Indisciplina Na Escola PDF
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ISBN: 978-989-8662-34-7
Depósito Legal n.º: 365 613/13
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do século xx, vêm explorando uma multiplicidade de dimensões que
se suspeita potenciarem os comportamentos desajustados dos alunos,
nomeadamente os que se manifestam em sala de aula. Referimo-nos
a dimensões de natureza política, social, relacional e individuais, que
se prendem, por exemplo, com o ambiente escolar, familiar e de pares,
com a maturação e o temperamento.
O estudo dessas dimensões tem contemplado – sendo certo que
nem sempre o faz – a ligação dos referidos comportamentos à apren-
dizagem, mais concretamente, à perturbação que podem causar a este
nível: os alunos indisciplinados, além de não se regerem por regras
básicas que lhes permitam estar de modo adequado em contextos de
ensino formal, dificilmente seguem e consolidam raciocínios que con-
duzem às aquisições académicas; por seu lado, os alunos com um com-
portamento adequado sofrem este mesmo tipo de efeitos, com a agra-
vante de poderem tornar-se vítimas directas dos primeiros.
A direcção heurística que se destaca é, pois, em geral, no sentido
da implicação da (in)disciplina dos alunos – a causa – na sua apren-
dizagem – a consequência. Apesar de incontestavelmente válida, esta
direcção deixa na penumbra a que lhe é complementar e que tem vali-
dade equivalente: a implicação da aprendizagem – a causa – na (in)dis-
ciplina – a consequência.
Isto significa que têm sido menos escrutinadas as medidas que
certas escolas adoptam e o correspondente esforço dos seus profes-
sores para levarem os alunos, desde o início da escolaridade, a conhe-
cerem, compreenderem e integrarem regras de conduta, a domina-
rem conteúdos académicos relevantes e a desenvolverem capacidades
cognitivas que lhes permitam encarar as aprendizagens, progressiva-
mente mais exigentes, como desafios.
Helena Damião
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Esse enviesamento da investigação sobre os comportamentos inde-
sejados dos alunos, centrada na indisciplina, descuidando a disciplina,
não pode deixar de conduzir a percepção dos diversos agentes educati-
vos (a indisciplina vista como problema que impede o sucesso na apren-
dizagem e não como decorrente do insucesso da aprendizagem) e, em
sequência, as medidas que prevêem para lhes fazer face (essencialmente
de carácter remediativo, negligenciando as de carácter preventivo, com
destaque para a organização do ensino que, de uma forma intelectual-
mente estimulante, seja capaz de garantir a aprendizagem e a disciplina).
Ora, é neste equilíbrio entre a aprendizagem e a disciplina, cuja
manutenção se afigura, em grande medida, da responsabilidade das
escolas e dos professores, que urge laborar, sob pena de os comporta-
mentos inadequados dos alunos evoluírem para formas várias de vio-
lência, com resultados académicos devastadores.
O livro que a Fundação Francisco Manuel dos Santos agora publica
na colecção «Questões-chave da Educação», dando a conhecer a um
público alargado o essencial de uma conferência com o mesmo título,
foca precisamente a problemática que acabámos de enunciar. Nos dois
textos que o concretizam, o referido equilíbrio é aflorado e trabalhado
com recurso a dados de pesquisa actual.
O texto «Prevenir a Violência Juvenil e o Bullying através de Pro-
gramas e de Modelos de Prevenção Escolar Sócio-Emocionais», da
lavra de Dorothy L. Espelage, professora da Universidade de Illinois,
incide nas manifestações agravadas da indisciplina, que podem assu-
mir diversas formas de violência, cujas implicações na aprendizagem
se fazem sentir desde cedo, tendo um efeito cumulativo. A autora des-
taca a necessidade de se recorrer a programas que envolvam famí-
lias, comunidades e escolas e se centrem no envolvimento académico
e no desenvolvimento de competências de teor social e emocional,
Prefácio
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capazes de beneficiar percepções, expectativas e desempenhos traduzi-
dos na empatia, na comunicação, na decisão, na resolução de problemas,
no esforço. Em sequência, apresenta e analisa vários programas dessa
índole, cujo índice de eficácia se tem revelado muito satisfatório, tanto
na prevenção como na redução dessas formas de violência, benefi-
ciando também as aprendizagens académicas dos alunos. Espelage
alerta, ainda, para um dado de suma importância, recorrente, aliás, em
estudos dignos de crédito: os efeitos da intervenção especializada são
tanto mais positivos, quanto mais precoce essa intervenção se fizer;
à medida que a adolescência avança, a sua eficácia dilui-se.
João A. Lopes, professor de Psicologia da Universidade do Minho,
no texto a que deu o título «A indisciplina em sala de aula», depois de
expor uma síntese muito didáctica da investigação mais relevante sobre
o assunto, discute a perspectiva que enunciámos, sem, no entanto, a
considerar exclusiva do problema:
Helena Damião
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Finalmente, salienta que (1) «o ensino deve ser o melhor possível,
o que limitará o número de insucessos e (2) quando surgem as primeiras
dificuldades, a intervenção tem de ser imediata. Daqui resultará uma dimi-
nuição a prazo dos casos de insucesso e, por consequência, do número de
alunos potencialmente perturbadores do ambiente de sala de aula».
Estas conclusões, de grande razoabilidade, requerem um redi-
reccionamento das representações do papel da escola e, muito parti-
cularmente, da acção do professor, começando pela afirmação do seu
inalienável dever de ensinar, tal como, por exemplo, Savater (1997) e
Quintana Cabanas (2005) fazem notar.
Prefácio
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Bibliografia
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Helena Damião
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PREVENIR A
VIOLÊNCIA JUVENIL
E O BULLYING
ATRAVÉS DE
PROGRAMAS
E DE MODELOS
DE PREVENÇÃO
ESCOLAR
SÓCIO-EMOCIONAIS
Dorothy L. Espelage
PREVENIR A VIOLÊNCIA
JUVENIL E O BULLYING ATRAVÉS
DE PROGRAMAS E DE MODELOS
DE PREVENÇÃO ESCOLAR
SÓCIO-EMOCIONAIS
Dorothy L. Espelage
Resumo
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(por exemplo, empatia, capacidade de perceber diferentes perspectivas
e pontos de vista, resolução de problemas, competências de comunica-
ção), que têm sido associados à violência juvenil. Neste capítulo, serão
destacados alguns programas, solidamente baseados em evidências e
investigação, como é o caso do Steps to Respect e do Second Step (Com-
mittee for Children1, 2001, 2008), do PATHS (Kusche & Greenberg,
1994), e do KiVa (Salmivalli et al., 2009a). A Intervenção e Apoio do
Comportamento Positivo (PBIS; Sugai & Horner, 2002) é um exemplo
de como uma abordagem que se centra em competências de aprendi-
zagem social e emocional pode complementar e expandir o objectivo
das escolas em promover normas para um comportamento positivo.
Programas e Modelos
Dorothy L. Espelage
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(Centers for Disease Control3, 2010). A violência juvenil pode manifes-
tar-se através de agressão verbal, de agressão física, de ameaças e de
comportamentos intimidadores que geralmente acarretam consequên-
cias académicas e psicológicas adversas, a curto ou a longo prazo, quer
para os agressores quer para as vítimas. O bullying é um subtipo de
comportamento agressivo que ocorre entre estudantes com poderes
desiguais e que se vai repetindo (Espelage, 2012).
