Tese Sobre Pesquisa Bibliográfica PDF
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Assis – SP
2005
RENATA MACEDO CAPATTO
Assis – SP
2005
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Biblioteca da F.C.L. – Assis – UNESP
filho, Assis/SP
filho, Assis/SP.
Este trabalho é resultado de uma pesquisa que tem como proposta descrever, analisar e
versando sobre a leitura/recepção de textos. Para alcançar esse objetivo, numa primeira
material, foram selecionados vinte trabalhos com base em dois critérios: textos não
que precisam ser divulgados; e textos que analisassem a figura do leitor segundo a Estética
os resultados efetivos de cada projeto. A seguir, realizou-se uma análise fundamentada nas
categorias “efeito” e “recepção”, tal como são concebidas pela Estética da Recepção. Como
This work is the result of a research, which intends to describe and to analyze twenty
dissertations and theories produced in the main Brazilian Universities, about the reading
and the reception of texts. At first, it was preceded to a rising of the scientific production
about reading in order to reach that aims at. From this material, twenty works were selected
starting from two criteria: no published texts in book format and texts that analyzed the
reader's illustration according to the Aesthetics of the Reception. It took place then, a
description of the material starting from an observation grating, visualizing the following
items: identification data of the work; objectives; approached material; theoretical base and
the researcher and an evaluation about each project effective results. Soon afterwards, it
took place an analysis based in the categories “effect” and “reception”, just as they are
sample of the current apprenticeship of the texts reading and reception researches,
Teaching.
SUMÁRIO
1. O ofício da pesquisa…………………………………………………................. 11
PESQUISA 1........................................................................................................ 45
PESQUISA 2........................................................................................................ 58
PESQUISA 3........................................................................................................ 71
PESQUISA 4........................................................................................................ 82
PESQUISA 5........................................................................................................ 95
PESQUISA 6........................................................................................................ 105
PESQUISA 7........................................................................................................ 115
PESQUISA 8........................................................................................................ 126
PESQUISA 9........................................................................................................ 138
PESQUISA 10 ..................................................................................................... 147
PESQUISA 11..................................................................................................... 162
PESQUISA 12..................................................................................................... 176
PESQUISA 13..................................................................................................... 188
PESQUISA 14..................................................................................................... 199
PESQUISA 15..................................................................................................... 210
PESQUISA 16..................................................................................................... 223
PESQUISA 17..................................................................................................... 237
PESQUISA 18..................................................................................................... 250
PESQUISA 19..................................................................................................... 267
PESQUISA 20..................................................................................................... 278
6 Anexos.................................................................................................................. 350
11
1. O OFÍCIO DA PESQUISA
E pesquisador...
E...
O fato que provocou nosso interesse pelo tema dessa pesquisa teve sua primeira
semente no cotidiano de sala de aula ao observarmos a rejeição dos alunos frente a alguns
textos literários. Observamos que, mesmo estimulados à leitura de obras conceituadas pela
crítica, muitos deles se mostram avessos a ela. Que motivos têm para tal procedimento? O
que os impede de ler, entender e interpretar tais obras? Estes questionamentos sempre
João Antônio - Patuléa, gentes da rua (1996) em uma escola particular com alunos da 8ª
série. No início, eles não se mostraram receptivos aos contos. À medida que se executou um
trabalho de ampliação dos conhecimentos dos alunos sobre o que estavam lendo, algumas
lacunas importantes para a interpretação foram sendo preenchidas por eles. Tais atitudes
de leitura a que foram expostos. Eles, embora continuassem a dizer que os contos de João
Antônio não eram os seus preferidos, apresentaram sinais positivos que motivaram ainda
resultado provocado pela recepção dos textos. Embora não tivessem sido realizados com
chamaram atenção. Destacam-se entre elas: a maneira como os alunos acharam o texto
13
Notamos, também, a dificuldade registrada por eles provocada pela ausência de ilustrações
O resultado final desse trabalho não foi fácil de ser digerido por um profissional
que esperava que seus alunos lessem com prazer. Os alunos diziam que não gostavam dos
contos, mas que reconheciam a importância deles. O não entendimento inicial, ao nosso
produção e das marcas literárias produzidas pelo escritor, se não gerou o prazer estético,
serviu para clarear, palavra várias vezes empregada nos depoimentos, um pouco o
A situação relatada nos faz refletir sobre a recepção de textos. Sabemos que,
numa sala de aula, encontramos uma grande diversidade de leitores. Muitos se recusam a
ler sem nenhuma explicação razoável para isso. Apenas dizem “Não gosto de ler”, “Isso é
muito chato”. Outros alunos lêem por pura obrigação, imposição de seus pais e da própria
escola, fazem a leitura como um exercício qualquer, sem prazer nenhum, achando-a chata,
mas necessária. Há outro grupo, ainda, que, estimulado em casa e/ou pela escola, se mostra
leitor, não só dos livros indicados por estas instituições, como também de outros a que são
É relevante que a atuação do professor de literatura seja vital para que se forme
o hábito de leitura. Igualmente importante é que a imposição de textos por eles provoca, na
maioria das vezes, um afastamento maior dos jovens leitores. Porém, como resolver este
impasse não indicando textos de qualidade literária para os alunos? Essa indicação, ao
nosso ver, faz-se necessária até mesmo para provocar o estranhamento no leitor – fato que
durante nossa formação acadêmica e profissional que justificam nossa preocupação com o
mundo da Leitura. Entre eles podemos lembrar, recordando Antonio Candido, do acesso à
literatura como um princípio democratizador. Também recordar dos PCNs, que traduzem
trazer dados novos para o que se denominou a “crise de leitura” na escola. Desde a década
de oitenta vários pesquisadores centraram seu interesse nessa crise que, segundo eles, foi
instituída por diversos fatores sociais, econômicos e pedagógicos. Sobre o fato, Maria
Só a partir dos anos 80, com o alerta dado pela ‘crise da leitura’, alguns
grupos de pesquisadores começaram a se preocupar com a renovação da
pedagogia da literatura e com a importância da literatura para crianças e
jovens utilizada na escola. (FARIA, 1999, p.9)
15
ativa uma das principais capacidades humanas que é o pensar. De acordo com o ECA,
Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 3º, é direito de toda criança ter
oportunidade que promova seu desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social.
Seria conseqüência lógica, portanto, o direito à literatura como uma das fontes desse
desenvolvimento.
sua cidadania e possibilitando um exercício da democracia, tal como Ana Maria Machado
propõe:
Uma sociedade que quer ser democrática tem que suprir essa deficiência
e garantir a todos que seja saciado o seu direito à leitura. E essa leitura,
sobretudo em países que ainda estão se construindo, não pode ser apenas
de entretenimento e de aquisição de conhecimento – embora esse tipo de
livro também seja importante e não possa ser desprezado. Mas é
indispensável que também se leiam textos criadores, textos que tragam o
prazer de pensar, interrogar, sonhar, ligar-se com o resto da humanidade
(inclusive gente de outras épocas e outros lugares), textos que brinquem
com a sonoridade da palavra; que aproximem conceitos díspares; que
desenvolvam a inteligência e o espírito crítico. Textos que usem as
palavras de maneira artística, rica, sublinhando a beleza que possa nascer
do contato entre elas, valorizando a multiplicidade de significados
possíveis que elas possam ter, se abrindo para a infinidade de conceitos
que elas podem apontar. (MACHADO, 2000, p.87-88)
vêm ressaltar a importância da leitura de diversos tipos de textos. Esse documento afirma
que “...a leitura bem feita garante a compreensão das informações recebidas, posterior
direito das pessoas, seu acesso como um dever social democrático e o texto estético como
Outro fato a ser notado é que o conceito de leitor, de Aristóteles aos dias atuais,
sofreu modificações consideráveis. Muitas teorias vindas após esse grande pensador
centram seu interesse nesse elemento tentando compreender melhor sua existência e
importância. Entre elas a Estética da Recepção, teoria que está no cerne de nosso trabalho.
atenção para o fato de que a Leitura é importante para a construção de um sujeito ativo e
interativo na sociedade. Paulo Freire explica essa importância afirmando que se trata de um
momento que:
... envolve uma compreensão crítica do ato de ler, que não se esgota na
decodificação pura da palavra escrita ou linguagem escrita, mas que
antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo
precede a leitura da palavra [...] Linguagem e realidade se prendem
dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto.
(FREIRE,1981)
17
compreensão se estabelece quando o leitor ativa seus conhecimentos prévios2 sobre dado
assunto e neles ancora os adquiridos no momento em que lê, produzindo, a partir de então,
parte do que Hans Robert Jauss (1979) denomina como “horizontes de expectativas”, ou
seja, o mundo no qual está inserido o aluno, suas preferências, expectativas, enfim, sua vida
e tudo que a povoa. Conforme exposto a esse processo, espera-se que o leitor se torne
ativo, consciente, reflexivo e crítico, meta almejada por todos que trabalham com o ensino
da leitura.
entendimento dos textos por eles utilizados. E também, de pesquisas que descrevam,
Nesse sentido, optamos por nortear nossa observação para o registro e análise
das pesquisas já realizadas no país sobre leitor e Estética da Recepção, com o objetivo
principal de evidenciar, a partir da amostra, o atual estado das pesquisas acadêmicas sobre
o tema.
2
Termo utilizado por Isabel.Solé. In: Estratégias de Leitura. Porto Alegre; Artmed; 1998, 6ª edição.
18
produzidas no período de 1980 – 2003, em ambiente escolar na maioria das vezes, em que
corpus, mesmo que de forma indireta, dado a ser analisado no decorrer de nossa reflexão.
realizada fixando-se como critério básico o fato de esses textos não terem sido publicados
em formato de livro. Portanto, não consta do material analisado uma vasta bibliografia já
conhecida sobre leitura e Estética da Recepção que foi publicada. O interesse foi fazer um
trabalhos serem considerados aqui como um material rico para a observação dos rumos
das pesquisas sobre leitura/recepção, que não pode ficar disperso nas bibliotecas do país.
que será descrito e analisado aqui, pode servir como um documento importante para
futuros pesquisadores, pois focaliza o estágio das pesquisas sobre o tema entre os anos de
1980 a 2003.
Destacamos, ainda, que quase nenhum trabalho desse tipo foi encontrado em
prático sobre a trajetória da pesquisa brasileira sobre leitura. Tais textos foram catalogados
informações importantes, ele não aparece como texto descrito e analisado no corpus.
Justificamos a não utilização do mesmo pelo fato de que nosso objetivo era trabalhar com
entendemos sobre o leitor segundo a Estética da Recepção, conceito que permeia não só a
feitura dos textos fixados como corpus da dissertação, como também, a análise da
É necessário esclarecer que tal conceito foi organizado aqui a partir de dois
autores: Regina Zilberman (1989) e Terry Eagleton (1997), entre outras leituras realizadas
considerados pelo mundo acadêmico como fontes de segunda mão, são importantes para
livro e que abordassem não apenas a questão pedagógica da formação do leitor, mas
ensino3 do Brasil e obtidas pelo contato direto com as bibliotecas4, bem como por Comut
Alguns exemplares foram adquiridos por doação ao grupo de pesquisa de Leitura e Ensino
Por meio desses endereços eletrônicos encontramos uma vasta bibliografia que
foi sendo triada com ajuda de meu orientador. Chegamos a uma lista com mais ou menos
quarenta trabalhos, os quais passamos a buscar. Fechamos o corpus analisado aqui pelo
3
Instituições educacionais: UNESP – Assis; UNESP – São José do Rio Preto; UNICAMP; USP; UEM; PUC
RIO; PUC – Rio Grande do Sul; UFMG; Universidade de Brasília e Universidade Federal do Paraná.
4
Bibliotecas das seguintes Universidades: UNESP, USP, PUC – RJ, PUC – R G do Sul, U. F. M. G.
21
evolução, até chegarmos à visão desse elemento segundo a Estética da Recepção - teoria
literária apresentada por Hans R. Jauss. Procuramos, ainda, diferenciar duas categorias
sentidos da leitura, portanto intimamente ligadas ao conceito que por hora desenvolvemos.
Quadro - Identificação das pesquisas. Elas foram organizadas em ordem cronológica, nomeadas
por PESQUISA 1, PESQUISA 2 etc., ano de realização, título, autor, instituição à qual pertencem
Descrição.
c. Material – item dividido em três partes, em que se evidencia o tipo de texto abordado
d. Base teórica - destaque dos principais teóricos utilizados para o desenvolvimento dos
Estética da Recepção. Nossa intenção foi chamar a atenção do leitor para os pressupostos
bibliografia utilizada nesta dissertação referente ao texto descrito. Tomamos esta medida
por achar que a repetição destes dados em quase todos os trabalhos, visto que muitos
textos, instrumentos de coleta de dados sobre a recepção dos mesmos. Segundo Délcio
em sua aplicação. Ele indica, portanto, técnicas para a pesquisa e fornece elementos de
análise crítica das descobertas. Observamos esses trabalhos por meio da classificação
proposta por Salomon que divide as pesquisas em: exploratórias e descritivas, aplicadas e
puras ou teóricas.
momento, a análise dos dados elaborada pelo pesquisador a partir do material coletado:
B. Pesquisas de Recepção.
C. Pesquisas de Recepção/Efeito.
(Arno Stern)
25
conceito de leitor segundo a Estética da Recepção. Tal conceito já foi antes discutido por
outros pesquisadores, entre eles destaca-se Hans Robert Jauss - maior expoente da
Estética da Recepção - que, com seu artigo exposto durante uma conferência na
no cenário da interpretação literária, visto que, ao analisar o efeito provocado pelo texto no
Para o recorte que apresentamos, além das teses formuladas por Jauss (1967) e
dos postulados de Iser (1976), utilizamos as reflexões de Luiz Costa Lima (1979), Terry
Eagleton (1983)5 e Regina Zilberman (1989) para a elaboração do capítulo. Essas leituras
serviram como fonte de consulta para os registros efetuados e, embora fontes secundárias,
são importantes documentos para a melhor compreensão sobre o papel do leitor na fruição
de textos literários. Além desses teóricos, utilizamos ainda Antoine Compagnon (1998)6 e
destaque se deve à observação de que eles estão presentes na quase totalidade dos
5
1997 – data da 3ª ed.brasileira utilizada nesta dissertação.
6
1999 - data da tradução brasileira. 2001 – data da 1ª reimpressão utilizada nesta dissertação.
7
2002 – data da tradução brasileira utilizada nesta dissertação.
26
Narrativa elaborado por Carlos Reis e Ana Cristina M. Lopes (1988) , identifica um leitor
Dessa forma, percebe-se que o leitor assume dois papéis distintos mas
realiza o ato de leitura com o objeto livro nas mãos. Já no segundo papel, também
designado por Umberto Eco (1979) como leitor modelo e por W. Iser (1975) como leitor
implícito, temos uma figura virtual idealizada pelo autor, inscrito no próprio texto para
quem se destina.
De acordo com Regina Zilberman, para H.R. Jauss existe uma distinção entre o
Vincent Jouve, definindo as relações entre esse leitor abstrato e o leitor de carne
e osso, explica que é preciso considerar o primeiro como um papel proposto ao segundo. Papel
desde o início pensado dessa forma. Que caminhos foram percorridos para que se chegasse
a esse conceito? Nessa trajetória muitos participaram, entre eles apresentaremos a seguir
É sabido que foi Aristóteles (384 – 322 ac.) o mais remoto precursor da Estética
da Recepção. Foi este pensador grego que conferiu ao receptor e ao efeito sobre ele causado
pela obra uma importância que só voltará a se manifestar significativamente no século XIX
(EAGLETON, 1997, p.76). Portanto, segundo ele, os fenômenos não precisariam ser
interpretados. Husserl sugere que ser e significar sempre estão atados um ao outro. Dessa
defendia a leitura imanente do texto, imune a qualquer coisa fora dele. Afirmava que não se
devia referir a nada sobre o autor, apenas aos aspectos de sua consciência que se
manifestam na obra em si. Assim, interpretar uma obra literária seria apenas uma descrição
passiva do texto - “uma descrição pura de suas (do autor) essências mentais”.
No que se pode perceber, Husserl não atribui ao leitor papel relevante quanto à
porque é sempre um ato intencional de uma pessoa – o autor - num determinado momento
do tempo. Diz que “o entendimento não é, em primeiro lugar uma ‘cognição’ isolável, um
28
ato particular que pratico, mas parte de sua estrutura de existência humana” (EAGLETON,
1997, p. 86).
o sistema de pensamento de seu mestre, mostra que a existência humana é um diálogo com
humana, revelando que ela “não é alguma coisa que fazemos, mas que devemos deixar
que aconteça. Devemos nos abrir passivamente ao texto, submetendo-nos ao seu ser
O que podemos apreender por meio destas idéias é que Heidegger atribui ao
leitor um papel passivo no trato com a obra literária. Embora reconheça a existência de seu
trabalho, este não assume nenhuma responsabilidade maior que a de receber o que já fora
efeito a ser obtido junto ao sujeito da recepção – que tem como objetivo formar e
transformar a percepção estética do receptor. De acordo com Iuri Tinianov “um bom
reconhecer uma função para o leitor e também por provocar uma permanente renovação
para alcançar o desejado efeito de estranhamento. Contudo, esse leitor ainda é visto como
texto.
29
visto que a significação advém da articulação entre leitor e autor. Assim, reconhece a
estético. Zilberman, explicando essa relação, diz que “a obra de arte é um signo, porque a
liga a visão imanente da obra de arte à sociologia. Chega ao conceito de norma, sua
principal contribuição para a Teoria da Literatura. Zilberman explica que normas para ele -
“são elementos de estabilização do sistema e incluem não somente critérios literários, mas
ideológicos, morais, sociais, etc”. Afirma a pesquisadora que este conceito é importante por
pela história da literatura”. Dessa forma, coloca a literatura como um fenômeno contínuo e
transformador. A norma liga leitor à obra literária, pois este precisa completar vazios
presentes no objeto estético. Conseqüentemente, registra a autora, “o valor deste objeto não
formalista de que a percepção da obra de arte não se dá de modo direto. Propõe uma nova
afirma que a concretização se realiza por meio de um código introjetado pelo recebedor
válidas, mas todas elas devem se situar dentro do “sistema de expectativas e probabilidades
típicas” que o sentido do autor permitir”. A obra literária “pode significar coisas diferentes
para diferentes pessoas em diferentes épocas”.Ainda que “as significações variam ao longo
da história, ao passo que os sentidos permanecem constantes, os autores dão sentido às suas
No entanto, sua posição é vista como autoritária e jurídica, posto que considera
Para, Hisrch, “o significado é o que o autor pretendeu que fosse, e não deve ser roubado ou
invadido pelo leitor. O significado do texto não deve ser socializado, não deve se
conceito de leitor que a Estética da Recepção nos apresenta. Ele já reconhece em seus
historicamente relativos de uma determinada cultura”. Mais que isso, também reconhece
que “a interpretação de uma obra do passado consiste num diálogo entre o passado e o
uma viva continuidade”. Em suas palavras constata-se que “o entendimento ocorre quando
31
Ingarden sobre a concretização. Segundo esse teórico polonês o leitor seleciona e organiza
seus elementos em todos coerentes, excluindo alguns e destacando outros concretizando certos
Como se pode observar pelas considerações feitas até este ponto, a figura do
receptor só veio a ganhar maior atenção a partir da década de 60, momento em que novas
longo do tempo. Tais categorias são essenciais para a visão de um leitor atual, que não mais
é visto apenas como um mero receptor, alguém que apenas executa o ato de leitura como
do leitor, a maneira como se lê e como se faz a construção dos sentidos, tanto do leitor
virtual quanto do leitor coletivo, conceitos distintos, são dados vitais para o entendimento
das duas grandes categorias que se colocam agora como fatores importantes para a
compreensão do que é o leitor. E para isso observamos a distinção estabelecida por Jauss
entre o que é o efeito e recepção. Quanto ao primeiro, observa-se que é determinado pela
obra, o segundo, que depende do destinatário ativo e livre. (COMPAGNON, 2001. p. 127)
seu autor. Ela se realiza pela sintonia de seu efeito estético na compreensão fruidora e na
outro, reconstruir o processo histórico pelo qual o texto é sempre recebido e interpretado
Iser também reconhece essa distinção quando ele diz que a obra literária tem
dois pólos: o artístico e o estético. Quanto ao primeiro, ele argumenta que se refere ao texto
produzido pelo autor. Já o segundo, diz respeito à concretização realizada pelo leitor.
É claro que a própria obra não pode ser idêntica ao texto nem a sua
concretização, mas deve situar-se em algum lugar entre os dois. Ela deve
inevitavelmente ser de caráter virtual, pois não pode reduzir-se nem à
realidade do texto nem à subjetividade do leitor, e é dessa virtualidade que
ela deriva seu dinamismo. Como o leitor passa por diversos pontos de
vista oferecidos pelo texto e relaciona suas diferentes visões a esquemas,
ele põe a obra em movimento, e se põe ele próprio igualmente em
movimento. (ISER, 1985. p. 48).
por um efeito experimentado pelo leitor e não apenas por uma definição preestabelecida
pelo autor da obra. Explicando essa interação, Compagnon diz que “a literatura tem uma
existência dupla e heterogênea que se concretiza somente pela leitura. O Objeto literário
autêntico é a própria interação do texto como o leitor, um esquema virtual em que o texto
Para Iser o leitor implícito é uma construção presente no texto e percebida pelo
leitor real por meio das instruções do próprio texto. Esta dinâmica se estabelece como um
jogo. Ele ainda afirma que “o conceito de leitor implícito designa uma rede de estruturas
que pedem uma resposta, que obrigam o leitor a captar o texto.” Portanto, explica
Compagnon, o leitor nesta perspectiva é reconhecido como uma estrutura textual bem
como um ato estruturado. Iser ainda observa como fator importante o repertório trazido
pelo leitor. Trata-se este de “um conjunto de normas sociais, históricas, culturais trazidas
34
pelo leitor como bagagem necessária à sua leitura.” Para que a leitura se efetive, de acordo
com este pensador, é necessária uma interseção entre o repertório do leitor real e o
aberto, liberal, generoso, disposto a fazer o jogo do texto. Um leitor ideal, crítico e culto,
familiarizado com estruturas dos textos canônicos, mas curioso em relação aos modernos”.
No entanto, Iser sofreu críticas severas por sua posição moderada quanto à pluralidade de
sentidos dos textos e por ignorar, a seu modo, a posição do leitor na história. O centro de
dimensão coletiva da leitura. Hans Robert Jauss, segundo T. Eagleton, “procura situar a
obra literária num ‘horizonte’ histórico, o contexto dos significados culturais dentro dos
quais ela foi produzida, para em seguida explorar as relações variáveis entre ela e os
‘horizontes’, também variáveis, dos seus leitores históricos”. (EAGLETON, 1997. p. 114).
vigentes na história da literatura8 até então. Além disso, assinalar posição contrária aos
8
Expressão utilizada por Regina Zilberman, 1989. p. 30.
35
Jauss continua sua crítica dizendo que a estética marxista ortodoxa não trata o
leitor de forma diferente da que trata o autor, interrogando-o apenas quanto a sua situação
social. Quanto aos Formalistas, ele evidencia que a obra só precisa do leitor enquanto
A solução proposta por Jauss para esse impasse passa, segundo Zilberman, pelo
com suas premissas que o caráter estético e o papel social da arte se concretiza na relação
obra/leitor. Ele diz que “a vida da obra literária não pode ser concebida sem a participação
ativa de seu destinatário”. Desta forma, Jauss confere ao leitor uma importância decisiva
literatura proposto por Jauss. Para isso nos valemos das sete teses de Jauss e das
1989- em que ela sintetiza com bastante eficiência o projeto desse teórico. Nos atemos,
desse ponto em diante, apenas a registrar as informações, não emitindo nenhum juízo de
literatura e história, entre conhecimento histórico e o estético”. Ele mostra que o leitor,
ignorado em seu papel pelos dois métodos, “é imprescindível tanto para o conhecimento
36
condicionada pela relação dialógica entre literatura e leitor, numa relação que possui
implicações tanto estéticas quanto históricas. A partir dessas constatações, Jauss questiona
da literatura”. Para explicar seu ponto de vista sobre a questão, Jauss formula um projeto
dividindo-o em sete teses. Zilberman analisa os pressupostos do teórico, orientando que das
literatura, manifesta-se durante o processo de recepção e efeito de uma obra, isto é, quando
esta se mostra apta à leitura. A obra pode se atualizar como o resultado da leitura. Esta
atualização ocorre com um indivíduo capaz de efetivá-la – o leitor. Este, nesse momento, é
sistema literário. O pesquisador se refere portanto a um saber virtual prévio. A obra não se
apresenta como novidade absoluta num vazio informativo, se não que “predispõe seu
público por meio de indicações, sinais evidentes ou indiretos, marcas conhecidas ou avisos
apenas reproduzidas. Cada leitor pode reagir individualmente a um texto, mas a recepção é
um fato social. Este é o horizonte que marca os limites dentro dos quais uma obra é
De acordo com as reflexões de Zilberman sobre essa tese, Jauss acredita que o
valor de uma obra decorre da percepção estética que ela pode suscitar (nesse momento se
aproxima dos formalistas e estruturalistas). Deduz-se que só é boa a criação que contraria a
Da distância estética trata a quarta tese de Jauss. Zilberman afirma que esta é
mais comprometida com a hermenêutica por que procura examinar melhor a relação do
texto com a época de seu aparecimento. Ao explicar essa relação, a pesquisadora justifica
que a reconstituição do horizonte de expectativas diante do qual foi criada e recebida uma
obra possibilita chegar às perguntas a que respondeu. Isto significa, segundo ela, descobrir
comunicação que se instalou. “Por responder a novas questões em épocas distintas o texto
36)
recepção das obras literárias ao longo do tempo. Sua argumentação continua afirmando que
para situar uma obra literária na história é preciso levar em conta a experiência literária que
a propiciou, ou seja, a história dos efeitos. Uma obra não perde seu poder de ação ao
transpor o período em que apareceu. O novo é uma qualidade móvel, com sentido estético
e também histórico, quando provoca o resgate de períodos passados. A História deixa de ser
vista como progresso e evolução. Ela se faz de avanços e recuos, reavaliações e retomadas
de outras épocas.
Esta tese, nos dizeres de Zilberman, aborda a Literatura e seu caráter sincrônico
Portanto, observa uma obra entre outras do próprio sistema literário a que pertence. Tal
observação focaliza o momento histórico e a articulação da referida obra com outras que
observa que Jauss apresenta as relações entre literatura e sociedade. Segundo ela, não sendo
existe para contrariar expectativas, pode levar o leitor a uma nova percepção de seu
universo. “a relação entre literatura e leitor pode atualizar-se tanto no terreno sensorial
como estímulo à percepção estética, como também no terreno ético enquanto exortação à
De acordo com Zilberman, a ciência precisa examinar seu objeto desde o ângulo
da ação que provoca. Para ela, Jauss, assumindo os méritos e problemas dos conceitos
outras vezes, resposta do leitor a sua experiência. Ela explica que as teses de Jauss se
destinam ao campo aplicado, visando conhecer melhor o produto artístico coletado pela
história da literatura.
42
instituições do Brasil por meio de contato com as bibliotecas - UNESP, USP, PUC – RJ,
mostrasse a importância das mesmas enquanto centro acadêmico no Brasil, formando assim
essa pesquisa a aquisição dos textos selecionados e, desta forma, decidimos como primeiro
critério, trabalhar com os que tivemos acesso efetivo. Outro critério utilizado diz respeito à
não publicação dos mesmos em formato de livro. Entre esses, chegamos ao corpus
presentes nessa seleção. Certamente se notam algumas ausências o que não significa que
são de menor importância para o tema tratado aqui. Apenas não se fizeram representar pela
Quanto aos itens que compõem a grade de descrição, foi determinado após a
leitura das dissertações e teses encontradas, observando-se quais dados eram semelhantes e
observando sua existência real ou apenas prevista pela estrutura de apelo do texto. Desta
forma chegamos às categorias apresentadas que descreveremos de forma mais completa nas
forma como foram registrados, por acharmos importante para o tipo de estudo que
propomos aqui.
