Campos de Saberes Da Historia Da Educacao No Brasil 2
Campos de Saberes Da Historia Da Educacao No Brasil 2
Campos de Saberes Da Historia Da Educacao No Brasil 2
(Organizadora)
Atena Editora
2019
2019 by Atena Editora
Copyright © Atena Editora
Copyright do Texto © 2019 Os Autores
Copyright da Edição © 2019 Atena Editora
Editora Executiva: Profª Drª Antonella Carvalho de Oliveira
Diagramação: Karine de Lima
Edição de Arte: Lorena Prestes
Revisão: Os Autores
O conteúdo dos artigos e seus dados em sua forma, correção e confiabilidade são de responsabilidade
exclusiva dos autores. Permitido o download da obra e o compartilhamento desde que sejam atribuídos
créditos aos autores, mas sem a possibilidade de alterá-la de nenhuma forma ou utilizá-la para fins
comerciais.
Conselho Editorial
Ciências Humanas e Sociais Aplicadas
Prof. Dr. Álvaro Augusto de Borba Barreto – Universidade Federal de Pelotas
Prof. Dr. Antonio Carlos Frasson – Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Prof. Dr. Antonio Isidro-Filho – Universidade de Brasília
Prof. Dr. Constantino Ribeiro de Oliveira Junior – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Profª Drª Cristina Gaio – Universidade de Lisboa
Prof. Dr. Deyvison de Lima Oliveira – Universidade Federal de Rondônia
Prof. Dr. Gilmei Fleck – Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Profª Drª Ivone Goulart Lopes – Istituto Internazionele delle Figlie de Maria Ausiliatrice
Prof. Dr. Julio Candido de Meirelles Junior – Universidade Federal Fluminense
Profª Drª Lina Maria Gonçalves – Universidade Federal do Tocantins
Profª Drª Natiéli Piovesan – Instituto Federal do Rio Grande do Norte
Profª Drª Paola Andressa Scortegagna – Universidade Estadual de Ponta Grossa
Prof. Dr. Urandi João Rodrigues Junior – Universidade Federal do Oeste do Pará
Profª Drª Vanessa Bordin Viera – Universidade Federal de Campina Grande
Prof. Dr. Willian Douglas Guilherme – Universidade Federal do Tocantins
Formato: PDF
Requisitos de sistemas: Adobe Acrobat Reader
Modo de acesso: World Wide Web
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-7247-455-9
DOI 10.22533/at.ed.559190507
CDD 370
Atena Editora
Ponta Grossa – Paraná - Brasil
www.atenaeditora.com.br
[email protected]
APRESENTAÇÃO
Denise Pereira
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1................................................................................................................. 1
O BORDADO NA PESQUISA EM HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO NO BRASIL: UMA REVISÃO
BIBLIOGRÁFICA
Isabella Brandão Lara
Ana Maria de Oliveira Galvão
DOI 10.22533/at.ed.5591905071
CAPÍTULO 2............................................................................................................... 13
ENSINO A DISTÂNCIA NO BRASIL: HISTÓRIA E LEGISLAÇÃO
Bruna Carvalho
DOI 10.22533/at.ed.5591905072
CAPÍTULO 3............................................................................................................... 25
A ANPUH-SP E AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PAULISTAS PARA O ENSINO DE HISTÓRIA:
DIÁLOGOS
Ana Paula Giavara
DOI 10.22533/at.ed.5591905073
CAPÍTULO 4............................................................................................................... 39
DIFERENTES CENÁRIOS: UM ESTUDO SOBRE O ENSINO DE HISTÓRIA NA ESCOLA PÚBLICA
DE PALMEIRA DOS ÍNDIOS – AL
Dehon da Silva Cavalcante
DOI 10.22533/at.ed.5591905074
CAPÍTULO 5............................................................................................................... 52
ENSINO DE HISTÓRIA EM MUSEUS: A EXPERIÊNCIA DA MEDIAÇÃO NA FORMAÇÃO DE
PROFESSORES
Priscila Lopes d’Avila Borges
DOI 10.22533/at.ed.5591905075
CAPÍTULO 6............................................................................................................... 61
O PROCESSO INQUISITORIAL 8064 À LUZ DA MICRO-HISTÓRIA
Guilherme Marchiori de Assis
DOI 10.22533/at.ed.5591905076
CAPÍTULO 7............................................................................................................... 71
OS PRONTUÁRIOS MÉDICOS COMO FONTE PARA A HISTÓRIA: O CASO DO LEPROSÁRIO
CEARENSE ANTÔNIO DIOGO (1928-1939)
Francisca Gabriela Bandeira Pinheiro
DOI 10.22533/at.ed.5591905077
CAPÍTULO 8............................................................................................................... 82
PATRIMÔNIO CULTURAL E ENSINO DE HISTÓRIA: O ESTUDO DO MEIO COMO PRÁTICA PARA
EDUCAÇÃO PATRIMONIAL
Marcos Rafael da Silva
Tathianni Cristini da Silva
DOI 10.22533/at.ed.5591905078
SUMÁRIO
CAPÍTULO 9............................................................................................................... 92
DIÁLOGOS POSSÍVEIS PARA A (RE)INTERPRETAÇÃO DA CULTURA MATERIAL DOS MUSEUS
Wagner Lucas Pereira
DOI 10.22533/at.ed.5591905079
SUMÁRIO
CAPÍTULO 17........................................................................................................... 181
A PROCESSUALIDADE DE UMA POLÍTICA COOPERATIVA NA FORMAÇÃO DE ESTUDANTES
SURDOS NO ENSINO SUPERIOR
Euluze Rodrigues da Costa Junior
Reginaldo Célio Sobrinho
Edson Pantaleão
Giselle Lemos Shmidel Kaustsky
DOI 10.22533/at.ed.55919050717
SUMÁRIO
CAPÍTULO 25........................................................................................................... 269
ROTAS DE TEATRO, BRASIL E PORTUGAL: ENCENAÇÕES, ENGAJAMENTO E CRIAÇÃO
ARTÍSTICA NOS ANOS 1960 E 1970
Kátia Rodrigues Paranhos
DOI 10.22533/at.ed.55919050725
SUMÁRIO
CAPÍTULO 33........................................................................................................... 363
ESMERALDINAS, CREMILDAS E LOURDES:TRAJETÓRIAS E EXPERIÊNCIAS NO MOVIMENTO
QUILOMBOLA NO RIO ANDIRÁ, FRONTEIRA AMAZONAS/PARÁ (2005-2016)
João Marinho da Rocha
Marilene Correa da Silva Freitas
DOI 10.22533/at.ed.55919050733
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1
1 | INTRODUÇÃO
A mão da mulher tem olheiros nas pontas dos dedos: risca o pano, enfia a agulha,
costura, alinhava, pesponta, chuleia, cerze, caseia. Prende o tecido nos aros do
bastidor: e tece e urde e borda (BOSI, 1977, p.55)
A autora explica que o foco nos trabalhos manuais era parte das intenções
educativas do Recolhimento, já que, segundo o seu estatuto, “a ciência das mulheres,
assim como a dos homens, deve ser proporcionada aos seus empregos: diferença das
ocupações é a que faz a dos seus estudos” (SILVA, 1977, p. 156). Como muitas das
enclausuradas poderiam se casar futuramente, ler, escrever, contar, coser e bordar
era o tipo de instrução que as religiosas acreditavam que suas alunas deveriam
receber para cuidar do marido, filhos e da casa. As demais, que seguiriam o caminho
da religião, também aprenderiam música e latim.
Ainda nas instituições religiosas, alguns trabalhos, como de Ana Cristina Lage
(...) Órfã Maria: Despesa com mestras para ensinarem a coser, tecer, rendas,
crivos, bordar e fazer meias (20 mil réis). Despesas com tesouras, dedais, agulhas,
alfinetes, bilros e almofadas (7 mil réis).
(...) Órfã Eufrásia (casada): Despesas com mestras para aprender a coser, tecer,
bordar, crivar, rendar e fazer meias (20 mil réis). Despesas com tesoura, dedais,
agulhas, alfinetes, bilros, almofadas (7 mil réis).
(...) Órfã Josefa: Despesa com mestras para ensinarem a coser, tecer, rendar,
crivar, bordar e fazer meias (20 mil réis). Despesa com dedais, agulhas, tesoura,
Sobre a educação feminina no século XIX, Guacira Lopes Louro (2015) montra
que o conceito de educação deste período continuava fortemente relacionado à
formação moral, para a constituição do caráter, enquanto a instrução era voltada para
a informação e para o conhecimento, geralmente destinada aos meninos. Segundo a
autora, muitos grupos sociais afirmavam que “as mulheres deveriam ser mais educadas
do que instruídas” já que seu destino como mãe exigia mais de bons princípios do que
os demais conhecimentos (LOURO, 2015, p. 446). Por este motivo, o currículo das
meninas no século XIX (e grande parte do século XX) contava com disciplinas como
economia doméstica e trabalhos manuais (ou trabalhos em agulha, como também era
conhecido). Bordar era considerado uma habilidade desejável para as professoras do
século XIX e era possível encontrar retalhos de linhos brancos anexos às provas dos
concursos para docentes, onde se percebia a perfeição dos pontos de bordado das
candidatas (TEIXEIRA, 2013).
A relação entre a educação feminina e os trabalhos manuais ocorria de maneira
tão intrínseca, que Ivan Manoel (1996) relata um caso ocorrido na cidade de São
Vicente, São Paulo, no ano de 1857, em que os pais das alunas da professora pública
Mafalda Virgínia das Dores solicitaram por meio de um ofício que a mestre “... ensinasse
só costura para as filhas, porque ler e escrever de nada lhes serviria e que, portanto,
[seria] um despropósito gastar tempo para aprender isso” (MANOEL, 1996, p. 33-34).
Arend (2016) observa que no século XIX, logo nos primeiros anos de vida das
meninas, as famílias deviam se preocupar com o seu futuro casamento. Isso incluía
desde o dote até a produção de um enxoval:
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AREND, Silvia Fávero. Trabalho, escola e lazer. In: PINSKY, Carla; PEDRO, Joana (Orgs). Nova
História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2016. p. 65-83.
BOSI, Alfredo. O ser e o tempo da poesia. São Paulo: Cultrix, 1977. 219 p.
BOTTON, Viviane. Mexes: gênero e subjetivação, entre as tradições e as novidades. Ecopolítica, São
Paulo, n. 17, p. 19-32, jan-abr 2017.
CARVALHO, Fábio; RODRIGUES, Rick; MOGIZ. Rodrigo. Almofadinhas. Belo Horizonte: 2017.
Catálogo da exposição, 17 de fevereiro – 26 de março de 2017, SESC Palladium, Galeria de Arte
GTO.
CARVALHO, José Murilo. Os bordados de João Cândido. Revista Manguinhos, v. 2, p. 68-84, Jul/
Out, 1995.
CARVALHO, Mariana Diniz de. Educando Donzelas: trabalhos manuais e ensino religioso (1859-
1934). 2017. Dissertação (Mestrado em História Social) Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências
Humanas da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2017.
CHAGAS, Claudia Regina Ribeiro Pinheiro das. Memórias Bordadas nos cotidianos e nos
currículos. 2007. 104 p. Centro de Educação e Humanidades, Faculdade de Educação da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2007.
CHRISTO, Maraliz. Tiradentes no açougue Brasil: apropriações de Arlindo Daibert. Saeculum Revista
de História, João Pessoa, v. 28, p. 275-291, jan/jun, 2013.
EGGERT, Edla (Org.). Processos educativos no fazer artesanal de mulheres do Rio Grande do
Sul. Santa Cruz do Sul: EDUNISC, 2011.
ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Desenvolvido por Itaú Cultural. Apresenta catálogo de artistas
referentes às artes visuais, cinema, dança, literatura, música e teatro. Disponível em: http://
enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa10811/arthur-bispo-do-rosario. Acesso em 2 de novembro de
2017.
FREITAS, Danielle Gross. Entre ofícios e prendas domésticas: a escola profissional feminina de
Curitiba (1917-1974). Dissertação (Mestrado em Educação). Setor de Educação da Universidade
Federal do Paraná, 2011.
GAETA, Maria Aparecida Junqueira Veiga. Entre rendas e bordados: memórias de uma disciplina
escolar. In: II Congresso Nacional de História da Educação, 2002, Natal-RN. História e Memória da
Educação Brasileira. Natal-RN: Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2002. v. 1. p. 220-
230.
LAGE, Ana Cristina Pereira. Vale de Lágrimas: mulheres recolhidas no sertão de Minas Gerais na
segunda metade do século XVIII. Revista de História Regional, n. 19(2), p. 312-326, 2014.
LARA, Isabella Brandão. O ensino do bordado na trama da cidade: um estudo sobre gênero,
identidades e educação feminina em Belo Horizonte entre as décadas de 1940 e 1960. Dissertação
(Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo
Horizonte, 2019.
LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: DEL PRIORI, Mary; PINSKY, Carla. História
das mulheres no Brasil. 10ª ed. São Paulo: Contexto, 2015. p. 443-481.
MAIA, Mara Jane. Tecendo o estético e o sensível através do bordado na literatura infantil
brasileira. 2009. 203 f. Dissertação (Mestrado em Semiótica e Linguística Geral) – Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.
MANOEL, Ivan. Igreja e educação feminina 1859-1919: uma face do conservadorismo. São Paulo:
Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996. 102 p.
OLIVEIRA, Cláudia Fernanda de. A educação feminina na Comarca do Rio das Velhas
(1750/1800): a constituição de um padrão ideal de ser mulher e sua inserção na sociedade colonial
mineira. Dissertação (Mestrado em Educação) Faculdade de Educação da Universidade Federal de
Minas Gerais. Belo Horizonte, 2008.
OLIVEIRA, Maria Augusta Martiarena de. AMARAL, Giana Lange do. Representações da educação
feminina em imagens: trabalhos manuais na Primeira República. Dimensões, v. 34, p. 380-403, 2015.
PARKER, Rozsika. The Subversive Stitch: embroidery and the making of feminine. 3. ed. Londres: I.
B. Tauris & Co Ltd, 2010. 247 p.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. Educação feminina e educação masculina no Brasil colonial. Revista
de História, São Paulo, v. 55, n. 109, p. 149-164. Março de 1977.
SILVA, Maria Luciana Brandão. Uma pedagogia da experiência do encontro bordada nas trocas:
Associação de mulheres do bairro Betânia – Ipatinga (MG). Dissertação (Mestrado em Educação).
Faculdade de Educação da Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.
TADDEI, Angela Maria Soares. Notas sobre a obra A Pátria (1919), de Pedro Bruno. Revista CPC, n.
10, p. 193-205, Mai/Out, 2010.
TEIXEIRA, Rosiley. Inscritas em linho branco: os concursos públicos para candidatas às vagas das
escolas mistas e femininas de São Paulo (1893-1897). In: VII Congresso Brasileiro de História da
Educação: círculos e fronteiras da educação no Brasil, 2013, Cuiabá.
1 | INTRODUÇÃO
REFERÊNCIAS
ALVES, L. (2011). Educação a distância: conceitos e história no Brasil e no mundo. Revista
Brasileira de Aprendizagem Aberta. vol. 10. p. 83-92. Disponível em: <http://www.abed.org.br/
revistacientifica/Revista_PDF_Doc/2011/Artigo_07.pdf> Acesso em: 13 de jan. de 2013.
BRASIL. (1993). O que é o Plano Decenal de Educação para todos. Brasília: MEC/SEF. Disponível
em: <http://biblioteca.planejamento.gov.br/biblioteca-tematica-1/textos/educacao-cultura/texto-
167-o-que-e-o-plano-decenal-de-educacao-para-todos.pdf> Acesso em: 5 de abr. de 2014.
FARIAS, G. (2006). O tripé regulamentador da EAD no Brasil: LDB, portaria dos 20% e o decreto
5.622/2005. In: SILVA, M. (Org.) Educação online: teorias, práticas, legislação, formação corporativa.
2. ed. p. 441-448.
LOBO NETO, F. J. S. (1999) Fundamentos de educação à distância. In: NISKIER, A. (Org.) Educação
à distância: a tecnologia da esperança – políticas e estratégias para implantação de um sistema
nacional de educação aberta e à distância. São Paulo, SP: Edições Loyola, p. 49-75.
MAIA, C. MATTAR, J. (2007). ABC da EaD: a educação a distância hoje. São Paulo, SP: Pearson
Prentice Hall.
MEC. (2011). Curso de pedagogia dobra o número de formandos nos últimos sete anos. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&view=article&id=16312> Acesso
em: 24 de mar. de 2014.
MENEZES, E. T.; SANTOS, T. H. (2002). Dicionário Interativo da Educação Brasileira. São Paulo:
Midiamix. Disponível em: <http://www.educabrasil.com.br/eb/dic/dicionario.asp?id=291> Acesso
em: 08 ago. 2010.
MILL, D. (2012). Docência virtual: uma visão crítica. Campinas, SP: Papirus.
OLIVEIRA, E. M de. (2005). Educação a distância: a velha e a nova escola. PUCviva, São Paulo, ano
6, n. 24, p. 92-113, jul./set.
SAVIANI, D. (2011). História das ideias pedagógicas no brasil. 3. ed. Campinas, SP: Autores
Associados.
O título do projeto, “São Paulo faz escola”, é adequado aos objetivos a serem
alcançados pelo governo. Uma imagem, aliás, que visa retomar a centralidade
perdida pela educação paulista no conjunto da nação, expressa nos últimos
resultados do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São
Paulo (Saresp), bem como nas avaliações nacionais, nas quais o desempenho
desse estado ficou abaixo do esperado. A retomada do projeto ‘empreendedor’
do estado de São Paulo na educação é a de um bandeirantismo em descompasso
com o seu papel de protagonista do desenvolvimento industrial, tecnológico e
cultural do país. Esta imagem não visa caricaturar a atuação do governo paulista na
área de educação, mas mostrar a forma como o imaginário político sobre a região
é retomado historicamente para fortalecer sua identidade coletiva, principalmente
em momentos de crise institucional. (CIAMPI et al., 2009, p. 366)
Outra fragilidade apontada pelo GT à reforma curricular São Paulo faz escola
foi a inexpressividade da “cultura escolar”, verificada no cotidiano de professores e
alunos. Ao desconsiderar os aspectos culturais, houve na proposição de políticas
implementada pela SEE-SP uma inferiorização dos saberes históricos escolares, o
que os aproxima da ideia de transposição didática de Chevallard (1991) e concebe os
professores como executores do currículo.
O debate encaminhado pelo grupo anpuhano não apresentou apenas um teor
crítico, mas propositivo em relação ao ensino de História paulista, por que encaminhou
uma série de questionamentos como subsídio para outras análises. “O GT evitou fazer
uma crítica pela crítica, mas buscou contribuir para uma leitura do processo em curso
e para seus possíveis desdobramentos” (CIAMPI et al., 2009, p. 378). Os pontos
levantados por seus intelectuais foram sucedidos por estudos de natureza diversa
dedicados à reforma curricular São Paulo faz escola para a disciplina de História, os
quais foram localizados nos Encontros Estaduais já a partir de 2008.
Na ocasião do XIX Encontro Estadual de História da ANPUH-SP “Poder, violência
e exclusão”, realizado no ano de 2008, em São Paulo, o Seminário Temático – ST 01
EIXOS TEMÁTICOS Nº DE
COMUNICAÇÕES
Quando o Jornal do Aluno São Paulo faz escola chegou na semana do planejamento,
pudemos observar – alegremente – que a proposta curricular apresentada no final
de 2007 para História não havia se concretizado naqueles blocos lineares, e o
jornal trouxe diferentes linguagens: textos, poemas, e desenho. Os textos permitem
um diálogo com a atualidade pelo aspecto das tecnologias. [...]. Isso foi um alívio
perante as preocupações surgidas em novembro de 2007.
3 | ENCAMINHAMENTOS FINAIS
REFERÊNCIAS
BIOTO-CAVALCANTI, Patrícia Aparecida. Um Estado educador de seus educadores: o Estado de
São Paulo. In: ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA. XXII, 2014, São Paulo. Anais. Disponível em:
http://www.encontro2014.sp.anpuh.org/site/anaiscomplementares. Acesso em 15/07/2018.
CIAMPI, Helenice. et al. O currículo bandeirante: a Proposta Curricular de História no Estado de São
Paulo, 2008. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 29, n. 52, 2009.
FERREIRA, Norma Sandra de Almeida. As pesquisas denominadas “estado da arte”. Educação &
Sociedade, ano XXIII, n. 79, ago., 2002.
GONÇALVES, Mara Cristina. São Paulo faz escola: um trabalho em aulas de História. In:
ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA. XIX, 2008, São Paulo. Anais. Disponível em: http://www.
anpuhsp.org.br/sp/downloads/CD%20XIX /index.html. Acesso em: 15 jul. 2018.
KOYAMA, Adriana Koyama. et al. Conhecimento histórico escolar e suas implicações com a
história pública. [Mesa redonda]. ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA, XXII, 2014, São Paulo.
Disponível em: http://www.encontro2012.sp.anpuh.org/conteudo/view?ID_CONTEUDO=721. Acesso
em 19 jul. 2018.
SANTOS, Patrícia Cerqueira dos. Aula Qualitativa ou Aula Quantitativa? Novos Desafios na
Aplicação de mais uma Proposta Curricular para o Ensino de História no Estado de São Paulo. In:
ENCONTRO REGIONAL DE HISTÓRIA. XIX, 2008, São Paulo. Anais. Disponível em: http://www.
anpuhsp. org.br/sp/downloads/CD%20XIX/index.html. Acesso em: 15 jul. 2018.
SÃO PAULO. Secretaria Da Educação. Proposta Curricular do Estado de São Paulo: História, São
Paulo: SEE, 2008.
__________. Currículo do Estado de São Paulo: Ciências Humanas e suas tecnologias. São Paulo:
SEE, 2010.
1 | CONSIDERAÇÕES INICIAIS
De acordo com a citação acima, a percepção dos fatos e feitos são compartilhados
mais eficazmente, na medida em que sofremos os impactos desta invasão consensual
de novos costumes, podendo mudar os nossos reais norteadores de valores como a
dignidade, a justiça, a moral e a ética, os quais alicerçam a formação dos princípios
formadores de uma nação. Este conjunto de elementos desde os primeiros povoamentos
no Brasil foram sendo construídos e edificados na cultura do povo brasileiro. Logo,
ao persistirem alguns comportamentos não condizentes com a prática dos bons
costumes atuais, devemos fazer um levante historiográfico para percebermos se tais
procedimentos não decorrem das heranças deixadas pelo modo de vida dos nossos
antepassados.
Vivenciamos crises financeiras que afetam significativamente o desenvolvimento
do imaginário, ético e moral dos brasileiros, na mesma proporção que atinge o
sistema educacional, o qual se contamina pelas ações nefastas de alguns de
seus representantes ao aderir à conivência de atos ilícitos ou de não se propagar
a concepção do fortalecimento da educação em todo o país, através de currículos
atentos a realidade da nação, comprometidos com o ser cidadão nos dias atuais, onde
tal assertiva perpassa pelo conhecimento histórico fundamentado também pelo ensino
de história em sintonia com os movimentos sociais do seu povo.
Uma análise de algumas obras didáticas recentes e com grande vendagem, para
o ensino fundamental e para o ensino médio, permite, por exemplo, identificar
rápida e facilmente a diluição dos conteúdos de história do Brasil. Apenas para
exemplificar, em um rápido levantamento quantitativo, em um livro didático para o
ensino médio, confeccionado segundo o atual modelo de volume único para as três
séries, verifica-se que dos 42 capítulos apresentados, apenas 12 são efetivamente
de conteúdos de história do Brasil. O mesmo pode ser observado em coleção
para o ensino fundamental, no qual em um total de 168 capítulos organizados para
quatro séries, existem apenas trinta relativos à história brasileira.
6 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERENCIAS
ARÓSTEGUI, Julio. A pesquisa histórica: Teoria e Método. Tradução Andréa Dore; revisão técnica
José Jobson de Andrade Arruda. Bauru, SP: Edusc, 2006.
FOUCAULT, MICHE. A arqueologia do Saber; tradução Luiz Felipe Baeta Neves. 7ª ed. Rio de
Janeiro: Forense Universitária, 2011.
JENKINS, Keith. A história repensada; tradução Mário Vilela. 3ª ed., 1ª impressão. São Paulo:
Contexto, 2015.
SILVA, Marcos. Ensinar história no século XXI: em busca do tempo entendido. 4ª ed. Campinas,
SP: Editora Papirus, 2012.
ENTREVISTAS
RODRIGUES, Janaína. Diferentes cenários: o ensino de história na escola pública de Palmeira
dos Índios. Palmeira dos Índios: professora da Escola Estadual Monsenhor Macedo. 26 Abril. 2016.
Entrevista concedida a Dehon da Silva Cavalcante.
