Bioquímica Urinário Aula 2
Bioquímica Urinário Aula 2
Bioquímica Urinário Aula 2
(Beatriz Moraes)
Assim que eu gero um ácido no organismo ele precisa ser tamponado. Só que
quando ele é tamponado ele tá consumindo bicarbonato, que é o principal tampão do
sangue. Se ele consome bicarbonato é a mesma coisa dele estar adicionando prótons livres,
entende? Então, gerou ácido sulfúrico, ácido clorídrico, fosfórico, lático e cetoácidos. Acha
que eles vão aparecer assim, dessa forma lá no FG? Não, porque no momento em que eles
são produzidos eles são neutralizados, tamponados pelo bicarbonato. Se é o bicarbonato que
tampona, há consumo de bicarbonato à medida que é produzido ácidos metabólicos. Se eu
tiro bicarbonato de circulação eu deixo prótons livres, porque eu não tenho o bicarbonato
para formar ácido carbônico e estabilizar o pH, certo? Então os rins vão ter o papel de repor
o bicarbonato que foi consumido pelo tamponamento desses ácidos metabólicos. Vejam que
disso aqui a gente tem 80 mEq sendo gerados diariamente pelo metabolismo dessas
moléculas.
Quais são nossas defesas para mudanças no pH? Para lidar com toda essa série de
ácidos? Então nós temos primeiro o sistema de tampão, que vai neutralizar os ácidos
imediatamente. Tem o centro respiratório que age com um pouquinho mais de tempo, por
causa da taxa de ventilação pulmonar e toda a regulação que tem que ser feita em nível de
bulbo pra que haja um controle dessa respiração. E os rins, que leva um pouquinho mais de
tempo porque envolve ativação de enzimas. Então a gente tem as duas primeiras linhas de
defesa evitando que a concentração se altere muito, até a resposta mais lenta da terceira
linha que vão conseguir realizar a compensação ácida-base necessária.
O que são os sistemas tampão? São formados por substâncias capazes de se ligar
de forma reversível com os íons hidrogênio, evitando alterações excessivas de pH. Então eu
vou ter um sal ou uma base correspondente e um ácido fraco. Eu tenho as mesmas
concentrações da forma livre de tampão, e da forma complexada. Então se eu adiciono numa
solução que tem concentrações equimolares de ácido e base conjugados, o que que vai
acontecer? Se eu adicionar aqui uma base, essa base vai ser neutralizada por esse próton,
que é liberado de uma substância ácida do tampão. Se eu coloco um íons hidrogênio, esse
íon se liga a forma livre do tampão convertendo essa forma aqui nessa (isso devia ser uma
imagem). Então a efetividade de um tampão também tá relacionada com a sua
concentração, quanto mais tampão eu tiver presente, maior a sua capacidade de
tamponamento. Porque imagina que se eu ficar adicionando continuamente prótons em uma
solução que tem tampão eu vou acabar transformando toda essa forma de tampão nessa
outra, e vai chegar o momento que ele não vai ter mais capacidade de tirar hidrogênios livres
de solução. Porque a forma que ligava hidrogênio já foi toda consumida, complexada.
