Musa Bohemia

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Musa Bohemia
NATIVIDADE LIMA

Musa Bohemia
(VERSOS POSTHUMOS)

.T',\I, DO PAP.A

rF`,TP`-\T,

Empresa Literana e Thpografica LIVRARIA CARIOCA - EDITORA


DE
Oficinas movidas a eletricidade
Rua da Boa Vista, 321 - PORTO
-. A. TEIREIRA plirTO
Rua de Santo AntoniQ, 38
BEI+EM - PARA
cL^S9. APRESENTACAO
|-ulTir,a I-I

o5`BO .i;

Natividade Lima foi, no Pard, un opinido abali-


zada do Acad6mico Machoido Coelho, o melhor Poeta de sue
6poca.
Lancando, I.Ofe, a 5egunda edicdo de MUSA BOE-
MIA. a Academic Paraense de Letros cu |]re com a riltima
eta|]a do Programa Cultural de 197 7 , elaborado I)elo5 Aca-
dfroieas lrocchcio Machndo CcelJii], Maria Aingnanacinda Ra-
mos CI.aves e Dom Alberto Goud6ncio Ramos, e unar.ime-
menle aprovado Pelo Plendrio da Casa.
o Programa Cultural fei rigorosamente cunprido.
Iniciado a 24 dejunho, em sessdo especial, a qual se solida-
ri3ou a Prrfeitura Munici|Jal de Bel6m, corr.emorou a Aca-
deihia o bi-cenlendrio da lgreja de Sfrojofro, serido orador
oyif iol o..pr?rlsenhor Amirico Leal, cabendo co Sr. Prrfeito
Ajax d'Oliveira eutregar medalhas comemorativa:s do
grande a(ontecimento.
A 2 ilt setembro, inclurdo rlo Programa Oficial dos
Feslejos Comemorativos a Semana da Pdlria, o Silogeu rea-
lizava sessdo especial, sendo orador off.cial a A(ad6mico
Em lnarco de 1895 , embarcou Para o Xingu, onde
Hd'e"Fi:r=Cde`n%:.;;;1:;s;g`n?iJte,io,isf!6.°^T.°^bmr,eod%Cn;::,',.
Hi|modeFariasMoreira,que.fizpr°ife_%_d^°:TS:#.do°hdnarvtn::. exer(eu Por alguii. tempo o cargo de Promotor Ptibtico. Vol-
apero'c.erdae%.::.ec:.i*i;I.`r:;;:.o^io_i:dhan'hndh°rfdqealbor%%addee3o'°s:r°. tai.do di (apital, trabalhou na reda€do do "Didrio de Nol{-
P:v:.'Cc:o:';;:';a:urngji;*fe§an,#arod%a°£:t3:':#::eaudepe}:;cr;. (ills... qiiai.do era seu Proprietdrio o Poeta maranl.ense
)Itir(elino Barata. Passando, dali, |]ara "A Provincia do
P(lrdr.
\L#o"`#e`:m`:V`;;;.desetem.bro:.:2r9..:_:.°^r.V^itero}£n
d:ini(o .+Io(hado Coelh,o. E tliz lntLis I:.stdqiiio ale ;\zevedo.. "Deixou in6dit.o
urn I)rinloro`so livro de -versos, inlitulado "Ml:SA `B()E-
AF5rLr,e,;ae%a:;iii:;`;;Cini:vfsalldoa.df_,of^eof-oe^r!;;d;:;,!%o?ceefs-- )11..I". aliiillmenle eln mdos do Poeto Olavo Nui.es, que
[,.eertrreo.:aquaeui;fr;r;;";ct-a;`eii-o|estrasobre``LfroguaeHis- t[]itirtiii.(nle o guarda colri,o uma reliquia".
Estu i a Prilneira obra lilerdria que a Academia
t6ria do Brasil". I'tira(I.« de I.elras edita co longo de seus 77 anos de exis-
FEi'I:%.:TI.einbro,a7,coubeaorenoma.foo.,:^I±st]a^P#.s:_ t(i\(i(I. F„ desde logo. assuTnimos urn com|)rornisso: nco sera
.gcroa,=aa:i;o;*j;:nS,:±frofe:t;r:ft:%%#r%n:toa%bo;e « i'illim(I. Hii lnuilos livros a reclamar reedi{6es. E. urn de-
le`i. st'il. dtiivida. i o ..F¢Ineo", (ontos de A"lonio Taver~
"j:;:(n£,I::#heonvt:ddeaou2rao,Cod:€ndo°c:;
:.A pirjt.I;a no I?ard".
\,. . ._ |_ cia a):,;A d4
I.tird. o griii.de e inesquecivel Poeta, col.lista e cronista Pa-
r(Ll,n.S(.
r.,.Afi,f.5':i:
":oa`s``otd;,:.(t`..o;I..%:eoL%aa.i:::io6r_Pea_t;,;::.°!do;nci,a:dn,e%naa:,:;rsn3;2na
tiiral de 1977. B()i:)[`;\A/.':esae'.:\tceaed:::.;a°pa::::I,:sae°de°;,te°t:ra:#:mdcepr\tte{zJasfe
(itii' t`(]IIi i'`ttL ddt mais uiria delT.onstrtJ(do dc un|)pnfio Pela
'::`;,u.`t:`.;j`t`t:Vr.t,.;'i;;..-sondtivi4o..alno:i:re..ra:S..,:i::,in:tRat,a,n t`iil(iirtL rftl Ptirt'i. dtL :\Inaz,inia a do Brasi(.

I,::,,;,,::;:,(,d;:;`,I,`|::(;:,`!;:;e`;,;;;±::i,i.:;;'e,fiJDu,of£Pddi',::i:f!:,`,:::ea,:f,
t.i`;;:;`e`;`i.i`|;|`|.;l.;;il:;..;-iardrl':`S.'t'`:'.:::,:`n'',::n:i:,p]8n`)o'., 13t'I(in. It) (le (lez,(Ii.bro de 1`)77.

(;I:,()R(`,EN()R I)I. S()I:S;\ I;RANC()


";:;::te'f`.'`;a,;.'£Vgdref;;a;s`J.asS.VrfL:.v;`odS^§#h:doeN#a#:#,
Pr(`i(lt'i.i( d(I A(t[deinia, Paraense de I.elras

'%:td:qJ.;:`o.`;:u:={:e_.io'.:i;os,_:_O_b.r^a.e:t^°.:^an!nr°d:adeps°a'baa:'e'_
La':";::I.`owd;.;d;.;ii-s-:.-do:s_anosantesitor(antododesapare-

':suegs.:%£`o.`r:i-eii..Eus.I.4g.:i^O^.d.e,:+7Znevehd,:::=s:#hao
til;.er.lo do grande Poet.a.

