Avivamento - As Perspectivas de Jonathan Edwards e Charles Finney - Ministério Fiel

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23/07/2019 Avivamento - as perspectivas de Jonathan Edwards e Charles Finney - Ministério Fiel

Avivamento – as perspectivas de
Jonathan Edwards e Charles
Finney
Gilson Santos 9 de julho de 2012 87,738 Visualizações Artigo
Ministério Fiel Teologia

Em muitos círculos evangélicos atuais, quando se fala em “avivamento”,


pensa-se em uma grande campanha evangelística, com várias reuniões

especiais, com um convidado especial e com uma música especial. Este é

o sentido que se associou a este vocábulo no século XIX. As grandes

campanhas evangelísticas de Charles G. Finney (1792-1875), Dwight L.

Moody (1837-1899) e Reuben A. Torrey (1856-1928), bem como as de

outros evangelistas do gênero, exerceram papel decisivo na

sedimentação deste modo de pensar. Para outros, “avivamento” seria um

“borbulhar de entusiasmo na igreja”, um excitamento, um cantar

empolgante, um louvor diferente e, até mesmo, um tipo de histeria


emocional seguida de sinais incomuns. No século XX, a idéia de “sinais e

maravilhas” passou a integrar substancialmente o cerne do conceito de

avivamento.

A palavra “avivamento” (ou reavivamento, do inglês revival) surge desde o

século XVII e afirma-se no século XVIII, quando se começava a falar

sobre o reavivamento da religião. Embora o vocábulo fosse novo, aqueles

que o endossavam entendiam claramente que a doutrina era amplamente

encontrada nas Escrituras e na história da Igreja. Por “avivamento”

pensava-se num “derramar incomum do Espírito Santo”.

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Jonathan Edwards e a soberania de Deus no avivamento

Jonathan Edwards (1703-1758) foi um dos grandes líderes do avivamento

do século XVIII, que tem sido chamado pelos norte-americanos de

“Grande Despertamento”. Um estudo sério acerca deste assunto terá de

levar em conta o que ele fez e escreveu.

D. Martyn Lloyd-Jones (1899-1981) e J. I. Packer, ao escreverem sobre

Edwards, entendem que é na questão do avivamento que ele é


preeminentemente o mestre. Avivamento é um derramamento do Espírito,

e “se vocês quiserem saber algo sobre o avivamento verdadeiro, Edwards


é o homem que se deve consultar”, arremata Lloyd-Jones.1

Em sua clássica obra A Treatise Concerning Religious Affections (Tratado


sobre Afeições Religiosas), Edwards nos fala sobre a atuação do Espírito
Santo, dando grande atenção à experiência pessoal.2 O anseio de

Edwards em diferenciar a experiência religiosa verdadeira da falsa


resultou de sua preocupação pastoral no contexto do avivamento. Ele

pregou uma série de sermões sobre 1 Pedro 1.8 tratando do assunto, em


1742-1743. O Tratado resultou da revisão do texto desses sermões para

publicação em 1746. Nesta obra, Edwards argumentou que o cristianismo


verdadeiro não se evidencia pela quantidade ou intensidade das emoções

religiosas, mas por um coração transformado que ama a Deus e busca o


seu prazer. Ele faz uma análise rigorosa das diferenças entre a

religiosidade carnal e a verdadeira espiritualidade, que toca o coração


com a visão da excelência de Deus e liberta o homem do egocentrismo.

Edwards lutou em duas frentes: contra os adversários do avivamento e

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contra os extremistas; contra o perigo de extinguir o Espírito e contra o

perigo de deixar-se levar pela carne e ser iludido por Satanás.

Por um lado, tinha que argumentar contra aqueles que descartavam todo

o avivamento como histeria irracional; por outro, tinha que argumentar


contra aqueles que pareciam pensar que tudo o que aconteceu no

avivamento era “de Deus”, não importa quão estranho, extremista ou


desequilibrado isso fosse (…).

Em sua tentativa de traçar um caminho intermediário entre esses

extremos, a um tempo similares e opostos, Edwards confrontou-se com


uma série de questões fundamentais.3

Nos seus escritos, Edwards avaliou a experiência religiosa à luz das

Escrituras e das suas convicções reformadas. O ponto de partida da


sua pregação e da sua teologia foi o Deus soberano, em sua majestade,

graça e glória. Edwards incluía uma ênfase na obra soberana e graciosa

de Deus, ao tratar do avivamento. Segundo ele, o avivamento é uma


visitação divina. É Deus vindo e agindo de maneira poderosamente

incomum entre o seu povo. Utilizando a analogia do mar, o avivamento

seria como as ondas do mar, que vêm e quebram sobre a praia, e nós

podemos visualizar a história constatando essas ondas vindo e


quebrando. De fato, a história dos avivamentos seria a história do povo de

Deus.