45
PESQUISA 1.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
A pesquisadora se propôs:
objeto de estudo.
histórico-estético.
processo pelo qual o texto é sempre recebido por leitores de tempos diversos.
c. Material.
Rio de Janeiro pela José Olimpio em 1975. No entanto, no corpo do texto, a pesquisadora
observa que a reconstrução do processo pelo qual o texto foi recebido e interpretado por
quarto – mostra a década de sessenta com a 6ª edição do livro em 1966; o quinto – finaliza
com a década de setenta, para a qual a pesquisadora não evidenciou nenhuma publicação
projetos que visam à pesquisa aplicada. Desta forma a pesquisadora vale-se de autores
propôs. Entre eles encontramos: Ramos de Almeida, Milton Amado, Laís Correia de
Candido, Silvio Castro, Edgard Cavalheiro, Amândio César, Dias da costa, Raimundo
Correia, Fernando Correia Dias, Eduardo Frieiro, Robert D. Herron, Álvaro Lins, Ayres da
Mata Machado filho, Jácomo Mandatto, Luís Martins, Carlos Menezes, Adolfo Casais
Monteiro, José Augusto Pereira, Eduardo Portella, Roberto Schwarz, Tasso Silveira, João
48
crítico – com objetivos obviamente distintos. No primeiro grupo encontramos textos com o
grupo, realizou-se uma análise mais profunda da obra. Portanto, o leitor que Marândola
trabalha aqui se trata de um leitor real, produzindo textos com objetivos variados a partir
da década de trinta até setenta. Esse leitor – especialista em crítica literária - é histórico,
mais experiente e mostra a recepção da obra por meio de leitores anônimos, considerados
analisado.
textos da crítica separados em dois grupos: “crítica jornalística e ensaio critico”, nomes
atribuídos por ela de acordo com o interesse e objetivo do texto produzidos nas décadas de
30, 40, 50, 60 e 70. Verificou-se nessa análise dados de edição e publicação como ponto de
referência.
Seu estudo se fixa em fontes denominadas por ela como empíricas compostas
por resenhas críticas, artigos de jornal e revistas, coletados em sua maioria pela Fundação
Casa Rui Barbosa e Arquivo Museu de Literatura do Rio de Janeiro. Consta do material
Ao situar a obra tal como ela se apresenta ao leitor, a pesquisadora mostra sua
ligação com obras anteriormente publicadas, traça as fronteiras do horizonte no qual ela se
9
Os nomes elencados foram registrados na ordem em que apareceram na bibliografia, sem distinção de
função entre eles, nem grau de relevância
49
inseriu e detecta no texto elementos que objetivamente pareciam dirigir o público para uma
e interpretado por leitores de tempos diversos. Tal estudo levou em conta três níveis: o
culturais abriram caminho para compreensão da obra e seu alinhamento numa série.
autor e o texto, deixando em papel secundário o leitor. Marândola diz que a Estética da
Vodicka (1941) e Ingarden (1973) dizendo que “os tchecos foram bem sucedidos na
elaboração de alguns postulados básicos para a Teoria da Recepção, pois lançaram uma
50
Sua observação mostra que H.R. Jauss foi mais detalhista quanto aos aspectos
apontados. Seu estudo sobre a recepção procurou focalizar o caráter histórico da literatura
nos três níveis já citados anteriormente. Quanto a isso ela lança mão dos ensaios de Kothe
obra, do modo como ela é ou deveria ser recebida; Iser concentra-se no efeito observando
responsável por decifrar o texto, “é a soma de leituras, e não uma média [...] um
Jauss (1967) evidenciando o que o teórico propôs. Para isso, inicia uma reflexão sobre a
como é que a literatura e a arte podem ser capazes de definir-se ‘ativamente’ na sua base
social”. Essa teoria, segundo afirmações presentes no texto de Marândola, não consegue
explicar por que uma obra continua a proporcionar prazer estético e outras não. Tal
impossibilidade consiste , para Jauss, num dos pontos fracos da estética marxicista.
literatura, numa perspectiva diacrônica. Chega às contribuições dadas por Iuri Tinianov à
teoria da Estética da Recepção que “supõe um diálogo dinâmico entre obra, público e nova
obra, o qual pode ser enfocado como relação entre mensagem e receptor, entre estímulo e
p.41)
A. Textos analisados.
ANJOS, C. dos. O Amanuense Belmiro. 8ª ed. Rio de Janeiro: José Olimpio. 1975.10
B. Referências teóricas.
FOKKEMA, D.W. e KUNNE, I.E. Da crítica e da nova crítica. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 1977.
10
1ª ed. 1937.
52
uma ciência da literatura fundada na teoria da ação (1977). In: COSTA, Luiz Lima. A
literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1979.
1973.
ISER, Wolfgang. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, L. C. A literatura e o leitor:
JAUSS, H.R. A estética literária como desafio da ciência literária. Historia Medieval e
KOTHE, F. R.. O Formalismo como sistema. Cópia artigo inédito distribuído em aula na
RIFFATERRE, M.. Critérios para a análise de estilo (1959). In: Estilística estrutural. São
pp. 2999-309.
53
gerais sobre a Estética da Recepção. Nessa síntese, procurou definir a situação da teoria
reconhecimento feito pela pesquisadora sobre a antecipação das questões elencadas nessa
pesquisadora observa que abordou o tema utilizando o referencial teórico sintetizado. Seu
recepção da obra nas décadas indicadas. A recepção foi observada por meio de textos
colecionados ao longo de vários anos pelo próprio autor e doados à Fundação Casa de Rui
Barbosa, Rio de Janeiro. Como se pode constatar, a pesquisa se consolidou na análise dos
dados obtidos por meio dos registros da crítica ao longo do tempo. Por isso, a pesquisa foi
que boa parte do material analisado constava de artigos cuja preocupação básica consistia
54
propaganda do que de uma crítica literária. Esta foi sendo reduzida e substituída por
ensaios críticos melhor elaborados em relação à interpretação e análise da obra. Nos textos
momento de sua publicação. Ao longo dos anos, sua recepção determinou uma
“modificação de horizontes” e seu valor estético foi confirmado pela distância entre a
qualidade literária e as expectativas dos leitores – críticos que produziram artigos sobre o
recepção do leitor nas diversas décadas, a obra continuava a circular como material de
texto. A crítica se ateve à apreciação estilística do autor, à análise das marcas presentes no
grande medida está inserida no texto e que o processo de recebê-lo não se reduz
percepção guiada”. Ainda mais, que não basta situar em seus lugares o autor, a obra, os
análise da recepção de uma obra. É necessário tornar aqueles papéis e suas relações
palpáveis, através da reconstrução do diálogo da obra com o público, fundindo todos esses
pressupostos da Estética da Recepção. Não proporciona uma pesquisa aplicada, pois não
faz o que se denomina hoje uma pesquisa de campo. No entanto, foi classificada aqui como
Pesquisa de Recepção pela crítica especializada, por textos da crítica, não elaborados
especialmente para o registro da recepção de leitores reais, mas que observam a obra em
várias edições, focalizando como a mesma foi recebida, na visão da crítica, pelos leitores
anônimos.
uma visão geral sobre a Estética da Recepção, divulgando portanto seus pressupostos
Wolfgang Iser. Dessa forma, não se percebe na pesquisa de Marândola como as duas
teorias se complementam.
da Recepção no referido objeto de estudo concretiza-se na medida em que ela analisa o que
a crítica diz sobre a recepção do texto em diferentes épocas. No entanto, acreditamos que
trabalho, são registros segundo as impressões de alguns críticos calcadas no próprio texto e
em notícias sobre a aceitação ou não da obra de Cyro dos Anjos em cada edição
56
histórico. A pesquisa foi classificada como recepção especializada, pois são textos
produzidos por pessoas que tinham como principal objetivo não só o registro de
impressões de leitura, da sua recepção propriamente dita, mas da análise do votada para
e fazia-se necessário uma divisão do mesmo em dois grupos que ela denominou, apoiando-
primeiro, explica que se trata de “artigos, aos quais cabia em parte informar o público, em
parte criticar o livro e em parte anunciar a sua existência. Esta atividade aproxima-se do
crítica jornalística”. Quanto ao segundo, diz à pesquisadora que “são artigos da crítica mais
profunda, analítica, de uma perspectiva mais profunda. 'aquela que mobiliza recursos
lingüística, a semântica, as ciências sociais, a psicologia, a filosofia, a história das artes, etc.
que são instrumentos destinados à coleta de dados específicos sobre a recepção realizada
por leitores mais experientes. Desta forma, a pesquisadora não se equivoca ao estabelecer
como objetivo a recepção de textos, no entanto devemos considerar sua ressalva sobre as
um diálogo entre a obra e o público, visto que a recepção deste não é realizada diretamente.
57
O valor histórico estético a que chega é fruto da análise critica da época que, como
expectativas da crítica, pela reconstrução do processo pelo qual o texto é sempre recebido
certa forma condicionaram a recepção do romance. Ela constata que nas primeiras décadas
a crítica capta acontecimentos percebidos na obra, apenas pelo aspecto da história. A partir
com maior profundidade, sem contudo sair dos aspectos do conteúdo. Embora a
pesquisadora mostre a utilização de uma observação fundada no texto de Ciro dos Anjos,
focaliza nesses ensaios críticos semelhanças e diferenças na recepção feita pela crítica
sobre a obra, consideradas como recepções históricas que comprovam seu valor estético.
É importante perceber que a teoria proposta por Jauss não se preocupava com a
questão da recepção escolar e sim com a valorização do objeto estético e a forma como a
crítica concebia esse valor. Desta forma, Marândola faz uma boa utilização da teoria da
Estética da Recepção.
58
PESQUISA 2.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
leitor se relaciona com o texto, no sentido de interpretá-lo de forma crítica, uma vez que se
sabe que, dependendo do leitor e de suas responsabilidades relacionais com o texto, tem-se
várias leituras. Além disso, procurou divulgar o autor e sua obra junto aos professores de
literatura infanto-juvenil por julgar que seus textos possibilitam a emancipação do público
leitor.
c. Material.
bibliografia apenas a 15ª edição publicada em São Paulo pela editora Difel em 1985.
60
Medeiros observa a recepção dos contos num grupo de leitores reais, formado
por alunos do 3º grau do curso de Letras. Tais alunos se preparavam para ministrar a
analisado.
abordados, uma a cada encontro proposto e referente a cada um dos contos na respectiva
ordem lançada no item c.1. Essas paráfrases não foram realizadas em classe. Para cada
texto lido, os alunos tiveram um prazo de 15 dias para a entrega dos trabalhos.
partes. Na primeira delas, dados pessoais dos informantes e seus progenitores; na segunda,
informações sobre as relações mantidas pelos informantes e por seus pais com a leitura.
61
terminologia especifica e com o uso que se fará da teoria semiótica que o fundamenta.
em Paris. Esta escolha foi justificada pela pesquisadora por ela acreditar que a análise do
uma “superposição de três níveis de profundidade diferentes, articulados entre si pela busca
da construção do sentido que, segundo Greimas e Courtés (1979), vai do mais simples ao
temática e figurativa. Afirma que estes recursos são responsáveis pela coerência semântica
desenvolvida num nível mais profundo do texto, o que o sustenta enquanto tal. Ela alerta,
ainda, que à semiótica cabe estar sempre aberta e atenta, não se assumindo como um
modelo pronto e fechado a que qualquer texto poderá ser submetido para análise.
semiótica, entende a enunciação como uma atividade humana que pode ser examinada
pelo eixo da comunicação e pelo da produção. Comprova seu ponto de vista, baseando-se
nos pressupostos teóricos dos autores já citados, acrescentando Barros (1988). Para ela, a
forma, a pesquisadora entende a leitura como “um processo de interpretação que julga o
fazer do texto um produto das relações intersubjetivas do homem que vive em sociedade”.
procura, a princípio, explicitar como a teoria vê o leitor. E para isso lança mão dos
(comunicação) da obra de arte. Assinala dois modos de recepção da obra: o efeito com as
63
possíveis relações entre leitor e texto, e a recepção propriamente dita com a preocupação
conceitos teóricos de Ingarden e Iser. Ela chega ao conceito de vazios no texto que serão
teórico da Estética da Recepção, que afirma ser “a leitura é uma atividade comandada pelo
texto, responsável por seu efeito no leitor, realizado através da interação entre eles”. Esta
interação pode ser explicada pela psicologia social e pela psicanálise da comunicação. E é
nessa interação que se encontram os vazios dos textos ficcionais que precisam ser
Segundo Iser seria possível estabelecer três tipos de textos ficcionais: os que
se utilizam dos vazios para fins políticos, os que se utilizam dos vazios para fins comerciais
e os que se utilizam dos vazios para fins estéticos. Firmando, com essa explanação, a
significado. Ela explica que para este teórico “a recepção elementar ocorre por meio da
horizonte de significação maior em relação aos significados dados”. Este mesmo teórico
produtor sabe o que o receptor espera dele e este, por sua vez, sabe o que deve oferecer ao
produtor”. Já no segundo, distancia-se quando propõe outro objetivo. Para Stierle “os
textos ficcionais são textos de ficção apenas quando se possa contar com a possibilidade de
um desvio dado, desvio este não sujeito à correção, na verdade, apenas interpretável ou
criticável”.
64
Medeiros propõe em sua pesquisa uma relação lógica entre as duas teorias:
Semiótica e Estética da Recepção. Ela observa que as duas teorias aliadas oferecem
possibilidades de ensino de leitura e interpretação textual mais eficaz, pois para ela “pensar
observamos, ao longo do texto, outros, tais como: T. Eagleton (1983), L. C. Lima (1979), e
R. Zilberman (1989).
A. Textos analisados.
Platiplanto. 15ª ed. São Paulo: Difel, 1985. (1ª ed. 1959).
B. Referências teóricas.
COSTA, L. L.. A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1979.
ISER ,W. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, C. L. A Literatura e o leitor: textos
STIERLE, K. Que significa a recepção dos textos ficcionais? In: LIMA, L. C. A literatura e
TERRY, E. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo:
leitor e suas condicionantes prévias em relação à leitura, mostrando-as como causas das
Para realizar sua pesquisa, Medeiros optou por “trabalhar os textos dentro de
uma pesquisa aplicada, quer sob a ótica da teoria semiótica da análise do discurso, quer sob
A pesquisa aplicada foi realizada por meio de três contatos mantidos com os
elaboraram uma paráfrase do mesmo. Nesse momento, eles não receberam nenhuma
foram apresentadas informações sobre J.J. Veiga, bem como o gênero “fantástico”, gênero
privilegiado nos contos escolhidos. Também foram indicadas as fontes bibliográficas sobre
66
o autor e sobre o gênero em questão. Posteriormente, nova paráfrase foi solicitada aos
irmãos. Foi-lhes solicitado que fizessem outra paráfrase em que utilizassem os recursos
obtidos sobre a teoria semiótica Greimasiana. Foi proposto aos informantes que a
sobre os informantes e sua família. Na segunda, registrou dados sobre contato com a
fornecidos pela Teoria Semiótica. Tais conhecimentos foram colocados como facilitadores
da recepção e da interpretação. O projeto foi estendido à rede oficial de ensino, por meio
leitura e constatou que, como se sabia, não era nada promissora no momento. Tal situação
teórica que embasa o trabalho; o terceiro contém uma análise das estruturas discursivas dos
contos de J.J. Veiga; o quarto, a análise dos dados obtidos na pesquisa aplicada seguida de
conclusões finais.
67
Quanto aos resultados, percebe-se, pela leitura do texto, uma clara intenção da
pesquisadora em defender a idéia de que o trabalho com a leitura na escola deve ser
Medeiros reconheceu que seu trabalho não tinha como objetivo principal a
proposição de soluções para os entraves do ensino da leitura , mas que pretendia apontar
caminhos para uma possível reversão desse quadro. Nesse sentido, afirmou que a leitura é,
antes de tudo, “um instrumento de libertação que pode propiciar ao homem que dela
desfruta condições para compreender melhor o mundo em que vive”. No entanto, observa
que, para a realização dessa meta, é vital a clareza da concepção da noção de leitura, bem
como dos objetivos e dos resultados esperados. Em sua concepção, não se pode pensar que
“a compreensão da leitura é um dom que uns poucos leitores possuem em maior grau que
outros”.
Embora não seja a escola o único local propício para o ensino da leitura,
Medeiros diz que é o espaço mais ideal para essa aprendizagem. Também concluiu que a
formação noções básicas voltadas tanto à Teoria de Análise do Discurso quanto à Teoria
de Recepção de Textos.
todos os sentidos, propôs que o professor se libertasse dos livros-textos e montasse o seu
68
próprio material, após conhecimento das características das turmas com as quais trabalha. É
tarefa do professor, segundo a pesquisadora, “proporcionar meios para que seus alunos
decodifiquem alguns dos vários sentidos de um texto. O professor, como leitor mais
experiente, deveria conduzir esse caminho, mas para isso teria também que ter recebido
pesquisas que não priorizem o efeito estético produzido por um texto, mas que dessem
conta do diálogo existente entre o texto e o leitor real. Admitiu que a reconstituição do
leitor implícito no texto é fundamental para a leitura, mas advertiu que não se pode
esquecer de uma metodologia que amplie os horizontes de expectativas dos alunos, leitores
reais.
observação da recepção de contos de José J. Veiga por alunos do curso de letras. Foi
classificada aqui como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real – questões
pedagógicas.
Embora a recepção dos alunos seja direcionada para uma análise semio-
preocupação clara de observar como seus alunos, futuros professores, estavam lidando com
a recepção de textos literários. Revela portanto uma preocupação pedagógica voltada para a
formação de leitores.
69
da Recepção.
questões fundamentais para a Estética da Recepção tais como a forma em que o leitor se
relaciona com o texto no sentido de interpretá-lo de forma crítica uma vez que se sabe que,
leituras.
Seus objetivos, ao nosso ver foram atingidos, pois ela não pretendia uma análise
especifica da recepção de textos por seus alunos sem nenhuma interferência, e sim, a
observação de como uma teoria que reconhece o papel vital do leitor pode contribuir para a
emancipação dos mesmos quanto à leitura e interpretação de textos. Desta forma, o foco
contribuir para compreensão e interpretação do objeto lido. Ela contribui para um encontro
entre os horizontes de expectativas dos alunos com o horizonte histórico dos textos de José
Sua pesquisa já aponta índices importantes para a discussão das relações entre
interpretação dos textos encontradas pelos alunos. Vale-se de uma teoria centrada no texto e
que, portanto, mostra o efeito. No entanto, aponta para uma importante diferença que
consiste em valorizar a leitura realizada por um leitor empírico e para isso a recolha da
recepção dos alunos por meio de paráfrases evidencia a forma como concretizaram os
do que os alunos leram, ressaltando uma emancipação no processo de leitura dos mesmos.
Mesmo que para isso, a pesquisadora tenha apostado mais no conhecimento das estruturas
PESQUISA 3.
a. Dados de identificação.
Mestrado em Letras
Resumo da obra:
b. Objetivos.
históricos;
campo marginalizado.
c. Material.
O romance Vidas Secas de Graciliano Ramos, 56ª ed. Rio, São Paulo: Record,
1986 foi escolhido pela pesquisadora, por ser a obra, possuidora de aspecto intrigante na
leitor que procura um contato sempre renovado com o texto”. Segundo Tassara, a estrutura
de apelo ao leitor presente no texto esclarece as qualidades da obra que justificam sua
leitores reais, críticos de literatura. Justifica seu interesse por estas recepções dizendo que
um texto passado sobrevive não apenas porque ele desperta curiosidade quanto “as
11
LOBATO, Monteiro. Urupês. 35ª ed. São Paulo: Brasiliense, 1991.
73
questões antigas ou datadas, mas porque haja um interesse do leitor do presente no sentido
P. 109).
realizada pelos críticos. Desta forma, a pesquisadora não utiliza uma pesquisa aplicada,
mas a leitura histórica realizada por críticos. Tal recepção é viabilizada por Tassara por
meio dos seguintes sujeitos: Antonio Candido (1978), Affonso Romano de Sant´Anna
experientes quanto à fruição literária, a linguagem e a análise crítica. São leitores reais que
Para verificar a recepção e o efeito nas concepções propostas por H.R. Jauss e
Wolfgang Iser, Tassara parte de algumas recepções históricas da obra. Ela se utiliza,
então, de leituras dos críticos apontados e da sua própria leitura apontando semelhanças e
livro Educação pela Noite, publicado pela editora Ática, 1987; e Literatura e Sociedade,
Barbeito), publicado pela editora Taurus, Madrid, em 1987. Bem como, pela Teoria da
Estética da Recepção proposta por Hans Robert Jauss em Pour une Esthéthique de la
Réception. (Trad. De Lállemand par Claude Maillard), texto publicado pela Editora
Tassara evidencia em sua pesquisa uma base teórica calcada nos pressupostos
de Wolfgang Iser e Hans Robert Jauss, da Estética da Recepção e mostra que a estrutura de
indícios de uma preocupação maior com esta questão e que, é marca do mundo moderno a
busca de seus significados. Para justificar seu ponto de vista cita Michel Foucault (1987 -
75
como meio para buscar sentidos. Segundo ele “a linguagem não é um sistema arbitrário;
está depositada no mundo e dele faz parte”, na medida em que “as próprias coisas
escondem e manifestam seu enigma como uma linguagem.” (Foucault, 1987 apud
crescente de investigação dos sentidos do texto. Para ela “as teorias interpretativas
erigiram-se a partir do momento em que se necessitou dar valor ao objeto artístico, pela
este momento, Tassara chega aos teóricos da Escola de Konstaza – W. Iser e H. R. Jauss.
Ela aponta, citando Iser, a diferença entre “arte total” – do período clássico - e “arte
No entanto, ela evidencia que tal importância se fixava apenas no eixo da produção.
Apenas com os teóricos da Estética da Recepção que esse quadro se altera, oferecendo
compreensão de que, “em nosso tempo, além dos sistemas imanentistas de interpretação, se
pode sair para uma orientação mais aberta em que a significação inacabada de uma obra vai
obra só começa a acontecer de fato, no ato de seu recebimento pelo destinatário. Desta
Iser) que assume, de certa forma, a distância entre o mundo e a linguagem, o homem e a
Prossegue sua explanação explicitando de forma mais incisiva a diferença entre o efeito e a
recepção. Para isso se fixa nos pressupostos teóricos de W. Iser, observando como ele
recepção que, “aproximando caracteres estético e histórico, isolados nas demais correntes
teóricas, resgata a verdadeira historicidade das obras de arte, ao mesmo tempo em que
realizada pela pesquisadora. Entre eles: Jan Bruck (1982), Luis Costa Lima (1979),
A. Textos analisados
RAMOS, Graciliano. Vidas Secas de, 56ª ed. Rio/ São Paulo: Record, 1986. (Não consta
data da 1ª edição)
77
B. Referências teóricas.
BRUCK, J. From Aristotelian mimesis to ‘bourgeois’ realism. In: Poetics II. North-Holland
The reader in the text. (Essays on Audience and Interpretation) Princeton: Princeton
________. Nietzche, Freud e Marx – Theatrum Philosoficum. 4ª ed. São Paulo: Princípio,
1987.
LIMA, L. C. A literatura e o leitor. (Sel., coord., trad.) Rio: Paz e Terra, 1979.
________. Teoria da literatura em suas fontes. Rio: Francisco Alves, 1983. Vol. 2.
O texto de Tassara é composto por seis partes distintas que traça um percurso
sinalizador para o leitor dos caminhos percorridos por ela até à conclusão de sua pesquisa.
78
Ela inicia seu texto mostrando seu caminho para um leitor que, segundo ela, não é
desavisado.
Fundamenta sua pesquisa por uma teoria que ressalta a trajetória de atribuição
de sentidos do leitor como eixo fundamental das questões da interpretação. Fixando sua
sua pesquisa.
de Vidas Secas. A autora compõe, no terceiro capítulo do texto, uma grande tela em que
horizontes históricos que terão que ser reconhecidos pelo leitor desta obra. Interessante é o
momento em que a pesquisadora mostra as estratégias textuais utilizadas pelo autor, que
evidenciam uma intenção prévia de colocação de vazios na obra, os quais funcionam como
marcas a serem preenchidas pelos leitores de todas as épocas. Seguindo esse raciocínio,
afirma que os vazios presentes na obra podem revelar outros homens. Ela passa então a
forma, ela finaliza seu texto, no sexto capítulo, dizendo que as questões presentes no
trabalho oferecem ao leitor uma teoria calcada no receptor bastante viável para o resgate
como na sua própria recepção do texto de Graciliano Ramos, não esgota o tema por ela
proposto. No entanto, ela sinaliza questões importantes que ajudam a ampliação dos
crítico. Segundo ela, “ao leitor surge uma nova oportunidade de contrariar
suas expectativas, uma vez que em Vidas Secas, pode-se oferecer, mais
teoria para o receptor pode encontrar o seu limite. Segundo ela, “se antes, este limite, de
fato, se encontrava no pólo textual ou nos paradigmas tomados, agora abrange também o
pólo oposto.”
aplicada, realizada em 1992, que promove alguns avanços frente à análise literária no
Brasil. Tassara, embora nomeie seu projeto como apenas de recepção de textos, propõe
Interessante foi confrontar os pontos de vista dos críticos a que faz menção –
Antonio Candido e Affonso Romano de Sant´Anna – com a leitura que ela faz da obra. Seu
evidenciar marcas que oportunizaram diferentes condições de sentidos. Como ela mesma
dialeticamente o estranho”. Ainda mais, que a leitura de Vidas Secas ofereceu a ela,
enquanto mais uma leitora do texto, “a vivência de outro mundo diferente do habitual.
p. 132)
menos por testemunhos nos quais as atitudes e reações se manifestam enquanto fatores que
condicionam a apreensão de textos. Ao contrário disso, Tassara discute Vidas Secas por
meio do próprio texto e sua configuração, evidenciando o efeito provocado no leitor por
Apontamos este dado não como equívoco teórico de sua parte, visto que ela
deixa suficientemente claro no texto seu embasamento nas categorias que compõem a
efeito da obra por meio da observação dos horizontes históricos registrados pelos críticos.
82
PESQUISA 4.
a. Dados de identificação.
Título: Vida e Paixão de Pandonar, o cruel, do escritor João Ubaldo Ribeiro: um estudo
de produção e recepção.
Número de páginas: a pesquisa foi dividida em três volumes:o primeiro, 242 páginas; o
Resumo da obra:
b. Objetivos.
Romantismo;
Thurder (1894/1961);
obra, realizada com uma oitava série de uma escola pública de Assis, no
ano de 1989.
c. Material.
juvenil Vida e Paixão de Pandonar, o cruel, do escritor João Ubaldo Ribeiro, Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1ª edição em 1983. Esta análise se estruturou tanto em relação
84
A escolha foi justificada pelo pesquisador por vários motivos, entre eles: o fato
de João Ubaldo ainda não ter sido, até o momento de realização do trabalho, objeto de
estudo que dessa conta do conjunto de sua obra; por se tratar de uma obra que “não se
associada.”(CECCATINI, 1993) Além disso, Ceccantini diz que se trata de um livro que
faz parte do projeto Ciranda de Livros de fácil acesso em bibliotecas de todo país.