INTERLOCUÇÃO
Esta entrevistada trabalha hoje como docente e com mediação cultural, já tendo
atuado em outros espaços culturais, na cidade do Rio de Janeiro. Em outro depoimento,
foi relatado que “ sempre me perguntavam se eu não ficava entediado por fazer a
mesma visita várias vezes, eu sempre dizia que não, porque cada grupo transformava
a visita em uma experiência única e acrescentava na minha formação”. Neste último
caso, o interesse pela área de mediação foi tão grande que o antigo estagiário optou
por realizar uma pós-graduação em museologia, e trabalha no Museu do Amanhã, no
Rio de Janeiro.
Outro dado relevante é a formação dos estagiários para função de mediadores.
Pelos depoimentos coletados e pesquisas realizadas no campo da formação de
educadores museais, pode-se concluir que os mediadores se formam por meio da
observação do trabalho de outros educadores mais antigos, pesquisas pessoais e
materiais produzidos pelos museus. No caso do Palácio Tiradentes, ocorreu uma
preparação de aproximadamente um mês, na qual os estagiários observaram os
colegas mais experientes e, posteriormente, começaram a atuar recebendo grupos.
A utilidade mais citada nas entrevistas para formação acadêmica foi meramente
conteudista, sem relatos de impacto metodológico para educação museal, todavia, a
maioria dos entrevistados relatou que no fim da graduação realizaram uma disciplina
chamada Estágio Supervisionado II, na qual as atividades feitas por professores em
museus eram discutidas e, que esses conhecimentos lembravam suas práticas de
estágio.
Durante a pesquisa, a exposição recebia até três grupos escolares de quarenta e
quatro alunos por dia, além de estar aberta à visitação para outros públicos. A equipe
de estagiários era composta por estudantes que falavam fluentemente inglês, espanhol
e/ou francês, atendendo aos visitantes estrangeiros, entretanto o grande diferencial do
centro cultural era a oferta de ônibus e lanches para alunos da rede pública estadual.
3 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
BITTENCOURT, Circe. Ensino de História: fundamentos e métodos. 4. ed. São Paulo: Cortez,
2011.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 2013.
CHICARELI, Larissa Salgado. Museu e ensino de História: pensar o museu como local de
conhecimento e aprendizagem. In: Revista Confluências Culturais. v.3, n.2. Joinville: Univille, 2014.
COSTA, Carina Martins. Uma casa e seus segredos: a formação de olhares sobre o Museu
Mariano Procópio. In: Revista Mosaico. Rio de Janeiro: CPDOC/FGV, 2009.
NORA, P. Mémoire et Histoire - la problematique des lieux. Les lieux de mémoire. Paris:
Gallimard, 1984.
INTRODUÇÃO
1 Adjetivação aplicada aos judeus que se convertiam ao cristianismo para diferenciá-los dos cris-
tãos-velhos, ou seja, aqueles que eram batizados na fé cristã desde o nascimento. Em 1496, foi proibi-
da a prática da religião judaica sob a regência de D. Manuel I, o “Venturoso” (1495-1521) e promovida a
conversão forçada dos judeus habitantes no reino. A Inquisição efetivada em Portugal em 1536, já sob
o reinado de D. João III, o “Piedoso” (1521-1557), buscava impedir, dentre outros objetivos, o judaísmo.
El-rei D. João V enviou-lhe um dos seus batéis para o trazer a terra, e conduzir até
ao seu palácio. Á vista do venerável servo de Deus, o rei, apesar de uma dolorosa
paralisia, que lhe tolhia quase o uso dos membros, ajoelha e pede-lhe a benção.
O humilde religioso, em tal conjuntura desfez-se em lágrimas. Confundido ao ver a
seus pés tão poderoso monarca, debalde procura retrair-se; o rei pega-lhe a mão e
a leva ao rosto. Com a voz cortada de soluços, Malagrida pronuncia então a oração
da igreja: Respice quaesumus, Domine, super hunc famulum tuum Regem; Senhor
nós te pedimos que olheis para o rei vosso servo. “Não, meu padre – exclamou o
monarca interrompendo-o – Não digais rei; dizei pecador.” (MURY, 1884, p. 155)
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
Documentação Primária Impressa
BAIÃO, António. El rei D. João IV e a Inquisição: Anais. Lisboa: Academia portuguesa de História,
1942.
Arquivo Nacional da Torre do Tombo. Mapa ou vista do cadafalso em que foram executados os
fidalgos que deram os tiros no atentado ao rei D. José I. 1759. [S.I.], [s.n.].
BOAVENTURA, Frei Fortunato de S. Ineditos portuguezes dos seculos XIV e XV. Coimbra: Real
Imprensa da Universidade, 1829.
GALHARDO, Antonio Rodrigues. Collecção das leis, decretos e alvarás que comprehende o feliz
reinado del rei fidelíssimo D. José o I: desde o anno de 1750 até o ano de 1760 e a pragmática do
senhor rei D. João o V do anno de 1749. Lisboa: Imprellor da Sereniffima capa do infantado, 1797.
MURY, Paul. Histoire de Gabriel Malagrida. Strasburg, 1884.
REGIMENTO do Santo OFficio da Inquisição dos reinos de Portugal: ordenado com o real
beneplacito, e regio auxilio pelo Eminentissimo, e Reverendissimo Senhor Cardeal da Cunha, dos
conselhos de Estado, e Gabinete de Sua Magestade, e Inquisidor Geral nestes reinos, e em todos os
seus dominios. Lisboa: na Offcina de Miguel da Costa, 1774.
BOXER, Charles Ralph. A igreja e a expansão ibérica. Lisboa: Edições 70, 1989.
COUTINHO, Marcus Odilon Ribeiro. O livro proibido do padre Malagrida. João Pessoa: Unigraf,
1986.
FARIA, Ana Maria Homem Leal. A extinção da inquisição: história de Portugal. Lisboa: Ediclube,
1994.
GILISSEN, John; & HESPANHA, Antonio Manuel. Introdução histórica ao direito. Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 2011.
LEITE, Serafim Soares. História da Companhia de Jesus no Brasil. Lisboa: Livraria Portugalia,
1938, Tomo II.
MARCOCCI, Giuseppe & PAIVA, José Pedro. História da Inquisição portuguesa: 1536-1821.
Lisboa: A esfera dos livros, 2013.
__________. Political thought and history: essays on theory and method. Cambridge: Cambridge
University Press, 2011.
RODRIGUES, Matias. Vida do padre Gabriel Malagrida. Belém: Centro de Cultura e Formação
Cristã da Arquidiocese de Belém, 2010.
SKINNER, Quentin. Visions of politics: regarding method. Cambridge: Cambridge University Press,
2013.
HISTORIOGRÁFICA
Quando vamos para análise dos prontuários, isso só se confirma, pois encontramos
relatos médicos de casos significativos de doentes que se dirigiam a instituição por
livre vontade e que chegaram a ter a internação recusada devido a superlotação.
Dessa forma, isso nos permite começar a questionar até que ponto existia um
isolamento compulsório no Ceará, pois, como mostrado, os pacientes buscavam
o isolamento. Podemos levantar a hipótese de uma relativização do isolamento
compulsório, que pode ter sido gerada por dois motivos: 1. A leprosaria encontrava-
se com lotação excedida, então por mais que se quisesse isolar compulsoriamente
todos os doentes, isso não seria possível; 2. O meio externo era muito hostil com os
leprosos, principalmente os pobres e os indigentes, que não tinham uma alternativa
melhor do que se privarem de sua liberdade para tentar levar uma vida melhor e mais
digna.
Outro dado relevante que nos ajuda a levantar a hipótese anterior, é o fato de
existir situações em que o paciente é liberado da instituição em um momento em que o
isolamento ainda era compulsório e nem se falava em altas médicas, já que não existia
um medicamento específico e com eficácia totalmente comprovada para o trato com a
doença. Sobre isso, o regulamento sanitário de 1923 aponta:
Dessa forma, com essa defesa constante nos discursos, imaginamos que na
prática médica também seria assim. Porém, quando fomos para os prontuários, não
encontramos ficha de acompanhamento medicamentoso no período em destaque,
além de ter sido encontrado nos prontuários uso de algum tipo de medicação em
apenas sete pacientes (Prontuários médicos nº 14, 54, 60, 130, 195, 206 e 213), nos
quais não foi encontrado um padrão social que explicasse o uso de medicação apenas
neles. Além disso, mesmo a medicação tendo sido utilizada nos casos destacados,
não existia controle algum, pois era citado que o paciente tinha usado a medicação
apenas em um dia específico.
Essa ausência nos ajudou a levantar algumas hipóteses, como a falta de
acompanhamento médico constante, a presença de outra ficha de medicação que não
foi encontrada em nossas pesquisas, a falta de cuidado com os pacientes, o registro
de casos apenas onde existiu reação a medicação ou até mesmo o pouco uso do
medicamento na instituição.
Diante disso, através dessa análise dos prontuários, foi possível alcançar
informações que não seriam obtidas de outra forma, já que as leis oficiais e o discurso
médico apontavam informações bem diferentes do foi percebido através da análise do
documento prontuarial. Dessa forma, sem a análise dos prontuários médicos, teríamos
conclusões equivocadas sobre a prática isolacionista da instituição.
Desse modo, reforçamos a riqueza documental e a importância da utilização
dessa tipologia de fonte, sempre que possível, no trabalho historiográfico sobre saúde
e doença, visto que, através dela, é possível ter uma análise mais completa do objeto
selecionado. Assim, usando essa fonte em conjunto com outras foi possível desenhar
uma nova face da instituição, fazendo contrapontos entre discursos e práticas e,
principalmente, chegando a uma visão mais profunda sobre a colônia Antônio Diogo.
REFERÊNCIAS
BERTOLLI FILHO, Claúdio. O discurso médico nos prontuários clínicos. Intercâmbio, São Paulo, SP,
v.5, p.17-24, 1996a.
______. Prontuários médicos: fonte pra o estudo da história social da medicina e da enfermidade.
História, Ciência e Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, RJ, v.3, n.1, p. 173-180, mar/jun, 1996b.
______. História social da tuberculose e do tuberculoso (1900-1950). Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz,
2001.
BRASIL, Coleção de leis. Decreto de 16.300 de 31 de dezembro de 1923. Rio de Janeiro, [s.n], 1923.
JUSTA, Antônio. A lepra IV – Tratamento (conclusão). Ceará Médico, Fortaleza, Ano IX, Número 9,
9-14, setembro, 1930.
______; CALS, Cezar; PICANÇO, Jurandir. Leprosaria Antonio Diogo: Memorial apresentado ao
Centro Médico Cearense. Ceará Médico, Fortaleza, Ano XIII, Número 5, 15- 19, maio, 1934.
______. A lepra no Ceará. Ceará Médico, Fortaleza, Ano XV, Número 7 e 8, 1-15, julho/agosto, 1936.
PINHEIRO, Francisca. “O médico dos lázaros”: Antônio Justa e o combate à lepra no Ceará (1920-
1941). Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2016.
SCOTTI, Zelinda. Os prontuários do Hospício São Pedro: metodologia para a formação de banco de
dados. Revista Ágora, Vitória, ES, n.12, p. 1-12, 2011.
VIANA, Bruna. Entre discursos e práticas: menores e loucura no Hospital Colônia Sant’Ana (1942-
1944). Monografia (Graduação em Históra) - Universidade do Estado de Santa Catarina, Florianópolis,
2013a.
Este texto relata uma experiência pedagógica proposta aos alunos do curso de
História, e que consistiu em visitas técnicas realizadas no centro histórico de Santos-SP
e redondezas. Tem por objetivo salientar a importância deste tipo de atividade didático-
pedagógica tanto para formação dos futuros docentes quanto para o exercício da
cidadania, que passa necessariamente pelo conhecimento e compreensão da história
local. Verificou-se que a maioria dos alunos, nascidos ou há muito na cidade, não
conheciam os espaços de cultura da cidade, tampouco as edificações patrimonializadas.
Nesse sentido, percebe-se a necessidade de uma constante educação patrimonial
que incentive a prática do estudo do meio, tanto no âmbito do ensino superior, como
do ensino básico, espaço para o qual eles estão sendo formados.
De acordo com Circe Bittencourt, a educação patrimonial deve integrar os
planejamentos escolares e, especialmente, a componente curricular História,
envolvendo o desenvolvimento de atividades lúdicas e de ampliação do conhecimento
sobre o passado e sobre as relações que cada sociedade estabelece com ele. O
professor deve suscitar nos alunos indagações do tipo: o que é preservado? Como
é preservado? Porque é preservado? Por quem é preservado? Essas perguntas têm
por objetivo refletir sobre a construção da memória social e indagar, ainda, se todos os
setores e classes sociais têm sua memória reconhecida. (Bittencourt, 2008).
Além disso, continua a autora, cumpre à discussão do patrimônio e da memória
o papel de desfazer a percepção equivocada de que somos “um país sem memória”,
cabendo questionar qual memória tem sido esquecida e como recuperar um passado
que possa contribuir para atender às reivindicações de parcelas consideráveis
da população às quais tem sido negado, recorrentemente, o “direito à memória”.
(Bittencourt, 2008).
Esta comunicação pretende levantar questões a partir de uma experiência
concreta de estudo de meio como elemento propositivo de reflexões voltadas para o
exercício da cidadania e a construção de uma sociedade democrática.
O primeiro problema que o professor deve refletir na prática pedagógica que
envolve o estudo de meio e o patrimônio é com a noção de “história local”. Esta noção,
embora frequente, não tem sido devidamente tratada do ponto de vista teórico e
metodológico. O que é “local”, “regional”, “nacional”, “global”?
Tais perguntas devem levar o historiador a indagar sobre os conteúdos dessas
noções, lembrando que as mesmas não são dados da realidade, mas construções
atribui funções diferentes ao mesmo lugar. O lugar é um conjunto de objetos que têm
autonomia de existência pelas coisas que o formam – ruas, edifícios, canalizações,
indústrias, empresas, restaurantes, eletrificação, calçamentos –, mas que não têm
autonomia de significação, pois todos os dias novas funções substituem as antigas,
Esse autor ressalta que cada lugar é diferente de outro, tem sua singularidade,
mas é fração de uma totalidade. Ao analisar o atual processo de globalização,
pressupõe as relações de cada lugar com a expansão das multinacionais, com a nova
forma de atuação do Estado e com a organização social. Afirma assim que as relações
de produção atuam na transformação dos lugares, embora seja preciso averiguar
a dinâmica dos usos de cada espaço, como ocorre a ação concreta do capitalismo
globalizado nessa fração do espaço total. (SANTOS, 1991, p. 172).
A história do “lugar” como objeto de estudo ganha, necessariamente, contornos
temporais e espaciais. Não se trata, portanto, ao se proporem conteúdos escolares
da história local, de entendê-las apenas na história do presente ou de determinado
passado, mas de procurar identificar a dinâmica do lugar, as transformações do
espaço, e articular esse processo às relações externas, a outros “lugares”. (SANTOS,
1991, p. 172).
Ainda sobre a problemática conceitual do “lugar”, da “região”, e porque não, do
“território”, diz o geógrafo Marcelo Lopes de Souza:
o historiador [...] deve estar atento para os afrontamentos políticos, as lutas pelo
E autor continua:
O que não se pode fazer, defende Vera Alice Cardoso Silva, é perder de vista
que a significação analítica e a utilidade explicativa do conceito de região dependem
de sua referência constante a um sistema global de relações do qual foi recortada.
(CARDOSO, 1990, p.44).
Por outro lado, a história regional não substituiu a história de processos
estruturais ou a história das mudanças sociais e política. E tampouco deve ser vista
como fornecedora de subsídios que, somados, resultaria naturalmente numa “História
nacional” ou numa “História Geral”. Ou seja, uma antologia de histórias regionais não
produziria uma “história nacional”.
Destarte, o regionalismo, para fecharmos a reflexão da autora referenciada,
configura o objeto da História Regional, e assim oferece elementos essenciais para
a História Comparada. Como enfoque interpretativo o regionalismo aponta para uma
A atividade foi dividida em três fases distintas. A primeira foi de preparação dos
discentes para o estudo do meio em sala de aula realizada pelos dois professores
que sugeriram a atividade. Os componentes curriculares envolvidos eram História
e Linguagens e Laboratório de Ensino e Pesquisa em História. A segunda fase
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE, Durval Muniz. O objeto em fuga: algumas reflexões em torno do conceito de região.
In: Fronteiras, Dourados-MS, v. 10, n. 17, p. 55-67, Jan./jun. 2008.
BITTENCOURT, Circe Maria. Ensino de história: fundamentos e métodos. 2. Ed. São Paulo: Editora
JANOTTI, Maria de Lourdes Monaco. Historiografia: uma questão regional? In: SILVA, Marcos
Antonio. República em migalhas: história regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990.
SANTOS, Milton. As metamorfoses do espaço habitado. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1991.
SILVA, Vera Alice Cardoso. Regionalismo: o enfoque metodológico e a concepção histórica. In: SILVA,
Marcos Antônio. República em migalhas: história regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990.
SILVEIRA, Rosa Maria Godoy. Região e História: questão de método. In: SILVA, Marcos Antonio.
República em migalhas: História regional e local. São Paulo: Marco Zero, 1990.
2 | PERCURSO TEÓRICO
Por cultura material poderíamos entender aquele segmento do meio físico que é
socialmente apropriado pelo homem. Por apropriação social convém pressupor que
o homem intervém, modela, dá forma a elementos do meio físico, segundo propósitos
e normas culturais. Essa ação, portanto, não é aleatória, casual, individual, mas se
alinha conforme padrões, entre os quais se incluem os objetivos e projetos. Assim,
o conceito pode tanto abranger artefatos, estruturas, modificações da paisagem,
como coisas animadas (uma sebe, um animal doméstico), e, também, o próprio
corpo, na medida em que ele é passível desse tipo de manipulação (deformações,
mutilações, sinalações) ou, ainda, os seus arranjos espaciais (um desfile militar,
uma cerimônia litúrgica).(MENESES, 1983, p. 112)
Enfim, ao renunciar ao primado tirânico do recorte social para dar conta dos
desvios culturais, a história em seus últimos desenvolvimentos mostrou, de vez,
que é impossível qualificar os motivos, os objetos ou as práticas culturais em
termos imediatamente sociológicos e que sua distribuição e seus usos numa dada
sociedade não se organizam necessariamente segundo divisões sociais prévias,
identificadas a partir de diferenças de estado e de fortuna. Donde as novas
perspectivas abertas para pensar outros modos de articulação entre as obras ou as
práticas e o mundo social, sensíveis ao mesmo tempo à pluralidade das clivagens
que atravessam uma sociedade e à diversidade dos empregos de materiais ou de
códigos partilhados.
Objetos materiais e técnicas corporais, por sua vez, não precisam ser
necessariamente entendidos como simples “suportes” da vida social e cultural
(como tendem a ser concebidos em boa parte da produção antropológica). Mas
podem ser pensados, em sua forma e materialidade, como a própria substância
dessa vida social e cultural ( GONÇALVES, 2007,p. 219)
3 | METODOLOGIA
O trabalho aqui exposto, ainda embrionário, tem como objetivo contribuir para
suscitar discussões que destacam o papel das instituições museológicas e suas
atividades como mediadoras de um conhecimento acessível com respaldo de pesquisas
mais diligentes. Os estudos de cultura material, cada vez mais consolidado, tem um
enorme potencial para embasar pesquisas e discussões que perpassam por veredas
contempladas pelos museus, e que consequentemente, podem ser exploradas pela
Museologia, por ser um campo científico que fundamenta e tem estimulada sua práxis
nestas instituições.
Pesquisas como esta são importantes para alinhar o comprometimento do
campo da Museologia com sua aplicabilidade nos museus através de oportunidades
captadas em ressonância com os problemas enfrentados pela área. O estudo busca
mostrar como os museus e a Museologia podem se beneficiar dessa aproximação com
aportes teórico-metodológicos de outras áreas, podendo viabilizar caminhos através
da interdisciplinaridade para incrementar discussões pertinentes em seu campo, e
consequentemente, aperfeiçoar as práticas exercidas pelos museus, principalmente,
as que dizem a respeito da preservação, pesquisa e extroversão de seus acervos.
Por último, se aposta nas expectativas sobre a competência do museu para
contribuir para um despertar crítico da sociedade em relação à realidade, na qual
atribui às instituições museológicas papeis cruciais para promover a mediação entre
grupos culturais diferentes tanto historicamente quanto antropologicamente, sendo
capaz de usar artifícios que possa construir uma sociedade mais tolerante e sensível.
Nesta perspectiva, Meneses tem um pensamento otimista em relação ao papel do
museu no século XXI.
Estou convicto de que, no século XXI, os museus não serão espaços anacrônicos e
nostálgicos, receosos de se contaminarem com os vírus da sociedade de massas,
mas antes, poderão constituir extraordinárias vias de conhecimento e exame
dessa mesma sociedade. Serão, assim, bolsões para os ritmos personalizados de
fruição e para a formação da consciência crítica, que não pode ser massificada.
(MENESES, 1994, p. 14)
REFERÊNCIAS
BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005. 191 p
CHARTIER, Roger. O mundo como representação. Revista de estudos avançados. São Paulo, v. 5,
n. 11, jan. / abr. 1991.
HICKS, Dan. The material-cultural turn: event and effect. In: The Oxford Handbook of Material
Culture Studies. Oxford: Oxford University Press.2010 p.25-98
MENESES, U. T. B. Fontes visuais, cultura visual, história visual. Balanço provisório, propostas
cautelares. Revista Brasileira de História. São Paulo, v. 23, nº 45, pp. 11-36 – 2003
MILLER, Daniel. (ed.). Material cultures. Why some things matter. London: UCL Press, 1998.
MORENO, Luis Gerardo Morales. Limites narrativos de lós museos de historia. Alteridades. 19
(37), 2009. Pp. 43-56
PEARCE, Susan M. Objects as meanings; or narrating the past. 1994. In: PEARCE, Susan
M.(org.). Interpreting objects and collections. London; New York, NY: Routledge, 1994. xii, 343 p
REDE, Marcelo. História e cultura material. In: CARDOSA, C. F. ; VAINFAS, R. (org.). Novos
Domínios da História. Rio de Janeiro, Elsevier, 2012, p. 133-150.
RÜSEN, Jörn. Como dar sentido ao passado: questões relevantes da meta-história. Revista
História da Historiografia. Março, n. 02, 2009, p. 163 – 209
RÜSEN, Jörn. Razão Histórica. Teoria da História: os fundamentos da ciência histórica. Editora
UNB, Brasília. 2001. 193p.
Maximiliano Ruste Paulino Corrêa Folklore, the lycanthrope myth goes beyond
Universidade Estadual de Goiás, Departamento centuries and continents. The following work
de História. proposes to analyze the influences that allowed
Anápolis - GO. the formation and characterization of the
myth in Portugal, as well as the scope of the
Portuguese influence of the construction of the
RESUMO: Classificado por Camara Cascudo same myth in Brazilian soil and its permanence
como “mito universal” em seu Dicionário after the constant reformulation of the myth
do Folclore Brasileiro, o mito do licantropo in national territory. In this context, the new
ultrapassa séculos e continentes. O seguinte social media will play a fundamental role in the
trabalho se propõe a analisar as influências sharing, discussion and constant propagation of
que permitiram a formação e caracterização reports about the werewolf figure. In addition,
do mito em Portugal, assim como o alcance da we will explore relevant points for a better
influência portuguesa da construção do mesmo understanding of the myth in question since
mito em solo brasileiro e sua permanência após Rome, passing through ancient Hellas, finally
a reformulação constante do mito em território reaching its Portuguese version and its most
nacional. Nesse contexto, as novas mídias recent Brazilian formulation.
sociais desempenharão um papel fundamental KEYWORDS: werewolf, Portugal, Brazil,
no compartilhamento, discussão e constante tradition, media.
propagação de relatos acerca da figura do
lobisomem. Para além, esmiuçaremos pontos Quando a meia-noite / Me encontrar
junto a você / Algo diferente vou
relevantes para uma maior compreensão do sentir / Vou precisar me esconder /
mito em pauta desde Roma, perpassando pela Na sombra da lua cheia / Esse medo
de ser / Um vampiro, um lobisomem /
antiga Hélade, chegando por fim à sua versão
Um saci-pererê
portuguesa e sua mais recente formulação Almôndegas, Canção da meia-noite
brasileira.
