podem ser mais difíceis que o processo de interpretação de
dados. Nesses estudos, os alunos são capazes de interpretar tendências e factos sobre
dados, a partir de representações, mas a escolha da representação nas tarefas estatísticas
tem-se mostrado problemática, dada a dificuldade que eles evidenciam em representar os
dados adequadamente para transmitir mensagens a partir deles. O que é, então, que se
apresenta tão difícil nas representações estatísticas? Dado um conjunto de dados, é claro
para os alunos que deverão fazer ‘alguma coisa’ para produzir uma representação.
Frequentemente, a manipulação adicional dos dados através de ações de transnumeração
resultam em melhores representações e tornam as mensagens dos dados mais claras.
Assim, o sucesso na comunicação de dados através de representações, particularmente
quando as mensagens dos dados são complexas, envolvendo associação ou comparação
36
Painel Plenário
37
EIEM 2015
case 1 of 24
Neste estudo analiso uma sequência de três tarefas, aplicada numa turma do 8.º ano, por
um par de professoras participantes. As tarefas propostas obedeceram aos princípios do
SRLE (Garfield & Ben-Zvi, 2010), envolvendo os alunos na exploração e análise de um
conjunto de dados reais fornecidos aos alunos ou obtidos através de simulações ou recolha
pelos próprios, visando a compreensão da sua necessidade para tirar conclusões e fazer
avaliações. Adicionalmente, forneceram oportunidades para envolver e simultaneamente
38
Painel Plenário
Os resultados que apresento nesta comunicação resultam de uma análise qualitativa dos
dados recolhidos a partir das resoluções escritas das tarefas pelos alunos da turma referida
e dos registos da sua atividade no computador com o TinkerPlots, recorrendo a um
software de gravação de écrans (AutoScreenRecorder 3.1 Pro).
A partir de exemplos do trabalho dos alunos com o TinkerPlots, discuto aspetos que
emergiram como interessantes no que respeita ao uso das três ações de transnumeração
gráfica propostas por Lee et al. (2014): (i) criar e visualizar representações de dados e
medidas estatísticas; (ii) articular representações de forma dinâmica; e (iii) melhorar
representações gráficas através de acréscimos. Além disso, discuto o modo como os
alunos tiram vantagem das características do software para criar representações e realizar
ações de transnumeração e o seu contributo para a emergência do raciocínio estatístico.
Algumas tendências
É interessante observar que os alunos foram capazes de fazer escolhas apropriadas de
representações gráficas e de usar adequada e intencionalmente ações de transnumeração,
tirando partido das potencialidades do TinkerPlots para apoiar a interpretação dos seus
dados e para obter evidência para as suas afirmações.
Figura 2: Exemplo de gráficos de pontos, duplo e simples, com acréscimos gráficos (escala
intervalar e percentagens).
39
EIEM 2015
F
géneroMF
160,6 69%
163,7
146,0
148,0
150,0
152,0
154,0
156,0
158,0
160,0
162,0
164,0
166,0
168,0
170,0
172,0
174,0
176,0
178,0
180,0
182,0
altura
Circle Icon
Os alunos, em geral, usaram várias ferramentas do TinkerPlots para trabalhar com as suas
representações gráficas, incluindo alguma forma de acréscimo gráfico nas representações
criadas. Como já referido, muitos alunos adicionaram um ou mais tipos de medidas
estatísticas aos seus gráficos. Mais de metade dos alunos tirou vantagem de outras formas
de acréscimo gráfico, tais como adicionar linhas de referência, como mostra a figura 3.
Enquanto alguns alunos simplesmente adicionaram os símbolos icónicos para a média e
mediana, alguns adicionaram o valor da medida ou mostraram uma linha vertical na sua
localização. Por exemplo, alguns alunos acrescentaram a linha de referência e arrastaram-
na para a localização de pontos extremos ou do 1.º e 3º quartil no diagrama de extremos
e quartis. Apesar de serem capazes de usar várias ferramentas e ações de transnumeração
para obter esses valores, não os usam para estimar a amplitude interquartílica, o que
permitiria comparar as distribuições de forma mais completa. Estes acréscimos não são
apenas visíveis no trabalho dos alunos mas usualmente referidos nas suas respostas,
indicando que são intencionais para facilitar a compreensão e interpretação dos dados e
dos gráficos que os representam.
Nas tarefas, os alunos também foram solicitados a gerarem as suas próprias questões que
envolviam examinar relações entre atributos. Apesar da sua simplicidade, poucos alunos
usaram gráficos de dispersão para examinar distribuições de diversos atributos, o que é
de esperar atendendo a que no nível de ensino em que se encontram esta representação
não foi ainda abordada. No entanto, alguns foram capazes de produzir representações,
40
Painel Plenário
Figura 4: Exemplo de gráficos de pontos duplos com acréscimos gráficos (agrupar e gradiente
de cor).
41
EIEM 2015
Agradecimentos
Trabalho realizado no âmbito do Projeto Desenvolver a literacia estatística:
Aprendizagem do aluno e formação do professor (contrato PTDC/CPE-
CED/117933/2010) da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia. Agradeço a
colaboração da Hélia Oliveira na realização do estudo que serve de base a esta
comunicação.
Referências bibliográficas
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argumentation. In A. Rossman & B. Chance (Eds.), Proceedings of the 7th International
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Networking, Opportunity. Proceedings of the 26th annual conference of the Mathematics
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42
Painel Plenário
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Wild, C., & Pfannkuch, M. (1999). Statistical thinking in empirical enquiry. International
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43
Painel Plenário
Sandra Nobre
Agrupamento de Escolas Professor Paula Nogueira, Unidade de Investigação do
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa e Bolseira da FCT
[email protected]
Introdução
No painel apresento parte do trabalho de investigação que estou a desenvolver no âmbito
da aprendizagem da Álgebra. Neste caso abordo o tópico Equações do 2.º grau. Este
estudo decorre da implementação de uma experiência de ensino numa turma do 9.º ano,
onde grande parte do trabalho dos alunos é baseado na resolução de problemas, alguns
resolvidos com a folha de cálculo.
Neste texto debruço-me sobre as produções de uma aluna, Carolina, bem como nos
diálogos que ocorrem em sala de aula durante a resolução e discussão de duas tarefas
resolvidas num ambiente combinado da folha de cálculo e papel e lápis.
45
EIEM 2015
Segundo Tripathi (2008) o trabalho em sala de aula não se deve limitar ao uso de
representações de forma isolada, pois uma imagem global do conceito começa a emergir
apenas quando o objeto é observado de diferentes perspetivas. A compreensão dos
significados e o uso de variáveis desenvolve-se gradualmente à medida que os alunos
criam e usam expressões simbólicas e as relacionam com linguagem natural, com as
representações tabulares e gráficas. As representações dos alunos e a capacidade de
transferirem ideias de uma representação para outra são indicadores de compreensão.
Para Duval (2011) as representações não se devem confundir com os próprios objetos
mas a sua diversidade é necessária para que seja possível aceder ao objeto, uma vez que
“elas estão no “lugar dos” objetos ou os “evocam”, quando esses não são imediatamente
acessíveis” (p. 23). Este autor defende que as representações semióticas não são úteis
apenas para trabalhar com os objetos matemáticos e que se queremos descrever a maneira
própria de trabalhar em matemática são as transformações de representações que devemos
analisar.
46
Painel Plenário
O trabalho de Carolina
Ilustro de seguida o trabalho de Carolina em duas tarefas propostas para explorar com a
folha de cálculo e em articulação com papel e lápis.
Na resolução do problema, na folha de cálculo, Carolina começa por nomear três colunas,
cada uma delas com um dos nomes dos irmãos, onde constrói sequências numéricas
através do arrastamento, tendo em conta a relação entre as idades deles. Seguidamente
constrói mais duas colunas “ Produto das idades dos rapazes” e “Idade Ana ao quadrado”
onde insere as fórmulas e através da geração de variáveis-coluna estabelece as relações
descritas no enunciado, como mostro na figura 2.
Carolina rapidamente conclui a sua resolução na folha de cálculo e diz bem alto “Já
descobri a coisa interessante!”, pelo que intervenho rapidamente para que a aluna não
divulgue o resultado para a turma. A aluna dá como resposta em linguagem natural “A
Ana descobriu que ao fazer o quadrado da sua idade e o produto dos irmãos (idades) o
47
EIEM 2015
quadrado da idade dela é sempre maior 1 unidade”. De seguida é pedido que os alunos
expliquem algebricamente o que verificam, Carolina hesita e diz muito espontaneamente
“Ah pode ser para o Carlos damos um c para a Ana damos um a e para a idade do Ricardo
damos um r …”. A aluna escreve a relação como apresento na figura 3.
Folha de Conversão
cálculo
Conversão
Linguagem
Tabela natural
Linguagem
natural SNA
Tratamentos
48
Painel Plenário
A aluna inicialmente começa por traduzir o enunciado de linguagem natural para uma
tabela na folha de cálculo onde através de tratamentos estabelece as relações indicadas no
problema de modo a obter a solução. A aluna converte depois o resultado a que chegou
para linguagem natural e para o SNA. Embora numa fase inicial esta conversão não tenha
contemplado o resultado obtido na íntegra de forma explícita, a discussão estabelecida
em sala de aula leva ao refinamento da escrita da condição no SNA.
Este diálogo retrata a confusão que existe por parte dos alunos relativamente à
identificação da condição.
Peço depois aos alunos que encontrem a relação entre o quadrado da idade da Ana e o
produto das idades dos irmãos sabendo que agora a diferença de idades entre os irmãos é
de 5 anos. Carolina rapidamente constrói a tabela no Excel e afirma: “eh eh eh este menos
este dá sempre 25!”. Aproximo-me e questiono a aluna acerca do resultado, ao que me
responde “5 vezes 5 dá 25!”.
Por fim é proposta a situação da diferença das idades entre os irmãos ser k. Os alunos já
não recorrem à folha de cálculo.
49
EIEM 2015
Prof.: Se a diferença entre as idades deles, em vez de ser 1, em vez de ser 5, for
k, o que é que acontecerá?
Gabriela e Carolina: a2 k 2 [resposta em simultâneo].
[…]
Alguns alunos: a k vezes a k é igual a a2 k 2 .
Patrícia: É só substituir o 5 pelo k!
Peço a simulação do primeiro salto da bola na folha de cálculo. Carolina faz a simulação
conforme mostro na figura 6. A conversão da tabela da folha de cálculo para a
representação gráfica permite-lhe um primeiro contacto com o gráfico da parábola.
Carolina facilmente identifica a altura máxima atingida pela bola e a que momento isso
acontece, assim como o tempo que a bola demora até voltar a bater no chão.
50
Painel Plenário
Por fim, noutra questão os alunos verificam que At 240 0 é uma equação equivalente
a 20t 2t 6 0 . A partir da discussão desta questão explico que é possível escrever
uma equação do 2.º grau como um produto de fatores, na forma cx r1 x r2 0 , onde c
é uma constante e r1 e r2 são as raízes.
Os alunos resolvem ainda outra tarefa na folha de cálculo que envolve uma função
quadrática sem raízes e cuja representação gráfica é uma parábola com a concavidade
virada para cima. Só posteriormente é apresentada a fórmula resolvente e os alunos
estudam outras propriedades das equações do 2.º grau.
A concluir
Ambas as tarefas incentivam Carolina na transformação das representações. A aluna
começa por converter a informação dos enunciados para tabelas na folha de cálculo. Na
tarefa D a aluna converte ainda a tabela para uma representação gráfica, o que permite
um primeiro contacto com a parábola. Converte depois estas representações da folha de
cálculo para o ambiente de papel e lápis, quer para linguagem natural quer para o SNA.
Posteriormente a aluna efetua tratamentos no SNA. Esta coordenação das representações
51
EIEM 2015
leva a aluna a entender o significado de resolver uma equação do 2.º grau, mesmo antes
da aprendizagem formal do método algébrico e por outro lado a entender a factorização
de uma equação dadas as suas raízes.
As tarefas propostas, num ambiente combinado da folha de cálculo com papel e lápis,
associadas às discussões realizadas em sala de aula, constituem um contexto de trabalho
que incentiva Carolina a transformar as representações que é um aspeto essencial na
construção do conhecimento (Duval, 2011; Kieran, 2013).
Referências bibliográficas
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Kieran, C. (2013). The false dichotomy in mathematics education between conceptual
understanding and procedural skills: An example from algebra. In K. Leatham (Ed.), Vital
directions in mathematics educations research (pp. 153-171). New York, NY: Springer.
Tripathi, P. (2008). Developing mathematical understanding through multiple representations.
Mathematics Teaching in the Middle School, 13(8), 438-445.
52
Painel Plenário
Considerando a relevância que o termo significado2 acaba por assumir em meus trabalhos,
provisoriamente esclareço que entendo significado como sendo as diferentes formas pelas
quais reconhecemos e utilizamos um determinado conceito. É importante ainda que se
destaque a preocupação que diversos pesquisadores tem apresentado, ao colocar em
discussão a questão dos significados em Educação Matemática (Kipatrick, Hoyles &
Skovsmose, 2005).
A partir das análises acima descritas, as quais foram desenvolvidas num diálogo com
referenciais teóricos da Educação Matemática que tematizam representações
2
Uma discussão mais aprofundada e ampla pode ser encontrada em Ribeiro (2010), constante nas
referências bibliográficas deste texto.
53
EIEM 2015
3
Uma discussão mais ampla e aprofundada sobre os Multisignificados de Equação pode ser encontrada em
Ribeiro & Machado (2009), constante nas referências bibliográficas do presente trabalho.
54
Painel Plenário
Diferentemente dos estruturalistas, aqui equação não vista como um ente matemático
sobre o qual as operações e manipulações que são realizadas atendem a regras bem
definidas. Tal significado foi concebido principalmente a partir da análise dos resultados
de pesquisas na área de Educação Matemática, assim como na análise de livros didáticos
de matemática;
Apesar da apresentação acima desenvolvida obedecer uma ordenação histórica, fato que
foi tomado apenas por uma questão de escolha na maneira de apresentar os resultados,
chamo a atenção para o fato de que, a meu ver, os diferentes significados de equação
devam ser considerados de forma articulada e sem nenhum “nível de hierarquização”.
Coloco ainda que, o significado axiomático-postulacional parece ter uma natureza
distinta dos demais, pois acredito que ele deva ser considerado como o primeiro a ser
discutido, de maneira implícita principalmente, no processo de ensino e aprendizagem de
Álgebra. Digo isto baseado em minha conjectura de que não seja necessário definirmos o
conceito de equação, para podermos abordá-lo em nossas aulas de Matemática.
A partir dos resultados apresentados por Barbosa (2009) e por Dorigo (2010),
identificamos o que professores e alunos pensam e fazem quando se deparam com
situações matemáticas envolvendo equações. O trabalho de Barbosa (2009) foi
desenvolvido com 6 professores de Matemática com diferentes tempos de experiência e
diferentes titulações. Por outro lado, o trabalho de Dorigo (2010) foi realizado com um
grupo de alunos da 3a série do Ensino Médio regular (alunos de 16-17 anos) de uma escola
pública na cidade de São Paulo, Brasil5.
4
O referido projeto docente tem por objetivo principal identificar as possibilidades e potencialidades que a
abordagem de diferentes significados de conceitos algébricos na formação do professor de Matemática que
ensina Álgebra na Educação Básica (alunos de 6 a 17 anos).
5
Vale acrescentar que Barbosa (2009) utilizou-se de entrevistas semi- estruturadas para coletar seus dados,
as quais foram realizadas individualmente com cada professor. Enquanto isso, Dorigo (2009) trabalhou
com o grupo de alunos distribuídos em duplas, ambientado num contexto de um “espaço de discussão”. Em
55
EIEM 2015
Barbosa (2009) e Dorigo (2010) apontam que, tanto professores como alunos apresentam
em suas concepções, uma forte presença do significado Intuitivo-Pragmático. Entretanto,
ainda que os alunos “utilizem” com mais naturalidade tal significado (Dorigo, 2010),
percebe-se que eles sentem uma grande necessidade de utilizar-se de procedimentos e
técnicas (significado Processual-Tecnicista) para tratar as situações às quais eles foram
expostos.
Nas análises desenvolvidas por eles e nos resultados apresentados, pudemos observar que
há necessidade de se discutir tanto com professores, como com alunos, situações “não
usuais”, quer seja, situações que possibilitem abordar as equações em problemas e
contextos que “fujam” da exclusividade e/ou excesso de procedimentos e técnicas.
A continuidade dos trabalhos e investigações iniciadas por mim, como em Ribeiro (2007),
caminha na direção de observar, contemplar e sistematizar tais discussões e reflexões uma
vez que tenho desenvolvido pesquisas com professores e alunos acerca do conceito de
equação em aulas de Matemática. Além dos trabalhos já concluídos, ou em fase final de
conclusão, outros mais estão sendo levados a cabo na mesma perspectiva e, também,
considerando outros conceitos da Álgebra.
Dentre as propostas finais que pretendemos alcançar com nosso trabalho temos, por um
lado, um anseio de instrumentalizar as “tarefas” do professor, nas quais os resultados aqui
ambos os casos, as intervenções que ocorreram foram no sentido de possibilitar uma maior “explicitação”
das concepções de equação que tais alunos e professores possuíam.
56
Painel Plenário
Enfim, as questões ainda são muitas; são amplas; são complexas. Todavia, certamente,
elas são necessárias e fundamentais se queremos propiciar a alunos e professores um
ensino e uma aprendizagem de equações – e de Álgebra – que possa romper com uma
mera manipulação sem sentido e sem significados de símbolos, procedimentos e técnicas.
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Ribeiro, A. J. (2008). Multisignificados de equação e o ensino de matemática: desafios e
possibilidades. São Paulo: Blucher Acadêmico.
57
EIEM 2015
58
GRUPO DE DISCUSSÃO 1
As representações e a aprendizagem
matemática
59
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
61
EIEM 2015
mesma” (p. 75). Deste modo, a representação “é uma parte essencial da atividade
matemática e um veículo para captar conceitos matemáticos” (Stylianou, 2010, p. 327),
o que espelha bem a sua complexidade.
De acordo com Miura (2001), numa sala de aula, podemos identificar representações
instrucionais e cognitivas. As representações instrucionais correspondem às usadas pelo
professor quando comunica com os alunos; são, por isso, representações apresentadas, na
aceção anteriormente referida. Incluem-se aqui as representações convencionais como,
por exemplo, definições, modelos, exemplos, formas de manipular expressões. Trata-se
de sistemas construídos socialmente (Goldin, 2008). As representações cognitivas ou
mentais são as utilizadas pelos próprios alunos quando procuram dar sentido a um
conceito ou quando procuram resolver uma determinada tarefa. Entre as representações
cognitivas podemos incluir símbolos construídos pelos próprios alunos (as representações
geradas de que falámos atrás), a linguagem natural, imagens ou estratégias de resolução.
Estas representações não se podem observar diretamente, pelo que são representações
internas, na aceção de Goldin (2008). A forma como o aluno descreve uma ideia, constrói
um diagrama, descreve como pensou, manipula um material evidencia as suas
representações cognitivas. Perceber as representações cognitivas dos alunos ajuda o
professor a compreender as suas dificuldades, melhorando assim o seu conhecimento
profissional e, consequentemente, a sua prática (Goldin, 2008).
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
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O terceiro momento deste grupo de discussão apresenta três comunicações que analisam
representações explicitadas pelos alunos na resolução de tarefas e nas quais as
transformações entre diferentes representações assumem um papel relevante para a
aprendizagem. A primeira comunicação, proposta por Paula Montenegro, Cecília Costa
e Bernardino Lopes, apoia-se nas representações semióticas sugeridas por Duval (2011),
onde as transformações entre diferentes representações são reveladoras da compreensão
do conceito envolvido. Ao longo do estudo foi verificada a ocorrência de diferentes
conversões na realização de uma tarefa com padrões por alunos do 6.º ano de
escolaridade. No entanto, algumas incongruências foram identificadas, originando
dificuldades e bloqueios. A segunda comunicação, de Margarida Rodrigues e Lurdes
Serrazina, dedica-se ao raciocínio quantitativo aditivo de alunos do 2.º ano de
escolaridade, através da análise de representações utilizadas pelos alunos na resolução de
duas tarefas que recorrem a transformações. As autoras referem o duplo papel das
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Ao longo dos três momentos deste grupo de discussão pretendemos discutir de que forma
as diferentes representações podem contribuir para a aprendizagem dos alunos nos vários
níveis de escolaridade. Pretendemos também que, do trabalho de grupo, seja possível
extrair um conjunto de questões e problemas relevantes que possam constituir objeto para
futuras investigações e colaborações.
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EIEM 2015
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COMUNICAÇÕES – GD1
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Renata Carvalho
Agrupamento de Escolas Joaquim Inácio da Cruz Sobral
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Introdução
O conhecimento que temos do mundo depende de representações mentais (Johnson-
Laird, 1980; 1983/90) que construímos. Estas representações são criadas a partir de
experiências de aprendizagem, escolares e não escolares, que originam informação que é
armazenada na nossa memória de trabalho (working memory) e de longo termo (long-
term memory). A memória de trabalho é um sistema temporário que depende de outros
sistemas, entre os quais os que estão envolvidos na memória a longo termo, e constitui
um mecanismo de processamento e armazenamento de informação que desempenha um
papel fundamental em tarefas cognitivas como o raciocínio, a aprendizagem e a
compreensão (Baddeley, 1993). A memória de trabalho é importante para a aprendizagem
em geral, mas assume uma importância ainda maior na aprendizagem da Matemática uma
vez que o raciocínio matemático é uma atividade cognitiva de nível elevado que faz uso
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
1 1
enquanto estratégia de cálculo mental. Por exemplo, no cálculo de 2 + 2 o aluno ao referir
“fiz meio mais meio que sei logo que dá 1” está a usar uma estratégia baseada num facto
numérico que conhece e no cálculo de 10% 𝑑𝑒 350 ao referir “dá 35. Tirei o zero” está a
aplicar a regra de divisão por potências de 10. Mas os factos numéricos e as regras
memorizadas também podem surgir como auxiliares preciosos no estabelecimento de
relações entre números e operações.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Metodologia de investigação
Este estudo é qualitativo e interpretativo (Denzin & Lincoln, 2005) com uma metodologia
de design research (Cobb, Confrey, diSessa, Lehere & Schauble, 2003). Participam duas
professoras e duas turmas do 6.º ano (39 alunos) que já tinham trabalhado os números
racionais nas suas várias representações (decimal, fração, percentagem) e nas quatro
operações, e a primeira autora (a partir daqui designada por investigadora) como
observadora participante.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
As três fases do estudo foram acompanhadas por uma reflexão individual por parte da
investigadora, e coletiva entre esta e as professoras nas reuniões de preparação/reflexão
nos dois ciclos de experimentação. Esta reflexão individual e coletiva, em conjunto com
uma contínua revisão de literatura, permitiu melhorar e aprofundar não só o quadro
concetual mas também as conjeturas de ensino e aprendizagem e a experiência de ensino,
originando diversos ajustes nas tarefas.
A experiência de ensino
A experiência de ensino é composta por 10 tarefas de cálculo mental, que denominámos
de “Pensa rápido!”. Estas tarefas incluem expressões e situações contextualizadas que
foram projetadas semanalmente na sala de aula com recurso a um PowerPoint
temporizado. No ciclo I de experimentação realizámos sete tarefas envolvendo
expressões, duas com situações contextualizadas e uma envolvendo ambas (mistas). No
ciclo II houve a necessidade de proceder a uma reorganização das tarefas tendo-se
realizado cinco tarefas com expressões e cinco tarefas mistas. Esta reorganização emergiu
da necessidade dos alunos darem sentido aos números usando situações contextualizadas
(Galen, Feijs, Figueiredo, Gravemeijer & Keijker, 2008).
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
1 1
Figura 2: Análise da questão 2 + 2.
Esta estratégia parece ter sido influenciada pela imagem mental de algoritmos escritos,
dado o pormenor com que Rui explica a forma como realizou o cálculo: “Fiz unidades
com unidades. Zero com 5, 5. 5 com 2 . . . 7. Zero com zero, zero”.
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EIEM 2015
Uma das estratégias mais comuns dos alunos nas operações entre uma fração e um
numeral decimal é a mudança de representação. Enquanto alguns alunos preferem mudar
a representação fracionária para decimal outros preferem a decimal para fracionária
como fez Maria (figura 5). Maria parece ter recorrido a um modelo mental (um relógio)
para a apoiar no cálculo. A expressão: “Pus 0,50 em meia hora” parece indiciar que esta
1
converteu o numeral decimal 0,5 na fração e que, sem recorrer a frações equivalentes
2
ou a qualquer procedimento algorítmico calcula o valor da expressão com base na sua
perceção e “visualização mental” da marcação das horas no relógio, indicando
posteriormente o resultado em numeral decimal. Esta estratégia mostra alguma destreza
na transição entre representações equivalentes dos números racionais e o recurso a
contextos familiares dos alunos como apoio ao cálculo mental.
78
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
3
Figura 5: Análise da questão 4 + 0,5.
A resolução da situação dos copos de refresco (figura 6), realizada na última tarefa da
1
experiência de ensino, poderia ter sido resolvida através da expressão 0,75 ÷ 8. A
estratégia de Ricardo evidencia que este possui conhecimentos sobre equivalência entre
representações dos números racionais e frações ao associar 0,75 a 75% e posteriormente
6 6
a 8. Ao optar por converter 0,75 em 8 e, tendo em conta que cada copo tinha a capacidade
1
de 8 𝑙, de forma quase intuitiva e sem necessidade de cálculos demorados (como a regra
“inverte e multiplica” sobejamente usada pelos alunos) Ricardo chega ao resultado 6
possivelmente através da relação entre as frações. Esta estratégia poderá ter-se baseado
numa representação proposicional centrada na mudança de representação e na relação
6 1
entre dividendo e divisor da operação a realizar: se 0,75 = 75% = 8 então 0,75 ÷ 8 =
6 1 6 1 6 1
÷ como = 6 × então ÷ = 6.
8 8 8 8 8 8
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conta a explicação que apresenta, Tiago poderá ter recorrido à imagem mental do produto
6 × 6 = 36.
Depois de discutida a primeira parte da tarefa 5, na segunda parte, foi proposto o cálculo
de ?× 0,4 = 0,16 (figura 8). Neste caso, Tiago mostra ter operado com numerais
decimais como se estes fossem números naturais (mudança de representação de numeral
10
decimal para número natural referente a 100), algo que não ficou explícito na explicação
que apresentou para a resolução da situação da figura 7, e tenta encontrar um produto, no
seu reportório de factos numéricos, cujo valor seja 16, sendo que um dos fatores é 4. A
explicação de Tiago mostra que o aluno relaciona 4 × 4 com 0,4 × 0,4 e que coloca duas
casas decimais no produto 16, mas não explica a razão por que o faz. A estratégia de
Tiago poderá ter-se baseado numa representação proposicional onde este poderá ter
comparado a resolução da situação contextualizada apresentada na da figura 7 (“Eu fiz
aquilo que nós aplicámos, neste aqui”) com a expressão de valor em falta da figura 8: se
0,6 × 0,6 = 0,36 com 6 × 6 = 36 então para ?× 0,4 = 0,16, 4 × 4 = 16 com 0,4 ×
0,4 = 0,16. Esta representação proposicional poderá ter surgido a partir da imagem
mental de factos numéricos associados ao conceito de área, usados por Tiago na resolução
da situação apresentada na figura 7.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
proporcionar aos alunos contextos distintos mas relacionáveis. A figura 8 apresenta uma
expressão simbólica que Tiago considerou como sendo uma hipótese para modelar uma
situação envolvendo o conceito de área, relacionando assim o cálculo de ?× 0,4 =
0,16 com o que tinha realizado a propósito da situação apresentada na figura 7.
Conclusão
No cálculo mental com números racionais os alunos optam por recorrer a estratégias que
envolvem relações numéricas, embora estratégias baseadas na aplicação de factos
numéricos (tabuadas) e regras memorizadas (aplicação mental do algoritmo para a adição
de numerais decimais) surjam igualmente, Nas questões analisadas, as relações numéricas
centram-se na relação parte-todo para operar com frações e percentagens e na mudança
de representação (Caney & Watson, 2003) para operar com frações e numerais decimais.
A análise das estratégias dos alunos permite-nos perceber que contextos se revelam para
eles mais significativos, podendo ser, por isso, promotores de representações mentais de
suporte ao cálculo mental. Os dados revelam que os alunos recorrem tanto a
representações representativas, como modelos ou imagens, como a representações
descritivas como representações proposicionais (Schnotz et al., 2010). Os modelos
mentais surgem com uma representação do mundo real, por exemplo um relógio, sem
grandes especificidades associadas, enquanto as imagens mentais se revestem de maior
especificidade, caracterizando de forma mais precisa o objeto que pretendem representar,
como o caso da maçã ou do algoritmo da adição de numerais decimais. Modelos e
imagens parecem estar subjacentes a estratégias envolvendo tanto relações numéricas
como factos ou regras. Uma vez que as representações proposicionais, enquanto
representações descritivas, permitem perceber relações, surgem associadas a estratégias
baseadas em relações numéricas. A complementaridade entre representações
representativas e descritivas parece refletir-se na estratégia de João que parte de uma
imagem mental (saco de berlindes) para estabelecer uma relação parte-todo assente numa
representação proposicional ou na estratégia de Tiago que, ao comparar estratégias de
resolução de uma situação contextualizadas com a resolução de uma expressão, parece
apoiar-se igualmente na imagem mental de factos (produto de fatores iguais associado ao
conceito de área) para criar uma representação proposicional que reflete as relações que
estabelece.
81
EIEM 2015
Agradecimentos
Este trabalho foi financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a
Ciência e Tecnologia através da bolsa atribuída à primeira autora.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
83
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Inês Diogo
Colégio Atlântico
Unidade de Investigação do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Margarida Rodrigues
Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Lisboa
Unidade de Investigação do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Resumo: Este artigo apresenta parte de um estudo que se encontra a decorrer e que visa
compreender como se caracteriza o raciocínio estatístico de crianças de 5 e 6 anos. O
artigo apresenta a interpretação do raciocínio estatístico revelado pelas crianças através
da análise das suas representações. Começamos por discutir teoricamente o conceito de
raciocínio estatístico, os princípios inerentes a um ambiente de aprendizagem que
favoreça o seu desenvolvimento e o papel das representações, especificando depois as
características do trabalho em Organização e Tratamento de Dados na educação pré-
escolar. O estudo segue uma abordagem de natureza qualitativa sob um paradigma
interpretativo e a recolha de dados realizou-se em 2015 através da observação participante
e da análise documental. Os resultados preliminares aqui apresentados sugerem que a
maioria do grupo de crianças reconhece as diferentes formas de representação dos dados,
identifica os seus nomes e sabe explicar as diferentes representações. No âmbito de um
pequeno projeto de investigação estatística, as crianças atenderam às suas diferentes
fases, mostrando-se capazes de representar e interpretar dados recolhidos por si. Algumas
das crianças preocuparam-se em organizar os dados no momento da sua recolha,
classificando-os, sendo que uma delas organizou os dados, de modo espontâneo, numa
tabela de frequências. As crianças evidenciaram um raciocínio estatístico sobre os dados
e sobre a sua representação.
Palavras-chave: raciocínio estatístico, representações estatísticas, educação pré-escolar,
investigação estatística, Organização e Tratamento de Dados.
Introdução
A matemática tem um papel muito importante na estruturação do pensamento da criança.
Desde muito cedo, e a partir das suas vivências diárias, a criança vai espontaneamente
construindo noções matemáticas. Ao nível formal, o educador de infância pode assumir
um papel primordial na promoção destas aprendizagens, recorrendo a situações do dia-a-
dia que sejam do interesse da criança. Assumindo que estas experiências têm um papel
fundamental em aprendizagens futuras, é necessário que o educador esteja atento às
85
EIEM 2015
Este artigo apresenta parte de um estudo, no âmbito de uma dissertação de mestrado, que
se encontra ainda a decorrer, e que tem como objetivo compreender como se caracteriza
o raciocínio estatístico de crianças de 5 e 6 anos. As questões de investigação desse estudo
são: (1) Como é que as crianças analisam, interpretam e representam dados registados em
mapas? (2) Como é que as crianças implementam um projeto de investigação estatística,
atendendo às suas diferentes fases? (3) Que tipos de raciocínio estatístico evidenciam as
crianças? O artigo enquadra-se nas segunda e terceira questões, tendo como foco as
representações das crianças no âmbito da implementação de um projeto de investigação
estatística, que partiu de uma questão levantada por elas: Quantas manas tens? O projeto
contemplou diferentes fases, nomeadamente, a formulação de questões, recolha e
organização dos dados, representação dos dados, interpretação e comunicação dos dados
(Ponte & Fonseca, 2001; Wild & Pfannkuch, 1999). A primeira autora é a educadora
titular do grupo de crianças de 5 e 6 anos, com o qual foi desenvolvido o presente estudo,
e que frequentava a educação pré-escolar durante o ano letivo 2014-2015, num colégio
particular do distrito de Setúbal.