Ceccantini realiza sua pesquisa com leitores reais, alunos da 8ª série “C” da
EEPSG “Instituto Doutor Clybas Pinto Ferraz”. Dos 27 alunos da sala, apenas 22
número registrando que foram excluídos da análise os questionários referentes aos alunos
leitura. Ceccantini fixou: Modalidade I – leitura de obra de livre escolha dos alunos;
análise das perguntas realizadas sobre a leitura desta, realizada com uma oitava série de
mercado. Entre tantos pesquisadores citados por Ceccantini destacam-se, em seus diversos
textos sobre o assunto, Regina Zilberman, Marisa Lajolo, Edmir Perroti, Eliana Yunes,
um ponto comum entre eles que “converge para o reconhecimento de que, na segunda
questão do uso do livro como instrumento da pedagogia e não necessariamente como arte.
Ao analisar a obra de João Ubaldo, o pesquisador coloca-a como “uma obra bastante
86
afinada com o modelo emancipatório e em perfeita sintonia com algumas obras publicadas
nas últimas décadas , que apresentam uma outra visão da infância e da adolescência”.
de recepção de textos. A situação inicial evidenciada pelo trabalho remete ao fato de que
na época – 1993 – quase não existiam estudos que se ocupassem do leitor. Sobre isso ele
diz:
pesquisador lança mão dos fundamentos teóricos da Estética da Recepção. Inicia sua
reflexão observando o estatuto do receptor na história da teoria literária. Para isso, faz um
percurso que parte de Aristóteles, passa pelo Formalismo Russo, Estruturalismo Tcheco até
chegar a Hans Robert Jauss (1967). Nesse momento ele estabelece alguns pressupostos: a
experiência estética.
Ceccantini, os pressupostos de: Hans Robert Jauss (1974/78/81); Luiz Costa Lima (1979);
87
Alice Vieira (1988); Regina Zilberman (1989); Bordini e Aguiar (1988). Entre 159 obras
teóricas citadas no decorrer da dissertação, destacamos ainda alguns autores que julgamos
relevantes quanto à análise da recepção: Maria do Rosário Magnani (1989); Mieke Bal
(1977); Richard Bamberger (1986); Paulo Freire (1986) Peter Buerger (1977/78); Terry
Eagleton (1983); Wolfgang Iser (1979); Jean Joubert (1988/89) Creobel Maimoni (1991);
Maria Helena Martins (1984/89/91); Dionísio Toledo (1970); Eliana Yunes (!984/88/89),
entre outros.
A. Textos analisados.
RIBEIRO, João Ubaldo. Vida e Paixão de Pandonar, o cruel. 1ª ed. Rio de Janeiro: Nova
Fronteira, 1983.
B. Referências teóricas.
BAL M. Narration et focalization: Pour une Théorie des Instances du Récit. Poétique. Paris,
BAMBERGER, R. Como incentivar o hábito de leitura. 2ª ed. São Paulo: Ática, 1986.
________. A literatura infantil: histórias, teoria, análise: das origens orientais ao Brasil
Terra, 1979.
EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo,
FREIRE, P. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. São Paulo:
1981.
Charlottesville,1974.
MAGNANI, M. do R.. Leitura, literatura e escola: sobre a formação do gosto. São Paulo:
Contexto,1991.
VIEIRA, A. Análise de uma realidade escolar: o ensino de literatura no 2º grau, hoje. São
aplicada.
com a produção que lhe é contemporânea, destacando-se por sua boa qualidade literária, ao
lado das melhores obras publicadas no período; o intertexto estabelecido pela obra -
90
relações da obra com outros textos marcando a fonte de influências claramente assumida
pelo autor.
dessa pesquisa foram fixados a partir da Estética da Recepção, o estatuto do receptor, bem
sócio-cultural dos alunos entrevistados, abordando sexo, idade, renda familiar, escolaridade
dos pais, o trabalho, o tempo livre. Só depois partiu para a descrição da entrevista e para o
expectativas dos alunos, observando os aspectos que teriam contrariado profundamente tais
informações lançadas pelos alunos em seus registros que mostraram pontos em que houve,
Ele lança uma proposta de reflexão aos professores que trabalham com literatura e que se
visceralmente uma obra que possui – para nós, em particular, ou para a crítica, em geral –
reconhecido valor literário.” E mais “... a que ilações poderíamos chegar para uma didática
da leitura ou, mais especificamente, para uma didática da literatura, conscienciosa, crítica e
qualificada como de bom nível literário, reconhecida não apenas pelo pesquisador como
também pela crítica, sua leitura “não passou do nível da ruptura da norma, em oposição ao
sua transmissão.”. Ele afirma ainda que nenhuma das duas atividades básicas, relativas à
experiência estética, apontadas por Jauss no que toca à recepção (aistheseis e catharsis),
obra, mas de avaliá-la em relação à clientela em que se vai utilizá-la. Ele diz:
não para uma determinada faixa etária ou escolar, uma panacéia milagrosa. Igualmente, não
se resumiria a uma estratégia espontaneísta para a exploração das obras por parte dos
ele, “o poder de persuasão que a experiência do diferente pode suscitar no espírito dos
alunos parece-nos tão relevante para a formação do leitor quanto a fruição contínua de
professor de literatura:
leitor implícito no texto de João Ubaldo quanto um leitor real que ainda está em formação.
opinião dos alunos quanto à escolha do livro, avaliação geral da obra, os horizontes de
narrativa.
94
Ele constata que a obra foi rejeitada pelos alunos, no entanto observa que na fala
dos mesmos há pontos em que ela atendeu suas expectativas– o tema namoro, o humor. O
Seus objetivos foram amplamente atingidos, visto que realiza a análise da obra,
exemplificada por meio da análise da entrevista realizada com os leitores. Nela foram
PESQUISA 5.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
apresentados.
96
c. Material.
Assis. Para isso ela escolheu como corpus literário da pesquisa os contos: Uma excursão
milagrosa, publicado no Jornal das Famílias (1866) e A chinela turca, inserido em Papéis
Avulsos (1882).
do leitor formulado no próprio texto. Diz à pesquisadora que analisará “as proposições
básicas da teoria desenvolvida por W. Iser tais como a concepção de vazios do texto, de
p. 52).
97
centra-se em Iser sua análise mais veemente. No capítulo terceiro, páginas 51-83, Souza,
estratégias (Iser). Dessa forma, contatamos que sua pesquisa focaliza o leitor implícito nos
centra-se nos dois contos já relacionados anteriormente, visto que Souza vai fazer uma
análise profunda das estruturas discursivas dos textos, evidenciando o papel do leitor
implícito em diversos momentos da prosa de Machado de Assis. É por meio dos dois contos
analisados que a pesquisadora evidencia os pontos utilizados pelo escritor para enredar seu
implícito capaz de perceber e interagir com as estratégias utilizadas por Machado para
mostrou a situação de sonho e realidade nos textos analisados que, só durante o processo de
leitura poderá verificar a manifestação do caráter duplo presente nos mesmos que se
mostram através de vários elementos tais como a construção de personagens sob o signo da
“confunde-se com o autor, aquele que introduz a narrativa podendo ser classificado como
“ora através das formas verbais no imperativo afirmativo e negativo, ora por meio de
prender a atenção de seus leitores. Sua competência é testada pelo autor nos textos
analisados, no sentido de que ele aposta no entendimento das alusões presentes, bem como
Segundo Souza, Machado convida seu leitor, por meio de suas estratégias narrativas, “a
enriquecimento que exige do leitor implícito proposto pelo autor um repertório variado para
estabelecer associações entre o texto lido e outros. Portanto, “o intertexto é o caminho que
A partir desses dados, Souza constata que existe uma divisão na concepção do
que é fantástico e que seu enfoque norteou-se, prioritariamente, pela teoria desenvolvida
empírica. Percebemos, na comprovação das hipóteses lançadas, outros nomes, tais como:
99
Josef Bella (1986), Alejo Carpentier (1987), Irlemar Chiampi (1980), Howard Phillip
Lovecraft (s.d.), José Paulo Paes (1985), Vladimir Propp (1988), Jorge Schwartz (1981).
pela autora aborda os princípios teóricos formulados por Hans R. Jauss, especialmente
sobre as experiências estéticas. Passa por uma rápida verificação sobre os postulados
desenvolvidos por Ingarden em razão da reestruturação que Iser faz de algumas de suas
noções teóricas, sobretudo dos pontos de indeterminação, para chegar à análise das
proposições básicas da teoria desenvolvida por Iser no que elas oferecem como elementos
para uma maior compreensão dos efeitos que os textos possam causar no leitor: concepção
Terry Eagleton (1983); Roman Ingarden (1979); Wolfgang Iser (1996 – 1979) Hans Robert
B. Textos analisados.
ASSIS, M. de. Uma excursão milagrosa. In: Jornal das Famílias, 1866.
B. Referências teóricas.
EAGLETON, T. Teoria da literatura: uma introdução. Trad. Waltensir Dutra. São Paulo,
1980.
ISER ,W. O ato da leitura. (Trad. - Johannes Kretschmer) São Paulo. Ed.34, 1996.
________. A interação do texto com o leitor. In: COSTA, L.L. A literatura e o leitor: textos
________. A história da literatura como provocação à teoria literária. São Paulo: Ática,
1994.
Paulo:Brasiliense, 1985.
PROPP, V. Morfologia do conto fantástico. (Trad. Jasna Paravich Sarban). Rio de Janeiro:
Forense, s.d.
SARTRE, J. Que é literatura 2ª ed. (Trad. Carlos Felipe Moisés). São Paulo: Ática,1993.
101
TODOROV, T. Introdução à narrativa fantástica. (Trad. Maria Clara Correa Castello). São
Paulo: Perspectiva,1975.
entre texto e leitor que se firma durante o processo de leitura; a escolha de seu objeto de
recepção, abarcando seus aspectos gerais. Para isso lançou mão dos postulados de Wolfgan
Iser (1976) e também das idéias de Luiz Costa Lima (1979). Seu interesse foi observar
102
melhor o efeito que os textos podem causar no leitor. Ainda nessa parte, a pesquisadora
neste momento que a pesquisadora aplicou as noções básicas que envolvem o gênero
fantástico bem como a noção de ambigüidade expressa nos elementos da narrativa. Quanto
ao leitor, ela observou as técnicas empregadas pelo narrador para estabelecer diálogo com
seu receptor. São elas identificadas na carnavalização literária, na sátira menipéia e por
meio das alusões e referências a outras obras, que remetem para a intertextualidade.
bem como as técnicas usadas pelo narrador para conduzir o leitor à construção do texto. A
dizendo que ele é convidado a participar do texto com a tarefa de preencher os vazios
deixados pelo narrador. Ela apresentou uma aproximação entre os dois contos em sua
produção artística.
fantásticas.
Apesar de não ser o foco principal de seu trabalho, Souza, citando Antonio
Candido (Esquema de Machado de Assis), observou o papel do leitor dizendo que ele “é
convidado a participar dessa ‘brincadeira’. Ela diz que Machado de Assis faz esse jogo
103
com o leitor através de uma técnica que “consiste em sugerir as coisas mais tremendas da
maneira mais cândida...; ou em sugerir, sob a aparência do contrário, que o ato excepcional
estratégias utilizadas pelo autor e pelo leitor para a realização da leitura do texto proposto.
Coloca o leitor como elemento fundamental na construção do texto e diz que Machado de
Assis. Ao finalizar seu trabalho, a pesquisadora afirmou que não pretendia esgotar o tema
teoria da Estética da Recepção no que refere ao efeito determinado no texto literário, foi
amplamente discutida nos capítulos terceiro, quatro e quinto. Sendo que no terceiro, a
pesquisadora estabelece pontos que atacou nos contos de Machado de Assis, cumprindo,
portanto o papel importante de mostrar para o leitor de sua pesquisa o que ela entendia
retirados dos dois contos as afirmações que fez sobre a teoria utilizada. Sua conclusão é
bastante sucinta e reconhece que não esgotou o assunto. Dado bastante coerente, visto que
as categorias de recepção e efeito, Souza aponta para elas quando analisa a questão do
leitor implícito na narrativa fantástica. Destaque especial para a forma como evidencia o
efeito determinado no texto como causador de hesitação e/ou preenchimento dos vazios
que o texto oferece ao seu destinatário. Embora não mostre a interação do leitor com o
texto, apresenta apenas as estruturas de apelo utilizadas pelo escritor para o leitor. A
intertextualidade - pelo narrador para estabelecer diálogo com o leitor. Sua ênfase portanto
PESQUISA 6.
a. Dados de identificação.
Título: Poesia e Alfabetização estudo sobre o Batalhão das Letras de Mario Quintana e
Paulo.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
pequena bibliografia existente sobre o assunto - Yasuda fixou como meta principal
em situação de aula;
especial de poesia.
c. Material.
O corpus presente neste trabalho foi proposto a partir de duas obras poéticas
infantis:
em suas aulas. Tais professoras, após a utilização em diferentes momentos em suas aulas
dos dois livros indicados no item anterior, responderam a uma entrevista formulada e
A recepção dos textos pelos alunos foi observada pela análise de entrevistas
com algumas professoras que utilizaram os textos contidos nos livros na pré-escola e 1ª- 3ª
Não foi fácil perceber a teoria utilizada pela autora para fundamentar sua
pesquisa, embora Yasuda tenha citado uma série de pesquisadores voltados para a questão
leitura de poesia nas séries iniciais do Ensino Fundamental, reconhecendo que muitas vezes
108
estas são utilizadas apenas para o ensino da língua – decodificação de palavras – e não para
produzidos para crianças, a bibliografia é pequena, sendo que o único livro dedicado
inteiramente ao assunto, na época de sua pesquisa, era Poesia Infantil de Maria da Glória
Bordini.
Seu trabalho, nesse sentido, seguiu destacando autores cujo interesse era a
questão da utilização da poesia infantil como recurso pedagógico, abordando a poesia como
recurso de alfabetização, bem como outros autores que refletem a produção de poesia
voltada para um público especial: a criança. Além disso,Yasuda fundamentou sua pesquisa
no que alguns pensadores dizem sobre da leitura. Podemos observar considerações a esse
respeito de: Marisa Lajolo (1993) e Regina Zilberman (1986), Leonardo Arroyo (1988),
Nelly Novaes Coelho(1993-95), Maria da Gloria Fialho Pondé (1980) , Maria Helena
Martins (1989), Ligia Morrone Averbuck (1982), José Paulo Paes (1995-98).
de nosso interesse nessa pesquisa. Ao analisar os textos poéticos, bem como sua utilização
realizada pelos alunos, evidencia-se que a pesquisadora não se ateve a questões mais
profundas sobre a Estética da Recepção e não utilizou uma base teórica mais especifica
sobre o assunto.
109
A. Texto literário
ISER,W. A interação do texto com o leitor. In: COSTA, L. L.. A literatura e o leitor: textos
LAJOLO, M. Poesia: uma frágil vítima da escola. In: Do mundo da leitura para a leitura
PAES,J. P. Um mundo sem poesia é o mais triste dos mundos. Proleitura. Assis, n.7, out.
1995.
ZILBERMAN, R.. Leitura em crise na escola. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1986. p. 147
-142.
Partiu, então, para a leitura de 83 livros de poesia infantil e optou pelos dois
indicados anteriormente. Sua escolha foi justificada pelo papel de mediação exercido pela
escola entre leitor/aluno/texto O Batalhão das Letras, porque fora solicitado por algumas
professoras para ser trabalhado em sala e Pare no P da Poesia, pelo fato de terem sido
adquiridos pela escola quinze exemplares, para serem trabalhados em sala de aula.
dissertação foi, desta forma, dividida em quatro capítulos. Do primeiro ao segundo consta
a análise de parte dos poemas mais significativos contidos nos dois livros que
importante perceber que em cada um desses capítulos, após a análise dos textos, a
pesquisadora se ateve à análise das ilustrações dos poemas. A análise foi feita na tentativa
111
Constatou que se tratava de dois livros com visões de mundo bastante diferentes, que ela
pelo resultado da análise de entrevistas com algumas professoras que utilizaram os textos
contidos nos livros em diversas séries. Foram incluídos depoimentos relativos à pré-escola,
e à 1ª, 3ª séries, Ensino Fundamental. Ainda nesse mesmo capítulo a pesquisadora lançou
uma reflexão sobre as potencialidades do poema e sobre sua pertinência como texto para
Yasuda afirmou que, por meio dos relatos apresentados pelas professoras,
emerge indiretamente a leitura feita por elas dos poemas indicados, bem como da realizada
pelos alunos nas atividades propostas. Esse trabalho revela que a “noção de protocolo de
leitura ainda não chegou à escola, e não apenas no que diz respeito ao texto literário, mas
estende-se aos outros tipos de texto em linguagem verbal e não verbal” (YASUDA,1999. p.
fruição dos textos. Ela defende a idéia de que “é necessário fazer do contato com a poesia
Batalhão das Letras, uma suposta inadequação da linguagem das quadrinhas. Sobre isso
argumentou que tal conclusão reduzia a recepção dos textos ao nível da inteligência,
que estimula o aprendiz a estabelecer relações entre as partes e o todo, e entre o todo e as
se observava era a utilização dos diversos tipos de textos, inclusive as poesias, restrita à
aquisição de um código.
início do trabalho, retomando algumas questões. A primeira delas diz respeito aos livros
apesar disso poderiam contribuir na formação de leitores de poesia, preparando o leitor para
outros textos mais complexos?” Analisando essa questão relativa aos livros propostos, a
linguagem poética. Isto se deve, segundo Yasuda ao fato de eles não estarem
12
Citação de José Paulo Paes na referida dissertação, p. 159
113
sensibilidade estética, fator que poderia propiciar condições para perceberem de que forma
Outro fator apontado para esse problema é relativo à linguagem dos poemas.
mensagem. Dessa forma, não direciona direito seu trabalho por não saber bem como lidar
com um texto que causa tanto estranhamento. A pesquisadora afirmou que a questão
leituras.
poesia em sala de aula, seu texto foi classificado como uma Pesquisa de Efeito, pois faz
uma análise mais centrada no texto evidenciando aspectos estruturais da obra, as marcas de
efeito. Sua preocupação é verificar a questão da leitura de poesia na escola. Para isso,
leitura.
ver como os alunos lêem poesia na escola, não colhe depoimentos destes. Sua fonte é de
“segunda mão”, visto que se baseia nas impressões de professores que, segundo a própria
pesquisadora, não tem embasamento teórico sobre esse uso. Não utiliza explicitamente a
114
teoria de Iser, mas cita em sua bibliografia o texto A interação do texto com o leitor, do
perspectiva estrutural - semântica. Só então, parte para o relato de da utilização das obras
recepção, nem diferencia estas categorias. No entanto, em alguns pontos da sua análise
formação de leitura, responsável por escolher os textos para os alunos, além de ser um
leitor empírico.
Da existência de vazios no texto que os alunos devem completar para dar sentido. Sua
PESQUISA 7.
a. Dados de identificação.
Título: Caminhos de ler – Por uma Formação do Leitor Fluente e Crítico em Obras de
Paulo
Resumo da obra:
b. Objetivos.
c. Material.
Ferreira propôs uma análise comparativa de quatro obras, denominadas por ela
edição).
1ª edição).
pela pesquisadora por “informações afetivas” trazidas pela emoção. Fixou sua atenção em
conhecer a visão do grupo sobre leitura. Além disso, Ferreira apresentou, na última parte
alunos da escola, estimulados por técnicas desenvolvidas pelo projeto “Arco-Iris”. Constam
das professoras, também fotos das atividades de leitura realizadas pelo professor da sala.
inquietações provocadas no seu dia a dia, Ferreira entra em contato com a questão da
leitura e ensino da literatura nas séries iniciais. Cita em seu texto uma série de
pesquisadores sobre o assunto, tais como, Jean Foucambert, Sírio Possenti, Vânia Maria
Resende, Lúcia Pimentel Góes, Fanny Abramovich, José Morais, Roland Barthes, Nietzche,
caminhos.
mostrando como conclusão a necessidade de uma melhor formação do professor, pois a ele
proposta, então, passa a focalizar três autores em especial: Affonso Romano de Sant´Ana
análise proposto por Sant´Ana que considera o eixo parafrástico e o eixo parodístico como
forma de conhecer o mundo, diferindo assim dos formalistas russos. Segue apresentando os
teóricos: Kate Hamburger (1975); Maria José Palo (1986); Samira Nahid de Mesquita
(1987); Ana Maria Machado (1984); Gianni Rodari (1982); Jussara Hoffmann (1993).
sobre leitura apresentadas no texto, sendo que não se observou nenhum capítulo
da Recepção como uma teoria que enfatiza o papel do leitor como um dos pólos
Paixão (1998).
A. Textos analisados.
Figueirinhas, 1978.
B. Referências teóricas.
ABRAMOVICH, F.. O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo: Summus,
1983.
120
________. O estranho mundo que se mostra às crianças. São Paulo: Summus, 1983.
________. Panorama histórico da literatura infantil e juvenil. 3ª edição. Ver. São Paulo:
Ática, 1985.
evolução, das origens à atualidade. Tese de Doutorado da USP. São Paulo. 1989.
________. Olhar de descoberta. il. Eva Funari. São Paulo, Mercuryo, 1996.
ISER, W. The Act of Reading. Baltimore: The Johns Hopkins Univ. Press, 1980.
121
1982.
SANT´ANA, A. R. de. Paródia, paráfrase & cia. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1991.
espontânea e prazerosa, passa pela formação do professor como leitor até chegar à análise
Seu texto, marcado por um tom poético, foi iniciado por um preâmbulo no qual
inicialmente teve a prática e depois recorreu à teoria como algo necessário para a
desvalorizada e subestimada, sendo exercida cada vez mais por mulheres. Como essa classe
se origina do mesmo grupo descrito anteriormente, afirma que as professoras também não
são leitoras de uma forma geral. Apesar de destacar esse quadro negativo sobre a leitura, a
pesquisadora afirma que mais importante do que ele é o “encontro de caminhos e soluções
pequena reflexão sobre a formação do professor leitor. Ferreira observou que merecem
a sua proposta de formação de professores na escola. Fez isso por meio da análise
da narrativa, segundo Nelly Novaes Coelho (1985): o narrador; o foco narrativo; a estória; a
narrativo; leitor ou ouvinte. São estes fatores observados individualmente em cada obra
No quinto capítulo a pesquisadora propôs uma leitura sem fases o que para ela
seria equivalente a uma leitura mais livre das convenções impostas pela escola um ato de
divulgação das artes e para a formação do aluno. Observou a questão do vestibular, fator
que ela julga distanciar os alunos do mundo da leitura. Disse que um projeto de leitura deve
Sua proposta “Brincando no Arco Íris” passa por atividades lúdicas que
para representar idéias e emoções”. O projeto propôs ainda atividades que partiam da
123
escolha de títulos, uma ficha técnica que se formaria apenas de dados de identificação do
livro e impressões de leitura registradas ao longo desta; classificação do que foi lido pelo
aluno por meio das cores do arco-íris, bem como feitura de um desenho. A avaliação formal
foi abolida, propondo-se que fosse feita por meio de comentários informais, palavras de
estímulo e valorização, bilhetes escritos a lápis nos cantinhos das folhas dos “registros de
leitura”, comentários verbais, exposição das pastas de registros, etc. Portanto, uma
avaliação que não causasse traumas, nem enfrentamentos e muito menos competição.
ela, esse vinha sendo aplicado há algum tempo, sempre trazendo respostas positivas junto
resposta conseguida pelo grupo que participou da pesquisa foi muito positiva. Houve,
percebeu que estes, apesar de “donos de uma competência superior”, estão acostumados
abandono das avaliações tradicionais realizadas por meio de provas e fichas de leitura.
Outro fator evidenciado durante o projeto realizado, foi um envolvimento maior dos pais
professores.
Ferreira produz uma pesquisa teórica voltada para a categoria do efeito embora
relate experiências de leitura. Seu interesse é pedagógico, pois quer divulgar um projeto
de formação de leitores que se apresenta como uma fórmula, embora ela negue isso. Foi
linguagem muito “poética”, procura observar as formas de ler no Brasil, bem como propor
crítica do gosto médio nos impõe”. Alia três áreas do conhecimento quanto ao papel do
leitor na compreensão do texto: Psicologia, Educação e a Crítica Literária. Sendo que nessa
última destaca a Estética da Recepção enfatizando o papel do leitor como um dos pólos
narrativa (Usa Nelly Novaes Coelho para isso - A literatura infantil, 1987). Na grade de
texto por meio da linguagem utilizada; o leitor ideal formatado no texto; um leitor real –
No nosso entender, ela se confunde com esta questão porque não consegue,
pelo que escreveu, demonstrar distinção entre as categorias elencadas – por exemplo na p.
48 ela fala que o conto “dirige-se a um ouvinte/leitor mais que a um leitor, pois se trata de
um menino contando sua estória.” Portanto, não distingue as duas categorias de leitores.
Coração de Pássaro - que, segundo sua análise, utiliza personagens os quais não fariam o
texto ser vivenciado pelas crianças. Portanto, ela não o caracteriza “como um livro para
criança”
linguagem excessivamente poética, pouco precisa que utiliza. Bem como, a não
comprovação dos pontos que levanta na pesquisa visto que a base teórica utilizada é pouco
convincente.
126
PESQUISA 8.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
esses alunos.
poemas proposta:
atividade desenvolvida para que ele possa ser parte atuante no processo de
recepção.
com esse tipo de texto por meio da exploração de sua linguagem e de seus
recursos formais.
repetições.
assunto “amor”
c. Material.
Expectativas dos alunos – as seguintes letras de músicas: “Canibal” – Ivete Sangalo; “Hoje
a noite não tem luar” - Monroy Fernandes e Vila de la torre, interpretação Legião Urbana;
Belém – autoria de Pinóchio e Nilma, interpretação: dupla sertaneja Rio Negro e Solimões.
Estas canções foram trazidas pelos alunos para um mini festival de música realizado na
sala de aula. Cada canção deveria ser lida e ilustrada conforme a compreensão. Foram
(1997).
Para a recepção dos textos Quaglia propôs a coleta de dados por meio de
A autora inicia sua exposição teórica refletindo sobre algumas idéias relevantes
a respeito da Literatura, sua natureza e função. Para isso, lança mão dos pressupostos
130
teóricos de vários pensadores, entre eles: Alfredo Bosi (1985); Antonio Candido (1972-
poesia ligadas à natureza humana. Observa sua função de representação do real e satisfação
idéias com os dizeres de Paz (1982), Paixão (1983), Eco (1974), Jakobson (1978) e Lyra
Lígia Morrone Averbuck (1991) e José Paulo Paes (1997). Sobre a concepção de leitura
lança mão dos dizeres de Eliana Yunes (1994), Foucambert, (1997), Maria H. Martins
Quaglia chega ao ponto crucial da teoria que vai aplicar em seu texto,
perspectiva de diálogo e emancipação. Para isso, lança mão da famosa conferência de Hans
Robert Jauss (1979,1983,1994). Cita Terry Eagleton (1983), apresentando uma trajetória de
teóricos desde Edmund Husserl , Martin Heidgger, Gadamer até chegar a H. R. Jauss.
presentes em A literatura e o leitor, organizado por Luis Costa Lima (1979). Além de A
131
(1994); O ato da leitura: uma teoria do efeito estético de W. A. Iser em (v. 1 – 1996 e v. 2
Bordini (1993).
A. Textos analisados.
PAES, J. P. Convite. IN: Poemas para brincar. Ilustração Luiz Maia. São Paulo: Ática,
1997.
B. Referências teóricas.
CANDIDO, A.. A literatura e a formação do Homem. In: Ciência e cultura. São Paulo:_ v.
________. Estímulos da criação literária. In: Literatura e Sociedade. 5ª ed. São Paulo:
Nacional, 1976.
