IBBC - Módulo II - Apostila

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Teologia

Volume II

São Pau lo , ab ril d e 2 0 1 9


Todos os direitos reservados na língua Portuguesa por:
INSTITUTO BÍBLICO O BRASIL PARA CRISTO
Órgão Oficial de Ensino Teológico das Igrejas O Brasil Para Cristo
Fundado em 18 de fevereiro de 1991
Rua Ires Leonor, 24 - Alto do Mandaqui - CEP 02420-090 - São Paulo/SP
(0xx11) 2971 - 3535

Presidente do Conselho Nacional:


Pr. Luiz Fernandes Bergamin

Coordenador Nacional IBBC:


Pr. José Hélio de Lima

Fundador do IBBC:
Pr. Joel Stevanatto

Coordenador Teológico:
Pr. José Hélio de Lima

Revisão Teológica:
Pr. Elias Antônio de Araújo
Pr. Fabiano Gomes

Correção Gramatical:
Pr. Elias Antônio de Araújo

Projeto Grafico, Capa e Diagrmação:


B. J. (foco Editorial)

É proibida a reprodução total ou parcial desta publicação, por qualquer meio ou


forma.

São Paulo, abril de 2019


Cursos

2 Módulos Duração
Básico
12 Disciplinas 1 ano
4 Módulos Duração
Médio
24 Disciplinas 2 ano
6 Módulos Duração
Pleno
36 Disciplinas 3 ano

Módu l o 02

Livros Proféticos
Livros Poéticos
História da Igreja I
Epístolas Paulinas
Cristologia: A doutrina de Cristo
Pneumatologia
Sumário Geral

Livros Proféticos

Introdução 21
1. Isaías 23
2. Jeremias 27
3. Ezequiel 31
4. Daniel 33
5. Oseías 35
6. Joel 40
7. Amós 42
8. Obadias 45
9. Jonas 47
10. Miquéias 50
11. Naum 52
12. Habacuque 54
13. Sofonias 56
14. Ageu 58
15. Zacarias 60
16. Malaquias 62
17. A relação dos profetas e Jesus 64

Livros Poéticos

Introdução 71
1. Jó 73
2. O livro de Salmos 88
3. Provérbios 100
4. Eclesiastes 109
5. Cântico dos Cânticos 112

História da igreja I

Introdução 125
1. O mundo do Novo Testamento 127
2. O judaísmo 136
3. Jesus Cristo – Vida e Obra 142
4. Os apóstolos  146
5. A origem da Igreja em Jerusalém 151
6. Apóstolo Paulo: Vida e obra  157
7. O fim da era apostólica 164
8. A igreja Patrística 170
9. Pais da igreja – Vida e obras 174

Epístolas Paulinas

Introdução 191
1. Autor 193
2. Epístola aos Romanos 195
3. Primeira Epístola aos Coríntios 200
4. Segunda Epístola aos Coríntios 204
5. Espístola aos Gálatas  207
6. Espístola aos Efésios  211
7. Epístola aos Filipenses 215
8. Epístola aos Colossenses 219
9. Primeira Epístola aos Tessalonicenses 222
10. Segunda Epístola aos Tessalonicenses 225
11. Primeira Epístola a Timóteo 229
12. Segunda Epístola a Timóteo 232
13. Epístola a Tito 235
14. Epístola a Filemom 238

Cristologia: A doutrina de Cristo

Introdução 253
1. A Importância de estudar a doutrina de Cristo 255
2. A pessoa de Cristo: Sua humanidade 256
3. A Pessoa de Cristo: Sua Divindade 261
4. A Pessoa de Cristo: Sua Unidade 267
5. A Obra de Cristo: Seu Sofrimento e Morte 271
6. A Obra de Cristo: Significados teológicos da morte de Cristo 275
7. A Obra de Cristo: Sua Ressurreição e Ascensão 280
8. A Obra de Cristo: Seu ministério atual 283
9. A Segunda Vinda de Cristo e a implantação de seu Reinado Eterno 284
Pneumatologia

Introdução 295
1. A divindade do Espírito Santo 297
2. A personalidade do Espírito Santo 300
3. O dinamismo do Espírito Santo 302
4. Os pecados contra a pessoa do Espírito Santo 311
5. O fruto do Espírito Santo 314
6. O revestimento de poder 318
7. Os dons do Espírito Santo 322
Nosso credo

C
remos em Deus, que é único e um só, plena e eternamente subsistente em cada uma das três
Pessoas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo, com perfeita comunhão entre si.
Cremos na inspiração verbal e plena da Bíblia Sagrada, e que a revelação necessária à sal-
vação do homem é expressamente nela estabelecida ou pode dela ser deduzida, o que a faz única regra
infalível de fé normativa para a vida e o caráter cristão, nada podendo qualquer um acrescentar, reformar
ou omitir-lhe sob qualquer alegação.
Cremos que Maria, ainda virgem, achou-se grávida de Jesus Cristo, e que teve depois outros filhos,
sem que, por este ou qualquer outro motivo, lhe devotemos adoração.
Cremos que o filho, achado na forma de homem, manteve-se sem pecado algum, dispondo-se à
morte substitutiva e remidora, ressuscitando corporalmente dentre os mortos e subindo triunfalmente
aos céus.
Cremos que o homem havendo caído em pecado, foi destituído da glória de Deus, e que todos foram
sujeitos à mesma condenação, para que unicamente por Jesus Cristo, desde que em arrependimento e fé
geradora de obras, fossem restaurados a Deus. E que, para tanto, necessitam os homens do novo nasci-
mento, o que ocorre segundo a salvação presente e eterna justificação provida graciosamente por Deus
segundo a fé no sacrifício de Jesus Cristo em seu favor.
Cremos no batismo como ordenamento bíblico determinado por Jesus Cristo, e que deve ser reali-
zado por imersão do corpo inteiro uma só vez em águas, no nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo,
todo aquele que crê.
Cremos que o homem deve e pode viver uma vida de santidade, agradecendo e agradando a Deus, ca-
pacitado pelo Espírito Santo inclusive a ser fiel testemunha de Jesus Cristo, participando da comunhão,
do partir do pão e da comunhão entre os salvos.
Cremos que a Igreja é única e santa, formada pela multidão incontável dos salvos de todos os tempos
e lugares, formando o Corpo de Cristo, sendo edificada pelo Espírito Santo mediante a homens que mi-
nistram segundo ministérios, operações e dons espirituais, bem como pela instrumentalidade da Bíblia
Sagrada, no fundamento dos apóstolos.
Cremos no Batismo com Espírito Santo, como ensina a Bíblia Sagrada, tendo como uma das evi-
dências o falar em outras línguas conforme a sua vontade. Que também são concedidos a Igreja os dons
espirituais pelo Espírito Santo, conforme a sua vontade, sempre com propósitos muito bem definidos e
que convergem à edificação da Igreja e à glorificação de Deus.
Cremos na vinda de Cristo, em duas fases distintas: primeiramente de forma invisível ao mundo e
súbita para a Igreja, arrebatando-a ao Tribunal de Cristo e, em seguida, levando-a às Bodas do Cordeiro;
e, passado algum tempo, de forma visível ao mundo e gloriosa com a Igreja, para reinar por mil anos
sobre a Terra.
Cremos que todos os salvos comparecerão perante o Tribunal de Cristo, unicamente para receber ou
não, a justa recompensa de obras em favor da causa cristã, sem que nisto haja possibilidade de conde-
nação eterna.
Cremos no Juízo Final em que Deus, definitivamente, justificará os fiéis e condenará os infiéis à
eternidade, resultando aos fiéis uma vida de gozo junto a Ele, e aos infiéis o tormento no lago de fogo e
enxofre preparado para Satanás e seus anjos.
Apresentação

E
xistem algumas coisas na vida que somente alcançamos quando andamos em sua direção. Dentre
elas está o conhecimento. Seja científico, profissional, religioso, pessoal ou outro qualquer, sem-
pre será necessário começarmos e irmos até o fim para conseguirmos os nossos objetivos. Quan-
do você chega a este segundo estágio do curso de teologia que foi elaborado por pessoas capacitadas por
Deus e pelas mais diversas instituições de ensino teológico e científico religioso, evidencia-se que você
está fazendo a coisa certa. Não apenas começou como também está disposto (a) a ir até o fim, por isso
quero parabenizá-lo (a) por sua iniciativa e persistência.
Esse segundo módulo foi elaborado para atender as necessidades de alunos como você, por exemplo,
pois sabemos que se você está disposto (a) a aprender mais da Palavra de Deus e confiou à nossa insti-
tuição a sua educação teológica esta tarefa, cabe-nos a missão de procurar fazer o melhor para que você
aprenda o máximo possível e, assim, tenha condições de exercer seu ministério, segundo o chamado do
Mestre Jesus. Pois compreendemos que o IBBC não é um negócio, ainda que envolva dinheiro e gestão
empresarial, mas um ministério dado por Deus para preparar seus obreiros em todo território brasileiro.
Nessa etapa, disponibilizamos para nossos alunos (as) mais seis disciplinas que darão prosseguimento
ao processo educacional teológico, entre as quais está a primeira parte da “História da Igreja” que será
oferecida em três módulos diferentes, sendo que todas foram escritas pelo teólogo e pesquisador brasil-
paracristano, Pr. Elias Antônio de Araújo que, em minha modesta opinião, é um dos mais competentes
escritores de material teológico de nossa denominação a quem temos muito que agradecer por seus
esforços e dedicação em prol do Reino de Deus.
Com este material segue também o nosso pedido a Deus para que, pelo seu Espírito Santo, Ele te ca-
pacite e te dê força física e espiritual para que se tenha o máximo de aproveitamento desse módulo. Que
Ele também conceda sabedoria e poder do alto para vida de nossos professores que serão ministrantes
das disciplinas contidas nesse livro.
Em nome do Mestre dos mestres, seu conservo,
Pr. José Hélio de Lima
Coordenador Nacional do IBBC
Presidente do Conselho Nacional, Pr. Luiz Fernandes Bergamin.
Julho de 2017
Como estudar este livro

V
ocê tem em mãos um livro contendo algumas disciplinas do saber teológico. Quando desen-
volvíamos estas matérias tínhamos no coração o desejo de colocar no papel, da maneira mais
simples, fácil e prática possível.
Organizamos estudos específicos com a finalidade de prepararmos obreiros para a seara do Senhor
Jesus, que certa ocasião olhando para o sofrimento dos homens, disse: “... A seara é grande, mas os
ceifeiros são poucos. Rogai, pois, ao Senhor da seara que envie ceifeiros para sua seara” (Mt 9.37,38).
Porém, o trabalhador precisa conhecer sua atividade específica, inclusive as ferramentas que ele vai
utilizar no dia a dia para execução de suas tarefas. Por isso, Jesus dedicou os últimos três anos de sua vida
preparando discípulos, e oferecendo a eles as ferramentas que iriam usar para cumprirem seus papéis;
isto é, os ensinando como serem pastores, presbíteros, evangelistas, missionários (apóstolos) e diáconos.
É por esta razão que o IBBC existe com um trabalho árduo e contínuo, aprofundando o seu conhe-
cimento.
Agora, para que você aproveite este material, siga algumas orientações citadas abaixo:
1. Ore antes, durante e depois de estudar, inclusive por nós da direção nacional; pedindo sempre
para que o Espírito Santo abra a sua mente e lhe dê sabedoria para aprender, compreender e pôr
em prática as verdades de Sua Palavra; capacitando-nos.
2. Não aparte de ti a Bíblia Sagrada, mesmo que a disciplina não exija e a leia dentro e fora da sala
de aula;
3. Leia as lições antes de ir para a aula, assim você terá oportunidade de fazer do encontro um mo-
mento de discussão sobre os assuntos mais difíceis, e tirar as suas dúvidas;
4. Façam todas as questões das atividades sugeridas que se encontram nas RECAPITULAÇÕES de
cada unidade estudada.
5. (Explicarei no final como respondê-las.).
6. Responda todas as REVISÕES GERAIS que ficam no final de cada disciplina, porque, além
de reforçar o aprendizado, você terá que fazer uma avaliação no final de cada disciplina que foi
elaborada e será corrigida pelo IBBC Nacional, onde o conteúdo será tirado da revisão geral de
cada disciplina,
7. Finalmente, não deixe de contribuir financeiramente para o IBBC, local onde você cursa. Uma
parte do valor das mensalidades pagas para as extensões é direcionada para o IBBC Nacional; e,
dessa forma, consegue-se dar continuidade e expandir o ensino teológico nas Igrejas do Nosso
Senhor Jesus Cristo.
Explicações sobre as recapitulações
O primeiro número indica a sequência progressiva de questões;
A letra R indica - Recapitulação;
O segundo número indica o tópico ou capítulo o qual você encontrará a resposta.
Exemplo: 1R4.
1
R
4
Espera-se que através deste livro, você possa aprofundar seu conhecimento no tocante a
palavra de Deus, e obtenha vitórias e aprovações no exercício de seu ministério.
Desejo que Deus o abençoe!

Em nome do Mestre dos mestres,

Pr. José Hélio de Lima


Coordenador Nacional do IBBC
Livros
Proféticos

Autoria
Elton Egydio Alves - Mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo-
UMESP, E Teólogo pela Universidade Presbiteriana Mackenzie - SP.
Sumário

Introdução 21

1. Isaías 23
1.1. Autoria 23
1.2. Contexto da Época 23
1.3. Propósito e Mensagem 24
1.4. Temas Principais 24
1.5. Esboço do livro  25
1.6. Relevância para a Igreja Hoje 26

2. Jeremias 27
2.1. O caráter do profeta 27
2.2. Autoria 28
2.3. Contexto da época 28
2.4. Propósito e mensagem 28
2.5. Temas Principais 29
2.5. Esboço do Livro 30
2.6. Relevância para a Igreja Hoje 30

3. Ezequiel 31
3.1. Conceitos Básicos 31
3.2. Composição do Livro 31
3.3. Contexto da Época 31
3.4. Propósito e Mensagem 32
3.5. Tema Principal 32

4. Daniel 33
4.1. Conceitos Básicos 33
4.2. Composição do Livro 33
4.3. Contexto da Época 33
4.4. Propósito e Mensagem 34
4.5. Estrutura e Organização 34

5. Oseías 35
5.1. Conceitos Básicos 35
5.2. Contexto da Época 35
5.3. Esboço 35
5.4. Características Literárias 36
5.5. Palístrofe de Oséias 36
5.6. Temas Principais 37
5.7. Linguagem figurada 39
5.8. Conclusão 39

6. Joel 40
6.1. Conceitos Básicos 40
6.2. Autoria e Composição 40
6.3. Esboço 40
6.4. Propósito e Mensagem 41
6.5. Temas Principais 41

7. Amós 42
7.1. Conceitos Básicos 42
7.2. Autoria  42
7.3. Contexto da Época 42
7.4. Esboço 43
7.5. Propósito e mensagem 43
7.6. Tema principal 43

8. Obadias 45
8.1. Conceitos Básicos 45
8.2. Composição do Livro 45
8.3. Temas Principais 46

9. Jonas 47
9.1. Autoria 47
9.2. Contexto da Época 47
9.3. Propósito e Mensagem 47
9.4. Profecia 47
9.5. Temas principais 48
9.6. Esboço 49
9.7. Relevância para a Igreja Hoje 49

10. Miquéias 50
10.1. Conceitos Básicos 50
10.2. Contexto da Época 50
10.3. Propósito e Mensagem 50

11. Naum 52
11.1. Conceitos Básicos 52
11.2. Contexto da Época 52
11.3. Esboço 52
11.4. Propósito e Mensagem 53
12. Habacuque 54
12.1. Conceitos Básicos 54
12.2. Contexto da Época 54
12.3. Esboço 54
12.4. Propósito e Mensagem 55
12.5. Tema Principal 55
12.6. Conclusão 55

13. Sofonias 56
13.1. Conceitos Básicos 56
13.2. Composição do livro 56
13.3. Contexto da Época 56
13.4. Propósito e Mensagem 56
13.5. Estrutura e Organização 57
13.6. Tema Principal 57

14. Ageu 58
14.1. Composição do Livro 58
14.2. Contexto da Época 58
14.3. Propósito e Mensagem 58
14.4. Tema Principal 59

15. Zacarias 60
15.1. Contexto da Época 60
15.2. Propósito e Mensagem 61
15.3. Temas Principais 61

16. Malaquias 62
16.1. Composição do Livro 62
16.2. Contexto da Época 62
16.3. Propósito e mensagem 63
16.4. Temas Principais 63

17. A relação dos profetas e Jesus 64

Bibliografia básica 65
Introdução

Q uando falamos em profetas e em profecias nas igrejas cristãs em geral, associamos os livros e
os personagens da História de Israel, aos pronunciamentos futuristas e escatológicos. Apesar
de alguns livros e profetas de Israel possuirem também este caráter, o movimento profético na
nação hebraica tem uma profundidade muito maior e, por se tratar de uma manifestação religiosa, estes
personagens se tornaram verdadeiros porta- vozes de Deus. Com isso, o profetismo em Israel, não só
direcionou a nação para um futuro escatológico, como denunciou, exortou e condenou reis, sacerdotes,
grandes latifundiários e o próprio povo de Deus quanto ao afastamento da aliança a Deus.
Mas o ministério profético não foi um movimento exclusivo de Israel, já que em muitas religiões no An-
tigo Oriente Próximo, especificamente no Egito, Canaã e a região da Mesopotâmia, tinham frequente-
mente aquele que se dirigia ao povo em nome de sua divindade, cabe lembrar o episódio de Elias contra
os 450 profetas de Baal (1 Rs 18.22-39).
Mas então quem era o profeta em Israel?
O termo mais frequente utilizado em hebraico para profeta é nabî, outro título era vidente, pela tendên-
cia do profeta receber visões reveladoras.
A forma de reconhecimento do profeta estava no conteúdo de sua profecia, ou seja, para Israel não havia
distinção de profetas e falsos profetas; antes, a sua profecia cumpriam dois requisitos importantes para a
confirmação do ministério profético:
1. O profeta deveria anunciar e falar por Deus (Dt 13.2-6);
2. O seu cumprimento (Dt 18.21-22).
A profecia se divide em dois períodos principais: pré-clássica e a clássica.
Profecia Pré-Clássica
No início da história de Israel os profetas detinham a liderança. Exemplos claros são o próprio Moi-
sés que exerceu o papel profético em Israel, e Débora, que mais tarde, supriu esta liderança durante o
período dos juízes. Outro exemplo de profeta pré-monárquico foi Samuel, o qual foi fundamental na
transição para o regime monárquico.
Apesar de ter sido importante e relevante para o profetismo, não há livros que reúnam as profecias neste
período; apenas oráculos dispersos relatados nos livros históricos:
O serviço de Samuel para Saul é documentado no livro de 1 Samuel, e a capacidade oficial de
Natã, na administração de Davi, é evidente em 2 Samuel. Embora não possamos considerar
Elias um conselheiro empregado do rei Acabe, ele serviu de porta- voz do Senhor naquela
época (HILL; WALTON, 2011, p. 447).
Teologia

O público do profeta pré-clássico geralmente era o rei e as mensagens de incentivo ou advertência à


corte.
Profecia Clássica
Essa é a fase mais conhecida da profecia israelita, tendo seu início no século VIII a.C. durante o reinado
de Jeroboão II, no Reino do Norte, Israel, com Amós e Oséias iniciando o movimento. Já no Reino do
Sul os primeiros foram Miquéias e Isaías.
A mensagem não é dirigida apenas ao rei, mas a todos os israelitas, desta forma, tornaram-se profetas
socioespirituais, o que os pré-clássicos nunca foram.
As denúncias da profecia clássica
Há três tipos de denúncias básicas que corromperam a santidade de Israel e a sua comunhão com Deus:
1. Religiosa: consiste na substituição de Yahweh por Baal, ou por outros deuses vizinhos. Textos: Os
4.12-13; Os 13.1-2; Is 2.6-8.
2. 2) Política: consiste na substituição de Yahweh pelo poder, como culto à própria sabedoria políti-
ca, culto ao poderio militar, culto aos grandes impérios que Israel fez alianças. Textos: Os 7.8-11;
Os 12.2; Is 31.1.
3. Econômica: consiste na substituição de Yahweh pela riqueza. A ganância – betsa – é denunciada
pelos profetas. Textos: Am 8.4-6; Is 5.8; Mq 2.1-2.
Os tipos de oráculos (profecias)
Havia quatro tipos de oráculos que compunham as mensagens dos profetas:
1. Oráculos de acusação (descrição da ofensa – Jr 3.5);
2. Oráculos de julgamento (futuro castigo pela ofensa – Jl 1);
3. Oráculos de instrução (como os receptores deveriam agir – Am 5.14-15);
4. Oráculos de consequência ou esperança (acontecimentos após o julgamento ou esperança de
livramento e restauração – Mq 5.5-6).
Podemos observar uma característica diferenciadora importante entre a mensagem dos profetas clássicos
anteriores e posteriores ao exílio. Os pré-exílicos se destacam principalmente pela denúncia à idolatria, o
ritualismo e à injustiça social (Is 1.10-15; Jr 2.2; Mq 3.1-3), enquanto os pós-exílicos criticavam o povo
em não honrar ao Senhor (Zc 7.5-6; Ml 1.7-14).
Por isso, ao iniciar o estudo dos profetas, considere algo importante: “que a profecia é um resumo
explicativo da realização do plano de Deus, não mera previsão, isto é, o relevante não é apenas o seu
cumprimento, antes, são as suas causas”.

22
1. Isaías

Profeta atuante na segunda metade do século VIII a.C. (740 – 700) tanto em Judá como em Israel, nos
tempos de Uzias, Jotão, Acaz e Ezequias, Reis de Judá.

1.1. Autoria
É comumente aceito no círculo cristão e judaico a autoria de Isaías o profeta do século VIII. Contudo,
existem algumas correntes teológicas modernas que acreditam numa dupla (Deutero-Isaías) e até tripla
(Trito-Isaías) autoria. Esta linha teológica defende primeiramente que o rei Ciro, o persa citado em 45.1,
não teria vivido no mesmo período de Isaías, mas segundo dados arqueológicos, por volta de 200 anos
mais tarde.
Outro motivo de discussão seria a direção literária que o livro toma. Dos capítulos 1 a 39, os oráculos estão
permeados de acusação e julgamento, sendo estes escritos (1 – 6) ou mesmo compilados (7 – 39) por Isaías.
Já os capítulos 40 a 55, teriam sido escritos por um profeta exílico do século VI, enquanto os capítulos 56
a 66 conteriam oráculos escritos por outro também no período do exílio, século VI. Porém, na Palestina,
não se encontram oráculos de acusação e julgamento, antes, de esperança e restauração do reino.
Apesar das discussões entre as correntes, uma coisa é sabida:
Os profetas eram, em primeiro lugar, “pregadores”; isso quer dizer que o seu ministério
original era oral. Os seus oráculos, anunciados oralmente em situações específicas para
plateias específicas, não necessitavam de material editorial; mas, quando esses oráculos foram
compilados e transformados em material escrito, certa quantidade de material adicional para
fornecer amplificações, explanações, e elos entre os oráculos foi inevitável. (Um exemplo
muito claro disso pode ser visto em 16.13,14). A questão real, portanto, é se, em que medida,
os profetas se viram de editores do seu próprio material (BRUCE, 2009, p. 990).
Sendo assim, quase a totalidade dos eruditos concorda que o próprio Isaías tenha feito parte da compi-
lação do material, inclusive formando um documento mencionado como “mandamento” (8.16).

1.2. Contexto da Época


Esta foi uma época onde o Império Neoassírio assumiu seu lugar como primeira potência mundial da
história.
Dois acontecimentos foram marcantes e são centrais nos capítulos 1 a 39:
1. A união entre a Síria e Israel (chamada guerra siro-efraimita 735 – 732 a.C.) para invadir Jeru-
salém (7.1). Com isso, Acaz pede socorro ao rei assírio Tiglate-Pileser III, mesmo contrariando
Teologia

a orientação de Isaías (7.10-16). Em 732 Damasco foi conquistada, o povo deportado e toda a
terra de Arã incorporada ao Império assírio. Anos mais tarde, Israel se rebelou contra a Assíria,
mas teve a sua capital, Samaria, totalmente destruída em 721.
2. Em 701 o rei assírio, Senaqueribe, invadiu Judá destruindo várias de suas cidades fortificadas,
cercando finalmente Jerusalém. Contudo, diferentemente do pai, Acaz, Ezequias confiou no so-
corro do Senhor e o exército assírio foi totalmente destruído (capítulos 36 e 37).
Era um tempo de incerteza política e de medo, pois os assírios aterrorizavam a região do Antigo Oriente
Próximo, já que contava com um programa agressivo de dominação e da pesada cobrança de impostos aos
povos conquistados. Aderiram também ao programa de deportação, o qual tinha como intenção destruir
o senso de nacionalismo ou a integridade política. Mas cabe lembrar que para Israel, o nacionalismo estava
ligado a sua teologia; isto é, eles eram um povo escolhido e separado por Deus que os havia entregado a
terra prometida.

1.3. Propósito e Mensagem


Todo o livro de Isaías foi organizado com a intenção de destacar a integridade do Senhor, como o Deus
da aliança, notando-se o contraste entre os dois reis apresentados: Acaz, o pai e Ezequias, o filho.
Acaz não confiou em Javé; antes, pediu ajuda aos assírios durante a crise política e frente à ameaça da
invasão Síria. Ezequias, diante da mesma ameaça, anos mais tarde, dependeu de Javé e foi livrado pode-
rosamente. Desse modo, ele se tornou um grande exemplo de como Deus, num ato de soberania, pode
livrar o seu povo. Este relato teve uma lição importante para os futuros exilados: confiar no Senhor.

1.4. Temas Principais


Por estar entre os primeiros profetas clássicos do Reino do Sul, Judá, na retórica de Isaías existiam ele-
mentos dos dois períodos proféticos, já que além de conselhos aos reis (profecia pré-clássica) sua men-
sagem incluía também o povo com acusações, promessas de exílio e a destruição como castigo divino,
além da esperança e do cumprimento futuro da aliança.
As características e os temas que mais se destacam na profecia de Isaías são:

1. Nomes dos filhos como sinais


Os capítulos 7 a 9 apresentam quatro filhos sendo os dois primeiros do próprio Isaías cujos nomes reve-
lavam um significado profético e, principalmente, “salientavam o programa divino a curto e longo prazo
para Israel” (HILL; WALTON, 2011, p. 466):
• Sear-Jasube: um remanescente voltará (7.3);
• Maher-Shalal-Hash-Baz: rapidamente até os despojos, agilmente até a pilhagem (8.1-3);
• Emanuel: Deus conosco (7.14; 8.8-10);
• E o menino identificado em 9.6.

24
Livros Proféticos

2. O Servo
Quatro seções do livro de Isaías tratam deste tema tão importante na questão futura de Israel, na sua
redenção. O Servo é aquele que será um instrumento da realização dos planos de Deus à Israel. Essas
passagens são: 42.1-7; 49.1-9; 50.4-11; 52.13 a 53.12; 63.1-3.
Neste ponto de nosso estudo é importante distinguirmos o Messias esperado pelos judeus e o Messias
cristão, Jesus de Nazaré. Para nós, cristãos, as profecias messiânicas, preditas por Isaías, alcançaram o seu
cumprimento por meio de Jesus Cristo, pois foi desta forma que os apóstolos do Senhor compreende-
ram e enfatizaram as profecias.
Entretanto, para Israel, o Messias tinha um papel mais político, já que as esperanças reuniam-se na restau-
ração do Reino de Israel, do culto em Jerusalém e da dinastia davídica, esta última facilmente visível nos
capítulos 11 e 55.3-5 de Isaías, ou seja, “do tronco de Jessé sairá um rebento, e das suas raízes um renovo”
(Is 1.1).
Daí “o Senhor tornará a estender a mão para resgatar o restante do seu povo que foi deixado, da Assíria,
do Egito, de Patros, da Etiópia, de Elão, de Sinar, de Hamate e das terras do mar” (Is 11.11). Essa era a
esperança de Israel quanto ao messianismo, uma restauração terrena e visível, diferente da cristã: salva-
ção futura e invisível ou sobrenatural (Is 9.6).

3. O Santo de Israel
Este título é usado para Deus quase que exclusivamente por Isaías no AT. Ele não só enfatiza a santidade
do Senhor, como reflete a preocupação do livro com a gravidade das ofensas de Israel contra Deus. Al-
gumas passagens: 1.4; 5.19; 5.24; 10.20; 12.6; 17.7; 29.19; 30.11-12; 30.15; 31.1; 37.23.

4. O Redentor de Israel
Outra característica de Isaías usada por mais de dez vezes é o título de Redentor de Israel dado a Javé.
Todas estão entre os capítulos 40 a 66, explicitando a graça soberana do Senhor. As passagens: 41.14;
43.14; 44.6; 44.24; 47.4; 48.17; 49.7; 49.26; 54.4; 54.8; 59.20; 60.16 e 63.16.

5. Escatologia
A escatologia encontrada em Isaías é uma escatologia do reino; ou seja, como já observamos anterior-
mente, a questão é o reino futuro de Israel retratado como reino centrado em Jerusalém, abundando a
paz e a prosperidade com um descendente de Jessé se assentando ao trono. A ênfase é dada ao fato de
Javé governar e reinar (24.23; 33.22; 43.15; 44.6).

1.5. Esboço do livro


I. Introdução
A. Prelúdio (1 – 5)
B. Comissão (6)
II. Contexto Assírio
A. Oráculo do período da coligação siro-efraimita (7 – 12)

25
Teologia

B. Oráculo contra as nações (13 –23)


C. Conclusão apocalíptica contra as nações (24 –27)
D. Maldições do período do cerco de Jerusalém (28 – 33)
E. Conclusão apocalíptica das maldições (34 e 35)
F. Resolução da crise assíria (36 e 37)
G. Transição para a crise babilônica (38 e 39)
III. Oráculos futuros dirigidos aos exilados (40 – 55)
IV. Oráculos futuros dirigidos à situação pós-exílica (56 – 66)

1.6. Relevância para a Igreja Hoje


A grande relevância do livro de Isaías para a igreja atual está na aliança de Deus para com o seu povo e,
claro, no seu não cumprimento por parte de Israel.
Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu ao seu Filho unigênito, para que todo que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna (Jo 3.16).
A grande reflexão que este texto nos leva a ter é: será que a igreja de Cristo moderna tem mantida a sua
aliança com Deus? Ou tem se portado como Acaz, decidindo conforme a sua própria vontade?
A aliança com o Senhor não se resume em sacrifícios, antes, no amor; pois segundo o próprio Jesus o
amor é a maior prova de aliança com Deus.
Ninguém tem maior amor que este: de dar a alguém a própria vida em favor dos seus amigos. Vós
sois meus amigos, se fazeis o que eu vos mando (Jo 15.13-14).

Recapitulação 3

Discuta em sala sobre a atual aliança da igreja de Cristo com o seu Criador.








26
2. Jeremias

O livro de Jeremias compreende dois períodos bem distintos uma vez que pode conviver no reinado de
Josias; um período de otimismo, já que Judá se tornava independente politicamente da Assíria. Ele tam-
bém foi o profeta mais importante em um período extremamente sombrio de Judá (626 – 580 a.C.), o
qual profetizou não apenas para Judá, mas também às nações vizinhas. Por viver em meio a um contexto
de grave idolatria e de uma religiosidade apenas ritual em Judá, por vezes denunciou essas práticas vazias
de seus conterrâneos sempre sem sucesso.
Reis que governaram durante o período do ministério profético de Jeremias:

Josias 640 a 609 a.C.


Joacaz 609 a.C.
Jeoaquim 609 a 598 a.C.
Joaquim 598
Zedequias 98 a 587 a.C.

Sendo assim, o livro de Jeremias torna-se muito pessoal, pois nele é relatada a perversidade do povo e a
devoção, além da integridade do profeta que sente a pressão de anunciar as práticas repreensíveis de um
povo que estava fadado à ira do Senhor.

2.1. O caráter do profeta


Já que o livro de Jeremias é preocupado também em fornecer características pessoais do profeta, faz-se
necessário observarmos a sua trajetória turbulenta em Judá.
a. Intercedia tanto por amigos quanto por inimigos (15.11; 18.20) e, quando a palavra de Deus por
meio dele era de juízo, ficava profundamente triste com a apostasia de seu povo (7.16; 11.14; 14.11);
b. Por causa da denúncia constante no templo e nas instituições e não em Yahweh, tornou-se objeto
de perseguição e encarceramento (20.1-3), mantendo-se franco à sua pregação (20.7), mesmo
com as ameaças de morte (37.12-16);
c. Opôs-se aos falsos profetas já que Deus não os havia enviado tampouco o Senhor os havia dito
quais eram os seus conselhos (23.18-22), por isso suas ideias eram próprias (23.25-31);
d. Jeremias demonstrou a sua fé ao comprar uma propriedade no terreno dominado pelas forças
inimigas (cap. 32);
e. Muitas vezes foi testemunha solitária e proibido de se casar (16.1-4);
f. Como profeta enfatizava o arrependimento e a religião pessoal, fundamentando-se na revelação de
Teologia

Deus na natureza (8.7; 12.9; 7.11; 22.23; 48.28), usando ilustrações da amendoeira, da chaleira
e da vida no campo;
g. Jeremias não era contra os sacrifícios e os rituais, mas percebeu que isso só teria validade se refle-
tisse na vida do povo na forma de consagração na aliança com o Senhor (7.2-3; 31.21-22).  Com
isso, a nova aliança (31.31-34) tornaria o povo de Deus uma bênção universal (33.6-9);
h. Jeremias esperava o Messias (23.5-6), o “descendente de Davi”, o único que poderia trazer a paz a
um povo arrependido (33.8, 14-16) e não mais somente a Israel, mas a todos os povos (16.19-21).
Algumas destas características demonstram como Jeremias impôs sua personalidade ao texto. É importante
lembrar que o pronome “eu” é mais frequente em Jeremias do que em qualquer outro profeta do AT.

2.2. Autoria
Este é um dos poucos livros que dá informações sobre sua autoria. Depois de profetizar por mais de
20 anos, no ano 605, Deus mandou que Jeremias registrasse as profecias (36.1-3). Baruque foi quem
escreveu enquanto ditava (36.4), contudo o rolo foi destruído pelo rei, sendo feita outra cópia a seguir
(36.32). Este rolo refere-se aos capítulos 1 – 25 de Jeremias, designado como Livro 1 e tem como carac-
terística estar em primeira pessoa (eu). A seguir, surgem na coleção de profecias de Jeremias mais dois
livros divididos nos capítulos 30 e 31(Livro 2) e 46 – 51 (Livro 3).

2.3. Contexto da época


O chamado de Jeremias ocorreu no momento em que Josias, ainda com 8 anos de idade, assumia o
trono de Judá. Ao completar 20 anos (628. a.C.), Josias realizou a purificação tanto em Judá como em
Jerusalém do culto pagão (2 Rs 23; 2 Cr 34.3-7). Era um momento de esperança, pois além da reforma
proposta por Josias, o último grande rei do império assírio, Assurbanipal, falecera. Paralelamente o reino
da Babilônia crescia e décadas depois, como o Senhor anunciou por intermédio de Jeremias, Jerusalém
e Judá seriam invadidas e dominadas por essa nação.
Contudo, o período de esperança durou pouco, pois Josias morreu no campo de batalha contra os
egípcios. Os 25 anos seguintes foram de colapso para os reis seguintes – Jeoacaz, Jeoaquim, Joaquim e
Zedequias, culminando na profecia de Jeremias: o cativeiro em 586 a.C. (2 Cr 36.21).

2.4. Propósito e mensagem


O propósito de Jeremias enquanto profeta do Senhor era anunciar a mensagem divina ao povo que
tinha como cerne a reconciliação do povo com Deus e, assim, evitando as consequências que recairiam
sobre Israel caso este continuasse a ignorar a aliança firmada ainda nos tempos de Josué em Siquém (Js
24.16-25).
Por isso, os oráculos de Jeremias originalmente dirigidos ao Reino do Norte e aplicados posteriormente
ao Reino do Sul, concentra-se na apostasia religiosa (culto à Baal) e política (aliança com o Egito e As-

28
Livros Proféticos

síria). O tema da justiça social não é mencionado expressamente, uma vez que as acusações contra os
sacerdotes, doutores da lei, pastores e profetas (2.8), são muito vagas e inseguras, contudo o contexto
convida a interpretá-las na linha da idolatria.
Apenas em 2.34 encontramos referência ao problema social:
Nas orlas dos teus vestidos se achou também o sangue de pobres e inocentes, não surpreendidos no ato de rou-
bar.

Desta forma, podemos distinguir as mensagens de Jeremias em quatro categorias: 

Acusação Caps. 2.5 - 3.5


Julgamento Caps. 5 - 9
Instrução Caps. 3.12-13; 7.3-7
Consequências Caps. 29 - 33

2.5. Temas Principais

1. Política de Deus com as nações

“No sermão de Jeremias na casa do oleiro, ele expõe a política do Senhor para lidar com as nações
(18.7-11)” (HILL; WALTON, 2011, p. 475). Ou seja, quando uma nação era justa ela alcançava graça
e favor do Senhor, entretanto se o seu comportamento fosse pecaminoso e injusto a ira de Deus recairia
sobre estes. É importante salientar que isto não justifica a doutrina da salvação pelas obras, pois o
comportamento julgado não é o individual, mas o coletivo.

2. A Nova Aliança

A proclamação da nova aliança por Jeremias é tida como a maior contribuição do profeta à teologia, por
isso é importante a relacionarmos com as outras. No livro de Deuteronômio, por exemplo, o formato é
bem complexo, pois nele encontra-se prefácio, tratados, as cláusulas do documento, lista de bênçãos e
maldições. Já na nova aliança de Jeremias consta apenas o documento principal, isto é, a nova aliança em si.

São deixados de lado o ensinamento e as outras tratativas da lei. Essa informação associada às palavras
de Jeremias de que a lei foi escrita no coração do povo (31.33) leva-nos a compreensão de que esta
aliança não difere da anterior, mas sim, uma extensão com novas características e novas dimensões.

3. Os Falsos Profetas

Outro problema enfrentado por Jeremias foi o conteúdo de sua pregação que era o de destruição e de
tristeza, enquanto outros profetas de seu tempo, que se diziam porta-vozes de Yahweh, profetizavam
sobre livramento, paz e prosperidade (14.11-16; 23.9-40; 28.1-17). Consequentemente, por ser minoria,
ele foi tido como falso profeta pelo povo.

29
Teologia

2.5. Esboço do Livro


I. O chamado de Jeremias (cap. 1)

II . Livro 1: Oráculos de Jeremias (caps. 2 – 25)

III. Interlúdio biográfico 1 (caps. 26 – 29)

IV. Livro 2: O livro de consolação ( caps. 30 e 31)

V. Interlúdio biográfico 2 (caps. 32 – 45)

VI Livro 3: Oráculos contra as nações (caps. 46 – 51)

VII Apêndice histórico: a queda de Jerusalém (cap. 52) 

2.6. Relevância para a Igreja Hoje


Os temas do livro de Jeremias são extremamente atuais para a nossa Igreja cristã contemporânea.
Iniciando pela política de Deus com as nações aprendemos que uma nação só pode ser tida como justa
quando baseada nos preceitos de Cristo. Sermos sal e luz neste mundo (Mateus 5), levando outros povos
e nações a conhecer ao Senhor.

Mas aí reside o grande problema. Os mandamentos do Senhor não estão gravados nos corações da
maioria dos cristãos que não vivem a realidade do evangelho, tampouco estão aliançados com Jesus, mas
ouvem as profecias de falsos profetas que pregam apenas aquilo que convém ao povo: livramento, paz e
prosperidade.
Qualquer semelhança nos temas do Jeremias com a nossa atualidade cristã não é mera coincidência!

30
3. Ezequiel

Ezequiel era sacerdote, filho de Buzi, da descendência de Zadoque (Ez 1.3). Ele estava entre os 10.000
hebreus levados para o cativeiro babilônico no período de Nabucodonosor da Babilônia em 597 a.C.
(2Rs 24.10-17).
Seu nome significa Deus fortalece. Judeus posteriores questionaram o seu valor canônico pelas aparentes
discrepâncias entre a interpretação ritual do templo e as prescrições da lei mosaica (divergência no nú-
mero e nos tipos de animais sacrificados na Festa da Lua Nova - Nm 28.11 e Ez 46.6).

3.1. Conceitos Básicos


1. Soberania do Senhor sobre Israel e as nações;
2. Exílio babilônico como castigo pela idolatria de Judá;
3. Relação dinâmica entre a responsabilidade individual e coletiva;
4. Restauração de um novo Israel sob liderança davídica.

3.2. Composição do Livro


O livro sugere que tenha sido escrito pelo próprio Ezequiel devido ao estilo autobiográfico, no entanto,
estudiosos atuais sugerem que pode ter passado por algumas etapas:
1. Transmissão oral: as palavras do profeta foram transmitidas por seus discípulos ou escola profética;
2. Fase literária: tradição oral passada para a forma escrita;
3. Editorial: ajuntamento e organização do material escrito.
A tradição judaica mais recente atribui a compilação dos oráculos aos homens da Grande Sinagoga, isto
é, concílio de escribas que viveram no período após o exílio para reorganizar a vida e a cultura judaica.
O ministério de Ezequiel, segundo evidências, deve ter ocorrido na Babilônia.

3.3. Contexto da Época


O ministério de Ezequiel foi resultado do reinado de Manassés com a volta da adoração ao deus Baal
transformando-a em religião oficial (2 Rs 21.1-9).
Com a morte de Josias, por Neco, faraó do Egito, Judá se transformou vassalo do Egito. Neco empossou
Teologia

Jeoacaz e Jeoaquim (Eliaquim) conforme Jeremias havia predito. Jeoaquim foi um rei corrupto caracteri-
zado por idolatria, injustiça social, roubo, assassinato, extorsão, adultério e rejeição da aliança do Senhor
(Jr 22.1-17).
Judá continuou vassalo do Egito até a batalha de Carquêmis em 605 a.C. quando Nabucodonosor ven-
ceu os egípcios e também os assírios. Assim, Jeoaquim passou a pagar tributo para a Babilônia.
Com uma tentativa de rebelião frustada por parte de Jeoaquim, Nabucodonosor, em 598-597 a.C. ,
realizou o último cerco a Judá que culminaria no exílio em 586 a.C.
O rei e a família real foram deportados para a Babilônia junto com outros 10.000 membros da elite
(2 Rs 24.12-14).

3.4. Propósito e Mensagem


A mensagem profética e a estrutura literária estão intimamente relacionadas, dividindo-se em três partes:

1. Capítulos 1 - 24: antecedem a queda de Jerusalém e são dirigidos à casa rebelde de Judá.
• Advertência quanto ao julgamento iminente (2.3-8);
• Ressaltar a responsabilidade de cada geração pelo pecado (18.20);
• Convite ao arrependimento (18.21; 23-32).

2. Capítulos 25 - 32: Aviso as nações vizinhas


• Aviso às nações que se alegraram com a queda de Judá, o Senhor os julgaria também (25.1-11).

3. Capítulos 33 - 48: Esperança entre o remanescente cativo


•    Promessa de uma nova aliança supervisionada pelo rei davídico (34.20-31).

3.5. Tema Principal


Responsabilidade individual
Ezequiel enfatiza a responsabilidade individual de cada um na situação atual do pecado e, consequente-
mente, do julgamento do Senhor.
Claro que Ezequiel não está isentando as gerações passadas pela culpa atual, ou que os filhos podem ser
castigados pelos pecados dos pais, desde que os filhos ajam da mesma forma.
Todavia, na época, o conceito de Ex 20.5 e 34.7 era usado de forma vulgar numa tentativa de justificar
o julgamento do Senhor imputando sobre Deus um pesado e injusto julgamento.
Ao profetizar, Ezequiel queria ensinar ao povo que se Judá se arrependesse das transgressões existentes
desde a época de seus pais, esta geração seria perdoada.
Ezequiel não era apenas profeta, mas também evangelista!

32
4. Daniel

O livro de Daniel relata a história de um jovem israelita tirado de sua terra natal à força e levado ao
império babilônico onde trabalhou, inicialmente, como diplomata de Nabucodonosor; a seguir, com
Belsazar e, por fim, com Ciro, o rei persa.
Daniel foi levado cativo com mais dez mil judeus em uma das diversas deportações acontecidas antes da
queda de Jerusalém (587-586) em 605 a.C.

4.1. Conceitos Básicos:


1. Levar vida de fé em um mundo cada vez mais hostil.
2. Soberania de Deus nos assuntos políticos internacionais.
3. Soberania de Deus em livrar e tornar prósperos os fiéis.

4.2. Composição do Livro


Os acontecimentos de Daniel situam-se no contexto do século VI a.C. No entanto, muitos atribuem a
composição do livro por volta do século II a.C., especificamente entre os anos 168 e 164.
O fato de Daniel escrever na primeira pessoa, o capítulo 7 faz o consenso de atribuir a ele a autoria;
porém, com o uso da terceira pessoa utilizado na maioria do livro, subentende-se que outra pessoa tenha
determinado a estrutura e organização do livro.

4.3. Contexto da Época


Em 626 a.C. Nabopolassar assume o trono babilônico declarando-se independentes do Império Assírio
em declínio. Em 612 a.C. , a capital Nínive cai e a seguir, em 605 a.C., Carquemis sofre o mesmo destino.
Com isso, terminava um governo de 150 anos que aterrorizou o Oriente Médio com sua extrema violência.
Após a morte de Nabopolassar, seu filho, e general Nabucodonosor, assume o trono da Babilônia em
605. Na época ele assumiu todos os territórios perdidos pela Assíria, incluindo Judá.
Os filhos de Josias: Jeoaquim (609 a 598), Joaquim (598) e Zedequias (598 a 587), não aceitaram o
papel de vassalo, envolvendo-se em constantes conspirações contra os babilônios, sendo assim, aconte-
ceram diversas deportações, e, por fim, a destruição de Jerusalém e do templo em 586, pelos exércitos
de Nabucodosor. Durante esse tempo Daniel já estava na Babilônia servindo na corte, já que havia sido
levado em 605 a.C.
Teologia

O reinado longo e próspero de Nabucodonosor teve seu fim em 562 a.C quando os medo-persas, sob
o comando de Ciro, o Grande, começaram a construir seu império. Os sucessores de Nabucodonosor
foram incompetentes no governo até que, em 539 a.C., Ciro foi bem vindo à capital como salvador em
vez de conquistador (Is 44.26-28; 45.1-2).

4.4. Propósito e Mensagem


A Soberania de Deus,  quanto às nações, é o centro deste livro e pode ser visto em ação nos âmbitos
espiritual e político (5.21). 
No relato da vida de Daniel e de seus amigos, a ênfase está na vida de fé em um mundo cada vez mais
hostil. A soberania é vista pela ótica de Deus fazer prosperar ou livrar os fiéis dele.
Enquanto isso, os israelitas deveriam ser fiéis no mundo dos gentios mesmo nas circunstâncias mais
árduas. Deveriam depender da soberania do Senhor para resistir geração após geração, crise após crise.
Sendo assim, deveriam confiar no poder de Deus em controlar o fluxo dos impérios mundiais em as-
censão e em declínio, pois o seu programa jamais é ameaçado, antes, eles deveriam estar preparados para
uma resposta em longo prazo.

4.5. Estrutura e Organização


O livro pode ser dividido conforme o esquema abaixo:
- Caps. 1 - 5: indicam a deteriorização gradual na atitude referente à religião judaica (adoração à está-
tua - cap. 3 - e a profanação dos utensílios do templo - cap. 5).
- Caps. 6 - 12: apresentam a perseguição crescente da adoração judaica (Daniel lançado na cova
dos leões - cap. 6 - e os reis pagãos tentam deter a adoração israelita profanando o templo e o altar
- caps. 8 a 12).

34
5. Oseías

Oséias, o profeta, era filho de Beeri, habitante de Israel no período do reinado de Jeroboão II (750 a.C.
até próximo da queda de Samaria no ano de 722).
O nome Oséias era comum nos tempos do AT e significa ajuda ou livramento e deriva do nome salvação.
Com exceção de Jonas, Oséias possivelmente foi o único profeta escritor do Reino do Norte.
A sua história tradicionalmente é lembrada por seu casamento com Gômer, a prostituta. 

5.1. Conceitos Básicos


1. O amor imutável do Senhor por Israel;
2. O julgamento justo do Senhor;
3. O zelo do Senhor por sua aliança;
4. A cura e restauração do remanescente por Deus.

5.2. Contexto da Época


Mesmo com as profecias de Amós contra as políticas violentas, opressivas, injustas e egoístas do regime
de Jeroboão II, a situação não melhorou e então Oséias foi comissionado a pronunciar o veredito de
Deus (4.1-6).
A apostasia religiosa de Israel cresce com a idolatria e o culto aos baalins (4.17; 7.16; 11.2; 13.1-2).
Com a morte de Jeroboão II, o governo entra em colapso com uma série de assassinatos por usurpação
do trono; e o último rei de Israel, Oséias, foi deportado para a Assíria (2 Rs 17.6) como o profeta previu,
os quais pereceriam como “um graveto nas águas” (10.7).

5.3. Esboço
I. Cabeçalho
II. Casamento de Oséias com a prostituta Gômer
a. Filhos da prostituição (1.2 - 2.1)
b. Infidelidade de Gômer (2.2 - 2.23)
c. Fidelidade de Oséias (3.1-5)
Teologia

III. Mensagem de Oséias a Israel


a. Ignorância e infidelidade de Israel (4.1 - 6.3)
b. Julgamento de Israel (6.4 - 10.15)
c. Fidelidade de Javé e amor a Israel (11 - 14)

5.4. Características Literárias


Este livro não foi escrito para contar a história de Oséias, mas para falar sobre Deus e seu relacionamento
com o povo da aliança, Israel. Deus enfatiza sua singularidade e soberania (12.19; 13.4). Por causa de
sua santidade peculiar (11.9), adorá-lo é a única resposta apropriada (3.5) e ele não tolera exigências
rivais. Como soberano tudo está sob seu governo, seja a fertilidade (2.8), a história de Israel (5.14-15)
ou as nações (10.10).

 A narrativa do relacionamento conjugal de Oséias com a prostituta Gômer nos capítulos 1 – 3 contém
biografia e autobiografia. Estes capítulos servem de prefácio às profecias dos capítulos 4 – 14. A história
do casamento é disposta no padrão literário conhecido tecnicamente por palístrofe. Essa estrutura
equilibra assuntos teológicos importantes voltados a um ensinamento ou ideia fundamental. A falta de
conhecimento de Deus por parte de Israel é a “junta” desta construção literária.

5.5. Palístrofe de Oséias


A Casamento de Oséias (1.2-9)
      B Renovação das alianças (1.10 -2.1)
            C Juízo de Javé sobre Israel (2.2-4)
                  D Falta de conhecimento de Deus em Israel (2.5-8)
            C’ Juízo de Javé sobre Israel (2.9-13)
      B’ Renovação das alianças (2.14-23)
A’ Oséias e Gômer reunidos (3.1-5)
As profecias dos capítulos 4 – 14 constituem a extensão biográfica do casamento de Oséias, no sentido
de que a união com a prostituta infiel, Gômer, espelhava o relacionamento da aliança de Deus fiel com
o Israel desleal. Essa parte de Oséias foi considerada a mais poética de todas as escrituras proféticas. O
estilo literário é uma mistura de prosa e poesia chamada “prosa oracular”, característica dos profetas
hebreus.
O esboço de quatro pontos, característico dos profetas escritores pré-exílicos, contém oráculos e fornece
a estrutura básica da mensagem do livro:
1) Acusação, incluindo denúncias específicas de violação à aliança (4.1-11).

36
Livros Proféticos

2)  Julgamento, incluindo destruição e exílio (5.10-8 14).


3)  Instrução, incluindo convite ao arrependimento (6.1-3).
4)  Consequências, incluindo a promessa de restauração dos justos (14.1-8).
A linguagem do texto de Oséias origina-se do tema da violação da aliança refletida na ação de Deus con-
tra Israel. A terminologia legal é abundante nas profecias à medida que Jeová apresenta sua causa contra
a nação. Outros aspectos literários peculiares do livro incluem “Israel” e “Efraim” como parelha poética
sinônima ou par de palavras referentes ao Reino do Norte (4.16-17; 5.3) e o conhecimento do profeta
do vocabulário relativo à aliança, por exemplo: voltemos (6.1), conheçamos (6.3), redimi-los (7.13), que-
braram, Aliança e Lei (8.1), amei (11.1) e acusação (12.2).

5.6. Temas Principais

1. Casamento de Oséias

A primeira parte do livro, do capítulo 1 ao 3, narra a vida familiar de Oséias como símbolo para
transmitir a mensagem que o profeta recebera do Senhor para o povo. Deus ordenou a Oséias que se
casasse com uma adúltera, Gômer, e cada um de seus filhos recebeu nome simbólico que representava
parte da mensagem ameaçadora: 
a. Jezreel que significa “Deus espalha” ou “Deus semeia”, possivelmente tenha sido filho do profeta
conforme 1.3; 
b. Lo-Ruama que significa “desfavorecida” ou “não amada” já deve ter nascido da infidelidade de
Gomêr, pois ocorre um contraste na narrativa em que afirma simplesmente “deu a luz” (1.6), en-
quanto no nascimento de Jezreel (1.30 “e lhe deu”); 
c. Lo-Ami outro menino que também possivelmente não foi filho de Oséias e que significa “vós não
sois meu povo”. 
Ilustram propositadamente a mensagem sobre o crescente descontentamento de Deus com a desobe-
diência de Israel, mas também transmitem a mensagem de esperança, renovação, amor e restauração.
A questão de como interpretar os acontecimentos pessoais da vida de Oséias, que fazem um paralelo
simbólico à sua mensagem profética, tem deixado perplexos os estudiosos do livro de Oséias.
Os detalhes sobre a vida familiar de Oséias nos capítulos 1 e 3 devem ser compreendidos como literais
ou alegóricos?
Há estudiosos que interpretam esses detalhes da vida conjugal de Oséias como alegóricos, por causa da
perplexidade moral que viria a causar a ordem de Deus para o profeta casar-se com uma prostituta.
Existem estudiosos que argumentam que a ordem de Deus no capítulo 2 e versículo 1 se refere ao futuro.
Argumentam que Gômer tenha se tornado uma prostituta apenas após o nascimento do primeiro filho.
Há ainda os que defendem uma leitura literal modificada argumentando que Gômer não era uma pros-
tituta comum, mas uma mulher envolvida com a prostituição cultual dos adoradores de Baal.

37
Teologia

2. Baalismo
A controvérsia entre Deus e Israel se baseava nas ideologias religiosas opostas do baalismo cananeu o e
javismo hebraico (Os 4.4). A causa do sincretismo religioso deu-se devido às concessões feitas aos povos
cananeus e, por conseguinte, a coexistência com eles.
O deus Baal era apenas um no panteão cananeu, filho de El e Aserá, era o deus da chuva e da tempestade
cujo principal interesse era a fertilidade agrícola e a reprodução sexual dos animais e da humanidade.
Mot, o seu eterno rival era o deus da morte. Segundo a mitologia cananeia as estações de chuva e de sêca
abundantes eram consequência dos conflitos entre esses deuses.
Para ajudar Baal na luta, a adoração cananeia ao deus da tempestade incluía sacrifícios humanos e a
prostituição ritual (Sl 106.34-41; dt 23.17). Os prostitutos e prostitutas eram empregados pelos templos
locais e considerados sacerdotes e sacerdotisas dos deuses.
Os cananeus tinham relações sexuais sagradas com as prostitutas como parte de adoração a Baal para
garantir a fertilidade mediante a representação sacramental do casamento do deus com a terra como Baal
(ou senhor, marido) do território.

38
Livros Proféticos

5.7. Linguagem figurada


 Usada para expressar a deplorável condição que se encontrava Israel, como por exemplo:
• Vale de Acor: uma porta de esperança (2.15).
• Com o povo se mistura: já não é uma nação separada e santa (7.8).
• Um bolo que não foi virado: farinha por um lado, expressando fraqueza de coração.
• Estrangeiros que lhe comem a força: debilitado pelas más companhias (7.9).
• E as cãs se espalharam sobre ele: velhice prematura e deterioração inconsciente (7.9).
• Como um vaso que ninguém tem prazer: um vaso inútil ao Senhor (8.8).
• Ele ama a opressão: falta de honradez nos negócios (12.7).

5.8. Conclusão
Oséias, o profeta do leito de morte de Israel, foi o último profeta a se referir ao Reino do Norte antes
do massacre assírio.
Foi dele a tarefa de despedaçar e matar Israel com palavras de juízo (6.5) e chamar o povo desviado de
volta ao conhecimento de Deus, por meio do arrependimento e da renovação da aliança.
Oséias foi ousado ao repreender a liderança não só religiosa, mas também a liderança política de Israel
(5.1; 6.9; 13.10).
A despeito da condenação divina e da severidade da linguagem usada para proclamar o juízo inevitável,
o propósito principal do livro é proclamar a compaixão e o amor de Deus, que não podem abrir mão
de Israel.

39
6. Joel

Pouco se sabe a respeito do profeta Joel, uma vez que não é mencionado em outras passagens do Antigo Tes-
tamento. Porém, o texto deixa claro que Joel, filho de Fatuel, “teve um apreço profundo do culto realizado
no templo” (1.8-9; 2.27; 4.16-17), (BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY, R. E., 2011, p. 795).

6.1. Conceitos Básicos


1. Analogia da praga de gafanhotos para descrever o futuro dia do Senhor;
2. O derramamento do Espírito sobre todo o povo como prelúdio do julgamento.

6.2. Autoria e Composição


A data de composição do livro é uma questão de grande dificuldade, já que o texto não possui dados
cronológicos, apenas faz algumas menções históricas que levam a discussões sobre sua escrita.
Contudo, a maioria dos estudiosos entende que o livro tenha sido escrito no período pós-exílico, após
a reconstrução do templo em 515 e antes da queda de Sidom em 343, e após o período de Obadias e
Malaquias.
Isso por que:
• Joel nunca faz menção de um rei ou de uma corte real, significando que neste período a monar-
quia já não existia mais;
O povo e o império neobabilônico também nunca são mencionados, talvez porque já haviam sido
conquistados pelos persas quando Joel foi escrito (539);
• Tiro e Sidom ainda existem como cidades a serem punidas (3.4). Tiro foi destruída por Alexan-
dre, o Grande, em 332 e Sidom, por Xerxes III, em 343.

6.3. Esboço
O livro pode ser dividido em duas grandes seções:
1. A primeira seção inclui os capítulos 1 e 2 e trata da praga dos gafanhotos e da sêca;
2. A segunda seção inclui o capítulo 3 e é frequentemente denominada de ‘escatológica’, isto por-
que, apesar da prova que recairia sobre Israel, Deus não tinha abandonado seu povo e ainda
habitava no meio deles.
Livros Proféticos

6.4. Propósito e Mensagem


O interesse de Joel no livro consiste no Dia do Senhor, ou seja, anuncia a praga de gafanhotos e a associa
com o início do Dia do Senhor prevendo que o julgamento se agravaria, e, por isso, Joel convocou o
povo ao arrependimento.
Quando o povo atendeu, o favor do Senhor foi proclamado (2.18-19, escrito no passado, ao contrário
da versão ARC) e a futura prosperidade anunciada.
Na abordagem do Dia do Senhor, as nações seriam o alvo do julgamento divino.

6.5. Temas Principais

1. A praga de gafanhotos
Em todo o Antigo Testamento podemos perceber que Israel era uma nação economicamente agrícola,
dependendo de condições climáticas e naturais para a sobrevivência do povo, sendo assim, qualquer
desastre natural que acontecesse poderia ter um efeito devastador sobre a colheita, afetando diretamente
a nação.
Uma praga de gafanhotos tinha um grande poder devastador e poderia devorar uma dezena de quilô-
metros quadrados de toda a safra. Joel, em 2.3, relata seu poderio afirmando: “À frente dele vai fogo
devorador, atrás, chama que abrasa; diante dele, a terra é como o jardim do Éden; mas, atrás dele, um
deserto assolado. Nada lhe escapa”.
Por isso que a praga de gafanhotos deve ser interpretada como referência a “um ataque histórico das
forças armadas na cidade” (BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY, R. E., 2011, p. 800), isto
porque, em 2.25, os gafanhotos são chamados de ‘meu grande exército’.

2. O fim da praga e a restauração


Um ponto central do livro foi alcançado: O Senhor responde a oração de seu povo, pois o trigo, o mosto
e o óleo que os gafanhotos destruíram (1.10), serão restaurados.
O Dia do Senhor não representava mais simplesmente a ofensa coletiva do povo, mas em Joel “o justo
será absolvido e o ímpio, punido” (HILL, A. E.; Walton, J. H. 2011, p. 528).

41
7. Amós

Aamós é o terceiro livro dos profetas menores, mas cronologicamente o primeiro dos profetas escritores;
foi contemporâneo de Oséias e Miquéias.

Amós era um pastor e produtor de figos em Tecoa, cidade que ficava a cerca de 20 km ao sul de Jerusalém.
Sua negação em fazer parte do grupo de profetas, assumindo uma posição de leigo independente
permitiu proclamar sua mensagem livre de qualquer influência sacerdotal, da corte real ou da opinião
pública (7.14-15).

7.1. Conceitos Básicos


1. Deus responsabiliza as nações por sua política social;
2. A verdadeira adoração gera justiça social;
3. Israel não escapará do julgamento do Dia do Senhor;
4. Deus restaurará um remanescente em Israel.

7.2. Autoria
É impossível determinar a autoria da obra, mas alguns supõem que Amós teria escrito as profecias após
retornar a Tecoa da “viagem da pregação” de Israel. Por serem escritos em primeira pessoa (5.1; 7.1-9)
ou devido à menção ao terremoto (1.1), teria escrito as mensagens durante seu curto período ministerial
na cidade de Betel em Israel. Sua escrita tem sido atribuída por volta de 760 a.C. em meados ou final do
reinado de Jeroboão II.

7.3. Contexto da Época


Amós situou-se em ambos os reinos, do Norte e do Sul, tendo suas visões nos reinados de Jeroboão II e
de Uzias (ou Azarias) respectivamente. Os reinados de ambos se estenderam por um período superior a
40 anos e foram denominados como a “era de ouro” já que trouxeram às suas nações, estabilidade po-
lítica e econômica. As fronteiras foram expandidas por meio de conquistas e Israel e Judá conseguiram
conviver em paz e com prosperidade agrícola.
No entanto, os profetas enxergaram a realidade de outra forma além das aparências da chamada era de ouro
e denunciaram a podridão social e moral em Israel e Judá. Ambas as nações haviam se tornado “carregadas
de iniquidade” (Is 1.4) e “maduras” para o juízo do Senhor (Am 3.9 -15; 8.1-2; Is 3.13 -15; 5.8 -30).
Livros Proféticos

Amós, por causa de seu duro discurso, foi expulso do país e proibido de regressar (Am 7.10-17).

7.4. Esboço
O esboço do livro leva naturalmente à previsão de juízo e exílio de Israel.
Primeira mensagem (2.6-16): Amós denuncia o pecado de Israel revendo o desastre nacional com o
propósito de lembrar à nação as consequências da desobediência à aliança.
Segunda mensagem (3.1 - 6.14): Amós condena atos específicos de injustiça social e hipocrisia religiosa
chamando o povo ao arrependimento e aos padrões de conduta estipulados na aliança.
Terceira mensagem (7.1 - 9.4): Amós descreve as cinco visões, todas relacionadas à ira de Deus e ao
juízo sobre Israel, incluindo a certeza da destruição, do exílio e a introdução do tema do remanescente.
Quarta mensagem (9.5-15): O profeta termina seu ministério profético em Israel com a promessa de
restauração messiânica e bênção. O propósito é encorajar à esperança no remanescente.

7.5. Propósito e mensagem


A apostasia religiosa, a decadência moral e social e a corrupção política do Reino do Norte, levaram o Se-
nhor a enviar Amós de Judá para o outro lado da fronteira para profetizar em Betel. A mensagem básica do
pregador a Jeroboão II era: “chegou o fim de Israel, meu povo” (8.2) e o pronunciamento de Amós contra
o falso profeta Amazias representou um resumo do julgamento do profeta a toda à nação (7.10-17).

7.6. Tema principal


Justiça Social
Amós era conhecedor dos aspectos da aliança com o Senhor, além de suas implicações éticas nas condu-
tas individuais e coletivas. Por sua defesa aguda dos desamparados (pobres, necessitados e aflitos - 2.6-7;
4.1; 5.11-12; 8.4-6) e a denúncia dos opressores ricos (mulheres ricas, comerciantes desonestos, líderes
corruptos e falsos sacerdotes - 4.1; 6.1-4; 7.8-9), renderam-lhe a reputação de “porta-voz divino da jus-
tiça social” (5.7, 15, 24; 6.12).
O ensinamento do livro de Amós apresenta a conceituação entre dois temas semelhantes, fundamentais
para um cristianismo social genuíno: serviço social e ação social.

Serviço Social Ação Social


Alívio da necessidade humana (5.12) Remoção das causas da necessidade humana (8.4-6)
Atividade filantrópica (4.5; 6.4-7) Atividade política e econômica (5.10, 11, 15)
Ajuda individual/familiar (4.1; 5.6,7) Transformação das estruturas da sociedade (4.4-5; 7.7-9)
Obras de misericórdia (4.1; 6.4-7) Busca pela justiça (2.6-8; 5.7,24; 6.12)

43
Teologia

Fonte: HILL, Andrew E; Walton, J. H. Panorama do Antigo Testamento. 1 ed. 3 reimp. São Paulo: Vida,
2011, adaptado de John R. W. Stott, Involvemente: Being a responsible Christian in a Non-Christian
Society.
John Stott definiu como segredo o desenvolvimento adequado da ação social cristã a sã doutrina. Ele
caracterizou cinco áreas específicas no ensinamento cristão que promovem a ação social, baseado no
livro de Amós:
1. A doutrina de Deus como autor e sustentador da criação, salvador de seu povo, o Deus mise-
ricordioso para com todas as nações, que ama a justiça e odeia o mal (2.10; 4.13; 5.8,15; 9.7).
2. A doutrina do homem que reconhece todas as pessoas como criaturas de Deus e a realidade da
causa e efeito na experiência social humana em razão do pecado, pois quando todos os seres
humanos são valorizados como criados à imagem e semelhança de Deus, o desejo de servi-los
aumenta (1.9; 2.1; 9.7).
3. A doutrina de Jesus Cristo como Messias reconhece a renovação e a restauração associadas à ver-
dadeira redenção (9.13-15).
4. A doutrina da salvação admite o pecado humano, busca em Deus soluções para os problemas do
pecado e do mal no mundo, admitindo que a salvação é para a pessoa toda e não somente para
a alma.
5. A doutrina da Igreja como comunidade da aliança percebe sua responsabilidade como agente da
restauração e reconciliação do mundo caído.

44
8. Obadias

O livro de Obadias é o mais curto do Antigo Testamento com apenas 21 versículos, porém, isto não
representa uma menor importância em relação aos outros livros.

8.1. Conceitos Básicos


1. A soberania de Deus;
2. A restauração de Israel;
3. O princípio da retribuição.

8.2. Composição do Livro


Não existem informações a respeito do profeta, uma vez que este nome bíblico era comum, atribuído a
vários personagens do AT.
O livro não apresenta menção alguma ao contexto da época nem inclui qualquer informação a respeito
do profeta, apenas suspeita-se que ele era originário de Judá.
O conteúdo de sua profecia basicamente se resumiu numa reação ao papel de Edom quanto à queda de
Jerusalém, nas mãos do exército babilônico do rei Nabucodonosor.
Quanto à escrita do livro de Obadias:
Situar Obadias após a queda de Jerusalém parece ser a opção mais favorável já que a conquista
total da cidade descrita no versículo 11 é mais bem explicada pela invasão de Nabucodonosor
com o cerco e a pilhagem da capital de Judá (HILL; WALTON, 2011, p. 447).
A Biblia hebraica reconhece os laços de parentesco entre Edom e Judá traçando relações sanguíneas entre
Esaú e Jacó (Gn 25.19-26) e também o relacionamento entre os dois povos, como profecia de Gn 25.23,
que sugere a dificuldade de relacionamento entre estes povos já durante o êxodo quando Edom negou a
passagem aos israelitas (Nm 20.14-21).
Davi invadiu Edom e os textos de 1 Crônicas 18.12-13 e 2 Samuel 8.13 -14, relatam como o monarca
conquistou Edom e a incorporou a Israel.
Percebemos assim, que o relacionamento entre ambos os povos sempre beirou ao conflito.
Teologia

8.3. Temas Principais

1. Orgulho
Edom se orgulhava de ser local de sabedoria para o mundo antigo (Jr 49.7), desta forma Obadias cen-
surou a confiança que Edom depositava em seus sábios e a incapacidade que eles tiveram para detectar
a conspiração de falsos amigos que invencionavam sobrepujar a nação (v. 7,8).
Assim como a Babilônia que se vangloriava de sua sabedoria, mas que se mostrou inútil diante do juízo
de Deus (Is 47.8-15).

2. Lei de Talião
O conceito de que o crime não compensa (v. 15) é bem fundamentado nos ensinamentos bíblicos. A
legislação da Torá se baseia na Lei do Talião, ou seja, olho por olho (Ex 21.23; Lv 24.19; Dt 19.21), em
resumo, o castigo por atos criminosos será realizado proporcionalmente ao delito.
A tradição da sabedoria israelita refletia esta crença (Pv 26.27; Sl 7.15,16). O próprio apóstolo Paulo
reconheceu que aquilo que o homem planta ele também colhe (Gl 6.7-10) e Judá mesmo teve ciência
disto quando o Senhor permitiu que Samaria caísse diante da Assíria (2 Rs 17.21-23) que, a seguir, fora
derrotada por Nabucodonosor (Is 14.24-27), alcançando com a permissão divina também a própria
Judá por causa de seus pecados (Jr 25.8-14).

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9. Jonas

O livro de Jonas é único entre os proféticos do Antigo Testamento, pois não se trata de uma coleção
de oráculos do profeta e, sim, uma narrativa de sua vida. Jonas viveu no período do rei Jeroboão II no
Reino do Norte, na primeira metade do século VII a.C.
Neste livro encontram-se três conceitos básicos:
1. O direito de Deus de realizar atos de compaixão;
2. A tendência divina de oferecer outra oportunidade;
3. O prazer de Deus em pequenos avanços na direção certa.

9.1. Autoria
Há suspeitas que Jonas tenha vivido no século VIII a.C., mas há controvérsias quanto a datação do livro;
alguns defendem no século VIII, enquanto outros estudiosos datam sua escrita no século V, sendo esta
última, importante para compreender a mudança de direção no estilo profético de Jonas.

9.2. Contexto da Época


Os fatos ocorreram na primeira metade do século VIII a.C. e, diferentemente do século anterior – IX
a.C. – o império Assírio já não representava uma grande ameaça. Desta forma, Jeroboão II conseguiu
reconquistar boa parte do território pertencente a Israel desde a época de Davi e de Salomão, renovando
as alianças comerciais e recuperando parte da prosperidade vivida há tempos.

9.3. Propósito e Mensagem


Se escrito no século V, o livro de Jonas tem o propósito de apresentar uma significativa mudança na
função da profecia no período pós-monarquia e se arrisca a tratar do tema do mistério de Deus.

9.4. Profecia
Existe uma perceptível diferença entre Jonas e os demais profetas, isto porque no discurso de Jonas não
existem acusações, mas o livro todo enfatiza a possibilidade e o desejo do arrependimento, assim como
a natureza misericordiosa de Deus.
Teologia

Segundo alguns estudiosos, isto aconteceu graças à mudança do discurso profético do século VI em
diante que anunciava com maior ênfase aquilo que Deus estava prestes a realizar, conclamando todos
ao arrependimento e combatendo a doutrina da retribuição, pois reconhecia que o perdão é possível
também ao injusto.

9.5. Temas principais

1. Compaixão
Como já citado, é a bondade de Deus e o seu direito de realizar atos de compaixão. Até mesmo na
apresentação de Jonas no livro de Reis (2 Rs 14.25-27), Deus já demonstra compaixão e misericórdia ao
fazer um rei perverso (Jeroboão II) prosperar. Mesmo estando insatisfeito com a forma que Jeroboão II
reinava sobre Israel, Deus se compadeceu com o sofrimento do povo.
O livro não tem a intenção de fazer de Jonas o representante de Israel e, assim, incentivar a evangelização
e o perdão, por exemplo, mas pelo contrário, de identificar os três: Jonas, Nínive e Israel como objetos
da atividade divina, pois Deus reserva para si o direito de soberania, de misericórdia e de compaixão.

