Dissertacao - Raimundo Xavier PDF
Dissertacao - Raimundo Xavier PDF
Dissertacao - Raimundo Xavier PDF
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
SALVADOR - BAHIA
2004
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 2
SALVADOR - BAHIA
2004
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 3
Banca Examinadora:
Prof. Doutor
Edvaldo Souza Couto _____________________________________________
Orientador
Profa. Doutora
Maria Inez da S. de Carvalho _______________________________________
FACED - UFBa
Profa. Doutora
Annamaria da Rocha Jatobá Palácios ________________________________
FACOM - UFBa
Prof. Doutor
Nelson De Luca Pretto ____________________________________________
Suplente - FACED - UFBa
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 4
AGRADECIMENTOS
Primeiro, e sempre, agradeço imensamente a Deus pelo dom da vida, pelas bênçãos que me
concede diuturnamente como o amor, o discernimento e a proteção, por acreditar na sua
existência e, aqui neste trabalho especificamente, por descobrir, mais uma vez, a manifestação
da sua existência através dos mundos virtuais.
Ao meu companheiro, Arthur, por sua existência, presença e torcida, muitas vezes não
compreendida por mim, mas, decerto, determinante para o meu crescimento humano-afetivo-
profissional.
Aos meus irmãos: Ana, Dudu, Beto, Márcia, Celinha, Tê e Nadja; aos meus sobrinhos
queridos: Dani, Elaine, Déo, Danilo e João. Minha família, virtualmente presente, lugar em
que reconheço a minha história de vida e encontro espaço para a (re)construção.
À Ida Freitas, minha analista, por acreditar e me ajudar a ver, ao longo desses dez anos, este e
outros tantos momentos de crescimento. Muito obrigado!!
À Patrícia Magris, Patifaria, grande responsável por este itinerário e por se fazer presente no
resultado desta itinerância, também construída de altos e baixos. Obrigado, por mostrar que
impossível é não ser feliz.
À Matilde Schintman, Louca, por sua companhia, compreensão, contribuições, doces diálogos
e afagos semânticos, papo cabeça, norte! E também, claro, pela acolhida de mãe (mesmo não
querendo sê-la – hehehehehehehehhe! Até parece bate-papo virtual).
Aos amigos (será que me lembro de todos? Se o exercício deste trabalho me afastou
fisicamente): Lene e Cris Queiroz (pela acolhida), Edi e Márcia Aquilino (pelo estímulo
constante), Gatunia (sempre gatuna), Stella Maris e Ana T. Lima, Fernando Faria, Hamilton
Lima (por seus mercadores e intertextos de arte), Marlene Dutra, Susanete Lima, Zéu e
Miriam (pela constante presença), Márcia e Ricardo (virtualmente presentes), Mimi (pelas
descobertas), Déa Queiros (pela grandeza, gentileza e contribuições), Rômulo, Regi(na), e os
que não lembro (no momento), muito, muito obrigado.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 6
À Teresinha Fróes Burnham, Teca, co-orientadora, por sua existência nesta itinerância,
permeando com muito amor e dedicação em tudo o que faz, acolhendo verdadeiramente e
dando sentido aos sujeitos da educação – que bom saber que no mundo existem pessoas como
você.
Aos usuários da lista de informação do Grupo de Trabalho da ANPED (GT – 16), por
participarem na construção desta pesquisa.
Aos colegas, pela breve, porém, prazeirosa-passagem: Luciene Santos, Ana Lúcia, Maria
Luiza, Edilene Maioli, Pinduca, Irenilson, Márcea Salles, Gideon, Tico e Aline.
Aos professores (hoje amigos) que me iniciaram nesta jornada acadêmica e, portanto, são não
somente co-responsáveis, mas, co-autores: Ana Cristina Zebral (por me presentear com o
universo acadêmico); Ana Beatriz Simon Factum (por acreditar em mim, me incentivar,
apoiar e me reconduzir – pelo papel de mãe).
Aos tantos sujeitos do meu Sertão e aos meus alunos, que muito contribuíram na elucidação
das minhas questões, aos múltiplos sujeitos, que durante a itinerância contribuíram e aqui se
presentificam, com suas vozes, mesmo não sendo legitimadas pelo discurso científico: este
trabalho é nosso!!!!
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 7
RESUMO
Comunicação (TICs) e a emergência de uma era ciber (ou cyber), vivenciamos uma crise de
percepção que diz respeito às mudanças no mundo físico e territorial. Trata-se de uma
conversão da realidade real em uma outra realidade, virtual, e que propõe transformações na
relações sociais.
realizar a pesquisa recorri a autores que discutem a crise no/do espaço contemporâneo, as
relações com o corpo e as novas formas de aprender. Utilizei como referencial empírico
de uma lista de informação na/da web, além das minhas experiências como professor e de
PALAVRAS-CHAVE
ABSTRACT
With the advent of cybernetics and New Information and Communication Technologies
(TICs), and the emmergency of a cyber age, we experience a perception crisis which is related
to the changes in the territorial and physical world. It is in fact the conversion from an actual
to a virtual reality and it proposes transformations in the order of space, body and learning,
When analysing these transformations, the paper reflects on the cyberspace, the cyberbody
and cyberlearning and concludes that we are ahead of a new knowledge status. I order to write
this research I gathered information from authors who discuss the crisis in/of the
contemporary space, the relationships with the body and the new ways of learning. As an
experience as a professor and from other references of so many other individuals present in
this process.
KEYWORDS:
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS 11
3. CIBERESPAÇO: o instante já 29
7. REFERÊNCIAS 141
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 11
LISTA DE FIGURAS
Nasci no sertão da Bahia e vivi, até os dezesseis anos, na cidade de Mairi, de onde trago
imagens de espaços, contexto/lugar, a partir dos quais e através das lições e dos sujeitos que
contribuíram na minha formação profissional, pude construir como referenciais de vida o que
“aprendi” e que, decerto, influi no meu “como ensinar”, estando esses referenciais pautados
numa realidade muito difícil, que é a realidade da seca. Na medida em que faltava água,
alimento e trabalho, faltavam outros referenciais de educação que consolidassem nos sujeitos,
fazendo ressurgir, nas ações dos sujeitos aprendizes, as mesmas imagens do meu
dar conta ou, ao menos, contribuir na transformação dessa realidade permeada por escassez,
aluno e professor.
1
Segundo o Dicionário Etimológico, in-form-ação, bem como informador, informal, informante, informar,
informativo, informe e informidade têm, em comum, o significado de forma. Este último significa “modo sob o
qual uma coisa existe ou se manifesta, configuração, feito, feição exterior”. Aqui o sentido dado a (In)Formação
implica, justamente, em uma ação para formar: in = “dentro de” (CUNHA, 2003 p: 436). Como uma unidade de
significação, a palavra (In)Formação é trabalhada na REDPECT (Rede Cooperativa de Pesquisa e Intervenção
em Currículo (In)Formação e Trabalho), em seus estudos teóricos metodológicos e pesquisas desenvolvidas em
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 13
percebi que o meu incomodo era, agora, diagnosticado como uma espécie de crise de
percepção e identidade dos sujeitos, aluno e professor. Percebi que, embora se tratando de
havia algo em comum entre esses sujeitos e, inclusive, os sujeitos do contexto/lugar de onde
vim, e que tento traduzir de maneira simples em: necessidade de participação e ausência de
Esta crise de percepção foi evidenciada de forma como se uma “ficha” estivesse “caindo”, em
plena travessia de ferry boat (Ilha de Itaparica-Salvador), na voz de Patrícia Magris, colega
muito contribuiu para que hoje, também, eu possa instituir aquele e outros contextos/lugares
saberes e práticas que são desenvolvidos, além da escola enquanto espaço formal ou
torno da difusão do conhecimento. Ao longo desta pesquisa, usaremos esta denominação sempre que estivermos
nos referindo ao conhecimento como uma possibilidade de gerar uma ação formadora dentro do sujeito.
2
Ver “Escola-cidade, Cidade-escola: espaços de aprendizagem do tempo do agora”, Patrícia Magris, dissertação
defendida na Faculdade de Educação da Universidade Federal da Bahia-UFBa, 2004. Nesse trabalho a
pesquisadora utiliza uma perspectiva multirrefencial para abordar as possibilidades de se produzir conhecimento
em uma cidade que apresenta múltiplos espaços de aprendizagem, fluidos, voláteis e efêmeros como o hipertexto
do ciberespaço.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 14
pedagógico, nos mais distintos espaços informais de aprendizagem e que perfazem a cidade
outros sujeitos (nossos alunos) em extensões desses momentos para outros lugares da cidade
comunicação em relação aos modos do fazer e do aprender nos dias atuais. Esta necessidade
disciplinas que venho lecionando, quando são tratadas e discutidas questões acerca do uso do
Dessa forma, motivado pela colega Patrícia Magris, ingressei neste Programa de Pós-
pesquisar, investigar e conhecer mais sobre as características dos sujeitos e das sociedades nos
3
A partir do projeto de escola experimental, apresentado por Jhon Dewey, (1859-1952), no qual uma das
grandes razões para o exercício da construção do conhecimento estivesse pautado em transgredir os limites da
escola formal, utilizamos a aula-passeio como uma intenção teórico-metodológica auxiliar deste processo de
transgressão, buscando observar/conhecer o universo cultural e social, permitindo refletir e observar,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 15
educação através dos sujeitos e a aprendizagem a partir das novas tecnologias de informação e
comunicação.
Para tanto, apoiei-me em autores que discutem a assim chamada sociedade tecnológica, o
ciberespaço; autores que trabalham com a relação corpo-tecnologia, e autores que discutem a
Dessa forma, sempre fazendo alusões às possibilidades das novas tecnologias de informação e
nas salas de aula e nos sujeitos dos dias atuais, acreditando que o ciberespaço pode permitir
que esses sujeitos se reconheçam como tais e, dessa forma, encontrem uma possibilidade de
aprendizagem no Séc. XXI. Assim, o referencial de mar (oceano), surge nas letras musicais
de Sá e Guarabira, “o sertão vai virar mar” (SÁ & GUARABYRA, 1999), como uma
contexto, profícuo e farto como o mar, assim como se refere a música em relação a
Não é à toa que a primeira música se chama Rosa dos Ventos, que alude ao instrumento que
cardeais norte, sul, leste, oeste, e colaterais nordeste, sudeste, noroeste e sudoeste. Também
não é à toa que a música suscita em suas letras sonoras o final de uma trajetória que vai dar no
mar – sentido, direção ou destino – um universo natural que contém na sua biodiversidade e a
Decerto que nas letras sonoras e inquietantes de Chico Buarque, há uma sensação de
misturar com o desconhecido. Por outro lado, Dorival Caymmi possibilita uma reflexão sobre
itinerância interdependente entre o sujeito pescador e o meio de que vive: o mar, espaço
oceanográfico.
aumentando assim, o domínio e o espaço vital que se deve possuir sobre o macro-ambiente.
4
A denominação de “norte”, aqui, refere-se à direção, percurso/itinerância feitos nesta pesquisa. Assim, partindo
de pressupostos acerca da etnopesquisa multirreferencial, compreendemos que o percurso/itinerância é o
resultado do Ser no/com o mundo, sentido prático que também denominamos de “ação e reação simultâneas”,
tendo em vista a velocidade como fator determinante nas relações contemporâneas, o Ser e o social (MACEDO,
2000, p. 45-46).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 17
complexos. Aqui, consideramos estarmos vivendo uma era ciber (ou cyber), a partir do
surgimento da cibernética, esta última, ciência que propõe o estudo dos mecanismos de
como a possibilidade de fazer refletir, pausar e prosseguir na investigação que nunca acaba,
uma investigação sobre o que nunca tem fim. Sem ignorar esta característica como uma
característica comum de qualquer outra pesquisa, aqui especificamente há uma ênfase nesses
elementos naturais, mar e oceano, por se tratarem, também, de espaços comumente utilizados
imensurável, amplo, profícuo, farto. Além do que, “na tentativa de compreender a realidade,
nós temos inúmeros instrumentos descritivos à nossa disposição [...] Pode haver um mundo,
complexo.
conhecimento que ele produz – artístico científico – tenta traduzir a complexidade e a inter-
prescindiram de uma aceitação pela comunidade, pelo pensamento comum. Este ser inquieto,
5
Em todas as fontes pesquisadas encontram-se significados semelhantes, a seguir: “Do fr. cybernétique, deriv.
do gr. kybernetike ‘arte de governar (os homens)’ (CUNHA, 2003 p: 181)”. “A palavra inventada em 1948 pelo
matemático Norbert Wiener, em seu livro cybernetics, vem do grego kubernetes, título do marinheiro
encarregado de manobrar o timão do navio (in ODISSEIA DIGITAL nº II, 2001, p. 22)”. “Baseado no grego
‘kybernetes’, que significa timoneiro ou governador, a cibernética é a ciência ou o estudo de mecanismos de
controle ou regulação em sistemas humanos e de máquinas, incluindo computadores (Dicionário de Tecnologia,
2003, p. 200)”. “[...] a cibernética tem por campo de pesquisas duas áreas mais ou menos definidas. A primeira
começa na psicologia do comportamento, passa pela psicologia sensorial, e aprofunda-se na base neurológica
dos sentidos e dos modos de ação dos seres vivos. A segunda das áreas começa propondo modelos matemáticos
capazes de simular (i.e., constituídos por equações representativas de máquinas que, sendo construídas, serão
mais ou menos equivalentes a) diversas características dos sentidos ou do comportamento animal (DÓRIA,
1970, p. 160-161)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 18
“descontente”, que através de sua arte antevê as questões que norteiam os devires da
humanidade. É nesta perspectiva que ele, o poeta, autoridade, pode, inclusive, inferir sobre o
Eras sobre eras se somem / no tempo que em eras vem. Ser descontente é ser
homem. Que as forças cegas se domem / Pela visão que a alma tem... [...] QUE
VOZ VEM no som das ondas / Que não é a voz do mar? É a voz de alguém que nos
falla, / Mas que, se escutarmos, cala, / Por ter havido escutar.
e ciberaprendizagem. Neste sentido, não somente uma bússola está sendo necessária, mas,
várias bússolas (rosa dos ventos), posto que, cada uma, tenta orientar sobre a passagem, o ser-
estar, o corpo-aprendiz no ciberespaço, espaço tão novo e tão amplo que contém em si toda e
labirinto hipertextual, exploração sobre si e sobre os sujeitos nos dias atuais posto que,
Há uma complexa relação dialética entre o mundo e nossas descrições. Isso é obvio
nas ciências humanas, mas também nas ciências naturais tem de haver uma contínua
reflexão no status das reivindicações que fazemos. Quando tentamos compreender o
mundo, estamos sempre lidando simultaneamente com questões ontológicas e
epistemológicas. Manter uma clara distinção entre as duas é a essência da metafísica
(CILLIERS, 2003, p. 185).
Por se tratar de uma investigação que tem o ciberespaço como um dos objetos de pesquisa, a
existência de sentido aqui parte da necessidade de lidarmos com o mundo no tempo real e
com meios finitos, sob uma perspectiva ética. Considerando que a passagem no ciberespaço,
às reflexões e sentidos que dela podemos apreender, torna-se a cada instante um novo, um
outro, definimos por um instante já, como está definido o conceito de “bacia semântica”
criado por Gilbert Durand, (2001, p. 198), e sobre o qual, também no que diz respeito à
definições são aqui adotadas, inicialmente, como possibilidade de não apenas dar limite ao
Neste sentido, ciberespaço são redes de comunicação digitais, espaço não-físico, mais
especificamente neste estudo a WWW – world wide web ou simplesmente web – parte
imagem-informação, tendo como base à relação do novo corpo com esse novo espaço de
aprendizagem.
potencialidades), momento no qual, emergiram questões sobre a lógica do currículo nos dias
com o objetivo de discutir a emergência das novas tecnologias e os novos modos do fazer e do
existe uma demanda crescente quanto à necessidade de se pensar e se fazer ciência conforme
a realidade dos dias atuais, o que tem sido bastante discutido através de autores como CAPRA
(1986), MORIN (2000), MATURANA e VARELA (1997), entre outros, quando, sobretudo,
propõem pensarmos a relação dialética e dialógica homem/meio, não mais com os mesmos
seu apogeu nos Séc. XVII e XVIII, mas, que ainda hoje permeia o nosso modo de Ser no/com
complexo, através do qual é imprescindível que não somente sejam criados limites, mas,
interligações como uma estrutura de rede6, esta pesquisa tenciona apostar em uma bricolage
das especificidades de conteúdo, cada autor foi devidamente relacionado com o objeto de
estudo, como LÉVY (1993, 1996, 1998, 1999) ao discutir as novas tecnologias e o
2001, 2002), MAFFESOLI (1995, 2001), KERCKHOVE (1997) e VIRILIO (1993, 1996,
1999); COUTO (2000, 2001, 2003), ao trazer relevantes questionamentos sobre o corpo e a
(1994, 2001), VILLAÇA (1998, 1999); além de MORIN (2000, 2001 a, 2001 b), FRÓES
Também foi realizado um aporte de busca na Internet, especificamente na world wide web-
www, por se constituir em novos horizontes para todas as formas de pesquisa (acadêmica,
mercadológica etc). Assim, construiu-se uma relação em que não somente as leituras e
interpretações desses autores se tornaram suficientes, mas, a idéia de dialogar com outros
6
Como estudante participante da REDPECT – Rede Cooperativa de Pesquisa e Intervenção em Currículo,
Trabalho e (In)Formação, pude experienciar a lógica de rede na produção do conhecimento, a partir de
construções coletivas (do grupo de pesquisa) e de construções individuais (dos membros produtores,
pesquisadores), ao serem tratadas, sobretudo, as questões inerentes à formação do pesquisador a partir de
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 22
sujeitos sobre o posicionamento de cada autor, sobre o seu posicionamento em relação a cada
Neste sentido, há a existência de vozes legitimadas pelo discurso científico, ou seja, grupo de
teóricos reunidos para fundamentar cada tema ou unidade de significação desta pesquisa, e,
além dos sujeitos reunidos como pertencentes ao campo empírico, cuja identificação não se
ciberespaço, estão presentes aqui, também, outras tantas vozes de outros sujeitos que
permeiam esta itinerância e que, devido às limitações de métodos científicos não são
pesquisadores que, de uma forma geral, estão interessados em questões relacionadas com a
Associação Nacional dos Pesquisadores em Educação – ANPED, deste projeto foi feito
atual membro representante desse Grupo. Percebi que as informações constantes sobre a
construções teórico-metodológicas. Neste sentido, esta pesquisa muito traz de contribuições dessas interações
presenciais e virtuais proporcionadas pela REDPECT.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 23
enviei, nos dias 11, 12, 15 e 16/10/2003 e-mails para os nomes constantes como
cadastrar o meu endereço eletrônico ou identificar o membro responsável pela minha inserção
Mesmo tendo recebido apenas uma resposta aos e-mails enviados, consegui identificar o
proposta de pesquisa, e que, após afirmar não haver entendido a minha solicitação (conforme
figura 3), cadastrou o meu endereço eletrônico. Observa MACEDO, (2000, p. 148), que,
para informar, deixar-se observar, participar ativamente da pesquisa, e até mesmo para co-
Em seguida, com o meu endereço já cadastrado, foi enviado um e-mail à lista de discussão,
O questionário foi elaborado tendo como base as questões (bússolas) que constituem o
problema deste estudo e que refletem nos objetivos desta pesquisa, constando basicamente de
uma questão para identificação de dados pessoais, e algumas questões abertas visando,
seguir).
A escolha por esta técnica de pesquisa, o questionário aplicado em rede via e-mail, se deu,
basicamente, pela relação direta entre o tema/objeto de pesquisa e o meio em que se procedeu
ciberespaço. Neste sentido, foi considerado o referencial de Pereira de Queiroz, (1983, p. 45),
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 26
prática, à ação, mas também, e de maneira fundamental, aos resultados a que se quer chegar”.
Escolaridade:
Graduação( ) Pós-Graduação( ) Mestrado( ) Doutorado( ) Pós-Doutorado( )
Sexo:
Masculino( ) Feminino( )
A pesquisa foi aplicada entre os meses de outubro e novembro de 2003, tendo sido enviado
respostas ao questionário).
tipo de pesquisa em rede, observamos tratar-se de uma forma ainda nova, para a qual existe
certo preconceito e limitações quanto ao envolvimento – por parte dos sujeitos entrevistados –
formas de estar no ciberespaço, a passagem generalizada dos sujeitos nos ambientes virtuais
possibilita a livre escolha do objeto de interesse permitindo o exercício do “não” com maior
Neste sentido, para efeito de visualidade do campo de pesquisa, sobretudo dos sujeitos e suas
características, construímos (conforme figura 6) uma matriz com os dados pessoais dos
2.5 A ANÁLISE...
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 28
interpretação dos dados, momento em que, mais do que interpretar as falas dos sujeitos
o referencial utilizado foi o de Lüdke e André, (1988, p. 35), ao afirmar que “deve ser
enfim, o material em que a pesquisa está interessada”. Embora não tenham sido realizadas
dar voz e vez aos sujeitos da pesquisa de campo, considerando a sua linguagem específica – a
binários – uma linguagem que não requer transcrição, pois os dados são e estão disponíveis in
natura na interface dos softwares mediadores, o exercício posto foi o de uma “escuta
sensível”, capaz não somente de ouvir/ler, mas, neste caso específico, de escutar/ler/ver com
ciberaprendizagem.
pensadores. Podemos dizer estranho7, que tem despertado ou solicitado atenção, o que pode
ser percebido nas diferentes concepções que lhe foram atribuídas até os dias atuais. Contudo,
em tempos de crise nas relações entre espaços já conhecidos, consagrados, e novos espaços
que estão sendo criados – a relação entre o físico territorial e o virtual das novas tecnologias –
deixamos “apenas” sê-lo – como um atrator – em busca de pistas, “pedaços do mapa”, objetos
sem a ótica cartesiana que ao dividir em partes, fraciona, quantifica, subtrai – afinal, é o
2000, p. 29)”.
uma breve retrospectiva desde a antiguidade até os dias atuais, enfatizando não somente como
7
Estranho como o atrator, sendo que para compreendê-lo tornamos esta teoria também estranha, como um crime
perfeito. O crime perfeito destrói não somente a sua vítima, mas, também, toda e qualquer evidência do crime.