132
HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. São Paulo: Perspectiva,
1971.
1999).
________. O texto poético na mudança de horizonte de leitura. In: LIMA, L.C . Teoria
________. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. 3ª ed. São Paulo: Ática, 1993.
Terra, 1979.
PAZ, O. O arco e a lira. (Tradução Olga Savary). Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1982.
Ática,1995.
YUNES, E.. Leitura da leitura. In: Leitura, saber e cidadania. Simpósio Nacional de
ZILBERMAN, R.. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.
questão do tratamento dispensado à poesia na escola. Nesse momento ela fixa seus
No capítulo II, Quaglia realiza uma revisão bibliográfica que a auxilia na análise
e discussão dos resultados que obteve. Divide seu texto em quatro partes enfocando: a
gerais e específicos propostos para a oficina foram registrados no capítulo III. Nessa parte
oficina, baseada no método recepcional de Aguiar e Bordini, foi executada em cinco etapas:
que foi feito. Seu objetivo não foi verificar a eficiência ou não do método recepcional ,
resultados obtidos a partir da análise dos dados registrados. Destacou-se entre os textos
externo. Tais apontamentos proporcionaram “uma visão de fora” sobre os dados no sentido
para a leitura, voltada a despertar ou preservar a sensibilidade dos alunos”. Ela orientou
ainda que “para alcançar resultados gratificantes por meio do efeito prazeroso, é
135
necessário que um caminho não muito fácil seja percorrido, com constantes estudos
teóricos das mais recentes concepções acerca de ensino, aluno, leitura, literatura e poesia
adolescentes são receptivos à poesia, bem como a jogos verbais, como trava-línguas e
avessos a esse tipo de texto, no decorrer da mesma eles se mostraram mais receptivos,
mesmos jovens para textos poéticos. No entender da pesquisadora isso se deu em vários
momentos como comprovam as produções dos alunos. Esse encontro é possível, desde
A experiência registrada por ela não teve o objetivo de ser uma “receita” pronta
que garanta sucesso em sua aplicação, mas permite reflexão sobre o assunto,
como inovações nesta pesquisa. Segundo Quaglia, a análise dos dados coletados,
principalmente os obtidos por filmagens, provocou uma auto-reflexão sobre sua prática
pedagógica. Além disso, mostrou que, apesar do quadro negativo em relação à pedagogia e
136
à poesia que ela registrou logo na introdução de seu trabalho, existem possibilidades
alternativas para promover a interação desse gênero com o leitor pré-adolescente. Trata-se,
etnografica, por atingir apenas uma micro-situação localizada de ensino”. Foi classificada
atualização histórica da obra por meio das inúmeras leituras possíveis. Apresenta o Método
dados dos sujeitos da pesquisa, do local, seus instrumentos de coleta de dados, diário de
classe, gravações em áudio e vídeo, etc. Descreve a oficina e analisa os dados conseguidos
elencando aspectos da recepção importantes tais como: as expectativas dos alunos, reações
método, o que torna suas conclusões um pouco frágeis. No nosso entender, essa fragilidade
se concretiza, pois acreditamos que a comprovação da eficiência do método não possa ser
comprovada apenas por uma única experiência aplicada. Bordini e Aguiar deixam claro
para seus leitores que se trata de um método contínuo, que deve ser repetido várias vezes,
PESQUISA 9.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
• Traçar seu perfil por meio de comparações com outros jovens da mesma
idade e escola.
139
c. Material.
colaboram para sua formação. Sua ação foi voltada ao registro da história de leitura de
alunos do Ensino Fundamental do colégio Santa Cruz13. Nesse registro, vários títulos da
literatura infanto juvenil foram indicados aos alunos para leitura durante os anos de 1998 e
Colégio Santa Cruz. Portanto, a autora propõe uma pesquisa aplicada em que observa
leitores reais.
diretamente a questão da leitura. Centrou seu interesse em questões diversas tais como o
teatro, cinema, TV, shows, músicas, falar ao telefone, dormir,, sair com amigos, esportes,
13
Na dissertação não encontramos dados de identificação da escola.
140
questões de cunho cultural e pessoal. Seu intuito foi traçar um perfil dos jovens ao mesmo
tempo descobrir informações relevantes sobre seus hábitos de leitura. As questões relativas
leituras, freqüência com que lêem, títulos e autores preferidos, o que estavam lendo na
como as respectivas professoras de cada série. Nessas se faziam presentes listas em que
Após essa coleta foi realizada uma reflexão a partir das informações
ampla, em que “ler significa ser questionado pelo mundo e por si mesmo”. Ela fundamenta
sua reflexão em Paulo Freire (1982, 1985), Regina Zilberman (1982-84-85), Ezequiel T. da
como ela é vista também em relação à escrita. Passa por uma visão pedagógica dessa
estratégias para o ensino do “gostar de ler”. Evidencia a “Crise da Leitura” pautando suas
reflexões em Vigotsky (1995), Hannah Arendt (1979). Seu olhar se fixou no contexto
brasileiro.
(1976), Melaine Klein (1991), Francesco Alberoni (1998) e Gérard Lebrun (1987).
que apenas dois textos relativos a essa teoria foram indicados como referência
A. Textos analisados.
(Não apresentou)
B. Referências teóricas.
FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. 6ª ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra,1982.
_________. A Importância do ato de ler: em três artigos que se complementam. 10ª ed. São
Editora, 1991.
Terra, 1979.
SILVA, E. T. da. Leitura e Realidade Brasileira. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1985.
________. (org.) A produção cultural para a criança. 2ª ed. Porto Alegre: Mercado
Aberto,1984.
jovens. A pesquisadora tenta “desmistificar a idéia de que o jovem não lê, sobretudo de
forma entusiasmada”. Sua hipótese de leitura é a de que “há adolescentes que lêem, ainda
que não em grande número, fazendo parte da comunidade anônima das pessoas que
gostam de ler ... ler para estes leitores, constitui uma experiência que penetra na
segundo ela, “parte de um diálogo bibliográfico com outras áreas tais como a psicologia,
de texto”. Quanto à primeira, ela a definiu como “o momento em que um ser humano
leitura de texto não é considerada apenas como “a decifração do código, mas sim um
diferencia os leitores dos decifradores e diz que “a leitura da palavra não é apenas
precedida pela leitura do mundo, mas por uma certa forma de “escrevê-lo” ou de
2000, p. 4- 9)
outro grupo que neste trabalho ela denomina “apaixonados por leitura”. Desenvolvendo
organização dos dados em tabelas e, posteriormente, a análise dos resultados a partir dos
dados tabulados.
obtidos nas tabulações começando pela análise descritiva de todas as séries. Em seguida,
confrontou o perfil dos “leitores interessados”, e dos leitores considerados por ela como
social no que se refere ao potencial de leitura”. Dos 571 jovens que entrevistou, 116 foram
hábitos sociais, domésticos, interesses diversos, observando que são, como se esperava,
jovens normais como os outros, porém se dedicam à leitura como uma atividade prazerosa,
anteriormente. Por meio dele, ela tenta formatar um perfil desse leitor apaixonado. Mais
do que esse perfil, o trabalho de Bittencourt aponta para fatos relevantes, tais como:
leitores têm um perfil distinto que precisa ser conhecido e analisado para
ao definir o perfil do que ela chama de leitores apaixonados. Trabalha com o leitor real
– para tentar definir um perfil de jovens leitores apaixonados pela leitura. Para fazer esse
perfil lança mão de outras áreas do conhecimento tais como: Psicologia, a Pedagogia , a
Sociologia e da Literatura. Seu texto foi classificado como uma Pesquisa de Recepção –
processo de formação de leitores em que se propõe uma classificação dos leitores em:
por ela como leitores apaixonados pelo mundo da leitura. E a partir deles traça um perfil
único a partir das preferências e dos horizontes de expectativas. No entanto, esse perfil
fica mais no campo de hábitos da vida diária dos mesmos, relacionando tais hábitos a
questões de leitura o que, no nosso entender, atem-se a aspectos não voltados nem ao texto,
textos de Luiz Costa Lima (1979) e Bordini e Aguiar (1988). Embora a pesquisadora
passe por alguns aspectos importantes dessa estética, ela não os fundamenta.. Aborda
experiência de leitura em leitores reais, registra suas preferências e rejeições, mas não
PESQUISA 10.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
impresso.
consumidor de folhetos.
c. Material.
popular” provocou a escolha de seu objeto de pesquisa composto, a princípio, por 104
1) O bárbaro crime das matas da Várzea, assinado por João Martins de Athayde
(Recife, 1928);
(Recife, 1944);
(Recife, 1946);
4) O cachorro dos mortos, assinado por João Martins de Athayde (Recife, s.d.);
A pesquisadora contou que fez vários contatos com pessoas as quais poderiam
ser interessantes para a pesquisa. Ao todo 29 pessoas na faixa dos 65 anos ou mais e ainda,
com mais seis pessoas mais jovens, entre 20 e 35 anos. Para reconstruir o perfil dos
desse tipo de impresso no período estudado, Galvão determinou como sujeitos da pesquisa
“nordestinos”. Enfim, na escolha dos sujeitos ela já evidencia sua preocupação em analisar
a recepção dos cordéis em grupos de sexo, etnia, religião, condição social diferentes.
Portanto, viabiliza com esse estudo uma visão sobre o leitor virtual proposto nos textos
impressos, classificados por ela como: memórias, romances, romances com traços
sujeitos da pesquisa apontando para dados pessoais tais como: sexo, raça/etinia, grau de
escolarização do sujeito e de seus pais, contato com os cordéis, nível sócio-econômico, etc.
151
Embora seja uma pesquisa voltada para a História da Educação, Galvão nos
remete para questões importantes sobre o Leitor e a Estética da Recepção tais como: o
leitor implícito na literatura de cordel – seu perfil, escolhas e estratégias de leitura; a leitura
leitura; o acesso dos leitores ao material de leitura (o cordel); a escolha dos folhetos pelo
Mikail Baktin (1929-1979); Roland Barthes (vários textos); Antônio Augusto Gomes
Batista (1999); Walter Benjamin (1985); Pierre Bourdieu (1983); Antônio Cândido (1980);
Roger Chartier (diversos textos); Umberto Eco (1986-94); Michel Foucault (1969-79);
Angela Kleiman (1995), Luis Costa Lima (1988); Tzvetan Todorov (1971-78).
relevantes quanto a Estética da Recepção. São eles: Wolfgang Iser (1976); Hans-Robert
A. Textos analisados.
B. Referências teóricas.
BAKTHIN, M.. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec, 1979. (original
russo: 1929).
francesa: 1984).
Nacional-Casa da Moeda,1987.
________. et al. L’analyse Structurale du Récit. Paris: Seuil, 1981 (1ª edição: 1966).
BENJAMIN, W. O narrador. In: Obras escolhidas: magia e técnica, arte e política. São
Paulo:Brasiliense,1985.
n.46, mar.1983a.
________. A economia das trocas lingüísticas. In: ORTIZ, Renato (org.). Bourdieu. São
_________. Gostos de classe e estilos de vida. In: ORTIZ, Renato (org.). Bourdieu. São
CANDIDO, A.. Literatura e sociedade: estudos de teoria e história literária. São Paulo:
Cultrix.
________. As práticas da escrita. In: ARIÈS, P., CHARTIER, R. (org.). História da vida
privada: da Renascença ao Século das Luzes. São Paulo: Companhia das Letras, 1991. v.3.
________. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos
________. Introdução. In: CHARTIER, R. (org.). Práticas da leitura. São Paulo: Estação
Michel, 1998.
________. Práticas da leitura. São Paulo: Estação Liberdade, 1996. (original francês:
ECO, U.. Lector in Fabula. São Paulo: Perspectiva, 1986. (1a. edição italiana: 1979).
________. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
ISER, W.. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34, 1996.
JAUSS, H., et al. A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1979.
LIMA, L. C.. Clio em questão: a narrativa na escrita da história. In: RIEDEL, D. C. (org.).
________. Poétique de la Prose: Choix, Suivi de Nouvelles Recherches sur le Récit. Paris:
Seuil, 1978.
ZILBERMAN, R.. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.
ordens diversas. Segundo ela, “a opção feita parecia permitir vôos empíricos e teóricos.
Parecia possibilitar melhor compreender uma série de questões. Entre elas, ver o objeto de
pesquisa como fonte cultural da história da leitura e da escrita, da história dos usos do
impresso por diferentes grupos sociais, da história das práticas educativas extra-escolares”.
(Galvão,2000, p. 78). Além disso, a pesquisadora diz que lhe interessava também
Em que se constitui, afinal, a leitura? Que efeitos são por ela produzidos?
O que são os imponderáveis apontados pelos estudos sobre o tema que a
caracterizam? Quem é, afinal, o leitor, essa figura fugidia, pouco
entendida, relativamente pouco estudada? A leitura como prática das
camadas populares me parecia, então, ainda mais instigante. Que leitor é
esse, em geral identificado como não-leitor? Quais os sentidos atribuídos
à leitura por esse tipo específico de leitor? Que leitura é essa que realiza,
em geral compreendida, por um lado, como expressão de uma suposta
“alma popular” ou, por outro, como sinônimo de alienação? (GALVÃO,
2000, p. 327).
cultura popular, as pesquisas que se detêm sobre a relação entre oralidade e letramento e os
investigação.
materiais dos folhetos, que foram agrupados por década, a partir das datas (em muitos
casos, aproximadas) de publicação. A pesquisadora avisa que quis, com esse procedimento,
obter uma visão geral das permanências e transformações observadas nesse gênero de
impresso, no decorrer do tempo. Ela considerou como dados importantes: título; autor;
editor; data e local de publicação; local de venda; preço; número de páginas; número de
poemas por folheto; número de estrofes do(s) poema(s); disposição das estrofes na página;
presença ou ausência de outras páginas, no folheto, sem poemas; gênero do(s) poema(s);
denominações dadas, pelo editor ou autor, ao próprio folheto; disposição das maiúsculas e
capítulos, Galvão busca indícios de quem era o leitor/ouvinte visado pelos autores/editores
texto e objeto material. Ainda nessa parte, ela compara o texto de um dos folhetos
analisados com notícias veiculadas em um jornal da época sobre o mesmo assunto nele
tratado.
leitor empírico, buscando caracterizá-lo (inclusive em relação aos níveis de sua inserção no
mundo letrado) e reconstruindo as formas de acesso que tinha aos folhetos, as situações de
trabalho.
folhetos no Brasil, Galvão passou a levantar hipóteses acerca de quem era o leitor/ouvinte
textos de cordel: local de venda, papel do vendedor, do enredo, temas preferidos pelos
em princípio, popular. A análise dos impressos mostra que, dirigida inicialmente sobretudo
letrado, formado, em sua maioria, pelas camadas populares urbanas, por pessoas
perfil de leitor ou, mais amplamente, a uma camada social e a uma cultura determinada. Diz
ela que
maneira diferente do que muitos estudos têm afirmado a respeito da leitura entre as
ocorriam: muitas vezes, a beleza a que se referem os leitores das histórias associava-se ao
pesquisadora afirma que aos poucos, as pesquisas vão mostrando que elas têm muito a
Segundo ela, muitas questões continuam sem respostas e devem ser esclarecidas.A respeito
a cultura popular. Seu objetivo maior foi reconstitui o público leitor de cordel, bem como
seu modo de ler/ouvir cordel. Embora seja mais voltada para a História da Educação, foi
escolar, pois resgata questões importantes sobre o leitor implícito no texto e sobre a
recepção de cordéis.
A autora analisa o leitor empírico, reconstruindo sua forma de acesso a tal tipo
de texto, bem como as situações de leitura/audição desses impressos. A partir da análise dos
obras analisadas.
quanto ao cordel, não fixando a leitura desse tipo de texto a um publico apenas.
popular, numa visão de valorização da mesma frente à formação dos leitores. Não utiliza a
teórica da Estética da Recepção em primeiro plano, mas ao fixar sua atenção no leitor
implícito dos cordéis, usa conceitos da teoria do efeito para captar esse leitor nos textos de
cordel.
162
PESQUISA 11.
a. Dados de identificação.
Linguagem.
Resumo da obra:
Este trabalho analisa um corpus formado por relatórios produzidos por
professores da região Sul-sudeste do Brasil que, motivados por um
concurso intitulado Leia Brasil, patrocinado pela Fundação Vitor Civita
em 1997, descrevem suas aulas de leitura no ensino básico (educação
infantil e ensino fundamental) e no ensino médio. Tendo em vista esses
relatos, esta pesquisa teve por objetivo inicial descrever as formas de ler
na escola brasileira da região sul-sudeste. Para isso, numa primeira parte
do trabalho, foram estudadas as principais abordagens de leitura correntes
no Brasil, supondo-se que essas pudessem, de algum modo, fundamentar
as práticas de leitura relatadas. A análise das atividades de leitura em sala
de aula apontaram para três modos de leitura: a) um modo de leitura
designado na pesquisa como estruturalista, que entende a leitura como
decifração e recuperação do sentido do texto; b) um modo de leitura cujo
objetivo é patrocinar a interdisciplinaridade; c) modo(s) de leitura que
procura(m) recuperar algumas premissas de teorias de leitura com as
quais o professor tem contato. A análise dos relatórios aponta, entretanto,
para uma sobreposição de influências, de modo que a relação entre teorias
de leitura e práticas de leitura parece não ser tão direta. Buscou-se, então,
na segunda parte do trabalho, compreender o processo de construção do
saber de leitura do professor. Observou-se que o(s) saber(es) de leitura
dos professores se constroem em forma de um grande mosaico, no
cruzamento de outras influências, além das teorias de leitura, entre as
quais se destacaram:1) certas imagens sociais de leitura presentes na
mídia, 2) os Parâmetros Curriculares Nacionais, 3) propostas didáticas de
catálogos de editora e revistas de divulgação pedagógica como Nova
Escola. Concluiu-se que o saber de leitura do professor é um saber
mediado e que professores e alunos, enquanto instâncias sociais e
históricas, estão sujeitos a modos de ler e a formas de compreender a
163
c. Material.
propôs apenas a visualizar por meio da observação do material produzido pelo Concurso
Leia Brasil, patrocinado pela Fundação Vitor Civita em 1997, as aulas de leitura no ensino
professoras citam as obras com as quais têm trabalhado nas escolas. A pesquisadora, no
utilizado pelas professoras, separando-os por títulos utilizados em cada ciclo, desde o
que em 1997, a Fundação Victor Civita, em parceria com Unesco e Petrobrás promoveu o
Concurso Leia Brasil, cujo objetivo seria premiar os três melhores trabalhos de incentivo à
incluindo visita à 18a Feira do livro de Paris, 757 professores atenderam o apelo trazido na
Revista Nova Escola e inscreveram seus trabalhos. Portanto, os professores serviram como
do Ensino Básico e Médio da região Sul-sudeste enviados para o concurso Leia Brasil. Este
em textos de uma a duas laudas. Esses textos deveriam abordar a metodologia, as atividades
falas que, certamente, seriam recolhidos com dificuldades em uma pesquisa aplicada nos
importantes por registrarem a fala do professor”. A ela caberia apenas “interpretar essas
falas nos aspectos em que elas pudessem ajudar a entender o ensino de leitura na escola e
165
teóricas de leitura em circulação no Brasil nos últimos anos, supondo-se que essas se
constituem num dos campos de força que podem atuar na composição das imagens de
leitura do professor e que se refletem, com menor ou maior intensidade, nos modos de
encontrou cinco linhas básicas em que se ramificam as pesquisas sobre leitura no Brasil.
Para fins de exposição, essas linhas foram designadas pela pesquisadora como: político-
pesquisadora explica que pode ser chamada de diagnóstica, pois é um primeiro conjunto de
textos que se destaca por seu caráter detector e denunciador da situação desfavorável de
166
leitura no Brasil. Isso pode ser observado nos textos mais típicos dos primeiros anos da
década de 1980, quando a leitura começava a ingressar nos círculos acadêmicos. Estão
entre eles: A importância do ato de ler: em três artigos que se completam de Paulo Freire
de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura, do mesmo autor
com o texto. Essa linha de pesquisa de leitura foi nomeada pela pesquisadora como
velho com o novo”. In: O aprendizado da leitura (1985); O jogo discursivo na aula de
leitura: língua materna e língua estrangeira, organizado por Maria José Coracini (1995);
além de vários textos de Eni P. Orlandi. “A leitura: de quem, para quem?”. In: A
procedimentos,1999.
apresenta pesquisas de Kleiman (Leitura: ensino e pesquisa, 1996, com 1ed. de 1989.;
prática,1997). Sinaliza para que as formulações teóricas básicas desta autora são
algumas propostas pedagógicas desenvolvidas nos demais textos produzidos pela autora,
vista como produção de sentidos. Sua ênfase recai, ainda, sobre o texto, elemento central
do processo de leitura, pois é nele que se encontram até mesmo os elementos que permitem
leitor enquanto figura constitutiva do ato de ler. Sem ele, é impossível que os textos (mera
elementos de significação.
Lajolo (diversos textos), Regina Zilberman (diversos textos), W. Iser (1979) e H. R. Jauss
(1979).
168
A. Textos analisados.
B. Referências teóricas.
FISH, S.. Is There a Text in this Class? The Authority of Interpretive Communities.
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 1987..
ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34, 1996.
_________. A interação do texto com o leitor. In: LIMA L. C., Luis (Org.). A literatura e o
Unicamp, 1993.
LAJOLO, M. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Ática, 1997.
________. O ato de ler: fundamentos psicológicos para uma nova pedagogia da leitura.
Autêntica, 1999.
170
mediado e que professores e alunos, enquanto instâncias sociais e históricas, estão sujeitos
a modos de ler e a formas de compreender a leitura que são, de certo modo, coletivos já
que resultado de muitas influências que vão se cruzando até compor um todo que, por sua
sintetiza sua principal motivação: unir dois temas que se relacionam diretamente: leitura e
literatura. Pode-se dizer que essa associação é tributária, em grande parte, de alguns estudos
tais como: Barthes (1988), Fish (1980) e Foucault (1992) que redimensionaram as noções
conhecer um dos elementos que, de forma muito concreta, ainda que indireta, atuaram
relatórios dão acesso às imagens de leitura incorporadas pelo professor e transmitidas aos
alunos.
A escola é aqui entendida como uma instituição onde se promove uma maneira
particular de leitura, desenvolvida pelos alunos e mediada pelo professor. Assim, a leitura
coletivas e individuais propostas pelo professor. Nesse aspecto, mais uma vez, os relatórios
dos professores adequaram-se aos objetivos dessa pesquisa, pois foram exatamente essas
atividades “formadoras” da leitura escolar que o Concurso Leia Brasil solicitou que os
professores relatassem.
sudeste. Sua hipótese de análise afirmava que “...se o professor é visto como o principal
mediador das práticas escolares de leitura, ele certamente desenvolve seu trabalho de
leitura baseado em determinados modelos de leitura a que tem acesso. Assim, poder-se-ia
pensar num certo conjunto de imagens de leitura que circundaria a escola e influenciaria o
professor.”
modo, fundamentar as práticas de leitura relatadas. A análise das atividades em sala de aula
apontou para três modos de leitura: um, designado na pesquisa como estruturalista, que
entende a leitura como decifração e recuperação do sentido do texto; outro, que coloca o
recuperar algumas premissas de teorias de leitura com as quais o professor tem contato. A
análise dos relatórios aponta, entretanto, para uma sobreposição de influências, de modo
que a relação entre teorias e práticas de leitura parece não ser tão direta.
dados, procura apresentar o contexto de produção dos relatórios dos professores bem
também, verificar as fontes dessas práticas, ou seja, quais imagens de leitura atuam
• O professor não pode afirmar que “os alunos” em sua totalidade não
claro para si mesmo o que fazer com leitura na sala de aula. Sua formação
174
caminhos quando se trata de ler, tanto no que se refere a ele próprio, bem
• O aspecto coletivo da leitura pode ser observado pelo fato de haver vários
elementos que, mesmo que situados fora do plano leitor/texto autor, sobre
Zappone alertou em suas considerações finais que “falar de leitura, hoje, parece
ser um campo sem restrições. Diversas são as áreas que tratam desse tema, sob variadas
(ZAPPONE, 2001, p. 348). É nesse momento de intensa produção acadêmica sobre leitura
mérito está na forma como ela resgata a recepção de textos no Brasil - região sul-suldeste -
de leitura. Também por que focaliza e ajuda a entender melhor o ensino de leitura na
escola, bem como os modos pelos quais o saber sobre leitura é construído em ambiente
escolar.
o professor como agente relevante na recepção de textos, visto que ele é o elemento que
pode suprimir lacunas existentes no texto, buscar caminhos para manter seus alunos lendo
leitura/recepção de textos. Mais do que focalizar a recepção de textos dos alunos, a autora
como os alunos recebem os textos que foram selecionados, quais intenções enquanto
Portanto, Zappone cumpre seus objetivos, embora não registre uma experiência
PESQUISA 12.
a. Dados de identificação.
Bojunga Nunes.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
Ela ainda fixa um objetivo para cada texto produzido pelos alunos nos
alunos.
observando-se algumas questões diferentes para a 8ª A, visto que com esta turma não
eficiência do debate e verificar até que ponto ele auxiliou os alunos a sanarem as dúvidas
c. Material.
Bamba (1979- data da primeira edição) de Lygia Bojunga Nunes, com ilustrações de
Regina Yolanda. A análise da obra limita-se aos recursos literários que mais se destacam
em sua composição, elementos considerados pela pesquisadora como os que são pontos
mais problemáticos para uma boa leitura da obra. Trata-se de uma narrativa em que se
136).
atividades com textos comentados antes de ser solicitada a leitura do livro Corda Bamba. Já
na 8ª série A, a proposta era promover a recepção sem nenhum trabalho prévio, apenas com
obra. Os alunos das duas turmas foram submetidos à mesma grade de entrevista. No
179
sendo que numa das classes a pesquisadora realizou atividades com textos comentados
antes da leitura do livro e na outra não, apenas foi solicitada a leitura do livro sem nenhum
leitura primária, um roteiro para debate coletivo; um texto livre em que os alunos davam
sua opinião sobre a leitura realizada;um roteiro para verificação da eficiência do debate
participantes da pesquisa.
Pauli constrói sua dissertação, focalizando três pontos importantes que são: a
literatura. Para isso, apresenta uma bibliografia dividida em três partes assim denominadas
por ela:
III- Geral.
nela que encontramos a base teórica utilizada pela pesquisadora sobre Estética da
Recepção.
pedagogia.
Ceccantini (1993), artigos de Wolfgan Iser, de Hans Robert Jauss e de Luiz Costa Lima
organizador da seleção (1979) e o livro de Regina Zilberman (1989). Estes textos observam
A. Textos analisados.
NUNES, L. B. Corda Bamba. Ilustrações de Regina Yolanda. 20ª ed. Rio de Janeiro: Agir,
B. Referências teóricas.
ISER, W. A interação do texto com o leitor. In: LIMA, L. C. (Org). A literatura e o leitor:
ZILBERMAN, R.. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989.