2. Ira
A ira divina resultou nos fatos ocorridos no livro de Jonas e a iniquidade de Nínive levou Deus a se irar
e a agir. Contudo a ira é equilibrada pela compaixão, pois assim como Jonas disse: “O Senhor é tardio
em irar-se, e grande em benignidade, e que se arrepende do mal” (Jn 4.2b).

3. Teodiceia – Justiça de Deus


Teodiceia é o conceito que trata da coexistência de um Deus infinito e bom com o mal. As palavras gre-
gas teos (Deus) e diké (justiça) cunharam o termo Justiça de Deus, criado em 1710 pelo filósofo alemão
Gottfried Leibniz.
De forma simplificada o conceito da teodiceia afirma a existência de um Deus que permite ao homem
o livre-arbítrio, ou seja, opção de escolha que, feita com irresponsabilidade, conduz o homem ao mal
natural ou ao mal moral.
Essa justificação é frequente no A.T., pois os israelitas ficavam intrigados com o sofrimento do justo.
Contudo, o livro de Jonas propõe uma leitura diferente, já que a indulgência ou perdão divino relacio-
na-se com o ímpio, o ninivita. A resposta a este comportamento divino está em ser “tardio em irar-se”.
Mas isso não corresponde a um perdão eterno por parte de Deus. No final Seu castigo será executado
(Jr 13.14; Ez 7.1-9). Deus não está limitado à vontade humana, ou seja, tem a liberdade de agir quando
bem entender.
Em Jonas, não é apenas a misericórdia divina que é reconhecida, mas uma qualidade específica desta mise-
ricórdia: “que essa misericórdia é livre e imerecida, e, acima de tudo, Deus é livre para aplicá-la em sujeitos
tais como os ninivitas” (BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY, R. E., 2011, p. 1140-1141).

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Livros Proféticos

9.6. Esboço
I. Primeiro chamado e a tentativa de fuga de Jonas (1.1-16).
II. Resgate divino de Jonas e sua demonstração de gratidão (1.17 a 2.10).
III. Segundo chamado e a resposta de Nínive à pregação de Jonas (3.1-9).
IV. Resgate divino de Nínive e a demonstração da ira de Jonas (3.10 a 4.5).
V. A ilustração e o direito divino de compaixão (4.6-11).

9.7. Relevância para a Igreja Hoje


Com frequência se usa como tema principal no Livro de Jonas a questão missionária, da pregação do
Evangelho. Isso é indiscutível e permeia não somente o livro de Jonas, mas toda a Escritura, em particu-
lar o AT, pois esse deveria ser o papel de Israel em relação aos povos vizinhos.
Jonas não teve compaixão com os vizinhos e irou-se com Deus, pois o Senhor foi longânimo com os assí-
rios. A Evangelização sem amor e compaixão não é de fato evangelização. O discurso enquanto tal, sem a
fraternidade, não gera frutos, pois o amor verdadeiro, provindo do Espírito de Deus “não se alegra com a
injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (1 Co 13.6-7).

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10. Miquéias

Miquéias foi um profeta da pequena cidade de Moresete, localizada nas colinas de Judá, entre Jerusalém
e o mar Mediterrâneo. Contemporâneo de Isaías que profetizava em Jerusalém para a nobreza e os sa-
cerdotes, Miquéias profetizava para a sua cidade.
Um dos poucos profetas a ser mencionado em outro livro profético. Quando Jeremias foi ameaçado de
morte por suas profecias, ele foi livrado pelos anciãos que lembraram o povo de que Miquéias profetiza-
ra a mesma coisa 100 anos antes (Jr 26.18-19). Isto indica a importância de Miquéias como porta voz
do Senhor.
Profetizou nos dias dos reis Jotão, Acaz e Ezequias, na segunda metade do século VIII a.C. (740-687).

10.1. Conceitos Básicos


1. Acusação de injustiça;
2. A boa conduta, não rituais manipuladores, como resposta adequada à ira de Deus;
3. O trono de Davi a ser ocupado pelo salvador nascido em Belém;
4. O livramento futuro da ameaça assíria.

10.2. Contexto da Época


Miquéias profetizou durante a grande crise assíria, testemunhando os acontecimentos que resultaram na
destruição e na deportação do Reino do Norte - a ascensão assíria é descrita no capítulo 3.
Como os oráculos de Miquéias não são datados fica difícil atribuí-los a um evento específico; acontece-
ram diversas incursões assírias contra Judá no tempo do profeta.
A mais ameaçadora foi a que aconteceu em 701 a.C. Nesta campanha muitas cidades de Judá foram
sitiadas e destruídas, particularmente Laquis (1.13).

10.3. Propósito e Mensagem


Miquéias é um dos poucos que revelou claramente o seu propósito: declarar a transgressão e o pecado
de Israel (3.8).
Sua mensagem era que o povo, principalmente a nobreza da época, era culpado de injustiça (2.1-2; 3.1-
3 9-11; 6.10-11). O resultado era sofrerem a destruição e o exílio.
Livros Proféticos

O perigo não consistia apenas na ameaça assíria, mas principalmente internamente; ou seja, profetas,
sacerdotes e juízes aceitavam subornos, comerciantes trapaceavam e os cultos cananitas eram realizados
ao lado dos javistas.
Tipos de oráculos profetizados por Miquéias que abordam diferentes temas:
1. Destruição dos lugares e objetos de culto usando termos cósmicos (1.3-7; 3.12).
2. Devastação política incluindo subversão de cidades e envio dos habitantes ao exílio (1.10-16).
3. Julgamento pessoal contra opressores específicos (2.3-5).
4. Julgamento espiritual que privou os profetas de revelação (3.6-7).
5. Julgamento socioeconômico que afetou a fertilidade da terra (6.13-16).

51
11. Naum

No século VIII a.C. Jonas esteve em Nínive, capital da Assíria, exortando seus moradores quanto ao seu
pecado e maldade. Naquele momento, o povo se arrependeu e, com isso, o Senhor deixou de lançar o
seu julgamento sobre aquela cidade.
Contudo, cerca de 150 anos depois, os moradores de Nínive se esqueceram da aliança que fizeram com
Deus e retornaram às práticas antigas como a brutalidade exagerada.

11.1. Conceitos Básicos


1. Julgamento iminente de Nínive;
2. Futura libertação de Judá do poder do Império Assírio.

11.2. Contexto da Época


Embora a Assíria tivesse sido um grande império no século VIII a.C. no período de Naum (século VII a.C.),
a sua grandiosidade e seu domínio começava a apresentar sinais de fraqueza e a sua queda parecia iminente.
Neste período, algumas cidades entraram em rebelião contra a Assíria e, por volta de 640 até 630, o
domínio assírio entrou em descompasso até a sua ruína.
Após a morte de Assurbanipal (627), a Babilônia conseguiu sua independência e, nas duas décadas se-
guintes, os babilônicos, em conjunto com os medos, destruíram o poderoso Estado Assírio em 612 a.C. 
Nínive foi transformada na joia do Império Assírio por Senaqueribe (704-681). Ele a triplicou de tama-
nho; construiu um palácio magnífico, além de um jardim botânico e um zoológico. Porém, mesmo com
todo seu esplendor, Nínive cairia, já que representava a perversidade brutal dos assírios e, desta forma,
o Senhor estava decidido a castigá-la conforme as profecias de Isaías 14.24-27 e de Sofonias 2.13-15.
Naum teria profetizado (655 -650 a.C.) no final do governo de Manassés (695 - 642 a.C.). Suas pro-
fecias eram de julgamento para a Assíria e não para Judá, pois Manassés, no final de seu reinado, se
arrependeu de suas perversidades (2 Cr 33.10-16).

11.3. Esboço
I. Salmo introdutório (1.1-8)
II. Destruição de Nínive e livramento de Judá (1.9 - 2.2)
Livros Proféticos

III. Cerco a Nínive (2.3 - 3.19)

11.4. Propósito e Mensagem


O propósito central do livro era o de anunciar a destruição de Nínive. Naum deixa claro que os gran-
des poderes do mundo não são eternos. Por mais que dominem e amontoem, por mais que oprimam
e humilhem os pequenos, um dia eles ruirão como Nínive. Aliás, desaparecerão da história justamente
porque agem dessa maneira. Sobre todos os opressores obstinados pesa o julgamento implacável de Deus
que toma o partido dos oprimidos.
Comparação entre Jonas (a compaixão) e Naum (o julgamento)

TEMAS JONAS NAUM

Compaixão Jn 4.2b       Na 1.3

Julgamento divino Jn 3.10      Na 3.19

53
12. Habacuque

Pouco se sabe sobre a origem de Habacuque, pois não há dados genealógicos ou históricos sobre o pro-
feta. Nesse caso, se dá mais ênfase à abordagem do tema específico tratado pelo livro, semelhante ao de
Jonas; no caso do livro do profeta Habacuque o tema é justiça divina.
Profetizou durante o governo de Josias (640 - 609 a.C.) por volta de 640 e 626 a.C., sendo a data mais
aceita o ano de 630 tornando Habacuque contemporâneo de Jeremias.

12.1. Conceitos Básicos


1. Deus é justo ao lidar com as nações;
2. Embora os acontecimentos sejam confusos, devemos confiar em Deus e agir com integridade;
3. Judá receberia castigo dos babilônios e estes, por sua vez, seriam castigados por Deus.

12.2. Contexto da Época


Com a desintegração do domínio assírio, Josias lançou, livremente, o fundamento visionário para o
retorno do povo aos ideais da aliança (2 Rs 22 e 23).

12.3. Esboço
I. Discurso 1
A. Oração: Queixa de Habacuque em relação à Judá (1.1-4).
B. Resposta: Oráculos de julgamento - Babilônia invadirá Judá (1.5-11).
II. Discurso 2 
A. Oração: Perguntas de Habacuque com relação à justiça de Deus (1.12-17).
B. Instrução de Deus (2.1-3).
C. Resposta 1: Responsabilidade do justo (2.4-5).
D. Resposta 2: Oráculo de julgamento contra a Babilônia (2.6-20).
III. Discurso 3
A. Oração: Pedido de misericórdia de Habacuque (3.1-2).
B. Reflexão: O poder de Deus para livrar (3.3-15).
Livros Proféticos

12.4. Propósito e Mensagem


O propósito do livro é analisar a questão da justiça divina no âmbito nacional.
A questão da Teodicéia (justificação dos procedimentos de Deus com a humanidade) era: “Como pode
o Deus Justo usar a nação perversa, como a Babilônia, como instrumento de castigo?”.
Se Deus desse a vitória aos babilônios, não estaria aprovando o procedimento deles?
Habacuque não queria dizer com isso que Judá não merecia o julgamento do Senhor, mesmo porque a
reforma de Josias alcançava apenas o templo e o culto; as injustiças sociais ainda existiam.
Este livro também trata sobre a Teodiceia da mesma forma como o livro de Jó: por que um homem justo
padece?
No caso de Habacuque a pergunta é por que Deus permite uma nação perversa prosperar?
A resposta que Deus dá para Habacuque é semelhante à recebida por Jó: Deus confronta a Jó por meio
de sua grandiosidade.
Em Habacuque, no capítulo 3, a demonstração da presença divina deve ser necessária para promover a
confiança, mesmo que as respostas ainda não estejam disponíveis no caso de Jó.
Mas para Habacuque o Senhor dá uma resposta dupla aos questionamentos do profeta:
1. Responsabilidade individual (2.4-5): mesmo quando a perspectiva é obscura e os planos de Deus
são confusos, o justo tem a obrigação de agir com integridade. Na escuridão, a fé e a integridade
brilham como um farol.
2. Castigo aos babilônios (2.6-20): Deus castigaria os babilônios, mas o momento não havia che-
gado. O uso dos babilônios como instrumento de castigo a Judá, não implicava que agravasse
a Deus, mas que Ele poderia usá-los como quisesse. Por isso, o conceito de fé em Habacuque é
diferente do apresentado por Paulo (Rm 1.17; Gl 3.11), o qual está relacionado em manter o
estilo de vida íntegro e fiel mesmo quando não entendiam os caminhos de Deus.

12.5. Tema Principal


A política de Deus ao lidar com as nações.
A teologia diz respeito à política divina referente às nações. O procedimento divino pode ser comparado
a uma balança que pesa ações boas e más. A tendência era que a nação má fosse julgada por Deus, con-
tudo esse julgamento podia ser adiado por conta do arrependimento.

12.6. Conclusão
O livro de Habacuque quer nos ensinar a importância da confiança em Deus e na sua soberania. Não
podemos esperar reconhecer todo o andamento das operações diárias de Deus, mas podemos ter certeza
de que seus propósitos estão se cumprindo.

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13. Sofonias

Sofonias foi possivelmente um membro da corte (1.1), caso a pessoa citada seja uma referência ao rei
Ezequias. O profeta também foi um contemporâneo de Jeremias.
Durante o reinado de Manassés (697 a 642 a.C.) houve um enfraquecimento do movimento profético
graças ao seu estilo de governo, o qual reedificou os ídolos que seu pai Ezequias destruíra; também res-
tabeleceu o culto a Baal.

13.1. Conceitos Básicos


1. O Dia vindouro do Senhor;
2. O impacto universal do juízo vindouro;
3. O chamado aos humildes para buscar o Senhor.

13.2. Composição do livro


Sofonias profetizou no período de Josias (642 - 609 a.C.), entretanto, o período mais aceito foi durante
a reforma que Josias promoveu em Judá (628 - 622 a.C.) em meados de 626/627 a.C.

13.3. Contexto da Época


As cinco décadas de governo de Manassés custaram muito caro espiritualmente para Judá. É importante
lembrar que uma geração inteira só conheceu um rei, Manassés, e com isso, o aumento da degradação
espiritual, por meio do recomeço a adoração a Baal.

13.4. Propósito e Mensagem


O Propósito era iniciar uma mudança com o anúncio do juízo divino sobre a iniquidade.
A mensagem se concentrava no Dia do Senhor que, segundo ele, se aproximava rapidamente. Sua acu-
sação incluía a denúncia aos oficiais corruptos e a rebelião contínua contra Deus.
Livros Proféticos

13.5. Estrutura e Organização


Enquanto em Amós o julgamento foi pronunciado contra Judá e Israel, em Sofonias segue o exemplo
da intenção do Senhor de julgar todas as nações.

13.6. Tema Principal


O Dia do Senhor
A expressão “O Dia do Senhor” foi usada pelos profetas para indicar o tempo em que a situação da época
seria substituída pela ordem determinada por Deus; ou seja, um movimento à condição ideal.
Com isso, pode ser possível que tenha havido vários “Dia do Senhor”, pois a queda da Assíria ou a queda
da Babilônia pode ser considerada como um desses dias de julgamento porque houve justiça.
É um dia de acerto de contas para os opressores, pois possui ramificações políticas, sociais e espirituais.
Os povos de Judá e Israel acreditavam que o dia do Senhor seria uma época de alegria. Esperavam que os
inimigos fossem derrotados e destruídos, a nação seria exaltada e o rei davídico reuniria a nação em toda
a sua glória. Entretanto, profetas como Amós, extinguiram esse otimismo insistindo que os israelitas
estariam entre os inimigos de Deus no momento do julgamento (Am 5.18-20).

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14. Ageu

Ageu faz parte de um grupo de profetas do período pós-exílico, sob o domínio do império Persa (550-
330 a.C.), junto com Daniel, Joel, Malaquias e Zacarias.

14.1. Composição do Livro


Ageu estava entre os que voltaram da Babilônia para Jerusalém sob a liderança de Sesbazar, mas o seu
nome não consta na lista dos que regressaram segundo Esdras 1 e 2.
As quatro mensagens de Ageu foram transmitidas à comunidade de restauração em Jerusalém durante o
período de quatro meses datadas no período do segundo ano de governo do rei Dário.
A data tradicionalmente aceita para a sua composição é o ano de 520 a.C., porém existe a possibilidade
de sua escrita ter se perdurado até o final da reconstrução do templo em 516 a.C.

14.2. Contexto da Época


O pano de fundo da profecia de Ageu foi o reinado de Dario I (521 - 486 a.C). Ciro em 538 decretou
que todos os povos conquistados no período babilônico poderiam regressar as suas terras natais, incluin-
do os judeus.
O primeiro regresso foi liderado por Sesbazar (Ed 1.5-11), príncipe de Judá e primeiro governador da
comunidade da restauração; as primeiras fundações do templo foram construídas durante sua adminis-
tração (Ed 5.16).
No entanto, com os problemas de sobrevivência pelos quais os judeus do retorno passaram como o cerco
constante de estrangeiros hostis, e o castigo da seca e das péssimas colheitas, fizeram com que a recons-
trução do templo fosse abandonada.
Outro grupo liderado por Zorobabel, por volta de 522 a.C., reconhecido como novo governador e
Jesua, o sacerdote, foram inspirados pelos profetas Ageu e Zacarias a mobilizar a comunidade para um
segundo projeto de reconstrução em 520 a.C., terminando em 515 a.C. (Ed 6.15), cerca de dezessete
anos após a tentativa sob a liderança de Sesbazar.

14.3. Propósito e Mensagem


O Propósito era iniciar a reconstrução do templo; sendo assim, suas quatro mensagens se inter-relacio-
nam com a necessidade do despertar do povo de Jerusalém quanto às responsabilidades e obrigações,
Livros Proféticos

vantagens e promessas fundamentadas na aliança firmada com Iahweh.


A primeira mensagem de Ageu é uma repreensão quanto à preocupação com os confortos pessoais (Ag
1.3) enquanto o templo estava em ruínas.
Na segunda mensagem, Ageu chama o povo ao arrependimento e o desafiou a honrar ao Senhor com a
reconstrução do templo. O povo respondeu de imediato e suas ações foram registradas em 1.12,14: “eles
obedeceram”, “temeram o Senhor” e “começaram a trabalhar”.
No terceiro discurso, Ageu revelou a intenção de Iahweh de subverter as nações e restaurar a sorte de Israel.
Com isso, o povo se recordou da justiça divina, renovando o ânimo e reanimando o espírito do povo.

14.4. Tema Principal


O Templo
Moisés já havia declarado um dia em que o Senhor Deus estabeleceria um local para que seu nome fosse
honrado (Dt 14.23-25; 16.2-11).
Depois da construção do templo com Salomão e a sua destruição graças à invasão babilônica, Jerusalém
poderia então regressar com a adoração ao Senhor.
Isto porque, segundo Hill e Walton (2011, p. 590):
O templo simbolizava a presença de Deus entre o povo e servia de recordação concreta de sua
aliança com Israel. A existência física no meio da comunidade tinha o objetivo de estimular
a obediência aos mandamentos e inspirar a verdadeira adoração ao Senhor.
Desta forma, Ageu, em sua mensagem, convidou todo o povo não somente para uma fé cega em um
edifício, mas uma adoração adequada e verdadeira ao Senhor.
Mensagem para a Igreja Hoje
Qual o propósito de nossa ida à Igreja hoje? Uma verdadeira adoração? Ou propósitos que em nada
edificam o reino de Jesus?

59
15. Zacarias

Zacarias, junto com Ageu, profetizou no período pós-exílico. Enquanto Ageu conclamava o povo para
erigir o templo de Jerusalém, Zacarias, por sua vez, convocou a comunidade ao arrependimento e à
renovação com a aliança com Deus.
Zacarias significa “Já (vê) se lembrou”, ou seja, semelhante à essência de sua mensagem a Jerusalém do
pós-exílio.
Composição do Livro
Estudiosos mais conservadores defendem a integridade literária de Zacarias, isto é, o texto teria sido
escrito em uma única época. Em contrapartida, pesquisadores mais críticos dividem a escrita em duas
ou três épocas.
Os dois grupos atribuem os capítulos 1 à 8 ao profeta de 520-518 a.C. no reinado de Dário (521-486),
isto porque os pronunciamentos de Zacarias e a sua cronologia podem ser assim convertidas:

1.1-6: Ano 2, mês 8 = outubro/novembro de 520 a.C.


1.7 -- 6.8 Ano 2, mês 11, dia 24 = 15 de fevereiro de 519 a.C.
7.1 --8.23 Ano 4, mês 9, dia 4 = 7 de dezembro de 518 a.C.
Apesar de certa precisão dos estudiosos, ainda é difícil garantir o espaço entre os pronunciamentos de
Zacarias. No restante do livro não há consenso entre os estudiosos quanto ao período de sua escrita.

15.1. Contexto da Época


O pano de fundo da profecia de Zacarias foi o mesmo de Ageu durante o reinado de Dario I (521- 486
a.C.).
Apesar do retorno dos judeus para Jerusalém, após, o término do cativeiro babilônico, os judeus não se
mostraram muito interessados no programa de restauração da aliança como prometera Javé.
A situação em Jerusalém era a seguinte: Não havia espírito comunitário entre os regressos, os muros e o
templo estavam em ruínas e a ameaça dos vizinhos era constante.
Como resposta às angustias do povo, Deus levantou duas vozes proféticas que tiveram papel importan-
te em suas épocas. Ageu foi o responsável por levantar o moral do povo e retomar a reconstrução do
templo. Por sua vez, Zacarias foi fundamental para convocar o povo ao reavivamento espiritual (1.3-6;
7.8-14).
Livros Proféticos

15.2. Propósito e Mensagem


O Propósito era iniciar a reconstrução do templo. Sendo assim, suas quatro mensagens se inter-relacio-
nam com a necessidade do despertar do povo de Jerusalém quanto às responsabilidades e obrigações,
vantagens e promessas fundamentadas na aliança firmada com Iahweh.

15.3. Temas Principais

1. Messias

Depois de Isaías, Zacarias foi o profeta que mais anunciou a vinda do rei-pastor messiânico. O próprio
Jesus faz uso destas profecias e as explica aos seus discípulos como forma de interpretação do AT.
Previsões de Zacarias sobre o Messias

Virá em uma posição social baixa e humilde 9.9; 13.7 (v. Mt 21.5; 26.31, 56)
Restaurará Israel pelo sangue de sua aliança 9.11 (v. Mc 14,24)
Servirá como pastor a um povo disperso e
10.2 (v. Mt 9.36; 26.15; 27.9,10)
vagando como ovelhas
Será traspassado e ferido 12.10; 13.7 (v. MT 24.30; 26.31, 56; Jo 19.37)
Retornará em glória e livrará Israel dos inimigos 14.1-6 (v. Mt 25.31)
Reinará com paz e justiça em Jerusalém 9.9-10; 14.9,16 (v. Ap 11.15; 19.6)
Estabelecerá a nova ordem mundial 14.6-19 (v. Ap 21.25; 22.1-5)
(Fonte: Panorama do Antigo Testamento, p. 602)

2. Escatologia do Antigo Testamento


Escatologia é a doutrina dos acontecimentos do fim dos tempos ou o estudo dos últimos acontecimentos.
Embora Zacarias não use termos como “o Dia do Senhor” e “o Reino de Deus”, são perceptíveis concei-
tos escatológicos nos textos.
O conceito de salvação para Israel era essencial para o ensinamento escatológico do AT, uma vez que
“naquele dia o Senhor, seu Deus, os salvará” (9.16). O ministério do rei-pastor messiânico será marcado
pela paz, reconciliação e purificação de Israel.
Outro conceito, o “Dia do Senhor”, é a restauração de Israel e a união dos dois reinos por meio do
Messias, mudando a sorte do povo.
Essa restauração culminará em uma nova ordem criada e o próprio Senhor reinará sobre a terra dando
origem a uma nova Jerusalém quando as riquezas das nações sairão de Sião (14.6-15).
O templo defendido por Ageu e Zacarias recebe um papel importante, pois representará paz, justiça e
santidade (14.16-21).

61
16. Malaquias

Sabe-se pouco a respeito de Malaquias. Como no caso de Obadias, o verso 1 não apresenta sua genea-
logia. Alguns estudiosos acreditam que o profeta tenha feito parte da Grande Sinagoga, o qual consistia
em um “concílio de escribas e outros líderes que ajudaram a reorganizar a vida e a cultura religiosa após
o exílio babilônico” (HILL e WALTON, 2011, p. 606).
O profeta apresenta fortes convicções e repudia a idolatria (2.10-12), o divórcio fácil (2.13-16) e a injus-
tiça social (3.5), demonstrando um caráter integro. Mostrou-se corajoso ao censurar a classe sacerdotal
e a influente elite social (v. 1.1-14; 2.1-4; 3.2-4).

16.1. Composição do Livro


Apesar de ser o último livro do AT, isto não significa que, cronologicamente, Malaquias fosse último
livro na história hebraica. Malaquias é anterior a outros livros do AT como Ester, Esdras, Neemias e
Crônicas, com a data de composição atribuída ao período contemporâneo da atividade de Esdras e Ne-
emias em Jerusalém.
Esta teoria tem como fundamento as descrições paralelas da decadência religiosa e social da comunidade
pós-exílica registradas em Malaquias e nos livros de Esdras e Neemias. Por exemplo, os três confrontam
os problemas do casamento com estrangeiros, divórcios, abusos associados ao sacerdócio, aos serviços no
templo, aos dízimos, o sábado e a opressão aos pobres (1.6-13; 2.1-16; 3.5-10; v. Ed 9--10; Nee 5.1-5;
10.32-39; 31.1-30).
A outra teoria fundamentada em um estudo cuidadoso do hebraico de Malaquias revelou que o livro
possui semelhanças linguísticas com obras não do século V a.C., mas sim do século IV a.C., possivel-
mente sendo escrito antes do período de Esdras, o escriba, aproximadamente entre 500 a 475 a.C.

16.2. Contexto da Época


A mensagem de Malaquias refletia o período decadente do pós-exílio, antes ou a partir da construção do
segundo templo em Jerusalém durante o ministério de Esdras.
Jerusalém nessa época provavelmente era uma satrapia ou província sob o comando de um governador
persa. Possivelmente continuou pequena, pobre e sem expressão no vasto domínio persa, além de social
e politicamente estagnada.
As frequentes hostilidades com os samaritanos e o peso da vassalagem contribuíram para que crescessem
o ceticismo e a dúvida do povo em relação à Javé como Deus.
Livros Proféticos

16.3. Propósito e mensagem


O principal propósito de Malaquias era a chamada ao arrependimento e a renovação da aliança com o
Senhor. Outros temas do livro são:
1. Purificação do sacerdócio corrupto e complacente;
2. Transformação de uma falsa e monótona adoração para um louvor do qual Deus se agrada;
3. Correção quanto aos abusos associados ao dízimo e ao sacrifício realizados no templo;
4. Restauração dos elos familiares rompidos;
5. Inauguração de um programa de justiça social com base na ética da aliança.

16.4. Temas Principais


Casamento e divórcio
O casamento é uma aliança sagrada abençoada por Deus, com o propósito de comunhão e formação
de vida familiar. Deus odeia o divórcio porque a infidelidade destrói o elo de aliança entre os cônjuges.
Em Malaquias o termo ‘companheira’ em 2.14, está relacionado com ‘estar unido’, por isso o profeta
condenou os que depois de se divorciarem, casaram-se com mulheres estrangeiras ferindo a aliança com
Deus e corrompendo a religião hebraica.

63
17. A relação dos profetas e Jesus

Como observamos, durante todo o curso, o ministério profético enfrentou várias dificuldades em Israel
e também em Judá, isso porque como vimos, o povo se corrompeu rompendo a aliança com Deus e
passando a cultuar a outros deuses, culminando no juízo divino.
A partir desta afirmação podemos questionar se o ministério profético serviu para alguma coisa. Numa
primeira análise a resposta seria: não; entretanto, nós somos a prova de que serviu! A mensagem proféti-
ca é continuada em nós uma vez que alimenta inquietude e esperanças em nosso íntimo.
Desta forma, se a mensagem profética também está relacionada com a cristandade, outra questão surge:
qual a relação entre os profetas do Antigo Testamento e Jesus?
Analisando o que Sicre (2011) discorre sobre essas semelhanças podemos destacar alguns pontos:
1. Jesus é sensível às desigualdades: a condenação divina não residia mais somente em matar, rou-
bar e perjurar, mas bastava ser insensível com a desgraça alheia. A parábola do rico e Lázaro (Lc
16.19-31) enfatiza a condenação do rico por não cuidar de Lázaro.
2. Põe-se ao lado dos fracos (Mt 25.31-46)
3. Condena a riqueza como grande rival de Deus: encontramos os profetas de um modo geral
condenando a idolatria a Baal, enquanto no período de Jesus as riquezas se tornaram o grande
motivo de idolatria pelo povo (Mt 6.24; 13.22).
Com isso, podemos perceber o papel importante que a Igreja tem quanto às necessidades de seu próxi-
mo. Mas quem é o próximo? É aquele que você trata com amor, com respeito, independente do credo
religioso. Reconhecemos o outro como próximo em ações que vão desde a simples ultrapassagem pelo
outro no trânsito ao cuidado de uma pessoa carente.
Quando fazemos o que gostaríamos que nos fizessem, tratamos essa pessoa como próximo, do contrário
ele é somente o “outro”.
Lembrem-se:
“Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim
de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; vós, sim, que,
antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora,
alcançastes misericórdia” (1 Pe 2.9).
“Vós me sereis reino de sacerdotes e nação santa” (Ex 19.6a).
Bibliografia básica
BRIGHT, John. A História de Israel. São Paulo: Paulus.
BROWN, R. E.; FITZMYER, J. A.; MURPHY, R. E. Novo Comentário Bíblico. São Jerônimo: Antigo
Testamento. Santo André, São Paulo: Academia Cristã, Paulus, 2011.
BRUCE, F. F. Comentário Bíblico NVI – Antigo e Novo Testamento. São Paulo: Vida, 2009.
HILL, A. E.; Walton, J. H. Panorama do Antigo Testamento. 1 ed. 3 reimp. São Paulo: Vida, 2011.
SICRE, J. L. Com os Pobres da Terra - A Justiça Social nos Profetas de Israel. Santo André, São Paulo:
Academia Cristã, Paulus, 2011.
Livros
Poéticos

Autoria
Fabiano Gomes Pastor na Igreja OBPC Nova York (São Matheus-SP), Reitoria na empresa
Faculdade Teológica FOCO EAD e Escritor na empresa Editora OBPC, Estudou Ciências da
Religião USP, Formado em teologia pelo Seminário Presbiteriano, Estudou Filosofia na Universidade
Presbiteriana Mackensie, casado com Tamires Nascimento Gomes. Mora em São Paulo.
Sumário

Introdução 71

1. Jó 73
1.1. Título 73
1.2. Autor 73
1. 3. Data  73
1. 4. Lugar: a terra de uz 74
1.5. Fatos relevantes  74
1. 6. Tema principal  74
1.7. Lições sugeridas 75
1.8. Esboço do livro  77
1.9. Analisando os relacionamentos  78
1.10. O sofrimento humano e a bíblia  84

2. O livro de Salmos 88
2.1. Título 88
2.2. Considerações importantes 88
Aplicação dos conhecimentos  94

3. Provérbios 100
3.1. Título 100
3.2. Autores 100
3.3. Data 100
3.4. Propósito 100
3.5. Tema 101
3.6. Visão panorâmica: 101

4. Eclesiastes 109
4.1. Título 109
4.2. Autor e data 109
4.3.Tema 109
4.4. Esboço do livro  110
4.5. Palavras chaves do livro  111

5. Cântico dos Cânticos 112


5.1. Título 112
5.2. Autor e data 112
5.3. Tema 112
5.4. Esboço do livro  113
5.5. Analisando o texto 113
5.6. Aplicando o livro 114

Revisao geral 115


Introdução

O
s livros classificados como Poéticos são: Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cantares de Salo-
mão e Lamentações. Contudo é possível encontrar algumas passagens poéticas em todo VT
(Ex 15.1-21; Jz cap. 5 e extensas porções das obras proféticas). Considerando que estes livros
descrevem as experiências da humanidade, e em algum particular, do povo de Deus, seu alcance é tão
extenso quanto à própria vida. Neles a inspiração reveste a experiência humana com uma qualidade
universal que produz conforto, força e orientação a inúmeros crentes através dos séculos.
A base da poesia hebraica é o paralelismo do pensamento e não a semelhança de sons pela rima. Pos-
suindo um poderoso vocabulário, a poesia do VT está repleta de figuras de linguagem tais como perso-
nificações, hipérboles, metáforas, símiles e aliterações. Há também certos artifícios estruturais, inclusive
estrofes e, como todo o Salmo 119 e em lamentações, padrões acrósticos.
Com toda a certeza podemos afirmar que a poesia hebraica pode ser classificada entre as principais e
mais ampla expressões líricas, dramáticas e didáticas na literatura universal. Em sua prática clarividente
os livros da sabedoria estão muito afastados da filosofia especulativa, pois ao mesmo tempo em que
tratam das dificuldades do quotidiano, olha para Deus como a única fonte de motivação e força para
superá-los.
Nestes livros, a ênfase sobre a sabedoria de Deus (Pv 8.22) ajudaram a preparar o advento do Senhor
Jesus Cristo, “o qual se nos tornou... sabedoria” (1Co 1.30), “em quem todos os tesouros da sabedoria e do
conhecimento estão ocultos” (Cl 2.3) e que disse de Si mesmo: “Eu Sou o caminho, e a verdade, e a vida;
ninguém vem ao Pai senão por mim” (Jo 14.6).

Recapitulação 1

1RI. A base da hebraica é o paralelismo do e não a


semelhança de pela rima.

2RI. Quais são os livros poéticos da Bíblia?






1. Jó

1.1. Título

Do hebraico “Yyob”, que significa: “estar em hostilidade”, “provar”. Também é traduzido por “odiado”.

1.2. Autor
Desconhecido
Alguns atribuem a Moisés a sua autoria e, outros, a alguém contemporâneo de Abraão; no entanto não
há provas ou evidências internas para que haja unanimidade entre os estudiosos do VT.

1. 3. Data
A data dos acontecimentos e a data de autoria do livro são objetos de grande discussão. Os fatos pro-
vavelmente aconteceram numa sociedade patriarcal no segundo milênio a.C. por volta da época de
Abraão. Vários fatores apoiam esta ideia:
• Jó viveu mais de 140 anos após os eventos do livro (42.16), um tempo de vida normal apenas no
período patriarcal.
• A economia era semelhante ao período patriarcal em que as riquezas eram medidas pelo número
de cabeças de gado (1.3).
• Tal como Abraão, Isaque e Jacó, Jó agia como sacerdote de sua família (1.5).
• A ausência de qualquer referência à nação de Israel, à Lei mosaica e ao Tabernáculo, sugere uma
data pré-mosaica.
• As incursões dos sabeus (1.15) e dos calDeus (1.17) se encaixam na era abraâmica.
• O uso frequente (39x) do nome patriarcal comum de Deus “Shaddai” (O Onipotente).
É considerado por muitos eruditos como o livro mais antigo da Bíblia entre 2000 a 1000 a.C; outros
eruditos mais modernos o colocam em data tão recente como a época do exílio. Afirmam estes que
esta é uma história muito antiga que fazia parte das tradições orais transcrita entre o século VII ao
século IV a.C.
Teologia

Pessoalmente creio que este livro foi escrito na era patriarcal, sendo o canônico mais antigo.

1. 4. Lugar: a terra de uz
O nome “Uz” está ligado a Edom (Lm 4.21), por isso, há indícios históricos que sugerem algum lugar
perto de Araam Naharim (Aram dos dois rios) ao norte da Mesopotâmia, ficando Uz, localizada na
Arábia (entre Damasco e Síria) ao norte e Edom ao sul.

1.5. Fatos relevantes


1.5.1 - A Cidade de Uz é um lugar histórico e não imaginário.
1. 5.2 - Ezequiel cita a Jó como exemplo de justo (Ez 14.14,16, 18, 20).
1. 5.3 - Tiago usa a história de Jó como exemplo de paciência – (Tg 5.10-11).

1. 6. Tema principal
Reflete a busca para a resposta da aflição de Jó, uma vez que, dentro do pensamento de culturas antigas
e algumas “teologias modernas” acredita-se que todos os revezes humanos sempre são consequências de
algo que se fez de errado ou algo certo que se deixou de fazer.
O livro de Jó lida com a pergunta dos séculos: Se Deus é justo e amoroso, por que permite que um homem
realmente justo, tal como Jó, sofra tanto?
Neste livro, vemos como Deus lida com situações demais elevadas para nossa compreensão e como a sua
graciosa autorevelação, faz com que “todas as coisas cooperem para o nosso bem” (Rm 8.28).
O livro de Jó é poético e pictórico em suas descrições e pode ser dividido em doze cenas:

Cena 1
Jó e sua família antes das aflições 1.5:
a) Socialmente: Próspero
b) Familiarmente: Piedoso e dedicado.
c) Religiosamente: Íntegro para com Deus.
Cena 2
a) Satanás entra na presença divina, e insinua que Jó serve a Deus por causa dos favores especiais
cap. 1.9-11,
b) Deus permite Satanás provar a Jó com a perda de suas possessões e de seus filhos – 1.12-20,
c) Jó retém a sua integridade – 1.21,22.

74
Livros Poéticos

Cena 3
a) Satanás volta à presença divina, declarando que se Jó fosse afligido no próprio corpo, ele amaldi-
çoaria a Deus – cap. 2.1-5.
b) Deus permite que Satanás atinja Jó com horrível enfermidade - cap. 2.7,8.
c) O conselho blasfemo de sua esposa e a submissão triunfante de Jó – cap. 2.9,10.
Cena 4
a) A chegada dos três amigos de Jó, sete dias de silenciosa condolência – cap. 2.11-13.
Cena 5
a) A paciência de Jó começa a acabar, e ele expressa sua queixa – cap. 3.
Cena 6
a) Amargas e infrutíferas discussões das aflições de Jó entre ele e seus amigos caps. 4- 31.
Cena 7
a) Eliú entra na discussão – caps.32-37.
Cena 8
a) O Senhor responde a Jó com palavras de luz e repreensão – caps.38, 39.
Cena 9
a) A confissão de Jó – cap. 40.3-5.
Cena 10
a) O Senhor fala pela segunda vez – caps. 40.7-41.34.
Cena 11
a) A segunda confissão de Jó – cap. 42.1-6.
b) O Senhor repreende a Elifaz, a Bildade e a Zofar por suas palavras insensatas e ordena-lhes que
ofereçam sacrifícios – cap. 42.7-9,
Cena 12
a) Jó ora por seus amigos 42.9.
b) Sua prosperidade é restaurada 42.10 – 15.
c) Morre em avançada idade 42.16,17.

1.7. Lições sugeridas


A Grandeza de Deus
1. 7.1 Da Sua Pessoa – 42.1-5
Vista não apenas na soberania que tem sobre todas as coisas, mas no dinamismo de seus caminhos.

75
Teologia

1.7.2 Do Seu Poder – 1.6; 38.1, ss.; 41.10,11.


O poder da sua lei comanda todo o mundo espiritual e físico, por isso, quem reconhece o poder
do seu amor, pode inspirar a devoção das pessoas sem visarem à recompensa material.
1.7.3 Do Seu Programa – 1.6,7; 19.26,27.
Seu plano para com a humanidade é universal e eterno e não uma reação ao imprevisto de per-
curso.
1. 7.4 De Seus Propósitos – 1.8 -12; 2.3.
Ele não pretende mimar a humanidade para que ela tenha uma vida regalada neste mundo, mas
usará de tudo, até Satanás, para aperfeiçoá-la para a eternidade.
1.7.5 De Seu Povo – 1.20-22; 13.15; 23.10.
Os verdadeiros filhos de Deus são aqueles que O amam e O servem pela fé, e não por aquilo que
Ele dá. Estes estão atentos às provações, tribulações e aflições, pois almejam ser purificados como
ouro, cada vez mais.
1.7.6 A oportunidade do sofrimento:
a) Para Satanás – 1.11; 2.4,5
É um meio de forçar as pessoas a renunciarem a Deus,
b) Para os Amigos – 4.7-9; 8.3-6; 11.13-15; 33.13 -17,29.
É sempre um castigo pelo pecado ou um meio de Deus corrigir e disciplinar com razão.
c) Para Jó
No início – 6.24; 7.20 – É para o iníquo, não para o justo.
No fim – 23.10 – É um processo divino para purificar e valorizar o filho.
d) Para o Senhor
É um privilégio que temos como seu filho para ajudá-lo a cumprir algum propósito 1.8,12.
É uma oportunidade para confiar quando não entendemos porque, saber o propósito, poderia
destruir o efeito – 13.15.
É uma experiência para vivenciarmos o poder cuidadoso e misericordioso do Pai – 42.3-7.

Recapitulação 2
3R1. Mencione dois fatos internos que apontem para uma data de autoria por volta dos tempos de
Abraão.





76
Livros Poéticos

4R1. Cite os dois escritores bíblicos e suas referências que mencionam a existência de Jó.





5R1. Ele não pretende mimar a para que ela tenha uma vida
neste mundo, mas, usará de tudo, até Satanás, para para a eternidade.

6R1. É uma oportunidade para , quando não entendemos, porque


o propósito, poderia destruir o efeito – 13.15.

1.8. Esboço do livro


1.8.1 Prólogo: A Crise ( 1.1 - 2.13)
a) Jó e sua retidão e seu temor a Deus -1.1-5
b) Jó e suas calamidades e sofrimentos -1.6-2.10
• A proposta de Satanás – 1.6 -11,
• A permissão de Deus – 1.12-22
• A persistência de Satanás – 2.1-6
• A paciência de Jó – 2.7-10
c) Jó e seus três amigos – 2.11-13
1.8.2 Diálogos entre Jó e seus amigos – 3.1- 37.22
a) O lamento de Jó - 3.1-26
b) O primeiro discurso de Elifaz - 4.1-5.27
c) A resposta de Jó a Elifaz - 6.1-7.21
d) O primeiro discurso de Bildade – 8.1-22
e) A resposta de Jó a Bildade - 9.1-10.22
f ) O primeiro discurso de Zofar – 11.1-20
g) A resposta de Jó a Zofar - 12.1-14.22
h) O segundo discurso de Elifaz - 15.1-35
i) A segunda resposta de Jó a Elifaz - 16.1-17.16
j) O segundo discurso de Bildade - 18.1-21

77
Teologia

l) A segunda resposta de Jó a Bildade 18.1-21


m) O segundo discurso de Zofar - 20.1-29
n) A segunda resposta de Jó a Zofar – 21.1-34
o) O terceiro discurso de Elifaz - 22.1-30
p) A terceira resposta de Jó a Elifaz – 23.1-24.25
q) O terceiro discurso de Bildade - 25.1-6
r) A terceira resposta de Jó a Bildade – 26.1-14
s) A última resposta de Jó a seus amigos – 27.1-31.40
• Uma declaração de inocência – 27.1-23
• Um discurso sobre a sabedoria – 28.1-28
• Uma descrição de sua vida – 29.1-31-40
t) Os discursos de Eliú - 32.1-37.24
• Seu primeiro discurso – 32.1-33.33
• Seu segundo discurso – 34.1-37
• Seu terceiro discurso – 35.1-16
• Seu quarto discurso – 36.1-37.24
1.8.3 Os diálogos entre Deus e Jó - 38.1-42.6
a) O primeiro discurso de Deus – 38.1 – 40.2
b) O sábio silêncio de Jó – 40.3-5
c) O segundo discurso de Deus 40.6-41.34
d) O vitorioso arrependimento de Jó – 42.1-6
1.8.4 A restauração de Jó - 42.7-17
a) Em relação a seus amigos – 42.7-9
b) Em relação a sua família – 42.10, 11, 13-17.
c) Em relação a seus bens – 42.12

1.9. Analisando os relacionamentos

Aplicação dos conhecimentos


7R1. FAÇA UMA ANÁLISE DO LIVRO DE Jó (Para execução dessa tarefa você precisará ler o livro
de Jó mais de uma vez).

78
Livros Poéticos

Revelações sobre satanás


1- Seu caráter:






2- Seu poder:






3- Sua estratégia:






4- Seus relacionamentos:
a) Com Deus






b) Com Jó






5- Outras Observações:





79
Teologia

Revelações sobre Jó
1- Seu caráter:






2- Seu relacionamento:
a) Com Deus






b) Com seu sofrimento






c) Com sua esposa






b) Com seus amigos






3- Outras observações:






80
Livros Poéticos

Revelações sobre Deus


1- Seu caráter:






2- Seu poder:






3- Sua estratégia:






4- Seus Relacionamentos:
a) O que diz sobre Jó





b) O que diz dos amigos de Jó






c) O que diz de Satanás






81
Teologia

5- Outras Observações:






Discursos teológicos ou falsas acusações


1. Ideias principais:
Elifaz – O 




Zofar – O 




Bildade – O 




Eliú – O 



Conceitos Teológicos e Correlação Bíblica:
a) Elifaz






b) Bildade




c) Zofar

82
Livros Poéticos






d) Eliú






d) Deus






1. Ideias principais:
1º Discurso:






2º Discurso:






2. Conceitos Teológicos e Correlação Bíblica:


1º Discurso:






83
Teologia

2º Discurso:






3. O que aprendo com estes discursos:






1.10. O sofrimento humano e a bíblia


A fidelidade a Deus não é garantia de que o crente não passará por aflições, dores e sofrimentos nessa
vida. Lemos em Atos 28.16, que Paulo chega a Roma para anunciar o Evangelho de Cristo; fazia isso
por ser um projeto pessoal (Rm 15.22-29), era a explícita vontade de Deus (Atos 23.11). Quando Paulo
chegou a Roma estava algemado e se recuperava dos reveses terríveis acontecidos por causa do naufrágio
da embarcação que o conduzia a Roma. Embora Paulo fosse fiel e obediente, Deus não lhe proveu um
caminho fácil e livre. Nós, da mesma forma, podemos estar no centro da vontade de Deus, ser inteira-
mente fiéis a Ele, e, mesmo assim, sermos dirigidos por Ele através de caminhos de lutas e aflições.
O Senhor Jesus ensinou que tais coisas acontecerão ao crente (João 16.1-4,33). A Bíblia contém nu-
merosos exemplos de santos que passaram por grandes sofrimentos por diversas razões: José, Davi, Jó,
Jeremias, Estevão, João Batista, Pedro e Paulo.
1.10.1 Por que os crentes sofrem?
Existem diversas razões que causam sofrimento ao cristão:
1) Como decorrência da queda de Adão.
Quando o pecado entrou no mundo, entrou também a tristeza, a dor, o conflito e, finalmente, a
morte sobre o ser humano (Gn 3.16 -19, compare com Rm 5.12).
2) Como consequência de seus próprios atos.
Há uma lei espiritual expressa nas Escrituras que afirma: “Tudo o que o homem semear, isso tam-
bém ceifará” (Gl 6.7) que se aplica a todos de modo geral. Se guiarmos imprudentemente o nosso
automóvel poderemos sofrer graves danos. Se não formos comedidos em nossos hábitos alimentares,
certamente iremos ter graves problemas de saúde.
3) Como resultado de habitar em um mundo pecaminoso e corrompido.
Por toda parte, ao nosso redor, estão os efeitos do pecado. Sentimos aflição e angústia ao vermos o
domínio da iniquidade sobre tantas vidas (Ez 9.4; At 17.16; 2 Pe 2.8).

84
Livros Poéticos

4) Como represália do diabo.


As Escrituras afirmam que Satanás, como “o Deus deste século” (2 Co 4.4), controla o mundo (1 Jo
5.19; Gl 1.4; Hb 2.14) e como “príncipe deste mundo” (Jo 14.30), recebe permissão divina para afligir
os cristãos de várias maneiras:
a) Com enfermidades: Jó (Jó 1, 2); Paulo ( 2 Co 12.7); uma mulher enferma (Lc 13.11,16).
b) Com perseguição e intimidação.
Satanás e seus seguidores se comprazem em perseguir os crentes que amam ao Senhor e seguem os
seus princípios de verdade e retidão. À medida que travamos guerra espiritual contra “os principados
e potestades” (Ef 6.12), é inevitável a ocorrência de adversidades.
5) Como possuidores do Espírito de Cristo
De um ponto de vista essencialmente bíblico, o crente também sofre porque “nós temos a mente de
Cristo” (1 Co 2.16). Ser cristão significa estar em Cristo, estar em união com Ele; nisso, compartilha-
mos dos seus sofrimentos:
a) Jesus chorou por Jerusalém cujos habitantes se recusavam arrepender-se (Lc 19.41).
b) Paulo sentiu profunda dor em face da idolatria do povo em Atenas (At 17.16).
c) Em 2 Co 11.23-32, Paulo inclui na sua lista de sofrimentos por amor a Cristo, a sua preocupação
diária pelas igrejas que fundara. Semelhante angústia, por causa daqueles que amamos em Cristo
deve ser parte natural da nossa vida “chorai com os que choram” (Rm 12.12).
6) Como instrumento útil para Deus
1. Em nosso favor.
Deus pode usar o sofrimento como catalisador para nosso arrependimento, crescimento e amadure-
cimento espiritual.
a) Ele emprega o sofrimento a fim de chamar a Si o seu povo desgarrado, para arrependimento e
renovação espiritual (2 Co 7.9; ver também o livro de Juízes).
b) Ele utiliza-se do sofrimento para testar a nossa fé para ver se permanecemos fiéis a Ele. A Bíblia
afirma que as provações que enfrentamos, são oportunidades para glorificarmos a Deus através da
nossa aprovação (Tg 1.2,3; 1 Pe 1.7).
c) Ele serve-se do sofrimento para não somente fortalecer a nossa fé, mas visando aperfeiçoar nosso
caráter cristão. A forma como reagimos em meio aos sofrimentos, aflições e tribulações, refletem
quem na verdade somos. Deus quer que aprendamos a ser pacientes e pacíficos em meio ao so-
frimento (Rm 5.3-5; Tg 1.3; 2 Pe 2.20; Sl 40.1). No sofrimento, aprendemos a confiar mais em
Deus e na Sua graça e menos em nossas capacidades (2 Co 12.9).
d) Ele permite que soframos dor e aflição para que possamos melhor consolar e animar outros que
estão a sofrer (2 Co 1.4). Como membros do mesmo Corpo, é nosso dever usar nossas experiên-
cias advindas do sofrimento para encorajar, fortalecer e consolar outros crentes.

85
Teologia

2. Propagar seus propósitos.


Deus pode usar e usa o sofrimento dos justos para propagar o seu reino e seu plano redentor.
a) Na vida de José: “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos aborreçais por me haverdes vendido
para cá; porque para preservar a vida é que Deus me enviou adiante de vós” (Gn 45.5).
b) Na vida de Jesus: “Por isso também Jesus, para santificar o povo pelo seu próprio sangue, sofreu
fora da porta” (Hb 12.7,12); “Ainda que na condição de Filho, aprendeu a obediência por meio
daquilo que sofreu” (Hb 5.8).

1.10.2 O relacionamento de Deus com o sofrimento do crente


a) Deus acompanha nosso sofrer.
Satanás, sendo o “Deus deste século”, só pode afligir um filho de Deus se o Todo-Poderoso lhe per-
mitir (Sl 23.4; Is 43.2; 1 Jo 5.18; 1 Co 10.13, Jó 1.12; 2.6),
b) Deus reverterá às aflições em bênçãos. Deus se comprometeu em reverter todos os reveses na vida
do crente que O ama e obedece aos seus mandamentos (Rm 8.28) Exemplos: Abraão, Jacó e José.

10.3 Comportamentos no sofrimento.


a) Examine sincera e espiritualmente a razão do seu sofrimento.
b) Creia que Deus te ama e se importa com você, independente da gravidade das suas lutas, (Rm
8.36; 2 Co 1.8-10; Tg 5.11; 1 Pe 5.7).
c) Recorra a Deus em oração sincera, perseverante e cheio de fé, aprendendo a esperar por Ele, isso
é, crer que Ele vai agir em teu favor e no tempo certo. É imprescindível esperar nEle, ou seja, en-
quanto Ele não entra com providências a seu favor, o seu comportamento em meio a essa situação
deve refletir a sua obediência à Palavra e à vontade de Deus (ver Sl 27.8-14; 40.1-3; 130).
d) Confie que Deus lhe dará a graça para suportar a aflição até chegar o livramento (1 Co 10.13; 2Co
12.7-10). Em geral, Deus não nos livra das aflições, mas nos livra nas aflições, (José foi vendido e
preso, Daniel foi parar na cova dos leões, seus amigos foram lançados na fornalha,...). Tendo em
vista que a fé cristã não consiste na remoção de fraquezas e sofrimentos, mas na manifestação do
poder divino através da fraqueza humana (2 Co 4.7).
e) Leia as Escrituras e jejue buscando discernimento e revelação da parte do Espírito Santo à sua
situação específica. Procure também apoio de irmãos maduros e confiáveis.
f ) Em meio aos teus sofrimentos creia que chegará o dia em que “Deus enxugará de teus olhos toda
a lágrima, e não haverá mais morte, nem pranto, nem clamor” (Ap 21.4).

86
Livros Poéticos

Recapitulação 3

8R1. Qual personagem do N.T. mostra, com seu sofrimento, que mesmo que estejamos dentro da
vontade de Deus, podemos sofrer? Como isso aconteceu?





9R1. Satanás e seus se comprazem em perseguir os que amam ao Senhor


e seguem os seus de verdade e retidão. À medida que guerra espiritual
contra “os e potestades” (Ef 6.12), é inevitável a de adversidades.

10R1. Deus pode usar nosso sofrimento para aperfeiçoar o caráter do cristão? Dê exemplos bíblicos.





11R1. Como membros do Corpo, é nosso usar nossas experiências


do sofrimento para encorajar, e consolar outros crentes.

12R1. Satanás pode nos afligir quando ele quiser? (analise os seguintes textos e responda Sl 23.4; Is
43.2; 1 Jo 5.18; 1 Co 10.13, Jó 1.12; 2.6).




13R1. Em geral, Deus não nos das aflições, Ele nos livra nas , (José
foi vendido e preso, foi parar na cova dos leões, seus amigos foram lançados na
,...) tendo em vista que a fé cristã não na remoção de fraquezas e , mas
na manifestação do poder através da fraqueza humana. (2 Co 4.7).

87
2. O livro de Salmos

É impossível subestimar a significação, tanto para os judeus como para os gentios, do livro dos Salmos.
Aqui estão refletidos os ideais de piedade religiosa e da comunhão com Deus, da tristeza pelo pecado e
da busca pela perfeição, do andar nas trevas sem temor por causa da lâmpada brilhante da fé; da obe-
diência a Lei de Deus, do deleite na adoração a Deus, da comunhão dos amigos de Deus, da reverência
pela Palavra de Deus, da humildade sob a vara do castigo, da confiança quando o mal triunfa e a impie-
dade prospera por algum tempo e da serenidade no meio da tempestade.
Os poetas hebreus foram inspirados com esses discernimentos espirituais eternos, essas experiências re-
ligiosas preciosíssimas; fazer deles os temas de seus cânticos que refletem as mais profundas experiências
da alma humana, não apenas no seu tempo, mas de todos os tempos.

2.1. Título
O título hebraico dos Salmos é “Tehillim”, que significa “louvores”; o título na Septuaginta (tradução do
A.T. para o grego, feita em c. 200 a.C.) é “Psalmoi”, que significa “cânticos para serem acompanhados
por instrumentos de cordas”.
O título em português, “Salmos”, deriva da Septuaginta.

2.2. Considerações importantes


2.2.1 A forma das composições:
A música desempenhava papel de importância no culto do antigo Israel. Assim os Salmos eram os hinos
do povo de Israel. Bem diferentes de boa parte da poesia e do cântico do mundo ocidental que é com-
posto com rima ou metrificação, a poesia e o cântico do A.T. tem por base o paralelismo de pensamento:
1) Paralelismo Sinônimo - Onde a segunda linha ou as linhas sucessivas da estrofe faz uma reitera-
ção (Exemplos: Sl 114; 50.11,13,19; 80.13).
2) Paralelismo Antitético - Onde apresenta um contraste (Exemplos: Sl 1.6; 30.5; 37.21).
3) Paralelismo Sintético - Onde de um modo progressivo, completa a primeira frase (Exemplos: Sl
19.7-10; 2.6; 22.4; 119; 121). Nove deles são acrósticos e cada estrofe se inicia com uma letra do
alfabeto, por ordem: 9, 10, 25, 34, 37, 111, 112, 119 e 145.
2.2.2 Os títulos das composições:
Os títulos descritivos que precedem a maioria dos salmos, embora não pertençam ao texto original (logo
não inspirados), são muito antigos (anteriores à Septuaginta) e importantes. O conteúdo destes títulos
varia e forma diferentes grupos de salmos.
Livros Poéticos

São eles:
1) Salmos - (mizmor e sir) - Aqueles que eram cantados com acompanhamento musical.
2) Sigaiom - (Sl 7)
3) Mictão - (16, 56-60 ) - Lamentos em busca de expiação.
4) Maskil - (32, 42, 44, 45, 52-55, 74, 78, 88, 89, 142) - Salmos contemplativos e didáticos ou
habilidosos.
5) Uma oração - (17, 86, 90, 102, 142) Oração litúrgica de petição.
6) Louvores - (145)

Em quase todas as versões das Bíblias atuais, cada salmo traz, antes de tudo, uma epígrafe
(ou título), elaborada pelas agências publicadoras e/ou estudiosos que fazem suas anotações
teológicas e exegéticas. Estes títulos também não são inspirados.

2.2.3 Os autores das composições


Com exceção de Moisés, que compôs 1 salmo, Davi, que compôs 73 salmos e ficou conhecido como
“suave em salmos” em Israel 2 Sm 23.1, e Salomão que compôs 2 salmos; todos os outros autores men-
cionados eram sacerdotes ou levitas com vocação musical e com responsabilidade no culto sagrado.
Conheça um pouco desses outros autores:
a) Os Filhos de Coré - Compuseram 10 salmos.
Da tribo de Levi, coatita, descendente de Coré que foi o líder rebelde fulminado por Deus (Nm
26.10,11). Seus filhos foram poupados e, como levitas, foram escolhidos para fazer parte de grupos
de músicos e cantores (2 Cr 6.31,33,39,44) e outros ocuparam a função de porteiros e guardas do
templo (1 Cr 9.17,ss).
b) Asafe - Compôs 12 salmos.
Descendente de Gerson, filho de Levi (1 Cr 6.39). Nomeado pelos principais levitas como líder de
música, usando címbalos, quando a Arca foi trazida para Jerusalém (1 Cr 15.17-19).
c) Hemã - Compôs 1 salmo.
Levita coatita, filho de Joel, um dos principais cantores de Davi (1 Cr 6.33; 15.17,19; 16.41,42;
25.1,4-6; 2 Cr 5.12; 35.15).
d) Etã - Compôs 1 salmo.
Também identificado por Jedutum (1 Cr 6.44). Levita escolhido por Davi para dirigir a música
juntamente com Hemã e Asafe (1 Cr 25.1,3,6).

89
Teologia

Recapitulação 4
1R2. Os poetas hebreus foram com esses discernimentos eternos
e essas religiosas preciosíssimas, fazer deles os de seus cânticos
que as mais profundas experiências da humana, não apenas no
seu tempo, mas de todos os tempos.

2R2. Para que serviam os salmos no culto israelita?









3R2. Quais são os salmos acrósticos e por que são assim chamados?







4R2. Quais foram os autores de salmos que não eram sacerdotes ou levita?







5R2. Família coatita, descendente de Coré, líder que foi fulminado por
Deus (Nm 26.10,11). Seus foram poupados e como foram escolhi-
dos para fazer parte de grupos de e cantores (2 Cr 6.31,33,39,44) e uma outra parte
ficou sendo e guardas do templo (1 Cr 9.17,ss).

90
Livros Poéticos

2.2.4 Quadro expositivo dos Salmos e seus autores - 50 dos salmos são de autores desconhecidos.

1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Desconh Desconh Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Desconh
11 12 13 1 15 16 17 18 19 20
Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi
21 22 23 24 25 26 27 28 29 30
Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi Davi
31 32 33 34 35 36 37 39 40
38 Davi
Davi Davi Desconh Davi Davi Davi Davi Davi Davi
42
41 43 44 Filhos 45 Filhos 46 Filhos 47 Filhos 48 Filhos 49 Filhos 50
Filhos
Davi Desconh Coré Coré Coré Coré Coré Coré Asafe
Coré
51 60
52 Davi 53 Davi 54 Davi 55 Davi 56 Davi 57 Davi 58 Davi 59 Davi
Davi Davi
70
61 Davi 62 Davi 63 Davi 64 Davi 65 Davi 66 Desc 67 Desc 68 Davi 69 Davi
Davi
71 72 73 80
74 Asafe 75 Asafe 76 Asafe 77 Asafe 78 Asafe 79 Asafe
Desc Salomão Asafe Asafe
84 Filhos 85 Filhos 87 88 Filhos 89 90
81 Asafe 82 Asafe 83 Asafe 86 Davi
Coré Coré Hamã Coré Etã Moisés
91
92 Desc 93 Desc 94 Desc 95 Desc 96 Desc 97 Desc 98 Desc 99 Desc 100 Desc
Desc
101 102 103 110
104 Desc 105 Desc 106 Desc 107 Desc 108 Davi 109 Davi
Davi Desc Davi Davi
120
111 Desc 112 Desc 113 Desc 114 Desc 115 Desc 116 Desc 116 Desc 117 Desc 119 Desc
Desc
127 130
121 Desc 122 Davi 123 Desc 124 Davi 125 Desc 126 Desc 128 Desc 129 Desc
Salomão Desc
140
131 Davi 132 Desc 133 Davi 134 Desc 135 Desc 136 Desc 137 Desc 138 Davi 139 Davi
Davi
150
141 Davi 142 Davi 143 Davi 144 Davi 145 Davi 146 Desc 147 Desc 148 Desc 149 Desc
Desc

2.2.5 A Compilação das composições


As referências bíblicas e históricas sugerem que Davi (1 Cr 15.16-22), Ezequias (1 Cr 29.25-30; Pv
25.1) e Esdras (Conforme Nee 10.39; 11.22; 12.27-36,45-47), participaram em suas respectivas épocas
da compilação dos salmos para uso no culto público em Jerusalém. A compilação do Saltério deu-se
mais provavelmente nos dias de Esdras e de Neemias por volta de 450-400 a.C.

91
Teologia

A organização das composições


Desde os tempos antigos, os 150 salmos são organizados em cinco livros tendo, cada um, na sua conclu-
são, uma enunciação de louvor e invocação dirigida a Deus, a saber:
Livro I Livro II Livro III Livro IV Livro V
Composição 1 - 41 42 – 72 73 - 89 90 - 106 107 - 150
Total 41 31 17 17 44

18 de Davi 11 de Asafe 28 desconhecido


7 dos F. Coré 3 dos F. Coré 14 desconhecido
Autoria 37 de Davi 4 Desconhecido 1 de Hemã 2 de Davi 15 de Davi
4 desconhecido Asafe 1 1 de Etã 1 de Moisés
Salomão 1 1 de Davi 1 de Salomão

Nome de Deus Jeová El/Elohim El/Elohim Jeová Jeová


predominante ( o SENHOR ) ( Deus ) ( Deus ) ( o SENHOR) ( o SENHOR )

O Deserto e os
Temas O Ser Humano e a Livramento e Adoração e o A Palavra de Deus e o
Caminhos de
frequentes Criação Redenção Santuário seu louvor
Deus

Semelhança
com o
Gênesis Êxodo Levítico Números Deuteronômio
Pentateuco

2.2.6 A Classificação das composições

Temas Salmos
1- C
 ânticos de Aleluia ou de louvores 8; 21; 33; 34; 103-106;
Engrandecem o nome, a majestade, a bondade, a grandeza e a salvação de Deus. 111;113;117;135; 145; 150.
2- Cânticos de Ação de Graças 18; 30; 34; 41; 66; 100; 106;
Reconhecem o socorro e livramento divino, em muitas ocasiões em favor do indivíduo 116; 126; 136; 138.
ou da nação de Israel.
3- Cânticos de Oração e Súplica 3; 6; 13; 43; 54; 69; 70; 79; 80;
Incluem lamentos e petições diante de Deus por si e por seu povo. 85; 86; 88; 90; 102; 141; 143.
4- Cânticos Penitenciais 32; 38; 51; 130.
Enfocam o reconhecimento e confissão do pecado.
5- Cânticos Históricos 78; 105; 106; 108; 114; 126;
Narram como Deus lidou com a nação de Israel. 137
6- Cânticos sobre a Majestade Divina 24; 47; 93; 96-99
Declaram convictamente que o Senhor reina.
7- Cânticos Litúrgicos 15; 24; 45; 68; 113 – 118
Compostos para cultos com eventos festivos especiais.

92
Livros Poéticos

8- Cânticos de Confiança e Devoção 11; 169; 23; 27; 31; 32; 40; 46;
a) Expressam a confiança que o crente tem na integridade de Deus e no conforto da sua 56, 62; 63; 91; 119; 130; 131;
presença. 139
b) Devoção da alma a Deus
9-Cânticos de Romagem (Cânticos de Sião ou Cânticos dos Degraus). 43; 46; 48; 76; 84; 87; 120 –
Eram cantados pelos peregrinos a caminho de Jerusalém para celebrarem as festas anuais 134
da Páscoa, de Pentecoste e dos Tabernáculo.
10- Cânticos da Criação 8; 19; 33; 65; 104
Reconhecem a obra de Deus na criação dos céus e da terra.
11- Cânticos Sapienciais e Didáticos 1;34; 37; 73; 112; 119; 133
12- Cânticos Messiânicos 2; 8; 16; 22; 40; 41; 45; 68; 69;
Descrevem certas experiências do rei Davi ou Salomão com significado profético cujo 72; 89; 102; 110; 118
cumprimento pleno terá lugar na vida do Senhor Jesus Cristo.
13- Cânticos Imprecatórios 7; 35; 55; 58; 69; 109; 137;
Invocam a maldição ou condenação divina sobre os ímpios. 139:19-22


Não há no mundo outro conjunto de literatura devocional comparável aos Salmos como expressão de
realidade, profundidade e pureza da experiência do homem com Deus.
2.2.7 Adorando através dos salmos
O livro de Salmos é a parte mais íntima do Antigo Testamento; ele nos dá uma revelação do coração do
judeu fiel e percorre todas as escalas de suas experiências com Deus e com o seu próximo. Com muita
propriedade, Myer Pearlman declarou: “Nos livros históricos vemos Deus falando acerca do homem;
nos livros proféticos vemos Deus falando ao homem, mas nos salmos vemos o homem falando com
Deus de uma forma clara, verdadeira e espiritual em todas as situações”.
Os fiéis do A.T. sempre encontraram boas razões para adorar ao Todo – Poderoso. Quero convidá-lo
para que, na direção do Espírito Santo, o mesmo que inspirou estes verdadeiros adoradores, a compre-
ender algumas verdades do saltério, produzir cânticos de adoração ao Único que é digno de recebê-los.

Recapitulação 5

6R2. Quantos salmos são de autoria desconhecida?







7R2. A compilação do deu-se mais provavelmente nos dias de


e de por volta de 450-400 a.C.

93
Teologia

8R2. Desde os tempos antigos, os salmos são em


cinco livros, tendo cada um, na sua , uma enunciação de louvor e
dirigida a Deus.

Aplicação dos conhecimentos


Faça uma leitura minuciosa de cada Salmo indicado por categoria e faça os exercícios abaixo. Para isso,
você precisará dispor de tempo e deverá fazê-los por etapa.
Lembre-se!!!
Você terá que ler todos os salmos.
1- Cânticos de Aleluia ou de Louvores : Sl 33; 103; 113; 117; 135; 145; 150

a) Ideia (s) principal (s):






b) Palavra (s) chave (s)






c) Razões do Louvor






d) Outras Observações:






94
Livros Poéticos

2- Cânticos de Ação de Graças: Sl 18; 30; 34; 66; 126; 136


a) Ideia (s) Principal (s):






b) Palavra (s) chave (s)






c) Razões das Ações de Graças






d) Outras observações:






3- Cânticos de Oração e Súplica: Sl 3; 6; 43; 69; 70


a) Ideia (s) principal (s):






b) Palavra (s) chave (s)






95
Teologia

c) Motivos das orações e súplicas






d) Outras observações:






4- Cânticos Penitenciais: Sl 32; 38; 51


a) Consequências do pecado no fiel






b) Atitudes do fiel em relação ao pecado






c) Comportamentos de Deus ante o pecado e ao pecador






d) Outras observações:






96
Livros Poéticos

5- Cânticos de Oração e Súplica: Sl 3; 6; 43; 69; 70


a) Ideia (s) principal (s):






b) Palavra (s) chave (s)






c) Motivos das orações e súplicas






d) Outras observações:






6- Cânticos Litúrgicos: Sl 15, 24 e 45


a) Ideia (s) principal (s):






b) Palavra (s) chave (s) :





97
Teologia

c) Motivos das canções:






d) Outras observações:






7- Cânticos de Romagem: Sl 46, 76, 84, 120-134


a) Ideia (s) principal (s):






b) Palavra (s) chave (s):






c) Como eram cantados:






d) Outras observações:






98
Livros Poéticos

8- Cânticos Didáticos: Sl 1,119,19


a) Ideia (s) principal (s):






b) Seu conteúdo:






c) Como eram utilizados:






d) Outras observações:






99
3. Provérbios

3.1. Título
A palavra hebraica “mashal”, traduzida por “provérbio”, tem os sentidos de:
• Oráculo,
• Parábola,
• Máxima sábia.

3.2. Autores
Segundo 1 Rs 4.32, Salomão proferiu 3000 provérbios e 1005 cânticos. Ele escreveu a maior parte dos
provérbios coletados neste livro. A divisão que vai de 1.1 – 9.18 é atribuída a ele, bem como as divisões
de 10.1 – 22.16 e 25.1- 29.27, embora os provérbios, nesta última divisão, tenham sido selecionados
da coleção de Salomão pelos escribas do rei Ezequias (25.1). O capítulo 30 foi escrito por Agur e o 31,
pelo rei Lemuel. Nada sabemos destes dois escritores.

3.3. Data
A maioria dos provérbios teve origem no século X a.C. porém, a data mais antiga e provável para a con-
clusão deste livro seria no período do reinado de Ezequias. A participação dos homens de Ezequias na
compilação dos provérbios de Salomão remonta ao período entre 715 a 686 a.C., durante o avivamento
espiritual liderado por esse rei temente a Deus.

3.4. Propósito
É uma coleção de expressões que contém lições morais, sendo o livro mais prático do A.T., aplicando os
princípios de justiça, pureza e piedade à vida diária.
Em Provérbios, a sabedoria começa com Deus. Sua posição central no livro é aceita por todos e notada-
mente ativa em todas as suas páginas. Ela não é meramente carnal ou uma prudência comum, mas sim,
baseada no temor do Senhor. Por isto, estes provérbios não são ditos populares, mas uma destilação da
sabedoria dos que conheciam a Lei de Deus.
Livros Poéticos

Nesse Livro, quase todas as facetas dos relacionamentos humanos são mencionados e seus ensinos são
aplicáveis a todos os homens em todos os lugares e em todos os tempos, formando uma biblioteca de
instrução sobre como viver uma vida piedosa na terra e como estar seguro da recompensa eterna na vida
por vir.

3.5. Tema
Como vimos, o tema central de Provérbios é: A sabedoria para um viver justo através da submissão humil-
de do crente a Deus pela obediência à Sua Palavra.

3.6. Visão panorâmica:


3.6.1 Por ser um livro prático para o nosso dia-a-dia, podemos estudá-lo observando as seguintes divi-
sões:

Instrui sobre: Adverte quanto: Contrasta:


• Família • A insensatez do pecado • Sabedoria com tolice
• Juventude • Dos males da língua • Justos com ímpios
• Pureza sexual • Da imprudência • Soberba e humildade
• Fidelidade conjugal • Da bebedeira • Preguiça e diligência
• Honestidade • Da glutonaria • Pobreza e riqueza
• Trabalho • Da concupiscência • Amor e concupiscência
• Generosidade • Da imoralidade • Certo e errado
• Fraternidade • Da falsidade • Vida e morte
• Justiça • Da preguiça
• Retidão • Das más companhias
• Disciplina


3.6.2 Neste livro, encontramos palavras – chaves que permeiam todos seus ensinamentos:

Aplicação dos conhecimentos


Faça uma leitura minuciosa dos textos de Provérbios indicado por categoria e faça os exercícios abaixo.
Para isso, você precisará dispor de tempo e deverá fazê-los por etapa.
a) Sabedoria: 1.2,7, 20; 2.2,6, 7,10; 3.13,19, 21; 4.5,7,11; 5.1; 7.4; 8.1,5,11,12,14; 9.1,10; 10.13,
31; 11.2; 13.10; 14.6,8, 33; 15.33; 16.16; 17.16, 24; 18.1,4; 19.8; 21.30; 23.4,9,23;
24.3,7,14; 29.3,15; 30.3; 31.26.

