Gramatica, Literatura e Interpretação de Textos PDF
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“ENTRE TEXTOS”
© Hexag Editora, 2017
Direitos desta edição: Hexag Editora Ltda. São Paulo, 2015
Todos os direitos reservados.
Autores
Lucas Limberti
Murilo de Almeida Gonçalves
Pércio Luis Ferreira
Diretor geral
Herlan Fellini
Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial
Hexag Editora
Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista
Revisor
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Pesquisa iconográfica
Camila Dalafina Coelho
Programação visual
Hexag Editora
Editoração eletrônica
Camila Dalafina Coelho
Eder Carlos Bastos de Lima
Filipi Figueiredo
Raphael Campos Silva
Raphael de Souza Motta
Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)
Impressão e acabamento
Meta Solutions
ISBN: 978-85-9542-019-9
Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
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2017
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CARO ALUNO
O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos principais
vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo enri-
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas sessões e também na utilização de cores.
§§ 06 livros Linguagens, Códigos e suas tecnologias (“Entre Textos” – Estudo da Gramática, Literatura e Interpretação de Textos);
§§ 03 livros “Between English and Portuguese” (Língua Inglesa para os vestibulares e Enem);
§§ 12 livros UTI – Unidade Técnica de Imersão (revisão ao término de cada dois livros);
§§ 01 livro de exercícios RPA UNIFESP, FAMEMA e FAMERP (Revisão para os vestibulares da Unifesp, Famema e Famerp);
§§ 01 livro de exercícios RPA FUVEST. UNESP e UNICAMP 2ª FASE (Revisão para 2ª Fase dos vestibulares da Fuvest, Unesp e Unicamp);
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno
realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.
Os capítulos foram finalizados com nove categorias de exercícios, trabalhadas nas sessões de Estudo Orientado (E.O.), como segue:
E.O. Aprendizagem: exercícios introdutórios de múltipla escolha, para iniciar o processo de fixação da matéria estudada em aula;
E.O. Fixação: exercícios de múltipla escolha, que apresentam grau médio de dificuldade, buscando a consolidação do aprendizado;
E.O. Dissertativo: exercícios dissertativos seguindo a forma da segunda fase dos principais vestibulares do Brasil;
E.O. Enem: exercícios que abordam a aplicação de conhecimentos em situações do cotidiano, preparando o aluno para esse tipo de exame;
E.O. UERJ-Exame de Qualificação: exercícios de múltipla escolha, buscando a consolidação do aprendizado para o vestibular da UERJ;
E.O. UERJ-Exame Discursivo: exercícios dissertativos nos moldes da segunda fase da UERJ;
E.O. (Unesp, Unicamp, Fuvest e Unifesp)-Questões Objetivas: exercícios de múltipla escolha, das Faculdades públicas de São Paulo;
E.O. (Unesp, Unicamp, Fuvest e Unifesp)-Questões Dissertativas: exercícios dissertativos da segunda fase das Faculdades públicas de São Paulo.
A edição 2017 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
ENTRE TEXTOS
GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
Aulas 1 e 2: Funções da linguagem e variação linguística 7
Aulas 3 e 4: Semântica: elementos de análise 51
Aulas 5 e 6: Os sons da fala e ortografia 89
Aulas 7 e 8: Formação de palavras 117
Aulas 9 e 10: Artigo, substantivo e adjetivo 157
LITERATURA
Aulas 1 e 2: A arte literária e o estudo dos gêneros 199
Aulas 3 e 4: Trovadorismo a literatura da Idade Média 231
Aulas 5 e 6: Humanismo e Classicismo 257
Aulas 7 e 8: Classicismo: Camões épico e lírico 285
Aulas 9 e 10: Quinhentismo e Barroco 309
INFOGRÁFICO:
Abordagem da GRAMÁTICA E INTERPRETAÇÃO DE TEXTO
nos principais vestibulares.
FUVEST - Dentre os temas abordados neste caderno, os temas de maior incidência no vestibular
da Fuvest são a semântica e a formação de palavras. Os demais temas são de aplicação es-
porádica, requerendo atenção a ortografia e a variação linguística.
IC
INA
FA
BO
1963
T U C AT U caderno, os temas de maior incidência no vestibular
da Unicamp são variação linguística e semântica. Os
demais temas são de aplicação esporádica, requerendo
atenção a ortografia e a formação de palavras.
Roman Jakobson
Toda comunicação apresenta uma variedade de funções, sendo uma dominante, de acordo com o enfoque que o
destinador/emissor quer dar ou do efeito que quer causar no destinatário/receptor. As funções da linguagem são
as seguintes:
§§ Emissor – emite a mensagem, codificando-a em palavras;
§§ Receptor – recebe a mensagem e a decodifica, ou seja, apreende a ideia;
§§ Mensagem – aquilo que é comunicado, o conteúdo da comunicação;
§§ Código – sistema linguístico escolhido para transmissão e recepção da mensagem;
§§ Referente – contexto em que se encontram o emissor e o receptor;
§§ Canal – meio pelo qual a mensagem é transmitida;
Emotiva ou expressiva – centralizada no emissor, ressalta sua opinião, trata das emoções; prevalece a
1ª pessoa do singular (eu), interjeições e exclamações; é a linguagem das biografias, memórias, poesias líricas e
cartas de amor.
Desencanto
Eu faço versos como quem chora
De desalento... de desencanto...
Fecha o meu livro, se por agora
Não tens motivo nenhum de pranto.
9
Referencial – centralizada no referente, pois o emissor oferece informações da realidade; objetiva, direta,
denotativa, prevalecendo a 3ª pessoa do singular (ele/ela); é a linguagem usada nos textos científicos, arte realista,
notícias de jornal.
“Aumenta a pressão sobre o primeiro-ministro britânico, Tony Blair, para que ele permita uma investigação
independente sobre os aparentes erros dos seus serviços de inteligência no que se refere às armas de des-
truição em massa do Iraque. A indicação do governo americano, também questionado sobre a sua avaliação
da ameaça iraquiana, de que um inquérito pode ser aberto no país, reforçou o argumento dos críticos de
Blair. O Partido Conservador britânico deverá apresentar nesta semana uma moção pedindo a investigação.”
Fonte: Folha de S. Paulo - 02-02-2004
Fática – utilizada para testar o canal, para manter o contato físico ou psicológico com o interlocutor.
Metalinguística – é a linguagem utilizada para falar da própria linguagem; a linguagem como fazer artístico;
põe em evidência a forma da mensagem, ou seja, preocupa-se mais em “como dizer” do que com “o que dizer”.
Razão de ser
Escrevo. E pronto.
Escrevo porque preciso
preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece.
E as estrelas lá no céu
Lembram letras no papel,
Quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
(Paulo Leminski)
10
Poética – é a linguagem que põe em evidência
a forma como a mensagem é veiculada. Está mais inte-
ressada nos aspectos estéticos, na beleza e nos enfeites
atribuídos à mensagem.
Sem
Mim
Ando
Com
Igo
Sigo
Sem
Origem geográfica do falante
Com
Ando Pelo fato de ser falada em várias regiões, a língua por-
(Arnaldo Antunes)
tuguesa apresenta grandes variações regionais que
modificam o vocabulário utilizado, na forma como as
palavras são pronunciadas e até na ordem em que elas
Variação linguística aparecem em uma oração. A leguminosa conhecida por
muitos como aipim recebe o nome de mandioca ou ma-
Variações linguísticas são as peculiaridades que a lín-
caxeira em muitas outras regiões do Brasil.
gua adquire com o tempo em função do seu uso por
comunidades específicas.
Contexto de conversação
Conforme a situação em que nos encontramos ao falar
ou escrever, mudamos o nosso trato com a linguagem.
A cada instante, utilizamos a língua de uma maneira
particular, uma vez que nos adaptamos ao contexto em Idade do falante
que estamos. Como exemplo, agimos diferentemente
quando nos dirigimos aos nossos pais ou quando fala- A idade do falante é também um aspecto importante
mos com nossos amigos; escrevemos na escola de um nos estudos de variação linguística, que está relacio-
modo diferente daquele que escrevemos nos aplicativos nado ao fato de as línguas variarem de acordo com o
de comunicação. Isso significa que precisamos dominar passar do tempo. O português nem sempre foi como
várias modalidades do português. é atualmente, portanto, pessoas de idades diferentes
aprenderam a falar em épocas diferentes e apresentam
Pronominais um modo de falar que reflete essa variação.
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
(Oswald ANDRADE, Obras completas,
v. 6-7. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1972.)
11
Aspectos sociais §§ formas contraídas
Exemplo: prof, med, refri, facul
A classe social à qual pertence o falante é um aspecto §§ afastamento das regras gramaticais.
que pode estar intimamente interligado ao seu grau de Exemplo: Eu vi ele.
escolaridade, ou seja, tal situação social pode influen-
§§ possibilidade de adequar o discurso de acordo
ciar a variação linguística dos falantes.
com as reações dos ouvintes.
12
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
Fonte: Youtube
Fonte: Youtube
14
OUVIR
Músicas
- Segue o seco – Marisa Monte
15
INTERDISCIPLINARIDADE
Este conto emprega uma série de termos próprios da periferia da cidade de São Paulo. Os elementos são de natu-
reza fonológica, morfológica, sintática e lexical.
Longe, hein?
É estrada, nego, é assim mesmo.
E como anda a Suzana?
A loira tá da hora.
Firmeza?
Por que a pergunta?
Saudade de ver vocês dois, porra.
Lipo, há quanto tempo a gente se conhece?
Acho que mais de dez.
Põe dez nisso, tu começou a andar comigo aos 12.
É mesmo, só de baralho temos vários.
As madrugadeiras no bar do Domingos, né?
Pode crer. Então faz mais de 15 anos, tu tá com quanto?
25.
Então tem isso não, tem uns 13.
Pode crer, Alemão, desde o dia em que te vi quis ser teu amigo.
Por quê, carái?
Porque você sempre foi o linha de frente, né?
Pode crer, mas você já demonstrava apetite.
É, mas esse carái não chega.
Vive com o carái na boca.
Piada antiga, hein, nego?
Lipo?
O quê?
Você sempre foi firmeza comigo.
Ih! Esses papos me incomodam, o que pega?
Pega nada não.
É entre você e a Suzana?
Não.
Ah!
Ah! O quê?
Nada não, parece que tá boladão.
16
Estou mesmo, tem uns papos paralelos aí.
Envolvendo quem? Posso saber?
Você mesmo. Pára com essas coisas, Alemão, o que pega?
Aquela mina lá do irmão.
Ih! Deixa isso quieto.
Por quê?
Tô a fim de falar não.
Mas temos que falar.
...
Temos que falar.
Pra que remoer?
Temos que sumariar.
Vamos parar para mijar?
Vamos.
Ah! Nada mais gostoso do que mijar.
Ainda mais nesse mato verde,queria viver aqui.
É mesmo.
É, ficar de boa, andar de cavalo, plantar uns barato''
Lipo, você comeu a mulher do cara?
Alemão, carái, você é meu irmão, guarda essa porra.
Guardo não nego, vamos ter que sumariar. Mas que carái e esse?
Sei não, sei que o cara era irmão, vai ter que sumariar.
Mas catei não.
Catou.
Catei...
Fala logo, porra.
Carái, Alemão, engatilhou o bagulho, você é meu irmão.
Irmão eu sou, só que também dos outros, você sabe o código.
Mas...
Mas o que, fala? Tá bom, eu dei um beijo.
Pára de palhaçada, carái, eu vou te assassinar.
Faz isso comigo não, Alemão, ela que me beijou.
Tu ficou lá para ser guardado, não para catar a mulher do irmão.
Mas essa vadia, eu tava no banheiro e...
Fala tudo, porra!
Eu tava tomando banho, ela entrou, tava de espartilho e o carái, eu dei um beijo.
Sinto muito, Lipo.
Fala!
É o Alemão.
E aí?
Matei meu melhor amigo, meu companheiro, só que sua mulher também vacilou.
Eu sei, vou dar um coro nela.
Não basta, eu perdi meu irmão, você vai ter que matar ela.
Mas ela tá grávida.
Foda-se, de repente nem é seu, cê sabe o código, se não pegar, a gente pega vocês.
Tá, tá bom, carái, vou pegar.
(“Pega ela”, In: Ninguém é inocente em São Paulo)
17
E.O. Aprendizagem Considere as afirmações abaixo, sobre a
construção de uma educação de qualidade.
I. Uma educação de qualidade deve, no que
1. (Ufrgs) A variação linguística é uma realida- concerne à variação linguística, questio-
de que, embora razoavelmente bem estuda- nar as reações sociais advindas da percep-
da pela sociolinguística, pela dialetologia e ção da língua como fenômeno homogêneo.
pela linguística histórica, provoca,em geral, II. O desafio, para uma educação de qualida-
reações sociais muito negativas. O senso co- de, está em preparar a escola para comba-
mum tem escassa percepção de que a língua ter a discriminação que tem origem nas
é um fenômeno heterogêneo, que alberga diferenças entre as variedades linguísti-
grande variação e está em mudança contí- cas.
nua. Por isso, costuma folclorizar a variação III. As variedades linguísticas próprias ao do-
regional; demoniza a variação social e tende mínio da leitura, escrita e fala nos espaços
a interpretar as mudanças como sinais de públicos, que devem ser ensinadas pela
eterioração da língua. O senso comum não se escola, são as que não sofreram variações
dá bem com a variação linguística e chega, sociais.
muitas vezes, a explosões de ira e a gestos Segundo o texto, quais estão corretas?
de grande violência simbólica diante de fa- a) Apenas I.
tos de variação. Boa parte de uma educação b) Apenas II.
de qualidade tem a ver precisamente com o c) Apenas I e II.
ensino de língua – um ensino que garanta o d) Apenas II e III.
domínio das práticas socioculturais de leitu- e) I, II e III.
ra, escrita e fala nos espaços públicos. E esse
domínio inclui o das variedades linguísticas
2. (Insper)
historicamente identificadas como as mais
próprias a essas práticas – isto é, as varieda- Texto I
des escritas e faladas que devem ser identifi-
cadas como constitutivas da chamada norma Barreira da língua
culta. Isso pressupõe, inclusive, uma ampla Cenário: um posto de saúde no interior do
discussão sobre o próprio conceito de norma Maranhão.
culta e suas efetivas características no Brasil – Buenos dias, señor, o que siente? – per-
contemporâneo. gunta o médico.
Parece claro hoje que o domínio dessas va- – Tô com dor no bucho, comi uma tapioca
riedades caminha junto com o domínio das reimosa, me deu um empachamento danado.
respectivas práticas socioculturais. Parece Minha cabeça ficou pinicando, deu até um
claro também, por outro lado, que não se farnizim no juízo.
trata apenas de desenvolver uma pedagogia – Butcho? Tapiôka? Empatchamiento? Pini-
que garanta o domínio das práticas sociocul- cón? Far new zeen???
turais e das respectivas variedades linguís- O trecho acima é de uma piada que circula no
ticas. Considerando o grau de rejeição social Hospital das Clínicas de São Paulo sobre as
das variedades ditas populares, parece que o dificuldades de comunicação que os médicos
que nos desafia é a construção de toda uma estrangeiros deverão enfrentar nos rincões
cultura escolar aberta à crítica da discrimi- do Brasil. (...)
nação pela língua e preparada para comba- (Claúdia Colucci, Folha de S. Paulo, 03/07/2013.)
tê-la, o que pressupõe uma adequada com-
Texto II
preensão da heterogeneidade linguística do
país, sua história social e suas característi-
No texto “Barreira da língua”, a jornalista
cas atuais. Essa compreensão deve alcançar,
Cláudia Collucci reproduz uma piada ouvi-
em primeiro lugar, os próprios educadores e,
da no Hospital das Clínicas, em São Paulo,
em seguida, os educandos.
para criticar a iniciativa do governo de abrir
Como fazer isso? Como garantir a dissemi-
a possibilidade de que médicos estrangeiros
nação dessa cultura na escola e pela escola,
venham a trabalhar no Brasil. Faltou dizer
considerando que a sociedade em que essa
duas obviedades ululantes para qualquer
escola existe não reconhece sua cara linguís-
brasileiro:
tica e não só discrimina impunemente pela
1. A maioria dos ilustres médicos que traba-
língua, como dá sustento explícito a esse
lham no Hospital das Clínicas teria tantas
tipo de discriminação? Em suma, como cons-
dificuldades quanto um estrangeiro para
truir uma pedagogia da variação linguística?
entender uma frase recheada de regiona-
Adaptado de: ZILLES, A. M; FARACO, C. A.
In: ZILLES, A. M; FARACO, C. A, Orgs., Pedagogia lismos completamente desconhecidos nas
da variação linguística: língua, diversidade rodas das classes média e alta por onde
e ensino. São Paulo: Parábola, 2015. circulam;
18
2. A quase totalidade deles não tem o menor social das variedades ditas 27populares, pare-
interesse em mudar para uma comunida- ce que o que nos 28desafia é a construção de
de carente, seja no interior do Maranhão, 29
toda uma cultura escolar aberta à crítica da
seja num vilarejo amazônico, e lá exercer 30
discriminação pela língua e preparada para
sua profissão. (...) combatê-31la, o que pressupõe 32uma adequa-
(José Cláuver de Aguiar Júnior, “Painel do da 33compreensão da 34heterogeneidade lin-
leitor”, Folha de S. Paulo, 04/07/2013) guística do país, sua história social e suas
características atuais. 35Essa compreensão
De acordo com o Texto II, os regionalismos
deve alcançar, em primeiro lugar, os próprios
usados na piada transcrita no Texto I
educadores e, em seguida, os educandos.
a) seriam de difícil compreensão para qualquer
brasileiro. Como fazer isso? Como garantir a dissemi-
b) demonstram variações geográficas e sociais nação dessa cultura na escola e pela escola,
do idioma. considerando que a sociedade em que essa
c) são imprecisos, pois são usados apenas em escola existe não reconhece sua cara linguís-
comunidades carentes. tica e não só discrimina impunemente pela
d) dificultam a comunicação apenas entre bra- língua, como dá sustento explícito a esse
sileiros e estrangeiros. tipo de discriminação? Em suma, como cons-
e) indicam que o português é falado do mesmo truir uma pedagogia da variação linguística?
modo em qualquer lugar. Adaptado de: ZILLES, A. M; FARACO, C. A.
In: ZILLES, A. M; FARACO, C. A, Orgs., Pedagogia
da variação linguística: língua, diversidade
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES e ensino. São Paulo: Parábola, 2015.
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5. (IFPE) No Brasi de Baxo isiste
O drama penoso e triste
BRASI DE CIMA E BRASI DE BAXO (Fragmento) Da negra necissidade;
Meu compadre Zé Fulô, É uma coisa sem jeito
Meu amigo e companhêro, E o povo não tem dereito
Faz quase um ano que eu tou Nem de dizê a verdade.
Neste Rio de Janêro;
Eu saí do Cariri No Brasi de Baxo eu vejo
Maginando que isto aqui Nas ponta das pobre rua
Era uma terra de sorte, O descontente cortejo
Mas fique sabendo tu De criança quage nua.
Que a miséra aqui no Su Vai um grupo de garoto
É esta mesma do Norte. Faminto, doente e roto
Mode caçá o que comê
Tudo o que procuro acho. Onde os carro põe o lixo,
Eu pude vê neste crima, Como se eles fosse bicho
Que tem o Brasi de Baxo Sem direito de vivê.
E tem o Brasi de Cima.
Brasi de Baxo, coitado! Estas pequenas pessoa,
É um pobre abandonado; Estes fio do abandono,
O de Cima tem cartaz, Que veve vagando à toa
Um do ôtro é bem deferente: Como objeto sem dono,
Brasi de Cima é pra frente, De manêra que horroriza,
Brasi de Baxo é pra trás.
Deitado pela marquiza,
Dromindo aqui e aculá
Aqui no Brasil de Cima,
No mais penoso relaxo,
Não há dô nem indigença,
É deste Brasi de Baxo
Reina o mais soave crima
A crasse dos Marginá.
De riqueza e de opulença;
Só se fala de progresso,
Riqueza e novo processo Meu Brasi de Baxo, amigo,
De grandeza e produção. Pra onde é que você vai?
Porém, no Brasi de Baxo Nesta vida do mendigo
Sofre a feme e sofre o macho Que não tem mãe nem tem pai?
A mais dura privação. Não se afrija, nem se afobe,
O que com o tempo sobe,
Brasi de cima festeja O tempo mesmo derruba;
Com orquestra e com banquete, Tarvez ainda aconteça
De uísque dréa e cerveja Que o Brasi de Cima desça
Não tem quem conte os rodete. E o Brasi de Baxo suba.
Brasi de baxo, coitado! [...]
Vê das casa despejado (ASSARÉ, Patativa do. Melhores poemas. Seleção de
Home, menino e muié Cláudio Portella. São Paulo: Global, 2006. p. 329-332)
Sem achá onde morá
Ao observar a variedade linguística e o nível
Proque não pode pagá
de linguagem utilizados no poema, é correto
O dinhêro do alugué.
caracterizar o eu lírico como
No Brasi de Cima anda a) um cidadão escolarizado que vive em um
As trombeta em arto som grande centro urbano, pois utiliza muitas
Ispaiando as propaganda gírias.
De tudo aquilo que é bom.
b) uma pessoa idosa porque, no vocabulário
No Brasi de Baxo a fome
utilizado, aparecem palavras ou expressões
Matrata, fere e consome
que remetem a uma variação histórica.
Sem ninguém lhe defendê;
c) um cidadão sertanejo pouco escolarizado, já
O desgraçado operaro
que sua linguagem guarda singularidades re-
Ganha um pequeno salaro
gionais e se distancia do registro culto.
Que não dá pra vivê.
d) um cidadão escolarizado que faz uso de um
vocabulário técnico com o objetivo de ser
Inquanto o Brasi de cima compreendido pelo grupo do qual faz parte.
Fala de transformação, e) um estudante que utiliza a variedade colo-
Industra, matéra-prima, quial da língua a fim de criticar a sociedade
Descobertas e invenção, na qual está inserido.
20
6. (Epcar(Afa)) A MAÇÃ DE OURO d) “Na semana passada, a Apple alcançou o
cume. Tornou-se a companhia de tecnologia
A Apple supera a Microsoft em valor de mer- mais valiosa do mundo, superando a Micro-
cado, premiando o espírito visionário e li-
soft.” (ref. 3)
bertário de Steve Jobs
A Microsoft e a Apple vieram ao mundo pra-
ticamente ao mesmo tempo, em meados dos 7. (Fac. Albert Einstein)
anos 1970, criadas na garagem de jovens es-
Trecho A
tudantes. Mas as empresas não trilharam ca-
Todavia, importa dizer que este livro é es-
minhos paralelos. A Microsoft desenvolveu o
crito com pachorra, com a pachorra de um
sistema operacional mais popular do mundo e
homem já desafrontado da brevidade do sé-
rapidamente se tornou uma das maiores cor-
culo, obra supinamente filosófica, de uma
porações americanas, rivalizando com gigan-
filosofia desigual, agora austera, logo brin-
tes da velha indústria. A Apple, ao contrário,
calhona, coisa que não edifica nem destrói,
demorou a decolar. Fazia produtos inovado-
não inflama nem regela, e é todavia mais do
res, mas que vendiam pouco. Isso começou a
que passatempo e menos do que apostolado.
mudar quando Steve Jobs, um de seus funda-
dores, que fora afastado nos anos 80, assumiu Trecho B
o comando criativo da empresa, em 1996. A Tu tens pressa de envelhecer, e o livro anda
Apple estava à beira da falência e só ganhou devagar; tu amas a narração direta e nutri-
sobrevida porque recebeu um aporte de 150 da, o estilo regular e fluente, e este livro e
milhões de dólares de Microsoft. Jobs iniciou o meu estilo são como os ébrios, guinam à
o lançamento de produtos genuinamente re- direita e à esquerda, andam e param, res-
volucionários nas áreas que mais crescem na mungam, urram, gargalham, ameaçam o céu,
indústria de tecnologia. Primeiro com o iPod escorregam e caem.
e a loja virtual iTunes. Depois vieram o iPho-
ne e, agora, o iPad. Desde o início de 2005, Os trechos acima, do romance Memórias Pós-
o preço das ações da empresa foi multipli-
tumas de Brás Cubas, de Machado de Assis,
cado por oito. 3Na semana passada, a Apple
apresentam, ambos, dominantemente lin-
alcançou o cume. Tornou-se a companhia de
tecnologia mais valiosa do mundo, superan- guagem de idêntica função, ou seja,
do a Microsoft. Na sexta-feira, a empresa de a) Metalinguística, por explicitar os conteúdos
Jobs tinha valor de mercado de 233 bilhões do livro e explicar a forma de produção de
de dólares, contra 226 bilhões de dólares da seu estilo.
companhia de Bill Gates. b) Conativa, por incidir persuasivamente sobre
2
A Marca, para além da disputa pessoal entre o leitor e convencê-lo da verdade da obra.
os maiores gênios da nova economia, coroa a c) Poética, por usar significativo processo de
estratégia definida por Jobs. Quando ele re- seleção e de combinação das palavras, carac-
tornou à Apple, tamanha era a descrença no terizando a montagem estética do texto.
futuro da empresa que Michael Dell, funda- d) Referencial, por informar dominantemente
dor da Dell, afirmou que o melhor a fazer era sobre a filosofia do livro e os movimentos
fechar as portas e devolver o dinheiro a seus
pachorrentos do autor.
acionistas. Hoje, a Dell vale um décimo da
Apple. 1O mérito de Jobs foi ter a presciência
do rumo que o mercado tomaria. 8. (Puccamp) Observe as duas faces do impres-
BARRUCHO, Luís Guilherme & TSUBOI, Larissa. A maçã de so abaixo reproduzido, à disposição num
ouro. In: Revista Veja, 02 de jun. 2010, p.187. Adaptado. consultório de dermatologia.
21
9. (IFSP) Observe o texto adaptado abaixo.
22
1
0. (UEL) Ecoavam-lhe ainda no ouvido, como um do-
bre fúnebre, aquelas palavras de uma veraci-
Texto I
dade brutal, e de uma rudez pungente: “Di-
zem até que está amigado!”
Foi na estância dos Lagoões, duma gente Sil-
va, uns Silvas mui políticos, sempre metidos Amigado, o Aleixo! Amigado, ele que era
em eleições e enredos de qualificações de todo seu, que lhe pertencia como o seu pró-
votantes. prio coração: ele, que nunca lhe falara em
A estância era como aqui e o arroio como a mulheres, que dantes era tão ingênuo, tão
umas dez quadras; lá era o banho da família. dedicado, tão bom!... Amigar-se, viver com
Fazia uma ponta, tinha um sarandizal e logo uma mulher, sentir o contacto de outro cor-
era uma volta forte, como uma meia-lua, po que não o seu, deixar-se beijar, morder,
onde as areias se amontoavam formando um nas ânsias do gozo, por outra pessoa que não
baixo: o perau era do lado de lá. O mato aí ele, Bom-Crioulo!...
parecia plantado de propósito: era quase que Agora é que tinha um desejo enorme, uma
pura guabiroba e pitanga, araçá e guabiju; sofreguidão louca de vê-lo, rendido, a seus
no tempo, o chão coalhava-se de fruta: era pés, como um animalzinho; agora é que lhe
um regalo! renasciam ímpetos vorazes de novilho solto,
Já vê... o banheiro não era longe, podia-se incongruências de macho em cio, nostalgias
bem ir lá, de a pé, mas a família ia sempre de libertino fogoso... As palavras de Hercu-
de carretão, puxado a bois, uma junta, mui lano (aquela história do grumete com uma
mansos, governados de regeira por uma das rapariga) tinham-lhe despertado o sangue,
senhoras-donas e tocados com uma rama por fora como uma espécie de urtiga brava ar-
qualquer das crianças.
ranhando-lhe a pele, excitando-o, enfure-
Eram dois pais da paciência, os dois bois. Um
cendo-o de desejo. Agora sim, fazia ques-
se chamava Dourado, era baio; o outro, Cabi-
tão! E não era somente questão de possuir
úna, era preto, com a orelha do lado de laçar
o grumete, de gozá-lo como outrora, lá cima,
branca, e uma risca na papada.
Estavam tão mestres naquele piquete, que, no quartinho da Rua da Misericórdia: – era
quando a família, de manhãzita, depois da questão de gozá-lo, maltratando-o, vendo-o
jacuba de leite, pegava a aprontar-se, que a sofrer, ouvindo-o gemer... Não, não era so-
criançada pulava para o terreiro ainda mas- mente o gozo comum, a sensação ordinária,
tigando um naco de pão e as crioulas apa- o que ele queria depois das palavras de Her-
reciam com as toalhas e por fim as senho- culano: era o prazer brutal, doloroso, fora de
ras-donas, quando se gritava pelo carretão, todas as leis, de todas as normas... E havia
já os bois havia muito tempo que estavam de tê-lo, custasse o que custasse!
encostados no cabeçalho, remoendo muito Decididamente ia realizar o seu plano de
sossegados, esperando que qualquer peão os fuga essa noite, ia desertar pelo mundo à
ajoujasse. procura de Aleixo.
(LOPES NETO, Simões. Contos gauchescos. Porto Inquieto, sobre-excitado, nervoso, pôs-se a
Alegre: Artes e Ofícios, 2008. p. 65-66.)
meditar. O grumete aparecia-lhe com uma
feição nova, transfigurado pelos excessos
Texto II do amor, degenerado, sem aquele arzinho
O tempo fecha. bisonho que todos lhe admiravam, o rosto
Sou fiel aos acontecimentos biográficos. áspero, crivado de espinhas, magro, sem cor,
Mais do que fiel, oh, tão presa! Esses mosqui- sem sangue nos lábios... Pudera! Um homem
tos que não largam! Minhas saudades ensurde- não resiste, quanto mais uma criança! Aleixo
cidas por cigarras! O que faço aqui no campo devia de estar muito acabado; via-o nos bra-
declamando aos metros versos longos e sen- ços da amante, da tal rapariga - ele novo, ela
tidos? Ah que estou sentida e portuguesa, e mocinha, na flor dos vinte anos –, via-o rolar
agora não sou mais, veja, não sou mais severa em espasmos luxuriosos, grudado à mulher,
e ríspida: agora sou profissional. sobre uma cama fresca e alva – rolar e cair
(CESAR, Ana Cristina. A teus pés. 6. ed. São extenuado, crucificado, morto de fraqueza...
Paulo: Editora Brasiliense, s/d. p. 9.)
Depois a rapariga debruçava-se sobre ele,
juntava boca à boca num grande beijo de re-
Texto III conhecimento. E no dia seguinte, na noite
seguinte, a mesma cousa.
Bom-Crioulo não pensou em dormir, (CAMINHA, Adolfo. Bom-Crioulo. São
cheio, como estava, de ódio e desespero. Paulo: Ediouro, s/d. p. 73-74.)
23
Texto IV
E.O. Fixação
Mas quando todas as luzes da península se
apagaram ao mesmo tempo, apagón lhe cha-
maram depois em Espanha, negrum numa 1. (Epcar) MULHER BOAZINHA
aldeia portuguesa ainda inventora de pala- (Martha Medeiros)
vras, quando quinhentos e oitenta e um mil
Qual o elogio que uma mulher adora receber?
quilómetros quadrados de terras se torna-
Bom, se você está com tempo, pode-se listar
ram invisíveis na face do mundo, então não
houve mais dúvidas, o fim de tudo chegara. aqui uns setecentos: mulher adora que ver-
Valeu a extinção total das luzes não ter du- balizem seus atributos, sejam eles físicos ou
rado mais do que quinze minutos, até que morais.
se completaram as conexões de emergência Diga que ela é uma mulher inteligente, e ela
que punham em acção os recursos energéti- irá com a sua cara.
cos próprios, nesta altura do ano escassos, Diga que ela tem um ótimo caráter e um cor-
pleno verão, Agosto pleno, seca, míngua das po que é uma provocação, e ela decorará o
albufeiras, escassez das centrais térmicas, as seu número.
nucleares malditas, mas foi verdadeiramente Fale do seu olhar, da sua pele, do seu sorriso,
o pandemónio peninsular, os diabos à solta, da sua presença de espírito, da sua aura de
o medo frio, o aquelarre, um terramoto não mistério, de como ela tem classe: ela achará
teria sido pior em efeitos morais. Era noite, você muito observador e lhe dará uma cópia
o princípio dela, quando a maioria das pes- da chave de casa.
soas já recolheram a casa, estão uns sentados Mas não pense que o jogo está ganho: man-
a olhar a televisão, nas cozinhas as mulheres ter o cargo vai depender da sua perspicácia
preparam o jantar, um pai mais paciente en- para encontrar novas qualidades nessa mu-
sina, incerto, o problema de aritmética, pa- lher poderosa, absoluta. Diga que ela cozinha
rece que a felicidade não é muita, mas logo melhor que a sua mãe, que ela tem uma voz
se viu quanto afinal valia, este pavor, esta que faz você pensar obscenidades, que ela é
escuridão de breu, este borrão de tinta caído um avião no mundo dos negócios.
sobre a Ibéria, Não nos retires a luz, Senhor,
Fale sobre sua competência, seu senso de
faz que ela volte, e eu te prometo que até ao
oportunidade, seu bom gosto musical.
fim da minha vida não te farei outro pedido,
Agora quer ver o mundo cair?
isto diziam os pecadores arrependidos, que
Diga que ela é muito boazinha.
sempre exageram.
(SARAMAGO, José. A jangada de pedra. São Paulo: Descreva aí uma mulher boazinha.
Companhia das Letras, 1988. p.35-36.) Voz fina, roupas pastel, calçados rente ao
chão.
Considere as afirmativas a seguir, relativas Aceita encomendas de doces, contribui para
aos textos I, II, III e IV.
a igreja, cuida dos sobrinhos nos finais de
I. O texto I exemplifica a presença de ex-
semana.
pressões próprias da oralidade no texto
Disponível, serena, previsível, nunca foi vis-
literário, o que se comprova em “já vê...”
ta negando um favor.
e “de a pé”.
Nunca teve um chilique.
II. No texto II, a presença da oralidade em
“[...] Minhas saudades ensurdecidas por Nunca colocou os pés num show de rock.
cigarras! [...]” é um recurso típico do mo- É queridinha.
dernismo português. Pequeninha.
III. O texto III é um exemplo de variante his- Educadinha.
tórica, pois traz marcas da norma padrão Enfim, uma mulher boazinha.
do português utilizado no Brasil do século Fomos boazinhas por séculos.
XIX, como se nota em “cousa”. Engolíamos tudo e fingíamos não ver nada,
IV. No texto IV, os vocábulos “quilómetros” ceguinhas.
e “acção” são marcas do português euro- Vivíamos no nosso mundinho, rodeadas de
peu, uma das variantes da língua portu- panelinhas e nenezinhos.
guesa. A vida feminina era esse frege: bordados,
Assinale a alternativa correta. paredes brancas, crucifixo em cima da cama,
a) Somente as afirmativas I e II são corretas. tudo certinho.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas. Passamos um tempão assim, comportadi-
c) Somente as afirmativas III e IV são corretas. nhas, enquanto íamos alimentando um de-
d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas. sejo incontrolável de virar a mesa.
e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas. Quietinhas, mas inquietas.
24
Até que chegou o dia em que deixamos de Terra!
ser as coitadinhas. És o mais bonito dos planetas
Ninguém mais fala em namoradinhas do Tão te maltratando por dinheiro
Brasil: somos atrizes, estrelas, profissionais. Tu que és a nave nossa irmã
Adolescentes não são mais brotinhos: são
Canta!
garotas da geração teen.
Leva tua vida em harmonia
Ser chamada de patricinha é ofensa mortal. E nos alimenta com seus frutos
Pitchulinha é coisa de retardada. Tu que és do homem, a maçã
Quem gosta de diminutivos, definha.
Ser boazinha não tem nada a ver com ser ge- Vamos precisar de todo mundo
nerosa. Um mais um é sempre mais que dois
Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo. Pra melhor juntar as nossas forças
As boazinhas não têm defeitos. É só repartir melhor o pão
Não têm atitude. Recriar o paraíso agora
Conformam-se com a coadjuvância. Para merecer quem vem depois
PH neutro. Deixa nascer, o amor
Ser chamada de boazinha, mesmo com a me- Deixa fluir, o amor
lhor das intenções, é o pior dos desaforos. Deixa crescer, o amor
Mulheres bacanas, complicadas, batalhado- Deixa viver, o amor
ras, persistentes, ciumentas, apressadas, é O sal da terra
isso que somos hoje. GUEDES, Beto. Disponível em: www.mundojovem.com.br/
musicas/o-sal-da-terra-beto-guedestransito.
Merecemos adjetivos velozes, produtivos,
Acesso em: 18/04/2016.
enigmáticos.
As “inhas” não moram mais aqui. Assinale a opção que contém uma informa-
Foram para o espaço, sozinhas. ção correta sobre a canção “O Sal da Terra”.
(Disponível em: http://pensador.uol.com.br/ a) A função apelativa é predominante no texto.
frase/NTc1ODIy. Acesso em 28/03/14) b) Apenas a linguagem padrão foi empregada
em toda a canção.
Há, no texto, o predomínio da variante co-
c) Foi utilizado, no texto, apenas pronome de
loquial da língua. O único trecho abaixo que
segunda pessoa gramatical para se referir à
NÃO corrobora com essa afirmativa é:
Terra.
a) “Nunca teve um chilique.” d) A canção foi escrita apenas para dois inter-
b) “Descreve aí uma mulher boazinha.” locutores: a Terra e o Tempo.
c) “Pitchulinha é coisa de retardada.”
d) “Ser boa é bom, ser boazinha é péssimo.”
3. (Puccamp)
Anda! CAPÍTULO 8
Quero te dizer nenhum segredo AS EXTREMIDADES
Falo desse chão, da nossa casa
Vem que tá na hora de arrumar 8.4 OS PÉS
25
Texto II Vai um sujeito,
Sai um sujeito de casa com a roupa de brim
RECEITA DE ARROZ-DOCE TRADICIONAL branco
INGREDIENTES [muito bem engomada, e na primeira esqui-
1 litro e meio de leite na passa um
2 xícaras de arroz branco (já lavado) [caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de
3 xícaras de açúcar uma nódoa de lama:
Canela em pau (uso e quantidade a gosto)
É a vida
1 lata de leite condensado O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero
MODO DE PREPARO [...]
Cozinhar o arroz no leite, juntamente com a
canela. Texto II
20 minutos depois, mexer de tempos em A característica da oralidade radiofônica,
tempos, acrescentar o açúcar, deixar mais então, seria aquela que propõe o diálogo
20 minutos e logo em seguida acrescentar o com o ouvinte: a simplicidade, no sentido da
leite condensado e deixar mais 20 minutos. escolha lexical; a concisão e coerência, que
Colocar em uma linda travessa. se traduzem em um texto curto, em lingua-
Levando em conta os gêneros dos textos, é gem coloquial e com organização direta; e o
correto afirmar: O texto I e o texto II ritmo, marcado pelo locutor, que deve ser o
a) têm como objetivo sugerir ao leitor a reali- mais natural (do diálogo). É esta organiza-
zação de uma tarefa, apresentando o passo ção que vai “reger” a veiculação da mensa-
a passo da atividade; em ambos os casos, o gem, seja ela interpretada ou de improviso,
executor não tem espaço para livre escolha. com objetivo de dar melodia à transmissão
b) distinguem-se totalmente: a) pela intenção oral, dar emoção, personalidade ao relato de
da mensagem − I busca informar o interlo- fato.
cutor acerca de cuidados com a saúde da (VELHO, A. P. M. A linguagem do rádio multimídia.
criança, a receita, simples indicação de uma Disponível em: www.bocc.ubi.pt. Acesso em 15/01/2017)
fórmula, mostra como preparar um alimento;
b) pela composição da mensagem − I admite Encontramos nos textos I e II, respectiva-
ilustração, a receita não admitiria. mente, as funções
c) não podem ser aproximados sob nenhum cri- a) conotativa e fática.
tério, pois, fazendo parte de universos ab- b) metalinguística e referencial.
solutamente distintos − como o comprovam c) emotiva e referencial.
tanto o assunto de cada um, quanto o estilo d) fática e conotativa.
adotado em cada um deles −, jamais estarão e) poética e conotativa.
inseridos em contextos comunicativos iguais
ou somente parecidos. 5. (IFCE) Leia os textos abaixo e indique a
d) apresentam traços distintos em sua com- alternativa que contém, respectivamente, a
posição, como se nota pelo emprego do im- classificação correta quanto à função da lin-
perativo (em I) e do infinitivo (na receita); guagem neles predominante.
entretanto, essa específica diferença não im-
pede o reconhecimento de que partilham a Texto I
mesma finalidade de instruir o receptor. “Entendo que poesia é negócio de grande
e) implicam obrigatoriedade do interlocutor em responsabilidade, e não considero honesto
cumprir o que está minuciosamente descrito rotular-se de poeta quem apenas verseje por
em cada um dos textos, mas distinguem-se: dor de cotovelo, falta de dinheiro ou mo-
em I, a prática vem investida de caráter lú- mentânea tomada de contato com as forças
dico, pelo tipo específico de destinatário da líricas do mundo, sem se entregar aos tra-
mensagem, enquanto a receita remete a ati- balhos cotidianos e secretos da técnica, da
vidade rotineira e desgastante. leitura, da contemplação e mesmo da ação.
Até os poetas se armam, um poeta desarma-
4. (IFCE) Leia os textos a seguir. do é, mesmo, um ser à mercê de inspirações
fáceis, dócil às modas e compromissos.”
Texto I
(Carlos Drummond de Andrade)
Nova Poética
Texto II
Manuel Bandeira
“Quando criança, e depois adolescente, fui
Vou lançar a teoria do poeta sórdido. precoce em muitas coisas. Em sentir um am-
Poeta sórdido: biente, por exemplo, em apreender a atmos-
Aquele em cuja poesia há a marca suja da fera íntima de uma pessoa. Por outro lado,
vida. longe de precoce, estava em incrível atraso
26
em relação a outras coisas importantes. Con- sempre desiguais.
tinuo, aliás, atrasada em muitos terrenos. E queremos ser
Nada posso fazer: parece que há em mim um bonzinhos benévolos
lado infantil que não cresce jamais”. comedidamente
(Clarice Lispector) sociologicamente
mui bem comportados.
Texto III Mas, favela, ciao,
que este nosso papo
está ficando tão desagradável.
vês que perdi o tom e a empáfia do começo?
...
(ANDRADE, Carlos Drummond de, Corpo.
Rio de Janeiro: Record. 1984)
27
ficar feliz. Novamente Lopes explica por quê: Uma boa gargalhada é um método ótimo de
“O indivíduo mal-humorado fica angustiado, relaxamento muscular. Isso ocorre porque os
o que provoca a liberação no corpo de hor- músculos não envolvidos no riso tendem a
mônios como a adrenalina. Isso causa palpi- se soltar – está aí a explicação para quando
tação, arritmia cardíaca, mãos frias, dor de as pernas ficam bambas de tanto rir ou para
cabeça, dificuldades na digestão e irritabi- quando a bexiga se esvazia inadvertidamen-
lidade”. A vítima acaba maltratando os ou- te depois daquela piada genial. Quando a
tros porque não está bem, sente-se culpada e
risada acaba, o que surge é uma calmaria ge-
fica com um humor pior ainda. Essa situação
ral. Além disso, se é certo que a tristeza aba-
pode ser desencadeada por pequenas tragé-
la o sistema imunológico, sabe-se também
dias cotidianas – como um trabalho inaca-
bado ou uma conta para pagar –, que só são que a endorfina, liberada durante o riso,
trágicas porque as encaramos desse modo. melhora a circulação e a eficácia das defesas
Evidentemente, nem sempre dá para achar do organismo. A alegria também aumenta a
graça em tudo. Há situações em que a tris- capacidade de resistir à dor, graças também
teza é inevitável – e é bom que seja assim. à endorfina.
“Você precisa de tristeza e de alegria para Evidências como essa fundamentam o traba-
ter um convívio social adequado”, diz o psi- lho dos Doutores da Alegria, que já visitaram
quiatra Teng Chei Tung, do Hospital das Clí- 170.000 crianças em hospitais. As invasões
nicas de São Paulo. “A alegria favorece a in- de quartos e UTIs feitas por 25 atores ves-
tegração e a tristeza propicia a introspecção tidos de “palhaços-médicos” não apenas
e o amadurecimento.” Temos de saber lidar aceleram a recuperação das crianças, mas
com a flutuação entre esses estágios, que é motivam os médicos e os pais. A psicóloga
necessária e faz parte da natureza humana. Morgana Masetti acompanha os Doutores há
O humor pode variar da depressão (o extre- sete anos. “É evidente que o trabalho dimi-
mo da tristeza) até a mania (o máximo da
nui a medicação para os pacientes”, diz ela.
euforia). Esses dois estados são manifesta-
O princípio que torna os Doutores da Alegria
ções de doenças e devem ser tratados com a
ajuda de psiquiatras e remédios que regulam engraçados tem a ver com a flexibilidade de
a produção de substâncias no cérebro. Uma pensamento defendida pelos especialistas
em cada quatro pessoas tem, durante a vida, em humor – aquela ideia de ver as coisas
pelo menos um caso de depressão que mere- pelo lado bom. “O clown não segue a lógica
ceria tratamento psiquiátrico. à qual estamos acostumados”, diz Morgana.
Enquanto as consequências deletérias do “Ele pode passar por um balcão de enferma-
mau humor são estudadas há décadas, não gem e pedir uma pizza ou multar as macas
faz muito tempo que a comunidade científi- por excesso de velocidade.” Para se tornar
ca passou a pesquisar os efeitos benéficos do um membro dos Doutores da Alegria, o ator
bom humor. O interesse no assunto surgiu há passa num curioso teste de autoconheci-
vinte anos, quando o editor norte-americano mento: reconhece o que há de ridículo em si
Norman Cousins publicou o livro Anatomia mesmo e ri disso. “Um clown não tem medo
de uma Doença, contando um impressionan- de errar – pelo contrário, ele se diverte com
te caso de cura pelo riso. Nos anos 60, ele isso”, diz Morgana. Nem é preciso mencionar
contraiu uma doença degenerativa que ata-
quanto mais de saúde haveria no mundo se
ca a coluna vertebral, chamada espondilite
todos aprendêssemos a fazer o mesmo.
ancilosa, e sua chance de sobreviver era de
(Disponível em: super.abril.com.br/saúde/bom-humor-faz-
apenas uma em quinhentas.
bem-saude-441550.shtml. Acesso em: 11 de abril de 2015.)
Em vez de ficar no hospital esperando para
virar estatística, ele resolveu sair e se hos- Assinale a alternativa que associa correta-
pedar num hotel das redondezas, com au- mente o trecho do texto à função da lingua-
torização dos médicos. Sob os atentos olhos gem em predominância.
de uma enfermeira, com quase todo o cor-
a) “Procure ver o lado bom das coisas ruins.” –
po paralisado, Cousins reunia os amigos
(Função Emotiva)
para assistir a programas de “pegadinhas”
b) “Um indivíduo bem-humorado sofre menos
e seriados cômicos na TV. Gradualmente foi
se recuperando até poder voltar a viver e a porque produz mais endorfina...” – (Função
trabalhar normalmente. Cousins morreu em Conativa)
1990, aos 75 anos. Se Cousins saiu do hos- c) “Agora você se interessou, né?” – (Função
pital em busca do humor, hoje há muitos Fática)
profissionais de saúde que defendem a en- d) “Nos anos 60, ele contraiu uma doença de-
trada das risadas no dia a dia dos pacientes generativa que ataca a coluna vertebral ...”
internados. – (Função Expressiva)
28
8. (IFPE) Responda à questão com base na tirinha abaixo.
No último balão da tirinha de Maurício de Sousa, o autor escreveu “mais” em vez de “mas” na
tentativa de representar, na escrita, a forma como a personagem Chico Bento, supostamente,
pronunciaria a conjunção adversativa. Existem diversas formas e níveis de variação linguística,
justamente porque somos influenciados por diversos fatores, tais como: região, escolaridade, faixa
etária, contexto comunicativo, papel social etc.
Com base nesses pressupostos, assinale a alternativa que representa uma variante linguística ca-
racterística do falar popular mineiro.
a) “Aquele fi duma égua só me deixou aperreado”.
b) “Protesto, meritíssimo! A testemunha não havia falado da agressão.”
c) “Capaz, guri! Só tava de bobeira contigo, bagual!”
d) “Uai? Cê já chegô, sô? Peraí, que eu já tô saíno!”
e) “Aquela mina é firmeza, mano!”
29
Mas o sarrabulho me embriaga a) O verso “Nós vamos se balançar” (Texto 1,
Mergulho na onda vaga linha 6) apresenta um exemplo da modalida-
E eu caio na rede, de culta da língua, revelada no emprego dos
Não tem quem não caia pronomes.
E eu caio na rede, b) No verso “A rede veia comeu foi fogo” (Texto
Não tem quem não caia 1, linha 7), a grafia da palavra sublinhada
Às vezes eu penso que sai dos teus olhos o procura reproduzir pronúncia comum em
feixe algumas regiões do Brasil (veia por velha),
De raios que controla a onda cerebral do peixe que exemplifica uma variação fonética.
c) Em: “E eu caio na rede / Não tem quem não
Nenhuma rede é maior do que o mar caia” (Texto III, linhas 11 – 12), o emprego
Nem quando ultrapassa o tamanho da Terra do verbo ter é marca do registro culto da
Nem quando ela acerta, língua, utilizado preferencialmente na mo-
Nem quando ela erra dalidade escrita.
Nem quando ela envolve todo o Planeta
d) Em: “Vai ter presente pra Chiquinha” (Texto
Explode e devolve pro seu olhar II, linha 12), o nome “Chiquinha” exemplifi-
O tanto de tudo que eu tô pra te dar ca o uso do registro informal, utilizado, so-
Se a rede é maior do que o meu amor bretudo, em documentos oficiais e sermões
Não tem quem me prove religiosos.
Se a rede é maior do que o meu amor e) No verso: “Posso até adivinhar a cara que
Não tem quem me prove ela faz” (Texto IV, linha 16) a palavra cara
Disponível em: http://www.lenine.com.br/faixa/a-rede-1 exemplifica uma variação de registro linguís-
Acessado em: 02 ago 2011. tico predominante em situações formais.
TEXTO IV
Nina 10. (ITA) Gosto de olhar as capas das revistas
populares no supermercado nestes tempos
Chico Buarque
de corrida do ouro da classe C. A classe C é
Nina diz que tem a pele cor de neve uma versão sem neve e de biquíni do Yukon
E dois olhos negros como o breu do tio Patinhas quando jovem pato. Lembro
Nina diz que, embora nova do futuro milionário disneyano enfrentando
Por amores já chorou a nevasca paraobter suas primeiras patacas.
Que nem viúva Era preciso conquistar aquele território com
Mas acabou, esqueceu a mesma sofreguidão com que se busca, ago-
Nina adora viajar, mas não se atreve ra, fincar a bandeira do consumo no seio dos
Num país distante como o meu emergentes brasileiros.
Nina diz que fez meu mapa Em termos jornalísticos, é sempre aquela
E no céu o meu destino rapta concepção de não oferecer o biscoito fino
O seu para a massa. É preciso dar o que a classe C
quer ler – ou o que se convencionou a pensar
Nina diz que se quiser eu posso ver na tela que ela quer ler. Daí as políticas de didatis-
A cidade, o bairro, a chaminé da casa dela mo nas redações, com o objetivo de deixar
Posso imaginar por dentro a casa o texto mastigado para o leitor e tornar es-
A roupa que ela usa, as mechas, a tiara
tanque a informação dada ali. Como se não
Posso até adivinhar a cara que ela faz
fosse interessante que, ao não compreender
Quando me escreve
algo, ele fosse beber em outras fontes. 1Hoje,
Nina anseia por me conhecer em breve com a Internet, é facílimo, está ao alcance
Me levar para a noite de Moscou da vista de quase todo mundo.
Sempre que esta valsa toca Outro aspecto é seguir ao pé da letra o que
Fecho os olhos, bebo alguma vodca dizem as pesquisas na hora de confeccionar
E vou uma revista popular. Tomemos como exem-
Disponível em: http://www.chicobuarque.com.br/
plo a pesquisa feita por uma grande editora
construcao/mestre.asp?pg=nina_2011.htm
Acessado em: 02 ago 2011. sobre “a mulher da classe C” ou “nova classe
média”. Lá, ficamos sabendo que: a mulher
9. (Uff) Uma língua varia em função de aspec- da classe C vai consumir cada vez mais ar-
tos sociais, localização geográfica e uso de tigos de decoração e vai investir na reforma
diferentes registros, ligados às situações de de casa; que ela gasta muito com beleza, so-
comunicação. bretudo o cabelo; que está preocupada com
Marque a alternativa que analisa correta- a alimentação; e que quer ascender social
mente a ocorrência de variação linguística e profissionalmente. É com base nestes nú-
nos textos. meros que 2a editora oferece o produto – a
30
revista – ao mercado de anunciantes. Nor- Gostaria de ler reportagens nas revistas para
mal. a classe C alertando os pais para que vejam
Mas no que se transformam, para o leitor, menos televisão e convivam mais com os
estes dados? Preocupação com alimentação? filhos. Que falassem da necessidade de ti-
Dietas amalucadas? A principal chamada de rar as crianças do computador e de levá-las
capa destas revistas é alguma coisa esdrúxu- para passear ao ar livre. Que tivessem dicas
la como: “perdi 30 kg com fibras naturais”, de livros, notícias sobre o mundo, ciências,
“sequei 22 quilos com cápsulas de centelha artes – é possível transformar tudo isso em
asiática”, “emagreci 27 kg com florais de informação acessível e não apenas para co-
Bach e colágeno”, “fiquei magra com a dieta nhecedores, como se a cultura fosse patri-
da aveia” ou “perdi 20 quilos só comendo mônio das classes A e B. Gostaria, enfim, de
linhaça”. Pelo amor de Deus, quem é que vai ver revistas populares que fossem feitas para
passar o dia comendo linhaça? 3Estão con- ler de verdade, e que fizessem refletir. Mas
fundindo a classe C com passarinho, só pode. a quem interessa que a classe C tenha suas
Quer reformar a casa? Nada de dicas de de- próprias ideias?
coração baratas e de bom gosto. O objetivo é (Cynara Menezes, 15/07/2011, em: http://www.
ensinar como tomar empréstimo e comprar cartacapital.com.br/politica/o-que-quer-a-classe-c)
móveis em parcelas. Ou então alguma coisa
“criativa” que ninguém vai fazer, 4tipo uma Das opções abaixo, a única que não apresen-
parede toda de filtros de café usados. Juro ta linguagem informal é
que li isso. A parte de ascensão profissional a) Hoje, com a Internet, é facílimo, está ao al-
vem em matérias como “fiquei famosa ven- cance da vista de quase todo mundo. (ref.1)
dendo bombons de chocolate feitos em casa” b) [...] a editora oferece o produto – a revista –
ou “lucro 2500 reais por mês com meus do- ao mercado de anunciantes. Normal. (ref.2)
ces”. Falar das possibilidades de voltar a es- c) Estão confundindo a classe C com passari-
tudar, de ter uma carreira ou se especializar nho, só pode. (ref.3)
para ser promovido no trabalho? Nada. 5Di- d) [...] tipo uma parede toda de filtros de café
cas culturais de leitura, filmes, música, en- usados. [...]. (ref.4)
tão, nem pensar. e) Dicas culturais de leitura, filmes, música,
Cada vez que vejo pesquisas dizendo que a então, nem pensar. (ref.5)
mídia impressa está em baixa penso nestas
revistas. A internet oferece grátis à classe
C um cardápio ainda pobre, mas bem mais E.O. Complementar
farto. Será que a nova classe média quer
realmente ler estas revistas? A vendagem 1. (Epcar)
delas é razoável, mas nada impressionante.
São todas inspiradas nas revistas populares RETRATO
inglesas, cuja campeã é a “Take a Break”. A Eu não tinha este rosto de hoje,
fórmula é a mesmade uma “Sou + Eu”: die- Assim calmo, assim triste, assim magro,
tas, histórias reais de sucesso ou escabrosas
Nem estes olhos tão vazios,
e distribuição de prêmios. Além deste tipo
Nem o lábio amargo
de abordagem também fazem sucesso as pu-
Eu não tinha estas mãos sem força,
blicações de fofocas de celebridades ou sobre
Tão paradas e frias e mortas;
programas de TV – aqui, as novelas.
Eu não tinha este coração
Sei que deve ser utopia, mas gostaria de
Que nem se mostra.
ver publicações para a classe C que ensinas-
Eu não dei por esta mudança,
sem as pessoas a se alimentar melhor, que
Tão simples, tão certa, tão fácil:
mostrassem como a obesidade anda perigo-
– em que espelho ficou perdida
sa no Brasil porque se come mal. Atacando,
a minha face?
inclusive, refrigerantes, redes de fast food
(MEIRELES, Cecília. Obra Poética de Cecília
e guloseimas, sem se preocupar em perder
Meireles. Rio de Janeiro: José Aguilar, 1958.)
anunciantes. Que priorizassem não as die-
tas, mas a educação alimentar e a importân- ENVELHECER
cia de fazer exercícios e de levar uma vida (Arnaldo Antunes/Ortinho/Marcelo Jeneci)
saudável. Gostaria de ver reportagens ensi-
nando as mulheres da classe C a se sentirem A coisa mais moderna que existe nessa vida
bem com seu próprio cabelo, muitas vezes é envelhecer
cacheado, em vez de simplesmente copiarem A barba vai descendo e os cabelos vão caindo
as famosas. Que mostrassem como é possível pra cabeça aparecer
se vestir bem gastando pouco, sem se impor- Os filhos vão crescendo e o tempo vai dizen-
tar com marcas. do que agora é pra valer
31
Os outros vão morrendo e a gente aprenden- nesses países, há também um declínio da
do a esquecer natalidade. Será isso socialmente justo?
Não quero morrer pois quero ver como será Uma pessoa muito longeva consome uma
que deve ser envelhecer quantidade total de alimentos muito maior
Eu quero é viver para ver qual é e dizer ve- do que as outras, o que contribui para es-
nha pra o que vai acontecer gotar mais rapidamente os recursos finitos
(...) do planeta e agravar ainda mais os desequi-
líbrios sociais. Para que uns poucos possam
Pois ser eternamente adolescente nada é viver muito, outros terão de passar fome.
mais *démodé com os ralos fios de cabelo Será que, em um futuro breve, teremos uma
sobre a guerra de extermínio aos idosos, como na
[testa que não para de crescer ficção do escritor argentino Bioy Casares, O
Não sei por que essa gente vira a cara pro diário da guerra do porco? Seria uma guerra
presente e esquece de aprender justa? /.../
(TEIXEIRA, João. Para sempre jovens. In: Revista Filosofia:
Que felizmente ou infelizmente sempre o
ciência & vida. Ano VII, n. 92, março-2014, p. 54.)
tempo vai correr.
(...) PROMESSA CONTRA SINAIS DA IDADE
32
graça pode achar dos meus esgares, é uma “A verdade está no fundo de um poço”, li
pontada cada vez que respiro. Às vezes as- certa vez, não me lembro mais se num livro
piro fundo e encho os pulmões de um ar ou num artigo de jornal. Em todo caso, em
insuportável, para ter alguns segundos de letra de forma, e como duvidar de afirma-
conforto, expelindo a dor. Mas bem antes ção impressa? Eu, pelo menos, não costumo
da doença e da velhice, talvez minha vida já discutir, muito menos negar, a literatura e
fosse um pouco assim, uma dorzinha chata a o jornalismo. E, como se isso não bastasse,
me espetar o tempo todo, e de repente uma várias pessoas gradas repetiram-me a frase,
lambada atroz. Quando perdi minha mulher, não deixando sequer margem para um erro
foi atroz. E qualquer coisa que eu recorde de revisão a retirar a verdade do poço, a si-
agora, vai doer, a memória é uma vasta fe- tuá-la em melhor abrigo: paço (“a verdade
rida. Mas nem assim você me dá os remé- está no paço real”) ou colo (“a verdade se es-
dios, você é meio desumana. Acho que nem conde no colo das mulheres belas”), polo (“a
é da enfermagem, nunca vi essa cara sua por verdade fugiu para o Polo Norte”) ou povo
aqui. Claro, você é a minha filha que estava (“a verdade está com o povo”). Frases, todas
na contraluz, me dê um beijo. Eu ia mesmo elas, parece-me, menos grosseiras, mais ele-
lhe telefonar para me fazer companhia, me gantes, sem deixar essa obscura sensação de
ler jornais, romances russos. Fica essa tele- abandono e frio inerente à palavra “poço”.
visão ligada o dia inteiro, as pessoas aqui O meritíssimo dr. Siqueira, juiz aposentado,
respeitável e probo cidadão, de lustrosa e
não são sociáveis. Não estou me queixando
erudita careca, explicou-me tratar-se de um
de nada, seria uma ingratidão com você e
lugar-comum, ou seja, coisa tão clara e sabi-
com o seu filho. Mas se o garotão está tão
da a ponto de transformar-se num provérbio,
rico, não sei por que diabos não me interna
num dito de todo mundo. Com sua voz grave,
em uma casa de saúde tradicional, de reli-
de inapelável sentença, acrescentou curioso
giosas. Eu próprio poderia arcar com viagem
detalhe: não só a verdade está no fundo de
e tratamento no estrangeiro, se o seu marido
um poço, mas lá se encontra inteiramente
não me tivesse arruinado. nua, sem nenhum véu a cobrir-lhe o corpo,
(BUARQUE, Chico. Leite derramado. São Paulo:
sequer as partes vergonhosas. No fundo do
Companhia das Letras, 2009, p. 10-11.)
poço e nua.
Nos textos em geral, manifestam-se simulta- Dr. Alberto Siqueira é o cimo, o ponto culmi-
neamente várias funções da linguagem. No nante da cultura nesse subúrbio de Periperi
entanto, sempre há o predomínio de uma onde habitamos. É ele quem pronuncia o dis-
sobre as outras. Após a leitura dos textos, curso do Dois de Julho na pequena praça e o
assinale a alternativa correta. de Sete de Setembro no grupo escolar, sem
a) No texto, “Estatuto do Idoso”, a função da falar noutras datas menores e em brindes de
linguagem predominante é a metalinguísti- aniversário e batizado. Ao juiz devo muito do
ca, porque há uma explicação do código, o pouco que sei, a essas conversas noturnas no
qual é o foco do discurso. passeio de sua casa; devo-lhe respeito e gra-
b) O texto “Envelhecer” tem o canal como ele- tidão. Quando ele, com a voz solene e o gesto
preciso, esclarece-me uma dúvida, naquele
mento de destaque, logo o predomínio é da
momento tudo parece-me claro e fácil, ne-
função fática da linguagem.
nhuma objeção me assalta. Depois que o dei-
c) O referente é o elemento que se sobressai
xo, porém, e ponho-me a pensar no assunto,
sobre os demais no trecho do livro "Leite
vão-se a facilidade e a evidência, como, por
derramado", caracterizando o predomínio da
exemplo, nesse caso da verdade. Volta tudo
função informativa sobre a poética.
a ser obscuro e difícil, busco recordar as ex-
d) A função poética se destaca no poema "Re-
plicações do meritíssimo e não consigo. Uma
trato", tendo em vista a preocupação do trapalhada. Mas, como duvidar da palavra de
enunciador em enfatizar a mensagem. homem de tanto saber, as estantes entulha-
das de livros, códigos e tratados? No entan-
2. (IFCE) De como o narrador, com certa expe- to, por mais que ele me explique tratar-se
riência anterior e agradável, dispõe-se a re- apenas de um provérbio popular, muitas ve-
tirar a verdade do fundo do poço. zes encontro-me a pensar nesse poço, certa-
mente profundo e escuro, onde foi a verdade
Minha intenção, minha única intenção, esconder sua nudez, deixando-nos na maior
acreditem! é apenas restabelecer a verdade. das confusões, a discutir a propósito de um
A verdade completa, de tal maneira que ne- tudo ou de um nada, causando-nos a ruína,
nhuma dúvida persista em torno do coman- o desespero e a guerra.
dante Vasco Moscoso de Aragão e de suas ex- Poço não é poço, fundo de um poço não é o
traordinárias aventuras. fundo de um poço, na voz do provérbio isso
33
significa que a verdade é difícil de revelar- – Venho pra repreendê-la...
-se, sua nudez não se exibe na praça pública – Eu não queria. Foi ele... – choramingou a
ao alcance de qualquer mortal. Mas é o nosso formosa.
dever, de todos nós, procurar a verdade de – Muito malfeito – segurava-lhe o braço de
cada fato, mergulhar na escuridão do poço carne rija.
até encontrar sua luz divina. Desfez-se ela em lágrimas arrependidas e o
“Luz divina” é do juiz, como aliás todo o pa- juiz, para melhor repreendê-la e aconselhá-
rágrafo anterior. Ele é tão culto que fala em -la, sentou-a no colo, acariciou-lhe as faces,
tom de discurso, gastando palavras bonitas, beliscou-lhe os braços. Admirável quadro: a
mesmo nas conversas familiares com sua dig- severidade implacável do magistrado tempe-
níssima esposa, dona Ernestina. “A verdade rada pela bondade compreensiva do homem.
é o farol que ilumina minha vida”, costuma Escondeu Dondoca o rosto envergonhado no
repetir-se o meritíssimo, de dedo em riste, ombro confortador, seus lábios faziam cóce-
quando, à noite, sob um céu de incontáveis gas inocentes no pescoço ilustre.
estrelas e pouca luz elétrica, conversamos Zé Canjiquinha nunca foi encontrado, em
sobre as novidades do mundo e de nosso su- compensação Dondoca ficou, desde aquela
búrbio. Dona Ernestina, gordíssima, lustrosa bem-sucedida visita sob a proteção da justi-
de suor e um tanto quanto débil mental, con- ça, anda hoje nos trinques, ganhou a casinha
corda balançando a cabeça de elefante. Um no beco das Três Borboletas, Pedro Torresmo
farol de luz poderosa, iluminando longe, eis deixou definitivamente de trabalhar. Eis aí
a verdade do nobre juiz de direito aposen-
uma verdade que o farol do juiz não ilumina,
tado.
foi-me necessário mergulhar no poço para
Talvez por isso mesmo sua luz não penetre
buscá-la. Aliás, para tudo contar, a inteira
nos escaninhos mais próximos, nas ruas de
verdade, devo acrescentar ter sido agradá-
canto, no escondido beco das Três Borboletas
vel, deleitoso mergulho, pois no fundo desse
onde se abriga, na discreta meia-sombra de
poço estava o colchão de lã de barriguda do
uma casinha entre árvores, a formosa e riso-
leito de Dondoca onde ela me conta – depois
nha mulata Dondoca, cujos pais procuraram
que abandono, por volta das dez da noite, a
o meritíssimo quando Zé Canjiquinha desa-
pareceu da circulação, viajando para o sul. prosa erudita do meritíssimo e de sua volu-
Passara Dondoca nos peitos, na frase pito- mosa consorte – divertidas intimidades do
resca do velho Pedro Torresmo, pai aflito, e preclaro magistrado, infelizmente impró-
largara a menina ali, sem honra e sem di- prias para letra de fôrma.
nheiro: (AMADO, Jorge. Os velhos marinheiros: duas histórias do
cais da Bahia. 23.ed. São Paulo: Martins, p. 71-73).
– No miserê, doutor juiz, no miserê...
O juiz deitou discurso moral, coisa digna de No fragmento: “Poço não é poço, fundo de
ouvir-se, prometeu providências. E, à vista um poço não é o fundo de um poço, na voz
do tocante quadro da vítima a sorrir entre do provérbio isso significa que a verdade é
lágrimas, afrouxou um dinheirinho, pois, difícil de revelar-se, sua nudez não se exi-
sob o peito duro da camisa engomada do be na praça pública ao alcance de qualquer
magistrado, pulsa, por mais difícil que seja mortal.” prevalece a seguinte função da lin-
acreditar-se, pulsa um bondoso coração. Pro-
guagem:
meteu expedir ordem de busca e apreensão
a) conativa ou apelativa.
do “sórdido dom-juan”, esquecendo-se, no
b) expressiva ou emotiva.
entusiasmo pela causa da virtude ofendida,
c) fática.
de sua condição de aposentado, sem promo-
d) referencial ou informativa.
tor nem delegado às ordens. Interessaria no
e) metalinguística.
caso, igualmente, seus amigos da cidade. O
“conquistador barato” teria a paga mereci-
da... 3. (IFCE) Seria o fogo em minha casa? Corre-
E foi ele próprio, tão cônscio é o dr. Siqueira riam risco de arder todos os meus manus-
de suas responsabilidades de juiz (embora critos, toda a expressão de toda a minha
aposentado), dar notícias das providências à vida? Sempre que esta ideia, antigamente,
família ofendida e pobre, na moradia distan- simplesmente me ocorrera, um pavor enor-
te. Dormia Pedro Torresmo, curando a cacha- me me fazia estarrecer. E agora reparei de
ça da véspera; labutava no quintal, lavando repente, não sei já se com pasmo ou sem
roupa, a magra Eufrásia, mãe da vítima, e a pasmo, não sei dizer se com pavor ou não,
própria cuidava do fogão. 13Desabrochou um que me não importaria que ardessem. Que
sorriso nos lábios carnudos de Dondoca, tí- fonte – que fonte secreta mas tão minha – se
mido mas expressivo, o juiz fitou-a austero, me havia secado na alma?
tomou-lhe da mão: (Fernando Pessoa: Barão de Teive: a educação do insólito.)
34
As interrogações como autoquestionamento e) Estão presentes as funções poética e cona-
e o emprego da primeira pessoa do singular, tiva, já que há uma centralidade, ao mesmo
de verbos no futuro do pretérito, elaborando tempo, na mensagem e no receptor.
hipóteses, são marcas textuais referentes
a) a uma busca de testar a eficiência do canal 5. (UEM) A minha mãe falava sério!
de comunicação, medindo o nível do contato Thalita Rebouças
no ambiente comunicativo, e caracterizam a
função fática da linguagem. – Isso aqui é um chiqueiro! Não acredito
b) ao apelo à atenção ou tentativa de persua- que você trocou nossa 21casa superacolhedo-
são dirigida ao decodificador da mensagem, ra, limpíssima e sempre arrumadíssima por
e caracterizam a função conativa ou apelati- essa pocilga. Fala sério, Maria de Lourdes! -
va da linguagem. exasperou-se minha mãe, mãos na cintura, a
c) à emotividade ou à expressividade do enun- última vez que veio me visitar.
ciador da mensagem, e caracterizam a fun- 15
Eu nunca encontro palavras para dizer nes-
ção emotiva ou expressiva da linguagem.
sas horas. Durante seus ataques, prefiro me
d) à conceituação, à referência e à informação
recolher ao mais puro silêncio de consenti-
objetiva do elemento temático da mensa-
mento.
gem, e caracterizam a função referencial da
linguagem.
e) a uma explicação, definição e análise dos ele- Estou há sete meses dividindo com a Helô
mentos do código da mensagem, e caracteri- e a Bené um ridiculamente pequeno apar-
zam a função metalinguística da linguagem. tamento.
Bem disse minha mãe, nada cabe no apar-
4. (ifal) Oficina irritada tamento. Nada mesmo! Sinceramente, eu e
Eu quero compor um soneto duro as meninas mal cabemos no “apertamento”,
como poeta algum ousara escrever. como chamamos carinhosamente nosso lar-
Eu quero pintar um soneto escuro, -microlar.
seco, abafado, difícil de ler. Para piorar, a Helô é superbagunceira, eu
sou a megabagunceira e a Bené é hiperba-
Quero que meu soneto, no futuro, gunceira. Bené, aliás, tem um outro proble-
não desperte em ninguém nenhum minha que é bem chatinho: vive com o na-
prazer. morado antipático para cima e para baixo.
E que, no seu maligno ar imaturo, Outro dia o sem graça me viu de calcinha e
ao mesmo tempo saiba ser, não ser. sutiã antes de uma festa. 18Quer mico maior
que esse? Morri de vergonha. Ele morreu de
Esse meu verbo antipático e impuro rir. Palhaço!
há de pungir, há de fazer sofrer, Morar longe de casa não tem sido exatamen-
tendão de Vênus sob o pedicuro. te o paraíso que eu imaginava, mas dias me-
lhores virão. Serei efetivada no meu estágio
Ninguém o lembrará: tiro no muro, 17
(oba!), vou ganhar um salário decente e
cão mijando no caos, enquanto Arcturo, 16
acho que logo, logo estarei pronta para alu-
claro enigma, se deixa surpreender.
gar o meu próprio cantinho. Decidi: amo as
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética.
39.ed.Rio de Janeiro: Record, 1998. p. 188)
meninas, mas quero, preciso morar sozinha.
Pelo bem da nossa amizade.
Com base na leitura do poema de Carlos Para dar uma ideia do caos que é nossa convi-
Drummond e nos seus conhecimentos acerca vência, outro dia cheguei em casa e vi repou-
das funções da linguagem, assinale a alter- sando no chão da microssala, repetindo, no
nativa correta. chão da microssala, vários, de novo, vários
a) Estão presentes as funções poética e me- objetos. Foi difícil desviar deles. Primeiro,
talinguística da linguagem, uma vez que o passei raspando por um CD do Nando Reis,
texto chama a atenção para o arranjo singu- depois, quase pisei na caixa do CD do Nando
lar da mensagem e discute o código. com um disco de funk dentro, na caixa do
b) Estão presentes as funções fática e poética DVD de Sex and the City, numa lixa de unha,
da linguagem, pois, no texto, há o teste do num papel de bala, num ventiladorzinho
canal e um arranjo singular da mensagem. portátil, num tênis amarelo imundo, num
c) Está presente apenas a função poética, já pedaço de papel com um número de telefone
que o texto, sendo um poema, não permite anotado e em entupidos sacos de roupa suja.
a presença de outra função da linguagem. – A gente precisa comprar uma máquina de
d) Estão presentes as funções referencial e poé- lavar roupa para essa casa! Ou 22tomar vergo-
tica, porque, no texto, a atenção recai tanto nha na cara e lavar a roupa! A gente não pode
sobre o referente quanto sobre a mensagem. achar normal esses sacos estarem no meio da
35
sala há uma semana! – reclamei, antes de di- 08) A autora pretende atingir também um públi-
zer boa-noite para as minhas amigas. co adulto com as falas da mãe da narradora-
– Não cabe máquina de lavar aqui no aparta- -personagem, nas quais se observa o empre-
mento – disseram-me as duas calmamente. go do português padrão culto, como, por
A casa estava um horror. exemplo, em “casa superacolhedora, limpís-
Nós três somos terríveis juntas. sima e sempre arrumadíssima” (ref.21).
19
A Helô, então, é sem noção. É capaz de dei- 16) A utilização de expressões coloquiais como
xar durante dias uma maçã comida sobre a “tomar vergonha na cara” (ref.22) e até
pia da cozinha.
vulgares como “zona” (ref.7) evidencia o re-
Isso porque a lixeirinha fica ao lado da tor-
gistro informal segundo o qual o texto foi
neira.
produzido.
Andando irritada, pisei forte e ouvi um níti-
do e crocante “créééc”.
– Quanto farelo, gente! Quem foi que comeu
biscoito sem pratinho embaixo? Cadê o aspi- E.O. Dissertativo
radorzinho que a minha mãe deu pra gente?
As duas começaram a rir. 1. (Ufrj) TEXTO 1
Permaneci séria, eu estava muito brava, [...] "Nos consola é ver o povo inculto crian-
muito brava. do aqui u'a música nativa que está entre as
– Malu! 20Desestressa! - disse Helô. mais belas e mais ricas.
– Comemos sem pratinho, sim, depois a gen-
te limpa – completou Bené. Pois colhendo elementos alheios, triturando-
– Depois quando? -os na subconsciência nacional, digerindo-
– Depois... -os, amoldando-os, se fecundando, a música
- Que biscoito foi? De polvilho? – eu quis sa- popular brasileira viveu todo o séc. XIX, bem
ber. pouco étnica ainda. Mas no último quarto
– Arrã – fizeram as duas, sapecas.
do século principiam aparecendo com mais
– Tem ainda? – Rendi-me à gula e à bagunça.
frequência produções dotadas de fatalidade
Comi o último do pacote e acabei rindo com
racial. E, no trabalho da expressão original
elas. Eu até gosto de bagunça. Sempre gostei.
Mas o apê estava tão bagunçado que tinha e representativa, não careceu nem cinquen-
ultrapassado até o meu nível permitido de ta anos: adquiriu caráter, criou formas e
bagunça. processos típicos. Manifestações duma raça
– Pô, gente, assim não dá! A gente precisa muito variada ainda como psicologia, a nos-
tomar vergonha na cara. Nossa casa está uma sa música popular é variadíssima. Tão varia-
7
zona! da que às vezes desconcerta quem a estuda"
(Adaptação do capítulo do livro Fala sério, [...]
professor! Rio de Janeiro: Rocco, 2006) (Andrade, Mário de. Pequena história da música. 8ª ed.
São Paulo: Martins; Belo Horizonte: Itatiaia, 1980.)
Ao produzir um texto, o autor procura ade-
quá-lo aos seus prováveis interlocutores. As-
sinale o que for correto a respeito do regis- TEXTO 2
tro linguístico e da variedade do português Agoniza mas não morre
utilizados no texto.
01) Em “Eu nunca encontro palavras para dizer Samba,
nessas horas” (ref.15), a autora demonstra Agoniza mas não morre
preocupação em utilizar o registro mais ade- Alguém sempre te socorre
quado para falar com sua mãe. Antes do suspiro derradeiro
02) A autora procura aproximar alguns enun- Samba,
ciados das características da língua falada, Negro forte, destemido,
como, por exemplo, o emprego de expressões
Foi duramente perseguido
e de interjeições típicas da oralidade, como
Na esquina, no butequim, no terreiro.
em, respectivamente, “acho que logo, logo
Samba,
estarei pronta” (ref.16), “(oba!)” (ref.17) e
“- Pô, gente, assim não dá!” (ref.20). Inocente pé no chão
04) A autora procura atingir um público forma- A fidalguia do salão
do por adolescentes e/ou jovens, uma vez Te abraçou, te envolveu
que utiliza expressões típicas desse público, Mudaram toda tua estrutura,
como, por exemplo “Quer mico maior que Te impuseram outra cultura
esse” (ref.18), “A Helô, então, é sem noção” E você nem percebeu.
(ref.19) e “Desestressa” (ref.20). (Nelson Sargento. Sonho de um sambista. Eldorado, 1979)
36
TEXTO 3 3. (Ufrj) ........................................................
– Que frio! – gorjeou Henriqueta, muito co-
"Minha impressão é que a cultura popular já quete em seu redingote de golas de pelego,
ganhou a parada... Há 30 ou 40 anos, quando que graciosamente envergara por cima da
a gente discutia sobre música popular brasi- camisola cor-de-rosa, – Fecha, fecha, Bodu-
leira, sobre os novos baianos velhos, sobre zinho, que este frio me mata! Que estavas a
a questão da técnica, a bossa nova, dizia-se fazer lá fora com este frio, queres constipar-
que a cultura de massa ia invadir e tomar -te e matar-me de cuidados?
conta de tudo. Agora, 1não apenas os baia- – Já falas como uma portuguesa, é admirável
nos, mas outros, inclusive os "rapistas", se como tens talento para essas coisas! – disse
impuseram, independentemente da cultura Bonifácio Odulfo, encantado. – E estás linda
de massas, e estão tendo a revanche, num como uma princesa! Minha princesinha por-
movimento de baixo para cima..." tuguesa!
(Santos, Milton. Território e sociedade - entrevista. – Mas nunca falei lá muito à brasileira.
2ª ed. São Paulo: Fundação Perseu Abramo, 2000.)
– Isto é verdade, sempre tiveste uma ma-
Nesse trecho de entrevista, Milton Santos faz neira de falar muito distinta, foi uma das
uso de uma linguagem coloquial. primeiras coisas que primeiro me atraiu em
Com base nos dois primeiros períodos do ti. E teu pai, o velho barão, fala exatamente
texto 3, retire dois exemplos que comprovem como um português.
a afirmação acima. Justifique sua resposta.
– Disto ele sempre fez questão. Costuma di-
zer que, pela voz, sempre saberão que ele
2. (Ufes)
nunca andou no meio dos pretos e que se
Texto 1 formou em Coimbra.
..................................................................
O NAVIO NEGREIRO (RIBEIRO, João Ubaldo. VIVA O POVO BRASILEIRO.
Negras mulheres, suspendendo às tetas 4aed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1984. p.469)
Magras crianças, cujas bocas pretas
Rega o sangue das mães: Toda língua apresenta variação regional e
Outras, moças... mas nuas, espantadas, social, não se podendo afirmar que uma va-
No turbilhão de espectros arrastadas, riante seja superior a outra.
Em ânsia e mágoa vãs. Transcreva a passagem do diálogo em que
(Castro Alves) melhor se observa um julgamento de valor
que contraria essa afirmação e revela pre-
Texto 2 conceitos sociais e culturais.
7
Eu não sou eu nem sou o outro, 4. (Ufmg) Leia estes textos, em que se aborda
Sou qualquer coisa de intermédio: a aprovação pelo MEC do livro Por uma vida
Pilar da ponte de tédio melhor e se discutem questões relacionadas
Que vai de mim para o Outro. ao ensino da língua materna:
(Mário de Sá-Carneiro)
Texto 1
Texto 3 Falando errado
OS ARREDORES FLOREM Morro e não consigo ver tudo. Na quadra da
Os arredores florem: vida em que nos encontramos, esta expres-
figos, nervos, libélulas são popular se torna latente. O Ministério
a criarem nas águas da Educação aprova o uso do livro “Por uma
os brevíssimos movimentos. vida melhor”, da “Coleção Viver, Aprender”,
(Paulo Roberto Sodré) cujo conteúdo ensina o aluno a falar erra-
Com base nos elementos constitutivos do ato do. É isso mesmo! A justificativa tem uma
de comunicação, Roman Jakobson estabele- certa pompa ao criar um novo apêndice
ceu seis funções da linguagem (e a ênfase linguístico, quando fundamenta que o alu-
de cada uma delas): referencial (ênfase no no do ensino fundamental deve aprender a
assunto; no conteúdo), emotiva (ênfase no usar a “norma popular da língua portugue-
emissor; no sujeito), conativa (ênfase no re- sa”. Os autores da obra defendem o uso da
ceptor; no interlocutor), poética (ênfase na “língua popular” afirmando que a “norma
forma; na construção), metalinguística (ên- culta não leva em consideração a chamada
fase no código; na autorreferência) e fática língua viva”. Ora, ora! Temos, aí, tempos re-
(ênfase no canal; no contato). volucionários, que implicam novas regras na
Escolha um dos textos, indique e explique a comunicação e expressão. Há poucas sema-
ocorrência de uma dessas funções. nas foi o surgimento de projeto de lei que
37
determina a extinção de palavras estrangei- empregar regras linguísticas que a tradição
ras em escritas oficiais e em publicidades. normativa que eles acham que defendem
Agora, em documento oficial - um livro acei- rejeitaria imediatamente. Pois ontem, ven-
to pelo MEC -, escreve-se errado para ensinar do o Jornal das Dez, da GloboNews, ouvi da
a falar errado. Assim sendo, não poderemos boca do sr. Carlos Monforte essa deliciosa
criticar a [...] a quantidade de lastimáveis pergunta: “Como é que fica então as concor-
programas no horário nobre da televisão e dâncias?”. Ora, sr. Monforte, eu lhe devolvo
outras barbaridades perpetradas à cultura a pergunta: “E as concordâncias, como é que
brasileira. ficam então?
SANTOS, Milton. Jornal do Comércio, 17/5/2011. Disponível BAGNO, Marcos. Disponível em: <http://marcosbagno.com.
em: <http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=62332>. br/site/?page_id=745>. (Fragmento).
(Fragmento) Acesso em: 20 jun. 2011.
Acesso em: 20 jun. 2011.
a) Explicite o ponto de vista defendido em cada
texto e cite argumentos que os autores mo-
Texto 2
bilizam para defender sua posição.
Polêmica ou ignorância?
b) No final do texto 2, o autor cita a fala de
Discussão sobre livro didático só revela igno- um jornalista como exemplo que contraria
rância da grande imprensa a gramática normativa. Identifique a regra
gramatical a que se refere o autor e explique
[...] Polêmica? Por que polêmica, meus se- por que ela não foi respeitada na fala do jor-
nhores e minhas senhoras? Já faz mais de nalista citado.
quinze anos que os livros didáticos de língua c) Reescreva a frase do jornalista, de modo a
portuguesa disponíveis no mercado e avalia- adequá-la à norma do português padrão.
dos e aprovados pelo Ministério da Educação d) Explique por que o autor do texto qualifica
abordam o tema da variação linguística e do a situação de emprego da frase do jornalista
seu tratamento em sala de aula. [...] como “divertida”.
Já no governo FHC, sob a gestão do mi-
nistro Paulo Renato, os livros didáticos de 5. (Ufrj) 1500
português avaliados pelo MEC começavam a
abordar os fenômenos da variação linguís- A imaginação do senhor
tica, o caráter inevitavelmente heterogêneo Flutua sobre a baía.
de qualquer língua viva falada no mundo, a As pitangas e os cajus
mudança irreprimível que transformou, tem Descansam o dia inteiro.
transformado, transforma e transformará O céu, de manhã à tarde,
qualquer idioma usado por uma comunidade Faz pinturas de baú.
humana. Somente com uma abordagem as- O Pão de Açúcar sonhou
sim as alunas e os alunos provenientes das Que um carro saiu da Urca
chamadas “classes populares” poderão se re- Transportando com amor
conhecer no material didático e não se sen- Meninas muito dengosas,
tir alvo de zombaria e preconceito [...] Umas, nuinhas da silva,
Nenhum linguista sério, brasileiro ou es- Outras, vestidas de tanga,
trangeiro, jamais disse ou escreveu que os E mais outras, de maillot.
estudantes usuários de variedades linguís- Chega um índio na piroga,
ticas mais distantes das normas urbanas de Tira uma gaita do cinto,
prestígio deveriam permanecer ali, fechados Desfia um lundu tão bom
em sua comunidade, em sua cultura e em sua Que uma índia sai da onda,
língua. O que esses profissionais vêm ten- Suspende o corpo no mar.
tando fazer as pessoas entenderem é que de- Nasce ali mesmo um garoto
fender uma coisa não significa automatica- Do corpo moreno dela,
mente combater a outra. Defender o respeito No dia seguinte mesmo
à variedade linguística dos estudantes não O indiozinho já está
significa que não cabe à escola introduzi-los De arco e flecha na mão
aomundo da cultura letrada e aos discursos Olhando pro fim do mar
que ela aciona. Cabe à escola ensinar aos De repente uma fragata
alunos o que eles não sabem! Parece óbvio, Brotou do chão da baía,
mas é preciso repetir isso a todo momento. Sai um velho de tamancos,
O mais divertido (para mim, pelo menos, tal- Fica em pé no portaló,
vez por um pouco de masoquismo) é ver os Dá um grito: "Bofé, vilões!
mesmos defensores da suposta “língua cer- Descobrimos um riacho
ta”, no exato momento em que a defendem, E a fruta aqui é bem boa."
38
No mesmo instante o garoto 2. (Enem) Poema tirado de uma notícia de jor-
Lhe respondeu "Sai, azar! nal
"Despede uma flecha no velho João Gostoso era carregador de feira livre e
Cheiinho de barbas brancas, morava no morro da Babilônia num barracão
Pensa que é Dão Sebastião, sem número.
Dá um tremor no seu corpo Uma noite ele chegou no bar Vinte de No-
E zarpou para Lisboa. vembro
(MENDES, Murilo. POESIA COMPLETA E PROSA. Rio Bebeu
de Janeiro: Nova Aguilar. 1994. pp. 143-144) Cantou
Dançou
Murilo Mendes procura trazer para seu poe- Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas
ma diversas marcas de "brasilidade". e morreu afogado.
a) Qual o verso em que dois recursos linguís- (BANDEIRA, M. Estrela da vida inteira: poesias
ticos, próprios da linguagem coloquial, for- reunidas. Rio de Janeiro: José Olympio, 1980.)
mam uma só unidade de sentido?
No poema de Manuel Bandeira, há uma res-
b) Reescreva o verso de modo mais formal, sem
significação de elementos da função referen-
alteração do sentido.
cial da linguagem pela
a) atribuição de título ao texto com base em
39
A análise dos elementos constitutivos do Texto II
texto e a identificação de seu gênero permi-
tem ao leitor inferir que o objeto do autor é Entrevistadora – Vou conversar com a profes-
a) apresentar a opinião da diretora do Projeto sora A. D. O português é uma língua difícil?
ALS. Professora – Não, se você parte do princí-
b) expor a sua opinião como um especialista no pio que a língua portuguesa não é só regras
tema. gramaticais. Ao chegar à escola, o aluno já
c) descrever os procedimentos de uma ex domina e fala a língua. Se o professor moti-
periência científica. vá-lo a ler obras literárias, e se tem acesso a
d) defender a pesquisa e a opinião dos pesqui- revistas, a livros didáticos, você se apaixona
sadores dos EUA. pela língua. O que torna difícil é que a esco-
e) informar os resultados de uma nova pesqui- la transforma as aulas de língua portuguesa
sa feita nos EUA. em análises gramaticais.
(MARCUSCHI, L. A. Da fala para a escrita: atividades
4. (Enem) O acervo do Museu da Língua Por- de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001).
tuguesa é o nosso idioma, um “patrimônio
imaterial” que não pode ser, por isso, guar- O Texto I é a transcrição de uma entrevista
dado e exposto em uma redoma de vidro. As- concedida por uma professora de português
sim, o museu, dedicado à valorização e difu- a um programa de rádio. O Texto II é a adap-
são da língua portuguesa, reconhecidamente tação dessa entrevista para a modalidade
importante para a preservação de nossa escrita.
identidade cultural, apresenta uma forma
expositiva diferenciada das demais institui- Em comum, esses textos
ções museológicas do país e do mundo, usan- a) apresentam ocorrências de hesitações e re-
do tecnologia de ponta e recursos interativos formulações.
para a apresentação de seus conteúdos. b) são modelos de emprego de regras gramati-
(Disponível em: www.museulinguaportuguesa.org.br. cais.
Acesso em: 16 ago. 2012). c) são exemplos de uso não planejado da lín-
gua.
De acordo com o texto, embora a língua por-
d) apresentam marcas da linguagem literária.
tuguesa seja um “patrimônio imaterial”,
e) são amostras do português culto urbano.
pode ser exposta em um museu. A relevân-
cia desse tipo de iniciativa está pautada no
pressuposto de que 6. (Enem) Exmº Sr. Governador:
a) a língua é um importante instrumento de Trago a V. Exa. um resumo dos trabalhos
constituição social de seus usuários. realizados pela Prefeitura de Palmeira dos
b) o modo de falar o português padrão deve ser Índios em 1928.
divulgado ao grande público. [...]
c) a escola precisa de parceiros na tarefa de va-
lorização da língua portuguesa. ADMINISTRAÇÃO
d) o contato do público com a norma-padrão Relativamente à quantia orçada, os telegra-
solicita o uso de tecnologia de última geração. mas custaram pouco. De ordinário vai para
e) as atividades lúdicas dos falantes com sua eles dinheiro considerável. Não há vereda
própria língua melhoram com o uso de re- aberta pelos matutos que prefeitura do inte-
cursos tecnológicos. rior não ponha no arame, proclamando que
a coisa foi feita por ela; comunicam-se as
5. (Enem) Texto I datas históricas ao Governo do Estado, que
não precisa disso; todos os acontecimentos
Entrevistadora – eu vou conversar aqui com
políticos são badalados. Porque se derrubou
a professora A. D. ... o português então não é
a Bastilha – um telegrama; porque se deitou
uma língua difícil?
pedra na rua – um telegrama; porque o de-
Professora – olha se você parte do princí-
pio... que a língua portuguesa não é só re- putado F. esticou a canela - um telegrama.
(Palmeira dos Índios, 10 de janeiro de 1929.
gras gramaticais... não se você se apaixona
GRACILlANO RAMOS)
pela língua que você... já domina que você (RAMOS, G. Viventes das Alagoas. São
já fala ao chegar na escola se o teu professor Paulo: Martins Fontes, 1962.)
cativa você a ler obras da literatura. ... obras
da/dos meios de comunicação... se você tem O relatório traz a assinatura de Graciliano
acesso a revistas... é... a livros didáticos... Ramos, na época, prefeito de Palmeira dos
a... livros de literatura o mais formal o e/o Índios, e é destinado ao governo do estado
difícil é porque a escola transforma como eu de Alagoas. De natureza oficial, o texto cha-
já disse as aulas de língua portuguesa em ma a atenção por contrariar a norma previs-
análises gramaticais. ta para esse gênero, pois o autor
40
a) emprega sinais de pontuação em excesso. c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza
b) recorre a termos e expressões em desuso no imagens metafóricas e a própria escola, en-
português. quanto a linguagem, no Texto II, cumpre a
c) apresenta-se na primeira pessoa do singular, função de informar e envolver o leitor.
para conotar intimidade com o destinatário. d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da
d) privilegia o uso de termos técnicos, para de- escola, o Texto I acende a rivalidade entre
monstrar conhecimento especializado. escolas de samba, enquanto o Texto II é
e) expressa-se em linguagem mais subjetiva, neutro.
com forte carga emocional. e) o Texto I sugere a riqueza material da Man-
gueira, enquanto o Texto II destaca o traba-
7. (Enem) Texto I lho na escola de samba.
Chão de esmeralda
Me sinto pisando 8. (Enem) Entrevista com Marcos Bagno
Um chão de esmeraldas Pode parecer inacreditável, mas muitas das
Quando levo meu coração prescrições da pedagogia tradicional da lín-
À Mangueira gua até hoje se baseiam nos usos que os es-
critores portugueses do século XIX faziam
Sob uma chuva de rosas
da língua. Se tantas pessoas condenam, por
Meu sangue jorra das veias
exemplo, o uso do verbo “ter” no lugar do
E tinge um tapete
verbo “haver”, como em “hoje tem feijoa-
Pra ela sambar da”, é simplesmente porque os portugueses,
É a realeza dos bambas em dado momento da história de sua língua,
Que quer se mostrar deixaram de fazer esse uso existencial do
Soberba, garbosa verbo “ter”.
Minha escola é um cata-vento a girar No entanto, temos registros escritos da épo-
É verde, é rosa ca medieval em que aparecem centenas des-
Oh, abre alas pra Mangueira passar ses usos. Se nós, brasileiros, assim como os
(BUARQUE, C.; CARVALHO, H. B. Chico Buarque falantes africanos de português, usamos até
de Mangueira. Marola Edições Musicais Ltda. hoje o verbo “ter” como existencial é porque
BMG. 1997. Disponível em: www.chicobuarque.
recebemos esses usos de nossos ex-coloniza-
com.br. Acesso em: 30 abr. 2010.)
dores. Não faz sentido imaginar que brasilei-
Texto II ros, angolanos e moçambicanos decidiram se
Quando a escola de samba entra na Marquês juntar para “errar” na mesma coisa. E assim
de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos acontece com muitas outras coisas: regên-
cias verbais, colocação pronominal, concor-
componentes bate mais forte e o que vale é a
dâncias nominais e verbais etc. Temos uma
emoção. Mas, para que esse verdadeiro espe-
língua própria, mas ainda somos obrigados
táculo entre em cena, por trás da cortina de
a seguir uma gramática normativa de outra
fumaça dos fogos de artifício, existe um ver-
língua diferente. Às vésperas de comemorar-
dadeiro batalhão de alegria: são costureiras, mos nosso bicentenário de independência,
aderecistas, diretores de ala e de harmonia, não faz sentido continuar rejeitando o que
pesquisador de enredo e uma infinidade de é nosso para só aceitar o que vem de fora.
garantem que tudo esteja perfeito na hora Não faz sentido rejeitar a língua de 190 mi-
do desfile. lhões de brasileiros para só considerar certo
(AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores. o que é usado por menos de dez milhões de
Revista de Carnaval 2010: portugueses. Só na cidade de São Paulo te-
Mangueira. Rio de Janeiro: Estação
mos mais falantes de português que em toda
Primeira de Mangueira, 2010.)
a Europa!
Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a (Informativo Parábola Editorial, s/d.)
tradição e o compromisso dos dirigentes e de
Na entrevista, o autor defende o uso de for-
todos os componentes com a escola de sam-
mas linguísticas coloquiais e faz uso da nor-
ba Estação Primeira de Mangueira. Uma das ma de padrão em toda a extensão do texto.
diferenças que se estabelece entre os textos Isso pode ser explicado pelo fato de que ele
é que a) adapta o nível de linguagem à situação co-
a) o artigo jornalístico cumpre a função de municativa, uma vez que o gênero entrevis-
transmitir emoções e sensações, mais do que ta requer o uso da norma padrão.
a letra de música. b) apresenta argumentos carentes de compro-
b) a letra de música privilegia a função social vação científica e, por isso, defende um pon-
de comunicar a seu público a crítica em re- to de vista difícil de ser verificado na mate-
lação ao samba e aos sambistas. rialidade do texto.
41
c) propõe que o padrão normativo deve ser tom demasiado continental da rapariga, que
usado por falantes escolarizados como ele, é uma palavra que já me está a pôr com dores
enquanto a norma coloquial deve ser usada de cabeça até porque, no fundo, a única coisa
por falantes não escolarizados. que eu queria era escrever um poema sobre a
d) acredita que a língua genuinamente bra- rapariga do café. A solução, então, é mudar
sileira está em construção, o que o obriga de café, e limitar-me a escrever um poema
a incorporar em seu cotidiano a gramática sobre aquele café onde nenhuma rapariga se
normativa do português europeu. pode sentar à mesa porque só servem café
e) defende que a quantidade de falantes portu- ao balcão.
guês brasileiro ainda é insuficiente para aca- (JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008.)
bar com a hegemonia do antigo colonizador.
O texto traz em relevo as funções metalin-
guística e poética. Seu caráter metalinguís-
9. (Enem) Assum preto tico justifica-se pela
Tudo em vorta é só beleza a) discussão da dificuldade de se fazer arte ino-
Sol de abril e a mata em frô vadora no mundo contemporâneo.
Mas assum preto, cego dos óio b) defesa do movimento artístico da pós-mo-
Num vendo a luz, ai, canta de dor dernidade, típico do século XX.
c) abordagem de temas do cotidiano, em que a
Tarvez por ignorança arte se volta para assuntos rotineiros.
Ou mardade das pió d) tematização do fazer artístico, pela discus-
Furaro os óio do assum preto são do ato de construção da própria obra.
Pra ele assim, ai, cantá mio e) valorização do efeito de estranhamento cau-
sado no público, o que faz a obra ser reco-
Assum preto veve sorto nhecida.
Mas num pode avuá
Mil veiz a sina de uma gaiola
Desde que o céu, ai, pudesse oiá
(GONZAGA, L.; TEIXEIRA, H. Disponível em: www.
E.O. UERJ
luizgonzaga.mus.br. Acesso em: 30 jul. 2012).
Exame de Qualificação
As marcas da variedade regional registradas
pelos compositores de Assum preto resultam 1. (UERJ) O tempo em que o mundo tinha a
da aplicação de um conjunto de princípios nossa idade
ou regras gerais que alteram a pronúncia, a
morfologia, a sintaxe ou o léxico. No texto, é Nesse entretempo, ele nos chamava para
resultado de uma mesma regra a escutarmos seus imprevistos improvisos.
a) pronúncia das palavras “vorta” e “veve”. As estórias dele faziam o nosso lugarzinho
b) pronúncia das palavras “tarvez” e “sorto”. crescer até ficar maior que o mundo. Nenhu-
c) flexão verbal encontrada em “furaro” e “cantá”. ma narração tinha fim, o sono lhe apagava
d) redundância nas expressões “cego dos óio” e a boca antes do desfecho. Éramos nós que
“mata em frô”. recolhíamos seu corpo dorminhoso. Não lhe
e) pronúncia das palavras “ignorança” e “avuá” deitávamos dentro da casa: ele sempre re-
cusara cama feita. Seu conceito era que a
10. (Enem) Lusofonia morte nos apanha deitados sobre a moleza
de uma esteira. Leito dele era o puro chão,
rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova;
lugar onde a chuva também gosta de deitar.
moça; menina; (Brasil), meretriz.
Nós simplesmente lhe encostávamos na pa-
Escrevo um poema sobre a rapariga que está
rede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe
sentada no café, em frente da chávena de
encontrávamos coberto de formigas. Parece
café, enquanto alisa os cabelos com a mão.
que os insectos gostavam do suor docicado
Mas não posso escrever este poema sobre
do velho Taímo. Ele nem sentia o corrupio do
essa rapariga porque, no brasil, a palavra ra-
formigueiro em sua pele.
pariga não quer dizer o que ela diz em por-
− Chiças: transpiro mais que palmeira!
tugal. Então, terei de escrever a mulher nova
Proferia tontices enquanto ia acordando.
do café, a jovem do café, a menina do café,
Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos.
para que a reputação da pobre rapariga que
Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe
alisa os cabelos com a mão, num café de lis-
dedicarmos cuidados.
boa, não fique estragada para sempre quan-
Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de
do este poema atravessar o atlântico para
olhos transabertos. Como dormia fora, nem
desembarcar no rio de janeiro. E isto tudo
dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte,
sem pensar em áfrica, porque aí lá terei de
é que nos convocava:
escrever sobre a moça do café, para evitar o
42
− Venham: papá teve um sonho! elas, queria modificar a opinião dos meus
E nos juntávamos, todos completos, para es- concidadãos, obrigá-los a pensar de outro
cutar as verdades que lhe tinham sido re- modo, a não se encherem de hostilidade e
veladas. Taímo recebia notícia do futuro por má vontade quando encontrarem na vida um
via dos antepassados. Dizia tantas previsões rapaz como eu e com os desejos que tinha há
que nem havia tempo de provar nenhuma. dez anos passados. Tento mostrar que são le-
Eu me perguntava sobre a verdade daquelas gítimos e, se não merecedores de apoio, pelo
visões do velho, estorinhador como ele era. menos dignos de indiferença.
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitan- Entretanto, quantas dores, quantas angús-
do-nos. tias! Vivo aqui só, isto é, sem relações in-
E assim seguia nossa criancice, tempos afo- telectuais de qualquer ordem. Cercam-me
ra. Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a dois ou três bacharéis idiotas e um médico
razão deste mundo estava num outro mundo mezinheiro, repletos de orgulho de suas car-
inexplicável. Os mais velhos faziam a ponte tas que sabe Deus como tiraram. (...) Entre-
entre esses dois mundos. (...) tanto, se eu amanhã lhes fosse falar neste
Mia Couto livro – que espanto! que sarcasmo! que críti-
Terra sonâmbula. São Paulo, Cia das Letras, 2007.
ca desanimadora não fariam. Depois que se
Este texto é uma narrativa ficcional que se foi o doutor Graciliano, excepcionalmente
refere à própria ficção, o que caracteriza simples e esquecido de sua carta apergami-
uma espécie de metalinguagem. nhada, nada digo das minhas leituras, não
A metalinguagem está melhor explicitada no falo das minhas lucubrações intelectuais a
seguinte trecho: ninguém, e minha mulher, quando me de-
a) As estórias dele faziam o nosso lugarzinho moro escrevendo pela noite afora, grita-me
crescer até ficar maior que o mundo. (ref. 1) do quarto:
b) Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de – Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório
olhos transabertos. (ref. 2) para amanhã!
c) E nos juntávamos, todos completos, para es- De forma que não tenho por onde aferir se
cutar as verdades que lhe tinham sido reve- as minhas Recordações preenchem o fim a
ladas. (ref. 3) que as destino; se a minha inabilidade lite-
d) Nesses anos ainda tudo tinha sentido: (ref. 4) rária está prejudicando completamente o seu
pensamento. Que tortura! E não é só isso:
2. (UERJ) Recordações do escrivão Isaías Cami- envergonho-me por esta ou aquela passagem
nha em que me acho, em que me dispo em frente
de desconhecidos, como uma mulher públi-
Eu não sou literato, detesto com toda a pai- ca... Sofro assim de tantos modos, por causa
xão essa espécie de animal. O que observei desta obra, que julgo que esse mal-estar, com
neles, no tempo em que estive na redação do que às vezes acordo, vem dela, unicamente
O Globo, foi o bastante para não os amar, nem dela. Quero abandoná-la; mas não posso ab-
os imitar. São em geral de uma lastimável solutamente. De manhã, ao almoço, na cole-
limitação de ideias, cheios de fórmulas, de toria, na botica, jantando, banhando-me, só
receitas, só capazes de colher fatos detalha- penso nela. À noite, quando todos em casa se
dos e impotentes para generalizar, curvados vão recolhendo, insensivelmente aproximo-
aos fortes e às ideias vencedoras, e antigas, -me da mesa e escrevo furiosamente. Estou
adstritos a um infantil fetichismo do estilo e no sexto capítulo e ainda não me preocupei
guiados por conceitos obsoletos e um pueril em fazê-la pública, anunciar e arranjar um
e errôneo critério de beleza. Se me esforço bom recebimento dos detentores da opinião
por fazê-lo literário é para que ele possa ser nacional. Que ela tenha a sorte que merecer,
lido, pois quero falar das minhas dores e dos mas que possa também, amanhã ou daqui
meus sofrimentos ao espírito geral e no seu a séculos, despertar um escritor mais hábil
interesse, com a linguagem acessível a ele. É que a refaça e que diga o que não pude nem
esse o meu propósito, o meu único propósi- soube dizer.
to. Não nego que para isso tenha procurado (...) Imagino como um escritor hábil não sa-
modelos e normas. Procurei-os, confesso; e, beria dizer o que eu senti lá dentro. Eu que
agora mesmo, ao alcance das mãos, tenho os sofri e pensei não o sei narrar. Já por duas
autores que mais amo. (...) Confesso que os vezes, tentei escrever; mas, relendo a página,
leio, que os estudo, que procuro descobrir achei-a incolor, comum, e, sobretudo, pouco
nos grandes romancistas o segredo de fazer. expressiva do que eu de fato tinha sentido.
Mas não é a ambição literária que me move LIMA BARRETO
ao procurar esse dom misterioso para animar (Recordações do escrivão Isaías Caminha. São Paulo:
e fazer viver estas pálidas Recordações. Com Penguin Classics Companhia das Letras, 2010.)
43
O texto de Lima Barreto explora o recurso da possível infância da linguagem, antes que a
metalinguagem, ao comentar, na sua ficção, representação rompesse seu cordão umbili-
o próprio ato de compor uma ficção. Esse re- cal, gerando essas duas metades − signifi-
curso está exemplificado principalmente em: cante e significado.
a) São em geral de uma lastimável limitação de Houve esse tempo? Quando não havia po-
ideias, (ref. 1) esia porque a poesia estava em tudo o que
b) Vivo aqui só, isto é, sem relações intelec se dizia? Quando o nome da coisa era algo
tuais de qualquer ordem. (ref. 2) que fazia parte dela, assim como sua cor, seu
c) – Vem dormir, Isaías! Deixa esse relatório tamanho, seu peso? Quando os laços entre
para amanhã! (ref. 3) os sentidos ainda não se haviam desfeito,
d) Já por duas vezes, tentei escrever; mas, então música, poesia, pensamento, dança,
relendo a página, achei-a incolor, comum,
imagem, cheiro, sabor, consistência se con-
(ref. 4)
jugavam em experiências integrais, associa-
das a utilidades práticas, mágicas, curativas,
3. (UERJ) religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas suposições tenham algo
de utópico, projetado sobre um passado pré-
-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tem-
po, cada novo poema do futuro que o pre-
sente alcança cria, com sua ocorrência, um
pouco desse passado.
Lembro-me de ter lido, certa vez, um comen-
tário de Décio Pignatari, em que ele chamava
a atenção para o fato de, tanto em chinês
como em tupi, não existir o verbo ser, en-
quanto verbo de ligação. Assim, o ser das
A perspicácia, de RENÉ MAGRITTE (1936). coisas ditas se manifestaria nelas próprias
http://rene-magritte-paintings.blogspot.com
(substantivos), não numa partícula verbal
Pode-se definir “metalinguagem” como a externa a elas, o que faria delas línguas poé-
linguagem que comenta a própria lingua- ticas por natureza, mais propensas à compo-
gem, fenômeno presente na literatura e nas sição analógica.
artes em geral. Mais perto do senso comum, podemos aten-
O quadro A perspicácia, do belga René Magrit- tar para como colocam os índios americanos
te, é um exemplo de metalinguagem porque: falando, na maioria dos filmes de cowboy
a) destaca a qualidade do traço artístico − eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”,
b) mostra o pintor no momento da criação “cavalo veloz”; em vez de “a maçã é verme-
c) implica a valorização da arte tradicional lha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é ve-
d) indica a necessidade de inspiração concreta
loz”. Essa forma mais sintética, telegráfica,
aproxima os nomes da própria existência
4. (UERJ) Sobre a origem da poesia − como se a fala não estivesse se referindo
A origem da poesia se confunde com a ori- àquelas coisas, e sim apresentando-as (ao
gem da própria linguagem. mesmo tempo em que se apresenta).
