Texto Literário Na Sala de Aula PDF
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RESUMO
Este artigo tem como objetivo expor algumas considerações sobre o ensino de literatura
e o método de letramento literário no contexto escolar, juntamente com a abordagem da
lei 10639/03, a qual institui a obrigatoriedade do ensino de história e cultura africana e
afro-brasileira nas escolas e o ensino de literatura. Pretende-se elencar alguns
apontamentos na questão da lei em si e sua prática, especificamente no ensino de
literatura africana, já que, a maioria dos estudos recentes tem apenas se voltado para o
ensino de história, esquecendo-se da importância da literatura africana e seu contexto
cultural.
PALAVRAS–CHAVE
Ensino de Literatura, Literatura Africana Lusófona, Escola, Lei 10639, Letramento
Literário.
ABSTRACT
This article aims to analyze the law 10.639/03 and their relations with the literature
learning in the elementary school. The present article discuss some possibilities of
interaction between the law 10.63903 and the African culture and African-Brazilian
culture in the curriculum, and points out some issues related to prejudice, cultural
plurality and others.
KEY WORDS
Literature teaching, Lusophone African Literature, School, Law 10639, Literacy
Literary.
Introdução
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Doutoranda na Universidade Presbiteriana Mackenzie.
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impostos pelo processo de supressão da literatura enquanto arte na própria escola. Uma
das alternativas possíveis para elevar a verdadeira importância da literatura, começaria
pela própria prática de leitura na sala de aula:
Podemos, por isso, elencar pelo menos dois aspectos importantes, implicados na
relação entre o ensino de literatura e letramento literário. Em resumo, o letramento
literário se configura numa prática que poderá:
1. despertar a sensibilidade do aluno para a literatura (fruição estética);
2. desenvolver sua competência crítica (consciência ética).
Assim sendo, para que o aluno possa se formar plenamente como cidadão crítico
e consciente, é necessário – entre outras coisas – que a escola promova uma prática de
leitura relacionada à realidade desse leitor, não entendendo esse processo como algo
maçante e sem valor, mas como uma prática significativa e prazerosa. Muitas vezes, a
escola, preocupada com metas burocráticas a serem cumpridas, não deixa espaço
suficiente para a leitura autônoma por parte dos alunos, questão que deveria ser
repensada e reformulada, pois se a escola considera a prática da leitura algo realmente
importante deveria, no mínimo, ceder um espaço – em sua grade disciplinar, em seu
currículo – para ela, e não exigir que seja feita nos intervalos entre aulas ou em “sobras”
de tempo.
Refletindo sobre essa questão na Educação Básica, Alexandra Pinheiro afirma:
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Essa diretriz pedagógica incentivou uma maior reflexão acerca dos pressupostos
ideológicos em que se baseou a lei 10.639, que tornou obrigatório o estudo de história e
cultura africanas e afro-brasileiras no ensino fundamental e médio. Com sua aprovação,
faz-se necessário não apenas reformular o ensino, capacitando professores para
ministrar as disciplinas relacionadas a esses temas e preparando o aluno para ser
inserido na realidade de uma educação multicultural, mas também promover práticas de
interação dos diversos contextos sociais nos quais os alunos estão inseridos, em especial
no que compete à questão africana, repensando, agora no ambiente escolar, a dinâmica
histórica e cultural que marcou o continente africano e revendo as diferenças e
particularidades próprias das civilizações daquela região. (SILVA, 2007)
Reforçando ainda, a importância e relevância dessa lei no meio escolar e social,
podemos lembrar as palavras do sociólogo brasileiro Florestan Fernandes, ao afirmar
que
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a identidade nacional brasileira (baseada, entre outras coisas, nas relações entre Brasil e
África) e valorizando a cultura negra, de modo a romper paradigmas preconceituosos na
vida escolar e conseqüentemente na vida social do aluno.
Nenhum método de pesquisa seja, talvez, mais adequado a um estudo dessa
dimensão do que o chamado método dialético. Segundo MARCONI & LAKATOS
(2005), esse método consiste em considerar que “ao contrário da metafísica, que
concebe o mundo como um conjunto de coisas estáticas, a dialética o compreende como
um conjunto de processos” (p. 101). São, com efeito, justamente os processos de
representação da lei 10.639, a partir da análise do ensino de literatura africana lusófona,
que se propõe aqui como possibilidade de estudo.
Esse método permite ainda, ao pesquisador do assunto, tratar da questão da
referida lei num contexto escolar mediado pelas relações étnico-raciais, levando em
consideração as diversas perspectivas que esse tema oferece, bem como suas
contradições teórico-práticas. Além disso, ele tem, a nosso ver, a vantagem de
considerar, na questão central da prática educacional, tanto o aspecto das teorias da
educação quanto o das políticas educacionais, buscando na pesquisa um equilíbrio entre
elas e verificando, em última instância, como se dá a receptividade, por parte dos
alunos, da literatura africana lusófona, já que, conforme mencionado, seu ensino é
recomendado pelas diretrizes da lei 10.639 como forma de valorizar as raízes da cultura
africana e elevar a autoestima do aluno afrodescendente, fazendo com que ele não
apenas se reconheça nessa cultura, mas também assuma plenamente sua identidade
negra.
Conclusão
Cumpre ressaltar, finalmente, que essa proposta de estudo busca um efeito
positivo, no sentido de incentivar um método de ensino de literatura apropriado aos
fundamentos ideológicos tanto de uma legislação voltada à valorização da cultura
africana no Brasil quanto de uma literatura – como é a literatura africana lusófona – que
traga consigo princípios particularmente adequados a essa mesma cultura. Assim, ao se
trabalhar com o conceito de letramento literário, busca-se valorizar um instrumento que
potencialize a leitura de mundo do aluno, a partir de sua inserção no universo
imaginário da literatura lusoafricana, ao mesmo tempo auxiliando-o no
desenvolvimento de uma visão crítica da sociedade. É nesse universo da aproximação
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