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RENATA MACEDO CAPATTO

NAS MALHAS DO LEITOR

Um estudo de teses e dissertações sobre


Leitura/Recepção de textos (1980 – 2003)

Assis – SP

2005
RENATA MACEDO CAPATTO

NAS MALHAS DO LEITOR

Um estudo de teses e dissertações sobre


Leitura/Recepção de textos (1980 – 2003)

Dissertação apresentada à Faculdade de


Ciências e Letras Assis
- UNESP, para a obtenção do título de
Mestre em Letras. (Área de concentração:
LITERATURA E VIDA SOCIAL)

Orientador: Dr° João Luís Cardoso Tápias


Ceccantini.

Assis – SP

2005
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da F.C.L. – Assis – UNESP

Capatto, Renata Macedo


C236n Nas malhas do leitor: um estudo de teses e dissertações
sobre leitura/recepção de textos (1980-2003) / Renata
Macedo Capatto. Assis, 2005
342 f. : il.

Dissertação de Mestrado – Faculdade de Ciências e Letras


de Assis – Universidade Estadual Paulista.

1. Leitura. 2. Estética - Literatura. 3. Leitores. 4. Litera-


tura - Ensino. I. Título.
CDD 028
372.4
807
Dedico esta dissertação a
ela que, além de me dar a
vida, ensinou-me a viver:
Minha Mãe.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS

A Deus, que me ensina todo dia o que é o Amor, Dedicação e Paciência.

À minha família, suporte em todos os sentidos da minha vida: Rosângela,


André, Tia Zilda, Marcos, Karin e Melina.

Ao Orientador João Luís C. T. Ceccantini, por ter confiado em mim e pela


orientação sempre amiga e dedicada.

À D. Lídia, pelo incentivo ao Mestrado

À professora Dinei, contraponto de longas conversas sobre leitura, pela leitura


atenta e minuciosa desse texto.

Às minhas amigas Angélica, Denise, Luciana Diniz e Soraia pelo apoio e


incentivo durante todos esses anos.

Aos meus alunos, grandes instigadores de parte deste trabalho.

À direção, coordenação, corpo docente e funcionários das escolas: Pólis e


E.E. “Horácio Soares”, pela oportunidade de crescer como professora e ser
humano.

À Regina, Vera Lúcia e Maria, anjos que me ajudam na rotina da vida.

A Tibor, meu fiel companheiro de longas horas de estudo.

E, finalmente, agradeço a todos que direta ou indiretamente deram alguma


contribuição para a realização desta dissertação.
DADOS CURRICULARES

RENATA MACEDO CAPATTO

NASCIMENTO 22.12.1965 – Ourinhos

FILIAÇÃO Antonio Capatto

Maria Madalena Macedo Capatto

2001 - 2005 Mestrado – Letras - Área de Literatura e Vida Social.

UNESP - Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

filho, Assis/SP

1997 - 1998 Especialização em Literatura e Ensino da Literatura.

UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita

filho, Assis/SP.

1987 -1990 Curso de Pedagogia, FAFIJA – Faculdade Estadual de Filosofia

Ciências e Letras de Jacarezinho, Paraná, Brasil.

1984 -1988 Curso de Graduação em Letras FEMM. Fundação Educacional

Miguel Mofarreg, Ourinhos/SP.

1988 - ... Professora Efetiva - Rede Estadual de Educação – SP


RESUMO

Este trabalho é resultado de uma pesquisa que tem como proposta descrever, analisar e

avaliar vinte dissertações e teses produzidas nas principais universidades brasileiras,

versando sobre a leitura/recepção de textos. Para alcançar esse objetivo, numa primeira

etapa procedeu-se um amplo levantamento da produção científica sobre leitura. Desse

material, foram selecionados vinte trabalhos com base em dois critérios: textos não

publicados em formato de livro, portanto estudos ainda restritos ao ambiente acadêmico

que precisam ser divulgados; e textos que analisassem a figura do leitor segundo a Estética

da Recepção. Procedeu-se, então, uma descrição do material segundo uma grade de

observação visualizando os seguintes itens: dados de identificação da obra; objetivos;

material abordado; base teórica e bibliografia destacada na pesquisa; detalhamento da

metodologia; conclusões principais apresentadas pelo pesquisador; e uma avaliação sobre

os resultados efetivos de cada projeto. A seguir, realizou-se uma análise fundamentada nas

categorias “efeito” e “recepção”, tal como são concebidas pela Estética da Recepção. Como

resultados, chegou-se a uma amostra significativa do estágio atual das pesquisas de

leitura/recepção de textos, composta pelas principais tendências dessa teoria no Brasil.

Palavras-chaves: leitura, leitor, efeito, recepção, Estética da Recepção, literatura e ensino.


ABSTRACT:

This work is the result of a research, which intends to describe and to analyze twenty

dissertations and theories produced in the main Brazilian Universities, about the reading

and the reception of texts. At first, it was preceded to a rising of the scientific production

about reading in order to reach that aims at. From this material, twenty works were selected

starting from two criteria: no published texts in book format and texts that analyzed the

reader's illustration according to the Aesthetics of the Reception. It took place then, a

description of the material starting from an observation grating, visualizing the following

items: identification data of the work; objectives; approached material; theoretical base and

research outstanding bibliography; the methodology details; main conclusions presented by

the researcher and an evaluation about each project effective results. Soon afterwards, it

took place an analysis based in the categories “effect” and “reception”, just as they are

conceived by the Aesthetics of the Reception. As results, it was arrived to a significant

sample of the current apprenticeship of the texts reading and reception researches,

composed by the main tendencies of that theory in Brazil.

Keywords: Reading, Reception, Reader, Aesthetics of the Reception, Literature and

Teaching.
SUMÁRIO

1. O ofício da pesquisa…………………………………………………................. 11

1.1 A primeira semente…………………………………………………………….. 12


1.2 Busca de reflexões mais sólidas........................................................................... 14
1.3 Objetivos e critérios de escolha do corpus da pesquisa....................................... 17
1.4 Um percurso traçado............................................................................................ 19

2 O leitor e a Estética da Recepção......................................................................... 24

2.1 Idéias e recortes................................................................................................... 25


2.2 O Leitor – tecendo um conceito ......................................................................... 26
2.3 A construção de sentidos – o efeito e a recepção................................................. 32
2.4 Uma leitura de Jauss segundo Regina Zilberman ............................................... 35

3. Descrição das vinte teses e dissertações............................................................... 42

PESQUISA 1........................................................................................................ 45
PESQUISA 2........................................................................................................ 58
PESQUISA 3........................................................................................................ 71
PESQUISA 4........................................................................................................ 82
PESQUISA 5........................................................................................................ 95
PESQUISA 6........................................................................................................ 105
PESQUISA 7........................................................................................................ 115
PESQUISA 8........................................................................................................ 126
PESQUISA 9........................................................................................................ 138
PESQUISA 10 ..................................................................................................... 147
PESQUISA 11..................................................................................................... 162
PESQUISA 12..................................................................................................... 176
PESQUISA 13..................................................................................................... 188
PESQUISA 14..................................................................................................... 199
PESQUISA 15..................................................................................................... 210
PESQUISA 16..................................................................................................... 223
PESQUISA 17..................................................................................................... 237
PESQUISA 18..................................................................................................... 250
PESQUISA 19..................................................................................................... 267
PESQUISA 20..................................................................................................... 278

4 Sobre as vinte dissertações e teses: uma tentativa de síntese............................... 295


4.1 Panorama geral das pesquisas com base na grade de observação........................ 296
4.2 Apreciação dos dados coletados, fundamentada na grade de descrição .............. 298
4.3 Uma reflexão de caráter geral.............................................................................. 319

5 Referências bibliográficas ................................................................................... 345

6 Anexos.................................................................................................................. 350
11

1. O OFÍCIO DA PESQUISA

“Alguém só se torna marceneiro tornando-se

sensível aos signos da madeira. E médico,

tornando-se sensível aos signos da doença...”

E pesquisador...

E...

(Mirian Celeste Martins)


12

1.1. A primeira semente.

O fato que provocou nosso interesse pelo tema dessa pesquisa teve sua primeira

semente no cotidiano de sala de aula ao observarmos a rejeição dos alunos frente a alguns

textos literários. Observamos que, mesmo estimulados à leitura de obras conceituadas pela

crítica, muitos deles se mostram avessos a ela. Que motivos têm para tal procedimento? O

que os impede de ler, entender e interpretar tais obras? Estes questionamentos sempre

estiveram presentes em nossa prática escolar e motivaram tentativas para, se não

solucionar, pelo menos amenizar os efeitos dessa crise.

Numa das tentativas de motivação de leitura, trabalhamos com uma coletânea de

João Antônio - Patuléa, gentes da rua (1996) em uma escola particular com alunos da 8ª

série. No início, eles não se mostraram receptivos aos contos. À medida que se executou um

trabalho de ampliação dos conhecimentos dos alunos sobre o que estavam lendo, algumas

lacunas importantes para a interpretação foram sendo preenchidas por eles. Tais atitudes

proporcionaram uma mudança significativa na postura de alguns alunos frente ao material

de leitura a que foram expostos. Eles, embora continuassem a dizer que os contos de João

Antônio não eram os seus preferidos, apresentaram sinais positivos que motivaram ainda

mais esta pesquisa.

Alguns depoimentos colhidos ao final da exploração dos contos, após a

verificação escrita do entendimento dos alunos, aguçaram nossa curiosidade sobre o

resultado provocado pela recepção dos textos. Embora não tivessem sido realizados com

intenção científica, apresentaram considerações importantes sobre a recepção que nos

chamaram atenção. Destacam-se entre elas: a maneira como os alunos acharam o texto
13

“chato”, “difícil de entender” 1; o reconhecimento dos alunos de que se tratava de um texto

diferente em relação aos que já haviam sido propostos a eles.

A diferença causou estranhamento para os leitores e, de certa forma, emoção.

Notamos, também, a dificuldade registrada por eles provocada pela ausência de ilustrações

e pela “linguagem difícil”.

O resultado final desse trabalho não foi fácil de ser digerido por um profissional

que esperava que seus alunos lessem com prazer. Os alunos diziam que não gostavam dos

contos, mas que reconheciam a importância deles. O não entendimento inicial, ao nosso

ver, deu espaço ao estranhamento e esse provocou a recusa. A informação do contexto de

produção e das marcas literárias produzidas pelo escritor, se não gerou o prazer estético,

serviu para clarear, palavra várias vezes empregada nos depoimentos, um pouco o

entendimento. Estratégia que ocasionou a pequena mudança na aceitação dos textos.

A hipótese que levantamos aqui é a de que alguns alunos aprenderam a

reconhecer marcas importantes da literatura de João Antônio, preencheram alguns vazios

presentes no texto para que pudessem chegar ao entendimento e, finalmente, mudaram

parcialmente sua postura em relação ao que foi lido.

A situação relatada nos faz refletir sobre a recepção de textos. Sabemos que,

numa sala de aula, encontramos uma grande diversidade de leitores. Muitos se recusam a

ler sem nenhuma explicação razoável para isso. Apenas dizem “Não gosto de ler”, “Isso é

muito chato”. Outros alunos lêem por pura obrigação, imposição de seus pais e da própria

escola, fazem a leitura como um exercício qualquer, sem prazer nenhum, achando-a chata,

mas necessária. Há outro grupo, ainda, que, estimulado em casa e/ou pela escola, se mostra

leitor, não só dos livros indicados por estas instituições, como também de outros a que são

expostos normalmente. Mas por que tudo isso ocorre?


1
Palavras utilizadas pelos alunos em seus depoimentos.
14

É relevante que a atuação do professor de literatura seja vital para que se forme

o hábito de leitura. Igualmente importante é que a imposição de textos por eles provoca, na

maioria das vezes, um afastamento maior dos jovens leitores. Porém, como resolver este

impasse não indicando textos de qualidade literária para os alunos? Essa indicação, ao

nosso ver, faz-se necessária até mesmo para provocar o estranhamento no leitor – fato que

poderá gerar um crescimento intelectual maior, e um acréscimo em seu processo de

entendimento das leituras propostas.

1.2. Busca de reflexões mais sólidas.

Aliamos essa experiência a alguns pressupostos retirados de textos lidos

durante nossa formação acadêmica e profissional que justificam nossa preocupação com o

mundo da Leitura. Entre eles podemos lembrar, recordando Antonio Candido, do acesso à

literatura como um princípio democratizador. Também recordar dos PCNs, que traduzem

a necessidade de serem repensados os caminhos da leitura na escola.

Seguindo esses pressupostos básicos, verificamos que há tempos o papel do

leitor no entendimento/interpretação e na recepção dos mais variados objetos de leitura é

analisado. Pesquisas realizadas no Brasil procuram repensar essas questões na tentativa de

trazer dados novos para o que se denominou a “crise de leitura” na escola. Desde a década

de oitenta vários pesquisadores centraram seu interesse nessa crise que, segundo eles, foi

instituída por diversos fatores sociais, econômicos e pedagógicos. Sobre o fato, Maria

Alice Faria, na apresentação de seu livro Parâmetros curriculares e Literatura – as

personagens de que os alunos realmente gostam (1999), diz o seguinte:

Só a partir dos anos 80, com o alerta dado pela ‘crise da leitura’, alguns
grupos de pesquisadores começaram a se preocupar com a renovação da
pedagogia da literatura e com a importância da literatura para crianças e
jovens utilizada na escola. (FARIA, 1999, p.9)
15

Vista dessa forma, a leitura, numa sociedade democrática, é fundamental, pois

ativa uma das principais capacidades humanas que é o pensar. De acordo com o ECA,

Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 3º, é direito de toda criança ter

oportunidade que promova seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social.

Seria conseqüência lógica, portanto, o direito à literatura como uma das fontes desse

desenvolvimento.

No entanto, esse direito não se refere a uma literatura qualquer, apenas de

consumo, mas àquela que dê para os alunos condições de desenvolvimento, favorecendo

sua cidadania e possibilitando um exercício da democracia, tal como Ana Maria Machado

propõe:

Uma sociedade que quer ser democrática tem que suprir essa deficiência
e garantir a todos que seja saciado o seu direito à leitura. E essa leitura,
sobretudo em países que ainda estão se construindo, não pode ser apenas
de entretenimento e de aquisição de conhecimento – embora esse tipo de
livro também seja importante e não possa ser desprezado. Mas é
indispensável que também se leiam textos criadores, textos que tragam o
prazer de pensar, interrogar, sonhar, ligar-se com o resto da humanidade
(inclusive gente de outras épocas e outros lugares), textos que brinquem
com a sonoridade da palavra; que aproximem conceitos díspares; que
desenvolvam a inteligência e o espírito crítico. Textos que usem as
palavras de maneira artística, rica, sublinhando a beleza que possa nascer
do contato entre elas, valorizando a multiplicidade de significados
possíveis que elas possam ter, se abrindo para a infinidade de conceitos
que elas podem apontar. (MACHADO, 2000, p.87-88)

Na mesma linha de raciocínio, os Parâmetros Curriculares Nacionais do

Ensino Fundamental, documento norteador do trabalho dos professores em sala de aula,

vêm ressaltar a importância da leitura de diversos tipos de textos. Esse documento afirma

que “...a leitura bem feita garante a compreensão das informações recebidas, posterior

assimilação interna e posicionamento do leitor diante da vida. Portanto, é ela que

fundamenta a educação...” (PCN, 1998). Ana Lúcia Brandão analisando as relações da

literatura infantil com os PCNs, ressalta a importância do texto estético:


16

O texto estético - aquele que proporciona ao leitor a entrada no universo


simbólico, que permite múltiplas leituras, que é plurissignificativo por
natureza e que, apresentando protagonistas questionadores de uma
realidade dada - chama o leitor a transformar essa realidade dada em uma
realidade conquistada, seja na forma de um sonho ou de uma utopia e que
por isso mesmo é literatura renovadora de caráter emancipatório.
(BRANDÃO,s.d)

As considerações apresentadas até este ponto reafirmam a Leitura como um

direito das pessoas, seu acesso como um dever social democrático e o texto estético como

um instrumento de emancipação. Assinalam, também, a existência de uma grande

preocupação social com as questões relativas a sua recepção, evidenciando o afastamento

de leitores de sua atividade, sobretudo nas séries finais do Ensino Fundamental.

Distanciamento, esse, comprovado em inúmeras reportagens veiculadas pela mídia e que

se encontram à disposição de todos os que de alguma forma mantêm vínculo com o

assunto, bem como justificam as pesquisas produzidas no meio acadêmico.

Outro fato a ser notado é que o conceito de leitor, de Aristóteles aos dias atuais,

sofreu modificações consideráveis. Muitas teorias vindas após esse grande pensador

centram seu interesse nesse elemento tentando compreender melhor sua existência e

importância. Entre elas a Estética da Recepção, teoria que está no cerne de nosso trabalho.

Os conceitos presentes em muitas pesquisas produzidas no país chamam a

atenção para o fato de que a Leitura é importante para a construção de um sujeito ativo e

interativo na sociedade. Paulo Freire explica essa importância afirmando que se trata de um

momento que:

... envolve uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na
decodificação pura da palavra escrita ou linguagem escrita, mas que
antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo
precede a leitura da palavra [...] Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
(FREIRE,1981)
17

Refletindo sobre o que Paulo Freire defende, podemos entender que a

compreensão se estabelece quando o leitor ativa seus conhecimentos prévios2 sobre dado

assunto e neles ancora os adquiridos no momento em que lê, produzindo, a partir de então,

experiências que proporcionam novos conhecimentos. Esses conhecimentos prévios fazem

parte do que Hans Robert Jauss (1979) denomina como “horizontes de expectativas”, ou

seja, o mundo no qual está inserido o aluno, suas preferências, expectativas, enfim, sua vida

e tudo que a povoa. Conforme exposto a esse processo, espera-se que o leitor se torne

ativo, consciente, reflexivo e crítico, meta almejada por todos que trabalham com o ensino

da leitura.

1.3. Objetivo e critério de escolha do corpus da pesquisa.

Importante constatar, em decorrência de todos os fatores já relacionados

anteriormente, a necessidade de um Projeto de Leitura nas escolas brasileiras que propicie

melhores resultados tanto na formação dos leitores quanto da ampliação do grau de

entendimento dos textos por eles utilizados. E também, de pesquisas que descrevam,

analisem e comparem dados sobre a leitura/recepção no sentido de proporcionarem maior

clareza desse processo principalmente para os formadores de leitores.

Nesse sentido, optamos por nortear nossa observação para o registro e análise

das pesquisas já realizadas no país sobre leitor e Estética da Recepção, com o objetivo

principal de evidenciar, a partir da amostra, o atual estado das pesquisas acadêmicas sobre

o tema.

2
Termo utilizado por Isabel.Solé. In: Estratégias de Leitura. Porto Alegre; Artmed; 1998, 6ª edição.
18

Para isso delimitamos como corpus pesquisas teóricas e/ou a práticas,

produzidas no período de 1980 – 2003, em ambiente escolar na maioria das vezes, em que

se focaliza a ação dos agentes de formação de leitores, entre eles professores e

bibliotecários. Os princípios teóricos da Estética da Recepção estão presentes nesse

corpus, mesmo que de forma indireta, dado a ser analisado no decorrer de nossa reflexão.

A seleção de dissertações e teses sobre leitura/recepção de texto literário foi

realizada fixando-se como critério básico o fato de esses textos não terem sido publicados

em formato de livro. Portanto, não consta do material analisado uma vasta bibliografia já

conhecida sobre leitura e Estética da Recepção que foi publicada. O interesse foi fazer um

levantamento de dissertações e teses produzidas nas universidades brasileiras, por esses

trabalhos serem considerados aqui como um material rico para a observação dos rumos

das pesquisas sobre leitura/recepção, que não pode ficar disperso nas bibliotecas do país.

Desejamos esclarecer que esse levantamento não esgota todos os trabalhos

produzidos no Brasil nesse período. Trata-se, portanto, de uma amostra qualitativa da

produção levantada durante a pesquisa. O recorte realizado se justifica na medida em que

notamos falta de pesquisas realizadas nesse sentido. O levantamento proposto, da forma em

que será descrito e analisado aqui, pode servir como um documento importante para

futuros pesquisadores, pois focaliza o estágio das pesquisas sobre o tema entre os anos de

1980 a 2003.

Destacamos, ainda, que quase nenhum trabalho desse tipo foi encontrado em

nossa pesquisa. Gostaríamos de destacar, contudo, um catálogo produzido pela Biblioteca

da Faculdade de Educação/UNICAMP no ano de 1999, por ser um documento que reúne

referências bibliográficas e resumos de 189 dissertações e teses defendidas nos programas

de pós-graduação do país, no período de 1980-1995 sobre leitura.


19

Embora esse material não aborde especificamente a questão leitura/recepção,

ponto central de nosso interesse, traz um referencial bibliográfico interessante e bastante

prático sobre a trajetória da pesquisa brasileira sobre leitura. Tais textos foram catalogados

observando entre outros dados, o nível escolar, o foco temático, desempenho e

compreensão de leitura, o professor e o bibliotecário como leitor, texto para leitura na

escola, memória de leitura, do leitor e do livro e concepção de leitura. Embora traga

informações importantes, ele não aparece como texto descrito e analisado no corpus.

Justificamos a não utilização do mesmo pelo fato de que nosso objetivo era trabalhar com

dissertações e teses inteiras, que abordassem questões de leitura e recepção de textos

literários, não publicados.

1.4. Um percurso traçado.

A trajetória da pesquisa passou inicialmente pela compreensão do que

entendemos sobre o leitor segundo a Estética da Recepção, conceito que permeia não só a

feitura dos textos fixados como corpus da dissertação, como também, a análise da

amostra sobre leitura/recepção de textos literários

É necessário esclarecer que tal conceito foi organizado aqui a partir de dois

autores: Regina Zilberman (1989) e Terry Eagleton (1997), entre outras leituras realizadas

na elaboração dessa desta dissertação. Entendemos que estes documentos, embora

considerados pelo mundo acadêmico como fontes de segunda mão, são importantes para

uma melhor compreensão sobre o papel do leitor na leitura/recepção por apresentarem a

questão de forma bastante organizada e criteriosa.


20

Passamos, depois disso, a buscar pesquisas sobre o tema, produzidas no

período delimitado, em nível de mestrado e doutorado, ainda não publicadas em formato de

livro e que abordassem não apenas a questão pedagógica da formação do leitor, mas

especialmente fossem pautadas pela Estética da Recepção.

Essas pesquisas encontradas foram realizadas em diversas instituições de

ensino3 do Brasil e obtidas pelo contato direto com as bibliotecas4, bem como por Comut

e/ou intercâmbios, serviços disponibilizados pelas instituições para os pesquisadores.

Alguns exemplares foram adquiridos por doação ao grupo de pesquisa de Leitura e Ensino

de Literatura da UNESP de Assis. Outros, encontram-se disponíveis na Internet em vários

sites mantidos pelas instituições já relacionadas e plataformas de pesquisa. Entre eles

destacamos o portal de periódicos CAPES; o Projeto Memória de Leitura – UNICAMP; a

Divisão de Bibliotecas e Documentação Puc- Rio; a Universidade Brasil – o portal dos

universitários; a Biblioteca Nacional – catálogos on-line de monografias, periódicos, obras

de referência, teses, músicas, manuscritos, obras raras, iconografia, etc.; a Biblioteca

Virtual de Educação; o IBICIT; o MIT Theses On – Line.

Por meio desses endereços eletrônicos encontramos uma vasta bibliografia que

foi sendo triada com ajuda de meu orientador. Chegamos a uma lista com mais ou menos

quarenta trabalhos, os quais passamos a buscar. Fechamos o corpus analisado aqui pelo

critério básico já explicado, escolhendo 20 pesquisas, a princípio, registradas em ordem

cronológica seguindo uma grade de observação e depois analisadas.

Desta forma, chegamos à estrutura final do texto que passou a se dividir em

quatro partes, sendo a primeira, esta introdução.

3
Instituições educacionais: UNESP – Assis; UNESP – São José do Rio Preto; UNICAMP; USP; UEM; PUC
RIO; PUC – Rio Grande do Sul; UFMG; Universidade de Brasília e Universidade Federal do Paraná.
4
Bibliotecas das seguintes Universidades: UNESP, USP, PUC – RJ, PUC – R G do Sul, U. F. M. G.
21

Na segunda parte, tratamos da apresentação do conceito de leitor, suas origens e

evolução, até chegarmos à visão desse elemento segundo a Estética da Recepção - teoria

literária apresentada por Hans R. Jauss. Procuramos, ainda, diferenciar duas categorias

distintas da teoria denominadas como efeito e recepção, necessárias para a construção de

sentidos da leitura, portanto intimamente ligadas ao conceito que por hora desenvolvemos.

A terceira parte é composta pela descrição das pesquisas, levantadas no ANEXO A –

Quadro - Identificação das pesquisas. Elas foram organizadas em ordem cronológica, nomeadas

por PESQUISA 1, PESQUISA 2 etc., ano de realização, título, autor, instituição à qual pertencem

e nível de qualificação. Com o objetivo de organizar a observação dos dados coletados,

criamos uma grade de observação disposta conforme o ANEXO B – Quadro –Grade de

Descrição.

Na grade, os dados foram separados em sete blocos (letras a,b,c,d,e,f e g) em

que direcionamos a observação para:

a. Dados de identificação - coleta de dados gerais que identificam a pesquisa quanto

autoria, instituição, ano de publicação, além da transcrição do resumo da mesma, na forma

como foi redigida pelo autor.

b. Objetivos - registro da meta proposta pelos pesquisadores.

c. Material – item dividido em três partes, em que se evidencia o tipo de texto abordado

pela pesquisa, o tipo de leitor analisado e os documentos utilizados pelos pesquisadores

para a coleta de dados sobre a recepção e/ou efeito analisado.


22

d. Base teórica - destaque dos principais teóricos utilizados para o desenvolvimento dos

conceitos analisados nas pesquisas, evidenciando os que a fundamentaram em relação à

Estética da Recepção. Nossa intenção foi chamar a atenção do leitor para os pressupostos

teóricos utilizados, observando autor e ano de publicação. Na seqüência, colocamos a

bibliografia utilizada nesta dissertação referente ao texto descrito. Tomamos esta medida

por achar que a repetição destes dados em quase todos os trabalhos, visto que muitos

autores se repetem, seria exaustiva e ineficaz.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia - registro da forma como os pesquisadores

organizaram seus textos, evidenciando caminhos percorridos, estratégias de abordagem dos

textos, instrumentos de coleta de dados sobre a recepção dos mesmos. Segundo Délcio

Vieria Salomon (1999), um trabalho é considerado científico, se ele for elaborado

metodologicamente. É o método que garante a eficácia e valor na construção da ciência e

em sua aplicação. Ele indica, portanto, técnicas para a pesquisa e fornece elementos de

análise crítica das descobertas. Observamos esses trabalhos por meio da classificação

proposta por Salomon que divide as pesquisas em: exploratórias e descritivas, aplicadas e

puras ou teóricas.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa - registro das conclusões

apresentadas pelos autores, destacando avanços conseguidos. Evidenciamos, neste

momento, a análise dos dados elaborada pelo pesquisador a partir do material coletado:

análise do texto; do discurso; do conteúdo; dos resultados de entrevistas, questionários,

estudos de caso e também propostas sugeridas como conclusão da pesquisa.


23

g. Avaliação sobre a pesquisa –apresentação de uma apreciação geral do trabalho de

forma individual, fazendo destaques quanto ao tipo de pesquisa realizada, classificação

quanto ao efeito ou recepção, pontos positivos e/ou negativos das mesmas.

Na quarta parte do texto, apresentamos a análise sobre os dados anteriormente

expostos seguindo a seguinte ordem para as reflexões:

I - Apreciação geral dos dados coletados a partir da grade de descrição.

II – Reflexão a partir das categorias:

A. Pesquisas de Efeito – o leitor implícito.

B. Pesquisas de Recepção.

B.1. Pela crítica especializada.

B.2. Processo de formação de leitores.

B.3 Pelo leitor real em formação.

C. Pesquisas de Recepção/Efeito.

C.1. Voz do leitor real– horizontes e perspectivas.

C.2. Voz do leitor real – questões pedagógicas.

C.3. Voz do leitor real - fora de ambiente escolar.


24

2. O LEITOR E A ESTÉTICA DA RECEPÇÃO

“Minha tarefa pode ser comparada à obra da arte

de um explorador que penetra numa terra

desconhecida. Descobrindo um povo, aprendendo

sua língua, decifro sua escrita e compreendo cada

vez melhor sua civilização.”

(Arno Stern)
25

2.1. Idéias e recortes.

Para a reflexão que propomos nesta dissertação, é importante a apresentação do

conceito de leitor segundo a Estética da Recepção. Tal conceito já foi antes discutido por

outros pesquisadores, entre eles destaca-se Hans Robert Jauss - maior expoente da

Estética da Recepção - que, com seu artigo exposto durante uma conferência na

Universidade de Constança (Alemanha Ocidental), lança questionamentos sobre a atuação

do leitor no processo de valoração do texto artístico.

Não poderíamos deixar de abordar igualmente Wolfgang Iser, figura importante

no cenário da interpretação literária, visto que, ao analisar o efeito provocado pelo texto no

leitor, mostra a diferença entre os conceitos explorados na análise.

Para o recorte que apresentamos, além das teses formuladas por Jauss (1967) e

dos postulados de Iser (1976), utilizamos as reflexões de Luiz Costa Lima (1979), Terry

Eagleton (1983)5 e Regina Zilberman (1989) para a elaboração do capítulo. Essas leituras

serviram como fonte de consulta para os registros efetuados e, embora fontes secundárias,

são importantes documentos para a melhor compreensão sobre o papel do leitor na fruição

de textos literários. Além desses teóricos, utilizamos ainda Antoine Compagnon (1998)6 e

Vincet Jouve (1993)7.

Destaca-se aqui a importante contribuição de Luiz Costa Lima e Regina

Zilberman como divulgadores dos pressupostos da Estética da Recepção no Brasil. Tal

destaque se deve à observação de que eles estão presentes na quase totalidade dos

trabalhos analisados e descritos nesta dissertação.

5
1997 – data da 3ª ed.brasileira utilizada nesta dissertação.
6
1999 - data da tradução brasileira. 2001 – data da 1ª reimpressão utilizada nesta dissertação.
7
2002 – data da tradução brasileira utilizada nesta dissertação.
26

2.2. O leitor – tecendo um conceito.

O conceito de leitor, na forma como se apresenta no Dicionário de Teoria da

Narrativa elaborado por Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes (1988) , identifica um leitor

real e um leitor ideal.

O leitor empírico, ou real, identifica-se , em termos semióticos , com o


receptor; o destinatário, enquanto leitor ideal, não funciona, em termos
semióticos, como receptor do texto, mas antes como um elemento com
relevância na estruturação do próprio texto. Todavia, o leitor ideal nunca
pode ser configurado ou construído pelo emissor com autonomia absoluta
em relação aos virtuais leitores empíricos contemporâneos, mesmo
quando na sua construção se projeta um desígnio de ruptura radical com a
maioria desses mesmos presumíveis leitores contemporâneos. (1983 apud
REIS, 1988, p. 51-54, grifo nosso)

Dessa forma, percebe-se que o leitor assume dois papéis distintos mas

relacionados. No primeiro deles, apresenta-se como um indivíduo concreto que de fato

realiza o ato de leitura com o objeto livro nas mãos. Já no segundo papel, também

designado por Umberto Eco (1979) como leitor modelo e por W. Iser (1975) como leitor

implícito, temos uma figura virtual idealizada pelo autor, inscrito no próprio texto para

quem se destina.

De acordo com Regina Zilberman, para H.R. Jauss existe uma distinção entre o

leitor implícito e o leitor histórico. Ele explica que:

O leitor implícito [é uma] noção importada de W. Iser, discernido a partir


das estruturas objetivas do texto, e o leitor explícito, [um] indivíduo
histórico que acolhe positiva ou negativamente uma criação artística,
sendo, pois, responsável pela recepção propriamente dita dessa.
(ZILBERMAN 1989, p.114)

Vincent Jouve, definindo as relações entre esse leitor abstrato e o leitor de carne

e osso, explica que é preciso considerar o primeiro como um papel proposto ao segundo. Papel

que sempre é possível recusar. E mais, que:


27

Simetricamente, o receptor é ao mesmo tempo o leitor real, cujos traços


psicológicos, sociológicos e culturais podem variar infinitamente, e uma
figura abstrata postulada pelo narrador pelo simples fato de que todo
texto dirige-se necessariamente a alguém. Mediante o que diz e do modo
como diz, um texto supõe sempre um tipo de leitor – um “narratário” –
relativamente definido. (JOUVE, 1993, p. 36).

No entanto, o conceito de leitor utilizado pela Estética da Recepção, não foi

desde o início pensado dessa forma. Que caminhos foram percorridos para que se chegasse

a esse conceito? Nessa trajetória muitos participaram, entre eles apresentaremos a seguir

alguns pesquisadores, evidenciando suas contribuições.

É sabido que foi Aristóteles (384 – 322 ac.) o mais remoto precursor da Estética

da Recepção. Foi este pensador grego que conferiu ao receptor e ao efeito sobre ele causado

pela obra uma importância que só voltará a se manifestar significativamente no século XIX

e sobretudo no século XX.

Para o filósofo alemão Edmund Husserl (1859 – 1938) “o ato de pensar e o

objeto do pensamento estão internamente relacionados, são mutuamente dependentes”

(EAGLETON, 1997, p.76). Portanto, segundo ele, os fenômenos não precisariam ser

interpretados. Husserl sugere que ser e significar sempre estão atados um ao outro. Dessa

forma, ao adotar o princípio da redução fenomenológica às obras literárias, o pensador

defendia a leitura imanente do texto, imune a qualquer coisa fora dele. Afirmava que não se

devia referir a nada sobre o autor, apenas aos aspectos de sua consciência que se

manifestam na obra em si. Assim, interpretar uma obra literária seria apenas uma descrição

passiva do texto - “uma descrição pura de suas (do autor) essências mentais”.

No que se pode perceber, Husserl não atribui ao leitor papel relevante quanto à

interpretação de uma obra literária. O pensador afirma que o significado é inalterável

porque é sempre um ato intencional de uma pessoa – o autor - num determinado momento

do tempo. Diz que “o entendimento não é, em primeiro lugar uma ‘cognição’ isolável, um
28

ato particular que pratico, mas parte de sua estrutura de existência humana” (EAGLETON,

1997, p. 86).

Martin Heidegger (1889 – 1976), alemão discípulo de Husserl, rompendo com

o sistema de pensamento de seu mestre, mostra que a existência humana é um diálogo com

o mundo. Negou que a interpretação literária estivesse fundamentada apenas na atividade

humana, revelando que ela “não é alguma coisa que fazemos, mas que devemos deixar

que aconteça. Devemos nos abrir passivamente ao texto, submetendo-nos ao seu ser

misteriosamente inesgotável, deixando-nos interrogar por ele.” (EAGLETON,1997, p. 89).

O que podemos apreender por meio destas idéias é que Heidegger atribui ao

leitor um papel passivo no trato com a obra literária. Embora reconheça a existência de seu

trabalho, este não assume nenhuma responsabilidade maior que a de receber o que já fora

pensado por outro.

Foi com o Formalismo Russo, na década de 20, que verificamos algumas

mudanças significativas quanto ao receptor. A eles devemos a noção de estranhamento –

efeito a ser obtido junto ao sujeito da recepção – que tem como objetivo formar e

transformar a percepção estética do receptor. De acordo com Iuri Tinianov “um bom

produto artístico mobiliza vários artifícios, visando motivar um choque no destinatário:

somente quando se dá de modo tenso a relação entre o sujeito da percepção e o objeto

estético, este pode ser considerado de valor.” (EAGLETON,1997, p. 89).

É o conceito de estranhamento, utilizado por Tinianov, importante por

reconhecer uma função para o leitor e também por provocar uma permanente renovação

para alcançar o desejado efeito de estranhamento. Contudo, esse leitor ainda é visto como

um mero objeto para a realização do procedimento e conserva sua passividade frente ao

texto.
29

O Estruturalismo acrescenta rupturas importantes para o conceito de leitor. Jean

Mukarovsky, reconhecendo a natureza sígnica da obra de arte, pressupõe um recebedor,

visto que a significação advém da articulação entre leitor e autor. Assim, reconhece a

importância da natureza perceptiva, pois é o receptor que transforma a obra em objeto

estético. Zilberman, explicando essa relação, diz que “a obra de arte é um signo, porque a

significação é um aspecto fundamental de sua natureza, mas ela só se concretiza quando

percebida por uma consciência, a do sujeito estético.” (ZILBERMAN, 1989. p. 21).

Mukarovsky ainda reconhece que o recebedor é uma consciência coletiva que

liga a visão imanente da obra de arte à sociologia. Chega ao conceito de norma, sua

principal contribuição para a Teoria da Literatura. Zilberman explica que normas para ele -

“são elementos de estabilização do sistema e incluem não somente critérios literários, mas

ideológicos, morais, sociais, etc”. Afirma a pesquisadora que este conceito é importante por

indicar um caráter coletivo da percepção estética, configurando “um horizonte reconstituído

pela história da literatura”. Dessa forma, coloca a literatura como um fenômeno contínuo e

transformador. A norma liga leitor à obra literária, pois este precisa completar vazios

presentes no objeto estético. Conseqüentemente, registra a autora, “o valor deste objeto não

se confunde com qualquer substância, nem é fixo no tempo”.

Felix Vodicka, seguidor de Mukarovsky, anos 40, valida o pensamento

formalista de que a percepção da obra de arte não se dá de modo direto. Propõe uma nova

história da literatura apoiada na noção de repercussão e recepção. Vodicka parte do

conceito de concretização. Discordando de Roman Ingarden - que considera que o leitor

concretiza aspectos esquematizados do mundo ficcional apresentado a ele - o pesquisador

afirma que a concretização se realiza por meio de um código introjetado pelo recebedor

Em A validade da interpretação, E. D. Hirch Jr. (1967), ampliando o significado

da fenomenologia de Husserl, afirma que “pode haver várias interpretações diferentes e


30

válidas, mas todas elas devem se situar dentro do “sistema de expectativas e probabilidades

típicas” que o sentido do autor permitir”. A obra literária “pode significar coisas diferentes

para diferentes pessoas em diferentes épocas”.Ainda que “as significações variam ao longo

da história, ao passo que os sentidos permanecem constantes, os autores dão sentido às suas

obras, ao passo que os leitores lhes atribuem significações”. (EAGLETON,1997, p. 92).

No entanto, sua posição é vista como autoritária e jurídica, posto que considera

o significado pretendido pelo autor, o sensor definitivo para a interpretação de um texto.

Para, Hisrch, “o significado é o que o autor pretendeu que fosse, e não deve ser roubado ou

invadido pelo leitor. O significado do texto não deve ser socializado, não deve se

transformar em propriedade pública de seus vários leitores”. Contrapondo-se às idéias de

Hisrch, Hans-Georg Gadamer compreende que:

...o significado da linguagem é uma questão social: há um sentido real no


qual a linguagem pertence à minha sociedade antes de pertencer a mim”.
Ele afirma que “o significado de uma obra literária não se esgota nunca
pelas intenções do seu autor; quando passa de um contexto histórico para
outro, novos significados podem dela ser extraídos, provavelmente nunca
imaginados pelo autor ou pelo público contemporâneo dele.
(EAGLETON,1997, p. 98).

É reconhecido que as idéias de Gadamer se aproximam consideravelmente do

conceito de leitor que a Estética da Recepção nos apresenta. Ele já reconhece em seus

estudos que “a interpretação é situacional, modelada e limitada pelos critérios

historicamente relativos de uma determinada cultura”. Mais que isso, também reconhece

que “a interpretação de uma obra do passado consiste num diálogo entre o passado e o

presente [e que] o presente só é compreensível em função do passado com o qual forma

uma viva continuidade”. Em suas palavras constata-se que “o entendimento ocorre quando
31

nosso ‘horizonte’ de significados e suposições históricas se ‘funde’ com o ‘horizonte’

dentro do qual a própria obra está colocada” (EAGLETON,1997. p. 98-99).

Segundo Regina Zilberman, Gadamer “ofereceu ao pensamento alemão a

possibilidade de uma reflexão filosófica que, prosseguindo as investigações de

Shleiermacher e Dilthey no século XIX, Heidegger, no século XX, renova o estatuto da

hermenêutica e possibilitava a (re)visão da história sem ter de percorrer a trilha, talvez já

demais batida , do marxismo.” ( ZILBERMAN,1989. p.11-12).

Contribuíram também para a formação do conceito de leitor, os postulados de

Ingarden sobre a concretização. Segundo esse teórico polonês o leitor seleciona e organiza

seus elementos em todos coerentes, excluindo alguns e destacando outros concretizando certos

itens. E, ainda, que:

A leitura não é um movimento linear progressivo, uma questão


meramente cumulativa: nossas especulações iniciais geram um quadro de
referências para a interpretação do que vem a seguir, mas o que vem a
seguir pode transformar retrospectivamente o nosso entendimento
original, ressaltando certos aspectos e colocando outros em segundo
plano.(EAGLETON, 1997. p. 106).

Como se pode observar pelas considerações feitas até este ponto, a figura do

receptor só veio a ganhar maior atenção a partir da década de 60, momento em que novas

propostas metodológicas se apresentam. Segundo Zilberman “este período caracterizou-se,

efetivamente, por transformações que afetaram a vida universitária.”

A nova proposta chamada de “Estética da Recepção” ou “Teoria da Recepção”

inova no campo da teoria da literatura, quando questiona a experiência estética e suas

manifestações na história da arte e da literatura. No interior dessa estética encontramos,

entre outros nomes, Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss.

Explicando a atuação do leitor implícito, Compagnon (2001) observa que:


32

A análise da recepção visa o efeito produzido no leitor, individual ou


coletivo, e sua resposta ao texto considerado como estímulo”. Ainda que
“os trabalhos desse gênero se repartem em duas grandes categorias: por
um lado, os que dizem respeito à fenomenologia do ato individual de
leitura (originalmente em Roman Ingarden, depois em Wolfgan Iser), por
outro lado, aqueles que se interessam pela hermenêutica da resposta
pública ao texto (em Gadamer e particularmente Hans Robert Jauss).
(COMPAGNON, 2001. p. 148).

Nota-se que, para chegarmos às categorias indicadas por Iser e Jauss –

horizontes de expectativas, o efeito e a recepção, a concretização; a distância estética; a

experiência estética - um caminho de pesquisas e constatações se fizeram presentes ao

longo do tempo. Tais categorias são essenciais para a visão de um leitor atual, que não mais

é visto apenas como um mero receptor, alguém que apenas executa o ato de leitura como

se este não tivesse nenhuma implicação no entendimento do texto.

2.3. Construção de sentidos – o efeito e a recepção.

A concretização da leitura, as normas e os valores extraliterários, as expectativas

do leitor, a maneira como se lê e como se faz a construção dos sentidos, tanto do leitor

virtual quanto do leitor coletivo, conceitos distintos, são dados vitais para o entendimento

das duas grandes categorias que se colocam agora como fatores importantes para a

compreensão do que é o leitor. E para isso observamos a distinção estabelecida por Jauss

entre o que é o efeito e recepção. Quanto ao primeiro, observa-se que é determinado pela

obra, o segundo, que depende do destinatário ativo e livre. (COMPAGNON, 2001. p. 127)

Segundo Jauss, “a experiência estética não se inicia pela compreensão e

interpretação do significado de uma obra; menos ainda, pela reconstrução da intenção de

seu autor. Ela se realiza pela sintonia de seu efeito estético na compreensão fruidora e na

fruição compreensiva.” Portanto, continua ele, “faz-se necessário diferenciar

metodicamente os dois modos de recepção. Ou seja, de um lado aclarar o processo atual


33

em que se concretizam o efeito e o significado do texto para o leitor contemporâneo e, de

outro, reconstruir o processo histórico pelo qual o texto é sempre recebido e interpretado

diferentemente, por leitores de tempos diversos.” (LIMA, 1979. p. 46)

Iser também reconhece essa distinção quando ele diz que a obra literária tem

dois pólos: o artístico e o estético. Quanto ao primeiro, ele argumenta que se refere ao texto

produzido pelo autor. Já o segundo, diz respeito à concretização realizada pelo leitor.

Justificando essa divisão ele diz que:

É claro que a própria obra não pode ser idêntica ao texto nem a sua
concretização, mas deve situar-se em algum lugar entre os dois. Ela deve
inevitavelmente ser de caráter virtual, pois não pode reduzir-se nem à
realidade do texto nem à subjetividade do leitor, e é dessa virtualidade que
ela deriva seu dinamismo. Como o leitor passa por diversos pontos de
vista oferecidos pelo texto e relaciona suas diferentes visões a esquemas,
ele põe a obra em movimento, e se põe ele próprio igualmente em
movimento. (ISER, 1985. p. 48).

O que se conclui com os dizeres de Iser é que a construção dos sentidos se dá

por um efeito experimentado pelo leitor e não apenas por uma definição preestabelecida

pelo autor da obra. Explicando essa interação, Compagnon diz que “a literatura tem uma

existência dupla e heterogênea que se concretiza somente pela leitura. O Objeto literário

autêntico é a própria interação do texto como o leitor, um esquema virtual em que o texto

instrui e o leitor constrói”. (COMPAGNON, 2001. p. 150).

Para Iser o leitor implícito é uma construção presente no texto e percebida pelo

leitor real por meio das instruções do próprio texto. Esta dinâmica se estabelece como um

jogo. Ele ainda afirma que “o conceito de leitor implícito designa uma rede de estruturas

que pedem uma resposta, que obrigam o leitor a captar o texto.” Portanto, explica

Compagnon, o leitor nesta perspectiva é reconhecido como uma estrutura textual bem

como um ato estruturado. Iser ainda observa como fator importante o repertório trazido

pelo leitor. Trata-se este de “um conjunto de normas sociais, históricas, culturais trazidas
34

pelo leitor como bagagem necessária à sua leitura.” Para que a leitura se efetive, de acordo

com este pensador, é necessária uma interseção entre o repertório do leitor real e o

repertório do leitor implícito.

O leitor de Iser é caracterizado por Compagnon como um ser de “um espírito

aberto, liberal, generoso, disposto a fazer o jogo do texto. Um leitor ideal, crítico e culto,

familiarizado com estruturas dos textos canônicos, mas curioso em relação aos modernos”.

No entanto, Iser sofreu críticas severas por sua posição moderada quanto à pluralidade de

sentidos dos textos e por ignorar, a seu modo, a posição do leitor na história. O centro de

sua análise visa sobretudo os aspectos “estéticos” da obra.

A segunda grande categoria proposta pela Estética da Recepção diz respeito à

dimensão coletiva da leitura. Hans Robert Jauss, segundo T. Eagleton, “procura situar a

obra literária num ‘horizonte’ histórico, o contexto dos significados culturais dentro dos

quais ela foi produzida, para em seguida explorar as relações variáveis entre ela e os

‘horizontes’, também variáveis, dos seus leitores históricos”. (EAGLETON, 1997. p. 114).

É notório que a conferência ministrada por Jauss na Universidade de Constança,

em 1967, teve como um de seus objetivos principais colocar em cheque as convenções

vigentes na história da literatura8 até então. Além disso, assinalar posição contrária aos

métodos de ensino da literatura e propor novos caminhos. Ao criticar Formalistas e

Marxistas, Jauss afirma que:

Seus métodos apreendem o fato literário no circuito fechado de uma


estética da produção e da representação; com isso, eles despojam a
literatura de uma dimensão que é, contudo, necessariamente inerente à sua
própria natureza de fenômeno estético e à sua função social: a dimensão
do efeito produzido (wirkung) por uma obra e do sentido que lhe atribui
um público de sua “recepção”. O leitor, o ouvinte, o espectador – numa
palavra: o público enquanto fator específico, só representa, numa e noutra
teoria, um papel absolutamente reduzido. (JAUSS,1967, p.43-44).

8
Expressão utilizada por Regina Zilberman, 1989. p. 30.
35

Jauss continua sua crítica dizendo que a estética marxista ortodoxa não trata o

leitor de forma diferente da que trata o autor, interrogando-o apenas quanto a sua situação

social. Quanto aos Formalistas, ele evidencia que a obra só precisa do leitor enquanto

sujeito da percepção que, segundo as incitações do texto, deve discernir a forma ou

descobrir o procedimento técnico.

A solução proposta por Jauss para esse impasse passa, segundo Zilberman, pelo

reconhecimento e incorporação da dimensão de recepção e efeito da literatura. Jauss mostra

com suas premissas que o caráter estético e o papel social da arte se concretiza na relação

obra/leitor. Ele diz que “a vida da obra literária não pode ser concebida sem a participação

ativa de seu destinatário”. Desta forma, Jauss confere ao leitor uma importância decisiva

enquanto sujeito da percepção na relação proposta.

2.4. Uma leitura de Jauss segundo Regina Zilberman.

Passaremos agora a apresentar o projeto de reformulação da história da

literatura proposto por Jauss. Para isso nos valemos das sete teses de Jauss e das

considerações de Regina Zilberman - Estética da Recepção e História da Literatura,

1989- em que ela sintetiza com bastante eficiência o projeto desse teórico. Nos atemos,

desse ponto em diante, apenas a registrar as informações, não emitindo nenhum juízo de

valor ou considerações de outros pesquisadores.

Jauss, ao observar as escolas marxista e formalista quanto ao papel do leitor,

constata que o grande desafio da ciência literária é a superação do “abismo entre

literatura e história, entre conhecimento histórico e o estético”. Ele mostra que o leitor,

ignorado em seu papel pelos dois métodos, “é imprescindível tanto para o conhecimento
36

estético quanto para o histórico: o papel do destinatário a quem, primordialmente a obra

literária visa”. (JAUSS, 1967).

Continuando sua análise, o pesquisador afirma que a obra literária é

condicionada pela relação dialógica entre literatura e leitor, numa relação que possui

implicações tanto estéticas quanto históricas. A partir dessas constatações, Jauss questiona

a forma como se poderia, então, “fundamentar metodologicamente e reescrever a história

da literatura”. Para explicar seu ponto de vista sobre a questão, Jauss formula um projeto

dividindo-o em sete teses. Zilberman analisa os pressupostos do teórico, orientando que das

sete teses do projeto, as quatro primeiras oferecem as linhas mestras da metodologia

explicitada nas três últimas.

1ª tese - Uma renovação da história da literatura demanda que se


ponham abaixo os preconceitos do objetivismo histórico e que se
fundamentem as estéticas tradicionais da produção e da representação
numa estética da recepção e do efeito. A historicidade da literatura não
repousa numa conexão de “fatos literários” estabelecida post festum, mas
no experienciar dinâmico da obra literária por parte de seus leitores. Essa
mesma relação dialógica constitui o pressuposto também da história da
literatura. E isso porque, antes de ser capaz de compreender e classificar
uma obra, o historiador da literatura tem sempre de novamente fazer-se ,
ele próprio, leitor. Em outras palavras: ele tem de ser capaz de
fundamentar seu próprio juízo tomando em conta sua posição presente na
série histórica dos leitores. (JAUSS, 1967, p. 24.)

Segundo Zilberman, a atualização, natureza eminentemente histórica da

literatura, manifesta-se durante o processo de recepção e efeito de uma obra, isto é, quando

esta se mostra apta à leitura. A obra pode se atualizar como o resultado da leitura. Esta

atualização ocorre com um indivíduo capaz de efetivá-la – o leitor. Este, nesse momento, é

visto enquanto subjetividade variável, dependente de suas experiências pessoais.

2ª tese - A análise da experiência literária do leitor escapa ao


psicologismo que a ameaça quando descreve a recepção e o efeito de uma
obra a partir do sistema de referências que se pode construir em função
das expectativas que, no momento histórico do aparecimento de cada
37

obra, resultam do conhecimento prévio do gênero, da forma e da temática


de obras já conhecidas, bem como da oposição entre a linguagem poética
e a linguagem prática. (JAUSS, 1967, p. 27).

A experiência literária do leitor constitui seu saber prévio. Segundo Jauss, os

elementos necessários para medir a recepção de um texto encontram-se no interior do

sistema literário. O pesquisador se refere portanto a um saber virtual prévio. A obra não se

apresenta como novidade absoluta num vazio informativo, se não que “predispõe seu

público por meio de indicações, sinais evidentes ou indiretos, marcas conhecidas ou avisos

implícitos.” A obra predetermina a recepção, oferecendo orientações a seu destinatário.

Para Jauss, ela evoca um “horizonte de expectativas e regras do jogo”

familiares ao leitor que “são imediatamente alteradas, corrigidas, transformadas ou também

apenas reproduzidas. Cada leitor pode reagir individualmente a um texto, mas a recepção é

um fato social. Este é o horizonte que marca os limites dentro dos quais uma obra é

compreendida em seu tempo e que, sendo ‘trans-subjetivo’, condiciona a ação do texto”.

(ZILBERMAN, 1989, p. 34)

3ª tese - O horizonte de expectativa de uma obra, que assim se pode


reconstruir, torna possível determinar seu caráter artístico a partir do
modo e do grau segundo o qual ela produz seu efeito sobre um suposto
público. Denominando-se distância estética aquela que medeia entre o
horizonte de expectativas preexistente e a aparição de uma obra nova –
cuja acolhida, dando-se por intermédio da negação de experiências
conhecidas ou da conscientização de outras, jamais expressas, pode ter
por conseqüência uma ‘mudança de horizonte’ - , tal distância estética
deixa-se objetivar historicamente no espectro das reações do público e do
juízo da crítica (sucesso espontâneo, rejeição ou choque, casos isolados de
aprovação, compreensão gradual ou tardia). (JAUSS, 1967, p. 31)

De acordo com as reflexões de Zilberman sobre essa tese, Jauss acredita que o

valor de uma obra decorre da percepção estética que ela pode suscitar (nesse momento se

aproxima dos formalistas e estruturalistas). Deduz-se que só é boa a criação que contraria a

percepção usual do sujeito. O valor se estabelece proporcionalmente, quanto maior a

distância entre leitor e obra maior a arte.


38

4ª tese - A reconstrução do horizonte de expectativa sob o qual uma obra


foi criada e recebida no passado possibilita, por outro lado, que se
apresentem às questões para as quais o texto constitui uma resposta e que
se descortine, assim, a maneira pela qual o leitor de outrora terá encarado
e compreendido a obra. Tal abordagem corrige as normas de uma
compreensão clássica ou modernizante da arte – em geral aplicadas
inconscientemente – e evita o círculo vicioso do recurso a um genérico
espírito da época. Além disso, traz à luz a diferença hermenêutica entre a
compreensão passada e a presente de uma obra, dá a conhecer a história
de sua recepção - que intermedeia ambas as posições – e coloca em
questão , como um dogma platonizante da metafísica filológica, a
aparente obviedade segundo a qual a poesia encontra-se atemporalmente
presente no texto literário, e seu significado objetivo, cunhado de forma
definitiva, eterna e imediatamente acessível ao intérprete. (JAUSS, 1967,
p. 35)

Da distância estética trata a quarta tese de Jauss. Zilberman afirma que esta é

mais comprometida com a hermenêutica por que procura examinar melhor a relação do

texto com a época de seu aparecimento. Ao explicar essa relação, a pesquisadora justifica

que a reconstituição do horizonte de expectativas diante do qual foi criada e recebida uma

obra possibilita chegar às perguntas a que respondeu. Isto significa, segundo ela, descobrir

como o leitor da época pôde percebê-la e compreendê-la, recuperando o processo de

comunicação que se instalou. “Por responder a novas questões em épocas distintas o texto

explicita sua historicidade, concomitantemente contrariando a idéia de estar possuído por

um ‘presente atemporal’, com um sentido fixado para sempre”. (ZILBERMAN, 1989, p.

36)

Citando Gadamer, a pesquisadora argumenta que “compreender é sempre

proceder ao processo de fusão dos horizontes aparentemente independentes um do outro.”

Todo texto incorpora interpretações e recepções acumuladas no tempo, equivalentes a

“história dos efeitos”. (ZILBERMAN, 1989, p. 37)

Zilberman, considerando as quatro teses relacionadas anteriormente, afirma que

Jauss esclarece-investiga a literatura sob tríplice aspecto: o diacrônico (relativo á recepção

das obras literárias ao longo do tempo); o sincrônico (mostra o sistema de relações da


39

literatura numa dada época e a sucessão desses sistemas); e o relacionamento entre a

literatura e a vida prática.

5ª tese – A teoria estético-recepcional não permite somente apreender


sentido e forma da obra literária no desdobramento histórico de sua
compreensão. Ela demanda também que se insira a obra isolada em sua
‘série literária’, a fim de que se conheça sua posição e significado
histórico no contexto da experiência da literatura. No passo que conduz de
uma história da recepção das obras à história da literatura, como
acontecimento, esta última revela-se um processo no qual a recepção
passiva de leitor e crítico transforma-se na recepção ativa e na nova
produção do autor – ou, visto de outra perspectiva, um processo no qual a
nova obra pode resolver problemas formais e morais legados pela
anterior, podendo ainda propor novos problemas. (JAUSS, 1967, p. 41)

Zilberman, ao explicar o caráter diacrônico, afirma que este é relativo à

recepção das obras literárias ao longo do tempo. Sua argumentação continua afirmando que

para situar uma obra literária na história é preciso levar em conta a experiência literária que

a propiciou, ou seja, a história dos efeitos. Uma obra não perde seu poder de ação ao

transpor o período em que apareceu. O novo é uma qualidade móvel, com sentido estético

e também histórico, quando provoca o resgate de períodos passados. A História deixa de ser

vista como progresso e evolução. Ela se faz de avanços e recuos, reavaliações e retomadas

de outras épocas.

6ª tese – Os resultados obtidos pela lingüística com a diferenciação e


vinculação metodologicamente da análise diacrônica e da sincrônica
ensejam, também no âmbito da história da literatura, a superação da
contemplação diacrônica, até hoje a única habitualmente empregada. Se já
a perspectiva histórico-recepcional depara constantemente com relações
interdependentes a pressupor um nexo funcional. (“posições bloqueadas
ou ocupadas diferentemente”) nas modificações da produção literária,
então há de ser igualmente possível efetuar um corte sincrônico
atravessando um momento do desenvolvimento, classificar a
multiplicidade heterogênea de obras contemporâneas, segundo estruturas
equivalentes, opostas e hierárquicas e, assim, revelar um amplo sistema
de relações na literatura de um determinado momento histórico. Poder-se-
ia, então, desenvolver o principio expositivo de uma nova história da
literatura dispondo-se mais cortes no antes e no depois da diacronia, de tal
forma que esses cortes articulem historicamente, em seus momentos
constitutivos de épocas, a mudança estrutural na literatura. (JAUSS, 1967,
p. 46)
40

Esta tese, nos dizeres de Zilberman, aborda a Literatura e seu caráter sincrônico

mostrando o sistema de relações da literatura numa dada época e a sucessão desses.

Portanto, observa uma obra entre outras do próprio sistema literário a que pertence. Tal

observação focaliza o momento histórico e a articulação da referida obra com outras que

podem compor uma multiplicidade não simultânea. Segundo a pesquisadora:

Esta multiplicidade de manifestações literárias volta a constituir para o


público que as percebe como obras de sua atualidade e relaciona-as umas
com as outras, a unidade de um horizonte, comum e gerador de
significados, expectativas, recordações e antecipações literárias. È preciso
proceder à análise do simultâneo, bem como das mudanças, comparando
cortes e descobrindo os pontos de interseção, a fim de definir que obras
têm caráter articulador, acionando “o processo da ‘evolução literária’, em
seus momentos formadores e nas rupturas (ZILBERMAN, 1989, p. 38)

Finalmente a última tese:

7ª tese – A tarefa da história da literatura somente se cumpre quando a


produção literária é não apenas apresentada sincrônica e diacronicamente
na sucessão de seus sistemas, mas também como história particular, em
sua relação própria com a história geral. Tal relação não se esgota no fato
de podermos encontrar na literatura de todas as épocas um quadro
tipificado, idealizado, satírico ou utópico da vida social. A função social
somente se manifesta na plenitude de suas possibilidades quando a
experiência literária do leitor adentra o horizonte de expectativa de sua
vida prática, pré-formando seu entendimento do mundo e, assim,
retroagindo sobre seu comportamento social. (JAUSS, 1967, p. 50)

Ao abordar o relacionamento entre a literatura e a vida prática, Zilberman

observa que Jauss apresenta as relações entre literatura e sociedade. Segundo ela, não sendo

marxista, esse pensador enfatiza a função formadora da literatura: a literatura pré-forma a

compreensão de mundo do leitor, repercutindo então em seu comportamento social. Arte

existe para contrariar expectativas, pode levar o leitor a uma nova percepção de seu

universo. “a relação entre literatura e leitor pode atualizar-se tanto no terreno sensorial

como estímulo à percepção estética, como também no terreno ético enquanto exortação à

reflexão moral”. Este é fundamento para uma nova ciência literária.


41

De acordo com Zilberman, a ciência precisa examinar seu objeto desde o ângulo

da ação que provoca. Para ela, Jauss, assumindo os méritos e problemas dos conceitos

adotados por formalistas e estruturalistas, supera a acepção essencialista de valor e enfatiza,

na dinâmica da história da literatura, o papel do público, procurando descrevê-lo como

elemento ativo e determinante.

Zilberman mostra que as noções de recepção e efeito muitas vezes se

confundem. No entanto, o efeito significa um impacto da obra na sociedade e na história,

outras vezes, resposta do leitor a sua experiência. Ela explica que as teses de Jauss se

destinam ao campo aplicado, visando conhecer melhor o produto artístico coletado pela

história da literatura.
42

3. DESCRIÇÃO DAS VINTE TESES E DISSERTAÇÕES

“Quatro rodas giram lentamente uma ciranda.


Rodando vão tão longe
Cada roda a sua maneira
Têm em si todas as rodas
Rodadança da criação.

Há tempo pra girar-mundo


Na intuição, no simbólico, na notação.
Há tempo pra pensar
Sobre o pensar do gira-mundo.
Cada tempo tem seu giro
Cada giro tem seu tempo
Notação que já acontece
No ciclo de invenção.

São movimentos tocantes


Elos da metamorfose
Mandalas da expressão
Arte na vida
Voltas da roda gigante
Que só não cessam
Se lhes for dada atenção”.

(Mirian Celeste Martins)


43

As dissertações e teses descritas, analisadas e avaliadas nesse capítulo foram

selecionadas entre as universidades do Brasil que possuem produção acadêmica sobre

leitura/recepção de textos. Num primeiro momento, procuramos entre as principais

instituições do Brasil por meio de contato com as bibliotecas - UNESP, USP, PUC – RJ,

PUC – R G do Sul, U. F. M. G. Nossa intenção foi atingir um número de instituições que

mostrasse a importância das mesmas enquanto centro acadêmico no Brasil, formando assim

um corpus com representatividade das várias regiões do país.

Os textos foram conseguidos por comut e/ou intercâmbios, adquiridos por

doação ao grupo de pesquisa de Leitura e Ensino de Literatura da UNESP de Assis ou pela

Internet em vários sites mantidos pelas instituições já relacionadas e plataformas de

pesquisa. Entre eles destacamos o portal de periódicos CAPES; o Projeto Memória de

Leitura – UNICAMP; a Divisão de Bibliotecas e Documentação Puc- Rio; a Universidade

Brasil – o portal dos universitários; a Biblioteca Nacional – catálogos on-line de

monografias, periódicos, obras de referência, teses, músicas, manuscritos, obras raras,

iconografia, etc.; a Biblioteca Virtual de Educação; o IBICIT; o MIT Theses On – Line.

Nesse processo encontramos nomes de diversos textos que a princípio nos

interessaria e passamos a buscá-los. É importante ressaltar que foi um grande obstáculo a

essa pesquisa a aquisição dos textos selecionados e, desta forma, decidimos como primeiro

critério, trabalhar com os que tivemos acesso efetivo. Outro critério utilizado diz respeito à

não publicação dos mesmos em formato de livro. Entre esses, chegamos ao corpus

eliminando os que não atendiam aos critérios mencionados.