Todas as tentativas de definir e conceituar o espaço, desde a antiguidade até os dias atuais, são, de alguma forma,
tentativas de provar sua existência de acordo com o sentido que lhe é atribuído: “[...] Vivemos como se fossemos
personagens da fábula de Jorge Luis Borges sobre o mapa e o território; nessa história, não sobra nada além de
pedaços do mapa espalhados ao longo de todo o espaço vazio do território. Mas, precisamos virar o conto de
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 30
compreendê-lo.
emergência do ciberespaço. Sobre este último, buscaremos tratar de algumas das suas
Desse modo, reunimos autores como LAURENTIZ (1991), DEANE (1982), CASTORIADIS
(1982), CANCLINI (2000), CAPRA (1986), BARBOSA (1995), GIDDENS (1991), MORIN
CAMPOS (1990), CASTELLS (1999 a, b), DELEUZE & GUATARRI (1995), DRUCKER
(2001), McLUHAN (1977, 1993, 1996), LÉVY (1993, 1996, 1999), LEMOS (1998, 2002 a,
b), KERCKHOVE (1997), KOLB (2001), AUGÉ (2004), CADOZ (1997) e outros, ao
ponta-cabeça: pois hoje não resta nada além de um mapa (a abstração virtual de um território), e neste mapa
alguns fragmentos do real ainda estão flutuando e perambulando (BAUDRILLARD, 2001 p: 69-70)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 31
DEMÓCRITO (atomista, 460 – 370 a.C.), PLATÃO (420 – 347 a.C.) e ARISTÓTELES (384
– 322 a.C.), só para citar alguns dos mais importantes, herdamos uma concepção dualista
(soma e pneuma ou corpo e espírito, razão e fé), de como era percebida a realidade e o
cosmos, por conseguinte o espaço. Para ARISTÓTELES, que afirmava ser a terra o centro do
universo – uma concepção geocêntrica – o espaço poderia ser definido como <lugar>, o limite
do corpo, isto é, o limite imóvel do corpo circundante com respeito ao corpo circundado de
modo que as coisas são feitas de espaços, enquanto que o tempo é definido como sendo o
acordo com estas concepções de espaço e de tempo – como sendo relações de substâncias e de
fenômenos – fora do mundo não há espaço nem tempo: espaço e tempo vazios são
dualismo dos elementos constitutivos do mundo material resulta do ser e do não-ser, da ordem
neste sentido, está entre o ser (idéia) e o não-ser (matéria), havendo, por tanto, uma oposição
paralela entre o espaço cheio e o espaço vazio, bastante discutido entre PARMÊNIDES e
podemos observar uma espécie de atualização dessa dualidade, quando ocorre a junção do
pensamento grego e judaico, que resulta no conceito de alma cristã8, e que pretendia, como
ideal, uma relação harmônica – corpo e alma. Trata-se, não somente da união entre as crenças
gregas e judaicas, mas, uma tentativa de explicar ou adequar a “antiga lei” (o velho
testamento) aos interesses políticos do império romano cristão, de onde emana a “nova lei” (o
novo testamento).
8
Trata-se de um conceito pautado na teologia – ciência das religiões – instituído no Séc. XIII, cujo significado é
a “essência imaterial do ser humano, espírito. Do lat. Anima (CUNHA, 2001 p: 32)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 32
Durante a Idade Média ou cristianismo medieval (séc. V ao séc. XV), cerca de mil anos, a
cultura esteve predominantemente marcada por valores morais da alma cristã, uma vez que a
concepção de mundo daquela sociedade era estruturada conforme as leis divinas, baseado no
– sendo que, a completude do conceito de alma cristã, estaria também vinculada ao corpo por
pretender maior semelhança com Deus, posto que, a concepção de espaço é discutida em
uma unicidade que pretendia o ser humano tão transcendente quanto Deus: o espaço do corpo
e o espaço da alma são tão entrelaçados que a denominação de <lugar> limita qualquer
espaço real e espaço imaginário, em que o primeiro diz respeito ao universo finito das coisas,
enquanto que o segundo é aquele que se estende, potencialmente infinito (virtual?), às vezes
(filósofo francês, 1596-1650), Isaac NEWTON (matemático, físico e astrônomo inglês, 1643-
1727) – citando os mais influentes – torna-se possível descrever uma outra concepção de
espaço, e que surge com a idéia de corporeidade física, o pensamento materialista e fisicalista
DESCARTES, o <lugar> deixa de ser aquele do limite imóvel circundante do corpo e passa a
ser o que orienta o corpo, deixa de ser da ordem do sensível e passa a ser da ordem do
inteligível. A idéia de espaço sem limites se torna necessária, eterna, imutável, comum a todos
os espíritos, aos anjos, ao próprio Deus, este último considerado como coisa externa. Para
9
“Princípio supremo que as religiões consideram superior à natureza; Séc. XIII, do lat. Deus dei (CUNHA, 2001
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 33
NEWTON o espaço é uma entidade absoluta, logo, Deus não é o espaço, contudo, se
Durante o Iluminismo10, para Immanuel KANT (1724-1804), o espaço não é algo objetivo e
nem real, e sim subjetivo e ideal. Para Georg HEGEL (1770-1831), o espaço é uma fase, um
quando se refere aos períodos por que passou a humanidade até os dias de hoje, tais como,
Período Místico, Idade Antiga, Idade Média e Período Industrial Materialista. Neste último,
(Séc. XVI aos nossos dias), segundo o autor, observa-se as seguintes subdivisões: “ciclo pré-
industrial” (do século XV a meados do século XVIII); “ciclo industrial-mecânico” (do século
XVIII a meados do século XX) e “ciclo eletrônico” (a partir de meados do séc. XX). Assim,
com o que propõe Paulo Laurentiz, agregamos o conceito de épisteme, por Michel Foucault11,
no qual para cada período existe um pensamento que o identifique, e, ainda, o referencial de
da produção de tecnologia. Dessa forma, acreditamos ser possível situar historicamente tais
de tempo.
Juntas, as teorias de Foucault (BARBOSA, 1995, p. 111) e McLuhan (1996, p. 63) perfazem,
p. 259)”.
10
tradução da palavra alemã aufklarung, que significa aclaração, esclarecimento, iluminação movimento
intelectual que se desenvolveu no Séc. XVIII, e que tinha como objetivo a difusão do pensamento Cartesiano, da
razão, “luz” (www.mundodosfilosofos.com.br/rosseau.htm).
11
Sendo épisteme o quadro referencial do pensamento de um determinado período, o lastro do conhecimento
produzido, “(...) em uma cultura e em dado momento, só existe uma épisteme, que define as condições de
possibilidade de todo o saber (FOUCAULT, apud BARBOSA,1995, p. 111)”.
12
Propõe conhecer o homem social, política e culturalmente através de sua produção tecnológica, afirmando que
“qualquer invenção ou tecnologia é uma extensão ou auto-amputação de nosso corpo, e essa extensão exige
novas relações e equilíbrios entre os demais órgãos e extensões do corpo (McLUHAN, 1996, p. 63)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 34
Nesta última relação, contudo, considera-se que o indivíduo e o meio, agentes de mudança,
utensílios, máquinas... – pode tornar mais capaz, mais inteligente ou mais forte um indivíduo
É oportuno, neste momento, esclarecer que são muitos os conceitos e autores que discutem ou
de que “[...] o fenômeno técnico nasce com a aparição do homem, depois será enquadrado
pelo discurso filosófico e a noção de tekhnè (arte, os saberes práticos) para, enfim, entrar no
tecnologia (LEMOS, 2002, p. 28)”. Dessa forma, passamos a admitir que, tudo aquilo que
13
O conceito de tecnologia vem de técnica, do etimológico grego téchné que significa “conjunto dos processos
de uma arte (CUNHA, 2001, p. 759)”. O conceito de tecnologia pode ser compreendido como “[...] estudo ou
tratado das aplicações de métodos, teorias, experiências e conclusões das ciências do conhecimento dos materiais
e processos utilizados pela técnica (VARGAS, 1994, p. 16)”. Para o autor Cornelius Castoriadis,
(CASTORIADIS, 1982, p. 92), o entendimento do conceito de tecnologia pode ser ampliado para o
entendimento de produções simbólicas que veiculem as reformulações dos imaginários instituintes e instituídos -
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 35
Neste sentido, a partir da relação de interação do humano com o meio – desde a mais remota
antiguidade, desde a guerra do fogo, das pinturas rupestres que serviram como instrumento de
entre o natural e o artificial. Segundo André Lemos, (2002, p. 40), “a técnica tem um papel
vital na formação da espécie humana, onde não sabemos ao certo quem é o inventor e o
inventado”, logo, não sabemos, ao certo, qual dos dois é o mais antigo, se o humano ou o
artificial. Decerto, sabemos que o seu entendimento e transmissão a outras gerações, tem sido
material do humano ancestral, somente tornou-se possível ser transmitido a outras gerações
imortalidade que tem o humano. A escrita alfabética especificamente, como uma espécie de
imortal. Que dizer, então, do alfabeto, com um sistema lógico e compartilhado, que
instrumental de poder, mas, uma tecnologia que tornou possível emular o cérebro
análise sobre a transição da cultura oral para cultura escrita, é proeminente e possível
14
Neste diagrama, não consideramos único, linear e determinante, para a relação de interação do humano com o
meio, o movimento seqüencial nele posto: relação homem – natureza, que leva a produção de conhecimento e
que, conseqüentemente conduz a produção de tecnologia com o objetivo de otimizar as funções biológicas,
conduzindo a uma nova relação. Há sim, a intenção de considerar e de fazer refletir que, após, inclusive, a
produção de tecnologia, esta mesma sirva como ponte para novas interações com o meio; ou que, a partir da
produção de tecnologia, se produza conhecimento; ou, ainda, que a partir da otimização das funções biológicas
do homem, se produza tecnologia, etc. Dessa forma, tornamos complexo o pensamento sobre a relação sujeito
instituinte e instituído, como uma via de mão dupla, conferindo-lhe as interações com o seu entorno a partir das
fronteiras com ele estabelecidas.
15
Ao denominarmos “artístico-científico-cultural”, estamos considerando que é da produção de conhecimento –
arte e ciência – que se obtém a produção de tecnologia, o desenvolvimento de utensílios, ferramentas, artefatos e
máquinas, bem como a produção artística. Quanto a esta última, consideramos toda a produção que envolva a
linguagem do vocabulário visual, com objetivos estéticos, enquadrando, inclusive, a produção em Design. Cabe,
contudo, reforçar a necessidade de refletir sobre a produção literária, musical, coreográfica e cênica como
manifestações artísticas que têm em si, essencialmente, a linguagem visual. Neste sentido, é a produção de
conhecimento que está a embasar a produção artística, científica e tecnológica e, por conseguinte, cultural.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 37
Período 1 – Conhecido como Místico, Idade Antiga ou Clássica (até Séc. V d.C.), a idéia
dualista de corpo e espírito, na qual coexistiam como referenciais de espaço o que devia
conter o corpo e o que devia conter o espírito. Há que entender o conceito de dualismo
utilizado aqui como “[...] um <clima> filosófico concreto que unifica diversas correntes
filosóficas de uma certa época (MORA, 1995, p. 224)”. Neste sentido, é possível identificar a
preconizava refletir sobre a sedução através dos sentidos16, e ainda a concepção aristotélica de
que o espaço não tem volume, nem profundidade, sendo, portanto, a superfície das coisas e
não um espaço vazio (WERTHEIM, 2001, p. 75). Para os clássicos, sobretudo os egípcios e
arte bidimensional egípcia, que por sua vez influenciou a arte grega, notadamente marcada
tem na sua representação a figura humana como ideal: em geral são retratados deuses, heróis e
Ainda como uma concepção dualista desse período, para os fenícios – que desenvolveram o
entendido como o campo do agricultor (LÉVY, 1993, p. 73), o que nos leva a crer na
16
“Aquele que se deixa seduzir apenas pelos sentidos, deve assumir os riscos da incerteza ou de acreditar
naquilo que vê (SAMPSON, 1983, p. 79)”. “[...] Platão mostra a dicotomia entre o homem e a técnica, entre o
inteligível e o sensível, entre alma e corpo (LEMOS, 2002, p. 58)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 38
potência.
intelectual, (LÉVY, 1993, p. 79), encontramos em alguns textos indícios do que podemos
alicate e da pinça (criados muito posteriormente), e que podem, assim como as ferramentas
para caçar e cortar, também ser denominados de interface (conforme figura 8).
espírito, até o cristianismo medieval, quando surge e é predominante o conceito de alma cristã
(até Idade Média, Séc. XV d.C.) – cuja relação de interação do homem com o meio é de
perfeita harmonia – a noção de espaço esteve, por sua vez, vinculada à idéia de salvação ou
impregnada dos cânones impostos pela igreja católica, colocando Deus como o centro do
natureza como a própria manifestação de Deus, corpo e alma um <lugar> comum – sendo
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 39
passagens bíblicas e as imagens que delas podiam ser feitas18 com a reprodução da escrita
imagens não pretendiam a técnica do realismo, mas, uma identificação do divino a partir das
semelhanças físicas – constante nas obras de artistas como Jan Van Eyck (1390-1441), Roger
Van Der Weyden (1399/1400-1464) e Giotto (1267-1337), este último considerado um dos
realidade.
Período 3 – Denominado de Industrial Materialista (Séc. XVI aos nossos dias), incluindo suas
subdivisões, a partir de uma concepção que coloca o homem no centro do espaço, o próprio
realidade em que a noção de espaço implica algum tipo de controle humano do ver em
possível identificar maior realismo nas imagens de artistas como Sandro Botticelli (1445-
1510), Ticiano Vecellio (1490-1576), Rafael Sanzio (1483-1520), além de Leonardo da Vinci
17
Encontramos em texto escrito por Friedrich Engels em 1876, “sobre o papel do trabalho na transformação do
macaco em homem”, publicado pela primeira vez em 1896 em Neue Zelt. Publica-se segundo com a edição
soviética de 1952, de acordo com o manuscrito, em alemão. Traduzido do espanhol (ENGELS, 2003).
18
Cabe uma referência sobre a viagem percorrida pelo poeta Florentino Dante Alighieri ao fim do universo,
séculos antes do advento da ficção científica, descrita na Divina Comédia e comentada por Margareth Wertheim:
“Enquanto nosso panorama científico abrange apenas o corpo, e por isso apenas o espaço dos vivos, o panorama
do mundo da Idade Média Cristã incluía ao mesmo tempo o espaço dos vivos e o dos mortos. Como um relato
para os vivos sobre a terra dos mortos, a Divina comédia é o mapa supremo do espaço cristão da alma
(WERTHEIM, 2001, p. 33-34)”.
19
“Ver as coisas em perspectiva significa colocar tudo no seu lugar, com as proporções certas para a mente
humana. A racionalidade, que vem do latim ratio, também implica um sentido da proporcionalidade
(KERCKHOVE, 1997, p. 67)”.
20
Leonardo da Vinci, pintor, escultor, arquiteto, engenheiro, cientista, inventor e escritor italiano é considerado o
maior nome do Renascimento, ao lado de Michelangelo. Nos estudos científicos, antecipa muitas descobertas
modernas, como o helicóptero e o pára-quedas. Em Trattato della Pittura, Leonardo defende a supremacia da
pintura sobre todas as outras artes, por ser a única indispensável à exploração científica da natureza.
Michelangelo, tem como uma de suas principais obras a criação de Adão, afresco situado na Capela Sistina -
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 40
do tear mecânico (1785) e com a invenção da tipografia21, provavelmente no ano de 1450, por
máquina, trocando os valores espirituais da Idade Média pelos valores materiais; é desse
enfatiza-se a visão da natureza como uma máquina, sendo explorada e dominada pelo homem.
sabido, a ciência ocidental, até meados do Séc. XX, buscou a verdade absoluta – o que pode
ser percebido nas imagens iluministas de Diego Velásquez (1599 – 1660). É possível
Itália, parte de um suntuoso projeto de decoração da mesma capela sob encomenda da Igreja Católica e que, até
os dias atuais, tem se tornado um marco na produção imagética que representa a transição da cultura medieval
para o Renascimento, ou a busca por valores materiais e fisicalistas em detrimento aos valores espirituais e
voltados para a vida religiosa.
21
“Como qualquer outra extensão do homem, a tipografia provocou conseqüências psíquicas e sociais que logo
alteraram os limites e padrões de cultura. Fundindo – ou confundindo, como diriam alguns – os mundos clássico
e medieval, o livro impresso criou um terceiro mundo: o moderno (McLUHAN, 1996, p. 196)”.
Os tipos móveis de Gutenberg, denominados de tipografia, desenvolvidos provavelmente em 1450, deram
origem à imprensa, que por sua vez possibilitou a reprodução da escrita alfabética e dos manuscritos. Se o
alfabeto, desenvolvido pelos fenícios por volta de 2000 a.C denominado também de primeira tecnologia
inteligente, proporcionou aos romanos conquistar territórios e se constituir como povo e nação mais poderosa, a
imprensa, a partir da reprodução técnica do sistema lógico e compartilhado que é o alfabeto, possibilitou, através
da articulação popular, a Revolução Francesa. Embora, a imprensa de Gutenberg tenha se aperfeiçoado bastante
nos dias atuais, ainda é possível encontra-la co-existindo com outras tecnologias mais sofisticadas de
reprodutibilidade técnica (McLUHAN, 1996, p. 181-245), (LÉVY, 1993, p. 75-99). Sobre o efeito dessas
descobertas no ciclo pré-industrial e industrial-mecânico, sobretudo da tipografia e da fotografia, como
ferramentas de reprodutibilidade técnica da arte, considerando que a arte tenha sido sempre reprodutível,
encontramos a seguinte referência escrita em 1935/1936: “Fazer as coisas [ficarem mais próximas] é uma
preocupação tão apaixonada das massas modernas como sua tendência a superar o caráter único de todos os fatos
através da sua reprodutibilidade. Cada dia fica mais irresistível a necessidade de possuir o objeto, de tão perto
quanto possível, na imagem, ou antes, na sua cópia, na sua reprodução. Cada dia fica mais nítido a diferença
entre a reprodução, como ela nos é oferecida pelas revistas ilustradas e pelas atualidades cinematográficas, e a
imagem. Nesta a unidade e a durabilidade se associam tão intimamente como, na reprodução, a transitoriedade e
a repetibilidade (BENJAMIM, 1985, p. 170)”.
22
Como já foi dito, pensadores como Galileu GALILEI, Francis BACON, René DESCARTES e Isaac
NEWTON são vistos como instituíntes da Revolução Científica. Grosso modo, esses pensadores contribuíram,
com as suas descobertas, para a então visão mecanicista da natureza, a qual prescrevia que todas as respostas
para as ciências poderiam ser encontradas a partir da exploração e controle do meio ambiente. Sendo o próprio
meio, a natureza, visto como um gigantesco sistema mecânico, uma máquina que deveria ser por tanto,
desmembrada, dividida em partes, quantificada, racionalizada. Desse período temos ainda como legado as teorias
de René Descartes em torno de uma verdade absoluta, o racionalismo ocidental ou, ainda, o pensamento
cartesiano (CAPRA, 1980, p. 49-58).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 41
1839), o telégrafo (1844), além dos fenômenos elétricos e magnéticos e a descoberta dos raios
X23. Ocorrem grandes transformações sociais, dentre elas a assunção do mundo moderno e a
consumir – muito produzir para ser salvo – a partir de pólos fabris de produção e consumo em
série26. É nesse período instituído o conceito de máquina, tendo nela a acepção de “estrutura
realizado como uma unidade (SANTAELLA, 1997, p. 33)”. Embora o referido conceito esteja
autora, está contido no conceito de máquina “algum tipo de força que tem o poder de
aumentar a rapidez e a energia de uma atividade qualquer (idem ibidem)” e que pode ser
relatividade e a teoria dos fenômenos atômicos, em 1905, lançando bases para o que viria a se
tornar a Teoria Quântica (Teoria dos fenômenos atômicos), proposta em 1925 por um grupo
23
Em 1895 pelo físico alemão Wilhelm RÖNTGEN. São emissões eletromagnéticas com comprimento de onda
compreendido entre 100 e 0,1 angstrons.
24
A revolução industrial propriamente dita se dá não somente com o advento da máquina à vapor, máquinas de
ferro, pesadas e cheias de engrenagens, nem tampouco com o pensamento de que a natureza é semelhante à
maquina, características que também delimitam uma época nova, a modernidade, mas sim, a partir do
surgimento da ferrovia, a qual possibilita a expansão do comércio entre fronteiras, consequentemente da
produção e do consumo, instituindo uma nova geografia mental dos sujeitos (DRUCKER, 2000, p. 02).
25
“[...] Em outras palavras, o cubismo, exibindo o dentro e o fora, o acima e o abaixo, a frente, as costas e tudo o
mais, em duas dimensões, desfaz a ilusão da perspectiva em favor da apreensão sensória instantânea do todo. Ao
propiciar a apreensão total instantânea, o cubismo como que de repente anunciou que meio é a mensagem
(McLUHAN, 1996, p. 27)”.
26
É desse período a denominação de “fábrica”, que vem do termo fabril, relativo à manufatura. As indústrias,
inicialmente, surgiram como aglomerações ou pólos fabris, a partir de grupos familiares que, inclusive, eram
denominados de proletariado, pois deveriam ser instituídos e criados para dar prossecução ao trabalho industrial.
Para os filósofos da Escola de Frankfurt, como Theodor ADORNO (1903-1969) e Max HORKHEIMER (1895-
1973), a psicologia não seria capaz de “dar conta” dos efeitos da Revolução Industrial nos sujeitos, sobretudo no
que diz respeito ao consumismo.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 42
de cientistas27, não podem mais ser analisadas de acordo com os pressupostos da física
considerado como matéria, suas partículas (elétrons, prótons e nêutrons no núcleo) são agora
observadas como entidades abstratas e de natureza dual: ora apresentam-se como partículas,
ora como ondas; os fenômenos acontecem dentro do mundo subatômico sem nenhuma
previsibilidade, portanto a lei de causa e efeito não funciona neste universo, devendo ser
estudado a partir das inter-relações de suas partículas e não a partir de cada uma isoladamente.
Os cientistas, então, passam a elaborar conceitos, a partir dessas novas constatações, dentre
realidade como um todo fragmentado e especializado, individualizado, dentro das leis causais,
surgimento do rádio (1908) e da televisão (1936). Observando-se que essas invenções têm
invenções que surgem até a metade do Séc. XX, ou seja, antes do surgimento do computador
eletrônicos digitais28.
