Teoria Da Constituição - Curso Ouse Saber
Teoria Da Constituição - Curso Ouse Saber
Teoria Da Constituição - Curso Ouse Saber
PRA
GERAL
DIREITO CONSTITUCIONAL:
CONSTITUIÇÃO
M ate r i a l d i sp o n i b i l i z a d o n o cu rs o :
DPE-SP OBJETIVA
SUMÁRIO
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1. Constituição: conceitos, classificações e elementos.
Estabelecer o conceito de Constituição é uma tarefa árdua, pois não há conceito úni-
co de Constituição.
A priori, a Constituição pode ser definida como: o “modo de ser” de uma comunida-
de, sociedade ou Estado. Ou seja: como ele é e está constituído. Esse é o conceito de Constitui-
ção Material (ou real).
A partir dos séculos XVII e XVIII, a Constituição real/material ganha contornos tipica-
mente jurídico-normativos, com o denominado “movimento do constitucionalismo”. Este pode
ser entendido como um movimento que traz consigo objetivos que irão constituir uma nova
ordem, tendo dois grandes objetivos:
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pelo menos em um primeiro momento, as matérias realmente constitucionais (típicas da Cons-
tituição material) vão ser alocadas na Constituição formal, sendo reduzidas a termo escrito. As
matérias tipicamente constitutivas do Estado e da Sociedade (constituição material), alocadas
na Constituição formal, vão envolver a organização do Estado e os direitos e garantias funda-
mentais.
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1.2. Classificação das Constituições.
a) Quanto ao conteúdo:
b) Quanto à estabilidade:
- Constituição flexível: é aquela que pode ser modificada por procedimentos co-
muns, os mesmos que produzem e modificam as normas ordinárias;
- Constituição fixa ou silenciosa: é aquela que só pode ser modificada pelo mesmo
poder que a criou (Poder constituinte originário). São chamadas de silenciosas porque não pre-
veem procedimentos especiais para a sua modificação;
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- Constituição transitoriamente flexível: é aquela que traz a previsão de que até
determinada data a Constituição poderá emendada por procedimentos comuns. Após a data
determinada, a Constituição só poderá ser alterada por procedimentos especiais definidos por
ela;
c) Quanto à forma:
e) Quanto à origem:
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conferem legitimidade ao documento constitucional) não envolvem povo e sim algo pronto e
acabado que, de forma não raro populista, é submetida para digressão popular.
f) Quanto à ideologia:
- Constituição eclética: é aquela que traz a previsão em seu texto de mais de uma
ideologia.
h) Quanto ao sistema:
i) Quanto à finalidade:
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- Constituição Balanço: visa a trabalhar o presente. Visa explicitar as características
da atual sociedade, trazendo parâmetros que devem ser observados à luz da realidade econô-
mica, política e social já existente;
- Constituição dirigente: tem viés de futuro. É uma Constituição típica de Estado So-
cial e de seu pano de fundo paradigmático. Constituições dirigentes são planificadoras e visam
a predefinir uma pauta de vida para a sociedade e estabelecer uma ordem concreta de valores
para o Estado e para a Sociedade. Ou seja, estabelecem metas, programas de ação e objetivos
para serem cumpridos pelo Estado e também pela sociedade. São marcadas por normas pro-
gramáticas.
j) Outras classificações:
- Constituições nominalistas: são aquelas que trazem normas dotadas de alta cla-
reza e precisão, nas quais a interpretação de seu texto somente é realizada por meio de um
método literal ou gramatical;
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- Constituições semânticas: são aquelas nas quais o texto não é dotado de uma cla-
reza e especificidade e que, portanto, não vão trabalhar apenas o método gramatical. NÃO CON-
FUNDIR COM A CONCEITUAÇÃO DE KARL LOEWNSTEIN, vista adiante;
- Constituição dúctil: a Constituição não predefine ou impõe uma forma de vida, mas
sim cria condições para o exercício dos mais variados projetos de vida. Ela deve acompanhar a
descentralização do Estado, e com isso, refletir o pluralismo ideológico, moral, político e econô-
mico existente nas sociedades. Ou seja, uma Constituição aberta, que permite a espontaneida-
de da vida social e acompanha o desenvolvimento de uma sociedade pluralista e democrática.