É necessário dizer que nem todas as universidades do país estão de fato

presentes nessa seleção. Certamente se notam algumas ausências o que não significa que

são de menor importância para o tema tratado aqui. Apenas não se fizeram representar pela

dificuldade de acesso ao acervo de tais instituições.


44

Quanto aos itens que compõem a grade de descrição, foi determinado após a

leitura das dissertações e teses encontradas, observando-se quais dados eram semelhantes e

unificariam a descrição das mesmas.

Para a classificação de tipo apresentada para esses textos (Pesquisa de Efeito –

Pesquisa Recepção – Pesquisa Efeito/Recepção) utilizamos como critério a figura do leitor

observando sua existência real ou apenas prevista pela estrutura de apelo do texto. Desta

forma chegamos às categorias apresentadas que descreveremos de forma mais completa nas

reflexões presentes no capítulo 4.

Decidimos também apresentar o resumo oferecido pelos pesquisadores, da

forma como foram registrados, por acharmos importante para o tipo de estudo que

propomos aqui.
45

PESQUISA 1.

a. Dados de identificação.

Autor: Cleusa Ferreira Marândola.

Orientador: Prof. D. Fernando Correia Dias.

Título: A Recepção da Literatura: teoria e prática da estética da recepção.

Instituição: Universidade de Brasília.

Nível de qualificação: Mestrado - Curso de Pós-Graduação em Letras e Lingüística.

Ano de finalização: 1980.

Número de Páginas: 141.

Tipo: Pesquisa de Recepção pela crítica especializada.

Resumo da obra:

Este estudo tem por objetivo verificar a aplicabilidade dos princípios


da estética da recepção de Hans Robert Jauss no romance de Ciro dos
Anjos – O Amanuense Belmiro.
Com este propósito, procurou-se inicialmente definir a situação atual
da estética da recepção no contexto das modernas correntes da crítica.
Foram examinados alguns estudos que antecederam às reflexões da
estética da recepção, por exemplo àqueles presentes nas obras de H. G.
Gadamer, Jan Mukarovský, Felix Vodicka e Michael Riffaterre, bem
como a posição de seus principais representantes: H. R. Jauss, Wolfgang
Iser e H. U. Gumbrecht. Deste grupo bastante heterogêneo colocou-se em
destaque o método de Jauss, por ser o mais representativo dentro das
várias possibilidades da Estética da Recepção.
A escolha do romance de Ciro dos Anjos é justificada pela
permanência da obra no contexto da literatura brasileira, pela abundante
bibliografia existente sobre ela e pelo reconhecimento que tem recebido
desde sua publicação até o momento presente.
A análise da recepção de O Amanuense Belmiro baseou-se na
reconstrução das diferentes interpretações da obra registradas em jornais,
livros e revistas especializadas. Este estudo, que abrange cinco décadas
(1930/1970), levou em conta tanto o aspecto diacrônico – a reconstrução
dos vários momentos da recepção da obra; como o aspecto sincrônico – o
relacionamento do romance com as obras representativas do seu ambiente
literário.
Através da análise das diversas interpretações da crítica pôde-se
constatar que O Amanuense Belmiro, por ser uma obra antitética à
novelística brasileira da década de trinta, causou impacto no momento de
sua publicação. Sua recepção determinou uma “modificação de
horizonte” e seu valor estético foi confirmado pela distância entre suas
46

qualidades literárias e as expectativas do leitor, na época de sua


publicação.
O diálogo entre a obra e o público, num período acima de quarenta
anos, revelou seus valores literários, os quais garantiram seu sucesso e
sobrevivência. O Amanuense Belmiro, foi visto pela crítica como uma
obra herdeira de uma tradição clássica na novelística brasileira – a do
romance psicológico, que teve em Machado de Assis o autor mais
lembrado – e, ao mesmo tempo, como uma obra de caráter atual.
(MARÂNDOLA, 1980, 138-139)

b. Objetivos.

A pesquisadora se propôs:

• Verificar a aplicabilidade dos princípios da estética da recepção do referido

objeto de estudo.

• Revelar o diálogo entre a obra e o público, chegando a um juízo valorativo

histórico-estético.

• Determinar o horizonte de expectativas da crítica, pela reconstrução do

processo pelo qual o texto é sempre recebido por leitores de tempos diversos.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Marândola analisou o romance O Amanuense Belmiro de Ciro dos Anjos.

Justificou sua escolha por ser o autor:

Um representante do Modernismo brasileiro, que, apesar de toda onda de


modismos de sua época, conseguiu sobreviver lançando para o público
uma obra de grande valor estético. Além disso, a pesquisadora classifica
a obra como “um romance que resiste à corrosão do tempo, ao
esquecimento, permanecendo nessa realidade brasileira tão adversa à
literatura, constituindo um fenômeno que precisava ser estudado”.
(MARÂNDOLA,1980, p. 35)
47

Consta da bibliografia da pesquisa apenas a 8ª edição da obra, publicada no

Rio de Janeiro pela José Olimpio em 1975. No entanto, no corpo do texto, a pesquisadora

observa que a reconstrução do processo pelo qual o texto foi recebido e interpretado por

leitores de tempos diversos compreenderá cinco momentos: o primeiro – engloba a 1ª

edição em 1937 e a 2ª edição em 1938 do livro; o segundo – aborda a década de quarenta

referenciando a 3ª edição do livro em 1949; o terceiro – marca a 4ª edição em 1955

(Lisboa), tratava-se de uma edição conjunta de O Amanuense Belmiro e Abdias (1957); o

quarto – mostra a década de sessenta com a 6ª edição do livro em 1966; o quinto – finaliza

com a década de setenta, para a qual a pesquisadora não evidenciou nenhuma publicação

em especial, mas se trata da 8ªedição (1975), analisada por ela.

c.2. Tipo de leitor.

Como a pesquisadora faz uma demonstração da análise da recepção por meio

da crítica em diferentes épocas, não se fixou em um sujeito-leitor específico como nos

projetos que visam à pesquisa aplicada. Desta forma a pesquisadora vale-se de autores

anônimos, articulistas de jornal, escritores e críticos da literatura para perceber o que

propôs. Entre eles encontramos: Ramos de Almeida, Milton Amado, Laís Correia de

Araújo, Sylvia Bedran, Almir de Andrade, Carlos D. de Andrade, Mário de Andrade,

Tristão de Athayde, Jayme de Barros, J. Bernardes Filho, Haroldo Bruno, Antonio

Candido, Silvio Castro, Edgard Cavalheiro, Amândio César, Dias da costa, Raimundo

Correia, Fernando Correia Dias, Eduardo Frieiro, Robert D. Herron, Álvaro Lins, Ayres da

Mata Machado filho, Jácomo Mandatto, Luís Martins, Carlos Menezes, Adolfo Casais

Monteiro, José Augusto Pereira, Eduardo Portella, Roberto Schwarz, Tasso Silveira, João
48

Gaspar Simões, Nelson W. Sodré, entre outros.9

Os textos foram divididos em duas categorias – crítica jornalística e ensaio

crítico – com objetivos obviamente distintos. No primeiro grupo encontramos textos com o

objetivo de informar os leitores da existência do livro de Ciro dos Anjos. Já no segundo

grupo, realizou-se uma análise mais profunda da obra. Portanto, o leitor que Marândola

trabalha aqui se trata de um leitor real, produzindo textos com objetivos variados a partir

da década de trinta até setenta. Esse leitor – especialista em crítica literária - é histórico,

mais experiente e mostra a recepção da obra por meio de leitores anônimos, considerados

em conjunto de acordo com as edições da obra de Ciro dos Anjos.

c.3. Tipo de documento analisado referente à recepção e/ou ao efeito

analisado.

Marândola utilizou para a análise da recepção da obra de Ciro dos Anjos,

textos da crítica separados em dois grupos: “crítica jornalística e ensaio critico”, nomes

atribuídos por ela de acordo com o interesse e objetivo do texto produzidos nas décadas de

30, 40, 50, 60 e 70. Verificou-se nessa análise dados de edição e publicação como ponto de

referência.

Seu estudo se fixa em fontes denominadas por ela como empíricas compostas

por resenhas críticas, artigos de jornal e revistas, coletados em sua maioria pela Fundação

Casa Rui Barbosa e Arquivo Museu de Literatura do Rio de Janeiro. Consta do material

analisado, capítulos de livros e obras completas sobre Ciro dos Anjos.

Ao situar a obra tal como ela se apresenta ao leitor, a pesquisadora mostra sua

ligação com obras anteriormente publicadas, traça as fronteiras do horizonte no qual ela se

9
Os nomes elencados foram registrados na ordem em que apareceram na bibliografia, sem distinção de
função entre eles, nem grau de relevância
49

inseriu e detecta no texto elementos que objetivamente pareciam dirigir o público para uma

certa modalidade de recepção

d. Base teórica e bibliografia destacada na pesquisa.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

A proposta se baseia na reconstrução do processo pelo qual o texto é recebido

e interpretado por leitores de tempos diversos. Tal estudo levou em conta três níveis: o

diacrônico – observando a inter-relação dos vários momentos da recepção; o sincrônico –

marcando o relacionamento com as obras representativas do momento no mesmo

ambiente literário; o extraliterário – compreendendo quais pressuposições históricas ou

culturais abriram caminho para compreensão da obra e seu alinhamento numa série.

No segundo capítulo a pesquisadora teceu considerações gerais sobre a teoria

da Estética da Recepção. Partiu da apresentação da obra de H. R. Jauss, observando em

seus pressupostos a prioridade dada à análise e ao aspecto da recepção sobre os da

produção e da representação. Segundo a pesquisadora, a teoria se contrapõe às teorias

formalistas e estruturalistas, que se preocupavam com a estrutura imanente, privilegiando o

autor e o texto, deixando em papel secundário o leitor. Marândola diz que a Estética da

Recepção, ao contrário disso, propõe a concepção de abertura do horizonte de significação

da literatura e da contribuição do leitor, que realiza e dá sentido à obra.

Marândola aponta as contribuições vindas de Mukarovsky (1934), Felix

Vodicka (1941) e Ingarden (1973) dizendo que “os tchecos foram bem sucedidos na

elaboração de alguns postulados básicos para a Teoria da Recepção, pois lançaram uma
50

ponte sobre a lacuna existente entre os estudos sincrônicos e diacrônicos”. A comprovação

de suas afirmações foi realizada com a citação de Fokkema (1977).

Sua observação mostra que H.R. Jauss foi mais detalhista quanto aos aspectos

apontados. Seu estudo sobre a recepção procurou focalizar o caráter histórico da literatura

nos três níveis já citados anteriormente. Quanto a isso ela lança mão dos ensaios de Kothe

(1977) e Fokkema (1977).

Ainda na parte teórica da pesquisa, Marândola observa a diferença existente

entre os pressupostos de Jauss e W. Iser. Segundo ela, na abordagem de Iser “o leitor é

diretamente confrontado com o texto, não levando em consideração as condições históricas

de interpretação, nem a concretização legitimada por um público”. A autora observa que há

uma “não convergência” de posições entre os teóricos: Jauss, valorizando a recepção da

obra, do modo como ela é ou deveria ser recebida; Iser concentra-se no efeito observando

como se estabelece a ligação entre texto e leitor.

Outro crítico citado na comprovação das afirmações lançadas no texto, foi H.

U. Gumbrecht (1977) . Segundo este autor, “... a verdadeira inovação da Estética da

Recepção consistiu em ter abandonado a classificação da quantidade das exegeses

possíveis e historicamente realizadas sobre um texto, em muitas interpretações ‘falsas’ e

uma ‘correta’. Seu interesse cognitivo se desloca da tentativa de constituir uma

significação procedente para o esforço de compreender a diferença das diversas exegeses

de um texto.” (Gumbrecht (1977), apud MARÂNDOLA,1980, p.24).

Também observa como correspondente à conceituação de Gumbrecht, a teoria

desenvolvida por Michael Riffaterre (1959), no que diz respeito ao “controle da

decodificação” e ao emprego do “arquileitor”. Segundo ele, o emprego desta figura é

responsável por decifrar o texto, “é a soma de leituras, e não uma média [...] um

instrumento para assinalar os estímulos do texto”.


51

A pesquisadora segue sua explanação, resumindo as sete teses propostas por

Jauss (1967) evidenciando o que o teórico propôs. Para isso, inicia uma reflexão sobre a

Estética da Recepção e as escolas Marxista e Formalista.

Ao se referir à concepção marxista, constata que “a arte deixa por explicar

como é que a literatura e a arte podem ser capazes de definir-se ‘ativamente’ na sua base

social”. Essa teoria, segundo afirmações presentes no texto de Marândola, não consegue

explicar por que uma obra continua a proporcionar prazer estético e outras não. Tal

impossibilidade consiste , para Jauss, num dos pontos fracos da estética marxicista.

Retratando a teoria formalista, a pesquisadora observa o caráter histórico da

literatura, numa perspectiva diacrônica. Chega às contribuições dadas por Iuri Tinianov à

teoria da Estética da Recepção que “supõe um diálogo dinâmico entre obra, público e nova

obra, o qual pode ser enfocado como relação entre mensagem e receptor, entre estímulo e

resposta, entre problemas e solução”.(TINIANOV (1973), apud MARANDOLA, 1980,

p.41)

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

ANJOS, C. dos. O Amanuense Belmiro. 8ª ed. Rio de Janeiro: José Olimpio. 1975.10

B. Referências teóricas.

FOKKEMA, D.W. e KUNNE, I.E. Da crítica e da nova crítica. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 1977.

10
1ª ed. 1937.
52

GUMBRECHT, H. U. Sobre os interesses cognitivos, terminologia básica e métodos de

uma ciência da literatura fundada na teoria da ação (1977). In: COSTA, Luiz Lima. A

literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

INGARDEN, Roman. A obra de arte literária. Lisboa. Fundação Calouste Gulbenkian,

1973.

ISER, Wolfgang. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, L. C. A literatura e o leitor:

textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

JAUSS, H.R. A estética literária como desafio da ciência literária. Historia Medieval e

Teoria dos Gêneros. Porto: Soares Martins, 1974.

_______. A Estética da Recepção:colocações Gerais. In: LIMA, L. C.. A literatura e o

leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1979.

KOTHE, F. R.. O Formalismo como sistema. Cópia artigo inédito distribuído em aula na

UNB, junho de 1977.

MUKAROVSKY, J. A Arte como fato semiológico. (1934). In: TOLEDO, D. (org).

Círculo lingüístico de Praga: estruturalismo e semiologia. Porto Alegre: Globo, 1978.

RIFFATERRE, M.. Critérios para a análise de estilo (1959). In: Estilística estrutural. São

Paulo: Cultrix, 1973.

TINIANOV, I. Da evolução literária. (1927). In: TOLEDO, D. (org). Teoria da literatura:

formalistas russos. Porto Alegre: Globo, 1973.

VODICKA, F. A história da repercussão das obras literárias (1941) In: TOLEDO, D.

(org). Círculo lingüístico de praga: estruturalismo e semiologia. Porto Alegre:Globo, 1978.

pp. 2999-309.
53

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia

A dissertação de Marândola foi dividida em cinco partes distintas. Na primeira

delas, consta a introdução do texto. Já na segunda, a pesquisadora apresenta considerações

gerais sobre a Estética da Recepção. Nessa síntese, procurou definir a situação da teoria

no panorama das correntes contemporâneas do pensamento, enfocando alguns de seus

antecedentes e a posição de seus representantes máximos. Interessante foi o

reconhecimento feito pela pesquisadora sobre a antecipação das questões elencadas nessa

síntese em obras anteriores de Antonio Candido e João Alexandre Barbosa.

A terceira parte foi destinada ao resgate da teoria de Jauss com a

sistematização das sete teses do autor, bem como, as críticas recebidas.

A quarta parte versa sobre o que ela denomina de recepção da obra. A

pesquisadora observa que abordou o tema utilizando o referencial teórico sintetizado. Seu

objetivo foi determinar o horizonte de expectativas da mesma.

Consta na quinta parte do texto, a apresentação do autor, do romance e da

recepção da obra nas décadas indicadas. A recepção foi observada por meio de textos

colecionados ao longo de vários anos pelo próprio autor e doados à Fundação Casa de Rui

Barbosa, Rio de Janeiro. Como se pode constatar, a pesquisa se consolidou na análise dos

dados obtidos por meio dos registros da crítica ao longo do tempo. Por isso, a pesquisa foi

classificada como um estudo de recepção pela crítica especializada.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

A pesquisadora apresentou algumas conclusões relevantes. A primeira delas é

que boa parte do material analisado constava de artigos cuja preocupação básica consistia
54

em informar ao público a existência do livro. Mais próximo, portanto, do jornalismo e da

propaganda do que de uma crítica literária. Esta foi sendo reduzida e substituída por

ensaios críticos melhor elaborados em relação à interpretação e análise da obra. Nos textos

os autores centralizaram suas observações no conteúdo e no discurso, apoiando-se ainda em

categorias tomadas por empréstimo da sociologia e da psicologia.

Afirmou Marândola, que a obra de Ciro dos Anjos causou impacto no

momento de sua publicação. Ao longo dos anos, sua recepção determinou uma

“modificação de horizontes” e seu valor estético foi confirmado pela distância entre a

qualidade literária e as expectativas dos leitores – críticos que produziram artigos sobre o

romance - na época de sua publicação. Observou que, embora existissem diferenças de

recepção do leitor nas diversas décadas, a obra continuava a circular como material de

leitura ao longo das décadas registradas por ela.

A autora verificou que os caminhos percorridos pelos críticos foram diversos,

mas as conclusões semelhantes. Em todas as fases da recepção houve a valorização de

determinados aspectos: influências recebidas, verossimilhança e apuro lingüístico do

texto. A crítica se ateve à apreciação estilística do autor, à análise das marcas presentes no

próprio texto e implícitas no discurso narrativo.

Esta pesquisa confirmou a concepção de Jauss que afirma “que a recepção, em

grande medida está inserida no texto e que o processo de recebê-lo não se reduz

simplesmente à sucessão casual de simples impressões subjetivas, mas trata de uma

percepção guiada”. Ainda mais, que não basta situar em seus lugares o autor, a obra, os

leitores e o intérprete atual, em seus papéis e respectivos horizontes, para se chegar à

análise da recepção de uma obra. É necessário tornar aqueles papéis e suas relações

palpáveis, através da reconstrução do diálogo da obra com o público, fundindo todos esses

horizontes que a primeira vista pareciam separados.


55

g. Avaliação sobre a pesquisa.

A pesquisa de Marândola é classificada como teórica voltada para a análise dos

pressupostos da Estética da Recepção. Não proporciona uma pesquisa aplicada, pois não

faz o que se denomina hoje uma pesquisa de campo. No entanto, foi classificada aqui como

Pesquisa de Recepção pela crítica especializada, por textos da crítica, não elaborados

especialmente para o registro da recepção de leitores reais, mas que observam a obra em

várias edições, focalizando como a mesma foi recebida, na visão da crítica, pelos leitores

anônimos.

O principal mérito do trabalho está em buscar em 1980 a compreensão de

assunto tão tardiamente colocado em evidência no Brasil. Os postulados de Jauss e Iser já

se faziam presentes desde a década de 60 no mundo da análise literária, porém, como

constata Zilberman, a chegada da teoria ao Brasil só se dá vinte anos depois.

Outro ponto positivo a se destacar é o fato dela condensar nos capítulos 2 e 3

uma visão geral sobre a Estética da Recepção, divulgando portanto seus pressupostos

teóricos. A autora se fixa às teses de Hans R. Jauss não abordando sistematicamente

Wolfgang Iser. Dessa forma, não se percebe na pesquisa de Marândola como as duas

teorias se complementam.

A pesquisadora se baseia em três objetivos que, ao nosso ver, são parcialmente

atingidos. Notamos que o propósito de verificar a aplicabilidade dos princípios da Estética

da Recepção no referido objeto de estudo concretiza-se na medida em que ela analisa o que

a crítica diz sobre a recepção do texto em diferentes épocas. No entanto, acreditamos que

as fontes utilizadas pela pesquisadora, denominadas como empíricas na bibliografia do

trabalho, são registros segundo as impressões de alguns críticos calcadas no próprio texto e

em notícias sobre a aceitação ou não da obra de Cyro dos Anjos em cada edição
56

mencionada. São, portanto, indicadores da recepção da obra, pois retratam um momento

histórico. A pesquisa foi classificada como recepção especializada, pois são textos

produzidos por pessoas que tinham como principal objetivo não só o registro de

impressões de leitura, da sua recepção propriamente dita, mas da análise do votada para

dados estruturais da narrativa, além de servirem como instrumentos de divulgação da obra e

de como o público de cada década a recebeu.

Segundo a própria pesquisadora, o material analisado era bastante heterogêneo

e fazia-se necessário uma divisão do mesmo em dois grupos que ela denominou, apoiando-

se em Afrânio Coutinho (1075), em “critica jornalística” e “ensaio crítico”. Quanto ao

primeiro, explica que se trata de “artigos, aos quais cabia em parte informar o público, em

parte criticar o livro e em parte anunciar a sua existência. Esta atividade aproxima-se do

jornalismo, da propaganda e por ausência de termo mais apropriado receberá o nome de

crítica jornalística”. Quanto ao segundo, diz à pesquisadora que “são artigos da crítica mais

profunda, analítica, de uma perspectiva mais profunda. 'aquela que mobiliza recursos

próprios de análise e interpretação”, acrescentando a estes os que lhes pode oferecer a

lingüística, a semântica, as ciências sociais, a psicologia, a filosofia, a história das artes, etc.

(MARÂNDOLA, 1980, p. 85-89)

Acreditamos, portanto, que funcionam como indicadores históricos do texto,

que são instrumentos destinados à coleta de dados específicos sobre a recepção realizada

por leitores mais experientes. Desta forma, a pesquisadora não se equivoca ao estabelecer

como objetivo a recepção de textos, no entanto devemos considerar sua ressalva sobre as

fontes, e enfatizar tais objetos como “ensaios da crítica”

Quanto a seu segundo objetivo, “revelar o diálogo entre a obra e o público,

chegando a um juízo valorativo histórico-estético”. Observamos que não faz propriamente

um diálogo entre a obra e o público, visto que a recepção deste não é realizada diretamente.
57

O valor histórico estético a que chega é fruto da análise critica da época que, como

sabemos, nem sempre corresponde ao que os leitores empíricos pensam de fato.

Constituem-se mais no que a pesquisadora fixa como “determinar o horizonte de

expectativas da crítica, pela reconstrução do processo pelo qual o texto é sempre recebido

por leitores de tempos diversos”.

A pesquisadora observa, no depoimento da crítica, a maneira como os leitores

receberam as várias edições do livro, ligando a leitura a alguns acontecimentos que de

certa forma condicionaram a recepção do romance. Ela constata que nas primeiras décadas

a crítica capta acontecimentos percebidos na obra, apenas pelo aspecto da história. A partir

da década de 50, os críticos fazem enfoques impressionistas, psicológicos e sociológicos,

apoiando-se em categorias tomadas de empréstimo de outras ciências e abordando a obra

com maior profundidade, sem contudo sair dos aspectos do conteúdo. Embora a

pesquisadora mostre a utilização de uma observação fundada no texto de Ciro dos Anjos,

focaliza nesses ensaios críticos semelhanças e diferenças na recepção feita pela crítica

sobre a obra, consideradas como recepções históricas que comprovam seu valor estético.

É importante perceber que a teoria proposta por Jauss não se preocupava com a

questão da recepção escolar e sim com a valorização do objeto estético e a forma como a

crítica concebia esse valor. Desta forma, Marândola faz uma boa utilização da teoria da

Estética da Recepção.
58

PESQUISA 2.

a. Dados de identificação.

Autor: Deusa F. R. de Medeiros.

Orientador: Profª Drª Elisabeth Brait

Título: Recepção e interpretação de J.J. Veiga.

Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Nível de qualificação: Mestrado em Letras

Ano de finalização: 1991

Número de páginas: 244

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – questões pedagógicas.

Resumo da obra:

O presente trabalho é uma proposta de descrição de estruturas


discursivas, usando como material de observação três contos de José J.
Veiga, focalizados com o objetivo de mostrar que o exame dessas
estruturas facilita a compreensão e a interpretação da leitura.
Pretende-se, com isso, trazer uma contribuição para o aumento do
potencial de leitura dos alunos, em especial alunos do 2° e do 3° graus
que, pelo desenvolvimento psíquico e intelectual atingidos, apresentam
melhores condições de absorção da metodologia proposta, ou seja, a
análise textual nos moldes da sêmio-lingüística postulada pela Escola de
Paris.
Nesse sentido, procurando perceber a maneira em que a leitura é
recebida e interpretada pelos alunos, nossos informantes, a pesquisa
descreve as projeções da enunciação no enunciado, bem como as relações
argumentativas estabelecidas entre enunciador e enunciatário, com vistas
a tornar verossímil o discurso.
Acredita-se que a análise desses procedimentos contribua para
facilitar a compreensão do texto e para a formação de um leitor mais
crítico e reflexivo, menos alienado.
Além das intenções acima mencionadas, a pesquisa objetiva,
também discutir relações existentes entre o leitor e suas condicionantes
prévias em relação à leitura, mostrando-as como causas das dificuldades
encontradas pelos alunos na interpretação de textos. (MEDEIROS, 1991)
59

b. Objetivos.

A observação realizada pela pesquisadora levanta a questão de como é que o

leitor se relaciona com o texto, no sentido de interpretá-lo de forma crítica, uma vez que se

sabe que, dependendo do leitor e de suas responsabilidades relacionais com o texto, tem-se

várias leituras. Além disso, procurou divulgar o autor e sua obra junto aos professores de

literatura infanto-juvenil por julgar que seus textos possibilitam a emancipação do público

leitor.

A pesquisadora apresenta como objetivos:

• Mostrar que o exame das estruturas discursivas do objeto literário facilita a

compreensão e a interpretação da leitura.

• Contribuir para o aumento do potencial de leitura dos alunos por uma

metodologia calcada na análise textual da sêmio-linguística.

• Discutir relações existentes entre o leitor e suas condicionantes prévias em

relação à leitura, mostrando-as como causas das dificuldades encontradas

pelos alunos na interpretação de textos.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Medeiros propõe a análise da recepção de José J. Veiga utilizando-se para isso

de três contos, retirados da obra Os cavalinhos de Platiplanto (1959). Consta em sua

bibliografia apenas a 15ª edição publicada em São Paulo pela editora Difel em 1985.
60

A pesquisadora trabalhou portanto, com a recepção dos três textos na seguinte

ordem: 1. Os cavalinhos de Platiplanto; 2. Fronteira; 3. Entre irmãos.

c.2. Tipo de leitor.

Medeiros observa a recepção dos contos num grupo de leitores reais, formado

por alunos do 3º grau do curso de Letras. Tais alunos se preparavam para ministrar a

disciplina de Literatura Infanto-Juvenil para o 2º grau, no curso do Magistério da cidade de

origem. A pesquisa se deu no Centro Pedagógico de Rondonópolis, campus avançado da

Universidade Federal de Mato Grosso - UFMT.

c.3. Tipo de documento analisado referente à recepção e/ou ao efeito

analisado.

Foram produzidas individualmente pelos leitores paráfrases dos três contos

abordados, uma a cada encontro proposto e referente a cada um dos contos na respectiva

ordem lançada no item c.1. Essas paráfrases não foram realizadas em classe. Para cada

texto lido, os alunos tiveram um prazo de 15 dias para a entrega dos trabalhos.

Outro documento observado foi uma ficha de informações dividida em duas

partes. Na primeira delas, dados pessoais dos informantes e seus progenitores; na segunda,

informações sobre as relações mantidas pelos informantes e por seus pais com a leitura.
61

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

O capítulo teórico produzido por Medeiros familiarizou o leitor com a

terminologia especifica e com o uso que se fará da teoria semiótica que o fundamenta.

Também, complementar essa forma de abordagem da imanência da significação,

relacionando-a com a perspectiva da Teoria da Recepção.

A teoria que fundamenta o trabalho de Medeiros está calcada nos princípios

gerais da Teoria Semiótica e também no conceito de Leitura e de Interpretação

configurados na perspectiva da Estética da Recepção. Seu enfoque principal reside nas

estruturas discursivas, evidenciando como essa teoria entende a questão da leitura.

Fundamentam tais proposições os conceitos levantados por Greimas e pelo

grupo de Investigações Sêmio-lingüísticas da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais,

em Paris. Esta escolha foi justificada pela pesquisadora por ela acreditar que a análise do

discurso possibilitaria uma leitura mais profunda dos textos.

Conceituando texto, Medeiros diz que, de acordo com a semiótica, é

entendido como “objeto de significação e como objeto de comunicação”, também como

uma “superposição de três níveis de profundidade diferentes, articulados entre si pela busca

da construção do sentido que, segundo Greimas e Courtés (1979), vai do mais simples ao

mais complexo, do mais abstrato ao mais concreto”.

Medeiros segue sua explanação distinguindo as três etapas do percurso

gerativo, no nível semiótico. São elas: as estruturas fundamentais e elementares (instância

mais profunda do texto); as estruturas narrativas (caracterizadas como nível sintático-

semiótico intermediário); as estruturas discursivas (próximas da manifestação textual).


62

Explica como a gramática discursiva explora a sintaxe e a semântica, dizendo que, na

primeira, as projeções da instância da enunciação no discurso-enunciado e as relações

argumentativas, principalmente entre enunciador e enunciatário, são examinadas por meio

da sintaxe discursiva. Cabe à semântica discursiva descrever e explicar a conversão dos

percursos temáticos e a cobertura destes através de figuras.

A autora encaminha a base teórica utilizada, resgatando conceitos de isotopia

temática e figurativa. Afirma que estes recursos são responsáveis pela coerência semântica

do texto. Portanto, segundo a pesquisadora, a coerência semântica, sintática e narrativa, é

desenvolvida num nível mais profundo do texto, o que o sustenta enquanto tal. Ela alerta,

ainda, que à semiótica cabe estar sempre aberta e atenta, não se assumindo como um

modelo pronto e fechado a que qualquer texto poderá ser submetido para análise.

A pesquisadora, observando a leitura e a interpretação a partir da perspectiva

semiótica, entende a enunciação como uma atividade humana que pode ser examinada

pelo eixo da comunicação e pelo da produção. Comprova seu ponto de vista, baseando-se

nos pressupostos teóricos dos autores já citados, acrescentando Barros (1988). Para ela, a

partir da observação destes dois eixos – o da comunicação e o da produção – podem-se

determinar dois processos diferentes que possibilitam a interpretação de um texto. Desta

forma, a pesquisadora entende a leitura como “um processo de interpretação que julga o

fazer do texto um produto das relações intersubjetivas do homem que vive em sociedade”.

Confrontando esse ponto de vista com o da Estética da Recepção, Medeiros

procura, a princípio, explicitar como a teoria vê o leitor. E para isso lança mão dos

postulados teóricos de Hans Robert Jauss (1979).

Sua atenção se volta para os conceitos básicos que envolvem a Estética da

Recepção que considera a poiesis (produção), a aisthesis (a recepção) e a katharsis

(comunicação) da obra de arte. Assinala dois modos de recepção da obra: o efeito com as
63

possíveis relações entre leitor e texto, e a recepção propriamente dita com a preocupação

de estabelecer o leitor ideal. Para isso, a pesquisadora incorpora em sua fundamentação os

conceitos teóricos de Ingarden e Iser. Ela chega ao conceito de vazios no texto que serão

preenchidos pelo leitor.

O próximo passo seguido por Medeiros é apresentar W. Iser (1979), outro

teórico da Estética da Recepção, que afirma ser “a leitura é uma atividade comandada pelo

texto, responsável por seu efeito no leitor, realizado através da interação entre eles”. Esta

interação pode ser explicada pela psicologia social e pela psicanálise da comunicação. E é

nessa interação que se encontram os vazios dos textos ficcionais que precisam ser

preenchidos pelo leitor.

Segundo Iser seria possível estabelecer três tipos de textos ficcionais: os que

se utilizam dos vazios para fins políticos, os que se utilizam dos vazios para fins comerciais

e os que se utilizam dos vazios para fins estéticos. Firmando, com essa explanação, a

importância dos vazios como condição elementar da comunicação.

A pesquisadora considera algumas idéias de Karlheins Stierle (1979), que

fundamentam a recepção de textos, como sendo a tradução de um significante em um

significado. Ela explica que para este teórico “a recepção elementar ocorre por meio da

redução, unicamente possível através da contextualização, que permite visualizar-se um

horizonte de significação maior em relação aos significados dados”. Este mesmo teórico

postula uma oposição entre recepção pragmática e recepção ficcional. Na primeira, “o

produtor sabe o que o receptor espera dele e este, por sua vez, sabe o que deve oferecer ao

produtor”. Já no segundo, distancia-se quando propõe outro objetivo. Para Stierle “os

textos ficcionais são textos de ficção apenas quando se possa contar com a possibilidade de

um desvio dado, desvio este não sujeito à correção, na verdade, apenas interpretável ou

criticável”.
64

Medeiros propõe em sua pesquisa uma relação lógica entre as duas teorias:

Semiótica e Estética da Recepção. Ela observa que as duas teorias aliadas oferecem

possibilidades de ensino de leitura e interpretação textual mais eficaz, pois para ela “pensar

as significações do texto significa observá-lo, descrevê-lo e analisá-lo a partir dos

pressupostos já levantados pelas teorias escolhidas”. Além dos autores mencionados,

observamos, ao longo do texto, outros, tais como: T. Eagleton (1983), L. C. Lima (1979), e

R. Zilberman (1989).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

VEIGA, J. J. Os cavalinhos de Platiplanto, Fronteira e Entre irmãos. In: Os cavalinhos de

Platiplanto. 15ª ed. São Paulo: Difel, 1985. (1ª ed. 1959).

B. Referências teóricas.

BARROS, D. L. P. Teoria do discurso: fundamentos semióticos. São Paulo: Atual,1988.

COSTA, L. L.. A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e

Terra, 1979.

GREIMAS, A. J. e COURTÉS, J. Dicionário de semiótica. Trad. Alceu Dias Lima e

outros. São Paulo: Cultrix, EDUSP, 1979.

ISER ,W. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, C. L. A Literatura e o leitor: textos

de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

JAUSS, H. R.. A Estética da Recepção: colocações Gerais. In: LIMA, L. C. A literatura e

o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979


65

STIERLE, K. Que significa a recepção dos textos ficcionais? In: LIMA, L. C. A literatura e

o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

TERRY, E. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo:

Martins Fontes, 1983.

ZILBERMAN, R. Estética da Recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

Procurando perceber a maneira como a leitura era recebida e interpretada pelos

alunos, informantes da pesquisa, Medeiros descreveu as projeções da enunciação no

enunciado, bem como as relações argumentativas estabelecidas entre enunciador e

enunciatário, com vistas a tornar verossímil o discurso.

Além disso, a pesquisadora ainda discutiu algumas relações existentes entre o

leitor e suas condicionantes prévias em relação à leitura, mostrando-as como causas das

dificuldades encontradas pelos alunos na interpretação de textos.

Para realizar sua pesquisa, Medeiros optou por “trabalhar os textos dentro de

uma pesquisa aplicada, quer sob a ótica da teoria semiótica da análise do discurso, quer sob

a ótica da teoria da recepção textual.” .

A pesquisa aplicada foi realizada por meio de três contatos mantidos com os

informantes. No primeiro, os informantes leram o conto Os cavalinhos de Platiplanto e

elaboraram uma paráfrase do mesmo. Nesse momento, eles não receberam nenhuma

informação sobre o autor ou a obra.

No segundo contato, foram expostos ao conto Fronteira. Antes da leitura

foram apresentadas informações sobre J.J. Veiga, bem como o gênero “fantástico”, gênero

privilegiado nos contos escolhidos. Também foram indicadas as fontes bibliográficas sobre
66

o autor e sobre o gênero em questão. Posteriormente, nova paráfrase foi solicitada aos

leitores. Paralelamente a esse segundo contato, os informantes recebiam, na graduação,

noções referentes à análise do discurso, fundamentadas na Teoria Semiótica .

No terceiro e último contato, os informantes foram expostos ao conto Entre

irmãos. Foi-lhes solicitado que fizessem outra paráfrase em que utilizassem os recursos

obtidos sobre a teoria semiótica Greimasiana. Foi proposto aos informantes que a

observação dos textos não se detivesse às estruturas elementares e narrativas.

Esta pesquisa aplicada contou ainda do preenchimento de um questionário

composto de duas fichas. Na primeira, a pesquisadora apresentou informações pessoais

sobre os informantes e sua família. Na segunda, registrou dados sobre contato com a

leitura tanto deles quanto de seus pais.

As técnicas utilizadas visaram à coleta de dados sobre o modo de recepção, de

interpretação dos textos trabalhados, bem como o levantamento de elementos textuais

fornecidos pela Teoria Semiótica. Tais conhecimentos foram colocados como facilitadores

da recepção e da interpretação. O projeto foi estendido à rede oficial de ensino, por meio

de um projeto que integrou a Universidade e a Rede Oficial de Ensino.

A pesquisadora observou a situação geral das escolas em relação ao ensino da

leitura e constatou que, como se sabia, não era nada promissora no momento. Tal situação

era decorrente de uma série de fatores que foram brevemente relacionados.

O desenvolvimento da pesquisa foi organizado em quatro capítulos, sendo que

o primeiro versa sobre J.J. Veiga e o fantástico; o segundo, encontra-se a fundamentação

teórica que embasa o trabalho; o terceiro contém uma análise das estruturas discursivas dos

contos de J.J. Veiga; o quarto, a análise dos dados obtidos na pesquisa aplicada seguida de

conclusões finais.
67

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Quanto aos resultados, percebe-se, pela leitura do texto, uma clara intenção da

pesquisadora em defender a idéia de que o trabalho com a leitura na escola deve ser

repensado. Para ela, o aprendizado da leitura resulta da explicitação dos mecanismos de

produção de sentido do texto antes da competência espontânea dos alunos. O conhecimento

desses mecanismos, aliado ao conhecimento do sistema lingüístico e ao conhecimento do

contexto sócio-histórico de produção do texto é fundamental para o aprofundamento que se

pretende, na pesquisa em pauta, da recepção e da interpretação da leitura.

Medeiros reconheceu que seu trabalho não tinha como objetivo principal a

proposição de soluções para os entraves do ensino da leitura , mas que pretendia apontar

caminhos para uma possível reversão desse quadro. Nesse sentido, afirmou que a leitura é,

antes de tudo, “um instrumento de libertação que pode propiciar ao homem que dela

desfruta condições para compreender melhor o mundo em que vive”. No entanto, observa

que, para a realização dessa meta, é vital a clareza da concepção da noção de leitura, bem

como dos objetivos e dos resultados esperados. Em sua concepção, não se pode pensar que

“a compreensão da leitura é um dom que uns poucos leitores possuem em maior grau que

outros”.

Embora não seja a escola o único local propício para o ensino da leitura,

Medeiros diz que é o espaço mais ideal para essa aprendizagem. Também concluiu que a

formação oferecida no curso de Magistério e no de Letras deveria propiciar aos alunos em

formação noções básicas voltadas tanto à Teoria de Análise do Discurso quanto à Teoria

de Recepção de Textos.

Reconhecendo que a escola, já em 1991, recebia uma clientela heterogênea em

todos os sentidos, propôs que o professor se libertasse dos livros-textos e montasse o seu
68

próprio material, após conhecimento das características das turmas com as quais trabalha. É

tarefa do professor, segundo a pesquisadora, “proporcionar meios para que seus alunos

decodifiquem alguns dos vários sentidos de um texto. O professor, como leitor mais

experiente, deveria conduzir esse caminho, mas para isso teria também que ter recebido

referencial teórico indispensável”.

A pesquisadora finalizou o trabalho apontando para a necessidade de outras

pesquisas que não priorizem o efeito estético produzido por um texto, mas que dessem

conta do diálogo existente entre o texto e o leitor real. Admitiu que a reconstituição do

leitor implícito no texto é fundamental para a leitura, mas advertiu que não se pode

esquecer de uma metodologia que amplie os horizontes de expectativas dos alunos, leitores

reais.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Medeiros realiza uma pesquisa teórico-aplicada visto que além de observar o

uso de duas teorias no processo de leitura e interpretação de textos, proporciona a

observação da recepção de contos de José J. Veiga por alunos do curso de letras. Foi

classificada aqui como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – questões

pedagógicas.

Embora a recepção dos alunos seja direcionada para uma análise semio-

lingüística, a pesquisadora propõe uma experiência de recepção de textos literários com

preocupação clara de observar como seus alunos, futuros professores, estavam lidando com

a recepção de textos literários. Revela portanto uma preocupação pedagógica voltada para a

formação de leitores.
69

Ela fundamenta suas observações nos princípios gerais da Teoria Semiótica e

também no conceito de Leitura e de Interpretação configurados na perspectiva da Estética

da Recepção.

Como a própria pesquisadora afirma, as observações apresentadas evidenciam

questões fundamentais para a Estética da Recepção tais como a forma em que o leitor se

relaciona com o texto no sentido de interpretá-lo de forma crítica uma vez que se sabe que,

dependendo do leitor e de suas responsabilidades relacionais com o texto, tem-se várias

leituras.

Seus objetivos, ao nosso ver foram atingidos, pois ela não pretendia uma análise

especifica da recepção de textos por seus alunos sem nenhuma interferência, e sim, a

observação de como uma teoria que reconhece o papel vital do leitor pode contribuir para a

emancipação dos mesmos quanto à leitura e interpretação de textos. Desta forma, o foco

principal foi a observação de como as estruturas discursivas do objeto literário podem

contribuir para compreensão e interpretação do objeto lido. Ela contribui para um encontro

entre os horizontes de expectativas dos alunos com o horizonte histórico dos textos de José

J. Veiga e, dessa forma, aumentou o potencial de leitura dos mesmos.

Sua pesquisa já aponta índices importantes para a discussão das relações entre

o leitor e suas condicionantes prévias de leitura, mostrando as causas das dificuldades de

interpretação dos textos encontradas pelos alunos. Vale-se de uma teoria centrada no texto e

que, portanto, mostra o efeito. No entanto, aponta para uma importante diferença que

consiste em valorizar a leitura realizada por um leitor empírico e para isso a recolha da

recepção dos alunos por meio de paráfrases evidencia a forma como concretizaram os

horizontes da obra em consonância aos seus.

Na diferença encontrada entre a primeira paráfrase e a última, no dizer da

pesquisadora, já se podiam ver embutidos os conceitos teóricos ministrados em aula,


70

refletindo uma mudança de comportamento de leitura. Portanto, uma melhor compreensão

do que os alunos leram, ressaltando uma emancipação no processo de leitura dos mesmos.

Mesmo que para isso, a pesquisadora tenha apostado mais no conhecimento das estruturas

sêmio-lingüísticas do que nas variantes que influenciaram a recepção do texto


71

PESQUISA 3.

a. Dados de identificação.

Autor: Maria do Carmo Andrade Tassara

Orientador: Eliana Lúcia Madureira Yunes Garcia

Titulo: Vidas Secas - Uma recepção em horizonte ampliado

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro

Mestrado em Letras

Ano de finalização: 1992

Número de páginas: 139

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real fora de ambiente escolar

Resumo da obra:

A presente dissertação pretende empreender uma leitura de Vidas Secas,


de Graciliano Ramos, procurando demonstrar o efeito da obra e atestar a
sua especialidade na mudança de horizontes históricos. Para tanto, se
evidenciará, com base nos pressupostos teóricos de Wolfgang Iser e Hans
Robert Jauss, da Estética da Recepção, a importância teórico-funcional do
receptor histórico, constituindo o sentido, sob novas e diferentes
condições. Poder-se-á perceber, pelo seu caráter de negatividade que, em
relação a outras, nossa recepção peculiarmente enfatiza, a singularidade
desta obra ficcional – a afirmação do homem, em contraposição à palavra
do mundo. Por esta via, resgata-se a autêntica palavra humana.
(TASSARA, 1992)

b. Objetivos.

A pesquisadora observou a obra citada propondo:

• Demonstrar o efeito da obra observando a mudança de horizontes

históricos;

• Evidenciar a importância teórico-funcional do receptor histórico,

constituindo sentido, sob novas e diferentes condições.

Para isso, coloca como objetivos secundários:


72

• Apresentar a transferência das estruturas transubjetivas da obra de ficção

à subjetividade de um leitor individual;

• Confrontar Vidas Secas com Urupês11 para ressaltar a transformação dos

horizontes literários, quando se põe em foco a perspectiva do homem do

campo marginalizado.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

O romance Vidas Secas de Graciliano Ramos, 56ª ed. Rio, São Paulo: Record,

1986 foi escolhido pela pesquisadora, por ser a obra, possuidora de aspecto intrigante na

estrutura “o caráter áspero-poético do texto que historia a vida miserável da família de

retirantes e a natureza fragmentária de sua composição” agem como um estimulante “ao

leitor que procura um contato sempre renovado com o texto”. Segundo Tassara, a estrutura

de apelo ao leitor presente no texto esclarece as qualidades da obra que justificam sua

história de recepção. Dessa forma, embora fale em recepção do texto, o interesse da

pesquisadora centra-se na verificação dos efeitos provocados pela obra no leitor.

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisadora observa recepções históricas da obra em registros de leitura de

leitores reais, críticos de literatura. Justifica seu interesse por estas recepções dizendo que

um texto passado sobrevive não apenas porque ele desperta curiosidade quanto “as

11
LOBATO, Monteiro. Urupês. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
73

questões antigas ou datadas, mas porque haja um interesse do leitor do presente no sentido

da crítica ou da conservação de significados já atribuídos a esse texto” (TASSARA, 1992,

P. 109).

Seu interesse foi mostrar semelhanças e diferenças na “recepção da obra”

realizada pelos críticos. Desta forma, a pesquisadora não utiliza uma pesquisa aplicada,

mas a leitura histórica realizada por críticos. Tal recepção é viabilizada por Tassara por

meio dos seguintes sujeitos: Antonio Candido (1978), Affonso Romano de Sant´Anna

(1984) e a própria pesquisadora (1992).

Temos dessa forma, leitores historicamente marcados por épocas distintas,

experientes quanto à fruição literária, a linguagem e a análise crítica. São leitores reais que

focalizam seu interesse principalmente no efeito da obra de Graciliano Ramos em

momentos distintos de sua recepção.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Para verificar a recepção e o efeito nas concepções propostas por H.R. Jauss e

Wolfgang Iser, Tassara parte de algumas recepções históricas da obra. Ela se utiliza,

então, de leituras dos críticos apontados e da sua própria leitura apontando semelhanças e

diferenças entre estas leituras.

Para isso, se vale dos seguintes textos:

- Antonio Candido - Ficção e Confissão, ensaio publicado pela José Olímpio,

em 1956; o capítulo Os Bichos do Subterrâneo do livro Tese e Antítese, publicado pela

Cia Editora Nacional em 3ª edição no ano de 1978, segundo consta na bibliografia do

trabalho. Além disso, baseia-se também em A Revolução de 30 e a Cultura, capítulo do


74

livro Educação pela Noite, publicado pela editora Ática, 1987; e Literatura e Sociedade,

da Cia. Editora nacional, 7ª edição em 1985.

- Affonso Romano de Sant´Anna - textos Introdução, A Narrativa de

Estruturas Simples e a Narrativa de Estrutura complexa, Elementos para uma Teoria do

Romance (no Brasil), Vidas Secas, inseridos em Análise Estrutural de Romances

Brasileiros, publicados pela Editora Vozes, 6ª edição, 1984.

- A própria pesquisadora, na medida em que fundamenta sua leitura por meio

da Estética da Recepção, utilizando-se dos conceitos referentes à Teoria do Efeito exposta

por Iser em El Acto de Leer (Trad. do alemão e inglês – J. A. Gimberrnat e Manuel

Barbeito), publicado pela editora Taurus, Madrid, em 1987. Bem como, pela Teoria da

Estética da Recepção proposta por Hans Robert Jauss em Pour une Esthéthique de la

Réception. (Trad. De Lállemand par Claude Maillard), texto publicado pela Editora

Gallimard, Paris, 1978.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Tassara evidencia em sua pesquisa uma base teórica calcada nos pressupostos

de Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss, da Estética da Recepção e mostra que a estrutura de

apelo da obra analisada esclarece o vigor de sua recepção ao longo do tempo.

Seu recorte teórico se inicia com a apresentação de algumas considerações

sobre interpretação. A pesquisadora observa que desde o Renascimento já se podiam notar

indícios de uma preocupação maior com esta questão e que, é marca do mundo moderno a

busca de seus significados. Para justificar seu ponto de vista cita Michel Foucault (1987 -
75

1990) observando que sempre se interpretou porque, sempre se suspeitou da linguagem

como meio para buscar sentidos. Segundo ele “a linguagem não é um sistema arbitrário;

está depositada no mundo e dele faz parte”, na medida em que “as próprias coisas

escondem e manifestam seu enigma como uma linguagem.” (Foucault, 1987 apud

TASSARA, 1992, p. 6).

Citando Susan Sontag (1987), a pesquisadora observa uma necessidade

crescente de investigação dos sentidos do texto. Para ela “as teorias interpretativas

erigiram-se a partir do momento em que se necessitou dar valor ao objeto artístico, pela

consciência da perda daquela ingenuidade antiga”.

Em decorrência do confronto entre o que se postulou sobre a interpretação até

este momento, Tassara chega aos teóricos da Escola de Konstaza – W. Iser e H. R. Jauss.

Ela aponta, citando Iser, a diferença entre “arte total” – do período clássico - e “arte

parcial” caráter mais próprio das produções da Modernidade.

O que se pode observar nas idéias apresentadas até então é o reconhecimento

que a pesquisadora dá à importância da interpretação vinda desde a Antiguidade Clássica.

No entanto, ela evidencia que tal importância se fixava apenas no eixo da produção.

Apenas com os teóricos da Estética da Recepção que esse quadro se altera, oferecendo

portanto um salto qualitativo às questões da interpretação. Ela destaca a importância da

compreensão de que, “em nosso tempo, além dos sistemas imanentistas de interpretação, se

pode sair para uma orientação mais aberta em que a significação inacabada de uma obra vai

se delineando de modo progressivo, através de horizontes da experiência estética e,

dialeticamente, na interação obra-receptor – caminho aberto pela Estética da Recepção.”

Segundo a interpretação que faz da teoria apresentada, Tassara mostra que a

obra só começa a acontecer de fato, no ato de seu recebimento pelo destinatário. Desta

forma, o acréscimo somado à interpretação é fundamentado pelo conceito de efeito (W.


76

Iser) que assume, de certa forma, a distância entre o mundo e a linguagem, o homem e a

verdade, a palavra e a coisa, o humano e o divino.

Tassara constata que “o real, o ficcional e a interpretação são elos

(inter)rompidos do significado, são leituras, buscas do homem acontecendo na linguagem”.

Prossegue sua explanação explicitando de forma mais incisiva a diferença entre o efeito e a

recepção. Para isso se fixa nos pressupostos teóricos de W. Iser, observando como ele

chega aos conceitos de concretização, leitor implícito na estrutura do texto, os vazios e as

negações inseridas no texto. Completando estes pressupostos, observa à definição de

horizonte de expectativa, conceito que motiva Jauss a traçar um novo parâmetro de

recepção que, “aproximando caracteres estético e histórico, isolados nas demais correntes

teóricas, resgata a verdadeira historicidade das obras de arte, ao mesmo tempo em que

assinala um novo campo da história da Literatura, livre da dependência da história geral”.

A teoria em que se baseia, portanto, sustenta-se em primeiro plano nos teóricos

da Estética da Recepção, sobretudo em Iser (1987) e Jauss (1978). Contudo, podemos

encontrar na pesquisa outros autores mencionados no texto corroborando a análise

realizada pela pesquisadora. Entre eles: Jan Bruck (1982), Luis Costa Lima (1979),

Jonathan Culler (1980), Tzvetan Todorov (1971) e Regina Zilberman (1989).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados

RAMOS, Graciliano. Vidas Secas de, 56ª ed. Rio/ São Paulo: Record, 1986. (Não consta

data da 1ª edição)
77

B. Referências teóricas.

BRUCK, J. From Aristotelian mimesis to ‘bourgeois’ realism. In: Poetics II. North-Holland

Publishing Company, 1982.

CULLER, J. Prolegomena to a theory of reading. In: SULEIMAN, S. R. e CROSMAN, I.

The reader in the text. (Essays on Audience and Interpretation) Princeton: Princeton

University Press, 1980.

FOUCAULT, M. As palavras e as coisas – uma arqueologia das ciências humanas. São

Paulo: Martins Fontes, 1990.

________. Nietzche, Freud e Marx – Theatrum Philosoficum. 4ª ed. São Paulo: Princípio,

1987.

ISER, W. El Acto de Leer. (Trad. Del alemán e inglês - J. A. Gimbernat e Manuel

Barbeito) Madrid: Taurus, 1987.

JAUSS, H. R. Pour une Esthétique de la Réception. (Trad de 1’allemand par Claude

Maillard), Paris: Gallimard, 1978.

LIMA, L. C. A literatura e o leitor. (Sel., coord., trad.) Rio: Paz e Terra, 1979.

________. O controle do imaginário. 2ª ed. Rio: Forense Universitária, 1989.

________. Sociedade e discurso ficcional. Rio: Guanabara, 1986.

________. Teoria da literatura em suas fontes. Rio: Francisco Alves, 1983. Vol. 2.

SONTAG, S. Contra a interpretação. Porto Alegre: L & PM, 1987.

TODOROV, T. Estruturalismo e poética. 2ª ed. São Paulo: Cultrix, 1971.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

O texto de Tassara é composto por seis partes distintas que traça um percurso

sinalizador para o leitor dos caminhos percorridos por ela até à conclusão de sua pesquisa.
78

Ela inicia seu texto mostrando seu caminho para um leitor que, segundo ela, não é

desavisado.

Fundamenta sua pesquisa por uma teoria que ressalta a trajetória de atribuição

de sentidos do leitor como eixo fundamental das questões da interpretação. Fixando sua

base teórica na Estética da Recepção, Tassara diferencia o efeito da recepção propriamente

dita, embora considere os dois conceitos complementares para os objetivos propostos em

sua pesquisa.

Base teórica fixada, é hora de analisar o real histórico – momento de produção

de Vidas Secas. A autora compõe, no terceiro capítulo do texto, uma grande tela em que

evidencia fatos importantes do contexto de produção da obra. Segundo seus dizeres,

horizontes históricos que terão que ser reconhecidos pelo leitor desta obra. Interessante é o

momento em que a pesquisadora mostra as estratégias textuais utilizadas pelo autor, que

evidenciam uma intenção prévia de colocação de vazios na obra, os quais funcionam como

marcas a serem preenchidas pelos leitores de todas as épocas. Seguindo esse raciocínio,

Tassara evidencia o leitor implícito em Vidas Secas.

No quarto capítulo, a pesquisadora centra sua análise na questão do efeito e

afirma que os vazios presentes na obra podem revelar outros homens. Ela passa então a

analisar os elementos estruturais da obra no sentido de evidenciar as marcas deste leitor

implícito sugerido por Iser, no texto de Graciliano Ramos.

É interesse do quinto capítulo a observação da recepção do texto, marcada por

acontecimentos históricos e literários. Tassara observa recepções históricas da obra, quais

sejam as leituras de Antonio Candido e Affonso Romano de Sant´Anna, mostrando as

semelhanças e diferenças entre essas leituras e a dela, no sentido de se confirmar, segundo

ela, “o potencial de sentido percebido em horizontes anteriores, se conheçam as ampliações


79

teórico-funcionais da Recepção e se ateste o vigor da obra, que vem se oferecendo à

recepção em horizontes distintos”.

Sua conclusão não pretende esgotar as questões colocadas na pesquisa. Desta

forma, ela finaliza seu texto, no sexto capítulo, dizendo que as questões presentes no

trabalho oferecem ao leitor uma teoria calcada no receptor bastante viável para o resgate

de aspectos temáticos da obra analisada.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Tassara mostra que a análise do efeito e da recepção calcada em leitores

históricos mais experientes – Antonio Candido e Affonso Romano de Sant´Anna - bem

como na sua própria recepção do texto de Graciliano Ramos, não esgota o tema por ela

proposto. No entanto, ela sinaliza questões importantes que ajudam a ampliação dos

conhecimentos estéticos dos leitores da pesquisa no sentido de:

• Evidenciar marcar textuais deixadas em Vidas Secas, relativas à linguagem

do criador que revelam a preexistência de um leitor implícito no texto.

• Ressaltar que a teoria da Estética da Recepção, dialogando com o saber do

mundo, abre ao leitor a possibilidade de diálogo com o outro saber, o

crítico. Segundo ela, “ao leitor surge uma nova oportunidade de contrariar

suas expectativas, uma vez que em Vidas Secas, pode-se oferecer, mais

uma vez, como o outro do mundo ou o do saber do leitor”.

• mostrar que o efeito comprovado pela recepção experimentada pôde

revitalizar certos aspectos da obra de que, enquanto configurações

percebidas ou formadas, outros estudos prescindem.


80

• alertar que se as estruturas de tema e horizonte, em formação contínua no

texto, oportunizam diferentes condições de sentido, numa real abertura

teórica oferecida pela Teoria do Efeito, a Recepção, por sua vez ,

concebendo a ficção literária como horizonte de perguntas e respostas, se

oferece como compreensão, incorporando o que promove a historicidade

das obras, nas diversas recepções.

• mostrar que os passos que resgatam a história pela experiência estética

circunscrevem a presença no texto de um leitor experiente, aplicado ou

respeitável, de sua linguagem ou de seu repertório.

Complementando sua proposição inicial, Tassara afirma que a abertura da

teoria para o receptor pode encontrar o seu limite. Segundo ela, “se antes, este limite, de

fato, se encontrava no pólo textual ou nos paradigmas tomados, agora abrange também o

pólo oposto.”

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Vidas secas – uma recepção em horizonte ampliado é uma pesquisa teórica-

aplicada, realizada em 1992, que promove alguns avanços frente à análise literária no

Brasil. Tassara, embora nomeie seu projeto como apenas de recepção de textos, propõe

também a demonstração do efeito da obra quando analisa a mesma a partir da observação

de horizontes históricos da crítica.

Interessante foi confrontar os pontos de vista dos críticos a que faz menção –

Antonio Candido e Affonso Romano de Sant´Anna – com a leitura que ela faz da obra. Seu

estudo evidencia a valorização da interação obra-receptor analisando as categorias:

concretização, o leitor implícito, os vazios e negações inseridas na estrutura do texto.


81

Utilizando a crítica, mostra como os horizontes históricos foram se ampliando e exigindo

do leitor de Graciliano Ramos mais experiência literária e também no trato com a

linguagem. Além de comprovar que as duas teorias - da Recepção e do Efeito -

complementam-se mostrando que as análises literárias já não poderiam mais ficar só no

plano do contexto de produção.

Essa pesquisa foi classificada na categoria Pesquisa de Recepção/Efeito -Voz

do leitor real fora de ambiente escolar, pois, no nosso entender, fundamenta-se na

leitura, interpretação e argumentação de críticos, buscando no cerne de seus textos,

evidenciar marcas que oportunizaram diferentes condições de sentidos. Como ela mesma

afirma “Tematizar o outro, as idéias de outro, na sua própria linguagem, é viver,

dialeticamente o estranho”. Ainda mais, que a leitura de Vidas Secas ofereceu a ela,

enquanto mais uma leitora do texto, “a vivência de outro mundo diferente do habitual.

Nessa vivência comunicativa, garantem-se as condições de efeito, percorrendo-se um

espaço onde a presença dos complexos textuais de controle, fornecidos a partir do

repertório e das estratégias, não expulsam a espontaneidade fruidora.” (TASSARA, 1992,

p. 132)

Portanto, não se vale da assimilação documentada por textos apenas, muito

menos por testemunhos nos quais as atitudes e reações se manifestam enquanto fatores que

condicionam a apreensão de textos. Ao contrário disso, Tassara discute Vidas Secas por

meio do próprio texto e sua configuração, evidenciando o efeito provocado no leitor por

meio da análise crítica de Antonio Candido e Affonso Romano de Sant´Anna.

Apontamos este dado não como equívoco teórico de sua parte, visto que ela

deixa suficientemente claro no texto seu embasamento nas categorias que compõem a

Estética da Recepção. Desta forma, a pesquisadora cumpre seus objetivos ao demonstrar o

efeito da obra por meio da observação dos horizontes históricos registrados pelos críticos.
82

PESQUISA 4.

a. Dados de identificação.

Autor: João Luís C. T Ceccantini.

Orientador: Prof. D. Carlos E. Fantinati.

Título: Vida e Paixão de Pandonar, o cruel, do escritor João Ubaldo Ribeiro: um estudo

de produção e recepção.

Instituição: Faculdade de Ciências e Letras de Assis UNESP.

Nível de qualificação: Mestrado em Literaturas e Língua Portuguesa.

Ano de finalização: 1993.

Número de páginas: a pesquisa foi dividida em três volumes:o primeiro, 242 páginas; o

segundo, 289 páginas; e o terceiro, 145 páginas.

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – horizontes e perspectivas.

Resumo da obra:

A pesquisa tem por objetivo global um estudo de Vida e paixão de


Pandonar, o cruel (1983), primeira obra infanto-juvenil do escritor João
Ubaldo Ribeiro (1941, -), e se divide em dois momentos: a) um primeiro
momento, em que procuramos: analisar e interpretar a obra, situando-a no
contexto da literatura infanto-juvenil brasileira contemporânea;
estabelecer um certo intertexto paródico que a obra mantém com o
Romantismo; compará-la com uma fonte explicitamente assumida por
João Ubaldo Ribeiro, no caso, um conto do escritor norte-americano
James Thurber (1894/1961); discutir a vertente de memórias de
infância/adolescência à qual se vincula; b) um segundo momento, em que
privilegiamos não mais questões relativas ao pólo da produção do texto,
mas sim, aquelas situadas no âmbito de sua recepção; para isso,
trabalhamos com um estudo de caso, em que analisamos a transcrição de
uma entrevista sobre a leitura da obra, realizada com uma oitava série de
uma escola pública de Assis, no ano de 1989. (CECCANTINI, 1993)
83

b. Objetivos.

O estudo da obra foi proposto em duas instâncias: a de produção e a de

recepção do texto. Para a produção do texto temos como objetivos:

• Analisar e interpretar a obra, situando-a no contexto da literatura infanto-

juvenil brasileira contemporânea;

• Estabelecer um certo intertexto paródico que a obra mantém com o

Romantismo;

• Comparar a obra com uma fonte explicitamente assumida por João

Ubaldo Ribeiro, no caso um conto do escritor norte-americano James

Thurder (1894/1961);

• Discutir a narrativa no conjunto da obra do escritor baiano, destacando a

vertente de memórias de infância/adolescência à qual se vincula;

E para a recepção do texto:

• Analisar a transcrição de uma entrevista oral, coletiva, sobre leitura da

obra, realizada com uma oitava série de uma escola pública de Assis, no

ano de 1989.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Ceccantini propõe, como corpus literário dessa pesquisa, a narrativa infanto-

juvenil Vida e Paixão de Pandonar, o cruel, do escritor João Ubaldo Ribeiro, Rio de

Janeiro: Nova Fronteira, 1ª edição em 1983. Esta análise se estruturou tanto em relação
84

aos aspectos da produção, situando-a no contexto da literatura infanto-juvenil brasileira

contemporânea, como em relação aos aspectos de recepção.