PALAVRAS-CHAVE: lobisomem, Portugal,
Uma vez à parte a licença poética, a
Brasil, tradição, mídias.
canção do quarteto gaúcho Almôndegas não
se coloca de forma díspar à lenda do homem-
ABSTRACT: Classified by Camara Cascudo
lobo: popularizada nos anos 70 pela aclamada
as “universal myth” in its Dictionary of Brazilian
As lupercais, festa dos lobos, segundo Plutarco, realizavam-se no dia mais funesto
de fevereiro, nome que mesmo diz ser “expiativo”. O dia das lupercais (15 de
fevereiro) era chamado februata. O ponto de partida era a gruta perto da figueira
Ruminal, dado como sítio da criação de Rômulo e Remo pela loba. Abatiam cabras
e cães. Os sacerdotes tocavam com as lâminas tintas do sangue oblacional na face
dos moços. Seminus, apenas com um cinturão feito da pele do lobo, empunhando
correias da mesma pele, sujas de sangue, os lupercais corriam uivando pelas ruas
de Roma, açoitando os transeuntes. As mulheres vinham ao encontro da flagelação
ritual porque afastava a esterilidade e os partos seriam propícios. Essa festa de
purificação é, evidentemente, um vestígio de culto orgiástico, de propiciatório aos
mistérios da fecundação e gestação normal. O mês de fevereiro vem de februare,
purificar, mas o radical é februa, nome das correias que batiam as mais lindas
matronas de Roma. Fevereiro era o último mês do velho ano romano. Fechava-se
a marcha da vida com essa purificação sob a égide dos lobos. (CASCUDO, 2012:
154)
Nous nous mettons en route au premier chant du coq (la lune brillait, et on y
voyait clair comme en plein midi). Chemin faisant, nous nous trouvâmes parmi des
tombeaux. Soudain, voilà mon homme qui se met à conjurer les astres; moi, je
m’assied, et je fredonne un air, en comptant les étoiles. Puis, m’étant retourné vers
mon compagnon, je le vis se dépouiller de tous ses habits, qu’il déposa sur le bord
de la route. Alors, la mort sur les lèvres, je restai immobile comme un cadavre. Mais
jugez de mon effroi, quand je le vis pisser tout autour de ses habits, et, au même
instant, se transformer en loup. Ne croyez pas que je plaisante; je ne mentirais pas
pour tout l’or du monde. Mais où dond en suis-je de mon récit? m’y voici. Lorsqu’il
fut loup, il se mit à hurler, et s’enfuit dans les bois. (PETRÔNIO apud CASCUDO,
2012: 156)
O cenário apontado por Petrônio, composto por túmulos e banhado por uma lua
que iluminava tal qual o meio dia – torna-se então possível uma suposta associação
com a lua cheia – assim como todo o processo de transformação do licantropo são
os mesmos que viriam a compor o imaginário português e brasileiro acerca do mito.
A partir de 218 a.C., em guerra contra os cartaginenses, os romanos iniciaram sua
conquista à Península Ibérica, readequando os modos sociais e a cultura local ao seu
próprio. Com efeito, uma relação direta entre a tradição romana e a lusitana torna-se
mais plausível do que uma possível relação entre o mito difundido em Portugal que
viria a alcançar o Brasil com os propostos gregos sobre o tema.
Em Portugal, por sua vez, o lobisomem se remodela e reconstrói pontos essenciais
para a tradição romana: o que entre os romanos se configurava como um “lobisomem-
versipélico”, para os portugueses transfigurar-se-á novamente e simplesmente em
versipélio. Mantendo pontos estruturais como o processo de encantamento, o animal
de transformação não mais será exclusivamente o lobo e sim o último animal que
houver se refestelado no local da transformação, havendo uma forte tendência para
a transmutação em animais típicos da zona rural, como o burro, o porco, o bode, o
cão, o cavalo e etc. A razão do encantamento era pois, na cultura portuguesa, uma
eventualidade: de acordo com os costumes locais, transformar-se-ia em lobisomem o
último irmão após nascidas sete mulheres. Posteriormente, o mito seria reformulado
de acordo com a moral e o ver cristão, passando também a sofrer com o fadário
aquele que fosse fruto de um incesto.
O ritual de transformação, com pequenas diferenças daquele explanado por
Petrônio, era realizado da seguinte maneira: o candidato a licantropo se despiria onde
algum animal havia se despojado, deitar-se-ia no local e logo se poria a girar até que
se levantasse na forma de bicho e saísse a correr seu fado, rogando aos berros que
At this very instant the moon rose, and we saw a huge brown wolf standing over the
body of the child, his fangs bloody, and his eyes looking like fire. (...) They burried
her where she lay, and the ‘wise woman’, who came to look at her, said she had the
mark of the lupis-homem on her breast quite plain, and was evidently a servant of
the Evil One. The woman said that if she had seen the girl’s eyes she could have told
at once what she was, for the lupishomems all get to have the long, narrow eyes and
savage look of the wolf. (LATOUCHE apud FINA, 2016: 77)
Qualquer objeto que projete interesse humano, além de sua finalidade imediata,
material e lógica, é folclórico. Desde que o laboratório químico, o transatlântico, o
avião atômico, o parque industrial determinem projeção cultural no plano popular,
acima do seu programa específico de produção e destino normais, estão incluídos
no Folclore. (...) Não apenas contos e cantos, mas a maquinaria faz nascer hábitos,
costumes, gestos, superstições, alimentação, indumentária, sátiras, lirismo,
assimilados nos grupos sociais participantes. (CASCUDO, 2000: 401)
À vista disso, é possível afirmar que o folclore, enquanto produto das relações
humanas e suas atividades diárias passa por um remodelamento constante,
acompanhando inclusive o avanço do pensamento científico, como bem elucida Fina
(2016). Como foi posto, o Folclore acompanha o avanço tecnológico, quadro nítido no
que concerne as novas mídias sociais e a alíquota do Folclore composta por lendas e
REFERÊNCIAS
A NOITE do lobisomem. Nem Faz Medo. YouTube. 2017. Disponível em: < https://www.youtube.com/
watch?v=Xn2uTtRfabM&t=88s>. Acesso em: 15 jul. 2018.
CASCUDO, Luis da Camara. A Princesa do Sono Sem Fim. In: CASCUDO, Luis da Camara. Contos
Tradicionais do Brasil. São Paulo: Global, 2014.
CASCUDO, Luis da Camara. Dicionário do Folclore Brasileiro. 10º edição. Rio de Janeiro: Ediouro,
2000.
CASCUDO, Luis da Camara. Lobisomem. In: ______. Geografia dos Mitos Brasileiros. São Paulo:
DALBEN, Ana Luísa Gusmão da Rocha. Factualidade x Realidade: um estudo sobre os relatos que
contribuíram para a origem dos criadores de lobisomens. Colloquium Socialis, Presidente Prudente,
v. 01, n. Especial, p.400-405, jan/abr 2017.
FINA, Rosa Maria Canarim Rodrigues. Portugal nocturno e a ameaça do dia: A ideia de noite na
cultura portuguesa (séculos XVIII a XX). Lisboa: Universidade de Lisboa, 2016.
HARRIS, Mark. O lobisomem entre índios e brancos: o trabalho da imaginação no Grão-Pará no final
do século XVIII. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 47, p. 29-55, set. 2008.
MACHADO, Eva e MESQUITA, Armando. A figura da bruxa e suas práticas em contos da tradição
oral transmontana. In: GONÇALVES, Henriqueta Maria (org.). Vozes Transmontano-Durienses. Vila
Real: CEL, 2011. p. 165-191.
MEU tio lutou com um lobisomem. AssombradO.com. YouTube. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=AuVJEVFmqVo&t=393s>. Acesso em: 15 jul. 2018.
RIBEIRO, Angelita Soares. O Lobisomem: o cumprimento de um fado. In: RIBEIRO, Angelita Soares.
Bruxas, Lobisomens, Anjos e Assombrações na Costa Sul da Lagoa dos Patos – Colônia Z3,
Pelotas: Etnografia, mitologia, gênero e políticas públicas. Pelotas: UFP, 2012.
Não há uma única forma nem um único modelo de educação; a escola não é o
único lugar onde ela acontece e talvez nem seja o melhor; o ensino escolar não é a
sua única prática e o professor profissional não é o seu único praticante.
Gohn (2010, p. 15-21) chama de educação não formal aquela educação que
acontece por meio de processos intencionais de interatividade e compartilhamento
de experiências, em espaços coletivos, sem depender de espaços escolares, e tendo
como educador “o outro”, aquele com quem se interage, mesmo que haja a presença
do educador social.
Considerando a educação como um conjunto de práticas que não está restrito à
escola, podemos dizer que os movimentos sociais são também lugares de educação.
Neles se desenvolvem processos, principalmente de educação não formal, que
objetivam construir saberes e práticas que contribuem para os indivíduos conhecerem
seus direitos como cidadãos, elaborarem uma compreensão acerca do que se passa
ao seu redor e se organizarem para buscar a solução de problemas coletivos e para
a emancipação. Essa construção de conhecimentos e práticas nasce da convivência,
da interação e das experiências dos indivíduos entre si e com a sua realidade (GOHN,
2012, p. 21-24).
Analisamos as Ligas Camponesas como um espaço educativo, considerando
que a educação sempre acontece onde “há relações entre pessoas e intenções de
ensinar-e-aprender” (BRANDÃO, 1989, p. 24), independentemente de se estar ou não
no espaço escolar.
Quando nasceu a primeira Liga Camponesa do Brasil, não com este nome, mas
como Sociedade Agrícola e Pecuária dos Plantadores de Pernambuco (SAPPP), havia
uma preocupação, entre os seus fundadores, para que a associação conseguisse
meios para promover a alfabetização das crianças que viviam nas terras do Engenho
Galiléia. A carta dirigida pela diretoria da SAPPP ao proprietário do engenho, Oscar
Beltrão, convidando-o para ser o presidente de honra da associação, fala que ela
pretendia estabelecer uma escola para atender aos filhos e filhas do foreiros (Carta ao
Sr. Oscar Beltrão. Prontuário da Liga Camponesa de Vitória de Santo Antão. SSP-PE
nº 29.709. Doc. Nº 41. Dops-PE, Acervo APEJE). Esse interesse da Liga de Galiléia
pela educação formal de suas crianças levava em conta o alto índice de analfabetismo
que, naquele período, chegava a exceder 80% nas áreas rurais brasileiras (PAGE,
1972, p. 33).
O conteúdo educativo das Ligas se fazia presente nas falas dos seus líderes ou
de pessoas que se integravam a elas para cumprir a função de formadores, mas se
revelava também nas reuniões entre os camponeses, onde as relações transformavam
todos em educadores e educandos:
A imprensa da classe dominante, ao surgir uma Liga, inicia contra ela um ataque
violento e histérico, como se estivesse em frente a uma corja de bandidos e
assaltantes. É obrigatório, nessa fase, para o redator policial, o registro com
destaque de fatos deturpados, contendo insultos e calúnias contra os camponeses,
sua Liga e seus dirigentes. Todos são chamados de comunistas, carbonários,
terroristas e agitadores.
Eu falava para o povo que as Ligas resolvia todo problema do trabalhador, todo
problema do trabalhador: a aposentadoria foi de ter aparecido foi por parte das
Ligas, indenização, férias, décimo, tudinho a gente falava pro povo, que não tinha
nada disso, não, trabalhava, saía, simbora, sem nadinha, né. Tudo isso tem. A
gente explicava tudo para o povo, tudinho nos engenhos, quando a gente saía
para os engenhos: “Vocês tem direito a isso, isso, isso e isso, só sai se pagar isso
a vocês. E, quando sair, ser indenizado, né” (sic).
Aprendemos isso adepois das ligas, que Julião disse: “A lei é assim, assim, só
pode sair se for indenizado, a lei diz desse jeito, desse e desse”. Julião dizia: “Só
pode sair da terra se for indenizado, se não for indenizado não sai” (sic).
Quando tinha aumento de trabalho, nesses engenho, que as Liga ia lá pro mode...
Se o engenho não queria pagar (...) as Liga batia em cima. (...) Esse aí de Serra
Grande, era um senhor de engenho forte, esse aí de Serra Grande, aí João Virgínio
foi, paremo lá, para o Engenho Serra Grande, tava, o engenho tava com as cuba
tudo cheio de cachaça, de cada, pra fazer aguardente, né, fazer aguardente. Aí,
João Virgínio: “Para tudo, para tudo!” Aí parou tudo lá. “Num mói nada! Enquanto
você num pagar o direito do povo, aqui num mói nada!” Aí, ele disse: “Mas João,
num faça isso, João! Assim eu vou perder minhas calha, as cuba tá tudo cheia aí,
já pra fazer aguardente”. Aí, João Virgínio disse: “Apoi...” “Num faça isso, deixe
dois ou três aí pra fazer a cachaça, pra eu não perder”. Aí, João Virgínio disse: “É,
você ta me pedindo muito, eu vou deixar. Mas, é somente pra fazer a cachaça. Pra
fazer, tá tudo parado!” Eu só sei que ele... João Virgínio deixou ele, aí ele resolveu.
Cortou a braça, cortou, aí fez o pagamento, o aumento do pagamento do povo,
direitinho (sic).
Ao ser perguntado sobre se, antes de seu envolvimento com as Ligas, sabia
fazer essas mobilizações em torno dessas questões trabalhistas, Heleno foi enfático:
“Não, num sabia, não. Aprendi com as Ligas” (sic).
Para Gohn (2012, p. 22), os processos de educação não formal ocorridos
nos movimentos sociais contribuem para que os grupos oprimidos tenham acesso
a informações mais precisas e técnicas sobre assuntos relacionados à legislação.
Assim, a atuação de assessorias ou coordenações técnicas, como a exercida por
Julião e outros líderes nas Ligas, possibilitaram que os integrantes do movimento não
Ficou visto todos eles que subia em cima de palanque. Ficou visto da polícia.
Eles ficava tudinho de olho, né, observando. E eu não subia. Eu ficava somente
conversando com todo o povo, assim, em baixo, no chão. Aí, eu não fui visto na
revolução. (...) Eu não falava muito, não, que eu não falava, né. Mas, quem falava,
metia a boca pra cima, sobre o latifundiário, sobre o latifundiário, metia a boca pra
cima, falava o escambal, né? Eu não falava muito, mas por isso que eu não fui visto
muito do povo. Não fui, a polícia, o exército nem a polícia me olhou tanto para me
pegar. Mas, quem foi, quem falava muito sobre o latifundiário, foi visto, foi chamado
tranquilo. Nos engenhos por aí afora, tinha engenho por aí afora que tinha cada um
cara que metia o pau pra cima, viu, falava mesmo, desculhambava o latifundiário,
né. Esse na revolução, Vige Maria! O que não morreu, mas apanhou muito (sic).
Óia, era tanto do americano aqui, tanto do americano, que a gente não tinha nem
tempo, até, tempo às vez nem de trabalhar no roçado. Quando dava fé, chegava
uma reportagem americana. Chegava uma reportagem daqui, outro daqui, outro
de acolá, né (sic).
são escritas as regras que oprimem e consagram a opressão, com elas também os
homens entre si podem falar e escrever frases e modos de saber que, pronunciados
e exercidos, podem um dia libertar o homem e os seus mundos.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ABREU E LIMA, Maria do Socorro. Construindo o sindicalismo rural: lutas partidos, projetos.
Recife: Editora Universitária da UFPE: Editora Oito de Março, 2005.
AZEVEDO, Fernando Antonio. As Ligas Camponesas. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982.
______. Tempo de Arraes: a revolução sem violência. 3. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1980.
CORREIO DA MANHÃ. Continua greve nas usinas de açúcar. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, 29
fev. 1964, p. 5.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 50. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2011.
GOHN, Maria da Glória. Educação não formal e cultura política: impactos sobre o associativismo
do terceiro setor. 5. ed. São Paulo: Cortez, 2011.
JULIÃO, Francisco. “Bença, mãe!”. In: JULIÃO, Francisco. Cambão: a face oculta do Brasil. Recife:
Bagaço, 2009.
______. Francisco Julião: depoimento 1977. Rio de Janeiro: FGV/CPDOC – História Oral, 1982.
MONTENEGRO, Antonio Torres. História, metodologia, memória. São Paulo: Contexto, 2010.
______. História oral e memória: a cultura popular revisitada. 6. ed. São Paulo: Contexto 2010.
PAGE, Joseph A. A revolução que nunca houve. Trad. Ariano Suassuna. Rio de Janeiro: Record,
1972.
SANTIAGO, Vandeck. Francisco Julião: luta, paixão e morte de um agitador. Recife: Assembléia
Legislativa de Pernambuco, 2001.
SOUZA, Francisco de Assis Lemos de. Nordeste, o Vietnã que não houve: Ligas Camponesas e o
golpe de 64. Londrina: Editora da Universidade Federal do Paraná, 1996.
XAVIER, Wilson J. F. As práticas educativas na Liga Camponesa de Sapé: memórias de uma luta
no interior da Paraíba (1958 – 1964). 2010. 121 f. Dissertação (Mestrado em Educação) Centro de
Educação, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2010.
1 | INTRODUÇÃO
Logo, quanto maior então o volume do capital social de um tutor, capital esse
baseado na quantidade e na qualidade das relações desse sujeito, maior seria a
possibilidade de ele recorrer aos seus contatos com o intuito de instruir, cuidar ou
viabilizar a inserção social dos órfãos sob sua tutela.
Além disso, observei como os laços de proximidade ou de parentesco
possibilitavam uma melhor percepção dos tutores sobre as habilidades e características
de cada órfão. Exemplo disso é o papel que o tutor Manoel da Costa Monteiro teve
na escolha da educação diferenciada ofertada a seus irmãos Lizardo, Domingos e
Severino, que segundo a documentação pesquisada ocorreu graças ao beneplácito
desse sujeito e variava entre letras e ofícios. Com esse caso, foi possível constatar o
relevante papel do tutor na educação dos órfãos, uma vez que caberia a ele concordar
ou não com o aprendizado recebido pelos seus tutelados e decidir se esta preparação
estava de acordo com as capacidades de seus protegidos. Provavelmente, somente
3 | CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BOURDIEU, Pierre. A distinção crítica social do julgamento, São Paulo editora Zouk, 2008.
BOURDIEU, Pierre. A Economia das Trocas Simbólicas. São Paulo, Perspectiva, 2011.
BOURDIEU, Pierre. Coisas ditas: Pierre Bourdieu, São Paulo, Brasiliense, 2004.
FONSECA, Thais Nivia de Lima e. Letras, ofícios e bons costumes: civilidade, ordem e sociabilidades
na América Portuguesa. Belo Horizonte, Autentica, 2009.
SILVA, Maria Beatriz Nizza da. História da Família no Brasil Colonial. Rio de Janeiro, Nova Fronteira,
1998.
1 | INTRODUÇÃO
Gráfico 01 – Composição Partidária da ALEPA durante a legislatura que viveu o golpe civil-
militar de 1964.
3 | A TÍTULO DE CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
ALVES, Maria Helena Moreira. Estado e Oposição no Brasil (1964-1984). Bauru: Edusc, 2005. 423p.
BERSTEIN, Serge. A cultura política. In: RIOUX, J. SIRINELLI, J. (Org.). Para uma história cultural.
Lisboa: Editorial Estampa, 1998, pp. 349-364.
BERSTEIN, Serge. Os partidos políticos. In: REMOND, R. Por uma história política. 2ª ed. Rio de
Janeiro: Editora FGV, 2003, pp.57-98.
CRUZ, Ernesto. História do Poder Legislativo do Pará. 2º Vol. Belém: Imprensa Universitária, 1978.
FICO, Carlos. O golpe de 1964: momentos decisivos. 1ª Ed. Rio de Janeiro: FGV, 2014, 148p.
FONTES, Edilza. A invenção da Universidade Federal do Pará. In: FONTES, E. (Org.). UFPA 50
anos: histórias e memórias. Belém: Ed. UFPA, 2007, pp. 13-61.
______. O Golpe Civil-Militar de 1964 no Pará: imprensa e memórias. OPSIS, Catalão (GO), v. 14, n.
1, pp. 340-360, jan./jun. 2014.
______. A Reforma Agrária em Projeto: o uso do espaço legal para garantir o acesso à terra no Pará
(1960-1962). Revista Antítese, v. 8, n. 15esp, pp. 366-392, nov. 2015.
FONTES, Edilza Joana Oliveira. ALVES, Davison Hugo Rocha. A UFPA e os Anos de Chumbo:
A administração do reitor Silveira Neto em tempo de ditadura (1960-1969). Revista Tempo e
Argumento, Florianópolis, v. 5, n.10, pp. 258-294, jul./dez. 2013.
MOTTA, Rodrigo Patto Sá. As Universidades e o Regime Militar. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Zahar, 2014,
428p.
______. Ruptura e continuidade na Ditadura brasileira: a influência da cultura política. In: ABREU, L.;
MOTTA, R. (Orgs). Autoritarismo e Cultura política. 1ª Ed. Porto Alegre: Ed. FGV e EdiPUCRS,
2013, pp. 9-32.
REMOND, René. Uma história presente. In:______. Por uma história política. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2003, pp. 13-36.
ROCQUE, Carlos. Magalhães Barata: o homem, a lenda, o político. Vol. 2. Belém: Secult/PA, 2006.
SOBREIRA, Dmitri da Silva Bichara. Para Além do “Sim, senhor”: a Aliança Renovadora Nacional
(ARENA) e a Ditadura Militar na Paraíba (1964-1969). 2016. 235 f. Dissertação (Mestrado em
História) – Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Universidade Federal da Paraíba, João
Pessoa, 2016.
PROST, Antoine. As palavras. In: REMOND, René. Por uma história política. 2ª ed. Rio de Janeiro:
Editora FGV, 2003, pp. 295-330.
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL (PA). Resultado das Eleições Gerais no Pará (1945 a 2006).
Belém: TER-PA, 2008, 158p.
Contudo, o código não passou pelo crivo do Governo Estadual, em Ouro Preto.
Em ofício de próprio punho João Pinheiro da Silva, governador, arbitrou pela negação
da aprovação das posturas.
Sabemos que a permanência de Teotônio de Magalhães e Castro como inspetor
da Instrução Pública do Serro durou poucos meses, ou seja, de 22 de março a 1º
de setembro de 1890 quando foi exonerado pelo secretário da Inspetoria Geral da
Instrução Pública do Estado de Minas Gerais (DC:04, 02), sendo renomeado no dia 9
de setembro de 1890 (DC:06,02), não se podendo verificar se, de fato, reassumiu suas
funções e, se isso aconteceu, até quando permaneceu no cargo. Consta em arquivo
interessante correspondência entre Teotoninho e a Inspetoria Geral em Ouro Preto,
bem como das escolas do Serro com ele, através de mapas de turmas e pedidos de
transferência para outras localidades. Entre estas correspondências, há um ofício da
Inspetoria Geral de 27 de março de 1890 onde se pode ler:
Comunico-vos que por ato de 20 do corrente foi concedida licença aos professores
Januário Júlio Baracho e Francisco da Costa Botelho, este da cadeira de S.
Domingos, termo do Peçanha, e aquela da de S. José dos paulistas, desse termo,
licença para permutarem entre si as mesmas cadeiras, ficando-lhes marcado, a
contar de hoje, o prazo de 60 dias para apostilarem os seus títulos e entrarem em
exercício (DC:05, 02).
REFERÊNCIAS
ARQUIVO IPHAN SERRO. Documentos de Câmara. 60, Caixa 33, 1º de agosto de 1890; 10, Caixa
02, 14/08/1890; 68, Caixa 22, 06/06/1891; 05, Caixa 02, 27/03/1890; 02, Caixa 02, 13/06/1890; 11,
Caixa 02, 17/07/1890;
01, Caixa 02, 22/07/1890; 16, Caixa 02, 28/08/1890; 04, Caixa 02, 01/09/1890; 06, Caixa 02,
13/09/1890; 09, Caixa 02, 04/10/1890; 05, Caixa 12, setembro de 1890; 56, Caixa 33, setembro
BRISKIEVICZ, Danilo Arnaldo. A arte da crônica e suas anotações. Porto Alegre: Simplíssimo,2017.
[E-book]
BRISKIEVICZ, Danilo Arnaldo. A arte da imprensa e seus periódicos. Serro: Tipografia Serrana,
2002.
CURY, Carlos Roberto Jamil. Cidadania republicana e educação: governo provisório do Mal.
Deodoro e Congresso Constituinte de 1890-1891. Rio de Janeiro: DP&A, 2001.
INTENDÊNCIA Municipal. Tentamen, Serro, 21/08/1890, p. 1-2. In: ARQUIVO IPHAN SERRO.
Jornais. Tentamen, 21/08/1890.
ISKANDAR, Jamil Ibrahim; LEAL, Maria Rute Sobre positivismo e educação. Revista Diálogo
Educacional, Curitiba, v. 3, n.7, p. 89-94, set./dez. 2002.
LEITE, Fábio Carvalho. O laicismo e outros exageros sobre a Primeira República no Brasil. Religião
& Sociedade, Rio de Janeiro/RJ, v. 31, n.1, jun. 2011.
LOYOLA, Ignácio de. A instrucção. Tentamen, Serro, 21/08/1890, p. 1. In: ARQUIVO IPHAN SERRO.
Jornais. Tentamen, 21/08/1890.
MIRANDA, Leonardo Souza Araújo. Olhar de moribundo: o discurso das elites sobre a decadência do
Serro de 1912 a 1919. Revista de História do Serro, Serro, n. 01, 14 mar. 2002, p. 7-45.