..I+n,o,;:g:;g..'+n,`:ua?;|Ct;'c.;:`i`:i_iit.i.i3::no,1:,%'fiopt:1:ofob%:i:io.
•i:s't.tt.:`.%``d`e`E,:|Li%:.i:.jis;`i-;;i~;i±.ale,::,t.'^ncafi,6*T:%,%'s`Zaest=5
[;(:o:,`,I,,;iiaol`s::k`,``:`;;i:,:Ji;i:,s"%tle`:,rodrai,o.Vfsst,a%Vdr,a"asas
DUAS PALAVRAS

A publicacao deste livro e I.eita pe-


los signatdrios destas linhas. amigos since-
ros do poeta extinto; pretendem assim dar
uma prova do muito afeto que lhe dedica-
yam e do grau elevado de apreco em que o
tinham pelos seus dotes de espirito e de
coracao. 0 produto liquido da venda da
presente edicao servird para aquisicao de
uma herma. de urn 'cipo comemorativo
qualquer que lhc I)erpetue a mem6ria, ou,
se a tanto nao chegar, para melhorar as
condic6es da scpultura rasa onde o poeta
repousa` e que juf em completo estado de
abandono.
Pedimos` portanto, aos amigos e
conhecidos do suudoso poeta` que nos au-
xiliem ncsta tarel`u, que julgamos honrosa

para todos nds. S6.

Para. Junho. 1920.

Olavo Nunes
J. Eustachio de Azevedo.
PRELIMINARES

AO BURGUES ABSTRUSO

Tens, meu caro burgu8s, entro o que, por urn


arrojo de metafora, chamas tuas maos, urn livro do
versos que nao 6 de todo mau.
Eu sei que tu, em artigo do versos, 6s da forca
do capitao-mor da Morgadinha de Val Flor: que-
rerias que os meus sonetos enchossem toda a pagi-
na e fossem urn pouco mais compridos„.
Mas nao importal como te fizeram praticar o
ato mais sensato de tua vide comprando este livro
eu me permito cavaquear contigo antes que ostro-
pies, lendo-os, os versos que compus.
Pasmei sabendo que livraras o mal-
aventurado editor de ficar com mais osse exemplar
nas prateleiras... Pasmo justificavel porque nao m®
constara ainda que houvessos gasto urn ceitil em li-
12

vrarias, a nao ser comprando a Hist6ria da prince- que preferes ouvir tocar berimbau, a meloclias como
estas:
sa Magalona...
Eu disse "mal-aventurado editor" e vou
explicar-te a razao: editar uma obra que nao seja de
fancaria e urn desastre financeiro na certa.
Nao majs me punja esta maldita estrelal
Dai-me forcas, meu Deus, para esquoce-la,
Ora, urn desastre financ®iro 6, na tua opiniao,
E for¢as lnda mais para adora-lal (1)
meu caro burgues amigo, uma desv®ntura, segue-
se logicamente (isto para ti 6 grego) que o meu edi- Dessa informe materia apodrecida,
tor nao tern, como tu, direito a primeira bem- Sem ter amor e sonlios cor-de-rosa,
Ta`vez se gere urn pe de margarida
aventuranca: 6 portanto urn mal-aventurado.
Ou uma borboleta luminosa! (2)
Ainda se isto fosse o Secreta`rio do Povo ou a
Ando ha dias burilando
Histbria do lmperador Carlos Magno, va; tu, meu
com fervor,
caro burgues e oS teus colegas esgotariam a edi¢ao versos que cheguem cantando
embora nao sabendo fazer uso do livro. t6 junto a tl, mjnha flor,
Mas editar versos... versos!!! com urn clarim, alto. soando,

Urn livro que nao fala de cambio!!! como os silvos de urn vapor! (3)

Tu vais partir? - Parte, pois!


E o mesmo que sair desfiando p6rolas por en-
mos sempre tenhas em mente
tre multidao de galos que, sofregos, irao troca-las
que nao levas slmplesmente
por mi]ho! urn coracao... Ievas dois! (4)
Eu, meu caro burgues amigo, se nao conhe-
cesse de visu o tamanho de tuas orolhas, chamar- E como o louco e pasmo visionario

te-ia galo! que fez daquela esfinge o sou calvario,


liz de teus bra¢os, santa, a minha cruz! (5)
Tu sabes, meu caro burgues, que Goncalvos
Crespo, Goncalves Dias, Tobias Barreto, Castro Al-
ves, Alvares de Azevedo foram e Luiz Guimaraos,
Bilac, Alberto de Oliveira, F`aymundo Correa e ou- (1) Joao de Deus do Bego.
(2) Acrisio Motta.
tros sao poetas, devido a insistencia minha e ae ou-
(3) Leopoldo Sousa.
tros rapazes em dizer-t'o... (4) Eustachio de Azevedo.
Tu sempre foste supinamonte imbecil, por (5) Guilherme de Mlranda.
14

Em troca dos magros tost6os que empregast®


na compra deste livro, presto-t®, meu caro burgu6s
amigo, o assinalado servico de te diplomar:

"Doutor na asneira, na ci6ncia, burro''.

Ja es, pois, alguma coisa, tu que nao eras col-


sa nenhuma! AOS POETAS
Ja podes ruminar, naquilo que em.mim e
cabeca e em ti cabaca, a luminosa id6ia de qua, so
Eu podia dizer-vos que, "devido as instancias
nao fosse a pr6xima chogada dos bondes ®16tricos,
de alguns amigos", publicava os meus versos, como
poderias prestar longos e relevantos servicos a hu- muita gente faz: nao desejo, por6m, atirar as costas
manidade viaiante.
dos meus amigos a responsabilidade do crime,
Nao te desconsoles, por6m, ainda podes vir a
tampouco as pedradas ou palmas que meu livro me-
ser o burro sabio de algum circo e -quem sabe? - recer: fui eu que deliberei publica-lo.
comendador ou visconde.
Dedico este primeiro fruto das minhas horas
F3esta que me agradecas a obra de miseric6r-
vagas aos meus amigos e distintos poetas Eustachio
dia que pratiquei contigo; a sociedade protetora
de Azevedo e Frederico Plhossard.
dos animals me agradecera o resto.
Tenho assim, hoje, a rara coragem de ser gra-
E da lembrancas a senhora.
to e diz-me a consciencia, por que a tenho, que pra-
tico urn ato de nobreza.
• Presto urn preito de reconhecimonto o de
amizade, ao Eustachio de Azevedo, porque foi quom
me ensinou os segredos da metritica¢ao e corrigiu
os meus primeiros versos; ao Frederico Phossard, -
porque foi quem armou-me cavalheiro, e
apresentou-me na imprensa pela porta honrosa das
colunas editoriais.
Falando aos oficiais do oficio, nao me alon-
garei tratando da mediocridade ou m6rito dos meus
versos. Publico-os porque, no meu foro lntimo,
16

julguei-os bons, dignos disso e mesmo superiores a


uns tantos produtos da especie que por al pejam as
colunas dos jornaisL.
Tenho bastante senso para nao me conside- Aos meus flmigos
rar urn genio; mas nao sou tao parvo que nao me jul-
gue acima dos fatores de tais produtos.
Finalizando: naquele - oficiais do oficio -
nao incluo os bardos nefelibatas, nem os que escre-
vem: "Quando passas, flor linda e deslumbran.
I-`,ustachio de Azevedo
te„, etc.
A esses peco o especial favor de nao lerem o e
meu livro.
Ite, mi.isa est.
Frederico Rhossard
1895

Natividade Lima GRATIDAO

0 AUTOF`.
A mem6ria do primeiro poeta
da moderna geracao brasileira

OLAVO BILAC

CONSAGRA

0 autor.
ERRADIOS
Sultana

Ao Eustachlo de Azevedo

A formosa sultana. a favorita


d'EI-rei Omar, pousando o niveo bra¢o
nu, sobre o marmore branco do terrago,
a imensidade, cismadora, fita.