Na segunda, Pauli propôs uma experiência de recepção literária, realizada com duas
turmas de oitava série de uma escola pública de Cornélio Procópio. Nessa experiência
autora atinge o ponto alto entre os escritores de Literatura para crianças e jovens, a partir
obstáculos para uma boa receptividade do livro entre jovens leitores”. Foram analisados
textos trabalhados com uma das turmas antes da leitura do livro indicado.Tal proposta foi
realizada com o objetivo de auxiliar uma maior apreensão e superação das barreiras
de campo. Apresentou uma análise das entrevistas realizadas para se verificar a recepção da
com textos comentados antes de solicitar a leitura do livro de Lygia B. Nunes. Na outra
abordagem do texto indicado, apenas solicitou a leitura. Percebemos que o objetivo foi
realizados, bem como nas conversas com os alunos, diferenças importantes quanto à
recepção. Essas dizem respeito tanto ao entendimento da história numa leitura primária,
quanto a uma interpretação mais profunda dos fatos narrados, atitudes e intenções
registradas na história.
mediação do professor pode ser eficaz para a obtenção de bons resultados.”. A recepção
realizada com a turma que recebeu atividades diferentes foi melhor na concepção da
necessidade de se planejar de modo mais amplo a atuação dos alunos para desenvolver não
apenas o hábito e o gosto pela leitura, mas ampliar seu horizonte de expectativas
Outro fato marcado como de relevância em suas conclusões diz respeito a ser
incomum, na região pesquisada, a indicação de uma única obra para todos os alunos da
sala. Ela constata que estava arraigada no Estado do Paraná, nessa época, a prática de
leitura pregada pelo estudioso João Wanderlei Geraldi, difundida na década de 80, por um
livre, segundo a pesquisadora, sem nenhuma preocupação em avaliar o que era feito pelos
alunos. Apenas o aspecto quantitativo era registrado. A pesquisadora critica tal proposta,
questionando a maneira como o professor conseguiria saber a que nível de leitura seus
alunos conseguiriam chegar dessa forma. Julgou essa prática de leitura como superficial,
Segundo Pauli,
Sua proposta é que se volte a trabalhar com a indicação de uma obra para uma
turma inteira, porém que se ofereça aos alunos à oportunidade de vivenciar, por meio de
debates, discussões e troca de experiências de leitura, a obra lida, tendo por base a Estética
14
Nota referente ao artigo “O circuito do livro e a escola” de João W. Geraldi e Maria Nilma G. Da Fonseca
que afirma que “Não cremos que haja leitura qualitativa no leitor de um livro só. Escolhemos um caminho
que, respeitando os passos do aluno, permita que a quantidade gere qualidade, não pela mera quantidade de
livros lidos, mas pela experiência de liberdade de ler utilizando-se de sua vivência a compreensão do que lê”.
(1984, p. 100)
185
Nesse sentido, ainda cita o método elaborado por Bordini & Aguiar (1993)
bem como a dissertação de mestrado elaborada por João Luís C. T. Ceccantini, já citada
os dois trabalhos, Pauli reafirma a necessidade de se trabalhar com obras que rompam os
horizontes de expectativas dos alunos, após as que atendem prontamente a esses horizontes.
para a necessidade de se trabalhar com um corpus diversificado, bem como com estratégias
adequadas que “não nivelem indiscriminadamente quer os leitores quer as obras”. (Pauli,
2001, p. 288)
necessidade de um projeto que encare a formação objetiva de leitores, bem como sua
identificar, a partir do que está escrito, o elemento implícito, estabelecendo relações entre
o texto e seus conhecimentos prévios ou entre o texto e outros textos já lidos, observando
15
Informação discutida no trabalho de Ceccantini, reafirmada nas considerações de Alice.
186
que fronteiras entre a realidade e o imaginário se diluem.” Centra sua atenção nas
pela escritora para um leitor mais experiente, motivo talvez que justifique a rejeição de
alguns alunos quanto ao livro. Sua análise evidencia o texto como não utilitário, mostrando
uma representação da escola que foge aos aspectos evidenciados normalmente na literatura
infantil. Busca mostrar como a personagem Maria “se constrói no pensamento do leitor.
Observa marcas importantes sobre a linguagem que, podem ser fatores que influenciarão a
recepção do texto pelos alunos. Aspectos da estrutura narrativa – tempo, espaço, narrador -
real – questões pedagógicas, visto que centra sua atenção em questões da produção
analisando-o quanto às marcas deixadas pela escritora para um leitor mais experiente.
em relevo as marcas importantes sobre a linguagem que podem ser fatores que influenciam
a recepção do texto pelos alunos, além de aspectos da estrutura narrativa: tempo, espaço,
narrador.
187
mesmo livro para classes com perfis diferentes. A pesquisadora aponta para diferenças
as duas turmas às quais foram propostas as atividades. Tais pontos dizem respeito à
compreensão das partes importantes da história, dos elementos simbólicos e das ações
implícitas das personagens. A autora mostra momentos de diferença na recepção das duas
turmas, constatando que a classe que contou com estratégias do professor para
fato da obra ser do gênero romance psicológico e não de aventuras, gênero mais valorizado
texto literário como importante na formação do aluno leitor. Além de comprovar que a
desenvolvimento da capacidade intelectual dos alunos. Pauli afirma ainda que a maneira
como o texto é trabalhado pode ou não favorecer uma recepção de melhor ou pior
qualidade do texto.
Outro dado a que faz menção é sobre a leitura livre tão defendida na escola.
Sobre isso, Pauli diz que deixar que os alunos escolham individualmente o que vão ler, sem
que haja um trabalho mais decisivo sobre esses textos não modifica os horizontes de
expectativas dos alunos, portanto, não amplia o nível intelectual dos mesmos.
PESQUISA 13.
a. Dados de identificação.
método Recepcional.
Resumo da obra:
Trabalhar com a literatura em sala de aula é a tarefa, muitas vezes, difícil para o
professor de Língua Portuguesa, pois, via de regra, ele não tem definidas as
concepções de metodologia capaz de atender adequadamente aos interesses de
seus alunos. Com o intuito de auxiliar o professor nesta tarefa, e acreditando que
o trabalho efetivo com a literatura deve buscar a interação entre leitor e texto,
realizamos uma pesquisa, de natureza aplicada, que objetivava saber se o
professore da rede pública de ensino poderia contar com o método recepcional,
fundamentado na Estética da Recepção, procurando verificar, também, se o
método atinge os objetivos a que se propõe e se colabora para a constituição de
leitores mais assíduos do texto literário. Para alcançar esses objetivos, orientamos
uma professora quanto à teoria da recepção e ao método recepcional. Além disso,
acompanhamos o planejamento e o desenvolvimento de uma oficina em que o
método foi aplicado em uma sala de aula de 5 ª série da rede pública de ensino,
colhendo os dados de forma variada: observações, gravações em áudio e vídeo,
anotações da professora e dos alunos, entre outros. A análise dos dados revelou
que o professor pode contar com o método recepcional para o ensino de
literatura. Todavia, precisa estar muito bem preparado para aplicá-lo e saber lidar
com a falta de recursos da escola pública, principalmente, com relação à
inexistência de bibliotecas aparelhadas para atender aos interesses dos alunos. O
método mostrou-se um recurso bastante adequado para que o professor
encaminhe atividades que levem os alunos a efetuarem leituras mais críticas,
amadurecendo, também, como sujeitos mais ativos na discussão sobre os
acontecimentos de suas vidas. Portanto, atinge os objetivos a que se propõe e,
certamente, colabora para que esses sujeitos se efetivem como leitores mais
assíduos da literatura. E ainda, favorece o desenvolvimento do
ensino/aprendizagem de forma mais participativa e envolvente. (GASPARELLO,
2001, xi)
189
b. Objetivos.
teoria da recepção;
cultural.
e intervalos.
c. Material.
recepcional elaborado por Bordini e Aguiar (1993). Para isso utiliza para a determinação do
190
horizonte de expectativas dos alunos parte da canção sertaneja “Rei da Festa”, da dupla
não vêem, (1981) de Ruth Rocha e uma brincadeira do folclore popular chamada “Batata
desenvolver o conhecimento dos alunos em relação à Ruth Rocha por meio de diversos
livros da escritora.
planejamento das atividades, aplicação das sessões. Sua experiência aplicada se ateve à
observação da recepção por uma turma de 5ª série do Ensino Fundamental. São, portanto,
leitores reais.
produzidos pelos receptores da oficina; entrevistas com alguns alunos; observações das
aulas pela pesquisadora; questionários; gravação em áudio e vídeo tanto das conversas com
a professora que realizou as oficinas quanto com alunos após as etapas da oficina; cadernos
Para isso, lança mão dos dizeres de Maria Helena Martins (1988), Antônio Candido (1972),
Carlos E. Fantinati (1996), Maria Thereza Fraga Rocco (1981), Aguiar e Bordini (1988),
literatura, e coloca também como dever da escola preparar o aluno para este convívio.
literatura, nos moldes como é realizado na maioria das escolas, acaba por afastar os alunos
dos livros. E, apesar de generalizar os fatos, reconhece que a obra literária só existe a
Bordini, apresenta alguns trabalhos realizados sobre recepção de textos. Entre eles cita
Tânia Rösing em Ler na escola: para ensinar literatura no 1º, 2º e 3º graus (1988); João
João Ubaldo Ribeiro: um estudo de produção e recepção (1993); Maria Inês B. Campos
prazer estético; Maria Alice Faria organizando cinco estudos com autores diferentes,
personagens de que os alunos realmente gostam (1999); entre outros trabalhos produzidos
em outras instituições sobre o tema. No entanto, considera que o método recepcional não
192
tem sido utilizado em sala de aula, tanto em nível Fundamental quanto Médio e Superior.
Disse ela que “poucos professores o conhecem e, se conhecem , não se arriscam a aplicá-
lo” .
pressupostos teóricos de Umberto Eco (1983); Foucambert (1994); Paulo Freire (1986);
Wolfgang Iser (1996-99); Hans Robert Jauss (1979); Maria Helena Martins (1988); E. T.
A. Textos analisados.
B. Referências teóricas.
CANDIDO, A.. A literatura e a formação do homem. In: Ciência e Cultura. São Paulo:
ECO, U. Leitura do texto literário. In: Lector in fábula. Tradução de Mário Britto. Lisboa:
Presença,1983.
193
FARIA, M A Narrativas Juvenis: modos de ler. São Paulo: Arte e Ciência, 1997.
FREIRE, P. A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo:
Cortez, 1987.
RÖSING, T. Ler na escola: para ensinar literatura no 1º, 2º e 3º graus. Porto Alegre:
SILVA, E. T. O que ler/ por que ler. In: Leitura na escola e na biblioteca Campinas, 1986.
________. (org) A produção cultural para a criança. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1982.
como foi já descrito, expõe uma breve reflexão sobre a importância da leitura do texto
uma revisão bibliográfica sobre a teoria que fundamenta seu estudo. Apresentou
considerações sobre a Educação, procurando mostrar como ela, voltada para a formação
integral do aluno, precisa estar calcada num processo de interação entre sujeitos. Na
assim como as concepções sobre funções da literatura. Ainda foi preocupação sua,
capítulo. Nesse momento ela descreveu a natureza da oficina literária, bem como os
planejamento da oficina.
que sua preocupação era com o processo e não com o resultado final a que chegariam.
ensino da literatura, ou seja, por detectar um problema relacionado a essa prática. Sua
opção pela oficina se justifica por ser este um momento/espaço em que o professor e os
195
“sujeito da pesquisa” na aplicação das atividades. Esta foi preparada e assessorada nas
si, bem como, analisou os materiais utilizados e os produzidos pelos alunos, construindo
A Ao longo dos encontros ela foi variando o instrumento de coleta de dados, sendo que
todas as sessões foram filmadas. Porém ela apenas transcreve os resultados que mais lhe
trabalhado foi O que os olhos não vêem de Ruth Rocha (1981), escolha feita pela
pesquisadora e a professora que aplicou as oficinas. Não porque fosse a melhor escolha
para o momento, mas por ser a única obra disponível em quantidade nas bibliotecas.
196
seu trabalho.
contar com um método de ensino de literatura em sala de aula. Entretanto, no seu entender,
existem dificuldades para sua utilização. São eles relativos à situação precária das escolas
proposto por Aguiar e Bordini. Seu trabalho foi classificado como Pesquisa de Recepção –
197
Embora seja voltada para questões da pedagogia, o mérito de seu estudo está
Notamos, no entanto, que seus objetivos foram amplos demais para apenas
uma rodada de recepção. Suas conclusões, embora pertinentes, são decisivas demais para
pesquisadora quanto a eficiência do método, porem achamos que seriam necessárias mais
conclusões embora sejam corretas, não podem ser consideradas como prova final da
recepção visto que apenas essa experiência não bastaria para comprovar se os professores
Outro dado que nos chama atenção é o tom excessivamente acusatório que a
pesquisadora assume, tom esse que mostra algumas generalizações sobre a situação de
leitura na escola, seus professores, o ensino de literatura e o não trabalho com a leitura.
tais como a especificidade do texto infantil, a cultura de massa, do cânon, da obra clássica,
etc. Mas explora superficialmente o texto literário além de não analisar com maior
PESQUISA 14.
a. Dados de identificação.
Linguagem.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
leitor/leitor.
c. Material.
“Feliz Aniversário” e “Laços de Família” presentes na obra Laços de família. 28ª ed. Rio
freqüentavam as aulas da disciplina Literatura Brasileira IV. O perfil foi assim descrito pela
a 45 anos, em sua maioria (36) do sexo feminino. A maioria (32) é natural do estado do
onze deles, na faixa etária entre 22 e 44 anos como amostra de referência. Entre os onze
que “dez freqüentaram o ensino regular em escola pública. Apenas um aluno cursou o
Nível Médio no Ensino Supletivo. Para ingressar na UNIFAP, seis alunos freqüentaram
Curso Pré-Vestibular”. (Nascimento, 2001, p.59-60) São, portanto, leitores reais que
Como corpus da recepção, além das suas observações durante as aulas que
questionário, diário do pesquisador, gravações em áudio das aulas e das conversas sobre os
textos, trabalho escrito produzido pelos alunos e uma entrevista final com alunos.
Esse material foi coletado pela pesquisadora em aulas de leitura que ela mesma
trabalhou com suas turmas no curso de Letras da Universidade Federal do Amapá (UNIFAP).
que há diferentes caminhos para estudar o vasto campo da leitura, faz opção por estudá-la
como fenômeno social. Ela explica que estudar a leitura, por esta via, é, pois, considerar as
Terzi(1995). Ela justifica sua escolha pelo fato destes pesquisadores parecerem mais de
acordo com o tipo de estudo etnográfico que pretendia realizar acerca da ação de ler em
Aplicada, Nascimento passou a questionar o conceito de leitura com que vinha trabalhando
e, também a refletir sobre sua pedagogia de leitura literária. Para tal, ela utilizou também,
os estudos de Kramer (2000), pelo fato dessa autora entender a leitura como experiência,
não no sentido de propor uma solução definitiva para o ensino de leitura literária, mas por
refletir sobre a tendência à homogeneização desse tipo de leitura nos Cursos de Letras.
202
Também em Maria Alice Faria (1999), que discute as propostas dos Parâmetros
Nascimento afirma que a literatura “pode vir a ser um dos esteios para a
na construção de sentido, no momento da ação de ler. Isso porque acredita, assim como
favorece a mudança. Nesse sentido, ela envereda pelo campo da etnografia e da pesquisa-
Para melhor compreender a leitura como fenômeno que tem uma história e uma
sociologia, a pesquisadora lança mão das condições de produção da leitura, que são
entendidas, nesse estudo, como fatores de ordem social, porque elas contribuem para as
diferentes formas de ler. Participam da base teórica os estudos feitos por teóricos ligados à:
• Teoria Literária - Jouvé (1993); Eco (1993); Abreu (2000); Fish (1980),
Almeida (1999:58);
(1996): Kramer (2000); Koch (2000); Vieira (1999) citando Cavalcanti (1989); Kleiman
A. Textos analisados.
LISPECTOR, C. Feliz Aniversário e Laços de Família. In: Laços de família. 28ª ed. Rio
B. Referências teóricas.
2000.
________. A ordem dos livros: leitores, autores e bibliotecas na Europa entre os séculos
FISH, S. Is there a text in this class? Cambridge: Havard University Press, 1980. p.357-
365.
ISER, W. O ato da leitura. (Tradução Johannes Kretschmer). São Paulo: 34, 1996 v.1.
KLEIMAN, A . Oficina de leitura: teoria e prática. 6ª ed. Campinas. São Paulo: Pontes.
(1998).
KLEIMAN, A. Texto e leitor: aspectos cognitivos da leitura. 6ª ed. Campinas. São Paulo:
Pontes, 1999
KOCH, I. V. O texto e a construção dos sentidos. 3a ed. São Paulo: Contexto, 2000.
205
1996pp. 83-109.
pesquisadora a atitude passiva dos alunos, futuros professores, frente aos textos literários a
que eram expostos. Segundo ela, os alunos raramente questionavam os textos da disciplina.
As hipóteses levantadas por Nascimento, mostram que tal atitude decorre de várias razões,
entre elas: de natureza conceitual porque eles não se davam conta de que o estudo do texto
natureza pedagógica, porque os modelos de análise dos manuais eram tidos como única via
desenvolve o quadro teórico que embasa a interpretação dos dados coletados. Ela aborda
são tratados os aspectos metodológicos da coleta dos dados em que a mesma foi realizada.
Integram este capítulo algumas das idéias que sustentam a metodologia etnográfica de
discussão realizada em sala de aula e os trabalhos escritos realizados em espaço fora da sala
de aula. Ela também associou a esta análise as informações recolhidas por meio do
observadas ao longo das atividades. Concluiu que, por não interferir decisivamente nas
respostas obtidas nem sempre foram satisfatórias. Conseqüentemente, ela acredita que
“manter uma atitude de equilíbrio, de colaboração (não falar tudo, nem se calar), em sala
conhecimento mais eficaz (no dizer de Moita Lopes), no decorrer do processo de ensino-
aprendizagem”.
sala de aula. Portanto, chega à conclusão que é possível, e até mesmo necessário, tentar
207
outras maneiras de lidar com a leitura do texto literário em sala de aula. Isso só será
para o outro.
aqueles que trabalham com textos literários. Eles foram registrados da seguinte forma:
considerações finais dizendo que o texto literário é uma dessas janelas. E cabe ao leitor
abrir essa janela e construir a sua leitura sobre os mais diferentes aspectos de sua realidade
individual e social.
208
alunos futuros professores visualizando a inteiração entre a leitura dos mesmos com
dificuldade em se ensinar a ler não estaria na própria ausência de leitura dos alunos-
como Pesquisa de Recepção – pelo leitor real em formação, por promover a observação
Sua argumentação é feita com base no que a critica diz sobre os de Clarice
Lispector. E estuda a leitura como fenômeno social. Evidencia a prática pedagógica na sala
professor provocador que instiga seus alunos, mas nunca lhes fornece a sua leitura dos
textos.
elas produziam em seus alunos. Como suas atitudes em relação à prática de leitura
influenciava a leitura deles além de os instigar a outros. Ela diz que sempre recorria durante
que fora apontado anteriormente e não simplesmente em suas impressões pessoais quanto
ao texto lido.
209
Isso, talvez, possa ser uma das razões para o que se tem visto como prática
pedagógica voltada para o Ensino Médio em que o professor, preocupado com a questão do
vestibular, fornece aos alunos não uma experiência de leitura fruição, mas apenas de
preparação para uma prova.. Tal prática mostra a preocupação com o efeito da obra e não
A principal conclusão do trabalho está calcada na idéia de que o sentido não está
centrado no texto, mas é construído a partir dele, numa relação dialógica e intertextual, na
qual o leitor aciona o seu universo sociocultural para construir a sua leitura.
Acreditamos que a pesquisadora chega aos objetivos propostos, visto que seu
PESQUISA 15.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
formação de leitores, em especial aqueles que tiveram sua infância nas décadas
211
literária.
c. Material.
Monteiro Lobato, o trabalho realizado por Debus se estabelece por meio de registros em
que os sujeitos da pesquisa citam diversos textos do autor. Entre eles encontramos na
bibliografia:
escritores, jornalistas, professores e pesquisadores17; textos ficcionais que podem ser lidos
sua carreira literária refletiu sobre um projeto de leitura voltado para a formação de um
16
Crítica de ontem: Alceu Amoroso Lima, Belmonte e Afonso Schmith, Edgard Cavalheiro, Herman Lima,
Jorge Amado, Manuel Bandeira, Nelson Werneck Sodré, Orígenes Lessa, Viriato Corrêa. Crítica de hoje:
Sylvio Rabelo, Antonio Candido, Cláudio Abramo, Alfredo Bosi, Nelson Werneck Sodré, Afrânio Coutinho,
Vasda B. Landers, Tadeu Chiarelli, Alice M. Koshiyma, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Fábio Lucas,
Cassiano Nunes, Leonardo Arroyo, Laura Sandroni, Sueli de Souza Cagneti, Nelly Novaes Coelho, Otávio
Frias Filho
17
Alfredo Bosi, Cassiano Nunes, Edgard Cavalheiro , Guilhermino César, Ilka Brunhilde Laurito, João Antônio, João
Carlos Marinho, José Guilherme Melquior, Júlio Gouveia, Justino Martins, Lygia Bojunga Nunes, Marcos Amazonas,
Maria de Lourdes Krieger, Maria Helena Patto, Marisa Lajolo, Ofélia Boisson Cardoso, Renata Pallottini, Ruth Rocha,
Samir Curi Meserani, Tatiana Belinky, Tatiana Belinky, Zelinda Moneta .
18
O conto Felicidade clandestina (1975), de Clarice Lispector; o romance O menino no espelho (1982), de Fernando
Sabino, bem como os livros infanto-juvenis: Memórias da ilha (1991), de Luciana Sandroni, e Amigos secretos (1996), de
Ana Maria Machado
19
Alarico Silveira Júnior, Gilson Maurity Santos, Hilda Junqueira Villela Merz, Lucy Mesquita, Nicean Serrano Telles
de Sousa, Joyce Campos e Cordélia Fontainha Seta.
.
214
brasileira. Entretanto, ela defende fato de ele ser um “fomentador da produção, difusão e
leitor que referendasse o estatuto desse novo gênero que se anunciava”. (Debus, 2001, p.
35)
A autora assinala, em seu texto, o fato de Monteiro Lobato vir, nos últimos
vinte anos, recebendo uma maior atenção dos pesquisadores, quer seja daqueles que se
debruçam sobre sua vida, quer seja dos que visitam sua produção literária, em especial
aquela produzida para crianças. No entanto, não há nenhuma investigação que trate do
(teórico e ficcional) e nas suas atividades práticas o seu posicionamento como formador de
leitores. Já a recepção de seus livros no período estudado será analisada a partir do discurso
215
O contato epistolar de Lobato com seus leitores talvez seja o mais profícuo e
original encaminhamento de recepção mirim de que se tem notícia, pois ela acredita que “a
atuação dos leitores contribuiu de forma efetiva para o desenvolvimento da sua literatura
infantil”. Essa é uma das razões da dedicação da pesquisadora aos registros testemunhais
Segundo ela,
pressupostos da Estética da Recepção, por considerá-los condizentes com uma pesquisa que
literária.
Sua reflexão parte de questões amplas tais como: Escritor, texto e leitor não
seriam parte integrante do mesmo processo? “Para quem se escreve?”, “O leitor não é um
sujeito a-histórico”. Chega a Hans Robert Jauss (1967), consolidando o papel do leitor
enquanto ser integrante da estética literária. Sobre ele, Debus afirma que:
Debus passa então a descrever as sete teses de Jauss propondo uma história da arte e
da literatura fundada no princípio: “as análises literárias deveriam mudar o enfoque, não
Debus ainda observa o que Wolfgang Iser diz sobre o leitor. Para ele:
A. Textos analisados.
1998. Fac-símile de: O Sacy-Pererê: resultado de um inquérito. São Paulo: Secção de obras
________.A onda verde e O presidente negro. 11.ed. São Paulo: Brasiliense, 1964.
B. Referências teóricas.
ISER, W. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. São Paulo: Editora 34, 1996. (data
JAUSS, H.R. Expérience Historique et Fiction. In: GADOFFRE, Gilbert. (dir.). Certitudes
________ et al. A literatura e o leitor: textos de Estética da Recepção. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1979.
219
alguns leitores infantis nas décadas de 30 e 40, bem como o contato com alguns desses
seu repertório de leituras da infância até a fase adulta – buscando também evidenciar a
público leitor.
material.
realizadas na infância e sobre textos ficcionais que se reportam a essas mesmas leituras e
leitores reais, de carne e osso. Esse levantamento só foi possível a partir das cartas e é pelas
mesmas que sistematizam a recepção das narrativas e a expectativa desses leitores. Para
finalizar, obtém um registro de sete leitores sobre a importância dessa leitura na infância.
220
• sete cartas de Lobato escritas a leitores infantis e até agora inéditas em sua
íntegra.
Em sua obra, Debus observa três tipos de leitores: o leitor implícito, o leitor
personagens leitores como estímulo à leitura dos leitores concretos. E os leitores concretos
são os que acabam saindo da vida real e entrando nas páginas ficcionais”.
221
Ela ainda reconhece Lobato como um autor preocupado com a sedução de seu
leitor. Alguém que o respeita tanto nas idéias quanto na linguagem. É esse respeito que
proporciona o prazer da leitura. Debus ressalta que por meio das cartas:
texto literário, o que marca a originalidade desta pesquisa, pois nos trabalhos até aqui
importância que Lobato teve na formação desses leitores e o efeito que essas respostas
também testemunhos de leitura - leitores adultos – dos textos de Lobato. Este estudo,
222
portanto, foi classificado como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real
diferença entre as categorias. Seu mérito é colocar Lobato como formador de leitores.
relatos de memória.
como formador de leitores e verifica no discurso seu posicionamento como tal. Além disso
ela reflete sobre a conduta e reação dos leitores no contato com o escritor durante a leitura
de seus textos.
leitor concreto. No primeiro, refere-se à imagem construída pelo escritor ao qual Lobato
terceiro, o leitor concreto que acaba saindo da vida real e entrando nas páginas ficcionais.
223
PESQUISA 16.
a. Dados de identificação.
sociais.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
• Abrir espaços para os estudos que buscam dar voz ao leitor infantil,
c. Material.
A Arca de Noé, A Bela Adormecida, Sherazade, Romeu e Julieta. São textos narrativos que
pesquisa.
225
série do Ensino Fundamental. O campo de atuação da pesquisa foi composto por duas
escola pública municipal, que atende à classe social desfavorecida, e outra, particular,
escolas de Teresina – Piauí, a fim de coletar o corpus analisado pelo pesquisador. Foram
produzidos cerca de 67 (sessenta e sete) textos - reescritas de histórias infantis - das quais o
pesquisador selecionou 24 (vinte e quatro) como corpus. Seu critério de escolha foi a
maior incidência de textos produzidos por alunos com idades de 10 e 11 anos, a variedade
de títulos e os títulos reconhecíveis. Dessa seleção doze textos são referentes ao colégio
desfavorecido.
Recepção, de Hans Robert Jauss, bem como na Teoria da Narrativa Infantil. Contou ainda
226
com auxílio da Sociologia da Leitura nas perspectivas de Robert Escarpit, Arnold Hauser e
Pierre Bourdieu. O pesquisador justifica essa escolha, visto que a reprodução/produção das
teórico existente até o termino de seu trabalho sobre este gênero polêmico que é a
trabalhos que se caracterizam pela natureza histórica, como, por exemplo, o de Leonardo
Arroyo (1968), de Nelly Novaes Coelho (1991); Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1984);
de Diana Maria Marchi (2000). Destaca, ainda, Cecília Meireles (1951); Regina Zilberman
(1981), Lígia Cadermatori Magalhães e Regina Zilberman (1982), Sônia Salomão Khéde
(1983).
produção de estudos críticos que consideram os aspectos intrínsecos da obra literária para
crianças, como, por exemplo, os autores: Maria do Socorro Rios Magalhães (1980), Ana
Mariza Ribeiro Filipouski (1988), Claudia Luiza Caimi (1991), Vera Maria Tietzman Silva
(1994), Flávia Brocheto Ramos (1994), Rosane Maria Cardoso (1997), Zila Letícia Goulart
Pereira Rego (1998), Viviane Zanandrea (1999). Esses trabalhos estão essencialmente
centrados nas obras de diversos autores nacionais, como, por exemplo, Érico Veríssimo,
Edy Lima, Lygia Bojunga Nunes, Henry Correa de Araújo, Wander Pirolli, Clarice
Lispector, Ana Maria Machado, Sérgio Caparelli, Stella Carr, Ruth Rocha, Marina
Colasanti, Tales de Andrade, Monteiro Lobato, Maria José Dupré e Fernanda Lopes de
Almeida.