Aqui a gente um experimento com cão, e um com água não tamponada. E aqui a
gente tem adição de volumes de ácido clorídrico. Vejam que quando não temos o sistema de
tamponamento o pH cai abruptamente e indefinidamente a medida que vai sendo
adicionado mais Hcl. Já com o cão a gente tem uma estabilidade do pH, porque no organismo
a gente tem um sistema tampão que vai lidar com esse hidrogênio que ta sendo adicionado
no sistema. (gente eu só conseguir entender cão, então acho que é)
Alem disso, temos proteínas agindo como tamponantes, e uma proteína muito
importante nesse processo é a hemoglobina. Então, a hemoglobina se liga a prótons livres
formando uma hemoglobina protonada. Então, se eu tenho no plasma um aumento da
concentração de CO2, e a célula sanguínea ta presente nesse plasma, esse CO2 consegue se
difundir pela membrana do eritrócito, vai formar ácido carbônico pela ação de uma enzima
chamada anidrase carbônica (essa formação de acido carbônico pode acontecer
espontaneamente, mas ela é lenta). A anidrase pega esse CO2 que se difundiu do liquido
extracelular pra dentro do eritrócito, faz com que reaja com a água formando o acido
carbônico, e esse acido se dissocia em hidrogênio livre e bicarbonato. Esse hidrogênio livre se
liga à Hb, que é uma proteína negativa, então ela se estabiliza. O que acontece com o
bicarbonato? Eu tenho aqui um trocador, e ai entra cloreto pra hemácia e o bicarbonato vai
pro sangue. Além de eu tirar prótons livres do plasma eu ainda dou bicarbonato, o que
equivale a uma retirada dupla de hidrogênio de líquido extracelular, então é um
tamponamento extremamente importante. 60 a 70% do tamponamento vai ser feito dessa
maneira.
Temos o centro respiratório, que só pra lembrar. O CO2 produzido nas células vai
ter eliminação pulmonar, se eu aumento a ventilação pulmonar eu aumento a eliminação de
CO2, e se eu diminuo, eu diminuo a eliminação de CO2. E quando a gente vai ver o equilíbrio
dessa reação, a medida que eu começo a aumentar a concentração de CO2, que eu não
elimino pelos pulmões, eu vou deslocar a reação pra cá e eu vou ter acidificação do liquido
extracelular. Por isso que é tão importante manter essa taxa de ventilação coerente com o
nível de CO2 que ta sendo produzido no organismo. A própria pressão de CO2 vai fazer com
que haja um aumento da ventilação, a gente tem um controle disso na região do bulbo. Por
exemplo, eu tenho uma taxa de ventilação normal, e assim eu não tenho uma alteração de
pH nos líquidos corporais. Se eu começo a aumentar a intensidade da ventilação, eu tenho
alteração do pH dos líquidos corporais, ou seja, aumenta o pH, porque há maior eliminação
de CO2. Se eu começo a hipoventilar eu diminuo o pH, pois terá mais Co2 em circulação e a
reação vai estar favorecida para esse lado.
(Ela explica tudo de novo porque poucos entenderam). Primeiro: a função dessa
parte do tubo é reabsorver bicarbonato. O CO2 que ta dentro da célula renal ou que é
difundido do interstício renal, vai reagir com água formando acido carbônico, reação
catalisada pela anidrase carbônica 2, isoforma que esta presente dentro das células epiteliais
tubulares. (Fora é 4 e dentro é 2). Começando de dentro da célula, o CO2 se difunde do
interstício renal, vai reagir com a água por ação da anidrase carbônica 2, formando o acido
carbônico. Este se dissocia em próton livre e bicarbonato. Esse próton livre vai ser secretado
através de um trocador sódio-hidrogenio, ou um antiporte, ou um contratransportador, tudo
a mesma coisa. Esse próton secretado no liquido tubular vai ser ligar ao bicarbonato que foi
filtrado, formando ácido carbônico fora da célula, no liquido tubular. Esse ácido carbônico vai
sofrer ação da anidrase carbônica 5 e se dissociar em CO2 e água. O CO2 se difunde pra
dentro da célula e vai formar de novo bicarbonato. E eu consigo então dessa forma
reabsorver o bicarbonato, de forma indireta. Pra isso eu preciso de excreção de hidrogênio,
justamente pra formar acido carbônico.
(Derek Newbery)
-Alguem não entendeu então ela explicou novamente essa última parte:
Por exemplo, uma determinada via metabólica forma um ácido sulfúrico. Esse ácido
sulfúrico vai ficar no sangue circulando até chegar no rim para ser eliminado? Não. Por que
não? Porque ele se dissocia antes, liberando H+, o que baixa o Ph. Esse H+ livre liberado, vais
ser, portanto, imediatamente tamponado pelo bicarbonato. A liberação desse ácido consumiu
um bicarbonato. Dessa forma, o rim atua compensando ao repor bicarbonato para o plasma.