Do crepusculo a ptlrpura infinita


tinge de sangue o iluminado ospa¢o,
onde a lua derrama o brilho baco,
e o turbilhao estrelejante habita.
24

Ao ve-la pensativa El-rei pergunta,


cioso, o que d`eseja a escrava sua...
Ela, sdplice, as maos franzinas junta

e, palida, mais palida que a lua,


como quem sente a alma ja defunta, Seios de Judia
diz: - Desejo morrer, nao ser mais tua!.„

Ao Frederlco Rhossard

Carne cheirosa, carne tentadora


essa dos seios virginais de Sara:
- alvos blocos de marmore Carrara,
tingidos na sanguinea luz d'aurora.

Exuberantes, ttlrgidos, nervosos


esses bomos divinos e rosados
parecem, quando os vejo desnudados,
pombos dormindo sobre urn mar de gozos!
26

Fosse a vida uma int6rmina alvorada,


uma locida aurora de alegria,
livre de crimes, livre de receios:

trocara toda essa ilusao dourada,


Recuerdos...
trocara tudo, se pudesse urn dia
beijar a polpa desses alvos seios!

Ao I.eopoldo Souse

No formoslssimo jardim, povoado


de variegadas floras, dois velhinhos,
- olhos perdidos nos azuis caminho8, -
memoravam lembrancas do passado.

Ele lembrava o quanto havia amado


essa que fora como a flor dos linhos;
ela revia o togo dos carinhos,
dos beijos que lhe dora o namorado...
ae

E, ambos, fitando os llrios odorosos,


viram dois beija-floras venturosos
sacrificando a Deusa dos amores...

F`iram-se... recordando esses distantes


Louco intento
tempos em que, abracados, palpitantes,
tinham sido tamb6m dois boija-flor®s...

Ao Gullherme de Mlranda

Quando eu a vi... nao mo reeordo agora


s® Vesper cintilava na planura
azul, ou se brilhava a formosura
do r6gio sol, imonsidado om fora.

Mos, tosse noite ou r®spl®ndento aurora


corto 6 que a vi, repleta do t®rnura,
amamentando a loira criatura,
que gerara, do Amor na feliz hora.
30

Entregava-lhe o soio palpitante,


turgido e nu, liberto do empecilho
da rendada camisa deslumbrant®...

Tinha no olhar nao sei quo mago brilho


e, ao contempla-la assim, naquel® instante,
inveja eu tive de nao s®r sou tilho!
Santa

Ao Joio de Deu do Rego

A16m soluca urn violao, na rua...


a sedutora e bela Margarida
nos meus bra¢os repousa adormocida,
formosa, tentadora, branca ® nua!

Da c6lica planura a meiga lua


espia e beija a carnacao fornida
d®sse corpo gontil, `ch®io do vida,
cheio d® sangue, e que, r®pro8o, ®Stual...
•--------
-,..,-I 0 PALPJ .i
tu-N]-.-.`-:r:
32
CENTRAL
BIBI.10.-T-~.icA
Ao contempla-la, adormecida e calma,
parece que o silencio fala e canta,
que a solidao tom boca e a flor tom almal

Nos seus labios de hurl brinca urn sorriso... Hetaira


sonha, talvez, arrependida e santa,
ir comigo subindo ao Paralsol

Ao Lulz Bytton

Os solos virginais da cor do arminho


Assomam polo rasgo do decot®
Do sou roupao de soda chamalote
Como dois pombos juntos sobro urn ninho.

Maos que de rosa urn calico ocultara.


Bra¢os rolicos, rijos e norvosos,
Opulentos quadris voluptuosos,
P6s que chinesa ao ve-los inv®jaral
34

Eis a divina p6rola do escandalo!


Quando ela passa de cabelo solto,
Onde fulguram cintilancias d'ouro

E rola o aroma estonteador do sandalo,


Sinto no sangue, em borbot6es revolto
0cao
Toda a voldpia bestial d'um tourol

Ao Almerlndo Silva

Eu conheci urn velho milionario


que emprestava dinheiro com usura;
jamais no peito dessa vil criatura
Amor abrira a [ntimo sacrario.

Em toda a sua vida, esse usurario


s6 teve urn sentimento de ternura,
por urn cao de esquel6tica figura,
urn cao da rua, urn cao sem propriet6rio.
36

0 usurario morreu: ningu6m a cova,


o acompanhou, sabendo a infeliz nova.„
ningu6m por ele teve uma saudadel...

Somente o miseravel cao nojento,


deitado sobre a campa do avar®nto,
0 coracao da morta
uivava o De profundis da Amizadel

Morrera a minha amada. Eu, tristem®nt®,


Quedava-me a cismar na branca d®rmo
D'ess8 mulher gentil qua vi morr®r-mo
Como nota final d'um canto ardontol

Saudoso recordava o solo quonto


Que tornara, jamais, a pertenc®r-mo!
E no sou labio via urn negro vorme
Pousar onde eu pousara o mou, tr®m®nt®l
38

Mas. quando eu da saudado a dor sentla,


`Tao forte como nunca algu6m sontlu,
Porque perdi, .perdendo-a, a luz do dia,

Suavlssima voz minh'alma ouviu...


Noite bendita
Era o sou coracao que mo dlzia:
- Abriga-me em teu peito... estou com trial

Ao T. Alvares da Costs

Ditosa noite, noite deslumbrante


De estrelas, calma noite ab®ndicoadal
Mais foste para mim do qua alvorada,
Foste mais para mim que radiantol

Mais do que todas, noite enlevada,


Eu te bendigo e canto a`todo o instanto
Porque perto de mim, a quo distant®
Esta, sonhei n'uma ilusao sagrada...
40

Eterna tosses tu, eternamente


Eu repousasse no teu seio ardento
Pudesses ser. 6 noite, a derradeiral...

E tivesse eu, de novo o sonho tido...


Nao acordar quisera e tor vivido
Ruinas
N'aquele sonho a minha vida intoira!

Ao Olymplo Llma

Minha r6sea esperan¢a do futuro,


Nos seios de mlnh'alma acalentada,
- Clarao inessurgido de alvorada,
Llrio apenas aberto o logo impuro -

Fatalidade atroz! No abjsmo oscuro,


No pavoroso d6dalo do nada
Tombaste pare sompro, 6 flor g®rada,
Do aroma d'outras floras, grato e purol
42

E agora, 6 casta filha das quimeras,


La onde no meu peito d'antes eras,
All onde ja ouve claridade;

Surge arrastando a tunica infinita


Miss Mary
Em vez de ti, 6 ilusao bendita,
0 fantasma cruel da Pealidade.

Aquela a quem dedico osto soneto,


Guapa menina de cabelo loiro,
Em cada vidro da luneta d'oiro
`Traz escondido urn diamante proto.

Em sapatinhos onde a mao nao m®to,


Sapatos feitos de lustroso coiro,
Ela oculta medrosa o meu tesoiro:
- P6s que de beijos calcarei, prometo!
44

Avultam no veston protuberanclas.