101
Teologia

Qual é o seu significado nestes textos:






b) Conhecimento: 1.4,7, 22, 29; 25,6,10; 3.20; 5.2; 8.9,10,12; 9.10; 10.14; 1.9; 12.1,23; 13.16;
14.6; 15.2,7,14; 17.27; 18.15; 19.27; 20.15; 21.11; 22.12,17,20; 23.12; 24.4; 29.7; 30.3.

Qual é o seu significado nestes textos:






c) Entendimento: 2.3,6; 3.4,5, 13,19; 4.1,5, 7; 6.32; 7.4; 8.1,14; 9.4, 6, 9, 10,16; 10.13,21; 11.12;
12.8,11; 14.29; 15.21, 32; 16.16, 22; 17.16,18,27; 18.2; 19.8, 25; 21.16,3 0; 23.23; 24.3, 30;
28.11,16; 29.7; 30.2.
Qual é o seu significado nestes textos:






d) Filho meu: 1.15; 4.10; 5.20; 6.3; 19.27; 23.19; 24.13; 27.11; 31.2.

Qual é o seu significado nestes textos:






e) Para: 1.2, 3, 4, 6; 2.2,7,12; 3.8,18, 22; 4.10, 22; 5.2,9,10; 6.24; 7.5; 8.6, 9; 10.13,16,
29; 13.14; 14.23, 27; 16.4, 22; 19.23; 20.25; 21.5; 23.29, 30; 24.14; 25.8,10,12,13,16;
27.11,21; 30.5,10.

102
Livros Poéticos

Qual é o seu significado nestes textos:






3.6.3 Estudos de Alguns Assuntos no Livro de Provérbios:


O Insensato
Neste livro o achamos com vários nomes:
a) O Simples:
1- É ingênuo 1.1; 14.15; 22.3;
2- É teimoso e irresponsável 1.32.
3- É capaz de aprender pelas experiências de outros 19.25.
4- Se recusa à repreensão e regride ainda mais 14.18; 15.21; 12.11;
5 - O Cap. 7 é uma passagem clássica sobre o simples.
b) O Insensato
Em Provérbios três, palavras hebraicas são traduzidas por insensato; são elas:
1- Kesil (aprox.50 vezes)
a) Aquele que é estúpido e obstinado
b) Não possui concentração paciente para buscar a sabedoria 17.24.
c) Não possui entendimento do verdadeiro sentido das coisas - 17.16.
d) Não possui discernimento do verdadeiro significado das coisas -15.14.
e) Não possui equilíbrio em suas palavras e atitudes - 15.2,14; 3.16; 26.7,9;
f ) Não possui capacidade de assimilar a disciplina - 17.10.
g) A raiz do seu problema é espiritual:
h) Ele gosta da sua estultícia – 26.11.
i) Ele despreza o temor do Senhor – 1.29.
Ele é:
• Uma ameaça para a sociedade – 17.12.
• Uma arma maligna – 10.23; 18.6; 29.11.
• Uma doença contagiosa – 13.20;
• A fonte de tristeza para seus pais – 10.1; 15.20; 17.21,25; 19.13.

103
Teologia

2- Ewil (19 vezes). Esta palavra tem o mesmo significado de kesil, porém, em Provérbios , este é
um termo ainda mais sinistro.
Ele é:
• Conhecido assim que abre a boca -10.14; 24.7; 17.28;
• Briguento desenfreado – 12.16; 20.3;
• Devastador – 27.3; 29;
• Rebelde à disciplina e à repreensão – 1.7; 10.8; 12.15; 15.5; 27.22.
Ele precisa:
• Ser disciplinado muito cedo – 22.15;
• 3- Nabal (3) Acrescenta pouca coisa ao quadro já composto a não ser um pouco mais de peso de
grosseria – 17.7 (Compare Sl 14.1 e 1 Sm 25.17).
c) O Escarnecedor
1- Aparece 17 vezes e é contrastado com os sábios ou juntado com os insensatos.
2- É a sua atitude mental e não a sua capacidade mental que o classifica como tal.
Ele é:
• Averso a correção – 9.7,8; 13.1; 15.12.
• Impossibilitado de encontrar a sabedoria -14.6
• Causador consciente de problemas – 21.24; 22.10; 29.8;
Suas derrotas trazem:
• Exemplo aos fiéis – 19.25,29; 21.11;
• Confiança em Deus para os justos – 3.34.
O Preguiçoso
Este comportamento em Provérbios é tratado não apenas como algo anormal na vida do homem, mas a
um desvio de propósito que reflete uma degeneração de caráter.
1. Comportamentos de preguiçoso:
a) Ele não começa nada (6.9,10)
Não se isenta de assumir compromissos, mas não se compromete de forma direta e objetiva por causa
da quantidade de vezes em que se engana com os seus pequenos adiamentos. Suas frases mais comuns
são:
“Eu estou terminando um servicinho depois eu venho” ou “Eu estou planejando algo
tremendo, assim que eu colocar todas as ideias no lugar eu venho te ajudar”. Outra, muito
comum dele, é: “Rapaz, eu ando tão cansado que não consigo fazer mais nada”. E alguém
que convive com ele lhe pergunta: “mas o que é que você já fez até hoje?” Entre risos ou
lágrimas (?) o preguiçoso responde: “Nada!”.

104
Livros Poéticos

b) Ele não termina de fazer nada (12.27; 19.24; 26.15).


O esforço raro de iniciar algo foi demais para ele; e rapidamente este impulso inicial desfalece. Assim
o indolente joga fora e desperdiça as suas oportunidades.
c) Ele não enfrenta nada (22.13)
Ele chega a acreditar em suas próprias desculpas (talvez haja mesmo um leão lá fora, mas em geral,
sua desculpa é mentirosa), outras vezes, ele acha meios para justificar sua preguiça (20.4). E o pior é
que acredita que esta maneira de se esquivar de compromissos faz dele um sábio (26.16).
d) Ele não tem nada (13.4; 26.13-16)
Porque sempre faz a opção pela escolha fácil, seu caráter sofre tanto quanto seus negócios (15.19).
Ele é:
• Inquieto com seu desejo insatisfeito 13.4; 21.25, 26
• Incapaz diante do embaraço de seus negócios 15.19
• Inútil pelo seu desperdício 18.9
• Enfurece quem o contrata 10.26
2. A lição do Preguiçoso
a) Pelo exemplo da formiga 6.6,ss
• Ela não precisa de fiscal, ele precisa ser cobrado (7).
• Ela conhece os tempos e sabe diferenciá-los, para ele, todos os dias são iguais (8).
b) Pela experiência do caos
• Sua ruína vem como ladrão, de repente e devastadora (6.11).
• Sua retribuição o faz perder posições, enquanto seu amigo é promovido (12.24).
• Sua procrastinação o torna um deserto irreversível (24.30,31).
c) Pela advertência ao justo (24.32)
O prudente observa o preguiçoso e percebe que ele não é nenhum anormal, antes um homem co-
mum, que deu desculpas, recusas e adiamentos demais; que se entregou ao marasmo devido à falta
de caráter; por não crer e relacionar-se com um Deus sábio que tem propósitos maravilhosos que
dignificam todos aqueles que o buscam.
As Palavras
Em nenhum outro livro na Bíblia se dá tanta ênfase as palavras como em Provérbios. Das sete abomina-
ções alistadas em 6.16-19, três são exemplos do emprego errado de palavras.
O que se ensina a respeito das palavras pode agrupar-se sob três títulos:
• O Poder das Palavras (18.21)
Este poder surge primeiramente de duas qualidades:

105
Teologia

a) O poder de Penetração – O que se faz contra você é nada comparado com aquilo que se faz em você,
e este último pode ser para o bem ou para o mal, uma vez que as palavras:
• Formam crenças e convicções 10.21; 11.9.
• Podem curar ou destruir o corpo e a alma 12.18,25; 15.30; 16.24.
• Conduzem à ruína, pelas ações impensadas que provoca 18.6-8; 19.5.
b) O poder de Propagação – Já que as palavras implantam ideias nas mentes de outras pessoas, há uma
disseminação de seus efeitos também para o bem ou para o mal:
• A conversa do perverso espalha contendas 16.27b, 28 e mal 6.12-14.
• As palavras do justo produzem benefícios divinos para si (12.14) como para outras pessoas
(10.11; 15.4; 18.4).
A Fraqueza das Palavras
a) Não servem como substituto dos atos (14.23).
b) Não podem alterar os fatos (24.12; 26.23-28; 28.24) disfarces, omissões ou negações não enganam
Aquele que tudo vê e tudo sonda.
c) Não podem compelir uma resposta.
O professor não conseguirá transmitir nada de bom ao aluno apático (17.10), da mesma forma o male-
dicente não causará dano ao prudente, mas apenas ao que faz opção à mentira e a injustiça (17.4).
O Melhor das Palavras
a) As Características das boas palavras
• Serão honestas - 16.13; 24.24-16; 25.12; 27.5,6; 28.23.
• Serão poucas – 10.14,19; 11.12,13; 13.3.
• Serão calmas – 15.1; 17.27; 18.13,17; 25.15.
• Serão aptas – 10.20,32; 15.23; 22.11; 25.12.
b) A Composição das boas palavras
• Através do estudo e da meditação – 15.2,28; 16.1; 2:6 (compare Is 50.4).
• Através do que o homem é – 12.17; 14.5; 4.23 (compare Mt 12.34).
A Família
a) O Esposo e a Esposa
• Entre todas do lar devem falar em uníssono – 1.8,9; 6.20.
• Deve haver mais que respeito e mais ardente amor – 5.19.
• A esposa não é uma escrava ou produtora de filhos, antes:
• É um presente de Deus – 18.22; 19.14 para o fiel,
• Estabiliza a família com sua sabedoria – 14.1, 31, 10,ss.

106
Livros Poéticos

Ou, por outro lado:


• Pode ser uma doença mortal – 12.4.
• Pode ser promovedora de aflições – 21.9,19; 25.24; 27.15.
d) A infidelidade conjugal é considerada:
• Pecado contra a amiga da mocidade – 2.17.
• Esbanjamento das forças que devem ser usadas para edificar a família – 5.9-23.
• Opção pelo relacionamento mentiroso ao verdadeiro – 5.19,20.
• Desprezo à honra pessoal – 5.9; 6.33, e a liberdade – 23.27,28.
• É atrair o perigo físico e a vergonha social – 6.26, 32-35.
• É flertar com o perigo, dormir com a morte e acordar no inferno – 2.8,19; 6.27, ss.
Pais e Filhos
a) Os pais devem estar convictos de que são:
Exemplos para seus filhos.
Disciplinadores de seus filhos –13.24; 19.18; 22.15; 22.6; 23.14; 29.15.
Devem estar atentos desde cedo aos instrumentos que Deus preparou para disciplina – 4.3, 4, 11.
A Sua Palavra – 3.1; 7.1-3 Como meio de trazer direção 3.23; 4.12.
A vara (23.14) - É um pedaço de arbusto ou pequeno galho e/ou em alguns casos, um pedaço de couro
(nossas famosas correias), porém, não deve ser usada com exagero 19.18, (compare com Ef 6.4) sabendo
sempre que a disciplina é construtiva (Hb 12.11) e não meramente punitiva ou julgativa.

Atenção!
Sua mão foi feita para abençoar, acariciar e mostrar a direção a seus filhos e não para espancá-los. Deus
fez um lugar específico para receber as disciplinas físicas. Não “BATA” em qualquer lugar, isto é pecado e
crime. Pense sobre a razão pela qual você está disciplinando seu filho. Talvez ele tenha errado por falta de
instrução, ou, por algo que você “acha” que é errado, mas não é. Ou ainda por um problema seu (trabalho,
trânsito, financeiro, emocional, físico, espiritual, etc.). Seu filho não é seu “saco de pancadas”. Verifique
como está o seu coração na hora da disciplina. Nervosismo, mágoa, vergonha e ira não podem ser nossas
motivações. A disciplina sempre é motivada pelo amor de quem disciplina por quem é disciplinado.
“E já vos esquecestes da exortação que vos admoesta como a filhos: Filho meu, não desprezes a
correção do Senhor, nem te desanimes quando por ele és repreendido; pois o Senhor corrige ao que
ama, e açoita a todo o que recebe por filho. É para disciplina que sofreis; Deus vos trata como filhos;
pois qual é o filho a quem o pai não corrija? Mas, se estais sem disciplina, da qual todos se têm
tornado participantes, sois então bastardos, e não filhos. Além disto, tivemos nossos pais segundo a
carne, para nos corrigirem, e os olhávamos com respeito; não nos sujeitaremos muito mais ao Pai dos
espíritos, e viveremos? Pois aqueles por pouco tempo nos corrigiam como bem lhes parecia, mas este,

107
Teologia

para nosso proveito, para sermos participantes da sua santidade. Na verdade, nenhuma correção
parece no momento ser motivo de gozo, porém de tristeza; mas depois produz um fruto pacífico de
justiça nos que por ele têm sido exercitados. (Hb 12.5-11).

Recapitulação 6

1R3. Quem foram os escritores dos Provérbios?







2R3. Em Provérbios, a começa com Deus. Sua central


no livro é aceita por todos e ativa em todas as suas páginas.

3R3. Quais são as versões em hebraico que temos para a palavra “insensato” e quantas vezes cada uma
delas aparece em Provérbios?





4R3. Mencione quatro características do comportamento do preguiçoso.







5R3. O prudente observa o e percebe que ele não é


anormal, antes um comum, que fez desculpas demais, recusas demais
e demais.
6R3. Relacione três males que a infidelidade conjugal produz.





108
4. Eclesiastes

4.1. Título
O título deste livro em hebraico é Koheleth, derivado de kahal, reunir-se. Literalmente significa - “aquele
que reúne uma assembleia e lhe dirige a palavra”. A palavra correspondente no grego da Septuaginta é
ekklesiastes e dela deriva o título em português. Este termo ocorre sete vezes no livro (1.1,2, 12; 7.27;
12.8-10) e é geralmente traduzido por Pregador ou Mestre.

4.2. Autor e data


Crê-se, geralmente, que o autor seja Salomão; e, embora seu nome não apareça no livro, há muitas pas-
sagens históricas que sugerem e o apontam como tal:
a) O autor identifica-se como o filho de Davi, que reinou em Jerusalém (1.1,12).
b) Faz alusão a si mesmo como o governante mais sábio do povo de Deus (1.16) e como escritor de
muitos provérbios (12.9).
c) Que seu reino tornou-se conhecido por causa das riquezas e grandezas (2.4-9).
Tudo isso se encaixa na descrição bíblica do rei Salomão (1 Rs 2.9; 3.12; 4.29-34; 5.12; 10.1-8). Além
disso, sabemos que Salomão, vez por outra, reunia uma assembleia e discursava a ela (1 Rs 8.1).

4.3.Tema
Segundo a tradição judaica, Salomão escreveu Cantares quando jovem; Provérbios, quando estava na
meia-idade, e Eclesiastes, no final da vida.
Em Eclesiastes, Salomão registra suas reflexões negativas a respeito da futilidade de buscar felicidade
nesta vida, à parte de Deus e de Sua palavra. Ele teve riquezas, poder, honrarias, fama e prazeres sensuais,
em grande abundância, mas no fim, o resultado de tudo foi o vazio e a desilusão.
Alguns propósitos do livro de Eclesiastes podem ter sido:
a) Remover o escândalo por ele dado a todo o povo de Deus, bem como ao mundo.
b) Advertir especialmente aos mais jovens das suas terríveis experiências, para que não cometessem os
mesmos erros (compare 7.27-29).
Teologia

c) Revelar que bens materiais e conquistas pessoais não podem dar significado, alegria e paz, preen-
chendo as reais necessidades do homem (1.2; 12.8).
d) Mostrar que o homem pode desfrutar de uma forma saudável e equilibrada de todas as boas dádi-
vas de Deus, sem, entretanto, viver em função das mesmas (11.9,10).
e) Enfatizar com veemência que o único “estilo de vida” que dá sentido a vida é viver no temor do
Senhor em obediência à Sua Palavra (12.13 e 14).

Eclesiastes nos ensina o que devemos evitar ou deixar de fazer; Provérbios nos
ensina o que devemos procurar e fazer.

Liturgicamente, o livro de Eclesiastes é um dos cinco rolos da terceira parte da Bíblia hebraica – os
Hagiographa (Escritos Sagrados), cada um dos quais era lido em público anualmente numa das festas
sagradas judaicas. Eclesiastes era assim lido na Festa do Tabernáculo.

4.4. Esboço do livro


I - O Autor e a sua Tese - 1.1-3.
II – A Tese demonstrada - 1.4- 2.26.
a. A Futilidade dos ciclos da vida - 1.4-11.
b. A Futilidade da sabedoria humana - 1.12-18.
c. A Futilidade do prazer e da riqueza - 2.1-11.
d. A Futilidade do Materialismo - 2.12-23.
e. Providência Divina – O verdadeiro contentamento.
III – O Desígnio de Deus para a vida.
a. Ele é quem dá ordem aos eventos da vida - 3.1-11.
b. Ele é quem dá as coisas boas da vida - 3.12-13.
c. Ele é quem dá as perspectivas do verdadeiro julgamento - 3.14-21.
IV- A Falsa realização das várias circunstâncias da vida.
a. A Força da opressão – 4.1-3.
b. Resultado do trabalho – 4.4-12.
c. Sucesso político – 4.13-16.
d. A Falsa adoração – 5.1-7
e. A Abundância das riquezas – 5.8-17.
f. Gratidão e satisfação em Deus – A verdadeira realização - 5.18-20.

110
Livros Poéticos

V - A Falsa realização do “Ter muitas riquezas” - 6.1 – 12.


VI – Conselhos para a vida 7.1 - 12.8.
Em vista da maldade humana – 7.1 – 29.
g. Em vista da providência de Deus – 8.1 – 9.18.
h. Em vista das incertezas da vida - 10.1 – 20.
i. Em vista da fragilidade humana – 11.1 – 12.8.
VII – Viver em Deus – A única opção verdadeira de vida 12.9 – 14.

4.5. Palavras chaves do livro


a. Deus – 42 vezes
b. Vaidade – 32 vezes
c. Debaixo do Sol – 27 vezes
d. Trabalho – 21 vezes
e. Correr atrás do vento – 9 vezes
f. Mal/ Maldade – 14 vezes
g. Luto – 2 vezes
Ao ler o livro de Eclesiastes, encontraremos muitos ensinamentos sadios e muitos que contrariam as
doutrinas da Bíblia (1.5; 2.24; 3.3,4, 8, 11, 19,20; 7.16,17; 8.15). Devemos recordar que o livro é o re-
gistro inspirado das palavras não inspiradas do homem natural, arrazoando sobre experiências humanas
e a providência divina. Da mesma maneira a Bíblia contém muitas palavras proferidas pelos ímpios. As
palavras não são inspiradas, mas o registro delas é inspirado.

Recapitulação 7
1R4. Segundo a tradição judaica, escreveu quando
jovem; , quando estava na meia-idade, e , no final da
vida.
2R4. Eclesiastes no ensina o que evitar ou de fazer, Pro-
vérbios nos ensina o que procurar e fazer.
3R4. Como devo entender as palavras do livro de Eclesiastes que contrariam as doutrinas da Bíblia?





111
5. Cântico dos Cânticos

5.1. Título
Chamado de “Cântico dos cânticos” segundo o título hebraico por ser extraído do primeiro versículo
“shir hash-shirim”, sugerindo ser o mais excelente de todos os cânticos que Salomão compôs (1 Rs 4.32).

5.2. Autor e data


Concordamos que o autor deste livro é Salomão, visto que:
a. Seu nome aparece sete vezes neste livro – 1.1,5; 3.7, 9, 11; 8.11,12.
b. As referências geográficas contidas no livro de Cântico dos Cânticos sugerem que o autor tinha
livre acesso a todas as regiões, o que só seria possível antes da divisão da nação em dois reinos.
Divisão esta que aconteceu após a sucessão de Salomão por seu filho – 1 Rs 12.
c. Também concordamos que Salomão tenha escrito este livro no início de seu reinado, apesar de seu
harém ser de 140 mulheres, conforme descrito em 6.8.

5.3. Tema
O livro de Gênesis revela que a sexualidade humana e o casamento existiam antes da queda de Adão
e Eva no pecado (Gn 2.18 - 25). Com o pecado estas duas experiências humanas foram grandemente
afetadas; basta observarmos o degradante comportamento sexual em nossa geração e o caos que o casa-
mento como instituição a social se tornou.
Contudo, Deus que é o Criador de ambos, quer que saibamos que há uma oportunidade, ou melhor,
uma única oportunidade de tornar o sexo e o casamento puros, sadios, nobres de forma que glorifiquem
a Deus, e a inspiração deste livro nas Escrituras ressalta esta verdade. Sendo uma poesia oriental (onde
a clareza e a objetividade podem chocar ou até mesmo ser desagradável aos ocidentais) descreve a beleza
de um amor puro e maduro entre um homem e uma mulher.
Mensagem básica deste livro é a pureza e o caráter sagrado do amor e do sexo no casamento.
Muitos estudiosos da Bíblia do passado interpretavam este livro apenas alegoricamente, ou seja, ensina-
vam que era uma parábola do amor de Deus (o esposo) com Israel (a esposa) e de Jesus Cristo (o Noivo)
com a Igreja (a noiva).
Livros Poéticos

As parábolas sempre foram um recurso didático muito utilizado nas Escrituras, porém, quando um
fato do dia-a-dia é utilizado com o propósito de ensinar uma verdade espiritual, a Bíblia faz questão de
enfatizá-lo como tal, por exemplo: Mt 12.39-40. Jesus utiliza-se da experiência de Jonas, para ensinar a
respeito da sua morte.
Em João 3.14-15, Jesus utiliza-se da atitude de Moisés ao levantar a serpente no deserto (Nm 21.5-9)
para ensinar sobre a recompensa da fé no sacrifício dEle. Contudo, em nenhum lugar das Escrituras,
tanto no Velho como no Novo Testamento, encontramos qualquer alusão ao amor de Deus com Israel
ou de Cristo com a Igreja que tenha como base um único versículo do livro de Cântico dos Cânticos.
Por este motivo é difícil de acreditar que a forma alegórica e a única maneira de interpretarmos este livro.
Podemos e devemos “aplicar” as verdades do compromisso conjugal observadas neste livro à nossa expe-
riência com Cristo, em diversos textos as Escritura refletem este ensinamento, mas “interpretá-lo” unica-
mente como alegoria devocional é um crime contra todos os princípios de interpretação das Escrituras.

5.4. Esboço do livro


1. Título – 1.1
2. O Noivado – 1.2 – 3.5
3. O Processional do casamento 3.6-11
4. A Consumação do casamento 4.1 – 5.1
5. A crise do casamento 5.2 – 6.13
6. O Diálogo – Vencendo a crise – 7.1 – 8.4
7. A maturidade do amor – 8.5 – 14

5.5. Analisando o texto


O autor H. A. Ironside imaginava assim o contexto histórico deste livro: “O rei Salomão tinha um
vinhedo na região montanhosa de Efraim a uns 80 km ao norte de Jerusalém (8.11). Para cuidar do
vinhedo ele contratou arrendatários (8.11), composto por uma mulher, dois filhos (1.6) e duas filhas:
a sulamita e a sua irmãzinha (6.13). A sulamita era a bela da família, ainda que passasse despercebida
(1.5). Sobre ela recaiam grandes responsabilidades que lhe eram impostas pelos seus irmãos. Por isso,
não lhe sobrava tempo para o trato pessoal” (1.6).
Seu cuidado com a vinha era diuturno (2.15). Também cuidava dos rebanhos nos intervalos do dia
(1.8). Por ficar tão exposta ao sol, bronzeou-se demais (1.5). Num certo dia chegou ao vinhedo um
forasteiro elegante e bonito; era Salomão, desfigurado para não ser reconhecido. Demonstrou interesse
pela jovem que se sentiu incomodada por julgar que seu aspecto pessoal estava feio. Ela, no entanto,
tomou o forasteiro por um pastor de ovelhas e perguntou-lhe onde estava o rebanho (1.7). Ele lhe res-
pondeu com evasivas (1.8), porém, ao mesmo tempo lhe falou palavras de amor (1.8-10). Prometeu-lhe

113
Teologia

presentes e que voltaria em breve. De noite ela sonhava com ele e em certas ocasiões acreditava que ele
estava voltando (3.1). Finalmente, um dia ele voltou com todo o seu majestoso esplendor para fazê-la
sua esposa (3.6,7).

5.6. Aplicando o livro


1. Devemos reconsiderar o conceito que temos de sexo e casamento recolocando-os no seu “conceito
original” - são dons do Criador às suas criaturas (Tg 1.17) e como tal são bons e perfeitos no seu
lugar e no seu propósito.
2. Devemos reconsiderar o dualismo mentiroso que ensina que:
a) Físico e o material são inferiores ao espiritual.
b) Que o celibato é mais virtuoso que o matrimônio.
3. Devemos reconsiderar o comportamento lascivo e licencioso que idolatra a beleza física e o aspec-
to biológico do movimento.

Recapitulação 8
1R5. As referências contidas no livro de Cântico dos Cânticos sugerem que
o tinha livre acesso a todas as , o que só seria possível
antes da da nação em dois reinos.

2R5. Como o sexo pode ser puro ou impuro?







3R5. Contudo, em nenhum lugar das , tanto no Velho como no Novo Testa-
mento, qualquer alusão do amor de Deus com ou
de Cristo com a tenha como base um único versículo do
de Cântico dos Cânticos.

4R5. Por que não devemos interpretar o Livro de Cântico dos Cânticos apenas como alegorias?





114
Livros Poéticos

Revisao geral
1. A base da hebraica é o paralelismo do e não a semelhança
de pela rima.

2. Quais são os livros poéticos da Bíblia?







3. Mencione dois fatos internos que aponte para uma data de autoria por volta dos tempos de Abraão.





4. Cite os dois escritores bíblicos e suas referências que mencionam a existência de Jó.





5. Ele não pretende mimar a para que ela tenha uma vida neste
mundo, mas, usará de tudo (até Satanás), para para a eternidade.

6. É uma oportunidade para , quando não entendemos, porque o


propósito, poderia destruir o efeito – 13.15.

7. Qual personagem do NT mostra com seu sofrimento que mesmo que estejamos dentro da vontade
de Deus podemos sofrer? Como isso aconteceu?





8. Satanás e seus se comprazem em perseguir os que


amam ao Senhor e seguem os seus de verdade e retidão. À medida qu
e guerra espiritual contra “os e potestades” (Ef 6.12),
é inevitável a de adversidades.

115
9. Deus pode usar nosso sofrimento para aperfeiçoar o caráter do cristão? Dê exemplos bíblicos.





10. Como membros do corpo, é nosso usar nossas ex-


periências do sofrimento para encorajar, e consolar
outros crentes.

11. Satanás pode nos afligir quando ele quiser? (analise os seguintes textos: Sl 23.4; Is 43.2; 1 Jo 5.18;
1Co 10.13, Jó 1.12; 2.6, e responda).





12. Em geral, Deus não nos das aflições, Ele nos livra nas ,
(José foi vendido e preso, foi parar na cova dos leões, seus amigos foram
lançados na ,...) tendo em vista que a fé cristã não na
remoção de fraquezas e _____________, mas na manifestação do poder através
da fraqueza humana (2 Co 4.7).

13. Os poetas hebreus foram para, tomando esses discernimentos


eternos e essas religiosas preciosíssimas, fazer deles os de
seus cânticos que as mais profundas experiências da hu-
mana, não apenas no seu tempo, mas de todos os tempos.

14. Para que serviam Salmos no culto israelita?







15. Quais são os Salmos acrósticos e por que são assim chamados?




Livros Poéticos

16. Quais foram os autores de salmos que não eram sacerdotes ou levita?





17. Família coatita, descendente de Coré, líder que


foi fulminado por Deus (Nm 26.10,11). Seus foram poupados e como
foram escolhidos para fazer parte de grupos de e cantores (2 Cr 6.31,33,39,44)
e uma outra parte ficou sendo e guardas do templo (1Cr 9.17,ss).

18. Quantos salmos são de autoria desconhecida?







19. A compilação do deu-se mais provavelmente nos dias de e


de por volta de 450-400 a.C.

20. Desde os tempos antigos, os salmos são em cinco livros,


tendo cada um, na sua , uma enunciação de louvor e di-
rigida a Deus.

21. Quem foram os escritores dos Provérbios?







22. Em Provérbios, a começa com Deus. Sua central no


livro é aceita por todos e ativa em todas as suas páginas.

23. Quais são as versões em hebraico que temos para a palavra “insensato” e quantas vezes cada uma
delas aparece em Provérbios?





117
Teologia

24. Mencione quatro características do comportamento do preguiçoso.







25. O prudente observa o e percebe que ele não é anor-


mal, antes um comum, que fez desculpas demais, recusas demais e
demais.
26. Relacione três males que a infidelidade conjugal produz.





27. Segunda a tradição judaica, escreveu quando jovem;


, quando estava na meia-idade, e , no final da vida.

28. Eclesiastes no ensina o que evitar ou de fazer, Provér-


bios nos ensina o que procurar e fazer.

29. Como devo entender as palavras do livro de Eclesiastes que contrariam as doutrinas da Bíblia?





30. As referências contidas no livro de Cântico dos Cânticos sugerem que


o tinha livre acesso a todas as , o que só seria possível
antes da da nação em dois reinos.

31. Como o sexo pode ser puro ou impuro?







32. Contudo, em nenhum lugar das , tanto no Velho como no Novo Testamen-
to, qualquer alusão do amor de Deus com ou de Cristo

118
Livros Poéticos

com a tenha como base um único versículo do de


Cântico dos Cânticos.

33. Por que não devemos interpretar o Livro de Cântico dos Cânticos apenas como alegorias?





119
Teologia

120
História
da igreja I

Autoria
Elias Antonio de Araújo, Pastor da igreja OBPC em Diadema, SP, Escritor e Professor de
teologia. Bacharel em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de São Paulo, Especialização em
Teologia Bíblica pelo Andrew Jumper (Mackenzie); Licenciatura em Letras (Univ. Anhanguera)
e Pós-graduação em Língua e Literatura pela Universidade Metodista de SP.
Casado há 33 anos com Quésia, tem quatro filhos: Miquéias, Jaqueline, Lucas e Elias.
Sumário

Introdução 125

1. O mundo do Novo Testamento 127


1.1. Contexto Histórico 127
1.2. Contexto Religioso 129
1.3. Contexto Cultural 131
1.4. Contexto Social 133

2. O judaísmo 136
2.1. Origem e desenvolvimento 136
2.2. Instituições religiosas 137
2.3. judaísmo Palestino e judaísmo Helenístico 138
2.4. A esperança Messiânica  140

3. Jesus Cristo – Vida e obra 142


3.1. A História de Cristo 142
3.2. História de Cristo – Testemunho Bíblico 143

4. Os apóstolos  146
4.1. Perfil dos doze Apóstolos 147

5. A origem da Igreja em Jerusalém 151


5.1. A fundação da Igreja 151
5.2. O crescimento da Igreja 152
5.3. A Expansão da Igreja 153
5.4. A organização da Igreja 154

6. Apóstolo Paulo: Vida e obra  157


6.1. A vida de Paulo 157
6.2. Viagens missionárias 158

7. O fim da era apostólica 164


7.1. Heresias primitivas 164
7.2. O credo apostólico 166
7.3. Literatura da Igreja nos dois primeiros séculos  166
7.4. Os primeiros conflitos com o estado 167
8. A igreja Patrística 170
8.1. A perseguição e suas causas  170
8.2. Principais perseguições à igreja 171

9. Pais da igreja – Vida e obras 174


9.1 . Pais apostólicos e escritos 174
9.2. Escritos e escritores apologéticos 176
9.3. Escritores e escritos polemistas  178
9.4. Escritores e escritos sistemáticos 180

Revisão geral 183

Bibliografia básica 184

Sugestão de leitura 184


Introdução

A importância, a necessidade e o valor da História da Igreja


A igreja, bem como os seus fundamentos e conceitos, e tudo o que a cerca, pode ser concebida através de sua
própria história. Quando tratamos da história da igreja, é necessário estudá-la a partir de um âmbito maior
– a própria história secular – em todos os seus aspectos.
Se o cristão quiser conhecer as raízes de sua fé e crença, deverá dar a devida importância à história da igreja
que foi escrita por homens comprometidos com a verdade, como o historiador-evangelista, Lucas, e Eusébio
de Cesáreia. Eles fornecerão informações e registros altamente confiáveis sobre o pano de fundo, origem e
desenvolvimento da igreja cristã.
A necessidade de se conhecer a história da igreja pode ser sentida a partir da observação de erros doutrinários
e uma teologia distorcida e tendenciosa que se alastra progressivamente no meio evangélico. Alguns pensa-
mentos, tendências e práticas atuais serão mais bem compreendidas, e até mesmo combatidas (apologética),
quando estudarmos sobre as escolas filosóficas que influenciaram o pensamento cristão e as primeiras seitas
heréticas, algumas das quais causaram um enorme prejuízo ao cristianismo.
A História da Igreja nos revelará que muitas seitas modernas e a atual tendência teológica da igreja são, na
verdade, variantes de antigas seitas como o neoplatonismo, o gnosticismo, o arianismo e o montanismo (1
Co 10. 6, 11).
Esse primeiro volume da história da igreja vai tratar a partir do contexto geral do Novo Testamento até a
época da igreja patrística.
É imprescindível, portanto, que se reconheça a necessidade e o valor da história da igreja, não apenas para
que se conheça o seu passado, como também para compreender o seu atual momento, evitar os erros do pas-
sado, e garantir um futuro promissor sem deixar rastros sujos pela sua senda que denigram a glória da igreja.

A Importância da História da Igreja

1. Apologética
Os movimentos heréticos surgidos de dentro da igreja e a ameaça das seitas ao cristianismo levaram
alguns pais da igreja e pensadores cristãos a desenvolverem raciocínios e argumentos lógicos para defen-
derem a ortodoxia de todo o perigo. Algumas das atuais seitas e tendências heréticas tiveram sua origem
nos primeiros séculos e estão com uma “roupagem” mais atraente e agradável e nem por isso menos
nociva.
2. Teológica
Ao combater os falsos mestres e as heresias, a igreja viu a necessidade de desenvolver a sua teologia quan-
to às doutrinas fundamentais do cristianismo como a Trindade e a Cristologia, por exemplo. A atual
teologia deve muito aos escritores, apologistas e pensadores dos primórdios da igreja que contribuíam
muito para preservação da sua pureza e combateram toda sorte de ataques provenientes dos pagãos, de
filósofos e dos falsos mestres.

3. Devocional
O testemunho, o estilo simples de vida e a fé que os cristãos tiveram, quando sob perseguição é digno de
exemplo para ser imitado pelos cristãos modernos. A fé destes primeiros cristãos era testada numa arena
quando tinham que enfrentar as feras num espetáculo macabro para os milhares que assistiam. Milhares
de cristãos deram suas vidas por amor à Cristo e nem na hora da morte negavam deixando para nós um
exemplo vivo de fé.
1. O mundo do Novo Testamento

A história da igreja começa com Jesus, mas todo o contexto que envolveu sua história iniciou-se séculos
antes, no que é conhecido como o “Período Interbíblico”. Este período abrangeu cerca de 400 anos que
se dá entre as profecias de Malaquias e o alvorecer do Novo Testamento. As potências dominantes nessa
época foram a Pérsia, a Grécia, os Macabeus e Roma.
Os contextos culturais, religiosos e sociais do Novo Testamento que foram formados neste período,
foram determinantes em alguns aspectos da vida e da história da igreja. O mundo do Novo Testamento
foi o resultado da combinação de elementos culturais e religiosos de três grandes povos: Os orientais,
(Babilônia e Pérsia), gregos e romanos.
A religião da sociedade era pagã e sincretista, não tinha uma identidade própria e bem definida, era um
misto de elementos religiosos das nações orientais, como Assíria, Babilônia e a Pérsia, que foram unidos
aos elementos dos sucessivos povos conquistadores como os gregos e romanos. Essa religião pagã-polite-
ísta foi rejeitada pela igreja e os seus membros. Vindos dessa influência, tiveram que aprender a adotar o
monoteísmo judaico-cristão como uma verdade indubitável exposta a partir do Decálogo (Ex 20. 1-5),
e presente no Novo Testamento (I Ts 1.9).
Se a religião greco-romana fora rejeitada pelo cristianismo, o mesmo não se pode dizer da sua cultura.
Alguns elementos do pensamento da filosofia grega e principalmente o idioma grego koinê, foram fato-
res preponderantes na composição do Novo Testamento.
Para que o estudante da História da Igreja tenha uma visão mais ampla dos fatores que permearam a vida
e o desenvolvimento histórico da Igreja, serão fornecidas informações sobre o pano de fundo histórico,
religioso, cultural e social do Novo Testamento.

1.1. Contexto Histórico


Os capítulos sete e oito de Daniel fornecem uma visão histórico-progressiva deste período, além dos
relatos nos livros dos Macabeus e do historiador judeu, Flávio Josefo.

1.1.1 Domínio Persa (538 a.C. – 333 a.C.)


O rei Ciro uniu as nações da Pérsia, Média e Lídia numa grande confederação e impôs a derrocada do
império babilônico em 538 a.C. Como a política da Pérsia permitia o retorno dos cativos às suas terras
de origem, não foi diferente com os judeus que estavam na Babilônia desde o ano 605 (1ª deportação).
Em 536, o rei Ciro que reconheceu a incumbência divina que lhe fora dada (Ed 1. 2 – 4), autorizou
o retorno dos judeus para a Palestina, o que se deu em três etapas: Em 536, com Zorobabel, em 458,
com Esdras, e em 444 com Neemias. Cerca de 50.000 judeus retornaram e em 516, sob a liderança de
Teologia

Zorobabel e exortações do profeta Ageu, o templo, após quatro anos de seu início, foi reerguido e no
ano de 444 foram levantados os muros em 52 dias.

1.1.2 Domínio Grego (333 a.C. – 167 a.C.)


O domínio grego se deu em três etapas: o período de Alexandre, o Grande (335 – 323), o período Pto-
lemaico (323 – 204), e o período Selêucida (204 – 165).
Alexandre, o Grande, derrota o grande império da Pérsia em 331 e sobe ao poder de um vasto império
que incluía também a Palestina. Ele impôs às nações conquistadas, a cultura helênica e com a ajuda
do grego koinê, quebrou as barreiras raciais, sociais e políticas, e tentou conquistar o ocidente quando
morreu prematuramente aos 33 anos.
Alexandre tratou com benevolência os judeus, mas o seu exemplo não foi seguido pelos seus generais
e nem por aqueles que o sucederam, principalmente por Antíoco Epifânio (175 – 164), que numa
tentativa de estabelecer o politeísmo grego aos dominados, exterminou o judaísmo e cometeu várias
atrocidades contra os judeus.

1.1.3 Domínio Macabeu (167 a.C. – 63 a.C.)


A perseguição imposta por Antíoco Epifânio aos judeus, que até então haviam assumido uma atitude
passiva, provocou uma grande revolta que deu início a uma resistência ativa dos judeus que começou
com um sacerdote de Modim chamado Matatias. Esse sacerdote se recusou a adorar os deuses pagãos e
pegou em armas matando um judeu que fora oferecer sacrifício no altar aos deuses pagãos. Ele reuniu
um grupo de pessoas insatisfeitas com a política de helenização de Epifânio e organizou um exército
para o combate. A revolta dos judeus, iniciada por Matatias, irrompeu numa guerra civil quando várias
batalhas foram travadas.
Após a morte de Matatias, Judas, um de seus filhos, o substituiu no comando do exército, reconquistou
Jerusalém e rededicou o templo em dezembro de 165 a.C. A independência política chegou em 142 a.C
e perdurou até o ano 63 a.C, ocasião em que o general romano, Pompeu, interveio em Jerusalém devido
a uma guerra civil pela disputa do poder da dinastia hasmoneana.

1.1.4 Domínio Romano (63 a.C – 470 d.C.)


Sob o domínio romano, os judeus foram tratados com singular generosidade durante todo o tempo em
que foram submissos. A religião judaica foi reconhecida e aceita como uma das religiões do Império.
Os judeus tiveram o seu próprio corpo judicial e legislativo e o sinédrio que tinha jurisdição em todas
as questões criminais e civis. A princípio os judeus foram governados pelo idumeu, Herodes, o Grande;
também chamado de “rei dos judeus”, e, posteriormente, por procuradores.
A paz judaica perdurou até o ano 66 d.C. quando irrompeu a Guerra Judaico-Romana de 66 d.C. – 70
d.C. e Jerusalém foi tomada pelos romanos, na liderança do até então, general Tito, e o templo foi des-
truído. Foi o fim do sacrifício e da nação judaica.

128
História da Igreja I

Recapitulação 1
1R1. Em sua opinião, por que é importante estudar os fatores que envolveram o mundo do Novo Tes-
tamento?





2R1. Quais foram os povos que exerceram domínio político no período interbíblico?





1.2. Contexto Religioso


A religião da sociedade greco-romana, como mencionado anteriormente, era pagã e sincretista, com
deuses e práticas religiosas provenientes de várias nações. A religião grega era caracteristicamente nacio-
nal, com um politeísmo antropomórfico, com deuses que eram seres humanos superiores, mas com as
mesmas fraquezas e desejos humanos. O seu culto era voltado para um herói nacional. Alguns desses
deuses já eram muito famosos na região da Ásia, como em Corinto e em Éfeso. Nessas cidades, Ártemis
ou Diana (Éfeso) e Afrodite (Corinto), eram adoradas fanaticamente.
Uma lenda pagã antiga afirmava que a imagem de Diana (deusa da fertilidade), havia caído do céu e foi
guardada num suntuoso templo que chegou a ser considerado como uma das sete maravilhas do mundo.
Peregrinos de várias partes do mundo visitavam a cidade de Éfeso para contemplar o templo de Diana e
levavam de volta para seus países, uma réplica do templo ou um ídolo em miniatura como lembrança da
memorável visita. Os cultos a essa deusa eram caracterizados por várias práticas libidinosas.
Afrodite (Corinto), a deusa do amor e da beleza, tinha um templo localizado justamente no ponto mais
alto da cidade, uma montanha de mais de 560 metros de altura. O templo de Afrodite tinha mil sacer-
dotisas, que eram prostitutas cultuais que ofereciam seus serviços pelas ruas no final do dia. O culto era
dedicado à glorificação do sexo. A cidade de Corinto era uma metrópole tão próspera quanto licenciosa.
A expressão “coríntio” era usada para designar o seu estilo de vida libertino.
Com a ascensão do Império romano ao poder mundial, os deuses gregos foram adotados pela religião
romana e suas divindades foram identificadas com os deuses gregos e a combinação dessas religiões
resultou numa religião greco-romana. Posteriormente o culto ao imperador romano foi um novo ele-
mento religioso adotado pela religião oficial de Roma.

129
Teologia

As religiões misteriosas foi outro fator importante na religiosidade da sociedade do período interbí-
blico e do primeiro século cristão. Alguns deuses dos povos orientais, especialmente os egípcios, eram
adorados. Cultos a Dionísio, Cibele, Mitra e Ísis, incluíam alguns ritos secretos de iniciação, lavagens e
aspersões com sangue. Era comum a crença na ressurreição de deuses, como também as superstições, as
práticas mágicas, horóscopos, augúrios e predições sobre o futuro.

Grupos Religiosos
Alguns grupos religiosos tiveram uma destacada importância no primeiro século cristão. Fariseus e
saduceus aparecem em várias cenas com Jesus, mas geralmente em oposição a Ele. Outros, de caráter
mais político como os zelotes e os herodianos, tinham vários adeptos. Outros dois grupos, essênios e
zadoqueus, não são mencionados no Novo Testamento, mas sua importância é inegável e é registrada
tanto pelo judeu Filo como pelo historiador Flávio Josefo.
1. Fariseus. (“Separado”).
Surgiram após a revolta dos Macabeus. Foi um grupo reacionário que fez objeção à helenização da
cultura judaica. Eles tinham controle sobre a sinagoga e eram extremamente legalistas e apegados às
tradições humanas (Mt 23. 13 – 36). Várias vezes foram repreendidos duramente juntamente com
os escribas, por Jesus. Eles se preocupavam em demasia com o exterior em detrimento do interior.
2. Saduceus.
Era um grupo menor que os fariseus, herdeiros dos hasmoneanos. Controlavam o templo e perten-
ciam à aristocracia da nação judaica. Diferentemente dos fariseus, não criam na ressurreição, nem
em anjos e nem em espírito, aceitavam apenas o Pentateuco como autoridade escriturística e despre-
zavam as leis e tradições orais. Este grupo religioso desapareceu com a destruição de Jerusalém e do
templo no ano 70 d.C.
3. Essênios. (“Piedosos”).
As informações sobre este grupo são dadas por Filo e Josefo. A sua origem, assim como os fariseus,
se deu após a revolta dos Macabeus. O seu estilo de vida era ascético e mais rigoroso do que o dos
fariseus. O seu legalismo os levou a se estabelecerem nas regiões desertas do Mar Morto em Qunran.
4. Herodianos.
Simpatizantes e seguidores da dinastia herodiana, apoiavam os Herodes e fundamentavam suas es-
peranças nacionais nessa família. Alguns acreditavam que Herodes fosse o Messias que os libertaria
do jugo romano.
5. Zelotes. (“Zelosos”).
Não era um grupo religioso, mas aparece nos relatos do Novo Testamento como um partido de cará-
ter político. Os zelotes eram revolucionários que tinham o interesse de derrubar o governo romano
e tornar independente a nação judaica. Eles se recusavam a pagar impostos aos romanos e causaram
várias rebeliões inclusive naquela que resultou com a destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Um dos
doze discípulos de Jesus fora um zelote, Simão (Lc 6.15). Um grupo mais radical, que surgiu entre os
zelotes, foram os sicários (gente da adaga), que circulavam entre as pessoas com uma adaga escondida
e matavam os simpatizantes romanos e os inimigos da nação judaica.

130
História da Igreja I

Recapitulação 2
3R1. Quais eram as características das religiões pagãs?





4R1. Quais são os grupos religiosos estudados nesse capítulo?







5R1. Em sua opinião por que é importante estudar os fatores que envolveram o mundo do Novo Tes-
tamento?





1.3. Contexto Cultural


O contexto cultural do Novo Testamento foi formado no período interbíblico com a predominância
da cultura grega, através de sua filosofia, das artes e do idioma. Entre as literaturas que surgiram nesse
período antes do NT, a Septuaginta (LXX) foi a mais importante porque atenderia a necessidade dos
judeus da diáspora de lerem as Escrituras hebraicas num idioma que eles conheciam.

1.3.1 O Helenismo
Foi um período de influência da cultura grega sobre o mundo conquistado por Alexandre o Grande. A
cultura helênica que incluía a filosofia, as artes e o idioma koinê, foram implantados em grandes cidades
e moldou o estilo de vida de seus moradores.
Alexandre fundou setenta cidades moldando-as conforme o estilo grego. A cidade de Alexandria, ca-
pital do Egito, se tornou o centro da cultura grega. Nessa cidade havia a maior biblioteca com cerca
de um milhão de livros. A influência da cultura helênica se vê tanto no idioma usado pelos escritores
canônicos nos livros do NT, como também nos escritos dos apóstolos Paulo e João em alguns concei-
tos (vide 1 Jo 1.1-3; I Co 2.10; Fp 2.6,7; Cl 1.15).

131
Teologia

1.3.2 O Idioma grego koinê


O grego koinê surgiu da necessidade de ter um dialeto comum que facilitasse as relações comerciais e
políticas, já que muitas tribos gregas tinham seus próprios dialetos. Esse idioma, cuja base era o dialético
ático, predominou em parte do Mediterrâneo e das regiões orientais, até o período bizantino. O koinê
se tornou a língua universal sendo falada em todo o mundo civilizado conquistado pelos exércitos de
Alexandre.

• A Septuaginta (LXX)
Foi a primeira tradução da Bíblia. É a tradução do texto hebraico para o grego koinê. Traduzida em
Alexandria, no Egito, em 285 a.C. por 72 eruditos judeus que foram convocados pelo rei Ptolomeu
Filadelfo que desejava ter uma tradução das Escrituras hebraicas para a sua biblioteca real em Alexan-
dria. Como os judeus alexandrinos adotaram o grego koinê como sua língua oficial e os que estavam na
diáspora também a conheciam, o Antigo Testamento passou a ser lido num idioma acessível já que os
judeus não se lembravam mais do hebraico.

• Livros Apócrifos (“coisas ocultas”).


Durante o período interbíblico e da história da igreja primitiva, surgiram alguns livros apócrifos do
Antigo Testamento escritos em hebraico, aramaico e grego. Esses livros, porém, não foram considerados
inspirados por Deus e foram reputados como não canônicos.
Os livros apócrifos foram incluídos na Septuaginta através da qual passou para a Vulgata de Jerônimo,
que é a versão oficial da Igreja Católica Romana. Os apócrifos são os seguintes: I e II Esdras, I e II Ma-
cabeus, Tobias, Judite, Adições ao Livro de Ester, Sabedoria de Salomão, Eclesiástico, Baruque, Epístola
de Jeremias, Cântico de Azarias, Cântico dos três jovens, Susana, Bel e o Dragão, Oração de Manassés.
Os apócrifos do NT começaram a surgir no começo do segundo século cristão, mas foram logo reconhe-
cidos pela igreja como falsos e sem inspiração divina. Essa coleção de livros é bem maior que os apócrifos
do AT; porém, menos conhecidos. Esses apócrifos são classificados como: Evangelhos, Atos, Epístolas e
Apocalipses.
Alguns destes livros trazem informações sobre a infância e juventude de Jesus, e outros, detalhes sobre
a vida dos apóstolos que haviam sido omitidos em atos; e outros, ainda, tinham tendências heréticas.
Alguns desses livros eram lidos na igreja devido a uma suposta ligação do autor com algum apóstolo
como I Clemente, Pastor de Hermas, e o Didaquê e a epístola de Barnabé. Esses livros tiveram sua lei-
tura permitida para uma devoção pessoal.

• Livros Pseudepígrafos (“falsamente escritos”).


Os livros pseudepígrafos surgiram no mesmo período que os apócrifos sob a alegação de que seus autores
foram personagens do A.T. Quase todos de natureza apocalíptica, tiveram o propósito de encorajar o
povo judeu a suportar as perseguições.
Os livros pseudepígrafos são os seguintes: 1 e 2 Enoque, 2 e 3 Baruque, Oráculos Sibilinos, 3 e 4 Macabeus,
Testamento dos Doze Patriarcas, Testamento de Jó, Vida dos Profetas, Assunção de Moisés, Martírio de
Isaías, Paralipômenos de Jeremias, Jubileus, Vida de Adão e Eva, Salmos de Salomão e Epístolas de Aristéias.
Em 1947, foram descobertos em algumas cavernas na região do Mar Morto, alguns manuscritos cuja
literatura é similar aos pseudepígrafos e por essa razão foram incluídos e classificados como tais.

132
História da Igreja I

Recapitulação 3
5R1. Relacione a 2ª coluna de acordo com a 1ª.

1. Septuaginta (LXX) ( ) Idioma usado para escrever o N.T.


2. Grego Koinê ( ) Livro apócrifo
3. Helenismo ( ) Versão grega das Escrituras hebraicas
4. Vida de Adão e Eva ( ) Livros de falsa autoria
5. Pseudepígrafos ( ) Livro pseudepígrafo
6. Apócrifos ( ) Influência da filosofia, das artes, e da cultura
7. Eclesiástico ( ) Livros escondidos

1.4. Contexto Social


Neste tópico será estudado o “modus vivendi” da sociedade do primeiro século d.C. em seus vários as-
pectos como a família, o trabalho, a casa, diversões, alimentação, vestuário e etc.

1.4.1 Família
É necessário fazer uma distinção entre uma família da Palestina e uma da sociedade greco-romana.
Geralmente uma família de judeus era numerosa e o nascimento de meninos era mais esperado e trazia
mais alegria que o de meninas. Já numa família tipicamente greco-romana, havia uma baixa taxa de
nascimentos. As famílias romanas eram incentivadas pelo governo, com concessões especiais a terem
mais de dois filhos.
As famílias da Palestina não tinham sobrenomes e as pessoas com um mesmo nome eram diferenciadas
por alguma característica especial (“Simão, o curtidor”; “Simão, o zelote”).

1.4.2 Moradias
As casas da Palestina eram diferentes das do império romano. Eram baixas e tinham um quarto para hós-
pede. Eram construídas com tijolos de barro amassado e com palha ressecada ao sol. As casas romanas já
eram superiores às dos judeus quanto ao estilo e ao material de construção. Eram construídas de tijolos
e os telhados eram cobertos com telhas ou palhas.

1.4.3 Idioma
Havia três idiomas falados no Império Romano. O latim, que era a língua oficial deste império, poste-
riormente substituiu o grego como língua universal. O aramaico era a língua falada predominantemente
na Palestina juntamente com o hebraico. Entretanto, o grego sobrepujava a essas duas em importância
porque era mais universal e era a língua do comércio e da filosofia. Provavelmente Jesus e os discípulos
eram trilíngues, falavam o hebraico, o aramaico e o grego.

133
Teologia

1.4.4 Trabalho
Havia diversas profissões entre os trabalhadores do primeiro século: carpinteiros, pedreiros, ferreiros,
padeiros, tintureiros, pastores de rebanho, soldados, agricultores, comerciantes, pescadores, médicos,
professores e advogados. Alguns trabalhadores chegaram a organizar seus sindicatos para representar os
direitos de seus empregados junto aos patrões. Entre os trabalhadores judeus, as profissões mais exercidas
eram as de pescador, agricultor, pastor de ovelhas e comerciante.

1.4.5 Entretenimentos
Eram várias as formas de diversões na sociedade do mundo greco-romano, mas a mais popular era a luta
entre os gladiadores. Os gladiadores eram escravos, criminosos ou voluntários que eram treinados para
lutarem até a morte. Esses espetáculos eram apresentados em grandes arenas e assistidos por milhares de
pessoas. Os gladiadores lutavam entre si e às vezes com alguns animais ferozes.
Outros espetáculos apresentavam lutas entre os próprios animais como leões, tigres, elefantes, croco-
dilos, hipopótamos e panteras. Outra forma de diversão, mais esportiva, incluía competições esporti-
vas que foram chamadas de jogos olímpicos. Na área artística havia representações teatrais, música e
literatura. Quanto às crianças, eram comuns os brinquedos como bonecas, chocalhos, jogos infantis,
esconde-esconde e a cabra-cega.

1.4.5 Alimentação
Os judeus faziam duas refeições diárias; uma ao meio dia, e outra à noite. Essas refeições consistiam de
frutas e legumes. Nas ocasiões festivas eles se alimentavam de carne assada ou cozida. Na ausência de
carne, se utilizavam de peixes.
Quanto à postura para fazer a refeição nas ocasiões formais, os judeus se reclinavam em divãs acolchoa-
dos e em outras ocasiões, informais, eles ficavam sentados.

1.4.6 Vestuário e Modas


As semelhanças entre as vestes masculinas e femininas eram grandes, e a diferença consistia no compri-
mento dos vestidos e na finura do material usado. As vestes masculinas, que geralmente eram brancas,
se prolongavam até aos joelhos e eram presas na cintura por uma cinta. Os cabelos dos homens judeus
eram curtos e ostentavam barbas.
As vestes femininas eram mais compridas que as dos homens e eram coloridas. Suas vestes ocasional-
mente eram adornadas com ouro ou prata. Seus cabelos eram compridos e as mulheres judias usavam
véu sobre a cabeça, mas deixavam o rosto descoberto. As mulheres, como também os homens, costu-
mavam tingir os cabelos para disfarçar os cabelos grisalhos. As pinturas e ornamentos como brincos e
pendentes no nariz, eram comuns.

134
História da Igreja I

Recapitulação 4
5R1. Quais eram os idiomas falados na época de Jesus?





6R1. Cite cinco profissões dos trabalhadores nessa época







7R1. Cite cinco tipos de esportes e entretenimentos dessa época.







135
2. O judaísmo

Jesus e a maioria de seus discípulos eram judeus. O cristianismo surgiu dentre o judaísmo. Por esses motivos
é importante entender a religião judaica e seus conceitos que foram o pano de fundo da religião cristã. A reli-
gião judaica conhecida na época de Jesus teve sua origem no exílio babilônico. Sem templo e sem sacrifícios,
foram obrigados a desenvolver um sistema religioso para manter sua comunhão com Deus. Neste período,
até a construção do templo em 516, as sinagogas desempenharam um importante papel na religiosidade
judaica. Mesmo depois com a existência do templo as sinagogas continuaram a ter sua importância.

2.1. Origem e desenvolvimento


O sistema de religião judaica, o judaísmo, se originou durante o exílio babilônico e se desenvolveu no
período interbíblico. Após a invasão da Babilônia e a destruição do templo em Jerusalém (586 a.C.), os
judeus sofreram um duro golpe e tiveram que desenvolver sua religiosidade em terra estrangeira e sem
templo.
No exílio, o idioma hebraico foi aos poucos esquecido e substituído pelo aramaico. Com o fim dos sa-
crifícios, o judaísmo adotou um sistema religioso não sacrifical e começaram a se reunir nos lares para
ler e estudar as Escrituras hebraicas e orar. Logo surgiriam as sinagogas que passariam a ser o ponto de
encontro dos judeus para a realização de seus cultos. Os escribas também desempenharam um papel
importante na instrução do povo.
Os judeus mais conservadores tentaram a todo custo preservar o judaísmo da influência pagã; entretan-
to, ela foi inevitável pelo menos na maioria da população judaica, o que se percebe pela quantidade de
judeus que voltaram para Jerusalém.
Com a autorização de Ciro, rei da Pérsia, os judeus retornaram para Jerusalém onde puderam recons-
truir o templo, levantar os muros e reconstruir a cidade.
A partir disso, o judaísmo começou a se caracterizar pela importância, não somente do templo, como
das sinagogas e dos sinédrios que seriam construídos; os grupos religiosos, bem como a literatura judaica
desse período, dariam ao judaísmo a forma com a qual seria conhecido no primeiro século cristão.
A religiosidade judaica foi composta por três fatores importantes: a nação, a lei e o sacerdócio. Com
o retorno do exílio, a pequena nação judaica, inicialmente composta por cerca de 50.000 pessoas, se
organizou politicamente e as esperanças nacionais voltaram a surgir. A lei, com a ajuda dos escribas
voltou a ser obedecida, principalmente o primeiro mandamento que trata sobre a adoração ao único e
verdadeiro Deus. Com a reconstrução do templo, o sacerdócio voltou a ser exercido e Esdras teve um
papel preponderante não somente na renovação do sacerdócio, como também na renovação espiritual
da novel nação de Judá.
História da Igreja I

2.2. Instituições religiosas


O ambiente religioso judaico era formado por três instituições: o templo, as sinagogas e os sinédrios.
Cada uma delas teve uma importância fundamental para a religiosidade judaica.

2.2.1 O Templo
Com a reconstrução do templo, os sacrifícios prescritos pela lei, puderam novamente ser oferecidos.
Os utensílios e vasos sagrados voltaram a ocupar o seu lugar no templo sagrado com exceção da arca da
aliança que estava desaparecida ou fora destruída em algum momento após a destruição do primeiro
templo em 586 a.C. Os serviços no templo eram realizados pelos sacerdotes e pelos levitas. A religião
judaica passou a girar em torno das atividades conduzidas pelos sacerdotes e levitas.
Esse templo foi reconstruído por Herodes, o Grande, no ano 19 a.C. e só concluído em 64 d.C. Foi
nesse templo inacabado que Jesus realizou vários milagres e o chamou de ”A casa do meu Pai” (Jo 2.16).
Jesus predisse a destruição do templo o que ocorreria no ano 70 d.C.

2.2.2 A Sinagoga
Não se tem absoluta certeza quanto à origem das sinagogas, se foi no exílio da Babilônia, ou mais tar-
de, no período interbíblico. Mas a sinagoga (“assembleia”, “lugar de reunião”) não foi construída para
substituir o templo, mas se tornou um local para reuniões de oração, leitura e ensino das Escrituras que
eram oferecidos pelos escribas.
Mesmo com a construção do templo, as sinagogas foram construídas em várias cidades do império. Elas
eram administradas por um grupo de oficiais liderados pelo presidente que era “chefe principal”. Esse
grupo de oficiais era constituído de anciãos que eram escolhidos pela congregação que, por sua vez,
supervisionavam a vida religiosa dos judeus. Os que fossem flagrados em algum erro eram disciplinados
por meio de açoites ou de exclusão.

2.2.3 O Sinédrio
Do termo grego “sinédrion”, significa: “sentados juntos”, porque os seus membros se assentavam em
semicírculos. Em algumas versões o termo é traduzido por “concílio” (Mt 5.22; 26.59; Mc 14.55; Lc
22.66; Jo 11.47).
O sinédrio tinha um caráter legislativo, judiciário e religioso. Era composto por um grupo de setenta
e um anciãos judeus que eram presididos pelo sumo sacerdote. O sinédrio exercia jurisdição civil e cri-
minal e tinha autoridade administrativa, e podia ordenar aprisionamentos por seus próprios oficiais de
justiça (Mt 26.47; Mc 14.43). A jurisdição civil incluía até mesmo os judeus da dispersão (At 9.1,2).
O Grande Sinédrio, que julgava as questões mais sérias, ficava estabelecido em Jerusalém. Os sinédrios me-
nores julgavam as questões menos importantes. O sinédrio tinha o poder de julgar e prender, mas não podia
aplicar a pena capital; esta era uma incumbência exclusiva das autoridades romanas (Jesus, por exemplo).
No âmbito religioso, o sinédrio exercia a superintendência religiosa da nação judaica. Com a destruição
de Jerusalém no ano 70, o sinédrio foi abolido e sua história chegou ao fim depois de haver durado cerca
de cem anos.

137
Teologia

Recapitulação 5
1R2. Descreva com suas palavras acerca da origem e desenvolvimento do judaísmo.





2R2. Resuma a importância de cada uma das instituições judaicas







2.3. judaísmo Palestino e judaísmo Helenístico


O judaísmo do primeiro século estava localizado em dois pontos geográficos diferentes: Palestina e Im-
pério romano. Os exilados que voltaram da Babilônia para Jerusalém eram numericamente bem inferior
em relação aos que ficaram na Babilônia e outras regiões como no Egito, Pérsia, Grécia e Roma. A essa
distribuição dos judeus por várias partes, deu-se o nome de “Diáspora” ou “Dispersão”, que teve início
no Egito na época do profeta Jeremias (cf. Jr 41. 16,17; caps. 43 – 44).
Durante o primeiro século cristão havia judeus em quase todo o território do Império romano. Segun-
do informa o historiador cristão, W. Walker, o número de judeus fora da Palestina era cinco ou seis
vezes mais que os que estavam fixados na Palestina. Robert Gundry informa que a população judaica
no Império romano, nos dias do NT, tem sido calculada em mais de quatro milhões, e na Palestina a
população não chegava a setecentos mil.
O judaísmo foi influenciado ainda no exílio, quando os judeus aprenderam um novo idioma, o ara-
maico, e a partir de então, estiveram expostos a uma constante influência da cultura helênica: nas artes,
filosofia, comércio, entretenimentos e etc.

2.3.1 judaísmo Palestino


A Palestina, que pela sua posição geográfica, ficava numa encruzilhada de grandes rotas comerciais e
embates políticos, foi não somente o berço do judaísmo, como também do cristianismo. Os judeus da
Palestina falavam o aramaico e organizaram algumas seitas como a dos fariseus e saduceus. O culto teve
no templo, em Jerusalém, o centro de sua devoção religiosa.
Não se pode concluir que os judeus palestinos estavam livres da influência helenista. Muitas cidades
da Palestina foram reconstruídas num estilo grego e outras, como Decápolis, eram cidades tipicamente

138
História da Igreja I

gregas. A cidade de Cesareia, que foi a capital da Palestina no tempo dos procuradores, tinha edifícios
característicos de uma cidade helenista: um teatro, um anfiteatro, uma rua de colunatas, um hipódromo
(arena para corridas), e um templo.
Todas as áreas de vida do judeu na Palestina haviam sido influenciadas pela cultura helênica: a cultura, a
arquitetura, a filosofia, a alimentação, a indumentária, as diversões e as artes. O maior conflito já ocor-
rido entre os judeus e sua tentativa de helenização, foi, como já mencionado, na época de Antíoco IV,
quando milhares de judeus foram perseguidos e mortos, e posteriormente provocou a insurreição dos
Macabeus. Depois disso, os judeus não foram mais forçados a aceitar uma cultura estrangeira.
Na época do governo romano, os judeus tiveram não somente liberdade, como também sua religião re-
conhecida. Muitos judeus obtiveram cidadania romana e suas questões civis e religiosas eram resolvidas
no próprio sinédrio. Os benefícios da cidadania romana protegiam o cidadão de ser preso sem julgamen-
to e de ser açoitado, o que era uma prática comum imposta aos prisioneiros.

2.3.2 judaísmo Helenístico


Também chamado de “judaísmo da dispersão”, é uma expressão referente aos judeus que viviam fora da
Palestina. Esses judeus da dispersão sofreram uma forte influência da cultura helênica. O grego passou
a ser o idioma desses judeus. Nas cidades de Roma e Alexandria, a colônia judaica era muito numerosa.
Em Alexandria, local onde foi feita a tradução das Escrituras para o grego, a Septuaginta, os judeus ale-
xandrinos utilizaram a filosofia e o idioma grego para pregar a fé judaico-monoteísta. E nesse aspecto foi
importante ter as Escrituras num idioma conhecido.
O método alegórico de interpretação, que foi uma tentativa de harmonizar o A.T. com a filosofia pla-
tônica, surgiu nessa cidade e teve em Filo (20 a.C. – 50 d.C.), o seu maior representante. Esse método
de espiritualizar as Escrituras influenciou fortemente a sua interpretação e deu origem a uma escola de
interpretação que seria usada até a época da Reforma.
A população judaica de Alexandria, só era superada por Roma e Jerusalém. Na era cristã, essa cidade se
tornou um importante centro do cristianismo. Dois dos maiores pais da igreja eram provenientes dessa
cidade: Clemente e Orígenes.
Os judeus da diáspora também produziram uma parte dos livros pseudepígrafos. Um exemplo disso é o
livro “Oráculos Sibilinos”, de caráter apocalíptico, cuja origem foi na comunidade judaica alexandrina.
Os judeus alexandrinos desempenharam um papel importante para a expansão do cristianismo.
No dia de Pentecostes havia muitos deles em Jerusalém que ouviram e receberam a mensagem cristã do
apóstolo Pedro e, depois, na volta as suas casas, disseminaram a fé cristã dando origem a algumas igrejas.
É indiscutível a contribuição dos gregos ao cristianismo com o seu idioma e com a filosofia. Entretanto,
as contribuições religiosas do judaísmo foram maiores. O historiador Earle Cairns enumera seis con-
tribuições: O monoteísmo, a esperança messiânica, o sistema ético, o A.T., a filosofia da história e a
sinagoga.

139
Teologia

Recapitulação 6
3R2. O judaísmo palestino e o helenístico são a mesma coisa? Explique.





2.4. A esperança Messiânica


Os judeus aguardavam o Messias prometido pelos profetas (Isaías, Zacarias, Miquéias, Malaquias e Sal-
mos), que colocasse um fim no sofrimento do povo escolhido nas mãos de opressores cruéis.
A literatura pseudepígrafa, que surgiu no período interbíblico, refletia o pensamento religioso quanto
à esperança messiânica. Na época de Jesus os judeus aguardavam um Messias que reunisse em si três
fatores: profeta, sacerdote e rei, e que libertasse o seu povo da dominação romana e estabelecesse um
reinado de paz, justiça e prosperidade.
O advento do Messias inauguraria uma nova era para a nação judaica. Os judeus dispersos pelo Império
romano seriam reunidos na sua terra e governados pelo descendente de Davi.
Nos tempos de opressão essa esperança ficava mais vigorosa e a expectativa da vinda de um guerreiro
libertador, hábil, político e herói militar, era cada vez maior. Os judeus não aguardavam um Messias
pacífico, sofredor, um ser divino como predito em Isaías 53.

2.4.1 Características Básicas da Esperança Messiânica


Existem algumas características comuns que revelam o caráter da esperança messiânica. O autor H. E.
Dana enumera três características importantes:

1. Intervenção Especial de Deus.


Os judeus se apoiavam na promessa de que eram uma nação eleita e possessão de Deus, por isso acredi-
tavam numa intervenção divina para libertar o seu povo.

2. A Elevação Suprema da Nação Israelita.


Israel, como povo escolhido, foi comissionado a tornar o nome de Deus conhecido entre os gentios e
tornar suprema a sua lei.

3. Submissão do Mundo ao governo de Jeová e seu eleito.


A supremacia de Israel incluía a submissão das nações a Israel e ao seu Deus. Nessa época áurea, de
submissão aos gentios e às leis divinas, o Messias implantaria um reinado de justiça com princípios de
uma vida justa.

140
História da Igreja I

Recapitulação 7

4R2. O que é a “Esperança Messiânica?”.







141
3. Jesus Cristo – Vida e obra

A maior religião do mundo, o cristianismo, se fundamenta na pessoa de Cristo. Sua historicidade foi
testemunhada por judeus e romanos além dos autores dos evangelhos. Ainda que os evangelhos não
apresentem uma biografia completa de Jesus, até mesmo porque não foi esse o propósito de seus autores,
eles fazem uma descrição real e histórica de Jesus. Os testemunhos extracanônicos e romanos são parcos;
entretanto, provam a existência de Cristo.

3.1. A História de Cristo


Tanto o testemunho canônico como o extrabíblico, não foram suficientes para convencer a escola da
teologia liberal que partiu para a busca do Jesus histórico. Os eruditos liberais não aceitam a descrição
que os evangelistas fizeram de Jesus, por acharem ser ela incompleta. Influenciados pela filosofia racio-
nalista do século 18, os evangelhos foram interpretados a partir dessa perspectiva; e o resultado dessa
leitura é que a historicidade de Jesus, apresentada nos evangelhos, foi questionada e os seus milagres
foram classificados como mitos.
A partir de Samuel Reimarus (1654 -1768) que propôs a busca do Jesus histórico, muitas obras têm sido
escritas sobre a vida de Cristo numa tentativa de resgatar um Jesus que não recebeu a influência da fé
da igreja primitiva. A começar por David Strauss (1808 – 1874), que concluiu em sua obra “A Vida de
Cristo”, que a maior parte do material contido nos evangelhos é de natureza mitológica (ele introduziu
o conceito de mito), até Rudolf Bultmann (1884 – 1976), que propôs um programa de demitização do
N.T., a ideia predominante por mais de cem anos foi que a narrativa sobre Jesus nos evangelhos repre-
senta a fé da igreja e não a história real d’Ele.

3.1 O Testemunho Judeu


O testemunho judeu se concentra basicamente nas poucas declarações de Flávio Josefo (37 d.C. – 100
d.C.). Josefo foi um historiador judeu que foi designado governador da Galileia na ocasião da Guerra
Judaico-Romana.
Em uma de suas obras, “Antiguidades dos Judeus”, que foi escrita em vinte volumes, Josefo faz algumas re-
ferências a Jesus. Em um de seus comentários ele afirmou: “... (ele era) um homem bom (se é legal chamá-lo
um homem), com quem se associavam homens bons”. Em outro comentário ele identificava Tiago como
o irmão de Jesus: “...o irmão de Jesus, assim chamado Cristo”. O testemunho histórico de Josefo é válido
pelo fato dele não ter sido simpático ao cristianismo e ter adquirido cidadania romana após o ano 70 d.C.

3.2 O Testemunho Romano


Historiadores e escritores romanos como Tácito, Plínio, Suetônio e Luciano, dão a base desse testemu-
História da Igreja I

nho. Tácito (55 – 117) talvez tenha sido o historiador mais importante. Ele escreveu os “Anais” que
descrevem o período de Tibério César que era o imperador quando Jesus exerceu seu ministério, até
Nero. Ele registra que Nero incendiou Roma e colocou a culpa nos cristãos. Sobre Cristo ele afirmou:
“O nome deles (isto é, os cristãos), vem de Christus, que foi executado por Pôncio Pilatos, governador
da Judeia, durante o governo de Tibério”.
Plínio, o Moço (62 – 113) foi governador da Bitínia e em uma de suas obras escritas endereçadas ao
imperador Trajano, ele se queixa de que os templos pagãos estavam vazios porque os frequentadores
haviam se convertido ao cristianismo. Nesta carta, ele afirmou que os cristãos cantavam hinos de louvor
a Cristo como se Ele fosse um deus.
Suetônio (70 – 160) escreveu “A Vida dos Doze Césares” que é uma historiografia romana de grande
valor que abrange a história do período de Júlio César até Domiciano. Nessa obra, ele afirmou que a
expulsão dos judeus de Roma foi devido a uma confusão por causa das ideias de “Chrestus” (Cristo).
Luciano (125 – c. 190) escreveu uma sátira sobre os cristãos e sua fé onde ele retratou Jesus como al-
guém “que foi crucificado na Palestina” por ter iniciado “este novo culto”.
Os testemunhos desses historiadores e escritores romanos são de grande valor histórico principalmente
porque eles são livres de qualquer suspeita, nos seus registros sobre Jesus e os cristãos, já que eram hostis
ao cristianismo.