Essa concepção se aproxima da concepção de Constituição defendida pela teoria discursiva do
Direito e da Democracia de Habermas;
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EFICÁCIA SOCIAL
CONSTITUIÇÕES LEGITIMIDADE
(EFETIVIDADE)
Normativas Sim Sim
Nominais Não Sim
Semânticas Sim Não
ATENÇÃO: A CF/88 é: formal, rígida (para alguns autores ela é super rígida), escrita,
promulgada, dogmática, analítica, orgânica, eclética, principiológica, dirigente.
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- Sentido Lógico Jurídico: a Constituição deve ser entendida à luz do conceito de
norma fundamental. Esta não é posta no ordenamento jurídico, mas sim pressuposta por ele.
Essa norma fundamental tem como funções dar fundamento de validade a todo o sistema (au-
toriza o Poder Constituinte Originário a elaborar a Constituição e determina que todos devem
cumprir a Constituição) e fechar o sistema jurídico (pois a norma fundamental nunca será posta
por alguém; ela é uma convenção para que o sistema não se torne infinito, sendo o início e o fi-
nal do sistema jurídico). Sendo assim, uma norma é válida quando uma norma hierarquicamen-
te superior dá validade a ela, e assim sucessivamente, até chegar à Constituição. E qual seria o
fundamento de validade da Constituição: A NORMA FUNDAMENTAL.
ATENÇÃO: Hans Kelsen dispôs que o ordenamento jurídico está organizado por nor-
mas escalonadas “em degraus” – teoria do escalonamento da ordem jurídica. Com base nisto,
a Carta Magna encontra-se no patamar mais elevado. Logo, todas as manifestações normativas
devem se coadunar com referida Lei Suprema, que, nos dizeres de Gomes Canotilho, possui au-
toprimazia normativa, ou seja, recolhe o fundamento de validade em si própria; por ser norma
suprema, será normae normarum, fonte de produção jurídica de outras formas; e detém supe-
rioridade normativa em detrimento das demais, tendo aplicação o princípio da conformidade
de todos os atos dos poderes públicos com a Constituição. “A normatividade da Constituição
concede efeito vinculante a seus preceitos, ou seja, todos os dispositivos previstos na Constitui-
ção, sem exceção, devem ser cumpridos”.
IMPORTANTE: Para este autor há divisão clara entre a constituição e a lei constitu-
cional: 1) Constituição: encontraríamos, exclusivamente, das matérias constitucionais, ou seja,
organização do Estado, dos Poderes e garantia dos Direitos Fundamentais, sempre com o ob-
jetivo de limitar a atuação do poder; 2) Leis Constitucionais: seriam aqueles assuntos trata-
dos na Constituição, mas que materialmente não tinham natureza de norma constitucional. Na
verdade, esses assuntos nem deveriam constar na Constituição, por exemplo, na nossa atual
Constituição, há um exemplo no artigo 242, §2º, que determina que o Colégio Dom Pedro II, lo-
calizado na cidade do RJ, será mantido na órbita federal. Esse dispositivo é uma norma apenas
formalmente constitucional, pois está dentro da Constituição, mas não trata de matéria tipi-
camente constitucional. As leis constitucionais, para Schmitt, como mencionada no exemplo
dado acima, formam o que se denomina Constituição formal, ou seja, apenas são considera-
das normas constitucionais pelo fato de estarem alocadas na Constituição, por terem forma de
Constituição.
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IMPORTANTE: KONRAD HESSE (A força Normativa da Constituição): Konrad Hesse é
um teórico da concepção axiológica, ou seja, concepção baseada nos valores sociais, parte da
premissa de que a norma constitucional carece de existência independentemente da realidade,
para KONRAD HESSE a eficácia das normas constitucionais não podem extrapolar as condições
naturais, históricas, sociais e econômicas de cada época, todavia, uma Constituição consiste
em algo maior do que essas condições fáticas, possuindo peculiar força normativa dirigida a
ordenar e conformar a realidade político-social. Para Konrad Hesse as Constituições servem
para criar as premissas e normatizar os postulados gerenciadores da unidade política do Esta-
do. Para a teoria da força normativa da constituição - desenvolvida, principalmente, pelo jurista
alemão Konrad Hesse -, a constituição tem força ativa para alterar a realidade, sendo relevante
a reflexão dos valores essenciais da comunidade política submetida.