Dos pequeninas pomas tentadoras
- Pilha de amores lirial, voltaical

Usa urn perfume a provocar-nos ansias,


Umas essencias tais, ombriagadoras Mila8re
Como aguardente tina de Jamaical

Ao Acrlslo Motto

Hora de calma. No coxim vermelho


Do leito, Elisa, atenta na loitura
De urn livro de Zola, a formosura
Da perna deixa ver at6 o joelho.

Fronteiro ao leito, em rico santu&rio,


E sobre urn lenho d'oiro marchotado,
Pende de cravos de marfim lavrado
0 Nazareno martir do Calvario„.
46

Subito, Elisa, toda palpitante,


Despe o vestjdo; e surge, provocante,
Doirado e rubro, o porno proibido...

Nesse instante parece-me tor visto,


N'um fremito de amor, o magro Cristo. Fumadora
Sobre a cruz do martirio se movido!

A formosa princesa dos meus sonhos,


que traz meu coracao de amores pr®so,
costuma ter nos labios sous risonhos
urn cigarrinho aceso!...

Oh! que ventura a minha se eu pudesse


ser tabaco migado...
Talvez sua maozinha me envolvesse
n'um papelinho, para eu ser fumado!
48

Born Deus, Tu que fizeste Adao do barro,


coisa mais facil que beber vinagre,
bern podias fazer-me este milagre:
- transformar-me em cigarrol

Porem, enquanto me nao der o Eterno


despacho a peticao, Deslumbramentos
fez-me, 6 bela, urn milagre mais mod®rno:
- da-me o teu coracaol

Eu fantasio, flor, a feliz hora


Em que saciaremos juntamente,
Na maciez do mesmo leito quente,
Toda a sede de amor que nos devora...

Sonho escutar a tua voz, sonora


E pura e doce como urn beijo ardento,
Dizer baixinho, carinhosamente:
"Es meu... sou tua... para sempre agora".
50

Vejo-te rubra de pudor e casta


ir, como urn llrio que a torrente arrasta,
Desfalecendo nos meus bracos, filhal

Ah! nesse instante, eu 6brio de dosejos,


Hei de veneer-te e subjugar com beijos, Nua!...
Como urn toiro subjuga uma novilha.

Ao Ail redo Plnto

Ei-Ia nua! Nos labios sous vermelhos


Brinca urn sorriso qua domina a gente...
Solta e desfeita a negra tranca olonte
Lambe-lhe o dorso, beija-Ihe os joelhos...

Microsc6picos p6s, sutls artelhos


Erguem seu corpo, milagrosamento!...
Derme cheirosa, branca, rija e quente,
0lhos brilhantes como dois espelhosl
52

0 seio ereto, exuberante e lindo,


Primor de graca e asilo da ventura,
Faz-me sonhar de amor urn sonho infindo!

E, para haver no quadro a cor escura,


Urn ponto negro, como que cindindo,
Estranho caso...
Do corpo mancha-lhe a divina alvura!...

E casaram... A noiva era uma estrela,


Tlmida e loira, deslumbrante e bela;
Almas sonharam possuir aquela
J6ia do amor e pelo amor venc6-Ia

Os cabelos do noivo, brancos pela


ldade, tinham tido a cor dos dela;
Ele chegara aonde a vida gela,
A noiva comecava a conhece-la...
54

E casaram!... Se foi urn brando afeto


Que uniu os dois her6is deste soneto,
Nao vos posso dizer, pois sou discroto...

Direi apenas no final terceto


Que urn batismo se fez depois, secreto,
Enterro
De uma crianca de cabelo pretol...

Essa que vai n'esse caixao, tao nova,


Tao palida, tao pura e tao serena,
Leva, fechado em sua mao pequena,
Meu coracao consigo para a cova.

Por ela eu entoei sonora trova,


Cantei os dotes seus na lira amena;
Por ela a dor agora me envenena,
Minh'alma o calix das angustias prova!
56

E, se encontrais posado o esquife love


De quem passou na vida em sonho breve,
Como rapida nuvem passageira;

E que levais, tamb6m amortalhada


E muda, inerte e funebre a gelada, Amazona
N'esse caixao, minha ilusao primeira!

Ao Dr. Arthur Lemos

De esporas d'oiro no tacao das botas,


No chapeu alto flutuantes gazes,
Plisos na boca, ir6nicos, mordazes,
De urn baio ingles os impetos derrotas!...

Levas no peito urn feixe de lilazes;


Passas altiva ; e satisfeita, notas,
Quando as ancas do ingles, a rir, chicotas
Seguirem-te os olhares dos rapazes...
58

Prostras aos p6s a legiao dos poetas


Que, genuflexos, num pieguismo tolo,
Te pedem motes nas reuni6es soletas...

Dizem ate que, n'um jornal de Maio,


Urn deles implorava-to o consolo Cidmes
De ser urn dia o teu cavalo baiol

Ao Alcldes Bahia

Quando na valsa algum gentil mancebo


Aquela cinta delicada enlaca,
E, peito a peito unido, ante mim passa,
Como que urn golpe de punhal recebo!

Parece que se torna turva e baca


A cintilante luz do r6gio Chebo!...
Julgo que as fezes da cicuta bebo,
Do fel esgoto a inesgotavel taca!
60

E se urn riso nos labios sous rutila,


Como as presas de urn forte cao de fila
Sinto o cidme rasgar-me o coracao!...

Parece que no peito meu rugita


Urn chacal! e da cava mais restrita N'um cemiterio na floresta
De minh'alma, rebenta uma explosao!...

Ao Francl.€o de A..I. Llm&

Vlajeiros do lgnoto, ropou8ada


Tend®S a cruz do angustla8 da oxl8tencla...
Dormis o sono etorno d8 In9cl6ncla,
Ninou6m porturba a paz do vo88o nodal

Da vide, vonturosa ou d®solada


Erguendo os bracos nus pare a omln6ncla,
0 slmbolo do amor a da cl®m6ncla
Vos marca solitario o fim da ®strada.
62

Sois felizes, talvez! De alguma sorte


Havera quem lamente vossa morte,
Quem piedoso por v6s a Deus implore...

Mas, eu que as dores fiz no peito uns ninhos,


Sarau da moda
Que a todo o sofrimento dei carinhos,
Nao terei neste mundo quem me choro!...

Pare a slnhazlnha Nene Barahuna

Buidosa festa; as sedas, em profusas


ondas, em roda das casacas rolam;
maravilhosas valsas rouxinolam,
n'um turbilhao fantastico de tusas.

Pares se agitam, movem-se em confusas


E varias linhas; leques ventarolam...
0 musgo, o cravo e o sandalo se evolam
Do colo branco das modernas musas.

I
64

Entras: recua a multidao em ansia...


E tu, princesa altiva da elegancia,
`Triunfal, sorrindo as belas mais ilustres,

Passas, por entre encasacadas filas,


Sob a luz dardejante das pupilas, Hipico
Sob o clarao eletrico dos lustres!...

Cartola branca, larga fita prota


Na maciez do feltro se enroscando;
Camisa leve, dum tecjdo brando,
Com tufos de bordado o setineta;

Casaco aberto. senhoril lun®ta


0 nariz afilado cavalgando;
Comprida saia ao vento pan®jando , .
Passa a cavalo a divinal Julieta!
66

0 baio as patas, com firmeza, bate


Num trote ingles; a turba rumoreja...
Peluz ao sol a estrela do acicate!

