Arte e Interdisciplinariedade
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A INTERDISCIPLINARIDADE
EM ARTE: ALGUMAS
CONSIDERAÇÕES
Felipe Rodrigo Caldas
Denise Cristina Holzer
Janice Aparecida Popi
Recebido em 30/05/2017
Aprovado em 19/08/2017
A INTERDISCIPLINARIDADE EM ARTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
Introdução
A
visão de um trabalho diferenciado, com a inclusão de atividades
que prezem pela interdisciplinaridade, tem sido um dos objetivos
da escola contemporânea. Temos visto atualmente instituições
que buscam abordagens metodológicas que facilitem tal ação e auxiliem
na aprendizagem significativa.
A função da arte está relacionada à expressão, ao modo de ver o
mundo, à possibilidade de dar forma e colorido à imaginação, desenvolver
o saber estético e artístico dos alunos. Partindo desse conceito, a pergunta
que norteia a pesquisa é a seguinte: “como a Arte pode ser trabalhada
de modo interdisciplinar para que os alunos possam se apropriar dos
conhecimentos ligados a essa área e desenvolver as habilidades e o saber
artístico em sala de aula?”.
A arte surge no mundo como forma de transformar a experiência
vivida em objetos de conhecimento que demonstram percepção e
imaginação. Dessa forma, na educação ela pode ter como função inserir
saberes culturais, estéticos e trabalhar a produção e apreciação artística
que são importantes para construir o saber significativo nesta área.
Considerando-se o exposto, o objetivo deste texto é discorrer
sobre essas reflexões que transitam entre a Arte e as demais disciplinas
do currículo escolar. E, dessa forma, apresentar a importância de um
trabalho contextualizado e diferenciado, buscando possibilidades em
que exista um diálogo entre os campos de conhecimento e não apenas
a utilização submissa de uma área enquanto meio para se ensinar outra,
como acontece, costumeiramente, em trabalhos que buscam a música
como subsídio para ensino da matemática, ou até mesmo, com o teatro
para ensino de história.
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Arte na escola
O
contato com a arte ocorre diariamente, considerando que
os processos de criação e transformação não são estáticos e
nos oferecem diversos produtos artísticos. A arte surge no
mundo como forma de transformar a experiência vivida em objetos de
conhecimento que demonstram sensação, percepção e imaginação e,
desse modo, acompanha a evolução pela qual o mundo passa.
Os saberes culturais e estéticos na produção e apreciação artística
são expostos em diferentes representações como a pintura, a música, a
escultura, a produção literária, entre outras. Barbosa (2015) destaca que,
através da poesia, dos gestos, da imagem a arte apresenta e fala aquilo
que a História, a Sociologia, a Antropologia e outras ciências não podem
apresentar por utilizarem outro tipo de linguagem, como a discursiva, a
científica, que estando sozinhas não decodificam nuances culturais.
Segundo Coli (1995) a arte como expressão pessoal ou coletiva
é um importante instrumento para a identificação das manifestações
culturais e o desenvolvimento de determinada sociedade. Por meio dela
é possível desenvolver a percepção, a imaginação, apreender a realidade
do meio ambiente, desenvolver a capacidade crítica, permitindo analisar
que os produtos artísticos têm relação com a sociedade e, por essa razão,
a arte é dinâmica.
Segundo Ostrower (2009) quando o artista cria, sua obra parte de
um foco e de um objetivo. Criar é algo inerente ao ser humano, todos
possuem um potencial criativo para inovar compondo obras de Arte
nas mais diferentes áreas: poesias, escultura, música, entre outras. Dessa
forma, a criatividade pode ser estimulada, desenvolvida e transformada
A INTERDISCIPLINARIDADE EM ARTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
A
nalisando o contexto histórico da arte e a proposta de sua inserção
como disciplina no currículo escolar, o que foi produzido ao
longo da história pode contribuir para compreendermos a arte na
contemporaneidade. Para entender o contemporâneo, segundo Agamben
(2009), é necessário que não estejamos adequados à nossa própria época,
ou seja, precisamos estar em desacordo com os usos e costumes do
período em que nos encontramos.
