Sintese de Etica A Nicomaco

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Christianne Silva Pereira Thomes Viana

Síntese de A Ética a Nicômaco de Aristóteles

Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia


FAJE
2019
Christianne Silva Pereira Thomes Viana

Síntese dos Capítulos de A Ética a Nicômaco de Aristóteles

Trabalho Individual Síntese.


Solicitado após exposição sistêmica do Seminário “A Etica a Nicômaco de
Aristóteles, como meio avaliativo para a disciplina de Ética.
Mestrado em Filosofia da Religião.
Docente: Dr.ª Cláudia Maria Rocha de Oliveira

Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia


FAJE
2019
A ÉTICA A NICOMACO DE ARISTÓTELES

SINTESES CONSTITUTIVAS

O Livro I – Síntese dos Capítulos

Imperativo: (1094a) – “O bem é o fim de todas as coisas. Os fins distantes das


ações são os mais excelentes. Para muitas artes e ciências, existem muitos fins. Os fins
fundamentais devem ser os procurados e não os secundários.”

Aristóteles pormenoriza que toda atividade humana visa um fim e que esse fim,
tende sempre a um grau de bem.

Descreve eudaimonia como a felicidade, e considera-a bem supremo, podendo


esta ser obtida através da ação humana (1095a18). Considera a eudaimonia, o objetivo
geral da ética. Contudo, observa:

“[...] a maioria das pessoas parece estar completamente escravizada


a preferir uma vida de animais de pasto”.
(ARISTÓTELES, 2009, p 19).

Para Aristóteles, a felicidade é uma certa atividade da alma, possível de acordo


com uma excelência completa (1102a5). Todavia, adiante a sua exposição, ele demonstra
que essa excelência tem a ver com ser “bem-sucedido; dar-se bem”.

O estudo das excelências se apresenta em meio de formas (1102a6). As citadas


formas de excelência são de caráter do homem – as formas éticas; e as do pensamento
teórico – dianoéticas (1103a5).

Em relação à finalidade ética, o fim que, se não é busca, não é em vista de outro,
mas em vista de si mesmo (1097a15 – 1097b1). Aristóteles considera este fim, “na
verdade”. Para ele, simplesmente completo é aquele fim que é sempre escolhido segundo
si próprio, e nunca como meio em vista de qualquer outro. O que nos permite
compreender um fim desse gênero, manifesto a partir da felicidade.

Existe uma função específica, caracterizada como tipicamente humana (1098a1.


Aristóteles pondera que os pés, as mãos, os olhos cumprem funções humanas, não
obstante ele se pergunta se essas condições poderiam também ser aplicado ao que se
denomina “humano” (exclusivamente?). Com isso, conclui que o que se diz “humano”
pode ser equiparado a algo, tal qual, uma vida ativa, inerente à dimensão da alma, e que
ele, considera “capacitante de razão” (ARISTÓTELES, 2009).

Para Aristóteles, o significado de “capacitante de razão” pode ser compreendido


de duas formas:

a) Como obediência a uma orientação (bom senso; equilíbrio; prudência);


b) Como compreensão.

Logo, essas capacidades da razão, são caracterizadas como as duas dimensões


da alma (Psiché). A alma aqui, não conota espiritualidade, tal qual o exercício de uma
prática religiosa; mas como atividade humana, onde a possibilidade da lucidez e
existência transcorre. Deste modo, os bens, as atividades, que respeitam a alma são de
excelência maior e mais completa, mais autêntica. Para Aristóteles, as ações que se ligam
ao que se chama alma, é a “felicidade”.

Na Ètica a Nicômaco (EN), a felicidade é expositiva como objeto de


aprendizagem, habituação, disciplina, acaso ou destino divino. Aristóteles diz:

“É melhor que a felicidade dependa de uma certa


aprendizagem que dá sorte ou acaso. Confiar o sublime e o
excelente ao acaso, é absurdo”. (Aristóteles, 2009, p.31).