Descanca as maos no cabo da chibata,


Consoada
Erguendo a fronte para que se veja
Urn rubi cintilando na gravatal

Do maos amigas recebi formosa


lembranca e mimo d'uma lira d'oiro;
o em rendados cart6es de born agoiro,
belos votos do vida v®nturosa.

Encaixilhado om rendas o mimosa


fronha bordada, veio-me urn t®soiro;
poems da saudade ou sonho loiro
feito n'um travessdiro car d® rose.
68

Beijo as fidalgas maos que esses diversos


mimos de F]eis enviam-me, risonhos,
na rendilhada curva destes versos

Ajoelha agora, coracao guerreiro, Maxima dor


e pede a Deus que todos os meus sonhos
sejam sonhos da cor do travesseiro.

A M...

Ao burilar meus versos, paciente ,


Como urn sisudo mandarim chin6s,
Quanta vez, minha flor, ai! quanta vez,
senti percuciente
Dor insondavel, insondaveis magoas
Boiarem tristemente na minh'alma,
Como de urn lago na torrente calma
Ninf6ias murchas sobre a flor das aguas!
70

E tu, 6 casta e lirial Maria,


a meu primeiro amorl
Tu que 6s a minha maxima alegria,
Es causa desta dorl...
Pois a magoa que o peito meu consomo Dormeuse
E traz os olhos meus no pranto imersos,
- E saber que nao sabes ler meus versos,
Nem assinar, sequer, teu lindo nomel...

Ao Rober.u Li:ii.anda

``Nem parece muJher, parece Santa"

Adelino Fontoura

Contemplo-a sobre o leito adormocida,


Como a mae Eva na mansao divina;
Solta no peito a loira tranca tina
Cobre os sonhos de amor de minha vida.

Sobre as formosas coxas, esquecida,


Leve, ideal, nevada mao franzina,
A meus olhos oculta a peregrina
llha doirada, em lacteo mar perdida...
72

Presa de amor, minh'alma em torno giro


Dessa por quem a natureza canta,
Dessa por quem meu coracao deliral

Estatua
Vede a que as dores de meu peito espanta:
F`epoisa, casta e nua, nom suspira,
``Nem parece mulher, parece Santa!..."

No olhar formoso a branda luz d'um clrio,


Cariciosa e meiga; pequenina
Transcendente, mimosa a mao franzina,
Mao que doce tornara o meu martlriol

0 p6 - urn sonho! - se pisasse urn lJrio


Deixaria imaculada a pet'la tina!
Na boca de carmim o beijo trina
A melodia ardente do dellrio!
74

No colo a tentacao do crime, eu creio


Que o pr6prio Cristo vendo aquele seio
Nao tornaria a subir outro calvario!...

Mas, ai! o coracao d'esse modelo


De perfeicao, a natureza fe-lo... Cobardc
- Nojento verme oculto n'um sacrario!

Se estou longe de ti tenho desejos


De te cravar o meu punhal no peito,
De ver caido, exanime, desfeito,
Esse teu corpo que cobri de beijos!

Medito ver-te esmaecida, exangue,


Vergar ao peso de meu braco forte
Enquanto que eu, gozando a tua morte,
0lhasse em borbot6es correr-te o sangue!

_ __L _
76

Mos se outra vez de ti me encontro perto,


Se te vejo n'um sonho a espadua nua,
0 colo, o seio, o ventre descoberto:

Cancao do Canoeiro
Dorme a vinganca urn outro novo sono,
Beijo-te os labios onde o amor flutua
- Humilde como urn cao aos p6s do dono„.

a gentes, 6 marinheiros
D'esses barquinhos ligeiros
Que as aguas sulcam do mar,
Sabei que a minha canoa
Nao a.nda, nao corre: voa,
Como andorinha no ar!

Quer sopre rijo o pampeiro,


Quer haja forte banzeiro
Ou corra contra a mare,
Ela salta sobre a espuma
Corta a vaga uma por uma...
Tao lesta, dizei qual e?
Quando, nos dias de festa,
Vaga urn rumor na floresta E escuto todo enlevado,
E soluca o rouxinol, Como n'um sonho doirado,
A canoinha ligeira Suspirar a caboclinha...
Me leva aos pes da faceira Dizei-me: quem 6 que pensa
Cabocla, filha do sol! Haver canoa que ven¢a
Minha bela canoinha?

Vede-a correr: como 6 bela,


Com que garbo traz a vela, Sempre de novo pintada,
Nao corre mais a cotja! E toda calafetada
Voa mais que o pensamento, D'agua nao faz uma gota!
Nao teme a raiva do vento, Viajo n'ela dormindo,
A ftlria da maresia! Cantando, bebendo, rindo,
Solto o leme, solta a escotal

Quando, n`ela, na palhoca


Das belas filhas da ro¢a Vivo na minha canoa
Eu passo... tudo se agita! Como os patos na lagoa,
Ha sempre uma voz amiga Como na mata a motuca!
D'uma cabocla que diga: lndo p'ra festa as morenas
Que canoinha bonita! S6 vao contentes, serenas,
Na canoinha do Juca!
80

N'ela sou grande, sou forte, Minha formosa canoa


Nao tenho temor da morte, Nao anda, nao corre: voa
Da noite, `da cerracao! Como andorinha no ar!
No mar e como urn rochedo: E mais ligeira que o vento,
Afronta as ondas sem medo, Mais veloz que o pensamento,
Desafia o furacao! Nao teme as iras do mar!

Quantas vezes ela ouviu,


Quantas vezes ela viu
Bejjos dados com ardor!
Quanta cabocla rosada,
No seio d'ela embalada,
Dormiu o sono do amor!

a gentes, 6 marinheiros,
Os vossos barcos ligeiros
Por ela sofrem rev6s!
Eu nao conto maravilhas...
Que falem por mjm as ilhas,
Os lagos, igarapes!
Ruinas

Ao Llclnlo Silva

Ao vcr o ceu azul, a loira messe


E a limpidez de urn lago transparento,
Ja o meu coracao pulsou contente,
Sonhando coisas que nao mais conhece...

Tive, como talvez ningu6m tivess®,


Fe no futuro, fervorosa, ardente...
Ja, num sonho de amor, devotamente,
Meus secos labios murmuraram prece...
84

E tudo se desfez! Hoje, varrido


De sonhos e quimeras, vojo orguido,
A fustigar-m®, rigoroso a trodo,

0 fantasma da minha crenca antiga,


Coma em dezembro, rlspido, fustiga Eterna dor
0 vento norte a coma do arvorodol

A mem6rla de mlnltfL mie

Quando os anos passados lontos, Ion`os,


Forem sobre teu corpo inanimado;
Quando for para sempre destrocado
0 marmor dos hip6critas moimentos;

Quando o teu nome ja nao for lembrado


E pare sempre o eco dos lamentos
Derradeiros morrer, na voz dos vontos,
Como urn grito de dor n'um descampado;
86

Quando de tudo, todos esquecidos


E os goivos da saudade emurchecidos
Forem p'ra sempre, 6 Mae, como estribilho

De uma can¢ao tristlssima e dolente


Ouviras, doce Amiga, eternament®
Chorar meu cora¢ao... choral teu tilhol... Passionais
Versos Pedidos

A uma esbelta e delicada virgem, misto


de aurora e flor, de borbo]eta e rose

Pelo Azul

Tao divina, tao bela, tao tormosa


Me parece, 6 flor, que at6 duvido
Teres na terra e nao nos c6us nascido.
Envolta n'uma nuvem primorosa

Talvez tenhas - estrela caprichosa -


Das resplendentes multid6es tugido.
Como orvalinea p6rola, caldo
N'um perfumado calico de rosa!
90

Apenas, ante vosso gesto brando,


Desce de ti urn nao sei que de brando Ante esse olhar que me domina e rende,
E Iuminoso e casto e santo ei puro
curvo-me, ouvindo o coracao bradando:
Que,.muitas vezes, fico-me cismando

- Salve! divina flor da morbidezza


Se tu seras, celestial Maria, Que os peitos vence e as almas t'odas prende.
- A minha estrela d'alva do futuro, Salve! formosa e triunfal princesal
0 meu consolo extremo d'agonia!