27
Integravam este grupo os físicos: Albert EINSTEIN, Max PLANK, Niels BOHR, Louis de BROGLIE, Erwin
SCHRÖNDINGER, Wolfgang PAULI, Werner HEINSENBERG, Paul DIRAC.
28
Para compreender melhor onde se situa a fronteira entre a mecânica e a eletrônica, é possível construir dois
marcos: primeiro, o rompimento com a estrutura mecanicista e cartesiana através das descobertas da física
subatômica em que os valores distam entre si; por último, as ações cotidianas do homem na Segunda Guerra
Mundial, com os acontecimentos de Hiroshima, Nagasaki e Auschwitz. “[...] O ponto comum entre estes dois
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 43
Durante o Séc. XIX desenhou-se frequentemente não só a natureza do espaço, idéia, mas,
também a sua origem e noção. No Séc. XX a noção de espaço passa a ter a mesma noção de
Na teoria da relatividade generalizada, de 1916, EINSTEIN havia unificado espaço-tempo, matéria e gravitação.
Para Martin HEIDEGGER (1889-1976), o espaço não está no sujeito – como pretende o idealismo – nem o
mundo está no espaço como pretende o realismo, mas o espaço está no mundo.
Assim, o homem do século XX aprende, através da física atômica, que não existem verdades
absolutas, que existe outra possibilidade de perceber a realidade, que não só a matéria sólida é
palpável, e que o todo é composto por partes inter-relacionadas. A realidade passa a ser
constituída e construída por uma rede de relações29. A natureza, dentro desta perspectiva,
passa a ser compreendida como uma aliada, pois o homem, depois de já conhecê-la, sabe que
a mesma não se constitui fonte inesgotável, passando a existir uma relação de cooperação
entre ambos.
que os conceitos de alma, predominante até a Idade Média (valores espirituais ou religiosos),
industriais – para uma pós-modernidade que nasce em meados do Séc. XX. Fritjoff Capra,
(1980, p. 28), sugere que a partir desse momento há a necessidade de uma transformação
homem da natureza, havendo nesse momento então um “ponto de mutação” para que haja o
marcos reside no fato de o homem, apesar de estar no auge da sua sabedoria material, não apresentar o mesmo
desenvolvimento em seu poder crítico, quase pondo fim a sua própria história (LAURENTIZ, 1991, p. 93)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 44
resgate e reconhecimento simbólico do orgânico. Sugere ainda que estamos vivendo em busca
de valores não somente espirituais, como na Idade Média, nem tampouco os valores materiais,
como os que foram impostos pela “Revolução Industrial”, mas, agora, em busca de valores
“extramateriais” (CAPRA, 1983, p. 57). De sorte, com base nesse construto que tenta definir a
si mesmo e a nós – se ainda estamos em busca de uma ontologia espacial – é mister perceber
que, em tempos de crise, não nos libertamos dos nossos grilhões e preconceitos para
Católica, além do pensamento mecanicista e cartesiano, são, em parte, legados aos tempos
das monarquias absolutas. Sendo a modernidade – bem como qualquer outro período
29
Os sistemas orgânicos possuem identidade própria e preservada, contudo, são interdependentes e se inter-
relacionam. Comungam desse pensamento os autores: CAPRA (1980, 1986, 1997 e 2002); LEFF (2001);
MATURANA (2001, 2002 a/b); PRIGOGINE (1996) e VARELA (2003).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 45
concebida nos dias atuais corresponde a passagem da modernidade para um outro período, a
pós-modernidade.
Embora haja uma série de conceitos sobre a denominação do que é moderno ou sobre a
própria modernidade, aqui, tomamos como referencial o “ciclo pré-industrial”, que significa a
modernIDADE XVII (CUNHA, 2001, p. 526)”. A acepção adotada distingue entre o velho,
como tudo o que era feudal, e novo, tudo aquilo que era capitalista30, logo, elementos
constitutivos de uma época moderna. Das características que podem definir a passagem entre
Para Phyllis Deane, trata-se de um período demarcado com o surgimento das sociedades
30
Do latim capita – a forma mais primitiva de contar bens e valores, a cabeça de uma rês.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 46
da natureza, o ambiente criado. A modernidade traz consigo uma dimensão global nas
relações de troca, produção e consumo através da economia capitalista mundial, ordem militar
que propõem, de uma forma geral, a vigilância do estado moderno, a partir de signos como: a
luta de cunho ideológico e das relações de reprodução da vida social em tempos de mass
31
Sob o lema “comunidade, identidade e estabilidade” (também vetores da modernidade), encontramos em um
romance de ficção científica da década de 1930 uma crítica profética a uma sociedade artificial composta por
seres humanos gerados em laboratórios, cuja felicidade universal se dá através das máquinas e da medicina
científica. Tendo eliminado toda a sorte de doenças e descoberto um meio de prolongar a juventude, essa
comunidade vive sob excessiva liberdade sexual. Dominada pela tecnologia, apregoa o maniqueísmo e a
inversão de todos os valores em um admirável mundo novo (HUXLEY, 1976, p. 7-18).
32
Comungam desse pensamento, teóricos como GIDDENS (1991, p. 79-104), GOMBRICH (2002, p. 145-186),
HOBSBAWN (1995, p. 29-198), dentre outros.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 47
Para Anthony Giddens, (1991, p. 26), a modernidade não conseguiu prever conseqüências de
segurança e risco tais como o “[...] crescimento do poder totalitário, o colapso dos
deterioração ou desastre ecológico”. É possível afirmar que, tendo sido demarcada por
escassez, cujas dimensões impõem uma ordem global coordenada, uma organização
Ao passo em que os valores instituídos na e com a modernidade estão pautados, grosso modo,
comunicação que surgem e se popularizam neste período (imprensa escrita, fotografia, rádio e
acima, e que a maioria dos teóricos denomina de pós-modernidade. Embora alguns autores
estejam a se dividir e divergir sobre esta última, alguns por concebê-la outros não33, de
modos, talvez, a lembrar a estrutura que separa apocalípticos e integrados (ECO, 1998, p. 21),
a pós-modernidade é tomada aqui, segundo o conceito de Michel Maffesoli, (1995, p.30), que
33
Por um lado, alguns pensadores, desde Jurgen Habermans (modernidade como projeto inacabado), passando
por E. H. Gombrich, Anthony Giddens, estão como os que criticam a idéia de pós-modernidade; do outro, o
sociólogo Daniel Bell, Jean Baudrillard, Frederic Jameson, Jean-François Lyotard, Giles Deleuze, Félix Guattari,
Julia Kristeva, Jacques Derrida, Michel Maffesoli... (YUDICE, 1990, p. 50).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 48
defende ser essencialmente estilo ou mistura de estilos, “[...] realçando aquilo que é
Para o autor, é possível compreender, nos dias atuais, uma espécie não só de atualização ou
uma retomada a esses valores. Isto se torna presente ao analisarmos as condições históricas,
constituiu e que se apresenta como um legado da modernidade, com o que se faz novo, a
computadores34, tendo sido apontado por Marshall McLuhan, (1996, p. 161), como um
desenvolvimento tecnológico do pós-guerra, mas, ainda, com fins bélicos. Para o autor, toda
34
Ao denominarmos aqui de primeiro computador, estamos nos referindo à primeira máquina eletrônica para
realização de cálculos. O termo computador, até meados do Séc. XIX, era utilizado para designar a pessoa que
tinha a função de fazer contas, grosso modo, o contador dos dias atuais. Algumas máquinas foram desenvolvidas
com a função de realizar cálculos e receberam a denominação de computador: a somadora de Blaise Pascal, em
1642, dando origem a caixa registradora, também invenção sua; os teares de cartões perfurados, do francês
Joseph-Marie Jacquard, em 1801; o aparelho analítico, de Charles Babbage, em 1834; a máquina de Hollerith,
em 1887, na qual Herman Hollerith partia dos referencias utilizados por Jacquard e Samuel Morse; Enigma,
nome dado pelos nazistas à máquina de Turing, de criação de Alan Turing, aperfeiçoada depois por Thomas
Flowers e denominada de Colossus; a máquina de Zuse, chamada Z1, primeiro computador eletromecânico,
controlado por um programa com o antecessor do sistema binário, chamado de ja/nein, sim/não, em 1941; o
ENIAC, em 1946, desenvolvido por cientistas da Universidade da Pensylvania, com objetivos de realizar
cálculos balísticos (in ODISSEIA DIGITAL, 2001, p. 08-20). Vale salientar que o ábaco, instrumento
desenvolvido há quase três mil anos atrás, e que ainda é utilizado por pequenos comerciantes em muitas regiões
da Ásia, é também considerado como uma máquina de calcular, basta que consideremos a sua importância
histórica a partir, inclusive, do conceito de máquina mencionado acima.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 49
confrontado com o pensamento do sociólogo Anthony Giddens, (1991, p. 46), quando este
uma conjugação gramatical que não reside simplesmente na troca ou substituição do velho
assistimos a escolhas que transitam entre a guerra e a paz, entre o amor e o ódio, entre o isto e
existindo, mas não deixa de se desenvolver, e, no entanto, sua significação não é mais a
eletrônico, como propõe Peter Druker, (DRUKER, 2000, p. 01), ao inferir sobre a emergência
35
É possível estruturar em cinco, as gerações de computadores. Considerando a quase intermitência entre uma
criação e outra e o processo de miniaturização das máquinas, bem como da capacidade de processamento e
memória, são elas: a primeira, até final da década de 1950, com o surgimento do ENIAC, UNIVAC I e IBM 650,
a base de válvulas de diodo; a segunda, entre 1959 e 1965, com o IBM 1401 e o IBM 7094, a base de
transistores; a terceira, entre 1965 e provavelmente 1975, com o IBM/370 e o DEC PDP-8, a base de circuitos
integrados; a quarta, a partir de 1975, com o IBM 3090, Cray e o surgimento dos PC’s (micro computadores
pessoais – para alguns autores em 1980), a base de circuitos integrados LSI-large scale of integration e VLSI-
Very large scale of integration, proporcionando aos usuários uma interface amigável, compreendida como
“WYSIWYG, what you see is what you get” ou, “o que você vê é o que você tem”: programas de texto,
planilhas, banco de dados, gráficos e linguagens de alto nível; a quinta, e última, a partir de 1990, é caracterizada
pelo surgimento dos supercomputadores, automação, robótica, imagem virtual, multimídia e Internet/web – é a
chamada era on-line.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 50
computador tem sido cada vez maior, mais rápido e quase que intermitente entre uma criação
e outra, o que nos solicita refletir sobre a velocidade com que uma “coisa” e outra surgem e é
absorvida pela sociedade/cultura. Esta velocidade, denominada por Paul Virilio, (1997, p. 47-
desterritorializada como valor supremo, tem feito com que a sociedade/cultura pós-moderna
jus à transmutação entre o analógico e o digital36, entre o real e o virtual37, de modo que:
Para Kolb, isto pode ser percebido de maneira clara com o rápido desenvolvimento, da
americano ENIAC – a base de válvulas, com 4 toneladas e ocupando uma área de 180m2 –
36
“Digital quer dizer tecnologia eletrônica que gera, armazena e processa dados em dois estados possíveis:
positivo e não positivo. O estado positivo é expresso e representado pelo número 1 e o estado não-positivo, pelo
número 0. Dessa forma, os dados transmitidos são armazenados com tecnologia digital e expressos como uma
cadeia de 0s e 1s. Cada um desses dígitos de estado são conhecidos como um bit (e uma cadeia de bits que um
computador consegue endereçar individualmente como grupo é um byte). Antes da tecnologia digital, a
transmissão eletrônica estava limitada à tecnologia analógica (analog), que transporta os dados como sinais
eletrônicos de freqüências ou amplitudes variáveis que são adicionadas a ondas transportadoras de uma
determinada freqüência. Transmissão de rádio e telefone têm utilizado convencionalmente a tecnologia analógica
(Dicionário de Tecnologia, 2003, p. 229).” É possível compreender o analógico como o que faz analogia direta
com o real <significante>, que mantém extrema semelhança com o <significado>.
37
Existem várias concepções acerca do significado da palavra virtual. Longe de utilizá-la com o sentido de
oposição ao real, conservamos o conceito de potência, possibilidade, virtude e força que estão contidos em sua
origem etimológica, a saber: “virtuAL. Que existe como faculdade, porém sem exercício ou efeito atual. 1813.
Adapt. do fr. virtuel, deriv. do latim . escol. virtualis, de virtus – utis (CUNHA, 2003, p. 824)”. “Em geral,
virtual significa a qualidade de efetivar algo sem ser algo na verdade. Na tecnologia de informação, parece haver
uma versão virtual de (quase) tudo (Dicionário de Tecnologia, 2003, p. 921)”. “Virtual é o que existe
potencialmente no real (CADOZ, 1997, p. 06)”. E ainda, “[...] Em termos rigorosamente filosóficos, o virtual
não se opõe ao real mas ao atual: virtualidade e atualidade são apenas duas maneiras de ser diferentes (LÉVY,
1996, p. 15)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 51
mundial de computadores.
Inicialmente com o uso de válvulas, depois com os transistores, circuitos integrados, mais
tecnológico cuja significação conduz a humanização das tecnologias, a partir da relação que
entrelaçados assim como corpo e alma na Idade Média (discutiremos isto no capítulo
seguinte).
38
Processador eletrônico de silício capaz de armazenar e processar a informação em quantidade e em velocidade
infinitamente maiores. ‘Chip’ é a abreviação de microchip, os módulos incrivelmente complexos e pequenos que
armazenam memória de computadores ou fornecem circuitos lógicos para microprocessadores. Talvez os mais
bem conhecidos chips sejam os microprocessadores Pentium da Intel (Dicionário de Tecnologia, 2003, p. 153).
39
“Nanotechnology - A nanotecnologia, ou, como algumas vezes se diz, fabricação molecular, é um ramo da
engenharia que trata do projeto e produção de circuitos eletrônicos e dispositivos eletrônicos extremamente
pequenos construídos no nível molecular da matéria (Dicionário de Tecnologia, 2003, p. 567)”. “Nanochip – Um
nanochip é um circuito integrado (IC) tão reduzido em suas dimensões físicas que partículas individuais de
matérias desempenham nele um papel fundamental. A miniaturização de componentes eletrônicos de
computadores sempre foi uma das metas mais importantes para os engenheiros. Quanto menores puderem ser os
sistemas eletrônicos, maior será o poder de processamento em um dado volume físico, menor a energia
necessária ao seu funcionamento e maior a sua velocidade (pois as distâncias entre os componentes são
reduzidas, minimizando o tempo de trânsito do portador da carga) (Dicionário de Tecnologia, 2003, p. 564)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 52
Observa-se, aí, a necessidade de uma terminologia para tentar explicar sobre os elementos
estruturantes que determinam essa passagem do “mundo analógico” para o “mundo digital”,
denominadas novas tecnologias não pelo simples fato de serem novas na acepção do mundo
densas, pesadas e cheias de engrenagens. As novas tecnologias são ditas imateriais, não pela
cada vez mais rápido e veloz – através do navio a vapor ou das locomotivas – e a necessidade
corpo, cada vez mais rápido e veloz – o navio de hélice, o trem de grande velocidade, o avião
que explica o desenvolvimento tecnológico para transportar a mensagem, cada vez mais
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 53
rápido e veloz – telefax, redes celulares e redes de comunicação digitais do tipo vídeo texto e
Nas redes de comunicação digitais como a Internet/web, espaço e tempo mudam na sua
condição de ser/existir, seu significado é alterado. Basta que pensemos sobre a transformação
precisar ir a “quase” nenhum lugar, para trabalhar, comprar, negociar, estudar, namorar,
divertir etc. Prazos, distâncias (perto, longe), estações do ano, manhã, tarde, noite, interior,
pela ausência de matéria, mas, pela sinergia com a existência de uma nova concepção de
textos, imagens animadas e fixas, além de som, indexados através de link’s, este último visto
como portas virtuais que conduzem a outras portas (LEMOS, 1998, p. 35); multimídia, ou o
virtual (ROCHA, 1997, p. 33); e, por fim, a hipermídia, que quer dizer a disposição em um
40
A Internet, ou simplesmente The Net, rede das redes, é o resultado de um projeto acadêmico-militar,
desenvolvido nos anos 70 por Vinton Cerf e inicialmente chamada de ARPANet. Funciona a partir de uma
espécie de código Morse denominado de protocolo TCP/IP (Transfer Control Protocol / Internet Protocol)
semelhante a um pacote de dados contendo o endereço do remetente e do destinatário (cada computador na rede
tem o seu endereço IP, ex: 200.164.24.204). A grande rede mundial de computadores, World Wide Web, ou
simplesmente web, o rosto mais visível da Internet, possibilita que textos, imagens fixas, animadas e sons
possam trafegar a partir do Protocolo de Transferência de Hipertexto (Hiper Text Transfer Protocol – http),
desenvolvida por Tim Berners-Lee. Estima-se que até o ano de 2003, cerca de 1 bilhão de usuários em todo o
mundo (Dicionário de Tecnologia, 2003 p: 436, 969); (EXAME, 21/04/1999, p. 118-121).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 54
2001, p. 61).
Nessa trajetória, ao ver-se modificar as noções de espaço, como uma referência física,
geometria, física, artes etc. – e que ao longo de sua história cultural se apresenta em cada era,
1 - extensão ideal, sem limites, que contém todas as extensões finitas e todos os
corpos ou objetos existentes ou possíveis 2 - medida que separa duas linhas ou dois
pontos 3 - extensão limitada em uma, duas ou três dimensões; distância, área ou
volume determinados Ex: <o e. era pequeno para a construção do prédio> <o e.
interior era aconchegante> 4 - a extensão que compreende o sistema solar, as
galáxias, as estrelas; o Universo 5 - região situada além da atmosfera terrestre, ou
além do sistema solar 6 - extensão abstrata, indefinida, de significado subjetivo Ex:
ficou ali, desnorteado, os olhos perdidos no e; (Dicionário Eletrônico HOUAISS da
Língua Portuguesa, Versão 1.0, DEZ 2001).
E ainda, “do latim spâtîum, distância entre dois pontos, ou a área ou o volume entre limites
compreensão do espaço passa a ser refletida nas ações de interação do homem com o meio,
neste sentido, é possível afirmar que, primeiro, o espaço pode ser compreendido como
entidade – o que existe ou é possível existir – depois, por enquadrar ou conter em suas
possíveis definições os elementos extensão, medida, distância, área, volume, tempo, universo,
sistema etc., é por si só, elemento complexo e, por isso, qualquer tentativa de defini-lo, nos
dias atuais, pode resultar em reducionismo político, centralização, o que solicita analisar o seu
entorno, as partes, e mais do que isso, fazer considerar todas as partes que o constitui ao longo
de sua trajetória de evolução conceitual como construto espaço, se apresentando nos dias
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 55
atuais como espaço-tempo-real, denominação empregada por Paul Virilio em sua obra “o
E ainda,
565)”. As redes são nós de interconexão e compostas por um tipo de personalização que
[...] o universo material é visto como uma teia dinâmica de eventos inter-
relacionados. Nenhuma das propriedades de qualquer parte dessa teia é fundamental;
todas elas resultam das propriedades das outras partes, e a consistência global de
suas inter-relações determina a estrutura de toda a teia (CAPRA, 2002, p. 48).
conexão da rede, ou de outra forma, a cada usuário conectado. Podemos entender esse
identificações sucessivas ao entrar e sair na Internet/web com os seus avatares, possui dupla
mesmo tempo, estende-se a partir dessa influência a outros lugares da rede, estando
disponível em qualquer lugar e em qualquer tempo, para o indivíduo digital que recebe o
41
Utilizado por Derrick de Kerckhove, (KERCKHOVE, 1997, p. 184) para situar o computador como uma
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 57
“[...] uma vez que as redes são múltiplas, os códigos interoperacionais e as conexões
entre redes tornam-se as fontes fundamentais da formação, orientação e
desorientação das sociedades. A convergência da evolução social e das tecnologias
da informação criou uma nova base material para o desempenho de atividades em
toda a estrutura social. Essa base material construída em redes define os processos
sociais predominantes, conseqüentemente dando forma à própria estrutura social
(CASTELLS, 1999, p. 567)”.
de negócios realizada através das redes – que tem demonstrado considerável participação na
economia mundial, sobretudo em países desenvolvidos, registrando cada vez mais o número
educação à distância – antes pautada nas formas de correspondência física, a partir de suportes
materiais como apostilas, livros e outros, e que funcionava com a operacionalização dos
Ao cabo em que apontamos para a crise de percepção e identidade, estas podem ser
diagnosticadas comumente como crise de valores, conceitos, princípios, ideologia. Sem falar
que setores da vida social também discutem a existência de uma crise na educação, família,
política, religião. Deixa parecer que as “antigas” formas utilizadas como caminho, direção e
solução para “antigos” problemas não são mais recomendados e nem mesmo úteis. Para Ciro
tecnocentrismo, os meios técnicos que haviam sido criados pelo homem avançam, expandem-
se, multiplicam-se a ponto de ocupar espaços que antigamente eram preenchidos pelos
rede.
Para André Lemos, (1998, p. 38; 2002, p. 136-138), é o computador em rede que faz emergir
198443. É descrito como um conjunto de redes, interligadas ou não, pelas quais circulam
ciberespaço tem sido definido como a total interconexão de seres humanos através de
Tecnologia, 2003, p. 200)”. E ainda, “O território não-físico por onde os dados são
transportados de um sistema para outro. É um espaço virtual pelo qual circulam coisas
concretas, como os e-mails, mas que não pode ser percebido pelos cinco sentidos humanos (in
ODISSEIA DIGITAL, nºII, 2001, p. 23-24).” Trata-se de um espaço construído a partir dessa
ciberespaço diz respeito a uma era cyber, com o advento da cibernética, esta última a que
máquinas.
sorte de outros conceitos necessários a definições que possam esclarecer com mais amplitude
realidade virtual.
Nesta pesquisa, buscamos evidenciar que o ciberespaço nos predispõe a experienciar, a partir
de técnicas de simulação em espaço de síntese44, como no real, uma forma nova de estar,
sentir, tocar, a partir de acessórios como capacete de visão, luva e macacão de dados, que,
Utilizando-a como meio de interação com o mundo real, ele quer que nesta função
mesma ela, máquina, se comporte como uma representação com a qual ele, homem,
possa estabelecer relações sob todos os aspectos idênticas as que ele mantenha com
seu meio ambiente natural, com a ajuda de seus meios naturais (CADOZ, 1994, p.