Talvez fizesse mais sentido perguntar quan- No seu estado de língua, no dicionário, as
do a linguagem verbal deixou de ser poesia. palavras intermedeiam nossa relação com as
Ou: qual a origem do discurso não poético, coisas, impedindo nosso contato direto com
já que, restituindo laços mais íntimos entre elas. A linguagem poética inverte essa rela-
os signos e as coisas por eles designadas, a ção, pois, vindo a se tornar, ela em si, coisa,
poesia aponta para um uso muito primário oferece uma via de acesso sensível mais di-
da linguagem, que parece anterior ao perfil reto entre nós e o mundo.
de sua ocorrência nas conversas, nos jornais, (...)
nas aulas, conferências, discussões, discur- Já perdemos a inocência de uma linguagem
sos, ensaios ou telefonemas. plena assim. As palavras se desapegaram das
Como se ela restituísse, através de um uso coisas, assim como os olhos se desapegaram
específico da língua, a integridade entre dos ouvidos, ou como a criação se desapegou
nome e coisa − que o tempo e as culturas da vida. Mas temos esses pequenos oásis − os
do homem civilizado trataram de separar no poemas − contaminando o deserto da refe-
decorrer da história. rencialidade.
A manifestação do que chamamos de poesia (ARNALDO ANTUNES
hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma www.arnaldoantunes.com.br)
44
No último parágrafo, o autor se refere à ple- — Homem, eu da cirurgia não entendo muito...
nitude da linguagem poética, fazendo, em — Pois já não disse que sabe também sangrar?
seguida, uma descrição que corresponde à — Sim...
linguagem não poética, ou seja, à linguagem — Então já sabe até demais.
referencial. No dia seguinte saiu o nosso homem pela
Pela descrição apresentada, a linguagem re- barra fora: a fortuna tinha-lhe dado o meio,
ferencial teria, em sua origem, o seguinte cumpria sabê-lo aproveitar; de oficial de
traço fundamental: barbeiro dava um salto mortal a médico de
a) o desgaste da intuição navio negreiro; restava unicamente saber
b) a dissolução da memória fazer render a nova posição. Isso ficou por
c) a fragmentação da experiência sua conta.
d) o enfraquecimento da percepção Por um feliz acaso logo nos primeiros dias
de viagem adoeceram dois marinheiros;
chamou-se o médico; ele fez tudo o que sa-
E.O. Objetivas bia... sangrou os doentes, e em pouco tempo
estavam bons, perfeitos. Com isto ganhou
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) imensa reputação, e começou a ser estimado.
Chegaram com feliz viagem ao seu destino;
tomaram o seu carregamento de gente, e
1. (Fuvest) Todas as variedades linguísticas são voltaram para o Rio. Graças à lanceta do nos-
estruturadas, e correspondem a sistemas e so homem, nem um só negro morreu, o que
subsistemas adequados às necessidades de muito contribuiu para aumentar-lhe a sólida
seus usuários. Mas o fato de estar a língua reputação de entendedor do riscado.
fortemente ligada à estrutura social e aos (Manuel Antônio de Almeida. Memórias
sistemas de valores da sociedade conduz a de um sargento de milícias.)
uma avaliação distinta das características
das suas diversas modalidades regionais, A linguagem de cunho popular que está pre-
sociais e estilísticas. A língua padrão, por sente tanto na fala das personagens quanto
exemplo, embora seja uma entre as muitas no discurso do narrador do romance de Man-
variedades de um idioma, é sempre a mais uel Antônio de Almeida, está mais bem exem-
plificada em:
prestigiosa, porque atua como modelo, como
a) “quando tem pouco que fazer”; “cumpria
norma, como ideal linguístico de uma co- sabê-lo aproveitar”.
munidade. Do valor normativo decorre a sua b) “Foi a sua salvação”; “a que o marujo per-
função coercitiva sobre as outras variedades, tencia”.
com o que se torna uma ponderável força c) “saber fazer render a nova posição”; “Chega-
contrária à variação. ram com feliz viagem ao seu destino”.
(Celso Cunha. Nova gramática do português d) “puxar conversa”; “entendedor do riscado”.
contemporâneo. Adaptado.) e) “adoeceram dois marinheiros”; “sólida repu-
tação”.
De acordo com o texto, em relação às demais
variedades do idioma, a língua padrão se
comporta de modo 3. (Unifesp) ESTE INFERNO DE AMAR
a) inovador. Este inferno de amar – como eu amo!
b) restritivo. Quem mo pôs aqui n’alma... quem foi?
c) transigente. Esta chama que alenta e consome,
d) neutro. Que é a vida – e que a vida destrói –
e) aleatório. Como é que se veio a atear,
Quando – ai quando se há-de ela apagar?
2. (Fuvest) Todo o barbeiro é tagarela, e prin- (Almeida Garret)
cipalmente quando tem pouco que fazer;
começou portanto a puxar conversa com o Nos versos de Garrett, predomina a função
freguês. Foi a sua salvação e fortuna. a) metalinguística da linguagem, com extrema
O navio a que o marujo pertencia viajava valorização da subjetividade no jogo entre o
para a Costa e ocupava-se no comércio de espiritual e o profano.
negros; era um dos combóis que traziam for- b) apelativa da linguagem, num jogo de sen-
necimento para o Valongo, e estava pronto tido pelo qual o poeta transmite uma forma
a largar. idealizada de amor.
c) referencial da linguagem, privilegiando-se a
— Ó mestre! disse o marujo no meio da con- expressão de forma racional.
versa, você também não é sangrador? d) emotiva da linguagem, marcada pela não
— Sim, eu também sangro... contenção dos sentimentos, dando vazão ao
— Pois olhe, você estava bem bom, se qui- subjetivismo.
sesse ir conosco... para curar a gente a bor- e) fática da linguagem, utilizada para expressar
do; morre-se ali que é uma praga. as ideias de forma evasiva, como sugestões.
45
4. (Unicamp 2017) No dia 21 de setembro de xingam a TV e os reis da Espanha cassam o
2015, Sérgio Rodrigues, crítico literário, co- rádio, mas, quando a gente soma tudo, os
mentou que apontar no título do filme Que donos da comunicação ainda tão por cima.
horas ela volta? um erro de português “revela Mandam na economia, mandam nos intelec-
visão curta sobre como a língua funciona”. E tuais, mandam nas moças fofinhas que que-
justifica: rem aparecer nos shows dos horários nobres
“O título do filme, tirado da fala de um per- e mandam no society que morre se o nome
sonagem, está em registro coloquial. Que não aparecer nas colunas.
Todo mundo fala mal dos donos da comuni-
ano você nasceu? Que série você estuda? e
cação, mas só de longe. E ninguém fala mal
frases do gênero são familiares a todos os
deles por escrito porque quem fala mal deles
brasileiros, mesmo com alto grau de esco-
por escrito nunca mais vê seu nome e sua
laridade. Será preciso reafirmar a esta altura
do século 21 que obras de arte têm liberdade cara nos “veículos” deles. Isso é assim aqui,
para transgressões muito maiores? Pretend- na Bessarábia e na Baixa Betuanalândia. Pa-
er que uma obra de ficção tenha o mesmo rece que é a lei. O que também é muito justo
grau de formalidade de um editorial de jor- porque os donos da comunicação são seres
nal ou relatório de firma revela um jeito au- lá em cima. Basta ver o seguinte: nós, pra
toritário de compreender o funcionamento sabermos umas coisinhas, só sabemos delas
não só da língua, mas da arte também.” pela mídia deles, não é mesmo? Agora vocês
(Adaptado do blog Melhor Dizendo. Disponível em http:// já imaginaram o que sabem os donos da co-
www.melhordizendo.com/a-que-horas-ela-volta-em- municação que só deixam sair 10% do que
que-ano-estamos-mesmo/.Acesso em: 08/06/2016.) sabem?
Pois é; tem gente que faz greve, faz revo-
Entre os excertos de estudiosos da lingua-
lução, faz terrorismo, todas essas besteiras.
gem reproduzidos a seguir, assinale aquele
que corrobora os comentários do post. Corajoso mesmo, eu acho, é falar mal de
a) Numa sociedade estruturada de maneira dono de comunicação. Aí tua revolução fica
complexa a linguagem de um dado grupo xinfrim, teu terrorismo sai em corpo 6 e se
social reflete-o tão bem como suas outras você morre vai lá pro fundo do jornal em
formas de comportamento. (MATTOSO CÂ- quatro linhas.
MARA JR., Joaquim. História da Linguística. (Millôr Fernandes. Que país é este?, 1978.)
Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 1975.)
b) A linguagem exigida, especialmente nas au- No último período do texto, a discrepância
las de língua portuguesa, corresponde a um dos possessivos teu e tua (segunda pessoa
modelo próprio das classes dominantes e das do singular) com relação ao pronome de tra-
categorias sociais a elas vinculadas. (CAMA- tamento você (terceira pessoa do singular)
CHO, Roberto Gomes. O sistema escolar e justifica-se como
o ensino da língua portuguesa. São Paulo: a) possibilidade permitida pelo novo sistema
Alfa, 29, p. 1-7, 1985.) ortográfico da língua portuguesa.
c) Não existe nenhuma justificativa ética, b) um modo de escrever característico da lin-
política, pedagógica ou científica para con- guagem jornalística.
tinuar condenando como erros os usos lin- c) emprego perfeitamente correto, segundo a
guísticos que estão firmados no português gramática normativa.
brasileiro. (BAGNO, Marcos. Nada na língua d) aproveitamento estilístico de um uso do dis-
é por acaso: por uma pedagogia da variação curso coloquial.
linguística. São Paulo: Editorial, 2007.) e) intenção de agredir com mau discurso os do-
d) Aquele que aprendeu a refletir sobre a nos da comunicação.
linguagem é capaz de compreender uma
gramática – que nada mais é do que o resul-
tado de uma (longa) reflexão sobre a língua.
(GERALDI, João Wanderley. Linguagem e en- E.O. Dissertativas
sino: exercícios de militância e divulgação.
Campinas: Mercado das Letras; Associação de (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
Leitura do Brasil, 1996.)
1. (Fuvest) Leia este texto:
5. (Unesp) A questão toma por base um texto A correção da língua é um artificialismo,
de Millôr Fernandes (1924-2012). continuei episcopalmente. O natural é a in-
Os donos da comunicação correção.
Os presidentes, os ditadores e os reis da Es- Note que a gramática só se atreve a meter
panha que se cuidem porque os donos da co- o bico quando escrevemos. Quando falamos,
municação duram muito mais. Os ditadores afasta-se para longe, de orelhas murchas.
abrem e fecham a imprensa, os presidentes (Monteiro Lobato, Prefácios e entrevistas.)
46
a) Tendo em vista a opinião do autor do texto, Sofre o povo privação
pode-se concluir corretamente que a língua Mas não pode recramá,
falada é desprovida de regras? Explique su- Ispondo suas razão
cintamente. Nas coluna do jorná.
b) Entre a palavra “episcopalmente” e as ex- Mas, tudo na vida passa,
pressões “meter o bico” e “de orelhas mur- Antes que a grande desgraça
chas”, dá-se um contraste de variedades Deste povo que padece
linguísticas. Substitua as expressões colo- Se istenda, cresça e redrobe,
quiais, que aí aparecem, por outras equiva- O Brasi de Baxo sobe
lentes, que pertençam à variedade padrão. E o Brasi de Cima desce.
Brasi de Baxo subindo,
2. (Unesp) A seguir, poema do repentista cea-
Vai havê transformação
rense Patativa do Assaré (1909-2002) e uma
Para os que veve sintindo
passagem do livro O discípulo de Emaús de
Abondono e sujeição.
Murilo Mendes (1901-1975):
Se acaba a dura sentença
Brasi de Cima e Brasi de Baxo E a liberdade de imprensa
Vai sê legá e comum,
[...] Em vez deste grande apuro,
Inquanto o Brasi de Cima Todos vão tê no futuro
Fala de transformação,
Industra, matéra prima, Um Brasi de cada um.
Descobertas e invenção, Brasi de paz e prazê,
No Brasi de Baxo isiste De riqueza todo cheio,
O drama penoso e triste Mas, que o dono do podê
Da negra necissidade; Respeite o dereito aleio.
É uma cousa sem jeito Um grande e rico país
E o povo não tem dereito Munto ditoso e feliz,
Nem de dizê a verdade. Um Brasi dos brasilêro,
Um Brasi de cada quá,
No Brasi de Baxo eu vejo Um Brasi nacioná
Nas ponta das pobre rua Sem monopolo istrangêro.
O descontente cortejo (Patativa do Assaré. Cante lá que eu canto cá. 6.ª Ed. Crato:
De criança quage nua. Vozes/Fundação Pe. Ibiapina/Instituto Cultural do Cariri.
Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1986.)
Vai um grupo de garoto
Faminto, doente e roto
Mode caçá o que comê O Discípulo de Emaús
Onde os carro põe o lixo,
A harmonia da sociedade somente poderá
Como se eles fosse bicho
ser atingida mediante a execução de um có-
Sem direito de vivê. digo espiritual e moral que atenda, não só
Estas pequenas pessoa, ao bem coletivo, como ao bem de cada um. A
Estes fio do abandono, conciliação da liberdade com a autoridade é,
Que veve vagando à toa no plano político, um dos mais importantes
Como objeto sem dono, problemas. A extensão das possibilidades de
De manêra que horroriza, melhoria a todos os membros da sociedade,
Deitado pela marquiza, sem distinção de raças, credos religiosos,
Dromindo aqui e aculá opiniões políticas, é um dos imperativos da
No mais penoso relaxo, justiça social, bem como a apropriação pelo
É deste Brasi de Baxo Estado dos instrumentos de trabalho coletivo.
A crasse dos marginá. (Murilo Mendes. Poesia completa e prosa. Rio
de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994.)
Meu Brasi de Baxo, amigo,
Pra onde é que você vai? Patativa do Assaré criou um discurso po-
Nesta vida do mendigo emático peculiar, que estiliza a fala popular
Que não tem mãe nem tem pai? e rural. Por isso, ao escrever seus poemas,
Não se afrija, nem se afobe, usa também suas próprias normas ortográ-
O que com o tempo sobe, ficas, bem como “regras” gramaticais desse
O tempo mesmo derruba; linguajar do povo. Releia atentamente a ter-
Tarvez ainda aconteça ceira estrofe do poema e a reescreva em dis-
Que o Brasi de Cima desça curso considerado culto, sem se preocupar
E o Brasi de Baxo suba. com a quebra do ritmo ou da rima.
47
3. (Unicamp) É sabido que as histórias de Chico Bento são situadas no universo rural brasileiro.
a) Explique o recurso utilizado para caracterizar o modo de falar das personagens na tira.
b) É possível afirmar que esse modo de falar caracterizado na tira é exclusivo do universo rural brasileiro?
Justifique.
4. (Unicamp)
a) Qual é o pressuposto da personagem que defende o acordo ortográfico entre os países de língua por-
tuguesa? Por que esse pressuposto é inadequado?
b) Explique como, na tira acima, esse pressuposto é quebrado.
5. (Unicamp) O texto " O FMI vem aí. Viva o FMI ", do articulista Luiz Nassif, publicado na revista
ÍCARO, está redigido no português culto característico do jornalismo, e contém, inclusive, um bom
número de expressões típicas da linguagem dos economistas, como "desequilíbrio conjuntural",
"royalties", "produtos primários", "política cambial". No entanto, contém também termos ou ex-
pressões informais, como na seguinte frase: "Há um ou outro caso de mudanças estruturais no
mundo que deixa os países COM A BROXA NA MÃO".
48
Leia o trecho abaixo, que é parte do mesmo Texto 1 – funções: referencial (informação)
2.
artigo, e responda às questões: e poética (forma).
Países já chegam ao FMI com todos esses im- Texto 2 – funções: emotiva (ênfase no emis-
passes, denotando a incapacidade de suas sor), poética (forma) e metalinguística (de-
elites de chegarem a fórmulas consensuais finição).
para enfrentar a crise - mesmo porque essas Texto 3 – funções: poética (forma), referen-
fórmulas implicam prejuízos aos interesses cial (informação).
de alguns grupos poderosos. Aí a burocracia
3.
"Costuma dizer que, pela voz, sempre sabe-
do FMI deita e rola. Há, em geral, economis-
rão que ele nunca andou no meio dos pretos
tas especializados em determinadas regiões
e que se formou em Coimbra." (últimas li-
do globo. Mas, na maioria das vezes, as fór-
nhas).
mulas aplicadas aos países são homogêne-
as, burocráticas, de quem está por cima da 4.
carne-seca e não quer saber de limitações de a) No texto 1, Milton Santos critica ironica-
ordem social ou política. (...) Sem os recur- mente a distribuição do livro “Por uma
sos adicionais do Fundo, a travessia de 1999 vida melhor” no ensino público, alegan-
seria um inferno, com as reservas cambiais do que o seu conteúdo teria por finali-
se esvaindo e o país sendo obrigado ou a fe- dade ensinar o aluno a falar “errado”,
char sua economia ou a entrar em parafuso. valorizando desta forma a norma culta e
O desafio maior será produzir um acordo que desprezando as outras variantes linguís-
obrigue, sim, o governo e Congresso a acele- ticas. Segundo o autor, este fato consti-
rarem as reformas essenciais tuiria uma agressão à cultura do país já
(ÍCARO, 170, out. 1998). tão maltratada em programas de televi-
são ou outros veículos de comunicação.
a) Transcreva outras três expressões do trecho
que tenham a mesma característica de infor- No texto 2, Marcos Bagno alerta para o
malidade. caráter preconceituoso de tal afirmação,
b) Substitua as referidas expressões por outras, pois o livro em questão pretende apenas
típicas da linguagem formal. incluir no aprendizado da Língua Portu-
guesa as variedades linguísticas estigma-
tizadas pelas gramáticas normativas, de
maneira a colocar em pé de igualdade os
Gabarito instrumentos de comunicação das cha-
madas “classes populares” e os usados
pelas classes urbanas consideradas de
E.O. Aprendizagem prestígio.
b) Na pergunta “Como é que fica então as
1. C 2. B 3. E 4. B 5. C concordâncias?”, Carlos Monforte trans-
6. D 7. A 8. E 9. A 10. E gride uma das regras da gramática nor-
mativa que exige concordância do verbo
com o seu sujeito.
c) “Como é que ficam, então, as concordân-
E.O. Fixação cias?”.
1. D 2. A 3. D 4. B 5. C d) Marcos Bagno assinala ironicamente a
transgressão gramatical de uma pessoa
6. D 7. C 8. D 9. B 10. A
que defende acirradamente a adequação
da fala às regras impostas pela gramáti-
ca normativa e diverte-se com a evidente
E.O. Complementar contradição.
1. D 2. E 3. C 4. A 5.
a) No verso 11: "Umas, nuinhas da silva".
5. 02 + 04 + 16 = 22
b) Umas, completamente nuas.
49
E.O. UERJ b) Ao desconhecer o significado de “peú-
gas”(*) e “bica”(**) e estranhar a pa-
Exame de Qualificação lavra “bicha”(***) no contexto da frase
(termos usados no português europeu e
1. A 2. D 3. B 4. C
não no Brasil), o personagem fica confu-
so, pois verifica que não houve unificação
E.O. Objetivas do idioma como afirmara anteriormente.
(*) meias
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) (**) café
(***) fila
1. B 2. D 3. D 4. C 5. D
5.
A informalidade encontra-se
a) em: 1. "deita e rola";
E.O. Dissertativas 2. "de que está por cima da carne seca"; e
3. "entrar em parafuso".
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) b) 1. "faz o que lhe agrada";
1. 2. "ter todo poder"; e
a) Usando a ironia, Monteiro Lobato parte 3. "ficar desorientado".
da hipótese que, se a linguagem coloquial
é desprovida de regras e a linguagem es-
crita é subordinada às regras da gramáti-
ca normativa, então conclui que “a cor-
reção da língua é um artificialismo”.
Este raciocínio é falacioso, pois tanto a
linguagem coloquial como a escrita man-
têm vínculos com a gramática, embora
sob aspectos diferentes: a primeira com
a gramática discursiva, a segunda, com a
gramática normativa.
b) Apenas as expressões “Meter o bico” e
“orelhas murchas” pertencem ao uni-
verso da linguagem coloquial e poderiam
ser substituídas, segundo a variedade
padrão, por “intrometer-se” e “humil-
hada”, respectivamente.
2.
Estas pequenas pessoas,
Estes filhos do abandono,
Que vivem vagando à toa
Como objetos sem dono,
Que causam horror
Deitados sob marquises,
Dormindo aqui e acolá
No mais penoso abandono,
É deste Brasil de Baixo
A classe dos marginais.
3.
a) O recurso consiste em reproduzir, na es-
crita, o dialeto caipira.
b) Não, pois o dialeto caipira aparece em
outras formas da linguagem coloquial, e
é encontrado nos grandes centros.
4.
a) O pressuposto é que o acordo ortográfico
promoveria a unidade da língua em todos
os países lusófonos. O acordo contempla
apenas a ortografia e não interfere nos
aspectos morfossintáticos ou lexicais que
caracterizam a relação da língua e seus
falantes com a região onde se desenvolve
a sua cultura, razão pela qual é inadequa-
do o pressuposto do personagem. Embora
se possa unificar a ortografia, as vari-
antes sempre existirão.
50
Aulas
3e4
Semântica: elementos de análise
Competências 5, 6, 7 e 8
Habilidades 17, 18, 21 ,24 e 27
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Semântica – elementos de análise
Já que se fala a todo o momento de semântica no curso de Gramática, nada melhor do que apresentá-la logo no
início do material de Interpretação (já que ela é parte essencial dos processos interpretativos). A semântica é o cam-
po de estudos linguísticos que cuida dos significados das palavras e dos textos. Ela está presente em praticamente
todos os outros campos gramaticais (com exceção dos estudos básicos de fonética e fonologia, ligados à ortografia
e à acentuação). Pode ter certeza de que, onde há acepções de sentido, há semântica.
Além de sua presença em várias áreas da Gramática, a semântica possui seus próprios elementos de análise,
que conheceremos a seguir.
Sinonímia
Ocorre sinonímia quando temos palavras com significados idênticos ou muito semelhantes a outras.
§§ Cão = cachorro
§§ Jerimum = abóbora
A sinonímia tem forte relação com a paráfrase (possibilidade de se reconstruir uma frase ou texto com
outras palavras similares) e nos ajuda nos processos de coesão textual (por meio de sinônimos, evitamos a re-
petição de termos em um texto).
Antonímia
Ocorre antonímia quando temos palavras com significados contrários a outras.
§§ Bonito ≠ feio
§§ Alto ≠ baixo
Homonímia
Ocorre homonímia quando temos palavras de grafia igual ou pronúncia igual, mas com significado diferente. Isso
nos dá três tipos de homônimos:
1. Homônimo homófono heterógrafo (pronúncia igual – grafia diferente)
Exemplo: acento (marca gráfica de tonalidade) e assento (local para se sentar)
Paronímia
Temos parônimos quando as palavras são muito parecidas, mas seus sentidos são diferentes.
Exemplos: comprimento (largura) e cumprimento (saudação)
discriminar (separar) e descriminar (absolver)
53
Polissemia Na primeira, temos comer sendo usado na sua acepção
mais comum, que é alimentar-se. Já no segundo caso, te-
Temos polissemia em palavras que preservam sua classe mos o verbo comer sendo usado para “figurar” a ideia
gramatical, mas que possuem significados múltiplos. de alguém comendo poeira, mas não porque isso esteja
ocorrendo de verdade, e sim porque se tenta passar a
Exemplos: natureza (meio ambiente) e natureza (es- ideia de que o piloto passou tão rápido pelo adversário
sência de algo) que levantou poeira, e quem está atrás a teria “comido”.
banco (local onde se senta) e banco (insti- No primeiro caso, a palavra comer foi usada em
tuição financeira) seu sentido dito literal, ou o sentido padrão (primeiro)
dessa palavra. Quando isso ocorre, temos uma palavra
em sentido denotativo. Já no segundo exemplo, o verbo
Hiperonímia e hiponímia
comer foi usado em sentido figurado, tentando figurar/re-
São fenômenos que operam relações de abrangência presentar uma situação (alguém comendo poeira). Quan-
do isso ocorre, temos uma palavra em sentido conotativo.
entre palavras (palavras que englobam outras ou que
são englobadas). As palavras que englobam são conhe-
Sentido denotativo
cidas como hiperônimos; as englobadas, como hipôni-
mos.
Como vimos anteriormente, entende-se por sentido de-
notativo o sentido primeiro de uma palavra. Seu sentido
Exemplos: Comprei um bacalhau para preparar na
básico, de dicionário. Entender bem o funcionamento
semana santa. Esse peixe é bastante salgado. (Peixe
do sentido denotativo nos ajudará, mais adiante, a en-
é uma palavra mais abrangente, que dá conta de ba-
tender como são operados alguns processos de inter-
calhau e de outros diversos peixes, portanto, podemos
pretação em gêneros textuais do português, como os
afirmar que peixe é hiperônimo de bacalhau, e bacalhau
textos científicos e também os jornalísticos, que são
é hipônimo de peixe.)
textos cujo objetivo é transmitir informações exatas e
Houve um aumento da gasolina. Esse fato
precisas ao leitor. Um texto denotativo evita palavras às
deixou os brasileiros irritados. (Fato é uma palavra que
quais se possam atribuir sentidos variados. Pensando no
dá conta de aumento da gasolina, portanto, podemos
que aprendemos na aula anterior, os textos denotativos
afirmar que fato é hiperônimo do trecho sublinhado.)
evitam trabalhar com textos polissêmicos.
Sentido conotativo
Denotação e conotação
Entende-se por sentido conotativo aquele que explora
É dentro do campo da semântica que verificamos tam- os múltiplos significados que uma palavra pode ter.
bém os processos de denotação e conotação, fenôme- Em um texto conotativo, não importa muito o sentido
nos linguísticos que nos permitem entender a amplitude primeiro da palavra, e sim a sua capacidade de “su-
de significação existente em nossa língua, ou, em ter- gerir” interpretações variadas. Os gêneros que habi
mos mais claros, é o estudo da denotação e da conota- tualmente trabalham com conotações são os literários
ção que nos permite perceber o quanto os significados (prosa, poesia, crônica, entre outros) e as canções. Mas
podem variar por conta do interesse dos interlocutores. também podemos encontrar esse sentido em outros
Vejamos alguns exemplos: tipos de gênero, dependendo das intenções do autor.
§§ Filho, você tem que comer todo seu jantar, ou Costumam ser textos de natureza mais complexa, que
não terá sobremesa. exigem um trabalho de leitura mais profundo, para
§§ O piloto fez o adversário comer poeira. que se possa apreender o que o autor quis expressar
nas entrelinhas da mensagem. Trabalha-se aqui com
É possível perceber nas frases apresentadas que
conhecimentos amplos de vocabulário.
o verbo ‘comer’ foi usado com dois sentidos diferentes.
54
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Abaixo, temos algumas imagens retiradas do “Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas”. Nelas vemos
a representação de algumas expressões populares famosas, usadas diariamente por diversas pessoas no Brasil. Essas
imagens compõem um divertido painel denotativo de composições historicamente empregadas no sentido conotativo.
(“Pequeno dicionário ilustrado de expressões idiomáticas” - Everton Ballardin e Marcelo Zocchio) - Editora DBA - 1999
56
INTERDISCIPLINARIDADE
57
E.O. Aprendizagem Essa arte do bem pensar deve orientar nos-
sas emoções e condecorar nossas conquistas.
Pensar para não sofrer, eis um dos lemas
1. (UEPB) Do texto, abaixo, é possível concluir centrais dessa atividade interrogante que
que o termo “chatear” foi usado: tem por finalidade nos fazer encontrar a sa-
bedoria do feliz. Por ser uma arte, todos a
desejam, mas apenas uns poucos a atingem.
E esses são os sábios, aqueles que conse-
guem monitorar com destreza as artimanhas
do viver, fugindo das seduções do efêmero e
dos negativismos atuais. Sabemos que mui-
ta gente não gosta de pensar, mas podemos
aprender a gostar dessa atividade, já que
todo amor é um aprendizado, fruto de um
persistente esforço. Não existe gratuidade
na vida. Toda pessoa doadora sabe disso. Ela
dá porque recebe, ama porque é amada.
Há outro desafio fundamental para a vida
a) de maneira ambígua, sem nenhuma pista que o ser humano teima em não assumir em
que possa ajudar na busca dos sentidos do sua amplitude: as implicações ecológicas da
termo. nossa relação com o planeta. Conseguimos
b) de forma figurada, exemplificando unica- avanços significativos na esfera da política
mente a polissemia da linguagem. e da educação, em geral, mas na área dos
c) com o sentido literal do termo, ocasionando sistemas econômicos pouca coisa foi con-
uma redundância. quistada. O sistema global de produção con-
d) com mais de um sentido, cuja alteração se tinua agindo como se os objetivos a alcançar
faz perceber pelos recursos linguísticos e vi- fossem os mesmos de 200 anos atrás. O fre-
suais que servem de pistas para o entendi- nesi do crescimento a qualquer custo atinge
mento do texto. todos os recantos da Terra. A roda acelera-
da desde o século XIX não pode parar. Para
e) de forma equivocada, pois não existe um
haver riqueza, é preciso produzir, consumir,
destinatário declarado a quem se dirige a
obter lucro, criar mais trabalho, produzir e
mensagem.
repetir tudo de novo numa ciranda sem fim.
Acreditam que, quanto mais consumirmos,
2. (UEL) “Que pode uma criatura senão, mais trabalho criamos, mais o país pode se
entre criaturas, amar? desenvolver. O modelo consumista de pro-
Amar e esquecer, dução da atualidade é ‘ecocida’ em sua na-
Amar e malamar, tureza e antiecológico em sua finalidade. O
Amar, desamar, amar? planeta não mais suporta tamanha pressão
Sempre e até de olhos vidrados, amar?” sobre os seus já limitados recursos. Os ecolo-
gistas lançam pelos quatro cantos do mundo
A palavra ATÉ, no texto de Carlos Drummond seus gritos de alarme. Mas os donos do poder
de Andrade, tem o mesmo valor semântico industrial tapam os ouvidos a essas lamenta-
que em: ções. É impossível pensarmos em crescimen-
a) O marinheiro chegou ATÉ o porto ao ama- to e sustentabilidade num sistema em que a
nhecer. obsolescência é planejada e o desperdício é o
b) A polícia, ATÉ agora, não conseguiu capturar motor da reposição. Quase todos agem como
os fugitivos. se os recursos fossem ilimitados. É lógico que
c) As apurações estaduais foram suspensas ATÉ todos nós precisamos consumir, mas consu-
segunda ordem. mo para suprir nossas necessidades e não
d) Saveiro Geração III. Resiste a tudo, ATÉ a para satisfazer o poço sem fundo dos nossos
você. desejos. Todo o sistema global de produção
e) 12 ATÉ 18 dias sem juros no cheque especial. atual aposta na ideia de que o supérfluo é
Tarifas que podem chegar a zero. mais importante do que o necessário.
Concluindo, podemos afirmar que a reflexão
filosófica nos ajuda a encontrar uma luz no
3. (CFTMG) Filosofar para preservar
meio do túnel antes que o dique se rompa e a
O modelo consumista de produção da atuali- inundação esmague todos. Filosofar é apon-
dade é ecocida em sua natureza e antiecoló- tar expectativas e, nesse aspecto, todas as
gico em sua finalidade pessoas de bom senso devem, com urgência,
Alfeu Trancoso * utilizar a reflexão para propor novos cami-
Filosofar é fazer pensar, refletir sobre como nhos ou uma saída para o impasse civilizató-
gerenciar melhor nossas escolhas cotidianas. rio em que nos encontramos. Urge lutarmos
58
por uma sociedade mais verde, mais intera- opostos ao pensamento do presumido autor,
tiva com a natureza. Devemos saber que a falsamente presumido. A graça está no fato
luta ecológica não é somente uma luta para de que todos, agora, têm opinião sobre tudo.
a preservação da espécie humana, mas de to- − Mas isso não é bom?
das as espécies do planeta, já que somos fios O gigante, depois da maldição de Netuno,
da mesma rede interativa que forma o tecido tornou-se um ser impaciente.
da vida na Terra. O fato, em si, não tem importância alguma.
O problema é que muita gente lê a enxur-
(*) Ambientalista e professor de Filosofia da PUC Minas rada de bobagens que aparecem na internet
(Disponível em: <http://www.revistaecologico. não como opinião, mas como conhecimento.
com.br>. Acesso em: 10 set. 2013.)
O Platão, por exemplo, afirmava que opinião
A passagem em que as palavras foram em- (doxa) era o falso conhecimento. O conhe-
cimento verdadeiro (episteme) depende de
pregadas em sentido literal é
estudo profundo, comprovação metódica,
a) “Não existe gratuidade na vida.”
teste de validade. Essas coisas de que se vale
b) “A roda acelerada desde o século XIX não
em geral a ciência.
pode parar.” O mal que há nessa “democratização” dos
c) “(...) e não para satisfazer o poço sem fundo veículos é que se formam crenças sem fun-
dos nossos desejos.” damento, mudam-se as opiniões das pesso-
d) “(...) somos fios da mesma rede interativa as, afirmam-se absurdos em que muita pes-
que forma o tecido da vida na Terra.” soa ingênua acaba acreditando. Sim, porque
estudar, comprovar metodicamente, testar a
validade, tudo isso dá muito trabalho.
4. (IFSUL) Agora todo mundo tem opinião O Adamastor não estava muito convencido
Meu amigo Adamastor, o gigante, me apa- da justeza dos meus argumentos, mas o café
receu hoje de manhã, muito cedo, aqui na tinha terminado e ele se despediu.
(Texto de Menalton Braff, publicado em 03 de
biblioteca, e disse que vinha a fim de um
abril de 2015. Disponível em: <http://www.
cafezinho. Mentira, eu sei. Quando ele vem cartacapital.com.br/cultura/agora-todo-mundo-tem-
tomar um cafezinho é porque está com algu- opiniao-7377.html>. Acesso em: 20 abr. 2015.)
ma ideia borbulhando em sua mente.
E estava. Depois do primeiro gole e antes do A significação das palavras não é fixa. Elas
segundo, café muito quente, ele afirmou que podem variar, estabelecendo novos concei-
concorda plenamente com a democratização tos por meio de associações, dependendo de
da informação. Agora, com o advento da in- seu emprego em uma frase. Dessa forma, na
ternet, qualquer pessoa, democraticamente, construção de sentido de um texto, as pa-
pode externar aquilo que pensa. lavras podem ser empregadas em sentido
Balancei a cabeça, na demonstração de uma denotativo/literal e/ou conotativo/figurado.
quase divergência, e seu espanto também me Analisando o texto, qual alternativa apre-
espantou. Como assim, ele perguntou, está senta palavra que foi empregada com senti-
renegando a democracia? Pedi com modos a do conotativo?
meu amigo que não embaralhasse as coisas. a) espanto (referência 5).
Democracia não é um termo divinatório, que
b) divinatório (referência 8).
se aplique sempre, em qualquer situação.
c) enxurrada (referência 13).
Ele tomou o segundo gole com certa avidez e
d) justeza (referência 17).
queimou a língua.
Bem, voltando ao assunto, nada contra a de-
mocratização dos meios para que se divul- 5. (IFSP) O padeiro
guem as opiniões, as mais diversas, mais Levanto cedo, faço a higiene pessoal, ponho
esdrúxulas, mais inovadoras, e tudo o mais. a chaleira no fogo para fazer café e abro a
É um direito que toda pessoa tem: emitir porta do apartamento − mas não encontro o
opinião.
pão costumeiro. No mesmo instante me lem-
O que o Adamastor não sabia é que uns dias
bro de ter lido alguma coisa nos jornais da
atrás andei consultando uns filósofos, al-
guns antigos, outros modernos, desses que véspera sobre a “greve do pão dormido”. De
tratam de um palavrão que sobrevive até os resto não é bem uma greve, é um lockout,
dias atuais: gnoseologia. Isso aí, para dizer greve dos patrões, que suspenderam o traba-
teoria do conhecimento. lho noturno; acham que obrigando o povo a
Sim, e daí?, ele insistiu. tomar seu café da manhã com pão dormido
O mal que vejo, continuei, não está na en- conseguirão não sei bem o que do governo.
xurrada de opiniões as mais isso ou aquilo Está bem. Tomo meu café com pão dormi-
na internet, e principalmente com a chegada do, que não é tão ruim assim. E enquanto
do Facebook. Isso sem contar a imensa quan- tomo café vou me lembrando de um homem
tidade de textos apócrifos, muitas vezes até modesto que conheci antigamente. Quando
59
vinha deixar pão à porta do apartamento ele da chuva ou do sol a pino de verão. Esses
apertava a campainha, mas, para não inco- desocupados matam o tempo jogando porri-
modar os moradores, avisava gritando: nha, ou lendo os jornais velhos que mamãe
– Não é ninguém, é o padeiro! amontoa num canto, sentados nos degraus
Interroguei-o uma vez: como tivera a ideia do escadote com que ela alcança as pratelei-
de gritar aquilo? ras altas. Já quando fazem o obséquio de me
Ele abriu um sorriso largo. Explicou que liberar o espaço, de tempos em tempos entro
aprendera aquilo de ouvido. Muitas vezes lhe para olhar as estantes onde há de tudo um
acontecera bater a campainha de uma casa e pouco, em boa parte remessas de editores
ser atendido por uma empregada ou por uma estrangeiros que têm apreço pelo meu pai.
outra pessoa qualquer, e ouvir uma voz que Num reduto de literatura tão sortida, como
vinha lá de dentro perguntando quem era; bem sabem os habitués de sebos, fascina a
e ouvir a pessoa que o atendera dizer para perspectiva de por puro acaso dar com um
livro bom. Ou by serendipity, como dizem
dentro: “não é ninguém, não senhora, é o
os ingleses quando na caça a um tesouro se
padeiro”. Assim ficara sabendo que não era
tem a felicidade de deparar com outro bem,
ninguém...
mais precioso ainda. Hoje revejo na mesma
Ele me contou isso sem mágoa nenhuma,
prateleira velhos conhecidos, algumas de-
e se despediu ainda sorrindo. Eu não quis zenas de livros turcos, ou búlgaros ou hún-
detê-lo para explicar que estava falando com garos, que papai é capaz de um dia querer
um colega, ainda menos importante. Naque- destrinchar. Também continua em evidência
le tempo eu também, como os padeiros, fazia o livro do poeta romeno Eminescu, que papai
trabalho noturno. Era pela madrugada que ao menos tentou ler, como é fácil inferir das
deixava a redação do jornal, quase sempre folhas cortadas a espátula. Há uma edição
depois de uma passagem pela oficina – e em alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que
muitas vezes saía já levando na mão um dos ele não leu, mas cujas ilustrações admirou
exemplares rodados, o jornal ainda quenti- longamente, como denunciam os filetes de
nho da máquina, como pão saído do forno. cinzas na junção das suas páginas coloridas.
Ah, eu era rapaz, eu era rapaz naquele tem- Hoje tenho experiência para saber quantas
po! E às vezes me julgava importante por- vezes meu pai leu um mesmo livro, posso
que no jornal que levava para casa, além de quase medir quantos minutos ele se deteve
reportagens ou notas que eu escrevera sem em cada página. E não costumo perder tem-
assinar, ia uma crônica ou artigo com o meu po com livros que ele nem sequer abriu, en-
nome. O jornal e o pão estavam bem cedi- tre os quais uns poucos eleitos que mamãe
nho na porta de cada lar; e dentro do meu teve o capricho de empilhar numa ponta de
coração eu recebi uma lição daquele homem prateleira, confiando numa futura redenção.
entre todos útil e entre todos alegre; “não é Muitas vezes a vi de manhãzinha compade-
ninguém, é o padeiro!”. cida dos livros estatelados no escritório, com
E assoviava pelas escadas. especial carinho pelos que trazem a foto do
(Rubem Braga. Ai de ti, Copacabana. Rio de
autor na capa e que papai despreza: parece
Janeiro: Editora do Autor, 1960. Adaptado) disco de cantor de rádio.
(Chico Buarque. O irmão alemão. 1 ed. São
A expressão − pão dormido − foi empregada Paulo. Companhia das letras. 2014. p. 60-61.
Texto adaptado com o acréscimo do título.)
com sentido
a) denotativo, indicando que os padeiros, por A obra O irmão alemão, último livro de Chi-
causa da greve, adulteraram a receita do co Buarque de Holanda, tem como móvel da
pão. narrativa a existência de um desconhecido
b) denotativo, indicando que o pão entregue irmão alemão, fruto de uma aventura amo-
aos moradores estava fora de validade. rosa que o pai dele, Sérgio Buarque de Ho-
c) conotativo, indicando que o pão a ser consu- landa, tivera com uma alemã, lá pelo final
mido não estava fresco. da década de 30 do século passado. Exata-
d) conotativo, indicando que os padeiros redu- mente quando Hitler ascende ao poder na
ziram o trabalho noturno durante a greve. Alemanha. Esse fato é real: o jornalista, his-
e) conotativo, indicando que a massa do pão toriador e sociólogo Sérgio Buarque de Ho-
precisa descansar para que o fermento aja. landa, na época, solteiro, deixou esse filho
na Alemanha. Na família, no entanto, não
6. (Uece) A garagem de casa se falava no assunto. Chico teve, por acaso,
conhecimento dessa aventura do pai em uma
Com o portão enguiçado, e num convite a la- reunião na casa de Manuel Bandeira, por co-
drões de livros, a garagem de casa lembra mentário feito pelo próprio Bandeira.
uma biblioteca pública permanentemente Foi em torno da pretensa busca desse pre-
aberta para a rua. Mas não são adeptos de tenso irmão que Chico Buarque desenvolveu
literatura os indivíduos que ali se abrigam sua narrativa ficcional, o seu romance.
60
Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva: – mas qual? 1onde o ímã que atraia uma boa
“o que o leitor tem em mãos [...] não é um limalha? onde a farinha que proverá o pão
relato histórico. Realidade e ficção estão aqui substancioso? O relógio está correndo e o as-
entranhadas numa narrativa que embaralha sunto não vem. Cronos, cronologia, crônica,
sem cessar memória biográfica e ficção”. tempo, tempo, tempo... Que tal falar da falta
O substantivo “convite” (ref. 2) tem, no tex- de assunto? Mas isso já aconteceu umas três
to, o mesmo sentido que tem no enunciado vezes... Há cronista que abre a Bíblia em bus-
seguinte: ca de um grande tema: os mandamentos, um
a) Um convite formal a Alberto o obrigará a faraó, o Egito antigo, as pragas, as pirâmides
abandonar sua confortável neutralidade e a erguidas pelo trabalho escravo? Mas como
tomar partido nessa questão. atualizar o interesse em tudo isso? O leitor
b) A falta de compromisso de alguns professo- de jornal ou de revista anda com mais pressa
res é um convite à malandragem dos alunos.
do que nunca, e, aliás, está munido de um
c) O convite para a sua festa será entregue com
celular que lhe coloca o mundo nas mãos a
antecedência. Não há, pois, motivo para tan-
qualquer momento.
ta preocupação.
Sim, a internet! O Google! É a salvação. Lá vai
d) O show será gratuito. A Secretaria de Cultura
estará distribuindo os convites até a véspera o cronista caçar assunto no computador. Mas
do espetáculo. aí o problema fica sendo o excesso: ele digita,
por exemplo, “Liberdade”, e 5lá vem a estátua
nova-iorquina com seu facho de luz saudan-
7. (FMP) As palavras podem ser empregadas no
do os navegantes, ou o bairro do imigrante
sentido literal ou no sentido figurado.
japonês em São Paulo, ou a letra de um hino
O trecho da obra de Graciliano Ramos que
cívico, ou um tratado filosófico, até mesmo
se caracteriza pela presença de linguagem
o “Libertas quae sera tamen*” dos inconfi-
figurada é:
dentes mineiros... Tenta-se outro tema geral:
a) “Não me ajeitava a esse trabalho: a mão se-
gurava mal a caneta, ia e vinha em sacu- “Política”. Aí mesmo é que não para mais:
didelas, a pena caprichosa fugia da linha, vêm coisas desde a polis grega até um poema
evitava as curvas, rasgava o papel, andava à de Drummond, salta-se da política econômi-
toa como uma barata doida, semeando bor- ca para a financeira, chega-se à política de
rões.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. São Paulo: preservação de bens naturais, à política eco-
Martins, 1972, p. 135. lógica, à partidária, à política imperialista, à
b) “A mulher gorda chamou-me, deu-me uma política do velho Maquiavel, ufa.
cadeira, examinou-me a roupa, o couro ca- Que tal então a gastronomia, mais na moda
beludo, as unhas e os dentes. Em seguida do que nunca? O velho bifinho da tia ou o
abriu a caixinha branca, retirou o folheto: saudoso picadinho da vovó, receitas domésti-
— Leia.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. São cas guardadas no segredo das bocas, viraram
Paulo: Martins, 1972, p. 135. nomes estrangeiros, sob molhos complicados,
c) “Atrás da loja, de quatro portas, duas em de apelido francês. Nesse ramo da alimenta-
cada frente, havia o armazém de ferragens ção há também que considerar o que sejam
e o depósito de milho, onde eu e minhas produtos transgênicos, orgânicos, as ameaças
irmãs brincávamos.” RAMOS, G. Infância. 9. do glúten, do sódio, da química nociva de
ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 72. tantos fertilizantes. Tudo muito sofisticado e
d) “Datam desse tempo as minhas mais antigas atingindo altos níveis de audiência nos pro-
recordações do ambiente onde me desen- gramas de TV: já seremos um país povoado
volvi como um pequeno animal. Até então por cozinheiros, quer dizer, por chefs de cui-
algumas pessoas, ou fragmentos de pessoas, sine?**
tinham se manifestado, mas para bem dizer
Temas palpitantes, certamente de interesse
viviam fora do espaço.” RAMOS, G. Infância.
público, estão no campo da educação: há, por
9. ed. São Paulo: Martins, 1972, p. 26.
exemplo, quem veja nos livros de História
e) “Na cidade ainda não havia hotéis, e à tar-
dinha, ao chegar o trem, quase diariamente uma orientação ideológica conduzida pelos
nos apareciam carregadores que transporta- autores; há quem defenda uma neutralidade
vam bagagens.” RAMOS, G. Infância. 9. ed. absoluta diante de fatos que seriam indiscu-
São Paulo: Martins, 1972, p. 256. tíveis. Que sentido mesmo tiveram a abolição
da escravatura e a proclamação da República?
E o suicídio de Getúlio Vargas? E os aconteci-
8. (Puccamp) Cronista sem assunto
mentos de 1964? Já a literatura e a redação
Difícil é ser cronista regular de algum pe andam questionadas como itens de vestibu-
riódico. Uma crônica por semana, havendo lar: mas sob quais argumentos o desempenho
ou não assunto... É buscar na cabeça uma lu- linguístico e a arte literária seriam dispensá-
zinha, uma palavra que possa acender toda veis numa formação escolar de verdade?
uma frase, um parágrafo, uma página inteira Enfim, 10o cronista que se dizia sem assunto
61
de repente fica aflito por ter de escolher um Considerada a situação em que está inseri-
no infinito cardápio digital de assuntos. Que do, o segmento que NÃO está empregado em
esperará ler seu leitor? Amenidades? Algu- sentido figurado é:
ma informação científica? A quadratura do a) “Onde o ímã que atraia uma boa limalha?”
círculo encontrada pelo futebol alemão? A (ref. 1)
situação do cinema e do teatro nacionais, b) “lá vem a estátua nova-iorquina com seu fa-
dependentes de financiamento por incenti- cho de luz saudando os navegantes.” (ref. 5)
vos fiscais? Os megatons da última banda de c) “Houve época em que bastava ao cronista
rock que visitou o Brasil? O ativismo político ser poético.” (ref. 12)
das ruas? Uma viagem fantasiosa pelo inte- d) “tudo podia virar uma valsa melancólica ou
rior de um buraco negro, esse mistério maior um tango arrebatador.” (ref. 13)
tocado pela Física? A posição do Reino Unido e) “o cronista que se dizia sem assunto de re-
diante da União Europeia? pente fica aflito por ter de escolher um no
12
Houve época em que bastava ao cronista infinito cardápio digital de assuntos.” (ref. 10)
ser poético: o reencontro com a primeira na-
moradinha, uma tarde chuvosa, um passeio
pela infância distante, um amor machucado, 9. (CPS) Thomas Edison, o gênio da lâmpada
13
tudo podia virar uma valsa melancólica ou
um tango arrebatador. Mas hoje parece que [...] (Thomas) Edison tinha na cabeça a ideia
estamos todos mais exigentes e utilitaristas, de conseguir uma luz suave como a do gás e
e os jovens cronistas dos jornais abordam que apresentasse mais vantagens. O resulta-
criticamente os rumores contemporâneos, do, a lâmpada elétrica, foi a invenção que Ihe
valem-se do vocabulário ligado a novos com- daria mais problemas e trabalho. À primeira
portamentos, ou despejam um humor ácido vista, o desafio parecia simples: tratava-se de
em seus leitores, num tempo sem nostalgia achar um material que ficasse incandescente
e sem utopias. quando a corrente elétrica passasse por ele
É bom lembrar que o papel em que se impri- e depois disso, fazer com esse material um
mem livros, jornais e revistas está sob ame- fio fino, um filamento. Como outros inven-
aça como suporte de comunicação. O mesmo tores, Edison acreditava que esse filamento
ocorre com o material das fitas, dos CDs e precisaria ficar isolado dentro de um bulbo
DVDs: o mundo digital armazena tudo e pro- de vidro do qual o ar tivesse sido retirado,
paga tudo instantaneamente. Já surgem in- pois o oxigênio facilita a combustão. Mesmo
contáveis blogs de cronistas, onde os autores no vácuo, porém, todas as dezenas e deze-
discutem on-line com seus leitores aspectos nas de filamentos diferentes testados pela
da matéria tratada em seus textos. A intera- equipe de Edison queimavam em poucos mi-
tividade tornou-se praticamente uma regra: nutos. Durante mais de um ano, ele e seus
há mesmo quem diga que a própria noção de assistentes fizeram e testaram filamentos de
autor, ou de autoria, já caducou, em função todos os materiais possíveis e imagináveis.
da multiplicidade de vozes que se podem De experiência em experiência, chegaram ao
afirmar num mesmo espaço textual. Num fio de algodão carbonizado.
plano cósmico: quem é o autor do Universo? Foi, literalmente, uma ideia luminosa. Acesa
Deus? O Big Bang? A Física é que explica tudo a 21 de outubro de 1879, a lâmpada brilhou
ou deixemos tudo com o criacionismo? horas seguidas. Absorvido pelo experimento,
Enquanto não chega seu apocalipse profis- Edison não pregou olho enquanto isso. [...]
sional, o cronista de periódico ainda tem (Disponível em: <http://tinyurl.com/zw3g5a9>
Acesso em: 16.02.2016. Adaptado.)
emprego, o que não é pouco, em tempo de
crise. Pois então que arrume assunto, e um A linguagem conotativa preza pelo emprego
bom assunto, para não perder seus leitores. das palavras em sentido figurado ou simbólico.
Como não dá para ser sempre um Machado de Assinale a alternativa em que o autor faz uso
Assis, um Rubem Braga, um Luis Fernando desse tipo de linguagem.
Veríssimo, há que se contentar com um mí- a) “tratava-se de achar um material que ficasse
nimo de estilo e uma boa escolha de tema. A incandescente”
variedade da vida há de conduzi-lo por um b) “o ar tivesse sido retirado, pois o oxigênio
bom caminho; é função do cronista encontrar facilita a combustão”
algum por onde possa transitar acompanhado c) “filamentos diferentes testados pela equipe
de muitos e, de preferência, bons leitores. de Edison queimavam em poucos minutos”
(Teobaldo Astúrias, inédito)
d) “Durante mais de um ano, ele e seus assis-
* Liberdade ainda que tardia. tentes fizeram e testaram filamentos”
** chefes de cozinha. e) “Edison não pregou olho enquanto isso”
62
1
0. (Uece) João Gilberto Noll nasceu em Porto hora apenas de caminhar, de não fazer per-
Alegre, no ano de 1946. Além de contista guntas, caminha! A menina pensou eu vou
e romancista, fez incursões pela literatura parar, fingir que torci o pé, eu vou parar. E
infantil. Ganhou cinco prêmios Jaboti. João parou. O menino sacudiu-a pelos ombros até
Gilberto Noll faz uma literatura caracterizada deixá-la numa vertigem escura. Depois que a
pela dissolução. Seus romances são concisos sua visão voltou a adquirir o lugar de tudo,
e apresentam enredos episódicos sustenta- ela explodiu chamando-o de covarde. Os sol-
dos pela causalidade. Essa técnica difere da dados continuavam a passar em caminhões
técnica narrativa que estabelece o elo entre paquidérmicos. E ela não chorava, apenas um
o real e o ficcional. Os personagens de Noll único soluço seco. O menino gritou então que
são seres não localizados e alijados da expe- ela era uma chata, que ele a deixaria sozinha
riência; muito embora lançados numa suces- na estrada que estava de saco cheio de cui-
são frenética de acontecimentos e passando dar de um traste igual a ela, que se ela não
por um sem número de lugares, o que vivem soubesse o que significa traste, que pode ter
não se converte em saber, em consciência de certeza que é um negócio muito ruim. A me-
ser e de estar no mundo. nina fez uma careta e tremeu de fúria. Você é
o culpado de tudo isso, a menina gritou. Você
Duelo antes da noite é o único culpado de tudo isso. Os soldados
No caminho a menina pegou uma pedra e continuavam a passar.
atirou-a longe, o mais que pôde. O menino Começou a cair o frio e a menina tiritou ba-
puxava a sua mão e reclamava da vagareza lançando os cabelos molhados, mas o meni-
da menina. Deviam chegar até a baixa noite no dizia se você parar eu te deixo na beira
a Encantado, e o menino sabia que ele era da estrada, no meio do caminho, você não é
responsável pela menina e deveria manter nada minha, não é minha irmã, não é minha
uma disciplina. Que garota chata, ele pen- vizinha, não é nada.
sou. Se eu fosse Deus, não teria criado as E Encantado era ainda a alguns lerdos quilô-
garotas, seria tudo homem igual a Deus. A metros. A menina sentiu que seria bom se o
menina sentia-se puxada, reclamada, e por encantado chegasse logo para se ver livre do
isso emitia uns sons de ódio: graças a Deus menino. Entraria no Opala e não olharia uma
que eu não preciso dormir no mesmo quar- única vez pra trás para se despedir daquele
to que você, graças a Deus que eu não vou chato.
morar nunca mais com você. Vamos e não Encantado apareceu e tudo foi como o com-
resmunga, exclamou o menino. E o sol já binado. Doze e meia da noite e o Opala espe-
não estava sumindo? Isso nenhum dos dois rava a menina parado na frente da igreja. Os
perguntava porque estavam absortos na rai- dois se aproximaram do Opala tão devagari-
va de cada um. A estrada era de terra e por nho que nem pareciam crianças. O motorista
ela poucos passavam. Nem o menino nem a bigodudo abriu a porta traseira e falou: pode
menina notavam que o sol começava a se pôr entrar, senhorita. Senhorita... o menino re-
e que os verdes dos matos se enchiam cada petia para ele mesmo. A menina se sentou
vez mais de sombras. Quando chegassem a no banco traseiro. Quando o carro começou a
Encantado o menino poria ela no Opala do andar, ela falou bem baixinho: eu acho que
prefeito e ela nunca mais apareceria. Ele vou virar a cabeça e olhar pra ele com uma
não gosta de mim, pensou a menina cheia cara de nojo, vou sim, vou olhar. E olhou.
de gana. Ele deve estar pensando: o mundo Mas o menino sorria. E a menina não resis-
deveria ser feito só de homens, as meninas tiu e sorriu também. E os dois sentiram o
são umas chatas. O menino cuspiu na areia mesmo nó no peito.
seca. A menina pisou sobre a saliva dele e (NOLL, João Gilberto. In: Romances e contos reunidos.
fez assim com o pé para apagar cuspe. São Paulo: Companhia das Letras, 1997. p. 690-692.)
Até que ficou evidente a noite. E o menino
disse a gente não vai parar até chegar em En- Segundo Massaud Moisés, o conto é, do ponto
cantado, agora eu proíbo que você olhe pros de vista dramático, univalente: contém um
lados, que se atrase. A menina não queria só drama, uma só história, um só conflito
chorar e prendia-se por dentro porque deixar (oposição, luta entre duas forças ou persona-
arrebentar uma lágrima numa hora dessas é gens), uma só ação. As outras características
mostrar muita fraqueza, é mostrar-se muito (limitação do espaço e do tempo; quantidade
menina. E na curva da estrada começaram a reduzida de personagens; unidade de tom ou
aparecer muitos caminhões apinhados de sol- de emoção provocada no leitor, concisão de
dados e a menina não se conteve de curiosi- linguagem) decorrem da unidade dramática.
dade. Para onde vão esses soldados? – ela bal- Com base nessas informações, resolva a(s)
buciou. O menino respondeu ríspido. Agora é questão a seguir.
63
O Dicionário Houaiss Eletrônico apresenta Pode-se infringir uma máxima para não
duas acepções para o substantivo “duelo”: 1. transgredir outra, cujo respeito é considera-
Luta previamente ajustada entre duas pes- do mais importante.
soas, em campo aberto, na presença de tes- No exemplo que segue, a resposta do inter-
temunhas, com armas iguais escolhidas pelo locutor viola a máxima da quantidade para
ofendido, e que tem por objetivo o desagravo não desobedecer à da qualidade:
da honra de um dos combatentes. 2. Deri- – Onde João trabalha? Ele saiu daquela fir-
vação: sentido figurado. Qualquer oposição ma?
conflituosa de ideias, forças, pessoas etc. – No Rio de Janeiro.
O substantivo “Duelo”, no título do conto, Com efeito, quem pergunta quer de fato sa-
NÃO guarda das acepções dicionarizadas o ber é a firma onde João presta serviços. A
seguinte elemento de significação: resposta mais vaga permite inferir que o
a) duas pessoas. interlocutor não sabe exatamente onde João
b) luta. trabalha.
c) desagravo da honra de um dos combatentes. Pode-se explorar a infringência de uma má-
d) oposição conflituosa de ideias. xima com vistas a criar um dado efeito de
sentido. Por exemplo, a ironia é a exploração
de uma transgressão da máxima da qualida-
E.O. Fixação de. O que o texto irônico está dizendo não é
verdade. Deve-se entendê-lo pelo avesso. No
exemplo que segue, “modesto” quer dizer o
1. (Uemg) Os princípios da conversa oposto:
José Luiz Fiorin “‘Tenho uma voz conhecida, então não é
As condições gerais de linguagem que per- qualquer narrador, é o Falabella contando a
história’, diz o modesto autor-locutor”
mitem fazer inferências na troca verbal
(+ Miguel Falabella) (Veja, 11/1/2012, p. 109)
Uma anedota conhecida conta que um agen-
te alfandegário pergunta a um passageiro MÁXIMAS CONVERSACIONAIS
que desembarcara de um voo internacional
e passava pela aduana: Máximas da quantidade
– Licor, conhaque, grapa...? a) Que sua contribuição contenha o tanto de
O passageiro responde: informação exigida;
– Para mim, só um cafezinho. b) Que sua contribuição não contenha mais
A graça da piada reside no fato de que o pas- informação do que é exigido.
sageiro fez, propositadamente ou não, uma Máximas da qualidade (da verdade)
inferência errada nessa situação de comu- a) Que sua contribuição seja verídica;
nicação. Inferiu que o fiscal aduaneiro lhe b) Não diga o que pensa que é falso;
oferecia um digestivo, como no final de uma c) Não afirme coisa de que não tem provas.
refeição num restaurante, quando, na rea-
Máxima da relação (da pertinência)
lidade, a inferência correta é se ele trazia
Fale o que é concernente ao assunto tratado
alguma bebida alcoólica na bagagem. Ele
(seja pertinente).
violou o princípio de pertinência que rege o
uso da linguagem. Máximas de maneira
Chama-se inferência pragmática aquela que Seja claro.
resulta do uso dos princípios que governam a) Evite exprimir-se de modo obscuro;
a utilização da linguagem na troca verbal. b) Evite ser ambíguo;
Paul Grice (1975) postula que um princípio c) Seja breve (evite a prolixidade inútil);
de cooperação preside à comunicação. Ele d) Fale de maneira ordenada.
http://revistalingua.com.br/textos/100/
enuncia-se assim: sua contribuição à comu-
artigo304577-1.asp. (Adaptado).
nicação deve, no momento em que ocorre,
estar de acordo com o objetivo e a direção A textualidade tem a referenciação como um
em que você está engajado. de seus princípios. Trata-se de um processo
Categorias pelo qual introduzimos ideias no texto e as
Esse princípio é explicitado por quatro cate- recuperamos, por meio de recursos diversos.
gorias gerais – a da quantidade das informa- Um dos recursos muito utilizados é a sino-
ções dadas, a de sua verdade, a de sua perti- nímia, que consiste no emprego de palavras
nência e a da maneira como são formuladas, com sentidos semelhantes, de modo a evitar
que constituem as máximas conversacionais. a repetição desnecessária. Em relação aos
(...) pares de palavras a seguir, marque V (verda-
Não são regras deiro) para os pares de sinônimos corretos e
64
F (falso) para os pares de sinônimos incorre- e desamarrou, pelo remar. E a canoa saiu se
tos, de acordo com o texto. indo – a sombra dela por igual, feito um ja-
( ) anedota – piada caré, comprida longa.
( ) agente alfandegário – fiscal aduaneiro (Guimarães Rosa, J. Ficção completa. Rio de
( ) infringência – transgressão Janeiro: Nova Aguilar, 1994, p. 409.)
( ) máxima – regra
I. “No diário” (ref.1) é o mesmo que “no
( ) interlocutor – narrador
cotidiano”.
A sequência CORRETA é: II. “Botou” (ref.2) é um antônimo informal
a) V – F – V – F – V. de “deu”.
b) V – V – V – F – F. III. “Trás” (ref.3) tem um homônimo de clas-
c) F – V – F – F – V. se diferente.
d) V – F –F –F – V. IV. “Esbravejar” (ref.4) é sinônimo perfeito
de “irritar-se”.
Assinale a opção que apresenta as afirma-
2. (PUC) A TERCEIRA MARGEM DO RIO ções corretas.
1 Nosso pai era homem cumpridor, ordei- a) I, II e III, somente.
ro, positivo; e sido assim desde mocinho e b) II, III e IV, somente.
menino, pelo que testemunharam as diver- c) II e IV, somente.
sas pessoas sensatas, quando indaguei a in- d) Todas estão corretas.
formação. Do que eu mesmo me alembro, ele e) I e III, somente.
não figurava mais estúrdio nem mais tris-
te do que os outros, conhecidos nossos. Só 3. (PUC) A coragem (...) só se torna uma 12vir-
quieto. Nossa mãe era quem regia, e que ra- tude quando a serviço de outrem ou de uma
lhava 1no diário com a gente - minha irmã, causa geral e generosa. Como traço de cará-
meu irmão e eu. Mas se deu que, certo dia, ter, a coragem é, sobretudo, uma fraca sen-
nosso pai mandou fazer para si uma canoa. sibilidade ao medo, seja por ele ser pouco
2 Era a sério. Encomendou a canoa espe- sentido, seja por ser bem suportado, ou até
cial, de pau de vinhático, pequena, mal com provocar prazer. É a coragem dos estouvados,
a tabuinha da popa, como para caber justo dos brigões ou dos 10impávidos, a coragem
o remador. Mas teve de ser toda fabricada, dos “durões”, como se diz em nossos filmes
escolhida forte e arquejada em rijo, própria policiais, e todos sabem que a virtude pode
para dever durar na água por uns vinte ou não ter nada a ver com ela.
trinta anos. Nossa mãe jurou muito contra Isso quer dizer que ela é, do ponto de vis-
a ideia. Seria que, ele, que nessas artes não ta moral, totalmente indiferente? Não é tão
vadiava, se ia propor agora para pescarias simples assim. Mesmo numa situação em
e caçadas? Nosso pai nada não dizia. Nossa que 3eu agiria apenas por 11egoísmo, pode-se
casa, no tempo, ainda era mais próxima do estimar que a ação generosa (por exemplo,
rio, obra de nem quarto de légua: o rio por o combate contra um agressor, em vez da
aí se estendendo grande, fundo, calado que súplica) manifestará maior domínio, maior
sempre. Largo, de não se poder ver a forma dignidade, maior 14liberdade, 15qualidades
da outra beira. E esquecer não posso, do dia moralmente significativas e que darão à co-
em que a canoa ficou pronta. ragem, como que por retroação, algo de seu
3 Sem alegria nem cuidado, nosso pai en- valor: sem ser sempre moral, em sua essên-
calcou o chapéu e decidiu um adeus para a cia, a coragem é aquilo sem o que, não há dú-
gente. Nem falou outras palavras, não pegou vida, qualquer moral seria impossível ou sem
matula e trouxa, não fez nenhuma recomen- efeito. Alguém que se entregasse totalmente
dação. Nossa mãe, a gente achou que ela ia ao medo que lugar poderia deixar aos seus
4
esbravejar, mas persistiu somente alva de deveres? (...) O medo é egoísta. A covardia
pálida, mascou o beiço e bramou: “– Cê vai, é egoísta. (...) Como virtude, ao contrário, a
ocê fique, você nunca volte!” Nosso pai sus- coragem supõe sempre uma forma de desin-
pendeu a resposta. Espiou manso para mim, teresse, de 8altruísmo ou de 9generosidade.
me acenando de vir também, por uns passos. Ela não exclui, sem dúvida, uma certa 16in-
Temi a ira de nossa mãe, mas obedeci, de sensibilidade ao medo, até mesmo um gosto
vez de jeito. O rumo daquilo me animava, por ele. Mas não os supõe necessariamente.
chega que um propósito perguntei: “– Pai, o Essa coragem não é a ausência do medo, é a
senhor me leva junto, nessa sua canoa?” 4Ele capacidade de superá-lo, quando ele existe,
só retornou o olhar em mim, e me 2botou a por uma vontade mais forte e mais genero-
bênção, com gesto me mandando para 3trás. sa. Já não é (ou já não é apenas) fisiologia,
Fiz que vim, mas ainda virei, na grota do é força de alma, diante do perigo. Já não é
mato, para saber. Nosso pai entrou na canoa uma paixão, é uma virtude, é a condição de
65
todas. Já não é a coragem dos durões, é a de geração a geração. Nós todos pagamos o
coragem dos doces, e dos heróis. preço de mantê-la funcionando. O analfabe-
(André Comte-Sponville. Pequeno tratado tismo é a sua cavilha.
das grandes virtudes. p. 55 a 57.)
Ainda que endureçamos os nossos corações
A propósito do sentido de certos vocábulos diante da vergonha e da desgraça experi-
no texto, afirma-se: mentadas pelas vítimas, o ônus do analfabe-
1. “impávidos” (ref. 10) significa “deste- tismo é muito alto para todos os demais – o
midos” e poderia ser substituído por “va- custo de despesas médicas e hospitalização,
lentes” sem prejuízo à coerência da frase. o custo de crimes e prisões, o custo de pro-
2. “egoísmo” (ref. 11) e “altruísmo” (ref. gramas de educação especial, o custo da pro-
8) são antônimos. dutividade perdida e de inteligências poten-
3. “virtude” (ref. 12) inclui, em seu sentido cialmente brilhantes que poderiam ajudar a
amplo, os sentidos de “dignidade” (ref. solucionar os dilemas que nos perseguem.
13), “liberdade” (ref. 14), “qualidades” Frederick Douglass ensinou que a alfabetização
(ref. 15) e “generosidade” (ref. 9). é o caminho da escravidão para a liberdade. Há
4. Na composição das palavras “desinteres- muitos tipos de escravidão e muitos tipos de li-
se” (ref. 7) e “insensibilidade” (ref. 16), berdade. Mas saber ler ainda é o caminho.
há elementos de valor semântico equiva- (Carl Sagan. O caminho para a liberdade.
In: O mundo assombrado pelos demônios: a
lente. ciência vista como uma vela no escuro.)
As afirmativas corretas são, apenas:
a) 1 e 2. “Rebeldes” tem como antônimo “dóceis”;
b) 2 e 3. “tiranos” tem como sinônimo “autocratas”.
c) 1, 2 e 3. Assinale a alternativa em que o par de antô-
d) 1, 2 e 4. nimos e o de sinônimos, nesta ordem, está
e) 2, 3 e 4. correto.
a) Vangloriavam e orgulhavam; heresia e ateísmo.
b) Perpétuo e efêmero; súditos e vassalos.
4. (FGV) Os tiranos e os autocratas sempre c) Líder e ideólogo; engrenam e engatam.
compreenderam que a capacidade de ler, d) Ônus e compromisso; esmigalha e esfacela.
o conhecimento, os livros e os jornais são e) Dilemas e certezas; insuflar e esvaziar.
potencialmente perigosos. Podem insuflar
ideias independentes e até rebeldes nas
cabeças de seus súditos. O governador real 5. (Udesc) RIQUEZA
britânico da colônia de Virgínia escreveu em 1 Foi problema que sempre me interessou,
1671: esse de ser rico – quer dizer, ter em mãos as
Graças a Deus não há escolas, nem imprensa possibilidades de poder e os privilégios que
livre; e espero que não [as] tenhamos nestes o dinheiro dá – é o sonho universal das cria-
[próximos] cem anos; pois o conhecimento turas. Todo o mundo precisa, quer dinheiro,
introduziu no mundo a desobediência, a he- o pobre para enganar a miséria, o rico para
resia e as seitas, e a imprensa divulgou-as ficar riquíssimo, o pecador para satisfazer
e publicou os libelos contra os melhores go- seus desejos, o santo para as suas caridades.
vernos. Que Deus nos guarde de ambos! E isso não é para admirar, pois o dinheiro re-
Mas os colonizadores norte-americanos, presenta realmente o denominador comum
compreendendo em que consiste a liberda- de tudo que tem valor material nesta vida,
de, não pensavam assim. inclusive coisas de caráter subjetivo, como o
Em seus primeiros anos, os Estados Unidos poder, o prestígio, o renome, etc. Diz que até
se vangloriavam de ter um dos índices mais o amor.
elevados – talvez o mais elevado – de cida- 2 Tudo isso é o dinheiro. E contudo não
dãos alfabetizados no mundo. há coisa mais limitada do que o dinheiro, a
Atualmente, os Estados Unidos não são o riqueza. Pois que ele só nos vale até certo
líder mundial em alfabetização. Muitos dos ponto, ou seja, até se chocar com os limites
que são alfabetizados não conseguem ler, dessa coisa intransponível que se chama a
nem compreender material muito simples natureza humana.
– muito menos um livro da sexta série, um 3 Você, por exemplo, que tem o seu con-
manual de instruções, um horário de ônibus, tadíssimo orçamento mensal, para você di-
o documento de uma hipoteca ou um progra- nheiro é um sonho, representa mundos im-
ma eleitoral. possíveis – conforto, luxo, viagens, prazeres
As rodas dentadas da pobreza, ignorância, – o ilimitado.
falta de esperança e baixa auto estima se 4 Querer uma coisa e simplesmente assi-
engrenam para criar um tipo de máquina do nar um cheque para obter. Um jardim, um
fracasso perpétuo que esmigalha os sonhos apartamento de luxo, um grande automóvel,
66
ou mesmo o seu avião particular. Boites, te- 6. (Uece) O texto é um excerto de Baú de Ossos
atros, Nova Iorque, Paris! A roda da grã-fi- (volume 1), do médico e escritor mineiro Pe-
nagem internacional, que também se chama dro Nava. Inclui-se essa obra no gênero me-
café-society ou os idle-rich, os ricos ociosos, morialístico, que é predominantemente nar-
Jogar bridge com a Duquesa de Windsor, rativo. Nesse gênero, são contados episódios
dançar com o Ali Khan. verídicos ou baseados em fatos reais, que fi-
5 Entretanto é bom notar que isso tem caram na memória do autor. Isso o distingue
da biografia, que se propõe contar a história
um limite bastante rígido. Fora uma cota
de uma pessoa específica.
de prazeres e conquistas sociais, no fundo
O meu amigo Rodrigo Melo Franco de Andra-
mais subjetivas do que objetivas, além não
de é autor do conto “Quando minha avó mor-
se pode ir. A riqueza, sendo capaz de nos reu”. Sei por ele que é uma história autobio-
proporcionar apenas o que está à venda, não gráfica. Aí Rodrigo confessa ter passado, aos
nos pode dar nada de genuíno, de autêntico, 11 anos, por fase da vida em que se sentia
de natural. Se você perde a perna num aci- profundamente corrupto. Violava as promes-
dente, o dinheiro lhe dará a melhor perna sas feitas de noite a Nossa Senhora; mentia
artificial do mundo – mas artificial. Tanto no desabridamente; faltava às aulas para tomar
milionário como no pobrezinho com perna banho no rio e pescar na Barroca com com-
de pau, o coto mutilado é o mesmo, porque a panheiros vadios; furtava pratinhas de dois
natureza não se vende. E assim, quem com- mil-réis... Ai! de mim que mais cedo que o
pra cabelos supostos não pode esperar razoa amigo também abracei a senda do crime e
velmente senão uns postiços, como já dizia enveredei pela do furto... Amante das artes
José de Alencar. E quem fura um olho, pos- plásticas desde cedo, educado no culto do
sua embora o dinheiro do Rockefeller, terá belo, eu não pude me conter. Eram duas co-
que se arranjar com um olho de vidro, como leções de postais pertencentes a minha pri-
ma Maria Luísa Palleta. Numa, toda a vida de
qualquer de nós.
Paulo e Virgínia – do idílio infantil ao navio
6 Moralidade: Não tenha inveja dos ricos.
desmantelado na procela. Pobre Virgínia,
Não tenha inveja de ninguém, que é melhor.
dos cabelos esvoaçantes! Noutra, a de Joana
Mas se quer invejar, inveje o simples abas- d’Arc, desde os tempos de pastora e das vozes
tado que pode satisfazer as suas necessida- ao da morte. Pobre Joana dos cabelos em cha-
des e, na medida do possível, alguns dos seus ma! Não resisti. Furtei, escondi e depois de
sonhos. E quando nem a abastança pode ser longos êxtases, com medo, joguei tudo fora.
atingida, um bom consolo para o pobre é pen- Terceiro roubo, terceira coleção de postais –
sar que, quer com o seu salário mínimo, quer a que um carcamano, chamado Adriano Mer-
com as rendas vertiginosas do tubarão, tanto lo, escrevia a uma de minhas tias. Os cartões
um como o outro estão trancados nesta nossa eram fabulosos. Novas contemplações solitá-
mesma prisão de carne, este “saco de tripas” rias e piquei tudo de latrina abaixo. Mas o
de que falava o velho Gorki; e se dentro dele mais grave foi o roubo de uma nota de cinco
pouco podemos, fora dele, então, nada nos mil-réis, do patrimônio da própria Inhá Lu-
adianta, nem dinheiro, nem grandeza, nem ísa. De posse dessa fortuna nababesca, com-
poderio. Aí, só a terra fria, nada mais. prei um livro e uma lâmpada elétrica de ta-
manho desmedido. Fui para o parque Halfeld
(Raquel de Queiroz. Cem crônicas escolhidas.
São Paulo: Siciliano, 1993, p.151-3.)
com o butim de minha pirataria. Joguei o
troco num bueiro. Como ainda não soubesse
Marque a proposição VERDADEIRA em relação ler, rasguei o livro e atirei seus restos em
ao sentido atribuído às palavras no texto. um tanque. A lâmpada, enorme, esfregada,
a) No parágrafo 2, “dinheiro” e “riqueza” não não fez aparecer nenhum gênio. Fui me
foram empregadas com equivalência de sen- desfazer de mais esse cadáver na escada da
tido. Igreja de São Sebastião. Lá a estourei, tendo
b) A expressão “coisa intransponível”, (par. 2), a impressão de ouvir os trovões e o morro
do Imperador desabando nas minhas costas.
é sinônimo da expressão “natureza huma-
Depois dessa série de atos gratuitos e deli-
na”.
tos inúteis, voltei para casa. Raskólnikov. O
c) A palavra “sonho” (par. 3), é antônimo de mais estranho é que houve crime, e não cas-
“mundos impossíveis”. tigo. Crime perfeito. Ninguém desconfiou.
d) A palavra “genuíno” (par. 5), foi empregada Minha avó não deu por falta de sua cédula.
como sinônimo de “autêntico” (par.5 ). Eu fiquei por conta das Fúrias de um remor-
e) A expressão “cabelos supostos” (par. 5), é so, que me perseguiu toda a infância, veio
uma forma pejorativa de cabelos “postiços” comigo pela vida afora, com a terrível im-
(par.5). pressão de que eu poderia reincidir porque
67
vocês sabem, cesteiro que faz um cesto... Está correta, de cima para baixo, a seguinte
Só me tranquilizei anos depois, já médico, sequência:
quando li num livro de Psicologia que só se a) V, F, F, V, V, V.
deve considerar roubo o que a criança faz b) F, F, V, V, F, F.
com proveito e dolo. O furto inútil é fisio- c) V, V, V, F, F, F.
lógico e psicologicamente normal. Graças a d) V, V, F, V, V, V.
Deus! Fiquei absolvido do meu ato gratuito...
(Pedro Nava. Baú de ossos. Memórias 1. p. 308 a 310.) 8. (G1 – cp2) A terra dos meninos pelados
1
Graciliano Ramos
Sinônimo é um vocábulo que, em determina-
do texto, apresenta significado semelhante 2
Havia um menino diferente dos outros me-
ao de outro e que pode, em alguns contextos, ninos: tinha o olho direito preto, o esquerdo
ser usado no lugar desse outro sem alterar o azul e a cabeça pelada. 3Os vizinhos manga-
sentido da sentença. Hiperônimo é um vocá- vam dele e gritavam:
bulo ou um sintagma de sentido mais gené- – 4Ó pelado!
rico em relação a outro. Ele abarca vocábulos Tanto gritaram que ele se acostumou, achou
de sentidos menos genéricos ou mais especí- o apelido certo, deu para se assinar a carvão,
ficos. Hipônimo é um vocábulo menos geral nas paredes: Dr. Raimundo Pelado. 5Era de
ou mais específico, cujo sentido é abarcado bom gênio e não se zangava; mas os garotos
pelo sentido do hiperônimo. Considere a or- dos arredores fugiam ao vê-lo, escondiam-se
dem em que foram distribuídos os vocábulos por detrás das árvores da rua, mudavam a
do excerto transcrito a seguir e assinale a voz e perguntavam que fim tinham levado os
opção correta: “abracei a senda do crime e cabelos dele. 6Raimundo entristecia e fecha-
enveredei pela do furto...”. va o olho direito. 7Quando o 8aperreavam de-
a) Os vocábulos roubo e furto são sinônimos e mais, aborrecia-se, fechava o olho esquerdo.
um pode substituir o outro, indistintamen- E a cara ficava toda escura.
te, em qualquer contexto.
9
Não tendo com quem entender-se, Raimun-
b) Crime é hiperônimo de furto. Isso significa do Pelado falava só, e os outros pensavam
que o sentido do vocábulo crime é mais ge- que ele estava malucando. Estava nada!
nérico do que o sentido do vocábulo furto.
10
Conversava sozinho e desenhava na calça-
c) Nesse contexto, a inversão da posição dos da coisas maravilhosas do país de Tatipirun,
vocábulos crime e furto seria aceitável: onde não há cabelos e as pessoas têm um
“abracei a senda do furto e enveredei pela olho preto e outro azul.
do crime”. RAMOS, Graciliano. Alexandre e outros heróis.
Rio de Janeiro: Record, 1987, p. 104.
d) Sendo vereda um caminho estreito e enve-
redar, seguir por uma vereda, seria lógico 1
O alagoano Graciliano Ramos é um dos au-
dizer “abracei a vereda do crime e enveredei tores mais importantes da Literatura Brasi-
pelo caminho do furto”. leira.
8
aperreavam – chateavam.
7. (UEC) No trecho “abracei a senda do crime
e enveredei pela do furto...”, foi empregada Releia o seguinte trecho do texto de Graci-
linguagem figurada. Assinale V ou F, confor- liano Ramos:
me seja verdadeiro ou falso o que se diz so- “Os vizinhos mangavam dele e gritavam”
bre esse trecho. (ref. 3).
( ) O sentido primeiro do vocábulo “senda” é Qual das alternativas a seguir apresenta um
caminho. sinônimo para o verbo sublinhado no trecho
( ) No texto, o vocábulo “senda” foi emprega- acima?
do para indicar aquilo que é feito habitual- a) Os vizinhos concordavam com ele e grita-
mente; prática observada; hábito, rotina. vam.
( ) O trecho foi composto com duas metáfo- b) Os vizinhos zombavam dele e gritavam.
ras: uma expressa pelo vocábulo “senda” c) Os vizinhos fugiam dele e gritavam.
e outra pelo vocábulo “furto”. d) Os vizinhos batiam nele e gritavam.
( ) O substantivo “senda” e o verbo enve-
redar (“enveredei”) formam uma única
metáfora, a metáfora do caminho. 9. (Upe) Texto 1
( ) Em linguagem não metafórica, teríamos “Vamos celebrar nossa justiça
algo como o que segue: comecei a praticar A ganância e a difamação
crimes, mais especificamente o furto. Vamos celebrar os preconceitos
( ) O verbo abraçar (“abracei”), usado tam- O voto dos analfabetos
bém em sentido figurado, fortalece a me- Comemorar a água podre
táfora do caminho, pois, dentre as várias E todos os impostos
acepções desse verbo, estão as de envol- Queimadas, mentiras
ver, tomar como seu, adotar. E sequestros...”
68
Texto 2 podem descuidar da inflação. Se eu fosse
cunhar uma frase digna de um porta-voz da
“Há manifestantes representando policiais, bufunfa, eu diria (parafraseando uma outra
que defendem a votação da PEC (Proposta de máxima trivializada pela repetição): "O pre-
Emenda à Constituição) 300, que estabele- ço da estabilidade é a eterna vigilância".
ce o piso nacional para policiais militares e Entretanto, a estabilidade não deve se con-
bombeiros. Outro grupo representa médicos verter em estagnação. Ou seja, o que quere-
que querem a derrubada do veto ao projeto mos é a estabilidade da moeda nacional, mas
de lei do Ato Médico; e um terceiro bloco é
não a estabilidade dos níveis de produção e
formado por profissionais de 13 categorias
de emprego.
da área de saúde que defendem a manuten-
A aceleração do crescimento não parece tra-
ção do veto.”
zer grande risco para o controle da inflação.
Com base nos textos 1 e 2, analise as afirma-
Ela não tem nada de excepcional. O Brasil
tivas a seguir:
está se recuperando de um longo período de
I. A linguagem literária é predominante-
mente referencial, visto que é de nature- crescimento econômico quase sempre me-
za complexa e ambivalente. díocre, inferior à média mundial e bastan-
II. A denotação está presente no texto 1, te inferior ao de quase todos os principais
pois as palavras possuem sentidos mais emergentes.
precisos. O Brasil apenas começou a tomar um certo
III. O texto 1 é polissêmico por ser literário e impulso. Não vamos abortá-lo por medo da
passível de provocar interpretações dife- inflação.
(Folha de S.Paulo, 13.09.2007. Adaptado)
renciadas.
IV. A expressão “... celebrar nossa justiça...” Segundo o Dicionário Aurélio, 2.a edição,
é produzida com ironia pelo eu lírico. p. 1781, o primeiro sentido da expressão
V. A sigla PEC 300, utilizada no texto 2, pos- "vira-lata" é cão de rua, sem raça determi-
sui sentido figurado e gera dubiedade na nada. Pode-se afirmar que, no texto, essa ex-
compreensão.
pressão em
Estão CORRETAS
– O nosso complexo de "vira-lata" tem múl-
a) I, II e III.
tiplas facetas.–
b) I, II e IV.
a) repete o sentido dicionarizável e revela o
c) II, III e IV.
mau gosto estilístico do autor, o que torna a
d) II, IV e V.
frase pouca adequada ao contexto.
e) III, IV e V.
b) contrapõe-se ao sentido dicionarizável e in-
dica a visão positiva que se tem da economia
10. (Fgv) ESTAMOS CRESCENDO DEMAIS ? brasileira.
O nosso "complexo de vira-lata" tem múlti- c) emprega-se em sentido figurado, em con-
plas facetas. Uma delas é o medo de crescer. formidade com a definição apresentada pelo
Sempre que a economia brasileira mostra dicionário.
um pouco mais de vigor, ergue-se, sinistro, d) traduz no seu sentido próprio a incapacida-
um coro de vozes falando em "excesso de de dos profissionais de avaliar os dados da
demanda" "retorno da inflação" e pedindo economia brasileira.
medidas de contenção. e) encontra-se empregada em sentido figurado
O IBGE divulgou as Contas Nacionais do se- e mostra um sentimento de insegurança dos
gundo trimestre de 2007. Não há dúvidas que avaliam a economia.
de que a economia está pegando ritmo. O
crescimento foi significativo, embora tenha
ficado um pouco abaixo do esperado. O PIB
cresceu 5,4% em relação ao segundo trimes-
E.O. Complementar
tre do ano passado. A expansão do primeiro
semestre foi de 4,9% em comparação com 1. (Uel) Os pares acidente/incidente; cheque/
igual período de 2006.(...) xeque; vultoso/vultuoso; verão/estio são,
Aturma da bufunfa não pode se queixar. respectivamente:
Entre os subsetores do setor serviços, o seg- a) sinônimos, homônimos, parônimos e antôni-
mento que está "bombando" é o de interme- mos.
diação financeira e seguros - crescimento de b) parônimos, homônimos, parônimos e sinôni-
9,6%. O Brasil continua sendo o paraíso dos mos.
bancos e das instituições financeiras. c) parônimos, parônimos, sinônimos e sinôni-
Não obstante, os porta-vozes da bufunfa fi- mos.
nanceira, pelo menos alguns deles, parecem d) homônimos, homônimos, parônimos e sinô-
razoavelmente inquietos. Há razões para esse nimos.
medo? É muito duvidoso. Ressalva trivial: é e) sinônimos, parônimos, sinônimos e antôni-
claro que o governo e o Banco Central nunca mos.
69
2. (UFRGS) Viagens, cofres mágicos com pro- centena de anos, neste mesmo lugar, outro
messas sonhadoras, não mais 5revelareis viajante pranteará o desaparecimento do
6
vossos tesouros intactos! Hoje, quando ilhas que eu poderia ter visto e que me escapou.
polinésias afogadas em concreto se transfor- (Adaptado de: LÉVI-STRAUSS, C. Tristes trópicos.
mam em porta-aviões ancorados nos mares São Paulo: Cia. das Letras, 1996. p. 38-44.)
do Sul, quando as favelas corroem a África,
Assinale a alternativa que apresenta o sinô-
quando a aviação 9avilta a floresta ameri-
nimo adequado para a respectiva palavra do
cana antes mesmo de poder 7destruir-lhe a
texto, considerando o contexto em que esta
virgindade, de que modo poderia a pretensa
é empregada.
10
evasão da viagem conseguir outra coisa que
não 14confrontar-nos 15com as formas mais a) avilta (ref. 9) − degrada
miseráveis de nossa existência histórica? b) evasão (ref. 10) – falta
18
Ainda 22assim, compreendo a paixão, a c) soçobrar (ref. 11) – definhar
loucura, o equívoco das narrativas de via- d) encetado (ref. 12) – preparado
gem. Elas 16criam a ilusão daquilo 1que não e) carece (ref. 13) – prescinde
existe mais, mas 2que ainda deveria existir.
Trariam nossos modernos Marcos Polos, das 3. (UFRGS) O que havia de tão revolucionário
mesmas terras distantes, desta vez em for- na Revolução Francesa? Soberania popular,
ma de fotografias e relatos, as especiarias liberdade civil, igualdade perante a lei – as
morais 3de que nossa sociedade experimenta palavras hoje são ditas com tanta facilidade
uma necessidade aguda ao se sentir 11soço- que somos incapazes de imaginar seu cará-
brar no tédio? ter explosivo em 1789. Para os franceses do
É assim que me identifico, viajante procu- Antigo Regime, os homens eram desiguais, e
rando em vão reconstituir o exotismo com o a desigualdade era uma boa coisa, adequada
auxílio de fragmentos e de destroços. 19En- à ordem hierárquica que fora posta na natu-
tão, 26insidiosamente, a ilusão começa a te- reza pela própria obra de Deus. A liberdade
cer suas armadilhas. Gostaria de ter vivido significava privilégio – isto é, literalmen-
no tempo das verdadeiras viagens, quando te, “lei privada”, uma prerrogativa especial
um espetáculo ainda não estragado, conta- para fazer algo negado a outras pessoas.
minado e maldito se oferecia em todo o seu O rei, como fonte de toda a lei, distribuía
esplendor. 20Uma vez 12encetado, o jogo de privilégios, pois havia sido ungido como o
conjecturas não tem mais fim: quando se de- agente de Deus na terra.
veria visitar a Índia, em que época o estu- Durante todo o século XVIII, os filósofos do
do dos selvagens brasileiros poderia levar a Iluminismo questionaram esses pressupos-
conhecê-los na forma menos alterada? Teria tos, e os panfletistas profissionais conse-
sido melhor chegar ao Rio no século XVIII? guiram 14empanar a aura sagrada da coroa.
Cada década para 23trás 29permite 27salvar Contudo, a desmontagem do quadro mental
um costume, 28ganhar uma festa, 17partilhar do Antigo Regime demandou violência ico-
uma crença suplementar. noclasta, destruidora do mundo, revolucio-
21
Mas conheço bem demais os textos do pas- nária.
sado para não saber que, me privando de um Seria ótimo se pudéssemos associar a Revo-
século, renuncio a perguntas dignas de enri- lução exclusivamente à Declaração dos Direi-
quecer minha reflexão. E eis, diante de mim, tos do Homem e do Cidadão, mas ela nas-
o círculo intransponível: quanto menos as ceu na violência e imprimiu seus princípios
culturas tinham condições de se comunicar em um mundo violento. Os conquistadores
entre si, menos também os emissários 8res- da Bastilha não se limitaram a destruir um
pectivos eram capazes de perceber a riqueza símbolo do despotismo real. Entre eles, 150
e o significado da diversidade. No final das foram mortos ou feridos no assalto à prisão
contas, sou prisioneiro de uma 32alternativa: e, quando os sobreviventes apanharam o di-
30
ora viajante antigo, confrontado com um retor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na
prodigioso espetáculo do qual quase tudo por Paris na ponta de uma lança.
lhe escapava 24– ainda pior, inspirava tro- Como podemos captar esses momentos de
ça ou desprezo 25–, 31ora viajante moderno, loucura, quando tudo parecia possível e o
correndo atrás dos vestígios de uma realida- mundo se afigurava como uma tábula rasa,
de desaparecida. Nessas duas situações, sou apagada por uma onda de comoção popular
perdedor, pois eu, que me lamento diante e pronta para ser redesenhada? Parece in-
das sombras, talvez seja impermeável ao ver- crível que um povo inteiro fosse capaz de se
dadeiro espetáculo que está tomando forma levantar e transformar as condições da vida
neste instante, mas 4para cuja observação, cotidiana. Duzentos anos de experiências
meu grau de humanidade ainda 13carece da com admiráveis mundos novos tornaram-
sensibilidade necessária. 33Dentro de alguma -nos 15céticos quanto ao planejamento social.
70
Retrospectivamente, a Revolução pode pare- Entretanto, Ford ia recebendo e lendo rela-
cer um prelúdio ao totalitarismo. tórios. E estes contavam histórias diferentes
Pode ser. Mas um excesso de visão histórica das que figuravam nos frontispícios dos jor-
retrospectiva pode distorcer o panorama de nais: definhavam as seringueiras pelo exces-
1789. Os revolucionários franceses não eram so de sol e pela falta de umidade e de humo.
nossos contemporâneos. E eram um conjunto Estavam murchando ao sol da região. À falta
de pessoas não excepcionais em circunstân- de proteção das sombras da floresta tropi-
cal, o exército de seringueiras de Mr. Ford ia
cias excepcionais. Quando as coisas se desin-
morrer ao sol. Triunfava o desordenado da
tegraram, eles reagiram a uma necessidade
selva contra a disciplina do seringal.
imperiosa de dar-lhes sentido, ordenando a Devemos concluir daí que na Amazônia seja
sociedade segundo novos princípios. Esses de todo impossível 21estabelecer florestas
princípios ainda permanecem como uma de- homogêneas ou que o grande vale seja de
núncia da tirania e da injustiça. Afinal, em todo impróprio para o florescimento de uma
que estava empenhada a Revolução France- grande civilização? Ainda não. Por enquanto,
sa? Liberdade, igualdade, fraternidade. a conclusão a tirar é outra. Na verdade, o que
(Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. se fez nas margens do Tapajós foi transplan-
In: ____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e tar para o trópico a técnica, os métodos e os
revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.) processos de resultados comprovados apenas
em climas temperados ou frios – a ciência e
Assinale a alternativa que apresenta sinôni- a técnica do cultivo da terra próprias para
mos para as palavras especial (ref. 13), em- os trópicos estão ainda em fase empírica e
panar (ref. 14) e céticos (ref. 15), no con- 22
elementar.
texto em que ocorrem. (Adaptado de: MOOG, Vianna. Bandeirantes e
a) notável – anular – descrentes pioneiros; paralelo entre duas culturas. 9. ed. Rio
b) maravilhosa – embaçar – desfavoráveis de Janeiro: Civilização Brasileira, 1969. p. 27.)
c) exclusiva – obscurecer – descrentes
Assinale a alternativa em que a segunda pala-
d) exclusiva – anular – incrédulos
vra constitui sinônimo adequado da primeira,
e) notável – obscurecer – desfavoráveis considerando o contexto em que esta ocorre.
a) apropriadas (ref. 18) – conquistadas
4. (UFRGS) Por volta de 1928, Henry Ford de- b) emissários (ref. 19) – mandatários
batia-se com uma ideia fixa: queria encon- c) desfecho (ref. 20) – clímax
trar uma fórmula salvadora para o problema d) estabelecer (ref. 21) – localizar
do suprimento da borracha para sua indús- e) elementar (ref. 22) – básica
tria. Estava cansado de aturar os preços que
os ingleses de Ceilão lhe impunham. Como? 5. (Uff) 1Em 1º de janeiro de 1502, uma expe-
Plantando borracha na Amazônia. Não havia dição portuguesa chegou, pela primeira vez,
o súdito inglês Henry Wickham transporta- à região do que hoje é a costa carioca. 2Quan-
do às escondidas para a Inglaterra as mudas do entraram na Baía de Guanabara e navega-
da seringueira da Amazônia? Tudo estava ram em suas águas, os portugueses acharam
em organizar seringais homogêneos em ter- que era a foz de um grande rio, prontamente
ras 18apropriadas. Por conseguinte, rumo ao chamado por eles de Rio de Janeiro. 3Poste-
riormente, descobriram que, na verdade, se
Brasil, rumo à Amazônia.
tratava de uma baía, que foi renomeada.
O Brasil exultou. E logo o governo brasileiro 4
A grandiosidade da Baía de Guanabara,
recebe os 19emissários de Ford como costuma hoje, limita-se a seu tamanho e à sua histó-
receber os americanos em geral: de braços ria. Embora seja berço da cidade do Rio, tes-
abertos. Começa o trabalho. A mata resiste, temunha e protagonista de muitos dos mais
mas recua ao passo que os tratores vão fa- importantes acontecimentos relacionados à
zendo a derrubada para a clareira, já as casas cidade e ao país, a enorme baía parece cho-
começam a surgir, o hospital, os postos de rar. 5Em seus mais de 500 anos, ela agoniza
higiene, as quadras de tênis, as mansões dos enquanto o descaso impera e propostas efe-
diretores. Dentro da floresta amazônica, o tivas para sua preservação e recuperação não
ianque fizera surgir uma nova cidade. E tudo saem do papel.
caminhava como convinha. Três mil caboclos http://www.educacaopublica.rj.gov.br/
cultura/especiais/guanabara/intro.htm
trabalhavam; um milhão de pés de serin-
gueira eram plantados. A floresta arquejava, O texto apresenta fatos, dados e datas, ca-
mas cedia. E quando, decorridos apenas dois racterizando-se como um exemplo de lin-
anos, as seringueiras começam a despontar guagem informativa. No entanto, como re-
em pelotões, em batalhões, em regimentos, curso de estilo para ênfase de determinados
ninguém mais tem dúvida sobre o 20desfecho aspectos, destacam-se palavras com sentido
da luta. figurado.
71
Identifique a passagem que apresenta exem- 2. (Fgv)
plo de palavra usada em linguagem figurada.
a) Em 10. de janeiro de 1502, uma expedição Texto I
portuguesa chegou, pela primeira vez, à re- QUAL O PODER DA LEITURA NESTES TEMPOS
gião do que hoje é a costa carioca. (ref. 1) DIFÍCEIS?
b) Quando entraram na Baía de Guanabara e
navegaram em suas águas, os portugueses Hoje, é possível dizer que o mundo inteiro é
acharam que era a foz de um grande rio, um “espaço em crise”. Uma crise se estabele-
(ref. 2) ce de fato quando transformações de caráter
c) Posteriormente, descobriram que, na verda- brutal – mesmo se preparadas há tempos -,
de, se tratava de uma baía, que foi renome- ou ainda uma violência permanente e gene-
ada. (ref. 3) ralizada, tornam extensamente inoperantes
d) A grandiosidade da Baía de Guanabara, hoje, os modos de regulamentação, sociais e psí-
limita-se a seu tamanho e à sua história. quicos, que até então estavam sendo prati-
(ref. 4) cados. Ora, a aceleração das transformações,
e) Em seus mais de 500 anos, ela agoniza en- o crescimento das desigualdades, das dispa-
quanto o descaso impera e propostas efeti- ridades, a extensão das migrações alteraram
vas para sua preservação e recuperação não ou fizeram desaparecer os parâmetros nos
saem do papel. (ref. 5) quais a vida se desenvolvia, vulnerabilizan-
do homens, mulheres e crianças, de maneira
obviamente bastante distinta, de acordo com
E.O. Dissertativo os recursos materiais, culturais, afetivos de
que dispõem e segundo o lugar onde vivem.
Para boa parte deles, no entanto, tais crises
1. (Ufrrj) FIM DA 2a GUERRA MUNDIAL - BOM- se manifestam em transtornos semelhantes.
BA ATÔMICA Vividas como rupturas, ainda mais quando
SESSENTA ANOS DE TERROR NUCLEAR são acompanhadas da separação dos próxi-
mos, da perda da casa ou das paisagens fa-
Destruídas por bombas, Hiroshima e Naga- miliares, as crises os confinam em um tempo
saki hoje lideram luta contra essas armas imediato – sem projeto, sem futuro –, em
Domingo, 31 de julho de 2005 - O GLOBO um espaço sem linha de fuga. Despertam fe-
Gilberto Scofield Jr.
ridas antigas, reativam o medo do abandono,
Enviado especial Hiroshima, Japão
abalam o sentimento de continuidade de si e
"Shizuko Abe tinha 18 anos no dia 6 de a autoestima. Provocam, às vezes, uma per-
agosto de 1945 e, como todos os jovens ja- da total de sentido, mas podem igualmente
poneses durante a Segunda Guerra Mundial, estimular a criatividade e a inventividade,
ela havia abandonado os estudos para se de- contribuindo para que outros equilíbrios
dicar ao esforço de guerra. Era um dia claro sejam forjados, pois em nosso psiquismo,
e quente de verão e às 8h, Shizuko e seus co- como disse René Kaës, uma “crise libera, ao
legas iniciavam a derrubada de parte das ca- mesmo tempo, forças de morte e forças de
sas de madeira do centro de Hiroshima para regeneração”. “O desastre ou a crise são tam-
tentar criar um cordão de isolamento antiin- bém, e sobretudo, oportunidades”, escreve-
ram Chamoiseau e Glissant, após a passagem
cêndio no caso de um bombardeio incendiá-
de um ciclone. “Quando tudo desmorona ou
rio aéreo. Àquela altura, ninguém imaginava
se vê transformado, são também os rigores
que Hiroshima seria o 2laboratório de outro
ou as impossibilidades que se veem transfor-
tipo de bombardeio, muito mais devastador
mados. São os improváveis que, de repente,
e letal, para o qual os abrigos antiincêndio
se veem esculpidos por novas luzes”.
foram inúteis".
A leitura pode garantir essas forças de vida?
"Hiroshima, Japão. Passear pelas ruas de O que esperar dela – sem vãs ilusões – em
Hiroshima hoje – 60 anos depois da tra- lugares onde a crise é particularmente in-
gédia que matou 140 mil pessoas e deixou tensa, seja em contextos de guerra ou de
cicatrizes eternas em outros 60 mil, numa repetidas violências, de deslocamentos de
população de 400 mil – é nunca esquecer o populações mais ou menos forçados, ou de
passado. Apesar de rica e moderna com seus vertiginosas recessões econômicas?
1,1 milhão de habitantes circulando em bem Em tais contextos, crianças, adolescentes e
cuidadas ruas e avenidas, os monumentos às adultos poderiam redescobrir o papel dessa
vítimas do terror atômico estão em todos os atividade na reconstrução de si mesmos e,
lugares". além disso, a contribuição única da literatu-
A palavra "laboratório" (ref. 2) foi usada ra e da arte para a atividade psíquica. Para a
no texto em sentido figurado. Explique esse vida, em suma.
sentido, tendo em vista o contexto ao qual a Michèle Petit, A arte de ler ou como resistir
reportagem se refere. à adversidade. São Paulo: ed. 34, 2009.
72
Texto II Responda o que se pede.
a) Apesar do texto II abordar um tema genérico
Paradoxalmente, o caos em que a humani- e o texto I, um tema mais específico, é pos-
dade corre o risco de mergulhar traz em seu sível identificar no conteúdo de ambos algu-
bojo sua própria e última oportunidade. Por ma ideia comum? Justifique sua resposta.
quê? Para começar, porque a proximidade do b) Sem provocar alterações no sentido do texto
perigo favorece as instâncias de conscien- II, que sinônimos poderiam substituir, res-
tização, que podem então multiplicar-se, pectivamente, as palavras “Paradoxalmente”
ampliar-se e fazer surgir uma grande po- (início do texto) e “metamorfosear-se” (fi-
lítica de salvação do mundo. E, sobretudo, nal do texto)?
pela seguinte razão: quando um sistema é
incapaz de resolver seus problemas vitais, ou
3. (Ufpe) A vida é CURTA. CURTA!
ele se desintegra, ou é capaz, dentro de sua
própria desintegração, de metamorfosear-se Num jogo de linguagem, os dois termos des-
num metassistema mais rico, capaz de bus- tacados têm sentidos diferentes.
car soluções para esses problemas. a) Indique um sinônimo para cada um dos ter-
Edgar Morin, http://www.comitepaz.org.br mos.
b) Reescreva os períodos, explicitando, por
Texto III meio de um conectivo, a relação semântica
O que diz o vento (07/10/1991) estabelecida entre os dois.
Para o Brasil chegar afinal ao Primeiro Mun-
do só falta vulcão. Uns abalozinhos já têm 4. (Pucrj) A CLASSE
havido por aí, e cada vez mais frequentes. A eliminação gradual da classe média brasi-
Agora passa por Itu esse vendaval, com tan- leira, um processo que começou há anos mas
tas vítimas e tantos prejuízos a lastimar. Al- que de uns tempos para cá assumiu propor-
guns jornais não tiveram dúvida: ciclone. Ou ções catastróficas, a ponto de a classe média
tornado, quem sabe. brasileira ser hoje classificada pelas Nações
Shelley que me desculpe, mas vento me dá Unidas como uma espécie em extinção, junto
nos nervos. Desarruma a gente por dentro. com o mico-rosa e a foca-focinho-verde, está
Mas, em matéria de vento, poeta tem imuni- preocupando autoridades e conservacionis-
dades. Manuel Bandeira associou à canção do
tas nacionais. Estudam-se medidas para aca-
vento a canção da sua vida.
bar com o massacre indiscriminado que vão
O vento varria as luzes, as músicas, os aro-
desde o estabelecimento de cotas anuais –
mas. E a sua vida ficava cada vez mais cheia
só uma determinada parcela da classe média
de aromas, de estrelas, de cânticos.
poderia ser abatida durante uma temporada
Fúria dos elementos, símbolo da instabilida-
– até a criação de santuários onde, livre de
de, o vento é ao mesmo tempo sopro de vida.
impostos extorsivos e protegida de contra-
Uma aragem acompanha sempre os anjos.
cheques criminosos e custos predatórios, a
E foi o vento que fez descer sobre os após-
classe média brasileira se reproduziria até
tolos as línguas de fogo do Espírito Santo.
recuperar sua antiga força 2numérica, e
Destruidor e salvador, com o vento renasce a
numerária. Uma espécie de reserva de mer-
vida, diz a “Ode to the West Wind”, de Shel-
cado. A tentativa de recriar a classe média
ley. No inverno só um poeta romântico en-
brasileira em laboratório, como se sabe, não
trevê o início da primavera. Divindade para
deu certo. Os protótipos, assim que conse-
os gregos, o vento inquieta porque sacode a
guiram algum dinheiro, fretaram um avião
apatia e a estagnação.
para Disneyworld.
Com esse poder de levar embora, suponha-
A preservação natural da classe média brasi-
mos que uma lufada varresse o Brasil, como
leira evitaria coisas constrangedoras como a
na canção do Manuel Bandeira. Que é que
recente reunião da classe realizada em São
esse vento benfazejo devia levar embora?
Paulo, à qual, de vários pontos do Brasil,
Todo mundo sabe o mundo de males que
compareceram dezessete pessoas. As outras
nos oprime nesta hora. Deviam ser varridos
cinco não conseguiram crédito para a pas-
para sempre. Se vento leva e traz, se vento é
sagem. A reunião teve de ser transferida do
mudança, não custa acreditar que, passada
a tempestade, vem a bonança. E com ela, o Morumbi para a mesa de uma pizzaria, e nin-
sopro renovador — garante o poeta. A casa guém pediu vinho. Uma proposta para que
destelhada, a destruição já começou. Vem aí a classe fizesse greve nacional para chamar
a reconstrução. a atenção do país para a sua crescente in-
significância foi rejeitada sob a alegação de
Otto Lara Resende, Bom dia para nascer:
crônicas publicadas na Folha de S. Paulo. São que ninguém iria notar. Fizeram uma coleta
Paulo: Cia. das Letras, 2011. Adaptado. para financiar a eleição de representantes
73
da classe média na Assembleia Constituinte, 5. (Ufmg) Analise este "slogan" de uma em-
mas acabaram devolvendo os 10 cruzeiros. A presa gráfica:
única resolução aprovada foi a de que, para O NOSSO PRODUTO É UMA BOA IMPRESSÃO
evitar a perseguição, todos se despojassem Explique de que modo se explora, nesse "slo-
de sinais ostensivos de serem da classe mé- gan", a polissemia.
dia, como carro pequeno etc., e passassem a
viver como pobres. Aí não seria rebaixamen-
to social, seria disfarce. No fim os garçons se E.O. Enem
cotizaram e deram uma gorjeta para os inte-
grantes da mesa. 1. (Enem) Perder a tramontana
Cenas lamentáveis têm ocorrido também
com ex-membros da classe média que, pas- A expressão ideal para falar de desorienta-
sando para uma classe inferior, não sabem dos e outras palavras de perder a cabeça
como se comportar e são alvo de desprezo de É perder o norte, desorientar-se. Ao pé da
pobres tradicionais, que os chamam de "no- letra, “perder a tramontana” significa deixar
vos pobres". de ver a estrela polar, em italiano stella tra-
– Viu aquela ali? Quis fazer caneca de lata montana, situada do outro lado dos montes,
de óleo e não sabe nem abrir um buraco com que guiava os marinheiros antigos em suas
prego. viagens desbravadoras.
– E usa lata de óleo de milho. Deixar de ver a tramontana era sinônimo de
– Metida a pouca coisa... desorientação. Sim, porque, para eles, valia
– Já viram ela num ônibus? Não sabe empur- mais o céu estrelado que a terra. O Sul era
rar a borboleta com a anca enquanto briga região desconhecida, imprevista; já ó Norte
com o cobrador. tinha como referência no firmamento um
– E não conta o troco! ponto luminoso conhecido como a estrela
– 3Berço é berço, minha filha. Polar, uma espécie de farol para os navegan-
Alguns pobres menos preconceituosos ainda tes do Mediterrâneo, sobretudo os genoveses
tentam ajudar os novos pobres a evitar suas e os venezianos. Na linguagem deles, ela fi-
gafes. cava trasmontes, para além dos montes, os
– Olhe, não leve a mal... Alpes. Perdê-la de vista era perder a tramon-
– O quê? tana, perder o Norte.
– É o seu jeito de falar. No mundo de hoje, sujeito a tantas pressões,
– Diga-me. muita gente não resiste a elas e entra em pa-
– Você às vezes usa o 1pronome oblíquo mui- rafuso. Além de perder as estribeiras, perde
to certo. a tramontana...
– Mas... (COTRIM, M. Língua Portuguesa, n. 15, jan. 2007.)
– Aqui na vila, pronome oblíquo certo pega
mal.
Nesse texto, o autor remonta às origens da
– Sei.
expressão “perder a tramontana”. Ao tratar
– E outra coisa...
do significado dessa expressão, utilizando
– O quê?
a função referencial da linguagem, o autor
– Os seus discos.
busca;
– O toca-discos foi a única coisa que eu con-
a) apresentar seus indícios subjetivos.
segui salvar quando me despejaram.
b) convencer o leitor a utilizá-la.
− Eu sei. Mas Julio Iglesias?!
c) expor dados reais de seu emprego.
(Luís Fernando Veríssimo - COMÉDIAS
DA VIDA PÚBLICA - 17/07/85)
d) explorar sua dimensão estética.
e) criticar sua origem conceitual.