A teoria constitucional desenvolvida por Konrad Hesse tem por escopo se afastar
do “totalitarismo constitucional” * (que consiste na codificação global e detalhada das maté-
rias constitucionais), mas ao mesmo tempo sua abertura e incompletude não fazem com que
a Constituição seja incapaz de orientar o ordenar a vida da sociedade e do Estado, dada a sua
força normativa. Uma Constituição, para ser duradoura, deve conciliar sua abertura ao tempo
com a sua estabilidade jurídica.
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1.5. A Constituição Simbólica de Marcelo Neves e o Transconstitucionalismo.
b) Confirmação dos valores sociais de um grupo: um grupo quer deixar claro que
seus valores são mais relevantes que os valores de um outro grupo;
c) Legislação-álibi: o Estado age para acalmar (em situações, por exemplo, de co-
moção pública), buscando demonstrar a sua capacidade de solucionar os problemas sociais.
Entretanto, essa legislação não tem significado prático relevante.
Exemplos do transconstitucionalismo:
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- Colisão entre o art. 7 da Convenção Americana de Direitos Humanos e o art. 5, LXVII
da CF/88. A convenção proíbe a prisão do depositário infiel e a CF/88 permite a prisão civil do
mesmo.
- O STF decidiu, em 29.04.2010, que a Lei da Anistia é compatível com a CF/88 e a anis-
tia por ela concedida foi ampla e geral, alcançando os crimes de qualquer natureza praticados
pelos agentes de repressão no período compreendido entre 02.09.1961 e 15.08.1979. Acontece
que. Em 14.12.2010, no caso Gomes Lund e outros versus Brasil, a Corte Interamericana de Di-
reitos Humanos afirmou que a interpretação da Lei da Anistia exarada pelo Brasil não pode con-
tinuar a ser um obstáculo para a investigação dos fatos e punição dos responsáveis por torturas
realizadas durante o regime militar. A CIDH analisou a compatibilidade da Lei da Anistia com as
obrigações internacionais assumidas pelo Brasil, à luz da Convenção Americana sobre Direitos
Humanos. A Corte concluiu que as disposições da Lei de Anistia (recepcionada pelo STF) que
impedem a investigação e sanção de graves violações de direitos humanos são incompatíveis
com a Convenção Americana e carecem de efeitos jurídicos. Portanto, a mesma não pode ser
óbice para a investigação dos fatos do caso em questão. Resta-nos aguardar a resolução da
questão com a prevalência do posicionamento do STF ou da CIDH.
2. Mutações constitucionais.
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isso ocorre no âmbito constitucional, fala-se em mutação constitucio-
nal”.
(Curso de direito constitucional, São Paulo, Saraiva, p. 220).
3. Princípios de Interpretação.
1 - Princípio da unidade.
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com vistas à preservação do Estado de Direito. Assim, nos momentos de crise, as relações entre
o Parlamento, o Executivo e a Corte Constitucional deverão ser pautadas pela irrestrita fidelida-
de e adequação ao texto constitucional.
Este princípio parte da premissa de que não existem direitos absolutos, pois todos
encontram limites em outros interesses coletivos também consagrados na Constituição. Atri-
buir a um direito caráter absoluto, significa que ele deverá prevalecer diante de qualquer con-
flito. Porém, se os princípios são passíveis de ponderação e relativização, nenhum direito é ab-
soluto. Ressalte-se, contudo, que Norberto Bobbio apresenta duas exceções à relatividade: o
direito de não ser torturado e direito de não ser escravizado.
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9 - Princípio da proporcionalidade.
b) Adequação: o meio escolhido deve ser suficiente para, ao menos, fomentar o fim
pretendido;
4. Métodos de Interpretação.
Segundo Canotilho:
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2 - Método tópico-problemático.
3 - Método hermenêutico-concretizador.
4 - Método científico-espiritual.
5 - Método normativo-estruturante.
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5. Preâmbulo da Constituição.
Nessa ADI o STF decidiu questões importantes sobre o preâmbulo. Segundo a deci-
são do STF, o preâmbulo possui natureza jurídica de mera proclamação política.
O Estado de Direito Social é o resultado de uma longa transformação por que passou
o Estado Liberal.
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A partir desse momento definem-se, constitucionalmente, os direitos sociais e traba-
lhistas como direitos fundamentais da pessoa humana, sob a proteção do Estado. Então, com
esses documentos surgem as bases do garantismo social: o Estado como provedor de garantias
institucionais aos direitos sociais e trabalhistas – portanto, com um perfil fortemente marcado
pelo protecionismo social.
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