Num avivamento, ou experiência religiosa genuína, o critério principal é


este: se quem está no centro das atenções é Deus ou o ser humano. Para

que Deus esteja no centro é necessário, em primeiro lugar, que haja nos
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corações um profundo senso de incapacidade, de dependência de Deus,

e de convicção da nossa pecaminosidade. Além disso, é preciso que haja

a consciência de que toda genuína experiência religiosa é fruto da


atuação do Espírito de Deus, que transforma e santifica os pecadores,

capacitando-os a amar e honrar a Deus em suas vidas.

Portanto, todas as teorias de salvação que dão ênfase às obras humanas


ou à capacidade humana só desmerecem a grandeza do amor de Deus

revelado a nós em Cristo Jesus e tornado real em nossos corações

somente pela iluminação do Espírito Santo.4

The Distinguishing Marks of a Work of the Spirit of God (As Marcas


Distintivas de uma Obra do Espírito de Deus) é um pequeno mas

importante livro de Edwards baseado em um sermão que pregara em

Boston, durante o Grande Despertamento.5 Depois do sermão, ele fez

alguns acréscimos e publicou o livro em 1741. Trata-se de uma exposição


do capítulo 4 da Primeira Epístola de João, texto que nos exorta a

provarmos “os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos

profetas têm saído pelo mundo fora”. De fato, no argumento de Edwards,


a palavra “evidência” seria preferível à palavra “marca”. Edwards extrai

dos escritos do apóstolo João um total de quatorze sinais ou evidências

que indicam a presença ou ausência do Espírito de Deus numa pessoa,

movimento ou igreja. A seguir, ele oferece cinco conclusões práticas para


a igreja, encerrando com sua ênfase característica na humildade em

todas as coisas do Espírito. Esta questão lhe era crucial, pois sua igreja

fora atingida pelo Grande Despertamento nas décadas de 30 e 40 do

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século XVIII, e aquele período foi de grande agitação e confusão, à


medida que se faziam todos os tipos de reivindicação espiritual.

Em seu livro Jonathan Edwards e o Avivamento Brasileiro, o qual

recomendo ao leitor, Luiz Roberto França de Matos (1956-2004), ao


analisar os escritos de Edwards, conclui sobre os “princípios úteis para

julgar se uma obra espiritual ou movimento religioso efetivamente vem do

Espírito”. Que princípios são esses? O autor resume-os como segue:

1. Quaisquer manifestações exteriores resultantes de experiências


extraordinárias não são um sinal fidedigno de espiritualidade e não

asseguram uma obra genuína do Espírito.

2. Uma obra verdadeira do Espírito de Deus produzirá uma mudança


radical na natureza de uma alma individual, que irá expressar-se em um

comportamento e prática completamente novos, revelando-se

progressivamente a imagem de Jesus Cristo implantada no crente.6

Quanto ao avivamento, é ele um período marcante, quando Deus, de

forma rápida e impressionante, expande o seu Reino através de um

revitalizar da sua igreja; é obra poderosa do Espírito Santo no meio de

muita gente ao mesmo tempo. O avivamento é uma intensificação do


Cristianismo. Não é um outro tipo de Cristianismo, mas uma intensificação

do mesmo quando em tempos normais. Não é diferente em essência; a

diferença é de grau e não de tipo. O Catecismo Maior de Westminster, na

resposta à pergunta de número 182, diz que o Espírito Santo nos ajuda
“operando em nossos corações, e despertando (embora não em todas as

pessoas, nem em todos os tempos, na mesma medida) aquelas


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apreensões, afetos e graças que são necessários…”.7Alguém recorreu à