"A única resolução aprovada foi a de que,
para evitar a perseguição, todos se despojas- 2. (Enem) Azeite de oliva e óleo de linhaça:
sem de sinais ostensivos de serem da classe uma dupla imbatível.
média, como carro pequeno etc., e passassem Rico em gorduras do bem, ela combate a obe-
a viver como pobres. Aí não seria rebaixa- sidade, dá um chega pra lá no diabete e ain-
mento social, seria disfarce." Escreva duas da livra o coração de entraves.
frases em que a palavra "aí" esteja emprega- Ninguém precisa esquentar a cabeça caso não
da com o valor semântico e de uso: seja possível usar os dois óleos juntinhos, no
a) igual ao do trecho acima; mesmo dia. Individualmente, o duo também
b) diferente do trecho acima; bate um bolão. Segundo um estudo recente
Contextualize, se necessário, para deixar o do grupo EurOlive, formado por instituições
significado inquestionavelmente claro em de cinco países europeus, os polifenóis do
cada caso. azeite de oliva ajudam a frear a oxidação do
74
colesterol LDL, considerado perigoso. Quan- c) diz respeito a um buraco negro digital, onde
do isso ocorre, reduz-se o risco de placas de estão escondidas as informações buscadas
gordura na parede dos vasos, a temida ate- pelo usuário nos sites que acessa.
rosclerose – doença por trás de encrencas d) está associada a um conjunto de restrições
como o infarto. sociais presentes na vida daqueles que estão
(MANARINI, T. Saúde é vital. n. 347, fev. 2012 (adaptado).) sempre conectados à internet.
e) remete às bases de dados da web, protegidas
Para divulgar conhecimento de natureza
por senhas ou assinaturas e às quais o nave-
científica para um público não especializa-
gador não tem acesso.
do, Manarini recorre à associação entre voca-
bulário formal e vocabulário informal. Alte-
ra-se o grau de formalidade do segmento no 4. (Enem)
texto, sem alterar o sentido da informação,
com a substituição de
a) “dá um chega pra lá no diabete” por “manda
embora o diabete”.
b) “esquentar a cabeça” por “quebrar a cabeça”.
c) “bate um bolão” por “é um show”.
d) “juntinhos” por “misturadinhos”.
e) “por trás de encrencas” por “causadora de
problemas”.
b) “Protegendo os inocentes
é que Deus, sábio demais,
põe CENÁRIOS diferentes
nas impressões digitais.”
Analisando-se as informações verbais e a
(Maria N. S. Carvalho. Evangelho da Trova. /s.n.b.)
imagem associada a uma cabeça humana,
compreende-se que a venda c) “O DICIONÁRIO-PADRÃO da língua e os di-
a) representa a amplitude de informações que cionários unilíngues são os tipos mais co-
compõem a internet, às quais temos acesso muns de dicionários. Em nossos dias, eles se
em redes sociais e sites de busca. tornaram um objeto de consumo obrigatório
b) faz uma denúncia quanto às informações para as nações civilizadas e desenvolvidas.”
que são omitidas dos usuários da rede, sendo (Maria T. Camargo Biderman. O dicionário-padrão
empregada no sentido conotativo. da língua. Alta (28), 2743, 1974 Supl.)
75
d)
O humor presente na tirinha decorre princi-
e) “Humorismo é a arte de FAZER CÓCEGAS NO palmente do fato de a personagem Mafalda:
RACIOCÍNIO dos outros. Há duas espécies de a) atribuir, no primeiro quadrinho, poder ilimi-
humorismo: o trágico e o cômico. O trágico tado ao dedo indicador.
é o que não consegue fazer rir; o cômico é b) considerar seu dedo indicador tão importan-
o que é verdadeiramente trágico para se fa- te quanto o dos patrões.
zer.” c) atribuir, no primeiro e no último quadrinhos,
(Leon Eliachar. Disponível em: www.mercadolivre.
com.br. Acesso em: julho de 2005.)
um mesmo sentido ao vocábulo “indicador”.
d) usar corretamente a expressão “indicador de
desemprego”, mesmo sendo criança.
6. (Enem) A DANÇA E A ALMA e) atribuir, no último quadrinho, fama exagera-
A DANÇA? Não é movimento, da ao dedo indicador dos patrões.
súbito gesto musical.
É concentração, num momento, 8. (Enem) Nas conversas diárias, utiliza-se fre-
da humana graça natural. quentemente a palavra “próprio” e ela se
No solo não, no éter pairamos, ajusta a várias situações. Leia os exemplos
nele amaríamos ficar. de diálogos:
A dança – não vento nos ramos; I. A Vera se veste diferente!
seiva, força, perene estar. — É mesmo, é que ela tem um estilo PRÓ-
Um estar entre céu e chão, PRIO.
novo domínio conquistado, II. A Lena já viu esse filme uma dezena de
onde busque nossa paixão vezes! Eu não consigo ver o que ele tem
libertar-se por todo lado... de tão maravilhoso assim.
Onde a alma possa descrever — É que ele é PRÓPRIO para adolescente.
suas mais divinas parábolas III. Dora, o que eu faço? Ando tão preocupada
sem fugir à forma do ser, com o Fabinho! Meu filho está impossí-
por sobre o mistério das fábulas. vel!
(Carlos Drummond de Andrade. Obra completa. — Relaxa, Tânia! É PRÓPRIO da idade.
Rio de Janeiro: Aguilar, 1964. p. 366.) Com o tempo, ele se acomoda.
Nas ocorrências I, II e III, “próprio” é sinô-
O poema “A Dança e a Alma” é construído
nimo de, respectivamente,
com base em contrastes, como “movimen-
a) adequado, particular, típico.
to” e “concentração”. Em uma das estrofes,
b) peculiar, adequado, característico.
o termo que estabelece contraste com solo é:
c) conveniente, adequado, particular.
a) éter.
d) adequado, exclusivo, conveniente.
b) seiva.
e) peculiar, exclusivo, característico.
c) chão.
d) paixão.
e) ser. 9. (Enem) Em uma conversa ou leitura de um
texto, corre-se o risco de atribuir um signifi-
cado inadequado a um termo ou expressão, e
7. (Enem)
isso pode levar a certos resultados inespera-
dos, como se vê nos quadrinhos a seguir.
76
Nessa historinha, o efeito humorístico ori-
gina-se de uma situação criada pela fala da E.O. UERJ
Rosinha no primeiro quadrinho, que é:
a) Faz uma pose bonita! Exame de Qualificação
b) Quer tirar um retrato?
c) Sua barriga está aparecendo! 1. (UERJ) É MENINA
d) Olha o passarinho!
É menina, que coisa mais fofa, parece com
e) Cuidado com o flash!
o pai, parece com a mãe, parece um joelho,
upa, upa, não chora, isso é choro de fome,
10. (Enem) O autor do texto abaixo critica, ain- isso é choro de sono, isso é choro de chata,
da que em linguagem metafórica, a socieda- choro de menina, igualzinha à mãe, achou,
de contemporânea em relação aos seus hábi- sumiu, achou, não faz pirraça, coitada, tem
tos alimentares. que deixar chorar, vocês fazem tudo o que
“Vocês que têm mais de 15 anos, se lembram ela quer, isso vai crescer mimada, eu queria
quando a gente comprava leite em garrafa, essa vida pra mim, dormir e mamar, apro-
na leiteira da esquina? (...) veita enquanto ela ainda não engatinha, isso
Mas vocês não se lembram de nada, pô? Vai daí quando começa a andar é um inferno,
daqui a pouco começa a falar, daí não para
ver nem sabem o que é vaca. Nem o que é lei-
mais, ela precisa é de um irmão, foi só falar,
te. Estou falando isso porque agora mesmo
olha só quem vai ganhar um irmãozinho, to-
peguei um pacote de leite – leite em pacote,
mara que seja menino pra formar um casal,
imagina, Tereza! – na porta dos fundos e es-
ela tá até mais quieta depois que ele nasceu,
tava escrito que é pasterizado, ou pasteuri-
parece que ela cuida dele, esses dois vão ser
zado, sei lá, tem vitamina, é garantido pela
inseparáveis, ela deve morrer de ciúmes, ele
embromatologia, foi enriquecido e o escam-
já nasceu falante, menino é outra coisa, des-
bau.
de que ele nasceu parece que ela cresceu, já
Será que isso é mesmo leite? No dicionário
tá uma menina, quando é que vai pra creche,
diz que leite é outra coisa: ‘Líquido branco,
ela não larga dessa boneca por nada, já po-
contendo água, proteína, açúcar e sais mi-
dia ser mãe, já sabe escrever o nomezinho,
nerais’. Um alimento pra ninguém botar de-
quantos dedos têm aqui, qual é a sua prince-
feito. O ser humano o usa há mais de 5.000 sa da Disney preferida, quem você prefere, o
anos. É o único alimento só alimento. A car- papai ou a mamãe, quem é o seu namoradi-
ne serve pro animal andar, a fruta serve pra nho, quem é o seu príncipe da Disney prefe-
fazer outra fruta, o ovo serve pra fazer outra rido, já se maquia nessa idade, é apaixona-
galinha (...) O leite é só leite. Ou toma ou da pelo pai, cadê o Ken, daqui a pouco vira
bota fora. mocinha, eu te peguei no colo, só falta ficar
Esse aqui examinando bem, é só pra botar mais alta que eu, finalmente largou a bone-
fora. Tem chumbo, tem benzina, tem mais ca, já tava na hora, agora deve tá pensando
água do que leite, tem serragem, sou capaz besteira, soube que virou mocinha, ganhou
de jurar que nem vaca tem por trás desse corpo, tenho uma dieta boa pra você, a dieta
negócio. do ovo, a dieta do tipo sanguíneo, a dieta
Depois o pessoal ainda acha estranho que os da água gelada, essa barriga só resolve com
meninos não gostem de leite. Mas, como não cinta, que corpão, essa menina é um peri-
gostam? Não gostam como? Nunca tomaram! go, vai ter que voltar antes de meia-noite, o
Múúúúúúú!” seu irmão é diferente, menino é outra coisa,
(FERNANDES, Millôr. O Estado de S. vai pela sombra, não sorri pro porteiro, não
Paulo, 22 de agosto de 1999.)
sorri pro pedreiro, quem é esse menino, se o
A palavra embromatologia usada pelo autor é: seu pai descobrir, ele te mata, esse menino é
a) um termo científico que significa estudo dos filho de quem, cuidado que homem não pres-
bromatos. ta, não pode dar confiança, não vai pra casa
b) uma composição do termo de gíria “embro- dele, homem gosta é de mulher difícil, tem
mação” (enganação) com bromatologia, que que se dar valor, homem é tudo igual, segu-
é o estudo dos alimentos. ra esse homem, não fuxica, não mexe nas
c) uma junção do termo de gíria “embromação” coisas dele, tem coisa que é melhor a gente
(enganação) com lactologia, que é o estudo não saber, não pergunta demais que ele te
das embalagens para leite. abandona, o que os olhos não veem o cora-
d) um neologismo da química orgânica que ção não sente, quando é que vão casar, ele tá
significa a técnica de retirar bromatos dos te enrolando, morar junto é casar, quando é
laticínios. que vão ter filho, ele tá te enrolando, barriga
e) uma corruptela de termo da agropecuária pontuda deve ser menina, é menina.
que significa a ordenha mecânica. (DUVIVIER, Gregorio. Folha de S. Paulo, 16/09/2013.)
77
A crônica de Gregorio Duvivier é construída Quanto aos sentidos conotativo e denotativo
em um único parágrafo com uma única fra- da expressão “coroa de flores”, pode-se afir-
se. Essa frase começa e termina pela mesma mar que:
expressão: é menina. a) “coroa” tem valor denotativo nos dois textos
Em termos denotativos, a menina, referida no b) “flores” em valor denotativo nos dois textos
final do texto, pode ser compreendida como: c) “flores” e “coroa” têm valor conotativo na
a) filha da primeira
tira de Maurício de Sousa
b) ideal de pureza
c) mulher na infância d) “flores” e “coroa” têm valor conotativo no
d) sinal de transformação texto de J. Manuel de Macedo
78
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo No meio da corrida, comecei a pensar se ele
do que não pudemos ver no caso do desa- iria mesmo me assaltar. Uma onda de ver-
parecimento de Amarildo. A sua passagem gonha foi me invadindo. O rapaz estava me
meteórica pela tela é um desfile do carnaval vendo correr. E se eu tivesse me enganado?
de horror que escondemos. Aquele carro é E se ele não fosse fazer nada? Mesmo que
o carro alegórico de um Brasil, de um certo fosse. Ter sido flagrada no meu medo e pre-
Brasil que temos que lutar para que não se conceito daquela forma já me deixava numa
transforme no carro alegórico do Brasil. desvantagem fulminante.
(José Miguel Wisnik Não sou uma pessoa medrosa por excelência,
Disponível em: oglobo.globo.com, 22/03/2014.)
mas, naquele dia, o olhar, o gesto, alguma
3
aplainada − nivelada coisa no rapaz acionou imediatamente o mo-
4
praxe − prática, hábito tor de minhas pernas e, quando me dei con-
6
surrealistas − participantes de movimento ta, já estava em disparada.
artístico do século 20 que enfatiza o papel Fui chegando ofegante a uma esquina, os
do inconsciente motoristas de um ponto de táxi me pergun-
7
recalcada − fortemente reprimida taram o que tinha acontecido e eu, um tan-
8
transcendental − que supera todos os limites to constrangida, disse que tinha ficado com
10
Amarildo − pedreiro desaparecido na fave- medo. Me contaram que ele vivia por ali, to-
la da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, mando conta dos carros. Fervi de vergonha.
depois de ser detido por policiais O menino passou do outro lado da rua e, per-
cebendo que eu olhava, imitou minha corri-
"É uma imagem verdadeiramente surreal" dinha, fazendo um gesto de desprezo. Tive
(ref. 5) vontade de sentar na 1guia e chorar. Ele só
tinha me olhado, e o resto tinha sido produ-
Na argumentação desenvolvida pelo autor, a to legítimo do meu preconceito.
imagem do porta-malas do carro da polícia Fui atrás dele. Não consegui carregar tama-
expressa sentidos ambivalentes em relação nha 2bigorna pra casa. “Ei!” Ele demorou a
à violência. virar. Se eu pensava que ele assaltava, 6ele
Esses sentidos podem ser definidos como: também não podia imaginar que eu pedis-
a) achar − perder se desculpas. Insisti: “Desculpa!” Ele virou.
b) socorrer − redimir 7
Seu olhar agora não era mais de ladrão, e
c) esconder − revelar
sim de professor. Me perdoou com um sinal
d) orientar − desorientar
de positivo ainda cheio de desprezo. Fui pra
casa pelada, igual ao Romeu suicida.
(Denise Fraga
4. (UERJ) Medo e vergonha Folha de S. Paulo, 08/01/2013)
O medo é um evento poderoso que toma o 1
guia − meio-fio da calçada
nosso corpo, nos põe em xeque, paralisa al- 2
bigorna − bloco de ferro para confecção de
guns e atiça a criatividade de outros. Uma
instrumentos
pessoa em estado de pavor é dona de uma
energia extra capaz de feitos incríveis. Na última frase da crônica, a autora corre-
Um amigo nosso, quando era adolescente, laciona dois episódios. Em ambos, aparece o
aproveitou a viagem dos pais da namora- atributo “pelado(a)”. No entanto, esse atri-
da para ficar na casa dela. Os pais voltaram buto tem significado diferente em cada um
mais cedo e, pego em flagrante, nosso Ro- dos episódios.
meu teve a brilhante ideia de pular, pelado, No texto, o significado de cada termo se ca-
do segundo andar. Está vivo. Tem hoje essa racteriza por ser, respectivamente:
incrível história pra contar, mas deve se lem- a) literal e figurado
brar muito bem da vergonha. b) geral e particular
Me lembrei dessa história por conta de ou- c) descritivo e irônico
tra completamente diferente, mas na qual d) ambíguo e polissêmico
também vi meu medo me deixar em maus
lençóis. 5. (UERJ) O tempo em que o mundo tinha a
Estava caminhando pelo bairro quando re- nossa idade
solvi explorar umas ruas mais desertas. De
repente, vejo um menino encostado num Nesse entretempo, ele nos chamava para
muro. Parecia um menino de rua, tinha seus escutarmos seus imprevistos improvisos.
15, 16 anos e, quando me viu, fixou o olhar e As estórias dele faziam o nosso lugarzinho
apertou o passo na minha direção. Não pes- crescer até ficar maior que o mundo. Nenhu-
tanejei. Saí correndo. Correndo mesmo, na ma narração tinha fim, o sono lhe apagava
mais alta performance de minhas pernas. a boca antes do desfecho. Éramos nós que
79
recolhíamos seu corpo dorminhoso. Não lhe O curso de um rio, seu discurso-rio,
deitávamos dentro da casa: ele sempre re- chega raramente a se reatar de vez,
cusara cama feita. Seu conceito era que a um rio precisa de muito fio de água
morte nos apanha deitados sobre a moleza para refazer o fio antigo que o fez.
de uma esteira. Leito dele era o puro chão, Salvo a grandiloquência de uma cheia
lugar onde a chuva também gosta de deitar. lhe impondo interina outra linguagem,
Nós simplesmente lhe encostávamos na pa- um rio precisa de muita água em fios
rede da casa. Ali ficava até de manhã. Lhe para que todos os poços se enfrasem:
encontrávamos coberto de formigas. Parece se reatando, de um para outro poço,
que os insectos gostavam do suor docicado
em frases curtas, então frase e frase,
do velho Taímo. Ele nem sentia o corrupio do
até a sentença-rio do discurso único
formigueiro em sua pele.
− Chiças: transpiro mais que palmeira! em que se tem voz a seca ele combate.
Proferia tontices enquanto ia acordando. (NETO, João Cabral de Melo. Antologia poética.
Rio de Janeiro: José Olympio, 1973.)
8
Nós lhe sacudíamos os infatigáveis bichos.
Taímo nos sacudia a nós, incomodado por lhe “Em situação de poço, a água equivale a uma
dedicarmos cuidados. palavra em situação dicionária:”
2
Meu pai sofria de sonhos, saía pela noite de
Se, no poema, “poço” equivale a “dicioná-
olhos transabertos. Como dormia fora, nem
rio”, “rio” equivale ao seguinte elemento
dávamos conta. Minha mãe, manhã seguinte,
linguístico:
é que nos convocava:
− Venham: papá teve um sonho! a) texto
E nos juntávamos, todos completos, para es- b) verso
cutar as verdades que lhe tinham sido re- c) regência
veladas. Taímo recebia notícia do futuro por d) vocabulário
via dos antepassados. Dizia tantas previsões
que nem havia tempo de provar nenhuma.
Eu me perguntava sobre a verdade daquelas 7. (UERJ) De repente voltou-me a ideia de
visões do velho, estorinhador como ele era. construir o livro. (...)
− Nem duvidem, avisava mamã, suspeitan- 1
Desde então procuro descascar fatos, aqui
do-nos. sentado à mesa da sala de jantar (...).
E assim seguia nossa criancice, tempos afo- Às vezes, entro pela noite, passo tempo sem
ra. Nesses anos ainda tudo tinha sentido: a fim acordando lembranças. Outras vezes não
razão deste mundo estava num outro mundo me ajeito com esta ocupação nova.
inexplicável. Os mais velhos faziam a ponte Anteontem e ontem, por exemplo, foram
entre esses dois mundos. (...) dias perdidos. Tentei debalde canalizar para
(Mia Couto
termo razoável esta prosa que se derrama
Terra sonâmbula. São Paulo: Cia das Letras, 2007.)
como a chuva da serra, e o que me apareceu
Ao dizer que o pai sofria de sonhos (ref. 2) e foi um grande desgosto. Desgosto e a vaga
não que ele sonhava, o autor altera o signifi- compreensão de muitas coisas que sinto.
cado corrente do ato de sonhar. Sou um homem arrasado. Doença? Não. Gozo
Este novo significado sugere que o sonho perfeita saúde. (...) Não tenho doença ne-
tem o poder de: nhuma.
a) distrair O que estou é velho. Cinquenta anos pelo S.
b) acalmar Pedro. Cinquenta anos perdidos, cinquenta
c) informar anos gastos sem objetivo, a maltratar-me e a
d) perturbar maltratar os outros. O resultado é que endu-
reci, calejei, e não é um arranhão que pene-
tra esta casca espessa e vem ferir cá dentro a
6. (UERJ) RIOS SEM DISCURSO sensibilidade embotada.
Cinquenta anos! Quantas horas inúteis! Con-
Quando um rio corta, corta-se de vez
sumir-se uma pessoa a vida inteira sem sa-
o discurso-rio de água que ele fazia;
ber para quê!
cortado, a água se quebra em pedaços,
em poços de água, em água paralítica. Comer e dormir como um porco! Como um
Em situação de poço, a água equivale porco! Levantar-se cedo todas as manhãs e
a uma palavra em situação dicionária: sair correndo, procurando comida! 4E depois
isolada, estanque no poço dela mesma, guardar comida para os filhos, para os netos,
e porque assim estanque, estancada; para muitas gerações. Que estupidez! (...)
e mais: porque assim estancada, muda, Coloquei-me acima da minha classe, creio
e muda porque com nenhuma comunica, que me elevei bastante. Como lhes disse,
porque cortou-se a sintaxe desse rio, fui guia de cego, vendedor de doce e tra-
o fio de água por que ele discorria. balhador alugado. Estou convencido de que
80
nenhum desses ofícios me daria os recursos Falará, coberta de luzes,
intelectuais necessários para engendrar esta do alto penteado ao rubro artelho.
narrativa. Magra, de acordo, mas em mo- Porque uns expiram sobre cruzes,
mentos de otimismo suponho que há nela outros, buscando-se no espelho.
pedaços melhores que a literatura do Gon- (MEIRELES, Cecília. Poesia Completa. Rio de
dim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.)
a outros semelhantes. Considerando, porém,
O uso de palavras e expressões cotidianas,
que os enfeites do meu espírito se reduzem
neste texto, é carregado de sentido simbó-
a farrapos de conhecimentos apanhados sem
lico.
escolha e mal cosidos, devo confessar que a
a) Uma expressão utilizada no poema possui um
superioridade que me envaidece é bem mes-
sentido correspondente ao da expressão “da
quinha.
cabeça aos pés”.
(...)
Retire-a do texto.
Quanto às vantagens restantes – casas, ter-
b) Na 3a estrofe, o substantivo “tinta” se refere
ras, móveis, semoventes, consideração de
a uma expressão que o antecede.
políticos, etc. – é preciso convir em que tudo
Transcreva essa expressão e indique a cono-
está fora de mim.
tação que o substantivo “tinta” adquire no
Julgo que me desnorteei numa errada.
texto.
(GRACILIANO RAMOS
São Bernardo. Rio de Janeiro: Record, 2004.)
81
bocejos, o medo era quase náusea, a expec- Não há tristezas
tativa era uma ilusória, persistente e irresis- Nem alegrias
tível vontade de urinar. A multidão voltava Na nossa vida.
a aplaudir, lá fora. – “Daqui a pouco é você”. Assim saibamos,
Nunca saía do vestiário antes da hora de nadar. Sábios 2incautos,
– Quanto está a água hoje? – perguntava ao Não a viver,
roupeiro.
Mas decorrê-la,
Era o único nadador que não interrompia os
Tranquilos, plácidos,
treinos no inverno, sozinho, a água gelada, a
Tendo as crianças
piscina fechada aos sócios. (...) Nadar era di-
Por nossas mestras,
fícil, ficava cada vez mais difícil... Onde quer
E os olhos cheios
que surgisse um recordista, logo surgia outro
De Natureza...
para abaixar-lhe o recorde. (...)
– Marciano, a sua vez! – vinham lhe avisar. À beira-rio,
3
Nada a fazer. Ali estava ele, pronto para o À beira-estrada,
sacrifício, convocado como um condenado 3
Conforme calha,
para a execução. Ia seguindo em direção à Sempre no mesmo
mesa dos juízes, para assinar a súmula, sem Leve descanso
olhar para os lados. Sentia que todos os De estar vivendo.
olhos o seguiam, ouvia vagamente os aplau-
sos, procurava ignorar tudo, concentrar-se. O tempo passa,
Vontade de dormir, de desistir, fugir, sair Não nos diz nada.
correndo, esquecer aquele suplício. Medo. Os Envelhecemos.
outros também se sentiriam assim, fragili- Saibamos, quase
zados pela emoção, sucumbidos pela espera? Maliciosos,
Sentir-nos ir.
Munira-se de alguns minutos de descanso e
solidão, curtidos em agonia no vestiário – Não vale a pena
era a sua reserva. Ali fora, os nervos se es- Fazer um gesto.
bandalhariam ante o que o aguardava – que Não se resiste
viesse imediatamente. Ao deus atroz
– Mostra a essa gente, Eduardo. Que os próprios filhos
– É pra valer! Devora sempre.
– Capricha, menino.
– Está bem, está bem... Colhamos flores.
Deslumbrado pela luz dos refletores, despro- Molhemos leves
tegido e nu, ia caminhando para o sacrifício. As nossas mãos
(Fernando Sabino
Nos rios calmos,
O encontro marcado. Rio de Janeiro: Record, 2012.) Para aprendermos
Calma também.
Nada a fazer. Ali estava ele, pronto para o sa-
crifício, convocado como um condenado para Girassóis sempre
a execução. Ia seguindo em direção à mesa Fitando o sol,
dos juízes, para assinar a súmula, sem olhar Da vida iremos
para os lados. (ref. 3) Tranquilos, tendo
Cite dois vocábulos desse fragmento que re- Nem o remorso
velam o sentimento que a prova de natação De ter vivido.
(RICARDO REIS
provoca em Eduardo. Em seguida, com base Pessoa, Fernando. Obra poética. Rio
no último parágrafo, indique um recurso de Janeiro: Aguilar, 1999.)
utilizado pelo narrador para enfatizar esse
sentimento.
1
plácidas - calmas
2
incautos - desprevenidos
3
conforme calha - conforme seja
3. (UERJ) Mestre
Na 1ª estrofe do poema, para construir o
Mestre, são 1plácidas
sentido geral do texto, o poeta faz uma refe-
Todas as horas rência à expressão perder tempo, dando-lhe,
Que nós perdemos, entretanto, outro sentido, diferente do usual.
Se no perdê-las, Explique o sentido usual da expressão perder
Qual numa jarra, tempo e apresente, também, o sentido que
Nós pomos flores. essa mesma expressão assume no poema.
82
E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. (Unesp) A questão a seguir focaliza uma pas-
sagem de um artigo de José Francisco Botel-
ho e uma das ilustrações de Carlo Giovani a
esse artigo.
Compaixão
Considerada a maior de todas as virtudes
por religiões como o budismo e o hindu-
ísmo, a compaixão é a capacidade humana
de compartilhar (ou experimentar de forma
parcial) os sentimentos alheios — princi- Assinale a alternativa que contém três
palmente o sofrimento. Mas a onipresença vocábulos usados como sinônimos ao longo
da miséria humana faz da compaixão uma do fragmento:
virtude potencialmente paralisante. Afoga- a) compaixão, piedade, comiseração.
dos na enchente das dores alheias, podemos b) virtude, sofrimento, piedade.
facilmente cair no desespero e na inação. c) compaixão, miséria, dor.
Por isso, a piedade tem uma reputação con- d) piedade, temperança, prudência.
turbada na história do pensamento: se al- e) sofrimento, virtude, miséria.
guns a apontaram como o alicerce da ética e
da moral, outros viram nela uma armadilha, 2. (Unesp) A questão a seguir toma por base
um mero acréscimo de tristeza a um Uni- uma passagem do artigo “Os operários da
verso já suficientemente amargo. Porém, música livre”, de Ronaldo Evangelista.
vale lembrar que as virtudes, para funcio- Desde o final do século XX, toda a engrena-
narem, devem se encaixar umas às outras: gem industrial do mercado musical passa
quando aliado à temperança, o sentimento por intensas transformações, como o surgi-
de comiseração pelas dores do mundo pode mento e disseminação de novas tecnologias,
ser um dos caminhos que nos afastam da em grande parte gratuitas, como os arquivos
cratera de Averno*. Dosando com prudência MP3s, as redes de compartilhamento destes
uma compaixão potencialmente infinita, é arquivos, mecanismos torrents, sites de ar-
mazenamento de conteúdo, ferramentas de
possível sentirmos de forma mais intensa a
publicação on-line – tudo à disposição de
felicidade, a nossa e a dos outros — como
quem quisesse dividir com os outros suas can-
alguém que se delicia com um gole de água ções e discos favoritos. A era pós-industrial
fresca, lembrando-se do deserto que arde lá atingiu toda a indústria do entretenimento,
fora. Isso tudo pode parecer estranho, mas mas o braço da música foi quem mais sofreu,
o fato é que a denúncia da compaixão segue especialmente as grandes gravadoras multi-
um raciocínio bastante rigoroso. nacionais, as chamadas majors, que sofreram
O sofrimento — e todos concordam — é algo um declínio em todas as etapas de seu antigo
ruim. A compaixão multiplica o sofrimento negócio, ao mesmo tempo em que rapidam-
do mundo, fazendo com que a dor de uma ente se aperfeiçoavam ferramentas baratas
criatura seja sentida também por outra. E o e caseiras de produção que diminuíam a dis-
que é pior: ao passar a infelicidade adiante, tância entre amadores e profissionais.
A era digital é também chamada de pós-
ela não corrige, nem remedia, nem alivia a
industrial porque confronta o modelo de
dor original. Como essa infiltração universal
produção que dominava até o final do sécu-
da tristeza poderia ser uma virtude? No sé- lo XX. Esse modelo industrial é baseado na
culo I a.C., Cícero escreveu: “Por que sentir repetição, em formatar e embalar. Por trás
piedade, se em vez disso podemos simples- disso, a ideia é obter a máxima produção – o
mente ajudar os sofredores? Devemos ser que, para produtos em geral, funciona muito
justos e caridosos, mas sem sofrer o que os bem. Quando esses parâmetros são aplicados
outros sofrem”. à arte, a venda do produto (por exemplo, o
disco) depende do conteúdo (a canção). A
(*) Os romanos consideravam a cratera vul- canção que vai resultar nessa “produção máx-
cânica de Averno, situada perto de Nápoles, ima” é buscada por meio de um equilíbrio
como entrada para o mundo inferior, o mun- entre criatividade e uma fórmula de sucesso
do dos mortos, governado por Plutão. que desperte o interesse do público. Como
83
estudos ainda não conseguiram decifrar como depois de ver um relâmpago e o número a
direcionar a criatividade de uma maneira que que chegasse quando ouvia a trovoada, mul-
certamente despertará esse interesse (e max- tiplicado por outro número, dava a 4distân-
imizará a produção), a opção normalmente cia exata do relâmpago. Não me lembro mais
costuma ser pela solução mais simples. dos números. (...)
“Cada um tem descoberto suas fórmulas e Lembro o orgulho com que consegui, pela
possibilidades, pois tudo tende a ser cada vez primeira vez, cuspir corretamente pelo espa-
menos homogêneo”, opina o baiano Lucas ço adequado entre os dentes de cima e a pon-
Santtana, que realizou seus discos recentes às ta da língua de modo que o cuspe ganhasse
próprias custas. “Claro que ainda existe uma distância e pudesse ser mirado. Com prática,
distância em relação aos artistas chamados conseguia-se controlar a 5trajetória elíptica
mainstream”, continua. “Mas você muda o da cusparada com uma 6mínima margem de
tamanho da escala e já está tudo igual em ter- erro. Era 7puro instinto. Hoje o mesmo feito
mos de business. A pergunta é se essa geração requereria 8complicados cálculos de balísti-
faz uma música para esse grande mercado ou ca, e eu provavelmente só acertaria a frente
se ela está formando um novo público. Outra da minha camisa. Outra 9habilidade perdida.
pergunta é se o grande mercado na verdade Na verdade, deve-se revisar aquela an-
não passa de uma imposição de uma máfia
tiga frase. É vivendo e .................... . Não
que dita o que vai ser popular.”
(Galileu, março de 2013. Adaptado.)
falo daquelas coisas que deixamos de fazer
porque não temos mais as condições físicas
Em seu depoimento no artigo, o músico Lu- e a coragem de antigamente, como subir em
cas Santtana sugere que o grande mercado bonde andando – mesmo porque não há mais
talvez não passe da imposição de uma máfia. bondes andando. Falo da sabedoria des-
O termo máfia, nesse caso, foi empregado no perdiçada, das 10artes que nos abandonaram.
sentido de Algumas até úteis. Quem nunca desejou ain-
a) domínio dos partidos políticos sobre o mer- da ter o cuspe certeiro de garoto para acertar
cado musical, privilegiando tudo o que in- em algum alvo contemporâneo, bem no olho,
teresse apenas ao poder público. e depois sair correndo? Eu já.
b) organização criminosa com origem na Itália, (Luís F. Veríssimo, Comédias para se ler na escola.)
com poderosas ramificações pelo mundo in-
teiro.
3. (Fuvest) A palavra que o cronista omite no
c) sindicato de grandes músicos brasileiros que
título, substituindo-a por reticências, ele a
visa impedir a ascensão e o sucesso de músi-
emprega no último parágrafo, na posição
cos mais jovens.
marcada com pontilhado. Tendo em vista o
d) grupos anarquistas constituídos para tumul-
contexto, conclui-se que se trata da palavra
tuar e desmoralizar os músicos mais jovens e
a) desanimando.
a música popular brasileira.
b) crescendo.
e) organização que emprega métodos imorais e
ilegais para impor seus interesses em deter- c) inventando.
minada atividade. d) brincando.
e) desaprendendo.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
4. (Fuvest) Um dos contrastes entre passado e
Vivendo e... presente que caracterizam o desenvolvimen-
Eu sabia fazer pipa e hoje não sei mais. Du- to do texto manifesta-se na oposição entre
vido que se hoje pegasse uma bola de gude as seguintes expressões:
conseguisse equilibrá-la na dobra do dedo a) “precisão” (ref. 1) / “fórmula” (ref. 2).
indicador sobre a unha do polegar, quanto b) “muita confusão” (ref. 3) / “distância ex-
mais jogá-la com a 1precisão que tinha quan- ata” (ref. 4).
do era garoto. (...) c) “trajetória elíptica” (ref. 5) / “mínima mar-
Juntando-se as duas mãos de um determi- gem de erro” (ref. 6).
nado jeito, com os polegares para dentro, e d) “puro instinto” (ref. 7) / “complicados cál-
assoprando pelo buraquinho, tirava-se um culos” (ref. 8).
silvo bonito que inclusive variava de tom e) “habilidade perdida” (ref. 9) / “artes que
conforme o posicionamento das mãos. Hoje nos abandonaram” (ref. 10).
não sei mais que jeito é esse. Eu sabia a 2fór-
mula de fazer cola caseira. Algo envolvendo 5. (Unesp 2017) Para responder à questão a se-
farinha e água e 3muita confusão na cozinha, guir, leia a crônica “Anúncio de João Alves”,
de onde éramos expulsos sob ameaças. Hoje de Carlos Drummond de Andrade (1902-
não sei mais. A gente começava a contar 1987), publicada originalmente em 1954.
84
Figura o anúncio em um jornal que o amigo remunerado”. Não prometes recompensa
me mandou, e está assim redigido: tentadora; não fazes praça de generosidade
À procura de uma besta. – A partir de 6 de ou largueza; acenas com o razoável, com a
outubro do ano cadente, sumiu-me uma justa medida das coisas, que deve prevalecer
besta vermelho-escura com os seguintes car- mesmo no caso de bestas perdidas e entreg-
acterísticos: calçada e ferrada de todos os ues.
membros locomotores, um pequeno quisto Já é muito tarde para sairmos à procura de
na base da orelha direita e crina dividida em tua besta, meu caro João Alves do Itambé;
duas seções em consequência de um golpe, entretanto essa criação volta a existir,
cuja extensão pode alcançar de quatro a seis porque soubeste descrevê-la com decoro e
centímetros, produzido por jumento. propriedade, num dia remoto, e o jornal a
Essa besta, muito domiciliada nas cercani- guardou e alguém hoje a descobre, e mui-
as deste comércio, é muito mansa e boa de tos outros são informados da ocorrência. Se
sela, e tudo me induz ao cálculo de que foi lesses os anúncios de objetos e animais per-
roubada, assim que hão sido falhas todas as didos, na imprensa de hoje, ficarias triste. Já
indagações. não há essa precisão de termos e essa graça
Quem, pois, apreendê-la em qualquer parte e no dizer, nem essa moderação nem essa ati-
a fizer entregue aqui ou pelo menos notícia tude crítica. Não há, sobretudo, esse amor à
exata ministrar, será razoavelmente remu- tarefa bem-feita, que se pode manifestar até
nerado. Itambé do Mato Dentro, 19 de no- mesmo num anúncio de besta sumida.
vembro de 1899. (a) João Alves Júnior. (Fala, amendoeira, 2012.)
Cinquenta e cinco anos depois, prezado João
Alves Júnior, tua besta vermelho-escura, Está empregado em sentido figurado o termo
mesmo que tenha aparecido, já é pó no pó. destacado no seguinte trecho:
E tu mesmo, se não estou enganado, repou- a) “Formulaste depois um raciocínio: houve
sas suavemente no pequeno cemitério de It- roubo.” (ref. 5)
ambé. Mas teu anúncio continua um modelo b) “Reparo antes de tudo na limpeza de tua
no gênero, se não para ser imitado, ao me- linguagem.” (ref. 3)
nos como objeto de admiração literária. c) “Reparo antes de tudo na limpeza de tua
3
Reparo antes de tudo na limpeza de tua linguagem.” (ref. 3)
linguagem. Não escreveste apressada e to- d) “Não disseste que todos os seus cascos es-
scamente, como seria de esperar de tua tavam ferrados;” (ref. 6)
condição rural. Pressa, não a tiveste, pois o e) “Não disseste que todos os seus cascos es-
animal desapareceu a 6 de outubro, e só a 19 tavam ferrados;” (ref. 6)
de novembro recorreste à Cidade de Itabira.
Antes, procedeste a indagações. Falharam.
Formulaste depois um raciocínio: houve
E.O. Dissertativas
5
85
O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é.
É a vaidade em ação.
(Fernando Pessoa, Da literatura europeia.)
a) Considerando-a no contexto em que ocorre, explique a frase “o homem vive a princípio uma vida ex-
terior, e mais tarde uma interior”.
b) Reescreva a frase “O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por
aquilo que é”, substituindo por sinônimos as expressões sublinhadas.
a) O sentido do texto se faz com base na polissemia de uma palavra. Identifique essa palavra e explique
por que a indicou.
b) A tirinha visa produzir não só efeito humorístico mas também efeito crítico. Você concorda com essa
afirmação? Justifique sua resposta.
3. (Unicamp) Na sua coluna diária do Jornal Folha de S. Paulo de 17 de agosto de 2005, José Simão
escreve: “No Brasil nem a esquerda é direita!”.
a) Nessa afirmação, a polissemia da língua produz ironia. Em que palavras está ancorada essa ironia?
b) Quais os sentidos de cada uma das palavras envolvidas na polissemia acima referida?
c) Comparando a afirmação “No Brasil nem a esquerda é direita” com “No Brasil a esquerda não é direita”,
qual a diferença de sentido estabelecida pela substituição de ‘nem’ por ‘não’?
Inspire
saúde!
Sem fumar,
respire
aliviado!
No interior do Jornal, a matéria começa da seguinte forma: “Desperte o não fumante que há em
você!”, seguida logo adiante de “O fumante passivo – aquele que não fuma, mas frequenta ambi-
entes poluídos pela fumaça do cigarro – também tem sua saúde prejudicada.”
(Jornal da Cassi - Publicação da Caixa de Assistência dos Funcionários do Banco do Brasil, ano IX, n0. 40, junho/julho de 2004).
5. (Fuvest) O ano nem sempre foi como nós o conhecemos agora. Por exemplo: no antigo calendário
romano, abril era o segundo mês do ano. E na França, até meados do século XVI, abril era o pri-
meiro mês. Como havia o hábito de dar presentes no começo de cada ano, o primeiro dia de abril
era, para os franceses da época, o que o Natal é para nós hoje, um dia de alegrias, salvo1 para quem
ganhava meias ou uma água-de-colônia barata. Com a introdução do calendário gregoriano, no
século XVI, primeiro de janeiro passou a ser o primeiro dia do ano e, portanto, o dia dos presentes.
E primeiro de abril passou ser um falso Natal – o dia de não se ganhar mais nada.
Por extensão, o dia de ser iludido. Por extensão, o Dia da Mentira.
(Luís F. Veríssimo, As mentiras que os homens contam. Adaptado.)
a) Tendo em vista o contexto, é correto afirmar que o trecho “meias ou uma água-de-colônia barata” deve
ser entendido apenas em seu sentido literal? Justifique sua resposta.
b) Crie uma frase que contenha um sinônimo da palavra “salvo” (ref.1), mantendo o sentido que ela tem
no texto.
86
Gabarito E.O. Enem
1. C 2. E 3. B 4. A 5. C
3.
tivamente.
E.O. Dissertativas
a) A vida é rápida. Aproveite! (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
b) A vida é curta, portanto curta! 1.
4. a) Na frase, o autor considera que, em pri-
a) Seria bom que todas as escolas tivessem meiro lugar, o ser humano busca recon-
o mesmo nível de qualidade. Aí todos os hecimento de seus feitos pelo outro, evi-
alunos teriam as mesmas oportunidades. denciando sua vaidade. Posteriormente,
b) Não deixe a bicicleta aí, porque atrapalha ele se volta para si e reconhece seus atos,
a passagem. gerando, ou não, o orgulho, preocupan-
5.
A palavra "impressão" possui dois sentidos: do-se então consigo.
um relacionado à qualidade do trabalho (no b) O homem prefere ser elogiado, valoriza-
caso, a impressão gráfica) feito pela empresa do, enaltecido etc. por aquilo que não é a
gráfica e outro relacionado à imagem positi- ser menosprezado, desvalorizado, deses-
va que o material em si passará ao cliente. timado etc. por aquilo que é.
87
2.
a) Trata-se da palavra “veículo”, que pode
significar meio usado para transportar
ou conduzir pessoas, coisas, animais ou
algo capaz de transmitir, propagar algo.
No texto, o humor ocorre porque Mafalda
troca um sentido pelo outro.
b) Sim. O sentido crítico da tirinha provém
da associação entre os ruídos emanados
do televisor, que sugerem o conteúdo vio-
lento e “apelativo” da programação, e a
ideia de cultura.
3.
a) A ironia está presente nas palavras “es-
querda” e “direita”.
b) Esquerda: “tendência política ligada
a reivindicações populares, trabalhis-
tas, socialistas ou comunistas”. Direita:
“tendência política conservadora ou re-
acionária em relação às reformas sociais”
e, como adjetivo, “correta, honesta.” A
polissemia criada pelo autor ironiza os
partidos de esquerda que não agem com
honestidade.
c) “Nem”, no contexto, expressa a ideia de
adição e significa “inclusive não”, “tam-
bém não”, ou seja, dá uma ideia de que
todos são desonestos, inclusive a esquer-
da. Já o sentido de “não” é apenas de ne-
gação e entende-se que a esquerda não é
honesta.
4.
a) Inspirar, em “Inspire saúde”, pode sig-
nificar: “sorver, absorver”, introduzindo
(ar) nos pulmões, e “infundir, incutir”.
No sentido 1, o sujeito é o receptor ou
beneficiário da ação; no sentido 2, ele é o
agente responsável pela disseminação da
saúde.
b) Aliviado, em “Respire aliviado”, pode ter
o significado de se estar livre dos males
causados pelo fumo e tranquilo em rela-
ção aos males que o fumo poderia causar
nos outros. O primeiro significado tem a
ver com o físico, e o segundo tem a ver
com o moral.
5.
a) Não, a referência a “meias ou uma água-
de-colônia barata” é usada ironicamente
em sentido figurado, aludindo a um pre-
sente banal, adquirido sem grande en-
volvimento ou preocupação em causar sat-
isfação à pessoa a quem vai ser oferecido.
b) Qualquer frase que contivesse os termos
“exceto”, “à exceção de” ou “afora” man-
teria a noção de exclusão que a palavra
“salvo” expressa no terceiro período
do texto, como por exemplo: Todos os
países da América Latina possuem faixa
litorânea, exceto Bolívia e Paraguai.
88
Aulas
5e6
Os sons da fala e ortografia
Competências 1 e 5
Habilidades 1, 2, 3 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Antes de começarmos esta aula, vamos diferenciar fonologia de fonética e definir fonema, grafema e sílaba.
§§ Fonologia é um ramo central da linguística que estuda os sistemas de sons da língua; trata da maneira
como os sons funcionam nas línguas.
§§ Fonética é o estudo dos sons da fala; investiga principalmente a natureza física de tais sons. Trata-se de uma
disciplina que é estudada tanto pela linguística, quanto pela fonoaudiologia..
§§ Fonema é cada uma das unidades sonoras básicas de uma língua, e sua representação gráfi-
ca é a letra ou grafema. Os fonemas são classificados em vogais (a; e; i; o; u), consoantes
(b; c; d; f; g; h; j; k; l; m; n; p; q; r; s; t; v; w; x; y; z) e semivogais (i; u; w; y).
§§ Sílaba é o fonema ou conjunto de fonemas que pronunciamos em uma única emissão de voz. As palavras
são constituídas por uma ou mais sílabas.
§§ Tritongo é o encontro vocálico de uma semivogal, uma vogal e outra semivogal, nessa ordem, na mesma
sílaba.
Exemplos de tritongos:
U-ru-guai [way]
en-xa-guei [wey]
de-lin-quiu [wiw]
§§ Hiato é o encontro vocálico de duas vogais, em sílabas separadas. Isso ocorre porque a segunda vogal é
tônica.
Exemplos de hiatos:
sa-ú-de
sa-í-da
Mo-ó-ca
91
§§ Dígrafo é o encontro de duas letras que represen-
tam um único som. Pode ocorrer na mesma sílaba
Regras de acentuação
(nh; lh; ch; qu; gu) ou em sílabas separadas (rr; ss;
xc; xs; sc; sç). Há também os dígrafos nasais, que Monossílabas
são formados pelas vogais nasais seguidas de “m”
ou “n”. Levam acento agudo ou circunflexo as palavras monos-
sílabas terminadas em:
Exemplos de dígrafos:
ni-nho / ma-lha-do §§ a(s) – já; lá; vás
con-tra-che-que §§ e(s) – fé; lê; pés
que-da / gui-tar-ra §§ o(s) – pó, dó; pós
car-ro-ça
as-sas-si-na-to Oxítonas
ex-ce-ção
ex-su-dar São as palavras que possuem a última sílaba tônica. Le-
cres-ci-men-to vam acento agudo ou circunflexo as palavras oxítonas
des-ço terminadas em:
92
Casos especiais i. A 3a pessoa de alguns verbos se grafa da seguin-
a. São sempre acentuadas as palavras oxítonas te maneira:
com os ditongos abertos grafados “éis”, “éu(s)” quando termina em “em” (monossílabas).
ou “ói(s)”. Exemplos: tem / têm; vem / vêm.
Exemplos: anéis; herói; chapéu. quando termina em “ém”.
Exemplos: contém / contêm; convém / convêm
b. Não são acentuadas as palavras paroxítonas
com os ditongos abertos “ei” e “oi”, uma vez quando termina em “ê” e derivados:
que existe oscilação em muitos casos entre a Exemplos: crê / creem; revê / reveem
pronúncia aberta e fechada.
j. Levam acento agudo ou circunflexo as palavras
Exemplos: assembleia; proteico; alcaloide.
terminadas por ditongo oral (que não é nasal)
c. Não se acentuam os encontros vocálicos fechados. átono crescente ou decrescente.
Exemplos: pessoa; canoa; voo. Exemplos: ágeis; espontâneo; ignorância.
k. Leva acento agudo ou circunflexo a forma verbal
Observação: terminada em “a”, “e” e “o” tônicos, seguidas
Se o verbo estiver no futuro (mesóclise), pode- de “la(s)” e “lo(s)”.
rá haver dois acentos: amá-lo-íeis. Exemplos: movê-lo; fá-los; sabê-lo-emos.
l. Leva acento agudo a vogal tônica “i” das formas
d. Não levam acento gráfico as palavras paroxí- verbais oxítonas terminadas em “air” e “uir”,
tonas que, tendo respectivamente vogal tônica quando seguidas de “la(s)” e “lo(s)”, caso em
que perdem o “r” final.
aberta ou fechada, são homógrafas de artigos,
Exemplos: atraí-los; possuí-lo.
contrações, preposições e conjunções átonas.
Exemplos: para (verbo e preposição); pelo m. Não levam acento os prefixos paroxítonos termi-
(substantivo e preposição) nados em “r” e “i”.
e. Levam acento agudo o “i” e “u”, quando re- Exemplos: super-homem; semicírculo.
presentam a segunda vogal tônica de um hiato, n. Leva acento circunflexo diferencial a sílaba tôni-
desde que não formem sílaba com “r”, “l”, “m”, ca da 3a pessoa do singular do pretérito perfeito
“n” e “z” ou não estejam seguidos de “nh”. “pôde”, para distinguir-se de “pode”, forma da
Exemplos: viúva; raízes (raiz); faísca. mesma pessoa do presente do indicativo.
f. Não leva acento a vogal tônica dos ditongos
“iu” e “ui”. Ortografia de
Exemplos: caiu; retribuiu; tafuis. algumas palavras
g. Não serão acentuadas as vogais tônicas “i” e
“u” das palavras paroxítonas quando essas vo- Algumas palavras e termos da língua portuguesa cau-
gais estiverem precedidas de ditongo decrescen- sam sérios problemas de grafia devido a semelhanças
te. sonoras. Selecionamos alguns desses casos, para que
Exemplos: maoista; baiuca; bocaiuva. você não corra mais riscos durante a elaboração de tex-
h. Serão acentuadas as vogais tônicas “i” e “u” tos.
das palavras oxítonas quando, mesmo precedi-
das de ditongo decrescente, estão em posição
final, sozinhas na sílaba, ou seguidas somente acerca de / cerca de / a
de “s”. cerca de / há cerca de
Exemplos: Piauí; teiú; tuiuiús. §§ acerca de – a respeito de (Falaremos acerca dos
acontecimentos do mês passado.);
93
§§ cerca de – aproximadamente; durante (Cerca de 40 mil torcedores estavam no estádio.);
§§ a cerca de – ideia de distância (Ela se encontra a cerca de dez metros de mim.);
§§ há cerca de – aproximadamente, no tempo passado.
afim de / a fim de
§§ afim de – afinidade; semelhança
§§ a fim de – com finalidade, objetivo de
em vez de / ao invés de
§§ em vez de – em lugar de
§§ ao invés de – ao contrário de
nenhum / nem um
§§ nenhum – nada; ninguém
§§ nem um – um só que fosse
se não / senão
§§ se não – caso não (conjunção + advérbio); não se (pronome + advérbio)
§§ senão – defeito (substantivo); mas também (conjunção); caso contrário (conjunção); exceto (preposição)
94
INTERATIVIDADE
ACESSAR
Para quem desejar saber mais sobre o acordo ortográfico, o aplicativo “Acordo ortográfico
2016” (Beartouch Software) reúne as modificações e as versões anteriores dos termos
alterados. Com esse aplicativo você pode consultar as novas regras de ortografia de forma
rápida e prática. O melhor de tudo é que você não precisa estar conectado à internet.
Disponível para Android. Disponível para iOS, Windows e Android.
A
INTERDISCIPLINARIDADE
97
E.O. Aprendizagem 3. (COL. Naval) Aumenta o número de adultos
que não consegue focar sua atenção em uma
única coisa por muito tempo. São tantos os
1. (IFSP) De acordo com a norma padrão da estímulos e tanta a pressão para que o en-
Língua Portuguesa, assinale a alternativa em torno seja completamente desvendado que
que todas as palavras devam ser acentuadas aprendemos a ver e/ou fazer várias coisas ao
de acordo com a mesma regra de acentuação mesmo tempo. Nós nos tornamos, à seme-
do vocábulo sublinhado na placa abaixo. lhança dos computadores, pessoas multita-
refa, não é verdade?
Vamos tomar como exemplo uma pessoa di-
rigindo. 4Ela precisa estar atenta aos veícu-
los que vêm atrás, ao lado e à frente, à ve-
locidade média dos carros por onde trafega,
às orientações do GPS ou de programas que
sinalizam o trânsito em tempo real, 6às in-
formações de alguma emissora de rádio que
comenta o trânsito, ao planejamento men-
tal feito e refeito várias vezes do trajeto que
deve fazer para chegar ao seu destino, aos
semáforos, faixas de pedestres etc.
Quando me vejo em tal situação, eu me lem-
bro que dirigir, após um dia de intenso tra-
a) Facil/animo (substantivo)/apendice balho no retorno para casa, já foi uma ativi-
b) Ingenuo/varzea/magoa (substantivo) dade prazerosa e desestressante.
c) Virus/alcoolatra/unico O uso da internet ajudou a transformar nos-
d) Alibi/antibiotico/monossilabica sa maneira de olhar para o mundo. Não mais
observamos os detalhes, por causa de nossa
e) Album/maniaco/amidala
ganância em relação a novas e diferentes in-
formações. Quantas vezes sentei em frente
2. (UTFPR) O texto abaixo apresenta inadequa- ao computador para buscar textos sobre um
ções, de acordo com a norma padrão. A(s) tema e, de repente, me dei conta de que es-
questão(ões) a seguir analisa(m) alguns tava em temas que em nada se relacionavam
desses problemas. com meu tema primeiro.
Aliás, a leitura também sofreu transforma-
No caminho de Montevideo, dirigindo pela
ções pelo nosso costume de ler na internet.
rota beira-mar obrigatóriamente voce vai
Sofremos de uma tentação permanente de
passar pelo porto de Montevideo, lá existe
um mercado muito sofisticado com ótimos pular palavras e frases inteiras, apenas para
restaurantes. Vale [à pena] uma parada para irmos direto ao ponto. O problema é que al-
almoçar no El Palenque, um dos melhores guns textos exigem a leitura atenta de pala-
restaurantes do Uruguai para comer carnes, vra por palavra, de frase por frase, para que
é incrivel lá dentro! Paramos para conhecer, faça sentido. 5Aliás, não é a combinação e a
mas não almoçamos no El Palenque dessa sucessão das palavras que dá sentido e bele-
vez, pois estavamos com o almoço marcado za a um texto?
na Bodega Bousa e depois a visita a vinicola. 3
Se está difícil para nós, adultos, focar nossa
Seguimos viagem pela rota 5 em direção a atenção, imagine, caro leitor, para as crian-
Bodega Bousa (fique atento as placas, pois ças. Elas já nasceram neste mundo de 8profu-
voce pode passar despercebido por elas). são de estímulos de todos os tipos; elas são
(Disponível em: http://cozinhachic.com/ exigidas, desde o início da vida, a dar conta
diario-de-viagemmontevideo-vinicolas-e- de várias coisas ao mesmo tempo; elas são
restaurantes. Acesso em 16/01/2017). estimuladas com diferentes objetos, sons,
imagens etc.
No texto há algumas palavras com erro de
Aí, um belo dia elas vão para a escola. Profes-
acentuação gráfica. Assinale a alternativa sores e pais, a partir de então, querem que
que registra todas elas com os erros corri- as crianças prestem atenção em uma única
gidos. coisa por muito tempo. E quando elas não
a) Obrigatoriamente, você, incrível, estávamos, conseguem, reclamamos, levamos ao médico,
vinícola, você. arriscamos hipóteses de que sejam portado-
b) Montevidéo, obrigatóriamente, você, pôrto, ras de síndromes que exigem tratamento etc.
estávamos, você. A maioria dessas crianças sabe focar sua
c) Você, incrível, estávamos, você, pôrto. atenção, sim. Elas já sabem usar progra-
d) Você, incrível, estávamos, vinícola, você. mas complexos em seus aparelhos eletrô-
e) Montevidéo, obrigatoriamente, você, incrí- nicos, brincam com jogos desafiantes que
vel, vinícola, você. exigem atenção constante aos detalhes e, se
98
deixarmos, passam horas em uma única ati- Ocorreu-lhe desde logo que ao americano po-
vidade de que gostam. deria parecer estranha tal amizade, e mais
Mas, nos estudos, queremos que elas pres- ainda incompatível com a ética ianque a ser
tem atenção no que é preciso, e não no que mantida nas funções que passara a exercer.
gostam. E isso, caro leitor, exige a árdua Lembrou-se num átimo que o americano em
aprendizagem da autodisciplina. Que leva geral tem uma coisa muito séria chamada
tempo, é bom lembrar. preconceito racial e seu critério de julga-
As crianças precisam de nós, pais e professo-
mento da capacidade funcional dos subor-
res, para começar a aprender isso. Aliás, boa
parte desse trabalho é nosso, e não delas. dinados talvez se deixasse influir por essa
Não basta mandarmos que elas prestem aten- odiosa deformação. Por via das dúvidas cor-
ção: isso de nada as ajuda. 13O que pode aju- respondeu ao cumprimento de seu amigo da
dar, por exemplo, é analisarmos o contexto maneira mais discreta que lhe foi possível,
em que estão 7quando precisam focar a aten- mas viu em pânico que ele atravessava a rua
ção e organizá-lo para que seja favorável a e vinha em sua direção, sorriso aberto e bra-
tal exigência. E é preciso lembrar que não se ços prontos para um abraço.
pode esperar toda a atenção delas por muito Pensou rapidamente em se esquivar – não
tempo: o ensino desse quesito no mundo de dava tempo: o americano também se detive-
hoje é um processo lento e gradual. ra, vendo o preto aproximar-se.
(SAYÃO, Rosely. Profusão de estímulos.
Era seu amigo, velho companheiro, um bom
Folha de S. Paulo, 11 fev. 2014.)
sujeito, dos melhores mesmo que já conhe-
Assinale a opção em que as palavras desta- cera – acaso jamais chegara sequer a se lem-
cadas recebem, respectivamente, a mesma brar que se tratava de um preto? Agora, com
classificação quanto à acentuação gráfica o gringo ali a seu lado, todo branco e sar-
que as palavras sublinhadas em “Se está di- dento, é que percebia pela primeira vez: não
fícil para nós, adultos [...]. Elas já, nasceram podia ser mais preto. Sendo assim, tivesse
neste mundo de profusão de estímulos[...].” paciência: mais tarde lhe explicava tudo, ha-
(ref. 3). veria de compreender. Passar fome era mui-
a) “Ela precisa estar atenta aos veículos que
to bonito nos romances de Knut Hamsun, li-
vêm atrás, ao lado e à crente, à velocidade
dos depois do jantar, e sem credores à porta.
média dos carros [...].” (ref. 4)
b) “Aliás, não é a combinação e a sucessão das Não teve mais dúvidas: virou a cara quando
palavras que dá sentido a um texto?” (ref. 5) o outro se aproximou e fingiu que não o via,
c) “[...] às informações de alguma emissora de que não era com ele.
rádio que comenta o trânsito, ao planeja- E não era mesmo com ele.
mento mental [...].” (ref. 6) Porque antes de 9cumprimentá-lo, talvez ain-
d) “[...] quando precisam focar a atenção e da sem 8tê-lo visto, o sambista abriu os braços
organizá-lo para que seja favorável a tal exi- para acolher o americano – também seu ami-
gência. E é preciso lembrar [...].“ (ref. 7) go.
e) “[...] profusão de estímulos [...]; elas são (SABINO, Fernando. A mulher do vizinho. 7. ed.
exigidas, desde o início da vida, a dar conta Rio de Janeiro: Record, 1962. p.163-4.)
de várias coisas [...].” (ref. 8)
Assinale a alternativa correta relativamente
4. (CFTSC) PRETO E BRANCO à acentuação gráfica das palavras sublinha-
das no texto.
Perdera o emprego, chegara a passar fome, a) O pronome ninguém (ref. 6) recebe acento
sem que 6ninguém soubesse: por constran- por ser uma monossílaba tônica terminada
gimento, afastara-se da roda 7boêmia escri-
em em.
tores, jornalistas, um sambista de cor que
vinha a ser o seu mais velho que antes costu- b) O substantivo boêmia (ref. 7) é acentuado
mava frequentar companheiro de noitadas. por ser palavra proparoxítona.
De repente, a salvação lhe apareceu na forma c) A combinação da forma verbal ter com o
de um americano, que lhe oferecia um em- pronome oblíquo o, resultou em tê-lo (ref.
prego numa agência. Agarrou-se com unhas 8), que é acentuado por se tratar de paroxí-
e dentes à oportunidade, vale dizer, ao ame- tona terminada em o.
ricano, para garantir na sua nova função d) A forma verbal cumprimentá (ref. 9) é acen-
uma relativa estabilidade.
tuada porque, ao associar-se ao pronome o,
E um belo dia vai seguindo com o chefe pela
perdeu o r final, tornando-se uma oxítona
rua 10México, já distraído de seus passados tro-
peços, mas tropeçando obstinadamente no in- terminada em a.
glês com que se entendiam – quando vê do ou- e) O substantivo México (ref. 10) recebe acento
tro lado da rua um preto agitar a mão para ele. porque é uma palavra importada, que preci-
Era o sambista seu amigo. sa manter o acento original.
99
5. (IFAL) Assinale a alternativa em que as pa- a) estóico – proíbe – vôo
lavras, que completam a frase abaixo, estão b) hotéis – usuário – volátil
acentuadas corretamente. c) troféus – retórico – hífen
Os tabloides que eles __________, __________ d) herói – alcoólico – têm
manchetes curtas que todos __________.
a) leem – tem – veem 8. (IFAL) Cientistas americanos apresentaram
b) lêm – teem – vêm ontem resultados preliminares de uma va-
c) leem – têm – veem cina contra o fumo. O medicamento impede
d) leem – têm – vêm
que a nicotina – componente do tabaco que
e) lêm – tem – veem
causa dependência – chegue ao cérebro. Em
ratos vacinados, até da nicotina injetada
6. (COL. Naval) Em que opção a acentuação do deixou de atingir o sistema nervoso central.
termo destacado está correta? (O Globo,18/12/99.)
a) A prática da leitura constrói cidadãos capa-
zes de entender criticamente a realidade. Analise as afirmativas a seguir:
b) De acordo com o texto, pessoas que lêem, I. A palavra “cérebro” é paroxítona.
desenvolvem o raciocínio e falam melhor. II. “Cientistas” é, no texto, uma palavra
c) Quando o conferencista enfatizou a impor-
masculina, haja vista a concordância do
tância da leitura, foi ovacionado pela pla-
téia. adjetivo que a acompanha.
d) A ignorância prepotente deforma por estag- III. A palavra “até” é monossílabo tônico.
nação, pois o indivíduo pára de questionar. IV. A palavra “até” é oxítona terminada em
e) Se os livros são fundamentais na formação “e”, por isso é acentuada.
das pessoas, é bom que se averigúem as cau- V. No texto, há três palavras oxítonas que
sas da diminuição da leitura. não são acentuadas graficamente: dei-
xou, atingir e central.
7. (IFSUL) A partir da entrada em vigor do Estão corretas.
Acordo Ortográfico, a palavra assembleia a) apenas II e IV.
passou a ser grafada sem acento agudo. Qual b) apenas II, IV e V.
é a alternativa em que um ou mais vocábu- c) apenas I e III.
los, segundo as regras do Acordo Ortográfico, d) apenas III e V.
foi(ram) acentuado(s) INDEVIDAMENTE? e) apenas IV e V.
9. (IFSC)
10. (UTFPR) Em qual alternativa todas as palavras em negrito devem ser acentuadas graficamente?
a) Atraves de uma lei municipal, varias pessoas recebem ingressos gratis para o cinema.
b) É dificil correr atras do prejuizo sozinho.
c) Aqui, em Foz do Iguaçu, a dengue esta sendo um grande problema de saude publica.
d) O bisneto riscou os papeizinhos com o lapis.
e) O padrão economico do juiz é elevado.
100
E.O. Fixação O reconhecimento da homoafetividade como
união estável foi levado _____ efeito pelo
Supremo Tribunal Federal no ano de 2011,
1. (Imed) em decisão unânime e histórica. Agora esta
ADIANTE SEGUIU A JUSTIÇA é a realidade: homossexuais casam, têm fi-
Maria Berenice Dias lhos, ou seja, podem constituir família.
Ativismo judicial? Não, interpretação da Car-
Durante séculos, ninguém titubeava em res- ta Constitucional segundo um punhado de
ponder: família, só tem uma – a 2constituí- princípios fundamentais. É a Justiça cum-
da pelos sagrados laços do matrimônio. Aos prindo o seu papel de fazer justiça, mesmo
noivos era imposta a obrigação de se multi- diante da lacuna legal.
plicarem até a morte, mesmo na tristeza, na
Da inércia, passou o Legislativo, dominado
pobreza e na doença. Tanto que se falava em
por autointitulados profetas religiosos, a re-
débito conjugal.
agir.
Esse modelito se manteve, ao menos na apa-
Não foi outro o intuito do Estatuto da Fa-
rência, _____ expensas da integridade física
e psíquica das mulheres, que se mantinham mília, que acaba de ser aprovado pela co-
dentro de casamentos esfacelados, pois as- missão especial na Câmara dos Deputados
sim exigia a sociedade. Tanto que o casamen- (PL 6.583/2013). Tentar limitar o conceito
to era indissolúvel. As pessoas até podiam se de família à união entre um homem e uma
desquitar, mas não podiam se casar de novo. mulher, além de afrontar todos os princípios
Caso encontrassem um par, tornavam-se fundantes do Estado, impõe um retrocesso
concubinos e alvos de punições. social que irá retirar direitos de todos aque-
As mudanças foram muitas: vagarosas, mas les que não se encaixam neste conceito limi-
significativas. As causas, incontáveis. No tante e limitado.
entanto, o resultado foi um 10só. O conceito Mas _____ mais. Proceder ao cadastramento
de família mudou, se esgarçou. O casamento das entidades familiares e criar Conselhos
perdeu a sacralidade e permanecer dentro da Família é das formas mais perversas de
dele deixou de ser uma imposição social e excluir direito à saúde, à assistência psi-
uma obrigação legal. cossocial, à segurança pública, que são as-
Veio o 11divórcio. Antes, porém, o 12purgató- seguradas somente às entidades familiares
rio da separação, que exigia que se identi-
reconhecidas como tal. Limitar acesso à De-
ficassem causas, punindo-se os culpados. A
fensoria Pública e à tramitação prioritária
liberdade total de casar e descasar chegou
dos processos à entidade familiar definida
somente no ano de 2006.
na lei, às claras tem caráter punitivo.
A lei regulamentava exclusivamente o casa-
mento. Punia com o silêncio toda e qualquer O conceito de família mudou. E onde pro-
modalidade de estruturas familiares que se curar a sua definição atual? Talvez na frase
afastasse do modelo “oficial”. piegas de Saint-Exupéry: na responsabilida-
E foi assumindo a responsabilidade de jul- de decorrente do afeto.
(Zero Hora, Caderno PrOA, 27-09-2015.)
gar que os 14juízes começaram a alargar o
conceito de família. As mudanças chegaram Sobre o uso de acento gráfico em vocábulos
_____ Constituição Federal, que enlaçou no
do texto, analise as afirmações que seguem:
conceito de família, outorgando-lhes espe-
I. Em constituída (ref. 2) e juízes (ref. 14),
cial proteção, outras estruturas de convívio.
a letra i recebe acento gráfico por razões
Além do casamento, trouxe, de forma exem-
plificativa, a união estável entre um homem distintas.
e uma mulher e a chamada família parental: II. aparência (ref. 3) e purgatório (ref. 12)
um dos pais e seus filhos. recebem acento gráfico em virtude da
mesma regra.
Adiante ainda seguiu a Justiça. Reconheceu
III. As palavras só (ref. 10) e divórcio (ref.
que o rol constitucional não é exaustivo, e
continuou a reconhecer como família outras 11) são acentuadas a fim de marcar a so-
estruturas familiares. Assim as famílias ana- noridade da vogal o.
parentais, constituídas somente pelos filhos, Quais estão INCORRETAS?
sem a presença dos pais; as famílias paren- a) Apenas I.
tais, decorrentes do convívio de pessoas com b) Apenas II.
vínculo de parentesco; bem como as famílias c) Apenas III.
homoafetivas, que são as formadas por pes- d) Apenas I e II.
soas do mesmo sexo. e) Apenas I e III.
101
2. (IFPE) UMA REVISÃO DE DADOS RECENTES 3. (COL. Naval) Assinale a opção na qual as pa-
SOBRE A MORTE DE LÍNGUAS lavras foram acentuadas pelo mesmo motivo
que “aritméticos”, “prioritária”, “cálculos”
Linguistas preveem que metade das mais de e “Taubaté”, respectivamente.
mil línguas faladas no mundo desaparecerá a) rotatória, cólica, vermífugo, Maringá.
em um século – uma taxa de extinção que su- b) hebdomadário, ausência, andrógino, Itajaí.
pera as estimativas mais pessimistas quanto c) farmacêutico, ípsilon, síndrome, Piauí.
à extinção de espécies biológicas. (...) d) alaúde, húngaro, déspota, Grajaú.
Segundo a Unesco, 96% da população mun- e) anêmona, glúten, nômade, Tribobó.
dial falam só 4% das línguas existentes. E
apenas 4% da humanidade partilha o res-
tante dos idiomas, metade dos quais se en- 4. (IFSC) Texto 1: Livro
contra em perigo de extinção. Entre 20 e 30
Eu me livro daquele garoto chato
idiomas desaparecem por ano – uma média
Com um livro enfiado no meu nariz
de uma língua a cada duas semanas. (...)
Fingindo achar a história feliz.
A perda de línguas raras é lamentável por
(MARIA, Selma. Isso isso. São Paulo: Peirópolis, 2010. s/p.)
várias razões. Em primeiro lugar, pelo in-
teresse científico que despertam: algumas Texto 2
questões básicas da linguística estão longe
de estar inteiramente resolvidas. E essas lín-
guas ajudam a saber quais elementos da gra-
mática e do vocabulário são realmente uni-
versais, isto é, resultantes das características
do próprio cérebro humano.
A ciência também tenta reconstruir o per-
curso de antigas migrações, fazendo um le-
vantamento de palavras emprestadas, que
ocorrem em línguas sem qualquer parentes-
co. Afinal, se línguas não aparentadas par-
tilham palavras, então seus povos estiveram
em contato em algum momento.
Um comunicado do Programa das Nações
Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) diz
que “o desaparecimento de uma língua e de
seu contexto cultural equivale a queimar um
livro único sobre a natureza”. Afinal, cada
povo tem um modo único de ver a vida. Por Considerando a posição da sílaba tônica e as
exemplo, a palavra russa mir significa igual- regras de acentuação das palavras, assinale a
mente “aldeia”, “mundo” e “paz”. É que, alternativa CORRETA:
como os aldeões russos da Idade Média ti- a) As palavras “garoto”, “história”, “feliz” e
nham de fugir para a floresta em tempos de “nariz”, do texto 1, são palavras proparoxí-
guerra, a aldeia era para eles o próprio mun- tonas, e “livro”, “dicionário”, “terminar” e
do, ao menos enquanto houvesse paz. “nunca”, do texto 2, são palavras oxítonas.
(Disponível em: <http://revistalingua.com.br/textos/116/a- b) As palavras “história”, do texto 1, e “dicio-
morte-anunciada-355517-1.asp>. Acesso em 28 set. 2015.) nário”, do texto 2, não deveriam estar acen-
tuadas, porque os acentos agudos não fazem
No início do texto, aparece a forma verbal
mais parte do português brasileiro.
“preveem”, que perdeu o acento circunflexo
c) A palavra “história”, do texto 1, é uma pa-
após o último acordo ortográfico. lavra paroxítona e está corretamente acen-
Assinale a única alternativa em que todas as tuada; e “você”, do texto 2, é uma palavra
palavras seguem o padrão de acentuação de- oxítona e deve ser acentuada da mesma for-
terminado pelo referido acordo. ma que “café”, “dendê”.
a) Eu fui à feira e comprei cinco pêras e três d) As palavras “história”, do texto 1, e “dicio-
maçãs. nário”, do texto 2, foram acentuadas corre-
b) A sonda espacial acabou de descobrir um tamente, mas possuem regras de acentuação
novo asteróide. diferentes, porque a primeira é considerada
c) Joana d’Arc é uma mártir da Guerra dos Cem paroxítona e, a segunda, proparoxítona.
anos. e) As palavras “nariz” e “feliz”, do texto 1, de-
d) Ele, estranhamente, saiu sem cumprimentar veriam estar acentuadas assim como as pa-
a platéia. lavras “terminar”, “ler”, “grosso” e “nunca”,
e) O Brasil acabou de enviar uma equipe de do texto 2, que deveriam receber acento cir-
pesquisa ao pólo Sul. cunflexo.
102
5. (IFSC) claridade do dia, sem que ninguém pudesse
evitá-la.
Moleques de carrinho corriam em todas as
direções, atropelando-se uns aos outros.
Queriam salvar as mercadorias que trans-
portavam. Não era o instinto de proprieda-
de que os impelia. Sentiam-se responsáveis
pelo transporte. E no atropelo da fuga, paco-
tes rasgavam-se, melancias rolavam, tomates
esborrachavam-se no asfalto. Se a fruta cai
no chão, já não é de ninguém; é de qualquer
um, inclusive do transportador. Em ocasiões
de assalto, quem é que vai reclamar uma
penca de bananas meio amassadas?
– Olha o assalto! Tem um assalto ali adiante!
O ônibus na rua transversal parou para as-
suntar. Passageiros ergueram-se, puseram o
nariz para fora. Não se via nada. O motoris-
ta desceu, desceu o trocador, um passageiro
Sobre o texto apresentado na tirinha é COR- advertiu:
RETO afirmar que: – No que você vai a fim de ver o assalto, eles
a) O pronome “vocês”, no primeiro quadrinho, assaltam sua caixa.
é acentuado por ser uma palavra paroxítona Ele nem escutou. Então os passageiros tam-
terminada em s. bém acharam de bom alvitre abandonar o ve-
b) A forma verbal “é”, que aparece no segundo ículo, na ânsia de saber, que vem movendo o
e quinto quadrinhos, é acentuada com base homem, desde a idade da pedra até a idade
na regra que manda acentuar as palavras do módulo lunar.
monossílabas tônicas terminadas em e (no Outros ônibus pararam, a rua entupiu.
quarto quadrinho não tem é). – Melhor. Todas as ruas estão bloqueadas.
c) O substantivo “país”, no segundo quadri- Assim eles não podem dar no pé.
nho, recebe acento porque é uma palavra – É uma mulher que chefia o bando!
oxítona terminada em is. – Já sei. A tal dondoca loura.
d) O substantivo “país”, no segundo quadri- – A loura assalta em São Paulo. Aqui é a mo-
nho, recebe acento diferencial para não ser rena.
– Uma gorda. Está de metralhadora. Eu vi.
confundido com o adjetivo “pais”.
– Minha Nossa Senhora, o mundo tá virado!
e) A regra que justifica o acento no pronome – Vai ver que está é caçando marido.
“ninguém”, que aparece no segundo e ter- – Não brinca numa hora dessas. Olha aí san-
ceiro quadrinhos, também justifica que se gue escorrendo!
acentue o advérbio “ontem”, opcionalmente. – Sangue nada, tomate.
Na confusão, circularam notícias diversas.
6. (IFSC) ASSALTO O assalto fora a uma joalheria, as vitrinas
tinham sido esmigalhadas a bala. E havia
Na feira, a gorda senhora protestou a altos joias pelo chão, braceletes, relógios. O que os
brados contra o preço do chuchu: bandidos não levaram, na pressa, era agora
– Isto é um assalto! objeto de saque popular. Morreram no míni-
Houve um rebuliço. Os que estavam perto mo duas pessoas, e três estavam gravemente
fugiram. Alguém, correndo, foi chamar o feridas.
guarda. Um minuto depois, a rua inteira, Barracas derrubadas assinalavam o ímpeto
atravancada, mas provida de admirável ser- da convulsão coletiva. Era preciso abrir ca-
viço de comunicação espontânea, sabia que minho a todo custo. No rumo do assalto, para
se estava perpetrando um assalto ao banco. ver, e no rumo contrário, para escapar. Os
Mas que banco? Havia banco naquela rua? grupos divergentes chocavam-se, e às vezes
Evidente que sim, pois do contrário como trocavam de direção: quem fugia dava mar-
poderia ser assaltado? cha à ré, quem queria espiar era arrastado
– Um assalto! Um assalto! – a senhora conti- pela massa oposta. Os edifícios de aparta-
nuava a exclamar, e quem não tinha escuta- mentos tinham fechado suas portas, logo
do escutou, multiplicando a notícia. Aquela que o primeiro foi invadido por pessoas que
voz subindo do mar de barracas e legumes pretendiam, ao mesmo tempo, salvar o pelo
era como a própria sirene policial, documen- e contemplar lá de cima. Janelas e balcões
tando, por seu uivo, a ocorrência grave, que apinhados de moradores, que gritavam:
fatalmente se estaria consumando ali, na – Pega! Pega! Correu pra lá!
103
– Olha ela ali! boêmia. Na definição de Antenor Nascentes:
– Eles entraram na kombi ali adiante! vida despreocupada e alegre, vadiação, es-
– É um mascarado! Não, são dois mascara- túrdia, vagabundagem. Aplicou-se depois o
dos! termo, especializadamente, à vida desorde-
Ouviu-se nitidamente o pipocar de uma nada e sem preocupações de artistas e escri-
metralhadora, a pequena distância. Foi um tores mais dados aos prazeres da noite que
deitar-no-chão geral, e como não havia es- aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico
paço, uns caíam por cima de outros. Cessou o do que se chama degenerescência semântica.
ruído. Voltou. Que assalto era esse, dilatado De limpo gentílico – natural ou habitante da
no tempo, repetido, confuso? Boêmia – boêmio acabou carregado de todas
essas conotações desfavoráveis.
– Olha o diabo daquele escurinho tocando
A respeito do substantivo boêmia, vale dizer
matraca! E a gente com dor de barriga, pen-
que a forma de uso, ao menos no Brasil, é
sando que era metralhadora!
boemia, acento tônico em -mi-. E é natural
Caíram em cima do garoto, que soverteu na que assim seja, considerando-se que -ia é
multidão. A senhora gorda apareceu, muito sufixo que exprime condição, estado, ocu-
vermelha, protestando sempre: pação. Conferir: alegria, anarquia, barbaria,
– É um assalto! Chuchu por aquele preço é rebeldia, tropelia, pirataria... Penso que so-
um verdadeiro assalto! bretudo palavras como folia e orgia devem
(ANDRADE, Carlos Drummond. Assalto. In: Para gostar ter influído na fixação da tonicidade de bo-
de ler. Vol. 3. SÃO PAULO: Ática, 1979. p. 12-14.) emia. Notar também o par abstêmio/abste-
mia. Além do mais, a prosódia boêmia estava
Em relação à acentuação gráfica, leia e anali-
prejudicada na origem pelo nome 10próprio
se as seguintes afirmações:
Boêmia: esses boêmios não são os que vivem
I. As palavras notícias, relógio, ânsia e con-
na Boêmia...
trário são acentuadas por serem paroxíto-
(LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O
nas e terminarem em ditongo. romance das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31.)
II. Os vocábulos pé, lá, aí e já recebem acen-
to tônico por serem monossílabos tôni- Considere os pares de palavras abaixo.
cos. 1. puídos (ref. 7) e indivíduo (ref. 8)
III. As palavras veículo, módulo, ímpeto e 2. Boêmia (ref. 9) e próprio (ref. 10)
ônibus recebem acento gráfico por serem 3. deus-dará (ref. 11) e Daí (ref. 12)
proparoxítonas. Em quais pares as palavras respeitam a mes-
ma regra de acentuação ortográfica?
Assinale a alternativa CORRETA.
a) Apenas 1.
a) Apenas as afirmações I e III são verdadeiras.
b) Apenas 2.
b) Apenas a afirmação II é verdadeira.
c) Apenas 3.
c) Apenas as afirmações I e II são verdadeiras.
d) Apenas 1 e 2.
d) Apenas as afirmações II e III são verdadeiras.
e) Apenas 1 e 3.
e) Todas as afirmações são verdadeiras.
7. (UFRGS) No século XV, viu-se a Europa in- 8. (COL. Naval) Quando a rede vira um vício
vadida por uma raça de homens que, vin-
dos ninguém sabe de onde, se espalharam Com o titulo “Preciso de ajuda”, fez-se um
em bandos por todo o seu território. Gente desabafo aos integrantes da comunidade Vi-
inquieta e andarilha, deles afirmou Paul de ciados em Internet Anônimos: “Estou muito
Saint-Victor que era mais fácil predizer o dependente da web, Não consigo mais viver
........ das nuvens ou dos gafanhotos do que normalmente. Isso é muito sério”. Logo ob-
seguir as pegadas da sua invasão. Uns riso- teve resposta de um colega de rede. “Estou
nhos despreocupados: passavam a vida es- na mesma situação. Hoje, praticamente vivo
quecidos do passado e descuidados do futu- em frente ao computador. Preciso de ajuda.”
ro. Cada novo dia era uma nova aventura em O diálogo dá a dimensão do tormento pro-
busca do escasso alimento para os manter vocado pela dependência em Internet, um
naquela jornada. Trajo? No mais completo mal que começa a ganhar relevo estatístico,
........: ........ sujos e puídos cobriam-lhes os à medida que o uso da própria rede se disse-
corpos queimados do sol. Nômades, aventu- mina. Segundo pesquisas recém-conduzidas
reiros, despreocupados – eram os boêmios. pelo Centro de Recuperação para Dependên-
Assim nasceu a semântica da palavra boê- cia de Internet, nos Estados Unidos, a parce-
mio. O nome gentílico de 9Boêmia passou a la de viciados representa, nos vários países
aplicar-se ao 8indivíduo despreocupado, de estudados, de 5% (como no Brasil) a 10%
existência irregular, relaxado no vestuário, dos que usam a web – com concentração na
vivendo ao 11deus-dará, à toa, na vagabun- faixa dos 15 aos 29 anos. Os estragos são
dagem alegre. 12Daí também o substantivo enormes. Como ocorre com um viciado em
104
álcool ou em drogas, o doente desenvolve por se definir, a internet proporciona um
uma tolerância que, nesse caso, o faz ficar ambiente favorável para que eles se expres-
on-line por uma eternidade sem se dar conta sem livremente”. No perfil daquela minoria
do exagero. Ele também sofre de constantes que, mais tarde, resvala no vicio se vê, em
crises de abstinência quando está desconec- geral, uma combinação de baixa autoestima
tado, e seu desempenho nas tarefas de na- com intolerância à frustração. Cerca de 50%
tureza intelectual despenca. Diante da tela deles, inclusive, sofrem de depressão, fobia
do computador, vive, aí sim, momentos de social ou algum transtorno de ansiedade. É
rara euforia. Conclui uma psicóloga america- nesse cenário que os múltiplos usos da rede
na: “O viciado em internet vai, aos poucos, ganham um valor distorcido. Entre os que já
perdendo os elos com o mundo real até de-
têm o vicio, a maior adoração é pelas redes
sembocar num universo paralelo – e comple-
de relacionamento e pelos jogos on-line, so-
tamente virtual”.
bretudo por aqueles em que não existe noção
Não é fácil detectar o momento em que al-
de começo, meio ou fim.
guém deixa de fazer uso saudável e produ-
tivo da rede para estabelecer com ela uma Desde 1996, quando se consolidou o pri-
relação doentia, como a que se revela nas meiro estudo de relevo sobre o tema, nos
histórias relatadas ao longo desta reporta- Estados Unidos, a dependência em internet
gem. Em todos os casos, a internet era ape- é reconhecida – e tratada – como uma doen-
nas “útil” ou “divertida” e foi ganhando um ça. Surgiram grupos especializados por toda
espaço central, a ponto de a vida longe da parte. “Muita gente que procura ajuda ainda
rede ser descrita agora como sem sentido. resiste à ideia de que essa é uma doença”,
Mudança tão drástica se deu sem que os pais conta um psicólogo. O prognóstico é bom:
atentassem para a gravidade do que ocorria. em dezoito semanas de sessões individuais e
“Como a internet faz parte do dia a dia dos em grupo, 80% voltam a níveis aceitáveis de
adolescentes e o isolamento é um compor- uso da internet. Não seria factível, tampou-
tamento típico dessa fase da vida, a famí- co desejável, que se mantivessem totalmente
lia raramente detecta o problema antes de distantes dela, como se espera, por exemplo,
ele ter fugido ao controle”, diz um psiquia- de um alcoólatra em relação à bebida. Com a
tra. A ciência, por sua vez, já tem bem ma rede, afinal, descortina-se uma nova dimen-
peados os primeiros sintomas da doença. De são de acesso às informações, à produção de
saída, o tempo na internet aumenta – até conhecimento e ao próprio lazer, dos quais,
culminar, pasme-se, numa rotina de catorze em sociedades modernas, não faz sentido se
horas diárias, de acordo com o estudo ame- privar. Toda a questão gira em torno da dose
ricano. As situações vividas na rede passam,
ideal, sobre a qual já existe um consenso
então, a habitar mais e mais as conversas.
acerca do razoável: até duas horas diárias,
É típico o aparecimento de olheiras profun-
no caso de crianças e adolescentes. Quanto
das e ainda um ganho de peso relevante, re-
antes a ideia do limite for sedimentada, me-
sultado da frequente troca de refeições por
sanduíches – que prescindem de talheres e lhor. Na avaliação de uma das psicólogas, “Os
liberam uma das mãos para o teclado. Grada- pais não devem temer o computador, mas,
tivamente, a vida social vai se extinguindo. sim, orientar os filhos sobre como usá-lo de
Alerta outra psicóloga: “Se a pessoa começa forma útil e saudável”. Desse modo, reduz-
a ter mais amigos na rede do que fora dela, -se drasticamente a possibilidade de que, no
é um sinal claro de que as coisas não vão futuro, eles enfrentem o drama vivido hoje
bem”. pelos jovens viciados.
Os jovens são, de longe, os mais propensos a (Silvia Rogar e João Figueiredo. In: Revista
extrapolar o uso da internet. Há uma razão Veja, 24 de março de 2010.)
estatística para isso – eles respondem por
Assinale a opção cujas palavras são, respec-
até 90% dos que navegam na rede, a maior
tivamente, acentuadas pela mesma justifi-
fatia –, mas pesa também uma explicação de
fundo mais psicológico, à qual uma recen- cativa das que aparecem destacadas em “Na
te pesquisa lança luz. Algo como 10% dos avaliação de uma das psicólogas, ‘os pais não
entrevistados (viciados ou não) chegam a devem temer o computador, mas, sim, orien-
atribuir à internet uma maneira de “aliviar tar os filhos sobre como usá-lo de forma útil
os sentimentos negativos”, tão típicos de e saudável’.” (4° parágrafo)
uma etapa em que afloram tantas angústias a) Família, incluí-lo, saída.
e conflitos. Na rede, os adolescentes sentem- b) Prognóstico, atrás, fútil.
-se ainda mais à vontade para expor suas c) Plausível, alguém, factível.
ideias. Diz um outro psiquiatra: “Num mo- d) Alcoólatra, razoável, vício.
mento em que a própria personalidade está e) Múltiplos, amá-la, intolerância.
105
9. (UFRGS) Darwin passou quatro meses no 10. (EPCAR) QUARTO DE DESPEJO
Brasil, em 1832, durante a sua 2célebre via-
gem a bordo do Beagle. Voltou impressiona- “O grito da favela que tocou a consciência do
do com o que viu: “5Delícia é um termo 17in- mundo inteiro”
suficiente para exprimir as emoções sentidas 2 de MAIO de 1958. Eu não sou indolente. Há
por um naturalista a 8sós com a natureza em tempos que eu pretendia fazer o meu diario.
uma floresta brasileira”, escreveu. O Brasil, Mas eu pensava que não tinha valor e achei
11
porém, aparece de forma menos 21idílica que era perder tempo.
em seus escritos: “Espero nunca mais voltar ...Eu fiz uma reforma para mim. Quero tratar
a um 12país escravagista. O estado da enorme as pessoas que eu conheço com mais aten-
população escrava deve preocupar todos os ção. Quero enviar sorriso amavel as crianças
que chegam ao Brasil. Os senhores de escra- e aos operarios.
vos querem ver o negro romo outra espécie, ...Recebi intimação para comparecer as 8 ho-
mas temos todos a mesma origem.” ras da noite na Delegacia do 12. Passei o dia
Em vez do gorjeio do 6sabiá, o que Darwin catando papel. A noite os meus pés doiam
guardou nos ouvidos foi um som 3terrível tanto que eu não podia andar.
que o acompanhou por toda a vida: “13Até Começou chover. Eu ia na Delegacia, ia le-
hoje, se eu ouço um grito, lembro-me, com var o José Carlos. A intimação era para ele. O
dolorosa e clara memória, de quando pas- José Carlos tem 9 anos.
sei numa casa em Pernambuco e ouvi urros 3 de MAIO. ...Fui na feira da Rua Carlos de
14
terríveis. Logo entendi que era algum po- Campos, catar qualquer coisa. Ganhei bas-
bre escravo que estava sendo torturado,” tante verdura. Mas ficou sem efeito, porque
Segundo o 4biólogo Adrian Desmond, “a via- eu não tenho gordura. Os meninos estão ner-
gem do Beagle, para Darwin, foi menos 41im- vosos por não ter o que comer.
portante pelos 15espécimes coletados do que 6 de MAIO. De manhã não fui buscar agua.
pela 16experiência de testemunhar os horro- Mandei o João carregar. Eu estava contente.
res da escravidão no Brasil. De certa forma, Recebi outra intimação. Eu estava inspira-
ele escolheu focar na descendência comum da e os versos eram bonitos e eu esqueci de
ir na Delegacia. Era 11 horas quando eu re-
do homem justamente para mostrar que to-
cordei do convite do ilustre tenente da 12ª
das as raças eram iguais e, desse modo, en-
Delegacia.
fim, objetar àqueles que insistiam em dizer
...o que eu aviso aos pretendentes a política,
que os negros pertenciam a uma espécie di-
é que o povo não tolera a fome. É preciso co-
ferente e inferior à dos brancos”. Desmond
nhecer a fome para saber descrevê-la.
acaba de lançar um estudo que mostra a pai-
Estão construindo um circo aqui na Rua Ara-
xão abolicionista do cientista, revelada por guaia, Circo Theatro Nilo.
seus 7diários e cartas pessoais. “A extensão 9 de MAIO. Eu cato papel, mas não gosto.
de seu interesse no combate à ciência de Então eu penso: Faz de conta que estou so-
cunho racista 9é surpreendente, e pudemos nhando.
detectar um ímpeto moral por 10trás de seu 10 de MAIO. Fui na Delegacia e falei com o
trabalho sobre a evolução humana – uma Tenente. Que homem amavel! Se eu soubesse
crença na ‘irmandade racial’ que tinha ori- que ele era tão amavel, eu teria ido na Dele-
gem em seu ódio ao escravismo e que o levou gacia na primeira intimação.
a pensar numa descendência comum.” (...) O Tenente interessou-se pela educação
(HAAG, C. O elo perdido tropical. Pesquisa dos meus filhos. Disse-me que a favela é um
FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, maio 2009.)
ambiente propenso, que as pessoas tem mais
Assinale a alternativa em que as três pala- possibilidades de delinquir do que tornar-se
vras são acentuadas graficamente pela mes- util a patria e ao país. Pensei: se ele sabe
ma razão. disso, porque não faz um relatorio e envia
a) célebre (ref. 2) - terrível (ref. 3) - biólogo para os politicos? O Senhor Janio Quadros, o
(ref. 4) Kubstchek, e o Dr Adhemar de Barros? Agora
b) Delícia (ref. 5) - sabiá (ref. 6) - diários (ref. 7) falar para mim, que sou uma pobre lixeira.
c) sós (ref. 8) - é (ref. 9) - trás (ref. 10) Não posso resolver nem as minhas dificul-
d) porém (ref. 11) - país (ref. 12) - Até (ref. 13) dades.(...) O Brasil precisa ser dirigido por
e) terríveis (ref. 14) - espécimes (ref. 15) - ex- uma pessoa que já passou fome. A fome tam-
periência (ref. 16) bem é professora. Quem passa fome aprende
a pensar no proximo e nas crianças.
11 de MAIO. Dia das mães. O céu está azul
e branco. Parece que até a natureza quer
homenagear as mães que atualmente se
106
sentem infeliz por não realizar os desejos a) “...as pessoas tem mais possibilidades de de-
de seus filhos. (...) O sol vai galgando. Hoje linquir...”
não vai chover. Hoje é o nosso dia. (...) A b) “Pretendia comprar um pouco de farinha
D. Teresinha veio visitar-me. Ela deu-me 15 para fazer um virado.”
cruzeiros. Disse-me que era para a Vera ir c) “Nas prisões os negros eram os bodes expia-
no circo. Mas eu vou deixar o dinheiro para torios.”
comprar pão amanhã, porque eu só tenho 4 d) “...os meus pés doiam tanto que eu não po-
cruzeiros.(...) Ontem eu ganhei metade da dia andar.”
cabeça de um porco no frigorifico. Comemos
a carne e guardei os ossos para ferver. E com
o caldo fiz as batatas. Os meus filhos estão E.O. Complementar
sempre com fome. Quando eles passam mui-
ta fome eles não são exigentes no paladar. 1. (IFSUL) Crônica parafraseada de uma Síria
(...) Surgiu a noite. As estrelas estão ocultas. em guerra
O barraco está cheio de pernilongos. Eu vou
acender uma folha de jornal e passar pelas Ela abre os olhos. Não fosse o cheiro horrível
paredes. É assim que os favelados matam de morte, o silêncio seria até agradável, mas
mosquitos. o olfato a lembra que não há paz – nem pes-
13 de MAIO. Hoje amanheceu chovendo. É soas, vizinhos, crianças. A trégua na manhã-
um dia simpatico para mim. É o dia da Abo- zinha não traz esperança. Tão somente lhe
lição. Dia que comemoramos a libertação permite descansar o corpo, mas não a mente.
dos escravos. Nas prisões os negros eram os As lembranças da noite anterior ainda pro-
duzem sobressaltos. Bombas, casas caindo e
bodes expiatorios. Mas os brancos agora são
soldados gritando.
mais cultos. E não nos trata com desprezo.
Levanta-se, bebe o pouco da água que restou
Que Deus ilumine os brancos para que os pre-
do copo ao lado da cama. Já não é tão lim-
tos sejam feliz. (...) Continua chovendo. E eu pa, nem farta como antes. Sempre um gosto
tenho só feijão e sal. A chuva está forte. Mes- amargo misturado com
mo assim, mandei os meninos para a esco- Abre a geladeira, e só encontra comida enla-
la. Estou escrevendo até passar a chuva para tada e congelada. E mesmo não tão congela-
mim ir lá no Senhor Manuel vender os ferros. da assim, já que os cortes diários de eletrici-
Com o dinheiro dos ferros vou comprar arroz dade derretem as camadas de gelo.
e linguiça. A chuva passou um pouco. Vou Os sobrinhos ainda dormem, e ela tenta orar.
sair. (...) Eu tenho dó dos meus filhos. Quan- Não consegue. A mente desconcentra-se fa-
do eles vê as coisas de comer eles brada: Viva cilmente. Em uma prece fragmentada, pede
a mamãe!. A manifestação agrada-me. Mas a Deus descanso e trégua. E faz a oração sem
eu já perdi o habito de sorrir. Dez minutos pensar muito. Não precisa; é a mesma oração
depois eles querem mais comida. Eu man- das últimas semanas.
dei o João pedir um pouquinho de gordura a Ela não quer sair de casa. Não é teimosia,
Dona Ida. Mandei-lhe um bilhete assim: é falta de opção. “Para onde ir?”, pergunta,
“Dona Ida peço-te se pode me arranjar um com uma voz desesperançosa. Está tão con-
pouquinho de gordura, para eu fazer sopa fusa que não consegue imaginar saídas.
para os meninos. Hoje choveu e não pude ca- Nem a piedade de enterrar os mortos o go-
verno permite. Cadáveres estão espalhados
tar papel. Agradeço. Carolina”
pelas ruas. As forças de Assad 3impediram de
(...) Choveu, esfriou. É o inverno que chega.
sepultar ou mesmo remover os restos mor-
E no inverno a gente come mais. A Vera co-
tais. Ou seja, mesmo viva, ela não tem como
meçou a pedir comida. E eu não tinha. Era fugir da morte escancarada diante de seus
a reprise do espetaculo. Eu estava com dois olhos. Não é fácil acreditar na vida, quando
cruzeiros. Pretendia comprar um pouco de a realidade grita o contrário.
farinha para fazer um virado. Fui pedir um Se não podem sepultar os mortos, os sobre-
pouco de banha a Dona Alice. Ela deu-me a viventes tentam ao menos ajudar a curar as
banha e arroz. Era 9 horas da noite quando feridas dos machucados. Não podem levá-los
comemos. aos hospitais da cidade, já que há um medo
E assim no dia 13 de maio de 1958 eu lutava generalizado de que o governo prenda os fe-
contra a escravatura atual – a fome! ridos como se fossem prisioneiros de guerra.
(DE JESUS, Carolina Maria. Quarto de Despejo.) Resta improvisar atendimento nos campos.
Não bastasse a precariedade do atendimen-
Pode-se afirmar que um recorrente problema to, não há medicamentos suficientes.
encontrado no texto, no que se refere ao uso Rebeca, de 32 anos, é trabalhadora autôno-
da língua padrão, está relacionado à acen ma. Ou melhor, 4era. Agora já não sabe mais
tuação gráfica. Assinale a alternativa em que o que é e o que faz em sua cidade Damasco,
esse fato NÃO ocorre. capital da Síria.
107
Crônica parafraseada do depoimento de uma aí a sua maior fraqueza, já que dessa vege-
moradora da capital da Síria (identificada tação foi destruída pelo homem. A ave, que
apenas pela letra “R”) ao jornal Folha de também era encontrada em Minas Gerais,
São Paulo, de quarta-feira, dia 25. A Síria hoje só pode ser vista no Espírito Santo.
está em revolta há 16 meses contra a dita- “A extinção está associada à destruição se-
dura de Bashar al-Assad. Nos últimos dias, o cular da Mata Atlântica, porque a espécie só
confronto contra os rebeldes se acirrou e as sobrevive em florestas muito bem conser-
mortes aumentaram. vadas”, diz o biólogo Edson Ribeiro Luiz,
(Disponível em: <http://ultimato.com.br/sites/ coordenador de projetos da SAVE Brasil, ONG
fatosecorrelatos/2012/07/26/cronica-parafraseada-de- ligada à Bird Life International, que tem
uma-siria-em-guerra/>. Acesso em: 14 set. 2015.)
como foco a proteção das aves brasileiras.
Sobre a acentuação gráfica, são feitas as se- “Em território capixaba, onde existe apenas
guintes afirmações: um bloco de vegetação preservado, elas ten-
I. As palavras horrível, agradável e fácil se- dem a ficar ilhadas.”
guem a regra de acentuação gráfica das A luta para proteger a ave ganhou força no
oxítonas. mês passado, quando aconteceu no Estado o
II. Os vocábulos só, há e já recebem acento Avistar, principal evento de observação de
gráfico em decorrência de regras distin- pássaros do país. Tendo na saíra-apunhalada
tas. o seu símbolo, a festa foi o incentivo que
III. A presença ou a ausência do acento grá- faltava para que o Instituto Estadual de Meio
fico na palavra e é determinante para a Ambiente (IEMA) estabelecesse o prazo de
classificação gramatical desse vocábulo. março de 2016 para a constituição da re-
IV. As palavras levá-las, diários, contrário se- serva. A decisão final, porém, continua nas
guem a regra de acentuação gráfica das mãos do governo.
paroxítonas. (Disponível em: <http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/
Está(ão) correta(s) a(s) afirmativa(s) ambientalistaspressionam- governo-capixaba-a-proteger-
ave-sairaapunhalada>. Acesso em: 13/11/2015.)
a) I, III e IV apenas.
b) II e IV apenas. Quanto à acentuação das palavras, assinale a
c) I, II, III e IV. afirmação verdadeira.
d) III apenas. a) Os vocábulos “é”, “já” e “só” recebem acento
por constituírem monossílabos tônicos fe-
2. (ESPCEX) Assinale a alternativa cujo vocá- chados.
bulo só pode ser empregado com acento grá- b) As palavras “saíra”, “destruída” e “aí” acen-
fico. tuam-se pela mesma razão.
a) Diálogo c) Acentuam-se “simpática”, “centímetros”,
b) Até “simbólica” porque todas as paroxítonas são
c) Análogo acentuadas.
d) É d) A palavra “tendem” deveria ser acentuada
e) Música graficamente, como “também” e “porém”.
e) O nome “Luiz” deveria ser acentuado gra-
3. (IFAL) À beira da extinção, ave saíra-apu- ficamente, pela mesma razão que a palavra
nhalada tem rara chance de se recuperar na “país”.
natureza
A saíra-apunhalada (o nome faz referên- 4. (IFSUL)
cia à mancha vermelha no peito do pássa-
Texto 1
ro, que se assemelha a uma “punhalada”) é
O PREÇO DE SER DE VERDADE
uma ave simpática de dez centímetros, com
Fernanda Pinho
plumagem branca e cinza. A alcunha, que
na origem só fazia referência ao visual da Acabei de ler um livro que me marcou bas-
espécie, agora serve bem como indicação tante. Chama-se “A Extraordinária Garota
simbólica do perigo pelo qual passa a saíra: Chamada Estrela”, do autor Jerry Spinelli.
estimativas indicam que só existem 50 delas Estrela tem um rato de estimação, fica fe-
na natureza. Para protegê-la, ONGs e órgãos liz quando seu time faz cesta no basquete
ambientalistas do governo lutam para que (mas quando o outro time pontua, também),
seja criada uma reserva florestal de 5 mil distribui cartões de aniversários para desco-
hectares na região serrana capixaba. nhecidos, usa as roupas de que gosta (e isso
A saíra-apunhalada vive em bandos e se ali- pode ser um vestido que esteve na moda du-
menta de pequenos insetos e frutos. Ela vive zentos anos atrás), tenta trazer um pouco de
no alto de florestas da Mata Atlântica, e está alegria tirando canções de seu ukulele que
108
leva sempre a tiracolo. Num primeiro mo- Texto 2
mento, junto com o impacto de sua chegada COMO NASRUDIN CRIOU A VERDADE
à escola nova, Estrela desperta simpatias. Nasrudin
Afinal, este livro nada mais é que uma deli- (Khawajah Nasr Al-Din)
cada e verdadeira metáfora da vida.
E a princípio somos assim. Grandes admi- – As leis não fazem com que as pessoas fi-
radores da autenticidade. Capazes de fazer quem melhores – disse Nasrudin ao rei.
discursos inflamados defendendo a liberda- – Elas precisam, antes, praticar certas coisas
de maneira a entrar em sintonia com a ver-
de de cada um fazer o que quiser, respei-
dade interior, que se assemelha apenas leve-
tar as próprias convicções, seguir o que seu
mente à verdade aparente. O rei, no entanto,
coração manda, persistir nos seus sonhos, decidiu que ele poderia, sim, fazer com que
manter relações com quem se sente à von- as pessoas observassem a verdade, que po-
tade, construir seu próprio caminho. Lindo, deria fazê-las observar a autenticidade – e
maravilhoso. Se ficar só no discurso, melhor assim o faria. O acesso a sua cidade dava-se
ainda. através de uma ponte. Sobre ela, o rei orde-
Porque, em algum momento, Estrela vai le- nou que fosse construída uma forca. Quando
vantar suspeitas. “Ninguém pode ser tão le- os portões foram abertos, na alvorada do dia
gal assim”. E da suspeita para a rejeição se seguinte, o chefe da guarda estava a postos
passa num piscar de olhos. Por que ninguém em frente de um pelotão para testar todos os
pode ser “tão legal assim”? Porque ser legal que por ali passassem. Um edital fora ime-
demais implica ser diferente e a gente pode diatamente publicado: “Todos serão interro-
gados. Aquele que falar a verdade terá seu
até admirar pessoas que fazem tudo o que
ingresso na cidade permitido. Caso mentir,
“dá na telha”, desde que mantenham uma
será enforcado". Nasrudin, na ponte entre
distância de segurança de nós, por favor. alguns populares, deu um passo à frente e
E, veja bem, quando eu falo de gente que começou a cruzar a ponte.
faz tudo o que “dá na telha”, eu não estou – Aonde o senhor pensa que vai? – pergun-
me referindo a nada que possa machucar ou tou o chefe da guarda.
prejudicar o outro de alguma forma. Estou – Estou a caminho da forca – respondeu Nas-
falando de atitudes inocentes, mas que, por rudin, calmamente. – Não acredito no que
sair da previsibilidade, são tratadas quase está dizendo!
como se fossem atos imperdoáveis. – Muito bem, se eu estiver mentindo, pode
Gente que dança como se ninguém estives- me enforcar.
se olhando, que ignora a uniformização das – Mas se o enforcarmos por mentir, faremos
vitrines e faz a própria moda, que se recusa com que aquilo que disse seja verdade!
– Isso mesmo – respondeu Nasrudin, sentin-
a fazer social em ambientes inóspitos, que
do-se vitorioso. – Agora vocês já sabem o que
fala a verdade quando questionada, que dá
abraços de dez minutos, que ri na hora que é a verdade: é apenas a sua verdade.
(Disponível em: <http://metaforas.com.br/como-
tem vontade de rir, que chora na hora que nasrudin-criou-a-verdade>. Acesso em: 14 abr.2015.)
tem vontade de chorar, que fala “eu te amo”
quando sente que ama, que escolheu não Nos textos 1 e 2, aparecem várias palavras
perder tempo com quem lhe faz mal, que acentuadas graficamente.
muda o rumo da própria vida, que ignora Em que alternativa as palavras seguem a re-
as etiquetas e as convenções. Sabe essa gen- gra de acentuação das oxítonas?
te louca, sem noção, desvairada, sem juízo, a) terá, juízo, ninguém.
b) fazê-las, através, será.
perturbada? Então, elas não são nada disso.
c) vocês, construída, previsível.
São apenas pessoas autênticas e verdadeiras,
d) imperdoáveis, metáfora, você.
que se respeitam muito (e só quem se res-
peita muito é capaz de respeitar o outro).
5. (IFAL) COMO PREVENIR A VIOLÊNCIA DOS
Elas não estão fazendo nada de mau. Nada
ADOLECENTES
que irá prejudicar você ou quem quer que
seja. E por que te incomodam tanto? Bom, “(...) Quando deparo com as notícias sobre
apenas optaram optaram por fazer o que ti- crimes hediondos envolvendo adolescen-
nham vontade, e não o que você, preso em tes, como o ocorrido com Felipe Silva Caffé
seu mundo limitado e previsível, esperava. e Liana Friedenbach, fico profundamente
(Disponível em: <http://www.cronicadodia.com. triste e constrangida. Esse caso é consequ-
br/2014/10/o-preco-de-ser-de-verdade-fernanda- ência da baixa valorização da prevenção pri-
pinho.html>. Acesso em: 7 abr. 2015.) mária da violência por meio das estratégias
109
cientificamente comprovadas, facilmente luta contra a mortalidade infantil, a desnu-
replicáveis e definitivamente muito mais trição e a violência intrafamiliar contou com
baratas do que a recuperação de crianças e a contribuição dessa enorme rede de solida-
adolescentes que comentem atos infracio- riedade da Pastoral da Criança. (...)”
nais graves contra a vida. “(...) A segunda área da maior importância
Talvez seja porque a maioria da população nessa prevenção primária da violência envol-
não se deu conta e os que estão no poder nos vendo crianças e adolescentes é a educação,
três níveis não estejam conscientes de seu
a começar pelas creches, escolas infantis e
papel histórico e de sua responsabilidade le-
gal de cuidar do que tem de mais importante de educação fundamental e de nível médio,
à nação: as crianças e os adolescentes, que que devem valorizar o desenvolvimento do
são o futuro do país e do mundo. raciocínio e a matemática, a música, a arte, o
A construção da paz e a prevenção da violên- esporte e a prática da solidariedade humana.
cia dependem de como promovemos o desen- As escolas nas comunidades mais pobres
volvimento físico, social, mental, espiritual e deveriam ter dois turnos, para darem con-
cognitivo das nossas crianças e adolescentes, ta da educação integral das crianças e dos
dentro do seu contexto familiar e comunitá- adolescentes; deveriam dispor de equipes
rio. Trata-se, portanto, de uma ação inter- multiprofissionais atualizadas e capacitadas
setorial, realizada de maneira sincronizada a avaliar periodicamente os alunos. Urgente
em cada comunidade, com a participação das é incorporar os ministérios do Esporte e da
famílias, mesmo que estejam incompletas ou Cultura às iniciativas da educação, com ati-
desestruturadas (...)” vidades em larga escala e simples, baratas,
“(...) Em relação às crianças e adolescentes facilmente replicáveis e adaptáveis em todo
que cometeram infrações leves ou modera- o território nacional. (...)”
das – que deveriam ser mais bem expressas “(...) Com relação à idade mínima para a
– seu tratamento para a cidadania deveria maioridade penal, deve permanecer em 18
ser feito com instrumentos bem elaborados e anos, prevista pelo Estatuto da Criança e do
colocados em prática, na família ou próxima Adolescente e conforme orientações da ONU.
dela, com acompanhamento multiprofissio- Mas o tempo máximo de três anos de reclu-
nal, desobstruindo as penitenciárias, verda- são em regime fechado, quando a criança ou
deiras universidades do crime. (...)” o adolescente comete crime hediondo, mes-
“(...) A prevenção primária da violência ini- mo em locais apropriados e com tratamento
cia-se com a construção de um tecido social multiprofissional, que urgentemente preci-
saudável e promissor, que começa antes do sam ser disponibilizados, deve ser revisto.
nascer, com um bom pré-natal, parto de qua- Três anos, em muitos casos, podem ser ab-
lidade, aleitamento materno exclusivo até solutamente insuficientes para tratar e pre-
seis meses e o complemento até mais de um parar os adolescentes com graves distúrbios
ano, vacinação, vigilância nutricional, edu- para a convivência cidadã. (...)”
cação infantil, principalmente propiciando o (Zilda Arns Neumann, 69, médica pediatra e sanitarista;
desenvolvimento e o respeito à fala da crian- foi fundadora e coordenadora nacional da Pastoral da
ça, o canto, a oração, o brincar, o andar, o Criança. Publicado em: Folha de S. Paulo, 26/11/2003.).
jogar; uma educação para a paz e a nãovio-
lência. Foram retiradas do texto as seguintes palavras
A pastoral da criança, que em 2003 comple- acentuadas: ministérios, replicáveis, adaptá-
ta 20 anos, forma redes de ação para mul- veis, máximo, distúrbios, convivências.
tiplicar o saber e a solidariedade junto às Assinale a alternativa que melhor justifica a
famílias pobres do país, por meio de mais de acentuação gráfica.