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consistentemente, o tempo de aula não só para discutir o fenómeno
do bullying e aperfeiçoar comportamentos disciplinares, mas também
para promover trabalho de grupo e de cooperação entre os alunos. Nes-
tas abordagens são também criadas oportunidades para que os alunos
aprendam e ponham em prática competências sociais e emocionais
que os ajudam a gerir conflitos e a prevenir a agressão (por exemplo,
Ttofi & Farrington, 2011).
Os programas escolares de prevenção da violência que se centram
na aprendizagem de competências sociais e emocionais, que lidam
com questões de conflito interpessoal e que ensinam estratégias de
gestão emocional, têm sido comprovadamente um grande êxito na
redução da violência juvenil e dos comportamentos abusivos na sala de
aula (Wilson & Lipsey, 2007). Muitos destes programas de intervenção
ao nível sócio-emocional e sociocognitivo centram-se em factores de
risco e em factores promotores que são continuadamente associados à
agressividade, ao bullying e à violência, por estudos transversais e longi-
tudinais (Basile et al., 2009; Espelage et al., 2011; Espelage et al., 2003).
Alguns destes factores são, por exemplo, a revolta, a empatia, a preo-
cupação empática, o respeito pela diversidade, atitudes que incitam à
violência, gestão do stress, intenção de intervir em auxílio dos outros,
competências comunicativas e capacidade de resolução de problemas.
Em geral, a aprendizagem de competências sociais e emocionais
(SEL4) implica «o desenvolvimento sistemático de um conjunto base de
competências sociais e emocionais que ajuda as crianças a lidar mais
eficazmente com os desafios do dia-a-dia e a prosperar quer no con-
texto académico, quer na vida real» (Ragozzino & Utne O’Brien, 2009).
Os programas SEL, baseados em investigação, podem fornecer às
Dorothy L. Espelage
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escolas, aos programas extracurriculares e aos centros comunitários de
juventude estratégias para a aquisição de competências e para a promo-
ção de comportamentos positivos, individuais ou de grupo, que podem
contribuir para a prevenção de práticas de bullying. Embora neste capí-
tulo se dê ênfase a programas SEL aplicados em escolas, estes progra-
mas ou modelos também estão a ser desenvolvidos e postos em prática
em contextos extra-escolares (informações mais pormenorizadas em:
www.casel.org).
A perspectiva da aprendizagem de competências sociais e emo-
cionais surgiu para enfrentar vários problemas sentidos nas escolas.
A aprendizagem de competências sociais e emocionais como para-
digma resultou da influência de vários movimentos centrados na resi-
liência e no ensino de competências sociais e emocionais a crianças e
adolescentes (Elias et al., 1997). Os programas SEL utilizam o ensino
de competências sociais para lidar com problemas comportamentais,
académicos, disciplinares e de segurança, ajudando os jovens a tor-
narem-se mais autoconscientes, a gerir as suas emoções e a adquirir
competências sociais como empatia, capacidade de perceber diferentes
perspectivas e pontos de vista, respeito pela diversidade, capacidade
para criar amizades e capacidade para tomar decisões acertadas (Zins
et al., 2004). De acordo com um estudo realizado recentemente a mais
de 213 programas SEL, concluiu-se que uma escola que aplique com
êxito um currículo de qualidade de aprendizagem de competências
sócio-emocionais (SEL) pode esperar melhorias comportamentais por
parte dos alunos bem como um aumento de 11 percentis nos resulta-
dos dos testes (Durlak et al., 2011). As escolas optam por pôr em prá-
tica estes programas nos seus currículos por reconhecerem os ganhos
que representam no rendimento escolar e dos comportamentos pró-
-sociais. Os estudantes que desenvolvem actividades de aprendizagem
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sócio-emocional sentem-se mais seguros e mais ligados à escola e à
vida académica; e os programas SEL ajudam a criar hábitos de trabalho
– além de trabalharem as competências sociais – e fortalecem as rela-
ções entre alunos e professores (Zins et al., 2004).
Não é de admirar que as abordagens à prevenção, dentro do
paradigma SEL, devolvam resultados positivos, reduzindo significati-
vamente os comportamentos problemáticos, o que se deve ao longo
historial de desenvolvimento destes programas. A aprendizagem de
competências sócio-emocionais é um paradigma introduzido em 1994,
a partir de um encontro realizado entre investigadores, professores e
defensores dos direitos das crianças que estavam preocupados com o
facto de a prevenção e de a promoção da saúde não estarem a produ-
zir quaisquer efeitos até então (Elias et al., 1997). Estes profissionais
reuniram esforços no sentido de encontrar uma forma de reforçar o
desenvolvimento positivo da juventude, de promover a aquisição de
competências sociais e de inteligência emocional, para desenvolver
uma educação eficaz sobre as drogas, para prevenir a violência, para
promover a saúde e a educação do carácter, para os alunos aprenderem
enquanto prestam serviço à comunidade, para promover a educação
cívica, reformas escolares, e parcerias entre escola, família e comuni-
dade. Estes profissionais acreditaram que – ao contrário dos vários pro-
gramas de prevenção que apenas abordavam um problema específico
– uma programação orientada para a aprendizagem de competências
sociais e emocionais poderia lidar com as causas subjacentes aos pro-
blemas comportamentais, ao mesmo tempo que estimularia o sucesso
escolar. Assim, as abordagens e os programas SEL baseiam-se em
várias teorias, já bem estabelecidas, que incluem teorias de inteligên-
cia emocional e de promoção de competências sociais e emocionais, o
modelo de desenvolvimento social, e o tratamento de dados sociais ou
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modelos de autogestão. Além destas, o modelo SEL também se baseia
em teorias de mudança do comportamento e em teorias da aprendiza-
gem como o modelo de crenças em saúde, a teoria da acção racional, a
teoria dos problemas comportamentais, e a teoria social cognitiva (por
exemplo, Greenberg et al., 2003; Hawkins et al., 2004).
O Projecto de Colaboração para Aprendizagem Académica, Social
e Emocional5 (CASEL) também nasceu deste encontro com o propósito
de aplicar programas SEL de alta qualidade, baseados em evidências,
desde o ensino pré-escolar até ao ensino secundário. (Collaborative
for Academic, Social, & Emotional Learning, 2005; www.casel.org). Os
programas escolares SEL, criados com vista à prevenção da violência
escolar, como, por exemplo, o bullying, assentam na crença de que as
competências académicas estão intrinsecamente relacionadas com a
capacidade que as crianças têm de gerir e de controlar as suas emoções,
bem como de comunicar e de resolver dificuldades e conflitos inter-
pessoais (Durlak et al., 2011). O paradigma SEL contempla cinco áreas
de competências que estão interligadas: o autoconhecimento, a cons-
ciência social, a autogestão e organização, a resolução de problemas de
forma responsável e a gestão de relacionamentos. Em cada uma destas
áreas existem competências específicas – fundamentadas pela inves-
tigação e pela experiência prática tal como requer um funcionamento
sócio-emocional que se quer eficaz – nomeadamente, competências de
reconhecimento emocional, de gestão do stress, de empatia, de resolu-
ção de problemas e de tomada de decisões (Elias et al., 1997). A apren-
dizagem auto-regulada também é abordada, de forma directa ou indi-
recta, nestes programas. Conforme os alunos se tornam capazes de
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controlar os seus sentimentos, pensamentos e atitudes, sobretudo
quando expostos a maiores exigências emocionais (i.e., de complexi-
dade cognitiva), o seu sucesso escolar aumenta. Além disso, os exer-
cícios e as oportunidades para praticar estas competências diferem a
nível de complexidade cognitiva e emocional ao longo do programa,
para garantir que os alunos as adquirem de forma sustentável.