67).
Dessa forma, o autor propõe que a realidade virtual seja como um processo imitativo das
coisas e dos objetos, em suas características mínimas, além de um processo relacional com o
fazer, de modo a simular as mesmas sensações ocasionadas em realidade real, por objetos e
mundos virtuais que proporciona a interação dos sentidos – o que nos dá uma nova dimensão
de realidade, de mundo, de espaço e de corpo, posto que, a interação dos sentidos é “manter-
se em contacto” e “entrar em contacto” o que “tem a ver com um encontro frutuoso dos
1997, p. 237)”.
Para Claude Cadoz, (1997, p. 06-07), falar de realidade virtual é tentar discorrer sobre
43
O ciberespaço é apresentado na obra de Gibson como o espaço de “alucinação consensual” (idem, ibidem).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 60
aspecto, no entanto, afirma o autor tratar-se do que é próprio das telas gráficas do
manifesta à totalidade de nossos sentidos coordenados (visual, auditivo, táctil, etc.) e que se
pode estabelecer uma interação material efetiva entre ele e nós, por meio de nossos gestos em
particular (CADOZ, 1997, p. 108)”. Ainda para o autor, a “representação integral”, como
Para Nicholas Negroponte, (1995, p. 114-115), definir realidade virtual passa por uma
redundância ou uma contradição, uma vez que, o termo pode ser comparado a um pleonasmo,
ex: “com meus próprios olhos”; ou comparado a um oxímoro, ex: “comida de avião”. Se bem
pensarmos em tais denominações, compreenderemos também que em nossa cultura, não tem
sido difícil admitir tais implicações de redundância e contradição, posto que, em situações
afetivo com a situação. Para o autor, “A idéia de realidade virtual é proporcionar a sensação
do [estar lá] oferecendo pelo menos ao olho o que ele teria visto se estivesse lá e, mais
importante do que isso, fazendo com que a imagem mude instantaneamente de acordo com o
44
Espaço virtual reconstruído por uma técnica de síntese de imagem, 0 e 1, dígitos binários (CADOZ, 1997, p.
07).
45
“Sentido completo ligado ao canal gestual. O sentido tátil simples nos informa a temperatura e o estado da
superfície dos objetos; o sentido tátil-cinético, combinando o movimento das mãos e dos dedos à percepção tátil
simples, permite perceber a forma, a distância, o tamanho, a deformação e as articulações de um objeto. O
sentido proprioceptivo, que se acrescenta aos precedentes, permite perceber o peso, o movimento, etc (CADOZ,
1997, p. 109).”
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 61
Para Derrick de Kerckhove, (1997, p. 80), “a realidade virtual é, então, uma realidade que se
pode tocar e sentir, ouvir e ver através dos sentidos reais – não só com ouvidos e olhos
imaginários. Agora podemos juntar ao pensamento <<a mão da mente>>”. O autor refere-se,
principalmente, ao fato de, a partir das imagens e representações em tela – que constituem a
sendo determinadas, sobretudo, pela linguagem visual, ou para o que ele denomina de
representação que “[...] a partir de agora podemos querer tocar o conteúdo do pensamento
(idem, ibidem) ”.
Segundo Pierre Lévy, (1999, p. 71), “não podemos confundir a realidade virtual com a
realidade cotidiana, da mesma forma como não podemos confundir um filme ou um jogo com
pixels ou pontos luminosos que compõem a tela do computador – em que podemos além de
ver, tocar, sentir, ouvir, também podemos antever gozo maior pela interação dos sentidos.
Nesta relação, torna-se difícil estabelecer certa diferença entre aquilo que é real, concreto, ou
que se apresenta como virtual, simples jogo, até mesmo porque de acordo com o
tem atingido dimensões que conduzem o sujeito usuário a um estado confuso de simbiose.
identidades, ou identificações sucessivas, dando, como diz Cadoz, (1997, p. 32), uma estranha
resposta a uma velha questão de identidade, imposta com Hamlet: “ser e não ser, de uma certa
46
“O <<Ciberdesign>> é o design reconsiderado ‘a luz da realidade virtual. É um aspecto do design que se
prepara para passar da periferia para o centro da atenção da indústria. O Ciberdesign é aquilo em que o design se
transforma quando é apoiado por sistemas ciberactivos (KERCKHOVE, 1997, p. 136)”. Para o autor,
ciberdesign é ainda uma variação do design tradicional, com a diferença de ser aplicado ao indivíduo digital.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 62
Ainda para Cadoz, (1997, p. 29), “o que está em jogo são essencialmente o princípio e a
Eis o espaço de síntese, reconstituído por bit/byte ou pixels, permitindo que entremos, como
algum tipo de imersão47 nessas representações. Assim, o ideal é que não procuremos
confundem nas itinerâncias e paisagens possibilitadas pelo uso do computador em rede, ele
nomadismo: a perda de referência do ser, de estar aqui e agora, em toda parte ao mesmo
47
Para o autor, a realidade virtual proporciona três níveis de imersão nas representações: semi-imersão, quando
estamos ligados a um computador em tempo-real; imersão, quando fazemos uso de acessórios como óculos ou
capacete de visão e luva de dados; total-imersão, quando dispomos do uso de óculos/capacete, luva e macacão de
dados (CADOZ, 1997, p. 30-48).
48
“Do latim errantia, que torna errante ou aquele que pode cometer erro(s), vagabundear (CUNHA, 2001, p.
311)”, e ainda, “afastar-se do caminho verdadeiro; desviar-se; ilusão; delírio; aberração; loucura (MACHADO,
a, 1959, p. 862-863)”. Estas denominações corroboram, também, a idéia de que se têm alguns autores sobre o
hipertexto do ciberespaço, ao permitir vagabundear, errar e delirar. Em, (MAFFESOLI, 2001), (MACHADO, b,
1997), (LEMOS, 2002).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 63
confundere, que quer dizer “mistura desordenada (CUNHA, 2001, p. 206)”. Sobre este
metaforicamente como um labirinto, espaço festivo, (MACHADO, b, 1997, p. 79), o que “se
Assim, a dimensão de realidade nos dias atuais, a partir do ciberespaço, tem sido muito
pensada e discutida entre alguns teóricos que estão por confrontar a dimensão de realidade do
mundo físico – ordem e razão do pensamento cartesiano – com a dimensão de realidade do(s)
49
Neste sentido, podemos falar de movimentos ou correntes filosóficas que discutem a realidade, ou o fato de ser
das coisas de acordo com uma concepção de realidade, de mundo e de espaço, de modo a se constituírem como
construtivistas radicais ou hiper-realistas. A exemplo dos construtivistas radicais, os austríacos P.
WATZLAWICK, H. von FOERSTER, E. v. GLASERSFELD (a realidade inventada. Campinas: Psy, 1994); o
belga Ilia PRIGOGINE; além dos chilenos H. MATURANA e F. J. VARELA (a árvore do conhecimento,
Campinas: Psy, 1995). Sobre os hiper-realistas, aqui mencionamos o francês Jean BAUDRILLARD (a ilusão
vital. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 64
realidade que “envolve o corpo inteiro e todos os sentidos”, a partir de técnicas de síntese:
Diz ainda que, o efeito causado pelo deslocamento entre espaços e mundos virtuais –
diversos fusos horários e ao qual denominamos de jat lag, contextualizado pelo mesmo autor
em tecno lag, demonstrando que, nos dias atuais, estamos a experienciar efeitos de ordem
O ciberespaço nos predispõe a uma cibercultura, caracterizada pelo aparato técnico, material e
meios de comunicação e o tipo de interação que limita a participação dos sujeitos – se vêem,
agora, diante da possibilidade de participar diretamente na construção desse processo que está
178)”, e ainda, “[...] o processo de conversão do mundo em dados binários, através das novas
121-135), diz sobre a necessidade que as pessoas têm em viver o momento já, o agora. O
autor afirma estarmos vivendo uma nova sociabilidade denominada de “socialidade” por
“perseguição do prazer pelo prazer”, alimentado pelas redes de comunicação digitais que
propõe uma objetividade e uma racionalidade sobre como as coisas são ou devem ser. Ainda
para o autor, as condições de sair do caminho, a busca pelo prazer através do amar a si mesmo
acerca dos valores extramateriais, estamos vivendo uma espécie de resgate, através do
ou como rito de passagem, meio que numa espécie de religare, “[...] REligar, ligar, unir
novamente (CUNHA, 2001, p. 474)”, nos conduz a uma nova concepção do ser do mundo,
próximos de realização plena, gozo e paz, pois “[...] A cidade não necessita nem do sol, nem
da lua, para que nela resplandeçam, pois a glória de Deus a ilumina, e o cordeiro é a sua
pelo caráter de intelecto, podemos facilmente comparar os sujeitos do ciberespaço aos anjos;
se, com tamanha libertação da matéria física e com o poder de estarmos em qualquer lugar,
todos os lugares, tornamo-nos ubíquos; se, ainda, através dos mundos virtuais e dos avatares
podemos efetivamente dizer que muitos usuários se vêem semelhantes e assemelhados (para
alguns autores) a Deus em virtude, poder e força. Para muitos, no ciberespaço nos tornamos
Deus, encontramos Deus e podemos admitir que Deus está contido e contém o/no espaço,
afinal,
Não se trata mais da encarnação divina, mas da deificação humana. O ser humano
quer assumir o papel de Deus. A realidade real e supra real fundem-se, fundem-se
Deus e o ser humano; e nasce uma síntese dessa fusão entre natureza e
supranatureza (KOLB, 2001, p. 17).
Neste sentido, para o autor, é possível inferir que no ciberespaço, a partir das relações
uma nova realidade – cada vez mais adotada como a nossa verdadeira realidade ou, no
ciberespaço, e as relações que passamos a estabelecer nele, com ele, como um espaço
sacralisado ou religioso.
Decerto, redes telemáticas, telecomputador e Internet/web, são realidades virtuais que nos
predispõem a uma perda de referência do ser/estar aqui e agora, em qualquer lugar, no espaço-
Assim, damos vez e voz ao pensamento de Paul Virilio, “o espaço crítico”, (1993), ao
questionar:
Para o autor, há uma condição de exposição dos sujeitos e que avança com o advento dos
acessórios de realidade virtual (VPL e data suit), permitindo uma transparência dos corpos e
dos objetos, a partir de uma presença à distância, mediada por objetos técnicos e artificiais,
numa direção “[...] que não mais se inscreve no tempo cronológico passado/presente/futuro,
110)”. Dessa forma, nos cabe refletir sobre a mediação tecnológica que aponta para um futuro
3.4 O INSTANTE JÁ
Há muito tempo não concebemos a terra e a nós mesmos como o centro do universo, tendo os
demais planetas e o sol ao seu derredor; há muito tempo, também, vê-se uma tamanha
exploração de acepções da palavra espaço, que tem sido utilizada em diversos sentidos e até
mesmo incorporada como parte de uma linguagem específica por áreas do conhecimento
como a física, geografia, arquitetura, matemática, psicologia, sociologia, artes etc. Contudo,
sobre o espaço, neste estudo, diria Fayga Ostrower, (OSTROWER, 1987, p. 53), “[...] é tão
fácil e tão difícil, quanto viver, e assim é necessário”, sobretudo por tratar-se de algo que
sentimos e vivenciamos – por vezes inconscientemente, por outras confusamente – e que, não
teimosia e obstinação que nos é característico e que ao mesmo tempo nos faz imergir no
Dessa forma, convém registrar, em primeiro momento, que há ausência de consciência e até
de percepção sobre a existência do ciberespaço, pela maioria das pessoas, pois muito
ciberespaço, o que implica em entender, ao menos supor, que esta pode ser uma das
consciência e ou percepção sobre a sua existência, é desencadeada uma série de outras reações
na maioria das pessoas: estranhamento, confusão, alucinação, fetiche técnico etc., estes, com
o de instituir aqui uma outra língua, mas, de tornar possível sua apreensão, a partir de
supermodernidade”, (2004, p. 29), quando resume a sua idéia de espaço, após tentativa
afirmando ser o espaço uma “abstração”. O autor, ao definir lugar como sendo o espaço
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 69
informado – a ocupação semiótica do espaço pelo design – e que traz como grande marca a
idéia de algo fixo no tempo, alude aos ritos de passagem na cidade, através da circulação nos
caracterizado pela efemeridade, também pode ser compreendido como àquele que se renova e
prazeres”, (1969, p. 12), uma antevisão dessas sensações descritas sobre o ciberespaço,
quando diz: “eu vou tentar captar o instante já/que de tão fugitivo não é mais/pois tornou-se
um novo instante/cada coisa tem um instante em que ela é/eu quero apossar-me do é da
bem pensarmos, não temos medo no labirinto do ciberespaço, contudo, na ânsia de procurar e
descobrir o que estamos procurando – o conteúdo, informação (texto, som, imagens) – ainda
fosse geográfico, na tentativa de prendê-los, mesmo considerando que, hoje, são entidades
conceitos e definições teóricas sobre o ciberespaço. Verificou-se, portanto, que na maioria das
respostas há, de alguma forma, certo entendimento sobre a existência do ciberespaço. Para
esta etapa da pesquisa, foi analisada uma questão: 1 – para você, o que é o ciberespaço?
Neste depoimento, a Internet surge como uma rede telemática para explicar o que é o
telemática (poderia ser uma BBS ou um vídeo texto) e ao expor que existem, ou podem
Aqui, além do referencial de Internet como rede telemática, podemos identificar que o
ciberespaço é o universo que contém esses elementos: os tipos de rede e as conexões que são
possíveis através dessas redes. A respeito dessas conexões e como forma de caracterizá-las, é
feita uma referência ao hipertexto, o ciberespaço como o que possibilita várias conexões a
partir da não-linearidade.
Nesta outra fala, temos uma referência direta ou associação do ciberespaço à Internet. A
Internet surge aqui como a grande rede, capaz de conter toda e qualquer outra rede, um espaço
Neste depoimento, mais uma vez identificamos a comparação ou busca por semelhança entre
lugar, no qual se manifesta uma cultura proveniente da Internet. Há uma certa lógica aqui, em
alterar o sentido de espaço como instituinte da cultura, tornando essa última como a que pode
instituir o espaço, meio: a cibercultura, enquanto movimento que institui um novo espaço,
A denominação de espaço, aqui, aparece entre aspas, levando-nos a considerar que: trata-se de
uma unidade se não difícil de definir, que pode conter vários sentidos – isto corrobora as
necessidade de que ainda se têm os usuários em manter algum tipo de controle do espaço e do
tempo, ao denominar o ciberespaço de território (mapa, pedaços do mapa, área, partes), uma
interconexões em rede. As interações virtuais, neste sentido, também passam a ter algum tipo
de controle em sua dimensão técnico-operacional por suscitarem onde começa e termina esse
território ciberespaço; qual a sua dimensão; o que é ou não possível de ser realizado nesse
território; surge como o que permite troca – interação – em uma outra realidade, virtual.
Exatamente aqui, podemos situar como uma das definições sobre o que é o ciberespaço, a
sobre o real e o virtual. Visto a partir de diversas associações, como “preto/branco”, “comida
real e imaginário.
das respostas uma confirmação ao que denominamos aqui de conceitos e definições teóricas a
redes telemáticas juntamente com a Internet, apresentando-se como sinônimo desta última em
corroborando a idéia de conexões a partir de links entre um ambiente e outro, uma rede e
Assim como uma viagem no/sobre o espaço, percorrida no capítulo sobre o ciberespaço,
relação, e que modifica a ambos. Para tanto estamos considerando que o corpo, como nos
conta alguns autores durante essa trajetória, se apresenta como motivo de estudo em diversas
Saúde, Artes, Física, Educação etc., esta última, já tendo apresentado estudos avançados e
informação e comunicação TICs, ou ciberespaço (uma era ciber). Neste sentido, é mister
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 74
transformações e os impactos decorrentes e o status do corpo nos dias atuais. Para tanto,
recorremos a alguns autores como BONSIEPE (1997), JOHNSON (2001), (LEMOS, 1998,
2002, a, b), (NOVAES, 2003), DOMINGUES (1997), SANTAELLA (1994, 1997, 2001),
SANTOS (1994), SILVA (2001), WIENER (1973), MATURANA (1997), KEHL (2003),
COUTO (2000, 2001, 2003), GIL (1997), NEGROPONTE (1995), OLIVEIRA (2003),
PLANT (1999), STELARC (1997), VILLAÇA (1998, 1999), ROY ASCOTT, (1997),
seus impactos no corpo, sujeito/objeto, apontando para um atual status e perspectivando seu
futuro.
A partir dos filmes “2001: uma odisséia no espaço”, (EUA, 1968), direção de Stanley
ancestral diante do imenso monolito que surge após o big bang50, e em relação ao segundo, na
que são considerados, aqui, objetos técnicos, ou a técnica enquanto processo para se realizar
alguma coisa. Nestes filmes, os objetos artificiais que surgem propõem uma nova ordem para
a relação de interação homem-meio. Isto porque, em ambos, o humano absorve não somente a
mediadores, mas, passa a estabelecer com eles uma relação simbiótica, de interdependência,
alguma coisa, desde o surgimento das primeiras comunidades e sociedades, suas escritas, as
jornais e revistas on-line, e-learning, e-commerce, games etc.), podendo inferir que a técnica e
a tecnologia apresentam-se também como uma interface para a relação homem-meio, pois, na
técnicos e artificiais, há a necessidade de objetos e processos que possam mediar essa relação
de produção de conhecimento.
Neste sentido, sendo os objetos e processos, técnicos e artificiais, também mediadores para a
1997, p. 144)”. Isto nos conduz a um entendimento sobre o papel dos objetos técnicos e
artificiais, enquanto mediadores, mas, também, sobre a sua função enquanto imagem,
50
Quanto a obra “2001, uma odisséia no espaço”, de Stanley Kubrick,, há uma discussão sobre a interferência
dos objetos técnicos e artificiais enquanto interface mediadora para a relação homem/meio sociedade/cultura em:
http://www.kubrick2001.com/2001.html.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 76
interação que o homem estabelece com os seus semelhantes e com o meio-ambiente como um
todo, observamos a importância que tem a linguagem nas relações sociais e de poder. Para
Ao contrário do corpo como propriedade privada de cada um, afirmo que nosso
corpo nos pertence muito menos do que costumamos imaginar. Ele pertence ao
universo simbólico que habitamos, pertence ao Outro; o corpo é formatado pela
linguagem e depende do lugar social que lhe é atribuído para se constituir (KEHL,
2003, p. 243).
Para a autora, vivemos sob resultados de processos civilizatórios que escravizaram o corpo
com normas e regras de como se portar diante das sociedades. Dessa forma, o pertencer ao
Outro pode ser compreendido, por exemplo, com um simples pedir as horas a alguém –
pertencer com as mínimas ações do cotidiano. Nesta situação, tomamos o corpo do Outro
emprestado – o corpo como uma interface – e, até, nos apossamos dele, diante de uma
necessidade de se sentir parte de uma organização ritmada imposta pela Revolução Industrial,
para a qual precisamos produzir e sentirmos úteis, aceitos e dignos de merecimento, através
da ação solidária do Outro. Segundo a autora, “[...] o preço que pagamos pela civilização é o
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 77
afastamento entre o Eu e o corpo e o distanciamento, ainda que imaginário, entre cada sujeito
e os outros que o rodeiam e dos quais ele depende, sem no entanto reconhecer sua
dando-lhes sentido/valor, para compreender o que propõe a autora, quando também referencia
os corpos dos jovens pobres brasileiros, diferenciando-os dos jovens de duas ou três décadas
atrás, afirmando que “não são mais corpos humilhados, cabisbaixos, submetidos. Não são os
corpos tristes, humildes e feiosos que eu via na minha infância. Até mesmo na fome e na
privação os jovens pobres de hoje ostentam corpos, altivos, belos, erotizados (2003, p. 246)”.
Isto reforça o papel das tecnologias em fazer sentido, instituir, que, “[...] se os corpos não
expressividade e até mesmo a saúde dos corpos (KEHL, 2003, p. 245)”. Dessa forma,
propõe também um corpo, de modo que este último passa a se apresentar como instituído, o
a própria interface tecnológica para uma nova mediação homem-meio. Nesta linha de
pensamento, recorremos à proposição de Tomaz Tadeu da Silva, (2000, p. 12), ao inferir que
“[...] não existe sujeito ou subjetividade fora da história e da linguagem, fora da cultura e das
Alguns autores como Lúcia Santaella, (1997, p. 33-44); Marshall McLuhan, (1993, p. 83);
Pierre Lévy, (1993, p. 135-152), entre outros, irão estabelecer como possibilidades de
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 78
e 4] cerebrais. Tais considerações pressupõem que, toda máquina, em sua acepção, busca
amplificação.
