Se Disney Administrasse Seu Hospital PDF
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Se Disney administrasse seu trações de interesse, seja dos funcionários mais humildes da limpeza
até dos profissionais mais graduados que os atendem.
hospital: 9 ½ coisas que você O livro é um monumento de bom senso e de boa educação
comprovados com estatísticas.
mudaria Embora tenha como foco principal a administração hospitalar,
Fred Lee no subtexto se encontra a clássica relação médico-paciente, objeto
de disciplinas e cursos em faculdades de medicina, mas quase sem-
Porto Alegre: Bookman-Artmed, 2009 pre desconsiderada na prática do dia a dia, tornada inviável, muitas
vezes, pela massificação.
Com uma pletora de exemplos práticos, o livro demonstra como é
Zacaria Borge Ali Ramadam possível uma integração entre atendimento personalizado e satisfató-
Professor-associado do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (FMUSP). rio, com bons resultados financeiros para os fornecedores de serviços
de saúde. Mas, não só: diretores de hospitais, médicos de consultórios
Endereço para correspondência: Zacaria Borge Ali Ramadam. Instituto de Psiquiatria. Rua privados e quaisquer ramos de oferta de serviços – de saúde ou não –
Ovídeo Pires de Campos, 785 – 05403-010 – São Paulo – SP. E-mail: [email protected] poderão perceber a importância dos temas tratados nesse livro.
Embora pretendendo orientar na obtenção de bons resultados
Recebido: 2/8/2009 – Aceito: 29/5/2009 empresariais (hospitalares), o livro evoca, nas entrelinhas, os gran-
Ramadam ZBA/ Rev Psiq Clín. 2010;37(4):185 des temas do sofrimento humano, das pessoas frágeis e inermes
pela doença e a necessidade de resgatar a cortesia, a dedicação e o
Livros há que, não obstante o tema tratado, nem as intenções do autor, carinho, indispensáveis nas horas de aflição. É leitura fundamental
refletem nas entrelinhas, de modo indiscutível, os principais valores para médicos, administradores de clínicas e de hospitais e – last but
culturais do seu meio e do país que lhes deu origem. not least – para profissionais de áreas afins.
Tal é, por exemplo, a obra de Dale Carnegie “Como Fazer
Amigos e Influenciar Pessoas”, traduzido em muitos idiomas e ree-
ditado, com sucesso de vendas, há mais de 50 anos. Nenhum leitor
razoavelmente informado diria que foi escrito por um italiano, um
alemão ou francês. Inclusão social de pessoas com
O livro de Carnegie (aliás, muito bom para os sociofóbicos mal-
humorados) evidencia, sem pretender, o perfil psicológico do norte-
doenças mentais
americano médio, com suas aspirações ao sucesso, seus motivos de Julian Leff, Richard Warner
frustração nos relacionamentos, estratégias para obter respeito e Coimbra: Almedina, 2008
satisfação, bem como pequenas fórmulas de sedução e conquista dos
interlocutores. Aparentemente superficial, valoriza o pragmatismo e
persegue resultados sempre positivos nos relacionamentos, fazendo
tábula rasa da diversidade dos caracteres e da complexidade – nem
sempre acolhedora – das mentes humanas. Trata-se, talvez, de uma Sérgio Paulo Rigonatti
obra das mais representativas do “american way of life”, cujos valores Doutor em Psiquiatria pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de
tanto influenciaram a humanidade nas últimas décadas, para o bem Medicina da Universidade de São Paulo (IPq-HC-FMUSP). Diretor do Serviço de Tratamentos
Biológicos e psiquiatra responsável pelo Núcleo Forense (Nufor) do IPq-HCFMUSP
ou para o mal, desde a Disneylândia até os sapatos arremessados
contra o presidente Bush. Endereço para correspondência: Sérgio Paulo Rigonatti. Instituto de Psiquiatria. Rua Ovídeo
O livro que nos concerne nestes comentários, “Se Disney admi- Pires de Campos, 785 – 1º andar – 05403-010 – São Paulo – SP. E-mail: sergio.rigonatti@
nistrasse seu hospital – 9 ½ coisas que você mudaria”, de Fred Lee, hcnet.usp.br
publicado nos Estados Unidos em 2004, insere-se nesse contexto e é
rico de informações e motivos para reflexões. Ensina como conquistar Recebido: 27/4/2009 – Aceito: 30/4/2009
clientes e garantir sua fidelidade médica e hospitalar.
O autor, Fred Lee, tem no seu currículo larga experiência nas or- Rigonatti SP/ Rev Psiq Clín. 2010;37(4):185
ganizações Disney e no mundo hospitalar da região circunvizinha de
Orlando, devendo-se ressaltar que, em sua família, a mãe, uma irmã, O livro “Inclusão Social de Pessoas com Doenças Mentais” foi por
a primeira e a segunda esposa são enfermeiras e chefes de equipe. nós analisado em sua edição portuguesa (Edições Almedina), com
O livro se destina a administradores, diretores de hospitais e tradução de Ana Paula Lopes. Os autores, Julian Leff e Richard
clínicas (privadas ou estatais) e também a médicos em geral, já que Warner, estudam a reformulação da assistência em saúde mental
o foco principal da obra é o bem-estar dos pacientes. na Inglaterra e nos Estados Unidos e mostram como o processo de
Desenvolve-se em tópicos diversos, ilustrados com pequenos desinstitucionalização deve ser realizado. Demonstram que, além dos
relatos de episódios demonstrativos do que agrada ou desagrada recursos financeiros necessários para que as residências terapêuticas,
as pessoas, no caso, familiares e pacientes. Estabelece comparações ambulatórios adequados e outras medidas sociais sejam adotados, é
entre os diversos tipos de atendimento visando a bem satisfazer as necessário combater o estigma, inclusive a autoestigmatização por
pessoas e ganhar sua confiança e fidelidade à empresa. parte dos pacientes. Salientam a importância da rede de apoio aos
Disso resulta um conjunto de pequenas regras e princípios de pacientes que foram desinstitucionalizados, isso porque tais medidas
relacionamento pessoal que, de tão óbvios, deixaram de ser praticados não só impediriam as recaídas psicóticas como também possíveis
pelas megaempresas de saúde, muito voltadas para a massificação e atos de infração ou crime.
o lucro indiscriminado. A importância do trabalho útil é destacada, pois a profissão
Enfatiza a personalização dos contatos, o interesse e o respeito exercida com dignidade é fator preponderante no desenvolvimento
pelas peculiaridades de cada cliente e demonstra, com números, da autoestima e influi positivamente na evolução em direção à cura
comparando diversas instituições e seus resultados, que essa prática, dos pacientes.
embora possa parecer exaustiva e antiquada, garante fidelidade e Os autores descrevem, além das experiências inglesas e america-
aumento da clientela, a médio e longo prazo. nas, as ocorridas na Itália, na Irlanda, no Japão, entre outras. Porém,
Ressalta, ainda, a importância das boas informações e franqueza ao descrever com vibrante entusiasmo os aspectos positivos de tais
no trato com os pacientes, já que enfermos, sentindo-se frágeis e políticas de Saúde Mental, não analisam as falhas e problemas dessas
desprotegidos, se reasseguram por meio desses cuidados e demons- políticas nos países que as colocaram em prática.