analogia entre uma “chuva normal” e uma “chuva forte”. Num contexto de

avivamento, os crentes são mais zelosos, pecadores são atraídos, e


mesmo os incrédulos que não se convertem, se vêem convencidos da

verdade. J. I. Packer diz que a “Escritura aponta para um processo

repetido muitas vezes, mediante o qual, seguindo-se à frieza, descuido e


infidelidade existentes dentre o povo de Deus, o próprio Deus age

soberanamente para restaurar o que estava prestes a perecer”. E

acrescenta: “E através do transbordamento evangelístico consequente,

[Deus] torna a estender ainda mais o reino de Cristo”.8

Uma observação importante, que deve novamente ser enfatizada, é que o

avivamento vem exclusivamente de Deus. “Porventura, não tornarás a

vivificar-nos, para que em ti se regozije o teu povo?” (Sl 85.6). O desejo

do salmista está voltado para Deus, pois o homem não pode operar esta

façanha. É Deus quem pode vivificar. O avivamento é uma obra soberana

de Deus, pois “o vento sopra onde quer” (Jo 3.8). Nós não podemos dar
uma ordem para que haja um avivamento, e ele não segue um modelo

previamente fixado por qualquer homem. Nós estamos amarrados à

misericórdia de Deus. “Pois assim como o Pai ressuscita e vivifica os

mortos, assim também o Filho vivifica aqueles a quem quer” (Jo 5.21). Isto

não deveria causar-nos desespero, mas fome, um apetite pela visitação

de Deus. Deveria nos levar à humilhação. Na compreensão de Edwards,

avivamento é algo que acontece, não é algo que se promove. O homem


não é o agente; ele é objeto dessa obra do Espírito. Deus é

absolutamente soberano em cada dádiva que concede. Isto é tão

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verdadeiro acerca do avivamento como é de qualquer grande obra

redentora. J. I. Packer colocou isto nas seguintes palavras:

O avivamento é Deus demonstrando a soberania de sua graça.

Avivamento é inteiramente obra da graça, pois sobrevém a igrejas e

cristãos que merecem apenas julgamento; e Deus o faz acontecer de

maneira a mostrar que sua graça foi decisiva nele. Os homens podem

organizar convenções e campanhas e buscar a bênção de Deus sobre

elas, mas o único organizador dos avivamentos é Deus, o Espírito Santo.

Repetidas vezes, o avivamento tem vindo de maneira súbita, irrompendo

frequentemente em lugares obscuros, através do ministério de homens


também obscuros. Na verdade, ele vem em resposta à oração, e onde

ninguém orou é provável que também ninguém seja avivado; entretanto, a

maneira pela qual a oração é respondida será de forma a enfatizar a

soberania de Deus como a única fonte de avivamento, mostrando que

todo o louvor e toda a glória precisam ser dados somente a ele.9

Iain Murray, em seu excelente livro Pentecost Today, chama a atenção

para o fato de que a soberania de Deus no avivamento é revelada em que

Ele é soberano nos instrumentos que se propõe utilizar neste sentido, em

seus propósitos no avivamento, e com relação ao tempo quando o

avivamento começa.10 Roberts & Gruffydd, em seu livreto Avivamento e

seus Frutos, quando se referiram ao avivamento de 1762, no País de


Gales, escreveram:

Avivamento, por definição, é o próprio princípio de vida da igreja. O poder

que produz a vida é o próprio princípio de sua vida. O poder que traz à

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vida é o poder que sustém a vida. A igreja como um corpo de crentes


permanece numa contínua necessidade do vivificante Espírito de Deus.11

Evans observa que “um dos fatos mais coagentes e convincentes que

serve para demonstrar a soberania do Espírito Santo em instaurar


reavivamentos é a maneira simultânea de manifestar Sua operação em

vários lugares e pessoas”.12 E o mesmo autor salienta o papel da oração.

Não obstante ser obra graciosa e soberana, o avivamento sempre vem

através da oração. Oração intensa e persistente. A correta compreensão

da doutrina da soberania de Deus não implica em passividade da parte do

povo de Deus. Edwards colocara isto da seguinte maneira:

Quando Deus tem algo muito grande para realizar em favor da sua igreja,

a vontade dele é que isso seja precedido pelas orações extraordinárias do

seu povo, segundo manifestado por Ezequiel 36.37… E é revelado que,

quando Deus está para realizar grandes coisas para a sua igreja, ele

começará derramando de maneira notável o espírito de graça e de


súplicas (Zc 12.10).13

“Aviva a tua obra, ó SENHOR, no decorrer dos anos, e, no decurso dos

anos, faze-a conhecida; na tua ira, lembra-te da misericórdia” (Hc 3.2).