Em suma, as abordagens à prevenção de acordo com o modelo de
aprendizagem sócio-emocional são promissoras no que diz respeito à
redução da agressividade e à promoção de condutas pró-sociais (Brown
et al., 2011; Espelage et al., 2013; Frey et al., 2005). Este êxito deve-se, em
grande parte, ao facto de os programas escolares SEL se fundamenta-
rem, parcialmente, no paradigma da ciência preventiva. Em primeiro
lugar, estes programas surgem a partir da literatura científica sobre
as bases etiológicas da agressão, do bullying, da violência escolar e de
outros comportamentos problemáticos entre crianças e adolescentes
(Merrell, 2010). Em segundo lugar, os factores de risco (por exemplo,
revolta, controlo de impulsividade) e os factores preventivos ou promo-
tores da disciplina (por exemplo, empatia, competências comunicati-
vas) são identificados a partir da literatura etiológica e são abordados
através do ensino directo de competências e da criação de oportunida-
des para serem postas em prática em diferentes contextos. Em terceiro
lugar, relativamente à intervenção a favor das vítimas por parte dos
espectadores6, estes programas incluem discussões e conteúdos acerca
das dificuldades e desafios (por exemplo, o medo de se tornarem alvos
ou de perder amigos) encontrados pelos jovens quando tentam intervir
em defesa de vítimas de agressão. Vários ensaios clínicos aleatórios
Dorothy L. Espelage
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(RCT7) cumpriram os critérios rigorosos de avaliação dos efeitos destas
intervenções (Brown et al., 2011; Espelage et al., 2013), o que também é
característico da ciência preventiva. Os ensaios clínicos aleatórios rela-
tivos aos programas SEL consideraram a implementação um dos fac-
tores mais significativos na redução de comportamentos agressivos e
no aumento de comportamentos pró-sociais. Mas, consoante surgem
avanços nesta área, é essencial que se centrem, de forma consciente, os
aspectos da sua aplicação, disseminação e sustentabilidade, para que
se possa compreender na íntegra o impacto que a ciência preventiva
tem nos programas SEL. Uma vez que as escolas são cada vez mais
pressionadas para abordar, em tempo de aula, questões psicossociais
ao mesmo tempo que estimulam a motivação dos alunos, os progra-
mas SEL – orientados para a prevenção da vitimização e para questões
associadas (como, por exemplo, a rejeição social) – deveriam ser avalia-
dos com rigor para constituírem fortes argumentos perante professo-
res e dirigentes escolares enquanto recurso capaz de trazer benefícios
visíveis. De seguida serão realçados vários programas escolares que já
deram provas de grande eficácia. Estes são apenas alguns exemplos de
programas e de tipos de abordagem que estão disponíveis para escolas
e para comunidades (mais informação sobre a programação SEL em
www.casel.org).
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si (Committee for Children, 2001). O programa Steps to Respect pro-
move uma abordagem integral à prevenção do bullying, desde o ensino
primário até ao ensino secundário, considerando os vários factores em
quatro níveis distintos: a nível individual (do aluno), a nível dos alunos
enquanto grupo (grupo de pares), a nível dos funcionários da escola e
a nível familiar. Os criadores deste programa acreditam que intervir
em todos estes níveis é a forma mais eficaz de reduzir as práticas de
bullying nas escolas. Alguns dados empíricos demonstraram ter havido
uma diminuição de bullying nos recintos das escolas, da aceitação de
comportamentos de bullying e de atitudes argumentativas. Estes dados
revelaram também um aumento de interacções aprazíveis e de per-
cepção positiva da responsividade dos adultos, por comparação a esco-
las de controlo (Frey et al., 2005). Mais recentemente, mostraram tam-
bém uma redução nas agressões (as que podem ser observadas) e no
incentivo ao bullying por parte de espectadores, bem como índices mais
elevados de competências sociais de grupo por parte dos professores.
O êxito da aplicação do programa Steps to Respect depende muito de
adultos que possam dar formação específica com base num currículo,
e que dêem ênfase a essas aulas ao longo de todo o ano lectivo. O pro-
grama de prevenção Steps to Respect é particularmente reconhecido
pela sustentação consolidada de dados empíricos.
As principais estratégias para a prevenção do bullying abordam fac-
tores de risco numa perspectiva sistémica que procura alcançar o maior
número possível de alunos. Saber que as principais medidas de inter-
venção têm potencial para alcançar aproximadamente 80 por cento dos
alunos de uma escola torna-se um factor de encorajamento para que
dirigentes escolares e profissionais do ensino invistam tempo e envi-
dem esforços para uma aplicação sistémica destas medidas. Por exem-
plo, o primeiro componente do programa Steps to Respect é a formação
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de pessoal, que inclui «todos os adultos» que trabalhem num determi-
nado edifício escolar, e que enfatiza que as sessões devem incluir os
condutores de autocarros escolares, orientadores, recepcionistas, pes-
soal de enfermagem, voluntários, pessoal administrativo, professores,
assistentes e quaisquer adultos que possam estar envolvidos nas activi-
dades diárias da escola. As sessões de formação baseiam-se num currí-
culo específico que informa sobre o programa Steps to Respect e sobre
o bullying e que forma as pessoas para receberem queixas de bullying
por parte de alunos. O pessoal administrativo, os professores ou os
orientadores que trabalhem directamente com alunos que sejam víti-
mas de bullying ou que estão a praticá-lo recebem formação adicional.
O currículo do Steps to Respect inclui aulas que se destinam a
melhorar as competências sócio-emocionais dos alunos e a promover
valores sociais positivos. O programa centra-se, especificamente, em
três competências gerais: primeiro, os alunos desenvolvem o senti-
mento de empatia e aprendem a ter a capacidade de perceber diferen-
tes perspectivas e pontos de vista, tal como a gerir as suas emoções. Em
segundo lugar, as competências académicas também são estimuladas
através da introdução de temas sobre a amizade ou o bullying nas uni-
dades de literatura, como a expressão oral, exercícios de escrita, compo-
sição e raciocínio analítico. E, em terceiro lugar, o currículo trabalha os
valores sociais dos alunos encorajando o sentido de justiça, procurando
incutir a vontade de procurar amizades que sejam gratificantes. Tal
como demonstrado por Fery et al. (2005) houve uma redução, em 25
por cento, no número de incidentes de bullying nos recintos escolares,
comparativamente a grupos de controlo, e uma redução no número de
espectadores que encorajam o bullying. Além disso, os efeitos do Steps
to Respect tornaram-se ainda mais evidentes entre os estudantes que
mais faziam bullying, observável, antes da aplicação do programa. Os
25
resultados de outro estudo indicaram haver menos agressão, observá-
vel, a todas as crianças que eram vitimizadas antes e um comporta-
mento menos destrutivo por parte dos espectadores que costumavam
incentivar o bullying (Hirschstein et al., 2007). Numa avaliação mais
recente do Steps to Respect, um estudo clínico aleatório, realizado em
33 escolas na Califórnia, indicou que a participação num programa de
prevenção de bullying resultava na melhoria das competências sociais,
na redução dos comportamentos agressivos e na redução do número
de espectadores que assistem a incidentes de bullying, entre crianças
do 3.º ao 6.º ano (Brown et al., 2011).
Dorothy L. Espelage
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para o ensino secundário no Outono de 2013. Os resultados iniciais
indicaram que os alunos deste grupo de intervenção, por comparação
a grupos de controlo, tinham menos 42 por cento de probabilidade de
comunicar queixas de agressões físicas após o primeiro ano de aplica-
ção do programa, com um plano de 15 semanas, no currículo do 6.º ano
(Espelage et al., 2013).
