Desenvolvimento Humano
Desenvolvimento Humano
Desenvolvimento Humano
Desenvolvimento Humano –
repensando conceitos no
âmbito interdisciplinar
Human Development - rethinking concepts in the scope
of interdisciplinary
Desarrollo Humano - repensando conceptos en EL
ÁMBITO interdisciplinario
Abstract: The study of human development, faced with the constant and complex transformations
in the interdisciplinary theoretical-practical domains, has been thought of in different ways.
Although financial resources continue to be relevant, economic growth ceases to be paramount
in the composition of this concept, and is complemented by the human factor. The objective of
this study is to present a brief comprehensive history of human development. The bibliographical
method is used, searching on the term human development, and focusing on books and scientific
journals published from 1980, starting from the HDI/PNUD, for other interdisciplinary approaches.
The importance is perceived of understanding human development beyond economic aspects,
without disregarding the HDI, which includes income, health and education. It is concluded that
the expanded notion of the term highlights, beyond these indicators, the physical, cognitive,
psychosocial, historical, cultural and especially subjective aspects for the understanding of
human development.
Keywords: Human Development; Interdisciplinarity; Human Factor.
Resumen: El estudio del desarrollo humano, ante la constante y compleja transformación en los
dominios teórico-prácticos interdisciplinarios, viene siendo pensado de maneras diversas. A pesar
de que los recursos financieros siguen siendo relevantes, el crecimiento económico deja de ser
primordial en la composición de este concepto, siendo complementado por el factor humano.
El objetivo es presentar un breve rescate comprensivo sobre el desarrollo humano. Se utiliza el
método bibliográfico, con la búsqueda a través del descriptor desarrollo humano, y está dirigido
a libros y periódicos científicos publicados a partir de 1980, partiendo del IDH / PNUD, para otros
abordajes interdisciplinarios. Se percibe la importancia de comprender el desarrollo humano más
allá de los aspectos económicos, sin desconsiderar el IDH que contempla renta, salud y educación.
Se concluye que la noción ampliada del término destaca además de estos indicadores los aspectos
físico, cognitivo, psicosocial, histórico, cultural y principalmente subjetivo para la comprensión del
desarrollo humano.
Palabras clave: Desarrollo humano; Interdisciplinariedad; Factor humano.
Introdução
A determinação conceitual do desenvolvimento, segundo Rossetti-Ferreira (2008),
interliga-se diretamente à diversidade dos significados que emergem da articulação dos
aspectos vinculados a uma multiplicidade de pessoas em interação em um mesmo contexto.
Assim, o desenvolvimento humano representa, conforme Dessen e Costa Júnior (2008), uma
constante reorganização inserida nos limites de determinado espaço-tempo que ocorre na
efetivação de atitudes, percepções e interações com diferentes sujeitos. Ressalta-se, conforme
os autores, que o desenvolvimento pode ser estimulado ou inibido conforme essas vivências
em seu ambiente. No entanto, tais articulações e relações estão em contínua alteração, como
consequência dos fatos e do próprio tempo.
Papalia (2006) enfatiza que, de modo geral, o desenvolvimento humano é compreendido
como o estudo científico sobre as mudanças dos sujeitos e, ao mesmo tempo, sobre as
características que permanecem regulares durante toda a vida. Complementando essa ideia,
com base na visão ampliada do referido conceito, de acordo com Riquelme (2010), o cenário do
desenvolvimento, na dimensão social, econômica, biológica, financeira, entre outras, ramifica-
se em múltiplas categorias. No entanto, a maioria destas baseia-se em informações técnicas
superficiais, às vezes simplificadas e artificiais. Neste sentido, ressalta-se que,
El simple crecimiento no basta. La riqueza mundial crece em términos absolutos, pero aumentan también
las desigualdades. No sólo basta progresar desde el punto de vista económico y tecnológico; el desarrollo
necessita ser ante todo humano, sostenible e integral. (RIQUELME, 2010, p. 09).