Recapitulação 8
1R3. A historicidade de Cristo descrita pelos evangelhos é aceita pela teologia liberal? Explique.





2R3. Por que o testemunho judeu e romano sobre a historicidade de Jesus é tão importante?





3.2. História de Cristo – Testemunho Bíblico


Os evangelhos são a fonte a respeito da vida de Jesus. Foram feitas tentativas de se harmonizar os quatro
evangelhos para se obter um relato mais completo acerca da vida e obra de Jesus. Mas mesmo assim te-
mos poucas informações a respeito da vida de Jesus. Para se obter um exemplo, dos doze aos trinta anos
não temos qualquer relato nos evangelhos sobre a vida de Jesus.

143
Teologia

3.2.1 Seu Nascimento


O nascimento de Jesus foi anunciado pelo anjo Gabriel a Maria. Ele seria concebido por obra do Espí-
rito Santo e o seu nome deveria ser “Jesus”. Maria estava noiva de José, que na ocasião tentou deixá-la
secretamente. Convencido através de um sonho, por um anjo, foi dissuadido da ideia e recebe novamen-
te a Maria. Nessa época, Isabel, sua prima, já estava grávida de seis meses de João Batista que seria o seu
precursor. Jesus nasceu em Belém por volta de 6 a.C. – 5 a.C. durante o reinado do imperador César
Augusto (Lc 2.1) em cumprimento da profecia de Miquéias 5.2.

3.2.2 Sua Infância


Há cinco relatos nos evangelhos sobre a infância de Jesus:
Primeiro, Ele foi circuncidado ao oitavo dia conforme a lei judaica, e recebeu o nome de Jesus (Lc 2.21).
Segundo, Ele foi apresentado no templo por Simão após a purificação ritual de quarenta dias, e Maria ofe-
receu sua oferta (Lv 12.8; Lc 2.24). Terceiro, alguns magos, provindos talvez da Babilônia, foram conduzi-
dos por uma estrela até o local onde Jesus se encontrava e lhe ofertaram ouro, incenso e mirra (Mt 2.9-11).
Quarto, José e Maria fugiram para o Egito com o menino Jesus quando Herodes ordenou a execução de
todos os meninos de até dois anos, de Belém e das regiões vizinhas (Mt 2.13 – 18). Quinto, quando Jesus
estava com doze anos, seus pais o levaram para comemorar a Páscoa em Jerusalém e, na volta para casa, no
caminho, sentiram sua falta. Quando voltaram O encontraram discutindo com os mestres da lei.
Este é o último relato bíblico sobre a vida de Jesus na adolescência; depois disso, a informação que Lucas
fornece, é que Jesus crescia “em sabedoria, estatura e graça diante de Deus e dos homens” (Lc 2.52).
Após essa informação, temos um silêncio de aproximadamente 18 anos, quando então Jesus foi batizado
aos 30 anos pelo seu precursor e primo, João Batista (Mt 3.13 -17; Lc 3. 21- 22).

3.2.3 Ministério na Judeia


O evangelista João fornece as informações sobre a vida e os milagres de Jesus na Judeia. Nessa região,
Jesus escolheu os seus discípulos; João e André, que eram seguidores de João Batista, e passaram a seguir
a Jesus. Na Judeia, Jesus tem um encontro pessoal com Nicodemos e com a mulher samaritana.

3.2.4 Ministério na Galileia.


Jesus foi para a Galileia e fez de Cafarnaum, o centro de atividades. O primeiro milagre foi numa festa
de casamento quando Ele transformou a água em vinho (Jô 2.1-12). Muitos discípulos foram chamados
da região da Galileia e se tornaram seus discípulos. Na segunda fase de seu ministério na Galileia, Jesus
deu prioridade ao ensino (Lc 4.31-44; Mt 4.23-25). Muitos milagres e exorcismos foram realizados ali
(Mt 9.1-8; Mc 2.1-12; Lc 5.17-26). O ministério de Jesus na Galileia deve ter durado por cerca de quin-
ze meses e foi ali que Jesus realizou a maioria dos milagres e narrou várias parábolas. Muitos episódios
ocorridos nessa região foram registrados nos evangelhos.

3.2.5 Ministério na Peréia


O ministério de Jesus em Pereia está registrado exclusivamente em Lc 9.51 – 19.18 que é material pe-
culiar a Lucas. O ministério na Pereia deve ter durado de seis a nove meses. Nesse lugar Jesus afirmou

144
História da Igreja I

ser necessário ir à Jerusalém e sofrer as conseqüências de sua missão (Lc 18.31-34) que culminaria na
sua morte.

3.2.6 Ministério em Jerusalém – A Última Semana


Segundo o relato de João, o ministério de Jesus durou mais de uma semana. A semana da paixão é o auge
do ministério de Jesus. Sua entrada em Jerusalém ocorreu de forma triunfal onde Ele foi aclamado como
rei (Mt 21.1-11). A partir desse fato outros o sucederam como: a controvérsia com os líderes religiosos,
algumas curas, a purificação do templo, ensino, parábolas, a última ceia, a traição e prisão, julgamento,
crucificação, sepultamento e ressurreição, e por fim, sua ascensão.

Recapitulação 9
3R3. Descreva resumidamente o testemunho canônico sobre Jesus desde seu nascimento até a sua in-
fância.





145
4. Os apóstolos

Nos evangelho, eles são chamados de discípulos (Mt 10.1; Mc 3.7; Lc 19.29; Jo 20.19) e apóstolos (Mc
6.30; Lc 22.14); porém, o termo mais comum para designá-los, era “discípulos”. Como discípulos eles
foram chamados para estar com Jesus e aprender com Ele; como apóstolos, seriam enviados com poder
e autoridade para pregar e expulsar demônios (Mc 3.14,15; 6.30; Lc 9.10). A maioria deles pertencia à
região de Cafarnaum, na Galileia.
O número de apóstolos se limitou a doze, o que relembra as doze tribos de Israel. A escolha e seleção dos
apóstolos foram feitas após oração à noite inteira. Os doze homens selecionados teriam a incumbência
de ajudar Jesus na sua missão de pregar o evangelho, curar os enfermos e expulsar demônios.
Eles seriam embaixadores com uma mensagem urgente. Eles receberam a missão com a instrução de
pregarem primeiramente aos judeus. Eles foram enviados aos pares e caso fossem perseguidos não deve-
riam se preocupar com o que haveriam de dizer por que naquele momento o Espírito Santo colocaria as
palavras certas em suas bocas (Mt 10.19,20).
A missão dos apóstolos é resumida na ordem de Jesus narrada em Mateus: “... pregai que está próximo o
reino dos céus. Curai enfermos, ressuscitai mortos, purificai leprosos, expeli demônios; de graça recebes-
tes, de graça dai” (Mt 10.7,8). Depois de enviados, “percorriam todas as aldeias anunciando o evangelho
e efetuando curas por toda parte” (Lc 9.6).
Lucas registra um episódio em que setenta discípulos receberam instruções semelhantes às dadas aos
doze em Mateus. Eles foram enviados de dois em dois e, no regresso deles, Lucas não informa quanto
tempo ficaram fora; e, na ocasião, prestaram um entusiasmado relatório a Jesus. Durante a realização da
obra missionária dos discípulos, Jesus testemunhou a derrota de Satanás como a queda de um relâmpa-
go; o triunfo do evangelho ocasionou a derrota de Satanás.
Há quatro listas com os nomes dos apóstolos: Mt 10.2-4; Mc 3.16-19; Lc 6.14-16; At 1.13,26. Pedro
sempre encabeça a lista e Judas Iscariotes sempre aparece em último lugar, exceto no livro de Atos. A lista
de Mateus coloca os apóstolos em pares provavelmente na mesma ordem em que foram enviados em
sua missão de dois em dois. Os apóstolos eram: Simão Pedro e André (irmãos), Tiago, filho de Zebedeu
e João, seu irmão; Filipe, Bartolomeu, Tomé, Mateus, Tiago, filho de Alfeu, Tadeu, Simão, o zelote e
Judas Iscariotes.
O N.T. não nos informa sobre o fim dos apóstolos, exceto sobre Tiago, o irmão de João que foi morto
por Herodes Agripa II (At 12. 1,2). Com a morte de Judas Iscariotes, Matias foi escolhido em seu lugar
(At 1.26). Além dos doze, outros foram chamados de apóstolos como Paulo, Barnabé e Tiago, o irmão
de Jesus (Gl 1.19; At 14.4,14).
História da Igreja I

4.1. Perfil dos doze Apóstolos


Este perfil irá abordar de forma resumida o perfil histórico e ministerial de cada apóstolo e o possível
destino deles registrado nas tradições da igreja primitiva.

1. Simão Pedro
O nome Simão é a forma grega de “Simeon” que talvez signifique “ouvir”. O segundo nome, Pedro, é
grego e significa. “pedra” ou “rocha”. O seu terceiro nome é “Cefas”, um nome aramaico que significa
“rocha”. Pedro era irmão de André e filho de João (Jo 1.42). Ele e André eram pescadores de profissão
e estavam trabalhando no Mar da Galileia quando foram chamados por Jesus (Mt 4.18,19). Sua cidade
natal era Betsaida (Jo 1.47); e residia em Cafarnaum, na Galileia (Mc 1.21,29). O relato de Jo 1.42 – 47
informa que Pedro foi levado a Jesus pelo seu irmão. Pedro tinha um temperamento forte, imprevisível
e muitas vezes, por essa razão, ficava em dificuldades.
A narrativa de Mt 16. 15-23 deixa evidente que Pedro, ao mesmo tempo em que fazia declarações con-
sagradoras (Mt 16.16), também era levado a outro extremo quando era identificado com Satanás (Mt
16.23). Pedro logo se destaca entre os Doze e se torna o líder dos apóstolos e, posteriormente, o líder mais
influente da igreja primitiva. Foi após a sua pregação no dia de Pentecostes que cerca de três mil pessoas
foram acrescentadas a igreja em Jerusalém. Foi considerado por Paulo, como apóstolo dos judeus (Gl 2.8).
Não há registro bíblico sobre a morte de Pedro, mas o historiador da igreja, Eusébio de Cesareia, infor-
ma que ele morreu no ano 68 d.C. Tertuliano e Orígenes afirmaram que Pedro foi crucificado de cabeça
para baixo em Roma, sob perseguição de Nero.

2. André
Seu nome em grego é “Andreas” e significa “varonil”. Irmão de Pedro, também era pescador e discípulo
de João Batista até quando este, apontando para Jesus exclamou: “Eis o cordeiro de Deus!” (Jo 1.36).
A partir daí, passou a seguir a Jesus. Logo em seguida foi a procura de seu irmão e disse: “Achamos o
Messias...”, e o conduziu a Jesus (Jo 1.41,42). Juntamente com Filipe, outro apóstolo, apresentou a Jesus
um grupo de gregos (Jo 12.20-22). Por esta razão, tanto ele como Filipe são considerados os primeiros
missionários estrangeiros. A tradição da igreja afirma que ele viveu seus últimos dias em Cítia, região
próxima ao Mar Negro e que foi crucificado numa cruz em forma de X, e que se tornou o símbolo reli-
gioso conhecido como “Cruz de Santo André”.

3. João
Era discípulo de João Batista o que se pode inferir de Jo 1.35-37. Ele também deve ser distinguido de
João Marcos. Seu nome vem do hebraico “Iohanan” que significa “Javé tem sido gracioso”. Era irmão
de Tiago e filho de Zebedeu e Salomé (Mc 1.19,20). Seu pai tinha uma pequena empresa de barcos de
pesca. Ele foi chamado por Jesus, juntamente com seu irmão. O apelido de “Filhos do trovão”, que os
filhos de Zebedeu receberam, pode indicar o temperamento explosivo e imprevisível deles (Mc 3.17).
Algumas vezes João deixou transparecer sua emotividade com Jesus e logo passou a fazer parte do círculo
de discípulos íntimos de Jesus juntamente com Pedro e João (Mt 17.1; Mc 9.2; Lc 9.28). Ele é identifi-
cado como o “discípulo amado” (Jo 19.26; 20.2).

147
Teologia

No livro de Atos aparece sempre com Pedro (At 3.1-4; 4.13; 8.14,25) e foi o autor do quarto evangelho,
das três epístolas e do Apocalipse o que significa que dentre os Doze, ele foi o que mais escreveu livros
do NT. A tradição da igreja afirma que ele teve uma vida longa em Éfeso onde pastoreou uma congre-
gação e morreu. É provável que João tenha sido o único apóstolo que não morreu como mártir cristão.

4. Tiago, Filho de Zebedeu.


Irmão de João e pescador da Galileia pertenceu ao círculo dos três discípulos mais íntimos de Jesus. Ele
precisa ser distinguido do Tiago, filho de Alfeu, que era outro apóstolo (Mt 10.33), e também de Tiago,
irmão de Jesus (Mt 13.55). Nos evangelhos ele sempre aparece com seu irmão, João. Entretanto, no
evangelho de João não há qualquer relato sobre Tiago o que pode ser explicado pela discrição de João.
Uma tradição da igreja afirma que Tiago foi missionário na Espanha. Ele foi o primeiro apóstolo a sofrer
martírio por ordem de Herodes Agripa I, no ano 44 d.C. quando foi executado à espada quando ainda
era muito jovem. Assim Tiago bebeu o cálice predito pelo Senhor (Mc 10.38,39).

5. Bartolomeu
São escassas as informações sobre Bartolomeu. Com base em Jo 1.45, ele é identificado como Natanael.
Outros, porém, creem que Bartolomeu era o sobrenome de Natanael. Ele foi apresentado a Jesus por
Filipe (Jo 1.47). O nome “Bartolomeu” significa “Filho de Talmai”. Se Bartolomeu e Natanael são a
mesma pessoa, então ele veio de Caná da Galileia. Sobre Natanael, Jesus disse: “israelita em quem não
há dolo” (Jo 1.47). Jesus apareceu após sua ressurreição a Bartolomeu nas margens do Mar de Tiberíades
(Jo 21.1,2). Eusébio e Jerônimo mencionam que Bartolomeu foi missionário na Índia. A tradição afirma
que Natanael foi missionário na Índia e que foi para a Armênia onde levou muitos a Jesus. Segundo
a tradição, ele foi crucificado de cabeça para baixo e uma lenda afirma que ele foi esfolado vivo pelos
bárbaros.

6. Filipe
Seu nome significa “Amante de cavalos”. Filipe era um nome comum naquela época e ele deve ser distin-
guido do Filipe diácono-evangelista (At 6.5). Somente no evangelho de João encontramos informações
sobre Filipe. Ele era natural de Betsaida (Jo 12.21) e foi chamado individualmente por Jesus. Filipe
apresentou Natanael a Jesus (Jo 1.45 – 51). No deserto Jesus perguntou a Filipe como alimentariam a
multidão ao que ele respondeu que duzentos denários de pão não seriam suficientes (Jo 6.5-7). Noutra
ocasião, alguns gregos solicitaram a Filipe que lhes apresentasse a Jesus para conhecê-lo (Jo 12.20-22).
Na ocasião da última refeição com Jesus, Filipe pediu a Jesus para que lhe mostrasse o Pai (Jo 14.8).
Uma tradição preservada por Clemente de Alexandria afirma que foi ele o homem quem pediu permis-
são para sepultar seu pai, antes de seguir a Jesus (Mt 8.21). Eusébio afirma que ele viveu na Ásia e foi
sepultado em Hierápólis com duas filhas virgens. Dois livros apócrifos foram atribuídos a Filipe, um
Evangelho e um Atos.

7. Mateus
Seu nome significa “Dom de Deus” e também tinha o nome de “Levi” (Mc 2.14; Lc 5.27). Era filho de
Alfeu (Mc 2.14) o que alguns pensam que ele tinha algum grau de parentesco com Tiago que era filho

148
História da Igreja I

de Alfeu (Mt 10.3). Era publicano, coletor de impostos a serviço do governo romano. Ele estava na
coletoria quando recebeu o convite de Jesus e deixou seu posto de trabalho para ser discípulo, apóstolo
e escritor do evangelho que leva seu nome. (Mt 9.1; 10.3). Os cobradores de impostos eram odiados e
desprezados pelo público porque extorquiam os cidadãos com uma cobrança acima do permitido por
lei. Mateus era desprezado também pelos judeus, pelo fato de que ele era um judeu que estava a serviço
do governo romano.
Mateus tinha boas condições financeiras o que se vê no relato de Lc 5.29 que informa que ele tinha casa
própria e recebeu, para um banquete, “numerosos publicanos” o que indica que ele era mais rico do que
um publicano comum. Ele escreveu o evangelho que leva seu nome, e como constava no começo dos
manuscritos gregos, faz muitas referencias ao A.T.; além de seu caráter judaico, foi aceito universalmente
assim que ele começou a circular.
Após o seu chamado, Mateus não é mais mencionado a não ser em At 1.13 na relação dos apóstolos que
estavam no cenáculo em Jerusalém. Depois disso ele não aparece mais no NT. Tradições sobre Mateus
informam que ele esteve no Egito e na Etiópia e a igreja ocidental informa que ele foi martirizado.

8. Judas
Mateus e Marcos registram Tadeu enquanto Lucas traz “Judas, filho de Tiago” (Mt 10.3; Mc 3.18; Lc
6.16; At 1.13). Provavelmente Judas recebeu o acréscimo de “Tadeu” devido ao estigma ligado ao nome
de Judas Iscariotes. O nome “Judas” era muito comum na Palestina. Além do Iscariotes havia Judas o
irmão de Jesus (Mt 13.55; Mc 6.3), e Judas, o galileu (At 5.37). Não se pode ter certeza com respeito
a identificação de Tiago, o pai de Judas. Alguns creem ser o irmão de Jesus; outros, Tiago, filho de Ze-
bedeu.
Eusébio afirma que Judas Tadeu foi enviado por Jesus ao rei Abgar da Mesopotâmia a fim de orar pela
sua cura. Judas teria ido após a ascensão de Jesus e lá permaneceu para pregar em várias cidades da Me-
sopotâmia. Outra tradição afirma que Judas foi assassinado por mágicos na Pérsia a pauladas e pedradas.

9. Tomé
No evangelho de João há mais informações sobre Tomé que nos sinóticos. João informa que ele também
era chamado de Dídimo (Jo 20.24). Seu nome no grego é “Thomas” e significa “gêmeos”. Ele aparece
em quatro episódios: No primeiro, quando Jesus pretendia voltar para a Judeia e foi advertido pelos
discípulos para que não fosse, Tomé disse: “vamos também nós para morrermos com Ele” (Jo 11.16).
No segundo, ele perguntou para Jesus: “... como saber o caminho?” (Jo 14.4,5). No terceiro, quando ele
duvidou da realidade da ressurreição de Jesus (Jo 20.24,29) e o último episódio, quando ele juntou-se a
seis discípulos para pescar (Jo 21.1,2). Depois disso ele aparece na lista dos apóstolos em At 1.13 e não
é mais mencionado no N.T.
Uma tradição encontrada no livro não canônico, “Atos de Tomé”, escrito no fim do segundo século,
afirma que ele foi missionário na Índia onde enfrentou muitas provas e foi martirizado e sepultado pelos
seus convertidos. Outra tradição informa que seus restos mortais foram levados para a Mesopotâmia.

149
Teologia

10. Simão, o zelote


Este Simão é cognominado de “zelote” para distinguir de Simão Pedro. Simão pertencia à seita judaica
de caráter político conhecida como “zelotes” (Lc 6.15; Mt 10.4). A última referência a ele também se
encontra em At 1.13. Depois disso não há mais relatos no NT sobre Simão. Uma tradição da igreja
afirma que ele pregou no Egito, na África, na Grã-Bretanha e na Pérsia.

11. Tiago, filho de Alfeu


Como Mateus, também é chamado de “filho de Alfeu”; muitos acreditam que eles fossem irmãos.
Outros, ainda, acreditam que ele fosse Tiago, o menor, talvez, primo de Jesus (Mc 15.40). Era filho de
Maria, uma das mulheres que estava presente na crucificação de Jesus (Mt 27.56; Mc 15.40). Por falta
de maiores informações não há como ter certeza sobre a real identidade de Tiago. Algumas tradições
afirmam que ele foi apedrejado pelos judeus e foi sepultado em Jerusalém.

12. Judas Iscariotes


Em todas as listas dos apóstolos, Judas sempre é colocado no fim. O termo “Iscariotes” significa “Ho-
mem de Quiriote”. Quiriote era uma cidade próxima a Hebrom. Judas era o único apóstolo natural da
Judeia e geralmente é identificado com o adjetivo de “traidor”. A chamada de Judas para o discipulado
não foi registrada por qualquer evangelista. Ele era o tesoureiro de Jesus (Jo 13.29), e João informa que
ele era ladrão (Jo 12.6).
Algumas tentativas têm sido feitas para explicar a razão da traição de Judas. Alguns acreditam que ele
reagiu à censura que Jesus lhe fez na ocasião em que ele criticou a mulher que derramou um precioso
ungüento nos pés de Jesus (Jo 12.1-8). Outros, ainda, acreditam que ele traiu por ganância (Mt 26. 14-
16). Mas Lucas e João informam que Judas foi inspirado por Satanás (Lc 22.3; Jo 13.27).
Os relatos da morte de Judas feitos por Mateus e Lucas, parecem contraditórios. Mateus narra que Ju-
das, tocado de remorso, se enforcou (Mt 27. 3 - 5) e Lucas registra que ele “precipitando-se, rompeu-se
pelo meio” (At 1.18). Uma forma de conciliar esses relatos aparentemente contraditórios é entender que
eles são descrições do processo que culminou na sua morte. Provavelmente Judas pendurou-se por uma
corda que teria se partido fazendo com que Judas morreu devido à queda. Mas pior do que este destino
foi o seu destino espiritual cujo veredicto é fornecido por Lucas “... neste ministério e apostolado do
qual Judas se transviou, indo para o seu próprio lugar” (At 1.25).

13. Matias – Substituto de Judas


Após a morte de Judas Iscariotes, Pedro sugeriu substituição do traidor. Dois nomes foram sugeridos:
José Barsabás e Matias. Após uma oração, lançaram sortes e a sorte recaiu sobre Matias. Seu nome sig-
nifica “Dom de Deus”. Acerca do ministério que Matias teria exercido nada é registrado no NT. Ele
foi uma figura apagada; mas uma tradição afirma que ele pregou aos canibais da Mesopotâmia; outra
ainda, afirma que ele foi apedrejado pelos judeus. Entretanto, essas histórias não foram comprovadas.
O historiador Eusébio acredita que ele tenha sido um dos setenta discípulos (Lc10. 1-12). Outros o
identificaram com Zaqueu (Lc 19. 2 – 8). Alguns eruditos têm sugerido que Matias foi desqualificado
para o apostolado e Tiago, irmão de Jesus, foi escolhido pelos apóstolos para substituí-lo (Gl 1.19; 2.9).
Entretanto, não há qualquer indicação que Matias tenha deixado o grupo.

150
5. A origem da Igreja em Jerusalém

A cidade de Jerusalém foi o palco do surgimento da igreja. Antes, porém, essa cidade havia sido o berço
do judaísmo; nela, ficava localizado o templo que era o centro da vida religiosa dos judeus. A origem da
cidade santa remonta a cerca de 3000 a.C. Ela foi a capital do reino do sul e foi destruída pelos romanos
no ano 70 d.C. na ocasião da Guerra Judaico-Romana (66 d.C. – 70 d.C.). Alguns anos mais tarde, por
volta de 132 d.C. – 135 d.C., a revolta comandada por Bar Kokhba levou mais uma vez à destruição
da cidade.

5.1. A fundação da Igreja


O historiador Lucas registra nos primeiros capítulos de Atos, a reunião dos primeiros crentes em Jerusa-
lém para aguardarem a descida do Espírito Santo. Cinqüenta dias após a Páscoa, no dia de Pentecostes,
foi ouvido o som como de um vento que encheu a casa onde o grupo de 120 pessoas estava reunido e
todos começaram a falar em línguas. Nessa ocasião da festa em Jerusalém havia judeus de todas as partes
do mundo e muitos dos quais entendiam claramente o idioma falado sobrenaturalmente pelos cristãos.
A conclusão desses judeus da dispersão, é que o grupo que falava em línguas estava embriagado.
É fundada assim a igreja cristã pela atuação direta do Espírito Santo. E nesse momento, numa reação
à zombaria dos judeus da dispersão, Pedro viu a oportunidade para pregar o primeiro sermão da era da
igreja. A pregação de Pedro foi essencialmente de caráter cristocêntrico. Ele pregou sobre as obras de
Jesus (At 2.22), sua crucificação (At 2.23), e sua ressurreição e exaltação (At 2.23 – 33).
O resultado dessa pregação é registrado no relato seguinte à pregação quando compungidos pela men-
sagem, indagaram a Pedro sobre o que deveriam fazer. A resposta a essa pergunta foi a premissa básica
tanto da pregação de João Batista (Mt 3.1,8), como da pregação inicial de Jesus (Mc 1.15); ou seja, o
arrependimento (At 2.38). A aceitação inicial dos primeiros ouvintes foi formidável; quase três mil pes-
soas foram batizadas e agregadas à igreja em Jerusalém.
O primeiro líder dessa igreja foi Tiago, irmão de Jesus. Ele ocupou esse posto até o seu martírio em 63
d.C. A posição de destaque de Tiago pode ser verificada em At 15.12 – 21; 21.18; Gl 2.9. Na liderança
de Tiago, a igreja em Jerusalém era tipicamente judaica e, com a conversão de muitos gentios, especial-
mente em Antioquia da Síria, foi levantada uma questão que resultou no primeiro concílio da igreja que
se realizou em Jerusalém.
Os judaizantes afirmaram que os gentios precisavam se submeter às leis mosaicas e inclusive que deveriam
ser circuncidados. Os apóstolos Paulo e Barnabé não concordaram com essa imposição. Após os relatos
de Paulo, Barnabé e Pedro aos apóstolos e presbíteros que compunham aquele concílio, Tiago deu a
decisão final; os gentios convertidos deveriam:
Teologia

1. Abster-se de comer carne sacrificada a ídolos


2. Evitar imoralidade sexual
3. Não comer carne de animais sufocados
4. Abster-se de sangue
A igreja de Jerusalém foi o centro do cristianismo primitivo até o cerco da cidade no final da Guerra
Judaico-Romana, no ano 70, quando os membros da igreja foram forçados a fugir para a cidade de Pela
localizada do outro lado do Jordão (Este acontecimento foi predito por Jesus – Mt 24. 15 – 22).
A sucessão de Tiago como líder da igreja em Jerusalém passou para Simeão. Citando Hegesipo, que
escrevera uma obra chamada “Memórias”, que era uma espécie de História da Igreja (c. 180 d.C.), Eu-
sébio informa que Simeão era filho de Clopas que era irmão de José, pai de Jesus. Simeão teria morrido
aos 120 anos quando foi martirizado após haver sido torturado quando da perseguição promovida pelo
imperador Trajano.
Em sua “História Eclesiástica”, Eusébio ainda informa que a igreja em Jerusalém, incluindo Tiago, teve
o total de 15 bispos até o ano 135 quando do fim da guerra de Bar Kokhba. Todos esses bispos “eram da
circuncisão”, de origem hebraica. Essa informação fornecida por Eusébio, entretanto, é contestada por
alguns eruditos como Oskar Skarsaune que afirma que o intervalo entre a morte de Tiago (63) e o ano
135 (73 anos) não é espaço de tempo suficiente para a sucessão de quinze líderes. Como Simeão deve
ter sido martirizado entre os anos 100 e 110 d.C., deixa os treze bispos restantes com pouco tempo de
liderança em torno de dois anos para cada um.
A solução proposta por Skarsaune tem como fonte, um livro apócrifo, “Carta de Tiago a Quadrato”.
Nesta, aparecem os nomes dos doze últimos nomes da lista, mas não como sucessores, mas sim como
auxiliares de Tiago na liderança da igreja. Dessa forma, Simeão lidera a igreja por quarenta anos e Justo,
seu sucessor, por cerca de trinta anos.

Recapitulação 10
1R5. Descreva resumidamente a fundação da igreja em Jerusalém





5.2. O crescimento da Igreja


O que se vê no registro histórico de Atos é o crescimento rápido do cristianismo. As “quase três mil
pessoas” voltaram para o seu lugar de origem (At 2.9 – 11) e deram origem à missão gentílica e ao sur-
gimento de novas igrejas fora dos limites da Palestina, o que se pode inferir das narrativas do livro de

152
História da Igreja I

Atos. Mas o que está em foco, pelo autor e historiador sagrado, é o surgimento e o desenvolvimento do
cristianismo em Jerusalém e a partir daí, se observa o seu crescimento.
Em At 4.4, o número dos que creram subiu de três para quase cinco mil. Em At 5.14 há um relato de
multidões que eram integradas a igreja. Muitos sacerdotes também creram (At 6.7). Este rápido cresci-
mento da igreja em Jerusalém levantou uma forte oposição por parte dos judeus que viu no cristianismo,
uma grande ameaça ao judaísmo. A princípio, as autoridades romanas imaginavam que o cristianismo
fosse apenas mais uma seita judaica e não se incomodou com o seu crescimento. Mas os incomodados
judeus logo partiram para o combate.
Foram encolhidos sete homens, provavelmente helenistas, para administrarem a área social da igreja,
já que não estava sendo feita justiça quanto à distribuição de alimentos para as viúvas helenistas. Um
deles, Estevão, logo se revelaria como um eloqüente pregador. Na sua pregação ele denunciou os líderes
judeus por sua rejeição a Cristo. Diante do Sinédrio, Estevão não se intimidou e os acusou de “traidores
e assassinos” (At 7.52). Estas foram as últimas palavras de Estevão; logo em seguida ele se tornaria o
primeiro mártir cristão (At 7.54 – 60). Este episódio deu início a uma onda de perseguição quando a
igreja em Jerusalém foi perseguida “e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia
e Samaria” (At 8.1).
Até o capitulo sete de Atos, a atenção é voltada exclusivamente para a igreja-mãe em Jerusalém; mas a
partir do capitulo seguinte, os cristãos perseguidos foram para Samaria e Antioquia da Síria onde prega-
ram a fé cristã e fizeram muitos convertidos. (At 8. 5 – 8).

5.3. A Expansão da Igreja


Outro diácono do grupo dos sete, Filipe, entra em cena no lugar de Estevão. Fora de Jerusalém a igreja
começou a se expandir em regiões gentílicas a começar por Samaria. Com a perseguição após a morte
de Estevão, muitos cristãos partiram para a Judeia e Samaria onde pregaram a Palavra. Filipe foi para
Samaria e começou a pregar para multidões de pessoas (At 8.4 – 7). Como a receptividade ao Evangelho
foi muito grande por parte dos samaritanos, a igreja em Jerusalém enviou Pedro e João a Samaria. Com
a visita dos apóstolos, os samaritanos receberam o batismo com o Espírito Santo.
Filipe continuou o seu trabalho evangelístico em Samaria e chegou a pregar em algumas cidades dos
filisteus como Gaza e Azoto (At 8. 26 – 40). Suas pregações também eram seguidas por alguns sinais
como curas e expulsão de demônio (At 8.6,7).
Depois do diácono-evangelista Filipe, entram em cena, Paulo e Pedro. Paulo, que estava segurando as
vestes dos que apedrejavam Estevão (At 7.58), teve uma experiência de conversão, quando estava a ca-
minho de Damasco para perseguir alguns cristãos.
Depois de sua conversão, iniciou sua missão gentílica por Damasco e pela região árabe circunvizinha (Gl
1. 17,18), quando começou a pregar nas sinagogas e depois foi apresentado aos apóstolos, em Jerusalém
por Barnabé que seria seu companheiro na primeira viagem missionária.
O apóstolo Pedro, assim como Filipe, teve uma participação na evangelização dos gentios. Em Cesareia,
ele pregou o evangelho ao centurião romano, Cornélio, e aos seus “parentes e amigos íntimos” (At 10.24).

153
Teologia

Após sua pregação, Cornélio e os demais gentios que estavam presentes, receberam o batismo com o Es-
pírito Santo para a surpresa dos que acompanhavam Pedro (At 10.45). Outro momento importante da
expansão da igreja está registrado por Lucas (At 11.19). Os dispersos chegaram a Fenícia, Chipre e An-
tioquia pregando somente aos judeus. Mas os convertidos de Chipre e Cirene (como Barnabé – At 4.36)
pregaram em Antioquia da Síria.
Em Antioquia, a igreja é fundada por leigos e se torna o centro missionário da igreja gentia. Por direção
do Espírito Santo esta igreja enviou Paulo e Barnabé numa viagem missionária à Ásia Menor (At 13 –
14). Esta foi a primeira das três viagens missionárias de Paulo. O mundo gentílico seria alcançado pelo
apóstolo dos gentios e o cristianismo chegaria à Ásia Menor e em partes da Europa.

Recapitulação 11
2R5. Quais foram os personagens principais do crescimento e da expansão do cristianismo, e quais
foram as primeiras cidades alcançadas?





5.4. A organização da Igreja


A igreja foi fundada como um organismo vivo em que seria habitado pelo Espírito Santo. Entretanto,
esse corpo, com seu desenvolvimento teria a necessidade de ser organizado como uma instituição tam-
bém humana, como se vê em At 6. 1 – 6. O livro de Atos e as epístolas descrevem uma igreja no processo
de formação e amadurecimento com liderança e ministérios como demonstram os seguintes textos: At
2.42 ss.; 6.1 – 6; 11.22; 15.6 ss.; 20.17 – 38; 2 Co 8.9; Gl 2.9 ss.; Ef 4.11 – 16; 1 Tm 3.1 – 13; Tt 1.
5 – 7; Hb 13.17; 1 Pe 5. 1 – 5.
Os cultos da igreja, bem como seus serviços, eram realizados no primeiro dia da semana. As ordenanças
foram cumpridas desde o começo da história da igreja. É possível que a organização da igreja tenha sido
diferente nas diversas localidades. As igrejas gentílicas podem ter tido uma organização diferente das
igrejas tipicamente judaicas.

5.4.1 O Governo da Igreja Primitiva


A liderança da igreja foi inicialmente escolhida por Jesus ao discipular doze homens, e posteriormente,
com o Espírito Santo separando homens para exercerem funções específicas em atos. As igrejas eram
presididas por presbíteros que eram eleitos após a oração, jejum e orientação do Espírito Santo (At
14.23). Porém, algumas epístolas fazem referência a bispos na igreja primitiva e quando Paulo chamou
os presbíteros de Éfeso para lhes dar uma última orientação, ele os chamou de “bispos” (At 20. 17 – 28).
Isso pode indicar que Paulo usou os termos “presbíteros” e “anciãos” como sinônimos.

154
História da Igreja I

Os diáconos também ocupavam uma posição de destaque na igreja, mas eram subordinados aos presbí-
teros. Suas qualificações exigidas eram praticamente as mesmas dos presbíteros como se vê em 1 Tm 3.
8 – 13 e At 6.3. Os diáconos exerciam uma função administrativa na igreja. Eles cuidavam dos aspectos
físicos e financeiros da igreja, bem como do serviço social (At 6. 1 – 6).
Além dos presbíteros e diáconos, que eram oficiais escolhidos pela igreja, havia também outras pessoas
como profetas, evangelistas, pastores e mestres, além de apóstolos que tinham dons especiais, concedi-
dos pelo Espírito Santo, que tinham a responsabilidade com a proclamação e o ensino da Palavra.

5.4.2 As Ordenanças
As duas ordenanças da igreja primitiva eram o batismo e a ceia que foram instituídas por Jesus. A
imersão parece ter sido a forma comum de batismo no primeiro século. Mas de acordo com o Didaquê
(Ensino dos Doze Apóstolos), o batismo podia ser administrado com água na cabeça, se não houvesse
água suficiente para o batismo para a imersão. Há indícios de que a igreja batizava por imersão até o IV
século. O batismo simbolizava a morte do batizando para o mundo e a nova vida com Cristo (Rm 6.4;
Cl 2.12).
Não há indícios históricos de que a igreja batizasse crianças a não ser pessoas que tivessem chegado à
idade da discrição. A primeira referência ao batismo de criança, é um pouco obscura e é de autoria de
Irineu por volta do ano 185. Entretanto, não há indicações quanto ao surgimento do batismo infantil.
A Ceia do Senhor foi uma prática observada desde o início da história da igreja. Era uma refeição sim-
bólica realizada uma vez por semana aos domingos (At 20.27). Somente os batizados podiam participar
deste memorial ordenado por Jesus quando Ele celebrou a Páscoa com seus discípulos para comemorar
a libertação de Israel do Egito (Mt 26.17; Jo 13.1).
Paulo afirma que Cristo é o nosso cordeiro pascal (1 Co 5.7). Os que creem e foram batizados deveriam
comer a Sua carne e beber o Seu sangue (Jo 6.54). A Ceia era celebrada em conjunto com uma refeição
comunitária chamada de “festa de amor” quando as pessoas levavam algum tipo de alimento. Somente
no segundo século a Ceia do Senhor foi separada da refeição comunitária.

5.4.3 O Culto
O culto cristão primitivo era constituído da leitura das Escrituras, pregação, orações e hinos. Os cultos
eram realizados nas casas dos irmãos e essa prática da reunião nos lares perdurou até a época de Cons-
tantino quando alguns templos começaram a ser construídos para os propósitos do culto.
O culto constava de duas partes. Na primeira parte eles faziam orações, cantavam hinos, liam e expli-
cavam as Escrituras. E nessa primeira parte, qualquer visitante tinha acesso. Na segunda parte do culto,
na celebração da Ceia do Senhor que era o momento mais importante do culto, somente os batizados
podiam participar. No primeiro século, o culto era realizado aos domingos e era caracterizado pela ale-
gria e comunhão. As quartas e sextas eram dedicadas ao jejum e a oração.
Quanto ao calendário eclesiástico, não há qualquer evidência de que a igreja observasse qualquer dia
santo a não ser o domingo que era separado como o “Dia do Senhor”.

155
Teologia

Recapitulação 12
3R5. Como era a organização da igreja? Explique as ordenanças e o seu culto.





156
6. Apóstolo Paulo: Vida e obra

Paulo foi apóstolo e o instrumento que Deus usou para levar o evangelho por vários lugares do mundo
gentio. Após sua conversão e batismo, que deve ter sido por volta do ano 35, passou os três anos seguin-
tes pregando em Damasco (Gl 1.17; At 9.19 ss.) Quando ele foi para Jerusalém, ficou lá por cerca de
duas semanas por causa dos judeus que queriam matá-lo, e depois retornou para Tarso onde ficou por
cerca de 10 anos.
Esse período silencioso da vida de Paulo não é narrado por Lucas, mas Paulo certamente pregou em sua
cidade natal até quando Barnabé foi buscá-lo para ajudá-lo na novel igreja em Antioquia provavelmente
no ano 46 ou 47.
A cidade de Antioquia era a terceira cidade do império com uma população de aproximadamente
500.000 habitantes. A igreja de Antioquia se tornaria a base de operações das viagens missionárias de
Paulo. Dessa igreja, Paulo e Barnabé foram enviados, em viagem missionária, para Chipre, Salamina,
Pafos, Perge, Antioquia da Psídia, Icônio, Listra e Derbe.

6.1. A vida de Paulo


A primeira referência bíblica sobre Paulo aparece em At 8.1 quando ainda, Saulo, estava presente no
apedrejamento de Estevão. Saulo era o seu nome hebraico. Ele nasceu em Tarso na principal cidade da
Cilícia na parte oriental da Ásia Menor. Saulo era da tribo de Benjamim, membro do partido dos fari-
seus e cidadão romano (At 16.37; 21.39; 22.25 ss.). Seu pai havia sido um fariseu (At 23.6) e o criara
segundo o judaísmo mais estrito. Ele estudou com o famoso rabino Gamaliel que era neto de um dos
maiores rabinos judeus, Hillel, (At 22.3), e como ele não faz referência a uma esposa sua em suas episto-
las, e o celibato era algo raro entre os judeus, pode-se inferir que ele fora casado, já que ele era membro
do sinédrio.
Não há qualquer evidência bíblica de que Saulo tivesse conhecido a Jesus no seu ministério terreno.
Também não se tem qualquer informação sobre o seu nascimento, mas na ocasião do apedrejamento de
Estevão, ele era um jovem.
Quanto a sua compleição física, o próprio Paulo informa que ela não era impressionante (1 Co 2.3; 2 Co
10.10). Os detalhes sobre sua aparência são encontrados no livro apócrifo de “Atos de Paulo e Tecla”, es-
crito por volta da segunda metade do século II d.C. Nesse livro não canônico, há a seguinte informação:
“E ele viu Paulo, que se aproximava; um homem de baixa estatura, quase calvo, pernas tortas,
de corpo volumoso, sobrancelhas unidas, um nariz um tanto convexo, cheio de graça: pois
algumas vezes parecia um homem e outras vezes tinha a fisionomia de um anjo”. (Encicl. de
Bíblia, Teologia e Filosofia)
Teologia

Quanto à sua formação cultural, além de conhecedor do judaísmo, suas epístolas mostram que ele tinha
conhecimento de filosofia estóica, da cultura grega, do Velho Testamento e do grego koinê. Sua profissão
era a de fabricante de tendas (At 18.3). Com respeito a sua família, Lucas informa que ele tinha uma irmã
que vivia em Jerusalém (At 23.16), mas não há qualquer menção a um irmão. Há uma referência ao seu
sobrinho que teve acesso entre os líderes de Jerusalém. Talvez ele fosse membro do Sinédrio; mas certa-
mente era influente o que indica que sua família era de posição proeminente e tinha recursos financeiros.
Sua conversão ocorreu quando ele estava a caminho de Damasco, numa distância de 240 km, com auto-
rização para prender os “que eram do caminho” (At 9.2). Sua experiência é relatada em 1 Co 9.1; 15.8;
Gl 1.11 – 18 e registrada por Lucas em At 9.1 – 31; 22.9; 26.12 – 18. Os relatos de sua conversão em
At 9.7 e At 22.9 parecem contraditórios, mas o erudito Robert Gundry afirma que:
“A construção grega difere entre uma e outra dessas passagens, e talvez signifiquem que os
companheiros de Paulo ouviram o som da voz de Jesus, embora não tivessem compreendido
as palavras. Alternativamente, os companheiros de Paulo ouviram a voz dele (At 9.7), mas
não a de Jesus (At 22.9)”.
No momento de sua conversão, Saulo teve o nome mudado para “Paulo” (“pequeno”), que era um nome
latino. Ele foi orientado por Jesus a ir para a cidade onde receberia novas instruções acerca da sua futura
missão. Depois de três dias sem poder enxergar, teve um encontro com Ananias que se tornou seu ami-
go e conselheiro. Após orar por ele, Paulo teve a visão restaurada. Diante de uma relutância inicial de
Ananias em receber Paulo, devido a sua fama de perseguidor da igreja, Ananias foi confortado por uma
mensagem de Jesus de que ele “é pra mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os
gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At 9.15). A partir desse momento Paulo seria esse
instrumento. Sua experiência e convicção o impulsionaram para a obra missionária.

Recapitulação 13
4R6. Quem foi o apóstolo Paulo? Fale sobre sua origem, profissão, família, formação e etc.





6.2. Viagens missionárias


Paulo realizou três grandes viagens missionárias que teve Antioquia como o ponto de partida. Nessas
viagens, Paulo teve como primeiro companheiro a Barnabé e, posteriormente, outros se tornaram seus
companheiros como Marcos, Silas, Lucas e Timóteo.
A estratégia missionária de Paulo incluía as sinagogas como centros de pregação e grandes metrópoles
onde fundava e organizava igrejas. Em algumas ocasiões (cf. At 18.1- 4), enquanto pregava ao povo,

158
História da Igreja I

trabalhava na sua profissão de construtor de tendas para se manter. Geralmente ele ficava o tempo
necessário em certa cidade até que ficasse convicto de que poderia partir para outro local e regiões não
alcançadas. Em Corinto ele ficou por cerca de dois anos e em Tessalônica, por volta de três semanas.
Paulo foi um grande estrategista na obra missionária, mas também fica evidente a sua dependência
da orientação do Espírito Santo (At 13. 2,4; 16. 6,7). Certamente muitas igrejas foram fundadas
indiretamente por Paulo. A forte igreja de Colossos deve ter sido fundada por cristãos da igreja de Éfeso
que ele enviara para lá.

6.2.1 Primeira Viagem Missionária (At 13.1 – 14.28)


• Paulo e Barnabé foram enviados pela igreja de Antioquia e começaram por Chipre, terra natal de
Barnabé. Nesse lugar o mágico Elimas é cegado temporariamente e o procônsul Sérgio Paulo se
converte (13.1 – 12).
• Em Perge da Panfília, João Marcos (primo de Barnabé e autor do evangelho de Marcos), os deixa
e volta para Jerusalém por motivo desconhecido (13. 13 – 15).
• Em Antioquia da Psídia Paulo prega na sinagoga (13. 16 – 52).
• Em Icônio prega na sinagoga e uma multidão de judeus e gregos se convertem (14. 1- 7).
• Em Listra é realizada a cura de um paralítico desde nascença – Paulo e Barnabé são adorados como
Zeus (Júpiter) e Hermes (Mercúrio) respectivamente – Paulo é apedrejado (14. 8 – 19).
• Em Derbe fizeram muitos discípulos (14.21).
• Voltaram para Listra, Icônio e Antioquia da Psídia (distava cerca de 150 km de Listra) para forta-
lecer e exortar os novos convertidos a permanecerem na fé (14.22).
• Chegando a Perge navegaram para Antioquia da Síria onde prestaram relatórios otimistas daquela
primeira viagem missionária (At 14. 23 – 28).
Essa primeira viagem missionária começou em 46/47 e teve uma duração de cerca de dois a três anos.
Na região da Galácia foram fundadas algumas igrejas como em Chipre, Panfília, Psídia e Licaônia.

6.2.2 Segunda Viagem Missionária (At 15. 36 – 18.21)


• Paulo e Barnabé tiveram uma grande desavença por causa de João Marcos e Paulo leva consigo
a Silas enquanto Barnabé e João Marcos formam a outra dupla missionária. Enquanto Barnabé
e João Marcos navegaram para Chipre, Paulo e Silas foram para o sul da Galácia (15. 36 – 41).
• Em Listra Paulo recebeu um novo companheiro, Timóteo, um judeu que não era circuncidado.
Para evitar qualquer problema com os judeus, Paulo ordenou a sua circuncisão (16. 1–3).
• Em Trôade Paulo teve a visão de um homem da Macedônia pedindo ajuda (16. 9,10).
• Paulo atende ao chamado e chega à Grécia e começa a pregar em Filipos – Lídia se converte – A
moça endemoninhada é libertada – Paulo e Silas são encarcerados – Terremoto à meia noite –
Conversão e batismo da família do carcereiro (16. 11 – 34).
• Em Tessalônica prega por três sábados na sinagoga dos judeus – Os judeus atacam a casa de Jasom,
hospedeiro de Paulo (17. 1 – 9).

159
Teologia

• Em Bereia, na sinagoga, Paulo prega aos bereanos que “eram mais nobres que os de Tessalônica”,
e comprovam a veracidade da pregação de Paulo, a partir das Escrituras do AT (17. 10 – 12).
• Em Atenas Paulo prega na sinagoga e no Areópago (Supremo tribunal) – Timóteo e Silas reú-
nem-se a ele, mas Timóteo é enviado de volta a Tessalônica e Silas vai para algum outro lugar (17.
16 – 34).
• Em Corinto Paulo encontra Áquila e Priscila com quem passa a morar e trabalhar na mesma
profissão – Timóteo e Silas reúnem-se de novo a Paulo – Conversão de Crispo, chefe da sinagoga
– Gálio, governador romano, recusa-se a condenar Paulo por haver pregado – Paulo permanece
em Corinto por 18 meses (18.1– 17).
• Em Cencreia Paulo rapa a cabeça por causa de um voto (18.18).
• Em Éfeso, Áquila e Priscila, que haviam acompanhado Paulo até este ponto, são deixados (18.19).
• Partindo de Éfeso foram para Cesareia desembarcando em Jerusalém, onde saudaram a igreja, e
depois seguiram para Antioquia (18. 22,23).
A segunda viagem teve uma duração de cerca de dois anos e terminou entre os anos 51/52. Nessa ocasião
foram fundadas igrejas em Corinto, Éfeso, Tessalônica e Filipos.

Recapitulação 14
7R6. Quais foram as cidades alcançadas pelos missionários na primeira viagem?






8R6. Quais foram as cidades alcançadas pelos missionários na segunda viagem?







9R6. Em que cidade Paulo permaneceu por mais tempo na segunda viagem? Quanto tempo ele ficou
lá?





160
História da Igreja I

6.2.3 Terceira Viagem Missionária (At 18. 23 – 21.16)


• Paulo partiu sozinho novamente de Antioquia em nova viagem missionária.
• Na região da Galácia e da Frígia (Derbe, Listra, Icônio e Antioquia da Psídia), fortalece a fé dos
cristãos (18.23).
• Em Éfeso os discípulos de João Batista recebem o Espírito Santo – Paulo prega por três meses nas
sinagogas e na escola de Tirano por cerca de dois anos – Doentes são curados e demônios expelidos
– Convertidos queimam os livros sobre artes mágicas (19.1–20).
• Demóstenes encabeça o levante dos ourives em defesa de Diana – Paulo passa dois anos e três meses
em Éfeso (19.21–41).
• De Éfeso vai para a Macedônia (Filipos, Tessalônica, Bereia - 20.1).
• Da Macedônia vai para a Grécia (Atenas e Corinto) os judeus planejam matar a Paulo em uma via-
gem à Palestina (20.2,3).
• Em Trôade, durante um longo sermão de Paulo, o jovem Êutico cai da janela (20. 6 – 12).
• Em Mileto Paulo se despede dos anciãos de Éfeso (20.13–38).
• Em Tiro Paulo é aconselhado a não ir para Jerusalém (21.1–6).
• Em Cesareia Paulo se hospeda na casa de Filipe – Ágabo profetiza a prisão de Paulo em Jerusalém
(21. 7 – 11).
• Em Jerusalém Paulo presta relatório à igreja – Envolve-se num voto judaico – É agarrado no templo
e livrado pelos soldados romanos – Fala aos judeus da escadaria do castelo – Fala ao sinédrio – os
judeus planejam matar Paulo – Cláudio Lísias envia Paulo a Félix em Cesareia (21.17 – 23.35).
• Paulo é julgado diante de Félix, Festo e Agripa, em Cesareia, e então apela para César (24.1 – 26.32).
Essa terceira viagem missionária teve uma duração de cerca de três anos por volta de 55/56.

6.2.4 Viagem Para Roma (27.1 – 28.15).


• Viagem a Creta – O conselho de Paulo e o alerta quanto aos perigos da viagem são rejeitados pelo
centurião Júlio (27.1 – 12).
• Tempestade e naufrágio durante a viagem no Mar Mediterrâneo (27.13 – 44).
• Após o naufrágio os tripulantes se salvam e chegam a ilha de Malta (Melita) – Paulo é mordido
por uma víbora, mas não sofre nenhuma conseqüência (28.1 – 10).
• Paulo chega a Roma – Paulo aluga uma casa-prisão e prega a judeus e gentios – O julgamento
perante Nero é aguardado por dois anos (28.11 -31).
O livro de Atos termina de forma abrupta o que se subentende que Lucas pretendia escrever outro
volume. Por alguma razão desconhecida, Lucas não continua sua narrativa e não temos assim o que se
sucedeu a Paulo depois dessa prisão em Roma.
A demora de dois anos para o julgamento de Paulo deve-se pelo menos a um ou mais fatores dos se-
guintes:

161
Teologia

a. A espera de seus acusadores da Palestina.


b. A documentação das acusações, preparadas por Festo contra Paulo, fora destruída ou extraviada
durante o naufrágio.
c. A falta de tempo ou disponibilidade por parte do imperador Nero para julgar o caso de Paulo.
Durante sua prisão, Paulo desfrutou de muita liberdade como prisioneiro podendo inclusive receber vi-
sitas de amigos e de pessoas a quem ele pregava. (na prisão ele escreveu as epístolas de Efésios, Filipenses,
Colossenses e Filemon).
A narrativa de Lucas em descrever a expansão do cristianismo segue a ordem de Jesus a partir de Jerusa-
lém, até aos “confins da terra” (1.8). “Ele traçou a marcha triunfal do evangelho de Jerusalém a Roma”.
Quanto ao destino de Paulo, a partir das epístolas pastorais, se conclui que Paulo foi solto e fez mais
algumas viagens quando então escreve as epístolas de I Timóteo e Tito. A segunda epístola a Timóteo foi
escrita durante sua segunda prisão.
Não tem sido possível saber se Paulo chegou à Espanha conforme sua intenção expressa em romanos
15.24,28. Uma antiga tradição cristã, afirma que Lucas continuou sendo um fiel auxiliador de Paulo
até o martírio deste o que deve ter ocorrido entre 67 e 68, quando foi decapitado por ordem de Nero.

Recapitulação 15
10R6. Quais foram as cidades visitadas por Paulo na terceira viagem missionária?





11R6. Em que cidade Paulo permaneceu por mais tempo? Quanto tempo?





12R6. Quais foram as acusações feitas contra Paulo?







162
História da Igreja I

13R7. Por que Paulo apelou para César?







14R8. Por que Paulo esperou dois anos para ser julgado?





163
7. O fim da era apostólica

Os últimos fatos sobre a maioria dos apóstolos e o seu martírio, são desconhecidos pela história cristã.
Somente a tradição cristã, através de livros pseudepígrafos, dá algumas informações sobre eles. Entretan-
to essas fontes não podem ser consideradas as mais confiáveis.
Os apóstolos Pedro e Paulo, provavelmente foram martirizados vítimas da perseguição infligida por
Nero no ano 67 ou 68. Nero acusou injustamente os cristãos do incêndio da capital do império, Roma,
em julho de 64. Muitos cristãos foram mortos e Nero transformou o martírio deles em espetáculo pú-
blico. Essa perseguição se limitou a essa cidade onde havia uma rica e grande igreja que sobreviveu a essa
perseguição.
A Guerra Judaico-Romana causou a destruição de Jerusalém e de seu templo, e causou um grande golpe
na igreja-mãe e a partir daí, as igrejas de Roma, Antioquia e Éfeso tornaram-se os centros do cristianismo.
João deve ter sido o último dos apóstolos. Ele foi exilado na Ilha de Patmos onde teve uma revelação
entre os anos 95 e 100 e escreveu às sete igrejas da Ásia Menor: Éfeso, Esmirna, Pérgamo, Tiatira, Sardes,
Filadélfia e Laodicéia. Essas igrejas provavelmente ficavam sob a supervisão de João. Depois do exílio,
provavelmente ele voltou para Éfeso onde teria morrido em avançada idade.
No final do primeiro século, o cristianismo estava fortemente representado na Ásia Menor, na Síria,
Macedônia, Grécia, Roma e provavelmente no Egito. O cristianismo estava bem estabelecido, mas logo
cedo, algumas heresias começaram a surgir no seio da igreja e mereceram a atenção e o repúdio dos
apóstolos Paulo e João.

7.1. Heresias primitivas


As heresias tiveram algumas características distintas. Algumas tinham um caráter legalista, e outras, po-
rém, de caráter filosófico. Paulo combate alguns hereges a quem ele dá os nomes: Himeneu, Alexandre
e Fileto (1 Tm 1.20; 2 Tm 2.17,18).

7.1.1 Ebionismo – “Pobre”


Era uma seita judaico-cristã que prescrevia a lei judaica como necessária para a salvação. Esse grupo
judaizante surgiu logo no princípio da igreja e afirmava que um gentio não poderia tornar-se cristão a
menos que primeiro se tornasse judeu e se submetesse a circuncisão e a obediência a Lei mosaica. Com
as pregações de Pedro e Paulo aos gentios, o problema se agravou o que causou o primeiro concílio da
igreja em Jerusalém para debater a questão.
Os judaizantes não aceitaram a decisão do Concílio e continuaram a causar grande tumulto prejudican-
do o trabalho evangelístico de Paulo. Os cristãos judaizantes exerceram forte influência sobre a igreja e
História da Igreja I

somente no ano 135, com a segunda destruição de Jerusalém pelos romanos, eles perderam sua influên-
cia e desapareceu completamente no IV séc.

7.1.2 Gnosticismo – “Conhecimento”


De caráter filosófico, o gnosticismo, influenciado pelo platonismo, tinha como premissa básica que o
corpo e a matéria, são maus e o espírito era bom e que Deus, portanto jamais poderia encarnar-se. Os
gnósticos cristãos negavam, portanto, a encarnação, morte e ressurreição de Jesus.
É possível identificar nos escritos de Paulo (Cl 1.19; 2.9) e de João (2 Jo 7) a refutação a esse tipo de
ensino. O gnosticismo pode ter surgido com Simão Mago (At 8. 9 – 24), como afirma Irineu no seu
livro “Contra Heresias”.
A salvação para o gnóstico não era alcançada pela fé, mas por uma “gnose especial” e que só os espiritu-
ais eram capazes de receber. O gnosticismo tinha várias formas com variadas ideias e doutrinas e eram
muito numerosos. Ele chegou ao seu ápice de influência por volta do ano 135. O maior expoente do
gnosticismo foi Marcião. Por causa de suas ideias gnósticas, foi excluído da igreja de Roma quando ele
e seus seguidores fundaram uma nova igreja.
O gnosticismo representou um grande perigo para a igreja porque solapava as doutrinas fundamentais
do cristianismo. Os ensinos e algumas formas do gnosticismo foram identificados em alguns movimen-
tos religiosos dos séculos XI e XII.

7.1.3 Nicolaísmo
O nicolaísmo também foi uma forma de gnosticismo que influenciou a igreja do primeiro século (1 e 2
Jo; Ap 2. 6, 14,15). Defendia a ideia de que, como a matéria é má e só o espírito é bom; somente o que
o espírito fazia era importante e o corpo estava livre para se entregar a imoralidades sexuais indiscrimi-
nadas, comer alimentos que tinham sido oferecidos a ídolos.
Alguns estudiosos atribuem a Nicolau, um dos sete discípulos (At 6.5), a origem do Nicolaísmo. Iri-
neu afirmou que essa seita teve origem com Nicolau que se deleitava no adultério. Outros estudiosos
identificam essa seita com os seguidores de Balaão que são aludidos em Ap 2.14. Porém, os estudiosos
modernos rejeitam essa ideia.

Recapitulação 16
1R7. Quais foram algumas das heresias primitivas?





165
Teologia

7.2. O credo apostólico


O credo é uma declaração de fé para uso público que contém artigos indispensáveis à ordem e ao bem
estar doutrinário e teológico da igreja. O credo dos apóstolos é o mais antigo sumário das doutrinas
essenciais da Escritura que possuímos. Uma antiga tradição afirma que os doze apóstolos compuseram
este credo e que cada um acrescentou uma cláusula até completá-lo.
O credo dos apóstolos pode ter se originado com a declaração de Pedro sobre Cristo em Mt 16.16. O
credo era usado na confissão de fé para os candidatos ao batismo.
No ato do batismo, três perguntas eram feitas ao candidato:
• “Crês em Deus Pai Todo Poderoso?”.
• “Crês em Jesus Cristo, o Filho de Deus, que nasceu do Espírito e de Maria, a virgem, que foi
crucificado sob Pôncio Pilatos, e morreu, e se levantou de novo ao terceiro dia, vivo dentre os
mortos, e ascendeu ao céu, e se sentou à destra do Pai, e virá a julgar os vivos e os mortos?”.
• “Crês no Espírito Santo, na santa igreja, e na ressurreição da carne?”.
Com o passar do tempo outras frases foram acrescentadas a essas perguntas para combater as heresias da
época. Esse credo em forma interrogativa foi substituído pela forma declaratória, “creio”.

7.3. Literatura da Igreja nos dois primeiros séculos


Ao fim do primeiro século, todos os livros do NT já haviam sido escritos. Os evangelhos e as cartas de
Paulo tinham grande aceitação. A igreja primitiva conhecia como Escrituras, a Bíblia hebraica que era
lida nos cultos. Com a circulação dos evangelhos e cartas paulinas, ao pouco os escritos do NT passaram
a ser citados e considerados como Escritura.
Em paralelo com os escritos canônicos, outras obras circulavam entre os cristãos. A igreja viu logo a ne-
cessidade de delimitar o cânon do NT estabelecendo alguns critérios para a escolha desses livros. O câ-
non só chegou a ser estabelecido por volta do final do terceiro século, mas no final do segundo século já
havia uma unanimidade quanto à canonicidade dos quatro evangelhos, de Atos e das epístolas paulinas.
Outros livros como Hebreus, 3 João, Apocalipse e Judas, demoraram em ser aceitos como canônicos.

7.3.1 Obras Importantes

1. Primeira Epístola de Clemente (c. 30 – 100)


Carta escrita por Clemente, presbítero de Roma, por volta do ano 98. Foi endereçada a igreja de Corinto
com o propósito de exortar o espírito faccioso da igreja, a submissão aos presbíteros, à santidade, à fé e às
boas obras. Esta epístola é o escrito mais antigo depois dos livros do NT, e é caracterizada pelo judaísmo
com várias referências ao AT.

2. Cartas de Inácio (35 – 107)


Inácio foi outro pai apostólico, bispo de Antioquia da Síria. Escreveu cinco cartas por volta do ano 110,
às igrejas da Ásia Menor, uma para Roma e outra para o bispo de Esmirna, Policarpo. Todas estas cartas

166
História da Igreja I

foram escritas durante sua viagem para Roma quando seria martirizado. Essas cartas tratavam sobre as
heresias de tendências gnósticas que ameaçavam a igreja, a obediência aos bispos e a hierarquia da igreja:
bispo, presbítero e diácono.

3. O Didaquê (Ensino dos Doze Apóstolos)


Escrito por volta do ano 100, supostamente pelos doze apóstolos, era um manual eclesiástico com ins-
truções sobre adoração, ordenanças, ética, vida cristã, cultos e oficiais eclesiásticos.

4. O Pastor de Hermas
De caráter apocalíptico, foi escrito por volta do ano 150 por Hermas. É um livro de exortação na for-
ma de visões e parábolas. O autor era um escravo e depois de libertado se tornou um rico comerciante.
Posteriormente, ele e a esposa se converteram e ele escreveu este livro que tem o arrependimento e a vida
cristã como temas.

5. A Epístola de Barnabé
Esta epístola é de categoria pseudepígrafa porque não foi escrita por Barnabé do NT. Foi escrita por
volta de 130, trata do relacionamento entre o judaísmo e o cristianismo, a fé cristã e a lei mosaica.

6. Epístola a Diogneto
Escrita por volta de 170, de natureza apologética, é de autoria anônima e é uma apologia cristã dirigida
ao professor de filosofia do imperador Marco Aurélio, Diogneto. O autor apresenta a superioridade do
cristianismo e faz uma defesa racional do cristianismo.

7. Segunda epístola de Clemente aos Coríntios


Foi escrita por volta de 150 e não foi escrita por Clemente de Roma. É uma homília cristã que trata de
temas como a graça, as virtudes cristãs e o conflito do cristão com o mundo.

8. Carta de Policarpo aos Filipenses


Policarpo (70 – 155) foi discípulo do apóstolo João e escreveu esta carta por volta do ano 110. Nela ele
faz exortações sobre a vida cristã e às boas obras.

7.4. Os primeiros conflitos com o Estado


Antes mesmo de entrar em conflito com o estado e começar a sofrer sucessivas perseguições por causa de
sua fé, os cristãos enfrentaram conflitos com os judaizantes e com grupos heréticos. Mas estes conflitos
ficaram limitados a discussões intelectuais com algumas exceções quando os cristãos foram perseguidos
por judeus. O apóstolo Paulo foi a principal vítima da perseguição judaica como é relatado por Lucas,
em Atos. Mas com o crescimento do cristianismo, o judaísmo se tornou numericamente inferior e dei-
xou de ser uma ameaça física.
O conflito com grupos heréticos começou cedo na história da igreja, mas ocorreu no nível literário. O
evangelho de João e a epístola aos Colossenses combatem algum tipo de gnosticismo. No cristianismo

167
Teologia

surgiram vários apologistas que defenderam a fé cristã de uma perspectiva teológico-filosófica e escre-
veram suas apologias endereçadas inclusive a imperadores. Justino Mártir (100 – 165) foi um dos pri-
meiros apologistas e escreveu em 153, uma obra chamada “Apologia”, que foi dirigida ao imperador
Antonino Pio (138 – 161), onde ele defendeu o cristianismo contra a perseguição e as críticas pagãs.
Mas as perseguições infligidas pelo Estado foram de natureza física e causaram a morte de milhares de
cristãos durante um período de dois séculos e meio.
A princípio o cristianismo gozou de relativa liberdade, porque ele era considerado pelo estado romano
como uma seita judaica. Como o judaísmo era amparado por lei, assim também o foi o cristianismo.
Quando a distinção entre cristianismo e judaísmo se tornou mais evidente, o cristianismo começou a
sofrer perseguição política. As perseguições geralmente foram locais e esporádicas até a época de Décio
em 250.
O primeiro imperador romano a perseguir a igreja foi Nero (54 – 68). Após o incêndio de Roma (64),
quando dez, dos quatorze bairros, foram destruídos, Nero, principal suspeita pelo incêndio, já que de-
sejava reconstruir a cidade de Roma, colocou a culpa sobre os cristãos. Muitos cristãos foram mortos e
provavelmente Pedro e Paulo estavam entre os mártires de Nero. Essa perseguição se limitou apenas à
cidade de Roma.
Após o imperador Nero, a igreja só voltaria a sofrer uma grande perseguição com o imperador Domiciano
em 95. Na ocasião a igreja fora acusada de ateísmo e juntamente com a anarquia e o canibalismo, foram as
acusações comumente usadas contra os cristãos causando perseguições e milhares de martírios. O sangue
dos mártires resultou na multiplicação de novos convertidos, muitos dos quais também conheceriam na
pele o alto preço do discipulado.
A era apostólica foi seguida pela era patrística quando novos líderes, alguns, discípulos de apóstolos, (ex.
Policarpo), foram chamados de “pais da igreja” e lutariam pela sobrevivência e pela ortodoxia da igreja.
Neste período, a igreja viu a conversão de alguns filósofos ao cristianismo que seriam os defensores da fé
cristã ante a filosofia, à sociedade pagã e às autoridades romanas (ex. Justino).
A igreja patrística foi alvo de muitas perseguições que ocorreram esporadicamente no império romano.
Os mártires foram contados aos milhares e, dentre eles, tanto mulheres, como crianças e anciãos, foram
mortos indiscriminadamente. Mas apesar de tudo, a igreja enfrentou todas as calúnias, diversidades e per-
seguições e deixaria um exemplo insofismável do verdadeiro cristianismo para a sua posteridade.
No final da era apostólica (c. ano 70), a igreja havia sofrido a sua maior perseguição (em 64) deflagrada
por um dos piores imperadores romanos, Nero. Nesta perseguição, Paulo e Pedro foram martirizados e
ainda que a perseguição tenha se limitado à capital do império, muitos cristãos tiveram suas vidas ceifadas
sob a falsa acusação de terem incendiado a cidade de Roma. Nero passou a ser considerado o protótipo do
anticristo pela tradição cristã.
Entre os anos 70 e 110 temos um dos períodos mais obscuros do cristianismo. Lucas termina a história
com a prisão de Paulo em Roma e a partir daí, Eusébio de Cesareia é a principal fonte histórica da igreja.
Antes do fim do primeiro século, as cidades de Antioquia, Roma e Éfeso tornaram-se os principais centros
de cristianismo. Por volta do ano 100 o cristianismo já havia chegado à Ásia Menor, Síria, Macedônia,
Grécia, Roma e provavelmente no Egito; mas foi na Ásia Menor que teve uma maior expansão. Provavel-
mente o último apóstolo a morrer foi João em Éfeso (c. do ano 100), e com exceção de Tiago (irmão de
João), martirizado por Herodes Agripa I em 44, não se tem certeza acerca do destino e morte dos demais
apóstolos a não ser as informações fornecidas por algumas tradições judaicas e algumas lendas da época.

168
História da Igreja I

Recapitulação 16
1R1. A História da revelou um Deus que e na sua his-
tória
2R1. Nos primeiros 1500 anos de história da igreja como ela pode dividida?





3R1. O testemunho, o simples de vida e a que os ti-


veram, quando sob perseguição é digno de para ser pelos cristãos
modernos.

4R1. Quem foi considerado o protótipo do anticristo na tradição cristã? Por quê?





5R1. Com o fim das narrativas históricas de Lucas quem ficou como principal fonte da história da
igreja?





169
8. A igreja Patrística

Patrística é o ramo da teologia e da história que estuda a vida, a doutrina e as obras dos primeiros e
mais proeminentes lideres da igreja cristã, chamados de “pais da igreja”. Essa expressão, “pais da igreja”,
se originou do título “pai” dado aos bispos especialmente no ocidente para exprimir o relacionamento
carinhoso dos cristãos com seus líderes.

8.1. A perseguição e suas causas


A política da perseguição aos cristãos imposta pelo imperador dependia muito da própria política im-
posta por estes governantes ao cristianismo. A igreja teve seus momentos de tranquilidade quando foi
esquecida pelos imperadores e outras vezes foi implacavelmente perseguida quando inúmeros cristãos e
os principais lideres da igreja sofreram uma morte cruel.

8.1.1 Causa Política


O cristianismo era concebido pelas autoridades como uma seita do judaísmo, que por sua vez era consi-
derada uma seita legal e usufruía de liberdade. Mas a partir do momento em que foi se distinguindo do
judaísmo, o cristianismo sofreu interdição do Estado que não admitia uma “religião ilícita”, uma religião
ilegal que era vista como uma ameaça a segurança do império. Isso ficou evidente quando os cristãos se
recusaram a prestar culto ao imperador.

8.1.2 Causa Religiosa


O Império Romano era de religião politeísta com um panteão de deuses gregos, egípcios e romanos cujas
imagens estavam espalhadas por várias partes. A razão religiosa para as perseguições se deu pelo fato de
que os cristãos eram acusados de ateísmo por não crerem nos deuses do império; concomitantemente a
isto, não prestavam adoração. Fora isso, havia acusações de canibalismo, incesto e práticas desumanas.

8.1.3 Causa Social


Os cristãos já nesta época eram considerados antissociais, porque não participavam das festas pagãs, não
frequentavam teatros e locais de diversão o que lhes rendeu uma grande antipatia não só da sociedade
como também do Estado. Os cristãos, com seu conceito de igualdade entre todos os homens (Cl 3.11),
atraíam para si o ódio dos líderes aristocráticos da sociedade.

8.1.4 Causa Econômica


Com a expansão do cristianismo e a aceitação dele por parte de muitos pagãos, comprometeu a profis-
são de muitos que viviam da fabricação e venda de ídolos. Lucas narra o episódio com Paulo em Éfeso
História da Igreja I

(At 19), quando o apóstolo colocou em risco a profissão do ourives Demétrio. Situações como essas se
repetiram em vários lugares do império que causou curta animosidade contra os cristãos.

8.2. Principais perseguições à igreja


Antes do final do primeiro século o cristianismo sofreu duas perseguições e as seguintes foram se inter-
calando até ao tempo de Constantino.

8.2.1 Sob Nero (54-68)


Foi o primeiro imperador a perseguir a igreja. Em 64 ocorreu um grande incêndio em Roma que
durante seis dias e sete noites destruiu dez dos quatorze bairros da cidade. O povo suspeitava de Nero
que, para afastar de si a suspeitas, fez a culpa recair sobre os cristãos quando milhares foram perse-
guidos e mortos de maneira cruel. O historiador romano Tácito dá testemunho em seus anais, que
Nero fez de tudo, inclusive ofereceu sacrifícios aos deuses para apartar as suspeitas e culpar os cristãos.
Tácito ainda informa que Nero usou os cristãos para servirem de diversão ao publico. Alguns foram
vestidos com pele de animais para que os cachorros os matassem à dentadas; outros, numa demons-
tração barbárie de insanidade desse imperador, tiveram seus corpos queimados e usados para iluminar
o jardim de seu palácio.