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KiVa – Programa Nacional Anti-bullying na Finlândia
Dorothy L. Espelage
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abrangem a componente académica, comportamental e social (Walker
& Shinn, 2002). Nesta abordagem, em três níveis, as estratégias de pre-
venção de primeiro nível (por vezes com base em programas univer-
sais, no ensino de competências e em competências de gestão de stress
como os programas SEL) abrangem 80 por cento dos alunos perten-
centes a uma população escolar que não apresenta graves problemas
comportamentais. As estratégias de intervenção de segundo nível, tais
como programas de orientação, centram-se em cerca de 5 a 15 por cento
dos alunos de uma escola em que haja predisposição para problemas
comportamentais. As estratégias de intervenção de terceiro nível (por
exemplo, serviços associados) são dirigidas a cerca de 1 a 7 por cento,
numa população escolar que apresente problemas de comportamento
graves e muito graves.
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de Comportamento Positivo para as Escolas (SWPBS15) e baseia-se em
princípios de análise comportamental e no modelo de prevenção e
apoio ao comportamento positivo (Lewis & Sugai, 1999; Sugai et al.,
2000; Sugai & Horner, 2002).
O PBIS oferece três níveis, ou escalões, de intervenção, o primá-
rio, o secundário e o terciário (Sugai & Horner, 2002). Um princípio
básico da abordagem do PIBS é identificar em qual dos três escalões se
inserem os alunos, com base no risco de apresentar problemas de com-
portamento. Os modelos de intervenção são idealizados especialmente
para cada um destes escalões tendo como objectivo a redução do risco
de insucesso escolar ou de insucesso social. As principais estratégias
de prevenção incluem práticas educativas eficazes, currículos suporta-
dos por evidências e instruções explícitas e directas sobre as condutas
adequadas a ter na escola. Outras estratégias destinam-se a criar con-
dições para reforçar a boa conduta comportamental, em que os alu-
nos, ao primeiro sinal de comportamento impróprio, são corrigidos
por todos adultos na escola de forma consistente.
Para que a principal componente de prevenção desta abordagem
seja bem sucedida, os professores e funcionários têm de definir muito
bem as normas de comportamento (por exemplo, respeito, responsabi-
lidade e empenho) e facultar exemplos ilustrativos nos principais espa-
ços da escola (por exemplo, salas de aula, corredores, cantina e recreios;
Sugai & Horner, 2002). Idealmente estas normas deveriam ser criadas
em parceria com os pais, para que sejam culturalmente bem aceites e
perfeitamente compreendidas por todos os intervenientes. Este con-
junto de normas é posteriormente transmitido a todos os alunos e fun-
cionários, dando a todos os alunos a possibilidade de as praticarem e
Dorothy L. Espelage
30
de serem recompensados quando vão ao encontro destas expectativas.
Quando um aluno ou aluna demonstrar ter respeitado determinada
norma de conduta, um dos adultos irá, intermitentemente, recompen-
sar o aluno ou aluna entregando-lhe um cartão de apoio ao comporta-
mento positivo e elogiar o aluno(a) pelo seu bom comportamento. Os
alunos podem depositar os cartões PBS que recebem em caixas estrate-
gicamente colocadas pela escola (por exemplo, salas de aula, biblioteca,
corredores) e com estes cartões poderão ter acesso a outras actividades
escolares que sejam estimulantes para eles (Sugai & Horner, 2002).
Além destes componentes mais pró-activos, as escolas também
têm de ter planos bem definidos para dar resposta às situações em
que os alunos violam as normas de comportamento. Mais concreta-
mente, os docentes e os funcionários têm de definir e de pôr em prática
penalizações para os alunos que cometam infracções, de maior ou de
menor grau de gravidade. As penalizações que forem definidas devem
ser razoáveis, exequíveis e proporcionais. Os professores devem aplicar
os castigos – que devem ser adequados à magnitude da infracção – de
forma natural, sem por isso ter de interromper as actividades na sala de
aula. As infracções de maior e de menor gravidade devem ser bem deli-
neadas e operacionalmente definidas, para que todas as partes envolvi-
das saibam exactamente quais os tipos de infracção que existem e qual a
sua gravidade. Depois disso, os professores e funcionários da escola têm
de explicar de forma clara quais os vários procedimentos que serão apli-
cados para cada uma das infracções. A chave para o êxito deste modelo
é a consistência – é garantir que as consequências dos bons e dos maus
actos sejam aplicadas uniformemente (Sugai & Horner, 2002).
Várias avaliações do paradigma PBIS (Intervenção e Apoio do Com-
portamento Positivo) em escolas primárias demonstraram que uma
correcta aplicação deste modelo resulta numa redução significativa no
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número de processos disciplinares e de suspensões (Bradshaw et al.,
2010; Horner et al., 2009), bem como na frequência de relatos dos pro-
fessores acerca de problemas de comportamento, de bullying, de amea-
ças de maus tratos e de discriminação entre alunos na sala de aula.
Conclusões
Dorothy L. Espelage
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foram desenvolvidos para crianças, pré-adolescentes e adolescentes a
adolescentes mais velhos, sem que primeiro se pense mais profunda-
mente sobre a forma como as mensagens de prevenção de violência
são entendidas por pré-adultos. Além de se dever procurar perceber a
viabilidade da aplicação destes programas entre vários grupos etários,
é ainda mais importante que se perceba como executá-los eficazmente
em diferentes contextos e culturas. Por fim, os programas só poderão
ser eficazes caso sejam postos em prática de forma credível. É neces-
sário que se realize mais investigação para se procurar perceber qual
a melhor forma de promover uma aplicação íntegra e sustentável des-
tes programas.
33
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Dorothy L. Espelage é professora na Universidade de Illinois,
Champaign e tem feito investigação na área do bullying,
provocações homofóbicas, assédio sexual e violência no
namoro desde há duas décadas. Publicou mais de 120 obras
de investigação. É investigadora principal em dois programas
financiados pelo CDC para prevenir a violência em 50 escolas
básicas. A National Science Fundation financia o seu trabalho
para desenvolver métodos de observação para avaliar o bullying
entre adolescentes. O estudo longitudinal e da rede social
associado a este comportamento é financiado pelo Instituto
Nacional de Justiça (NIJ) e pelo Instituto Nacional de Saúde
(NIH).
Dorothy L. Espelage
38
A INDISCIPLINA
EM SALA DE AULA
João A. Lopes
A INDISCIPLINA EM SALA DE AULA
João A. Lopes
Introdução
41
Enisa, 2009; Lau et al., 2006; Lewis, Romi, Qui, & Katz, 2005; Mulla-
rkey, Recchia, Lee, Shin, & Lee, 2005; Pšunder, 2005). Por outro lado, a
cultura parece exercer uma influência significativa na forma como são
percebidas e concebidas as relações entre adultos e crianças e, no caso
das escolas, entre alunos e professores (Biggs, 1998; Hofstede, 2001).
Genericamente a indisciplina pode ser definida como o comporta-
mento ou comportamentos que colidem com o vector primário da aula,
que é o ensino, e que o professor tenta usualmente corrigir através das
suas acções (Doyle, 1985, 1986). A indisciplina constitui pois uma que-
bra das acções de gestão que o professor implementou previamente e
que tinham como objectivo permitir a aprendizagem dos alunos. Estas
acções prévias constituem processos de organização e gestão de sala de
aula e dizem respeito à ordem na sala de aula (normas, procedimen-
tos, etc.); a disciplina, por seu turno, refere-se às acções que o professor
desencadeia no sentido de pôr termo à indisciplina e de repor a ordem.