230 mil voluntários, e acompanhou no ter- a) De todas as palavras destacadas, somente
ceiro trimestre deste ano cerca de 1,7 milhão “máximo” não se insere na mesma regra de
de crianças menores de seis anos e 80 mil acentuação gráfica.
gestantes, de mais de 1,2 milhão de famí- b) Todas as palavras mencionadas seguem o
lias, que moram em 34.784 comunidades de mesmo padrão ou regra de acentuação gráfica.
3.696 municípios do país. c) Com exceção de “máximo” e “convivência”,
O Brasil é o país que mais reduziu a mortali- que são proparoxítonas, as demais palavras
dade infantil nos últimos dez anos; isso, sem são acentuadas pelo mesmo motivo.
dúvida, é resultado da organização e univer- d) Três regras de acentuação contemplam as
salização dos serviços de saúde pública, da palavras supracitadas: a das proparoxítonas,
melhoria da atenção primária, com todas as a das paroxítonas terminadas em ditongos e
limitações que o SUS possa ainda possuir, as que terminam em hiato, que, no caso em
da descentralização e municipalização dos análise, trata-se da palavra “convivência”.
recursos e dos serviços de saúde. A intensa e) Todas são proparoxítonas.
110
E.O. Dissertativo que nunca escrevi, agora frequento a inter-
net com um Twitter.
Aviso: não tenho tuiter, não recebo tuiter,
1. (FGV) O artista Juan Diego Miguel apresenta não sei o que é tuiter.
a exposição Arte e Sensibilidade, no Museu E desautorizo qualquer frase de tuiter atri-
Brasileiro da Escultura (MUBE) de suas obras buída a mim a não ser que ela seja absoluta-
que acabam de chegar no país. mente genial. Brincadeira, mas já fui obri-
Seu sentido de inovação tanto em temas como gado a aceitar a autoria de mais de um texto
em materiais que elege é sempre de uma sen- apócrifo (e agradecer o elogio) para não cau-
sação extraordinária para o espectador. sar desgosto, ou até revolta. Como a daquela
Juan Diego sensibiliza-se com os materiais senhora que reagiu com indignação quando
que nos rodeam e lhes da vida com uma na- eu inventei de dizer que um texto que ela
turalidade impressionante, encontrando li- lera não era meu:
berdade para buscar elementos no fauvismo — É sim.
de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi- — Não, eu acho que...
casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma — É sim senhor!
arte que está reservada para poucos. Concordei que era, para não apanhar. O
(Exposição: de 03 de agosto à 02 de
curioso, e o assustador, é que, em textos de
setembro das 10 às 19h.)
outros com sua assinatura e em tuiters fal-
Explique a importância da regra do acento sos, você passa a ter uma vida paralela den-
diferencial, baseando-se na frase – Juan tro das fronteiras infinitas da internet.
Diego sensibiliza-se com os materiais [...] e É outro você, um fantasma eletrônico com
lhes da vida com uma naturalidade impres- opiniões próprias, muitas vezes antagônicas,
sionante. sobre o qual você não tem nenhum controle,
— Olha, adorei o que você escreveu sobre o
2. (Fgv) Leia o texto. “Big Brother”. É isso aí!
"Cuidado com as palavras — Não fui eu que...
Uma moça se preparou toda para ir ao ensaio — Foi sim!
de uma escola de samba. (Luiz Fernando Veríssimo, http://oglobo.
globo.com, 30.01.2011. Adaptado.)
Chegando lá, um rapaz suado pede para dan-
çar e, para não arrumar confusão, ela aceita. * voyeurismo: forma de curiosidade mórbida
Mas o rapaz suava tanto que ela já não estava com relação ao que é privativo, privado ou
suportando mais. Assim, ela foi se afastando íntimo.
e disse:
– Você sua, hein!!! 3. (Uftm)
Ele puxou-a, lascou um beijo e respondeu: a) O que o contraste das grafias Twitter e tui-
– Também vô sê seu, princesa!!!" ter, em destaque no texto, revela sobre o
(www.mundodaspiadas.com/
ponto de vista do autor acerca desse meio de
arquivo/2006-2-1.html. Adaptado)
comunicação virtual?
a) Tendo como base a frase da moça, explique o b) É correto afirmar que o autor reage com bom
que ela quis dizer e o que o rapaz entendeu. humor e resignação diante do fato de lhe
b) Explique, do ponto de vista fonológico, o atribuírem a autoria de textos que não es-
que gerou a interpretação do rapaz. creveu? Justifique, transcrevendo e comen-
tando um ou mais trechos do texto.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
E dizem que rola um texto na internet com
minha assinatura baixando o pau no “Big COMPOSIÇÕES INFANTIS
Brother Brasil”.
O comportamento
Não fui eu que escrevi.
Não poderia escrever nada sobre o “Big Bro- O comportamento é uma coisa que a mamãe
ther Brasil”, a favor ou contra, porque sou diz que não suporta o meu mas eu é que não
um dos três ou quatro brasileiros que nunca entendo o dela. Uma hora ela me dá uma
o acompanharam. porção de beijinhos, outra hora ela me põe
O pouco que vi do programa, de passagem, de castigo o dia todo. Uma vez ela diz que eu
zapeando entre canais, só me deixou per- sou tudo lá na vida dela, outra vez ela grita:
plexo: o que, afinal, atraía tanto as pessoas "Que menino mais impossível, você vai ver
– além do voyeurismo* natural da espécie – só quando seu pai chegar!" Tem umas oca-
numa jaula de gente em exibição? siões que ela chora muito porque não sabe
Também me dizem que, além de textos meus mais o que fazer comigo e outras eu ouvo ela
111
dizendo pras visitas que "o meu, felizmente, Vamos ao que conta (e que foi objeto das
é muito bonzinho e muito carinhoso." Eu já mensagens de muitos leitores): por que se
desconfio que a mamãe é a médica e a monstra. acentua 'raízes', mas não se acentua 'raiz'?"
http://www.memoriaviva.com.br/ocruzeiro/ O (www2.uol.com.br/linguaportuguesa/artigos.)
CRUZEIRO, 3 maio 1959. Acesso: abril 2007.
a) Considerando o contexto social, cultural e
4. (Ufmg) REESCREVA esse texto, fazendo as ideológico, por que o erro do painel teve
adaptações necessárias para ajustá-lo à nor- grande repercussão?
ma padrão da língua escrita. b) Responda à pergunta que foi enviada ao pro-
fessor Pasquale por seus leitores.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
O artista Juan Diego Miguel apresenta a ex- 2. (Unesp) A questão toma por base uma pas-
posição Arte e Sensibilidade, no Museu Bra- sagem do romance Canaã, de Graça Aranha
sileiro da Escultura (MUBE) de suas obras (1868-1931), e uma tira de Henfil (1944-
que acabam de chegar no país. 1988).
Seu sentido de inovação tanto em temas
como em materiais que elege é sempre de CANAÃ
uma sensação extraordinária para o espec- – Hoje – disse Milkau quando chegaram a
tador.
um trecho desembaraçado da praia –, de-
Juan Diego sensibiliza-se com os materiais
vemos escolher o local para a nossa casa.
que nos rodeam e lhes da vida com uma na-
– Oh! não haverá dificuldade, neste deserto,
turalidade impressionante, encontrando li-
de talhar o nosso pequeno lote... – desden-
berdade para buscar elementos no fauvismo
hou Lentz.
de Henri Matisse, no cubismo de Pablo Pi-
– Quanto a mim, replicou Milkau, uma ligei-
casso e do contemporâneo de Juan Gris. Uma
ra inquietação de vago terror se mistura ao
arte que está reservada para poucos.
prazer extraordinário de recomeçar a vida
Exposição: de 03 de agosto à 02 de setembro das 10 às 19h.
pela fundação do domicílio, e pelas minhas
próprias mãos... O que é lamentável nesta
5. (Fgv) Nossa língua registra as palavras "es- solenidade primitiva é a intervenção inútil
pectador" e "expectador". Explique a dife- do Estado...
rença de sentido dessas palavras. – O Estado, que no nosso caso é o agrimensor
Felicíssimo...
– Não seria muito mais perfeito que a terra e
E.O. Objetivas as suas coisas fossem propriedade de todos,
sem venda, sem posse?
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) – O que eu vejo é o contrário disto. É antes a
venalidade de tudo, a ambição, que chama a
ambição e espraia o instinto da posse. O que
1. (Unifesp) O Museu da Língua Portuguesa
foi inaugurado em São Paulo, em março de está hoje fora do domínio amanhã será a pre-
2006. Na ocasião, houve um erro num pai- sa do homem. Não acreditas que o próprio ar
nel, conforme a imagem: que escapa à nossa posse será vendido, mais
tarde, nas cidades suspensas, como é hoje a
terra? Não será uma nova forma da expansão
da conquista e da propriedade?
– Ou melhor, não vês a propriedade tornar-
se cada dia mais coletiva, numa grande ânsia
de aquisição popular, que se vai alastrando e
que um dia, depois de se apossar dos jardins,
dos palácios, dos museus, das estradas, se
estenderá a tudo?... O sentimento da posse
morrerá com a desnecessidade, com a su-
pressão da ideia da defesa pessoal, que nele
tinha o seu repouso...
– Pois eu – ponderou Lentz –, se me fixar
Sobre isso, Pasquale Cipro Neto escreveu: na ideia de converter-me em colono, dese-
"Na última segunda-feira, foi inaugurado jarei ir alargando o meu terreno, chamar a
o Museu da Língua Portuguesa. Na terça, a mim outros trabalhadores e fundar um novo
imprensa deu destaque a um erro de acen- núcleo, que signifique fortuna e domínio...
tuação presente num dos painéis do museu Porque só pela riqueza ou pela força nos
(grafou-se 'raiz' com acento agudo no 'i'). emanciparemos da servidão.
112
– O meu quinhão de terra – explicou Milkau Tomando como referência o sistema ortográ-
– será o mesmo que hoje receber; não o am- fico, explique por que o cartunista Henfil,
pliarei, não me abandonarei à ambição, fica- ao aportuguesar, com intenção irônica, a ex-
rei sempre alegremente reduzido à situação pressão inglesa my brother, colocou o acento
de um homem humilde entre gente simples. agudo em Bróder.
Desde que chegamos, sinto um perfeito en-
cantamento: não é só a natureza que me se- 3. (Unesp)
duz aqui, que me festeja, é também a suave
contemplação do homem. Todos mostram a O QUE EU LHE DIZIA
sua doçura íntima estampada na calma das Não sei se é certo ou não o que eu li outro dia,
linhas do rosto; há como um longínquo af- Onde, já não me lembra, ó minha noiva ama-
astamento da cólera e do ódio. Há em todos da:
uma resignação amorosa... Os naturais da – “A posse faz perder metade da valia
terra são expansivos e alvissareiros da feli- À cousa desejada.”
cidade de que nos parecem os portadores...
Os que vieram de longe esqueceram as suas Não sei se após haver saciado no meu peito,
amarguras, estão tranquilos e amáveis; não Quando houver de possuir-te, esta ardente
há grandes separações, o próprio chefe troca paixão,
no lar o seu prestígio pela espontaneidade Eu sentirei em mim, de gozo satisfeito,
niveladora, que é o feliz gênio da sua raça. Menor o coração.
Vendo-os, eu adivinho o que é todo este País
– um recanto de bondade, de olvido e de paz. Sei que te amo, e a teus pés a minh’alma
Há de haver uma grande união entre todos, abatida
não haverá conflitos de orgulho e ambição, Beija humilde e feliz o grilhão que a tortura;
a justiça será perfeita; não se imolarão víti- Sei que te amo, e este amor é toda a minha
mas aos rancores abandonados na estrada vida,
do exílio. Todos se purificarão e nós também Toda a minha ventura.
nos devemos esquecer de nós mesmos e dos
Talvez haja entre mim que os passos te
nossos preconceitos, para só pensarmos nos
acompanho,
outros e não perturbarmos a serenidade de-
E a abelha que a zumbir vai procurar a flor,
sta vida...
(Graça Aranha. Canaã, 1996.) – Alma ou asas movendo – o mesmo fluido
estranho, seja instinto ou amor;
113
– Por meio da fecundação artificial, Excelên- Ergueu-se e trouxe Bogóloff até à porta do
cia, injectando germens de uma em outra gabinete, com o seu passo de reumático.
espécie, consigo cabritos que são ao mesmo Dentro de dias Grégory Petróvitch Bogóloff
tempo carneiros e porcos que são cabritos ou era nomeado diretor da Pecuária Nacional.
carneiros, à vontade. (Afonso Henriques de Lima Barreto. Numa e a Ninfa.)
Xandu mudou de posição, recostou-se na ca-
deira; e, brincando com o monóculo, disse: O MUNDO ASSOMBRADO PELOS DEMÔNIOS
– Singular! O doutor vai fazer uma revolução
nos métodos de criar! Não haverá objecções Sim, o mundo seria um lugar mais inter-
quanto à possibilidade, à viabilidade? essante se houvesse UFOS escondidos nas
– Nenhuma, Excelência. Lido com as últimas águas profundas, perto das Bermudas, devo-
descobertas da ciência e a ciência é infalível. rando os navios e os aviões, ou se os mortos
– Vai ser uma revolução!... pudessem controlar as nossas mãos e nos es-
– É a mesma revolução que a química fez na crever mensagens. Seria fascinante se os ad-
agricultura. Penso assim há muitos anos, olescentes fossem capazes de tirar o telefone
mas não me tem sido possível experimentar do gancho apenas com o pensamento, ou se
os meus processos por falta de meios; en- nossos sonhos vaticinassem acuradamente o
tretanto, em pequena escala já fiz. futuro com uma frequência que não pudesse
– O quê? ser atribuída ao acaso e ao nosso conheci-
– Uma barata chegar ao tamanho de um rato. mento do mundo.
– Oh! Mas... não tem utilidade. Esses são exemplos de pseudociência. Eles
– Não há dúvida. Uma experiência ao meu parecem usar os métodos e as descobertas
alcance, mas, logo que tenha meios... da ciência, embora na realidade sejam infié-
– Não seja essa a dúvida. Enquanto eu for is à sua natureza – frequentemente porque
ministro, não lhe faltarão. O governo tem se baseiam em evidência insuficiente ou
muito prazer em ajudar todas as tentativas porque ignoram pistas que apontam para
nobres e fecundas para o levantamento das outro caminho. Fervilham de credulidade.
indústrias agrícolas. Com a cooperação desinformada (e frequent-
– Agradeço muito e creia-me que ensaiarei emente com a conivência cínica) dos jornais,
outros planos. Tenho outras ideias! revistas, editoras, rádio, televisão, produ-
– Outras? fez em resposta o Xandu. toras de filmes e outros órgãos afins, essas
– É verdade. Estudei um método de criar ideias se tornam acessíveis em toda parte.
peixes em seco. (...)
– Milagroso! Mas ficam peixes? Não é preciso um diploma de nível superior
– Ficam... A ciência não faz milagres. A cousa para conhecer a fundo os princípios do ceti-
é simples. Toda a vida veio do mar, e, devido cismo, como bem demonstram muitos com-
ao resfriamento dos mares e à sua concentra- pradores de carros usados que fazem bons
ção salina, nas épocas geológicas, alguns dos negócios. A ideia da aplicação democrática
seus habitantes foram obrigados a sair para do ceticismo é que todos deveriam ter as
a terra e nela criarem internamente, para a ferramentas essenciais para avaliar efetiva
vida de suas células, meios térmicos e sali- e construtivamente as alegações de quem
nos iguais àqueles em que elas viviam nos se diz possuidor do conhecimento. O que
mares, de modo a continuar perfeitamente a ciência exige é tão somente que façamos
a vida que tinham. Procedo artificialmente uso dos mesmos níveis de ceticismo que em-
da forma que a cega natureza procedeu, pregamos ao comprar um carro usado ou ao
eliminando, porém, o mais possível, o factor julgar a qualidade dos analgésicos ou da cer-
tempo, isto é: provoco o organismo do peixe veja pelos seus comerciais na televisão.
a criar para a sua célula um meio salino e Mas as ferramentas do ceticismo em geral
térmico igual àquele que ele tinha no mar. não estão à disposição dos cidadãos de nossa
– É engenhoso! sociedade. Mal são mencionadas nas esco-
– Perfeitamente científico. las, mesmo quando se trata da ciência, que
Xandu esteve a pensar, a considerar um tem- é seu usuário mais ardoroso, embora o ce-
po perdido, olhou o russo insistentemente ticismo continue a brotar espontaneamente
por detrás do monóculo e disse: dos desapontamentos da vida diária. A nossa
– Não sabe o doutor como me causa admi- política, economia, propaganda e religiões
ração o arrojo de suas ideias. São originais (Antiga e Nova Era) estão inundadas de
e engenhosas e o que tisna um pouco essa credulidade. Aqueles que têm alguma coisa
minha admiração, é que elas não partam de para vender, aqueles que desejam influen-
um nacional. Não sei, meu caro doutor, como ciar a opinião pública, aqueles que estão no
é que nós não temos desses arrojos! Vivemos poder, diria um cético, têm um interesse
terra à terra, sempre presos à rotina! Pode ir pessoal em desencorajar o ceticismo.
descansado que a República vai aproveitar as (Carl Sagan. O Mundo Assombrado pelos Demônios.
suas ideias que hão de enriquecer a pátria. Tradução de Rosaura Eichemberg.)
114
PREOCUPAÇÃO COM CIGARRO.
QUE FAZER? Gabarito
Quando você acende um cigarro, acende
também uma preocupação? E.O. Aprendizagem
Bem, se você anda preocupado mas gosta 1. B 2. A 3. D 4. D 5. C
muito de fumar, quem sabe você muda para
um cigarro de baixos teores de nicotina e al- 6. A 7. A 8. B 9. C 10. A
catrão?
Quer uma ideia? Century.
Century é diferente dos outros cigarros de E.O. Fixação
baixos teores, por motivos fundamentais.
1. E 2. C 3. E 4. C 5. B
Century jogou lá embaixo a nicotina e o al-
catrão, mas não acabou com seu prazer de 6. A 7. B 8. B 9. C 10. B
fumar.
Isto só foi possível, evidentemente, graças
a uma cuidadosa seleção de fumos do mais
alto grau de pureza e suavidade.
E.O. Complementar
E à competência do filtro especial High Air 1. D 2. C 3. B 4. B 5. A
Dilution, consagrado internacionalmente.
Não é o cigarro sob medida para você tam-
bém? E.O. Dissertativo
Pense nisto. 1.
A falta de acento na forma tônica dá (verbo
(Texto de publicidade de cigarros de dar) leva o leitor a ler a preposição "de" con-
início da década de 1980.) traída com o artigo "a", o que gera obscurida-
de e incoerência no texto e obriga o leitor a re-
No quinto parágrafo do texto de Lima Bar-
reto ocorre a palavra “germens”, paroxítona ler o trecho, buscando descobrir-lhe o sentido.
terminada em “-ns”, que aparece grafada 2.
corretamente sem nenhum acento gráfico. a) A moça quis dizer que o rapaz transpirava
Tomando por base esta informação, muito. O rapaz entendeu que ela estava
a) explique a razão pela qual se escreve no plu- manifestando o desejo de ser dele.
ral “germens” sem acento gráfico, enquanto b) O rapaz entendeu a frase da moça - "Você
a forma do singular “gérmen” recebe tal ac- sua" – como se fosse "Vou ser sua". A
ento. confusão fonológica deveu-se ao fato de
b) apresente outro vocábulo de seu conheci- o rapaz ter tomado a frase da moça pela
mento em que se observa essa mesma dife- pronúncia popular.
rença de acentuação gráfica entre a forma do 3.
singular e a forma do plural. a) O destaque do termo “tuiter” enfatiza a
falta de prática do autor na rede social
5. (Unicamp) Por ocasião da comemoração do a que está associada a palavra inglesa
dia dos professores, no mês de outubro de “twitter” provocada pelo desinteresse
2003, foi veiculada a seguinte propaganda, as- que o autor nutre por esse tipo de comu-
sinada por uma grande corporação de ensino: nicação.
Parabéns [Pl. de parabém] S. m. pl. 1. Felici- b) Sim, Luís Fernando Veríssimo reage com
tações, congratulações. 2. Oxítona terminada bom humor e resignação à autoria incor-
em “ens”, sempre acentuada. Acentuam-se reta que lhe é atribuída. O fato de afirmar
também as terminadas em “a”, “as”, “e”, que concordou só para não ser submetido
“es”, “o”, “os”, e “em”. a violência física executada por uma se-
Para a homenagem ao Dia do Professor ser com- nhora confere humor ao texto e demons-
pleta, a gente precisava ensinar alguma coisa. tra a submissão do autor perante a situa-
a) Observe os itens 1 e 2 do verbete PARABÉNS. ção.
Há diferenças entre eles. Aponte-as. 4.
COMPOSIÇÕES INFANTIS
b) Levando em conta o enunciado que está
abaixo do verbete, a quem se dirige essa comportamento
propaganda? Minha mãe diz que não suporta o meu com-
c) Diferentes imagens da educação escolar sus- portamento, mas eu é que não entendo o
tentam essa propaganda. Indique pelo me- dela. Uma hora, ela me dá uma porção de
nos duas dessas imagens. beijinhos; outra hora, põe-me de castigo. Em
algumas ocasiões, ela fala que eu sou tudo
na vida dela, no entanto, em outras, ela grita
comigo, fala que sou um menino impossível
e que, quando o meu pai chegar, verei que
115
me acontecerá. Há umas ocasiões nas quais 5.
ela chora muito por não saber o que fazer a) O primeiro contém uma definição semân-
comigo; em outras, eu a ouço dizer às visi- tica e o segundo contém uma regra or-
tas que sou muito bonzinho e carinhoso. Por tográfica.
isso, desconfio que a minha mãe seja a mé- b) A propaganda não se dirigi, paradoxal-
dica e a monstra. mente, aos professores, mas aos discen-
5.
ESPECTADOR é substantivo; denomina aque- tes ou ao público em geral.
c) A imagem que a propaganda passa da es-
le que presencia um fato, que observa algo
cola é a de uma instituição preocupada
ou assiste a um espetáculo.
apenas com regras, informações, conteúdo.
EXPECTADOR é adjetivo ou substantivo; refe-
re-se àquele que se mantém na expectativa,
à espera de algo.
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) Por se tratar do museu da língua portu-
guesa.
b) A palavra "raiz" não deve ser acentuada
por ser uma oxítona terminada em "Z." –
ra-iz.
No caso de raízes, há o acento por haver
um "i" tônico, formando hiato, sozinho
na sílaba - ra-í-zes.
2. A colocação de acento agudo na palavra
“bróder” obedece à regra de acentuação das
palavras paroxítonas terminadas em “r”.
3. A forma acentuada da palavra fluído caracter-
iza o particípio do verbo fluir, e sua utilização
não é adequada ao contexto do poema. Além
disso, o texto é formado por quartetos rigoro-
samente metrificados, com estrofes de três
versos alexandrinos (ou dodecassílabos) e um
hexassílabo. Para manter a regularidade mé-
trica, o poeta utilizou o substantivo “fluido”
(com um ditongo, o que o caracteriza como
uma palavra de duas sílabas). Dessa maneira,
o verso apresenta a seguinte escansão:
Al/ma ou/a/sas/mo/ven/do o/mes/mo/flui/
do es/tra/nho
4.
a) Acentuam-se as palavras paroxítonas ter-
mindadas em “-n” ; por isso, acentua-
se gérmen. As palavras terminadas em
“-ns”, porém, acentuam-se quando são
oxítonas (parabéns, por exemplo). Ob-
serve-se que as palavras terminadas em
“-ens” são quase sempre formas de plural
das palavras que, no singular, terminam
em “-em”. A regra de acentuação das oxí-
tonas manda que elas sejam acentuadas
quando terminadas em “-em” seguido ou
não de “-s”. Conclusão: a regra para acen-
tuar gérmen é uma e a que faz com que
não se acentue germens é outra.
b) Hífen - hifens.
116
Aulas
7e8
Formação de palavras
Competências 1, 5 e 8
Habilidades 1, 2, 3, 4, 17, 26 e 27
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Estrutura das palavras
§§ Radical (morfema lexical): é a parte que tem significado e é comum às palavras cognatas, também
consideradas da mesma família.
Exemplos: terra; terreiro; terrestre; enterrar
§§ Vogal temática: é a vogal que aparece depois do radical, “ajudando” as palavras a receber outro signifi-
cado. Aparece nos verbos, definindo se são de 1a, 2a ou 3a conjugação.
Exemplo: amar = am + a + r, onde “am” é o radical, “a” é a vogal temática de 1a conjugação e “r” é a
desinência de infinitivo.
§§ Afixos: são elementos que se juntam ao radical para formar novas palavras. Podem aparecer antes do
radical – prefixos – ou depois do radical – sufixos.
Processos de formação
Basicamente, as palavras da língua portuguesa são formadas pelos processos de composição e derivação, mas
também por onomatopeia, neologismo e hibridismo.
119
§§ Composição por justaposição: quando não ocorre a alteração fonética das palavras. A justaposição
também pode ocorrer por hifenização.
Exemplos: girassol (gira + sol); guarda-chuva (guarda + chuva)
§§ Composição por aglutinação: quando ocorre alteração fonética, em decorrência da perda de elementos
das palavras.
Exemplos: aguardente (água + ardente); embora (em + boa + hora)
Hibridismo
No processo de formação por hibridismo, as palavras compostas ou derivadas são constituídas por elementos
originários de línguas diferentes:
§§ grego + latim: automóvel e monóculo
§§ latim + grego: sociologia, bicicleta
§§ árabe + grego: alcaloide, alcoômetro
§§ tupi + grego: caiporismo
§§ africano + latim: bananal
§§ africano + grego: sambódromo
§§ francês + grego: burocracia
120
Neologismo
Neologismo é o nome dado ao processo de criação de novas palavras ou palavras da própria língua portuguesa
que adquirem um novo significado. Exemplos:
§§ Originalmente, a palavra bonde significava certo veículo utilizado como meio de transporte. Hoje, na varie-
dade linguística utilizada por falantes inseridos no estilo do funk carioca, foi dado um novo significado para
a palavra bonde: turma, galera.
§§ É comum formar verbos a partir de palavras do meio da informática, como googlar (procurar no Google),
twittar (escrever no Twitter) ou resetar (de reset).
O grande escritor brasileiro João Guimarães Rosa, em sua literatura, criou tantos neologismos, que existe
um dicionário para todas as palavras inventadas por ele, o Dicionário Rosiano.
121
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
TABELA:
A tabela abaixo traz os significados de alguns prefixos e radicais, alguns frequentemente usados no dia-a-dia.
Prefixos latinos
Prefixos Significados Exemplos
a-, ab-, abs- Afastamento, separação Abstenção, abdicar
a-, ad-, ar-, as- Aproximação, direção Adjunto, advogado, arribar, assentir
ambi- Ambiguidade, duplicidade Ambivalente, ambíguo
ante- Anterioridade Anteontem, antepassado
aquém- Do lado de cá Aquém-mar
bene-, bem- Excelência, bem Beneficente, benfeitor
bis-, bi- Dois, duas vezes, repetição Bípede, binário, bienal
com- (con-), co- (cor-) Companhia, contiguidade Compor, conter, cooperar
contra- Oposição Controvérsia, contraveneno
cis- posição, aquém de Cisandino, Cisalpino
de-, des- Separação, privação, negação, Deportar, demente, descrer, decair, decrescer, demolir
movimento de cima para baixo
dis- Separação, negação Dissidência, disforme
e- ,em- ,em- Introdução, superposição Engarrafar, empilhar
e-, es-, ex- Movimento para fora, privação Emergir, expelir, escorrer, extrair, exportar, esvaziar, esconder, explodir
extra- Posição exterior, excesso Extraconjugal, extravagância
intra-, Posição interior Intrapulmonar, intravenoso
i-, im-, in- Negação, mudança Ilegal, imberbe, incinerar
infra- Abaixo, na parte inferior Infravermelho, infraestrutura,
intra-, intro- Movimento para dentro Imersão, impressão, inalar, intrapulmonar, introduzir
justa- Posição ao lado Justalinear, justapor
o-, ob- Posição em frente, oposição Obstáculo, obsceno, opor, ocorrer
per- Movimento através de Perpassar, pernoite
pos- Ação posterior, em seguida Pós-datar, póstumo
pre- Anterioridade, superioridade Pré-natal, predomínio
pro- Antes, em frente, intensidade Projetar, progresso, prolongar
preter-, pro- Além de, mais para frente Prosseguir
re- Repetição, para trás Recomeço, regredir
retro- Movimento mais para trás Retrospectivo
122
Prefixos gregos
Prefixos Significados Exemplos
acro- Alto Acrobata, acrópole
aero- casa aerodinâmica
agro- Campo Agrônomo, agricultura
antropo- Homem Antropofagia, filantropo
homo- Igual Homônimo, homógrafo
idio- Próprio Idioma, idioblasto
macro-, megalo- Grande, longo Macronúcleo, megalópole
metra- Mãe, útero Endométrio, metrópole
meso- Meio Mesóclise, mesoderma
micro- Pequeno Micróbio, microscópio
mono- Um Monarquia, monarca
necro- Morto Necrópole, necrofilia, necropsia
nefro- Rim Nefrite, nefrologia
odonto- Dente Odontalgia, odontologia
oftalmo- Olho Oftalmologia, oftalmoscópio
onto- Ser, indivíduo Ontologia
orto- Correto Ortópteros, ortodoxo, Ortodontia
pneumo- Pulmão Pneumonia, dispneia
123
Radicais gregos
Prefixos Significados Exemplos
-agogo O que conduz Demagogo, pedagogo
-alg, -algia Sofrimento, dor Analgésico, cefalalgia, lombalgia
-arca O que comanda Monarca, heresiarca
-arquia Comando, governo Anarquia, autarquia, monarquia
-cracia Autoridade, poder Aristocracia, plutocracia, gerontocracia
-doxo Que opina Paradoxo, heterodoxo
-dromo Corrida, pista, Hipódromo
-fagia Ato de comer Antropofagia, necrofagia
-fago Que come Antropófago, necrófago
-filo, -filia Amigo, amizade Bibliófilo, xenófilo, lusofilia
-fobia Inimizade, ódio, temor Xenofobia
-fobo Aquele que odeia Xenófobo, hidrófobo
-gamia Casamento Monogamia, poligamia,
-gene Que gera, origem Heterogéneo, alienígena
-gênese Geração Esquizogênese, metagênese
-gine Mulher Andrógino, ginecóforo
-grafia Descrição, escrita Caligrafia, geografia
-gono Ângulo Pentágono, eneágono
-latria Que cultiva Idolatria
-log, -logia Que trata, estudo Psicólogo, andrologia
-mancia Adivinhação Cartomante, quiromancia
-mani Loucura, tendência Megalomaníaco
-mania Loucura, tendência Cleptomania
-metro Que mede Barómetro, termómetro
-morfo Forma, que tem a forma Amorfa, zoomórfico
-onimo Nome Sinónimo, topónimo
-polis, -pole Cidade metrópole
-potamo Rio Mesopotâmia, hipopótamo
-ptero Asa Helicóptero
-scopia O que faz ver Endoscopia, telescópio
-sofia Sabedoria, saber Filosofia, teosofia
-soma Corpo Cromossomo
-stico Verso Monóstico, dístico
-teca Lugar, coleção Biblioteca, hemeroteca
-terapia Cura, tratamento Hidroterapia,
-tomia Corte, divisão Vasectomia, anatomia
-topo lugar Topografia, Topónimo
-tono Tom Barítono, monótono
124
Radicais latinos
Prefixos Significados Exemplos
aristo- Melhor Aristocracia
arqueo- Antigo Arqueologia, arqueólogo
anthos- Flor Antologia, crisântemo, perianto
atmo- Ar Atmosfera
auto- Mesmo, próprio Autoajuda, autômato
baro- Peso, pressão Barômetro, barítono
biblio- Livro Bibliófilo, biblioteca
bio- Vida Biologia, anfíbio
caco- Mau Cacofonia, cacoete
cali- Belo Caligrafia, calígrafo
carpo- Fruto Pericarpo
céfalo- Cabeça Cefalópodes, cefaleia, acéfalo
cito- Célula Citoplasma, citologia
copro- Fezes Coprologia, coprófagas
cosmo- Mundo Microcosmo, cosmonauta
crono- Tempo Cronômetro, diacrônico
dico- Em duas partes Dicotomia, dicogamia
eno- Vinho Enologia, enólogo
entero- Intestino Enterite, disenteria
etno- Povo étnico, etnia, etnografia
filo-, filia- Amigo, amizade Filósofo, filantropia,
fono- Som, voz Fonética, disfônica
gastro- Estômago Gastrite, gastronomia
hemo- Sangue Hemorragia, hemodiálise
hidro- Água Hidravião, hidratação
higro- Úmido Higrófito, higrômetro
hipo- Cavalo Hipódromo, hipopótamo
-ambulo Que anda Noctâmbulo, sonâmbulo
-cida Que mata Fraticida, inseticida
-cola Que habita Arborícola, silvícola
-cultura Que cultiva Triticultura, vinicultura
-evo Idade Longeva, longevidade
-fero Que contém ou produz Mamífero, aurífero
-fico Que faz ou produz Benéfico, maléfico
-forme Que tem a forma Cordiforme, uniforme
-fugo Que foge Vermífugo, centrífugo
-grado Grau, passo Centígrado
-luquo Que fala Ventríloquo
125
Prefixos gregos
Prefixos Significados Exemplos
-paro Que produz Ovíparo
-pede Pé Velocípede, bípede
-sono Que soa Uníssono
-vago Que vaga Noctívago
-voro Que come Carnívoro, herbívoro, onívoro
126
POEMAS
Neste poema, o autor joga com os diferentes sentidos produzidos por morfemas iguais ou semelhantes.
128
E.O. Aprendizagem A pipoca é um milho mirrado,subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio
dos meus milhos graúdos aparecessem aque-
las espigas nanicas, eu ficaria bravo e tra-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
taria de me livrar delas. Pois o fato é que,
A PIPOCA sob o ponto de vista do tamanho, os milhos
Rubem Alves da pipoca não podem competir com os mi-
lhos normais. Não sei como isso aconteceu,
A culinária me fascina. De vez em quando eu mas o fato é que houve alguém que teve a
até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que ideia de debulhar as espigas e colocá-las
sou mais competente com as palavras que numa panela sobre o fogo, esperando que
com as panelas. Por isso tenho mais escrito assim os grãos amolecessem e pudessem ser
sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a comidos. Havendo fracassado a experiência
algo que poderia ter o nome de “culinária com água, tentou a gordura. O que aconte-
literária”. Já escrevi sobre as mais variadas ceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
entidades do mundo da cozinha: cebolas, Repentinamente os grãos começaram a es-
ora-pro-nóbis, picadinho de carne com to- tourar, saltavam da panela com uma enorme
mate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, so-
barulheira. Mas o extraordinário era o que
pas, churrascos. Cheguei mesmo a dedicar
acontecia com eles: os grãos duros quebra-
metade de um livro poético-filosófico a uma
-dentes se transformavam em flores brancas
meditação sobre o filme A festa de Babette,
e macias que até as crianças podiam comer.
que é uma celebração da comida como ritual
O estouro das pipocas se transformou, então,
de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações
de uma simples operação culinária, em uma
e competências, nunca escrevi como chef.
festa, brincadeira, molecagem, para os risos
Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e
de todos, especialmente as crianças. É muito
teólogo – porque a culinária estimula todas
divertido ver o estouro das pipocas!
essas funções do pensamento.
E o que é que isso tem a ver com o candom-
As comidas, para mim, são entidades oníri-
blé? É que a transformação do milho duro em
cas. Provocam a minha capacidade de sonhar.
pipoca macia é símbolo da grande transfor-
Nunca imaginei, entretanto, que chegaria
mação porque devem passar os homens para
um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar.
Pois foi precisamente isso que aconteceu. que eles venham a ser o que devem ser. O
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e milho da pipoca não é o que deve ser. Ele
duros, me pareceu uma simples molecagem, deve ser aquilo que acontece depois do es-
brincadeira deliciosa, sem dimensões me- touro. O milho da pipoca somos nós: duros,
tafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias quebra-dentes, impróprios para comer, pelo
atrás, conversando com uma paciente, ela poder do fogo podemos, repentinamente,
mencionou a pipoca. E algo inesperado na nos transformar em outra coisa − voltar a
minha mente aconteceu. Minhas ideias co- ser crianças!
meçaram a estourar como pipoca. Percebi, Mas a transformação só acontece pelo poder
então, a relação metafórica entre a pipoca do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo
e o ato de pensar. Um bom pensamento nas- fogo continua a ser milho de pipoca, para
ce como uma pipoca que estoura, de forma sempre. Assim acontece com a gente. As
inesperada e imprevisível. A pipoca se reve- grandes transformações acontecem quando
lou a mim, então, como um extraordinário passamos pelo fogo. Quem não passa pelo
objeto poético. Poético porque, ao pensar ne- fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São
las, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar pessoas de uma mesmice e dureza assombro-
estouros e pulos como aqueles das pipocas sas. Só que elas não percebem. Acham que
dentro de uma panela. o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quan-
A pipoca tem sentido religioso? Pois tem. do a vida nos lança numa situação que nun-
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vi- ca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora:
nho, que simbolizam o corpo e o sangue de perder um amor, perder um filho, ficar do-
Cristo, a mistura de vida e alegria (porque ente, perder um emprego, ficar pobre. Pode
vida, só vida, sem alegria, não é vida...). ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade,
Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida depressão – sofrimentos cujas causas igno-
e alegria devem existir juntas. Lembrei-me, ramos. Há sempre o recurso aos remédios.
então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento di-
sábia poderosa do candomblé baiano: que a minui. E com isso a possibilidade da grande
pipoca é a comida sagrada do candomblé... transformação.
130
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro 1. (Efomm) No que tange ao processo de for-
da panela, lá dentro ficando cada vez mais mação de palavras, o termo destacado que se
quente, pense que sua hora chegou: vai mor- enquadra como formação-regressiva aparece
rer. De dentro de sua casca dura, fechada em na opção
si mesma, ela não pode imaginar destino a) As comidas, para mim, são entidades oní-
diferente. Não pode imaginar a transforma- ricas. Provocam a minha capacidade de so-
ção que está sendo preparada. A pipoca não nhar.
imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem b) Um bom pensamento nasce como uma pipo-
aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande ca que estoura, de forma inesperada e im-
transformação acontece: pum! − e ela apare- previsível.
ce como uma outra coisa, completamente di- c) É que a transformação do milho duro em pi-
ferente, que ela mesma nunca havia sonha- poca macia é símbolo da grande transforma-
do. É a lagarta rastejante e feia que surge do ção (...)
casulo como borboleta voante. d) O estouro das pipocas se transformou, en-
Na simbologia cristã o milagre do milho de tão, de uma simples operação culinária (...)
pipoca está representado pela morte e res- e) O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-
surreição de Cristo: a ressurreição é o estou- -dentes, impróprios para comer (...)
ro do milho de pipoca. É preciso deixar de
ser de um jeito para ser de outro. “Morre e 2. (Cefet)
transforma-te!” − dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. A INTERNET E A MORTE DA IMAGINAÇÃO
Falando sobre os piruás com os paulistas Jacques Gruman
descobri que eles ignoram o que seja. Al- “Nunca entendi essa obsessão por sorrisos em fotografias.
Deve ser um conluio com os dentistas.”
guns, inclusive, acharam que era gozação (Nora Tausz Rónai)
minha, que piruá é palavra inexistente. Che-
guei a ser forçado a me valer do Aurélio para Reza uma antiga lenda que dois reinos es-
confirmar o meu conhecimento da língua. tavam em guerra. Os perdedores acabaram
Piruá é o milho de pipoca que se recusa a condenados ao confinamento do outro lado
estourar. Meu amigo William, extraordinário dos espelhos, um primitivo mundo virtual em
professor-pesquisador da Unicamp, especia- que eram obrigados a reproduzir tudo o que
lizou-se em milhos, e desvendou cientifi- os vencedores faziam. A luta dos derrotados
camente o assombro do estouro da pipoca. passava a ser como escapar daquela prisão.
Com certeza ele tem uma explicação cientí- O genial Lee Falk inspirou-se nesta narrativa
fica para os piruás. Mas, no mundo da poe- para criar, na década de 1940, O mundo do
sia as explicações científicas não valem. Por espelho, para mim uma das mais aterrorizan-
exemplo: em Minas “piruá” é o nome que se tes histórias do Mandrake. Espelhos foram,
dá às mulheres que não conseguiram casar. aliás, protagonistas de algumas sequências
Minha prima, passada dos quarenta, lamen- cinematográficas assustadoras. Bóris Karlo-
tava: “Fiquei piruá!” Mas acho que o poder ff, um clássico do gênero, aproveitou muito
metafórico dos piruás é muito maior. Piruás bem o medo que, desde crianças carregamos,
são aquelas pessoas que, por mais que o fogo de que nossos reflexos nos espelhos ganhem
esquente, se recusam a mudar. Elas acham autonomia. Ui! Já imaginaram se isso virasse
que não pode existir coisa mais maravilhosa realidade? Teríamos de conviver com nossos
do que o jeito delas serem. Ignoram o dito de opostos, um estranhamento no mínimo des-
Jesus: “Quem preservar a sua vida perdê-la- confortável. Os quadrinhos exploraram o as-
-á.” A sua presunção e o seu medo são a dura sunto também na série do Mundo bizarro, do
casca do milho que não estoura. O destino Super-Homem. Era um nonsense pouco habi-
delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. tual no universo previsível dos super-heróis.
Não vão se transformar na flor branca macia. Estava pensando nos estranhamentos do
Não vão dar alegria para ninguém. Termina- mundo moderno quando me deparei com uma
do o estouro alegre da pipoca, no fundo da pequena nota de jornal. Encenava-se a ópera
panela ficam os piruás que não servem para Carmen, de Bizet, no Theatro Municipal do
nada. Seu destino é o lixo. Quanto às pipocas Rio. Suponho que a plateia, que pagou caro,
que estouraram, são adultos que voltaram a estava mergulhada na história e na interpre-
ser crianças e que sabem que a vida é uma tação da orquestra e dos solistas. Não é que
grande brincadeira... um cidadão saca seu iPad e passa um tempão
Disponível em http://www.releituras.com/rubemalves_ checando os e-mails, dedinhos nervosos para
pipoca.asp.
Acessado em 31 de mai. 2016. cima e para baixo, com a tela iluminando a
penumbra indispensável para a fruição plena
Obs.: O texto foi adaptado às regras do Novo do espetáculo? Como esse tipo de desrespeito
Acordo Ortográfico. está entrando na “normalidade”, apenas uma
131
pessoa esboçou reação. Uma espécie de an- em linha reta, que começa assim: “Nunca
gústia semelhante à incontinência urinária conheci quem tivesse levado porrada. Todos
se espalha como praga nas relações pessoais os meus conhecidos têm sido campeões em
e no uso dos espaços público e privado. Tudo tudo”. Mais adiante: “Arre, estou farto de se-
passou a ser urgente. Todos os torpedos, e- mideuses. Onde é que há gente nesse mun-
-mails e chamadas no celular viraram priori- do?”.
dade, casos de vida ou morte. Interrompem- A praga narcísica desembarcou nas camas.
-se conversas para olhar telinhas e telonas, Leio que nova moda é fazer selfies2 depois
desrespeitando interlocutores. Como este do sexo. O casal transa, mas isso não bas-
tipo de patologia tende a se diversificar, já há ta. É urgente compartilhar! Tira-se uma foto
gente que conversa e olha o computador ao da aparência de ambos, coloca-se no Insta-
mesmo tempo, como aqueles lagartos esquisi- gram e ... pronto. O mundo inteiro será tes-
tos cujos olhos se movimentam sem aparente temunha de um momento íntimo, talvez o
coordenação. Outros participam de reuniões mais íntimo de todos. Meu estranhamento
sem desligar sua tralha eletrônica (na verda- vai ao paroxismo. É a esse mundo que per-
de, não estão nas reuniões). Especialistas em tenço? Antigamente, era costume dizer que
informática previram que, num futuro não o que não aparecia na televisão não existia.
muito distante, chips serão implantados no Atualizando a frase: pelo visto, o que não
corpo. Estão atrasados. Corpos já pertencem está na rede não existe. É a universalização
a máquinas. A vida é controlada a distância do movimento apenas muscular, sem senti-
e por outros. do, leviano, rapidamente perecível.
Outro estranhamento vem da inundação de Durante o exílio, o poeta argentino Juan Gel-
imagens, aflição que chamo de galeria dos man passou um bom tempo sem conseguir
sem imaginação. Enxurradas de fotos inva- escrever. A inspiração não vinha. Disse ele:
dem o espaço virtual, a enorme maioria delas “A poesia é uma senhora que nos visita ou
sem o menor significado e perfeitamente des- não. Convocá-la é uma impertinência inútil.
cartáveis. O Instagram recebe 60 milhões de Durante uns bons quatro anos, o choque do
fotos por dia, ou seja, quase 700 fotos por se- exílio fez com que essa senhora não me visi-
gundo! Fico pensando no sorriso irônico ou, tasse”. Quando, finalmente, a senhora chega,
quem sabe, no horror em estado bruto, que tudo muda, como narra o poeta: “A visita é
Cartier-Bresson1 esboçaria se esbarrasse nis- como uma obsessão. Uma espécie de ruído
so. Ele, que procurava a poesia nos pequenos junto ao ouvido. Escrevo para entender o que
gestos, no cotidiano que se desdobrava em está acontecendo”. Não consigo imaginar
surpresas, nos reflexos impensados, jamais uma serenidade como essa no mundo vir-
empilharia a coleção de sorrisinhos forçados tual. Tudo nasce e morre antes de ser com-
que caracteriza a obsessão pelos clics. pletamente absorvido. Cada novidade passa
Essa história dos sorrisos foi muito bem no- a ser vital, filas se formam nas madrugadas
tada pela Nora Rónai, que citei logo no início. nas portas de lojas que começam a vender
Vivemos a era das aparências. Com a multipli- modelos mais avançados de produtos ele-
cação das imagens, vem a obrigação de “estar trônicos. Não dá pra esperar um dia, muito
bem”. Afinal de contas, quem vai querer se menos uma hora. O silêncio e a introspecção
exibir no Facebook ou nas trocas de mensa- são guerrilheiros no habitat plugado. Estou
gens com uma ponta de melancolia ou, pelo me alistando neste exército de Brancaleone.3
menos, um suspiro de realidade? O mundi- 1. Henri Cartier-Bresson: (França 1908-
nho virtual exige estado de êxtase perma- 2004), fotógrafo do século XX, considerado
nente. Uma persona que não passa de ilusão. por muitos como o pai do fotojornalismo.
Criatividade não quer dizer tristeza, claro, 2. fazer selfies: selfie é uma palavra em in-
mas certamente precisa incorporá-la como glês, um neologismo com origem no ter-
tijolo construtor da nossa personalidade. O mo self-portrait, que significa autorretra-
resto é fofoca. Eric Nepomuceno, tradutor e to, e é uma foto tirada e compartilhada
escritor, fez o seguinte comentário sobre seu na internet. Normalmente uma selfie é
amigo Gabriel Garcia Márquez, que acabara tirada pela própria pessoa que aparece na
de morrer: “Tudo o que ele escreveu é revela- foto, com um celular que possui uma câ-
dor da infinita capacidade de poesia contida mera incorporada, com um smartphone,
na vida humana. O eixo, porém, foi sempre por exemplo.
o mesmo, ao redor do qual giramos todos: a 3. O Incrível Exército de Brancaleone (em
solidão e a esperança perene de encontrar italiano: L’armata Brancaleone): é um fil-
antídotos contra essa condenação”. Nada me italiano de 1966, do gênero comédia.
que essas maquininhas onipresentes pos- Foi dirigido por Mario Monicelli. O Exér-
sam registrar, elas que jamais entenderiam cito de Brancaleone é considerado um
a fina ironia de Fernando Pessoa no Poema clássico italiano, que retrata os costumes
132
da cavalaria medieval através da comédia para sua sobrevivência. As mudanças de
satírica. É um filme inspirado em Dom comportamento social foram sempre prece-
Quixote, do espanhol Miguel de Cervan- didas de mudanças físicas de local. Por mais
tes. que a rua não seja um local para viver, já que
(Disponível em: <http://www.cartamaior.com.br/?/Opiniao/ se trata de um ambiente público, de passa-
A-morte-da-imaginacao/ gem e não de permanência, ela acaba sen-
30783>. Acesso em: 16 ago. 2014.) do, senão única, a mais viável opção. Alguns
pensadores já apontam que a habitação é um
O emprego do diminutivo nos termos em
ponto base e adquire uma importância para
destaque NÃO tem valor irônico em:
harmonizar a vida. O pensador Norberto Elias
a) “O mundinho virtual exige estado de êxtase
comenta que “o quarto de dormir tornou-se
permanente.”
uma das áreas mais privadas e íntimas da
b) “Os quadrinhos exploraram o assunto tam-
vida humana. Suas paredes visíveis e 37in-
bém na série do Mundo bizarro, do Super-
visíveis vedam os aspectos mais ‘privados’,
-Homem.”
‘íntimos’, irrepreensivelmente ‘animais’ da
c) “Nada que essas maquininhas onipresentes
nossa existência à vista de outras pessoas”.
possam registrar, elas que jamais entende-
O modo como essas pessoas 27constituem o
riam a fina ironia de Fernando Pessoa no Po-
único espaço que lhes foi permitido indica
ema em linha reta ...”
que conseguiram transformá-lo em “seu lu-
d) “Ele, que procurava a poesia nos pequenos
gar”, que aproximaram, cada um à sua ma-
gestos, no cotidiano que se desdobrava em neira, dois mundos nos quais estamos 32in-
surpresas, nos reflexos impensados, jamais seridos: o público e o privado.
empilharia a coleção de sorrisinhos força-
RODRIGUES, Robson. Moradores de uma terra
dos que caracteriza a obsessão pelos clics.” sem dono. (fragmento adaptado) In: http://
e) “Não é que um cidadão saca seu iPad e passa sociologiacienciaevida.uol.com.br/ESSO/edicoes/32/
um tempão checando os e-mails, dedinhos artigo194186-4.asp. Acesso em 21/8/2014.
nervosos para cima e para baixo, com a tela
iluminando a penumbra indispensável para a
fruição plena do espetáculo?” 3. (Pucrs) Analise as afirmações sobre o senti-
do e a formação das palavras no texto.
I. Há uma relação de sinonímia entre “res-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO significam” (ref. 26) e “constituem” (ref.
27).
Responda a) questão com base no texto 1.
II. “calçadas” (ref. 28) está para “ruas” (ref.
29) assim como “cômodos” (ref. 30) está
TEXTO 1 para “casas” (ref. 31).
Entre o espaço público e o privado III. A relação entre “Excluídos” (ref. 12) e
“inseridos” (ref. 32) é a mesma que se
12
Excluídos da sociedade, os moradores de
estabelece entre “individualização” (ref.
rua 26ressignificam o único espaço que lhes
33) e “separação” (ref. 34).
foi permitido ocupar, o espaço público,
IV. As palavras “intimidade” (ref. 35), “ina-
transformando-o em seu “lugar”, um espaço
bitável” (ref. 36) e “invisíveis” (ref. 37)
privado. Espalhados pelos ambientes cole-
têm o mesmo prefixo.
tivos da cidade, fazendo comida no asfalto,
Estão corretas apenas as afirmativas
arrumando suas camas, limpando as calça-
a) I e II.
das como se estivessem dentro de uma casa:
b) I e III.
assim vivem os moradores de rua. Ao andar
c) I e IV.
pelas ruas de São Paulo, vemos essas pessoas
d) II e III.
dormindo nas 28calçadas, passando por situa-
e) II, III e IV.
ções constrangedoras, pedindo esmolas para
sobreviver. Essa é a realidade das pessoas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
que fazem da rua sua casa e nela constroem
sua 35intimidade. Assim, a ideia de 33indi- O que havia de tão revolucionário na Revolu-
vidualização que está nas 31casas, na 34se- ção Francesa? Soberania popular, liberdade
paração das coisas por 30cômodos e quartos civil, igualdade perante a lei – as palavras
que servem para proteger a intimidade do hoje são ditas com tanta facilidade que so-
indivíduo, ganha outro sentido. O viver nas mos incapazes de imaginar seu caráter ex-
29
ruas, um lugar aparentemente 36inabitável, plosivo em 1789. Para os franceses do An-
tem sua própria lógica de funcionamento, tigo Regime, os homens eram desiguais, e a
que vai além das possibilidades. desigualdade era uma boa coisa, adequada à
A relação que o homem estabelece com o es- ordem hierárquica que fora posta na natu-
paço que ocupa é uma das mais importantes reza pela própria obra de Deus. A liberdade
133
significava privilégio – isto é, literalmente, exemplo, legis.
12
“lei privada”, uma prerrogativa especial Considere as seguintes palavras do portu-
para fazer algo negado a outras pessoas. guês.
O rei, como fonte de toda a lei, distribuía 1. legal
privilégios, pois havia sido ungido como o 2. legião
agente de Deus na terra. 3. legítimo
Durante todo o século XVIII, os filósofos 4. legível
do Iluminismo questionaram esses pressu- Quais têm também relação semântica com a
postos, e os panfletistas profissionais con- palavra lei, revelando, por sua forma, a ori-
seguiram empanar a aura sagrada da coroa. gem latina?
Contudo, a desmontagem do quadro mental a) Apenas 1 e 3.
do Antigo Regime demandou violência ico- b) Apenas 1, 3 e 4.
noclasta, destruidora do mundo, revolucio- c) Apenas 2 e 3.
nária. d) Apenas 2 e 4.
Seria ótimo se pudéssemos associar a Revo- e) 1, 2, 3 e 4.
lução exclusivamente à Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão, mas ela nas- 5. (Cefet) NO MUNDO DOS ANIMAIS
ceu na violência e imprimiu seus princípios
em um mundo violento. Os conquistadores As relações entre os humanos e as demais
da Bastilha não se limitaram a destruir um espécies viventes têm merecido a atenção de
símbolo do despotismo real. Entre eles, 150 escritores, artistas e intelectuais. Essas rela-
foram mortos ou feridos no assalto à prisão ções, que não primam pela ética, são o objeto
e, quando os sobreviventes apanharam o di- de estudo da professora e escritora mineira
retor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na Maria Esther Maciel.
por Paris na ponta de uma lança. Quando os estudos sobre “animais e literatu-
Como podemos captar esses momentos de ra” passaram a ser feitos de modo sistemá-
loucura, quando tudo parecia possível e o tico no Brasil?
mundo se afigurava como uma tábula rasa, Maria Esther Maciel: Só recentemente; an-
apagada por uma onda de comoção popular tes, havia trabalhos esparsos. Além disso, a
e pronta para ser redesenhada? Parece in- abordagem se circunscrevia à visão do ani-
crível que um povo inteiro fosse capaz de se mal como símbolo, metáfora ou alegoria
levantar e transformar as condições da vida do humano, mais restrita à análise textual.
cotidiana. Duzentos anos de experiências Hoje, percebe-se uma ampliação desse enfo-
com admiráveis mundos novos tornaram-nos que, que deixa os limites do texto literário
céticos quanto ao planejamento social. Re- para ganhar um viés transdisciplinar, em di-
trospectivamente, a Revolução pode parecer álogo com a filosofia, biologia, antropologia,
um prelúdio ao totalitarismo. psicologia. Aliás, esse entrelaçamento de
Pode ser. Mas um excesso de visão histórica saberes em torno da questão animal cresceu
retrospectiva pode distorcer o panorama de em várias partes do mundo, propiciando a
1789. Os revolucionários franceses não eram difusão de um novo campo de investigação
nossos contemporâneos. E eram um conjunto crítica denominado “estudos animais”. A li-
de pessoas não excepcionais em circunstân- teratura tem conquistado espaço importante
cias excepcionais. Quando as coisas se desin- nesse campo, graças sobretudo a escritores/
tegraram, eles reagiram a uma necessidade pensadores como John M. Coetzee, John Ber-
ger e Jacques Derrida, que souberam aliar,
imperiosa de dar-lhes sentido, ordenando a
de modo criativo, literatura, ética e política
sociedade segundo novos princípios. Esses
no trato da questão animal.
princípios ainda permanecem como uma de-
Como a senhora explica esse interesse cres-
núncia da tirania e da injustiça. Afinal, em
cente pelo tema?
que estava empenhada a Revolução France-
Há um conjunto de fatores. Impossível não
sa? Liberdade, igualdade, fraternidade.
considerar as preocupações de ordem eco-
Adaptado de: DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette.
In: ____. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e lógica, que movem a sociedade contempo-
revolução. São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39. rânea. Há também uma tomada de consci-
ência mais explícita por parte de escritores,
artistas e intelectuais dos problemas éticos
4. (Ufrgs) Ao referir-se à ideia de “lei priva- que envolvem nossa relação com os animais
da” como uma explicação literal de privilé- e com o próprio conceito de humano. Além
gio (ref. 12), o autor está fazendo referência disso, a noção de espécie e a divisão hierár-
à origem latina dessa palavra, relacionada quica dos viventes têm provocado discussões
a algumas das formas que tomava, naque- ético-políticas relevantes, que acabam por
la língua, a palavra equivalente a lei – por contaminar as artes e a literatura. A isso se
134
soma a tentativa, por parte dos humanos, de empenho político dos governos para frear
recuperar sua própria animalidade, que por essa destruição generalizada.
muito tempo foi reprimida em nome da ra- Minha utopia é que a humanidade possa um
zão e do antropocentrismo. dia fazer mea-culpa em relação aos crimes
Por que é importante para a humanidade re- já cometidos contra os índios, os animais, a
fletir sobre a animalidade? natureza. Mas, pelo que vejo, essa questão
Ao refletir sobre a animalidade, a humani- continuará a ser um grande desafio ético e
dade pode repensar o próprio conceito de político para a nossa civilização.
humano e reconfigurar a noção de vida. Por Seus estudos sobre animalidade a influen-
muito tempo, nosso lado animal foi recalca- ciaram em seu modo de vida?
do em nome da razão e de outros atributos Não consigo desvincular o trabalho do meu
tidos como próprios do homem. Quem ler modo de vida. Se cheguei ao tema dos ani-
os tratados de filosofia e teologia escritos mais, foi por causa do meu apreço por eles.
ao longo dos séculos verá que a definição Há anos não como carne, por causa da me-
de humano e humanidade se forjou à cus- mória do tempo em que passava temporadas
ta da negação da animalidade humana e da na fazenda do meu pai, no interior de Minas
exclusão/marginalização dos demais seres Gerais. Vivia perto de vacas, porcos, aves, ca-
que compartilham conosco o que chamamos valos, cachorros. Toda vez que via carne de
de vida. Acho que os humanos precisam se vaca na mesa, me lembrava do olhar bovi-
reconhecer animais para se tornarem verda- no. Já a visão da carne de porco me trazia a
deiramente humanos. imagem dos porquinhos espertos e afetuosos
É possível identificar modos diferentes de com que eu brincava. Foi assim também com
“explorar” a figura do animal na produção as aves, os coelhos e outros bichos. Como
literária? fui sempre muito tocada pelo olhar animal,
Na literatura brasileira, podemos falar de decidi não comê-los mais. Ainda mantive
três momentos incisivos. No primeiro, está peixes e frutos do mar, mas deixei de comer
Machado de Assis, que escreveu no auge várias espécies ao saber de seus hábitos.
do racionalismo cientificista do século 19, Recuso também ovos de granja, em repúdio
quando os princípios cartesianos já tinham à situação absurda das aves nos espaços de
legitimado no Ocidente a cisão entre huma- confinamento das fazendas industriais. Meu
nos e não humanos, e os animais eram vis- projeto de vida, certamente influenciado por
tos como máquinas. No século 20, a partir meus estudos, é parar de consumir também
dos anos 30, autores como Graciliano Ramos, carne de peixe. Chegarei lá.
João Alphonsus, Guimarães Rosa e Clarice (MACIEL, Maria Esther. No mundo dos animais.
Lispector marcam um novo momento, ao li- Entrevista a Roberto B. de Carvalho. Ciência Hoje,
dar, cada um a seu modo, com as relações 21 nov. 2012. Disponível em <http://cienciahoje.
entre homens e animais sob um enfoque uol.com.br>. Acesso em: 05 nov. 2013.)
libertário, manifestando cumplicidade com
Entre os vocábulos extraídos do texto, aquele
esses outros viventes e a recusa da violência
no qual a sílaba “re” funciona como um pre-
contra humanos e não humanos. Já os es-
fixo que traduz ideia de repetição é
critores do final do século 20 e início do 21
lidam com a questão dos animais sob o peso a) “recusa”.
de uma realidade marcada por catástrofes b) “refletir”.
ambientais, extinção de espécies, experiên- c) “recuperar”.
cias biotecnológicas, expansão das granjas e d) “relevantes”.
fazendas industriais etc. e) “reconfigurar”.
Como a senhora vê o futuro dos animais?
Pelo jeito como as coisas andam, preocupo- 6. (UFRGS – Adaptado) O que havia de tão
-me com a possibilidade de os animais livres revolucionário na Revolução Francesa? So-
desaparecerem da face da Terra. Ficariam berania popular, liberdade civil, igualdade
apenas os bichos criados em reservas e ca- perante a lei – as palavras hoje são ditas
tiveiros, os expostos em zoológicos, os “pro- com tanta facilidade que somos incapazes
duzidos” em granjas e fazendas industriais de imaginar seu caráter explosivo em 1789.
para viver uma vida infernal e morrer logo Para os franceses do Antigo Regime, os ho-
depois, além dos animais domésticos, ades- mens eram 8desiguais, e a desigualdade era
trados e humanizados ao extremo. uma boa coisa, adequada à ordem hierárqui-
Há quem diga que até mesmo estes estão fa- ca que fora posta na natureza pela própria
dados a desaparecer, dando lugar a animais- obra de Deus. A liberdade significava privilé-
-robôs, que já existem no Japão. gio – isto é, literalmente, “lei privada”, uma
A humanidade tem destruído florestas, di- prerrogativa especial para fazer algo negado
zimado povos indígenas, exterminado es- a outras pessoas. O rei, como fonte de toda
pécies animais. Apesar da preocupação de a lei, distribuía privilégios, pois havia sido
ativistas com o destino do planeta, falta ungido como o agente de Deus na terra.
135
Durante todo o século XVIII, os filósofos do A sequência correta de preenchimento dos
Iluminismo questionaram esses 9pressu- parênteses, de cima para baixo, é
postos, e os panfletistas profissionais con- a) 4 – 2 – 3 – 1.
seguiram empanar a aura sagrada da coroa. b) 3 – 1 – 2 – 4.
Contudo, a desmontagem do quadro mental c) 2 – 3 – 1 – 4.
do Antigo Regime demandou violência icono- d) 1 – 4 – 2 – 3.
clasta, destruidora do mundo, revolucionária. e) 1 – 2 – 3 – 4.
Seria ótimo se pudéssemos associar a Revo-
lução exclusivamente à Declaração dos Direi-
tos do Homem e do Cidadão, mas ela nas- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ceu na violência e imprimiu seus princípios GATES E JOBS
em um mundo violento. Os conquistadores
Quando as órbitas se cruzam
da Bastilha não se limitaram a destruir um
símbolo do despotismo real. Entre eles, 150 Em astronomia, quando as órbitas de duas
foram mortos ou feridos no assalto à prisão estrelas se entrecruzam por causa da inte-
e, quando os sobreviventes apanharam o di- ração gravitacional, tem-se um sistema bi-
retor, cortaram sua cabeça e desfilaram-na nário. Historicamente, ocorrem situações
por Paris na ponta de uma lança. análogas quando uma era é moldada pela
Como podemos captar esses momentos de relação e rivalidade de dois grandes astros
loucura, quando tudo parecia possível e o orbitando: Albert Einstein e Niels Bohr na
mundo se afigurava como uma tábula rasa, física no século XX, por exemplo, ou Thomas
apagada por uma onda de comoção popular Jefferson e Alexander Hamilton na condução
e pronta para ser redesenhada? Parece in- inicial do governo americano. Nos primeiros
crível que um povo inteiro fosse capaz de se trinta anos da era do computador pessoal, a
levantar e transformar as condições da vida partir do final dos anos 1970, o sistema es-
cotidiana. Duzentos anos de experiências
telar binário definidor foi composto por dois
com admiráveis mundos novos tornaram-nos
indivíduos de grande energia, que largaram
céticos quanto ao 10planejamento social. Re-
os estudos na universidade, ambos nascidos
trospectivamente, a Revolução pode parecer
em 1955.
um prelúdio ao 11totalitarismo.
Bill Gates e Steve Jobs, apesar das ambições
Pode ser. Mas um excesso de visão histórica
semelhantes no ponto de convergência da
retrospectiva pode distorcer o panorama de
1789. Os revolucionários franceses não eram tecnologia e dos negócios, 5tinham origens
nossos contemporâneos. E eram um conjunto bastante diferentes e personalidades radi-
de pessoas não excepcionais em circunstân- calmente distintas.
cias excepcionais. Quando as coisas se desin- À diferença de Jobs, Gates entendia de pro-
tegraram, eles reagiram a uma necessidade gramação e tinha uma mente mais prática,
imperiosa de dar-lhes sentido, ordenando a mais disciplinada e com grande capacidade
sociedade segundo novos princípios. Esses de raciocínio analítico. Jobs era mais intui-
princípios ainda permanecem como uma de- tivo, romântico, e dotado de mais instinto
núncia da tirania e da injustiça. Afinal, em para tornar a tecnologia usável, o design
que estava empenhada a Revolução France- agradável e as interfaces amigáveis. Com sua
sa? Liberdade, igualdade, fraternidade. mania de perfeição, era extremamente exi-
(DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: ____. gente, além de administrar com carisma e
O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução. intensidade indiscriminada. Gates era mais
São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.)
metódico; as reuniões para exame dos pro-
Na coluna acima, estão quatro palavras reti- dutos tinham horário rígido, e ele chegava
radas do texto; na coluna abaixo, descrições ao cerne das questões com uma habilidade
relacionadas à formação dessas palavras. ímpar. Jobs encarava as pessoas com uma in-
Associe corretamente a coluna da esquerda tensidade cáustica e ardente; Gates às vezes
à da direita. não conseguia fazer contato visual, mas era
( ) desiguais (ref. 8) essencialmente bondoso.
( ) pressupostos (ref. 9) “Cada qual se achava mais inteligente do
( ) planejamento (ref. 10) que o outro, mas Steve em geral tratava Bill
( ) totalitarismo (ref. 11) como alguém levemente inferior, sobretu-
1. contém sufixo que forma substantivos a do em questões de gosto e estilo”, diz Andy
partir de verbos Hertzfeld. “Bill menosprezava Steve porque
2. contém prefixo com sentido de negação ele não sabia de fato programar.” Desde o co-
3. contém prefixo que designa anteriorida- meço da relação, 6Gates ficou fascinado por
de Jobs e com uma ligeira inveja de seu efei-
4. contém sufixo que designa movimentos to hipnótico sobre as pessoas. Mas também
ideológicos o considerava “essencialmente esquisito” e
136
“estranhamente falho como ser humano”, e c) Na frase, “... tinham... personalidades radi-
se sentia desconcertado com a grosseria de calmente distintas.” (ref. 5), o termo distin-
Jobs e sua tendência a funcionar “ora no tas é sinônimo de notáveis.
modo de dizer que você era um merda, ora d) Nas palavras destacadas em “... Gates ficou
no de tentar seduzi-lo”. Jobs, por sua vez, fascinado por Jobs e com uma ligeira inve-
via em Gates uma estreiteza enervante. ja de seu efeito hipnótico...” (ref. 6), há,
Suas diferenças de temperamento e persona- respectivamente, dígrafo, dígrafo e encontro
lidade iriam levá-los para lados opostos da consonantal.
linha fundamental de divisão na era digital.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Jobs era um perfeccionista que adorava estar
no controle e se comprazia com sua índole Reforma na corrupção
intransigente de artista; ele e a Apple se
tornaram exemplos de uma estratégia digi- Como previsto, já arrefece o mais recente
tal que integrava solidamente o hardware, o debate sobre corrupção. Ainda se discute,
software e o conteúdo numa unidade indis- sem muito entusiasmo, a absolvição de uma
sociável. Gates era um analista inteligente, deputada que foi filmada recebendo um 3di-
calculista e pragmático dos negócios e da nheirinho suspeito, mas isso aconteceu an-
tecnologia; dispunha-se a licenciar o softwa- tes de ela ser deputada, de maneira que não
re e o sistema operacional da Microsoft para vale. Além da forte tendência de os parla-
um grande número de fabricantes. mentares não punirem os seus pares, havia
Depois de trinta anos, Gates desenvolveu o risco do precedente. Não somente o voto é
um respeito relutante por Jobs. “De fato, ele indecentemente secreto nesses casos, como
nunca entendeu muito de tecnologia, mas ti- o precedente poderia xpor os pescoços de
nha um instinto espantoso para saber o que vários outros deputados. O que o deputado
funciona”, disse. Mas Jobs nunca retribuiu faz enquanto não é deputado não tem im-
portância, mesmo que ele seja tesoureiro dos
valorizando devidamente os pontos fortes de
ladrões de Ali Babá.
Gates. “Basicamente Bill é pouco imaginati-
Aliás, me antecipando um pouco ao que pre-
vo e nunca inventou nada, e é por isso que
tendo propor, me veio logo uma ideia prática
acho que ele se sente mais à vontade agora
para acertar de vez esse negócio de deputa-
na filantropia do que na tecnologia”, disse
do cometendo crimes durante o exercício do
Jobs, com pouca justiça. “Ele só pilhava des-
mandato. Às vezes – e lembro que errar é hu-
pudoradamente as ideias dos outros.”
mano – o sujeito comete esses 2crimezinhos
(ISAACSON, Walter. Steve Jobs: a biografia. São Paulo:
distraído. Esquece, em perfeita boa-fé, que
Companhia das Letras, 2011. p. 189-191. Adaptado)
exerce um mandato parlamentar e aí perpe-
tra a falcatrua. Fica muito chato para ele, se
ele for flagrado, e seus atos podem sempre
vir à tona, expostos pela imprensa impatrió-
tica. Não é justo submeter o deputado a essa
tensão permanente, afinal de contas, ele é
gente como nós.
Minha ideia, como, modéstia à parte, costu-
mam ser as grandes ideias, é muito simples:
os deputados usariam uniforme. Não daria
muito trabalho contratar (com dispensa de
licitação, dada a urgência do projeto), um
estúdio de alta-costura francês ou italiano,
ou ambos, para desenhar esse uniforme.
Imagino que seriam mais de um: o de traba-
lho, usado só excepcionalmente, o de gala, o
de visitar eleitores e assim por diante. En-
quanto estiver de uniforme, o deputado é
7. (Epcar (Afa)) Assinale a opção correta responsabilizado pelos seus atos ilícitos ou
quanto à análise das palavras abaixo, em indecorosos. Mas, se estiver à paisana, não
destaque, retiradas do texto se encontra no exercício do mandato e, por-
a) Os termos indissociável e intransigente são tanto, pode fazer o que quiser. (...)
formadas somente pelo processo de deriva- Mas isso é um mero detalhe, uma providên-
ção prefixal. cia que melhor seria avaliada no conjunto
b) As palavras ímpar e saída seguem a regra de de uma reforma séria, que levasse em conta
acentuação gráfica das vogais i e u tônicas nossas características culturais e nossas tra-
dos hiatos. dições. (...)
137
O que cola mesmo aqui são os ensinamentos 9. (IFSP) No português, encontramos varieda-
de líderes como o ex-presidente (gozado, o des históricas, tais como a representada na
“ex” enganchou aqui no teclado, quase não cantiga trovadoresca de João Garcia de Gui-
sai), que, em várias ocasiões, torceu o na- lhade, ilustrada a seguir.
riz para denúncias de corrupção e disse que
aqui era assim mesmo, sempre tinha sido Non chegou, madre, o meu amigo,
feito assim e não ia mudar a troco de nada. e oje est o prazo saido!
E assumia posturas coerentes com esse pon- Ai, madre, moiro d’amor!
to de vista. (...) Non chegou, madre, o meu amado,
Contudo, quando se descobre mais um caso e oje est o prazo passado!
de corrupção, a vida republicana fica bagun- Ai, madre, moiro d’amor!
çada, as coisas não andam, perde-se trabalho
em investigações, gasta-se tempo prendendo E oje est o prazo saido!
e soltando gente e a imprensa, que só serve Por que mentiu o desmentido?
para atrapalhar, fica cobrando explicações, Ai, madre, moiro d’amor!
embora já saibamos que explicações serão:
E oje, est o prazo passado!
primeiro desmentidos e em seguida pro-
Por que mentiu o perjurado?
messas de pronta e cabal investigação, com
Ai, madre, moiro d’amor!
a consequente punição dos culpados. Não
acontece nada e perdura essa situação mo- Considerando a terceira estrofe, assinale a
nótona, que às vezes paralisa o País. alternativa que apresenta uma palavra for-
A realidade se exibe diante de nós e não a mada por parassíntese.
vemos. Em lugar de querer suprimir nossas a) desmentido
práticas seculares, que hoje tanto prosperam, b) prazo
por que não aproveitá-las em nosso favor? c) saido
(...) O brasileiro preocupado com o assunto d) d’amor
já pode sonhar com uma corrupção moderna, e) moiro
dinâmica e geradora de empregos e renda.
E não pensem que esqueci as famosas clas- 10. (UFSM) Leia o fragmento a seguir.
ses menos favorecidas, como se dizia antiga-
mente. O mínimo que antevejo é o programa [...] a capoeira, a guardiã do jogo, da 7brin-
Fraude Fácil, em que qualquer um poderá cadeira, do faz de conta que 8luta, mas joga
habilitar-se ao exercício da boa corrupção, com o outro, que simula um 9golpe e tira 4o
em seu campo de ação favorito. Acho que dá outro para dançar e que tem uma vincula-
certo, é só testar. E ficar de olho, para não ção étnica e racial com o percurso e o lugar
deixar que algum corrupto corrupto passe a da negritude em nosso país, acabou, em al-
mão no fundo todo, assim também não vale. gumas escolas, ensinada sob o 10controle da
João Ubaldo Ribeiro, O Estado de São Paulo. Disponível em: 11
esportivização, com regras e pontuações.
http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,reforma-
(Orientações Curriculares para o Ensino Médio.
na-corrupcao,768238,0.htm. Acesso em: 04-9-2011.
Secretaria de Educação Básica. Brasília: Ministério
da Educação, v. 1, 2008, p. 231.)
8. (Upf) O autor fala em “crimezinhos” (ref.
2), repetindo uma estratégia já usada, quan- O substantivo que, formado com o auxílio de
do se refere a “dinheirinho” (ref. 3). No um sufixo, conota no fragmento um processo
contexto em que aparecem, as duas ocorrên- desvantajoso à prática da capoeira na escola é
cias de diminutivo: a) brincadeira (ref. 7).
a) Representam uma minimização do destaque b) luta (ref. 8).
que a mídia tem dado aos episódios de cor- c) golpe (ref. 9).
rupção. d) controle (ref. 10).
b) Indicam a versão daquele que é flagrado e) esportivização (ref. 11).
em situações comprometedoras, tentando
livrar-se do peso da infração.
c) Marcam a ironia em relação aos corruptos, E.O. Fixação
que exploram a boa-fé do eleitor com vistas
à sua promoção pessoal.
1. (Epcar) PROMESSA CONTRA SINAIS DA IDADE
d) Deixam implícita a informação de que não se
deve confiar nos dados apresentados pelos O tempo passa, e com ele os sinais da ida-
envolvidos em escândalos financeiros. de vão se espalhando pelo nosso organismo.
e) Denotam a avaliação do autor acerca da im- Entre eles, os mais evidentes ficam estam-
portância dos crimes perpetrados contra os pados em nossa pele, e rostos, na forma de
cofres públicos. rugas, flacidez e perda de elasticidade. Um
138
estudo publicado ontem no periódico cien- gostaria de ter: um pai dono de livraria.
tífico Journal of Investigative Dermatology, Pouco aproveitava. E nós menos ainda: até
no entanto, identificou um mecanismo mo- para aniversário, em vez de pelo menos um
lecular em células da pele que pode estar por livrinho barato, ela nos entregava em mãos
trás deste processo, abrindo caminho para o um cartão-postal da loja do pai. Ainda por
desenvolvimento de novos tratamentos para, cima era de paisagem do Recife mesmo, onde
se não impedir, pelo menos retardar o enve- morávamos, com suas pontes mais do que
lhecimento delas e, talvez, as de outros teci- vistas. Atrás escrevia com letra bordadíssima
dos e órgãos do corpo. palavras como “data natalícia” e “saudade”.
Na pesquisa, cientistas da Universidade Mas que talento tinha para a crueldade. Ela
de Newcastle, no Reino Unido, analisaram toda era pura vingança, chupando balas com
amostras de células da pele de vinte e sete barulho. Como essa menina devia nos odiar,
doadores com entre seis eanos, tiradas de nós que éramos imperdoavelmente boniti-
locais protegidos do Sol, para determinar nhas, esguias, altinhas, de cabelos livres.
se havia alguma diferença no seu compor- Comigo exerceu com calma ferocidade o seu
tamento com a idade. Eles verificaram que, sadismo. Na minha ânsia de ler, eu nem no-
quanto mais velha a pessoa, menor era a tava as humilhações a que ela me submetia:
atividade de suas mitocôndrias, as “4usinas continuava a implorar-lhe emprestados os
de energia” de nossas células. Essa queda, livros que ela não lia.
porém, era esperada, já que há décadas a re- Até que veio para ela o magno dia de come-
dução na capacidade de geração de energia çar a exercer sobre mim uma tortura chi-
por essas 7organelas celulares e na sua efi- nesa. Como casualmente, informou-me que
ciência neste trabalho com o tempo é uma possuía As reinações de Narizinho, de Mon-
das principais vertentes nas teorias sobre teiro Lobato.
envelhecimento. Era um livro grosso, meu Deus, era um livro
/.../ para se ficar vivendo com ele, comendo-o,
(BAIMA, César. O Globo, 27 de fev. 2016, p. 24.) dormindo-o. E completamente acima de mi-
nhas posses. Disse-me que eu passasse pela
Ao abordar um tema científico em um jor- sua casa no dia seguinte e que ela o empres-
nal, é comum a prática de empregar recur- taria.
sos para torná-lo mais acessível e, portanto, Até o dia seguinte eu me transformei na pró-
mais atraente aos leitores comuns, não acos- pria esperança da alegria: eu não vivia, eu
tumados ao discurso científico. Observa-se nadava devagar num mar suave, as ondas me
que o texto “Promessa contra sinais da ida- levavam e me traziam.
de”, com tal finalidade, apresenta os seguin- No dia seguinte fui à sua casa, literalmente
tes recursos, EXCETO: correndo. Ela não morava num sobrado como
a) emprego de título chamativo, cuja ideia de eu, e sim numa casa. Não me mandou entrar.
uma “promessa” contra o envelhecimento Olhando bem para meus olhos, disse-me que
funciona como elemento de persuasão para havia emprestado o livro a outra menina, e
os leitores. que eu voltasse no dia seguinte para buscá-
b) introdução narrativo-descritiva – conside- -lo. Boquiaberta, saí devagar, mas em breve
rando os dois períodos iniciais do texto –, a esperança de novo me tomava toda e eu
com a finalidade de situar o tema como pre- recomeçava na rua a andar pulando, que era
sente na realidade do leitor. o meu modo estranho de andar pelas ruas de
c) utilização da metáfora “usinas de energia” Recife. Dessa vez nem caí: guiava-me a pro-
(ref. 4) para explicar, de maneira simbólica e messa do livro, o dia seguinte viria, os dias
mais acessível, a atividade das mitocôndrias. seguintes seriam mais tarde a minha vida
d) uso do diminutivo com sentido afetivo no inteira, o amor pelo mundo me esperava, an-
termo “organelas” (ref. 7), com o objetivo dei pulando pelas ruas como sempre e não
de criar proximidade entre o leitor e o tema. caí nenhuma vez.
Mas não ficou simplesmente nisso. O plano
2. (Efomm) FELICIDADE CLANDESTINA secreto da filha do dono de livraria era tran-
(Clarice Lispector) quilo e diabólico. No dia seguinte lá estava
eu à porta de sua casa, com um sorriso e o
Ela era gorda, baixa, sardenta e de cabelos coração batendo. Para ouvir a resposta cal-
excessivamente crespos, meio arruivados. ma: o livro ainda não estava em seu poder,
Tinha um busto enorme, enquanto nós to- que eu voltasse no dia seguinte. Mal sabia eu
das ainda éramos achatadas. Como se não como mais tarde, no decorrer da vida, o dra-
bastasse, enchia os dois bolsos da blusa, por ma do “dia seguinte” com ela ia se repetir
cima do busto, com balas. Mas possuía o que com meu coração batendo.
qualquer criança devoradora de histórias E assim continuou. Quanto tempo? Não sei.
139
Ela sabia que era tempo indefinido, enquan- pressentia. Como demorei! Eu vivia no ar...
to o fel não escorresse todo de seu corpo Havia orgulho e pudor em mim. Eu era uma
grosso. Eu já começara a adivinhar que ela rainha delicada.
me escolhera para eu sofrer, às vezes adivi- Às vezes sentava-me na rede, balançando-
nho. Mas, adivinhando-me mesmo, às vezes -me com o livro aberto no colo, sem tocá-
aceito: como se quem quer me fazer sofrer -lo, em êxtase puríssimo. Não era mais uma
esteja precisando danadamente que eu sofra. menina com um livro: era uma mulher com
Quanto tempo? Eu ia diariamente à sua casa, o seu amante.
sem faltar um dia sequer. Às vezes ela dizia: Com base no texto acima, responda à(s)
pois o livro esteve comigo ontem de tarde, questão(ões) a seguir.
mas você só veio de manhã, de modo que o Assinale a opção em que o processo de for-
emprestei a outra menina. E eu, que não era mação da palavra sublinhada é diferente dos
dada a olheiras, sentia as olheiras se cavan- demais.
do sob os meus olhos espantados. a) Mas possuía o que qualquer criança devo-
Até que um dia, quando eu estava à porta radora de histórias gostaria de ter: um pai
de sua casa, ouvindo humilde e silenciosa dono de livraria.
a sua recusa, apareceu sua mãe. Ela devia b) Até que veio para ela o magno dia de come-
estar estranhando a aparição muda e diária çar a exercer sobre mim uma tortura chinesa.
daquela menina à porta de sua casa. Pediu c) Mas que talento tinha para a crueldade.
explicações a nós duas. Houve uma confusão d) Comigo exerceu com calma ferocidade o seu
silenciosa, entrecortada de palavras pouco
sadismo.
elucidativas. A senhora achava cada vez mais
e) Como casualmente, informou-me que pos-
estranho o fato de não estar entendendo.
suía As reinações de Narizinho, de Monteiro
Até que essa mãe boa entendeu. Voltou-se
Lobato.
para a filha e com enorme surpresa excla-
mou: mas este livro nunca saiu daqui de casa
e você nem quis ler! 3. (Esc. Naval) Laivos de memória
E o pior para essa mulher não era a desco-
berta do que acontecia. Devia ser a desco- “... e quando tiverem chegado, vitoriosa-
berta horrorizada da filha que tinha. Ela nos mente,
espiava em silêncio: a potência de perversi- ao fim dessa primeira etapa,
dade de sua filha desconhecida e a menina mais ainda se convencerão de que
loura em pé à porta, exausta, ao vento das abraçaram uma carreira difícil,
ruas de Recife. Foi então que, finalmente se árdua, cheia de sacrifícios,
refazendo, disse firme e calma para a filha: mas útil, nobre e, sobretudo bela.”
você vai emprestar o livro agora mesmo. E (NOSSA VOGA, Escola Naval, Ilha de Villegagnon, 1964.)
para mim: “E você fica com o livro por quan-
to tempo quiser.” Entendem? Valia mais do Há quase 50 anos, experimentei um misto
que me dar o livro: “pelo tempo que eu qui- de angústia, tristeza e ansiedade que meu
sesse” é tudo o que uma pessoa, grande ou jovem coração de adolescente soube suportar
pequena, pode ter a ousadia de querer. com bravura.
Naquela ocasião, despedia-me dos amigos
Como contar o que se seguiu? Eu estava es-
de infância e da família e deixava para trás
tonteada, e assim recebi o livro na mão. Acho
bucólica cidadezinha da região serrana flu-
que eu não disse nada. Peguei o livro. Não,
minense. A motivação que me levava a aban-
não saí pulando como sempre. Saí andando donar gentes e coisas tão caras era, naquele
bem devagar. Sei que segurava o livro gros- momento, suficientemente forte para respal-
so com as duas mãos, comprimindo-o contra dar a decisão tomada de dar novos rumos à
o peito. Quanto tempo levei até chegar em minha vida. Meu mundo de então se tornara
casa, também pouco importa. Meu peito es- pequeno demais para as minhas aspirações.
tava quente, meu coração pensativo. Meus desejos e sonhos projetavam horizon-
Chegando em casa, não comecei a ler. Fingia tes que iam muito além das montanhas que
que não o tinha, só para depois ter o sus- circundam minha terra natal.
to de o ter. Horas depois abri-o, li algumas Como resistir à sedução e ao fascínio que a
linhas maravilhosas, fechei-o de novo, fui vida no mar desperta nos corações dos jo-
passear pela casa, adiei ainda mais indo co- vens?
mer pão com manteiga, fingi que não sabia Havia, portanto, uma convicção: aquelas
onde guardara o livro, achava-o, abria-o por despedidas, ainda que dolorosas – e despedi-
alguns instantes. Criava as mais falsas difi- das são sempre dolorosas – não seriam certa-
culdades para aquela coisa clandestina que mente em vão. Não tinha dúvidas de que os
era a felicidade. A felicidade sempre iria sonhos que acalentavam meu coração pouco
ser clandestina para mim. Parece que eu já a pouco iriam se converter em realidade.
140
Em março de 1962, desembarcávamos do instrução como Aspirante e Guarda-Marinha,
Aviso Rio das Contas na ponte de atracação quando as responsabilidades eram restritas
do Colégio Naval, como integrantes de mais a compromissos curriculares, as platinas de
uma Turma desse tradicional estabelecimen- Oficial começariam, finalmente, a pesar for-
to de ensino da Marinha do Brasil. te em nossos ombros. Sobre essa transição
Ainda que a ansiedade persistisse oprimindo do status de Guarda-Marinha para Tenente,
o peito dos novos e orgulhosos Alunos do Co- o notável escritor-marinheiro Gastão Penal-
légio Naval, não posso negar que a tristeza, va escrevera com muita propriedade: “... é a
que antes havia ocupado espaço em nossos fase inesquecível de nosso ofício. Coincide
corações, era naquele momento substituída exatamente com a adolescência, primavera
pelo contentamento peculiar dos vitoriosos. da vida. Tudo são flores e ilusões... Depois
E o sentimento de perda, experimentado começam a despontar as responsabilidades,
por ocasião das despedidas, provara-se equi- as agruras de novos cargos, o acúmulo de de-
vocado: às nossas caras famílias de origem veres novos”.
agregava-se uma nova, a Família Naval, com- E esses novos cargos e deveres novos, que
posta pelos recém-chegados companheiros; e foram se multiplicando a bordo de velhos
às respectivas cidades de nascimento, como e saudosos navios, deixariam agradáveis e
a minha bucólica Bom Jardim, juntava-se, duradouras lembranças em nossa memória.
naquele instante, a bela e graciosa enseada Com o passar dos tempos, inúmeros Conve-
Batista das Neves em Angra dos Reis, como ses e Praça d’ Armas, hoje saudosas, foram se
mais tarde se agregaria à histórica Villegagnon incorporando ao acervo profissional-afetivo
em meio à sublime baía de Guanabara. de cada um dos integrantes daquela Turma
Ao todo foram seis anos de companheirismo de Guardas-Marinha de 1967.
e feliz convivência, tanto no Colégio como Ah! Como é gratificante, ainda que melancó-
lico, repassar tantas lembranças, tantos ter-
na Escola Naval. Seis anos de aprendizagem
mos expressivos, tanta gíria maruja, tantas
científica, humanística e, sobretudo, militar- tradições, fainas e eventos tão intensamente
-naval. Seis anos entremeados de aulas, fes- vividos a bordo de inesquecíveis e saudosos
tivais de provas, práticas esportivas, remo, navios...
vela, cabo de guerra, navegação, marinharia, E as viagens foram se multiplicando ao lon-
ordem-unida, atividades extraclasses, re- go de bem aproveitados anos de embarque,
creativas, culturais e sociais, que deixaram de centenas de dias de mar e de milhares
marcas indeléveis. de milhas navegadas em alto mar, singran-
Estes e tantos outros símbolos, objetos e do as extensas massas líquidas que formam
acontecimentos passados desfilam hoje, os grandes oceanos, ou ao longo das águas
deliciosa e inexoravelmente distantes, em costeiras que banham os recortados lito-
meio a saudosos devaneios.
rais, com passagens, visitas e arribadas em
Ainda como alunos do Colégio Naval, os con-
um sem-número de enseadas, baías, barras,
tatos preliminares com a vida de bordo e as
angras, estreitos, furos e canais espalhados
primeiras idas para o mar – a razão de ser da
pelos quatro cantos do mundo, percorridos
carreira naval.
nem sempre com mares bonançosos e ventos
Como Aspirantes, derrotas mais longas e as
tranquilos e favoráveis.
primeiras descobertas: Santos, Salvador, Re-
Inúmeros foram também os portos e cidades
cife e Fortaleza!
visitadas, não só no Brasil como no exterior,
Fechando o ciclo das Viagens de Instrução, o
o que sempre nos proporciona inestimáveis
tão sonhado embarque no Navio-Escola. Via-
gem maravilhosa! Nós, da Turma Míguens, e valiosos conhecimentos, principalmente
Guardas-Marinha de 1967, tivemos a oportu- graças ao contato com povos diferentes e até
nidade ímpar e rara de participar de um cru- mesmo de culturas exóticas e hábitos às ve-
zeiro ao redor do mundo em 1968: a Quinta zes totalmente diversos dos nossos, como os
Circum-navegação da Marinha Brasileira. ribeirinhos amazonenses ou os criadores de
Após o regresso, as platinas de Segundo- serpentes da antiga Taprobana, ex-Ceilão e
-Tenente, o primeiro embarque efetivo e o hoje Sri Lanka.
verdadeiro início da vida profissional – no Como foi fascinante e delicioso navegar por
meu caso, a bordo do cruzador Tamandaré, o todos esses cantos. Cada novo mar percor-
inesquecível C-12. Era a inevitável separação rido, cada nova enseada, estreito ou porto
visitado tinha sempre um gosto especial de
da Turma do CN-62/63 e da EM-64/67.
descoberta... Sim, pois, como dizia Câmara
Novamente um misto de satisfação e ansie-
Cascudo, “o mar não guarda os vestígios das
dade tomou conta do coração, agora do jo- quilhas que o atravessam. Cada marinheiro
vem Tenente, ao se apresentar para servir a tem a ilusão cordial do descobrimento”.
bordo de um navio de nossa Esquadra. Após (CÉSAR, CMG William Carmo. Laivos de memória. In:
proveitosos, mas descontraídos estágios de Revista de Villegagnon, Ano IV, nº 4, 2009. p. 42-50.)
141
Em que opção encontra-se uma palavra, cujo 4. (Insper) Quanto às variações exploradas a
processo de formação é o mesmo do termo partir do termo “Photoshop”, é correto afir-
destacado em “[...] o tão sonhado embarque mar que
[...].” (11º parágrafo) a) o neologismo do título foi formado pelo
a) “[...] circundam minha terra [...].” (2º pará- mesmo processo que o termo “design”, pre-
grafo) sente no texto.
b) “[...] não seriam certamente em vão.” (4º b) como adjetivo, o valor depreciativo do termo
parágrafo) “fotoxopado” decorre exclusivamente do su-
c) “E o sentimento de perda [...].” (6º parágrafo) fixo “-ado” agregado ao radical.
d) “Seis anos entremeados de aulas, [...].” (7º c) as palavras formadas a partir do estrangei-
parágrafo) rismo “photoshop” constituem jargões res-
tritos à área de informática.
e) “[...] o notável escritor-marinheiro [...].”
d) a grafia abrasileirada de “fotoxopou”, dife-
(13º parágrafo)
rentemente de “hollywoodiano”, no 1.º pa-
rágrafo, é uma prova de que o software se
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO popularizou no mundo.
e) apesar de não ter sido mencionado no tex-
Quem nunca fotoxopou? to, também seria possível transformar “Pho-
toshop” em advérbio de modo: “fotoxopal-
FALA-SE HOJE em Facebook, Google e iPho-
mente”.
ne com a mesma combinação de fascínio e
terror que um dia já se falou de Motorola e
Nokia. Tudo se move rápido demais no mun- 5. (UFRGS) Hoje os conhecimentos se estrutu-
do digital, e são poucas as empresas que ram de modo fragmentado, separado, com-
conseguem permanecer competitivas ao lon- partimentado nas disciplinas. Essa situação
go dos anos. Apesar de o Vale do Silício ter impede uma visão global, uma visão funda-
mental e uma visão complexa. 13”Complexi-
aquele ar hollywoodiano de terra de opor-
dade” vem da palavra latina complexus, que
tunidades, contam-se nos dedos empresas
significa a compreensão dos elementos no
longevas como uma Adobe, uma Dell, uma
seu conjunto.
Amazon.
As disciplinas costumam excluir tudo o que
Por ter grande mobilidade, a concentração
se encontra fora do seu campo de especiali-
de poder e influência no mundo digital sur-
zação. A literatura, no entanto, é uma área
ge tão rápido quanto desaparece, a ponto
que se situa na inclusão de todas as dimen-
de ser cada vez mais difícil encontrar quem
sões humanas. Nada do humano lhe é estra-
fique na liderança por uma mísera década. nho, estrangeiro.
Na virada do século não havia Friendster, A literatura e o teatro são desenvolvidos
Myspace nem Orkut, o grande buscador era como meios de expressão, meios de conhe-
o Yahoo!, seguido pelo Lycos. E a internet cimento, meios de compreensão da 14com-
móvel estava a cargo de empresas inovadoras plexidade humana. Assim, podemos ver o
como Palm e Kyocera. primeiro modo de inclusão da literatura: a
O usuário de produtos digitais é cada vez inclusão da 15complexidade humana. E va-
mais volúvel e pragmático. Novos produtos e mos ver ainda outras inclusões: a inclusão da
serviços podem até seduzi-lo com propagan- personalidade humana, a inclusão da subje-
da, design e preço. Mas a relação dificilmen- tividade humana, e, também, muito impor-
te será mantida se a marca não se renovar tante, a inclusão; do estrangeiro, do margi-
com a velocidade esperada, pouco importa nalizado, do infeliz, de todos que ignoramos
sua fatia de mercado. Kodak e Sony que o e desprezamos na vida cotidiana.
digam. Mesmo que ainda sejam gigantescas, A inclusão da 16complexidade humana é ne-
já não têm o apelo de outrora. cessária porque recebemos uma visão mu-
A melhor lição de empresas bem-sucedidas tilada do humano. Essa visão, a de homo
em relacionamentos de longo prazo é a do sapiens, é uma 17definição do homem pela
bom e velho Photoshop, vendendo saúde em razão; de homo faber, do homem como tra-
seus 22 anos de idade e 12 plásticas (oops, balhador; de homo economicus, movido por
versões). Como o Google, ele é sinônimo de lucros econômicos. Em resumo, trata-se de
categoria e verbo. Mas também é adjetivo, uma visão prosaica, mutilada, que esquece
substantivo, pejorativo e indicativo de reto- o principal: a relação do sapiens/demens, da
ques fotográficos, mencionado com familia- razão com a demência, com a loucura.
ridade até por quem não faça ideia de como Na literatura, encontra-se a inclusão dos
ele funciona. Ao contrário do AutoCAD, que é problemas humanos mais terríveis, coisas
oito anos mais velho, mas desconhecido fora
18
insuportáveis que nela se tornam suportá-
de seu nicho, o Photoshop é unanimidade. veis. Harold Bloom escreve: ”Todas as gran-
Folha de S. Paulo, 26/03/2012. des obras revelam a universalidade humana
142
através de destinos singulares, de situações Como os negros não trabalhavam mais nas
singulares, de épocas singulares”. É essa a lavouras, os 3imigrantes começaram a ocupar
razão por que as 19obras-primas atravessam seus lugares, plantando e colhendo, mas co-
séculos, sociedades e nações. bravam pelos trabalhos realizados, o que ge-
Agora chegamos à parte mais humana da in- rou insatisfação nos proprietários de terras.
clusão: a inclusão do outro para a compreen- As perdas também foram grandes para os
são humana. A compreensão nos torna mais coronéis, pois ________ gasto uma enorme
generosos com relação ao outro, e o crimi- quantidade de dinheiro investindo nos es-
noso não é unicamente mais visto como cri- cravos, e o governo, após a abolição, não pa-
minoso, como o Raskolnikov de Dostoievsky, gou nenhuma indenização a eles.
como o Padrinho de Copolla. A guerra do Paraguai (1864 a 1870) também
A literatura, o teatro e o cinema são os me-
ajudou na luta contra o regime monárquico
lhores meios de compreensão e de inclusão
no Brasil. Soldados brasileiros se aliaram aos
do outro. Mas a compreensão se torna provi-
exércitos do Uruguai e da Argentina, rece-
sória, esquecemo-nos depois da leitura, da
bendo orientações para implantarem a repú-
peça e do filme. Então essa compreensão é
que deveria ser introduzida e desenvolvida blica no Brasil.
em nossa vida pessoal e social, porque servi- Os movimentos republicanos também já
ria para melhorar as relações humanas, para aconteciam no país, a 9imprensa trazia po-
melhorar a vida social. litização ____ população civil, para lutarem
(MORIN, Edgar. A inclusão: verdade da literatura. pela libertação do país dos domínios de Por-
In: RÕSING, Tânia et al. Edgar Morin: religando tugal. Com isso, vários partidos teriam sido
fronteiras. Passo Fundo: UPF, 2004. p. 13-18)
criados, desde 1870.
Na coluna acima, estão palavras retiradas do A Igreja também teve sua participação para
texto; na coluna abaixo, descrições relacio- que a república do Brasil fosse proclamada.
nadas à formação de palavras. Dois bispos foram nomeados para 12acatarem
Associe corretamente a coluna da esquerda as ordens de D. Pedro II, tornando-se seus
com a da direita. subordinados, mas não aceitaram tais impo-
( ) complexidade (refs. 13, 14, 15 e 16) sições. Com isso, foram punidos com pena de
( ) definição (ref. 17) prisão, levando _____ igreja _____ ir contra
( ) insuportáveis (ref. 18) sufixo formador o governo.
de adjetivos a partir de verbos. Com as tensões aquecendo o mandato de D.
( ) obras-primas (ref. 19) Pedro II, o imperador dirigiu-se com sua fa-
1. Constituída por composição através de mília para a cidade de Petrópolis, também
justaposição. no estado do Rio de Janeiro.
2. Constituída por prefixo com sentido de 16
Porém seu afastamento não foi nada favo-
negação e sufixo formador de adjetivos a rável, fazendo com que fosse posto em prá-
partir de verbos tica um golpe militar, onde o Marechal Deo-
3. Constituída por sufixo formador de subs- doro da Fonseca conspirava a derrubada de
tantivo a partir de adjetivo. D. Pedro II.
4. Constituída por sufixo formador de subs- Boatos de que os responsáveis pelo plano
tantivo a partir de verbo. seriam presos fizeram com que a armada
5. Constituída por aglutinação, tendo em acontecesse, recebendo o apoio de mais de
vista a mudança silábica de um dos ele- seiscentos soldados.
mentos do vocábulo. No dia 15 de novembro de 1889, ao passar
A sequência correta de preenchimento dos pela Praça da Aclamação, o Marechal, com
parênteses, de cima para baixo, é espada em punho, declarou que, a partir da-
a) 4 – 3 – 2 – 1.
quela data, o país seria uma república.
b) 3 – 4 – 2 – 5.
c) 4 – 3 – 1 – 5. Dom Pedro II recebeu a notícia de que seu
d) 3 – 4 – 2 – 1. governo havia sido derrubado e um decreto
e) 3 – 2 – 1 – 5. o expulsava do país, juntamente com sua fa-
mília. Dias depois, voltaram a Portugal.
Para governar o Brasil República, os respon-
6. (Imed) Dia da Proclamação da República sáveis pela conspiração montaram um go-
verno provisório, mas o Marechal Deodoro
____ exatos 125 anos, em 15 de novembro da Fonseca permaneceu como presidente do
de 1889, foi proclamada a república do Bra- país. Rui Barbosa, Benjamin Constant, Cam-
sil. pos Sales e outros foram escolhidos para for-
Na época, o país era governado por D. Pedro mar os ministérios.
II e passava por grandes problemas, em razão (Jussara de Barros. Disponível em: http://www.
da abolição da escravidão, em 1888. brasilescola.com. Acesso em: 16/01/2017)
143
Avalie as seguintes afirmações a respeito da TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
palavra imigrantes (ref. 3):
I. É formada apenas por prefixação, assim Darwin passou quatro meses no Brasil, em
como a palavra imprensa (ref. 9). 1832, durante a sua célebre viagem a bor-
II. O prefixo – ante(s) exprime origem. do do Beagle. Voltou impressionado com o
III. Migração, migrar e emigrar são suas cog- que viu: “Delícia é um termo 17insuficiente
natas. para 19exprimir as emoções sentidas por um
Quais estão corretas? naturalista a sós com a natureza em uma flo-
a) Apenas I. resta brasileira”, escreveu. O Brasil, porém,
b) Apenas II. aparece de forma menos 21idílica em seus es-
critos: “Espero nunca mais voltar a um país
c) Apenas III.
escravagista. O estado da enorme população
d) Apenas I e II.
escrava deve preocupar todos os que chegam
e) Apenas II e III.
ao Brasil. Os senhores de escravos querem
ver o negro romo outra espécie, mas temos
7. (UFSM) Guia verde politicamente incorreto todos a mesma origem.”
Nem ecochatos nem ecocéticos. Não existem Em vez do gorjeio do sabiá, o que Darwin
verdades absolutas na sustentabilidade. Há guardou nos ouvidos foi um som terrível que
sempre alguma sujeira escondida debaixo do o acompanhou por toda a vida: “Até hoje, se
tapete – e soluções em lugares que ninguém eu ouço um grito, lembro-me, com 22doloro-
esperava. sa e clara memória, de quando passei numa
(HORTA, Maurício. Guia verde politicamente casa em Pernambuco e ouvi urros terríveis.
incorreto. Superinteressante, dez. 2011, p. 57.) Logo entendi que era algum pobre escravo
que estava sendo torturado,”
Considerando eco como um radical grego Segundo o biólogo Adrian Desmond, “a via-
que significa casa, hábitat, as palavras “eco- gem do Beagie, para Darwin, foi menos im-
chatos” e “ecocéticos” são formadas por portante pelos espécimes coletados do que
__________. A primeira representa o gru- pela experiência de testemunhar os horrores
po dos __________ e a outra, o grupo dos da 23escravidão no Brasil. De certa forma, ele
__________ no que se refere a atividades escolheu focar na 20descendência comum do
sustentáveis. homem justamente para mostrar que todas
as raças eram iguais e, desse modo, enfim,
Assinale a alternativa que preenche adequa-
objetar àqueles que 18insistiam em dizer que
damente as lacunas.
os negros pertenciam a uma espécie diferen-
a) composição – enfadonhos – descrentes te e inferior à dos brancos”. Desmond aca-
b) derivação prefixal – insistentes – desconfiados ba de lançar um estudo que mostra a paixão
c) aglutinação – desgostosos – descrentes abolicionista do cientista, revelada por seus
d) neologismo – aborrecidos – preocupados diários e cartas pessoais. “A extensão de seu
e) derivação parassintética – insistentes – crí- interesse no combate à ciência de cunho ra-
ticos. cista é surpreendente, e pudemos detectar
um ímpeto moral por trás de seu trabalho
8. (ESPCEX) Ao se alistar, não imaginava que sobre a evolução humana – urna crença na
o combate pudesse se realizar em tão curto ‘irmandade racial’ que tinha origem em seu
prazo, embora o ribombar dos canhões já se ódio ao 24escravismo e que o levou a pensar
fizesse ouvir ao longe. numa descendência comum.”
Quanto ao processo de formação das palavras Adaptado de: HAAG, C. O elo perdido tropical.
Pesquisa FAPESP, n. 159, p. 80 - 85, maio 2009.
sublinhadas, é correto afirmar que sejam,
respectivamente, casos de
9. (Ufrgs) Assinale com V (verdadeiro) ou F
a) prefixação, sufixação, prefixação, aglutina-
(falso) as afirmações a seguir sobre elemen-
ção e onomatopeia.
tos de formação de palavras do texto.
b) parassíntese, derivação regressiva, sufixa- ( ) As palavras insuficiente (ref. 17) e in-
ção, aglutinação e onomatopeia. sistiam (ref. 18) apresentam o mesmo
c) parassíntese, prefixação, prefixação, sufixa- prefixo em sua formação.
ção e derivação imprópria. ( ) A comparação da palavra exprimir (ref.
d) derivação regressiva, derivação imprópria, 19) com imprimir e da palavra descen-
sufixação, justaposição e onomatopeia. dência (ref. 20) com ascendência permi-
e) parassíntese, aglutinação, derivação regres- te que se postule um radical comum para
siva, justaposição e onomatopeia. cada um dos pares.
144
( ) As palavras idílica (ref. 21) e dolorosa que meus parentes. Sabia de suas manhas,
(ref. 22) apresentam sufixos que formam cacoetes, preocupações e de seus sonhos.
adjetivos a partir de substantivos. Sem dar conta, meu mundo acabava no cos-
( ) O emprego de diferentes sufixos para o tado do navio.
mesmo radical em escravidão (ref. 23) e A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo
escravismo (ref. 24) serve, no texto, para navio, é uma das coisas mais belas, que só
expressar, respectivamente, a ideia de há entre nós, em mais nenhum outro lugar.
“situação resultante de uma ação” e de Por isso sou marinheiro, porque sei o que é
“movimento socioideológico”. espírito de navio.
A sequência correta de preenchimento dos Bons tempos aqueles das viagens, dávamos
parênteses, de cima para baixo, é um duro danado no mar, em serviço, postos
a) F – V – V – V. de combate, adestramento de guerra, dia e
b) V – F – V – F. noite. O interessante é que em toda nossa
c) V – V – F – F. vida, quando buscamos as boas recordações,
d) F – V – F – V. elas vêm desse tempo, das viagens e dos na-
e) F – F – V – V. vios. 16Até as durezas por que passamos são
saborosas ao lembrar, talvez porque as ven-
10. (Esc. Naval) VELHO MARINHEIRO cemos e fomos adiante.
É aquela história dos pequenos sucessos.
Homenagem aos marinheiros
A volta ao porto era um acontecimento gos-
de sempre... e para sempre.
toso, sempre figurando a mulher. Primeiro a
Sou marinheiro porque um dia, muito jovem,
mãe, depois a namorada, a noiva, a esposa.
estendi meu braço diante da bandeira e jurei
Muita coisa a contar, a dizer, surpresas de
lhe dar minha vida. carinho. A comida preferida, o abraço aper-
Naquele dia de sol a pino, com meu novo uni- tado, o beijo quente... e o filho que, na au-
forme branco, senti-me homem de verdade, sência, foi ensinado a dizer papai.
como se estivesse dando adeus aos tempos No início, eu voltava com muitos retratos,
de garoto. Ao meu lado, as vozes de outros principalmente quando vinha do estrangei-
jovens soavam em uníssono com a minha, ro, depois, com o tempo, eram poucos, até
vibrantes, e terminamos com emoção, de que deixei de levar a máquina. Engraçado,
peitos estufados e orgulhosos. Ao final, mi- vocês já perceberam que marinheiro velho
nha mãe veio em minha direção, apressada dificilmente baixa a terra com máquina fo-
em me dar um beijo. Acariciou-me o rosto e tográfica? Foi assim comigo.
disse que eu estava lindo de uniforme. O dia Hoje os navios são outros, os marinheiros
acabou com a família em festa; eu lembro- são outros – sinto-os mais preparados do que
-me bem, fiquei de uniforme até de tarde... eu era – mas a vida no mar, as viagens, os
Sou marinheiro, porque aprendi, naquela portos, a volta, estou certo de que são iguais.