Enquadramento teórico
De acordo com Garfield (2002), o raciocínio estatístico pode ser definido como a forma
como as pessoas raciocinam com as ideias estatísticas e dão sentido à informação
estatística, envolvendo fazer interpretações baseadas em representações gráficas,
conjuntos de dados ou sumários estatísticos. A este respeito, Lopes e Fernandes (2014,
pp. 72-73) indicam que possuir um raciocínio estatístico “significa compreender e ser
capaz de explicar os processos estatísticos e interpretar completamente os resultados
estatísticos. (…) Assim, o desenvolvimento do raciocínio estatístico possibilita o aluno a
compreender, interpretar e explicar um processo estatístico com base em dados reais”.
Estas autoras, citando Garfield e Gal, apresentam seis tipos de raciocínio estatístico: (i)
sobre os dados; (ii) sobre a representação dos dados; (iii) sobre as medidas estatísticas;
(iv) sobre a incerteza; (v) sobre as amostras; e (vi) sobre associações. No âmbito do
86
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Sendo uma representação uma configuração que permite pensar sobre um dado objeto
matemático (Goldin, 2008), este evoca uma multiplicidade de representações (Velez &
Ponte, 2014), as quais assumem um papel importante quer na compreensão pelo docente
do raciocínio desenvolvido pelas crianças, quer no processo de aprendizagem, auxiliando-
as na construção de novos conhecimentos (NCTM, 2007). É fundamental que as crianças
possam usar representações informais, intuitivas, de modo a conferir sentido às diversas
ideias matemáticas, mas é igualmente importante que as mesmas se familiarizem com
formas convencionais de representação matemática, como é o caso das representações
estatísticas estabelecidas para organizar e representar os dados. De acordo com
Hutchison, Ellsworth e Yovich (2000), o uso de múltiplas formas de representação de um
conjunto de dados contribui para um maior conhecimento dos alunos acerca do tópico em
estudo. Estes autores, reportando-se a um estudo realizado com alunos do 3.º ano de
87
EIEM 2015
Segundo Sheffield et al. (2004), é recomendável que os alunos formulem questões que
possam ser respondidas através da recolha e análise de dados e expliquem em que
consistem as mesmas. Os autores referem, ainda, que para raciocinarem estatisticamente,
as crianças precisam de compreender a análise de dados e os aspetos das probabilidades
com eles relacionados. Para isso, recomenda-se que as crianças trabalhem diretamente
com os dados, considerando importante que os alunos do pré-escolar ao 12º ano estejam
habilitados a: (a) formular questões que possam ser abordadas por meio de dados e
recolher, organizar e apresentar dados relevantes que permitam responder a essas
questões; (b) selecionar e usar métodos estatísticos adequados a analise de dados; (c)
desenvolver e avaliar inferências e previsões baseadas em dados; (d) compreender e
aplicar conceitos básicos de probabilidades.
88
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
contextualização ligada às suas vivências ainda mais acentuada do que nos outros níveis
educativos.
Abordagem metodológica
Este estudo assenta numa metodologia de investigação interpretativa de natureza
qualitativa. Bogdan e Biklen (1994) referem que uma das principais caraterísticas da
investigação qualitativa é o facto de os investigadores qualitativos se interessarem mais
pelo processo do que pelo produto. Na nossa investigação, o mais importante será o
envolvimento das crianças, os seus registos, representações e explicação dos mesmos.
Assim, o estudo foca o processo de investigação estatística vivenciado pelas crianças.
Este estudo foi realizado num colégio particular, que possui as valências de creche, pré-
escolar, 1.º, 2.º e 3.º ciclo, situado no distrito de Setúbal. O estudo incidiu sobre um grupo
de 26 crianças (13 rapazes e 13 raparigas), com idades compreendidas entre os 5 e 6 anos.
Este é um grupo que maioritariamente se encontra junto desde os dois anos de idade. A
investigadora é a primeira autora do presente artigo, sendo também a educadora titular
destas crianças desde os seus dois anos. Este grupo de crianças revela elevadas capacidade
linguísticas, estando habituado a tomar decisões e a encontrar respostas para as suas
escolhas. O trabalho com gráficos, nomeadamente o gráfico de barras e o pictograma, já
vinha a ser desenvolvido desde os 4 anos. Antes do desenvolvimento do projeto
investigativo, apresentado neste artigo, as crianças realizaram diversas atividades
relacionadas com a representação e análise de dados, envolvendo gráficos de barras,
gráficos de pontos, pictogramas e tabelas de frequência. As atividades foram realizadas
em grande grupo (todas as crianças), pequeno grupo (até 7 crianças) e individualmente.
Na análise de dados, que ainda se encontra numa fase muito preliminar, é enfatizada uma
perspetiva interpretativa e indutiva, e visando a triangulação dos dados, são usadas e
cruzadas diversas fontes (Bogdan & Biklen, 1994). As categorias analíticas ainda se
encontram em desenvolvimento, sendo possível, nesta fase, identificar as seguintes, com
base na revisão da literatura efetuada bem como nos dados aqui apresentados: tipos de
raciocínio (raciocínio sobre os dados, raciocínio sobre a representação dos dados);
representações estatísticas (tabela de contagem e de frequências, pictograma, gráfico de
pontos, gráfico de barras); representações usadas pelas crianças na fase de recolha de
dados.
89
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Por último, antes de iniciarmos o estudo, foi pedida uma autorização à Diretora
Pedagógica, bem como aos encarregados de educação do grupo participante. Após este
procedimento, foi explicado às crianças o projeto em que seriam envolvidas. O facto de
serem filmados não colocou qualquer obstáculo pois já era prática corrente com este
grupo. O verdadeiro nome dos alunos envolvidos não é mencionado, sendo utilizados
nomes fictícios.
A maioria do grupo atuou de forma idêntica. Foram fazendo a pergunta aos diferentes
colegas e registando a sua resposta, não revelando preocupação ou cuidado em saberem
quais os colegas que já tinham questionado e quais os colegas que faltavam. Os registos
da Ana, da Carla e da Marina são representativos das três formas de registo que as crianças
utilizaram na sua recolha, sendo que todas usaram representações simbólicas das
respostas obtidas.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Após a partilha sobre a forma como tinham efetuado a recolha de dados, as crianças
chegaram à conclusão de que não tinham o registo de todos. Assim foi decidido em grupo,
com a orientação da educadora, que deviam ficar todos juntos, em roda e no tapete
enquanto a educadora fazia a pergunta a cada um, ao mesmo tempo que todos iam fazendo
o seu registo da resposta.
No segundo registo da recolha de dados, foi notório um maior cuidado por parte das
crianças.
A Ana optou por um registo linear de todas as respostas dos colegas. No fim, contou o
número de zeros e o número de uns e representou os seus resultados de forma muito
organizada e clara. O seu resultado final aparece registado como uma tabela de
frequências, tendo classificado os dados nas categorias 0 e 1 e registado por baixo a
respetiva frequência absoluta. A Carla usou uma representação parecida à que já tinha
adotado, optando no final por registar apenas a resposta ao número de crianças que tinham
manas. Quando questionada, respondeu que a pergunta era quantas manas. Não justificou
a razão de ter 13 zeros, mas tendo em conta a resposta de só dar importância aos números
1, pensamos que deverá ter desistido de os registar, na parte final da recolha. Enquanto a
Ana regista os dados de seguida à medida que vai obtendo as respostas, só fazendo a
organização e a classificação posteriormente, a Carla faz a classificação dos dados,
organizando-os espacialmente, ao mesmo tempo que recolhe os dados. Ambas as crianças
revelam raciocínio estatístico sobre os dados, categorizando-os, por sua própria iniciativa.
91
EIEM 2015
Ao longo da realização do seu trabalho, o Hugo levantou-se diversas vezes para ver como
era o gráfico de barras que estava exposto na sala. Como se pode ver na figura 3, o Hugo
procurou representar as frequências 15 e 9, mas teve dificuldade em desenhar as duas
colunas com o mesmo número de linhas, tal como fazer corresponder os números a cada
linha. Essa dificuldade revelou-se ao interpretar o seu gráfico, para o grupo.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
O facto de o Hugo ter assinalado, no seu gráfico, a escala numérica até ao 26, e de ter
referido que pintou 26 parece dever-se à sua consciência de serem 26 crianças na sala,
tendo ignorado a falta nesse dia de duas delas.
A Ana foi muito assertiva desde o início do seu trabalho, conseguindo colocar as duas
colunas separadas mas com o mesmo número de linhas. Não revelou muitas dúvidas,
terminou rápido e ajudou os colegas. A sua apresentação do gráfico de pontos ao grupo
foi muito clara, procurando recorrer a um vocabulário específico.
Ana – Eu fiz um gráfico de pontos e tive de meter 9 bolinhas aqui (apontou para
a coluna do número 1) e aqui 15 (apontou para a coluna do
numero 0) porque eles não tinhas manas. E os que tinham, meti
9 porque foi esse o meu resultado.
Educadora – Porque é que fizeste aqui estas linhas iguais?
Ana – Para saber que este liga a este e este liga a este (aponta de uma coluna
para a outra coluna).
A Ana preocupou-se em colocar algum rigor na sua representação unindo com linhas as
quadrículas das duas colunas para que as mesmas estivessem niveladas e permitissem
assim uma leitura visual correta. Também o Hugo traçou linhas a unir as células das
colunas mas não conseguiu que ficassem completamente niveladas por serem de
diferentes tamanhos.
Na figura 4, pode-se ver o pictograma do Dinis que revelou alguma dificuldade em iniciar
o seu trabalho, parando algum tempo com a Carolina a olhar para um dos pictogramas
exposto na sala.
93
EIEM 2015
Chegado a essa conclusão, iniciou o seu trabalho com algum divertimento. Recorreu à
contagem para saber quantos já tinha desenhado e quantos faltava desenhar. No momento
de apresentar o trabalho, explicou:
Dinis – Eu fiz um pictograma (…) Fiz um menino e uma menina para quem tinha
manas, mas no mesmo quadrado, e só um menino para quem não
tinha manas.
Verificamos, pois, que o Dinis optou por símbolos diferentes, um para cada classe da
variável em causa, embora sejam representativos da unidade observacional, as crianças
da sala. A questão do género só se lhe colocou para a representação das manas na coluna
do 1, tendo representado do mesmo modo cada uma das crianças da sala,
independentemente do género.
Por sua vez, na apresentação do seu trabalho, o Marco foi sempre falando em voz alta,
para que os colegas o fossem corrigindo ou orientando.
O Marco revela um sentido de número com algum desenvolvimento. A aplicação que faz
da forma de registar os dados na tabela de contagem relaciona-se com aspetos relevantes
do sentido de número, como é o caso da estruturação numérica em grupos de 5.
O raciocínio estatístico sobre os dados foi evidenciado pelas crianças na forma como
conseguiram usar diferentes representações para os dados por si recolhidos. Também o
raciocínio sobre a representação dos dados foi evidenciado no modo como as crianças
conseguiram ler e interpretar os gráficos por si elaborados.
Conclusão
Através do desenvolvimento de um pequeno projeto de investigação estatística, as
crianças atenderam às suas diferentes fases (Ponte & Fonseca, 2001; Wild & Pfannkuch,
1999), tendo começado por escolher uma questão de entre um conjunto de questões que
elas próprias formularam, de acordo com o interesse suscitado pela mesma. Trata-se de
uma questão relacionada com as suas vidas pessoais e cuja resposta contribui para uma
maior caracterização do grupo de crianças, sendo de destacar a importância de trabalhar
com conjuntos de dados reais e motivantes para as crianças (Garffield & Ben-Zvi, 2009).
A recolha de dados relativos ao número de manas foi realizada primeiro de forma mais
livre e espontânea, tendo as crianças chegado à conclusão que não tinham controlado
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
As crianças revelam dois tipos de raciocínio estatístico: (1) sobre os dados, e (2) sobre a
representação dos dados (Garfield & Gal, citados em Lopes & Fernandes, 2014). A
análise das representações feitas pelas crianças, bem como a forma como as mesmas as
explicaram aos restantes colegas, evidenciam alguns dos aspetos que caracterizam esses
tipos de raciocínio estatístico. No que se refere ao raciocínio estatístico sobre os dados,
as crianças reconheceram e categorizaram os dados, de forma espontânea, sem que
tivessem sido orientados pela educadora, nesse sentido, na fase de recolha de dados. Uma
das crianças, após o registo das respostas obtidas, elaborou informalmente, e por
iniciativa própria, uma tabela de frequências, como forma de organizar os dados. No
entanto, não assumiu essa representação como sendo uma tabela de frequências.
Revelaram, também, ser capazes de utilizar uma tabela e diferentes tipos de gráficos para
representar os dados recolhidos. Relativamente ao raciocínio sobre a representação dos
dados, a maioria das crianças conseguiu ler e interpretar os gráficos elaborados por si
próprios. A forma como comunicaram ao grande grupo as suas representações estatísticas
revela o domínio de vocabulário específico bem como o modo como conferiram sentido
à informação estatística produzida (Garfield, 2002). Assim, a maioria do grupo reconhece
as diferentes formas de representação dos dados, identifica os seus nomes e sabe explicar
as diferentes representações, recorrendo a vocabulário específico, como podemos ilustrar,
por exemplo, com a conclusão da Ana: "Eu fiz um gráfico de pontos (...). E os que tinham
[manas], meti 9 porque foi esse o meu resultado".
Ao nível das condições de realização, verificou-se um grande envolvimento por parte das
crianças. As estratégias utilizadas por algumas destas crianças foram copiar (a
representação exposta na sala ou a representação elaborada pelo colega de grupo),
questionar o colega ou simplesmente entregar o que tinham feito. Isso permitiu identificar
quem necessitava de uma maior ajuda por parte da educadora.
Na educação pré-escolar, desde que o tema seja do interesse das crianças e faça sentido
para elas, estas encontram-se disponíveis para se envolver na atividade proposta (Castro
& Rodrigues, 2008). Nas diversas fases da atividade desenvolvida, verificou-se que as
crianças estavam empenhadas e divertidas. Consideramos que a autonomia na escolha da
95
EIEM 2015
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96
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
97
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Lurdes Serrazina
Escola Superior de Educação de Lisboa; Unidade de Investigação e Desenvolvimento
em Educação e Formação da Universidade de Lisboa
[email protected]
Resumo: Neste artigo pretendemos contribuir para uma reflexão em torno do modo como
os alunos do 1.º ciclo do ensino básico constroem o conceito de número racional,
recorrendo a múltiplas representações. Destacamos a percentagem, como representação
trabalhada numa etapa menos comum do percurso e a sua articulação com outras
representações, icónicas e simbólicas, no sentido de procurar analisar a evolução da
aprendizagem dos alunos, através das relações que estabelecem, das representações que
constroem e das opções que tomam. O estudo que inspira este artigo apoia-se numa
experiência de ensino, orientada por uma conjetura, baseada num quadro teórico centrado
na aprendizagem dos números racionais, numa perspetiva sociocultural. Analisamos a
comunicação e as produções dos alunos de uma turma, que decorreram no ambiente
natural de aprendizagem dos alunos, a sala de aula. Os dados foram recolhidos através da
observação participante, apoiada num diário de bordo, nas gravações áudio e vídeo das
aulas e na análise documental das produções da turma. Numa análise preliminar, os
resultados parecem evidenciar uma certa intuição por parte dos alunos em relação à
percentagem, que parece advir das suas vivências dentro e fora da escola. A mensagem
visual dos modelos associados à percentagem parece facilitar a construção e a utilização
de diferentes representações e contribuir para fortalecer a rede de relações entre as ideias
subjacentes ao conceito de número racional.
Palavras-chave: aprendizagem, interação, números racionais, sentido de número,
representações.
Introdução
No que diz respeito aos números racionais, a investigação internacional alerta para a
necessidade dos alunos desenvolverem uma aprendizagem com significado deste tópico,
apelando no sentido de se investir na compreensão dos conceitos e contrariando a
tendência de sobrevalorizar o ensino de procedimentos e regras (Moss & Case, 1999;
Fosnot & Dolk, 2002). Associadas a uma aprendizagem centrada na compreensão,
surgem as representações, cujo papel na construção dos conceitos é há algum tempo
99
EIEM 2015
debatido pela comunidade de educação matemática (Goldin & Kaput, 1996; Greeno,
James, Hall & Rogers, 1997; Ponte & Serrazina, 2000; Goldin & Shteingold, 2001;
NCTM, 2007; Tripathi, 2008; Kilpatrick, 2009), sem que se lhe esgote o interesse e a
pertinência. Também as dinâmicas de trabalho em sala de aula são equacionadas, sendo
sugerido que o professor promova a comunicação na sala de aula e a negociação de
significados, numa construção compartilhada das aprendizagens (Mercer, 2006; Niza,
1998), isto é, que assuma uma atitude necessária ao processo de mudança (Wenger, 1998;
Ponte & Serrazina, 2009).
A investigação que inspira este artigo tem como objetivos: (1) aprofundar a compreensão
do processo de construção do conhecimento matemático dos alunos, relativo aos números
racionais, no ambiente natural de aprendizagem e (2) descrever e analisar como se
desenvolve a aprendizagem dos números racionais, através da utilização que os alunos
fazem das diferentes representações simbólicas (percentagem, numeral decimal ou
fração), na resolução de tarefas, numa construção compartilhada das aprendizagens. Estes
objetivos procurarão responder às seguintes questões:
Os dados que partilhamos neste artigo remetem para excertos de episódios de sala de aula,
durante o 3.º ano de escolaridade, numa escola pública de Lisboa, em que a primeira
autora foi também professora titular, tendo acompanhado a turma ao longo do seu
percurso de quatro anos no 1.º ciclo.
Segundo Behr et al. (1983) “os números racionais são das ideias matemáticas mais
complexas e importantes que as crianças encontram durante a escolaridade básica.” (p.
91). Smith (2002) afirma mesmo que “não existe outra área da matemática escolar que
seja tão rica, tão complicada do ponto de vista cognitivo e tão difícil de ensinar” (p.3).
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Moss e Case (1999) apontam algumas explicações para as dificuldades que normalmente
surgem associadas à conceptualização do conhecimento relativo aos números racionais:
(1) a ênfase atribuída à sintaxe e não à semântica, considerando que no currículo do ensino
básico dedica-se mais tempo ao ensino dos procedimentos de cálculo e à nomenclatura,
do que à construção de significados e compreensão dos conceitos; (2) o facto de os
professores não privilegiarem as tentativas espontâneas dos alunos de compreensão dos
números racionais fazendo uma abordagem centrada na memorização de regras; (3) a
opção, no início do trabalho com os números racionais, pela utilização de representações
que se confundem facilmente com os números inteiros; e (4) a ideia de que a
representação simbólica dos números racionais é algo tão evidente e transparente, que
pode ser dado no início de uma aula.
101
EIEM 2015
modelação implica uma evolução do próprio modelo, como afirmam Galen et al. (2008)
“de modelos de situações concretas para modelos de pensamento” (p.18).
O modelo do iceberg (Webb, Boswinkel & Dekker, 2008), também desenvolvido pelo
Instituto Freudenthal, ilustra a necessidade dos alunos “vivenciarem um vasto conjunto
de experiências com diferentes modelos matemáticos para darem sentido a representações
matemáticas formais.” (p.111). Este apresenta uma classificação das representações em
três categorias: representações informais, que incluem as representações associadas a
contextos, diagramas e explicações, que advêm de experiências vivenciadas pelos alunos
associadas a situações de contexto; representações pré-formais, como o modelo da reta
numérica dupla ou da tabela de área; e representações formais, como os algoritmos.
Webb, Boswinkel e Dekker (2008) afirmam que deste modelo decorre uma formalização
progressiva, na qual as representações mais formais se constroem a partir das menos
formais.
102
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
daquela a que os alunos são normalmente convidados a seguir, traz muitas vantagens para
os alunos mais novos.” (p. 335), destacando que pode prevenir mal entendidos e melhorar
a compreensão das diferentes representações. O uso da linguagem simbólica, como
alertam Ponte e Serrazina (2000), não deve ser arbitrário, pois depende do fim com que
os símbolos são usados e do significado construído e partilhado por todos. O uso da
percentagem e a sua articulação com as outras representações simbólicas dos números
racionais permite comunicar e discutir um dado conceito com os outros, permitindo
traduzir as inter-relações entre esse conceito e as outras ideias matemáticas (Tripathi,
2008).
Metodologia
A investigação em curso é de natureza qualitativa (Bogdan & Biklen, 1994) e segue os
procedimentos metodológicos de um Design Research (Cobb, Stephan, McClain, &
Gravemeijer (2001), com base numa experiência de ensino, orientada por uma conjetura.
Consiste no desenvolvimento de um percurso de aprendizagem, construído com a turma,
enquanto comunidade de aprendizagem, que se pretende analisar e compreender, ao longo
de dez momentos de aula no terceiro período do 3.º ano, e doze momentos de aula no
primeiro período do 4.º ano de escolaridade.
103
EIEM 2015
104
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
à partida muito próximo, possibilitando a sua análise racional” (p.10). Para acautelar uma
excessiva implicação da primeira autora e assegurar uma descrição mais fiel e completa
dos episódios de aula em análise, procurámos uma variedade de procedimentos e
instrumentos de recolha de dados, como sublinham Confrey e Lachance (2000), onde se
incluem a observação participante, apoiada pela gravação áudio e vídeo, instrumentos de
pilotagem da sala de aula e as produções dos alunos. O diário de bordo (Ponte, 2002), um
instrumento de informação complementar fundamental, assumiu também um papel
relevante, pois permitiu registar notas de campo e reflexões de uma observação
participante.
A experiência de ensino
O percurso escolar da turma que consideramos neste estudo como unidade de análise
inicia-se no ano letivo de 2010/2011, um ano após a generalização da implementação do
Programa de Matemática do Ensino Básico – PMEB (ME, 2007) e termina com a chegada
ao 4.º ano, no último ano em que este PMEB vigorou.
Importa relembrar que neste PMEB, um dos objetivos gerais para o ensino da matemática
apontava para a importância da compreensão na sua aprendizagem (ME, 2007). Em
relação ao trabalho com os números racionais, as indicações metodológicas do PMEB
apontavam este como um tópico a iniciar “nos dois primeiros anos com uma abordagem
intuitiva” (ME, 2007, p.15).
À data do início do estudo, a turma tinha trabalhado os números racionais não negativos
recorrendo a tarefas que envolviam partilha equitativa e a divisão da unidade em partes
iguais. A representação dessas quantidades era feita, como sugeria o PMEB, apenas por
palavras, desenhos, esquemas ou frações. A representação decimal tinha surgido
associada a contextos de referência, nomeadamente ao dinheiro e enquanto propriedade
mensurável de um dado objeto (massa ou capacidade). A percentagem não tinha sido uma
representação trabalhada no contexto das tarefas até então desenvolvidas.
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EIEM 2015
Uma análise preliminar dos resultados deste estudo fornece alguns dados sobre os quais
vale a pena refletir. Todos os alunos reconheceram a expressão 100% e associaram-na,
no contexto de uma bateria de telemóvel, a uma bateria “cheia”, isto é, completamente
carregada, rodeando a bateria A, da figura 2.
Na tarefa da figura 3, a maioria dos alunos foi ainda capaz de fazer corresponder 50% a
metade, apresentando justificações que permitem associar esse conhecimento a
experiências vividas fora da escola.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Na mesma sequência de tarefas, era pedido aos alunos que se posicionassem face uma
afirmação que sustentava que a barra de estado da figura 6 mostrava que mais de 50% de
um dado documento estaria gravado.
Mais de metade dos alunos conseguiu justificar, através de linguagem escrita, que a
afirmação era verdadeira, com frases como: “Aquilo vai no 82 e já passa do 50”, “O
documento gravado acaba aos 100% e já passou de metade, que é 50%, já vai no 82%”;
“Está a partir de 50% para cima”; “Metade é 50 e está lá 82%”; “Metade é 50% e já está
mais carregado do que 50%”.
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EIEM 2015
A tarefa da figura 7, tal como as outras tarefas de apresentadas ao longo deste percurso,
seguiu uma abordagem exploratória (Ponte & Serrazina, 2009). Foi apresentada à turma
em coletivo. Seguiu-se-lhe um momento de trabalho a pares, após o qual se fez a
discussão em coletivo. Este último momento teve como suporte um esquema no Quadro
Interativo Multimédia (QIM), sobre o qual se foi trabalhando em coletivo, como mostra
a imagem da figura 8.
Embora não fosse pedido, mas provavelmente, na tentativa de chegar aos 10%, alguns
pares procuraram descobrir a quantidade de cola que teria a lata a 25%. Discutiu-se então
o que representariam os 25%, quantos centilitros poderiam representar na situação
apresentada.
Neste excerto é possível perceber que os alunos reconhecem que algumas representações
simbólicas dos números racionais, aparentemente diferentes, podem representar o mesmo
número. Relembrado que estava o conceito de 25%, associando-o à metade da metade e
a ¼ foi interessante perceber a discussão que se gerou em torno do cálculo de 25% de 40
cl.
Prof: […] BF, então quanto é que vocês acharam que 25% é?
BF: [Aponta 25cl]
Prof: A BF e a CM acharam que eram 25cl, pensaram da mesma maneira? LS.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
LS: Não, 25% é de “porcentos”, mas de centilitros não é... Lá em cima no 50%
está 20…
Prof: Vai lá indicar… Estão a perceber o LS? Ele diz que 25% é “nos porcentos”,
isto é, é na percentagem, não corresponde aos centilitros…
LS: [dirige-se ao QIM] Aqui não pode estar o 25, porque aqui está o 20, e o 25
passa dos 20%.
Neste episódio, é interessante destacar o papel que o esquema parece ter na organização
do raciocínio do aluno LS, percebendo que a percentagem diz respeito a um todo que está
para 100, e que, neste caso, diz respeito a 40 centilitros.
Ainda na mesma tarefa, a discussão conduziu para a partilha da forma como cada par
chegou aos 10% de 40. Esta estratégia causou alguns constrangimentos, pois as tentativas
dos alunos remeteram para o cálculo, ineficaz, mas familiar, das “metades sucessivas”.
Neste episódio, o tentar dar sentido às explicações uns dos outros, acontece em resposta
ao desafio de analisar a situação, em interação social. A construção da solução do
problema passa pelo “raciocinar em conjunto, por meio de um pensamento-discurso que
cada intervenção manifesta e, ao mesmo tempo, colhe dos outros” (Pontecorvo et al.,
2005, p. 208).
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EIEM 2015
Prof: Isso. Qual é o número que eu tenho que usar 10 vezes para chegar a 40?
Alunos: É o 4.
RA: Porque 4 x 10 dá 40.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
A compreensão pelos alunos dos conceitos e das relações relativos aos números racionais,
que se constrói ao longo desta tarefa, traduz-se na produção de saber para o grupo e para
cada individuo. Parece resultar de um pensar em conjunto, que se constrói com os
contributos de vários participantes numa atividade conjunta (Pontecorvo et al., 2005),
apoiada numa multiplicidade de representações.
Considerações finais
Da investigação que temos em desenvolvimento, trazemos a esta reflexão dados
referentes ao estudo de diagnóstico e à primeira fase do percurso traçado, que diz respeito
à exploração da percentagem. Assim, consideramos que a análise preliminar apresentada
contribui para a identificação de pistas, nomeadamente ao nível da interpretação das inter-
relações entre ideias e conceitos, apoiadas no uso das representações, no espaço
sociocultural da sala de aula, numa perspetiva assente no quadro teórico escolhido.
111
EIEM 2015
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Paula Montenegro
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
[email protected]
Cecília Costa
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CIDTFF – Centro de Investigação
Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (Lab-DCT da UTAD)
[email protected]
Bernardino Lopes
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, CIDTFF – Centro de Investigação
Didática e Tecnologia na Formação de Formadores (Lab-DCT da UTAD)
[email protected]
115
EIEM 2015
Introdução
É hoje consensual, entre professores e investigadores em Educação Matemática, a
importância da exploração de padrões para um contacto à Álgebra nos primeiros anos de
escolaridade (p. e., Canavarro, 2007; NCTM, 2008; Borralho & Barbosa, 2009). Como
no nosso país, a exploração de padrões nas salas de aula de matemática do 2.º ciclo de
escolaridade apenas entrou no currículo escolar do Ensino Básico português com o
Programa de Matemática de 2007, torna-se pertinente uma investigação nesta área. Um
dos problemas centrais que se coloca é o conhecimento de como os alunos são capazes
de generalizar os padrões que lhes são propostos, assim como as estratégias a que
recorrem para o fazer. Vários autores (Moyer-Packenham (2005); Borralho, Cabrita,
Palhares & Vale (2007); Jacobs, Frank, Carpenter, Levi & Battey (2007); Warren &
Cooper (2008); Ross (2011); Faria (2012); Merino, Cañadas & Molina (2013); Altay,
Akyüz, & Erhan (2014); Akkan (2013); e Callejo & Zapatera (2014)) estudaram esta
temática colocando o foco dos seus estudos na categorização de estratégias, dificuldades
e identificação dos erros cometidos nessa exploração, assim como nas suas
representações.
No nosso país o trabalho de Barbosa, Vale e Palhares (2012), entre outros, mostra as
estratégias utilizadas, os erros e dificuldades que alunos portugueses do 6.º ano de
escolaridade evidenciam na exploração de tarefas com padrões, alguns de natureza visual.
Por outro lado, constatamos que, neste nível de ensino são propostos aos alunos, com
frequência, padrões de natureza geométrica e que, na sua exploração, os mesmos os
convertem em padrões de natureza numérica. Nesse trabalho de exploração de padrões,
há o recurso a diversas representações, sendo umas fornecidas na própria tarefa ou
explicação docente e outras da própria (re)criação discente. Nas representações visuais,
utilizam-se figuras, a maior parte das vezes com recurso a figuras geométricas, sendo esta
com muita frequência a representação fornecida como ponto de partida para a exploração
de sequências neste nível de ensino. As representações numéricas utilizam números. Por
sua vez, os alunos utilizam esquemas, mais ou menos formais, para representar a ordem
e/ou os termos da sequência e relação entre eles. Também recorrem a tabelas,
representação mais formal e sugerida na maioria das vezes pelo professor ou na própria
tarefa. A tabela, como não é uma representação da iniciativa dos alunos, mas sim sugerida
pelo professor, é utilizada pelos alunos com diferentes graus de correção e organização.
Por último, a representação através da linguagem natural, em que os alunos recorrem à
linguagem materna para expressar características ou propriedades das sequências.
Também verificamos que os alunos têm consciência da necessidade de mudança de
representação para outra que consideram mais adequada, manifestando muitas vezes
dificuldades e bloqueios neste trabalho de mudança de representação. Desta forma, este
estudo teve por objetivos: (a) identificar as conversões feitas pelos alunos às
representações usadas durante a resolução de uma tarefa de exploração de sequências, (b)
determinar o grau de congruência “semântica” nas conversões que envolveram uma
116
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Enquadramento teórico
Na aula de matemática, uma das formas de promoção da interação e colaboração entre
alunos e professor é a utilização de tarefas com a finalidade de provocar atividade. Stein,
Grover e Henningsen (1996) consideram como tarefas significativas as que permitem
mais do que uma estratégia de solução, exigem representações múltiplas e explicação e
justificação de raciocínios, oralmente e por escrito. Uma representação consiste na
substituição de uma entidade por outra configuração (Goldin, 2008). Segundo o NCTM
(2008), a forma com representamos as nossas ideias matemáticas é essencial para o modo
como compreendemos e utilizamos essas ideias. O termo representação refere-se tanto ao
processo como ao resultado e aplica-se tanto aos processos e resultados obtidos
externamente como aos que ocorrem internamente nas mentes dos indivíduos quando
fazem matemática. Refere ainda que os alunos aumentam significativamente a sua
capacidade de pensar matematicamente quando acedem às representações matemáticas e
às ideias que elas expressam. Assim,
A Teoria dos Registos de Representação Semiótica de Duval (2009) tem por objetivo a
criação de um modelo do funcionamento semiótico-cognitivo subjacente ao pensamento
matemático (Duval, Freitas & Rezende, 2013). Para Duval (2009) não há conhecimento
que não mobilize uma atividade de representação, e só existe compreensão dos objetos
matemáticos quando somos capazes de os representar pelo menos de dois modos
diferentes, transformando esses modos diferentes de representação entre si. Assim,
segundo o autor, para termos acesso aos objetos matemáticos é necessária uma atividade
de produção semiótica.
117
EIEM 2015
118
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Duval (2009) considera ainda duas faces distintas da atividade matemática: uma face
exposta e uma face oculta. A primeira diz respeito aos objetos matemáticos: números,
funções, equações, polígonos, poliedros, etc., às suas propriedades, às fórmulas, aos
algoritmos, às demonstrações, etc. Esta face toma forma no currículo escolar, organizado
por sequências de conteúdos e subconteúdos, sendo uns, pré-requisitos dos seguintes. A
face oculta da atividade matemática corresponde aos gestos intelectuais que constituem o
caráter cognitivo e epistemológico característico da matemática, que não é diretamente
observável no trabalho discente em sala de aula, mas indiretamente através de erros
recorrentes e bloqueios quando solicitamos a resolução de problemas, sejam elementares
ou não. Esta face oculta também se manifesta no não reconhecimento do mesmo objeto
matemático em representações diferentes. Ainda acrescenta que não basta justapor
representações diferentes do mesmo objeto, pois não é garantido que os alunos aprendam
a reconhecê-las. A Teoria dos Registos de Representação Semiótica diz respeito à face
oculta da atividade matemática, visando conhecer o funcionamento do pensamento
matemático, pois sem o desenvolvimento deste não se pode compreender nem conduzir
uma atividade matemática.