O mesmo processo que ocorre nos túbulos iniciais acontece nas células intercaladas do
tipo A, ou seja, no líquido tubular o HCO3- se liga ao H+ e forma H2CO3, originando, em seguida,
H2O e CO2, este então se difunde para o interior da célula, onde novamente ocorre interação
com H2O formando H2CO3, que logo se dissocia em HCO3- e H+. O bicarbonato formado e
levado para o interstício pelo trocador HCO3-/ Cl- e o H+ é secretado para o lúmen tubular por
meio da H+/K+ ATPase ou da bomba secretora de H+.
Nestas regiões, é possível que seja formada uma urina altamente ácida por conta da
presença dessas bombas. No entanto, o limite para essa acidificação é a presença de tampões
urinários, pois o H+ não pode circular livre nessa urina, precisa, portanto, ser tamponado.
Apenas cerca de 0,03 mEq/L de H+ pode ser excretado livre na urina, essa quantidade
máxima se justifica pelo fato de que o pH da urina mínimo é de 4,5, então maiores
quantidades de H+ livre poderia tornar a urina mais ácida que esse valor. Por dia, há uma
produção de 80 mEq/L de ácidos não voláteis, se essa quantidade fosse excretada na forma
livre seria necessário que o indivíduo produzisse mais de 2 mil litros de urina para que o pH
dessa fosse mantido acima de 4,5. Então, o que como se faz o tamponamento destes ácidos?
Há um mecanismo de formação de ácidos tituláveis. O que é um ácido titulável? Tal nome se
deve pelo fato de que o método para avaliação da quantidade de ácido excretado na urina se
dá por meio da titulação desta, em que se adiciona hidroxilas até que esta alcance o valor do
pH sanguíneo, a quantidade de hidroxila que foi adicionada para tal corresponde a quantidade
de ácido livre que essa urina possui. O principal ácido titulável é o fosfato, mas sulfato e urato
também são produzidos. Estes são responsáveis pelo tamponamento de cerca de 30% do
conteúdo de H+ no líquido tubular. O restante é tamponado por meio do mecanismo de
amoniogênese que pode ser aumentado nos casos de acidose, deferentemente do mecanismo
de ácidos tituláveis que tem uma produção fixa.
Por outro lado, outra corrente demonstra que, durante o metabolismo da glutamina
na mitocôndria da célula proximal, tem-se a formação de amônio e de dois íons bicarbonato.
De acordo com esse ciclo, se vocês forem observadores, perceberão que não há de
fato uma excreção real de prótons, pelo fato de que a amônia no ducto coletor apenas está se
ligando a um H+, porém é importante lembrar que anteriormente ela já havia liberado um H+
no interstício. Portanto, não há excreção líquida de prótons.
(SLIDE 1 PG 17)
Então, qual a importância do amônio no equilíbrio ácido base? Esta se deve pelo fato
de que se ele for reabsorvido, será levado até o fígado, entrará no ciclo da uréia, a partir do
qual há formação de dois H+ livres, o que anularia a formação de dois bicarbonatos
correspondente ao metabolismo renal da glutamina. Como íon amônio é excretado, há um
ganho líquido de dois bicarbonatos que contribuem para o tamponamento sanguíneo. Dessa
forma, percebe-se que uma corrente defende a importância da amoniogênese se deve pelo
tamponamento de ácidos não voláteis e pela produção de bicarbonato, enquanto que outra
restringe seu papel apenas à formação de íons bicarbonato.
