Memoria Ilustrada Do Comercio Parte 01
Memoria Ilustrada Do Comercio Parte 01
Memoria Ilustrada Do Comercio Parte 01
* C E 291 8 3 9 *
áfico Eduardo Alencar de Azambuja
~~1'6~~ Autor
Wisdaleck
Diagramação Alexandre
H. Schol Samuel de
Souza Thiago
Wisdaleck
Impressão capa
Gráfica 43 S/A
Impressão miolo
Nova Letra Gráfica e Editora Ltda.
380.181642
A991m Azambuja, Eduardo Alencar de
P Memória ilustrada do comércio: Blumenau-Santa Catarina:
uma homenagem aos homens e mulheres de valor que dedicaram sua vida
r construindo a história do comércio atrás do balcão / Eduardo Alencar de
Azambuja. - Blumenau : Nova Letra, 2010.
o 160p. : il. col.
e
1. Comércio - Blumenau - História 2. Comércio - Santa
t Catarina - História I. Título 11. Título: uma homenagem aos homens e
mulheres de valor que dedicaram sua vida construindo a história
o do comércio atrás do balcão.
r
Como nasceu a Memória Ilustrada do
Comércio
Eu desejei prestar uma homenagem resgatando a memória da maior quantidade possível
de homens e mulheres que participaram e participam da história do desenvolvimento de
Blumenau a partir de atividades comerciais. Obtive apenas êxito parcial porque não consegui aglu-
" tinar em um só volume, em tão pouco tempo, tantas pessoas que aqui não estão citadas, mas que igualmente atuaram de
maneira significativa neste processo. O que era para ser um livro único, passa ser o primeiro volume da coleção Memória
Ilustrada do Comércio, e também da i~dústria. Assim terei tempo para trazer à memória de todos ... todos os nomes que
construíram esta usina de progresso e desenvolvimento que "é Blumenau e Santa Cata ri na.
Tudo começou em 2008, por causa de conversas e entrevistas que eu tinha com o ex-presidente da Feco-
mércio, Antônio Edmundo Pacheco, que faleceu no início de 2009, e que sempre me recebia em seu gabinete em
Florianópolis -lia meus livros, respeitava meu trabalho. Ali nasceu o projeto Memória Ilustrada do Comércio. É o
maior projeto de resgate da memória dos comerciantes e prestadores de serviços já executado em nosso Estado
- nada parecido tinha sido feito até o momento especificamente sobre o comércio.
Com o universo a conspirar a meu favor, fui agraciado com apoio, incentivo e confiança de Marcelino Campos,
então presidente da CDL, Alexandre Peters, presidente do Sindilojas, Ricardo Stodieck, presidente da ACIB, Emil
Chartouni, presidente do Sindicato dos Hóteis e Restaurantes, Julio Schramm, presidente do SIMPEB, Célio
Fiedler, presidente do Sindicato dos Atacadistas, Osvaldo Luciani, presidente do SINDIGRAF, Regina Ballmann,
pesquisadora, Charles Schwanke, diretor executivo da AClB, Jornal de Santa Catarina, Jornal
Folha de Blumenau, Mundi Editora, Eunildo Rebello, Flávio Rosa, Tiago Carli, Adilson Torresani,
Nivaldo Tomazia, Carlos Rothbarth, Felipe Passold, Banco Blusol, Hanna Hirt-Duebbers, Carlos
Husadel Dalsenter, Alfredo Buatim, Félix Theiss, Andressa Schulz (AEAMVI), e Suely
Petry, diretora do Arquivo Histórico José Ferreira da Silva, que forneceu mais da
metade do acervo
fotográfi.co da velha Blumenau, além de uma turma de patrocinadores
de peso. Com tanta força, o projeto não tinha como fracassar, malgrado
esforços isolados e atitudes insidiosas de pessoas, pelo simples prazer
de atrapalhar, colocando pedras em meu caminho. Pois bem, juntei as
pedras e com elas solidifiquei ainda mais o projeto.
tempos e máquinas que apareciam todo dia. Como disse o escritor Nelson
Macedo Santiago: estava criado o quadro perfeito para a emigração. No caso
específico dos alemães, que emigraram em peso para o Brasil, surgiram
sociedades de incentivo e fomento à imigração e emigração. Uma delas era a
Sociedade de Proteção aos Imigrantes Alemães no Sul do Brasil, situada em
Hamburgo. Foi esta sociedade que financiou a primeira viagem do químico
Hermann Blumenau ao Brasil em 1846.