Isaías 64 é uma oração muito própria em favor de um avivamento.

Também o salmista ora: “Vivifica-me, SENHOR, por amor do teu nome;

por amor da tua justiça, tira da tribulação a minha alma” (Sl 143.11). Além

disto, a pregação da Palavra de Deus é instrumento de Deus para

reavivar seu povo. O SENHOR utiliza sua própria Palavra (Sl 119.25; Ez

37.9). O Salmo 119 descreve a Palavra de Deus como o meio para o

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reavivamento do povo de Deus: “Estou aflitíssimo; vivifica-me, SENHOR,

segundo a tua palavra” (Sl 119.107). O impulso do avivamento há de partir


do Senhor, como também o poder que acompanha a Palavra deve ser

atribuído a Ele. Enfim, se pudermos falar de uma metodologia em

Edwards, esta era, basicamente, orar por avivamento e expor a palavra

da Escritura.

Charles Finney e a “ciência do avivamento”

A definição que Edwards ofereceu para avivamento sofreu grande revisão

no século XIX. Um dos mais influentes líderes do chamado “Segundo


Grande Despertamento” foi Charles Finney. Ele escreveu um livro em

1838 chamadoReavivamento da Religião.14 De forma contrária a

Jonathan Edwards, Finney fez o avivamento repousar decisivamente

sobre o homem. No livro Charles Finney e a Secularização da Igreja,

Jadiel Martins Sousa (1964-2002) observa com muito acerto que “em

algum sentido, pode-se dizer que Finney foi uma reação a Edwards, uma

vez que o calvinismo representado por este foi repudiado e relegado à

condição de fantasma por aquele”.15 Finney argumentou que podemos


alcançar o avivamento simplesmente utilizando adequadamente os meios

corretos. No raciocínio de Finney, “orar pelo reavivamento religioso e

deixar de empregar qualquer outro meio, é tentar a Deus”.16 E na sua

argumentação subsequente, estes meios recebem grande ênfase. A

analogia que ele utilizou foi a de um fazendeiro à espera de uma colheita.

Ele ara, irriga e prepara o seu campo… E à medida que ele faz essa obra,

a colheita inevitavelmente acontece. Assim, o avivamento é como uma


ciência. Em sua biografia de Finney, V. Raymond Edman falou sobre “a
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ciência do avivamento” – de fato, o título da obra em português

é Despertamento: A Ciência de um Milagre.17

Avivamento é tido comumente como um ato da soberania divina,

outorgado pelo Deus todo-poderoso segundo sua vontade, sob sua

direção. O homem, no caso, é considerado inteiramente incapaz de

promover ou impedir semelhante manifestação do poder soberano. A

evidência da experiência cristã não confirma a exatidão de tal conceito, e


a verdade é que parece concludente haver muito que os crentes devem

fazer na preparação e promoção do verdadeiro avivamento (…).

Finney é explícito e exigente na sua explicação de que um avivamento

espiritual, como ele o chamava, “não é milagre”, mas antes “o resultado


do emprego acertado dos meios apropriados”.18

E o autor cita o próprio Finney:

Avivamento não é milagre, nem depende de milagre, em nenhum sentido.

É resultado puramente filosófico do emprego acertado dos meios comuns,

tal como qualquer resultado que se obtenha empregando métodos

apropriados. Pode haver um milagre entre suas causas antecedentes, ou

pode não haver. Os apóstolos empregavam milagres simplesmente como


meios de chamar a atenção para sua mensagem e de estabelecer a

autoridade divina dessa mensagem. Mas o milagre não era o

avivamento…

Afirmei que o avivamento é o resultado do emprego acertado dos meios

adequados. Os meios que Deus determinou para a operação de um

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avivamento, sem dúvida, possuem tendência natural para produzir um

avivamento, senão Deus não os teria determinado. Mas, conforme todos

sabemos, os meios não produzirão um avivamento sem a bênção de

Deus. É-nos impossível dizer que não há a mesma influência ou ação

direta da parte de Deus para produzir uma colheita de cereais ou para

promover um avivamento…

Suponhamos que um homem fosse pregar essa doutrina entre

agricultores, com referência à plantação de cereais. Diga-lhes ele que

Deus é soberano e lhes concederá uma colheita somente quando lhe


aprouver; que arar a terra, semear e cultivar como quem espera uma

colheita, está muito errado; é tirar a obra das mãos de Deus, é interferir na

sua soberania, é labutar com suas próprias forças; que não existe, entre
os meios e os resultados, nenhuma ligação de que possam depender. E
suponhamos que os agricultores aceitassem tal doutrina. Ora, poriam o

mundo a morrer de fome. Pois os mesmos resultados advirão se a Igreja


se deixar convencer de que a expansão do evangelho é matéria

misteriosamente sujeita à soberania divina, que não existe conexão entre


os meios e o fim….