(SLIDE 2 PG 17)
Em relação às desordens do equilíbrio ácido base, tem-se que a acidose é a que mais
comumente acontece, pelo fato de que, normalmente, há uma maior produção de ácidos do
que bases em decorrências dos processos metabólicos. Como que o rim reage a essas
desordens? Primeiramente, há um estímulo à reabsorção de bicarbonato e à secreção de
prótons. Esse efeito ocorre por meio de um aumento da atividade de transportadores Na+/H+ e
da inserção exocitótica de estoques intracelulares de transportadores na membrana
plasmática, como bomba secretora de íons H+ e contra transportador Na+/H+. Sendo que tais
efeitos são evocados a partir de um acidose intracelular. Em resposta a acidose pode haver
aumento na aminiogênese também, por uma maior atividade e expressão de enzimas
responsáveis pelo metabolismo da glutamina. Também pode haver uma maior disponibilidade
de tampões urinários, em que, por exemplo, a reabsorção de fosfato diminui para que se
tenha uma maior disponibilidade dele no líquido tubular para tamponar uma carga extra de
prótons livres.
1. UREIA
A ureia corresponde a 80% do nitrogênio urinário humano, ou seja, somos animais
ureotélicos, nós excretamos os compostos nitrogenados em forma de ureia, pois a amônia é
tóxica para nós. Isto acontece devido não haver uma reserva de aminoácidos. Por exemplo,
existe uma reserva para carboidrato em forma de glicogênio e existe reserva de lipídeos em
forma de triglicerídeos, entretanto, não há reserva para aminoácidos e se houver um excesso
de aminoácidos que o organismo não precisa para formar novas proteínas é necessário
eliminá-los.
Então, se o aminoácido não tem uso para síntese de novas proteínas, se eu tenho
muito aminoácido circulante porque tenho uma dieta rica em proteínas e se tenho um jejum
severo ou diabetes mal tratada, o excesso de aminoácido precisa ser eliminado (exceto em
caso de jejum severo e diabetes mal tratada, que as reservas de glicose e ácidos graxos já
foram utilizadas e o organismo usa as proteínas musculares constitutivas para produzir
energia).
Quando a gente degrada um aminoácido, é criado um problema, devido à saída do
grupo amina da estrutura do aminoácido, que é a amônia (NH3), uma base forte. Se esta
amônia ficar livre ela irá roubar hidrogênio (H+), o que levará uma mudança do pH e alteração
de todo o sistema. A amônia é tóxica, o que gera a necessidade de dar um fim a amônia
rapidamente.
Ao degradar um aminoácido à primeira coisa que acontece é a liberação da amônia
(NH3) que rapidamente é transformada em amônio (NH4) e o esqueleto carbônico que sobra,
o alfa-cetoácido. Então, temos diferentes aminoácidos e diferentes alfa-cetoácidos. Por
exemplo, quando a Alanina perde o grupo amino, vira piruvato. O que é o piruvato? É um
metabólito da glicólise, transformando-se em Acetil-CoA e depois podendo ser encaminhado
para o Clico de Krebs, para depois gerar energia. Ou seja, muitos alfa-cetoácidos podem entrar
em rota de energia.
Sobra o amônio (NH4), o que deve ser feito com este amônio? Ele pode ser usado para
a síntese de compostos nitrogenados, como bases nitrogenadas ou outras moléculas que
utilizam o grupo amino, ou ele tem que ser rapidamente excretado e a forma de excreção
desse grupo é a ureia.
As reações que antecedem a formação da ureia são importantes, pois algumas enzimas
destas reações são marcadores de função hepática, por exemplo, quando o médico avalia
função renal, ele pede transaminase, TGO e TGP. Estas enzimas estão relacionadas com o
processo de formação da ureia, pois o processo acontece no fígado, se temos essas enzimas
aparecendo no sangue, isto significa que as células hepáticas estão sendo lesadas.
mitocôndria da célula hepática para sofrer desaminação oxidativa para liberar o grupo amino
que entrará no ciclo da ureia.