Desta forma, Aristóteles considera que: “nem o boi e nem o cavalo, podem, nesse
sentido, ser felizes”. Nem mesmo as crianças, o estagirita, os mortos, poderiam ser felizes.
Todavia, dá a entender que as pessoas que usam corretamente sua razão são felizes.
Em relação ao louvor (o elogio), ele o descreve como “uma coisa excelente”,
mas não é a felicidade que se busca. Não é a realização daquilo que se considera agir bem.
Pode-se louvar grandes ações, louvar a justiça ou o justo, um ato nobre, um ato altruísta
de práticas coisas boas ou úteis. Mas a felicidade não se prende ao louvor.

A racionalidade então, seria como ação, como virtude, como consciência, a tal
“atividade da alma” e uma outra questão presente na alma seria como que “irracional”.
Mas Aristóteles não é claro nesse aspecto. Sugere que a “alma” seja dupla, uma parte que
conhecemos e outra que poder ser apenas intuída, já que não a podemos acessá-la
empiricamente. Não conhecemos, em si, o que seria alma. Pressupomos a razão como
realização da alma (excelência, virtude).

O ser humano de Aristóteles é um animal social, e também um “animal político”,


posto que só se realiza na Polis. Assim, ética seria pensada em termos de “como bem
proceder em termos racionais” (phrónesis= prudência). Também por agir com equilíbrio
(prudência), o ser bem-sucedido. Para ele, o bem que se busca, e que seria o fim da ética
(o Sumo Bem ou a Excelência), encontra-se naquilo que se chama eudaimonia
(felicidade). Apesar disso, a felicidade não é consoante aos termos modernos, mas refere
à dedicação e realização.

Compreende que Aristóteles pensa em termos coletivos e o bem ou excelência –


(agir bem) não deixa de estar situado na dimensão do coletivo ou da Polis (Estado). Nele,
a Ética é uma ciência que pretende delinear as condições de felicidade geral da Polis. Não
havia a ideia de individualidade no mundo antigo, o que se sabe é que o é uma concepção
moderna. Sem demora, o contexto de felicidade pode ser também entendido como “boa
vida” - dedicada à coletividade, ou seja, ao viver em sociedade. Assim como as famílias
precisam de uma boa vida – uma vida regida intelectualmente pela prudência e pela
virtude (areté), assim também o Estado (a Polis) é a soma das virtudes e prudências das
pessoas que visam a um Estado (Polis) de excelência ou autossuficiência:

“O bem que cada um obtém e conserva para si é


suficiente para dar a si por satisfeito; mas o bem que
um povo e os Estados obtêm e conservam é mais belo
e mais próximo do que é divino”. (op. cit., p. 18)
Aristóteles conclui nesta parte, que a ética é uma ciência contemplativa sobre e
para a felicidade. Sem embargo, é preciso ressaltar que felicidade, nesse caso, é sempre
o Bem da Polis e do bom uso racional. E não felicidade como gozos festivos nos moldes
individualistas atuais. Esse tipo de felicidade, apesar de julgar compreensível, o filósofo
considerava atitude de ‘bestas de pastos’ (ARISTÓTELES, 2001, p.72).

Os livros II a VI - Síntese dos Capítulos

Imperativo: “O sumo bem é desejado por si mesmo e tudo segue em direção a


esse fim. O conhecimento desse bem é a arte mestra, como a política. (1094b - Indivíduo
e Estado) - A política abrange as outras ciências em função do bem humano. O bem do
Estado é maior, mais complexo, belo e divino que o do indivíduo. A ética busca o bem da
ciência política.”

O segundo capítulo da Ética à Nicômaco, está dividido em quatro pontos. Neles


são abordados o objeto do agir humano, a divisão das virtudes, a estrutura de um ato moral
e a classificação das virtudes.

A partir do método ético, Aristóteles procura estabelecer a prática das virtudes


dentro do princípio de uma regra justa, pois, quando se trata de condutas, a obtenção do
bem a partir de suas práticas. Como em forma de fluidez os valores são aproximados,
demandando prudência e moderação para que não venhamos a praticar excessos. Ressalta
que, tanto a deficiência como o excesso de zelo, destroem a força da sua eficácia.