227
Carvalho diz que por caracterizar-se a partir do seu leitor, a literatura infantil
das crianças e jovens, tais como: Leituras infantis, de Cecília Meireles (1944), Crianças,
jovens e literatura, de Nise Pires (1976), Que livro indicar: interesses do leitor jovem, de
campo, coordenada por Marli Mira Hoeltgebaum (1981), Interesses e hábitos de leitura dos
ser ainda pouco explorado pelos estudiosos da literatura infantil, visto a pouca existência
Alice Faria (1999). Segundo Carvalho “os estudos teóricos, portanto, ainda são incipientes
A. Textos analisados.
B. Referências teóricas.
AGUIAR, V. T. de. Que livro indicar? Interesses do leitor jovem. Porto Alegre: Mercado
Aberto/IEL, 1979.
ARROYO, L. Literatura infantil brasileira. 10. ed. São Paulo: Melhoramentos, 1990.
_____. A economia das trocas simbólicas. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 1999.
_____. Lo Literario y lo Social. In: (org.) Hacia una Sociologia del Hecho Literário.
HAUSER, A. Sociologia del Arte. Sociologia del Público. Barcelona: Labor, 1977. v. 04.
Universidade/UFRGS, 2000.
Federal, 1944.
_____. Problemas de literatura infantil. 3. ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1984.
MEC/INEP/INL/FNLIJ, 1976.
SILVA, V. M.T. Literatura infanto-juvenil: seis autores, seis estudos. Goiânia: UFG, 1994.
ZILBERMAN, R. Literatura infantil: livro, leitura, leitor. In: (org.). A produção cultural
Literatura infantil: autoritarismo e emancipação. 3. ed. São Paulo: Ática, 1987. p. 61-134.
(Ensaios, 82)
_____. Estética da recepção e história da literatura. São Paulo: Ática, 1989. (Série
Fundamentos, 41)
_____. Sim, a literatura educa. In: ZILBERMAN, R., SILVA, E. T. da. Literatura e
pedagogia: ponto & contraponto. Porto Alegre: Mercado Aberto, 1990. p. 12-20.
aplicada. Segundo ele, desta forma, “a voz do leitor infantil foi materializada pela
criança, considerando o nível socioeconômico e o contexto escolar, com base nos estudos
constituído de vinte e quatro textos - doze narrativas infantis reproduzidas por crianças de
classe social desfavorecida e doze de classe social favorecida. São leitores na faixa etária
pelas escolas, que contém informações indicadoras do nível social dos alunos; e a ficha
bibliográfica dos livros reproduzidos pelas crianças constantes nos acervos literários das
escolas.
por três capítulos, em que os elementos analisados nos textos são constantemente cruzados
realizado para a tessitura das histórias que compõem o corpus de análise e os conceitos
espaço.
dados coletados, o lugar que a criança ocupa como narrador à medida que a criança ocupa
seu lugar enquanto sujeito sócio histórico, uma vez que ele não apenas seleciona a forma do
escolar, dada a participação decisiva dessa instituição para a formação do leitor mirim.
233
Quando Carvalho aborda a recepção do texto literário infantil, afirma que para
um processo de mediação que leve a criança a expandir suas perspectivas. Para tanto, é
2001, p.150). Segundo o pesquisador, compete à escola tornar concreto o contato do leitor
fato de contribuírem, por meio dos seus acervos, para a constituição dos horizontes dos
seus leitores via narrativas, muito embora a particular tenha elencado entre os autores a
serem trabalhados durante o ano letivo o compositor e poeta Paulinho Pedra Azul para as
série”.
das mesmas. Segundo ele a escola funciona também como medidora para os pais, pois eles,
muitas vezes, somente têm contato com a literatura quando os filhos levam os livros para
garante a ela a oportunidade de ter outras formas de acesso à literatura, uma vez que o
No que tange ao modelo de narrativa que circula na escola, Carvalho notou que
o conto de fadas ou popular é o que se apresenta com mais freqüência. Também que na
234
se situam no pólo do bem ou do mal, sem que houvesse a possibilidade de trazer até a
mítico. A dificuldade em definir com precisão o espaço de realização das ações indica que
não é a criança que tem dificuldades de localização espacial, visto que na sua faixa etária
ela já possui uma significativa autonomia no sentido de se situar no mundo sob o ponto de
vista geográfico. Desse modo, o modelo, mais uma vez, representa o referencial para a
adotados na reprodução/produção das narrativas, uma vez que ela segue um determinado
modelo de texto, que, como já ficou evidenciado, é o do conto de fadas ou popular. Nas
bastante conservadoras, tendo em vista o modelo de sociedade explicitado nos textos ser
ainda o que se apresenta no conto de fadas ou nas histórias que retomam esse modelo. A
subordinados. A estratificação é outro elemento que foi apresentado como natural pelos
textos.
formação do leitor infantil. A resposta dada pelos alunos do grupo social desprivilegiado
revela que eles sabem que o mundo valorizado é o que a escola propaga, logo, as imagens
reproduzidas nas histórias são aquelas que refletem a vida de acordo com o modelo
sedimentado nas histórias infantis, as quais são escolhidas pela escola. Em contrapartida, a
criança de classe social privilegiada ultrapassou as fronteiras da sala de aula, uma vez que
no rol de histórias recontadas constataram-se algumas que não faziam parte do universo da
escola, o que demonstra que a situação socioeconômica e cultural propiciada pela família
desse aluno oferece condições para que o mesmo esteja exposto a inúmeros outros agentes
culturais como, por exemplo, cinema, televisão a cabo, jogos eletrônicos, viagens, passeios,
teatro, bibliotecas e livrarias, que proporcionam uma maior abertura para estabelecer com a
literatura uma relação dialética, o que implica a ampliação dos horizontes de expectativas
desse leitor.” 20
histórias infantis em grupos de alunos de duas escolas sendo uma particular e outra
pública. Sua analise se concentra em um corpus de recepção composta por doze narrativas
11 anos. Portanto, classifica-se como uma Pesquisa de Recepção – pelo leitor real em
formação.
20
CARVALHO, D.B. A.de. 2001 –conclusão.
236
socioeconômicos distintos. Observa marcas textuais presentes nos textos produzidos pelas
narrativas. Visualiza o leitor infantil como um narrador, um sujeito histórico, uma vez
que ele seleciona não apenas a forma do texto, mas também um conjunto de valores ou
principalmente como mediadora de leitura para crianças menos favorecidas. Nas classes
diferentes classes sociais em contexto escolar. Sua análise abre espaço para os estudos que
buscam dar voz ao leitor infantil, contribuindo para o alargamento do conhecimento sobre o
processo de recepção do texto literário, considerando os agentes que dele fazem parte.
237
PESQUISA 17.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
femininas.
• Trazer para o universo acadêmico o debate sobre uma vertente ficcional que
c. Material.
Meirelles, ao fixar o corpus utilizado nesta pesquisa, explica que sua intenção
foi a de promover uma análise mais individualizada das personagens. Para isso, a
Texto 1 - À Moda antiga! (Na arranged marriage) de Susan Fox, série Sabrina
Halldorson, série Júlia. Originalmente publicado em 2000, também pela Silhouette Books
Texto 3 – A Bela e a Fera (Taming the beast) de Amy J. Ftzer, Serie Momentos
portuguesa, em 2001.
Brasil, em 2001.
A pesquisadora observa que apesar de ter fixado esses quatro exemplares, ainda
se refere na análise que produz a outros vinte e cinco exemplares. Ela justifica sua
escolha dizendo, a principio, que esse tipo de literatura mobiliza milhares de leitores, de
autores e muitas editoras. Também, por estarem inseridos na cultura popular de massa –
21
Não consta nome de tradutor das obras indicadas.
240
estratégia ela chega a dez leitoras entre 16 e 58 anos de idade; com diversas profissões –
Visto que o foco desta pesquisa é permeado pela discussão dos romances
critica literária. Foram utilizadas, nesse sentido, citações de Silvia Borelli (1996), Richard
confronto entre os dizeres de Adorno e os de outros críticos que discordam dele quanto à
241
indústria cultural, como exemplo, Terry Eagleton (1991), Waldenyr Caldas (2000), Muniz
Sodré (1978) e Umberto Eco (1991). Adorno condena a indústria cultural, dizendo que
levá-la a sério ou ver nela algum ponto positivo. Em nome de seu papel social, questões
embaraçosas sobre sua qualidade, sobre sua verdade ou não-verdade, questões sobre o
nível estético de sua mensagem são reprimidas, ou pelo menos eliminadas, na dita
Na visão defendida pelos outros críticos, visão esta que permeia a pesquisa
realizada por Meirelles, essas questões merecem maior atenção dos estudos literários, pois
as encara como manifestações que estabelecem com o público alvo uma interatividade.
produção cultural de massa é feita “para” o povo, mas não a partir dele”. Além disso,
que “existe uma conexão entre a cultura de massa e o conceito de classes e ideologia
a pesquisadora explica que “enquanto a segunda se propõe a oferecer uma visão original
do mundo, uma ruptura, na primeira a originalidade não tem tanta importância, apostando
2002, p. 15)
repetição de um modelo;, a renovação portanto se dá pela variação e não pela ruptura. Ela
observa que há uma divisão na literatura de entretenimento que pode ser classificada como
“popular” ou “média”. Concordando com José P. Paes, ela argumenta que “apenas a
opção por buscar as noções de valorização e experiência estética que podem ser aplicadas
ao tipo de leitura que propõe em seu trabalho. Para isso, utiliza em sua argumentação
inicialmente Roland Barthes - o criador da expressão “prazer do texto” - dizendo que “esse
Quanto aos romances por ela analisados, é possível encaixá-los como literatura
de entretenimento que teriam como objetivos “divertir, entreter, restituir e estabelecer com
Meirelles afirma, baseando-se nos críticos que citou, que “o conceito do que é
esteticamente bom ou ruim é relativo e muda com o tempo. Este está ligado a elementos
que utiliza a mulher-leitora, e a a última visão que diz respeito a mulher-pesquisadora. Por
esse não ser o foco de nossa pesquisa, não detalharemos aqui a argumentação feita por
Meirelles sobre as especificidades desse tipo de literatura, apenas registramos que, para ela,
“as leitoras dos romances sentimentais não têm uma leitura feminina no sentido crítico
acordo com o material coletado pela pesquisadora, é possível afirmar que a maioria das
participantes do projeto aceita os estereótipos presentes nos textos destes romances sem
não houve uma intenção de fixar a base teórica nos postulados da Estética da Recepção. Os
autores mais comuns, sempre presentes nas outras pesquisas, não aparecem explicitamente
(1994) e Regina Zilberman (1989). Mas o que se evidencia na leitura dessa é uma grande
A. Textos analisados.
Originalmente publicado em 2000, também pela Silhouette Books e traduzido para a língua
portuguesa em 2001.
FTZER, A. J. A Bela e a Fera (Taming the beast) Série Momentos Íntimos. Originalmente
SOUTHWICK, T. Segredos do Amor (The acquired bride). Série Sabrina, coleção Noivas.
22
Não consta nome de tradutor das obras indicadas.
244
B. Referências teóricas.
Perspectiva, 1970.
________. 1991.
________. Fim do livro, fim dos leitores? São Paulo: Editora SENAC, 2001.
245
que constituem essa espécie literária foi identificar seus matizes, de modo a lançar luz
sobre seus moldes atuais, incluindo os elementos peritextuais que a Editora utiliza para
literatura, a pesquisadora propõe uma leitura das imagens femininas nessa forma literária,
segundo o horizonte da crítica feminista. Finalizando, ela procura mostrar, por meio de
depoimentos colhidos com dez leitoras, alguns elementos de motivação na escolha desses
romances como objeto de leitura, visualizando a forma pela qual essa opção influencia o
Avisa a pesquisadora que sua intenção nesse trajeto foi promover um mergulho
diferentes no caminho da leitura desse tipo de livro. No entender de Meirelles, essa leitura
aparece como forma de liberação das exigências cotidianas, fazendo com que as leitoras
assumam papéis ativos que fogem da aparente passividade proposta pela literatura de
entretenimento.
pesquisadora mostra como chegou ao tema da pesquisa, suas opções para condução da
que vai do momento de sua aparição até os nossos dias. Nesse momento, ela também
palavra da Editora por meio de uma entrevista e faz considerações sobre esses dados,
exemplares desse tipo de romance, atendo sua observação à ideologia e papéis sociais
presentes nos romances; a aparência física proposta para os personagens tanto no texto
pesquisadora formou seu grupo de pesquisa por meio de um anúncio de jornal voltado para
recepção foi formado por mulheres de idade entre 16 a 58 anos, com diversas profissões e
reflexão focalizou a percepção das imagens femininas, a questão do lazer e prazer no gosto
que permeia esse trabalho. Segundo ela, essa ambivalência – manipulação mercadológica e
uso que as leitoras fazem desse tipo de romance – é impossível de ser contornada.
247
Ao concluir seu texto, Meirelles destaca dois pontos relevantes . São eles:
marketing, em que o objeto livro é dado como uma mercadoria programada para um
determinado consumidor.
que gostam de ler, divulgam o material, formando assim uma rede de novos leitores num
leitores.
leitoras encontram neles também um contato com a palavra escrita, com a ficção
água-com-açúcar”.
Nas considerações finais, Meirelles afirma que não chegou a um “felizes para
sempre”, no sentido de apaziguamento de tensões. Segundo ela, seu trabalho não finaliza o
debate sobre essas questões, mas “promove um repensar sobre este objeto literário e
real fora de ambiente escolar, pois visualiza como este gênero consegue se sustentar pela
variados. Sua discussão parte das marcas textuais, portanto o efeito provocado no texto
para seduzir as leitoras. Ela identifica a ideologia presente nesses textos, evidenciando uma
forma literária segundo os horizontes da critica feminista. Nos depoimentos das leitoras
dos folhetins vindos para o Brasil em meados de 1815 revela também a chegada das
apontam para um avanço na educação das mulheres no país, embora desvalorizem este tipo
de leitura dizendo que são sem importância e sem valor estético, portanto própria para as
mulheres. Nos textos analisados percebemos a exploração das virtuosas heroínas leitoras
antiga da literatura de massa que proporciona catarse em suas leitoras. E que os romances
Ao nosso ver, Meirelles atinge seus objetivos, visto que observa como se
apresentam hoje os romances sentimentais no Brasil e de que forma eles constroem a “teia
de sedução” que cativa leitoras. Além de identificar a ideologia presente nesses romances
a respeito das personagens femininas, mostra o uso que estabelecem essas leitoras
sobre uma vertente ficcional que mantém leitores cativos há dois séculos, buscando a
PESQUISA 18.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
• Verificar de que modo os efeitos produzidos pela leitura desses dois livros estão
escolares.
c. Material.
O corpus literário utilizado para recepção foi composto por duas narrativas de
1998.
supletivo.
diversos produzidos pelas três turmas pesquisadas. Correa delimita como método de coleta
de dados:
2. Seminários gravados;
teórico observado por ele serviu de base, a princípio, para a produção do texto de mestrado
254
do pesquisador e deu origem às primeiras indagações que ele procurou responder em sua
tese. Esta pesquisa se fundamenta em autores tais como: Van Dijk e Kintsch (1983); Van
Dijk (1992); além de Coscarelli (1993); Eysenck & Keane (1994); Fodor (1983); Gardner
(1995); Giasson (1993); Lobato (1995); Rumelhart (1980); Singer (1984); Smith (1989).
A. Gensbacher (1994), Kleiman (1989), Costa Val (1991), D`Onofrio (1995), Wellek &
(1999), Tothe (1980), Aguiar (2001), Lévy (1996), Iser (1996), Eco (1985-93-95), Manguel
(1997), Fish (1992), Hauser (1977), Leenhardt & Józsa (1982), Bourdieu (1979), Lahire
concepções leitor nos estudos de literatura. Fundamentou suas idéias a partir da Sociologia
da Leitura, visto que esta oferece algumas contribuições importantes, entre elas as
ensino da literatura” em que a autora relaciona uma série de livros, artigos , dissertações e
PUC – RS; sobre o método recepcional de Aguiar e Bordini (1993); de Eliana Yunes,
Glória Pondé e Sônia Salomão Khéde – Rio de Janeiro - a primeira delas com tradição de
ele como o primeiro trabalho em Letras que trata da recepção, de Maria Auxiliadora Pinto
semestre de 1985. Segundo o pesquisador, Maria auxiliadora utilizou como objeto literário
Vasconcelos.
Saad Bedran(1988); Nem sapo, nem príncipe: uma leitura das leituras produzidas por
leitura na escola, de Santuza Amorin da Silva (1997); Fora da escola e dentro dela: a
literatura na vida de seus leitores, de Rosa Maria Drummond Costa (1988); tese de
Silvia Helena Borelli Ação Suspense e emoção – leitura e cultura de massa no Brasil
(1996); outros pesquisadores de São Paulo: Nelly Novaes Coelho e Edmir Perrotti, além
256
do grupo de pesquisa coordenado por Maria Alice Faria entre 1988 e 1990 que propiciou a
publicação dos livros: Narrativas juvenis: modos de ler (Faria (org), 1997) e Parâmetros
A. Textos analisados.
Queiroz, B. C. Indez. 8ª ed. Capa de Márcio Sampaio. Projeto gráfico de Paulo Bernardo
Pergaud, L. A guerra dos botões. 2ª ed. (Tradução de Geraldo Galvão Ferraz). São Paulo:
Ática,1997.
B. Referências teóricas.
AGUIAR, V. T. e et. al. (Coord.) Era uma vez... na escola. Formando educadores para
BRANDÃO, H. M. B. Nem sapo, nem príncipe: uma leitura das leituras produzidas por
BORELLI, S. H.. Ação Suspense e emoção – leitura e cultura de massa no Brasil. São
Ática, 1998.
Paulo:Ática, 1995.
ECO, H.. Seis passeios pelos bosques da ficção. São Paulo: companhia das Letras. 1994.
________. Pós escrito ao nome da rosa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985.
________. Leitura do texto literário. In: Lector in Fábula. 2ª ed. Lisboa: Editorial Presença,
1993a.
Horizonte.
________. (ORG.) Narrativas juvenis: modos de ler. São Paulo: Arte & Ciência; Assis:
FISH, S. Is there a text in this class? Trad. Rafael Eugenio Hoyos- Andrade. Revista Alfa.
São Paulo,1992.
Hauser, A. Sociologia del Arte. Sociologia del público. Barcelona: Labor, 1977.
ISER, W. Teoria da recepção; reação a uma circunstância histórica. IN: Rocha, João Cezar
de Castro (org) Teoria da ficção. Indagações à obra de Wolfgang Iser. Rio de Janeiro:
Eduerj, 1999.
________. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer. São
________. O ato da leitura: uma teoria do efeito estético. Trad. Johannes Kretschmer. São
JAUSS, H. R.. A história da literatura como provocação à teoria literária. Trad. Sérgio
1986.
LAHIRE, B. Sucesso escolar nos meios populares: as razões do improvável. São Paulo:
Ática, 1997.
1996.
LEENHARDT, J. & JÓZSA, P.. Lire la Lecture. Essai de Sociologie de la Lecture. Paris:
Lê Sycomore, 1982.
Campinas.
MANGUEL, A. Uma história da obra literária. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
260
PAULINO, M. das G. R. Leitores sem textos. 1990. 205p. Tese de doutorado em Letras –
RUMELHART, D. E. Shemata: the Building Blocks of Cognition. In: SPIRO, et al. (orgs.)
Martins et al. A escolarização da leitura literária: o jogo do livro infantil e juvenil. Belo
ZILBERMAN, R. (org.) A produção cultural para crianças. In: Literatura infantil, livro,
________. Escritores leitores. In: Presença pedagógica. Belo Horizonte: Dimensão. 1996.
________. Leitura literária e outras leituras. In: BATISTA, Antônio Augusto Gomes.;
GALVÃO, Ana Maria de Oliveira (org.). Leitura: práticas, impressos, letramentos. Belo
Corrêa estrutura sua tese em cinco capítulos. Inicia-o com uma introdução que
versa sobre livros, leitura e leitores. Nela o autor defende a idéia da importância da leitura
de literatura entre outras apresentando o pensamento de alguns pensadores entre eles: Ítalo
Calvino, Jorge Luis Borges, Alberto Manguel, Otto Maria Carpeaux, além de algumas
brasileiras sobre a relação entre leitura literária e escola; a discussão de dois trabalhos sobre
leituras do professor e também sobre depoimentos de alguns escritores sobre sua relação
com a leitura. Destaque especial para os trabalhos produzidos pelos grupos de pesquisa do
Rio grande do sul (Zilberman, Aguiar e Bordini); do grupo do Rio de Janeiro (Yunes,
Ponde e Khéde); do grupo de Minas Gerais ( Magda Soares e Graça Paulino); de São Paulo
– UNESP de Assis coordenado por Maria Alice Faria. Neste capítulo Corrêa apresenta
uma lista de trabalhos em nível de mestrado e doutorado produzidos por estes grupos.
esse método de pesquisa em leitura literária. Ele afirma que, para os propósitos de sua
pesquisa, o leitor constitui ao mesmo tempo sujeito e objeto, uma vez que são as suas
sobre as opções para o desenvolvimento da pesquisa de campo ainda estão presentes neste
capítulo que foi realizada com três turmas distintas: alunos de uma 5ª série do Ensino
Fundamental. A coleta de dados foi realizada por meio de observação das aulas ministradas
sobre as leituras realizadas; material produzido pelos alunos em sala de aula; entrevista oral
Bartolomeu Campos Queiroz e A guerra dos botões de Louis Pergaud. Sua articulação
contexto de produção, finalizando o capítulo com uma análise comparativa entre os dois
aplicada. Ao observar as diferentes leituras dos dois livros, constatou que houve uma
...se, por um alado, cada leitor apresenta a sua leitura, com todas as suas
idiossincrasias, por outro lado, cada leitor pode ser visto como uma
categoria de leitor, um certo tipo de leitor, uma vez que ele não detém um
discurso apenas seu, mas um discurso que faz parte de uma formação
discursiva e, assim sendo, seu discurso é marcado por outros discursos.
Dessa forma, é que se percebe, em cada uma das turmas, uma certa
homogeneidade de leitura. (CORREA, 2002, p. 269)
Média formar fruidores de literatura e à Universidade, com seus níveis de graduação e pós-
que se trata de questões complexas e polêmicas, mas argumenta sobre alguns pontos que
produzir um “perfil de leituras” dos alunos entrevistados. Sua forma de coleta de dados
oportunizou respostas significativas além do “gosto ou não gosto de tal obra”. Ao analisar
sujeitos, como os seus repertórios de leitura, suas expectativas com relação aos livros
na escola que passa a utilizar manuais e antologias didáticas que impedem os alunos de
uma permanente fruição das obras. As relações entre a literatura e a escola não se
restringem apenas à seleção dos textos a serem trabalhados por ela, ou a métodos de
abordagem do texto literário, vão além disso. As condições de recepção do texto literário na
escola parecem diluir suas marcas especificamente estéticas. Assim, muitas vezes, a leitura
de um texto literário deixa de ser literária, para se tornar uma leitura informativa ou
formativa.
Segundo Corrêa seria necessário, então, uma educação estética para a realização
formação da professora que irá trabalhar com a literatura ainda pressupõe, para realização
literário. Ele constata que existem dois cânones valorizados atualmente que denomina
especialistas em Literatura, já o segundo composto das obras que de fato circulam nas
escolas que correspondem ao gosto da clientela, ou, em muitos casos, ao gosto dos
profissionais que o dissemina. Não se pode esquecer que os professores estão expostos a
um leitor modelo nas obras e observa como seus leitores reais as recebem. Portanto, seu
texto foi classificado como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do leitor real –
horizontes e perspectivas, visto que verifica de que modo o efeito produzido pela leitura
dos dois livros propostos está relacionado à condição social de formação de leitores,
textos.
critico,é o leitor que além de ser consumidor da literatura, ser um leitor experiente adquiriu
um preparo especifico para sua função. Já o segundo, é aquele que lê literatura levado por
a presença de um leitor para preencher suas lacunas. Em sua reflexão evidenciou aspectos
da linguagem e dos personagens que chamaram a atenção dos leitores. Afirmou que o
expectativas entre os sujeitos com os quais faz sua pesquisa. Correa aponta tal fato como
266
uma dificuldade, visto que nas turmas observadas se verificavam níveis e gostos de leitura
semelhantes. Seu enfoque portanto revela relações entre leitura e aspectos sociais, éticos ,
religiosos e pragmáticos dos leitores. Sua pesquisa acrescenta para a discussão sobre o tema
que, mesmo se tratando de leitores de uma mesma classe social , mesma idade, podem
apresentar níveis de leitura bem diferentes e que cada um recebe a obra de um jeito. Nos
participantes. O pesquisador afirma que cada leitor apresenta a sua leitura, com todas as
suas idiossincrasias. Por outro lado, cada leitor pode ser visto como uma categoria de leitor,
um certo tipo de leitor, uma vez que ele não detém um discurso apenas seu, mas que faz
parte de uma formação discursiva marcada por outros textos. Correia reitera que o prazer
novamente.
PESQUISA 19.
a. Dados de identificação.
do Rio Preto.
Portuguesa.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
fornecer subsídios aos professores que trabalham com a poesia infantil no Ensino
gosto pela leitura. Também, revelar que a poesia trabalhada em sala de aula não é
c. Material.
utilizados como corpus literário textos dos poetas que costumam aparecer com mais
269
freqüência nas salas de aula do Ensino Fundamental entre eles foram escolhidos quatro que
são: Cecília Meireles, Elias José, José Paulo Paes e Vinícius de Moraes.
A pesquisa abrangeu seis escolas de São José do Rio Preto, sendo duas delas
da rede particular de ensino e quatro da rede pública municipal. A pesquisadora contou com
realizou entrevistas com 105 crianças, escolhidas aleatoriamente dentre de cada escola.
pesquisadora propôs visitas a seis escolas da cidade de São José do Rio Preto. Nestes
emissor.
270
postulados de Marisa Lajolo (1982) e Johan Huizinga (1971), bem como sua experiência
breve panorama da história da literatura para crianças no final do século XIX até final do
século XX, procurando situar, sempre que possível, a poesia. Para isso, vai entrelaçando os
dizeres de Lajolo com outros autores tais como: Lígia Cademartori (1986); Graça Paulino
(1998); Fernando de Azevedo (1948); Lourenço Filho (sem citação de fonte); Renato de
Almeida (In: Afrânio Coutinho s/d); Leonardo Arroyo (1968), Cecília Meireles (1979)
Marisa Lajolo e Regina Zilberman (1988) Fúlvia Rosemberg (1985) Nelly Novaes Coelho
(1995). Maria da Glória Bordini (1986); Elias José Souza (1990); Renato de Almeida
(1971);
exemplificando sua reflexão com Olavo Bilac. Segue assinalando fatos importantes sobre
a produção literária para crianças nas décadas de 30 a 80. Observa que houve um vazio na
produção de poesia específica para crianças entre o final do século XIX até os anos 60 do
século XX. Mas não deixa de acentuar o fato de a poesia nos anos 80 ter alcançado um
espaço maior no mercado editorial, fato comprovado por uma lista de escritores voltados
como um jogo, como magia. Ela fundamenta seus pensamentos citando textos poéticos de
271
vários autores entre eles os utilizados como corpus literário deste projeto. Além de
Huizinga (1971) que corrobora a premissa da poesia como um jogo, a pesquisadora cita
trabalho. Mostra como João Wanderlei Geraldi (1985) considera a linguagem como um
“lugar de interação humana”. Tenta distinguir o que ela entende por recepção passiva e
ativa observando, de certa forma precipitadamente, a questão dos vazios dos textos.
estudos da Estética da Recepção. A pesquisadora fixa seu ponto de reflexão nas questões
relativas ao ensino de literatura da poesia para crianças. Tal ausência chama a atenção, por
A. Textos analisados.
(vários poemas)
B. Referências teóricas.
AZEVEDO, F. A educação e seus problemas. 4ª ed. ver. ampl. São Paulo: Melhoramentos,
1948. v. 1.