Então, no ciclo da ureia, o grupo amino que foi liberado do glutamato (pela catalisação
da glutamato desidrogenase) forma carbamilfostato que formará outras moléculas. Como
pode ver, a ureia elimina dois grupos aminos de uma vez só, ela é muito eficiente por isso. Um
vem do glutamato que sofreu desaminação oxidativa e o outro grupo amino vem do aspartato
do citosol, esta ureia será encaminhada para o rim para excreção.
No ciclo da ureia há gasto de ATP, o que aparentemente é estranho, já que a produção
da molécula de ureia gasta energia para ser eliminada, pois a célula tende a economizar
energia (trabalha com parcimônia – termo da biologia). A necessidade de sintetizar ureia está
relacionada com a toxicidade do grupo amino em forma de amônia, em estágios finais de
intoxicação por amônia leva a edema cerebral, aumento da pressão intracraniana e estado
comatoso (em coma). O porquê deste sintomas ainda não é conhecido, porém há explicação
para isto: se a gente observa todo o metabolismo da formação da ureia, faz para entender
sintoma. Possíveis causas: 1a se eu acumulo amônia, tenho alteração do pH, pois a amônia é
uma base forte e se transformará em amônio, elevando o pH, provocando alteração estrutural
em proteína e todas as rotas metabólicas serão alteradas; 2a Depleção de ATP, para formar
glutamina que é o meio de transporte do glutamato de órgãos extra-hepáticos para o fígado,
para poder levar os grupos amina para o fígado, é gasto ATP para isso, além de gastar ATP,
diminui a concentração de alfa-cetoglutarato (que é retirado do ciclo de Krebs), se está sendo
retirando alfa-cetoglutarato do ciclo que produz energia, acaba por contribuir com a redução
da produção de energia. Então, se eu tiver mais amônia que precisa ser transportada, vou ter
mais glutamina para transportá-la e com isso há aumento de pressão osmótica, o que pode
estar relacionado ao edema cerebral e aumento de pressão intracraniana. Além disso, se está
se formando muita glutamina, consequente mente haverá uma redução de glutamato; 3ª
Redução de glutamato (um neurotransmissor que também é precursor de outros
neurotransmissores, como o GABA). Devido a redução de glutamato, haverá redução de outros
neurotransmissores. Todos esses sintomas estão relacionados ao sistema nervoso central, o
que pode está relacionado ao papel do glutamato no SNC (não é uma conclusão definitiva, mas
uma via de possível causa).
Por que não se pode carregar um grupo amino produzido em um órgão extra-hepático
pela corrente sanguínea até o fígado ligado a uma molécula de glutamato? Porque o
glutamato é um aminoácido carregado, tem carga negativa e é difícil ele atravessar a
membrana da mitocôndria da célula hepática. Então o que as células fazem? Sintetizam
glutamina. Então, a glutamina é importante para o transporte de íons amônia para o fígado,
pois é apenas neste órgão que acontece a síntese de ureia. (A professora deu ênfase ao gasto
de energia para realização do processo de formação da ureia e concluiu falando que é
importante devido à alta toxicidade da amônia).
1.1.
A
f
unção da ureia como marcador de função renal
Nós produzimos cerca de 50~100g de ureia por dia, como uma forma atóxica de
excretar amônia. Parte da ureia filtrada é reabsorvida, pois tem um papel importante no
processo de concentração urinária e regulação da água que será reabsorvida, o que nos leva a
ter uma uremia, presença de ureia no sangue, que fica em torno de 10 a 40 mg/dL, um
aumento muito grande disso pode ser sintoma de uma doença renal. Qualquer diminuição da
função excretora renal haverá uma alteração na relação concentração de ureia na urina x
concentração de ureia no sangue (alta concentração de ureia na urina e baixa no sangue,
quando ocorre diminuição da função excretora renal esta relação se inverte, ocorrendo uma
hiperuremia – alta concentração de ureia na corrente sanguínea). Isto é comum de ser
observado em algumas alterações renais, como glomerulonefrite (300 mg/dL de ureia no
sangue), esclerose renal, tuberculose renal, rim policístico, nefropatias, etc.