119
EIEM 2015
Metodologia
Este trabalho insere-se numa investigação de caráter mais alargado com vista a determinar
a eficácia e interesse da utilização de representações visuais e respetivas transformações,
na aprendizagem de diferentes conteúdos matemáticos no 2.º ciclo de escolaridade. Serviu
como estudo piloto fornecendo informação preliminar sobre o que se pretende investigar.
A atividade discente decorreu da resolução da tarefa “O nome do Luís” (Figura 1),
retirada de um manual comercializado. A referida atividade teve a duração de 40 minutos
de uma aula de 60.
120
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
121
EIEM 2015
Resultados
Todos os grupos iniciaram a exploração da sequência seguindo a sugestão de utilização
do desenho da figura geométrica proposta (Figura 2).
Figura 2: Representações visuais sugeridas na tarefa, à esq., e utilizadas pela totalidade dos
alunos, à dir.
122
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Figura 6: Conversão da representação visual fornecida para representação em tabela e desta para
representação algébrica.
No entanto, os outros dois grupos não foram capazes deste procedimento, tendo tido outro
desempenho que passamos a descrever. Abandonaram a representação visual por
considerarem ser inviável o desenho dos 100 termos da sequência, conforme excerto da
narração multimodal:
Um dos elementos do grupo sugere como estratégia contar o número de quadrículas até à figura 100,
mas nem outros elementos nem eu aceitamos essa estratégia que verificamos não ser a melhor e mais
eficiente nesta situação. Encontram outra, baseada numa regra de proporcionalidade direta, incentivo-os a
utilizá-la e afasto-me até ao grupo IV.
Decidiram então trabalhar com uma representação em tabela, mas não foram capazes de
relacionar corretamente as suas duas colunas, isto é, a ordem do termo da sequência com
o termo da mesma. Vendo as dificuldades, e ignoradas as potencialidades da exploração
da representação visual, a professora procurou uma estratégia que facilitasse a conversão
da representação visual para outra representação. Assim, sugeriu-lhes um olhar atento à
mesma, à procura de semelhanças e diferenças entre os desenhos. Como não obteve o
resultado esperado, evidenciou o que se mantinha constante da 1.ª para a 2.ª figura e desta
para a 3.ª (Figura 7 a cinzento) e o que variava de figura para figura (Figura. 7 a branco).
123
EIEM 2015
Figura 7: Tratamento da representação visual fornecida com evidência nos termos da sequência
através da utilização de duas cores do que se mantém constante (a cinzento) e do que varia (a
branco).
TOTAL 100%
124
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
De uma primeira análise, verificou-se que as conversões mais utilizadas partiram de uma
representação visual (ponto de partida) e de uma representação numérica (sugerida logo
na 2.ª pergunta) para outras representações. Verificaram-se conversões da representação
numérica para a representação algébrica. As conversões menos frequentes verificaram-se
das representações em tabela, esquemática e algébrica, sendo a menos frequente, a
conversão da representação algébrica para numérica. Apenas 3% das conversões se deu
de uma representação numérica para uma representação visual.
Os resultados mostraram que, apesar de o ponto de partida ser uma representação visual,
a quase totalidade dos alunos fez imediatamente a conversão para outras representações,
nomeadamente para a representação numérica, para a linguagem natural, para a
esquemática, e para a representação em tabela, cujos exemplos se encontram na Tabela
4, caracterizadas de acordo com o grau de congruência “semântica” que consideramos
evidenciados.
125
EIEM 2015
Tabela 4: Grau de congruência “semântica” na conversão das representações que envolvem uma
representação visual.
Congruência “semântica”
Conversão
Grau Elevado Grau Médio
RV
RT
RV
Não observável
RN
RV
LN
RV
Não observável
RE
RN
RV
Discussão e conclusões
Este estudo procurou: (a) identificar as conversões feitas pelos alunos às representações
usadas durante a resolução de uma tarefa de exploração de sequências, (b) determinar o
grau de congruência “semântica” nas conversões que envolveram uma representação
visual. A Teoria de Representação Semiótica de Duval (2009) revelou-se adequada para
alcançar aqueles objetivos e apresentar aos professores evidências do pensamento
matemático dos alunos baseado nas transformações de representações (Duval, Freitas &
Rezende, 2013).
126
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
para uma representação numérica logo na segunda pergunta, o que confirma o predomínio
no uso desta representação, já detetado em outros estudos (p.e. em (Barbosa, (2010)) mas
também se verificaram conversões espontâneas da representação visual para a
representação em tabela, esquemática, linguagem natural e numérica. Verificou-se, em
dois grupos, um desempenho adequado e uma utilização correta destas representações
que os levou à generalização através da escrita da expressão geradora. No entanto, os
restantes grupos, apesar de estarem a trabalhar com os mesmos tipos de representação,
não tiveram o mesmo sucesso, tendo mesmo bloqueado em determinada altura do seu
trabalho. A Teoria dos Registos de Representação Semiótica refere dificuldades na
conversão de representações (Duval & Moretti, 2012), o que verificamos neste caso pois
as conversões efetuadas não tiveram um grau elevado de congruência “semântica” o que
originou dificuldades e erros. Por exemplo, a representação em tabela utilizada por estes
alunos foi insuficientemente compreendida uma vez que se mostraram incapazes de obter
a expressão geradora através da relação entre as duas colunas (ordem e termo da
sequência). Mas, não menos importante do que a qualidade das conversões, a escolha do
tratamento a efetuar a determinada representação, neste caso à representação visual
fornecida tornou-se determinante no sucesso da conversão, tendo subvalorizado a falta de
destreza no tratamento da representação em tabela. O que demonstra que as
representações visuais (desenhos) podem ser muito mais do que simples apoios à
explicitação de determinada situação. E daí a necessidade de o professor estar
constantemente atento ao modo como os alunos registam e transformam as suas
representações, pois não se garante que os alunos sejam capazes de selecionar
eficazmente a representação e fazer-lhe o tratamento adequado que lhes possibilite uma
conversão com um grau mais elevado de congruência “semântica”. Daí a importância de
uma investigação acerca do uso de diferentes representações com diferentes graus de
congruência e do seu efeito na aprendizagem, num dado conteúdo matemático. O facto
de se ter verificado uma ocorrência baixa da conversão de uma representação algébrica
para uma representação numérica é indicador de que, neste trabalho de conversão de
representações, os alunos não manifestam a competência de um grau elevado de
congruência “semiótica”, pois apenas se verifica conversão num sentido. Pensamos que
o mesmo se deve às dificuldades dos alunos em inverter raciocínios e em registá-los,
manifestadas na falta de precisão na sua escrita.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
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129
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Sandra Nobre
Agrupamento de Escolas Professor Paula Nogueira, Unidade de Investigação do
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa e Bolseira da FCT
[email protected]
Nélia Amado
FCT, Universidade do Algarve
Unidade de Investigação do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Resumo: Neste artigo apresentamos alguns resultados de uma experiência de ensino com
alunos do 9.º ano, no estudo do tópico “Sistemas de duas equações do 1.º grau a duas
incógnitas”. Procuramos analisar as representações matemáticas utilizadas e perceber o
papel da transformação das representações matemáticas durante a atividade de resolução
de problemas na aprendizagem do método de substituição de resolução de sistemas. A
análise de dados incide nas produções de uma aluna e nos diálogos que ocorrem durante
a resolução de problemas, no estudo do tópico e numa entrevista realizada posteriormente.
Verificamos que a atividade de resolução de problemas, tanto no ambiente digital da folha
de cálculo, como com papel e lápis, promove o uso de uma diversidade de representações
matemáticas bem como a sua transformação permanente, o que leva a aluna à
compreensão dos processos formais para a resolução de sistemas bem como a uma
utilização mais fluente da linguagem algébrica na resolução dos problemas propostos.
Palavras-chave: Representações matemáticas; Transformação de representações;
Resolução de problemas; Método de substituição; Folha de cálculo.
Introdução
A aprendizagem de métodos formais constitui um marco no progresso na aprendizagem
da Álgebra. A sua utilização permite aos alunos resolver problemas, levando-os
rapidamente à solução e libertando-os de procurar estratégias alternativas. No entanto, a
passagem dos métodos informais aos formais não é fácil para a maioria dos alunos. As
dificuldades que surgem com a aplicação dos métodos formais podem estar relacionadas
com o ritmo a que os tópicos são estudados, bem como à abordagem predominantemente
formal com que são apresentados (Herscovics & Lincheviski, 1994). Embora o objetivo
131
EIEM 2015
Interessa então perceber como é que os alunos expressam as suas ideias matemáticas e
como evoluem na aprendizagem de métodos formais, num contexto de trabalho baseado
na resolução de problemas. Para isso, é essencial olhar para as representações
matemáticas, uma vez que a forma como as ideias matemáticas são representadas é
fundamental para a forma como são usadas e entendidas (NCTM, 2007). Assim, nesta
comunicação analisamos as representações matemáticas utilizadas e tentamos
compreender o papel da transformação das representações matemáticas na atividade de
resolução de problemas na aprendizagem do método de substituição de resolução de
sistemas.
Windsor (2010) destaca igualmente a resolução de problemas que encara como uma
oportunidade para enriquecer e transformar o pensamento dos alunos, permitindo ao
professor incentivá-los a pensar algebricamente ao invés de os influenciar simplesmente
a recorrer a uma determinada estratégia ou procedimento. Este autor salienta ainda que é
através da discussão do processo de resolução que pode ser desenvolvida uma perspetiva
algébrica da Matemática. Considera ainda que é fundamental que os alunos reflitam
acerca das suas estratégias e partilhem as suas experiências de modo a desenvolverem
diferentes formas de entender e abordar os problemas.
132
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Representações matemáticas
Sem as representações matemáticas não é possível pensar sobre os objetos matemáticos.
Duval (2011) salienta que as representações não se devem confundir com o próprio objeto
e aponta que o uso de uma diversidade de representações é necessária para que seja
possível aceder ao objeto, uma vez que “elas estão no ‘lugar dos’ objetos ou os ‘evocam’,
quando esses não são imediatamente acessíveis” (p. 23). Além disso, de servirem para
comunicar com os outros acerca de um problema ou de uma ideia, as representações
permitem compreender uma propriedade ou um conceito (Dufour-Janvier, Bednarz &
Belanger, 1987).
Friedlander e Tabach (2001) consideram que a capacidade para trabalhar com várias
representações permite eliminar as desvantagens de cada uma, tornando o processo de
aprendizagem da Álgebra mais significativo e efetivo. Estes autores defendem a
necessidade de propor tarefas que exijam que os alunos recorram a várias representações,
estabelecendo relações entre elas e atribuindo-lhes significado. Numa perspetiva
semelhante, Tripathi (2008) salienta que a compreensão de um conceito apenas emerge
133
EIEM 2015
De acordo com Hiebert e Carpenter (1992) o uso de representações simbólicas não deve
ser exigido aos alunos numa fase inicial. Primeiramente, os alunos devem ser envolvidos
em experiências com múltiplas representações para que possam fazer conexões entre elas
e os símbolos surjam de forma natural. Estes autores consideram que os alunos que não
têm oportunidade de explorar representações para além das simbólicas podem
desenvolver uma compreensão incompleta. Apesar daqueles que usam apenas
representações simbólicas conseguirem usar os símbolos e regras para encontrar a solução
134
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
135
EIEM 2015
Procedemos à recolha das produções da aluna na sala de aula, à captura dos ecrãs dos
computadores, à gravação áudio dos diálogos e à observação participante registada em
notas de campo. Após o estudo do tópico realizámos uma entrevista clínica (E1) à aluna
com o objetivo de obter mais informações sobre a sua aprendizagem. A análise de dados
tem por base a análise de conteúdo (Bardin, 1977) a partir das produções da aluna, das
transcrições das gravações áudio das aulas, dos registos da sequência de frames no Excel
e da entrevista.
Resultados
Apresentamos o trabalho de Gabriela em alguns problemas propostos em diferentes
momentos do estudo do tópico, que se destacam por darem evidências da evolução da
aluna na aprendizagem do método de substituição. Analisamos as representações que
utiliza, bem como a forma como as coordena, ou seja, as transformações que efetua.
136
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Na discussão surge a ideia de construir uma tabela de dupla entrada e a fórmula para obter
o valor pretendido:
Professora: Será que nós aqui conseguíamos escrever uma relação entre o 582 e
o dia e o mês de aniversário?
137
EIEM 2015
Folha de Conversão
cálculo
Conversão
Linguagem Tabela SNA
natural
SNN Tratamentos
Na aula seguinte foi proposta a resolução de outro problema na folha de cálculo que inclui
o trabalho com várias condições e o estabelecimento de relações entre diferentes
138
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Neste problema são propostas quatro situações com nível crescente de complexidade. Na
segunda situação (figura 4), Gabriela recorre a diversas representações: em linguagem
natural, no SNA e no SNN. A aluna enceta a resolução com a escrita de equações (SNA)
que representam as relações apresentadas em cada figura, no entanto, não chega a usar
essas representações. Quando questionada (E1), diz:
Gabriela procede depois à delimitação dos grupos de animais. Neste procedimento, utiliza
a informação de uma das imagens e forma conjuntos na outra, o que lhe permite descobrir,
através de tratamentos no SNN, o valor de uma das incógnitas, para depois obter a solução
(figura 5). Este processo evidencia claramente a ideia de substituição, fundamental na
resolução de sistemas de equações. Apesar de a aluna recorrer apenas a representações no
SNN para resolver o problema e não utilizar um método formal, os seus procedimentos,
suportados por tratamentos no SNN, são análogos à utilização do método de substituição
(figura 5).
139
EIEM 2015
2𝑒 + 𝑐 = 43 2𝑒 + 𝑐 = 43 2𝑒 + 𝑐 = 43 2𝑒 + 𝑐 = 43
{ ⟺{ ⟺{ ⟺{
3𝑐 + 4𝑒 = 93 43 + 43 + 𝑐 = 93 𝑐 = 93 − 86 𝑐=7
2𝑒 = 43 − 7 𝑒 = 36: 2 𝑒 = 18
⟺{ ⟺{ ⟺{
𝑐=7 𝑐=7 𝑐=7
Figura 5: Correspondência ente a resolução de Gabriela e o método de substituição.
Este excerto evidencia a importância dos problemas para Gabriela iniciar a resolução de
sistemas de equações pelo método formal de substituição. Como a aluna refere “A partir
daí aprendi sistemas de equações” não propriamente pelo seu método de resolução ser
“uma forma mais antiga de resolução”, um método que não é formal, mas certamente pela
140
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
discussão que foi promovida e pelas ideias que foram partilhadas por outros colegas de
turma. Na resolução deste problema as transformações das representações utilizadas pela
aluna podem ser esquematizadas como mostra a figura 6.
Conversão
Ling. natural SNA
Rep. pictórica
SNN
SNN
Tratamentos
Gabriela converte a informação do enunciado para o SNA. Embora não utilize esta
transformação para resolver o problema, ela é importante na medida em que é uma
conversão essencial para a resolução de problemas através do método de substituição.
O problema (figura 7) é proposto para explorar na folha de cálculo. Gabriela começa por
escolher a variável independente (número de coelhos) e estabelece, em seguida, as
relações entre essa variável e as restantes. A variável dependente “Soma das patas” serve
como dispositivo de regulação para encontrar a solução (figura 8).
141
EIEM 2015
Folha de Conversão
cálculo
Linguagem Conversão
natural Tabela SNA
SNN
Tratamentos
Tratamentos
142
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
143
EIEM 2015
Conversão
Ling. natural
SNA
SNN
Tratamentos
Gabriela explica a sua resolução afirmando: “Quando eu li o enunciado achei que como
tínhamos duas incógnitas e como elas se relacionavam entre si de duas formas podia obter
duas equações e a partir daí fazer um sistema”. Neste excerto, evidencia reconhecer
situações em que pode utilizar um sistema de equações para resolver um problema.
Para que é que isto serve?… Para quando temos… Eu acho que isto na
vida não me é muito útil… Eu não percebo a utilidade no dia-a-dia mas,
por exemplo, para resolver problemas de Matemática, quando temos
duas igualdades com duas incógnitas e precisamos de saber o valor das
incógnitas talvez os sistemas sejam interessantes para ajudar a
resolver… Mas para o dia-a-dia não vejo onde podemos utilizar.
Mesmo sem compreender a utilidade do estudo deste tópico, Gabriela mostra perceber
que perante situações com determinadas condições é útil recorrer a um sistema de
equações para resolver problemas.
Contudo e apesar das evidências de que Gabriela sabe utilizar o método de substituição
na resolução de sistemas, a aluna ainda não se mostra completamente segura na sua
utilização para a resolução de problemas, conforme admite:
Conclusões
Ao longo do estudo do tópico Gabriela tem a oportunidade de contactar com uma
variedade de representações fundamentais para a aprendizagem como defendem Dufour-
Janvier, Bednarz e Belanger (1987), Friedlander e Tabach (2001), e Tripathi (2008).
Inicialmente, a aluna começa por resolver um problema na folha de cálculo que a
144
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Tal como refere Duval (2011) a conversão é uma transformação que não é imediata para
os alunos. Devido às dificuldades inerentes ao trabalho no SNA, as conversões para este
sistema de notação tornam-se menos apelativas. Contudo consideramos que a resolução
de problemas com recurso à folha de cálculo, a par do SNN e/ou representações
pictóricas, associada às discussões em sala de aula, é uma atividade que incentiva
Gabriela na transição para um pensamento mais abstrato (Koedinger & Nathan, 2004) e
a desenvolver uma perspetiva algébrica das resoluções (Windsor, 2010).
Quanto aos tratamentos, numa fase inicial, Gabriela apenas recorre a tratamentos no SNN,
mas ao longo do processo de aprendizagem do método de substituição começa cada vez
mais a fazer tratamentos no SNA em detrimento dos tratamentos no SNN. Os tratamentos
no SNA, decorrentes da utilização do método de substituição são importantes, pois
145
EIEM 2015
permitem aos alunos uma compreensão dos conceitos e ideias envolvidos nesses
procedimentos (Kieran, 2013).
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147
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Margarida Rodrigues
Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Lisboa
Unidade de Investigação do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Lurdes Serrazina
Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Lisboa
Unidade de Investigação do Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Introdução
Esta comunicação insere-se no Projeto Pensamento numérico e cálculo flexível: Aspetos
críticos que está a ser desenvolvido por docentes das Escolas Superiores de Educação de
Lisboa, Setúbal e Portalegre. Tem como objetivo identificar tipos de representação
matemática usados pelos alunos e analisar o seu papel, nomeadamente na compreensão
de alguns aspetos do raciocínio quantitativo aditivo de alunos de 2.º ano, evidenciado na
resolução de duas tarefas, concebidas com o propósito de desenvolver esse tipo de
raciocínio, que apresentam problemas de transformação inseridos nas classes de procura
149
EIEM 2015
150
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
transformação, quando o estado final é menor do que o inicial; (v) o estado inicial,
aumentando o estado final; e (vi) o estado inicial, diminuindo o estado final (Vergnaud,
2009).
Segundo Vergnaud (2011), a procura de um estado inicial é uma situação delicada para
muitas crianças até aos 8 anos de idade por implicar uma transformação inversa. Nunes,
Bryant, Evans, Bell e Barros (2012) distinguem entre cálculo numérico e cálculo
relacional. Consideram como Vergnaud (2009) que cálculo relacional significa a
transformação e composição de relações dadas numa situação. Por exemplo, as duas
situações exigem o mesmo cálculo numérico (24-6) e só a segunda exige efetivamente
um cálculo relacional: “Tinha 24 euros, gastei 6. Quantos euros tenho agora?” e “A minha
avó deu-me 6 euros e eu fiquei com 24 euros”. Quantos euros tinha eu antes?”. A primeira
situação corresponde a “retirar” e normalmente exige pouco ou nenhum cálculo
relacional. A segunda corresponde a um raciocínio aditivo e para os alunos a perceberem
como um problema de subtração, têm de pensar na transformação que teve lugar (a minha
avó deu-me 6 €) e considerar qual a transformação que repõe a quantidade de dinheiro no
estado inicial, isto é, a transformação inversa. Nunes et al. (2012) consideram que a
relação inversa entre adição e subtração é um aspeto importante quer do cálculo numérico
quer do relacional. Também Greer (2012) sublinha a importância central da inversão na
aritmética dos números naturais e das quatro operações básicas envolvendo estes
números.
Representações matemáticas
Em sentido amplo, uma representação é uma configuração que pode representar alguma
coisa de alguma forma (Goldin, 2008). O termo “representação” refere-se tanto ao
processo de representar como ao resultado desse processo. Em educação matemática, as
representações são ferramentas privilegiadas para os alunos exprimirem as suas ideias
matemáticas, funcionando ainda como auxiliares na construção de novos conhecimentos
(NCTM, 2007). Contudo, uma representação matemática não pode ser compreendida ou
interpretada isoladamente, pois apenas faz sentido enquanto parte integrante de um
sistema mais abrangente e estruturado no qual diferentes representações estão
relacionadas (Goldin & Shteingold, 2001).
De acordo com Stylianou (2010), a forma como as representações são usadas na sala de
aula tem impacto na aprendizagem dos alunos e isso depende em grande medida do papel
do professor. Esta ideia é reforçada por Ponte e Serrazina (2000) quando afirmam que o
modo como as ideias matemáticas são representadas influencia de maneira profunda a
forma como elas são compreendidas e usadas. Por exemplo, segundo Vergnaud (2009), a
transformação inversa pode ser representada por duas representações simbólicas -- a
algébrica (Se T(I)=F então I=T-1(F)6) e o diagrama de setas -- considerando, no entanto,
6
T - Transformação; I - Estado Inicial; F - Estado Final; T-1 - Transformação Inversa.
151
EIEM 2015
que enquanto a representação algébrica não é adequada para crianças do ensino elementar,
o uso pelo professor da representação do diagrama pode ajudar os alunos a ligar, de
imediato, os diferentes componentes da relação, nomeadamente a transformação direta e
a transformação inversa, e a conferir significado ao movimento temporal de ir para a
frente e para trás. A Figura 1 apresenta um diagrama de setas representativo de subtrair 7
ao estado final na situação "João acabou de ganhar 7 berlindes ao jogar com a Maria;
agora ele tem 11 berlindes; quantos berlindes ele tinha antes de começar a jogar?"
(Vergnaud, 2009, pp. 86-87). No entanto, apesar de reconhecer a importância desta
representação, o autor refere que a compreensão de que +7 e -7 são inversos um do outro
passa pela exploração de diversos exemplos de situações deste tipo que permita a
consciência da reciprocidade das transformações.
Para Ponte e Serrazina (2000), as principais formas de representação usadas no 1.º ciclo
do ensino básico são: (i) a linguagem oral e escrita; (ii) representações simbólicas, como
os algarismos ou os sinais das quatro operações e o sinal de igual; (iii) representações
icónicas, como figuras, gráficos ou diagramas; e (iv) representações ativas, como os
materiais manipuláveis ou outros objetos. É através da análise das representações usadas
pelos alunos que o professor se pode aperceber do raciocínio dos alunos e ajudá-los na
construção das representações próprias da linguagem matemática.
Gravemeijer (2004) sustenta que o professor deve ajudar os alunos a modelar a sua
atividade matemática informal e que os modelos usados pelos alunos devem evoluir de
modelos de pensar para modelos para pensar, possibilitando um raciocínio matemático
mais formal. Na sua perspetiva, modelos são representações usadas para resolver
problemas ou explorar relações. Enquanto o modelo de pensar constitui a representação
das ações das crianças, apresentando elementos contextuais da situação, o modelo para
pensar é um modelo generalizado de estratégias focado nas relações matemáticas. A linha
numérica vazia é um exemplo de um modelo para pensar, na medida em que pode
funcionar como um modelo para um raciocínio matemático mais sofisticado em que os
números deixam de estar ligados a itens específicos contáveis ou a distâncias
identificáveis para passarem a ser vistos como objetos matemáticos cujo significado
deriva do seu lugar numa rede de relações numéricas. Por exemplo, os alunos podem usar
diferentes representações na resolução do seguinte problema: "Um autocarro parte de uma
paragem com 2 pessoas. Na paragem seguinte entram 3, na seguinte 2, depois quatro e na
152
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
última sai uma. Quantas pessoas continuam a viagem no autocarro?" (Figura 2). Enquanto
a primeira imagem é um exemplo de um modelo de pensar, representando a situação
concreta, a terceira imagem é um exemplo de modelo para pensar, na medida em que a
linha numérica constitui um modelo generalizado de estratégias, independentemente da
situação concreta de saídas e entradas de pessoas num autocarro, prevalecendo as relações
numéricas.
Metodologia
Este estudo segue uma abordagem qualitativa de caráter interpretativo. A sua metodologia
de design research inscreve-se numa perspetiva de design da aprendizagem, visando
produzir teorias locais de ensino e sequências de ensino que sejam recursos e referenciais
disponíveis para informar as práticas dos professores e investigadores (Gravemeijer,
2015).
153
EIEM 2015
Os dados foram recolhidos numa turma do 2.º ano numa escola pública de um dos bairros
da periferia de Lisboa. A equipa do projeto definiu uma sequência de tarefas com o
objetivo de desenvolver a flexibilidade de cálculo em problemas de adição e subtração.
O processo de elaboração das tarefas incluiu a testagem prévia de algumas
(nomeadamente as focadas nesta comunicação), através de entrevistas clínicas, a alunos
do mesmo ano de escolaridade. A sequência de tarefas foi previamente discutida e
analisada em encontros com a professora da turma, tendo sido feitos pequenos ajustes.
Por razões éticas, os nomes dos alunos foram alterados, de modo a garantir a
confidencialidade.
Jogo de berlindes I
A Ana e o Luís jogaram um jogo de berlindes juntos. No início, tinham ambos o mesmo
número de berlindes.
A Ana ganhou 3 berlindes do Luís e ficou com 7.
Quantos berlindes tinha o Luís no final do jogo, sabendo que ele não ganhou berlindes?
Jogo de berlindes II
Estas foram as últimas tarefas de uma sequência de seis tarefas exploradas pelos alunos.
Com a exploração anterior de outras tarefas, os alunos já tinham trabalhado a relação
entre ganhos e perdas no decurso de um jogo de berlindes, compreendendo que o que um
jogador ganha, o outro perde. Todas as tarefas começaram por ser resolvidas a pares.
Nesta aula, após todos os pares terem resolvido as duas tarefas, a professora promoveu
uma discussão coletiva com toda a turma, a partir das resoluções de seis pares (três em
cada tarefa) a quem propôs que fossem ao quadro apresentar os seus trabalhos.
154
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Alexandre: Não pode ser! Não faz sentido.... tem uma rasteira.
A professora voltou a ler de forma pausada e propôs aos alunos que resolvessem a tarefa
a pares. Os alunos começaram a trabalhar.
Relativamente ao par formado pelo Alexandre e pela Rosa, estes alunos usaram
representações simbólicas, começando por registar linhas numéricas representativas do
ganho ou perda de berlindes respeitantes a cada um dos jogadores e depois as operações
envolvidas na sua disposição horizontal. Alexandre usou as representações reproduzidas
na Figura 4, captadas pelo registo vídeo. Rosa fez o mesmo, seguindo tudo o que fora
registado pelo Alexandre.
A resolução deste par evidencia a inversão do raciocínio como aspeto crítico. O facto de
terem começado pelo registo referente ao jogador Luís pode dever-se à questão do
problema focada no número de berlindes do Luís no final do jogo. Assim, embora
iniciando o registo pelo Luís, provavelmente começaram por interpretar os dados
relativos à jogadora Ana, assumindo 10 berlindes iniciais para ambos os jogadores a partir
da soma de 3 (berlindes ganhos) com 7. Ou seja, operaram os dados contidos na frase "A
Ana ganhou 3 berlindes do Luís e ficou com 7" de um modo linear, não mobilizando um
raciocínio inversivo para determinarem o número inicial de berlindes. De referir ainda
que embora as curvas representativas dos ganhos ou perdas não contenham setas, elas são
assumidas pelos alunos com uma dada orientação já que os números são colocados pela
ordem crescente: orientação da direita para a esquerda no caso da subtração e o inverso
para a adição.
155
EIEM 2015
Ao serem interpelados pela professora, os dois alunos apagaram tudo e fizeram novo
registo nas suas folhas de trabalho e que apresentaram no quadro durante a discussão
(Figura 5), realizada no final da aula após a realização pelo par das duas tarefas:
Após algum tempo de exploração da primeira tarefa, a professora pediu a uma aluna para
ler a tarefa seguinte Jogo de berlindes II, lendo-a também ela própria, e disse para os
pares a realizarem assim que acabassem a anterior.
Alexandre e Rosa leram este problema. O Alexandre, olhando para a Rosa, disse:
156
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
O par formado pelo Ricardo e pela Anabela também foi alvo de registo vídeo durante a
exploração das tarefas. Usou representações simbólicas em Berlindes I apresentando as
operações envolvidas na sua disposição horizontal (Figura 7) e uma representação mista
em Berlindes II apresentando a resolução com recurso à linguagem escrita bem como as
disposições horizontais das operações (Figura 8).
No primeiro problema, após algum tempo sem nada realizarem, Anabela escreveu uma
expressão simbólica cujo registo vídeo captou ter sido iniciada por 10 e terminando com
"=4". Esta expressão foi apagada. O 10 indicia que, tal como o par anterior, Anabela
começou por fazer uma transformação direta e não inversa com os dados do problema.
Durante a interpelação da professora, também Ricardo refere que "é uma rasteira" mas
ambos respondem que os dois jogadores tinham 4 berlindes no início do jogo. Anabela
regista uma nova expressão simbólica que apaga e é Ricardo que começa por escrever
"Menina", sendo secundado pela Anabela. Nesse momento, terminam a tarefa
rapidamente, dando resposta à questão enunciada no mesmo.
O tempo futuro usado pelo Ricardo ("vai perder 6") é revelador da dificuldade associada
à transformação inversa, tratando o 3 como estado inicial e não estado final. Após diálogo
com a professora, que os questionou sobre o número inicial de berlindes, Anabela
começou a redigir a resposta constante na Figura 8, sendo secundada pelo Ricardo.
157
EIEM 2015
Passamos a apresentar as representações de outros pares da turma com base nas produções
entregues, sendo que não possuímos registos vídeo que documentem o seu processo de
resolução.
Este par foi o único que, na turma, incluiu uma representação icónica em Berlindes II. O
par usou uma representação mista apresentando uma representação icónica, uma
158
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Esta produção apresenta duas linhas numéricas que foram apagadas e que reproduzimos
em baixo (Figura 11):
+4
__________________
6 10
-7
_________________
3 10
Figura 11: Representações simbólicas apagadas pelo Rui em Berlindes II.
Na representação icónica, Rui começou por representar os 6 berlindes ganhos pela Ana,
circundando-os com uma linha e explicitando, narrativamente, com uma seta, serem os
berlindes que a Ana ganhou. Depois, representou pictoricamente os 4 berlindes iniciais
da Ana, circundando-os também com uma linha e apontando com uma seta para a
representação simbólica da adição de 6 com 4. É de notar que a ordem das parcelas tem
uma ligação estreita com a representação icónica, e consequentemente, com o seu
processo de resolução. Depois, Rui representa pictoricamente os 3 berlindes finais do
Luís mas a sua resolução termina aqui, não conseguindo inverter o raciocínio e determinar
o número inicial de berlindes do Luís.
159
EIEM 2015
O par formado pelo Tiago e pelo João usou uma representação mista em ambas as tarefas,
envolvendo representações simbólicas e em linguagem escrita, sendo que apenas o Tiago
apresentou as operações com uma disposição vertical em Berlindes II (Figura 13).
Durante a discussão desta tarefa, a professora interpelou-o onde é que ele tinha aprendido
a fazer aqueles algoritmos, o que vários alunos da turma confirmaram que nunca faziam
aquela representação na aula.
Em Berlindes II, nas disposições horizontais das operações, Tiago circunda os números
para lhes atribuir significado, registando narrativamente o jogador e o momento do jogo
a que dizem respeito (Figura 13).
A ordem com que colocou os termos nas operações seguiu, pois, a ordenação temporal
do jogo. Para exprimir a comparação aditiva dos números finais de berlindes usa
160
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
O par formado pelo Vítor e pela Joana conseguiu inverter o raciocínio para o caso da Ana
mas a sua resposta indicia falta de compreensão da situação alusiva ao Luís (Figura 14),
em Berlindes I.
Em Berlindes II, este par usou a representação da linha e, contrariamente ao que foi feito
pelos colegas da turma, a ordenação seguiu o critério temporal do jogo e não a ordenação
crescente dos números na reta (Figura 15).
Ambos os alunos deste par começaram a redigir de forma narrativa a sua resposta à
solicitação da comparação aditiva mas acabaram por optar por apagar esses registos.