No nível 2, têm-se máquinas das quais se observa a intenção de repetir, além dos movimentos
de locomoção, os de precisão, inerente ao humano, buscando estabelecer com este último uma
Revolução Industrial. Neste nível, o princípio funcional é diversificado, pois passamos a ter
No nível 3, têm-se máquinas como a câmera fotográfica, rádio e televisão. Ainda no contexto
51
Sobre as máquinas da Revolução Industrial, grandes, pesadas, densas e cheias de engrenagens que, juntas,
interconectadas, desenvolvem uma dada atividade como um conjunto em operação – assim como o relógio e o
elevador – podemos considerar estruturas que se refletem no sujeito desse período, visto também como uma
máquina, sobretudo no que diz respeito ao seu funcionamento. Usamos como referência os filmes “metrópolis”,
(Alemanha, 1927), de Fritz Lang, em que era feita uma alusão ao domínio exercido pelas máquinas, através de
um mundo subterrâneo habitado por uma acepção de homens-máquinas; e “tempos modernos”, (EUA, 1936), de
Charles Chaplin, que buscava refletir sobre a semelhança dos sujeitos em relação às máquinas, quando se tratava
do como e do quanto deveriam produzir, o fazer humano imitando o fazer mecânico. Assim, temos, no primeiro,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 79
ou sermos ouvidos, sem que se tivesse total consciência da possibilidade de robotização das
faculdades humanas, na medida em que ver ou ouvir, possibilitar ser visto ou ouvido, se torna,
também: dicotômico – fiel, infiel, original, imitação, cópia, simulacro, verdadeiro, falso,
meados do Séc. XX, passamos a assistir uma série de mudanças que foram incorporadas pelo
advento da máquina cerebral, menor, mais leve e caracterizada como tecnologia digital, os
como no real. Enquanto interface mediadora, a própria interface gráfica das telas dos
difundidos pelos aparelhos, e que possibilitam uma relação direta com essa realidade virtual,
que delas podemos ter, permitem, na relação com os sujeitos, através da linguagem,
transformar o corpo – sujeito e objeto. Neste sentido, nos interessa refletir buscando um
Desse modo, para efeito de comparação, assim como analisamos os tipos de máquinas em
estabelecer algum tipo de diálogo com os usuários; e interativa, ao permitir, através dos
uma interação que pode proporcionar dupla interatividade: a interação técnica e a interação
este último, interage com o meio de forma a promover organização e participação; ou,
que, na sua existência, tem como condição os limites do ligar, desligar, aumentar ou reduzir o
volume, mudar de canais, enfim, lidar com o terminal (máquina) e sua compleição de forma a
telas dos computadores, entendemos tratar-se de uma outra “qualidade” de interação que,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 81
e toda a interface gráfica das telas de computadores, além de apresentarem uma nova
sofisticação visual na interface que reproduz os objetos, as coisas, o mundo real como ele é, a
partir de uma síntese numérica digital-virtual, possibilitando que nela, com ela, sejam feitas
permitir que os sujeitos estabeleçam uma relação com a máquina como se ela fosse, também,
qual, o homem modifica a natureza e por ela é modificado, através da técnica. É, também,
através da técnica, que temos assistido a emergência e o crescimento de uma cultura cada vez
significa pensar em que proporções o humano terá sido modificado para alcançar esse status.
Justamente por conceber que a relação homem-meio é, desde os primórdios, mediada pelo
humano com a técnica. Para isto, estamos considerando a influência do meio ou da cultura (já
existe por meio das formas corporais que o colocam no mundo, qualquer modificação de sua
forma implica uma outra definição de sua humanidade (LE BRETON, 2003 b, p. 136)”.
Com isto, Le Breton propõe que analisemos as transformações por que tem passado o corpo
(sujeito/objeto), sendo otimizado pelas tecnologias e, por ela, adquirido novos sentidos e
significações, de modo que estejamos a compreender o seu status nos dias atuais, marcado por
constantes indícios de que ele, o corpo, solicita ser atualizado para “manter-se de pé”. O autor,
considerando as questões que norteiam a relação corpo e tecnologia, propõe ainda que
Desse modo, tecendo considerações de que o corpo humano tem prazo de validade, que para
vivermos mais tempo deveríamos ter corpos diferentes do que a natureza desenhou, pois ao
chegarmos no que deveria ser o apogeu da vida começamos a dar sinais de mau
54
OSHLANSKY, S. Jay; CARNES, Bruce A., e BUTLER, Robert N. The quest for immortality: science at the
frontiers of aging (A busca da imortalidade: a ciência nas fronteiras do envelhecimento) W. W. Norton, 2001.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 83
Isto justifica o crescente investimento que tem sido feito em novas descobertas e utilização de
aparatos tecnológicos – desde medicamentos, passando por extensões e acessórios, até o uso
atual de sensores em rede – visando dar ao corpo um sentido para a sua forma de existência.
BRETON, (2003), ROY ASCOTT, (1997); SANTAELLA, (1996), e outros, apontam para a
tecnológicas – um corpo que divide o mesmo espaço com objetos técnicos e artificiais, que
Assim ao imaginarmos o papel das tecnologias, não somente do ponto de vista da interface
descobriremos que o corpo tem se tornado o receptor, o lugar ideal a ser ocupado pelas
tecnologias (COUTO, 2000, p. 245-247). Isto se torna comum quando percebemos uma
artistas, com o lema de saúde e juventude, com o rótulo natural de uso de recursos artificiais,
plásticas reparadoras para realçar traços estéticos, próteses de silicone, bronzeamento artificial
55
A perspectiva de corpo pós-biológico ou pós-humano, se apresenta para estes autores como a possibilidade de
estabelecer simbiose entre a mente humana e a mente de silício, sem alterar a configuração biológica do corpo,
visando alterar a capacidade da mente em processar informações.
56
Nesta modalidade destacam-se os usos de anabolisantes e esteróides, para o desenvolvimento de massa
muscular; energéticos e coquetéis; peeling de ácido, lifting, toxina botulínica (botox) e, mais recentemente, a
aplicação da substância conhecida como procaína, que busca o bem estar e rejuvenescimento físico. Ainda se
destacam as cirurgias de gengiva, clareamento dental, uso de resinas e facetas (MOHERDAUI, 2004, p. 64-71).
Sobre o crescente uso de fármacos na sociedade contemporânea, Moacyr Sciliar, (VEJA/ABRIL, 28/05/1997, p.
11), afirma que “vingou a idéia da pílula mágica...” em detrimento da arte “... que tinha o papel fundamental de
ensinar as pessoas a viver”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 84
imaginar uma aparente humanização das tecnologias, por sua inserção, também igual e
O que era obra da natureza, fruto do acaso genético, sem possível intervenção
humana – basicamente, rosto sem marcas, corpo com medidas proporcionais, pele
viçosa, dentes perfeitos –, foi sendo decifrado e aprimorado pela medicina e pela
tecnologia e agora pode ser adquirido na clínica de estética mais próxima, com
desconto à vista ou em suaves prestações mensais (MOHERDAUI, 2004, p. 65).
Se por um lado, o modelo midiático, em sua essência e totalidade, não está ao alcance de
todos, agora ele é potencializado e, de alguma forma, é despertado nos sujeitos um mínimo de
insatisfação com os seus corpos e uma máxima necessidade de aperfeiçoá-los por meio da
técnica. Isto se torna evidente, por exemplo, a partir de representações que surgem com a
57
São algumas das modalidades facilmente encontradas nas academias de ginástica e também em práticas
esportivas radicais. Segundo dados apresentados pela Revista Veja, (SCHELP, 2003, p. 70 - 76), apesar de toda
o processo civilizatório, o homem continua sendo um animal que precisa dar vazão aos seus instintos mais
violentos. Adrenalina, serotonina, endorfina e dopamina; “[...] nas sociedades primitivas, o corpo passava por
momentos de alta produção dessas substâncias com freqüência”. Hoje, dado o sedentarismo provocado pelo
avanço tecnológico, “[...] as pessoas modernas que entram em situações de risco por vontade própria estão
manifestando certa saudade bioquímica e psicológica do passado remoto”. Ainda segundo a Revista, é crescente
o número de adeptos às práticas esportivas radicais como bungee jumping, paragliding, rafting, rapel e
arvorismo.
58
É possível referenciar o filme “laranja mecânica”, (Inglaterra, 1971), direção de Stanley Kubrick; “1984”,
(Inglaterra, 1984), direção de Michael Redford, sobre o livro de mesmo nome de George Orwell. A partir do
advento da cibernética e da biônica, “[...] biônica sf. xx. Adapt. do ing. bionics (voc. Criado pelo norte-
americano J. E. Steele, em 1960, e composto de bio[logy] + [electro]nics) || biô-nico adj. xx (CUNHA, 2002, p.
110-111)”, identificamos inspiração para os filmes: “cyborg: the six million dollar man”, ou “o homem de seis
milhões de dólares”, e “the bionic woman”, ou “a mulher biônica”, (EUA, 1974), direção de Richard Irving;
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 85
Dessa forma, diferentes espécies e culturas do humano, desde os primórdios até os dias atuais,
seja pela sua compleição física, seja pelas suas características genéticas – de diferentes raças,
novas espécies de “seres vivos desenhados pela seleção natural”, denominados de “biontes”
“bióides”, ou seres vivos com desenho artificial, dos quais a ovelha Dolly se apresenta como
seres criados em laboratórios, através de processos como a fertilização in vitro, técnica mais
conhecida como “bebê de proveta”, ou a clonagem59, sendo esta última, a tônica das questões
“groizer x”, ou “robô gigante”, (Japão, 1976), direção de Hiroshi Sousenji; “kyouju tokusou juspion”
(investigador de monstros - Juspion), ou “jaspion”, (Japão, 1985), direção de Shohei Tojo e Yoshiaki Kobayashi;
“dengeki sentai changeman” (esquadrão relâmpago changeman), ou “changeman”, (Japão, 1985), direção de
Takao Nagaishi; “cho shin-sei flashman”, ou “flashman”, (Japão, 1986), direção de Akihira Tojo, Takao
Nagaishi; “kidou keiji jiban” (policial móbil Jiban), ou “jiban”, (Japão, 1989), direção de Michio Konishi,
Akihisa Okamoto (principais); e, ainda, os atuais da série “matrix”, (EUA, 1999), “matrix reloaded”, (EUA,
2001) e “matrix revolution”, (EUA, 2003), todos dirigidos pelos irmãos Wachowski; “ghost in the shell” (1 e 2),
(Japão, 2001), direção de Massamune Shirow; “A.I. Inteligência Artificial”, (EUA, 2001), direção de Steven
Spielberg; “minority report”, (EUA, 2002), direção de Steven Spielberg; . Tais exemplos demonstram avanços
dos efeitos das tecnologias nos corpos/sujeitos, a partir de seres que se apresentam híbridos de humano e
máquinas eletrônicas-digitais.
59
Graças ao avanço da biomedicina e da engenharia genética, a partir do projeto genoma, que prevê o
mapeamento do código genético humano. O Projeto Genoma Humano é um empreendimento internacional,
iniciado formalmente em 1990 e projetado para durar 15 anos, com os seguintes objetivos: Identificar e fazer o
mapeamento dos cerca de 80 mil genes que se calculava existirem no DNA das células do corpo humano;
Determinar as seqüências dos 3 bilhões de bases químicas que compõem o DNA humano (anunciado em
14/04/2003; Armazenar essa informação em bancos de dados, desenvolver ferramentas eficientes para analisar
esses dados e torná-los acessíveis para novas pesquisas biológicas. Basicamente, 18 países iniciaram programas
de pesquisas sobre o genoma humano. Os maiores programas desenvolvem-se na Alemanha, Austrália, Brasil,
Canadá, China, Coréia, Dinamarca, Estados Unidos, França, Holanda, Israel, Itália, Japão, México, Reino Unido,
Rússia, Suécia e União Européia. Imagina-se, como resultado do PGH, a possibilidade de prevenção em maior
grau de doenças pelo conhecimento das condições ambientais que podem desencadeá-las; possível substituição
de genes defeituosos através da terapia genética; produção de drogas medicinais por organismos geneticamente
alterados. O conhecimento da genética humana auxiliará muito o conhecimento da biologia de outros animais,
uma vez que não esta não é muito diferente da biologia humana, permitindo também seu aperfeiçoamento e
tornando os animais domésticos, por exemplo, mais resistentes a doenças. As tecnologias, os recursos biológicos
e os bancos de dados gerados pela pesquisa sobre o genoma terão grande impacto nas indústrias relacionadas à
biotecnologia, como a agricultura, a produção de energia, o controle do lixo, a despoluição ambiental.
Considerando todos esses pressupostos que compõem a base do PGH, comitês de ética e de direitos humanos,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 86
Finalmente, como devir da nossa história, híbridos de células e chips, resultado de uma era
Estamos hoje, diante de um corpo que se renova a cada dia, que a cada dia se depara com
rejuvenescimento. Com a evolução das tecnologias (do chip ao nanochip), não é difícil
uso de órteses e próteses60 (visando solucionar ou otimizar certa deficiência ou função), quer
60
Ambas são peças ou aparelhos. A órtese auxilia o desempenho de um órgão do corpo (por exemplo, marca-
passo etc.), já a prótese substitui de forma artificial uma parte do corpo danificada por doença ou acidente (por
exemplo, pinos metálicos, válvulas cardíacas etc.).
61
Sob a chamada “roupas, acessórios e tênis inteligentes melhoram o desempenho nas competições”, uma
reportagem aponta para o lançamento no mercado, de tecidos para melhorar a transpiração, amortecedores e
chips microprocessadores na sola do tênis. Com objetivo de serem utilizados nas olimpíadas de Atenas, na
Grécia, em 2004, foram desenvolvidos acessórios para melhorar o rendimento dos competidores (a exemplo da
aerodinâmica), óculos de natação sem tiras que se grudam ao rosto do nadador, coletes que resfriam o corpo
evitando a insolação nas disputas, roupas de atletismo que resfriam e aquecem áreas distintas ao mesmo tempo,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 87
Se considerarmos tais definições – biontes, bióides e borgues – enquadradas cada uma em seu
cultura e nas sociedades, na linguagem e nas relações de poder. Iremos considerar, também,
Não obstante o que caracteriza o cenário midiático – de busca contínua por um corpo perfeito,
ideal, através de recursos que proporcionam beleza e prazer, maior performance e resistência
física, bem como rejuvenescimento para concorrer na cotidianidade – é nele que vemos
manifesto a emergência do corpo de uma nova cultura, de uma era ciber, denominada de
cibercultura.
não somente o que se estende e que busca ampliar as suas habilidades de locomoção ou
sensoriais, como argumentou Marshall Mcluhan, (1996, p. 14), mas, também, o corpo que se
cibercorpo.
Na trama da rede digital, no espaço ciberespaço, estão em operação não somente os sentidos
especializados, mas, a projeção do corpo, todo ele, a partir da simulação em mundos virtuais.
No ciberespaço, e a partir da cibernética, nos vemos cada vez mais sintonizados com a
máquina, nos deparamos com a tecnologia que nos imita e nos aperfeiçoa de forma sintética.
de sermos ainda sujeitos, os dias atuais, sob o impacto da cibercultura do ciberespaço, solicita
tênis com chip que calcula o atrito com o chão e regula o amortecimento do solado etc., a partir do uso de
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 88
múltiplas dimensões do ser. Isto pode ser percebido claramente nas relações ditas virtuais
interagem e interelacionam, apresentando-se como querem ou desejam ser, ou, ainda, como o
outro quer e deseja. Quando se conversa com alguém numa sala de bate-papo raramente
agradar e a atender a expectativa de como se quer ser ou se supõe como o outro quer que se
seja, agora, diferente do ser ideal. Talvez, na ordem do ser possível. Acredita-se poder ser,
estarmos atentos a esse modo de ser no mundo, dos dias atuais, posto que o mesmo ainda não
sujeito/objeto, não mais visto como um sistema simples – incapaz de transformar sua
pensamento cartesiano) –, mas, como um sistema complexo, como o organismo vivo, capaz
E ainda,
cenário midiático, um cibercorpo que busca atualização constante entre avatares e devires dos
estilo, compleição, forma, é, igualmente possível, ser o que se quer ou é desejado que se seja
síntese, de uma composição e linguagem virtuais que alteram as formas de sentir (ver, tocar,
falar, ouvir...) em uma nova experiência em que se fundem ação e reação simultaneamente,
através da interação dos sentidos e da simulação como no real, sobretudo com o auxílio de
acessórios de realidade virtual (R.V.), como joystics, capacetes e óculos de visão, luva e
macacão de dados.
proprioceptivos, dados biológicos como som, calor, movimento, sopro etc. Para a autora, são
os softwares que permitem estabelecer uma simbiose entre a mente humana e as mentes de
silício.
Neste caso, é possível compreender o novo corpo, cibercorpo, a partir de um novo hibridismo
homem-máquina, desta vez sem a rigidez ou a implicação de algo pesado, denso, físico e que
possa estar aparente e visível como as próteses, órteses e outras técnicas, mas, sobretudo a
partir de uma relação ubíqua em que o ser e estar, o Ser no/com o mundo, imbrica-se em uma
corpo/sujeito numa tela, entre janelas e links de uma itinerância hipertextual. Essa itinerância
hipertextual é estimulada por uma dinâmica de imagens que compõem a rede de informações
interfaces tem função determinante como elemento de ligação entre o corpo/sujeito com o
(zero), é também a itinerância hipertextual “sem presença física” que propõe ser o outro, o
corpo, uma tela. Uma tela, uma teia de relações entre e com signos hipertextuais – imagéticos,
350).
Isto significa pensar no corpo/sujeito como um todo, de forma que, projetado numa tela, ele,
(como se apresenta) e self. Muda-se de acordo com o desejo de ser, ou do que se deseja que se
62
Do latim errantia, que torna errante ou aquele que pode cometer erro(s), vagabundear (CUNHA, 2001 p. 311).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 91
seja, em tempo real, de modo a identificar-se sucessivamente em uma linha de errância entre o
Para Roy Ascott, (1997, p. 337), artista pioneiro da cibernética, a cultura telemática, que
através de interconexões, diz respeito, sobretudo, a conectividade da mente. Diz ele tratar-se
denomina de hipercórtex. Ainda para o autor, nesta cultura “nossa identidade não é mais fixa;
não temos posição fixa, nem estada fixa. Somos telenômades (telemadic), constantemente em
movimento, entre diferentes pontos de vista, diferentes [eus], diferentes modos de ver o
mundo e um ao outro”.
rede, o corpo/sujeito e o outro, qualquer representação sígnica da tela, um ícone, por exemplo,
avatares63 virtuais. Nos diz Villaça, (1999, p. 56), tratar-se de um corpo pós-humano, causa e
organismo vivo e a cibernética, entre o corpo e a mente, entre o sujeito e o objeto. Desse
cibercorpo, não-físico, não-rígido e imaterial, está em jogo uma transformação na/da psique
63
O termo "avatar", segundo a mitologia hindu, tem o significado de uma transfiguração. No contexto do
ciberespaço é utilizado para representar corpos virtualizados que, "incorporados" pelos usuários, muitas vezes
assumem múltiplas identidades na interação propiciada pelos mundos virtuais (PRADO, 2002, p. 25).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 92
cerebral, de emular e amplificar o poder da mente (KERCKHOVE, 1997 p. 31). Assim, tendo
em vista que “[...] nada, no labirinto, permite prever a geometria dos lugares (MACHADO,
Para Nicholas Negroponte, (1995, p. 202-207), o futuro das tecnologias está pautado na
resultaria também em uma comunicação eletrônica e digital, de modo que cada máquina seja
um computador reduzido e incrementado. Para o autor, podemos entender esse universo como
entrar e sair na Internet/web com os seus avatares, possui dupla identidade: a que é
estende-se a partir dessa influência a outros lugares da rede, estando fisicamente conectado a
e em qualquer tempo, para o indivíduo digital que recebe o mundo e que pode estar nele,
64
Termo empregado por COUTO, (2001, p. 87). Do etimológico “cofugiõ XIII, confugyõ XIII, cõfugõ XIV,
confuson XIV etc. Confundir vb. ‘misturar desordenadamente” | XIV.... (CUNHA, 2001, p. 206)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 93
para operar qualquer tecnologia seria algo obsoleto e desnecessário. Dessa forma, Nicholas
mesma sutileza (ou mais) que humanos assim o faria, levando a construção do que ele
algo que vai ficar mais parecido com ensinar um cachorrinho em casa (NEGROPONTE,
1995, p. 207)”.
cibernético), está em não sabermos identificar ao certo os limites entre corpo e tecnologia,
entre humano e máquina e vice-versa. Mais do que isto, implica em questionarmos se ainda
queremos ser sujeitos, pois, “são os processos tecnológicos que estão transformando, de forma
radical, o corpo humano que nos obrigam a repensar a [alma] humana. Pois uma das mais
importantes questões de nosso tempo é justamente: onde termina o humano e onde começa a
máquina?”. Haraway, em seu “manifesto ciborgue”, (1994, p. 111), que também é para ela um
manifesto feminista de modelo político a ser seguido, sugere que o ciborgue possui
65
“Cyborg, ciborgue, uma palavra composta de cibernética (cibernetics) e organismo, é um termo cunhado por
Manfred Clynes, em 1960, para descrever a necessidade da humanidade aperfeiçoar funções biológicas
artificialmente para sobreviver no ambiente hostil do espaço. Originalmente, um ciborgue era um ser humano
com funções corporais auxiliadas ou controladas por dispositivos tecnológicos, como um tanque de oxigênio,
válvula cardíaca artificial ou bomba de insulina. Ao longo dos anos, o termo adquiriu uma conotação mais geral,
descrevendo a dependência de seres humanos em tecnologia. Nesse sentido, ciborgue pode ser usado para
caracterizar qualquer um que depende de um computador para realizar seu trabalho diário (Dicionário de
Tecnologia, 2003, p. 201)”.
66
Haraway defende a existência pós-humana decorrente da relação homem-máquina, a que ela denomina
ciborguização, na qual o homem deixa de ser natural para, de acordo com os instrumentos adequados poder
transformar-se, (re)construir-se, escolhendo lavar louças ou legislar constituição (SILVA, 2001, p. 28).