O Dr. Blumenau esteve no Rio Grande do Sul, passou por Santa Cata-
rina, voltou ao Rio de Janeirol e escolheu Santa Catarina para sua base de
operações e o Vale do Itajaí como ponto inicial da exploração, de olho das
possibilidades para desenvolver a agricultura, associando-se ao comerciante
Fernando Hackradt. Porém Hermann Blumenau não foi o primeiro alemão a
pôr os pés por aqui. Quando subiu o Rio Itajaí Açu pela primeira vez, já
encontrou em suas margens algumas povoações de moradores europeus do
Vale do Itajaí, que estavam instalados na localidade de Belchior, que hoje
conhecemos por Gaspar. Por isso se você cruzar com alguém de sobrenome
Zimmermann, Schramm, Deschamps, Wagner -lembre-se: estes são os
verdadeiros descendentes dos primeiros alemães que chegaram.
Hackradt e Hermann seguiram rio acima levando a bordo um caboclo
chamado Angelo Dias para orientá-Ios. Quando defrontaram-se com os
afluentes do Rio Itajaí Açu, o Ribeirão da Velha e o Ribeirão Garcia, os dois
definiram o local da colônia. O Dr. Blumenau deixou Hackradt e alguns
ajudantes cuidando de preparar a estrutura da colônia e voltou de canoa rio
abaixo, só seguindo a correnteza, o que é bem mais fácil. Pelo menos isso,
naquele oceano de dificuldades. Viajou para a Alemanha decidido a
arregimentar os primeiros moradores. Havia forte concorrência comercial
entre agenciadores que atuavam com imigração e emigração. Voltou da
Alemanha, desembarcou no Rio de Janeiro e uma péssima noticia o aguar-
dava: seu sócio Hackradt decidiu abandonar a sociedade e também não
cumpriu a parte dele no acordo de preparar a infra-estrutura para receber os
primeiros imigrantes. Para que o leitor possa entender direito o significado da
palavra, quando um alemão sai de sua terra natal ele é um emigrante, quando
chega em sua terra escolhida, no caso o Brasil, passa a ser um imigrante.
No dia 2 de setembro de 1850, Hermann Blumenau chegou em uma
jangada tosca desembarcando na foz do Ribeirão Garcia (bem nos fundos de
onde hoje está a Expresso Choperia e a Prefeitura Velha - atualmente
Fundação Cultural). Vieram 17 imigrantes, entre eles Reinhold Gartner, so-
brinho do Doutor. Que decepção! No local onde o Dr. Blumenau havia em-
pregado todas suas economias (cerca de 6 mil thalers), havia apenas algumas
choupanas que de nada valiam, um engenho de serra danificado, nada de
plantação, um pasto com alguns bois e carneiros e nenhuma instalação para
abrigar os colonos. Hackradt deixou Hermann Blumenau a ver navios, ou
melhor: balsas e canoas.
Legendas das Imagens: 1. Stadplatz, rua das palmeiras em dizer ao veterinário Willhelm Friedenreich de 27 anos e sua esposa Minna,
1885 - 2. Stadplatz hatel brasil rua das palmeiras em 1900 - com 24 anos e as filhas Clara, de dois aninhos e a pequena Alma com 9 me-
3, AClB 1935 Rua Xv Esquina Cam Flariana Peixata 4. ses? O que dizer aos primeiros 17 imigrantes que chegaram? Dr. Blumenau
Declaraçãa da república 1889 - 5. Parta de blumenau - 6.
Era das Secas e Malhadas - 7. Rua xv hatel pauli (haje
deve ter ficado mordido. Muito mordido. Desfez a sociedade com Hackradt e
farmácia usirede) e acib (haje edifícia mauá) continuou sozinho. Com o tempo a colônia foi se estruturando e agregando
novos imigrantes.
o fortalece! (Friedrich
POVO Nietszche)
Trabalho duro, isolamento, falta de recursos, solidão, saudade
de parentes e amigos, inundações constantes, doenças,
REOACTOR-CHEFE - ~AIO FERRAZ .•.• &,,:lo"' ••. TU"' ••.
convivência hostil com os índios caingangue e os xodengue - em
ii-i
CÇ1.0 TR.lVESSl 00 OUVIDOR R. t4 . \ •. _- •• c:;:;:::z:;.:.;.;.~~ ..••••••• 1852 os colonizadores já tinham enfrentado os índios em diversos
combates onde morreram 42 brancos e ficaram outros 22 feridos. A
crença na possibilidade de prosperar é que movia essa
~füuiiWlLm~A!
gente. Havia otimismo no meio daquele amontoado de barra
cos, mata virgem e flechas de índios enfurecidos pela presença
dos invasores. Para se protegerem os colonos criaram a "Guarda
de batedores do mato", sob o comando do Capitão do Mato Fre-
derico Keeke. Em 1855 Julius Baumgarten escrevia à sua irmã
VIVA O EXERCitO·· VIVA Ao, ARMAD A 1 Emilie que ficara na Europa, manifestando sua alegria e satisfação
~ 5EtS5R§'5I ~~. ,to . apesar das condições desfavoráveis da colônia. Estava feliz.
VIVA Q flQJ1Q Ba~I~\II1l\Q! Sentia-se recompensado pelo sentimento de liberdade que lhe
---"~;§§~~;§§~~ '. dava a terra que podia chamar de sua.