Conclusões
A transformação inversa foi um aspeto crítico na resolução da primeira destas duas
tarefas, convergindo com o referido por Vergnaud (2009). Assim, as primeiras
representações usadas pelo Alexandre, um dos alunos do par objeto de registo vídeo, em
Berlindes I, mostram um raciocínio associado a situações prototípicas da adição que
propõem a procura de estados finais e não iniciais. Nesta tarefa, Alexandre usou o 7 final
como se se tratasse de um estado inicial, fazendo corresponder a adição à ideia de ganhar
berlindes, o que o fez obter 10 e ao qual lhe atribuiu depois um significado de estado
inicial comum aos dois jogadores, concluindo, naquela tarefa, que o Luís teria ficado no
final com 7 e a Ana com 13 berlindes. No entanto, os alunos parecem lidar mais
facilmente com este tipo de transformação na segunda tarefa Berlindes II após terem
compreendido a inversão envolvida em Berlindes I. Exemplo disso é o caso do Alexandre
que conseguiu ultrapassar o obstáculo da inversão na segunda tarefa resolvendo-a
mentalmente de modo muito rápido.
161
EIEM 2015
Da análise das produções dos alunos, podemos inferir diferentes níveis de raciocínio
quantitativo aditivo. Enquanto a maior parte dos alunos focou as quantidades absolutas
de berlindes nas suas respostas, alguns incidiram nas diferenças quantitativas enquanto
resultados das operações quantitativas de comparar aditivamente duas quantidades para
encontrar o excesso de uma em relação à outra (Thompson, 1993).
As representações usadas pelos alunos tiveram um duplo papel. Por um lado, constituíram
janelas para interpretarmos o seu raciocínio. Por outro lado, foram andaimes que os
auxiliaram a pensar matematicamente situações exigentes do ponto de vista cognitivo,
162
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
atendendo às suas idades. Tal como afirmado por Vergnaud (2009), o desenvolvimento
de um campo conceptual envolve não só situações e esquemas mas também instrumentos
simbólicos de representação.
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163
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Lurdes Serrazina
Escola Superior de Educação de Lisboa
UIDEF, Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Introdução
Os números decimais aparecem, culturalmente, em variados contextos da vida cotidiana
dos nossos alunos: em jornais, encartes, rótulos, culinária etc. Os alunos demonstram
facilidade em dizer “eu tenho um metro e quinze”; “tenho dois reais e trinta centavos”;
etc. e nem sempre conseguem compreender o “porquê do uso da vírgula em certos
números”. Estes exemplos envolvem conceitos e significados complexos dos números
racionais e, geralmente, de difícil compreensão para eles.
165
EIEM 2015
Este estudo faz parte de uma investigação que está a ser realizada numa turma do 4.º ano
de uma Escola Pública do Distrito Federal, em Taguatinga, Brasília-Brasil, com vista ao
desenvolvimento de uma tese de doutoramento, pela primeira autora, no Instituto de
Educação da Universidade de Lisboa na área de Didática da Matemática. Nesta
comunicação é apresentado um estudo preliminar cujo objetivo é compreender o modo
como os alunos do 4.º ano evoluem nas representações dos números decimais, procurando
responder à seguinte questão: Que estratégias os alunos utilizam para representar os
números decimais na resolução de tarefas que envolvem estes números?
Os números decimais
Os números racionais são o primeiro conjunto de números que aparece na experiência da
criança que não são baseados na contagem. Assim, procedimentos de contagem (para a
frente, para trás, saltar, etc.) que, no caso dos números naturais podem ser utilizados para
resolver problemas, tornam-se um obstáculo quando estes envolvem números racionais
(Behr & Post 1992). Estes autores afirmam que esta alteração no modo de pensar leva a
que muitos alunos enfrentem dificuldades ao tentarem aplicar procedimentos de
contagem pois nos números racionais não conseguem identificar o número seguinte.
166
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
conceito de número racional, tendo como ponto de partida seus significados (razão,
operador, quociente, medida e parte-todo).
Também Frobisher et al. (2002) alertam que a abordagem aos números naturais pressupõe
que haja sempre um número precedente e um posterior e há uma perda de sentido ao falar
do número seguinte na introdução dos números racionais. Segundo eles, este é um passo
significativo na compreensão do sistema numérico, pois a existência de, pelo menos um
número entre dois números, altera também a concepção de linha numérica. No caso
particular dos decimais apontam ainda a confusão provocada pela própria linguagem que
envolve os decimais, por exemplo “décima” é similar a “dez”, “centésima” a “cem” e
“milésima” a “mil”. Acresce que para Behr e Post (1992) os números decimais podem ser
vistos como extensão do sistema de base dez, mas são números racionais, podendo ser
identificadas características semelhantes quer dos números inteiros quer dos fracionários.
Para Hiebert e Wearne (1986) observar os alunos a trabalharem com os números decimais
é observar alunos a lutar contra símbolos escritos que eles não compreendem, pois os
símbolos decimais são percebidos como novos símbolos, com novas regras e representam
novos conceitos
Mestre (2009) relata que muitos dos erros que os alunos cometem ao trabalhar com os
números decimais têm relação com a forma como estes são introduzidos. A autora refere
que muitas vezes eles são introduzidos através da medida, mas uma medida representada
por um número decimal pode facilmente converter-se num número inteiro através da
referência a outra unidade do mesmo sistema de medida (1,5 m converte-se em 15 dm).
Behr et al. (1983) referem ser fundamental que o ensino dos números decimais leve em
consideração: (i) os conhecimentos anteriores dos alunos; (ii) as inter-relações entre os
vários significados de número racional; (iii) que os algoritmos das operações devem ser
atrasados no tempo e antecedidos pela compreensão das relações de ordem e de
equivalência; e (iv) que o ensino deve ser feito baseado em modelos educativos que
reforcem as relações entre conceitos e procedimentos, bem como as conversões dentro e
entre as diferentes representações. Ou seja, o papel do professor é ajudar os alunos a
construir pontes entre as suas próprias representações e as representações convencionais,
167
EIEM 2015
As normas de conteúdo para os números e operações do 3.º ao 5.º ano, apresentadas nos
Princípios e normas para a matemática escolar do NCTM (2007) descrevem
explicitamente o que os alunos devem aprender. Associadas a estas normas de conteúdos
estão as normas de processo (Resolução de Problemas, Raciocínio e Demonstração,
Comunicação, Conexões, Representação) que dão ênfase às maneiras de adquirir e
utilizar os conhecimentos sobre os conteúdos referidos. Os alunos destes anos deverão
recorrer à utilização de modelos e outras estratégias para representarem e estudarem os
números decimais, e ainda investigar a relação entre frações e decimais focando a sua
atenção na equivalência. Desta forma, de acordo com este documento, os alunos deverão
ter oportunidades para: (i) criar e usar representações para organizar, registar e comunicar
ideias matemáticas; (ii) selecionar, aplicar e traduzir representações matemáticas para
resolver problemas e (iii) usar as representações para modelar e interpretar fenómenos
físicos, sociais e matemáticos. E os professores podem e devem enfatizar a importância
de representar as ideias matemáticas sob uma diversidade de formas, estimulando o uso
e a análise das representações, discutindo os motivos pelos quais algumas representações
são mais eficazes que outras em determinadas situações, promovendo uma discussão a
partir de escolhas estratégicas de algumas representações, etc.
Para Duval (2012) os objetos matemáticos não devem ser confundidos com a
representação que se faz deles. Como exemplo ele cita que uma escrita, uma notação, um
símbolo, representam: um número, uma função, um vetor..., ou seja, um objeto
matemático. Segundo o autor, isto é um paradoxo cognitivo do pensamento matemático
em que de um lado, a apreensão dos objetos matemáticos não pode ser mais do que uma
apreensão conceitual e, de outro, é somente por meio de representações semióticas que a
atividade sobre objetos matemáticos se torna possível. Assim, os objetos não estão
diretamente acessíveis à percepção ou à experiência intuitiva imediata, portanto, é preciso
utilizar representações. Resumindo, a apreensão ou a produção de uma representação
semiótica (semiose) é inseparável da apreensão conceitual de um objeto (noesis). O autor
apresenta três atividades cognitivas fundamentais ligadas à semiose: (i) Formação de
uma representação identificável que implica seleção de relações e de dados no conteúdo
168
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
No que se refere à conversão consideramos também as ideias de Post et al. (1993), que
sinalizam que a compreensão do número racional – e aqui damos ênfase ao decimal – está
relacionada com três características do pensamento dos alunos: (i) a flexibilidade na
conversão entre as diferentes representações de número racional; (ii) a flexibilidade nas
transformações dentro de cada representação; e (iii) a independência cada vez maior das
representações concretas. Estes autores afirmam que se os alunos forem capazes de
aplicar a composição, decomposição e os princípios da conversão das representações na
resolução de problemas aritméticos, tanto aditivos como multiplicativos eles serão
flexíveis com o conceito de unidade.
Algumas dificuldades reveladas pelos alunos são também referidas por Monteiro e Pinto
(2007) que consideram como as mais frequentes as seguintes: (i) confusão entre décimas
e centésimas (exemplo: 2,5 com 2,05); (ii) confusão entre o número de algarismos e a
quantidade (exemplo: 1,456 é maior que 1,5); e, por fim, (iii) a ideia que entre 0,1 e 0,2
não existem números decimais. Consideram ainda que estas dificuldades podem estar
relacionadas com a não compreensão dos conceitos e significados envolvidos na
aprendizagem dos números decimais.
169
EIEM 2015
Metodologia
O estudo relatado nesta comunicação é um estudo de natureza qualitativa, preliminar a
um estudo mais amplo que dará lugar à elaboração da tese de doutoramento da primeira
autora. Para a elaboração deste texto foram observadas quatro aulas, que eram parte de
um planejamento anterior entre a professora e a primeira autora (a investigadora),
coincidente com a ida ao campo para organizar a experiência de ensino da investigação
mais ampla que está sendo desenvolvida. O nosso objetivo é compreender o modo como
os alunos do 4.º ano evoluem nas representações dos números decimais, procurando
resposta para a seguinte questão: Que estratégias os alunos utilizam para representar os
números decimais na resolução de tarefas que envolvem estes números?
170
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
Cada aluno recortou suas barras de chocolate e o combinado foi que as deixassem todas
inteiras. A professora explorou o material com os alunos fazendo alguns
questionamentos: Quantos chocolates vocês têm? As barras têm o mesmo tamanho? O
chocolate da barra azul está dividido em quantos pedaços? Duas barras têm quantos
pedaços? E a metade, tem quantos pedaços? etc. Propôs ainda os seguintes problemas:
1) “Eu tenho onze chocolates e dez sobrinhos. Se eu distribuir os chocolates pelos meus
sobrinhos, quantos chocolates cada um vai receber? 2) “Cinco chocolates para duas
crianças, quantos chocolates e quantos pedaços cada criança poderá ganhar”. Os alunos
socializaram suas soluções, no quadro, nas duas situações. Não vamos discutir estas
situações por não ser o foco específico desta comunicação; vamos apenas fazer uma
pequena ilustração para entendermos os processos mentais dos alunos e as suas evoluções
nas representações dos números decimais. O que percebemos é que os alunos conseguem
encontrar o resultado utilizando várias estratégias de cálculo e registros diferentes.
171
EIEM 2015
Percebe-se, nos exemplos que apresentamos na figura 3, que os alunos utilizam números,
palavras como “pedaços, metade e meio” para representar décimas; o “e” e o símbolo %
para representar a vírgula. Nota-se que eles apenas ensaiam o uso da vírgula utilizando
“e” e %. É perceptível nas suas soluções a compreensão dos fracionamentos, das
transformações do todo (unidade) em partes.
Na figura 5 o aluno utiliza o desenho para representar o “quinto”. Aqui, o que nos chama
a atenção é que o aluno ainda não compreendeu a noção de quinta parte do inteiro, pois
representa todos os quintos e ao ser questionado onde está um quinto do inteiro mostra
172
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
que são todos. Podemos inferir que, apesar de aparecer o quinto, o aluno ainda não
relaciona os números fracionários com os decimais, ou seja, ele não percebeu ainda a
equivalência entre 1/5 e 2/10.
Após este registro, a professora combinou com a turma que, a partir daquele dia, pedaços
iam chamar-se décimas e que para escrever os chocolates iriam usar o modo do colega.
Pediu que ele fizesse um cartaz para colocar no mural da sala. Ressaltou, que para não
ficar igual ao “D” de dezena, poderiam usar o “d” minúsculo de décima.
Tarefa do Chocolate
Como referido, a Tarefa do Chocolate foi uma sugestão da investigadora com o objetivo
de, após a realização da tarefa anterior, verificar a compreensão dos alunos no que se
refere aos números decimais e às representações destes números, especificamente, se
utilizariam o “i” (para representar a parte inteira) e o “d” (para a parte decimal) e, se
chegariam à representação com a vírgula.
173
EIEM 2015
Depois da realização da tarefa a professora abriu espaço para socialização. Ela disse que,
pelo adiantado da hora iriam apenas socializar a repartição de chocolates por dois
sobrinhos e por quatro sobrinhos. Discutimos aqui a repartição por dois sobrinhos.
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GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
cabeça e escreveu 1,5 (Figura 9). A professora replicou: “Ahhh! Explica pra gente o que
é isso aí”.
O aluno disse: “é a mesma coisa que o do colega, só que com vírgula” (Figura 10).
O aluno utiliza as mesmas estratégias que o aluno da figura 8 – as suas ações mentais são
partitioning e spliting. E no seu registro vemos que faz vários ensaios de registro do
número decimal (1 e 5 d; 15 inteiros e 1,5).
Um outro aluno logo respondeu ao anterior: “não é, não é um inteiro esse aí”. A
professora chamou-o ao quadro para explicar e ele disse: “não é, tudo isso aqui é
décimos”, escrevendo no quadro 15 décimos (Figura 11). Percebe-se que a ação mental
utilizada pelo aluno, neste momento, é unitizing, pois trata o objeto ou uma coleção de
objetos como uma unidade ou como um todo. Neste caso, ele junta as décimas em um
todo, sem considerar que ali há um inteiro e cinco décimas. A professora pediu ao aluno
para que pegasse as barras de chocolates e iniciou um diálogo com ele. O aluno reagiu:
“Ah! Sim. Tenho inteiro e metade! Mas o que eu vejo são 15 décimos”. Nesta altura, a
professora ouviu vários alunos a intervir: “olha eu quero ouvir vocês! Aqui eu tenho uma
escrita, duas escritas, 3 escritas diferentes. Elas têm alguma coisa em comum?...”
Uma aluna disse: “Tia! tem uma coisa em comum. Todos eles têm 1 inteiro e cinco
décimos!” A professora pergunta aos alunos se eles concordavam com a aluna e em coro
175
EIEM 2015
disseram que sim. Ela retorquiu novamente para os alunos: “Eu acho que a gente está
desvendando o mistério da vírgula, o que vocês acham?” A mesma aluna disse: “Tia, eu
acho que a gente tá desvendando porque a vírgula, ela serve para fazer separar o
número, se não tivesse vírgula ia ter que ficar igual vírgula 100 ia ter que ser 100, nunca
ia ser um”. Nesta intervenção, pode-se perceber que a aluna faz uma comparação do
número natural 100 com o número decimal 1,00. Podemos inferir que a sua atividade
cognitiva revela uma representação mental dos números. Mas quando o número aumenta,
esta aluna passa a utilizar uma representação pictórica (Figura 12).
Na figura 12 a aluna mostra como encontrou o resultado para repartir os três chocolates
por quatro sobrinhos. Ela explicou que fez grupos de 4, cada um ficando com 7 e uma
metade de um décimo. Os pontinhos que aparecem entre os traços representam a metade
do décimo. Percebe-se que é uma representação pictórica e espontânea da aluna.
Seguidamente, uma outra aluna foi até o quadro e disse: “Tia agora eu entendi oh!”
Começou a escrever e a falar: “11 décimos é igual 1,1; um inteiro e um décimo. 15
décimos é 1 e 5, um inteiro e cinco décimos que é o mesmo que 1, 5. 20 décimos é igual
a dois inteiros que fica 2,0” (Figura 13).
Considerações finais
Na resolução destas tarefas na sala de aula percebemos a evolução dos alunos nas suas
representações dos números decimais. Eles iniciam utilizando as palavras “chocolate”
para representar o inteiro e “pedaços” para representar as décimas partes, ou seja, usam
a linguagem natural. Duval (2012) aponta que não é possível negligenciar ou descartar a
linguagem natural no ensino da matemática, afirmando que ela é um registro tão
fundamental quanto os outros registros, particularmente aqueles em que os cálculos são
possíveis. Inicialmente, os alunos utilizam as palavras “metade” e “meio”, mas não
176
GD1 – As representações e a aprendizagem matemática
utilizam as representações 0,5 e/ou ½, no entanto identificam estas como parte do inteiro.
Aparece, também, a palavra “quinto”. Os alunos chegam a dividir o inteiro em cinco
partes (quintos), mas parece não conseguirem, ainda, fazer a sua equivalência em décimas
partes (décimos). Usam o símbolo “e” no lugar da vírgula e um aluno utilizou“%” para
separar a parte inteira da parte decimal. Mais tarde, passam a utilizar as palavras “inteiro”
e “décimos” para representar a parte inteira e a parte decimal de um número, socorrendo-
se muitas vezes de representações pictóricas. Notámos que há uma compreensão do
significado parte/todo, pois utilizam ações mentais como unitizing; partitioning e
splinting (MacCloskey & Norton, 2009). Todavia, parece não conseguirem estabelecer
relações de ordem e de equivalência em alguns casos (quinto, meio, metade).
Para a evolução das representações dos números decimais parece ter tido um papel
importante o questionamento da professora no decorrer da discussão das tarefas, bem
como o ambiente da sala de aula permitindo que os alunos possam trocar experiências e
socializar as soluções encontradas. Os alunos sentem-se livres para encontrarem as
estratégias que pensam ser melhores para o problema a resolver, mas também, no
momento de socialização, para apresentarem uma estratégia diferente ou um resultado
diferente do previamente apresentado. O uso de material manipulável (barras de
chocolate), no nível em que os alunos se encontravam, parece ter sido fundamental para
a evolução das representações dos números decimais.
Referências
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Cox, R. (1999). Representation construction, externalised cognition and individual differences.
Learning and Instruction, 9, 343-363.
177
EIEM 2015
178
PÓSTERES – GD1
179
GD1 – Pósteres
Ema Mamede
CIEC, Universidade do Minho
[email protected]
Liliane Carvalho
Universidade Federal de Pernambuco
[email protected]
Conteúdo do póster
Ser capaz de organizar um conjunto de dados e representá-los em tabela ou gráfico de
barras é uma das ambições da aprendizagem matemática já no 1.º ciclo. Contudo,
diferentes representações parecem afetar de modo distinto a interpretação de informação
pelos alunos. Carvalho (2008) destaca os gráficos de barras como mais facilitadores de
interpretação de informação do que tabelas ou casos isolados, com alunos do 8.º ano no
Brasil. Em Portugal, os alunos iniciam o trabalho com gráficos variados e tabelas a partir
de conjuntos de dados não organizados (aqui referidos como casos isolados) desde o 1.º
ciclo. No entanto, pouco se sabe sobre o efeito do tipo de representação de informação na
interpretação que os alunos fazem da mesma. Os casos isolados, os gráficos de barras e
as tabelas são das primeiras representações de informação que os alunos aprendem no 1.º
ciclo. Procura-se aqui conhecer o efeito destes diferentes tipos de representação de
informação no desempenho dos alunos, tentando conhecer: 1) Que desempenhos
apresentam os alunos quando a informação é representada por gráficos de barras, tabelas
e casos isolados? 2) Que justificações apresentam na interpretação de informação nas
várias representações?
Usou-se um inquérito por questionário para apresentar quatro problemas a alunos do 6.º
ano (n=120) do centro de Braga, por se querer recolher informação sobre um tema preciso
junto de uma amostra (Ketele & Roegiers, 1993). Formaram-se, aleatoriamente, três
grupos (n=40 cada); cada grupo resolveu os problemas apresentados num dos modos de
representação – gráficos de barras (GB), tabelas (T), casos isolados (CI). O questionário
foi aplicado em cada turma, na presença do professor mas sem a sua interferência. A cada
aluno foi fornecido um caderno com cada problema impresso. Cada problema foi
181
EIEM 2015
apresentado oralmente pelas investigadoras ao grupo turma seguindo-se uma pausa para
a sua resolução individual, com justificação de resposta. Em cada turma, a aplicação dos
problemas levou cerca de 45 minutos. Foram apresentados a todos os alunos os mesmos
problemas, pela mesma ordem, mas usando a representação de informação de acordo com
a condição do grupo de trabalho. Os problemas apresentados foram adaptados de
Carvalho (2008). A Figura 1 mostra exemplos de um problema apresentado com gráfico
de barras, tabelas e casos isolados, respetivamente.
Fez-se uma análise descritiva dos dados. A Tabela 1 resume a média e desvio padrão do
número de respostas certas por tipo de representação.
182
GD1 – Pósteres
Figura 3: Respostas dos alunos a um mesmo problema com representações diferentes dos dados.
183
EIEM 2015
Em cada um dos grupos, há alunos com todas as respostas certas. Há um grande número
de alunos que acerta dois problemas. A análise das explicações dos alunos permitiu
distinguir quatro categorias: 1) válida - atende às relações entre quantidades e produz
explicação certa; 2) não quantifica e produz explicação errada; 3) refere o total; 4)
inconclusivo, ou ausência de resposta. A Tabela 2 resume as explicações obtidas.
184
GRUPO DE DISCUSSÃO 2
As representações e o conhecimento
profissional dos professores
185
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
AS REPRESENTAÇÕES E O CONHECIMENTO
PROFISSIONAL DOS PROFESSORES
Isabel Vale
Escola Superior de Educaçao, Instituto Politécnico de Viana do Castelo
[email protected]
Teresa Pimentel
Escola Superior de Educaçao, Instituto Politécnico de Viana do Castelo
[email protected]
Muitos autores recomendam que se utilizem múltiplas representações desde muito cedo
na aprendizagem dos conceitos, pois o uso limitado dessas representações pode conduzir
a obstáculos no processo de uma aprendizagem significativa. Por exemplo, como refere
Kieran (1992) isto acontece no ensino da álgebra quando se utiliza apenas expressões
simbólicas.
187
EIEM 2015
expressem diferentes aspetos de forma mais clara e, por isso, a informação obtida a partir
de representações que combinam será maior do que a que pode ser adquirida partir de
uma representação única; (b) várias representações limitam-se umas às outras, de modo
que o espaço para operar em cada uma torna-se menor; e (c) para relacionar múltiplas
representações, o aluno tem de se envolver em atividades que promovam a compreensão.
De acordo com alguns autores (Behr, Harel, Post & Lesh 1992; Lesh, Post & Beher, 1987;
Tripathi, 2008) podemos identificar cinco tipos de representações que ocorrem durante a
aprendizagem matemática e a resolução de problemas e que são do tipo: contextual
(situações da vida real); concreto (manipulável); semiconcreto (pictórico); verbal
(linguagem); e simbólico (notação). Esta classificação ajuda a diferenciar as muitas
formas de um conceito matemático, mas também indica como desenvolver as capacidades
necessárias na compreensão de um conceito. Cada uma das representações é uma
manifestação de um aspeto do conceito e envolve diferentes níveis cognitivos. Assim, a
representação é rica se contém bastantes aspetos ligados ao conceito. Uma representação
matemática apenas ilustra muitas das vezes um dos aspetos do conceito. Só temos uma
imagem holística do conceito quando olharmos para essa ideia a partir de diferentes
perspetivas. À medida que o número de pontos de vista aumenta desenvolvemos uma
visão do conceito mais rica e profunda. Representar um conceito é criar uma imagem
dele. A visualização é um dos processos pelo qual as representações mentais podem
aparecer.
188
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
ideia é também assinalada por Ma (1999) quando argumenta que para compreender e
explicar os conceitos matemáticos e para estabelecer conexões para além desse conceito
tem de deter um profundo conhecimento da matemática fundamental. A compreensão da
relação entre ideias simples e fundamentais em matemática reflete-se num ensino
unificado dos conhecimentos em vez de um ensino fragmentado de tópicos isolados.
Também a consideração de múltiplas perspetivas e diferentes abordagens a ideias
matemáticas conduz a uma compreensão flexível da disciplina.
Neste sentido, este grupo surge como um espaço onde pretendemos desenvolver uma
maior compreensão sobre a investigação que incide sobre as representações matemáticas
e as suas ligações com o conhecimento profissional do professor, através das discussões
suscitadas pelos estudos apresentados pelos participantes.
Optou-se por escolher para o primeiro momento estudos no âmbito da formação inicial
de professores com o tema da Geometria. O trabalho de Giraldo, Neto, Corrêa e Ribeiro
incide sobre a articulação entre representações geradas por tecnologias digitais e outras
formas de representações para conceitos matemáticos e o modo como o conhecimento
combinado de conteúdo e tecnológico de alunos de um curso de formação inicial de
professores pode auxiliar na tomada de decisões. A comunicação de Brunheira e Ponte
incide numa experiência de formação com futuros professores com foco na classificação
de quadriláteros, estudando a compreensão dos alunos das propriedades das figuras bem
como os fatores que influenciam essa compreensão. No segundo momento conta-se o
trabalho de Ribeiro e Montes em que se estudam tarefas envolvendo números racionais e
189
EIEM 2015
a análise por futuros professores das múltiplas representações usadas pelos alunos nas
respostas que dão. Por seu lado, a comunicação de Nakayama abrange alunos de cursos
de Pedagogia e professores da rede pública tendo por base a identificação e análise dos
mitos que sustentam as suas representações. Por fim, o trabalho de Ribeiro, Powell e
Caldeira refere-se aos contributos duma formação contínua em geometria baseada na
modelação para o conhecimento matemático para ensinar.
Referências
Ball, D., Thames, M. H., & Phelps, G. (2008). Content knowledge for teaching: What makes it
special? Journal of Teacher Education, 5, 389-407.
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190
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Kieran, C. (1992). The learning and teaching of school algebra. In D. A. Grouws (Ed.), Handbook
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Lesh, R., Post, T., & Behr, M. (1987). Representations and translations among representations in
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development. In L. English (Ed.), Handbook of International Research in Mathematics
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Tripathi, P. (2008). Developing mathematical understanding through multiple representation.
Mathematics Teaching in the Middle School, 13(8), 438-445.
191
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
COMUNICAÇÕES – GD2
193
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Lina Brunheira
Escola Superior de Educação, Instituto Politécnico de Lisboa
[email protected]
Resumo: Esta comunicação diz respeito a uma experiência de formação com futuras
professoras e educadoras do 2.º ano de uma LEB, focada na aprendizagem da
classificação de quadriláteros, a qual foi promovida por um ensino de natureza
exploratória. Os dados apresentados, recolhidos por registos áudio e vídeo e das
produções escritas das formandas, focam-se na compreensão que evidenciam sobre as
propriedades das figuras e suas relações, bem como nos fatores que influenciam esta
aprendizagem. Os resultados mostram que a classificação hierárquica depende
principalmente da robustez do conceito-imagem, da identificação dos atributos críticos
das figuras, do domínio do raciocínio dedutivo e da visualização.
Palavras-chave: geometria, raciocínio, visualização, efeito protótipo, formação inicial.
Introdução
Nas últimas décadas, a investigação em educação tem apontado para uma valorização do
ensino da geometria capaz de conciliar uma vertente mais formal e dedutiva com outra
que apela à intuição, à criatividade e à descoberta. Tal como destaca Abrantes (1999):
Contudo, um ensino consistente com esta visão da geometria levanta grandes desafios à
formação de professores, quer no que respeita ao desenvolvimento do conhecimento
matemático, quer do conhecimento didático, tanto mais que os estudos existentes em
195
EIEM 2015
No que diz respeito à abordagem metodológica, Watson e Mason (2007) sugerem que o
trabalho a desenvolver deve partir de tarefas matemáticas que promovam o pensamento
matemático dos futuros professores e desenvolvam a sua perceção sobre o poder dessas
tarefas, uma orientação consistente com a ideia de Ponte e Chapman (2008) de que, na
formação inicial, os futuros professores devem aprender segundo os mesmos métodos
que se preconiza que venham a utilizar nas suas práticas. Nesta perspetiva, surge com
especial interesse o ensino exploratório, um tipo de ensino assente essencialmente em
tarefas de cunho exploratório e investigativo, onde cabe a quem aprende uma parte
importante do trabalho de descoberta e construção do conhecimento, e numa dinâmica de
196
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
aula em que se reserva um espaço significativo ao trabalho dos alunos sobre as tarefas, a
par de momentos de discussão e negociação de significados (Ponte, 2005).
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EIEM 2015
Compreender que uma figura pode ser classificada de formas distintas e ser
nomeada com diferentes designações;
Compreender as relações de transitividade entre diferentes conceitos, ou seja,
compreender que, por exemplo, se um quadrado é um losango e se este é um
paralelogramo, então um quadrado é um paralelogramo;
Compreender a assimetria das relações entre quadriláteros, como por exemplo,
que todos os retângulos são paralelogramos, mas que nem todos os
paralelogramos são retângulos;
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GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Para Herskowitz (1989), os indivíduos que analisam as figuras com base na figura
protótipo, tendem a fazer dois tipos de “julgamentos prototípicos”: 1) o exemplo protótipo
é usado como base, mas o julgamento foca-se na sua representação visual; 2) o exemplo
protótipo é usado como base, mas o julgamento tem por base as suas propriedades, sejam
elas específicas da classe ou não. Por exemplo, neste nível de compreensão, um aluno
pode afirmar que um retângulo não é um paralelogramo porque não é “inclinado”
(julgamento tipo 1) ou argumentar no mesmo sentido, dizendo que o paralelogramo não
tem ângulos retos (julgamento tipo 2).
Metodologia de investigação
Este artigo insere-se num estudo mais amplo que visa, como já referimos, compreender a
forma como os formandos de uma LEB raciocinam geometricamente. Adicionalmente,
pretendemos reformular a unidade curricular de Geometria na qual decorre o estudo,
concebendo estratégias e ferramentas de ensino, que são aperfeiçoadas em consonância
com o conhecimento que vamos construindo. Desta forma, optámos pela metodologia de
design-based research, na modalidade de experiência de formação (Cobb, Confrey,
diSessa, Lehrer & Schauble, 2003) em que a professora tem também o papel de
investigadora. Em 2013/14, foi realizada uma primeira experiência de formação com duas
turmas que resultou num estudo-piloto e, em 2014/15, uma segunda experiência, desta
vez com uma turma (30 formandas), sobre a qual nos debruçaremos neste artigo.
7
Foram tidos em conta o percurso escolar, o grau de dificuldade que declararam sentir em geometria e as
suas intenções sobre o futuro profissional.
199
EIEM 2015
Neste texto começamos por apresentar alguns dados recolhidos do teste diagnóstico e das
entrevistas iniciais que constituem um indicador relativamente à forma como as
formandas encaravam a classificação hierárquica dos quadriláteros no início da unidade
curricular. De seguida, apresentamos dados recolhidos durante a realização da tarefa
sobre classificação, nomeadamente, registos escritos referentes a um grupo de questões e
transcrições de diálogos de um dos grupos a propósito das suas resoluções.
A análise dos dados recorre a uma metodologia mista. Para analisar a forma como os
futuros professores classificam quadriláteros, recorremos a um modelo (ver Quadro 1)
proposto por Fujita (2012). Do ponto de vista dos conceitos teóricos envolvidos, temos
em conta a teoria dos conceitos figurativos de Fischbein (1993) e a distinção proposta por
Herskowitz (1989) sobre julgamentos prototípicos. Com este quadro, pretendemos
distinguir os níveis de compreensão sobre a classificação inclusiva de quadriláteros. A
tabela 1 ilustra a forma como se organiza este quadro para a família dos paralelogramos
mas, analogamente, podem construir-se outros quadros para a família dos trapézios ou
papagaios. Nos casos da família dos retângulos ou dos losangos, o quadro tem menos uma
categoria (classificação parcialmente prototípica) uma vez que o único tipo de
quadrilátero pertencente àquelas classes é o quadrado. Apesar de existir uma hierarquia
entre os níveis de compreensão relativos a cada quadrilátero, estes níveis são
independentes quando comparamos diferentes quadriláteros.
200
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Resultados
O teste diagnóstico de escolha múltipla continha uma questão relativa ao conhecimento
da hierarquia entre quadriláteros, particularmente entre quadrados e retângulos. Os
resultados das 28 respostas obtidas mostram que, cerca de 1/3 (9 respostas) considerava
verdadeira a afirmação “todos os quadrados são retângulos”. Posteriormente, na
entrevista às quatro formandas (que coincidentemente responderam bem a esta questão),
percebemos que apenas uma compreendia a razão daquela relação (respondendo “porque
tem quatro ângulos retos”), duas não conseguiam explicá-la e a quarta raciocinava
incorretamente (“porque a partir de um retângulo posso fazer um quadrado”). Estes dados
confirmam o que já havia ocorrido no estudo-piloto, ou seja, que há algumas formandas
que conhecem esta relação, mas apenas como um facto e não algo que compreendam.
201
EIEM 2015
Para esta pergunta, a professora pediu para que, antes de discutirem no grupo as suas
ideias, registassem individualmente a sua resolução. Depois do trabalho anterior, a
primeira afirmação pareceu ser de fácil resolução para toda a turma, já que as 24
formandas presentes nesse dia responderam corretamente, apresentando uma resposta
com nível correspondente à classificação hierárquica. As justificações apresentadas são
muito semelhantes à resposta da figura 3, havendo apenas a assinalar 3 formandas que
fundamentaram a veracidade da afirmação unicamente com base na existência de quatro
ângulos retos. Apenas uma formanda deu uma resposta mais superficial, dizendo que a
afirmação é verdadeira porque “as propriedades do quadrado vão ao encontro às do
retângulo”.