Entretanto, a ureia como marcador de função renal, tem que ser olhada com cautela,
devido à produção da ureia ser a partir da degradação de aminoácidos, então, se eu tiver uma
alimentação super-proteica, pode-se ter um aumento de ureia no sangue (devido a
degradação de muito aminoácido), já na urina os níveis estarão normais, neste caso, o
aumento de concentração sanguínea não irá interferir na excreção da ureia pela urina. Outras
patologias não renais podem levar ao aumento da concentração de ureia no sangue. Por isso a
avaliação renal não é feita apenas observando os níveis de ureia, ela sempre estará associada a
dosagem de creatinina, para o diagnóstico ficar mais completo, porque se sabe que a
creatinina não é influenciada pela alimentação, por exemplo. A creatinina é influenciada por
outros aspectos, mas existem fórmulas matemáticas que já conseguem normalizar essas
influencias, já se conhece o grau de erro que a creatinina pode induzir em uma pessoa que faz
muita atividade física, por exemplo.
2. CREATININA
Tudo começa porque o ATP não é uma boa molécula de escolha para armazenar em
quantidade como reserva de energia. Por quê? Quais são as formas de regulação enzimática?
Regulação Alostérica e Regulação Covalente. As enzimas alostéricas precisam ser pelo menos
diméricas, pois uma subunidade será regulatória e a outra catalítica. Nesta subunidade
regulatória haverá ligação de moduladores alostéricos, algumas moléculas, como o ATP, são
moduladores alostéricos. O que acontece se eu começar a guardar muito ATP? O ATP é
modulador alostérico negativo de rotas que produzem ATP, porque não haveria necessidade
de produzir mais ATP se ele está em excesso. O sinal para a célula produzir ATP é uma inversão
da relação ADP x ATP, ou seja, ATP diminui e ADP aumenta, isto para a célula significa
diminuição de energia, fazendo ser necessário ativar rotas que façam que a razão inverta. Por
isso o ADP é um modulador alostérico positivo de rotas para produzir energia e o ATP é um
modulador alostérico negativo para produzir energia. O ATP, então, não é uma boa molécula
para ser armazenada.
Então como se faz para armazenar energia nos músculos, que necessitam ter reservas
de energia, pois podem ser exigidos de repente? O músculo usa ligações fosfato de alta
energia em forma de creatina-fosfato (ou fosfato de creatina), esta creatina não é produzida
nos músculos, apenas fosforilada e armazenada. Isto serve quando o músculo necessita de
energia que não dá para esperar a via de fosforilação oxidativa (mais demorada), então a
creatina-fosfato dá o seu fosfato para o ADP e forma ATP, este ATP, então, pode ser usado
para a contração muscular.
Todo
o processo de síntese de
creatina- fosfato
começa no rim, através
da enzima AGAT (Glicina
Amidino Transferase)
que leva a
transformação de Arginina e Glicina em GAA (Ácido Guanidino Acético) e Ornitina. O GAA será
lançado na corrente sanguínea para chegar até o fígado; no fígado ocorrerá o processo de
metilação deste GAA para haver a conversão em CREATINA. A creatina sai do fígado até
chegar nos órgãos que precisam guardar energia (coração, cérebro e músculo). Nestes órgãos
a creatina vai sofrer fosforilação pela creatina-fosfoquinase (todas as quinases fosforilam e as
fosfatases desfosforilam) para se tornar creatina-fosfato.
O que sobra desta creatina-fosfato após ser usada para a produção de energia? Sobra
uma molécula chamada Creatinina, um metabólito do uso da creatina-fosfato. Ela precisa ser
eliminada, a creatinina não tem utilidade para a célula, por isso ela é filtrada e eliminada.