A escolha foi justificada pelo pesquisador por vários motivos, entre eles: o fato

de João Ubaldo ainda não ter sido, até o momento de realização do trabalho, objeto de

estudo que dessa conta do conjunto de sua obra; por se tratar de uma obra que “não se

limitava a traduzir a explosão do gênero, durante o período, mas, sim, contribuir

efetivamente para a renovação estética que os melhores autores trouxeram a literatura

infanto-juvenil brasileira, desatrelando-a do pedagogismo a que sempre estivera

associada.”(CECCATINI, 1993) Além disso, Ceccantini diz que se trata de um livro que

faz parte do projeto Ciranda de Livros de fácil acesso em bibliotecas de todo país.

c.2. Tipo de leitor.

Ceccantini realiza sua pesquisa com leitores reais, alunos da 8ª série “C” da

EEPSG “Instituto Doutor Clybas Pinto Ferraz”. Dos 27 alunos da sala, apenas 22

estudantes efetivamente participaram do processo de recepção. O pesquisador justifica esse

número registrando que foram excluídos da análise os questionários referentes aos alunos

que não leram a obra ou que não compareceram no dia da entrevista

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Consta do material analisado pelo pesquisador o registro de uma entrevista

realizada ao longo do projeto. Essa entrevista foi realizada abordando modalidades de

leitura. Ceccantini fixou: Modalidade I – leitura de obra de livre escolha dos alunos;

Modalidade II – escolha de 1 livro dentre 15 que foram determinados previamente pelo


85

pesquisador - Vida e Paixão de Pandonar, o cruel. O estudo fixou-se na transcrição e

análise das perguntas realizadas sobre a leitura desta, realizada com uma oitava série de

uma escola pública na cidade de Assis, no ano de 1989.

d. Base teórica e bibliografia destacada na pesquisa.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Ao observamos a teoria discutida no trabalho, verificamos a existência de um

material bastante significativo em relação à literatura infanto-juvenil. Na primeira parte, o

pesquisador se ateve à análise de questões relevantes quanto à formulação do gênero –

décadas de 70 e 80 - com ênfase especial das relações da produção do período e o

mercado. Entre tantos pesquisadores citados por Ceccantini destacam-se, em seus diversos

textos sobre o assunto, Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Edmir Perroti, Eliana Yunes,

Glória Pondé, Lígia Cademartori, Nelly Novaes Coelho.

Observando os dizeres de Lajolo e Zilberman, Ceccantini observa que existe

um ponto comum entre eles que “converge para o reconhecimento de que, na segunda

metade da década de 60 para cá, a literatura infanto-juvenil brasileira passou por um

período de grande transformação, identificado por uma surpreendente expansão do gênero,

em diversos níveis, e um projeto estético-ideológico bastante renovador em relação à

produção que a antecede”.(Zilberman, 1989, apud CECCANTINI, 1993. V. 1 p. 11)

Ele dá prosseguimento a sua análise observando pontos importantes quanto à

temática, linguagem, modo de produção e circulação desse gênero literário. Destaca a

questão do uso do livro como instrumento da pedagogia e não necessariamente como arte.

Ao analisar a obra de João Ubaldo, o pesquisador coloca-a como “uma obra bastante
86

afinada com o modelo emancipatório e em perfeita sintonia com algumas obras publicadas

nas últimas décadas , que apresentam uma outra visão da infância e da adolescência”.

(CECCANTINI 1993. V. 1 p. 50.)

No segundo momento de sua pesquisa, quando privilegia aspectos da recepção

do texto, Ceccantini faz um minucioso estudo de questões singulares no tocante ao processo

de recepção de textos. A situação inicial evidenciada pelo trabalho remete ao fato de que

na época – 1993 – quase não existiam estudos que se ocupassem do leitor. Sobre isso ele

diz:

...Nem mesmo a partir da década de 70, com o chamado “boom da


literatura infantil”, que vem dar um impulso vigoroso à atividade crítica no
setor, a situação muda muito de figura. Apesar do significativo aumento
do número de teses sobre literatura infanto-juvenil produzidas nos cursos
de Pós-graduação de todo o país, bem como do espaço conquistado junto à
imprensa e às editoras, ambos aspectos reveladores do novo status
conferido ao gênero por uma parcela da crítica brasileira, não é possível
praticamente encontrar as questões relativas à recepção. Na verdade,
mesmo quando se vai verificar o campo da ‘ ‘literatura adulta’,
percebemos a quase inexistência de estudos que se ocupem do
receptor.(CECCANTINI 1993. V. 2, 243)

Para analisar a obra de João Ubaldo na sua relação com a recepção, o

pesquisador lança mão dos fundamentos teóricos da Estética da Recepção. Inicia sua

reflexão observando o estatuto do receptor na história da teoria literária. Para isso, faz um

percurso que parte de Aristóteles, passa pelo Formalismo Russo, Estruturalismo Tcheco até

chegar a Hans Robert Jauss (1967). Nesse momento ele estabelece alguns pressupostos: a

função comunicativa da literatura; conceitos básicos da Estética da Recepção – os

horizontes de expectativas; efeito/recepção; a concretização; a distância estética; a

experiência estética.

Encontramos, na comprovação das afirmações constantes do texto de

Ceccantini, os pressupostos de: Hans Robert Jauss (1974/78/81); Luiz Costa Lima (1979);
87

Alice Vieira (1988); Regina Zilberman (1989); Bordini e Aguiar (1988). Entre 159 obras

teóricas citadas no decorrer da dissertação, destacamos ainda alguns autores que julgamos

relevantes quanto à análise da recepção: Maria do Rosário Magnani (1989); Mieke Bal

(1977); Richard Bamberger (1986); Paulo Freire (1986) Peter Buerger (1977/78); Terry

Eagleton (1983); Wolfgang Iser (1979); Jean Joubert (1988/89) Creobel Maimoni (1991);

Maria Helena Martins (1984/89/91); Dionísio Toledo (1970); Eliana Yunes (!984/88/89),

entre outros.

d.2. Bibliografia destacada na pesquisa.

A. Textos analisados.

RIBEIRO, João Ubaldo. Vida e Paixão de Pandonar, o cruel. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1983.

B. Referências teóricas.

BAL M. Narration et focalization: Pour une Théorie des Instances du Récit. Poétique. Paris,

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BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito de leitura. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1986.

BORDINI, M. da G., AGUIAR, V. T. de. Literatura – a formação do leitor. Porto Alegre:

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CADEMARTORI, L. O que é literatura infantil. São Paulo; Brasiliense, 1986.


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Paulo: Quíron, 1983.

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ZILBERMAN, R. Estética da Recepção e história da literatura. São Paulo:Ática, 1989.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia

A dissertação foi dividida em duas partes sendo que na primeira o pesquisador

apresenta aspectos da produção do texto. Na segunda, dados coletados na pesquisa

aplicada.

São destaques da primeira parte do trabalho: o significado das décadas de 70 e

80 para a literatura infanto-juvenil brasileira, com ênfase na produção e no contexto de

mercado; aspectos temático-fomais da obra analisada em que se evidencia uma sintonia

com a produção que lhe é contemporânea, destacando-se por sua boa qualidade literária, ao

lado das melhores obras publicadas no período; o intertexto estabelecido pela obra -
90

relações da obra com outros textos marcando a fonte de influências claramente assumida

pelo autor.

Na segunda parte do trabalho, partindo de um breve histórico sobre a Estética da

Recepção, Ceccantini desenvolveu o texto abordando: a função comunicativa da literatura;

a instancia da recepção – horizontes de expectativas, efeito/recepção e a concretização; a

distância estética; a experiência estética; níveis de identificação do receptor com o herói,

finalizando com alguns postulados de Edmir Perrotti. Portanto, os fundamentos teóricos

dessa pesquisa foram fixados a partir da Estética da Recepção, o estatuto do receptor, bem

como os pressupostos teóricos e conceitos básicos dessa estética.

Depois da teoria, apresentou a pesquisa aplicada propriamente dita, com o título

“A voz do Leitor”. Partindo da apresentação do projeto “Narrativas juvenis na 7ª e 8ª séries

do 1º Grau: abordagens de leitura e bibliografia comentada”, o pesquisador traçou um perfil

sócio-cultural dos alunos entrevistados, abordando sexo, idade, renda familiar, escolaridade

dos pais, o trabalho, o tempo livre. Só depois partiu para a descrição da entrevista e para o

registro da opinião dos alunos sobre a escolha e a avaliação geral da obra.

Ainda nesse mesmo capítulo destacamos o que nos parece o registro de

conclusões essenciais do trabalho, em que o pesquisador se atém aos horizontes de

expectativas dos alunos, observando os aspectos que teriam contrariado profundamente tais

horizontes. Foram analisados os seguintes aspectos: o gênero, o herói, a narração, o tempo

histórico, a fantasia e o final da narrativa. Na seqüência, o pesquisador registrou algumas

informações lançadas pelos alunos em seus registros que mostraram pontos em que houve,

de certo modo, o atendimento aos horizontes de suas expectativa.

Finalizando seu trabalho, Ceccantini defende um projeto de formação do leitor.

Ele lança uma proposta de reflexão aos professores que trabalham com literatura e que se

encontram em situação bastante comum em que “vemos nossos alunos rejeitarem


91

visceralmente uma obra que possui – para nós, em particular, ou para a crítica, em geral –

reconhecido valor literário.” E mais “... a que ilações poderíamos chegar para uma didática

da leitura ou, mais especificamente, para uma didática da literatura, conscienciosa, crítica e

democratizante?” (CECCANTINI,1993. p. 424)

O pesquisador sinaliza para a necessidade de se pensar sobre como conseguir

conciliar os horizontes de expectativas da obra com o horizonte de expectativas dos alunos.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa

A análise do pesquisador o levou a concluir que, embora a obra fosse

qualificada como de bom nível literário, reconhecida não apenas pelo pesquisador como

também pela crítica, sua leitura “não passou do nível da ruptura da norma, em oposição ao

repertório habitualmente escolhido pelos alunos, que em geral se concentrou no nível de

sua transmissão.”. Ele afirma ainda que nenhuma das duas atividades básicas, relativas à

experiência estética, apontadas por Jauss no que toca à recepção (aistheseis e catharsis),

chegou a se realizar de forma plena.

Quanto à formação do leitor, Ceccantini afirmou que não se tratava de julgar a

obra, mas de avaliá-la em relação à clientela em que se vai utilizá-la. Ele diz:

A partir desse diagnóstico, será o caso então de especular sobre o papel ou


a função que pode desempenhar essa obra na formação do leitor.
Teríamos, assim, não uma boa ou má obra, mas uma boa ou má obra para
esta ou aquela estratégia de trabalho com a leitura no contexto escolar,
para este ou aquele passo de um projeto de formação do leitor bastante
mais amplo. (CECCANTINI. 1993. p. 429).

Esse projeto de formação do leitor não implica em estar sempre em sintonia

com o horizonte de expectativas do leitor, mas significaria, segundo Ceccantini:


92

...a partir de uma gama variada de obras, com diferente grau de


literariedade, estabelecido e tornado explícito naquele momento voltado
para o valor, seja a partir de um quadro mais definido da diferente
recepção a que essas obras estão sujeitas, em função de um público-leitor
variável, estabelecido e tornado explícito no segundo momento apontado,
trabalhar no eixo da ruptura de e no do atendimento aos horizontes de um
determinado conjunto de leitores, por meio de estratégias variadas, com
objetivos pontuais e gradativamente estabelecidos, que, efetivamente,
pudessem formar o leitor, expandindo seus horizontes.
(CECCANTINI,1993. p.41).

Segundo o autor, não se trata de oferecer uma lista de obras aconselháveis ou

não para uma determinada faixa etária ou escolar, uma panacéia milagrosa. Igualmente, não

se resumiria a uma estratégia espontaneísta para a exploração das obras por parte dos

professores. Mas a partir de um trabalho consciente destes, a escolha de obras que

pudessem levar seus leitores a ampliar o horizonte de expectativas paulatinamente. Para

ele, “o poder de persuasão que a experiência do diferente pode suscitar no espírito dos

alunos parece-nos tão relevante para a formação do leitor quanto a fruição contínua de

obras mais imediatamente decodificáveis.” E mais, “o desafio para o professor é o de

criar espaço intermediário que se realize entre os extremos da sacralização e da banalização

do texto literário”. Segundo Ceccantini, assumir um projeto de leitura significa, para o

professor de literatura:

...criar no seu programa momentos distintos que possam contemplar


razoavelmente a teia complexa de relações que se estabelecem entre todas
as variáveis, marcadamente heterogêneas, no quadro da escola pública
brasileira. Tal projeto estaria fundamentado em, pelo menos, três
aspectos: teoria de Jauss; a luta pelo significado e aproximação entre a
literatura e a vida. O essencial não é que todos os leitores “gostem” do
que leram, mas que aprendam a diferenciar tais obras, reconhecendo seus
diferentes valores. (CECCANTINI, 1993.)
93

g. Avaliação sobre a pesquisa.

A pesquisa de Ceccantini é teórica-aplicada, e propõe um estudo do romance

de João Ubaldo, analisando-o em duas perspectivas: a do efeito produzido pelo autor no

texto e a da recepção propriamente dita do mesmo em ambiente escolar, por alunos da 8ª

série do Ensino Fundamental. Foi considerada como uma Pesquisa de Recepção/Efeito –

Voz do leitor real – horizontes e perspectivas, pois abrange tanto a observação de um

leitor implícito no texto de João Ubaldo quanto um leitor real que ainda está em formação.

O grande mérito da pesquisa é o de mostrar os dois pólos da recepção

considerados como fundamentais: o efeito e a recepção. O autor realizada a

contextualização de Pandonar, o Cruel na literatura infantil abordando aspectos como: tipo

de romance, relação adulto/criança presente no texto, a questão do utilitarismo dos textos

literários na escola, culminando sua análise na contextualização da obra de João Ubaldo

no cenário da literatura com endereço certo – a criança.

Já na segunda parte, temos um projeto de recepção realizado em contexto

escolar fundamentado em documentos produzidos pelos alunos no ato da recepção do texto.

Depois de apresentar questões relativas ao receptor da literatura infanto-juvenil, os

pressupostos teóricos da teoria utilizada..

No capitulo três, apresenta os dados da recepção dos alunos fixando-se no leitor

– sexo, idade, aspectos socioeconômicos, hábitos, etc. Analisa os dados da entrevista,

documento utilizado como fonte da recepção primeira da leitura da obra, comentando a

opinião dos alunos quanto à escolha do livro, avaliação geral da obra, os horizontes de

expectativa, o gênero,o herói, a narração em si, o tempo histórico, a fantasia e o final da

narrativa.
94

Ele constata que a obra foi rejeitada pelos alunos, no entanto observa que na fala

dos mesmos há pontos em que ela atendeu suas expectativas– o tema namoro, o humor. O

pesquisador foi mostrando exemplos na entrevista de pontos de aprovação do texto,

momentos estes aliados à euforia e aceitação do mesmo.

Seus objetivos foram amplamente atingidos, visto que realiza a análise da obra,

momento em que evidência a produção do texto. Quanto à recepção, fica suficientemente

exemplificada por meio da análise da entrevista realizada com os leitores. Nela foram

registrados dados referentes a instância da recepção observando as categorias relativas a:

horizontes de expectativas, o efeito e a recepção e a concretização.


95

PESQUISA 5.

a. Dados de identificação.

Autor: Valdira M. C. Souza

Orientador: Profª D. Lea Mara Valezi Staut

Título: O papel do leitor no conto fantástico de Machado de Assis.

Instituição: Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista – Assis

Nível de qualificação: Mestrado Teoria Literária e Literatura Comparada

Ano de finalização: 1998

Número de páginas: 160

Tipo: Pesquisa de Efeito – leitor implícito.

Resumo da obra:

Este trabalho tem por objetivo analisar o papel do leitor em duas


narrativas fantásticas de Machado de Assis, a saber, Uma excursão
milagrosa e A chinela turca. Para a realização desta proposta, foram
utilizadas noções básicas inerentes à literatura fantástica, tais como o
caráter duplo dos textos que remetem para a ambigüidade, as estratégias
utilizadas pelo narrador para imprimir verossimilhança às aventuras
narradas , a incerteza que as narrativas provocam nas personagens.
Também foram aplicadas algumas noções da teoria que estuda o papel do
leitor na obra literária, a estética da recepção, da qual foram tomadas as
que envolvem o repertório dos textos ficcionais, as estratégias orientadas
para o preenchimento dos vazios do texto e a concretização da obra
literária pelo leitor. Por fim, foram empregados os conceitos de
intertextualidade, carnavalização literária e sátira menipéia, todos
voltados para o papel do leitor na obra literária. (SOUZA, 1998)

b. Objetivos.

Souza coloca como objetivos de sua pesquisa:

• A análise simultânea do papel do leitor e da “fantasticidade” nos contos

apresentados.
96

• A percepção de como se aproximam as teorias da Estética da Recepção e

do Gênero Fantástico no que concerne ao efeito determinado no texto

literário que pode causar no leitor, através de estratégias textuais, ora a

hesitação diante da experiência sobrenatural, ora o preenchimento dos

vazios que o texto oferece ao seu destinatário.

• A demonstração da relação entre texto e leitor, verificando as estratégias

que Machado de Assis utilizou para produzir um leitor “ruminante” como

ele mesmo denominou.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

A pesquisadora analisou o papel do leitor em narrativas curtas de Machado de

Assis. Para isso ela escolheu como corpus literário da pesquisa os contos: Uma excursão

milagrosa, publicado no Jornal das Famílias (1866) e A chinela turca, inserido em Papéis

Avulsos (1882).

c.2. Tipo de Leitor.

Essa pesquisa ficou restrita à análise literária no sentido da verificação do papel

do leitor formulado no próprio texto. Diz à pesquisadora que analisará “as proposições

básicas da teoria desenvolvida por W. Iser tais como a concepção de vazios do texto, de

leitor, de repertório, de estratégias e de concretização da obra pelo leitor.” (SOUZA,1998,

p. 52).
97

Portanto, embora a pesquisadora lance mão dos pressupostos teóricos de Jauss,

centra-se em Iser sua análise mais veemente. No capítulo terceiro, páginas 51-83, Souza,

partindo da experiência estética de Jauss, a pesquisadora centraliza sua atenção em

conceitos fundamentais tais como: a indeterminação (Ingarden), os vazios, repertórios e

estratégias (Iser). Dessa forma, contatamos que sua pesquisa focaliza o leitor implícito nos

textos machadianos apontados.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

O material utilizado para a observação da teoria apresentada na pesquisa

centra-se nos dois contos já relacionados anteriormente, visto que Souza vai fazer uma

análise profunda das estruturas discursivas dos textos, evidenciando o papel do leitor

implícito em diversos momentos da prosa de Machado de Assis. É por meio dos dois contos

analisados que a pesquisadora evidencia os pontos utilizados pelo escritor para enredar seu

leitor e chamá-lo para a narrativa. Assim, confirma-se no texto o perfil de um leitor

implícito capaz de perceber e interagir com as estratégias utilizadas por Machado para

envolvê-lo. Tais estratégias foram destacadas nos momentos em que a pesquisadora

mostrou a situação de sonho e realidade nos textos analisados que, só durante o processo de

leitura poderá verificar a manifestação do caráter duplo presente nos mesmos que se

mostram através de vários elementos tais como a construção de personagens sob o signo da

ambigüidade, o espaço e o tempo. Outro aspecto bastante evidenciado é o papel do

narrador-personagem em confronto a outro narrador que, segundo a pesquisadora,

“confunde-se com o autor, aquele que introduz a narrativa podendo ser classificado como

heterodiegético”. As referências ao leitor se dão, segundo o que afirma a pesquisadora,


98

“ora através das formas verbais no imperativo afirmativo e negativo, ora por meio de

citações e referências de caráter literário, histórico e filosófico”, (SOUZA, 1998, p. 87).

A intertextualidade também é um meio utilizado pelo grande mestre pra

prender a atenção de seus leitores. Sua competência é testada pelo autor nos textos

analisados, no sentido de que ele aposta no entendimento das alusões presentes, bem como

nas constantes associações entre os textos relacionados com a narrativa apresentada.

Segundo Souza, Machado convida seu leitor, por meio de suas estratégias narrativas, “a

fazer uma aventura intelectual”. A presença de intertextualidade nos contos provoca um

enriquecimento que exige do leitor implícito proposto pelo autor um repertório variado para

estabelecer associações entre o texto lido e outros. Portanto, “o intertexto é o caminho que

conduzirá o leitor ao preenchimento dos vazios do texto”. (SOUZA, 1998, p. 116)

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Para realizar sua proposta, a pesquisadora utilizou noções inerentes à literatura

fantástica e às estratégias do narrador para imprimir verossimilhança às aventuras narradas.

A partir desses dados, Souza constata que existe uma divisão na concepção do

que é fantástico e que seu enfoque norteou-se, prioritariamente, pela teoria desenvolvida

por T. Todorov em Introdução à narrativa Fantástica (1975) e pelos estudos realizados

pelo ensaísta português Filipe Furtado em A construção do fantástico na narrativa (1980).

A partir de então, ela analisa dados importantes para o gênero sobrenatural, a

ambigüidade, a verossimilhança e os elementos da narrativa em função da ocorrência meta-

empírica. Percebemos, na comprovação das hipóteses lançadas, outros nomes, tais como:
99

Josef Bella (1986), Alejo Carpentier (1987), Irlemar Chiampi (1980), Howard Phillip

Lovecraft (s.d.), José Paulo Paes (1985), Vladimir Propp (1988), Jorge Schwartz (1981).

No que se refere às noções teóricas sobre o papel do leitor na obra literária,e

diante da abrangência e múltiplos enfoques relativos à Estética da Recepção, o recorte feito

pela autora aborda os princípios teóricos formulados por Hans R. Jauss, especialmente

sobre as experiências estéticas. Passa por uma rápida verificação sobre os postulados

desenvolvidos por Ingarden em razão da reestruturação que Iser faz de algumas de suas

noções teóricas, sobretudo dos pontos de indeterminação, para chegar à análise das

proposições básicas da teoria desenvolvida por Iser no que elas oferecem como elementos

para uma maior compreensão dos efeitos que os textos possam causar no leitor: concepção

de vazio no texto, de repertório, de estratégias e de concretização da obra pelo leitor.

Foram utilizados para fundamentar o texto quanto a Estética da Recepção os teóricos:

Terry Eagleton (1983); Roman Ingarden (1979); Wolfgang Iser (1996 – 1979) Hans Robert

Jauss (1979, 1994) Jean-Paul Sartre (1993) e Regina Zilberman (1989).

d.2. Bibliografia citada.

B. Textos analisados.

ASSIS, M. de. Uma excursão milagrosa. In: Jornal das Famílias, 1866.

________. A chinela turca. In: ________Papéis Avulsos, 1882.

B. Referências teóricas.

BELLA, J. A mascara e o enigma: a modernidade da representação à transgressão. Rio de

Janeiro: Livraria Francisco Alves, 1986.


100

CARPENTIER, A.. A literatura do maravilhoso. Trad. Rubia Prates Goldoni e Sérgio

Molina. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1987.

CHIAMPI, I. O realismo maravilhoso: forma e ideologia no romance hispano-americano.

São Paulo: Perspectiva, 1980.

EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo,

Martins Fontes 1983.

FURTADO, F. A construção do fantástico na narrativa. Lisboa: Horizonte Universitário,

1980.

INGARDEN, R. O conceito de Ingarden dos pontos de indeterminação. In: COSTA, L. L.

A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1979.

ISER ,W. O ato da leitura. (Trad. - Johannes Kretschmer) São Paulo. Ed.34, 1996.

________. A interação do texto com o leitor. In: COSTA, L.L. A literatura e o leitor: textos

de Estética da Recepção. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1979.

JAUSS, H. R. O prazer estético e as experiências fundamentais da poiesis, aisthesis e

katharsis. In: COSTA, L. L. literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de

Janeiro:Paz e Terra, 1979.

________. A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática,

1994.

LOVECRAFT, H. P. El Horror en la Literature. (Trad. Francisco T. Oliver). Madrid:

Alianza Editorial, s.d.

PAES, J. P. Os buracos da máscara: antologia de contos fantásticos. São

Paulo:Brasiliense, 1985.

PROPP, V. Morfologia do conto fantástico. (Trad. Jasna Paravich Sarban). Rio de Janeiro:

Forense, s.d.

SARTRE, J. Que é literatura 2ª ed. (Trad. Carlos Felipe Moisés). São Paulo: Ática,1993.
101

SCHWARTZ, J. O universo fantástico. In: A poética do Uroboro: Murilo Rubião. São

Paulo: Ática, 1981.

TODOROV, T. Introdução à narrativa fantástica. (Trad. Maria Clara Correa Castello). São

Paulo: Perspectiva,1975.

ZILBERMAN, R. Estética da Recepção e história da literatura. São Paulo:Ática, 1989.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia

A dissertação foi dividida em cinco capítulos, acrescidos da introdução e da

conclusão. A pesquisadora iniciou seu trabalho apresentando as seguintes idéias gerais: o

autor Machado de Assis em sua preocupação de inserir o leitor na narrativa; o diálogo

entre texto e leitor que se firma durante o processo de leitura; a escolha de seu objeto de

estudo, os dois contos, situando-os no tempo e no espaço.

No primeiro capítulo, observou a contextualização dos contos na produção

literária de Machado de Assis com finalidade de analisar a presença de elementos análogos

nos referidos textos e a recorrência desses elementos em produções posteriores do autor.

Foi tarefa do segundo capítulo a abordagem de aspectos essenciais para a

instauração do gênero fantástico, tais como o surgimento e a conceituação, a irrupção do

sobrenatural no mundo real, a questão da hesitação da personagem e do leitor diante do

sobrenatural, a ambigüidade que o diferencia dos gêneros contíguos, os elementos da

narrativa em função da experiência meta-empírica e, por fim, as estratégias empregadas

pelo fantástico como reforço à verossimilhança.

No terceiro capítulo, a pesquisadora abordou a parte teórica da estética da

recepção, abarcando seus aspectos gerais. Para isso lançou mão dos postulados de Wolfgan

Iser (1976) e também das idéias de Luiz Costa Lima (1979). Seu interesse foi observar
102

melhor o efeito que os textos podem causar no leitor. Ainda nessa parte, a pesquisadora

apresentou noções de intertextualidade e sátira menipéia, aspectos observados no estudo.

O quarto capítulo foi composto da análise do conto Uma excursão milagrosa. É

neste momento que a pesquisadora aplicou as noções básicas que envolvem o gênero

fantástico bem como a noção de ambigüidade expressa nos elementos da narrativa. Quanto

ao leitor, ela observou as técnicas empregadas pelo narrador para estabelecer diálogo com

seu receptor. São elas identificadas na carnavalização literária, na sátira menipéia e por

meio das alusões e referências a outras obras, que remetem para a intertextualidade.

Já no quinto capítulo, a pesquisadora realizou a análise do conto A chinela

turca, observando os princípios que atuam para a configuração do fantástico na narrativa

bem como as técnicas usadas pelo narrador para conduzir o leitor à construção do texto. A

pesquisadora destacou as estratégias empregadas pelo fantástico para conferir

verossimilhança à aventura narrada. Merece atenção o destaque que Souza dá ao leitor,

dizendo que ele é convidado a participar do texto com a tarefa de preencher os vazios

deixados pelo narrador. Ela apresentou uma aproximação entre os dois contos em sua

produção artística.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa

A pesquisadora assinalou sua preocupação em contribuir para a análise de

Machado de Assis e para os estudos que envolvem a participação do leitor em narrativas

fantásticas.

Apesar de não ser o foco principal de seu trabalho, Souza, citando Antonio

Candido (Esquema de Machado de Assis), observou o papel do leitor dizendo que ele “é

convidado a participar dessa ‘brincadeira’. Ela diz que Machado de Assis faz esse jogo
103

com o leitor através de uma técnica que “consiste em sugerir as coisas mais tremendas da

maneira mais cândida...; ou em sugerir, sob a aparência do contrário, que o ato excepcional

é normal, e anormal seria o ato corriqueiro”. ( SOUZA, 1998, p. 149)

Souza buscou por meio da aplicação dos princípios teóricos do gênero

fantástico e os relativos a Estética da Recepção, entender o leitor como peça fundamental

na concretização de toda obra literária. Analisou noções de vazios, repertório ficcional, e as

estratégias utilizadas pelo autor e pelo leitor para a realização da leitura do texto proposto.

Coloca o leitor como elemento fundamental na construção do texto e diz que Machado de

Assis. Ao finalizar seu trabalho, a pesquisadora afirmou que não pretendia esgotar o tema

proposto, apenas apresentar a contextualização das narrativas literárias selecionadas e

apontar a presença de elementos similares entre as mesmas e outras produções do autor.

g. Avaliação sobre a pesquisa

A pesquisa de Souza é teórica, voltada para a análise do papel do leitor e da

“fantasticidade” nos contos apresentados. Não proporciona uma pesquisa-aplicada, dessa

forma foi classificada como Pesquisa de Efeito – o leitor implícito.

As metas estabelecidas pela pesquisadora foram atingidas. Observamos que

Souza não diferencia as categorias recepção (Jauss) e de efeito (Iser). No entanto, a

teoria da Estética da Recepção no que refere ao efeito determinado no texto literário, foi

amplamente discutida nos capítulos terceiro, quatro e quinto. Sendo que no terceiro, a

pesquisadora estabelece pontos que atacou nos contos de Machado de Assis, cumprindo,

portanto o papel importante de mostrar para o leitor de sua pesquisa o que ela entendia

como efeito do texto.


104

Notamos intenção da pesquisadora de comprovar com vários fragmentos

retirados dos dois contos as afirmações que fez sobre a teoria utilizada. Sua conclusão é

bastante sucinta e reconhece que não esgotou o assunto. Dado bastante coerente, visto que

os estudos referentes à Estética da Recepção em 1998 no Brasil ainda estão se iniciando.

O avanço que observamos na pesquisa é o fato de que, mesmo sem evidenciar

as categorias de recepção e efeito, Souza aponta para elas quando analisa a questão do

leitor implícito na narrativa fantástica. Destaque especial para a forma como evidencia o

efeito determinado no texto como causador de hesitação e/ou preenchimento dos vazios

que o texto oferece ao seu destinatário. Embora não mostre a interação do leitor com o

texto, apresenta apenas as estruturas de apelo utilizadas pelo escritor para o leitor. A

pesquisadora observa também técnicas utilizadas – carnavalização literária, sátira e

intertextualidade - pelo narrador para estabelecer diálogo com o leitor. Sua ênfase portanto

está em observar o texto e não sua recepção .


105

PESQUISA 6.

a. Dados de identificação.

Autor: Ana Maria B. G. Yasuda.

Orientador: Profª D. Lígia Chiappini Moraes Leite.

Título: Poesia e Alfabetização estudo sobre o Batalhão das Letras de Mario Quintana e

Pare no P da Poesia de Elza Beatriz

Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São

Paulo.

Mestrado em Teoria Literária e Literatura Comparada.

Ano de finalização: 1999.

Número de páginas: 178.

Tipo: Pesquisa de Efeito - o leitor implícito.

Resumo da obra:

Esta dissertação de mestrado analisa os livros de poesia para


criança O Batalhão da Letras, de Mario Quintana e Pare no P da Poesia,
de Elza Beatriz Von Döllinger de Araújo, e a relação entre os poemas e
suas respectivas ilustrações.
Ao final da análise estabelece uma breve comparação entre as duas
obras, destacando suas semelhanças e diferenças, e em que elas podem
contribuir para a formação de leitores de poesia.
A partir de uma pequena pesquisa de campo, relata e analisa a
mediação da leitura destas obras na escola. Conclui que, como a
formação de leitores de poesia passa pela mediação de professores, em
principio, seria preciso que estes mediadores cultivassem o gosto pelo
leitura de poemas.
Além disso, seria necessário sensibilizar estes mediadores para a
importância da emoção estética suscitada pela leitura da poesia na
formação do ser humano, e de como a linguagem do poema, em razão de
voltar-se sobre si mesma, pode contribuir para que a criança compreenda
a língua escrita como um sistema de representação. (YASUDA, 1999,
p.4)
106

b. Objetivos.

Diante de dois fatos – a crescente produção de livros de poesia para crianças e a

pequena bibliografia existente sobre o assunto - Yasuda fixou como meta principal

desenvolver uma pesquisa que contribuísse para a identificação do perfil de algumas

dessas obras. Para atingi-la, a pesquisadora fixou ainda outros objetivos:

• Analisar os livros indicados no corpus literário quanto aos aspectos de

significação dos poemas, procedimentos estilísticos dos autores, temáticas

relacionadas ao universo infantil e as ilustrações;

• Comparar os poemas apresentados nos dois livros indicados;

• Observar como o corpus literário delimitado é utilizado por professores

em situação de aula;

• Analisar se a prática pedagógica realizada na exploração dos livros

indicados contribui para a formação de leitores, de maneira geral, em

especial de poesia.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

O corpus presente neste trabalho foi proposto a partir de duas obras poéticas

infantis:

− O Batalhão da Letras, de Mario Quintana, 1999, 5ª edição, Editora

Globo. (1ª edição 1948)


107

− Pare no P da poesia, de Elza Beatriz Von Döllinger de Araújo, 1988,

12ª edição, Belo Horizonte editora Virgília. (1ª edição 1980).

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisa contou com o depoimento de professores que utilizaram os textos

em suas aulas. Tais professoras, após a utilização em diferentes momentos em suas aulas

dos dois livros indicados no item anterior, responderam a uma entrevista formulada e

gravada em áudio pela pesquisadora.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou efeito analisado..

A recepção dos textos pelos alunos foi observada pela análise de entrevistas

com algumas professoras que utilizaram os textos contidos nos livros na pré-escola e 1ª- 3ª

séries do Ensino Fundamental.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Não foi fácil perceber a teoria utilizada pela autora para fundamentar sua

pesquisa, embora Yasuda tenha citado uma série de pesquisadores voltados para a questão

da leitura destinada ao público infanto-juvenil. Sua atenção principal foi a questão da

leitura de poesia nas séries iniciais do Ensino Fundamental, reconhecendo que muitas vezes
108

estas são utilizadas apenas para o ensino da língua – decodificação de palavras – e não para

a fruição do texto poético. A pesquisadora reconheceu que, sobre os livros de poesia

produzidos para crianças, a bibliografia é pequena, sendo que o único livro dedicado

inteiramente ao assunto, na época de sua pesquisa, era Poesia Infantil de Maria da Glória

Bordini.

Seu trabalho, nesse sentido, seguiu destacando autores cujo interesse era a

questão da utilização da poesia infantil como recurso pedagógico, abordando a poesia como

recurso de alfabetização, bem como outros autores que refletem a produção de poesia

voltada para um público especial: a criança. Além disso,Yasuda fundamentou sua pesquisa

no que alguns pensadores dizem sobre da leitura. Podemos observar considerações a esse

respeito de: Marisa Lajolo (1993) e Regina Zilberman (1986), Leonardo Arroyo (1988),

Nelly Novaes Coelho(1993-95), Maria da Gloria Fialho Pondé (1980) , Maria Helena

Martins (1989), Ligia Morrone Averbuck (1982), José Paulo Paes (1995-98).

Diluídas em seu texto estão as questões voltadas à Estética da Recepção, foco

de nosso interesse nessa pesquisa. Ao analisar os textos poéticos, bem como sua utilização

em sala de aula, percebemos que a pesquisadora resgatou em sua argumentação

considerações relevantes sobre a questão do leitor, e da recepção do texto. Nesses

momentos, encontramos os conceitos formulados por W. Iser (1976) referentes a estrutura

de apelo nos textos.

Embora desejasse indiretamente contemplar a recepção de textos poéticos

realizada pelos alunos, evidencia-se que a pesquisadora não se ateve a questões mais

profundas sobre a Estética da Recepção e não utilizou uma base teórica mais especifica

sobre o assunto.
109

d.2. Bibliografia citada.

A. Texto literário

QUINTANA, M. O Batalhão da Letras. 5ª ed., Rio de Janeiro: Globo. 1999.

ARAÚJO, E. B. V. D. de. Pare no P da poesia. 12 ª ed., Belo Horizonte: Virgília, 1988.

B. Autores citados na base teórica.

ARROYO, L. Literatura Infantil brasileira. São Paulo: Melhoramentos, 1988.

AVERBUCK, L. M. A poesia e a escola. In:ZILBERMAN, R. (Org). Leitura em crise na

escola. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.

BORDINI, M. da G. Poesia infantil. São Paulo: Ática. Série Princípios. 1991.

COELHO, N. N. A poesia destinada às crianças. In: Literatura infantil: teoria, análise,

didática. São Paulo: Àtica, 1993.

________. Dicionário crítico da literatura infantil/juvenil brasileira (1882/1982). São

Paulo: Quíron, 1995.

ISER,W. A interação do texto com o leitor. In: COSTA, L. L.. A literatura e o leitor: textos

de Estética da Recepção. Rio de Janeiro:Paz e Terra, 1979.

LAJOLO, M. Poesia: uma frágil vítima da escola. In: Do mundo da leitura para a leitura

do mundo. São Paulo: Ática, 1993.

MARTINS, M. H. Arca de Noé: entre a inocência e a experiência. In: Crônica de uma

utopia. São Paulo: Brasiliense,1989.

PAES,J. P. Um mundo sem poesia é o mais triste dos mundos. Proleitura. Assis, n.7, out.

1995.

________. Infância e poesia. Mais! São Paulo, 9 ago 1998.


110

PONDÉ, M. da G. F. Vinícius de Moraes: do misticismo à poesia para crianças. Boletim

Informativo FNLIJ. Rio de Janeiro, (52), jul/set. 1980.

ZILBERMAN, R.. Leitura em crise na escola. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p. 147

-142.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia

Yasuda iniciou suas reflexões apresentando o momento em que a produção de

obras literárias para o público infanto-juvenil se consolida no mercado, bem como na

constituição de um corpo de escritores voltados para esse segmento – a década de 70. É

nesse momento que há um direcionamento do mercado para esse público, gerando a

profissionalização de um grande número de escritores e artistas gráficos.

Partiu, então, para a leitura de 83 livros de poesia infantil e optou pelos dois

indicados anteriormente. Sua escolha foi justificada pelo papel de mediação exercido pela

escola entre leitor/aluno/texto O Batalhão das Letras, porque fora solicitado por algumas

professoras para ser trabalhado em sala e Pare no P da Poesia, pelo fato de terem sido

adquiridos pela escola quinze exemplares, para serem trabalhados em sala de aula.

A pesquisa de Yasuda prossegue com a análise dos dois livros indicados e

posterior registro da maneira como os textos foram abordados pelos professores. A

dissertação foi, desta forma, dividida em quatro capítulos. Do primeiro ao segundo consta

a análise de parte dos poemas mais significativos contidos nos dois livros que

exemplificam os procedimentos estilísticos de seus autores e que, ao mesmo tempo

mostram de que ponto de vista tratam as temáticas relacionadas ao universo infantil. É

importante perceber que em cada um desses capítulos, após a análise dos textos, a

pesquisadora se ateve à análise das ilustrações dos poemas. A análise foi feita na tentativa
111

de verificar as relações estabelecidas entre elas e o texto. Portanto, trata da estrutura de

apelo inserida nos textos que identificariam um leitor implícito no mesmo

No terceiro capítulo, a pesquisadora fez uma comparação entre os dois livros.

Constatou que se tratava de dois livros com visões de mundo bastante diferentes, que ela

julgou serem decorrência das condições de produção, da época e da filiação estética

diferentes dos autores.

No quarto capítulo, apresentou o registro de uma pesquisa aplicada composta

pelo resultado da análise de entrevistas com algumas professoras que utilizaram os textos

contidos nos livros em diversas séries. Foram incluídos depoimentos relativos à pré-escola,

e à 1ª, 3ª séries, Ensino Fundamental. Ainda nesse mesmo capítulo a pesquisadora lançou

uma reflexão sobre as potencialidades do poema e sobre sua pertinência como texto para

ser trabalhado durante o processo de aquisição da escrita.

f. Resultados principais – conclusões apresentadas;

Yasuda afirmou que, por meio dos relatos apresentados pelas professoras,

emerge indiretamente a leitura feita por elas dos poemas indicados, bem como da realizada

pelos alunos nas atividades propostas. Esse trabalho revela que a “noção de protocolo de

leitura ainda não chegou à escola, e não apenas no que diz respeito ao texto literário, mas

estende-se aos outros tipos de texto em linguagem verbal e não verbal” (YASUDA,1999. p.

157). A conclusão também se refere ao texto poético, segundo a pesquisadora.

Apoiando-se em reflexões de Lígia Morrone Averbuck e Marisa Lajolo, a

pesquisadora retomou comentários sobre a ausência de atividades de leitura que

considerassem as especificidades da linguagem das quadrinhas de Mario Quintana.


112

Encontram-se, no depoimento de duas das professoras que trabalharam com o livro

integralmente, as evidências de que as atividades propostas muitas vezes se relacionavam

ao reconhecimento das letras e ao processo de aquisição da escrita, e não de leitura e

fruição dos textos. Ela defende a idéia de que “é necessário fazer do contato com a poesia

antes fonte de prazer gratuito que de obrigações escolares”. 12

A pesquisadora observou na fala das professoras, referindo-se ao livro O

Batalhão das Letras, uma suposta inadequação da linguagem das quadrinhas. Sobre isso

argumentou que tal conclusão reduzia a recepção dos textos ao nível da inteligência,

excluindo a sensibilidade e a imaginação que igualmente alimentam esse ato. Yasuda

justifica que o pensamento das educadoras se sustenta no processo de aquisição da escrita

que estimula o aprendiz a estabelecer relações entre as partes e o todo, e entre o todo e as

partes do sistema de representação da língua. No entanto, na pratica pedagógica real o que

se observava era a utilização dos diversos tipos de textos, inclusive as poesias, restrita à

aquisição de um código.

Yasuda registra suas conclusões sobre as proposições e indagações fixadas no

início do trabalho, retomando algumas questões. A primeira delas diz respeito aos livros

destinados a apresentarem as letras do alfabeto. “Eles encerrariam aí sua razão de ser, ou se

apesar disso poderiam contribuir na formação de leitores de poesia, preparando o leitor para

outros textos mais complexos?” Analisando essa questão relativa aos livros propostos, a

pesquisadora concluiu que poderiam favorecer a formação de leitores se a escola como

mediadora de leitura estivesse preparada para essa função.

O trabalho, embora não pretenda apresentar conclusões definitivas sobre o

tema, sinalizou para a tendência de muitos professores ignorarem as especificidades da

linguagem poética. Isto se deve, segundo Yasuda ao fato de eles não estarem

12
Citação de José Paulo Paes na referida dissertação, p. 159
113

familiarizados com leitura de poesia e, conseqüentemente não terem desenvolvido sua

sensibilidade estética, fator que poderia propiciar condições para perceberem de que forma

cada poema pode ser explorado na orientação da leitura de seus alunos.

Outro fator apontado para esse problema é relativo à linguagem dos poemas.

Estes priorizam o significante ao passo que a escola valoriza o significado, o conteúdo, a

mensagem. Dessa forma, não direciona direito seu trabalho por não saber bem como lidar

com um texto que causa tanto estranhamento. A pesquisadora afirmou que a questão

principal é a formação do mediador, principalmente garantindo seu prazer no ato dessas

leituras.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Yasuda realiza uma pesquisa teórico-aplicada, pois se volta para uma

experiência de leitura. Embora se baseie em depoimentos de professores sobre o uso de

poesia em sala de aula, seu texto foi classificado como uma Pesquisa de Efeito, pois faz

uma análise mais centrada no texto evidenciando aspectos estruturais da obra, as marcas de

efeito. Sua preocupação é verificar a questão da leitura de poesia na escola. Para isso,

observa depoimentos de professores quanto ao uso de poesias na fase de aquisição da

leitura.

Utiliza poucos pressupostos da Estética da Recepção. Embora se proponha a

ver como os alunos lêem poesia na escola, não colhe depoimentos destes. Sua fonte é de

“segunda mão”, visto que se baseia nas impressões de professores que, segundo a própria

pesquisadora, não tem embasamento teórico sobre esse uso. Não utiliza explicitamente a
114

teoria de Iser, mas cita em sua bibliografia o texto A interação do texto com o leitor, do

referido autor, traduzido por Luiz Costa Lima.

Seu objetivo principal é a análise do texto em si, suas marcas numa

perspectiva estrutural - semântica. Só então, parte para o relato de da utilização das obras

nas escolas. A pesquisadora reconhece na fala dos professores mudanças no rendimento

do ensino após a utilização de poesias

Não usa diretamente as questões da Estética da Recepção voltadas ao efeito e a

recepção, nem diferencia estas categorias. No entanto, em alguns pontos da sua análise

reconhece a existência de um leitor real e focaliza o professor enquanto agente de

formação de leitura, responsável por escolher os textos para os alunos, além de ser um

leitor empírico.

Sua pesquisa reconhece a fragilidade da formação do professor enquanto leitor.

Da existência de vazios no texto que os alunos devem completar para dar sentido. Sua

preocupação maior é verificar como os professores utilizam textos em sala, evidenciando a

prática de leitura centrada na decodificação superficial das poesias.


115

PESQUISA 7.

a. Dados de identificação.

Autor: Marlene Barbosa Ferreira

Orientador: Profª Maria Lúcia Pimentel de Sampaio Góes

Título: Caminhos de ler – Por uma Formação do Leitor Fluente e Crítico em Obras de

Literatura Infantil e Juvenil de Vanguarda em Língua Portuguesa.

Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São

Paulo

Nível de qualificação: Mestrado em Letras Clássicas e Vernáculas

Ano de finalização: 1999

Número de páginas: 105

Tipo: Pesquisa de Efeito – o leitor implícito.

Resumo da obra:

POR UMA POLÍTICA DE LEITURA PARA TODAS AS


IDADES. Refletindo sobre pontos e contrapontos da leitura no Brasil,
principalmente quanto à pressão da escola sobre os alunos para que se
tornem leitores à custa do contato com clássicos, iniciado somente no
Ensino Médio ou, quando muito, nas séries finais do Ensino Fundamental,
nesta dissertação são vislumbrados caminhos menos íngremes e mais
prazerosos para a formação do leitor.
Dentre os muitos projetos de leitura desenvolvidos desde 1969,
principalmente na rede estadual de ensino, com algumas entradas na rede
particular, a autora descreve “Brincando no Arco-Íris” partindo da visão
de leitura como jogo, como atividade livre, espontânea e prazerosa,
passando pela formação do Professor Leitor, com propostas de análise de
algumas obras da literatura infantil de vanguarda em língua portuguesa,
ancorando na proposta para a formação do Aluno Leitor.
(FERREIRA,1999,VI)
116

b. Objetivos.

A pesquisadora propõe uma reflexão sobre pontos e contrapontos da leitura no

Brasil. Seus objetivos são:

• Refletir sobre a prática de leitura realizada na escola;

• Propor caminhos menos íngremes para a formação do leitor.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Ferreira propôs uma análise comparativa de quatro obras, denominadas por ela

como “de vanguarda”, sendo que duas delas são:

Da literatura infantil portuguesa:

− Eu também sou gente de Ricardo Alberty, Lisboa: Plátano de Abril,

1982. –Classificada na pesquisa como uma narrativa infantil em forma

de diário, (sem data da 1ª edição).

− Menina Coração de Pássaro de Luísa Dacosta, ilustrações de Jorge

Pinheiro, Portugal, Figueirinhas, 1978. Segundo a pesquisadora, “este

texto foge das características da estória infantil, quando apresenta uma

enfabulação que obedece muito mais o caminho do sonho do que da

linearidade comum aos contos infantis ”. (FERREIRA, 1999 p.51)


117

Da literatura infantil brasileira:

− A girafa e o Mede-Palmo de Lúcia Pimentel Góes, ilustrações de Maria

Cecília Marra, 2ª edição, São Paulo Ática, 1987. Classificada na

pesquisa como uma narrativa didático-pedagógica, (sem data da 1ª

edição).

− Tem Pimenta no Cocuruto de Ana Maria Machado, ilustrações de

Gerson Conforto, 2ª edição, Rio de Janeiro, EBAL, 1984. Classificada

na pesquisa como um conto infantil de raízes folclóricas, (sem data da

1ª edição).

c.2. Tipo de leitor.

Participaram dessa pesquisa professores e alunos do Ensino Fundamental (1ª à

4ª série) da Escola Estadual “Jordel Domeneghi”, Igarapava, SP. Os textos da 5ª série

foram realizados na E.E. P. G “Professor Dantes”, na mesma cidade.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou efeito analisado.

A pesquisadora propôs a observação das respostas dadas a uma ficha técnica

sobre os livros trabalhados contendo informações da própria obra e outras denominadas

pela pesquisadora por “informações afetivas” trazidas pela emoção. Fixou sua atenção em

conhecer a visão do grupo sobre leitura. Além disso, Ferreira apresentou, na última parte

da dissertação, um apêndice chamado de extratextos contendo algumas produções dos


118

alunos da escola, estimulados por técnicas desenvolvidas pelo projeto “Arco-Iris”. Constam

desta parte redações e desenhos de alunos de diversas séries, registros da pesquisadora e

das professoras, também fotos das atividades de leitura realizadas pelo professor da sala.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Impulsionada por sua prática em sala de aula e buscando respostas para

inquietações provocadas no seu dia a dia, Ferreira entra em contato com a questão da

leitura e ensino da literatura nas séries iniciais. Cita em seu texto uma série de

pesquisadores sobre o assunto, tais como, Jean Foucambert, Sírio Possenti, Vânia Maria

Resende, Lúcia Pimentel Góes, Fanny Abramovich, José Morais, Roland Barthes, Nietzche,

Amin Maalouf. Esse embasamento teórico é conseqüência natural dessa busca de

caminhos.

Sua observação aponta para questões importantes sobre a literatura infantil

mostrando como conclusão a necessidade de uma melhor formação do professor, pois a ele

caberá a tarefa de continuação de um programa de desenvolvimento de leitura. Sua

proposta, então, passa a focalizar três autores em especial: Affonso Romano de Sant´Ana

(1991), Maria Lúcia P. S. Góes (1990) e Nelly Novaes Coelho (1983.

A pesquisadora inicia seu embasamento teórico lançando mão do modelo de

análise proposto por Sant´Ana que considera o eixo parafrástico e o eixo parodístico como

forma de conhecer o mundo, diferindo assim dos formalistas russos. Segue apresentando os

dez fatores estruturantes da narrativa segundo Nelly N. Coelho.


119

Na análise dos textos literários propostos na pesquisa, Ferreira se vale de outros

teóricos: Kate Hamburger (1975); Maria José Palo (1986); Samira Nahid de Mesquita

(1987); Ana Maria Machado (1984); Gianni Rodari (1982); Jussara Hoffmann (1993).

As questões relativas à Estética da Recepção encontram-se diluídas nos dados

sobre leitura apresentadas no texto, sendo que não se observou nenhum capítulo

especialmente destinado a elas. Apenas no capítulo 3 Ferreira cita rapidamente a Estética

da Recepção como uma teoria que enfatiza o papel do leitor como um dos pólos

importantes da literatura. Nela encontramos a citação de H. R. Jauss, retirada de Fernando

Paixão (1998).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

ALBERTY, R. Eu também sou gente. Lisboa: Plátano de Abril, 1982.

DA COSTA, L. Menina Coração de Pássaro. Ilustrações de Jorge Pinheiro. Portugal:

Figueirinhas, 1978.

GÓES, L. P. A girafa e o Mede-Palmo. 2ª edição. Ilustrações de Maria Cecília Marra. São

Paulo Ática, 1987.

MACHADO, A. M.. Tem Pimenta no Cocuruto. 2ª edição. Ilustrações de Gerson Conforto.

Rio de Janeiro: EBAL, 1984.

B. Referências teóricas.

ABRAMOVICH, F.. O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo: Summus,

1983.
120

________. Literatura infantil: gostosuras e bobices. São Paulo: Scipione, 1989.

________. Quem educa quem? São Paulo: Summus, 1985.

________. O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo: Summus, 1983.

BARTHES, R. O grau zero da escritura. (Tradução Anne Arnicahrd e Álvaro Lorencini).

São Paulo: Cultrix, 1971.

________. O prazer do texto. Trad. J. Guinsburg. São Paulo: Perspectiva, 1977.

________. Et alii. Análise da narrativa. 3ª ed. Petrópolis:Vozes, 1973.

COELHO, N. N. Dicionário crítico da literatura infantil/juvenil brasileira (1882/1982).

São Paulo: Quíron, 1983.

________. A literatura infantil. 5ª ed. São Paulo: Ática, 1991.

________.O conto de fadas. São Paulo: Ática, 1987.

________. Panorama histórico da literatura infantil e juvenil. 3ª edição. Ver. São Paulo:

Ática, 1985.

GÓES, M. L. P. A aventura da literatura para criança. Formas de avaliação nos livros de

Francisco Marins. São Paulo: Melhoramentos, 1990.

________. A fábula brasileira ou fábula saborosa – Tentativa paideumática da fábula no

Brasil. São Paulo. Tese de livre Docência. FFLCH-USP, 1994.

________. Em busca da matriz. A literatura infantil portuguesa, suas peculiaridades e

evolução, das origens à atualidade. Tese de Doutorado da USP. São Paulo. 1989.

________. Introdução à literatura infantil e juvenil. São Paulo: Pioneira, 1984.

________. Olhar de descoberta. il. Eva Funari. São Paulo, Mercuryo, 1996.

HAMBURGER, K. A lógica da criação literária. São Paulo: Perspectiva, 1975.

HOFFMANN, J. Avaliação: mito & desafio – uma perspectiva construtivista. Porto

Alegre:Educação & Realidade Revistas e Livros, 1993.

ISER, W. The Act of Reading. Baltimore: The Johns Hopkins Univ. Press, 1980.
121

PAIXÃO, F. A Leitura como educação dos sentidos. Projeto “Memória de Leitura”,1998.

MACHADO, A. M. Recado do nome. Rio de Janeiro: IMAGI,1976.

MESQUITA, S. N de. O enredo. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1987.

PALO, M. J. & OLIVEIRA, M. R. Literatura Infantil. São Paulo: Ática, 1986.

RODARI, G. Gramática da fantasia. (Tradução Antonio Negrin). São Paulo: Summus,

1982.

SANT´ANA, A. R. de. Paródia, paráfrase & cia. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1991.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

A pesquisadora parte da visão de leitura como jogo e atividade livre,

espontânea e prazerosa, passa pela formação do professor como leitor até chegar à análise

de algumas obras da literatura infantil de “vanguarda” em língua portuguesa, ancorando

seu projeto na proposta para a formação de um aluno leitor.

Seu texto, marcado por um tom poético, foi iniciado por um preâmbulo no qual

a pesquisadora, produzindo um “Abre alas”, mostrou sua paixão pela literatura. Já na

introdução ela descreveu como chegou ao projeto de pesquisa, justificando que

inicialmente teve a prática e depois recorreu à teoria como algo necessário para a

progressão do próprio projeto.

Referindo-se ao magistério, aponta o fato de a profissão ficar paulatinamente

desvalorizada e subestimada, sendo exercida cada vez mais por mulheres. Como essa classe

se origina do mesmo grupo descrito anteriormente, afirma que as professoras também não

são leitoras de uma forma geral. Apesar de destacar esse quadro negativo sobre a leitura, a

pesquisadora afirma que mais importante do que ele é o “encontro de caminhos e soluções

para essa situação.”


122

Desta maneira, chega ao terceiro capítulo de sua dissertação, apresentando uma

pequena reflexão sobre a formação do professor leitor. Ferreira observou que merecem

destaque quanto ao papel do leitor na compreensão do texto as contribuições vindas das

áreas da Psicologia, da Educação e da Crítica Literária. A primeira dando ênfase à

percepção, a segunda à necessidade de interação leitor/texto e a terceira, enfatizando o

papel do leitor – principalmente no que se refere à Estética da Recepção.

Já no quarto capítulo, Ferreira, defendendo um domínio teórico básico, passou

a sua proposta de formação de professores na escola. Fez isso por meio da análise

comparativa de quatro obras literárias.A análise se realizou pelos elementos estruturantes

da narrativa, segundo Nelly Novaes Coelho (1985): o narrador; o foco narrativo; a estória; a

enfabulação; o gênero narrativo; personagens; espaço; tempo; linguagem ou discurso

narrativo; leitor ou ouvinte. São estes fatores observados individualmente em cada obra

proposta no parágrafo anterior, sendo que na seqüência, a pesquisadora analisou as obras

seguindo esses elementos, comparativamente focalizando o que ela denominou de

“esqueleto mais atraente”.

No quinto capítulo a pesquisadora propôs uma leitura sem fases o que para ela

seria equivalente a uma leitura mais livre das convenções impostas pela escola um ato de

fruição de textos. Continuou defendendo a escola como um espaço privilegiado para a

divulgação das artes e para a formação do aluno. Observou a questão do vestibular, fator

que ela julga distanciar os alunos do mundo da leitura. Disse que um projeto de leitura deve

primeiro despertar o desejo em relação ao livro.

Sua proposta “Brincando no Arco Íris” passa por atividades lúdicas que

funcionam principalmente para “ampliar a visão dos iniciantes sobre as múltiplas

possibilidades de leitura de um texto e a multiplicidade de códigos que se pode utilizar

para representar idéias e emoções”. O projeto propôs ainda atividades que partiam da
123

escolha de títulos, uma ficha técnica que se formaria apenas de dados de identificação do

livro e impressões de leitura registradas ao longo desta; classificação do que foi lido pelo

aluno por meio das cores do arco-íris, bem como feitura de um desenho. A avaliação formal

foi abolida, propondo-se que fosse feita por meio de comentários informais, palavras de

estímulo e valorização, bilhetes escritos a lápis nos cantinhos das folhas dos “registros de

leitura”, comentários verbais, exposição das pastas de registros, etc. Portanto, uma

avaliação que não causasse traumas, nem enfrentamentos e muito menos competição.

e. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Na conclusão, Ferreira apresenta uma defesa do projeto que propôs. Segundo

ela, esse vinha sendo aplicado há algum tempo, sempre trazendo respostas positivas junto

ao público leitor no sentido de “impulsionar o prazer de ler-vivendo”.

Como sua meta principal era, a partir de dados concretos e de um

acompanhamento efetivo de trabalhos, evidenciar um projeto de formação de leitores que

partisse da própria formação dos professores estimuladores, Ferreira constatou que a

resposta conseguida pelo grupo que participou da pesquisa foi muito positiva. Houve,

segundo ela, um crescimento dos profissionais do magistério, quando estimulados. Ela

percebeu que estes, apesar de “donos de uma competência superior”, estão acostumados

com ações esparsas pinçadas deste ou daquele projeto, carecendo de sistematização, de

sequenciamento com vistas a objetivos determinados.

A principal evidência quanto às práticas desses professores diz respeito ao

abandono das avaliações tradicionais realizadas por meio de provas e fichas de leitura.

Outro fator evidenciado durante o projeto realizado, foi um envolvimento maior dos pais

nas diversas atividades paralelas realizadas.


124

A escola, no entender da pesquisadora, não poder correr o risco de ser apenas

um espaço de recepção e divulgação do que a crítica chama de “gosto médio”. Ela é um

espaço privilegiado de divulgação cultural, que só será efetivamente consolidado a partir

de um programa maior de incentivo à leitura e de formação de leitores, alunos e

professores.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Ferreira produz uma pesquisa teórica voltada para a categoria do efeito embora

relate experiências de leitura. Seu interesse é pedagógico, pois quer divulgar um projeto

de formação de leitores que se apresenta como uma fórmula, embora ela negue isso. Foi

classificada aqui como Pesquisa de Efeito – o leitor implícito. A pesquisadora, numa

linguagem muito “poética”, procura observar as formas de ler no Brasil, bem como propor

soluções para a formação do leitor.

Coloca os professores como “receptores de textos e divulgadores do que a

crítica do gosto médio nos impõe”. Alia três áreas do conhecimento quanto ao papel do

leitor na compreensão do texto: Psicologia, Educação e a Crítica Literária. Sendo que nessa

última destaca a Estética da Recepção enfatizando o papel do leitor como um dos pólos

mais importantes da literatura. Analisa as obras por meio de fatores estruturantes da

narrativa (Usa Nelly Novaes Coelho para isso - A literatura infantil, 1987). Na grade de

analise proposta, destaca-se o item: Leitor ou ouvinte – o provável destinatário, visado

pela comunicação, um leitor real, empírico.

A pesquisa carece de maior embasamento teórico, embora a autora tente

apresentar três categorias de leitor: o leitor/ouvinte – que é levado a se aproximar do


125

texto por meio da linguagem utilizada; o leitor ideal formatado no texto; um leitor real –

que no entender da pesquisadora se confunde com o ideal.

No nosso entender, ela se confunde com esta questão porque não consegue,

pelo que escreveu, demonstrar distinção entre as categorias elencadas – por exemplo na p.

48 ela fala que o conto “dirige-se a um ouvinte/leitor mais que a um leitor, pois se trata de

um menino contando sua estória.” Portanto, não distingue as duas categorias de leitores.

Finalmente apresenta o leitor crítico – quando se refere ao livro Menina

Coração de Pássaro - que, segundo sua análise, utiliza personagens os quais não fariam o

texto ser vivenciado pelas crianças. Portanto, ela não o caracteriza “como um livro para

criança”

A principal critica que fazemos ao trabalho de Ferreira se concentra na

linguagem excessivamente poética, pouco precisa que utiliza. Bem como, a não

comprovação dos pontos que levanta na pesquisa visto que a base teórica utilizada é pouco

convincente.
126

PESQUISA 8.

a. Dados de identificação.

Autor: Ilda Quaglia.

Orientador: Profª Drª Alice Áurea Penteado Martha.

Título: Entre versos e rimas..

Instituição: Universidade Estadual de Maringá.

Nível de qualificação: Mestrado em Lingüística Aplicada na área de Ensino-

Aprendizagem de Língua Materna.

Ano de finalização: 2000.

Número de páginas: 207.

Tipo: Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores.

Resumo da obra:

Este trabalho de pesquisa, de natureza aplicada, tem como objetivo


investigar a recepção de texto poéticos por leitores pré-adolescentes, com
idade entre 11 e 12 anos, alunos de uma 6ª série de uma escola da rede
particular de ensino de Maringá. A proposta também procura observar
quais aspectos da metodologia de leitura com o texto literário são
importantes para promover e incentivar a leitura prazerosa da poesia por
estes alunos.
Para atingir esses objetivos, optou-se pela coleta de dados a partir
da realização de uma oficina de leitura de poemas, tendo como
parâmetros as cinco etapas do método recepcional , criado por M. da G.
Bordini e Vera T. Aguiar, a partir dos pressupostos da Estética da
Recepção.
A análise dos dados revelou que os alunos pré-adolescentes são
receptivos à poesia, o que pôde ser comprovado na interação entre texto e
leitores, uma vez que puderam encontrar, nos poemas lidos, aspectos
condizentes com as expectativas de sua faixa etária, como a emoção,
constatada a partir da leitura e de atividades que exploraram a
imaginação e a proximidade do conteúdo do texto com suas realidades
vivenciais.
Pela análise dos dados coletados, a pesquisa mostrou que existem
alternativas metodológicas eficientes para auxiliar educadores na tarefa
de promover a leitura da poesia por leitores juvenis. Dessa forma, espera-
se que resultados possam iluminar a prática pedagógica com a literatura,
especialmente com um gênero tão marginalizado como a poesia.
(QUAGLIA, 2000)
127

b. Objetivos.

Seus objetivos foram:

• Investigar a recepção de textos poéticos por leitores pré-adolescentes, com

idade entre 11 e 12 anos, alunos de uma 6ª série de uma escola da rede

particular de ensino de Maringá.

• Observar quais aspectos da metodologia de leitura do texto literário são

importantes para promover e incentivar a leitura prazerosa da poesia por

esses alunos.

• Verificar como ocorre a recepção de textos poéticos por pré-adolescentes.

• Observar quais aspectos são relevantes na recepção da poesia.

Quaglia também apresenta objetivos para cada fase da oficina de leitura de

poemas proposta:

• Determinação de Horizontes de Expectativas - Envolver o aluno na

atividade desenvolvida para que ele possa ser parte atuante no processo de

recepção.