8.2.2 Sob Domiciano (81-96)


No ano 70, o judaísmo sofrera um duro golpe com a destruição de Jerusalém, pelo então, general Tito
com a intenção de abalar a revolta dos judeus (Tito seria o imperador em 79). Nesse período, a igreja
gozou de relativa paz até o ano 94 quando Domiciano organizou uma perseguição aos cristãos nos dois
últimos anos de seu reinado sob a acusação de serem ateus. Apesar da curta duração, a intensidade dessa
perseguição foi grande e abrangeu somente Roma e a Ásia Menor; milhares de cristãos foram mortos e,
segundo a tradição, João foi exilado na ilha de Patmos nessa ocasião.

8.2.3 Sob Trajano (98-117)


Este imperador manteve as leis vigentes quanto à política religiosa. Não chegava a perseguir os cristãos,
mas quando eles eram acusados, então sofriam o castigo. Entre os martirizados neste império estavam
Simão, irmão de Jesus, bispo de Jerusalém, que foi crucificado em 107, e Inácio, segundo bispo de An-
tioquia, que foi lançado às feras em 110.

8.2.4 Sob Marco Aurélio (161-180)


Este imperador estimulou a perseguição aos cristãos. Ele foi o mais cruel e bárbaro depois de Nero.
Milhares de cristãos foram martirizados sendo decapitados ou lançados às feras e outros, ainda, eram
torturados por horas. Para ele, as tragédias que abateram sobre Roma como epidemias, invasões e inun-
dações, eram castigo dos deuses pelo fato de não terem a adoração dos cristãos e, portanto, para aplacar
a ira dos deuses os cristãos deveriam ser eliminados.

171
Teologia

8.2.5 Sob Décio (249-251)


Preocupado com a situação econômica do império e da iminente invasão bárbara, Décio pretendeu res-
taurar a velha glória de Roma e atrair os favores dos deuses. Para isso, ele promulgou um edito em 250
obrigando a todos os súditos do império à oferecerem sacrifícios para os deuses e queimar incenso diante
da estátua do imperador; os que assim o fizessem, receberiam um certificado como prova, chamado de
“libellus”. Alguns cristãos obedeceram prontamente; outros, valendo-se de artimanhas e de dinheiro,
obtiveram certificados falsos sem ter sacrificado nada. Outros, enfim, permaneceram resolutos e com
isso foram torturados e até martirizados. Essa perseguição, quanto ao seu alcance, foi a maior até então
que se estendeu além de Roma, ao norte da África, no Egito e Ásia Menor.

8.2.6 Sob Diocleciano (284-305)


No comando deste imperador (ex-soldado do exército), ocorreu a última perseguição imperial e a mais
severa que se estendeu por todo o império. Ele viu a igreja como um estado dentro de Estado que
ameaçava a estrutura e a hierarquia do império. No ano 303 ele promulga um edito contra os cristãos
ordenando a destruição de todos os seus edifícios, o confisco dos livros sagrados e o aprisionamento do
clero que, sob torturas, era forçado a oferecer sacrifícios aos deuses pagãos.
No ano seguinte, lança um edito que obriga todos os cristãos a oferecerem sacrifícios aos deuses. Os
cristãos em toda parte do império foram queimados, lançados às feras e mortos de forma cruel. Houve
uma tentativa sistemática para banir o cristianismo do Império Romano. A igreja só iria ficar definiti-
vamente livre das perseguições em 313, com Constantino, através do “edito de Milão” que garantiria a
liberdade de culto aos cristãos.

Recapitulação 17
1R2. O que é patrística?






2R2. Mas a partir do momento em que foi se do judaísmo, o sofreu in-


terdição do Estado que não uma “religião ilícita”, uma ilegal que era
vista como uma ameaça a do império.

3R2. Qual foi a causa econômica que resultou em perseguições aos cristãos?





172
História da Igreja I

4R2. Quem foi o primeiro imperador a perseguir a igreja e qual foi o motivo?





5R2. A igreja gozou de relativa até o ano 94, quando organizou uma perse-
guição aos cristãos nos dois últimos anos de seu , sob a acusação de ateus.

6R2. Qual a justificativa de Marco Aurélio para perseguir os cristãos?







7R2. O imperador em 303 promulgou um edito contra os ordenando a


destruição de todos os seus edifícios, o confisco dos livros e o aprisionamento do clero
que, sob tortura, era forçado a oferecer aos deuses pagãos.

173
9. Pais da igreja – Vida e Obras

Os pais da igreja têm sido divididos cronologicamente em pais antenicenos e pós-nicenos (Concílio de
Nicéia). Os que viveram mais próximos dos apóstolos têm sido chamados de “Pais Apostólicos”, mais
tarde a designação de pais da igreja se estendeu também aos principais teólogos dos primeiros séculos.
Algumas características comuns entre ele que talvez tenham sido qualificações necessárias foram: orto-
doxia substancial, santidade de vida, aprovação e reconhecimento generalizados a antiguidade.

9.1 . Pais apostólicos e escritos


Esse título tem sido dado a alguns líderes que supostamente tenham sido discípulos diretos dos apósto-
los, entre eles estão: Clemente de Roma, Inácio, Policarpo e Papias. Esses dois últimos provavelmente
foram discípulos do apóstolo João. Ao final do primeiro século os apóstolos já haviam morrido e a au-
toridade repousava agora sobre os bispos e diáconos da igreja. Estes pais eram geralmente bispos gentios
que, além de liderarem as igrejas, também escreviam obras para os cristãos com objetivo de edificar na
fé e na doutrina ortodoxa.

9.1.1 Inácio de Antioquia (C. 35-107)


Nasceu por volta do ano 35 na Síria e foi o segundo bispo da igreja em Antioquia. Escreveu sete cartas
às igrejas da Ásia Menor que constituem um dos mais valiosos documentos do cristianismo antigo. Após
ser acusado de ter negado a adorar os deuses do império, foi jogado aos leões na arena em 107, suas
últimas palavras foram: “Sou trigo de Deus, e os dentes das feras hão de moer-me, para que possa ser
oferecido como pão limpo de Cristo”.

9.1.2 Clemente de Roma (C. 30-100)


Foi bispo de Roma, teve boa cultura como revela os seus escritos e tinha profundo conhecimento
da Septuaginta. Em cerca do ano 96 escreveu uma epístola aos coríntios por causa do problema de
liderança na igreja. Uma antiga tradição do quarto século afirma que ele foi atirado ao Mar Negro com
uma âncora amarrada ao seu pescoço.

9.1.3 Policarpo de Esmirna (C. 69-155)


Foi bispo da igreja em Esmirna e talvez discípulo do apóstolo João. Líder importante na Ásia Menor
defendeu vigorosamente a doutrina ortodoxa e escreveu uma epístola aos Filipenses por volta do ano
110 onde exorta e encoraja os cristãos da igreja em Filipos. Foi martirizado em 155 em meio a uma
fogueira, não sem antes fazer uma oração de agradecimento por ter sido digno de morrer como mártir.

9.1.4 Papias de Hierápolis (60 – 155)


História da Igreja I

Há poucas informações acerca da vida de Papias. Foi bispo de Hierápolis na Frigia, companheiro de
Policarpo e, talvez, discípulo de João. Sua principal obra foi “Interpretação das afirmações do Senhor”,
uma extensa obra em cinco volumes. A tradição afirma que ele foi martirizado juntamente com Policarpo
por volta de 155.

9.1.5 Hermes de Roma (C. 95-150)


Foi um escravo de uma senhora cristã de Roma que, quando ganhou liberdade, se transformou em um
negociante. Por volta do ano 150 escreveu “O Pastor de Hermas”, uma obra rica de símbolos e visões
de caráter apocalíptico.

9.1.6 Didaquê (Ensino dos doze apóstolos)


No final do primeiro século surgiu uma obra, digna de ser mencionada pela sua importância, que era
um verdadeiro manual eclesiástico de autoria composta escrita provavelmente na Síria. O Didaquê é
uma compilação, cujas porções derivam-se de diferentes décadas escritas a partir de 90 até cerca de 150.
Alguns dos principais temas dizem respeito à ética, adoração, ordenanças, vida cristã, os dois caminhos,
parousia e títulos de oficiais eclesiásticos.

9.1.7 Características da Literatura dos Pais Apostólicos


• Geralmente ortodoxos;
• Endereçada aos cristãos;
• Aborda questões práticas e éticas;
• Trata das relações entre a Igreja e o Estado;
• Trata das ordenanças da igreja;
• Faz citações do A.T. através da Septuaginta;
• Trata de escatologia;
• Foi escrita em grego.

9.1.8 Contribuição
Esses escritos fornecem uma ampla visão dos ensinamentos, organização e da fé dos cristãos e de
seus líderes. A literatura produzida nos primórdios do cristianismo teve grande importância para o
desenvolvimento e pensamento cristão, e preenche o hiato entre o Novo Testamento e o cristianismo
posteriormente organizado e estruturado.

175
Teologia

Recapitulação 18

1R3 Quais deveriam ser as características para alguém ser considerado pai da igreja?





2R3. De quem é esta frase: “Sou trigo de Deus, e os dentes das feras hão de moer-me, para que possa
ser oferecido como pão limpo de Cristo”.





3R3. Qual foi o pai da igreja que havia sido escravo?







4R3. Relacione quatro características da Literatura dos pais apostólicos.







9.2. Escritos e escritores apologéticos


Os apologistas, defensores da fé cristã, surgiram da necessidade de responder a sociedade e aos gover-
nantes, à hostilidade do governo e às falsas acusações que circulavam acerca de suas crenças e práticas.
Houve uma grande tentativa dos apologistas de influenciar a opinião pagã da época e de elevar o con-
ceito do cristianismo diante da classe culta do império.
Vários desses apologistas tinham conhecimento da filosofia grega e usaram uma interpretação filosófica
que contribuiu para o desenvolvimento de teologia a partir do segundo século. Na sua argumentação
citavam os filósofos e poetas gregos para responder a acusação de ateísmo atribuído aos cristãos. Afir-
mavam, por exemplo, com respeito ao ateísmo, que os filósofos e poetas gregos dos mais renomados

176
História da Igreja I

também haviam sido ateus. As apologias foram em sua maioria endereçadas aos imperadores romanos
sem que se tenha certeza de que elas tenham sido lidas por eles.
Os apologistas podem ser classificados em ocidentais e orientais. Os orientais foram os maiores pensa-
dores que usaram a filosofia para responder as diversas acusações nas suas apologias, dentre eles, Justino
foi o maior. Os apologistas ocidentais se preocupavam mais com o cristianismo em si, com a ortodoxia
e em combater as heresias. O principal deles foi Tertuliano.

9.2.1 Justino, o Mártir (100-165)


O seu cognome foi devido ao testemunho heroico que o levou ao martírio em Roma. Nasceu em
Siquém, na antiga Samaria, de família pagã, foi um dos maiores pensadores e apologistas cristãos. Antes
da conversão estudou diversas filosofias de sua época e chegou a conclusão de que o cristianismo era a
“verdadeira filosofia”. Não deixou de ser filósofo, mas se dedicou a fazer “filosofia cristã”. Continuou a
se vestir como filósofo e fundou uma escola em Roma onde ensinava a “verdadeira filosofia”. Em 153,
escreveu sua “Apologia” dirigida ao imperador Antonino Pio (138-161), onde defende o cristianismo
contra a perseguição e as críticas pagãs. Mais tarde escreveu “Diálogo com Trifo”, que é uma discussão
com um rabino judeu.

9.2.2 Quadrato (C. 120)


Foi o primeiro apologista que se tem informação que viveu no princípio do segundo século, escreveu
uma apologia dedicada ao imperador Adriano em aproximadamente 123.

9.2.3 Atenágoras de Atenas (? 177 ?)


Foi professor em Atenas, e, por volta do ano 177, escreveu algumas obras como: “Defesa dos cristãos”
onde refuta a acusação de ateísmo, e um tratado com o nome de: “Sobre a ressurreição dos mortos”.

9.2.4 – Taciano da Assíria (170)


Nasceu na Assíria, foi um apologista erudito, discípulo de Justino, que foi educado na Grécia nos fins
do segundo século. Escreveu uma harmonia dos evangelhos que ficou conhecida como o “Diatessarom”
(através dos quatro evangelhos). Escreveu também “Discurso aos gregos” que é uma defesa a acusação
dos gregos de que os cristãos eram bárbaros. Ele responde dizendo que o que havia de mais valioso
entre os gregos fora aprendido com os bárbaros. Assim, a astronomia dos babilônios, a geometria dos
egípcios, a escrita dos fenícios e a religião de Moisés. Ele afirma que Homero, historiador grego, e mais
alguns poetas, contam sobre a imoralidade dos deuses gregos como o adultério, a mentira, o incesto e o
infanticídio e, que por isso, não são dignos de honra.

9.2.5 Tertuliano (150-230)


Nasceu em Cartago (África), por volta do ano 150 e quarenta anos depois se converteu ao cristianismo
em Roma. Era advogado, conhecia grego e latim e foi o principal apologista da igreja ocidental. Foi
ordenado presbítero em Cartago onde viveu até sua morte por volta do ano de 230. Foi o primeiro

177
Teologia

escritor eclesiástico importante em língua latina e recebeu o título de “pai da teologia latina”. No ano
207 ele se uniu ao movimento herético. Escreveu uma obre intitulada “Apologeticum” para o governador
de sua província onde defende os cristãos das acusações dos pagãos.

Recapitulação 19
5R3. Qual é a principal diferença entre o apologista do ocidente e do oriente?





6R3. Escreveu uma harmonia dos que ficou conhecida como o “ ” (através
dos quatro evangelhos).

7R3. Quem foi o escritor eclesiástico que recebeu o título de “pai da teologia latina”?





9.3. Escritores e escritos polemistas


Os escritores apologistas, fazendo uso da filosofia grega, preocuparam-se em defender o cristianismo das
falsas acusações. Os polemistas ou polêmicos, por sua vez, com base nas profecias do AT e do NT se entre-
garam a tarefa de responder em suas obras os ensinos heréticos e condená-los. Enquanto os apologistas mais
destacados surgiram do oriente, os polemistas mais hábeis e capazes foram produzidos pela igreja ocidental.

9.3.1 Irineu de Lião (130-200)


Nasceu provavelmente em Esmirna e foi discípulo de Policarpo. Foi presbítero em Lião, na atual França,
onde em 177 se tornou o bispo da igreja. Por ser pastor, a sua teologia foi escrita de uma perspectiva
bíblica e pastoral sem muito interesse pela filosofia. No ano 185 escreveu sua principal obra “Contra as
Heresias”, com o principal objetivo de refutar a heresia gnóstica. Escreveu também “A Demonstração da
Fé Apostólica”, onde dá instruções à igreja sobre a fé cristã.

9.3.2 Hipólito de Roma (170-236)


Foi um dos mais importantes teólogos de sua época, foi presbítero da igreja em Roma e em 235 foi
exilado na ilha de Sardenha durante a perseguição do imperador Maximino (235-238). Sua contribuição

178
História da Igreja I

teológica foi a grande “Philosophoumena”, onde refuta a heresia gnóstica, “Tradição Apostólica”, onde
trata sobre batismo, ordenação, costumes organizacionais e litúrgicos da igreja. Comentários também
fizeram parte de sua produção literária como o de Daniel, que é o mais antigo comentário da igreja
ortodoxa.

9.3.3 – Cipriano de Cartago (C. 200-258)


Foi discípulo de Tertuliano e nasceu em Cartago por volta do ano 200. Foi professor de retórica e
direito, muito culto, se converteu ao cristianismo em 246 pelo testemunho de um escravo. Escolhido
bispo de Cartago em 248, demonstrou grande capacidade administrativa. Em 258, sofreu o martírio e
foi decapitado. Sua obra mais importante foi “A unidade da Igreja Católica”.

9.3.4 – Tertuliano (150-230)


Além de escritor apologético, se destacou também como escritor polemista. A sua principal obra nesta
categoria de escritos foi “Contra Práxeas”; onde ele desenvolve a doutrina da Trindade, relação entre
Pai, Filho e Espírito Santo. Ele foi o primeiro a utilizar termo “Santo” como meio de classificar um
cristão de conduta reta diante de Deus, e a relação entre a divindade e a humanidade em Jesus Cristo.
A sua concepção sobre estes assuntos antecipariam a conclusão a que chegaria o Concílio de Nicéia
em 325, quando a Trindade seria definida em “uma substância e três pessoas”. Os seus escritos nesta
área revelaram que Tertuliano foi um ardente defensor da ortodoxia diante de qualquer heresia e a sua
teologia influenciou toda a igreja da posteridade.

Recapitulação 20
8R3. Qual a diferença entre os polemistas do Oriente e do Ocidente?





9R3. Sua contribuição foi a grande “Philosophoumena”, onde refuta a heresia ,


“Tradição Apostólica”, onde trata sobre batismo, ordenação, costumes e litúrgicos da igreja.

10R3. Qual foi a obra mais importante de Cipriano de Catargo?







179
Teologia

11R3. Quem foi escritor que desenvolveu a teologia da Trindade?







9.4. Escritores e escritos sistemáticos

Os escritos sistemáticos foram de natureza diferente dos apologistas e polemistas. Enquanto os


apologéticos defendiam a ortodoxia das falsas acusações dos inimigos e os polemistas combatiam
as heresias, os escritos sistemáticos foram produzidos pelos maiores teólogos e pensadores da igreja
Ocidental e Oriental. Os maiores representantes do ocidente foram Jerônimo e Agostinho, e do oriente,
Orígenes.
Características:
• Estudo sistemático da Escritura;
• Uso da filosofia platônica;
• Teologia especulativa;
• Método alegórico de interpretação das Escrituras.
Contribuições:
Foram muitas as contribuições feitas à igreja e à teologia na área da Exegese e Crítica textual, História
da Igreja, Tradução da Bíblia Hebraica, Homilética e comentários sobre livros da Bíblia.

9.4.1 – Clemente de Alexandria (C. 150-215)


Nasceu em Atenas, estudou filosofia estóica com Panteno, um grande filósofo, e foi um dos diretores
da escola Alexandrina onde ensinou uma hermenêutica alegórica; na sua direção a escola adquiriu pro-
eminência. Ele é chamado de o “Pai da Teologia Alexandrina“. As suas obras mais importantes foram:
“Exortação aos gregos”, de natureza apologética; “Pedagogo”, que trata sobre temas da vida cristã; e
“Stramata”, que é uma coleção de pensamentos profundos sobre religião e filosofia.
Ao contrário de Irineu, seu contemporâneo que foi pastor, Clemente foi um mestre e intelectual cuja
preocupação maior era descobrir as verdades profundas das Escrituras, que ele interpretava alegorica-
mente. Com o uso da filosofia platônica e estóica, concebia um cristianismo nos termos em que veio
a ser conhecido como o “gnosticismo cristão” do qual ele foi o representante típico deste movimento.

9.4.2 – Orígenes (185-254)


Nasceu em Alexandria, foi discípulo de Clemente e o seu sucessor na direção escola neste local. Foi o
maior expoente na igreja oriental e o mais prolífico dos escritores com maior teologia da igreja grega

180
História da Igreja I

antiga. Com dezoito anos de idade já discipulava os catecúmenos na igreja de Alexandria. Foi famoso
como mestre cristão por ser um gênio espetacular. Seu conhecimento da Bíblia sobrepujou ao dos es-
critores anteriores. Orígenes combinava conhecimento da filosofia platônica e das Escrituras com um
estilo de vida ascético com jejum e oração, e chegou a interpretar Mt 19.12 de forma literal e se castrou
com o objetivo de instruir suas almas sem risco de escândalo. Grandemente influenciado pela filosofia
platônica, ensinava a preexistência da alma e no ciclo eterno de quedas e restaurações da humanidade.
À semelhança de seu pai, que fora martirizado, Orígenes foi preso e torturado em consequência do seu
sofrimento; morreu em Tiro, provavelmente no ano 254. Ele foi declarado herege no ano de 553. A sua
produção literária foi vasta; escreveu sobre várias áreas da teologia, mas se dedicou com mais afinco à
Critica Textual e à exegese bíblica. Suas obras principais foram “De princípios” que foi um verdadeiro
tratado de teologia sistemática onde desenvolveu um sistema alegórico de interpretação, e a “Hexapla”,
o nome de uma edição da Bíblia editada em seis versões diferentes alinhadas lado-a-lado.

9.4.3 – Eusébio de Cesareia (260-340)


Eusébio nasceu provavelmente na Palestina e ficou conhecido como de Cesareia porque foi o bispo desta
cidade. Considerado o pai da história da igreja por ter escrito a sua principal obra “História Eclesiástica”
que é um panorama da história da igreja dos tempos apostólicos até o ano de 324. Ele é a fonte principal
sobre as informações que temos sobre os pais da igreja.

9.4.4 – Ambrósio de Milão (339-397)


Nasceu em Trier (Alemanha Ocidental), filho prefeito de Gália, educado em Roma, e em 370 foi nome-
ado governador de uma província de Milão; sua carreira política foi interrompida quando a população o
aclamou bispo de Milão. Com relutância foi o bispo desta cidade em 374, onde mostrou muita habili-
dade como pregador e administrador. A sua principal obra foi um tratado sobre ética cristã e contribuiu
também para a hinologia cristã ocidental ao introduzir o cântico de hinos e a salmodia antifonal.

9.4.5 – João Crisóstomo (347-407)


O seu cognome de “Crisóstomo” foi dado após sua morte e significa “boca de ouro” devido a sua capa-
cidade de oratória. Nasceu numa família rica e abastada da aristocracia de Antioquia. Foi advogado e se
tornou monge em 368 e em 397 foi escolhido bispo de Constantinopla. Escreveu sobre homília, sacer-
dócio dos crentes e comentário sobre o evangelho de Mateus. Mas ficou conhecido pelas suas pregações
e foi um grande orador (talvez o maior que a igreja oriental já produziu), seus sermões eram essencial-
mente exegéticos e muito práticos. Foi mandado para o exílio pelo imperador do Oriente.

9.4.6 – Jerônimo (340-420)


Nasceu em Veneza (Itália), tinha profundo conhecimento de grego, latim e hebraico, foi ordenado
presbítero em Antioquia no ano de 373 e depois bispo da igreja em Roma. Viveu como eremita e nas
cavernas escrevia suas obras dentre as quais comentários bíblicos, um dicionário biográfico de escritores
cristãos que haviam vivido até a sua época inclusive o seu próprio nome. Mas a sua principal contri-
buição foi a Vulgata, que se tornou a Bíblia oficial da igreja católica. Foi uma tradução do hebraico e
do grego para o latim, já que as versões latinas existentes eram traduções feitas a partir da Septuaginta.

181
Teologia

9.4.7 – Agostinho de Hipona (354- 430)


Nasceu em Tagaste, norte da África, o pai era um oficial romano e a mãe era Mônica, uma famosa cristã.
Depois de passar pelo maniqueísmo e o neoplatonismo, se converteu ao cristianismo em 386. Como pro-
fessor de retórica foi interessado em ouvir a pregação de Ambrósio com interesse na sua eloquência por
quem foi batizado em 387. Em 391, foi ordenado presbítero sacerdote em Cartago e em 396 foi sagrado
bispo de Hipona (Argélia). As suas obras foram muitas, escreveu mais de cem livros, quinhentos sermões e
duzentas cartas. As suas maiores obras foram: “Cidade de Deus”, de caráter apologético onde ele apresenta
uma defesa do cristianismo contra acusação pagã de que a queda de Roma em 410 se deu devido ao aban-
dono dos antigos deuses; e “Confissões”, que é uma autobiografia espiritual. No campo teológico escreveu
“Doutrina Cristã”, que é a sua obra exegética mais importante. Ele tem sido apontado como o maior dos
pais da igreja. Apesar de sua grande contribuição para o cristianismo, deve-se relatar que, negativamente,
contribuiu para a formulação da doutrina do purgatório com todas as suas más consequências.

Recapitulação 21

12R3. Foram muitas as feita à igreja e a na área da Exegese e Crítica


textual, da Igreja, Tradução da Bíblia , Homilética e comentários
sobre da Bíblia.

13R3. Quem foi o escritor sistemático que ficou conhecido como representante do gnosticismo cris-
tão?





14R3. Quem foi o escritor grandemente influenciado pela filosofia platônica, que ensinava a preexis-
tência da alma e do ciclo eterno de quedas e restaurações da humanidade?





15R3. Quem é considerado o “pai da história da igreja” e por que assim é conhecido?





182
História da Igreja I

16R3. O seu cognome de “ ” foi dado após sua morte e significa “boca de ouro”, pela
sua de oratória.

17R3. Relacione os nomes da primeira coluna com os fatos da segunda


1. Jerônimo (340-420) ( ) Grande Pregador
2. Agostinho de Hipona (354- 430) ( ) Traduziu A Bíblia Para o Latim
3. Eusebio de Cesareia (260-340) ( ) Escreveu “Cidade De Deus”
4. João Crisóstomo (347-407) ( ) Escreveu “História Eclesiástica”

Revisão geral
1. Em sua opinião por que é importante estudar os fatores que envolveram o mundo do Novo Testa-
mento?
2. Quais eram as características das religiões pagãs do mundo do Novo Testamento?
3. Quais eram os idiomas falados na época de Jesus?
4. Cite cinco profissões dos trabalhadores nessa época
5. Como era a organização da igreja? Explique as ordenanças e o seu culto
6. Quais foram os personagens principais do crescimento e da expansão do
7. cristianismo, e quais foram as primeiras cidades alcançadas?
8. Descreva resumidamente a fundação da igreja em Jerusalém
9. Descreva resumidamente o testemunho canônico sobre Jesus desde seu nascimento até a sua in-
fância.
10. Por que o testemunho judeu e romano sobre a historicidade de Jesus é tão importante?
11. O judaísmo palestino e o helenístico são a mesma coisa? Explique.
12. Descreva com suas palavras acerca da origem e desenvolvimento do judaísmo.
13. O que é a “Esperança messiânica?”.
14. Quem foi o apóstolo Paulo? Fale sobre sua origem, profissão, família, formação e etc.
15. Quais foram as cidades alcançadas pelos missionários na primeira viagem?
16. Quais foram as cidades alcançadas pelos missionários na segunda viagem?
17. Em que cidade Paulo permaneceu por mais tempo na segunda viagem? Quanto tempo ele ficou lá?
18. Quais foram algumas das heresias primitivas?
19. Quais eram as seitas mais importantes na época da igreja do primeiro século?
20. Quais foram alguns dos motivos de conflitos da Igreja com o Estado?
21. Qual foi a primeira perseguição sofrida pela igreja?

183
Teologia

Bibliografia básica

CAIRNS, Earle E. O cristianismo Através dos Séculos. São Paulo: Vida Nova, 1995.
CHAMPLIN, R.N.; BENTES, J. M. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia, São Paulo; Vida
Nova, 1990.
DANA,D.A.; H.E. O Mundo do Novo Testamento. Rio de Janeiro: Juerp, 1977.
ELWELL, Walter A.; Enciclopédia Histórico – Teológica da Igreja Cristã. 3 vols., São Paulo: Vida Nova,
1990.
Eusébio de Cesareia; História Eclesiástica. Rio de Janeiro, CPAD, 2007.
GONZALES, Justo. Uma História Ilustrada do cristianismo,. 10 vols., São Paulo: Vida Nova 1983.
GUNDRY, Robert H.; Panorama do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2003.
HALE, David Broadus. Introdução ao Estudo do Novo Testamento. São Paulo: Hagnos, 2002.
JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro: CPAD, 1990.
MARSHALL, Howard I. Atos, Introdução e Comentário. São Paulo: Mundo Cristão, 1982.
NICHOLS, Robert Hastings. História da Igreja Cristã. São Paulo: Ed. Cultura Cristã, 2000.
PACKER, J.I.; TENNEY, Merril C.; WHITE.; William. O Mundo do Novo Testamento. São Paulo:
Vida Nova, 2003.
SKARSAUNE, Oskar. À Sombra do Templo. São Paulo: Vida, 2001.
WALKER, W. História da Igreja Cristã 2 vols. São Paulo: Juerp, 1983.

Sugestão de leitura
O cristianismo através dos Séculos. Earle Cairns, São Paulo: Vida Nova (Muito bom).
À Sombra do Templo. Oskar Skarsaune, São Paulo: Vida. (Excelente).

184
Epístolas
Paulinas

Autoria
José Hélio de Lima, pastor da Igreja OBPC Central de Telêmaco Borba, Paraná (2009); diretor
e coordenador nacional do IBBC (2005); Teólogo; mestre em Ciências da Religião (2008);
coordenador  e implantador do curso de Bacharelado em Teologia da Faculdade Telêmaco Borba
(FATEB) e Instituto Bíblico O Brasil para Cristo (IBBC) na modalidade EAD - Reconhecido
pelo MEC (2017); membro da JUNEC - Junta de Educação Cristã das Igreja OBPC (2006);
escritor e palestrante.
Fabiano Gomes, Teólogo pelo Seminário Presbiteriano do Brasil. Graduando Filosofia pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especializado em Psicologia Pastoral pela Faculdade
Cristã de São Paulo, Mestrando Antropologia pelo Centro de Pós-graduação Presbiteriano
Andrew Jumper. Professor, Escritor e Conferencista. Diretor fundador do Diaconia Integral.
Sumário

Introdução 191

1. Autor 193

2. Epístola aos Romanos 195


2.1. Data 195
2.2. Tema 195
2.3. Propósito 196
2.4. Esboço 196
2.5. O Desenvolvimento Lógico da Epístola aos Romanos 196

3. Primeira Epístola aos Coríntios 200


3.1. Data 200
3.2. Tema 201
3.3. Propósito 201
3.4. Esboço 201
3.5. Desenvolvimento da Primeira Epístola aos Coríntios 201

4. Segunda Epístola aos Coríntios 204


4.1. Data 205
4.2. Tema 205
4.3. Propósito 205
4.4. Esboço 205
4.5. Sumários das relações entre Paulo e a Igreja de Corinto 205

5. Espístola aos Gálatas  207


5.1. Data 207
5.2. Tema 208
5.3. Propósitos 208
5.4. Esboço 208
5.5 . Sumário da Epístola aos Gálatas 208

6. Espístola aos Efésios  211


6.1. Data 211
6.2. Tema  211
6.3. Propósito 212
6.4. Esboço 212
6.5. Sumário da Epístola aos Efésios 212

7. Epístola aos Filipenses 215


7.1. Data 216
7.2. Tema 216
7.3. Propósito 216
7.4. Esboço  216
7.5. Sumário da Epístola aos Filipenses 216

8. Epístola aos Colossenses 219


8.1. Data 220
8.2. Tema 220
8.3. Propósito 220
8.4. Esboço  220
8.5. Sumário da Epístola aos Colossenses 220

9. Primeira Epístola aos Tessalonicenses 222


9.1. Data 222
9.2. Tema 222
9.3. Propósito 223
9.4. Esboço  223
9.5. Sumário da Primeira Epístola aos Tessalonicenses 223

10. Segunda Epístola aos Tessalonicenses 225


10.1. Data 225
10.2. Tema 226
10.3. Propósito 226
10.4. Esboço 226
10.5. Sumário da Segunda Epístola aos Tessalonicenses 226

11. Primeira Epístola a Timóteo 229


11.1. Data 229
11.2. Tema 230
11.3. Propósitos 230
11.4. Esboço 230
11.5. Sumário da Primeira Epístola a Timóteo 230

12. Segunda Epístola a Timóteo 232


12.1. Data 232
12.2. Tema 232
12.3. Propósitos 232
12.4 Esboço  233
12.5 Sumário da Epístola de 2 Timóteo 233
13. Epístola a Tito 235
13.1. Data 235
13.2. Tema 235
13.3. Propósitos 236
13.4. Esboço 236
13.5. Sumário da Epístola a Tito 236

14. Epístola a Filemom 238


14.1. Data 238
14.2. Tema 238
14.3. Propósito 239
14.4. Esboço 239

Revisão geral de Epístolas Paulinas 240

Anexo 241

Teologia Paulina 241

A Cristologia de Paulo 242

O tema central da pregação de Paulo 243

Tendências nos Estudos Paulinos 244

Bibliografia 246
Introdução

É
atribuída a Paulo a autoria de 13 epístolas escritas em suas viagens missionárias, algumas das
quais foram escritas período em que esteve preso, tanto em Jerusalém quanto em Roma. Nelas
trataremos de assuntos como: a conduta cristã, o caráter cristão, a segunda vinda de Jesus Cristo,
os dons do Espírito, o fruto do Espírito, etc. Paulo nos mostra o que é padecer por Cristo e o perigo das
falsas doutrinas dos judaizantes, dos gnósticos e dos costumes pagãos.
Pouquíssimos eruditos atribuem a Paulo a autoria da epístola aos Hebreus, apesar de haver aqueles que
lhe atribui a escrita, especialmente por causa do profundo conhecimento que o autor possuía da religião
judaica.
As referidas epístolas são, antes de tudo, cartas escritas com objetivos específicos, tais como: corrigir
os rumos doutrinários da igreja, aparar as arestas de comunidades por ele fundadas que, por motivos
alheios a sua vontade, enfrentavam crises entre os próprios membros, responder perguntas feitas por seus
filhos na fé, orientar seus discípulos que estavam exercendo o ministério, combater hereges, disciplinar
os crentes, e, enfim, cumprir o seu ministério como apóstolo dos gentios.
Em nenhum momento Paulo, como nenhum outro autor do sagrado livro, poderia saber que suas cartas
um dia fariam parte dos escritos aprovados pelo cânon da igreja e transformadas em Palavra de Deus.
As cartas paulinas são tão importantes para o cristianismo, tanto quanto foi seu próprio trabalho como
missionário; o que não dá para pensar é o que seria do cristianismo entre os gentios se não fosse uma
pessoa levantada por Deus como Paulo.
Se de um lado ele pregava o evangelho entre judeus e gentios formando comunidades cristãs, do outro,
apascentava os neófitos mesmo quando estava longe através de suas cartas. O método empregado por ele
possibilitava que as pessoas não apenas conhecessem a Jesus, mas que também o seguissem.
Iremos estudar nesta unidade os escritos que possibilitou a igreja ter uma “cara” própria e não ser vista
apenas como reduto do judaísmo ou ainda como mais uma das muitas seitas que surgiram no seio da
religião dos hebreus que ao longo do tempo sumiram.
Portanto, é fundamental observar os mínimos detalhes de todas as epístolas até porque seria impossível
imaginar o cristianismo nos moldes que temos, sem os Escritos Paulinos.
1. Autor

O autor das epístolas é Paulo, o apóstolo dos gentios. Nasceu em Tarso, Cilícia; filho de comerciante
hebreu bem sucedido; era um genuíno judeu da tribo de Benjamim, pertencia à seita dos fariseus, fazia
parte do Sinédrio e era cidadão romano. Quando mais jovem foi mandado para Jerusalém a fim de ser
instruído por Gamaliel onde aprendeu as estreitas doutrinas do farisaísmo sendo extremamente zeloso
das tradições dos seus pais (Gl 1.14). Pela sua cultura, estava em contato com o mundo grego; pelos seus
privilégios de cidadão, estava em contato político com o mundo romano.
Paulo é mencionado pela primeira vez em Atos dos Apóstolos na descrição do martírio de Estevão;
com certeza ele não participou do apedrejamento, mas observou tudo de longe onde guardava as capas
daqueles que mataram o jovem diácono. Paulo participou intensamente das perseguições e neste proce-
dimento julgava ele que estava trabalhando para Deus segundo as tradições de seus pais (At 22.3; 26.9;
Gl 1.14).
Na sua missão de servir a Deus, tomou o caminho de Damasco. Foi então que o perseguidor se trans-
formou em discípulo de Jesus Cristo. O zelo que tinha mostrado contra o cristianismo mudou em apoio
e auxilio aos perseguidos. Na igreja de Antioquia, o Espírito Santo separou Paulo e Barnabé para a pri-
meira viagem missionária num total de três.
A tradição da igreja cristã afirma que Paulo sofreu martírio por decapitação no final do reinado de Nero
(67 d.C.). O apóstolo dos gentios era um eclético, pois conhecia como poucas pessoas a Torá e a tradição
religiosa de seu povo. Era um estudioso das leis romanas (basta observar sua defesa diante de Agripa e
Festo), fazia parte de uma geração influenciada pelos filósofos gregos; e, com sua conversão ao cristianis-
mo, passou a estudar a lei e os profetas numa perspectiva cristã.
Em virtude de seus conhecimentos passou a sistematizar a doutrina cristã, por isso há aqueles que o acu-
sem de ter paganizado o cristianismo devido à influência helenista; outros, de ter rabinizado a fé cristã
por causa da escola onde estudou.
Para os que o acusam de transformar o cristianismo em uma religião de práticas filosóficas gregas,
basta observar o conteúdo de sua mensagem anunciada aos filósofos gregos no Areópago em Atenas
(At 17.15-34), para constatar que o conteúdo de suas pregações baseavam-se na ressurreição de Jesus.
Observa-se também o fato dele ter sido recebido e aprovado pelos outros apóstolos, que por certo não o
teriam aceitado entre eles, mas o teriam rejeitado.
Quanto aos que o acusam de fazer do cristianismo uma extensão do judaísmo, os tais precisam observar
seus escritos para os cristãos da Galácia, assim como sua apologia da salvação do homem pela graça e
não pela pratica da lei.
Algo não se pode negar quanto aos conhecimentos paulinos: ele foi a pessoa que Deus preparou, desde
o ventre de sua mãe para ser um instrumento divino na propagação do evangelho. O fato de ser um
Teologia

poliglota, pois falava grego, hebraico, aramaico e latim, e ter estudado na melhor faculdade teológica
judaica e ter conhecimento dos pensamentos filosóficos de seus dias, facilitou a pregação do evangelho.
Sua cultura e conhecimento foram transformados por Jesus Cristo em ferramentas para alcançar o mun-
do gentílico onde estava concentrada a maior parte da população mundial.
Convém fazer uma observação quanto à necessidade que os cristãos têm de estudar. Alguém já dizia que
“machado afiado corta melhor”; com isso estou afirmando que O Espírito Santo vai te usar na medida
em que você estiver preparado; você vai pregar o evangelho para pessoas de fala espanhola se falar espa-
nhol; vai pregar ou ensinar acerca do reino de Deus para pessoas de fala inglesa, se você falar inglês; vai
ensinar e pregar Bíblia se estudar Bíblia. Nada contra pastores que são advogados, filósofos, pedagogos,
psicólogos, etc. desde que sejam teólogos; o que não é normal é ser pastor e estudar tudo, menos teolo-
gia. Quer ser pastor? Estude Bíblia (teologia). Quer ser missionário? Estude a Bíblia (teologia com es-
pecialização em missiologia) e os idiomas dos povos para quem você se sente chamado para evangelizar.
Que seja o apóstolo Paulo também neste quesito, nosso paradigma.
Ao se debruçar sobre os escritos do apóstolo Paulo com intuito de aprender, faça-o com muito esmero,
pois sem dúvida estamos diante de textos que também foram inspirados por Deus para a exortação,
consolação e edificação da igreja de Cristo. Começaremos com a “rainha” de suas cartas: Romanos.

Recapitulação 1

1R1. Com que propósito Paulo escreveu suas epístolas?







2R2. Por que antes de sua conversão Paulo perseguia os cristãos?







3R2. Podemos afirmar que os muitos conhecimentos de Paulo foram úteis para o cristianismo? Por
quê?





194
2. Epístola aos Romanos

A epístola aos romanos é uma daquelas cartas escritas por Paulo, que foi endereçada a uma das igrejas
que ele não fundou. A igreja de Roma provavelmente tenha sido fundada pelos judeus dispersos que
moravam na capital do império romano e foram a Jerusalém, entre outras, por ocasião da Festa do
Pentecoste. Em Jerusalém eles se converteram ao cristianismo e voltaram para suas residências levando
consigo a salvação proveniente de Cristo Jesus.
Esta epístola é considerada por muitos cristãos, em todos os tempos, como o livro mais importante do
N.T. Esse reconhecimento é tanto que Lutero disse que a carta de Paulo aos romanos e o Evangelho de
João seriam o suficiente para existência do cristianismo. O apóstolo dos gentios consegue desenvolver
o elementar da doutrina cristã em tão pouco espaço como nenhum outro o fez; deixando claro, como
nunca, que a salvação, quer sejam de judeus, gregos ou bárbaros, somente é possível mediante a justifi-
cação que há em Jesus Cristo. Ninguém consegue sua redenção pelas suas próprias obras.
O evangelho que Paulo pregava da justificação unicamente pela fé estava sendo caçado. Muitos se opu-
nham abertamente a tal evangelho, enquanto outros o distorciam para que atendesse a seus interesses
pessoais. Diziam os judaizantes que a salvação podia ser pela Graça, mas o crente é mantido pela Lei.
Insistiam em que a circuncisão era absolutamente necessária para a salvação. No outro extremo estavam
os antinomianos os quais ensinavam que a pessoa poderia ser salva pela graça e continuar vivendo da
forma que desejasse até mesmo em pecado.
Só a explanação clara do evangelho poderia refutar tais erros. Paulo, ansioso por comprovar o poder do
evangelho para salvar e santificar tanto judeus como gentios, assume o papel de doutor e advogado. Ele
convoca o evangelho para o banco das testemunhas e examina-o por todos os lados. O resultado é a epístola
aos romanos, uma obra prima teológica. Se dissermos que a carta de Paulo aos romanos é o seu evangelho,
não será nenhum exagero. Por isso, há dentre os estudiosos do N.T., aqueles que afirmam ser a epístola aos
romanos, o “Evangelho segundo Paulo”, assim como tem o de Mateus, Marcos, Lucas e João.

2.1. Data
Aproximadamente em 57 d.C. quando Paulo estava em Corinto; encerrada sua terceira viagem missio-
nária, às vésperas de partir para Jerusalém, levando a oferta para os crentes pobres (Rm 15.22-27).

2.2. Tema
A justificação dos pecadores, a santificação dos justificados e a glorificação dos santificados pela fé em
Jesus Cristo e pelo poder de Deus que opera através de Seu Filho.
Teologia

2.3. Propósito
Ao escrever para igreja em Roma o apóstolo dos gentios tinha em mente, primeiro, preparar os crentes
para sua primeira visita a capital do império e aos cristãos para fortalecer a fé dos irmãos; segundo, bus-
car recursos financeiros para cumprir uma missão de anunciar Jesus ao povo da Espanha.

2.4. Esboço
A epístola pode ser dividida em três aspectos gerais:

1. Doutrinário: desenvolve o argumento de Paulo da justificação pela fé. (caps. 1-8)


2. Dispensacional (caps. 9-11): Nos capítulos 1 a 8 e 12 a 16, Paulo trata da igreja.
3. Nos capítulos 9 a 11, afasta-se por certo tempo desse tema para falar de Israel e mostrar a relação
deste povo com o plano divino da salvação. Esta seção responde a pergunta: “Que lugar ocupa a
nação judaica no plano divino da salvação?”.
4. Prático (caps. 12-16): Contém exortação relativa à vida cristã, quanto a:
a. Condenação (1.1 - 3.20)
b. Justificação (3.21- 5.21)
c. Santificação (caps. 6 - 8)
d. Dispensação (caps. 9 - 11)
e. Exortação (caps. 12-16)

2.5. O Desenvolvimento Lógico da Epístola aos Romanos


Segue uma sugestão de desenvolvimento de romanos feita pelo Dr. Roberto H. Gundry, em seu livro
Panorama do Novo Testamento.

2.5.1 Introdução e tema


Na abertura da epístola, Paulo saúda aos seus leitores e menciona a esperança que ele tinha de visitá-los
a fim de que pudesse pregar o evangelho em Roma, como já fizera noutros lugares (vide 1.1-15). Em
seguida, Paulo declara seu tema em 1.16,17, as boas novas da libertação do pecado através da dádiva
divina da retidão a todos quantos creem em Jesus Cristo.

2.5.2 Necessidade: Pecaminosidade


A primeira seção maior delineia a necessidade da justificação em face à pecaminosidade dos homens
(vide 1.18 - 3.20). A metade final do primeiro capítulo descreve a iniquidade do mundo gentílico; o se-

196
Epístoloas Paulinas

gundo capítulo fala sobre a atitude da justiça própria do mundo judaico; e a primeira metade do terceiro
capítulo sumaria a culpa da humanidade geral. Deve-se destacar que para Paulo, os pecados (plural) são
apenas sintomas do problema real que é o pecado (singular) na forma de um princípio dominante na
experiência humana.

2.5.3 O remédio: Justificação


A justificação é o remédio de Deus de acordo com a segunda seção maior da epístola (vide 3.21 - 5.21).
A última metade do capítulo terceiro apresenta a morte expiatória de Cristo como base da nossa justifi-
cação bem como a fé como o meio pelo qual nos apropriamos dos benefícios advindos de sua morte. O
quarto capítulo retrata Abraão como o grande exemplo de fé em contraposição a doutrina rabínica do
tesouro de merecimentos de Abraão que seria tão superabundante que os judeus podiam valer-se do ex-
cesso. O quinto capítulo alista as multiformes bênçãos resultantes da justificação: paz, alegria, esperança
o dom do Espírito Santo, e outras, além de contrastar a posição do incrédulo em Adão onde há pecado
e morte, com a posição dos crentes em Cristo, onde há justiça e vida eterna.

2.5.4 O resultado: Santificação


Na terceira porção principal a discussão progride ao tema da santificação ou santo viver cristão (veja
os capítulos 6 - 8). Haveríamos de continuar pecando para que Deus pudesse exercer mais ainda a Sua
graça, e assim pudesse obter maior louvor para si mesmo? Não! O batismo ilustra a nossa morte para o
pecado e o nosso viver para a retidão (vide capítulo 6). Contudo, a santificação nada tem a ver com a
guarda da lei do Antigo Testamento a qual era capaz tão somente de conferir ao indivíduo um senso de
derrota sem transmitir qualquer capacidade de vencer ao demoníaco controle do pecado sobre a nossa
conduta (vide o capítulo7). Pelo contrário, o Espírito de Cristo é quem nos outorga o poder para sermos
vitoriosos pelo que também o oitavo capítulo atinge o ponto culminante com uma grande explosão de
louvor, “Quem nos separará do amor de Cristo?”. Paulo alista as possibilidades e nega uma por uma.

2.5.5 O problema: Incredulidade de Israel


A discussão volta-se para o problema de Israel, na quarta sessão maior da epístola aos romanos (veja os
capítulos 9 - 11). Por causa do seu próprio passado e formação judaica, Paulo se mostrava agudamente
preocupado diante da incredulidade da grande maioria dos seus compatriotas judeus. No que tange a
isso, Paulo enfrenta um problema de lógica. Ele sempre afirmava que o evangelho não é uma inovação,
mas antes, deriva-se do Antigo Testamento e constitui o cumprimento de tudo quanto Abraão, Davi e
os profetas, esposavam.
Entretanto, se assim são as coisas realmente, por qual razão os judeus, considerados como um povo, não
reconheciam a veracidade dessas reivindicações? Porventura a rejeição geral do evangelho da parte dos
judeus implicava em uma falha no argumento do apóstolo? Em resposta, o nono capítulo frisa a doutri-
na da eleição, isto é, o direito que Deus tem de selecionar a quem quer que deseje. Isso é perfeitamente
legitimo na argumentação de Paulo.
Deus pode fazer com o povo de Israel e com os gentios o que Ele bem quiser. E é prerrogativa de Deus
escolher agora os gentios, tal como Lhe coubera o direito de escolher previamente aos judeus. Todavia
a atual rejeição de Israel por parte de Deus, não se deve a algum capricho, pois Israel assim o merece,

197
Teologia

devido a sua justiça própria, e sua recusa em crer no que tanto ouvira quanto entendera do evangelho
(vide o capítulo10). Portanto, Israel foi posto para um lado de modo apenas parcial e temporário. Um
judeu pode obter a salvação tão facilmente quanto um gentil bastando-lhe confiar em Cristo; e Deus
haverá de restaurar a nação de Israel inteira ao Seu favor, no futuro. Entretanto, os gentios usufruem de
igualdade diante de Deus em relação aos judeus (vide capítulo 11).

2.5.6 A obrigação: Preceitos cristãos


A quinta sessão principal contém exortações práticas relacionadas à vida diária dos crentes incluindo
mandamentos atinentes a obediência às autoridades civis e a permissão de liberdade no que concerne às
questões cerimoniais (vide capítulos 12 - 14).

2.5.7 Conclusão
Paulo conclui essa epístola traçando os seus planos para o futuro e enviando diversas saudações (vide os
capítulos 15 e 16).

Recapitulação 2

1R3. Quem foi o provável fundador da igreja em Roma?







2R3. Para o apóstolo Paulo qual é o único meio do homem ser salvo, quer seja judeu, gregos ou bárbaros?





3R3. Relacione as três divisões da epístola aos romanos.






4R3. Qual é o remédio de Deus para o pecado, segundo Paulo define aos romanos?





198
Epístoloas Paulinas

5R3. Paulo afirmava que o evangelho não é uma mera inovação. Então o que é o evangelho para o
apóstolo dos gentios?





199
3. Primeira epístola aos Coríntios

O pecado abundava na cidade cosmopolita de Corinto, principal cidade da Grécia. Nela erguia-se so-
branceira sobre o estreito istmo que ligava a Grécia ao Peloponeso e recebia navios em seus dois pontos.
Houve época em que se contavam pelo menos doze templos pagãos. Os coríntios estavam intrigados
com a filosofia grega e sentiam-se cativados pelo treinamento disciplinado e pelos eventos atléticos
realizados no istmo. Precisavam desesperadamente ouvir as boas novas de Jesus Cristo, que morrera
crucificado em lugar dos pecadores.
As cerimônias de culto, realizadas por mil prostitutas cultuais ligadas ao templo de Afrodite (deusa do
amor), alimentavam a imoralidade desenfreada por toda Corinto. As prostitutas exerciam sua profissão
abertamente. O mercado de carne prosperava por causa da venda de animais sacrificados aos deuses nos
templos. Os coríntios comiam bem, satisfaziam seus apetites sexuais sem nenhuma restrição ou conde-
nações, encantavam-se com a sabedoria humana e faziam tudo que lhes estava ao alcance para manter
seus corpos tão belos como os dos deuses gregos.
Para cada um dos duzentos e cinqüenta mil cidadãos livres, havia quase dois escravos na cidade. De que
mais precisavam os coríntios? Precisavam de liberdade. Precisavam ser libertos do pecado e da morte.
Deus atendeu a essa necessidade dos coríntios ao bloquear as saídas de Paulo, em sua segunda viagem
missionária, até que o apóstolo recebesse a convocação para ir à Macedônia: “Passa à Macedônia, e aju-
da-nos”.
Depois de fundar uma igreja em Corinto, Paulo acabou partindo para Éfeso onde permaneceu por três
anos (At 20.31), na sua terceira viagem missionária (At 18.23-21.16). Ele soube em Éfeso dos proble-
mas encontrados em Corinto, (1.11); depois, uma delegação dessa congregação entregou uma carta a
Paulo em que lhe pediam instruções sobre vários assuntos. Porém, antes de escrever esta carta, podemos
afirmar que ele escreveu outra que se perdeu e por isso não tivemos acesso a mesma.
Podemos confirmar isso com a declaração que se acha em 1 Coríntios 5.9. “Já em carta vos escrevi que
não vos associeis com os impuros”. Podemos entender que Paulo já havia escrito uma epístola anterior à
igreja de Corinto, mas que depois se perdeu. Aqueles crentes haviam entendido mal o apóstolo, como se
ele quisesse dizer que eles deveriam separar-se de todos os impuros. Mas Paulo esclarece aqui que tivera
em mente a separação somente dos cristãos professos que viviam em pecado flagrante e aberto. Portanto,
a nossa primeira carta aos coríntios, é, na verdade, a segunda.

3.1. Data
Aproximadamente 55/56 d.C. No fim dos três anos de Paulo em Éfeso (At 20.31; 1 Co 16.5).
Epístoloas Paulinas

3.2. Tema
A conduta cristã na Igreja, no lar e no mundo.

3.3. Propósito
Podemos resumir desta maneira o propósito de Paulo ao escrever esta epístola.
1. Para corrigir as seguintes desordens:
a. Divisões
b. Imoralidades
c. Disputas entre os crentes
d. Desordens durante a Ceia do Senhor
e. Desordens durante o culto
6. Para responder às seguintes perguntas:
a. Concernente ao matrimônio
b. Concernente ao comer carne oferecida aos ídolos
c. Concernente aos dons do Espírito

3.4. Esboço
a. Correção de desordens morais e sociais (caps. 1 - 8)
b. Autoridade apostólica (cap. 9)
c. Ordem na igreja (caps. 10 - 14)
d. A ressurreição (cap. 15)
e. Conclusão (cap. 16)

3.5. Desenvolvimento da Primeira Epístola aos Coríntios


Segue uma sugestão de divisão, a partir dos assuntos, sugerida pelo Dr. Gundry.

4.5.1 Reprimendas em resposta ao relatório prestado pelos escravos de Cloé, acerca de:
a. Divisões - a igreja deveria unificar-se, mediante a humildade, à luz da cruz (1 - 4)
b. Um caso específico de imoralidade - a igreja deveria disciplinar o ofensor (5)
c. Pendências judiciais entre os crentes - a igreja precisava resolver tais litígios fora dos tribunais
seculares (6.1-8),

201
Teologia

d. Imoralidade em geral - os crentes precisavam viver virtuosamente (6.9-20).

3.5.2 Respostas às indagações feitas na carta enviada pelos coríntios concernentes a estas questões.
a. Matrimônio - casar é bom, mas nem sempre é o melhor para o crente (7),
b. Alimentos, particularmente carnes dedicadas aos ídolos - os crentes podem comê-los, mas
deveriam refrear-se na presença daqueles em cujas mentes tais carnes estão religiosamente
contaminadas (8.1 - 11.1).

Ordem na adoração pública, especificamente.

Uso do véu pelas mulheres, nos cultos - as mulheres crentes devem demonstrar sua submissão me-
diante o uso do véu (11.2-16), (acréscimo do coordenador teológico do IBBC) Em Corinto, especifi-
camente, as mulheres que se convertiam ao cristianismo, dentre elas ex-prostitutas, tinham que usar o
véu também por uma questão de ordem para diferenciá-las das prostitutas que tinham a cabeça raspada
como símbolo de vida promíscua; nesse caso a igreja que tinha neófitos, que abandonara a prostituição,
também se precavia de ser associada a uma religião de meretrizes.
Celebração da Ceia do Senhor - Todos devem participar juntos em espírito de reverência e exame próprio
(11.17-34), e dons espirituais, sobretudo o falar em línguas - a igreja deveria dar menos importância ao
falar em línguas e dar ênfase à profecia, mormente com o acompanhamento da virtude do amor (12 - 14).
• Ressurreição
A crença na passada ressurreição de Cristo e na futura ressurreição dos crentes é crucial para fé
cristã. (15).
• A coleta
A igreja deveria começar imediatamente a recolher a coleta para os crentes de Jerusalém para que
estivesse pronta quando da chegada de Paulo (16.1-9).
• As observações
Concludentes consistem de exortações miscelâneas, saudações e notícias sobre Timóteo e Apolo
(vide 16.10-24).

Recapitulação 3

1R4. Qual era o principal culto pagão para o povo de Corinto e quem era a divindade?





202
Epístoloas Paulinas

2R4. Podemos afirmar que a nossa primeira carta escrita à igreja de Corinto, na verdade, é a segunda.
Por quê? Prove com texto bíblico.





3R4. Quem foi responsável pelo relatório que foi enviado ao apóstolo Paulo dizendo quais eram os
principais problemas da igreja em Corinto?





4R4. Qual foi a posição de Paulo quanto ao casamento?






5R4. Mencione os dois problemas que envolviam a igreja de Corinto quanto o uso do véu nos cultos.





203
4. Segunda epístola aos Coríntios

Paulo escreveu esta epístola à igreja de Corinto e aos crentes de toda a Acaia (1.1). Tendo ele fundado a
igreja em Corinto, durante sua segunda viagem missionária manteve contato frequente com os coríntios
por causa dos problemas enraizados naquela igreja.
A sequência desses contatos e o contexto em que 2 Coríntios foi escrita são os seguintes: Depois de
alguns contatos e correspondência inicial com a igreja (1 Co 1.1; 5.9; 7.1), Paulo fez uma viagem a Co-
rinto cruzando o mar Egeu para tratar de problemas surgidos na igreja. Essa visita, no período entre a
1ª e a 2ª carta aos Coríntios (2 Co 13.1-2), foi espinhosa para Paulo e para a congregação (2 Co 2.1-2).
Depois dessa visita, informações chegaram a Paulo em Éfeso de que seus adversários estavam atacando
a sua autoridade apostólica em Corinto tentando persuadir uma parte da igreja a rejeitá-lo. Diante do
referido acontecimento, Paulo sentiu a necessidade de fazer uma “visita dolorosa” a Corinto e voltar por
causa dos conflitos entre ele e os crentes daquela igreja. Essa afirmação de que ele tenha feito uma visita
à igreja, ainda que Lucas não a mencione em Atos, pode ser afirmada a partir da alusão feita por Paulo
em 2 Coríntios 12.14 e 13.1,2 a uma terceira visita que faria àquela igreja.
Talvez essa tenha sido uma das fases mais difíceis da vida do apóstolo dos gentios; afinal, ele está sendo
questionado pelos seus próprios filhos de fé. Não que eles negassem seu trabalho como missionário e
fundador daquela igreja, mas sim o fato dele ser um apóstolo. Naqueles tempos para ser considerado
um apóstolo, entre outros requisitos, era necessário ter sido discípulo de Jesus, e, portanto, ter convivi-
do com o divino Mestre. Não foi o caso de Paulo que sequer conheceu Jesus pessoalmente durante seu
ministério terreno, pelo menos ele não faz menção em nenhuma de suas defesas ou testemunho. Daí
surgirem opositores que negaram seu apostolado.
Para alguns crentes de Corinto o importante não era seu trabalho; e, sim, se ele era ou não apóstolo.
Diante da referida desconfiança, mesmo depois de ter ido pessoalmente tentar reverter a situação e não
ter êxito, coube a ele escrever essa epístola para lembrá-los que as maiores testemunhas de seu apostolado
eram eles mesmos que foram alcançados pelo evangelho através de seu ministério.
Diante da referida oposição, Paulo não titubeou; enviou Tito com esta carta e a orientação para discipli-
nar os líderes do motim conforme pode ser constatado em 2 Coríntios 2.12,13 e 7.4 -16; e, ao mesmo
tempo, expressar sua alegria em saber que a maior parte de igreja não foi contaminada com os revoltos,
pelo contrario, continuavam tendo Paulo em honra e autoridade apostólica; e lembra-os de prepararem
a oferta para os irmãos de Jerusalém.
Pouco depois, ele viajou outra vez à cidade permanecendo ali cerca de três meses (At 20.1-3a).
Epístoloas Paulinas

4.1. Data
Cerca de 55/56 d.C. Provavelmente escrita em Filipos durante a sua terceira viagem missionária.

4.2. Tema
O conceito de Paulo acerca de seu ministério, conforme se vê no seu relacionamento com a igreja de
Corinto.

4.3. Propósito
Defender sua autoridade apostólica

4.4. Esboço
É excessivamente difícil analisar a carta. Como diz certo escritor, “É quase impossível analisar esta carta
que é a menos sistemática dos escritos de Paulo. Assemelha-se a um rio africano. Às vezes corre cal-
mamente e espera-se uma análise satisfatória, mas repentinamente aparece uma grande catarata e uma
agitação terrível, quando se fendem as grandes profundezas de seus corações”.
Dividiremos a carta em quatro seções, da seguinte maneira:
1. Uma visão retrospectiva (1.1-2.13)
2. A dignidade e eficiência do ministério de Paulo (2.14-7.1-16)
3. A oferta para os judeus crentes (caps. 8 e 9).
4. A defesa que Paulo faz de seu apostolado (10.1-13.14)

4.5. Sumários das relações entre Paulo e a Igreja de


Corinto
1. Evangelizou Corinto em sua segunda viagem missionária;
2. Escreveu uma carta perdida a Corinto, na qual ordenava que os cristãos se separassem de crentes
profanos que vivessem na imoralidade;
3. Escreveu 1 Coríntios quando estava em Éfeso durante sua terceira viagem missionária a fim de
abordar diversos problemas daquela igreja;
4. Paulo faz uma breve e “dolorosa” visita a Corinto tendo partido de Éfeso para onde voltou a fim
de corrigir problemas em Corinto, mas não teve êxito em seu propósito;
5. Enviou outra carta perdida da qual não tivemos acesso, chamada de a “carta triste”, na qual or-
denava aos coríntios que disciplinasse seu principal oponente na igreja;
6. Deixou Éfeso, e, ansioso, aguardou Tito em Trôade, e então na Macedônia;

205
Teologia

7. Tito finalmente chegou com as boas novas de que a igreja disciplinara o oponente de Paulo, de
que a maioria dos crentes coríntios se submetera à autoridade do apóstolo;
8. Paulo escreveu 2 Coríntios estando na Macedônia (ainda durante a terceira viagem missionária),
em resposta ao relatório favorável de Tito.

Recapitulação 4
1R5. Qual foi o motivo que levou Paulo a fazer uma visita a Corinto, que ficou conhecida como “visi-
ta dolorosa”?





2R5. Qual seria o conteúdo de uma carta que se perdeu escrita à igreja de Corinto, que ficou conheci-
da como a “carta triste”?





3R5. O que a igreja de Corinto fez com o líder do motim contra Paulo?





4R5. Quais são os principais assuntos tratados em 2 Coríntios?







5R5. Mencione dois fatos que demonstram a profunda relação de Paulo com os crentes de Corinto.





206
5. Espístola aos Gálatas

A epístola aos Gálatas tem em torno de si uma questão pouco relevante do ponto de vista doutrinário,
mas importante no que diz respeito ao teológico, que é o destinatário. A questão é se ela foi escrita à
Galácia do Sul ou à do Norte. Se ele escreveu para a do Sul, o fez na primeira viagem missionária, antes
do Concilio em Jerusalém quando ficou definido o futuro dos gentios dentro da igreja; se o fez para a
do Norte, isso teria ocorrido somente depois do Concilio de Jerusalém durante a segunda viagem mis-
sionária. De uma perspectiva teológica, a questão é: faz alguma diferença? Sim, muita!
Caso esta carta tenha sido escrita antes do concilio da igreja em Jerusalém, portanto para a Galácia
do Sul, Paulo foi o pioneiro na definição do papel do gentio na igreja. Basta olhar para o conceito do
apóstolo em sua epístola aos Gálatas e perceberemos que ele define uma ruptura com a teologia judaica
e, portanto, define a igreja como uma instituição independente da religião dos hebreus, apesar de ter
nascido em seu berço. O fato iria acontecer somente no concílio apostólico em Jerusalém onde a con-
clusão, quanto aos gentios que estavam sendo salvos, era que eles não deveriam comer carne de animais
sufocados e deveriam fugir da idolatria, conforme encontramos em Atos 15.
O assunto principal de Gálatas é o mesmo debatido e resolvido em Jerusalém. Tal assunto implica numa
dupla pergunta:
1. A fé em Jesus Cristo como Senhor e Salvador é o requisito único para salvação?
2. É necessário obedecer a certas práticas e leis judaicas do AT para se obter a salvação em Cristo?
É muito provável que Paulo tenha escrito Gálatas antes da controvérsia da Lei na Assembleia de Jeru-
salém (At. 15) antes da igreja comunicar a sua posição final. Se assim foi, então Gálatas é a primeira
epístola que Paulo escreveu.
Alguns escritores a chamam de a “Carta Magna da Igreja”; seu principal argumento é a defesa da liber-
dade cristã em oposição ao ensino dos judaizantes.
O pano de fundo que envolve a epístola é de uma igreja que Paulo fundou; e, logo depois de sua saída,
surgiu um grupo de judeus religiosos que afirmava ser uma obrigação dos neo-cristãos a prática de ce-
rimoniais e cultos da religião judaica, inclusive com sacrifícios de animais levando o apóstolo a escrever
com certa indignação para corrigir o curso da igreja. Devemos levar em consideração que se ele não
tivesse assumido aquela postura, o cristianismo teria corrido o risco de ser engolido pelo judaísmo, assim
como outras religiões, que nasceram do judaísmo, teriam também sucumbido.

5.1. Data
Por volta do ano 49 d.C.. Foi escrita após a primeira viagem missionária de Paulo
Teologia

5.2. Tema
A justificação e a santificação, não pelas obras da Lei, mas sim pela fé em Jesus Cristo.

5.3. Propósitos
1. Defender seu apostolado
2. Argumentar que a salvação é somente pela fé sem obras
3. Fundamentar os gálatas numa liberdade cristã que evite tanto o legalismo como o antinomismo.

5.4. Esboço
1. O apóstolo da liberdade (caps. 1, 2).
2. A doutrina da liberdade (caps. 3, 4).
3. A vida de liberdade (caps. 5, 6).

5.5 . Sumário da Epístola aos Gálatas

6.5.1 Introdução: Saudação aos crentes da Galácia e anátema aos judaizantes, que pervertiam o verda-
deiro evangelho (1. 1-10).

6.5.2 Argumentação Autobiográfica em Favor do Evangelho da Livre Graça de Deus (1.11 – 2.21).
a. Revelação direta do Evangelho a Paulo, por Jesus Cristo (1.11,12).
b. Impossibilidade de sua origem no passado extremamente judaico de Paulo (1.13).
c. Impossibilidade de Paulo tê-lo aprendido de fontes meramente humanas, os apóstolos, a quem
Paulo não conhecera senão três anos após sua conversão, e por pouquíssimo tempo (1.14-24).
d. Reconhecimento posterior do evangelho Paulino da parte dos líderes da igreja de Jerusalém (2.1-10).
e. Paulo repreende (com êxito) a Pedro por haver cedido às pressões dos judaizantes, em Antioquia
da Síria (2.11-21).

6.5.3 Argumento Teológico em Favor do Evangelho da Livre Graça de Deus (3.1 – 5.12).
a. A suficiência da fé (3.1-5).
b. O exemplo de Abraão (3.6-9).
c. A maldição imposta pela lei (3.10-14).
d. O divino pacto da promessa a Abraão e seu descendente (Cristo e aqueles que a Ele se une pela fé),
anteriores a lei das obras (3.15-18).

208
Epístoloas Paulinas

e. O propósito da lei: Não o de prover a salvação através do mérito humano, mas o de demonstrar a
necessidade de graça divina, por meio da fé em Cristo (3.19-4.7).
f. Apelo para que se confie somente na graça divina com uma alegoria sobre a liberdade crista baseada
sobre Abraão e seus dois filhos, o escravo Ismael e o livre Isaque (4.8-5.12).

6.5.4 Advertência Contra o Antinomismo (5.13 – 6.18).


a. Liberdade cristã. O viver pelo Espírito, e não segundo a carne (5.13 -24)
b. O amor cristão (5.25 - 6.5)
c. A liberdade cristã (6.6 -10)
Conclusão: Contraste entre o temor que os judaizantes tinham da perseguição e seu orgulho jactan-
cioso, por um lado, e as perseguições humilhantes sofridas por Paulo, por outro lado - e uma bênção
final (6.11-18)
Antinomismo é literalmente “contra-lei” - movimento que se opõe a lei judaica.

Recapitulação 5
1R6. Que diferença faz, teologicamente, se a epístola foi escrita para a Galácia do Sul ou do Norte?






2R6. Quais são as duas perguntas importantes que são respondidas na Epístola aos Gálatas?






3R6. Quem foram os responsáveis pelos problemas causados na igreja da Galácia, que levou Paulo a
escrever a epístola? E quais eram os problemas?






209
Teologia

4R6. Qual o assunto tratado no texto de Gálatas 3.10 -14?







5R6. O que significa antinomismo? Qual o mal que ele pode causar a fé cristã?





210
6. Espístola aos Efésios

São atribuídas a Paulo algumas epístolas que ficaram sendo conhecidas como as “epístolas da prisão”; isso,
porque quando ele escreveu, encontrava-se preso. São elas: Efésios, Filipenses, Colossenses e Filemon.
Há dois períodos conhecidos por suas prisões, uma em Cesareia, durante o período do governo de Felix
e Festo (vide Atos 23 - 26), e outro em Roma, enquanto Paulo esperava para ser julgado por César (vide
Atos 28). Não que ele não tenha sido preso outras vezes como podemos constatar na cidade de Filipos; e,
outras vezes, conforme ele afirma em 2 Coríntios 11.23; porém compreende-se que foram por poucos dias.
Outra peculiaridade desta carta é que a mesma não foi escrita, como em outros casos, para resolver
problemas enfrentados pela igreja, ou, ainda, para sanar dúvidas suscitadas pelos crentes. Ela transmite
um momento especial do apóstolo que apesar de preso, mantém sua comunhão com Cristo e recebe do
Espírito Santo revelações especiais quanto à igreja e seu papel na sociedade.
No tema partilhado com a carta aos Colossenses, Cristo, o cabeça da Igreja, que é seu Corpo - em Efé-
sios encontramos a Igreja como o Corpo de Cristo enquanto em Colossenses, Ele é o cabeça. Quanto à
cidade de Éfeso, ela era a quarta maior cidade do Império Romano; abrigava o templo da deusa Ártemis
a quem às vezes se dá o nome de Diana. Todavia, na época de Paulo, a posição de Éfeso como centro de
comércio decaíra porque seu porto se tornara impróprio para receber navios.
A partir de então, o culto de Ártemis tornou-se o meio de sobrevivência econômica da cidade. A explo-
ração comercial e turística e a peregrinação religiosa associada à Ártemis enriqueceram muitas pessoas de
Éfeso. A própria tesouraria do templo funcionava como banco e emprestava grandes somas de dinheiro
a muitas pessoas, incluindo reis. Visto que Ártemis era a padroeira do sexo, as prostitutas vendiam seus
corpos sem sofrer nenhuma condenação no bordel de dois andares da Estrada de Mármore.
A epístola aos efésios transmite a impressão de um rico transbordar de revelação divina brotando da vida
de oração de Paulo. Ele escreveu a carta quando estava prisioneiro por amor a Cristo, em Roma. Efésios
tem muita afinidade com Colossenses e talvez tenha sido escrita logo após esta.

6.1. Data
Provavelmente no ano 62 d.C. Foi escrita durante a primeira prisão de Paulo em Roma. Foi enviada por
Tíquico que também levou cartas aos colossenses e a Filemon.

6.2. Tema
A igreja é escolhida, redimida e unida em Cristo de sorte que ela deve andar em unidade, em novidade
de vida, na força do Senhor e com a armadura de Deus.
Teologia

6.3. Propósito
1. Instruir os cristãos sobre o plano de Deus para a salvação.
2. Informar os cristãos gentios sobre o privilégio de serem incluídos com os judeus no reino de Deus.
3. Exortar os cristãos a viverem dignamente conforme sua alta vocação.

6.4. Esboço
1. Doutrina. A vocação da Igreja (caps. 1-3)
a) A tríplice fonte da nossa salvação (1.1-18)
b) A tríplice manifestação do poder de Deus (1.19 -2.22)
c) Uma declaração tríplice referente a Paulo (cap. 3)
2. Prática. A conduta da Igreja (caps. 4-6)
a) Uma exortação tríplice à igreja (4.1- 5.21)
b) Uma exortação tríplice à família (5.22 - 6.9)
c) Uma expressão tríplice da vida espiritual (6.10-24)

6.5. Sumário da Epístola aos Efésios

6.5.1 Introdução. Saudação (1.1,2)

6.5.2 Privilégios Espirituais da Igreja (1.3 – 3.21)


a. Louvores pelas bênçãos espirituais originadas no plano de Deus Pai,na realização de Deus Filho e
na aplicação de Deus Espírito (1.3 -14)
b. Ação de graças e oração pela compreensão crescente acerca da graça divina (1.15-23)
c. Regeneração dos pecadores exclusivamente pela graça divina (2.1-10)
d. A reconciliação dos gentios com Deus e com os judeus na Igreja (2.11-22)
e. Paulo sentia o privilégio por proclamar o Evangelho (3.1-13)
f. Oração pedindo estabilidade através da compreensão crescente (3.14-19)
g. Doxologia (3.20,21)

6.5.3 Responsabilidades Espirituais da Igreja


a. Manutenção da unidade através da diversidade de ministérios edificadores (4.1-6)
b. A conduta moral (4.17-5.14)

212
Epístoloas Paulinas

c. O enchimento com o Espírito (5.15-20)


d. Submissão mútua entre os crentes (5.21-6.9)
• Submissão das esposas aos seus esposos, tal como a Igreja se submete a Cristo (5.22-24).
• Amor dos esposos as suas esposas como Cristo ama Sua Igreja (5.25-33).
• Obediência dos filhos aos seus pais (6.1-3).
• A autoridade paterna exercida com paciência (6.4).
• A obediência dos escravos para com os seus senhores (6.5-8).
• Eqüidade dos senhores para com seus escravos (6.9).
• A luta espiritual com a utilização de toda armadura de Deus contra as forças satânicas (6.10-20).

