Registo Médico Orientado Por Problemas em Medicina Geral e Familiar: Atualização Necessária
Registo Médico Orientado Por Problemas em Medicina Geral e Familiar: Atualização Necessária
Registo Médico Orientado Por Problemas em Medicina Geral e Familiar: Atualização Necessária
RESUMO
Os registos clínicos são uma componente fundamental dos cuidados médicos. Em medicina geral e familiar é privilegiada a organiza-
ção dos registos segundo o método proposto por Lawrence Weed: o Registo Médico Orientado por Problemas (RMOP).
É tradicionalmente aceite que o RMOP é constituído por três componentes: dados base, notas clínicas progressivas e lista de pro-
blemas. No entanto, não existe um padrão de trabalho definido para a sua utilização e, em Portugal, a bibliografia sobre a utilização
do RMOP em Medicina Geral e Familiar carece de atualização.
Pretende-se com este documento sintetizar e compilar a informação disponível, revisitando o método para os médicos de família
em exercício e apoiando documentalmente a formação pré e pós-graduada.
Palavras-chave: Medicina geral e familiar; Registos médicos; Registo médico orientado por problemas
QUADRO II. Conteúdo do item «Objetivo» das notas QUADRO IV. Conteúdo do item «Plano» das notas
clínicas progressivas clínicas progressivas
Apresentação Plano
Acompanhado (por quem) ou não Plano de estudo (investigação diagnóstica)
Exame objetivo Plano terapêutico
Resultados relevantes de meios complementares de Farmacológico ou não
diagnóstico Prazo
Informação clínica de outros prestadores Curto Plano educacional
Resultados de aplicação escalas/questionários Médio Plano preventivo
Resultados de aplicação de instrumentos de avaliação Longo Recursos a mobilizar
familiar Referenciações
Certificados e outros documentos emitidos
Consultas agendadas
QUADRO III. Conteúdo do item «Avaliação» das notas
Com médico de família
clínicas progressivas
Com outros prestadores
Avaliação Respostas a e-mails
Tipo de vigilância Notas / reflexões do médico
Saúde infantil e juvenil
Saúde materna
Planeamento familiar te item. Além das intervenções previstas a curto prazo, de-
Hipertensão arterial vem ainda ser registadas as intervenções previstas ou reco-
Diabetes mendadas a médio e a longo prazo (Quadro IV).
Outra No P, o registo das intervenções a implementar para
Problemas identificados na consulta cada problema identificado em A deve ser sistematizado
Lateralidade e hierarquizado de acordo com a carga de doença ou grau
Gravidade de importância para a pessoa e os recursos disponíveis ou
Controlo
mobilizáveis. Registam-se, também, todos os procedi-
Evolução
mentos e intervenções a desenvolver, no âmbito da abor-
dagem global (biopsicossocial) de saúde da pessoa.
cos diferenciais. Apenas devem ser listados no A os pro- Cabe ainda neste item o registo de referenciações a outros
blemas identificados e abordados na consulta em causa. prestadores, de documentos emitidos (certificados de inca-
É a partir do A que se constrói a lista de problemas mas, pacidade temporária, relatórios, etc.) e de consultas agenda-
como veremos adiante, nem todos os problemas do A da das para reavaliação, vigilância de saúde ou noutros níveis de
consulta transitam para a lista de problemas da pessoa. No cuidados. As notas e reflexões do médico sobre a pessoa e a
caso de consultas de vigilância, no A cabe também o re- sua circunstância, assim como eventuais falhas a corrigir na
gisto do tipo de vigilância em causa (Quadro III). consulta seguinte também têm lugar no P. Hoje em dia, com
No P deve estar contido o plano de atuação ou interven- a possibilidade de comunicação não presencial (e-mail e te-
ção acordado entre médico e doente. Para cada problema de- lefone) entre médicos e doentes, o feedback dado pelo médi-
vem ser registados os procedimentos e intervenções reali- co à pessoa por estes canais deve também ser registado no P.
zados na consulta e propostos para o imediato o que respeita
à investigação diagnóstica,10 à terapêutica (farmacológica ou Lista de problemas
não), os aconselhamentos e intervenções motivacionais, os A lista de problemas é um resumo dos problemas rele-
procedimentos preventivos (primários, secundários e ter- vantes da pessoa e é referida por Weed como sendo uma es-
ciários) e a mobilização de recursos necessários (familiares, pécie de índice dos restantes registos.1,4 Por este motivo, é
sociais e institucionais). Os «cuidados antecipatórios» pre- considerada, isoladamente, como o componente mais im-
conizados na vigilância de saúde infantil e juvenil são pro- portante do RMOP. Não há uma definição consensual sobre
cedimentos de aconselhamento e devem ser incluídos nes- o que constitui um problema de saúde. Um problema pode
ABSTRACT
PROBLEM-ORIENTED MEDICAL RECORD IN FAMILY PRACTICE: A NECESSARY UPDATE
Medical records are a key component of health care delivery. In family practice, the preferred approach to structure medical records
is based on the method proposed by Lawrence Weed’, the ‘Problem-oriented medical record’.
It is generally accepted that the ‘Problem-oriented medical record’ comprises three components: baseline data, progressive clinical
notes and list of problems. Nevertheless, there is a lack of standards on how to use these sections and, in Portugal, the bibliography
on the use of ‘Problem-oriented medical record’ needs updating.
This document aims to synthesise and compile the information available, revisiting Weed’s method for practising family physicians
and supporting pre- and postgraduate training.