Eletrodinâmica Tensorial

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Eletrodinâmica Tensorial

João Batista Pinto Júnior


Junho 2019

1 Introdução
Estudamos nessa disciplina o capı́tulo 12, parte 12.3.2 do livro Eletrodinâmica de David J. Griffths, que
trata de como os campos elétricos ~E e magnéticos ~B se transformam dentro da Eletrodinâmica Relativı́stica e
obtemos o seguinte conjunto de regra de transformações para um referencial S, se movendo a uma velocidade
v, relativa a outro referencial S se movendo a uma velocidade v0 :

E x = Ex

E y = γ(Ey − vBz )
E z = γ(Ez + vBy )
Bx = Bx
v2
By = γ(By + Ez )
c2
v2
Bz = γ(Bz −Ey )
c2
Esse trabalho vai tratar de um dos assuntos mais importantes do letromanetismo, O eletrodinâmica em
notação tensorial.

2 Tranformação para quadritensor


Podemos notar que os campos ~E e ~B não se transformam como parte dos dois quadrivetores e sim como um
tensor aintissimétrico de segunda ordem.
Supondo que o referencial S se move na direção do eixo x com uma velocidade v, teremos a matriz de
transformação Lorentz Λ da seguinte forma:
 
γ −γβ 0 0
−γβ γ 0 0
Λ=  0

0 1 0
0 0 0 1

1
1 v2
Com γ = p eβ = . Transformações desse tipo de quadri-tensor é da forma:
1−β2 c2
µ
aµ = Λν aν

Portanto, como um tensor de segunda ordem é um objeto com dois ı́ndices, usaremos dois fatores de Lorentz
para a transformação, que ficará da seguinte forma:
µ
t µν = Λλ Λνσ t λ σ

E possuem a seguinte propriedade:


t µν = −t ν µ
Logo a matriz 4 × 4 possui 4 dimensões e 16 componentes, dos quais 10 são distintos e 6 iguais com sinais
opostos, da seguinte forma:
t 01 t 02 t 03
 
0
−t 01 0 t 12 t 13 
t µν = −t 02 −t 12

0 t 23 
−t 03 −t 13 −t 23 0
µ
Agora, aplicando a expressão t µν = Λλ Λνσ t λ σ , encontraremos as 6 relações de transformação para o quadri-
tensor acima.
t 01 = Λ0λ Λ1σ t λ σ
(µ e ν são linha, e λ e σ são coluna da matriz de transformação de Lorentz.)

t 01 = Λ00 Λ10t 00 + Λ00 Λ11t 01 + Λ01 Λ10t 10 + Λ10 Λ11t 11 = (γ 2 − (γβ )2 )t 01 = t 01

t 02 = Λ0λ Λ2σ t λ σ = Λ00 Λ22t 02 + Λ01 Λ22t 12 = γt 02 + (−γβ )t 12 = γ(t 02 − βt 12 )


t 03 = Λ0λ Λ3σ t λ σ = Λ00 Λ33t 03 + Λ01 Λ33t 13 = γt 03 + (−γβ )t 13 = γ(t 03 − βt 13 ) = γ(t 03 + βt 31 )
t 23 = Λ2λ Λ3σ t λ σ = Λ22 Λ33t 23 = t 23
t 31 = Λ3λ Λ1σ t λ σ = Λ33 Λ10t 30 + Λ33 Λ11t 31 = (−γβ )t 30 + γt 31 = γ(t 31 + βt 03 )
t 12 = Λ1λ Λ2σ t λ σ = Λ10 Λ22t 02 + Λ11 Λ22t 12 = (−γβ )t 02 + γt 12 = γ(t 12 − βt 02 )

3 O quadrivetor potencial
Estudamos nessa disciplina que ~E e ~B podem ser expressos em termos de um potencial escalar V e um
potencial vetor ~A pelas seguintes expressões:
~
~E = −∇V − ∂ A
∂t
~B = ∇ × ~A
Note que V e ~A cosntituem um quadrivetor, portanto, para definir o tensor de campo F µν , usarei coordenadas
gaussianas para definir esse tensor de campo diferentemente ao definido no livro, como foi pedido no roteiro
desse trabalho.

2
∂ ∂ ∂ ∂
Definimos: Aµ = (V, Ax , Ay , Az ) e ∂ µ = ( , − , − , − ). Em coordenadas gaussianas as
∂ (ct) ∂ x ∂ y ∂ z
representações do campos ~E e ~B em termo dos potenciais ficam da seguinte forma:

~
~E = −∇V − 1 ∂ A
c ∂t
~B = ∇ × ~A

Assim as componentes Ex e Ey são:

1 ∂ Ax ∂V
Ex = − − = −(∂ 0 A1 − ∂ 1 A0 )
c ∂t ∂x
∂ Az ∂ Ay
Bx = − = −(∂ 2 A3 − ∂ 3 A2 )
∂y ∂z
Essas equações implicam que os campos elétricos e magnéticos, seis elementos no total, são elementos do
tensor de campo antissimétrico de segunda órdem citado anteriormente.