6.5.4 Conclusão: A chegada de Tíquico, uma saudação final e bênção (6.21-24).

Recapitulação 6
1R7. Por que Efésios é considerada uma das epístolas da prisão?





2R7. Quem era Ártemis e qual sua importância para a população de Éfeso?





3R7. Em Efésios 2.1-10 encontramos a razão pela qual o homem é regenerado. Que meio é este? Qual
a contribuição do homem nesse processo?





4R7. Qual é o meio utilizado pelo Espírito Santo para manter a unidade na Igreja?




213
Teologia

5R7. Os escravos convertidos ao Senhor Jesus foram orientados a obedecer aos seus senhores. Como
podemos aplicar este texto para a igreja de hoje?





214
7. Epístola aos Filipenses

Paulo sentiu-se impelido pelo Espírito de Deus em dirigir-se à Ásia e a Bitínia e teve uma visão de um
homem da Macedônia que lhe pediu que fosse a essa região e ajudasse a igreja ali. Confiante de que era
Deus quem o orientava, Paulo navegou com Timóteo e Lucas saindo de Trôade em sua segunda viagem
missionária (At 16.9-40). A cidade de Filipos, na Macedônia, tinha também a vantagem de ser colônia
de Roma, o que assegurava a todos os seus habitantes os benefícios da cidadania romana.
O ministério de Paulo, em Filipos, foi marcado, dentre outras coisas, pelo fato dele ter expulsado o de-
mônio de adivinhação de uma escrava; isso leva seu dono a denunciá-lo como um baderneiro, e assim,
tanto ele como Silas são levados a uma prisão. Após um milagre de libertação, com a quebra das cadeias,
o carcereiro e sua família são salvos.
A Epístola aos Filipenses é mais uma das que foram escritas pelo apóstolo Paulo por ocasião de uma de
suas prisões. Paira dúvidas quanto ao local em que ele estava preso; há tanta possibilidade de que fosse
em Éfeso ou em Roma, sendo esta última a mais provável.
O portador da carta foi Epafras, crente da igreja de Filipos, que visitou Paulo na prisão e, provavelmente,
levou uma contribuição financeira para o servo de Deus que estava dependendo financeiramente dos
irmãos.
Havia um forte elo de amizade entre o apóstolo e a igreja em Filipos que várias vezes enviou ajuda
financeira a Paulo (2 Co 11.9; Fp 4.15, 16) e contribuiu generosamente para a coleta que o apóstolo
providenciou para os crentes pobres de Jerusalém. Fatos como este fez com que Paulo enviasse uma carta
pessoal, a única escrita por ele, com este propósito, pois ele nutria um carinho especial pelos filipenses.
Não podemos afirmar que essa era a principal razão de sua amizade com aqueles crentes, no entanto,
sem dúvida alguma, o fato dos seus discípulos cuidarem dele demonstrava o quanto eles o amavam.
Permitam-me fazer a seguinte observação:
Com frequência encontramos obreiros valorosos que entregaram suas vidas em prol de um povo em nome
do evangelho de Jesus Cristo e, quando chegam à velhice ou adquirem alguma enfermidade, ficam impe-
didos de continuar exercendo seu ministério e são esquecidos por aqueles a quem serviu quando estavam
em boas condições físicas. Muitos desses obreiros, muitas vezes, não recebem sequer uma ajuda financeira.
Quando penso nisso vejo que Paulo tinha razão de ter tanta identidade com os filipenses, afinal ele
fundou diversas igrejas, mas parece que essa igreja, em Filipos, se não a única, foi uma das poucas que
tiveram preocupação com seu pai na fé. Reconheço que o obreiro deve trabalhar movido pela vocação e
não pelo dinheiro, no entanto é obrigação da igreja cuidar de seu pastor ou missionário especialmente
quando ele não conseguir mais produzir para o rebanho. Queira Deus que todos os bons obreiros te-
nham um povo como os filipenses para cuidarem deles, principalmente quando estiverem impossibili-
tados de exercer o ministério entre eles. (Pr. José Hélio de Lima Mar/05)
Teologia

Podemos também destacar que Paulo, com esta epístola, não perdeu a oportunidade de contra-atacar
a tendência de cisma que havia entre eles (vide 2.2 e 4.2); de combater o movimento judaizante (vide
capítulo 3) e preparar os crentes de Filipos para uma visita, num futuro próximo, de Timóteo e, quem
sabe, até mesmo do apóstolo dos gentios.

7.1. Data
Cerca de 62/63 d.C.. Foi escrita durante a primeira prisão de Paulo em Roma

7.2. Tema
A alegria da vida e do serviço cristão, manifestada em todas as circunstâncias.

7.3. Propósito
Agradecer a igreja pela ajuda financeira enviada a Paulo por meio de Epafrodito

7.4. Esboço
1. A situação e o trabalho de Paulo em Roma (cap. 1)
2. Três exemplos de abnegação (cap. 2)
3. Admoestações contra o erro (Cap. 3)
4. Exortações finais (cap.4)

7.5. Sumário da Epístola aos Filipenses

7.5.1 Introdução: saudação (1.1,2)

7.5.2 Questões Pessoais (1.3-26)


a. A gratidão de Paulo, oração expressão de afeto pela igreja em Filipos (1.3-11)
b. Prédica de Paulo na Prisão, a possibilidade de soltura e prontidão em morrer (1.12-26)

7.5.3 Exortações (1.27-2.30)


a. A conduta digna (1.27-30)
b. A unidade através da humanidade, com exemplo do esvaziamento (kenosis) de Cristo, por uma
ação espontânea (2.1-18).

216
Epístoloas Paulinas

7.5.4 Envio de Timóteo e Epafrodito a Filipos (2.19-30)

7.5.5 Advertência Contra os Judaizantes, com Famosa Passagem Autobiográfica (3.1-21).

7.5.6 Exortações (4.1-9)


a. Unidade entre Evódia e Síntique (4.1-3)
b. Alegria e confiança (4.4-7)
c. Nobreza de pensamento (4.8,9)
7.5.7 Gratidão Pela Ajuda Financeira (4.10-20)
7.5.8 Conclusão: Saudações e bênção (4.21-23)

Recapitulação 7
1R8. Por que a carta aos Filipenses é considerada de cunho pessoal?





2R8. Qual a principal característica dos filipenses demonstrada no ministério de Paulo?







3R8. Qual era o movimento herético que ameaçava a igreja?







4R8. O que representa o kenosis de Cristo para a igreja e onde está escrito?





217
Teologia

5R8. Por que Paulo faz tanta questão de agradecer aos filipenses pelas ofertas enviadas?





218
8. Epístola aos Colossenses

Colossos era uma cidade que distava cerca de 20 quilômetros de Laodicéia e cerca de 160 quilômetros
a leste de Éfeso. Muitos judeus, gregos e habitantes da Frígia iam a Colossos pelo fato dessa cidade ficar
na rota principal do comércio e ligação entre o ocidente e oriente. A variedade de culturas transformara
a cidade num centro cultural interessante, em que todo tipo de novas ideias e doutrinas do oriente eram
discutidas e estudadas.
Apesar de ter escrito para os colossenses é muito provável que Paulo nunca tenha ido a Colossos e,
portanto, não foi ele quem fundou a igreja. É atribuído ao discípulo paulino Epafras, a evangelização
e fundação daquela comunidade, daí eles terem aprendido com ele sobre a graça de Deus (vide 1.6,7).
Epafras pode ter encontrado dificuldade no trato dos problemas ali encontrados quando foi visitar Paulo
na prisão e pediu sua ajuda; isso resultou na Epístola aos Colossenses.
Pelo fato de sofrerem todas essas influências impiedosas não é de admirar que os cristãos de Colossos
tivessem lugar especial no coração do apóstolo Paulo enquanto ele esteve preso em Roma. Talvez ele ja-
mais tenha visto os seus rostos, mas pertenciam ao mesmo Cristo de Paulo pelo que o apóstolo se sentia
unificado com aquele povo em espírito. É possível que o apóstolo Paulo estivesse fisicamente encarce-
rado, mas podia chegar aos colossenses mediante a palavra escrita. Era um meio a sua disposição para
proteger aquelas ovelhas contra os lobos dispostos a devorar o rebanho de Deus.
Por meio de Epafras, Paulo ficou sabendo que falsos mestres procuravam acrescentar à fé cristã uma
doutrina que era mistura de judaísmo com especulações filosóficas gregas e misticismo oriental que ficou
conhecido como a “heresia colossense”. Paulo iria tomar algumas expressões dos falsos mestres como
“conhecimento” e “plenitude”, fazendo-as voltar contra os hereges e assim, preenchê-las com conteúdo
ortodoxo. Seguem os principais ensinos heréticos combatidos por Paulo:
1. Destratava a pessoa de Cristo, razão pela qual o apóstolo frisa a preeminência de Cristo (vide 1.15
-19);
2. Dava ênfase à filosofia humana, isto é, especulações vazias, à parte da revelação divina (vide 2.8);
3. Continha elementos próprios do judaísmo, como a circuncisão (vide 2.11 e 3.11), as tradições
rabínicas (vide 2.28), regulamentos sobre alimentos e observância do sábado e de festividades
religiosas (vide 2.16);
4. Incluía a adoração aos anjos, como intermediários a fim de que Deus altíssimo (puro Espírito)
fosse conservado incontaminado em contato com o universo físico (vide 2.18) - característica
tipicamente pagã, pois apesar de terem os judeus desenvolvido uma hierarquia angelical, eles não
os adoravam nem consideravam má a natureza física do universo; e alardeavam um ar exclusivista
de segredo e superioridade contra o que Paulo ressaltou a natureza toda - inclusa e pública do
evangelho (vide 1.20,23,28 e 3.11).
Teologia

8.1. Data
Por volta do ano de 62 d.C. foi enviada pelo mesmo mensageiro que levou as epístolas aos Efésios e a
Filemon, Tíquico.

8.2. Tema
A preeminência de Cristo. Ele é o Primeiro na natureza, na Igreja, na Ressurreição, na Ascensão e na
Glorificação. Ele é o único Mediador, Salvador e Fonte de Vida.

8.3. Propósito
Refutar a heresia que ameaçava a igreja e firmá-la na doutrina de Cristo.

8.4. Esboço
1. Prefácio e Saudação (1.1-12)
2. Explicação: A verdadeira doutrina declarada (1.13 -2.3)
3. Refutação: Desmascarada a falsa doutrina (2.4-23)
4. Exortação: Conduta santa requerida (3.1- 4.6)
5. Conclusão e saudação (4.7-18)

8.5. Sumário da Epístola aos Colossenses

8.5.1 Introdução. (1.1-12)


a. Saudações (1.1,2)
b. Ações de graças (1.3-8)
c. Oração (1.9-12)

8.5.2 A preeminência de Cristo na Doutrina Cristã (1.13-2.23)


a. Sua Obra Criativa e Remidora (1.13-2.23).
b. Sua proclamação por Paulo (1.24-2.6).
c. Sua suficiência em contraste com a heresia colossenses (2.8-23).

8.5.3 A Preeminência de Cristo na Conduta Cristã (3.1- 4.6)


a. União com Cristo em Sua morte, Ressurreição e Exaltação (3.1- 4)

220
Epístoloas Paulinas

b. Aplicação do fato de nossa morte com Cristo em relação as ações pecaminosas (3.5-11).
c. Aplicação do fato de nossa ressurreição com Cristo em relação as ações retas (3.12-4.6).

8.5.4 Conclusão (4.7-18)


a. A chegada de Tíquico e Onésimo (4.7-9)
b. Saudações e instruções finais (4.10 -17)
c. Despedida e bênção (4.18)

Recapitulação 8
1R9. Quem foi o provável fundador da igreja de Colossos e qual era sua relação com apóstolo Paulo?
Mencione texto bíblico.





2R9. O que era a “heresia colossense” e como ela está caracterizada?







3R9. Explique a suficiência de Cristo encontrada em 2.8-23.







4R9. O que Paulo quis dizer em 3.5 -11 e qual a relação do assunto com as heresias ali combatidas por
ele?





221
9. Primeira Epístola aos Tessalonicenses

Tessalônica era capital da Macedônia, tinha o principal porto daquela província romana; fica na Via
Ignácia, a principal artéria que ligava Roma ao Oriente. Entre os duzentos mil habitantes da cidade,
havia ali uma grande comunidade judaica. Quando Paulo fundou a igreja em Tessalônica, na sua se-
gunda viagem missionária, seu frutífero ministério ali foi encerrado prematuramente devido à intensa
hostilidade judaica (At. 17.1-9).
Forçado a sair de Tessalônica, Paulo foi a Bereia, onde outro ministério breve, porém, bem-sucedido, foi
interrompido pela perseguição movida pelos judeus que o seguiram desde Tessalônica (At 17.10-13). A
seguir, viajou para Atenas (At 17.15 -34), onde Timóteo encontrou-se com ele depois. Paulo enviou Ti-
móteo de volta a Tessalônica para verificar as condições da nova igreja enquanto ele seguiu para Corinto
(At 18.1-17). Timóteo, ao completar sua tarefa, viajou para Corinto levando para Paulo informações
sobre a igreja dos tessalonicenses, e foi assim que Paulo redigiu sua primeira carta à igreja de Tessalônica,
entre três a seis meses depois de ter fundada a igreja.
As duas cartas escritas por Paulo à Tessalônica, o discurso de Jesus no Monte das Oliveiras e o Apocalipse
de João formam as três principais porções proféticas do Novo Testamento. Em primeira Epístola aos
Tessalonicenses, a nota escatológica está vinculada com o segundo desses dois temas importantes:
1. As congratulações aos crentes tessalonicenses, pela sua conversão e progresso na fé cristã. Mesmo
em meio à perseguição os tessalônicos permaneciam fieis, servindo de exemplos para os demais
cristãos da Macedônia e da Grécia.
2. Exortações tendentes a um maior progresso, com ênfase particular sobre o consolo derivado da
expectação acerca da parousia. Segue as exortações:
• Contra a conduta imoral (4.1-8)
• Acerca de um crescente amor mútuo (4.9,10)
• Acerca do consolo e de vigilância, em face da volta de Cristo (4.11 - 5.11)

9.1. Data
Provavelmente no ano 51 d.C. foi escrita em Corinto pouco depois de Paulo partir de Tessalônica.

9.2. Tema
A vinda do Senhor com relação ao ânimo, consolo, vigilância e santificação do crente.
Epístoloas Paulinas

9.3. Propósito
Exortar os cristãos a continuarem firmes e a crescerem num modo de vida que agrada a Deus.

9.4. Esboço
A vinda do Senhor é:
a. Uma esperança inspiradora para o recém-convertido (cap. 1);
b. Uma esperança animadora para o servo fiel (cap. 2);
c. Uma esperança purificadora para o crente (3.1-4.12);
d. Uma esperança consoladora para os enlutados (4.13-18);
e. Uma esperança despertadora para o cristão que dorme (cap. 5).

9.5. Sumário da Primeira Epístola aos Tessalonicenses


Introdução: Saudação (1.1)

9.5.1 Congratulações (1.2 - 3.13)


a. Ação de graças pela conversão exemplar dos crentes de Tessalônica (1.2-10)
b. Reminiscência de Paulo acerca de seus ministérios em Tessalônica (2.1-16)
c. Excelente relatório de Timóteo sobre o progresso dos crentes de Tessalônica (2.17 -3.10)
d. Oração em favor em favor dos crentes de Tessalônica (3.11-13)

9.5.2 Exortações (4.1 - 5.22)


a. Moralidade (4.1-18)
b. Amor mútuo (4.9-12)
c. Consolo ante a morte de irmãos na fé em face do fato de que participarão da parousia (4.13-18).
d. Prontidão na espera pelo Dia do Senhor (5.1-11)
e. Exortações miscelâneas (5.12-22)

9.5.3 Conclusão: Bênção e instruções finais (5.23-28)

223
Teologia

Recapitulação 9
1R10. Em Atos 17.1-9 encontramos a razão pela qual Paulo teve que deixar Tessalônica. Qual foi o
motivo?





2R10. Resuma as duas principais divisões de 1 Tessalonicenses?







3R10. Quais são as três principais porções do N.T. de conteúdo profético?







4R10. Pesquise e defina o que é “parousia”.







5R10. Qual o principal assunto tratado por Paulo em 1 Ts 5.1-11?







224
10. Segunda Epístola aos Tessalonicenses

É evidente que certas expressões da primeira carta de Paulo a esta igreja haviam sido mal interpretadas.
Quando se referiu à incerteza do dia da vinda de Cristo, suas palavras haviam sido entendidas como se
houvesse ensinado que o dia do Senhor estava perto. Esse mal entendido resultou numa desnecessária
comoção. Os convertidos estavam perturbados e alarmados. Tinham pontos de vista errados acerca da
proximidade da vinda do Senhor que acabou transformando suas vidas. A carta de Paulo foi escrita para
ajudar a esclarecer dúvidas que estava deixando-os confusos e preocupados.
As perseguições que os cristãos tessalônicos estavam vivendo com o conteúdo da primeira carta que
receberam de seu “pai” na fé, os levaram a viver um fanatismo escatológico, ou seja, estavam todos
aguardando para aqueles dias a volta de Jesus. A má compreensão da primeira carta de Paulo os levou
também ao fanatismo.
Portanto, o apóstolo escreve esta segunda carta para corrigir as suas ideias escatológicas, ao mesmo
tempo encorajando-os a uma perseverança contínua para o dia do retorno de Jesus. Apesar de Jesus não
ter voltado naqueles dias, conforme eles esperavam, Ele iria voltar tanto para os vivos quanto para os
mortos. Como a parousia não iria ocorrer por aqueles dias como eles imaginavam, então era importan-
te que os cristãos tessalônicos retornassem às suas atividades diárias e seus negócios que haviam sidos
abandonados por causa do suposto retorno imediato de Jesus. A ideia era: “Se Jesus está voltando não
preciso de mais nada desta vida”.
Deixe-me fazer a seguinte observação: Com o advento do movimento pentecostal moderno os crentes
passaram a pregar e “profetizar” com muita veemência o retorno imediato de Jesus; daí, encontrarmos
com frequência, principalmente entre os pentecostais, a ênfase da volta de Jesus.
Era comum ouvir que não precisávamos de bens ou estudos porque Jesus estava às portas. Alguns pseu-
do-estudiosos se atrevem a marcar a data da volta de Cristo. Não podemos nos esquecer de que foi assim
que surgiram heresias como a dos Adventistas que marcaram o dia do advento da volta de Jesus o que
acabou não acontecendo; e das Testemunhas de Jeová que cometeram erro semelhante; como o fato
acabou não acontecendo disseram que havia ocorrido um retorno “invisível nas nuvens”.
Aprendamos com o que Paulo escreveu aos tessalonicenses; afinal, Jesus vai voltar e Ele não vai revelar
o dia e nem a hora a nenhum (a) iluminado (a). Basta-nos o que diz a Bíblia, fora disso considere como
anátema (Gl 1.8,9).

10.1. Data
Ano 51 ou 52 d.C. Foi escrita pouco depois da primeira epístola de Paulo para a mesma igreja.
Teologia

10.2. Tema
A Segunda Vinda de Cristo.

10.3. Propósito
Corrigir a igreja quanto ao fanatismo originado da crença no retorno imediato do Senhor.

10.4. Esboço
Centraliza-se em redor da segunda vinda do Senhor com relação:
1. Os crentes perseguidos (1.1-7)
2. Os que não se arrependeram (1.8-12)
3. A apostasia (2.1-12)
4. Serviço (2.13-3.18)

10.5. Sumário da Segunda Epístola aos Tessalonicenses

10.5.1 Introdução - Saudação (1. 1,2)


a. A Perseguição (1.3 -12)
b. Ação de graças pelo progresso dos crentes de Tessalonicenses em meio a perseguição (1.3, 4)
c. Certeza do livramento da perseguição e do juízo divino contra os perseguidores, por ocasião da
parousia (1.5 -10)
d. Oração em favor dos crentes de Tessalônica (1.11,12)

10.5.2 A Parousia/Arrebatamento/Dia do Senhor (2.1-15)


a. Negação de que já havia chegado o Dia do Senhor (2.1,2)
b. Lista dos precedentes necessários (2.3 -15)
c. A rebelião (2.3a)
d. O homem da iniquidade (2.3b -15)
e. Sua reivindicação de divindade (2.3b-5)
f. A atual força restringidora de seu aparecimento (2.6,7)
g. Sua condenação (2.8)
h. Seus ludíbrios (2.9-12)

226
Epístoloas Paulinas

i. Os crentes de Tessalônica estavam isentos de tal ludíbrio e condenação (2.13-15)

10.5.3 Bênção (2.16,17)

10.5.4 Exortações (3.1-15)


a. Oração, amor e estabilidade (3.1-5)
b. Um trabalho industrioso (3.6-13)
c. Ostracismo disciplinador aplicado a membros desobedientes da igreja local (3.14,15)
d. Conclusão: Outra bênção e saudação final com ênfase sobre a escrita pelo próprio punho de Paulo,
nas últimas e poucas linhas da epístola. Como garantia de sua autenticidade (3.16-18).

Recapitulação 10
1R11. Qual o principal propósito da 2 Tessalonicenses?





2R11. Explique 2 Ts 1.5-10.







3R11. Se Jesus não iria voltar por aqueles dias como eles pensavam, então qual deveria ser a atitude
dos tessalônicos?





4R11. Quais foram os dois grupos religiosos da atualidade que tiveram em seu inicio o equívoco de
marcar a data do retorno de Jesus Cristo?





227
Teologia

5R11. Qual a preocupação demonstrada por Paulo em 2 Ts 2.1,2?







228
11. Primeira Epístola a Timóteo

São conhecidas como epístolas pastorais a primeira e segunda carta escrita a Timóteo e a Tito. São assim
chamadas por serem dirigidas a jovens pastores com o propósito de instruí-los na quanto à administra-
ção da igreja local.
A primeira epístola a Timóteo foi escrita depois de Paulo ter sido posto em liberdade, após a sua pri-
meira prisão. Tudo indica que Paulo foi preso por duas vezes em Roma, sendo que depois dos relatos da
primeira prisão (vide Atos 28) ele teria sido solto quando escreve a primeira carta a Timóteo e a Tito; e
teria voltado pela segunda vez a capital do império onde é condenado e martirizado.
No referido intervalo ele passou em Éfeso e deixou Timóteo como encarregado da igreja que estava em
perigo por causa de falsos ensinos (1 Tm 1.3). Da Macedônia escreveu a epístola para instruir a Timóteo
concernente aos seus deveres e também para animá-lo porque o jovem era de caráter sensível e retraído
e, portanto, inclinado a deixar de afirmar a sua autoridade.
Timóteo, seu colaborador fiel, estava pastoreando uma igreja de importância estratégica e poderia estar
precisando de uma mensagem escrita para expor perante as igrejas como lembrete sempre atual e nunca
ausente. Parece que Paulo, conhecendo bem Timóteo, sabia que ele não estava conseguindo resolver, ou
talvez sequer tenha detectado, um movimento herege que estava ameaçando a igreja, que já fora com-
batida antes com a epístola aos Colossenses; conforme se sabe teve origem em um judaísmo sincretista
da variedade gnóstica pré-cristã.
Outro aspecto do trato paulino é a organização da igreja e sua administração.
Encontramos nessa epístola, entre outras coisas, as qualificações necessárias para obreiros distinguidos
por função ou vocação, conforme segue:
• Bispo – do grego “epíscopos” - significa “supervisor”, “superintendente”, referindo-se ao ofício
preenchido por homens também chamados “anciãos” – do grego “presbuteroi”. Portanto, embora
“bispo” e “ancião” remetam-se a diferentes vocábulos gregos, são termos sinônimos.
• Diáconos, por sua vez, quer dizer “servo”, “ajudador”, aludindo aos assessores dos bispos, os quais cui-
davam das questões seculares da vida eclesiástica, particularmente a distribuição de caridades ou supri-
mentos de primeiras necessidades. É provável também o exercício realizado por mulheres (diaconisas)
ou pode ser uma alusão às esposas dos diáconos de quem se esperava que ajudassem seus maridos.

11.1. Data
Algo em torno do ano de 65 d.C. Foi escrita provavelmente na Macedônia, durante o intervalo entre as
duas prisões de Paulo.
Teologia

11.2. Tema
As qualidades e deveres do ministro cristão, a sua relação com a igreja, com o lar e com o mundo.

11.3. Propósitos
1. Advertir Timóteo contra os propagadores de doutrinas errôneas.
2. Dar instruções acerca da administração da igreja.

11.4. Esboço
1. A sã doutrina (cap. 1)
2. Oração pública (cap. 2)
3. Qualidades ministeriais (3.1-13)
4. Doutrina falsa (3.14-4.11)
5. Exortações finais (6.3-21)

11.5. Sumário da Primeira Epístola a Timóteo

11.5.1 Introdução: Saudação (1.1,2)

11.5.2 Aviso Contra a Heresia, Com Reminiscências Pessoais (1.3-20)

11.5.3 Organização da Igreja por Timóteo (2.1 - 3.13)


a. Orações públicas (2.1-8)
b. A modéstia e a subordinação das mulheres (2.9-15)
c. As qualificações dos bispos (3.1-7)
d. As qualificações dos diáconos (3.8-13)

11.5.4 Administração da Igreja por Timóteo (3.14 - 6.19)


a. Preservação da Igreja como baluarte da ortodoxia e contra a heterodoxia (3.14-4.16)
b. Como pastorear os membros da igreja (5.1 - 6.26)
• Homens e mulheres, jovens e velhos (5.1,2)
• Viúvas (5.3 -16)
• Anciãos, comum reparo acerca do próprio Timóteo (5.17-25)

230
Epístoloas Paulinas

• Escravos (6.1-2b)
• Como ensinar e exortar os crentes ao dever (6.2c-10)
• Como servir de exemplo (6.11-16)
• Como advertir aos ricos (6.17-19)

11.4.5 Conclusão: Incumbência final a Timóteo e bênção (6.20,21)

Recapitulação 11
1R12. O que é e quais são as epistolas pastorais?





2R12. Quem foi o pastor que Paulo deixou em Éfeso e por quê?





3R12. Qual a relação entre bispo e ancião?







4R12. Explique 1 Timóteo 3.1-7.







5R12. O que você entende a respeito do que Paulo está tratando em 6.11-16?





231
12. Segunda Epístola a Timóteo

Depois de ter deixado Tito em Creta, Paulo navegou rumo ao norte com a intenção de ir a Nicópolis
passando por Trôade e Macedônia (Tito 3.12). Trófimo, seu companheiro, adoeceu durante a viagem e
ficou em Mileto (2 Tm 4.20).
Navegando para Trôade, o apóstolo permaneceu na casa de um homem chamado Carpo. Naquele tempo
se levantou a perseguição contra os cristãos, instigada pelo imperador Nero, que os acusou de terem incen-
diado Roma. Paulo, o reconhecido chefe dos cristãos, foi preso, provavelmente em Trôade e a sua prisão
deve ter sido tão repentina, que algumas coisas que lhe pertenciam, ficaram na casa de Carpo (2 Tm 4.13).
Ao chegar a Roma, o apóstolo foi encarcerado, sendo esta a segunda vez na capital do império. Sabendo
que o seu martírio se aproximava, escreveu esta última carta a Timóteo, rogando a este que o visitasse.
Paulo necessitava muito do seu filho na fé porque os da Ásia, que deviam apoiá-lo, abandonaram-no.
Por causa da sua recente perseguição, a maioria dos cristãos temia mostrar-se seu amigo. Sabendo-se que
a timidez de Timóteo poderia fazer com que evitasse o risco da perseguição causada por uma eventual
visita a Roma, Paulo o aconselhou para que não temesse a perseguição, nem se envergonhasse dele, mas
que fosse valente em seu testemunho e que sofresse as dificuldades como fiel soldado de Jesus Cristo.
Admoestou-o também a respeito da sua atitude para com os falsos mestres e as suas doutrinas.

12.1. Data
Por volta do ano de 67 d.C. Foi escrita pouco antes do martírio de Paulo em Roma.

12.2. Tema
Lealdade ao Senhor e a verdade em vista da perseguição e da apostasia.

12.3. Propósitos
• Encorajar Timóteo a cumprir seu ministério
• Adverti-lo acerca da apostasia
• Pedir a Timóteo para que levasse alguns de seus pertences
Epístoloas Paulinas

12.4 Esboço
1. Introdução (1.1-5)
2. Exortações em vista dos sofrimentos e perseguições futuras (1.6-2.13)
3. Exortações em vista da apostasia atual (2.14-26)
4. Exortações em vista da apostasia futura (3.1- 4.8)
5. Conclusão (4.9-22)

12.5 Sumário da Epístola de 2 Timóteo

121.5.1 Introdução: Saudação (1.1,2)

12.5.2 Exortação à intensidade no ministério, em contraposição ao pendor a timidez que Timóteo re-
velava (1.3-2.7)

12.5.3 Exortação à ortodoxia, em contraposição a ensinos e práticas falsas (2.8- 4.8).

12.5.4 Conclusão (4.9-22)


a. Pedido sobre a vinda imediata de Timóteo (4.9-13)
b. Notícias sobre o julgamento de Paulo (4.14-18)
c. Saudações com outro apelo sobre a vinda de Timóteo e uma bênção (4.19-22).

Recapitulação 12

1R13. Podemos afirmar que 2 Timóteo foi a última carta escrita por Paulo? Justifique sua resposta.





2R13. Por que Paulo foi preso pela segunda vez em Roma?





233
Teologia

3R13. Por que a maioria dos cristãos abandonou Paulo na prisão?







4R13. O que Paulo trata em 2 Tm 2.14-26?







5R13. Sobre o que o apóstolo Paulo estava falando em 2 Tm 4.6-8?







234
13. Epístola a Tito

Na ordem de composição, a epístola a Tito segue a primeira carta a Timóteo. Depois de ter escrito esta
última, Paulo navegou com Tito para Creta onde o deixou a fim de pôr em ordem a igreja. Tito, um
gentio (Gl 2.3), provavelmente era um dos convertidos de Paulo (Tito 1.4). Esteve presente com o após-
tolo no Concílio em Jerusalém (At 15) onde apesar da insistência dos judaizantes, Paulo recusou que
ele fosse circuncidado (Gl 2.3). O apóstolo tinha grande confiança nele e, por isso, depositava em suas
mãos, grandes e importantes missões (2 Co 7.6; 13-16, 8.16-24).
Sabendo que o caráter indigno e imoral dos cretenses e a presença de mestres falsos tornariam difícil a
sua tarefa, Paulo escreveu a Tito uma carta para instruí-lo e animar em seus deveres. A epístola é curta
contendo apenas três capítulos, mas reúne num espaço limitado grande quantidade de instruções abran-
gendo doutrina, moral e disciplina.
O apóstolo, como fez em primeira de Timóteo, adverte no tocante aos falsos mestres e das orientações
acerca da conduta convenientes de várias classes de cristãos.
O livro tem como base doutrinária de tais instruções a graça de Deus, a qual confere salvação, conduz a
vida piedosa e oferece a “bendita esperança” da volta de Jesus Cristo (vide 2.11-14). A base experimental
destas instruções é a regeneração operada pelo Espírito Santo (vide 3.3-7).
Paulo, preocupado com as qualificações dos obreiros, vai orientar Tito quanto ao que ele considera
importante; perfil daqueles que exercerão o episcopado. Os bispos teriam que possuir algumas caracte-
rísticas, de ordem moral e social, indispensável para a nobre função (vide 1.5-9).
Era importante que o jovem pastor soubesse como tratar os falsos mestres, em especial por ele ser gentio,
e os hereges tivessem em seu meio, entre outros, alguns judeus que não se conformavam que o cristianis-
mo fosse uma religião independente do judaísmo e tivesse vida própria sem práticas da religião judaica
(vide 1.10-16)

13.1. Data
Cerca de 65/66 d.C. Foi escrita pouco depois da primeira carta a Timóteo, provavelmente em algum
ponto da Ásia Menor.

13.2. Tema
A organização de uma verdadeira Igreja de Cristo e um apelo à igreja para ser fiel ao Senhor Jesus Cristo.
Teologia

13.3. Propósitos
1. Instruir a Tito na organização da igreja
2. Advertir contra os falsos mestres
3. Encorajar Tito a cumprir o trabalho que Paulo deixou para ele realizar na Ilha de Creta.

13.4. Esboço
1. A ordem e doutrina da igreja (cap. 1)
2. A conduta da igreja (caps. 2, 3).

13.5. Sumário da Epístola a Tito

13.5.1 Introdução: Saudação (1.1-4)

13.5.2 Nomeação e Qualificação dos Bispos (1.5-9)

13.5.3 Supressão dos Falsos Mestres (1.10-16)

13.5.4 Ensinando a Boa Conduta (2.1 - 3.8 a)

13.5.5 Conclusão (3.8 b-15)


a. Sumário (3.8 b-11)
b. Solicitação a Tito para vir a Nicópolis, e outra instruções (3.12-14)
c. Saudações e bênção (3.15)

Recapitulação 13
1R14. Onde Tito estava quando recebeu a carta de Paulo?





2R14. Qual é a base doutrinária para as instruções que Tito recebe de Paulo?



236
Epístoloas Paulinas




3R14. Qual é o tema central da epístola de Paulo para Tito?







4R14. Explique o texto 1.5-9.







14R5. O que Paulo trata em Tito 2.1 - 3.8 ?







237
14. Epístola a Filemom

Não contém instrução alguma direta referente à doutrina ou conduta cristã. O seu valor principal en-
contra-se no quadro que nos oferece do funcionamento pratica da doutrina cristã na vida diária e da
relação do cristianismo com os problemas sociais. Trata-se de um exemplo, que não era comum em seus
dias de que o evangelho é também a solução para as crises sociológicas.
Apesar de a escravidão ser comum nos tempos apostólicos, em nenhum momento encontramos nele
uma forma justa nas relações social; o que está mais que provado, é que o homem tem direito a liberdade
do ir e vir, exceto se ele tiver cometido algum crime contra a sociedade.
Sua história trata de um escravo fugitivo chamado Onésimo. Mais afortunado do que alguns de seus
companheiros; tem por amo, um cristão, Filemon, convertido de Paulo. Por causas não mencionadas,
Onésimo fugiu da casa de Filemon. Foi a Roma onde se converteu sob a pregação de Paulo. Após sua
conversão ele é orientado pelo apóstolo a retornar a seu senhor e viver a magnitude de seu nome; “Oné-
simo” significa “Útil” (vide os versículos 10-12), agora, em Cristo, ele seria mais que servo de Filemon,
pois acabara de receber a habilidade de Jesus para ser “Onésimo” para outras pessoas.
Onésimo chegou a ser tão querido por Paulo, que este quis retê-lo para lhe ministrar na prisão. Entre-
tanto, o apóstolo teve que abrir mão desse privilégio. Embora Onésimo tenha se arrependido de seu
pecado, havia necessidade de restituição que somente poderia ser cumprido pelo regresso do escravo e
a sua submissão ao seu dono. Este dever implicava em sacrifício não somente de Paulo, mas em outra
ainda maior de Onésimo que, voltando ao seu amo, estaria exposto a severo castigo da crucificação;
punição geralmente aplicada aos escravos fugitivos.
O senso de justiça requeria de Paulo que devolvesse o escravo, mas a força do amor fê-lo intervir por ele e
salvar-lhe a vida. Escreveu uma carta gentil e delicada de súplica afetuosa identificando-se com Onésimo
pedindo que Filemon, que era “devedor de sua própria vida” a Paulo (vide versículo 19), não somente
o perdoasse como também o recebesse como “irmão” e se propôs a pagar pelos prejuízos causados pelo
seu novo filho na fé.

14.1. Data
Ano de 62 d.C. Foi enviada por Tíquico com as cartas aos Colossenses e Efésios.

14.2. Tema
O poder do Evangelho na solução dos problemas sociais.
Epístoloas Paulinas

14.3. Propósito
Convencer a Filemon para que recebesse a Onésimo de volta, não como escravo, mas como um irmão
em Cristo.

14.4. Esboço
1. Introdução: saudações (v. 1-3)
2. Elogio de Filemom (v. 4-7)
3. Intercessão por Onésimo (v. 8-21)
4. Conclusão: saudações (v.22-25)

Recapitulação 14
1R15. Paulo com sua carta à Filemon estava dando novos rumos às relações entre os cristãos e seus
escravos?





2R15. Qual é o centro da questão tratada na epístola a Filemon?







3R15. Qual é a relação entre os escravos dos tempos apostólicos com os empregados cristãos em em-
presas de cristãos? Como deve ser o relacionamento de ambos no campo profissional?





239
Teologia

Revisão geral de Epístolas Paulinas


Responda em uma folha separada e entregue para o professor, as seguintes questões.
1. Com que propósito Paulo escreveu suas epístolas?
2. Podemos afirmar que os muitos conhecimentos de Paulo foram úteis para o cristianismo? Por quê?
3. Relacione as três divisões da epístola aos romanos.
4. Qual é o remédio de Deus para o pecado segundo Paulo define aos Romanos?
5. Podemos afirmar que a nossa primeira carta escrita à igreja de Corinto, na verdade, é a segunda? Por quê?
Prove com texto bíblico.
6. Mencione os dois problemas que envolviam a igreja de Corinto quanto ao uso do véu nos cultos.
7. Qual foi o motivo que levou Paulo a fazer uma visita aos coríntios que ficou conhecida como “visita
dolorosa”?
8. Quais são os principais assuntos tratados em 2 Coríntios?
9. Quais são as duas perguntas importantes que são respondidas na Epístola aos Gálatas?
10. O que significa antinomismo? Qual o mal que ele pode causar a fé cristã?
11. Por que Efésios é considerada uma das epístolas da prisão?
12. Em Efésios 2.1-10 encontramos a razão pela qual o homem é regenerado. Que meio é este? Qual a con-
tribuição do homem nesse processo?
13. Por que a carta aos Filipenses é considerada de cunho pessoal?
14. O que representa o kenosis de Cristo para a igreja e onde está escrito?
15. Quem foi o provável fundador da igreja de Colossos e qual era sua relação com apóstolo Paulo? Men-
cione texto bíblico.
16. O que era a “heresia colossense” e como ela está caracterizada?
17. Em Atos 17.1-9 encontramos a razão pela qual Paulo teve que deixar a Tessalônica. Qual foi o motivo?
18. Resuma as duas principais divisões de 1 Tessalonicenses?
19. Qual o principal propósito da 2 Tessalonicenses?
20. Qual a preocupação demonstrada por Paulo em 2 Ts 2.1,2?
21. O que é e quais são as epístolas pastorais?
22. O que você entende que Paulo está tratando em 1 Tm 6.11-16?
23. Podemos afirmar que 2 Timóteo foi a última carta escrita por Paulo? Justifique sua resposta.
24. Do que o apóstolo Paulo estava falando em 2 Tm 4.6-8?
25. Qual é a base doutrinária para as instruções que Tito recebe de Paulo?
26. Qual é o tema central da epístola de Paulo para Tito?
27. Paulo, com sua carta a Filemon estava dando novos rumos às relações entre os cristãos e seus escravos?
28. Qual é o centro da questão tratada na epístola a Filemon?

240
Anexo

Teologia Paulina

A relevância das Cartas de Paulo


Conforme foi dito por James Dunn, Paulo foi o primeiro e o maior teólogo cristão. Com suas cartas
podemos ter plena confiança de que estamos em contato com a primeira geração do cristianismo e a
primeira formulação da teologia cristã. As cartas de Paulo podem ser classificadas em três períodos:
1. Suas viagens,
2. Sua prisão em Roma e
3. Suas cartas dirigidas especificamente aos pastores.

Em cada livro temos uma classificação mais detalhada:


• Romanos – O evangelho segundo Paulo, tratado teológico.
• 1 Coríntios – Problemas da igreja local.
• 2 Coríntios – Defesa do ministério de Paulo.
• Gálatas – A liberação pelo Evangelho.
• Efésios – O senhorio de Cristo na Igreja.
• Filipenses – Alegria do Cristão.
• Colossenses – Cristo como Senhor do universo.
• 1 Tessalonicenses – A segunda vinda de Cristo.
• 2 Tessalonicenses – Esclarecimento sobre a vinda de Cristo.
• 1 Timóteo – O cuidado Pastoral.
• 2 Timóteo – As últimas orientações pastorais.
• Filemom – Perdão e Fraternidade em Cristo.
Em todas as cartas paulinas encontramos vestígios da educação religiosa e secular do Apóstolo dos gen-
tios que foi instruído pelos melhores mestres de sua época, e um dedicado estudioso de seu tempo que
utilizou fontes históricas, filosóficas e sagradas. Portanto, pode-se afirmar que ele foi influenciado por
pensadores judeus, grego, romanos e fez uma nova leitura de seu mundo depois de ter um encontro
com Cristo.
Teologia

Durante seus estudos, Paulo teve acesso aos ensinos de Jesus por meio da tradição oral; era um perito no
Antigo Testamento e quanto a sua tarefa como mestre foi privilegiado com a presença do Espírito Santo
inspirando e iluminando sua vida.
Há quem diga que ele teve grandes evoluções durante sua caminhada modificando sua teologia. Por exem-
plo, a carta escrita aos Romanos é diferente de 1 Tessalonicenses, bem como Gálatas que utiliza um tom
áspero e mais ameno em Romanos. Isso se dá pelos anos de maturidade de Paulo, onde o apóstolo escreveu
diversas cartas durante 15 anos para diversos destinatários com contexto e necessidades diferentes.
Durante esses anos, Paulo desenvolveu sua dogmática crendo em:
• Universalidade - onde há um único desígnio e um único Deus;
• Providência - onde tudo ocorre por iniciativa e ação de Deus;
• Escatológica - onde Cristo é a marca divisora de dois tempos;
• A história é linear;
• Humanista - onde descreve a ação dos homens.
Portanto, suas cartas são relevantes porque revela Cristo e o ser humano, mostra a ação de Deus e o em-
penho de cada cristão, a providência divina e a liberdade humana, o reino de Cristo e o reino satânico.

A Cristologia de Paulo
É importante ressaltar que Paulo é o fundador da teologia cristã e suas temáticas têm provocado dis-
cussões entre vários teólogos de diversos períodos da história do cristianismo. Para alguns estudiosos da
teologia cristã, como J. Dunn, existem algumas características encontradas nos escritos paulinos e que
podem ser encontradas no seguinte esquema:

1. A vida histórica de Jesus em Paulo:


• Descendente de Abraão (Gl 3.16). Filho de Davi (Rm 1.3)
• Nasceu de mulher sob o regime da lei (Gl 4.4)
• Viveu e trabalhou no meio judaico (Rm 15.8)
• Em tudo é semelhante a nós (menos o pecado) (Rm 8.3)
• Instituiu a Ceia (1 Co 11.23-24)

2. A vida histórica de Jesus em Paulo:


• Foi transfigurado (2 Co 3.18) e ressurreto (1Co 15.5-8)
• Morreu numa cruz (1 Co 2.2)
• Tinha irmãos (1 Co 9.5; Gl 1.19)

3. O caráter de Jesus segundo Paulo:

242
Epístoloas Paulinas

• Era manso e benigno (2 Co 10.1)


• Era obediente (Rm 5.19; Fl 2.8)
• Era longânimo (2 Ts 3.5)
• Era a norma do ideal (1 Co 11.1; 13.4-7)
• Vivia uma vida de:
a. Pobreza – 2 Co 8.9
b. Sujeição – Fl 2.8
c. Obediência – Rm 5.19
d. Santidade – Rm 1.4

4. Quanto ao ensino de Jesus segundo Paulo:


• Palavra da Ceia – 1 Co 11.24-26
• Casamento – 1 Co 7.10-12
• A remuneração do trabalhador – 1 Tm 5.18 = Lc 10.7 = Mt 10.10
• Há termos e conceitos da escatologia de Jesus no ensino paulino.

5. Ecos da tradição de Jesus em Paulo:


• A concepção de Evangelho – Ex: Rm 1.16
• O ensinamento sobre o Reino de Deus – Ex: 1 Co 4.20; Rm 14.17; 1 Co 6.9-11; Gl 4.6-7; Ef
1.13-14. – Lucas nos informa que Paulo pregava o Reino de Deus: At 28.23,31.
• A companhia à mesa – Ex: Rm 14.14,17,20; Gl 2.12, 14-15.
• A adoção de Filhos/Oração – Ex: Rm 8.15-17; Gl 4.6-7.
Por fim, podemos entender que Paulo foi o maior especialista em Cristologia da historia da Igreja sendo
capaz de organizar seus pensamentos e ensinando a igreja de seu tempo a fazer uma defesa mais coerente
e consistente.

O tema central da pregação de Paulo


Para Paulo, os evangelhos escritos pelos discípulos relatam o Reino de Deus sobre a terra e o seu povo.
Ainda que haja uma unidade de pensamento, há também uma diversidade. Especialistas nos escritos de
Paulo concordam que o ensino do apóstolo acerca dos evangelhos é que ele proclama e explica o tempo
escatológico de salvação inaugurado com o advento de Cristo que consiste em sua morte e ressurreição.
Ou seja, Paulo concentra-se em suas cartas nos eventos da morte, ressurreição e exaltação de Cristo,
fazendo pouca menção dos seus ensinamentos, milagres e demais obras, o que o torna, não o fundador
do cristianismo, mas o maior expositor da obra redentora e regeneradora realizada pelo Senhor Jesus.
Paulo foi encarregado de expandir e levar avante a revelação de Deus, o que faz com que a sua mensagem

243
Teologia

esteja em uma relação de complementaridade e não de contradição com os demais escritos do NT. O
centro da pregação de Paulo é a consciência de que o tempo escatológico da salvação prometida no AT
foi inaugurado com a vinda de Cristo a este mundo. É a partir deste pensamento que ele desenvolve seu
ministério.

Tendências nos Estudos Paulinos


Para o estudante que deseja aprofundar seus estudos na teologia paulina, é fundamental conhecer as
principais linhas de interpretações e sua influência no cristianismo moderno; entre eles estão:

I. A Reforma de Paulo - Pregador da salvação somente pela fé


Martinho Lutero - século XVI. (e Calvino)
Pensamento de Paulo: Justificação pela fé.
Influência: Experiência pessoal de Lutero: Luta de consciência com as obras meritórias.

II. A Pós-Reforma Paulo - O homem do espírito e da ética


Pietismo - Luteranos na Alemanha. Philipp Spener - 1675: Reação à Contrarreforma, à teologia árida -
volta à Reforma: testemunho e evangelização - ênfase na experiência.
O centro deslocou-se do aspecto forênsico e legal (justificação) para aspectos mais pneumáticos e éticos
da pregação de Paulo.
Pensamento de Paulo: salvação individual e santificação

III. O Racionalismo
Ferdinand C. Baür - 1762 - 1860
Pressupostos: Hermenêutica Hengeliana
Hengel: Tese / Antítese / Síntese
Tese (Pedro e Tiago) cristianismo judaico
Antítese (Paulo) cristianismo gentílico
Síntese (Igreja Católica Séc. II) cristianismo universal
(Atos - não merece valor histórico)
Pensamento de Paulo: Espírito (antítese do finito e humano) - Reação ao cristianismo judaico.

Duas observações sobre sua tese:


1. Ele estava correto em destacar a importância da antítese espírito-carne no pensamento de Paulo;
esta antítese ocorre em praticamente todas as suas cartas, muito embora nem sempre com a mes-
ma nomenclatura. Por exemplo, carne-cruz, espírito-mundo, lei-espírito.
2. Infelizmente, ele conseguiu estabelecer firmemente nos círculos acadêmicos modernos a ideia de
que Paulo desenvolveu sua teologia em separado de Jesus e dos demais apóstolos.

244
Epístoloas Paulinas

A interpretação liberal Paulo - O moralista influenciado pelas religiões gregas


Background grego (religiões de mistério da Grécia)

Pensamento de Paulo: Espírito (em oposição à carne- “sensual”) - Aqui a questão é moral (ética) e não
forense!
A pregação de Paulo é ética - moralidade idealista e racionalista.
A comunhão com Cristo é mística e não objetiva. A salvação é uma união mística com o Cristo da fé.
Pressupostos: A história não tem valor. O que vale é o Cristo da fé.
Paulo tirou suas ideias das religiões de mistério, que eram populares na Grécia.
H. Holtzmann - 1832-1910 e W. Bousset - 1865-1920
Cristo: a-histórico
Reduz-se a religião de Paulo a uma religiosidade ético-racional independente dos atos redentores obje-
tivos de Deus.
Paulo foi influenciado pelo mito do redentor cósmico
William Wrede - 1859-1906 - desintegra as ideias de Holtzmann.
Mitte: A doutrina de Cristo e sua obra - redenção em escala cósmica.
Pressupostos: História da salvação - coluna vertebral do cristianismo paulino: A religião de Paulo = sua
teologia : está baseada nos acontecimentos (históricos e não subjetivos) redentores como a encarnação,
a morte e a ressurreição de Cristo.
Ruldof Bultmann - 1884 - 1976
Pressupostos: a matriz da Cristologia de Paulo não são as religiões gregas de mistério que adoram uma
divindade que morre e revive, mas o drama gnóstico, mitológico e cósmico.
Hermenêutica: Filosofia existencialista de Martin Heidegger - 1879-1976.
Background - grego: a figura do redentor gnóstico, o que Reitzenstein havia chamado do mistério da
redenção, baseado na mitologia da antiga Pérsia.
Pensamento de Paulo da sua pregação: oposição entre carne e espírito. Uma volta a Baur.
Paulo foi influenciado pelo Gnosticismo de sua época.
Pensamento de Paulo: A fonte da Cristologia de Paulo não está baseada no que ele herdou da tradição
acerca de Jesus, senão no que contemplou e viveu como gnóstico.
O conceito de que a alma vive aprisionada pela matéria, mas que ascende e retorna a Deus através da
gnose;
O mito do anthropos (“homem”, em grego). Segundo este mito, o salvador era uma representação do
homem original em quem o pneuma divino encontra expressão máxima.
O espírito é totalmente bom e a matéria totalmente má.

245
Teologia

A interpretação escatológica Paulo.


Albert Schweizer (1875 - 1965) é o estudioso mais conhecido dessa linha de interpretação.
Pensamento de Paulo: escatológico: um  misticismo crístico (Christ-mysticism), ou seja, o envolvimento
da igreja na morte e na ressurreição de Cristo, estar com Cristo e em Cristo. Com a morte de Cristo o
escaton se faz presente.

Background a escatologia judaica.


Ele criticou severamente os estudiosos liberais e da escola da história das religiões por não haverem des-
tacado o elemento escatológico na pregação de Paulo.
Não há uma segunda vinda. Ele nega a realidade histórica da ressurreição e considera que tanto Jesus,
quanto Paulo estavam enganados quanto às suas expectativas da vinda do Reino de Deus.
Contrassenso?! Foi ser missionário na África!
A Origem Judaica do Pensamento de Paulo - Paulo, o Judeu helenista.
Para o estudioso judeu-alemão H. J. Schoeps, Paulo tem que ser entendido como um judeu da Dispersão
(helenista), e que seu estilo e tipo devem ser claramente distinguidos daquele do judaísmo da Palestina.
A personalidade corporativa no pensamento de Paulo tem claramente um background no VT, e serve
como base para a doutrina do “em Cristo” - Um exemplo em português é o livro do Dr. Russell Shedd,
A Solidariedade da Raça.
No geral, estudiosos têm reconhecido que o ponto de partida do pensamento de Paulo é o aspecto
escatológico, histórico-redentivo de sua pregação. Apesar de ter errado em muitas coisas, Schweitzer
conseguiu perceber isso. O mesmo ocorreu com C. H. Dodd. Mesmo Bultmann reconhece que o ponto
de partida está na interpretação escatológica que Paulo faz da morte e da ressurreição de Cristo.
Podemos notar alguns pontos interessantes para nós:
Os pressupostos realmente acabam por influenciar o estudo da Bíblia.
Como é importante determinamos a matriz do pensamento de Paulo para podermos acessar correta-
mente o cerne do seu pensamento! Nossa disciplina parte do pressuposto de que esta matriz é o judaís-
mo do século I.
A questão a ser feita é por que algumas pessoas que não creem na Bíblia, se dedicam a estudá-la.
Espero que o estudante deseje conhecer os pensamentos do maior teólogo de todos os tempos, conside-
rando cada carta dentro de seu contexto e necessidade e unificando seus princípios quanto à cristologia,
escatologia e antropologia

Bibliografia
1. Através da Bíblia Livro Por Livro - Myer Pearlman
2. A Bíblia de Estudo Indutivo
3. A Bíblia de Estudo Pentecostal

246
Epístoloas Paulinas

4. Dicionário Bíblico Universal - Buckland


5. Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo
6. Panorama do Novo Testamento - Robert H. Gundry, Ph. D.
7. Teologia Paulina
8. Texto de autoria desconhecida, adaptado por José Hélio de Lima.

247
Cristologia:
A doutrina de
Cristo

Autoria
Fabiano Gomes, Teólogo pelo Seminário Presbiteriano do Brasil. Graduando Filosofia pela
Universidade Presbiteriana Mackenzie. Especializado em Psicologia Pastoral pela Faculdade
Cristã de São Paulo, Mestrando Antropologia pelo Centro de Pós-graduação Presbiteriano
Andrew Jumper. Professor, Escritor e Conferencista. Diretor fundador do Diaconia Integral.
Sumário

Introdução 253

1. A Importância de estudar a doutrina de Cristo 255

2. A pessoa de Cristo: Sua humanidade 256


2.1. A importância da humanidade de Cristo 256
2.2. A natureza física e humana de Jesus 256
2.3 Heresias primitivas que contestam a humanidade de Jesus 258
2.4. O nascimento virginal de Cristo 259
2.5. A impecabilidade de Cristo 260
2.6. As implicações teológicas da humanidade de Cristo 260

3. A Pessoa de Cristo: Sua Divindade 261


3.1. A autoconsciência de Jesus 261
3.2. O testemunho dos escritores do Novo Testamento 262
3.3. Os nomes divinos atribuídos a Jesus 262
3.4. Heresias Que Procuram Negar a Divindade de Cristo 265
3.5. Implicações da Divindade de Cristo 266

4. A Pessoa de Cristo: Sua Unidade 267


4.1. A importância da questão 267
4.2. Desvios históricos de interpretação 267
4.3. O significado do autoesvaziamento de Cristo 268
4.4. Princípios básicos da doutrina da União Hipostática 268
4.5 As seis heresias básicas acerca da pessoa de Cristo 269

5. A Obra de Cristo: Seu Sofrimento e Morte 271


5.1. Importância 271
5.2. Tipos e predições da morte de Cristo no V.T. 271
5.3. A natureza da morte de Cristo 272
5.4. Alcance e abrangência da morte de Cristo 272
5.5. Resultados da morte de Cristo 272

6. A obra de Cristo: Significados teológicos da morte de Cristo 275


6.1. O contexto e a necessidade da expiação 275
6.2. Os conceitos básicos da expiação 275
6.3. Teorias diversas sobre a expiação 277

7. A Obra de Cristo: Sua Ressurreição e Ascensão 280


7.1. A importância da Ressurreição e sua relação com o Antigo e Novo Testamento. 280
7.2. Evidências Neotestamentárias da Ressurreição de Cristo 280
7.3. Os resultados da Ressurreição de Cristo 281
7.4. A natureza do corpo Ressurreto 281
7.5. A Ascensão e Exaltação de Cristo 282

8. A Obra de Cristo: Seu ministério atual 283

9. A Segunda Vinda de Cristo e a implantação de seu Reinado Eterno 284


9.1 Circunstâncias da Segunda Vinda de Cristo 284
9.2 Finalidades da Segunda Vinda de Cristo 284
9.3 Significados presentes da Segunda Vinda de Cristo 285

Revisão geral  286

Bibliografia  289
Introdução

U
ma das especialidades da Teologia Sistemática é o estudo da Santa Trindade e, nesta edição,
estudaremos de maneira bem sucinta a doutrina da segunda pessoa da Trindade, Jesus Cristo.
O que você não vai encontrar neste estudo?
Com certeza você não encontrará nenhum tratado sobre o assunto, muito menos definições profundas
sobre o mesmo. Entendemos que em um campo tão vasto com tantos tratados milenares e volumosos,
não temos nenhuma pretensão, tão pouco espaço e tempo, para expormos os amplos assuntos pertinen-
tes à Santa Pessoa de Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. Somos meros mortais e limitados tentando
estudar o Eterno e Onipotente Filho de Deus. Com certeza estamos diante de um grande paradoxo.
A que nos propomos?
Temos o compromisso de apresentarmos nestas modestas páginas, de maneira simples e objetiva, a base
que dá sustentação à nossa fé, assim como os principais ataques que ela sofreu, principalmente nos pri-
meiros séculos. Acreditamos ser o mínimo necessário para lermos, entendermos, pregarmos e ensinar-
mos acerca da doutrina de Cristo.
1. A Importância de estudar a doutrina de Cristo

O estudo da doutrina de Cristo implica em conhecer, mais do que um fundador de uma grande religião,
Jesus, o Messias que Israel rejeitou; a Raiz de Davi, a Luz que brilhou nas trevas do mundo gentio, Sua
divindade, humanidade, esvaziamento, morte e ressurreição.
Jesus Cristo é a figura central da história do mundo. Os impactos da pessoa de Cristo na história e cultu-
ras humanas promoveram: um divisor de datas na história do ocidente, uma civilização assim chamada
“cristã”, guerras e conflitos em “nome de Cristo”, valores “cristãos” e a cruz como um símbolo universal
de morte, etc.
Jesus Cristo deve ser a figura central na vida de todo indivíduo. Os impactos da pessoa de Cristo na
vida dos crentes podem ser vistos no aspecto interior: salvação, perdão, regeneração, justificação, novos
valores, etc. e no aspecto exterior: mudança de atitudes.
Não existe cristianismo sem Cristo. Não é uma religião, mas um modo de vida cuja proposta básica é:
“Cristo em vós, esperança da glória” (Cl 1.27). A maior diferença entre um cristão nominal e um cristão
autêntico é que, para este, Jesus é uma realidade existencial. O cristianismo não é medido pelo seu efeito
coletivo, mas pela presença de Jesus na vida do indivíduo.
Não existe comparação entre Jesus Cristo e os fundadores das outras grandes religiões. Confúcio, Buda
e Maomé, todos morreram propondo ao homem um caminho para encontrarem a verdade ou para se
tornarem em divindade, mas só Jesus podia afirmar: “eu sou o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14.6).
Somente Jesus arroga-se o título de “Deus” (Jo 10.30).
A base do cristianismo é a Palavra de Deus (Lc 24.27 é o primeiro ato de proclamação e apresentação
de Jesus com base na Palavra), onde Jesus é o tema central da mensagem transmitida pelos e para os
homens:
1. Pelos profetas (At 10.43, 3.21).
2. Pelos apóstolos (At 5.42)
3. Para os judeus (At 17.1-3)
4. Para os samaritanos (At 8.5)
5. Para os gentios (Gl 1.15-16, Ef 3.8).
6. Para o homem de hoje (Mc 16.15, 1 Co 15.1-4).
2. A pessoa de Cristo: Sua humanidade

2.1. A importância da humanidade de Cristo


Teologicamente existe menos controvérsia em relação à humanidade de Jesus que em relação a sua di-
vindade, mas este tópico é igualmente importante pelos seguintes motivos:
a. Se Jesus não fosse um de nós, humano, n’Ele não poderia haver salvação. A validade e a aplica-
bilidade da obra realizada na cruz dependem da realidade da sua humanidade, assim como a sua
eficácia depende da genuinidade da sua divindade.
b. Se Jesus não fosse um de nós, não poderia realizar o tipo de intercessão que o sacerdote deve fazer
em favor dos que representa (Hb 2.17).
c. Se Jesus foi um de nós e, tentado como nós, então pode nos compreender e nos ajudar em nossas
lutas como homem (Hb 2.18, 4.15-16).

2.2. A natureza física e humana de Jesus


A Bíblia dá várias indicações de que Jesus era uma pessoa completamente humana (corpo, mente e
espírito).

2.2.1 No aspecto físico


1. Gestação e Nascimento (Lc 2.4-7; Gl 4.4). Embora sua concepção fosse singular, daquele ponto
em diante o processo foi aparentemente o mesmo experimentado por qualquer ser humano.
2. Crescimento (Lc 2.52). Ele teve infância e adolescência como qualquer outra criança e adolescen-
te de seus dias.
3. Ascendência humana (Mt 1.1; At 13.22-23; Rm 1.3). Jesus possuía uma genealogia humana e
teria herdado as características genéticas de seus antecessores; tanto José como Maria eram da
linhagem de Davi; a genealogia de Mateus é baseada em José (1.1-17) e a de Lucas possivelmente
em Maria (3.23-38).
4. Aparência pessoal (Jo 4.9, 20.15); Jesus tinha a aparência de um homem de sua época, não trans-
mitindo sobrenaturalidade em seu aspecto físico.
5. Limitações físicas:
• Fadiga (João 4:6)
Cristologia: A doutrina de Cristo

• Fome (Mt 4.2, 21.18)


• Sede (Jo 4.7, 19.28)
• Sono (Mt 8.24)
• Dor (Mc 15.15-19)

Recapitulação 1
1R1. O cristianismo não é pelo seu efeito coletivo, mas pela
de Jesus na vida do indivíduo.

2R1. Qual a diferença entre Jesus e os fundadores de outras grandes religiões?







3R2. Se Jesus não fosse um de , portanto humano, Ele não re-


alizar o tipo de intercessão que o deve fazer em dos
que representa.

4R2. Quais são as provas bíblicas de que Jesus tinha limitações físicas e quais foram elas?





6. Nomes humanos:
• Filho do homem (Lc 19.10): identificação plena com a raça humana.
• Nazareno (Mt 2.23): identificação com uma localidade.
• Profeta (Mt 21.11): identificação com homens santos do passado de Israel.
• Carpinteiro (Mc 6.3): identificação com uma ocupação humana.
7. A ênfase da encarnação (Jo 1.14, 1 Jo 4.2-3): a negação da humanidade de Jesus é um dos sinais
do espírito do anticristo.
8. O testemunho dos discípulos (1 João 1.1): enfatizando a realidade da manifestação física de
Cristo.

257
Teologia

2.2.2 No aspecto psicológico


Algumas dessas características não provam, por si, que Jesus era humano, pois várias delas são atributos
do próprio Deus.
1. Amor (Jo 13.23)
2. Compaixão (Mt 9.36, 15.32)
3. Sofrimento, tristeza (Mt 26.37; Lc 22.44; Jo 11.33-35).
4. Alegria (Lc 10.21)
5. Ira, indignação (Mt 21.12-13; Mc 3.5, 10.14).
6. Surpresa e admiração (Lc 7.9, Mc 6.6).
7. Solidão e abandono (Mc 14.32-34, 15.34).
8. Capacidade cognitiva (Lc 2.52, Mc 13.28, Mt 23.37; Mc 9.21; Jo 4.17-18; Jo 11.13-14; Mc
13.32).

2.2.3 No aspecto espiritual


Como homem, Jesus limitou-se aos meios e métodos pelos quais o poder divino é obtido e experimen-
tado pelo homem.
1. Dependência da oração (Mc 1.35, Lc 6.12-13, ao todo, 25 registros).
2. Jejum (Mt 4.2)
3. Tentação (Mt 4.1; Hb 4.15).
4. Unção do Espírito (At 10.38)
5. Participação nos cultos (Lc 4.16)

2.3 Heresias primitivas que contestam a humanidade de


Jesus
Cedo na vida da igreja surgiram pensamentos que procuravam negar a humanidade de Cristo.
Entre eles destacamos:
1. Docetismo (“dokeo” – “parecer”). A divindade nunca poderia tornar-se realmente material, já
que a matéria é inerentemente má, ao passo que Deus é puro (a carta de 1 João foi escrita basica-
mente para combater o docetismo -1Jo 1.1-2, 4.1-3).
2. Apolinarismo (Apolinário, bispo sírio do século IV). Afirmava que Jesus era humano somente
fisicamente, mas sua alma era divina (uma leitura limitada de Jo 1.14, propondo que apenas o
“verbo” é que se encarnara o restante era divino; uma maneira de acomodar o problema da natu-
reza dual de Jesus).

258
Cristologia: A doutrina de Cristo

2.4. O nascimento virginal de Cristo


Doutrina muito debatida entre o final do século XIX e início do XX pelos fundamentalistas e modernistas.
1. Fundamentalistas a defendiam; consideravam uma crença essencial, baseada nos poucos relatos
bíblicos existentes (Mt 1.18-25; Lc 1.26-38; Is 7.14).
2. Modernistas a rejeitavam; consideravam não ser essencial ou reinterpretavam de modo não literal
com base nos seguintes argumentos:
• O silêncio de Jesus sobre o assunto (Jesus fez silêncio sobre outras coisas também).
• O silêncio de Marcos, João e Paulo (o propósito desses escritores bíblicos não era narrar as cir-
cunstâncias do nascimento de Jesus).

Recapitulação 2
5R2. O testemunho dos (1 João 1:1); enfatizando a da manifesta-
ção de Cristo.

6R2. Mencione cinco sentimentos ou aspecto psicológico demonstrado por Jesus que apontam para
sua humanidade.





7R2. Qual livro do NT foi escrito para combater o Docetismo?







8R2. Qual a argumentação dos modernistas para negar o nascimento virginal de Cristo?





O duplo milagre da concepção virginal: Deus provê tanto o componente humano como a encarnação.
A relação entre a concepção virginal e a encarnação é a impecabilidade de Cristo. Alguns teólogos ar-
gumentam que o nascimento virginal não era indispensável para a sua encarnação (criação direta, sem

259
Teologia

a necessidade dos pais) e impecabilidade (porque o Espírito Santo santificaria qualquer influência peca-
minosa transmitida pelo macho somente ou pela mulher).

Principais significados teológicos da doutrina do nascimento virginal:


1. Afirmação da natureza sobrenatural da salvação, sem qualquer intervenção humana.
2. A salvação não depende de qualquer qualificação humana (a origem humilde de Maria).
3. Prova da singularidade de Jesus.
4. Evidência do poder e soberania de Deus sobre a natureza.

2.5. A impecabilidade de Cristo


1. O testemunho dos apóstolos: Jo 6.69; Hb 4.15, 7.26, 9.14; 1 Pe 2.22; 1Jo 3.5; 2 Co 5.21.
2. O testemunho do próprio Cristo: Jo 8.46.
3. O testemunho dos incrédulos: Mt 27.4, 19; Lc 23.41.
4. Jesus teria sido passível de pecar? Sua tentação foi genuína ou somente uma farsa? As tentações de
Cristo foram reais, embora fossem insuficientes para vencê-lo. A natureza divina torna a pecabi-
lidade impossível. O pecado não faz parte da natureza humana básica, mas sim da corrompida.
Adão e Eva antes da queda, e Jesus, foram os únicos seres humanos puros.

2.6. As implicações teológicas da humanidade de Cristo


1. A morte expiatória de Jesus tem valor para nós, pois foi um ato sacerdotal.
2. Pelo fato de ter experimentado a nossa natureza, Jesus intercede por nós e nos ajuda em nossas
fraquezas.
3. Em Cristo vemos representada a verdadeira humanidade. Não podemos medir a humanidade de
Cristo pela nossa, mas sim a nossa pela de Jesus.
4. Pela dependência da graça de Deus é possível para o homem viver de acordo com o padrão divino.

Recapitulação 3
9R2. A natureza torna a pecabilidade . O pecado não faz parte da
humana básica, mas sim da . Adão e Eva antes da queda e foram os
únicos seres humanos puros.

10R2. Em Cristo vemos a verdadeira humanidade. Não medir a huma-


nidade de pela nossa, mas sim a pela de Jesus.

260
3. A Pessoa de Cristo: Sua Divindade

3.1. A autoconsciência de Jesus


A divindade de Cristo é um dos tópicos doutrinários mais cruciais da nossa fé. Jesus se considerava igual
ao Pai e possuidor de fazer coisas que apenas Deus tem o direito de fazer.
Embora a maioria das referências que Jesus fez sobre sua divindade não fosse explícita e aberta, tanto
seus discípulos como seus opositores a interpretaram corretamente. Jesus nunca disse literalmente: “Sou
Deus”, mas suas alegações seriam impróprias se feitas por alguém menos do que Deus.
Algumas referências:
1. A menção sobre os anjos e o reino (Mt 13.41, Jo 18.36).
2. A prerrogativa de perdoar pecados (Mc 2.5 -7).
3. A prerrogativa de julgar a terra (Mt 25.31-32).
4. A prerrogativa de redefinir o valor do sábado (Mc 2.27-28). Além de combater uma interpretação
legalista da lei, Jesus aponta para o verdadeiro significado do sábado.
5. A prerrogativa de estabelecer um ensino com a mesma autoridade das Escrituras (Mt 5.21-22,
27-28).
6. Sua declaração e demonstração de poder sobre a morte (Jo 5.21, 11.25).
7. Sua declaração de preexistência (Jo 8.58-59). O uso da fórmula “Eu Sou” (Ex 3.14), verbo que
exprime a ideia de passado, presente e futuro ao mesmo tempo, indicando a natureza eterna e
imutável de Deus.
8. Sua identificação com o Pai (Jo 10.30, 14.7-9).
9. Sua autodenominação de Filho de Deus (Mt 16.15-16, 26.63-65; Jo 5.18, 19.7). Este nome é
dado a Jesus 40 vezes na Bíblia, além de outras referências indiretas como “meu filho” e “seu filho”.
Uso de figuras de linguagem que atestam sua divindade: “Eu Sou...”
1. O pão da vida (Jo 6.35)
2. A luz do mundo (Jo 8.12)
3. A porta das ovelhas (Jo 10.7)
4. O bom pastor (João 10.11)
5. A videira verdadeira (Jo 15.1)
Teologia

6. A ressurreição e a vida (Jo 11.25)


7. O caminho, a verdade e a vida (Jo 14.6)

3.2. O testemunho dos escritores do Novo Testamento


1. João (Jo 1.1).
2. Hebreus (1:1-3).
3. Paulo (1 Co 1.15, 2.9; Fp 2.5 -11; 2 Co 5.10; 2 Tm 4.1).

3.3. Os nomes divinos atribuídos a Jesus

3.3.1 O Verbo (logos, Jo 1.1,14).


Existem alguns conceitos quanto a um criador do universo que o fez a partir da Palavra ou Verbo, veja-
mos alguns deles:
1. O princípio cósmico eterno que traz ordem ao universo (Heráclito séc. 6 a.C.).
2. Este mesmo princípio cósmico permeia todas as coisas e provê o padrão de conduta para o homem
racional (filósofos estóicos).
3. Emanação divina que intermediou a criação do universo (Filo 20 a.C. – 42 d.C.).
4. A Palavra de Deus como poder criador e mantenedor de todas as coisas (equivalente ao conceito
helenista de logos).
5. A Sabedoria como personificação do poder de Deus (Pv 8.22-31, conceito paralelo ao de logos e
Palavra de Deus).
6. O conceito joanino.
Para o apóstolo João, Jesus é o Logos criador que se fez carne (tornou-se homem) e como ser possui
algumas características como:
• Personalidade
• Preexistência (Gn 1.1; Jo 1.1, 8.58, 17.5).
• Divindade (Jo 1.1). A ausência do artigo definido antes da palavra “Deus” denota a similaridade
de essência, porém preservando a distinção de personalidade.
• Agente criador (Jo 1.3)
• Encarnação (Jo 1.14); literalmente – “tabernaculou”.
• Revelador (Jo 1.4, 14, 18): vida, luz, graça, verdade, glória, o Pai.

262
Cristologia: A doutrina de Cristo

3.3.2 O Messias (“Christos” = o ungido - Jo 1.41)

1. Alguém ungido para realizar uma missão que envolve redenção, julgamento e representatividade
do próprio Deus (Is 45.1-7).
2. Expectativa escatológica (Dn 9.25-26).
3. Expectativa política (Is 9.1-7; Jo 6.15, 12.13, 18.33-36; Mt 16.20).
4. O objetivo dos evangelhos foi apresentar Jesus como o Messias (esse termo era usado como um
título no N.T. exceto em Jo 1.17, 17.3).
5. A ênfase da igreja primitiva: Jesus é Senhor (At 11.20; Rm 10.9).
6. Quando o evangelho penetra no mundo helênico, “Christos” passa a ser usado como nome pró-
prio, sem as conotações religiosas do V.T., e não como título (observar a mudança em At 2.36,
17.1-3, 18.5, At 28.31; Rm 1.1; Cl 2.2; 1 Jo 1.3).

Recapitulação 4
1R3. Jesus nunca disse “Sou Deus”, mas suas seriam impróprias
se por alguém menos do que .