Creio firmemente que, caso pudéssemos saber todos os fatos,


verificaríamos que, quando os meios determinados são usados

acertadamente, as bênçãos espirituais são alcançadas com maior


uniformidade que as temporais.19

Em resumo, este é o pensamento de Finney acerca do avivamento. E


parece que não se alterou substancialmente, embora alguns autores

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identifiquem alguma mudança em suas últimas correspondências. Pelo

final da vida de Finney, os sinais do avivamento vinham declinando. Ele


concluía que, se paratrazer o avivamento bastava utilizar os meios

corretos, a mesma lógica deveria aplicar-se para manter o avivamento.


Entretanto, por alguma razão, essa lógica não se verificava na realidade
ao seu redor. Ele sentiu a impossibilidade de manter o avivamento pelo

esforço humano, e em suas cartas teria concluído que atribuiu muito da


obra ao homem. À luz disto, podemos compreender porque Iain Murray

conclui que a inevitável tendência da visão de Finney é que, embora


espere encorajar a diligência e os sinceros esforços práticos, “ela irá,

contudo, cedo ou tarde, produzir desencorajamento”. No final das contas,


nesta visão, não há avivamento se a desobediência continua a prevalecer,
pois é a obediência humana que assegura o avivamento.20

Efetivamente, Finney estava reagindo a uma situação que considerava

grave. Além disso, ele era alguém muito interessado em resultados. Para
ele, a única forma de afirmar a veracidade de um método era sua eficácia
em atingir alvos propostos. O fato de ter experimentado avivamento e ter

se concentrado em seus efeitos visíveis deu a Finney a oportunidade de


desenvolver sua tese da produção do avivamento. Nela há uma enorme

confiança no caráter natural dos poderes da própria mente que são


despertados e excitados pela palavra dirigida de forma clara à

consciência. Embora houvesse dito que “os meios não produzirão um


avivamento sem a bênção de Deus”, de alguma maneira, em sua lógica
matemática e forense, e promovendo alguma confusão entre causa e

efeito, o avivamento ficou reduzido a uma ciência. Numa observação dos

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escritos de Finney a este respeito, uma leitura superficial dos títulos já é


suficiente para perceber sua tese: os títulos sugerem ação exclusiva do

homem e apontam para resultados seguros. O avivamento é, pois, o


resultado do despertamento dos poderes da consciência por meio das

várias técnicas, que passaram a ser exaustivamente empregadas. Assim


nasceu o “avivalismo”. A definição de Finney prevaleceu entre a maioria
dos cristãos evangélicos desde então, e “avivamento” e “metodologia”

passaram a caminhar juntos, e com grande detrimento da teologia. Fato,


porém, é que a metodologia de Finney era, clara e inescapavelmente,

uma expressão de sua teologia.

Jadiel Martins Sousa resume bem tudo isto:

Até os dias de Finney, a Igreja Cristã estava relativamente familiarizada


com o fenômeno do avivamento. Vários períodos marcados por grande

despertamento espiritual, desde a Reforma do século dezesseis, já


haviam ocorrido. Mas a partir do ano 1800, no período do chamado

Segundo Grande Despertamento, algo novo começava a ser notado. As


manifestações emocionais e as expressões corporais, que já eram

conhecidas dos outros períodos de avivamento, ganharam uma nova


dimensão. Passavam a ser não apenas sinais secundários ou adereços

presentes, mas se tornavam praticamente a essência do avivamento. Se


antes essas manifestações eram algo a ser administrado, filtrado e
julgado à luz da Palavra de Deus e de seus próprios frutos, agora elas

eram buscadas, estimuladas e promovidas. Além disso, havia o


pensamento de que todas as coisas relacionadas ao avivamento eram

possíveis de serem promovidas pelo homem. Nesse contexto, o avivalista


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era tão importante quanto o avivamento, o evangelista tão importante

quanto o evangelho.