ORTIZ, Renato (org.). Pierre Bourdieu: Sociologia. São Paulo: Ática, 1983.
RIBEIRO, Maria Luisa S. História da educação brasileira. 15. ed. São Paulo: Autores Associados,
1993.
SAVIANI, Dermeval. História das ideias pedagógicas no Brasil. 4. ed. Campinas, SP: Autores
Associados, 2013.
SOUZA, Maria Eremita de. Aconteceu no Serro. Belo Horizonte: BDMG Cultural,
1999.
1 | INTRODUÇÃO
No caso dos franceses, Duarte Ribeiro de Macedo faz menção à ilha de “Samersão”
situada junto à “Rochella” na França, onde se fabricam “sarges e estamenhas” por
aproximadamente dez mil pessoas, as quais extraem exclusivamente para vender para
Portugal na forma de chapéus e fitas de todas as espécies em grandes quantidades.
Apesar de ser em quantidades menores e talvez de qualidade inferior em termos
técnicos, a fabricação nacional portuguesa de chapéus, por exemplo, era em boa parte
desprezada pela população local, dizia-se que “não se chama homem limpo, o que
não traz chapéo de França”. Duarte Ribeiro de Macedo atribuía tal comportamento
à Nobreza e aos Seculares que visavam o luxo e tinham a visão errônea em relação
às coisas estrangeiras ao passo de desprezar as naturais do reino. Até mesmo os
religiosos se serviam de todos os “sarges, e pannos de Fábricas Estrangeiras”.
(MACEDO, 1817, p. 12-16).
Logo, evidencia-se a carência de manufaturas têxteis no reino português capazes
de atender a demanda nacional em grande escala, não restando outra alternativa a
não ser importar. Por outro lado, também prevalecia a questão cultural como algo
prejudicial ao desenvolvimento de manufaturas nacionais, uma vez que a “moda” da
época se reportava aos gostos pelos têxteis e derivados dos grandes centros produtores
europeus. É por óbvio, que não somente o aspecto cultural interferia no fomento
manufatureiro têxtil em Portugal, eis que a questão técnica era outro impeditivo, tendo
em vista a falta de profissionais técnicos capacitados para operar tais manufaturas de
fino trato.
Por mais que se buscasse fomentar as manufaturas no reino, “as linhas de
intervenção pública na economia pouco pediam o financiamento ou a ingerência
direta do Estado na indústria”. Consoante com os discursos de Duarte Ribeiro de
“[...] fiz hu Papel que vai a Copia, foi a propozição muito a gosto de Sua Alteza;
mandou propo-lo em uma Junta dos mayores Ministros da Corte, pediram tempo
alguns para consirar”; e continua explicitando que: “[...] depois de hum mez de
dilação deu hum Papel tão bem feito que fazendo-se a ultima Conferencia sabado
passado sahiram com grandes encarecimentos aprovadas as Manufacturas, e
avaliadas pelo unico remedio do Reino [...]”. (BNP, Carta de 6 de Setembro de
1678).
Mesmo diante de tal vitória na Corte, e com a obtenção de carta branca para o
fomento de tal empreendimento, o Conde da Ericeira tinha conhecimento dos riscos
inerentes da instalação das manufaturas no Reino, tanto que ainda em 1678 escreve
novamente a Duarte Ribeiro de Macedo esboçando as suas preocupações com o
reflexo de tal medida no desempenho da Alfândega, haja vista que havia rumores pela
Corte sobre os riscos da queda do rendimento alfandegário. (AHU, Carta de 24 de
Outubro de 1678).
Logo, tais implicações se constituíam em perigosos obstáculos de natureza fiscal
e comercial para os empreendedores mercantilistas que se propunham a estruturar e
desenvolver manufaturas no Reino, especialmente as de tecidos de lã, seda, vidro e
ferro. (MACEDO, 1982, p. 30).
Na visão do historiador português Jorge Borges de Macedo (1982, p. 30), dentre
os problemas da implantação do sistema manufatureiro em Portugal do século XVII,
o mais aparente era a captação de recursos de ordem financeira, o próprio assevera
ainda que:
“Das Manufacturas posso segurar que parece que Deus quer que ellas se
estabeleçam neste Reino, porque não he crivel a multidão de dificuldades que
se tem vencido. A perfeição das Baetas, e Sarjas da Covilhã tem chegado ao
ultimo ponto, não havendo Pessoa alguma que o não confesse, estando já tão
independentes dos Inglezes os nossos Mestres Portugueses, que tudo o que se
obra he pelas suas mãos; a Sarja não chega a 14 vinteis, e a Baeta não passa
de 450 rs. O numero dos Theares vai crescendo e só falta para chegarem a
mayor parte dos necessarios, virem alguns Tintes de Inglaterra. Para Estremoz
passei os Inglezes para ver se podemos levantar segunda Fabrica. Enxarcias,
e Lonas he matéria já corrente: Ferro está contratado com grandes esperanças
de se conseguir um grande negocio. Ducló vai vento em poupa na perfeição de
Brocados, Sedas, e Meas de fitas; mas como esta materia por ser de tanto pezo
pede mayor aplicação dei em hum arbitrio admiravel, que oje julgo por quazi
conseguido se mo divertir algum dos zelosos que tantas vezes me tem mortificado,
e he aplicado todos os Cabedaes das Cazas dos Prezos do Santo Officio, que se
haviam dado Administradores, em beneficio da Republica, ao emprego de tantos
Theares, quantos bastam para se fabricarem nelles todas as Sedas necessarias do
Reino. Tenho alcançado não só o Beneplacito, a intercessão do Santo Officio que
S. A. se conforme com esta opinião. Bem se pode ver donde bota esta Maquina”.
(AHU, Carta de 1º de Março de 1679).
O teor do documento revela uma posição muito otimista do Conde da Ericeira, que
em alguns casos transparece a ideia de certo “exagero”, uma vez que as condições de
ordem econômica do Reino não eram das mais prósperas para o período.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AZEVEDO, João Lúcio de. Épocas de Portugal Económico. 4ª ed. Lisboa: Clássica Editora, 1988.
COSTA, Leonor Freire; LAINS, Pedro; MIRANDA, Susana Münch. História Económica de Portugal
(1143-2010). 3ª ed. Lisboa: Esfera dos Livros, 2014.
MACEDO, Duarte Ribeiro de. Obras Inéditas de Duarte Ribeiro de Macedo. Dedicadas ao Muito
Alto, e Poderoso Senhor Dom João VI. Rei dos Reinos-Unidos de Portugal, Brazil e Algarves, por
Antonio Lourenço Caminha. Lisboa: Impressão Régia, 1817.
MACEDO, Jorge Borges de. Problemas de história da indústria portuguesa no século XVIII. 2ª ed.
Lisboa: Editorial Querco, 1982.
PEDREIRA, Jorge Miguel Viana. Estrutura industrial e mercado colonial: Portugal e Brasil (1780-
1830). Lisboa: Difel, 1994.
TOMÁS, Manuel Fernandes. Repertório Geral ou Índice Alfabético das Leis Extravagantes do
Reino de Portugal, publicadas depois das ordenações compreendendo também algumas
anteriores que se achão em observância. Coimbra: na Real Imprensa da Universidade, vol. 2,
1819.
FONTES HISTÓRICAS
Biblioteca Nacional de Portugal, Seção Reservados, Coleção Pombalina, Códice 122, fol. 440 verso.
Carta do Conde da Ericeira a Duarte Ribeiro de Macedo. Lisboa, 6 de Setembro de 1678. Arquivo
Histórico Ultramarino, Ministério do Reino, Mç.47.
Carta do Conde da Ericeira a Duarte Ribeiro de Macedo. Lisboa, 24 de Outubro de 1678. Arquivo
Histórico Ultramarino, Ministério do Reino, Maço 47.
Carta do Conde da Ericeira ao Santo Ofício. Lisboa, 1º de Março de 1679. Arquivo Histórico
Ultramarino, Ministério do Reino, Maço 47.
Carta do Conde da Ericeira a Duarte Ribeiro de Macedo. Lisboa, 25 de Julho de 1680. BNP. Seção
Reservados. Fundo Geral, Maço 64, doc. nº 8.
Carta do Conde da Ericeira ao padre Rafael Bluteau dizendo que ainda não havia concluído as
negociações com Bento Duclos acerca da manufatura de seda. Lisboa, 6 de Julho de 1680. BNP,
Diante disso, passou a relembrar sua vida desde o nascimento até a mocidade,
chegando a concordar com o “autor do escrito” objeto de sua crítica. Entretanto, ao
analisar mais detidamente os fatos de seu passado (em muitos aspectos, esses fatos
são parecidos com os da trajetória do próprio Lima), conclui que, quando se dispunha
“a tomar na vida o lugar que parecia de” seu “dever ocupar”, encontrava “hostilidade”,
“estúpida má vontade” lhe vinha ao encontro, levando-o ao abatimento e à sensação de
fuga de toda “aquela soma de idéias e crenças” que o alentaram na sua “adolescência
e puerícia”.
E foram tantos os casos dos quais essa minha conclusão ressaltava, que resolvi
narrar trechos de minha vida, sem reservas, nem perífrases, para de algum modo
mostrar ao tal autor do artigo, que, sendo verdadeiras as suas observações, a
sentença geral que tirava, não estava em nós, na nossa carne e no nosso sangue,
mas fora de nós, na sociedade que nos cercava, as causas de tão feios fins de tão
belos começos.
Com isso, não foi minha tenção fazer obra d’arte, romance, embora aquele
Taine [...] dissesse que a obra d’arte tem por fim dizer aquilo que os simples fatos
não dizem.
[...] é meu propósito [...] fazer [...] uma defesa a acusações deduzidas
superficialmente de aparências cuja essência explicadora, as mais das vezes,
está na sociedade e não no indivíduo desprovido de tudo, de família, de afetos,
de simpatias, de fortuna, isolado contra inimigos que o rodeiam, armados da
velocidade da bala e da insídia do veneno (BARRETO, s/d., p. 10-11).
[...] Além do ministro, intrometeu-se uma nova personagem; um preto velho, quase
centenário, de fisionomia simiesca e meio cego.
Trazia na mão esquerda em caniço que distendia um arame de pescaria; com
a direita, auxiliado por uma varinha, vibrava dolentemente a corda, enquanto
balbuciava qualquer coisa. Ia de grupo em grupo, tangendo o seu monocórdio
extravagante. Cantava talvez uma ária de uma extravagante beleza, certamente só
percebida e feita pela sua alma para sua alma... Tocava e esperava esmolas. Em
todas as fisionomias, havia decerto piedade, comiseração, e mais alguma coisa
que não me foi dado perceber. Era constrangimento, era não sei o quê...
O preto tinha os pés espalmados e, com a cecidez e a velhice, andava de leve, sem
quase tocar no chão, escorregava, deslizava – era como uma sombra...
[...] Ele, com a sua resignação e miséria, e o sol, com a sua força e indiferença,
tinham um certo acordo oculto, uma relação entre si quase perfeita. O negro ia...
Ia tocando já sem forças a plangente música das recordações do adusto solo da
África, da vida fácil de sua aringa e do cativeito semi-secular (BARRETO, s/d, p.
170-171).
REFERÊNCIAS
BARBOSA, Francisco de Assis. A vida de Lima Barreto. Rio de Janeiro: Livraria José Olimpio, 1952.
BARRETO, Lima. Contos completos de Lima Barreto. Organização: SCHWARCZ, Lilia. São Paulo:
Companhias das Letras, 2010, p. 347-352.
CELSO, Afonso. Por que me ufano do meu país. Disponível em: www.ebooksbrasil.org Acesso em:
28 de mar.2014.
HANSEN, Patrícia. Feições e fisionomia: a História do Brasil de João Ribeiro. Rio de Janeiro:
Access, 2000.
RIBEIRO, João. História do Brasil. 20 ed. revista e completada. Belo Horizonte: Editora Itatiaia,
2001.
VENTURA, Roberto. Estilo tropical: história cultural e polêmicas literárias no Brasil 1870-1914. São
Paulo: Companhia das Letras, 2000.
WILLIAMS, Raymond. Marxismo e literatura. Trad. Waltensir Dutra. Rio de Janeiro: Zahar Editores,
1979.
SITE CONSULTADO:
Esses dados nos possibilitam pensar, com base em Elias (2011; 2014), que,
a partir do momento em que os indivíduos de diferentes estratos e grupos sociais
acessam a universidade brasileira, novas tensões emergem e passam a “conduzir”
as redes de interdependências que esses indivíduos constituem. Outros dilemas e
desafios são colocados em pauta no cotidiano da sala de aula no Ensino Superior.
No diálogo, uma prática relacional das mais significativas para a constituição do
indivíduo e da sociedade, percebemos que as ações não são individuais; são, sim,
desdobramentos das diferentes experiências vividas nas figurações que constituímos
com os outros (ELIAS, 2000; 2010; 2011; 2014).
Entendemos, assim, que os aspectos relacionados às línguas, como todas as
competências sociais, passam a ser entendidos na prática pelos alunos por meio da
aprendizagem e da relação em um grupo em que o sujeito é produzido. Isto posto,
emerge a autorregulação nas relações, que independe da cooperação entre os alunos.
De certa maneira, tanto a aluna surda quanto os alunos ouvintes constroem processos
de assimilação/apropriação sustentando a imanência dessa figuração social específica.
Elias (2011, p. 114-115) afirma: “[...] A língua é uma das manifestações mais
acessíveis do que consideramos como caráter nacional [...] esse caráter peculiar
e típico é refinado em contato com certas formações sociais”. Dessa maneira,
entendemos que, com o acesso da estudante surda na turma de Pedagogia da Ufes,
os estudantes ouvintes vivenciaram certo redimensionamento de tensões na rede de
interdependência da turma.
A partir do exposto, propomos no fluxo deste ensaio, analisar as atitudes de
cooperação entre estudantes ouvintes e uma estudante surda matriculados em uma
turma de Pedagogia da Universidade Federal do Espírito Santo. Paulatinamente,
abordaremos, também, elementos que mobilizaram essas atitudes de cooperação
entre os estudantes.
[...] o professor aguardou a aluna olhar para ele, para então, continuar sua
explicação sobre as teorias de Locke, Hobbes e Rousseau. Uma das alunas que
estava sentada ao lado da aluna surda, observou que a mesma anotava o texto
que o professor havia acabado de escrever no quadro branco, assim, informou ao
professor e, concomitantemente, cutucou a aluna surda e apontou para o professor
(DIÁRIO DE CAMPO, outubro de 2014).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
COSTA JUNIOR, Euluze Rodrigues da. A modelação de uma política cooperativa na formação de
estudantes surdos no Ensino Superior. Dissertação de Mestrado. Vitória: Universidade Federal do
Espírito Santo, 2015.
CUNHA, Luiz Antônio. Ensino superior e a universidade no Brasil. In: FARIA FILHO, Luciano Mendes;
LOPES, Eliane Marta Teixeira; VEIGA, Cynthia Greive. 500 anos de educação no Brasil. Belo
Horizonte: Autêntica, 2007.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: formação do estado e civilização. v.2. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 1993.
______, Norbert. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma
pequena comunidade. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000.
______. Norbert. Escritos & Ensaios; 1: Estado, processo, opinião pública. Rio de Janeiro: Jorge
Zahar, 2006.
______. Sobre os seres humanos e suas emoções: um ensaio sob a perspectiva da sociologia dos
processos. In: GEBARA, Ademir; WOUTERS, Cas. O controle das emoções. João Pessoa: Editora
Universitária da UFPB, 2009.
______. O processo civilizador: uma história dos costumes. v.1. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
INEP. Sinopse da Estatística da Educação Básica. Sinopses Estatísticas. Brasília, 1998a. Disponível
em: http://portal.inep.gov.br/basica-censo-escolar-sinopse-sinopse. Acesso em: 15/08/2015.
LOPES, Maura Corcini. Surdez & Educação. Belo Horizonte: Autêntica, 2007.
MASSCHELEIN, Jan. A pedagogia, a democracia, a escola. 1. ed. Belo Horizonte: Autentica, 2014.
[...] Depois do curso eu tenho assim, aquela preocupação de passar para aquele
aluno o que eu passo para os outros alunos, por exemplo, aquele conhecimento dos
alunos que irão fazer o Enem né, eu tenho uma mesma preocupação de trabalhar
com aquele aluno especial. Não tenho mais aquele medo, aquela culpa. Dá muito
trabalho fazer isso, mas ver o aluno participando na sala é bom sabe, prazeroso,
me satisfaz como pessoa mesmo. Eu procuro trabalhar com as potencialidades
dele, vejo onde ele consegue chegar.” (ENTREVISTA, 05 out. 2015, Prof.10).
O relato desses professores nos incita a refletir que a medida que os seres
singulares se transformam, as figurações que eles compõem uns com os outros também
se transformam, conforme anuncia Elias (2000). Nesse sentido, as ações dentro da
figuração escolar podem começar a sofrer uma alteração, com o comportamento
diferenciado dos profissionais em relação a prática pedagógica com os estudantes
público-alvo da Educação Especial.
É certo que durante as reflexões ocorridas no curso de extensão, assumimos a
prática pedagógica vivida na escola como um modo peculiar de significar os processos
de reconhecimento da dignidade humana, considerando que em cada espaço
sociocultural, esse processo de reconhecimento se mostra diferenciado, em função
das tensões vividas na teia das relações estabelecidas entre os sujeitos concretos.
Partindo dessas considerações, nesta investigação buscamos, permanentemente,
considerar as ideias e os significados que os participantes atribuíam não só ao
processo de formação implementado, mas também à escola e às suas condições de
trabalho. Trabalhamos sob uma perspectiva crítica e compreensiva, pressupondo a
experiência constituinte dos professores participantes, com o entendimento de que
constituir-se ‘professor’ está imbricado nas experiências históricas pessoais, nas trocas
de experiências profissionais e, principalmente, nas aprendizagens resultantes das
reflexões oportunizadas nos espaços de formação continuada. Com essa concepção,
intentamos tornar os encontros um espaço de participação, em que a partilha de
experiências possibilitasse a mediação entre as práticas pedagógicas e a necessidade
de refletir sobre essas práticas, de modo a enriquecê-las dando-lhes outros sentidos.
Segundo análise de Gebara (2000, p.34.), “[...] Elias trabalha com padrões de
interdependência em processo de mudanças, rearticulando relações de poder entre
os indivíduos em sociedade”, sem perder de vista que as estruturas “[...] da psique
humana, as estruturas da sociedade humana e as estruturas da história humana são
REFERÊNCIAS
ALVES, Edson Pantaleão; SOBRINHO, Reginaldo Celio. Escolarização de alunos com deficiência
e as inter-relações família, escola e gestores públicos da Educação Especial. Revista Educação
Especial, 2014, 27. 48: 171-184. Disponível em <https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/
view/8592 >. Acesso em: 16 fev. 2016.
BOURDIEU, Pierre. “Compreender”. In: (coord.). A miséria do mundo. Petrópolis, Vozes, 1997, p.
693-732.
DE CASTRO, Vinícius Dino Fonseca et al. Norbert Elias às voltas com a teoria do conhecimento:
convergências entre a contribuição eliasiana e os filmes Amnésia e Esquizofrenia. Revista Café com
Sociologia, v. 4, n.1, p. 31-37, 2015. Disponível em: http://revistacafecomsociologia.com/revista/
index.php/revista/article/view/397>. Acesso em: 12 fev. 2016.
ELIAS, Norbert. Tecnização e Civilização. In: Escritos & Ensaios. Rio de Janeiro: Zahar Ed., 2006.
Disponível em: <https://books.google.de/books>. Acesso em: 20 abr. 2015.
GARCÍA, Carlos Marcelo. Formação de professores: para uma mudança educativa. Porto: Porto
Editora, 1999.
GEBARA, Ademir. Norbert Elias e a teoria do processo civilizador: contribuição para a análise e a
pesquisa no campo do lazer. In: BRUNS, H. T. Temas sobre o lazer. Campinas: Autores Associados,
2000.
HONORATO, Tony. Modelos escolares para formação de professores no Estado de São Paulo (1897-
1921): o poder à luz de Norbert Elias. Comunicações, p.123-136. 2015. Disponível em: <www.
metodista.br/revistas/revistas-unimep/index.php/comunicacao/article/viewArticle/ 2175> Acesso em:
12 nov. 2015.
LONGAREZI, Andréa Maturano; SILVA, Jorge Luiz da. Interface entre pesquisa e formação de
professores: delimitando o conceito de pesquisa-formação. In: Anais do VIII Congresso Nacional
De Educação – EDUCERE. Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 06 a 09 de outubro
de 2008. p. 4048-4061 Disponível em: <http://www.pucpr.br/ eventos/educere/educere2008/anais/
pdf/157_187.pdf.>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Monica Isabel Carleti Cunha school: Dilemas and Perspectives on the Social
Universidade Federal do Espírito Santo Rights Field, finished in 2015, by the Federal
Vila Velha - ES University of Espirito Santo (UFES). On those
analysis we could observe that the monopolists
structures consolidated in the Modern State
RESUMO: Este estudo aborda a expansão dos persist nowadays, creating a changing of groups
direitos sociais das pessoas com deficiência, in the governs, however, not solids, considering
nos últimos anos, com ênfase na Assistência the strength relations of antagonistic interests of
Social e à Educação postos pela Política the configuration around the central manager.
Nacional de Educação Especial na perspectiva KEYWORDS: Disabled. poverty. strength
Inclusiva/2008. Utilizamos dados da pesquisa de relations.
mestrado intitulada Programa BPC na Escola:
Dilemas e Perspectivas no Campo dos Direitos
1 | INTRODUÇÃO
Sociais, concluída em 2015, pela Universidade
Federal do Espírito Santo. Nas análises, A interface entre as políticas sociais, no
observamos que, as estruturas monopolistas bojo da complexidade da sociedade brasileira,
consolidadas no Estado Moderno perduram na na atualidade, se faz presente e necessária em
atualidade, gerando alternância de grupos nos prol da consolidação e da garantia do conjunto
governos, contudo não estáveis, considerando de direitos sociais no Estado democrático de
as relações de forças de interesses antagônicos direito, previstos na nossa Carta Magna. Vale
das configurações em torno do gestor central. ressaltar que, conforme dispõe o artigo 6º da
PALAVRAS-CHAVE: Deficiência. Pobreza.
Constituição Federal/1988, “são direitos sociais
Relações de Forças.
a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,
a moradia, o lazer, a segurança, a previdência
ABSTRACT: This study is about the expansion
social, a proteção à maternidade e à infância, a
of social rights related to disabled people, in the
assistência aos desamparados, na forma desta
latest years, with emphasis in Social Assistance
Constituição” (nesta redação foi incluída a
and to Education proposed by the National
Special Education Politics, in the inclusive alimentação dada pela Emenda Constitucional
perspective of 2008. The data used was from nº 64, de 2010).
a research of a master of BPC Programm in Em linhas gerais, no que se refere à
MODERNO
Elias destaca também que “[...] foi muito mais o avanço da monetarização e
comercialização, do que os ataques deliberados promovidos pelos círculos urbanos e
burgueses, que causou o declínio dos senhores feudais”.
Dessa forma, os monopólios da força militar e da tributação não possuem
precedência um sobre o outro e ambos consolidam a constituição do Estado Moderno,
associados a uma divisão de trabalho muito avançada e especializada, a qual é gerida
por uma administração da máquina estatal. Elias destaca que
Nessa direção, Elias afirma que a formação do Estado Moderno está alicerçada na
característica de monopolização cristalizada numa fase anterior do processo civilizador
e que “[...] o monopólio privadamente possuído por um único indivíduo ou família cai
sob o controle de um estrato social mais amplo e se transforma, como órgão central do
Estado, em monopólio público”(ELIAS, 1993, p.101). Portanto, o domínio permanente
da autoridade central legitima o caráter de “Estados”. O autor afirma igualmente: “[...]
Neles (nos Estados), certos números de outros monopólios cristalizam-se em torno
Com base em alguns dados da pesquisa realizada, selecionamos, para fins deste
trabalho, o que foi possível observar, no caso brasileiro, precisamente na década de
2003 - 2013 duas diferentes direções que tomaram as políticas para as pessoas com
deficiência, no bojo das relações de forças dos diferentes interesses em jogo, com
Gráfico 1 - Evolução dos recursos da União executados voltados ao BPC para pessoas com
deficiência – Brasil, 2002 a 2013.
Fonte: Censo SUAS (2014)
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
AGUIAR, Mariana Pinheiro Pessoa de Andrade. O significado do benefício de prestação
continuada da política de assistência social na vida das pessoas com deficiência. 2012.
Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas e Sociedade) – Centro de Estudos Sociais Aplicados,
Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2012. 112f.