Pergunta: A elevação dos níveis de creatinina na urina não é indício de falência renal,
mas sim no sague? Não exatamente, deve haver uma comparação entre o sangue a urina, para
ver como está a taxa, se estiver elevado no sangue e na urina, a razão permanece a mesma,
então mostra que não tem lesão renal. Agora, quando a pessoa usa muito suplemento
alimentar e dieta hiper-proteíca, ela acaba sobrecarregando o rim, então as chances de ter
lesão renal é alta.
Então, a creatinina é totalmente excretada pelos rins, então, qualquer elevação
plasmática de creatinina é indicativo que os rins não estão conseguindo filtrar facilmente essa
creatinina. Há, também, uma pequena fração de creatinina que consegue ser secretada, o que
isso significa? Que nem toda creatinina passou pelo glomérulo, uma pequeníssima parte é
secretada e isso deve ser contabilizado quando for fazer o cálculo final, se não podemos
superestimar a taxa de filtração glomerular (se for feito uma relação direta da taxa de
creatinina que aparece na urina e a taxa de creatinina na filtração glomerular – considerando
que ela é totalmente filtrada – e esquece que uma parte da creatinina é secretada direta nos
túbulos, acaba superestimando a filtração. Então, pode-se imaginar que a taxa de filtração está
maior do que o normal, porém, há uma parte de creatinina vindo de uma via que não é pela
filtração glomerular. Por isso, deve-se compensar quando for fazer os cálculos da taxa de
filtração glomerular).
Existem limitações em relação ao uso de creatinina como marcador: por exemplo,
massa muscular mais elevada, a pessoa vai ter mais creatina-fosfato, então ela vai ter mais
creatinina. Os níveis de creatinina vão mudar conforme a idade e sexo. Porém, o legal da
creatinina é que já se sabe muito sobre ela.
3 – PROTEINÚRIA
Presença de proteína na urina mais do que o normal, por problema na reabsorção
tubular ou filtração glomerular. Normalmente, a função de barreira dos glomérulos e
reabsorção, torna o filtrado quase livre de proteínas. Por que isto é importante? Tem-se a
formação de 170 litros de filtrado por dia e se considerarmos que temos 7 g/dL de proteínas
plasmáticas e se estas proteínas passassem pelo glomérulo renal, seria filtrado 11,9 kg de
proteína por dia, o que tornar-se-ia inviável a reabsorção pelos túbulos (devido ao processo de
reabsorção de proteínas ser saturável), além disso, o fígado seria incapaz de ressintetizar, pois
depois que perdemos proteína no filtrado ela vai ser reabsorvida em seu aminoácidos
constituintes. O fígado teria que ressintetizar 11,9 kg de proteína por dia.
Existe uma
limitação de tamanho e
carga elétrica que vai barrar as
macromoléculas constituintes da proteína. A perda parcial desta barreira leva a sérias
consequências, como aumento de pressão oncótica (pressão osmótica), formação de edema e
outras coisas relacionadas com perda de proteína.
Apesar da existência dessa barreira, um pouco dessa proteína passa pela cápsula de
Bowman, pelos poros de shunt. Então, atravessa de 1 a 5 gramas de proteína a cápsula de
Bowman e 95% é reabsorvida no túbulo proximal por um processo de endocitose saturável
(devido à presença de cavéolas, que são depressões que têm proteínas que favorecem o
processo de reabsorção das proteínas que passam no glomérulo).
Resumindo, as proteínas que passam pela cápsula de Bowman, vão ser reabsorvidas
nos túbulos proximais na forma de aminoácidos constituintes, pois as proteínas são
endocitadas e são hidrolisadas por lisossomos, que vão chegar até o sangue, ou seja, o que é
reabsorvido é o aminoácido constituinte, a proteína é perdida. Os outros 5%, que são
proteínas pequenas, são excretados na urina. A albumina é comum aparecer em grande
quantidade na urina de pessoas que tem problemas renais (pois é uma proteína grande). É
comum encontrar na urina proteínas dos próprios túbulos renais (Tamm-Horsfall), um pouco
de albumina (menos da metade) e proteínas de baixo peso molecular.