Uma série de adornos foram acrescentados ao fenômeno do avivamento,


como, por exemplo, os acampamentos, de tal forma que se acreditava ser
impossível que o avivamento ocorresse fora desse ambiente

meticulosamente preparado pelo homem. Esse era o novo perfil do


avivamento do início do século XIX. O avivamento não era mais um

fenômeno surpreendente, determinado pela soberania de Deus e


executado livremente por ele. Já não era mais uma visitação especial na

qual Deus restabelecia o vigor de seu povo trazendo nova disposição


àqueles que estavam moribundos. O avivamento passava a ser um
movimento terreno, um programa da igreja, algo planejado e executado

pelos homens. Era um movimento ao qual as pessoas aderiam ou se


opunham. Surgia o reavivalismo, do qual Finney se tornou o principal

representante.21

Alguns líderes cristãos piedosos e operosos, contemporâneos de Finney,

e que também estavam sob o impacto de uma grande visitação de Deus,


se opuseram ao seu novo conceito e às suas “novas medidas”. Tais

homens não eram negligentes quanto aos deveres cristãos, mas


entendiam que o avivamento dependia da soberania de Deus. Era ele

quem determinava quando e onde ocorreria um derramamento especial


do seu Espírito. Havia um elemento de surpresa no avivamento. Não era
possível nem mesmo estabelecer um modelo fixo de avivamento; Deus se

reserva o direito de agir de formas variadas, embora algumas marcas


estejam geralmente presentes.
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William Sprague (1795-1876) foi durante quarenta anos pastor da Igreja

Presbiteriana em Albany, New York. Ele testemunhou um período em que


milhares de homens e mulheres foram convertidos. Sendo
contemporâneo de Charles G. Finney, Sprague escreveu em 1832 um

livro chamado Lectures on Revivals of Religion (Conferências em


Avivamento). De onde procedem tais avivamentos da religião? De onde

eles vêm? Sprague põe isto da seguinte maneira:

Em todo avivamento nós somos distintamente conduzidos a reconhecer a

soberania de Deus. Assim como isto é verdade e pode ser percebido na


influência pela qual uma única alma é convertida, certamente não é

menos manifesto nessas copiosas chuvas de influência pela qual são


convertidas centenas de pessoas. É Ele quem causa isto. É Ele quem faz

chover em uma cidade e não em outra. É Ele quem dirige o movimento


dessas nuvens no mundo espiritual, das quais descem as bênçãos de
reavivar e acelerar a graça. “O vento sopra aonde quer; e ouves a sua

voz, mas não sabes de onde vem nem para onde vai. Assim é todo que é
nascido do Espírito». Assim, igualmente, é todo avivamento da religião.22

Uma grande necessidade

A idéia completa de avivamento parece que se tornou estranha a muitos


bons cristãos. Isto se deve a um sério equívoco na compreensão das
Escrituras, e a uma lamentável ignorância da história da Igreja. Visto que

em nosso tempo este termo é utilizado para uma cruzada evangelística ou


para alguns eventos planejados, o significado original tornou-se quase

inacessível para a maioria dos cristãos.

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Precisamos ser conduzidos a um grande senso de nossa própria


indignidade e insuficiência, e que seja criado dentro de nós um

correspondente desejo pela manifestação da glória e do poder do


SENHOR. O “seu braço não está encolhido”.

As épocas de avivamento trazem um profundo sentimento de que sempre


se está diante dos olhos de Deus; as coisas espirituais tornam-se

sobejamente reais, e a verdade de Deus se torna irresistivelmente


poderosa, tanto para ferir quanto para curar; a convicção de pecado torna-
se intolerável; o arrependimento é profundo; a fé desabrocha forte e firme;

a compreensão espiritual cresce depressa e aguda; e os novos


convertidos amadurecem em período de tempo bem curto. Os cristãos

tornam-se destemidos no testemunho e incansáveis no serviço do seu


Salvador. Eles reconhecem a sua nova experiência como um verdadeiro

antegozo da vida do céu, onde Cristo se lhes revelará tão plenamente que
jamais serão capazes de deixar, dia e noite, de cantar seus louvores e
fazer sua vontade. A alegria transborda (Salmo 85.6; 2 Crônicas 30.26;

Neemias 8.12, 17; Atos 2.46,47; 8.8), abundando uma generosidade cheia
de amor (Atos 4.32).23

Em 1992, ao apresentar a tradução em português do livro Avivamento, de


D. M. Lloyd-Jones, o editor expressou-se da seguinte maneira:

Ao considerarmos a condição espiritual do mundo – e especialmente a do


Brasil – nesta última década do século vinte, não hesitamos em afirmar

que a profunda convicção dos responsáveis desta editora é que não há


assunto de maior importância e urgência do que o deste livro.