______. Seguridade social no Brasil: conquistas e limites à sua efetivação. ServiçoSocial: direitos
sociais e competências profissionais. 2009. Disponível em: <http://portal.saude.pe.gov.br/sites/
portal.saude.pe.gov.br/files/seguridade_social_no_brasil_conquistas_e_limites_a_sua_efetivacao_-_
boschetti.pdf>. Acesso em: 10 fev.2015.
______. Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993 - Lei Orgânica da Assistência Social. Dispõe sobre
a organização da Assistência Social e dá outras providências. Com redação dada pela Lei nº 12.435,
de 2011. Brasília, 1993. Disponível em:
<www.planalto.gov.br/ccivil_3leis/l842.htm>. Acesso em: 15 fev. 2015.
______. Lei Orgânica da Assistência Social- LOAS anotada. Caderno de anotações preparadas
pela Coordenação – Geral de Regulação Público e Privado do Departamento de Gestão do Sistema
Único da Assistência Social em conjunto com a Consultoria Jurídica do Ministério do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome. Brasília, 2009a.
______. Lei nº 12.470, de 31 de agosto de 2011. Altera [...] os artigos 20 e 21 e acrescenta o art 21-A
à Lei nº 8.742, de 7 de dezembro de 1993- Lei Orgânica da Assistência Social, para alterar regras
do benefício de prestação continuada da pessoa com deficiência[...]. Brasília, 2011b. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/l12470.htm>. Acesso em: 13. fev. 2015.
______, Suas: 10 anos de expansão de serviços e redução da pobreza. Disponível em: http://www.
brasil.gov.br/cidadania-e-justica/2015/07/suas-10-anos-de-expansao-de-servicos-e-reducao-da-
pobreza. Acesso em 24 de setembro de 2016.
ELIAS, Norbert. O processo civilizador: uma história de costumes. 2ª ed. Tradução de Ruy
Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011, v. 1.
______. O processo civilizador: formação do Estado e civilização. Tradução de Ruy Jungmann. Rio
de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1993, v.2.
RIZOTTI, Maria Luiza Amaral. A Construção do Sistema de proteção Social no Brasil: avanços e
retrocessos na legislação social. 2005. Disponível em: < http://sisnet.aduaneiras.com.br/lex/doutrinas/
arquivos/construcao.pdf>. Acesso em: 10 fev. 2015.
SERPA, Ana Maria Petronetto; RAIZER, Eugênia Célia (Orgs). Política de Assistência Social no
Município de Vitória (ES): olhares sobre a experiência (2005-2012). Vitória: Prefeitura Municipal de
Vitória, 2012. 367 p.
SPOSATI, Aldaiza. Tendências latino-americanas da política social pública no século 21. Revista
Katálysis, Florianópolis, v. 14, n. 1, p. 104-115, jan./jun. 2011.
1 | INTRODUÇÃO
2 | VIOLÊNCIA
3 | CENTROS DE PESQUISA
Umas das pontuações feitas pelos autores são de que os agentes masculinos
escolhem a carreira na GM por necessidade de trabalho, estabilidade e, por vezes, por
vocação. Já as mulheres, escolheram a profissão devido à vocação e a comprovar a
capacidade de trabalhar em um ambiente tipicamente masculino. (BODIM; MORAES,
2011)
O último centro aqui analisado é o Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e
Violência Urbana (NECVU), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Tem
como temas entre outros temas a violência urbana, segurança e políticas públicas em
geral. (NECVU, 2019)
O artigo aqui analisado é de Michel Misse, coordenador do Núcleo de Estudos da
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ADORNO, Sérgio. Criança e adolescente e a violência urbana. NEV, São Paulo. 2002.
BARREIRA, César. Crueldade: a face inesperada da violência difusa. Sociedade e Estado, Brasília,
vol.30, n.1, jan./apr. 2015.
BORDIN, Marcelo; MORAES, Pedro Rodolfo Bodê. Guarda Municipal de Curitiba: Percepções
de seus agentes sobre as mudanças em curso. CSOnline – Revista Eletrônica de Ciências Sociais,
Minas Gerais, ano 5, ed. 12, abr./jul. 2011
KERBER, Aline; PAZINATO, Eduardo (orgs.). Segurança Cidadã, gestão da informação e cidades:
o caso do Observatório de Segurança Cidadã de Novo Hamburgo e outras reflexões teórico-práticas.
Santa Maria: FADISMA, 2016, p. 396.
MUSUMECI, Leonarda. Entre o grito e o tiro. Polícia, democracia e armas “menos letais”.
CESEC, Rio de Janeiro, nov. 2015.
NECVU. Núcleo de Estudos da Cidadania, Conflito e Violência Urbana. Disponível em: http://
necvu.tempsite.ws/. Acesso em: 15 jan. 2019.
ROLIM, Marcos. A síndrome da Rainha Vermelha: policiamento e segurança pública no século XXI.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor Ltda. 2006.
SILVA, Bráulio Figueiredo Alves; FILHO, Cláudio Chaves Beato. Ecologia social do medo: avaliando
a associação entre contexto de bairro e medo de crime. Revista Brasileira de Estudos da População,
Rio de Janeiro, v. 30, p. 155-170, 201
SIMMEL, Georg. Sociabilidade: um exemplo de sociologia pura ou formal. SP. Ática, 1983.
SODRÉ, Muniz. Sociedade, mídia e violência. Porto Alegre, RS: Sulina Universitária, EDIPUCRS,
2002.
ZALUAR, Alba. Um debate disperso: violência e crime no Brasil da redemocratização. São Paulo em
Perspectiva, São Paulo, n.3, set. 1999.
DESAPRENDENDO O JÁ SABIDO:
O “ESTADO NOVO” NO EMBALO DO SAMBA
ENCONTROS E DESENCONTROS
Nesse samba, o trabalhador, que no limite poderia ser, por hipótese, um “malandro
regenerado”, é, na prática, convertido em otário. Enquanto ele se mata de trabalhar
para oferecer à sua companheira o melhor a seu alcance, ela bate asas em direção
a outras paragens à procura de uma vida repleta de prazeres e de festas. O espaço
público, historicamente imaginado como, em essência, masculino, era, desse modo,
invadido por “estranhas no ninho”, num apagamento de linhas divisórias mais rígidas
entre o público e o privado. Uma vez mais, defrontamo-nos com a exposição das
fragilidades do “sexo forte”. Parafraseando Friedrich Engels (1960, cap. 2), os homens
se acreditaram os vencedores na “guerra dos sexos”, mas as mulheres coroaram
os vencedores... Sujeitos de poder, elas afirmavam também suas vontades e sua
capacidade desejante, em que pese a indiscutível supremacia social masculina na
sociedade de classes. E a mulher do “seu” Oscar transgredia, ao mesmo tempo, padrões
comportamentais exigidos das mulheres “honestas”, “direitas”, aquelas que “andavam
na linha”, como um dos sustentáculos da família. Se as “políticas intervencionistas
do Estado Novo reforçavam a dependência das mulheres em relação ao homens”
(CAULFIELD, 2000, p. 337), nem por isso todas elas se adequavam aos moldes do
figurino estatal.
Por outro lado, afinando-se pela diapasão de muitos sambas do período do
“Estado Novo”, “seu” Oscar, um estivador, não tem palavras animadoras sobre o que
é trabalho. Longe de vislumbrar nele uma via de humanização e engrandecimento
do homem e uma alavanca para o progresso da sociedade e dos indivíduos em
geral, o trabalho, pela enésima vez, é identificado a martírio, a mortificação do corpo,
representando, por definição, a antítese do prazer. Além disso, tal como foi gravada,
“Oh! Seu Oscar” celebra, acima de tudo, a orgia. Não é para menos. No seu registro
em disco, a palavra orgia é reiterada nove vezes, ao passo que seus versos-chave,
“Não posso mais/ eu quero é viver na orgia!” são cantados sete vezes, inclusive no
final. Alguém duvidará que, no calor do carnaval de 1940, esse trecho da letra tenha
sido o mais empolgou os foliões, fazendo os pratos da balança pender para o lado da
mulher pândega e não para o do trabalhador ordeiro? O sugestivo acorde dissonante
que se ouve ao fim, ao violão, parece indicar que, de fato, alguma coisa estava fora da
ordem, alguma coisa estava fora do lugar.
Tudo o que foi exposto nos conduz a pensar em Noel Rosa, ele que compôs,
com Vadico, em 1933, “Feitio de oração”, uma de suas criações mais memoráveis,
interpretada por Francisco Alves e Castro Barbosa. Mestre na arte de versejar, o “poeta
da Vila” afirma, sem meias-palavras, que “batuque é um privilégio/ ninguém aprende
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, Mikhail. Problemas da poética de Dostoievski. Trad. Paulo Bezerra. Rio de Janeiro:
Forense-Universitária, 1981.
BOURDIEU, Pierre, O poder simbólico. 5. ed. Trad. Fernando Tomaz. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil,
2002.
BURKE, Peter. Cultura popular na Idade Moderna: Europa, 1500-1800. Trad. Denise Bottmann. 2. ed.
CASTELO, Martins. Rádio XIII. Cultura Política, Rio de Janeiro, ano II, n.13, p. 292-294, 1942.
CHAUI, Marilena. Apontamentos para uma crítica da Ação Integralista Brasileira. In: CHAUI, Marilena
e FRANCO, Maria Sylvia Carvalho. Ideologia e mobilização popular. Rio de Janeiro: Paz e Terra/
Cedec, 1978. p. 17-149.
DEAN, Warren. A industrialização de São Paulo. São Paulo: Difusão Europeia do Livro/ Editora da
Universidade de S. Paulo, 1971.
ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado. Trad.: Leandro Konder.
Rio de Janeiro: Vitória, 1960.
GARCIA, Nelson Jahr. Estado Novo: ideologia e propaganda política (a legitimação do Estado
Autoritário perante as classes subalternas.: São Paulo: Loyola, 1982.
HOBSBAWM, Eric. A história de baixo para cima. In: Sobre História: ensaios. Trad. Cid Knipel Moreira.
São Paulo: Companhia das Letras, 1998, p. 216-231.
__________. O roubo da fala: origens da ideologia do trabalhismo no Brasil. 2. ed. São Paulo:
Boitempo, 2007.
PEDRO, Antonio (Tota). Samba da legitimidade. Dissertação (Mestrado em História). FFLCH, USP.
São Paulo, 1980. 157p.
PERROT, Michele. Maneiras de caçar. Projeto História, São Paulo: Educ/Fapesp, n.17, p. 55-61,
1998.
SANDRONI, Carlos. Feitiço decente: transformações do samba no Rio de Janeiro (1917-1933). Rio de
Janeiro: Jorge Zahar/Editora UFRJ, 2001.
THOMPSON, E. P. Costumes em comum: estudos sobre a cultura popular tradicional. Trad. Rosaura
Eichemberg. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.
__________. A história vista de baixo. In: As peculiaridades dos ingleses e outros artigos. Trad.
Antonio Luigi Negro. Campinas: Editora da Unicamp, 2001. p. 185-201.
Referências discográficas
“Abre a porta” (Raul Marques e César Brasil), Linda Batista. 78 rpm, Odeon, 1940.
“Acabou a sopa” (Geraldo Pereira e Augusto Garcez), Ciro Monteiro. 78 rpm, RCA Victor, 1940.
“Acertei no milhar” (Wilson Batista e Geraldo Pereira), Moreira da Silva. 78 rpm, Odeon, 1940.
“Brasil!” (Benedito Lacerda e Aldo Cabral), Francisco Alves e Dalva de Oliveira. 78 rpm, Columbia,
1939.
“Batata frita” (Ciro de Souza e Augusto Garcez), Aurora Miranda. 78 rpm, RCA Victor, 1940.
“Brasil, usina do mundo” (João de Barro e Alcir Pires Vermelho), Déo. 78 rpm, Columbia, 1942.
“Dinheiro não é semente” (Mutt e Felisberto Martins), Ciro Monteiro. 78 rpm, RCA Victor, 1941.
“Eu gosto da minha terra” (Randoval Montenegro), Carmen Miranda. 78 rpm, RCA Victor, 1930.
“Faz um homem enlouquecer” (Wilson Batista e Ataulfo Alves), Ciro Monteiro. 78 rpm, RCA Victor,
1942.
“Feitio de oração” (Vadico e Noel Rosa), Francisco Alves e Castro Barbosa. 78 rpm, Odeon, 1933.
“Fez bobagem” (Assis Valente), Aracy de Almeida. 78 rpm, RCA Victor, 1942.
“Inimigo do batente” (Wilson Batista e Germano Augusto), Dircinha Batista. 78 rpm, Odeon, 1940.
“Levanta, José” (Dunga e Haroldo Lobo), Emilinha Borba. 78 rpm, Odeon, 1941.
“Louca pela boemia” (Bide e Marçal), Gilberto Alves. 78 rpm, Odeon, 1941.
“Não admito” (Ciro de Souza e Augusto Garcez), Aurora Miranda. 78 rpm, RCA Victor, 1940.
“Não faltava mais nada” (Fernando Lobo), Gilberto Alves. 78 rpm, Odeon, 1941.
“Não quero conselho” (Príncipe Pretinho e Constantino Silva), Carmen Costa e Henricão. 78 rpm,
Columbia, 1940.
“Não quero opinião de mulher” (Newton Teixeira e Ataulfo Alves), Newton Teixeira. 78 rpm, Odeon,
1942.
“Ó, Valdemar” (Ari Monteiro e J. Assunção”, Linda Batista. 78 rpm, RCA Victor, 1943.
“O amor regenera o malandro” (Sebastião Figueiredo), Joel e Gaúcho. 78 rpm, Columbia, 1940.
“Oh! Seu Oscar” (Wilson Batista e Ataulfo Alves), Ciro Monteiro. 78 rpm, RCA Victor, 1939.
“Onde o céu azul é mais azul” (João de Barro, Alberto Ribeiro e Alcir Pires Vermelho), Francisco Alves.
78 rpm, Columbia, 1940.
“Quem gostar de mim” (Dunga), Ciro Monteiro. 78 rpm, RCA Victor, 1940.
“Saia de mim” (Titãs), Titãs. CD Tudo ao mesmo tempo agora. WEA, 1991.
“Sambei 24 horas” (Wilson Batista e Haroldo Lobo), Aracy de Almeida. 78 rpm, Odeon, 1944.
“Se eu tivesse um milhão” (Roberto Martins e Roberto Roberti), Dircinha Batista. 78 rpm, Odeon,
1940.
“Segure no meu braço” (Capiba), Nelson Gonçalves. 78 rpm, RCA Victor, 1945.
“Será possível?” (Rubens Campos e Henricão), Ciro Monteiro. 78 rpm, RCA Victor, 1941.
“Tenha pena de mim” (Babaú e Ciro de Souza), Aracy de Almeida. 78 rpm, RCA Victor, 1937.
“Tudo é Brasil” (Vicente Paiva e Sá Roris), Linda Batista. 78 rpm, Victor, 1941.
“Vamos cair no frevo” (Marambá), Carlos Galhardo. 78 rpm, RCA Victor, 1943.
“Vitaminas” (Amaro Silva, Djalma Mafra e Domício Augusto), Odete Amaral. 78 rpm, Odeon, 1942.
“Você não tem palavra” (Newton Teixeira e Ataulfo Alves), Newton Teixeira. 78 rpm, Odeon, 1940.
Das imagens de grande parte das obras maurianas identificamos uma preferência
de seu autor em tratar dos assuntos de cultura popular e dedicar um espaço para
os nossos gêneros musicais: popular, folclórico e erudito. Mauro já fazia menção à
música em seus filmes silenciosos (“Ciclo de Cataguases”). Nas produções da Phebo
Films, o espectador só poderia saber que havia a presença de sonoridades musicais
durante as cenas, quando reconheciam visualmente alguns dos personagens tocando
algum instrumento, ou mesmo quando havia algum clima de descontração de corpos
embalados em momentos recreativos ou de confraternização. Podemos encontrar
nesses filmes maurianos trechos em que os personagens tocavam e bailavam nas
cenas festivas. Em Braza Dormida (1928) o personagem de Luiz Soroa executa um
Entre o final dos anos 1940 e início dos 1950, Mauro concebeu a ideia de fundar
em Volta-Grande, os Estúdios Rancho Alegre. O cineasta pretendia estabelecer na sua
terra natal um polo produtor de obras fílmicas de temáticas rurais. Com um programa
arquitetônico modesto frente aos de outros estúdios da época, como os ativos e
monumentais galpões encontrados no eixo Rio de Janeiro-São Paulo. Na estrutura
física de Rancho Alegre, de acordo com as descrições de seu proprietário havia vários
camarins, um palco para as filmagens, um laboratório para testes de filmes negativos
e de fotografias e uma sala de aparelhos de som (VIANY, 1978, p. 157). O filme
Canto da Saudade: a lenda do carreiro (1952) foi o único empreendimento produzido
nesses estúdios. No mesmo período em que fundou sua empresa, Mauro mantinha
trabalhos paralelos e continuava sendo um servidor público no INCE. Como vimos
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Alceu Maynard. Folclore Nacional II: danças, recreação e música. São Paulo: Martins
Fontes, 2004. 573 p.
GOMES, Paulo Emílio Salles. Humberto Mauro, Cataguases, Cinearte. São Paulo: Perspectiva,
1974. 475 p.
LIMA, Rossini Tavares. A Ciência do Folclore. São Paulo: Martins Fontes, 2003. 246 p.
MACHADO FILHO, Ayres da Mata. Dias e Noites em Diamantina: folclore e turismo. Belo Horizonte,
1972. 113 p.
MORETTIN, Eduardo Victorio. Humberto Mauro, Cinema, História. São Paulo: Alameda. 484 p.
SCHVARZMAN, Sheila. Humberto Mauro e as Imagens do Brasil. São Paulo: UNESP, 2004. 383 p.
VALE, Flausino Rodrigues. Elementos do Folclore Musical Brasileiro. São Paulo : Brasília:
Companhia Editora Nacional : Instituto Nacional do Livro, 1978. 140 p.
VIANY, Alex. Humberto Mauro / Sua Vida / Sua Arte / Sua Trajetória no Cinema. Rio de Janeiro:
Artenova, 1978. 360 p.
Renata dos Santos Ferreira three Brazilian films made in the late 1970s:
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, “Lúcio Flávio, passenger of the agony” (Hector
Programa de Pós-Graduação em História. Babenco, 1977), “I killed Lúcio Flávio” (Antônio
Rio de Janeiro – RJ Calmon, 1979) and “Republic of the assassins”
(Miguel Faria Jr., 1979). The proposal consists
in identifying readings and representations of a
RESUMO: Neste artigo proponho um estudo historical and political moment. State violence,
sobre a representação do Esquadrão da Morte police corruption and social denunciation are
em três filmes brasileiros realizados no final elements that compose the plots that present a
da década de 1970: “Lúcio Flávio, passageiro vision of Brazil in the civil-military dictatorship
da agonia” (Hector Babenco, 1977), “Eu (1964-1985).
matei Lúcio Flávio” (Antônio Calmon, 1979) e KEYWORDS: Police movies; Death Squad;
“República dos assassinos” (Miguel Faria Jr., State violence.
1979). A proposta consiste em identificar leituras
e representações de um momento histórico e
político. Violência de Estado, corrupção policial 1 | INTRODUÇÃO
e denúncia social são elementos que compõem Na edição da revista Veja de 21 de
as tramas que apresentam uma visão do Brasil novembro de 1979 chama a atenção uma
na ditadura civil-militar (1964-1985). matéria intitulada “Culto sinistro”, publicada na
PALAVRAS-CHAVE: Cinema policial; página 156, na seção dedicada ao cinema. O
Esquadrão da Morte; Violência de Estado. artigo, assinado pelo crítico cinematográfico
Paulo Perdigão, destacava um novo filão nas
FROM THE PAGES OF THE NEWSPAPERS telas brasileiras, o “esquadrão da morte”.
TO THE SCREENS: Logo nas primeiras linhas, com certa ironia,
Perdigão comenta que nenhuma personalidade
THE REPRESENTATION OF THE DEATH
SQUAD IN THE BRAZILIAN CINEMA OF THE brasileira em vida, fosse Getúlio Vargas, Pelé
1970S ou Emerson Fittipaldi, havia conseguido em
tão pouco tempo tamanha evidência no cinema
ABSTRACT: In this article I propose a study nacional como o ex-policial Mariel Moryscotte
on the representation of the Death Squad in de Mattos, que em menos de dois anos serviu
O cinema pode ser compreendido como uma estrutura plural que engloba produção,
consumação, hábitos, criatividade, valores simbólicos e imaginários que dizem
respeito a uma sociedade específica. Nesse sentido, um dos vários campos que
compreende o estudo de cinema se interessa pela organização sociocultural da
sua produção e pelo que a experiência fílmica aporta a uma sociedade específica;
mais particularmente, podemos dizer que o cinema, como outras mídias, funciona
como um produto de base da sociedade contemporânea, participando da psique
da comunidade, da consciência e da experiência dos indivíduos (GUTFREIND,
2006, p. 2).
(...) a formação de grupos de policiais com a missão dada pelas autoridades para
matar, caso fosse necessário, supostos marginais foi um dos fatos que anunciaram
os novos tempos de violência. O Estado, personificado no chefe de polícia da então
capital do Brasil, com o aval de políticos, de parte da imprensa, comerciantes e
de setores da população, delegou o uso da violência de forma extralegal a um
grupo de policiais com a missão de limpar a sociedade de “perigosos bandidos”.
O resultado disso foi que o Esquadrão da Morte, nos anos seguintes, utilizaram
e pilharam (sic) o Estado para garantir a realização de seus interesses privados
(COSTA, 1998).
Um dos grupos mais conhecidos foi criado em 1969, pelo secretário de segurança
pública carioca, general Luiz de França Oliveira, durante o governo Negrão de Lima.
Era formado por 12 policiais considerados de elite, batizados como “Homens de
Ouro”, com liberdade para combater o crime a qualquer custo. As ações violentas e
os assassinatos praticados pelos policiais desse e de outros grupos, bem como as
denúncias de corrupção tiveram grande repercussão e apelo na imprensa da época,
especialmente em jornais populares como Última Hora, A Luta Democrática e O Dia,
entre o final dos anos de 1950 e início dos 1970, período em que, segundo Márcia
Costa (1999), jornais e revistas deram maior destaque à violência urbana (DAEMON;
MENDONÇA, 2011; JUPIARA; OTÁVIO, 2015; SILVA, 2016).
Para Maria Cristina Vicentin (2011), os meios de comunicação são construtores
privilegiados de representações sociais sobre crime e violência, uma vez que nomeiam,
classificam, produzem e legitimam sentidos e discursos sobre estas práticas. Portanto,
o fato de Mariel Moryscotte inspirar personagens no cinema não foi mero acaso. Um
dos 12 Homens de Ouro, membro mais conhecido do Esquadrão da Morte, era um
personagem símbolo de uma estrutura de poder e do aparato repressivo-policial.
Construiu sua fama com a ajuda de alguns repórteres que alimentavam o mito do
justiceiro, o “Ringo de Copacabana”, no decorrer dos anos 1960. Chegou até a
participar do programa de televisão de Flávio Cavalcanti, na qualidade de defensor da
sociedade.
Sua derrocada começou no início da década de 1970. Acusado de cometer
diversos crimes, acabou expulso da polícia e condenado pela Justiça. As prisões e
ALMEIDA, Marco Antônio de. Sangue, suor & tiros: a narrativa policial na literatura e no cinema
brasileiros. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, 2002.
ARGOLO, José Amaral. A caveira e a rosa: notas sobre Mariel Moryscotte. Revista Pj:Br –
Jornalismo Brasileiro, São Paulo, ano VI, n. 11, fev. 2009. Disponível em: http://www2.eca.usp.br/
pjbr/arquivos/ensaios11_b.htm. Consulta em: 24 mai. 2017.
AUGUSTO, Sérgio: Apontamentos para uma história do thriller tropical. Filme Cultura, Embrafilme,
Rio de Janeiro, n. 40, ago.-out. 1982.
BARROS, José D’Assunção. Cinema e História: entre expressões e representações. In: NÓVOA,
Jorge; BARROS, José D’Assunção (orgs.). Cinema-História: teoria e representações sociais no
cinema. 3. ed. Rio de Janeiro: Apicuri, 2012.
CHARTIER, Roger. A história cultural: entre práticas e representações. Algés: Difel, 2002.
COSSON, Rildo. Fronteiras contaminadas: literatura como jornalismo e jornalismo como literatura
no Brasil dos anos 1970. Brasília: Ed. UnB, 2007.
COSTA, Márcia Regina da. Rio de Janeiro e São Paulo nos anos 60: a constituição do Esquadrão da
Morte. In: XXII ENCONTRO ANUAL DA ANPOCS, 1998, Caxambu, Anais...
______. 1968: o Esquadrão da Morte em São Paulo. In: SILVA, Ana Amélia da; CHAIA, Miguel Wady
(orgs.). Sociedade, cultura e política: ensaios críticos. São Paulo: Educ, 2003.