No album

Aqui melhor inspiracao, agora,


F]endilhara urn artlstico soneto
Para cantar-vos o cabelo preto
E o perfume do ceu qua n'ele moral

Mas eu a musa n'um supllcio meto


E nao consigo vos dizer, senhora,
Toda a sede de amor que me devora,
Todo este togo ind6mito e secreto!
0 teu retrato

A Etelvonlna

Esse retrato, 6 flor, que me podiste


para fazer, bern nltido e p®rfeito,
trago-o comigo, n'um sacrario, foito
d'amor, como jamais sonhaste ou vistol

Ao clarao de urn luar, silente e triste,


eu o pintei, risonho e satisfeito...
foi tela - o coracao, moldura - a poito,
r`ao podes ve-lo, e juro-te que existe!
94

E se de amor, n'um I.mpeto selvagem,


alguem tentar roubar-me a linda imagem
que guardo pura, e radiosa, e branca,

assassino sera no desacato:


Palida
quem me arrancar do peito o teu retrato,
conjuntamente o coracao me arrancal

A Etelvonina

Disseste, minha vida, que a doenca


roubando-te a rosada cor do rosto,
nele deixou tal sombra de desgosto
que nao seres a mesma a gente pensa.

Ate alimentas no teu peito a cren¢a


de eu ter em outra o pensamento posto...
Julgas tambem em mim perdido o gosto
de ver-te, e morta esta paixao imensa!
96

Vives n'um crasso engano laborando:


quanto mais longe estas do mim, male p®rto
ost6 de ti meu coracao pulsandol

E se a rosada cor te toz tao linda,


6 minha doce estrela do desorto, Serenata
tornou-te a palidez mais b®la ainda!

A Etelvonina

Como n`um feixe rdtilo de charpas,


no teu olhar a minha vida abranges;
n'ele eu vejo relampagos de alfanjes,
brilhos d'estrelas, seteac6es de farpas.

Como urn crente se curva ante as escarpas


das margens nuas do sagrado Ganges,
eu me curvo a teus pes se, acaso, tangos
das vozes tuas as celestes harpas.
98

E como a concha guarda urn eco intenso


do murmdrio da oceanica esmeralda,
- saudade imensa d'esse caos imenso -

tambem meu coracao guarda urn acorde


de tua voz e d'esse olhar, que escalda, Confissao
uma centelha que ilumina e morde!...

A Etelvonina

Deus que tale o coracao que bate


Em meu peito por ti, por ti s6mente:
Deixa que tale e diga quanto sente
Esta minh'alma que a teus p6s se abate!

Sou teu escravo: manda-me em combate


Urn raio conquistar ao sol ardente;
Poubar urn astro as brumas do Ocidente;
Que por urn s6 dos beijos teus me mate ....
loo

Tudo farei! menos deixar de amar-t®,


Deixar de proclamar, em toda parte,
Teu nome, 6 flQr, n'um turbilhao de versos!„.

Por que este amor, para conte-lo, o mundo


E pequeno; e pequeno o mar profundo...
Pequenos sao ate os universos... Febre de amor

A Etelvonina

Que m'importa, que o mundo de mim fale,


Por que a seus pes me curvo como urn crente?
0 mundo ri do meu afeto ardente
Por nao saber quanto este afeto vale!

Dos ociosos a risada estale,


Zombem todos de mim impunemente!
Nao poderao sarcasmos dessa gente
Fazer que a voz de meu am6r se cale!...
102

Emquanto o riso desses loucos brada


N6s iremos, minh'alma, azul em fora
Cantando urn hino a minha doce Amada!...

Hino feito de amor e de paixao, Stella


Belo, -como o clarao da rubra aurora,
Terno, - como o bater de urn coracao!

A Etelvonina

N'essas que vejo por ai, ditosas


Mocas de cdtis branca e labio rubro,
Eu nao sei por que algumas nao descubro
Que tenham, como tens, nas faces rosas!

Vejo-as passar, por mim, trajando airosas


Vestes da cor dos arreb6is de Outubro
E comparo-as contigo; os olhos cubro...
Embora! como tu nao sao formosas!...
104

Tu, sim, es poderosa e em mim dominas!


Ouco no peito, em ondas, estrugindo
De tua voz as mllsicas divinas!

Ah! embora eu de dor me estor¢a e gema


S6 de ouvir-te falar estou sentindo
Calar-se a dor para explodir n'um poema! Miserere

A uma ebthrnea e dellc.da IIor

Pombas, ruflai, ruflai asas do love,


De manso, 6 mensageiras da tornura:
Brancas, tao brancas, como a n®v® pure,
Puras, tao puras como a branca .®v®l

Asas, ruflai! Parti, trazei-m® ®m br®v®,


D'essa que em sonhos meu amor procura,
~ C®leste dona de ideal cintura -
L®mbranca aonde esta saudad® c®v®I
106

Ide-vos, pombas! lde azul em fora,


Vibrai no espaco os canticos d'aurora,
Cantai, cantai, cantai! formoso bando!

lde ate junto d'esse branco llrio,


- Levai-Ihe urn eco d'este atroz martirio,
Trazei-me d'ela urn riso arg6nteo e brando!
Ignoto

A Etelvonlna

Cheguei e sinto o coracao pulsando,


Sinto d'amor que em chamas novas ardo:
Dentro das moitas perfumeja o nardo,
Astros no azul, escuto, conversando.

Vai-se d'estrela todo salpicando


0 ebaneo dorso do ocidente pardo;
Hinos soam em meus ouvidos, bardo
Estranho escuto dentro em mim cantando.
108

Por que? qual foi a sensacao, a onda


De alegria, de amor, que veio imensa
Encher-me o coracao que ningu6m sonda?

Segredo

Talvez urn dia o saiba e compreenda,


Aquela a quem minh'alma toda incensa,
lsto que sinto e nem, talvez, entenda!
A Etelvonina

Embora com muito medo


Eu vou contar-te o segredo
Que tenho no coracao;
Escuta: toram teus olhos
Que a minha vida de abrolhos
Deram a luz de urn clarao!