Ressalta-se que, em relação à expansão das liberdades das pessoas, o Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD) defende a utilização do Índice
de Desenvolvimento Humano (IDH) como instrumento de avaliação. O índice amplia a
compreensão defendida pelo PIB, reunindo três dos requisitos mais importantes para essa
conquista, sendo eles a saúde, avaliada com base na oportunidade de se levar uma vida longa
e saudável; a educação, no sentido de que todos devem ter acesso ao conhecimento; e a
renda, concebida como a possibilidade de desfrutar de um padrão de vida digno.
Reforçando a compreensão de cada categoria de avaliação do IDH, destaca-se que
saúde é entendida como ampliação das oportunidades disponíveis às pessoas para evitar a
morte prematura, e que lhes seja garantido um ambiente saudável, com acesso à saúde de
qualidade, para que possam atingir o padrão mais elevado possível de saúde física e mental.
Em relação ao aspecto educacional, parte-se da concepção de que a educação é essencial
para o exercício das liberdades individuais, da autonomia e da autoestima. E, ao mesmo
tempo, este indicador é um dos principais pilares para expansão das habilidades das pessoas,
para que elas possam decidir sobre seu futuro, reforçando a confiança, conferindo dignidade
e ampliando os horizontes e as perspectivas de vida. Por fim, a renda representa o acesso
às necessidades básicas como água, comida e abrigo, mas também para tornar possível a
oportunidade de transcender essas necessidades rumo a uma vida de escolhas genuínas e
exercícios de liberdades. Sua ausência pode limitar as oportunidades de vida.
Contudo, Feres e Mancero (2001) afirmam que, apesar da sua ampla abrangência,
são várias as críticas direcionadas ao IDH, geralmente focadas nos aspectos metodológicos,
mais especificamente, em “variables consideradas, ponderadores utilizados, irrelevancia de
resultados, etc.” (FERES; MANCERO, 2001, p. 335). Depois de tantos anos de existência do IDH,
a sua principal contribuição tem sido ressaltar a concepção de que “el crecimiento económico
es un medio para servir a fines humanos y no un fin em sí mismo” (p.358).
A origem conceitual do termo foi a ciência econômica tendo por intuito obter o índice
desenvolvimento econômico (SANTANA, 2011). No entanto, essa visão reduzida possibilitou a
incorporação de outras disciplinas à sua compreensão, acompanhando a tendência de atribuir
um viés mais humano ao conceito.
Atualmente os cientistas enfatizam que o desenvolvimento ocorre por toda a vida.
Papalia, Olds e Feldman (2006) definem esse processo como “Desenvolvimento do Ciclo Vital”,
apontando como princípios fundamentais a existência de determinações estruturantes básicas,
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ISSN: 1984-7114
E para romper com esse paradigma, Nascimento e Dantas (2004) ressaltam que a própria
investigação científica precisou criar novas formas de visualizar o tema buscando diferentes
perspectivas teóricas. Dentre outras, Gomes (2002) destaca a concepção do determinismo do
meio na teoria empirista/ambientalista ou behaviorista.
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Desde o início da vida, a construção das relações apresenta-se como principal ponto
de partida compreendidas como ações partilhadas e interdependentes. A determinação
conceitual do desenvolvimento interliga-se diretamente à diversidade dos significados que
emergem da articulação de pessoas em um determinado período. Ou seja, essa articulação
está em contínua alteração, em virtude dos fatos e do próprio tempo. Corroboram com essa
compreensão os autores Dessen e Costa Júnior (2008), quando afirmam que:
O desenvolvimento humano representa uma reorganização contínua dentro da unidade tempo-espaço, que
opera no nível das ações, percepções, atividades e interações do indivíduo com seu mundo, sendo estimu-
lado ou inibido por meio das interações com diferentes participantes do ambiente da pessoa (DESSEN;
COSTA JÚNIOR, 2008, p. 11).
como encontrar uma única explicação do termo sem considerar a cultura, a historicidade e
os fatores ambientais que atravessam o cotidiano do sujeito. Essa nova abordagem reúne
autores que buscam compreender os diferentes aspectos envolvidos pela temática. Retomando
Dessen e Costa Júnior (2008), a atualidade apresenta um contexto de ruptura de paradigmas,
fortalecendo o despertar da relevância do contexto social na investigação dos fenômenos.