DAEMON, Flora; MENDONÇA, Kleber. Entre a Lei e a execução: uma genealogia dos grupos
de extermínio na imprensa carioca. In: XXXIV CONGRESSO BRASILEIRO DE CIÊNCIAS DA
COMUNICAÇÃO, Recife, PE, 2-6 set. 2011. Anais... Disponível em: <http://www.intercom.org.br/
papers/nacionais/2011/resumos/R6-1246-1.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2016.
JUPIARA, Aloy; OTÁVIO, Chico. Os porões da contravenção. Rio de Janeiro: Record, 2015.
MISSE, Michel. Tradições do banditismo urbano no Rio: invenção ou acumulação social. Semear,
PUC-Rio, n. 6, 2002. Disponível em: http://www.letras.puc-rio.br/unidades&nucleos/catedra/
revista/6Sem_15.html. Consulta em: 24 abr. 2017.
______. Crime organizado e crime comum no Rio de Janeiro: diferenças e afinidades. Revista de
Sociologia e Política, v. 19, n. 40, Curitiba, out. 2011. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0104-44782011000300003>. Acesso em: 19 ago. 2016.
RAMOS, José Mário Ortiz. Cinema, televisão e publicidade: cultura popular de massa no Brasil nos
anos 1970-1980. São Paulo: Annablume, 2004.
ROSENSTONE, Robert A. A história nos filmes, os filmes na história. São Paulo: Paz e Terra,
2015.
SANTOS, Milton. O espaço do cidadão. São Paulo: Nobel, 1987. Coleção Espaços.
SILVA, Aguinaldo. Turno da noite: memórias de um ex-repórter de polícia. Rio de Janeiro: Objetiva,
2016.
Jornais
A MISSÃO da diabólica do “Esquadrão da Morte” dos integralistas. O Globo, 19 mar. 1938. Matutina,
Geral, p. 1 e 5.
LE COCQ vive “fim melancólico” no Rio. Folha de S. Paulo, 28 mai. 2006. Cotidiano.
PACKARD, Reynolds. Prisioneiros e reféns sumariamente fuzilados. O Globo, 1 ago. 1936. Matutina,
Geral, p. 2.
PONGETTI, Henrique. Júri da madrugada. O Globo, 20 jan. 1958. Matutina, Coluna Henrique
Pongetti apresenta o show da cidade, p. 3.
Em geral, ao se pensar sobre música somos levados a crer que atividade musical
é exercida por pessoas excepcionais, que têm o “dom da música” e que as obras-
primas são feitas por gênios incontestáveis, marcados pela sua distância em relação
à população comum, são deificados pelos seus pares e depois por toda a sociedade.
Essa atitude naturaliza a obra de arte e sub-repticiamente introjeta uma irreflexão sobre
o gênio individual e a sua obra. Destarte, pouco se pensa sobre as relações de poder,
as pressões sociais e a conjuntura histórica, de uma forma geral, que contribuíram na
formação do dito “gênio”. Indivíduo e obra são desgarrados de sua temporalidade e
materialidade; quando muito, são inseridos numa história, ou melhor, numa cronologia
que se detém em sua maior parte aos processos internos da elaboração musical, faz-
se quase uma hagiografia de compositores e obras, uma cronologia tecnicista, linear e
apaziguadora dos conflitos entre a arte, artista e sociedade. Portanto, fazendo com que
se naturalize a produção e os indivíduos produtores de arte. São, majoritariamente,
discutidas as transformações dos cânones estéticos da música ocidental como o
fazem alguns livros de referência da história da música, por exemplo, a obra Uma
breve história da música de Roy Bennet (1986) e ainda O livro de ouro da história da
música, de Otto Maria Carpeaux (2009).
No anseio de questionar esses paradigmas consolidados da história da arte, é
preciso salientar que as decisões desses sujeitos em suas vidas e as suas escolhas
estéticas em suas obras, ainda assim ficam com a explicação obscura quando não
observados os aspectos sociais que em sua dinâmica prenunciam as consequências
e a recepção da obra e dos artistas. (ELIAS, 1995). Portanto, as escolhas estéticas, a
adequação ao cânone vigente ou o seu questionamento pelos artistas são explicados
superficialmente quando não observadas estruturas sociais, as lutas pelo destacamento
artístico (de um indivíduo ou escola a que pertence) e a hegemonia do grupo social do
qual o artista fala. Afinal, consoante à afirmação de Safatle (2011, p.12-13):
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
Se a obra de arte tem o poder de criticar a ordem vigente na vida social e contribui
para a modificação da percepção e da sensibilidade sociais, se ela está intimamente
ligada à identidade de um povo, revelando indícios de como indivíduo e sociedade se
articulam e lidam com o seu próprio tempo e como leem e interpretam o passado. Então,
o estudo sobre o lugar da música e dos músicos na construção das identidades pode
fornecer pistas que indiquem o alcance do discurso e ideias desses intelectuais nas
gerações de compositores que absorveram esses princípios em suas composições.
Fazendo-nos pensar em como essas questões foram trabalhadas no discurso musical,
na partitura, nos modos de agir e sentir, seja dos músicos eruditos, seja dos populares.
Pois, sob a personalidade do artista esconde-se a sociedade inteira, é o artista um
catalisador dos processos estéticos e ideológicos na medida em que filtra e recria
esses processos na lógica de suas criações. O artista deixa de ser um sujeito privado
e converte-se em um sujeito social, um representante da sociedade e dos sujeitos
privados, responsável pela crítica e visibilidade de ambos.
A música servidora da causa regional, utilizada como aglutinadora do povo na
região torna-se um fenômeno histórico-estético em que a observação dos embates
entre aquilo que o intelectual (relativamente distante do povo) diz o que é o povo e
aquilo que o próprio povo diz e pensa ser (sob a ótica do músico popular) é fundamental.
Assim percebendo-se as lutas de representação no campo intelectual (modernistas e
regionalistas) e no âmbito interno da região, entre os próprios intelectuais regionalistas,
REFERÊNCIAS
ALBUQUERQUE JUNIOR, Durval Muniz de. A Invenção do Nordeste e outras artes. 4ªed.rev. São
Paulo: Cortez, 2009.
BENNET, Roy. Uma breve história da música. Rio de Janeiro: Zahar, 1986.
BOURDIEU, Pierre. Algumas propriedades do campo. In: _____. Questões de sociologia. Rio de
Janeiro: Marco Zero, p.89-94, 1983.
BURNETT, Henry. Nietzsche, Adorno e um pouquinho de Brasil. São Paulo: editora Unifesp, 2011.
CARPEAUX, Otto Maria. O Livro de Ouro da História da Música. Rio de Janeiro: Ediouro, 2009.
CHARTIER, Roger. A História Cultural entre práticas e representações. Col. Memória e sociedade.
Trad. Maria Manuela Galhardo. Lisboa: Difel, 1988.
FREYRE, Gilberto. Manifesto regionalista. 7.ed. Recife: FUNDAJ, Ed. Massangana, 1996. p.47-75.
NAPOLITANO, Marcos. A síncope das Ideias: a questão da tradição na música popular brasileira.
São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo, 2007.
SAFATLE, Vladimir. Pensar o popular. In: _____. Nietzsche, Adorno e um pouquinho de Brasil. São
Paulo: editora Unifesp, 2011. p.11-15.
A gente tinha a possibilidade de ter uma aula com Antunes Filho, que era
completamente diferente das aulas do José de Carvalho. No curso de cenografia
a gente tinha Flávio Império, que fazia as roupas e criava o espaço. A EAD era
muito consistente. E nós tínhamos como professor de história do teatro brasileiro,
Formamos um grupo de seres humanos que quer fazer arte e não dinheiro... Será
um grupo de teatro comprometido... Defenderá a criação contra a esterilidade, a
liberdade contra a escravidão, a investigação contra o dogma, o impulso contra a
repressão... A vida contra a morte (LÍVIO, 2009, p. 28).
A criação do Teatro Moderno de Lisboa foi um dos momentos mais belos e exultantes
da minha vida. Fui um dos seus fundadores mais entusiastas e empenhados. Estava
tão saturado de fazer teatro comercial, cuja importância, aliás, reconheço, mas,
tanto eu como os restantes companheiros desta autêntica aventura, queríamos
voltar-nos agora para um teatro de grandes textos por nós escolhidos, moderno
como o seu nome indicava, e que, por tal, nos desse um enorme gozo interpretar
(CARVALHO apud LÍVIO, 2009, p. 178).
Importa lembrar que em 1961 começara a guerra em Angola e que foi preciso
esperar mais de quinze anos para surgirem peças portuguesas sobre esse trágico
acontecimento. Muitos dramaturgos portugueses contemporâneos escreviam,
sabendo que muito dificilmente as suas peças seriam representadas, pois qualquer
texto que tivesse alguma preocupação social ou algum motivo que visasse à liberdade
individual era logo banido pela censura. José Cardoso Pires definiu a década de
1960 como “o consulado de terror de Paulo Rodrigues”, ministro-adjunto de Salazar,
que se vangloriava, quando este morreu, de ter sido “uma lapiseira nas mãos de Sua
Excelência”. “Uma lapiseira que não se limitava a escrever o que o dono lhe ditava,
mas que riscava e cortava o que os outros escreviam...” (REBELLO apud LÍVIO, 2009,
Para Tito Lívio, a primavera teatral do TML pode ser organizada em três
temporadas, levando em consideração a saída e/ou entrada de atores/“sócios”: a
primeira, de 1961 a 1962, com a encenação de O tinteiro e os Humilhados e ofendidos,
de Dostoievsky e André Charpak; a segunda, de 1962 a 1963, com Os três chapéus
altos, de Miguel Mihura, Ratos e homens, de John Steinbeck e George C. Kaufman,
Não andes nessa figura, de Armando Cortez, O dia seguinte, de Luiz Francisco Rebello,
O pária, de Strindberg, e O professor Taranne, de Adamov; a terceira, de 1964 a 1965,
com Dente por dente, de W. Shakespeare, e O render dos heróis, de José Cardoso
Pires (LÍVIO, 2009, p. 61-112).
Devido à sua ação, aos seus princípios fundamentais e práticas, o TML lançaria as
sementes do movimento dos grupos de teatro independentes, tendo iniciado o caminho
de um teatro de intervenção que estes, mais tarde, se encarregaram de continuar.
Nesse sentido, é interessante registrar que na década de 1960 os teatreiros brasileiros
e portugueses leram e representaram de acordo com seu repertório sociocultural.
Esse processo complexo se ampliava e se fortalecia com as discussões e os debates
promovidos após as apresentações dos grupos. Era uma oportunidade a mais para
trocar ideias sobre os textos encenados. Por sinal, ao se referir aos diferentes gêneros
literários, Benoît Denis salienta que o teatro é um “lugar” importante do engajamento,
pois, por intermédio da representação, “as relações entre o autor e o público se
estabelecem como num tempo real, num tipo de imediatidade de troca, um pouco
ao modo pelo qual um orador galvaniza a sua audiência ou a engaja na causa que
REFERÊNCIAS
BRECHT, Bertolt. Poemas 19131956. 5. ed. São Paulo: Ed. 34, 2000.
CARVALHO, Sérgio de et al. Atuação crítica: entrevistas da Vintém e outras conversas. São Paulo:
Expressão Popular, 2009.
GAIARSA, Otaviano A. Santo André: ontem, hoje, amanhã. Santo André: Prefeitura Municipal de
Santo André, 1991.
GÓES, Marta. Alfredo Mesquita: um grã-fino na contramão. São Paulo: Albatroz/Loqui/Terceiro Nome,
2007.
LÍVIO, Tito. Teatro moderno de Lisboa (1961-1965): um marco na história do teatro português.
Alfragide: Caminho, 2009.
MUÑIZ, Carlos. O tinteiro. Teatro Moderno de Lisboa. Lisboa: Teatro Moderno de Lisboa, 1961
(Coleção de Repertório 1).
MUNIZ, Dulce. Heleny Guariba. aParte XXI: Revista do Teatro da Universidade de São Paulo, n. 6,
São Paulo, USP, 2013, p. 57-61.
PERAZZO, Priscila F. e LEMOS, Vilma (orgs.). Memórias do teatro no ABC paulista: expressões de
cultura e resistência (décadas de 1950 a 1980). Porto Alegre: EDIPUCRS, 2013.
REBELLO, Luiz Francisco. Combate por um teatro de combate. Lisboa: Seara Nova, 1977.
SILVA, José Armando Pereira da. O teatro em Santo André 19441978. Santo André: Public Gráfica e
Fotolito Ltda, 1991.
SOUZA, Edimilson E. Heleny Guariba: luta e paixão no teatro brasileiro. Dissertação (Mestrado em
Artes) – IA/Unesp, São Paulo, 2008.
Jornal:
Jornal Avante!, n. 1812, Lisboa, 21 ago. 2008.
REFERÊNCIAS
ARMBRUSTER, Jane. Memory and Politics—A Reflection on “The Handmaid’s Tale”. Social Justice, v.
17, n. 3, p. 146-152, 1990.
ATWOOD, Margaret. The Handmaid’s tale. New York: Anchor Books, 1998.
__________. A História da Aia. (Trad. Márcia Serra). São Paulo: Marco Zero, 1987.
__________. In other worlds: SF and the human imagination. New York: Anchor Books, 2011.
CERTEAU, Michel de. História e psicanálise. Entre ciência e ficção. Belo Horizonte: Autêntica, 2012.
FACINA, Adriana; SOIHET, Rachel. Gênero e Memória: algumas reflexões. Revista Gênero, v. 5, n. 1,
2012. Disponível em:
<http://www.revistagenero.uff.br/index.php/revistagenero/article/download/218/142>. Acesso em 5 de
abril de 2016.
ISER, Wolfgang. O Ato da Leitura: Uma teoria do efeito estético, vol. 1. São Paulo: Ed. 34, 1996.
RAGO, Margareth. “Epistemologia Feminista, Gênero e História”. In: PEDRO, Joana M.; GROSSI,
Miriam P. (orgs.). Masculino, Feminino, Plural. Florianópolis: Editora das Mulheres, 1998, pp. 21-42.
SMITH, Bonnie G. Gênero e História: homens, mulheres e prática histórica. (Trad. Flávia Beatriz
Rossler). Bauru: EDUSC, 2003.
2 | OS PANKARÁ
Isso mostra que desde então o governo brasileiro, através do SPI, tem
conhecimento de que “existiam remanescentes indígenas esparsos pelas Serras de
Arapuá e Cacaria, situadas nas adjacências da Serra Umã” (ANDRADE, 2010, p. 34).
Escolhas (ou projetos) de cunho político e planos de razão administrativa podem ter se
juntado a interesses de tipo socioeconômicos locais para rumar à decisão de que um
só Posto bastaria para atender a área toda, sem acarretar gastos maiores ao governo.
Podemos suspeitar, porém, que o problema maior seria o fato de ter, na Serra do
Arapuá, “proprietários com documentos de terra”.
O texto acena, ainda, ao fato de que “já houve muitos problemas”, embora não
descreva de que se tratasse. Considerando que um telegrama oficial dizia: “os nossos
limitados recursos não permitem se pensar na instalação de Posto para atender
pequeno número de remanescentes indígenas, que sejam os mesmos” (ANDRADE,
2010, p. 34, grifos nossos), podemos deduzir tratar-se de problemas de origem tanto
econômica (mais gastos públicos para um exíguo número de índios), como também
etnológica (indígenas reconhecidos como sendo do mesmo grupo étnico). Conhecendo,
porém a realidade sociocultural da região e alguns acontecimentos que marcaram a
história de Carnaubeira da Penha, como o assassinato do chefe do Posto Indígena
da Serra Umã, Oduvaldo G. Mota e outros (PARÓQUIA DE CARNAUBEIRA. Livro
de Tombo, vol 2, p. 54) e o narcotráfico estabelecido na área (MENDONÇA, 2007, p.
179), podemos entender que, nas entrelinhas, o documento aponta para os perigos de
derramamento de sangue. Pelo testemunho de muitos sabemos que a região é ainda
área de muita violência (DIOCESE DE FLORESTA. Sínodo..., nn. 25 e 27).
A presença na Serra do Arapuá de famílias dominantes de Carnaubeira, Mirandiba,
Belém do Saõ Francisco e Floresta deve também ter influenciado nas decisões do
órgão governamental.
O fato é que não foram atendidas as solicitações para que o SPI interferisse “no
sentido de lhes ser assegurado o direito de permanecerem nas terras que ocupavam
sem nenhuma obrigação com a fazenda municipal de Floresta que rege as terras
onde estão situadas as aludidas Serras” (ANDRADE, 2010, p. 34, grifos nossos). Esse
testemunho, porém, acaba declarando e dando visibilidade àquilo que poderia ser o
motivo socioeconômico: os interesses da fazenda municipal de Floresta.
Esta decisão acarretou também a negação do reconhecimento oficial ao
povo Pankará, reconhecimento que só veio em 2010, quando a FUNAI constitui o
“Grupo Técnico com o objetivo de realizar os estudos complementares de natureza
antropológica e ambiental necessários à identificação e delimitação da Terra Indígena
Pelo que conheço era quatro família aqui na Serra, se espalharam e se juntaram de
novo. Se foram se casando, abrindo espaço... porque os Rosa é o mesmo Amanso.
A mulher de Pedro Benedito era dos Rosa, a mulher de Mané Francilino era dos
Rosa. O tronco mais velho era os Rosa. Porque Zé Benedito... deve vir dos Benedito.
[Por que o nome da aldeia é “Casa Nova”?] A primeira casa era de Zé Benedito...
a primeira casa nova (era de madeira) se via de longe. Tem muitos anos. Casa
Nova foi criada depois dos Gomes, de Ildefonso; foi a primeira casa de tijolo...
casa nova. Não lembro quando... foi o tempo de Quintino, o pai de Ildefonso, pai
de Luís Gomes Menezes. [Quintino morava onde?] Quintino morava fora. Aqui ficou
a terra desocupada e começaram morar aqui... Acho que faz parte de português,
não tem parentesco aqui. [...] Vinham de Floresta. [...] Nesse tempo só vivia as
quatro família e as terras eram desocupadas. Quintino veio colocar a roça, como
os Carvalho, Ferraz, Novaes. Aqui muitos não têm documento, outros foram no
cartório e tiraram. [Quem está com documento?] Deve estar em Serra Talhada,
no Livro de Tombo. Não sei quem tem documento. Sei que o INCRA tem, todo
mundo tirou, mas Escritura é pouco. [As terras são de quem?] Casa Nova nunca
fomos rendeiros. Compramos. Meu avô. Aqui na chapada era do Coronel Mané
Olimpo. Nos venderam. Tinha outra terra que era do padre Renato, que são tudo
da família de Luís Menezes. Ali em baixo e na chapada. Descendo por lado de
cá, a banda do Enjeitado [indicando o lado do Enjeitado], tem terra de Francisco e
Josimo de Salvador. A família de Francisco ainda faz parte da família da gente e
Josimo Salvador faz parte dos Fulô, dos Santos. Não foi do meu conhecimento. Sei
que Francisco é daqui.
Lá no Enjeitado quase tudo é dos Novaes. Ali tem João do Tonho, Mané Novaes,
mas não sei. Sei que é dos Novaes: Enjeitado, Corrente, Sossego. A maior parte
tudo é dos Novaes. Descendo até a Ladeira é de João de Fausto, Maria de Elias
(Maria Adalgisa dos Santos), Olímpio Pereira... Isso tudo é deles, não é mais
dos Novaes. Agora lá em Alaesse não sei desenrolar. Tem de Pedro Manoel do
Nascimento, é dele. Deoclécio Novaes, é dele no Retiro, tem uma parte dele lá.
Boqueirão não sei. O morador era Antônio Torre, primo do Doutor Aldemir. A
Cacaria só uma partezinha é de Mané Macário, irmão de Quinô Bezerra. Ele é dos
Benedito daqui. Comprou esta partezinha de terra, mas dizem que outra é dos
Carvalho. Dos Carvalho, Novaes. [...]
Descendo para o Oiti e Lagoa é muita renda. É Novaes e Carvalho. Pegou o pé
da Serra. Neste tempo o pessoal era pouco em cima da terra... depois começou
o INCRA no Município de Carnaubeira. Naquele tempo Ferraz Carvalho era meio
chegado no cartório. Aqui quando os índios se apertavam com os invasores subiam
a Serra. [...] Aqui no Sertão não tenho conhecimento muito. Só aqui no pé da Serra.
Sei que é mais Carvalho e Novaes. Novaes é que mais tem. Os que mais aperreava
os índios no tempo da usina era Novaes. Aqueles eram os fortes invasores dos
índios. Pegavam os índios para trabalhar na usina. Usina de moer cana. [...] A
família Novaes tinha escravos. Devia ter laborado muito com escravos também
os Carvalho. Ainda tem. Aquela coisa de pegar renda é ainda escravidão: ter de
trabalhar terra e pagar renda. É escravidão: ter que trabalhar para dar mantimento
ao branco. Acho que Enjeitado ainda tem que pagar renda até da banana. Da
banana, do abacate. Isso faz parte de quê? Índio nunca deixou de ser escravo.
Enquanto não demarcar a terra tá escravo. A terra ficou para o ser humano. Não é
pra desmatar. Ficou para o mantimento. Mas trabalhar para os outros? (Entrevista
de 08 de agosto de 2010)
O terreiro da gente ... dizem ter um documento... dividiram, que nem espinhaço,
em linhas... teve outros fazendeiros que tomaram conta, invadiram... já venderam.
Uns tios deixaram. Meu bisavô dizia que nós dominavam a Serra... deram em troca
de cavalos, etc. Depois chegaram os Pires e Caribé de Belém... Descendentes da
Serra são: os Rosa, os Cacheado. João Miguel vem de Atikum. Amanso vêm de
Terra Vermelha. O velho Luís Limeira (pai de Pedro Limeira) veio da Ilha da Missão,
acima de Rodelas. (Entrevista de 09/11/2009).
Esta outra afirmação, dos professores indígenas Pankará, nos permite entender
que a força que o Pajé tem vem do “tronco”, de sua ligação com a tradição, que Lara
Andrade identificou com o “ancestral mítico”: Mestre Atikum para as famílias Rosa e
Amanso, cujo Pajé é João Miguel, do Enjeitado; Mestre Juazeiro para a família Caxiado,
cujo Pajé é Manoel Caxiado, da Lagoa; Mestre Anjucá para a família Limeira, cujo Pajé
é Pedro Limeira, da Cacaria. “Há ainda um quarto Pajé, Pedro Leite, que sempre foi
reconhecido como um ‘homem de ciência’, acompanhou o episódio do levantamento
de aldeia Atikum, e tinha fortes laços com os ‘Caboclos de Rodelas’.” (ANDRADE,
2010, p. 65). A distribuição dos terreiros, dos reinados e encantados também expressa
não só a relação de parentesco de uma “família extensa”, onde cada Pajé é forte
liderança, mas a relação espiritual e mística que dinamiza e fortalece as relações
daquele grupo, cuja identidade hoje definimos como Pankará. Esta dinâmica interna
constitui a “identidade pankará” (ANDRADE, 2010).
Além disso, outros fatores ligados às diferentes estratégias, sobretudo com relação
à necessidade de ficar na terra, manifestam uma relação aparentemente conflitiva
dentro do povo Pankará. Se de um lado uns preferem pagar renda e continuar na
escravidão (conforme o pensamento do Sr. “Trovão”), outros preferem entrar na luta.
Enquanto os primeiros não querem briga, visto o histórico de violência, e procuram
alianças dentro de padrões conhecidos (amizade com políticos locais e famílias “de
peso”, visitas nas casas dos que se dizem donos da terra oferecendo presentes e
renda embora não cobrados, etc.), os outros percorrem novos caminhos através de
novas alianças (COPIPE, APOINME, Secretaria Estadual de Educação, Promotoria
Federal, etc.). Temos que considerar o que o Pajé Manoel Caxiado nos disse em uma
conversa que tivemos em Floresta no dia 21/11/2005: este processo de desintrusão
deve ser muito lento, pois já houve mortes, e no mesmo tempo porque os não índios
há tempo conviveram e cresceram junto com os índios, como podemos constatar em
nossa pesquisa.
FRANCISCO (ITACURUBA)
Um Pajé é a peça mais fina que existe dentro da aldeia. É o dom do povo. É quem
gira a nação, que navega a nação. Eu, minha palavra “gira” é de nós girar, é a
gente andar e percorrer, olhar, abrir um ritual, saber abrir e fechar. É aquela grande
responsabilidade, a responsabilidade maior que existe dentro da etnia não é o
cacique. Cacique é sobre os bens, sobre ir atrás caçar, pra dentro da aldeia, ir
atrás dos benefícios lá fora, atrás dos bens. O chefe da nação. E o Pajé é o dom
sob a palavra de Deus, o dom das orações, do conselho. Sustentar a aldeia sobre...
. A cacique como as lideranças, como todos tem a obrigação de encomendar.