2R3. O que exprime o uso da fórmula “Eu sou” dita por Jesus?





3R3. Mencione cinco figuras de linguagem usadas por Jesus que atestam sua divindade em que Ele usa
o “Eu Sou...”.





4R3. Explique o que significa ser Jesus chamado de Verbo ou Logos.







263
Teologia

5R3. O que representa ser o Messias no conceito do VT?







3.3.3 O Senhor (kyrios)


1. O grego kyrios é a transliteração do tetragrama hebraico Yhwh (Javé ou Jeová); isto indica que
Jesus é o próprio Deus no exercício de domínio de todas as coisas.
2. A designação mais frequente de Jesus nas cartas de Paulo e na igreja gentílica.
3. O cerne da mensagem de Paulo (2 Co 4.5; 1 Co 12.3).
4. A relação entre confessar e viver o senhorio de Cristo (1 Co 1.2; Rm 10.13).

3.3.4 O Filho do Homem


1. Expressão atribuída por Jesus a si próprio, nunca pelos discípulos (Mt 8.20; Mc 2.10; Lc 9.22).
2. Uso da expressão nos evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos, Lucas) aplica-se a três situações na
vida de Jesus: ministério terreno, humilhação e morte, vinda gloriosa no futuro para inaugurar o
reino de Deus.
3. Os judeus aparentemente desconheciam o significado deste nome aplicado a um ser humano (Jo
9.35-36, 12.23, 34); provavelmente não havia conotação messiânica neste nome, mas sim uma
alusão à própria divindade (Dn 7.13-14).
4. Significado: proclamação do caráter messiânico de Jesus e uma plena identificação com a huma-
nidade culpada.

3.3.5 O Filho de Deus


1. Nos evangelhos sinóticos Jesus refere-se poucas vezes a Deus como Pai, aproximadamente 35 ve-
zes contra 106 em João. O propósito claro de João é tornar explícito o que os outros evangelistas
deixam implícito; esta afirmação aparece em João desde o início (Jo 1.14, 32-34, 49), ao passo
que nos sinóticos os discípulos aprendem este conceito somente a partir da metade do ministério
de Jesus (Mt 16.13-16).
2. João também destaca Jesus como o único Filho de Deus (Jo 1.18, 3.16,18). O significado desta
ênfase é distinguir a natureza de relacionamento que Jesus tinha com o Pai da natureza, dos rela-
cionamentos com outros filhos de Deus (Jo 20.17).
3. Características desse relacionamento especial:
• Amor (Jo 5.20, 10.17, 17.24)
• Obras (Jo 5.17, 19, 10.32, 14.10)
• Palavras (Jo 8.26, 28, 40, 14.24)

264
Cristologia: A doutrina de Cristo

• Conhecimento mútuo (Jo 6.46, 10.15, 17.25).


• Domínio e honra (Jo 3.35, 5.23).
4. A Missão do Filho:
• Tornar os homens participantes da vida divina (Jo 3.36; 5.21, 26; 6.40; 10.10).
• Dar a Sua vida pelos pecados do mundo (Jo 1.29; 10.11; 17-18, Mc 10.45).
• Exercer juízo (Jo 5.22)

3.4. Heresias Que Procuram Negar a Divindade de Cristo

3.4.1 Ebionismo (séc. II a V)


Principais pressupostos:
1. Jesus era um homem comum que possuía dons incomuns, mas não era divino.
2. Rejeição do nascimento virginal. O Cristo encarnou-se em Jesus somente por ocasião do batismo
e afastou-se dele no final de sua vida. Esta doutrina pretendia resolver a questão da divindade de
Jesus e a concepção monoteísta de Deus.

3.4.2 Arianismo (séc. III e IV).


Jesus era um ser criado, apesar de ser o mais elevado dos seres, portanto, não era divino e não tinha
existência própria. Somente Deus, o Pai, é eterno e a origem de todas as coisas. Baseava-se em textos bí-
blicos que sugeriam inferioridade ou imperfeição de Jesus em relação ao Pai (Jo 14.28, Mc 13.32). Ário
(256 - 336), bispo de Alexandria, foi o autor desta heresia que causou muita polêmica nos primeiros
séculos da era cristã.
O arianismo foi condenado no Concílio de Nicéia (325) e Ário foi exilado, mas sua doutrina não mor-
reu continuando a gerar polêmica e causando divisão entre as igrejas cristãs. Finalmente foi banido pelo
imperador Teodósio I (379). Uma variedade do arianismo subsiste até hoje através das Testemunhas de
Jeová.

3.4.3 Cristologia Funcional


Doutrina moderna (séc. XX), que dá ênfase ao que Jesus fez e não no que Ele é alegando ser este o
destaque do N.T. Esta doutrina, entretanto, despreza uma porção significativa de conceitos ontológicos
(essência, natureza) sobre Jesus que são apresentados de modo explícito no N.T.

265
Teologia

Recapitulação 5
6R3. Qual a relação que há entre o kyrios do N.T. com Javé do VT?





7R3. João também Jesus como o único de Deus (Jo 1.18; 3.16,18); o
significado desta é distinguir a natureza de que Jesus tinha com o Pai
da dos relacionamentos com filhos de Deus (Jo 20.17).

8R3. (séc. III e IV). Jesus era um ser , apesar de ser o mais dos
seres, portanto não era e não tinha existência própria. Somente Deus o Pai é
e a origem de todas as coisas.

9R3. Complete as lacunas da primeira coluna com números correspondentes aos movimentos heréti-
cos da segunda coluna.
( ) Jesus não era Deus 1. Cristologia Funcional
( ) Jesus não era plenamente Deus 2. Ebionismo
( ) Dão ênfase aos feitos de Jesus não a sua pessoa 3. Arianismo

3.5. Implicações da Divindade de Cristo


1. Podemos ter conhecimento real de Deus (Jo 14. 9; Hb 1.1,2).
2. A redenção está à disposição de todos os homens, pois a morte de Cristo é suficiente para todos.
3. Deus e a humanidade, uma vez separados pelo pecado, foram religados por iniciativa do próprio
Deus.
4. Cristo merece nosso louvor e adoração (Fp 2.9 -11).

266
4. A Pessoa de Cristo: Sua Unidade

4.1. A importância da questão


Se Jesus era plenamente divino e plenamente humano, como definido pelos Concílios de Nicéia (325)
e Constantinopla (381), como explicar a coexistência de duas naturezas com atributos contraditórios
em Sua pessoa?
Essa difícil questão também agitou a teologia cristológica no início da Idade Média.
A transposição entre o abismo moral e espiritual entre Deus e os homens depende da unidade entre a
divindade e a humanidade de Cristo.
Embora existam indicações da pluralidade de Deus no V.T. (Gn 1.27; 3.22; 11.7), Jesus sempre se refe-
riu a si mesmo no singular, ou referia-se à unidade entre Ele e o Pai (Jo 17.21-22).

4.2. Desvios históricos de interpretação


1. Nestorianismo: Nestório, patriarca de Constantinopla (428) → havia duas pessoas distintas em
Cristo (heresia condenada no Concílio de Éfeso em 431).
2. Eutiquianismo: Eutíquio, abade de Constantinopla (450) → as duas naturezas se fundiram em
uma só, nem divina, nem humana (heresia condenada pelo Concílio de Calcedônia em 451).
3. Adocionismo: Deus adotou Jesus como seu filho em algum momento de sua vida terrena, talvez
no batismo ou na ressurreição (trata-se mais de um homem tornando-se Deus do que Deus tor-
nando-se homem).
4. A doutrina do kenosis (do grego kenoo = esvaziar): → baseia-se em Fp 2.6-8 e postula que Jesus
se “esvaziou da forma de Deus”:
• Retendo os atributos éticos de sua divindade (amor, misericórdia, etc.), mas abrindo mão dos
atributos infinitos (onipotência, onipresença, etc.) e assumindo qualidades humanas.
• Abrindo mão completamente da sua natureza e autoconsciência divinas.
• Os atributos divinos foram essencialmente reduzidos para se acomodarem a um modo huma-
no de existência e expressão (alteração de gênero).
• Relativizando seus atributos infinitos enquanto estava sobre a terra (alteração de grau).
Teologia

4.3. O significado do autoesvaziamento de Cristo


A encarnação foi mais uma aquisição de atributos humanos que uma desistência dos atributos divinos.
O termo “usurpação” (Fp 2.6, arpagmos) pode ser traduzido de duas maneiras:
• Algo que se possui e que deve ser mantido a todo custo.
• Algo que se não possui e que deve ser conseguido a todo custo.
Em vista dessas possibilidades, três interpretações são possíveis para Fp 2.6-8:
1. Cristo existia na forma e glória de Deus e possuía status de igualdade com Deus, mas não consi-
derou esta igualdade como algo a ser retido, esvaziando-se e tomando a forma de servo (mesma
essência, mesmo status funcional).
2. Cristo existia na forma e glória de Deus, mas não possuía igualdade de status com Deus, porém
não considerou igualdade com Deus como algo a ser obtido a todo custo (mesma essência, porém
diferente status funcional). A ênfase do texto não está sobre do que Jesus se esvaziou, mas como se
esvaziou: “assumindo a forma de servo”. Cristo não possuía status de igualdade com Deus, mas,
ao contrário de Adão, não perseguiu a possibilidade de ser igual a Deus (Gn 3.5).
3. O esvaziamento não se refere à forma (morphe) divina, que é a própria natureza e essência de
Deus, mas a igualdade com Deus, quando Cristo tornou-se funcionalmente subordinado ao Pai
durante sua vida terrena. A estrutura gramatical de Fp 2.6-7 relaciona a expressão “forma de ser-
vo” com a expressão “igual a Deus” e não com a expressão “forma de Deus”.

4.4. Princípios básicos da doutrina da União Hipostática


1. A presença das naturezas divina e humana em Jesus é tratada pela teologia como “União Hipostáti-
ca” e é explicitamente revelada em João 1.14; Rm 1.2-5; Fp 2.6-11; 1 Tm 3.16; Hb 2.14 e 1Jo 1.1-3.
2. Após a ressurreição, a união hipostática permanece para sempre (Mt 26.64; Jo 3.13; At 7.56).
3. A união das duas naturezas significa que elas não atuaram independentemente. Jesus não exerceu
sua divindade em certas ocasiões e sua humanidade em outras.
4. Os atributos divinos de Jesus estavam funcionalmente limitados pela sua humanidade, mas não
reduzidos na sua essência. Ele ainda tinha poder para ser onisciente, onipresente, etc. Uma limita-
ção circunstancial no exercício de seu poder e de suas capacidades (não-uso voluntário).
5. A concepção da humanidade atribuída a Jesus é feita erroneamente com base na humanidade
corrompida pelo pecado, mas a humanidade de Jesus existia na sua forma mais plena e imaculada.
6. A iniciativa da encarnação veio de Deus e não do homem. Nosso problema em compreender a
encarnação deve-se ao fato de que na realidade estamos nos perguntando como um ser humano
pode se tornar Deus, quando na verdade não é impossível para Deus se tornar homem.
7. A declaração de fé do Concílio de Calcedônia (451) sobre a unidade da pessoa de Cristo:

268
Cristologia: A doutrina de Cristo

“Um só e mesmo Cristo, Filho, Senhor, Unigênito, que se deve confessar em duas naturezas,
inconfundíveis e imutáveis, indivisíveis e inseparável; a distinção de naturezas de modo algum
é anulada pela união, mas, pelo contrário, as propriedades de cada pessoa e natureza
permanecem intactas, concorrendo para formar uma só Pessoa e Subsistência; não dividido
ou separado em duas pessoas, mas um só e mesmo Filho, Unigênito, Deus, Verbo, Jesus
Cristo Senhor; conforme os profetas outrora a seu respeito [testemunharam], e o mesmo
Jesus Cristo nos ensinou e o credo dos pais nos transmitiu”.

Recapitulação 6
1R4. A transposição entre o moral e espiritual entre e os homens depende
da entre a divindade e a de Cristo.

2R4. Apresente sua argumentação com base bíblica que combata as heresias do Nestorianismo e Euti-
quianismo.





3R4. Cristo existia na forma e de Deus e possuía status de igualdade com Deus, mas não
esta igualdade como algo a ser retido, e tomando a forma de servo (mesma essência,
mesmo status funcional).

4R4. O que é União Hipostática e a quem se pode atribuir?







4.5 As seis heresias básicas acerca da pessoa de Cristo


1. Ebionismo (Jesus não era Deus).
2. Arianismo (Jesus não era plenamente Deus).
3. Docetismo (Jesus não era humano).
4. Apolinarismo (Jesus não era planamente humano).
5. Nestorianismo (Jesus era duas pessoas distintas).

269
Teologia

6. Eutiquianismo (Jesus possuía uma natureza mista).

HERESIAS CONCEPÇÃO ORTODOXA

Ebionismo

Verdadeiro Deus

Arianismo

Docetismo
Verdadeiro homem


Apolinarismo

Nestorianismo Uma pessoa




Eutiquianismo Duas naturezas

270
5. A Obra de Cristo: Seu Sofrimento e Morte

5.1. Importância
A morte de Cristo como a solução para o problema do pecado humano e como meio de trazer os ho-
mens à comunhão com Deus é uma das ideias centrais do NT (1 Co 15. 1-3).
Conexão vital com a encarnação: Jesus nasceu para morrer; a encarnação visava à expiação (Hb 2.14).

Destaques dados à morte de Cristo no N.T.:


1. Mais de 175 citações no N.T.
2. Investigada pelos profetas do V.T. (1 Pe 1.10 -11).
3. Anunciada e confirmada pelo próprio Cristo (Mt 16.21; Lc 9.28-31, 24.44 -46) É possível que a
incapacidade dos discípulos de entenderem a morte de Cristo seja resultado de uma expectativa
da realização do reino messiânico terreno.
4. Nos escritos de Paulo há mais de 30 referências à morte de Cristo (Rm 5.6-8; 2 Co 5.14-15;
Gl 2.19-20; Ef 5.25; Fp 2.8; Cl 1.21-22; 1Ts 5.9-10; 1Tm 2.5-6); apenas em 2 Tessalonicenses e
Filemon, Paulo não faz referências diretas à morte de Cristo.
5. Nos escritos de Pedro (1 Pe 1.18-19, 3.18).
6. Nos escritos de João (1 Jo 1.7; 3.16; Ap 5.9).
7. Na epístola aos Hebreus (Hb 9.13-14, 13.12). O tema da morte de Cristo desenvolver o seu
tema principal: o valor do sacerdócio de Cristo e a perseverança dos crentes.

5.2. Tipos e predições da morte de Cristo no V.T.


Por meio de tipos e profecias diversas, a morte de Jesus é tratada em todo o VT.

5.2.1 Exemplos de tipos específicos sobre a morte e sacrifício de Jesus:


1. O sacerdócio de Arão (Ex 29.10-11; Hb 10.11-12).
2. O sangue do sacrifício (Lv 17.11; Hb 9.13-14); uma exigência da santidade de Deus para a remis-
são dos pecados, que salienta a distância moral existente entre o Deus santo e o homem pecador.
3. O cordeiro pascal (Ex 12.3-11; Is 53.7; Jo 1.29; 1 Co 5.7).
4. A serpente no deserto (Nm 21.4-9; Jo 3.14-15).
Teologia

5.2.1 Exemplos de profecias sobre a morte de Jesus:


1. Alusões à crucificação (Sl 22.1, 6-8, 16-18; Zc 12.10).
2. O Servo sofredor (Is 52.13 – 53.12).
3. O atentado de Satanás (Gn 3.15).

5.3. A natureza da morte de Cristo


1. Não foi acidental (Mt 26.2; Mc 9.31).
2. Cristo não morreu como mártir em defesa de uma causa nobre. Paulo, Tiago, Estevão e muitos
outros foram mártires do cristianismo.
3. Foi predeterminada (At 2.22-23; 1 Pe 1.18-20; Ap 13.8). A expiação teve origem na eternidade;
era um fato implícito no coração de Deus antes de tornar-se um fato na história do homem.
4. Foi voluntária (Jo 10. 17-18). Os judeus e os romanos foram apenas os instrumentos usados por
Deus na execução da sua vontade, mas não os determinantes da morte de Cristo.

5.4. Alcance e abrangência da morte de Cristo


5. A morte de Cristo tem duplo aspecto: é universal e restrita.
6. É universal em sua abrangência e suficiência, mas é restrita em sua eficiência.
7. É suficiente para todos (Hb 2.9; 1 Tm 2.3-6; 1Jo 2.2).
8. É eficiente somente para a salvação de todos os que creem (João 1.12, 3.16).
9. É eficiente para o juízo de todos os que permanecerem na incredulidade (João 3.17-18, 5.24).

5.5. Resultados da morte de Cristo

5.5.1 Em relação aos que creem:


1. Anulação potencial do poder do pecado (Hb 9.26; Rm 6.6-7).
2. Libertação do domínio espiritual das trevas (Cl 1.13).
3. Libertação da maldição da lei (Gl 3.10-13; Cl 2.14). Todo obstáculo legal para a salvação do
homem é removido; toda a acusação que a lei proferir contra o pecador fica totalmente satisfeita,
libertando da maldição todos quantos confiam na lei e nas suas obras para sua justificação.
4. Remoção da condenação (Rm 8.33-34; Jo 5.24).
5. Remoção das diversas barreiras existentes entre os homens (Gl 3.28; Ef 2.11-16).
6. Oportunidade de filiação a Deus (Gl 4.4-5; Jo 1.12).

272
Cristologia: A doutrina de Cristo

7. Oportunidade de reconciliação com Deus (Rm 5.10-11).


8. Perdão dos pecados (Ef 1.7; 1 Jo 1.7).
9. Base da justificação (Rm 5.1,9).

5.5.2 Em relação ao domínio exercido por Satanás:


1. Foi retirado o seu poder sobre o mundo (Jo 12.31-33; 1 Jo 3.8).
2. Foi retirado o seu poder sobre a morte (Hb 2.14).
3. Principados e potestades são derrotados (Ef 6.12; Cl 2.14-15).

5.5.3 Em relação ao universo físico:


1. Libertação do cativeiro da corrupção seja ele qual for (Rm 8. 20-23).
2. Há um efeito cósmico, de difícil entendimento, na obra redentora de Cristo.

Recapitulação 7
1R5. A morte de Cristo como a para o problema do humano e como
meio de trazer os homens à com Deus é uma das ideias do N.T. (1
Co 15. 1-3).

2R5. Quais são as duas cartas escritas pelo apóstolo Paulo onde ele não menciona a morte de Cristo?





3R5. A carta aos baseia-se na morte de Cristo para desenvolver o seu tema principal: o
valor do de Cristo e a perseverança dos crentes.

4R5. Dê três exemplos de profecias sobre a morte de Jesus no V.T.







5R5. Preencha os espaços abaixo com o número correspondente ao efeito causado pela morte de Jesus.
1. Em relação ao universo físico
2. Em relação ao domínio exercido por Satanás
3. Em relação aos que creem

273
Teologia

( ) Libertação do domínio espiritual das trevas


( ) Libertação do cativeiro da corrupção seja ele qual for
( ) Base da justificação
( ) Foi retirado o seu poder sobre a morte
( ) Remoção das diversas barreiras existentes entre os homens

274
6. A obra de Cristo: Significados teológicos da
morte de Cristo

6.1. O contexto e a necessidade da expiação


1. A expiação é o ponto crucial da fé cristã no qual se baseiam outras doutrinas importantes, tais
como a salvação, o pecado, a igreja e a escatologia.
2. A natureza de Deus é perfeita e completamente santa. Sendo contrário à natureza de Deus, o pe-
cado é repulsivo a Ele (Mt 5.48; 1Pe 1.15-16; Is 1.13). Deus é compelido a se afastar do pecado;
é “alérgico” a ele.
3. A lei é a expressão da própria pessoa e vontade de Deus (Rm 7.12). Sua própria natureza resulta
na exigência de certas coisas e proibições de outras. Desobedecer à lei é atacar a própria natureza
de Deus.
4. A violação da lei quer por transgressão ou por omissão, é passível de punição (Gn 2.15-17; Rm
5.12, 6.23). Existe uma relação de causa e efeito entre o pecado e a punição. A punição é uma
inevitabilidade e não uma possibilidade.
5. A condição humana é incapaz de fazer qualquer coisa para salvar a si mesma ou para livrar-se da
pecaminosidade (Rm 7.18-23).
6. A morte de Jesus tem valor suficiente para fazer expiação por toda a humanidade (1Jo 2.2).
7. A expiação é a expressão simultânea do amor e da ira de Deus (Rm 1.18; 5.8, Nm 14.18). Amor
e ira são partes da natureza divina não havendo contradição ou incoerência nestes atributos. Deus
em seu amor deseja a salvação do homem, mas também precisa manter-se fiel à sua própria natu-
reza, sem negar a sua justiça. A ira é a reação de um Deus santo ao pecado. A expiação é necessária
porque o homem sem Cristo está debaixo da ira e do juízo de Deus.

6.2. Os conceitos básicos da expiação

6.2.1 Propiciação
Ato realizado para aplacar a ira de Deus, de modo a ser satisfeita a sua santidade e a sua justiça, tendo
como resultado o perdão do pecado e a restauração do pecador à comunhão com Deus (Ex 32.30; Rm
3.25; Hb 2.17; 1 Jo 4.10). Tem relação com o propiciatório do VT, onde o sumo sacerdote entrava uma
vez por ano para fazer expiação pelos pecados do povo (Ex 25.17-22; Lv 16.2). O propiciatório ficava
Teologia

oculto por uma cortina, mas Cristo foi “proposto” ou “exibido” por Deus. Existe divergência entre os
teólogos quanto ao conceito da propiciação: uns rejeitam a ideia de aplacar a ira de Deus e traduzem a
palavra como “expiação”; outros acham que esta é a interpretação correta. O grego hilasterion pode ser
traduzido como “propiciação” ou “expiação”.

6.2.2 Sacrifício vicário


Cristo morreu por nós, em nosso favor, como nosso representante (Rm 5.8; Ef 5.2), como um advogado
representando seu cliente.

6.2.3 Substituição
Cristo morreu em nosso lugar sofrendo Ele próprio a condenação e a penalidade do pecado; nossos
pecados foram transferidos para Ele (Is 53.5 - 6; 2 Co 5.14 e 21). Um advogado não toma o lugar do
cliente, mas Cristo tomou o nosso lugar e cumpriu a pena por nós. Cristo foi ao mesmo tempo o sacer-
dote e a oferta pelo pecado.

6.2.4 Redenção
Através de sua morte Cristo nos libertou da escravidão do pecado e nos adquiriu para Deus (Mc 10.45;
Rm 3.24; Ef 1.7; 1 Co 6.19-20). As quatro palavras gregas usadas para redenção no NT têm conotação
comercial e enfatizam três ideias básicas:
1. Do que fomos libertos (pecado e morte);
2. O preço pago (o sangue de Cristo);
3. Uma mudança de propriedade (escravos de Deus).

6.2.5 Justificação
Envolve duas interpretações com ênfases diferentes, mas complementares (Rm 5.1, 9, 18,19):
1. Deus, pela sua graça, perdoa o homem de sua culpa, tendo como base o fato de que Jesus cumpriu
a Lei em seu lugar e sofreu o castigo pelos seus pecados (contexto judicial ou forense).
2. Deus não nos fez justos (qualidade ética), mas nos declarou justos (status de relacionamento). A
ideia no V.T. é a de conformidade a um padrão, não necessariamente em virtude de qualidades
éticas ou morais, mas pela fidelidade mantida em um relacionamento (Gn 38.26). O homem que
crê em Cristo, apesar de pecador, é declarado justo por Deus porque em Cristo ele é colocado em
um novo relacionamento com Deus.

6.2.6 Reconciliação
A hostilidade contra Deus é removida por Sua própria iniciativa; Deus é o sujeito; o homem e o mun-
do são os objetos da reconciliação (Rm 5.10-11; 2 Co 5.18-19). A reconciliação não é uma mudança
da atitude humana em direção a Deus, mas uma atitude de Deus em relação ao homem e seu pecado.
Reconciliação e justificação são estreitamente relacionadas. Justificação é a declaração de absolvição da
culpa do pecado. Reconciliação é a restauração da comunhão que resulta da justificação. A paz resultante
(Rm 5.1) não é um estado mental, mas uma condição de relacionamento.

276
Cristologia: A doutrina de Cristo

6.3. Teorias diversas sobre a expiação


O significado e o impacto da expiação são ricos e complexos, dando origem a várias teorias a seu respeito.

6.3.1 A teoria sociniana ou da expiação como exemplo


Rejeita qualquer ideia de satisfação vicária. A morte de Cristo e os demais aspectos de sua vida têm valor
apenas inspirativo para os homens (1 Pe 2.21). A expiação é um conceito metafórico. Para a restauração
do relacionamento com Deus basta adotar os ensinamentos de Jesus e seguir o seu exemplo. Essa teoria
foi defendida por Fausto Socino (séc. XVI).

6.3.2 A teoria da influência moral ou da expiação como demonstração do amor de Deus.


Ensina que a natureza de Deus é essencialmente amor, minimizando outros atributos divinos como
justiça, santidade, retidão. A iniciativa da reconciliação é posta no homem, pois Deus não tem dificul-
dade para perdoar. O pecado é visto como uma doença da qual precisamos ser curados. Cristo veio para
corrigir este problema e sua morte demonstra a grandeza do amor de Deus. A consciência desse amor
deveria nos estimular a voltar para Deus. Popularizada no início do séc. XIX nos EUA e Grã-Bretanha.

6.3.3 A teoria governamental ou da expiação como demonstração da justiça divina.


Como governante do universo Deus tem o direito de punir o pecado, mas pelo seu amor ilimitado não
é obrigado a fazê-lo. Para manter a ordem moral do universo, Deus enviou Jesus não para sofrer a pena
estipulada para a humanidade, mas como um substituto da pena. A morte de Cristo deveria ser uma de-
monstração de justiça suficiente para nos impedir de pecar. Quando o homem reconhece o que o pecado
fez contra Cristo, Deus pode outorgar-lhe o perdão num ato de compaixão. Esta teoria nega a morte
vicária e substitutiva de Jesus e seu principal proponente foi o advogado Hugo Grotius (1583-1645).

6.3.4 Teoria do resgate ou da expiação como vitória sobre as forças do pecado e do mal.
Na luta cósmica entre bem e mal, Satanás estabeleceu controle sobre a humanidade. Cristo deu sua vida
em resgate ao diabo para que este libertasse a humanidade. Satanás foi derrotado, pois perdeu o controle
sobre as almas dos homens e não conseguiu deter a Cristo, que ressuscitou dos mortos. Teoria defendida
por Orígenes, Anselmo, Agostinho, foi muito popular na Idade Média. Embora Cristo em sua morte
tenha triunfado sobre as forças do mal (Cl 1.13, 2.14-15), a ideia de um resgate pago ao diabo não é
bíblica. A derrota do inimigo só foi possível pela sua morte vicária na cruz (Gl 3.13).

6.3.5 A teoria da satisfação ou da expiação como compensação a Deus


Em Cristo foram satisfeitas todas as justas exigências de Deus com relação ao pecado. Qualquer atitude
humana seria insuficiente para satisfazer a Deus, portanto só Deus poderia fazer esta satisfação o que
resultou na encarnação de Cristo para o cumprimento da pena. Esta teoria possui duas variantes de
interpretação:
1. Satisfação absoluta → em Cristo todos os pecados da humanidade (passados, presentes e futu-
ros) foram removidos; todos os homens eventualmente crerão em Cristo antes ou depois da morte
(apoia-se em textos como 1 Pe 3.18-20; 4.6).

277
Teologia

2. Satisfação moderada → tudo depende da fé, que deve ser exercida durante a existência física.

Recapitulação 8

1R6. A expiação é o ponto da fé cristã, no qual se outras doutrinas im-


portantes, tais como a , o pecado, igreja, a escatologia.

2R6. O que é sacrifício vicário?







3R6. Explique o significado teológico de substituição.







4R6. Preencha os espaços abaixo com o número correspondente aos conceitos de expiação.

( 1 ) Propiciação
( 2 ) Sacrifício vicário
( 3 ) Substituição
( 4 ) Redenção
( 5 ) Justificação
( 6 ) Reconciliação

( ) Deus não nos fez justos (qualidade ética), mas nos declarou justos (status de relacionamento).
( ) A hostilidade contra Deus é removida por Sua própria iniciativa.
( ) Através de sua morte Cristo nos libertou da escravidão do pecado e nos adquiriu para Deus.
( ) Cristo morreu por nós, em nosso favor, como nosso representante.
( ) Ato realizado para aplacar a ira de Deus, de modo a ser satisfeita a sua santidade e a sua justiça.
( ) Cristo morreu em nosso lugar sofrendo Ele próprio a condenação e a penalidade do pecado.

278
Cristologia: A doutrina de Cristo

5R6. Quem foram os principais defensores da teoria do resgate ou da expiação como vitória sobre as
forças do pecado e do mal?





279
7. A Obra de Cristo: Sua Ressurreição e Ascensão

7.1. A importância da Ressurreição e sua relação com o


Antigo e Novo Testamento
1. A ressurreição de Cristo é um dos cernes doutrinários do Evangelho (1 Co 15.3,4, 16-19).
2. A ressurreição era uma esperança dos judeus (Jó 19.25-27; Jo 11.23,24; At 24.14,15).
3. Profecias gerais sobre a ressurreição do corpo no Antigo Testamento (Sl 49.15; Is 26.19; Dn 12.2;
Os 13.14).
4. Poucas referências específicas sobre a ressurreição de Cristo no Antigo Testamento (Sl 16.8-1;
110.1, At 2.24-32; 13.35-37).
5. A ressurreição ao terceiro dia (Lc 24.44-46 → Os 6.2, Mt 12.40 → Jn 1.17).
6. Predições do próprio Cristo (Mt 16.21, 17.23, 20.17-19; Mc 9.30-32, 14.28; Lc 9.22, 18.31-34;
Jo 2.19-22).

7.2. Evidências Neotestamentárias da Ressurreição de


Cristo
1. O túmulo vazio: (Mc 16.6)
• A reação dos discípulos (Mt 28.1-6; Mc 16.1-8; Lc 24.1-8; Jo 20.1- 10).
• A reação dos judeus (Mt 28.11-15).
2. As aparições de Jesus (At 1.1-3)
• As Marias (Mt 28.1, 8-9; Mc 16.9; Jo 20.15-18).
• Pedro (Lc 24.34).
• Os dois discípulos no caminho de Emaús (Lc 24.13-15).
• Demais discípulos no cenáculo (Mc 16.14; Jo 20.19).
• Os discípulos no Mar da Galileia (Jo 21.1-14).
• A toda igreja numa única oportunidade (1 Co 15.6).
• Tiago, Paulo e outros apóstolos (1 Co 15.7-8).
Cristologia: A doutrina de Cristo

3. A transformação na vida dos discípulos (comparar Mt 26.69-75 com At 2.14, 22-24, 5.27-32).
4. O testemunho do próprio Cristo (Ap 1.17-18).

7.3. Os resultados da Ressurreição de Cristo


1. Cumprimento da promessa aos pais (At 13.30-34).
2. Confirmação do senhorio de Cristo (Lc 24.3; At 2.36; Rm 1.4).
3. Prova da nossa justificação (Rm 4.24-25).
4. Vida regenerada e de esperança (1 Pe 1.3).
5. Ilustração da medida do poder de Deus (Ef 1.18-20).
6. Sujeição de todas as coisas a Jesus (Ef 1.20-23).
7. Garantia de que haverá um julgamento futuro (At 17.31; Jo 5.26-29).
8. Garantia da nossa própria ressurreição (2 Co 4.14; 1Ts 4.13-16; 1Co 15.19).

7.4. A natureza do Corpo Ressurreto


1. Concepções sobre a vida após a morte:
• Gregos: imortalidade da alma sem ressurreição do corpo; dualismo entre alma e corpo (At
17.32).
• Judeus: ressurreição do mesmo corpo; unidade entre corpo e espírito (Lc 24.37).
• Igreja: ressurreição com um novo corpo espiritual transformado, glorioso e incorruptível, igual
ao corpo de Jesus (1 Co 15.35-58; 2 Co 5.1-4; Fp 3.20-21).
2. O corpo físico de Jesus após a ressurreição tinha características tanto materiais quanto espirituais
(Lc 24.36-43; Jo 20.19-20; 26-27).
3. O estado intermediário dos mortos:
• No A.T.: “Sheol”, traduzido como sepultura, inferno, abismo, lugar tenebroso e inferior
(Sl 49.15; Pv 15.24; Ez 26.0).
• No N.T.: “Hades” traduzido como inferno ou prisão, um lugar com duas divisões: uma para os
justos (seio de Abraão ou paraíso), e outra para os injustos (lugar de tormentos) → Lc 16.22-
23.
4. Cristo teria descido ao hades para proclamar o evangelho aos perdidos (1 Pe 3.18 -20).

281
Teologia

7.5. A Ascensão e Exaltação de Cristo

7.5.1 A Ressurreição e a Ascensão de Cristo foram eventos separados no tempo, mas parte de um único
processo: sua Exaltação em glória (Ef 1.0-23).

7.5.2 Resultados da ascensão:


1. Preparação do lugar da nossa futura habitação (Jo 14.3).
2. A descida do Espírito Santo (Jo 16.7).
3. A distribuição de dons espirituais aos crentes (Sl 68.18; Ef 4.7-8).

282
8. A Obra de Cristo: Seu ministério atual

1. Embora os aspectos passados da obra de Cristo sejam os mais conhecidos e ensinados, devemos
ter em mente que Jesus está vivo e atuante hoje.
2. Após a sua Ascensão Cristo está nos céus à direita de Deus (Mc 16.19; At 7.55,56; Rm 8.34; Cl
3.1; Hb 1.3, 12.2).
3. O exercício da autoridade universal: Cristo recebeu autoridade plena da parte de Deus, que usou
não só para criar o universo, mas também para mantê-lo sob sujeição (Mt 28.18; Cl 1.16,17; Ef
1.20,21).
4. Cristo é o cabeça da Igreja, que é o seu corpo, a qual reúne os crentes de todas as épocas e de todos
os lugares (Ef 1.22,23; Cl 1.18). A Igreja dá continuidade ao ministério de Cristo na terra (M.
28.18-20; 2 Co 5.20; Jo 14.12).
5. Cristo intercede junto a Deus por aqueles que são seus (Jo 17. 20; Rm 8.34; Hb 7.25).
6. Cristo é nosso Advogado (parakletos) junto a Deus, cuja expiação teve eficácia eterna (1 Jo 2.1; Jo
14.16,26; Ap 12.10; Jó 1.6-12).
9. A Segunda Vinda de Cristo e a implantação de seu
Reinado Eterno

Embora haja diferenças entre os teólogos mais ortodoxos quanto à natureza e sequência dos eventos fu-
turos, é ponto de aceitação geral que Cristo um dia retornará a terra (At 1.10-11) e que este dia marcará
a intervenção final de Deus na história humana (Mt 24.3; 2 Pe 3.1-13).
No A.T., a Segunda Vinda de Cristo é muitas vezes anunciada implicitamente no contexto da restaura-
ção final da nação de Israel, através do uso das expressões “dia do Senhor”, “naquele dia” ou “nos últimos
dias” (Am 5.18; Jl 1.15, 3.18; Sf 3.11; Zc 14.9; Is 2.2-4, Os 3.5; Ml 3.1-2). No N.T., a encarnação ou
primeira vinda de Cristo é vista como o cumprimento da esperança do V.T. e a sua segunda vinda como
a consumação dessa esperança. O cumprimento e a consumação são duas partes de uma única obra
redentora, com implicações passadas, presentes e futuras.
As referências neotestamentárias à Segunda Vinda de Cristo usam expressões correlatas às do V.T.: “Dia
do Senhor”, “Dia do Senhor Jesus”, “Dia de Cristo”, “aquele Dia”, “Último Dia”, etc. (Mt 24.36; Jo
12.48; 1 Co 1.7-8; Fp 1.6, 2.16; 1Ts 5.2; 2Ts 1.10; 2 Tm 1.18; 2 Pe 3.10).

9.1 Circunstâncias da Segunda Vinda de Cristo


1. Será precedida de sinais (Mt 24.3-14, 32,33).
2. Será visível e inconfundível (Mt 24.30; Ap 1.7).
3. Será repentina e inesperada (Mt 24.27, 36-44, 25.13; Lc 21.34; 1 Ts 5.1-3).
4. Ocorrerá mesmo contra a expectativa dos incrédulos (Tg 5.8; 2 Pe 3.4-10; Ap 22.20).

9.2 Finalidades da Segunda Vinda de Cristo


1. Manifestar sua glória e poder (2 Ts 1.7; Tt 2.13; 1 Pe 4.13).
2. Destruir o anticristo e a maldade (2 Ts 2.7-8).
3. Ressuscitar os mortos (1 Co 15.20-23; 1Ts 4.16-17).
4. Transformar os crentes ainda vivos (1 Co 15.51-52; Fp 3.20-21; 1Jo 3.2).
5. Reunir os redimidos (Mt 24.30-31; 2 Ts 2.1).
6. Estabelecer o seu reino na terra (Ap 20.1-7; Is 11.1-10).
7. Separar os justos dos injustos (Mt 26.31-46).
Cristologia: A doutrina de Cristo

8. Distribuir o galardão aos santos, de acordo com pensamentos e obras (2 Co 5.10; 1 Co 3.12-15;
1 Co 4.5).
9. Julgar os incrédulos (Ap 20.11-15).
10. Destruir a atual ordem das coisas e estabelecer novos céus e nova terra (2 Pe 3.7, 10 -13; Ap
21-22).

9.3 Significados presentes da Segunda Vinda de Cristo


1. Exortação à vigilância (Mt 24.42-44; 1Ts 5.4-6).
2. Exortação à santidade (2 Pe 3.11-12; 1Jo 3.2-3)
3. Guardar-se do engano (2 Ts 2.1-3).
4. O atraso na sua vinda é apenas aparente, revelando paciência e bondade (2 Pe 3.9).

Recapitulação 9
7R1. Mencione as evidências da ressurreição de Cristo no N.T.





7R2. O corpo físico de após a ressurreição tinha tanto materiais quanto


espirituais.

1R8. Embora os aspectos da obra de Cristo sejam os mais conhecidos e ensinados, deve-
mos ter em mente que Jesus vivo e atuante hoje.

1R9. No A.T., a Segunda Vinda de é muitas vezes anunciada implicitamente no contexto


da final da nação de Israel, através do uso das “Dia do Senhor”, “na-
quele dia” ou “nos últimos dias”.

2R9. Mencione quatro finalidades da Segunda Vinda de Cristo







285
Teologia

Revisão geral

1. Qual a diferença entre Jesus e os fundadores de outras grandes religiões?







2. Se Jesus não era um de , portanto humano, Ele não realizar o tipo de


intercessão que o deve fazer em dos que representa.

3. Quais são as provas bíblicas de que Jesus tinha limitações físicas e quais foram elas?





4. Mencione cinco sentimentos ou aspecto psicológico demonstrado por Jesus que apontam para sua
humanidade.





5. Qual a argumentação dos modernistas para negar o nascimento virginal de Cristo?







6. Em Cristo vemos a verdadeira humanidade. Não medir a humanidade


de pela nossa, mas sim a pela de Jesus.

7. O que exprime o uso da fórmula “Eu sou” dita por Jesus?






286
Cristologia: A doutrina de Cristo

8. Explique o que significa ser Jesus chamado de Verbo ou Logos.







9. Qual a relação que há entre o kyrios do NT com Javé do VT?







10. João também Jesus como o único de Deus (Jo 1.18, 3.16,18); o
significado desta ____________ é distinguir a natureza de que Jesus tinha com o Pai
da dos relacionamentos com filhos de Deus (Jo 20.17).

11. Complete as lacunas da primeira coluna com números correspondentes aos movimentos heréticos
da segunda coluna.
( ) Jesus não era Deus 1.Cristologia Funcional
( ) Jesus não era plenamente Deus 2. Ebionismo
( ) Dão ênfase aos feitos de Jesus não a sua pessoa 3. Arianismo

12. Apresente sua argumentação com base bíblica que combata as heresias do Nestorianismo e Euti-
quianismo.





13. O que é união hipostática e a quem se pode atribuir?







287
Teologia

14. Quais são as duas cartas escritas pelo apóstolo Paulo onde ele não menciona a morte de Cristo?





15. A carta aos baseia-se na morte de Cristo para desenvolver o seu tema principal: o
valor do de Cristo e a perseverança dos crentes.

16. Preencha os espaços abaixo com o número correspondente ao efeito causado pela morte de Jesus.
1. Em relação ao universo físico
2. Em relação ao domínio exercido por Satanás
3. Em relação aos que creem

( ) Libertação do domínio espiritual das trevas


( ) Libertação do cativeiro da corrupção seja ele qual for
( ) Base da justificação
( ) Foi retirado o seu poder sobre a morte
( ) Remoção das diversas barreiras existentes entre os homens

17. O que é sacrifício vicário?







18. Preencha os espaços abaixo com o número correspondente aos conceitos de expiação.
1. Propiciação
2. Sacrifício vicário
3. Substituição
4. Redenção
5. Justificação
6. Reconciliação

( ) Deus não nos fez justos (qualidade ética), mas nos declarou justos (status de relacionamento).
( ) A hostilidade contra Deus é removida por Sua própria iniciativa.
( ) Através de sua morte Cristo nos libertou da escravidão do pecado e nos adquiriu para Deus.
( ) Cristo morreu por nós, em nosso favor, como nosso representante.

288
Cristologia: A doutrina de Cristo

( ) Ato realizado para aplacar a ira de Deus, de modo a ser satisfeita a sua santidade e a sua justiça.
( ) Cristo morreu em nosso lugar sofrendo Ele próprio a condenação e a penalidade do pecado.

19. Mencione as evidências da ressurreição de Cristo no N.T.







20. Embora os aspectos da obra de Cristo sejam os mais conhecidos e ensinados, devemos
ter em mente que Jesus vivo e atuante hoje.

21. Mencione quatro finalidades da Segunda Vinda de Cristo







Bibliografia

Bancroft, E. H. 1983. Teologia elementar doutrinária e conservadora. São Paulo, Imprensa Batista Regu-
lar, 378 p.
Chafer, L. S. 1974. Teologia Sistemática. Tomo III. Dalton, Publicaciones Españolas, 1145 p.
Erickson, M. J. 1997. Introdução à Teologia Sistemática. São Paulo, Vida Nova, 540 p.
Ladd, G. E. 1974. A theology of the New Testament. Grand Rapids, William B. Eerdmans Publ., 661 p.
Pinto, C. O. (sem data). Teologia Sistemática III. Apostila do Seminário Bíblico Palavra da Vida. Atibaia,
85 p.
Richardson, A. 1996. Introdução à Teologia do Novo Testamento. São Paulo, ASTE, p.389

289
Pneumatologia

Autoria
Walter Bastos, casado com Angela de Aguilar Bastos e pai de três filhos, é pastor auxiliar da Igreja O
Brasil Para Cristo na cidade de Mogi das Cruzes – SP. O pastor Walter Bastos também é graduado
em Teologia e Pedagogia, e é docente de Teologia há mais de 25 anos. Já escreveu dezenas de revistas
como esta, também é autor de inúmeros livros, alguns muito conhecidos e premiados (ex: Os Dez
Mandamentos do Casamento; 111 Sermões para todas as ocasiões – Vol. I, II, III e IV)). Especializou-
se em terapia de casais e, com sua esposa percorre o Brasil, Canadá e USA ministrando em encontros
de casais com Cristo, com o intuito de restaurar relacionamentos e fortalecer a família de um modo
geral. Lidera a JUNEC (Junta Nacional de Educação Cristã), órgão oficial do Conselho Nacional, desde
fevereiro de 2006.
Sumário

Introdução 295

1. A divindade do Espírito Santo 297


1.1. Os Seus atributos testificam que Ele é Deus 297
1.2. As Suas Obras testificam que Ele é Deus 297
1.3. A Sua Comunhão com o Pai e o Filho testifica que Ele é Deus 298
1.4 Os Seus Nomes testificam que Ele é Deus 298

2. A personalidade do Espírito Santo 300


2.1 A diferença entre Ter Corpo e Ser uma Pessoa 300
2.2 A forma como é tratado na Bíblia, revela que Ele é uma Pessoa 300

3. O dinamismo do Espírito Santo 302


3.1 Através dos Símbolos 302
3.2. Sua atuação no Velho Testamento 303
3.3 Sua atuação na vida de Cristo 304
3.4. Sua atuação na vida dos homens após o Advento de Cristo 305
3.5. Sua atuação na vida da Igreja 307
3.6 - Sua atuação após o Arrebatamento da Igreja 309

4. Os pecados contra a pessoa do Espírito Santo 311


4.1. Cometidos pelos Crentes 311
4.2. Cometidos pelos Incrédulos 312

5. O fruto do Espírito Santo 314


5.1. Compreendendo a sua importância 314
5.2. Definindo a sua manifestação 315

6. O revestimento de poder 318


6.1. Entendendo os Batismos 318
6.2. A evidência de seu recebimento 319
6.3. Como receber o Batismo com o Espírito Santo 319

7. Os dons do Espírito Santo 322


7.1. Compreendendo o propósito dos dons espirituais 322
7.2. A origem dos dons Espirituais 322
7.3. Expressões que descrevem a natureza dos dons espirituais 324
7.4. Classificando os dons espirituais 325
7.5. Definindo os dons do Espírito Santo 326

Considerações finais 340

Revisão geral 341

Bibliografia 343
Introdução

A
doutrina do Espírito Santo, a julgar pelo lugar que ocupa nas Escrituras, é de valor inestimável.
Com exceção das epístolas de 2ª e 3ª de João, todos os livros do Novo Testamento contêm
referências à Pessoa e/ou a obra do Espírito Santo. No entanto, é reconhecida como a doutrina
mais negligenciada.
O formalismo, por parte de uns, e o fanatismo por parte de outros, tem produzido uma Igreja indife-
rente à obra e principal missão do Espírito Santo na experiência do cristão. As consequências disto é um
cristianismo onde as pessoas estão privadas do novo nascimento, de vida, paz, poder, alegria, maturida-
de, equilíbrio, dinamismo e santidade.
É de suma importância saber o que as Escrituras Sagradas ensinam acerca do Espírito Santo, não apenas
pelo fato de ser amplamente mencionado, mas pelo Seu importante e decisivo trabalho na história da
humanidade.
O conhecimento da doutrina da Pessoa e Obra do Espírito Santo livram-nos de cairmos na rede de
heresias que são muito comuns em nossos dias. Porém, se faz necessário o equilíbrio ao estudarmos esta
disciplina, pois mais do que conhecimento bíblico ou teológico, como Igreja de Jesus Cristo, temos a
necessidade de experimentarmos a ação poderosa e espiritual desta maravilhosa Pessoa.
1. A divindade do Espírito Santo

O Espírito Santo é Deus e Sua divindade ou deidade é provada na Bíblia pelo fato de que é possuidor
de atributos divinos, conforme constataremos a seguir.

1.1. Os Seus atributos testificam que Ele é Deus


Encontraremos nos relatos bíblicos abaixo, os atributos do Espírito Santo que somente podem ser en-
contrados em Deus. Ninguém mais pode ter os referidos atributos se não for uma divindade, portanto
nossa afirmação tem base nas diversas referências do sacro-livro.

1.1.1. Ele é Eterno (Hb 9.14). Existe antes de tudo e não tem começo, nem fim.
1.1.2. Ele é Onipresente - Está em todos os lugares ao mesmo tempo (Sl 139.7-10, Jo 14.17).
1.1.3. Ele é Onipotente – Tem poder ilimitado (Rm 15.19, 1 Co 12.11).
1.1.4. Ele é Onisciente - Tem conhecimento de tudo (Rm 11.33,34 com 1 Co 2.10,11).

1.2. As Suas Obras testificam que Ele é Deus

1.2.1. Como Criador do Universo - Participou ativamente da criação.


a. Do mundo (Gn 1.2, Sl 104.30).
b. Do homem (Gn 1.26-27, Jó 33.4).

1.2.2 - Como Inspirador da Bíblia Sagrada.


c. Na escolha dos escritores.
d. No conteúdo do que escreveram (1 Pe 1.11, 2Pe 1.21, 2Tm 3.16),

1.2.3 - Como quem ressuscitou o Senhor Jesus Cristo, dos mortos (Rm 1.4, 8.11),
1.2.4 - Como o único que gera novas criaturas em Jesus Cristo (Jo 3.5, 2 Co 5.17) e a santifica (Rm
15.16; 1 Co 6.11),
1.2.5 - Quem nomeia (escolhe e capacita) e envia os crentes para o desempenho de obras específicas
(Atos 13.2,4 com Mt 9.38, At 20.28),
1.2.6 - Quem dirige e ilumina os pregadores sobre onde e o que devem ministrar (At 16.6,7, 10; 2 Pe
1.21; At 1.16),
Teologia

1.3. A Sua Comunhão com o Pai e o Filho testifica que Ele


é Deus

1.3.1. No batismo (Mt 28.19 compare com Mt 3.16,17).


1.3.2. Na bênção apostólica (2 Co 13.13, compare com Joel 2.28).
1.3.3. No cuidado das Igrejas (Ap 1.4,5).

1.4 Os Seus Nomes testificam que Ele é Deus


1.4.1. Consolador (Jo 14.16,26); Outro Consolador (Jo 15.26 e 16.14) - Grego “Paracleto” que sig-
nifica: “chamado para ficar ao lado de outrem com o propósito de ajudá-lo, não pela recompensa ou
remuneração, mas por amor e consideração”.
Em latim é traduzido por “advocatus”. A palavra “outro” faz distinção entre o Espírito Santo e Jesus, no
entanto, ambos têm a mesma essência, colocando-Os no mesmo nível de divindade.
1.4.2. Espírito de Deus (Ef 4.30 compare com Jo 15.26). É o executivo da divindade, operando tanto
na esfera física, moral e espiritual.
1.4.3. Espírito de Cristo (Rm 8.9) - Graças a Ele, a vida de Cristo torna-se a nossa vida em Cristo.
1.4.4. Espírito Santo (Ef 1.13) como o Pai, (1 Pe 1.16) e o Filho (At 2.27). Necessitamos de um Sal-
vador por dois motivos. Primeiro, para fazer alguma coisa por nós. Segundo, para fazer alguma coisa
em nós. Na Cruz Jesus morreu por nós. E através do Espírito Santo Ele habita em nós moldando-nos
segundo o caráter de Cristo.
1.4.5. Espírito da Promessa (Ef 1.13). É assim chamado porque Deus nos prometeu enviá-Lo para nos
capacitar e estar em nós e conosco desde o A.T. (Ez. 36.27 e Joel 2.28 comparem com Lc 24.49 e Gl
3.14).
1.4.6. Espírito da Verdade (Jo 14.17; 15.26; 16.13). A missão do Consolador é revelar Jesus, a Verdade.
Ele não oferece uma nova e diferente revelação, mas abre as mentes dos homens para verem e compre-
enderem a dimensão e profundidade da vida e obra de Cristo.
1.4.7. Espírito de Poder e de Amor (2 Tm 1.7), poder para testemunhar (At 1.8) e amor para nos dar
segurança (Rm 5.5).
1.4.8. Espírito de Sabedoria e de Revelação (Ef 1.17; 1 Co 2.10-12).
1.4.9. Espírito da Vida (Rm 8.2, compare com Jo 3.6 e 10.10).
1.4.10. Espírito da Graça (Hb 10.29); É Ele que leva o pecador ao arrependimento (Jo 16.8).
1.4.11. Espírito da Glória de Deus (1 Pe 4.14).
1.4.12 - Espírito de Adoção (Rm 8.15). Como Cristo é nossa testemunha no céu, assim o Espírito
Santo é na terra, testificando com o nosso espírito que somos filhos de Deus, pois Ele nos faz participar
da natureza divina.

298
Pneumatologia

Recapitulação 1
1RI. Quais são os dois únicos livros do NT que não fazem menção ao Espírito Santo ou a Sua obra?





1R1. Mencione três atributos divinos encontrados no Espírito Santo e as referências bíblicas.





2R1. que significa: Chamado para ao lado de outrem


com o propósito de ajudá-lo, não pela ou remuneração, mas por amor e
consideração. Em é traduzido por “advocatus”.

3R1. Na Cruz morreu por nós. E através do Espírito Santo Ele


em moldando-nos segundo o de Cristo.

299
2. A personalidade do Espírito Santo

O Espírito Santo é uma pessoa ou apenas uma influência? Existem pessoas que descrevem o Espírito de
uma maneira impessoal como o sopro que preenche a unção que unge o fogo que ilumina e aquece a água
que é derramada e o dom do qual todos participam. Contudo, esses nomes são meramente descrições das
suas operações. As Escrituras O apresentam de forma que não deixa dúvidas quanto à Sua personalidade.
Veremos abaixo algumas características que demonstram que Ele é uma pessoa.

2.1 A diferença entre Ter Corpo e Ser uma Pessoa


A individualidade consciente ou a personalidade do Espírito Santo é largamente demonstrada na Bíblia
Sagrada. Entretanto, há grupos que se dizem “cristãos” que negam esta verdade afirmando e ensinando
que o Espírito Santo não aparece na Bíblia de forma corpórea e, por isso, não pode ser tratado como
uma pessoa. Tais pessoas não entendem e nem distinguem personalidade (ser uma pessoa é possuir afeti-
vidade, inteligência, pulsões e vontade) de corporalidade (ter corpo).
Não é necessário ter corpo para ser uma pessoa. Jesus disse: “Um espírito não tem carne, nem ossos,
como vedes que Eu tenho” (Lc 24.39), no entanto, também, declarou que “Deus é Espírito” (João
4.24). Todos sabem que Deus existe como Espírito invisível e intangível, sem um corpo físico, porém,
Ele é real; assim também é o Espírito Santo, Seu atributo divino de onipresença não permite que se
limite a um corpo, além disso, a ausência de uma forma definida não é uma prova contra a realidade - a
Bíblia e a ciência afirmam e provam que o vento existe que é real, entretanto, não possui forma.

2.2 A forma como é tratado na Bíblia, revela que Ele é uma


Pessoa
Afirmamos acima que a existência de uma pessoa se dá quando se reúnem em uma só combinação
inteligência e sentimento; estas características pessoais são inerentes a uma pessoa e está notadamente
presente no Espírito Santo. Vejamos.

2.2.1 - Nos seus atributos de personalidade.


a. Ele tem mente - pensa (Rm 8.27) e tem conhecimento (1 Co 2.11).
b. Ele tem sentimentos - ama (Rm 15.30), se entristece (Ef 4.30, Is 63.10), sente ciúmes (Tg 4.5),
pode ser envergonhado.
c. Ele tem vontade própria (At 13.1-4) “... disse. Separa-me Barnabé e Paulo...” (1 Co 12.11) “...
distribuindo como lhE apraz...”.
Pneumatologia

2.2.2 - Nas suas atividades pessoais.


a. Ele ensina (Jo 14.26), orienta (At 8.29; 16.6,7) e guia (Jo 16.13).
b. Ele age nos homens (Gn 6.3) e fala através dos homens (1 Pe 1.11, 2 Pe 1.21).
c. Ele nomeia e comissiona ministros (At 13.2; 2 Co 12.28; Is 48.16).
d. Ele reprova (Jo 16.8), consola (At 9.31) e nos socorre (Rm 8.26).
e. Ele pode ser resistido (Atos 7.51), ser tentado (5.9) e blasfemado (Mt 12.31,32).

2.2.3 - Em seus pronomes de tratamento.


É admirável notar como a Bíblia, ao referir-se ao Espírito Santo, emprega pronomes que somente são
atribuídos a uma pessoa, como por exemplo:
a. “Quando Ele vier convencerá...” (Jo 16.8).
b. “... aguarda somente que seja afastado aquele...” (2 Ts 2.7).
c. “... e mentisse ao Espírito Santo...” (Atos 5.3,4).
A dificuldade que temos em crer no Espírito Santo como Pessoa está baseada em duas realidades:
1. Nas Escrituras as operações do Espírito são invisíveis, secretas e internas;
2. Ele sempre vem em nome de outro. Ele se oculta atrás do Senhor Jesus Cristo e nas profundezas
do nosso homem interior. Ele nunca chama a atenção para Si próprio, mas sempre para a vontade
de Deus e para a obra salvadora de Cristo - “... não falará de si...” (Jo 16.13).

Recapitulação 2
1R2. Escreva qual a diferença que há entre personalidade e corporalidade.





2R2. Afirmamos acima que a de pessoa se dá quan-


do se em uma só combinação inteligência e ;
estas características pessoais são inerentes a uma pessoa e está presente no
Espírito Santo.

3R2. Escreva quatro atividades pessoais realizadas pelo Espírito Santo.






301
3. O dinamismo do Espírito Santo

3.1 Através dos Símbolos


Os dicionários traduzem a palavra símbolo, para objeto físico a que se dá um significado através do abs-
trato; ou figura/imagem que representa alguma coisa. Tratando-se do Espírito Santo os símbolos ilus-
tram, em parte, facetas do seu ministério. Isto deve ser profundamente entendido, pois muitos cristãos,
ao lerem ou ouvirem sobre os elementos que simbolizam o Espírito Santo, transforma-O de uma pessoa
em uma coisa ou energia, e um relacionamento pessoal em uma experiência impessoal. Relacionamento
envolve o cultivo através de contatos permanentes, enquanto que experiência pode se restringir a um
único contato e depois nunca mais.

3.1.1 Azeite ou Óleo (Ex.29.7; At 10.38; Hb 1.9).


Este é o mais comum e significativo de todos, e seu emprego nas Escrituras é vasto, sendo que o ato de
unção era realizado com muito azeite, normalmente derramado abundantemente sobre a cabeça.
Esta prática era para:
a. Conferir autoridade divina (1 Sm 16.13, Ex 40.15, 1 Rs 19.16).
b. Como propriedade medicinal natural e espiritual (Mc 6.13, Tg 5.14).
c. Sua aplicação impedia o contágio de doenças (Sl 23.5b). Os insetos depositavam larvas ou outras
doenças nas narinas ou ouvidos das ovelhas e o tratamento era feito à base de azeite aplicado nos
locais infectados.
d. Era uma forma de honrar alguém (Sl 23.5b). Ungia-se com óleos perfumados, uma prática co-
mum entre os povos do oriente.

3.1.2. Fogo (Mt 3.11; At 2.3.)


Quando encontramos referências bíblicas comparando o Espírito Santo com fogo é para ilustrar algu-
mas de suas competências, como veremos a seguir:
a. Limpeza, pois o fogo queima o pecado que é a sujeira da alma (Is 4.4),
b. Calor, iluminação e direção por causa da Sua presença,
c. Poder para estimular os que estão frios e mortos,
d. Autoridade para destruir o avanço do mal.

3.1.3 - Água (Jo 7.38,39; Ex 17.6).


Nossa sede pelas coisas espirituais, somente é saciada quando recebemos o Espírito Santo e isto acon-
tece no ato da nossa conversão. O poder do Espírito Santo opera no reino espiritual o que a água faz
na ordem material. A água purifica, refresca, sacia a sede e torna frutífero o estéril. Ele é a “Água Viva”
que inunda nossas vidas não apenas lavando as imundícies do pecado, como trazendo a Vida de Deus.
Pneumatologia

3.1.4. Vento (Jo 3.8 e At 2.2).


Como “vento”, salienta a versatilidade de ação (não tem direção única, ele age pelos quatro cantos).
Também enfatiza seu poder de ação, que pode se manifestar como uma brisa bem como uma terrível
tempestade a quem ninguém pode resistir. Revela também o poder de vivificar os mortos (Ez 37.9,10),
pois é o Vento da Vida de Deus.

3.1.5. Selo (Ef 1.13; 2 Tm 2.19).


Representa a autenticação ou prova de propriedade que Deus tem sobre nós. Este fato nos traz segu-
rança, pois sabemos de quem somos e para onde vamos. Por esta certeza o Diabo não tem autoridade
para violar a alma, a mente, o coração e o corpo daquele que tem o Selo de Deus. Revelando também
que não somos falsificados e sim originais, pois quando um rei dos tempos bíblicos escrevia uma carta
para alguém, ele a selava usando uma cera quente, e estampava seu brasão que se encontrava no anel real
como forma de impedir que ela fosse rasurada ou alguém usasse seu nome para escrever alguma ordem.

3.1.6 – Pomba (Mt 3.16; Gn 8.8).


Esta ave é símbolo de mansidão, doçura, paz e pureza (Mt 10.16), e este lado amável é encontrado no
Espírito Santo, nosso Consolador. A pomba também é utilizada como portadora de boas notícias.
a. Foi uma pomba que mostrou a Noé que as águas haviam baixado após o dilúvio (Gn 8.11).
b. Foi em forma de pomba que o Espírito Santo indicou dentre a multidão quem era o Messias
Amado (Mt 3.16).
c. Há uma tradição judaica que traduz Gn 1.2 da seguinte maneira: “O Espírito de Deus como
pomba, pousava sobre as águas do abismo.” Para dar ênfase à maravilhosa mudança que ocorreu
no caos.

3.2. Sua atuação no Velho Testamento


Embora a plenitude do poder do Espírito Santo não tivesse sido revelada, há trechos do A.T. que se
referem a Ele e a Sua obra. A palavra hebraica usada para Espírito é “ruah” que às vezes, é traduzida por
“vento” e “sopro”. Sendo assim, as referências no A.T. ao “sopro de Deus” e ao “vento de Deus” (Gn 2.7;
Ez 37.9,10, 14) , também podem referir-se a obra do Espírito Santo de Deus. Neste sentido o Espírito
Santo é mencionado 81 vezes no A.T. Vejamos as Suas principais operações.

3.2.1 Na Criação.
a. Ele desempenhou um papel ativo na criação, preparando tudo para que a Palavra criadora de
Deus dessa forma ao mundo (Gn 1.2 – Pairava – Literalmente é a mesma palavra usada para a ave
que choca o ovo para dali produzir a vida),
b. Ele também é o autor da vida. Quando Deus criou Adão, Ele participou diretamente da criação.
(Gn 2.7 confira com Jó 27.3).

303
Teologia

3.2.2 - Na Comunicação para organização do povo de Deus.


a. Era quem instruía os israelitas no deserto (Ne 9.20).
b. Era a fonte de inspiração para os salmistas (2 Sm 23.2, compare com At 1.16,20).
c. Era quem levantava os profetas para declarar a Palavra de Deus (Nm 19, 1 Sm 10.5,6, 10; 2Cr
20.14; Ne 9.30; Is 61.1-3; Mq 3.8; Zc 7.12 compare com 2 Pe1. 20,21).

3.2.3 - Na Capacitação para obras específicas.


a. Para qualificar os líderes do povo de Israel. Por exemplo. Moisés (Nm 11. 16,17); Os setentas an-
ciãos (Nm 11; 16,17); Josué (Nm 27.18); Gideão (Jz 6.34); Sansão (Jz. 13.25; 14.6,19; 15.14);
Davi (1 Sm 16.13); Zorobabel (Zc 4.6).
b. Para equipá-los para serviços especiais. Por exemplo, José foi submisso ao Espírito Santo e ele
pôde ser um vaso útil a Deus no Egito a favor de todo o mundo (Gn 41.38-40). Bezalel e Ooliabe
foram capacitados pelo Espírito para fazerem o trabalho artístico do Tabernáculo, como também
para ensinar aos outros (Ex.31.1-11; 35.30-35).

3.2.4 - Particularidades deste Período.


Existem algumas particularidades que se referem às operações do Espírito Santo neste período:
a. Vinha apenas sobre poucas pessoas, enchendo-as a fim de lhes dar poder e capacitação para servi-
ços específicos e em tempo determinado.
b. Não houve nenhum derramamento geral do Espírito Santo sobre Israel.
c. É no A.T. que encontramos profecias detalhadas acerca do papel do Espírito Santo sobre o Mes-
sias, (Is 11.1-4; 42.1; 61.1-3) sobre a nação de Israel (Jl 2.28,29) e sobre toda a humanidade.

3.3 Sua atuação na vida de Cristo


O Senhor Jesus Cristo tinha um relacionamento especial com o Espírito Santo, e o Espírito, por sua vez,
estava intimamente ligado ao seu ministério. Observe este relacionamento:

3.3.1 - Na Anunciação.
Inspirando os profetas a anunciar a vinda e o ministério do Messias (Is 11.2; 42.1,2; 61.1-3).

3.3.2 - Na Concepção.
Participando diretamente na concepção de Jesus (Mt 1.18,23; Lc 1.27).

3.3.3 - No Batismo.
Revestiu Jesus no batismo com grande poder para levar a efeito seu ministério, uma vez que ao se fazer
homem esvaziou-se de toda a Sua glória e poder (Fp 2). Como também para testificar que Jesus era o
Amado Filho de Deus (Mt 3.16, 17; Lc 3.21,22; Jo 1.32).

304
Pneumatologia

3.3.4 - No Ministério.
Quando Jesus se referiu ao cumprimento da profecia de Isaías acerca do poder do Espírito Santo sobre
Ele, usou também a mesma passagem para sintetizar o conteúdo do seu ministério (compare Is 61.1-3
com Lc 4.16-19 e At 10.38).

Na concepção sua operação santificou sua humanidade, no batismo consagrou suas


atividades, no ministério capacitou-lhe para fazer somente à vontade do Pai.

3.3.5. Na Cruz.
Sustentando-O na cruz (Hb 9.14). O mesmo Espírito que o fortificou durante todo o seu ministério,
também lhe deu forças para consumar sua missão indo até a cruz e, por isso, o Senhor Jesus pôde “su-
portar a cruz desprezando a afronta” (Hb 12.2).

3.3.6. Na Ressurreição.
Foi mediante o poder do Espírito Santo que Jesus ressuscitou dentre os mortos (Rm 1.3,4; 8.11).

3.3.7. Na Ascensão.
O mesmo Espírito que o ressuscitou dos mortos, O fez assentar à direita nos céus (Ef 1.20).

Depois da ascensão o Senhor Jesus exerceu a grande prerrogativa messiânica que lhe
foi concedida - enviar o Espírito Santo sobre os que creem (At 2.33, Ap 5.6).

3.4. Sua atuação na vida dos homens após o Advento de


Cristo
A operação do Espírito Santo na esfera humana segue uma ordem progressiva e crescente (2 Co 3.18),
sendo que uma depende intrinsecamente da outra. Este modus operandis do Espírito Santo no homem é
divino e maravilhoso como veremos a seguir.

3.4.1. Traz convicção (Jo 16.7-11).


Somente o Espírito Santo convence o homem das verdades, acerca da salvação por Cristo e em Cristo, ou
a condenação por deliberada rejeição do plano salvífico através de Cristo.
Convencer significa.
a. Levar ao conhecimento verdades que de outra maneira seriam postas em dúvidas ou rejeitadas,
b. Provar acusações feitas contra a conduta.

3.4.2. Ele convence os homens das seguintes verdades:


a. Do pecado da incredulidade (16.9). No dia de Pentecostes, ao proclamar o primeiro sermão
evangelístico, Pedro não acusou os seus ouvintes de nenhum pecado a não ser do perigo mortal

305
Teologia

que corriam em não crer em Jesus como o Messias de Deus (At 2.36), isto é, do pecado da in-
credulidade. Por maior e mais perigoso que seja este pecado, tal é a ignorância dos homens a seu
respeito que sua criminalidade é inteiramente desconhecida até que seja descoberto pela ação do
Espírito Santo.

A consciência pode convencer o homem de seus pecados comuns, mas nunca do


pecado da incredulidade...

b. Da justiça de Cristo. (16.10). Jesus Cristo foi crucificado como malfeitor e impostor, mas depois
do dia de Pentecostes com o derramamento do Espírito e a realização dos milagres em Seu nome,
convenceram milhares de judeus de que não somente Ele era justo e também a Única fonte que
produzia a justificação.
c. Do juízo sobre Satanás. (16.11).
• A Cruz foi a demonstração de que o poder de Satanás sobre a vida dos homens foi destruído, e
de que sua completa ruína foi decretada (Hb 2.14,15; 1Jo 3.8; Cl 2.15 Rm 16.20).
• Opera a Regeneração (Jo 3.5, 6; 1Jo 5.4). O homem natural está morto em seus delitos e peca-
dos (Ef 2.1), Cristo diz que o pecador impenitente é um morto vivo, porque, apesar de respirar,
seu espírito está morto pela separação de Deus (Mt 8.21, 22), sendo assim, no momento da
conversão, o Espírito Santo confere a Vida de Deus ao homem (2Co 5.17) implantando no
homem o caráter divino (1Jo 3.9; Tt. 3.4), tornando-o, a partir deste momento, não apenas
conhecedor do mundo espiritual, mas participante ativo deste Reino.
• Decide habitá-lo (Jo 14.17; Rm 8.9; 1 Co 6.19; 2Tm 1.14; 1 Jo 2.27, 3.24). Como Onipre-
sente, o Espírito Santo está em todo lugar, mas o mistério da habitação do Espírito no crente
descreve uma relação pessoal e amorosa, e não uma consequência da magnitude deste seu atribu-
to divino, pois este homem de carne e osso passa a ser o templo do Espírito Santo (1 Co 6.19).
• Completa a Santificação (2 Ts 2.13; 1 Pe 1.2). A santificação na vida do crente é um processo
gradativo, individual, voluntário e que leva em consideração a vontade do crente (2 Co 3.18).
O Espírito que atuou no nosso novo nascimento continua a ser o meio do nosso crescimento
espiritual (Fp 1.6). Este processo é de dentro para fora, transforma nossas motivações, pensa-
mentos e valores para ser manifestados em atos de justiça e boas obras (Ef 2.10, Mt 5.16). O
Espírito usará a Palavra (Jo 17.17) e o sangue de Cristo (Hb 13.12) para este seu propósito.

Recapitulação 3

1R3. Mencione uma das razões pelas quais se ungiam pessoas na Bíblia.





306
Pneumatologia

2R3. O poder do Espírito Santo no reino espiritual o que a água faz na ordem mate-
rial. A água , , sacia a sede e torna frutífero o estéril. Ele é a “Água
Viva” que nossas vidas não apenas lavando as imundícies do como
trazendo a Vida de Deus.

3R3. Qual é a palavra hebraica utilizada no A.T. para Espírito Santo e quais são seus significados?





4R3. Mencione textos da Bíblia que mostram a participação do Espírito Santo na vida terrena de Je-
sus:
Na concepção 
No ministério 
No batismo 

5R3. Quais são as verdades usadas pelo Espírito Santo para convencer o homem?





3.5. Sua atuação na vida da Igreja


O ministério terreno do Espírito Santo, exceto pelo fato d’Ele ser invisível e não ter que morrer pelos
homens, é similar e complementar ao de Jesus Cristo que esteve entre nós de uma forma especial. Assim
como Jesus, o Espírito Santo também veio ao mundo com propósitos bem definidos.

3.5.1. Dar Origem a Igreja de Cristo.


O “derramamento pentecostal” não foi meramente uma exposição miraculosa de poder com a inten-
ção de despertar a atenção e convidar a que se inquirisse acerca da nova fé, mas foi o princípio de a
Igreja. Deus utilizou a festa do Pentecostes para o advento do Espírito, a fim de começar a edificar a
Sua Igreja.
3.5.2. Dando Suporte à Igreja de Cristo.
A submissão à direção do Espírito Santo era algo essencial para a Igreja Primitiva. Havia preocupação
em observar a Sua direção. A direção do Espírito é reconhecida nos seguintes aspectos da vida da
Igreja:

307
Teologia

a. Na Administração.
• Na escolha de líderes - (At 13.2, 20,28; Ef 4.11).
• Na execução de projetos - (At 8.29; 10.19, 44; 13.4).
b. Na Pregação.
• Ele é quem ministra a mensagem - (1 Pe 1.12).
• Ele é quem produz alegria, certeza e poder - (1 Ts 1.5,6).
c. No Serviço.
• Ele é quem concede os dons e ministérios, capacitando os membros do Corpo para o trabalho.
(Rm 12; 1 Co 12; Ef 4).
d. Na oração.
Em Ef 6.18 lemos. “... orando em todo tempo com toda oração e súplica no Espírito”. Judas descreve os
verdadeiros cristãos como os que “oram no Espírito Santo”. Em Romanos 8.26, 27 lemos que o Espírito
está fazendo em nós o mesmo que Cristo está fazendo por nós no céu, isto é, está intercedendo por nós
(Hb 7.25). A oração da igreja é muito mais do que um comportamento religioso; é uma arma poderosa
e eficaz quando é feita no Espírito (Tg 5.16; Mt 18.19,20).