A segunda afirmação registou um sucesso semelhante, uma vez que apenas duas
formandas erraram, considerando a afirmação verdadeira. As restantes 22 respostas
apresentadas são corretas, com diferentes níveis de sofisticação, potencialmente
reveladoras de formas de pensar diferentes. Entre estas respostas, 14 argumentam com
base nas propriedades dos paralelogramos e dos retângulos, mostrando compreender a
assimetria entre os atributos críticos dos quadriláteros. Consequentemente, estas respostas
revelam também a compreensão da assimetria entre as relações destes quadriláteros,
como mostra a resposta apresentada na figura 4.
Note-se ainda que, no entanto, nem todas as formandas demonstram o rigor apresentado
na resposta anterior, onde se diz que “o paralelogramo pode não ter os 4 ângulos retos”,
afirmando em vez disso que “os paralelogramos não têm os quatro ângulos retos”.
Além das 14 respostas referidas, outras 4 respostas baseiam-se apenas assimetria das
relações entre o paralelogramo e o retângulo, 3 dão respostas corretas mas pouco claras.
No que diz respeito à terceira afirmação, começamos por notar que a relação entre o
quadrado e o papagaio não é, ao contrário das questões anteriores, uma relação “direta”
se nos basearmos na hierarquia dos quadriláteros apresentada no fluxograma da tarefa.
Ou seja, neste diagrama, os quadrados relacionam-se diretamente com os losangos, e estes
202
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
203
EIEM 2015
Para melhor acedermos às razões que poderão impedir os indivíduos de admitir esta
relação, analisemos o seguinte episódio decorrido durante o trabalho em pequeno grupo,
no momento em que os elementos confrontavam o que cada um escreveu individualmente
e discutiam entre si. No registo individual, Tita respondeu corretamente com base na
relação de transitividade, Fernanda e Helena deram respostas incorretas cujo fundamento
podemos perceber a partir das suas intervenções:
Tita – Os papagaios não tem lados paralelos… quer dizer… Está aqui a dizer “o
quadrado é um caso particular de um losango”, se um losango é
um papagaio, então… então… Vocês tinham posto falsa, a
terceira?
Fernanda – Sim… O losango é um caso particular de um papagaio.
Tita – E se um quadrado é um caso particular de um losango… então é porque
também é um papagaio! Ai, não percebo nada… isto não tem
sentido nenhum…
Tita – [recorre à folha de registo das propriedades dos quadriláteros] Dois pares
de lados consecutivos iguais, um par de ângulos opostos
congruentes, as diagonais são perpendiculares, uma das
diagonais bisseta a outra. Pois, porque o quadrado tem todas as
características do papagaio… E mais. Portanto… tem lógica!
204
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Helena – Que são descendentes já percebo, só que irrita-me ver que um papagaio
não tem lados paralelos, então um quadrado é um papagaio
como??? Se um quadrado tem os lados paralelos!
Tita – Sim, sim, os papagaios não têm lados paralelos e os quadrados têm todos.
Helena – os opostos.
Tita – Sim. Não sei o que te diga realmente… Estou confusa.
A primeira reflexão que podemos fazer é que, apesar de Tita ter raciocinado muito bem,
quer recorrendo à propriedade transitiva, quer deduzindo a relação a partir dos atributos
críticos do papagaio, isso não impede que a formanda questione e se sinta perturbada com
as suas conclusões. As afirmações de Helena dão-nos pistas bastante interessantes sobre
os obstáculos que esta formanda encontra para aceitar que um quadrado é um caso
particular de um papagaio. Por um lado, a representação imagética que Helena associa ao
quadrado é muito diferente daquela que associa ao papagaio, o que nos leva à influência
determinante das imagens prototípicas. Por outro lado, a análise do ponto de vista das
propriedades também não a ajuda porque Helena comete um erro de raciocínio que parece
ser frequente: o facto de um quadrilátero não respeitar uma propriedade, não significa que
respeite a sua negação. Concretamente, se os papagaios não têm de ter pares de lados
paralelos, não significa que não haja papagaios que tenham lados paralelos.
Conclusão
Os resultados apresentados confirmam que, na grande maioria dos casos, a formação no
Ensino Básico e Secundário não foi suficiente para promover um conhecimento adequado
sobre as propriedades das figuras geométricas. A classificação hierárquica é desconhecida
de muitas formandas que naturalmente revelam dificuldade, e até algum desconforto na
sua aprendizagem, decorrente da forte conceptualização de muitas das figuras com que
trabalham e da sua inexperiência em classificar objetos geométricos.
Nesta fase inicial da aprendizagem sobre o processo de classificar, há vários aspetos que
influenciam o estabelecimento de uma hierarquia entre as figuras. Em primeiro lugar,
parece-nos claro que as relações não têm todas o mesmo grau de dificuldade: quanto mais
“direta” for a relação entre as figuras, mais fácil é a aceitação de uma relação hierárquica
205
EIEM 2015
Figura 8: Família dos papagaios com Figura 9: Família dos papagaios com as relações
as relações entre os lados destacadas. entre as diagonais destacadas.
Referências bibliográficas
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208
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Isabel Duque
Instituto Politécnico de Coimbra, ESEC, DE & CASPAE - Centro de Apoio Social de
Pais e Amigos da Escola N.º 10
[email protected]
Fernando Martins
Instituto Politécnico de Coimbra, ESEC, DE, & Instituto de Telecomunicações
[email protected]
Ana Coelho
Instituto Politécnico de Coimbra, ESEC, DE, & Centro de Estudos Interdisciplinares do
Século XX da Universidade de Coimbra
[email protected]
Vera Vale
Instituto Politécnico de Coimbra, ESEC, DE, & Centro de Estudos Interdisciplinares do
Século XX da Universidade de Coimbra
[email protected]
209
EIEM 2015
Introdução
As Nações Unidas declararam 2003-2012 a década da literacia por a considerarem
essencial à participação na sociedade. Embora existam várias definições de literacia,
parece consensual que corresponde a um conjunto de competências através das quais
alcançamos o conhecimento essencial a uma participação crítica na sociedade
(Organisation for Economic Co-operation and Development [OECD], 2000).
210
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
211
EIEM 2015
vários estudos acerca do conhecimento matemático para ensinar matemática. Assim, Ball,
Thames e Phelps (2008) propõem um modelo de análise dos conhecimentos matemáticos
para ensinar (Mathematical Knowledge for Teaching) (Figura 1).
Figura 8: Domínios do conhecimento matemático para ensinar (Ball, Thames & Phelps, 2008, p.
403).
212
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Representações em EPE
Rede de conhecimentos
Um instrumento comummente utilizado durante a aplicação da MTP, pela possibilidade
que oferece às crianças de relembrar e compreender a construção do seu conhecimento, é
a rede de conhecimentos. Baseada no conceito de mapa conceptual, proposto por Novak
(1998), a rede de conhecimentos é um instrumento que permite representar as relações
entre os conhecimentos. Quando utilizada com as crianças durante o desenvolvimento de
um projeto, esta permite registar os conhecimentos prévios das crianças e estabelecer
relações com todas as aprendizagens que se desenvolvem ao longo do processo (Duque,
2014). Como um mapa conceptual, a construção de uma rede de conhecimentos têm início
com a questão inicial/conceito que se pretende aprofundar. Partindo daí, diariamente, as
213
EIEM 2015
Representações estatísticas
Na etapa da EPE, as crianças estão aptas a realizar atividades de recolha, organização e
representação de dados em gráficos e tabelas (Gattuso, 2006). No entanto, para
representar dados é necessário realizar todo um processo que lhes permita compreender
de onde surgem e, principalmente, para que servem esses dados. Promover a compreensão
de dados é, no fundo, envolver as crianças na recolha, organização, categorização e
representação simbólica dos dados (National Coucil of Teachers of Mathematics
[NCTM], 2009). Por esse motivo, é essencial que elas possam conhecer cada fase do
processo de uma investigação estatística, agindo sobre cada uma delas, compreendendo-
as (Franklin et al., 2005): (i) formulação de questões, (ii) recolha de dados, (iii) análise
de dados e (iv) interpretação dos resultados. Partindo de questões emergentes do
quotidiano das crianças, estas devem ter oportunidade de recolher e organizar dados de
modo a obterem respostas às questões colocadas (Duque et al., 2014; Martins et al., 2015).
Através da construção e sequente interpretação das representações gráficas as crianças
têm a oportunidade de compreender o significado dos dados e de reconhecer que o
conhecimento estatístico pode ser aplicado a situações do seu quotidiano (Duque, Pinho
& Carvalho, 2013; Rodrigues & Cordeiro, 2015).
Para que os dados representados sejam significativos para as crianças eles devem contar
uma história (estatística) baseada no conhecimento sobre os dados e sobre o tema em
estudo, sob pena de serem encarados como números sem significado (UN, 2009). As
representações são uma forma de organizar e apresentar informação de forma clara e é
importante que as crianças tenham a oportunidade de as compreender como veículo de
comunicação eficaz (Fernandes & Cardoso, 2009). Para tal, é necessário criar situações
que as incentivem a procurar nos dados as respostas às suas questões, após a sua recolha
e organização (Castro & Rodrigues, 2008; Choate & Okey, 1981).
214
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Contexto e método
Este estudo teve a participação de 24 crianças de 3, 4 e 5 anos, uma educadora e foi
desenvolvido em jardim-de-infância. Por questões éticas (British Educational Research
Association, 2011; Comissão Europeia, 2013), os nomes apresentados são fictícios e,
além das autorizações necessárias à realização de um estudo desta índole, a sua
preparação envolveu a realização de um diálogo com as crianças, através da qual foi
obtido o seu consentimento informado.
Este estudo permitiu recolher informações sobre as diferentes fases que envolvem o ciclo
investigativo (problema, plano, dados, análise e conclusão) (Burgess, 2009). O conjunto
de tarefas apresentado foi desenvolvido em ambiente natural, com participação da
totalidade dos envolvidos. A planificação foi desenhada pela educadora e crianças, de
acordo com a MTP. Trata-se de um estudo que concilia a metodologia qualitativa, de
índole interpretativa, a um design de estudo de caso de caráter descritivo. A recolha de
informação da sessão foi realizada por meio de registo vídeo e áudio, tendo as transcrições
sido analisadas de modo interpretativo. A frequência do ambiente educativo pela
investigadora, por um período de cerca de 8 semanas, permitiu considerar outras
informações na análise, nomeadamente referentes às crianças, educadoras e projeto em
desenvolvimento (Bassey, 1999; Bogdan & Biklen, 1994). Com este estudo, pretendemos
analisar as potencialidades de conciliar a MTP com os conhecimentos estatísticos dos(as)
educadores(as) na promoção da compreensão das representações estatísticas nas crianças.
215
EIEM 2015
Inicialmente, as crianças foram referindo se a sua mãe tinha o cabelo curto ou comprido
sem ser feito qualquer registo. No entanto, rapidamente algumas perceberam que deveria
ser feito o registo da informação. Assim, foi proposto que se registassem os dados numa
tabela, já que este era um modo de registo que era familiar às crianças, por o terem
utilizado noutras situações. No quadro, foi desenhada uma tabela com três colunas (Figura
3): (i) nomes das mães, (ii) cabelo curto e (iii) comprido. Foi ainda definido o critério de
curto e comprido, exemplificando com casos de comprimentos de cabelos de alguns
elementos do grupo:
Educadora: Se tiver o cabelo mais curto do que a Maria, que tem o cabelo pelo
queixo, em que coluna vamos assinalar?
Maria: Na coluna do cabelo curto.
Educadora: Então, se tiver mais comprido, vamos assinalar...
Carlos: Na coluna do cabelo comprido.
Uma a uma, as crianças foram ao quadro. A educadora colocou na tabela os nomes das
mães e as crianças completaram colocando uma cruz na coluna correspondente,
respeitando a posição do nome da respetiva mãe.
216
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Pelo elevado número de nomes de mães a assinalar e por dificuldade de gestão de espaço,
deixou de ser possível escrever mais nomes na tabela, pelo que foi feita outra coluna para
o efeito.
Educadora: Estamos sem espaço para escrever os nomes das mães que faltam.
Como vamos fazer?
João: Fazemos outra fila ao lado.
Educadora: E depois onde colocamos as cruzes?
João: Fazemos como fizemos com as outras.
A nova coluna viria a levar as crianças a colocar mais do que uma cruz em cada linha,
(Figura 4). A partir desse momento, optou-se por não lembrar as crianças sobre o interesse
de colocar a cruz na mesma linha em que estava escrito o nome, salientando-se, sempre
que necessário, a importância de respeitar a coluna. A intenção desta mudança de
estratégia prendeu-se com o facto de querer mostrar às crianças que, não se respeitando a
217
EIEM 2015
construção, a resposta à questão inicial se tornaria menos imediata. Além disso, esta
construção levaria à colocação de uma questão que poderia conduzir as crianças à
construção do pictograma. Deste modo, feita a recolha de dados, que simultaneamente foi
registada na tabela, foi colocada a seguinte questão: há mais mães de cabelo comprido ou
há mais mães de cabelo curto?.
Várias crianças participaram, umas afirmando que havia mais mães com cabelo
comprido, outras indicando o oposto. Feita a partilha de opiniões, foi colocada a questão:
como é que vocês sabem?. Como calculado pela educadora, o facto de não ter sido
respeitado o parâmetro de colocar uma cruz em cada linha impediu as crianças de
identificarem a resposta de forma imediata. No entanto, algumas crianças iniciaram a
contagem das cruzes e uma das crianças indicou que havia 11 mães com cabelo curto.
Educadora: Mas, está fácil de perceber, olhando para o quadro, quantas mães
têm cabelo curto e quantas têm cabelo comprido? Consegue
olhar-se e perceber-se logo?
Beatriz: Não! Temos de contar!
Mediante esta resposta, a educadora informou as crianças que havia outras formas de
representar os dados e que, pela observação dessa representação, poderiam obter resposta
à questão sem contagem. De seguida, foi apresentado o material necessário: (i) cartões
com caras sorridentes, todos do mesmo tamanho; (ii) uma folha de papel cenário e (iii)
uma caneta. Na folha já estava desenhada uma linha horizontal e, abaixo dessa, os
mesmos desenhos representativos do cabelo curto e comprido usados na tabela. O título
também já estava escrito: O comprimento do cabelo das mães. As crianças foram
convidadas a explorar o material e partilharem as suas ideias sobre como poderiam
representar os dados com o material disponível. Com a participação das crianças,
chegámos à conclusão que cada um dos cartões iria “valer” (representar) uma mãe,
informação que foi acrescentada no cartaz (Figura 5).
218
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Figura 12: Pictograma, antes e depois de colocada a informação do valor de cada cartão.
As crianças foram questionadas sobre o local onde deveriam colar os cartões. Algumas
pediram para participar e uma delas foi ao quadro exemplificar. Informaram-se as
crianças que, para representar a informação corretamente, deveriam colar os cartões
juntos e manter a distância entre as colunas. Foi explicado que, caso não o fizessem, não
iriam conseguir responder à questão inicial sem contagem. Neste momento, uma das
crianças lembrou o que havia acontecido com a construção da tabela. De um modo geral,
as crianças identificaram o motivo da dificuldade que haviam tido para interpretar a
informação constante na tabela. Concluiu-se que, se voltássemos a colocar os símbolos
sem uma determinada organização, iriamos ter o mesmo problema. Uma a uma, cada uma
das crianças foi colar a figura, sendo confrontada a informação com a indicada na tabela.
Sem exceção, todas as crianças colaram os cartões respeitando as indicações (Figura 6).
Figura 13: Criança de 3 anos a colar o cartão na coluna das mães de cabelo comprido.
Como resultado, foi obtido um pictograma que as crianças analisaram. Durante essa
análise as crianças foram questionadas sobre a possível generalização deste estudo:
219
EIEM 2015
Educadora: Podia ficar igual, mas também podia ficar diferente. Como é que
podíamos saber isso?
João: Pois, só se fores lá fazer é que sabes.
Podemos verificar que, muito embora de forma informal, esta criança, como outras que
partilharam de um discurso idêntico, compreendeu o conceito de variabilidade. Deste
modo, as crianças, de um modo geral, compreenderam que aquele pictograma dizia
respeito às suas mães, motivo pelo qual o título foi completado. Como é possível observar
na Figura 7, também o resultado da investigação foi registado no Pictograma, através do
código escrito e de um desenho feito por uma das crianças: Na turma A há mais mães de
cabelo comprido.
Por fim, foi feita a relação entre o pictograma construído com as personagens da história
lida no início da sessão, a profissão de cabeleireiro e o estabelecimento comercial onde
se corta o cabelo, através da rede de conhecimentos, onde foi acrescentada a conclusão
da investigação (Figuras 8 e 9). Lembrou-se que se tivesse sido escolhida outra
caraterística das mães, como a cor dos olhos, o resultado poderia ter sido diferente.
220
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Figura 17: Análise do conhecimento estatístico para promover aprendizagens, mobilizado pela
educadora durante a sessão apresentada (adaptado de Burgess, 2009).
221
EIEM 2015
Considerações finais
Existem evidências de que é necessário que os(as) educadores(as) aprofundem os seus
conhecimentos, nomeadamente para a promoção do desenvolvimento da literacia
estatística (Burgess, 2009). É importante que um(a) educador(a) conheça todas as etapas
que envolvem uma investigação estatística e qual a melhor forma de a desenvolver com
as crianças (Burgess, 2009). O contexto tem um papel essencial numa investigação
estatística, visto que os dados estão intimamente ligados ao contexto em que são
recolhidos. A MTP permite desenvolver uma investigação estatística de forma
significativa, já que a questão surge com as crianças, de forma contextualizada e integrada
com outras áreas do saber (Martins et al., 2015). Num ambiente de integração dos saberes,
pela partilha, as crianças recorreram aos seus conhecimentos e, sob a orientação da
educadora, levaram a cabo todo um processo de recolha de dados, adquirindo
conhecimentos estatísticos, desenvolvendo o seu pensamento estatístico e o seu raciocínio
estatístico. No entanto, existem evidências que nos permitem compreender que esta
experiência apenas foi possível devido aos conhecimentos estatísticos do educador,
conhecimentos que vão além dos conhecimentos necessários aos cidadãos comuns para
interpretarem informações estatísticas, ou seja, conhecimentos especializados necessários
para promover aprendizagens.
222
GD2 – As representações e o conhecimento profissional dos professores
Agradecimentos
Este estudo foi realizado no âmbito do R&D Unit 50008, financiado pelo
UID/50008/2013.
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224
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
Victor Giraldo
Universidade Federal do Rio de Janeiro
[email protected]
Introdução
Nas últimas décadas, a utilização de recursos digitais tem sido frequente na prática
profissional em diversas áreas. Isso ocorre a partir da nova dinâmica de comunicação,
225
EIEM 2015
No ensino de matemática isso é ainda mais evidente, pois, como destacam Maschietto e
Trouche (2010), os processos por meio dos quais a matemática é produzida, praticada e
ensinada sempre foram determinados pelos tipos de ferramentas usadas, tais como: o
ábaco, o lápis, o papel e, mais recentemente, as calculadoras e os computadores. Assim,
acredita-se que a inserção de novas tecnologias digitais, bem como o aprimoramento da
utilização das antigas, tem potencial para transformar a estrutura da sala de aula de
matemática, além de exigir a modificação dos currículos e metodologias de ensino na
formação inicial do professor de matemática.
226
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
Mishra e Koehler (Mishra & Koehler, 2006; Koehler & Mishra, 2008) propõem, a partir
de um desdobramento das pesquisas desenvolvidas por Shulman, um modelo teórico para
o uso pedagógico das tecnologias digitais. Este referencial envolve uma complexa e
situada forma de corpos de conhecimentos que os autores denominam conhecimento
tecnológico, pedagógico e do conteúdo (CTPC ou TPACK, do termo original em inglês
Technological Pedagogical Content Knowledge). Veja na Figura 1.
8
O diagrama está reproduzido com permissão da editora, © 2012 por tpack.org, e a tradução é do autor.
227
EIEM 2015
Para Koehler e Mirsha (2008), em lugar de ser uma coisa dada e determinada que uma
pessoa descobre e contempla, o conhecimento é visto como um corpo de proposições e
habilidades que uma pessoa constrói e exerce. Na Figura 1 cada círculo representa um
corpo de conhecimento. O círculo azul representa o corpo de conhecimento do conteúdo,
que corresponde a saber o assunto a ser aprendido ou ensinado, o que é essencial para um
professor ministrar uma disciplina. Esse mesmo corpo inclui, segundo Shulman (1986),
o conhecimento sobre os conceitos, teorias, ideias, estruturas organizacionais, o
conhecimento de evidências e provas, bem como as práticas estabelecidas e abordagens
para o desenvolvimento de tal conhecimento.
Com o advento das tecnologias digitais, um professor dispõe também desses recursos
para a construção de novos conhecimentos na sua área acadêmica. Isso nos leva ao corpo
de conhecimentos, representado pelo círculo rosa na Figura 1. Segundo Koehler e Mishra
(2008), o conhecimento tecnológico corresponde ao entendimento de que cada tecnologia
tem possibilidades e restrições. Esse corpo de conhecimento possibilita ao professor
aplicar a tecnologia produtivamente para o trabalho e para o ensino, reconhecendo quando
esta auxilia ou dificulta a realização de um objetivo, além de reforçar a necessidade de
adaptação contínua às mudanças das tecnologias de informação e comunicação. O
conhecimento de novas tecnologias se desenvolve por meio da interação com essas
tecnologias.
Como indicado na Figura 1, Koehler e Mishra (2008) sugerem que essas três categorias
de conhecimentos se combinam entre si, determinando novas categorias. Neste trabalho,
detemo-nos ao conhecimento correspondente à interseção das três categorias: conteúdo,
pedagogia e tecnologia. Seguindo os autores, entendemos que um professor atuando com
TPACK reconhece que não há uma única maneira para engajar seus alunos e que cada
uso da tecnologia no ensino precisa ser pensado e aplicado com a especificidade do
contexto da disciplina e da turma (Koehler & Mirsha, 2008). Por isso, na Figura 1, os
corpos de conhecimentos de TPACK são situados dentro de uma área da circunferência,
que representa o contexto.
228
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
A investigação
Neste trabalho, discutimos o papel da articulação entre representações geradas por
tecnologias digitais e outras formas de representações físicas9 como um aspecto do
TPACK. A habilidade de articular diferentes representações para um objeto dado,
reconhecendo que propriedades recebem mais ou menos destaque por cada uma delas, é
uma componente importante do conhecimento pedagógico de conteúdo, uma vez que
possibilita ao professor avaliar que representações são mais apropriadas a cada contexto
pedagógico. Por exemplo, o gráfico de uma função polinomial esboçado para valores
“pequenos” das variáveis pode dar mais destaque aos extremos locais da função (Figura
2, à esquerda); enquanto que o gráfico da mesma função esboçado para valores maiores
das variáveis pode dar mais destaque ao seu comportamento assintótico (Figura 2, à
direita).
Figura 2: O gráfico da função 𝑓(𝑥) = 3(𝑥 3 − 𝑥), esboçado para valores diferentes da
variáveis.
Tecnologias digitais podem ser usadas para gerar representações com certas
características particulares (Giraldo, Caetano & Mattos, 2013, p. 114). Em primeiro lugar,
diferentemente do que ocorre com papel e lápis, representações geradas por tecnologias
digitais podem, em um certo sentido, “reagir” à forma como são construídas e às ações
do usuário. Por exemplo, no desenho de um quadrado construído em papel e lápis, suas
propriedades (lados congruentes e ângulos retos) podem ser usadas na construção ou
simplesmente indicadas por meio de registros no desenho; enquanto que na construção
de um quadrado em um ambiente de geometria dinâmica, essas mesmas propriedades são
9
Neste trabalho, tratamos exclusivamente de representações exteriores, isto é, representações para objetivos
matemáticos dados, construídas em meios físicos.
229
EIEM 2015
Em segundo lugar, como tem sido amplamente documentado pela literatura de pesquisa
(e.g. Laborde, 2000), a característica dinâmica de representações geradas por tecnologias
digitais permite a exploração de propriedades que são preservadas mediante ações do
usuário. Além disso, essa característica possibilita ao usuário manipular representações e
observar dinamicamente, como consequência de suas ações, certas propriedades
ganharem ou perderem destaque. Por exemplo, no caso do exemplo ilustrado na Figura 2
acima, o usuário pode alterar gradativamente os valores que determinam as janelas
gráficas e observar os extremos locais perderem destaque enquanto o comportamento
assintótico ganha destaque. Esse exemplo, em particular, será foco do primeiro episódio
relatado neste artigo.
230
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
Ilustramos nossos argumentos com dados empíricos obtidos originalmente como parte da
tese de doutoramento de um dos autores (Giraldo et al, 2003; Giraldo, 2004), sobre o caso
de funções reais de variável real. Parte desses dados são aqui reinterpretados à luz da
teoria TPACK (Mishra & Koehler, 2006; Koehler & Mishra, 2008). Na ocasião da
elaboração da tese, a análise se baseou na noção de imagem de conceito proposta por Tall
e Vinner (1981). Consideramos que a análise desses dados com base na teoria TPACK
possa contribuir com a discussão sobre possibilidades de uso de tecnologias digitais na
formação inicial de professores de matemática, uma vez que que considera os
conhecimentos necessários ao futuro professor para a ação docente com o uso dessas
tecnologias.
Método
Na pesquisa de doutoramento, participaram 6 estudantes de um curso universitário de
formação inicial de professores de matemática (Licenciatura em Matemática) em uma
universidade pública brasileira, identificados pelos pseudônimos: Antônio, Carlos,
Francisco, Júlio, Marcelo e Tiago. Os dados empíricos foram coletados durante o ano de
2001, quando os participantes cursavam o primeiro ano do curso de graduação. Neste
trabalho, restringimos as nossas análises a dois episódios envolvendo os participantes
Francisco e Carlos. Consideramos ilustrativos do argumento que pretendemos
desenvolver.
O objetivo das tarefas era, portanto, identificar estratégias e reações dos participantes
frente a tais situações, além de suas possíveis preferências por determinados tipos de
representações ao buscarem garantias de validade para os resultados. Ao longo do
desenvolvimento das tarefas, os participantes manipulavam livremente as representações
digitais inicialmente apresentadas, por exemplo, alterando parâmetros para a visualização
de gráficos. Desta forma, a ferramenta tecnológica desempenhava um papel central na
231
EIEM 2015
Resultados
Entrevista T1 – Comportamento Assintótico
232
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
correspondia à função cuja expressão algébrica também era dada. Desta forma, foi dado
considerável destaque às contradições aparentes entre as representações. A tarefa
proposta consistia em verificar se ℎ era ou não derivável.
Episódio 1: Francisco
Francisco afirma, olhando para a fórmula da função, que ela deveria ser derivável, e que,
portanto, o “bico” mostrado na tela do computador não seria na realidade um bico, mas
uma curva suave. Ele aproxima o rosto da tela do computador e, sem mudar a janela
gráfica, comenta:
Ele olha novamente para a expressão algébrica e verifica que seria possível aplicar as
fórmulas usuais de derivação, logo a função tem que ser derivável. Em seguida, Francisco
volta a atenção para a tela do computador e efetua o “zoom”. Ao ver a nova imagem, ele
comenta:
233
EIEM 2015
Agora está aí, uma boa questão. [...] A fórmula não parece de uma reta.
Mas isso aqui [aponta para o trecho do gráfico que parecia ser uma
semirreta] tende a ser uma reta, mas não é uma reta? [...] Aí, agora, me
pegou!
Espera! Eu sei que é derivável! Deixa eu ver. Eu sei que ela é derivável.
[...] Aí, eu vou ter que derivar ela para pensar se é uma reta ou não.
Olha! Essa função é derivável, mas vai ter uma inclinação diferente para
cada ponto. Não é como a função módulo que não é derivável no ponto
(0, 0), mas que tem a mesma derivada do lado 𝑥 positivo e mesma
derivada do lado 𝑥 negativo para todos os pontos. Essa função não, ela
vai se aproximar no +∞ e −∞ da função |𝑥|. Vai se aproximar, mas
para cada ponto vai ter uma derivada diferente.
Verificamos que Francisco vivenciou duas situações de conflito. Na primeira, ele percebe
que o aparente “bico” mostrado na tela não seria compatível com a expressão algébrica
da função. Como ele está convencido de que a função seria derivável, não experimenta
qualquer confusão ou dúvida. Mesmo assim, esta primeira situação de conflito o motiva
a compreender mais profundamente a relação entre as representações computacional e
algébrica. De fato, ele alterna sua atenção entre as duas representações diversas vezes
antes de confirmar finalmente sua afirmação inicial sobre a diferenciabilidade de ℎ. Na
segunda situação de conflito, Francisco propõe a si mesmo uma questão: o gráfico seria
formado por semi-retas ou não? Ele fica inicialmente em dúvida e estabelece uma
estratégia algébrica para concluir: se a derivada de uma função não é constante em um
dado intervalo, a função não pode ser linear no intervalo.
234
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
Assim, Francisco verifica que o gráfico mostrado na tela e a expressão algébrica da função
ℎ sugerem coisas diferentes e decide investigar algebricamente se ℎ é ou não linear
quando restrita a algum intervalo. Para tal, ele recorre à estratégia de verificar se a
derivada da função é ou não constante em algum intervalo, o que mostra que já é de seu
conhecimento o fato de a derivada ser constante estar relacionado com a primitiva ser
linear. Cumpre salientar que foi o conflito gerado pelas duas formas de representação que
levou Francisco a uma situação em que ele pôde acionar e aplicar o seu conhecimento.
Entrevista T2 – Descontinuidades
Foram apresentadas aos participantes as seguintes funções:
1 1 𝑥 2 −1
𝑓1 (𝑥) = 𝑥−1 𝑓2 (𝑥) = (𝑥−1)2 𝑓3 (𝑥) = 𝑥−1
A tarefa foi conduzida em quatro etapas, de modo a deixar evidente contradições geradas
por diferentes representações:
1. Foi pedido aos participantes que esboçassem os gráficos com papel e lápis,
indicando os pontos de descontinuidade, os limites nestes pontos e no infinito.
2. Foi pedido que eles gerassem gráficos para as funções com o software Maple V,
e que comparassem com os próprios esboços com papel e lápis.
3. Foi pedido que eles acrescentassem nos gráficos gerados com o Maple V um
comando do software (discont=true) que analisa simbolicamente a expressão
algébrica da função.
4. Finalmente, foi perguntado se as funções eram contínuas e o que representava
melhor o gráfico, o esboço em lápis e papel ou o gráfico traçado na tela.
O gráfico de 𝑓1 exibia uma “falsa assíntota”, gerada pelo algoritmo usado pelo software.
Mais precisamente, a reta vertical que aparece na imagem na tela (Figura 5, à esquerda)
235
EIEM 2015
1 1
Figura 5: Os gráficos de 𝑓1 (𝑥) = 𝑥−1, com uma “falsa assíntota”, de 𝑓2 (𝑥) = (𝑥−1)2 e
𝑥 2 −1
de 𝑓3 (𝑥) = 𝑥−1
, gerados pelo software Maple V.
Episódio 2: Carlos
Ah, só uma coisa! [...] Na realidade, ele está considerando então que na
primeira função não seria uma função. Porque o mesmo 𝑥 está dando
mais de um valor de 𝑦. [...] Esse gráfico aí não seria o gráfico de uma
função.
Ao ser questionado sobre o motivo para tal erro, Carlos responde porque o computador
liga os pontos. Em seguida, o comando discont=true é acrescentado e explica-se sua
função. Carlos comenta que a análise simbólica evita que o computador desenhe a falsa
assíntota. Passa-se, então, a analisar 𝑓3 . Ao ver o gráfico na tela, o participante
imediatamente se dá conta de seu erro. Ele explica o processo de construção do gráfico
pelo computador:
236
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
Em seguida ele volta para o desenho feito inicialmente no papel e o conserta, desenhando
a ‘bolinha’ para indicar a descontinuidade. Ao incluir o comando discont=true, o
participante comenta que, mesmo com a análise algébrica, o computador é incapaz de
“pular” um único ponto. Finalmente, pergunta-se de que forma as funções eram melhor
representadas, no papel ou no computador. Carlos responde:
Mas este conflito tem um segundo – e mais interessante – efeito. De fato, ele atua
chamando a atenção do participante não só para a limitação da representação digital,
como também para a limitação da representação gráfica produzida por ele próprio: não é
possível desenhar uma bolinha do tamanho de um ponto.
Nesse caso, Carlos percebe que a representação gráfica a partir do recurso tecnológico
em questão apresenta alguma limitação, o que é consonante com o entendimento, segundo
237
EIEM 2015
Considerações
A reinterpretação dessas situações nos mostrou como o uso da tecnologia pode ser
utilizado a favor do ensino e da aprendizagem da matemática – a partir da formação inicial
de professores, mas que pode ser refletida na prática docente na educação básica – e
também que esse uso deve ser cuidadosamente planejado. As tarefas aqui apresentadas
fizeram parte de uma pesquisa de doutorado cujo foco estava no papel de situações de
conflito no desenvolvimento de imagens de conceito. Neste texto, analisamos essas
situações por um outro prisma. Enfatizamos a importância de refletirmos sobre as
atividades propostas aos nossos alunos em todos os níveis de ensino. No âmbito da
formação de professores, levar o futuro professor a vivenciar atividades que envolvam
recursos tecnológicos em disciplinas da grade curricular que visam à formação específica
em matemática é uma maneira indireta de estimular o uso desse tipo de recurso na sua
futura prática docente.