Escola, o significado nobre de companhei- Sou marinheiro, por isso sei como é.
rismo. Juntos no sofrimento e na alegria, Fico agora em casa, querendo saber das coi-
um safando o outro, leais e amigos. Apren- sas da Marinha. E a cada pedaço que ouço
di o que é civismo, respeito e disciplina, no de um amigo, que leio, que vejo, me dá um
princípio, exigidos a cada dia; depois, como orgulho que às vezes chega a entalar na gar-
parte do meu ser e, assim, para sempre. A ganta. Há pouco tempo, voltei a entrar em
cada passo havia um novo esforço esperando um navio. Que coisa linda! Sofisticado, lim-
e, depois dele, um pequeno sucesso. Minha píssimo, nas mãos de uma tripulação que só
vida, agora que olho para trás, foi toda de pode ser muito competente para mantê-lo
pequenos sucessos. A soma deles foi a minha pronto. Do que me mostraram eu não sabia
carreira. muito. Basta dizer que o último navio em
19
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi que servi já deu baixa. 17Quando saí de bor-
que era novamente aluno. Todos sabiam das do, parei no portaló, voltei-me para a ban-
coisas mais do que eu havia aprendido. Só deira, inclinei a cabeça... e, minha garganta
que agora me davam tarefas, incumbências, entalou outra vez.
e esperavam que eu as cumprisse bem. Pou- Isso é corporativismo; não aquele enxova-
co a pouco, passei a ser parte da equipe, a lhado, que significa o bem de cada um, pro-
ser chamado para ajudar, a ser necessário. tegido à custa do desmerecimento da insti-
Um dia vi-me ensinando aos novatos e dei- tuição; mas o puro, que significa o bem da
-me conta de que me tornara marinheiro, de instituição, protegido pelo merecimento de
fato e de direito, um profissional! O navio cada um.
passou a ser minha segunda casa, onde eu Sou marinheiro e, portanto, sou corporati-
permanecia mais tempo, às vezes, do que na vista.
primeira. Conhecia todos, alguns mais até do Muitas vezes a lembrança me retorna aos
145
dias da ativa e morro de saudades. 18Que bom baixar o preço que cobrava pelo arrendamen-
se pudesse voltar ao começo, vestir aquele to de suas terras, foi vítima de represália,
uniforme novinho – até um pouco grande, tendo os agricultores da época se articula-
ainda recordo – Jurar Bandeira, ser beijado do para não negociar com ele. Daí a palavra
pela minha falecida mãe... “boycott” e, em português, boicote.
Sei que, quando minha hora chegar, no úl- Quaseanos depois, o termo em inglês ga-
timo instante, verei, em velocidade desco- nhou uma espécie de antônimo, o “buycott”.
nhecida, o navio com meus amigos, minha Numa livre tradução seria a compra orienta-
mulher, meus filhos, singrando para sempre, da de produtos.
indo aonde o mar encontra o céu... e, se São A partir disso, a pesquisadora Michele Mi-
Pedro estiver no portaló, direi: cheletti, da Karlstad University, na Suécia,
– Sou marinheiro, estou embarcando. defende que o ato de consumo pode se trans-
(Autor desconhecido. In: Língua portuguesa: formar em ativismo político, pois, segundo
leitura e produção de texto. Rio de Janeiro: ela, a falta de uma regulamentação global
Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8) transferiu para os consumidores parte da
responsabilidade sobre o mercado. Por meio
Glossário de “boycotts” e de “buycotts”, é possível aos
Portaló: abertura no casco de um navio, ou consumidores forçar mudanças no sistema
passagem junto à balaustrada, por onde as produtivo e colaborar, utilizando o seu poder
pessoas transitam para fora ou para dentro, de compra, a fim de atenuar problemas como
e por onde se pode movimentar carga leve. a exploração da mão de obra, o desrespeito
ambiental e os desvios éticos e políticos de
Em que opção o autor, ao reportar-se ao pas- grandes empresas.
sado, emprega um termo cujo sufixo tem va- O “buycotter” é o consumidor politizado,
lor intensificador? informado, responsável. Micheletti cita es-
a) “Até as durezas por que passamos são sabo- tudos que mostram que, na Suécia, o percen-
rosas ao lembrar [...].” (ref. 16) tual de cidadãos que se envolveu em algum
b) “Quando saí de bordo, parei no portaló, vol- tipo de “consumo politizado” nosmeses an-
tei-me para a bandeira [...].” (ref. 17) teriores à pesquisa era deNo Brasil, não che-
c) “Que bom se pudesse voltar ao começo, ves- gava aA pesquisadora concluiu que o resul-
tir aquele uniforme novinho [...].” (ref. 18) tado está vinculado ao nível de informação e
d) “No meu primeiro navio, logo cedo, percebi aos recursos disponíveis dos consumidores.
que era novamente aluno.” (ref. 19) “É um movimento basicamente da classe mé-
e) “Acariciou-me o rosto e disse que eu estava dia”, afirma.
lindo de uniforme.” (ref. 20) (Disponível em: https://br.noticias.yahoo.com/
blogs/plinio-fraga/consumo-tambem-e-ato-
politico-130126426.html. Acesso em 30/03/2015.)
146
situação dos francesesvésperas da Revolução 4. (UFRGS) No século XV, viu-se a Europa in-
de 1789, quando havia miséria generalizada vadida por uma raça de homens que, vin-
no campo. Na época, a França era de longe o dos ninguém sabe de onde, se espalharam
país mais populoso da Europa: por volta de em bandos por todo o seu território. Gen-
1700, já contava com mais de 20 milhões de te inquieta e andarilha, deles afirmou Paul
habitantes, enquanto o Reino Unido tinha de Saint-Victor que era mais fácil predizer
pouco mais de 8 milhões de pessoas. A 8po- o das nuvens ou dos gafanhotos do que se-
pulação francesa se expandiu em ritmo cres- guir as pegadas da sua invasão. Uns risonhos
cente ao longo do século XVIII, aproximando- despreocupados: passavam a vida esquecidos
-se dos 30 milhões. Tudo leva a crer que esse do passado e descuidados do futuro. Cada
dinamismo demográfico, desconhecido nos novo dia era uma nova aventura em busca
séculos anteriores, contribuiu para a estagna- do escasso alimento para os manter naque-
ção dos salários no campo e para o aumento la jornada. Trajo? No mais completo sujos e
puídos cobriam-lhes os corpos queimados do
dos rendimentos associados à 11propriedade
sol. Nômades, aventureiros, despreocupados
da terra, sendo, portanto, um dos fatores que
– eram os boêmios.
levaram Revolução Francesa. Para evitar que
Assim nasceu a semântica da palavra boê-
torvelinho similar vitimasse o Reino Unido,
mio. O nome gentílico de Boêmia passou a
Malthus argumentou que toda assistência aos aplicar-se ao indivíduo despreocupado, de
15
pobres deveria ser suspensa de imediato e existência irregular, relaxado no vestuário,
a taxa de natalidade deveria ser severamente vivendo ao deus-dará, à toa, na vagabunda-
controlada. gem alegre. Daí também o substantivo bo-
Já David Ricardo, que publicou em 1817 os êmia. Na definição de Antenor Nascentes:
seus Princípios de economia política e tribu- vida despreocupada e alegre, vadiação, es-
tação, preocupava-se com a evolução do pre- túrdia, vagabundagem. Aplicou-se depois o
ço da terra. Se o crescimento da população termo, especializadamente, à vida desorde-
e, consequentemente, da produção agrícola nada e sem preocupações de artistas e escri-
se prolongasse, a terra tenderia a se tornar tores mais dados aos prazeres da noite que
escassa. De acordo com a lei da oferta e da aos trabalhos do dia. Eis um exemplo clássico
procura, o preço do bem escasso – a terra – do que se chama degenerescência semântica.
deveria subir de modo contínuo. No limite, De limpo gentílico – natural ou habitante da
os donos da terra receberiam uma parte cada Boêmia – boêmio acabou carregado de todas
vez mais significativa da renda nacional, e o essas conotações desfavoráveis.
restante da população, uma parte cada vez A respeito do substantivo boêmia, vale dizer
mais reduzida, destruindo o equilíbrio social. que a forma de uso, ao menos no Brasil, é
De fato, o valor da terra permaneceu alto por boemia, acento tônico em -mi-. E é natural
algum tempo, mas, ao longo de século XIX, que assim seja, considerando-se que -ia é
caiu em relaçãooutras formas de riqueza, à sufixo que exprime condição, estado, ocupa-
medida que diminuía o peso da agricultura ção. Conferir: 16alegria, 18anarquia, barbaria,
na renda das nações. Escrevendo nos anos de
17
rebeldia, tropelia, 20pirataria... Penso que
1810, Ricardo não poderia antever a impor- sobretudo palavras como folia e 19orgia de-
tância que o progresso tecnológico e o cresci- vem ter influído na fixação da tonicidade de
mento industrial teriam ao longo das décadas boemia. Notar também o par abstêmio/abs-
temia. Além do mais, a prosódia boêmia es-
seguintes para a evolução da distribuição da
tava prejudicada na origem pelo nome pró-
renda.
prio Boêmia: esses boêmios não são os que
(PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de
Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p. 11-13.)
vivem na Boêmia...
(LUFT, Celso Pedro. Boêmios, Boêmia e boemia. In: O
romance das palavras. São Paulo: Ática, 1996. p. 30-31.)
Assinale a alternativa em que as três pala-
vras possuem um radical que está relaciona- Considere as seguintes afirmações sobre as
do com a noção de “povo”. relações morfológicas que se estabelecem
a) política (ref. 2) – publicou (ref. 5) – popula- com palavras do texto.
ção (ref. 8) I. alegria (ref. 16) e rebeldia (ref. 17) são
b) política (ref. 2) – população (ref. 8) – pobres palavras derivadas de adjetivos, assim
(ref. 15) como valentia.
c) demográfico (ref. 4) – publicou (ref. 5) – po- II. anarquia (ref. 18) e orgia (ref. 19) são
pulação (ref. 8) palavras que, apesar de apresentarem a
d) demográfico (ref. 4) – publicou (ref. 5) – terminação -ia, não derivam de outras
propriedade – (ref. 11) palavras.
e) demográfico (ref. 4) – propriedade (ref. 11) III. pirataria (ref. 20) é palavra derivada de
– pobres (ref. 15) substantivo, assim como chefia.
147
Quais estão corretas? TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
a) Apenas I.
b) Apenas III. “A loucura (...), objeto de meus estudos, era
até agora uma ilha perdida no oceano da ra-
c) Apenas I e II.
zão; começo a suspeitar que é um continente.”
d) Apenas II e III.
(ASSIS, Machado de. O Alienista. In: Obra Completa. Vol.
e) I, II e III. II, Conto e Teatro. Org. por Afrânio Coutinho, 4a ed.
Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1979. p. 260)
5. (Uel) A questão refere-se ao romance O ou-
TEXTO I
tro pé da sereia, de Mia Couto.
A crítica literária tem aproximado o moçam- UM COMEÇO MUITO LOUCO
bicano Mia Couto do brasileiro Guimarães “Ora, a mente é dita sã”, escreveu Erasmo
Rosa, em particular pelo fato de ambos em- em O elogio da loucura (1509), “desde que
pregarem neologismos em suas obras. controle adequadamente todos os órgãos do
No trecho “as mãos calosas, de enxadachim”, corpo”. Embora escrita quase 500 anos atrás
extraído do conto “Fatalidade”, de autoria num tratado em defesa do cristianismo, essa
do autor brasileiro, o neologismo “enxada- frase expressa mais ou menos nossas supo-
chim” é construído pelo mesmo processo de sições modernas sobre a sanidade. Em pri-
formação de palavras utilizado pelo autor meiro lugar, que a sanidade é uma qualidade
moçambicano para a criação de da mente, não do corpo (não descrevemos os
a) vitupérios. corpos das pessoas como sãos ou insanos).
b) bebericava. Em segundo lugar, que é a função da mente
c) tamanhoso. sã controlar o corpo, e portanto que o cor-
d) mudançarinos. po ficaria descontrolado - ou pelo menos
e) malfadado. fazendo coisas proibidas - se não estivesse
sob a égide da mente. Em terceiro lugar, que
o corpo é não só o tipo de objeto que pode
E.O. Dissertativo ser controlado, como também o tipo de ob-
jeto que pode ser adequada ou inadequada-
mente controlado; portanto, o que a mente
sã implica acima de tudo é adequação. E por
1. (FGV) MÃE
fim, mas não menos importante, há um fa-
tor temporal envolvido. Para ter sanidade
Mãe – que adormente este viver dorido.
precisamos de uma mente, e precisamos de
E me vele esta noite de tal frio,
uma mente para controlar um corpo que de
E com as mãos piedosas até o fio
outro modo seria insano, mas a mente é dita
Do meu pobre existir, meio partido...
sã, como dizia Erasmo, apenas “desde que”
Que me leve consigo, adormecido, controle os órgãos do corpo. A sugestão é
Ao passar pelo sítio mais sombrio... que a sanidade é precária, não uma condição
Me banhe e lave a alma lá no rio permanente. A questão passa a ser não só se
Da clara luz do seu olhar querido... a mente sã pode controlar o corpo, mas por
quanto tempo.
Eu dava o meu orgulho de homem – dava (PHILLIPS, Adam. Louco para ser normal.
Minha estéril ciência, sem receio, Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 63)
E em débil criancinha me tornava,
TEXTO II
Descuidada, feliz, dócil também, OS DIFERENTES
Se eu pudesse dormir sobre o teu seio, Descobriu-se na Oceania, mais precisamente
Se tu fosses, querida, a minha mãe! na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo,
(Antero de Quental. Antologia, 1991) que anda de cabeça para baixo e tem vida
organizada.
Analisando os termos empregados no texto, É aparentemente um povo feliz, de cabeça
explique muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo
a) o sentido que assumem os termos “vele” ao contrário, não perde tempo, entretanto,
(primeira estrofe) e “débil” (terceira estro- em refutar a visão normal do mundo. E o que
fe); eles dizem com os pés dá a impressão de se-
b) o processo de derivação do termo destacado rem coisas aladas, cheias de sabedoria.
em “Do meu pobre existir, meio partido...” Uma comissão de cientistas europeus e
(primeira estrofe) e o sentido que o sufixo americanos estuda a linguagem desses ho-
confere ao termo destacado em “E em débil mens e mulheres, não tendo chegado ainda
criancinha me tornava,” (terceira estrofe). a conclusões publicáveis. Alguns professores
148
tentaram imitar esses nativos e foram reco- de água que escorria da altura de uns cinco
lhidos ao hospital da ilha. Os cabecences- palmos. O chão inundava-se. As mulheres
-para-baixo, como foram denominados à fal- precisavam já prender as saias entre as co-
ta de melhor classificação, têm vida longa e xas para não as molhar; via-se-lhes a tosta-
desconhecem a gripe e a depressão. da nudez dos braços e do pescoço, que elas
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa Seleta. despiam, suspendendo o cabelo todo para o
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150) alto do casco; os homens, esses não se pre-
ocupavam em não molhar o pelo, ao contrá-
rio metiam a cabeça bem debaixo da água e
2. (Ufrj) No texto II, identifica-se o povo da esfregavam com força as ventas e as barbas,
ilha de Ossevaolep por um neologismo: cabe- fossando e fungando contra as palmas da
cences-para-baixo. mão.
a) Identifique os processos de formação de pa-
(Aluísio Azevedo. O cortiço.)
lavras utilizados para a criação desse neolo-
gismo.
b) Considerando o conhecimento que os ob- 4. (Ufscar) Há, no texto, palavras derivadas
servadores têm do povo de Ossevaolep, res- por sufixação, como “tumultuosa” e “nu-
ponda: por que se afirma, no texto II, que dez”.
o neologismo foi criado “à falta de melhor a) Dê dois exemplos de palavras derivadas com
classificação”? o sufixo da primeira.
b) Dê mais dois exemplos de palavras derivadas
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO com o sufixo da outra.
O EX- CINECLUBISTA
(João Gilberto Noll)
E.O. UERJ
Aquele homem meio estrábico, ostentando
um mau humor maior do que realmente po- Exame Discursivo
deria dedicar a quem lhe cruzasse o caminho
e que agora entrava no cinema, numa se- 1. (UERJ) DESENCONTRÁRIOS
gunda-feira à tarde, para assistir a um filme
nem tão esperado, a não ser entre pingados Mandei a palavra rimar,
amantes de cinematografias de cantões os ela não me obedeceu.
mais exóticos, aquele homem, sim, sentou- Falou em mar, em céu, em rosa,
-se na sala de espera e chorou, simplesmen- em grego, em silêncio, em prosa.
te isso: chorou. Vieram lhe trazer um copo Parecia fora de si,
d’água logo afastado, alguém sentou-se ao a sílaba silenciosa.
lado e lhe perguntou se não passava bem,
mas ele nada disse, rosnou, passou as nari- Mandei a frase sonhar,
nas pela manga, levantou-se num ímpeto e e ela se foi num labirinto.
assistiu ao melhor filme em muitos meses, Fazer poesia, eu sinto, apenas isso.
só isso. Ao sair do cinema, chovia. Ficou sob Dar ordens a um exército,
a marquise, à espera da estiagem. Tão ab- para conquistar um império extinto.
sorto no filme que se esqueceu de si. E não (PAULO LEMINSKI GÓES, F.; MARINS, A. (Orgs.)
Melhores poemas de Paulo Leminski. São Paulo: Global, 2001.
soube mais voltar.
Considere a formação da palavra “Desencon-
3. (Ufrj) O vocábulo “ex-cineclubista” resulta trários”, título do poema de Paulo Leminski.
da aplicação de quatro processos de forma- Separe seus elementos mórficos. Em segui-
ção de palavras. Identifique-os, valendo-se da, nomeie o primeiro morfema que a com-
de elementos constitutivos desse vocábulo. põe e indique seu significado.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO 2. (UERJ) BRINCAR COM PALAVRAS – NOS JO-
GOS VERBAIS, EXERCÍCIOS DE LITERATURA
Eram cinco horas da manhã e o cortiço acor-
Você sabe o que é um palíndromo?
dava, abrindo, não os olhos, mas a sua infi-
nidade de portas e janelas alinhadas. É uma palavra ou mesmo uma frase que pode
[...] ser lida de frente pra trás e de trás pra frente
Daí a pouco, em volta das bicas era um zun- mantendo o mesmo sentido. Por exemplo, em
zum crescente; uma aglomeração tumultuosa português: “amor” e “Roma”; em espanhol:
de machos e fêmeas. Uns, após outros, lava- “Anita lava la tina”. Ou, então, a frase latina:
vam a cara, incomodamente, debaixo do fio “Sator arepo tenet opera rotas”, que não só
149
pode ser lida de trás pra frente, mas pode ser Observando os parágrafos compreendidos
lida na vertical, na horizontal, de baixo pra entre as perguntas acima, identifique:
cima, de cima pra baixo, girando os olhos em a) a função da linguagem predominante nesses
redor deste quadrado: parágrafos e justifique sua reposta;
SATOR b) o processo de formação de palavras comum
AREPO aos termos OCULTAÇÃO e OCULTISMO e expli-
TENET que a diferença de sentido entre eles.
OPERA
ROTAS 3. (UERJ)
150
falar alto, sem freio nos dentes, sem medir 2. (Unifesp) Casimiro de Abreu pertence à ge-
consideração, seja em compartimento do go- ração dos poetas que morreram prematura-
verno, seja em sala de desembargador. Trato mente, na casa dos vinte anos, como Álvares
as partes no macio, em jeito de moça. Se não de Azevedo e outros, acometidos do “mal”
recebo cortesia de igual porte, abro o peito: byroniano. Sua poesia, reflexo autobiográfi-
– Seu filho da égua, que pensa que é?
co dos transes, imaginários e verídicos, que
Nos currais do Sobradinho, no debaixo do
lhe agitaram a curta existência, centra-se
capotão de meu avô, passei os anos de pe-
em dois temas fundamentais: a saudade e
quenice, que pai e mãe perdi no gosto do
primeiro leite. Como fosse dado a fazer ga- o lirismo amoroso. Graças a tal fundo de ju-
ratujações e desabusado de boca, lá num in- venilidade e timidez, sua poesia saudosista
verno dos antigos, Simeão coçou a cabeça e guarda um não sei quê de infantil.
estipulou que o neto devia ser doutor de lei: (Massaud Moisés. A literatura brasileira
– Esse menino tem todo o sintoma do povo através dos textos, 2004.)
da política. É invencioneiro e 2linguarudo.
Os substantivos do texto derivados pelo mes-
(...)
(CARVALHO, J. C. O coronel e o lobisomem.
mo processo de formação de palavras são:
Rio de Janeiro: José Olympio, 1978.) a) juvenilidade e timidez.
b) geração e byroniano.
Observe as seguintes palavras:
c) reflexo e imaginários.
“lobisomem” (ref. 1)
“linguarudo” (ref. 2) d) prematuramente e autobiográfico.
Identifique o processo de formação de cada e) saudade e infantil.
uma delas, segundo o seu emprego no texto.
3. (Unifesp) O NADA QUE É
151
4. (Unifesp) Examine a tira.
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. (Unicamp) Os textos abaixo foram retirados
da coluna “Caras e bocas”, do Caderno Aliás,
do jornal O Estado de S. Paulo:
“A intenção é salvar o Brasil.” Ana Paula
O efeito de humor na situação apresentada Logulho, professora e entusiasta da segunda
decorre do fato de a personagem, no segun- “Marcha da Família com Deus pela Liber-
do quadrinho, considerar que “carinho” e dade”, que pede uma intervenção militar
“caro” sejam vocábulos no país e pretendeu reeditar, no sábado, a
passeata de 19 de março de 1964, na capi-
a) derivados de um mesmo verbo.
tal paulista, contra o governo do Presidente
b) híbridos.
João Goulart.
c) derivados de vocábulos distintos. “Será um evento esculhambativo em hom-
d) cognatos. enagem ao outro de São Paulo.” José Caldas,
e) formados por composição. organizador da “Marcha com Deus e o Diabo
na Terra do Sol”, convocada pelo Facebook
5. (Unifesp) _________ dois meses, a jornalis- para o mesmo dia, no Rio de Janeiro.
(O Estado de S. Paulo, 23/03/2014, Caderno Aliás, E4. )
ta britânica Rowenna Davis, 25 anos, foi
furtada. Só que não levaram sua carteira ou a) Descreva o processo de formação de palavras
seu carro, mas sua identidade virtual. Um envolvido em “esculhambativo”, apontando o
hacker invadiu e tomou conta de seu e-mail tipo de transformação ocorrida no vocábulo.
e – além de bisbilhotar suas mensagens e b) Discorra sobre a diferença entre as expressões
ter acesso a seus dados bancários – passou a “evento esculhambado” e “evento esculham-
bativo”, considerando as relações de sentido
escrever aos mais de 5 mil contatos de Row-
existentes entre os dois textos acima.
enna dizendo que ela teria sido assaltada em
Madri e pedindo ajuda em dinheiro.
2. (Unicamp) A sobrevivência dos meios de
Quando ela escreveu para seu endereço de e-
comunicação tradicionais demanda foco ab-
mail pedindo ao hacker ao menos sua lista soluto na qualidade de seu conteúdo. A in-
de contatos profissionais de volta, Rowenna ternet é um fenômeno de desintermediação.
teve como resposta a cobrança de R$ 1,4 mil. E que futuro aguardam os meios de comu-
Ela se negou a pagar, a polícia não fez nada. nicação, assim como os partidos políticos e
A jornalista só retomou o controle do e-mail os sindicatos, num mundo desintermediado?
porque um amigo conhecia um funcionário do Só nos resta uma saída: produzir informação
provedor da conta, que desativou o processo de alta qualidade técnica e ética. Ou fazemos
de verificação de senha criado pelo invasor. jornalismo de verdade, fiel à verdade dos
(Galileu, dezembro de 2011.)
fatos, verdadeiramente fiscalizador dos po-
deres públicos e com excelência na presta-
Assinale a alternativa em que, na reescrita ção de serviços, ou seremos descartados por
do trecho, houve alteração da classe gram- um consumidor cada vez mais fascinado pelo
atical da palavra em destaque. aparente autocontrole da informação na
plataforma virtual.
a) ... mas sua identidade virtual. = mas sua (Carlos Alberto di Franco, Democracia demanda
identificação virtual. jornalismo independente. O Estado de S.
b) ... que desativou o processo de verificação Paulo, São Paulo, 14/10/2013, p. A2.)
de senha... = ... o qual desativou o processo
a) “Desintermediação” é um termo técnico do
de verificação de senha... campo da comunicação. Ele se refere ao fato
c) Só que não levaram sua carteira... = Só que de que os meios de comunicação tradicionais
não levaram a carteira dela... não mais detêm o monopólio da produção
d) ... a jornalista britânica Rowenna Davis, 25 e distribuição de mensagens. Considerando
anos, foi furtada. = a britânica Rowenna esse “mundo desintermediado”, identifique
Davis, 25 anos, foi furtada. duas críticas ao jornalismo atual formuladas
e) ... e ter acesso a seus dados bancários... = pelo autor.
... e ter acesso a seus dados do banco... b) Os processos de formação de palavras en-
volvidos no vocábulo “desintermediação”
não ocorrem simultaneamente. Tendo isso
em mente, descreva como ocorre a formação
da palavra “desintermediação”.
152
3. (Unicamp) Os verbetes apresentados em (II) (...)
a seguir trazem significados possíveis para
Mágico sem apetrechos,
algumas palavras que ocorrem no texto inti- civilmente mágico, apelador
tulado Bicho Gramático, apresentado em (I). de precípites prodígios acudindo
I a chamado geral?
Bicho gramático (...)
Vicente Matheus (1908-1997) foi um dos
personagens mais controversos do futebol Ficamos sem saber o que era João
brasileiro. Esteve à frente do paulista Corin- e se João existiu
thians em várias ocasiões entre 1959 e 1990. deve pegar.
(Carlos Drummond de Andrade, em Correio da
Voluntarioso e falastrão, o uso que fazia da Manhã, 22/11/1967, publicado em Rosa, J. G.
língua portuguesa nem sempre era aquele “Sagarana”. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001.)
reconhecido pelos livros. Uma vez, queren-
do deixar bem claro que o craque do Timão 4. (Unicamp) Na segunda estrofe, há dois pro-
não seria vendido ou emprestado para outro cessos muito interessantes de associação de
clube, afirmou que “o Sócrates é invendável palavras. Em “inenarrável/narrada” encon-
e imprestável”. Em outro momento, exal- tramos claramente um processo de deriva-
tando a versatilidade dos atletas, criou uma ção. Em “disfarçar/farçar”, temos a sugestão
pérola da linguística e da zoologia: “Jogador de um processo semelhante, embora “farçar”
tem que ser completo como o pato, que é um não conste dos dicionários modernos.
bicho aquático e gramático”. a) Relacione o significado de “inenarrável” com o
(Adaptado de Revista de História da
processo de sua formação; e o de “farçar”, na
Biblioteca Nacional, jul. 2011, p. 85.)
relação sugerida no poema, com “disfarçar”.
II b) Explique como esses processos contribuem
Invendável: que não se pode vender ou que na construção dos sentidos dessa estrofe.
não se vende com facilidade.
Imprestável: que não tem serventia; inútil. 5. (Fuvest) Leia com atenção o seguinte texto:
Aquático: que vive na água ou à sua superfície. A onipresença do olho mágico da televisão
Gramático: que ou o que apresenta melhor no centro da vida doméstica dos brasileiros,
rendimento nas corridas em pista de grama com o 1poder (imaginário) de tudo mostrar
(diz-se de cavalo). e tudo ver que os espectadores lhe atribuem,
(Dicionário HOUAISS (versão digital on-
line), houaiss.uol.com.br)
vem provocando curiosas alterações nas re-
lações entre o público e o privado. Durante
a) Descreva o processo de formação das pala- pelo menos dois séculos, o bom gosto bur-
vras invendável e imprestável e justifique a guês nos ensinou que algumas coisas não
afirmação segundo a qual o uso que Vicente se dizem, não se mostram e não se fazem
Matheus fazia da língua portuguesa “nem em público. Essas mesmas coisas, até então
sempre era aquele reconhecido pelos livros”. reservadas ao espaço da privacidade, hoje
b) Explique por que o texto destaca que Vicen- ocupam o centro da cena televisiva. Não
te Matheus “criou uma pérola da linguística que o bom gosto burguês deva ser tomado
e da zoologia”. como referência indiscutível da 2ética que
regula a vida em qualquer sociedade. Mas a
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO inversão de padrões que pareciam tão con-
venientemente estabelecidos nos países do
UM CHAMADO JOÃO Ocidente dá o que pensar. No mínimo, po-
demos concluir que a burguesia do terceiro
João era fabulista?
milênio já não é a mesma que ditou o bom
fabuloso?
comportamento dos dois séculos passados.
fábula?
Sertão místico disparando No máximo, supõe-se que os fundamentos
no exílio da linguagem comum? do contrato que ordenava a vida social en-
tre os séculos XIX e XX estão profundamente
Projetava na gravatinha abalados, e já vivemos, sem nos dar conta,
a quinta face das coisas em uma sociedade pós-burguesa, num sen-
inenarrável narrada? tido semelhante ao do que chamamos uma
Um estranho chamado João sociedade pós-moderna.
para disfarçar, para farçar Maria R. Kehl, in Bucci e Kehl, Videologias:
o que não ousamos compreender? ensaios sobre televisão.
153
a) O que a autora do texto quer dizer, quando 4.
se refere ao “poder de tudo mostrar e tudo a) amorosa, horrorosa, cremosa, leitosa.
ver” (ref.1), atribuído à televisão, como b) aridez, timidez, surdez, altivez .
“imaginário”?
b) Indique a palavra do primeiro período que
tem o mesmo significado do prefixo que en- E.O. UERJ
tra na formação da palavra “onipresença”.
c) Indique uma palavra ou expressão do texto Exame Discursivo
1.
A palavra “desencontrários” é formada
que corresponda ao sentido da palavra “éti-
por derivação, processo através do qual de
ca” (ref.2).
uma palavra se formam outras, por meio
da agregação de certos elementos que lhe
alteram o sentido, mas sempre se referin-
Gabarito do ao valor semântico da palavra primiti-
va. Assim, há duas possibilidades para a
formação da palavra em questão, conside-
E.O. Aprendizagem rando o radical, prefixos e sufixos e desi-
1. D 2. B 3. A 4. A 5. E nências flexionais: des+en+contr+ ário+s;
des+en+contr+ari+o+s. “Des” é um prefixo
6. C 7. D 8. B 9. A 10. E que indica negação.
2.
a) Função metalinguística.
E.O. Fixação Uma dentre as justificativas:
– Os parágrafos explicam os significados
1. D 2. B 3. C 4. E 5. D
das palavras.
6. C 7. A 8. B 9. A 10. C – Os parágrafos contêm definição de pa-
lavras por outras palavras.
154
dos fatos, verdadeiramente fiscalizadora dizer o indizível, fazendo com que o mis-
dos poderes públicos e com excelência na tério do “que não ousamos compreender”
prestação de serviços, comentário em que permaneça vivo em sua literatura.
se subentende que na era da frugalidade b) Na segunda estrofe, a ideia pretendida é
virtual, nem todo jornalista produz infor- a de que João consegue realizar o impos-
mações com alto teor ético e de qualidade. sível. O processo de derivar um vocábulo
O autor alerta que para os dias atuais, a de outro “inexistente”, que se observa
única maneira do jornalismo sobreviver à nos pares inenarrável/enarrável e disfar-
internet é primando pela fidelidade da in- çar/farçar, mostra o poder que o ficcio-
formação e dos fatos, a fim de prestar um nista tem de realizar o “irrealizável”.
serviço confiável e essencial à sociedade. 5.
b) O prefixo – des tem o sentido de nega- a) O uso dos parênteses destaca o termo “ima-
ção, de ação contrária. O também prefixo ginário” no contexto da frase, para enfati-
-inter tem o sentido de entre. O radical zar que a televisão produz o efeito ilusório
é -mediar. O sufixo -ção é utilizado para de que as imagens transmitidas ao especta-
formar um substantivo a partir de um dor passivo representam a realidade.
verbo. Sendo assim, o processo de forma- b) O prefixo “oni” significa “tudo”, termo
ção é de dois prefixos + radical + sufixo, que é repetido na frase “tudo mostrar e
para a criação do neologismo. tudo ver”.
3. c) Define-se ética como o conjunto de prin-
a) Tanto o termo “invendável” quanto “im- cípios, normas e regras que visem a um
prestável” apresenta o prefixo “in” que comportamento moral exemplar, o que é
agrega valor significativo de negação aos sugerido na expressão “bom comporta-
adjetivos vendável e prestável. Vicente mento”.
Matheus queria dizer que Sócrates não
era passível de ser emprestável, ou seja,
seria “inemprestável”, mas usou inad-
equadamente o termo “imprestável” que
significa inútil, que não tem serventia.
b) O termo “pérola” designa popular e ironi-
camente um dito ou um fato um tanto ou
quanto tolo, quer pelo conteúdo, quer
pela forma como é dito. Ao usar o termo
“aquático”, Vicente Matheus associou um
jogador de futebol a um animal anfíbio
(“pérola da zoologia”), além de lhe con-
ferir características de filólogo, pela rela-
ção quase imediata da palavra “gramáti-
co” com o estudioso da língua (“pérola da
linguística”).
4.
a) No primeiro caso, a palavra “inenarrável”
significa “o que não pode ser narrado”.
A ideia de negação está no prefixo “in-”
(derivação prefixal). Porém, o elemento
ao qual se junta o prefixo é o adjetivo
“enarrável”, que os dicionários, na sua
maioria, não costumam registrar. A pala-
vra geralmente usada é “narrável”, o que
resulta em “inarrável”. Isso ocorre por
haver dois verbos, “narrar” e “enarrar”,
com o mesmo sentido.
No segundo caso, como o significado de
“disfarçar” é “encobrir”, “ocultar”, “ta-
par”, o vocábulo primitivo do qual ele
seria formado, por processo de derivação
prefixal, seria “farçar”, que tem como
significado oposto “revelar”, “manifes-
tar”. Mas essa velação não é absoluta, já
que a semelhança sonora entre “farçar”
e “farsa” sugeriria que João é capaz de
155
Aulas
9 e 10
Artigo, substantivo e adjetivo
Competências 1, 5 e 8
Habilidades 1, 2, 3, 4, 17, 26 e 27
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras
culturas e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da
identidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e
da própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante
a natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da
realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O artigo
O artigo é a palavra que se antepõe a um substantivo (é um marcador pré-nominal), com a função inicial de
determiná-lo, ou indeterminá-lo. São classificados em dois grupos: definidos e indefinidos
§§ Artigos definidos: determinam o substantivo de maneira precisa. São eles: o(s), a(s)
Exemplo: Preciso que você me traga a cadeira branca.
(o artigo definido marca a necessidade de se pegar uma cadeira determinada).
§§ Artigos indefinidos: determinam o substantivo de maneira vaga/imprecisa. São eles: um (uns), uma(s)
Exemplo: Preciso que você me traga uma cadeira branca.
(o artigo indefinido marca a necessidade de se pegar uma cadeira qualquer, indeterminada).
Artigo
Preposições
o, os à, às * um, uns uma, umas
a ao, aos à, às * --- ---
de do, dos da, das dum, duns duma, dumas
em no, nos na, nas num, nuns numa, numas
por pelo, pelos pela, pelas --- ---
* A junção de “A” preposição + “A” artigo é o que dá origem ao fenômeno da Crase, que será discutido em momento oportuno.
159
Artigo como marcador de convívio/intimidade
A presença ou ausência do artigo pode servir como algo que marca certos afetos em relação aos indivíduos.
Exemplos:
A gerência será assumida por Gerson Soares, do almoxarifado (a ausência de artigo indica distanciamento
de Gerson, marcando o fato de que, possivelmente, nem todos o conhecem).
A gerência será assumida pelo Gerson Soares, do almoxarifado (a presença de artigo indica intimidade com
Gerson, podendo marcar uma conversa entre pessoas que conhecem o Gerson).
Foi localizado um jovem serial killer que havia fugido da cadeia (o artigo indefinido nos transmite a ideia de
que a fuga do jovem era novidade para os leitores; ou seja, o substantivo era desconhecido).
Garfield é o gato (O artigo definido marca a ideia de que Garfield é um gato especial em relação a outros
gatos; ou seja, particulariza e destaca o substantivo).
No exemplo apresentado, constatamos que quando precisamos introduzir uma informação que nosso in-
terlocutor desconhece, nos valemos primeiro de um artigo indefinido, e depois de apresentado o substantivo (no
caso, o rapaz) começamos a demarcá-lo a partir do artigo definido. Há também outra possibilidade de organização:
Exemplos:
– Então, como é o sítio?
– Bem, é um sítio antigo, retiramos a água do poço, mas é bastante tranquilo...
Nesse segundo exemplo, a coerência textual é definida quando é apresentado um substantivo definido que
nosso interlocutor conhece. Para satisfazer a demanda de explicação, o interlocutor abre sua explicação marcando
o substantivo com artigo indefinido.
160
Substantivo e adjetivo
Nessa aula estudaremos duas classes de palavras que estabelecem relações definitivas para o entendimento futuro
dos processos sintáticos. São elas o substantivo e o adjetivo.
Substantivo
É a classe de palavras variável que dá nome aos seres, objetos e coisas em geral.
Classificação
§§ Próprios: nomeiam a totalidade dos seres de uma espécie (designação genérica) ou o indivíduo único de
determinada designação específica. Ex: Paulo / Pedro / Roma / Folha de S.Paulo.
§§ Comuns: nomeiam, sem distinção, todo e qualquer ser de uma espécie. Ex: cadeira / porta / sala.
§§ Concretos: nomeiam os seres de existência concreta, real, palpável (a pedra ou a porta, por exemplo) e
também seres dos quais já se constituiu uma imagem histórica (a bruxa ou a fada, por exemplo).
§§ Abstratos: nomeiam sentimentos/sensações, elementos não palpáveis. Ex: maldade / compaixão / beijo.
Flexões de substantivos
Número
Os substantivos podem se flexionar por número, indicando quantidades de certos termos/elementos. Existe, a prin-
cípio, uma regra geral, e também algumas variantes que são apresentadas a seguir:
§§ Regra geral: o plural dos substantivos terminados em vogal ou ditongo exige o acréscimo do sufixo mar-
cador de plural “-s”:
Exemplos: cadeira > cadeiras / mãe > mães / perna > pernas
161
Gênero
Os substantivos podem se flexionar também por gênero, indicando quantidades de certos termos/elementos. Tam-
bém existe uma regra geral e algumas variantes a serem observadas:
§§ Regra geral: o feminino dos substantivos é formado pela substituição da desinência “-o” (masculino)
pela desinência “-a” (feminino). São conhecidos como substantivos biformes, pois possuem duas formas
diferentes para designação de gênero:
Exemplos: menino > menina / garoto > garota
Observação:
Caso haja necessidade de especificar o sexo do animal, juntam-se aos substantivos os adjetivos
macho ou fêmea:
Exemplos: gavião macho - gavião fêmea; tatu macho - tatu fêmea
2. Comum de dois: a marcação de gênero é feita exclusivamente pelos artigos. O substantivo se mantém:
Exemplos: o agente > a agente
o gerente > a gerente
3. Sobrecomuns: designam ambos os sexos com forma masculina ou feminina:
Exemplos: a criança / a testemunha / a vítima
4. Flexão de grau: Os substantivos se flexionam por grau, e marcam aumento ou diminuição:
Grau normal: homem, boca
Grau aumentativo: homenzarrão, bocarra
Grau diminutivo: homenzinho, boquinha
Grau diminutivo / aumentativo sintético: chapeuzinho, chapelão, homúnculo / homenzarrão, bo-
quinha / bocarra
Grau diminutivo / aumentativo analítico: junta-lhe um adjetivo que indique aumento ou diminui-
ção: boca grande, homem pequeno
Adjetivo
É a palavra que acompanha e modifica o substantivo, podendo caracterizá-lo ou qualificá-lo.
162
Adjetivos pátrios e gentílicos
§§ Derivados de substantivos, os adjetivos que indicam a nacionalidade de pessoas e coisas são chamados
pátrios: brasileiro, mineiro, paranaense, paulista, português.
§§ Os que indicam etnias e povos são os adjetivos gentílicos: israelita, semita, gaúcho, carioca, potiguar, euro-
peu, africano, etc.
Flexão do adjetivo
§§ Número: o adjetivo toma a forma singular ou plural do substantivo que ele determina:
Exemplos: aluno estudioso > alunos estudiosos
aluna aplicada > alunas aplicadas
perfume francês > perfumes franceses
§§ Plural dos adjetivos compostos: apenas o último elemento vai para o plural:
Exemplos: clínicas médico-dentárias
institutos ítalo-brasileiros
Observação 1:
Há uma exceção: surdo-mudo > surdos-mudos
Observação 2:
São invariáveis os adjetivos referentes a cores, se o último elemento ou ambos forem substantivos:
blusas vermelho-sangue, vestidos cor de rosa, blusas verde-limão
2. Superlativo:
Pode indicar determinada qualidade em grau elevado (superlativo absoluto):
Exemplos: Pedro é inteligentíssimo.
Rodrigo é muito inteligente.
Pode indicar determinada qualidade em grau mais ou menos elevado em comparação à totalidade dos seres
(superlativo relativo):
Exemplos: João é o aluno mais estudioso da classe. (superlativo relativo de superioridade)
João é o aluno menos estudioso da classe. (superlativo relativo de inferioridade)
163
Substantivos e adjetivos aplicados ao texto
Tanto os substantivos quanto os adjetivos têm importantíssimas aplicações textuais, que serão exploradas em
gêneros textuais variados. Vejamos como funcionam:
Substantivo e texto
A construção de um texto depende essencialmente dos substantivos, pois é deles que parte o processo de referen-
cialidade. Entende-se por referencialidade a capacidade que os substantivos têm de apontar para os elementos
do mundo que compõem sentido, e também de fazer com que esses sentidos sejam construídos à medida que
novos substantivos apareçam no texto. O movimento de referencialidade parte de 3 pressupostos importantes:
§§ Introdução / construção: apresenta um substantivo no texto, não apenas o introduz, como constitui uma
ideia. É a partir desse substantivo que o texto se constrói.
§§ Retomada / manutenção: usam-se outros substantivos muito similares ao primeiro, que permitem reto-
mar a ideia inicialmente apresentada (o que contribui para a manutenção de sentido)
§§ Desfocalização: é o momento do texto em que entram em cena novos substantivos que tomam o foco
para si e ampliam os sentidos do texto.
Adjetivo e texto
Os adjetivos exercem o importante papel de conduzir os processos descritivos de um texto. Em termos mais claros,
os adjetivos são responsáveis por compor sentenças que, por exemplo, caracterizem os personagens de uma narra-
tiva (suas roupas, atitudes) ou que apresentem detalhes a respeito de uma localização (detalhes de uma cidade, ou
ambiente florestal), entre outras caracterizações. Em textos literários brasileiros do período romântico, por exemplo,
havia a necessidade de se evidenciar características que valorizassem a nação, por esse motivo encontramos obras
em que há grandes processos de adjetivação, caracterizando o ambiente brasileiro (o livro Iracema, de José de
Alencar, é um grande exemplo).
164
INTERATIVIDADE
LER
166
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Vanessa Teixeira, aluna do curso de letras da UERJ, produziu uma crônica acerca das múltiplas funções do adjetivo.
Acabo de inventar um movimento novo de libertação. Resolvi libertar a classe de palavras mais injustiçada da língua portu-
guesa, os adjetivos. Não apenas por esse motivo, mas também porque eles são os seres mais bipolares da nossa gramática.
Os adjetivos são tão bipolares que, se não modificarem o substantivo, mudam de classe, como no caso:
“Esse homem está doente” e “O doente foi atendido pelo médico”. Na primeira frase, a palavra “doente” funciona
como adjetivo, porque modifica o substantivo “homem”; na segunda, como substantivo, pois não muda ninguém,
apenas designa o ser sobre o qual queremos falar. Outro exemplo são as frases “O menino rápido comeu seu lan-
che” e “O menino comeu rápido seu lanche”. Na primeira, “rápido” é adjetivo porque atribui uma característica ao
menino citado; já na segunda frase, a palavra desempenha o papel de advérbio porque, nessa sentença, “rápido”
não está se relacionando com o substantivo “menino” e sim expressando o modo como ele comeu. O adjetivo
muda tanto que, além de mudar o substantivo, ele pode modificar seu próprio sentido – dependendo da posição
que ocupa: a expressão “uma menina pobre”, por exemplo, tem o sentido diferente da expressão “uma pobre
menina”, mesmo sendo ambas compostas pelas mesmas palavras.
Segundo as gramáticas tradicionais, a definição de adjetivo é “palavra que modifica o substantivo, atri-
buindo-lhe uma característica”. Vendo dessa forma, ele parece apenas um figurante, que serve de apoio para o
protagonista que “designa os seres em geral”. Mas será que ele é somente um acessório?
O parceiro do adjetivo é o substantivo, classe que tem sua própria independência. Substantivos têm seu
sentido completo, adjetivos precisam dos nomes com que irão se relacionar. Porém, não são apenas enfeites, pois
afinal são os termos que dão a personalidade de tudo que existe no mundo.
Se a primeira coisa que fizemos foi nomear as coisas, a segunda, com certeza, foi caracterizá-las. Se
os substantivos nos permitem categorizar e organizar o mundo, os adjetivos nos permitem especificar esse
mundo no qual vivemos. Eles também nos possibilitam esclarecer qual a posição em que nos colocamos ao
construir uma sentença e qual é a nossa intenção ao expressá-la. Falar “A menina viu o menino” é bem dife-
rente de “A menina insensível viu o menino triste”. Isso ocorre porque os adjetivos nos permitem demonstrar
qual é a nossa visão ao analisarmos uma pessoa ou situação.
Outro recurso que também nos ajuda no processo de posicionamento é a capacidade que essa classe de
palavras tem de comparar dois seres ou ressaltar uma qualidade: assim como o comparativo dos substantivos, o su-
perlativo dos adjetivos nos ajuda a individualizar o nome, apresentando características que somente eles possuem
ou que eles têm em maior quantidade do que resto do grupo.
De modo geral, os adjetivos não qualificam apenas os nomes, eles transformam a regra em exceção, ou
seja, transformam um simples “mais um” em algo único no mundo. Isso porque todos somos categorizados como
objetos ou seres, homens ou animais, machos ou fêmeas; mas cada um de nós possui características que nos dife-
renciam do resto, aquelas que ninguém mais tem e que nos fazem ser exatamente quem somos.
Disponível em: http://blogclaudiocezarhenriques.blogspot.com.br/2011/11/cronica-09.html
167
INTERDISCIPLINARIDADE
Canção: Esse cara (Caetano Veloso) Canção: O nome das coisas (Karnak)
A canção, em seu refrão, recorre às propriedades se- A canção é composta por substantivos de diferentes
mânticas do emprego dos artigos: “Ele é o homem naturezas.
Eu sou apenas uma mulher”. Nomes se dão às coisas
Nomes se dão
ESSE CARA Nomes se dão às pessoas
Nomes se dão
Ah! Que esse cara tem me consumido
Nomes se dão aos deuses na imensidão do céu
A mim e a tudo que eu quis
Nomes se dão aos barquinhos na imensidão do mar
Com seus olhinhos infantis Nomes se dão às doenças na imensidão da dor
Como os olhos de um bandido Nomes se dão às crianças na imensidão do amor
Ele está na minha vida porque quer You and me
Eu estou pra o que der e vier
Ele chega ao anoitecer Salame
Quando vem a madrugada ele some Batata
Ele é quem quer Barata
Bigorna
Ele é o homem
Casa
Eu sou apenas uma mulher
Comida
Bicho
Paçoca
Tampinha de caneta
Bolinha de sabão
Rabo de galo
Circo
Pão
Conchinha de galinha
Coxinha do mar
Linha
Palito
Terra
Água
Ar
Seriema
Tatu
Merthiolate
Saci
Rocambole de laranja
Revista
168
Gibi Arame
Pipoca Hepatite
Margarina Fax-símile
Lentilha Chocalho
Leitão Geleia
Carrinho de feira Biga
Terremoto Mocreia
Furacão Apolo
Centopéia Nostradamus
Isqueiro Filarmônica
Cefaleia Marisa
Blefarite Biriba
Cimento Pelé
Colar Afrodite
Risole José
Rinite Filho
Armário Veleiro
Geladeira Alá
Furadeira Deus
Cobertor Salomão
Ladeira Peixe
Pedreira Pão
Fogueira
Extintor
Jeton
Bazuca
Suporte
Argamassa
Fio de nylon
Lamparina
Chocolate
Queratina
Juliana
Cadarço
Picareta
Beija-flor
Convidados
Esfiha
Chupeta
Fruta-cor
Trompete
169
E.O. Aprendizagem 2. (Ufrgs) A notícia saiu no The Wall Street Jour-
nal: a "ansiedade 1superou a depressão como
problema 2de saúde mental predominante nos
EUA". Para justificar o absurdo, o autor da
1. (IFAL) 77% dos pais americanos culpam o matéria recorre a 3um psicoterapeuta e a um
videogame por expor os filhos à violência 4
sociólogo. O primeiro descreve "ansiedade
Será que videogames tornam as crianças como 5condição dos privilegiados" que, livres
mais agressivas? Com certeza, você já ouviu de ameaças reais, se dão ao luxo de "olhar para
essa questão por aí. Afinal, a polêmica exis- dentro" e criar medos irracionais; o segundo
te há muito tempo. 2Por enquanto, a ciên- diz que "vivemos na era mais segura da huma-
nidade" e, no entanto, "desperdiçamos bilhões
cia não tem uma resposta definitiva sobre
de dólares 6em medos bem mais ampliados do
o tema. 3Estudos recentes apontam que eles que seria 7justificável". Sem meias palavras,
não podem ser culpados pela violência in- 8
os peritos dizem algo mais ou menos assim:
fantil. 4Já outros afirmam que eles alteram a os americanos estão nadando em 9riqueza e,
atividade cerebral e deixam as pessoas mais como não têm do que se queixar, adquiriram
insensíveis. o costume neurótico 10de 11desentocar medos
Mas, segundo uma pesquisa realizada pela
12
irracionais para projetá-los no 13admirável
Common Sense Media e divulgada nesta sema- mundo novo ao redor.
A explicação impressiona pela ingenuida-
na, os pais americanos não têm dúvidas: 77%
de ou pela má-fé. Ninguém contrai o 14"Mau
deles culpam jogos, filmes e a TV por man- hábito" 15de olhar para 16dentro de si do dia
ter uma cultura de violência entre as crian- para a noite. A obsessão consigo não é um
ças. Os dados mostram também que os pais efeito colateral 17do modo de vida atual; é um
aprovam medidas mais rigorosas para manter dos seus mais 18indispensáveis ingredientes.
os filhos longe de conteúdos violentos: 688% O crescimento exagerado do interesse pelo
acreditam que anúncios violentos não deve- "mundo interno" e pelo 19corpo é a 20contra-
riam ser veiculados durante programas com partida do desinteresse ou hostilidade pelo
"mundo externo" e pelos outros. Diz o 21ca-
grande audiência infantil e 91% apoiam que
tecismo: só confie em seu corpo e sua mente.
só possam ser exibidos trailers com a mesma 22
O resto é 23concorrente; o resto está sempre
classificação indicativa do filme. cobiçando e disputando seu emprego, seu
“Os pais estão claramente preocupados com sucesso, seu patrimônio e sua saúde. Sentir
o impacto que a violência na mídia pode ter medo e ansiedade, em condições semelhan-
em suas crianças”, diz 7James Steyer, criador tes, é um estado emocional perfeitamente ra-
e CEO da empresa responsável pela pesquisa. cional e inteligível.
Em bom português, sentir-se condenado a
Além dos jogos de videogame, outras pre- 24
jamais ter repouso físico ou 25mental, sob
ocupações dos pais são o bullying (92%) o pena de perder a saúde, a 26longevidade, a
acesso a armas (75%) e os níveis atuais de forma física, o desempenho 27sexual, o em-
crime (86%). prego, a casa, a segurança na velhice, pode ser
E você, o que acha desse assunto? um inferno em vida para os pobres ou para os
(Disponível em: http://super.abril.com.br/blogs/ ricos. Os 28candidatos à ansiedade são, assim,
superblog/ 77-dos-pais-americanos-culpam-o-videogame- bem mais numerosos e bem menos ociosos do
por-expor-os-filhos-a-violencia. Acesso em: 16/01/2017.) que pensam o 29psicoterapeuta e o sociólogo.
Considere as seguintes afirmações acerca do
As palavras em destaque estão com função uso de artigos.
de substantivos ou adjetivos, exceto na al- I. Caso tivéssemos "uma condição" em vez
ternativa de "condição" (ref. 5) haveria alteração
a) Por enquanto, a ciência não tem uma res- no sentido global da frase
II. O artigo indefinido "uns" poderia subs-
posta definitiva sobre o tema. (ref. 2)
tituir o definido (ref. 8) "os", sem que
b) Estudos recentes apontam que eles não houvesse alteração no sentido da frase
podem ser culpados pela violência infantil. em questão.
(ref. 3) III. As duas ocorrências do artigo definido
c) Já outros afirmam que eles alteram a ati- "o" anteposto às palavras "psicoterapeu-
vidade cerebral e deixam as pessoas mais ta" e "sociólogo" (ref. 29) poderiam ser
substituídas por um indefinido sem mu-
insensíveis. (ref. 4) dar o sentido da frase.
d) 88% acreditam que anúncios violentos não Quais estão corretas?
deveriam ser veiculados durante programas a) Apenas I.
com grande audiência infantil (ref. 6). b) Apenas II.
e) James Steyer, criador e CEO da empresa res- c) Apenas I e III.
d) Apenas II e III.
ponsável pela pesquisa. (ref. 7)
e) I, II e III.
170
3. (IFAL) tem, porém o melhor fruto que nela se pode
Paraí-ba (Céceu) fazer me parece que será salvar esta gente e
Pê – a – pá esta deve ser a principal semente que vossa
Erre – a – ra – í alteza em ela deve lançar.
Bê – a – bá
Paraíba O trecho apresentado é preponderantemente
descritivo. A classe de palavras que apare-
Paraíba do norte, do caboclo forte
ce associada a esse tipo textual é o adjetivo.
Do homem disposto esperando chover
São exemplos de palavras dessa classe, no
Da gente que canta com água nos olhos
texto, as seguintes:
Chorando e sorrindo, querendo viver a) ...porém a terra em si é de muito bons ares...
Do sertão torrado, do gado magrinho b) Águas são muitas e infindas.
Do açude sequinho, do céu tão azul c) ...dar-se-á nela tudo por bem das águas que
Do velho sentado num banquinho velho tem...
Comendo com gosto um prato de angu d) ...o melhor fruto que nela se pode fazer me
Acende o cachimbo, dá uma tragada parece que será salvar esta gente...
Não sabe de nada da vida do sul e) ...esta deve ser a principal semente que vos-
Pê – a – pá sa alteza em ela deve lançar.
Erre – a - ra – í
Bê – a – bá
Paraíba 5. (UEG) CELULARES EXPLOSIVOS, IDEIAS NEM
Paraíba do norte que tem seu progresso TANTO
Que manda sucesso pra todo país
Sou uma nulidade no uso do celular. Mal co-
Que sente a presença da mãe natureza
nheço a senha para tirar as mensagens lá de
Que vê a riqueza nascer da raiz
Que acredita em Deus, também no pecado dentro e, pelo que vejo, meu aparelho é forte
Que faz do roçado a sua oração candidato a uma dessas explosões que têm
E ainda confia no seu semelhante acontecido ultimamente.
E vai sempre avante em busca do pão Pinóquio não primava pela responsabilidade
O pão que é nosso, que garante a vida nos compromissos assumidos, mas seu Grilo
Terrinha querida do meu coração Falante, de cartola e guarda-chuva, conhecia
Pê – a – pá as virtudes da polidez e da adequação. Não
Erre – a – ra – í tomava a palavra antes de um minúsculo pi-
Bê – a – bá garro de advertência.
Paraíba Inseto mutante, o celular está para o grilo de
(Ramalho, Zé. Duetos. BMG. São Paulo, 2004. CD-ROM.) Pinóquio um pouco como a guitarra elétrica
para o antigo violão. Adota os tons mais es-
Na frase: Do velho sentado num banquinho tridentes, descabelados e imperativos, a que
velho, observa-se: as pessoas obedecem numa coreografia alu-
a) Nas duas vezes em que a palavra VELHO apa- cinada. A pose mais estudada da grã-fina se
rece, ela tem a função de substantivo. estilhaça em aflição e pânico enquanto ela
b) Nas duas vezes em que a palavra VELHO apa- remexe na bolsa à procura do aparelho; o ta-
rece, ela tem a função de adjetivo. xista mais inerte e distraído pula ao menor
c) Primeiramente, VELHO tem a função de subs- toque, como se tivesse uma aranha dentro do
tantivo; depois, tem a função de adjetivo. carro. E nem se sabia que aquilo era carrega-
d) Primeiramente, VELHO tem a função de adje- do de dinamite.
tivo; depois, tem a função substantivo. (COELHO, M. Folha de S. Paulo., São Paulo,
e) No texto, nas duas vezes em que a palavra 10 maio 2006, p. E 10. Ilustrada.)
VELHO aparece não assume nem a função de
adjetivo, nem de substantivo. No texto, o artigo definido pode ser identifi-
cado em todas as orações a seguir, EXCETO em:
4. (IFSP) Esse texto do século XVI reflete um a) “Não tomava a palavra”
momento de expansão portuguesa por vias b) “Mal conheço a senha”
marítimas, o que demandava a apropriação c) “é forte candidato a uma dessas explosões”
de alguns gêneros discursivos, dentre os d) “ela remexe na bolsa à procura do aparelho”
quais a carta. Um exemplo dessa produção é
a Carta de Caminha a D. Manuel. Considere a TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
seguinte parte dessa carta:
Nela [na terra] até agora não pudemos saber Esparadrapo
que haja ouro nem prata... porém a terra em
si é de muito bons ares assim frios e tem- Aquele restaurante de bairro é do tipo sim-
perados como os de Entre-Doiro-e-Minho. patia/classe média. Fica em rua sossegada, é
Águas são muitas e infindas. E em tal ma- pequeno, limpo, cores repousantes, comida
neira é graciosa que querendo-a aproveitar, razoável, preços idem, não tem música de
dar-se-á nela tudo por bem das águas que triturar os ouvidos. O dono senta-se à mesa
171
da gente, para bater um papo leve, sem in- Ameaçaram, pintaram e bordaram. Foi muito
timidades. desagradável.
Meu relógio parou. Pergunto-lhe quantas ho- — E afinal?
ras são. — Cansei de explicar a eles que não havia co-
— Estou sem relógio. fre, nunca houve, como é que eu podia inven-
— Então vou perguntar ao garçom. tar cofre naquela hora?
Ele também está sem relógio. — Ficaram decepcionados, imagino.
— E o colega dele, que serve aquela mesa? — Não senhor. Disseram que tinha de haver
— Ninguém está com relógio nesta casa. cofre. Eram cinco, inclusive a moça de bota
— Curioso. É moda nova? e revólver, querendo me convencer que tinha
— Antes de responder, e se o senhor permi- cofre escondido na parede, no teto, embaixo
te, vou lhe fazer, não propriamente um pedi- do piso, sei lá.
do, mas uma sugestão. — E o resultado?
— Pois não. — Este — e baixou a cabeça, onde, no cocuru-
— Não precisa trazer relógio, quando vier to, alvejava a estrela de esparadrapo.
jantar. — Oh! Sinto muito. Não tinha notado. Feliz-
— Não entendo. mente escapou, é o que vale. Dê graças a Deus
— Estamos sugerindo aos nossos fregueses por estar vivo.
que façam este pequeno sacrifício. — Já sei. Sabe que mais? Na polícia me per-
— Mas o senhor podia explicar... guntaram se eu tinha seguro contra roubo. E
— Sem querer meter o nariz no que não é da eu pensando que meu seguro fosse a polícia.
minha conta, gostaria também que trouxesse Agora estou me segurando à minha maneira,
pouco dinheiro, ou antes, nenhum. deixando as coisas lá em casa e convidando os
— Agora é que não estou pegando mesmo fregueses a fazer o mesmo. E vou comprar um
nada. cofre. Cofre pequeno, mas cofre.
— Coma o que quiser, depois mandamos re- — Para que, se não vai guardar dinheiro nele?
ceber em sua casa. — Para mostrar minha boa-fé, se eles volta-
— Bem, eu moro ali adiante, mas e outros, rem. Abro imediatamente o cofre, e verão que
os que nem se sabe onde moram, ou estão de não estou escondendo nada. Que lhe parece?
passagem na cidade? — Que talvez o senhor precise manter um
— Dá-se um jeito. estoque de esparadrapo em seu restaurante.
— Quer dizer que nem relógio nem dinhei- ANDRADE, Carlos Drummond de. Esparadrapo. In Para
ro? gostar de ler. v. 3. Crônicas. São Paulo: Ática, 1978.
— Nem joias. Estamos pedindo às senhoras
que não venham de joia. É o mais difícil, mas 6. (G1 – ifsc) Assinale a alternativa cuja palavra
algumas estão atendendo. poderia substituir de maneira CORRETA o ad-
— Hum, agora já sei. jetivo – “obtuso” (ref. 6), sem que houvesse
— Pois é. Isso mesmo. O amigo compreen- alteração considerável no sentido da frase.
de... a) teimoso
— Compreendo perfeitamente. b) apressado
Desculpa ter custado um pouco a entrar na c) insensível
jogada. Sou meio 6obtuso quando estou com d) agressivo
fome. e) estúpido
— Absolutamente. Até que o amigo com-
preendeu sem que eu precisasse dizer tudo. 7. (ESPCEX) Assinale a única opção em que a
Muito bem. palavra “a” é artigo.
— Mas me diga uma coisa. Quando foi isso? a) Hoje, ele veio a falar comigo.
— Quarta-feira passada. b) Essa caneta não é a que te emprestei.
— E como foi, pode-se saber? c) Convenci-a com poucas palavras.
d) Obrigou-me a arcar com mais despesas.
— Como podia ser? Como nos outros lugares,
no mesmo figurino. Só que em ponto menor. e) Marquei-te a fronte, mísero poeta.
— Lógico, sua casa é pequena. Mas levaram
o quê? 8. (UFRRJ)Mãos dadas
— O que havia na caixa, pouquinha coisa. 1ª estrofe
Eram 9 da noite, dia meio parado. Não serei o poeta de um mundo caduco.
— Que mais? Também não cantarei o mundo futuro.
— Umas coisinhas, liquidificador, relógio de Estou preso à vida e olho meus companheiros.
pulso, meu, dos empregados e dos fregueses. Estão taciturnos mas nutrem grandes espe-
— An. (Passei a mão no pulso, instintiva- ranças.
mente.) Entre eles, considero a enorme realidade.
— O pior foi o cofre. O presente é tão grande, não nos afastemos.
— Abriram o cofre? Não nos afastemos muito, vamos de mãos da-
— Reviraram tudo, à procura do cofre. das.
172
2ª estrofe figuram anualmente na lista de vencedores
Não serei o cantor de uma mulher, de uma da competição desde 2006, quando o primei-
história, ro e o segundo lugares da classe “regular”
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisa- ficaram, respectivamente, com as equipes
gem vista da janela, Uai-So-Fly, da Universidade Federal de Mi-
não distribuirei entorpecentes ou cartas de nas Gerais (UFMG), e Tucano, da Universida-
suicida. de Federal de Uberlândia (UFU). Pouco an-
Não fugirei para as ilhas nem serei raptado tes, em 2004, o grupo CEAV-UAV, também da
por serafins. UFMG, havia conquistado o vice-campeona-
O tempo é a minha matéria, o tempo presen- to. Nessa categoria, os participantes devem
te, os homens presentes, a vida presente. construir aeronaves com dimensões totais
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Reunião. Rio
de Janeiro: J. Olympio, 1974. p. 55.) de, no máximo, metros, capazes de decolar
na distância máxima de metros, com o uso
Os adjetivos “caduco” (primeiro verso) e “ta- de motores elétricos limitados à potência de
citurnos” (quarto verso) significam, respec- 1000 watts. O uso de materiais compostos –
tivamente, como fibra de carbono ou vidro – é vetado na
a) doente e falantes. estrutura dos aviões.
b) ultrapassado e tristes.
Já na classe “micro”, os protótipos devem
c) fraco e joviais.
d) caído e solidários. ter dimensões reduzidas e pesar, em mé-
e) passageiro e prolixos. dia, gramas. Além disso, a equipe precisa
transportar a aeronave dentro de um tubo de
15,3 centímetros de diâmetro. Quanto me-
9. (UFRJ) nor o comprimento do tubo, mais pontos são
ganhos. As aeronaves também têm de usar
motores elétricos e decolar por lançamento
manual. Foi nesta categoria que a Trem Ki
Voa (TKV), da UFSJ, subiu pela primeira vez
no pódio da Aerodesign East Competition.
A equipe micro teve sua participação inicia-
da em 2010, por iniciativa de estudantes do
curso de Engenharia Mecânica. “De lá para
cá, participamos de todas as competições,
sendo vice-campeões nacionais em 2012 e
2014 e vice-campeões mundiais em 2015”,
conta o professor Cláudio Pellegrini, orien-
tador do grupo, que conta com o apoio do
Programa Santos Dumont, da FAPEMIG. O
edital batizado com o nome do “pai da avia-
ção”, natural de Minas Gerais, estimula o
BONS (IN)VENTOS
espírito empreendedor de alunos de gradua-
Universitários mineiros se destacam no de- ção, por meio do financiamento de projetos
senvolvimento de protótipos de aviões focados em iniciação tecnológica. O apoio
Alessandra Ribeiro financeiro abrange a participação de equi-
pes em competições de caráter educacional,
“Urrú! É pão de queijo!”. O grito de come- como as promovidas pela SAE.
moração tornou-se recorrente na premiação A TKV é “filha caçula” da equipe regular da
do campeonato anual promovido nos Esta- UFSJ, a Coiote, criada em 2001. Três anos
dos Unidos pela Sociedade de Engenheiros mais tarde, as duas se unificaram e decidi-
da Mobilidade (SAE, na sigla em inglês), a ram adotar a alcunha Trem Ki Voa, uma refe-
Aerodesign East Competition. O desafio con- rência (ou reverência) ao dialeto mineiro. Os
siste em projetar e construir aeronaves ra- nomes das equipes, aliás, demonstram o nível
diocontroladas, com capacidade de transpor- de criatividade dos participantes. Na mesma
tar cargas. Na última edição, encerrada em universidade, a NoizAvua, que reúne estudan-
março, com a participação de 75 grupos das tes das engenharias Civil, Mecatrônica e de
Américas, da Ásia e da Europa, duas equipes Telecomunicações do campus Alto Paraopeba,
mineiras alcançaram o segundo lugar, em di- estreou em 2012 na SAE Brasil Aerodesign,
ferentes categorias: a Uirá, da Universidade competição brasileira que garante a classifi-
Federal de Itajubá (Unifei), na classe “regu- cação ao desafio internacional. Já na primeira
lar”, e a Trem Ki Voa, da Universidade Fede- participação, o grupo recebeu menção honro-
ral de São João del-Rei (UFSJ), na “micro”. sa por apresentar o melhor projeto não cus-
Instituições mineiras de ensino superior teado. Desde então, já conseguiu patrocínios
173
pontuais, um deles também viabilizado pelo Mas sempre passarei uma velhice
programa da FAPEMIG. muito menos penosa.
“Para esses estudantes, o projeto e a cons- Não trarei a muleta carregada,
trução de uma aeronave de carga não tripu- descansarei o já vergado corpo
lada controlada a distância é uma oportuni- na tua mão piedosa,
dade única de testar seus conhecimentos, de na tua mão nevada.
modo a desenvolver a capacidade de traba-
lhar em equipe e integrar os conhecimen- As frias tardes, em que negra nuvem
tos adquiridos ao longo das várias unidades os chuveiros não lance,
curriculares, por vezes tão distintas, de seu irei contigo ao prado florescente:
curso”, avalia Cláudio Pellegrini (...). O pro- aqui me buscarás um sítio ameno,
fessor ressalta que isso vale, inclusive, para onde os membros descanse,
os estudantes sem formação específica em e ao brando sol me aquente.
aeronáutica – caso das equipes da UFSJ. “A Apenas me sentar, então, movendo
participação também desenvolve a autono- os olhos por aquela
mia no aprendizado, característica essencial vistosa parte, que ficar fronteira,
em um mercado de trabalho em constante apontando direi: — Ali falamos,
mudança”, acrescenta. ali, ó minha bela,
(MINAS FAZ CIÊNCIA, jun/jul/ago de 2015. P. 31-2.)
te vi a vez primeira.
Releia a frase: Verterão os meus olhos duas fontes,
“Na última edição, encerrada em março, com nascidas de alegria;
a participação de 75 grupos das Américas, farão teus olhos ternos outro tanto;
da Ásia e da Europa, duas equipes mineiras então darei, Marília, frios beijos
alcançaram o segundo lugar, em diferentes na mão formosa e pia,
categorias: a Uirá, da Universidade Federal que me limpar o pranto.
de Itajubá (Unifei), na classe “regular”, e a
Trem Ki Voa, da Universidade Federal de São Assim irá, Marília, docemente
João del-Rei (UFSJ), na “micro”.” meu corpo suportando
Na frase acima, “micro” exerce a função de do tempo desumano a dura guerra.
adjetivo. Entretanto, não está explicito o Contente morrerei, por ser Marília
substantivo que ele qualifica, que seria: quem, sentida, chorando
a) classe. meus baços olhos cerra.
b) avião. (Tomás Antônio Gonzaga. Marília de Dirceu e mais
poesias. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1982.)
c) edição.
d) grupo.
Observe os seguintes vocábulos extraídos da
e) equipe.
sétima estrofe do poema:
I. ternos.
10. (Unesp) Leia o poema de Tomás Antônio
II. frios.
Gonzaga (1744-1810).
III. pia.
18 IV. pranto.
Não vês aquele velho respeitável, As palavras que aparecem na estrofe como
que à muleta encostado, adjetivos estão contidas apenas em:
apenas mal se move e mal se arrasta? a) I e II.
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo, b) I e III.
c) I, II e III.
o tempo arrebatado,
d) I, II e IV.
que o mesmo bronze gasta!
e) II, III e IV.
Enrugaram-se as faces e perderam
seus olhos a viveza:
voltou-se o seu cabelo em branca neve; E.O. Fixação
já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
nem tem uma beleza 1. (UFRGS) Quando a 1economia política clás-
das belezas que teve. sica nasceu, no Reino Unido e na França,
ao final do século XVIII e início do século
Assim também serei, minha Marília, XIX, a questão da distribuição da renda já
daqui a poucos anos, se encontrava no centro de todas as análi-
que o ímpio tempo para todos corre. ses. Estava claro que transformações radicais
Os dentes cairão e os meus cabelos. entraram em curso, propelidas pelo cresci-
Ah! sentirei os danos, mento demográfico sustentado – inédito
que evita só quem morre. até então – e pelo início do êxodo rural e da
174
Revolução Industrial. Quais seriam as conse- 2. (Unesp) A questão a seguir abordam um
quências sociais dessas mudanças? poema de Raul de Leoni (1895-1926).
Para Thomas Malthus, que publicou em 1798
seu Ensaio sobre o princípio da população, A alma das cousas somos nós...
não restava dúvida: a superpopulação era Dentro do eterno giro universal
uma ameaça. Preocupava-se especialmente Das cousas, tudo vai e volta à alma da gente,
com a situação dos franceses vésperas da Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
Revolução de 1789, quando havia miséria Nada mais, na verdade,
generalizada no campo. Na época, a França Nunca mais se repete exatamente...
era de longe o país mais populoso da Europa: Sim, as cousas são sempre as mesmas na cor-
por volta de 1700, já contava com mais de
rente
20 milhões de habitantes, enquanto o Rei-
Que no-las leva e traz, num círculo fatal;
no Unido tinha pouco mais de 8 milhões de
O que varia é o espírito que as sente
pessoas. A população francesa se expandiu
Que é imperceptivelmente desigual,
em ritmo crescente ao longo do século XVIII,
aproximando-se dos 30 milhões. Tudo leva a Que sempre as vive diferentemente,
crer que esse dinamismo demográfico, des- E, assim, a vida é sempre inédita, afinal...
conhecido nos séculos anteriores, contribuiu Estado de alma em fuga pelas horas,
para a 10estagnação dos salários no campo e Tons esquivos e trêmulos, nuanças
para o aumento dos rendimentos associados Suscetíveis, sutis, que fogem no Íris
à propriedade da terra, sendo, portanto, um Da sensibilidade furta-cor...
dos fatores que levaram Revolução France- E a nossa alma é a expressão fugitiva das
sa. Para evitar que torvelinho 13similar viti- cousas
masse o Reino Unido, Malthus argumentou
E a vida somos nós, que sempre somos ou-
que toda assistência aos pobres deveria ser
tros!...
suspensa de imediato e a taxa de natalidade
Homem inquieto e vão que não repousas!
deveria ser severamente controlada.
Já David Ricardo, que publicou em 1817 os Para e escuta:
seus Princípios de economia política e tribu- Se as cousas têm espírito, nós somos
tação, preocupava-se com a evolução do pre- Esse espírito efêmero das cousas,
ço da terra. Se o crescimento da população Volúvel e diverso,
e, consequentemente, da produção agrícola Variando, instante a instante, intimamente,
se prolongasse, a terra tenderia a se 18tornar E eternamente,
escassa. De acordo com a lei da oferta e da Dentro da indiferença do Universo!...
procura, o preço do bem escasso – a terra – (LEONI, Raul. Luz mediterrânea, 1965.)
deveria subir de modo contínuo. No limite,
os donos da terra receberiam uma parte cada Indique o verso em que ocorre um adjetivo
vez mais significativa da renda nacional, e antes e outro depois de um substantivo:
o 20restante da população, uma parte cada a) O que varia é o espírito que as sente
vez mais reduzida, destruindo o equilíbrio b) Mas, se nesse vaivém tudo parece igual
social. De fato, o valor da terra permaneceu c) Tons esquivos e trêmulos, nuanças
alto por algum tempo, mas, ao longo de sé- d) Homem inquieto e vão que não repousas!
culo XIX, caiu em relação outras formas de e) Dentro do eterno giro universal
riqueza, à medida que diminuía o peso da
agricultura na renda das nações. Escrevendo 3. (Uema) Leia o poema a seguir extraído da
nos anos de 1810, Ricardo não poderia an- obra Alguma poesia, de Carlos Drummond de
tever a importância que o progresso tecno- Andrade, em que o autor descreve o cotidia-
lógico e o crescimento industrial teriam ao no familiar.
longo das décadas seguintes para a evolução
da distribuição da renda. FAMÍLIA
(PIKETTY, T. O Capital no Século XXI. Trad. de M. B. de Três meninos e duas meninas,
Bolle. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2014. p.11-13.) sendo uma ainda de colo.
A cozinheira preta, a copeira mulata,
Geralmente, substantivos denotam seres ou o papagaio, o gato, o cachorro,
coisas. Às vezes, no entanto, podem denotar as galinhas gordas no palmo de horta
ação ou processo. Assinale a alternativa que e a mulher que trata de tudo.
contém um substantivo que, no texto, deno-
ta processo. A espreguiçadeira, a cama, a gangorra,
a) economia (ref. 1) o cigarro, o trabalho, a reza,
b) estagnação (ref.10) a goiabada na sobremesa de domingo,
c) similar (ref. 13) o palito nos dentes contentes,
d) tornar (ref. 18) o gramofone rouco toda noite
e) restante (ref. 20) e a mulher que trata de tudo.
175
O agiota, o leiteiro, o turco, em alfabeto árabe das Mil e Uma Noites que
o médico uma vez por mês, ele não leu, mas cujas ilustrações 15admirou
2
o bilhete todas as semanas longamente, como denunciam os filetes de
branco! mas a esperança sempre verde. cinzas na junção das suas páginas coloridas.
A mulher que trata de tudo Hoje tenho experiência para saber quantas
e a felicidade. vezes meu pai leu um mesmo livro, posso
(ANDRADE, Carlos Drummond de. Alguma poesia. quase medir quantos minutos ele se deteve
São Paulo: Companhia das Letras, 2013.) em cada página. E não costumo perder tem-
po com livros que ele nem sequer abriu, en-
Considerando os aspectos linguísticos no re- tre os quais uns poucos eleitos que mamãe
ferido texto, verifica-se que, teve o capricho de empilhar numa ponta de
a) em “o médico uma vez por mês” (ref. 1), o prateleira, confiando numa futura redenção.
vocábulo destacado classifica-se como arti- Muitas vezes a vi de manhãzinha compade-
go por acrescentar uma noção particular ao cida dos livros estatelados no escritório, com
substantivo a que está associado. especial carinho pelos que trazem a foto do
b) no verso “e a mulher que trata de tudo”, há autor na capa e que papai despreza: parece
uma oração que pode ser substituída pelo disco de cantor de rádio.
adjetivo tratante, sem provocar alteração no (Chico Buarque. O irmão alemão. 1 ed. São Paulo.
Companhia das letras. 2014. p. 60-61.)
sentido do texto.
c) no segundo verso “sendo uma ainda de A obra O irmão alemão, último livro de Chi-
colo.”, a forma verbal introduz uma explica- co Buarque de Holanda, tem como móvel da
ção que caracteriza o cotidiano familiar. narrativa a existência de um desconhecido
d) do ponto de vista semântico, utilizou-se um irmão alemão, fruto de uma aventura amo-
processo de enumeração, ao longo do poe- rosa que o pai dele, Sérgio Buarque de Ho-
ma, no qual predomina uma classe de pala- landa, tivera com uma alemã, lá pelo final
vras cuja função primordial é designar. da década de 1930 do século passado. Exa-
e) no verso “o bilhete todas as semanas” (ref. tamente quando Hitler ascende ao poder na
2), “todas” está adverbializado pela presen- Alemanha. Esse fato é real: o jornalista, his-
ça do artigo. toriador e sociólogo Sérgio Buarque de Ho-
landa, na época, solteiro, deixou esse filho
na Alemanha. Na família, no entanto, não
4. (Uece) A GARAGEM DE CASA se falava no assunto. Chico teve, por acaso,
conhecimento dessa aventura do pai em uma
Com o portão enguiçado, e num convite a la- reunião na casa de Manuel Bandeira, por co-
drões de livros, a 4garagem de casa lembra mentário feito pelo próprio Bandeira.
uma biblioteca pública permanentemente Foi em torno da pretensa busca desse pre-
aberta para a rua. Mas não são adeptos de tenso irmão que Chico Buarque desenvolveu
literatura os indivíduos que ali se abrigam sua narrativa ficcional, o seu romance.
da chuva ou do sol a pino de verão. 8Esses Sobre a obra, diz Fernando de Barros e Silva:
desocupados matam o tempo jogando porri- “o que o leitor tem em mãos [...] não é um
nha, ou lendo os jornais velhos que mamãe relato histórico. Realidade e ficção estão aqui
amontoa num canto, sentados nos degraus entranhadas numa narrativa que embaralha
do escadote com que ela alcança as pratelei- sem cessar memória biográfica e ficção”.
ras altas. Já quando fazem o obséquio de me Considere a expressão “a garagem de casa”
liberar o espaço, de tempos em tempos entro (ref. 4) e o que se diz sobre ela.
para olhar as estantes onde há de tudo um I. O emprego do vocábulo casa sem a deter-
pouco, em boa parte remessas de editores minação do artigo definido, como aconte-
estrangeiros que têm apreço pelo meu pai. ce no texto, indica que a casa é da pessoa
que fala.
Num reduto de literatura tão sortida, como
II. A introdução do artigo definido antes do
bem sabem os habitués de sebos, fascina a
substantivo casa – garagem da casa – in-
perspectiva de por puro acaso dar com um
dicaria não só que o falante não é o pro-
livro bom. Ou by serendipity, como dizem prietário da casa, ou pelo menos não a
os ingleses quando na caça a um tesouro se habita, mas também que o referente casa,
tem a felicidade de deparar com outro bem, representado no texto pelo vocábulo casa,
mais precioso ainda. Hoje revejo na mesma já aparecera no texto, portanto não seria
prateleira velhos conhecidos, algumas de- novo para o leitor.
zenas de livros turcos, ou búlgaros ou hún- III. A introdução do artigo indefinido um an-
garos, que papai é capaz de um dia querer tes do substantivo casa – garagem de uma
destrinchar. Também continua em evidência casa – indicaria que o referente casa, re-
o livro do poeta romeno Eminescu, que papai presentado pelo vocábulo casa, ainda não
ao menos tentou ler, como é fácil inferir das aparecera no texto, portanto seria novo
folhas cortadas a espátula. Há uma edição para o leitor.
176
Está correto o que se diz em adjetivos no contexto.
a) I e II apenas. a) desmesurada/ imensa
b) I, II e III. b) ilimitada/ inumerável
c) I e III apenas. c) ilimitada/ numerável
d) II apenas. d) abrangente/ magnífica
177
o que é civismo, respeito e disciplina, no garganta. Há pouco tempo, voltei a entrar
princípio, exigidos a cada dia; depois, como em um navio. Que coisa linda! Sofisticado,
parte do meu ser e, assim, para sempre. A limpíssimo, nas mãos de uma tripulação que
cada passo havia um novo esforço esperando só pode ser muito competente para mantê-lo
e, depois dele, um pequeno sucesso. Minha pronto. Do que me mostraram eu não sabia
vida, agora que olho para trás, foi toda de muito. Basta dizer que o último navio em
pequenos sucessos. A soma deles foi a minha que servi já deu baixa. Quando saí de bordo,
carreira. parei no portaló, voltei-me para a bandeira,
No meu primeiro navio, logo cedo, percebi inclinei a cabeça... e, minha garganta enta-
que era novamente aluno. Todos sabiam das lou outra vez.
coisas mais do que eu havia aprendido. Só Isso é corporativismo; não aquele enxova-
que agora me davam tarefas, incumbências, lhado, que significa o bem de cada um, pro-
e esperavam que eu as cumprisse bem. Pou- tegido à custa do desmerecimento da insti-
co a pouco, passei a ser parte da equipe, a tuição; mas o puro, que significa o bem da
ser chamado para ajudar, a ser necessário. instituição, protegido pelo merecimento de
Um dia vi-me ensinando aos novatos e dei- cada um.
-me conta de que me tornara marinheiro, de Sou marinheiro e, portanto, sou corporati-
fato e de direito, um profissional! O navio
vista.
passou a ser minha segunda casa, onde eu
Muitas vezes a lembrança me retorna aos
permanecia mais tempo, às vezes, do que na
dias da ativa e morro de saudades. Que bom
primeira. Conhecia todos, alguns mais até do
se pudesse voltar ao começo, vestir aquele
que meus parentes. Sabia de suas manhas,
uniforme novinho – até um pouco grande,
cacoetes, preocupações e de seus sonhos.
ainda recordo – Jurar Bandeira, ser beijado
Sem dar conta, meu mundo acabava no cos-
tado do navio. pela minha falecida mãe...
A soma de tudo que fazemos e vivemos, pelo Sei que, quando minha hora chegar, no úl-
navio, é uma das coisas mais belas, que só timo instante, verei, em velocidade desco-
há entre nós, em mais nenhum outro lugar. nhecida, o navio com meus amigos, minha
Por isso sou marinheiro, porque sei o que é mulher, meus filhos, singrando para sempre,
espírito de navio. indo aonde o mar encontra o céu... e, se São
Bons tempos aqueles das viagens, dávamos Pedro estiver no portaló, direi:
um duro danado no mar, em serviço, postos – Sou marinheiro, estou embarcando.
de combate, adestramento de guerra, dia e (Autor desconhecido. In: Língua portuguesa:
noite. O interessante é que em toda nossa leitura e produção de texto. Rio de Janeiro:
vida, quando buscamos as boas recordações, Marinha do Brasil, Escola Naval, 2011. p. 6-8)
elas vêm desse tempo, das viagens e dos na-
vios. Até as durezas por que passamos são Glossário
saborosas ao lembrar, talvez porque as ven- Portaló: abertura no casco de um navio, ou
cemos e fomos adiante. passagem junto à balaustrada, por onde as
É aquela história dos pequenos sucessos. pessoas transitam para fora ou para dentro, e
A volta ao porto era um acontecimento gos- por onde se pode movimentar carga leve.
toso, sempre figurando a mulher. Primeiro a
mãe, depois a namorada, a noiva, a esposa. Em “[...] vocês já perceberam que marinhei-
Muita coisa a contar, a dizer, surpresas de ro velho dificilmente baixa a terra [...] .”
carinho. A comida preferida, o abraço aper- (ref. 22), a posição do adjetivo é importante,
tado, o beijo quente... e o filho que, na au- pois, se escrevêssemos “velho marinheiro”,
sência, foi ensinado a dizer papai. o valor semântico seria outro. Em que opção
No início, eu voltava com muitos retratos, a troca de posição dos termos implicou uma
principalmente quando vinha do estrangei- mudança semântica?
ro, depois, com o tempo, eram poucos, até a) Os marinheiros, em seus uniformes brancos,
que deixei de levar a máquina. Engraçado, destacam-se nas paradas militares. / Os ma-
22
vocês já perceberam que marinheiro velho rinheiros, em seus brancos uniformes, desta-
dificilmente baixa a terra com máquina foto- cam-se nas paradas militares.
gráfica? Foi assim comigo.
b) Os alunos gostavam de ouvir as narrativas
Hoje os navios são outros, os marinheiros
tradicionais sobre os perigos do mar. / Os
são outros – sinto-os mais preparados do que
eu era – mas a vida no mar, as viagens, os alunos gostavam de ouvir as tradicionais
portos, a volta, estou certo de que são iguais. narrativas sobre os perigos do mar.
Sou marinheiro, por isso sei como é. c) Depois de muito tempo longe de casa, os ho-
Fico agora em casa, querendo saber das coi- mens do mar sentem falta de uma comida
sas da Marinha. E a cada pedaço que ouço gostosa. / Depois de muito tempo longe de
de um amigo, que leio, que vejo, me dá um casa, os homens do mar sentem falta de uma
orgulho que às vezes chega a entalar na gostosa comida.
178
d) Os navios e seus homens preparavam-se para coisas se desintegraram, eles reagiram a
cumprir um longo percurso, de acordo com a uma necessidade imperiosa de dar-lhes sen-
derrota traçada. / Os navios e seus homens tido, ordenando a sociedade segundo novos
preparavam-se para cumprir um percurso princípios. Esses princípios ainda perma-
longo, de acordo com a derrota traçada. necem como uma denúncia da tirania e da
e) Antigamente, o recebimento de uma mensa- injustiça. Afinal, em que estava empenhada
gem simples aplacava as saudades dos mari- a Revolução Francesa? Liberdade, igualdade,
nheiros. / Antigamente, o recebimento de fraternidade.
uma simples mensagem aplacava as sauda- (DARNTON, Robert. O beijo de Lamourette. In: ____.
des dos marinheiros. O beijo de Lamourette: mídia, cultura e revolução.
São Paulo: Cia. das Letras, 2010. p. 30-39.)
179
ficção previa até pouco tempo atrás. Se antes c) Hoje, ÚTEIS ou não, as informações É QUE
precisávamos correr em busca de informa- nos assediam.
ções de nosso interesse, hoje, úteis ou não, d) Responda qual era a manchete DO JORNAL
elas é que nos assediam: resultados de lo- DE ONTEM.
terias, dicas de cursos, variações da moeda,
ofertas de compras, notícias de atentados,
ganhadores de gincanas, etc. Por outro lado,
enquanto cresce a capacidade dos discos rí-
gidos e a velocidade das informações, o de- E.O. Complementar
sempenho da memória humana está ficando
cada vez mais comprometido. Cientistas são
unânimes ao associar a rapidez das informa- 1. (IFSP) BUSCANDO A EXCELÊNCIA
Lya Luft
ções geradas pelo mundo digital com a res-
trição de nosso "disco rígido" natural. Eles
Estamos carentes de excelência. A mediocri-
ressaltam, porém, que o problema não está
dade reina, assustadora, implacável e per-
propriamente nas novas tecnologias, mas no
uso exagerado delas, o que faz com que dei- sistentemente. Autoridades, altos cargos,
xemos de lado atividades mais estimulantes, líderes, em boa parte desinformados, de-
como a leitura, que envolvem diversas fun- sinteressados, incultos, lamentáveis. Alunos
ções do cérebro. Os mais prejudicados por que saem do ensino médio semianalfabetos
esse processo têm sido crianças e adolescen- e assim entram nas universidades, que aos
tes, cujo desenvolvimento neuronal acaba poucos – refiro-me às públicas – vão se tor-
sendo moldado preguiçosamente. nando reduto de pobreza intelectual.
Responda sem pensar: qual era a manche- As infelizes cotas, contras as quais tenho es-
te do jornal de ontem? Você lembra o nome crito e às quais me oponho desde sempre,
da novela que antecedeu o Clone? E quem servem magnificamente para alcançarmos
era o técnico da Seleção Brasileira na Copa este objetivo: a mediocrização também do
do Mundo de 1994? Não ter uma resposta ensino superior. Alunos que não conseguem
imediata para essas perguntas não deve ser raciocinar porque não lhes foi ensinado,
causa de preocupação para ninguém, mas numa educação de brincadeirinha. E, porque
exemplifica bem o problema constatado pela
não sabem ler nem escrever direito e com
fonoaudióloga paulista Ana Maria Maaz Al-
naturalidade, não conseguem expor em letra
varez, que há mais de 20 anos estuda a rela-
ção entre audição e recordação. ou fala seu pensamento truncado e pobre.
A pedido de duas empresas, ela realizou uma [...] E as cotas roubam a dignidade daqueles
pesquisa para saber o que estava ocorrendo que deveriam ter acesso ao ensino superior
com os funcionários que reclamavam com por mérito [...]. Meu conceito serve para co-
frequência de lapsos de memória. Foram tas raciais também: não é pela raça ou cor,
entrevistados 71 homens e mulheres, com sobretudo autodeclarada, que um jovem deve
idade de 18 e 42 anos. A maioria dos es- conseguir diploma superior, mas por seu es-
quecimentos era de natureza auditiva, como forço e capacidade. [...]
nomes que acabavam de ser ouvidos ou as-
suntos discutidos. (Por falar nisso, responda Em suma, parece que trabalhamos para faci-
sem olhar no parágrafo anterior: você lem- litar as coisas aos jovens, em lugar de edu-
bra o nome da pesquisadora citada?) cá-los com e para o trabalho, zelo, esforço,
Ana Maria descobriu que os lapsos de me- busca de mérito, uso da própria capacidade
mória resultavam basicamente do excesso de e talento, já entre as crianças. O ensino nas
informação em consequência do tipo de tra- últimas décadas aprimorou-se em fazer os
balho que essas pessoas exerciam nas empre- pequenos aprender brincando. Isso pode ser
sas, e do pouco tempo que dispunham para bom para os bem pequenos, mas já na escola
processá-las, somados à angústia de querer elementar, em seus primeiros anos, é bom
saber mais e ao excesso de atribuições. "Elas alertar, com afeto e alegria, para o fato de
não se detinham no que estava sendo dito que a vida não é só brincadeira, que lazer
(lido, ouvido ou visto) e, consequentemente, e divertimento são necessários até à saúde,
não conseguiam gravar os dados na memó- mas que a escola é também preparação para
ria", afirma. uma vida profissional futura, na qual have-
(Fonte Internet: Superinteressante, 2001).
rá disciplina e limites – que aliás deveriam
existir em casa, ainda que amorosos.
1
0. (Uece) Assinale a alternativa em que todas
as expressões destacadas têm valor de adje- Muitos dirão que não estou sendo simpática.
tivo. Não escrevo para ser agradável, mas para par-
a) Era DIGITAL trouxe inovações e FACILIDADES tilhar com meus leitores preocupações sobre
QUE SUPERARAM o QUE PREVIA a ficção. este país com suas maravilhas e suas maze-
b) Deixemos DE LADO atividades QUE ENVOL- las, num momento fundamental em que, em
VEM DIVERSAS funções DO CÉREBRO. meio a greves, justas ou desatinadas, [...] se
180
delineia com grande inteligência e precisão Como é um ambiente de transição entre o
a possibilidade de serem punidos aqueles lado de fora e o lado de dentro, vestíbulo
que não apenas prejudicaram monetaria- ganhou ainda por extensão, em anatomia, o
mente o país, mas corroeram sua moral, e sentido de “cavidade que dá acesso a um ór-
a dignidade de milhões de brasileiros. Está gão oco” (Houaiss). Antes de ser admitido no
sendo um momento de excelência que nos vocabulário da educação, “sistema vestibu-
devolve ânimo e esperança. lar” já tinha aplicação na linguagem médica
(Revista Veja, de 26.09.2012. Adaptado). como nome dos pequenos órgãos situados na
entrada do ouvido interno, responsáveis por
Sabe-se que o adjetivo é uma palavra que nosso equilíbrio.
modifica o substantivo e que sua posição (RODRIGUES, S. Vestibular. Disponível em: <http://
mais comum no português é a de suceder revistadasemana.abril.uol.com.br/edicoes/81/
esse substantivo. Assinale o efeito de senti- palavradasemana/materia_ palavradasemana_431845.
shtml>. Acesso em: 6 jun. 2009.)
do que a autora consegue com o emprego do
adjetivo antecedendo o substantivo em “as
infelizes cotas” (2º parágrafo). Com base no texto, considere as afirmativas
a) produz uma sonoridade mais adequada ao a seguir:
trecho. I. Ao afirmar que vestibular é um brasilei-
b) provoca o estranhamento do leitor, pois al- rismo, o autor se posiciona contraria-
gumas cotas são felizes.
mente à sua extinção pelo Ministério da
c) antecipa que nem todas as cotas são infeli-
Educação.
zes, como se poderia esperar.
II. O autor não condena o uso do estrangei-
d) oferece pistas ao leitor de seu posiciona-
mento crítico sobre o assunto das cotas. rismo “lobby” no lugar do brasileirismo
e) exemplifica a situação da educação do país, “vestibular”.
empregando inadequadamente o termo. III. O adjetivo “vestibular” que, devido ao
uso, acabou sendo substantivado, é deri-
vado da palavra “vestíbulo”.
2. (Uel) VESTIBULAR IV. O autor considera pertinente a alegação
de redundância para explicar o processo
Vestibular, aquilo que o Ministério da Edu- de substantivação do termo “celular”.
cação estuda agora extinguir, é um brasilei-
Assinale a alternativa correta.
rismo para algo que em Portugal costuma ser
a) Somente as afirmativas I e II são corretas.
chamado de exame de acesso à universidade.
b) Somente as afirmativas II e IV são corretas.
Trata-se de um adjetivo que se substantivou,
num processo semelhante ao que ocorreu c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.
com celular, qualificativo de telefone, que d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.
tenta – e na maioria das vezes consegue – e) Somente as afirmativas I, III e IV são corretas.
expulsar a palavra principal de cena sob uma
pertinente alegação de redundância, toman- 3. (IFCE) De como o narrador, com certa expe-
do para si o lugar de substantivo. Pois o exa- riência anterior e agradável, dispõe-se a re-
me vestibular, de tão consagrado no vocabu- tirar a verdade do fundo do poço
lário de gerações e gerações de estudantes Minha intenção, minha única intenção,
brasileiros que perderam o sono por causa acreditem! é apenas restabelecer a verdade.
dele, acabou conhecido como vestibular só. A verdade completa, de tal maneira que ne-
E qualquer associação remota com a palavra nhuma dúvida persista em torno do coman-
que está em sua origem – vestíbulo – se per- dante Vasco Moscoso de Aragão e de suas ex-
deu nesse processo. traordinárias aventuras.
Quando ainda era claramente um adjetivo, “A verdade está no fundo de um poço”, li
ficava mais fácil perceber a metáfora que, certa vez, não me lembro mais se num livro
com certa dose de pernosticismo, levou a pa- ou num artigo de jornal. Em todo caso, em
lavra vestibular a ser escolhida para qualifi- letra de forma, e como duvidar de afirma-
car o processo de seleção de candidatos ao ção impressa? Eu, pelo menos, não costumo
ensino superior. Vestíbulo (do latim vestibu- discutir, muito menos negar, a literatura e
lum) é, na origem, um termo de arquitetura o jornalismo. E, como se isso não bastasse,
que significa pórtico, alpendre ou pátio ex- várias pessoas gradas repetiram-me a fra-
terno, mas que pode ser usado também, em se, não deixando sequer margem para um
sentido mais amplo, para designar um átrio, erro de revisão a retirar a verdade do poço,
uma antessala, qualquer cômodo ou ambien- a situá-la em melhor abrigo: paço (“a ver-
te de passagem entre a porta de entrada e o dade está no paço real”) ou colo (“a verda-
corpo principal de uma casa, apartamento, de se esconde no colo das mulheres belas”),
palácio ou prédio público. Para quem prefere polo (“a verdade fugiu para o Polo Norte”)
uma solução anglófona, estamos falando de ou povo (“a verdade está com o povo”). Fra-
hall ou lobby. ses, todas elas, parece-me, menos grosseiras,
181
mais elegantes, sem deixar essa obscura sen- nosso subúrbio. Dona Ernestina, gordíssima,
sação de abandono e frio inerente à palavra lustrosa de suor e um tanto quanto débil
“poço”. mental, concorda balançando a cabeça de
O meritíssimo dr. Siqueira, juiz aposentado, elefante. Um farol de luz poderosa, ilumi-
respeitável e probo cidadão, de lustrosa e nando longe, eis a verdade do nobre juiz de
erudita careca, explicou-me tratar-se de um direito aposentado.
lugar-comum, ou seja, coisa tão clara e sabi- Talvez por isso mesmo sua luz não penetre
da a ponto de transformar-se num provérbio, nos escaninhos mais próximos, nas ruas de
num dito de todo mundo. Com sua voz grave, canto, no escondido beco das Três Borboletas
de inapelável sentença, acrescentou curioso onde se abriga, na discreta meia-sombra de
detalhe: não só a verdade está no fundo de uma casinha entre árvores, a formosa e riso-
um poço, mas lá se encontra inteiramente nha mulata Dondoca, cujos pais procuraram
nua, sem nenhum véu a cobrir-lhe o corpo, o meritíssimo quando Zé Canjiquinha desa-
sequer as partes vergonhosas. No fundo do pareceu da circulação, viajando para o sul.
poço e nua. Passara Dondoca nos peitos, na frase pito-
O dr. Alberto Siqueira é o cimo, o ponto cul- resca do velho Pedro Torresmo, pai aflito, e
minante da cultura nesse subúrbio de Peri- largara a menina ali, sem honra e sem di-
peri onde habitamos. É ele quem pronuncia nheiro:
o discurso do Dois de Julho na pequena pra- – No miserê, doutor juiz, no miserê...
ça e o de Sete de Setembro no grupo escolar, O juiz deitou discurso moral, coisa digna de
sem falar noutras datas menores e em brin- ouvir-se, prometeu providências. E, à vista
des de aniversário e batizado. Ao juiz devo do tocante quadro da vítima a sorrir entre
muito do pouco que sei, a essas conversas lágrimas, afrouxou um dinheirinho, pois,
noturnas no passeio de sua casa; devo-lhe sob o peito duro da camisa engomada do
respeito e gratidão. Quando ele, com a voz magistrado, pulsa, por mais difícil que seja
solene e o gesto preciso, esclarece-me uma acreditar-se, pulsa um bondoso coração. Pro-
dúvida, naquele momento tudo parece-me meteu expedir ordem de busca e apreensão
claro e fácil, nenhuma objeção me assalta. do “sórdido dom-juan”, esquecendo-se, no
Depois que o deixo, porém, e ponho-me a entusiasmo pela causa da virtude ofendida,
pensar no assunto, vão-se a facilidade e a de sua condição de aposentado, sem promo-
evidência, como, por exemplo, nesse caso da tor nem delegado às ordens. Interessaria no
verdade. Volta tudo a ser obscuro e difícil, caso, igualmente, seus amigos da cidade. O
busco recordar as explicações do meritís- “conquistador barato” teria a paga merecida...
simo e não consigo. Uma trapalhada. Mas, E foi ele próprio, tão cônscio é o dr. Siqueira
como duvidar da palavra de homem de tanto de suas responsabilidades de juiz (embora
saber, as estantes entulhadas de livros, có- aposentado), dar notícias das providências à
digos e tratados? No entanto, por mais que família ofendida e pobre, na moradia distan-
ele me explique tratar-se apenas de um pro- te. Dormia Pedro Torresmo, curando a cacha-
vérbio popular, muitas vezes encontro-me a ça da véspera; labutava no quintal, lavando
pensar nesse poço, certamente profundo e roupa, a magra Eufrásia, mãe da vítima, e a
escuro, onde foi a verdade esconder sua nu- própria cuidava do fogão. Desabrochou um
dez, deixando-nos na maior das confusões, sorriso nos lábios carnudos de Dondoca, tí-
a discutir a propósito de um tudo ou de um mido mas expressivo, o juiz fitou-a austero,
nada, causando-nos a ruína, o desespero e a tomou-lhe da mão:
guerra. – Venho pra repreendê-la...
Poço não é poço, fundo de um poço não é o – Eu não queria. Foi ele... – choramingou a
fundo de um poço, na voz do provérbio isso formosa.
significa que a verdade é difícil de revelar- – Muito malfeito – segurava-lhe o braço de
-se, sua nudez não se exibe na praça pública carne rija.
ao alcance de qualquer mortal. Mas é o nosso Desfez-se ela em lágrimas arrependidas e o
dever, de todos nós, procurar a verdade de juiz, para melhor repreendê-la e aconselhá-
cada fato, mergulhar na escuridão do poço -la, sentou-a no colo, acariciou-lhe as faces,
até encontrar sua luz divina. beliscou-lhe os braços. Admirável quadro: a
“Luz divina” é do juiz, como aliás todo o severidade implacável do magistrado tempe-
parágrafo anterior. Ele é tão culto que fala rada pela bondade compreensiva do homem.
em tom de discurso, gastando palavras bo- Escondeu Dondoca o rosto envergonhado no
nitas, mesmo nas conversas familiares com ombro confortador, seus lábios faziam cóce-
sua digníssima esposa, dona Ernestina. “A gas inocentes no pescoço ilustre.
verdade é o farol que ilumina minha vida”, Zé Canjiquinha nunca foi encontrado, em
costuma repetir-se o meritíssimo, de dedo compensação Dondoca ficou, desde aquela
em riste, quando, à noite, sob um céu de in- bem-sucedida visita sob a proteção da justi-
contáveis estrelas e pouca luz elétrica, con- ça, anda hoje nos trinques, ganhou a casinha
versamos sobre as novidades do mundo e de no beco das Três Borboletas, Pedro Torresmo
182
deixou definitivamente de trabalhar. Eis aí Está correto o que se afirma somente em
uma verdade que o farol do juiz não ilumina, a) I e II.
foi-me necessário mergulhar no poço para b) III.
buscá-la. Aliás, para tudo contar, a inteira c) I e III.
verdade, devo acrescentar ter sido agradá- d) II.
vel, deleitoso mergulho, pois no fundo desse
poço estava o colchão de lã de barriguda do
leito de Dondoca onde ela me conta – depois 5. (Insper) QUEM RI POR ÚLTIMO RI MILLÔR
que abandono, por volta das dez da noite, a Eu tinha 15 anos, havia tomado bomba, era
prosa erudita do meritíssimo e de sua volu- virgem e não via, diante da minha incompe-
mosa consorte – divertidas intimidades do tência para com o sexo oposto, a mais remota
preclaro magistrado, infelizmente impró- possibilidade de reverter a situação.
prias para letra de forma. Em algum momento entre a oitava série e
(AMADO, Jorge. Os velhos marinheiros: duas histórias do o primeiro colegial, todos os meus colegas
cais da Bahia. 23. ed. São Paulo: Martins, s.d., p. 71-73)
haviam adotado roupas diferentes, gírias,
Em “(...) várias pessoas gradas repetiram-me trejeitos ao falar e ao gesticular, mas eu con-
a frase (...)”, – ref. 7 – é correto afirmar-se, tinuava igual – era como se houvesse faltado
de acordo com o texto, acerca do vocábulo na aula em que os estilos foram distribuídos
destacado, que se trata de um e estivesse condenado a viver para sempre
a) substantivo e tem o mesmo significado de numa espécie de limbo social, feito de incer-
“vontades”, “desejos”. tezas, celibato e moletom.
b) substantivo e tem o mesmo significado de O mundo, antes um lugar com regras claras
“passos”, “marchas”, “andaduras”. e uma razoável meritocracia, havia perdido
c) adjetivo e tem o mesmo significado de “in- o sentido: os bons meninos não ganhavam
signes”, “importantes”, “ilustres”. uma coroa de louros – nem ao menos, vá
d) adjetivo e tem o mesmo significado de lá, uma loura coroa –, era preciso acordar
“grandes”, “desenvolvidas”. às 6h15 para estudar química orgânica e os
e) adjetivo e tem o mesmo significado de “es- adultos ainda queriam me convencer de que
forçadas”, “lutadoras”. aquela era a melhor fase da vida.
Claro, observando-os, era óbvia a razão da
nostalgia: seres de calças bege e pager no
4. (Uece) PORTÃO cinto, que gastavam seus dias em papinhos
de elevador, sem ambições maiores do que
O portão fica bocejando, aberto um carro novo, um requeijão com menos co-
para os alunos retardatários. lesterol, o nome na moldura de funcionário
Não há pressa em viver do mês e ingressos para o Holiday on Ice no
nem nas ladeiras duras de subir, fim de semana.
1
quanto mais para estudar a insípida carti- Em busca de algum consolo, me esforçava
lha. para bater o recorde jamaicano de consumo
Mas se o pai do menino é da oposição, de maconha, mas, em vez de ter abertas as
à 2ilustríssima autoridade municipal, portas da percepção – ou o que quer que fi-
prima por sua vez da 3sacratíssima zesse com que meus amigos se divertissem e
autoridade nacional, passassem meia hora rachando o bico, sei lá,
4
ah, isso não: o vagabundo de um amendoim –, só via ainda mais escan-
ficará mofando lá fora caradas as portas da minha inadequação. Foi
e leva no boletim uma galáxia de zeros.
então, meus caros, que eu vi a luz – e a luz
A gente aprende muito no portão veio na forma de um livro; “Trinta anos de
fechado. mim mesmo”, do Millôr Fernandes.
(ANDRADE, Carlos Drummond de. In: Carlos A primeira página que eu abri trazia um
Drummond de Andrade: Poesia e Prosa. Editora quadrado em branco, com a seguinte legen-
Nova Aguilar:1988. p. 506-507.) da: “Uma gaivota branca, trepada sobre um
Atente ao que é dito sobre o vocábulo “insí- iglu branco, em cima de um monte branco.
pida” (ref. 1). No céu, nuvens brancas esvoaçam e à direita
I. Foi empregado na acepção de sem graça, aparecem duas árvores brancas com as flores
desinteressante, monótono. brancas da primavera”. Logo adiante estava
II. Foi empregado no seu sentido literal, não “O abridor de latas”, “Pela primeira vez no
figurado. Brasil um conto inteiramente em câmera
III. A mudança da posição desse adjetivo para lenta” – narrando um piquenique de tarta-
depois do substantivo não alteraria o sig- rugas que durava uns 1.500 anos. Mais pra
nificado do substantivo. frente, esta quadra: “Essa pressa leviana/
183
Demonstra o incompetente/ Por que fazer o Não se trata, entretanto, apenas do fato de que
mundo em sete dias/ Se tinha a eternidade a definição da identidade e da diferença seja
pela frente?”. objeto de disputa entre grupos sociais simetri-
Lendo aquelas páginas, que reuniam o tra- camente situados relativamente ao poder. Na
balho jornalístico do Millôr entre 1943 e disputa pela identidade está envolvida uma
1973, compreendi que não estava sozinho disputa mais ampla por outros recursos sim-
em meu estranhamento: a vida era mesmo bólicos e materiais da sociedade. A afirmação
absurda, mas a resposta mais lógica para a da identidade e a enunciação da diferença tra-
falta de sentido não era o desespero, e sim duzem o desejo dos diferentes grupos sociais,
o riso. Percebi, como se não bastasse, que se assimetricamente situados, de garantir o aces-
agregasse alguma graça aos meus resmungos so privilegiado aos bens sociais. A identidade
poderia fazer daquele incômodo uma profis- e a diferença estão, pois, em estreita conexão
são. Dos 19 anos até hoje, jamais paguei uma com relações de poder. O poder de definir a
identidade e de marcar a diferença não pode
conta de luz de outra forma.
ser separado das relações mais amplas de po-
Uma pena nunca ter conhecido o Millôr pes-
der. A identidade e a diferença não são, nunca,
soalmente, não ter podido apertar sua mão
inocentes.
e agradecer-lhe por haver me sussurrado ao
Podemos dizer que onde existe diferencia-
ouvido, quando eu mais precisava escutar, ção – ou seja, identidade e diferença – aí está
a única verdade que há debaixo do céu: se presente o poder. A diferenciação é o processo
Deus não existe, então tudo é divertido. central pelo qual a identidade e a diferença
(Antonio Prata. Folha de S. Paulo. 04/04/2012.) são produzidas. Há, entretanto, uma série de
outros processos que traduzem essa diferen-
Na passagem “... os bons meninos não ga-
ciação ou que com ela guardam uma estreita
nhavam uma coroa de louros – nem ao me-
relação. São outras tantas marcas da presença
nos, vá lá, uma loura coroa...”, o autor faz
do poder: incluir/excluir (“estes pertencem,
um jogo de palavras, cujo sentido está mais aqueles não”); demarcar fronteiras (“nós” e
bem explicado em: “eles”); classificar (“bons e maus”; “puros e
a) Os adjetivos “louros” e “loura”, no contexto impuros”; “desenvolvidos e primitivos”; “ra-
em que foram empregados, apresentam os cionais e irracionais”); normalizar (“nós so-
mesmos sentidos, sofrendo apenas variação
mos normais; eles são anormais”).
na flexão de gênero e de número.