PROCLAMAÇÃO Dom Pedro li, em sua política de ocupação, planejava povoar o sul do
Brasil o mais rápido possível, pois precisava garantir as fronteiras do país.
Para isso ele promoveu ampla campanha junto aos comerciantes - chamados
de agentes de imigração e emigração - daqui e da Europa focando, o discurso
na idéia da posse de terra, o próprio chão. Os resultados logo apareceram e os
imigrantes vinham em levas cada vez maiores.
I
Em 1879 aparece o pioneiro da grande
indústria catarinense, o tecelão Hermann
Hering, vindo da Alemanha com seu irmão
Bruno para montar uma casa de comércio na
Rua XV de Novembro - chamada Wurststrasse
(estrada da Iinguiça), por causa de seu contorno
sinuoso. Em 1880 os irmãos compraram um tear
circular manual e uma caixa de fios para fabricar
meias, utilizando-se de mão de obra
exclusivamente familiar. Em 1882 a Companhia
Hering era a única fábrica de tecidos de malha
do Brasil, com sede na Rua XV - ali nasceu a
marca dos dois peixinhos.
O milagre da multiplicação continua em
1881 com a associação de Johann Karsten,
Heinrich Hadlich e Gustav Roeder. Fundaram a
segunda empresa textil da cidade, a Cia Karsten
e Hadlich, comprando seis teares e uma máquina
de fiação. Em 1886 Johann Karsten adquire a
parte dos dois sócios e segue sozinho. Com o
dinheiro que obteve da venda de sua parte na
sociedade com Karsten, Gustav Roeder instala
no bairro Garcia uma tecelagem com tinturaria,
Jr Jan, em 1895 o Vapor Blua.
Em 26 de junho de 1910, o
emanha. Dia 18 de dezembro
igaria Blumenau a Aquidaban
icial do tronco ferroviário da
Blumenau Warnow é inaugu-
iário que ligaria Blumenau ao
~tálica que liga o bairro Ponta )
Paulo. Em 4 de fevereiro de
nicípio, anexando Gaspar, que
Imprensa e Cervejarias
Um brinde à liberdade de expressão
A imprensa surgiu após 30 anos de existência da colônia porque o Dr.
Blumenau não queria divulgação de notícias e opiniões contrárias ao império
brasileiro - ninguém podia falar mal de Dom Pedro 11. Em 1881 apareceu o
Jornal Blumenauer Zeitung, editado por Hermann Baumgarten - embrião da
poderosa Gráfica Baumgarten que existe até hoje. Em 1883 nasce outro jornal,
o Immigrant, editado pelo tipógrafo Bernardo Scheidemantel que também
produzia rótulos para embalagens desde 1864.
Surgem as cervejarias criadas por mestres cervejeiros vindos da Ale-
manha. Heinrich Hosang fundou a primeira em 1860, na Rua São Paulo. Em
1875 é a vez da Rischbieter Brauerei produzir marcas famosas como a
Bavária. Na Itoupava Seca, arto Jenrich torna sua cervejaria um ponto de
encontro e alegres reuniões, oferecendo suas marcas Polar, Estrela e Kulm-
bach. As ruínas desta cervejaria ainda estão intactas na Rua São Paulo, ao
lado do Clube Ipiranga.
A Revolução Industrial literalmente sacudiu todos os setores, espe-
cialmente com a presença das máquinas a vapor e sistemas mecanizados.
Engenhos de serra, madeireiras ou serrarias passaram a operar movidos a
água ou a vapor. a crescimento econômico exigia modernidade nas vias de
escoamento de produção de Blumenau e demais núcleos coloniais que
surgiram por todo o Estado. a que fazer com as estradas tão precárias? a rio
Itajaí-Açu era o único meio de ligação da cidade com o exterior, o canal de
entrada e saída das mercadorias. Primeiro com barcos pequenos, chatas e
balsas, até a chegada do Vapor Progresso. Em 1896 iniciaram as obras da
primeira ponte sobre o Rio Itajaí-Açu, concluídas em 1913. A Ponte Lauro
Muller, conhecida como Ponte do Salto, que está lá até hoje graças ao Luís
Antônio Soares e ao Jornal de Santa Cata ri na, que impediram sua demolição
e ganharam o prêmio ESSa de Jornalismo, pela façanha.
Em 30 de outubro de 1899 Blumenau amanheceu triste. Faleceu em
Braunschweig, sua cidade natal, aos 79 anos de idade o Doutor Hermann
Blumenau, o homem que tinha um sonho e deu-lhe o nome de Blumenau. Foi
uma das maiores expressões do movimento imigratório alemão para o Brasil.
A cidade parou por um certo tempo para chorar sua memória e homenagear o
grande colonizador. Depois nunca mais parou, mesmo com todas as
tentativas frustradas de Netuno e Poseidon - deuses mitológicos das