F µν = ∂ µ Aν − ∂ ν Aµ

4 O tensor de campo
Em eletormagnetismo o tensor de campo eletromagnético é um objeto matemático que descreve o campo
eletromagnético de um sistema fı́sico. O tensor de campo foi usado pela primeira vez após a formulação do
tensor quadridimencional da relatividade especial e foi introduzido por Hermann Minkowski.

∂ Ax ∂V
F 01 = ∂ 0 A1 − ∂ 1 A0 = + = −Ex
∂ (ct) ∂ x

∂ Ay ∂V
F 02 = ∂ 0 A2 − ∂ 2 A0 = + = −Ey
∂ (ct) ∂ y
∂ Az ∂V
F 03 = ∂ 0 A3 − ∂ 3 A0 = + = −Ez
∂ (ct) ∂ z
∂ Ay ∂ Ax
F 12 = ∂ 1 A2 − ∂ 2 A1 = − + = −Bz
∂x ∂y
∂ Az ∂ Ax
F 13 = ∂ 1 A3 − ∂ 3 A1 = − + = By
∂x ∂z
∂ Az ∂ Ay
F 23 = ∂ 2 A3 − ∂ 3 A2 = − + = −Bx
∂y ∂z
F 00 = F 11 = F 22 = F 33 = 0
F 10 = −F 01 , F 20 = −F 02 , F 30 = −F 03 , F 21 = −F 12 , F 31 = −F 13 , F 32 = −F 23

3
Com esses elementos encontrados podemos montar a matriz do tensor de campo:
 
0 −Ex −Ey −Ez
Ex 0 −Bz By 
F µν =  
Ey Bz 0 −Bx 
Ez −By Bx 0

Os sinais dos ı́tens ficaram trocados em relação aos do livro, porém isso é devido apenas a notação utilizada
µν µ
e não influenciará nos resultados. Se aplicarmos a regra de transformação F = Λλ Λνσ F λ σ , veremos que o
resultado é totalmente coerente com a regra de transformação citada na seção 1 desse trabalho.

E x = Ex Bx = Bx
E y = γ(Ey − β Bz ) By = γ(By + β Ez )
E z = γ(Ez + β By ) Bz = γ(Bz − β Ey )

Repare que os resultados se encontram em coordenadas gaussianas!


 
0 −Ex −γ(Ey − β Bz ) −γ(Ez + β By )
µν  Ex 0 −γ(Bz − β Ey ) γ(By + β Ez ) 
F = γ(Ey − β Bz ) γ(Bz − β Ey )

0 −Bx 
γ(Ez + β By ) −γ(By + β Ez ) Bx 0

4.1 Tensor dual


O tensor dual Gµν pode ser obtido diretamente do tensor F µν subtituindo ~E → ~B e ~B → −~E. Este é um
caso especial de transformação dual.
 
0 −Bx −By −Bz
µν
Bx 0 Ez −Ey 
G =  
By −Ez 0 Ex 
Bz Ey −Ex 0

Ambos os tensores F µν e Gµν geram as regras de trasnformação corretas para os campos elétricos e
magnéticos deixando inalterados os resultados demosntrados na primeira parte dessa seção.

5 Quadrivetor da densidade de corrente e equação da continuidade


No eletromagnetismo temos dois quadrivetores fundamentais. O primeiro já definimos que é o quadrivetor
potencial Aµ e agora estdaremos o quadrivetor densidade de corrente J µ em termos do espaço tempo para
assim dar continuidade a reformulação das leis do eletromagnetismo.

Considere uma quantidade de carga Q se movendo com velocidade vecu junto a um referencial S em relação
a um referencial S0 . Poderemso definir a densidade de carga ρ como a carga sobre o volume τ.

Q
ρ=
τ

4
Chamamos de ρ0 e de τ0 a densidade de carga e o volume observados no repouso. Assim podemos definir:
Q
ρ0 =
τ0
Esse sistema em movimento sofrerá a contração de Lorentz no sentido de seu movimento, então podemos
~ ρ e τ da seguinte forma:
representar J,
s
τ0 u2
τ= = 1 − 2 τ0
γ c
Assim:
ρ0 ρ0~u
ρ = γρ0 = r , J~ = r
u2 u2
1− 1−
c2 c2

5.1 Velocidade Própria


Chamamos de tempo próprio t 0 o tempo associado ao referencial em movimento, onde t 0 = γt e t é o tempo
que passa no referencial inercial de onde se observa o movimento. A veocidade medida pelo observador fora
do sistema em movimento será:
dx
~u =
dt
Portanto, essa distãncia x percorrida em um unidade de tempo t 0 será:
dx ~u
~η = 0
= γ~u = r
dt u2
1− 2
c
Chamamos ~η de velocidade própria e podemos representar o quadrivetor η µ = (η 0 ,~η ) e η 0 é:
dx dt c
η0 = 0
=c 0 = r = cγ
dt dt u2
1− 2
c

5.2 O quadrivetor densidade de corrente


Agora podemos definir o quadrivetor densidade de corrente J µ = ρ0 η µ .