Hoje vou aqui, vive na Serra de Pankará, que é a etnia geral. Vim de lá. Vim praqui
porque aqui não tinha Pajé e Pajé não é qualquer um, Pajé vem da natureza mesmo.
(Entrevista com o Pajé Manoel Caxiado, realizada em 24 de novembro de 2012)
Sr. Manoel Caxiado (Manoel Antônio do Nascimento) assim entende sua missão
no meio do seu povo, e sua “origem” espiritual, sua missão que, como ele mesmo
explica, “vem da natureza mesmo”. Por isso ele se desloca muitas vezes de sua
residência na cidade de Floresta, onde mora com a esposa Dona Adalvina Idalina do
Nascimento, entre a Serra do Arapuá (Carnaubeira) e a aldeia Serrote dos Campos
(Itacuruba).
[...] o meu avô, através dos trabalhos, e Madrinha Amélia chegou o tempo que
ela adoeceu, aí ele foi atrás de Roque Tuxá pra fazer esses trabalho pra curar
Madrinha Amélia. Nesse tempo doutor era difícil. E as coisas de Madrinha Amélia
era concentração, eram os Guias que judeavam ela, que chegou o tempo de
se movimentar, de se..., de concentração e ela não tinha quem a doutrinasse. E
por isso veio Roque Tuxá. É por isso que aí, lá na Lagoa, outras não, ele andou,
mas o lugar dele era na Lagoa. Aonde foi toda concentração através de família,
treinamento para o reconhecimento de Atikum, porque nesse tempo já tinha o aval.
Primeiro era Tuxá, do começo que foi reconhecido. Atikum ninguém sabia como
era o reconhecimento, registrar Atikum. Nesse tempo o pessoal vinha de fora para
ajudar ter o reconhecimento. Foi através disso aí que tivemos o nome de Pankará,
que nós era o mesmo povo de Atikum, mas que era separados, era povo bem
separado mas era a mesma família. [...]
... era justamente a minha Madrinha Amélia e Mestre Juazeiro que diziam: Aqui
Vocês são caboclo Cambengá. Este local aqui chama-se Cambengá [Lá na Lagoa].
É, lá na Lagoa, aquela parte da Serra de lá do nosso povo, na Lagoa. Antigamente
dava-se nome Cambengá. [...] Mas não sustentaram este nome, ficaram conhecidos
só como os [caboclos] da Lagoa. (Entrevista recolhida em 24/11/2012).
Quando a gente, de 58 pra cá, foi quando meu pai já andava pra lá através das
aldeia, de meu avô, pai de papai, os outros parentes [...].Toda vida eles tiveram
essa... este conhecimento com outros parentes de Tuxá. [...] Eu sei que aí este
Serrote, tudo este terreno aqui, todo era da nossa indescendência, que era dos
índios. [...] Então eles andando travessava aí e ia pra Tuxá. [...] E a gente dava-se
Toré e dava-se o nome Aldeia Garrancho. Lá tinha Prexede, que era índio velho
que veio de fora [...]. Meu avô quando chegava ali passava de dois três dias para
poder atravessar na Tuxá. Aí brincavam, brincavam. Era aquela animação. [...] Aí
na noite iam brincar. Depois ia pro Porto de Madalena, pegava o barco e travessava
pra Tuxá. Depois, de lá de Tuxá, faziam, brincava no meio da ruínha. Eu mesmo
participei ainda [...]. (Entrevista com Manoel Caxiado realizada em 24/11/2012).
Era nosso caminho, a gente tirava direto, tá vendo aquele caminho aí? Tiravam
direto. E fizeram a oca quase em cima daquele caminho, sem saberem que era o
nosso caminho (ka, ka, ka,) aí papai foi trazendo os filhos, a gente foi trabalhando
e foi muito serviço, a seca apertando e nós trabalhando. Sei que papai ficou ainda
passando três anos trabalhando aqui, na fazenda dos Cantarelli. E sempre aqui
aculá a gente brincava um toré escondido. Ficava entre nós e Tuxá. E nós mesmos
cantava aí e brincava. E foi isso que foi incentivando até chegar esse direito de nós,
de que está formando esta aldeia. Chegando gente e foi procurando este direito,
esta localidade de ficar, formando uma aldeinha e formar sua cultura. (Entrevista
ao Pajé Manoel Caxiado recolhida em 24/11/2012, na aldeia Serrote dos Campos).
Na conversa, o Pajé Manoel nos descreveu nos detalhes este caminho que
É acima desta estrada, deste caminho dos antepassados que ele hoje é
incumbido da missão de “levantar aldeia” no Serrote dos Campos. Evidentemente
confunde-se aqui a realidade histórica com a metáfora, pois percorrer o caminho dos
antepassados significa também reavivar a tradição, manter-se na tradição. O trabalho
espiritual fortalece o trabalho político, como a história fortalece o espírito e confirma
a identidade. Um contínuo entrelaçar-se de história e meta-história; um contínuo
caminhar por caminhos traçados. Alguém já construía este caminho.
No dia 24/11/2012, enquanto estávamos nos dirigindo para Itacuruba, o Pajé
Manoel Caxiado contou:
Meu papel é que eles aqui eles não tinham... formaram essa aldeia, mas não tinham
a doutrina certa assim como tem uma aldeia [...] Esta aldeia estava sem pajé. [...]
Vim de lá. Vim praqui porque aqui não tinha pajé e pajé não é qualquer um, pajé
vem da natureza mesmo.
[Então não veio aqui porque são de sua família?] São da minha família. É o mesmo
povo. Tem sobrinhos e tudo, aqui são meus sobrinhos, tudo são família. Tem uns
que tem, aqui tem sangue de Tuxá, tem daqui da aldeia da Bahia, que são da
Bahia, que estão aqui, tem sangue da Bahia. Tem Pankararu também, tem Dona
Quinu, que tem parte aqui (sic) ela vem pro Ritual. Só que ela estranha um pouco
porque cada uma tem seu sistema, seu modo diferente. Cada etnia tem seu modo
de dominação.
REFERÊNCIAS
ANDRADE, Lara. “Nem emergentes, nem ressurgentes, nós somos povos resistentes”: território
e organização sócio-política entre os Pankará. Recife: UFPE, 2010. (Monografia Bacharelado em
Ciências Sociais).
ANDRADE, Ugo Maia. Moralitas Cabocla. In: GRÜNEVALD, Rodrigo de Azeredo (org.). Toré. Regime
encantado do índio do Nordeste. Recife: Massangana, 2005, pp. 99-127.
BRASIL FUNAI. Diário Oficial da União 26 de março de 2010. Constituir Grupo Técnico com
o objetivo de realizar os estudos complementares de natureza antropológica e ambiental
necessários à identificação e delimitação da Terra Indígena Pankará da Serra do Arapuá. Apud:
http://www.jusbrasil.com.br/diarios/1589677/dou-secao-2-26-03-2010-pg-33, acessado em 02/09/2010.
DURKHEIM, Émile. Da divisão do trabalho social. São Paulo: Martins Fontes, 2004, 2ª edição.
FRESCAROLO, frei Vital. Informações sobre os índios bárbaros dos certões de Pernambuco.
Ofício do Biso de Olinda acompanhado de várias cartas. Revista Instituto Histórico-Geográfico
Brasileiro, 46, 103-119, 1883. Disponível em: http://www.ihgb.org.br/rihgb.php?s=p, acessado em
10/03/2012.
HOHENTAL, W. D. Jr. As tribos indígenas do Médio e Baixo São Francisco. In: Rev. do Museu
Paulista, São Paulo: Museu Paulista, v. 12, 1960, pp. 66-76.
MENDONÇA, Caroline Farias Leal. Os índios da Serra do Arapuá. Identidade, território e conflitos no
sertão de Pernambuco. Recife/UFPE, 2003. (Dissertação de Mestrado em Antropologia).
OLIVEIRA, João Pacheco de (Org.). A viagem de volta. Etnicidade, política e reelaboração cultural
no Nordeste indígena. Rio de Janeiro: LACED, 2004, 2ª ed.
SILVA, Edson. Povos indígenas no Sertão: uma história de esbulhos das terras, conflitos e de
mobilização por seus direitos. In: Portal do São Francisco, Revista do Centro de Ensino Superior do
Vale do São Francisco/CESVASF, Belém do São Francisco, ano 6, nº. 6, dez. 2007, pp. 107-126.
1 | INTRODUÇÃO
1727 4000
1728 2.500
1729 2.100
1730 2.900
1734 3.300
1736 4.035
1737 4.315
1738 2.500
1739 6.255
1740 6.000
1745 8.109
1751 7.877
4 | SINCRETISMOS RELIGIOSOS
5 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
AMADO, Janaina; ANZAI, Leny. Luís de Albuquerque: viagens e governo na capitania de Mato
Grosso / 1771-1791. São Paulo: Versal, 2014.
ARAÚJO, Renata Klautau Malcher de. A urbanização do Mato Grosso no século XVIII: discurso
e método. 2000, 627f. Tese (Doutoramento em História da Arte) – Faculdade de Ciências Sociais e
Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa.
CANOVA, Loiva. Os doces bárbaros: imagens dos índios Paresi no contexto da conquista
portuguesa em Mato Grosso (1719-1757). 2003, 116f. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto
de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
COSTA, Maria de Fátima. História de um país inexistente: o Pantanal entre os séculos XVI e XVIII.
São Paulo: Estação Liberdade/Kosmos, 1999.
FERREIRA, Maria Delfina do Rio. Das Minas Gerais a Mato Grosso: gênese, evolução e
consolidação de uma capitania. A ação de Caetano Pinto de Miranda Montenegro. 1996, 223f.
Dissertação (Mestrado em História Moderna) – Faculdade de Letras, Universidade do Porto.
GOMES, Masília Aparecida da Silva. Produção agrícola e práticas alimentares na fronteira oeste.
Vila Bela da Santíssima Trindade (1752-1790). 2008, 203f. Dissertação (Mestrado em História) –
Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
JESUS, Nauk Maria de. Saúde e doença: práticas de cura no centro da América do Sul (1727-1808).
2001. Dissertação (Mestrado em História) – Instituto de Ciências Humanas e Sociais, Universidade
Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
LUCÍDIO, João Antônio Botelho. ‘A Ocidente do imenso Brasil’: as conquistas dos rios Paraguai e
Guaporé (1680-1750). 2013, 338f. Tese (Doutorado em História da Expansão e dos Descobrimentos
Portugueses) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa.
MACHADO, Cacilda. A escravidão e a cor dos escravos e dos livres (Freguesia de São José dos
Pinhais – PR, passagem do XVIII para o XIX). In: DORÉ, Andréa; SANTOS, Antonio Cesar de Almeida
(orgs.). Temas setecentistas: governos e populações no Império português. Curitiba: UFPR – SCHLA
/ Fundação Araucária, 2008.
PRESOTTI, Thereza Martha Borges. Índios. In: JESUS, Nauk Maria de (org.). Dicionário de História
de Mato Grosso: período colonial. Cuiabá: Carlini & Caniato, 2011, p. 172-176.
RODRIGUES, Nathália Maria Dorado. A Companhia Geral de Comércio do Grão Pará e Maranhão
e os homens de negócio de Vila Bela (1752-1778). 2008. Dissertação (Mestrado em História) -
Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá.
ROSA, Carlos Alberto. O caso Maria Eugênia. Diário Oficial do Estado de Mato Grosso –
Suplemento Mensal Ano I. Cuiabá, 31 de julho de 1986.
ROSA, Carlos Alberto. O urbano colonial na terra da conquista. In: ROSA, Carlos Alberto; JESUS,
Nauk Maria (orgs). A terra da conquista: história de Mato Grosso colonial. Cuiabá: Adriana, 2003.
SÁ JÚNIOR, Mário Teixeira de. Malungos do Sertão. Cotidiano, práticas mágicas e feitiçaria no
Mato Grosso setecentista. 2008, 319 f. Tese (Doutorado em História) – Faculdade de Ciências e
Letras de Assis, Universidade Estadual Paulista, Assis.
SCHWARTZ, Stuart. De ouro a algodão: a economia brasileira no século XVIII. In: BETHENCOURT,
Francisco; CHAUDHURI, Kirti (dir.). História da Expansão Portuguesa: o Brasil na balança do
Império (1697-1808). Vol. III. Navarra: Círculo de Leitores, 1998.
SOUZA, Laura de Mello e. O diabo e a Terra de Santa Cruz: feitiçaria e religiosidade popular no
Brasil colonial. São Paulo: Companhia das Letras, 2005.
FONTES
ACMRJ. Visitas Pastorais. Livro nº2. Devassa da Visita Geral à Comarca Eclesiástica do Cuiabá
realizada pelo visitador Bruno Pina, ano 1785.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU – Mato Grosso. Caixa 08. Doc. 489.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU – Mato Grosso. Caixa 16. Doc. 971.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU – Mato Grosso. Caixa 17. Doc. 1046.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU – Mato Grosso. Caixa 17. Doc. 1083.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU – Mato Grosso. Caixa 18. Doc. 1118.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU U – Mato Grosso. Caixa 37. Doc. 1860.
Arquivo Histórico Ultramarino - AHU – Mato Grosso. Caixa 39. Doc. 1966.
1 Os Fulni-ô vivem no município de Águas Belas que fica numa distância de 310 Km da cidade do Recife,
do estado de Pernambuco. A reserva indígena está dividida em três núcleos: a Aldeia Sede que é onde eles vivem
também é chamada de Aldeia Grande, a Aldeia do Ouricuri onde se reúnem para um retiro espiritual anualmente
e a Aldeia de Xixiakhlá, que significa muitas catingueiras em Yathê. O município está localizado no polígono das
secas.
Reesink (2000, p. 366) vai afirmar que os Fulni-ô se escudam no ritual e na sua
língua para se auto-afirmar como o bastião de resistência indígena do Nordeste e se
consideram, em função disso, algo superior aos outros povos da região. E assim o
Yaathê é utilizado como um instrumento no discurso político da etnicidade do povo
Fulni-ô, pois sem a manutenção da língua e da religião a condição étnica do grupo está
ameaçada. Outra importância que a língua tem é de proteger os segredos religiosos e
decisões do grupo que os não-índios não podem conhecer. Quirino (2006, p.103) relata
a relação existente entre a língua e a religião Fulni-ô, pois os saberes, os valores, a
visão de mundo, as crenças e rituais inscritos no universo sagrado são compartilhados
2 Consideram-se índios aqueles que participam da tradição do toré, sendo, preferencialmente “regimados”
na mesma, detendo a “ciência do índio”, aqui entendida como um corpo de saberes dinâmicos sobre o qual se
fundamenta o “segredo da tribo”.
[...] tudo “tem alma” (são animistas), sejam humanos, animais ou plantas, por esse
motivo os indígenas mantêm uma relação de profundo respeito pela natureza
– a natureza é a morada dos espíritos. Respeitá-la é condição indispensável à
continuidade da espécie humana. O xamanismo é o elemento central dessas
religiões. Em cada povo, o xamã recebe um nome específico. Os não-indígenas,
costumeiramente, nominam a todos de pajé, mas esse termo é específico para
certa função e em determinados povos. As funções do xamã podem ser de curador,
sacerdote e conselheiro.
É agente viver como os nossos ancestrais viviam, é agente viver somente falando o
nosso idioma, é agente viver, vamos dizer: o católico e o evangélico, ele vai para a
igreja fazer o quê? Rezar, orar né. Da mesma forma é agente, entra pra dentro da
mata, e vai rezar, e vai orar, vai cantar né, vai caçar, vai pesca, vai viver como os
nossos ancestrais viviam.
Como eu disse no início, a nossa tribo falo o iate e ele perguntou sobre Tupã e Tupã
é na linguagem tupi guarani e a nossa tribo não fala tupi guarani, o tronco lingüístico
da nossa tribo é do Macro jê, que hoje é conhecido como jê né. E a nossa tribo
não fala tupi guarani, fala outro idioma. E Tupâ na linguagem Tupi guarani é Deus.
Há 50 anos atrás agente ainda morava em oca, mas como os fazendeiros lá de boa
viagem da cidade que gosta de invadir as nossas terras, então lá no Ouricuri hoje a
casa é de tijolo e alvenaria. Porquê? Por que agente planta milho, batata e deixava
la na casa de palha o homem branco vinha e saqueava, e quando agente voltava
do Ouricuri não tinha mais nada. Então agente se sentiu na obrigação de fazer casa
de cimento pra ser mais seguro pra nós.
Só podem participar do retiro quem é fulni-ô. E que durante o retiro não podem
ter relações sexuais, existe até uma linha imaginária que separa as mulheres dos
homens, não podem consumir bebidas alcoólicas e nem ouvir músicas. Houve
perguntas sob a terra e para os fulni-ô a terra representa o suporte da vida social
REFERÊNCIAS
BASTOS, H. F. B. N. Teoria do Construto Pessoal. Recife: Universidade Federal Rural de
Pernambuco, 1998. (mimeografado).
CANDAU, Vera Maria. Direitos humanos, educação e interculturalidade: as tensões entre igualdade e
diferença. Revista Brasileira de Educação v. 13 n. 37 jan./abr. 2008.
COLLET, Célia. Mariana Paladino, Kelly Russo. Quebrando preconceitos: subsídios para o ensino
das culturas e histórias dos povos indígenas. – Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria; Laced, 2014.
FUNARI, Pedro Paulo. Ana Piñon. A temática indígena na escola: subsídios para os professores.
- 1. Ed., 1ª reimpressão. – São Paulo: Contexto, 2014.
KELLY, G. A Theory of Personality– The psychology of personal constructs. New York: W. W. Norton,
1963.
OLIVEIRA, Silvia Maria; DARELLA, Maria Dorothea P. Diversidade religiosa indígena: diferentes
maneiras de ser e estar no mundo. In: CECCHETTI, Elcio; DE OLIVEIRA, Lílian Blanck. Diversidade
religiosa e direitos humanos: conhecer, respeitar e conviver. Revista Interdisciplinar de Direitos
Humanos, v. 3, n. 1, p. 181-197, 2015.
PASSOS, Mauro. Ciência da religião aplicada à educação sociopolítica. In: PASSOS, João Décio;
USARSKI, Frank. (Orgs.). Compêndio de Ciência da Religião. São Paulo: Paulinas; Paulus, 2013,
p.635.
QUIRINO, Eliane Gomes. Memória e cultura: os Fulni-ô afirmando identidade étnica. 2006. 168 f.
(Dissertação) - Mestrado em Ciências Sociais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN,
Natal, 2006.
REESINK, Edwin. O segredo do sagrado: o toré entre os Índios do Nordeste. In: Almeida, L. S.;
Galindo, M. e Elias, J. L. (Orgs.). Índios no Nordeste: temas e problemas 2. Maceió: EDUFAL,
2000.
SILVA, Edson; Maria da Penha da Silva. As diversidades étnicas no Brasil: desafios as práticas
escolares. In: SILVA, Edson; Maria da Penha da Silva (Org.). A temática Indígena na sala de aula:
reflexões para o ensino a partir da Lei 11.645/2008. 2º ed. Recife: Ed. dos Organizadores, 2016.
1 De acordo com a Assembleia Legislativa de Minas Gerais, o sul de Minas tem atualmente 155
municípios. Para saber mais: <https://www.almg.gov.br/consulte/info_sobre_minas/index.html?aba=-
js_tabMacrorregioes&stlMacroregiao=3> Acesso em: 10 fev.2017.
2 O nome consta no primeiro livro de assentamentos de batismo da paróquia de Santo Antônio
(Campanha), contendo o livro registros de 1748 a 1777 e estando presente no Arquivo da Cúria Dioce-
sana da Campanha.
3 Utilizando nomes de localidades atuais, o rio Verde nasce na divisa dos municípios de Itanhan-
du e Passa Quatro e deságua no lago de Furnas, na divisa entre Três Pontas e Elói Mendes.
4 Em pesquisa feita por este autor no portal do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) dedicado às informações sobre populações indígenas, constatou-se que, no Censo de 2010, um
total de 1950 habitantes dos 155 municípios sul-mineiros se declararam indígenas.
5 Natural da cidade sul-mineira da Campanha, foi autor do Almanach Sul-Mineiro (1874 / 1884)
e seu nome consta nas origens do município sul-mineiro de São Lourenço.
6 Natural da cidade sul-mineira de Cristina, foi autor do livro O Passado da Christina, uma série
de anotações sobre a história cristinense até o início do século XX.
7 Natural da Campanha, foi autor de várias obras sobre a história de localidades e famílias sul-
2 | PROBLEMÁTICAS MEMORIAIS
No trabalho com memorialistas, dá-se atenção ao que cada autor tinha em mente
como resultado das interações culturais, políticas e sociais de sua época, pois isto
é refletido na obra que o autor escreve. Esta característica pode ser percebida nos
memorialistas escolhidos para o presente estudo, como perceberemos ao longo dos
capítulos seguintes.
A escolha de Veiga, Lefort e Casadei para esta análise e a própria análise feita
destes autores é um desdobramento da pesquisa realizada em torno da presença
indígena no município de Virgínia/MG10, donde vêm sobressaindo estes autores na
medida em que se busca um entendimento mais detalhado da dinâmica de ocupação
indígena e relacionamento do mesmo com os colonizadores na bacia do rio Verde.
Já a escolha de Toledo é também um desdobramento da referida pesquisa, porém
trata-se de um autor que é aqui analisado por não mencionar indígenas em sua obra,
conforme veremos adiante.
Feitas as considerações acima, parte-se para o que se quer aqui abordar, trazendo
a tona os questionamentos: Como é analisar o indígena tendo o memorialista como
lente? Levando em conta que há várias óticas pelas quais enxergar os indígenas (o
-mineiras, tendo sido também chanceler do Bispado da Campanha.
8 Natural da cidade fluminense de Campos dos Goytacazes e casada com o jurista campanhen-
se Antônio Casadei (1909-1997), com quem escreveu Aspectos Históricos da Cidade da Campanha.
9 O Centro de Estudos tem grande acervo de publicações referentes ao sul de Minas, com
destaque para jornais sul-mineiros dos séculos XIX e XX e livros escritos por memorialistas de vários
municípios da região.
10 A pesquisa iniciou em 2015 com a participação deste autor no curso “Cultura e História dos
Povos Indígenas” (UFSJ) e teve os primeiros resultados apresentados na XIV Semana de História da
UFSJ (2016).
3 | DE VEIGA A CASADEI
Uma história semelhante é relatada por Veiga no mesmo livro (p. 425), envolvendo
exploradores vindos de Taubaté, no entanto estes acabaram se envolvendo em
um conflito com indígenas e os mataram, no contexto da origem da localidade sul-
mineira de Aiuruoca. Estas e outras dispersas menções nas edições do Almanach
Sul-Mineiro11 mostram a pouca importância dada à história indígena no século XIX,
em uma mentalidade que tratava o indígena como “selvagem”, “gentio” ou até mesmo
referindo-se aos indígenas com termos que normalmente utilizamos hoje em relação a
animais (“índios domesticados”).
O elemento indígena no sul de Minas quase desaparece do relato de Bernardo
Saturnino da Veiga quando, no histórico da maioria dos municípios sul-mineiros,
apresenta tais municípios como tendo brancos por primeiros povoadores (sejam
paulistas, portugueses ou brasileiros oriundos de outras regiões do país).
Luís Barcellos de Toledo não faz diferente de Bernardo Saturnino da Veiga. Em
sua obra O Passado da Christina, Barcellos, além de não se referir aos indígenas no
contexto histórico cristinense, afirma o seguinte: “Baependy, Ayuruoca e Pouso Alto e
outros povoados de Minas contavam mais de meio século de vida e o nosso Sertão
estava ainda deserto.” (TEIXEIRA, 2013, p. 296).
Apesar da informação dada por Barcellos sobre uma possível inexistência de
indígenas em Cristina (“o Sertão estava ainda deserto”), Teixeira (2013, p. 66) relata
que em Cristina havia indígenas Puri e Coroados, que “eram encontrados em todo
o território do chamado Sertão da Pedra Branca, onde se localizam Cristina e suas
cidades vizinhas”. Teixeira ainda menciona vestígios rupestres e arqueológicos que
comprovam presença indígena em Cristina e arredores antes dos Puri e dos Coroados
habitarem a região.
Monsenhor José do Patrocínio Lefort deixou várias obras sobre localidades e
genealogias sul-mineiras, mas neste estudo vamos nos ater às obras “A Diocese da
Campanha”, “Cidade da Campanha” e “O Sul de Minas e as Bandeiras”.
“A Diocese da Campanha” traz detalhes sobre origens de cada paróquia da
Diocese que intitula o livro. As menções aos indígenas estão dispersas pelo livro:
menções à origem dos nomes Aiuruoca (p. 35), Baependi (p. 50), Caxambu (p.
117), Mutuca, atual Elói Mendes (p. 165), e Catanduvas, atual Varginha (p. 327); a
informação de que havia “6 índios casados” em Cristina no ano de 182512 (p. 146);
Alto.