67
A hibridização sexual que caracteriza o ciborgue de Donna Haraway pode ser identificada no livro “micro
servos”, de Douglas Coupland, (1995, p. 9-59), no qual a história se passa entre pistas de um diário ou diálogos
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 94
máquinas, sobretudo a partir das máquinas falantes; e, com o surgimento das novas
eletrônicos de jovens sem dormir, sem fazer sexo, sem vidas ou identidades – apenas a companhia de um
Macintosh – de modo que na narrativa entre dois nerds apaixonados, que há meses se comunicam por e-mail,
não há nenhum interesse em se saber qual o sexo, preferência sexual ou desejo, mais ainda, não há qualquer
possibilidade de um conhecimento presencial.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 95
moderno que é individual e coletivo, Haraway sugere caminhar em direção a uma política
teórica e prática que possa contemplar os desdobramentos das relações sociais científico-
Para André Lemos, (2002, p. 174-190), é o processo de conversão do mundo em bit e byte de
identificar a existência do ciborgue não como uma dicotomia entre o natural e artificial, mas,
propõe que existem dois tipos de ciborgues: protéticos e interpretativos, (2002, p. 185-187).
implante de nanopróteses que, através de GPS (Geo Position System), podem medir
híbridas – em parte orgânicas, em parte inorgânicas; ora pertencentes a uma realidade real, ora
Para David Le Breton, (2003 a, p. 181-226), o corpo constituído de carne deverá desaparecer
dado momento da história o corpo era exaltado, a ciência anula-o tornando-o obsoleto a partir
dos objetos técnicos que tem no corpo o lugar de sentido. Acrescenta que, com o surgimento
definição de sujeito, este último, sem corpo e presente em forma de bit e byte de dados em
qualquer lugar e tempo. De forma provisória ou permanente, agora com identidade volátil, as
características físicas como cor, sexo, peso e medidas, são apenas efeitos textuais de um
E ainda,
Se considerarmos que estamos vivendo tempos em que muitas pessoas têm encontrado
Outro tem se tornado cada vez mais raro, para não dizer fora de moda, dada as dificuldades
que têm os sujeitos contemporâneos em lidar com conflitos de identidade, na esfera social
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 97
física e presencial, além dos limites de tolerância da diversidade cada vez mais evidente e
medo do sexo e do sentimento, imposto pela AIDS68, com certeza chegaremos à conclusão de
que sair de casa, ir ao encontro com o Outro, à esfera de relações físicas presenciais, pode ser
espírito, como possibilidade de saúde perfeita e imortalidade, “[...] daqui pra frente, o corpo
É possível dizer sobre o estado da arte, o estágio em que se encontra tal processo de
(1997, p. 52-62). Para o artista, que conseguiu inserir uma escultura em um estômago
dilatado, tornando o corpo oco e sem possibilidade de ser distinguido entre espaço fisiológico,
público ou privado, o corpo se apresenta deslocado da psique e do social, não mais como
corpo/sujeito, mas um corpo/objeto que contém arte. Assim, Stelarc define o status do corpo
o corpo tornando-o tecnológico: “Não faz mais sentido ver o corpo como um lugar para a
psique ou o social, mas sim como uma estrutura a ser monitorada e modificada. O corpo não
68
Embora se trate de uma situação em que todos perfazem um grupo de risco em potencial, dada a
suscetibilidade que caracteriza o sujeito no mundo contemporâneo, considerando ser a AIDS uma ameaça que
gera pavor e pânico no mundo inteiro, alguns pesquisadores têm descoberto recentemente que, em busca de
prazer através de aventuras perigosas e sem limites, emerge com a força de um movimento cultural o desejo de
pessoas em se colocarem diante da possibilidade e do risco de serem contaminadas pelo vírus do HIV, a partir de
práticas denominadas de barebacking, ou “cavalgada sem sela” e, popularmente “roleta russa”. Tal prática
consiste em selecionar em uma festa, as raves contemporâneas, um grupo de sujeitos portadores do vírus (sem
que se saiba que são), de modo que as pessoas transam em busca de um desejo/risco de serem contaminadas
acreditando aumentar o prazer (PLAZA, 2002, p. 76-77).
69
A exemplo, podemos referenciar o filme “Denise calls up” (Denise está chamando), (EUA, 1995), direção de
Hal Salwen. Neste filme, uma divertida sátira social, a abordagem gira em torno da vida nos grandes centros
urbanos, na qual as pessoas estão cercadas pelas tecnologias de informação e comunicação e, neste caso,
somente se comunicam e se relacionam através desses mediadores eletrônico-digitais. Sem sair de casa e sempre
recusando ao encontro com o Outro, o filme aponta para o vazio que tem as pessoas e o desprezo que dão à vida
física e presencial.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 98
“O PSICOCORPO não é nem resistente, nem confiável. Seu código genético produz
um corpo que muitas vezes funciona mal e se cansa rapidamente, possibilitando
apenas parâmetros tênues de sobrevivência e limitando sua longevidade. Sua
química carbônica GERA EMOÇÕES SUPERADAS. O Psicocorpo é
esquizofrênico. O CIBERCORPO não é um sujeito, mas um objeto – não um objeto
de inveja, mas um objeto para a engenharia. O Cibercorpo fica eriçado com
eletrodos e antenas, ampliando suas capacidades e projetando sua presença para
locais remotos e para dentro de espaços virtuais. O Cibercorpo torna-se um sistema
estendido – não para meramente para sustentar um eu, mas para intensificar
operações e iniciar sistemas inteligentes alternados, (1997, p. 59)”.
Assim, o corpo como uma interface tecnológica para interagir e interfacear com o meio-
real, tendo a realidade virtual como uma nova extensão. Agora, é o corpo que se estende e se
amplia com o hipertexto, mas não é a parte de um corpo, é o corpo inteiro, ou a mente e a mão
como o espaço da alma, na medida em que o imaginário ampliado para as telas dos
computadores tem ocupado uma dimensão cada vez maior na vida dos sujeitos. Este
sujeitos ao encontro com o sagrado, ele próprio deificado pela capacidade de criar a si e o
outro, da forma que se deseja ou é desejado que se seja. Além disso, ao aperfeiçoar a técnica,
dando-lhe características cada vez mais humanas, ao sentir-se na condição de criador diante
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 99
promessa divina:
Contudo, as criaturas cibernéticas, um registro, uma tela, um ícone, por exemplo, pode
criação de uma instituição imaginária, reino sagrado, tendo no registro sígnico, na tela do
computador, no ícone, o religare. Para Le Breton, (2003 b, p. 136), “o discurso sobre o fim do
corpo é um discurso religioso que crê no advento do reino dos céus. No mundo gnóstico do
ódio ao corpo que é antecipado por parte da cultura virtual, o paraíso é necessariamente um
morfológicas”.
Na densidade a que remete o pensamento contemporâneo sobre o status do corpo, todo ele
Com o advento da cibercultura, estamos vivenciando uma nova realidade que se funde com as
Se ainda não descartamos completamente o corpo, para o sexo, trabalho, interações sociais e,
para as nossas necessidades físicas em geral, uma coisa é fato: o corpo contemporâneo, sujeito
expondo e projetando os nossos sentidos e os nossos corpos numa tela, como numa espécie de
Aqui, buscamos dar vozes aos sujeitos, múltiplos nesta intenção/contribuição de pesquisa,
considerando que, para esta etapa da pesquisa, foram analisadas duas questões: 1 – Você
70
Interessante notar que na voz de Henri Bergson, deste escrito publicado pela primeira vez em 1899, já reflete
inquietações e angústias sobre o corpo, significadas na questão do riso e da comicidade, de modo que o autor
passeia resgatando o pensamento filosófico de Sócrates, Bakthin e Freud.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 101
verdade que o uso faz o órgão e que mutamos, dentro de algum tempo pareceremos
ETs: cabeça e olhos enormes (Eva).
necessidade de recorrer à técnica em busca de uma atualização, up-grade, para o seu corpo,
como uma máquina, de modo a responder às exigências de uma sociedade com novas
práticas, novos modos de inter-agir. Por outro lado, considerando nova esta forma de se
imagem de um extraterrestre.
Não (Fernanda).
Não (Beto)
Confirmando que não há conhecimento sobre a existência de um cibercorpo, o que nos leva a
Neste caso, além da confirmação de que possivelmente a maioria das pessoas entrevistadas
reflexão sobre algo que está sendo gestado com o uso das novas tecnologias de informação e
comunicação.
Sim. No meu caso ganhei um calo na base da mão direita por causa do mouse e
tenho muitas dores nas costas e no pescoço devido a horas e horas de pesquisa e
trabalho junto ao computador (Andréa).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 102
uso de tecnologias, são, inicialmente, mudanças físicas enquanto conseqüências no seu bem
estar, ocasionados por um uso incorreto, ou mau uso, trazendo danos à saúde e, dessa forma,
– clicar, teclar, curvar-se diante de uma tela luminosa – a sociedade tem assistido a algumas
decorrência de sintomas como a Lesão por Esforços Repetitivos (LER), tendinites e doenças
Talvez sim, na medida que por seu fascínio possa levar as pessoas a estarem muitas
horas sentadas diante do computador, ficando assim privadas de exercícios físicos
(Cecília).
Mais uma vez relacionado ao tipo de conseqüência enquanto saúde física, desta vez
possibilitando a reflexão de outra questão que se constitui uma das grandes preocupações da
comércio, lazer), as pessoas estão cada vez mais dependentes de máquinas para realizar
Jamais ouvi falar deste conceito. Não me parece ter sentido algum (Beto).
O impacto gerado por uma tecnologia, tomemos o caso do computador e do ciberespaço, pode
gerar no sujeito um tipo de efeito semelhante ao jet lag, após atravessar fusos horários
diferentes. Para Derrick de Kerckhove, (1997, p. 30-31), que sugere para tal efeito a
denominação de “tecno-lag”, uma tecnologia, por mais útil que seja, solicita do
sujeito/usuário algum preparo, pois pode não haver espaço para essa tecnologia em nossa
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 103
psicologia coletiva, como reflete tal sensação de não haver sentido a existência de um
cibercorpo do ciberespaço.
Desconheço (Fernanda).
Acho que a transposição do corpo para o espaço virtual, seu endereço eletrônico,
currículo lattes, home-page, blogs, nickname na sala de Chat, enfim, o corpo que
tecla e que se faz presente eletronicamente. Como os hackers que tentam me enviar
um “cavalo de tróia” (Andréa) .
Neste caso, evidencia-se uma visão de cibercorpo de acordo com o que desenvolvemos
projetado numa tela é a sua transposição de um “espaço físico, territorial” para outro “espaço
page, bologger, nickname e Chat. Há, ainda, um outro exemplo “vivo” do que é o cibercorpo,
na imagem do hacker.
fundamento do espiritismo que define71 “Ectoplasma - (do grego: ektos - envolvente: plasma
orgânica. Essência da qual é tirada a energia essencial à realização dos fenômenos mediúnicos
associá-la , como sugere a definição espírita, a uma aparição. Logo, relacionando-a com o
corpo/objeto.
71
Encontrado em: http://www.panoramaespirita.com.br/glossario, acessado em 21/06/2004.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 105
forma mais acessível e fácil, através das novas tecnologias de informação e comunicação
milênio, sobretudo no que diz respeito às questões relacionadas à (In)Formação que, tendo o
aprender nos dias atuais. Enfatizamos aqui a necessidade do conhecimento sobre a imagem,
por significar esta última, também, o vetor das relações que são estabelecidas no/com o
corpo também está contido um número infinito de relações (in)diretas com objetos técnicos e
Para tanto, recorremos a autores como LÉVY, (1993), SANCHO, (1998), VARELA,
THOMPSON & ROSH, (1997), GUATTARI, (2003, 1995), MATURANA, (2001), que
72
Não estamos referenciando somente os sentidos humanos como o tato, olfato, gustação, e os especializados
visão e audição, mas, estes, quando propõem sentir algo interno ou externo a partir do desenvolvimento das
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 106
FRÓES BURNHAM, (2000, 1998, 1994), LEFF, (2001), PRETTO, (1997), RAMAL, (1997),
LÉVY, (1993, 1996, 1999), TURNER & MUNÕZ, (1999), RUSHKOFF, (1995), MORIN,
(2000, 2001a, 2001,b), IMBERNÕN, (2000), MARCO SILVA, (2001), TOMÁZ TADEU DA
SILVA, (2000, 2001), CHARTIER, (2002 ), COSCARELLI, (2002), que abordam a crise nos
considerando que alguns desses autores discutem as novas formas de aprender, a partir de
mais que determinada pelo visual, visionária. Finalmente, propondo uma nova práxis que
uma alfabetização visual, reunimos, em obras específicas, os autores que tratam da relação
SANTAELLA, (1992, 1994, 1997, 2001), MACHADO, (1994, 1999), DONDIS, (1991),
COUCHOT, (1999), LÉVY, (1993, 1996, 1998, 1999), AUMONT, (2001) e outros.
Aprender nos dias atuais tem sido um grande desafio, dado as questões que dificultam o
acesso aos espaços pedagógicos, mais especificamente à escola, tais como: contingente
o papel dos meios de comunicação de massa, alto índice de analfabetismo, falta de revisão dos
papéis sociais atrelados à crise de percepção e identidade na família, igreja, trabalho, política
faculdades intelectuais, proveniente do “sentir, vb. ‘experimentar, pressentir, conjeturar... (CUNHA, 2001, p.
715)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 107
estado de obsolescência – além do grande abismo que ainda separa a educação formal desses
espaços pedagógicos, sobretudo a escola, de uma outra educação, informal, e que caracteriza a
para o crescimento de uma sociedade cada vez mais excluída dos processos de ensino-
conhecimento e de sentidos, além da representação da escola como uma extensão das relações
– o ideal de que a escola seja refletida na vida sócio-cultural dos sujeitos (IMBERÑON,
caminhos que passam longe do que deveria ser este ideal social de educação, sobretudo
quando analisamos as questões que discutem a inserção e utilização dos recursos tecnológicos
23-50).
propõe divisões de períodos como “oralidade primária” e “oralidade secundária” para falar de
73
Adjetivo 1- que permite a visão de todas as partes ou elementos Ex.: imagem aérea p. 2- que leva em
consideração todas as partes ou elementos Ex.: análise p. da moderna dramaturgia. F.hist. 1873 panoptico
(Dicionário Eletrônico HOUAISS da Língua Portuguesa, Versão 1.0, DEZ 2001).
74
Félix Guattari, em seu livro “as três ecologias”, (2003), ao discutir sobre o meio-ambiente, as relações sociais
e a subjetividade humana (as três ecologias), propõe alternativas de revisão e mudança de valores que podem ser
adotadas pela educação, de modo a refletir como esta última pode enfrentar as mudanças que emergem com a
sociedade pós-industrial.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 108
tecnologias intelectuais. Desse modo, é possível recorrer à fala como uma tecnologia
passamos a ter de forma mais complexa uma velocidade diferenciada entre o que se estrutura
com o pensamento, o que é possível estruturar com a fala e, por conseguinte, registrar
estruturando com a escrita76, percebe-se uma forma de construção na qual não se destitui a
exigir uma ordem cognitiva mais complexa, racional e objetiva, em detrimento de uma ordem
Ainda para o autor, com o surgimento do computador e do hipertexto, denominados por ele de
linear, com o surgimento de uma nova cultura de uma escrita não-linear – o hipertexto – vão
75
Ainda que se considere 1- a aprendizagem, enquanto conceito em educação, como um processo de
conhecimento linear e cumulativo; 2- a escola como o locus da aprendizagem e com objetivo de formar sujeitos
intelectualmente autônomos (MIZUKAMI, 1986, p. 07-17), aqui, no entanto, estamos a considerar a
aprendizagem como não-linear e complexa, com base na estrutura hipertextual, que também é intersubjetiva,
multidimensional e multirreferencial. “O conhecer não se fecha em sua relação objetiva com o mundo, mas se
abre a criação de sentidos civilizatórios. A qualidade de vida, como finalidade última da realização do ser
humano, implica um savoir vivre, no qual os valores e os sentidos da existência definem as necessidades vitais,
as preferências culturais e a qualidade de vida do povo (LEFF, 2001, p. 235)”. Neste sentido, muitos são os
autores que defendem esta concepção, tais como: (MORIN, 2001 a, p. 19-31), (FRÓES BURNHAM, 1998, P.
36-55 e 1994, p. 89-102), (RAMAL, 2002, p. 133-183), (SILVA, 2001, p. 157-175), (LEVY, 1999, p. 157-167).
76
(RAMAL, 2002, p. 39-43) ao se referir à escrita como tecnologia intelectual, “suporte externo que auxilia o
trabalho humano”, uma espécie de memória ilimitada fora do sujeito, propõe que seja ela, a escrita, uma “busca
rigorosa de objetividade e exatidão, adequação e coincidência plenas entre o escrito e o real”. Assim, para a
autora, a oralidade cede espaço à objetividade da palavra escrita, em detrimento das relações com a subjetividade
proporcionadas com o envolvimento proximal das narrativas.
77
Neste sentido, em relação a passagem de uma cultura da oralidade para uma outra cultura, a da escrita, é
possível lembrar, ainda, alguns autores que irão defender a escrita como uma tecnologia capaz de efetivamente
estruturar o pensamento humano ou de causar uma verdadeira revolução no universo subjetivo; ou que, a
passagem de uma cultura oral para uma cultura da escrita ocasionou grandes transformações no imaginário
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 109
propor reflexões sobre os modos do fazer e do aprender, até então pautados em uma lógica
cartesiana reducionista. Para o mesmo autor, em sua obra, “cibercultura”, (1999), agora,
estamos a vivenciar processos do fazer e do aprender de modo a aprender fazendo, sob uma
perspectiva não mais de uma lógica simples, mas, complexa, conforme a não-linearidade do
digitais78.
A partir de diálogos com outros teóricos, como, Alvin Toffler, (2001); David Turner & Jesus
Munõz, (1999); Nicholas Negroponte (1995), Derrick de Kerckhove, (1997), e James Burke
& Robert Ornstein (1998), entenderemos essa mesma trajetória traçada por Pierre Lévy
economia feudal cuja escala de produção era voltada para o uso, o homem como prossumidor
(nem produtor nem consumidor); “segunda onda” – economia fabril de produção para as
massas ou, produção para a troca (produtores e consumidores); e, atualmente, “terceira onda”
– economia que faz emergir novamente a figura do prossumidor, desta vez caracterizada pelo
“faça você mesmo”, que permite às pessoas produzirem para o seu próprio consumo, em
Para Turner & Muñoz, (1999, p. 17-22), esses mesmos períodos têm as denominações
percorremos velozmente seis mil anos de história até chegarmos no tempo do agora, em que a
sociedade “aprendeu a fabricar [pedras] muito pequenas mas carregadas de grande quantidade
pensamento de Kerckhove, (1997, p. 79), ao afirmar que neste período se tem uma emergente
“indivíduo digital”. Podemos dizer, dessa forma, que todas essas teorias também corroboram
o pensamento de Pierre Lévy ao sugerir a emergência de uma nova ecologia cognitiva, a partir
Isto posto, nos cabe referenciar, como o sistema educacional, mais especificamente os espaços
79
Visto, também, nos think tanks – grupos de discussão na WEB – (KERCKHOVE, 1997 p. 27).
80
A pós-informação extrapola o que, na era industrial e dos meios de comunicação de massa baseava-se no
grupo, passando a ser agora o indivíduo, ou seja, “[...] quando você tiver meu endereço, meu estado civil, minha
idade, minha renda, a marca do meu carro, a lista das compras que faço, o que costumo beber e quanto pago de
imposto, você terá a mim: uma unidade demográfica composta de uma só pessoa (NEGROPONTE, 1995, p.
158)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 111
É mister, neste sentido, considerarmos que são muitas as mudanças ocorridas com o
surgimento dos meios de comunicação de massa e, agora, com o surgimento das novas
meio83 para produzir conhecimento, impondo-nos acompanhar este ritmo e solicitando rever
subjacentes aos textos, são trabalhados em sala de aula, afirma que, embora exista uma
81
Quanto à polissemia do oceano que estamos navegando – que diz respeito aos termos tão comuns e, na maioria
das vezes, utilizados de maneira incoerente – o que sabemos? O que significa saber? O que significa aprender? O
que é conhecimento? O que é informação? Encontramos: “A mudança de comportamento, nos indivíduos e nas
máquinas, é resultado da informação. Ou seja, não havendo mudança de comportamento, não há ação de formar
por dentro – informação. Por conseqüência, sem informação não há aprendizagem (SCHNITMAN, 2003, p.
43)”. E ainda, “As palavras informação e conhecimento, se observadas a partir das suas origens, não parecem
estar na categoria de palavras polissêmicas, nem de “palavras abertas”. Ao que tudo indica, a multiplicação de
contextos e de significados possivelmente decorre da falta de novas palavras/conceito para acompanhar o
desenvolvimento tecnológico disparado no final do século XIX e que se intensificou vertiginosamente no século
XX. Porém, especialmente diante da tecnologia – da interação mediada – e da possibilidade das máquinas
reproduzirem os processos mentais humanos, parece obrigatório operar com conceitos claros, o que é
fundamental à comunicação, a base da sociedade, e hoje da sociedade em rede, e é também fundamental para os
sistemas especialistas (2003, p. 74-75).”
82
Utilizo o termo imagem-informação para denominar todo o tipo de informação iconográfica veiculada no
ciberespaço (imagens fixas e animadas, ícones e botões, textos e sons como forma de registro, escrita e imagem)
que, servindo-se de conteúdo dinâmico, difundido, trocado, ei-lo compondo a inteligência coletiva, o aprender
no/com o ciberespaço (DAIBERT, 1998, p. 189), (MACHADO, 1999 p. 113), (LÉVY, 1998, p. 160-162),
(SANTAELLA, 2001, p. 157-186). A imagem-informação surge como uma unidade de significação que reúne as
possibilidades de escritas e registros existentes (as mídias e as múltiplas linguagens como escritas e registros) e é
discutida através desses autores ainda neste capítulo.
83
“O ambiente não é pois o meio que circunda as espécies e as populações biológicas. É uma categoria
sociológica (e não biológica), relativa a uma racionalidade social, configurada por comportamentos, valores e
saberes, como também por novos referenciais produtivos. [...] no campo científico, a noção de meio foi se
configurando na caracterização do fenômeno vital, ao ser importado por Lamarck da mecânica newtoniana,
como fluido intermediário entre os corpos. Mais tarde surgiu a noção de entorno, concebido como um sistema de
conexões que circundam os centros organizadores dos processos biológicos, econômicos e culturais (LEFF,
2001, p. 224-225)”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 112
audiovisual,
[...] não chega a constituir uma nova forma de pensar a educação e os processos
pedagógicos, nem consegue fazer do ambiente digital uma tecnologia intelectual
diferente, associado com os novos espaços cognitivos e as novas formas de relação,
de comunicação e de produção de sentidos na linguagem (RAMAL, 2002, p. 143-
144).
Aliás, o termo navegar tem sido comumente utilizado para designar exploração, investigação
em um universo sobre algum objeto interminável em si. Quando a discussão sobre um novo
referencial de aprendizagem, com os meios eletrônicos digitais, diz respeito às telas e espaços
Sobre este aspecto, emerge a ciberaprendizagem, como fundante de uma nova forma de
aprender através de uma era ciber, do ciberespaço, e como possibilidade de legitimação deste
84
Navegar vem do verbo To Browse que quer dizer recolher, mas também dar uma olhada (LÉVY, 1993), ou
significa percorrer (mar, rio, e por extensão atmosfera ou espaço cósmico) em navio, embarcação, aeronave, ou
outro veículo (HOLANDA, 2000). Senão como análise metafórica, o uso dessa terminologia corrobora o sentido
de que navegar é preciso.Navegador tem sido o termo utilizado também para designar o browser, utilizado para
explorar a Internet. “[...] A palavra [browser] parece ter se originado antes da Web como um termo genérico para
interfaces de usuários que permitem que você [browse] (vá navegando e lendo) arquivos de texto on-line...
(DICIONÁRIO DE TECNOLOGIA, 2003 p: 111)”.