J µ = (cρ, Jx , Jy , Jz )

. A equação da continuidade e dada por:


∂ρ
∇J~ = −
∂t
∂ρ ∂ J0 ∂ Jx ∂ Jy ∂ Jz
+ ∇J~ = + + + = ∂µ J µ = 0
∂t ∂ (ct) ∂ x ∂y ∂z

Onde ∂µ = ( ∂ (ct) , ∂∂x , ∂∂y , ∂∂z ) e ∂µ J µ é o divergente quadridimensional de J µ .

5
6 As equações de Maxwell
Agora irei provar que as equações de Maxwell em termo dos tensores de campo equivalem às mesmas
para os campos ~E e ~B. As equações de Maxwell em termos doa tensores de campo podem ser escritas da
seguinte forma:

4π ν
∂µ F µν = J , ∂µ Gµν = 0
c
Essas equações representa quatro equações, uma para cada valor de ν

6.1 Lei de Gaus


Pra ν = 0 temos:
4π 0
∂µ F µ0 = J
c

∂0 F 00 + ∂1 F 10 + ∂2 F 20 + ∂3 F 30 = cρ
c
∂0 ∂ Ex ∂ Ey ∂ Ez
+ + + = 4πρ
∂ (ct) ∂x ∂y ∂z
∇ · ~E = 4πρ

6.2 Lei de Ampere Maxwell


Para ν = 1 temos:
4π 1
∂µ F µ1 = J
c

∂0 F 01 + ∂1 F 11 + ∂2 F 21 + ∂3 F 31 =
Jx
c
1 ∂ Ex ∂ 0 ∂ Bz ∂ By 4π
− + + − = Jx
c ∂t ∂x ∂y ∂z c
1 ∂ ~E 4π
(− + ∇ × ~B)x = Jx
c ∂t c
Para ν = 2 temos:
4π 2
∂µ F µ2 = J
c

∂0 F 02 + ∂1 F 12 + ∂2 F 22 + ∂3 F 32 =
Jy
c
1 ∂ Ey ∂ Bz ∂ 0 ∂ Bx 4π
− − + + = Jy
c ∂t ∂x ∂y ∂z c
1 ∂ ~E 4π
(− + ∇ × ~B)y = Jy
c ∂t c
Para ν = 3 temos:
4π 3
∂µ F µ3 = J
c

6

∂0 F 03 + ∂1 F 13 + ∂2 F 23 + ∂3 F 33 =
Jz
c
1 ∂ Ez ∂ By ∂ Bx ∂ 0 4π
− + − + = Jz
c ∂t ∂x ∂y ∂z c
1 ∂ ~E 4π
(− + ∇ × ~B)z = Jz
c ∂t c
Combinamos as três expressões encontradas teremos:

4π ~ 1 ∂ ~E
∇ × ~B = J+
c c ∂t

6.3 O divergente do campo magnético


Agora usaremos o tensor dual para obter as outras duas equações. Tomando ν = 0 teremos:

∂µ Gµ0 = 0

∂0 G00 + ∂1 G10 + ∂2 G20 + ∂3 G30 = 0


1 ∂ 0 ∂ Bx ∂ By ∂ Bz
+ + + =0
c ∂t ∂x ∂y ∂z
∇ · ~B = 0

6.4 A lei de Faraday


Para ν = 1 teremos:
∂µ Gµ1 = 0
∂0 G01 + ∂1 G11 + ∂2 G21 + ∂3 G31 = 0
1 ∂ Bx ∂ 0 ∂ Ez ∂ Ey
− + − + =0
c ∂t ∂x ∂y ∂z
1 ∂ ~B
(− − ∇ × ~E)x = 0
c ∂t
Para ν = 2:
∂µ Gµ2 = 0
∂0 G02 + ∂1 G12 + ∂2 G22 + ∂3 G32 = 0
1 ∂ By ∂ Ez ∂ 0 ∂ Ex
− + − − =0
c ∂t ∂x ∂y ∂z
1 ∂ ~B
(− − ∇ × ~E)y = 0
c ∂t
Para ν = 3:
∂µ Gµ3 = 0
∂0 G03 + ∂1 G13 + ∂2 G23 + ∂3 G33 = 0

7
1 ∂ Bz ∂ Ey ∂ Ex ∂ 0
− − + + =0
c ∂t ∂x ∂y ∂z
1 ∂ ~B
(− − ∇ × ~E)z = 0
c ∂t
combinando as três expressões encontradas obtemos:

1 ∂ ~B
∇ × ~E = −
c ∂t
Podemos notar então que as equações de Maxwell se reduzem a apenas duas equações em termo dos tensores.