Acreditamos que atividades como as descritas neste artigo podem contribuir para que
estudantes que as vivenciem transformem-se em professores capazes de transpor tais
experiências, seja com novas ferramentas, seja com ferramentas já conhecidas utilizadas
em outras áreas. O conhecimento tecnológico, pedagógico e do conteúdo construído a
partir dessas atividades pode formar uma base que permita, por exemplo, que tais
professores utilizem o GeoGebra para fazer explorações gráficas de funções na Educação
Básica ou que utilizem planilhas eletrônicas para estudos relacionados à Matemática
Financeira, mesmo que não tenham tido uma experiência de utilização dessas ferramentas
238
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
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240
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
C. Miguel Ribeiro
Centro de Investigação sobre o Espaço e as Organizações (CIEO), Universidade do
Algarve
[email protected]
Miguel Montes
Universidade de Huelva
[email protected]
Resumo: No contexto de um projeto que tem como um dos seus objetivos conceptualizar
tarefas para a formação de professores recorrendo a múltiplas representações, neste texto
apresentamos e discutimos como uma tarefa específica nos fornece oportunidades de
aceder e desenvolver o conhecimento interpretativo de futuro professores dos primeiros
anos. Em particular, discutimos o conhecimento dos futuros professores ao analisarem
(atribuírem sentido a) diferentes representações utilizadas na resposta a um problema no
contexto dos números racionais. Os resultados revelam algumas problemáticas tanto no
atribuir sentido às resoluções e representações de outros, como no navegar entre
representações – aspetos essenciais do trabalho do professor que pretende que seus alunos
entendam os porquês matemáticos do que fazem. Estes resultados, e o processo de análise
associado permitem, por um lado, obter uma mais ampla compreensão da natureza do
conhecimento do professor, na perspectiva do Mathematical Knowledge for Teaching e,
por outro, delinear algumas possíveis linhas de trabalho futuro.
Palavras-chave: Representações matemáticas; tarefas; conhecimento interpretativo;
racionais; formação de professores.
Introdução
Um dos objetivos delineados no Horizonte 2020 (EU, 2011) refere-se à capacidade de
adaptação dos indivíduos a uma multiplicidade de situações e de resolução de problemas
diversos, cuja diversidade acompanha as constantes mudanças na sociedade atual. De
forma a permitir que a escola forme indivíduos com essa capacidade, competências e
conhecimento (em particular, matemático), torna-se essencial que o professor detenha um
conhecimento (matemático e didático) que possibilite que os seus alunos experienciem
um conjunto diversificado de experiências que possam ampliar a sua visão
(conhecimentos e capacidades) de resolver e formular problemas (Ribeiro & Amaral,
2015), bem como de atribuírem sentido a respostas de outros aos problemas
propostos/formulados.
241
EIEM 2015
10
Quando nos referimos a futuros professores será utilizada, maioritariamente, a expressão estudantes.
242
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
243
EIEM 2015
244
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
aprendizagens dos alunos (e.g., Siegler et al., 2010). Considerando que o conhecimento
do professor é um dos fatores cruciais nessas aprendizagens (e.g., Llinares & Krainer,
2006; Nye, et al., 2004) e que a formação inicial deverá contribuir para desenvolver esse
conhecimento específico (interpretativo) que permita entender uma multiplicidade de
representações para um mesmo ente/conceito matemático e/ou resposta a um problema,
torna-se essencial uma abordagem específica ao recurso das representações como forma
de alcançar esse objetivo. Dessa forma sustentar-se-á o desenvolvimento de um
conhecimento que possibilite, posteriormente, conceptualizar e implementar tarefas que
desenvolvam nos alunos um conhecimento conceptual.
Contexto e método
Este texto é parte de um projeto mais amplo que tem como um dos seus objetivos
conceptualizar tarefas que permitam aceder e desenvolver o conhecimento matemático
de alunos e professores (atuais e futuros), sendo que o recurso a representações
alternativas se configura como um dos aspetos centrais. Apesar de terem sido recolhidas
informações em diversos países (e.g., Itália, Noruega, Brasil) em contextos de formação
inicial e contínua de professores (licenciaturas e mestrados) bem como em programas de
doutoramento, aqui o foco de atenção são as informações recolhidas numa Instituição de
formação de professores em Portugal e, em particular, as respostas fornecidas por 20
estudantes do 3.º ano de uma Licenciatura em Educação Básica (LEB) onde o primeiro
autor era o docente responsável.
As informações constam das respostas dos estudantes a uma tarefa no âmbito das frações,
tendo esta sido aplicada e discutida durante duas aulas (3 horas cada) de uma disciplina
de opção, onde o foco era o desenvolvimento do conhecimento matemático especializado
do professor. Complementarmente foram realizadas também entrevistas clínicas a alguns
estudantes e todas as aulas foram gravadas em áudio e vídeo, o que permitiu, também,
posteriormente, uma reflexão e discussão focada nas representações utilizadas, nos
argumentos apresentados e no feedback que forneceriam (uma das questões da tarefa),
tendo como foco os aspetos matemáticos que sustentam tais opções.
A tarefa que se discute aqui encontra-se dividida em duas partes e inicia-se com uma
questão “típica” para alunos do 2.º Ciclo, mas situada num contexto de prática:
245
EIEM 2015
Mariana
11
Da tarefa faziam parte sete diferentes resoluções, porém, aqui apenas duas delas são apresentadas.
12
Os estudantes referem, tanto nas entrevistas como durante a exploração da tarefa, que em outras unidades
curriculares o tema das frações e das representações tinha já sido abordado, mas que as situações propostas
foram exploradas “somente em como encontrar a resposta para os problemas, sendo que muitos deles eram
de manuais do 5.º ou 6.º anos” (entrevista).
246
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
atividade enquanto professores – e, por outro lado, discutir também as suas próprias
crenças e conhecimento associado tanto aos aspetos didáticos como matemáticos13.
Assim, a própria conceptualização da tarefa pretendia possibilitar aceder e desenvolver o
conhecimento especializado dos futuros professores no contexto dos racionais e em
situações envolvendo múltiplas representações. Pretendia-se desenvolver conhecimentos
e habilidades em trabalhar e navegar entre representações algébricas de números
racionais, as suas representações pictóricas e as respetivas respostas escritas – navegar
entre diferentes linguagens. É de salientar que as representações incluídas na tarefa são
consideradas matematicamente ricas pois permitem aceder, discutir e desenvolver o
conhecimento dos resolutores relativamente a diferentes aspetos, tais como seja,
averiguar se detetam respostas incorretas; se consideram como (in)adequadas respostas
envolvendo apenas representações pictóricas; se entendem o raciocínio e a matemática
subjacente à multiplicidade de representações.
Resultados e discussão
Ao responderem à primeira parte da tarefa (fornecer a resposta ao “problema”), a maioria
dos estudantes optou por recorrer à combinação de representações gráficas e numéricas.
Uma resposta típica dos estudantes contém uma representação pictórica das cinco barras
de chocolate, dividindo-as em seis partes (supostamente iguais), recorrendo a essa
representação para fornecerem a sua resposta final: (a) cada aluno fica com cinco partes;
(b) cada aluno fica com 56 de cada barra. Estas respostas revelam o entendimento dos
estudantes relativo, por um lado, ao papel do todo (unidade) mas também, relativo aos
diferentes significados das frações (dificuldades em resolver problemas envolvendo-os –
Pinto & Ribeiro, 2013). Revelam também dificuldades em sair do corpo dos inteiros,
apesar de o contexto do problema o situar, explicitamente, num contexto de frações. Estas
13
Apesar de ser uma unidade curricular da Licenciatura, incluída na área da matemática, considerando o
contexto da formação de professores, um dos aspetos essenciais de todas as unidades curriculares de que o
primeiro autor é responsável nesta área assumem como ponto de referência as especificidades do
conhecimento matemático do professor.
247
EIEM 2015
dificuldades dos estudantes são, só por si, preocupantes pois este configura-se como um
problema para alunos dos anos iniciais – seus futuros alunos; os estudantes encontram-se
já no terceiro ano da sua formação inicial, e tiveram já pelo menos uma unidade curricular
onde os racionais, e em particular as frações foram abordadas14; o espaço de respostas
fornecido, e as representações utilizadas (semelhantes a de alunos) problematiza o ponto
de partida para o desenvolvimento do seu conhecimento interpretativo – e, portanto parte
do conhecimento especializado do professor.
Das respostas dos 20 estudantes ao analisarem a solução proposta pela Mariana (Figura
1), apenas um desses estudantes apresentou um possível raciocínio correto associado à
representação apresentada, assumindo os restantes que a solução apresentada estava
incorreta e referindo, explicitamente, que não entendiam o que a Mariana tinha feito.
Alguns dos argumentos apresentados:
Rita: Não entendo o raciocínio. Entendo qual o objetivo mas ela não foi capaz
de mostrar o que fez, nem sequer o raciocínio que seguiu,
portanto a solução está incorreta, e não é, de todo, clara.
Marta: A resposta está incorreta pois ela não apresenta nenhum número.
Raquel: A solução da Mariana está incorreta pois ela representou 10 barras de
chocolate mas depois apenas selecionou seis dessas barras, e não
é isso que é pedido no problema. Na sua resolução não existe
qualquer referência à utilização de cinco barras.
14
Referido explicitamente no programa de estudos de LEB, bem como na ficha curricular da unidade
curricular, e pelos estudantes nas próprias aulas e nas entrevistas.
248
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
A solução apresentada pela Madalena (Figura 2) foi incluída na tarefa pois a aluna recorre
a duas formas de representações “distintas” para indicar a quantidade de chocolate que
cada aluno receberia. Estas representações, complementam a efetuada pela Mariana
(Figura 1), permitindo explorar a complexidade da(s) relação(ões) entre a representação
fracionária e decimal (e em particular à representação de dízima infinita periódica), bem
como outras formas diferentes de representar algebricamente a quantidade que cada
criança receberá ( 12 + 13 = 0, 5+ 0, (3)) .
Joana: As operações estão corretas mas não podem ser utilizadas neste problema
pois é dito que não sobra nada, e neste caso ficamos com algo a
sobrar.
Anabela: A Madalena efetuou corretamente a operação, mas a divisão em partes
iguais do chocolate não está correta pois a divisão deverá ser
exata, não sobrando nada. Neste caso ela distribui 0,8 mas (3)
ficam de fora.
15
Esta correspondência e existência de tal quantidade foi um dos aspetos discutidos posteriormente. Para
mais informações sobre os aspetos do conhecimento do professor associado a um conhecimento da História
da Matemáticos e da Educação Matemática consultar, por exemplo, Ribeiro (submetido).
249
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250
GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
às tarefas com que terão sido confrontados – e, portanto o nosso próprio papel enquanto
formadores. Ampliando essa reflexão, e necessidade de mudança, salientam-se as
potencialidades das tarefas que envolvem racionais e suas diferentes representações
(associadas tanto aos sentidos como às resoluções de problemas e raciocínio associados)
no sentido de potenciar a emergência de discussões relativas a outros conceitos,
permitindo que os resolutores (alunos, estudantes, professores) desenvolvam uma
familiaridade com a disciplina (Jakobsen, Thames, & Ribeiro, 2013). Uma possível linha
de trabalho nesse sentido será a de considerar a efetiva inclusão da História da Matemática
e da Educação Matemática na formação de professores (não como conteúdo mas como
contexto), de forma a que estes possam obter também uma visão mais ampla, e
conhecimento associado, sobre de onde vimos e para onde vamos, de forma a que os erros
(do passado) sejam efetivamente uma fonte de aprendizagem (Ribeiro, submetido) e
entendam a necessidade de ensinar de forma distinta da que foram ensinados.
Agradecimentos:
O trabalho apresentado neste texto forma parte do projecto “Caracterización del
conocimiento especializado del profesorado de Matemáticas” (EDU2013-44047-P),
financiado por el Ministerio de Economía y Competitividad Español e foi parcialmente
financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia através do projeto
UID/SOC/04020/2013 e SFRH/BPD/104000/2014.
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GD2 - As representações e o conhecimento profissional dos professores
253
PÓSTERES – GD2
255
GD2 - Pósteres
Alexandra Gomes
CIEC/IE, Universidade do Minho
[email protected]
Neste póster apresentamos uma parte de um projeto de Doutoramento, que ainda está na
sua fase inicial e no qual se pretende investigar sobre o conhecimento matemático de
professores do 1.º ciclo, em Portugal. Nesse âmbito, definiram-se quatro questões de
investigação: (1) O que se avalia nos docentes de 1.º ciclo em Portugal? (2) Como se
caracteriza o conhecimento matemático de professores de 1.º ciclo em Portugal até 5 anos
de serviço? (3) Que conhecimentos matemáticos revelam os professores de 1.º ciclo sobre
conceitos de geometria elementar? (4) Quais os obstáculos na construção de conceitos
geométricos elementares por parte de professores de 1.º ciclo? Recorreremos a uma
metodologia mista envolvendo métodos qualitativos e quantitativos. Relativamente às
questões (1) e (2) destaque-se, como instrumentos de recolha de dados, as Provas de
Avaliação de Conhecimentos e Capacidades – Componente Específica – Matemática
nível 1 e respetivos resultados. Quanto à recolha de dados para dar resposta às questões
(3) e (4), será feita a partir de um questionário, aplicado a aproximadamente uma centena
de Professores ou futuros professores, da zona Norte, e, posteriormente, a entrevistas a
alguns destes professores (aproximadamente uma dezena). Neste póster debruçar-nos-
emos apenas sobre as questões (3) e (4) pois é precisamente na procura de respostas para
essas questões que irão ser estudadas as representações matemáticas. Ao caracterizar os
conhecimentos geométricos dos professores de 1.º ciclo identificando-se os obstáculos de
natureza cognitiva na construção de conceitos geométricos elementares, analisar-se-á,
entre outros aspetos, o papel das representações na formação destes conceitos
geométricos.
Desde os anos 80, que as representações matemáticas têm vindo a ganhar cada vez mais
importância no campo da investigação matemática. Por sua vez, na área do currículo de
257
EIEM 2015
Matemática, têm tido destaque, ao nível internacional, desde que foram incluídas como
um dos “process standards” pelo NCTM (2007). Em Portugal, também ganharam
destaque, desde que surgiram no Programa de Matemática de 2007 (ME, 2007) como
uma orientação metodológica geral e como uma recomendação específica na abordagem
dos diversos conceitos e tópicos.
Num estudo realizado por Gomes (2003), verificou-se que os sujeitos têm dificuldades na
representação de conceitos, dada a sua definição e por outro lado, tendem a basear-se nas
representações para definir o conceito e para retirarem propriedades deste. Notou-se
também, nesta investigação (Gomes, ibidem), que os participantes preferem usar
representações em vez de definições, o que leva a que possam criar imagens limitadas
dos conceitos.
258
GD2 - Pósteres
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259
GD2 - Pósteres
Para formar docentes para atuar na Educação Básica numa perspectiva consoante com as
indicações das atuais tendências propostas pelas Diretrizes Curriculares Nacionais de
Formação de Professores é preciso agregar conhecimentos (disciplinares, pedagógicos e
didático-pedagógicos da matéria de ensino) e atitudes que possibilitem que os
profissionais sejam capazes de entender a necessidade de atuar neste cenário de maneira
a transformá-lo. Assim, é imprescindível que estes sujeitos reconheçam que irão atuar
como autores de suas práticas educativas que possam atribuir sentido à aprendizagem. No
Brasil encontramos relatos de pesquisas (Curi, 2004; Pires, 2008) que indicam que a
disciplina "Metodologia e Prática do Ensino de Matemática" seja ministrada nos cursos
de Pedagogia com uma carga horária restrita e sempre marcada por crenças e estereótipos
que vinculam a imagem da matemática e do professor como sendo os vilões responsáveis
por histórias de fracasso e evasão escolar.
261
EIEM 2015
Referências bibliográficas
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262
GD2 - Pósteres
263
GD2 - Pósteres
265
EIEM 2015
A referida formação continuada norteou-se pelo quadro teórico proposto por Ball (2000),
Ball, Hill e Bass (2005), Hill, Rowan e Ball (2005), Ball, Thames e Phelps (2008) e Ball,
Hill e Shilling (2008) que tem como foco o Conhecimento Matemático para o Ensino,
assim como pelas perspectivas sobre Modelagem Matemática discutidas por Barbosa,
(2001, 2002) e Caldeira (2009). Dessa forma, as ações e atividades propostas aos
professores tiveram a intenção de promover reflexões sobre a prática deles, bem como
fomentar discussões sobre os conhecimentos para o ensino.
Nossa pesquisa, está alicerçada pelos princípios da pesquisa-ação (Sandín Esteban, 2010)
e, para a produção de dados, usamos as gravações em vídeo dos encontros, questionários
e entrevistas com os participantes. Em relação ao conteúdo específico de Matemática,
uma de nossos objetivos foi o de fomentar uma discussão sobre o ensino e aprendizagem
da Geometria. Assim, essa investigação possibilitou investigar o conhecimento dos
professores em relação a este conteúdo, bem como compreender o que eles fazem ao
ensinarem esse conteúdo e de que forma fazem, considerando suas escolhas
metodológicas, suas percepções e concepções em relação ao ensino, em relação as
representações matemáticas, suas estratégias de ensino, seu conhecimento matemático,
entre outros elementos que sejam essenciais para contribuir com o processo de ensino e
aprendizagem da Geometria.
266
GD2 - Pósteres
Referências bibliográficas
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267
GRUPO DE DISCUSSÃO 3
As representações e as práticas de ensino e
recursos
269
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Nélia Amado
Universidade do Algarve e Unidade de Investigação do Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa
[email protected]
Susana Carreira
Universidade do Algarve e Unidade de Investigação do Instituto de Educação da
Universidade de Lisboa
[email protected]
271
EIEM 2015
A comunicação proposta por Helena Rocha oferece-nos uma oportunidade para discutir
a importância das Múltiplas abordagens, múltiplas representações: um contributo para
incrementar a relevância da representação algébrica. A autora destaca as representações
possibilitadas pela tecnologia, em particular pela calculadora gráfica, que de outra forma
não seriam possíveis e que permitem uma aprendizagem mais significativa e efetiva.
Nesta comunicação, é ainda destacada a desvantagem da utilização de um único tipo de
representação na aprendizagem. Deste modo, é recomendável que os professores
promovam o estabelecimento de relações entre os vários tipos de representações
disponíveis pelas calculadoras, nomeadamente numéricas, algébricas e gráficas. É ainda
destacada a importância da escolha de tarefas que façam emergir múltiplas e
272
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Douglas da Silva Tinti e Ana Lúcia Manrique apresentam num póster intitulado Estudo
de um contexto formativo desencadeado a partir resolução de problemas e do conceito
de frações, no qual destacam a utilização de várias representações distintas na abordagem
das frações.
273
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
COMUNICAÇÕES – GD3
275
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Nadia Ferreira
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Introdução
O conhecimento que os futuros professores desenvolvem durante a sua formação inicial
constitui um campo de muitas dúvidas e controvérsias (Ball, Thames & Phelps, 2008;
Ponte & Chapman, 2015; Shulman, 1986). É necessário compreender qual é o
conhecimento para ensinar Matemática dos futuros professores, à entrada, durante e no
final da sua formação (Ponte & Chapman, 2015). Em particular, consideramos importante
entender o conhecimento dos futuros professores no momento da sua prática
supervisionada, assumindo que tal conhecimento é nessa altura sujeito a circunstâncias
que permitem a perceção de debilidades e da eventual necessidade de reforço e
17
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia
através de uma bolsa atribuída à primeira autora (referência SFRH/ BD/99258/2013).
277
EIEM 2015
278
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Relacionados com estas duas dimensões do conhecimento didático (sobre tarefas e sobre
os alunos), emergem aspetos relativos à comunicação. Um deles é a exploração de
representações que apoiem a resolução de tarefas de modo a construir ou ilustrar objetos,
conceitos e situações matemáticas, por exemplo, fazendo a correspondência entre
279
EIEM 2015
Metodologia de investigação
Esta comunicação insere-se num estudo que assume uma abordagem qualitativa e
interpretativa, seguindo um design de estudo de caso (Stake, 1995). Selecionaram-se três
futuras professoras de duas escolas superiores de educação. Este estudo centra-se nos
processos e significados na ação das futuras professoras quando lecionam quatro aulas
sobre números racionais. Estas aulas foram observadas e videogravadas para posterior
análise. Foram ainda analisadas as entrevistas semiestruturadas realizadas no início e no
final do estágio (EI; EF), as entrevistas realizadas antes e depois da aula (EAAi; EPAi) e
ainda as planificações (P) e reflexões escritas (RE). A análise dos dados assume um cunho
descritivo e interpretativo procurando (i) caracterizar a prática letiva relativamente aos
momentos e ao modo como as professoras usam as diferentes representações dos números
racionais e suas operações e (ii) responder ao porquê de se terem realizado determinadas
ações procurando identificar as suas reflexões sobre o papel das representações no ensino-
aprendizagem dos números racionais. Deste modo procuramos evidenciar o
conhecimento na prática letiva, com atenção ao conhecimento didático sobre as tarefas e
alunos, e iluminando aspetos relativos à comunicação.
Berta tem 23 anos e antes de ingressar no ensino superior na ESE A estudou Matemática
12 anos. Mostra segurança relativamente ao que pretende realizar na sua prática, que
prepara cuidadosamente. A sua segurança é coerente com o seu percurso de excelência
ao longo da sua formação inicial. Vê a Matemática como uma ciência centrada na
resolução de problemas e considera que é importante que os alunos compreendam os
conceitos. Para tal, defende uma abordagem de natureza exploratória, valorizando a
exploração de tarefas de natureza aberta com situações contextualizadas e reais.
Ana tem 24 anos e estudou Matemática 12 anos antes de ingressar no ensino superior na
ESE B. Mostra insegurança relativamente ao que pretende realizar na sua prática,
sentindo-se dividida entre as abordagens do ensino direto e do ensino exploratório.
Considera-se e é considerada como uma boa aluna mas por vezes com dificuldades em
executar os seus propósitos. Vê a Matemática como uma ciência e também como uma
ferramenta a usar no quotidiano e considera que é importante que os alunos compreendam
os conceitos. Nesta unidade começa por selecionar exercícios em conjunto com Glória e
280
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Berta
Na ESE A Berta teve várias experiências que cruzavam Matemática e Didática.
Relativamente ao ensino e aprendizagem dos números racionais, recordou que “com a
Didática da Matemática [explorámos] várias representações e também com as tiras...”
(BEI). O seu principal propósito para o ensino dos números racionais foi estabelecer
relações entre diferentes representações destes números pois os seus alunos não têm “o
sentido de número racional” (BEF). Na sua reflexão escrita sublinhou que “No que se
refere ao trabalho com números racionais, o docente deve valorizar a leitura dos números,
as representações e as relações entre si” (BRE). Assim, nas quatro aulas que lecionou
usou representações simbólicas e pictóricas e, por vezes, relacionou-as em diferentes
momentos. Nas suas planificações podemos encontrar a preparação de representações
pictóricas para apoiar os alunos na compreensão das situações colocadas e representações
pictóricas que pretendem sintetizar as ideias matemáticas a compreender numa
determinada aula.
Berta construiu uma sequência de quatro tarefas para as aulas que lecionou sobre números
racionais, com o propósito de desenvolver e consolidar o sentido de número racional
através da resolução de problemas. Numa tarefa de partilha equitativa, em que 3 pizas são
distribuídas por 4 crianças, focou-se na representação fracionária e explorou as
representações pictóricas construídas pelos alunos. Na discussão final propôs uma
representação pictórica (representação circular) com a qual fez a síntese das principais
ideias. Esta aula revelou-se uma surpresa, tendo a tarefa suscitado algumas dificuldades
a si própria relativas ao estabelecimento de relações entre as representações simbólica e
pictórica e ao estabelecimento da unidade de referência. Concluiu que:
281
EIEM 2015
Podemos trabalhar um pouco das duas formas, mas temos é que ter em
atenção aquilo, mesmo, que acabamos por dizer porque, realmente cada
amigo come ¾ de uma piza, e daí a confusão de ontem… Mas se nós
estivermos a considerar o total, portanto as 3 pizas, nós aqui já
consideramos os 3/12…
No final, Berta fez uma síntese da última situação recorrendo a um esquema, sem que
tenha sido preparado anteriormente, por considerar “que nem todos os alunos tinham
entendido a estratégia de resolução do colega” (BRE). Para isso, utilizou uma
representação complexa, com elementos pictóricos e de tabela (figura 2).
40 %: porque é o dobro 20 % 20 % 20 %
Berta comentou
282
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Ana
Ana referiu bastantes experiências vividas na ESE mas sentiu que estas experiências não
a ajudaram o suficiente sobre “como ensinar”. Considera importante que os alunos
compreendam os conteúdos sem que para tal tenha que os apresentar e explicar logo de
início. Na primeira entrevista refere a importância das representações pictóricas, dizendo
“É mais a questão de ter algo visual para eles perceberem!” (AEI). Considera importante
usá-las quando quer fazer uma explicação a um aluno que tem dificuldades.
Ana lecionou oito aulas sobre números racionais, sendo quatro delas de introdução a
novos conceitos. Na aula sobre inverso de um número, Ana começou por pedir aos alunos
que calculassem as operações colocadas simbolicamente, podendo usar “desenhos” obter
a solução. Para a correção podemos ver que utiliza uma tabela que evidencia a regra
operatória (fig. 3) e explorou as diferentes situações recorrendo às representações
pictórica e simbólica, estabelecendo equivalências. Na terceira situação, podia ter
recorrido a quantidades contínuas e explorado a representação retangular da multiplicação
de números racionais na forma fracionária mas optou pela representação na figura de
283
EIEM 2015
Para a última aula sobre divisão de números racionais, na sua planificação, Ana descreveu
as ações que iria tomar. Incluiu aí as representações pictóricas que pretendia explorar.
Percebemos que pretende que os alunos comuniquem as suas ideias matemáticas
recorrendo a diferentes representações:
284
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Ana lecionou várias aulas sobre números racionais, tendo introduzido o conceito de
inverso de uma fração e a operação divisão com frações. Numa primeira fase, apresentou
o conceito de fração inversa propondo pequenos exercícios com recurso a representações
pictóricas para ilustrar as situações, guiando os alunos no estabelecimento da regra
operatória. Numa segunda fase, na introdução da divisão, propôs problemas simples
envolvendo “situações reais” de partilha e onde os alunos deviam usar a divisão de
frações. Apesar dos seus propósitos enfatizou os procedimentos das operações recorrendo
a representações simbólicas e pictóricas, nem sempre as relacionando, e guiando os
alunos para a regra “inverte e multiplica”. Na resolução das tarefas, as representações
pictóricas foram pedidas aos alunos e foram apresentadas no quadro. Note-se que não
foram estabelecidas relações entre as várias resoluções. Nas várias entrevistas, valorizou
o estabelecimento de relações entre as diferentes representações de números racionais
mas, na sua prática letiva, não encontrou oportunidades para realizar este propósito. Ao
longo da sua prática evidenciou dominar os procedimentos relativos às operações e mas
teve algumas dificuldades em explorar as situações propostas com o fim de explorar os
conceitos. Reconheceu as dificuldades dizendo que, para as ultrapassar, tentava preparar
com maior profundidade as suas aulas. Quando antecipou possíveis representações
pictóricas não ficou clara a relação entre as resoluções simbólicas e as figuras que as
ilustravam o que pode ter dificultado a concretização dos seus propósitos. No final
285
EIEM 2015
melhorou este aspeto na sua prática letiva tendo proposto representações para ilustrar
situações matemáticas e apoiar os alunos na compreensão das operações. Neste sentido,
evidenciou dificuldades em representar ideias matemáticas mas revelou conhecimento
didático quando considera importante e investe na exploração de representações
pictóricas e simbólicas, por vezes com sucesso, de modo a apoiar os alunos na exploração
das várias representações dos números racionais, permitindo-lhes desenvolver uma
compreensão das operações. Reconheceu os prós e contras da utilização de determinadas
representações no processo de ensino-aprendizagem apesar de ter tido dificuldade em
perceber a complexidade de alguns conceitos. Foi capaz de aproveitar as experiências
vividas na prática de modo a aperfeiçoar-se.
Glória
Na sua formação inicial, Glória teve várias experiências relativamente ao ensino e
aprendizagem dos números racionais, quer em unidades curriculares de Matemática, quer
de Didática. No entanto, Glória valoriza mais o seu conhecimento pessoal construído ao
longo da vida, nas suas diversas experiências profissionais. Num relatório escrito para a
unidade curricular de prática supervisionada explica a sua visão sobre o ensino e
aprendizagem onde podemos perceber que parte da sua experiência pessoal,
acrescentando aqui e ali conhecimento adquirido na formação inicial. Glória escreveu:
“A minha visão é alicerçada na minha experiência pessoal e profissional ... E tem como
foco principal as aprendizagens dos alunos.” Logo na primeira entrevista Glória explicou
o seu propósito para o ensino e aprendizagem dos racionais onde podemos perceber que
aspetos considera centrais no ensino: “[O conhecimento sobre] racionais vai ser
fundamental para quase todas as áreas da Matemática, com ligeiríssimas exceções. Ora,
quem não percebe nem procedimentos, nem regras, nem aplicação, nem domina as
operações vai ter imensa dificuldade em coisas que nunca iria ter”.
Glória lecionou nove aulas sobre números racionais tendo introduzido conceitos em cinco
dessas aulas. Considera que deu bastante importância ao estabelecimento de relações
entre representações dos números racionais. Nas suas aulas propôs um jogo onde as
crianças selecionaram numerais que representam a mesma quantidade e apresentou as
percentagens mostrando a conversão entre percentagem, numeral decimal e fração. Na
discussão do jogo, colocou o foco nos procedimentos.
286
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
No entanto, Glória nem sempre recorre a representações pictóricas porque, como refere,
“fiz uma aposta na ideia de que alguma dose de abstração é capaz de ser bom … Se
funciona melhor ou pior, é como digo, não posso saber… Agora que funciona, funciona!”
(GEF).
Num dos momentos da sua aula explorou a informação da figura 7 de modo a concretizar
a regra operatória entre números racionais sob a forma de fração:
287
EIEM 2015
Glória: E depois o quê que achaste que aquilo representa? 2/5, está cá, de 1/3.
Porquê que isto para nós é 1/3?
Bia: Porque está pintada uma parte de 3.
Glória: Porque está pintada uma parte de 3. OK, então vamos lá ver. Se pensar
neste valor e agora, e agora temos aqui de 1/3. E porquê que
depois temos de pintar aquelas partes que ali estão. Porque vocês
conseguem ver, na vossa ficha também se vê? Vamos pensar.
Diz, Ilda ?
…
Bia: 5 vezes 3, 15.
Glória: … Multiplicaste os denominadores.
Bia: E depois multipliquei 2 vezes 1 que era 2.
Glória: Que foi 2. Pronto essa operação dar-te-ia os 2/15, foi?
Bia: Sim.
Glória lecionou várias aulas sobre os números racionais. Nas entrevistas e reflexões
escritas evidencia a importância de trabalhar as diferentes representações destes números
o que fica espelhado na escolha dos numerais envolvidos nas operações das tarefas
propostas e no jogo que propôs aos alunos. Introduz os conceitos apresentando exemplos
de operações, o que permitiu explorar as regras operatórias. Posteriormente, propôs
“situações reais” onde se fez a consolidação e aplicação das regras apresentadas. Na
introdução dos conceitos fez uso de representações simbólicas ilustradas por
representações pictóricas, focando a sua atenção nas representações simbólicas das
operações. Nas entrevistas evidencia valorizar o papel destas duas formas de representar
ideias matemáticas mas parece não reconhecer a complexidade inerente ao uso de
representações para enfatizar os processos e significados das operações. Talvez por essa
razão não preveja na sua planificação ou nas representações que utiliza e nos materiais de
ensino, a representação retangular para explorar a multiplicação de números racionais,
usando-a apenas para representar as quantidades envolvidas. Relativamente ao
conhecimento didático e a aspetos relativos à comunicação em sala de aula, nem sempre
dá relevância à exploração de representações pictóricas que apoiem a resolução de tarefas,
sejam representações construídas pelos alunos ou não, de modo a apoiar a sua
compreensão dos conceitos. Ao preparar e explorar as tarefas, refletiu sobre os prós e
288
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Conclusão
As futuras professoras que apresentamos neste trabalho consideram importante relacionar
as diferentes representações dos números racionais mas têm visões diferentes sobre o
ensino-aprendizagem destes números (Isiksal & Cakiroglu, 2011). Também se observa
que todas valorizam o uso de representações pictóricas mas exploram-nas de diferentes
modos e em fases distintas da prática letiva (Stylianou, 2010; Velez & Ponte, 2015).