Note-se, contudo, que, embora os alunos sejam de longe a mais fre-
quente fonte de indisciplina, não são a única, podendo esta ter origem
no próprio professor ou em elementos estranhos à aula (e.g., funcioná-
rios, administradores) (Doyle, 1980; Good & Brophy, 2000).
A percepção de que a indisciplina nas escolas portuguesas é extre-
mamente grave ou até incontrolável pode ser exagerada, o que se deve
em parte ao efeito de amplificação dos órgãos de comunicação social,
bem como à atracção desta por acontecimentos mórbidos e raros.
Ainda que seja inegável o enorme desgaste a que estão sujeitos muitos
professores, e em particular os do 2.º e do 3.º ciclos do Ensino Básico, o
certo é que os actos graves de indisciplina são, no seu conjunto, pouco
numerosos (Lopes, 2009; Lopes e Santos, 2008). Em Portugal, são
muito raros os casos de agressões com armas, sendo praticamente
inexistentes os casos de agressões perpetradas com armas de fogo.
João A. Lopes
42
Neste aspecto particular, a posição do nosso país é extremamente
favorável quando comparada com a maior parte dos países europeus
e sobretudo com os Estados Unidos, país onde morrem anualmente
mais de 5000 crianças e/ou adolescentes em consequência deste tipo
de agressões, ainda que uma parte significativa destas ofensas ocorra
fora das escolas (Gottfredson, 2001).
Se Portugal é um país onde raramente se verificam actos de
grande gravidade do ponto de vista disciplinar, nas salas de aula e até
mesmo nas escolas, por que razão continuam a existir a este respeito
tantas queixas dos agentes educativos, em particular de funcionários
e professores (independentemente do papel amplificador dos meios
de comunicação social)? Em primeiro lugar, porque, se a preocupa-
ção com alguns comportamentos de elevado impacto (e.g., homicídios,
ataques à mão armada, ofensas físicas variadas) é muito baixa, o des-
gaste provocado pelo elevado número de actos de indisciplina de baixo
impacto (e.g., falar para o lado, desobedecer, não colaborar nas tarefas,
gozar com o professor) é muito significativo e provoca uma sensação
de esgotamento num número não desprezável de professores (Brou-
wers & Tomic, 2000; Egyed & Short, 2006; Silva, 2001). Em segundo
lugar, porque muitos professores parecem não acreditar na possibili-
dade de controlar tais comportamentos ou até já os encararão como
normais (ainda que indesejáveis). Em terceiro lugar, porque parece
haver num grande número de profissionais (professores e funcioná-
rios) e também de alunos, a percepção de que a indisciplina, seja ou
não grave, tende a não ser sancionada (Lopes, 1998). Isto poderá ser
verdade mesmo no caso de agressões verbais ou físicas. Em quarto
lugar, a burocratização dos processos mais graves de indisciplina (fun-
damentalmente agressões) pode provocar em muitos agentes educati-
vos a percepção de protecção do agressor e de desprotecção da vítima.
43
Tendo em conta as condicionantes políticas, culturais e sociais no
que diz respeito à indisciplina escolar, é relativamente consensual que
a disciplina na sala de aula promove a aprendizagem e a responsabi-
lidade dos alunos e que a disrupção, pelo contrário, faz perder tempo
e qualidade de instrução (Chiu & Chow, 2011), faz aumentar o stress e
potencia a ansiedade de professores e alunos (Infantino & Little, 2005;
Lewis, 2001; Pšunder, 2005). Neste artigo serão abordadas algumas
questões relevantes para a compreensão do fenómeno da indisciplina
e, por consequência, para a sua contenção.
João A. Lopes
44
nos países CCH do que nos países em que o individualismo, a asserti-
vidade pessoal e a afirmação individual são valorizados.
Os investigadores e o público ocidental tendem a percepcionar
as salas de aula e as escolas destas sociedades como monótonas, com
um ensino assente na memorização, com um clima altamente autori-
tário, com tarefas menos desafiadoras e de nível cognitivo mais baixo
e com um ensino orientado para preparar os alunos para os exames.
Contudo, tal como salientam Biggs e outros autores (e.g., Stigler e
Hiebert, 1999), os investigadores ocidentais têm dificuldade em per-
ceber o que os alunos dessas sociedades fazem nas salas de aula e têm
ainda maior dificuldade em perceber o que os professores fazem. Ste-
venson e Stigler (1992) referem mesmo que o que viram em salas de
aula na China, Taiwan e Japão se aproxima daquilo que no Ocidente
é conhecido como ensino construtivista, com questões estimulantes,
tempo para reflexão, técnicas adequadas a alunos com necessidades
diversas, lições cuidadosa e coerentemente desenhadas e utilização
reflexiva do erro.
Stigler e Herbert (1999), comparando a forma como professores
japoneses, alemães e americanos organizam o ensino, concluem que
as diferenças intragrupais são muito menores do que as diferenças
intergrupais, o que significa que, apesar de haver professores
competentes e incompetentes em qualquer destes grupos, há tendência
para professores da mesma cultura reproduzirem um modelo idêntico
de actuação. Stiegler e Herbert consideram que quer aqueles que pen-
sam que a capacidade de ensinar é inata, quer aqueles que pensam que
se pode aprender a ensinar através de bem delineados programas de
formação, captam apenas uma parcela da realidade. Para estes autores,
o ensino constitui uma actividade cultural que está mais próxima de
outras actividades culturais como um jantar familiar, por exemplo, do
45
que da aprendizagem de competências na área da informática. Guiões
culturais deste tipo (um jantar familiar ou ensino de alunos em sala
de aula) são fundamentalmente aprendidos por modelagem; nem são
inatos nem são aprendidos por instrução directa. E é precisamente isto
que justificará a menor variabilidade intragrupal do estilo de ensino
em professores de culturas diversas. Convém, contudo, distinguir no
ensino a parte que se denomina didáctica da parte que diz respeito aos
conteúdos a ensinar, já que apenas a primeira se inscreve na noção de
guião cultural, aprendido por modelagem, tendo os segundos de ser
aprendidos por instrução directa.
Se a hipótese do ensino como actividade cultural for verdadeira, ela
não se aplicará apenas aos professores mas também aos alunos, fun-
cionários, administradores, etc. Isto faz supor que todos esses agentes
cumprirão uma espécie de profecia auto-realizada (Jussim, 1986), com-
portando-se nas salas de aula de acordo com o que deles é esperado.
Assim, enquanto um aluno de um país CCH será com maior probabi-
lidade mais conformista relativamente à ordem imposta pelo professor
e pela escola, um aluno ocidental poderá desafiar com mais facilidade
a autoridade do professor, já que é isso que ele está habituado a ver,
podendo mesmo esse desafio ser recompensado por uma certa admi-
ração do grupo de pares.