13 São os mesmos povos mencionados por Paula (1966), conforme já referido na Introdução
deste texto.
4 | CONSIDERAÇÕES FINAIS
14 Em pesquisa feita pelo autor deste texto no site de buscas Google (06 de maio de 2017), o
termo “caxixana” aparece em apenas três resultados, sendo um deles referente a um livro, em língua
francesa, intitulado Le Pays des Amazones, de Santa-Anna Nery (1885). O livro traz, na página 205,
uma gravura de um indígena com a legenda “Indien Caxixana”. O acesso ao livro pode ser feito pelo
link:
<http://objdigital.bn.br/objdigital2/acervo_digital/div_obrasraras/or304420/or304420.pdf>
15 Em pesquisa feita pelo autor deste texto no site de buscas Google (06 de maio de 2017), o
termo “moriguite” aparece em apenas quatro resultados, sendo um deles referente a uma publicação,
em língua alemã, intitulada Wissenschaftliches Magazin für Jünglinge (1791). A revista traz, na página
176, menção aos Moriguites no contexto de uma explanação sobre povos sul-americanos. O acesso ao
livro pode ser feito pelo link:
<https://books.google.com.br/books?id=r3JlAAAAcAAJ>
Félix Soares, índio silvestre, Moriguite de Nação, filho de pais pagãos e representava
ter idade de 40 anos [...].
Margarida Francisca, índia de Nação, 34 anos [...].
Miguel Ferreira de nação Moriguite, filho de pais falecidos no Paganismo, que
representava 36 anos de idade [...].
José Maria, Caxixana de nação; que representava vinte e seis anos de idade[...].
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Maria Regina Celestino de. Os índios na História do Brasil no século XIX: da
invisibilidade ao protagonismo. Revista História Hoje, v. 1, nº 2, 2012, p. 21-39. Disponível em:
<https://rhhj.anpuh.org/RHHJ/article/download/39/29> Acesso em: 18 jun.2017.
AVISO do secretário do Conselho Ultramarino José Gomes de Carvalho aos governadores e vice-
governadores do Brasil referente de escola para catequizar os índios de Minas Gerais sobre a
coordenação do padre Francisco da Silva Campos, Lisboa, 18 de setembro de 1801. In: Catechese
e civilisação dos indígenas da Capitania de Minas Geraes. Revista do Arquivo Público Mineiro,
ano 2, número 4, out./dez.1897. Pág. 685-733. Disponível em: <http://www.siaapm.cultura.mg.gov.br/
modules/brtexport/index.php?cid=95&mid=31&full_pdf=1> Acesso em: 22 jan.2017.
OLIVEIRA, Jorge Eremites de; CAVALCANTE, Thiago Leandro Vieira. História indígena,
historiografia e indigenismo: contribuições, desafios e perspectivas. Disponível em: http://www.
snh2015.anpuh.org/simposio/view?ID_SIMPOSIO=2006 Acesso em: 01.abr.2017. Publicado em:
2015.
PAULA, Alcibíades Viana de. Primeiros habitantes de Varginha. Revista da Associação Médica de
Minas Gerais, v. 18, 21.nov.1966.
RIBEIRO, Núbia Braga. Os povos indígenas e os sertões das Minas do Ouro no século XVIII.
2008. 405 p. Tese (Doutorado em História). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas.
Universidade de São Paulo, São Paulo. 2008.
TOLEDO, Luiz Barcellos de. O passado da Christina. In: TEIXEIRA, Luiz Gonzaga. Cristina. Belo
Horizonte: Edição do autor, 2013.
VEIGA, Bernardo Saturnino da. Almanach Sul-Mineiro para 1874. Campanha: Typographia do
Monitor Sul-Mineiro, 1874.
Os livros chegaram a mim apenas ontem, obviamente não me foi possível mais que
folheá-los, mas, ainda assim, há um número de questões que gostaria de fazer-lhe.
A primeira delas diz respeito às peças mostradas nas Figuras 4, 5, 34 e 35. Elas
se assemelham tanto às peças que eu mesmo coletei no Daomé e Nigéria que eu
gostaria de ter certeza de que é correta a minha impressão sobre sua proveniência
brasileira. Se este for o caso, então, seus negros brasileiros mantiveram não apenas
a técnica de escultura em madeira, mas os mesmos detalhes do estilo da África
Ocidental em um grau não encontrado em nenhum outro lugar (AAR/BN, I-35, 31,
1.429, Illinois, 31/12/1935).
muitas das canções têm assuntos que as conectam muito com os dados
haitianos que eu colhi numa viagem de campo no penúltimo verão. Deste modo, a
Zambiapongo sobre a qual você falou na página 81 é o mesmo que Zambi ampaka
dos haitianos, que da mesma forma, tem Lemba como uma de suas divindades
Petro (AAR/BN, I-35, 31, 1.429, Illinois, 31/12/1935).
Um capítulo que eu estou ansioso para ler com particular interesse é o da combinação
da Feitiçaria e o Catolicismo, e eu espero fazer bom uso de sua lista de analogias
entre santos católicos e divindades da feitiçaria. Particularmente interessante nesse
contexto são suas Figuras 19 e 20 que eu poderia quase duplicar com fotografias
do Haiti, uma das quais, mostrando um altar vodu com símbolos católicos
(...). É esta combinação das religiões africanas e europeias que, para mim foi, de
longe, o aspecto mais interessante da religião haitiana (AAR/BN, I-35, 31, 1.429,
Illinois, 31/12/1935).
Foi o início de uma estreita cooperação intelectual que se estendeu até a morte
de Ramos em 1949. Ao todo, o Arquivo Arthur Ramos guarda 72 cartas trocadas pelos
pesquisadores, sendo 27 encaminhadas por Ramos e 45 por Herskovits1.
Em 26 de março de 1936, o americano respondeu à inquietação de Ramos
afirmando ter
dar alguma atenção a outro aspecto além da cultura religiosa do negro brasileiro.
Eu percebi que é mais difícil isolar os elementos africanos em tais fases do
comportamento do negro no Novo Mundo do que é na vida religiosa. No entanto, eu
encontrei tanto no Haiti quanto na Guiana, e meus alunos recentemente descobriram
1 Antônio Sérgio Guimarães, analisando a correspondência entre esses dois intelectuais, dividiu
a relação em três fases: “uma primeira correspondência trocada entre 1935 e 1941; uma convivência de
dois meses em 1941, na Northwestern University, onde Ramos acompanha o seminário de aculturação
de Herskovits; e, uma última, que começa com o trabalho de campo de Herskovits no Brasil, em final de
1941, e vai até a morte de Ramos, em 1949” (GUIMARÃES, 2004, p.169).
Não tenho palavras para lhe exprimir toda a minha admiração, em ler uma obra tão
bem documentada, tão rica em ensinamentos, tão completa, sobre o folclore dos
negros da Guiana Francesa. Pretendo dar notícia do livro aos estudiosos brasileiros,
e isto é a maneira de manifestar o interesse que ele me desperta (AAR/BN, I-35, 15,
176, Rio de Janeiro, 24/2/1937).
Não só os estudantes como (os) professores estão muito interessados por tudo
quanto tenho dito sobre os problemas de raças e de culturas no Brasil. Tenho
aproveitado as horas vagas para estudar e observar a vida do negro nas plantações
da Louisiana e em outros atos da sua vida social, do ponto de vista antropológico e
sociológico, e será excelente trocarmos depois nossas impressões (AAR/BN, I-35,
15, 186, Louisiana, 17/9/1940)2.
2 Conforme salienta Olívia Maria da Cunha, “Ramos preferiu manter o silêncio, ainda que seus
além do Leste, Arthur Ramos aproveitou a sua estadia nos Estados Unidos, para
outros contatos profissionais importantes no Meio-Oeste. O primeiro desses
contatos foi com Stuart Chapin, do Departamento de Sociologia da University of
Minnesota, feito com a intermediação primeira de Lynn Smith (GUIMARÃES, 2004,
p.185).
interlocutores lhe pedissem comentários e até pesquisas sobre a ‘situação dos negros no Sul’. Ramos,
ao contrário, referiu-se vagamente a aspectos ligados ao ‘folclore negro na Louisiana’ para abordar
o ‘problema das raças’ no Brasil. Ramos passou alguns meses de sua estada nos EUA numa típica
cidade do Sul sob o Jim Crow, entretanto não mencionou a existência de linchamentos, high schools
e colleges segregados. Nem assinalou a permanente tensão racial em Chicago, a timidez dos campi
liberais e supostamente dessegregados nas cidades do Norte” (CUNHA, 1999, p.89).
talvez resida justamente aí, a causa do possível “esfriamento” da sua relação com
Herskovits, vez que Dr. Ramos já não é mais, de fato, um pesquisador, ou pelo
menos, deixa de controlar fontes de informações etnográficas valiosas, como fizera
antes da guerra. Enquanto o primeiro recusa a trilha da “antropologia aplicada” (...),
o último imiscuir-se-á cada vez mais em assuntos puramente políticos. Sintomático
do “esfriamento” de Ramos em relação a Herskovits não é apenas o longo intervalo
sem correspondência entre agosto de 1945 e dezembro de 1947, mas o fato de
que, em seu esforço para incluir a Antropologia brasileira no mundo democrático
do pós-guerra, Arthur Ramos contará, em 1949, com o auxílio de um crítico feroz
da posição “culturalista” de Herskovits, Franz Frazier, que o ajudará na definição
da política a ser adotada pelo Departamento de Ciências Sociais da UNESCO com
respeito ao racismo (MAIO, 1997).
REFERÊNCIAS
BARROS, Luitgarde O. C. Arthur Ramos e as dinâmicas sociais do seu tempo. Maceió: EdUFAL,
2000.
CUNHA, Olívia Maria Gomes da. Minha adorável lavadeira: uma etnografia mínima em torno do
Edifício Tupi. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de Janeiro, n. 119, pp. 59-107, 1999.
FAILLACE, Vera Lúcia Miranda (org). Arquivo Arthur Ramos: Inventário Analítico. Rio de Janeiro:
Fundação Biblioteca Nacional, 2004.
GOMES, Angela de Castro. Em família: a correspondência entre Oliveira Lima e Gilberto Freyre.
In GOMES, Angela de Castro (org). Escrita de si, escrita da história. Rio de Janeiro: Editora da
Fundação Getúlio Vargas, 2004.
MAIO, Marcos Chor. Arthur Ramos e a militância na Unesco. Anais da Biblioteca Nacional, Rio de
Janeiro, n. 119, pp. 29-34, 1999.
RAMOS, Arthur. O negro brasileiro. 1º vol: Etnografia religiosa. 5 ed. Rio de Janeiro: Graphia, 2001.
SANSONE, Lívio. Estados Unidos e Brasil no Gantois: o poder e a origem transnacional dos estudos
Afro-brasileiros, Revista Brasileira de Ciências Sociais, v.27, n.79, pp. 9-29, Junho, 2012.
[...] durante a maior parte do século XIX até as três primeiras décadas do século
XX, a capoeira sempre esteve associada ao mundo do crime. Poucas vezes ela
foi compreendida como uma prática cultural pertinente à sociedade brasileira.
Sua prática, contudo, iria experimentar uma outra significação a partir da década
de 1930. Passaria de crime previsto no Código Penal para uma luta considerada
genuinamente brasileira (OLIVEIRA; LEAL, 2009, p. 48).
A frase que nomeia este tópico é um trecho da música “Você não sabe o valor que
a capoeira tem”, escrita e gravada por Antônio de Menezes (Mestre Burguês, natural
de Sergipe e atual presidente do Grupo de Capoeira Muzenza), e que é bastante
cantada nas rodas de capoeira. Ao longo da letra percebemos a exaltação da capoeira
como uma prática que é capaz de mudar a vida das pessoas – “A Capoeira me ajudou
/ Ela me fez ser na vida / Hoje quem eu sou / Tu não sabe o valor” –, e de ajudá-las nos
momentos de dificuldade – “Se é pra falar de amor / Ela que me conquistou / Ela me
botou nos braços / E me tirou do chão / Tu não sabe o valor”. Neste sentido, a capoeira
é mais do que a movimentação, é, digamos, “um estilo de vida”.
I – Construir uma sociedade livre, justa e solidária; [...] III – Erradicar a pobreza e
a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV – Promover o
bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
outras formas de discriminação (BRASIL, 1988, Art. 3).
4 | CONCLUSÃO
Por isso, reiteramos a afirmativa de que este é um dos caminhos possíveis para
se trabalhar com a história e cultura afro-brasileira e com os valores nas salas de aula,
pois diversos são os valores, e mais diversos ainda são alunos, ambientes, situações,
contextos e demandas com as quais o professor deve lidar diariamente no seu ofício.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Lei n. º 10.639, de 9 de janeiro de 2003. Altera a Lei nº 9394/96, de 20 de novembro de
1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial
da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira” e dá outras
providências.
BRASIL. Senado Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: nº 9394/96. Brasília:
1996.
CONCEIÇÃO, Maria Telvira da. O trabalho em sala de aula com a história e a cultura afro-brasileira
no ensino de história. In: OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de (Org.). Coleção Explorando o Ensino:
História (Ensino Fundamental). 21. ed. Brasília/DF: Ministério da Educação, 2010. p. 131 – 158.
FREITAS, Itamar; OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. Sobre a crítica dos pesquisadores
de História da África à Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Disponível em: <http://
didaticadahistoria.com/2016/03/06/sobre-a-critica-dos-pesquisadores-de-historia-da-africa-a-base-
nacional-curricular-comum-bncc/. Acesso em 29/03/2016.
FREITAS, Itamar. Valores como objeto da aprendizagem histórica. In: BUENO, André; ESTACHESKI,
Dulceli; CREMA, Everton [orgs.]. Para um novo amanhã: visões sobre aprendizagem histórica.
Rio de Janeiro/União da Vitória: Edição LAPHIS/Sobre Ontens, 2016. p. 107 – 116.
GATTI JÚNIOR, Décio. Demandas sociais, formação de cidadãos e ensino de História. In: OLIVEIRA,
Margarida Maria Dias de (Org.). Coleção Explorando o Ensino: História (Ensino Fundamental).
21. ed. Brasília/DF: Ministério da Educação, 2010. p. 105 – 130.
OLIVEIRA, Margarida Maria Dias de. O direito ao passado (uma discussão necessária à formação
do profissional de História). Tese de Doutorado. UFPE: Recife, 2003.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS, ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos.
1948.
PEREIRA, Márcia M.; SILVA, Maurício. Percurso da lei 10639/03: antecedentes e desdobramentos.
Linguagens & Cidadania, v. 01, p. 01-12, 2012.
SILVA, Ana Célia Da. A representação social do negro no livro didático: o que mudou? Porque
mudou? Salvador: EDUFBA, 2011.
SOARES, Carlos Eugênio Líbano. A capoeira escrava no Rio de Janeiro (1808-1850). 1998.
Tese (Doutorado em História) - Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de
Campinas.
VELLOSO, Monica Pimenta. O modernismo e a questão nacional. In: FERREIRA, Jorge; DELGADO,
Lucilia de Almeida Neves (org). O Brasil Republicano. Vol. 1. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2010. p. 351-386.
Nos primeiros anos deste século XXI, as comunidades negras rurais do Matupiri,
entraram em diálogo e influências intensas com as experiências das outras partes
do país asseveradas acima. Especialmente do Oeste Paraense, onde são intensas,
há cerca de quarenta anos, as lutas política das comunidades mocambeiras
contemporâneas (AZEVEDO, 2002; ACEVEDO, & CASTRO, 1998; FUNES,1995) .
Assim sendo Santarém, Alenquer, Óbidos, Oriximiná também iniciaram seus processos
de:
[...] luta por reconhecimento, a luta foi o seguinte, começou em 2005, quando
teve a primeira pesquisa aqui dentro da comunidade. Veio uma professora, uma
pesquisadora por nome Ana Felícia, ela veio pesquisar aqui porque ela viu no
histórico que existia negro no Amazonas, e a onde ela foi indicada, foi no Andirá.
Ai, ela chegou aqui, conversou com o pessoal que foram contando que a gente
tinha sangue de negro, porque o nosso princípio tinha vindo da África. Ai, foi que
começou a ter o levantamento da procura dos negros né. Ai, chegou à conclusão
que hoje nós somos reconhecido. Essa luta foi muito grande, tá sendo até hoje
muito grande essa luta. (Maria de Lourdes, agricultora, 53 anos. Presidente da
Federação Quilombola (2012-2016). Entrevista realizada em 2015. Santa Tereza do
Matupiri.).
Nós fundamos uma federação pra nós, (...), pra fazer o mapeamento todinho da
área. Passamos três meses fazendo isso pra gente adquirir os conhecimentos
que as pessoas antigas fizeram pra nós conversando conosco. Depois fizemos
o resumo, onde tiramos as partes principais. (Maria Cremilda, 59 anos Presidente
da Federação Quilombola, 2009-2011. Entrevista realizada em 2015 na cidade de
Uma construção da nova identidade quilombola através de filhos e netos, por meio
da recuperação das narrativas de seus pais e avós, mas desenvolvendo agora,
novas interpretações. Nisso, muitas práticas culturais como origem no tempo
do cativeiro, [...] foram transformadas em capital simbólico para a afirmação da
Identidade quilombola. (MATTOS, 2006, p.110).
Eu sou Esmeraldina, esposa dele (Luiz Carlos), quero dizer que lá na cabeceira do
chapeleiro quem manda é o pastor. Ele leva a madeira para Parintins, Barreirinha
[...]. Eles vendem terrenos. São da Igreja Pentecostal. Eu enfrentei eles! Esse home
chamou lá os dois caras com espingarda. Ele falou: ‘vim aqui pra ti dizer pra não
cortar nenhum pedaço do pau’. Então, quem manda lá é o pastor! [...]. Ele disse:
‘Olha! Esses pretos estão acabando com a terra de vocês (referindo-se aos caras
que estavam com ele)’. Naquele momento fui ameaçada! E ele insistia dizendo:
‘Quem manda é o pastor! Aliás, esse Jander Carneiro, ele ameaçou meu marido, o
Luís Carlos. Quando ele disse que meu marido ia preso, eu disse: ‘Eu vou contigo’.
E esse Jander dizia: ‘Esse negócio de quilombola é pra destruir a nossa vida.
Temos que ficar do lado dos fazendeiros, porque, o que esses morenos vão dar
pra gente?’”. (Esmeraldina de Castro. In: Fascículo “Quilombolas do Rio Andirá,
Barreirinha/AM”, p. 03. Projeto “Mapeamento social como instrumento e gestão
territorial contra o desmatamento e a devastação. Processos de capacitação de
povos e comunidades tradicionais. Nova cartografia social da Amazônia, 2014)
Olha, quando eu não sabia eu procurar saber! Porque diziam assim, quando nós
‘tava” se organizando pra ser reconhecido muitas pessoas diziam assim: - vocês
não vão ser reconhecidos, porque o prefeito não vai assinar, porque o presidente do
meio ambiente não assinou! [...]. Quando o Dr. Júlio Junior veio aqui do Ministério
Público Federal, eu perguntei[...] e ele: - Não, o município não resolve nada do
problema de vocês. O que vem resolver o problema de vocês é a fundação
Palmares. [...]. O pessoal ficam preocupado porque que não passa por Barreirinha!
Porque remanescente somo nós não eles, é por isso que venham procurá nós.
(Maria Amélia dos Santos Castro. Op cit).
[...] o fator identitário e todos os outros fatores a ele subjacentes, que levam as
pessoas a se agruparem sob uma mesma expressão coletiva, a declararem seu
pertencimento a um povo ou a um grupo, a afirmarem uma territorialidade específica
e a encaminharem organizadamente demandas face ao Estado, exigindo o
reconhecimento de suas formas intrínsecas de acesso à terra [...] (ALMEIDA, 2008,
p. 29 - 30).
Meu nome é Benedito Pereira de Castro. Tenho 91 anos [...]. Meu pai, Pedro
Rodrigues de Costa [...]. Papai contava que meu avô veio da Angola, da África,
como escravo dos português. Meu avô por parte de pai era Benedito Rodrigues
da Costa que veio nos navios africanos para servir os portugueses Ele tinha três
irmãos e uma irmã, a tia Maria e mais dois irmãos: o tio Francisco e tio João que
partiram para lugares ignorado, até hoje ninguém sabe pra onde [...]. Então, sendo o
primeiro negro a chegar e permanecer na comunidade do matupiri, rio Andirá, vovô
parou numa casa de festa e ali conheceu uma mulher indígena, viúva, seu nome
era Gerônima, filha da indígena Júlia Sateré [...]. (In: Fascículo “Quilombolas do rio
As mulheres são encontradas ‘nas margens’ junto com outros grupos como os
escravos, os índios, os judeus e cristãos-novos, os e as homossexuais [...]. A partir
desses restos de discurso, de Fragmentos de vidas é que o historiador consegue,
então, perceber as formas de racionalidade que modelavam as práticas e as
atividades, as relações sociais entre mulheres e homens. [...]. (DEL PRIORY, Mary,
2010, p. 227). [Grifos Nossos]
CONSIDERAÇÕES
REFERENCIAS
ACEVEDO, Rosa & CASTRO, Edna. Negros do trombetas. Guardiões das matas e dos rios. Belém:
UFPA, 1998.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Quilombolas e novas etnias / Alfredo Wagner Berno de
Almeida. – Manaus: UEA Edições, 2011.
ALMEIDA, Alfredo Wagner Berno de. Mapeamento Social como instrumento de gestão territorial
contra o desmatamento e a devastação: processos de capacitação de povos e comunidades
tradicionais: quilombolas do rio Andirá: Santa Tereza do Matupiri, São Pedro, Trindade, Boa Fé e
Ituquara/Barreirinha-Amazonas, 4/coordenação do projeto, Alfredo Wagner Berno de Almeida; equipe
de pesquisa, Maria Magela Mafra de Andrade Ranciaro...[et al]. – Manaus:UEA, 2014.
Amélia, Maria. Trilhas percorridas por uma militante quilombola: vida, luta e resistência; Maria
Mafra de Andrade Ranciaro, Org; Alfredo Wagner Berno de Almeida, ed.; RJ: casa 8, 2016 7. ARRUTI,
José Maurício. Mocambo. Antropologia e História do processo de formação quilombola-Bauru,
SP:EDUSC,2006.
AZEVEDO, Idaliana Marinho de (org.). PUXIRUM. Memórias dos negros do oeste paraense. Belém:
IAP, 2002.
DEL PRIORY, Mary. História das Mulheres: As vozes do Silêncio. In: Freitas, Marcos Cesar (org.).
Historiografia Brasileira em Perspectiva. 6 ed, 2ª reimpressão – São Paulo: Contexto, 2010.
FREITAS, Marilene Corrêa da Silva. Os Amazonidas contam sua História: territórios, povos e
populações tradicionais. IN: Amazônia: território, povos tradicionais e ambiente. Elenise Scherer,
José Aldemir de Oliveira (Orgs.). – Manaus. EDUA, 2009.
FUNES, A. Eurípedes. Nasci nas Matas, nunca tive senhor. História e memória dos mocambos
do Baixo Amazonas. Tese de doutoramento em História da FFLCH/USP, São Paulo, 1995.
FUNES, Eurípedes. “Nasci nas matas, nunca tive senhor” - História e Memória dos mocambos do
Baixo Amazonas. Tese de doutorado em História, USP,1995.
MATTOS, Hebe. “Remanescentes das comunidades dos quilombos”: memória do cativeiro e políticas
de reparação no Brasil. Revista USP, São Paulo, n.68, p.104-111. Dezembro/fevereiro 2005-2006.
MATTOS, Izilda Maria. História das Mulheres e Genero: usos e perspectivas. IN: Olhares Feministas
/ Hildete Pereira de Melo, Adriana Piscitelli, Sônia Weidner Maluf, Vera Lucia Puga (organizadoras). –
Brasília: Ministério da Educação: UNESCO, 2006.510 p. – (Coleção Educação para Todos; v. 10.
MATTOS, MARIA IZILDA S. de. Por uma História da Mulher. Bauru, SP:EDUSC, 2000.
MEIHY, José Carlos Sebe Bom & HOLANDA, Fabiola. História Oral: como fazer, como pensar. São
Paulo, Contexto, 2011.
O’DWYER, Eliane Cantarino (Org.). Quilombos. Identidade étnica e territorialidade. Rio de Janeiro:
FGV. 2002.
SAMPAIO, Patrícia (Org.). O fim do silêncio – presença negra na Amazônia. Belém: Açaí/CNPq, 298
p., 2011.
SOCOTT, Joan. História das mulheres. IN: BURKE, Peter.(org). A escrita da História: Novas
pesrpectivas. Tradução de Magda Lopes. São Paulo: Editora Unesp, 2011.
SOIHET, Rachel. História das mulheres. IN: Domínios da história: ensaios de teoria e metodologia/
Ciro Flamarion Cardoso, Ronaldo Vainfas (orgs.). - Rio de Janeiro: Campus, 1997.