Assim, para introduzir os conceitos, Berta propõe problemas onde introduz por vezes
representações pictóricas para apoiar os alunos na compreensão das situações. Glória
introduz os tópicos dando atenção a regras e procedimentos usando representações
pictóricas ilustrativas das regras. Por fim, Ana começa por seguir a mesma estratégia que
Glória mas a meio da prática supervisionada optou por outra abordagem em que solicita
aos alunos que recorram a diferentes representações, explorando representações
pictóricas para os apoiar na compreensão da resolução das tarefas. Apenas Berta, realiza
sínteses finais recorrendo a representações pictóricas que toma como suporte para as
ideias fundamentais a aprender.
289
EIEM 2015
verificamos que as três professoras têm visões diferentes sobre o papel do professor e dos
alunos, advogando um papel ativo do professor (Glória) ou dos alunos (Berta e Ana) e
valorizando mais a memorização (Glória) ou a compreensão (Berta e Ana). No entanto,
estas visões nem sempre são fáceis de concretizar evidenciando-se dificuldades nem
sempre antecipadas.
Com esta comunicação pretendemos compreender como é que futuros professores usam
diferentes representações dos números racionais, a importância que lhes atribuem e que
desafios se colocam quando utilizam determinadas representações. Estes três casos
mostram que, para explorar diferentes representações dos números racionais de modo
compreensivo, é necessário que tenham um conhecimento profundo da Matemática
escolar e da sua didática reconhecendo a complexidade dos constructos envolvidos.
Assim, a formação inicial enfrenta o desafio de explorar diferentes representações dos
números racionais na conceptualização do conhecimento matemático e o desafio de
conceptualizar didaticamente o estabelecimento de relações entre as representações dos
números racionais e suas operações com foco nos processos e nos produtos construindo
com os alunos as ideias matemáticas (Stylianou, 2010).
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GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
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291
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Paula Catarino
Departamento de Matemática, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
[email protected]
Helena Campos
Departamento de Matemática, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
[email protected]
Resumo: Este artigo apresenta um estudo descritivo de dois livros de Geometria, usados
em Portugal, aprovados e oficialmente autorizados, um para o ano letivo 1938-1939 e
outro para o ano letivo seguinte de 1940-1941, em “harmonia com os programas” de
Geometria da época. O objetivo deste estudo é o de analisar e registar o tipo de
representações matemáticas aí existentes, primeiro em cada um deles e depois analisando-
os comparativamente. Nestes livros constam os conteúdos de geometria ensinados à
época aos alunos da 3.ª e 4.ª classes do Ensino Primário Elementar e constata-se o uso
sistemático, ao longo dos dois textos, de todas as representações matemáticas externas:
linguagem escrita, as representações simbólicas, as icónicas e as ativas. Os dois livros são
muito semelhantes, tanto na sua descrição geral, detalhada, organização e grafismo. De
igual modo os conteúdos e as representações matemáticas externas analisadas se revelam
similares. Nas partes dos dois livros dedicadas à 3.ª classe predominam a linguagem
escrita e a representação pictórica, enquanto nas partes dedicadas à 4.ª classe, para além
desses dois tipos de representação matemática externas, também se encontraram
exemplos de representação simbólica.
Palavras-Chave: Ensino Primário Elementar; Geometria; Representações Matemáticas;
Representações externas.
Introdução
O estudo que nos propomos apresentar surgiu de forma fortuita, fruto da descoberta dos
dois livros (manuais, obras) intitulados “Geometria”, entre documentos antigos do Pai de
uma das autoras, à época, aluno de uma escola primária em Portugal Continental. De
futuro será nossa intenção comparar ao longo do tempo, nos manuais que formos
293
EIEM 2015
Para a análise sumária do manual usou-se a metodologia de Ponte (2004) que, para cada
obra, faz uma descrição geral, uma mais detalhada e, por fim, menciona de forma sumária
os aspetos de organização e grafismo. Apresentados descritivamente os livros (Ponte,
2004), sistematizam-se as suas representações matemáticas e termina-se com uma análise
comparativa das duas obras, com destaque para as respetivas representações matemáticas.
Representações matemáticas
As representações matemáticas têm vindo a ser objeto atenção de investigação em
Educação Matemática. Segundo o NCTM18 (2007), o uso das representações matemáticas
assume um papel relevante para o raciocínio e as conexões matemáticas e, em particular,
na ajuda que podem dar aos alunos na compreensão dos conceitos matemáticos.
Mourinha, Branco e Cavadas (2014) citam Dreyfus (1991) que menciona que o uso das
18
NCTM, National Council of Teachers of Mathematics
294
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
De acordo com Duval (2009, p.13) as representações matemáticas são “(…) [s]istemas
variados de escrituras algébrica e lógica que contenham o estatuto de línguas paralelas à
linguagem natural para exprimir as relações e as operações, figuras geométricas,
representações em perspectiva, gráficos cartesianos, redes diagramas, esquemas, etc.
(…)”. Outros autores (e.g. Bruner, 1999; Dufour-Janvier, Bednarz & Belanger, 1987;
Goldin, 2008; Nobre, Amado & Ponte, 2014; Ponte e Serrazina, 2000; Ponte & Velez,
2011; Tripathi, 2008) debruçaram-se sobre o estudo das representações matemáticas e da
sua influência no ensino e na aprendizagem da matemática, diferenciando-as de acordo
com características específicas. São várias as formas de representação matemática,
símbolos, palavras, desenhos, gráficos, esquemas, objetos, entre outros. De modo geral,
podemos afirmar que as representações matemáticas são registos que usamos para
representar conceitos abstratos. Santos (2003, p.28) é de opinião de que essas
representações “(…) não representam um conceito absoluto, pois estão agregados a
determinada realidade, contexto histórico ou situação. (…)”.
Goldin (2008 apud Ponte & Velez, 2011, p.11) afirma que uma representação é
caracterizada como “(…) uma configuração que representa algo, de alguma forma. Por
exemplo, uma palavra pode representar um objecto real, um numeral pode representar o
número de elementos num conjunto, ou a posição de um número numa recta numérica
(…)”. Para Goldin (2008) existem dois tipos de representações – as externas e as internas.
As representações externas têm uma presença física, seja numa folha de papel, seja num
dispositivo eletrónico, quer seja num outro suporte qualquer (por exemplo, os símbolos
que representam os números e suas operações, a notação algébrica, os gráficos
cartesianos, diagramas diversos) e as “(…) internas não podem ser diretamente
observáveis, quanto muito podem ser inferidas através de comportamentos observáveis
da pessoa ou através da sua interação com as representações externas (…)” (Mourinha,
Branco & Cavadas, 2014, p.34).
De acordo com Bruner (1999), as representações podem ser consideradas de vários tipos:
ativas, icónicas e simbólicas. As representações ativas são aquelas em que embora
tenhamos conhecimento de muitas coisas, é muito difícil ensiná-las através de palavras,
diagramas ou imagens. As representações icónicas são aquelas que estão relacionadas
com o visual e o recurso a imagens para explicar os conteúdos. Por fim, as representações
simbólicas são aquelas que fazem uso de símbolos, das palavras e da linguagem. Deste
modo, e de acordo com Ponte e Velez (2011), “(…) em Matemática, as representações
são caracteres, símbolos, configurações pictóricas ou mesmo objectos que representam
alguma ideia, objecto, ou relação matemática (…)”.
Neste estudo descritivo, vamos considerar como representações externas aquelas que
podem ser observadas e registadas ao longo do texto nas páginas dos dois livros em
295
EIEM 2015
Descrição geral
O livro em estudo19 intitula-se “Geometria”, é um livro destinado ao aluno do Ensino
Primário Elementar, da série escolar Educação de António Figueirinhas e foi editado pela
Livraria – Educação Nacional, Rua do Almada, 125 – Porto, e não é datado. É destinado
aos alunos das 3.ª e 4.ª classes do Ensino Primário Elementar, frequentado por alunos
com idades compreendidas entre os 8 – 10 anos (corresponderiam hoje aos 3.º e 4.º anos
do 1.º Ciclo do Ensino Básico). O livro está encadernado com capa dura, com
predominância da cor avermelhada, adornada com caravelas em destaque na capa. O livro
possui as dimensões aproximadas de 12cm × 18cm 0,5cm, 48 páginas e não possui
índice. À esquerda na Figura 1 apresentam-se a contracapa e a capa deste livro.
19
O estudo apresentado apoiou-se no livro, pertença da primeira autora através do Pai.
296
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
O livro abre com a folha de rosto na página 1 (figura 1 à direita), estando no verso desta
página a indicação de que o livro está “em harmonia com os programas aprovados pelo
decreto n.º 16.730 (Diário do Govêrno n.º 83, 1.ª série, de 13-4-1929) ” e ainda no fundo
da página a indicação da Livraria-Educação Nacional e respetiva morada. De referir que
nesta folha de rosto ainda existe um carimbo da livraria de Portimão onde foi comprado.
As páginas seguintes são dedicadas à exposição dos conteúdos geométricos que são
separados pela 3.ª classe (da página 3 à 35, inclusive) e 4.ª classe (da página 37 até ao
final do livro).
Descrição detalhada
Nesta subsecção sintetizamos as partes que constituem o livro relacionadas com as duas
classes do Ensino Primário Elementar da época, 3.ª e 4.ª classes com conteúdos
distribuídos pelas duas classes, separadamente. Na tabela da Figura 2 sintetizam-se os
conteúdos apresentados para a 3.ª classe. No final do texto escrito, e antes de se iniciar a
abordagem dos conteúdos geométricos destinados à 4.ª classe, existem 33 exercícios e
problemas (da página 33 à 35, inclusive) relacionados com os conteúdos abordados na 3.ª
classe.
20
Fonte: Propriedade da primeira autora.
297
EIEM 2015
Organização e grafismo
O interior do livro é monocromático. A letra é variada no seu tipo (forma) e no seu
tamanho. Ao longo do texto e para ilustrar e complementar partes do mesmo, existem
várias figuras (desenhos/esquemas) como os dos exemplos da Figura 4.
O texto está organizado em duas partes como já foi referido: uma dedicada à 3.ª classe
(figura 5 à esquerda) e a outra à 4.ª classe (figura 5 à direita).
Figura 5: Exemplos da página inicial da 3.ª e da Quarta Classes (p. 3 e p. 37, à esquerda e à
direita, respetivamente)
298
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Em cada uma das partes, o corpo do texto está organizado por títulos (tabelas das figuras
2 e 3) escritos a negrito e que orientam o leitor nos conteúdos expostos no texto. Dentro
de cada título, o conteúdo é numerado, dando a entender a existência de uma sequência
dos conteúdos. Na parte dedicada à 3.ª classe existem 74 conteúdos numerados
distribuídos por 17 títulos e na parte dedicada à 4.ª classe, temos 13 conteúdos numerados
distribuídos por dois títulos. Ao longo do texto, certos termos e conteúdos são realçados
em itálico e outros a negrito, existindo ainda algumas observações relacionadas com o
conteúdo. De notar que não são apresentados exemplos aplicados à realidade dos alunos
e a alusão a algum elemento do quotidiano só existe na apresentação do segundo conjunto
de exercícios e problemas, onde é feita a alusão a “um pátio quadrado”, “a superfície de
um campo triangular” e “um campo tem a forma de trapézio” (figura 6). Por fim,
menciona-se que não existe qualquer referência a uma possível resolução destes
exercícios e problemas, nem existem soluções para os mesmos.
21
O estudo apresentado apoiou-se no livro, pertença da primeira autora através do Pai.
299
EIEM 2015
O livro abre com a folha de rosto na página 1 (figura 7, à direita), estando no verso desta
página a indicação de que o livro é “propriedade literária do editor” e ainda no fundo da
página a indicação da Tipografia que é pertença de Domingos Barreira. As páginas
seguintes são dedicadas à exposição dos conteúdos de Geometria que estão separados
pela 3.ª classe (da página 3 até à página 34, inclusive) e pela 4.ª classe (da página 35 até
ao final do livro).
Descrição detalhada
Nesta subsecção sintetizamos as partes que constituem o livro relacionadas com as duas
classes do Ensino Primário Elementar da época, 3.ª e 4.ª classes de conteúdos distribuídos
pelas duas classes, separadamente. Na tabela da Figura 8 sintetizam-se os conteúdos
apresentados para a 3.ª classe.
22
Fonte: propriedade da primeira autora.
300
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Organização e grafismo
O interior do livro também é monocromático. Do mesmo modo, a letra é variada no seu
tipo (forma) e no seu tamanho. Ao longo do texto e para ilustrar e complementar partes
do mesmo, existem várias figuras (desenhos/esquemas) como as dos exemplos na Figura
11.
O texto está organizado em duas partes como já foi referido: uma dedicada à 3.ª classe
(figura 12 à esquerda) e a outra à 4.ª classe (figura 12 à direita).
301
EIEM 2015
Figura 12: Exemplos da página inicial da Terceira e Quarta Classes (p. 3 e p. 35, à esquerda e à
direita, respetivamente)
Em cada uma das partes, o corpo do texto está organizado por títulos em negrito para
orientação do leitor. Por vezes, são apresentados exemplos aplicados à realidade dos
alunos (figura 13).
Figura 13: Exemplo de página de apresentação de exemplos do quotidiano de então (pp. 8-9 e
pp. 28-29, à esquerda e à direita, respetivamente) e as cores foram pintadas pelo aluno possuidor
do livro.
fim, cabe voltar a aludir que, tal como no livro anterior, não existe qualquer referência a
uma possível resolução destes exercícios e problemas, nem existem soluções para os
mesmos.
Representações matemáticas
Neste estudo descritivo consideraremos como representações externas aquelas que podem
ser observadas e registadas nos dois livros em análise e de entre os vários tipos de
representações externas adotando a perspetiva de Ponte e Serrazina (2000).
Figura 15: Tabela das representações externas no livro “Geometria” do ano letivo 1938-1939.
Figura 16: Exemplo de página de apresentação de exemplos quotidianos (p.16, p.28 e p.43, à
esquerda, ao centro e à direita, respetivamente).
304
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
305
EIEM 2015
Tal como foi feito no caso anterior, apresentamos na Figura 18 exemplos destas
representações matemáticas.
306
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
No que diz respeito ao objeto desta análise, as representações matemáticas externas – nas
folhas de papel, páginas destes dois manuais de “Geometria” nos dois livros encontraram-
se os quatro tipos de representações externas consideradas (tabelas das figuras 15 e 17,
Ponte e Serrazina, 2000) nas suas duas partes, da 3.ª e 4.ª classes. As representações
pictóricas e a linguagem escrita são as predominantes nos dois manuais. Nas partes
dedicadas à 3.ª classe predomina a representação pictórica e a linguagem escrita, enquanto
nas partes dedicadas à 4.ª classe, para além destas duas, também já se encontram exemplos
de representação simbólica.
Na categoria da linguagem escrita, esta pode ser considerada discursiva, uma linguagem
natural para apresentar conceitos geométricos e com escrita é numérica, algébrica e
307
EIEM 2015
simbólica. Por vezes, nos dois manuais percebe-se a necessidade do autor quase “falar”
com o leitor ao escrever todos os pormenores, por exemplo, de como se deve proceder
para obter retas paralelas, para usar um transferidor ou da forma de traçar circunferências
no terreno. Em suma, percebe-se o esforço dos autores para facilitar ao aluno a
aprendizagem destes conteúdos de Geometria.
Já se referiu que nos dois manuais as representações pictóricas são predominantes, a par
com a linguagem escrita, contudo no manual de 1940-41 o seu número ultrapassa o das
do manual de 1938-39, pois também são mais os conceitos de Geometria apresentados.
No manual de 1940-41 a linguagem escrita apoia-se nas representações icónicas ou
pictóricas, pois inclui como parte integrante do texto da apresentação dos conteúdos
figuras e desenhos. Também já se exemplificaram representações icónicas do quotidiano
(de então) dos alunos que envolviam implicitamente conceitos de geometria abordados
apenas de forma implícita, como o das pavimentações no manual de 1940-41. Mais uma
vez se percebe o empenho deste autor em auxiliar da aprendizagem do aluno.
Nos dois manuais as representações ativas são as que existem em menor número. Apesar
disso, no manual de 1940-41 o seu número ultrapassa o das do manual de 1938-39.
Embora se perceba que os autores não esquecem o quotidiano (de então) dos alunos,
quando se trata de conteúdos e de conceitos que requerem maior rigor de linguagem o
aluno poderia perder-se. Tal é o exemplo já apresentado para o manual de 1940-41. A
primeira vez que se escreve que AB representa um segmento de reta (p.12), ainda não
tinha havido qualquer alusão no texto a esta notação e até a representação icónica já tinha
aparecido antes (p.5).
23
Rosas (2012) menciona na política educacional do Estado Novo a “[r]evisão dos programas escolares de
acordo com os princípios ideológicos do regime a adopção de ‘livros únicos’ nas principais disciplinas
formativas do ensino primário e secundário .” (p. 338).
308
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
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310
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Marisa Quaresma
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected];
Joana Mata-Pereira
Instituto de Educação, Universidade de Lisboa
[email protected]
Resumo: Nesta comunicação procuramos analisar o modo como o professor, através das
suas ações, integra no trabalho realizado na sala de aula diversos tipos de representações,
tendo em vista promover o raciocínio e a compreensão dos conceitos matemáticos. O
quadro concetual articula conceitos relativos às representações e raciocínio matemático,
bem como às ações do professor na sala de aula. Os participantes são uma turma do 6.º
ano de uma escola pública e a respetiva professora. A aula foi registada em vídeo, sendo
as discussões coletivas integralmente transcritas. A professora encoraja os alunos a
usarem uma variedade de representações na resolução de um problema matemático,
estabelecendo conexões entre elas e valorizando as representações icónicas capazes de
servir de base a raciocínios formais com compreensão. Para apoiar os alunos a apresentar
os seus raciocínios a professora usa essencialmente ações de guiar, e para os levar a
processos mais complexos de interpretar e raciocinar tira partido de ações de desfiar.
Palavras-chave: Ações do professor, Representações, Tarefas, Comunicação,
Abordagem exploratória.
Introdução
As representações assumem um papel fundamental como suporte do pensamento
humano. Dada a natureza abstrata dos objetos matemáticos, não é possível pensar sobre
eles sem recorrer às suas representações. Por isso, as representações estão estritamente
relacionadas com o raciocínio matemático (NCTM, 2007; Ponte, Mata-Pereira &
Henriques, 2012). O sucesso da resolução de um problema decorre em grande medida de
uma escolha apropriada das representações a usar. No entanto, esse sucesso depende
também da interpretação (sense making) (NCTM, 2009) que se faz dos diferentes
311
EIEM 2015
elementos presentes no problema e das operações que é possível fazer sobre eles com
vista a chegar a uma solução.
Quadro concetual
Deve-se a Bruner (1999) a classificação fundamental das representações em ativas
(envolvendo objetos e movimentos), icónicas (imagens, desenho e diagramas) e
simbólicas (linguagem oral e escrita e símbolos). Note-se, porém, que, dentro destas
grandes categorias, é possível estabelecer subcategorias, distinguindo entre diversos tipos
de representação. Por exemplo, as representações icónicas podem ser imagens que
representam um dado objeto com grande quantidade de detalhes ou esquemas e diagramas
que representam esse objeto de forma muito abstrata. De igual modo, as representações
simbólicas podem ser de diversos tipos, tendo em conta a complexidade dos conceitos
que representam e a familiaridade que o indivíduo tem dessas representações. Finalmente,
é de notar que podem existir representações mistas envolvendo aspetos simbólicos e
icónicos, simbólicos e ativos, etc.
312
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Figura 1: Raciocínio informal e formal com e sem compreensão (adaptado de Ponte &
Quaresma, 2014).
A abordagem exploratória é marcada pela natureza das tarefas propostas e pelo tipo de
comunicação que ocorre na sala de aula. As tarefas são de importância fundamental pela
atividade dos alunos a que podem dar origem. O que os alunos aprendem na aula de
Matemática resulta principalmente da atividade que eles próprios realizam e da reflexão
que efetuam sobre essa mesma atividade (Christiansen & Walther, 1986). Por isso, é
essencial propor tarefas apropriadas, capazes de servirem de base a uma atividade
matemática rica e multifacetada por parte dos alunos, algumas das quais assumindo uma
natureza desafiante para os alunos (Ponte, 2005). Além disso, a comunicação em sala de
aula marca de modo decisivo as oportunidades de aprendizagem dos alunos (Bishop &
Goffree, 1986; Franke, Kazemi, & Battey, 2007; Menezes et al., 2014). Na abordagem
exploratória, esta comunicação, em lugar de ser unívoca, dominada pelo professor, é
dialógica, valorizando a contribuição dos alunos (Ponte, 2005).
É ao professor que cabe propor as tarefas a realizar e regular a comunicação, mas tem de
o fazer em permanente negociação com os alunos, negociação essa que se realiza explícita
ou implicitamente. Um aspeto muito importante do modo como conduz a comunicação é
o modo como ajuda os alunos a apropriar-se da linguagem matemática correta, usando
sobretudo processos de “redizer” (revoicing), isto é, reformulando as afirmações dos
alunos numa linguagem progressivamente mais correta (Franke, Kazemi, & Battey,
2007). Para introduzir novos conceitos ou esclarecer significados que se revelam
confusos, o professor pode conduzir momentos de negociação de significados
313
EIEM 2015
matemáticos (Bishop & Goffree, 1986). Além disso, pode assumir em exclusivo o papel
de autoridade matemática ou partilhá-lo com os alunos, procurando estimular a sua
capacidade de raciocínio e argumentação. Uma forma particular da comunicação são as
discussões matemáticas, com diversos intervenientes, que assumem, todos eles, um papel
de autoridade em relação às suas ideias.
314
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
valida respostas dos alunos; e, finalmente, (iv) desafiar, ações em que o professor procura
que os alunos assumam o papel de produzir novas representações, interpretar um
enunciado, estabelecer conexões, ou formular um raciocínio ou uma avaliação. É possível
identificar estes quatro tipos de ações em aulas de caraterísticas muito diversas, mas com
frequência diferente e também num papel diferente que é interessante estudar.
Metodologia de investigação
A metodologia do estudo é qualitativa e interpretativa, tendo por base observação
participante (Jorgensen, 1989). Apresentamos diversos episódios da discussão de uma
tarefa que visa levar os alunos do 6.º ano a desenvolver a noção de multiplicação de uma
fração por uma quantidade. A professora que conduz a aula (a segunda autora desta
comunicação) tem 6 anos de experiência, e procura pôr em prática nas suas aulas uma
abordagem exploratória. O primeiro autor participou na aula como observador. Os alunos
são de uma turma do 6.º ano de uma escola básica rural do ensino público, de uma zona
considerada socialmente deprimida, a 50 km de Lisboa. Os pais dos alunos, em geral, são
de classe baixa ou média-baixa com habilitações que, na sua maioria, não vão além do
ensino básico. A turma tem 19 alunos, dos quais 4 já reprovaram em anos anteriores e
cujas idades variam entre 12 e 17 anos, e revela reduzido empenho e poucos hábitos de
trabalho. A aula foi registada em vídeo, sendo as discussões coletivas integralmente
315
EIEM 2015
A tarefa
A tarefa que serve de base a este trabalho pretende que os alunos usem diversas frações
como operador para determinar uma certa quantidade de uma dada unidade (Figura 3).
Envolve portanto o significado operador num contexto relativo a grandezas discretas
(quantidade de rebuçados). A informação é dada sob a forma de um enunciado verbal
1 3 2
envolvendo números inteiros (250) e frações (5, 5 e 10), sendo pedida uma justificação da
resposta. Os alunos conheciam os números racionais nas suas diversas representações, já
tinham aprendido a adição e subtração de números racionais mas ainda não tinham
aprendido a multiplicação e a divisão de dois números racionais ou de um número
racional por um número natural. Pretendia-se que os alunos dessem um sentido ao
conceito de multiplicar um número racional (representado como fração) por um número
inteiro. Trata-se de uma tarefa de natureza exploratória pois os alunos não tinham ainda
resolvido situações análogas na aula de Matemática, pelo que teriam de dar sentido à
questão e procurar uma forma de a resolver.
Tarefa. Para a sua festa de aniversário a Rita comprou 250 rebuçados para dar aos seus
1 3 2
amigos. Decidiu dar 5 aos colegas da natação, 5 aos colegas da escola e guardou 10 para
dar aos convidados da sua festa de aniversário. Quantos rebuçados deu a Rita aos colegas
da natação? Justifica a tua resposta.
Figura 3: Tarefa dos rebuçados da Rita.
A tarefa fazia parte de uma ficha de trabalho entregue aos alunos. A professora leu o
enunciado em voz alta, procurando certificar-se que todos compreendiam o que era
pedido. Durante uma parte da aula os alunos trabalharam a pares e na outra parte realizou-
se a discussão coletiva.
316
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Professora: Não está aí explicado Daniel… Eu não percebo, eu olho para aí… E,
preciso da tua ajuda ... Deixem lá o Daniel explicar … A forma
como… Que ele pensou.
Daniel: Na natação, 250 é o número dos rebuçados a dividir por 5 que é o
denominador, para ver quanto é que valia, ao todo…
Daniel acaba por dizer que, para saber quantos rebuçados recebem os colegas da natação,
1
dividiu 250 por 5. Implicitamente está a dizer que, para determinar de uma certa
5
quantidade, tem de dividir por 5. A professora considera a explicação insuficiente, pois
só corresponde à primeira parte da expressão, pelo que pede ao aluno para completar a
sua representação, indicando o significado dos diferentes termos. Guiado pelas perguntas
da professora, o aluno faz essa legendagem, usando um misto de linguagem verbal e
simbólica (Figura 5):
1
Natação Quanto vale 5
denominado
r
denominado
rebuçados
r
Figura 5: Resolução de Daniel, completada após as sugestões da professora.
Professora: Então põe lá por baixo de natação, põe lá a fração, se faz favor, só
para nós percebermos o que é que tu estás a dizer… Por baixo da
palavra natação, mete a fração dos rebuçados que ela deu aos
meninos da natação, qual foi a fração?
317
EIEM 2015
1
Alunos: 5.
Professora: Isso, OK, só para nós percebermos do que é que tu estás a falar…
Então quando tu dizes que dividiste por 5 é porque 5 é o
1
denominador dessa fração 5… Continua…
Daniel: E deu 50.
Professora: E o que é que representa esse 50?
Daniel: Esse 50 significa quanto é que vale este 5 (aponta para o denominador
1
da fração 5)… E fiz 50 a dividir por 5 outra vez por causa do
denominador para ver quanto é que valia este 1. Deu 10… Então
deu… Fiz… 10 vezes o numerador e deu 10, acho que deu 10
rebuçados…
A legenda feita por Daniel dá indicação do significado dos diversos elementos que surgem
na expressão, exceto do valor 50, que é precisamente aquele que mais importaria
interpretar. O aluno usa para tal um misto de linguagem verbal e simbólica (frações).
Quando refere que obteve 50, a professora pergunta-lhe o que representa esse valor.
Trata-se de uma questão muito diferente das anteriores, que assume uma natureza
desafiante, pois o aluno não interpretou o 50 como o número de rebuçados que são dados
1
aos meninos da natação e calculou novamente do valor obtido. Ou seja, Daniel não
5
interpreta a sua resposta nos termos do contexto do problema e indica apenas os cálculos
que efetuou. A sua explicação remete apenas para uma sequência de operações, sem
interpretação do significado dos resultados intermédios. Além disso, o aluno não tem em
atenção que 50 é o resultado da divisão de 250 por 5, e que ao voltar a operar com esse
valor na continuação da mesma expressão, obtém um encadeamento de igualdades
matematicamente errado.
Neste episódio a professora enfrenta três problemas. Em primeiro lugar, com que
resolução começar a discussão. Em vez de escolher uma resolução correta ou deixar que
os alunos se oferecessem voluntariamente, a professora escolhe deliberadamente uma
resolução errada. Deste modo, cria uma situação potencialmente geradora de desacordos.
Em segundo lugar, de que modo conduzir a discussão de modo a que os alunos
identificassem e compreendessem o erro em causa. Para isso pede a Daniel para
interpretar os diversos elementos da sua resposta. No entanto, este aluno não é explícito
em relação ao significado de 50 que obteve logo na primeira divisão, pelo que não se
percebe por que razão fez duas vezes a divisão por 5. Em terceiro lugar, a professora tem
que decidir de que modo continuar a discussão depois da explicação inconclusiva de
Daniel. Neste ponto, a professora toma uma decisão importante – em vez de corrigir o
erro do aluno, desafia outros alunos da turma a tomarem posição, tendo em vista
promover o aparecimento de manifestações de desacordo, o que dá origem a um novo
episódio.
318
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Um dos alunos, Jaime, pede para mostrar o seu raciocínio e a professora dá-lhe a palavra.
1
O aluno converte para a representação decimal, obtendo 0,2, e usa este valor como
5
operador multiplicativo (Figura 6). Afirma que o resultado de Daniel está incorreto
porque não é igual ao seu, mas não indica qual é o erro do colega.
Nenhum aluno mostra oposição à resolução de Jaime. Como os alunos já sabem que na
aula de Matemática são valorizadas resoluções diferentes da mesma tarefa, um deles,
Vasco, indica ter outra forma de resolver a questão. A sua resolução tem por base uma
representação mista, com elementos icónicos (um retângulo dividido em “fatias”) e
1
simbólicos – a indicação da fração em cada fatia e a divisão de 250 por 5, com o
5
respetivo resultado (Figura 7). É de notar, porém, que os elementos mais marcantes desta
representação são os icónicos.
1
Vasco explica que cada parte da figura representa e que, para saber o valor de cada
5
“fatia”, dividiu 250 por 5, obtendo como resultado 50 rebuçados que seriam para os
1
colegas da natação. Deste modo, faz uma conexão entre as representações 250 × 5 (dada
implicitamente no enunciado da tarefa, e onde está implícita uma operação que os alunos
não conhecem, a multiplicação de uma fração por um número natural), a representação
319
EIEM 2015
Deste modo, a apresentação de uma resolução errada cria condições para o surgimento de
expressões de desacordo por parte de diversos alunos, tendo levado Jaime e Vasco a
apresentarem as suas resoluções. Ambos resolvem a questão fazendo raciocínios corretos
que envolvem uma mudança de representação, Jaime transformando as frações em
numerais decimais e Vasco usando uma representação mista, mas onde se destacam os
1
elementos icónicos. Esta última representação, ajuda os alunos da turma a ver que éa
5
quinta parte da unidade, ou seja, a unidade dividida em cinco partes iguais. O raciocínio
de Jaime é de natureza essencialmente formal enquanto o de Vasco é vincadamente
informal. Tendo existido diversos alunos que se ofereceram para apresentar as suas
resoluções, os problemas com que a professora se depara são que alunos escolher e como
gerir as suas intervenções. A professora escolhe alunos que resolveram a questão usando
diferentes representações. Neste episódio, as ações da professora são essencialmente de
guiar os alunos, regulando a sua participação na discussão.
Professora: Jaime porque é que tu achas que não é 10? E não aceito como
resposta, “porque acho que é 50” ... Quero que me tentes explicar
porque é que ... aquela resolução não está correta.
Perante este desafio, Jaime apresenta uma explicação tendo por base a representação feita
por Vasco:
Jaime: Não sei da minha, mas sei da do Vasco. Aquilo tudo vale ...
Guilherme: 250.
1
Jaime: Vale 250 rebuçados e cada parcela daquilo vale 5. E aquilo depois é…
1
Aquilo está só a pedir e a gente, vamos ver, ou seja, em número
5
1
decimal quanto é que vale cada parcela daquelas e ela só pede 5
para cada . . . Por isso, aquilo tudo ali vale 50.
Guilherme: É só uma parcela.
320
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Jaime introduz o termo “parcela” para se referir a cada uma das cinco partes em que o
1
todo foi dividido, obtendo-se 5. Guilherme ajuda Jaime na sua explicação, evidenciando
concordar com o colega.
A professora lança então um novo desafio, procurando que Daniel indique as diferenças
entre a sua resolução inicial e a resolução de Vasco:
Professora: Então porque é que… Então o que é que aconteceu aqui? O que é
que aconteceu aqui, Daniel [aponta para a resolução deste aluno],
qual é que é a semelhança e qual é que é a diferença [em relação
à resolução de Vasco]… Onde é que aconteceu aqui a diferença
entre esta resolução e aquela resolução? Há ali uma diferença…
Daniel: É dividir o 50 por 5.
Daniel reconhece então que a diferença está no ter dividido 50 por 5, operação que os
seus colegas não fizeram.
Para finalizar esta discussão a professora promove ainda uma negociação de significado
1
da expressão relacionando-a com a “quinta parte” e voltando a fazer referência à
5
representação pictórica de Jaime.
1 1
Professora: 5. Digam lá outra forma de dizer 5 … Como é que vocês no 1.º ciclo
1 1
diziam 5… Antigamente vocês não lhe chamavam 5… Como é
1
que vocês antigamente diziam a metade? Oh! 2… Já disse já
1
disse… Como é que vocês diziam 2? Chamavam-lhe metade.
1
Como é que vocês diziam 3 no 1.º ciclo?
Guilherme: Terça parte.
Professora: A terça parte, OK. Então aqui quando vocês dividem por 5 o que é
que vocês estão a fazer?