Gaussiano SI
1
∇ · ~E = 4πρ ∇ · ~E = ρ
ε0
1 ∂ ~B ∂ ~B
∇ × ~E = − ∇ × ~E =
c ∂t ∂t
∇ · ~B = 0 ∇ · ~B = 0
4π ~ 1 ∂ ~E ∂ ~E
∇ × ~B = J+ ∇ × ~B = µ0 J~ + µ0 ε0
c c ∂t ∂t
~F = q(~E + ~u × ~B) ~F = q(~E +~u × ~B)
c
Table 1: Equações fundamentais em unidades SI e gaussianas

7 Força de Minkowski
Tratamos na seção anterior da representação das equações de Maxwell em termos do tensor de campoe do
tensor dual e agora vamos estudar a força de Minkowski, que representa a força de Lorentz, porém em
notação relativı́stica.
A força de Minkowski é representada em termos de F µν e de η µ da seguinte forma:
q
K ν = ηµ F µν
c
Para ν = 1:
q q q
K 1 = ηµ F µ1 = (cγEx + uy γBz − uz γBy ) = γ(c~E +~u × ~B)x
c c c
Para ν = 2:
q q q
K 2 = ηµ F µ2 = (cγEy − ux γBz + uz γBx ) = γ(c~E +~u × ~B)y
c c c
Para ν = 3:
q q q
K 3 = ηµ F µ3 = (cγEz + ux γBy − uy γBx ) = γ(c~E +~u × ~B)z
c c c
~ Assim a força
Somando essas três expessões encontradas para para os valores de ν obteremos o valor de K.
de Minkovski será:
~ = qγ(~E + ~u × ~B)
K 1 + K 2 + k3 = K
c

8
Sabemos que a força de Lorentz é:
~F = q(~E + ~u × ~B)
c
Logo:
~ = γ ~F
K
Podemos notar que a força de Minkowski é a força de Lorentz em notação relativı́stica. Agora usaremos
a componete temporal da força de Minkowski, ν = 0. Ou seja.
q
K 0 = ηµ F µ0
c
q q q
K 0 = ηµ F µ0 = (cγ0 + ux γEx + uy γEy + uz γEz ) = γ(~E ·~u)
c c c
De acordo com a força de Minkovski:
1 dW q ~
K0 = = γ(E ·~u)
c dt0 c
dt
Sabendo que W é a energia da partı́cula e dt0 = , então:
γ
dW
= q(~E ·~u)
dt

. Isso nos diz que a potência da partı́cula é a força (q~E) multiplicada pela velocidade ~u da partı́cula.

8 Equações de Maxwell em termos do quadrivetor potencial


Na seção 3 desse trabalho já defini o potencial quadrivetor Aµ = (V, Ax , Ay , Az ). e mostrei através desse
quadripotencial os elementos do tensor de campo.

F µν = ∂ µ Aν − ∂ ν Aµ

Podemos definir as equações de Maxwell agora através desse quadrivetorjá que:


4π ν
∂µ F µν = ∂µ ∂ µ Aν − ∂µ ∂ ν Aµ = J
c
∂ ∂ Aν ∂ ∂ Aµ 4π ν
( ) − ( )= J
∂ xµ ∂ xµ ∂ xν ∂ x µ c
Resolvemso essa equação utilizando transformação de calibre para simplificar essa relação, pode-se acres-
centar a Aµ o gradiente de qualquer escalar λ .

∂λ
Aµ → Aµ 0 +
∂ xν
Então:
1 ∂V
+ ∇ · ~A = 0
c ∂t

9
Torna-se em notação relativı́stiva:
∂ Aµ
=0
∂ xµ
1 ∂2
∂µ ∂ µ = − ∇2 = 2
c2 ∂t 2
Agora analizando a equação
∂ ∂ Aν ∂ ∂ Aµ 4π ν
( ) − ( )= J
∂ xµ ∂ xµ ∂ xν ∂ x µ c
vamos queo segundo termo se anula, portanto essa equação se reduz a:

1 ∂ 2 Aν 4π ν
− ∇2 Aν = J
c2 ∂t 2 c
Essa expressão representa a formulação das equações de Maxwell em termo do potencial quadrivetor.

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