A primeira pergunta é sobre o que é o bom ou o bem. Mas também há uma


afirmação: “todo o indivíduo, assim como toda ação e toda escolha, tem em mira um bem
e este bem é aquilo a que todas as coisas tendem”. O fim de nossas ações é o Sumo Bem,
mas, devemos determiná-lo para saber de qual ciência o Sumo Bem é objeto, dada a
grande importância de tal fim, para nossa vida.

O fim que se tem em vista não é o conhecimento do bem, mas a ação do mesmo;
o fim certamente será a felicidade. Contudo, o comum, o vulgo não a concebem da mesma
forma que o sábio. Para esses, e função do prazer, a felicidade é conotada por riquezas ou
honras; logo vive de forma superficial. Dessa forma, Aristóteles julga que devemos
procurar o bem e indagar o que ele é. Se existe uma finalidade para tudo o que fazemos,
a finalidade será o bem. Entende-se a partir desta proposição que a melhor função do
homem é a vida ativa que tem um princípio racional: “Como no homem que dorme ou
que permanece inativo; mas a atividade virtuosa, não: essa deve necessariamente agir,
e agir bem.”

Por isso, pergunta-se se a felicidade é adquirida pela aprendizagem, pelo hábito


ou modelamento (adestramento); se é conferida pela providência divina ou se é produto
do acaso. Para Aristóteles, a felicidade, a melhor dentre as coisas humanas, é uma dádiva
divina – ainda que venha como um resultado da virtude, a partir da aprendizagem ou
modelagem, ainda assim, é considerada como divina.

No capítulo 3, Aristóteles fala sobre o prazer e a dor. Mas as dependências


políticas da ética podem torna-la relativa. A complexidades dos resultados do próprio
exercício, permite a ação de mártires pelos mais corajosos, assim como doentes, os
imoderados. Para essa compreensão é preciso obter algumas verdades, das quais os jovens
sentem grande dificuldade em alcançar, pois não têm preparo quando se trata de agir.

Em 1104b, descreve que:

“os sinais do caráter são o prazer e a dor do ato. A excelência moral


relaciona--se com prazeres e dores. Por causa do prazer, faz-se ações
más, por causa da dor abstém-se das ações nobres. A educação certa
deve levar em conta o deleite e o sofrimento. Cada ação e paixão é
acompanhada de prazer e dor. O castigo é efetuado pelo contrário do
efeito da ação a ser punida. O vício como a virtude relaciona-se com o
prazer e a dor, mas de modo contrário. Há três objetos de escolha e
três de rejeição: o nobre, o vantajoso, o agradável; e o vil, o prejudicial
e o doloroso, respectivamente”.
(PENSADORES, 1987; p.83-86).
Capítulo 4, descreve as três condições do agente na pratica da virtude. Aqui, o
agente deve constar em determinada condição. Conhecer o que faz; escolher os atos e
suas ações por si mesmos procede do caráter firme e imutável.

EN: 1105b: O conhecimento tem pouco peso para posse da virtude, enquanto a
prática constante dos atos justos e temperantes são condições indispensáveis. As ações
justas são aquelas praticadas pelos homens justos ou que agem como tal. A prática da
virtude torna o homem virtuoso.

O caráter da virtude pertencente ou a paixões, ou às faculdades e disposições de


caráter, aparecerá no capítulo 5.

EN: 1106a - “Os homens são louvados ou censurados por suas virtudes ou vícios.
As virtudes não são paixões, nem faculdades, mas disposições de caráter, pois as virtudes
envolvem escolha”.

No capítulo 6, a virtude do homem é a disposição de caráter que o torna bom e


que o faz desempenhar bem sua função. O meio-termo é aquilo que é equidistante aos
extremos.

2.0 As Aretes (virtudes)

Em Aristóteles, existem duas espécies de virtudes: as intelectuais e as morais.


As virtudes intelectuais são possíveis a partir da aprendizagem. O ensino preciso requer
experiência e tempo. As virtudes morais são resultadas do esforço do hábito. Não
possuem características inatas, mas são possíveis pelo exercício da prática.