• Atendimento de Horizontes de Expectativas dos alunos -

• Rompimento do Horizonte de Expectativas - Abalar as certezas dos alunos

quanto ao gênero, apresentando o texto poético com uma linguagem mais

elaborada e seu conceito. Também, promover a aproximação dos alunos

com esse tipo de texto por meio da exploração de sua linguagem e de seus

recursos formais.

• Questionamento do Horizonte de Expectativas – Motivar a classe para

exercer sua análise sobre o material literário, ou seja, analisar


128

comparativamente as canções trabalhadas na primeira etapa e o poema

“Excursão”. Essa atividade foi proposta com o objetivo de levar os alunos a

perceberem como as canções e o texto proposto apresentavam temáticas

semelhantes, mas que se diferenciavam na forma de apresentação do tema,

na elaboração da linguagem e no uso de recursos formais, como rimas e

repetições.

• Ampliação do Horizonte de Expectativas: Ampliar o conceito de poesia dos

alunos e, ao mesmo tempo, romper com a expectativa limitada dos alunos de

que a poesia só é poesia se apresentar necessariamente rima e se tratar do

assunto “amor”

c. Material.

b.1. Tipo de texto abordado.

Na oficina proposta pela pesquisadora encontramos materiais relativos ao

desenvolvimento de cada fase do método recepcional organizado por Aguiar e Bordini.

Foram utilizadas para a primeira fase - atendimento de Horizontes de

Expectativas dos alunos – as seguintes letras de músicas: “Canibal” – Ivete Sangalo; “Hoje

a noite não tem luar” - Monroy Fernandes e Vila de la torre, interpretação Legião Urbana;

“Mulher de fases” – autoria Rodolfo e Digão, interpretação: Raimundos De São Paulo a

Belém – autoria de Pinóchio e Nilma, interpretação: dupla sertaneja Rio Negro e Solimões.

Estas canções foram trazidas pelos alunos para um mini festival de música realizado na

sala de aula. Cada canção deveria ser lida e ilustrada conforme a compreensão. Foram

destacadas as rimas e os grupos deveriam apresentar as letras com melodia e coreografia.


129

Para a segunda etapa - ruptura do Horizonte de Expectativas - Quaglia

apresentou o poema “Excursão” de Sérgio Capparelli (1985). Na etapa seguinte –

ampliação do Horizonte de Expectativas - ela oferece “Convite” de José Paulo Paes

(1997).

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisadora optou trabalhar a recepção de textos poéticos em alunos da 6ª

série do Ensino Fundamental de uma escola particular da cidade de Maringá. Portanto,

leitores reais em formação.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Para a recepção dos textos Quaglia propôs a coleta de dados por meio de

diversos instrumentos: relatos de uma observadora externa; diários de classe; entrevistas

gravadas em áudio e vídeo, ilustrações, paráfrases, atividades de compreensão de texto. A

pesquisadora propôs uma descrição analítica da oficina de leitura de poemas e do exame do

material recolhido durante sua realização.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

A autora inicia sua exposição teórica refletindo sobre algumas idéias relevantes

a respeito da Literatura, sua natureza e função. Para isso, lança mão dos pressupostos
130

teóricos de vários pensadores, entre eles: Alfredo Bosi (1985); Antonio Candido (1972-

76); Marisa Lajolo (1983) e Bordini e Aguiar (1993).

Discutindo a poesia, sua natureza e função, parte de Aristóteles em Arte

retórica e arte poética (s.d.) para apresentar as principais causas do aparecimento da

poesia ligadas à natureza humana. Observa sua função de representação do real e satisfação

emocional das necessidades do grupo, através do jogo com as palavras, em Huizinga

(1971); Paixão (1983); Paz (1982) e Pound (1976)

Continua sua exposição ao observar a força da palavra, comprovando suas

idéias com os dizeres de Paz (1982), Paixão (1983), Eco (1974), Jakobson (1978) e Lyra

(1986). Segue analisando os recursos formais da poesia com os mesmos teóricos,

acrescentando apenas Goldsteins (1998).

Nas questões relativas à poesia na escola, apresenta Marisa Lajolo (1993),

Lígia Morrone Averbuck (1991) e José Paulo Paes (1997). Sobre a concepção de leitura

lança mão dos dizeres de Eliana Yunes (1994), Foucambert, (1997), Maria H. Martins

(1994) e Silva (1995). Especificamente tratando da leitura da literatura retoma Aguiar

(1993) e Zilberman (1990).

Quaglia chega ao ponto crucial da teoria que vai aplicar em seu texto,

apresentando os pressupostos teóricos sobre Estética da Recepção e a função do leitor numa

perspectiva de diálogo e emancipação. Para isso, lança mão da famosa conferência de Hans

Robert Jauss (1979,1983,1994). Cita Terry Eagleton (1983), apresentando uma trajetória de

teóricos desde Edmund Husserl , Martin Heidgger, Gadamer até chegar a H. R. Jauss.

Para explicitar a Estética da Recepção de Jauss, utiliza textos canônicos a

constar: “A estética da recepção:colocações gerais” , “O prazer estético e as experiências da

poésis, aisthesis e katharsis” , “O texto poético na mudança de horizonte de leitura” , textos

presentes em A literatura e o leitor, organizado por Luis Costa Lima (1979). Além de A
131

história da literatura como provocação à teoria literária, tradução de Sérgio Tellaroli

(1994); O ato da leitura: uma teoria do efeito estético de W. A. Iser em (v. 1 – 1996 e v. 2

- 1999). Bem como, Estética da recepção e história da literatura de Regina Zilberman

(1989) e Literatura: a Formação do leitor: alternativas metodológicas, de Aguiar e

Bordini (1993).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

CAPPARELLI, S. Excursão. In: Restos de arco-íris. Porto Alegre: L&PM, 1985.

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________ e SILVA, E. T. Leitura e pedagogia. Ponto e Contraponto. Porto Alegre:

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e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

A pesquisa foi organizada em seis partes, sendo que na introdução a

pesquisadora se preocupou em retomar a discussão em torno da relação literatura e

pedagogia, apontando também alguns autores de poemas e teóricos preocupados com a

questão do tratamento dispensado à poesia na escola. Nesse momento ela fixa seus

objetivos e os questionamentos que nortearam toda a reflexão proposta nesse trabalho

No capítulo II, Quaglia realiza uma revisão bibliográfica que a auxilia na análise

e discussão dos resultados que obteve. Divide seu texto em quatro partes enfocando: a

natureza e a função da literatura; um levantamento da natureza e da função da poesia, seus

recursos formais, incluindo-se a especificidade da linguagem poética e o aprofundamento

da relação conflituosa entre poesia e escola; aspectos relativos à leitura; e finalmente os

aspectos relativos à teoria da Estética da Recepção.

A metodologia utilizada pela pesquisadora ressalta a natureza da pesquisa, seus

instrumentos de coleta de dados, a descrição do método recepcional, os procedimentos


134

didáticos que empregou durante a oficina de leitura de poemas, os conteúdos e objetivos

gerais e específicos propostos para a oficina foram registrados no capítulo III. Nessa parte

a pesquisadora detalhou as características dos alunos que participaram da pesquisa bem

como fez um levantamento bibliográfico das características psicofisiológicas da faixa etária

dos sujeitos da pesquisa.

No capítulo IV, a autora dedicou-se à descrição analítica da realização da

oficina de leitura de poemas e ao exame do material recolhido durante sua realização. A

oficina, baseada no método recepcional de Aguiar e Bordini, foi executada em cinco etapas:

determinação do horizonte de expectativas, atendimento do horizonte de expectativas,

ruptura do horizonte de expectativas, questionamento do horizonte de expectativas,

ampliação do horizonte de expectativas. Finalizando todo esse processo uma avaliação do

que foi feito. Seu objetivo não foi verificar a eficiência ou não do método recepcional ,

apenas relacionar a teoria da Estética da Recepção e as propostas de tal método com as

atividades realizadas para a recepção da poesia.

Na última parte, a pesquisadora apresentou suas considerações finais sobre os

resultados obtidos a partir da análise dos dados registrados. Destacou-se entre os textos

anexados pela pesquisadora, a existência de apontamentos realizados por um observador

externo. Tais apontamentos proporcionaram “uma visão de fora” sobre os dados no sentido

de buscar a neutralidade da análise.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Importante ressaltar da conclusão do trabalho alguns resultados, entre eles, o

fato de a pesquisadora apontar para a necessidade de uma “instrumentalização adequada

para a leitura, voltada a despertar ou preservar a sensibilidade dos alunos”. Ela orientou

ainda que “para alcançar resultados gratificantes por meio do efeito prazeroso, é
135

necessário que um caminho não muito fácil seja percorrido, com constantes estudos

teóricos das mais recentes concepções acerca de ensino, aluno, leitura, literatura e poesia

e, como conseqüência, com a revisão da prática pedagógica.” (QUAGLIA, 2000, p. 131)

Retomando a pergunta central do trabalho, a pesquisadora afirmou que os pré-

adolescentes são receptivos à poesia, bem como a jogos verbais, como trava-línguas e

parlendas. Apesar de no início os jovens participantes da pesquisa terem se mostrando

avessos a esse tipo de texto, no decorrer da mesma eles se mostraram mais receptivos,

evidenciando assim uma mudança de seus horizontes de expectativas.

Foi mérito dessa experiência evidenciar atividades de mobilização desses

mesmos jovens para textos poéticos. No entender da pesquisadora isso se deu em vários

momentos como comprovam as produções dos alunos. Esse encontro é possível, desde

que “haja condições específicas e favoráveis para a realização de uma leitura

concretizadora dos efeitos estéticos através de atividades motivadoras, que considerem o

aluno como sujeito histórico, com suas características emocionais específicas”.

(QUAGLIA, 2000, p. 133)

A experiência registrada por ela não teve o objetivo de ser uma “receita” pronta

que garanta sucesso em sua aplicação, mas permite reflexão sobre o assunto,

proporcionando uma visão renovada de ensino, do aluno e da literatura. Nessa visão,

observa-se o efeito no próprio imaginário da professora que realizou a oficina, a qual

atuaria a partir de então como provocadora de situações inovadoras que ampliam o

horizonte de expectativas de seus alunos.

A forma como foram registradas as etapas da oficina também se constituem

como inovações nesta pesquisa. Segundo Quaglia, a análise dos dados coletados,

principalmente os obtidos por filmagens, provocou uma auto-reflexão sobre sua prática

pedagógica. Além disso, mostrou que, apesar do quadro negativo em relação à pedagogia e
136

à poesia que ela registrou logo na introdução de seu trabalho, existem possibilidades

alternativas para promover a interação desse gênero com o leitor pré-adolescente. Trata-se,

portanto, de um trabalho que engloba a teoria à prática, é científico e tem um

posicionamento metodológico bastante definido.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Quaglia realiza uma pesquisa teórico-aplicada, segundo ela “qualitativo-

interpretativa de cunho etnográfico, caracterizada pela coleta de dados como micro-

etnografica, por atingir apenas uma micro-situação localizada de ensino”. Foi classificada

como Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores., visto que aponta, em

sua análise resultados sobre a utilização do método recepcional de Bordini e Aguiar, de

forma bem realista, sem “dourar a situação”.

A pesquisadora inicialmente situa o leitor juvenil. Apresenta um referencial

teórico referente à literatura (natureza e função; a poesia, recursos formais da poesia) e a

formação do leitor focalizando - a poesia na escola, a leitura de literatura, a estética da

recepção e a função do leitor – diálogo e emancipação. Também, discorre sobre os

fundamentos da Estética da Recepção voltados ao leitor, a construção do efeito, a

atualização histórica da obra por meio das inúmeras leituras possíveis. Apresenta o Método

Recepcional de Aguiar e Bordini, baseado nos pressupostos teóricos da Estética da

Recepção. Destaca Jauss e Iser na questão da recepção e do efeito respectivamente. Mostra

dados dos sujeitos da pesquisa, do local, seus instrumentos de coleta de dados, diário de

classe, gravações em áudio e vídeo, etc. Descreve a oficina e analisa os dados conseguidos

elencando aspectos da recepção importantes tais como: as expectativas dos alunos, reações

diferentes no público alvo, considerando sexo.


137

Cumpre satisfatoriamente seus objetivos, embora apresente apenas um ciclo do

método, o que torna suas conclusões um pouco frágeis. No nosso entender, essa fragilidade

se concretiza, pois acreditamos que a comprovação da eficiência do método não possa ser

comprovada apenas por uma única experiência aplicada. Bordini e Aguiar deixam claro

para seus leitores que se trata de um método contínuo, que deve ser repetido várias vezes,

durante a formação do leitor.


138

PESQUISA 9.

a. Dados de identificação.

Autor: Renata P.A.S. Taques Bittencourt.

Orientador: Prof. Dr. Maria Lúcia P. de Sampaio Góes.

Título: Em busca de Jovens Leitores Apaixonados.

Instituição: Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.

Nível de qualificação: Mestrado na área de Literatura Infantil e Juvenil e Estudos

Comparados de Literaturas de Língua Portuguesa.

Ano de finalização: 2000.

Número de páginas: 140.

Tipo: Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores.

Resumo da obra:

Este trabalho é uma pesquisa de campo realizada em junho de 1999 com


alunos de um colégio particular da cidade de São Paulo, cujo objetivo foi
identificar a existência de jovens “Leitores Apaixonados”, assim como
traçar seu perfil através de comparações com outros jovens da mesma
idade e escola. Para tanto se efetuou um estudo descritivo, uma pesquisa
ad hoc, a partir de dados obtidos por meio de um questionário aplicado
em 571 alunos das quatro séries do ensino fundamental 2. Os dados
obtidos foram tabulados e analisados levando em consideração a realidade
brasileira e o quadro atual de “crise de leitura” (BITTENCOURT, 2000)

b. Objetivos.

Seus objetivos foram:

• Identificar a existência de jovens “leitores apaixonados”;

• Traçar seu perfil por meio de comparações com outros jovens da mesma

idade e escola.
139

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Bittencourt se preocupou em observar se ainda existem “leitores apaixonados”

colaboram para sua formação. Sua ação foi voltada ao registro da história de leitura de

alunos do Ensino Fundamental do colégio Santa Cruz13. Nesse registro, vários títulos da

literatura infanto juvenil foram indicados aos alunos para leitura durante os anos de 1998 e

1999. Esses dados se apresentam em anexo à dissertação e foram registrados pelos

professores de português que trabalharam com a 5ª, 6ª , 7ª e 8ª séries da referida escola.

c.2. Tipo de leitor.

Participaram desse perfil 571 alunos de 5ª a 8ª série do Ensino Fundamental do

Colégio Santa Cruz. Portanto, a autora propõe uma pesquisa aplicada em que observa

leitores reais.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Bittencourt ao realizar esta pesquisa, efetuou um estudo descritivo a partir de

dados obtidos por um questionário composto de 36 perguntas que não abordavam

diretamente a questão da leitura. Centrou seu interesse em questões diversas tais como o

teatro, cinema, TV, shows, músicas, falar ao telefone, dormir,, sair com amigos, esportes,

Internet, aulas particulares, atividades extraclasse, métodos de estudo. Também outras

13
Na dissertação não encontramos dados de identificação da escola.
140

questões de cunho cultural e pessoal. Seu intuito foi traçar um perfil dos jovens ao mesmo

tempo descobrir informações relevantes sobre seus hábitos de leitura. As questões relativas

a esse aspecto abordavam o gênero preferido desses leitores, objetivos ao realizar as

leituras, freqüência com que lêem, títulos e autores preferidos, o que estavam lendo na

época da pesquisa e o que já leram.

Os dados foram coletados via entrevista realizada durante a aula de português,

concomitantemente, a outras informações fornecidas pela bibliotecária da escola, bem

como as respectivas professoras de cada série. Nessas se faziam presentes listas em que

professores e bibliotecária indicavam os “alunos apaixonados” .

Após essa coleta foi realizada uma reflexão a partir das informações

tabuladas, levando-se em consideração a realidade brasileira e o quadro atual de “crise da

leitura”. A pesquisadora optou, portanto, pelo registro descritivo estatístico, partindo de

uma amostra da população escolhida.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

A abordagem teórica realizada por Bittencourt partiu de um diálogo

bibliográfico com autores de áreas como psicologia, pedagogia, sociologia, história da

literatura, literatura geral e literatura infanto-juvenil.

A pesquisadora parte do conceito de leitura, que considera esse ato de maneira

ampla, em que “ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo”. Ela fundamenta

sua reflexão em Paulo Freire (1982, 1985), Regina Zilberman (1982-84-85), Ezequiel T. da

Silva (1985); Jean Foucambert (1994).


141

Posiciona-se em seguida em relação à Leitura na Escola, repensando a maneira

como ela é vista também em relação à escrita. Passa por uma visão pedagógica dessa

questão, focalizando aspectos da formação de leitores pela escola em que observa

estratégias para o ensino do “gostar de ler”. Evidencia a “Crise da Leitura” pautando suas

reflexões em Vigotsky (1995), Hannah Arendt (1979). Seu olhar se fixou no contexto

brasileiro.

Ao observar os tipos de leitores possíveis ela propõe a seguinte classificação:

leitores decifradores, leitores interessados e leitores apaixonados. Essa classificação é

formatada a partir de teóricos da psicanálise e da filosofia, tais como: Sigmund Freud

(1976), Melaine Klein (1991), Francesco Alberoni (1998) e Gérard Lebrun (1987).

Poucos teóricos da Estética da Recepção se fizeram presentes no texto, sendo

que apenas dois textos relativos a essa teoria foram indicados como referência

bibliográfica: A literatura e o leitor: textos de estética e recepção, de Luiz costa Lima

(1979) e A formação do leitor: alternativas metodológicas, de Maria da Glória Bordini e

Vera T. de Aguiar (1988).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

(Não apresentou)

B. Referências teóricas.

ALBERONI, F. Enamoramento e Amor. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

ARENDT, H. Entre o passado e o futuro. São Paulo: Perspectiva, 1979.


142

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Mercado Aberto, 1988.

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________. Leitura em Crise na Escola: as alternativas do professor. 4ª ed. Porto Alegre:

Mercado Aberto, 1985.


143

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

O trabalho foi organizado contendo uma introdução, quatro capítulos e oito

anexos. Na introdução, a pesquisadora observa a situação geral da leitura, constatando uma

desmotivação em relação aos dados divulgados pela mídia. Seu questionamento é no

sentido de verificar se ainda existem leitores “apaixonados”, principalmente entre os

jovens. A pesquisadora tenta “desmistificar a idéia de que o jovem não lê, sobretudo de

forma entusiasmada”. Sua hipótese de leitura é a de que “há adolescentes que lêem, ainda

que não em grande número, fazendo parte da comunidade anônima das pessoas que

gostam de ler ... ler para estes leitores, constitui uma experiência que penetra na

intimidade”. (BITTENCOURT, 2000, p. 3)

No capítulo I, a pesquisadora apresentou uma abordagem teórica que,

segundo ela, “parte de um diálogo bibliográfico com outras áreas tais como a psicologia,

pedagogia, sociologia, história da literatura, literatura geral e literatura infanto-juvenil.”

Começou por definir um conceito de Leitura, diferenciando “leitura de mundo” e “leitura

de texto”. Quanto à primeira, ela a definiu como “o momento em que um ser humano

ganha existência situando-se no mundo sígnico, em contato com diversas linguagens”. Já a

leitura de texto não é considerada apenas como “a decifração do código, mas sim um

exercício de compreensão de mundo e de si mesmo”. Dessa maneira, ela também

diferencia os leitores dos decifradores e diz que “a leitura da palavra não é apenas

precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de

“reescrevê-lo, transformá-lo por meio de nossa prática consciente.” (BITTENCOURT,,

2000, p. 4- 9)

A autora ainda analisa o papel da escola no final do século XIX ao XX,

observando o processo de “democratização” da mesma. Defende a importância de ler


144

Literatura, e assinala uma “crise da leitura” provocada por um mau funcionamento do

sistema cultural. No Brasil em especial, a pesquisadora apontou para as conseqüências da

privatização do ensino. Finalizando esse capítulo, diferencia o “leitor interessado” de um

outro grupo que neste trabalho ela denomina “apaixonados por leitura”. Desenvolvendo

essa categoria, a pesquisadora aprofundou o conceito de paixão segundo a psicanálise, a

sociologia, a filosofia e a semântica.

No capítulo II, observamos os caminhos percorridos pela pesquisadora, bem

como a descrição do material e do método utilizado. Nesse momento temos a descrição

detalhada de todas as etapas da pesquisa: a formulação do questionário;a definição do

público-alvo e o tamanho da amostra; a aplicação do questionário; a tabulação dos dados; a

organização dos dados em tabelas e, posteriormente, a análise dos resultados a partir dos

dados tabulados.

No capitulo III, a pesquisadora organizou uma análise comparativa dos dados

obtidos nas tabulações começando pela análise descritiva de todas as séries. Em seguida,

confrontou o perfil dos “leitores interessados”, e dos leitores considerados por ela como

“apaixonados”, finalizando com a comparação das duas categorias. No capítulo IV,

Bittencourt apresentou suas conclusões.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Inicialmente, a autora apresentou três grupos de jovens referentes à amostra

que coletou. Nessa caracterização, priorizou dados sobre “o amadurecimento bio-psico-

social no que se refere ao potencial de leitura”. Dos 571 jovens que entrevistou, 116 foram

caracterizados como “leitores interessados” e 37 como “apaixonados por leitura” . Deste

último grupo, na seqüência do trabalho, a pesquisadora compôs um perfil baseado em


145

hábitos sociais, domésticos, interesses diversos, observando que são, como se esperava,

jovens normais como os outros, porém se dedicam à leitura como uma atividade prazerosa,

que além de trazer-lhes conhecimento, traz diversão, descanso...

Interessante é notar que, mesmo não se propondo a elaboração de um projeto

de recepção baseado em um corpus literário definido, a pesquisadora não deixa de abordar

questões relativas à Estética da Recepção, ao propor o questionário já descrito

anteriormente. Por meio dele, ela tenta formatar um perfil desse leitor apaixonado. Mais

do que esse perfil, o trabalho de Bittencourt aponta para fatos relevantes, tais como:

• A constatação de que ainda existem leitores apaixonados e que estes

leitores têm um perfil distinto que precisa ser conhecido e analisado para

que se possa, quem sabe, formar mais esse tipo de leitor.

• Adaptações metodológicas devem ser realizadas para aprofundar a análise

das informações colhidas.

• A afirmação de que o vínculo livro-leitor é evidente de que há a

necessidade de se encontrarem novos caminhos para a formação do leitor.

Segundo a pesquisadora, seu trabalho pode contribuir para o enfrentamento da

chamada “crise de leitura”.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Bittencourt realiza uma pesquisa-aplicada, voltada para interesses pedagógicos

ao definir o perfil do que ela chama de leitores apaixonados. Trabalha com o leitor real

visualizando a história de leitura da população pesquisada – 571 alunos de 5ª a 8ª série EF.


146

– para tentar definir um perfil de jovens leitores apaixonados pela leitura. Para fazer esse

perfil lança mão de outras áreas do conhecimento tais como: Psicologia, a Pedagogia , a

Sociologia e da Literatura. Seu texto foi classificado como uma Pesquisa de Recepção –

processo de formação de leitores em que se propõe uma classificação dos leitores em:

decifradores, interessados e apaixonados.

Do total dos jovens pesquisados, fixa sua atenção em 37 alunos classificados

por ela como leitores apaixonados pelo mundo da leitura. E a partir deles traça um perfil

único a partir das preferências e dos horizontes de expectativas. No entanto, esse perfil

fica mais no campo de hábitos da vida diária dos mesmos, relacionando tais hábitos a

questões de leitura o que, no nosso entender, atem-se a aspectos não voltados nem ao texto,

nem ao ato de leitura.

A teoria da Estética da Recepção está presente na pesquisa fundamentada pelos

textos de Luiz Costa Lima (1979) e Bordini e Aguiar (1988). Embora a pesquisadora

passe por alguns aspectos importantes dessa estética, ela não os fundamenta.. Aborda

experiência de leitura em leitores reais, registra suas preferências e rejeições, mas não

acrescenta dados relevantes as questões do leitor.


147

PESQUISA 10.

a. Dados de identificação.

Autor: Ana Maria de Oliveira Galvão.

Orientador: Professora Magda Becker Soares.

Título: Ler/Ouvir Folhetos de Cordel em Pernambuco (1930-1950).

Instituição: Universidade Federal de Minas Gerais.

Nível de qualificação: Doutorado em Educação.

Ano de finalização: 2000.

Número de páginas: 543.

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real fora de ambiente escolar.

Resumo da obra:

O trabalho teve como objetivo (re)construir o público


leitor/ouvinte e os modos de ler/ouvir literatura de cordel, entre 1930 e
1950, em Pernambuco. Na pesquisa, foram utilizadas como principais
fontes entrevistas, autobiografias, romances, os próprios folhetos e outros
documentos. As fontes coletadas foram sendo cruzadas ao longo da
pesquisa, a partir de determinadas categorias, algumas das quais definidas
a priori (como as de gênero, classe, raça/etnia e geração) e outras
emergentes do contato com o próprio material empírico ou com a
bibliografia sobre o tema (como as de popular, Nordeste, urbano e rural,
oral e escrito). Os estudos sobre história cultural e da leitura, as
discussões em torno da cultura popular, as pesquisas que se detêm sobre a
relação entre oralidade e letramento e os trabalhos referentes à "história"
oral nortearam, teórica e metodologicamente, a investigação. O trabalho
está dividido em duas partes. Na primeira, composta de dois capítulos, são
identificados indícios de quem era o leitor/ouvinte visado pelos
autores/editores de folhetos, a partir, principalmente, da análise dos
próprios cordéis: texto e objeto material. O texto de um dos folhetos
analisados é comparado, ainda, com notícias veiculadas em jornais da
época sobre o mesmo assunto nele tratado. Na segunda parte da tese,
composta de cinco capítulos, busca-se uma aproximação do leitor
empírico, caracterizando-o e reconstruindo as formas de acesso que tinha
aos folhetos, as situações de leitura/audição desses impressos e os papéis
atribuídos à sua leitura e/ou audição. A pesquisa mostrou que o público a
que os folhetos se destinavam não foi, em princípio, popular. A análise
dos impressos mostra que, dirigida, inicialmente, sobretudo às camadas
médias, aos poucos, principalmente a partir dos anos 30, a literatura de
folhetos tornou-se um impresso de larga circulação: passou a se destinar,
assim, a um público pouco exigente e pouco habituado ao universo
letrado, formado, em sua maioria, pelas camadas populares urbanas, por
148

pessoas analfabetas ou com um grau restrito de escolarização. A análise


dos textos dos folhetos, por sua vez, revela que eles estão impregnados de
marcas de oralidade e que os caminhos narrativos escolhidos pelos poetas
para narrar as histórias podem ser considerados bastante previsíveis,
exigindo poucos esforços do suposto leitor para proceder à sua
compreensão. Nas cidades, o público, composto em sua maioria de
pessoas analfabetas ou semi-alfabetizadas, ao conviver com outros
aspectos da cultura escrita, revelava, em menor ou maior grau, um contato
com uma diversidade de tipos de impressos, em muitos casos também
compartilhados por outros grupos sociais. É também a partir dos anos 30
que o público parece se ruralizar: para os leitores/ouvintes das pequenas
comunidades rurais e cidades do interior do Estado, os folhetos
constituíam a principal, senão a única, mediação entre eles e o mundo da
leitura, da escrita e do impresso. Comprados ou tomados de empréstimo,
os folhetos eram lidos pelo vendedor ainda nas feiras e, posteriormente,
em reuniões coletivas, onde ocorriam, em muitos casos, narrações de
contos e cantorias. Os poemas eram lidos, principalmente, de maneira
intensiva e a memorização, facilitada pela própria estrutura narrativa e
formal dos poemas, era considerada, pelos leitores/ouvintes, fundamental
nos processos de apropriação das leituras. Os papéis atribuídos à
leitura/audição de folhetos não pareciam restritos às disposições
pragmáticas dessa prática: a dimensão estética era fundamental no
processo de fruição do objeto lido/ouvido. A pesquisa mostrou que as
formas de leitura geradas pelos impressos e/ou pelos textos dos poemas
não coincidiam, necessariamente, com os usos e as apropriações que os
leitores/ouvintes empíricos deles faziam. (GALVÃO, 2000, p.13 e 14)

b. Objetivos.

O trabalho teve como objetivos:

• Reconstruir o público leitor/ouvinte e os modos de ler/ouvir literatura de

cordel, entre 1930 e 1950, em Pernambuco

• Levantar indícios, através da análise da materialidade dos folhetos, de

quem era o público leitor visado pelos autores/editores desse tipo de

impresso.

• Descrever o impresso-folheto e, a partir dessa descrição, identificar

tendências, transformações e permanências observadas em sua

materialidade no decorrer do tempo a fim de levantar hipóteses acerca de

seu público leitor/ouvinte em Pernambuco, naquele momento.


149

• Trazer mais elementos para uma melhor compreensão do público

consumidor de folhetos.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

O interesse da pesquisadora por movimentos culturais calcados na “cultura

popular” provocou a escolha de seu objeto de pesquisa composto, a princípio, por 104

folhetos de cordel, publicados em Pernambuco, Paraíba, Ceará, Bahia e Sergipe. Por

motivo de metodologia escolhida para desenvolvimento da pesquisa, desse total de textos,

Galvão fixou o corpus analisado em oito textos:

1) O bárbaro crime das matas da Várzea, assinado por João Martins de Athayde

(Recife, 1928);

2) Historia da Princesa da Pedra Fina, assinado por João Martins de Athayde

(Recife, 1944);

3) A batalha de Oliveiros com Ferrabraz, assinado por João Martins de Athayde

(Recife, 1946);

4) O cachorro dos mortos, assinado por João Martins de Athayde (Recife, s.d.);

5) A lamentável morte de Getúlio Vargas, sem autoria (s.l., 1954);

6) O pavão misterioso, sem autoria (Recife, s.d.);

7) A chegada de Lampião no inferno, assinado por José Pacheco (s.l., s.d.);

8) As proezas de João Grilo, sem autoria (s.l., s.d.).


150

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisadora contou que fez vários contatos com pessoas as quais poderiam

ser interessantes para a pesquisa. Ao todo 29 pessoas na faixa dos 65 anos ou mais e ainda,

com mais seis pessoas mais jovens, entre 20 e 35 anos. Para reconstruir o perfil dos

leitores/ouvintes de folhetos e os aspectos que caracterizavam as formas de leitura/audição

desse tipo de impresso no período estudado, Galvão determinou como sujeitos da pesquisa

oito leitores/ouvintes e um vendedor de folhetos.

Nesse grupo de pessoas ela procurou observar a recepção distinguindo grupos

tais como: homens/mulheres, negros/brancos, crentes/católicos, analfabetos, “pobre”,

“nordestinos”. Enfim, na escolha dos sujeitos ela já evidencia sua preocupação em analisar

a recepção dos cordéis em grupos de sexo, etnia, religião, condição social diferentes.

Portanto, viabiliza com esse estudo uma visão sobre o leitor virtual proposto nos textos

abordados e também de um leitor empírico, seus leitores/ouvintes dos cordéis.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Galvão, além dos textos de cordel selecionados, utilizou também 26 textos

impressos, classificados por ela como: memórias, romances, romances com traços

biográficos, crônicas, crônicas romanceadas, registros censitários e dados estatísticos

Sobre a recepção propriamente dita, realizou entrevistas em áudio com os

sujeitos da pesquisa apontando para dados pessoais tais como: sexo, raça/etinia, grau de

escolarização do sujeito e de seus pais, contato com os cordéis, nível sócio-econômico, etc.
151

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Embora seja uma pesquisa voltada para a História da Educação, Galvão nos

remete para questões importantes sobre o Leitor e a Estética da Recepção tais como: o

leitor implícito na literatura de cordel – seu perfil, escolhas e estratégias de leitura; a leitura

como processo de inserção na cultura escrita; o desenvolvimento de competências de

leitura; o acesso dos leitores ao material de leitura (o cordel); a escolha dos folhetos pelo

público leitor – temas mais freqüentes; papéis atribuídos à leitura/audição de folhetos

colocando a leitura no papel de provocadora de: sociabilidade, prazer individual, prazer

coletivo; o papel educativo dos folhetos; etc.

A argumentação feita por Galvão se sustenta em diversos autores, entre eles:

Mikail Baktin (1929-1979); Roland Barthes (vários textos); Antônio Augusto Gomes

Batista (1999); Walter Benjamin (1985); Pierre Bourdieu (1983); Antônio Cândido (1980);

Roger Chartier (diversos textos); Umberto Eco (1986-94); Michel Foucault (1969-79);

Angela Kleiman (1995), Luis Costa Lima (1988); Tzvetan Todorov (1971-78).

Entre os pesquisadores consultados por Galvão, estão ainda alguns nomes

relevantes quanto a Estética da Recepção. São eles: Wolfgang Iser (1976); Hans-Robert

Jauss (1987) Luis Costa Lima (1979) Regina Zilberman (1989).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

ATHAYDE, J. M. de, O bárbaro crime das matas da Várzea. Recife, 1928.


152

________.Historia da Princesa da Pedra Fina, Recife, 1944.

________. A batalha de Oliveiros com Ferrabraz. Recife, 1946.

________.O cachorro dos mortos. Recife, s.d.

PACHECO, J. A chegada de Lampião no inferno (s.l., s.d.);

Sem autoria. A lamentável morte de Getúlio Vargas, ,s.l., 1954);

Sem autoria O pavão misterioso, (Recife, s.d.);

Sem autoria As proezas de João Grilo, (s.l., s.d.).

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e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

Os motivos que presidiram a escolha desse tema pela pesquisadora são de

ordens diversas. Segundo ela, “a opção feita parecia permitir vôos empíricos e teóricos.

Parecia possibilitar melhor compreender uma série de questões. Entre elas, ver o objeto de

pesquisa como fonte cultural da história da leitura e da escrita, da história dos usos do

impresso por diferentes grupos sociais, da história das práticas educativas extra-escolares”.

(Galvão,2000, p. 78). Além disso, a pesquisadora diz que lhe interessava também

aprofundar questões sobre a leitura, registradas por ela pelas perguntas:


156

Em que se constitui, afinal, a leitura? Que efeitos são por ela produzidos?
O que são os imponderáveis apontados pelos estudos sobre o tema que a
caracterizam? Quem é, afinal, o leitor, essa figura fugidia, pouco
entendida, relativamente pouco estudada? A leitura como prática das
camadas populares me parecia, então, ainda mais instigante. Que leitor é
esse, em geral identificado como não-leitor? Quais os sentidos atribuídos
à leitura por esse tipo específico de leitor? Que leitura é essa que realiza,
em geral compreendida, por um lado, como expressão de uma suposta
“alma popular” ou, por outro, como sinônimo de alienação? (GALVÃO,
2000, p. 327).

O objeto cordel, segundo Galvão, era passível de diversas análises, apresentando

uma multiplicidade de faces e mostrando-se potencialmente rico para a aproximação e

aprofundamento de questões que têm acompanhado a pesquisadora ao longo de sua

trajetória acadêmica, foi um fator decisivo na escolha.

Os estudos sobre história cultural e da leitura, as discussões em torno da

cultura popular, as pesquisas que se detêm sobre a relação entre oralidade e letramento e os

trabalhos referentes à "história" oral nortearam, teórica e metodologicamente, a

investigação.

A análise foi feita a partir de uma descrição minuciosa das características

materiais dos folhetos, que foram agrupados por década, a partir das datas (em muitos

casos, aproximadas) de publicação. A pesquisadora avisa que quis, com esse procedimento,

obter uma visão geral das permanências e transformações observadas nesse gênero de

impresso, no decorrer do tempo. Ela considerou como dados importantes: título; autor;

editor; data e local de publicação; local de venda; preço; número de páginas; número de

poemas por folheto; número de estrofes do(s) poema(s); disposição das estrofes na página;

presença ou ausência de outras páginas, no folheto, sem poemas; gênero do(s) poema(s);

tamanho (medida) do folheto; características gerais da capa (destacando-se, na análise, a

presença ou ausência de desenhos, gravuras ou clichês e a técnica utilizada para sua

confecção), da contra-capa e da quarta-capa; disposição gráfica da primeira página;

presença ou ausência de referências a direitos autorais; tipos gráficos utilizados; presença


157

ou ausência, no interior do texto, de certos caracteres gráficos, como vinhetas e clichês;

denominações dadas, pelo editor ou autor, ao próprio folheto; disposição das maiúsculas e

minúsculas no início de cada verso do(s) poema(s). A análise realizada, descrita no

primeiro capítulo do trabalho tem, assim, uma natureza predominantemente quantitativa.

O trabalho está dividido em duas grandes partes. Na primeira, composta de dois

capítulos, Galvão busca indícios de quem era o leitor/ouvinte visado pelos autores/editores

de folhetos, no período estudado, a partir, principalmente, da análise dos próprios cordéis:

texto e objeto material. Ainda nessa parte, ela compara o texto de um dos folhetos

analisados com notícias veiculadas em um jornal da época sobre o mesmo assunto nele

tratado.

Na segunda parte da tese, composta de cinco capítulos, Galvão focalizou o

leitor empírico, buscando caracterizá-lo (inclusive em relação aos níveis de sua inserção no

mundo letrado) e reconstruindo as formas de acesso que tinha aos folhetos, as situações de

leitura/audição desses impressos e os papéis atribuídos a sua leitura e/ou audição. As

entrevistas, as memórias e os romances foram as principais fontes utilizadas nessa parte do

trabalho.

Depois de realizar essas reflexões sobre a escolha do tema, sobre a metodologia

utilizada e dos aspectos que considerou mais significativos na trajetória da literatura de

folhetos no Brasil, Galvão passou a levantar hipóteses acerca de quem era o leitor/ouvinte

de folhetos no período de apogeu desse tipo de literatura, ou seja, entre as décadas de 30 e

40, e como se davam as práticas de leitura/audição desse tipo de impresso, em Pernambuco.

Sua exposição buscou dados sobre esse leitor/ouvinte no sentido de situá-lo

quanto sua inserção na cultura escrita, desenvolvimento de competências de leitura, o papel

da literatura popular no desenvolvimento dessas competências, o contexto “comercial” dos


158

textos de cordel: local de venda, papel do vendedor, do enredo, temas preferidos pelos

compradores. Além de abordar também as situações de leitura/audição dos folhetos e dos

papéis atribuídos a esse tipo de leitura na sociedade.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

A pesquisa mostrou que o público ao qual os folhetos se destinavam não foi,

em princípio, popular. A análise dos impressos mostra que, dirigida inicialmente sobretudo

às camadas médias, a literatura de folhetos tornou-se um impresso de larga circulação:

passou a se destinar, assim, a um público pouco exigente e pouco habituado ao universo

letrado, formado, em sua maioria, pelas camadas populares urbanas, por pessoas

analfabetas ou com um grau restrito de escolarização.

A análise dos textos dos folhetos revela, segundo a pesquisadora, que:

− Os textos estão impregnados de marcas de oralidade.

− Os caminhos narrativos escolhidos pelos poetas para narrar as histórias

podem ser considerados bastante previsíveis, exigindo poucos esforços do

suposto leitor para proceder à sua compreensão.

− A partir dos anos 30 que o público parece se ruralizar: para os

leitores/ouvintes das pequenas comunidades rurais e cidades do interior

do Estado, os folhetos constituíam a principal, senão a única, mediação

entre eles e o mundo da leitura, da escrita e do impresso.

− Os papéis atribuídos à leitura/audição de folhetos não pareciam restritos

às disposições pragmáticas dessa prática: a dimensão estética era

fundamental no processo de fruição do objeto lido/ouvido.


159

− As formas de leitura geradas pelos impressos e/ou pelos textos dos

poemas não coincidiam, necessariamente, com os usos e as apropriações

que os leitores/ouvintes empíricos deles faziam.

Diz Galvão que:

“De modo geral, a pesquisa mostrou que as formas de leitura geradas


pelos impressos e/ou pelos textos dos poemas não coincidiam,
necessariamente, com os usos e as apropriações que os leitores/ouvintes
empíricos deles faziam. À semelhança de outros estudos realizados no
campo da História da Leitura, o trabalho mostrou que as marcas deixadas
pelos poetas e pelos editores nos impressos não são suficientes para
provocar no leitor as reações previstas pelos poemas ou pelo próprio
suporte material.” (GALVÃO, 2000, p. 478).
Além disso, constatou que não se pode associar um gênero de texto a um certo

perfil de leitor ou, mais amplamente, a uma camada social e a uma cultura determinada. Diz

ela que

...os textos dos folhetos parecem, a um só tempo, incorporados e


rejeitados por seus leitores – cada um deles imerso em uma experiência
individual e social diferente –: de um lado, as reações demonstradas em
relação ao preconceito contra os negros, por exemplo; de outro, a
identificação com valores, idéias, conceitos extremamente presentes nas
histórias (e certamente também em outras experiências de inserção dos
sujeitos), sobretudo nos romances, o subgênero preferido pelos
entrevistados: a falsidade, o destino, a verdade, a justiça, a persistência, a
valentia. O tom e a forma das histórias também pareciam impregnados
nos modos de falar sobre a leitura: a graça, o riso, a emoção, de um lado;
a narrativa, a rima, a palavra, o ritmo, de outro”. (GALVÃO, 2000, p.
488).
Ela observa ainda que os papéis atribuídos à leitura/audição de folhetos, de

maneira diferente do que muitos estudos têm afirmado a respeito da leitura entre as

camadas populares, não pareciam restritos às disposições éticas ou pragmáticas dessa

prática. A dimensão estética parecia fundamental ao processo de fruição do objeto

lido/ouvido, mesmo quando os entrevistados atribuíam à leitura uma função mais

diretamente relacionada a aspectos práticos de suas experiências, como a obtenção de

informações, a aprendizagem ou o desenvolvimento das competências de leitura, realizados

através dos folhetos. Os papéis atribuídos pelos leitores/ouvintes às leituras desses


160

impressos pareciam estar, ainda, diretamente relacionados às situações em que elas

ocorriam: muitas vezes, a beleza a que se referem os leitores das histórias associava-se ao

caráter coletivo e à performance do leitor/declamador que caracterizavam essas práticas.

A pesquisadora considera importante realizar outras reflexões, que podem ser

situadas mais do ponto de vista da compreensão da realidade atual e menos do ponto de

vista das pesquisas acadêmicas. As reflexões mostram a investigação de temáticas que

exigem uma diversificação documental , fato que ajudará novos pesquisadores.

Quanto à investigação realizada sobre uma produção já consolidada, a

pesquisadora afirma que aos poucos, as pesquisas vão mostrando que elas têm muito a

acrescentar sobre a época de sua realização, momento em que se configura um discurso,que

se relacionam com outros discursos pré-existentes e co-existentes.Galvão acredita que vale

a pena ressaltar a importância de pesquisas que repensem os processos educativos e

contribuam para a inserção de homens e mulheres em determinados mundos culturais.

Segundo ela, muitas questões continuam sem respostas e devem ser esclarecidas.A respeito

do leitor e da leitura afirma que:

... continuam, em certa medida, misteriosos. Existiria, por exemplo, como


têm afirmado alguns estudos, um modo de ler “popular”? O que
caracterizaria esse modo? A partir de que critérios um gênero pode ser
classificado de “popular”? Os depoimentos dos leitores/ouvintes podem
ser realmente considerados como uma aproximação às práticas de leitura
que se quis investigar? Por mais que se tente – apostando no rigor
metodológico, no trabalho cotidiano e minucioso com as fontes, em uma
análise que faça o estabelecimento constante de relações, na escrita de um
relato verossímil e coerente – permanecem sempre fluidos e fugidios os
pedaços de História que se quer reconstruir. Questões que permeiam e, ao
mesmo tempo, norteiam todo o trabalho de pesquisa: de um lado, a
possibilidade de apreensão do passado; de outro, a incertezas que
acompanham essa tarefa. (GALVÃO , 2000, p. 514).
161

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Galvão realiza uma pesquisa teórico-aplicada ao propor um estudo voltado para

a cultura popular. Seu objetivo maior foi reconstitui o público leitor de cordel, bem como

seu modo de ler/ouvir cordel. Embora seja mais voltada para a História da Educação, foi

classificada como Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real fora de ambiente

escolar, pois resgata questões importantes sobre o leitor implícito no texto e sobre a

recepção de cordéis.

A autora analisa o leitor empírico, reconstruindo sua forma de acesso a tal tipo

de texto, bem como as situações de leitura/audição desses impressos. A partir da análise dos

folhetos divididos em décadas, conseguiu resgatar mudanças no horizonte histórico das

obras analisadas.

A forma como coletou os dados merece destaque, pois concentrou esforços em

entrevistas com leitores/ouvintes de cordel. Nelas procurou captar interesses, expectativas

quanto ao cordel, não fixando a leitura desse tipo de texto a um publico apenas.

É mérito do trabalho mostrar a análise da recepção de documentos da cultura

popular, numa visão de valorização da mesma frente à formação dos leitores. Não utiliza a

teórica da Estética da Recepção em primeiro plano, mas ao fixar sua atenção no leitor

implícito dos cordéis, usa conceitos da teoria do efeito para captar esse leitor nos textos de

cordel.
162

PESQUISA 11.

a. Dados de identificação.

Autor: M. H. Yegashi Zappone.

Orientador: Profa. Dra. Marisa Philbert Lajolo.

Título: Práticas de Leitura na Escola.

Instituição: Universidade Estadual de Campinas.

Nível de qualificação: Doutorado em Teoria Literária do Instituto de Estudos da

Linguagem.

Ano de finalização: 2001.

Número de páginas: 368.

Tipo: Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores.

Resumo da obra:
Este trabalho analisa um corpus formado por relatórios produzidos por
professores da região Sul-sudeste do Brasil que, motivados por um
concurso intitulado Leia Brasil, patrocinado pela Fundação Vitor Civita
em 1997, descrevem suas aulas de leitura no ensino básico (educação
infantil e ensino fundamental) e no ensino médio. Tendo em vista esses
relatos, esta pesquisa teve por objetivo inicial descrever as formas de ler
na escola brasileira da região sul-sudeste. Para isso, numa primeira parte
do trabalho, foram estudadas as principais abordagens de leitura correntes
no Brasil, supondo-se que essas pudessem, de algum modo, fundamentar
as práticas de leitura relatadas. A análise das atividades de leitura em sala
de aula apontaram para três modos de leitura: a) um modo de leitura
designado na pesquisa como estruturalista, que entende a leitura como
decifração e recuperação do sentido do texto; b) um modo de leitura cujo
objetivo é patrocinar a interdisciplinaridade; c) modo(s) de leitura que
procura(m) recuperar algumas premissas de teorias de leitura com as
quais o professor tem contato. A análise dos relatórios aponta, entretanto,
para uma sobreposição de influências, de modo que a relação entre teorias
de leitura e práticas de leitura parece não ser tão direta. Buscou-se, então,
na segunda parte do trabalho, compreender o processo de construção do
saber de leitura do professor. Observou-se que o(s) saber(es) de leitura
dos professores se constroem em forma de um grande mosaico, no
cruzamento de outras influências, além das teorias de leitura, entre as
quais se destacaram:1) certas imagens sociais de leitura presentes na
mídia, 2) os Parâmetros Curriculares Nacionais, 3) propostas didáticas de
catálogos de editora e revistas de divulgação pedagógica como Nova
Escola. Concluiu-se que o saber de leitura do professor é um saber
mediado e que professores e alunos, enquanto instâncias sociais e
históricas, estão sujeitos a modos de ler e a formas de compreender a
163

leitura que são, de certo modo, coletivos já que resultado de muitas


influências que vão se cruzando até compor um todo que, por sua vez,
muda de tempos em tempos. (ZAPPONE, 2001, p. 8)
b. Objetivos.

Esta pesquisa teve por objetivo inicial:

• Descrever as formas de ler na escola brasileira da região sul-sudeste.

Utilizando relatórios sobre as vivências de leitura em sala de aula que chegaram

às mãos da pesquisadora por meio dos depoimentos dos professores registrados no

Concurso Leia Brasil, Zappone propõe como sua tese:

• Interpretar os depoimentos dos professores em relação a aspectos que

pudessem ajudar a entender o ensino de leitura na escola e os modos como o

saber ou os saberes sobre leitura é (são) construído(s) no ambiente escolar.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Não foi objetivo do trabalho analisar nenhum texto literário. A pesquisadora se

propôs apenas a visualizar por meio da observação do material produzido pelo Concurso

Leia Brasil, patrocinado pela Fundação Vitor Civita em 1997, as aulas de leitura no ensino

básico (Educação Infantil e Ensino Fundamental e no Ensino Médio.) Nesses relatórios, as

professoras citam as obras com as quais têm trabalhado nas escolas. A pesquisadora, no

capítulo 4 “Práticas de leitura na escola” descreve no item 4.4. o material de leitura

utilizado pelas professoras, separando-os por títulos utilizados em cada ciclo, desde o

Ensino Fundamental até o Médio.


164

c.2. Tipo de leitor.

Zappone utiliza para essa pesquisa um corpus produzido por professores da

região Sul-sudeste do Brasil que participaram do referido concurso. Explica a pesquisadora

que em 1997, a Fundação Victor Civita, em parceria com Unesco e Petrobrás promoveu o

Concurso Leia Brasil, cujo objetivo seria premiar os três melhores trabalhos de incentivo à

leitura desenvolvidos no ensino fundamental e médio.

Motivados pelo prêmio oferecido aos vencedores, uma viagem à França

incluindo visita à 18a Feira do livro de Paris, 757 professores atenderam o apelo trazido na

Revista Nova Escola e inscreveram seus trabalhos. Portanto, os professores serviram como

fonte para o registro da recepção dos alunos, leitores empíricos.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Este corpus é composto por fichas de inscrição e 370 relatórios de professores

do Ensino Básico e Médio da região Sul-sudeste enviados para o concurso Leia Brasil. Este

solicitava que os professores relatassem experiências de incentivo à leitura na sala de aula

em textos de uma a duas laudas. Esses textos deveriam abordar a metodologia, as atividades

de leitura, a avaliação da leitura e os resultados obtidos com o trabalho.

No entender de Zappone, tais materiais permitiram “o acesso a experiências e

falas que, certamente, seriam recolhidos com dificuldades em uma pesquisa aplicada nos

moldes comuns. Os relatórios e as vivências de leitura em sala de aula foram instrumentos

importantes por registrarem a fala do professor”. A ela caberia apenas “interpretar essas

falas nos aspectos em que elas pudessem ajudar a entender o ensino de leitura na escola e
165

os modos como o saber ou os saberes sobre leitura é (são) construído(s) no ambiente

escolar”. (ZAPPONE, 2001, p. 10)

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

A finalidade da base teórica apresentada por Zappone é evidenciar abordagens

teóricas de leitura em circulação no Brasil nos últimos anos, supondo-se que essas se

constituem num dos campos de força que podem atuar na composição das imagens de

leitura do professor e que se refletem, com menor ou maior intensidade, nos modos de

leitura de textos efetivados na escola.

Num levantamento bibliográfico sobre o tema, explica a pesquisadora que

encontrou cinco linhas básicas em que se ramificam as pesquisas sobre leitura no Brasil.

Para fins de exposição, essas linhas foram designadas pela pesquisadora como: político-

diagnóstica, cognitivo-processual, discursiva, estruturalista e abordagens de leituras:

espaços de interseção. E, sobre isso, em nota apresentada no texto, ela se justifica:

“Os termos aqui selecionados para designar as linhas teóricas de


abordagem de leitura constituem-se em uma formatação considerada
adequada à leitura que pude fazer dessas linhas de pesquisa de
leitura. Portanto, representam uma das possíveis leituras a que esse
material bibliográfico está sujeito, com todas as implicações que a
leitura enquanto ato de atribuição de significado pode representar.
Saliento, também, que a referida designação foi pensada também
como tentativa de sintetizar as marcas peculiares de cada uma das
abordagens de leitura.” (ZAPPONE, 2001, p.23-25)

Na primeira delas - a linha político-diagnóstica - ler é engajar-se. A

pesquisadora explica que pode ser chamada de diagnóstica, pois é um primeiro conjunto de

textos que se destaca por seu caráter detector e denunciador da situação desfavorável de
166

leitura no Brasil. Isso pode ser observado nos textos mais típicos dos primeiros anos da

década de 1980, quando a leitura começava a ingressar nos círculos acadêmicos. Estão

entre eles: A importância do ato de ler: em três artigos que se completam de Paulo Freire

(1987); Elementos de pedagogia da leitura, de Ezequiel Theodoro da Silva (1993); O ato

de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura, do mesmo autor

(1987); Leitura na escola e na biblioteca, (1995), entre outros textos.

Na segunda linha - cognitivo-processual: Zappone mostra que ler é interagir

com o texto. Essa linha de pesquisa de leitura foi nomeada pela pesquisadora como

abordagem processual ou mesmo cognitivo-processual, em virtude da ênfase que concede à

interação leitor/texto/autor. Neste sentido ela se fundamenta em teóricos da inteligência

artificial e da ciência da cognição.

A pesquisadora cita Mary Kato “Processos de decodificação: a integração do

velho com o novo”. In: O aprendizado da leitura (1985); O jogo discursivo na aula de

leitura: língua materna e língua estrangeira, organizado por Maria José Coracini (1995);

além de vários textos de Eni P. Orlandi. “A leitura: de quem, para quem?”. In: A

linguagem e seu funcionamento,1987; Discurso e Leitura, 1996; A leitura proposta e os

leitores possíveis” In: A leitura e os leitores, 1998; Análise de discurso: princípios e

procedimentos,1999.

Postulando, também, uma concepção interacionista de leitura, Zappone

apresenta pesquisas de Kleiman (Leitura: ensino e pesquisa, 1996, com 1ed. de 1989.;

Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura, 1993; Oficina de leitura: teoria e

prática,1997). Sinaliza para que as formulações teóricas básicas desta autora são

desenvolvidas nos anos de 1984 a 1986, em projeto intitulado Inter-relação de fatores

determinantes na compreensão de textos no 1º grau, seguindo-se a essas formulações


167

algumas propostas pedagógicas desenvolvidas nos demais textos produzidos pela autora,

posteriores a essa pesquisa.

Na terceira linha, denominada pela pesquisadora como discursiva, a leitura é

vista como produção de sentidos. Sua ênfase recai, ainda, sobre o texto, elemento central

do processo de leitura, pois é nele que se encontram até mesmo os elementos que permitem

a interpretação pragmática. Zappone confronta idéias de Coracini e Orlandi.

Na quarta linha - a estruturalista - ler é “descodificar”. Apóia sua reflexão em

Orlandi (1999); Vanoye (1996) e trabalhos de Whitaker Penteado (1977) e Izidoro

Blikstein (1991-93) que demonstram a apropriação brasileira dessa concepção de leitura.

Na quinta linha - Abordagens de leituras: espaços de interseção e balanço

geral - Embora tratando a questão da leitura através de recortes metodológicos diferentes,

sejam eles o da pedagogia crítica (linha político-diagnóstica), o da psicolingüística e da

pragmática (linha cognitivo-processual) ou o da análise do discurso (linha discursiva), é

possível deparar alguns pontos de convergência entre as abordagens de leitura referidas

anteriormente. Segundo Zappone, é possível notar-se uma convergência para a figura do

leitor enquanto figura constitutiva do ato de ler. Sem ele, é impossível que os textos (mera

materialidade à espera de alguém que os transforme em significado) sejam constituídos em

elementos de significação.

Zappone utiliza ainda para fundamentar as questões relativas ao leitor Marisa

Lajolo (diversos textos), Regina Zilberman (diversos textos), W. Iser (1979) e H. R. Jauss

(1979).
168

d.2. Bibliografia citada.

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(nenhum texto apresentado)

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170

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

A pesquisadora registra que “o saber de leitura do professor é um saber

mediado e que professores e alunos, enquanto instâncias sociais e históricas, estão sujeitos

a modos de ler e a formas de compreender a leitura que são, de certo modo, coletivos já

que resultado de muitas influências que vão se cruzando até compor um todo que, por sua

vez, muda de tempos em tempos”. (ZAPPONE, 2001, p. 140).

O estudo proposto no trabalho de Zappone teve um recorte o que, na verdade,

sintetiza sua principal motivação: unir dois temas que se relacionam diretamente: leitura e

literatura. Pode-se dizer que essa associação é tributária, em grande parte, de alguns estudos

tais como: Barthes (1988), Fish (1980) e Foucault (1992) que redimensionaram as noções

de autor, de texto e de leitor.

Os relatórios do Concurso Leia Brasil permitiram, segundo a pesquisadora,

conhecer um dos elementos que, de forma muito concreta, ainda que indireta, atuaram

sobre a constituição do sistema literário: as práticas escolares de leitura. Assim, esses

relatos proporcionaram, primeiramente, entender quais são os modos de leitura praticados

na escola, principal instituição formadora de leitores, e promotora da circulação e da

recepção de textos. Possibilitaram, também, a observação da disseminação ou mesmo do

questionamento de certas práticas discursivas relativas à leitura, literatura e outros materiais

utilizados, verificando seus diferentes graus de importância na escola. Finalmente, esses

relatórios dão acesso às imagens de leitura incorporadas pelo professor e transmitidas aos

alunos.

A escola é aqui entendida como uma instituição onde se promove uma maneira

particular de leitura, desenvolvida pelos alunos e mediada pelo professor. Assim, a leitura

escolar é considerada como a leitura “ensinada” e “aprendida” através de atividades


171

coletivas e individuais propostas pelo professor. Nesse aspecto, mais uma vez, os relatórios

dos professores adequaram-se aos objetivos dessa pesquisa, pois foram exatamente essas

atividades “formadoras” da leitura escolar que o Concurso Leia Brasil solicitou que os

professores relatassem.

A partir de tais pressupostos, Zappone selecionou, para compor o corpus desta

pesquisa 370 relatórios de professores do Ensino Fundamental e Médio da região Sul-

sudeste. Sua hipótese de análise afirmava que “...se o professor é visto como o principal

mediador das práticas escolares de leitura, ele certamente desenvolve seu trabalho de

leitura baseado em determinados modelos de leitura a que tem acesso. Assim, poder-se-ia

pensar num certo conjunto de imagens de leitura que circundaria a escola e influenciaria o

professor.”

Ela explica ainda que :

...esse conjunto de imagens de leitura, poderia ser construído por dois


campos distintos. De um lado estariam as imagens de leitura que têm
origem nas abordagens acadêmicas de leitura. Essas abordagens seriam
desenvolvidas em torno de diferentes disciplinas, o que geraria
perspectivas variadas na forma de entender-se o que é a leitura. Pela sua
origem e circulação privilegiada – os espaços do chamado “ensino
superior” – estas teorias chegariam à escola de ensino básico e médio com
força prescritiva e representariam os modelos que teriam maior
credibilidade junto ao professor.De outro lado, haveria as imagens de
leitura originadas em espaços não-acadêmicos que seriam formados por
idéias do senso comum sobre leitura e que circulariam, principalmente,
através da mídia. Essas idéias, embora sem o status normativo das idéias
vindas do circuito acadêmico, também fazem parte do imaginário dos
professores de leitura.(ZAPPONE, 2001, p. 105).

Para isso, numa primeira parte do trabalho, foram estudadas as principais

abordagens de leitura realizadas no Brasil, supondo-se que essas pudessem, de algum

modo, fundamentar as práticas de leitura relatadas. A análise das atividades em sala de aula

apontou para três modos de leitura: um, designado na pesquisa como estruturalista, que

entende a leitura como decifração e recuperação do sentido do texto; outro, que coloca o

autor com o objetivo de patrocinar a interdisciplinaridade; e um terceiro, que procura


172

recuperar algumas premissas de teorias de leitura com as quais o professor tem contato. A

análise dos relatórios aponta, entretanto, para uma sobreposição de influências, de modo

que a relação entre teorias e práticas de leitura parece não ser tão direta.

Buscou-se, então, na segunda parte do trabalho, compreender o processo de

construção do saber de leitura do professor. Observou-se que o saber sobre leitura se

constrói em forma de um grande mosaico, no cruzamento de outras influências, além das

teorias de leitura. Destacaram-se: certas imagens sociais de leitura presentes na mídia; os

Parâmetros Curriculares Nacionais; as propostas didáticas de catálogos de editora e revistas

de divulgação pedagógica como Nova Escola.

Quanto à organização do texto, temos o seguinte:

• A primeira parte, intitulada Os relatórios do Concurso Leia Brasil: caracterização e

dados, procura apresentar o contexto de produção dos relatórios dos professores bem

como fazer uma análise do material de divulgação do Concurso Leia Brasil.

• O segundo e terceiro capítulos, denominados, respectivamente, Abordagens de

leitura em circulação no Brasil e Imagens sociais de leitur,a trabalham as imagens

de leitura – as de extração acadêmica e não-acadêmicas - que podem, por hipótese,

fundamentar a(s) prática(s) de leitura que o professor implementa em suas aulas.

• A quarta parte, Práticas de leitura na escola, ocupa-se da leitura dos relatórios,

observando quais as práticas de leitura desenvolvidas em sala de aula. Procura,

também, verificar as fontes dessas práticas, ou seja, quais imagens de leitura atuam

para a construção das concepções de leitura do professor. Ainda nesse capítulo,

tecem-se considerações sobre o “status” dos diferentes textos citados pelos


173

professores como materiais de leitura, sobre a caracterização do leitor escolar e sobre

a avaliação da leitura na escola.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Partindo de um contexto bastante específico - a realização, através da revista

Nova Escola, de um concurso nacional de incentivo à leitura - a pesquisa impôs algumas

constatações relevantes. São elas:

• Escola e professor funcionam como agentes de padrões culturais e

recebem da sociedade uma grande influência. Escola e sociedade

apresentam uma relação continuamente cambiante.

• Embora as formas de acesso ao livro e a impressos em geral não sejam tão

favoráveis, os números de leitura no Brasil são contundentes: 62% de

leitores habituais, 30% de leitores efetivos, 14 % de leitores correntes e

20% de compradores fazem as cifras do mercado editorial apontarem para

números bastante consideráveis e crescentes. “No Brasil também se lê!”

• O professor não pode afirmar que “os alunos” em sua totalidade não

gostam de ler. Essa conclusão se solidificou por meio de um discurso

pronto, construído desde os tempos do Brasil colônia que, tentando

menorizar as condições culturais brasileiras, acabaram negando as

atividades de leitura aqui realizadas.

• Existe entre a práxis do professor e suas concepções de leitura um

universo de mediações a serem descobertas. O professor, apesar de

reconhecer a importância de sua tarefa em relação à leitura, não tem muito

claro para si mesmo o que fazer com leitura na sala de aula. Sua formação
174

nem sempre é capaz de suprimir lacunas, dirimir dúvidas ou apontar-lhe

caminhos quando se trata de ler, tanto no que se refere a ele próprio, bem

como nas leituras de seus alunos.

• Foram observados três modelos de leitura: a) a leitura como decifração e

recuperação do sentido do texto; b) leitura como modo de patrocinar a

interdisciplinaridade; c) leitura que procura recuperar algumas premissas

de diferentes teorias com as quais o professor tem contato.

• O aspecto coletivo da leitura pode ser observado pelo fato de haver vários

elementos que, mesmo que situados fora do plano leitor/texto autor, sobre

ele interferem. Foram apontados pela pesquisadora, fatores tais como: a

própria história de leitura dos textos que vai patrocinando certas

sedimentações de sentido, em detrimento de outros; as instituições onde

se desenvolvem práticas de leitura constroem modos distintos de ler,

porque estas atividades são aplicadas com finalidades e intenções

variadas, partindo de contextos culturais, sociais e econômicos diferentes.

Zappone alertou em suas considerações finais que “falar de leitura, hoje, parece

ser um campo sem restrições. Diversas são as áreas que tratam desse tema, sob variadas

perspectivas e defendendo pontos de vista que se ora se cruzam ora se opõem.”