A afirmação da identidade e a marcação da
b) A escolha do substantivo “coroa”, nas duas
ocorrências do texto, deve-se ao fato de que diferença implicam, sempre, as operações de
o cronista pretende assinalar um registro incluir e de excluir. Como vimos, dizer “o que
formal da linguagem. somos” significa também dizer “o que não so-
c) A locução adjetiva “de louros” e o substanti- mos”. A identidade e a diferença se traduzem,
vo “loura” foram empregados pelo autor com assim, em declarações sobre quem pertence e
a finalidade de criar uma antítese. sobre quem não pertence, sobre quem está in-
d) A palavra “coroa” é um substantivo, mas em cluído e quem está excluído.
cada ocorrência exerce uma diferente função Afirmar a identidade significa demarcar fron-
sintática: objeto indireto e adjunto adnomi- teiras, significa fazer distinções entre o que
nal, respectivamente. fica dentro e o que fica fora. A identidade está
e) Os termos “louros” e “loura” têm semelhan- sempre ligada a uma forte separação entre
ças gráficas e sonoras e, apesar de parecerem “nós” e “eles”. Essa demarcação de frontei-
ser o masculino e o feminino da mesma pa- ras, essa separação e distinção, supõem e, ao
lavra, apresentam significações diferentes. mesmo tempo, afirmam e reafirmam relações
de poder. (...)Os pronomes “nós” e “eles” não
são, aqui, simples categorias gramaticais, mas
E.O. Dissertativo evidentes indicadores de posições-de-sujeito
fortemente marcadas por relações de poder:
1. (UFJF) A IDENTIDADE E A DIFERENÇA: O PO- dividir o mundo social entre “nós” e “eles”
DER DE DEFINIR significa classificar. O processo de classificação
é central na vida social.
A identidade e a diferença são o resultado de Ele pode ser entendido como um ato de sig-
um processo de produção simbólica e discursi- nificação pelo qual dividimos e ordenamos o
va. (...) A identidade, tal como a diferença, é mundo social em grupos, em classes. A iden-
uma relação social. Isso significa que sua defi- tidade e a diferença estão estreitamente re-
nição – discursiva e linguística – está sujeita a lacionadas às formas pelas quais a sociedade
vetores de força, a relações de poder. produz e utiliza classificações.
Elas não são simplesmente definidas; elas são As classificações são sempre feitas a partir do
impostas. Não convivem harmoniosamente, ponto de vista da identidade. Isto é, as clas-
lado a lado, em um campo sem hierarquias; ses nas quais o mundo social é dividido não
são disputadas. são simples agrupamentos simétricos. Dividir
184
e classificar significa, neste caso, também hie- que é considerado abjeto, rejeitável, antina-
rarquizar. Deter o privilégio de classificar sig- tural. A identidade hegemônica é permanen-
nifica também deter o privilégio de atribuir temente assombrada pelo seu Outro, sem cuja
diferentes valores aos grupos assim classifica- existência ela não faria sentido. Como sabe-
dos. mos desde o início, a diferença é parte ativa
A mais importante forma de classificação é da formação da identidade.
aquela que se estrutura em torno de oposições (SILVA, Tomaz Tadeu. A produção social da identidade e da
binárias, isto é, em torno de duas classes po- diferença. In: SILVA, Tomaz Tadeu (Org. e Trad.). Identidade e
larizadas. O filósofo francês Jacques Derrida diferença: a perspectiva dos estudos culturais.
Petrópolis: Vozes, 2000. p. 73-75.
analisou detalhadamente esse processo. Para
ele, as oposições binárias não expressam uma Leia o fragmento a seguir:
simples divisão do mundo em duas classes si- “A força da identidade normal é tal que ela
métricas: em uma oposição binária, um dos nem sequer é vista como uma identidade, mas
termos é sempre privilegiado, recebendo um simplesmente como a identidade”. (penúltimo
valor positivo, enquanto o outro recebe uma parágrafo)
carga negativa. “Nós” e “eles”, por exemplo, No trecho destacado, qual é o efeito de sentido
constitui uma típica oposição binária: não é determinado pelo uso dos artigos indefinido e
preciso dizer qual termo é, aqui, privilegiado. definido acima negritados?
As relações de identidade e diferença orde-
nam-se, todas, em torno de oposições binárias:
masculino/feminino, branco/negro, heteros- 2. (UFRJ) TEXTO I
sexual/homossexual. Questionar a identidade
e a diferença como relações de poder signifi- A PRODUÇÃO CULTURAL DO CORPO
ca problematizar os binarismos em torno dos
quais elas se organizam. Pensar o corpo como algo produzido na e pela
Fixar uma determinada identidade como a cultura é, simultaneamente, um desafio e uma
necessidade. Um desafio porque rompe, de
norma é uma das formas privilegiadas de hie-
certa forma, com o olhar naturalista sobre o
rarquização das identidades e das diferenças.
qual muitas vezes o corpo é observado, expli-
A normalização é um dos processos mais sutis
cado, classificado e tratado. Uma necessidade
pelos quais o poder se manifesta no campo da
porque ao desnaturalizá-lo revela, sobretudo,
identidade e da diferença. Normalizar signi-
que o corpo é histórico. Isto é, mais do que
fica eleger – arbitrariamente – uma identi-
um dado natural cuja materialidade nos pre-
dade específica como o parâmetro em relação
sentifica no mundo, o corpo é uma construção
ao qual as outras identidades são avaliadas e
sobre a qual são conferidas diferentes marcas
hierarquizadas. Normalizar significa atribuir a
em diferentes tempos, espaços, conjunturas
essa identidade todas as características posi-
econômicas, grupos sociais, étnicos, etc. Não
tivas possíveis, em relação às quais as outras
é portanto algo dado a priori nem mesmo é
identidades só podem ser avaliadas de forma
universal: o corpo é provisório, mutável e
negativa. A identidade normal é “natural”, de-
mutante, suscetível a inúmeras intervenções
sejável, única. A força da identidade normal é
consoante o desenvolvimento científico e tec-
tal que ela nem sequer é vista como uma iden-
nológico de cada cultura bem como suas leis,
tidade, mas simplesmente como a identidade.
seus códigos morais, as representações que
Paradoxalmente, são as outras identidades que
cria sobre os corpos, os discursos que sobre ele
são marcadas como tais. Numa sociedade em
produz e reproduz.
que impera a supremacia branca, por exemplo,
Um corpo não é apenas um corpo. É também
“ser branco” não é considerado uma identi- o seu entorno. Mais do que um conjunto de
dade étnica ou racial. Num mundo governado músculos, ossos, vísceras, reflexos e sensações,
pela hegemonia cultural estadunidense, “étni- o corpo é também a roupa e os acessórios que o
ca” é a música ou a comida dos outros países. adornam, as intervenções que nele se operam,
É a sexualidade homossexual que é “sexuali- a imagem que dele se produz, as máquinas que
zada”, não a heterossexual. A força homoge- nele se acoplam, os sentidos que nele se in-
neizadora da identidade normal é diretamente corporam, os silêncios que por ele falam, os
proporcional à sua invisibilidade. vestígios que nele se exibem, a educação de
Na medida em que é uma operação de diferen- seus gestos... enfim, é um sem limite de possi-
ciação, de produção de diferença, o anormal bilidades sempre reinventadas e a serem des-
é inteiramente constitutivo do normal. Assim cobertas. Não são, portanto, as semelhanças
como a definição da identidade depende da biológicas que o definem mas, fundamental-
diferença, a definição do normal depende da mente, os significados culturais e sociais que a
definição do anormal. Aquilo que é deixado de ele se atribuem.
fora é sempre parte da definição e da cons-
(GOELLNER, Silvana Vilodre. A produção cultural
tituição do “dentro”. A definição daquilo que do corpo. In: LOURO, Guacira Lopes (Org.) Corpo,
é considerado aceitável, desejável, natural é gênero e sexualidade; um debate contemporâneo
inteiramente dependente da definição daquilo na educação. Petrópolis: Vozes, 2003. p.28-29)
185
TEXTO II TEXTO IV
A NÃO ACEITAÇÃO LONGE DE TUDO
186
3. (Ufrj) Confronte os trechos destacados nos a mente sã pode controlar o corpo, mas por
trechos A e B. quanto tempo.
(PHILLIPS, Adam. Louco para ser normal.
A Rio de Janeiro: Zahar, 2008. p. 63)
"apesar da aparência DE VELHO"
B TEXTO II
"seu aspecto era DE UM VELHO COMO TANTOS OS DIFERENTES
OUTROS" Descobriu-se na Oceania, mais precisamente
"maroto como o DE UM VELHINHO BEM-HU- na ilha de Ossevaolep, um povo primitivo,
MORADO" que anda de cabeça para baixo e tem vida
a) Como se justifica a ausência de artigo no tre- organizada.
cho destacado no trecho A? É aparentemente um povo feliz, de cabeça
b) No trecho B, o artigo indefinido tem seu muito sólida e mãos reforçadas. Vendo tudo
ao contrário, não perde tempo, entretanto,
sentido reiterado em um dos dois trechos
em refutar a visão normal do mundo. E o que
destacados.
eles dizem com os pés dá a impressão de se-
Que recurso linguístico é responsável por
rem coisas aladas, cheias de sabedoria.
essa reiteração? Explique sua resposta.
Uma comissão de cientistas europeus e
americanos estuda a linguagem desses ho-
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO mens e mulheres, não tendo chegado ainda
"A loucura (...), objeto de meus estudos, era a conclusões publicáveis. Alguns professores
tentaram imitar esses nativos e foram reco-
até agora uma ilha perdida no oceano da ra-
lhidos ao hospital da ilha. Os cabecences-
zão; começo a suspeitar que é um continen-
-para-baixo, como foram denominados à fal-
te."
ta de melhor classificação, têm vida longa e
(ASSIS, Machado de. O Alienista. In: Obra Completa. Vol.
II, Conto e Teatro. Org. por Afrânio Coutinho, 4a ed.
desconhecem a gripe e a depressão.
Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1979. p. 260) (ANDRADE, Carlos Drummond de. Prosa Seleta.
Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. p. 150)
TEXTO I
4. (Ufrj) No texto II, há diversos sintagmas
UM COMEÇO MUITO LOUCO nominais – construções com núcleo subs-
tantivo acompanhado ou não de termos com
"Ora, a mente é dita sã", escreveu Erasmo
função adjetiva – que caracterizam o "povo
em O elogio da loucura (1509), "desde que
primitivo".
controle adequadamente todos os órgãos do
a) Retire do texto dois desses sintagmas.
corpo". Embora escrita quase 500 anos atrás
b) A caracterização normalmente atribuída a
num tratado em defesa do cristianismo, essa
um povo primitivo como não evoluído não
frase expressa mais ou menos nossas supo-
se confirma no texto II. Justifique essa afir-
sições modernas sobre a sanidade. Em pri-
mativa, utilizando os sintagmas escolhidos
meiro lugar, que a sanidade é uma qualidade
no item a.
da mente, não do corpo (não descrevemos os
corpos das pessoas como sãos ou insanos).
TEXTOS PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Em segundo lugar, que é a função da mente
sã controlar o corpo, e portanto que o cor- TEXTO I
po ficaria descontrolado - ou pelo menos
fazendo coisas proibidas - se não estivesse Na contramão dos carros ela vem pela calça-
sob a égide da mente. Em terceiro lugar, que da, solar e musical, para diante de um pe-
o corpo é não só o tipo de objeto que pode queno jardim, uma folhagem, na entrada de
ser controlado, como também o tipo de ob- um prédio, colhe uma flor inesperada, ins-
jeto que pode ser adequada ou inadequada- pira e ri, é a própria felicidade - passando a
mente controlado; portanto, o que a mente cem por hora pela janela. Ainda tento vê-la
sã implica acima de tudo é adequação. E por no espelho, mas é tarde, o eterno relance.
fim, mas não menos importante, há um fa- Sua imagem quase embriaga, chego no tra-
balho e hesito, por que não posso conhecer
tor temporal envolvido. Para ter sanidade
aquilo? - a plenitude, o perfume inusitado
precisamos de uma mente, e precisamos de
no meio do asfalto, oculto e óbvio. Sempre
uma mente para controlar um corpo que de
minha cena favorita.
outro modo seria insano, mas a mente é dita
Ela chegaria trazendo esquecimentos, a flor
sã, como dizia Erasmo, apenas "desde que" no cabelo. Eu estaria à espera, no jardim.
controle os órgãos do corpo. A sugestão é E haveria tempo.
que a sanidade é precária, não uma condição (CASTRO, Jorge Viveiros de. De todas as únicas maneiras
permanente. A questão passa a ser não só se & outras. Rio de Janeiro: Letras, 2002. p.113)
187
TEXTO II Tal e qual vovô.
DE MANHÃ Pois só as crianças e os velhos conhecem a
volúpia de viver dia a dia, hora a hora, e
O hábito de estar aqui agora suas esperas e desejos nunca se estendem
aos poucos substitui a compulsão além de cinco minutos...
de ser o tempo todo alguém ou algo. (QUINTANA, Mário. Sapato florido. 1ª reimpressão.
Porto Alegre: Editora Globo, 2005)
Um belo dia – por algum motivo
é sempre dia claro nesses casos – 5. (Ufrj) O texto III se constrói por meio da
você abre a janela, ou abre um pote oposição entre dois campos semânticos, es-
de pêssegos em calda, ou mesmo um livro pecialmente no contraste entre a primeira e
que nunca há de ser lido até o fim a última estrofes.
e então a ideia irrompe, clara e nítida: Explicite essa oposição e retire, dessas es-
trofes, dois vocábulos com valor substantivo
É necessário? Não. Será possível? – um de cada campo semântico –, identifi-
De modo algum. Ao menos dá prazer? cando a que campo cada vocábulo pertence.
Será prazer essa exigência cega
188
corriqueira, tratamento degradante dado aos ainda amor apaixonado mais justificável do
pobres, estupidez elevada ao cúmulo, igno- que aquele que sentimos pela nossa própria
rância bruta transformada em trapalhada pessoa.
8
transcendental, além de um índice grotes- 3 O amor do eu é e sempre será a pedra
co de métodos de camuflagem e desaparição angular da sociedade humana, o regulador
de pessoas. Pois assim como 10Amarildo é dos sentimentos, o móvel das ações, e o farol
aquele que desapareceu das vistas, e não faz do futuro: do amor do eu nasce o amor do lar
muito tempo, Cláudia é aquela que subita- doméstico, deste o amor do município, deste
mente salta à vista, e ambos soam, queira-se o amor da província, deste o amor da nação,
ou não, como o verso e o reverso do mesmo. anéis de uma cadeia de amores que os tolos
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo julgam que sentem e tomam ao sério, e que
do que não pudemos ver no caso do desa- certos maganões envernizam, mistifican-
parecimento de Amarildo. A sua passagem do a humanidade para simular abnegação e
meteórica pela tela é um desfile do carnaval virtudes que não têm no coração e que eu
com a minha exemplar franqueza simplifi-
de horror que escondemos. 11Aquele carro é
co, reduzindo todos à sua expressão origi-
o carro alegórico de um Brasil, de um certo
nal e verdadeira, e dizendo, lar, município,
Brasil que temos que lutar para que não se
província, nação, têm a flama dos amores
transforme no carro alegórico do Brasil.
que lhes dispenso nos reflexos do amor em
(José Miguel Wisnik. O arrastão. Disponível em: oglobo.
que me abraso por mim mesmo: todos eles
globo.com, 22/03/2014. Acesso em 16/01/2017)
são o amor do eu e nada mais. A diferença
3
aplainada − nivelada está em simples nuanças determinadas pela
4
praxe − prática, hábito maior ou menor proporção dos interesses e
6
surrealistas − participantes de movimento das conveniências materiais do apaixonado
artístico do século 20 que enfatiza o papel adorador de si mesmo.
do inconsciente (MACEDO, Joaquim Manuel de. Memórias do sobrinho
de meu tio. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.)
7
recalcada − fortemente reprimida
8
transcendental − que supera todos os limites
10
Amarildo − pedreiro desaparecido na fave- TEXTO II
la da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013,
Já dois anos se passaram longe da pátria. Dois
depois de ser detido por policiais anos! Diria dois séculos. E durante este tempo
tenho contado os dias e as horas pelas bagas
Aquele carro é o carro alegórico de um Bra- do pranto que tenho chorado. Tenha embora
sil, de um certo Brasil que temos que lutar Lisboa os seus mil e um atrativos, ó eu quero
para que não se transforme no carro alegóri- a minha terra; quero respirar o ar natal (...).
co do Brasil. (ref. 11) Nada há que valha a terra natal. 1Tirai o índio
A sequência do emprego dos artigos em “de do seu ninho e apresentai-o d’improviso em
um Brasil” e “do Brasil” representa uma re- Paris: será por um momento fascinado dian-
lação de sentido entre as duas expressões, te dessas ruas, desses templos, desses már-
intimamente ligada a uma preocupação so- mores; mas depois falam-lhe ao coração as
cial por parte do autor do texto. lembranças da pátria, e trocará de bom grado
Essa relação de sentido pode ser definida ruas, praças, templos, mármores, pelos cam-
como: pos de sua terra, pela sua choupana na encos-
a) ironia ta do monte, pelos murmúrios das florestas,
b) conclusão pelo correr dos seus rios. Arrancai a planta
c) causalidade dos climas tropicais e plantai-a na Europa: ela
d) generalização tentará reverdecer, mas cedo pende e murcha,
porque lhe falta o ar natal, o ar que lhe dá
vida e vigor. Como o índio, prefiro a Portugal
2. (UERJ) TEXTO I e ao mundo inteiro, o meu Brasil, rico, ma-
jestoso, poético, sublime. Como a planta dos
1 Escreverei minhas “Memórias”, fato mais trópicos, os climas da Europa enfezam-me a
frequentemente do que se pensa observado existência, que sinto fugir no meio dos tor-
no mundo industrial, artístico, científico e mentos da saudade.
sobretudo no mundo político, onde muita (ABREU, Casimiro de. Obras de Casimiro de
gente boa se faz elogiar e aplaudir em bri- Abreu. Rio de Janeiro: MEC, 1955.)
lhantes artigos biográficos tão espontâneos,
1como os ramalhetes e as coroas de flores TEXTO III
que as atrizes compram para que lhos atirem LADAINHA I
na cena os comparsas comissionados.
2 Eu reputo esta prática muito justa e mui- Por se tratar de uma ilha deram-lhe o nome
to natural; porque não compreendo amor e de ilha de Vera Cruz.
189
Ilha cheia de graça. são iguais.
Ilha cheia de pássaros. Todas as experiências de sexo
Ilha cheia de luz. são iguais.
Todos os sonetos, gazéis, virelais, sextinas e
Ilha verde onde havia rondós são iguais
mulheres morenas e nuas 1
e todos, todos
anhangás a sonhar com histórias de luas 2
os poemas em verso livre são enfadonha-
e cantos bárbaros de pajés em poracés baten- mente iguais.
do os pés.
Todas as guerras do mundo são iguais.
Depois mudaram-lhe o nome Todas as fomes são iguais.
pra terra de Santa Cruz. 3
Todos os amores, iguais iguais iguais.
Terra cheia de graça Iguais todos os rompimentos.
Terra cheia de pássaros A morte é igualíssima.
Terra cheia de luz. Todas as criações da natureza são iguais.
Todas as ações, cruéis, piedosas ou indife-
A grande Terra girassol onde havia guerrei- rentes, são iguais.
ros de tanga e onças ruivas Contudo, o homem não é igual a nenhum ou-
[deitadas à sombra das árvores tro homem, bicho ou coisa.
[mosqueadas de sol.
Mas como houvesse, em abundância, Ninguém é igual a ninguém.
certa madeira cor de sangue cor de brasa 4
Todo ser humano é um estranho
e como o fogo da manhã selvagem 5
ímpar.
fosse um brasido no carvão noturno da pai- (Carlos Drummond de Andrade
sagem, Nova reunião: 19 livros de poesia. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1985.
e como a Terra fosse de árvores vermelhas
e se houvesse mostrado assaz gentil, – best-sellers – livros mais vendidos
deram-lhe o nome de Brasil. – gazéis, virelais, sextinas, rondós – tipos de
poema
Brasil cheio de graça
Brasil cheio de pássaros Todo ser humano é um estranho ímpar. (ref.
Brasil cheio de luz. 4 e 5)
(RICARDO, Cassiano. Seleta em prosa e verso.
No contexto, a associação dos adjetivos es-
Rio de Janeiro: José Olympio, 1975.) tranho e ímpar sugere que cada ser humano
não se conhece completamente.
Nos trechos a seguir, está em destaque um Isto acontece porque cada indivíduo pode
sintagma formado de substantivo e adjetivo. ser caracterizado como:
A única alternativa em que a inversão das a) solitário
duas palavras também poderia inverter sua b) singular
classe gramatical é: c) intolerante
a) “... reduzindo todos à sua EXPRESSÃO ORIGI- d) indiferente
NAL...” (texto I)
b) “... conveniências materiais do APAIXONADO
ADORADOR de si mesmo.” (texto I) 4. (UERJ) O ARRASTÃO
c) “Arrancai a planta dos CLIMAS TROPICAIS e
plantai-a na Europa...” (texto II) Estarrecedor, nefando, inominável, infame.
d) “... a sonhar com histórias de luas e CANTOS Gasto logo os adjetivos porque eles fracas-
BÁRBAROS de pajés...” (texto III) sam em dizer o sentimento que os fatos im-
põem. Uma trabalhadora brasileira, descen-
dente de escravos, como tantos, que cuida de
3. (UERJ) IGUAL-DESIGUAL quatro filhos e quatro sobrinhos, que parte
para o trabalho às quatro e meia das manhãs
Eu desconfiava: de todas as semanas, que administra com o
todas as histórias em quadrinho são iguais. marido um ganho de mil e seiscentos reais,
Todos os filmes norte-americanos são iguais. que paga pontualmente seus carnês, como
Todos os filmes de todos os países são iguais.
milhões de trabalhadores brasileiros, é ba-
Todos os best-sellers são iguais
Todos os campeonatos nacionais e interna- leada em circunstâncias não esclarecidas no
cionais de futebol são Morro da Congonha e, levada como carga no
iguais. porta-malas de um carro policial a pretexto
Todos os partidos políticos de ser atendida, é arrastada à morte, a céu
são iguais. aberto, pelo asfalto do Rio.
Todas as mulheres que andam na moda Não vou me deter nas versões apresentadas
190
pelos advogados dos policiais. Todas as vozes 5. (UERJ) O mal de Isaías é ser ambíguo. Ser e
terão que ser ouvidas, e com muita atenção não ser. Não é índio, nem cristão. Não é ho-
à voz daqueles que nunca são ouvidos. Mas, mem, nem deixa de ser, 1coitado. Ser dois é
antes das versões, o fato é que esse porta- não ser nenhum. Mas está acima de suas for-
-malas, ao se abrir fora do script, escanca- ças. Ele não pode deixar de participar de um
rou um real que está acostumado a existir
nós comigo que é excludente dos mairuns
na sombra.
e que quase me ofende. Também não pode
O marido de Cláudia Silva Ferreira disse que,
se o porta-malas não se abrisse como abriu sentir consigo mesmo que ele é apenas um
(por obra do acaso, dos deuses, do diabo), mairum entre os outros. O pobre não para
esse seria apenas “mais um caso”. Ele está de escarafunchar a cuca, se aclarando e se
dizendo: seria uma morte anônima, 3aplai- confundindo cada vez mais. Este casamento
nada pela surdez da 4praxe, pela invisibi- com Inimá. Será que ele gosta dela?(...)
lidade, uma morte não questionada, como Outro dia fiquei muito tempo atrás dele, no
tantas outras. pátio, confundida com toda gente que se
É uma imagem verdadeiramente surreal, não junta ali, na hora do pôr do sol, para comer
porque esteja fora da realidade, mas porque e conversar. Vi bem que ele não falava com
destampa, por um “acaso objetivo” (a ex- ninguém e que ninguém falava com ele. Nem
pressão era usada pelos 6surrealistas), uma
Inimá. Ouvi depois, ouvi bem que ele mur-
cena 7recalcada da consciência nacional, com
murava sozinho. Cheguei mais perto e ouvi
tudo o que tem de violência naturalizada e
corriqueira, tratamento degradante dado aos melhor; era uma ladainha em latim, como as
pobres, estupidez elevada ao cúmulo, igno- de meu pai:
rância bruta transformada em trapalhada Tra-lá-lá, ora pro nobis
8
transcendental, além de um índice grotes- Tre-lé-lé, ora pro nobis
co de métodos de camuflagem e desaparição Vamos ver se, agora de noite, nesse balan-
de pessoas. Pois assim como 10Amarildo é ço de rede, eu me esqueço dos outros para
aquele que desapareceu das vistas, e não faz pensar em mim. Preciso me concentrar no
muito tempo, Cláudia é aquela que subita- meu problema. Tentei pensar o dia inteiro,
mente salta à vista, e ambos soam, queira-se sem conseguir. Há dias que é assim. Até pa-
ou não, como o verso e o reverso do mesmo. rece que já não sou capaz. Será a gravidez
O acaso da queda de Cláudia dá a ver algo que me deixa lânguida? De onde virá essa
do que não pudemos ver no caso do desa-
lassidão? Estou grávida e não sei de quem.
parecimento de Amarildo. A sua passagem
Vou parir aqui entre os mairuns, este é pro-
meteórica pela tela é um desfile do carnaval
de horror que escondemos. Aquele carro é blema. Se problema existe, porque isto bem
o carro alegórico de um Brasil, de um certo pode ser uma solução. Com um filho crescen-
Brasil que temos que lutar para que não se do mairum eu não me integraria mais nesse
transforme no carro alegórico do Brasil. mundo que eu quero fazer meu? Ser a mãe
(José Miguel Wisnik. O arrastão de fulaninho não será para mim como para
Disponível em. oglobo.globo.com, um homem ser o pai de fulano? Os homens
22/03/2014. Acesso em: 16/01/2017.)
aqui mudam de nome quando têm um filho
3
aplainada − nivelada homem. Maxihú é o pai de Maxi. Teró por
4
praxe − prática, hábito muito tempo Jaguarhú. Eu seria Iuicuihí se
6
surrealistas − participantes de movimento minha filha se chamasse Iucui? Ou Mairahú
artístico do século 20 que enfatiza o papel se meu filho pudesse chamar-se Maíra? Será
do inconsciente que pode? Melhor é que seja menina: Iuicui.
7
recalcada − fortemente reprimida (RIBEIRO, Darcy. Maíra. Rio de Janeiro:
8
transcendental − que supera todos os limites Record, 1990, p. 372-3.)
10
Amarildo − pedreiro desaparecido na fave-
la da Rocinha, no Rio de Janeiro, em 2013, O emprego do adjetivo “coitado” (ref.1),
depois de ser detido por policiais referindo-se a Isaías, tem relação com o se-
guinte fato:
No início do texto, ao expressar sua indignação a) Isaías não é índio nem cristão.
em relação ao tema abordado, o autor apresen- b) Inimá está grávida dele.
ta uma reflexão sobre o emprego de adjetivos.
c) Isaías é um ser mítico.
Essa reflexão está associada à seguinte ideia:
d) Inimá não gosta dele.
a) o fato exige análise criteriosa
b) o contexto constrói ambiguidade
c) a linguagem se mostra insuficiente
d) a violência pede descrição cuidadosa
191
E.O. Objetivas 1. (Unesp) No último período do texto, os ter-
mos saberes e fazeres são
a) adjetivos.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) b) pronomes.
c) substantivos.
d) advérbios.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES e) verbos.
A(s) questão(ões) aborda(m) um fragmen-
to de um artigo de Mônica Fantin sobre o 2. (Unesp) adjetivo midiático, empregado no
uso dos tablets no ensino, postado na se- feminino plural (midiáticas), diz respeito a
a) diversidade de tipos de tablets.
ção de blogues do jornal Gazeta do Povo em
b) programas e projetos educacionais.
16.05.2013:
c) questões econômicas e sociais.
TABLETS NAS ESCOLAS d) meios de comunicação de massa.
e) variedade dos recursos tecnológicos.
Ou seja, não é suficiente entregar equipa-
mentos tecnológicos cada vez mais moder- 3. (Unesp) Para responder à(s) quest(ão)ões a
nos sem uma perspectiva de formação de seguir, leia o excerto do “Sermão da primei-
qualidade e significativa, e sem avaliar os ra dominga do Advento” de Antônio Vieira
programas anteriores. O risco é de cometer (1608-1697), pregado na Capela Real em
os mesmos equívocos e não potencializar as Lisboa no ano de 1650.
boas práticas, pois muda a tecnologia, mas as
Sabei cristãos, sabei príncipes, sabei minis-
práticas continuam quase as mesmas. tros, que se vos há de pedir estreita conta do
Com isso, podemos nos perguntar pelos de- que fizestes; mas muito mais estreita do que
safios da didática diante da cultura digital: o deixastes de fazer. Pelo que fizeram, se hão
tablet na sala de aula modifica a prática dos de condenar muitos, pelo que não fizeram,
professores e o cotidiano escolar? Em que todos. [...]
medida ele modifica as condições de apre- Desçamos a exemplos mais públicos. Por
ndizagem dos estudantes? Evidentemente uma omissão perde-se uma maré, por uma
isso pode se desdobrar em inúmeras outras maré perde-se uma viagem, por uma via-
questões sobre a convergência de tecnologias gem perde-se uma armada, por uma armada
perde-se um Estado: dai conta a Deus de
e linguagens, sobre o acesso às redes na sala
uma Índia, dai conta a Deus de um Brasil,
de aula e sobre a necessidade de mediações por uma omissão. Por uma omissão perde-se
na perspectiva dos novos letramentos e alfa- um aviso, por um aviso perde-se uma oca-
betismos nas múltiplas linguagens. sião, por uma ocasião perde-se um negócio,
Outra questão que é preciso pensar diz re- por um negócio perde-se um reino: dai conta
speito aos conteúdos digitais. Os conteúdos a Deus de tantas casas, dai conta a Deus de
que estão sendo produzidos para os tablets tantas vidas, dai conta a Deus de tantas fa-
realmente oferecem a potencialidade do zendas1, dai conta a Deus de tantas honras,
meio e sua arquitetura multimídia ou apenas por uma omissão. Oh que arriscada salvação!
Oh que arriscado ofício é o dos príncipes
estão servindo como leitores de textos com
e o dos ministros! Está o príncipe, está o
os mesmos conteúdos dos livros didáticos?
ministro divertido, sem fazer má obra, sem
Quem está produzindo tais conteúdos digi- dizer má palavra, sem ter mau nem bom
tais? De que forma são escolhidos e compar- pensamento: e talvez naquela mesma hora,
tilhados? por culpa de uma omissão, está cometendo
Ou seja, pensar na potencialidade que o tab- maiores danos, maiores estragos, maiores
let oferece na escola – acessar e produzir destruições, que todos os malfeitores do
imagens, vídeos, textos na diversidade de mundo em muitos anos. O salteador na char-
formas e conteúdos digitais – implica em neca com um tiro mata um homem; o prín-
repensar a didática e as possibilidades de cipe e o ministro com uma omissão matam
de um golpe uma monarquia. A omissão é o
experiências e práticas educativas, midiáti-
pecado que com mais facilidade se comete
cas e culturais na escola ao lado de questões
e com mais dificuldade se conhece; e o que
econômicas e sociais mais amplas. E isso facilmente se comete e dificultosamente se
necessariamente envolve a reflexão crítica conhece, raramente se emenda. A omissão é
sobre os saberes e fazeres que estamos pro- um pecado que se faz não fazendo. [...]
duzindo e compartilhando na cultura digital. Mas por que se perdem tantos? Os menos
(Tablets nas escolas. Disponível em: www. maus perdem-se pelo que fazem, que estes
gazetadopovo.com.br. Acesso em: 16/01/2017.) são os menos maus; os piores perdem-se pelo
192
que deixam de fazer, que estes são os piores: a) A fim de obter um efeito expressivo, o poeta
por omissões, por negligências, por descui- utiliza, em “a fábrica” e “se fabrica”, um
dos, por desatenções, por divertimentos, por substantivo e um verbo que têm o mesmo
vagares, por dilações, por eternidades. Eis radical.
aqui um pecado de que não fazem escrúpulo Cite da estrofe outro exemplo desse mesmo
os ministros, e um pecado por que se perdem
recurso expressivo.
muitos. Mas percam-se eles embora, já que
b) A expressividade dos seis últimos versos
assim o querem: o mal é que se perdem a si
e perdem a todos; mas de todos hão de dar decorre, em parte, do jogo de oposições en-
conta a Deus. Uma das cousas de que se de- tre palavras.
vem acusar e fazer grande escrúpulo os min- Cite desse trecho um exemplo em que a
istros, é dos pecados do tempo. Porque fiz- oposição entre as palavras seja de natureza
eram o mês que vem o que se havia de fazer semântica.
o passado; porque fizeram amanhã o que se
havia de fazer hoje; porque fizeram depois o
que se havia de fazer agora; porque fizeram 2. (Unesp) CRÔNICA DA VIDA QUE PASSA
logo o que se havia de fazer já. Tão delica-
das como isto hão de ser as consciências dos Às vezes, quando penso nos homens célebres,
que governam, em matérias de momentos. sinto por eles toda a tristeza da celebridade.
O ministro que não faz grande escrúpulo de A celebridade é um plebeísmo. Por isso deve
momentos não anda em bom estado: a fa- ferir uma alma delicada. É um plebeísmo
zenda pode-se restituir; a fama, ainda que porque estar em evidência, ser olhado por
mal, também se restitui; o tempo não tem todos inflige a uma criatura delicada uma
restituição alguma. sensação de parentesco exterior com as cria-
(Essencial, 2013. Adaptado.) turas que armam escândalo nas ruas, que
gesticulam e falam alto nas praças. O homem
1
fazenda: conjunto de bens, de haveres. que se torna célebre fica sem vida íntima:
Em “Está o príncipe, está o ministro diver- tornam-se de vidro as paredes de sua vida
tido, sem fazer má obra, sem dizer má pa- doméstica; é sempre como se fosse excessivo
o seu traje; e aquelas suas mínimas ações –
lavra, sem ter mau nem bom pensamento”
ridiculamente humanas às vezes – que ele
(2º parágrafo), o adjetivo destacado não está
quereria invisíveis, coa-as a lente da celeb-
empregado na acepção corrente de “alegre”;
ridade para espetaculosas pequenezes, com
o contexto, porém, permite recuperar a se-
cuja evidência a sua alma se estraga ou se
guinte acepção: enfastia. É preciso ser muito grosseiro para
a) distraído. se poder ser célebre à vontade.
b) debochado. Depois, além dum plebeísmo, a celebridade
c) empolgado. é uma contradição. Parecendo que dá valor
d) embriagado. e força às criaturas, apenas as desvaloriza e
e) malicioso. as enfraquece. Um homem de gênio descon-
hecido pode gozar a volúpia suave do con-
traste entre a sua obscuridade e o seu gênio;
E.O. Dissertativas e pode, pensando que seria célebre se qui-
sesse, medir o seu valor com a sua melhor
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) medida, que é ele próprio. Mas, uma vez con-
hecido, não está mais na sua mão reverter
1. (Fuvest) à obscuridade. A celebridade é irreparável.
E não há melhor resposta Dela como do tempo, ninguém torna atrás ou
se desdiz.
que o espetáculo da vida:
vê-la desfiar seu fio, E é por isto que a celebridade é uma fraqueza
que também se chama vida, também. Todo o homem que merece ser céle-
ver a fábrica que ela mesma, bre sabe que não vale a pena sê-lo. Deixar-se
teimosamente, se fabrica, ser célebre é uma fraqueza, uma concessão
vê-la brotar como há pouco ao baixo-instinto, feminino ou selvagem, de
em nova vida explodida; querer dar nas vistas e nos ouvidos.
mesmo quando é assim pequena Penso às vezes nisto coloridamente. E aquela
a explosão, como a ocorrida; frase de que “homem de gênio desconheci-
mesmo quando é uma explosão do” é o mais belo de todos os destinos, tor-
como a de há pouco, franzina; na-se-me inegável; parece-me que esse é não
mesmo quando é a explosão só o mais belo, mas o maior dos destinos.
de uma vida severina. (FERNANDO PESSOA. Páginas íntimas e de auto-
(João Cabral de Melo Neto, Morte e vida severina) interpretação. Lisboa: Edições Ática, [s.d.], p. 66-67.)
193
Na crônica apresentada, Fernando Pessoa da algazarra, já de fugida, vi o lobisomem
atribui três características negativas à celeb- pulando coxo, de pernil avariado, língua
ridade, descrevendo-as no segundo, terceiro sobressaída na boca. Na primeira gota de
e quarto parágrafos. Releia esses parágrafos sangue a maldição desencantava, como é de
e aponte os três substantivos empregados lei e dos regulamentos dessa raça de peni-
pelo poeta que sintetizam essas característi- tentes. No raiar do dia, sujeito que fosse vis-
cas negativas da celebridade. to de perna trespassada, ainda ferida verde,
podia contar, era o lobisomem.
3. (Unesp) A questão a seguir toma por base (O coronel e o lobisomem, 1980.)
uma passagem do romance O coronel e o
Explique a razão pela qual o narrador atribui
lobisomem, de José Cândido de Carvalho o adjetivo “verde” ao substantivo ferida, no
(1914-1989). último período do texto.
Como disse, rolava eu no capim, pronto a dar
ao caso solução briosa, na hora em que o que- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
relante apresentou aquela risada de pouco- OS SERTÕES
caso e deboche:
– Quá-quá-quá... A Serra do Mar tem um notável perfil em
Não precisou de mais nada para que o gênio nossa história. A prumo sobre o Atlânti-
dos Azeredos e demais Furtados viesse de co desdobra-se como a cortina de baluarte
vela solta. Dei um pulo de cabrito e prepara- desmedido. De encontro às suas escarpas
do estava para a guerra do lobisomem. Por embatia, fragílima, a ânsia guerreira dos
descargo de consciência, do que nem carecia, Cavendish e dos Fenton. No alto, volvendo
chamei os santos de que sou devocioneiro: o olhar em cheio para os chapadões, o foras-
– São Jorge, Santo Onofre, São José! teiro sentia-se em segurança. Estava sobre
Em presença de tal apelação, mais brabento ameias intransponíveis que o punham do
apareceu a peste. Ciscava o chão de soltar ter- mesmo passo a cavaleiro do invasor e da me-
ra e macega no longe de dez braças ou mais. trópole. Transposta a montanha - arqueada
Era trabalho de gelar qualquer cristão que como a precinta de pedra de um continente
não levasse o nome de Ponciano de Azeredo - era um isolador étnico e um isolador histó-
Furtado. Dos olhos do lobisomem pingava rico. Anulava o apego irreprimível ao litoral,
labareda, em risco de contaminar de fogo o que se exercia ao norte; reduzia-o a estreita
verdal adjacente. Tanta chispa largava o peni- faixa de mangues e restingas, ante a qual
tente que um caçador de paca, estando em se amorteciam todas as cobiças, e alteava,
distância de bom respeito, cuidou que o mato sobranceira às frotas, intangível no recesso
estivesse ardendo. Já nessa altura eu tinha das matas, a atração misteriosa das minas...
pegado a segurança de uma figueira e lá de Ainda mais - o seu relevo especial torna-a
cima, no galho mais firme, aguardava a delib- um condensador de primeira ordem, no pre-
eração do lobisomem. Garrucha engatilhada, cipitar a evaporação oceânica.
só pedia que o assombrado desse franquia de Os rios que se derivam pelas suas verten-
tiro. Sabidão, cheio de voltas e negaças, deu tes nascem de algum modo no mar. Rolam
ele de executar macaquice que nunca cuidei as águas num sentido oposto à costa. Entra-
que um lobisomem pudesse fazer. Aquele par nham-se no interior, correndo em cheio para
de brasas espiava aqui e lá na esperança de os sertões. Dão ao forasteiro a sugestão irre-
que eu pensasse ser uma súcia deles e não sistível das entradas.
uma pessoa sozinha. O que o galhofista que- A terra atrai o homem; chama-o para o seio
ria é que eu, coronel de ânimo desenfreado, fecundo; encanta-o pelo aspecto formosíssi-
fosse para o barro denegrir a farda e deslus- mo; arrebata-o, afinal, irresistivelmente, na
trar a patente. Sujeito especial em lobisomem correnteza dos rios.
como eu não ia cair em armadilha de pouco Daí o traçado eloquentíssimo do Tietê, dire-
pau. No alto da figueira estava, no alto da triz preponderante nesse domínio do solo.
figueira fiquei. Diante de tão firme deliber- Enquanto no S. Francisco, no Parnaíba, no
ação, o vingativo mudou o rumo da guerra. Amazonas, e em todos os cursos d'água da
Caiu de dente no pé de pau, na parte mais borda oriental, o acesso para o interior se-
afunilada, como se serrote fosse: guia ao arrepio das correntes, ou embatia
– Raque-raque-raque. nas cachoeiras que tombam dos socalcos dos
Não conversei – pronto dois tiros levantaram planaltos, ele levava os sertanistas, sem uma
asa da minha garrucha. Foi o mesmo que es- remada, para o rio Grande e daí ao Paraná
palhar arruaça no mato todo. Subiu asa de e ao Paranaíba. Era a penetração em Minas,
tudo que era bicho da noite e uma socie- em Goiás, em Santa Catarina, no Rio Gran-
dade de morcegos escureceu o luar. No meio de do Sul, no Mato Grosso, no Brasil inteiro.
194
Segundo estas linhas de menor resistência, que definem os lineamentos mais claros da expansão
colonial, não se opunham, como ao norte, renteando o passo às bandeiras, a esterilidade da terra,
a barreira intangível dos descampados brutos.
Assim é fácil mostrar como esta distinção de ordem física esclarece as anomalias e contrastes entre
os sucessos nos dous pontos do país, sobretudo no período agudo da crise colonial, no século XVII.
Enquanto o domínio holandês, centralizando-se em Pernambuco, reagia por toda a costa oriental,
da Bahia ao Maranhão, e se travavam recontros memoráveis em que, solidárias, enterreiravam o
inimigo comum as nossas três raças formadoras, o sulista, absolutamente alheio àquela agitação,
revelava, na rebeldia aos decretos da metrópole, completo divórcio com aqueles lutadores. Era qua-
se um inimigo tão perigoso quanto o batavo. Um povo estranho de mestiços levantadiços, expan-
dindo outras tendências, norteado por outros destinos, pisando, resoluto, em demanda de outros
rumos, bulas e alvarás entibiadores. Volvia-se em luta aberta com a corte portuguesa, numa reação
tenaz contra os jesuítas. Estes, olvidando o holandês e dirigindo-se, com Ruiz de Montoya a Madri
e Díaz Taño a Roma, apontavam-no como inimigo mais sério.
De feito, enquanto em Pernambuco as tropas de van Schkoppe preparavam o governo de Nassau,
em São Paulo se arquitetava o drama sombrio de Guaíra. E quando a restauração em Portugal veio
alentar em toda a linha a repulsa ao invasor, congregando de novo os combatentes exaustos, os
sulistas frisaram ainda mais esta separação de destinos, aproveitando-se do mesmo fato para es-
tadearem a autonomia franca, no reinado de um minuto de Amador Bueno.
Não temos contraste maior na nossa história. Está nele a sua feição verdadeiramente nacional.
Fora disto mal a vislumbramos nas cortes espetaculosas dos governadores, na Bahia, onde impe-
rava a Companhia de Jesus com o privilégio da conquista das almas, eufemismo casuístico disfar-
çando o monopólio do braço indígena.
(EUCLIDES DA CUNHA. Os sertões. Edição crítica de Walnice Nogueira Galvão. 2 ed. São Paulo: Editora Ática, 2001, p. 81-82.)
4. (Unesp) Um dos aspectos em que Euclides da Cunha busca alguns de seus melhores efeitos é o
da adjetivação, que torna seu discurso ao mesmo tempo vário e expressivo, razão pela qual alguns
o consideram, comparando-o com poetas ainda ativos em sua época, um "prosador parnasiano".
Releia com atenção o último parágrafo do texto apresentado e, a seguir, aponte três dos adjetivos
que nele ocorrem.
5. (Unicamp) Gramática
Composição de Sandra Peres e Luiz Tatit (Palavra Cantada)
a) Nessa letra de música são atribuídos sentidos às classificações gramaticais. Escolha duas delas e expli-
que o sentido explorado, justificando sua pertinência ou não.
b) Nas duas últimas estrofes, há um deslocamento no uso de 'idiotismo'. Explique-o.
195
Gabarito E.O. UERJ
Exame de Qualificação
E.O. Aprendizagem 1. D 2. B 3. B 4. C 5. A
1. B 2. A 3. C 4. B 5. C
6. B 7. E 8. A 9. D 10. D
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
E.O. Complementar 1.
a) Nota-se o mesmo recurso em “fio” e “des-
1. D 2. C 3. C 4. C 5. E fiar”, ou seja, substantivo e verbo forma-
dos a partir de um mesmo radical.
b) Exemplo de oposição semântica se dá en-
E.O. Dissertativo tre os termos explosão e franzina ou ex-
1. Enquanto o artigo indefinido expressa uma plosão e pequena. A palavra “explosão”
ideia genérica de pluralidade, sugerindo que cria a expectativa de potência, amplitude,
a identidade normal representa uma entre grandiosidade; os adjetivos franzina (o
outras identidades (uma parte do todo), o mesmo que enfraquecida, débil) e peque-
artigo definido, delimitando o nome, sugere na contrariam essa expectativa, configu-
a ideia de singularidade, de tal modo que a rando a oposição semântica.
identidade normal é caracterizada como um 2.
As três características negativas que Fernan-
padrão único e “natural”. do Pessoa atribui à celebridade são represen-
2. tadas pelos substantivos “plebeísmo”, “con-
a) Os quatro adjetivos são: histórico, provi- tradição” e “fraqueza”.
sório, mutável e mutante. 3.
O termo “verde” designa metaforicamente o
estado da ferida: ainda está no começo, ou
b) No texto II é abordada a transformação do
seja, é recente.
corpo, que, com o passar dos anos, muda
4.
Há cinco adjetivos no último parágrafo. Pos-
e envelhece, assim como mostram os ad- síveis respostas: "maior", "nacional", "espe-
jetivos do texto I: o corpo é “histórico, taculosas", "casuístico", "indígena".
provisório, mutável e mutante”. 5.
3. a) O autor estabelece intertextualidade com
a) Não se quis caracterizar o substantivo ve- algumas definições gramaticais ao apre-
lho, deixando-o no sentido geral. sentar os seus próprios conceitos sobre de-
b) A comparação "como tantos outros". terminados termos e explora poeticamente
"Tantos outros" reitera o sentido de in- essa relação. Nas duas primeiras estrofes,
determinação do artigo indefinido. por exemplo, apresenta substantivo como
4. “substituto do conteúdo” e adjetivo como
a) vida organizada; povo feliz; (povo) de ca- a nossa impressão sobre quase tudo. A as-
beça muito sólida e mãos reforçadas: ca- sociação é pertinente, na medida em que
beça muito sólida; mãos reforçadas; coi- a gramática conceitua o primeiro como a
sas aladas; (coisas) cheias de sabedoria; classe de lexema que nomeia os seres, ou
vida longa; os cabecences-para-baixo. seja, tudo o que existe, e o segundo como a
b) Os sintagmas (citados na questão ante- classe que caracteriza o substantivo, asso-
rior) no texto II trazem uma conotação ciando-lhe muitas vezes aspectos subjeti-
positiva, ou seja, estão relacionados à vos (“nossa impressão sobre quase tudo”).
felicidade, à sabedoria, à organização, à b) Uma expressão idiomática ou idiotismo é
longevidade, o que contrasta com a carac- um conjunto de palavras que se caracte-
riza por não ser possível identificar seu
terização normalmente atribuída a "povo
significado mediante o sentido literal
primitivo".
dos termos analisados individualmente,
5. Os dois campos semânticos presentes na cos- por serem associadas a gírias ou contex-
trução do poema indicam aspectos positivos tos culturais específicos a certos grupos
e negativos: juventude versus maturidade; de pessoas que se distinguem pela classe,
beleza versus decrepitude; nascimento ver- idade, região, profissão ou outro tipo de
sus morte; luminosidade versus sombra. Os afinidade. Na penúltima estrofe, o autor
vocábulos representativos desses campos ao associar o termo à “fala de um imbecil”
semânticos são aurora, sol, dia, flor, beleza amplia o significado da palavra: ausência
versus terra, cinza, pó, sombra, nada. total de inteligência, estupidez, insânia.
196
INFOGRÁFICO:
Abordagem da LITERATURA nos principais vestibulares.
FUVEST – A maior parte das questões de literatura da Fuvest refere-se às obras obrigatórias.
Neste caderno, você encontrará alguns desses exercícios de anos anteriores sobre o HUMA
NISMO, bem como questões sobre as estéticas medieval, clássica e barroca.
IC
INA
FA
BO
1963
T U C AT U da Unicamp refere-se às obras obrigatórias. Neste ca-
derno, você encontra alguns desses exercícios de anos
anteriores sobre o HUMANISMO e o CLASSICISMO.
ENEM / UFRJ – Como o ENEM não possui uma lista obrigatória de livros, os exer-
cícios deste exame contemplam o conhecimentos das escolas literárias, bem como
de seus principais representantes.
UERJ – Neste caderno, você encontrará exercícios da UERJ apenas nas aulas 1 e 2. Até
o vestibular 2017, a UERJ NÃO exigia o conhecimento de LITERATURA PORTUGUESA.
LITERATURA
Aulas 1 e 2: A arte literária e o estudo dos gêneros 199
Aulas 3 e 4: Trovadorismo a literatura da Idade Média 231
Aulas 5 e 6: Humanismo e Classicismo 257
Aulas 7 e 8: Classicismo: Camões épico e lírico 285
Aulas 9 e 10: Quinhentismo e Barroco 309
© Suchota/Shutterstock
© Suchota/Shutterstock
Aulas
1e2
A arte literária e
o estudo dos gêneros
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
O que é arte?
Esse é um conceito historicamente muito discutido. Um estudo de Literatura que se pretenda aprofundado deve
levar em consideração os sentidos da arte e notadamente a análise técnica dela. A palavra literatura é de origem
latina e significa “arte de escrever”. Portanto, conjugar essa relação entre arte e escrita é o primeiro passo para
dar corpo à maneira de divulgar os valores culturais que estruturam uma sociedade e uma civilização. Entender
os conhecimentos científicos, filosóficos, místicos e artísticos de um dado contexto é de fato conhecer o próprio
homem e compreender sua identidade.
O filósofo Aristóteles considerava que a arte era uma maneira de “imitar” (mimesis, do grego) a realidade
do homem, que, em seus vários suportes, cria essa possibilidade de fazê-lo pensar sua própria vida, autoconhecer-
-se, encontrar-se como ser humano, observar criticamente a realidade, divertir-se e sonhar.
Da Antiguidade Clássica à Idade Moderna e Contemporânea, a arte se manifesta em vários suportes – mú-
sica, pintura, literatura, dança, escultura e teatro. Funciona como elemento transformador da consciência humana.
O artista, esse criador, cria e recria realidades, expressa valores estéticos com beleza, harmonia e equilíbrio e
estrutura-se à luz de um contexto de circulação, de transformação, de um agente e de um público.
No decorrer dos tempos, esses conceitos foram se transformando sem perder sua lógica. Seja na perfeição
e harmonia das formas da Antiguidade Clássica (período greco-latino), seja no teocentrismo medieval, com suas
relações de vassalagem, seja no século XIX, com suas utopias românticas, seja nas vanguardas artísticas do século XX.
Emoções humanas, alegrias e angústias, ideologias, religião, luta social e cultura sempre perpassaram e frequenta-
ram os conceitos estéticos da arte e da literatura.
O que nos leva a ir ao cinema, a um show, à biblioteca, ao museu e, principalmente, a ler um livro? A
resposta está no reflexo da própria condição humana, no processo de identificação do homem com a arte. Essa
atitude transforma só pelo fato de estarmos refletindo, primeira condição da arte. Esse ponto de partida, indepen-
201
dentemente de sua presumível qualidade, é uma forma O essencial em Literatura é estabelecer uma relação
de compreender o mundo que nos cerca. de sentido entre as palavras e os leitores, para tanto, os escri-
É impossível não se identificar com o eu lírico, a voz tores se valem de uma série de recursos técnicos que elevam
do poema, ao lermos versos como este, de Manuel Bandeira: essa linguagem ao conceito de arte, diferindo, por exemplo,
de um texto informativo ou instrucional, o texto literário
O Bicho deve explorar o potencial significativo e sonoro das palavras,
(Manuel Bandeira) bem como os aspectos ora denotativos, em sua literalidade
de dicionário, ora conotativos em que as palavras adquirem
Vi ontem um bicho novo sentido a fim de produzir efeito artístico.
Na imundice do pátio O poder de explorar os sentidos coloca essas
Catando comida entre os detritos. palavras em situações inusitadas, criando imagens com
Quando achava alguma coisa, as figuras de linguagem nas quais o escritor “desenha”
Não examinava nem cheirava: para o leitor comparações que concretizam as emoções.
Engolia com voracidade. Como no uso da metáfora, que aproxima dois elementos
O bicho não era um cão, num contexto específico, transferindo de um para outro
Não era um gato, suas características. Como no exemplo a seguir, de Má-
Não era um rato. rio Quintana, em que a “inspiração” é comparada, por
O bicho, meu Deus, era um homem. metáfora, a “um pássaro que pousa no livro que lês”.
202
O que é gênero literário? como o pedido de inspiração do poeta às musas para
contar a história de Odisseu, que passou por terríveis
provações até desfazer as muralhas de Troia:
Gênero é o modo como se veicula a mensagem lite-
rária, o padrão a ser utilizado na composição artística. Musa, reconta-me os feitos do herói astucioso
Há grandes diferenças entre o conteúdo e a forma dos que muito peregrinou, dês que esfez as muralhas sagra-
textos. Um poema não se confunde com um conto, e um das de Troia; muitas cidades dos homens viajou, conhe-
romance segue padrões bastante próprios em relação a ceu seus costumes, como no mar padeceu sofrimen-
uma peça de teatro, por exemplo. tos inúmeros na alma,para que a vida salvasse e a de
Na Antiguidade Clássica, Aristóteles conceituou seus companheiros a volta.
Homero. Odisseia. Tradução de: Carlos Alberto Nunes.
conteúdo como elemento constitutivo da representação 5. ed. Rio de Janeiro: Ediouro, 1997. Coleção Universidades.
das paixões, das ações e do comportamento humano. A
forma desse conteúdo, a princípio aplicada apenas à po-
A estrutura do poema épico
esia, compreende três gêneros: épico, lírico e dramático.
É dividido em partes, chamadas cantos, que,
por sua vez, são divididos em:
§§ Proposição:
O texto apresenta o tema e o herói.
§§ Invocação:
O texto pede inspiração à musa (divindade
inspiradora da poesia).
§§ Narração:
Narração das aventuras do herói.
§§ Conclusão ou Epílogo:
Encerramento das aventuras e conclusão
dos feitos heroicos.
Odisseu e Penélope
As epopeias são divididas em “clássicas ou pri-
O gênero épico márias” ou de “imitação ou secundárias”.
Épico é derivado do grego épos que, entre outras coisas, Epopeias clássicas ou primárias
significa palavra, verso, discurso. Esse gênero, também
chamado de epopeia, nasceu com a Ilíada e a Odisseia, A estrutura dos poemas de Homero serviu de inspiração
de Homero. Oriundo das tradições orais, elas contam his- para outros poetas, como o latino Virgílio, em Eneida
tórias que auxiliam o homem a entender a trajetória de (19 a.C.), e Camões, em Os Lusíadas (1572). A Odisseia
seus povos. É característica das narrativas mais antigas a e a Ilíada, de Homero, são textos clássicos que inspira-
simbolização dos ideais coletivos de um povo na figura ram e sistematizaram regras e estruturas formais para
de um herói imerso numa grande aventura, numa guerra os demais.
ou num acontecimento histórico. O eu lírico da epopeia
relaciona-se diretamente com a sociedade. A imagem do
herói é constituída de uma representação de seu povo,
cujo comportamento exemplar vai caracterizá-lo como
figura predestinada a cumprir determinada missão.
Narrados de maneira elevada e com vocabulário
grandiloquente e solene, os assuntos históricos sofrem
influência do imaginário e não se privam de recorrer à
imaginação, bem como à mitologia.
Na cena inicial da Odisseia, de Homero, é possí-
vel identificar características primordiais do texto épico, Eneias foge em direção à península Itálica.
203
Nesse tipo de texto, os deuses são apresentados Menos grandiosos que os da epopeia, seus te-
como seres reais que são tomados por sentimentos hu- mas dizem respeito ao mundo interior do eu lírico, aos
manos e podem tanto prejudicar como ajudar o herói, de- sentimentos, ao individualismo, às relações consigo
pendendo do seu estado emocional e da preponderância mesmo. Pronomes e verbos vêm normalmente na pri-
do tema narrado. Outro aspecto importante é perceber a meira pessoa do singular e predominam as emoções,
preocupação do poeta em relacionar as ações do herói rimas, ritmo, sonoridade das palavras, metáforas, repeti-
com o povo a que pertence a fim de criar uma divulgação ções, entre outras figuras de linguagem, que trazem aos
da identidade pátria. versos musicalidade e suavidade.
O gênero lírico é subdividido em: soneto, elegia,
Epopeias de imitação ou secundárias ode, madrigal, écloga etc. São formas poéticas mais
afeitas ao gênero lírico.
Entre os anos 30 e 19 a.C., o poeta latino Virgílio escre-
§§ Soneto – forma lírica bastante conhecida, é
veu a Eneida, considerada a “epopeia nacional dos ro-
manos”. No classicismo renascentista, o português Luís composta de catorze versos, com dois quartetos
de Camões escreveu Os Lusíadas, um dos mais conheci- e dois tercetos.
dos poemas épicos de imitação. Nele, são reveladas as
aventuras e peripécias do herói Vasco da Gama, primei- Soneto da fidelidade
(Vinicius de Moraes)
ro navegante que cruzou o Cabo da Boa Esperança, ao
sul da África, e levou os portugueses às Índias por uma
De tudo ao meu amor serei atento
nova rota comercial. Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Esse gênero nasceu na Grécia antiga, cujos poemas Lenta, a raça esmorece, e a alegria
eram acompanhados musicalmente pela lira. É o gênero É como uma memória de outrem. Passa
centrado na expressão do “eu poético” ou “eu poemá- Um vento frio na nossa nostalgia
tico” – voz que fala no poema, não necessariamente E a nostalgia torna-se desgraça.
correspondente à voz do autor. Pesa em nós o passado e o futuro.
204
Dorme em nós o presente. E a sonhar o poeta trata de imitar a mosca,
A alma encontra sempre o mesmo muro, mas o gato
E encontra o mesmo muro ao despertar. quer ser só gato
Quem nos roubou a alma? Que bruxedo e todo gato é gato
De que magia incógnita e suprema do bigode ao rabo,
Nos enche as almas de dolência e medo do pressentimento à ratazana viva,
Nesta hora inútil, apagada e extrema? da noite até os seus olhos de ouro.
205
talvez não sejas mistério, O que eu adoro em ti,
todo o mundo sabe de ti e pertences Não é a mãe que já perdi.
ao habitante menos misterioso Não é a irmã que já perdi.
talvez todos o acreditem, E meu pai.
todos se acreditem donos,
O que eu adoro em tua natureza,
proprietários, tios
Não é o profundo instinto maternal
de gato, companheiros,
Em teu flanco aberto como uma ferida.
colegas,
Nem a tua pureza. Nem a tua impureza.
discípulos ou amigos do seu gato.
O que eu adoro em ti – lastima-me e consola-me!
Eu não. O que eu adoro em ti, é a vida.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
§§ Écloga – poema ambientado no campo, pastoril
Tudo sei, a vida e o seu arquipélago,
e bucólico.
o mar e a cidade incalculável,
a botânica
o gineceu com os seus extravios, Écloga IV (v. 52-59)
(Virgílio)
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
Vê como, com os séculos por vir, tudo se alegra.
a casca irreal do crocodilo,
A última parte desta vida seja-me tão longa,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote, que para dizer os feitos não me falte alento!
mas não posso decifrar um gato. O trácio Orfeu não poderá vencer-me nestes cantos,
Minha razão resvalou na sua indiferença, nem Lino, ainda que a Orfeu a mãe Calíope socorra
os seus olhos têm números de ouro. e por seu turno a Lino dê assistência o belo Apolo.
Se competir comigo o próprio Pã, por juiz a Arcádia,
§§ Madrigal – composição poética elegante cujos dar-se-á por vencido o próprio Pã, por juiz a Arcádia.
temas invocam atos heroicos e pastoris.
Natureza das rimas
Madrigal melancólico
(Manuel Bandeira) §§ Ricas – entre palavras de classes gramaticais
diferentes:
O que eu adoro em ti,
Cristina e ensina
Não é a tua beleza.
A beleza, é em nós que ela existe. §§ Pobres – entre palavras de mesma classe
A beleza é um conceito. gramatical:
E a beleza é triste. Precisava esconder sua afeição...
Não é triste em si, Na Idade Média, uma imortal paixão
Mas pelo que há nela de fragilidade e de incer-
teza.
§§ Toantes – entre sons vocálicos repetidos:
O que eu adoro em ti,
Não é a tua inteligência. hora e bola; saltava e mata
Não é o teu espírito sutil,
§§ Aliterantes – entre sons consonantais idênti-
Tão ágil, tão luminoso,
cos ou semelhantes:
– Ave solta no céu matinal da montanha.
Nem é a tua ciência vozes, veladas, veludosas, vozes/
Do coração dos homens e das coisas. vagam nos velhos vórtices velozes
O que eu adoro em ti, §§ Consoantes – entre sons e letras repetidos:
Não é a tua graça musical,
Sucessiva e renovada a cada momento, terra e serra;
Graça aérea como o teu próprio pensamento. amoníaco e zodíaco;
Graça que perturba e que satisfaz. rutilância e infância
206
§§ Esdrúxulas – entre palavras proparoxítonas: Disposição das rimas no poema
É um flamejador, dardânico
§§ Mistas – sem posição regular:
uma explosão de rápidas ideias,
De uma, eu sei, entretanto 1,
que com um mar de estranhas odisseias
Que cheguei a estimar 2
saem-lhe do crânio escultural, titânico!... Por ser tão desgraçada 3!
(Cruz e Sousa)
Tive-a hospedada 3 a um canto 1
Do pequeno jardim 4;
§§ Agudas – entre palavras oxítonas: Era toda riscada 3
dó e só; fez e vez; ti e vi De um traço cor de mar 2
E um traço carmesim 4.
§§ Preciosas – entre palavras combinadas: (Alberto de Oliveira)
múmia e resume-a; réstea e veste-a;
águia e alague-a; estrela e vê-la §§ Emparelhadas (AABB):
No rio caudaloso que a solidão retalha A,
§§ Versos brancos – verso sem rimas.
na funda correnteza na límpida toalha A,
deslizam mansamente as garças alvejantes B;
Irene no Céu nos trêmulos cipós de orvalho gotejantes B...
(Manuel Bandeira)
(Fagundes Varela)
Irene preta
§§ Interpoladas ou opostas (ABBA):
Irene boa
Irene sempre de bom humor. Mais de mil anos-luz já separado A,
Naquela hora, do meu pensamento B.
Imagino Irene entrando no céu:
O filme de uma vida, ínfimo momento B,
– Licença, meu branco! E São Pedro bonachão:
O derradeiro instante havia impregnado A.
– Entra, Irene. Você não precisa pedir licença.
§§ Alternadas ou cruzadas (ABAB):
Classificação das rimas Amor, essência da vida A,
é uma expressão de Deus B.
§§ Monossílabos: uma sílaba. Alma, não fique perdida A!
Ele luz os dias seus B.
§§ Dissílabos: duas sílabas.
207
for/mo/sas §§ Octossílabos – oito sílabas:
de/ vi/vo No ar/ so/sse/ga/do, um/ si/no/ can/ta
car/mim Um/ si/no/ can/ta/ no ar/ som/bri/o
(Casimiro de Abreu)
(Olavo Bilac)
§§ Pentassílabos ou redondilha menor – cinco A/ ca/sa/ que/ foi/ mi/nha,/ ho/je é/ ca/sa/ de/ Deus.
sílabas: Traz/ no/ topo u/ma/ cruz./ A/li/ vi/vi/ com os/ meus
(Aberto de Oliveira)
Meu/ can/to/ de/ mor/te,
Gue/rrei/ros/ ou/vi §§ Bárbaros – mais de doze sílabas:
Sou/ fi/lho/ das/ sel/vas
Nas/ sel/vas/ cres/ci; Nun/ca /co/nhe/ci /quem/ ti/ve/sse/ le/va/do/
po/rra/da.
Gue/rrei/ros/ des/cen/do
Da/ tri/bo/ tupi To/dos os/ meus/ co/nhe/ci/dos/ têm/ si/do/
(Gonçalves Dias) cam/pe/ões/ em/ tudo.
(Fernando Pessoa)
208
§§ Comédia
Enfatiza o comportamento ridículo do ser hu-
mano mediante exposição e crítica de costumes
sociais. Exemplos: O doente imaginário, de Mo-
lière; A tempestade, de Shakespeare; e Lisístrata,
de Aristófanes.
Caracterizam o gênero dramático a ausência de
§§ Drama
narrador, o discurso direto – estrutura dialogada – e as
A peça funde tragédia e comédia sem, no en-
rubricas – instruções que sinalizam ao diretor e aos ato-
res a postura no palco, o tom de voz etc. tanto, que a história caminhe para resultados
Em vez do narrador, o texto dramático conta a irreversíveis. Em geral, trata de fatos do coti-
história pretendida mediante diálogo entre os persona- diano com final feliz ou não, mas com trajetória
gens, que estabelecem com o público uma relação direta, intrigante, de difícil solução. Exemplo: Leonor de
a fim de comprometê-lo emocionalmente com a história Mendonça, de Gonçalves Dias; e Macário, de Ál-
contada e os personagens dela. O termo teatro deriva do vares de Azevedo.
grego théatron, que significa “ver”, “contemplar”.
Esse gênero subdivide-se em tragédia, comédia, §§ Auto
drama, auto e farsa. Peça teatral curta regularmente com temática
§§ Tragédia religiosa e moralizante e com finalidade cate-
Conta histórias cujos resultados são destruti- quética, que discute conceitos abstratos e sim-
vos e irreversíveis. Em geral baseada em mitos bólicos. Exemplo: O auto da barca do inferno, de
e histórias já conhecidas do público, a tragédia Gil Vicente.
pretende causar no espectador terror, piedade,
catarse, enfim: “descarga de desordens emo- §§ Farsa
cionais ou afetos desmedidos a partir da expe- Peça teatral de crítica social que apresenta per-
riência estética oferecida pelo teatro, música e sonagens e situações caricaturadas sem preocu-
poesia”. Personagens lutam contra forças mais pação com o questionamento de valores. Exem-
poderosas que elas, que, em princípio, são venci- plo: A farsa de Inês Pereira, de Gil Vicente.
das regularmente com a morte. Sugestão: Édipo
Rei, de Sófocles.
209
O gênero narrativo §§ Apólogo
Historinha entre objetos inanimados com moral
Oriunda do gênero épico, a narrativa organiza uma his- implícita ou explícita. Um apólogo, de Macha-
tória levando em consideração aspectos primordiais de do de Assis, trata da conversa entre uma agulha
e uma linha que discutem sobre a importância
sua estrutura: apresentação, desenvolvimento, clímax e
delas. Observe o último parágrafo em que está
desfecho.
implícita a moral:
Os gêneros narrativos apresentam-se como:
“Parece que a agulha não disse nada; mas um
§§ Conto alfinete, de cabeça grande e não menor experi-
Narrativa curta centrada em um único aconteci- ência, murmurou à pobre agulha:
mento. Apresenta uma ação que se encaminha – Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir ca-
para uma tensão (clímax) entre personagens, minho para ela e ela é que vai gozar da vida,
delimitados num tempo e espaço reduzidos. enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze
Exemplos: Amor, de Clarice Lispector; O menino como eu, que não abro caminho para ninguém.
do boné cinzento, de Murilo Rubião; e A causa Onde me espetam, fico.
secreta, de Machado de Assis. Contei esta história a um professor de melanco-
lia, que me disse, abanando a cabeça:
§§ Novela
– Também eu tenho servido de agulha a muita
Narrativa situada entre a brevidade do conto e linha ordinária!”
a longevidade do romance. Exemplos: A hora e
§§ Fábula
a vez de Augusto Matraga, de Guimarães Rosa;
Difere do apólogo, uma vez que seus persona-
e Os crimes da rua Morgue, de Edgar Allan Poe.
gens são animais. Esse gênero teve ilustres cul-
§§ Crônica tores na literatura ocidental, como Esopo, Fedro
Narrativa breve baseada na vida cotidiana, deli- e La Fontaine, cujas fábulas estão reunidas em
mitada por tempo cronológico curto, em lingua- doze livros.
gem coloquial e leve toque de humor e crítica.
Exemplos: Comédias da vida privada – 101 crô-
nicas escolhidas, de Luís Fernando Veríssimo.
§§ Romance
Narrativa longa que discorre sobre um grande con-
flito central que dá origem a outros secundários,com
preendendo vários personagens em constante
conflito psicológico, envolvidos pela trama que
caminha para um clímax. Exemplos: Grande ser-
tão: veredas, de Guimarães Rosa; São Bernardo,
de Graciliano Ramos; e O senhor dos anéis, de
J.R.R. Tolkien.
§§ Anedota
Relato de um acontecimento curioso ou engra-
çado. Como o provérbio, a anedota, além da
tradição oral, vem inserida em textos literários.
Exemplos: O asno de ouro, do escritor latino
Apuleio, é uma constelação de pequenas aven-
turas picantes.
210
INTERATIVIDADE
LER
Livros
O que é literatura – Marisa Lajolo
A
E.O. Aprendizagem Aprende a amá-la que a amarás um dia.
Então ela será tua alegria,
E será ela só tua ventura...
1. O gênero dramático, entre outros aspectos, A vida é vã como a sombra que passa
apresenta como característica essencial: Sofre sereno e de alma sombranceira
a) a presença de um narrador. Sem um grito sequer tua desgraça.
b) a estrutura dialógica. Encerra em ti tua tristeza inteira
c) o extravasamento lírico.
E pede humildemente a Deus que a faça
d) a musicalidade.
Tua doce e constante companheira...
e) o versilibrismo.
Manuel Bandeira
214
Leia o trecho do poema para responder às 9. Gênero dramático é aquele em que o artista
questões 7 e 8. usa como intermediária entre si e o públi-
co a representação. A palavra vem do grego
Moça de Goiatuba drao (fazer) e quer dizer ação. A peça teatral
é, pois, uma composição literária destinada
Mal rompeu o dia – a moça
Foi levar café com leite à apresentação por atores em um palco, atu-
Para o filho do patrão, ando e dialogando entre si. O texto dramáti-
Sentada à beira da cama, co é complementado pela atuação dos atores
Como fez sempre, esperava, no espetáculo teatral e possui uma estrutura
Como fez sempre, que o moço específica, caracterizada:
lhe reclamasse mais pão. 1) pela presença de personagens que devem
Mas o moço não queria estar ligados com lógica uns aos outros e à
nem pão nem café com leite. ação;
Queria – e com que paixão 2) pela ação dramática (trama, enredo), que
dentro dos olhos! – queria-lhe é o conjunto de atos dramáticos, maneiras
os peitinhos em botão. de ser e de agir das personagens encadeadas
Daí o moço pediu-lhe à unidade do efeito e segundo uma ordem
que se deitasse com ele composta de exposição, conflito, complica-
um pouco... que assim veria ção, clímax e desfecho;
que era bom o colchão. 3) pela situação ou ambiente, que é o con-
Mas a moça riu e disse
junto de circunstâncias físicas, sociais, espi-
que não tinha precisão,
rituais em que se situa a ação;
pois era dia e de noite
tinha dormido um tantão. 4) pelo tema, ou seja, a ideia que o autor
Daí o moço pediu-lhe (dramaturgo) deseja expor, ou sua interpre-
que ela tirasse o vestido tação real por meio da representação.
depois a combinação Adaptado de: COUTINHO, A. Notas de teoria literária.
depois deitasse na cama Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
que era bem quente o colchão.
Mas a moça riu e disse Considerando o texto e analisando os ele-
não estar com frio não mentos que constituem um espetáculo tea-
que o vestido que vestia tral, conclui-se que:
tirar não podia não a) a criação do espetáculo teatral apresenta-se
que a patroa foi quem disse como um fenômeno de ordem individual, pois
que devia ter vergonha não é possível sua concepção de forma coletiva.
e cobrir-se com vestido, b) o cenário onde se desenrola a ação cênica
calcinha e combinação... é concebido e construído pelo cenógrafo de
E se foi, deixando moço modo autônomo e independente do tema da
a se torcer de paixão. peça e do trabalho interpretativo dos atores.
E quando foram chamá-lo, c) o texto cênico pode originar-se dos mais
o moço tinha dormido variados gêneros textuais, como contos, len-
e não acordou mais não. das, romances, poesias, crônicas, notícias,
[...] imagens e fragmentos textuais, entre outros.
SOUZA, Afonso Félix de. Nova antologia poética.
Goiânia: Cegraf UFG, 1991, p. 78. d) o corpo do ator na cena tem pouca impor-
tância na comunicação teatral, visto que o
7. Uma característica incomum ao gênero lírico mais importante é a expressão verbal, base
presente neste trecho do poema é: da comunicação cênica em toda a trajetória
a) a representação da totalidade da vida. do teatro até os dias atuais.
b) a expressão direta de personagens. e) a iluminação e o som de um espetáculo cê-
c) a narração de uma história. nico independem do processo de produção/
d) o uso da prosa. recepção do espetáculo teatral, já que se tra-
e) o emprego da prosa poética. ta de linguagens artísticas diferentes, agre-
gadas posteriormente à cena teatral.
8. Um elemento da poesia moderna encontrado
neste trecho do poema é: 10. “Na serra de Ibiapaba, numa de suas encos-
a) o tema cotidiano. tas mais altas, encontrei um jegue. Estava
b) o humor irônico. voltado para o lado e me pareceu que descor-
c) as rimas inconstantes. tinava o panorama. Mas quando me aproxi-
d) a métrica irregular. mei, percebi que era cego.”
e) a experimentação linguística. Oswaldo França Júnior, em As Laranjas Iguais.
215
O fragmento é representante do gênero: a) II – I – V – III – IV
a) lírico. b) II – I – IV – V – III
b) épico. c) II – I – III – V – IV
c) narrativo. d) I – II – V – III – IV
d) dramático. e) I – IV – II – V – III
e) Nenhuma das opções acima.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
216
Sabe qual é essa época? A do carnaval! Note estava com calor — o que me pareceu óbvio.
você como aumentam os casamentos nos Elogiou meu sapato, cromo italiano, fabri-
meses seguintes ao carnaval. A maioria das cante ilustre, os Rossetti. Uso-o pouco, em
inclinações, dos namoros que terminam em parte para poupá-lo, em parte porque quan-
casório, começam no carnaval. Três meses do posso estou sempre de tênis.
depois estava casado. Cinco dos meus filhos Ofereceu-me o jornal que eu já havia lido
namoraram no carnaval. Minha filha Bere- e começou seu ofício. Meio careca, o suor
nice com 30 anos arranjou o marido que lhe encharcou-lhe a testa e a calva. Pegou aque-
faz a vida feliz, no carnaval. Nove dos meus le paninho que dá brilho final nos sapatos
netos seguiram a regra... e com ele enxugou o próprio suor, que era
– Mas, conselheiro, se é verdade o que V. Exa. abundante. Com o mesmo pano, executou
diz, era o caso de fazer uns quatro carnavais
com maestria aqueles movimentos rápidos
por ano...
em torno da biqueira, mas a todo o instante
– Não daria resultado, meu amigo. O carna-
o usava para enxugar-se — caso contrário, o
val é uma embriaguez d´alegria. Quem se
suor inundaria o meu cromo italiano.
embriaga uma vez por ano não está acostu-
mado. Quem se embriaga quatro, raciocina E foi assim que a testa e a calva do valente
na bebedeira. Veneza acabou pelo abuso da filho do povo ficaram manchadas de graxa e
máscara. Nós acabaríamos pelo abuso do “zé- o meu sapato adquiriu um brilho de espelho,
-pereira”. Mas uma vez por ano é bem o verão à custa do suor alheio. Nunca tive sapatos
impetuoso do desejo, o momento do amor. tão brilhantes, tão dignamente suados.
Depois suspirando: Na hora de pagar, alegando não ter nota
– Aproveite-o você. Eu infelizmente não pos- menor, deixei-lhe um troco generoso. Ele
so mais. A velhice é como o maître d’hotel me olhou espantado, retribuiu a gorjeta me
da vida. Indica ao cliente o prato ótimo do desejando em dobro tudo o que eu viesse a
cardápio e não o come. precisar no resto dos meus dias.
Saí daquela cadeira com um baita sentimento
3. (FEI) O texto pertence ao gênero conhecido de culpa. Que diabo, meus sapatos não esta-
por: vam tão sujos assim, por 45 míseros tostões
a) conto. fizera um filho do povo suar para ganhar seu
b) romance. pão. Olhei meus sapatos e tive vergonha da-
c) crônica. quele brilho humano salgado como lágrimas.
d) reportagem. CONY, Carlos Heitor. Eu aos pedaços: memórias.
São Paulo: Leya, 2010, p. 114-115.
e) novela.
4. (UECE) Atente à caracterização do engraxate.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Segundo o cronista, ele era gordo e calvo.
Essa caracterização:
O texto a seguir foi extraído do livro de me-
I. está, de algum modo, relacionada com as
mórias do escritor e jornalista carioca, que
ideias principais do texto.
nasceu em 1926, Carlos Heitor Cony. Um livro
II. tem uma função textual.
de memórias é “relato que alguém faz, fre-
III. atende a uma necessidade de coerência
quentemente, na forma de obra literária, a
interna do texto.
partir de acontecimentos históricos dos quais
Estão corretas as complementações conti-
participou ou foi testemunha, ou que estão das em:
fundamentados em sua vida particular”. Não a) I, II e III.
deve ser confundido com autobiografia. b) I e II, apenas.
c) II e III, apenas.
O suor e a lágrima
d) I e III, apenas.
Fazia calor no Rio, quarenta graus e qualquer
coisa, quase quarenta e um. No dia seguinte, 5. A substituição do “haver” por “ter” em cons-
os jornais diriam que fora o dia mais quente truções existenciais, no português do Brasil,
deste verão que inaugura o século e o milê- corresponde a um dos processos mais carac-
nio. Cheguei ao Santos Dumont, o voo estava terísticos da história da língua portuguesa,
atrasado, decidi engraxar os sapatos. Pelo paralelo ao que já ocorrera em relação à am-
menos aqui no Rio são raros esses engraxa- pliação do domínio de ter na área semântica
tes, só existem nos aeroportos e em poucos de “ posse”, no final da fase arcaica. Mat-
lugares avulsos. tos e Siva (2001:136) analisa as vitórias de
Sentei-me naquela espécie de cadeira canô- “ter” sobre “haver” e discute a emergência
nica, de coro de abadia pobre, que também de “ter” existencial, tomando por base a
pode parecer o trono de um rei desolado de obra pedagógica de João de Barros. Em tex-
um reino desolante. O engraxate era gordo e tos escritos nos anos quarenta e cinquenta
217
do século XVI, encontram-se evidências, em-
bora raras, tanto de “ter existencial”, não E.O. Complementar
mencionado pelos clássicos estudos de sinta-
xe histórica, quanto de “haver” como verbo 1. (Enem) Ouvir estrelas
existencial com concordância, lembrado por “Ora, (direis) ouvir estrelas! Certo,
Ivo Castro, e anotado como “novidade” no perdeste o senso!” E eu vos direi, no entanto
século XVIII por Said Ali. que, para ouvi-las, muita vez desperto
Como se vê, nada é categórico e um purismo e abro as janelas, pálido de espanto...
estreito só revela um conhecimento deficien- E conversamos toda noite, enquanto
te da língua. Há maios perguntas que res- a Via-Láctea, como um pálio aberto,
postas. Pode-se conceber uma norma única cintila. E, ao vir o Sol, saudoso e em pranto,
e prescritiva? É válido confundir o bom uso inda as procuro pelo céu deserto.
e a norma da própria língua e dessa forma Direis agora: “Tresloucado amigo!
fazer uma avaliação crítica e hierarquizante Que conversas com elas? Que sentido
de outros usos e, através deles, dos usuários? tem o que dizem, quando estão contigo?”
Substitui-se uma norma por outra? E eu vos direi: “Amai para entendê-las!
Adaptado de: CALLOU, D. A propósito de norma,
Pois só quem ama pode ter ouvido
correção e preconceito linguístico: do presente para o Capaz de ouvir e de entender estrelas”.
passado. In: Cadernos de Letras da UFF, n. 36, 2008. BILAC, Olavo. Ouvir estrelas. Tarde. 1919.
Disponível em: <www.uff.br>. Acesso em: 26 fev. 2012.
Ouvir estrelas
Para a autora, a substituição de “haver” por
Ora, direis, ouvir estrelas! Vejo
“ter” em diferentes contextos evidencia que:
que estás beirando a maluquice extrema.
a) o estabelecimento de uma norma prescinde No entanto o certo é que não perco o ensejo
de uma pesquisa histórica. De ouvi-las nos programas de cinema.
b) os estudos clássicos de sintaxe histórica en- Não perco fita; e dir-vos-ei sem pejo
fatizam a variação e a mudança na língua. que mais eu gozo se escabroso é o tema.
c) a avaliação crítica e hierarquizante dos usos Uma boca de estrela dando beijo
da língua fundamenta a definição da norma. é, meu amigo, assunto p’ra um poema.
d) a adoção de uma única norma revela uma ati- Direis agora: Mas, enfim, meu caro,
tude adequada para os estudos linguísticos. As estrelas que dizem? Que sentido
e) os comportamentos puristas são prejudiciais têm suas frases de sabor tão raro?
à compreensão da constituição linguística. Amigo, aprende inglês para entendê-las,
Pois só sabendo inglês se tem ouvido
6. Sobre a arte literária, considere as seguintes Capaz de ouvir e de entender estrelas.
TIGRE, Bastos. Ouvir estrelas. In: BECKER, I. Humor e
afirmações: humorismo: Antologia. São Paulo: Brasiliense, 1961.
I. ao escrever, o escritor é obrigado a man-
A partir da comparação entre os poemas,
ter um compromisso – ser fiel à realida-
verifica-se que:
de, compondo um verdadeiro retrato do
a) no texto de Bilac, a construção do eixo te-
mundo; mático se deu em linguagem denotativa, en-
II. ao ler obra literária, um dos aspectos que quanto no de Tigre, em linguagem conotati-
o leitor deve levar em conta é a visibili- va.
dade – capacidade de imaginar sensivel- b) no texto de Bilac, as estrelas são inaces-
mente o que se lê; síveis, distantes, e no texto de Tigre, são
III. a literatura é a arte da palavra, razão próximas, acessíveis aos que as ouvem e as
pela qual não há fórmulas pré-concebidas entendem.
para se construir, por exemplo, um bom c) no texto de Tigre, a linguagem é mais for-
poema. mal, mais trabalhada, como se observa no
Quais estão corretas? uso de estruturas como “dir-vos-ei sem
a) Apenas I. pejo” e “entendê-las”.
b) Apenas II. d) no texto de Tigre, percebe-se o uso da lin-
c) Apenas II e III. guagem metalinguística no trecho “Uma
d) Apenas III. boca de estrela dando beijo/é, meu amigo,
e) I, II e III. assunto p’ra um poema.”
e) no texto de Tigre, a visão romântica apre-
sentada para alcançar as estrelas é enfati-
zada na última estrofe de seu poema com
a recomendação de compreensão de outras
línguas.
218
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO c) resulta das fortes referências intertextuais.
d) origina-se da mistura entre realidade e ficção.
Filme-enigma de Christopher Nolan gera e) decorre da associação entre o sonho e a
discussões sobre significado e citações ocul- es- cada de Penrose.
tas ou óbvias em sua trama onírica
3. (Uern) A palavra serve para comunicar e in-
teragir. E também para criar literatura, isto
é, criar arte, provocar emoções, produzir
efeitos estéticos.
(Português: linguagens: volume 1: ensino médio /
William Roberto Cereja, Thereza Cochar Magalhães.
– 5.ed. – São Paulo: Atal, 2005. p. 27.)
Certa vez o sábio taoísta Chuang Tzu sonhou A partir da definição anterior, pode-se afir-
que era uma borboleta. Ao acordar, entretan- mar que a linguagem literária
to, ele não sabia mais se era um homem que a) pressupõe objetividade e clareza diante da
sonhara ser uma borboleta ou uma borboleta sua função utilitária.
que agora sonhava ser um homem. b) não permite que haja dupla interpretação a
Será que Dom Cobb está sonhando? Será respeito do assunto tratado.
que a vida real é esta mesma ou somos nós c) é organizada de modo que a plurissignifica-
que sonhamos? ção esteja presente no texto.
Alguns podem ir ao cinema para assistir A d) tem por objetivo esclarecer acerca de um
Origem, de Christopher Nolan (Batman – O
assunto relacionado à realidade
Cavaleiro das Trevas) e achar tão chato que
vão sonhar de verdade, dormindo na fase de
sono REM. Mas outros estão sonhando acor-
dados. Em blogs, sites e grupos de discussão, E.O. Dissertativo
os já fanáticos pelo filme de Nolan apontam
referências (de mitologia grega), veem cita-
ções (de Lost), tecem teorias malucas e cons- Leia as estrofes do poema “O prato azul-
piratórias (o sonho dentro do sonho). -pombinho”, de Cora Coralina para respon-
Alguns acusam o diretor de copiar filmes der às questões 1 e 2.
os mais variados, de Blade Runner (1982)
a eXistenZ (1999), de se inspirar em 2001 Minha bisavó – que Deus a tenha em glória –
– Uma Odisseia no Espaço (1968) e até de sempre contava e recontava
roubar a ideia de um quadrinho do Tio Pati- em sentidas recordações
nhas de 2002. de outros tempos
O fato é que Nolan acertou o alvo. E ele sabia a estória de saudade
do potencial “nerdístico” de seu filme. Tanto daquele prato azul-pombinho.
é que cogitou mudar a canção que toca no Era uma estória minuciosa.
filme todo, Non, Je Ne Regrette Rien, com Comprida, detalhada.
Edith Piaf, porque uma das atrizes escala- Sentimental.
das, Marion Cotillard, havia vivido a cantora
Puxada em suspiros saudosistas
francesa em um filme de 2007. (...)
e ais presentes.
Além da música, uma boa diversão de A Ori-
E terminava, invariavelmente,
gem é identificar os objetos impossíveis dei-
depois do caso esmiuçado:
xados por Nolan ao longo do filme. A escada
“– Nem gosto de lembrar disso...”
de Penrose, criada pelo psiquiatra britânico
Lionel Penrose, aparece diversas vezes na É que a estória se prendia
tela – e também inspirou o quadro que tenta aos tempos idos em que vivia
explicar facetas do longa. minha bisavó
Melhor ir ver o filme e não pensar em escadas... que fizera deles seu presente e seu futuro.
No que você está pensando agora? [...]
Disponível em: <http://www1.folha.uol.com. CORALINA, Cora. Melhores poemas de Cora Coralina. Seleção
br/fsp/ilustrad/ fq1908201010.htm>. de Darci F. Denófrio. São Paulo: Global, 2004, p. 47.
2. (Insper) O texto permite afirmar que o po- De acordo com a leitura dos fragmentos, explicite:
tencial “nerdístico” do filme:
a) está associado às marcas de metalinguagem. 1. A lembrança a que o eu poético faz alusão.
b) advém da trama onírica que induz ideias
subliminares. 2. Como são construídos os traços épico e lírico.
219
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES A questão seguinte toma por base a Tragédia
em um ato, assinada pelo escritor, tradutor
A um passarinho e desenhista Millôr Fernandes (1924-) e pu-
Para que vieste blicada pela primeira vez em “O pif-paf” (O
Na minha janela Cruzeiro, 1945).
Meter o nariz? O capitalismo mais reacionário
Se foi por um verso Tragédia em um ato
(...) Personagens: o patrão e o empregado
Não sou mais poeta Época: atual
Ando tão feliz! Ato único
(Vinicius de Moraes)
Empregado – Patrão, eu queria lhe falar se-
riamente. Há quarenta anos que trabalho na
3. Segundo o texto, qual é a condição funda- empresa e até hoje só cometi um erro.
mental para a condição poética? Patrão – Está bem, meu filho, está bem.
Mas de agora em diante tome mais cuidado.
4. A que gênero literário pertence o texto? (Pano rápido)
Identifique a que gênero pertencem os tex- In: FERNANDES, Millôr. Trinta anos de mim mesmo.
tos das questões 5, 6 e 7. Aponte duas carac- Rio de Janeiro: Nórdica, 1974, p. 15..
terísticas que justifiquem sua resposta.
7. A casa inteira recebeu a carta com muita Em tempos felizes, num dia formoso,
alegria. Ricardo vinha do Recife passar uns Na relva sentados, bem juntos, unidos,
dias com eles. Há anos que se fora. Ainda No peito encostado seu rosto mimoso,
quase menino, sumira-se do engenho sem A ingrata me dava sorrisos… fingidos!
ninguém saber para onde. Ricardo fugiu. Ai! crente, eu beijava seus lábios corados
(José Lins do Rego)
Com beijos ardentes, com beijos de amor,
E Laura jurava que, quando apartados,
8. A que gênero literário pertence o poema Viver não queria, morreria de dor!
abaixo? Justifique sua resposta.
A Rua dos Cataventos Partir foi preciso… abracei-a chorando…
Da vez primeira em que me assassinaram, E Laura chorou!… eu de dor solucei…
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha. Mas tempos depois que, contente voltando...
Depois, a cada vez que me mataram, Julgava beijá-la, já não a encontrei!
Foram levando qualquer coisa minha.
Mulher enganosa, quebraste essas juras
Hoje, dos meu cadáveres eu sou Que em prantos me deste diante de Deus!
O mais desnudo, o que não tem mais nada. Mas tu não te lembras que as faces impuras,
Arde um toco de Vela amarelada, Que os lábios corados roçaram os meus?!
Como único bem que me ficou.
Vinde! Corvos, chacais, ladrões de estrada! Poeta e amante, eu um mundo sonhei
Pois dessa mão avaramente adunca Repleto de gozos, um mundo ideal…
Fugiram os sonhos que eu tanto afaguei,
Não haverão de arracar a luz sagrada!
Aves da noite! Asas do horror! Voejai! Como flor tombada por um vendaval.
Que a luz trêmula e triste como um ai, Errante vagando por vales sombrios
A luz de um morto não se apaga nunca! Co’a mente em delírio, em cruel ansiedade;
(Mário Quintana) A morte buscando nas águas dos rios,
220
Me disse uma voz: – «Inda resta a amizade! a) Comemora-se neste ano o centenário de
Esquece esse fogo, esse amor, um delírio nascimento de um dos mais importantes
Que aqui te cavava profundo jazigo; personagens da cultura brasileira, Vinicius
Ao mundo de novo, termina o martírio, de Moraes. Poeta, compositor, jornalista, di-
A fronte reclina num peito de amigo.» plomata, Vinicius soube como poucos sen-
– Ao mundo voltei, esqueci os amores sibilizar os seus leitores com uma literatu-
No peito apagando uma forte paixão; ra densa, envolvente e sensível. Apesar de
Agora a amizade mitiga-me as dores, pertencer historicamente ao modernismo, a
Sê tu meu amigo, serei teu irmão! poética de Vinicius está muito próxima à de
Agosto, 1853. outro estilo de época da nossa literatura. A
ABREU, Casimiro de. Disponível em: <https://
partir da leitura da letra da canção Felicida-
archive.org/details/obrascompletasd00abregoog>.
Acesso em: 10 set. 2014. de, parceria sua com o maestro Tom Jobim,
aponte o estilo do qual ele se aproxima, fun-
a) Há no poema de Casimiro de Abreu a exal- damentando a sua resposta.
tação da amizade como um sentimento de b) Determine o gênero literário predominante
compreensão, acolhida e apoio. no texto, justificando com dois aspectos que
Comente com suas próprias palavras os mo- o caracterizam.
tivos que levaram o eu poético a valorizar a
amizade como um contraponto à tristeza, à
E.O. Enem
solidão e ao delírio.
b) Determine o gênero literário predominante
no texto, associando-o às características do
estilo de época do qual Casimiro de Abreu foi
um dos expoentes. Leia o texto “Aula de português” e faça o que
se pede:
10. (Pucrj) A felicidade A linguagem
Tristeza não tem fim
na ponta da língua
Felicidade sim... tão fácil de falar
e de entender.
A felicidade é como a pluma A linguagem
Que o vento vai levando pelo ar na superfície estrelada de letras,
Voa tão leve sabe lá o que quer dizer?
Mas tem a vida breve Professor Carlos Góis, ele é quem sabe,
Precisa que haja vento sem parar. e vai desmatando
o amazonas de minha ignorância.
A felicidade do pobre parece Figuras de gramática, esquipáticas,
A grande ilusão do carnaval atropelam-me, aturdem-me, sequestram-me.
A gente trabalha o ano inteiro Já esqueci a língua em que comia,
Por um momento de sonho em que pedia para ir lá fora,
Pra fazer a fantasia
em que levava e dava pontapé,
De rei, ou de pirata, ou jardineira
a língua, breve língua entrecortada
Pra tudo se acabar na quarta-feira
do namoro com a priminha.
Tristeza não tem fim O português são dois; o outro, mistério.
Felicidade sim... ANDRADE, Carlos Drummond de. Esquecer para
lembrar. Rio de Janeiro: José Olympio, 1979.
A felicidade é como a gota
De orvalho numa pétala de flor
1. (Enem) Explorando a função emotiva da lin-
Brilha tranquila
Depois de leve oscila guagem, o poeta expressa o contraste entre
E cai como uma lágrima de amor. marcas de variação de usos da linguagem
em:
A minha felicidade está sonhando a) situações formais e informais.
Nos olhos da minha namorada b) diferentes regiões do país.
É como esta noite
c) escolas literárias distintas.
Passando, passando
Em busca da madrugada d) textos técnicos e poéticos.
Falem baixo, por favor... e) diferentes épocas.
Pra que ela acorde alegre com o dia
Oferecendo beijos de amor. 2. (Enem) Lusofonia
rapariga: s.f., fem. de rapaz: mulher nova;
Tristeza não tem fim moça; menina; (Brasil), meretriz.
Felicidade sim...
MORAES, Vinicius de e JOBIM, Tom. Vinicius Escrevo um poema sobre a rapariga que está
de Moraes – Literatura Comentada São Paulo: sentada no café, em frente da chávena de
Abril Educação, 1980. p.71 e 72. café, enquanto alisa os cabelos com a mão.
221
Mas não posso escrever este poema sobre essa espetáculo entre em cena, por trás da cortina
rapariga porque, no brasil, a palavra rapariga de fumaça dos fogos de artifício, existe um
não quer dizer o que ela diz em portugal. En- verdadeiro batalhão de alegria: são costurei-
tão, terei de escrever a mulher nova do café, ras, aderecistas, diretores de ala e de harmo-
a jovem do café, a menina do café, para que nia, pesquisador de enredo e uma infinidade
a reputação da pobre rapariga que alisa os de profissionais que garantem que tudo es-
cabelos com a mão, num café de lisboa, não teja perfeito na hora do desfile.
fique estragada para sempre quando este po- AMORIM, M.; MACEDO, G. O espetáculo dos bastidores.
ema atravessar o atlântico para desembarcar Revista de Carnaval 2010: Mangueira. Rio de
no rio de janeiro. E isto tudo sem pensar em Janeiro: Estação Primeira de Mangueira, 2010.
áfrica, porque aí lá terei de escrever sobre a
moça do café, para evitar o tom demasiado Ambos os textos exaltam o brilho, a beleza, a
continental da rapariga, que é uma palavra tradição e o compromisso dos dirigentes e de
que já me está a pôr com dores de cabeça até todos os componentes com a escola de sam-
porque, no fundo, a única coisa que eu que- ba Estação Primeira de Mangueira. Uma das
ria era escrever um poema sobre a rapariga diferenças que se estabelece entre os textos
do café. A solução, então, é mudar de café, e é que:
limitar-me a escrever um poema sobre aquele a) o artigo jornalístico cumpre a função de
café onde nenhuma rapariga se pode sentar à transmitir emoções e sensações, mais do que
mesa porque só servem café ao balcão. a letra de música.
JÚDICE, N. Matéria do Poema. Lisboa: D. Quixote, 2008. b) a letra de música privilegia a função social
de comunicar a seu público a crítica em re-
O texto traz em relevo as funções metalin- lação ao samba e aos sambistas.
guística e poética. Seu caráter metalinguís- c) a linguagem poética, no Texto I, valoriza
tico justifica-se pela: imagens metafóricas e a própria escola, en-
a) discussão da dificuldade de se fazer arte ino- quanto a linguagem, no Texto II, cumpre a
vadora no mundo contemporâneo. função de informar e envolver o leitor.
b) defesa do movimento artístico da pós-mo- d) ao associar esmeraldas e rosas às cores da es-
dernidade, típico do século XX. cola, o Texto I acende a rivalidade entre esco-
c) abordagem de temas do cotidiano, em que a las de samba, enquanto o Texto II é neutro.
arte se volta para assuntos rotineiros. e) o Texto I sugere a riqueza material da Manguei-
d) tematização do fazer artístico, pela discus- ra, enquanto o Texto II destaca o trabalho na
são do ato de construção da própria obra.
escola de samba.
e) valorização do efeito de estranhamento causado
no público, o que faz a obra ser reconhecida.
4. (Enem) Dario vinha apressado, guarda-chu-
va no braço esquerdo e, assim que dobrou
3. (Enem) Texto I: Chão de esmeralda
a esquina, diminuiu o passo até parar, en-
Me sinto pisando costando-se à parede de uma casa. Por ela
Um chão de esmeraldas escorregando, sentou-se na calçada, ainda
Quando levo meu coração úmida da chuva, e descansou na pedra o ca-
À Mangueira chimbo.
Sob uma chuva de rosas Dois ou três passantes rodearam-no e inda-
Meu sangue jorra das veias garam se não se sentia bem. Dario abriu a
E tinge um tapete boca, moveu os lábios, não se ouviu resposta.
Pra ela sambar O senhor gordo, de branco, sugeriu que devia
É a realeza dos bambas sofrer de ataque.
Que quer se mostrar Adaptado de: TREVISAN, D. Uma vela para Dario. Cemitério
Soberba, garbosa de Elefantes. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1964.
Minha escola é um cata-vento a girar
É verde, é rosa No texto, um acontecimento é narrado em
Oh, abre alas pra Mangueira passar linguagem literária. Esse mesmo fato, se re-
BUARQUE, C.; CARVALHO, H.B. Chico Buarque de Mangueira. latado em versão jornalística, com caracte-
Marola Edições Musicais Ltda. BMG. 1997. Disponível em: rísticas de notícia, seria identificado em:
<www.chicobuarque.com.br>. Acesso em: 30 abr. 2010. a) Aí, amigão, fui diminuindo o passo e tentei
me apoiar no guarda-chuva... mas não deu.
Texto II
Encostei na parede e fui escorregando. Foi
Quando a escola de samba entra na Marquês mal, cara! Perdi os sentidos ali mesmo. Um
de Sapucaí, a plateia delira, o coração dos povo que passava falou comigo e tentou me
componentes bate mais forte e o que vale socorrer. E eu, ali, estatelado, sem conseguir
é a emoção. Mas, para que esse verdadeiro falar nada! Cruzes! Que mal.
222
b) O representante comercial Dario Ferreira, 43 imenso dormia à beira do rio Uraricoera. Ne-
anos, não resistiu e caiu na calçada da Rua nhum conhecido sobre a terra não sabia nem
da Abolição, quase esquina com a Padre Viei- falar da tribo nem contar aqueles casos tão
ra, no centro da cidade, ontem por volta do pançudos. Quem podia saber do Herói?
meio-dia. O homem ainda tentou apoiar-se (Mário de Andrade)
no guarda-chuva que trazia, mas não conse-
guiu. Aos populares que tentaram socorrê-lo
não conseguiu dar qualquer informação. 5. (Enem) Considerando-se a linguagem desses
c) Eu logo vi que podia se tratar de um ataque. dois textos, verifica-se que:
Eu vinha logo atrás. O homem, todo apru- a) a função da linguagem centrada no receptor
mado, de guarda-chuva no braço e cachimbo está ausente tanto no primeiro quanto no
na boca, dobrou a esquina e foi diminuindo segundo texto.
o passo até se sentar no chão da calçada. Al- b) a linguagem utilizada no primeiro texto é co-
gumas pessoas que passavam pararam para loquial, enquanto, no segundo, predomina a
ajudar, mas ele nem conseguia falar. linguagem formal.
d) Vítima c) há, em cada um dos textos, a utilização de
Idade: entre 40 e 45 anos pelo menos uma palavra de origem indígena.
Sexo: masculino d) a função da linguagem, no primeiro texto,
Cor: branca centra-se na forma de organização da lin-
Ocorrência: Encontrado desacordado na Rua guagem e, no segundo, no relato de infor-
da Abolição, quase esquina com Padre Viei- mações reais.
ra. Ambulância chamada às 12h34min por e) a função da linguagem centrada na pri-
homem desconhecido. A caminho. meira pessoa, predominante no segundo
e) Pronto-socorro? Por favor, tem um homem texto, está ausente no primeiro.
caído na calçada da rua da Abolição, quase
esquina com a Padre Vieira. Ele parece des-
maiado. Tem um grupo de pessoas em vol-
ta dele. Mas parece que ninguém aqui pode
E.O. UERJ
ajudar. Ele precisa de uma ambulância rápi-
do. Por favor, venham logo!
Exame de Qualificação
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Ciência e Hollywood
O canto do guerreiro 5
Infelizmente, é verdade: explosões não fa-
zem barulho algum no espaço. Não me lem-
Aqui na floresta
bro de um só filme que tenha retratado isso
Dos ventos batida,
direito. 6Pode ser que existam alguns, mas se
Façanhas de bravos existirem não fizeram muito sucesso. 10Sem-
Não geram escravos, pre vemos explosões gigantescas, estrondos
Que estimem a vida fantásticos. Para existir ruído é necessário
Sem guerra e lidar. um meio material que transporte as per-
– Ouvi-me, Guerreiros, turbações que chamamos de ondas sonoras.
– Ouvi meu cantar. Valente na guerra, Na ausência de atmosfera, ou água, ou ou-
Quem há, como eu sou? tro meio, as perturbações não têm onde se
Quem vibra o tacape propagar. 7Para um produtor de cinema, a
Com mais valentia? questão não passa pela ciência. Pelo menos
Quem golpes daria não como prioridade. Seu interesse é tornar
Fatais, como eu dou? – Guerreiros, ouvi-me; o filme emocionante, e explosões têm jus-
– Quem há, como eu sou? tamente este papel; roubar o som de uma
(Gonçalves Dias) grande espaçonave explodindo torna a cena
bem sem graça.
Macunaíma (Epílogo)
11
Recentemente, o debate sobre as liberda-
des científicas tomadas pelo cinema tem
Acabou-se a história e morreu a vitória. aquecido. O sucesso do filme O dia depois
Não havia mais ninguém lá. Dera tangolo- de amanhã (The day after tomorrow), fa-
mângolo na tribo Tapanhumas e os filhos turando mais de meio bilhão de dólares, e
dela se acabaram de um em um. Não havia seu cenário de uma idade do gelo ocorren-
mais ninguém lá. Aqueles lugares, aqueles do em uma semana, em vez de décadas ou,
campos, furos puxadouros arrastadouros melhor ainda, centenas de anos, 9levanta-
meios-barrancos, aqueles matos misteriosos, ram as sobrancelhas de cientistas mais rí-
tudo era solidão do deserto... Um silêncio gidos que veem as distorções com desdém e
223
esbugalharam os olhos dos espectadores (a 2. (UERJ) Observe atentamente os dois trechos
maioria) que pouco ligam se a ciência está transcritos a seguir.
certa ou errada. Afinal, cinema é diversão.
15
Até recentemente, defendia a posição mais “... o objetivo da poesia (e da arte literária
rígida, que filmes devem tentar ao máximo em geral) não é o real concreto, o verdadei-
ser fiéis à ciência que retratam. Claro, isso ro, aquilo que de fato aconteceu, mas sim o
sempre é bom. Mas não acredito mais que verossímil, o que pode acontecer, considera-
seja absolutamente necessário. 1Existe uma do na sua universalidade.”
diferença crucial entre um filme comercial e SILVA,Vítor M. de A. Teoria de Literatura.
um documentário científico. 12Óbvio, 2docu- Coimbra: Almedina, 1982.
mentários devem retratar fielmente a ciên-
cia, educando e divertindo a população, mas Verossímil. 1. Semelhante à verdade; que pa-
filmes não têm necessariamente um com- rece verdadeiro. 2. Que não repugna à verda-
promisso pedagógico. 13As pessoas não vão de, provável.
ao cinema para serem educadas, ao menos FERREIRA. A. B. de Holanda, Novo Dicionário Aurélio da
Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.
como via de regra.
Claro, 3filmes históricos ou mesmo aqueles A partir da leitura de ambos os fragmentos,
fiéis à ciência têm enorme valor cultural. pode-se deduzir que a obra literária tem o
Outros educam as emoções através da ficção. seguinte objetivo:
14
Mas, se existirem exageros, eles não deve- a) opor-se ao real para afirmar a imaginação criado-
rão ser criticados como tal. Fantasmas não
ra
existem, mas filmes de terror sim. Pode-se
b) anular a realidade concreta para superar
argumentar que, no caso de filmes que ver-
contradições aparentes
sam sobre temas científicos, 4as pessoas vão
c) construir uma aparência de realidade para
ao cinema esperando uma ciência crível. Isso
expressar dado sentido
pode ser verdade, mas elas não deveriam
d) buscar uma parcela representativa do real
basear suas conclusões no que diz o filme.
No mínimo, o cinema pode servir como me- para contestar sua validade
canismo de alerta para questões científicas
importantes: o aquecimento global, a inte- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
ligência artificial, a engenharia genética, as
guerras nucleares, os riscos espaciais como Sobre a origem da poesia
cometas ou asteroides etc. 8Mas o conteúdo
A origem da poesia se confunde com a ori-
não deve ser levado ao pé da letra. 16A arte
gem da própria linguagem.
distorce para persuadir. E o cinema moder- Talvez fizesse mais sentido perguntar quan-
no, com efeitos especiais absolutamente es- do a linguagem verbal deixou de ser poesia.
petaculares, distorce com enorme facilidade Ou qual a origem do discurso não poético,
e poder de persuasão. já que, restituindo laços mais íntimos entre
O que os cientistas podem fazer, e isso está os signos e as coisas por eles designadas,
virando moda nas universidades norte-ame- a poesia aponta para um uso muito primá-
ricanas, é usar filmes nas salas de aula para rio da linguagem, que parece anterior ao
educar seus alunos sobre o que é cientifica- perfil de sua ocorrência nas conversas, nos
mente correto e o que é absurdo. Ou seja, jornais, nas aulas, conferências, discussões,
usar o cinema como ferramenta pedagógi- discursos, ensaios ou telefonemas. Como se
ca. 17Os alunos certamente prestarão muita ela restituísse, através de um uso específico
atenção, muito mais do que em uma aula da língua, a integridade entre nome e coi-
convencional. Com isso, será possível educar sa − que o tempo e as culturas do homem
a população para que, no futuro, um número civilizado trataram de separar no decorrer
cada vez maior de pessoas possa discernir o da história.
real do imaginário. A manifestação do que chamamos de poesia
MARCELO GLEISER hoje nos sugere mínimos flashbacks de uma
Disponível em: <www1.folha.uol.com.br>. possível infância da linguagem, antes que a
representação rompesse seu cordão umbili-
1. (UERJ) A oposição entre “ciência” e cal, gerando essas duas metades − significan-
“Hollywood”, expressa no título do artigo de te e significado. Houve esse tempo? Quando
Gleiser, corresponde a outra oposição bas- não havia poesia porque a poesia estava em
tante estudada no campo da literatura, que tudo o que se dizia? Quando o nome da coi-
se verifica entre: sa era algo que fazia parte dela, assim como
a) acontecimento e opinião sua cor, seu tamanho, seu peso? Quando os
b) historicismo e atualidade laços entre os sentidos ainda não se haviam
c) verdade e verossimilhança desfeito, então música, poesia, pensamento,
d) particularização e universalismo dança, imagem, cheiro, sabor, consistência
224
se conjugavam em experiências integrais,
associadas a utilidades práticas, mágicas, E.O. UERJ
curativas, religiosas, sexuais, guerreiras?