85
Propõe Teresinha Fróes Burnham, (1998, p. 36-55).
86
Fróes Burnham (2000, p. 299-303) conceitua “espaços sócio-culturais, multirreferenciais, de aprendizagem”,
como espaços que, intencionalmente ou não, desenvolvem processos de aprendizagem (produção imaterial de
subjetividades e conhecimentos) e de trabalho (produção material de bens e serviços) de acordo com a sua
fluidez, a fluidez do lugar e do não-lugar. Assim, é cada vez mais significativo o acesso, construção e
socialização do conhecimento, não somente no espaço escolar e nem tão pouco a partir das formas tradicionais
desse sistema. Nessa construção, está a concepção de que, onde o indivíduo social aprende, na relação com o
outro e com o contexto sócio-cultural-ambiental, se constitui espaço de aprendizagem. Na REDPECT – Rede
Cooperativa de Pesquisa e Intervenção em Currículo, Trabalho e (In)Formação, é desenvolvida uma pesquisa
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 113
Neste sentido, Fróes se reporta aos mais diversificados espaços de aprendizagem na/da
cidade, como clubes, onde se aprende sobre esportes, sobre o corpo, lazer etc, além do
carnaval, ao instituir uma cidade efêmera87 e ao possibilitar aprender sobre tecnologia, sobre
danças e sobre ritmos musicais. Assim, observa-se uma fluidez destes espaços, bem como
uma dinâmica e uma efemeridade que são característicos do lugar informado e do não-lugar,
múltiplo que pode recorrer a várias formas de navegação (interação em realidade virtual),
dos termos e o uso de seus significados; uma vez que encontramos, também, múltiplas
linguagens que emergem desse oceano como formas de expressão e, conseqüentemente, como
inteligência de grupos e comunidades. Para ele, não é possível mais planejar nem definir o
se, dessa forma, que o ciberespaço é um dos espaços de aprendizagem do tempo do agora, que
surge como a possibilidade de legitimar os saberes não incorporados, ainda, pelos processos
90
Sobre este tópico, considerando a crescente oferta de cursos através da EAD (propostas de ensino à distância
tais como: universidades corporativas; formação básica; ensino superior; profissionalizante e de pós-graduação),
e que têm, hoje, o e-learning como base para o seu desenvolvimento, percebe-se uma ênfase nos processos
tecnicistas, do desenvolvimento de instrumentos e ferramentas (plataformas), em detrimento da formação e da
produção do conteúdo para uso nessas propostas (perspectivas da pesquisa que está sendo desenvolvido sobre
“espaços de (In)Formação e aprendizagem do [professor-produtor] na área de educação à distância”, de Maria
Lídia Pereira Mattos, pesquisadora da REDPECT e doutoranda neste programa de educação.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 115
Assim, acredita-se, também, que a ciberaprendizagem aponta para o entendimento dos atores
cognitivos, pois,
Aqui, a realidade virtual a partir de imagens de síntese, se torna o fenômeno que possibilita a
ação do aprendiz, dentro de relações em que comunicar é participar a partir dos sentidos em
91
Discussões e questionamentos a partir de leituras críticas sobre o querer ou não, ainda, ser sujeito (SILVA,
2000).
92
“[...] produzir a explicitação, a elucidação desse processo, sem procurar interromper o seu movimento, mas
realizar esta produção ao mesmo tempo em que tal processo se renova, se recria, na dinâmica intersubjetiva da
penetração em sua intimidade, na multiplicidade de significados, na possibilidade de negação de si mesmo, que
caracteriza o sujeito das relações sociais (FRÓES, 1998 p. 41)”. Sobre o deslocamento dos sujeitos para a ação,
comungam desse pensamento (KERCKHOVE, 1997), (COSCARELLI, 2002), (PRETTO, 1996), (CHARTIER,
2002).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 116
matéria, mas à informação. É essa nova condição existencial das máquinas pós-
industriais que necessita ser melhor entendida e utilizada (COUTO, 2001 p. 93).
fundem humano e tecnologia em uma tela. Para Diana Domingues, (1997, p. 26), os softwares
possibilitam “[...] estabelecer uma simbiose da mente humana com as mentes de silício”. Isto
nos põe a pensar, então, no corpo como uma tela, um ícone, o cibercorpo; relacionando-se
imagem93.
contemporaneidade, talvez a única clareza que se tenha seja, em relação à tamanha crise de
sentido nos dias atuais, pós-modernidade (MAFFESOLI, 1995). Esses valores estão, também,
93
O holograma metáfora que, nele, está posto e registrado um sem número de imagens latentes que, segundo
Garet Morgan, (2002, p. 117), sugere “holomovimento ou holofluxo para expressar a natureza fluente e
indivisível desta ordem (forma ou imagem) implícita que fornece a força geradora das formas (ordem ou
imagem) explícitas”, que alimenta ou impulsiona o desejo de aprender, o que presume a produção do
conhecimento (arte/ciência). Nesta mesma linha de pensamento encontram-se os autores (MATURANA, 2001),
(GUATARI, 2003), (VARELA & THOMPSON, 1997).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 117
massivos como jornal, rádio e TV, une-os em uma nova tecnologia: híbrida, interativa, digital,
A troca de dados, como uma revolução, propõe digitalizar a vida humana ao transformar
espaços, objetos, corpos e operações em uma compleição virtual95. O fato é que, hoje, estamos
e, ao mesmo tempo, em um novo corpo que pode estar em qualquer lugar sem sair do lugar,
tudo isso a partir de uma relação mediada pela ordem tecnológica e imagética virtual, de
Para Kerckhove, (1997, p. 31-32), ao passo em que nos tornamos instituintes na co-
participação com a tecnologia, desenvolvemos uma relação não somente de interação, mas, de
pessoas necessitarem cada vez mais da tecnologia, em sua mais nova e sofisticada versão,
ainda que dela não se faça o devido uso, isto, para não correr o risco de ficar sem tê-la. Ao
94
Décio Pignatari (PIGNATARI, 2002, p. 53), sobre Teoria da Informação, especificamente sobre a
“quantificação da informação”, afirma ser “o bit medida unitária da informação”. Definimos dado como “[...]
uma seqüência de símbolos quantificados ou quantificáveis. Portanto, um texto é um dado. De fato, as letras são
símbolos quantificados, já que o alfabeto por si só constitui uma base numérica. Também são dados imagens,
sons e animação, pois todos podem ser quantificados a ponto de alguém que entra em contato com eles ter
eventualmente dificuldade de distinguir a sua reprodução, a partir da representação quantificada, com o original
(SETZER, 1999; disponível em: http://www.dgz.org.br/dez99/Art_01.htm)”.
95
“Compleição = complexo – grupo ou conjunto de coisas, fatos ou circunstâncias que tem qualquer ligação ou
nexo entre si” (CUNHA, 2001, p. 201). No caso em questão, diz respeito ao complexo que se instaura com as
novas tecnologias digitais e o entendimento que se tem de sua presença ou ação virtual.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 118
empregar tal conceito, o autor justifica com o fato de não sermos preparados para as
tecnologias, por melhor e mais útil que sejam (KERCKHOVE, 1997, p. 31).
Neste mesmo sentido, podemos referenciar Pierre Lévy, (1999, p. 43), ao defender que nos
relacionamos com a tecnologia, vendo-a como única, toda poderosa. Para ele, na medida em
que os agenciamentos sócio-técnicos não são discutidos, vivemos sob a ausência de uma
tecnodemocracia (1993, p. 23). Dessa forma, podemos dizer, então, que, na relação com a
em um uso limitado.
Assim, Michel Maffesoli, (1995, p. 61), faz uso da denominação “objeto imajado” buscando
definir aquilo que o homem cria depositando um sentido, sentimento de adoração ou culto,
assim como os totens para as tribos. Nesta proposta, as novas tecnologias e as novas imagens
informático que predispõe o cibercorpo, do sujeito múltiplo, seguir linhas de errância, como
Para Lévy, (1993, p 121), “o modelo informático é essencialmente plástico, dinâmico, dotado
de uma certa autonomia de ação e reação”. Esse novo modelo, essencialmente plástico, ou
seja, que tem propriedade de adquirir determinadas formas sensíveis, é o que caracteriza a
visualmente no que o mesmo autor chama de “ideografia dinâmica”, esta última, caracterizada
pelos ícones, botões e janelas fixos e móveis das interfaces digitais e que relembram os
Para o autor, “o saber prendia-se ao fundamento, hoje se mostra como figura móvel. Tendia
operações eficazes, ele próprio operação (LÉVY 1999, p. 55)”. Neste fluxo dinâmico, é mister
Quanto à relação de poder, que implica em um uso limitado, devem ser consideradas comuns
meios de comunicação, da informação, não é de surpreender que tais decisões deixem de ser
tecno-democráticas (LÉVY, 1993, p. 23). Com efeito, podemos inferir que o desenvolvimento
artificial – nos apresenta, também, formas de uso limitado de suas maravilhas. Mais do que
Neste sentido, ao considerar a idéia de culto e adoração, além do uso limitado, em relação às
imagens e as tecnologias, e, ainda, sobre a dimensão prática e socializadora que podem ter,
recorremos aos paradigmas propostos por Lúcia Santaella, (1994, p. 35), (2001, p. 157-208),
tecnologias como espaços de aprendizagem), distribuídos, por ordem, em: 1] imagens “pré-
que além do culto à beleza serviam de referencial condutor a um determinado padrão do belo
igual ao bom (mente sã, corpo são – dualidade corpo e espírito), além das imagens na idade
média como elo entre o homem e o divino e as imagens do barroco registrando a dualidade
humana (luz e sombra), pertencem a essa denominação por serem imagens manufaturadas
hologravura (invenções que datam até a década de 1950) – tem-se como característica a
Jung) e, no caso das imagens de TV e vídeo, uma forma condutora de um novo padrão – o
ideal coletivo e massivo de ver, pensar e criar juízos de valor sobre alguma coisa, qualquer
coisa, de forma homogênea, única – a televisão possui uma linguagem própria e busca
difundir um conceito coletivo e homogêneo acerca de alguma coisa, qualquer coisa, de modo
que o expectador ao ver suas imagens concebe, apenas, um pensamento (ideal) repetindo o
programa de humor; da moda imposta pelas mesmas personagens, suas idéias, costumes,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 121
1997);
Porém, a questão não é tão simplesmente uma outra ordem, mas, qual ordem? Com quais
não são as mesmas, óbvio. Seja qual for a forma de existir ou co-existir, as imagens, hoje, não
são as mesmas e a sua função, além de forma de linguagem e comunicação, também não,
afinal, em última instância, temos novos meios e novas formas de reprodutibilidade técnica
das imagens e, por conseguinte, novas formas de ser de uma linguagem. Contudo, mais do
96
Ainda sobre a TV, seu pressuposto de que funciona a partir de disseminações de ondas eletromagnéticas – a
transmissão e retransmissão por satélites – através da luminância emitida pelos tubos de raios catódicos, penetra
o nosso corpo, exatamente por baixo da nossa pele, revestindo-nos de uma outra pele e tornando-nos tão
sintonizados como se fossemos parte de um jogo de imãs. Atraímos-nos pela luminância e disseminação das
ondas eletromagnéticas da televisão, na medida em que ligamos este aparelho e não conseguimos apenas ouvi-lo,
mas, necessariamente, precisamos do diálogo frontal e imediato do nosso corpo com a sua tela que nos vê e nos
envolve em torno de um pensamento único e coletivo (KERCKHOVE, 1997, p. 38-52).
97
Pontos elementares que, a partir de matriz ou síntese numérica (binária), compõem as imagens na tela
(SANTAELLA, 1994, p. 35).
98
O termo em inglês media é utilizado para denominar o plural de mídia, que por sua vez é compreendido como
meio de comunicação. O termo media pronuncia-se mídia. Mass-media é a denominação de meios de
comunicação de massa (SANTAELLA, 1992, p. 71).
99
Entende-se também que, no paradigma entre as imagens analógiicas, dos mass-media e as imagens de síntese,
do ciberespaço, há o “[...] encerramento de uma lógica de representação pública (VIRILIO, 1994, p. 51-52, 90-
91). Para o autor a imagem de síntese, virtual, em tempo-real, ao atualizar-se se impõe ao real, em benefício de
uma telepresença, na medida em que instaura padrões de uma teleexistência.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 122
real o que não depende de referencial externo para existir, como dependem a tv e a câmera
sujeitos que se presentificam a cada imagem repetida, copiada, colada e disseminada em cada
digitalmente representados por avatares de imagens que potencializa o nosso ser-estar, aqui e
como simplesmente uma nova linguagem, mas, como aquela que traz novos elementos
100
A técnica de bricolage prevê a colagem ou mistura de várias imagens preservando o valor e o sentido de cada
uma, mas, em uma nova imagem gerada por computador.
101
Há uma pesquisa desenvolvida no Laboratório de Arte Contemporânea da Universidade de Brasília-UNB,
cuja grande discussão diz respeito à possibilidade de projeção do futuro a partir das imagens digitais. Nesta
pesquisa, a abordagem central é a negação de um referente externo para existir. Ver ainda, artigo disponível
sobre esta pesquisa em: http://www.arte.unb.br/revistadearte/frresfeijo.htm.
102
Ideografia dinâmica surge como uma identificação, a partir das TICs, de elementos sígnicos que simplificam
a informação em forma de idéia representada, como nos ideogramas, com a diferença pautada na plasticidade e
dinâmica de funcionamento ou fluidez. É, também, uma proposta de linguagem simplificada e universal para a
construção do conhecimento (LÉVY, 1998, p. 159).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 123
apontam para a questão do sujeito como aquele que, ao invés de deter a linguagem como
expressão sua, tem nela, enquanto manifestação cultural, a condição de se constituir sujeito103.
(BAIRON & PETRY, 2000, p. 32-55). Ainda para os autores, na hipermídia, o usuário
aprendiz assume a criação, no com o hipertexto, de modo a ser destronado do papel de leitor,
103
Em Jacques Lacan (1901-1980), sobre a teoria psicanalítica, encontramos a afirmação de que é através da fala
do outro (linguagem) que nos constituímos sujeitos (http://psicanaliselacaniana.vilabol.uol.com.br/artigos.html)
acessado em 12/08/2003.
104
Utiliza-se o termo design, de origem dos países de língua anglo-saxônica, para designar a atividade, campo ou
disciplina de que estamos tratando, por não haver na nossa língua uma palavra que faça sua tradução de forma
fidedigna, pois a palavra mais próxima, desenho, não incorpora em seu significado a noção de projeto. A
utilização do termo design em substituição ao termo anterior, desenho industrial, foi uma decisão do I Encontro
Nacional de Desenhistas Industriais, que ocorreu em outubro de 1979, na cidade do Rio de Janeiro. A fonte
destas informações encontram-se no livro Sentido do Design, de autoria de Joaquim REDIG, 1983. A atividade
do design, atualmente, está dividida em design gráfico (das atividades ligadas ao bidimensional e setor de
impressos), design de produtos (que desenvolve o objeto tridimensional, produto) e webdesign (que desenvolve,
cria web sites ou páginas da WWW). A referência de webdesign também pode ser compreendida como a de
ciberdesign (KERCKHOVE, 1997).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 124
entre as imagens virtuais. A simulação em realidade virtual pode contribuir para que o mesmo
até, a (re)significação do mesmo – bem como o conhecimento sobre si, suas potencialidades,
última instância, plena autonomia na construção curricular – livre escolha para saborear –
Nesta nova estrutura, o sujeito/professor deixa de ser aquele que fala/dita e o sujeito/aluno
deixa de ser aquele que escreve/reproduz. Juntos, a partir das imagens interativas, construirão
218), sugere pensarmos em uma inter-relação entre ensinar e comunicar, e, da mesma forma,
com imagens mediadoras, uma compreensão e uma participação na dimensão visual, de modo
105
A alfabetização visual é uma prosta que surge como subsídio para formar indivíduos a ler e ecrever imagens,
considerando leis da Gestalt e pressupostos da Semiótica, além da Sintaxe Visual. Parte do prrincípio de que os
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 125
educação dentro de uma concepção curricular que contempla, também a diversidade – o que
talvez já esteja acontecendo, ainda que de maneira imperceptível (IMBERÑON, 2000, p. 83).
Neste sentido, indagamos: este poder de participação com as imagens, através das novas
tecnologias e espaços contemporâneos virtuais, nos levará a participar com o nosso conteúdo
imagens-espaços do sujeito?106
Para Umberto Eco, (2000, p. 11-15), estamos vivendo uma invasão pela internet/web, uma
torna mais fácil e econômico em relação aos outros meios em outros tempos, mas que, em
então, diferenciar entre referenciais de qualidade sem uma perspectiva ética individualista?
Embora a física moderna nos tenha ensinado que as noções de espaço e tempo não
podem ser tomadas como absolutas nem independentes, não se pode negar e, de
resto, já se tornou lugar comum, a afirmação de que alguns sistemas de signos se
materializam, tomam corpo na simultaneidade do espaço, como é o caso do desenho,
da pintura, gravura, escultura, arquitetura etc., enquanto outros se desenrolam,
tomam corpo e se dissolvem na seqüencialidade do tempo, como a oralidade, a
música, o cinema, e a imagem eletrônica em geral (SANTAELLA, 2001, p. 73).
sujeitos dterminam seus conceitos, sua forma de pensar, de ser e de agir no/com o mundo a partir da imagem, ou
determinado por ela (ALTISSEN, 2001), (DONDIS, 1991).
106
Se somos diferentes, acabou-se a homogeneização? Com esta grande questão, Francisco Imberñon, (2000, p.
89), propõe duas frentes de mudanças: “1) conseguir, pela educação institucionalizada, ajudar os alunos a
crescerem e se desenvolverem, tanto do tipo cognoscitivo como do autoconhecimento; 2) facilitar que, nas
instituições educativas, se reconheçam todas as diferentes capacidades, ritmos de trabalho, expectativas, estilos
cognoscitivos e de aprendizagem, motivações, etnias e valores culturais”. Para o autor, “aceitar a diversidade
possui muitas e complexas implicações”, a saber: “1) facilitar a flexibilidade curricular; 2) mudar a cultura da
instituição e das estruturas educativas; 3) superar a cultura do individualismo; 4) estabelecer e favorecer relações
pessoais entre os professores, a comunidade e os alunos, criando espaços adequados de convivência, oferecendo
uma ação tutorial compartilhada e potencializando vitais experiências de ensino-aprendizagem”.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 126
E ainda,
[...] Esse tempo cuja existência tem autonomia própria apresenta pelo menos três
dimensões: (1) a dimensão cíclica, (2) a dimensão das grandes ou pequenas rupturas
e (3) a dimensão cumulativa. A primeira aparece nas fases de um ambiente
periodicamente mutável, dentro do qual as espécies vivas biologicamente se
adaptaram: o dia, a noite, as estações do ano etc... Para essa adaptação, as espécies
desenvolvem relógios biológicos. Sobrepostos a eles, a espécie humana, mais
complexa, criou o tempo medido, tempo formal... ... dos relógios e dos calendários.
A segunda dimensão, que se manifesta nos cataclismos ou rupturas de continuidade,
pode aparecer tanto no mundo biológico quanto no físico cosmológico... Já a terceira
dimensão do tempo objetivo tem sua forma mais clara de expressão nas camadas
geológicas, por exemplo (SANTAELLA, 2001, p. 74).
Para Santaella, o humano como sendo um ser simbólico e de linguagem (de sentidos) é,
portanto, inseparável do tempo, o tempo que nos marca e do qual não temos controle. Na
medida em que o sujeito se faz presente nos espaços – ruas, parques, praias, clubes, cinemas,
etc. – inicia-se uma itinerância do olhar sobre o espaço ou do espaço sobre o sujeito, como
meio de observar, perceber, ver, compreender o espaço/cenário que também vê o sujeito. Essa
relação desencadeada pela itinerância do sujeito e seu olhar no espaço e do espaço que olha e
aprendizagem, a partir de mediações proporcionadas pelo tempo, o tempo que existe fora de
nós mesmos. Justamente nessa itinerância, podemos contemplar a ação do tempo na análise
ação natural das imagens (objetos, coisas, ruas etc.) no sujeito, e, tempo experimentado, o que
é acrescentado às imagens (objetos, coisas, ruas etc.), pela percepção do sujeito. Assim,
inferimos que há um tempo fora de nós e, neste sentido, pela impossibilidade de “dar conta”
desse tempo, é mister constatar os efeitos que ele produz sobre a natureza e sobre nós
mesmos.
aprendizagem” e como imagens e, todas as imagens como espaços de aprendizagem, para que
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 127
Na mesma medida, qual o papel das artes107 e o que elas produzem? Se tomarmos como
não somente de promover o desenvolvimento de interfaces, mas, “[...] nos seus limites, com
formas de perceber daqueles que a recebem (OLIVEIRA, 1997 p. 217). Cabe, ainda, e
oportunamente, questionar sua permanência dentro da relação espaço-tempo, uma vez que,
Com base nessa analogia, a respeito desses paradigmas indissociáveis, nos perguntamos: qual
o nível de participação ou interação que as salas de aula nos proporcionam? Que a imagem do
professor proporciona? Que a casa (família) proporciona? Que a cidade e seus múltiplos
Devemos ainda, atentar para a necessidade de transgressão de uma prática pedagógica que, no
o que se pratica habitualmente (CUNHA, 2001, p. 628). Neste sentido, Marco Silva, (2001, p.
107
A denominação utilizada para “arte” não é a mesma que, sob a perspectiva da estética, determina o que é ou
não arte, mas, sob a perspectiva inclusiva de “arte” como a materialização do conhecimento através de formas de
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 128
136), dá pistas para uma possível análise da estrutura de aprendizagem pós-moderna, seus
valores (ética e moral), agora gestados pela mídia e pela rua108, em detrimento da estrutura de
aprendizagem de outras gerações, pautada na família, escola, igreja, política e trabalho, estes
desmoronados, haja vista que não mais funcionam como pilares que outrora, sozinhos,
Em tempos de crise de percepção, não estão isentos os papeis dos sujeitos da educação e as
ações educativas dos sujeitos ante os espaços de aprendizagem. Quando o que está sendo
processo110, é mister que seja contemplado neste resgate uma perspectiva de educação que, ao
invés de refletir a propaganda e a cultura massiva de uma sociedade midiática, se faça refletir
expressão como o design, desenho, pintura, escultura, arquitetura, dança, música, teatro, enfim, a produção
cultural que contém em si plasticidade e funcionalidade.