(ZAPPONE, 2001, p. 348). É nesse momento de intensa produção acadêmica sobre leitura

que se situa seu trabalho.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Zappone realiza uma pesquisa-aplicada, voltada para a recepção de textos,

portanto, uma Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores. Seu principal


175

mérito está na forma como ela resgata a recepção de textos no Brasil - região sul-suldeste -

porque se baseia em depoimentos de professores quanto a sua prática escolar e incentivo

de leitura. Também por que focaliza e ajuda a entender melhor o ensino de leitura na

escola, bem como os modos pelos quais o saber sobre leitura é construído em ambiente

escolar.

Sua pesquisa comprova as instâncias sociais e históricas da leitura,

evidenciando formas de compreender o que se lê e influências recebidas. Evidencia a escola

como uma importante instituição de promoção da circulação e recepção de textos. Coloca

o professor como agente relevante na recepção de textos, visto que ele é o elemento que

pode suprimir lacunas existentes no texto, buscar caminhos para manter seus alunos lendo

com compreensão, apontar caminhos para a compreensão em momentos estratégicos da

atividade de leitura na escola..

A Estética da Recepção aparece de forma implícita, levantando elementos da

leitura/recepção de textos. Mais do que focalizar a recepção de textos dos alunos, a autora

mostra a própria imagem de leitura dos professores. Os depoimentos registrados revelam

como os alunos recebem os textos que foram selecionados, quais intenções enquanto

educadores e seus horizontes históricos.

Portanto, Zappone cumpre seus objetivos, embora não registre uma experiência

de recepção propriamente dita, mas o registro de várias experiências de recepção textual.


176

PESQUISA 12.

a. Dados de identificação.

Autor: Alice Atsuko Matsuda Pauli.

Orientador: Professor Doutor Benedito Antunes.

Título: A travessia de Maria: Uma Experiência de Leitura de Corda Bamba de Lygia

Bojunga Nunes.

Instituição: Faculdade de Ciências e Letras da Universidade Estadual Paulista “Julio de

Mesquita Filho”, Campus de Assis.

Nível de qualificação: Mestrado em Literaturas de Língua Portuguesa.

Ano de finalização: 2001.

Número de páginas: 336.

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – questões pedagógicas.

Resumo da obra:

A proposta desta dissertação é analisar e interpretar o livro Corda Bamba


(1979) de Lygia Bojunga Nunes (1932, - ) com o objetivo de observar
como se dá a recepção pelo público jovem. Para alcançar seus objetivos, o
trabalho prevê duas partes: uma análise e interpretação do texto,
verificando a constituição literária da obra; depois o estudo de sua
recepção. A análise de Corda Bamba limita-se aos recursos literários que
mais se destacam na composição do livro. Em relação à recepção,
privilegiou-0se um estudo de caso, em que se analisou uma pesquisa
realizada com duas turmas de oitava série de uma escola pública de
Cornélio Procópio, Paraná, no ano de 2000, após a leitura de Corda
Bamba Procurou-se , na análise das entrevistas, valorizar o leitor
histórico, enfatizando sua prática de leitura. (PAULI, 2001)

b. Objetivos.

A proposta de Alice tem como objetivo principal:

• Analisar e interpretar o livro Corda Bamba de Lygia Bojunga Nunes,

visando observar como se dá sua recepção pelo público jovem.


177

Ela ainda fixa um objetivo para cada texto produzido pelos alunos nos

instrumentos de coleta de dados que analisa. Foram eles:

1. Roteiro geral para verificar a leitura primária - Objetivo: verificar um

primeiro nível de compreensão da história , a impressão geral da obra e as preferências dos

alunos.

Observação: A base do roteiro foi aplicada tanto na 8ª A quanto na 8ª B,

observando-se algumas questões diferentes para a 8ª A, visto que com esta turma não

houve motivação para a leitura da obra indicada.

2. Roteiro do debate coletivo. - Objetivo: realizar uma discussão da obra para

que os alunos construíssem coletivamente o significado sobre a obra.

Observação: o mesmo roteiro foi aplicado para as duas turmas, considerando-se

as diferenças propostas para cada uma delas.

3. Texto livre. - Objetivo: verificar a opinião dos alunos a respeito de todas as

atividades desenvolvidas, de forma que falassem espontaneamente.

4. Roteiro para verificar a eficiência do debate aplicado.- Objetivo: analisar a

eficiência do debate e verificar até que ponto ele auxiliou os alunos a sanarem as dúvidas

encontradas no decorrer da leitura.

5. Questionário de identificação do nível sócio-econômico-cultural. - Objetivo:

procurou analisar o nível sócio-econômico e cultural dos alunos.


178

c. Material.

c.1.Tipo de texto abordado.

O projeto promove análise e interpretação da narrativa infanto-juvenil Corda

Bamba (1979- data da primeira edição) de Lygia Bojunga Nunes, com ilustrações de

Regina Yolanda. A análise da obra limita-se aos recursos literários que mais se destacam

em sua composição, elementos considerados pela pesquisadora como os que são pontos

mais problemáticos para uma boa leitura da obra. Trata-se de uma narrativa em que se

“percebe o entrelaçamento de várias imagens simbólicas .... aliadas a inventividade, a

imaginação, a fantasia e o faz-de-conta” utilizados pela escritora. (PAULI, 2001, p. 80 e

136).

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisadora proporcionou a recepção da obra de Lygia B. Nunes em duas

turmas de oitava série do Colégio Estadual “Vandyr de Almeida” da cidade de Cornélio

Procópio, Paraná, após a leitura do livro indicado. Na 8ª série B foram realizadas

atividades com textos comentados antes de ser solicitada a leitura do livro Corda Bamba. Já

na 8ª série A, a proposta era promover a recepção sem nenhum trabalho prévio, apenas com

a leitura do livro pelos alunos.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Em sua pesquisa aplicada, Pauli analisa entrevistas para verificar a recepção da

obra. Os alunos das duas turmas foram submetidos à mesma grade de entrevista. No
179

entanto, destaca-se que as atividades realizadas anteriormente a ela foram diferenciadas,

sendo que numa das classes a pesquisadora realizou atividades com textos comentados

antes da leitura do livro e na outra não, apenas foi solicitada a leitura do livro sem nenhum

trabalho prévio de preparação de leitura. Foram aplicados questionários para verificação da

leitura primária, um roteiro para debate coletivo; um texto livre em que os alunos davam

sua opinião sobre a leitura realizada;um roteiro para verificação da eficiência do debate

aplicado; um questionário de identificação do nível sócio-econômico-cultural dos

participantes da pesquisa.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Pauli constrói sua dissertação, focalizando três pontos importantes que são: a

obra e sua autora; a questão da leitura e formação do leitor; e o ensino de leitura de

literatura. Para isso, apresenta uma bibliografia dividida em três partes assim denominadas

por ela:

I- De Lygia Bojunga Nunes;

II- Sobre Lygia Bojunga Nunes.

III- Geral.

Concentramos nossa observação apenas na terceira parte, pelo motivo de ser

nela que encontramos a base teórica utilizada pela pesquisadora sobre Estética da

Recepção.

Percebemos na bibliografia geral feita por Pauli, referências relativas:


180

− À Literatura Infantil – autores que tratam, na sua maioria, da questão da

formação do gênero, suas especificidades quanto ao público alvo e sua

formação e utilização em ambiente escolar;

− À Leitura - reflexões relativas à importância da leitura, aspectos cognitivos;

os fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura; a leitura e

desenvolvimento da linguagem; a construção da leitura; a literatura e a

pedagogia.

− Ao ensino da Literatura - autores que focalizam questões diversas quanto ao

ensino da leitura e especificamente da Literatura, tais como: critérios de

seleção de leituras no Ensino Fundamental e Médio; incentivo ao hábito de

leitura; formação de leitores; métodos e técnicas no ensino da leitura;

dinâmicas de leitura; produção e leitura de textos na escola.

Quanto à Estética da Recepção observamos um número reduzido porém

significativo de autores, sendo eles: a dissertação de mestrado de João Luís C. T.

Ceccantini (1993), artigos de Wolfgan Iser, de Hans Robert Jauss e de Luiz Costa Lima

organizador da seleção (1979) e o livro de Regina Zilberman (1989). Estes textos observam

o papel do leitor em relação ao texto, refletem sobre os conceitos fundadores da Estética da

Recepção de W. Iser e H. R. Jauss principalmente.

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

NUNES, L. B. Corda Bamba. Ilustrações de Regina Yolanda. 20ª ed. Rio de Janeiro: Agir,

1998. (1979- data da primeira edição)


181

B. Referências teóricas.

CECCANTINI, J. L. C. T. Vida e paixão de Pandonar, o cruel de João Ubaldo Ribeiro:

Um estudo de produção e recepção . Assis, 1993. Dissertação de Mestrado em Letras da

Faculdades de Ciências e letras, UNESP, Assis.

ISER, W. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, L. C. (Org). A literatura e o leitor:

textos de estética da recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.

LIMA, L. C. (Org). A literatura e o leitor: textos de estética da recepção. Rio de Janeiro:

Paz e Terra, 1979.

ZILBERMAN, R.. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

A dissertação foi elaborada em duas partes: na primeira, a pesquisadora

contemplou a análise e interpretação do texto, verificando a constituição literária da obra.

Na segunda, Pauli propôs uma experiência de recepção literária, realizada com duas

turmas de oitava série de uma escola pública de Cornélio Procópio. Nessa experiência

foram realizadas entrevistas com os leitores, valorizando-os historicamente e enfatizando

sua prática de leitura.

O texto foi organizado em três capítulos. No primeiro, procura-se inserir Lygia

Bojunga Nunes no contexto da literatura infanto-juvenil brasileira, destacando-se que a

autora atinge o ponto alto entre os escritores de Literatura para crianças e jovens, a partir

da década de 70. Em seguida, a pesquisadora faz um balanço da produção artística e da

crítica literária de Corda Bamba.

O segundo capítulo é subdivido pela pesquisadora em dez tópicos, em que

procura acompanhar o trabalho diferenciado da autora no livro indicado. Observa também


182

uma posição contrária da autora ao utilitarismo no discurso literário. A obra é classificada

como emancipatória, rejeitando o pedagogismo e diluindo a assimetria adulto/criança. A

pesquisadora verifica a técnica de composição da escritora, analisando o caminho

percorrido pela personagem principal do texto – Maria – ao seu inconsciente; o tratamento

dado à linguagem; a estruturação da narrativa - o modo como o narrador se posiciona

no enredo, a estruturação do tempo e do espaço.

Já no terceiro capítulo, Pauli apresenta a experiência de leitura de Corda

Bamba em que se privilegiou a análise psicanalítica da obra. Segundo a autora, também se

discute neste momento “a questão da literariedade e das condições de recepção enquanto

obstáculos para uma boa receptividade do livro entre jovens leitores”. Foram analisados

textos trabalhados com uma das turmas antes da leitura do livro indicado.Tal proposta foi

realizada com o objetivo de auxiliar uma maior apreensão e superação das barreiras

literárias presentes na obra.

A pesquisadora privilegiou no capítulo a experiência de recepção. Ela

descreveu o perfil sócio-econômico e cultural de seu leitor e sua metodologia de pesquisa

de campo. Apresentou uma análise das entrevistas realizadas para se verificar a recepção da

obra e só então a análise dos resultados desse estudo de caso.

A experiência de campo foi realizada com duas turmas de 8ª série. Pauli

optou por estratégias diferentes em cada uma. Na 8ª B, a pesquisadora fez um trabalho

com textos comentados antes de solicitar a leitura do livro de Lygia B. Nunes. Na outra

sala, propositalmente, a pesquisadora não propôs nenhum trabalho prévio para a

abordagem do texto indicado, apenas solicitou a leitura. Percebemos que o objetivo foi

proporcionar uma comparação entre a recepção da obra em grupos de alunos de mesma

idade, série, mas com variantes importantes na efetivação da experiência de leitura.


183

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Por essa opção metodológica, Pauli conseguiu visualizar, nos registros

realizados, bem como nas conversas com os alunos, diferenças importantes quanto à

recepção. Essas dizem respeito tanto ao entendimento da história numa leitura primária,

quanto a uma interpretação mais profunda dos fatos narrados, atitudes e intenções

registradas na história.

Segundo a autora, “a maneira de se desenvolverem as práticas de leitura com

mediação do professor pode ser eficaz para a obtenção de bons resultados.”. A recepção

realizada com a turma que recebeu atividades diferentes foi melhor na concepção da

pesquisadora. Os alunos passaram a ter preocupações com a observação das questões

estéticas presentes no texto.

A pesquisadora apontou a vital importância da atuação do professor mediador

de leitura no sentido de propiciar resultados melhores e surpreendentes, bem como na

necessidade de se planejar de modo mais amplo a atuação dos alunos para desenvolver não

apenas o hábito e o gosto pela leitura, mas ampliar seu horizonte de expectativas

gradativamente ao longo de sua vida escolar.

Outro fato marcado como de relevância em suas conclusões diz respeito a ser

incomum, na região pesquisada, a indicação de uma única obra para todos os alunos da

sala. Ela constata que estava arraigada no Estado do Paraná, nessa época, a prática de

leitura pregada pelo estudioso João Wanderlei Geraldi, difundida na década de 80, por um

projeto “Os livros criam asa”’.

Ela justificou o posicionamento, dizendo que:

Muitos cursos de atualização para professores do Ensino Fundamental


foram ministrados nesta época em que se utilizava o artigo ‘Unidades
básicas do ensino de Português’ do mesmo autor sobre como realizar a
prática de leitura de textos. Essa prática envolve textos de dois níveis de
profundidade: a leitura de textos ‘curtos’ (contos, crônicas, reportagens,
184

lendas, notícias de jornais, editoriais) e a leitura de narrativas longas


(romances e novelas).” (PAULI, 2001, p.285-286)

Essa proposta visava a colocar no Ensino Fundamental a prática de leitura

livre, segundo a pesquisadora, sem nenhuma preocupação em avaliar o que era feito pelos

alunos. Apenas o aspecto quantitativo era registrado. A pesquisadora critica tal proposta,

questionando a maneira como o professor conseguiria saber a que nível de leitura seus

alunos conseguiriam chegar dessa forma. Julgou essa prática de leitura como superficial,

não proporcionando um processo interacional entre leitor/ texto/autor.

Segundo Pauli,

...a prática de leitura deveria formar o leitor, compreendendo-o não como


um sujeito passivo, mas como alguém que constrói, concordando ou não
com o que está lendo, interpretando-o numa relação de diálogo íntimo
com o material que lê Portanto, o relato, o debate, a exposição de idéias a
partir de textos lidos deveriam constituir um dos pontos importantes do
trabalho.(PAULI, 2001, p. 284)

A pesquisadora, refutando a idéia de que “quantidade fará a

qualidade” (1984, Geraldi e Fonseca)14, discorda que:

...apenas uma obra bem trabalhada vá gerar um leitor crítico,


porém, que, trabalhando-se com várias obras na sala de aula, dando
essa liberdade de escolha ao aluno, não se está gerando qualidade,
pois a leitura fica em um nível muito superficial, não ocorrendo o
‘adentramento’ no texto, visto que muitas vezes não há
compreensão do que se lê, conforme foi observado na pesquisa de
campo.(PAULI, 2001, p. 285)

Sua proposta é que se volte a trabalhar com a indicação de uma obra para uma

turma inteira, porém que se ofereça aos alunos à oportunidade de vivenciar, por meio de

debates, discussões e troca de experiências de leitura, a obra lida, tendo por base a Estética

14
Nota referente ao artigo “O circuito do livro e a escola” de João W. Geraldi e Maria Nilma G. Da Fonseca
que afirma que “Não cremos que haja leitura qualitativa no leitor de um livro só. Escolhemos um caminho
que, respeitando os passos do aluno, permita que a quantidade gere qualidade, não pela mera quantidade de
livros lidos, mas pela experiência de liberdade de ler utilizando-se de sua vivência a compreensão do que lê”.
(1984, p. 100)
185

da Recepção. Dessa forma, afirma a pesquisadora, “serão formados leitores de literatura

mais aptos e bem sucedidos”.

Nesse sentido, ainda cita o método elaborado por Bordini & Aguiar (1993)

bem como a dissertação de mestrado elaborada por João Luís C. T. Ceccantini, já citada

anteriormente neste trabalho, defendendo um projeto de formação do leitor. Confrontando

os dois trabalhos, Pauli reafirma a necessidade de se trabalhar com obras que rompam os

horizontes de expectativas dos alunos, após as que atendem prontamente a esses horizontes.

Foram apontadas ainda, na conclusão desse trabalho, questões relativas à

heterogeneidade de alunos numa mesma classe15. Nesse sentido, advertiu a pesquisadora

para a necessidade de se trabalhar com um corpus diversificado, bem como com estratégias

adequadas que “não nivelem indiscriminadamente quer os leitores quer as obras”. (Pauli,

2001, p. 288)

Sua conclusão apresentou uma postura decisiva no sentido de afirmar a

necessidade de um projeto que encare a formação objetiva de leitores, bem como sua

emancipação, tornando-os “leitores competentes, capazes de ler as entrelinhas, de

identificar, a partir do que está escrito, o elemento implícito, estabelecendo relações entre

o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros textos já lidos, observando

esses procedimentos.” (PAULI, 2001, p. 289).

Dessa forma, Pauli defendeu em seu texto a atualização permanente dos

professores e de suas práticas pedagógicas.

15
Informação discutida no trabalho de Ceccantini, reafirmada nas considerações de Alice.
186

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Pauli realizou uma pesquisa teórico-aplicada, preocupando-se em apresentar

Corda Bamba no contexto da literatura infantil e Lygia Bojunga Nunes, escritora da

literatura infantil que “mescla a fantasia e o maravilhoso, na linha do realismo Mágico, em

que fronteiras entre a realidade e o imaginário se diluem.” Centra sua atenção nas

questões da produção do texto, analisando o mesmo quanto às marcas textuais deixadas

pela escritora para um leitor mais experiente, motivo talvez que justifique a rejeição de

alguns alunos quanto ao livro. Sua análise evidencia o texto como não utilitário, mostrando

uma representação da escola que foge aos aspectos evidenciados normalmente na literatura

infantil. Busca mostrar como a personagem Maria “se constrói no pensamento do leitor.

Observa marcas importantes sobre a linguagem que, podem ser fatores que influenciarão a

recepção do texto pelos alunos. Aspectos da estrutura narrativa – tempo, espaço, narrador -

também são analisados”.(PAULI, 2001, p. 25)

Seu texto foi classificado como Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor

real – questões pedagógicas, visto que centra sua atenção em questões da produção

analisando-o quanto às marcas deixadas pela escritora para um leitor mais experiente.

Motivo, talvez, que justifique a rejeição de alguns alunos quanto ao livro.

Sua análise evidencia o texto como não utilitário, mostrando uma

representação da escola que foge aos aspectos evidenciados normalmente na literatura

infantil. Identifica como a personagem Maria se constrói no pensamento do leitor. Coloca

em relevo as marcas importantes sobre a linguagem que podem ser fatores que influenciam

a recepção do texto pelos alunos, além de aspectos da estrutura narrativa: tempo, espaço,

narrador.
187

Quanto à recepção, sua pesquisa inova quanto à comparação da leitura do

mesmo livro para classes com perfis diferentes. A pesquisadora aponta para diferenças

quanto ao entendimento da história, preferências, expectativas quanto à leitura. Sua análise

baseada na Estética da Recepção, revela pontos semelhantes e diferentes na recepção entre

as duas turmas às quais foram propostas as atividades. Tais pontos dizem respeito à

compreensão das partes importantes da história, dos elementos simbólicos e das ações

implícitas das personagens. A autora mostra momentos de diferença na recepção das duas

turmas, constatando que a classe que contou com estratégias do professor para

desenvolvimento das atividades apresenta dados mais significativos no entender da

pesquisadora. Além da ausência da atuação da professora, argumenta que influiu no

rendimento da classe que conseguiu apenas de 40% de aproveitamento nas atividades, o

fato da obra ser do gênero romance psicológico e não de aventuras, gênero mais valorizado

pelos leitores dessa faixa.

O que se ressalta nessa pesquisa é que a pesquisadora coloca o trabalho com

texto literário como importante na formação do aluno leitor. Além de comprovar que a

interação promovida em classe pela mediação do professor é fator relevante para o

desenvolvimento da capacidade intelectual dos alunos. Pauli afirma ainda que a maneira

como o texto é trabalhado pode ou não favorecer uma recepção de melhor ou pior

qualidade do texto.

Outro dado a que faz menção é sobre a leitura livre tão defendida na escola.

Sobre isso, Pauli diz que deixar que os alunos escolham individualmente o que vão ler, sem

que haja um trabalho mais decisivo sobre esses textos não modifica os horizontes de

expectativas dos alunos, portanto, não amplia o nível intelectual dos mesmos.

Pauli atinge os objetivos a que se propôs, visto que realiza a observação de

como se dá sua recepção da obra de Lygia B. Nunes pelo público jovem.


188

PESQUISA 13.

a. Dados de identificação.

Autor: Ivonete V. Gasparello.

Orientador: Professora Doutora Alice Áurea Penteado Martha.

Título: Escola e Literatura: Conectando os campos. Um estudo sobre a aplicação do

método Recepcional.

Instituição: Universidade Estadual de Maringá.

Nível de qualificação: Mestrado em Lingüística Aplicada na Área de Ensino-

Aprendizagem de Língua Materna.

Ano de finalização: 2001.

Número de páginas: 210.

Tipo: Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores.

Resumo da obra:

Trabalhar com a literatura em sala de aula é a tarefa, muitas vezes, difícil para o
professor de Língua Portuguesa, pois, via de regra, ele não tem definidas as
concepções de metodologia capaz de atender adequadamente aos interesses de
seus alunos. Com o intuito de auxiliar o professor nesta tarefa, e acreditando que
o trabalho efetivo com a literatura deve buscar a interação entre leitor e texto,
realizamos uma pesquisa, de natureza aplicada, que objetivava saber se o
professore da rede pública de ensino poderia contar com o método recepcional,
fundamentado na Estética da Recepção, procurando verificar, também, se o
método atinge os objetivos a que se propõe e se colabora para a constituição de
leitores mais assíduos do texto literário. Para alcançar esses objetivos, orientamos
uma professora quanto à teoria da recepção e ao método recepcional. Além disso,
acompanhamos o planejamento e o desenvolvimento de uma oficina em que o
método foi aplicado em uma sala de aula de 5 ª série da rede pública de ensino,
colhendo os dados de forma variada: observações, gravações em áudio e vídeo,
anotações da professora e dos alunos, entre outros. A análise dos dados revelou
que o professor pode contar com o método recepcional para o ensino de
literatura. Todavia, precisa estar muito bem preparado para aplicá-lo e saber lidar
com a falta de recursos da escola pública, principalmente, com relação à
inexistência de bibliotecas aparelhadas para atender aos interesses dos alunos. O
método mostrou-se um recurso bastante adequado para que o professor
encaminhe atividades que levem os alunos a efetuarem leituras mais críticas,
amadurecendo, também, como sujeitos mais ativos na discussão sobre os
acontecimentos de suas vidas. Portanto, atinge os objetivos a que se propõe e,
certamente, colabora para que esses sujeitos se efetivem como leitores mais
assíduos da literatura. E ainda, favorece o desenvolvimento do
ensino/aprendizagem de forma mais participativa e envolvente. (GASPARELLO,
2001, xi)
189

b. Objetivos.

Seus objetivos principais foram:

• Saber se o professor da rede pública de ensino poderia contar com o

método recepcional, fundamentado na Estética da Recepção.

• Verificar se o método atinge os objetivos que se propõe e se colabora para

a constituição de leitores mais assíduos do texto literário.

Quanto à aplicação do método durante a oficina de leitura proposta:

• Preparar um professor, nos limites de uma situação de atualização, sobre a

teoria da recepção;

• Levar os alunos a efetuar leituras compreensivas e críticas;

• Ser receptivo a novos textos e a leituras de outrem;

• Questionar as leituras efetuadas em relação a seu próprio horizonte

cultural.

• Determinar o horizonte de expectativas dos alunos por meio de um

questionário dirigido e da observação de uma conversa deles durante a aula

e intervalos.

• Ampliar o horizonte de expectativas dos alunos por meio da tomada de

consciência destes sobre os objetos literários manuseados.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Gasparello propõe em sua dissertação uma oficina de leitura baseada no método

recepcional elaborado por Bordini e Aguiar (1993). Para isso utiliza para a determinação do
190

horizonte de expectativas dos alunos parte da canção sertaneja “Rei da Festa”, da dupla

Rionegro e Solimões. Na etapa de ruptura de expectativas escolheu o livro O que os olhos

não vêem, (1981) de Ruth Rocha e uma brincadeira do folclore popular chamada “Batata

Quente”. Para a ampliação do horizonte de expectativas a pesquisadora continuou a

desenvolver o conhecimento dos alunos em relação à Ruth Rocha por meio de diversos

livros da escritora.

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisadora utilizou outra professora para a aplicação das atividades

propostas. Esta foi preparada e assessorada nas etapas de conhecimento do método,

planejamento das atividades, aplicação das sessões. Sua experiência aplicada se ateve à

observação da recepção por uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental. São, portanto,

leitores reais.

b.3. Tipo de documento referente á recepção e/ou ao efeito analisado.

O corpus recolhido pela pesquisadora durante a experiência trata-se de: textos

produzidos pelos receptores da oficina; entrevistas com alguns alunos; observações das

aulas pela pesquisadora; questionários; gravação em áudio e vídeo tanto das conversas com

a professora que realizou as oficinas quanto com alunos após as etapas da oficina; cadernos

de impressão dos alunos e da professora.


191

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Ao propor uma “conexão da rede”, título bastante sugestivo colocado para o

primeiro capítulo, Gasparello inicia a reflexão assinalando o direito à leitura e à literatura.

Para isso, lança mão dos dizeres de Maria Helena Martins (1988), Antônio Candido (1972),

Carlos E. Fantinati (1996), Maria Thereza Fraga Rocco (1981), Aguiar e Bordini (1988),

Regina Zilberman (1981-82-84-88-89, entre outros). Por meio desses pesquisadores,

Gasparello defende a idéia de que é direito de todos o acesso à leitura, principalmente da

literatura, e coloca também como dever da escola preparar o aluno para este convívio.

A pesquisadora registra na seqüência de seu trabalho que o ensino da

literatura, nos moldes como é realizado na maioria das escolas, acaba por afastar os alunos

dos livros. E, apesar de generalizar os fatos, reconhece que a obra literária só existe a

partir do momento em que um sujeito-leitor a concretiza no ato da leitura.

Após essas considerações, Gasparello, reportando-se ao método de Aguiar e

Bordini, apresenta alguns trabalhos realizados sobre recepção de textos. Entre eles cita

Tânia Rösing em Ler na escola: para ensinar literatura no 1º, 2º e 3º graus (1988); João

Luís C. T. Ceccantini com a dissertação de mestrado Vida e paixão de Pandonar, o cruel de

João Ubaldo Ribeiro: um estudo de produção e recepção (1993); Maria Inês B. Campos

com a dissertação de mestrado A leitura do texto literário no 2º grau: a conquista do

prazer estético; Maria Alice Faria organizando cinco estudos com autores diferentes,

intitulada Narrativas Juvenis: modos de ler e Parâmetros curriculares e literatura: as

personagens de que os alunos realmente gostam (1999); entre outros trabalhos produzidos

em outras instituições sobre o tema. No entanto, considera que o método recepcional não
192

tem sido utilizado em sala de aula, tanto em nível Fundamental quanto Médio e Superior.

Disse ela que “poucos professores o conhecem e, se conhecem , não se arriscam a aplicá-

lo” .

Suas reflexões sobre a leitura e a formação do leitor concentram-se nos

pressupostos teóricos de Umberto Eco (1983); Foucambert (1994); Paulo Freire (1986);

Wolfgang Iser (1996-99); Hans Robert Jauss (1979); Maria Helena Martins (1988); E. T.

Silva (1986); Regina Zilberman (1989).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

Rocha, R. O que os olhos não vêem. Rio de Janeiro: Salamandra, 1981

B. Referências teóricas.

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194

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

A dissertação de Gasparello foi estruturada em cinco capítulos. Na introdução,

como foi já descrito, expõe uma breve reflexão sobre a importância da leitura do texto

literário e sobre a atual situação do ensino de literatura, determinando, também , os

objetivos e as perguntas de pesquisa que balizaram sua investigação.

No segundo capítulo, intitulado “Instalando a memória”, a pesquisadora fez

uma revisão bibliográfica sobre a teoria que fundamenta seu estudo. Apresentou

considerações sobre a Educação, procurando mostrar como ela, voltada para a formação

integral do aluno, precisa estar calcada num processo de interação entre sujeitos. Na

seqüência, fez um levantamento sobre as formas de interação produzidas pela leitura,

assim como as concepções sobre funções da literatura. Ainda foi preocupação sua,

especificar o gênero narrativo quanto a sua estrutura e registrar os pressupostos que

embasam a Estética da Recepção.

“Abrindo as janelas” é a maneira como Gasparello nomeia seu terceiro

capítulo. Nesse momento ela descreveu a natureza da oficina literária, bem como os

procedimentos adotados para a realização da investigação. Depois deles, o cenário, os

sujeitos envolvidos no processo, instrumentos de coleta de dados, o método recepcional e o

planejamento da oficina.

Esta pesquisa foi classificada por ela como qualitativa-interpretativa, sendo

que sua preocupação era com o processo e não com o resultado final a que chegariam.

Também se insere no âmbito da Lingüística Aplicada, por trabalhar com um aspecto do

ensino da literatura, ou seja, por detectar um problema relacionado a essa prática. Sua

opção pela oficina se justifica por ser este um momento/espaço em que o professor e os
195

alunos podem interagir em situações significativas. O conhecimento pode ser produzido

por meio da capacidade de reflexão crítica sobre o que foi aprendido.

A pesquisadora, para realizar sua experiência, utilizou outra professora

“sujeito da pesquisa” na aplicação das atividades. Esta foi preparada e assessorada nas

etapas de conhecimento do método, planejamento das atividades, aplicação das sessões.

Seus instrumentos de coleta de dados foram: observações da pesquisadora, entrevistas com

os alunos e com a professora, escritas, gravadas em áudio e vídeo, cadernos de impressões

dos alunos e da professora, anotações pessoais da pesquisadora. Ainda nesse capítulo,

Gasparello descreveu o método recepcional, fixando seus objetivos, suas etapas e a

avaliação da professora durante o desenvolver do método. Constam dessa avaliação:

anotações sobre a participação dos alunos, interesse e disposição em organizar as tarefas,

evolução quanto à capacidade de leitura e de avaliação do seu próprio desempenho, textos

orais e/ou escritos.

No quarto capítulo, “Visualizando a oficina”, ela descreveu a experiência em

si, bem como, analisou os materiais utilizados e os produzidos pelos alunos, construindo

assim algumas respostas para seus objetivos.

Gasparello descreveu as atividades desde o seu primeiro contato com a 5ª série

A Ao longo dos encontros ela foi variando o instrumento de coleta de dados, sendo que

todas as sessões foram filmadas. Porém ela apenas transcreve os resultados que mais lhe

chamaram a atenção, sem transcrever as filmagens e gravações para o papel. O livro

trabalhado foi O que os olhos não vêem de Ruth Rocha (1981), escolha feita pela

pesquisadora e a professora que aplicou as oficinas. Não porque fosse a melhor escolha

para o momento, mas por ser a única obra disponível em quantidade nas bibliotecas.
196

No quinto capítulo, “Desconectando a rede”, finaliza o trabalho destacando

hipóteses para os questionamentos levantados pela pesquisadora ainda na introdução de

seu trabalho.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

A autora chega à conclusão de que é possível uma professora da rede pública

contar com um método de ensino de literatura em sala de aula. Entretanto, no seu entender,

existem dificuldades para sua utilização. São eles relativos à situação precária das escolas

quanto ao material em quantidade para aplicação do projeto, tempo disponível da

professora para planejamento e estudo das atividades, despreparo quanto ao conteúdo do

método e insegurança em mudar sua prática pedagógica.

Gasparello mostra que o método deve ser utilizado registrando que:

...isso ficou claro na descrição analítica da oficina, quando percebemos


que a discussão em torno do sentido do livro levou a uma reflexão sobre
problemas vividos pelos alunos.” Também diz que :“A aplicação do
método recepcional mostrou-se positiva não só com relação ao trabalho
com a literatura. Durante o seu desenvolvimento, os alunos fizeram vários
tipos de leitura. Eles leram para buscar informações, para estudar o texto,
usaram como pretexto e, também usufruíram sua gratuidade. Além disso,
produziram músicas, poesias, pequenos textos e puderam praticar sua
capacidade de argumentação emitindo opiniões, tanto em registros
escritos quanto oralmente. (GASPARELLO, 2001, p.198)

f. Avaliação sobre a pesquisa.

A pesquisadora realiza um estudo teórico-aplicado, visto que observa questões

de leitura para depois verifica a recepção de textos a partir do Método Recepcional

proposto por Aguiar e Bordini. Seu trabalho foi classificado como Pesquisa de Recepção –
197

processo de formação de leitores, visto que proporciona a observação da recepção

literária por uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental.

Embora seja voltada para questões da pedagogia, o mérito de seu estudo está

em aplicar as etapas do Método Recepcional proposto por Aguiar e Bordini fundamentado

pelos pressupostos da Estética da Recepção. A base teórica utilizada contempla questões de

leitura como direito.

Notamos, no entanto, que seus objetivos foram amplos demais para apenas

uma rodada de recepção. Suas conclusões, embora pertinentes, são decisivas demais para

um projeto que propõe a recepção de apenas um texto. Entendemos e concordamos com a

pesquisadora quanto a eficiência do método, porem achamos que seriam necessárias mais

experiências de recepção para comprovar as hipóteses levantadas. Dessa forma suas

conclusões embora sejam corretas, não podem ser consideradas como prova final da

comprovação da eficiência do método, visto se tratar de uma experiência apenas de

recepção visto que apenas essa experiência não bastaria para comprovar se os professores

atingiram seus objetivos.

Outro dado que nos chama atenção é o tom excessivamente acusatório que a

pesquisadora assume, tom esse que mostra algumas generalizações sobre a situação de

leitura na escola, seus professores, o ensino de literatura e o não trabalho com a leitura.

A pesquisa apresenta também a exploração de alguns conceitos importantes

tais como a especificidade do texto infantil, a cultura de massa, do cânon, da obra clássica,

etc. Mas explora superficialmente o texto literário além de não analisar com maior

profundidade os dados sobre a proposta de atendimento e ruptura de expectativas.


198

PESQUISA 14.

a. Dados de identificação.

Autor: Regina Lúcia da Silva Nascimento.

Orientador: Profa. Dra. Inês Signorini.

Título: A Prática de Leitura Literária no Curso de Letras da Universidade Federal do

Amapá: Algumas Reflexões.

Instituição: Universidade Estadual de Campinas.

Nível de qualificação: Mestrado em Lingüística Aplicada do Instituto de Estudos da

Linguagem.

Ano de finalização: 2001.

Número de páginas: 127.

Tipo: Pesquisa de Recepção – pelo leitor real em formação.

Resumo da obra:

Esta dissertação objetiva refletir sobre o ensino de leitura literária


realizado no âmbito do Curso de Letras da Universidade Federal do
Amapá, mediante um estudo de base etnográfica. O foco desta pesquisa
foi definido a partir da minha experiência de ensino, na qual constatei
que, apesar da forte influência do discurso do professor e do especialista
no desempenho do graduando de Letras, ele é capaz de construir um
sentido mais pessoal para a sua leitura.
A base empírica dessa reflexão envolveu a criação de um cenário
de pesquisa através de uma proposta de intervenção, em sala de aula de
Literatura Brasileira, visando oferecer momentos de leitura de textos de
Clarice Lispector seguidos de discussão, a fim de observar como ocorre a
construção de sentido durante a interação leitor/texto; leitor/leitor.
A análise dos dados foi guiada pelas noções teóricas que envolvem
texto, leitura e interação, fornecidas, principalmente, pela Literatura e pela
Lingüística Aplicada. Um dos resultados da análise revelou que a
interação em sala de aula, mesmo num curto período de tempo, permitiu
que o aluno se manifestasse mais livremente e, assim pudesse ir além do
processo de decodificação e repetição pura e simples do manual, ainda
muito presente na aula de leitura. Nesse sentido, este trabalho propõe
reflexões acerca do ensino de Literatura Brasileira em outros níveis de
ensino. (NASCIMENTO, 2001, p.11)
199

b. Objetivos.

Esta pesquisa tem como objetivos:

• Observar como ocorre a construção de sentido durante a interação leitor/texto;

leitor/leitor.

• Questionar o conceito de leitura trabalhado pela pesquisadora em sua prática

pedagógica no que se refere à leitura literária;

• Verificar até que ponto a voz do especialista (professor, crítico), interfere no

entendimento do texto nas experiências de leitura em sala de aula.

• Questionar se a condição de realização das atividades de leitura em sala de aula

e a condição sociocultural do acadêmico interferem no processo de construção

de sentido pelo aluno-leitor, tanto em atividade oral focalizada em classe,

quanto em tarefa escrita realizada fora do espaço de sala de aula.

• Buscar elementos que permitissem confrontar a atitude do leitor diante de

diferentes protocolos de leitura, ou seja, durante as discussões em sala de aula e,

no momento de produzir um texto escrito, individual, em situação extra-classe.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Nascimento propõe a análise de contos de Clarice Lispector no Curso de Letras

da Universidade Federal do Amapá, mediante um estudo de base etnográfica. Entre eles,

“Feliz Aniversário” e “Laços de Família” presentes na obra Laços de família. 28ª ed. Rio

de Janeiro. Francisco Alves, 1995, p. 71-86.


200

c.2. Tipo de leitor.

Nascimento realizou sua pesquisa com 44 alunos da turma de Letras/96 que

freqüentavam as aulas da disciplina Literatura Brasileira IV. O perfil foi assim descrito pela

pesquisadora: “Tratava-se de turma era bastante heterogênea, com idade variando de 22

a 45 anos, em sua maioria (36) do sexo feminino. A maioria (32) é natural do estado do

Amapá e freqüentou a escola pública durante os Ensinos Fundamental e Médio. Uma

minoria (10) freqüentou Cursinhos, como preparação para o Concurso Vestibular/96 da

UNIFAP.” (NASCIMENTO, 2001, p.59)

Dentro desse grupo de alunos/leitores, Nascimento optou por trabalhar com

onze deles, na faixa etária entre 22 e 44 anos como amostra de referência. Entre os onze

alunos escolhidos, somente um declarou não ser professor. Os demais, segundo

informações colhidas pela pesquisadora, atuavam no ensino como professores de Língua

Portuguesa e Língua Inglesa.

Com relação à história de escolarização desses alunos, a pesquisadora destaca

que “dez freqüentaram o ensino regular em escola pública. Apenas um aluno cursou o

Nível Médio no Ensino Supletivo. Para ingressar na UNIFAP, seis alunos freqüentaram

Curso Pré-Vestibular”. (Nascimento, 2001, p.59-60) São, portanto, leitores reais que

participam da experiência de recepção textual.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Como corpus da recepção, além das suas observações durante as aulas que

ministrou, a pesquisadora lança mão dos seguintes instrumentos de coleta de dados:


201

questionário, diário do pesquisador, gravações em áudio das aulas e das conversas sobre os

textos, trabalho escrito produzido pelos alunos e uma entrevista final com alunos.

Esse material foi coletado pela pesquisadora em aulas de leitura que ela mesma

trabalhou com suas turmas no curso de Letras da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

A dissertação de Nascimento traz uma reflexão teórica que, mesmo sabendo

que há diferentes caminhos para estudar o vasto campo da leitura, faz opção por estudá-la

como fenômeno social. Ela explica que estudar a leitura, por esta via, é, pois, considerar as

referências socioculturais do leitor e as condições sociais de produção da leitura.

Em vista disso, apresenta em seu texto os pressupostos teóricos de Chartier

(1996,1999), Darnton (1990,1996), Goulemot (1996), Koch (2000), Iser (1996,1999),

Terzi(1995). Ela justifica sua escolha pelo fato destes pesquisadores parecerem mais de

acordo com o tipo de estudo etnográfico que pretendia realizar acerca da ação de ler em

contexto escolar de nível superior.

Estimulada pelos novos rumos apontados pelo Mestrado em Lingüística

Aplicada, Nascimento passou a questionar o conceito de leitura com que vinha trabalhando

e, também a refletir sobre sua pedagogia de leitura literária. Para tal, ela utilizou também,

os estudos de Kramer (2000), pelo fato dessa autora entender a leitura como experiência,

não no sentido de propor uma solução definitiva para o ensino de leitura literária, mas por

refletir sobre a tendência à homogeneização desse tipo de leitura nos Cursos de Letras.
202

Também em Maria Alice Faria (1999), que discute as propostas dos Parâmetros

Curriculares no que tange a uma nova pedagogia da literatura.

Nascimento afirma que a literatura “pode vir a ser um dos esteios para a

interdisciplinaridade, ao contribuir para o estudo de alguns temas transversais propostos

pelos PCN”. Comprova sua afirmação citando Koch que diz:

...isso só poderá ser possível, à medida que não se leve em consideração


apenas os aspectos estruturais da obra literária no momento da leitura, uma
vez que o leitor tem uma experiência vivencial que lhe permite tecer uma
rede de significados e que o sentido não está no texto, mas se constrói a
partir dele, no curso de uma interação. Uma leitura implica, portanto, na
construção de um, e não do sentido.(apud Kock , NASCIMENTO, 2001,
p. 33)

A autora verifica quais as implicações das interações leitor/texto e leitor/leitor

na construção de sentido, no momento da ação de ler. Isso porque acredita, assim como

Moita Lopes (1996), que é na interação social que se aprende ou se constrói o

conhecimento de uma maneira mais eficaz, pois a colaboração dinamiza a aprendizagem e

favorece a mudança. Nesse sentido, ela envereda pelo campo da etnografia e da pesquisa-

ação, a fim de constituir a base empírica desta dissertação.

Para melhor compreender a leitura como fenômeno que tem uma história e uma

sociologia, a pesquisadora lança mão das condições de produção da leitura, que são

entendidas, nesse estudo, como fatores de ordem social, porque elas contribuem para as

diferentes formas de ler. Participam da base teórica os estudos feitos por teóricos ligados à:

• Lingüística Aplicada - Cavalcanti (1989); Terzi (1995); Kleiman (1998,1999);

• Teoria Literária - Jouvé (1993); Eco (1993); Abreu (2000); Fish (1980),

Almeida (1999:58);

• Lingüística Textual - Koch (2000);

• História da leitura – Darnton (1990) e Chartier (1999).


203

• Estética da Recepção: Iser (1996- 99) e Jauss, (1978).

Das posições teóricas sobre os conceitos de texto, leitor e leitura, Nascimento

utiliza: Kato (1995); teóricos provenientes da psicolingüística (Smith, 1978; Goodman,

1970); da psicologia cognitivista (Rumelhart,1977). Entre outros, também cita Goulemot

(1996): Kramer (2000); Koch (2000); Vieira (1999) citando Cavalcanti (1989); Kleiman

(1998); Silva (2000) e Soares (1995).

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

LISPECTOR, C. Feliz Aniversário e Laços de Família. In: Laços de família. 28ª ed. Rio

de Janeiro: Francisco Alves, 1995, p. 71-86.

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e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

Ao avaliar o ensino de leitura literária na UNIFAP, chamou atenção da

pesquisadora a atitude passiva dos alunos, futuros professores, frente aos textos literários a

que eram expostos. Segundo ela, os alunos raramente questionavam os textos da disciplina.

As hipóteses levantadas por Nascimento, mostram que tal atitude decorre de várias razões,

entre elas: de natureza conceitual porque eles não se davam conta de que o estudo do texto

literário ia além da imposição de uma história da literatura e das escolas literárias; de

natureza pedagógica, porque os modelos de análise dos manuais eram tidos como única via

de abordagem desse tipo de texto.

A fim de buscar respostas para suas indagações a pesquisadora desenvolveu seu

trabalho em três partes: Na primeira - Delineando a Fundamentação Teórica -

desenvolve o quadro teórico que embasa a interpretação dos dados coletados. Ela aborda

diferentes concepções de Literatura e conseqüentes posições teóricas; a escola e o ensino

de leitura literária. Também evidencia, na interação em sala de aula, alguns pressupostos

sobre Leitura na visão de teóricos da literatura. Na segunda - Descrição da base empírica-


206

são tratados os aspectos metodológicos da coleta dos dados em que a mesma foi realizada.

Integram este capítulo algumas das idéias que sustentam a metodologia etnográfica de

observação e descrição do cenário da pesquisa, bem como a pesquisa-ação. O leitor

encontra dados sobre: o contexto; a Universidade; os sujeitos envolvidos e os

instrumentos utilizados na coleta de dados: questionário aplicado, diário do pesquisador e

gravações em áudio. Na terceira - Tecendo a análise - Nascimento analisa os recortes da

discussão realizada em sala de aula e os trabalhos escritos realizados em espaço fora da sala

de aula. Ela também associou a esta análise as informações recolhidas por meio do

questionário e da entrevista quanto à organização da aula; do diálogo entre professor e

alunos; interação aluno/texto: modos de construção do sentido.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Nascimento inicia suas considerações finais registrando algumas constatações

observadas ao longo das atividades. Concluiu que, por não interferir decisivamente nas

atividades no sentido de orientar seus alunos quanto à melhor maneira de realizá-las, as

respostas obtidas nem sempre foram satisfatórias. Conseqüentemente, ela acredita que

“manter uma atitude de equilíbrio, de colaboração (não falar tudo, nem se calar), em sala

de aula de Literatura Brasileira pode, realmente, favorecer a construção de um

conhecimento mais eficaz (no dizer de Moita Lopes), no decorrer do processo de ensino-

aprendizagem”.

Com base nos resultados, a pesquisadora observou diversos níveis de interação

entre os alunos e os textos trabalhados. Os alunos subverteram, segundo ela, o modo

tradicional de aproximação do texto literário e de organização social das discussões em

sala de aula. Portanto, chega à conclusão que é possível, e até mesmo necessário, tentar
207

outras maneiras de lidar com a leitura do texto literário em sala de aula. Isso só será

possível a partir de uma reflexão que vise à compreensão do modo de construção de

sentido. O exercício proposto requer mais do que a reprodução do discurso do especialista

e do manual didático, pois na ação de ler, as referências socioculturais do leitor e as

condições sociais de produção de leitura são fundamentais.

Não se trata do abandono da visão do especialista, mas que a escola e também

a universidade garantam espaço para a diversidade de leituras, enfim a garantia de espaço

para o outro.

Mediante a estas colocações, Nascimento elenca alguns pontos relevantes para

aqueles que trabalham com textos literários. Eles foram registrados da seguinte forma:

1. A interação do tipo mais simétrica em sala de aula pode favorecer


a manifestação da voz do aluno e também suas tentativas de atribuir
sentido ao texto;
2. A tarefa de leitura que não fique presa a roteiros pré-estabelecidos
pode favorecer uma leitura mais pessoal;
3. O diálogo entre leitores é muito importante, porque leva à
discussão de temas transversais ligados à experiência vivencial de cada
um;
4. O professor precisa reavaliar algumas concepções básicas da
pedagogia da leitura literária, como: conceitos de texto, de leitura, de
literatura, de interação, a fim de realizar um fazer pedagógico que
realmente contemple a leitura enquanto construção de sentido;
5. O professor precisa compreender que o seu papel em sala de aula
de leitura deve ser o de colaborador no processo de tal atividade, a fim de
possibilitar que os aprendizes participem mais, pois quanto maior for a
participação dos alunos, maiores as possibilidades de leitura trazidas para
a sala de aula. (NASCIMENTO, 2001, p.111)

Citando o escritor moçambicano Mia Couto, Regina Lúcia finalizou suas

considerações finais dizendo que o texto literário é uma dessas janelas. E cabe ao leitor

abrir essa janela e construir a sua leitura sobre os mais diferentes aspectos de sua realidade

individual e social.
208

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Nascimento realiza um estudo teórico- aplicado, pois capta a recepção de

alunos futuros professores visualizando a inteiração entre a leitura dos mesmos com

respectivas práticas na escola. Seu questionamento maior se orienta sobre a questão de a

dificuldade em se ensinar a ler não estaria na própria ausência de leitura dos alunos-

professores, principalmente quanto à ausência de teoria sobre leitura . Foi classificada

como Pesquisa de Recepção – pelo leitor real em formação, por promover a observação

da mesma em alunos do curso de letras, futuros formadores de leitores.

Sua argumentação é feita com base no que a critica diz sobre os de Clarice

Lispector. E estuda a leitura como fenômeno social. Evidencia a prática pedagógica na sala

de aula e mostra a importância dela ser bem fundamentada e defende a existência de um

professor provocador que instiga seus alunos, mas nunca lhes fornece a sua leitura dos

textos.

Nos exemplos arrolados na discussão da recepção dos textos da escritora,

notamos a preocupação da pesquisadora retrata suas ações no sentido de evidenciar o que

elas produziam em seus alunos. Como suas atitudes em relação à prática de leitura

influenciava a leitura deles além de os instigar a outros. Ela diz que sempre recorria durante

as aulas a comentários da critica especializada sobre os textos de Clarice e via nos

comentários de seus alunos a mesma estratégia.

Os alunos mostraram a preocupação de fazer uma leitura voltada para o que já

sabiam que a crítica apontava. Seus comentários, inicialmente, fixavam-se em provar o

que fora apontado anteriormente e não simplesmente em suas impressões pessoais quanto

ao texto lido.
209

Isso, talvez, possa ser uma das razões para o que se tem visto como prática

pedagógica voltada para o Ensino Médio em que o professor, preocupado com a questão do

vestibular, fornece aos alunos não uma experiência de leitura fruição, mas apenas de

preparação para uma prova.. Tal prática mostra a preocupação com o efeito da obra e não

propriamente com as questões de leitura/recepção de textos.

A principal conclusão do trabalho está calcada na idéia de que o sentido não está

centrado no texto, mas é construído a partir dele, numa relação dialógica e intertextual, na

qual o leitor aciona o seu universo sociocultural para construir a sua leitura.

Acreditamos que a pesquisadora chega aos objetivos propostos, visto que seu

interesse era proporcionar uma experiência de recepção, verificando a interferência do

professor especialista no ato de leitura.


210

PESQUISA 15.

a. Dados de identificação.

Autor: Eliane Santana Dias Debus.

Orientador: Dr. Regina Zilberman.

Título: O leitor, esse conhecido: Monteiro Lobato e a formação de leitores.

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Nível de qualificação: Doutorado em Teoria Literária .

Ano de finalização: 2001.

Número de páginas: 260.

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real fora de ambiente escolar.

Resumo da obra:

Este trabalho busca investigar o papel desempenhado por Monteiro


Lobato (1882 – 1948) na formação de leitores, em especial aqueles que
tiveram sua infância nas décadas de 20, 30 e 40, período em que o escritor
se encontrava em plena atividade literária. Para concretizar nosso
objetivo, tomamos como referencial teórico os pressupostos da estética da
recepção, por considerá-los condizentes com uma pesquisa que se volta
para a reflexão sobre a maneira e as condições da produção e da recepção
da obra literária. Paralelamente aos depoimentos posteriores de leitura,
temos em mãos um discurso sobre a prática de leitura no seu momento de
apreensão, o que possibilita reconstituir a reação e atuação do leitor. No
entanto, não nos centraremos na aplicação prática dessa teoria, mas a
tomaremos como contribuição necessária e válida. As várias vozes que
dialogam em nosso discurso se inter-relacionam, contribuindo para o
desvendamento do caráter estético e da função social da leitura na
formação de um público leitor (DEBUS, 2001, introdução)

b. Objetivos.

Esta tese busca:

• Investigar o papel desempenhado por Monteiro Lobato (1882 – 1948) na

formação de leitores, em especial aqueles que tiveram sua infância nas décadas
211

de 20, 30 e 40, período em que o escritor se encontrava em plena atividade

literária.

• Verificar no discurso de Lobato (teórico e ficcional) e nas suas atividades

práticas o seu posicionamento como formador de leitores.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Como se trata de uma pesquisa que resgata depoimentos de diversos leitores de

Monteiro Lobato, o trabalho realizado por Debus se estabelece por meio de registros em

que os sujeitos da pesquisa citam diversos textos do autor. Entre eles encontramos na

bibliografia:

− O Sacy-Pererê: resultado de um inquérito. Rio de Janeiro: Gráfica JB S. A., 1998.

Fac-símile de: O Sacy-Pererê: resultado de um inquérito. São Paulo: Secção de

obras de O Estado de S. Paulo, 1918.

− Urupês. 9ed. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia, 1923.

− Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Negrinha. 22.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

− A onda verde e O presidente negro. 11.ed. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Mundo da lua e Miscelânea. 14.ed. São Paulo: Brasiliense, 1972.

− Mr. Slang e o Brasil e Problema Vital. São Paulo: Brasiliense,1964.

− América. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Na antevéspera. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Um sonho na caverna. São Paulo: Café Jardim, s.d.


212

− A barca de Gleyre. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Prefácios e entrevistas. São Paulo: Brasiliense, 1951.

− Prêmio Perón de 1947. Jornal de S. Paulo. Domingo, 18 de janeiro de 1948.

− Cartas escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Conferências, artigos e crônicas. São Paulo: Brasiliense, 1964.

− Críticas e outras notas. São Paulo: Brasiliense, 1965.

− As Aventuras de Hans Staden. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− O circo dos cavalinhos. São Paulo: Nacional, s.d.

− O circo de cavalinhos. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Peter Pan. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− História do mundo para as crianças. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− História das invenções. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Geografia de Dona Benta. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Aritmética da Emília. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Memórias da Emília. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Dom Quixote das crianças. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− O poço do Visconde. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− O Picapau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− A reforma da natureza. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− A chave do tamanho. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− Histórias diversas. São Paulo: Brasiliense, s.d.

− As caçadas de Pedrinho. São Paulo: Brasiliense, s.d.


213

c.2. Tipo de leitor.

Os leitores reais participantes da pesquisa de Debus se estabelecem em quatro

grupos distintos: críticos de literatura16; depoimentos de 22 leitores de Lobato, entre eles

escritores, jornalistas, professores e pesquisadores17; textos ficcionais que podem ser lidos

como testemunho de leitura18; sete leitores adultos, que testemunharam a importância da

leitura de Lobato na infância19.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Debus apresentou em seu trabalho a visão de que Monteiro Lobato, ao longo de

sua carreira literária refletiu sobre um projeto de leitura voltado para a formação de um

público leitor e efetivamente colocou em prática tal projeto.

Para realizar essa tarefa, a pesquisadora contou com: textos da crítica,

testemunhos de leitura (cartas de leitores que se corresponderam com Lobato) e relatos

construídos pela memória dos sete leitores contatados para a pesquisa.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

16
Crítica de ontem: Alceu Amoroso Lima, Belmonte e Afonso Schmith, Edgard Cavalheiro, Herman Lima,
Jorge Amado, Manuel Bandeira, Nelson Werneck Sodré, Orígenes Lessa, Viriato Corrêa. Crítica de hoje:
Sylvio Rabelo, Antonio Candido, Cláudio Abramo, Alfredo Bosi, Nelson Werneck Sodré, Afrânio Coutinho,
Vasda B. Landers, Tadeu Chiarelli, Alice M. Koshiyma, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Fábio Lucas,
Cassiano Nunes, Leonardo Arroyo, Laura Sandroni, Sueli de Souza Cagneti, Nelly Novaes Coelho, Otávio
Frias Filho
17
Alfredo Bosi, Cassiano Nunes, Edgard Cavalheiro , Guilhermino César, Ilka Brunhilde Laurito, João Antônio, João
Carlos Marinho, José Guilherme Melquior, Júlio Gouveia, Justino Martins, Lygia Bojunga Nunes, Marcos Amazonas,
Maria de Lourdes Krieger, Maria Helena Patto, Marisa Lajolo, Ofélia Boisson Cardoso, Renata Pallottini, Ruth Rocha,
Samir Curi Meserani, Tatiana Belinky, Tatiana Belinky, Zelinda Moneta .

18
O conto Felicidade clandestina (1975), de Clarice Lispector; o romance O menino no espelho (1982), de Fernando
Sabino, bem como os livros infanto-juvenis: Memórias da ilha (1991), de Luciana Sandroni, e Amigos secretos (1996), de
Ana Maria Machado

19
Alarico Silveira Júnior, Gilson Maurity Santos, Hilda Junqueira Villela Merz, Lucy Mesquita, Nicean Serrano Telles
de Sousa, Joyce Campos e Cordélia Fontainha Seta.
.
214

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Eliana S. Debus apresenta Monteiro Lobato como:

...um leitor contumaz, já na tenra infância descobriu nos livros o prazer da


leitura e, quando envereda pelo mundo da escrita, traz em seus textos o
interesse constante pelo outro, o leitor. No seu discurso, quer seja o
ficcional, quer seja o teórico, se assim podemos denominar os seus artigos
e cartas, observa-se preocupação constante com o papel do leitor, da
leitura e do livro. É uma preocupação que vai ganhando força e se
consolida na sua literatura infantil, resultando no que consideramos um
projeto de leitura desenvolvido pelo escritor. Por esse viés, a sua literatura
infantil não é considerada um mero “acidente” ou “imprevisto” na sua
caminhada literária, mas, sim, resultado de uma longa reflexão. Bem antes
de ouvir a famosa narrativa de seu amigo José Maria Toledo Malta sobre o
peixinho que morreu afogado, Lobato já havia se decidido pelo mundo da
infância, embora não tivesse encontrado ainda o fio condutor que surgiu
naquela partida de xadrez.” (DEBUS, 2001,p 28)

Segundo a pesquisadora, não constitui nenhuma originalidade afirmar que

Monteiro Lobato desempenhou uma função crucial na construção da literatura infantil

brasileira. Entretanto, ela defende fato de ele ser um “fomentador da produção, difusão e

circulação do livro, tendo exercido um papel fundamental na formação de um público

leitor que referendasse o estatuto desse novo gênero que se anunciava”. (Debus, 2001, p.

35)

A autora assinala, em seu texto, o fato de Monteiro Lobato vir, nos últimos

vinte anos, recebendo uma maior atenção dos pesquisadores, quer seja daqueles que se

debruçam sobre sua vida, quer seja dos que visitam sua produção literária, em especial

aquela produzida para crianças. No entanto, não há nenhuma investigação que trate do

papel desempenhado pelo escritor para a formação de leitores e as reais condições de

recepção da literatura infantil lobatiana.

Partindo dessa constatação, Debus dedica-se a verificar no discurso de Lobato

(teórico e ficcional) e nas suas atividades práticas o seu posicionamento como formador de

leitores. Já a recepção de seus livros no período estudado será analisada a partir do discurso
215

mediador das instituições (Estado e Igreja) e da crítica literária. Também, de depoimentos

posteriores à leitura realizada na infância e do testemunho da leitura no seu momento de

apreensão através das cartas das crianças, leitoras de Lobato.

O contato epistolar de Lobato com seus leitores talvez seja o mais profícuo e

original encaminhamento de recepção mirim de que se tem notícia, pois ela acredita que “a

atuação dos leitores contribuiu de forma efetiva para o desenvolvimento da sua literatura

infantil”. Essa é uma das razões da dedicação da pesquisadora aos registros testemunhais

de leituras oriundos das cartas dos leitores.

Segundo ela,

...as cartas são exemplos da presença concreta de manifestação da leitura


e apresentam subsídios para refletir sobre a conduta e as reações dos
leitores, bem como se tornam testemunhos, já que estas vozes acabarão
nos fornecendo informações importantes para refletirmos sobre a
recepção da literatura lobatiana e averiguarmos o quanto o seu projeto
para a formação de um público leitor foi efetivado.(DEBUS, 2001, p. 185)

Para concretizar seu objetivo, ela toma como referencial teórico os

pressupostos da Estética da Recepção, por considerá-los condizentes com uma pesquisa que

se volta para a reflexão sobre a maneira e as condições da produção e da recepção da obra

literária.

Sua reflexão parte de questões amplas tais como: Escritor, texto e leitor não

seriam parte integrante do mesmo processo? “Para quem se escreve?”, “O leitor não é um

sujeito a-histórico”. Chega a Hans Robert Jauss (1967), consolidando o papel do leitor

enquanto ser integrante da estética literária. Sobre ele, Debus afirma que:

Jauss opõe-se aos dois modelos metodológicos adotados pelos


historiadores da literatura. O primeiro modelo ordena o material literário
“segundo tendências gerais, gêneros e ‘outras categorias’, para então, sob
tais rubricas, abordar as obras individualmente, em seqüência
cronológica”; o segundo modelo adota o padrão da Antigüidade Clássica,
ordenando o material literário de forma unilinear, seguindo a cronologia
dos grandes autores e apreciando-os conforme o esquema ‘vida e obra’.
(DEBUS, 2001, p 136)
216

Debus passa então a descrever as sete teses de Jauss propondo uma história da arte e

da literatura fundada no princípio: “as análises literárias deveriam mudar o enfoque, não

mais se centrando no texto ou no autor, e sim no que denominou de ‘terceiro estado’: o

leitor. Tal perspectiva colocaria em foco a figura do sujeito produtor (destinador)

interagindo com a do consumidor (receptor). A arte obedeceria a uma função dialética:

formadora e modificadora de percepção.” (Debus, 2001, p 137)

As pesquisas de Jauss, segundo a pesquisadora, direcionam-se para:

a reconstrução histórica da forma como o texto foi recebido e interpretado


por leitores diversos ao longo do tempo e o seu efeito atual, resultando na
fusão de dois horizontes: o do autor que construiu sentido e o do público
que (re)interpreta o sentido em confronto com o tempo atual. A
objetivação do horizonte de expectativa é possível através daquelas obras
que, adotando uma convenção (seja de gênero, estilo ou de forma),
evocam um horizonte de expectativa para logo abandoná-lo ou destruí-lo,
bem como em obras ‘historicamente menos delineadas’. (DEBUS, 2001,
p. 139)

Debus ainda observa o que Wolfgang Iser diz sobre o leitor. Para ele:

o texto só existe a partir da atuação do leitor. No entanto, eles possuem


orientações e métodos diferentes: o primeiro necessita do testemunho da
leitura, enquanto a orientação de Iser recai sobre o próprio texto,
argumentando que ele possui uma estrutura apelativa que colabora para o
efeito e reação do leitor frente à obra.”(DEBUS, 2001, p.140)

Paralelamente aos depoimentos posteriores à leitura, a pesquisadora apresenta

um discurso sobre a prática de leitura no seu momento de apreensão, o que possibilita

reconstituir a reação e atuação do leitor.


217

d.2. Bibliografia citada,

A. Textos analisados.

LOBATO, M. O Sacy-Pererê: resultado de um inquérito. Rio de Janeiro: Gráfica JB S. A.,

1998. Fac-símile de: O Sacy-Pererê: resultado de um inquérito. São Paulo: Secção de obras

de O Estado de S. Paulo, 1918.

________.Urupês. 9ed. São Paulo: Monteiro Lobato & Cia, 1923.

________.Cidades mortas. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Negrinha. 22.ed. São Paulo: Brasiliense, 1982.

________.A onda verde e O presidente negro. 11.ed. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Mundo da lua e Miscelânea. 14.ed. São Paulo: Brasiliense, 1972.

________.Mr. Slang e o Brasil e Problema Vital. São Paulo: Brasiliense,1964.

________.América. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Na antevéspera. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Um sonho na caverna. São Paulo: Café Jardim, s.d.

________.A barca de Gleyre. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Prefácios e entrevistas. São Paulo: Brasiliense, 1951.

________.Prêmio Perón de 1947. Jornal de S. Paulo. Domingo, 18 de janeiro de 1948.

________.Cartas escolhidas. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Conferências, artigos e crônicas. São Paulo: Brasiliense, 1964.