Os estremos das virtudes, o excesso e a falta são destrutivos. O meio-termo


como atributo da virtude, permite-a ser mais exata que qualquer arte, na ótica aristotélica.
O meio-termo conota como forma digna de louvor; logo, a virtude é uma espécie de
mediana. Por isso, o excesso pode ser caracterizado como erro:
“Mas a maioria dos homens não procede assim. Refugiam-se na teoria
e pensam que estão sendo filósofos e se tornarão bons dessa maneira.
Nisso se portam como enfermos que escutassem atentamente seus
médicos, mas não fizessem nada do que estes lhe prescrevem”.
(E.N. II, 4 – 1105 b).

2.1 As Aretes Morais (breve resumo)

a) Andrêia (coragem) - É considerada meio-termo em relação ao sentimento de


medo e de confiança. A covardia e a temeridade são a carência e o excesso e
a posição correta é a bravura.

b) Sofrosíne (temperança) - É o meio-termo em relação aos prazeres e dores. O


homem temperante, possui o elemento apetitivo, porém, harmoniza-se ao
racional, faz uso do meio-termo o que o permite ter caráter mais nobre.

c) Eleuteriótes (liberalidade) - A liberalidade é uma disposição de caráter


daquele que dá. A avareza é deficiente no dar e excede no receber; a
prodigalidade excede no dar e no não receber, esses não tardam em exaurir
suas posses porque dão em excesso. A liberdade aqui, é o meio-termo no dar
e no receber dinheiro. O excesso é a prodigalidade e a deficiência é a avareza.

d) Megaloprépeia (magnificência) - É uma virtude relacionada com a riqueza,


mas se estende às ações que envolvem gastos. Essa arete, é um meio-termo
quanto ao dinheiro dado em grandes quantias. Seu excesso é a vulgaridade
e o mau gosto, a falta é a mesquinhez.

e) Megalopskhia – (justo orgulho) - O Justo Orgulho também pode ser chamado


magnanimidade ou respeito próprio. É o meio-termo em relação à honra e à
desonra. O excesso é a ‘vaidade oca’ e a deficiência é a humildade indébita.

f) Afilotimia (anonimato) - A esta disposição de caráter o que se louva é um


meio-termo no tocante à honra. O homem que excede no desejo à honra é o
ambicioso. Abaixo deste, é desambicioso (Filotimia). O meio-termo é o
Anônimo.

g) Praótes (calma) - A deficiência desta arete é a pacatez. Os propensos a isso,


não se encolerizam com coisas que deveriam excitar sua ira. Para Aristóteles,
são características dos tolos e insensíveis. O homem irascível, que se
encoleriza com coisas indevidas e mais do que convém, é considerado o
excesso. A calma é o meio-termo.

h) Alétheia – (veracidade) - É o meio-termo em relação à cólera; aquém ao


irascível e ainda, o que fica além da serenidade. O meio-termo no tocante à
verdade, o exagero é a jactância e o que a subestima é a falsa modéstia.

i) Eutrapelia (pessoa espirituosa ou espírito) - É considerada o meio-termo na


brandura no proporcionar divertimento. O excesso é a nugacidade a
deficiência a bestialidade.

j) Filía (amabilidade) - É o meio-termo na disposição de agradar a todos de


maneira devida e amável. O excesso é o laborioso se não tiver propósito, e
cortês se visa próprio interesse. A falta é o desgosto.

k) Aidémôón (modéstia) - Intermediário nas paixões e condizente a elas. O


excesso é a timidez. Enquanto sua deficiência é falta de pudor.

l) Némesis (justa indignação) - Meio-termo entre a inveja e o despeito. Refere-


se à dor ou prazer da boa ou má fortuna dos outros. O excesso é a inveja, e a
deficiência é o despeito.

m) Dicaiosíne (justiça) - Aqui se faz necessário distinguir as duas formas de


justiça aristoteliana e apontar o meio-termo de cada uma. A justiça é a
disposição de caráter que torna as pessoas propensas a fazer o que é justo e
a desejar o que é justo. É considerada uma virtude completa, e ainda a maior
das virtudes. Dentre todas as virtudes, somente a justiça, “bem do outro.
Logo, o melhor dos homens é aquele que exerce sua virtude para com o
outro, pois essa tarefa é a mais difícil.