Talvez alguem te dissesse


Que a minha mats santa prece
Dedico a ti, minha flor!
Talvez alguem te mostrasse,
Talvez alguem te contasse
Que por ti morro de amor!
Ilo

Amor! palavra sublime


Que aos mocos na fronte imprime
Urn beijo do Onipotente!
Amor! palavra bendita
Que eu tenho no peito escrita
Em letras de togo ardente!

Reverie

Contaram que tu quiseras


A Etelvonina
Primeiro ver se, dev6ras
Meu coracao era teu...
Pois ja nao viste, querida,
Que tu es a minria vida,
A esperanca, o Norte meu?

Ainda escuto, musical, soando


Em meus ouvidos tua voz; ainda
Ao pe de mim te vejo terna e linda
Me vejo ao pe de ti submisso e brando.

Nao leste nos meus olhares


Que se amor em mim buscares
Sinto de novo o que sentia quando,
S6 achas o que te dou?
Dona da boca breve e graca infinda,
Fica sabendo, mimosa,
Eu te aguardava a suspirada vinda
Que s6 por ti, minha rosa,
Nada mais vendo e nada mais olhando.
Meu coracao palpitou!...
112

Por6m desperto e solitario vejo


o que de n6s e nosso amor falava.
o rio, a plaga, o bosque, a praia, o brejo,

Trenos

Da passada ventura unicamente


por minhas faces palidas rolava
urn borbotao de lagrimas, tremente! A Etelvonina

Contaram-me que em breve,


Minha andorinha leve,
Vais te casar... E certo?
Ah! mas se for assim,
Diz: que sera de mim,
a luz do meu deserto?!

Dizem que vou partir...


Basta, para nao ir,
Que tu me digas: nao!
Nem sabes tu,.Tivica,
Se me dissesses -fica -
0 que eu fizera entao!
114

Eu tenho em teu sorriso


Tudo quanto preciso
Para viver e amar-te;
Porem, se for exato,
Aquele atroz boato,
Por que nao diras: parte!?

AToi

Prefiro urn desengano...


E muito .mais humano
Matar de urn golpe s6!... A l\Illt ,.... 1}.

Se nao me tens amor...


Se f ranca, minha flor,
E mata-me sem d6!

Que je puisse un jour baiser ta levre ros6e


Et que je meure apres!
Depuis ce doux baiser, 6 rna bien aim6e,
Je mourrais sans regrets!

Nao sabes quantos hinos


E canticos divinos
Para te dar eu tinha,
Suavissimos e doces, Qu'elle eut un poison ta chevelure d'or,
Se ate a morte tosses Je le buvais un jour!
Minha, somente minha!... Je gouterais la vie, en me donnant la mort
Dans un baiser d'amour!
116

Eclore. fleur! Je veux gouter ton doux parfum,


0 rna rose benie!
Laisse moi baiser ta corolle eclatante AToi
Quoiqu'il cout rna vie!

A Mlle... 8.

Ecoute-moi: je veux te raconter, rna belle,


Les discours de tendresse,
Que days son nid joli la petite hirondelle
A son mignon adresse

"Mon coeur est tout rempli de ton image pure


Et rayonnant toujours!
Brole clans cet autel, pare d'or et d'azur
L'encens de mon amour!"
118

Ce que l'oiseau a dit, en chantant tout heureux,


Incessament je dis!
Je songe que bient6t clans notre nid nous deux
Nous le disions aussi!

Le Depart

Ecoute: quand ce jour, encore a l'avenir,


Du depart venira, plein de douleur am6re,
Je laisserai mon coeur, mon ame toute entiere,
Dans tes petites mains comme urn doux souvenir...

H6las! que clans ce nid ils puissent dormir,


Comme un enfant aux bras d'une amoureuse mere,
Le dernier sommeil a la nult derniere,
Se I'amour que je sons et je porte mourir!
120

Mais s'un nouvelle amour 0 rna blanche merveille,


Comme un nuage ombreux cachant l'azur du ciel
Paraitre clans ton sein, sonner a ton oreille...

Ce pauvre coeur vaincu, que clans tes mains j'oublie


F`etentira toujours de ce cri eternel: Reverie
- Cruelle! 11 t a laisse, tout amoureux, sa vie!

Quando fomos criancas, a ternura


Encheu os nossos corac6es; agora
Quem sabe se o clarao daquela aurora
Ja nao e em teu peito noite escura?

Em mim ainda se conserva pura


A chama desse amor que me avigora;
Momento por momento, hora por hora,
Becordo esse passado de ventura...
122

Esqueceste-me... eu sei. Mas o deseio.


De unir as nossas bocas n'um s6 beijo
lnda me alenta o peito de esperan¢a!...

Praza aos ceus, minha pomba idolatrada,


Que banhada na luz de uma alvorada
Lembres ainda os sonhos de crianca!
Per amica silentia...

AM....

Como em grande navio incendiado


Ou como urn bloco d'oiro incandescente
Mergulhara no abismo do Poente
0 sol na pr6pria luz amortalhado.

Palida, pensativa e muda, ao lado


meu, cismava que adoro unicamente;
Bebia o meu o seu olhar luzente,
Melanc6lico, triste, apaixonado!
124

Nascera a noite, o pleniltlnio erguia


A face a pouco e pouco entre os escolhos,
Como urn dobre de sino o mar gemia...

Enquanto, 6 clara luz dos meus abrolhos, Aspiracao


Enquanto eu pasmo, como em sonho, ouvia
A eloquencia divina de teus olhos!

AM....

Pudesse eu ser a linfa cristalina


Em que te banhas, flor e meu desejo,
Fora-me a dor e o pranto doce harpojo.
Sonora vibracao de harpa divina!

0 recondito encanto, a peregrina


Poma nevada, e tudo quanto almejo
Beijar, beijara sem que visse o pojo
Tornar-te a nivea face purpurina„.
126

Estrondassem rugidos de tormentas,


Cortasse o raio as nuvens alvacentas.
Velasse negro manto a luz da lua,

Nada turbara a minha fronte calma:


Possuia-te! esperanca de minh'alma!
Eras minha, s6 minha, branca e nual... Revelac6es

AM....

Agudo como a ponta de uma lanca,


Cortante como folha de navalha,
0 teu olhar - alfanje d'oiro - talha
Meu coracao que de te amar nao cansa!

E, quando falas, tua voz, crianca,


Como urn forte chuveiro de metralha,
Despedaca-me o peito e me retalha,
Uma por uma, as fibras da esperan¢a!
128

Mas, quando sofres, meu amor, e choras,


Papidamente, como por encanto,
Enche-me todo uma invasao de auroras!...

E as agonias que me ferem tanto


Verdade mentirosa
Afogam-se na dor que tu deploras,
Asf ixiam-se em ondas de teu pranto!

A M. ..

Sonhei... Teu peito de ternura estava


Por mim vazio e por urn outro cheio;
Desesperado, af lito eu, que nao creio
Em sonhos, n'este sonho acreditava!

Depois, quando ansioso eu te narrava


0 sonho e o quanto ele pungir-me veio,
Disseste-me a sorrir, que no teu seio
Por mim somente o coracao pulsava.
132

E no entanto meu peito, que ditoso


Na dor que por ti sofre encontra gozo,
S6 ventura experimenta grande, ignota,

Quando vejo orvalhando-te o jasmlneo


Posto, soltas do cilio veludineo, Ave` Maria!
As vividas opalas, gota a gota!