Edgar: A quinta parte…
Professora: Estão a determinar quanto é que é a quinta parte de…
Aluno: 250.
5
Professora: 250, e, perceberam… Que este todo são os 5 e se nós dividirmos os
5
, ou seja, o todo em 5 partes iguais encontramos… A…
5
Juliana: … A quinta parte.
Professora: Ah! Descubro a sua quinta parte! Muito bem… Então eu fiz… 5
caixinhas e distribuí da mesma forma, os 250 rebuçados pelas 5
caixinhas… Sim?
321
EIEM 2015
Neste episódio destaca-se o modo como a professora explora o desacordo entre os alunos
que apresentam duas resoluções, uma correta e outra incorreta. Para isso vai lançando
desafios aos alunos para explicarem porque uma dada resposta não é correta e para
identificarem as diferenças entre duas resoluções. A identificação do erro cometido por
Daniel é feita com o contributo de diversos alunos. Neste episódio a professora enfrenta
o problema de conseguir que todos os alunos compreendam o erro da resolução de Daniel,
incluindo o próprio. Coloca-se-lhe, também o problema de clarificar o significado na
expressão “quinta parte”, para o que conduz uma negociação de significados. Este
episódio não faz surgir novos raciocínios, girando antes em torno da interpretação dos
raciocínios já anteriormente realizados e na construção do significado de termos
matemáticos.
Episódio 4 – Generalização
Depois de ter sido discutido o erro de Daniel e clarificado que determinar a quinta parte
1
corresponde a dividir uma quantidade por 5 ou multiplicar por , a professora desafia os
5
alunos a fazerem uma generalização. Retoma por isso uma das expressões escritas no
1
quadro [ × 250] e pergunta o que aconteceria com outros valores para a fração e o
5
número natural:
Professora: Então vamos tentar chegar a uma conclusão mais geral, diz-me lá…
1
Rui: Sempre que quisermos fazer uma conta dessas [5 × 250]…
...
Professora: Sim.
Rui: É só dividir o denominador pela coisa que estiver antes ... Que neste caso
são os rebuçados.
Professora: Como é que é, explica lá… Dá lá mais exemplos…
1
Rui: Por exemplo, 4, se for outro exemplo, quantos rebuçados? 150 por
exemplo… Sempre que há contas dessas, eu posso fazer o 4 ou o
denominador a dividir pelo número. E vai dar o resultado.
Perante esta generalização, ainda que efetuada numa linguagem pouco correta, a
professora desafia Rui a estender a sua generalização a frações não unitárias:
Professora: Então agora, vou fazer-te uma pergunta… Isso aplica-se se eu tiver
2
× 150?
4
322
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Guilherme: Eu acho que… Pode-se fazer da mesma maneira só que tem que se
acrescentar uma coisa…
Neste episódio, a professora desafia os alunos a fazerem uma generalização sobre o que
poderá ser a multiplicação de uma fração qualquer por um número natural. Este episódio
desenvolve-se usando representações simbólicas (frações e linguagem natural). Destaca-
se ainda as questões da professora guiando os alunos para melhorarem as suas explicações
bem como o modo como rediz as afirmações dos alunos levando-os a aperfeiçoar a sua
linguagem matemática. A professora enfrenta o problema de levar os alunos a fazer a
generalização pretendida, o que acaba por ser feito em duas etapas, primeiro
relativamente a frações unitárias e depois relativamente a quaisquer frações.
Conclusão
A professora inicia a discussão coletiva analisando uma resposta errada de um aluno, que
tinha previamente identificado. Nesta resposta intervêm apenas representações
simbólicas, cujo significado o aluno não consegue explicar. A professora promove então
323
EIEM 2015
324
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Agradecimento
Este trabalho é financiado por fundos nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência
e Tecnologia através de bolsas atribuídas a Marisa Quaresma (SFRH/BD/97702/2013) e
Joana Mata-Pereira (SFRH/BD/94928/2013).
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326
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Helena Rocha
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Nova de Lisboa
[email protected]
Resumo: A tecnologia e o impacto que esta pode ter sobre as diferentes representações
utilizadas e, em particular, sobre a representação algébrica são o foco deste artigo.
Procura-se assim compreender como é que o professor enquadra a representação
algébrica no trabalho em sala de aula e como a procura tornar relevante para os alunos
num contexto de utilização da tecnologia. As conclusões alcançadas apontam para a
opção por uma estreita articulação entre as representações algébrica e gráfica e para uma
criteriosa escolha de tarefas, envolvendo múltiplas abordagens, onde a representação
algébrica vem disponibilizar informação fundamental e tendencialmente inacessível a
partir de outras representações.
Palavras-chave: diferentes representações; tecnologia; funções.
Introdução
A tecnologia é frequentemente reconhecida pelo seu potencial para o ensino e
aprendizagem da Matemática. São em particular bastante valorizadas as possibilidades
que esta oferece para proporcionar aos alunos a realização de um trabalho de natureza
investigativa ou exploratória. Os alunos passam a poder experimentar diferentes relações
matemáticas, reflectindo sobre elas enquanto procuram identificar regularidades e
formular conjeturas. A facilidade e rapidez com que se torna possível observar muitos
casos de determinada situação vêm, contudo, trazer a convicção quanto à veracidade da
conjetura formulada e potenciar um sentimento de que nada mais é necessário para
estarmos certos dela. Também a acessibilidade e simplicidade aparente da representação
gráfica vem tornar o analítico em algo contornável e cuja necessidade passa a ser possível
questionar. O domínio do cálculo, que numa abordagem sem tecnologia era muitas vezes
a única opção possível, converte-se assim em algo dispensável. Passa a ser possível
questionar o interesse de aprender e ensinar determinadas manipulações algébricas, bem
como o nível de fluidez e treino que deve ser exigido aos alunos relativamente a estas.
São também inevitáveis as questões em torno da forma como o professor pode mostrar
aos seus alunos o interesse e a importância que a representação algébrica e a manipulação
de expressões algébricas continuam a ter atualmente num contexto onde o acesso à
327
EIEM 2015
tecnologia é uma realidade. Neste artigo abordo estas questões, procurando compreender,
no âmbito do estudo das funções com recurso à calculadora gráfica:
Quadro teórico
Uma das caraterísticas da calculadora gráfica é permitir aceder a múltiplas representações
(Heid, 1995; Kaput, 1992), o que torna possível estabelecer ou reforçar ligações de uma
forma que não seria possível sem o apoio da tecnologia (Cavanagh & Mitchelmore, 2003),
articulando as representações numérica ou tabular, simbólica ou algébrica e gráfica (Goos
& Benninson, 2008) e potenciando o desenvolvimento de uma melhor compreensão das
funções, da noção de variável e da capacidade de resolver problemas (Bardini, Pierce &
Stacey, 2004; Burril, 2008). Como refere Kaput (1989), a conexão entre diferentes
representações cria uma visão global, que é mais do que a junção do conhecimento
relativo a cada uma das representações e a tecnologia propícia uma exploração plena das
abordagens numérica e gráfica de uma forma que até então não era possível, favorecendo
assim uma abordagem integrada das diferentes representações e, consequentemente, o
desenvolvimento de uma compreensão mais profunda. O recurso a múltiplas
representações tem assim o potencial de tornar a aprendizagem significativa e efetiva
(Ford, 2008).
328
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
329
EIEM 2015
Metodologia
A investigação que aqui se apresenta faz parte de um estudo mais abrangente e adota uma
abordagem de natureza qualitativa e interpretativa, envolvendo a realização de um estudo
de caso sobre a professora Teresa. A recolha de dados envolveu a realização de
entrevistas, a observação de aulas e recolha documental. Foram realizadas entrevistas
semiestruturadas antes e depois de cada aula observada, com a intenção de conhecer o
que preparara e as razões base dessas opções (entrevistas pré-aula) e o balanço que fazia
da forma como a aula decorrera (entrevistas pós-aula). Tanto as entrevistas como as aulas
foram áudio-gravadas e posteriormente transcritas. Foi ainda elaborado um diário de
bordo das aulas observadas e recolhidos documentos como fichas de trabalho e outros
materiais disponibilizados pela professora aos alunos. A análise de dados revestiu-se
essencialmente de um carácter descritivo e interpretativo.
Teresa é uma professora com mais de 30 anos de experiência profissional, que no decorrer
deste estudo lecionava o tema Funções na disciplina de Matemática A a uma turma do
10.º ano de escolaridade de uma escola da região da Grande Lisboa e que possui uma
longa experiência de utilização de calculadoras gráficas com alunos e um profundo
conhecimento do funcionamento da máquina.
330
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Resultados
Nesta secção apresento uma das tarefas onde a professora conscientemente procura
enfatizar junto dos alunos a importância da abordagem algébrica, recorrendo para o efeito
a propostas de trabalho que requerem explicitamente duas abordagens diferentes.
Esta é uma tarefa que engloba duas partes distintas, com realização prevista para duas
aulas de 90 minutos. O problema proposto, e que estrutura toda a tarefa, é o seguinte:
Dobra uma folha de papel de modo a que o canto superior esquerdo toque o
lado inferior da folha tal como mostra a figura.
A proposta de trabalho apresentada aos alunos vai, contudo, para além do enunciado do
problema, sugerindo duas abordagens completamente diferentes de resolução, que os
alunos devem implementar. A primeira dessas abordagens, que constitui a primeira parte
da tarefa, é de natureza experimental envolvendo a recolha de dados e o seu tratamento
com a calculadora gráfica, que assume aqui um papel central. É assim pedido aos alunos
que recolham dados reais, recorram à tecnologia para encontrar uma função que se adeqúe
a esses dados e a utilizem para encontrar a resposta ao problema. A primeira parte da
tarefa, tal como consta da ficha de trabalho entregue aos alunos, é a seguinte:
Parte I
Experimenta, recolhe e regista os dados da base (x) e da altura (a) do triângulo
T:
Base (x) 0 2 4 6
Altura (a)
Área
Na segunda parte desta tarefa, é pedida a resolução do mesmo problema, igualmente com
o apoio da calculadora gráfica, mas agora sem recurso a trabalho de natureza
experimental:
331
EIEM 2015
Parte II
Considera o esquema, em que a representa a altura do triângulo T e x a base.
1. Exprime a em função de x.
2. Mostra que a área do triângulo é dada, em função de x, por
𝑥(21−𝑥)(21+𝑥)
𝐴= , com x[0, 21]
84
3. Com auxílio da calculadora estuda o máximo.
O grande objetivo de Teresa com esta tarefa é proporcionar aos alunos a oportunidade de
trabalhar com dados reais recolhidos pelos próprios alunos. Na sua opinião este é um
aspeto muito importante, pois as funções ganham outra relevância para os alunos quando
estes as veem como algo que permite, efetivamente, modelar situações reais com que
contatam diretamente:
Prof- Eu podia ter orientado a ficha para ser logo analítico, para a calculadora
aparecer só como exploração da função, podia ter orientado
assim. (…) Mas é também para verem ali a função como modelo
de uma situação. Acho que, apesar de tudo, vê-se melhor porque
eles experimentaram, recolheram os dados e tal. Percebem que
se eu fizer depois a representação desses dados, é possível
procurar no fundo uma função que se ajuste a este conjunto de
pontos. (…) Eu acho que esta parte experimental lhes dá uma
intuição para perceberem o problema, acho que dá. Pronto, eles
mediram, fizeram, têm ali os resultados. Acho que é diferente ter
um conjunto de valores que é o resultado dos dados que eles
recolheram e depois perceberem que a função passa de facto por
aqueles pontos. Acho que dá… dá mais a ideia que se está a
descrever a situação, de que se não fizessem. (…) Acho que não
é concebível que não se faça nenhum problema em que haja
recolha. Pronto. Pelo menos algumas tarefas, acho que têm que
ser feitas com dados. (pós-aula 13)
332
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Teresa começa por apresentar a tarefa, dando depois algumas indicações relativamente
ao ponto até onde espera que todos consigam chegar, fazendo também referência ao que
poderá ficar para a próxima aula e ao prazo e forma que terão para entregar o trabalho
realizado. Enfatiza o facto de este trabalho envolver uma parte experimental e realça a
importância de se organizarem para conseguirem ser eficientes e não desperdiçarem
tempo de que poderão precisar depois para concluir o trabalho. Neste sentido, pouco
depois dos alunos começarem a trabalhar, e perante a forma, que considera lenta, como o
estão a fazer, opta por dar algumas sugestões, nomeadamente relativamente à construção
de uma escala no lado mais longo da folha que estão a utilizar para recolher os dados:
Prof- Sejam organizados. Vou dar umas dicas para serem mais rápidos aqui nesta
parte. Podem marcar a folha com a régua, de dois em dois
centímetros, porque depois é só deslocarem a folha para a
próxima marca que fizeram. Agora, quando fazem isto, depois
têm que vincar a dobra da folha porque se não vincarem depois
não conseguem ver exatamente esta altura, certo? Portanto, o que
é que têm que medir? Têm que medir isto e têm que medir isto
(exemplifica com uma folha). Mas como há aí na tabela uma
sugestão para fazerem de dois em dois centímetros, se quiserem
podem fazer outros valores, mas de dois em dois parece-me bem,
eu sugeria que marcassem logo na folha 2, 4, 6, 8, para ser mais
rápido. Vá! (aula 13)
O trabalho prossegue com a professora a circular entre os alunos e a apoiar o seu trabalho.
Na segunda aula em que os alunos trabalharam nesta tarefa, Teresa começa por fazer um
ponto da situação do que já foi feito. Apoia-se concretamente nos dados recolhidos por
um dos pares de alunos, começa por questionar o facto de os alunos considerarem um
333
EIEM 2015
primeiro triângulo de base e altura nula e prossegue até à conclusão final do problema. É
assim estabelecido que o triângulo de área máxima será o de base igual a 12 cm e altura
igual a 7 cm. Uma conclusão que se adequa aos dados recolhidos por este grupo de alunos,
mas que parece coincidir com o resultado alcançado pelos demais grupos. O trabalho
prossegue, sendo a segunda parte da ficha realizada mais tarde no quadro por um aluno,
que não se limita a apresentar os cálculos que efetuou, explicando também aos colegas o
que fez e respondendo às dúvidas que estes lhe colocam.
O rigor da recolha de dados vai depois afetar a facilidade que os alunos terão ou não na
procura de uma função adequada. E, para muitos, perceber, de entre os vários tipos de
funções disponibilizados pela calculadora, qual o mais adequado para os seus dados
revela-se algo problemático e “como sabemos qual a melhor função?” torna-se numa
pergunta recorrente. Para alguns, uma certa imprecisão na medição durante a recolha de
334
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
No entanto, para diversos alunos, o aspeto visual da distribuição dos pontos no referencial
leva-os a pensar numa função quadrática ou quártica e nunca numa função cúbica:
Aluno- Ora, as áreas vão aumentando e depois começam a descer… com este
aspeto assim. Isto é uma parábola com a concavidade virada para
baixo e, portanto, vou escolher uma função quadrática (o aluno
pede à calculadora gráfica a expressão da função e observa o seu
gráfico sobre a nuvem de pontos). Uhm… não está muito bem.
Ali devia estar mais acima… Só se… também pode ser uma de
grau 4. É isso, não é?
Prof- Não sei, vê lá.
Aluno- Então… quártica, não é? É isto? Deixa ver. (aula 13)
Este é um aspeto interessante que o problema faz surgir e que Teresa deixa no ar até ao
final da segunda parte da tarefa, altura em que os alunos já sabem que a função em causa
é uma cúbica. Aproveita então a ocasião para lembrar que a calculadora gráfica apenas
nos mostra o gráfico na janela de visualização e que nada nos diz relativamente ao
comportamento da função fora dessa região.
335
EIEM 2015
Prof- Eu acho que pelo facto de a folha estar dobrada, muitos não viram logo
que aquilo podia ser o 21-x e, portanto, andaram ali com três
variáveis. (pós-aula 14)
Esta situação leva-a não só a tentar apoiar cada um dos alunos que evidenciou
dificuldades, mas também a ressaltar junto de toda a turma alguns aspetos que considera
fundamentais quando se resolvem problemas:
Prof- Ao resolver um problema temos que ter atenção sempre às medidas que
temos e às que estão relacionadas umas com as outras. (…) Isto
acontece aqui com as medidas, aconteceu no problema que
estivemos a resolver na outra aula, aquele do paralelogramo
dentro do rectângulo, que tratava de decompor, não as medidas,
os comprimentos, mas as próprias figuras. Portanto, vocês têm
que olhar para as figuras sempre assim. Ver, o que é que eu
conheço aqui? A figura está decomposta em que outras mais
simples? Nós no 1.º período chamámos imenso a atenção para a
importância dos triângulos. Em muitas figuras aparecem
triângulos, nas decomposições. Paralelogramos também se
podem decompor em triângulos e, portanto, temos que olhar para
a figura e ver tudo o que nós conseguimos saber e não começar
logo a fazer coisas ao acaso. (aula 14)
Conclusão
Esta tarefa consistia basicamente na resolução de um problema com base em duas
abordagens diferentes. Na primeira parte da tarefa os alunos deviam adotar uma estratégia
de caráter experimental, recolhendo diretamente os dados e apoiando-se depois na
calculadora gráfica para encontrar a expressão de uma função que se adequasse aos dados.
Na segunda parte seria seguida uma via com apoio na interpretação da informação
disponibilizada e em trabalho mais algébrico que levaria à expressão da função
correspondente à situação, após o que o recurso à calculadora gráfica permitiria encontrar
a resposta ao problema. A proposta de trabalho previa assim a adoção das duas
abordagens e, no final, de algum modo o confronto entre estas. Entre outros aspetos estava
envolvido o confronto entre um trabalho de caráter aproximado e outro de caráter exato.
336
GD3 – As representações e as práticas de ensino e recursos
Agradecimentos
À FCT – Fundação para a Ciência e Tecnologia pelo apoio financeiro para o
desenvolvimento deste trabalho (PTDC/MHC-FIL/5363/2012)
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339
AS REPRESENTAÇÕES MATEMÁTICAS NOS SISTEMAS DE
EQUAÇÕES: ANÁLISE DE TRÊS MANUAIS ESCOLARES DE
ÉPOCAS DIFERENTES
Isabel Teixeira
Agrupamento de Escolas de Tarouca
[email protected]
Cecília Costa
Departamento de Matemática, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
CIDTFF−Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores
(LabDCT da UTAD)
[email protected]
Paula Catarino
Departamento de Matemática, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
CIDTFF−Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores
(LabDCT da UTAD)
[email protected]
Maria Nascimento
Departamento de Matemática, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro,
CIDTFF−Centro de Investigação Didática e Tecnologia na Formação de Formadores
(LabDCT da UTAD)
[email protected]
Introdução
Esta investigação sobre representações matemáticas é parte de uma mais ampla na qual
estudamos diversos aspetos que perpassam na prática de ensino de uma cadeia geracional
341
EIEM 2015
Tanto quanto sabemos, conhece-se pouco sobre o modo como os sistemas de equações
têm sido abordados ao longo das várias gerações de professores de Matemática, em
particular nos manuais escolares usados. Partilhamos a ideia de que “Os manuais
escolares são portadores de uma memória, de um conhecimento e de um projecto.”
(Teixeira, 2010, p. 309). No entanto sobre o modo como é feita a abordagem de outros
conceitos matemáticos em manuais escolares, em Portugal são de referir os estudos
(Ponte, 2004) sobre equações do 1.º grau, (Ponte, Salvado, Fraga, Santos & Mosquito,
2007) sobre equações do 2.º grau, (Aires, 2006), (Aires & Sierra Vázquéz, 2008) sobre o
conceito de derivada, entre outros.
Fundamentação teórica
Segundo Duval (2011) os alunos enfrentam dificuldades para conceitualizar objetos
matemáticos, visto que esses objetos só são acessíveis por meio de suas representações.
Por este facto, as representações matemáticas desempenham um papel relevante no ensino
e consequentemente na aprendizagem da álgebra escolar e em particular nos sistemas de
342
Comunicações - GD3
Palavras escritas, números, gráficos cartesianos, equações algébricas, entre outos, são
exemplos de representações matemáticas externas (e.g. (Goldin, 2002)). As
configurações externas ao indivíduo (aluno ou professor) e geralmente observáveis no
ambiente imediato, como objetos da vida real, palavras faladas ou escritas, fórmulas
figuras, gráficos, figuras e gráficos. Do mesmo modo, definindo x como o número de
pacotes de gelados que uma criança comeu, x + 2 será esse número de gelados mais dois
gelados e 2x será o dobro dos gelados comidos. Contudo, se x for a idade do pai da criança,
ou se 2 for o preço de um jogo de sorte, o significado das representações altera-se (Goldin,
2002, p. 214). Tal como referem Canavarro e Pinto (2012)
Por exemplo, quem estudou as equações algébricas sabe quais as convenções e as regras
para as resolverem, pois estas tornaram-se numa norma entre as pessoas que o fazem
(Goldin, 2002).
Como referenciam Canavarro e Pinto (2012), Bruner (1999) apresenta três tipos de
representações: i) representações ativas, relativas ao conjunto de ações adequadas para
referir ou alcançar certo resultado (por exemplo, objetos ou acontecimentos da vida real,
material didático, como o tangram ou ábaco); ii) representações icónicas, relativas ao
conjunto de imagens ou gráficos que sucintamente se referem a uma certa ideia ou
processo (por exemplo, figuras, desenhos); iii) representações simbólicas, relativas ao
conjunto de proposições simbólicas ou lógicas extraídas de um sistema simbólico regido
por regras ou leis para a formação e transformação de proposições (por exemplo, os
algarismos, sinais de operações, símbolos para as variáveis, gráficos ou tabelas).
343
EIEM 2015
Para Jordão e Bianchini (2014) o ensino dos sistemas de equações que favorece a
conversão e o tratamento de representações matemáticas contribui para a compreensão e
aprendizagem da resolução dos sistemas de equações. Destacam, ainda, a relevância do
uso da representação algébrica e gráfica simultaneamente no sentido de melhorar a
compreensão e a aprendizagem dos sistemas de equações por parte dos alunos.
Metodologia
A escolha dos três manuais escolares aqui analisados é justificada pelo contexto do estudo
mais amplo atrás referido. Quando o professor I lecionou ao professor II usou o manual
I; o manual usado pelo professor II quando lecionou ao III foi o manual II; e o professor
III usou o manual III na primeira vez que lecionou sistemas de equações.
Estes são:
Manual I. Manual escolar usado pelo professor I quando o professor II foi seu aluno no
ano letivo de 1967/1968. Trata-se do Compêndio de Álgebra, para o 2.º ciclo do ensino
liceal, da autoria de J. Jorge G. Calado (Calado, 1965), professor do Liceu Normal de
Pedro Nunes (conforme é explicitado na folha de rosto do compêndio), de 1965. Foi
composto e impresso nas oficinas gráficas Bertrand (Lisboa), e a depositária era a Livraria
Sá da Costa (Lisboa). Trata-se de livro único numerado (número 631) e autenticado pelo
Ministério da Educação Nacional24.
Manual II. Manual escolar usado pelo professor II quando o professor III foi seu aluno
no ano letivo de 1989/1990. É o livro Matemática, para o 8.º ano de escolaridade, cujas
autoras são Ana Luísa Correia, Célia Moreira Eusébio e Teresa Olga Albuquerque
(Correia, Eusébio & Albuquerque, 1988). Foi editado pelas Edições Asa. A edição que
nos interessa analisar, por ter sido a usada pelo professor II quando leccionou ao professor
III, foi publicada em 1988 (2.ª edição)25.
Manual III. Manual escolar usado pelo professor III quando lecionou pela 1.ª vez sistemas
de equações no ano letivo de 1999/2000. Trata-se do manual escolar Matemática 9, para
o 9.º ano de escolaridade, das autoras Maria Augusta Ferreira Neves e Maria Luísa
Monteiro Faria (Neves & Faria, 1999). Foi publicado pela Porto Editora, em 1999. Na
24
Aprovado oficialmente como livro único pelo Ministério da Educação Nacional (Diário do Governo, II
Série, n.º 46 de 14-11-1965).
25
Dep. Leg. 23139/1988/2ed/5000ex.
344
Comunicações - GD3
capa é explicitado que se trata do livro do aluno. A edição que nos interessa analisar é a
7.ª reimpressão da 1.ª edição26.
Tomando como ponto de partida a metodologia utilizada por Sierra, González e López
(2002) analisaremos segundo as três dimensões seguintes: conceptual, didático-cognitiva
e fenomenológica. A análise conceptual refere-se ao modo como os sistemas de equações
se definem e organizam ao longo do texto, às representações gráficas e simbólicas
utilizadas, problemas e exercícios resolvidos ou propostos, exemplos e exercícios,
representações gráficas e simbólicas, aspetos materiais. A análise didático-cognitiva
refere-se à explicitação dos objetivos que os autores pretendem atingir com o modo como
o aluno desenvolve certas capacidades cognitivas. A análise fenomenológica refere-se
aos fenómenos que se propõem nas sequências de ensino que aparecem nos manuais
escolares.
Assim, fizemos, para cada manual escolar, uma descrição geral do modo como o tema é
abordado, uma referência à organização e grafismo, analisamos os aspetos didáticos,
incluindo as teorias de ensino e de aprendizagem subjacentes e os elementos
fenomenológicos. Desta análise, neste estudo focamo-nos apenas nos aspetos de grafismo
e didáticos para identificar e caracterizar as representações matemáticas usadas pelos
autores dos manuais.
Organizamos a apresentação dos resultados e respetiva análise em duas partes, uma tendo
em conta o grafismo e a outra aspetos didáticos. Consideramos o grafismo porque está
associado a opções de comunicação escrita, em particular de detalhes matemáticos, como
veremos. No que refere aos aspetos didáticos, organizamos a sua exposição de acordo
com os tópicos principais identificados neste capítulo, a saber: atividade inicial (apenas
existente no manual III); introdução aos sistemas de equações (existente nos três
manuais); método de substituição (existente nos três manuais); outros métodos para
resolução de sistemas (existente nos manuais I e III).
26
Dep. Legal N.º 138517/99
345
EIEM 2015
Grafismo
Manual I. Este manual está escrito em página total, com tamanho de letra pequeno,
espaçamento simples e organizado por parágrafos (figura 1). O texto é escrito com a cor
preta surgindo palavras a negrito ou itálico. O tamanho da letra varia. O texto é escrito
em linguagem natural complementada com linguagem simbólica matemática. Não
existem imagens, à exceção de um gráfico na página 187. É ainda de referir a existência
de retângulos a contornar a equação final que permite identificar o valor da incógnita
(figura 1).
Manual II. Este manual está escrito em página total, com tamanho de letra pequeno,
espaçamento simples. São usadas duas cores: preto e cor de laranja. A cor preta é usada
no corpo do texto onde também aparecem palavras a negrito para destacar terminologia
e nos exemplos de resolução de sistemas o texto é em tipo de letra manuscrito (figura 2).
A cor laranja é usada para destacar definições através de uma moldura retangular e fazer
ligeiros apontamentos (figura 2). Existe um esquema na página 32 para o procedimento a
usar no método de substituição (figura 10) e não existem imagens.
346
Comunicações - GD3
Manual III. Este manual é multicolor. As páginas apresentam uma margem vertical em
cor diferente aproximadamente correspondente a um terço da página total. O texto é
escrito maioritariamente a preto embora haja partes coloridas ou a negrito. Existem muitas
imagens, gráficos, tabelas e outro tipo de sinais como retângulos e setas para
complementar a explicação.
Aspetos didáticos
347
EIEM 2015
Esta atividade permite-nos considerar que existe neste manual uma representação ativa
(dentro do possível tendo em conta o facto de o suporte físico ser um livro), uma vez que,
por um lado sugere uma ou várias simulações para encontrar resposta para a atividade e,
por outro lado, porque remete para o uso de material didático manipulável: as balanças
que metaforicamente representam uma equação. Além disso, estão presentes a
representação icónica com o desenho que ilustra o enunciado do problema e a
representação simbólica com o enunciado escrito numa linguagem mista (natural e
matemática).
348
Comunicações - GD3
Manual II. O segundo subcapítulo, Sistemas de duas equações com duas incógnitas, é
iniciado com o problema (figura 6): “A soma de dois números é 12 e a soma do primeiro
com o dobro do segundo é 7. Quais são os números?”, para o qual consideram duas
incógnitas 𝑥 e 𝑦. Segue-se a tradução do problema em linguagem matemática que dá
origem a duas equações literais que têm que se verificar ao mesmo tempo, o que leva à
definição de um sistema de duas equações com duas incógnitas. Analisam de uma forma
geral a conjunção de duas condições para de seguida apresentarem um exemplo sobre o
conjunto solução de uma conjunção de condições. Posteriormente afirmam que um
sistema de equações é a conjunção de duas equações, apresentando o sistema referente ao
problema inicial.
Manual III. O subtema 2. Sistemas de duas equações do 1.º grau com duas incógnitas é
apresentado com as subsecções 2.1 Definições e 2.2 Resolução de um sistema. Na
primeira subsecção recorrem a um problema envolvendo moedas: “A Luísa tem,
distribuídas pelos seus dois porta-moedas, 16 moedas. Num deles tem o triplo das moedas
que tem no outro. Quantas moedas tem em cada um?” (figura 7) (encontra-se na margem
da página a imagem de dois porta-moedas). Seguidamente traduzem algebricamente as
duas informações do enunciado do problema para introduzir a definição de uma
conjunção de duas equações ou um sistema de equações. Na margem fazem a leitura e
apresentam o significado do símbolo ∧.
349
EIEM 2015
Manual II. Após a explicação do método de substituição com base na resolução, passo a
passo, apresenta-se um exemplo (figura 9).
350
Comunicações - GD3
Figura 10: Os quatro passos para a resolução de um sistema pelo método de substituição.
Manual III. Apresenta, lado a lado, duas maneiras (figura 11) para resolver um sistema
de duas equações com duas incógnitas, utilizando o método de substituição.
Num exemplo adiante é usado o mesmo tipo de tabela (como a apresentada na figura 11)
e ainda uma sinalética idêntica à usada no manual II (figura 9 a cor de laranja).
351
EIEM 2015
Manual III. Quanto ao método de tentativa e erro, neste manual parte-se de um sistema
de equações e através da construção de uma tabela vão sendo atribuídos valores às
incógnitas até encontrar uma solução.
Estes dois manuais incluem outros métodos para além do método da substituição. No
manual I encontramos a representação simbólica e a representação icónica (com o único
gráfico/imagem que consta neste capítulo e o retângulo a contornar certas equações que
já referimos, para o caso do método de redução é ainda usado o esquema semelhante ao
algoritmo da adição, para a adição algébrica de equações. Já no manual III são usadas
duas representações a simbólica e a icónica ao recorrer a uma tabela.
Conclusões
No sentido de responder às questões de investigação estabelecidas são de referir os
seguintes aspetos.
Quanto às representações icónicas, estas são muito esparsas nos manuais I e II, sendo
usadas apenas, pontualmente, para realçar algum aspeto matemático mais delicado. No
caso do manual I aparece um gráfico e no do manual II um esquema. O manual III
apresenta muitas representações icónicas e variadas, mais de acordo com Duval (2003):
gráficos, tabelas, ilustrações, esquemas e outra sinalética não convencional.
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354
PÓSTERES – GD3
355
ESTUDO DE UM CONTEXTO FORMATIVO DESENCADEADO
A PARTIR RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E DO CONCEITO
DE FRAÇÕES
O presente trabalho tem por objetivo apresentar um estudo de caso decorrente da análise
das representações realizadas pelos integrantes do grupo ao trabalhar o conceito de
frações conjuntamente com a Resolução de Problemas. Este grupo é composto por: 3
professores dos anos iniciais da Educação Básica (PAI), 3 professores de Matemática dos
anos finais da Educação Básica (PAF); 3 alunos do curso de Pedagogia (AP); 3 alunos do
curso de Licenciatura em Matemática AM); 2 doutorandos e 1 mestrando em Educação
Matemática; 1 mestrando em Educação e 1 doutora (coordenadora do projeto).
357
EIEM 2015
Em um destes encontros um dos grupos pensou em uma atividade para alunos do 6.º ano
do ensino fundamental utilizando um material manipulável denominado disco de frações
(Figura 1).
“[...] eles deram os disquinhos [...] o primeiro exercício deu para fazer
com os disquinhos, e o segundo não deu”. (PAF 1, 5.º encontro – 2.º
semestre de 2013)
358
GD3 – Pósteres
Além disso, um dos integrantes do grupo propôs uma solução algébrica (Figura 3) que
converge para o que aponta Ponte (1992, p. 205): “uma das concepções mais
prevalecentes é a de que o cálculo é a parte mais substancial da Matemática, a mais
acessível e fundamental”.
Como a proposta das atividades indicava a utilização dos discos de frações para
solucionar o problema, o grupo não se atentou para o fato de que este material
manipulável possui uma limitação no que diz respeito à representação de números
fracionários. Por este fato, outro integrante ressaltou:
“[...] É preciso testar o material antes por que, por exemplo, o nosso
grupo não trouxe material e usou os discos de fração que estavam aqui,
só que mesmo usando esses discos, eu não me atentei que mão tinha um
disco de 12, aí não dava para chegar à resposta correta”. (PAF 3, 5.º
encontro – 2.º semestre de 2013)
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EIEM 2015
360
GD3 – Pósteres
361