Pode ser que essas suposições tenham algo Exame Discursivo
de utópico, projetado sobre um passado pré-
-babélico, tribal, primitivo. Ao mesmo tem- TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
po, cada novo poema do futuro que o pre- O DIREITO À LITERATURA
sente alcança cria, com sua ocorrência, um
pouco desse passado. Lembrome de ter lido, 1
Chamarei de literatura, da maneira mais am-
certa vez, um comentário de Décio Pignatari, pla possível, todas as criações de toque poéti-
em que ele chamava a atenção para o fato de, co, ficcional ou dramático em todos os níveis
tanto em chinês como em tupi, não existir o de uma sociedade, em todos os tipos de cul-
verbo ser, enquanto verbo de ligação. Assim, tura, desde o que chamamos folclore, lenda,
o ser das coisas ditas se manifestaria nelas até as formas mais complexas e difíceis da
próprias (substantivos), não numa partícula produção escrita das grandes civilizações.
verbal externa a elas, o que faria delas lín- Vista deste modo a literatura aparece clara-
guas poéticas por natureza, mais propensas mente como manifestação universal de to-
à composição analógica. dos os homens em todos os tempos. Não há
Mais perto do senso comum, podemos aten- povo e não há homem que possa viver sem
tar para como colocam os índios americanos ela, isto é, sem a possibilidade de entrar em
falando, na maioria dos filmes de cowboy contato com alguma espécie de fabulação*.
Assim como todos sonham todas as noites,
− eles dizem “maçã vermelha”, “água boa”,
ninguém é capaz de passar as vinte e qua-
“cavalo veloz”; em vez de “a maçã é verme-
tro horas do dia sem alguns momentos de
lha”, “essa água é boa”, “aquele cavalo é ve-
entrega ao universo fabulado. 2O sonho as-
loz”. Essa forma mais sintética, telegráfica,
segura durante o sono a presença indispen-
aproxima os nomes da própria existência
sável deste universo, independentemente da
− como se a fala não estivesse se referin- nossa vontade. E durante a vigília a criação
do àquelas coisas, e sim apresentandoas (ao ficcional está presente em cada um de nós,
mesmo tempo em que se apresenta). No seu como anedota, história em quadrinhos, no-
estado de língua, no dicionário, as palavras ticiário policial, canção popular. Ela se ma-
intermedeiam nossa relação com as coisas, nifesta desde o devaneio no ônibus até a
impedindo nosso contato direto com elas. A atenção fixada na novela de televisão ou na
linguagem poética inverte essa relação, pois, leitura seguida de um romance.
vindo a se tornar, ela em si, coisa, oferece Ora, se ninguém pode passar vinte e quatro
uma via de acesso sensível mais direto entre horas sem mergulhar no universo da ficção e
nós e o mundo. (...) da poesia, a literatura concebida no sentido
Já perdemos a inocência de uma linguagem amplo a que me referi parece corresponder a
plena assim. As palavras se desapegaram uma necessidade universal, que precisa ser sa-
das coisas, assim como os olhos se desape- tisfeita e cuja satisfação constitui um direito.
garam dos ouvidos, ou como a criação se de- Podemos dizer que 3a literatura é o sonho
sapegou da vida. Mas temos esses pequenos acordado das civilizações. Portanto, assim
oásis − os poemas − contaminando o deserto como não é possível haver equilíbrio psíquico
da referencialidade. sem o sonho durante o sono, talvez não haja
Arnaldo Antunes. <www.arnaldoantunes.com.br>. equilíbrio social sem a literatura. Deste modo,
ela é 4fator indispensável de humanização e,
3. (UERJ) No último parágrafo, o autor se re- sendo assim, confirma o homem na sua hu-
fere à plenitude da linguagem poética, fa- manidade, inclusive porque atua em grande
parte no subconsciente e no inconsciente.
zendo, em seguida, uma descrição que cor-
Cada sociedade cria as suas manifestações
responde à linguagem não poética, ou seja, à ficcionais, poéticas e dramáticas de acordo
linguagem referencial. com os seus impulsos, as suas crenças, os
Pela descrição apresentada, a linguagem re- seus sentimentos, as suas normas, a fim de
ferencial teria, em sua origem, o seguinte fortalecer em cada um a presença e atuação
traço fundamental: deles. Por isso é que nas nossas sociedades
a) o desgaste da intuição. a literatura tem sido um instrumento pode-
b) a dissolução da memória. roso de instrução e educação, entrando nos
c) a fragmentação da experiência. currículos, sendo proposta a cada um como
d) o enfraquecimento da percepção. equipamento intelectual e afetivo.
Antonio Candido - Adaptado de Vários
escritos. São Paulo: Duas Cidades, 1995.
* fabulação − ficção
225
1. (UERJ) Chamarei de literatura, da maneira compreensão das paixões e dos comporta-
mais ampla possível, (ref. 1) mentos humanos do que uma imersão na
O trecho acima parte de uma pressuposição obra ,dos grandes escritores que se dedicam
que o próprio autor contesta: a de que existiria a essa tarefa há milênios? E, de imediato:
uma maneira restrita de definir a literatura. que melhor preparação pode haver para to-
Identifique outro exemplo do primeiro pa- das as profissões baseadas nas relações hu-
rágrafo que contenha uma pressuposição e manas? Se entendermos assim a literatura
explique em que ela consiste. e orientarmos dessa maneira o seu ensino,
que ajuda mais preciosa poderia encontrar
2. (UERJ) O autor afirma que a literatura é fa- o futuro estudante de direito ou de ciências
tor indispensável de humanização e, sendo políticas, o futuro assistente social ou psico-
assim, confirma o homem na sua humani- terapeuta, o historiador ou o sociólogo? Ter
dade, (ref. 4). como professores Shakespeare e Sófocles,
Cite dois argumentos que ele apresenta no Dostoievski e Proust não é tirar proveito de
texto para chegar a essa conclusão. um ensino excepcional? E não se vê que mes-
mo um futuro médico, para exercer o seu ofí-
cio, teria mais a aprender com esses mesmos
E.O. Objetivas professores do que com os manuais prepa-
ratórios para concurso que hoje determinam
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) o seu destino? Assim, os estudos literários
encontrariam o seu lugar no coração das hu-
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 4 QUESTÕES: manidades, ao lado da história dos eventos
e das ideias, todas essas disciplinas fazendo
A literatura em perigo progredir o pensamento e se alimentando
tanto de obras quanto de doutrinas, tanto de
A análise das obras feita na escola não deve- ações políticas quanto de mutações sociais,
ria mais ter por objetivo ilustrar os conceitos tanto da vida dos povos quanto da de seus
recém-introduzidos por este ou aquele lin- indivíduos.
guista, este ou aquele teórico da literatura, Se aceitarmos essa finalidade para o ensino
quando, então, os textos são apresentados literário, o qual não serviria mais unicamen-
como uma aplicação da língua e do discur-
te à reprodução dos professores de Letras, po-
so; sua tarefa deveria ser a de nos fazer ter
demos facilmente chegar a um acordo sobre
acesso ao sentido dessas obras — pois postu-
o espírito que o deve conduzir: é necessário
lamos que esse sentido, por sua vez, nos con-
incluir as obras no grande diálogo entre os
duz a um conhecimento do humano, o qual
importa a todos. Como já o disse, essa ideia homens, iniciado desde a noite dos tempos e
não é estranha a uma boa parte do próprio do qual cada um de nós, por mais ínfimo que
mundo do ensino; mas é necessário passar seja, ainda participa. “É nessa comunicação
das ideias à ação. Num relatório estabeleci- inesgotável, vitoriosa do espaço e do tempo,
do pela Associação dos Professores de Letras, que se afirma o alcance universal da literatu-
podemos ler: “O estudo de Letras implica o ra”, escrevia Paul Bénichou. A nós, adultos,
estudo do homem, sua relação consigo mes- nos cabe transmitir às novas gerações essa
mo e com o mundo, e sua relação com os herança frágil, essas palavras que ajudam a
outros.” Mais exatamente, o estudo da obra viver melhor.
remete a círculos concêntricos cada vez mais Tzvetan Todorov. A literatura em perigo. 2. ed. Trad.
Caio Meira. Rio de Janeiro: DIFEL, 2009, p. 89-94.
amplos: o dos outros escritos do mesmo au-
tor, o da literatura nacional, o da literatura
mundial; mas seu contexto final, o mais im- 1. (Unesp) Ter como professores Shakespeare
portante de todos, nos é efetivamente dado e Sófocles, Dostoievski e Proust não é tirar
pela própria existência humana. Todas as proveito de um ensino excepcional?
grandes obras, qualquer que seja sua origem,
Esta questão levantada por Todorov, no con-
demandam uma reflexão dessa dimensão.
texto do terceiro parágrafo, significa:
O que devemos fazer para desdobrar o sen-
tido de uma obra e revelar o pensamento do a) O conhecimento enciclopédico desses auto-
artista? Todos os “métodos” são bons, desde res, manifestado em suas obras, equivale a
que continuem a ser meios, em vez de se tor- um verdadeiro curso universitário.
narem fins em si mesmos. (...) b) Por se tratar de autores de nacionalidades
(...) e épocas diferentes, a leitura de suas obras
(...) Sendo o objeto da literatura a própria traz conhecimentos importantes sobre seus
condição humana, aquele que a lê e a com- respectivos países.
preende se tornará não um especialista c) Esses autores escreveram com a intenção
em análise literária, mas um conhecedor fundamental de passar ensinamentos para
do ser humano. Que melhor introdução à seus contemporâneos e a posteridade.
226
d) A leitura das obras desses autores, que fo- c) uma censura da obra.
calizam admiravelmente o homem e o hu- d) uma transformação da obra.
mano, seria de excepcional utilidade para os e) uma leitura da obra.
estudantes de relações humanas.
e) A leitura desses autores não acrescenta nada TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:
de excepcional ao ensino.
TEXTO I
2. (Unesp) No segundo parágrafo do fragmen- Ao longo do sereno
to apresentado, Todorov afirma que Todos os Tejo, suave e brando,
“métodos” são bons, desde que continuem a Num vale de altas árvores sombrio,
ser meios, em vez de se tornarem fins em si Estava o triste Almeno
mesmos. Suspiros espalhando
O autor defende, com essa afirmação, o argu- Ao vento, e doces lágrimas ao rio.
mento segundo o qual o verdadeiro valor de Luís de Camões, Ao longo do sereno.
um método de análise literária
a) consiste em ser exato e perfeito, superior a TEXTO II
todos os demais. Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas,
b) está em ser completo: quando terminar a so aqueste ramo destas auelanas
análise, nada mais deve restar a explicar. e quen for louçana, como nós, louçanas,
c) consiste em servir de instrumento adequado se amigo amar,
à análise e interpretação da obra. so aqueste ramo destas auelanas
d) reside no fato de que, depois de aplicado, uerrá baylar.
deve ser substituído por outro melhor. Aires Nunes. In Nunes, J. J., Crestomatia arcaica.
e) é mostrar mais suas próprias virtudes que as
da obra focalizada.
227
E.O. Dissertativas 3.
subjetiva, atrelada às emoções.
A condição fundamental do texto está pauta-
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) da na ideia de infelicidade, tristeza e angús-
tia.
1. (Vunesp) A tragédia, no sentido clássico, é 4. O texto pertence ao gênero lírico.
uma obra fortemente dramática, inspirada 5. Gênero lírico. A temática abordada parte de
na lenda ou na história, e que põe em cena um “eu” e nela seu estado subjetivo se vale
personagens envolvidos em situações que de uma emoção, de um estado da alma.
desencadeiam desgraças. Em sua função po- 6. Gênero dramático. Os personagens estabele-
ética, destina-se também a infundir o terror
cem diálogo por meio de suas falas, as rubri-
e a piedade. Considerando essa definição, re-
cas. Há ausência de narrador.
leia o texto de Millôr Fernandes e, a seguir:
§§ interprete por que apenas esse diálogo 7. Gênero narrativo. Há um narrador que conta
entre os dois personagens poderia carac- uma história. Além disso, há uma menção
terizar uma tragédia, segundo o autor; e a estruturas básicas deste gênero: persona-
§§ interprete um sentido conotativo da ex- gens, espaço e tempo.
pressão “meu filho”, nas palavras do per- 8. Gênero lírico. O uso da primeira pessoa
sonagem patrão. (mundo interior) e a utilização da musica-
lidade por intermédio da escolha fonética
2. (Fuvest) Considere a seguinte relação de (rima, ritmo etc.).
obras: Auto da barca do inferno, Memórias 9.
de um sargento de milícias, Dom Casmurro
a) A amizade é mais valorizada que o amor,
e Capitães da areia. Entre elas, indique as
porque logo nos primeiros versos o eu
duas que, de modo mais visível, apresentam
intenção de doutrinar, ou seja, o propósito poético lamenta as desilusões amorosas
de transmitir princípios e diretivas que in- sofridas quando ainda jovem. Por outro
tegram doutrinas determinadas. Divida sua lado, a amizade representa o amor sem
resposta em duas partes: cobranças, sincero, sem medo de ser traí-
a) para a primeira obra escolhida; do. Representa a estabilidade amorosa, o
b) para a segunda obra escolhida, conforme já acolhimento e a aceitação.
vem indicado na respectiva página de res-
postas. Justifique sucintamente cada uma b) Trata-se do gênero lírico, composto no
de suas escolhas. período da segunda geração do Roman-
tismo brasileiro, em que se valorizava
o subjetivismo, o platonismo, a dor do
Gabarito amor, sonho e escapismo bem como a ín-
tima relação entre a vida e a morte.
10.
E.O. Aprendizagem a) O estilo a que a poética de Vinicius de Mo-
1. B 2. C 3. B 4. A 5. C raes se aproxima é o Romantismo pelas
seguintes razões: ênfase no sentimenta-
6. A 7. C 8. A 9. C 10. C
lismo; exagero na descrição das emoções;
expressão do intimismo e da subjetivida-
de; idealização do ser amado; valorização
E.O. Fixação de aspectos da natureza.
1. V-V-F-F 2. A 3. C 4. A b) Lírico. Centralidade do eu lírico na cons-
trução do poema, predomínio do tom in-
5. E 6. B timista, criação de uma atmosfera emo-
cional e fusão do sujeito com o objeto.
E.O. Complementar
1. D 2. C 3. C
E.O. Enem
E.O. Dissertativo 1. A 2. D 3. C 4. B 5. C
1.
A lembrança a que o eu poético faz alusão é
o “prato azul-pombinho”.
2.
O traço “épico” se constrói pelo ato de a bi-
E.O. UERJ
savó contar e recontar estórias minuciosas e
detalhadas de outros tempos. Já o traço “líri-
Exame de Qualificação
co” é construído a partir de uma perspectiva 1. C 2. C 3. C
228
E.O. UERJ a regem estão voltados para Deus. Trata-
-se de uma farsa alegórica, pois os 140
Exame Dissertativo personagens-tipo, representantes das di-
1.
O trecho em que o autor menciona e se re- versas camadas sociais, provocam o riso
fere a uma definição estrita de literatura é: do público quando se indignam com a
desde o que chamamos de folclore, lenda, condenação que os leva ao inferno, pois
até as formas mais complexas e difíceis da todos se julgam merecedores do paraíso
produção escrita das grandes civilizações. A divino.
menção a formas mais complexas e difíceis b) Em Capitães da areia, Jorge Amado nar-
da produção escrita pressupõe que as que ra a história de um grupo de meninos
foram mencionadas anteriormente, como o abandonados que vivem na orla litoral da
folclore e a lenda, são formas simples ou me- cidade de Salvador. O contexto histórico
nos complexas. do Brasil, ditadura Vargas, marcado pela
2.
Dois dos argumentos: censura e perseguições políticas, moti-
§§ literatura aparece claramente como ma- va o autor a desenvolver uma narrativa
nifestação universal de todos os homens cujos personagens anseiam por liberdade
em todos os tempos. e justiça através de ações reveladoras de
revolta de onde pode emergir o banditis-
§§ Não há povo e não há homem que possa
mo e a criminalidade ou o engajamento
viver sem ela, isto é, sem a possibilidade
político na luta de classes. A greve dos
de entrar em contato com alguma espécie
condutores de bonde, a atuação do es-
de fabulação.
tudante universitário no trapiche e a
§§ assim como não é possível haver equi-
filiação partidária de Pedro Bala, entre
líbrio psíquico sem o sonho durante o
outras, revelam o engajamento de Jorge
sono, talvez não haja equilíbrio social
Amado à ideologia socialista, defensora
sem a literatura.
da revolução proletária como meio de os
§§ Cada sociedade cria as suas manifestações
excluídos obterem justiça social.
ficcionais, poéticas e dramáticas de acor-
do com os seus impulsos, as suas crenças,
os seus sentimentos, as suas normas.
E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. D 2. C 3. C 4. E 5. E
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. O diálogo poderia caracterizar tragédia, uma
vez que se centra em um conflito a partir de
uma situação que pode desencadear desgra-
ça. A sensibilidade do leitor pode recair so-
bre o terror e a piedade após o contato com
a cena. No sentido conotativo, a expressão
“meu filho” por parte do patrão demonstra
uma postura paternalista assumida por ele.
2.
a) Na peça Auto da Barca do Inferno, clas-
sificada pelo autor como auto de mora-
lidade, Gil Vicente defende os princípios
cristãos e critica alegoricamente a so-
ciedade do seu tempo. Escrita no perí-
odo de transição da Idade Média para a
Idade Moderna, revela o bifrontismo do
homem daquele tempo, dividido entre
o temor a Deus e a exaltação do homem
livre (medievalismo vs humanismo). A
crítica severa é reveladora de sua postura
moderna, enquanto que os princípios que
229
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Aulas
3e4
Trovadorismo:
a literatura da Idade Média
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Contexto
Todo o imaginário feudal de príncipes, princesas, reis e seus reinados são elementos fundamentais para situar o
trovadorismo na história. Os castelos e sua nobreza, os cavaleiros e seus duelos em guerras e torneios compõem
o cenário da Idade Média, quando se desenvolve essa primeira escola literária após a queda do Império Romano.
Com a tomada de Constantinopla pelos turcos, em 1453, capital do Império Romano do Oriente, tem início
a Idade Média. Morto o imperador Carlos Magno, em 814, o poder central ficara enfraquecido e a sociedade passa-
ra a se organizar em torno de grandes propriedades de terra, com o poder centralizado na figura do senhor feudal.
A Literatura portuguesa tem início, de fato, com o trovadorismo. Antes disso, há documentos de produções
na região e na península Ibérica, mas não de fato portuguesa.
233
Religião e cultura
A Igreja Católica cresceu, acumulou vastas extensões de terra, enriqueceu e concentrou um significativo poder reli-
gioso e secular. Essa herança conviveu com mudanças na ordem social que tiveram expressão também significativa
na literatura do período.
Uma importante manifestação do poder da Igreja medieval foi seu controle quase absoluto da produção cultural.
Como a circulação dos textos dependia da sua reprodução manuscrita, quase sempre feita sob encomenda, a
divulgação da cultura tornava-se ainda mais difícil, uma vez que o número de cópias em circulação era bem pequeno.
O uso do latim como língua literária, outra herança do longo período de dominação romana na Europa,
também contribuía para dificultar o acesso aos textos. Poemas e canções eram compostos em latim por monges
eruditos que vagavam de feudo em feudo para divulgarem suas composições. A maior parte dessa produção abor-
dava temas religiosos.
E, mia senhor, des aquel di’, jay! E, minha senhora, desde aquele dia, ai,
me foi a mi muyn mal, tudo para mim foi muito mal,
e vos, filha de don Paay mas vós, filha D. Paio
Moniz, e ben vus semelha Moniz, parece-vos muito bem que eu tenha
d’aver eu por vós guarvaya e vós uma garvaia [manto de luxo] quando
pois eu, mia senhor, d’alfaya nunca recebi de vós o simples
nunca de vos ouve nem ei valor de uma correia.
valia dua correa.
(Paio Soares de Taveiros)
234
O poder feudal
A sociedade medieval organizou-se em torno dos gran-
des proprietários de terra, os senhores feudais.
Uma pequena corte passou a se reunir com esse
senhor feudal. Dela faziam parte membros da nobreza,
cavaleiros, camponeses livres e servos. Estavam unidos
por uma relação de dependência pessoal: a vassalagem.
O servilismo dos vassalos a seu suserano e dos
fiéis a Deus deu origem ao princípio básico da litera-
tura medieval: a afirmação da total subserviência de
um trovador à sua dama, em se tratando dos temas da
poesia, ou de um cavaleiro à sua donzela, no caso das
novelas de cavalaria.
235
O código do amor cortês
Os termos que definiam as relações feudais foram trans-
postos para as cantigas, caracterizando a linguagem do
trovadorismo: a mulher era a senhora, o homem era o
seu servidor. Eram muito prezadas a generosidade, a
lealdade e, acima de tudo, a cortesia.
As cantigas de amor do trovadorismo desenvol-
vem um mesmo tema: o sofrimento provocado pelo amor
não correspondido – a “coita de amor”. Como o princípio
do amor cortês é a idealização da dama pelo trovador, os
textos não manifestam a expectativa de correspondência
amorosa.
As cantigas satíricas passeiam por muitos temas,
sempre expressando um olhar crítico sobre a conduta
de nobres, homens e mulheres, nas esferas individual e
social. É bastante comum os trovadores ridicularizarem
um nobre que se envolve com uma serviçal ou que não
percebe a traição da esposa.
236
Tipos de cantiga
As cantigas trovadorescas são divididas em dois grupos: as líricas, que falam de sentimento e são subdivididas em
cantigas de amor e de amigo; e as cantigas satíricas, intencionalmente críticas e cômicas, também subdivididas em
cantigas de escárnio e de maldizer.
Cantigas de amor
Líricas
Cantigas de amigo
Cantigas
Cantigas de escárnio
Satíricas
Cantigas de maldizer
Líricas
A poesia lírica diz respeito à lira, instrumento musical da Antiguidade clássica que acompanhava as canções, ex-
pressando sentimentos.
Cantiga de amor
237
Cantiga d’amor Cantiga de amor (tradução)
Quantos an gran coita d’amor Quantos o amor faz padecer
eno mundo, qual hoj’ eu ei, penas que tenho padecido
querrían morrer, eu o sei, querem morrer e não duvido
o averrian én sabor. que alegremente queiram morrer.
Mais mentr’ eu vos vir’, mia senhor, Porém enquanto vos puder ver,
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar, e esperar!
Pero já non posso guarir, Sei que a sofrer estou condenado
ca já cegan os olhos meus e por vós cegam os olhos meus.
por vos, e non me val i Deus Não me acudis; nem vós, nem Deus
nen vos; mais por vos non mentir, Mas, se sabendo-me abandonado,
enquant’eu vos, mia senhor, vir’, ver-vos, senhora, me for dado.
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar, e esperar!
E tenho que fazen mal-sen Esses que veem tristemente
quantos d’amor coitados son desamparada sua paixão
de querer sa morte, se non querendo morrer, loucos estão.
ouveron nunca d’amor ben Minha fortuna não é diferente;
com’eu faç’. E, senhor, por én porém eu digo constantemente:
sempre m’eu querria viver, vivendo assim eu quero estar
e atender e atender! e esperar e esperar!
(Garcia de Guilhade)
Cantiga de amigo
238
Além disso, em função de sua temática, elas são §§ Pastorelas
também divididas em: Oi (ouvi) oj’eu ua pastor andar.
§§ Alvas
du (onde) cavalgava per ua ribeira,
Levantou-s’a velida (a bela)
Levantou-s’à alva; e o pastor estava i senlheira. (sozinha)
e vai lavar camisas a ascondi-me póla escuitar...
e no alto (no rio) (Airas Nunes de Santiago)
vai-las lavar à alva (de madrugada)
(D. Dinis)
239
Satíricas En Santiago seend’albergado,
en mia pousada chegaron romeus
preguntei-os e disseron: “par Deus,
As cantigas satíricas fazem críticas ao comporta-
muito levade-lo caminh’ errado,
mento das pessoas em suas ações sociais, usavam o
ca, se verdade quiserdes achar,
humor e o vocabulário chulo para denunciar alguns outro caminho conven a buscar,
nobres e damas. ca non saben aqui d’ela mandado.
Além disso, a sátira se estendia a instituições
sociais, censurava os males da sociedade ou dos indiví- Cantigas de maldizer
duos, quase tudo com tom sarcástico, irônico e obsceno.
Elas podem ser de escárnio ou de maldizer. Nas cantigas de maldizer, o trovador utiliza um voca-
bulário agressivo para fazer uma crítica direta e clara,
Cantigas de escárnio identificando o nome das pessoas satirizadas. Essa
linguagem de baixo calão, palavrões e até vocabulá-
A principal característica da cantiga de escárnio é o fato rio erótico aconteciam, pois eram proferidas nas ruas,
de ela ser indireta, especialmente por ser declamada em praças públicas e feiras livres. Os significados eram
no ambiente palaciano. O efeito satírico que caracteriza explícitos e não poupavam nenhuma instituição social:
essas cantigas é obtido por meio de ironias, trocadilhos atacavam o clero, as freiras, os fidalgos e toda a sorte
e jogos semânticos. De modo geral, ridicularizam o com- de pessoas que, dentro de suas classes, indiquem deca-
portamento de nobres ou denunciam as mulheres que dência moral.
não seguem o código do amor cortês.
A sátira indireta sublima o nome da pessoa cri- §§ Maldizer
ticada e sempre explora os duplos sentidos e os tro- (Afonso Eanes do Coton)
240
Cancioneiro da Ajuda Cancioneiro da Vaticana
Coleção de poesias em galego-português do final do Compilado na Itália no século XV – encontra-se na Bi-
século XIII, influenciadas pela lírica provençal. Recebe o blioteca do Vaticano.
nome de “da Ajuda” por se conservar na biblioteca do Chama-se da Vaticana porque foi encontrado na
Palácio Nacional da Ajuda, em Lisboa. Biblioteca do Vaticano, em Roma, onde foi preservado.
É o mais antigo de todos e é também o menos
completo, compreende apenas cantigas anteriores ao Levad’, amigo, que dormides as manhãas frias;
reinado do “rei trovador”, D. Dinis. todalas aves do mundo d’amor dizian:
leda m’ and’ eu.
Ondas do mar de Vigo,
Se vistes meu amigo? Levad’, amigo, que dormide’-las frias manhãas;
E, ai Deus, ele virá cedo? todalas aves do mundo d’amor cantavan:
Ondas do mar levado, leda m’ and’ eu.
se vistes meu amado?
E ai, Deus ele virá cedo? Toda-las aves do mundo d’ amor diziam;
Se vistes meu amigo, do meu amor e do voss’ en ment’ avian:
aquele por quem suspiro? leda m’ and’ eu.
E, ai Deus, ele virá cedo? Toda-las aves do mundo d’ amor cantavan;
Se vistes meu amado, do meu amor e do voss’ i enmentavan:
por quem tenho muito cuidado? leda m’ and’ eu.
E, ai Deus, ele virá cedo?
Do meu amor e do voss’ en ment’avian;
Cancioneiro da Biblioteca Nacional vós lhi tolhestes os ramos en que siian:
leda m’ and’ eu.
Antes chamado de Cancioneiro Colocci-Brancuti – foi
compilado na Itália por volta de 1525-1526. Adquirido Do meu amor e do voss’ i enmentavam;
pelo Estado português e depositado na Biblioteca Na- vos lhi tolhestes os ramos en que pousavam
cional de Lisboa, em 1924. leda m’ and’ eu.
Essa coletânea de cantigas trovadorescas é tam- Vós lhi tolhestes os ramos en que siian
bém conhecida como Collocci-Brancuti. e lhis secastes as fontes en que bevian:
leda m’ and’ eu.
Em gram coita, senhor,
que peior que mort’é, Vós lhi tolhestes os ramos en que pousavam
vivo, per boa fé, e lhis secastes as fontes u se banhavan:
e polo voss’amor leda m’ and’ eu.
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu No final do século XIII, Portugal conheceu os
vi polo meu gran mal; “cantares” de D. Dinis (1261-1325), comumente conhe-
e melhor mi será
cido como “o rei trovador”. Seus poemas encontram-se
de morrer por vós já;
coletados no Cancioneiro da Vaticana e no da Biblioteca
e, pois meu Deus non val,
esta coita sofr’eu Nacional. D. Dinis é autor de uma das mais conhecidas
por vós, senhor, que eu cantigas medievais portuguesas: Ai flores, ai flores
polo meu gran mal vi, do verde pinho.
e mais mi val morrer Existem repetições, expedientes típicos das can-
ca tal coita sofrer tigas de amigo: a moça enamorada dirige-se à natureza
pois por meu mal assi
(pinheiros) e essa lhe responde às perguntas sobre o
esta coita sofr’eu
por vós, senhor, que eu namorado.
vi por gran mal de mi Esta é a mais famosa cantiga de d. Dinis, tendo
pois tan coitad’and’eu. gerado, inclusive, a epígrafe de Fernando Pessoa.
241
As novelas de cavalaria
As novelas de cavalaria são os primeiros romances, ou seja, longas narrativas em verso, surgidas no século XII.
Elas contam as aventuras vividas pelos cavaleiros andantes e tiveram origem com o declínio do prestígio da poesia
dos trovadores.
Estão organizadas em três ciclos, de acordo com o tema que desenvolvem e com o tipo de herói
que apresentam:
§§ Ciclo clássico: novelas que narram a guerra de Troia e as aventuras de Alexandre, o Grande. O ciclo recebe
essa denominação porque seus heróis vêm do mundo clássico mediterrâneo.
§§ Ciclo arturiano ou bretão: histórias envolvendo o rei Arthur e os cavaleiros da Távola Redonda. Nessas
novelas, podem ser identificados vários núcleos temáticos: a história de Percival, a história de Tristão e Isol-
da, as aventuras dos cavaleiros da corte do rei Arthur e a demanda do Santo Graal.
§§ Ciclo carolíngio ou francês: histórias sobre o rei Carlos Magno e os 12 pares de frança.
Dos três ciclos, o arturiano permanece como um dos temas literários mais explorados, sendo objeto de
romances, poemas, filmes e óperas até hoje.
No trecho a seguir, extraído de A demanda do Santo Graal, Galaaz chega à Távola Redonda.
Eles [...] olharam e viram que todas as portas do paço se fecharam e todas as janelas, mas não escureceu
por isso o paço, porque entrou um tal raio de sol, que por toda a casa se estendeu. E aconteceu então uma grande
maravilha, não houve quem no paço não perdesse a fala; e olhavam-se uns aos outros e nada podiam dizer, e não
houve alguém tão ousado, que disso não ficasse espantado; mas não houve quem saísse do assento, enquanto
isto durou. Aconteceu que entrou Galaaz armado de loriga e brafoneiras e de elmo e de suas divisas de veludo
vermelho; e, após ele, chegou o ermitão, que lhe rogara que o deixasse andar com ele, e trazia um manto e uma
gamacha de veludo vermelho em seu braço.
Mas tanto vos digo que não houve no paço quem pudesse entender por onde Galaaz entrara, que em sua
vinda não abriram porta nem janela. Mas do ermitão não vos digo, porque o viram entrar pela porta grande. E
242
Galaaz, assim que chegou ao meio do paço, disse de
modo que todos ouviram:
– A paz esteja convosco.
E o homem bom pôs as vestes que trazia sobre
um tapete, e foi ao rei Arthur e disse-lhe:
– Rei Arthur, eu trago o cavaleiro desejado,
aquele que vem da alta linhagem do rei Davi e de
José de Arimateia, pelo qual as maravilhas desta terra
e das outras terão fim.
E com isto que o homem bom disse, ficou o rei
muito alegre. E disse:
– Se isto é verdade, sede bem-vindo. E bem vin-
do seja o cavaleiro, porque este é o que há de dar cabo
às aventuras do santo Graal. Nunca foi feita nesta corte
tanta honra como lhe nós faremos; e quem quer que
ele seja, eu queria que lhe fosse muito bem, pois de tão
alta linhagem vem como dizeis.
– Senhor, disse o ermitão, cedo o vereis em bom
começo.
Então fê-lo vestir os panos que trazia e foi as-
sentá-lo no assento perigoso. E disse:
– Filho, agora vejo o que muito desejei, quando vejo o assento perigoso ocupado.
[...]
O cavaleiro de quem Merlim e todos os profetas falaram. O rei, assim que viu no assento perigoso o cavalei-
ro de quem Merlim e todos os profetas falaram na Grã-Bretanha, então bem soube que aquele era o cavaleiro por
quem seriam acabadas as aventuras do reino de Logres, e ficou com ele tão alegre e tão feliz que bendisse a Deus:
Deus, bendito sejas tu que te aprouve de tanto viver eu que, em minha casa, visse aquele de quem todos os
profetas desta terra e das outras profetizaram, tão longo tempo há já.
[...]
243
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
244
INTERDISCIPLINARIDADE
Artes plásticas
Obras medievais
O sepultamento de Cristo (iluminura medieval) “Madonna e o Menino” de Duccio, pintor italiano do período gótico
(c.1255-1319)
246
E.O. Aprendizagem b) “a literatura do amor cortês” refletiu a ver-
dade sobre a vida privada medieval.
c) a servidão amorosa e a idealização da mulher
1. É correto afirmar sobre o Trovadorismo que: foi o grande tema da poesia produzida por
a) os poemas são produzidos para ser encenados. vilões.
b) as cantigas de escárnio e maldizer têm te- d) o amor cortês foi uma prática literária que
máticas amorosas. aos poucos modelou o perfil do homem civi-
c) nas cantigas de amigo, o eu lírico é sempre lizado.
feminino. e) nas cantigas medievais mulheres e homens
d) as cantigas de amigo têm estrutura poética submetem-se às maneiras refinadas da cor-
complicada. tesia.
e) as cantigas de amor são de origem nitida-
mente popular.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES
2. Leia atentamente o texto abaixo.
]Cantiga de Amor[
Com’ousará parecer ante mi Senhora minha, desde que vos vi,
o meu amigo, ai amiga, por Deus, lutei para ocultar esta paixão
e com’ousará catar estes meus que me tomou inteiro o coração;
olhos se o Deus trouxer per aqui, mas não o posso mais e decidi
pois tam muit’há que nom veo veer que saibam todos o meu grande amor,
mi e meus olhos e meu parecer? a tristeza que tenho, a imensa dor
Com’ousará parecer ante mi, de Dom Dinis. que sofro desde o dia em que vos vi.
Disponível em: <http://pt.wikisource.org/
wiki/Com%27ousar%C3%A1_pare- Já que assim é, eu venho-vos rogar
cer_ante_mi>. Acesso em: 5 dez. 2012. que queirais pelo menos consentir
per = por; tam = tão; nom = não; veer = ver; que passe a minha vida a vos servir (...)
Afonso Fernandes Disponível em:<
mi = mim, me parecer = semblante www.caestamosnos.org/ efemerides/118>.
247
Texto II 7. Sobre a poesia trovadoresca em Portugal, é
Bailemos nós ia todas tres, ay irmanas, INCORRETO afirmar que:
so aqueste ramo destas auelanas a) refletiu o pensamento da época, marcada
e quen for louçana, como nós, louçanas,
se amigo amar, pelo teocentrismo, o feudalismo e valores
so aqueste ramo destas auelanas altamente moralistas.
uerrá baylar. b) representou um claro apelo popular à arte,
Aires Nunes. In: Nunes, J. J., Crestomatia arcaica. que passou a ser representada por setores
mais baixos da sociedade.
Texto III c) pode ser dividida em lírica e satírica.
Tão cedo passa tudo quanto passa! d) em boa parte de sua realização, teve influ-
morre tão jovem ante os deuses quanto
ência provençal.
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina. e) as cantigas de amigo, apesar de escritas por
Circunda-te de rosas, ama, bebe trovadores, expressam o eu lírico feminino.
E cala. O mais é nada.
(Fernando Pessoa, Obra poética.) 8. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito
das cantigas de amor.
Texto IV a) O ambiente é rural ou familiar.
Os privilégios que os Reis b) O trovador assume o eu lírico masculino: é o
Não podem dar, pode Amor,
Que faz qualquer amador homem quem fala.
Livre das humanas leis. c) Têm origem provençal.
mortes e guerras cruéis, d) Expressam a “coita” amorosa do trovador,
Ferro, frio, fogo e neve, por amar uma dama inacessível.
Tudo sofre quem o serve. e) A mulher é um ser superior, normalmente
Luís de Camões, Obra completa.
pertencente a uma categoria social mais ele-
vada que a do trovador.
Texto V
As minhas grandes saudades
São do que nunca enlacei. 9. Assinale a alternativa INCORRETA a respeito
Ai, como eu tenho saudades do Trovadorismo em Portugal:
Dos sonhos que não sonhei! (...) a) Durante o Trovadorismo, ocorreu a separação
Mário de Sá Carneiro, Poesias. entre a poesia e a música.
b) Muitas cantigas trovadorescas foram reuni-
6. (G1 - ifsp) Assinale a alternativa correta no das em livros ou coletâneas que receberam o
que se refere às cantigas de amor trovado- nome de cancioneiros.
rescas. c) Nas cantigas de amor, há o reflexo do rela-
a) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino cionamento entre senhor e vassalo na socie-
lamenta a ausência da mulher amada, que dade feudal: distância e extrema submissão.
lhe é indiferente e que, por mais que seja d) Nas cantigas de amigo, o trovador (sempre
vista por ele como superior, pertence às
um homem) escreve o poema assumindo o
classes populares.
b) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino papel feminino.
manifesta insistentemente a coita, isto é,
o sofrimento de amor, repleto de impulsos 1
0. As narrativas que envolvem as lutas dos cru-
eróticos que lhe laceram o corpo e que con- zados envolvem sempre um herói muito en-
ferem aos poemas uma aura sardônica. gajado na luta pela cristandade, podendo ser
c) Nas cantigas de amor, o eu lírico feminino
a um só tempo frágil e forte, decidido e ter-
manifesta a falta que sente do amigo – isto
é, do homem amado – invocando-o por meio no, furioso e cortes. No entanto, com relação
de composições de matriz popular que se à mulher amada, esse herói é sempre:
caracterizam por construções paralelísticas. a) indiferente.
d) Nas cantigas de amor, o eu lírico masculino b) infiel.
confessa a coita, isto é, o sofrimento amoroso c) devotado.
por uma dama que lhe é inacessível devido à d) indelicado.
diferença social que existe entre ele e ela.
e) ausente.
e) Nas cantigas de amor, a distância social exis-
tente entre o eu lírico masculino e a mulher
amada a quem ele se dirige permite entrever
que já grassava na sociedade portuguesa a
ascensão social pelo trabalho.
248
E.O. Fixação d) emprega a palavra “cancioneiros” em subs-
tituição a “poetas”, uma vez que os textos
medievais eram cantados.
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES e) usa a expressão “deliciosas cantigas” em sen-
tido irônico, já que os modernistas considera-
Texto I ram medíocres os estilos do passado.
Ondas do mar de Vigo,
se vistes meu amigo! 3. Marque V, para verdadeiro, e F, para falso.
E ai Deus, se verrá cedo! ( ) As cantigas de maldizer e de escárnio
Ondas do mar levado, pertencem à lírica trovadoresca.
se vistes meu amado! ( ) As cantigas de amigo possuem um am-
E ai Deus, se verrá cedo! biente palaciano e o eu lírico é feminino,
(Martim Codax) apesar de serem escritas por homem.
( ) As cantigas de amor possuem um am-
Obs.: verrá = virá; levado = agitado biente palaciano e suas características
principais são a vassalagem amorosa e a
Texto II coita de amor.
Me sinto com a cara no chão, mas a verdade ( ) A canção da Ribeirinha iniciou o trovado-
[precisa rismo português.
ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu ( ) As cantigas de amigo, em geral, possuem
[ignorava um eu lírico feminino, apesar de serem
a admirável forma lírica da canção paralelística escritas por homens. A temática princi-
(…). pal, quase sempre, é o sofrimento da mu-
O “Cantar de amor” foi fruto de meses de
lher pelo amado que partiu.
[leitura
dos cancioneiros. Li tanto e tão seguidamente
[aquelas 4. (Ueg) Senhora, que bem pareceis!
deliciosas cantigas, que fiquei com a cabeça Se de mim vos recordásseis
cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”; que do mal que me fazeis
sonhava com as ondas do mar de Vigo e com me fizésseis correção,
[romarias quem dera, senhora, então
a San Servando. O único jeito de me livrar da que eu vos visse e agradasse.
obsessão era fazer uma cantiga.
(Manuel Bandeira) Ó formosura sem falha
que nunca um homem viu tanto
para o meu mal e meu quebranto!
1. Assinale a afirmativa correta sobre o texto I.
Senhora, que Deus vos valha!
a) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculino
Por quanto tenho penado
manifesta a Deus seu sofrimento amoroso.
seja eu recompensado
b) Nessa cantiga de amor, o eu lírico feminino
vendo-vos só um instante.
dirige-se a Deus para lamentar a morte do
ser amado. De vossa grande beleza
c) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico masculi- da qual esperei um dia
no manifesta às ondas do mar sua angústia grande bem e alegria,
pela perda do amigo em trágico naufrágio. só me vem mal e tristeza.
d) Nessa cantiga de amor, o eu lírico masculi- Sendo-me a mágoa sobeja,
no dirige-se às ondas do mar para expressar deixai que ao menos vos veja
sua solidão. no ano, o espaço de um dia.
e) Nessa cantiga de amigo, o eu lírico feminino
dirige-se às ondas do mar para expressar sua Rei D. Dinis
ansiedade com relação à volta do amado. CORREIA, Natália. Cantares dos trovadores galego-
portugueses. Seleção, introdução, notas e adaptação de
2. No texto II, o autor: Natália Correia. 2. ed. Lisboa: Estampa, 1978. p. 253.
a) manifesta sua resistência à obrigatoriedade
de ler textos medievais durante o período de Quem te viu, quem te vê
formação acadêmica.
b) utiliza a expressão “cabeça cheia” para de- Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
preciar as formas linguísticas do galaico-por- Você era a favorita onde eu era mestre-sala
tuguês, como “mha senhor” e “nula ren”. Hoje a gente nem se fala, mas a festa continua
c) relata circunstâncias que o levaram a compor Suas noites são de gala, nosso samba ainda
um poema que recupera a tradição medieval. é na rua
249
Hoje o samba saiu procurando você 6. Senhor feudal
Quem te viu, quem te vê Se Pedro Segundo
Quem não a conhece não pode mais ver pra crer Vier aqui
Quem jamais a esquece não pode reconhecer Com história
[...] Eu boto ele na cadeia.
Chico Buarque (Oswald de Andrade)
250
e) Que pode uma criatura senão, Texto II
entre criaturas, amar? Me sinto com a cara no chão, mas a verdade
amar e esquecer [precisa
amar e malamar, ser dita ao menos uma vez: aos 52 anos eu
amar, desamar, amar? [ignorava
(Manuel Bandeira)
a admirável forma lírica da canção paralelística
(…).
TEXTO PARA AS PRÓXIMAS 2 QUESTÕES O “Cantar de amor” foi fruto de meses de
[leitura
Cantiga de Amor dos cancioneiros. Li tanto e tão seguidamente
(Afonso Fernandes)
[aquelas
deliciosas cantigas, que fiquei com a cabeça
Senhora minha, desde que vos vi, cheia de “velidas” e “mha senhor” e “nula ren”;
lutei para ocultar esta paixão sonhava com as ondas do mar de Vigo e com
que me tomou inteiro o coração;
[romarias
mas não o posso mais e decidi
a San Servando. O único jeito de me livrar da
que saibam todos o meu grande amor,
obsessão era fazer uma cantiga.
a tristeza que tenho, a imensa dor
(Manuel Bandeira)
que sofro desde o dia em que vos vi.
Já que assim é, eu venho-vos rogar a) Um dos temas mais explorados por esse es-
que queirais pelo menos consentir tilo de época é a exaltação do amor sensual
que passe a minha vida a vos servir (...) entre nobres e mulheres camponesas.
Disponível em: <www.caestamosnos.org/efemerides/118>. b) Desenvolveu-se especialmente no século XV
e refletiu a transição da cultura teocêntrica
9. Observando-se a última estrofe, é possível para a cultura antropocêntrica.
afirmar que o apaixonado: c) Devido ao grande prestígio que teve durante
a) se sente inseguro quanto aos próprios senti- toda a Idade Média, foi recuperado pelos po-
mentos. etas da Renascença, época em que alcançou
b) se sente confiante em conquistar a mulher níveis estéticos insuperáveis.
amada. d) Valorizou recursos formais que tiveram não
c) se declara surpreso com o amor que lhe de-
apenas a função de produzir efeito musical,
dica a mulher amada.
como também a função de facilitar a memo-
d) possui o claro objetivo de servir sua amada.
e) conclui que a mulher amada não é tão pode- rização, já que as composições eram trans-
rosa quanto parecia a princípio. mitidas oralmente.
e) Tanto no plano temático como no plano ex-
10. Uma característica desse fragmento, tam- pressivo, esse estilo de época absorveu a in-
bém presente em outras cantigas de amor do fluência dos padrões estéticos greco-romanos.
Trovadorismo, é:
a) a certeza de concretização da relação amorosa. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
b) a situação de sofrimento do eu lírico.
c) a coita de amor sentida pela senhora amada. SONETO DE SEPARAÇÃO
d) a situação de felicidade expressa pelo eu lírico.
e) o bem-sucedido intercâmbio amoroso entre De repente do riso fez-se o pranto
pessoas de camadas distintas da sociedade. Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
E.O. Complementar
De repente da calma fez-se o vento
1. Assinale a afirmativa correta com relação ao Que dos olhos desfez a última chama
Trovadorismo. E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
Texto I
Ondas do mar de Vigo, De repente, não mais que de repente
se vistes meu amigo! Fez-se de triste o que se fez amante
E ai Deus, se verrá cedo! E de sozinho o que se fez contente
Ondas do mar levado,
se vistes meu amado!
Fez-se do amigo próximo o distante
E ai Deus, se verrá cedo!
(Martim Codax) Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
Obs.: verrá = virá; levado = agitado (Vinícius de Morais)
251
2. (Faap) Releia com atenção a última estrofe: a) Non chegou, madre, o meu amigo,
e oje est o prazo saido!
“Fez-se de amigo próximo o distante Ai, madre, moiro d’amor!
Fez-se da vida uma aventura errante b) Êstes olhos nunca perderán,
De repente, não mais que de repente”. senhor, gran coita, mentr’eu vivo fôr;
e direi-vos fremosa, mia senhor,
Tomemos a palavra AMIGO. Todos conhecem o dêstes meus olhos a coita que han:
sentido com que esta forma linguística é usu- choran e cegan, quand’alguém non veen,
almente empregada no falar atual. Contudo, e ora cegan por alguen que veen.
na Idade Média, como se observa nas cantigas c) Meu amor, tanto vos amo,
medievais, a palavra AMIGO significou: que meu desejo não ousa
a) colega desejar nehua cousa.
b) companheiro Porque, se a desejasse,
c) namorado logo a esperaria,
d) simpático e se eu a esperasse,
e) acolhedor sei que vós anojaria:
mil vezes a morte chamo
3. Assinale a afirmação falsa sobre as cantigas e meu desejo não ousa
de escárnio e mal dizer: desejar-me outra cousa.
a) A principal diferença entre as duas modali- d) Amigos, non poss’eu negar
dades satíricas está na identificação ou não a gran coita que d’amor hei,
da pessoa atingida. ca me vejo sandeu andar,
b) O elemento das cantigas de escárnio não é e con sandece o direi:
temático, nem está na condição de se omitir os olhos verdes que eu vi
a identidade do ofendido. A distinção está me fazen ora andar assi.
no retórico do “equívoco”, da ambiguidade e e) Ai! dona fea, foste-vos queixar
da ironia, ausentes na cantiga de maldizer. por (que) vos nunca louv’em meu cantar;
c) Os alvos prediletos das cantigas satíricas mais ora quero fazer um cantar,
eram os comportamentos sexuais (homosse- em que vos loarei toda via;
xualidade, adultério, padres e freiras libidi- e vedes como vos quero loar.
nosos), as mulheres (soldadeiras, prostitu- dona fea, velha e sandia!
tas, alcoviteiras e dissimuladas), os próprios
poetas (trovadores e jograis eram frequente- 5. Nas cantigas de amor:
mente ridicularizados), a avareza, a corrup- a) o trovador expressa um amor à mulher ama-
ção e a própria arte de trovar. da, encarando-a como um objeto acessível a
d) As cantigas satíricas perfazem cerca de uma seus anseios.
quarta parte da poesia contida nos cancionei- b) o trovador velada ou abertamente ironiza
ros galego-portugueses. Isso revela que a li- personagens da época.
berdade da linguagem e a ausência de precon- c) o “eu-lírico” é feminino, expressando a sau-
ceito ou censura (institucional, estética ou dade da ausência do amado.
pessoal) eram componentes da vida literária d) o poeta pratica a vassalagem amorosa, pois,
no período trovadoresco, antes de a repressão em postura platônica, expressa seu amor à
inquisitorial atirá-las à clandestinidade. mulher amada.
e) Algumas composições satíricas do Cancionei- e) existe a expressão de um sentimento femi-
ro Geral e algumas cenas dos autos gilvicen- nino, apesar de serem escritas por homens.
tinos revelam a sobrevivência, já bastante
atenuada, da linguagem livre e da violência
verbal dos antigos trovadores. E.O. Dissertativo
4. Em meados do século XIV, a poesia trovado- 1. Os textos abaixo são de cantigas medievais
resca entra em decadência, surgindo, em seu e foram adaptados para o português atual.
lugar, uma nova forma de poesia, totalmente Identifique cada uma de acordo com as ca-
distanciada da música, apresentando ama- racterísticas das cantigas de amor, de amigo,
durecimento técnico, com novos recursos es- de escárnio ou de maldizer.
tilísticos e novas formas poemáticas, como a a) A dona que eu sirvo e que muito adoro mos-
trova, a esparsa e o vilancete. trai-ma, ai Deus! pois eu vos imploro se não,
Assinale a alternativa em que há um trecho dai-me a morte.
representativo de tal tendência. (Bernardo de Bonaval)
252
b) Trovas não fazeis como provençal mas como Confessor Medieval (1960)
Bernardo, o de Bonaval. O vosso trovar não Irias à bailia com teu amigo,
é natural. Se ele não te dera saia de sirgo [seda]?
Ai de vós, com ele e o Demo aprendestes. Se te dera apenas um anel de vidro
Em trovardes mal, vejo eu o sinal das loucas Irias com ele por sombra e perigo?
ideias em que empreendestes. Por isso, D.
Irias à bailia sem teu amigo,
Pero, em Vila-Real,
Se ele não pudesse ir bailar contigo?
Fatal foi a hora em que tanto bebestes.
(D. Afonso X, o Sábio) Irias com ele se te houvessem dito
Que o amigo que amavas é teu inimigo?
c) Ai flores, ai flores do verde ramo, se sabe-
Sem a flor no peito, sem saia de sirgo,
des novas do meu amado? Ai, Deus, onde
Irias sem ele, e sem anel de vidro?
ele está?
(D. Dinis) Irias à bailia, já sem teu amigo,
E sem nenhum suspiro?
d) Ai, dona feia, foste-vos queixar de que nun-
MEIRELES, Cecília. Poesias completas de Cecília Meireles.
ca vos louvei em meu trovar; e umas trovas v.8. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1974.
vos quero dedicar em que louvada de toda
maneira sereis; tal é o meu louvar: dona
3. As cantigas que focalizam temas amorosos
feia, velha e sandia!
(João Garcia de Guilhade) apresentam-se em dois gêneros na poesia
trovadoresca: as “cantigas de amor”, em que
o eu-poemático representa a figura do namo-
2. “Ua dona, nom digu’eu qual, rado (o “amigo”), e as “cantigas de amigo”,
non agoirou ogano mal em que o eu-poemático representa a figura
polas oitavas de Natal:
da mulher amada (a “amiga”) falando de seu
ia por as missa oir e
amor ao “amigo”, por vezes dirigindo-se a
ouv’un corvo carnaçal,
e non quis da casa sair...” ele ou dialogando com ele, com outras “ami-
(Joan Airas de santiago, século XIII) gas” ou, mesmo, com um confidente (a mãe,
a irmã etc.). De posse desta informação:
O fragmento acima pertence a uma cantiga
a) Classifique a cantiga de Airas Nunes em um
de escárnio. Por que não pode ser classifica-
dos dois gêneros, apresentando a justificati-
do como uma cantiga de maldizer?
va dessa resposta.
A questão 3 toma por base uma cantiga do b) Identifique, levando em consideração o pró-
trovador galego Airas Nunes, de Santiago prio título, a figura que o eu poemático do
(século XIII), e o poema Confessor Medieval, poema de Cecília Meireles representa.
de Cecília Meireles (1901-1964).
253
E.O. Objetivas 3. (Fuvest) O Trovadorismo, quanto ao tempo
em que se instala:
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) a) tem concepções clássicas do fazer poético.
b) é rígido quanto ao uso da linguagem que,
geralmente, é erudita.
1. (Unifesp) Leia a cantiga seguinte, de Joan
c) estabeleceu-se num longo período que dura
Garcia de Guilhade.
10 séculos.
Un cavalo non comeu d) tinha como concepção poética a epopeia, a
á seis meses nen s’ergueu louvação dos heróis.
mais prougu’a Deus que choveu, e) reflete as relações de vassalagem nas canti-
creceu a erva, gas de amor.
e per cabo si paceu,
e já se leva!
Seu dono non lhi buscou
cevada neno ferrou:
E.O. Dissertativas
mai-lo bon tempo tornou,
creceu a erva,
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
e paceu, e arriçou,
e já se leva! 1. (Fuvest) “Coube ao século XIX a descober-
Seu dono non lhi quis dar ta surpreendente da nossa época lírica. Em
cevada, neno ferrar; 1904, com a edição crítica e comentada do
mais, cabo dum lamaçal Cancioneiro da Ajuda, por Carolina Michaëlis
creceu a erva, de Vasconcelos, tivemos grande visão de
e paceu, e arriç’ar, conjunto do valiosíssimo espólio descober-
e já se leva! to.” (Costa Pimpão)
(CD Cantigas from the Court of Dom Dinis.
harmonia mundi, usa, 1995.) a) Qual é essa “primeira época lírica” portu-
guesa?
A leitura permite afirmar que se trata de b) Que tipos de composições poéticas se culti-
uma cantiga de: vam nessa época?
a) escárnio, em que se critica a atitude do dono
do cavalo, que dele não cuidara, mas graças
2. (Unesp) A leitura da cantiga de Airas Nunes
ao bom tempo e à chuva, o mato cresceu e o
animal pôde recuperar-se sozinho. e do poema “Confessor Medieval”, de Cecí-
b) amor, em que se mostra o amor de Deus lia Meireles, revela que este poema, mesmo
com o cavalo que, abandonado pelo dono, tendo sido escrito por uma poeta moder-
comeu a erva que cresceu graças à chuva e nista, apresenta intencionalmente algumas
ao bom tempo. características da poesia trovadoresca, como
c) escárnio, na qual se conta a divertida his- o tipo de verso e a construção baseada na
tória do cavalo que, graças ao bom tempo e repetição e no paralelismo.
à chuva, alimentou-se, recuperou-se e pôde, Releia com atenção os dois textos e, em seguida:
então, fugir do dono que o maltratava. a) considerando que o efeito de paralelismo em
d) amigo, em que se mostra que o dono do ca- cada poema se torna possível a partir da re-
valo não lhe buscou cevada nem o ferrou por tomada, estrofe a estrofe, do mesmo tipo de
causa do mau tempo e da chuva que Deus frase adotado na estrofe inicial (no poema
mandou, mas mesmo assim o cavalo pôde de Airas Nunes, por exemplo, a retomada da
recuperar-se. frase imperativa), aponte o tipo de frase que
e) mal-dizer, satirizando a atitude do dono que
Cecília Meireles retomou de estrofe a estrofe
ferrou o cavalo, mas esqueceu-se de alimen-
para possibilitar tal efeito.
tá-lo, deixando-o entregue à própria sorte
b) estabeleça as identidades que há entre o ter-
para obter alimento.
ceiro verso da cantiga de Airas Nunes e o
2. (Fuvest) Sobre o Trovadorismo em Portugal, terceiro verso do poema de Cecília Meireles
é correto afirmar que: no que diz respeito ao número de sílabas e
a) sua produção literária está escrita em galego às posições dos acentos.
ou galêgo-português e divide-se em: poesia
(cantigas) e prosa (novelas de cavalaria). 3. (Unesp) Tanto na cantiga como no poema de
b) utilizou largamente o verso decassílabo por- Cecília Meireles verificam-se diferentes per-
que sua influência é clássica. sonagens: um eu-poemático, que assume a
c) a produção poética daquela época pode ser di- palavra, e um interlocutor ou interlocutores
vidida em lírico-amorosa e prosa doutrinária. a quem se dirige. Com base nesta informa-
d) as cantigas de amigo têm influência provençal. ção, releia os dois poemas e, a seguir indique
e) a prosa trovadoresca tinha claro objetivo de o interlocutor ou interlocutores do eu-poe-
divertir a nobreza, por isso têm cunho satírico. mático em cada um dos textos.
254
4. (Unesp) Considerando-se que o último ver- b) No poema de Cecília Meireles, o título do
so da cantiga caracteriza um diálogo entre poema indica um eu lírico que é um pa-
personagens; considerando-se que a palavra dre com quem a moça se confessa.
“abutre” grafava-se “avuytor”, em portu- 4.
guês arcaico; e considerando-se que, de acor- a) Os sentimentos abordados na canção es-
do com a tradição popular da época, era pos- tão atrelados ao sofrimento frente à par-
sível fazer previsões e descobrir o que está tida da pessoa amada.
oculto, comendo carne de abutre, mediante b) É tipicamente uma cantiga de amigo,
estas três considerações: pois, ao falar da pessoa amada, o eu lírico
a) Identifique o personagem que se expressa em se revela como uma mulher, apesar de ter
discurso direto, no último verso do poema; sido escrita por um homem.
b) Interprete o significado do último verso, no
contexto do poema.
E.O. Objetivas
5. (Unesp) O paralelismo é um dos recursos (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
estilísticos mais comuns na poesia líricoa-
morosa trovadoresca. Consiste na ênfase de 1. A 2. A 3. E
uma ideia central, às vezes repetindo ex-
pressões idênticas, palavra por palavra, em
séries de estrofes paralelas. A partir destas
E.O. Dissertativas
observações, releia o texto de Estêvão Coelho (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
e responda: 1.
a) O poema se estrutura em quantas séries de a) O Trovadorismo.
estrofes paralelas? Identifique-as. b) As cantigas líricas e satíricas.
b) Que ideias centrais são enfatizadas em cada 2.
série paralelística? a) A oração subordinada adverbial condicio-
nal foi retomada, estrofe a estrofe, pela
autora. Estas orações aparecem no segun-
Gabarito do verso (primeira estrofe) e, de corpo
inteiro, (segunda e terceira estrofes).
Além disso, aparecem na penúltima es-
E.O. Aprendizagem trofe em estrutura mais simples em con-
1. C 2. B 3. D 4. D 5. B dicional determinada pela da preposição
“sem”.
6. D 7. B 8. A 9. A 10. C b) No que diz respeito à metrificação, os
versos indicados em ambos os textos são
iguais, logo chamados de hendecassíla-
E.O. Fixação bos. Eles são acentuados nas quintas e
1. E 2. C 3. F-F-V-V-V 4. C 5. A nas décimas primeiras sílabas.
3.
O eu lírico feminino na cantiga se dirige a
6. A 7. B 8. D 9. D 10. B duas moças (amigas e irmãs), estabelecen-
do com elas interlocução de sua fala. Já no
poema, o eu lírico apresenta-se como um
E.O. Complementar homem, um confidente que faz perguntas
1. D 2. C 3. B 4. C 5. D à moça apaixonada, mantendo com ela uma
lógica de interlocução.
E.O. Dissertativo 4.
a) A personagem que se expressa em discur-
1.
so direto é a “mulher”.
a) cantiga de amor
b) A personagem considera o poeta um vi-
b) cantiga de maldizer
dente, pois ele descobre no último verso
c) cantiga de amigo
o seu sofrimento amoroso.
d) cantiga de escárnio
5.
2.
O fragmento não pode ser considerado uma
a) O poema se estrutura em duas séries: as
cantiga de maldizer, pois não é direta. Não é
duas primeiras estrofes e as duas estrofes
possível identificar a pessoa criticada, além
seguintes.
de apresentar vocabulário comedido.
b) Na primeira estrofe, o foco se dá nos afa-
3. zeres da mulher. Já na segunda, a temá-
a) O eu lírico feminino se dirige às amigas, tica recai sobre seu sofrimento.
por isso o poema de Airas Nunes pode ser
considerado uma “cantiga de amigo”.
255
© Peter Paul Rubens/Wikimedia Commons
Aulas
5e6
Humanismo e Classicismo
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Humanismo
DORÉ, Gustave. Demônios confrontando Dante e Virgílio. Ilustração para o livro A divina Comédia (Inferno), de Dante Alighieri,
publicado em 1885 – Biblioteca de Artes Decorativas (Paris, França). A ilustração reflete a confiança dos humanistas.
Dante e Virgílio enfrentam os demônios por meio da razão, que os ajuda a afastar as “trevas” do pensamento vinculado à Idade Média.
Cronologia do Humanismo
Início: nomeação de Fernão Lopes, em 1418, como o cronista-mor da Torre do Tombo.
Fim: em 1527, com a chegada do poeta Sá de Miranda, da Itália, com a Medida Nova (verso decassílabo).
Contexto
O Humanismo foi um movimento artístico e intelectual
que se estabeleceu como uma transição entre o teo-
centrismo da Idade Média e o pensamento antropocên-
trico do Renascimento, que surgiu na Itália no final da
Idade Média (século XIV). A organização social passou
por uma reformulação, e nas áreas mais longínquas aos
feudos medievais passaram a surgir pequenas cidades
que funcionavam de forma independente do poder ab-
soluto dos monarcas, eram os burgos e seus habitantes,
os burgueses.
A lógica dos humanistas era colocar em primei-
ro plano o próprio ser humano, o que os afastava do
teocentrismo medieval. Muitos camponeses, atraídos Monteriggioni - Burgo (Itália)
259
pelas promessas de prosperidade, transferiram-se para Projeto literário
os burgos, estas cidades ou vila medievais normalmente
muradas e associadas a um mosteiro ou castelo, onde O abandono da subordinação ao Clero e o resgate dos
começaram a trabalhar como pequenos mercadores. valores clássicos fazem com que ganhe força um olhar
Em função da substituição da sociedade do es- mais racional sobre o mundo, buscando na Ciência
cambo e das trocas pelo surgimento do comércio e, pri- uma explicação para os fenômenos até então atribui-
dos a Deus.
mordialmente, da moeda, o homem se viu rompendo
O contexto de produção é o mesmo do Trovado-
com a lógica feudal das castas imóveis. Diante da possi-
rismo, mas em função do desenvolvimento intelectual
bilidade de ascensão social passaram a investir mais em
vindo da ampliação cultural promovida pela burguesia,
si, num individualismo que colocava o próprio homem os textos passam a ser escritos para ser lidos e não mais
e sua busca por poder e acúmulo em primeiro plano, cantados, como seguia a tradição oral das cantigas. A
surgindo, assim, a burguesia. partir do início da produção de livros na Europa, sobre-
tudo com a invenção da gráfica, por Johann Gutenberg,
por volta de 1450, a Literatura ganha com obras que
permitem ao escritor se valer de novos recursos técnicos
de escrita e linguagem, sem ficarem presos à oralidade
e à memória, como faziam até então. Para se ter uma
ideia, surge na Alemanha em 1455, o primeiro livro im-
presso por Gutemberg, a Bíblia.
260
grande prosador da Literatura Portuguesa e contribuiu tadas nos salões da nobreza, onde aconteciam os Se-
decisivamente para o desenvolvimento da Língua Portu- rões. Do ponto de vista temático, esses poemas ainda
guesa moderna ao criar uma visão de mundo indepen- idealizavam o amor e suas desilusões, mas sem o exa-
dente das imposições do clero. gero trovadoresco. Do ponto de vista formal, a mudan-
ça é nítida no que diz respeito à constituição de uma
Língua Portuguesa sem tantas influências provençais e
galegas, fato esse que contribuiu para o aperfeiçoamen-
to da linguagem com técnicas como as aliterações, o
jogo de palavras, a conotação e a ambiguidade. Além
disso, explorou-se o metro fixo das Redondilhas (Me-
dida Velha).
261
A poesia reunida por Garcia de Resende no filho, o futuro rei D. João III. Em seus 71 anos de vida,
Cancioneiro Geral traz algumas diferenças importan- Gil Vicente se manteve em cena durante 34 anos e tes-
tes em relação à lírica dos trovadores galego-portu- temunhou muitas modificações ocorridas em Portugal,
gueses quanto ao uso de formas poéticas regulares, viu, por exemplo, seu país sair de uma sociedade agrária
como: e tornar-se uma potência naval, comercial e militar.
§§ a trova: composta de duas ou mais quadras de
versos de sete sílabas e rimas ABAB;
§§ o vilancete: composto de um mote (motivo de
dois ou três versos) seguido de voltas ou glosas
(estrofes em que o mote é desenvolvido) de sete
versos;
§§ a cantiga: composta de um mote de quatro ou
cinco versos e de uma glosa de oito ou dez ver-
sos, com repetição total ou parcial do mote no
fim da glosa;
§§ a esparsa: composta de uma única estrofe de
oito, nove ou dez versos de seis sílabas métricas.
Exemplo de poema compilado no Cancioneiro
Geral:
O teatro de Gil Vicente A arte teatral vicentina tem caráter moralizante, pois en-
foca os desvios comportamentais inseridos num contex-
O grande nome do teatro no Humanismo é Gil Vicen- to em que a religião católica era o padrão de compor-
te, considerado o pai do teatro em Portugal. Escrita em tamento. No entanto, sua crítica sempre se voltava para
1502, sua primeira peça foi Auto da Visitação, em os sujeitos e não para as instituições, principalmente as
homenagem à rainha D. Maria pelo nascimento de seu religiosas.
262
A evidente intenção na maioria de suas obras §§ Farsas: peças de caráter crítico, utilizam como
é criar o riso crítico, usando a máxima latina ridendo personagens tipos populares e desenvolvem-se
castigat mores, ou seja, rindo castiga-se a moral em torno de problemas da sociedade. As mais
sem fazer distinção de classe, seja rico, pobre, plebeu populares são a Farsa de Inês Pereira, história de
ou nobre, todos eram sua matéria-prima e recebiam a uma jovem que vê no casamento a sua chance
mesma força de suas críticas. de ascensão social, e O velho da horta, que ridi-
O teatro vicentino coloca no centro da cena erros culariza a paixão de um velho casado por uma
de ricos e pobres, nobres e plebeus. O autor denuncia os jovem virgem.
exploradores do povo, como o fidalgo, o sapateiro e o
agiota no Auto da barca do inferno; e ridiculariza os O velho da horta (1512)
velhos que se interessam por mulheres mais jovens na
farsa O velho da horta. A farsa gira em torno dos amores de um velho e uma
Um recurso muito explorado por Gil Vicente é o mocinha que vai até sua horta “buscar cheiros para a
uso de alegorias, ou seja, de representações por meio de panela”.
personagens ou objetos, de ideias abstratas, geralmente O velho a corteja e apaixona-se por ela. Uma
relacionadas aos vícios e às virtudes humanas. Assim, alcoviteira, aproveitando-se da situação, põe-se a tirar a
no Auto da barca do inferno, o agiota traz consigo uma fortuna do Velho e o deixa na miséria.
bolsa cheia de moedas que representa, alegoricamente, Leia um trecho:
a sua ganância.
[...]
Outro recurso são os tipos sociais, nos quais são
Entra a moça na horta e diz o velho: Senhora, benza-vos
elencadas figuras que formam um quadro da socieda-
Deus!
de portuguesa da época, como papas, fidalgos, juízes,
MOÇA: Deus vos mantenha, senhor.
onzeneiros, alcoviteiras, prostitutas, espertalhões, tolos,
VELHO: Onde se criou tal flor? Eu diria que nos céus.
mulheres ambiciosas, clérigos, frades etc.
MOÇA: Mas no chão.
Afastou-se totalmente dos gêneros de grande
VELHO: Pois damas se acharão que não são vosso sa-
prestígio no teatro da Antiguidade Clássica, ou seja, a
pato!
tragédia e a comédia são caracterizadas por três uni-
MOÇA: Ai! Como isso é tão vão, e como as lisonjas são-
dades: ação, tempo e lugar. Gil Vicente, ao contrário,
de barato!
caracteriza sua obra pela amplitude temática, maior
VELHO: Que buscais vós cá, donzella, senhora, meu co-
duração da ação cênica, maior número de atores em
ração?
cena e despreocupação com grande cenário para que
MOÇA: Vinha ao vosso hortelão, por cheiros para a pa-
possa justapor espaços com mais facilidade. Além disso,
nella.
misturava no registro de fala tanto o erudito como o
VELHO: E a isso vinde vós, meu paraíso. Minha senhora,
popular, o dito “elevado” com o “baixo”.
e não a aí?
As obras de Gil Vicente costumam ser divididas
MOÇA: Vistes vós! Segundo isso, nenhum velho não
em três tipos:
tem siso natural.
§§ Autos pastoris (éclogas): gênero a que per- VELHO: Ó meus olhinhos garridos, minha rosa, meu ar-
tencem algumas das primeiras obras do autor. minho!
Algumas dessas peças têm caráter religioso, MOÇA: Onde he vosso ratinho? Não tem os cheiros co-
como o auto pastoril português; lhidos?
§§ Autos de moralidade: gênero em que Gil Vi- VELHO: Tão depressa vinde vós, minha condensa, meu
cente se celebrizou. Suas peças mais conhecidas amor, meu coração!
são os da trilogia das barcas (Auto da barca do MOÇA: Jesus! Jesus! Que cousa he essa? E que prá-
inferno, Auto da barca do purgatório e Auto da tica tão avessa da razão! Falai, falai doutra maneira!
barca da glória) e o Auto da alma. Mandai-me dar a hortaliça.
263
VELHO: Grão fogo de amor me atiça, ó minha alma ver- um fio condutor melhor configurado que as produções
dadeira! anteriores de Gil Vicente.
MOÇA: E essa tosse? Amores de sobreposse serão os da O enredo é simples: uma jovem sonhadora pro-
vossa idade; o tempo vos tirou a posse. cura, por meio do casamento com um homem que sai-
VELHO: Mais amo que se moço fosse com a metade. ba tanger viola, fugir à rotina doméstica. Despreza a
MOÇA: E qual será a desastrada que atende vosso proposta de Pero Marques, filho de um camponês rico,
amor? homem tolo e ingênuo, e aceita se casar com Brás da
VELHO: Ó minha alma e minha dor, quem vos tivesse Mata, escudeiro pelintra e pobretão. No entanto, os so-
nhos da heroína são logo desfeitos, porque o marido
furtada!
revela sua verdadeira personalidade, maltratando-a e
MOÇA: Que prazer! Quem vos isso ouvir dizer cuidará
explorando-a. Brás da Mata vai para a África e lá vem
que estais vós vivo, ou que estais para viver!
a falecer. Inês, ensinada pela dura experiência, toma
VELHO: Vivo não no quero ser, mas cativo!
consciência da realidade e aceita se casar com Pero
[...]
Marques, seu primeiro pretendente. Depressa também
a jovem aceita a corte de um falso ermitão. A farsa ter-
A farsa de Inês Pereira (1523)
mina com o marido (cantado por ela como cuco, gamo
e cervo, tradicionalmente concebidos como símbolos
A farsa de Inês Pereira é considerada a mais complexa
do homem traído) levando-a às costas (asno que me
peça de Gil Vicente. Ao apresentá-la, o teatrólogo portu-
carregue) até a gruta em que vive o ermitão, para um
guês diz:
encontro nada ingênuo.
A seguinte farsa de folgar foi represen- Leia um trecho:
tada ao muito alto e mui poderoso rei D. INÊS PEREIRA: Quien con veros pena y muere qué hará
João, o terceiro do nome em Portugal, no cuando no os viere? 1
seu Convento de Tomar, na era do Senhor FALADO: Renego deste lavrar e do primeiro que o usou 2
1523. O seu argumento é que, porquan- ao diabo que o eu dou que tam mau é d’aturar.
to duvidavam certos homens de bom sa- Oh, Jesus! Que enfadamento, e que raiva, e que tor-
ber, se o Autor fazia de si mesmo estas mento, que cegueira, e que canseira! 3 Eu hei-de buscar
obras, ou se as furtava de outros autores, maneira d’algum outro aviamento 4.
lhe deram este tema sobre que fizes-
Coitada, assi hei-de estar encerrada nesta casa como
se: é um exemplo comum que dizem:
panela sem asa que sempre está num lugar?
Mais vale asno que me leve que
E assi hão-de ser logrados 5 dou dias amargurados, que
cavalo que me derrube.
E sobre este motivo se fez esta farsa. eu possa estar cativa 6 em poder de desfiados? 7
Antes o darei ao Diabo que lavrar mais nem pontada;8
A obra pode ser dividida em cinco partes: a pri- já tenho a vida cansada de jazer sempre dum cabo. 9
meira é um retrato da rotina na qual se insere a pro- Todas folgam e eu não, todas vêm e todas vão onde
tagonista; a segunda reflete a situação da mulher na querem, senão eu. Hui! E que pecado é o meu, Oh que
sociedade da época, cujos registros são dados pela mãe dor de coração!
de Inês, pela própria Inês e por Lianor Vaz; a terceira Esta vida é mais que morta. Sou eu coruja ou
mostra o comércio casamenteiro, representado pelos ju- corujo, ou sou algum caramujo,10 que não sai senão à
deus comerciantes e pelo arranjo matrimonial-mercantil porta? E quando me dão algum dia licença, como a bu-
de Inês com Brás da Mata; a quarta considera o ca- gia,11 que possa estar à janela é já mais que a Madane-
samento, o despertar para a realidade, contrapondo-a la 12 quando achou a aleluia.
1. Quem, vendo-vos, sofre e morre que fará se vos não vir?
ao sonho que embalava as fantasias da protagonista 2. Amaldiçoado seja o trabalho doméstico e quem o inventou.
e; finalmente, a quinta parte reflete a realidade brutal 3. Que trabalho cansativo e sem propósito.
4. Aviamento: solução.
da qual Inês, experiente e vivida, procura tirar proveito 5. Lograr: desfrutar, aproveitar.
próprio. A peça apresenta uma situação concreta, com 6. Ao afirmar que desfruta (aproveita) os dias presa em casa,
sempre bordando e costurando, Inês ironiza a vida enfadonha a
uma personagem bem delineada psicologicamente e que está submetida.
264
7. Desfiados: tecidos para bordar e costurar. vida a entrar na barca do inferno, pois, sendo represen-
8. Que vá tudo ao Diabo, não darei nem mais um ponto no
bordado. tante religioso, crê que teria perdão. Foi, porém, conde-
9. Estou cansada de estar sempre cativa, condenada às mesmas
e repetitivas tarefas, como as panelas que estão sempre depen-
nado ao inferno por falso moralismo religioso.
duradas em uma mesma posição. Brísida Vaz, feiticeira e alcoviteira, é recebida
10. Ao comparar-se à coruja e ao caramujo, Inês ressalta,
respectivamente, os seguintes lamentos: não participa da vida pelo diabo, que lhe diz que seu o maior bem são “seis-
social e é prisioneira da própria casa.
11. Bugia: macaca.
centos virgos postiços”. Virgo é hímen, representa a
12. Madanela: Madalena, personagem bíblica. virgindade. Compreendemos que essa mulher prostituiu
muitas meninas virgens, e “postiço” nos faz acreditar
Auto da barca do inferno (1514) que enganara seiscentos homens, dizendo que tais me-
ninas eram virgens. Brísida Vaz tenta convencer o anjo
O Auto da barca do inferno representa o juízo final cató- a levá-la na barca do céu inutilmente. Ela é condenada
lico de forma satírica e com forte apelo moral. O cenário por prostituição e feitiçaria.
é uma espécie de porto, onde se encontram duas barcas: A seguir, é a vez do judeu, que chega acom-
uma com destino para o inferno, comandada pelo diabo,
panhado por um bode. Encaminha-se direto ao diabo,
e a outra, com destino para o paraíso, comandada por
pedindo para embarcar, mas até o diabo recusa-se a
um anjo. Ambos os comandantes aguardam os mortos,
levá-lo. Ele tenta subornar o diabo, porém este, com
que são as almas que seguirão para o paraíso ou para
a desculpa de não transportar bodes, o aconselha a
o inferno.
procurar outra barca. O judeu fala, então, com o anjo,
Os mortos começam a chegar e um fidalgo é o
porém não consegue aproximar-se dele: é impedido,
primeiro. Ele representa a nobreza, e é condenado ao
inferno por seus pecados, tirania e luxúria. O diabo or- acusado de não aceitar o cristianismo. Por fim, o diabo
dena ao fidalgo que embarque. Este, arrogante, julga-se aceita levar o judeu e seu bode, mas não dentro de sua
merecedor do paraíso, pois deixou muita gente rezando barca, e, sim, rebocados.
por ele. Recusado pelo anjo, encaminha-se, frustrado, Durante o reinado de Dom Manuel, de 1495-
para a barca do inferno; mas tenta convencer o diabo a 1521, muitos judeus foram expulsos de Portugal, e os
deixá-lo rever sua amada, pois esta “sente muito” sua que ficaram tiveram que se converter ao cristianismo,
falta. O diabo destrói seu argumento, afirmando que ela sendo perseguidos e chamados de “cristãos novos”. Ou
o estava enganando. seja, Gil Vicente segue, nessa obra, o espírito da época.
Um agiota chega a seguir e é condenado ao in- O corregedor e o procurador, representantes do
ferno por ganância e avareza. Tenta convencer o anjo a judiciário, chegam, a seguir, trazendo livros e processos.
ir para o céu pedindo ao diabo que o deixe voltar para Quando convidados pelo diabo a embarcarem, come-
pegar a riqueza que acumulou, mas é impedido e acaba çam a tecer suas defesas e encaminham-se ao anjo.
na barca do inferno.
Na barca do céu, o anjo os impede de entrar: são con-
O terceiro indivíduo a chegar é o parvo (um tolo,
denados à barca do inferno por manipularem a justiça
ingênuo). O diabo tenta convencê-lo a entrar na barca
em benefício próprio. Ambos farão companhia à Brísida
do inferno; quando o parvo descobre qual é o destino
Vaz, revelando certa familiaridade com a cafetina – o
dela, vai falar com o anjo. Este, agraciando-o por sua
que nos faz crer ter havido trocas de serviços entre eles.
humildade, permite-lhe entrar na barca do céu.
O próximo a chegar é o enforcado, que acredita
A alma seguinte é a de um sapateiro, com todos
os seus instrumentos de trabalho. Durante sua vida en- ter perdão para seus pecados, pois em vida foi julgado e
ganou muitas pessoas, e tenta enganar também o dia- enforcado. Mas também é condenado a ir para o inferno
bo. Como não consegue, recorre ao anjo, que o condena por corrupção.
como alguém que roubou do povo. Por fim, chegam à barca quatro cavaleiros que
O frade é o quinto a chegar cantarolando com lutaram e morreram defendendo o cristianismo. Estes
sua amante. Sente-se ofendido quando o diabo o con- são recebidos pelo anjo e perdoados imediatamente.
265
O bem e o mal
Todos os personagens que têm como destino o inferno chegam trazendo consigo objetos terrenos, representando
seu apego à vida; por isso, tentam voltar. Os personagens a quem se oferece o céu são cristãos e puros. O mundo
aqui ironizado é maniqueísta: o bem e o mal, o bom e o ruim são metades de um mundo moral simplificado. O Auto
da barca do inferno faz parte de uma trilogia (Autos da barca da glória, do inferno e do purgatório). Escrito em
versos de sete sílabas poéticas, possui apenas um ato, dividido em várias cenas. A linguagem entre os personagens
é coloquial – e é através das falas que podemos classificar a condição social de cada um dos personagens.
Leia um trecho:
[Vêm Quatro Cavaleiros cantando, os quais trazem cada um a Cruz de Cristo, pela qual Senhor e acrescentamento
de Sua santa fé católica morreram em poder dos mouros. Absoltos a culpa e pena per privilégio que os que assi
morrem têm dos mistérios da Paixão d’Aquele por Quem padecem, outorgados por todos os Presidentes Sumos
Pontífices da Madre Santa Igreja. E a cantiga que assi cantavam, quanto a palavra dela, é a seguinte:]
Cavaleiros: À barca, à barca segura, barca bem guarnecida, à barca, à barca da vida! Senhores que trabalhais pela
vida transitória, memória, por Deus, memória deste temeroso cais! À barca, à barca, mortais, Barca bem guarneci-
da, à barca, à barca da vida! Vigiai-vos, pecadores, que, depois da sepultura, neste rio está a ventura de prazeres
ou dolores! À barca, à barca, senhores, barca mui nobrecida, à barca, à barca da vida!
[E passando per diante da proa do batel dos danados assi cantando, com suas espadas e escudos, disse o Arrais
da perdição desta maneira:]
Diabo: Cavaleiros, vós passais e não perguntais onde vais?
1o CAVALEIRO: Vós, Satanás, presumis? Atentai com quem falais!
2o CAVALEIRO: Vós que nos demandais? Sequer conhece-nos bem: morremos nas Partes d’Além, e não queirais
saber mais.
DIABO: Entrai cá! Que cousa é essa? Eu não posso entender isto!
CAVALEIROS: Quem morre por Jesus Cristo não vai em tal barca como essa!
[Tornaram a prosseguir, cantando, seu caminho direito à barca da Glória, e, tanto que chegam, diz o Anjo:]
ANJO: Ó cavaleiros de Deus, a vós estou esperando, que morrestes pelejando por Cristo, Senhor dos Céus! Sois
livres de todo mal, mártires da Santa Igreja, que quem morre em tal peleja merece paz eternal.
[E assim embarcam.]
266
Classicismo
Cronologia do Classicismo
Início (1527): chegada de Sá de Miranda à Portugal, com a Medida Nova.
Fim (1580): morte de Camões e união da península Ibérica.
Contexto
Nos séculos XV e XVI, a visão teocêntrica do mundo, que caracterizou a Idade Média, cede lugar ao antropocen-
trismo, ou seja, o Homem e a Ciência vão para o centro dos acontecimentos e do universo. O Renascimento marca
o apogeu dessa era, que se propõe a iluminar com a razão as trevas da civilização medieval.
Comércio
O fascínio pela vida nos meios urbanos fez com que a sociedade buscasse cada vez mais os prazeres que o dinheiro
podia propiciar. O comércio entre as nações da Europa cresceu e a burguesia mercantil não aceitava que a produ-
ção agrária estivesse voltada apenas para a subsistência e desejava buscar o comércio exterior entre as nações.
Renascimento
267
O palco
A Itália foi onde essa tendência renascentista apareceu com mais intensidade, sendo o palco deste retorno ao
mundo da Antiguidade Clássica, ou seja, fez renascer os ideais de valorização dos gregos e latinos, desde meados
do século XIII, dos esforços individuais, da perfeição, da superioridade humana e da razão como parâmetro de
observação e interpretação da realidade.
Na pintura, um dos principais traços do Renascimento foi a noção de perspectiva e a tematização de elementos da
Antiguidade Clássica, bem como a humanização do tema sacro. A técnica era levada em conta acima de tudo, o
sombreado realçava a ideia de volume dos corpos. Também teve início a utilização da tela e a tinta a óleo.
Na escultura, o que mais chama a atenção é a busca pela representação ideal do homem, normalmente
retratado nu a fim de exaltar as formas humanas.
A arquitetura também teve influência dos traços clássicos, retratando a figura humana e o conceito de be-
leza dos templos construídos de maneira harmônica, normalmente coberta por uma cúpula.
Entre os artistas mais importantes da arte renascentista estão Leonardo da Vinci (1452-1519), Michelange-
lo (1475-1564) e Rafael Sanzio (1483-1520).
Literatura
O poeta Dante Alighieri, autor da Divina comédia, introduziu o verso decassílabo – chamado de “a medida nova”,
em contraponto à redondilha, considerada como “medida velha”. O poeta Francesco Petrarca, criador do soneto,
influenciou vários poetas europeus, entre o quais o inglês William Shakespeare e os portugueses Luís Vaz de Ca-
mões e Sá de Miranda.
268
Leia um soneto de Francesco Petrarca: O marco de seu início se dá em 1527, quando o
poeta Sá de Miranda retorna de sua incursão pela Itália
Se a minha vida do áspero tormento
renascentista e introduz em Portugal novas formas de
E tanto afã puder se defender,
Que por força da idade eu chegue a ver composição. Ele trouxe a postura amorosa, o soneto e,
Da luz do vosso olhar o embaciamento, principalmente, a forma fixa do verso decassílabo cha-
E o áureo cabelo se tornar de argento, mado de Medida Nova, o Dolce Stil Nuovo (o doce estilo
E os verdes véus e adornos desprender, novo) criado pelo escritor italiano Francesco Petrarca.
E o rosto, que eu adoro, empalecer,
Que em lamentar me faz medroso e lento,
Tendências fundamentais
E tanta audácia há de me dar o Amor,
Que vos direi dos martírios que guardo, §§ Criação e imitação
Dos anos, dias, horas o amargor. Retomado do princípio aristotélico da mimese,
Se o tempo é contra este querer em que ardo, ou seja, da reprodução os comportamentos hu-
Que não o seja tal que à minha dor manos por intermédio da arte.
Negue o socorro de um suspiro tardo.
§§ Racionalismo
O desenvolvimento de um raciocínio completo
Sá de Miranda
sobre os temas abordados, inclusive o amor. Na
Em Portugal, considera-se como marco inicial do Clas- poesia, essa tentativa de conciliar razão e emo-
sicismo o ano de 1527, data em que o poeta Sá de Mi- ção se apresentou por meio de uma figura de
randa regressou da Itália, de onde trouxe as inovações linguagem chamada “paradoxo”.
literárias do Renascimento italiano, introduzindo-as em §§ Humanismo e ideal de beleza
Portugal. O encerramento desse primeiro período clás- Recriação da natureza humana por meio de um
sico ocorre em 1580, ano da morte de Camões e do ideal de beleza, proporção, harmonia e simetria.
domínio espanhol sobre Portugal.
Além do Classicismo, há dois outros períodos §§ Universalismo
clássicos: o Barroco, momento em que Portugal é do- A busca por novos territórios, expansão marítima.
minado e governado pela Espanha, e o Arcadismo, O homem quer se colocar acima da natureza e,
que avança até a segunda década do século XIX. automaticamente, acima de Deus. O planeta Ter-
ra passa a ser um espaço de dominação humana.
Características do Classicismo
O Classicismo queria recuperar a “classe” dos autores
antigos a partir do cultivo dos valores greco-latinos,
inclusive da mitologia pagã, própria dos antigos. Isso
levou os poetas renascentistas a recorrer às entidades
mitológicas para pedir inspiração, simbolizar emoções,
exemplificar comportamentos. Pastores, deuses, deusas
e ninfas estão presentes nas obras de arte e na literatura
renascentista de forma natural, convivendo até mesmo
com tradições cristãs, herdadas da época medieval.
É hora de o ser humano se orgulhar de suas con-
quistas terrenas. O homem descobre que a Terra é redon-
da e passa ter um olhar universalista sobre a realidade.
269
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
270
ASSISTIR
Filme 300 - Direção: Zack Snyder
LER
Livros
Gil Vicente - Obras dramáticas castellanas - Editora Difel - 1975
271
INTERDISCIPLINARIDADE
Artes plásticas
Obras renascentistas
Morte de Inês ou Drama de Inês de Castro.de Columbano Bordalo Pinheiro, século XIX
272
E.O. Aprendizagem 3. Gil Vicente escreveu o Auto da Barca do In-
ferno em 1517, no momento em que eclodia
na Alemanha a Reforma Protestante, com a
1. As diferenças etárias são, muitas vezes, causa crítica veemente de Lutero ao mau clero do-
de violência simbólica. Considerando isso, as- minante na Igreja. Nesta obra, há a figura do
sinale os versos em que as frases expressam, frade, severamente censurado como um sa-
de forma explícita, o tema básico de O Velho da cerdote negligente. Indique a alternativa cujo
Horta, fundamentado neste tipo de violência. conteúdo NÃO se presta a caracterizar, na re-
ferida peça, os erros cometidos pelo religioso.
a) Branca Gil: Todos os santos marteirados
a) Não cumprir os votos de celibato, mantendo
Socorrei ao marteirado a concubina Florença.
Que morre de namorado. b) Entregar-se a práticas mundanas, como a dança.
b) Moça: E essa tosse? c) Praticar esgrima e usar armamentos de guer-
Amores de sobreposse ra, proibidos aos clérigos.
Serão os de vossa idade: d) Transformar a religião em manifestação for-
mal, ao automatizar os ritos litúrgicos.
O tempo vos tirou a posse.
e) Praticar a avareza como cúmplice do fidalgo,
c) Branca Gil: Eu folgo ora de ver e a exploração da prostituição em parceria
Vossa mercê namorado; com a alcoviteira.
Que o homem bem criado
Té na morte o há de ser. 4. O teatro de Gil Vicente caracteriza-se por ser
d) Velho: Porém, amiga, fundamentalmente popular. E essa caracte-
Se nesta minha fadiga rística manifesta-se, particularmente, em
Vós não sois medianeira, sua linguagem poética, como ocorre no tre-
cho a seguir, de o Auto da Barca do Inferno.
Não sei que maneira siga, Ó Cavaleiros de Deus,
Nem que faça, nem que diga, A vós estou esperando,
Nem que queira. Que morrestes pelejando
e) Parvo: Dono, dizia minha dona, Por Cristo, Senhor dos Céus!
Que fazeis vós cá te a noite? Sois livres de todo o mal,
Mártires da Madre Igreja,
2. Gil Vicente, criador do teatro português, Que quem morre em tal peleja
realizou uma obra eminentemente popular. Merece paz eternal.
Seu Auto da Barca do Inferno, encenado em No texto, fala final do Anjo, temos no con-
1517, apresenta, entre outras característi- junto dos versos:
cas, a de pertencer ao teatro religioso alegó- a) variação de ritmo e quebra de rimas.
rico. Tal classificação justifica-se por: b) ausência de ritmo e igualdade de rimas.
c) alternância de redondilha maior e menor e
simetria de rimas.
d) redondilha menor e rimas opostas e emparelhadas.
e) igualdade de métrica e de esquemas das pa-
lavras que rimam.
274
6. O argumento da peça Farsa de Inês Pereira, de Gil a) V, V, V, F.
Vicente, consiste na demonstração do refrão popu- b) V, F, V, V.
lar “Mais quero asno que me carregue que cavalo c) F, V, V, F.
que me derrube”. Identifique a alternativa que NÃO d) V, V, F, F.
corresponde ao provérbio, na construção da farsa: e) V, F, F, V.
a) A segunda parte do provérbio ilustra a experiên-
cia desastrosa do primeiro casamento.
9. Diabo, Companheiro do Diabo, Anjo, Fidalgo,
b) O escudeiro Brás da Mata corresponde ao ca- valo,
Onzeneiro, Parvo, Sapateiro, Frade, Florença,
animal nobre, que a derruba.
Brísida Vaz, Judeu, Corregedor, Procurador,
c) O segundo casamento exemplifica o primeiro ter-
mo, asno que a carrega. Enforcado e Quatro Cavaleiros são personagens
d) O asno corresponde a Pero Marques, primeiro pre- de Auto da barca do inferno, de Gil Vicente.
tendente e segundo marido de Inês. Analise as informações a seguir e selecione a
e) Cavalo e asno identificam a mesma personagem alternativa incorreta, cujas características não
em diferentes momentos de sua vida conjugal. descrevam adequadamente a personagem:
a) Onzeneiro idolatra o dinheiro, é agiota e
7. Em relação ao Auto da Barca do Inferno de Gil usurádo; de tudo que juntara, nada leva para
Vicente, considere as seguintes afirmações. a morte, ou melhor, leva a bolsa vazia.
I. Trata-se de um grande painel que satiriza b) Frade representa o clero decadente e é sub-
a sociedade portuguesa de seu tempo. jugado por suas fraquezas: mulher e esporte;
II. Representa a transição da Idade Média leva a amante e as armas de esgrima.
para o Renascimento, guardando traços c) Diabo, capitão da barca do inferno, é quem
dos dois períodos. apressa o embarque dos condenados; é dissi-
III. Sugere que o Diabo, ao julgar justos e pe- mulado e irônico.
cadores, tem poderes maiores que Deus. d) Anjo, capitão da barca do céu, é quem elogia
Quais estão corretas? a morte pela fé; é austero e inflexível.
a) Apenas I. e) Corregedor representa a justiça e luta pela
b) Apenas I e II. aplicação íntegra e exata das leis; leva pa-
c) Apenas I e III. péis e processos.
d) Apenas II e III.
e) I, II e III. 10. Em meados do século XIV, a poesia trovado-
resca entra em decadência, surgindo, em seu
8. (IFSP) Considere o trecho para responder à ques- lugar, uma nova forma de poesia, totalmente
tão. distanciada da música, apresentando ama-
No final do século XV, a Europa passava por gran- durecimento técnico, com novos recursos es-
des mudanças provocadas por invenções como a tilísticos e novas formas poemáticas, como a
bússola, pela expansão marítima que incremen- trova, a esparsa e o vilancete.
tou a indústria naval e o desenvolvimento do co- Assinale a alternativa em que há um trecho
mércio com a substituição da economia de sub- representativo de tal tendência.
sistência, levando a agricultura a se tornar mais a) Non chegou, madre, o meu amigo,
intensiva e regular. Deu-se o crescimento urbano, e oje est o prazo saido!
especialmente das cidades portuárias, o floresci- Ai, madre, moiro d’amor!
mento de pequenas indústrias e todas as demais b) Êstes olhos nunca perderán,
mudanças econômicas do mercantilismo, inclusi- senhor, gran coita, mentr’eu vivo fôr;
ve o surgimento da burguesia. e direi-vos fremosa, mia senhor,
Tomando-se por base o contexto histórico da épo- dêstes meus olhos a coita que han:
ca e os conhecimentos a respeito do Humanismo, choran e cegan, quand’alguém non veen,
marque (V) para verdadeiro ou (F) para falso e e ora cegan por alguen que veen.
assinale a alternativa correta. c) Meu amor, tanto vos amo,
( ) O Humanismo é o nome que se dá à produção que meu desejo não ousa
escrita e literária do final da Idade Média e desejar nehua cousa.
início da moderna, ou seja, parte do século XV Porque, se a desejasse,
e início do XVI. logo a esperaria,e se eu a esperasse,
( ) Fernão Lopes é um importante prosador do sei que vós anojaria:
Humanismo português. Destacam-se entre mil vezes a morte chamo
suas obras: Crônica Del-Rei D. Pedro I, Crônica e meu desejo não ousa
Del-Rei Fernando e Crônica de El-Rei D. João. desejar-me outra cousa.
( ) Gil Vicente é um importante autor do teatro d) Amigos, non poss’eu negar
português e suas principais obras são: Auto da a gran coita que d’amor hei,
Barca do Inferno e Farsa de Inês Pereira. ca me vejo sandeu andar,
( ) Gil Vicente é um autor não reconhecido e con sandece o direi:
em Portugal, em virtude de sua prosa e os olhos verdes que eu vi
documentação histórica não participarem me fazen ora andar assi.
da cultura portuguesa. e) Ai! dona fea, foste-vos queixar
275
por (que) vos nunca louv’em meu cantar; b) A proposta do teatro vicentino alegórico –
mais ora quero fazer um cantar, especialmente a Trilogia das Barcas – era a
em que vos loarei toda via; montagem de peças complexas, de lingua-
e vedes como vos quero loar. gem rebuscada, distante do falar popular,
dona fea, velha e sandia! para criticar, nos termos da moral medie-
val, os homens do povo.
c) A imagem cômica, mas condenável, de um
E.O. Fixação frade que canta, dança e namora, trazen-
do consigo uma dama, é exemplo cabal do
pressuposto das peças de Gil Vicente de
1. (IFSP) Leia o texto abaixo, um trecho do que, rindo, é possível corrigir os costumes.
Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, d) O frade terá como destino o inferno porque é
para assinalar a alternativa correta no que homem “mundanal”, ligado aos gozos do mun-
se refere à obra desse autor e ao Humanis- do material, em cujo pano de fundo percebe-
mo em Portugal. -se o sistema de valores do homem medieval,
Nota: foram feitas pequenas alterações no para o qual não há salvação após a morte.
trecho para facilitar a leitura. e) O sistema de valores que pode ser entrevis-
Vem um Frade com uma Moça pela mão, e um to nas peças de Gil Vicente, e especialmen-
1
broquel e uma espada na outra, e um casco te no Auto da Barca do Inferno, revela uma
debaixo do 2capelo; e, ele mesmo fazendo a mentalidade avessa aos valores da Idade
baixa, começou de dançar, dizendo: Média.
276
4. Inspirando-se na Antiguidade Clássica (Grécia- 8. O culto aos valores universais – o Belo, o
-Roma), o Renascimento valorizava o homem, Bem, a Verdade e a Perfeição – e a preocupa-
refletindo mesmo uma visão antropocêntrica do ção com a forma aproximaram o Classicismo
mundo. Esse movimento teve origem: de duas escolas literárias posteriores. Apon-
a) na França. te a alternativa que identifica essas escolas:
a) Barroco e Simbolismo.
b) na Alemanha. b) Arcadismo e Parnasianismo.
c) na Espanha. c) Romantismo e Modernismo.
d) em Portugal. d) Trovadorismo e Humanismo.
e) na Itália. e) Realismo e Naturalismo.
277
e) Nos versos, confirma-se a tese de que, na
obra camoniana, o amor é concebido como
graça divina, apesar de ser representado
como uma intensa experiência erótica.
2. (Insper)
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
muda-se o ser, muda-se a confiança;
todo o mundo é composto de mudança,
tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
diferentes em tudo da esperança;
do mal ficam as mágoas na lembrança,
e do bem (se algum houve), as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria, e, enfim,
converte em choro o doce canto. SANZIO, R. (1483-1520) A mulher com o unicórnio.
E, afora este mudar-se cada dia, Roma, Galleria Borghese. Disponível em: <www.
outra mudança faz de mor espanto, arquipelagos.pt>. Acesso em: 29 fev. 2012.
que não se muda já como soía*.
(Luís Vaz de Camões)
A pintura e o poema, embora sendo produ-
tos de duas linguagens artísticas diferentes,
*soía: imperfeito do indicativo do verbo participaram do mesmo contexto social e
soer, que significa costumar, ser de costume cultural de produção pelo fato de ambos:
Assinale a alternativa em que se analisa cor- a) apresentarem um retrato realista, eviden-
retamente o sentido dos versos de Camões. ciado pelo unicórnio presente na pintura e
a) O foco temático do soneto está relacionado
pelos adjetivos usados no poema.
à instabilidade do ser humano, eternamente
insatisfeito com as suas condições de vida e b) valorizarem o excesso de enfeites na apresen-
com a inevitabilidade da morte. tação pessoa e na variação de atitudes da mu-
b) Pode-se inferir, a partir da leitura dos dois lher, evidenciadas pelos adjetivos do poema.
tercetos, que, com o passar do tempo, a re- c) apresentarem um retrato ideal de mulher mar-
cusa da instabilidade se torna maior, graças cado pela sobriedade e o equilíbrio, eviden-
à sabedoria e à experiência adquiridas. ciados pela postura, expressão e vestimenta
c) Ao tratar de mudanças e da passagem do da moça e os adjetivos usados no poema.
tempo, o soneto expressa a ideia de circu- d) desprezarem o conceito medieval da idea-
laridade, já que ele se baseia no postulado
lização da mulher como base da produção
da imutabilidade.
d) Na segunda estrofe, o eu lírico vê com pessi- artística, evidenciado pelos adjetivos usados
mismo as mudanças que se operam no mun- no poema.
do, porque constata que elas são geradoras e) apresentarem um retrato ideal de mulher
de um mal cuja dor não pode ser superada. marcado pela emotividade e o conflito inte-
e) As duas últimas estrofes autorizam concluir rior, evidenciados pela expressão da moça e
que a ideia de que nada é permanente não pelos adjetivos do poema.
passa de uma ilusão.
4. (Uespi) Filho do Classicismo português, Luís
3. (Enem) LXXVIII (Camões, 1525?-1580)
Vaz de Camões sofreu influência de vários
Leda serenidade deleitosa,
autores da Antiguidade. Quanto aos escrito-
Que representa em terra um paraíso;
res que foram lidos e que terminaram por
Entre rubis e perlas doce riso;
formar o gosto classicista do poeta lusitano,
Debaixo de ouro e neve cor-de-rosa;
podemos incluir:
Presença moderada e graciosa,
Onde ensinando estão despejo e siso 1. Virgílio
Que se pode por arte e por aviso, 2. Horácio
Como por natureza, ser fermosa; 3. Padre Antônio Vieira
Fala de quem a morte e a vida pende, 4. Petrarca
Rara, suave; enfim, Senhora, vossa; 5. Carlos Magno
Repouso nela alegre e comedido: Estão corretas apenas:
Estas as armas são com que me rende a) 2, 3 e 5.
E me cativa Amor; mas não que possa b) 3, 4 e 5.
Despojar-me da glória de rendido. c) 1, 2 e 4.
CAMÕES, L. Obra completa. d) 1, 2 e 3.
Rio de janeiro: Nova Aguilar, 2008. e) 2, 4 e 5.
278
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Es/ tan/ do/ em/ te/ rra,
1 2 3 4 5 6
279
5. (IFSP) Quem foram os Mecenas no Renas- d) A ênfase desta sátira recai sobre as persona-
cimento Cultural? gens populares, as mais ridicularizadas e as
mais severamente punidas.
e) A sátira é aqui demolidora e indiscriminada,
6. (Ufscar) Observe a figura e responda.
não fazendo referência a qualquer exemplo
de valor positivo.
280
que eu estou maravilhado! por que rezem lá por ti!(...)
DIABO: Não façamos mais 9detença ANJO: Que querês?
embarcai e partiremos; FIDALGO: Que me digais,
tomareis um par de remos. pois parti tão sem aviso,
FRADE: Não ficou isso na 10avença. se a barca do paraíso
DIABO: Pois dada está já a sentença! é esta em que navegais.
FRADE: Por Deus! Essa seria ela? ANJO: Esta é; que me demandais?
Não vai em tal caravela FIDALGO: Que me deixes embarcar.
minha senhora Florença? sô fidalgo de solar,
Como? Por ser namorado é bem que me recolhais.
e folgar c’uma mulher? ANJO: Não se embarca tirania
Se há um frade de perder, neste batel divinal.
com tanto salmo rezado?! FIDALGO: Não sei por que haveis por mal
DIABO: Ora estás bem arranjado! Que entr’a minha senhoria.
FRADE: Mas estás tu bem servido. ANJO: Pera vossa fantesia
DIABO: Devoto padre e marido, mui estreita é esta barca.
haveis de ser cá 11pingado… FIDALGO: Pera senhor de tal marca
(Auto da Barca do Inferno, 2007.) nom há aqui mais cortesia? (...)
ANJO: Não vindes vós de maneira
1
baixa: dança popular no século XVI. pera ir neste navio.
2
Deo gratias: graças a Deus. Essoutro vai mais vazio:
3
tordião: outra dança popular no século XVI. a cadeira entrará
4
tanger: fazer soar um instrumento. e o rabo caberá
5
clausura: convento. e todo vosso senhorio.
6
hábito: traje religioso. Vós irês mais espaçoso
7
val: vale. com fumosa senhoria,
8
mundanal: mundano. cuidando na tirania
9
detença: demora.
do pobre povo queixoso;
10
avença: acordo.
e porque, de generoso,
11
ser pingado: ser pingado com gotas de gor-
desprezastes os pequenos,
dura fervendo (segundo o imaginário popular,
achar-vos-eis tanto menos
processo de tortura que ocorreria no inferno). quanto mais fostes fumoso. (…)
SAPATEIRO: (...) E pera onde é a viagem?
4. (Unesp) No excerto, o escritor satiriza, sobretudo, DIABO: Pera o lago dos danados.
a) a compra do perdão para os pecados cometidos. SAPATEIRO: Os que morrem confessados,
b) preocupação do clero com a riqueza material. onde têm sua passagem?
c) o desmantelamento da hierarquia eclesiástica. DIABO: Nom cures de mais linguagem!
d) a concessão do perdão a almas pecadoras. Esta é a tua barca, esta!
e) o relaxamento dos costumes do clero. (...) E tu morreste excomungado:
não o quiseste dizer.
5. (Unesp) Assinale a alternativa cuja máxi- Esperavas de viver,
ma está em conformidade com o excerto e calaste dous mil enganos...
com a proposta do teatro de Gil Vicente. tu roubaste bem trint’anos
a) “O riso é abundante na boca dos tolos.” o povo com teu mester. (...)
b) “A religião é o ópio do povo.” SAPATEIRO: Pois digo-te que não quero!
c) “Pelo riso, corrigem-se os costumes.” DIABO: Que te pês, hás-de ir, si, si!
d) “De boas intenções, o inferno está cheio.” SAPATEIRO: Quantas missas eu ouvi,
e) “O homem é o único animal que ri dos ou- não me hão elas de prestar?
tros.” DIABO: Ouvir missa, então roubar,
é caminho per’aqui.
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) Rio de Janeiro: Nova Fronteira; Brasília: INL, 1984, p. 57-59 e 68-69.
281
2. (Unicamp) Leia o diálogo a seguir, de Auto estai quando quiserdes estar.
da Barca do Inferno. Com que podeis vós folgar
DIABO: Cavaleiros, vós passais que eu não deva consentir?
e não perguntais onde is? (Nota: folão, no caso, significa “bravo”, “fogoso”)
CAVALEIRO: Vós, Satanás, presumis?
Atentai com quem falais! a) A fala de Inês ocorre no momento em que
OUTRO CAVALEIRO: Vós que nos demandais? aceita casar-se com Pero Marques, após o
Siquer conhecê-nos bem. malogrado matrimônio com o escudeiro. Há
Morremos nas partes d’além, um trecho nessa fala que se relaciona lite-
e não queirais saber mais. ralmente com o final da peça. Que trecho
é esse? Qual é o pormenor da cena final da
VICENTE, Gil. Auto da Barca do Inferno.
In: BERARDINELLI, Cleonice. (Org.). Antologia peça que ele está antecipando?
do Teatro de Gil Vicente. Rio de Janeiro: Nova b) A fala de Pero, dirigida a Inês, revela uma
Fronteira; Brasília: INL, 1984, p. 89. atitude contrária a uma característica atri-
buída ao seu primeiro marido. Qual é essa
a) Por que o cavaleiro chama a atenção do Diabo? característica?
b) Onde e como morreram os dois Cavaleiros? 5. (Fuvest)
c) Por que os dois passam pelo Diabo, sem se Quando da bela vista e doce riso,
dirigir a ele? tomando estão meus olhos mantimento, 1
282
Gabarito E.O. Objetivas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. E 2. C 3. C 4. E 5. C
E.O. Aprendizagem
1. B 2. C 3. E 4. E 5. A
E.O. Dissertativas
6. E 7. B 8. A 9. E 10. C (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
a) O fidalgo está vestido com um longo man-
E.O. Fixação to vermelho e vem acompanhado de um
1. C 2. B 3. C 4. E 5. E criado que segura uma cadeira, símbolos
da vaidade e a arrogância. O sapateiro,
6. D 7. D 8. B 9. E 10. E por sua vez, transporta o avental e as for-
mas para fazer sapatos, símbolos da ex-
ploração interesseira da classe burguesa
E.O. Complementar comercial. Motivos pelos quais são conde-
1. A 2. D 3. C 4. C 5. B nados à barca do inferno.
b) Ambos personagens acreditavam que os
rituais recomendados pela Igreja Católi-
E.O. Dissertativo ca para salvação da alma eram garantias
1. As características formais são de um “sone- para entrar no céu, o que é contrariado
to”, com versos decassílabos (dez sílabas). pelo diabo. O fidalgo argumenta de que
2. Não, pois a escansão apresentada contém deixou na terra alguém rezando por ele
erros que descaracterizam o verso decassí- “Que leixo na outra vida/quem reze sem-
labo. Portanto, o correto é: Es/ tan/ do em/
pre por mi” – e o sapateiro diz ter ido à
te/ rra/ che/ go ao/ céu/ vo/ an(do).
missa e se confessado antes de morrer,
3. Na segunda estrofe, o eu lírico revela com quem
o que para ele garantiria sua entrada no
conversa, uma Senhora que tem o poder de aca-
bar com a sua tristeza quando quiser. Assim, o céu – “Os que morrem confessados,/onde
eu lírico mostra que se sente triste por uma não têm sua passagem?”, “Quantas missas eu
correspondência amorosa com essa senhora. ouvi,/ não me hão elas de prestar?”.
Dessa forma, resta mostrar-se esperançoso de 2.
que com o passar do tempo a senhora se tornará a) O cavaleiro alega ter sacrificado a vida em
menos dura e corresponderá ao seu amor. nome de Deus e do Cristianismo, por isso
4. estava assegurada sua entrada na barca
a) A antítese centra-se na relação entre os do anjo e ida para o paraíso.
“bons” e os “maus”. Os desdobramentos b) Os cavaleiros morreram em luta contra
da antítese são a punição e a recompen- os que não acreditavam no Cristianismo,
sa, que se dá da seguinte forma: aqueles numa Cruzada.
que merecem recompensa são punidos;
c) Não se dirigem ao diabo, pois tem certeza
aqueles que merecem punição são pre-
que sua entrada no céu está garantida,
miados. É por isso que, segundo o poeta,
o mundo está “desconcertado”. uma vez que lutaram nas cruzadas em de-
b) O poema é composto de uma só estrofe fesa dos Cristianismo.
com dez versos. As rimas estão dispos- 3.
tas de forma alternada e justaposta: abb a) A personagem Brísida Vaz era alcovitei-
aab; cdd cdc. Em relação ao valor são ri- ra, portanto era uma espécie de cafetina
mas pobres (eufonia entre palavras da e agenciava mulheres para a prostituição.
mesma classe gramatical) e ricas (classe Logo, sua linguagem demonstra caracte-
gramatical diferente). rísticas de sua atividade, pois ela escolhe
5. Ricos mercadores burgueses, principalmente palavras e termos específicos de quem quer
italianos, que usavam a sua riqueza para fi- seduzir o Anjo. Por exemplo, “meu amor”,
nanciar artistas e encomendar obras de artes. “olhos de perlinhas finas”, “anjo de Deus”,
6. “minha rosa”, “minhas boninas”.
a) Renascimento ou Renascença. b) O tratamento com o anjo deixa claro o
b) O antropocentrismo e o cientificismo que apego ao universo pecaminoso da sedu-
se opunham ao teocentrismo e o misticis- ção e prostituição, portanto a postura de
mo do período anterior ao Renascimento Brísida Vaz é inadequada.
