Ricardo Aleixo

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Ricardo Aleixo

Nascido em Belo Horizonte, em 1960, Ricardo Aleixo é poeta, músico, artista visual e
pesquisador intermídia. Filia-se à Etnopoesia e ao Concretismo, mas sem se limitar a correntes
que definam e determinem sua produção, sua obra se alberga em variados formatos, da pa- lavra
impressa ao verso digital. A música, o teatro, a performance, a videoarte, a poesia sonora, a
crônica e artigos na mídia mineira são alguns suportes de sua obra.

O racismo, a ancestralidade africana, a família nuclear, a obra de arte, a vida urbana mineira e o
sentimento afetivo se depreendem de seus versos por formas de um multiletramento inequívoco,
ancorado em uma perspectiva de resistência literária po- pular e sofisticada. Recursos de estilo
variados determinam os ritmos, as repetições, as investigações, muitas vezes como em mantras
e preces, muitas vezes como em discursos ansiosos de denúncia e desprezo.

- Há uma curiosa e muito fértil tradição na arte e na literatura brasileira do século XX (e que se
mantém, bem ou mal, nas primeiras décadas desta época nova): ela poderia, quem sabe?, ser
definida a par- tir da ideia da mistura, do amálgama de formas e afetos, de gestos e
discursividades que pertencem, a um só tempo, aos extratos mais profundos da cul- tura
popular, da vida e dos modos de expressão dos mais pobres, e às urgências e demandas
estéticas da vanguarda, da arte erudita e do universo puramente especulativo. Nomes muito
diferentes entre si como os do músico Rogério Duprat, do cineasta Rogério Sganzerla, do
artista plástico Helio Oiticica e o de escritores como João Guimarães Rosa e Torquato Neto
formam parte desse grupo possível, ao qual poderíamos dizer pertence, no presente, o poeta e
multiartista mineiro Ricardo Aleixo.

- Apesar de alimentar-se desses dois grandes mananciais, seu trabalho não vai basear-se na
conciliação de valo- res e tradições, como que resolvendo, no processo mesmo da escrita e da
arte, a partir de imagens e metáforas precisas, contrariedades muito mais amplas, ligadas a
questões de classe, raça e perten- cimento institucional e mercadológico brasileiros. Ao
contrário, a obra de Ricardo Aleixo, como antes haviam sido as de Torquato e Oiticica, por
exem- plo, apostam no impasse e no experimentalismo, na frequentação ambígua de múltiplas
origens e linguagens, diversos discursos que se somam em seus trabalhos sem,
necessariamente, apagar seus traços e valores específicos.

- Aleixo e os demais artistas dessa pequena lista (elenco com certeza incompleto) fazem da
vivência de temas e questões da cultura popular a mola propulsora, a fagulha inicial para a
exploração muito consciente que fazem das formas e modos discursivos inusuais, da
experimentação

- de um lado, a presença da rua, das vias periféricas de uma grande cidade qualquer – e seus
sons e personagens; de outro, a cultura negra, os mitos, valores e modulações do corpo negro,
que ao mesmo tempo se atualiza no presente brasileiro da exclusão e do racismo e se soma
aos incontáveis corpos e movimentos ancestrais que atravessam e dão forma, também no
presente, aos gestos do homem e às palavras do escritor.

- habita desde sempre um espaço que ele mesmo prefere definir como uma espécie de “centro
excêntrico”: situada no coração da região Sudeste, a mais rica do país e onde alguns dos
investimentos e aparelhos culturais mais impor- tantes estão fixados, a capital de Minas
Gerais, no entanto, guarda distância relativa (alguns quase dirão prudente) em relação às
disputas, grupos e contradições mais abertas que têm lugar no eixo Rio-São Paulo. Conectada
ao que acontece nesses dois grandes centros, próximo deles, mas flutuando mais livre de suas
injunções e constrangimentos, o poeta, como parte dos escritores e artistas surgidos em
Minas ou outras margens do país, desfruta de largo espaço de autonomia em relação às
disputas territoriais de poder e visibilidade, podendo entre- gar-se à impureza e às formas da
contaminação criativa que tanto o parecem interessa

- is recente livro, lançado em julho deste ano. Como poeta-inventor, interessado nos ecos da
vanguarda e nos gestos criativos que propõe o novo e o estranho ao leitor-espectador, Aleixo
lançou-se aos limites da linguagem verbal, chegando mesmo a explodi-los, num certo sentido:
desde o início, seus poemas passam pelo minimalismo e por uma visualidade inquieta,
incorporan

- o poeta se encaminha de maneira mais decidida para a per- formance e o canto, para uma
poesia que se faz dentro e fora do livro, que é corpo e letra ao mesmo tempo

- articulação – a modo de colagem – de sonoridades e palavras, versos que se repetem e


misturam a canções, trechos de textos alheios, onomatopeias e silêncios: tudo isso se combina
na prática expansiva do autor, que age nesses momentos sobre o palco (qualquer espaço, na
verdade) como uma espécie de DJ de si mesmo, de sua voz: quem já o assistiu em performance
pôde ver como fragmentos de dois, três poemas seus se combinam, por exemplo, a trechos de
sambas cantados por ele, que acelera e recua, expande e alonga a duração das palavras

de modo a desfazê-las por completo, inoculando musicalidade e outros significados ao texto


antes puro recitativo, texto que passará então a habitar a fronteira incerta que, conforme o
próprio Alei- xo propõe, na esteira do que críticos e teóricos e outros artistas também têm feito, é
o território da “poesia expandida”, aquela que se faz a partir e em direção ao livro, mas que
igualmente recupe- ra, em chave diversa e sempre surpreendente, as origens imemoriais da arte
poética, que antes de ser texto impresso e leitura silenciosa era voz e gesto, corpo e presença.

- Em ambos os livros têm retornado, com força e insistência, reflexão sobre o racismo e a
violência do Estado contra as popula- ções negras.

- Ricardo Aleixo, artista negro, intervém na cena e no de- bate com os instrumentos que lhe são
próprios: a desautomatização da língua e a subversão daquilo que, nela (língua, linguagem,
modos de pensar e sentir pela palavra, de perceber o mundo como texto), é excesso e
engessamento, é esquecimento e mistificação.

- Ética e estética, nesse caso e em toda a sua obra, são uma coisa só, sendo também, segundo
o poeta indicou em entrevista a Reuben da Rocha, uma poética, isto é, lugar de encontro e
articulação, no plano específico da forma e da ação, de elementos éticos e estéticos

- http://www.algumapoesia.com.br/poesia3/poesianet364.htm

http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/minas_gerais/ricardo_aleixo.html

https://todavialivros.com.br/pnld/2018/palavrear/manual.pdf

http://qorpus.paginas.ufsc.br/“-a-procura-de-autor”/edicao-n-003/entrevista-ricardo/

http://revistamododeusar.blogspot.com/2008/10/ricardo-aleixo.html

https://seer.ufrgs.br/organon/article/viewFile/65517/39344

1.

As inquietações do eu poético parecem determinadas pela busca de um situar-se identitário em


uma sociedade que tende a apagar uma parte de seus setores.

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