Mercado, 1986 a.
HUIZINGA, J. Homo ludens: o jogo como elemento da cultura. (Tradução de João Paulo
1979.
PAULINO, G. Cem anos de poesia nas escolas brasileiras. In: SERRA, Elizabeth D’
Letras/ALB, 1998.
ROSEMBERG, F. Literatura infantil e ideologia. São Paulo: Global, 1985. (Teses, 14).
273
história da literatura para crianças no final do século XIX até final do século XX,
procurando situar a poesia neste contexto. A pesquisadora segue destacando algumas ações
escolas. Analisa o papel ideológico das poesias infantis presentes, utilizadas como material
sério questionamento: “A poesia está morta?”. Na seqüência de seu texto ela passa a
defender a idéia de que a poesia nunca esteve morta, mas “resiste, se renova, e está além
combina com a morte.” (GARCIA, 2002, p. 82). Para isso apresenta os pressupostos de
vários escritores e teóricos, tais como: Carlos D. de Andrade, Zélia Machado, Henriqueta
Lisboa, José Paulo Paes, Johan Huizinga, Lígia Cadermatori, Nelly N. coelho, Maria
projeto de poesia que de fato produza uma mudança qualitativa nos resultados hoje
presentes nas escolas. Ela enfatiza também a distinção entre leitores passivos e ativos
274
dessa mudança que implica tornar o aluno um sujeito real da recepção ou da leitura.”
Após a apresentação de toda essa base teórica, Garcia passou a descrever sua
poético em sala de aula? Qual a situação do docente com este texto em mãos? Como os
alunos o recebem?” Para conseguir dados que os respondessem Garcia passou a visitar
escolas particulares e públicas da cidade para colher dados com os professores, via
questionários aplicados, com os alunos por meio das entrevistas , bem como observando o
com o intuito de coletar produções textuais das crianças das escolas pesquisadas.
Cazuza, de Viriato Correa, para argumentar que a escola não deve ser autoritária em
texto poético
Garcia constatou que a poesia infantil para crianças foi extremamente limitada,
pouco valorizada e muito pouco editada. A escassez desse material, aliada à pobreza dos
sala de aula. Ela concluiu que a poesia oferecida às crianças até o início do século tinha o
275
intuito de passar normas e padrões de bom comportamento, sendo assim utilizadas nos
embora isso só ocorra após os anos 60. Em seus dizeres “a poesia modernista não só
rompeu com a lógica tradicional e sua linguagem, como também passou a explorar as
crianças em atividades realizadas durante sua pesquisa, Garcia descreve alguns trabalhos
continua dependente da instituição escolar que, por sua vez, ainda se utiliza do livro
didático para sua divulgação. Na contramão do senso comum, constata que este gênero
vem ganhando espaço tanto editorial quanto nas salas de aula, embora ainda que
modestamente neste último espaço. Sua análise fundamenta-se no rastreamento feito pela
pesquisadora da evolução da literatura infantil brasileira. Por meio dos escritores citados,
ela observa que estes são de fundamental contribuição para a melhora da qualidade da
produção literária nas últimas décadas do século passado. No entanto, segundo sua visão
“muito há que se fazer” tanto referente ao discurso, quanto a prática pedagógica. Também,
poesias que aparecem nos livros didáticos das escolas. Sua intenção é fornecer subsídios
aos professores que trabalham com a poesia infantil no Ensino Fundamental, no sentido de
recriação de tais textos, bem como o desenvolvimento do gosto pela leitura. Também quer
revelar que a poesia trabalhada em sala de aula não é unicamente a que está contida no livro
leitores.
utilização em sala de aula. Portanto, fica mais preocupada com a questão pedagógica.
Analisa a poesia do ponto de vista do jogo e da magia e visualiza em sua análise o efeito,
Não centra sua atenção sobre nenhum texto em especial, utiliza vários exemplos de
textos que aparecem nos livros, observado que são de natureza diversa porque seus
autores se movem por poéticas distintas. E que o uso dos mesmos em sala, na maioria
literários.
discutíveis porque apresenta o leitor passivo como um aluno que não reage, não
questiona, não completa vazios propostos pelo texto poético. Nesse momento, está
Estética da recepção portanto, mesmo que não faça menção a isso. Seu texto defende
PESQUISA 20.
a. Dados de identificação.
Resumo da obra:
b. Objetivos.
• Detectar e analisar o que nas obras escolhidas pelos alunos as torna atraentes.
• Verificar se, por meio da leitura, poderia instaurar o diálogo em sala de aula e
• Detectar o efeito produzido pela obra escolhida nos alunos leitores. Observando
quais são os conceitos prévios dos alunos ao lerem tal texto e a relação
Para tanto, Ferreira realizou seu projeto de forma dialética que se constrói por
formação do leitor.
280
c. Material.
Ao longo de três anos, Ferreira catalogou leituras de seus alunos por meio de
professora.
durante três anos, sobre diversos autores que foram distribuídas nas categorias de leitura
entre ela e os alunos três obras, sendo cada uma pertencente a uma das categorias fixadas.
A pesquisadora verificou que analisar as três não seria impraticável. Foi então que chegou
as obras eleitas pelo maior número de alunos como a mais atraente em cada modalidade.
Novamente a pesquisadora realizou novo recorte fazendo opção pela obra que
pesquisadora na categoria Leitura Opcional, livre escolha dos alunos. Portanto, ela se
até a 8ª série do Ensino Fundamental de uma escola particular Colégio Santa Maria Anglo
Optou por realizar sua pesquisa em uma escola particular com o intuito de
escola pública propicia o convívio com as diferenças, com as carências, provoca desafios
que podem ser incentivadores para a leitura.” (FERREIRA, 2003) No entanto, ela afirma
que em 1998 – ano em que se iniciou essa pesquisa – a realidade da escola indicada era
bastante diferente da ideal, contando com alunos de classes sociais variadas, fator
(FERREIRA, 2003).
282
longo dos quatro anos. Tal instrumento foi inspirado nas observações de Richard
Além desse, Ferreira colheu dados por meio de entrevistas com alguns dos
seus leitores com informações do tipo: material que dispõe para ler em casa; ambiente de
leitura. As anotações de todo o processo realizado durante os três anos também foram
analisadas.
leitura, perfil da clientela, Eliane lançou um histórico do projeto e, nesta parte começa a
decidir caminhos para a análise dos dados que estava coletando. Ela avisa ainda na
primeira parte do capítulo Optando por saídas, que sua pesquisa recaiu sobre princípios
central que norteou o desenvolvimento da ação pedagógica, ou seja, que quando aplicados
283
pesquisadora lança mão dos autores: Solange J. e Souza & Sônia Kramer (1991); José
século XIX e início do XX, ela procura mostrar como a psicologia, a teoria literária e a
lingüística foram sofrendo alterações por meio dos dizeres de Luís C. M. Figueredo
Vigotsky (1991-1998).
conhecimentos pela leitura, têm possibilidade de sucesso, Eliane tenta observar os motivos
que justificariam fato contrário no início do ano de 1998 com os nas salas de aula das 5ª
séries A e B.
Mikail Bakthin, traduzido por Michel Lahud e Yara F. Vieira (1995); Diana P. de Barros e
José Luiz Fiorin (1999); Italo Calvino, tradução de Nilson Moulin (2000); Antonio Candido
tradução Bruno Charles Magne(1994); Jacqueline Held (1980); Cyana Leahy-Dios (2000);
Jean Piaget, Tradução Profª M. A. M. D´Amorim (1991); Ezra Poud, Tradução Augusto de
284
Campos e José Paulo Paes (1990); Maria Thereza Rocco (1992); Malu Zoega de Souza
(2001).
partir do passaporte de leitura idealizado a partir do que orienta Richard Bamberger (1995).
Ceccantini (2000); Paulo Freire (1991); Yves de et al La Taille (1992); Maria Helena
A partir da lista de obras escolhidas pelos alunos, ela desenvolve sua análise
com o objetivo de contextualizar tais obras na literatura infantil e juvenil brasileira e para
isso utiliza entre outros autores Regina Zilberman e Marisa Lajolo (1988-93); Novamente a
tese de doutorado de Ceccantini; Hans Robert Jauss (1994); Laura Sandroni (1995); Regina
sua atenção aos aspectos da recepção propriamente dita, utiliza, para fundamentar seu
Iser, In: Luiz Costa Lima (1979); Hans Robert Jauss, traduzido por Sérgio Tellaroli
(1994)
interação autor-obra-público.
A. Textos analisados.
DUPRÉ, M. J.. A mina de ouro. 27ª ed. 2ª. Impressão. Ilust.. Adelfo M. Suzuki. São Paulo:
B. Referências teóricas.
ANTUNES, B. Podem os clássicos voltar à escola? Revista Linha d’Água, v.13, p.67-76,
jun. 1998.
286
CALVINO, Í. Por que ler os clássicos? (Tradução de Nilson Moulin), 6ª reimpressão. São
________. O direito à literatura. In: Vários escritos. 3ª ed. ver. E ampl. São Paulo: Duas
avaliação. In: . Et al.. Piaget-Vygotsky: novas contribuições para o debate. 4ª ed. São
FREIRE, P. Educação como prática da liberdade. 20ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1991.
ISER, W. A interação do texto com o leitor. In: JAUSS, H. R. et. al. A literatura e o leitor:
textos de estética da recepção. (Tradução de Luiz Costa Lima). Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1979, p. 83-132.
LEAHY-Dios, C. Educação literária como metáfora social: desvios e rumos. Niterói: Ed.
UFF, 2000.
PIAGET, J. Para onde vai a educação? Rio de Janeiro: Olympio – UNESCO, 1973.
POUD, E. A B C da literatura. Tradução Augusto de Campos e José Paulo Paes. 9ª ed. São
(1992);
SANDRONI, L. Por que este livro nos interessa? IN: BAMBERGER, Richard. Como
incentivar o hábito de leitura. (Tradução de Octavio Mendes Cajado). São Paulo: Ática,
1995.
VASCONCELOS, M. S. de. A difusão das idéias de Piaget no Brasil. São Paulo, 1995. 402
Paulo.
ZILBERMAN, R. A literatura infantil na escola. 10ª ed. São Paulo: Global, 1998.
________. LAJOLO, M.. Um Brasil para crianças: para conhecer a literatura infantil
quanto Médio, na rede pública e privada de ensino. Delimita portanto, tempo espaço,
autores e obras. Sua pesquisa de campo foi realizada em uma escola da rede privada de
ensino, nos anos de 1998 a 2000. Neste tempo ela teve a oportunidade de acompanhar o
para leitura pela escola e pela família e, entre estes, quais foram os eleitos pelos alunos
trabalho com a leitura, a opção pelas seguintes modalidades de acesso ao livro: a opcional;
opcional entre uma série de obras indicadas pela professora, e a proposta pela professora.
290
Seguindo seu raciocínio, justificou seu trabalho, apresentando a fundamentação teórica que
o norteia.
cerca de 50 alunos durante os anos de 1998,1999 e 2000, divididas nas três modalidades de
acesso a livros, o total dessas catalogações e o critério de seleção dessas obras para
concepção de texto, leitor, sala de aula, escola, ensino de literatura e papel do professor. Só
“passaporte do leitor”, e a catalogação de 200 obras escolhidas por 50 alunos durante três
anos.
Esta lista foi produzida ao longo destes três anos segundo um critério de seleção.
Por meio de um índice de aceitação construído pelos alunos, as obras foram classificadas
Rowling; na categoria opcional entre obras de autor indicado pela professora, Corda
A segunda parte de seu trabalho foi composta também por três capítulos No
primeiro temos uma reflexão acerca das contribuições da estética da recepção para a
literatura e para o seu ensino. Ferreira também situa a autora Maria José Dupré no
contexto da literatura infantil e juvenil brasileira. No segundo, parte para uma reflexão
quanto á eleição pelos alunos da obra A mina de ouro, tanto da edição de 1984 como da
291
mais atual de 2000, e dos demais textos a ela associados. No terceiro capítulo, Ferreira
apresenta uma análise sobre a personagem, o narrador e o leitor implícito nas obras de
Sua conclusão procura integrar as duas etapas de sua pesquisa. Além disso,
sala de aula é condição básica para a existência da interação aluno/texto. Estabeleceu uma
série de proposições que, segundo seus apontamentos, podem ajudar muito na reflexão
favoreceu a observação dos conceitos prévios dos alunos. Esse conhecimento aliado
2. O fator prazer foi repensado saindo de um estágio em que este era provocado apenas
por textos de fácil assimilação entre os alunos, que atendiam aos horizontes de
expectativas dos alunos, para um outro estágio em que os alunos se tornavam co-
de auto-estima e de maior senso crítico, bem como alguns reflexos positivos quanto
livrarias.
292
3. Ainda sobre a questão prazer, Ferreira demonstra por suas reflexões que os alunos,
ambiente escolar tais como: só se lê para a prova, quando se escolhe o livro para
leitura, também pode haver frustração, a qualidade da obra não pode ser medida pela
leitura pode ser construída e conquistada; um livro que propõe divertimento pode
obra pode ser agradável, mas precisa sobretudo ser emancipatória, propor reflexões,
conduta.
4. Quanto ao professor, é visto por Ferreira como elo vital para a interação
literatura/aluno, visto que se trata de um leitor mais experiente que deve ser capaz de
dialógica, principalmente quanto as opções dos alunos recaem sobre obras, como as
trajetória de leitura de quatro anos de seus alunos. Ao nosso ver além de analisar a
recepção também proporciona um estudo detalhado sobre a obra de Maria José Dupré.
Portanto seu texto foi classificado como uma Pesquisa de Recepção/Efeito – Voz do
enquanto uma professora formadora de leitores. Faz uma boa argüição sobre como se dá à
escolha das obras pelos alunos, destacando nelas o que as torna atraentes. Ferreira também,
fundamenta dados da recepção no efeito produzido pela obra escolhida, observando quais
são os conceitos prévios que os alunos devem conhecer para lerem o texto em relação
dialógica a outros.
Com sua análise mostra que o tabu de que “só se lê para a prova” já não
está na eleição de três categorias de leitura: opcional, proposta pela professora, opcional
coleta de dados ao utilizar o passaporte de leitura proposto por Richard Bamberger (1995).
literatura enquanto formador de leitor. A autora compreende como são escolhidas as obras
lidas pelas crianças na escola. Analisa o efeito na obra escolhida de Maria José Dupré. E
quando detectando outros textos que dialogam com esta obra. Proporciona boas reflexões
quanto ao trabalho desenvolvido com estas séries,pois faz sua avaliação em quatro anos.
expectativas dos alunos que a escolheram, por isso foi aceita por eles e eleita na categoria
opcional.
295
trabalho que visava catalogar tudo existente no Brasil sobre o tema, o que se realizou
demonstra um crescente interesse pelo assunto nas últimas décadas. Observamos essa
ampliação a partir da década de 90, sendo que nos quatro primeiros anos de 2000 a
Década de 80 1 5%
Década de 90 6 30%
TOTAL 20 100%
Ainda que com cautela, visto que trabalhamos apenas com 20 títulos
selecionados pelos critérios já indicados no início do capítulo 3., pode-se afirmar que esses
números comprovam o crescimento a que nos referimos. É importante notar que a teoria da
Estética da Recepção está colocada para o meio acadêmico desde a década de 60, por meio
literatura” só aparece vinte anos depois na década de 80. Nesse período, encontramos
informações relevantes que serão analisadas neste capítulo em duas seções assim dispostas:
B. Pesquisas de Recepção.
C. Pesquisas de Recepção/Efeito.
a. Dados de identificação.
trabalhos a existência de pesquisas que abordam questões sobre leitura realizadas nas
principais instituições de ensino do país. A seleção das pesquisas foi realizada mediante ao
acesso real ao texto. Como já foi explicado anteriormente, iniciamos essa pesquisa com
dissertação foi formado. Vale dizer nesse momento que tal acesso ainda é muito difícil,
visto que nem todas as universidades brasileiras dispõem de meios de divulgação eficientes
periódicos, obras de referência, teses, músicas, manuscritos, obras raras, iconografia, etc.; a
certamente devem ser encontrados outros textos nas mesmas instituições que talvez não
tenham sido divulgados pelos caminhos utilizados na pesquisa, bem como outras
universidades não pesquisadas por nós que certamente devem apresentar outros textos.
299
Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul; o de Minas Gerais (UFMG), pois nestes centros de
estudo encontramos uma vasta produção sobre o assunto, bem como os trabalhos que mais
Pesquisa Instituição
Pesquisa 1 UNB
Pesquisa 2 USP
Pesquisa 3 PUC- RJ
Pesquisa 4 UNESP - Assis
Pesquisa 5 UNESP - Assis
Pesquisa 6 USP
Pesquisa 7 USP
Pesquisa 8 UEM
Pesquisa 9 USP
Pesquisa 10 UFMG
Pesquisa 11 UNICAMP
Pesquisa 12 UNESP - Assis
Pesquisa 13 UEM
Pesquisa 14 UNICAMP
Pesquisa 15 PUC RGS
Pesquisa 16 PUC RGS
Pesquisa 17 UFPR
Pesquisa 18 UFMG
Pesquisa 19 UNESP - SJRPreto
Pesquisa 20 UNESP - Assis
Quadro - Instituição
300
proporção:
UNB 01 5%
USP 04 20%
UNESP 05 25%
PUC-RJ/RGS 03 15%
UFMG 02 10%
UEM 02 10%
UNICAMP 02 10%
UFPR 01 5%
TOTAL 20 100%
acadêmico tem dado ênfase à figura do leitor e à teoria da Estética da Recepção nos
programas de Pós-graduação.
MESTRADO 15 75%
DOUTORADO 05 25%
TOTAL 20 100%
pesquisa constata-se uma lacuna de produção. Nossa pesquisa não registrou textos entre os
anos de 1980 - 1991, o que não significa que eles não existam. Tal fato decorra talvez da
levanta não importando a extensão de cada produção. A maioria dos pesquisadores, embora
b. Objetivos.
diversos quanto à leitura e ao papel do leitor. Visto que os pressupostos da teoria de Jauss
relativos ao efeito e à recepção não eram o interesse principal dos textos analisados,
destacaremos apenas os objetivos que dizem respeito a essas categorias, mesmo que
abordados de forma indireta pelos pesquisadores, pois esse é o centro de nosso interesse.
• Do efeito tal qual postula W. Iser. Portanto, partem para um dos caminhos
leitor no próprio texto e não com a recepção realizada pela crítica ou por
leitores reais.
302
pesquisas essa diferença não fica suficientemente clara, provocando no leitor equívocos de
interpretação quanto aos conceitos. Mesmo ressalvando o fato de que nem todas tinham
presentes e são importantes para a verificação das questões de leitura propostas nas
pesquisas, uma vez que focalizam o leitor e sua importância na análise literária.
Das vinte pesquisas que compõem esse corpus, temos em 15% a análise do
efeito. Entre elas, observamos que Souza (Pesquisa 5), embora não se valha dessas
categorias, já aponta para a questão ao definir como objetivo a reflexão do papel do leitor
nos contos de Machado de Assis. Seu trabalho, em 1998, coloca a importância do leitor
que sabia como dialogar com seu público por meio de sua obra.
textos poéticos. Sua pesquisa, numa análise superficial, sugeriria estar centrada nas
303
é que a pesquisadora oferece fundamentação teórica voltada para o ensino, sem valer-se de
essa distinção, evidencia no estudo a questão do efeito, visto que mantém sua observação
centrada no texto.
Em Ferreira (Pesquisa 7), que propõe uma análise comparativa entre quatro
obras intituladas por ela como de vanguarda, observamos interesse nas questões de efeito.
Da mesma forma que Yasuda, Ferreira centra sua observação nas obras escolhidas. Ela
também não distingue as categorias, mas focaliza o leitor implícito nas obras.
40% das analisadas aqui, percebemos uma grande tendência para a reflexão sobre o
formação nos vários níveis de ensino, a partir de textos em prosa ou em verso de autores da
interesse de, além de registrar a voz do leitor real, observar questões pedagógicas da
formação de leitores.
vasto campo para pesquisas vindouras. Embora seja nossa opinião que o ponto vital do
escolar, não podemos deixar de pensar que esse processo seja contínuo e não dependa
única e exclusivamente desse ambiente para se concretizar. Dessa forma, merecem atenção
dos pesquisadores projetos que estudem essa formação tanto em relação à vida escolar na
em identificar um perfil do leitor que temos hoje. Para isso, os pesquisadores se valem de
se como alvo nos últimos anos, o que mostra que a crítica procura outros caminhos para os
do texto como elemento fundamental tanto para a verificação do efeito quanto para a
recepção do mesmo, independente do sujeito em questão. Questão que fica bastante clara
23
Hoje, Ensino Médio e Superior.
305
C. Material.
objeto literário adequado ao tipo de leitor que se pretendia focalizar, seja o leitor ideal ou
com a observação do efeito produzido no texto, seja do leitor real, explícito, sujeito
romances em diário (O Amanuense Belmiro, de Ciro dos Anjos – Pesquisa 1); romances
Graciliano Ramos – Pesquisa 3). Também, de narrativas curtas – contos – em que estão
presentes autores da literatura brasileira, tais como Machado de Assis (Pesquisa 5) e Clarice
trabalho, ao nosso ver, por abordar uma literatura reconhecida como popular e regional,
dado que revela uma das tendências atuais abordadas pelos estudos culturais no país.
narrativas longas, tais como: Vida e paixão de Pandonar, o cruel, de João Ubaldo Ribeiro
Campos Queiroz; A guerra dos botões, de Louis Pergaud (Pesquisa 18); Eu também sou
mede-palmo de Lúcia Pimentel Góes (Pesquisa 7). Narrativas curtas, como exemplo: O que
os olhos não vêem, de Ruth Rocha (Pesquisa 13); os contos de fadas (Cinderela, Branca de
Neve e os sete anões, Chapeuzinho Vermelho etc.). Outras narrativas do universo infantil –
Noé etc. – (Pesquisa 16). Também foram observados textos da poesia: livros inteiros – O
prudência, visto se tratar de um gênero ainda polêmico no meio acadêmico. Parte das
discussões se fundamentou na idéia de ser esse tipo de texto considerado como literatura de
massa, voltado para um público específico, abordado na maioria das vezes em ambiente
escolar.
poesia com o público infantil, mostrando seu uso no ambiente escolar. Notamos a
307
preocupação dos pesquisadores em apontar para o uso de tais textos com fins pedagógicos
utilize para isso um método. Ênfase foi dada ao método recepcional elaborado por Bordini
Portanto, o que entendemos sobre esse corpus é que sua extensão é razoável,
abrangendo tanto textos em prosa quanto em verso. No entanto, muito ainda se pode fazer,
ficando mais democrático, abrindo seu olhar para objetos que não estavam no cânon
valorizado pela crítica. Percebe-se, como já dissemos antes, uma tendência voltada para o
análises. Não podemos nos esquecer de observar os fatores que facilitam ou dificultam o
exercício da leitura tais como: o suporte do texto literário, como ele se veicula para os
leitores, o livro (literário) como “produto comercial”, sua utilização como instrumento
sendo que oito delas abordam apenas a questão da recepção de textos e nove o efeito e a
temos diversos tipos de leitores contemplados nos trabalhos. Vamos separá-los em duas
abordado por seu autor, sem nenhum registro de impressões pessoais. Aqueles nos quais
“temos uma figura virtual idealizada pelo autor, inscrito no próprio texto para quem se
ambiente de aplicação das pesquisas: na escola ou fora dela. Desta forma, encontramos
interesse maior no Ensino Fundamental. Desejamos destacar que entre essas, a ênfase é
Estado de São Paulo. Outro fator de destaque é a Pesquisa 20, em que a pesquisadora se
propõe seguir um grupo de alunos por 4 anos, verificando nesse processo, entre outros
Ensino Médio. Embora em número reduzido, nos chama atenção por se tratar da
que a totalidade propõe a observação da recepção apenas no curso de Letras. Tal limitação
pode indicar outra lacuna, visto que o ato de leitura não é e não deveria ser encarado como
escolar, correspondente a 15% das registradas, também nos chamou a atenção o fato de
que não fazem parte do cânon valorizado no meio acadêmico, refletindo portanto uma
textos escritos dos mais diferentes tipos. Estes foram classificados em dois grupos: Textos
dos textos produzidos pela crítica nas décadas de 30 a 70 e Vidas Secas - uma recepção
em horizonte ampliado (Pesquisa 3), mostrando o confronto entre o que disse a crítica de
pesquisadora.
texto. Relacionam dados pessoais sobre os leitores, memória de leitura e participação nas
recepção durante os debates (também gravados em áudio e/ou vídeo), sobre o registro do
pesquisas. Encontramos textos produzidos por alunos, pelo professor da classe em que foi
processo. Verificamos uma gama variada de textos produzidos por diferentes pessoas
de aula, como textos mais inovadores (passaporte de leitura, caderno de impressões). Entre
leitura, documento destinado ao concurso Leia Brasil, que reuniu experiências de leitura
em vários níveis de ensino, com professores de todo Brasil. Estes documentos foram
observados em Práticas de Leitura na escola, (Pesquisa 11), projeto orientado por Profa.
catalogação das obras durante três anos em que a pesquisadora, junto a seus alunos,
registrou e analisou mais de 200 obras, partindo de uma experiência concreta de leitura com
que esse traria um novo olhar sobre o objeto. Constatamos na análise dos documentos que:
Como se vê, dá-se maior ênfase às informações coletadas por meio de registros
escritos pelos alunos (50%). E também aos registros coletados pelo professor da sala e aos
efetuados pelo pesquisador (41%). Entre os registros coletados por outras pessoas
Esses números nos mostram ainda que os dados coletados por observadores externos ao
312
aproveitados.
encontramos:
alunos
registros efetuados nas pesquisas: o escrito e o gravado. Quanto ao último, percebemos que
manifestações. No nosso entender, mesmo que essas gravações sejam depois transformadas
transposição quanto à linguagem; mesmo que elas não sejam totalmente naturais, pois não
fazem parte da rotina em sala de aula, esses instrumentos de coleta de dados oferecem ao
313
d. Base teórica.
levantadas nos trabalhos, visto que tratavam diretamente do leitor e de leitura. Curioso foi
encontrar trabalhos que embora abordassem o tema, não apresentavam de forma explícita
No entanto, isso não as invalida quanto ao nosso estudo, pois embora não os
Iser mostraram-se presentes nas análises realizadas, consolidando uma base teórica que
escolar e social. Para isso, o método recepcional organizado por Aguiar e Bordini (1993) a
partir dos pressupostos de Jauss também se fez presente. Citamos, como exemplo, o
trabalho (3.13) de Ivonete V. Gasparello que pretendia, entre outras coisas, observar a
Estética da Recepção e a Teoria da Leitura. Nas duas percebemos o leitor como eixo
314
principal, sendo que na primeira observamos uma divisão entre pesquisas de efeito e as de
recepção, categorias que discutiremos a seguir no item II. Quanto à Teoria da Leitura,
observamos o tema sendo tratado por várias perspectivas: semiótica, histórica, pedagógica,
sociológica e psicológica, esse recorte não será explorado em nossa pesquisa, visto não ser
Outro dado importante a ser observado na base teórica utilizada foi o fato de as
pesquisas se abrirem para estudos de diversos interesses, como por exemplo, a questão da
culturais.