Aqueles que conseguem se adequar perfeitamente ao seu período
histórico, não conseguem compreendê-lo e enxerga-lo como de fato ele é.
Podemos dizer que contemporâneo é aquele que mantém fixo o olhar em
seu tempo, para nele perceber não as luzes, mas o escuro.
Agamben (2009) tem o intuito de demonstrar, a partir do que foi
apresentado, que para compreender a contemporaneidade é necessário
visualizar além do que se pode enxergar, percebendo o escuro do período
em que se vive como algo que lhe pertence, que lhe é direcionado. O
autor também esclarece que a contemporaneidade não pode ser apenas
associada ao tempo cronológico, mas a algo que emerge deste tempo,
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A Interdisciplinaridade na Arte
S
egundo Bamonte (2007), a arte está sempre em transformação, porém
reflete o tempo no qual foi inserida. Desse modo, o pensamento que
for construído nesse tempo pode contribuir para que compreendamos
as produções artísticas, considerando sua origem nas diversas áreas do
saber e refletindo o mundo, como forma de produção humana integrada
e não isolada.
Considerando que a arte não é estática e tem relação com diversas
áreas do saber, como produção que reflete as manifestações sociais, a
escola deve trabalhar com o aluno essa visão como produção integrada,
levando em conta que, sendo uma produção social, sofre a influência do
contexto e do tempo onde o artista desenvolve sua produção. Essa análise
envolve um repensar na prática pedagógica, trazendo para sala de aula a
sensibilidade e um estudo de arte dentro de um trabalho contextualizado
e participativo para que os alunos estejam motivados para o aprendizado
na disciplina.
Quando se pensa na arte e em sua natureza interdisciplinar, é
preciso reconhecer as linguagens artísticas, em que o ato criativo envolve
teorias e práticas. A criação artística acaba sendo uma multitarefa, pois o
artista passa por desafios contínuos que envolvem o criar e a articulação
do conhecimento (RIZOLLI, 2007).
Em se tratando do trabalho interdisciplinar em arte, este pressupõe
um trabalho com os conceitos atrelados a essa tarefa bastante complexa.
Fazenda (1993) explica que o pensar interdisciplinar destaca as diferentes
formas de conhecimento, seja por uma estratégia formal ou de senso
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A transdisciplinaridade em arte
P
artindo do prisma da interdisciplinaridade na escola, outro enfoque
para a arte é o trabalho transdisciplinar em sala de aula, o qual vem
sendo apresentado como proposta de ensino para os profissionais
da educação que trabalham no ensino de Artes. Oliveira e Nunes (2009)
explicam que o objetivo desse viés é desenvolver uma prática não apenas
entre linguagens, mas transdisciplinar, focando os conteúdos e práticas
de uma linguagem artística ou estética para transcender as demais,
promovendo analogias.
Nesse contexto, a arte passará a ser trabalhada de modo integrado no
currículo escolar, ultrapassando o trabalho inicial proposto para a disciplina
e estimulando uma nova compreensão da realidade, articulando elementos
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Considerações Finais
C
om a conclusão da pesquisa bibliográfica foi possível identificar
que o contato com a Arte ocorre diariamente, considerando que
os processos de criação e transformação não são estáticos e nos
oferecem diversos produtos artísticos. A Arte na educação contribui para
desenvolver o conhecimento artístico, com a exploração dos conceitos
do ensino de arte, e instigar o processo criativo do aluno, que mesmo
sendo inerente ao ser humano, pode ser diferenciado considerando o
conhecimento de cada pessoa. A escola pode estimular o processo criativo
dos alunos oferecendo oportunidades para desenvolver novas habilidades,
tanto individuais como coletivas.
A INTERDISCIPLINARIDADE EM ARTE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES
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