108
A rua é colocada como uma extensão da mídia, sobretudo da televisão (SILVA, 2001, p. 81).
109
Ao analisar a estrutura de rizoma, uma metáfora para o hipertexto, identificamos como proposição de uma
ciberaprendizagem, a idéia de que a informação contida no ciberespaço e a forma como os sujeitos podem
usufrir dessa informação “exige também a apropriação e o uso dos conhecimentos e saberes disponíveis não
como uma forma artificial, específica e distante de comportamento intelectual e social, mas integrada e
permanente, inerente à própria maneira de ser do sujeito, com recuperações em que se mesclam erudição e
intuição, espontaneidade e precisão, o lúdico e o lógico, o racional e o imaginário, o presente, o passado e o
futuro, e as diversas memórias humanas e cibernéticas (KENSKI, 2003, p. 45)”.
110
Francisco Imberñon, (2000, p. 77-96), propõe quatro idéias-força que é preciso continuar desenvolvendo e
aprofundando: 1) recuperação, por parte dos professores e de qualquer agente educativo, do controle sobre o seu
processo de trabalho; 2) sensibilização às tradições e aos valores das minorias étnicas e culturais, analisando o
fracasso e a exclusão educativa e social dessas minorias; 3) incentivo a criação de verdadeiras estruturas
democráticas de participação ativa (formal e informal) das comunidades na educação – observando para esta
proposta especificamente, a “incapacidade” dos professores de lidarem com essa forma complexa e
multirrelacional; 4) enfatiza o autor que, o sistema educativo perdeu importância, mas, a educação não, embora
esta última esteja se desenvolvendo fundamentalmente fora da escola.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 129
Aqui, como possibilidade de fazer refletir a opinião que têm os sujeitos interconectados para
esta pesquisa, sobre a consciência e influências que exercem a era ciber (do ciberespaço,
“não sei”, “não sei do que se trata”, “desconheço”, “nunca ouvi falar” e, em alguns casos, o
111
A análise sobre estas questões, está pautada, também, na referência do “vazio de significado político-
epistemológico...”, em que se quer refletir sobre o distanciamento teórico construído e a prática/discurso da
experiência vivida, de modo a considerar que nas respostas em que identificamos um “não”, estamos buscando
uma leitura de um “vazio” que traz, do ponto de vista da experiência, um potencial cognitivo (FRÓES
BURNHAM, 1994, p. 89-103).
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 130
O entrevistado na medida que remete a questões trabalhadas nesta pesquisa, como as linhas de
errância possibilitadas com o hipertexto, tenta negar que existem mudanças em relação ao
como as crianças estão aprendendo, sem, contudo, atentar para o fato de que: “se estão
aprendendo muito cedo a operar com microcomputadores e a navegar” isto significa que a
Podemos referenciar a fala de muitos autores trabalhados neste texto, buscando evidenciar os
(LÉVY, 1993, 1996 e 1999). Contudo, chama-nos a atenção o fato de o entrevistado não se
referir a transformações somente cognitivas, mas principalmente. Isto nos faz pensar quanto a
Podemos dizer que “uma nova linguagem apropriada” diz respeito à simulação, em realidade
virtual, de processos do fazer e do aprender, em um aprender fazendo, como no real. Para esta
aprendizagem com a emergência do ciberespaço. Sobre quais mudanças, vemos listada uma
Temos:
Posso acessar sites de todas as línguas, sites de auxílio para conjugar verbos em
idiomas que não domino completamente, encontro aulas e seminários, transcritos,
dos autores que estudo, descubro artigos referentes ao meu tema de pesquisa e ainda
posso acessar livros e textos que encontraria com muita dificuldade e muito custo no
Brasil. Sem falar na facilidade em contactar as pessoas, mandar avisos aos grupos de
trabalho, fazer perguntas e obter respostas com relativa rapidez. Paradoxalmente, o
ciberespaço também me atrapalha muito, recebo muita informação inútil, perco
muito tempo procurando coisas que não são suficientes e por vezes acabo me
distraindo, perdendo horas valiosas de trabalho lendo coisas que me interessam,
mas são puro passatempo (Andréa).
(LEMOS, 2002), identificamos nesta resposta uma referência ao ciberespaço, como o espaço
dinâmico e fluido, que propicia a emergência de um indivíduo digital, para o qual tudo é feito
Percebe-se uma referência direta aos novos modos do fazer e do aprender, considerando o
próprio ciberespaço, a estrutura do hipertexto, da hipermídia e dos softwares que mediam esta
relação, como estruturas complexas que exigem certa competência e habilidade em navegar,
Como já foi mencionado neste estudo, o ciberespaço na medida em que aproxima fisicamente,
pessoas de diferentes espaços geográficos, também distancia no sentido bíblico. Na busca pela
sujeito/usuário.
vez mais inclusivos, a partir da efetiva participação dos sujeitos na construção do devir
coletivo, oferece, também, a expectativa de que se possa contribuir para uma sociedade da
Nesta análise, buscamos traduzir o sentimento de que se têm alguns sujeitos ante as
transformações que estão ocorrendo com a conversão do mundo em dados digitais. Dessa
forma, a clareza do que está sendo gestado foge as estruturas e formas do modelo mecanicista
e racionalista, em que se pauta o nosso pensamento. Neste sentido, vale reforçar a necessidade
De uma forma geral, os sujeitos interconectados para esta pesquisa, demonstram certo tipo de
excesso de informação a que estamos sendo expostos, nos dias atuais, as respostas
Encontramos:
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 133
Como exposto por RAMAL (2002, p. 143-144), o uso do suporte informático, do ciberespaço,
didático adicional, sem que dele se extraiam novos processos pedagógicos ou novas
Nesta fala, percebe-se claramente o pensar sobre o que está sendo gestado, com “velhos”
O ciberespaço, que eu traduzo aqui como a utilização das redes na escola, demanda
uma nova visão da aprendizagem, que não pode permanecer linear, ritmada,
militarizada, homeopática. Mas, em geral, a escola ainda permanece fechada á tais
inovações por uma série de fatores: cultura, capacitação docente, abertura curricular,
avaliação, distanciamento do universo da escola do que se passa fora dela (Beto).
Aqui, encontramos elementos que referendam claramente o que constituímos como crise de
percepção e que se apresenta como diagnóstico para a construção panóptica deste capítulo
sobre os possíveis desdobramentos que uma simples ação interativa como esta pode gerar,
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 134
Podemos referenciar, mais uma vez, sobre as questões da aprendizagem nos espaços formais,
quanto a necessidade de (re)visão de papéis entre os sujeitos da ação, de modo a conceber que
a construção do conhecimento, nos dias atuais, mediados pelo ciberespaço, não comportam
de maneira mais clara, uma nova forma de se relacionar com a informação, tendo na relação
Dessa forma, na maioria das respostas à esta questão, encontramos indícios de que se
percebem mudanças nos espaços formais, a escola, com a influência do ciberespaço, tendo
nessas respostas uma possibilidade de ver refletida a necessidade de adoção de novas práticas,
novas tecnologias.
pensar sobre o que está sendo gestado, com “velhos” referenciais que não explicitam
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 135
Esta fala aponta para uma situação em que o ciberespaço e a possibilidade de aprendizagens
modo a conceber que, através do ciberespaço, de uma era ciber, as transformações acontecem
sociais.
Nesta, pode ampliar horizontes daqueles que tem mais dificuldades de acessos
culturais sistemáticos (Cecília).
são incorporadas ao dia a dia e transformadas em saberes que tendem para uma legitimação.
Percebe-se na análise desta questão, que a maioria dos sujeitos interconectados defendem a
acontecem. Contudo, poucas respostas analisadas apontam para o ciberespaço como uma
válido recorrer à con-fusão e/ou alucinação a que estão submetidos os sujeitos no ciberespaço.
Jamais ouvi falar deste conceito tampouco. Mas, por analogia, creio que se trata da
aprendizagem no ciberespaço. Mas isto me parece complicado porque a
aprendizagem é um fenômeno localizado no indivíduo e não fora dele. Acharia mais
“correto” falar de ciber-ensino, que seria o ensino nas redes. Mas a aprendizagem
sempre é no indivíduo, na pessoa, pois trata-se de um fenômeno relacionado à
cognição (Beto).
incoerência do termo. Contudo, sendo o cibercorpo uma tela e, ao mesmo tempo, um sujeito
múltiplo (LE BRETON, 2003), (STELARC, 1997), de total simbiose no/com o ciberespaço, e
Encontramos, neste caso, uma afirmação lacônica ou uma confirmação do que apresenta o
Aqui, encontramos uma confirmação da nossa pesquisa bibliográfica, de modo que nos cabe
espaços, de modo que possamos lembrar que, a cibercultura como instituinte de uma
Mais uma vez, encontramos uma referência ao cibercorpo, como a de uma total simbiose com
ciberaprendizagem.
Neste sentido, encontramos na maioria das respostas à esta questão, uma confirmação quanto
espaço propõe novas relações com o corpo e com as formas de aprender, a partir da relação de
Neste sentido, o objetivo principal desta pesquisa foi investigar como se dá a produção do
simulação através da imagem-informação, tendo como base à relação do novo corpo com esse
qual foi possível interconectar com os sujeitos da pesquisa em uma rede de comunicação
ciberaprendizagem?
necessário atentar, também, para uma nova forma de pesquisar. Considerando que a maioria
dos referenciais de construção metodológica aponta para um lócus presencial e uma situação
espaço-temporal geográfica, algumas observações são registradas quanto a essa nova forma
de se fazer pesquisa:
selecionar, na maioria das vezes sem critérios precisos, o que desejam receber e ou
compartilhar. Neste caso, ignorar um e-mail convidando a participar e contribuir com uma
proposta de pesquisa;
como o e-mail. Neste caso, dada a dificuldade e, até a impossibilidade, de agendar um horário
em um espaço virtual, para que se faça o uso de outros recursos como web cam e microfone,
está posta a necessidade de se refletir e exigir padrões de qualidade quanto ao uso de certos
Neste sentido, o que pudemos constatar na pesquisa bibliográfica nos conduz a compreensão
de que a produção do conhecimento nos dias atuais, de uma era ciber, modifica os nossos
autores ao defenderem que esse status está sendo gestado, está acontecendo. Portanto, ao
estarmos imersos nele e com ele, somos instituídos no processo, na medida em que também
buscamos, de várias formas, nele e com ele sermos instituintes (FRÓES BURNHAM, 1998,
p. 50).
Dessa forma, ao considerar que “estamos vivendo um conhecimento por simulação que os
epistemologistas jamais inventariaram (LÉVY, 1993 p. 23)”, Pierre Lévy propõe que
analisemos as transformações que estão acontecendo na vida social, de modo que possamos
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 142
criterioso.
outros estudos. Motivado a continuar a investigação aqui iniciada quero começar o doutorado.
objetivo de identificar de que forma, nas relações mediadas por redes telemáticas, as
cognitivos.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 143
7. REFERÊNCIAS
ARISTÓTELES. Mundo dos filósofos. São Paulo, Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.mundodosfilosofos.com.br/aristoteles.htm, acessado em 14/01/2004.
ARTISTAS. Revista aos grandes mestres da pintura. São Paulo, Janeiro, 2004. Disponível
em: http://br.share.geocities.com/polopintores/, acessado em 23/01/2004.
ASCOTT, Roy. Cultivando o hipercórtex. DOMINGUES, Diana. (Org.). A arte no séc. XXI:
a humanização das tecnologias. São Paulo: UNESP, 1997, p. 336-344.
BAIRON, Sérgio & PETRY, Luis Carlos. Psicanálise e história da cultura. Caxias do Sul;
EDUCS; São Paulo: Mackenzie, 2000.
BARBIER, René. A escuta sensível em educação. Cadernos ANPED. Belo Horizonte, n.5,
1993.
BARROS, Anna; SANTAELLA, Lúcia. (org). Mídias e Artes: os desafios da arte no início
do século XXI. São Paulo: Unimarco, 2002.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 144
BAUDRILLARD, Jean. Videowelt und fraktales Subjekt. Aisthesis, Reclam, Leipzig, 1991.
______. A ilusão vital. Tradução de Luciano Trigo. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001.
______. Tela Total: mito-ironias da era do virtual e da imagem. Trad. De Juremir Machado
da Silva. Porto Alegre: Sulina, 2002.
CADOZ, Claude. Realidade Virtual. Trad. Paulo Goya. Série Domínio. São Paulo: Ática,
1997.
CALVINO, Ítalo. Seis propostas para o próximo milênio. Tradução de Ivo Barroso. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
CAMPOS. Jorge Lucio de. Do simbólico ao virtual. São Paulo: Perspectiva, 1990.
______. A Teia da Vida: uma nova compreensão científica dos sistemas vivos. 7ª edição. São
Paulo: Cultrix, 2002.
CHARLAB, Sérgio. Você e a Internet no Brasil: o guia para navegar no ciberespaço. Rio de
Janeiro: Objetiva, 1995.
CILLIERS, Paul. Porque não podemos conhecer as coisas complexas completamente. Trad.
Regina Leite Garcia. In GARCIA, Regina Leite. Método, métodos, contramétodo (org.). São
Paulo: Cortez, 2003, 181-192.
COSCARELLI, Carla Viana. (org.). Novas Tecnologias, Novos Textos, Novas Formas de
Pensar. Belo Horizonte: Autêntica, 2002.
CUNHA, Euclides da. Os sertões. Coleção Descobrindo dos Clássicos. São Paulo: Record,
2000.
DELEUZE, Gilles & GUATARRI, Félix. Mil Platôs: Capitalismo e Esquizofrenia. Rio de
Janeiro: Ed. 34, 1995.
DOMINGUES, Diana. (org.) A Arte no Séc. XXI: a humanização das tecnologias. São Paulo:
UNESP, 1997.
DONDIS, Donis A. Sintaxe da Linguagem Visual. São Paulo: Martins Fontes, 1991.
______. O Dilúvio da Informação. In Revista Veja / Vida Digital. Dez. 2000, p. 11-15.
______. Como Se Faz uma Tese. 16ª edição. São Paulo: Perspectiva, 2001.
EXAME. Revista Quinzenal de Informação. São Paulo: Editora Abril, n. 686, 21/04/1999.
GLEICK, James. Acelerado: a velocidade da vida moderna: o desafio de lidar com o tempo.
Trad. Cristina de Assis Serra. Rio de Janeiro: Campus, 2000.
GOMBRICH, Ernest H. Breve História do Mundo. 1ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2002.
HARVEY, David. A condição pós-moderna. Trad. Adail V. Sobral e Maria S. Gonçalves. São
Paulo: Loyola, 1992.
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século XX. São Paulo: Companhia das Letras,
1995.
HUXLEY, Aldous. Admirável Mundo Novo. Trad. Felisberto de Albuquerque. São Paulo:
Edibolso, 1976.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 148
KEHL, Maria Rita. As máquinas falantes. In: NOVAES, Adauto (org.). O homem-máquina: a
ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 243-260.
KERCKHOVE, Derrick de. A Pele da Cultura. Lisboa: Relógio D’Água Editores, 1997.
______. Adeus ao corpo. Trad. De Paulo Neves. In: NOVAES, Adauto (org.). O homem-
máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p. 123-137.
LEILA PINHEIRO. Quem vem pra beira do mar. Dorival Caymmi [compositor]. In
DORIVAL CAYMMI. Songbook Dorival Caymmi Vol. 2. [S.I]: Trama Lumiar, p. 2002. 1 CD
(ca. 40 min). Remasterizado em digital.
______. Cultura das redes: ciberensaios para o Séc. XXI. Salvador: Edufba, 2002.
______. A ideografia dinâmica: rumo a uma imaginação artificial? São Paulo: Loyola, 1998.
LEWIS, Michael. A Nova Novidade: uma história do Vale do Silício. São Paulo: Companhia
das Letras, 2000.
MACHADO, José Pedro. Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa. São Paulo: 1959.
MAFFESOLI, Michel. A contemplação do mundo. Porto Alegre: Artes e Ofícios Ed., 1995.
McLUHAN, Marshall & POWERS, B.R.; La aldea global, transforciones en la vida y los
medios de comunicación mundiales en el siglo XXI. Trad. Claudia Ferrari. 2 a ed. Barcelona:
Editorial Gedisa, 1993.
______. Os Meios de Comunicação como Extensões do Homem. 8 ed., São Paulo: Cultrix,
1996.
MARIA BETHANIA. Rosa dos Ventos. Chico Buarque [compositor]. In ______. Rosa dos
Ventos – o show encantado. [S.I]: Universal, p. 2000. 1 CD (ca. 40 min). Remasterizado em
digital.
MARTINS, Francisco Menezes & MACHADO, Juremir. (org). Para navegar no século XXI:
Tecnologias do imaginário e cibercultura. Porto Alegre: Sulinas, 1999.
______. Cognição, Ciência e Vida Cotidiana. Org. e Trad. Cristina Magro, Victor Paredes.
Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2001.
MIZUKAMI, Nicoletti Maria da Graça. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: EPU,
1986.
MOHERDAUI, Bel. É de lei: o direito à beleza. Revista Veja, Rio de Janeiro: Ed. Abril, ano
37, nº 1, 07 jan. 2004, 114 p.
MORA, José Ferrater. Diccionario de Filosofia de Bolsillo. Compilado por Priscila Cohn.
Madrid: Alianza Editorial, 1995.
______. Cultura de massas no Séc. XX: necrose. Rio de Janeiro: 3 Ed. Forense Universitária,
2001.
______. Os Sete Saberes Necessários a Educação do Futuro. São Paulo: Cortez; Brasília, DF:
UNESCO, 2001.
NEGROPONTE, Nicholas. Vida Digital. trad. Sérgio Tellaroli, São Paulo: Companhia das
letras, 1995.
NOVAES, Adauto. O Homem Máquina: a ciência manipula o corpo. 1ª ed. São Paulo:
Companhia das Letras, 2003.
ODISSÉIA DIGITAL. Vip Exame, São Paulo: Abril, a. 20, n. 2, abr. 2001. Suplemento
especial.
OLIVEIRA, Luiz Alberto. Biontes, bióides e borgues. In: NOVAES, Adauto (org.). O
homem-máquina: a ciência manipula o corpo. São Paulo: Companhia das Letras, 2003, p.
139-174.
PIGNATARI. Décio. Informação, linguagem, comunicação. 25ª ed. de ordem, 1ª ed. Ateliê
Editorial. Cotia-SP: Ateliê Editorial, 2002.
PINHO, Cláudia & BARROS, Mariana. Atleta biônico. Revista Istoé. São Paulo: Ed. Três, nº
1806, 19 mai. 2004, 98 p.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 152
PLANT, Sadie. Mulher digital:o feminino e as novas tecnologias. Trad. De Ruy Jungmann.
Rio de Janeiro: Record: Rosa dos Tempos, 1999.
PLATÃO. Mundo dos filósofos. São Paulo, Janeiro, 2004. Disponível em:
http://www.mundodosfilosofos.com.br/platao.htm, acessado em 14/01/2004.
PLAZA, Joana. A roleta russa da AIDS. Revista Veja. Editora Abril, n. 1767, 04/09/2002, p.
76-77.
PRADO, Gilberto. Arte Telemática: dos intercâmbios pontuais aos ambientes virtuais
multiusuário, São Paulo: Programa Rumos Itaú Cultural Transmídia,2002
PRIGOGINE, Ilya. O fim das certezas: tempo, caos e as leis da natureza. São Paulo: UNESP,
1996.
QUINET, Antonio. Um Olhar a Mais: ver e ser visto na psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editores, 2002.
ROSSEAU. Mundo dos filósofos. São Paulo, Janeiro, 2004. Disponível em:
www.mundodosfilosofos.com.br/rosseau.htm, acessado em 16/01/2004.
SANCHO, Juana (Org.). Para uma tecnologia educacional. Porto Alegre: Editoras Artes
Médicas Sul Ltda., 1998.
SANTAELLA, Lúcia. Cultura das Mídias. São Paulo: Razão Social, 1992.
______. A Imagem Pré Fotográfica Pós. In Revista Imagens. nº 3, p. 34-40, dez. 1994.
______. Cultura tecnológica e o corpo biocibernético. Interlab. São Paulo, n. II, 1998.
Disponível em: http://www.pucsp.br/pos/cos/interlab/santaell/ - acessado em 13/10/2004.
______. & NÖTH, Winfried. Imagem: cognição, semiótica, mídia. São Paulo: Iluminuras,
2001.
SANT’ANNA, Denise Bernuzzi de. Políticas do Corpo. São Paulo: Estação Liberdade, 1995.
SANTOS, Laymert dos. O Homem e a Máquina. In Revista Imagens. nº 3, p. 45-9, dez. 1994.
SCHELP, Diogo. Prazer e perigo. Revista Veja. Rio de Janeiro: Ed. Abril, ano 36, nº 28, 16
jul. 2003, 106 p.
SCILIAR, Moacyr. Paraísos Artificiais. Rio de Janeiro: Revista Veja. Editora Abril,
28/05/1997, p. 11.
______. Nunca Fomos Humanos: nos rastros do sujeito. Organização e Tradução, Tomaz
Tadeu da Silva. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.
SINGER, Paul. Economia Política da Urbanização. 14ª ed. revisada. São Paulo: Contexto,
1998.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 154
TOFFLER, Alvin. A Terceira Onda. 25ª ed. Trad. João Távora. Rio de Janeiro: Record, 2001.
VARGAS, Milton. (org). História da Técnica e da Tecnologia no Brasil. São Paulo: UNESP;
CEETEPS, 1994.
VIRILIO, Paul. O Espaço Crítico. Trad. Paulo Roberto Pires. Rio de Janeiro: Ed. 34, 1993.
______. Velocidade e política. Trad. Celso Mauro Paciornik. São Paulo: Estação Liberdade,
1996.
WERTHEIM, Margaret. Uma História do Espaço: de Dante à Internet. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar Editor, 2001.
WIENER, Norbert. Cibernética e Sociedade – o uso humano de seres humanos. 4ed. São
Paulo: Cultrix, 1973.
YUDICE, George. O Pós-Moderno em Debate. In Revista Ciência Hoje. São Paulo: Vol.
11/nº62, março de 1990 – p. 46 a 57.
CIBERESPAÇO, CIBERCORPO, CIBERAPRENDIZAGEM: o novo status do conhecimento. 155