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23/07/2019 Avivamento - as perspectivas de Jonathan Edwards e Charles Finney - Ministério Fiel

Não vemos nenhuma possibilidade de uma mudança radical, benéfica e

duradoura neste grande país à parte de uma visitação poderosa do


Espírito Santo.24

Notas:

1 – J. I. Packer., Entre os Gigantes de Deus; Uma Visão Puritana da Vida

Cristã. São José dos Campos: Editora Fiel, 1996, 389pp. e D. M. Lloyd-
Jones, Os Puritanos; suas origens e seus sucessores. São Paulo:

Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, 432pp.


2 – Cf. Jonathan Edwards. A Genuína Experiência Espiritual. São Paulo:

Publicações Evangélicas Selecionadas, 1993, 116pp.


3 – N. R. Needahm. Introdução ao livro A Genuína Experiência

Espiritual, op. cit, p. 9.


4 – Alderi de Souza Matos. Avivamento nos Dias de Jonathan Edwards;
relevância atual. Online:

http://www.thirdmill.org/files/portuguese/75932~11_1_01_9-41-
48_AM~AVIVAMENTO_NOS_DIAS_DE_JONATHAN_EDWARDS.html

5 – Cf. Jonathan Edwards. A Verdadeira Obra do Espírito; sinais de


autenticidade. São Paulo: Vida Nova, 1992, 94pp.

6 – Luiz Roberto França de Mattos. Jonathan Edwards e o Avivamento


Brasileiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 110.
7 – Catecismo Maior de Westminster. Pergunta 182. São Paulo: Casa

Editora Presbiteriana, 1987, p. 134. Itálicos meus.


8 – J. I. Packer. Na Dinâmica do Espírito; Uma avaliação das Práticas e

Doutrinas. São Paulo: Vida Nova, 1991, pp. 238 e 240.


9 – Idem, p. 250.
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10 – Iain H. Murray. Pentecost Today?; The Biblical Basis for


Understanding Revival. Carlisle, Pensilvânia: Banner of Truth, 1998, pp.

70-74.
11 – Emyr Roberts & R. Geraint Guffydd, apud John

Armstrong. Avivamento. O quê e por quê? São Paulo: Editora Fiel, s.d., p.
3. Itálicos meus.

12 – E. Evans. Reavivamentos; sua origem, progresso e realizações. São


Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas, s.d, p.8.
13 – Jonathan Edwards. Works. Ed. W. Goold. London: Banner of Truth,

1967, 4:518.
14 – Para uma leitura da obra de Finney acesse online:

http://www.gospeltruth.net/Port/sermons_in_portuguese.htm . Cf. Garth M.


Rossel & Richard A. G. Dupuis. Memórias Originais de Charles

Finney. São Paulo: Editora Vida, 1986, 512pp.


15 – Jadiel Martins Sousa. Charles Finney e a Secularização da Igreja.
São Paulo: Edições Parácletos, 2002, p. 68. Esta obra atualmente é

publicada e distribuída por Editora Fiel.


16 – Charles Finney. Uma vida Cheia do Espírito. Venda Nova (MG):

Editora Betânia, 1980, p. 39.


17 – V. Raymond Edman. Despertamento: A Ciência de um Milagre.

Venda Nova (SP): Editora Betânia, 1976, 161pp. O título da obra em


inglês é Finney Lives On (Finney Ainda Vive).
18 – Idem, pp. 61-62.

19 – Ibid,. pp. 63-64


20 – Murray, op. cit., p. 29.

21 – Sousa, op. cit., pp. 45-46.


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22 – William B. Sprague. Lectures on Revivals of Religion. London: The


Banner of Truth Trust, 1959, 287pp, e Appendix 165 pp.
Acesse online em: http://www.revival-

library.org/catalogues/theology/sprague/title.htm
23 – Packer, op. cit., p.250.

24 – William Barkley. “Nota dos Editores”, in: D. Martyn Lloyd-


Jones.Avivamento. São Paulo: Publicações Evangélicas Selecionadas,

1992, p. 7.

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