________.Críticas e outras notas. São Paulo: Brasiliense, 1965.

________.As Aventuras de Hans Staden. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.O circo dos cavalinhos. São Paulo: Nacional, s.d.

________.O circo de cavalinhos. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.Peter Pan. São Paulo: Brasiliense, s.d.


218

________.Reinações de Narizinho. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.História do mundo para as crianças. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.História das invenções. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.Geografia de Dona Benta. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.Aritmética da Emília. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.Memórias da Emília. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.Dom Quixote das crianças. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.O poço do Visconde. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.O Picapau Amarelo. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.A reforma da natureza. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.A chave do tamanho. São Paulo: Brasiliense, s.d.

________.Histórias diversas. São Paulo: Brasiliense, s.d.

B. Referências teóricas.

ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34, 1996. (data

do original alemão: 1976).

JAUSS, H.R. Expérience Historique et Fiction. In: GADOFFRE, Gilbert. (dir.). Certitudes

et Incertitudes de L’histoire. Paris: PUF, 1987. p.117-132.

________ et al. A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz

e Terra, 1979.
219

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

O trabalho está estruturado em cinco capítulos. No primeiro, temos um

histórico da pesquisa contendo um breve relato sobre a correspondência entre Lobato e

alguns leitores infantis nas décadas de 30 e 40, bem como o contato com alguns desses

mesmos leitores, muitos anos depois.

No segundo capítulo, Debus mapeou a trajetória leitora de Monteiro Lobato –

seu repertório de leituras da infância até a fase adulta – buscando também evidenciar a

valorização que o escritor dá à figura do leitor e a sua concepção de leitura e literatura

infantil, bem como, a importância de seu desempenho como editor na construção de um

público leitor.

No terceiro capítulo, a pesquisadora destacou a recepção dos textos infantis de

Lobato por um grupo específico de leitores que se tornam intermediários no acesso à

leitura: primeiro, o discurso institucional do Estado e da Igreja que “proíbe” a utilização

dessa literatura; segundo, a reconstituição do discurso da crítica entre 1921 e 1944; e

finalmente a palavra da crítica contemporânea. São discursos múltiplos sobre o mesmo

material.

No quarto capítulo, Debus apresentou depoimentos posteriores a leituras

realizadas na infância e sobre textos ficcionais que se reportam a essas mesmas leituras e

que também se tornam testemunho da permanência da leitura no período infantil.

No quinto capítulo, mostrou o reconhecimento nas narrativas infantis de

Monteiro Lobato da representação ficcionalizada de um público leitor e a inserção de

leitores reais, de carne e osso. Esse levantamento só foi possível a partir das cartas e é pelas

mesmas que sistematizam a recepção das narrativas e a expectativa desses leitores. Para

finalizar, obtém um registro de sete leitores sobre a importância dessa leitura na infância.
220

Consta do trabalho ainda, cinco anexos contendo:

• um quadro cronológico das publicações de Monteiro Lobato

• uma entrevista de Lobato concedida ao jornal A Voz da Infância, órgão da

Biblioteca Municipal Infantil de São Paulo, em seu segundo número.

• as correspondências recebidas dos entrevistados entre 1996 e 2000.

• sete cartas de Lobato escritas a leitores infantis e até agora inéditas em sua

íntegra.

• respostas dos leitores.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

A pesquisadora apresenta no final de seu trabalho algumas considerações

importantes que passamos agora a registrar. Afirma a pesquisadora que:

A partir do discurso teórico de Monteiro Lobato,observamos uma


concepção leitora (leitura e leitor) que abarca uma postura conhecida hoje,
mas inovadora nas quatro primeiras décadas do século XX: a importância
do leitor, a função da leitura e o livro como objeto mediador do ato de ler.
Desde as suas primeiras composições, quando ainda era um estudante
mais afeito ao triângulo da Paulicéia do que à vida acadêmica, destaca-se
a análise da função do leitor. No entanto, as idéias sobre o livro, a leitura
e o leitor vão ganhando maior peso e é na sua literatura para crianças que
são sistematizadas. (DEBUS, 2001, p. 247)

Em sua obra, Debus observa três tipos de leitores: o leitor implícito, o leitor

representado e o leitor concreto. Segundo a pesquisadora, “o primeiro tipo refere-se à

imagem construída do leitor ao qual Lobato se dirigia. O segundo, à representação de

personagens leitores como estímulo à leitura dos leitores concretos. E os leitores concretos

são os que acabam saindo da vida real e entrando nas páginas ficcionais”.
221

Ela ainda reconhece Lobato como um autor preocupado com a sedução de seu

leitor. Alguém que o respeita tanto nas idéias quanto na linguagem. É esse respeito que

proporciona o prazer da leitura. Debus ressalta que por meio das cartas:

Os leitores demonstraram que Lobato foi certeiro em sua postura: os


leitores sentem-se respeitados como indivíduos, já que são tratados como
interlocutores ativos. Sem constrangimento, eles fazem críticas e
intervenções nas narrativas e nas ações das personagens; valorizam os
livros de “conteúdo didático”, exatamente pelo seu rompimento com a
seriedade e o caráter de obrigatoriedade que ronda estes conteúdos, como
aritmética e gramática; demonstram interesse pela feição material do livro.
(DEBUS, 2001, p. 248)

Elas apresentaram a recepção de leitores comuns no momento da apreensão do

texto literário, o que marca a originalidade desta pesquisa, pois nos trabalhos até aqui

realizados as constatações sobre a leitura da obra lobatiana faziam-se em cima de

depoimentos posteriores e, na maioria dos casos, de pessoas reconhecidas publicamente. A

reconstrução proposta pela pesquisadora nesse momento de leitura possibilitou vislumbrar a

importância que Lobato teve na formação desses leitores e o efeito que essas respostas

leitoras tiveram na sua produção literária.

Segundo a pesquisadora parece possível, então, afirmar que:

O criador de Emília atinge sua proposta numa relação dialética, em que


escrita e atitude se confrontam, atuam e interagem em prol de uma
comunicação viva e dinâmica com o outro. Esta comunicação dá-se pela
importância à figura do leitor tanto na construção do texto (leitor
implícito) como nas atividades desenvolvidas em proveito da leitura
(leitor concreto). (DEBUS, 2001, p.249)

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Debus realiza uma pesquisa-aplicada em que mescla dados de recepção e

efeito utilizando a leitura de críticos de literatura, jornalistas, professores e pesquisadores e

também testemunhos de leitura - leitores adultos – dos textos de Lobato. Este estudo,
222

portanto, foi classificado como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real

fora de ambiente escolar.

Notamos que a pesquisadora se vale da distinção entre efeito e recepção

principalmente no capítulo 4 - Marcas de leitura – em que explica com bastante precisão a

diferença entre as categorias. Seu mérito é colocar Lobato como formador de leitores.

Destacamos a forma de coleta da recepção: cartas, textos da critica, testemunhos de leitura,

relatos de memória.

A pesquisadora cumpre os objetivos a que se propõe, visto que investiga o autor

como formador de leitores e verifica no discurso seu posicionamento como tal. Além disso

ela reflete sobre a conduta e reação dos leitores no contato com o escritor durante a leitura

de seus textos.

Utiliza a Estética da Recepção como referencial teórico, pois sua pesquisa se

concentra sobre a maneira e as condições da recepção das obras do escritor. Discute a

concepção de leitor utilizando como categorias o leitor implícito, o leitor representado e o

leitor concreto. No primeiro, refere-se à imagem construída pelo escritor ao qual Lobato

se referia. No segundo, a representação de personagens leitores como estímulo à leitura e no

terceiro, o leitor concreto que acaba saindo da vida real e entrando nas páginas ficcionais.
223

PESQUISA 16.

a. Dados de identificação.

Autor: Diógenes Buenos Aires de Carvalho.

Orientador: Prof. Dr. Vera Teixeira de Aguiar.

Título: As crianças contam as Histórias: os horizontes dos leitores de diferentes classes

sociais.

Instituição: Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

Nível de qualificação: Mestrado

Ano de finalização: janeiro de 2001.

Número de páginas: 211.

Tipo: Pesquisa de Recepção – pelo leitor real em formação.

Resumo da obra:

Os estudos teóricos sobre a literatura infantil ainda são incipientes quanto à


preocupação com a voz da criança enquanto receptor do texto literário. Em
vista disso, o propósito dessa dissertação é materializar a voz do pequeno
leitor a partir da investigação dos horizontes de leitura de crianças de
diferentes classes sociais em contexto escolar, o que implica explicitar as
normas literárias e sociais constantes nas histórias literárias infantis que
correspondem às suas expectativas. Para tanto, realizou-se uma pesquisa de
campo junto a duas escolas de Teresina – Piauí, a fim de coletar o corpus de
análise, constituído por 24 (vinte e quatro) narrativas infantis reproduzidas de
textos literários lidos ou conhecidos, por alunos com idades de 10 e 11 anos,
da 4ª série do ensino fundamental. A análise dos textos tem como suporte
teórico a Estética da Recepção, de Hans Robert Jauss e a Teoria da Narrativa
Infantil, com auxílio da Sociologia da Leitura nas perspectivas de Robert
Escarpit, Arnold Hauser e Pierre Bourdieu, visto que a reprodução/produção
das histórias ocorreu em contexto escolar específico, o que acarreta levar em
consideração as condições de produção/recepção da escrita e variável nível
socioeconômico como interferentes na configuração textual. Os resultados
obtidos revelam que o horizonte de expectativas das crianças de ambas as
camadas sociais ainda é marcado pelo modelo do conto tradicional. Todavia,
a ruptura desse modelo é realizada pelos leitores mirins de classe social
favorecida. A situação delineada leva a perceber, portanto, a influência dos
mediadores sociais como a escola e a família. Assim, a pesquisa serve para
abrir espaços para os estudos que busquem dar voz ao leitor infantil,
contribuindo para o alargamento do conhecimento sobre o processo de
recepção do texto literário, considerando os agentes que dele fazem parte.
(CARVALHO, 2001)
224

b. Objetivos.

Seu objetivo principal foi:

• Materializar a voz do pequeno leitor a partir da investigação dos horizontes de

leitura de crianças de diferentes classes sociais em contexto escolar.

• Abrir espaços para os estudos que buscam dar voz ao leitor infantil,

contribuindo para o alargamento do conhecimento sobre o processo de recepção

do texto literário, considerando os agentes que dele fazem parte.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

A voz do leitor infantil foi materializada, segundo o pesquisador:

...pela reprodução/produção de histórias infantis, o que possibilitou


analisar as marcas e/ou indícios presentes na escrita que levam à
reconstituição do horizonte de expectativas da criança, considerando o
nível socioeconômico e o contexto escolar, com base nos estudos teóricos
sobre o assunto (CARVALHO, 2001, p. 17)

As histórias infantis reproduzidas foram: Cinderela, A Festa no Céu, Branca de

Neve e os Sete Anões, O Pulo do Gato, O Casamento da Princesa Nuriar, Curiosidade

Premiada, A Cigarra e a Formiga, Os Três Porquinhos, João e Maria, A Relva Azul, De

Trote em Trote Agarrei o Velhote, A Princesa Sherazade, Chapeuzinho Vermelho, A

Jararaca, A Perereca e a Tiririca, A Menina da Janela, Os Três Mosqueteiros, O Rei Leão,

A Arca de Noé, A Bela Adormecida, Sherazade, Romeu e Julieta. São textos narrativos que

exploram os contos de fadas e fábulas presentes na história de leitura dos sujeitos da

pesquisa.
225

c.2. Tipo de leitor.

Participaram desse projeto de recepção alunos com idade de 10 e 11 anos, da 4ª

série do Ensino Fundamental. O campo de atuação da pesquisa foi composto por duas

instituições do Ensino Fundamental de Teresina, capital do Estado do Piauí, sendo uma

escola pública municipal, que atende à classe social desfavorecida, e outra, particular,

voltada à classe social favorecida, do ponto de vista socioeconômico

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Nessa dissertação Carvalho realizou uma pesquisa aplicada junto a duas

escolas de Teresina – Piauí, a fim de coletar o corpus analisado pelo pesquisador. Foram

produzidos cerca de 67 (sessenta e sete) textos - reescritas de histórias infantis - das quais o

pesquisador selecionou 24 (vinte e quatro) como corpus. Seu critério de escolha foi a

maior incidência de textos produzidos por alunos com idades de 10 e 11 anos, a variedade

de títulos e os títulos reconhecíveis. Dessa seleção doze textos são referentes ao colégio

particular, que atende a crianças de nível socioeconômico favorecido. Os outros doze

referentes à escola pública municipal, com crianças de nível socioeconômico

desfavorecido.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

O suporte teórico dessa dissertação foi fundamentado na Teoria da Estética da

Recepção, de Hans Robert Jauss, bem como na Teoria da Narrativa Infantil. Contou ainda
226

com auxílio da Sociologia da Leitura nas perspectivas de Robert Escarpit, Arnold Hauser e

Pierre Bourdieu. O pesquisador justifica essa escolha, visto que a reprodução/produção das

histórias ocorreu em contexto escolar específico, o que acarretou levar em consideração as

condições de produção/recepção da escrita e o variável nível socioeconômico como

interferentes na configuração textual.

Na introdução de seu texto, o pesquisador lançou mão de um referencial

teórico existente até o termino de seu trabalho sobre este gênero polêmico que é a

literatura infantil. Apresentou considerações sobre a literatura infantil no Brasil por

trabalhos que se caracterizam pela natureza histórica, como, por exemplo, o de Leonardo

Arroyo (1968), de Nelly Novaes Coelho (1991); Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1984);

de Diana Maria Marchi (2000). Destaca, ainda, Cecília Meireles (1951); Regina Zilberman

(1981), Lígia Cadermatori Magalhães e Regina Zilberman (1982), Sônia Salomão Khéde

(1983).

Além desses dois enfoques, histórico e teórico, o pesquisador assinala a

produção de estudos críticos que consideram os aspectos intrínsecos da obra literária para

crianças, como, por exemplo, os autores: Maria do Socorro Rios Magalhães (1980), Ana

Mariza Ribeiro Filipouski (1988), Claudia Luiza Caimi (1991), Vera Maria Tietzman Silva

(1994), Flávia Brocheto Ramos (1994), Rosane Maria Cardoso (1997), Zila Letícia Goulart

Pereira Rego (1998), Viviane Zanandrea (1999). Esses trabalhos estão essencialmente

centrados nas obras de diversos autores nacionais, como, por exemplo, Érico Veríssimo,

Edy Lima, Lygia Bojunga Nunes, Henry Correa de Araújo, Wander Pirolli, Clarice

Lispector, Ana Maria Machado, Sérgio Caparelli, Stella Carr, Ruth Rocha, Marina

Colasanti, Tales de Andrade, Monteiro Lobato, Maria José Dupré e Fernanda Lopes de

Almeida.
227

Carvalho diz que por caracterizar-se a partir do seu leitor, a literatura infantil

também provocou a realização de trabalhos centrados nos interesses e hábitos de leitura

das crianças e jovens, tais como: Leituras infantis, de Cecília Meireles (1944), Crianças,

jovens e literatura, de Nise Pires (1976), Que livro indicar: interesses do leitor jovem, de

Vera Teixeira de Aguiar (1979), Hábitos de leitura e influência ambiental: pesquisa de

campo, coordenada por Marli Mira Hoeltgebaum (1981), Interesses e hábitos de leitura dos

alunos de 1º grau maior de João Pessoa/PB, de Maria Helena Bezerra Cavalcanti

Rockenbach (1988), Guia de leitura para alunos de 1º e 2º graus, do Centro de Pesquisas

Literárias da PUCRS (1989), Novos hábitos de leitura: pedagogia infanto-juvenil, de

Elizabeth Marinheiro (1990)

Atento ao fato de a recepção do texto literário infantil pela criança ou jovem

ser ainda pouco explorado pelos estudiosos da literatura infantil, visto a pouca existência

de trabalhos nesse âmbito, o pesquisador destaca Narrativa em criança e processos de

leitura, de Leonor Scliar Cabral (1983), Comunicação literária na pré-escola: elementos

históricos e ficcionais do ato narrativo, de Vera Teixeira de Aguiar (1988), e Parâmetros

curriculares e literatura: as personagens de que os alunos realmente gostam, de Maria

Alice Faria (1999). Segundo Carvalho “os estudos teóricos, portanto, ainda são incipientes

quanto à preocupação com a voz da criança enquanto receptor do texto literário”.

Sobre a Teoria da Estética da Recepção, Carvalho apresenta citações de

Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica filosófica, de Hans-Georg.

Gadamer (1999); A obra de arte literária, de Roman Ingarden. (1973); A história da

literatura como provocação à teoria literária, de Hans Robert Jauss, (1994).


228

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

(Não foi apresentado nenhum).

B. Referências teóricas.

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e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

Para alcançar seus objetivos, o pesquisador desenvolveu uma pesquisa

aplicada. Segundo ele, desta forma, “a voz do leitor infantil foi materializada pela

reprodução/produção de histórias infantis, o que possibilitou analisar as marcas e/ou

indícios presentes na escrita que levam à reconstituição do horizonte de expectativas da

criança, considerando o nível socioeconômico e o contexto escolar, com base nos estudos

teóricos sobre o assunto”. (CARVALHO, 2001, p. 137).

Esta modalidade de pesquisa possibilitou a coleta do corpus de análise

constituído de vinte e quatro textos - doze narrativas infantis reproduzidas por crianças de

classe social desfavorecida e doze de classe social favorecida. São leitores na faixa etária

entre 10 e 11 anos que possuem, no mínimo, quatros anos de escolaridade.

Diógenes utilizou como instrumentos de pesquisa a entrevista com os

professores-regentes e bibliotecárias das escolas selecionadas, em que se levantaram dados

referentes à prática da leitura literária, necessários à interpretação das narrativas infantis; a

ficha de análise das narrativas infantis, enfocando as normas literárias e as concepções de


232

mundo, fundamentada nos pressupostos teóricos já mencionados; a ficha escolar fornecida

pelas escolas, que contém informações indicadoras do nível social dos alunos; e a ficha

bibliográfica dos livros reproduzidos pelas crianças constantes nos acervos literários das

escolas.

Esta dissertação, segundo registra Carvalho, apresenta uma estrutura composta

por três capítulos, em que os elementos analisados nos textos são constantemente cruzados

com o suporte teórico.

O primeiro capítulo, subdivide-se em quatro partes, apresentando uma revisão

sobre os pressupostos que fundamentam a análise pretendida e o percurso metodológico

realizado para a tessitura das histórias que compõem o corpus de análise e os conceitos

básicos que constituem a literatura na perspectiva do leitor.

No segundo capítulo, as normas do texto literário são descritas por meio da

recepção infantil, as quais foram identificadas e analisadas a partir do modo como as

crianças de diferentes classes sociais manifestam, na superfície do texto, a construção das

personagens, a apresentação e desenvolvimento do conflito, a representação do tempo e do

espaço.

O terceiro capítulo possui um caráter interpretativo, pois apresenta, a partir dos

dados coletados, o lugar que a criança ocupa como narrador à medida que a criança ocupa

seu lugar enquanto sujeito sócio histórico, uma vez que ele não apenas seleciona a forma do

texto, mas também um conjunto de valores ou normas sociais de sua época.

Na conclusão, recuperam-se todos os dados da pesquisa com vistas à

configuração dos horizontes de leitura das crianças de diferentes classes sociais,

destacando-se o papel desempenhado pela escola como mediadora da leitura literária.

Assim, confirma-se a opção inicial do pesquisador em realizar o trabalho em âmbito

escolar, dada a participação decisiva dessa instituição para a formação do leitor mirim.
233

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Quando Carvalho aborda a recepção do texto literário infantil, afirma que para

a ampliação do horizonte de expectativas do receptor mirim “é necessária à realização de

um processo de mediação que leve a criança a expandir suas perspectivas. Para tanto, é

preciso que se compreenda como o livro literário chega até o destinatário”.(CARVALHO,

2001, p.150). Segundo o pesquisador, compete à escola tornar concreto o contato do leitor

com o livro, ela é um mediador social.

Ao comparar as duas escolas nas quais realizou seu projeto,o pesquisador

observou que, considerando as devidas diferenças, elas possuem um ponto em comum: “o

fato de contribuírem, por meio dos seus acervos, para a constituição dos horizontes dos

seus leitores via narrativas, muito embora a particular tenha elencado entre os autores a

serem trabalhados durante o ano letivo o compositor e poeta Paulinho Pedra Azul para as

crianças de 1ª a 4ª séries, e Carlos Drummond de Andrade, para os alunos da 5ª a 8ª

série”.

Carvalho constatou que para os alunos de classe social desfavorecida é a escola

a grande mediadora de leitura, talvez a única, tendo em vista as condições socioeconômicas

das mesmas. Segundo ele a escola funciona também como medidora para os pais, pois eles,

muitas vezes, somente têm contato com a literatura quando os filhos levam os livros para

casa. Quanto às crianças de classe social favorecida, a situação socioeconômica da família

garante a ela a oportunidade de ter outras formas de acesso à literatura, uma vez que o

cotidiano desses pequenos leitores os expõe a diversas circunstâncias que os levam a

valorizar a leitura da obra de arte literária.

No que tange ao modelo de narrativa que circula na escola, Carvalho notou que

o conto de fadas ou popular é o que se apresenta com mais freqüência. Também que na
234

amostra da classe social favorecida acontece um predomínio do modelo do conto popular.

Na esteira do modelo do conto popular, notou-se a elaboração de personagens lineares que

se situam no pólo do bem ou do mal, sem que houvesse a possibilidade de trazer até a

superfície do texto o caráter múltiplo de que se constitui a natureza humana. A linearidade

também caracteriza a representação do tempo nas redações infantis, tendo em vista a

cronologia apresentada pelo desenrolar das ações.

A representação do espaço, assim como a do tempo, é marcada pela indefinição,

o que reforça a aproximação da concepção de mundo da criança com aquela do homem

mítico. A dificuldade em definir com precisão o espaço de realização das ações indica que

não é a criança que tem dificuldades de localização espacial, visto que na sua faixa etária

ela já possui uma significativa autonomia no sentido de se situar no mundo sob o ponto de

vista geográfico. Desse modo, o modelo, mais uma vez, representa o referencial para a

manifestação na superfície do texto desse elemento estrutural da narrativa.

A configuração da criança enquanto narradora materializa-se nos procedimentos

adotados na reprodução/produção das narrativas, uma vez que ela segue um determinado

modelo de texto, que, como já ficou evidenciado, é o do conto de fadas ou popular. Nas

duas amostras ocorreu o predomínio da posição de narrador onisciente, que demonstra

pleno conhecimento dos fatos da matéria ficcional.

No que se refere às normas sociais, as posições adotadas denotam atitudes

bastante conservadoras, tendo em vista o modelo de sociedade explicitado nos textos ser

ainda o que se apresenta no conto de fadas ou nas histórias que retomam esse modelo. A

concepção de família também é regida pelos moldes consagrados, contudo a fragmentação

dessa instituição é manifestada em maior proporção no estrato social desfavorecido.No que

tange às questões sociais, o conservadorismo ficou explícito via valorização do trabalho

braçal em detrimento do artístico, bem como na relação autoritária entre antagonistas e


235

subordinados. A estratificação é outro elemento que foi apresentado como natural pelos

textos.

Percebeu-se, ainda, que a escola pode assumir maior ou menor papel na

formação do leitor infantil. A resposta dada pelos alunos do grupo social desprivilegiado

revela que eles sabem que o mundo valorizado é o que a escola propaga, logo, as imagens

reproduzidas nas histórias são aquelas que refletem a vida de acordo com o modelo

sedimentado nas histórias infantis, as quais são escolhidas pela escola. Em contrapartida, a

criança de classe social privilegiada ultrapassou as fronteiras da sala de aula, uma vez que

no rol de histórias recontadas constataram-se algumas que não faziam parte do universo da

escola, o que demonstra que a situação socioeconômica e cultural propiciada pela família

desse aluno oferece condições para que o mesmo esteja exposto a inúmeros outros agentes

culturais como, por exemplo, cinema, televisão a cabo, jogos eletrônicos, viagens, passeios,

teatro, bibliotecas e livrarias, que proporcionam uma maior abertura para estabelecer com a

literatura uma relação dialética, o que implica a ampliação dos horizontes de expectativas

desse leitor.” 20

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Carvalho realiza uma pesquisa teórico-aplicada em que compara a recepção de

histórias infantis em grupos de alunos de duas escolas sendo uma particular e outra

pública. Sua analise se concentra em um corpus de recepção composta por doze narrativas

infantis, reproduzidas por crianças de classe social favorecida e desfavorecida, entre 10 e

11 anos. Portanto, classifica-se como uma Pesquisa de Recepção – pelo leitor real em

formação.

20
CARVALHO, D.B. A.de. 2001 –conclusão.
236

O autor se fundamenta na Estética da Recepção, na Teoria da Narrativa Infantil

e na Sociologia da Leitura. Proporciona uma analise comparativa focalizando aspectos

socioeconômicos distintos. Observa marcas textuais presentes nos textos produzidos pelas

crianças identificadas a partir do modo como as crianças se manifestaram sobre suas

leituras, na superfície do texto, na construção das personagens e desenvolvimentos das

narrativas. Visualiza o leitor infantil como um narrador, um sujeito histórico, uma vez

que ele seleciona não apenas a forma do texto, mas também um conjunto de valores ou

normas sociais de sua época.

Carvalho coloca a escola em destaque como agente de formação de leitores,

principalmente como mediadora de leitura para crianças menos favorecidas. Nas classes

mais favorecidas, funciona como agente de oportunidades de acesso à literatura.

No nosso entender, atinge os objetivos a que se propõe visto que materializa a

voz do pequeno leitor a partir da investigação dos horizontes de leitura de crianças de

diferentes classes sociais em contexto escolar. Sua análise abre espaço para os estudos que

buscam dar voz ao leitor infantil, contribuindo para o alargamento do conhecimento sobre o

processo de recepção do texto literário, considerando os agentes que dele fazem parte.
237

PESQUISA 17.

a. Dados de identificação.

Autor: Simone R. F. Meirelles.

Orientador: Prof. Dr. Benito Martinez Rodriguez.

Título: Das Bancas ao coração: romances sentimentais e leitura hoje.

Instituição: Universidade Federal do Paraná.

Nível de qualificação: Mestrado em Letras – Área de Estudos Literários – Setor de

Ciências Humanas, Letras e Artes.

Ano de finalização: 2002.

Número de páginas: 227.

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito- Voz do leitor real fora de ambiente escolar

Resumo da obra:

O presente estudo se debruça sobre três focos complementares, visando


fechar o círculo em torno da produção, conteúdo e recepção dos romances
sentimentais editados pela Editora Nova Cultural, empresa líder de vendas
nesse segmento no Brasil. Com séries como Sabrina, Júlia e outras similares,
publicadas semanalmente desde 1978, a Nova Cultural mantém um público
cativo de milhares de leitoras. O primeiro passo para revelar os vários
elementos que constituem essa espécie literária foi identificar suas matrizes,
de modo a lançar luz sobre seus moldes atuais, incluindo os elementos
peritextuais que a Editora utiliza para cativar as leitoras e estimular a
demanda pelos romances. Depois, para perceber seu cunho ideológico, ao
menos parcialmente, foi feita uma leitura das imagens femininas nessas
formas literárias, segundo o horizonte da critica feminista. Por último, o
trabalho buscou mostrar, por meio dos depoimentos das leitoras, alguns dos
elementos de motivação na escolha dos romances sentimentais como leitura
e de que forma essa opção influencia no cotidiano delas. A intenção foi
promover um mergulho no universo do romance sentimental, apresentando-o
sob vários ângulos. Essa visão multidimensional revela que as possibilidades
oferecidas pela leitura às vezes levam a caminhos diferentes dos que se
poderia supor, no caso dos romances sentimentais. Mais que os textos em si,
a forma como a leitora se relaciona com eles faz com que o exame dos
romances sentimentais assuma novas perspectivas. Essa leitura aparece como
forma de liberação das exigências cotidianas, fazendo as leitoras assumirem
papéis ativos que fogem da aparente passividade propostas pela literatura de
entretenimento. Ignorando conscientemente os aspectos estereotipados dos
romances, as leitoras encontram os benefícios que a leitura pode trazer às
suas vidas.(MEIRELLES, 2002,vi)
238

b. Objetivos.

A pesquisadora fixou os seguintes:

• Observar como se apresentam hoje os romances sentimentais no Brasil e de

que forma eles constroem a “teia de sedução” que cativa leitoras.

• Identificar a ideologia presente nesses romances a respeito das personagens

femininas.

• Constatar o uso que estabelecem essas leitoras empíricas dos textos.

• Trazer para o universo acadêmico o debate sobre uma vertente ficcional que

mantém leitores cativos há dois séculos.

• Buscar perceber de que forma os mecanismos ideológicos e mercadológicos

influenciam a opção das leitoras pelos romances sentimentais.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Meirelles, ao fixar o corpus utilizado nesta pesquisa, explica que sua intenção

foi a de promover uma análise mais individualizada das personagens. Para isso, a

pesquisadora selecionou das séries consideradas mais significativas para a modalidade

leitura de entretenimento: Sabrina, Júlia e Momentos Íntimos, quatro exemplares

publicados entre os anos de 1998 e 2001.Foram eles:


239

Texto 1 - À Moda antiga! (Na arranged marriage) de Susan Fox, série Sabrina

Coleção Noivas. Originalmente publicado em 1998 pela Silhouette Books, divisão da

Harlequin Enterprises Limited, de Toronto, Canadá. Publicado no Brasil em 2000.21

Texto 2 – Um homem mais velho (Professor and the nanny) de Phyllis

Halldorson, série Júlia. Originalmente publicado em 2000, também pela Silhouette Books

e traduzido para a língua portuguesa em 2001.

Texto 3 – A Bela e a Fera (Taming the beast) de Amy J. Ftzer, Serie Momentos

Íntimos. Originalmente publicado em 2001 pela Silhouette Books e traduzido em língua

portuguesa, em 2001.

Texto 4 - Segredos do Amor (The acquired bride), de Tereza Southwick, série

Sabrina, coleção Noivas. Publicado originalmente em 2000 pela Silhouette Books e no

Brasil, em 2001.

A pesquisadora observa que apesar de ter fixado esses quatro exemplares, ainda

se refere na análise que produz a outros vinte e cinco exemplares. Ela justifica sua

escolha dizendo, a principio, que esse tipo de literatura mobiliza milhares de leitores, de

autores e muitas editoras. Também, por estarem inseridos na cultura popular de massa –

conceitos que discute em suas reflexões.

c.2. Tipo de leitor.

Meirelles observa o resultado de dez entrevistas realizadas com leitoras reais

encontradas a partir de uma publicação em jornal. Essa dizia respeito a criação de um

“Clube de leitoras de Romance” que visava a promoção de encontros regulares em que as

associadas pudessem trocar, emprestar romances sentimentais e se conhecerem. Por essa

21
Não consta nome de tradutor das obras indicadas.
240

estratégia ela chega a dez leitoras entre 16 e 58 anos de idade; com diversas profissões –

atendente de confeitaria, perita criminal, duas secretária, auxiliar de cozinha, auxiliar de

costura, auxiliar de enfermagem, secretária, bancária, balconista e uma que no momento

estava desempregada. Quanto à escolaridade, observa-se que as entrevistadas possuíam

níveis variados entre o 1º grau incompleto e o Superior.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito.

A pesquisadora coletou os dados da pesquisa por meio de entrevistas produzidas

mediante dois modelos de questionário registrado de forma escrita pelas participantes e

complementados durante os encontros realizados entre a pesquisadora e os sujeitos da

pesquisa. Meirelles apresenta o registro dos depoimentos, segundo ela, na íntegra.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Visto que o foco desta pesquisa é permeado pela discussão dos romances

sentimentais como um subgênero na Literatura, Meirelles inicia sua fundamentação teórica

apresentando o conceito de paraliteratura, literatura de entretenimento, literatura de

massas, vertentes literárias consideradas marginais, excluídas e diminuídas em relação à

critica literária. Foram utilizadas, nesse sentido, citações de Silvia Borelli (1996), Richard

Shusterman (1998), José Paulo Paes (1990) e Muniz Sodré (1978).

Ao buscar a definição de cultura de massa, Meirelles apóia sua pesquisa no

confronto entre os dizeres de Adorno e os de outros críticos que discordam dele quanto à
241

indústria cultural, como exemplo, Terry Eagleton (1991), Waldenyr Caldas (2000), Muniz

Sodré (1978) e Umberto Eco (1991). Adorno condena a indústria cultural, dizendo que

“considera-a importante enquanto característica da ideologia dominante, mas se recusa a

levá-la a sério ou ver nela algum ponto positivo. Em nome de seu papel social, questões

embaraçosas sobre sua qualidade, sobre sua verdade ou não-verdade, questões sobre o

nível estético de sua mensagem são reprimidas, ou pelo menos eliminadas, na dita

sociologia da comunicação.” (MEIRELLES, 2002, p. 11).

Na visão defendida pelos outros críticos, visão esta que permeia a pesquisa

realizada por Meirelles, essas questões merecem maior atenção dos estudos literários, pois

as encara como manifestações que estabelecem com o público alvo uma interatividade.

Tecendo uma série de imbricações sobre o assunto, a pesquisadora observa que “a

produção cultural de massa é feita “para” o povo, mas não a partir dele”. Além disso,

que “existe uma conexão entre a cultura de massa e o conceito de classes e ideologia

dominante”. (MEIRELLES, 2002, p. 13)

Diferenciando a literatura de entretenimento da literatura de proposta ou erudita,

a pesquisadora explica que “enquanto a segunda se propõe a oferecer uma visão original

do mundo, uma ruptura, na primeira a originalidade não tem tanta importância, apostando

na repetição para satisfazer ao maior número possível de consumidores”. (MEIRELLES,

2002, p. 15)

Outro destaque feito por ela é que a literatura de entretenimento se sustenta na

repetição de um modelo;, a renovação portanto se dá pela variação e não pela ruptura. Ela

observa que há uma divisão na literatura de entretenimento que pode ser classificada como

“popular” ou “média”. Concordando com José P. Paes, ela argumenta que “apenas a

literatura “média” de entretenimento pode estimular o gosto e o hábito da leitura,

adquirindo assim ‘o sentido de degrau de acesso a um patamar mais alto onde o


242

entretenimento não se esgota em si, mas traz consigo um alargamento da percepção e um

aproveitamento da compreensão das coisas do mundo’”. (MEIRELLES, 2002, p. 18)

Buscando discutir a leitura e o prazer provocado nessa atividade, Meirelles faz

opção por buscar as noções de valorização e experiência estética que podem ser aplicadas

ao tipo de leitura que propõe em seu trabalho. Para isso, utiliza em sua argumentação

inicialmente Roland Barthes - o criador da expressão “prazer do texto” - dizendo que “esse

julgamento é individual e que existe uma distinção entre o prazer e a fruição”.

Quanto aos romances por ela analisados, é possível encaixá-los como literatura

de entretenimento que teriam como objetivos “divertir, entreter, restituir e estabelecer com

o leitor uma relação de prazer, riso, medo, lágrimas, ansiedade e, fundamentalmente,

excessos - afetivos e emocionados – afloram, possibilitando também o resgate de

experiências” (MEIRELLES, 2002, p. 22).

Meirelles afirma, baseando-se nos críticos que citou, que “o conceito do que é

esteticamente bom ou ruim é relativo e muda com o tempo. Este está ligado a elementos

econômicos, sociais e políticos. Já a idéia de prazer, não.” (MEIRELLES, 2002, p. 13)

Sua explanação teórica ainda abrange a crítica voltada para a literatura

feminina, diferenciando três possíveis situações: a literatura destinada à mulher; a literatura

que utiliza a mulher-leitora, e a a última visão que diz respeito a mulher-pesquisadora. Por

esse não ser o foco de nossa pesquisa, não detalharemos aqui a argumentação feita por

Meirelles sobre as especificidades desse tipo de literatura, apenas registramos que, para ela,

“as leitoras dos romances sentimentais não têm uma leitura feminina no sentido crítico

apontado por Caroline Heilbrun (In: Cavendish, M. W. A Voz Embargada. 1996).” De

acordo com o material coletado pela pesquisadora, é possível afirmar que a maioria das

participantes do projeto aceita os estereótipos presentes nos textos destes romances sem

questioná-los. São, na sua visão “leitoras empíricas”.


243

Quanto às questões da recepção, diluídas nos capítulos 3,4 e 5, observamos que

não houve uma intenção de fixar a base teórica nos postulados da Estética da Recepção. Os

autores mais comuns, sempre presentes nas outras pesquisas, não aparecem explicitamente

citados no corpo do trabalho. Porém, podemos notar sua presença na argumentação e

análise dos dados lançados. Consta da bibliografia utilizada na pesquisa H. R. Jauss

(1994) e Regina Zilberman (1989). Mas o que se evidencia na leitura dessa é uma grande

quantidade de obras que analisam a questão da literatura como mercadoria, literatura de

massa, bem como a questão do gênero literatura feminina.

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

FOX, S. À Moda antiga! (Na arranged marriage).Série Sabrina Coleção Noivas.

Originalmente publicado em 1998 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin Enterprises

Limited, de Toronto, Canadá. Publicado no Brasil em 2000.22

HALLDORSON, P. Um homem mais velho (Professor and the nanny).Série Júlia.

Originalmente publicado em 2000, também pela Silhouette Books e traduzido para a língua

portuguesa em 2001.

FTZER, A. J. A Bela e a Fera (Taming the beast) Série Momentos Íntimos. Originalmente

publicado em 2001 pela Silhouette Books e traduzido em língua portuguesa, em 2001.

SOUTHWICK, T. Segredos do Amor (The acquired bride). Série Sabrina, coleção Noivas.

Publicado originalmente em 2000 pela Silhouette Books e no Brasil, em 2001.

22
Não consta nome de tradutor das obras indicadas.
244

B. Referências teóricas.

BORELLI, S. Ação, suspense, Emoção: Literatura e cultura de massa no Brasil. São

Paulo: EDUC: Estação Liberdade,1996.

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PAES, J. P. A aventura literária. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

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Tradução de Gisela Domschke. São Paulo: Editora 34, 1998.

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________. Comunicação do grotesco: Um ensaio sobre a cultura de massa no Brasil.

Petrópolis: vozes, 1983.

ZILBERMAN, R. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

________. Fim do livro, fim dos leitores? São Paulo: Editora SENAC, 2001.
245

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

O estudo proposto por Meirelles se fixa em três focos complementares, visando

fechar o círculo em torno da produção, conteúdo e recepção dos romances sentimentais

editados pela Editora Nova Cultural.

Segundo a pesquisadora, o “primeiro passo para revelar os vários elementos

que constituem essa espécie literária foi identificar seus matizes, de modo a lançar luz

sobre seus moldes atuais, incluindo os elementos peritextuais que a Editora utiliza para

cativar as leitoras e estimular a demanda pelos romances.” (MEIRELLES, 2002, p. 9)

Na seqüência, com a intenção de perceber o cunho ideológico desse tipo de

literatura, a pesquisadora propõe uma leitura das imagens femininas nessa forma literária,

segundo o horizonte da crítica feminista. Finalizando, ela procura mostrar, por meio de

depoimentos colhidos com dez leitoras, alguns elementos de motivação na escolha desses

romances como objeto de leitura, visualizando a forma pela qual essa opção influencia o

cotidiano dessas pessoas.

Avisa a pesquisadora que sua intenção nesse trajeto foi promover um mergulho

no universo da literatura, numa visão multidimensional, reveladora de possibilidades

diferentes no caminho da leitura desse tipo de livro. No entender de Meirelles, essa leitura

aparece como forma de liberação das exigências cotidianas, fazendo com que as leitoras

assumam papéis ativos que fogem da aparente passividade proposta pela literatura de

entretenimento.

A estrutura do trabalho se divide em seis capítulos, sendo que na introdução a

pesquisadora mostra como chegou ao tema da pesquisa, suas opções para condução da

reflexão, seus objetivos ao propor essa análise.


246

Segue, no capítulo dois, discutindo conceitos importantes relativos à cultura de

massa, paraliteratura e literatura de entretenimento; a questão do prazer e da literatura

feminina. Já no terceiro capítulo, propõe um panorama sobre os romances sentimentais

que vai do momento de sua aparição até os nossos dias. Nesse momento, ela também

elabora um quadro sobre os romances sentimentais da Editora Nova Cultural. Resgata a

palavra da Editora por meio de uma entrevista e faz considerações sobre esses dados,

evidenciando as questões do mercado editorial frente aos recursos utilizados para

conquistar seu público.

No quarto e quinto capítulos, Meirelles inicia uma reflexão sobre quatro

exemplares desse tipo de romance, atendo sua observação à ideologia e papéis sociais

presentes nos romances; a aparência física proposta para os personagens tanto no texto

quanto nas ilustrações e propagandas do material; as personagens femininas e as relações

com a família; o perfil das anti-heroínas.

No 6° capítulo, Meirelles fundamenta suas reflexões com os dados coletados nas

entrevistas e questionários propostos a dez mulheres, leitoras de romances sentimentais. A

forma como encontrou a população alvo da pesquisa foi bastante interessante. A

pesquisadora formou seu grupo de pesquisa por meio de um anúncio de jornal voltado para

possíveis participantes de um grupo de leitura de romances sentimentais. O grupo de

recepção foi formado por mulheres de idade entre 16 a 58 anos, com diversas profissões e

de níveis variados de escolaridade, do Ensino Fundamental incompleto ao Superior. Sua

reflexão focalizou a percepção das imagens femininas, a questão do lazer e prazer no gosto

da leitura e a leitura como um sonho em confronto com a realidade.

No 7° capítulo, finaliza sua pesquisa tecendo conclusões sobre a ambivalência

que permeia esse trabalho. Segundo ela, essa ambivalência – manipulação mercadológica e

uso que as leitoras fazem desse tipo de romance – é impossível de ser contornada.
247

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Ao concluir seu texto, Meirelles destaca dois pontos relevantes . São eles:

1º - Os romances sentimentais são fruto de um cuidadoso trabalho de

marketing, em que o objeto livro é dado como uma mercadoria programada para um

determinado consumidor.

2º - As estatísticas que apontam uma fatia considerável de leitores regulares

que gostam de ler, divulgam o material, formando assim uma rede de novos leitores num

país que tem um número bastante reduzido deles.

Refletindo sobre esses dados ela destaca que:

• As imagens femininas retratadas nesses textos são estereotipadas – Homens são

príncipes encantados que resolvem todos os problemas das “Cinderelas”

presentes nos textos – referência aos contos de fadas presentes na formação de

leitores.

• Os romances sentimentais não podem ser vistos unidimensionalmente – a

maneira como as leitoras se relacionam com tais romances, procurando a

produção de sentidos e significados, é um processo.

• Fazendo dos romances sentimentais o caminho para a dimensão do sonho, as

leitoras encontram neles também um contato com a palavra escrita, com a ficção

propriamente dita. Mais do que fuga da realidade, essas leituras contribuem

para pequenas mudanças do cotidiano, na busca de satisfação no plano real.

• O tempo de leitura destinado a esses romances estabelece, de certo modo, horas

de liberdade da rotina da casa, do trabalho e da própria televisão. Segundo a

pesquisadora, esse dado revela também, a conquista da liberdade por essas

mulheres tanto na escolha de seus atos, quanto na escolha do que lêem,


248

livrando-se, portanto, da crítica que classifica esses romances como “livrinhos

água-com-açúcar”.

Nas considerações finais, Meirelles afirma que não chegou a um “felizes para

sempre”, no sentido de apaziguamento de tensões. Segundo ela, seu trabalho não finaliza o

debate sobre essas questões, mas “promove um repensar sobre este objeto literário e

também mapear um terreno sinuoso e labiríntico, onde ao ultrapassar um obstáculo, nos

defrontamos com outro, e mais outro”. (MEIRELLES, 2002, p. 225)

A ambivalência que permeia a pesquisa não é uma fuga de posicionamento,

mas a constatação da “impossibilidade de um aliviante e definitivo ‘final feliz’” para as

hipóteses que levantou sobre a leitura de romances sentimentais na formação de leitores.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Meirelles realiza uma pesquisa teórico-aplicada em que traz para o mundo

acadêmico o debate sobre a literatura de massa, a literatura como produto de

entretenimento. Foi classificada como uma Pesquisa de Recepção/Efeito- Voz do leitor

real fora de ambiente escolar, pois visualiza como este gênero consegue se sustentar pela

repetição de um modelo com variações e não pela ruptura de expectativas.

A pesquisadora observa a recepção desse tipo de texto em dez leitoras entre

16 a 58 anos, com diversas atividades, nível sócio-econômico e de escolararidade

variados. Sua discussão parte das marcas textuais, portanto o efeito provocado no texto

para seduzir as leitoras. Ela identifica a ideologia presente nesses textos, evidenciando uma

literatura feita para mulheres e por mulheres.

Nos textos a autora constata a aceitação dos estereótipos pelas participantes do

projeto. Analisa os romances focalizando, portanto, as imagens femininas presentes nessa


249

forma literária segundo os horizontes da critica feminista. Nos depoimentos das leitoras

observou as seguintes figuras femininas: a mulher-personagem, a mulher-leitora, a mulher-

pesquisadora e a mulher escritora.

O resgate trazido pela pesquisadora sobre os romances sentimentais com base

dos folhetins vindos para o Brasil em meados de 1815 revela também a chegada das

mulheres brasileiras à leitura. Suas observações dos dados apresentados na recepção

apontam para um avanço na educação das mulheres no país, embora desvalorizem este tipo

de leitura dizendo que são sem importância e sem valor estético, portanto própria para as

mulheres. Nos textos analisados percebemos a exploração das virtuosas heroínas leitoras

do Romantismo – leitoras empíricas do séc. XIX.

Segundo a pesquisadora, histórias de amor com final feliz é uma receita

antiga da literatura de massa que proporciona catarse em suas leitoras. E que os romances

sentimentais são fruto de um cuidadoso trabalho de marketing.

Ao nosso ver, Meirelles atinge seus objetivos, visto que observa como se

apresentam hoje os romances sentimentais no Brasil e de que forma eles constroem a “teia

de sedução” que cativa leitoras. Além de identificar a ideologia presente nesses romances

a respeito das personagens femininas, mostra o uso que estabelecem essas leitoras

empíricas dos textos.

O principal mérito da pesquisa é trazer para o universo acadêmico o debate

sobre uma vertente ficcional que mantém leitores cativos há dois séculos, buscando a

compreensão dos mecanismos ideológicos e mercadológicos que influenciam a opção das

leitoras por esse tipo de leitura.


250

PESQUISA 18.

a. Dados de identificação.

Autor: Hércules T. Correa

Orientador: Prof. Dr. Maria das Graças Rodrigues Paulino

Título: Tempos e Espaços Culturais.

Instituição: Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais

Nível de qualificação: Doutorado - Programa de Pós-Graduação em Educação:

Conhecimento e Inclusão Social,

Ano de finalização: 2002.

Número de páginas: 283

Tipo : Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – horizontes e perspectivas.

Resumo da obra:

Este trabalho originou-se de uma investigação qualitativa – observação


participante e entrevista individual – com três grupos de sujeitos (pré-
adolescentes – alunos do ensino fundamental; adultos matriculados no ensino
supletivo e adultos universitários), que leram duas obras de autores de
nacionalidades e épocas diferentes: Indez do escritor mineiro Bartolomeu
Campos Queirós, publicado em 1985, e A guerra dos botões, do escritor
francês Louis Pergaud, publicado pela primeira vez em 1912.
Os dados foram discutidos a partir dos fundamentos teóricos da
Psicolingüística, da Estética da Recepção e da Sociologia da Leitura. O
objetivo geral foi verificar de modo os efeitos produzidos pela leitura desses
dois livros estão relacionados a condições sociais de formação de leitores, a
condições de produção, a propostas interlocutórias e aos modos de circulação
social dos textos.
Para isso, foi realizada uma pesquisa textual e intertextual, para configuração
do leitor-modelo das obras; uma pesquisa contextual (sobre as condições de
produção desses textos, a configuração de seus suportes e sua circulação) e
uma pesquisa de campo,com observação, acompanhamento e entrevistas de
leitores reais.
Os dados apontaram para uma recepção favorável a Indez e uma recepção
desfavorável ao livro A guerra dos botões, da parte dos leitores adultos – os
alunos do ensino supletivo e os universitários. Com relação aos alunos pré-
adolescentes, ocorreu o contrário, ou seja, houve uma recepção favorável ao
livro A guerra dos botões e uma recepção desfavorável a Indez.
A pesquisa possibilitou, também, compreender melhor o processo de
recepção das obras, no âmbito das leituras escolares: na experiência estética,
os leitores enfatizaram a katharsis. Outra questão identificada foi a estreita
relação entre leitura e aspectos sociais, éticos, religiosos e pragmáticos dos
leitores. (CORREA, 2002)
251

b. Objetivos.

O objetivo geral foi:

• Verificar de que modo os efeitos produzidos pela leitura desses dois livros estão

relacionados à: condição social de formação de leitores, condição de produção,

propostas interlocutórias e aos modos de circulação social dos textos.

Para realizar seu objetivo, o pesquisador utilizou-se de uma pesquisa textual e

intertextual, para a configuração do leitor-modelo das obras; uma pesquisa contextual e

uma pesquisa de campo, com observação, acompanhamento e entrevistas de leitores reais.

A pesquisa possibilitou, também:

• Compreender melhor o processo de recepção das obras no âmbito das leituras

escolares.

• Observar a estreita relação entre leitura e aspectos sociais, éticos, religiosos e

pragmáticos dos leitores.

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

O corpus literário utilizado para recepção foi composto por duas narrativas de

autores de nacionalidades e épocas diferentes:

− Indez, do escritor mineiro Bartolomeu Campos Queiroz, publicado em

1998.

− A guerra dos botões, do escritor francês Louis Pergaud, publicado pela

primeira vez em 1912.


252

c.2. Tipo de leitor.

O projeto se originou de uma investigação qualitativa – observação

participante e entrevista individual – com três grupos de sujeitos:

1. Uma turma de Português de um terceiro ciclo do Ensino Fundamental do

Centro pedagógico da UFMG, com alunos entre 11 e 12 anos;

2. Uma turma da disciplina Literatura Infanto-Juvenil II, do sétimo (e último,

de acordo com o currículo à época vigente) período do curso de Letras da Faculdade de

Filosofia, Ciências e Letras de Belo Horizonte – hoje Centro Universitário de Belo

Horizonte – UNI – BH, com alunos adultos;

3. Uma turma de Português do projeto de Educação Básica de Jovens e

Adultos – PEBJA – do Centro Pedagógico da UFMG, também alunos adultos no curso

supletivo.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

O corpus de recepção analisado nesta pesquisa foi formado por registros

diversos produzidos pelas três turmas pesquisadas. Correa delimita como método de coleta

de dados:

Turma de Ensino Fundamental Regular:

1. Observação das aulas ministradas pela professora, com produção de um diário

de campo descritivo e reflexivo;

2. Gravação em áudio de algumas das aulas e parte de outras – situações em que a

professora e os alunos estavam explanando, por exemplo;

3. Material produzido pelos alunos em sala de aula (trabalhos e exercícios);


253

4. Entrevista oral gravada em áudio, individualmente, como uma amostra de 6

alunos, escolhidos pelo pesquisador, em conjunto com a professora da turma,

conforme a observação das aulas e as entrevistas-piloto.

Turma de universitários – alunos de Letras.

1. Depoimentos de leitura escritos.

2. Seminários gravados;

3. Entrevista oral gravada em áudio, individualmente com uma amostra de 5

alunos escolhidos pelo pesquisador e professor da turma.

Turma de Ensino Fundamental Supletivo:

1. Observação de aula ministrada pela professora (seminário sobre os livros), com

produção de um diário de campo descritivo e reflexivo;

2. Material produzido pelos alunos (redações) sobre os livros lidos.

3. Entrevista oral gravada em áudio, individualmente, com uma amostra de 7

alunos escolhidos pelo pesquisador e pela professora da turma, conforme a

observação do seminário realizado.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Os dados presentes na tese de Correa foram discutidos a partir dos fundamentos

teóricos da Psicolingüística, da Estética da Recepção e da Sociologia da Leitura. O quadro

teórico observado por ele serviu de base, a princípio, para a produção do texto de mestrado
254

do pesquisador e deu origem às primeiras indagações que ele procurou responder em sua

tese. Esta pesquisa se fundamenta em autores tais como: Van Dijk e Kintsch (1983); Van

Dijk (1992); além de Coscarelli (1993); Eysenck & Keane (1994); Fodor (1983); Gardner

(1995); Giasson (1993); Lobato (1995); Rumelhart (1980); Singer (1984); Smith (1989).

Ainda, por um roteiro do desenvolvimento da Sociologia da Leitura no século XX,

observando algumas contribuições dos historiadores da leitura.

Foram conceitos discutidos em Teoria Psicolingüística da Leitura: o

reconhecimento de palavras ou acesso lexical; a identificação de estruturas sintáticas; a

produção de significados ou interpretação semântica; a construção de macroestruturas; a

integração de conhecimentos. Tais pressupostos teóricos foram fundamentados a partir M.

A. Gensbacher (1994), Kleiman (1989), Costa Val (1991), D`Onofrio (1995), Wellek &

Warren (1962), Paulino (1990), Zilberman (1982-89), H. R. Jauss (1979-84-94), Campos

(1999), Tothe (1980), Aguiar (2001), Lévy (1996), Iser (1996), Eco (1985-93-95), Manguel

(1997), Fish (1992), Hauser (1977), Leenhardt & Józsa (1982), Bourdieu (1979), Lahire

(1997), Cavallo & Chartier (1998), Machado (1997).

Em relação às teorias da leitura literária, Corrêa deu ênfase à importância às

concepções leitor nos estudos de literatura. Fundamentou suas idéias a partir da Sociologia

da Leitura, visto que esta oferece algumas contribuições importantes, entre elas as

fornecidas pela Estética da Recepção, citando W. Iser e R. H. Jauss.

Ao observar as questões relacionadas à formação do leitor, por meio da

discussão de algumas abordagens brasileiras da relação leitura literária na escola, Correa

desenvolve questões trazidas principalmente pelos textos: de Lajolo e Zilberman A

formação da leitura no Brasil (1996); de um artigo de Zilberman – “Literatura infantil e

ensino da literatura” em que a autora relaciona uma série de livros, artigos , dissertações e

teses originados de projetos e trabalhos desenvolvidos no Centro de pesquisas Literárias da


255

PUC – RS; sobre o método recepcional de Aguiar e Bordini (1993); de Eliana Yunes,

Glória Pondé e Sônia Salomão Khéde – Rio de Janeiro - a primeira delas com tradição de

trabalho em políticas públicas de fomento à leitura, como o PROLER – programa Nacional

de Incentivo à Leitura; o concurso “Leia Brasil” e a direção da Fundação Nacional do

Livro Infanto-Juvenil – FNLIJ, em atividades acadêmicas voltadas para a pesquisa em

literatura infantil, orientando trabalhos sobre a recepção de textos.

Em, Minas Gerais, Correa destaca a dissertação de mestrado, classificada por

ele como o primeiro trabalho em Letras que trata da recepção, de Maria Auxiliadora Pinto

Coelho, intitulada O leitor não-leitor: o texto como espaço de ruptura, do primeiro

semestre de 1985. Segundo o pesquisador, Maria auxiliadora utilizou como objeto literário

da recepção os livros A morte e a morte de Quincas Berro D´agua, de Jorge Amado;

Reflexos do baile, de Antônio Calado; Rosinha, minha canoa, de José Mauro de

Vasconcelos.

Também citou trabalhos sobre leitura produzidos pela Faculdade de Educação

a constar: A leitura na escola de 1º grau: gerando o desprazer no texto? Maria Terezinha

Saad Bedran(1988); Nem sapo, nem príncipe: uma leitura das leituras produzidas por

camadas sociais diferentes de Heliana M. B. Brandão (1991); Práticas e possibilidades da

leitura na escola, de Santuza Amorin da Silva (1997); Fora da escola e dentro dela: a

literatura na vida de seus leitores, de Rosa Maria Drummond Costa (1988); tese de

doutorado de Aracy Alves Evangelista, intitulada Escolarização da literatura entre

ensinamentos e mediação cultural: formação e atuação de quatro professoras, (2000);

Além desses, o pesquisador faz referencia a Magda Soares (1999); Graça

Paulino (RJ- 1990); Maria do Rosário M. Magnani (Campinas/SP – 1989); o livro de

Silvia Helena Borelli Ação Suspense e emoção – leitura e cultura de massa no Brasil

(1996); outros pesquisadores de São Paulo: Nelly Novaes Coelho e Edmir Perrotti, além
256

do grupo de pesquisa coordenado por Maria Alice Faria entre 1988 e 1990 que propiciou a

publicação dos livros: Narrativas juvenis: modos de ler (Faria (org), 1997) e Parâmetros

curriculares e literatura; as personagens de que eles realmente gostam ( Faria, 1999)

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

Queiroz, B. C. Indez. 8ª ed. Capa de Márcio Sampaio. Projeto gráfico de Paulo Bernardo

Vaz. Belo Horizonte: Miguilim, 1998. 96 p.

Pergaud, L. A guerra dos botões. 2ª ed. (Tradução de Geraldo Galvão Ferraz). São Paulo:

Ática,1997.

B. Referências teóricas.

AGUIAR, V. T. e et. al. (Coord.) Era uma vez... na escola. Formando educadores para

formar leitores. Belo Horizonte: Formato, 2001.

BRANDÃO, H. M. B. Nem sapo, nem príncipe: uma leitura das leituras produzidas por

camadas sociais diferentes. 1991. 235 p. Dissertação de Mestrado em Educação da

Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

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Dissertação de Mestrado em Letras de Faculdade de Letras da Universidade Federal de

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e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

Corrêa estrutura sua tese em cinco capítulos. Inicia-o com uma introdução que

versa sobre livros, leitura e leitores. Nela o autor defende a idéia da importância da leitura

de literatura entre outras apresentando o pensamento de alguns pensadores entre eles: Ítalo

Calvino, Jorge Luis Borges, Alberto Manguel, Otto Maria Carpeaux, além de algumas

pesquisas realizadas no Brasil sobre a questão da leitura. O resultado dessas pesquisas

acadêmicas e jornalísticas sobre leitura, aliados à pratica docente do pesquisador justifica


262

seu projeto sobre a necessidade de aprofundamento dos estudos de leitura literária. É

preocupação notória em seu trabalho a seguinte questão: “ de que modo os efeitos da

recepção de livros literários estão relacionados às condições sociais de formação de

leitores (dentre elas a escola) e às condições de produção, propostas interlocutórias e

modos de circulação dos textos?” (Correa, 2002, p.12)

No capítulo I, aborda as teorias da Leitura: Psicolingüística da leitura, Leitura

Literária e Sociologia e História da Leitura. No capítulo II, Correa apresenta algumas

questões relacionadas à formação do leitor, por meio da discussão de algumas abordagens

brasileiras sobre a relação entre leitura literária e escola; a discussão de dois trabalhos sobre

leituras do professor e também sobre depoimentos de alguns escritores sobre sua relação

com a leitura. Destaque especial para os trabalhos produzidos pelos grupos de pesquisa do

Rio grande do sul (Zilberman, Aguiar e Bordini); do grupo do Rio de Janeiro (Yunes,

Ponde e Khéde); do grupo de Minas Gerais ( Magda Soares e Graça Paulino); de São Paulo

– UNESP de Assis coordenado por Maria Alice Faria. Neste capítulo Corrêa apresenta

uma lista de trabalhos em nível de mestrado e doutorado produzidos por estes grupos.

Consta do capítulo III a pesquisa de campo em Literatura. Neste o pesquisador

aponta os pressupostos da investigação qualitativa em educação e justifica sua opção por

esse método de pesquisa em leitura literária. Ele afirma que, para os propósitos de sua

pesquisa, o leitor constitui ao mesmo tempo sujeito e objeto, uma vez que são as suas

leituras, as suas interpretações que constituem o centro de interesse. Outros detalhamentos

sobre as opções para o desenvolvimento da pesquisa de campo ainda estão presentes neste

capítulo que foi realizada com três turmas distintas: alunos de uma 5ª série do Ensino

Fundamental; alunos universitários do curso de letras; alunos do supletivo do Ensino

Fundamental. A coleta de dados foi realizada por meio de observação das aulas ministradas

pela professora da classe com a produção de um diário de campo descritivo e reflexivo;


263

gravação em áudio de algumas aulas em que a professora e os alunos estavam explanando

sobre as leituras realizadas; material produzido pelos alunos em sala de aula; entrevista oral

gravada individualmente, com uma amostra de 6 alunos, escolhidos pelo pesquisador, em

conjunto com a professora da turma, conforme observação das aulas e as entrevistas-piloto.

No capítulo IV o autor expõe seus motivos na escolha dos livros Indez de

Bartolomeu Campos Queiroz e A guerra dos botões de Louis Pergaud. Sua articulação

aborda o contexto de produção, circulação e legitimação das obras os escritores e o

contexto de produção, finalizando o capítulo com uma análise comparativa entre os dois

livros, observando suas aproximações e distanciamentos.

No capítulo V, Corrêa apresenta a descrição e análise dos dados da pesquisa

aplicada. Ao observar as diferentes leituras dos dois livros, constatou que houve uma

conclusão aparentemente contraditória entre os grupos participantes do projeto. Porém, isto

é, de certa forma, explicado quando o pesquisador diz que

...se, por um alado, cada leitor apresenta a sua leitura, com todas as suas
idiossincrasias, por outro lado, cada leitor pode ser visto como uma
categoria de leitor, um certo tipo de leitor, uma vez que ele não detém um
discurso apenas seu, mas um discurso que faz parte de uma formação
discursiva e, assim sendo, seu discurso é marcado por outros discursos.
Dessa forma, é que se percebe, em cada uma das turmas, uma certa
homogeneidade de leitura. (CORREA, 2002, p. 269)

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Entre outras constatações importantes, o pesquisador reafirma que há diferenças

entre conhecedor e consumidor, fruidor da literatura. Caberia à escola Fundamental e

Média formar fruidores de literatura e à Universidade, com seus níveis de graduação e pós-

graduação, formar conhecedores de literatura.


264

Em suas considerações finais, Corrêa não apresenta conclusões definitivas, visto

que se trata de questões complexas e polêmicas, mas argumenta sobre alguns pontos que

destaca como relevantes, arrolados no percurso de sua pesquisa.

Ao analisar a recepção dos textos pelas turmas já mencionadas, Correa tentou

produzir um “perfil de leituras” dos alunos entrevistados. Sua forma de coleta de dados

oportunizou respostas significativas além do “gosto ou não gosto de tal obra”. Ao analisar

tais dados, o pesquisador procurou considerar aspectos socioculturais da formação dos

sujeitos, como os seus repertórios de leitura, suas expectativas com relação aos livros

literários e alguns dados sobre condições socioculturais.

Quanto ao ensino da literatura, Corrêa observa um crescente empobrecimento

na escola que passa a utilizar manuais e antologias didáticas que impedem os alunos de

uma permanente fruição das obras. As relações entre a literatura e a escola não se

restringem apenas à seleção dos textos a serem trabalhados por ela, ou a métodos de

abordagem do texto literário, vão além disso. As condições de recepção do texto literário na

escola parecem diluir suas marcas especificamente estéticas. Assim, muitas vezes, a leitura

de um texto literário deixa de ser literária, para se tornar uma leitura informativa ou

formativa.

Segundo Corrêa seria necessário, então, uma educação estética para a realização

de um trabalho com literatura, seja ela a “alta literatura” ou a “literatura trivial”. A

formação da professora que irá trabalhar com a literatura ainda pressupõe, para realização

de um trabalho anterior à abordagem do texto literário em sala de aula, a aprendizagem de

maneiras de selecionar e indicar esses textos para os alunos.