(Idade Média), considerada a “Idade das
Trevas” culturais pelos contemporâneos
da Renascença.
283
4.
a) O trecho “asno que me leve quero”. O per-
sonagem Pero Marques age como “asno”
duas vezes: a primeira quando serve de
cavalgadura e a segunda, por não saber
da traição de Inês.
b) O primeiro marido de Inês, o Brás da Mata
não a tratava bem, agia de modo agressi-
vo, já Pero dava a ela total liberdade.
c) Com o objetivo de levar uma vida mais
ligada aos prazeres, Inês abandona seus
ideais Esta é uma sátira moral da socie-
dade portuguesa da época.
5.
a) A beleza é convertida em Beleza pura, logo
a mulher é vista não como companheira,
mas como um ser angelical que leva ao
“mundo das ideias” e à divindade.
b) É característica do Classicismo o soneto
composto por dois quartetos e dois ter-
cetos e a medida nova (versos decassíla-
bos). Além disso, há no texto figuras de
linguagem como o hipérbato e a seleção
lexical.
284
© José Veloso Salgado
Aulas
7e8
Classicismo:
Camões épico e lírico
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Luis Vaz de Camões
Camões teria nascido em 1524 ou 1525, provavelmente na cidade de Lis-
boa (talvez Coimbra ou Santarém), descendente de uma família da peque-
na nobreza. Estudou numa das mais conceituadas instituições de Portugal,
a Universidade de Coimbra. Em sua juventude, tornou-se um leitor voraz
de Homero, Virgílio, Ovídio e Petrarca. Lutando contra os mouros em 1549,
acabou por perder a o olho direito.
Sua biografia é um tanto quanto nebulosa e cheia de confusões.
Em 1552, foi preso por ter brigado com Gonçalo Jorge, que era oficial
da corte, e sai perdoado da cadeia conquanto servisse militarmente Por-
tugal na Índia. Em 1556 é nomeado “provedor-mor dos bens de defun-
tos ausentes” em Macau, então colônia de Portugal. Durante os nove
anos que passou na cadeia, começou a escrever Os Lusíadas. Acusado
de desviar bens enquanto provedor-mor, vai para Goa a fim de se defen-
der das acusações. Na viagem, seu navio naufraga na foz do Rio Mekong
(Indochina) e diz a lenda que ele se salvou e deixou sua companheira chinesa, Dinamene, morrer afogada, com a
desculpa de salvar o manuscrito de Os Lusíadas, que já estava em sua fase final. Viveu na miséria, foi preso outra
vez, agora em Moçambique, por causa de dívidas, e voltou a Lisboa no ano de 1569 com a ajuda de amigos.
Em 1572 publica Os Lusíadas, sua obra prima, e recebe uma pensão anual de 15 mil réis oferecida por Dom
Sebastião. Morre pobre em 10 de junho de 1580. Curiosamente, o herói da poesia portuguesa expira com o início
do declínio do poderio imperial de Portugal, mesmo ano da União da Península Ibérica, quando o país fica sob o
domínio da coroa espanhola.
Em 1595 é publicada a obra Rimas, com uma compilação de sua obra lírica, de versos redondilhos elabora-
dos à maneira medieval, e também seus sonetos decassílabos de influência petrarquiana.
Leia o poema que Camões escreveu por ocasião da morte de Dinamene:
287
Camões épico
Engenho e arte
A obra épica Os Lusíadas, publicada no reinado de Dom
Sebastião em 1572, é a mais importante epopeia em
língua portuguesa, teve como modelos estruturais as
epopeias da Antiguidade: a Ilíada e a Odisseia, do po-
eta grego Homero, e a Eneida, do poeta latino Virgílio.
Entretanto, Camões introduziu uma novidade, pois, em
Os Lusíadas, o herói é coletivo, ou seja, é o povo
português; ao contrário do que ocorre nas epopeias
modelares, em que um relevante herói individual se so-
bressai (a exemplo de Aquiles, Ulisses e Eneias). Essa
modalidade de escrita passou a ser chamada de epo-
Estátua de Luís de Camões, na praça Luís de Camões, Bairro Alto, Lisboa;
peia secundária.
ao fundo o edifício onde se localiza o Consulado do Brasil em Lisboa
Na narrativa épica camoniana, o herói, Vasco da Disponivel em:<https://commons.wikimedia.org/wiki/
Gama, comandante da expedição que buscou o cami- File:Camoes_2.jpg.
Acessado em: Dez.2015
nho marítimo para as Índias, tem seu espaço compar-
tilhado com os portugueses, o povo heroico português,
Estrutura da obra
como o próprio título da epopeia indica.
Camões era cristão e desejava expressar em seu A obra de Camões apresenta 8.816 versos decassíla-
poema a expansão da fé cristã no mundo. Por isso, a bos, divididos em 1.102 estrofes, todas em oitava-rima,
presença de Deus e a referência a milagres e santos organizada em dez cantos. Cada canto, na epopeia, cor-
do cristianismo são constantes em sua obra. Contudo, responde a um capítulo das obras em prosa. Além disso,
como nas epopeias que Camões tomou por modelo – existem outras cinco partes:
Odisseia, Ilíada e Eneida –, há nela também a presença 1. Proposição (canto I, estrofes 1 a 3)
dos deuses do Olimpo. Eles interferem na narrativa de
O poeta apresenta o que vai cantar, ou seja, o
Os Lusíadas procurando auxiliar ou prejudicar os por- tema dos feitos heroicos dos ilustres barões de
tugueses no cumprimento de seus objetivos. Enquanto Portugal, o herói, Vasco da Gama, e o destino
Vênus e Marte, por exemplo, tentam protegê-los, outros da viagem.
deuses, como Netuno e Baco, procuram impedir o cum-
primento da rota planejada – o primeiro porque zela As armas e os barões assinalados
Que, da ocidental praia lusitana,
pelo seu poderio nos mares, e o segundo, pelo seu do-
Por mares nunca dantes navegados
mínio no Oriente.
Passaram ainda além da Taprobana
Os Lusíadas conseguiu conciliar, portanto, a mi- Em perigos e guerras esforçados,
tologia pagã (fruto do gosto renascentista pelo estudo Mais do que prometia a força humana,
da cultura pagã) e a mitologia cristã (ideologia pessoal E entre gente remota edificaram
do autor). Isso, porém, valeu a Camões problemas com Novo reina, que tanto sublimaram;
barões = homens ilustres
a Inquisição e tratamento com muita reserva por parte
ocidental praia lusitana = Portugal
dos críticos de sua época. Taprobana = ilha de Ceilão, limite oriental do mundo conhecido
288
2. Invocação (canto I, estrofes 4 e 5) §§ o de Inês de Castro, amante do príncipe D. Pe-
O poeta invoca as Tágides, ninfas do rio Tejo, pe- dro assassinada a mando do rei (canto III);
dindo a elas para inspirá-lo na composição da §§ o das críticas do velho da praia do Restelo
obra. (canto IV); e
E vós, Tágides minhas, pois criado
§§ do gigante Adamastor (canto V), que é uma
Tendes em mim um novo engenho ardente,
personificação dos perigos enfrentados pelos na-
Dai-me agora um som alto e sublimado,
vegantes aos transporem o Cabo das Tormentas.
Um estilo grandíloquo e corrente,
Por fim, A ilha dos amores (canto IX), com o ero-
3. Dedicatória ou oferecimento tismo de seus símbolos, conclamando os portugueses a
(canto I, estrofes 6 a 18) contemplarem a “Máquina do Mundo”.
O poeta dedica seu poema a D. Sebastião, rei
de Portugal na época em que o poema foi pu- Episódio de “Inês de Castro”
blicado, visto como a esperança de propagação (canto III, estrofes 118 a 135)
da fé cristã e continuação dos grandes feitos de
Portugal.
Ouvi: vereis o nome engrandecido
Daqueles de quem sois senhor superno
E julgareis qual é mais excelente,
Se ser do mundo rei, se de tal gente.
superno = supremo
O poeta relata a viagem propriamente dita dos A morte de Inês de Castro, de Karl Briullov, século XIX.
portugueses ao Oriente. Essa é, portanto, a parte
mais longa do relato e vários são os episódios O rei Afonso retorna a sua terra natal, depois do intento
que nela se destacam. O desenrolar dos fatos vitorioso sobre os mouros esperando ser recebido com
começa In Media Res, ou seja, no meio da ação, honras de vitória e, principalmente, de paz, mas é obri-
quando Vasco da Gama e sua esquadra se diri- gado a contornar uma revolta popular com o triste e
gem ao Cabo da Boa Esperança. A seguir, alguns memorável caso da desventura de dona Inês de Castro.
dos mais importantes relatos da obra. Este é considerado um episódio lírico interno ao
No canto II, depois de terem passado por
texto épico, em que uma verdadeira história de amor
dificuldades no mar, os portugueses, com o au-
portuguesa é inserida em Os Lusíadas com o claro intui-
xílio da deusa Vênus, aportam na África, onde
to de registrar esta que foi uma das histórias de amor
são recebidos pelo rei de Melinde, que pede a
mais bonitas e verdadeiras já contadas pela humanida-
Vasco da Gama que conte a história de Portu-
de. Leia um trecho:
gal. Esse é o pretexto encontrado por Camões
para pôr na fala de sua personagem as histórias
Traziam-na os horríficos algozes
que envolvem a fundação do Estado português: Ante o Rei, já movido a piedade;
a Revolução de Avis, a morte de Inês de Castro e Mas o povo, com falsas e ferozes
a partida dos portugueses para o Oriente. Razões, a morte crua o persuade,
Esse relato de Vasco da Gama se estende Ela, com tristes e piedosas vozes,
até o canto IV, momento em que os portugueses Saídas só da mágoa e saudade
seguem viagem. Nele, três episódios merecem Do seu Príncipe e filhos, que deixava
destaque: Que mais que a própria morte magoava
289
Episódio do “Velho do Restelo” Mas um velho, de aspeito venerado,
(canto IV, estrofes 90 a 104) Que ficava nas praias, entre a gente,
Postos os olhos em nós, meneando
Três vezes a cabeça, descontente,
A voz pesada um pouco alevantando,
Que nós o mar ouvimos claramente,
Co’um saber só de experiências feito,
Tais palavras tirou do experto peito:
290
Que ameaço divino ou que segredo Episódio “A Ilha dos Amores”
Este clima e este mar nos apresenta, (canto IX, estrofes 68 a 95)
Que mor cousa parece que tormenta?”
[...]
Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura;
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida;
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos.
Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso, As Nereidas (Ninfas) da Ilha dos Amores
Que um dos sete milagres foi do mundo.
Cum tom de voz nos fala, horrendo e grosso, Nos cantos de VI a IX, os portugueses chegam a Calicu-
Que pareceu sair do mar profundo. te, na Índia, e têm problemas com os mouros. Preparam-
Arrepiam-se as carnes e o cabelo,
-se, então, para voltar para Portugal, mas, devido a seus
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo!
esforços e à sua coragem, são premiados por Vênus, que
E disse: – “Ó gente ousada, mais que quantas lhes oferece uma passagem pela Ilha dos Amores, onde
No mundo cometeram grandes cousas, podem livremente amar as ninfas, lideradas por Tétis.
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas, Além disso, a Ilha dos Amores celebra a virilidade dos
E por trabalhos vãos nunca repousas, argonautas portugueses com o erotismo de seus símbo-
Pois os vedados términos quebrantas los levando-os a refletir sobre a “Máquina do Mundo”.
E navegar meus longos mares ousas,
Todo o fervor religioso em defesa dos portugueses que
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados de estranho ou próprio lenho; tentavam impor aos infiéis mouros sua fé cristã não im-
pediu a utilização do erotismo no episódio que foi bene-
[...] ficiado por uma deusa pagã, a Venus, que durante todo
– “Eu sou aquele oculto e grande Cabo o poema protege os portugueses, em contraposição a
A quem chamais vós outros Tormentório, Baco (o Dionísio dos gregos), que tinha tudo para ser
Que nunca a Ptolomeu, Pompónio, Estrabo,
favorável a essa situação, por ser o deus do vinho, mas
Plínio, e quantos passaram, fui notório.
que, na obra, é constituído como inimigo dos portugue-
Aqui toda a Africana costa acabo
Neste meu nunca visto Promontório, ses, uma vez que seu desregramento e representação
Que para o Pólo Antártico se estende, por chifres e rabo o aproximava da imagem do diabo
A quem vossa ousadia tanto ofende. utilizada pela Igreja Católica.
cinco sóis = cinco dias; esquálida = suja, desalinhada;
colosso = uma das setes maravilhas do mundo, a está-
Oh, que famintos beijos na floresta!
tua do deus Apolo, em Rodes, na Grécia; Tormentório = E que mimoso choro que soava
Cabo das Tormentas; Ptolomeu = astrônomo grego; Pom-
pónio = geógrafo romano; Estrabo = geógrafo grego. Que afagos tão suaves! Que ira honesta,
Que em risinhos alegres se tornava!
O que mais passam na manha e na sesta,
Que Vênus com prazeres inflamava,
Melhor é experimentá-lo que julgá-lo,
Mas julgue-o quem não pode exeprimentá-lo.
A Ilha dos Amores, na visão de Jorge Golaço.
291
5. Epílogo rene; no mundo das ideias, tudo é eterno, imutável. O
amor ideal, de acordo com Platão, é um sentido essen-
É a conclusão do poema (estrofes 145 a 156 do cialmente puro e desprovido de paixões, ao passo que
canto X), em que o poeta demonstra cansaço e, estas são essencialmente cegas, materiais, efêmeras e
em tom melancólico e pessimista, aconselha ao falsas.
rei e ao povo português que sejam fiéis à pátria
Em Camões, percebe-se o conflito entre o sen-
e ao cristianismo.
timento espiritual, idealizado, e o sentimento de ma-
nifestação carnal. O amor é, dessa forma, complexo,
Camões lírico contraditório. Esse duplo enfoque do amor é bastante
acentuado no soneto Amor é fogo que arde sem se ver.
292
Mas esta linda e pura semideia, Vendo o triste pastor que com enganos
que, como um acidente em seu sujeito, Lhe fora assim negada a sua pastora,
assim como a alma minha se conforma, Como se a não tivera merecida;
está no pensamento como ideia: Começa de servir outros sete anos,
[E] o vivo e puro amor de que sou feito, Dizendo: – Mais servira, se não fora
como a matéria simples busca a forma. Para tão longo amor tão curta a vida!
(Lírica, cit., p.109) Sete anos de pastor Jacó servia.
In: CAMÕES, Luis Vaz de. Lírico. São Paulo: Cultrix, 1976.
293
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
294
LER
Livros
Lírica – Luís de Camões – Massaud Moisés
295
INTERDISCIPLINARIDADE
Artes plásticas
Os Portugueses e as Ninfas na Ilha dos Amores (ilustração do episódio do Canto IX de Os Lusíadas de Camões, de Bordalo Pinheiro, século XIX
Nos ombros de um Tritão ... vai Dione, Composição alusiva ao Canto II (est. XXI) de
Os Lusíadas de Camões, figurando Dione e um grupo de ninfas num mar revolto,
perto do casco de uma caravela de Bordalo Pinheiro, século XIX.
296
E.O. Aprendizagem b) “Inês de Castro” caracteriza, dentro da epo-
peia camoniana, o gênero lírico porque é um
episódio que narra os amores impossíveis
1. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
entre Inês e seu amado Pedro.
afirmações a seguir, relacionadas aos Cantos
c) Restelo era o nome da praia em frente ao
I a V da epopeia Os Lusíadas, de Camões.
templo de Belém, de onde partiam as naus
( ) A presença do elemento mitológico é
portuguesas nas aventuras marítimas.
uma forma de reconhecimento da cultura
d) tanto “Inês de Castro” quanto “O Velho do
clássica, objeto de admiração e imitação
Restelo” são episódios que ilustram poeti-
no Renascimento.
camente diferentes circunstâncias da vida
( ) A disputa entre os deuses Vênus e Baco,
portuguesa.
da mitologia clássica, é um recurso lite-
e) o Velho, um dos muitos espectadores na
rário de que Camões faz uso para criar o
praia, engrandecia com sua fala as façanhas
enredo de Os Lusíadas.
dos navegadores, a nobreza guerreira e a
( ) Do Canto I ao Canto V, leem-se as peripé-
máquina mercantil lusitana.
cias da viagem dos portugueses até sua
chegada à Índia, quando eles tomam pos-
4. Com os versos “Cantando espalharei por toda
se daquela terra. a parte,/ Se a tanto me ajudar o engenho e
( ) No Canto II, lê-se a narração da viagem a arte.”, Camões explica que o propósito de
dos portugueses a Melinde, cujo rei pede a Os Lusíadas é divulgar os feitos portugue-
Camões que conte a história de Portugal. ses. Sobre esse poema épico, só é INCORRETO
afirmar que:
A sequência correta de preenchimento dos
a) se trata da maior obra literária do quinhen-
parênteses, de cima para baixo, é:
tismo português.
a) V – V – V – F
b) Camões sofre a clara influência dos clássicos
b) V – F – F – V
greco-latinos.
c) F – V – F – V
c) há forte presença do romantismo, devido
d) F – F – V – F
ao nacionalismo.
e) V – V – F – F
d) como epopeia moderna, há momentos de crí-
tica à nação e ao povo.
2. Assinale a alternativa que completa correta- e) louva não apenas o homem português, mas
mente a afirmação seguinte: o homem renascentista.
O movimento desenvolveu-se no apogeu po-
lítico de Portugal; consiste numa concepção TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
artística baseada na imitação dos modelos Antes de concluir este capítulo, fui à jane-
clássicos gregos e latinos. Nele, o pensa- la indagar da noite por que razão os sonhos
mento lógico predomina sobre a emoção, e hão de ser assim tão tênues que se esgarçam
a estrutura da composição poética obedece ao menor abrir de olhos ou voltar de corpo,
a formas fixas, com a introdução da medida e não continuam mais. A noite não me res-
nova, que convive com a medida velha das pondeu logo. Estava deliciosamente bela, os
formas tradicionais. morros 1palejavam de luar e o espaço morria
Trata-se do: de silêncio. Como eu insistisse, declarou-
a) Modernismo. -me que os sonhos já não pertencem à sua
b) Barroco. jurisdição. Quando eles moravam na ilha
c) Romantismo. que Luciano lhes deu, onde ela tinha o seu
d) Classicismo. palácio, e donde os fazia sair com as suas
e) Realismo. caras de vária feição, dar-me-ia explicações
possíveis. Mas os tempos mudaram tudo. Os
3. Dos episódios “Inês de Castro” e “O Velho sonhos antigos foram aposentados, e os mo-
dernos moram no cérebro da pessoa. Estes,
do Restelo”, da obra Os Lusíadas, de Luiz de
ainda que quisessem imitar os outros, não
Camões, NÃO é possível afirmar que:
poderiam fazê-lo; a ilha dos Sonhos, como
a) “O Velho do Restelo”, numa antevisão pro-
a dos Amores, como todas as ilhas de todos
fética, previu os desastres futuros que se
os mares, são agora objeto da ambição e da
abateriam sobre a Pátria e que arrastariam a rivalidade da Europa e dos Estados Unidos.
nação portuguesa a um destino de enfraque- Machado de Assis. Dom Casmurro.
cimento e marasmo. 1. palejavam: tornavam pálidos
298
5. Assinale a alternativa que apresenta frag- A respeito do episódio da Ilha dos Amores (Can-
mento da epopeia camoniana, extraído do to IX), responda às próximas duas questões.
episódio “A ilha dos amores”, a que o texto
faz referência. 7. Sobre este famoso trecho de Os Lusíadas é
a) Volve a nós teu rosto sério,/ Princesa do correto afirmar que:
Santo Graal,/ Humano ventre do Império,/ a) trata-se de um recurso ardiloso de Vênus
Madrinha de Portugal. para impedir que os portugueses tivessem
b) Ali, em cadeiras ricas, cristalinas,/ Se assen- sucesso no seu empreendimento e, assim, se
tam dous e dous, amante e dama;/ Noutras, igualassem aos deuses.
à cabeceira, de ouro finas,/ Está co’a bela b) trata-se de uma cilada de Baco contra os
deusa o claro Gama. portugueses, pois todos os nautas que se
c) Se encontrares louvada uma beleza,/ Marília, entregaram aos prazeses da ilha encontra-
não lhe invejes a ventura,/ que tens quem ram a morte.
leve à mais remota idade/ a tua formosura. c) é um episódio com um forte sentido cris-
d) Este lugar delicioso, e triste,/ Cansada de tão, pois o amor aí tem um sentido nitida-
viver, tinha escolhido/ Para morrer a míse- mente espiritual.
ra Lindóia. d) trata-se de um episódio com um sentido eró-
e) Choraram da Bahia as ninfas belas,/ Que na- tico, pois, por influência de Vênus, Tétis e
dando a Moema acompanhavam;/ E vendo suas ninfas oferecem aos nautas uma recom-
que sem dor navegam delas,/ À branca praia pensa pelos trabalhos por que têm passado.
com furor tornavam. e) Baco e Vênus resolvem, finalmente, unir
seus esforços contra os humanos, convecen-
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
do Tétis e suas ninfas a usar seu poder de
As questões adiante baseiam-se no poema sedução para aprisionarem os portugueses
épico Os Lusíadas, de Luís Vaz de Camões, do na ilha.
qual se reproduzem, a seguir, três estrofes.
299
Medonha e má e a cor terrena e pálida; Ó fraudulento gosto, que se atiça
Cheios de terra e crespos os cabelos, C´uma aura popular que honra se chama!
A boca negra, os dentes amarelos. (NEVES, Que castigo tamanho e que justiça
João Alves das e TUFANO, Douglas. Luís de Fazes no peito vão que muito te ama!
Camões. São Paulo: Moderna, 1980.) Que mortes, que perigos, que tormentas,
Que crueldades neles experimentas!
9. (IFSP) Considere a afirmação a seguir.
Na segunda estrofe predomina a ________, e o Os textos de Fernando Pessoa e de José Sara-
trecho selecionado evidencia que Camões optou mago são intertextuais em relação ao episódio
por versos ________ ao escrever Os Lusíadas. do Velho do Restelo. Refletindo sobre a visão
destes dois autores lusos, assinale a correta:
As lacunas devem ser preenchidas, correta e
a) Saramago não faz referências críticas aos va-
respectivamente, por
lores éticos ou existenciais, detendo-se na
a) descrição ... alexandrinos.
questão da guerra e do progresso.
b) dissertação ... alexandrinos. b) Fernando Pessoa estabelece uma relação irô-
c) narração ... pentassílabos. nica com o texto camoniano, pois parodia
d) descrição ... decassílabos. o tom grandiloquente da fala do Velho do
e) narração ... decassílabos. Restelo, valendo-se de apóstrofes.
c) Os versos de Fernando Pessoa se assemelham
10. Fala do Velho do Restelo ao Astronauta aos do episódio do Velho de Restelo pela au-
(José Saramago) sência de personificação.
d) Saramago e Fernando Pessoa não se valeram
Aqui na terra a fome continua da perfeição formal camoniana, o que in-
A miséria e o luto valida o teor intertextual, que compreende
A miséria e o luto e outra vez a fome apenas estrutura e conteúdo.
Acendemos cigarros em fogos de napalm e) Saramago apresenta uma crítica universali-
E dizemos amor sem saber o que seja. zante que retoma o alerta feito pelo Velho
Mas fizemos de ti a prova da riqueza, do Restelo, atualizando-o.
Ou talvez da pobreza, e da fome outra vez,
E pusemos em ti nem eu sei que desejos
De mais alto que nós, de melhor e mais puro,
E.O. Fixação
No jornal soletramos de olhos tensos
Maravilhas de espaço e de vertigem. TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS TRÊS QUESTÕES.
Salgados oceanos que circundam
Texto I
Ilhas mortas de sede onde não chove.
Amor é fogo que arde sem se ver;
Mas a terra, astronauta, é boa mesa É ferida que dói e não se sente;
(E as bombas de napalm são brinquedos) É um contentamento descontente;
Onde come brincando só a fome É dor que desatina sem doer.
Só a fome, astronauta, só a fome É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
Mar Português É nunca contentar-se de contente;
(Fernando Pessoa)
É cuidar que se ganha em se perder;
(Camões)
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal! Texto II
Por te cruzarmos, quantas mães choraram, Amor é fogo? Ou é cadente lágrima?
Quantos filhos em vão rezaram! Pois eu naufrago em mar de labaredas
Quantas noivas ficaram por casar Que lambem o sangue e a flor da pele acendem
Para que fosses nosso, ó mar! Quando o rubor me vem à tona d’água.
E como arde, ai, como arde, Amor,
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Quando a ferida dói porque se sente,
Se a alma não é pequena. E o mover dos meus olhos sob a casca
Que quer passar além do Bojador Vê muito bem o que devia não ver.
Tem que passar além da dor. (Ilka Brunhilde Laurito)
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu. 1. Assinale a alternativa correta sobre o texto II.
a) A liberdade formal dos quartetos, associada
Os Lusíadas à contenção emotiva, é índice da influência
(Camões) parnasiana.
b) Por seguir os princípios estéticos clássicos,
Ó glória de mandar, ó vã cobiça sua expressão é de teor mais universalista
Desta vaidade a quem chamamos Fama! que individualista.
300
c) O caráter reflexivo das interrogativas iniciais Mudando andei costume, terra e estado,
impede que a linguagem seja marcada por Por ver se se mudava a sorte dura;
índices de emotividade. A vida pus nas mãos de um leve lenho.
d) Recuper a, do estilo camoniano, a prefe- Mas, segundo o que o Céu me tem mostrado,
rência por imagens paradoxais, como, por Já sei que deste meu buscar ventura
Achado tenho já que não a tenho.
exemplo, mar de labaredas. (Camões – Lírica)
e) Vale-se de recursos estilísticos conquistados
pelos modernistas, como, por exemplo, ver-
4. A partir da leitura dos dois fragmentos, assi-
sos decassílabos e expressão coloquial. nale a afirmativa inaceitável:
a) Há diversidade formal e temática na lírica
2. Assinale a alternativa correta. de Camões, devido à sua relação tanto com a
a) O texto I, com sua regularidade formal, re- tradição popular quanto com a cultura clás-
cupera do texto II o rígido padrão da estéti- sica.
ca clássica. b) Nos dois textos encontramos a ação do des-
b) Os dois textos, ao negarem uma concepção tino se opondo à felicidade do poeta.
carnal do amor, enaltecem o platonismo c) A expressão “fortuna”, do primeiro fragmen-
amoroso. to, é equivalente, no plano semântico, à ex-
c) O texto I e o texto II são convergentes no pressão “ventura”, do segundo.
que se refere à concepção do sentimento d) A forma do primeiro fragmento expressa a
amoroso. relação entre a lírica de Camões e a tradição
d) O texto II contesta o texto I no que se refere poética medieval peninsular.
ao ponto de vista sobre o amor. e) O terceiro verso do segundo fragmento é
uma metáfora clara da instabilidade da vida
e) Os dois textos convergem quanto à forma e à
do poeta.
linguagem, mas divergem quanto ao conteúdo.
5. Em relação aos textos anteriores, SÓ SE PODE
3. Assinale a alternativa correta sobre o texto I. AFIRMAR que:
a) Expressa as vivências amorosas do eu lírico a) o amor realizado é o tema do primeiro poe-
em linguagem emotivo-confessional. ma, e a harmonia entre o poeta e o mundo é
b) Apresenta índices de linguagem poética o tema do segundo.
marcada pelo racionalismo do século XVI. b) as expressões “oh que alegria” e “achado te-
c) Conceitua o amor de forma unilateral, re- nho já” mostram que, finalmente, o poeta
encontra a harmonia.
velando o intenso sofrimento do coração
c) as expressões “me partia” e “me apartei”,
apaixonado.
no primeiro fragmento, são equivalentes, no
d) Notam-se, em todos os versos, imagens poé- plano semântico.
ticas contraditórias, criadas a partir de subs- d) a forma do segundo fragmento expressa a
tantivos concretos. relação entre a lírica de Camões e o trovado-
e) Conceitua positivamente o amor corres- rismo medieval.
pondido e, negativamente, o amor não cor- e) o verso “me confessou que era meu” indica
respondido. que o poeta encontrou a felicidade.
TEXTOS PARA AS PRÓXIMAS DUAS QUESTÕES 6. (Uespi) Muitas são as formas fixas que foram
cultivadas por Camões. Muitas dessas formas
CANTIGA também foram praticadas por outros poetas
Vi chorar uns claros olhos do Quinhentismo português, a exemplo de
Sá de Miranda e Antônio Ferreira. Assim,
Quando deles me partia. dentre as formas literárias que compõem a
Oh! que mágoa! Oh! que alegria poética de Camões, quais não podemos assi-
VOLTAS nalar como cultivadas pelo poeta?
a) Odes e elegias.
(...)
b) Figurados e canto real.
O bem que Amor me não deu, c) Oitavas e écoglas.
No tempo que o desejei, d) Redondilhas e epopeia.
Quando dele me apartei, e) Canções e sextinas.
Me confessou que era meu.
Agora que farei eu, 7. Não se relaciona à medida nova:
a) versos decassílabos.
Se a fortuna me desvia b) influência italiana.
De lograr esta alegria? c) predileção por formas fixas.
(Camões – Lírica) d) sonetos, tercetos, oitavas e odes.
e) cultura popular, tradicional.
301
8. Assinale a incorreta sobre Camões: ( ) O aventureiro Fernão Veloso, ao ser ata-
a) Sua obra compreende os gêneros épico, líri- cado por etíopes, volta correndo para jun-
co e dramático. to dos companheiros, cena que empresta
b) A lírica de Camões permaneceu praticamente humor ao poema épico.
inédita. Sua primeira compilação é póstuma, ( ) O poeta Luís de Camões assume a narra-
datada de 1595, e organizada sob o título ção do poema para elogiar a tenacidade
de As Rimas de Luis de Camões, por Fernão portuguesa.
Rodrigues Lobo Soropita. A sequência correta de preenchimento dos
c) Sua lírica compõe-se exclusivamente de re- parênteses, de cima para baixo, é:
dondilhas e sonetos. a) F – F – V – F – V
d) Apesar de localizada no período clássico-re- b) V – F – F – V – V
nascentista, a obra possui citações barrocas. c) F – V – F – V – F
e) Representa o amadurecimento de língua d) V – V – F – V – F
portuguesa, sua estabilização e a maior ma- e) F – F – V – F – F
nifestação de sua excelência literária.
2. Sobre o poema Os Lusíadas, é incorreto afir-
9. Ainda sobre Camões, assinale a incorreta: mar que:
a) Não há um texto definitivo de lírica camo- a) quando a ação do poema começa, as naus
niana. Atribuem-se-lhe cerca de 380 compo- portuguesas estão navegando em pleno Oce-
sições líricas, destacando-se os cerca de 200 ano Índico, portanto no meio da viagem.
sonetos, alguns de autoria controversa. b) na Invocação, o poeta se dirige às Tágides,
b) Camões teria reunido sua lírica sob o titu- ninfas do rio Tejo.
lo de O Parnaso Lusitano, que se perdeu, e c) Na ilha dos Amores, após o banquete, Tétis
do qual há algumas referências nas cartas conduz o capitão ao ponto mais alto da ilha,
do poetas. onde lhe descenda a “máquina do mundo”.
c) As redondilhas de Camões seguem os mol- d) Tem como núcleo narrativo a viagem de Vas-
des da poesia palaciana do Cancioneiro co da Gama, a fim de estabelecer contato
Geral de Garcia de Resende e, mesmo na marítimo com as Índias.
medida velha, o poeta superou seus con- e) É composto em sonetos decassílabos, man-
temporâneos e antecessores. tendo em 1.102 estrofes o mesmo esquemas
d) A lírica na medida velha, tradicional, me- de rimas.
dieval, vale-se dos motes glosados, das re-
dondilhas e são de cunho galante, alegre
3. O desejo de criar um novo mundo, um rei-
madrigalesco.
no feliz não se concretizou. Em vez disso,
e) A principal diferença entre a poesia lírica e
os navegadores praticaram atos violentos no
a poesia épica é formal e manifesta-se na
processo das conquistas. Em que versos o Gi-
utilização de versos de diferentes metros.
gante Adamastor refere-se a essa violência:
a) Sabes que quantas naus esta viagem
10. Não são modalidade da medida nova: Que tu fazes, fizeram, de atrevidas,
a) canção e elegia. Inimiga terão estas paragem.
b) soneto e ode. b) Chamei-me Adamastor, e fui na guerra
c) erceto e oitava. Contra o que vibra os raios da Vulcano
d) écloga e sextina. c) Mas, conquistando as ondas do oceano
e) trova e vilancete. Fui capitão domar por onde andava
A armada de Netuno, que eu buscava
d) Ouve os danos de mim que apercebidos
E.O. Complementar Estão a te sobejo atrevimento
Por todo o largo mar e pela terra
1. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as Que inda hás de subjulgar com dura guerra.
afirmações a seguir, referentes ao “Canto V” e) Comecei a sentir o Fado inimigo
de “Os Lusíadas”, de Luís de Camões. Por meus atrevimentos, o castigo.
( ) Vasco da Gama conta ao rei africano a
partida da terra portuguesa, onde a tri- 4. Os gêneros literários são empregados com fi-
pulação deixa o coração e as mágoas. nalidade estética. Leia os textos a seguir.
( ) Ao descrever Adamastor, Vasco da Gama
Busque Amor novas artes, novo engenho,
cita, entre as características do gigante, a
Para matar-me, e novas esquivanças;
barba esquálida, os olhos encovados e os
Que não pode tirar-me as esperanças,
cabelos crespos.
Que mal me tirará o que eu não tenho.
( ) Paulo da Gama, irmão de Vasco, narra a Camões, L. V. de. Sonetos. Lisboa: Livraria
viagem dos lusos até Melinde. Clássica Editora. 1961. Fragmento.
302
Porém já cinco sóis eram passados Dos dois textos transcritos, o primeiro é de
Que dali nos partíramos, cortando Luís Vaz de Camões (século XVI) e o segun-
Os mares nunca doutrem navegados, do, de Sophia de Mello Breyner Andresen
Prosperamente os ventos assoprando, (século XX). Compare-os, discutindo, através
Quando uma noite, estando descuidados de critérios formais e temáticos, aspectos
Na cortadora proa vigiando, em que ambos se aproximam e aspectos em
Uma nuvem, que os ares escurece, que ambos se distanciam um do outro.
Sobre nossas cabeças aparece.
Camões, L. V. Os Lusíadas. Abril Cultural,
1979. São Paulo. Fragmento.
3. (UFJF) Leia o fragmento a seguir e respon-
da ao que se pede.
Assinale a alternativa que apresenta, respec- “Amores da alta esposa de Peleu
tivamente, a classificação dos textos. Me fizeram tomar tamanha empresa.
a) Épico e lírico. Todas as deusas desprezei do céu,
b) Lírico e épico. Só por amar das águas a princesa.
c) Lírico e dramático. Um dia a vi co’as filhas de Nereu,
d) Dramático e épico.
Sair nua na praia: e logo presa
A vontade senti de tal maneira
E.O. Dissertativo Que inda não sinto cousa que mais queira.
Como fosse impossíbil alcançá-la
Pela grandeza feia de meu gesto,
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Determinei por armas de tomá-la
Partimo-nos assim do santo templo E a Dóris este caso manifesto.
Que nas praias do mar está assentado, De medo a deusa então por mi lhe fala;
Que o nome tem da terra, para exemplo, Mas ela, c’um fermoso riso honesto,
Donde Deus foi em carne ao mundo dado. Respondeu: ‘Qual será o amor bastante
Certifico-te, ó Rei, que se contemplo De ninfa, que sustente o dum gigante?”
Como fui destas praias apartado, Camões, Os Lusíadas
Cheio dentro de dúvida e receio,
Que a penas nos meus olhos ponho o freio. Nas estrofes acima, extraídas do episódio do
Camões, Os Lusíadas, Canto 4º - 87. Adamastor, observamos o amor entre o Gi-
gante e Tétis, a “Princesa das Águas”. A par-
1. (Ufscar) O trecho faz parte do poema épico tir disso, responda:
“Os Lusíadas”, escrito por Luís Vaz de Ca- a) Como se manifesta, no texto, o amor do gi-
mões e narra a partida de Vasco da Gama, gante, e como Tétis reage a esse amor?
para a viagem às Índias. b) Quem é, no poema de Camões, o gigante
a) Em que estilo de época ou época histórica Adamastor?
se situa a obra de Camões?
b) Para dizer que o nome do templo é Belém, TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
Camões faz uso de uma perífrase: “Que o
Os bons vi sempre passar
nome tem da terra, para exemplo,/ Donde
No Mundo graves tormentos;
Deus foi em carne ao mundo dado”. Em
E pera mais me espantar
que outro trecho dessa estrofe Camões usa
Os maus vi sempre nadar
outra perífrase?
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
2. O bem tão mal ordenado,
“Amor é fogo que arde sem se ver; Fui mau, mas fui castigado,
É ferida que dói e não se sente Assim que só pera mim
É um contentamento descontente; Anda o Mundo concertado.
É dor que desatina sem doer;” Luís de Camões: Ao desconcerto do Mundo. In: Obra
Lírica de Camões, seleção, prefácio e Notas de Completa. Rio de Janeiro: Aguilar Editora, 1963, p. 475-6.
MASSAUD MOISÉS, São Paulo: Cultrix, 1963.
“Terror de te amar num sítio tão frágil como 4. (Ufscar) O poema está composto com versos
o mundo. de sete sílabas e na forma conhecida como
Mal de te amar neste lugar de imperfeição “esparsa” que, junto com outras, constituía
Onde tudo nos quebra e emudece o estoque de formas medievais que muitos
Onde tudo nos mente e nos separa.” poetas clássicos de Portugal, dentre os quais
Sophia de Mello Breyner Andresen, “Terror Camões, continuaram usando no século XVI
de te amar”. In: Antologia Poética. e que se denominavam de “medida velha”.
303
Além dessas formas, Camões usou as italia- 2. (Fuvest) Sobre o episódio do Velho do Reste-
nizantes ou clássicas, que se denominavam lo, assinale a alternativa correta:
de “medida nova”. a) O discurso do Velho do Restelo tem significa-
a) Cite outra forma de “medida velha” usada do complexo, na medida em que sua opinião
por Camões. se apresenta de maneira obscura: ele conde-
b) Cite duas formas de “medida nova”. na certos aspectos da expansão ultramarina
ao mesmo tempo em que exalta o poderio
bélico de Portugal.
A respeito do epílogo de Os Lusíadas, respon-
b) Trata-se de um episódio de intensidade dra-
da às próximas duas questões.
mática, dadas as circunstâncias em que a
Não mais, musa, não mais, que a lira tenho cena ocorre e ao conteúdo do discurso pro-
Destemperada e a voz enrouquecida, ferido pela personagem, que nada mais é do
E não do canto, mas de ver que venho que a opinião do próprio autor da epopéia.
Cantar a gente surda e endurecida. c) A veemência do discurso do Velho do Restelo
reside no apelo feito pelo próprio aspecto
O favor com que mais se acende o engenho
físico do personagem, que indica a sabedo-
Não nos dá a pátria, não, que está metida
ria acumulada por quem se tornou, com o
No gosto da cobiça e na rudeza
decorrer dos anos, humilde e resignado.
Duma austera, apagada e vil tristeza (...) d) Embora surja como uma voz discordante em
relação ao propósito de exaltação das Nave-
5. gações apresentado pelo narrador épico, o
a) Indique os sentidos que os substantivos “favor” discurso do Velho do Restelo mostra-se coe-
e “engenho” possuem no verso 5. rente com uma ideologia defensora da vida
b) Faça um breve teor do texto, comparando-o junto à Pátria e à Família.
com o teor da proposição. e) A opinião do Velho do Restelo em relação às
Navegações é, ao mesmo tempo, reacionária,
uma vez que defende a conservação dos va-
E.O. Objetivas lores humanitários e familiares, e arrojada,
já que o personagem prevê com sabedoria os
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp) desastres que resultariam das viagens.
304
b) Nos quatro últimos versos, está implicada 5. (Unesp) O poema épico de Camões, entre ou-
uma determinada concepção da função da tros ingredientes da epopeia clássica, apre-
arte. Identifique essa concepção, explican- senta o chamado ‘maravilhoso’, que consiste
do-a brevemente. na intervenção de seres sobrenaturais nas
ações narradas. Quando tais seres perten-
2. (Unesp) O racionalismo é uma das caracte- cem ao universo da Mitologia Clássica, diz-se
rísticas mais frequentes da literatura clássi- ‘maravilhoso pagão’; quando pertencem ao
ca portuguesa. A logicidade do pensamento
quinhentista repercutiu no rigor formal de universo do Cristianismo, diz-se ‘maravilho-
seus escritores, e no culto à expressão das so cristão’. Com base nesta informação:
“verdades eternas”, sem que isto implicasse a) identifique o tipo de ‘maravilhoso’ presente
tolhimento da liberdade imaginativa e poé- na oitava de Os Lusíadas; e
tica. Com base nestas observações, releia os b) comprove sua resposta com exemplos da
dois textos apresentados e: própria estrofe.
a) aponte um procedimento literário de Camões
que comprove o rigor formal do classicismo;
b) indique o dado da passagem bíblica que, por 6. (Fuvest) Responda às seguintes questões so-
ter sido omitido por Camões, revela a prática bre “Os Lusíadas”, de Camões:
da liberdade poética e confere maior carga a) Identifique o narrador do episódio no qual
sentimental ao seu modo de focalizar o mes- está inserida a fala do Velho do Restelo.
mo episódio. b) Compare, resumidamente, os principais valo-
res que esse narrador representa, no conjun-
3. (Fuvest) Os paradoxos do sentimento amoroso to de “Os Lusíadas”, aos valores defendidos
constituem um dos temas favoritos de sua po- pelo Velho do Restelo, em sua fala.
esia lírica, exercitada sobretudo nos sonetos.
a) De que poeta se trata?
b) Indique um texto do poeta em que este sen- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
timento contraditório se manifesta.
Cessem do sábio Grego e do Troiano
As navegações grandes que fizeram;
4. (Fuvest) Camões escreveu obra épica ou lírica? Cale-se de Alexandre e de Trajano
Justifique sua resposta, exemplificando com A fama das vitórias que tiveram;
obras do autor. Que eu canto o peito ilustre Lusitano,
A quem Neptuno e Marte obedeceram.
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO Cesse tudo o que a Musa antiga canta,
Que outro valor mais alto se alevanta.
A(s) questão(ões) seguintes tomam por base a
oitava estrofe do “Canto VI” de OS LUSÍADAS, 7. (Unesp) A oitava anterior constitui a terceira
de Luís de Camões (1524?-1580), e o poema A estrofe de OS LUSÍADAS, de Luís de Camões,
ONDA, de Manuel Bandeira (1886-1968). poema épico publicado em 1572, obra máxi-
ma do Classicismo português. O tipo de verso
OS LUSÍADAS, VI, 8
que Camões empregou é de origem italiana
No mais interno fundo das profundas Cavernas e fora introduzido na Literatura Portuguesa
altas, onde o mar se esconde, algumas décadas antes, por Sá de Miranda.
Lá donde as ondas saem furibundas, Quanto ao conteúdo, o poema OS LUSÍADAS
Quando às iras do vento o mar responde, Netuno toma como ponto de referência um episódio
mora e moram as jucundas Nereidas e outros da História de Portugal. Baseado nestes co-
Deuses do mar, onde As águas campo deixam
às cidades Que habitam estas úmidas Deidades. mentários e em seus próprios conhecimen-
CAMÕES, Luís de. Os Lusíadas. Lisboa:
tos, releia a estrofe citada e indique:
Imprensa Nacional, 1971. p. 195. a) o tipo de verso utilizado (pode mencionar
simplesmente o número de sílabas métricas);
A ONDA b) o episódio da História de Portugal que serve
a onda anda de núcleo narrativo ao poema.
aonde anda
a onda?
a onda ainda
ainda onda
ainda anda
aonde?
aonde?
a onda a onda
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira. Rio
de Janeiro: José Olympio, 1966. p. 286.
305
Gabarito b) O epílogo faz a crítica a uma “gente surda e
endurecida” de hoje, ao da proposição, que
exalta o “ilustre feito humano” de ontem.
E.O. Aprendizagem
1. E 2. D 3. E 4. C 5. B E.O. Objetivas
6. A 7. D 8. D 9. D 10. E (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. D 2. D 3. D
E.O. Fixação
1. D 2. D 3. B 4. C 5. C E.O. Dissertativas
6. B 7. E 8. C 9. E 10. E (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1.
E.O. Complementar a) Trata-se do do canto V de “Os Lusíadas”
em que Camões engrandece as conquistas
1. D 2. E 3. D 4. B de Portugal na África e na Índia. O eu lí-
rico é o Velho do Restelo que, no início,
logo nos dois primeiros versos, amaldiçoa
E.O. Dissertativo quem primeiro içará velas a uma embar-
1. cação, para com ela se atirar aos mares da
a) A obra de Luis Vaz de Camões situa-se no conquista, do poder e da glória. O que se
período renascentista português (Classi- vê é uma postura que repudia a expansão
cismo) do século XVI (1527-1580). mercantil portuguesa, opondo-se à “justa
b) O verso “santo templo / Que nas praias lei” e que só traria desgraça a Portugal.
do mar está assentado” é uma outra re- b) Os quatro últimos versos da estrofe mos-
ferência perifrástica à Torre de Belém, tram o desejo condenatório de que aquele
“caravela fendida no mar”, e marco co- que se aventurar aos mares jamais viesse
memorativo das navegações portugue- a ter recompensa da glória ou da posteri-
sas, erigido à saída do Rio Tejo, em esti- dade. Dons estes que nada valem quando
lo manuelino. isentos da moral e da virtude. Logo, veri-
fica-se que, para o Velho, a concepção do
2.
Aproximam-se de duas maneiras, uma pela
valor da arte está atrelada aos princípios
temática do amor e outra pela utilização de éticos e à tradição.
anáforas. E distanciam-se pela metrificação 2.
(versos decassílabos em Camões e livres em a) A opção pelos versos decassílabos e a es-
Andresen) e pela maneira que a temática do trutura rímica petrarquiana.
amor é abordada (em Camões o amor é im- b) O poeta Camões omite que Jacó casou-se com
Lia e, depois de uma semana, com Raquel.
pessoal, e em Andresen é pessoal).
3.
3. a) Luis Vaz de Camões
a) Há pelo gigante Adamastor um amor sem b) “Amor é fogo que arde sem se ver”
limites pela “Princesa das Águas”. É ca- 4.
O poeta Luis Vaz de Camões escreveu tan-
paz de forçá-la a amá-lo. Tétis, por sua to obra épica quanto lírica. O poema épico
vez, mensura quanto deve ser o amor Os Lusíadas, foi publicado em 1572 e narra
para amar um gigante. a viagem de Vasco da Gama às Índias, bem
b) No poema de Camões, o Cabo das Tormentas é como a História de Portugal e de seus reis. Os
personificado na figura do Gigante Adamastor. poemas líricos – sonetos, elegias, cantigas,
4. redondilhas e estão contemplados em sua
a) Camões utiliza-se do “vilancete”, cuja fase lírica e estão compilados na obra Rimas,
modalidade poética inicia-se por um de 1595 (publicação póstuma).
mote (assunto) e glosa (desenvolvimento 5.
do assunto propostos) a) Em função da presença de figuras mitoló-
b) O soneto é a forma de “medida nova” usa- gicas, trata-se do “maravilhoso pagão”.
da por Camões. Entre outras formas, há: b) “Netuno mora e moram as jucundas Ne-
elegia, oitavas, ode, sextina... reidas e outros Deuses do mar, onde”.
5. 6.
a) O substantivo “favor” significa: condição a) O narrador do episódio em questão é Vas-
favorável propícia, “inspiração”. Já “en- co da Gama, o herói do poema, que, em
genho” é capacidade de criar, realizar, dada altura da fábula, assume a função
produzir com arte, com talento. de personagem-narrador.
306
b) O herói Vasco da Gama representa o herói
épico da aventura lusitana e especialmen-
te a lógica de expansão marítima e co-
mercial do Império Lusitano, que implica
a dilatação da fé cristã e do comércio oci-
dental. Vasco da Gama representa o proje-
to político da Dinastia de Avis, que aplica
os valores racionalistas e as conquistas da
ciência no desenvolvimento do comércio.
O Velho do Restelo, que é uma persona-
gem alegórica, representa os valores me-
dievais contrários às navegações portu-
guesas, pois achava que aquilo tudo era
apenas desejo de poder. O Velho pode ser
entendido como manifestação do ideal da
Dinastia de Borgonha presa à ordem feu-
dal, logo ainda teocêntrica e vinculada à
economia agrária.
7.
a) Decassílabo.
b) A viagem de Vasco da Gama às Índias.
307
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Aulas
9 e 10
Quinhentismo e Barroco
Competência 5
Habilidades 15, 16 e 17
Competência 1 – Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação na escola, no trabalho e em outros contextos relevantes para
sua vida.
H1 Identificar as diferentes linguagens e seus recursos expressivos como elementos de caracterização dos sistemas de comunicação.
H2 Recorrer aos conhecimentos sobre as linguagens dos sistemas de comunicação e informação para resolver problemas sociais.
H3 Relacionar informações geradas nos sistemas de comunicação e informação, considerando a função social desses sistemas.
H4 Reconhecer posições críticas aos usos sociais que são feitos das linguagens e dos sistemas de comunicação e informação.
Competência 2 – Conhecer e usar língua(s) estrangeira(s) moderna(s) (LEM) como instrumento de acesso a informações e a outras culturas
e grupos sociais.
H5 Associar vocábulos e expressões de um texto em LEM ao seu tema.
H6 Utilizar os conhecimentos da LEM e de seus mecanismos como meio de ampliar as possibilidades de acesso a informações, tecnologias e culturas.
H7 Relacionar um texto em LEM, as estruturas linguísticas, sua função e seu uso social.
H8 Reconhecer a importância da produção cultural em LEM como representação da diversidade cultural e linguística.
Competência 3 – Compreender e usar a linguagem corporal como relevante para a própria vida, integradora social e formadora da iden-
tidade.
H9 Reconhecer as manifestações corporais de movimento como originárias de necessidades cotidianas de um grupo social.
H10 Reconhecer a necessidade de transformação de hábitos corporais em função das necessidades cinestésicas.
Reconhecer a linguagem corporal como meio de interação social, considerando os limites de desempenho e as alternativas de adaptação para
H11
diferentes indivíduos.
Competência 4 – Compreender a arte como saber cultural e estético gerador de significação e integrador da organização do mundo e da
própria identidade.
H12 Reconhecer diferentes funções da arte, do trabalho da produção dos artistas em seus meios culturais.
H13 Analisar as diversas produções artísticas como meio de explicar diferentes culturas, padrões de beleza e preconceitos.
H14 Reconhecer o valor da diversidade artística e das inter-relações de elementos que se apresentam nas manifestações de vários grupos sociais e étnicos.
Competência 5 – Analisar, interpretar e aplicar recursos expressivos das linguagens, relacionando textos com seus contextos, mediante a
natureza, função, organização, estrutura das manifestações, de acordo com as condições de produção e recepção.
H15 Estabelecer relações entre o texto literário e o momento de sua produção, situando aspectos do contexto histórico, social e político.
H16 Relacionar informações sobre concepções artísticas e procedimentos de construção do texto literário.
H17 Reconhecer a presença de valores sociais e humanos atualizáveis e permanentes no patrimônio literário nacional.
Competência 6 – Compreender e usar os sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da reali-
dade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação.
H18 Identificar os elementos que concorrem para a progressão temática e para a organização e estruturação de textos de diferentes gêneros e tipos.
H19 Analisar a função da linguagem predominante nos textos em situações específicas de interlocução.
H20 Reconhecer a importância do patrimônio linguístico para a preservação da memória e da identidade nacional
Competência 7 – Confrontar opiniões e pontos de vista sobre as diferentes linguagens e suas manifestações específicas.
H21 Reconhecer em textos de diferentes gêneros, recursos verbais e não-verbais utilizados com a finalidade de criar e mudar comportamentos e hábitos.
H22 Relacionar, em diferentes textos, opiniões, temas, assuntos e recursos linguísticos.
H23 Inferir em um texto quais são os objetivos de seu produtor e quem é seu público alvo, pela análise dos procedimentos argumentativos utilizados.
Reconhecer no texto estratégias argumentativas empregadas para o convencimento do público, tais como a intimidação, sedução, comoção,
H24
chantagem, entre outras.
Competência 8 – Compreender e usar a língua portuguesa como língua materna, geradora de significação e integradora da organização
do mundo e da própria identidade.
H25 Identificar, em textos de diferentes gêneros, as marcas linguísticas que singularizam as variedades linguísticas sociais, regionais e de registro.
H26 Relacionar as variedades linguísticas a situações específicas de uso social.
H27 Reconhecer os usos da norma padrão da língua portuguesa nas diferentes situações de comunicação.
Competência 9 – Entender os princípios, a natureza, a função e o impacto das tecnologias da comunicação e da informação na sua vida
pessoal e social, no desenvolvimento do conhecimento, associando-o aos conhecimentos científicos, às linguagens que lhes dão suporte,
às demais tecnologias, aos processos de produção e aos problemas que se propõem solucionar.
H28 Reconhecer a função e o impacto social das diferentes tecnologias da comunicação e informação.
H29 Identificar pela análise de suas linguagens, as tecnologias da comunicação e informação.
H30 Relacionar as tecnologias de comunicação e informação ao desenvolvimento das sociedades e ao conhecimento que elas produzem
Observe, na tabela abaixo, os períodos literários do Brasil Colônia.
311
Não se pode falar em uma literatura “do Brasil”, como característica do país naquele período, mas em
literatura “no Brasil”, uma literatura ligada ao Brasil, que denota as ambições e as intenções do homem europeu.
Divide-se em literatura informativa e literatura jesuítica. O Quinhentismo serviu de inspiração literária para
alguns poetas e escritores do Romantismo – Gonçalves Dias, José de Alencar – e do Modernismo – Oswald de
Andrade, Murilo Mendes.
Literatura de informação
A expansão ultramarina europeia levou inúmeros viajantes às terras recém-descobertas ou exploradas da Ásia, Áfri-
ca e América com a missão de produzir relatórios informativos sobre essas terras e aspectos exóticos e pitorescos
de seus habitantes. Esses relatórios, denominados “crônicas de viagem”, têm caráter mais histórico do que literário,
e a linguagem é predominantemente referencial ou denotativa.
A Carta, de Pero Vaz de Caminha, considerada o primeiro documento da literatura no Brasil, inaugurou a
chamada literatura informativa: manifestações literárias de considerável valor histórico e profundo caráter docu-
mental sobre o Brasil, escritas por cronistas e viajantes estrangeiros. Descrevem e informam sobre a nova colônia
portuguesa, salientando a conquista material e a exaltação da terra nova. Estes relatos visavam a satisfazer a
curiosidade e a imaginação dos europeus.
Na literatura informativa encontram-se do-
© Albert Eckhout/Wikimedia Commons
312
§ Diálogos das grandezas do Brasil (1618), atribuídos a Ambrósio Fernandes Brandão, e a História do Brasil
(1627), de Frei Vicente do Salvador, publicados no século XVII.
Para a história da literatura brasileira, a literatura informativa adquire importância principalmente como
fonte de temas e formas para momentos literários posteriores: o Romantismo e o Modernismo.
Escrivão da frota de Pedro Álvares Cabral, Caminha escreveu a Dom Manuel, rei de Portugal, no dia 1o de maio de
1500, a Carta – de inestimável valor histórico e de razoável valor literário –, em que comunica o "descobrimento"
do Brasil.
Lendo a Carta
A Carta enviada ao rei Dom Manuel é uma espécie de “certidão de nascimento” do Brasil, pois foi o primeiro do-
cumento escrito nestas terras. É o texto que marca o princípio da literatura brasileira.
A Carta de Caminha, embora escrita nos primórdios da colonização (1500), só veio a ser impressa em 1817,
na Corografia Brasílica, pela imprensa Régia do Rio de Janeiro.
Primeiro trecho
Senhor, posto que o Capitão-mor desta vossa frota, e assim os outros Capitães escrevam a Vossa Alteza a notícia
do achamento desta vossa terra nova, que nesta navegação agora se achou, não deixarei de também dar disso
minha conta a Vossa Alteza, assim como eu melhor puder, ainda que – para o bem contar e falar – o saiba pior
que todos faze! [...] Tome Vossa Alteza, porém, minha ignorância por boa vontade, e creia bem por certo que, para
aformosear nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.
[...]
Então seguimos nosso caminho por este mar de longo até terça-feira de Oitavas de Páscoa, que foram 21
dias de abril, quando topamos alguns sinais de terra [...] a saber: Em primeiro lugar um monte grande, muito alto
e redondo e outras serras mais baixas ao sul dele; e terra rasa, com grandes arvoredos. Ao mesmo monte alto
pôs o Capitão o nome de Monte Pascoal; e à terra – Terra de Vera Cruz.
Segundo trecho
© Tonyjeff/Wikimedia Commons
313
que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijos sobre o batel; e
Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram.
Ali não pôde deles haver fala, nem entendimento de proveito, por o mar quebrar na costa. Somente deu-lhes
um barrete vermelho e uma carapuça de linho que levava na cabeça e um sombreiro preto. Um deles deu-lhe um
sombreiro de penas de ave, compridas, com uma copazinha de penas vermelhas e pardas como de papagaio; e
outro deu-lhe um ramal grande de continhas brancas, miúdas, que querem parecer de aljaveira, as quais peças
creio que o Capitão manda a Vossa Alteza, e com isto se volveu às naus por ser tarde e não poder haver deles
mais fala, por causa do mar. [...]
Terceiro trecho
A feição deles é serem pardos, maneira de avermelhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos. Andam nus,
sem nenhuma cobertura. Nem estimam de cobrir ou de mostrar suas vergonhas; e nisso têm tanta inocência como
em mostrar o rosto. Ambos traziam os beiços de baixo furados e metidos neles seus ossos brancos e verdadeiros,
de comprimento duma mão travessa, da grossura dum fuso de algodão, agudos na ponta como um furador. Mete-
mnos pela parte de dentro do beiço; e a parte que lhes fica entre o beiço e os dentes é feita como roque de xadrez,
ali encaixado de tal sorte que não os molesta, nem os estorva no falar, no comer ou no beber.
Os cabelos seus são corredios. E andavam tosquiados, de tosquia alta, mais que de sobrepente, de boa gran-
dura e rapados até por cima das orelhas. E um deles trazia por baixo da solapa, de fonte a fonte para detrás, uma
espécie de cabeleira de penas de ave amarelas, que seria do comprimento de um coto, mui basta e mui cerrada,
que lhe cobria o toutiço e as orelhas. E andava pegada aos cabelos, pena e pena, com uma confeição branda
como cera (mas não o era), de maneira que a cabeleira ficava mui redonda e mui basta, e mui igual, e não fazia
míngua mais lavagem para a levantar.
O Capitão, quando eles vieram, estava sentado em uma cadeira, bem vestido, com um colar de ouro mui
grande ao pescoço, e aos pés uma alcatifa por estrado. Sancho de Tovar, Simão de Miranda, Nicolau Coelho, Aires
Correia, e nós outros que aqui na nau com ele vamos, sentados no chão, pela alcatifa. Acenderam-se tochas. En-
traram. Mas não fizeram sinal de cortesia, nem de falar ao Capitão nem a ninguém. Porém um deles pôs olho no
colar do Capitão, e começou de acenar com a mão para a terra e depois para o colar, como que nos dizendo que
ali havia ouro. Também olhou para um castiçal de prata e assim mesmo acenava para a terra e novamente para
o castiçal como se lá também houvesse prata.
CAMINHA, Pero Vaz de. Carta ao rei D. Manuel.
In: VOGT, Carlos; LEMOS, J.A. Guimarães de. Ironistas e viajantes.
São Paulo: Abril Educação, s.d. (Coleção Literatura Comentada.)
Autor de O Tratado da Terra do Brasil e da História da Província de Santa Cruz, compostas em louvor ao clima, à
terra e à paisagem, e que estimulam a imigração do leitor.
Uma planta se dá também nesta Província, que da ilha de São Tomé, com a fruita da qual se ajudam muitas
pessoas a sustentar a terra. Esta planta é mui tenra e não muito alta, não tem ramos senão umas folhas que serão
seis ou sete palmos de comprido. A fruita dela se chama banana. Parecem-se na feição com pepinos, criam-se em
cachos. Esta fruita é mui saborosa, e das boas, que há na terra: tem uma pele como de figo (ainda que mais dura)
a qual lhe lançam fora quando a querem comer: mas faz dano à saúde e causa febre a quem se desmanda nela.
GÂNDAVO, Pero de Magalhães. História da Província de Santa Cruz.
314
Leia também este trecho da História da Província Santa Cruz, e observe que Gândavo traz aqui uma inver-
tida noção sobre a língua dos indígenas, além de fazer uma descrição minuciosa sobre o tipo físico do silvícola.
315
Padre José de Anchieta (1534-1597)
Nessa categoria, merece destaque o padre jesuíta que veio ao Brasil para desenvolver o trabalho missionário de
converter os índios ao Cristianismo. Em 1554, fundou a cidade de São Paulo. Escreveu poemas, crônicas, sermões
e textos teatrais, ora didáticos, ora lírico-religiosos.
Anchieta dominava bem latim, espanhol, português e tupi. Sua linguagem era simples e direta. Escreveu a
primeira gramática tupi-guarani: Arte de gramática da língua mais usada na costa brasileira.
Dentre suas obras, sobressaem os autos Quando no Espírito Santo, se recebeu uma relíquia das onze mil Virgens;
Na Vila de Vitória; Auto de São Lourenço; e o poema De Beata Virgine Dei Madre Maria (À beata Virgem Maria
Mãe de Deus).
Veio ao Brasil com a segunda leva de jesuítas na esquadra de Duarte da Costa, segundo Governador-Geral
do Brasil. Em 1554, participou da fundação do colégio, onde também foi professor, na Vila de São Paulo de Pirati-
ninga, núcleo da futura cidade que receberia o nome de São Paulo. Exerceu o cargo de provincial dos jesuítas, entre
os anos de 1577 e 1587. Escreveu cartas, sermões, poesias, a gramática da língua mais falada na costa brasileira
(o tupi) e peças de teatro, tornando-se representante do Teatro Jesuítico no Brasil.
Sua obra é considerada a primeira manifestação literária em terras brasileiras. A coleção das obras completas do padre
José de Anchieta é dividida em três gêneros: poesia, prosa e obras sobre Anchieta, que somam um total de dezessete volumes.
Leia abaixo A Santa Inês, um dos poemas mais conhecidos de José de Anchieta.
316
Bosques
Todo o Brasil é um jardim em frescura e bosque
Disponível em <http://warburg.chaa-unicamp.com.br>.
O texto revela uma visão exuberante da natureza do Brasil, semelhante à manifestada na Carta, de Pero Vaz
de Caminha. Os aspectos enfatizados contemplam a flora e a fauna, a grandeza e a variedade do arvoredo e o
encantamento pelos pássaros. A riqueza e a vitalidade do Brasil contrastam com as paisagens de Portugal. Entre
as riquezas do Brasil arroladas no texto, apenas o sândalo, originário da Índia, provavelmente não existia aqui. O
deslumbramento pela natureza do Novo Mundo marcou época tanto no período Brasil Colônia até o período pós-
-Independência.
O poema manifesta o confronto entre o bem e o mal com bastante simplicidade. A chegada de Santa
Inês espanta o diabo e, graças a ela, o povo revigora sua fé. Os versos de cinco sílabas (redondilha menor) dão
ritmo ligeiro ao texto, retomando a métrica das cantigas medievais. A linguagem é clara, as ideias são facilmente
compreensíveis e o ritmo traz musicalidade ao poema, o que contribui para envolver o leitor/ouvinte, bem como
sensibilizá-lo para a mensagem religiosa.
A pedido de Dom João III, integrou a escala de Tomé de Sousa, primeiro Governador Geral do Brasil, o padre Ma-
nuel da Nóbrega, que chefiou o primeiro grupo de jesuítas vindos ao Brasil, em 1549.
Ferrenho defensor da liberdade dos índios, favoreceu os aldeamentos, cultivou a música como auxiliar da
evangelização, promoveu o ensino primário nas escolas de ler e escrever e fundou, pessoalmente, os colégios de
Salvador, Pernambuco e São Paulo, origem da futura cidade, e do Rio de Janeiro, onde exerceu o cargo de reitor.
Depois de colaborar com a expulsão dos estrangeiros da baía de Guanabara, contribuiu para a valorização do poder
central e para a unificação política do território nacional.
Seus pensamentos estão expressos nas Cartas, nos Apontamentos e, sobretudo, no Diálogo sobre a conver-
são do Gentio, de sua autoria.
317
Barroco ou Seiscentismo
Contexto
Os embates religiosos
O movimento denominado Barroco ou Seiscentismo aconteceu no segundo período clássico e designou generi-
camente todas as manifestações artísticas produzidas no século XVII até meados do século XVIII. O estilo barroco
sucede o movimento religioso conhecido como Reforma Protestante, liderado pelo teólogo alemão Martinho
Lutero (1483-1546).
A proposta de reformar ensinos teológicos e comportamentos morais da Igreja, baseados exclusivamente
A Reforma Protestante foi um movimento reformista cristão iniciado em 1517 por Martinho Lutero. Ele
apresentou 95 teses, mediante as quais protestava contra a Igreja Católica. À luz delas, propôs uma reforma
baseada em cinco princípios:
1. somente a fé;
2. somente a Escritura;
3. somente Cristo;
4. somente a graça; e
5. somente a glória de Deus.
Lutero denunciou os abusos e equívocos do catolicismo da época, entre eles atos de corrupção, como venda
de indulgências a troco do perdão dos pecados e da salvação eterna. O protestantismo nasceu em decorrência da
resistência à Igreja Católica
no ensino bíblico, provocou a reação da Igreja católica, àquelas alturas já sem muito espaço e poder. A Reforma
dividiu os cristãos. Na tentativa de evitar a perda de fiéis, a Igreja fortaleceu o Tribunal da Inquisição, que passou
a investigar crimes contra a fé católica e deu início à Contrarreforma, com a fundação da Companhia de Jesus
pelo espanhol Inácio de Loyola.
Nas artes, em reação ao primeiro período clássico que revolucionou o teocentrismo medieval, à luz e sob
inspiração dos valores terrenos e humanistas da Antiguidade greco-romana, triunfou o Barroco, que se opôs ao
Humanismo Renascentista em busca do elo perdido da tradição cristã.
318
O contexto português: a união da península Ibérica
Em 1580, Portugal foi anexado à Espanha, em razão do desaparecimento do rei português Dom Sebastião – que
não deixou descendentes diretos –, na batalha de Alcácer-Quibir, na África, em 1578. O rei espanhol Felipe II, um
dos parentes mais próximos de Dom Sebastião, foi proclamado monarca dos lusitanos e deu início à dinastia Filipina
em Portugal, que se estendeu até 1640.
Sucessivamente, três reis espanhóis adotaram o nome Felipe (I, II e III). Foi em dezembro de 1640, que Por-
tugal retomou sua independência, quando o duque de Bragança foi coroado rei, com o nome de Dom João IV, e
cujo reinado durou até 1656.
Na Europa seiscentista, Portugal e Espanha configuraram o modelo de absolutismo católico, que patrocinou
a Contrarreforma, recrudesceu a perseguição aos infiéis pela Inquisição e exigiu obediência ao Index Librorum
Prohibitorum, uma relação de livros proibidos publicada pela Igreja Católica.
Sob dominação filipina, o Barroco português foi significativamente influenciado pelo espanhol, principal
foco irradiador dessa estética que expressa a espiritualidade e o teocentrismo medievais misturados ao racionalis-
mo e ao antropocentrismo herdados do Renascimento.
A arte barroca
© Michelangelo Merisi da Caravaggio/Wikimedia Commons
O barroco português ocorre em uma Europa impactada pelas grandes navegações dos anos 1500, pelas grandes
conquistas, pela explosão da Reforma Protestante e pelo poder monárquico absolutista. Ele traduz o drama do
homem “entre o céu e a Terra”, atormentado pela fé, pela existência após a morte, pelo julgamento de atos pra-
ticados durante o “trânsito terreno”.
No final dos anos quinhentos e início dos anos seiscentos, conviem dois modos de ver o mundo: o paganis-
mo renascentista em decadência e a religiosidade barroca emergente. A expressão plástica barroca caracteriza-se
pela exacerbação dos tons mais altos e mais coloridos e das texturas mais ricas: mais decoração, mais luz e sombra
em busca deliberada de efeitos.
319
Cultismo e conceptismo
Duas tendências de estilo, no entanto, manifestam-se no Barroco: o cultismo e o conceptismo. Aquele, mais
próprio da poesia, e este, da prosa, sem, no entanto, excluírem-se no conjunto da criação literária. Uma mesma obra
tanto pode pender para uma delas quanto apresentar traços de ambas as tendências.
§ Cultismo – preferência pelo rebuscamento formal da linguagem em jogos de palavras, figuras de lingua-
gem, vernáculo preciosista, efeitos sensoriais – cor, som, forma, volume, sonoridade, imagens eloquentes e
fantasiosas. Conhecer é descrever mediante sensações nada econômicas. Metáforas, antíteses, sinestesias,
trocadilhos, dicotomias e hipérbatos povoam os textos barrocos. A realidade é retratada de forma indireta,
centrada na habilidade verbal do escritor.
A tendência do Barroco cultista também recebeu o nome de gongorismo, cujo escritor mais eloquente foi
o poeta espanhol Luis de Gôngora.
§ Conceptismo (do espanhol concepto, ideia) – linguagem pautada no raciocínio e no pensamento lógico,
em analogias, histórias ilustrativas etc. Argumentos centrados na inteligência e na razão em busca da con-
cisão e da coesão, sempre disciplinados pela lógica e seus mecanismos oferecidos pelos silogismos e sofis-
mas. Tal tendência também recebeu o nome de quevedismo, graças ao estilo marcante do poeta espanhol
Francisco Gómez de Quevedo.
[...]
Pinta-se o amor sempre menino, porque ainda que passe dos setes anos [...] nunca chega à idade de uso
da razão. Usar de razão e amar são duas coisas que não se juntam. A alma de um menino que vem a ser? Uma
vontade com afetos e um entendimento sem uso. Tal é o amor vulgar. Tudo conquista o amor, quando conquista
uma alma; porém o primeiro rendido é o entendimento. Ninguém teve a vontade, febricitante, que não tivesse o
entendimento frenético. O amor deixara de variar, se for firme, mas não deixara de tresvariar, se é amor. Nunca
o fogo abrasou a vontade, que o fumo não cegasse o entendimento. Nunca houve enfermidade no coração, que
não houvesse fraqueza no juízo.
Padre Antonio Vieira. Sermão do Mandato
320
Características do Barroco literário
O Barroco se traduz como uma arte tensa que oscila entre opostos, marcada pela crise de valores, contradições en-
tre o espírito cristão, antiterreno e teocêntrico, e o espírito renascentista, antropocêntrico, racionalista e mundano.
A indefinição entre o divino e o terreno traduz-se em conflito e descontentamento existencial humano. São comuns
os temas pessimistas, as advertências sobre a brevidade da vida, a ênfase na dor e na vergonha de permanecer em
pecado. A relação com a vida terrena é pessimista, só minorada com a crença na vida celeste. O tema da penitência
é constantemente enfatizado pelo martírio da dor.
Ideias em confronto
No Barroco predomina o gosto pela aproximação de realidades em oposição; a submissão e a vida recatada
propostas pela Igreja contrarreformista em contraposição aos desejos humanos e materiais, à possibilidade de
ascensão social, propiciada pelo momento histórico, contrapõe-se a impossibilidade da estrutura social fechada.
Temas constantemente contraditórios, oscilantes entre matéria e amor, carne e espírito, amor ideal e amor humano.
© Divulgação
No intuito de aproximar opostos, a visão do universo dualista é, ao mesmo tempo, mística e sensual, religiosa e
erótica, espiritual e humana. O homem vive em conflito com o mundo. Para traduzi-lo, abundam antíteses, metá-
foras, sinestesias e hipérboles.
Disponível em <http://interata.squarespace.com>
321
O estilo barroco europeu do século XVII recebeu denominações particulares em cada país:
§ Espanha – gongorismo, originado do nome do poeta Luis de Gôngora (1561-1627).
§ Inglaterra – eufuísmo, derivado do nome da obra Euphues, or the anatomy of wit, do escritor John Lyly
(1554-1606).
§ Itália – marinismo, derivado do nome de Gianbattista Marino (1569-1625).
§ França – preciosismo, em razão do exagero da forma preciosista, afetada e extremamente rebuscada na
corte do rei Luis XIV.
§ Alemanha – silesianismo, estilo característico dos escritores da região da Silésia.
O Barroco em Portugal
O Barroco português conviveu com um país que vivia uma crise de identidade, uma vez que estava sob o domínio
político da Espanha. Dois aspectos ressaltam a produção literária desse período: o esforço dos portugueses de pre-
servar sua cultura e língua e a Contrarreforma, que deu à produção literária amplo caráter religioso, por exemplo
as obras do padre Antônio Vieira, principal escritor português do século XVII.
Em 1580, dois fatos significativos marcaram a vida cultural e política de Portugal: a morte de Camões e a
passagem do país para o domínio espanhol (1580-1640).
A literatura e as artes portuguesas foram influenciadas pelas manifestações culturais espanholas, que co-
nheceram nesse período o “século de ouro” – Cervantes, Gôngora, Quevedo, Lope de Vega e Calderón de La
Barca são importantes escritores desse período. O florescimento do Barroco em Portugal não se deu com a mesma
intensidade que na Espanha. Como forma de resistência política ao domínio espanhol, os escritores portugueses
procuraram preservar a língua e a cultura lusitanas. Assumiram uma postura saudosista, valorizando personagens
e escritores do passado heroico recente: Vasco da Gama, Dom Sebastião, Camões.
Influenciado pela Contrarreforma, o Barroco português também ganhou fortes matizes religiosos, bem
como em todos os países ibéricos. A atuação da Companhia de Jesus e do Tribunal da Inquisição, instaurado em
Portugal em meados do século XVI, completaram o quadro cultural lusitano daquele período religioso e austero.
O Barroco no Brasil
O marco inicial do Barroco brasileiro data de 1601, quando Bento Teixeira publicou o poema épico
Prosopopeia, com estrofes em oitava rima e versos decassílabos, tal qual Os Lusíadas, de Camões, cujo modelo ele
seguiu de perto.
Embora naquela época não houvesse um público leitor significativo no Brasil, a poesia barroca ganhou
impulso com a fundação de várias academias literárias entre os anos de 1720 e 1750. Vicejaram por todo o século
XVII e início do século XVIII, mas foram sufocadas pela fundação da academia chamada Arcádia Ultramarina,
em 1768, e pela ascensão da poesia árcade.
Embora o Barroco brasileiro esteja ligado aos modelos lusitano e espanhol, peculiaridades diferenciam-no
destes.
Durante todo o século XVII, sob o domínio espanhol, continuavam a chegar ao Brasil imigrantes atraídos
pela riqueza, portugueses e demais europeus, e interessados na exploração da terra. Foi o caso dos franceses,
que tentaram dominar o Maranhão no começo do século XVII.
A presença estrangeira mais marcante, no entanto, foi a dos holandeses. Enviado pela Companhia das
322
Índias Ocidentais com o fim de controlar o comércio do açúcar nordestino, o general de origem alemã Johann
Maurits, conhecido como conde Maurício de Nassau, desembarcou no Brasil, em Recife, em 1637, quando já se
estabilizara o domínio holandês nas colônias portuguesas, iniciado em 1624.
Nassau trouxe consigo uma equipe cultural com pintores, arquitetos, escritores, naturistas, médicos, astrólo-
gos etc., com o objetivo de documentar as terras ocupadas pela Holanda e angariar investimentos europeus para
a produção açucareira.
Com Nassau, Recife sofreu uma verdadeira reformulação urbana: jardins, lagos, palácio para sua acomo-
dação na ilha de Antônio Vaz, uma cidade inteira foi modelada a seu gosto. A cidade Maurícia, ao lado de Recife,
entre a foz do rio Capibaribe e Beberibe, emergiu sob sua administração.
As marcas desse tempo ficaram registradas em pinturas e desenhos de Frans Post, encarregado das paisa-
gens e feitos do Governador-Geral, e Albert Eckout, responsável pelo registro dos tipos humanos, da fauna e flora
da “Nova Holanda”, nome de Pernambuco naquela época.
Frans Post tinha apenas 24 anos quando chegou ao Brasil. Morador de Recife entre 1637 e 1644, acompa-
nhou a movimentada campanha do governador, documentando a paisagem e registrando portos e fortificações do
Maranhão à Bahia.
© Divulgação
Aleijadinho
Um Barroco miscigenado
O mundo colonial brasileiro do século XVII não foi influenciado apenas pelo Barroco português, mas, sobretudo,
foi pressionado economicamente, graças à imensa exploração de riquezas naturais, de ouro, principalmente. Em
razão disso, o Barroco brasileiro tornou-se uma manifestação miscigenada das culturas europeia, negra e nativa. Os
espaços do Brasil colonial que lhe serviram de cenário foram principalmente o Nordeste e o estado de Minas Gerais.
Ligado ao ciclo da cana-de-açúcar, o Barroco nordestino aproximou-se da aristocracia rural, exuberante e
pomposa, e refletiu-se na riqueza das construções eclesiásticas e nas amplas acomodações das casas-grandes.
A cidade de Salvador, na Bahia, ainda conta com cerca de 80 igrejas e vários solares e casarões inspirados
no Barroco.
No século XVIII, o Barroco mineiro sobrepujou o da metrópole portuguesa, notadamente nas cidades au-
ríferas de Minas Gerais. Naquela região, sobressaíram as notáveis obras do escultor e arquiteto Antonio Francisco
Lisboa (1730-1814), o Aleijadinho, cujo trabalho pautou-se pela experiência com materiais locais – pedra-sabão e
madeira. O pintor Manuel da Costa Ataíde (1762-1830) deixou mostras de seu talento em pinturas e afrescos nos
tetos e laterais de igrejas mineiras.
323
INTERATIVIDADE
ASSISTIR
324
LER
Livros
Dialética da colonização – Alfredo Bosi
325
INTERDISCIPLINARIDADE
Artes plásticas
Projeto para a fachada da Igreja de São Francisco, em São João del-Rei (Aleijadinho)
326
E.O. Aprendizagem TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
A partida de Belém, como Vossa Alteza sabe,
foi segunda-feira, 9 de março. [...] E domin-
1. “A feição deles é serem pardos, um tanto
go, 22 do dito mês, às dez horas, pouco mais
avermelhados, de bons rostos e bons nari-
zes, bem feitos. Andam nus, sem cobertura ou menos, houvemos vista das ilhas de Cabo
alguma. Nem fazem mais caso de encobrir Verde, ou melhor, da ilha de S. Nicolau [...]. E
ou deixa de encobrir suas vergonhas do que assim seguimos nosso caminho por este mar
de mostrar a cara. Acerca disso são de grande de longo, até que, terça-feira das Oitavas de
inocência. Ambos traziam o beiço de baixo Páscoa, que foram vinte e um dias de abril,
furado e metido nele um osso verdadeiro, estando da 8dita ilha obra de 660 léguas, se-
de comprimento de uma mão travessa, e da gundo os pilotos diziam, 1topamos alguns si-
grossura de um fuso de algodão, agudo na nais de terra, os quais eram muita quantida-
ponta como um furador.” de de 5ervas compridas, a que os 4mareantes
Carta de Pero Vaz de Caminha. Disponível em: <www. chamam 6botelho [...]. E quarta-feira seguin-
dominiopublico.com.br>. Acesso em: 4 dez. 2012. te, pela manhã, topamos aves a que chamam
7
fura-buxos. Neste dia, a horas de véspera,
O trecho acima pertence a um dos primei-
ros escritos considerados como pertencentes
2
houvemos vista de terra! 9Primeiramente
à literatura brasileira. Do ponto de vista da dum grande monte, mui alto e redondo [...];
evolução histórica, trata-se de literatura: ao monte alto o capitão pôs o nome de 3O
a) de informação. Monte Pascoal, e à terra, A Terra de Vera Cruz.
b) de cordel. Carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal
c) naturalista.
d) ambientalista. 3. Assinale a alternativa CORRETA acerca do texto.
e) árcade. a) Trata-se de documento histórico que inau-
gura, em Portugal, um novo gênero literário:
2. O movimento literário que retrata as ma- a literatura epistolar.
nifestações literárias produzidas no Brasil b) Exemplifica a literatura produzida pelos je-
à época de seu descobrimento e durante o suítas brasileiros na colônia e que teve como
século XVI, é conhecido como Quinhentismo objetivo principal a catequese do silvícola.
ou Literatura de Informação. c) Apesar de não ter natureza especificamente
Analise as proposições em relação a este período. artística, interessa à história da literatura
I. A produção literária no Brasil, no século brasileira na medida em que espelha a lin-
XVI, era restrita às literaturas de viagens guagem e a respectiva visão de mundo que
e jesuíticas de caráter religioso. nos legaram os primeiros colonizadores.
II. A obra literária jesuítica, relacionada às d) Pertence à chamada crônica histórica, pro-
atividades catequéticas e pedagógicas,
duzida no Brasil durante a época colonial,
raramente assume um caráter apenas ar-
com objetivos políticos: criar a imagem de
tístico. O nome mais destacado é o do pa-
dre José de Anchieta. um país soberano, emancipado, em condi-
III. O nome Quinhentismo está ligado a um ções de rivalizar com a metrópole. É um dos
referencial cronológico − as manifesta- exemplos de registros oficiais escritos por
ções literárias no Brasil tiveram início em historiadores brasileiros durante o século
1500, época da colonização portuguesa − XVII, nos quais se observam, como caracte-
e não a um referencial estético. rística literária, traços do estilo barroco.
IV. As produções literárias neste período
prendem-se à literatura portuguesa, in- 4. Assinale com V (verdadeiro) ou F (falso) as
tegrando o conjunto das chamadas lite- afirmações a seguir sobre a Literatura de In-
raturas de viagens ultramarinas, e aos formação no Brasil.
valores da cultura greco-latina. ( ) A carta de Pero Vaz de Caminha, enviada ao
V. As produções literárias deste período rei D. Manuel I, circulou amplamente entre
constituem um painel da vida dos anos
a nobreza e o povo português da época.
iniciais do Brasil colônia, retratando os
( ) Os textos informativos apresentavam, em
primeiros contatos entre os europeus e a
realidade da nova terra. geral, uma estrutura narrativa, pois esta
Assinale a alternativa correta. se adaptava melhor aos objetivos dos au-
a) Somente as afirmativas I, IV e V são verdadeiras. tores de falar sobre coisas que viam.
b) Somente a afirmativa II é verdadeira. ( ) Os textos que informavam sobre o Novo
c) Somente as afirmativas I, II, III e V são ver- Mundo despertavam grande curiosidade
dadeiras. entre o público europeu, estando os de
d) Somente as afirmativas III e IV são verdadeiras. Américo Vespúcio entre os mais divulga-
e) Todas as afirmativas são verdadeiras. dos no início do século XVI.
327
( ) Pero de Magalhães Gandavo é o autor A suposta ameaça 7à fibra natural não é o
dos textos “Tratado da Terra do Brasil” e desajeitado e-book, mas o papel eletrônico,
“História da Província Santa Cruz a que uma ‘folha’ que você carregaria dobrada no
Vulgarmente chamamos de Brasil”. bolso. Ela seria capaz de mostrar o jornal do
A sequência correta de preenchimento dos dia – com vídeos, fotos e notícias 8atualiza-
parênteses, de cima para baixo, é: das –, o livro que você estivesse lendo ou
a) V – F – V – V. qualquer informação antes impressa. Tudo
b) V – F – F – F.
ali. Desde os anos 70, está no ar a 5ideia de
c) F – V – V – V.
papel eletrônico, mas as últimas novidades
d) F – F – V – V.
e) V – V – F – F. são de duas semanas atrás. Cientistas holan-
deses anunciaram que estão perto de criar
5. Todas as alternativas são corretas sobre o Pa- uma tela com ‘quase todas’ as propriedades
dre José de Anchieta, EXCETO: do papel: 3leveza, flexibilidade, 4clareza, etc.
a) Foi o mais importante jesuíta em atividade A novidade que deixa o invento um pouco
no Brasil do século XVI. mais palpável está nos transistores. No papel
b) Foi o grande orador sacro da língua portu- do futuro, eles não serão de 6silício, mas de
guesa, com seus sermões barrocos. plástico – que é maleável e barato.
c) Estudou o tupi-guarani, escrevendo uma car- Os holandeses dizem já ter um protótipo que
tilha sobre a gramática da língua dos nativos. mostra imagens em movimento em uma tela
d) Escreveu tanto uma literatura de caráter in-
de duas polegadas, ainda que de qualidade
formativo como de caráter pedagógico.
e) Suas peças apresentam sempre o duelo entre
1
’meia-boca’.
anjos e diabos. 2
Mas não vá celebrando o fim do desmata-
mento e do peso na mochila. A expectativa
6. Sobre José de Anchieta é incorreto afirmar que: é que um papel eletrônico mais ou menos
a) cultivou especialmente os autos, buscan-
convincente apareça só daqui a cinco anos.
do, na alegoria, tornar mais acessíveis às
Folha de S. Paulo, 17 dez. 2001. Folhateen, p. 10.
mentes indígenas os conceitos e os dogmas
do cristianismo.
b) no teatro, o “Auto de São Lourenço” des- 8. (IFCE) Em uma das opções, a afirmação refe-
taca-se como obra catequética de influên- re-se ao Barroco.
cia medieval. a) O homem se mostra feliz consigo mesmo e se
c) na poesia lírica encontram-se suas mais belas
acha o centro do mundo.
composições, expressivas de uma fé profunda.
b) As mensagens dos textos revelam que o ho-
d) apesar de pautada na língua e na cultura do
mem está angustiado e dividido entre o bem
índio, sua produção literária não se caracteri-
e o mal, a matéria e o espírito.
za como literatura já tipicamente brasileira.
c) O estilo era simples e, nos textos, prevalecia
e) sua obra teatral, marcadamente alegórica
a objetividade.
e antirreligiosa, moldou-se nos padrões re-
d) Os textos traziam mensagens de otimismo e
nascentistas.
baseavam-se no princípio de “gozar a vida”.
e) Os escritores, embora vivessem na cidade,
7. (IFSP) O culto exagerado da forma, o rebus-
recomendavam a vida no campo.
camento, a riqueza de pormenores, o conflito
entre o profano e o sagrado são características:
a) do Renascimento. 9. (FGV) Foi um movimento literário do século
b) da Ilustração. XVII, nascido da crise de valores renascen-
c) do Realismo. tistas. Caracteriza-se na literatura pelo culto
d) do Barroco. dos contrastes, a preocupação com o porme-
e) do Simbolismo. nor e a sobrecarga de figuras como a metáfo-
ra, as antíteses, hipérboles e alegorias. Essa
TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO linguagem conflituosa reflete a consciência
dos estados contraditórios da condição hu-
VELHO PAPEL PODE ESTAR COM OS ANOS
mana. Trata-se do:
CONTADOS
a) Romantismo.
Já imaginou, daqui a algumas décadas, seu b) Trovadorismo.
neto lhe perguntando o que era papel? Pois c) Humanismo.
é, alguns pesquisadores já estão trabalhando d) Realismo.
para que esse dia chegue logo. e) Barroco.
328
1
0. (UFRGS) Assinale com V (verdadeiro) ou F Sempre se há de sentir o que se fala.”
(falso) a afirmações abaixo sobre os dois Está(ão) correta(s):
grandes nomes do barroco brasileiro. a) apenas I.
( ) A obra poética de Gregório de Matos os- b) apenas I e II.
cila entre os valores transcendentais e c) apenas III.
os valores mundanos, exemplificando as d) apenas I e III.
tensões do seu tempo. e) apenas II e III.
( ) Os sermões do Padre Vieira caracteriza-
mse por uma construção de imagens des- TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO
dobradas em numerosos exemplos que vi- UMAS E OUTRAS
sam a enfatizar o conteúdo da pregação. Se uma nunca tem sorriso É pra melhor se
( ) Gregório de Matos e o Padre Vieira, em reservar E diz que espera o paraíso
seus poemas e sermões, mostram exacer- E a hora de desabafar
bados sentimentos patrióticos expressos A vida é feita de um rosário
em linguagem barroca. Que custa tanto a se acabar
( ) A produção satírica de Gregório de Matos e o Por isso, às vezes ela para
tom dos sermões do Padre Vieira represen- E senta um pouco pra chorar
tam duas faces da alma barroca no Brasil. Que dia! Nossa!
( ) O poeta e o pregador alertam os contem- Pra que tanta conta
porâneos para o desvio operado pela retó- Já perdi a conta de tanto rezar. Se a outra
rica retumbante e vazia. não tem paraíso
A sequência correta de preenchimento dos Não dá muita importância, não. Pois já for-
parênteses, de cima para baixo, é: jou o seu sorriso
a) V – F – F – F – F. E fez do mesmo profissão
b) V – V – V – V – F. A vida é sempre aquela dança
c) V – V – F – V – F. Onde não se escolhe o par
d) F – F – V – V – V. Por isso, às vezes ela cansa
e) F – F – F – V – V. E senta um pouco pra chorar
Que dia! Puxa!
Que vida danada
E.O. Fixação Tem tanta calçada pra se caminhar. Mas toda
santa madrugada
Quando uma já sonhou com Deus
1. A chamada atividade literária das primeiras E a outra, triste enamorada.
décadas de nossa formação histórica carac- Coitada, já deitou com os seus,
terizou-se por seu cunho pragmático estrito, O acaso faz com que essas duas,
seja a circunscrita ao parâmetro jesuítico, Que a sorte sempre separou,
seja a decorrente de viagens de reconheci- Se cruzem numa mesma rua
mento e informação da terra. Olhando-se com a mesma dor.
São representantes dos dois tipos de ativida- Que dia! Nossa!
de literária referidos no excerto acima: Pra que tanta conta
a) Gregório de Matos e Cláudio Manuel da Costa. Já perdi a conta de tanto rezar...
b) Antônio Vieira e Tomás Antônio Gonzaga. Que dia! Puxa!
c) José de Anchieta e Gabriel Soares de Sousa. Que vida danada
d) Bento Teixeira e Gonçalves de Magalhães. Tem tanta calçada para se caminhar.
e) Basílio da Gama e Gonçalves Dias. Outro dia! Puxa!
Que vida comprida
2. (UFSM) A desarmonia e a contradição são Pra que tanta vida
Pra gente viver...
características predominantes no Barroco.
Que dia...
Observe os fragmentos poéticos de Gregório
BUARQUE DE HOLANDA, Chico. Umas e outras.
de Matos, a seguir transcritos, e verifique In: Grandes sucessos de Chico Buarque. LP,
qual(quais) confirma(m) essas características. Premier/RGE, 1962. l.2. faixa 6.
I. “Amanheceu o dia prometido,/famoso,
alegre, claro e prazenteiro;/bom dia, dis-
se eu, para viagem.” 3. (CFTCE) Há, no texto, uma característica tí
II. “O ódio é da alma infame companhia/a pica do estilo de época chamado:
paz deixou-a Deus à cristandade;/mas ar- a) Barroco.
rastar por força uma vontade,/em vez de b) Trovadorismo.
caridade é tirania.” c) Arcadismo.
III. “De que pode servir falar quem cala?/ d) Classicismo.
Nunca se há de falar o que se sente,/ e) Literatura de Informação ou dos Jesuítas.
329
4. (CFTMG) O Barroco, estilo dominante no sé- 8. (Santa Casa) A preocupação com a brevidade
culo XVII, relaciona-se à(ao): da vida induz o poeta barroco a assumir uma
a) ideal do liberalismo e da democracia no atitude que:
Ocidente. a) descrê da misericórdia divina e contesta os
b) evolucionismo, com sua doutrina de seleção valores da religião.
natural. b) desiste de lutar contra o tempo, menospre-
c) Contra-Reforma, na tentativa de retomar a zando a mocidade e a beleza.
tradição cristã. c) se deixa subjugar pelo desânimo e pela apa-
d) reaproximação do autor com a natureza se- tia dos céticos.
rena e bucólica. d) se revolta contra os insondáveis desígnios
de Deus.
5. (CFTMG) São características do Barroco, exceto: e) quer gozar ao máximo seus dias, enquanto a
a) sentimento repleto de contradições. mocidade dura.
b) soberania da razão em detrimento do conflito.
c) linguagem obscura e expressão indireta das
9. Com referência ao Barroco, todas as alterna
ideias.
tivas são corretas, exceto:
d) tempo interligado ao fim da beleza e ao
a) O Barroco estabelece contradições entre es-
tema da morte.
pírito e carne, alma e corpo, morte e vida.
b) O homem centra suas preocupações em seu
6. (UFV) Considere as afirmações que se se-
guem. Todas elas vinculam a poesia de Gre- próprio ser, tendo em mira seu aprimora-
gório de Matos aos princípios estéticos e ide- mento, com base na cultura greco-latina.
ológicos do Barroco brasileiro, EXCETO: c) O Barroco apresenta, como característica
a) A vertente lírica da poética de Gregório de marcante, o espírito de tensão, conflito en-
Matos cultuou o amor feito de pequenos tre tendências opostas: de um lado, o teo-
afetos, da meiga ternura e dos torneios gen- centrismo medieval e, de outro, o antropo-
tis, tendo como cenário o ambiente campes- centrismo renascentista.
tre e pastoril. d) A arte barroca é vinculada à Contrarreforma.
b) O “Boca do Inferno” insurgiu-se não só con- e) O Barroco caracteriza-se pela sintaxe obscu-
tra os desmandos administrativos e políti- ra, uso de hipérbole e de metáforas.
cos da Bahia do século XVII, mas contra o
próprio ser humano, que, na concepção do 1
0. No Brasil, o Barroco foi introduzido por
poeta, é por natureza corrupto e mau. qual poeta:
c) Os poemas religiosos de Gregório de Matos a) Gregório de Matos.
fundiram a contemplação da divindade, o b) Mário de Andrade.
complexo de culpa, o desejo de arrependi- c) Bento Teixeira.
mento e o horror de ser pó, sensações, enfim, d) Camões.
frequentes no atormentado espírito barroco. e) Bocage
d) O significado social do Barroco brasileiro foi
marcante, uma vez que a poesia de Gregório
de Matos revestiu-se de alto sentido crítico
aos vícios e violências da sociedade colonial.
E.O. Complementar
e) A produção literária de Gregório de Matos
1. (Fatec) “...milhões de palavras ditas com es-
dividiu-se entre a temática lírico-religiosa e
uma visão crítica das mazelas sociais oriun- forço de pensamento.”
das do processo de colonização no Brasil. Essa passagem do texto faz referência a um
traço da linguagem barroca presente na obra
7. Escolha a alternativa que completa de forma de Vieira; trata-se do:
correta a frase abaixo: a) gongorismo, caracterizado pelo jogo de ideias.
A linguagem _____, o paradoxo, _____ e o re- b) cultismo, caracterizado pela exploração da
gistro das impressões sensoriais são recursos sonoridade das palavras.
linguísticos presentes na poesia _____. c) cultismo, caracterizado pelo conflito entre
a) simples – a antítese – parnasiana fé e razão.
b) rebuscada – a antítese – barroca d) conceptismo, caracterizado pelo vocabulário
c) objetiva – a metáfora – simbolista preciosista e pela exploração de aliterações.
d) subjetiva – o verso livre – romântica e) conceptismo, caracterizado pela exploração
e) detalhada – o subjetivismo – simbolista das relações lógicas, da argumentação.
330
2. Assinale a alternativa INCORRETA. ( ) O Barroco é o primeiro grande período
a) Na obra de José de Anchieta, encontram-se artístico no Brasil. Nas artes plásticas há
poesias seguindo a tradição medieval e textos destaque para a figura do Aleijadinho; na
para teatro com clara intenção catequista. Literatura, para o poeta Gregório de Ma-
b) A literatura informativa do Quinhentismo tos Guerra.
brasileiro empenha-se em fazer um levan- ( ) O Neoclassicismo, movimento estético
tamento da terra, daí ser predominante- propenso a um retorno aos ideais es-
mente descritiva. pirituais e artísticos do Renascimento,
c) A literatura seiscentista reflete um dualis- corresponde a uma tendência contrária
mo: o ser humano dividido entre a matéria e ao barroquismo.
o espírito, o pecado e o perdão. ( ) No texto barroco, a linguagem é retorci-
d) O Barroco apresenta estados de alma ex- da, com bastantes jogos verbais, enfati-
pressos através de antíteses, paradoxos, in- zando a prolixidade e o estilo confuso.
terrogações. ( ) No texto neoclássico, a linguagem é ra-
e) O Conceptismo caracteriza-se pela linguagem cional, as imagens são conhecidas e repe-
rebuscada, culta, extravagante, enquanto o tidas (chavões, lugares-comuns).
Cultismo é marcado pelo jogo de ideias, se- ( ) No Barroco, tanto quanto no Neoclassicis-
guindo um raciocínio lógico, racionalista. mo, os poetas abordaram aspectos como
dúvida, angústia e tédio, sob a forma de
3. O soneto a seguir é representativo da estética: um sentimentalismo lacrimoso.
Não vira em minha vida a formosura,
Ouvia falar nela cada dia, 5. (UEL) O século XVI deve ser reconhecido, na
E ouvida me incitava, e me movia história da literatura brasileira, como um
A querer ver tão bela arquitetura: período de:
a) manifestações literárias voltadas basicamen-
Ontem a vi por minha desventura te para a informação sobre a colônia e para a
Na cara, no bom ar, na galhardia catequese dos nativos.
De uma mulher, que em anjo se mentia; b) amadurecimento dos sentimentos nacio-
De um sol, que se trajava em criatura: nalistas que logo viriam a se expressar no
Romantismo.
Matem-me, disse eu, vendo abrasar-me,
c) exaltação da cultura indígena, tema cen-
Se esta cousa não é, que encarecer-me
tral dos poemas épicos de Basílio da Gama e
Sabia o mundo, e tanto exagerar-me!
Santa Rita Durão.
Olhos meus, disse então por defender-me, d) esgotamento do estilo e dos temas barrocos,
Se a beleza heis de ver para matar-me, superados pelos ideais estéticos do Arcadismo.
Antes olhos cegueis, do que eu perder-me. e) valorização dos textos cômicos e satíricos,
a) barroca. em que foi mestre Gregório de Matos.
b) simbolista.
c) romântica.
d) parnasiana. E.O. Dissertativo
e) árcade.
1. Leia estes trechos:
4. (UFPE) Observe: TRECHO 1
“Descoberto em 1500, no século que, em Colombo sabe perfeitamente que as ilhas já
Portugal, dominava o Classicismo, o Brasil, têm nome, de uma certa forma, nomes na-
por muitas causas, não teve condições de dar turais (mas em outra acepção do termo) as
início à colonização e ao processo cultural. palavras dos outros, entretanto, não lhe in-
Entre as raras manifestações literárias do sé- teressam muito, e ele quer rebatizar os luga-
culo, destaca-se o teatro jesuítico. res em função do lugar que ocupam em sua
A obra de colonização do Brasil, iniciada descoberta, dar-lhes nomes justos a nomea-
propriamente por Martim Afonso em 1530, ção, além disso, equivale a tomar posse.
já pelos inconvenientes do sistema, já por TODOROV, Tzevetan. A conquista da América.
outros motivos fáceis de entender, mais di- São Paulo: Martins Fontes, 1993. p. 27.
ficultosa se tornaria, não fosse a colaboração
oportuna e decisiva dos jesuítas.” ]TRECHO 2[
Faraco e Moura, em Língua e Literatura [...] e a quarta-feira seguinte, pela manhã,
topamos aves a que chamam fura-buchos
A partir de então, surgem dois movimentos e neste dia, a horas de véspera, houvemos
que ainda não podem ser considerados lite- vista de terra, a saber: primeiramente dum
ratura propriamente brasileira. grande monte mui alto e redondo, e de outras
331
serras mais baixas ao sul dele, e de terra chã TEXTO PARA AS QUESTÕES 8 E 9
com grandes arvoredos: ao qual monte alto o ]MULHER AO ESPELHO[
Capitão pôs nome o Monte Pascoal, e à terra Hoje, que seja esta ou aquela, pouco me
a Terra da Vera Cruz. importa.
CAMINHA. Pero Vaz de. Carta ao Rei Dom ManueI. Quero apenas parecer bela, pois, seja qual
Belo Horizonte: Crisálida, 2002. p. 17. for, estou morta. Já fui loura, já fui more-
na, já fui Margarida e Beatriz. Já fui Maria
Explicite, comparando os dois trechos, a re-
e Madalena.
lação existente entre os atos de nomear e
Só não pude ser como quis.
tomar posse.
Que mal faz, esta cor fingida do meu cabelo,
e do meu rosto, se tudo é tinta: o mundo, a
2. A partir da leitura do texto Carta a el-Rei vida, o contentamento, o desgosto? Por fora,
Dom Manuel sobre o achamento do Brasil, serei como queira a moda, que me vai ma-
responda: como é a descrição dos primeiros tando. Que me levem pele e caveira ao nada,
índios feita por Pero Vaz de Caminha no li- não me importa quando. Mas quem viu, tão
toral brasileiro? dilacerados, olhos, braços e sonhos seus, e
morreu pelos seus pecados, falará com Deus.
3. A respeito de Padre Anchieta, responda: Falará, coberta de luzes, do alto penteado
além da vinda para o Brasil para auxiliar na ao rubro artelho. Porque uns expiram sobre
catequização dos índios mediante a compo- cruzes, outros, buscando-se no espelho.
sição de peças de teatro, qual a outra maior MEIRELES, Cecília. Poesias Completa. Rio de
contribuição com relação à difusão da educa- Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.
ção dos índios tupis feita pelo jesuíta? A temática e alguns procedimentos caracte-
rísticos do Barroco no século XVII foram re-
4. Quais foram as duas manifestações literárias tomados no poema de Cecília Meireles.
do Quinhentismo no Brasil?
8. O questionamento das concepções do senso
5. Quem começou a literatura de informação? comum quanto à vaidade sugere uma preo-
Qual era o seu objetivo? cupação também existente entre os autores
barrocos. Identifique, no poema, um aspecto
6. Como os jesuítas se aproximaram dos po- da vaidade apresentado negativamente e ou-
vos indígenas? tro apresentado positivamente.
332
TEXTO II Com contornos assimétricos, riqueza de detalhes
nas vestes e nas feições, a escultura barroca no Bra-
sil tem forte influência do rococó europeu e está
representada aqui por um dos profetas do pátio do
Santuário do Bom Jesus de Matosinho, em Congo-
nhas, (MG), esculpido em pedra-sabão por Aleijadi-
nho. Profundamente religiosa, sua obra revela:
a) liberdade, representando a vida de mineiros à
procura da salvação.
b) credibilidade, atendendo a encomendas dos no-
bres de Minas Gerais.
c) simplicidade, demonstrando compromisso com a
contemplação do divino.
d) personalidade, modelando uma imagem sacra
com feições populares.
PORTINARI, C. O descobrimento do Brasil. 1956. Óleo
e) singularidade, esculpindo personalidade do reina-
sobre tela, 199 × 169 cm. Disponível em: <www. do nas obras divinas.
portinari.org.br>. Acesso em: 12 jun. 2013.
333
d) marcado pela necessidade dos colonizadores de São exemplos do que o texto afirma:
obterem matéria-prima para suas indústrias e am- a) a pintura e a escultura renascentistas.
pliarem o mercado consumidor para sua produção b) a poesia e a pintura românticas.
industrial, o que levou à busca por colônias e à c) a arquitetura barroca e a poesia árcade.
integração cultural das populações nativas. d) a literatura de viagem e a arquitetura gótica.
e) a música romântica e o teatro barroco.
2. (Unesp) Observe a figura e leia o texto.
4. (Fuvest) O barroco no Brasil foi
a) uma manifestação artística de caráter reli-
gioso limitada às regiões de mineração.
b) uma expressão artística de origem europeia
reelaborada e adaptada às condições locais.
c) um estilo original na pintura, mantendo a
tradição manuelina nas edificações.
d) uma criação artística popular predominante
em todo o Brasil colônia e no império.
e) uma produção artística, imposta pelo modelo
absolutista português, na época da mineração.
334
Quando vejo, Senhor, que às alimárias1 a ser usada como instrumento para posse do
Da terra, da água, do ar, – peixe, ave, bruto –, novo território.
Não lhe esquece jamais o alto estatuto 2. A primeira menção aos índios se inicia no
Das leis que lhes pusestes ordinárias; trecho “E dali avistamos homens que anda-
vam pela praia, uns sete ou oito, segundo
E logo vejo quantas artes2 várias disseram os navios pequenos que chegaram
O homem racional, próvido3 e astuto, primeiro.” A partir de então, Caminha pro-
Põe em obrar, ingrato e resoluto, cede com a descrição dos nativos e se mostra
Obras que a vossas leis são tão contrárias:
impressionado com a beleza e com o aspecto
diferente dos índios, principalmente no que
Ou me esquece quem sois ou quem eu era;
concerne ao vestuário, ao cabelo, à cor da
Pois do que me mandais tanto me esqueço,
Como se a vós e a mi não conhecera. pele e aos adereços do corpo. Caminha tam-
bém se mostra impressionado com o fato de
Com razão logo por favor vos peço que os índios não pareciam incomodados ao
Que, pois homem tal sou, me façais fera, mostrar suas partes íntimas o que, segundo
A ver se assi melhor vos obedeço. Caminha, era um sinal de inocência.
A tuba de Calíope, 1988. 3. Uma das maiores contribuições do Padre An-
chieta foi a elaboração da primeira gramáti-
1
alimária: animal irracional. ca da língua tupi (a mais falada pelos índios
2
arte: astúcia, ardil. na costa brasileira) para auxiliar os catequi-
3
próvido: providente, que se previne, zadores na evangelização.
previdente, precavido. 4. O Quinhentismo pode ser identificado em
duas etapas: A literatura de informação pro-
1. (Unesp) Que contraste é explorado pelo po- duzida pelos navegantes para relatar suas
ema como base da argumentação? Justifique viagens, e a literatura jesuítica que tinha o
sua resposta. Considerando também outros objetivo de catequizar os povos indígenas.
aspectos, em que movimento literário o poe- 5. A literatura de informação começou com a
ma se enquadra? Carta de Pero Vaz Caminha para o rei de Por-
tugal D. Manuel, relatando sobre as caracte-
Gabarito 6.
rísticas da nova terra.
Os jesuítas se aproximaram dos índios usan-
do peças teatrais, criando cantigas e tradu-
zindo textos para a língua tupi e/ou guarani.
E.O. Aprendizagem 7. O poeta tem consciência de que o mundo ter-
1. A 2. C 3. C 4. D 5. B reno é efêmero e vão; o sentimento de nuli-
dade diante do poder divino.
6. E 7. D 8. B 9. E 10. C 8. A moda que destrói o corpo e a alma de quem
a segue.
E.O. Fixação A consciência da destruição pela vaidade
elevará o indivíduo até Deus.
1. C 2. E 3. A 4. C 5. B 9. Um dentre os contrastes:
§§ vida e morte
6. A 7. B 8. E 9. B 10. C
§§ juventude e velhice
§§ essência e aparência
E.O. Complementar 10. O Cultismo consiste em o jogo de palavras,
preciosismo vocabular, erudição e rebusca-
1. E 2. E 3. A 4. V V V V F 5. A mento da forma. O conceptismo pauta-se em
argumentos que se centram na razão, conci-
E.O. Dissertativo so, ordenado sob os mecanismos da lógica.
1.
Além da acepção de “dar nome aos seres”,
o verbo “nomear” pode ser entendido como E.O. Enem
designar alguém para um cargo, dar direi-
1. C 2. D
to de posse. É com este sentido que Todorov
Tzevetan o utiliza para analisar o compor-
tamento do colonizador ao apoderar-se das
terras que pertenciam a povos com culturas
E.O. Objetivas
e linguagens diferentes. Ao substituir os no- (Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp))
mes originais dos aborígines pelos dos do- 1. B 2. E 3. C 4. B 5. C
minadores, impõe-se ao dominado a neces-
sidade do ensino da nova língua que passa 6. D
335
E.O. Dissertativas
(Unesp, Fuvest, Unicamp e Unifesp)
1. O contraste explorado pelo poema como base
da argumentação é entre o animal, que, por
ser irracional, obedeceria a Deus sem questio-
namentos, e o homem, cuja racionalidade leva
à prática de obras contrárias às leis divinas. O
culto aos contrastes, que costuma culminar no
uso de aliterações e paradoxos, é uma caracte-
rística típica do barroco e vem acompanhado
de outros aspectos comuns a esse movimento:
como a temática religiosa, consequência do
teocentrismo da Contrarreforma católica, o
cultismo (exemplificado pelas inversões sin-
táticas) e o conceptismo (evidenciado pelo
jogo lógico-argumentativo).
336