AM....

a sonhos de ventura,
Sonhos diletos, rutilas quimeras!
Como urn bando de rolas na planura
Azul, voai! A flor das primaveras,

Aquela a quem eu amo, adoro e canto,


Por quem suspira a brisa;
A que e de minha vida o doce encanto,
Aquela por quem placido desliza,
134

Caudal, no leito d'oiro, r` !.ei dos rios,


lde levar uma lembranca minha,
Caricias, murmdrios,
Vagos cantos canoros de avezinha!

Dizei que ela e da vida a minha estrola, Estranho Desejo


Que noite me parece a luz do dia
Quando nao posso ver-Ihe a face bela,
Dizei-lhe-Ave, Maria!

A R...

Nos suspirados trenos da viola,


Quando junto de mim tu eras, filha,
Cantei a chama estonteante, a pilha
Voltaica de teus olhos de espanhola.

Dona da boca onde o perfume rola,


Flor sensual da sensual Sevilha,
Como eu recordo, 6 branca maravilha,
Os beijos que me deste por esmola!
136

Compus estrofes triunfais cantando


0 marmor i:o teu colo, ninho brando
Onde eu dormi o som que confortal

Partes! desejo minha pomba esquiva,


Que morras breve!... quem cantou-te vrva,
Hinos possui para sagrar-te morta!
Depois da partida

A M...

Partiste! Acerba dor percuciente


Pungiu-me o peito! A luminosa esteira
De teus passos procura, pegureira
De amor, minh'alma desoladamente!

Orfao do teu olhar bendito, ardente,


Turbada vejo minha vida inteira!
Oh! nunca sintas, nunca, forasteira
Sot rer igual ao que meu peito sente!
138

Ah! quando lentamente - adeus - a medo


murmuraste; senti, como ferido
De uma lamina forte de Toledo,

Paralisado, exanime, abatlclo, Dolor


Meu coracao no peito, mudo e quedo
Como urn cadaver n'uma cruz pendido!

Quando foste, levaste-me. partindo,


Alma e vida no adeus qua me dissestel
Eu sei o que choraste; nao soubeste
0 que meu cora¢ao ficou sentindo!

Os meus labios cru6is estavam rindo...


Dos teus olhos s6 lagrimas m® d®ste...
S6 eu posso dizer quo dor agreste
Me secou o pranto e fez-me estar sorrindol
140

Vi de teus olhos perolas a f io


Derramarem-se, e tu me contemplaste
A mim como urn rochedo mudo e frio!

Porem, se mais do que chorei, choraste,


Dor nao sentiste igual a que sentiu Fome e sede
0 que te amou como jamais amaste!

A. M...

Ha muito, minha flor de primavera,


Suspira e geme e desfalece e chora,
Porque d'ele distante estas agora,
0 que a vida contente por ti dora...

Meu coracao - indominada fera -


Que o teu sorriso dominou outr'ora,
Sem a luz resplendente d'essa aurora,
Na jaula de meu peito desespera!
142

Em trevas vivo; faltam-me os lampejos


Da luz do teu olhar, os meus caminhos
lluminando, 6 flor dos rneus desejos!
Estrofes

Pomba! regressa aos teus antigos ninhos... A. M...


Minha boca tern tome de teus beijos,
Meu coracao tern sede de carinhos!.„

Pedi humildemente as belas andorinhas,


Que atravessam de inverno as solid6es marinhas,
Urn perfume esquisito, uma fragrancia rara
Da espdmea vastidao esmeraldina e clara
Dos mares d'Oriente;
Mas, desgracadamente,
Nenhuma d'elas trouxe a desejada essencia!

Pedi, entao, a lua a branca transparencia


Das noites de Veneza,
Quando alguma duquesa
144

F`eclina molemerte a fronte cismadora E, para iluminar-te os h6rridos escolhos,


Nos flacidos coxins da gondola, e devora Teras suavemente a luz dos belos olhos
As paginas de Byron, Dante, Shakespeare D'esse sublime encanto,
E sonha, toda amor, urn fl6rido porvir! D'esse tesouro santo!"
E a lua, inexoravel, tal como as andorinhas, E mais: "teras tamb6m no sou rogaco, ninho
Foi surda as preces minhas! D'imaculado arminho,
A palpitar de amores
Duas virglneas flores!"

Pedi, depois, a'flor, ao sol fecundo e belo,


Que o meu imenso anelo, Eu nunca mais pedi aroma, luz, valor
De aroma e branda luz, n'um generoso e doce Senao a ti, amor
Mover de compaixao, completamente fosse Que o peito e o coracao me encheste de vontura,
Por eles satisfeito. Tornando o teu sorriso a minha noite escura
Vi mais este desejo e sc ho meu desfeito! N'um despontar gentil,
Puro, primaveril,
De aurora radiosa
No mss que ve ditoso o desabrochar da rosa
lv No mes em que nao ruge a tempestade, o raio,
No doce mos de Maio!

Bradaram-me as estrelas:
"Louco, se os sonhos tens e as esperancas ve-las
Queres realizadas,
Busca nas invejadas
Perfeic6es da mulher, que ha muito que te espera,
0 que nenhuma flor ou astro dar pudera!
Dolor

Nesse instante cruel da despedida


em que, abracados, deste-me chorosa
urn dulcoroso beijo e, languorosa,
tremula murmuraste - Adeus! sentida,

turbando para sempre a minha vida,


senti que no meu peito a dolorosa
saudade se cravava, impiedosa,
como urn punhal rasgando uma ferida!
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Ah! meu sonho de amor eu vi desfeito,


varou-me a dor o coracao no peito
nesse instante cruel da despedida.

como urn tlro certelro sobre urn ninho,


como urn golpe de mar sobre urn barquinho,
Aurea
como urn punhal rasgando uma feridal

Aquela que me perturba


E vai levando de rastros
As almas brancas dos astros,
As rudes almas da turba,

Nao tira dos olhos miopes,


De cor igual a do coiro
Beluzente dos etiopes,
As claras lunetas d'oiro.
|sO

Como que temendo a fuga


Quando aparece num baile,
Do cabelo rescendente,
Ha relampagos de assombros
Prende-o no escarnio de urn pente
Ao surgir, Iivre do xal6,
De casco de tartaruga!
A tentacao dos sous ombros!

Com que gra¢a pisam o asfalto


Nas mais elegantes rodas, E o macadam destas ruas
Nao ha quem se lhe avantaje, Os pes, no garbo das suas
Nos esplendores do traje Botinas de tacao alto!
E esquisitice das modas.

Morresse minh'alma louca


Livre dos terreos escolhos,
A dentadura formosa - Nas brasas d'aquela boca,
Branqueja, em fileira troncha, - No incendio d'aqueles olhos!
Como perolas na concha
Escarlate de uma rosa!

As vezes, se, por descuido,


Desprende as trancas, - o 6pio
Do aroma beijo num fluido
De essencias de heliotr6pio.
iND]CE

r^u
Duas Palavras . . .

Proliminares ''
AOS Poo`8s I,

I ''''^l''('n

Sul'anfl

So'oB do J„(I,,,

Plocuordos

Louco lntonlo

Hetaira

0Cao
0 Coracao da Morta
Noite Bendita

Miss Mary

Milagre

Fumadora

Deslumbramentos
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