Existem dois tipos de justiça:

- Uma que se manifesta na distribuição das honras, de dinheiro entre aqueles que
tem parte na constituição;
- A que tem um papel corretivo nas transações entre os indivíduos: transações
voluntárias e involuntárias.

No tocante a essa, cabe destacar que é o caráter voluntário ou involuntário, que


determina o justo. O homem somente é justo quando age de maneira voluntária, e se age
involuntariamente, não é justo nem injusto, a não ser por acidente.

2.2 - As Aretes intelectuais

A alma humana possui duas partes: a que tem um princípio racional e a privada
de razão. A parte racional se subdivide em científica (direcional ou prática) e calculativa
(especulativa e teórica). Na razão calculativa, a alma concebe um princípio racional. Ela
versa sobre coisas universais e teóricas, que são objetivas e apenas de caráter próprio. O
objeto da parte calculativa é a verdade, logo, para o conhecimento especulativo: o bem
se identifica com o verdadeiro e o mal com o falso.

A alma possui três elementos: a sensação, a razão e o desejo (E.N. VI, 2; 1139a
20). A ação não é controlada pela sensação, como exemplo, cita os animais, que têm
sensação, mas não produzem ação. A ação é determinada pela razão e desejo. Contudo
agem de modo diferentes, pois a virtude moral é uma disposição para a escolha; mas, ela
envolve o desejo por um fim e a razão descobre os meios próprios para esse fim. Em E.N.
VI, 2; 1139a 30-35, temos:

"A origem da ação é a escolha, e da escolha é o desejo e o raciocínio


com um fim em vista. Eis aí por que a escolha não pode existir nem sem
razão nem sem intelecto, nem sem uma disposição moral".
As disposições da alma em relação à verdade, são cinco: a arte, o conhecimento
científico, a sabedoria prática, a sabedoria filosófica e a razão intuitiva.

2.2.1 – As virtudes intelectuais

a) Episteme (conhecimento científico) - O conhecimento científico é preciso


para demonstrar e validar uma hipótese. Seu objeto é o necessário, e é
caracterizado como eterno; toda ciência pode ser ensinada e seu objeto
aprendido.

b) Tekné (a arte) - A arte envolve o reto raciocínio em uma determinada ação


de produtividade. A produtividade a partir de uma invenção e suas
múltiplas formas de gerar novos substratos. A arte não se ocupa nem com as
coisas que são ou que se geram por necessidade, nem com as que fazem de
acordo com a natureza. A arte é uma questão de produzir e não de agir.
(LORENZETTI, 2011, p.11)

c) Phrónesis (sabedoria prática) - Consiste na boa deliberação sobre o que é


bom e conveniente para ele. Contudo, o homem com essa sabedoria não
procurar coisas boas somente para si. Saber deliberar bem, é deliberar para
si e sobre as demais coisas que contribuem para a vida boa em geral. A
sabedoria pratica é uma capacidade verdadeira e racionalizada com respeito
ao agir às coisas que são boas ou más para o homem.

d) Nõus (razão intuitiva) - É o resultado do aprendizado das últimas premissas


de onde parte a ciência. Seu método é a indução, que apreende a verdade
universal que permite a evidencia de si.

e) Sofia (sabedoria teorética) - A sabedoria é a razão intuitiva combinada com


o conhecimento científico, orientada para objetos mais elevados. É
considerada uma das formas de conhecimento mais perfeita. É superior à
sabedoria prática que tem como objeto as coisas humanas e diz respeito à
ação. Um homem completo e feliz, a vista de Aristóteles, deveria possuir
ambas as espécies de sabedoria, mas de preferência a sabedoria teorética.
O livro VII – Síntese dos capítulos1

Imperativo: Conceito de felicidade – “O bem das artes é aquele em cujo interesse


giram todas suas ações. O bem é a finalidade das ações. O bem supremo é soluto,
isto é, desejável em si e não pelo interesse de outra coisa”.

O Capítulo 1 descreve a incontinência – Deve-se evitar o vício, a


incontinência e bruteza. A virtude divina é a disposição contrária à bruteza. Como
o homem divino, o bruto é raro.