Outro fator importante ressaltado por Corrêa é a discussão sobre o cânone

literário. Ele constata que existem dois cânones valorizados atualmente que denomina

como “cânone da elite” e o “cânone escolar”. O primeiro promovido por críticos e


265

especialistas em Literatura, já o segundo composto das obras que de fato circulam nas

escolas que correspondem ao gosto da clientela, ou, em muitos casos, ao gosto dos

profissionais que o dissemina. Não se pode esquecer que os professores estão expostos a

um forte esquema de marketing editorial.

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Correa realiza uma pesquisa teórico-aplicada em que verifica a configuração de

um leitor modelo nas obras e observa como seus leitores reais as recebem. Portanto, seu

texto foi classificado como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real –

horizontes e perspectivas, visto que verifica de que modo o efeito produzido pela leitura

dos dois livros propostos está relacionado à condição social de formação de leitores,

condição de produção, propostas interlocutórias e aos modos de circulação social dos

textos.

É mérito de sua pesquisa o destaque da diferença entre o conhecedor e o

consumidor fruidor de literatura. O primeiro, de acordo com pesquisador, teria o papel de

critico,é o leitor que além de ser consumidor da literatura, ser um leitor experiente adquiriu

um preparo especifico para sua função. Já o segundo, é aquele que lê literatura levado por

suas necessidades ou por seus gostos.

O autor busca caracterizar um leitor-modelo explicando que todo texto solicita

a presença de um leitor para preencher suas lacunas. Em sua reflexão evidenciou aspectos

da linguagem e dos personagens que chamaram a atenção dos leitores. Afirmou que o

conceito de horizonte de expectativas da Estética da Recepção aproxima-se do conceito de

conhecimento prévio da Psicolingüística e mostrou a existência de diversos horizontes de

expectativas entre os sujeitos com os quais faz sua pesquisa. Correa aponta tal fato como
266

uma dificuldade, visto que nas turmas observadas se verificavam níveis e gostos de leitura

diferenciados, embora fossem indivíduos inseridos em contextos socioculturais

semelhantes. Seu enfoque portanto revela relações entre leitura e aspectos sociais, éticos ,

religiosos e pragmáticos dos leitores. Sua pesquisa acrescenta para a discussão sobre o tema

que, mesmo se tratando de leitores de uma mesma classe social , mesma idade, podem

apresentar níveis de leitura bem diferentes e que cada um recebe a obra de um jeito. Nos

depoimentos de recepção foi possível perceber a experiência de leitura dos grupos

participantes. O pesquisador afirma que cada leitor apresenta a sua leitura, com todas as

suas idiossincrasias. Por outro lado, cada leitor pode ser visto como uma categoria de leitor,

um certo tipo de leitor, uma vez que ele não detém um discurso apenas seu, mas que faz

parte de uma formação discursiva marcada por outros textos. Correia reitera que o prazer

da leitura se dá no momento de identificação leitor e obra, e isso acontece quando esta

atende o horizonte de expectativas.

Já a rejeição se dá pelo estranhamento que rompe com o horizonte de

expectativa do aluno. No entanto, o autor afirma que é o estranhamento que provoca no

leitor uma sensação de conhecimento novo, adquirido e o prazer da leitura se estabelece

novamente.

É constatação da pesquisa que encaminhar a fruição da literatura seria uma

responsabilidade da Escola Fundamental e Média. Já Universidade teria a tarefa de

desenvolver conhecedores de literatura.


267

PESQUISA 19.

a. Dados de identificação.

Autor: Silvia C. G. Garcia.

Orientador: Prof. Dr. Antonio Manoel dos Santos Silva.

Título: A poesia na escola: viva a poesia!

Instituição: Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas da Universidade

Estadual.Paulista “Julio de Mesquita Filho” – UNESP – Campus de São José

do Rio Preto.

Nível de qualificação: Doutorado em Letras – Área de Concentração Literatura em Língua

Portuguesa.

Ano de finalização: 2002.

Número de páginas: 270.

Tipo: Pesquisa de Recepção – processo de formação de leitores.

Resumo da obra:

Estuda-se a situação da poesia na escola, e ressalta-se o real


conhecimento e interesse das crianças pelo texto poético. Para isso, como
fonte indutora ou inspiradora, foram utilizados dois livros e uma
experiência. Os livros são Usos e abusos da literatura na escola, de
Marisa Lajolo e Homo Ludens, de Johan Huizinga; e A experiência
docente em salas de Educação Infantil e Ensino Fundamental de 1ª a 4ª
séries.
Como pesquisa de campo, foram visitadas seis escolas da cidade de
São José do Rio Preto. Questionários foram entregues a todos os
professores dessas escolas, realizaram-se entrevistas com crianças e
colheu-se produção de textos de algumas delas. Essa produção teve como
base os textos de “poesia infantil” criados por Cecília Meireles, Elias
José, José Paulo Paes e Vinícius de Moraes.
A pesquisa apresenta resultados que fornecem subsídios aos
professores que trabalham com a poesia infantil no Ensino Fundamental
de 1ª a 4ª séries e que procuram resgatar e explorar o potencial poético
dos alunos, a capacidade de estes interpretarem e recriarem textos, o
desenvolvimento do gosto pela leitura. Também revela que a poesia
trabalhada em sala de aula não é unicamente a que está contida no livro
didático e que vem ganhando cada vez mais seu espaço nas classes de
Ensino Fundamental de 1ª a 4ª séries. (GARCIA, 2002)
268

b. Objetivos.

O trabalho teve como meta principal apresentar resultados que pudessem

fornecer subsídios aos professores que trabalham com a poesia infantil no Ensino

Fundamental no sentido de resgatar e explorar o potencial poético dos alunos, sua

capacidade de interpretação e recriação de tais textos, bem como o desenvolvimento do

gosto pela leitura. Também, revelar que a poesia trabalhada em sala de aula não é

unicamente a que está contida no livro didático.

Para atingir estes objetivos principais, a pesquisadora fixa os seguintes alvos:

1. Analisar poemas dirigidos ao público infantil com ênfase sobre os


elementos e procedimentos que põem em relevo a função lúdica:
2. Caracterizar os modos de expressão comuns à função lúdica e à
função poética: os elementos formais da poesia e as estruturas de jogo;
3. Delimitar os limites expressivos da persuasão do lúdico e do poético
tendo em vista o rendimento pedagógico do texto: poesia como
instrumento educativo e poesia como expressão autônoma – o exercício da
construção e da criação como educação;
4. Buscar o esclarecimento sobre o rendimento pedagógico do texto
poético: ação do professor, recepção da criança, passividade e ação,
construção artística e construção do conhecimento;
5. Esclarecer como a criança compreende o funcionamento do sistema
gráfico e representativo da língua escrita;
6. Elaborar e explorar alternativas pedagógicas que conduzam a um
enriquecimento dos vários aspectos do desenvolvimento infantil por meio
da poesia;
7. Produzir instrumentos para mudança das práticas educacionais
calcadas na imposição da Escola (´desescolarizar a poesia`) ;
8. Estimular a circulação de idéias e o imaginário das crianças por
meio da linguagem poética.
(GARCIA, 2002, p.11)

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

O trabalho propõe o estudo da situação da poesia na escola. Para tanto foram

utilizados como corpus literário textos dos poetas que costumam aparecer com mais
269

freqüência nas salas de aula do Ensino Fundamental entre eles foram escolhidos quatro que

são: Cecília Meireles, Elias José, José Paulo Paes e Vinícius de Moraes.

c.2. Tipo de leitor.

A pesquisa abrangeu seis escolas de São José do Rio Preto, sendo duas delas

da rede particular de ensino e quatro da rede pública municipal. A pesquisadora contou com

o depoimento de 82 professores da cidade que ministravam aulas no Ensino Fundamental

da 1ª à 4ª séries. O projeto contemplou 24 salas de 1ª séries, 18 salas de 2ª séries, 19 salas

de 3ª série e 21 salas de 4ª série.

Quanto aos alunos participantes da pesquisa, a pesquisadora explica que

realizou entrevistas com 105 crianças, escolhidas aleatoriamente dentre de cada escola.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Ressaltando o real conhecimento e interesse das crianças pelo texto poético, a

pesquisadora propôs visitas a seis escolas da cidade de São José do Rio Preto. Nestes

encontros coletou o corpus de recepção por meio de:

− Um questionário para coleta dos depoimentos dos professores;

− Entrevistas com as crianças selecionadas. Estas foram gravadas em

vídeo, numa sala reservada pela coordenação das escolas, durante o

período normal de aula, individualmente.

− Ao longo da pesquisa, foram coletadas produções de alunos reproduzidas

em sua forma original, respeitando-se a expressão lingüística de seu

emissor.
270

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Para realização de seu intuito, Garcia segue como fonte inspiradora os

postulados de Marisa Lajolo (1982) e Johan Huizinga (1971), bem como sua experiência

docente em salas de Educação Infantil e Ensino fundamental em 1ª a 4ª séries.

Seguindo os pressupostos apresentados em Lajolo, a pesquisadora constrói um

breve panorama da história da literatura para crianças no final do século XIX até final do

século XX, procurando situar, sempre que possível, a poesia. Para isso, vai entrelaçando os

dizeres de Lajolo com outros autores tais como: Lígia Cademartori (1986); Graça Paulino

(1998); Fernando de Azevedo (1948); Lourenço Filho (sem citação de fonte); Renato de

Almeida (In: Afrânio Coutinho s/d); Leonardo Arroyo (1968), Cecília Meireles (1979)

Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1988) Fúlvia Rosemberg (1985) Nelly Novaes Coelho

(1995). Maria da Glória Bordini (1986); Elias José Souza (1990); Renato de Almeida

(1971);

Garcia evidencia a trajetória da poesia utilizada com fins educacionais

exemplificando sua reflexão com Olavo Bilac. Segue assinalando fatos importantes sobre

a produção literária para crianças nas décadas de 30 a 80. Observa que houve um vazio na

produção de poesia específica para crianças entre o final do século XIX até os anos 60 do

século XX. Mas não deixa de acentuar o fato de a poesia nos anos 80 ter alcançado um

espaço maior no mercado editorial, fato comprovado por uma lista de escritores voltados

para o gênero e público até o ano de 2001.

Quanto ao ensino de literatura voltado para a poesia, Garcia coloca a poesia

como um jogo, como magia. Ela fundamenta seus pensamentos citando textos poéticos de
271

vários autores entre eles os utilizados como corpus literário deste projeto. Além de

Huizinga (1971) que corrobora a premissa da poesia como um jogo, a pesquisadora cita

Marina Marcondes Machado (1998) e Marly Amarilha (1997).

No quinto capítulo, ao se referir aos modos de recepção: passiva e ativa, Garcia

argumenta sobre a diferença de linguagem entre as crianças de estratos sociais diferentes e

a necessidade de a escola organizar essas diferenças para realizar adequadamente seu

trabalho. Mostra como João Wanderlei Geraldi (1985) considera a linguagem como um

“lugar de interação humana”. Tenta distinguir o que ela entende por recepção passiva e

ativa observando, de certa forma precipitadamente, a questão dos vazios dos textos.

Segundo a pesquisadora, na recepção passiva “o aluno não reage, não questiona”

Não notamos neste trabalho nenhuma referência bibliográfica voltada para os

estudos da Estética da Recepção. A pesquisadora fixa seu ponto de reflexão nas questões

relativas ao ensino de literatura da poesia para crianças. Tal ausência chama a atenção, por

tratar-se de uma pesquisa que trata da recepção de textos poéticos.

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

(vários poemas)

B. Referências teóricas.

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273

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

O trabalho de Garcia foi estruturado em onze partes, sendo que na primeira

encontramos considerações gerais sobre a pesquisa e seus objetivos já transcritos. Na

décima encontramos referências bibliográficas utilizadas e no último, como anexos – fotos

sobre o projeto. O desenvolvimento do texto se compõe, portanto, de sete capítulos (do

segundo ao oitavo) e Garcia apresenta suas conclusões no nono capítulo.

Seguindo a estrutura do texto, o leitor encontra inicialmente um panorama da

história da literatura para crianças no final do século XIX até final do século XX,

procurando situar a poesia neste contexto. A pesquisadora segue destacando algumas ações

existentes na política educacional brasileira em relação à utilização do livro didático nas

escolas. Analisa o papel ideológico das poesias infantis presentes, utilizadas como material

pedagógico pelos docentes.

Em “Jogo e Magia” – título de seu terceiro capítulo, Garcia lança ao leitor um

sério questionamento: “A poesia está morta?”. Na seqüência de seu texto ela passa a

defender a idéia de que a poesia nunca esteve morta, mas “resiste, se renova, e está além

da seriedade, na região do sonho, do encantamento, do riso, que definitivamente, não

combina com a morte.” (GARCIA, 2002, p. 82). Para isso apresenta os pressupostos de

vários escritores e teóricos, tais como: Carlos D. de Andrade, Zélia Machado, Henriqueta

Lisboa, José Paulo Paes, Johan Huizinga, Lígia Cadermatori, Nelly N. coelho, Maria

Antonieta A. Cunha, Edmir Perrotti, entre outros.

Reconhecendo os percalços pelos quais passam professores e alunos no processo

de ensino aprendizagem da leitura e escrita, Garcia defende a necessidade de se propor um

projeto de poesia que de fato produza uma mudança qualitativa nos resultados hoje

presentes nas escolas. Ela enfatiza também a distinção entre leitores passivos e ativos
274

destacando o papel da escola enquanto mediadora de conhecimentos. Em suas palavras “...

nenhuma recepção ativa prospera em pedagogias monolítica ... a postura dialógica, a

incorporação das experiências de vida e a mediação constituem pilares metodológicos

dessa mudança que implica tornar o aluno um sujeito real da recepção ou da leitura.”

(GARCIA, 2002, p. 97).

Após a apresentação de toda essa base teórica, Garcia passou a descrever sua

pesquisa de campo. Seus principais questionamentos foram: “Como acontece o texto

poético em sala de aula? Qual a situação do docente com este texto em mãos? Como os

alunos o recebem?” Para conseguir dados que os respondessem Garcia passou a visitar

escolas particulares e públicas da cidade para colher dados com os professores, via

questionários aplicados, com os alunos por meio das entrevistas , bem como observando o

desenvolvimento de atividades de leitura de reescrita e produção de poemas em sala de aula

com o intuito de coletar produções textuais das crianças das escolas pesquisadas.

No capítulo “Poesia como instrumento formativo”, a pesquisadora apresentou

Cazuza, de Viriato Correa, para argumentar que a escola não deve ser autoritária em

relação às atividades de leitura. E passou a apresentar propostas voltadas ao trabalho com o

texto poético

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Garcia constatou que a poesia infantil para crianças foi extremamente limitada,

pouco valorizada e muito pouco editada. A escassez desse material, aliada à pobreza dos

temas, soma-se ao despreparo dos professores quanto à abordagem do texto poético em

sala de aula. Ela concluiu que a poesia oferecida às crianças até o início do século tinha o
275

intuito de passar normas e padrões de bom comportamento, sendo assim utilizadas nos

livros como instrumentos pedagógicos e não como objetos de arte.

Esse quadro se altera, na concepção da pesquisadora, com a poesia modernista,

embora isso só ocorra após os anos 60. Em seus dizeres “a poesia modernista não só

rompeu com a lógica tradicional e sua linguagem, como também passou a explorar as

virtualidades da matéria verbal: o ritmo, a sonoridade das palavras e o ludismo”.

(GARCIA, 2002, p.73).

Há que se fazer menção às poesias presentes no corpo do trabalho

exemplificando cada momento registrado. Observando as produções realizadas pelas

crianças em atividades realizadas durante sua pesquisa, Garcia descreve alguns trabalhos

de reescrita e recriação realizados, exemplificando-os com textos dos alunos.

Na análise dos dados , Garcia percebe que a fruição de poesias na escola

continua dependente da instituição escolar que, por sua vez, ainda se utiliza do livro

didático para sua divulgação. Na contramão do senso comum, constata que este gênero

vem ganhando espaço tanto editorial quanto nas salas de aula, embora ainda que

modestamente neste último espaço. Sua análise fundamenta-se no rastreamento feito pela

pesquisadora da evolução da literatura infantil brasileira. Por meio dos escritores citados,

ela observa que estes são de fundamental contribuição para a melhora da qualidade da

produção literária nas últimas décadas do século passado. No entanto, segundo sua visão

“muito há que se fazer” tanto referente ao discurso, quanto a prática pedagógica. Também,

a produção científica deve continuar procurando alternativas para viabilizar o trabalho

mais eficiente com a poesia nas escolas.


276

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Garcia realiza uma pesquisa teórico-aplicada em que procura focalizar as

poesias que aparecem nos livros didáticos das escolas. Sua intenção é fornecer subsídios

aos professores que trabalham com a poesia infantil no Ensino Fundamental, no sentido de

resgatar e explorar o potencial poético dos alunos, sua capacidade de interpretação e

recriação de tais textos, bem como o desenvolvimento do gosto pela leitura. Também quer

revelar que a poesia trabalhada em sala de aula não é unicamente a que está contida no livro

didático. Foi classificada como Pesquisa de Recepção – processo de formação de

leitores.

Sua pesquisa é fruto de doze anos de observação da prática docente da

pesquisadora em que sistematiza reflexões em torno da poesia para crianças e sua

utilização em sala de aula. Portanto, fica mais preocupada com a questão pedagógica.

Analisa a poesia do ponto de vista do jogo e da magia e visualiza em sua análise o efeito,

embora não o explore profundamente.

Garcia aborda a questão da decodificação e interpretação de textos poéticos.

Não centra sua atenção sobre nenhum texto em especial, utiliza vários exemplos de

textos que aparecem nos livros, observado que são de natureza diversa porque seus

autores se movem por poéticas distintas. E que o uso dos mesmos em sala, na maioria

das vezes, é intuitivo, sem fundamentação teórica. Coloca a escola e, conseqüentemente o

professor, como responsáveis pelo incentivo à leitura e como provocadores do

desenvolvimento da habilidade compreensão e interpretação de textos não apenas

literários.

A pesquisadora aborda a recepção de textos em duas categorias:

recepção ativa e recepção passiva, visualizando sempre o leitor real. Categorias


277

discutíveis porque apresenta o leitor passivo como um aluno que não reage, não

questiona, não completa vazios propostos pelo texto poético. Nesse momento, está

discutindo o tipo de leitor e as formas de recepção do texto e utilizando a teoria da

Estética da recepção portanto, mesmo que não faça menção a isso. Seu texto defende

a leitura ativa, interativa participativa do aluno e aborda a participação pedagógica

no processo dessa recepção ativa. Os documentos de recepção foram: um

questionário, reescritas e produção de textos poéticos.


278

PESQUISA 20.

a. Dados de identificação.

Autor: Eliane Ap. G Ferreira.

Orientador: Prof. Dr. Benedito Antunes.

Título: A leitura dialógica e a formação do leitor.

Instituição: Faculdade de Ciências e Letras de Assis – UNESP.

Nível de qualificação: Mestrado em Literaturas de Língua Portuguesa, na linha de

pesquisa de Literatura e Ensino.

Ano de finalização: 2003.

Número de páginas: 536.

Tipo: Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – questões pedagógicas.

Resumo da obra:

O trabalho é resultado de uma pesquisa, desenvolvida durante três anos ,


direcionada para o ensino de literatura e para a formação do leitor no
âmbito escolar. A partir do desenvolvimento dessa pesquisa, pôde-se
realizar um levantamento do repertório de obras lidas, no período de 1998
a 2000, por alunos de 5ª, 6ª e 7ª séries, bem como diagnosticar quais são
as consideradas por eles como atraentes. Entre as consideradas
atraentes,analisou-se nesta dissertação a obra A mina de ouro, de Maria
José Dupré, eleita na modalidade opcional de leitura. A análise objetivou
detectar tanto a recepção desta obra pelos alunos quanto o seu horizonte
de expectativa. Concomitante às obras eleitas pelos alunos, desenvolveu-
se um trabalho embasado nos princípios construtivo-interacionistas,
voltado para a leitura de textos diversos de diferentes autores, com o
objetivo de lhes possibilitar a ampliação de seu horizonte de expectativa.
(FERREIRA, 2003, p. 535)

b. Objetivos.

Seus objetivos principais foram:

• Analisar cientificamente o fenômeno da leitura e reavaliar o papel do ensino da

literatura enquanto formador de leitores.


279

• Compreender como se dão as eleições das obras no âmbito escolar. E, entre as

eleitas, quais são as preferidas pelos alunos.

• Detectar e analisar o que nas obras escolhidas pelos alunos as torna atraentes.

• Detectar outros textos que dialogam com a obra escolhida.

• Analisar se o desenvolvimento de um trabalho construtivo baseado na oferta de

textos diversos, poderia proporcionar a ampliação dos horizontes de

expectativas dos alunos.

• Verificar se, por meio da leitura, poderia instaurar o diálogo em sala de aula e

colaborar para o desenvolvimento da reflexão crítica dos alunos.

• Detectar o efeito produzido pela obra escolhida nos alunos leitores. Observando

quais são os conceitos prévios dos alunos ao lerem tal texto e a relação

dialógica que estabelecem com outros textos.

Para tanto, Ferreira realizou seu projeto de forma dialética que se constrói por

meio da cooperação e da crítica. Além dos objetivos já citados, também pretendeu:

• Romper com a educação tradicional e contraditória.

• Buscar, ao questionar os alunos sobre as obras, a compreensão destas por eles

e a verbalização do sentido apreendido.

• Mostrar que a leitura permite um discernimento do mundo e um

posicionamento perante a realidade.

• A contribuição para a discussão, reflexão ou avanço do debate acerca da

formação do leitor.
280

c. Material.

c.1. Tipo de texto abordado.

Ao longo de três anos, Ferreira catalogou leituras de seus alunos por meio de

um “passaporte do leitor” baseado em observações de Richard Bamberger (1995). O

resultado das escolhas foi catalogado por ano e transformado em tabelas.

A pesquisadora optou por trabalhar com a narrativa ficcional, privilegiando

textos de maior estofo ou densidade em três categorias assim denominadas:

− Leitura opcional - livre escolha dos alunos.

− Leitura proposta pela professora.

− Leitura opcional escolhida entre obras de um autor indicado pela

professora.

Dessa forma, Ferreira chegou a um levantamento de 200 obras catalogadas

durante três anos, sobre diversos autores que foram distribuídas nas categorias de leitura

anteriormente descritas. Entre essas detectou por um sistema de classificação combinado

entre ela e os alunos três obras, sendo cada uma pertencente a uma das categorias fixadas.

A pesquisadora verificou que analisar as três não seria impraticável. Foi então que chegou

as obras eleitas pelo maior número de alunos como a mais atraente em cada modalidade.

Como resultado chegou :

1 - A mina de ouro, de Maria José Dupré;

2 - Haryy Potter e a pedra filosofal, de J. K. Rowling;

3 - Corda Bamba, de Lygia B. Nunes.


281

Novamente a pesquisadora realizou novo recorte fazendo opção pela obra que

pertencia à modalidade “mais democrática,” narrativa infanto-juvenil, classificada pela

pesquisadora na categoria Leitura Opcional, livre escolha dos alunos. Portanto, ela se

deteve à análise de A mina de ouro de Maria José Dupré (1946),

c.2. Tipo de leitor.

Ferreira acompanhou um grupo de alunos, leitores reais, por 4 anos, desde a 5ª

até a 8ª série do Ensino Fundamental de uma escola particular Colégio Santa Maria Anglo

Xereta, Sociedade Pioneira de Ensino do município de Assis/SP.

Optou por realizar sua pesquisa em uma escola particular com o intuito de

desmistificar esse espaço. De acordo com a pesquisadora, “...acredita-se que somente a

escola pública propicia o convívio com as diferenças, com as carências, provoca desafios

que podem ser incentivadores para a leitura.” (FERREIRA, 2003) No entanto, ela afirma

que em 1998 – ano em que se iniciou essa pesquisa – a realidade da escola indicada era

bastante diferente da ideal, contando com alunos de classes sociais variadas, fator

ressaltado por Ferreira.

c.3. Tipo de documento referente à recepção e/ou ao efeito analisado.

Informa a pesquisadora, que o corpus de recepção da pesquisa foi resultado

“de quatro anos de observações, catalogações, análises, reflexões, leituras e pesquisas

relacionadas à formação do leitor e à eleição de obras para leitura no âmbito escolar”.

(FERREIRA, 2003).
282

Seu principal instrumento de coleta de dados foi um “passaporte do leitor” com

anotações realizadas pelos próprios alunos e ajuda da professora-pesquisadora quando

solicitada, nas duas aulas semanais destinadas à disciplina de Literatura ministradas ao

longo dos quatro anos. Tal instrumento foi inspirado nas observações de Richard

Bamberger (1995) com base numa experiência efetuada no laboratório de leitura da

Associação de Pesquisa Científica de Chicago.

Além desse, Ferreira colheu dados por meio de entrevistas com alguns dos

sujeitos da pesquisa, relatos de leituras produzidos bimestralmente em sala de aula,

questionários aplicados voltados às questões da leitura individual, compondo um perfil de

seus leitores com informações do tipo: material que dispõe para ler em casa; ambiente de

leitura. As anotações de todo o processo realizado durante os três anos também foram

analisadas.

d. Base teórica e bibliografia destacada.

d.1. Conceitos desenvolvidos.

Após descrever seu projeto, instrumento de coleta de dados o passaporte da

leitura, perfil da clientela, Eliane lançou um histórico do projeto e, nesta parte começa a

decidir caminhos para a análise dos dados que estava coletando. Ela avisa ainda na

primeira parte do capítulo Optando por saídas, que sua pesquisa recaiu sobre princípios

contrutivo-interacionistas, baseados nos pressupostos teóricos de Piaget e sócio-

interacionista de Vygotsky. Segundo ela, “estes princípios deram origem à hipótese

central que norteou o desenvolvimento da ação pedagógica, ou seja, que quando aplicados
283

ao ensino-aprendizagem de literatura, podem favorecer a formação do leitor crítico,

autônomo e atuante em sala de aula” (FERREIRA, 2003, p. 80).

Para retomar e confrontar estas duas vertentes – Piaget e Vygotsky – a

pesquisadora lança mão dos autores: Solange J. e Souza & Sônia Kramer (1991); José

Antônio Castorina (1997); Hubert Lepargneur (1972). Fixando o cenário no final do

século XIX e início do XX, ela procura mostrar como a psicologia, a teoria literária e a

lingüística foram sofrendo alterações por meio dos dizeres de Luís C. M. Figueredo

(1991); Marta Kohl de Oliveira (1998); Mário Sérgio de Vasconcelos (1995); L. S.

Vigotsky (1991-1998).

Partindo do pressuposto de que todos os alunos, independente de raça, sexo e

condições sócio-econômicas, que participam efetivamente de um processo de construção de

conhecimentos pela leitura, têm possibilidade de sucesso, Eliane tenta observar os motivos

que justificariam fato contrário no início do ano de 1998 com os nas salas de aula das 5ª

séries A e B.

Ela aponta como um dos possíveis indicadores a forma como se tratava o

ensino da literatura, focalizando o papel do professor como um mediador de leituras. A

partir dessa visão construtiva-interacionista, a pesquisadora inicia uma reflexão sobre a

concepção de texto, de leitor, sala de aula, escola, ensino de literatura e o papel do

professor, fundamentando seus pontos de vista a partir de Benedito Antunes (1998);

Mikail Bakthin, traduzido por Michel Lahud e Yara F. Vieira (1995); Diana P. de Barros e

José Luiz Fiorin (1999); Italo Calvino, tradução de Nilson Moulin (2000); Antonio Candido

(1985-95); Roger Chartier, tradução de Cristiane Nacimento (1996); Jean Foucambert,

tradução Bruno Charles Magne(1994); Jacqueline Held (1980); Cyana Leahy-Dios (2000);

Jean Piaget, Tradução Profª M. A. M. D´Amorim (1991); Ezra Poud, Tradução Augusto de
284

Campos e José Paulo Paes (1990); Maria Thereza Rocco (1992); Malu Zoega de Souza

(2001).

A experiência de recepção se concentrou principalmente nos dados obtidos a

partir do passaporte de leitura idealizado a partir do que orienta Richard Bamberger (1995).

As reflexões propostas nesta parte se baseiam na tese de doutorado de João Luís C. T.

Ceccantini (2000); Paulo Freire (1991); Yves de et al La Taille (1992); Maria Helena

Martins (1994); Jean Piaget (1973).

Na segunda parte do trabalho, Eliana analisa as obras eleitas, pelos conceitos

de ontogêneses/filogênese de Piaget de a. Ela explica que a construção do conhecimento

pelo aluno retoma a história da evolução do conhecimento científico na humanidade como

se fossem aspectos complementares de um processo.

A partir da lista de obras escolhidas pelos alunos, ela desenvolve sua análise

com o objetivo de contextualizar tais obras na literatura infantil e juvenil brasileira e para

isso utiliza entre outros autores Regina Zilberman e Marisa Lajolo (1988-93); Novamente a

tese de doutorado de Ceccantini; Hans Robert Jauss (1994); Laura Sandroni (1995); Regina

Zilberman (vários textos).

Em seguida a pesquisadora analisa o corpus literário escolhido, procurando

observar o que as torna atraente para os alunos participantes da pesquisa. Ao concentrar

sua atenção aos aspectos da recepção propriamente dita, utiliza, para fundamentar seu

pensamento, os pressupostos teóricos da Estética da Recepção, sustentados por Wolfgang

Iser, In: Luiz Costa Lima (1979); Hans Robert Jauss, traduzido por Sérgio Tellaroli

(1994)

A dissertação de Ferreira está fundamentada em alguns pressupostos. Para a

primeira parte, Ferreira se refere:

− À concepção de aluno enquanto sujeito social e histórico.


285

− Às contribuições de Piaget e Vygotsky.

− Ao papel dos professores e pedagogos que adotam uma posição

construitivo-interacionista em sala de aula.

− Às inesgotáveis contribuições de diversas áreas do conhecimento que

possuem como objeto o estudo do ser humano: Antropologia, sociologia,

Psicologia, Lingüística, Filosofia, etc.

Já na segunda parte, a pesquisadora se refere:

− À concepção de autor enquanto sujeito social e histórico.

− À compreensão do que é dado a ler ou a entender enquanto articulação

no interior de uma biblioteca vivida.

− À leitura como produção de sentidos;

− À literatura entendida como produto estético que só se concretiza na

interação autor-obra-público.

d.2. Bibliografia citada.

A. Textos analisados.

DUPRÉ, M. J.. A mina de ouro. 27ª ed. 2ª. Impressão. Ilust.. Adelfo M. Suzuki. São Paulo:

Ática,2000. (1ª ED. 1946)

B. Referências teóricas.

ANTUNES, B. Podem os clássicos voltar à escola? Revista Linha d’Água, v.13, p.67-76,

jun. 1998.
286

BAKTHIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem: problemas fundamentais do Método

Sociológico na Ciência da Linguagem. (Tradução de Michel Lahud e Yara F. Vieira). 7ª ed.

São Paulo: Hucitec, 1995.

BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito de leitura. (Tradução de Octávio Mendes

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BARROS, D. P. de; FIORIN, J. L. (orgs.). Dialogismo, polifonia, intertextualidade: em

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avaliação. In: . Et al.. Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. 4ª ed. São

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brasileira premiada (1978-1997). Assis, 2000, 681p. Tese de Doutorado em Literaturas de

Língua Portuguesa da Faculdade de Ciências e letras de Assis, Universidade Estadual

Paulista. “Júlio de Mesquita filho”.

CHARTIER, R. Do livro à leitura. In: et al. Práticas da leitura. Tradução de Cristiane

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SOUZA, M. Z. de. Literatura juvenil em questão: aventura e desventura de heróis

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________. A literatura infantil na escola. 4ª ed. São Paulo: Global, 1985.

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________. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.

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Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1984.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

Ferreira estruturou seu trabalho em duas partes. Na primeira delas, composta de

três capítulos, a pesquisadora apresentou um quadro geral de sua pesquisa, seguido da

problematização sobre a recusa da leitura pelos alunos, tanto do Ensino Fundamental

quanto Médio, na rede pública e privada de ensino. Delimita portanto, tempo espaço,

instrumentos e objeto para a realização da pesquisa.

No segundo capítulo, apresentou e justificou a elaboração, construção e

dinamização da pesquisa. Ferreira refletiu sobre a formação do leitor no âmbito escolar,

ampliando essa discussão para a articulação de escolhas e preferências por determinados

autores e obras. Sua pesquisa de campo foi realizada em uma escola da rede privada de

ensino, nos anos de 1998 a 2000. Neste tempo ela teve a oportunidade de acompanhar o

desenvolvimento de seu projeto da 5ª a 7ª série em duas turmas.

A partir da caracterização da clientela, Ferreira propôs a observação sobre a

valorização da leitura. E na decorrência desta, detectou-se quais são os textos ofertados

para leitura pela escola e pela família e, entre estes, quais foram os eleitos pelos alunos

leitores ou não. Ainda apresentou e contextualizou, no desenvolvimento e construção do

trabalho com a leitura, a opção pelas seguintes modalidades de acesso ao livro: a opcional;

opcional entre uma série de obras indicadas pela professora, e a proposta pela professora.
290

Seguindo seu raciocínio, justificou seu trabalho, apresentando a fundamentação teórica que

o norteia.

No terceiro capítulo, Ferreira relata a busca de instrumentos, a eleição e a

construção do “passaporte do leitor”, apresenta as catalogações das obras realizadas por

cerca de 50 alunos durante os anos de 1998,1999 e 2000, divididas nas três modalidades de

acesso a livros, o total dessas catalogações e o critério de seleção dessas obras para

finalmente chegar à eleita como a mais atraente, pertencente à modalidade opcional.

A metodologia pedagógica presente no projeto de leitura é permeada pela

perspectiva contrutivo-interacionista e a partir dela, Ferreira explicitou qual é sua

concepção de texto, leitor, sala de aula, escola, ensino de literatura e papel do professor. Só

então passou a relatar os instrumentos de checagem de leitura, a eleição e a construção do

“passaporte do leitor”, e a catalogação de 200 obras escolhidas por 50 alunos durante três

anos.

Esta lista foi produzida ao longo destes três anos segundo um critério de seleção.

Por meio de um índice de aceitação construído pelos alunos, as obras foram classificadas

em ótimas, boas, regulares, com pouca aceitação ou rejeitadas. As classificadas como

ótimas formaram : na categoria opcional – A mina de ouro de Maria José Dupré, na

categoria leitura proposta pela professora Haryy Potter e a pedra filosofal, de J. K.

Rowling; na categoria opcional entre obras de autor indicado pela professora, Corda

Bamba de Lygia B. Nunes.

A segunda parte de seu trabalho foi composta também por três capítulos No

primeiro temos uma reflexão acerca das contribuições da estética da recepção para a

literatura e para o seu ensino. Ferreira também situa a autora Maria José Dupré no

contexto da literatura infantil e juvenil brasileira. No segundo, parte para uma reflexão

quanto á eleição pelos alunos da obra A mina de ouro, tanto da edição de 1984 como da
291

mais atual de 2000, e dos demais textos a ela associados. No terceiro capítulo, Ferreira

apresenta uma análise sobre a personagem, o narrador e o leitor implícito nas obras de

Dupré e nos demais textos aproximados pelos alunos à obra.

Sua conclusão procura integrar as duas etapas de sua pesquisa. Além disso,

Ferreira apresenta em anexo, os questionários aplicados, as tabelas e os gráficos

mencionados tanto na primeira quanto na segunda parte do trabalho.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

Ferreira demonstrou que mais do que nunca há necessidade de interação em

sala de aula é condição básica para a existência da interação aluno/texto. Estabeleceu uma

série de proposições que, segundo seus apontamentos, podem ajudar muito na reflexão

sobre a formação do leitor. Entre elas, citamos:

1. O diálogo instaurado em aula sobre as leituras realizadas, escolhas e juízos

favoreceu a observação dos conceitos prévios dos alunos. Esse conhecimento aliado

ao trabalho construtivista interacionista proposto pela pesquisadora provocou uma

mudança comportamental na postura dos alunos frente às aulas de literatura, bem

como o material de leitura a que foram expostos.

2. O fator prazer foi repensado saindo de um estágio em que este era provocado apenas

por textos de fácil assimilação entre os alunos, que atendiam aos horizontes de

expectativas dos alunos, para um outro estágio em que os alunos se tornavam co-

investigadores críticos no diálogo pedagógico. Essa autonomia provocou a aquisição

de auto-estima e de maior senso crítico, bem como alguns reflexos positivos quanto

ao consumo de leitura fora da escola e a uma gradual busca por bibliotecas e

livrarias.
292

3. Ainda sobre a questão prazer, Ferreira demonstra por suas reflexões que os alunos,

expostos a esse processo interacionista, rompe com alguns tabus impostos em

ambiente escolar tais como: só se lê para a prova, quando se escolhe o livro para

leitura, também pode haver frustração, a qualidade da obra não pode ser medida pela

quantidade de páginas que a constitui. Além disso, comprova que a competência de

leitura pode ser construída e conquistada; um livro que propõe divertimento pode

apresentar um discurso ideológico que pretende subverter o leitor à visão do autor; a

obra pode ser agradável, mas precisa sobretudo ser emancipatória, propor reflexões,

questionamentos; o conhecimento construído pelo indivíduo é patrimônio de sua

conduta.

4. Quanto ao professor, é visto por Ferreira como elo vital para a interação

literatura/aluno, visto que se trata de um leitor mais experiente que deve ser capaz de

interagir eficientemente junto às escolhas de seus alunos.

5. O desenvolvimento do leitor é processo cognitivo, não linear, contínuo e fácil de ser

detectado. Portanto, segundo Ferreira é “vem daí a necessidade de a práxis ser

dialógica, principalmente quanto as opções dos alunos recaem sobre obras, como as

de Dupré, que se aproximam do romance monológico.” (Ferreira, 2003, p. 408).;

6. Finalizando, Ferreira afirma que o trabalho com a leitura, no ensino de literatura,

faculta ao leitor o reconhecimento da obra literária enquanto instrumento de

libertação de preconceitos, de conceitos prévios, pois ao ampliar o seu conhecimento,

permite-lhe compreender melhor o presente e o seu papel como sujeito histórico.


293

g. Avaliação sobre a pesquisa.

Ferreira realiza uma pesquisa teórico-aplicada ao buscar descrever e analisar a

trajetória de leitura de quatro anos de seus alunos. Ao nosso ver além de analisar a

recepção também proporciona um estudo detalhado sobre a obra de Maria José Dupré.

Portanto seu texto foi classificado como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do

leitor real – questões pedagógicas.

A autora analisa o fenômeno da leitura e reavalia o papel do ensino da literatura

enquanto uma professora formadora de leitores. Faz uma boa argüição sobre como se dá à

escolha das obras pelos alunos, destacando nelas o que as torna atraentes. Ferreira também,

fundamenta dados da recepção no efeito produzido pela obra escolhida, observando quais

são os conceitos prévios que os alunos devem conhecer para lerem o texto em relação

dialógica a outros.

Com sua análise mostra que o tabu de que “só se lê para a prova” já não

corresponde à totalidade das ações desenvolvidas na escola. Um dos méritos da pesquisa

está na eleição de três categorias de leitura: opcional, proposta pela professora, opcional

mas escolhida entre obras indicadas pela professora.

Ferreira faz um registro muito seguro, claro, bem fundamentado e inova na

coleta de dados ao utilizar o passaporte de leitura proposto por Richard Bamberger (1995).

Nesse trabalho busca reavaliar o fenômeno da leitura e o papel do ensino da

literatura enquanto formador de leitor. A autora compreende como são escolhidas as obras

lidas pelas crianças na escola. Analisa o efeito na obra escolhida de Maria José Dupré. E

quando detectando outros textos que dialogam com esta obra. Proporciona boas reflexões

quanto ao trabalho desenvolvido com estas séries,pois faz sua avaliação em quatro anos.

Analisa a questão pedagógica sem falsos moralismos e sem tom prescritivo.


294

Base teórica utilizada se volta para questões de ensino numa abordagem

contrutivo- interacionista (Piaget e Vigotsky), colocando o professor como mediador de

leitura.. Segundo a pesquisadora, a obra de Dupré está adequada aos horizontes de

expectativas dos alunos que a escolheram, por isso foi aceita por eles e eleita na categoria

opcional.
295

4. SOBRE AS VINTE DISSERTAÇÕES E TESES:

UMA TENTATIVA DE SÍNTESE

“Há um instante mágico na vida em que, nem


mesmo sabendo por que, ficamos envolvidos num
jogo. Num jogo de aprender e ensinar. Fazemos
parcerias. Não só com os outros, mas também
parcerias internas nos propondo desafios. Porém,
só ficamos nesse estado de total cumplicidade
com o saber se este tem sentido para nós. Caso
contrário, somos apenas espectadores do saber do
outro”.
(M.Terezinha Telles Guerra)
296

4.1. Panorama geral das pesquisas com base na grade de observação.

Os dados coletados apresentam indicações curiosas sobre o estágio das

pesquisas a respeito do leitor e da Estética da Recepção. Mesmo não se tratando de um

trabalho que visava catalogar tudo existente no Brasil sobre o tema, o que se realizou

demonstra um crescente interesse pelo assunto nas últimas décadas. Observamos essa

ampliação a partir da década de 90, sendo que nos quatro primeiros anos de 2000 a

proporção cresce consideravelmente.

Período Quantidade de pesquisas Porcentagem

Década de 80 1 5%

Década de 90 6 30%

De 2000 a 2003 13 65%

TOTAL 20 100%

Tabela - Ano pesquisas

Ainda que com cautela, visto que trabalhamos apenas com 20 títulos

selecionados pelos critérios já indicados no início do capítulo 3., pode-se afirmar que esses

números comprovam o crescimento a que nos referimos. É importante notar que a teoria da

Estética da Recepção está colocada para o meio acadêmico desde a década de 60, por meio

do grupo de pesquisa da Universidade de Constança. No Brasil, segundo Regina

Zilberman, “a tentativa de familiarizar o leitor brasileiro com essa vertente da teoria da

literatura” só aparece vinte anos depois na década de 80. Nesse período, encontramos

apenas um trabalho que se adequou à seleção aqui proposta.


297

Apesar desse “atraso”, notamos que o material selecionado apresenta

informações relevantes que serão analisadas neste capítulo em duas seções assim dispostas:

4.2. - Apreciação geral dos dados coletados a partir da grade de descrição.

4.3. – Reflexão a partir das categorias:

A. Pesquisas de Efeito – o leitor implícito.

B. Pesquisas de Recepção.

B.1. Pela crítica especializada.

B.2. Processo de formação de leitores.

B.3 Pelo leitor real em formação.

C. Pesquisas de Recepção/Efeito.

C.1. Voz do leitor real– horizontes e perspectivas.

C.2. Voz do leitor real – questões pedagógicas.

C.3. Voz do leitor real - fora de ambiente escolar.


298

4.2. Apreciação dos dados coletados, fundamentada na grade de descrição.

a. Dados de identificação.

Ao analisarmos os dados de identificação, percebemos já pelos títulos dos

trabalhos a existência de pesquisas que abordam questões sobre leitura realizadas nas

principais instituições de ensino do país. A seleção das pesquisas foi realizada mediante ao

acesso real ao texto. Como já foi explicado anteriormente, iniciamos essa pesquisa com

uma triagem de textos produzidos nas universidades brasileiras sobre leitura/recepção de

texto realizada por sites de busca, contatos com bibliotecas.

Na medida em que tivemos acesso aos textos, o corpus trabalhado nessa

dissertação foi formado. Vale dizer nesse momento que tal acesso ainda é muito difícil,

visto que nem todas as universidades brasileiras dispõem de meios de divulgação eficientes

de suas pesquisas. Igualmente vale ressaltar a necessidade da manutenção de plataformas

de pesquisa tais como: o portal de periódicos CAPES; o Projeto Memória de Leitura –

UNICAMP; a Divisão de Bibliotecas e Documentação Puc- Rio; a Universidade Brasil – o

portal dos universitários; a Biblioteca Nacional – catálogos on-line de monografias,

periódicos, obras de referência, teses, músicas, manuscritos, obras raras, iconografia, etc.; a

Biblioteca Virtual de Educação; o IBICIT; o MIT Theses On – Line.

Outra ressalva se faz necessária, com a proporção apresentada, não houve

nenhuma intenção de se somente as instituições pesquisadas. É necessário dizer que

certamente devem ser encontrados outros textos nas mesmas instituições que talvez não

tenham sido divulgados pelos caminhos utilizados na pesquisa, bem como outras

universidades não pesquisadas por nós que certamente devem apresentar outros textos.
299

Destacamos aqui os grupos de São Paulo (UNESP – UNICAMP); os da PUC,

Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; o de Minas Gerais (UFMG), pois nestes centros de

estudo encontramos uma vasta produção sobre o assunto, bem como os trabalhos que mais

nos chamaram atenção quanto à Estética da Recepção. Na tabela a seguir, registramos a

quantidade de trabalhos selecionada em cada uma delas. No material encontrado,

constatamos a presença de pesquisadores em:

Pesquisa Instituição
Pesquisa 1 UNB
Pesquisa 2 USP
Pesquisa 3 PUC- RJ
Pesquisa 4 UNESP - Assis
Pesquisa 5 UNESP - Assis
Pesquisa 6 USP
Pesquisa 7 USP
Pesquisa 8 UEM
Pesquisa 9 USP
Pesquisa 10 UFMG
Pesquisa 11 UNICAMP
Pesquisa 12 UNESP - Assis
Pesquisa 13 UEM
Pesquisa 14 UNICAMP
Pesquisa 15 PUC RGS
Pesquisa 16 PUC RGS
Pesquisa 17 UFPR
Pesquisa 18 UFMG
Pesquisa 19 UNESP - SJRPreto
Pesquisa 20 UNESP - Assis

Quadro - Instituição
300

Portanto, entre as teses e dissertações analisadas aqui temos a seguinte

proporção:

Período Quantidade de pesquisas Porcentagem

UNB 01 5%

USP 04 20%

UNESP 05 25%

PUC-RJ/RGS 03 15%

UFMG 02 10%

UEM 02 10%

UNICAMP 02 10%

UFPR 01 5%

TOTAL 20 100%

Tabela – Pesquisas por Instituição.

Dos textos analisados, 75% deles foram realizados em nível de Mestrado e

25% em Doutorado. Embora em proporção desigual, o fato evidencia que o meio

acadêmico tem dado ênfase à figura do leitor e à teoria da Estética da Recepção nos

programas de Pós-graduação.

Período Quantidade de pesquisas Porcentagem

MESTRADO 15 75%

DOUTORADO 05 25%

TOTAL 20 100%

Tabela – Nível de Qualificação.


301

Observamos um crescente interesse pelo tema a partir da década de 90, sendo

esta proporção ampliada consideravelmente a partir de 2000. Entre a primeira e a última

pesquisa constata-se uma lacuna de produção. Nossa pesquisa não registrou textos entre os

anos de 1980 - 1991, o que não significa que eles não existam. Tal fato decorra talvez da

dificuldade de acesso aos acervos das universidades, também da pouca existência de

trabalhos que condensem tais dados.

Outro dado interessante quanto ao material coletado é que varia em quantidade

de páginas, porém estabelece um discurso persuasivo e fundamentado das hipóteses que

levanta não importando a extensão de cada produção. A maioria dos pesquisadores, embora

se utilize de formas peculiares para desenvolverem seus projetos, organizam os mesmos de

forma convencional, seguindo os padrões científicos de pesquisa.

b. Objetivos.

O que se constata nessa seleção é que os pesquisadores possuíam objetivos

diversos quanto à leitura e ao papel do leitor. Visto que os pressupostos da teoria de Jauss

relativos ao efeito e à recepção não eram o interesse principal dos textos analisados,

destacaremos apenas os objetivos que dizem respeito a essas categorias, mesmo que

abordados de forma indireta pelos pesquisadores, pois esse é o centro de nosso interesse.

As propostas estabelecem relação com a teoria que estudamos na medida em

que proporcionam como objetivos o estudo:

• Do efeito tal qual postula W. Iser. Portanto, partem para um dos caminhos

da Teoria da Estética da Recepção, preocupando-se com a inscrição do

leitor no próprio texto e não com a recepção realizada pela crítica ou por

leitores reais.
302

• Da recepção voltada para o ensino, buscando soluções para os dilemas

presentes no trabalho com textos literários.

• Da recepção buscando identificar o perfil de um leitor eficaz

• Da recepção textual de vários gêneros textuais.

• Da recepção de textos pouco valorizados pela crítica, tendência dos estudos

culturais, tais como os romances sentimentais e a literatura de cordel.

• Da recepção voltada para as estruturas discursivas do objeto literário como

facilitador da compreensão e interpretação da leitura;

Ao analisarmos esses objetivos, verificamos um certo conflito entre as

categorias recepção e efeito propostas pela Estética da Recepção. Em algumas das

pesquisas essa diferença não fica suficientemente clara, provocando no leitor equívocos de

interpretação quanto aos conceitos. Mesmo ressalvando o fato de que nem todas tinham

como objetivo e fundamentação teórica a Estética da Recepção, esses conceitos se fazem

presentes e são importantes para a verificação das questões de leitura propostas nas

pesquisas, uma vez que focalizam o leitor e sua importância na análise literária.

Das vinte pesquisas que compõem esse corpus, temos em 15% a análise do

efeito. Entre elas, observamos que Souza (Pesquisa 5), embora não se valha dessas

categorias, já aponta para a questão ao definir como objetivo a reflexão do papel do leitor

nos contos de Machado de Assis. Seu trabalho, em 1998, coloca a importância do leitor

presente no texto desde a concepção do mesmo. Comprova a existência de um leitor na

importante tarefa de preencher os vazios propositalmente colocados no texto por um autor

que sabia como dialogar com seu público por meio de sua obra.

Em Yasuda (Pesquisa 6), uma proposta de estudo voltada para questões da

prática pedagógica na formação de leitores, observamos relatos sobre a utilização de

textos poéticos. Sua pesquisa, numa análise superficial, sugeriria estar centrada nas
303

questões de recepção. No entanto se fixa em textos utilizados pelos professores numa

perspectiva estrutural. O que se percebe quanto às categorias definidas – recepção e efeito –

é que a pesquisadora oferece fundamentação teórica voltada para o ensino, sem valer-se de

um aprofundamento teórico baseado na teoria da Estética da Recepção. Embora não faça

essa distinção, evidencia no estudo a questão do efeito, visto que mantém sua observação

centrada no texto.

Em Ferreira (Pesquisa 7), que propõe uma análise comparativa entre quatro

obras intituladas por ela como de vanguarda, observamos interesse nas questões de efeito.

Da mesma forma que Yasuda, Ferreira centra sua observação nas obras escolhidas. Ela

também não distingue as categorias, mas focaliza o leitor implícito nas obras.

Entre as pesquisas que observam a questão da recepção, que correspondem a

40% das analisadas aqui, percebemos uma grande tendência para a reflexão sobre o

processo de formação do leitor focalizando principalmente o Ensino Fundamental,

momento em que esse processo se estabelece.

Estão dentro desse percentual as Pesquisas 1 (Marândola) e 2 (Medeiros),

analisando a recepção a partir de textos da crítica; as pesquisas 9 (Bittencourt), 14

(Nascimento) e 16 (Carvalho) que buscam o registro e reflexão da voz do leitor real, em

formação nos vários níveis de ensino, a partir de textos em prosa ou em verso de autores da

literatura. Ainda percebemos nas Pesquisas 11 (Zappone) ,13 (Gasparello) e 19 (Garcia) o

interesse de, além de registrar a voz do leitor real, observar questões pedagógicas da

formação do leitor, focalizando o trabalho do professor e os métodos que utiliza na

formação de leitores.

Guardada a devida proporção, encontra-se aqui uma lacuna que constitui um

vasto campo para pesquisas vindouras. Embora seja nossa opinião que o ponto vital do

processo de formação de leitores se realize no Ensino Fundamental, portanto em ambiente


304

escolar, não podemos deixar de pensar que esse processo seja contínuo e não dependa

única e exclusivamente desse ambiente para se concretizar. Dessa forma, merecem atenção

dos pesquisadores projetos que estudem essa formação tanto em relação à vida escolar na

observação de como se realiza a recepção no Ensino Fundamental, Médio e Superior,

quanto os que focalizam a formação de leitores fora do processo educacional.

Além da lacuna registrada, o que se nota é a preocupação do meio acadêmico

em identificar um perfil do leitor que temos hoje. Para isso, os pesquisadores se valem de

diversos ramos do conhecimento tais como: a Teoria literária, a Estética da Recepção, a

Semiótica, a Sociologia da Leitura, a Lingüística, a Psicologia e a Pedagogia.

A atenção dada à questão dos estudos multiculturais, já comentada em outros

momentos da nossa dissertação parece-nos bastante significativa. Tais estudos apresentam-

se como alvo nos últimos anos, o que mostra que a crítica procura outros caminhos para os

velhos entraves da pesquisa sobre literatura.

Também, constatamos nesses objetivos a observação das estruturas discursivas

do texto como elemento fundamental tanto para a verificação do efeito quanto para a

recepção do mesmo, independente do sujeito em questão. Questão que fica bastante clara

já na Pesquisa 2 (Medeiros) que mostra um aumento no potencial de leitura dos alunos,

em especial alunos do 2º e do 3º graus23 que, pelo desenvolvimento psíquico e intelectual

atingidos, apresentam melhores condições de absorção da metodologia proposta, ou seja, a

análise textual nos moldes da sêmio-linguística postulada pela escola de Paris.

23
Hoje, Ensino Médio e Superior.
305

C. Material.

C.1. Tipo de texto abordado.

Relacionamos 65 textos de diferentes gêneros e formatos utilizados nas

pesquisas que analisaram o efeito e a recepção. Separamos os mesmos em dois grandes

grupos por nós aqui nomeados como:

Grupo I – Textos da literatura “adulta”;

Grupo II – Textos da literatura infanto-juvenil.

Essa divisão se justifica pela necessidade dos pesquisadores de utilizar um

objeto literário adequado ao tipo de leitor que se pretendia focalizar, seja o leitor ideal ou

implícito, segundo a formulação de W. Iser, no caso das pesquisas que se preocupavam

com a observação do efeito produzido no texto, seja do leitor real, explícito, sujeito

efetivamente participante da pesquisa aplicada realizada nos projetos de recepção textual.

No primeiro grupo, existe a presença de narrativas longas na forma de:

romances em diário (O Amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos – Pesquisa 1); romances

sentimentais (Coleções: Júlia e Sabrina – Pesquisa 17) e novelas (Vidas Secas, de

Graciliano Ramos – Pesquisa 3). Também, de narrativas curtas – contos – em que estão

presentes autores da literatura brasileira, tais como Machado de Assis (Pesquisa 5) e Clarice

Lispector (Pesquisa 14).

Nesse item, ainda, constatamos a presença da literatura de cordel, focalizada

na pesquisa Ler/ouvir folhetos de cordel em Pernambuco (Pesquisa 10). Significativo

trabalho, ao nosso ver, por abordar uma literatura reconhecida como popular e regional,

dado que revela uma das tendências atuais abordadas pelos estudos culturais no país.

Não encontramos no momento da seleção do corpus dessa pesquisa nenhum

trabalho relativo a textos em poesia que se encaixasse nesse grupo.


306

No grupo II – textos da literatura infanto-juvenil - observamos a presença de

narrativas longas, tais como: Vida e paixão de Pandonar, o cruel, de João Ubaldo Ribeiro

(Pesquisa 4); Corda bamba, de Lygia B. Nunes (Pesquisa12); Indez, de Bartolomeu

Campos Queiroz; A guerra dos botões, de Louis Pergaud (Pesquisa 18); Eu também sou

gente de Ricardo Alberty; Menina coração de pássaro de Luísa Da costa; A girafa e o

mede-palmo de Lúcia Pimentel Góes (Pesquisa 7). Narrativas curtas, como exemplo: O que

os olhos não vêem, de Ruth Rocha (Pesquisa 13); os contos de fadas (Cinderela, Branca de

Neve e os sete anões, Chapeuzinho Vermelho etc.). Outras narrativas do universo infantil –

A curiosidade premiada, Os três porquinhos, A princesa Sherazade, O rei leão, A arca de

Noé etc. – (Pesquisa 16). Também foram observados textos da poesia: livros inteiros – O

batalhão das letras, de Mario Quintana, Pare no P da poesia, de Elza B. V. Döllinger

(Pesquisa 6) ou poemas isolados: “Excursão” de Sergio Capparelli, “Convite” de José

Paulo Paes (Pesquisa 8).

Os pesquisadores foram unânimes em tratar esse material infanto-juvenil com

prudência, visto se tratar de um gênero ainda polêmico no meio acadêmico. Parte das

discussões se fundamentou na idéia de ser esse tipo de texto considerado como literatura de

massa, voltado para um público específico, abordado na maioria das vezes em ambiente

escolar.

Nas narrativas longas, encontramos romances em forma de diário,

relacionando assuntos próprios do universo do público alvo, como a aceitação das

especificidades da adolescência, seu crescimento físico e psicológico. Já em relação às

narrativas curtas, verificamos a presença de contos infantis de raízes folclóricas, contos de

fadas e outras histórias.

Ao contrário dos textos encontrados no item I, detectamos a utilização da

poesia com o público infantil, mostrando seu uso no ambiente escolar. Notamos a
307

preocupação dos pesquisadores em apontar para o uso de tais textos com fins pedagógicos

como complicador na formação de leitores. Fica evidente, na leitura das pesquisas, a

necessidade de proporcionar a fruição dos textos poéticos e também de que o professor

utilize para isso um método. Ênfase foi dada ao método recepcional elaborado por Bordini

e Aguiar, levando em consideração “as sete teses” de H. R. Jauss.

Portanto, o que entendemos sobre esse corpus é que sua extensão é razoável,

abrangendo tanto textos em prosa quanto em verso. No entanto, muito ainda se pode fazer,

principalmente no campo da pesquisa aplicada da recepção de gêneros e subgêneros da

literatura que não foram relacionados.

Embora predominem as narrativas, percebemos que o meio acadêmico está

ficando mais democrático, abrindo seu olhar para objetos que não estavam no cânon

valorizado pela crítica. Percebe-se, como já dissemos antes, uma tendência voltada para o

estudo da literatura de massa, criada intencionalmente para ser um objeto de consumo e a

preocupação com as questões da literatura infanto-juvenil, também contempladas nas

análises. Não podemos nos esquecer de observar os fatores que facilitam ou dificultam o

exercício da leitura tais como: o suporte do texto literário, como ele se veicula para os

leitores, o livro (literário) como “produto comercial”, sua utilização como instrumento

pedagógico apenas e as metodologias utilizadas para utilização dos mesmos.

C.2. Tipo de leitor.

Das vinte pesquisas, encontramos dezessete que são pesquisas aplicadas,

sendo que oito delas abordam apenas a questão da recepção de textos e nove o efeito e a

recepção simultaneamente. Três, centram o interesse somente no efeito. Dessa forma,


308

temos diversos tipos de leitores contemplados nos trabalhos. Vamos separá-los em duas

categorias: os reais e os implícitos.

Entendemos os primeiros como os sujeitos participantes das pesquisas aplicadas

que focalizaram a recepção de textos. E, como leitores implícitos os formatados no texto

abordado por seu autor, sem nenhum registro de impressões pessoais. Aqueles nos quais

“temos uma figura virtual idealizada pelo autor, inscrito no próprio texto para quem se

destina” (ISER, 1975).

Para uma melhor visualização, dividimos leitores reais em três grupos:

Alunos, Professores e Outros indivíduos. Além disso centramos nossa atenção no

ambiente de aplicação das pesquisas: na escola ou fora dela. Desta forma, encontramos

leitores pertencentes ao Ensino Fundamental, Médio e Superior.

As pesquisas do grupo Alunos contemplam os seguintes níveis de ensino:

Ensino Fundamental (de 1ª à 8ª séries), Médio (Supletivo) e Superior (Curso de Letras).

Nas do grupo Professores percebemos a existência de professores atuantes no três níveis já

citados. Já no grupo Outros indivíduos observamos a presença de pessoas da comunidade,

de diferentes idades e de ambos os sexos, fora de ambiente escolar.

As pesquisas que direcionam o olhar para a recepção de textos têm seu

interesse maior no Ensino Fundamental. Desejamos destacar que entre essas, a ênfase é

dada principalmente às 4ª e 8ª séries, correspondentes às séries finais de ciclo, no caso do

Estado de São Paulo. Outro fator de destaque é a Pesquisa 20, em que a pesquisadora se

propõe seguir um grupo de alunos por 4 anos, verificando nesse processo, entre outros

objetivos, os avanços obtidos quanto à leitura e recepção de textos.

Ainda pensando no mesmo grupo, temos apenas uma pesquisa focalizando o

Ensino Médio. Embora em número reduzido, nos chama atenção por se tratar da

observação da recepção em curso supletivo momento em que geralmente os conteúdos são


309

condensados e a ênfase do curso, infelizmente, não recai na prática sobre as questões de

recepção de texto e leitura.

No grupo relativo ao Ensino Superior, encontramos 15% das pesquisas sendo

que a totalidade propõe a observação da recepção apenas no curso de Letras. Tal limitação

pode indicar outra lacuna, visto que o ato de leitura não é e não deveria ser encarado como

uma especialidade do professor de Português, embora estejamos analisando apenas projetos

que utilizam textos literários.

Em relação ao grupo de professores, encontramos 20% das pesquisas

direcionando o olhar para professores do Ensino Fundamental. Não encontramos nenhuma

pesquisa direcionada aos de Ensino Superior.

Quanto às pesquisas que abordam sujeitos que não pertencem ao ambiente

escolar, correspondente a 15% das registradas, também nos chamou a atenção o fato de

analisarem a recepção de literatura de cordel e de romances sentimentais, objetos literários

que não fazem parte do cânon valorizado no meio acadêmico, refletindo portanto uma

maior flexibilidade ao não observarem apenas a literatura dita como “erudita”. A

valorização do diferente, ao nosso ver, é um ganho para as questões de leitura no país.

C.3. Tipo de documento referente à recepção e efeito analisado.

Como documentos da recepção notamos a existência de uma variada gama de

textos escritos dos mais diferentes tipos. Estes foram classificados em dois grupos: Textos

Técnicos e Textos Escolares.

Entre os Textos Técnicos encontramos artigos de jornal, resenhas, relatórios,

entrevistas e questionários. Os artigos de jornal e as resenha tratam do efeito produzido no

texto e revelam a opinião de críticos e/ou especialistas em literatura. Constatamos que


310

alguns pesquisadores promoveram a observação da recepção do texto utilizando o próprio

discurso da crítica. Como exemplo, temos as dissertações de mestrado: A Recepção da

Literatura:teoria e prática da estética da recepção, (Pesquisa 1) propondo a observação

dos textos produzidos pela crítica nas décadas de 30 a 70 e Vidas Secas - uma recepção

em horizonte ampliado (Pesquisa 3), mostrando o confronto entre o que disse a crítica de

Antonio Candido e Romano Sant´Anna sobre esta obra e as impressões da própria

pesquisadora.

Os relatórios serviram como instrumento de observação nas pesquisas

aplicadas, sendo produzidos por professores atuantes nos projetos, pesquisadores e, em um

caso, por um observador externo à pesquisa.

Quanto às entrevistas, foram realizadas para coleta de dados sobre a recepção de

texto. Relacionam dados pessoais sobre os leitores, memória de leitura e participação nas

pesquisas aplicadas. A maioria foi gravada em áudio, às vezes em vídeo. Depois de

coletada, a maioria foi relatada e/ou registrada por escrito.

Os questionários realizados nos projetos objetivavam a coleta de dados sobre a

recepção durante os debates (também gravados em áudio e/ou vídeo), sobre o registro do

nível sócio-econômico-cultural da população alvo e também sobre a experiência dos

professores nas atividades realizadas com seus alunos.