Embora não fosse pretensão nossa chegar a uma bibliografia publicada sobre a
Estética da Recepção, nossa pesquisa constatou que existem alguns textos canônicos que
Jauss e Iser, principalmente por Sérgio Tellaroli, Johannes Kretshemer. Além, é claro, de
seus principais divulgadores: Costa Lima e Regina Zilberman. Temos, por meio deles, o
tradução de Sérgio Tellaroli, pela editora Ática. Texto original em alemão datado de
pela editora 34. Versão original em alemão datada em 1976. No Brasil, publicado em
Lima, publicado no Brasil pela editora Paz e Terra em 1979. Neste livro, além da
Jauss; A interação do texto com o leitor de Wolfgang Iser; Que significa a recepção
de Hans U. Gumbrecht.
item d.2.B diz respeito aos trabalhos citados na descrição das pesquisas. Além disso, que
foram transcritas de acordo como foram encontradas nos textos de origem. Nelas não
encontramos todas as obras utilizadas nas dissertações e teses, visto que isso seria um
trabalho muito mais amplo do que o que nos propusemos aqui. Nos restringimos apenas a
transcrever as que foram citadas na descrição da base teórica, observando autores e textos
forma como foram formatadas pelos pesquisadores. Com estas informações, apresentamos
utilizadas nas diversas fases do processo de recepção, bem como a hipótese que o
pesquisador se propunha observar, suas estratégias para alcançar seus objetivos, formas de
observação.
apresentam esta divisão pesquisa teórica e/ou pesquisa aplicada. De acordo com o objetivo
fixado, cada pesquisador deu maior ênfase para esta ou aquela parte. Em algumas delas
verificamos a opção por apenas uma delas. Geralmente quando isso ocorreu foi dada
nem sempre registradas de forma escrita nos anexos dos textos. Muitas vezes, os
forma de coleta, pensamos que pode ser um meio a ser utilizado, porém, no nosso entender,
é muito difícil realmente conseguir um registro fiel ao da fala. O que pode ocasionar, então,
a manipulação dos dados, mesmo que não de forma proposital, da pessoa que os registrou.
317
considerar o leitor como peça-chave do processo de leitura, pois a ele cabe atribuir sentido
ao texto escrito. Portanto, este sentido, embora se apresente por meio de marcas textuais,
não está sozinho e totalmente delimitado. Ele depende da atuação do leitor para que se
realizar concretamente.
necessidade de mais projetos sobre a recepção de textos, bem como para a importância da
importante como instrumento de compreensão não só para o meio acadêmico como também
para o professor que trabalha com leitura nos mais diversos níveis de ensino.
Os estudos literários estão se abrindo para textos até então não valorizados pela
conhecidos.
observação do livro como mercadoria traz para a discussão dados importantes, tais como as
estratégias utilizadas pelas editoras para seduzirem seu público, seja ele da idade que for.
Esses aspectos podem ser variantes a serem observadas e analisadas na recepção de textos.
docente apareceram nas pesquisas registradas aqui. Quanto a essa formação, verificou-se,
muitas vezes, que o próprio professor ainda deve passar por esse processo de formação,
visto que em muitos casos reside aí o principal entrave para resultados mais positivos na
318
Outro fator evidenciado nas pesquisas foi que o prazer estético resulta da
tanto do leitor quanto da obra lida. As pesquisas apontam para o fato de se trabalhar com
conseguir bons resultados a partir dele. Quanto a esses bons resultados nos referimos à
leitura está longe de ser esgotada. Cada experiência realizada traz novas variantes a serem
do leitor. Esta, talvez, seja a equação a ser resolvida pelos novos pesquisadores.
319
Recepção/ Efeito. Nas três observamos a existência de projetos que se diferenciavam não
só pelo leitor utilizado e tipos de documentos coletados, mas também pelo fato de tratarem
implícito previsto pelo escritor e previamente formatado no texto. Nessas pesquisas, temos
a observação do efeito no próprio texto, ainda que não se valham diretamente desse
utilizando como base teórica Wolfgang Iser para a compreensão dos efeitos no texto. Além
conclusão a que Souza chega, mereceu atenção o destaque que a pesquisadora deu ao leitor,
dizendo que ele fora convidado a participar do texto de Machado de Assis com a tarefa de
24
Para W. Iser o leitor implícito é uma construção presente no texto e percebida pelo leitor real por meio das
instruções do próprio texto.
321
Yasuda (pesquisa 6) analisa relatos de professores que falavam sobre sua prática
a adaptação de textos poéticos para crianças e o uso da poesia para o ensino da Língua. A
mostravam preparados para trabalhar com a linguagem poética, tinham pouca leitura sobre
o assunto e quase nenhuma formação estética. Muitos não eram sensíveis à poesia.
leitura realizada nas escolas. Sua proposta baseia-se na visão da leitura como um jogo,
professor leitor, como alguém mais experiente que vai mediar a formação de novos
pertinente, porém não desviar ficar apenas nas atividades propostas. Destacamos o que foi
Ferreira, apesar do tom poético assumido em seu texto, coloca a leitura como
formação de professores e propõe a análise de algumas obras, que no seu entender são
estimulador de leituras e para tanto destaca atividades vindas da sua própria prática de
leitores. Apesar de dizer que não quer dar receitas prontas, acaba por fazê-lo quando mostra
Pouco aprofunda a sua sobre o texto literário, destacando obras sem justificar
Nas pesquisas apresentadas aqui, notamos uma ênfase ao estudo do texto como
leitor implícito, previamente formulado por ele. Esses textos analisados mostram uma
estrutura que antecipa a presença do receptor. O papel do leitor real seria determinado,
portanto, por essa estrutura . Para tanto, seus pesquisadores mostraram preocupação com o
objeto de leitura, não evidenciando (embora em alguns casos tenham afirmado que o
Como se vê, a hipótese de leitura que fundamenta a análise das obras utilizadas
como corpus nessas pesquisas, de fato “longe de propor uma recepção passiva, apresenta-
se como uma interação produtiva entre o texto e o leitor”. Esse é de fato escolhido e
programado no texto por seu escritor. Como a obra – texto produzido pelo autor - é um
objeto artístico, determina um efeito para os eventuais leitores que venham desfrutar dela.
Reflete, “uma dimensão comum a todo leitor previamente determinado pelo texto. ”
(JOUVE,2002). Talvez isso justifique o fato de uma mesma obra ser aceita por um leitor e
estudo do efeito e o da recepção, lança mão de parte dessa teoria ao analisar o papel do
leitor presente no conto de Machado de Assis. Por meio da Teoria do Efeito e da Teoria do
deverá ser decifrado por um leitor real para que estabeleça como objeto estético. Já
atuação de um leitor real, portanto sua recepção. No entanto, não centra sua atenção nesse
ato e sim no leitor implícito presente nos textos. A reflexão que provoca com sua pesquisa
é referendada pelos textos de Mario Quintana e Elza Beatriz V. Döllinger de Araújo. Ela
ilustrações. Ou seja, focaliza o texto, paratexto e extratexto para, enfim, cumprir seu
tais textos.
comparativa de quatro obras denominadas por ela como de “vanguarda”. Embora seu
objetivo fosse analisar a prática de leitura realizada na escola, propondo caminhos para a
formação do leitor, a pesquisadora também centra sua atenção nos textos. Num tom poético
que, ao nosso ver, provocou uma interpretação superficial sobre a prática de leitura, não se
fixou nem no ato de leitura nem na existência de um leitor prévio nos textos comparados.
Para uma pesquisa que visava à análise de obras de vanguarda, o mínimo que se esperaria
era a comprovação dos motivos que levaram a pesquisadora a classificar tais obras dessa
forma, o que não ocorreu de modo convincente a partir da análise minuciosa da estrutura
narrativa e do leitor existente nas mesmas, e que , infelizmente, não foi realizado por ela.
Seu enfoque pedagógico a impediu, talvez, de realizar uma análise mais profunda, menos
real nas pesquisas sobre leitura; entre o efeito e a recepção. Não se pode colocar todos
esses elementos numa mesma caixa sem fundos ao se propor a análise de textos, sejam eles
324
literários ou não. Tal equívoco teórico já foi suficientemente esclarecido por Wolfgang Iser
presentes em milhares de outras que abordam o texto literário. Tais interesses não as
invalidam enquanto pesquisa sobre leitura, mas refletem tendências dos estudos relativos ao
leitor em sua interação com o texto. Constituem parte de uma teoria que focaliza um leitor
implícito que está registrado “na estrutura do texto e que antecipa a presença do receptor”
(ISER,1976).
B. Pesquisas de Recepção.
Os sete trabalhos presentes nessa categoria – 40% das pesquisas descritas nesta
dissertação - vão além da observação do leitor virtual, contendo uma pesquisa aplicada
com leitores reais ou que promovam a observação da recepção por meio de textos da
prazer ou não na atividade realizada. Esse grupo foi subdividido em outros três, de acordo
com o tipo de leitor real focalizado na pesquisa aplicada. Dessa forma temos pesquisas que
professores e outras pessoas fora do ambiente escolar, tais como críticos da literatura. Na
325
tentativa de visualizar melhor a diferença provocada por esse leitor real, teremos: B1.
Recepção por parte da crítica especializada; B.2. Recepção por parte de professores
leitor, preferências, etc. B.3. Recepção por parte do leitor real em formação.
critério que os projetos não apresentassem apenas uma pesquisa teórico-aplicada, mas
textos. Portanto, suas vivências pessoais e códigos coletivos seriam aspectos responsáveis
por dar vida às obras lidas, viabilizando um diálogo entre elas e leitor.
textos apresentados aqui, visto que cada um deles apresentava tendências específicas que
Teoria da Estética da Recepção não foi concebida com fins pedagógicos e, muito menos,
tinha como proposta imediata a análise da questão da formação de leitores. Além disso,
verificamos também que as categorias efeito e recepção nem sempre ficaram distintas nas
literária dos leitores reais.. Quanto à variedade de tipos de leitores encontrados, notamos
que, embora a terminologia seja ampla e muitas vezes se fale do mesmo tipo de leitor com
nomes diferentes, ela fica centrada em duas espécies: o leitor implícito no texto, abordado
literatura – chamado por Iser como “leitor cultivado”; o leitor formador de outros leitores –
na maioria das vezes professores; e por fim o leitor em formação, alunos em diversos
momentos da vida escolar. Dessa foram, passamos a reagrupar as pesquisas reunidas nessa
considerada aqui como um leitor mais experiente, mais refinado, devido ao grande número
de textos com os quais lida, bem como seu direcionamento para aspectos mais específicos
dos mesmos. Tal observação é realizada por um leitor cultivado, fora do contexto escolar.
Marândola (Pesquisa 1) analisa a recepção da obra de Ciro dos Anjos por meio
da crítica que forneceu informações de como esta foi recebida por seus leitores em épocas
diferentes. Seu trabalho mostrou como o horizonte de expectativas dos leitores de épocas
distintas se modificou com o tempo, bem como as fronteiras de horizontes nas quais a
obra se inseriu. Além disso, a pesquisadora detectou no texto deste autor elementos que
O referido texto não pode ser considerados apenas como impressões de leitura.
A pesquisadora realiza a tarefa de análise de dados de uma época, mostra uma recepção
histórica. Verifica dados de recepção de outros leitores, enfim, o que se noticia sobre a obra
327
analisada, buscando na própria análise literária dados que comprovem suas afirmações. Não
são, portanto, meros leitores no exercício de sua atividade – a leitura. Estão firmados por
um caráter mais científico, fundamentado por um leitor experiente, que não deve e não
pode ser confundido com um leitor em formação e muitos menos com um leitor que busca
próprio perfil do leitor, os quatro trabalhos selecionados para essa categoria correspondem
a 25% da pesquisas que compõem o corpus analisado nesta dissertação. Tais textos se
voltam para a voz do educador em suas atividades como agente de formação de leitores.
adolescentes, com idade entre 11 e 12 anos, cursando uma 6ª série. Além disso, observa
quais aspectos da metodologia de leitura de textos literários são importantes para promover
preocupação de não querer passar uma receita, mas uma visão renovada sobre as questões
professora que aplicou as atividades de recepção, bem como, nos alunos pesquisados.
um jovem leitor apaixonado. Seu objetivo foi identificar a existência de jovens leitores
apaixonados e também traçar seu perfil por meio de comparações com outros jovens da
mesma idade e escola. A pesquisadora, embora faça um projeto que promova a análise de
5ª à 8ª série, apresenta como preocupação maior traçar um perfil psicológico desses alunos,
registro da voz desse leitor quanto à recepção de textos, tornou-se apenas um perfil.
Sua estratégia de pesquisa foi bastante curiosa no sentido de buscar por meio
quadro. Chama a atenção o apoio vindo das áreas da Psicologia, Pedagogia, Sociologia,
História da Literatura e da própria Literatura Infanto Juvenil como suporte teórico para a
vida dos pesquisados. Os leitores foram observados quanto aos hábitos sociais, gostos e
preferências em leitura.
denominados por ela apaixonados e interessados. O perfil dos alunos apaixonados por
leitura não apresenta nenhuma grande diferença, apenas que realizam as atividades de
leitura com prazer, do nosso entender, isso pouco acrescenta à discussão. Não é um projeto
relatórios de professores participantes do concurso Leia Brasil. Seu objetivo inicial foi
descrever as formas de ler na escola brasileira da região sul-sudeste. Além disso, também
de coleta de dados foi bastante relevante, uma oportunidade ímpar de se verificar as formas
de ler presentes no país. Tais relatórios indicam a leitura escolar como sendo ensinada e
caminhos da leitura no país, bem como práticas pedagógicas que colocam o professor
como um agente cultural de grande influência. Rompe com os mais pessimistas que dizem
que não se lê no Brasil. De acordo com dados lançados em sua pesquisa, apesar dos
Ela observa que, talvez não se possa mais afirmar que a maioria dos alunos não gosta de
ler. Quanto à prática pedagógica dos professores e suas concepções de leitura, Zappone
afirma que possuem formação precária de um modo geral. Também que o problema da
leitura é difícil de se resolver porque não depende apenas da escola, e sim de padrões
culturais e históricos, tanto dos professores quanto dos alunos. Importante foi sua
constatação de que esse número de leitores pode crescer consideravelmente em razão das
estratégias de mercado. No entanto, ressalta que este ponto causa uma grande preocupação
para o meio intelectual, afirmando que nem tudo que o mercado oferece é de boa
qualidade literária.
330
de poesia. Seu objetivo principal foi comprovar que o professor da rede pública pode ter a
seu favor um método recepcional, fundamentado na Estética da Recepção. Ela afirma que,
muitas atitudes da escola acabam por afastar o leitor. Outros fatores, como a precariedade
significativas nas atitudes dos alunos em relação à leitura e às atividades realizadas. Ela
notou que a cada etapa do método o interesse dos alunos era ampliado, havendo interação
com o momento vivenciado e com o tema abordado no texto. No entanto adverte que a
escola deve pelo menos tentar resolver problemas mais urgentes como a escassez de
material e promover o tempo voltado à pesquisa e ao estudo, para que o professor possa
ressaltando o real conhecimento e interesse das crianças pelo texto poético. Para tanto se
pertencentes a uma dada escola, coletando dados com professores, bibliotecários e alunos.
Sua trajetória vai da análise de poemas dirigidos ao público infantil até caminhos para
reflexão que pudesse produzir mudanças na prática pedagógica dos mesmos. Observou que
muito ainda há que se fazer quanto ao gênero poético na escola, local que, para muitas
331
crianças, continua sendo o único para a fruição de tais textos. Mostra a poesia como um
mesmos. Constata que a fruição de poesias no âmbito escolar vem aumentando e ganhando
espaço editorial, embora isso ainda seja insuficiente e muito haja o que fazer. A amostra de
textos apresentada pela pesquisadora é significativa e seu trabalho sugere caminhos a serem
realizados.
do leitor permeiam essas discussões, embora não como eixo central. A preocupação
pedagógica é mais evidente e os pesquisadores tentam com suas reflexões encontrar saídas
para a formação de leitores em ambiente escolar. Não se pode denominar tais pesquisas de
reais, não abordam especificamente questões de relevância para a recepção tais como: os
Bittencourt em encontrar um perfil básico para os alunos que gostam de ler, as estratégias
dos professores para formar seus alunos em relação à leitura, a tentativa de se utilizar uma
primeira mão, dando voz ao leitor real. Suas preferências, dificuldades, estratégias de
332
leitura, escolhas etc. O resgate dessa recepção é comprovado por registros escritos e orais,
preocupação do pesquisador nos dois projetos presentes nessa categoria não é meramente
diversas idades. Por isso a voz do leitor aparece registrada em documentos de recepção,
muitas vezes encarada como um processo que tem um momento de recepção inicial, que
vai se alterando à medida que esse leitor vai sendo exposto a outros momentos de recepção.
nesta dissertação, abordam o texto como estrutura de apelo à recepção, sendo seu principal
objetivo dar voz a esse leitor, oferecendo-lhe instrumentos para que registre suas
teóricas citadas. A autora observa diversos níveis de interação na leitura; constata que a
escola pode ser também um espaço onde pode existir uma diversidade de leitura, embora
não deva perder a visão de especialista. Aparentemente seu projeto evidencia a questão do
efeito, mas não se sustenta nele e sim na voz do leitor que, exposto a um processo de
presos aos textos de análise crítica sobre a escritora, começaram a se libertar deles e dar
espaço para sua própria interpretação. Dado importante para as pesquisas – o aluno futuro
professor buscando sua recepção primeira, livre de amarras literárias, ou seja, sua voz
sendo respeitada. Sabemos que na Universidade esse leitor, supostamente formado, deveria
se especializar construindo uma argumentação sobre os textos com os quais trabalha com
pesquisadora dar voz a esse leitor, que na pesquisa parecia surpreso em poder construir
sentidos diferentes aos que tinha acesso. Afinal, não será exatamente essa sua tarefa
enquanto formador de leitores? Como poderá realizá-la com êxito se não puder registrar
suas impressões?
(Pesquisa 16) apresenta a análise de vinte e quatro reproduções de narrativas infantis por
contexto escolar. Chamou nossa atenção a vasta bibliografia elencada pelo pesquisador no
corpo do texto. Tal bibliografia apresenta referência ao que se tem produzido mais
Ceccantini (Pesquisa 4). Carvalho aborda artigos, livros de pesquisadores conhecidos que
mas aponta caminhos referentes à recepção do texto infantil, aos modelos de narrativas que
enquanto narradora, a formação do leitor infantil. Seu trabalho se destaca pela organização,
da escola como instituição responsável por esse desenvolvimento, mas colocam o aluno-
leitor no centro das atenções e o professor, leitor mais experiente, como condutor desse
processo
C. Pesquisas de Recepção/Efeito.
Observamos nessa categoria a questão dos leitores, também focalizando seu processo de
formação, bem como o destaque de duas pesquisas fora de ambiente escolar com leitores
distintos.
abordam tanto o efeito quanto a recepção, mesmo que de forma não direta. Partem da
análise reflexiva do contexto de produção, dos efeitos provocados pelo autor na estrutura de
ambiente escolar, não focalizam questões pedagógicas de formação do leitor. Centram seu
interesse em materializar a voz do leitor no que se refere aos horizontes históricos das
expectativas, aos vazios do texto a serem preenchidos pelos leitores, à atualização da obra
contextualização da Literatura Infantil e uma ampla análise de pontos vitais sobre a Estética
entre outros. Seu texto talvez possa ser considerado pioneiro no meio acadêmico por
infantil, bem como, uma ampla pesquisa de campo que fundamenta e justifica um projeto
de formação do leitor proposto pelo pesquisador, num momento em que quase não havia
Corrêa (Pesquisa 18) fez sua investigação observando três grupos distintos de
processo de recepção das obras literárias no âmbito escolar, verificando como a recepção
produto do meio cultural em que vive, defendendo que cada um lê com o que recebeu
durante sua vida. Interessante neste projeto é o fato de que ele divida a tarefa de leitura em
dois momentos: a fruição do texto literário e o conhecimento das obras num sentido mais
pelo Ensino Fundamental e Médio. E a segunda, ele aponta como de responsabilidade das
Universidades. Desta forma a Escola nos níveis Fundamental e Médio, uma das instituições
responsáveis pela formação de leitores, teria que promover não só o hábito, mas a gosto
condena o uso de manuais nas escolas, afirmando que as condições de recepção promovidas
pela instituição escolar são responsáveis, em boa parte, pelo afastamento do leitor. Ele
ainda reconhece que há divergência entre as obras valorizadas pela crítica e as que
por Jauss e Iser – Recepção e Efeito - numa dinâmica que se completa. Não é importante
aqui o fato de serem produzidas em ambiente escolar ou não, pois seu objetivo não é
sentido mais amplo revelando realmente uma base teórica fundamentada na Estética da
Recepção.
preocupação com questões pedagógicas de formação do leitor, tais textos são considerados
graus (hoje denominados como Ensino Médio e Universitário), propõe que exista um
projeto de formação que sustente a recepção fundamentada pelo próprio texto. Sugere
leitor, que só se estabelece quando o professor dispõe de maior conhecimento sobre ele e se
posiciona como leitor mais experiente, que recebeu um referencial teórico suficientemente
prioritariamente.
Pauli (Pesquisa 12) analisa o texto Corda Bamba de Lygia B. Nunes sua
recepção por alunos de 8ª série. Seu projeto propõe a leitura de uma única obra para a
classe toda, sugerindo que um projeto de formação de leitura deva ser estruturado a partir
autora, este corpus, à medida que for sendo utilizado em classe, provocará uma ampliação
romper esse horizonte, provocando sua ampliação, atualização e o próprio gosto pela
literatura. É voltado portanto para o formador de leitor, embora também registre a voz dos
leitores aprendizes.
dos textos, foi detectar o efeito produzido neles por seus escritores, bem como, observar a
projeto foi ambicioso. Partindo de uma prática pedagógica desenvolvida durante quatro
anos inicialmente, mas que foram restringidos a dois, com alunos da 5ª à 7ª série do Ensino
alunos. Nele se encontram obras avalizadas pelos jovens leitores e entre essas a
ouro de Maria José Dupré (1946); categoria “leitura proposta pela professora” – Harry
Potter de J. K. Rowling (2000); categoria “opcional entre obras de autor indicado pela
professora” – Corda Bamba de Lygia B. Nunes (1979),. O que se torna relevante neste
capacidade de leitura, ao longo dos anos. Segundo a pesquisadora, um dos fatores que
25
A pesquisadora justifica que omitiu os relatos referentes a 8ª série por questões de tempo para finalização
do mestrado.
340
obra por meio desses leitores cultivados e atestar sua especialidade na mudança de
horizontes históricos. Sua meta foi bastante curiosa ao propor um confronto entre textos da
crítica com a sua própria leitura. E também, por apontar que o efeito comprovado pela
estudos. Os textos dos críticos apresentados, foram considerados aqui como textos
produzidos por indivíduos que não participam do processo escolar efetivamente, embora se
saiba que os dois têm vasta obra que analisa o processo de leitura na escola.
tentativa de fixar um leitor histórico presente no texto. Seu objetivo foi levantar indícios
sobre quem era o público leitor visado pelos autores/editores, bem como perceber e
hipóteses sobre o perfil do leitor atual de cordel em confronto com o de leitores implícitos
nos folhetos. Trazem para a discussão acadêmica a questão do efeito e da recepção centrada
infância. Seu objetivo principal foi observar o escritor como um formador de leitores.
Trata-se de uma pesquisa que inova no sentido de observar Lobato sob uma perspectiva
ainda não estudada, segundo a própria pesquisadora. Ela constata que já nas primeiras
décadas de do século XX, o leitor poderia ser considerado como peça importante na
leitura, pois exercia um papel de mediador entre autor e obra. Debus classifica três tipos
para seduzir seus leitores e interlocutores vivos. Merece destaque a maneira original de
coleta de dados, baseada em cartas trocadas pelo autor e seus leitores, bem como, a
observação do “depois” a partir do contato com leitores de Lobato. Este fato revela como
a consciência do autor pode alterar a prática de leitura de um leitor. Além das categorias de
leitores que cria, Debus chama atenção para a forma como coletou dados de recepção, bem
como para os informantes que utiliza, valendo-se tanto de pessoas conhecidas do meio
literatura de massa como objeto de estudo no meio acadêmico. Analisa a estrutura de apelo
Enfatiza a estrutura, importante na identificação das leitoras reais que se apropriam desses
para a discussão o debate sobre essa vertente ficcional, que tem público cativo há mais de
que influenciam essa opção de leitora. Essa pesquisa não se realiza em ambiente escolar,
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nosso ver, projetos completos que contemplam tanto o leitor implícito quanto o leitor real
estado atual dos estudos sobre Leitura e Estética da Recepção no Brasil. As dissertações e
eficiente, embora em alguns textos pudéssemos encontrar uma linguagem não adequada a
trabalhos científicos.
leitura voltadas para a recepção de narrativas e poesias. Isso reafirma uma preocupação
antiga com o gênero poético pode estar sendo esquecido no âmbito do ensino. A
constatação de que grande parte dos professores pesquisados apresenta falha na formação
também pode fomentar mudanças significativas tanto nestes profissionais, em relação a sua
atuação enquanto formadores dos futuros leitores, quanto nas pesquisas científicas
realizadas sobre o assunto. Ao nosso ver, estas não podem mais ficar restritas ao meio
acadêmico, devem tentar chegar mais próximas daqueles que podem se valer desses estudos
as que apenas ficam no efeito estético produzido pelo autor. Em muitos momentos alguns
equívocos, podem ser justificados pelo fato da recepção de textos e o efeito estético serem
343
conceitos complementares, de difícil separação visto que Jauss e Iser, embora seguindo
caminhos diferentes em suas pesquisas, tinham em mente a figura do leitor e não mais o
Fundamental e Médio como também dos alunos universitários, futuros professores que
irão entrar no mercado, apresentam dificuldades nesses assuntos. Esse projeto poderia
pedagógico.
Não poderíamos deixar de notar que toda a amostra reconhece o texto destinado
portanto, características que devem ser consideradas tanto na escolha como no manejo dos
com diferentes objetivos. Isto demonstra, talvez, que a superação da antiga discussão em
torno da aceitação desta como um gênero específico da Literatura esteja caminhando para
um desfecho feliz.
por sua originalidade e amplitude , podem ser considerados também como norteadores das
questões de Leitura e da Estética da Recepção. Sabemos que não são apenas estes textos
que tratam do assunto no âmbito da pesquisa científica, porém como uma amostra,
Com essa reflexão esperamos ter contribuído para a divulgação do que se tem
feito no meio acadêmico, além de evidenciar a importância dessa teoria para todos que de
alguma forma trabalham com leitura/recepção de textos no Brasil. Acreditamos que nosso
empenho possa ser de alguma valia para outros pesquisadores no sentido de apresentar
dados reais que evidenciam tendências seguidas pela pesquisa nos últimos vinte e dois
5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências bibliográficas.
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6. ANEXOS
PESQUISA X
a. Dados de Identificação.
Autor.
Orientador.
Título.
Instituição.
Nível de qualificação.
Ano de Finalização.
Número de páginas.
Resumo da obra.
b. Objetivos.
c. Material.
c.1. Tipo de texto abordado.
c.2. Tipo de Leitor.
c.3. Tipo de documento referente à recepção e efeito analisado.