“O contrário da incontinência é a continência e da moleza, a


fortaleza”. (E.N. VII, 1145b).

Os Paradoxos da incontinência, são citados no capítulo 2. O incontinente


não pensa, antes de chegar a esse estado, que deva agir assim:

“Nem toda continência é boa. Ela pode levar a sustentar opiniões


falsas; Ninguém possui todas as formas de incontinência, mas outros
são incontinentes em absoluto”. (E.N. VII, 1146a; 1146b).

No capítulo 3, diferencia o incontinente e conhecimento: “O homem


incontinente absoluto relaciona-se com os objetos da intemperança de sua
própria escolha”.

Cita em 1147a - Os incontinentes encontram-se num estado semelhante a


loucura. A linguagem que usam é própria dos farsantes. O incontinente age sob
a influência de uma razão e opinião que não é contrária em si, mas apenas
acidentalmente à reta razão.

Em 1147b - A incontinência não é provocada pela presença do


conhecimento, apenas pelo conhecimento perceptivo.

1
- Este capítulo foi suprimido na apresentação com outros capítulos. Dado a essa questão, eu o
reportarei de forma brevíssima.
O livro VIII e IX – Síntese dos capítulos

Imperativo C. - VIII: “A amizade é uma virtude ou implica nesta. É necessária


à vida. Por natureza, louva-se os amigos de seus semelhantes. A mais genuína forma de
justiça é um tipo de amizade. Homens bons são amigos. Já a ética investiga os problemas
humanos que envolvem caráter e sentimentos”.

Imperativo C. - IX: “A proporção iguala as partes e preserva a amizade entre


os dessemelhantes. Na forma política da amizade, o dinheiro é a medida comum pela
qual tudo se mede. Cada classe dá valor ao que é seu e que oferece, mas a retribuição é
feita nos termos de que recebe. A felicidade depende dos bens exteriores para realizar
atos nobres”.

1. A Amizade

Em EN, Aristóteles dedica dois livros (VIII e IX) ao tema da amizade. Para
melhor compreensão do mesmo, precisamos compreender o significado da expressão
grega para o substantivo. Para Aristóteles, o termo amizade pode designar qualquer
atração mútua entre duas pessoas. Ele aproxima o conceito de amizade ao conceito de
justiça: “Se se quer o bem do “outro”, se pensará na benfeitora de acordo com o que se
deseja para si”. (anotações no seminário, apresentação do Alex).

O conceito de filia, apresentado por Aristóteles, aproxima-se, de certo modo, ao


que se entende por amizade atualmente: relação positiva, entre pessoas que desejam bem
uma a outra. Dessa forma, a busca do bem por si mesmo (o bem querer), a base e a
essência da amizade, não pode permanecer oculto (WOLF, 2007).

A amizade é uma virtude extremamente necessária à existência humana a tal


ponto que o filósofo estagirita chegou a declarar que “ninguém deseja viver sem amigos,
mesmo dispondo de todos os outros bens” (ARISTÓTELES, 1999, 1155a).

Mas no que se dá a escolha da amizade? A amizade é algo aparentado com a


arete. Dois amigos precisam de um comportamento de reciprocidade. Por isso, Aristóteles
elabora princípios provocativos para defini-la. Contudo ele não traz uma resposta
satisfatória para a questão de “para que precisamos de amigos”. Logo, a amizade para o
filósofo, é uma pratica intersubjetiva e cooperativa. A amizade estará sempre associada
às relações interpessoais, não significando que se estabelecerá numa relação de
continuidade. Entretanto, para se ter boa relação com o “outro” será preciso ter uma boa
relação consigo mesmo (WOLF, 2007, p.229, adaptada pela autora).

Nas relações, amizade é baseada na partilha e apreciação de coisas afins. Em


contrapartida, explica Aristóteles, duas pessoas que estão distantes uma da outra podem
manter sua relação de amizade, mas o que se desfaz não é a amizade, mas a atividade.
Entretanto, se esse distanciamento é longo, pode parecer que houve um processo de
esquecimento (ARISTÓTELES, 1987).