“Orai sem cessar... e não apagueis o Espírito” (1 Ts 5.17, 19).

e. Na Adoração.
Como resultado de serem cheios do Espírito Santo, os crentes estarão “falando entre vós com salmos e
hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5.18,19). Falando
entre vós significa canto congregacional. Com Salmos pode se referir ao uso dos salmos do A.T., os quais eram
cantados (como também o são em nossas Igrejas); agora cânticos espirituais denotam expressões espontâne-
as de melodia e louvor, inspirada diretamente pelo Espírito Santo (compare com 1Co 14. 15-17).
f. No Testemunho.
A metáfora “Corpo de Cristo” descreve bem o funcionamento da comunidade sob o controle do Espí-
rito Santo.
• Na Igreja Primitiva não havia essa linha de separação entre o ministério e o povo. Todos os
cristãos conheciam seu lugar no corpo, e desempenhavam suas funções através de seus dons.

Será que a busca de profissionais eclesiásticos que temos hoje não reflete a falta de
submissão ao Espírito Santo e da ignorância aos seus dons?

Na Igreja Primitiva não havia dia específico para evangelizar, todo dia era dia de conversões, uma vez
que eles experimentavam diariamente o poder do Evangelho de Jesus e o do Espírito Santo (At 1.8; 2.4;
4.31; 6.3...).

Será que os cultos e as campanhas evangelísticas que alguns servos de Deus fazem
não refletem a falta de novo nascimento da maioria dos que se dizem cristãos sendo
apenas religiosos?

308
Pneumatologia

Alguns têm chegado à conclusão de que o Espírito Santo, após o arrebatamento da Igreja, já não estará
no mundo (2 Ts 2.7). Isso não pode ser, pois o Espírito, como deidade, é onipresente. O que acontecerá
é a conclusão da Sua missão como o Espírito de Cristo e a partir daí Ele não mais interferirá no curso
da vida daquelas pessoas que ficarem. Com o arrebatamento, o Espírito Santo irá com a Igreja para as
Bodas do Cordeiro, como estudaremos na disciplina “Escatologia” que faz parte da grade do curso pleno
do IBBC.

3.5.3 - Na ressurreição dos Santos e no Arrebatamento da Igreja.


Como vimos, o trabalho do Espírito Santo na terra foi, e é, a formação do corpo de Cristo (Ef 2.11-22),
que é a igreja. Quando o número dos salvos se completar e terminar o tempo dos gentios (Rm 11.25)
acontecerá o cumprimento literal das promessas do Senhor Jesus.
a. Voltar para buscar a Igreja (Jo 14.3).
b. Ressuscitar os salvos para a vida eterna (Jo 11.25, 26).
c. Na ordem correta dos acontecimentos a ressurreição dos mortos será o primeiro (1 Ts 4.13-17),
seguido instantaneamente do Arrebatamento da Igreja (1 Co 15.51,52).
d. O Espírito Santo tem um papel importantíssimo nestes dois eventos.
• Ele é o operador da ressurreição dos que morrem em Cristo (Rm 8.11, 1 Co 6.14; Fp 3.21).
• Ele é quem conduzirá a Igreja ao encontro de Cristo nos ares (1 Ts 4.17, Ap 22.17).

3.6 - Sua atuação após o Arrebatamento da Igreja


O Espírito Santo está conosco e não nos deixa um minuto sequer. Desde o Pentecostes Seu trabalho
tem sido constante e interrupto, mas eis que o dia de Seu retorno ao céu (para conduzir a Igreja) está
próximo e o Seu último brado se tem feito ouvir com e através da Igreja: “Maranata – ora vem Senhor
Jesus!” (Ap 22.17 e 20).
Quando ocorrer o Arrebatamento da Igreja, o anticristo terá mais liberdade de ação, visto que será
afastado Aquele que o restringe. Neste período chamado de Grande Tribulação, o trabalho do Espírito
Santo será como era no A.T.; Sua ação será esporádica e especial, a exemplo dos 144.000 (Ap 7.1-8) e
das duas testemunhas (Ap 1.3).

Recapitulação 4
6R3. Em que dia ocorreu o inicio do ministério do Espírito Santo?





309
Teologia

7R3. Quais são as evidências que encontramos na vida da Igreja que provam a presença do Espírito
Santo?





8R3. Onde estará o Espírito Santo quando a Igreja for arrebatada?







9R3. Quando ocorrer o da Igreja o anticristo, terá mais de ação,


visto que será afastado Aquele que o restringe.

310
4. Os pecados contra a pessoa do Espírito Santo

Basicamente são cinco os pecados, e são cometidos por duas classes de pessoas distintas.

4.1. Cometidos pelos Crentes

4.1.1. Entristecê-lo (Ef 4.30).


A palavra “entristecer”, neste caso, significa “afligir” e “consternar”. Trata-se diretamente de pecados
cometidos por pessoas já regeneradas nos conflitos entre “a carne e o Espírito” (Gl 5.16-26), e entre “as
propostas do mundo e a vontade de Deus” (1 Jo 2.15-17, Tg 4.1-5), e o Espírito é derrotado em ambas
as batalhas na vida do crente.
As más ações, pensamentos impuros e palavras frívolas, fragmentam a nossa comunhão com o Espírito
que, por ser Santo, não pode aceitar comportamentos que refletem o oposto daquilo que Ele é e está
fazendo em nós. Estes comportamentos ferem Seu Ser, pois não combinam com Sua natureza. Ele deseja
guardar o cristão debaixo de seu “selo” para o dia da redenção, mas este cuidado soberano e poderoso
está condicionado à obediência e sujeição do cristão a Ele.
Quando o Espírito tem liberdade de agir no cristão, Ele revela os mistérios de Cristo, como também
nos proporciona paz, alegria, gratidão e poder. Quando o entristecemos, Seu ministério em nós fica
interrompido e a vida plena deixa de ser uma verdade para o crente que comete este pecado. As conse-
quências deste comportamento são:
a. Perda da intimidade com o Pai.
b. Profunda angústia (Davi e Pedro).
c. Volta a antigos vícios e comportamentos.

4.1.2. Mentir para o Espírito Santo (At 5.3,4 comparar com Is 63.10).
Mentir é afirmar o que se sabe ser falso ou negar o que se sabe ser verdadeiro. A mentira tem origem em
Satanás, que é quem a inventou (João 8.44), e sempre está em oposição a Cristo que é a verdade (Jo 14.
6 17; Rm 3.4; 1 Jo 2.21).
Mentir ao Espírito Santo se constitui um ultraje ao Seu atributo divino de onisciência, isto é, tudo está
absolutamente diante d’Ele (1 Co 2.10,11).
A mentira é uma atitude que expressa carnalidade, hipocrisia e incredulidade diabólica de esconder algo
que sabemos ser errado e pecaminoso, e que muitas vezes está vestida de “roupagem religiosa”.
Sofrem as consequências deste pecado através de:
Teologia

a. Vergonha pública – Ananias e Safira.


b. Perda de autoridade espiritual.
c. Perda da sensibilidade à voz do Espírito.

4.1.3. Extinguir o Espírito Santo (1 Ts 5.19).


Em algumas versões, traduz como ”apagar” que significa literalmente “fazer que cesse de queimar e
brilhar”; neste caso o pecado está relacionado a um atrevimento deliberado do cristão de “abafar ou
interromper” a operação do Espírito Santo. Este comportamento vai desde impedir a manifestação e o
exercício de dons e fruto espirituais, como da indiferença à obra que o Espírito está fazendo em nosso
meio. As consequências deste comportamento são:
a. Perda da motivação e dinâmica do Espírito por uma vida meramente religiosa.
b. Convivência pacífica e amigável com o pecado.
c. Geralmente leva outros cristãos ao seu padrão imoral e letárgico.

Creio que a existência destes pecados na vida do cristão pode levá-lo a um estado de
“coma total”, porém, neste estado, ainda que não faça nada, o paciente ainda está
vivo, ou seja, salvo.

4.2. Cometidos pelos Incrédulos

4.2.1 Resistir ao Espírito Santo (At 7.51).


A atitude de resistir ou opor-se ao Espírito é uma característica inerente a pessoas de “dura cerviz”
(Ex.33.5), teimosas, obstinadas, que assumiram uma postura “religiosa” ou um modo de vida e insistem
em continuar como estão e não se deixam convencer mesmo diante de evidências irrefutáveis (Lc 21.15).
No Novo Testamento temos um dos muitos exemplos que ilustram este tipo de pecado; trata-se da re-
sistência dos membros do Sinédrio judeu, contra o evangelista Estevão (At 6.9-15).
4.2.2. Blasfemar contra o Espírito Santo (Mt 12.31,32).
Há na Bíblia promessa de perdão para todo pecado (Lv 4.20; 2 Cr 7.14; Jr 3.12; Ez 36.33; Lc 24.47; At
5.31; Ef 1.7; Tg 5.15; 1 Jo 1.7-9; 2.1), menos para um. “a blasfêmia contra o Espírito Santo”.
Blasfemar é proferir palavra de insulto contra a terceira pessoa da Trindade rejeitando tudo que Ela diz
sobre Jesus Cristo e atribuir ao Diabo ou ao homem os Seus feitos. Os inimigos de Jesus, quando O acu-
saram de expulsar demônios pelo poder de Satanás, cometeram este pecado, uma vez que Jesus afirmou
que fazia estas obras “pelo poder do Espírito Santo”.
Este pecado atinge aquelas pessoas que viram e sentiram de uma forma irrefutável, o poder do Espírito
Santo em sua vida e em seguida o recusaram, com zombaria, escárnio e incredulidade.
É preciso ressaltar que, vez por outra, aparecem irmãos vivendo terríveis crises; alguns pensando em
tomar atitudes extremas, por pensarem que cometeram este pecado e por isso estão condenados ao in-

312
Pneumatologia

ferno. É importante que se afirme que o Diabo lança pensamentos imundos e blasfemos em nossa mente
de uma forma sutil para rapidamente nos acusar, e isto ele sabe fazer muito bem (Ap 12.10).
Contudo os pensamentos blasfemos, imorais, perniciosos ou qualquer outro de origem maligna não se
constitui em primeira instância, um pecado mortal, pois é impossível impedir o fluxo do pensamento
em nossa mente; não obstante torna-se pecado quando aprovamos e cultivamos, pondo-o em seguida
em prática.
Pelo fato de alguém se sentir culpado (por uma falsa acusação), arrependido e desejoso de perdão, é
suficiente prova de que não cometeu o pecado imperdoável, porque quem o tiver cometido não tem
semelhante comportamento.

Recapitulação 5
4R1. Relacione os três pecados cometidos pelo crente contra o Espírito Santo.





2R4. Mentir ao Santo se constitui um ao Seu atributo divino


de , isto é, tudo está absolutamente diante d’Ele (1 Co 2.10,11).

3R4. Contudo os pensamentos , imorais, perniciosos ou qualquer outro de


origem não se constitui em primeira instância, um mortal, pois é
impossível impedir o fluxo do em nossa mente; não obstante torna-se pecado quando
e cultivamos, pondo-o em seguida em prática.

4R4. O que é resistir ao Espírito Santo?







313
5. O fruto do Espírito Santo

5.1. Compreendendo a sua importância


A prova irrefutável da operação completa do Espírito Santo sobre o Filho de Deus é a manifestação do
Fruto do Espírito. Esta virtude caracteriza uma vida realmente cheia (saturada – Ef 5.18) da Sua Presença.
Mas o fruto do Espírito é: o amor, o gozo, a paz, a longanimidade, a benignidade, a bondade, a
fidelidade, a mansidão, o domínio próprio; contra estas coisas não há lei.
E os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
Se vivermos pelo Espírito, andemos também pelo Espírito.
Não nos tornemos vangloriosos, provocando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros...
(Gl 5.22-26).
Tudo descrito nos versículos acima está em contraste com o precedente da carta escrita aos Gálatas.
Fruto no lugar de obras; Espírito no lugar de carne, e uma lista de virtudes maravilhosas e desejáveis
em lugar de outra que descreve comportamentos desajustados por causa da sujeição ao pecado. Enfatiza
também a unidade e coerência da vida no Espírito em oposição à desorganização e instabilidade da vida
dirigida pelos desejos da carne.
Uma vez que este fruto foi visto em sua plenitude em Jesus e o ministério do Espírito é produzir o ca-
ráter de Cristo nos cristãos, é de uma importância vital a consciência da necessidade que temos desta
frutificação.
A palavra “fruto” está no singular, pois Deus espera que todos os seus aspectos reflitam apenas uma única
e notável virtude, ou seja, eles são partes integrantes do desenvolvimento espiritual. Em outras palavras,
Deus deseja que todas as virtudes existam simultaneamente no cristão e cresçam progressivamente na
sua vida como explica Pedro na sua segunda carta (1.1 – 11). Neste texto, ele mostra a necessidade do
equilíbrio entre a graça divina e o esforço humano. Desta verdade precisamos compreender alguns fatos:

5.1.1. A frutificação espiritual, na totalidade de seu desenvolvimento, não consiste meramente em resolu-
ções morais e esforços humanos.
5.1.2. A frutificação espiritual é a única forma de refletirmos a imagem de Cristo.
5.1.3. A frutificação espiritual são qualidades morais, porém, implantadas pelo Espírito Santo.
5.1.4. A frutificação espiritual, apesar de ser obra do Espírito Santo, condiciona-se à volição do homem
e ele deve procurar desenvolver, em conjunto com a operação do Espírito Santo, as virtudes nele im-
plantadas na regeneração.
Pneumatologia

5.2. Definindo a sua manifestação

5.2.1. Amor – Do termo grego “ágape” (1 Jo 4.8; Rm 5.5; 1 Co13. 13; Gl 5.6; Ef 5.2; Pv 10.12).
Esta qualidade aparece logo no começo da lista das virtudes cristãs geradas pelo Espírito, porque o amor:
a. É a fonte de todas as demais virtudes (1 Co 13.4-13),
b. É o solo onde todas as demais são cultivadas (1 Co 13.1-3),
c. É a principal característica do filho de Deus (1 Jo 4.7-12),
d. Consiste em querer para os outros, aquilo que queremos para nós (Mc 6.31),
e. É o que inspira e vitaliza a fé (Gl 5.6. 5.2.2) - Alegria (cara – chara) (Jo 15.11; 17.13; Rm 14.17;
2 Co 6.10, 8.2, 12.9, 1Ts 1.6).

5.2.2. Gozo ou Alegria - O termo grego “charis” traduzido em português por “graça”, vem da mesma
raiz. Por isso que, quem geralmente é alegre, é engraçado. Trata-se daquela virtude na vida que é graciosa
e bondosa, caracterizada pela boa vontade, generosa nas dádivas aos outros, como resultado de um senso
de bem-estar espiritual por causa de uma correta relação com Deus. Deus se agrada de corações alegres
e animados (Zc 9.9, Fp 4.4).
• Não é emocional, artificial, religiosa ou mecânica,
• Reflete conhecimento e confiança no Senhorio de Cristo,
• Reflete gratidão pelos cuidados de Cristo,
• Reflete esperança na fidelidade de Cristo,
• Não é circunstancial.

5.2.3. Paz – Termo grego “eirene” (Jo 14.27; 16.33; Rm 5.1, 15.33; Fp 4.7; 1 Ts 5.23, Hb 13.20).
• Evidencia intimidade com Deus. É mais que uma tranquilidade íntima que prevalece sobre as
tempestades externas, é produzida pela reconciliação, pelo perdão dos pecados e pela conversão
da alma.
• Evidencia a consciência grata, pelo que se é, e não pelo que gostaria de ser ou ter, por estar de
“bem” com o seu Criador.
• Evidencia o reconhecimento do perdão divino a si, imerecidamente, por isso, está sempre atento
para desarmar todo ódio, desavença, contenda, inveja que a tentar surgir como obra da carne.
• Evidencia que estamos aceitando o consolo que vem de Deus (Fp 4.6).
• Evidencia que é algo que existe em você e pode ser oferecido para outros (Is 52.7, Mt 5.9, Ef
6.15, Rm 12.18).

315
Teologia

5.2.4. Longanimidade – Do termo grego “makrothumia” – lit. “grande paciência”, “perseverança” (Ef
4.2; 1 Ts 5.14; 2 Tm 3.10; Hb 12.1; Pv. 15.18; 16.32).
a. Quando é uma qualidade atribuída a Deus, significa que Ele tolera pacientemente todas as iniqüi-
dades do homem, não se deixando arrebatar por explosões de ira e furor. Ele se mostra longânime
ante tais coisas, aplicando a sua misericórdia, e não a sua justa indignação (2 Co 6.6; Cl 1.11e
3.12 1; Tm 1.16; Rm 2.4; 9.22; 1 Pe 3.20; 2 Pe 3.9,15).
b. Como fruto da submissão do cristão ao Espírito, é a capacidade de suportar as fragilidades e pro-
vocações alheias com base na consideração onde Deus se tem mostrado extremamente paciente
para conosco.
c. É a capacidade espiritual para suportar todas as tribulações e dificuldades da vida, sem murmura-
ções e rebeldias, submetendo-se a cada dispensação da providência de Deus (Sl 23).
d. É a disposição paciente que nos permite subjugar a ira e o senso de contenda, tolerando as injú-
rias, recusando a revidar ou se vingar do mal recebido (Rm 15.1).

5.2.5. Benignidade - Do termo grego “chrestotes” (Ef 4.32; Cl 3.12; 1 Pe 2.3).


a. Significa gentileza, bondade, excelência de caráter, honestidade, amabilidade.
b. Qualidade espiritual que encoraja e estimulam outros a buscarem a sua presença.
c. É a benevolência nas atitudes, uma virtude visivelmente social, motivada pelo Espírito.

5.2.6. Bondade – Do termo grego “agathosune” (Rm 15.14 e 2 Ts 1.11).


a. Caráter intimamente bondoso que se predispõe a ajudar os necessitados.
b. É uma honestidade definida de motivações e conduta.
c. Pode ser expressa em atos de bondade (Lc 7.37-50) ou na repreensão e na correção do mal (Mt
21.12,13).

5.2.7. Fé – Do termo grego “pistis” (Mt 23.23; Rm 3.3; 1 Tm 6.12; 2 Tm 2.2; 4.7; Tt 2.10).
a. Pode significar tanto confiança, quanto fidelidade.
b. Não consiste em um credo ou na aceitação de um conjunto de doutrinas.
c. Princípio orientador e normativo da nova vida, (Rm 1.17).
d. Capacidade espiritual para depender, confiar e entregar-se a Cristo.
e. É uma visão espiritual que passa inevitavelmente à ação.
f. Lealdade constante e inabalável com quem está unido por promessas, compromisso, fidedignida-
de e honestidade.

5.2.8. Mansidão - Do termo grego – “prautes” (2 Co 10.1; 2 Tm 2.25; 1 Pe.3.15).


a. Moderação, associada à força e à coragem,
b. Descreve alguém que pode irar-se com equidade quando for necessário,

316
Pneumatologia

c. Humildade suficiente para submeter-se quando for preciso.

Exemplos de mansidão:
• Cristo (Mt 11.29, Mc 3.5),
• Paulo (2 Co 10.1, 2 Co 10.4, 6 e Gl 1.9) ,
• Moisés (Nm 12.3 com Ex 32.19, 20).

5.2.9. Domínio próprio – Do termo grego “egkrateia” “reprimir com mão firme” (1 Co 7.9; 9.25; Tt
1.8; 2.5).
a. Controle ou domínio sobre os desejos e paixões com a intervenção do Espírito,
b. Fidelidade aos votos (espirituais, conjugais,...) com a ajuda do Espírito,
c. Controle do ego por meio da submissão ao Espírito.

Recapitulação 6
1R5. Por que a palavra “fruto”, referindo-se ao Espírito Santo, está no singular e não no plural se são
vários?





2R5. Quais são os aspectos do Espírito encontrados em Gl 5.22?







3R5. Por que o cristão precisa ter o fruto do Espírito?







317
6. O REVESTIMENTO DE PODER

6.1. Entendendo os Batismos


Todo cristão tem o Espírito Santo (Ef 1.13), entretanto nem todos são batizados com ou no Espírito San-
to (At 8.14-17; 19.1-6) há muita confusão com respeito a este assunto nos meios evangélicos. Porém, a
Bíblia trata desta poderosa experiência de uma forma muito especial.
• A Bíblia fala do batismo do Espírito Santo (Rm 6.3, 1 Co 12.13; Gl 3.27,28),
• A Bíblia fala do batismo com ou no Espírito Santo (Mt 3.11; Jo 1.33; At 1.5).
No primeiro caso o Espírito é o batizador. Ele mergulha/ imerge (batiza) o crente no Corpo espiritual
de Cristo, que é a Sua Igreja (Ef 1.20-23; Cl 1.24). Neste batismo todos os verdadeiros cristãos são
participantes. No segundo caso, o batizador é o Senhor Jesus (Mt 3.11) que mergulha o crente no poder
vitalizador do Espírito Santo. Esta transmissão de poder também é denominada biblicamente como ‘ser
cheio do Espírito Santo’ (At 2.4).
Antes de qualquer pré-conceito, precisamos esclarecer algumas verdades bíblicas sobre o Batismo com
o Espírito Santo:

6.1.1. Trata-se de uma promessa feita pelo Deus Eterno (Jl 2. 28-32).

6.1.2. Está acessível a todos os regenerados pelo sangue de Cristo (At 2.39; 10.44-46).

6.1.3. É tratada apenas no livro de Atos, pois:


a. Os Evangelhos contêm apenas a profecia da vinda do Espírito.
b. As Epístolas contêm, em sua maioria, instruções pastorais às Igrejas estabelecidas onde as mani-
festações exteriores e individuais do batismo no Espírito Santo eram consideradas normais a todos
os cristãos.
c. Somente no livro de Atos é que temos registrado o batismo no Espírito Santo e os resultados
imediatos.
O batismo com o Espírito Santo (Mt 3.11) é também conhecido como revestimento de poder (Lc
24.49), e esta é uma experiência subsequente à conversão (At 2.1-4); note que os discípulos já eram
crentes, tendo em visto que:
• Foram enviados a pregar armados de poder espiritual (Mt 10.1 e Lc 10.20).
• Foram enviados a pregar com os pecados purificados (Jo 15.3).
Pneumatologia

• Tinham um relacionamento real com Cristo (Jo 15.5).


• Tinham experiência real com o Espírito (Jo 14.17, 20.22).
• Esta era a realidade dos discípulos antes do Pentecostes e também depois dele (At 8.12-16).
O que distingue e o que predomina no batismo com o Espírito Santo é o poder para o serviço cristão
(At 1.8); em outras palavras, é a capacitação sobrenatural de Deus para o cristão desempenhar melhor
sua missão no reino de Deus; Cristo diz que esta experiência é o cumprimento da promessa do Pai (At
1.4). Sempre que lemos acerca do Espírito Santo “sobre”, “repousando sobre” ou “enchendo” as pessoas, a
referência nunca é à obra salvadora do Espírito, mas sempre ao poder para servir.

6.2. A evidência de seu recebimento

6.2.1. O Falar em Línguas não conhecidas/ estranhas.


Em todas as narrativas do livro de Atos, onde os resultados são registrados, sempre houve uma mesma
expressão imediata, sobrenatural, e exterior convincente, não somente para quem recebeu, mas para
quem via e ouvia um falar extático de uma língua que essa pessoa nunca havia aprendido (At 2.5-13;
8.18).
O Substantivo “línguas” sempre aparece no plural (Atos 2.3,4, 11; 10.46; 19.6; 1 Co 12.10,28 30; 13.
1,8; 14.5,6, 18, 21, 22, 23,39), por duas razões:
a. Referem-se às línguas (vários idiomas) dos homens (At 2.4-12; 1 Co 13.1). De uma forma sobre-
natural o cristão passa a falar um idioma natural (conhecido) sem nenhum aprendizado prévio
(estranho somente para ele), das maravilhas de Deus.
b. O dom de profetizar e outros dons podem evidenciar o batismo com Espírito Santo, porque eles
são independentes entre si. Necessariamente o crente não precisa ter o dom de diversidades de
línguas para ser evidenciado o batismo com Espírito Santo. Apesar do falar em línguas caracterizar
a evidência regular e principal, porém, não é a única prova do batismo com o Espírito Santo, havia
outra manifestação em menor escala como profetizar. Encontramos evidências bíblicas em Éfeso
(At 19.6); no sermão de Pedro (At 2.16-18).
É digno de observação que em 1 Co 12 o apóstolo Paulo trata da questão dos dons dizendo que eles são
independentes entre si. “A manifestação do Espírito é concedida a cada um visando um fim proveitoso” (v.7).
A tradição de um povo nunca pode e jamais será superior a Palavra de Deus. É importante que o cristão
tenha o dom de diversidade de línguas? Sim, muito importante porque com esse dom ele é edificado, e,
quando há intérprete, os outros também o são (1 Co 14.4,5) e ele serve como manifestação sobrenatural
do Espírito Santo através dos crentes a este mundo (1Co 14.22).

6.3. Como receber o Batismo com o Espírito Santo


Para participar desta experiência tremenda e maravilhosa, há dois comportamentos a serem nutridos:

319
Teologia

6.3.1. CRER (Mc 16.17; At 2.44).


A base da nossa vitória está na fé em Cristo e nas suas promessas (1 Jo 5.4-5). Como Deus é imutável
(Hb 13.8), Ele continua conosco (Jo 14.16, Mt 28.18-20) batizando os seus amados no Espírito Santo;
basta ver os milhões que ainda hoje experimentam este batismo.
A dúvida e o racionalismo (incapacidade de uma explicação lógica) tem sido empecilho para o recebi-
mento desta bênção (Tg 1.6,7).

Lembre-se!
“Os sinais seguirão aos que crerem” (Mc 16.17). Falar em outras línguas - é um sinal!

6.3.2. BUSCAR (Lc 11.9-13)


Neste parágrafo, o Senhor Jesus está incitando (estimulando) seus discípulos a orarem ao Pai com insis-
tência (vs. 8, 9) para pedirem o Espírito Santo (“pneuma agion”) (v.13). O que nos chama a atenção é que
no parágrafo anterior Jesus está orando ao Pai (11.1) e, no posterior, Ele está expulsando um demônio
(11.14). Note que a busca do Espírito está entre a intimidade com o Pai e a autoridade sobre os demô-
nios. O apóstolo Paulo entendeu esta verdade e em Ef 6.10 convoca-nos a fortalecermos no Senhor e na
força do Seu poder, para uma batalha espiritual.
E recebereis poder ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas...
(At 1.8).

Recapitulação 7
1R6. Quem são as pessoas que recebem o batismo “do” Espírito Santo?



2R6. O dom de “falar em outras línguas” é a única evidência de batismo com Espírito Santo? Explique
sua resposta e justifique-a com versículos bíblicos.



3R6. O que o cristão precisa fazer para receber o batismo com Espírito Santo?




320
Pneumatologia

4R6. O que você entende sobre as “novas línguas” de Mc 16.17?







321
7. Os dons do Espírito Santo

7.1. Compreendendo o propósito dos dons espirituais


Os dons do Espírito são ferramentas que Ele confere ao crente para o desempenho do serviço cristão
(1 Co 12.7-11). Há muita confusão sobre esta dádiva causada principalmente pelo desconhecimento,
incredulidade e soberba.
Alguns fatos devem ser definidos:

7.1.1. O propósito principal dos dons é a edificação (crescimento e amadurecimento) da Igreja de Cristo
(Ef 4.7-13), e não produzir astros ou estrelas do tipo “O PODEROSO servo de Jesus”.

7.1.2. Apesar da diversidade de dons e aparente importância de uns sobre outros (alguns são mais visí-
veis que outros), todos são igualmente importantes.

7.1.3. Que os dons espirituais nunca serviram, não servem e não servirão de atalho para o amadureci-
mento espiritual, tão pouco prova a maturidade de quem tem algum.

7.1.4. Que há um plano fundamental e divino em exercitá-los, mas existe algo mais importante do que
os dons na vida da Igreja. É de nossa responsabilidade a maneira com que usamos os dons espirituais.
Os imaturos olham com um pouco de inveja por dons que não receberam; outros mostram um pouco
de presunção e orgulho pelo dom que receberam.
O propósito com que os dons espirituais foram dados não pode ser julgado pela atitude imatura e me-
díocre de alguns dos seus recebedores.
O apóstolo Paulo compara a Igreja a um corpo físico, onde cada membro tem a sua função especial,
onde todos trabalham juntos e com o mesmo propósito (1 Co 12.14-21). Com isso, ele está afirmando
que se qualquer um de nós estiver faltando, o corpo está incompleto, ao mesmo tempo em que o mem-
bro, por estar longe do corpo, está morrendo.

7.2. A origem dos dons Espirituais

7.2.1. Estes dons vêm do Espírito Santo.


a. É Ele quem decide quem deve receber.
b. É Ele quem decide que dom receberá.
Pneumatologia

c. É Ele quem decide se a sua busca por algum dom será concedida ou não.
d. A insatisfação com o dom que tem ou não é pecado.
e. A inoperância do dom que você tem também é pecado.
f. Como Ele é dinâmico e soberano, a lista de dons não está completa ou terminada.
g. Somente tem o dom enquanto estiver em Cristo.
h. Os dons somente serão usados para edificação, exortação e consolação (1 Co 14.3).

7.2.2. Dons espirituais não são talentos naturais ou capacitações adquiridas.


Nas passagens que tratam sobre os dons (Rm 12; 1 Co 12; Ef 4; 1 Pe 4.10) achamos aproximadamente
20 manifestações. O VT ainda enumera alguns outros que não aparecem nestes textos. Muitos destes se
parecem com habilidades ou talentos naturais que as pessoas podem ter ou adquirirem com treinamen-
to. Veremos no quadro abaixo algumas das diferenças entre eles:

DONS TALENTOS CAPACITAÇÕES


Do Espírito Santo De nascimento Adquirido através de
ORIGEM estudo ou exercício
Crescimento e Satisfação pessoal, Desenvolver
OBJETIVO amadurecimento da estimular em outros o habilidades visando
Igreja (Ef 4.12) prazer pelo belo e arte. fins trabalhistas ou
comerciais.
Ser usado É usado como Na sua maioria,
altruisticamente para adorno ou objeto de apenas com fins de
produzir unidade. decoração. São egoístas, sustento e comércio.
USO individualistas e O que interessa e o
independentes. que produz; não quem
produz.

Sempre é dom de Deus Pode ser transformado Está mais interessado


PARTICULARIDADES por Deus em dom (Ex nos resultados do que
31) nos meios.
Precisa ser descoberto e Precisa ser controlado e Precisa ser dominado,
PRECISA desenvolvido. amadurecido pois escraviza.
Seu exercício traz Seu exercício promove Seu exercício promove
paz, alegria e frutos uma melhora a felicidade de uns pela
EXERCÍCIO espirituais. momentânea no padrão exploração de outros.
de vida humano.

323
Teologia

7.3. Expressões que descrevem a natureza dos dons


espirituais
A Bíblia emprega alguns termos que descrevem a natureza dos dons espirituais.

7.3.1. Dons espirituais – Palavra grega “pneumatika” = do Espírito (1 Co 12.1, 7; 14.1).


A expressão refere-se às manifestações sobrenaturais concedidas como dons da parte do Espírito Santo
e que operam através dos crentes.

7.3.2. Dons - Palavra grega “charismaton” = dons da graça (1 Co 12.4).


A palavra deriva da mesma raiz que a grande palavra cristã “graça”. É uma capacidade ou função
específica, salientando duas grandes verdades:
a. A gratuidade e liberalidade de Deus em nos dar os dons espirituais,
b. A força espiritual dos dons a favor da Igreja e dos que necessitam de ajuda espiritual.

7.3.3. Ministérios - Palavra grega “diakonia” = serviço (1 Co 12.5).


O ministério é a esfera em que um dom é exercido dentro de certo grupo de pessoas ou em certa área
geográfica. Isso mostra que há diferentes tipos de serviços e que certos dons envolvem o recebimento
da capacidade e poder para agir em áreas diversas e diferentes, mas não é a diferença que é salientada,
antes, é a operação do MESMO SENHOR neles. Paulo fala dos dons como continuação do ministério
de Jesus, como servo em nós e através de nós.

7.3.4. Operações - Palavra grega “energematon” = trabalho, ativo (1 Co 12.6).


Deriva da palavra usual para trabalho, obra. O termo indica que os dons espirituais são operações diretas
de Deus, isto é, o poder de Deus em ação visando resultados definidos. Em outras palavras, se refere ao
grau de poder em que um dom se manifesta nas realizações em uma ocasião específica.

7.3.5. Manifestações - Palavra grega “phaneros” = manifestações (1 Co 12.7).


Realça duas verdades:
a. Que os dons refletem a presença e a operação do Espírito Santo,
b. Que os dons são para todos os membros do Corpo de Cristo.

Recapitulação 8
1R7. Apesar da diversidade de e aparente importância de uns sobre (al-
guns são mais visíveis que outros), todos são igualmente importantes.

324
Pneumatologia

2R7. Qual é o principal propósito dos dons espirituais?







3R7. Nas que falam dos dons (Rm 12; 1 Co 12; Ef 4; 1 Pe 4.10) acha-
mos aproximadamente 20 manifestações. O VT ainda alguns outros
que não aparecem nestes textos. Muitos destes se com habilidades ou
talentos que as pessoas podem ter ou com trei-
namento.

4R7. Quais são as duas verdades encontradas na palavra grega charismaton (dom da graça)?





5R7. Deriva da palavra usual para trabalho, obra. O termo que os dons
espirituais são diretas de Deus, isto é, o de
Deus em ação visando resultados definidos. Em outras , se refere ao grau
de em que um dom se manifesta nas realizações em uma es-
pecífica.

7.4. Classificando os dons espirituais


Para nossa melhor compreensão dividiremos os dons em classes.

7.4.1. Dons de saber ou de revelação.


a. A Palavra de Sabedoria.
b. A Palavra de Conhecimento (ou de ciência).
c. O Discernimento de Espíritos.

7.4.2. Dons de ação ou de poder.


a. Fé
b. Curas
c. Operações de Milagres

325
Teologia

7.4.3. Dons de falar ou de expressão – comunicação.


a. Profecia
b. Variedade de Línguas
c. Interpretação das Línguas

7.4.4. Dons Ministeriais (Ef 4.11).


a. Apóstolo
b. Profetas
c. Evangelistas
d. Pastores
e. Mestres

7.4.5. Dons de Suporte ou Apoio (Rm 12.6-8).


a. Ministrar
b. Socorro
c. Exortar
d. Contribuir
e. Presidir
f. Misericórdia

7.4.6. Outros dons.


a. Martírio (1 Co 13.3).
b. Celibato (Mt 19.11).

7.5. Definindo os dons do Espírito Santo

7.5.1. Dons de saber ou de revelação.


• A Palavra de Sabedoria (1 Co 12.8), é uma habilidade de compreender e de transmitir as coisas
mais profundas do Espírito de Deus, de compreender os mistérios cristãos e com extrema capa-
cidade transmiti-los a outros, assim como tomadas de decisões e conselhos.
Este dom também é caracterizado por uma capacitação extraordinária de raciocínio e de encontrar
respostas imediatas para problemas de todas as naturezas (Lc 12.12). Não se trata da sabedoria comum
a todos os crentes que vem de Deus para o viver diário que se obtém pelo diligente estudo e meditação
nas coisas de Deus e na Sua Palavra, e pela oração como lemos em Tiago 1.5, 6. Ele é imprescindível no
ministério do aconselhamento pastoral onde o ministro precisa apresentar soluções práticas para pro-
blemas espirituais, sociais, familiares inerentes aos membros de sua comunidade (Pv 13.10, Cl 3.16).
Encontramos no rei Salomão, uma pessoa possuidora deste dom.

326
Pneumatologia

Na apologética cristã (defesa da fé cristã), este dom é muito importante, pois a sua habilidade espiritual
de expressão e exposição das verdades divinas se faz necessárias (Lc 21.15).
É aplicado àqueles que têm a capacidade de interpretar sonhos (At 7.10) e visão (Ap 13.18; 17.9).
Exemplos do exercício deste dom se encontram em:
• Em José (Gn 41.1-38; At 7.9-10).
• Em Salomão (1 Rs. 3.9-12; 1 Rs. 3.16-18).
• No Senhor Jesus (Mt 13.54; Mc. 6.2).

NÃO CONFUNDA SABEDORIA COM INTELIGÊNCIA


a. A Palavra de Conhecimento ou Ciência (1 Co 12.8).
Trata de um pronunciamento, inspirado divina e sobrenaturalmente, revelando conhecimento a respeito
de pessoas, de circunstâncias e de verdades bíblicas (Rm 2.20; Cl 2.3).
Frequentemente este dom tem estreito relacionamento com o de profecia (At 5.1-10; 1 Co 14.24,25).
Perceberemos abaixo que existe diferença entre o dom de sabedoria e o dom de conhecimento ou ciência.
• Ciência - Conhecimento profundo ou compreensão das coisas divinas.
• Sabedoria - Conhecimento prático ou habilidade que ordena e regula a vida de acordo com prin-
cípios divinos.
Por intermédio deste dom, o Espírito Santo tira o véu e o cristão passa a conhecer os mistérios de Deus
(Ef 3.3). Por isso, este dom espiritual está intimamente ligado com o dom ministerial de mestre, uma
vez que o mestre possui a base e as aplicações de sua fé. Daí, alguns estudiosos afirmarem que esta capa-
cidade divina deve se aplicar tanto ao “acolhimento” (capacidade de reter/armazenar na mente conteúdo
adquirido pelo estudo natural) como à “compreensão” (capacidade de entender mistérios divinos pela
intervenção sobrenatural do Espírito Santo).
b. Discernimento De Espíritos.
A palavra “discernimento” em 1 Co 12.10 vem de um termo grego que compreende diversas ideias:
“ver”, “considerar”, “examinar”, “compreender”, “ouvir”, “julgar de perto”. O exercício deste dom é
necessário em nossos dias, tendo em vista que as Escrituras afirmam acerca das atividades fraudulentas e
enganosas de Satanás e de seus ministros (2 Co 11.14, 15) e a intensificação destas atividades malignas
nos últimos dias (1Tm 4.1-3). Centenas de líderes religiosos em todo o mundo que não são de Deus,
mas do anticristo propagarão, pelos diversos meios de comunicação, doutrinas de demônios com o pro-
pósito de manter sob a pressão do engano milhões de pessoas ensinando meias verdades (Mt 4.11; Gn
3.4,5) para enganar, se possível, até os escolhidos (Mt 24.24; 2Co 2.11; 11.3),

Amados, não deis crédito a qualquer espírito; antes provai os espíritos se


procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora (1
Jo 4.1).

327
Teologia

Meios de provar os espíritos:


• Submetendo a doutrina às Escrituras Sagradas e sujeitando o seu ensino à Palavra de Deus. Para
isso, o cristão precisa conhecê-la, (Hb 4.12; 1 Jo 4.1-6; Gl 1.8).
• Observando os “frutos” do profeta.
A vida e as atitudes do “profeta” são analisadas sob a ótica da experiência, isto é, não se deixe impres-
sionar pela sua aparente “espiritualidade”. Uma das marcas dos falsos profetas é a avareza. Na primeira
oportunidade que eles têm, falam de dinheiro. Outro comportamento é a ostentação. Exemplos de
discernimentos de espíritos.
• Em 2 Rs 5.20-27- Quando Eliseu desmascara Geazí,
• Em Mt 16.23 – Quando o Senhor Jesus repreende a fonte de oposição manifestada em Pedro,
• Em Atos 8.9, ss - Quando Pedro desmascara a Ananias e Safira,
• Em Atos 16.16-18 - Quando Paulo expulsa um espírito de adivinhação, que “falava a verdade”.

Recapitulação 9
6R7. Mencione quais são os dons de ministérios e onde está escrito na Bíblia.





7R7. A de (1 Co 12.8), é uma habilidade de e


de transmitir as coisas mais profundas do de , de com-
preender os mistérios cristãos e com extrema capacidade a outros, assim como
tomadas de decisões e conselhos.

8R7. Mencione o nome de três personagens bíblicos que possuíam o dom de sabedoria.





9R7. Escreva qual a diferença entre o dom de sabedoria e ciência ou conhecimento.







328
Pneumatologia

10R7. Para que serve o dom de discernimento de espírito?







7.5.2. Dons de ação ou poder.

Dom da Fé.
Primeiro é necessário falar o que não é o dom da fé.
• Não é a fé para a salvação (Rm 10.9,10; At 16.31),
• Não é uma fé de acreditar simplesmente na Palavra de Deus (Rm 10.17, Hb 11.1). Esta fé tem
que existir em todos os crentes, pois sem a mesma, é impossível agradar a Deus (Hb 11.6),
• Não é uma fé esporádica que existe agora e daqui a alguns instantes não existe mais,
• Não é “positivismo”; ou seja, alimentar a mente com mensagens do tipo “eu sou um vencedor”,
“eu vou conseguir”, “eu sou forte”. Este é um comportamento sugestionado pelo próprio ho-
mem, e não pelo Espírito Santo.
• Não é um comportamento “teórico” que é visto apenas em palavras e não produz nada.
• Temos que distinguir entre a “graça da fé” e o “dom da fé”. A graça da fé é quando nós cremos
que Deus fará tudo que prometeu em Sua Palavra. Todo cristão tem essa fé, se não a tiver, não
é cristão!
O que é este dom:
• É uma capacitação divina concedida a alguns cristãos para crer em Deus e realizar coisas extra-
ordinárias e miraculosas (1 Co 13.2). É uma convicção em Deus sobre-humana, para realizar o
impossível (Mt 17.20),
• É uma capacitação espiritual que vai colocar o cristão, que a possuiu, sempre em situações de
extrema dificuldade (Dn 3.17; 1 Sm 17.37;) e ao lado de pessoas em crise (1 Rs 18.33-35; At
27.24-25) para conquistar grandes vitórias. É uma confiança inabalável, inquestionável, a des-
peito de situações adversas. Essa fé era característica na vida dos heróis descritos em Hebreus 11.
• É uma convicção tão grande em Deus que não apenas crê, mas é capaz de ver o invisível de Deus
(2 Rs 6.17).
• É uma convicção para crermos em coisas sobre as quais a Bíblia silencia, mas que de uma forma
clara e objetiva o Espírito Santo falou, testificou e/ou revelou.
• Opera em conjunto com outros dons espirituais como o de curas e milagres.
Exemplos deste dom:
• Quando Noé construiu a arca (Gn 6.22).

329
Teologia

• Quando Abraão saiu de sua terra sem saber para aonde ia (Gn 12. 1- 5; Hb 11.8).
• Quando Elias desafiou não apenas os falsos profetas, mas os seus falsos deuses (1 Rs 18.33-35).
• Quando Davi enfrentou o gigante Golias (1 Sm 17.37),
• Quando três jovens escravos, fiéis a Deus, se rebelaram contra uma ordem idólatra real. (Dn 3.17).

Dons de curas.
Da mesma forma que o dom de fé, há algumas observações que devem ser feitas sobre os dons de curas.
O dom de curas físicas às vezes é associado às curas de fé. Esta última pode ser identificada quando
reflete a confiança que na cruz, Cristo não só oferece o perdão dos nossos pecados, mas também a cura
física do nosso corpo (Is 53. 4-5; Mt 8.17).
Sua operosidade está condicionada a fé do enfermo como de quem está ministrando (orando/ungindo).
Confira em Tg 5.13-18; Lc 5.17-26; Mt 13.53-58. É o exercício da autoridade espiritual dada a todos
os membros da Igreja de Cristo (Mc 16.18). Com isso perceberemos que:
• Sua operação não é limitada a pessoas com funções eclesiásticas - pastores, presbíteros, evangelis-
tas, e objetos sagrados - óleo da unção, vinho da ceia (Tg 5.14),
• Não negligencia a validade da medicina (1 Tm 5.23), e deve ser exercitada quando a medicina
traz como diagnóstico final “incurável” e “Deus nos diz” que fará a cura.

Devemos neste momento distinguir a voz de Deus das “profetadas” tão comuns em
nosso meio.

• A colocação das palavras no plural, “dons de curas”, representa que, em si, o dom tem vários
aspectos.
1. Há dons de curas específicas, ou seja, um dom para problemas cardíacos, outro para distúrbios
gástricos, etc.
2. Há diversos aspectos de cura. Pode ser física, emocional e/ou espiritual.
3. Muitas vezes a manifestação deste dom é imediata se for um problema físico.
• Provocada por demônios (Lc 13.11-17),
• Provocada por distúrbios genéticos (At 14.8-14, Atos 3.2-11,)
• Provocada por fatos naturais (Mt 8.14-17,)
• Provocada por idolatria, rebeldia, incredulidade e iniquidades. (Ex 23.26; Dt 7.15; 2 Cr
21.12-20).
4. Gradativa, quando são doenças psicossomáticas (causadas por traumas, acidentes, complexos,
ou seja, começa na mente, depois se manifesta no físico). Pode ocorrer:
• À distância (At 19.11,12).
• Com unção e imposição de mãos (At 9.17; 28.8; Tg 5.14).
5. Na História da Igreja sempre esteve associado ao dom ministerial de Evangelista (Atos 8.5-8).

330
Pneumatologia

6. O ministério do Missionário Manoel de Mello.


Por ser um dom do Espírito Santo, não significa que vai curar todas as doenças de todas as pessoas.

Operações de Milagres.
O significado da palavra milagres no grego é poderes (“dunamesin” – 2 Co 12.12). Um milagre é um
acontecimento que o poder de nenhuma lei física pode produzir; é uma ocorrência espiritual, produzi-
da pelo poder de Deus; uma maravilha, um prodígio. Na maioria das versões do VT a palavra milagre
geralmente é traduzida por prodígio ou feito poderoso. As versões do N.T. geralmente traduzem por sinais
(Jo 2.11) ou sinais e prodígios (João 4.48, Atos 5.12; 15.12).
O possuidor deste dom é habilitado a realizar milagres que fogem à razão humana, e estes milagres ou
maravilhas podem se manifestar como fenômenos extraordinários que mudam regras (leis) predetermi-
nadas ou preestabelecidas. Exemplos destes dons:
• Na vida de Moisés (Ex 7.20 - transformar água em sangue; Ex 14.21 - abriu o Mar Vermelho),
• Na vida de Josué (Js 10.12-14 - Detém o curso do sol e da lua),
• Na vida de Paulo (At 13.11- cega um mágico; At 20.21- ressuscita um morto),
• Na vida de Jesus (Jo 2.9 - transforma água em vinho; Mt 14; 15 – multiplicação de alimentos;
Mt 14.25 - anda sobre as águas; Jo 11.43 - ressuscitou a Lázaro).
Por intermédio deste dom, o Espírito Santo confere poder de Deus ao crente sobre elementos naturais
e sobrenaturais.

Milagre é a interferência sobrenatural de Deus no curso natural da história de


alguém ou de algo com intuito de ajudar. (Pr. José Hélio de Lima).

7.5.3. Dons de Falar ou de Expressões.

Profecia – 1 Co 12.10.
De forma concisa podemos dizer que profetizar significa “proclamar ou falar uma mensagem por inspi-
ração divina, para um fim proveitoso” (1 Co 14.3). Este dom é o primeiro da lista dos dons de expressão
e se destaca pelo fato de ser o único a expor ou exprimir a mensagem de Deus de forma clara e objetiva
aos seus ouvintes.
No VT os profetas eram conhecidos como quem falavam a palavra de Deus à sua geração. Possuíam a
capacidade de predizer o futuro com total precisão (Dt. 13.1-3; 18.22 - A ênfase estava na exposição do
que Deus disse e não na predição).
Alguns tinham um ofício vitalício, outros, temporários.

No NT o OFÍCIO acabou (Mt 11.13). Agora só existe o DOM de profeta (Ef 4.11)
e o ministério de profeta 1 Co 12.10.

331
Teologia

Considerações relevantes sobre o dom de profecia:


• Nenhuma profecia legítima põe em dúvida ou anula a revelação bíblica existente nas Sagradas
Escrituras (2 Pe 1.20; Mt 24.35; Ap 1.3),
• Não tem o caráter “futurista consultivo” - não é “profeciomancia” ocupando o lugar da Palavra
- não é a “leitura espiritual para o seu dia” criando atalhos espirituais no lugar da sua vida devo-
cional diária.
• Sempre promoverá a edificação, a exortação e o consolo (1 Co 14.3),
• Pode revelar o oculto ou o futuro a fim de fazer cumprir os propósitos acima mencionados.
• Cuidado ao ouvir uma “profecia”! Guarde-a em seu coração; pois há três princípios ou fontes
inspiradoras de uma profecia:
1. Inspiração divina (verdadeira) (2 Sm 23.2; Jr 1; 9; At 19.6; 21.11);
2. Inspiração humana (parcial ou partidária) (Jr 23.16; Ez 13.2,3);
3. Inspiração demoníaca (mentirosa) (Is 8; 19,20; 1 Rs 22.22; Mt 8.29; At 16.17).

Variedade de Línguas (1 Co 12.10).


Falar em línguas (glossolalia). Palavra formada dos termos gregos equivalentes - glossa, língua órgão do
paladar e idioma; e lalein, soar, emitir sons, falar - em outras palavras, forma especal de linguagem extáti-
ca (êxtase). Este dom se distingue das línguas como evidência física inicial do batismo no Espírito Santo.
No primeiro caso, as línguas surgem como prova e pode ser experimentado por todos (At 2.4; 19.6); no
segundo, como concessão de um favor a alguns (1 Co 12.10). Como um dom, falar em línguas não é ata-
lho para o poder e a maturidade espiritual. Quando falamos em língua falamos com Deus, mas o reflexo
da maturidade espiritual não está em falar com Ele, antes, em ouvir e obedecê-Lo.
Devido às ênfases errôneas sobre este dom, ele é o mais falsificado tendo suas fontes na excitação psico-
lógica ou como resultado de atuação demoníaca.
Creio que estamos vivendo o que a Bíblia chama de “últimos dias” profetizados em Joel e Oséias onde
coisas extraordinárias aconteceriam.

Particularidades do Falar em Línguas


Há duas mensagens proferidas:
1. Louvor em êxtase dirigido a Deus (1 Co 14.2),
2. Edificação da Igreja quando há intérprete (1 Co 14.5),
Há dois propósitos com esta manifestação espiritual:
1. Como sinal para os incrédulos (At 2.4 e 1 Co 14.22).
2. Como dom para edificação pessoal, quando não há intérprete (1 Co 12.30).

332
Pneumatologia

Interpretação das Línguas (1 Co 12.10).


Interpretar significa explicar o que é obscuro ou incompreensível. No caso deste dom, seria a habilidade
que o crente recebe do Espírito Santo para tornar clara a mensagem do dom de línguas para todos na
Igreja, ou seja, o Espírito Santo que concede o dom de línguas concede outro dom para que possa inter-
pretá-las no vernáculo do ouvinte.
Para pensar!
Em nossos cultos de adoração temos muitas manifestações do dom de Línguas, mas muito pouco,
para não dizer nenhuma, manifestação do dom de Interpretá-las. Por que isso acontece? Será que
estamos mais interessados na edificação pessoal do que na edificação do Corpo? (1 Co 14.4), ou
estamos negligenciando instruções bíblicas como “... o que fala em outra língua, ore para que as
possa entender” (1 Co 14.13).

Recapitulação 10
11R7. Dê um exemplo do que não é dom da fé.





12R7. Dê um exemplo de dom da fé.







13R7. O que é necessário para que um enfermo seja curado através do dom de cura?





14R7. O significado da palavra milagres no grego é (dunamesin - 2 Co 12.12).


Um milagre é um que o poder de nenhuma lei física pode produzir; é uma
ocorrência , produzida pelo poder de Deus; uma , um
prodígio.

15R7. Milagre é a interferência de Deus no curso natural da história de


ou de algo com intuito de ajudar.

333
Teologia

16R7. Qual é o dom que é falsificado hoje nas igrejas?







7.5.4. Dons Ministeriais.


A igreja pode indicar homens para diferentes trabalhos e funções, mas a menos que estes homens te-
nham os dons do Espírito e sejam conscientes que são os dons de Cristo para Sua igreja, sua indicação e
atividades serão sem valor. A consciência de que foi “Ele que concedeu uns para...”, serve para lembrar
aos ministros que os dons do Espírito Santo não são para enriquecimento pessoal, e sim para o enrique-
cimento da Igreja.

Nos primeiros tempos ”trabalhar na Igreja” queria dizer exercer um dom ou


desempenhar um ministério entre cristãos onde quer que estejam, mas aos poucos
veio a significar algum ato religioso dentro de uma empresa religiosa (Ray Stedman).

Em Efésios 4.11,12, encontramos um ensinamento que em muitas situações está no extremo oposto
da escolha e do preparo da liderança eclesiástica hodierna. O apóstolo Paulo trata da liderança da igreja
não no âmbito de capacidades administrativas humanas natas ou adquiridas, mas homens escolhidos
por Deus com capacitações sobrenaturais concedidas pelo Espírito Santo. Denominaremos estes dons
descritos neste texto de dons ministeriais.

Apóstolo (Ef 4.11)


O termo grego é “apostolous” e significa “alguém enviado com uma missão” que em latim é missionário.
O NT usa esta palavra com três sentidos diferentes. No sentido geral todos nós somos enviados ao
mundo por Cristo (João 17.18; 20.21). É usada pelo menos duas vezes para descrever “apóstolos das
Igrejas” (2 Co 8.23; Fl 2.25) mensageiros enviados de uma Igreja a outra com incumbências especiais.
O dom de apóstolo, grupo pequeno e especial que eram os “apóstolos de Cristo”, os doze (Lc 6.12,13),
e Paulo (Gl 1.1). Creio que neste sentido não tem sucessores. Muitos acreditam que os missionários são
os que na prática possuem este dom, pois:
1. São enviados pelo Espírito com uma mensagem específica,
2. São responsáveis pela implantação da Igreja em uma determinada localidade,
3. Exercem autoridade divina para introduzir e fortalecer novas maneiras de agir de acordo com o
evangelho de Cristo,
4. Porque “missionário” é uma palavra que tem sua origem no latim e quer dizer “aquele que é en-
viado com uma missão”.

334
Pneumatologia

Profeta (Ef 4.11).


A nossa palavra “profecia” vem do termo grego “profetas” que significa “expositor público”. Nos tempos
apostólicos este dom tinha duas funções. A transmissão de palavras de Deus para os homens (2 Pe
1.20,21), edificar, instruir, consolar e exortar os crentes nas congregações locais (1Co 14.3), O dom de
profecia no sentido de predição, não ocorre com tanta freqüência como no VT, tendo em vista que hoje
possuímos as Escrituras de forma completa e definida, mas ainda temos a manifestação deste dom com
este propósito.
Como o cânon das Escrituras está encerrado, o dom de profeta deve ser usado no sentido ampliado
de apresentar ao povo de Deus as verdades recebidas não por revelação, mas por iluminação através do
estudo sistemático da completa e infalível Palavra de Deus.

Evangelista (Ef 4.11).


O termo evangelista vem de uma palavra grega, “evangelistas” que significa “aquele que anuncia boas
notícias”. A palavra traduzida para evangelista aparece somente três vezes no NT.
• Em Atos 21.8 - Lucas chama Filipe de evangelista;
• Em Ef 4.11 - Paulo diz que Deus deu evangelista às Igrejas;
• Em 2 Tm 4.5 - Paulo disse a Timóteo que fizesse o “trabalho de evangelista”.
O ministério e a mensagem do evangelista são evidenciados pela:
• Capacidade sobrenatural de falar de Cristo. Essa palavra tem que girar em torno do conteúdo de
Evangelho (nascimento, morte, ressurreição, ascensão e volta de Cristo).
• Porque é um dom visível (está sempre em evidência) é alvo de ataques especiais de Satanás.
O evangelista tem necessidade de ver resultados, mas o dom não é garantia de que estes serão imediatos.
Deve-se tomar o cuidado com a obsessão por números, porque pode ser uma arma do diabo para inibir
o exercício deste dom, ou transformar pessoas, alvos do amor de Cristo, em meras estatísticas. Com isso,
não está sendo eliminada a necessidade de termos eficazes planejamentos (alvos) e controles realistas dos
projetos de evangelização.
Deve-se fazer distinção entre o dom de evangelista e a ordem de Cristo de ser testemunha. A primeira é
a capacidade sobrenatural descrita acima, a outra, é o privilégio e a responsabilidade dada a quem expe-
rimentou a Obra de Cristo em sua vida, de anunciar por palavras e atitudes, afim de que outros também
O aceitem como Salvador e Senhor de sua vida.
Ter o dom sobrenatural de evangelista, não capacita o cristão a convencer o pecador de seu pecado, da
justiça e do juízo; isto é função exclusiva do Espírito Santo e de mais ninguém!

Pastor
A Bíblia não usa a palavra “pastor” no sentido de “função ou cargo eclesiástico de ministros ordenados”.
Tanto o AT como o NT descreve esta função espiritual comparando-a com quem cuida de ovelhas. O
uso do termo é compatível com o ministério do nosso Senhor que aplica a termo “pastor de ovelhas” a
Si mesmo (Jo 10.11,14 compare com Mt 26.31; Hb 13.20 e 1 Pe 5.4).

335
Teologia

Particularidades deste dom:


• Não torna ninguém “dono das ovelhas”. Elas pertencem ao “Supremo e Único Pastor”, Jesus
Cristo. Disse-lhe Jesus. Apascenta as minhas ovelhas (Jo 21.15,16 e 17).
• Exercem-no através de aconselhamentos, advertências e guarda sobre as ovelhas de Cristo.
• Como é um dom do Espírito Santo, há muitos pastores de fato que não são ordenados, como há
muitos ordenados que não são pastores.
• Exercer de uma forma madura e dinâmica este dom, não significa assumir o pastorado de uma
Igreja, ou dedicar-se de tempo integral no ministério. Este dom deve ser usado no auxílio do
pastor da Igreja, nos mais diversos departamentos, projetos e programações.
• A vocação pastoral implica em apascentar tanto as “ovelhas do aprisco” como as “outras” que
estão fora do aprisco; isto é, o pastor vocacionado cuida dos crentes e dos não crentes, jamais se
nega cuidar de qualquer pessoa que precise de Deus independente dela se converter ou não. Um
genuíno pastor não olha para as pessoas não crentes apenas como alguém que poderá se converter
e sim como pessoas que amadas por Deus e que necessitam de seu cuidado.

Mestres.
A palavra grega usada em Efésios 4.11, “didaskalous”, significa “instrutor”. Na grande Comissão (Mt
28.18-20), logo depois da ordem de discipular, vem “ensinando-os (a mesma raiz de Ef 4.11) a guardar
todas as coisas que vos tenho ordenado”. Uma das coisas que a igreja mais precisa na atualidade é de
mestres em Bíblia. O objetivo do ensino cristão é que os cristãos sejam conformes à imagem de Jesus
Cristo. Isso pode e deve ser feito com simplicidade, humildade, amor e profundidade (profundidade
não é sinônimo de complicado, obscuro, difícil, ou que está além da capacidade de assimilação das ove-
lhas de Jesus).
O desempenho deste dom está associado ao dom de pastor. Isso revela a intenção e o propósito do Espí-
rito Santo de que o ensinador espiritual deve ter uma sensibilidade amorosa e meticulosa das verdadeiras
necessidades do rebanho de Cristo.
É muito importante que o possuidor deste dom procure aperfeiçoar-se através da realização de alguns
cursos, teológico, bíblico ou secular (cursos ou faculdades ligadas à área de ensino), que venham auxili-
á-lo no exercício de seu dom. Mas o desenvolvimento deste dom, de uma forma eficaz, não depende de
diplomas e sim de submissão e disciplina ao Espírito Santo e à Palavra de Deus.
Paulo estava convicto da importância do ensino para o crescimento quantitativo e qualitativo da Igreja
quando disse a Timóteo: “E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo
transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros” (2 Tm 2.2).
O ensino produz crescimento ordenado e saudável. A estes homens que faziam parte da liderança da
Igreja de Éfeso, a qual Timóteo pastoreava, o apóstolo escreveu: “Jamais deixando de vos anunciar coisa
alguma proveitosa e de vo-la ensinar publicamente e também de casa em casa,... porque jamais deixei de
vos anunciar todo o desígnio de Deus” (Atos 20.17, 20, 27).
Quando os crentes entenderem que o “ensino” é tão importante quanto à “pregação”, a Grande Co-
missão será mais que uma proposta quase impossível de ser realizada; antes verão que o Cristo que os

336
Pneumatologia

designou para efetuá-la, capacitou muitos membros com o dom do ensino para torná-la plenamente
executável.
Essa distorção antibíblica de trocar dons de ministérios por profissionais altamente capacitados tem
transformado a Igreja em um grande estádio onde 22 homens em campo precisam desesperadamente de
descanso e milhares nas arquibancadas precisam de trabalho.

Recapitulação 11

17R7. O apóstolo Paulo trata da _____________ da igreja não no âmbito de ________________


administrativas humanas natas ou adquiridas, mas homens ______________ por Deus com capa-
citações sobrenaturais concedidas pelo Espírito Santo.

18R7. Explique qual a principal função de cada dom de ministério.

Apóstolo:





Profeta:





Evangelista:





Pastor:





337
Teologia

Mestre:





7.5.5. Dons de Suporte.

Dom de Ministério (Rm 12.7). Termo grego diakonian.


No N.T. o vocábulo “ministério”, aparece vinculado a alguma forma de ministração física, como no caso
de Marta (Lc 10.40), embora também indique alguma forma de serviço espiritual como os prestados
pelos anjos aos herdeiros da salvação (Hb 1.14). Há outra utilização deste termo para descrever o ofício
diaconal (At 6.2, Fp 1.1 e 1 Tm 3.8,12).
A palavra indica um serviço prestado a outras pessoas. Podendo se referir à administração das esmolas e
o atendimento às necessidades materiais dos membros da Igreja. É a capacidade sobrenatural dada pelo
Espírito Santo de sentir uma motivação para atender às necessidades de outros, sendo intensamente
prestativo.

Dom de Socorro (1 Co 12.28). Termo grego “antilempseis”.


O dom de socorro significa “auxiliar”, “ajudar”. Este dom possibilita a milhares de “leigos” a propagar o
reino de Deus de formas especiais:
• Exercendo funções administrativas na Igreja e em organizações para-eclesiásticas,
• Envolvendo-se ativamente no serviço social, como por exemplo, ajudando os oprimidos pela in-
justiça social, cuidando dos órfãos e das viúvas, dos doentes e dos presos (visita a hospitais, asilos,
casa de recuperação, cadeias e penitenciárias).
Muitos cristãos que têm exercido este dom com diligência, têm desenvolvido um ministério maravilho-
so através de cartas, telefonemas, pela Internet. Servindo de suporte para que outros dons possam ser
exercitados em favor dos necessitados. Por exemplo:
• Ele se encarrega de arrumar o lugar, transporte, músicos para que o “evangelista” possa exercer seu
dom e muitas pessoas serem alcançadas com a mensagem do Evangelho de Cristo.
• Ele se dispõe a levar “evangelistas” e “pastores” em hospitais, creches e casa de recuperação.
• Ele prepara os espaços e a divulgação para que, quem “ensina”, possa abrir seminários, classes de
EBD, discipulados e outras a atividades.
Socorro é o dom de mostrar misericórdia e o propósito divino em trabalhar em equipe!
Este dom é um daqueles que Paulo diz que aos olhos de muitos parece fraco e supérfluo, porém o Espí-
rito Santo sabe o quanto ele é necessário, capaz e de uma importância vital para o Corpo.

338
Pneumatologia

Dom de Governo (1 Co 12.28, Rm 12.8) Termo grego “kuberneseis”.


Este dom tem a ideia de “guiar”, “pilotar”, “dirigir”. Algumas traduções trazem “administrar”. Quanto
ao governo da igreja é importante fazer algumas colocações:
• Há um ensinamento bíblico quanto à necessidade de liderança.
• Deus trabalhou 80 anos em Moisés, para prepará-lo para um ministério de 40 anos.
• O Senhor Jesus gastou mais da metade do seu ministério com os 12 homens fazendo deles, líde-
res.
• Paulo, em todo o seu ministério, investiu no preparo de líderes (At 14.23; 1Tm 3.1-7;).
Há igrejas e comunidades que tentam conduzir a obra do Senhor sem uma liderança fixa. Depois de
um tempo arrumam uma liderança e põe sobre ela outros “nomes”; outras mudam de posição e estabe-
lecem uma liderança e outros por não darem ouvidos ao que Deus estabeleceu, deixam de existir. A sua
presença não isenta o cristão das qualificações morais e sociais que todo cristão precisa evidenciar (1 Tm
3. 1-7; Tt 1.5-9).
O dom não é evidenciado pelo título, mas pela função que executa (Fp 2.7; Jo 13. 16). Ser servo não é
uma sugestão para a liderança, é uma ordem de Jesus! Assim o dom se manifesta não pela capacidade
de fazer tudo, mas de saber delegar e comissionar.

Dom de Exortar (Rm 12.8). Termo grego “parakalon”.


Esta palavra quer dizer “encorajar” ou “dar conforto aos outros”. Sua raiz grega significa “chamar para
o lado”. Isso nos dá uma ideia de alguém chamando o outro para vir para o lado a fim de fortalecê-lo e
restabelecer sua confiança. É a mesma raiz da qual se deriva um nome do próprio Espírito Santo – O
Consolador.
Aqueles que possuem este dom são capazes de estimular outros à ação, despertam novos interesses espi-
rituais ou reafirmam os que estão em dúvida ou desgraça.

Dom de Contribuir (Rm 12.8). Termo grego “metadidous”.


Fundamentalmente o que é visado aqui é o dinheiro, e por isso a exortação vai ao sentido de que se dê
com generosidade. Trata-se de uma disposição espiritual em dar para a promoção do reino de Deus, e
isso com tal sabedoria e alegria, que os recebedores se vejam imensamente fortalecidos e abençoados.
Lembre-se! Este comportamento não é reflexo da generosidade e responsabilidade humana, antes é um
dom do Espírito Santo.

Dom de Misericórdia (Rm 12.8). Termo grego “eleon”.


O possuidor deste dom interessa-se pelos sentimentos dos outros. Ele descobre os problemas emocio-
nais, compreende e conforta aqueles que estão na desgraça. Apesar do sentimento de compaixão, possui
uma disposição alegre enquanto age em favor dos carentes.

339
Teologia

Recapitulação 12
18R7. Relacione os dons da coluna um com o serviço prestado por quem possui o dom na descrito na
coluna dois.

5. Ministério ( ) Tem predisposição e alegria em dar dinheiro para o Reino de Deus


6. Socorro ( ) Presta serviços a outras pessoas
7. Governo ( ) Interessa-se pelos sentimentos dos outros
8. Exortar ( ) Auxilia, ajuda outros para promover a Gloria de Deus na terra
9. Contribuir ( ) Guia, dirige a igreja através de uma liderança
10. Misericórdia ( ) Encoraja e conforta outra pessoas

Considerações finais
Eles descobriram que o Espírito Santo é uma pessoa!
“... Não vos deixarei órfãos... Eu rogarei ao Pai, e Ele vos dará outro Consolador...” (João
14.18 e 16). Foi com estas palavras que o Senhor Jesus Cristo afirmou que acabaria com a solidão,
insegurança, sofrimento e medo de todos os cristãos em todas as épocas em quaisquer situações.
Para os seus discípulos essa promessa desceu como um bálsamo revitalizante, porém eles não faziam
ideia de toda amplitude divina, sobrenatural e poderosa que eles estavam para experimentar.
É a partir do início do livro de Atos dos Apóstolos que observamos, meio que extasiados, perplexos e
maravilhados, a manifestação deste “outro Consolador” na vida daqueles homens que andaram com o
Senhor Jesus. Este outro Consolador, o Espírito Santo da promessa, correspondeu em muito não apenas
às expectativas como as necessidades de cada um dos discípulos do Senhor Jesus.
O livro de Atos dos Apóstolos também é chamado por estudiosos no N.T., de Atos do Espírito Santo,
porque é nele que encontramos a presença absoluta e inicio do ministério do Paracleto de Deus.
Aqueles irmãos descobriram que podiam experimentar individualmente o cumprimento da promessa
do Senhor Jesus, e o fizeram. O resultado foi tremendo, maravilhoso e inacreditável.
Foi um tempo de profundas transformações quando experimentaram alegria, paz e poder jamais imagi-
nado. Foi um tempo de “tocar em Deus” e “ser tocado por Deus”. Foi um tempo de libertação, de curas,
de milagres e de salvação. Foi um tempo de Deus muito especial!
O segredo deste tempo foi que os cristãos descobriram algo além da religião, além da teologia, além
de um espírito comunitário; eles descobriram que o outro Consolador, o Espírito Santo, não era uma
energia ou um poder divino, mas uma Pessoa; uma Pessoa Divina, para ser mais exato, a manifestação
do Deus Triúno através do Seu Espírito. Eles aprenderam a manter um relacionamento pessoal e íntimo
com Ele.

340
Pneumatologia

O resultado nós conhecemos: “ ... e em Antioquia os discípulos pela primeira vez foram chamados cristãos”
( Atos 11.26). O Espírito transformou os simples seguidores em pessoas com o caráter de Cristo, com
a mesma autoridade e o mesmo amor de Cristo.
Tempo bom foi aquele! É o que muitos crentes falam hoje, mas por que muitos não vivem com a mesma
intensidade todas as promessas que há no Evangelho de Jesus Cristo? Será que o Consolador deixou de
Ser Deus? Ou será que os cristãos deixaram de se relacionar com Ele como Deus pessoal que é?
Quem você é? Um religioso evangélico, um teólogo monoteísta, um crente hereditário, ou um cristão
que é templo da pessoa maravilhosa do Espírito Santo e um vaso de barro cheio do poder emanado da
presença da terceira pessoa da Trindade? Se você também tem convicção que Ele é uma amável e pode-
rosa pessoa, pode esperar por aquele tempo maravilhoso que o que acontece na vida dos nossos irmãos,
acontecerá na tua vida também.

Revisão geral

1. Mencione três atributos divinos encontrados no Espírito Santo e as referencias bíblicas.








2. Escreva quatro atividades pessoais realizadas pelo Espírito Santo.








3. Mencione textos da Bíblia que mostram a participação do Espírito Santo na vida terrena de Jesus:
Na concepção _________________________________________________________
No ministério __________________________________________________________
No batismo ___________________________________________________________

4. Quando ocorrer o da Igreja o anticristo terá mais de ação,


visto que será afastado Aquele que o restringe.

341
Teologia

5. Relacione os três pecados cometidos pelo crente contra o Espírito Santo.







6. Por que o cristão precisa ter o fruto do Espírito?







7. O dom de “falar em outras línguas” é a única evidência de batismo com Espírito Santo? Explique sua
resposta e justifique-a com versículos bíblicos.





8. Qual é o principal propósito dos dons espirituais?







9. Mencione quais são os dons de ministérios e onde está escrito na Bíblia.







10. Milagre é a interferência de Deus no curso natural da história de ou


de algo com intuito de ajudar.

11. Relacione os dons da coluna um com o serviço prestado por quem possui o dom na descrito na
coluna dois.
1. Ministério ( ) Tem predisposição e alegria em dar dinheiro para o Reino de Deus
2. Socorro ( ) Presta serviços a outras pessoas

342
Pneumatologia

3. Governo ( ) Interessa-se pelos sentimentos dos outros


4. Exortar ( ) Auxilia, ajuda outros para promover a Gloria de Deus na terra
5. Contribuir ( ) Guia, dirige a igreja através de uma liderança
6. Misericórdia ( ) Encoraja e conforta outra pessoas

Bibliografia

BASTOS, Walter. Apostila de Pneumatologia – IBBC


BÍBLIA Anotada - Charles C Rei. Ed. Mundo Cristão.
BÍBLIA com Referências e Anotações. C.I. Scofield.
BÍBLIA de Estudo Indutivo. Ed. Vida.
BÍBLIA de Estudo Pentecostal. CPAD
BÍBLIA de Estudo Vida Nova. Ed. Vida Nova.
BÍBLIA de Jerusalém – Ed. Paulinas.
BÍBLIA de referência Thompson – Ed. Vida.
BRUCE. F. F. Romanos - Introdução e Comentário. Mundo Cristão.
CHAMPLIN, R. N. Novo Testamento Interpretado - Vol 3,4. Milenium.
CHOFER, L. S. Teologia Sistemática. Imprensa Batista Regular do Brasil
FOULKES, Francis. Efésios – Introdução e Comentário. Mundo Cristão
GRAHAM, Billy. Espírito Santo. Vida Nova
JONES, M. Lloyd. Vida no Espírito Santo. Publicações Evangélicas Selecionadas
MORRIS, Leon. 1 Coríntios – Introdução e Comentário. Mundo Cristão
MUDDY, Comentário Bíblico Vol 3 e 4. Junta Batista Regular do Brasil.
NOVO Testamento Trilingue. Ed. Vida Nova.
PEARLMAN, Myer. Conhecendo as Doutrinas da Bíblia. Vida

343
Anotações




























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