A noção de ensino como actividade cultural tem consequências
significativas para as reformas de ensino que visam melhorar a forma
de os professores gerirem as suas aulas. Segundo Stigler e Herbert
(1999), a profissão de professor não dispõe de conhecimentos suficien-
tes acerca do que é o ensino eficaz nem os professores têm meios de
partilha do seu conhecimento. Trabalham isoladamente e, se as coi-
sas não correm bem, tendem a omitir a situação. Os professores que
têm maior número de problemas de comportamento nas suas salas de
João A. Lopes
46
aula podem mesmo experienciar baixa auto-estima, depressão, senti-
mentos significativos de isolamento e burnout (Hultell, Melin, & Gus-
tavsson, 2013; Pietarinen, Pyhältö, Soini, & Salmela-Aro, 2013; Santoro,
2013; Skaalvik & Skaalvik, 2010), além da sensação de que são vítimas
de alunos pouco cooperantes, de um sistema que pouco se preocupa
com a sua situação, etc. Em larga medida esta sensação de isolamento
poderá decorrer do facto real de, em muitos países ocidentais, Portugal
incluído, o indivíduo ser sobrevalorizado em relação ao grupo, com as
vantagens e desvantagens inerentes.
Chiu e Chow (2011) exemplificam as possíveis implicações da cul-
tura no ensino, com base nas seguintes quatro questões sociais defini-
das por Hofstede (2003): (a) indução de comportamentos individuais
responsáveis de
forma a manter o tecido social vivo, (b) priorização
dos interesses dos indivíduos versus interesses dos grupos, (c) papel de
homens e mulheres, (d) atitudes perante o risco e a mudança.
O encorajamento da responsabilidade social pode ser induzido
pela inculcação da obediência à autoridade e pela hierarquização social
(Chiu e Chow referem o exemplo da Rússia) ou pela valorização de rela-
ções igualitárias entre pessoas (e.g., Suécia). Há, por outro lado, socie-
dades essencialmente colectivistas (e.g., Hong Kong) que valorizam
os interesses do grupo e outras que enfatizam predominantemente o
indivíduo (e.g., Nova Zelândia). Há também sociedades com papéis de
género rigidificadas (e.g., Áustria) e outras liberais (e.g., Dinamarca) tal
como há sociedades em que se procura evitar o risco e a incerteza (e.g.,
Portugal) e outras que convivem bem com estes factores (e.g., Irlanda).
A forma como as sociedades encaram estas questões pode influen-
ciar mais fortemente o comportamento dos membros de uma socie-
dade do que a religião, o local de trabalho ou a personalidade indivi-
dual (Hofstede, Neuijen, Ohayv, & Sanders, 1990). O mesmo poderá
47
suceder, por conseguinte, com as escolas e com o comportamento dos
seus membros. Como já foi referido, nas sociedades de pendor colec-
tivista a preocupação individual com o “perder a face” é muito impor-
tante, pelo que os professores tenderão a utilizar esta pressão sobre os
alunos para que estes se comportem de forma a não serem confronta-
dos negativamente com o grupo.
Curiosamente, no estudo de Chiu e Chow (2011), que se baseia nos
resultados do PISA (OECD, 2002) os valores culturais relacionados com
a hierarquização social, com o colectivismo e com o evitamento do risco
não se relacionam com a disciplina reportada em sala de aula. Esta rela-
ção só é clara no que diz respeito à igualdade de género, sendo que, nas
sociedades menos igualitárias, os professores e escolas participantes
reportam mais disciplina. Deve notar-se que os resultados dizem res-
peito a disciplina reportada por professores e escolas e não a disciplina
efectivamente observada. Pode, por isso, haver algum desfasamento
entre o que é percebido e o que, de facto, se verifica. Contudo, atendendo
a que foram analisadas 150 escolas em cada país (num total de 41 países)
é provável que o desfasamento, a existir, seja pouco relevante.
Independentemente de alguma dificuldade na interpretação dos
dados, parece haver uma tendência na investigação para considerar
que as salas de aula de diversas sociedades do Extremo Oriente são
mais estruturadas e ordeiras que a generalidade das salas de aula das
sociedades ocidentais. Além disso, apresentam resultados académicos
superiores, apesar do elevado número de alunos por turma. Contudo,
os investigadores são cautelosos no que diz respeito à possibilidade
de importação transcultural directa de modelos e de formas de orga-
nização do ensino (e.g., Biggs, 1996; Gabrenya, Wang, Latane, 1985;
Shin e Koh, 2007). O facto de se verificar que, em muitas salas de
aula do Extremo Oriente, a disciplina é grande apesar de haver mais
João A. Lopes
48
de 40 ou mesmo 50 alunos nas turmas, não significa necessariamente
que, noutros países, para se alcançar maior disciplina, se deva aumen-
tar significativamente o número de alunos por turma. O resultado, na
maior parte dos países ocidentais, dada a valorização do indivíduo,
poderia mesmo ser contraproducente. Aliás, no caso de Portugal, mui-
tos professores se queixam recorrentemente de que o grande número
de alunos por turma coloca uma grande pressão na disciplina (Lopes,
2009). Da mesma forma, nada garante que alunos de alguns países do
Extremo Oriente percebessem e/ou aceitassem com facilidade que os
professores discutissem com eles no início do ano as regras de sala de
aula. Estes alunos esperam que seja o professor a fazê-lo e poderiam
encarar esta atitude como alijamento de responsabilidades que cabem
exclusivamente ao professor.
Genericamente o que se pode concluir da literatura especializada
é que os valores de uma sociedade são factores de relevo para a estrutu-
ração dos comportamentos de alunos e de professores em sala de aula.
Quer uns quer outros transportam para as salas de aula crenças, expec-
tativas e experiências que foram ou que vão ser moldadas ao longo das
suas carreiras nas escolas. Muitas dessas crenças e expectativas resul-
tam de aprendizagens por modelagem, as quais tendem a reproduzir-
-se de forma praticamente inconsciente ou automática e a sobrepor-
-se a outros comportamentos competitivos. Isto poderá explicar, em
parte, a pouca eficácia da formação em serviço no desenvolvimento
profissional dos professores (Lopes, 1999). De facto, diversos autores
sugerem que a formação pode conseguir alterar superficialmente os
comportamentos dos professores, mas a reversão pode também ser
rápida. A formação em serviço corre por isso o risco de deixar poucos
vestígios, principalmente a que é em realizada no formato de pequenos
cursos ou seminários (Pecheone & Chung, 2006; Walsh, 2001). Outros
49
autores, porém, fazem notar que a formação que inclui prática supervi-
sionada pode ter efeitos duradouros nos comportamentos dos forman-
dos, até porque, nestas condições, o contexto imediato não contraria os
efeitos da formação (Darling-Hammond, 2010; Gordon, 2003).
O ensino é um sistema complexo que, quando abalado por uma rup-
tura, uma assimetria, uma atipicidade, tende a cercar e assimilar o ele-
mento anómalo, para manter e/ou repor a sua integridade ou homeos-
tase. A evolução de tal sistema existe certamente, mas a integração de
elementos novos é sempre muito lenta e de difícil percepção num hori-
zonte temporal curto. Não será tão lenta quanto as alterações geracionais
nas espécies (numa perspectiva darwinista) mas exige seguramente lar-
gas décadas para que algo se torne verdadeiramente perceptível.
Se este postulado for verdadeiro, teremos um modelo para per-
ceber e explicar as razões pelas quais é tão difícil à formação inicial
de professores – e até à formação contínua – induzir alterações que
vão além das referentes aos conhecimentos específicos das matérias
a leccionar. O resto continuará largamente à mercê da modelagem a
que todos fomos sujeitos quando éramos crianças (filhos) e/ou quando
fomos alunos e à modelagem a que sujeitamos as filhos e/ou os alunos,
quando nos tornamos adultos. Dir-se-ia mesmo que a crença generali-
zada de que qualquer pessoa é capaz de opinar apropriadamente sobre
o ensino assenta precisamente nesta sensação de familiaridade, de inti-
midade, de conhecimento intuitivo, que supostamente dispensa apro-
fundamentos técnicos.