Amizade é uma virtude; o amor, uma emoção. Sendo assim, é possível sentir
amor por coisas inanimadas, mas não amizade, já que o amor recíproco pressupõe uma
escolha, que tem origem em uma disposição de caráter (virtude).

A maior parte do sistema moral de Aristóteles está centrada sobre o próprio


indivíduo; é próprio do homem, o homem tende e deve tender. Desta forma, percebemos
que a discussão referente ao valor da amizade, constitui uma correção válida a respeito
de uma impressão que o restante da Ética tende a produzir.

Na totalidade da ética, para além dos livros sobre a amizade, muito pouco é dito
no sentido de se sugerir que o homem pode e deve ter um interesse caloroso e pessoal
pelas outras pessoas; o altruísmo está completamente ausente. (LORENZETTI, 2011,
p.15).

Os homens são benevolentes com aqueles que amam, não por sentimento, mas
por virtude e pelo que eles são. O amigo torna-se um bem para o outro
(ARISTÓTELES,1987).

Em Reale, clareamos esta explicação:

“Enfim, o homem, como ser estruturalmente político, ou seja, feito para


viver em sociedade com outros, pela sua própria natureza tem
necessidade de outros, justamente para poder gozar dos bens: um
homem absolutamente isolado não poderia gozar de nenhum bem”.
(REALE, 2015, p. 117).

Desta forma, compreendemos que, segundo o filósofo estagirita, “o homem


solitário não é feliz”. A relação com o outro a partir do hábito perfeito – amor, permite a
perpetuação da ação do bem. Pensar nas comunidades que se estruturam a partir das leis,
revela o lugar onde este homem poderá se relacionar com filia.

2 - A vida ideal para Aristóteles

Desde o início dos seminários percebemos que A Ética a Nicômaco, traz o bem-
estar como uma atividade desejável em si mesma, e nunca um estado ou disposição. Ao
longo das explicações e comentários, inclusive da docente, ficou claro que as “coisas
desejadas em si mesmas são a atividade de acordo com a virtude e os divertimentos”.

Outro ponto bastante discutido, foi sobre o entretenimento, de acordo com


Aristóteles, não ser a finalidade da vida, pois, embora seja desejável por si mesmo, não é
válido por si mesmo, mas sim, como um relaxante que nos torna apto a uma atividade
séria.

Para Aristóteles, o bem-estar deve ser uma atividade em conformidade com a


virtude. No entanto, no livro V, Aristóteles divide a virtude intelectual e a moral, e
descreve que ambas são distintas uma da outra.

A compreensão de que a sabedoria teorética e a prática, não são um meio para o


bem-estar, mas sua pratica, hábito, e estes, são os que constituem o bem-estar, foi outro
ponto bem esclarecido na ética de Aristóteles. Ele pontua a sabedoria teorética como
superior à sabedoria prática: […]"o homem que contempla a verdade, porém, não
necessita de tais coisas, ao menos para o exercício de sua atividade; e pode-se dizer até
que elas lhe servem de obstáculo, quando mais não seja para a própria contemplação.
Mas, enquanto homem que vive no meio de outros homens, ele escolhe a prática de atos
virtuosos: por conseguinte, necessita também de coisas que facilitam a vida humana.
(ARISTOTELES, 2001, p.193).
A vida ideal para o autor, deveria ser “a felicidade perfeita como uma atividade
contemplativa (Ibid, p.193). O homem feliz, como homem que é, por isso também
necessita de prosperidade exterior, porquanto a nossa natureza não basta a si mesma para
os fins de contemplação: nosso corpo também precisa gozar saúde, de ser alimentado e
cuidado.

Não se pense, todavia, que o homem para ser feliz necessite de muitas ou de
grandes coisas. (…) “a auto-suficiência e a ação não implicam excesso, e podemos
praticar atos nobres sem sermos donos da terra e do mar" (E.N. X, 8; 1178 b 35 – 1179
a 05).

Como a vida contemplativa é muito difícil e para alguns uma impossibilidade


real, o que se resta, é a escolha por não seguir aqueles que afirmam que, sendo nós
homens, devemos limitar os pensamentos às coisas humanas. A virtude permite, o bem-
viver, na medida do possível que ele faz suas escolhas. Quem vive assim é o homem feliz!