Esse novo formato de análise de sujeito e de seu desenvolvimento enfatiza que a maneira
como o sujeito elabora a si mesmo está intimamente vinculada à maneira como ele elabora
o “outro” e vice-versa. Assim, as relações sociais passam a constituir base fundamental para a
formação e desenvolvimento das pessoas (DESSEN; COSTA JÚNIOR, 2008).
Nesse sentido a história interacional, ou seja, a maneira como as pessoas interagem no
tempo/espaço entre si, ganha significativa relevância por construir as características pessoais
do sujeito, ao mesmo tempo em que geram sentido nas relações contextualizadas. Ao se
reportar ao “outro” como construtor conjunto da concepção de si mesmo e vice-versa, parte-
se do entendimento de que o processo de construção das identidades pessoais e grupais
se elabora em decorrência do que Rossetti-Ferreira (2008) define como sendo o jogo de
interação entre o sujeito e o outro.
Assim, diante da complexidade que surge na atualidade acerca da concepção ampla do
desenvolvimento humano, faz-se necessário e urgente o fortalecimento de uma postura aberta
à diversidade, direcionada às “múltiplas perspectivas possíveis, às várias vozes que ecoam.
Esta compreensão sempre esteve vinculada às ciências humanas e sociais mas, na atualidade
transborda para as áreas exatas e biológicas”. O objetivo é a desconstrução e a superação
das pseudopolaridades entre “biológico/natural e social – universalidade e singularidade –
permanência e ruptura – determinismo e indeterminismo – emoção e cognição – corpo e
mente – interno e externo” (ROSSETTI-FERREIRA, 2008, p.24). Portanto, conforme a mesma
autora, o movimento de aceitação da própria contradição, das concepções opostas ou do
próprio conflito como inerentes ao processo de desenvolvimento promove a integração das
polaridades distintas, entendendo-as como constituintes fundamentais do próprio processo.
Aqui a pessoa passa a ser compreendida como múltipla, porque
[...] são múltiplas as vozes que compõem o mundo social, os espaços e as posições que vai ocupando nas
práticas discursivas. Essa multiplicidade de vozes e posições que dialogam entre si submetem a pessoa,
mas, ao mesmo tempo, preservam a abertura para a inovação e para a construção de novos posiciona-
mentos e processos de significação acerca do mundo, do outro e de si mesma. (ROSSETTI-FERREIRA,
2008, p. 23).
De acordo com Bellini-Leite et al. (2010), o século XX foi marcado por inúmeras
transformações em diversos âmbitos, principalmente no que diz respeito à criação de novos
paradigmas. Mais especificamente na década de 60, também a psicologia obteve mudanças,
destacando-se aqui a chamada Terceira Força, o Movimento Humanista.
A ênfase principal da Psicologia Humanista estava no “poder do homem, suas
aspirações positivas, a experiência consciente, o livre-arbítrio, a utilização do potencial
humano e a noção de integridade da natureza humana” (BELLINI-LEITE et al., 2010, p. 310).
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presta atenção às atividades de outra pessoa, ou delas participa, existe uma relação”
(BROFENBRENNER, 1996, p.46).
Para a Psicologia Positiva, segundo Passarelli e Silva (2007), o bem-estar tem grande
relevância, sendo um aspecto que oportuniza ao sujeito visualizar a si mesmo e demais
pessoas permitindo aprimorar a satisfação em estar vivenciando o cotidiano. De acordo com
os autores, já existem pesquisas que demonstram forte relação com o bem-estar e maior
nível de felicidade nas relações sociais. Aqui, o desenvolvimento humano aparece permeado
por aspectos qualitativos, como bem-estar, qualidade de vida e a própria convivência social,
sendo estes importantes na análise conjunta dos demais - já referidos neste texto - para a
compreensão ampliada do conceito.
Assim, compreende-se o desenvolvimento humano como o processo por meio do qual
a pessoa que se desenvolve adquire uma concepção mais ampliada, diferenciada e válida
do meio ambiente ecológico. Ao mesmo tempo, torna-se mais motivada e mais capaz de se
envolver em atividades que revelam suas propriedades, sustentam ou reestruturam aquele
ambiente em níveis de complexidade semelhante ou maior de forma e conteúdo (POLONIA;
DESSEN; SILVA, 2005, p. 73).
Considerações Finais
Referências
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