Seja como for – e vale a pena insistir nisto –, há modelos e métodos
que serão sempre mais eficazes do que outros no controlo da disciplina,
tendo em consideração o tipo de cultura e de sociedade em que se actua.
É por isso que continuará também a haver métodos que funcionam
bem em certas sociedades e que dificilmente funcionarão noutras.
João A. Lopes
50
Nunca será de mais lembrar que a disciplina na escola se estrutura
em torno das relações de poder dos intervenientes (professores, alunos,
funcionários, etc.), havendo culturas e sociedades que têm perspectivas
diversas acerca da distribuição do poder entre estes intervenientes,
o mesmo sucedendo, aliás, entre os formadores de professores e os
próprios professores, no interior das diversas sociedades. Por isso se
afirmou antes que a questão da disciplina é eminentemente educacio-
nal e política, muito antes de ser uma questão técnica.
51
A alteração das relações entre adultos e crianças
João A. Lopes
52
Uma das consequências mais visíveis de alguns excessos (e não
da alteração em si) é uma espécie de jogo viciado de atribuição de res-
ponsabilidades pela situação, com pais e professores embrenhados em
acusações recíprocas de incapacidade de controlo das crianças/adoles-
centes. Em particular, muitos professores atribuem directamente às
famílias a responsabilidade pela indisciplina nas suas salas de aula, já
que, segundo esses professores, as famílias não ensinam aos filhos os
comportamentos a adoptar nas salas de aula nem o respeito devido à
figura do professor. Em alguns casos, quer professores quer escolas
supõem mesmo que os pais são os instigadores dos comportamentos
indisciplinados dos filhos.
A escolaridade obrigatória
53
releva a importância do rendimento académico nos comportamentos
em sala de aula (e.g., Hinshaw, 1992a; Kauffman, 1997; Taylor, Hassel-
bring e Williams, 2001; Witt, VanDerHeyden, e Gilbertson, 2004). Apa-
rentemente, este conhecimento não tem suficiente ressonância junto
daqueles que têm de lidar mais directamente com a indisciplina, como
aliás não têm muitos outros conhecimentos e descobertas da ciência.
Note-se que o problema não reside na escolaridade obrigatória em
si mesma (ainda que seja evidente que escolaridade obrigatória não sig-
nifica aprendizagem obrigatória), mas no facto de não haver verdadeiras
alternativas curriculares ao longo dessa escolaridade, que é muito longa
e que, com o alargamento ao 12.º ano, constitui uma verdadeira corrida
de fundo para a qual muitos alunos e também professores não estão
suficientemente preparados. É por isso, tudo menos surpreendente, que
muitos alunos se portem mal e que alguns se portem mesmo muito mal.
O que potencia os maus comportamentos é o desfasamento significativo
do aluno relativamente à matéria que está a ser leccionada e a sua per-
cepção de que já não conseguirá voltar a acompanhá-la. Dado o carácter
cumulativo das aprendizagens escolares, é muito provável que estas per-
cepções e que os desfasamentos reais se acentuem, o que, por sua vez,
potencia o aparecimento de comportamentos perturbadores.
Gestão escolar
João A. Lopes
54
de mediocridade aberrante e as poucas que conseguem distinções
positivas fazem-no apesar do modelo e não por causa dele. Dir-se-ia
que, neste particular, mais do que noutros aspectos, o papel da cultura
é esmagadoramente visível. Uma vez que a tradição é a centralização,
a qual assenta na desconfiança dos subordinados, as raras intenções
de aumentar a autonomia têm redundado quase sempre no reforço da
centralização que pretendem combater.
Sejam quais forem os modelos encontrados para a gestão das esco-
las, é necessário salientar que existe uma considerável literatura sobre
a eficácia das escolas que releva a importância da organização da escola
(gestão incluída) nos resultados dos alunos, incluindo a disciplinaa
(Evertson, Emmer, & Worsham, 2000; Good & Brophy, 2000; Kounin,
1983; Martin, 1995; Marzano, 2003) e que assenta, antes de mais, num
projecto de escola que vai muito além de qualquer projecto centralista
para todas as escolas. A centralização e a burocratização diminuem a
responsabilidades dos gestores escolares e por arrasto, dos professores
e dos alunos. Num contexto em que a desresponsabilização é perce-
bida, a indisciplina geral tem mais condições para se instalar.
55
têm uma significativa probabilidade de se estabelecer e de se expandir
(McCaslan & Good, 1993; O’Leary, 1977; Tauber, 2007; Thanasoulas,
2010; Zigmond, 1996). Na verdade, a indisciplina crónica significa o
fracasso da gestão de sala de aula; esta, por seu turno, é considerada a
melhor forma de inibir o aparecimento daquela (Brophy, 1996; Seid-
man, 2005; Witt, VanDerHeyden, & Gilbertson, 2004).
Infelizmente, em Portugal continua a não haver formação nesta
área e mesmo na literatura internacional, desde a década de 80,
a organização e gestão de sala de aula perdeu protagonismo e não mais
o recuperou (Witt et al., 2004). Seja como for, é fundamental que se
perceba que ensinar em grupo é radicalmente diferente de dar explica-
ções ou de fazer um ensino tutorial e que o facto de se ter sido aluno(a)
não habilita ninguém para gerir um grupo de alunos de uma forma
espontânea. Por outro lado, ensinar grupos em que um certo número
de sujeitos não quer ser ensinado torna a situação ainda mais deli-
cada. Por isso os professores terão de estar muito conscientes (o que é
muito diferente de ter apenas uma vaga noção) do que deverão fazer –
logo desde o primeiro dia – nas salas de aula, como deverão estabelecer
rotinas e procedimentos, como deverão comportar-se, como deverão
desenvolver as suas relações com os alunos, etc. Sem uma formação
que aborde e ensine directamente estas questões, os futuros profes-
sores ficarão à mercê das eventuais experiências negativas que vierem
a experienciar e das quais poderão nunca se recompor, com prejuízo
para si e para os seus alunos.
O rendimento académico
João A. Lopes
56
perturbam as aulas, ao contrário do que acontece com os alunos com
baixo rendimento escolar.
Infelizmente o rendimento académico é absolutamente desconsi-
derado quando se pensa nas questões da indisciplina. Aliás, surpreen-
dentemente, não é sequer usual ligar uma questão à outra. Tal atitude
tem naturalmente consequências, a mais evidente das quais é a inca-
pacidade de intervir eficazmente para corrigir o problema, uma vez
que estas causas são distantes e sobretudo não são controláveis pelo
professor nem pela escola. Por outro lado, continua a não ser fácil para
os agentes educativos acreditarem que uma causa tão próxima e até tão
óbvia como o insucesso académico possa ter alguma importância na
configuração da indisciplina, ao que acresce a hipótese de as dificulda-
des ou o desconhecimento sobre o modo de lidar com esta variável, ou
a percepção de que isso representa uma enorme sobrecarga de traba-
lho, porventura não compensadora, serem pouco mobilizadoras.
As consequências do insucesso académico do ponto de vista disci-
plinar são ainda relevantes pelo seu carácter duradouro e mutuamente
reforçador. À medida que o tempo passa, os alunos com dificulda-
des académicas têm cada vez maiores problemas em aceder ao currí-
culo (por falta de bases), o que potencia os maus comportamentos, os
quais, por seu turno, inibem a centração nas tarefas académicas. Daqui
resulta uma espiral negativa da qual é muito difícil o sujeito libertar-se.