4. CONCLUSÃO

Ética à Nicômaco, foi o primeiro tratado sobre o agir humano da história, daí sua
inegável importância para a história da filosofia. Foi possível, compreender neste
trabalho, o problema das relações entre os indivíduos, o que justamente propõe a ética
aristotélica.

Há primazia na construção de uma ética científica; ela é classificada como uma


ciência prática, como uma parte que antecede a política. Após a definição das ciências
teoréticas, expõe as ciências práticas, que se referem à conduta dos homens a finalidade
que se espera alcançar, seja como indivíduos ou componentes da “polis”. À Ética compete
o estudo da conduta e do fim do homem como indivíduo.

Aristóteles postula a necessidade de responsabilidade para uma ação ser


considerada como moralmente válida. A elaboração das virtudes intelectuais e morais,
revela o meio-termo em relação a dois extremos viciosos, que permite a escolha certa.
Dentre as virtudes intelectuais, a sabedoria é superior.

Quanto ao ideal da felicidade, a conclusão foi de que feliz é aquele que vive as
virtudes dentro da pólis. Este, é aquele que vive uma vida intelectual, permitindo-o ser
capaz de dirigir bem a vida, deliberar de modo correto o que é bem ou mal para si. Nisto
consiste o exercício da sabedoria – condicionante para se alcançar a felicidade máxima.

Na ética aristotélica, a felicidade só é possível na pólis, pois não existe a


concepção de um indivíduo separado de sua cidade. É uma vida baseada na razão, e essa
razão o levará a uma vida feliz, a estima e amizade cooperará para essa felicidade. Por
isso, toda ação humana deverá ser orientada para a execução de algum bem. Bem e
felicidade estão em intercessão na ética aristotélica. Há uma medida para todas as ações
humanas, que é o justo-meio.

A felicidade é definida como atividade da alma, dirigida pela virtude perfeita; é


excelente e divina, mas não é presente dos deuses e nem produto do acaso, porque é
preciso conquistá-la com muito exercício e muita prática da virtude. Para tanto é
necessário indagar sobre a virtude e em que condição ela é um meio-termo para a
felicidade.

As virtudes morais compreendem ser um meio entre dois extremos viciosos; o


excesso consiste em toda quantidade; sua falta a ausência de virtude. O meio-termo é o
ponto de intercessão que se encontra em igual distância entre dois pontos extremos, mas
quando se trata do homem, o meio-termo é aquilo que não peca nem por excesso e nem
por defeito. Entretanto esta medida é variável de acordo com caráter e predisposição dos
homens. Com tudo isso, se percebe, o quanto é dificultoso estabelecer o justo-meio em
cada caso particular. Para isso, apenas uma pessoa sensata, deve deliberar.

Dentre os limites, destaca-se primeiramente a necessidade da inserção do


indivíduo na Polis, há um certo intelectualismo na visão de vida ideal, tanto que há um
problema: ser livre implica necessariamente em ser racional.
5. Bibliografia Básica

1. ARISTÓTELES. A Ética a Nicômaco. Trad. de Leonel Vallandro e Gerd


Bornheim. Vol. II. São Paulo: Nova Cultural, Col. Os Pensadores, 1987.
<Disponivel em: <http://www.netmundi.org/home/wp-content/uploads-Os-
Pensadores-Aristoteles-Vol.-II-04-1987.pdf> Acesso em: 01 de maio de 2019.

2. ____________, A Ética a Nicômaco. Martin Claret, 2001. São Paulo. Edição 1.

3. __________, A Ética a Nicômaco. São Paulo. Atlas, 2009.

4. Lorenzetti, J.P. A Etica a Nicomaco: Atualização e Comentários. <Disponível


em: www.consciencia.org/aristotelesjosemar.shtml.>Acesso em: 01 de maio de
2019.

5. REALLE, Giovanni; ANTISERI, Dário. História da filosofia, vol I. 2a Ed. São


Paulo: Paulus, 1991.

6. WOLF, U. A Ética a Nicômaco de Aristóteles. Trad. Enio Paulo Giachini.


Edições Loyola. São Paulo, 2010.

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