Quanto aos Textos Escolares, foram realizados com o objetivo de registrar

impressões de leitura e alterações na interpretação e na recepção durante as etapas das

pesquisas. Encontramos textos produzidos por alunos, pelo professor da classe em que foi

aplicada a pesquisa, pelos pesquisadores e por outros observadores externos envolvidos no

processo. Verificamos uma gama variada de textos produzidos por diferentes pessoas

envolvidas no processo de recepção. Quanto aos alunos, percebemos desde textos

tradicionais (fichas de observação de leitura, paráfrases, etc), comumente utilizados em sala


311

de aula, como textos mais inovadores (passaporte de leitura, caderno de impressões). Entre

os apresentados pelos professores, destacamos o relatório de experiência de incentivo à

leitura, documento destinado ao concurso Leia Brasil, que reuniu experiências de leitura

em vários níveis de ensino, com professores de todo Brasil. Estes documentos foram

observados em Práticas de Leitura na escola, (Pesquisa 11), projeto orientado por Profa.

Dra. Marisa Philbert Lajolo.

Entre os documentos apresentados pelos pesquisadores destacamos o projeto A

leitura dialógica e a formação do leitor (Pesquisa 20) pelo empenho e relevância da

catalogação das obras durante três anos em que a pesquisadora, junto a seus alunos,

registrou e analisou mais de 200 obras, partindo de uma experiência concreta de leitura com

estudantes. E, finalmente, quanto aos documentos registrados por Outros, observamos a

importância de um observador externo ao processo de leitura proposto na pesquisa, visto

que esse traria um novo olhar sobre o objeto. Constatamos na análise dos documentos que:

Registro escrito produzido por quantidade porcentagem


Alunos 11 50 %
Professor e/ou pesquisador 09 41 %
Outros 02 9%
Total 22 100 %
Tabela – Registro escrito

Como se vê, dá-se maior ênfase às informações coletadas por meio de registros

escritos pelos alunos (50%). E também aos registros coletados pelo professor da sala e aos

efetuados pelo pesquisador (41%). Entre os registros coletados por outras pessoas

participantes (9%) encontramos o registro de bibliotecários e de um observador externo.

Esses números nos mostram ainda que os dados coletados por observadores externos ao
312

processo de leitura em sala de aula, principalmente o bibliotecário, poderiam ser

aproveitados.

Quanto aos instrumentos utilizados para coleta de dados oralmente,

encontramos:

• Entrevistas gravadas em vídeo e/ou áudio, coletivas com alunos.

• Entrevistas gravadas em vídeo e/ou áudio, individuais com alunos.

• Entrevistas gravadas em vídeo sobre o final do processo de leitura com os

alunos

• Debate coletivo gravado em vídeo

• Conversas informais com os alunos, gravadas em vídeo.

• Registro em vídeo de depoimentos sobre as leituras.

• Seminários sobre a leitura gravado em vídeo.

Analisando esses dados, chegamos à conclusão de que existem dois tipos de

registros efetuados nas pesquisas: o escrito e o gravado. Quanto ao último, percebemos que

proporciona a observação de manifestações orais dos sujeitos da pesquisa.

Tipo de registro quantidade porcentagem


Escrito pelo professor/pesquisador 14 25 %
Escrito pelo sujeito da recepção 24 43 %
Gravado em áudio e/ou vídeo 18 32 %
Total 56 100%
Tabela – Registro oral

Novamente se vê a ênfase dada aos registros escritos dos sujeitos da recepção.

Do mesmo modo, verifica-se a necessidade de se proporcionar um registro oral de suas

manifestações. No nosso entender, mesmo que essas gravações sejam depois transformadas

em textos escritos, e, portanto, possam sofrer alguma interferência vinda da dificuldade de

transposição quanto à linguagem; mesmo que elas não sejam totalmente naturais, pois não

fazem parte da rotina em sala de aula, esses instrumentos de coleta de dados oferecem ao
313

pesquisador um excelente recurso de observação das situações em que a recepção de textos

se estabelece em âmbito escolar. Revelam informações úteis quanto à atuação de alunos e

professores no processo de leitura, principalmente sobre a recepção de textos.

d. Base teórica.

Nesta parte tivemos a grande surpresa de nossa pesquisa. Pressupúnhamos que

encontraríamos a Estética da Recepção como teoria básica fundamentando as hipóteses

levantadas nos trabalhos, visto que tratavam diretamente do leitor e de leitura. Curioso foi

encontrar trabalhos que embora abordassem o tema, não apresentavam de forma explícita

os princípios teóricos de H.R. Jauss e W. Iser.

No entanto, isso não as invalida quanto ao nosso estudo, pois embora não os

citassem diretamente, nem em sua bibliografia, seus pressupostos estavam presentes e

possivelmente identificáveis nas entrelinhas dos textos. Os princípios teóricos de Jauss e

Iser mostraram-se presentes nas análises realizadas, consolidando uma base teórica que

ajuda a elucidar a questão da leitura e da formação do leitor.

Nelas percebemos o leitor real e o virtual, o autor no contexto de produção e

os entraves da formação do profissional que trabalha com a recepção de textos em âmbito

escolar e social. Para isso, o método recepcional organizado por Aguiar e Bordini (1993) a

partir dos pressupostos de Jauss também se fez presente. Citamos, como exemplo, o

trabalho (3.13) de Ivonete V. Gasparello que pretendia, entre outras coisas, observar a

possibilidade do professor da rede pública de ensino poder contar com o método

recepcional, fundamentado na Estética da Recepção.

Dividimos a base teórica que permeia as pesquisas em dois grupos: Teoria da

Estética da Recepção e a Teoria da Leitura. Nas duas percebemos o leitor como eixo
314

principal, sendo que na primeira observamos uma divisão entre pesquisas de efeito e as de

recepção, categorias que discutiremos a seguir no item II. Quanto à Teoria da Leitura,

observamos o tema sendo tratado por várias perspectivas: semiótica, histórica, pedagógica,

sociológica e psicológica, esse recorte não será explorado em nossa pesquisa, visto não ser

este o foco de nossa atenção.

Outro dado importante a ser observado na base teórica utilizada foi o fato de as

pesquisas se abrirem para estudos de diversos interesses, como por exemplo, a questão da

formação do gênero literatura infanto-juvenil, a literatura e o mercado e os aspectos

culturais.

Embora não fosse pretensão nossa chegar a uma bibliografia publicada sobre a

Estética da Recepção, nossa pesquisa constatou que existem alguns textos canônicos que

abordam o assunto e foram, quase na totalidade dos trabalhos, explorados exaustivamente.

É importante ressaltar que as pesquisas no Brasil só deslancharam com as traduções de

Jauss e Iser, principalmente por Sérgio Tellaroli, Johannes Kretshemer. Além, é claro, de

seus principais divulgadores: Costa Lima e Regina Zilberman. Temos, por meio deles, o

papel relevante de serem divulgadores dos pressupostos da Estética da Recepção no país.

Apresentaremos a seguir, os textos mais citados numa escala decrescente, ou

seja, da maior freqüência para a menor:

− A história da literatura como provocação à teoria literária, de Hans Robert Jauss,

tradução de Sérgio Tellaroli, pela editora Ática. Texto original em alemão datado de

1967 e publicado no Brasil em 1994. Muitas pesquisas utilizaram traduções de outras

nacionalidades, publicadas em várias datas.

− O ato da leitura, volumes. 1 e 2. de Wolfgang Iser, tradução de Johannes Kretshemer,

pela editora 34. Versão original em alemão datada em 1976. No Brasil, publicado em

- 1996 (vol 1) e 1999 (vol 2).


315

− Leitor: Textos de Estética da Recepção, seleção, organização e tradução de Luiz Costa

Lima, publicado no Brasil pela editora Paz e Terra em 1979. Neste livro, além da

introdução O leitor demanda (D) a Literatura do organizador da coletânea,

encontram-se os textos: A estética da Recepção: Colocações Gerais e O prazer

estético e as experiências fundamentais da poiesis, aisthesis e katharsis de Hans Robert

Jauss; A interação do texto com o leitor de Wolfgang Iser; Que significa a recepção

dos textos ficcionais de Kartheinz Stierle; e Sobre os interesse cognitivos,

terminologia básica e métodos de uma ciência da literatura fundada na teoria da ação

de Hans U. Gumbrecht.

− Estética da recepção e história da literatura, de Regina Zilberman, publicado pela

editora Ática em 1989.

É importante esclarecer que a referência bibliográfica que apresentamos como

item d.2.B diz respeito aos trabalhos citados na descrição das pesquisas. Além disso, que

foram transcritas de acordo como foram encontradas nos textos de origem. Nelas não

encontramos todas as obras utilizadas nas dissertações e teses, visto que isso seria um

trabalho muito mais amplo do que o que nos propusemos aqui. Nos restringimos apenas a

transcrever as que foram citadas na descrição da base teórica, observando autores e textos

referentes ao nosso objeto de estudo: leitura/recepção de textos.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia

Optamos por descrever as pesquisas pela organização do texto, isto é, pela

forma como foram formatadas pelos pesquisadores. Com estas informações, apresentamos

a metodologia utilizada tanto na pesquisa teórica quanto na pesquisa aplicada. Nesses

momentos, procuramos detectar e sintetizar do texto original os métodos e as técnicas


316

utilizadas nas diversas fases do processo de recepção, bem como a hipótese que o

pesquisador se propunha observar, suas estratégias para alcançar seus objetivos, formas de

coleta de dados, a utilização do marco teórico proposto no item anterior da grade de

observação.

Percebemos que a forma de coleta das informações, os registros produzidos, a

mensuração dos dados da maioria das pesquisas se estabeleceu de forma satisfatória. No

caso das pesquisas de recepção, verificamos a preocupação dos pesquisadores em anexar

ao texto o material produzido para a análise dos dados coletados.

É importante ressaltar que nem todas as pesquisas relacionadas na amostra

apresentam esta divisão pesquisa teórica e/ou pesquisa aplicada. De acordo com o objetivo

fixado, cada pesquisador deu maior ênfase para esta ou aquela parte. Em algumas delas

verificamos a opção por apenas uma delas. Geralmente quando isso ocorreu foi dada

ênfase à pesquisa aplicada.

O que nos chamou atenção quanto à metodologia foram os instrumentos de

coleta de dados. Notamos a existência predominante de textos produzidos por leitores na

modalidade escrita. Tal material constou de argüições, registros de impressão, paráfrases,

questionários sócio-econômicos-culturais, etc.

Quanto às entrevistas, muitas vezes foram gravadas em áudio ou vídeo, mas

nem sempre registradas de forma escrita nos anexos dos textos. Muitas vezes, os

pesquisadores apresentavam-nas de forma descritiva e bastante sintetizada. Quanto a essa

forma de coleta, pensamos que pode ser um meio a ser utilizado, porém, no nosso entender,

é muito difícil realmente conseguir um registro fiel ao da fala. O que pode ocasionar, então,

a manipulação dos dados, mesmo que não de forma proposital, da pessoa que os registrou.
317

f. Resultados principais apresentados.

Quanto aos resultados obtidos, verificamos que há necessidade urgente de

considerar o leitor como peça-chave do processo de leitura, pois a ele cabe atribuir sentido

ao texto escrito. Portanto, este sentido, embora se apresente por meio de marcas textuais,

não está sozinho e totalmente delimitado. Ele depende da atuação do leitor para que se

realizar concretamente.

Por essa primeira conclusão, verificamos que os pesquisadores apontam para a

necessidade de mais projetos sobre a recepção de textos, bem como para a importância da

teoria da Estética da Recepção em seus conceitos mais significativos como o de horizontes

de expectativas e o de concretização. Também se faz necessário ressaltar que esta teoria é

importante como instrumento de compreensão não só para o meio acadêmico como também

para o professor que trabalha com leitura nos mais diversos níveis de ensino.

Os estudos literários estão se abrindo para textos até então não valorizados pela

crítica. Proporcionando espaço, portanto, para romances sentimentais, literatura de cordel,

literatura infanto-juvenil. Além de valorizar textos em prosa e verso de autores já

conhecidos.

As questões de mercado também se fizeram presentes nas pesquisas. A

observação do livro como mercadoria traz para a discussão dados importantes, tais como as

estratégias utilizadas pelas editoras para seduzirem seu público, seja ele da idade que for.

Esses aspectos podem ser variantes a serem observadas e analisadas na recepção de textos.

Muitas sugestões de caminhos para a formação do leitor que aliam a prática

docente apareceram nas pesquisas registradas aqui. Quanto a essa formação, verificou-se,

muitas vezes, que o próprio professor ainda deve passar por esse processo de formação,

visto que em muitos casos reside aí o principal entrave para resultados mais positivos na
318

formação de leitores. Essa formação vai do próprio conhecimento de textos da literatura

brasileira e mundial até a metodologia empregada em suas aulas.

Outro fator evidenciado nas pesquisas foi que o prazer estético resulta da

apropriação do texto com entendimento. E também, da fusão de horizontes de expectativas

tanto do leitor quanto da obra lida. As pesquisas apontam para o fato de se trabalhar com

esses horizontes como um caminho para a formação de leitores mais eficientes.

Segundo o que se observou, o Método Recepcional se sustenta na prática

escolar, desde que seja realmente compreendido e executado competentemente. É possível

conseguir bons resultados a partir dele. Quanto a esses bons resultados nos referimos à

formação de um leitor mais consciente de sua função, preparado para exercê-la.

De acordo com as pesquisas analisadas, podemos perceber que a questão da

leitura está longe de ser esgotada. Cada experiência realizada traz novas variantes a serem

consideradas no processo. Fórmulas prontas não existem, apenas sugestões de caminhos

que aliam Conhecimento Literário + Metodologia + Empenho do professor = Formação

do leitor. Esta, talvez, seja a equação a ser resolvida pelos novos pesquisadores.
319

4.3 – Uma reflexão de caráter geral.

A classificação das pesquisas nessa parte de nossa reflexão se estabeleceu em

três categorias: A. Pesquisas de Efeito, B. Pesquisas de Recepção, C. Pesquisas de

Recepção/ Efeito. Nas três observamos a existência de projetos que se diferenciavam não

só pelo leitor utilizado e tipos de documentos coletados, mas também pelo fato de tratarem

ou não de uma pesquisa aplicada além da observação do efeito. Passaremos, a apresentar os

trabalhos destacando pontos relevantes de cada um. A tabela a seguir demonstra em

porcentagens o tipo de pesquisa. quantidade encontrada:

TIPO DE PESQUISA QUANTIDADE PORCENTAGEM

A. Efeito – leitor implícito 03 15%


Pela crítica especializada. 01 05%
Pelo professor – processo de 05 25%
B. Recepção formação de leitores.
Pelo leitor real - em 02 10%
formação.
Voz do leitor real– recepção 02 10%
inicial.
Voz do leitor real - questões 03 15%
C. Recepção/Efeito
pedagógicas.
Voz do leitor real - fora de 04 20%
ambiente escolar.
TOTAL 20 100%

Tabela – Classificação das Pesquisas


320

A. Pesquisas de Efeito – leitor implícito.

Nessa categoria, apresentamos trabalhos que, utilizando direta ou indiretamente

a base teórica já mencionada, preocupam-se em analisar como se constrói a figura do leitor

implícito previsto pelo escritor e previamente formatado no texto. Nessas pesquisas, temos

a observação do efeito no próprio texto, ainda que não se valham diretamente desse

conceito na formulação de Iser.

Entre as pesquisas que tentam aclarar o processo de leitura concretizando o

efeito24 produzido pelos textos, observamos a presença de um leitor implícito em 15 %

deles. Temos nessa categoria as seguintes pesquisas:

Pesquisa 5 O Papel do leitor no conto Fantástico de SOUZA,1998


Machado de Assis
Pesquisa 6 Poesia e alfabetização: estudo sobre o YASUDA,1999
Batalhão de Letras de Mario Quintana
Pesquisa 7 - Caminhos de ler: por uma formação do Leitor FERREIRA, 1999
Fluente e Crítico de Literatura Infantil e
Juvenil de Vanguarda em Língua Portuguesa
Tabela – Pesquisa Efeito – leitor implícito.

Souza (pesquisa 5) realiza uma proposta que contempla o papel do leitor

utilizando como base teórica Wolfgang Iser para a compreensão dos efeitos no texto. Além

disso, foram focalizadas a intertextualidade e a sátira menipéia em alguns contos de

Machado de Assis. Embora outras teorias anteriores a Estética da Recepção permitissem a

conclusão a que Souza chega, mereceu atenção o destaque que a pesquisadora deu ao leitor,

dizendo que ele fora convidado a participar do texto de Machado de Assis com a tarefa de

preencher os vazios deixados pelo narrador. O autor, na concepção da pesquisadora, chama

o leitor para um jogo por meio da sua técnica narrativa.

24
Para W. Iser o leitor implícito é uma construção presente no texto e percebida pelo leitor real por meio das
instruções do próprio texto.
321

Yasuda (pesquisa 6) analisa relatos de professores que falavam sobre sua prática

pedagógica em pré-escola, 1º e 3º ano do Ensino Fundamental. Abordando questões

relativas a: a leitura voltada a um público com perfil específico; as ilustrações na literatura;

a adaptação de textos poéticos para crianças e o uso da poesia para o ensino da Língua. A

pesquisadora verificou uma situação bastante negativa em que os professores não se

mostravam preparados para trabalhar com a linguagem poética, tinham pouca leitura sobre

o assunto e quase nenhuma formação estética. Muitos não eram sensíveis à poesia.

Limitou-se a analisar o texto e o paratexto, não proporcionando uma experiência de

recepção propriamente dita.

Observamos a intenção de Ferreira (pesquisa 7) de refletir sobre a prática de

leitura realizada nas escolas. Sua proposta baseia-se na visão da leitura como um jogo,

aponta reflexos da leitura como dimensão da vida. Considera importante a formação do

professor leitor, como alguém mais experiente que vai mediar a formação de novos

leitores. Foram importantes as contribuições da Psicologia, da Educação e da Crítica

Literária nessa formação do professor. O projeto proposto pela pesquisadora parece

pertinente, porém não desviar ficar apenas nas atividades propostas. Destacamos o que foi

apontado como evidência de evolução na prática dos professores – o abandono da avaliação

tradicional e, também, o fato da escola não poder se restringir à divulgação e recepção do

“gosto médio” de leitura.

Ferreira, apesar do tom poético assumido em seu texto, coloca a leitura como

um jogo, uma atividade livre, espontânea e prazerosa. Aborda também um projeto de

formação de professores e propõe a análise de algumas obras, que no seu entender são

consideradas como de “vanguarda”. Sua pesquisa defende o professor como um

estimulador de leituras e para tanto destaca atividades vindas da sua própria prática de

leitura, bem como sugestões de outros professores, que promoveriam a formação de


322

leitores. Apesar de dizer que não quer dar receitas prontas, acaba por fazê-lo quando mostra

o projeto “Brincando no Arco Íris”. No nosso entender, Ferreira se preocupou mais em

passar experiências pedagógicas do que desenvolver de fato uma pesquisa de recepção.

Pouco aprofunda a sua sobre o texto literário, destacando obras sem justificar

convincentemente o motivo pelo qual as classificou como de vanguarda

Nas pesquisas apresentadas aqui, notamos uma ênfase ao estudo do texto como

portador de estruturas que evidenciam marcas deixadas pelo escritor a respeito de um

leitor implícito, previamente formulado por ele. Esses textos analisados mostram uma

estrutura que antecipa a presença do receptor. O papel do leitor real seria determinado,

portanto, por essa estrutura . Para tanto, seus pesquisadores mostraram preocupação com o

objeto de leitura, não evidenciando (embora em alguns casos tenham afirmado que o

fariam) a atuação dos leitores no ato no exercício de sua função.

Como se vê, a hipótese de leitura que fundamenta a análise das obras utilizadas

como corpus nessas pesquisas, de fato “longe de propor uma recepção passiva, apresenta-

se como uma interação produtiva entre o texto e o leitor”. Esse é de fato escolhido e

programado no texto por seu escritor. Como a obra – texto produzido pelo autor - é um

objeto artístico, determina um efeito para os eventuais leitores que venham desfrutar dela.

Reflete, “uma dimensão comum a todo leitor previamente determinado pelo texto. ”

(JOUVE,2002). Talvez isso justifique o fato de uma mesma obra ser aceita por um leitor e

rejeitada por outros.

O que se constata é que Souza, embora não evidencie diferenças entre o

estudo do efeito e o da recepção, lança mão de parte dessa teoria ao analisar o papel do

leitor presente no conto de Machado de Assis. Por meio da Teoria do Efeito e da Teoria do

Gênero Fantástico mostra no texto desse consagrado autor a atuação de um leitor

ruminante que foi traçado antecipadamente, no momento de produção do mesmo, e que


323

deverá ser decifrado por um leitor real para que estabeleça como objeto estético. Já

Yasuda, lança mão de uma pesquisa teórico-aplicada que supostamente resgataria a

atuação de um leitor real, portanto sua recepção. No entanto, não centra sua atenção nesse

ato e sim no leitor implícito presente nos textos. A reflexão que provoca com sua pesquisa

é referendada pelos textos de Mario Quintana e Elza Beatriz V. Döllinger de Araújo. Ela

ataca o objeto quanto a aspectos de significação, procedimentos estilísticos, temas,

ilustrações. Ou seja, focaliza o texto, paratexto e extratexto para, enfim, cumprir seu

objetivo principal que é o de analisar a prática pedagógica dos professores na utilização de

tais textos.

Na mesma linha de pensamento está a pesquisa de Ferreira ao propor a análise

comparativa de quatro obras denominadas por ela como de “vanguarda”. Embora seu

objetivo fosse analisar a prática de leitura realizada na escola, propondo caminhos para a

formação do leitor, a pesquisadora também centra sua atenção nos textos. Num tom poético

que, ao nosso ver, provocou uma interpretação superficial sobre a prática de leitura, não se

fixou nem no ato de leitura nem na existência de um leitor prévio nos textos comparados.

Para uma pesquisa que visava à análise de obras de vanguarda, o mínimo que se esperaria

era a comprovação dos motivos que levaram a pesquisadora a classificar tais obras dessa

forma, o que não ocorreu de modo convincente a partir da análise minuciosa da estrutura

narrativa e do leitor existente nas mesmas, e que , infelizmente, não foi realizado por ela.

Seu enfoque pedagógico a impediu, talvez, de realizar uma análise mais profunda, menos

preocupada com as situações de leitura reais proporcionadas na escola, e mais calcada em

seu objeto de estudo.

Ressaltamos ainda, a necessidade de se fazer distinção entre o leitor implícito e

real nas pesquisas sobre leitura; entre o efeito e a recepção. Não se pode colocar todos

esses elementos numa mesma caixa sem fundos ao se propor a análise de textos, sejam eles
324

literários ou não. Tal equívoco teórico já foi suficientemente esclarecido por Wolfgang Iser

na introdução da segunda edição de O ato de leitura, v. 1. quando diz:

...o efeito e a recepção formam os princípios centrais da estética da recepção,


que, em face de suas diversas metas orientadoras, operam com métodos
histórico-sociológicos (recepção) ou teoréticos-textuais (efeito). A estética da
recepção alcança portanto, a sua mais plena dimensão quando essas duas metas
diversas se interligam. (ISER, 1996, P.7)

As preocupações destacadas nas pesquisas certamente estiveram e estão

presentes em milhares de outras que abordam o texto literário. Tais interesses não as

invalidam enquanto pesquisa sobre leitura, mas refletem tendências dos estudos relativos ao

leitor em sua interação com o texto. Constituem parte de uma teoria que focaliza um leitor

implícito que está registrado “na estrutura do texto e que antecipa a presença do receptor”

(ISER,1976).

B. Pesquisas de Recepção.

Os sete trabalhos presentes nessa categoria – 40% das pesquisas descritas nesta

dissertação - vão além da observação do leitor virtual, contendo uma pesquisa aplicada

com leitores reais ou que promovam a observação da recepção por meio de textos da

crítica. Seus pesquisadores focalizam a leitura de um ou mais textos, mostrando o

comportamento dos leitores quanto às suas preferências, rejeições, estratégias de leitura,

prazer ou não na atividade realizada. Esse grupo foi subdividido em outros três, de acordo

com o tipo de leitor real focalizado na pesquisa aplicada. Dessa forma temos pesquisas que

utilizam como sujeitos da pesquisa alunos do Ensino Fundamental, Médio e Superior,

professores e outras pessoas fora do ambiente escolar, tais como críticos da literatura. Na
325

tentativa de visualizar melhor a diferença provocada por esse leitor real, teremos: B1.

Recepção por parte da crítica especializada; B.2. Recepção por parte de professores

focalizando o processo de formação de leitores, portanto focalizando método, perfil do

leitor, preferências, etc. B.3. Recepção por parte do leitor real em formação.

Para analisarmos as pesquisas classificadas como de Recepção, seguimos como

critério que os projetos não apresentassem apenas uma pesquisa teórico-aplicada, mas

que o pesquisador se valesse da voz de um leitor real em sua experiência de fruição de

textos. Portanto, suas vivências pessoais e códigos coletivos seriam aspectos responsáveis

por dar vida às obras lidas, viabilizando um diálogo entre elas e leitor.

Nesse caminho, encontramos muita dificuldade para chegarmos ao conjunto de

textos apresentados aqui, visto que cada um deles apresentava tendências específicas que

giravam em torno de dois aspectos principalmente: o primeiro relativo ao ambiente em que

a pesquisa se realizou - ambiente escolar ou fora dela. Gostaríamos de ressaltar que a

Teoria da Estética da Recepção não foi concebida com fins pedagógicos e, muito menos,

tinha como proposta imediata a análise da questão da formação de leitores. Além disso,

verificamos também que as categorias efeito e recepção nem sempre ficaram distintas nas

pesquisas, ocasionando confusão na interpretação dos dados.

O segundo aspecto observado diz respeito à observação do grau de experiência

literária dos leitores reais.. Quanto à variedade de tipos de leitores encontrados, notamos

que, embora a terminologia seja ampla e muitas vezes se fale do mesmo tipo de leitor com

nomes diferentes, ela fica centrada em duas espécies: o leitor implícito no texto, abordado

nas pesquisas classificadas na categoria Efeito - item analisado anteriormente - e o leitor

real elemento importante para a classificação dos textos nessa parte.

Em relação a esse leitor real, verificamos uma distinção quanto a sua

experiência de leitura. Dessa forma observamos um leitor especializado – o crítico de


326

literatura – chamado por Iser como “leitor cultivado”; o leitor formador de outros leitores –

na maioria das vezes professores; e por fim o leitor em formação, alunos em diversos

momentos da vida escolar. Dessa foram, passamos a reagrupar as pesquisas reunidas nessa

categoria subdividindo-as em três grupos menores assim dispostos:

B.1. Recepção pela crítica especializada.

Composta do registro da recepção histórica de um texto a partir da crítica,

considerada aqui como um leitor mais experiente, mais refinado, devido ao grande número

de textos com os quais lida, bem como seu direcionamento para aspectos mais específicos

dos mesmos. Tal observação é realizada por um leitor cultivado, fora do contexto escolar.

Corresponde a 5% das pesquisas encontradas na seleção.

Pesquisa 1 O Amanuense Belmiro de Ciro dos Anjos Marândola (1980)


Tabela – Recepção pela crítica especializada

Marândola (Pesquisa 1) analisa a recepção da obra de Ciro dos Anjos por meio

da crítica que forneceu informações de como esta foi recebida por seus leitores em épocas

diferentes. Seu trabalho mostrou como o horizonte de expectativas dos leitores de épocas

distintas se modificou com o tempo, bem como as fronteiras de horizontes nas quais a

obra se inseriu. Além disso, a pesquisadora detectou no texto deste autor elementos que

objetivamente parecem dirigir o público para uma certa modalidade de recepção.

O referido texto não pode ser considerados apenas como impressões de leitura.

A pesquisadora realiza a tarefa de análise de dados de uma época, mostra uma recepção

histórica. Verifica dados de recepção de outros leitores, enfim, o que se noticia sobre a obra
327

analisada, buscando na própria análise literária dados que comprovem suas afirmações. Não

são, portanto, meros leitores no exercício de sua atividade – a leitura. Estão firmados por

um caráter mais científico, fundamentado por um leitor experiente, que não deve e não

pode ser confundido com um leitor em formação e muitos menos com um leitor que busca

formar outro leitor.

B.2. Recepção - processo de formação de leitores.

Composta do registro de experiências de leitura em sala de aula, com fins

pedagógicos, promovendo a observação de práticas de leitura, métodos empregados e o

próprio perfil do leitor, os quatro trabalhos selecionados para essa categoria correspondem

a 25% da pesquisas que compõem o corpus analisado nesta dissertação. Tais textos se

voltam para a voz do educador em suas atividades como agente de formação de leitores.

São realizados em ambiente escolar.

Nesse grupo destacamos as seguintes pesquisas:

Pesquisa 8 Entre versos e rimas Quaglia, 2000


Pesquisa 9 Em busca de Jovens Leitores Apaixonados Bittencourt, 2000
Pesquisa 11 Práticas de Leituras na Escola Zappone, 2001
Pesquisa 13 Escola e Literatura: Conectando os campos, Gasparello, 2001
um estudo sobre a aplicação do Método
Recepcional,
Pesquisa 19 A poesia na escola: viva a poesia! Garcia, 2002

Tabela – Recepção - processo de formação de leitores Pedagógica

Quaglia (Pesquisa 8) investiga a recepção de textos poéticos por leitores pré-

adolescentes, com idade entre 11 e 12 anos, cursando uma 6ª série. Além disso, observa

quais aspectos da metodologia de leitura de textos literários são importantes para promover

e incentivar a leitura prazerosa da poesia. O trabalho destaca-SE pela organização coerente


328

e harmoniosa do texto, pela linguagem científica utilizada com eficiência e pela

preocupação de não querer passar uma receita, mas uma visão renovada sobre as questões

de leitura. Em seu texto essas reflexões provocam mudança no comportamento da própria

professora que aplicou as atividades de recepção, bem como, nos alunos pesquisados.

Bittencourt (Pesquisa 9) aponta para um caminho ousado: traçar um perfil de

um jovem leitor apaixonado. Seu objetivo foi identificar a existência de jovens leitores

apaixonados e também traçar seu perfil por meio de comparações com outros jovens da

mesma idade e escola. A pesquisadora, embora faça um projeto que promova a análise de

informações fornecidas a partir das respostas a um questionário aplicado em 571 alunos da

5ª à 8ª série, apresenta como preocupação maior traçar um perfil psicológico desses alunos,

pouco abordando o texto literário e suas especificidades. O que a princípio parecia um

registro da voz desse leitor quanto à recepção de textos, tornou-se apenas um perfil.

Sua estratégia de pesquisa foi bastante curiosa no sentido de buscar por meio

de um questionário e algumas informações colhidas em ambiente escolar traçar esse

quadro. Chama a atenção o apoio vindo das áreas da Psicologia, Pedagogia, Sociologia,

História da Literatura e da própria Literatura Infanto Juvenil como suporte teórico para a

análise dos dados. A proposta da pesquisadora baseou-se em leituras realizadas ao longo da

vida dos pesquisados. Os leitores foram observados quanto aos hábitos sociais, gostos e

preferências em leitura.

Da análise dos dados, Bittencourt chega a duas categorias de leitores assim

denominados por ela apaixonados e interessados. O perfil dos alunos apaixonados por

leitura não apresenta nenhuma grande diferença, apenas que realizam as atividades de

leitura com prazer, do nosso entender, isso pouco acrescenta à discussão. Não é um projeto

de recepção de um texto, mas das reações provocadas ao longo de diversas recepções de

textos múltiplos aos quais essa clientela foi exposta.


329

Em Zappone (Pesquisa 11) encontramos um projeto de recepção formado por

relatórios de professores participantes do concurso Leia Brasil. Seu objetivo inicial foi

descrever as formas de ler na escola brasileira da região sul-sudeste. Além disso, também

buscou compreender o processo de construção do saber de leitura do professor. Teve acesso

a um material composto de fichas de inscrição e relatórios enviados, por diversos

professores, ao concurso Leia Brasil. Trata-se, portanto, de uma grande amostra do

pensamento docente, suas estratégias de motivação e formação de leitores. Seu instrumento

de coleta de dados foi bastante relevante, uma oportunidade ímpar de se verificar as formas

de ler presentes no país. Tais relatórios indicam a leitura escolar como sendo ensinada e

aprendida por meio de atividades coletivas e individuais propostas pelo professor,

consideradas como formadoras da leitura escolar.

A linha de pesquisa apresentada por Zappone elucida eficazmente muitos

caminhos da leitura no país, bem como práticas pedagógicas que colocam o professor

como um agente cultural de grande influência. Rompe com os mais pessimistas que dizem

que não se lê no Brasil. De acordo com dados lançados em sua pesquisa, apesar dos

problemas enfrentados no país, o número de leitores vem se ampliando consideravelmente.

Ela observa que, talvez não se possa mais afirmar que a maioria dos alunos não gosta de

ler. Quanto à prática pedagógica dos professores e suas concepções de leitura, Zappone

afirma que possuem formação precária de um modo geral. Também que o problema da

leitura é difícil de se resolver porque não depende apenas da escola, e sim de padrões

culturais e históricos, tanto dos professores quanto dos alunos. Importante foi sua

constatação de que esse número de leitores pode crescer consideravelmente em razão das

estratégias de mercado. No entanto, ressalta que este ponto causa uma grande preocupação

para o meio intelectual, afirmando que nem tudo que o mercado oferece é de boa

qualidade literária.
330

Gasparello (Pesquisa 13) propõe a recepção de textos a partir de uma oficina

de poesia. Seu objetivo principal foi comprovar que o professor da rede pública pode ter a

seu favor um método recepcional, fundamentado na Estética da Recepção. Ela afirma que,

muitas atitudes da escola acabam por afastar o leitor. Outros fatores, como a precariedade

das escolas, o despreparo de seus professores quanto ao conteúdo e ao método e a

insegurança em mudar sua prática pedagógica, são apontados como dificultadores da

aplicação deste método.

Apesar dos fatores negativos apontados e de algumas generalizações

registradas em suas conclusões e até mesmo de um julgamento precipitado dos dados

coletados, a pesquisadora defende a aplicação do método, por ele apresentar mudanças

significativas nas atitudes dos alunos em relação à leitura e às atividades realizadas. Ela

notou que a cada etapa do método o interesse dos alunos era ampliado, havendo interação

com o momento vivenciado e com o tema abordado no texto. No entanto adverte que a

escola deve pelo menos tentar resolver problemas mais urgentes como a escassez de

material e promover o tempo voltado à pesquisa e ao estudo, para que o professor possa

adquirir mais competência para desenvolver o trabalho de leitura da literatura na Escola.

Garcia (Pesquisa 19) propõe o estudo da situação da poesia na escola,

ressaltando o real conhecimento e interesse das crianças pelo texto poético. Para tanto se

utiliza de um projeto de recepção de textos poéticos oferecidos a alunos e professores

pertencentes a uma dada escola, coletando dados com professores, bibliotecários e alunos.

Sua trajetória vai da análise de poemas dirigidos ao público infantil até caminhos para

esclarecimento de como a criança compreende o funcionamento do sistema gráfico e

representativo da língua. Em relação aos professores, pretendia produzir um instrumento de

reflexão que pudesse produzir mudanças na prática pedagógica dos mesmos. Observou que

muito ainda há que se fazer quanto ao gênero poético na escola, local que, para muitas
331

crianças, continua sendo o único para a fruição de tais textos. Mostra a poesia como um

jogo e analisa algumas atividades contidas em livros didáticos questionando a qualidade

de seus textos quanto à promoção de emancipação literária e utilização pedagógica dos

mesmos. Constata que a fruição de poesias no âmbito escolar vem aumentando e ganhando

espaço editorial, embora isso ainda seja insuficiente e muito haja o que fazer. A amostra de

textos apresentada pela pesquisadora é significativa e seu trabalho sugere caminhos a serem

realizados.

Podemos concluir neste item, que a teoria da Estética da Recepção e a figura

do leitor permeiam essas discussões, embora não como eixo central. A preocupação

pedagógica é mais evidente e os pesquisadores tentam com suas reflexões encontrar saídas

para a formação de leitores em ambiente escolar. Não se pode denominar tais pesquisas de

“projetos de recepção” na concepção de Jauss. Embora registrem depoimentos de leitores

reais, não abordam especificamente questões de relevância para a recepção tais como: os

horizontes históricos das obras utilizadas, as expectativas dos leitores, o estranhamento, o

rompimento de expectativas, os vazios do texto a serem preenchidos pelos leitores, a

atualização da obra literária etc. No entanto, abordam questões significativas quanto ao

leitor em formação em ambiente escolar. Entre essas, podemos destacar a iniciativa de

Bittencourt em encontrar um perfil básico para os alunos que gostam de ler, as estratégias

dos professores para formar seus alunos em relação à leitura, a tentativa de se utilizar uma

metodologia nesse trabalho.

B.3.Recepção pelo leitor real em formação.

Trata-se da recepção composta do registro das impressões de leitura em

primeira mão, dando voz ao leitor real. Suas preferências, dificuldades, estratégias de
332

leitura, escolhas etc. O resgate dessa recepção é comprovado por registros escritos e orais,

às vezes por observação externa, filmagens e outros instrumentos de coleta de dados. A

preocupação do pesquisador nos dois projetos presentes nessa categoria não é meramente

pedagógica, mas de verificação de como se dá o processo de recepção com leitores de

diversas idades. Por isso a voz do leitor aparece registrada em documentos de recepção,

muitas vezes encarada como um processo que tem um momento de recepção inicial, que

vai se alterando à medida que esse leitor vai sendo exposto a outros momentos de recepção.

As pesquisas aqui relacionadas, correspondem a um total de 10% dos textos selecionados

nesta dissertação, abordam o texto como estrutura de apelo à recepção, sendo seu principal

objetivo dar voz a esse leitor, oferecendo-lhe instrumentos para que registre suas

impressões ao longo do processo de recepção proposto.

Pesquisa 14 A Prática de Leitura Literária no curso de Nascimento, 2001


Letras da Universidade Federal do Amapá:
algumas reflexões
Pesquisa 16 As crianças contam as histórias: os horizontes Carvalho, 2001
dos leitores de diferentes classes sociais
Tabela – Recepção pelo leitor real em formação.

Nascimento (Pesquisa 14) apresenta uma proposta de recepção voltada para os

futuros professores em uma Universidade. Seu objetivo foi observar a construção de

sentido na interação texto/leitor e leitor/texto. Tal estudo se baseia na Lingüística Aplicada,

na Teoria Literária, na Lingüística textual e na História da Leitura, entre outras linhas

teóricas citadas. A autora observa diversos níveis de interação na leitura; constata que a

escola pode ser também um espaço onde pode existir uma diversidade de leitura, embora

não deva perder a visão de especialista. Aparentemente seu projeto evidencia a questão do

efeito, mas não se sustenta nele e sim na voz do leitor que, exposto a um processo de

interação com o texto de Clarice Lispector, tenta se libertar da voz de especialistas e


333

registrar sua vivência na construção de sentidos. Os alunos que a princípio se mostravam

presos aos textos de análise crítica sobre a escritora, começaram a se libertar deles e dar

espaço para sua própria interpretação. Dado importante para as pesquisas – o aluno futuro

professor buscando sua recepção primeira, livre de amarras literárias, ou seja, sua voz

sendo respeitada. Sabemos que na Universidade esse leitor, supostamente formado, deveria

se especializar construindo uma argumentação sobre os textos com os quais trabalha com

bases sólidas calcadas na voz da crítica. Mas consideramos um avanço o fato de a

pesquisadora dar voz a esse leitor, que na pesquisa parecia surpreso em poder construir

sentidos diferentes aos que tinha acesso. Afinal, não será exatamente essa sua tarefa

enquanto formador de leitores? Como poderá realizá-la com êxito se não puder registrar

suas impressões?

Mudando para um leitor em início de formação, o estudo de Carvalho

(Pesquisa 16) apresenta a análise de vinte e quatro reproduções de narrativas infantis por

alunos de 4ª série. Nela, o pesquisador objetivou materializar a voz do pequeno leitor a

partir da investigação dos horizontes de leitura de crianças de diferentes classes sociais em

contexto escolar. Chamou nossa atenção a vasta bibliografia elencada pelo pesquisador no

corpo do texto. Tal bibliografia apresenta referência ao que se tem produzido mais

recentemente no país sobre Leitura e Estética da Recepção, ampliando assim o trabalho de

Ceccantini (Pesquisa 4). Carvalho aborda artigos, livros de pesquisadores conhecidos que

se dedicam ao estudo da Literatura Infantil, dissertações de mestrado e doutorado de

algumas das principais instituições de pesquisa do país. A comparação proposta focaliza

aspectos socioeconômicos dos alunos pesquisados. Não apresenta conclusões definitivas,

mas aponta caminhos referentes à recepção do texto infantil, aos modelos de narrativas que

circulam nas escolas, as marcas textuais de espaço, tempo, a configuração da criança


334

enquanto narradora, a formação do leitor infantil. Seu trabalho se destaca pela organização,

linguagem científica adotada, conteúdo promovido e articulação das idéias.

Como se nota, estas pesquisas mostram alguns aspectos importantes sobre a

recepção de texto propriamente dita. Preocupam-se em assinalar um processo que se inicia

com a alfabetização e se estrutura ao longo da vida dos leitores. Evidenciam a participação

da escola como instituição responsável por esse desenvolvimento, mas colocam o aluno-

leitor no centro das atenções e o professor, leitor mais experiente, como condutor desse

processo

C. Pesquisas de Recepção/Efeito.

Na última categoria desse item temos um total de 09 pesquisas,

correspondendo a 45% do corpus selecionado para a dissertação. São trabalhos que

contemplam as duas perspectivas anteriormente descritas, o efeito e a recepção.

Observamos nessa categoria a questão dos leitores, também focalizando seu processo de

formação, bem como o destaque de duas pesquisas fora de ambiente escolar com leitores

distintos.

De acordo com Iser (1996), no prefácio da segunda edição de O ato da Leitura,

essas duas orientações, apesar de distintas, complementam-se na medida em que:

...a recepção diz respeito à assimilação documentada de textos, e é extremamente


dependente de testemunhos, nos quais as atitudes e reações se manifestam enquanto
fatores que condicionam a apreensão de textos. Ao mesmo tempo porém, o próprio
texto é a ‘prefiguração da recepção’, tendo com isso um potencial de efeito cujas
estruturas põem a assimilação em curso e controlam até certo ponto. (ISER, 1996, p. 7)
335

Dessa forma, destacamos nove trabalhos selecionados nesta categoria que

abordam tanto o efeito quanto a recepção, mesmo que de forma não direta. Partem da

análise reflexiva do contexto de produção, dos efeitos provocados pelo autor na estrutura de

apelo dos textos até chegar à materialização da voz do leitor.

Entre eles percebemos também as tendências descritas nas pesquisas que

focalizam apenas a recepção – ambiente de recepção do texto – escolar ou não; e leitores

presentes nas pesquisas aplicadas. No entanto, algumas diferenças se apresentam e dessa

forma, os textos foram divididos em sub-grupos assim denominados:

C.1. Voz do leitor real - horizontes e perspectivas.

Selecionamos duas pesquisas - correspondendo a 10% do corpus - que

registram a recepção inicial de textos diversos. Embora tenham sido realizadas em

ambiente escolar, não focalizam questões pedagógicas de formação do leitor. Centram seu

interesse em materializar a voz do leitor no que se refere aos horizontes históricos das

obras utilizadas, às expectativas dos leitores, ao estranhamento, ao rompimento de

expectativas, aos vazios do texto a serem preenchidos pelos leitores, à atualização da obra

literária, etc.Foram selecionadas para esse item, as pesquisa:

Pesquisa 4 Vida e Paixão de Pandonar, o cruel do Ceccantini, 1993


escritor João Ubaldo Ribeiro
Pesquisa 18 Tempos e Espaços Culturais Corrêa, 2002

Tabela – Recepção Efeito - Voz do leitor real – horizontes e perspectivas


336

Para iniciarmos as reflexões sobre o grupo de pesquisas, destacamos o texto

de Ceccantini (1993) que elabora um projeto prevendo aspectos da produção,

contextualização da Literatura Infantil e uma ampla análise de pontos vitais sobre a Estética

da Recepção tais como: horizontes de expectativas, efeito e recepção e concretização,

distância estética, experiência estética, níveis de identificação do receptor com o herói,

entre outros. Seu texto talvez possa ser considerado pioneiro no meio acadêmico por

ressaltar referencial teórico importante para as questões de leitura e recepção da literatura

infantil, bem como, uma ampla pesquisa de campo que fundamenta e justifica um projeto

de formação do leitor proposto pelo pesquisador, num momento em que quase não havia

notícias deste tipo de pesquisa no país.

Corrêa (Pesquisa 18) fez sua investigação observando três grupos distintos de

sujeitos: pré-adolescentes, adultos do Ensino Supletivo e de curso Universitário. Os dados

registrados nessa pesquisa foram discutidos a partir dos fundamentos teóricos da

Psicolingüística, da Estética da Recepção e da Sociologia da Leitura. O autor analisou o

processo de recepção das obras literárias no âmbito escolar, verificando como a recepção

está relacionada às condições sociais de formação do leitor. Reconheceu o leitor como um

produto do meio cultural em que vive, defendendo que cada um lê com o que recebeu

durante sua vida. Interessante neste projeto é o fato de que ele divida a tarefa de leitura em

dois momentos: a fruição do texto literário e o conhecimento das obras num sentido mais

amplo. A primeira tarefa ficaria, segundo o pesquisador, a cargo da escola responsável

pelo Ensino Fundamental e Médio. E a segunda, ele aponta como de responsabilidade das

Universidades. Desta forma a Escola nos níveis Fundamental e Médio, uma das instituições

responsáveis pela formação de leitores, teria que promover não só o hábito, mas a gosto

pela leitura. Já às Universidades formariam a capacidade de análise crítica, bem como

habilidades pedagógicas do futuro educador, responsável pela tarefa inicial. Corrêa


337

condena o uso de manuais nas escolas, afirmando que as condições de recepção promovidas

pela instituição escolar são responsáveis, em boa parte, pelo afastamento do leitor. Ele

ainda reconhece que há divergência entre as obras valorizadas pela crítica e as que

realmente circulam nas escolas.

Como se pode notar, essas pesquisas contribuem para a exemplificação do que

se entende por um projeto completo de recepção, abordando as duas orientações propostas

por Jauss e Iser – Recepção e Efeito - numa dinâmica que se completa. Não é importante

aqui o fato de serem produzidas em ambiente escolar ou não, pois seu objetivo não é

pedagógico. O que é relevante é a materialização da recepção de textos diversos em seu

sentido mais amplo revelando realmente uma base teórica fundamentada na Estética da

Recepção.

C.2. Voz do leitor real - questões pedagógicas.

Embora as quatro pesquisas selecionadas aqui, correspondente a 15% do

corpus selecionado nesta dissertação, realizem-se em ambiente escolar e, portanto, revelem

preocupação com questões pedagógicas de formação do leitor, tais textos são considerados

como pesquisa Recepção/Efeito por evidenciarem os conceitos já elencados anteriormente

relativos a Estética da Recepção.

Estão nesse grupo de pesquisa, os textos:

Pesquisa 2 Recepção e interpretação de J. J. VeigaMedeiros,


1991
Pesquisa 12 A travessia de Maria – uma experiência Pauli, 2001
de leitura de Corda Bamba
Pesquisa 20 A leitura dialógica e a formação do Ferreira, 2002
leitor
Tabela – Recepção/Efeito –Voz do leitor real – questões pedagógicas.
338

Medeiros (Pesquisa 2), já em 1991, utilizando como alvo alunos do 2º e 3º

graus (hoje denominados como Ensino Médio e Universitário), propõe que exista um

projeto de formação que sustente a recepção fundamentada pelo próprio texto. Sugere

como caminho a reflexão sobre práticas pedagógicas do educador visando à autonomia do

leitor, que só se estabelece quando o professor dispõe de maior conhecimento sobre ele e se

posiciona como leitor mais experiente, que recebeu um referencial teórico suficientemente

adequado, viabilizador de um manejo mais eficiente sobre os textos. A experiência de

leitura aliada à metodologia do professor contribuirá para a ampliação dos horizontes de

expectativas dos alunos. Seu enfoque pedagógico,volta-se ao formador de leitores

prioritariamente.

Pauli (Pesquisa 12) analisa o texto Corda Bamba de Lygia B. Nunes sua

recepção por alunos de 8ª série. Seu projeto propõe a leitura de uma única obra para a

classe toda, sugerindo que um projeto de formação de leitura deva ser estruturado a partir

da sucessão de obras bem escolhidas, de acordo com critérios pré-estabelecidos. Segundo a

autora, este corpus, à medida que for sendo utilizado em classe, provocará uma ampliação

da capacidade de leitura, interpretação e fruição da literatura. Uma obra deveria atender

inicialmente ao horizonte de expectativas dos alunos, porém, paulatinamente, deveria

romper esse horizonte, provocando sua ampliação, atualização e o próprio gosto pela

literatura. É voltado portanto para o formador de leitor, embora também registre a voz dos

leitores aprendizes.

Ferreira (Pesquisa 20), numa pesquisa ampla voltada prioritariamente à questão

da recepção, iniciou suas reflexões abordando a formação do leitor no âmbito escolar,

ampliando sua discussão para a articulação das escolhas e preferências de determinados

autores e obras. Ao analisar as obras, abordou a construção do conhecimento do aluno por

um processo de retomada de obras que constrói a própria história de formação do leitor e


339

da própria literatura infanto-juvenil. Seu objetivo, ao evidenciar o processo de construção

dos textos, foi detectar o efeito produzido neles por seus escritores, bem como, observar a

dialogia que existe entre muitos deles.

Segundo a pesquisadora, é um fator que colabora com a formação do leitor. Seu

projeto foi ambicioso. Partindo de uma prática pedagógica desenvolvida durante quatro

anos inicialmente, mas que foram restringidos a dois, com alunos da 5ª à 7ª série do Ensino

Fundamental25, ela pôde observar a formação de um corpus escolhido pelos próprios

alunos. Nele se encontram obras avalizadas pelos jovens leitores e entre essas a

pesquisadora elegeu três representativas de três grupos: categoria “opcional” – A mina de

ouro de Maria José Dupré (1946); categoria “leitura proposta pela professora” – Harry

Potter de J. K. Rowling (2000); categoria “opcional entre obras de autor indicado pela

professora” – Corda Bamba de Lygia B. Nunes (1979),. O que se torna relevante neste

trabalho é a observação, entre alguns dos alunos, de um “crescer” imenso em sua

capacidade de leitura, ao longo dos anos. Segundo a pesquisadora, um dos fatores que

promoveram esse crescimento foi o estabelecimento de uma leitura dialógica entre as

obras, o que teria contribuído para a formação de seus leitores.

C.3. Voz do leitor real - fora de ambiente escolar.

Neste grupo que contém quatro pesquisas, correspondente a 20% do corpus

selecionado na dissertação, registramos a voz do leitor na recepção de textos diversos. São

projetos não voltados para questões pedagógicas, e não se desenvolvem na escola.

Abordam questões variadas quanto ao papel do escritor na formação de leitores e a

literatura de entretenimento, menos valorizada nos meios acadêmicos.

25
A pesquisadora justifica que omitiu os relatos referentes a 8ª série por questões de tempo para finalização
do mestrado.
340

Fazem parte do grupo, as pesquisas:

Pesquisa 3 Vidas Secas de Graciliano Ramos Tassara (1992)


Pesquisa 10 Ler/ouvir folhetos de cordel em Galvão,2000
Pernambuco
Pesquisa 15 O Leitor esse conhecido: Monteiro Lobato Debus, 2001
e a formação de leitores
Pesquisa 17 Das Bancas ao coração: romances Meirelles, 2002
sentimentais e leitura hoje
Tabela – Recepção/Efeito – voz do leitor fora de ambiente escolar

Tassara (Pesquisa 3) compara leituras de Vidas Secas produzidas por Antonio

Candido e Affonso R. de Sant´Anna. Seu objetivo foi demonstrar a o efeito e recepção da

obra por meio desses leitores cultivados e atestar sua especialidade na mudança de

horizontes históricos. Sua meta foi bastante curiosa ao propor um confronto entre textos da

crítica com a sua própria leitura. E também, por apontar que o efeito comprovado pela

recepção experimentada pode revitalizar aspectos da obra que prescindem de outros

estudos. Os textos dos críticos apresentados, foram considerados aqui como textos

produzidos por indivíduos que não participam do processo escolar efetivamente, embora se

saiba que os dois têm vasta obra que analisa o processo de leitura na escola.

Já Galvão (Pesquisa 10), concentra-se na análise de folhetos de cordel na

tentativa de fixar um leitor histórico presente no texto. Seu objetivo foi levantar indícios

sobre quem era o público leitor visado pelos autores/editores, bem como perceber e

descrever tendências e permanências no decorrer do tempo. Suas conclusões levantam

hipóteses sobre o perfil do leitor atual de cordel em confronto com o de leitores implícitos

nos folhetos. Trazem para a discussão acadêmica a questão do efeito e da recepção centrada

em leitores fora do ambiente escolar e na maioria adultos. Além, de buscar a experiência

recepçional em um gênero literário pouco estudado, a literatura de cordel.

Debus (Pesquisa 15), partindo de cartas de leitores de Lobato e da crítica sobre

o autor, chega ao testemunho de leitores adultos sobre a importância dessa leitura na


341

infância. Seu objetivo principal foi observar o escritor como um formador de leitores.

Trata-se de uma pesquisa que inova no sentido de observar Lobato sob uma perspectiva

ainda não estudada, segundo a própria pesquisadora. Ela constata que já nas primeiras

décadas de do século XX, o leitor poderia ser considerado como peça importante na

leitura, pois exercia um papel de mediador entre autor e obra. Debus classifica três tipos

de leitores em Lobato: um implícito, que corresponde àquele ao qual o escritor se dirigia;

um representado, personagens leitores presentes na obra do escritor; e, finalmente, um

leitor concreto, participante da vida real. Reconhece igualmente as estratégias do autor

para seduzir seus leitores e interlocutores vivos. Merece destaque a maneira original de

coleta de dados, baseada em cartas trocadas pelo autor e seus leitores, bem como, a

observação do “depois” a partir do contato com leitores de Lobato. Este fato revela como

a consciência do autor pode alterar a prática de leitura de um leitor. Além das categorias de

leitores que cria, Debus chama atenção para a forma como coletou dados de recepção, bem

como para os informantes que utiliza, valendo-se tanto de pessoas conhecidas do meio

literário quanto de leitores anônimos, evidenciando uma construção de um público que se

estabeleceu ao longo de uma vida.

Meirelles (Pesquisa 17), lançando mão de romances sentimentais, debate a

literatura de massa como objeto de estudo no meio acadêmico. Analisa a estrutura de apelo

dos textos mostrando a existência de um leitor implícito previamente formatado no texto.

Enfatiza a estrutura, importante na identificação das leitoras reais que se apropriam desses

romances. Aborda a questão da literatura feminina focalizando a mulher-personagem, a

mulher-leitora, a mulher pesquisadora e a mulher escritora. Seu principal mérito é trazer

para a discussão o debate sobre essa vertente ficcional, que tem público cativo há mais de

dois séculos, estabelecendo a compreensão dos mecanismos ideológicos e mercadológicos

que influenciam essa opção de leitora. Essa pesquisa não se realiza em ambiente escolar,
342

nem se preocupa com a formação de leitores no sentido pedagógico. Busca a compreensão

de um fenômeno de leitura dando voz a um leitor especifico.

Esse conjunto de pesquisas aqui comentado se destaca por proporcionar, ao

nosso ver, projetos completos que contemplam tanto o leitor implícito quanto o leitor real

no processo de recepção do texto. Contribuem dessa foram para a observação de dados

importantes tanto quanto a análise do efeito quanto à da recepção dos textos.

Na presente dissertação, os trabalhos abordados oferecem uma amostra do

estado atual dos estudos sobre Leitura e Estética da Recepção no Brasil. As dissertações e

teses apresentadas foram, em sua maioria, organizadas pelos pesquisadores de forma

eficiente, embora em alguns textos pudéssemos encontrar uma linguagem não adequada a

trabalhos científicos.

Importante foi constatar que os pesquisadores procuram analisar questões de

leitura voltadas para a recepção de narrativas e poesias. Isso reafirma uma preocupação

antiga com o gênero poético pode estar sendo esquecido no âmbito do ensino. A

constatação de que grande parte dos professores pesquisados apresenta falha na formação

também pode fomentar mudanças significativas tanto nestes profissionais, em relação a sua

atuação enquanto formadores dos futuros leitores, quanto nas pesquisas científicas

realizadas sobre o assunto. Ao nosso ver, estas não podem mais ficar restritas ao meio

acadêmico, devem tentar chegar mais próximas daqueles que podem se valer desses estudos

para melhorar a qualidade do que fazem na escola.

Entre os trabalhos que tratam especificamente da recepção de textos gostaríamos

de salientar a dificuldade de separá-los em pesquisas que abordavam a recepção de textos e

as que apenas ficam no efeito estético produzido pelo autor. Em muitos momentos alguns

se mostravam confusos em relação a essas categorias da Estética da Recepção. Tais

equívocos, podem ser justificados pelo fato da recepção de textos e o efeito estético serem
343

conceitos complementares, de difícil separação visto que Jauss e Iser, embora seguindo

caminhos diferentes em suas pesquisas, tinham em mente a figura do leitor e não mais o

centramento das análises ns obras e nos elementos contextuais.

Um aspecto que ficou extremamente salientado nos textos é a necessidade de

um projeto de formação de leitores que contemple não apenas alunos do Ensino

Fundamental e Médio como também dos alunos universitários, futuros professores que

irão entrar no mercado, apresentam dificuldades nesses assuntos. Esse projeto poderia

partir inicialmente da promoção de momentos de sensibilização e fruição de leitura para,

depois, aprofundar a análise das estruturas textuais da literatura, chegando ao processo

pedagógico.

Não poderíamos deixar de notar que toda a amostra reconhece o texto destinado

ao leitor infantil como um objeto literário para um leitor específico, apresentando,

portanto, características que devem ser consideradas tanto na escolha como no manejo dos

mesmos. A Literatura Infantil está sendo amplamente pesquisada em diferentes níveis e

com diferentes objetivos. Isto demonstra, talvez, que a superação da antiga discussão em

torno da aceitação desta como um gênero específico da Literatura esteja caminhando para

um desfecho feliz.

Finalizando estas reflexões, gostaríamos de destacar alguns desses textos que,

por sua originalidade e amplitude , podem ser considerados também como norteadores das

questões de Leitura e da Estética da Recepção. Sabemos que não são apenas estes textos

que tratam do assunto no âmbito da pesquisa científica, porém como uma amostra,

exemplificam bem sua qualificação. São elas as dissertações de Mestrado de João L. C. T

Ceccantini; Ilda Quaglia; Diógenes B. A. Carvalho; a de S. R F. Meirelles e, finalmente, a

tese de Doutorado de Hércules T. Corrêa. Já evidenciamos os pontos relevantes desses


344

trabalhos, mas gostaríamos de reafirmar que trazem numa linguagem científica as

questões mais significativas sobre Leitura e a Formação de Leitores.

Com essa reflexão esperamos ter contribuído para a divulgação do que se tem

feito no meio acadêmico, além de evidenciar a importância dessa teoria para todos que de

alguma forma trabalham com leitura/recepção de textos no Brasil. Acreditamos que nosso

empenho possa ser de alguma valia para outros pesquisadores no sentido de apresentar

dados reais que evidenciam tendências seguidas pela pesquisa nos últimos vinte e dois

anos sobre o tema tratado.


345

5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Um percurso de longas leituras...

Um caminho de agradáveis surpresas...


346

Referências bibliográficas.

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ZILBERMAN, R. Estética da Recepção e história da literatura. São Paulo: Ática. 1989.


350

6. ANEXOS

“Mas leio, leio. Em filosofias tropeço e caio,


cavalgo de novo meu verde livro, em cavalarias
me perco, medievo; em contos, poemas me vejo
viver. Como te devoro, verde pastagem. Ou antes
carruagem de fugir de mim e me trazer de volta a
casa a qualquer hora num fechar de páginas?”.

Carlos Drummond de Andrade


351

ANEXO A – Quadro - Identificação das Pesquisas.

Pesquisa ano título autor local nível


A recepção da Literatura: teoria e prática da
1 1980 Marândola, C.F. UNB Mestrado
estética da recepção.
2 1991 Recepção e Interpretação de J.J. Veiga. Medeiros, D. F. R. USP Mestrado
Vidas Secas - Uma recepção em horizonte PUC- Rio
3 1992 Tassara, M.C. A. Mestrado
ampliado. de Janeiro
Vida e Paixão de Pandonar, o cruel de J.
Ceccantini, J. L .C. UNESP -
4 1993 Ubaldo Ribeiro: um estudo de produção e Mestrado
T Assis
recepção.
O papel do leitor no conto Fantástico de UNESP -
5 1998 Souza, V. M. C. Mestrado
Machado de Assis. Assis
Poesia e alfabetização : estudo sobre o
6 1999 Yasuda, A M. B.G. USP Mestrado
Batalhão de Letras de Mario Quintana.
Caminhos de ler: uma formação do leitor
fluente e crítico em obras de Literatura
7 1999 Ferreira, M. B. USP Mestrado
Infantil e Juvenil. da vanguarda em Língua
Portuguesa.
8 2000 Entre versos e Rimas. Quaglia, Ilda UEM Mestrado
9 2000 Em busca de Jovens Leitores Apaixonados. Bittencourt, R..A.S. USP Mestrado
Ler/Ouvir Folhetos de cordel em
10 2000 Galvão, A. M. UFMG Doutorado
Pernambuco.
11 2001 Práticas de Leitura na escola. Zappone, M. H. Y. UNICAMP Doutorado
A travessia de Maria - uma experiência de UNESP -
12 2001 Pauli, Alice A. M. Mestrado
leitura de corda Bamba de L. B. Nunes. Assis
Escola e Literatura: Conectando os campos:
13 2001 um estudo sobre a aplicação do método Gasparello, I.V. UEM Mestrado
recepcional.
A Prática de Leitura Literária no Curso de
14 2001 Letras da Universidade Federal do Amapá: Nascimento,R.L.S. UNICAMP Mestrado
Algumas Reflexões.
O leitor esse conhecido: monteiro Lobato e PUC
15 2001 Debus, E.S.D. Doutorado
a formação de leitores. R.G.S.
AS CRIANÇAS CONTAM AS
PUC R.G.
16 2001 HISTÓRIAS:os horizontes dos leitores de Carvalho,D.B.A. Mestrado
S.
diferentes classes sociais.
Das Bancas ao coração: romances
17 2002 Meirelles, S. R. F. U.F. PR Mestrado
sentimentais e leitura hoje.
18 2002 Tempos e Espaços Culturais. Correa, H. T. U.F.M.G Doutorado
UNESP -
19 2002 A poesia na escola: viva a poesia! Garcia, Sílvia C.G. S. J. R. Doutorado
Preto
UNESP -
20 2003 A leitura dialógica e a formação do leitor. Ferreira, E. A. G. Mestrado
Assis
352

ANEXO B – Grade de Descrição.

PESQUISA X

a. Dados de Identificação.
Autor.
Orientador.
Título.
Instituição.
Nível de qualificação.
Ano de Finalização.
Número de páginas.
Resumo da obra.

b. Objetivos.

c. Material.
c.1. Tipo de texto abordado.
c.2. Tipo de Leitor.
c.3. Tipo de documento referente à recepção e efeito analisado.

d. Base teórica e bibliografia destacada na pesquisa.


d.1. Conceitos desenvolvidos.
d.2. Bibliografia destaca na pesquisa.
A. Textos analisados.
B. Referências teóricas citadas.

e. Detalhamento da pesquisa e metodologia.

f. Resultados principais apresentados na pesquisa.

g. Avaliação sobre a pesquisa

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