Deste facto, deveriam resultar duas conclusões: (1) o ensino deve ser o
melhor possível, o que limitará o número de insucessos e (2) quando
surgem as primeiras dificuldades, a intervenção tem de ser imediata.
Daqui resultará uma diminuição a prazo dos casos de insucesso e, por
consequência, do número de alunos potencialmente perturbadores do
ambiente de sala de aula.
57
O insucesso escolar não é naturalmente a única causa de indisci-
plina nas salas de aula, mas é seguramente uma das mais relevantes.
Ignorá-lo e persistir na apresentação de causas marginais, irrelevan-
tes ou incontroláveis representa um desperdício de energias, sobre-
tudo quando já existe evidência acumulada que nos permite estabele-
cer relações seguras entre os fenómenos que pretendemos controlar
(Steege & Watson, 2009; Tremblay, 1992; Walker, 2004).
Uma ressalva: não é possível resolver completamente o problema
do insucesso escolar tal como não é possível reduzir a zero a indisci-
plina. Não existe sistema que sequer se aproxime de tal feito nem se
perceberia como isso seria possível, quando afinal a aprendizagem de
conhecimentos académicos é semelhante à aprendizagem de outras
competências, como, por exemplo, jogar basquetebol. Se, nesta última
área, existe uma distribuição normal das competências (há péssimos
jogadores e há os jogadores da NBA), não se vislumbra porque havia
de ser diferente com as competências académicas (que, insiste-se, são
também competências). E indisciplina também existe no desporto,
nas empresas e em muitos outros locais. O fundamental para todas
estas organizações é conseguir conter estes fenómenos em patamares
aceitáveis e não propriamente eliminá-los ou curá-los. E, acrescente-
-se, a escola é uma organização em particular desvantagem porque
muitos dos que nela operam não aderem aos seus objectivos e preten-
dem mesmo boicotá-los. Nestas circunstâncias, é especialmente difícil
alcançar o sucesso, o que constitui uma dificuldade acrescida para a
ordem nas salas de aula e um importante factor de risco para a emer-
gência da indisciplina.
João A. Lopes
58
Conclusão
59
condição indispensável, ela não é condição suficiente para a compreen-
são da leitura e ainda menos para aquilo que deveria constituir o objec-
tivo fundamental do ensino da leitura: o desenvolvimento do desejo de
ler e a capacidade de o fazer. Deste modo, a aposta nas bibliotecas de
turma, a leitura sistemática para e com os alunos, a utilização de bons
textos, o entusiasmo (do professor) com os livros, a insistência siste-
mática na escrita como forma de organizar e estruturar o pensamento
e de o transmitir a terceiros constituirão algumas das estratégias e
sobretudo de hábitos a incutir nos alunos. Todos estes comportamen-
tos serão certamente os melhores inibidores da indisciplina até porque
são proactivos e não reactivos relativamente ao problema. Quanto mais
tempo despender o professor no ensino, menos gastará com a disci-
plina, e vice-versa.
Pedir a alunos que lêem sofrivelmente que estudem e que se con-
centrem nas aulas resulta geralmente numa aversão cada vez maior
ao estudo e aos livros. E, sobretudo, atira cada vez mais o aluno para
fora da aprendizagem do currículo e cria as condições ideias para que
ele perturbe a aula. Um aluno que não usa o tempo de aula nas tarefas
académicas emprega normalmente a sua energia a perturbar a aula,
incomodando os colegas e o professor. A passagem do tempo não só
não resolve a situação como tende a agravá-la e a torná-la cada vez mais
resistente a qualquer tipo de alteração (Baker, Dreher, & Guthrie, 2000;
Blachman, 1997; Reynolds & Shaywitz, 2009; Slavin, Karweit, & Wasik,
1994; Torgesen, 1998; Vaughn et al., 2011)
João A. Lopes
60
A gestão de sala de aula é, como afirma Doyle (1986), um processo
para lidar com o problema da ordem e não propriamente um processo
de lidar com maus comportamentos ou com a indisciplina. Na verdade,
sendo uma forma de estabelecer sistemas de trabalhos para grupos,
constitui-se num poderoso inibidor da indisciplina, permitindo que o
professor não se confronte com tais problemas. De resto, os bons pro-
fessores não se distinguem dos outros pela forma como lidam com a
indisciplina, mas sim pela forma como evitam a sua emergência.
Os bons professores evidenciam uma singular capacidade de man-
ter cronicamente activo o vector primário de acção, ou seja, a lição pro-
priamente dita. As regras, as rotinas, os procedimentos, etc., embora
desempenhando um papel fundamental na manutenção da ordem,
dificilmente sobrevivem se o vector primário não se sobrepuser siste-
maticamente aos vectores secundários. Esta é, simultaneamente, uma
potencialidade e uma vulnerabilidade da gestão de sala de aula. Na ver-
dade, embora ela seja fundamental para sustentar o vector primário de
acção, revela-se igualmente sensível e limitada no que diz respeito a
situações em que a heterogeneidade dos alunos é de tal forma grande
que não há possibilidades de manter a lição como vector primário. Daí
a necessidade, acima referida, de intervir desde o início da escolari-
dade sobre os problemas de leitura, evitando que haja alunos que desde
muito cedo ficam alienados do currículo.
Convém ainda recordar que a ordem nas salas de aula está for-
temente dependente do contexto. Uma escola não é igual à outra,
uma turma difere da outra e as interacções particulares que se geram
podem alterar fortemente aquilo que até um dado momento parecia ter
uma determinada configuração. A ordem não é pois algo que se possa
dar como eternamente adquirido. Tal como todas as relações huma-
nas, precisa de ser tratada, renovada, revigorada. A protecção do vector
61
primário (a lição) implica um esforço constante e nunca encerrado do
professor, constituindo as recitações, o trabalho individual e as rotinas
formas de alcançar tal desiderato.
As ideias fundamentais que aqui se sugerem para lidar com a
indisciplina (pelo menos com parte dela, já que nem toda é lidável pelo
professor) são simples e directas: (a) cuidar desde o início da escolari-
dade da questão do rendimento académico, em particular no que diz
respeito à leitura e aos livros; (b) gerir com eficácia as salas de aula,
tarefa que remete muito mais para a dinâmica de grupos do que para
a intervenção sobre indivíduos específicos (ainda que aquela comporte
esta); (c) no caso de se verificar algum comportamento de indisciplina
(o que acontecerá sempre mesmo em salas bem geridas), a interven-
ção deverá ser imediata, no sentido de proteger ao máximo o tempo
de ensino. Estas não são as únicas áreas com que o ensino tem de
lidar, mas são áreas tão sensíveis que jamais poderão ocupar um lugar
secundário na vida das escolas e das salas de aula. E são, acima de tudo,
formas proactivas, preventivas e, por isso, eficazes de lidar com o pro-
blema da indisciplina.
João A. Lopes
62
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João A. Lopes é Professor Associado com Agregação da Escola
de Psicologia da Universidade do Minho. Tem licenciatura
em Psicologia e mestrado e doutoramento em Psicologia da
Educação. Investiga nas áreas de problemas de aprendizagem,
problemas de comportamento e ensino, organização e gestão
da sala de aula. Algumas das suas publicações mais relevantes
são: A hiperactividade (2003, Coimbra: Quarteto), Ciência
e crença a gestão de sala de aula, em co-autoria com
M. Santos (2008, Coimbra: Quarteto) e Conceptualização,
avaliação e intervenção nas dificuldades de aprendizagem:
A sofisticada arquitectura de um equívoco (2010, Braga:
Psiquilíbrios).
João A. Lopes
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