E
xistem,
então,
diferen
tes
níveis
de
protei
núria e
cada
nível
terá
uma importância clínica diferenciada. Pode-se ter uma proteinúria de baixa intensidade,
aquelas com que tem menos de 300 mg/dia, o que levará ao clínico pensar que o paciente está
com princípio de processo patológico. Se esta glomerulopatia inicial não for tradada, a
contínua passagem de proteína pelo glomérulo vai levar ao agravamento da glomerulopatia
(podendo tornar-se crônica). Em casos de nefropatia diabética, pelo excesso de glicose e
diurese, o que sobrecarrega o rim, levam a albuminúria (recomenda-se que os diabéticos
façam constantemente exame para verificar presença de albumina na urina). A nefropatia
diabética pode apresentar: paciente sem hipertensão, TGF normal ou elevada, acidificação e
concentração urinária preservadas, mas com presença de albuminúria.
Neste caso, a barreira glomerular está perfeita, a passagem de proteína acontece nos
níveis normais. Entretanto, a falta de reabsorção tubular levará ao aumento da proteína na
urina. Neste caso, a urina terá uma concentração maior de albumina e proteínas de baixo peso
molecular. Esta concentração é proporcional ao que é presente no filtrado. Normalmente, é
caracterizada por uma proteinúria de baixa intensidade (menor que 1 grama de proteína por
dia).
Elas são decorrentes de lesões não renais. Formam-se imunoglobulinas anômalas, que
é comum em idosos. Em mieloma múltiplo, pode-se ter proliferação de linfócitos B mal
formados. Em caso de amiloidose primária, que é o acúmulo de proteínas em tecidos
específicos, também há produção de proteínas mal formadas. As proteínas mal formadas não
vão ser repelidas de maneira eficiente nos poros pela repulsão eletrostática negativa, vão ter
tamanhos menores que dos poros e vão conseguir ser filtradas. Então, a proteinúria não é
decorrente de lesão renal, mas porque as proteínas estão sendo mal formadas. Esta
proteinúria é conhecida como Proteinúria de Bence Jones. Esta proteinúria pode atingir níveis
maciços, níveis de mais de 1,5 g/dia (a professora falou agora que é 1,5 g/dia para caracterizar
proteinúria maciça, antes era 3,5 g/dia) por dia, porém não será observado hipoalbuminemia e
nem o quadro de síndrome nefrótica, porque esta proteinúria não é formada por albumina,
mas por imunoglobulinas anômalas.
Para concluir. A proteinúria é causa e consequência de insuficiência renal. O acúmulo
de proteínas no lúmen tubular vai causar reações inflamatórias, que leva a lesões estruturais
do interstício e progressão da insuficiência renal. Estudos in vitro já mostram que a presença
de proteínas no mesângio, leva as células mesagiais liberarem citocinas que causam
glomeruloesclerose. Além disso, já foram observados efeitos adversos nas regiões tubulares
proximais, então a própria proteinúria sendo um mecanismo de progressão de lesão renal. A
proteinúria acaba sendo um alvo terapêutico importante para barrar a progressão de
patologias renais.
A Cistatina C está em estudo e não está em uso, porque ainda é caro. Ela tem um
pequeno peso molecular, tem função na célula de inibir proteases e é produzida de forma
contínua e estável por todas as células nucleadas, então, a taxa plasmática da Cistatina C é
contínua. Além disso, possui pequeno tamanho e alto ponto isoelétrico (pH em que a proteína
está neutra), o pH da Cistatina C é de 9,3, isso significa que no pH celular ela está positiva, o
que leva ela ser totalmente filtrada. Devido à taxa constante de Cistatina C no sangue,
qualquer aumento dela no sangue vai indicar uma diminuição na taxa de filtração glomerular.
Ela é interessante porque não sofre influência dos fatores que alteram a creatinina, que são:
massa muscular, sexo ou alimentação hiper-proteíca e parece não ser afetada por estados
febris.