Diálogo Entre A Linguística e A Pedagogia
Diálogo Entre A Linguística e A Pedagogia
Diálogo Entre A Linguística e A Pedagogia
Faculdades de Letras
(PL2/PLE)
2012
2
Universidade de Lisboa
Faculdades de Letras
(PL2/PLE)
2012
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4
AGRADECIMENTO
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Resumo
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8
Abstract
This paper, in Applied Linguistics, aims at questioning in what ways the textual
genre knowledge informs the practices of language teaching in basic and
secondary schools, including the teaching of Portuguese as a foreign language.
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10
Índice
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12
Capítulo II Apresentação dos dados recolhidos ............................................... 79
1. Abordagem de análise dos dados ................................................................ 79
2. Apresentação dos resultados do inquérito ................................................... 81
2.1 Perfil dos inquiridos .................................................................................... 81
2.1.1 Ordenação por contexto de ensino ......................................................... 82
2.1.2 Ordenação por cilco de estudos .............................................................. 83
2.1.3 Ordenação por tempo de ensino ............................................................. 84
2.2 A voz dos inquiridos: práxis e opiniões ...................................................... 84
2.2.1 Opinião dos inquiridos quanto à autoria do ensino de línguas em Portugal
......................................................................................................................... 85
2.2.2 Projetos interdisciplinares com objetivos linguísticos .............................. 86
2.2.3 Grau de interferência creditado aos docentes de outras disciplinas ....... 87
2.2.4 Fontes utilizadas na seleção de textos escritos e orais ........................... 88
2.2.4.1 Finalidades da obtenção de textos de várias fontes ............................. 89
2.2.5 A escrita de textos individuais ................................................................. 92
2.2.5.1 Atividades de pré-escrita ...................................................................... 94
2.2.6 Escrita de textos coletivos e grau de intervenção do professor............... 96
2.2.6.1 Estratégias de intervenção mais comuns durante a escrita de textos
coletivos ........................................................................................................... 97
2.2.7 A prática de textos orais e as dificuldades apresentadas pelos alunos
portugueses...................................................................................................... 98
2.2.7.1 Fontes utilizadas na seleção de textos escritos e orais ...................... 100
2.2.8 Planeamento: a seleção de textos para o ensino da escrita quanto ao
tema, o tipo de texto e o uso mais comum ..................................................... 103
2.2.9 Os tipos de textos ou géneros .............................................................. 107
13
14
3. O ensino da literacia através de tipos de textos diversos ........................... 118
3.1 Tipos de textos (géneros) mais recorrentes no ensino de línguas ........... 119
3.2 Quanto às principais finalidade para a seleção de textos de diversas fontes
....................................................................................................................... 122
3.3 Sobre a escrita de textos individuais e as etapas da pré-escrita .............. 130
3.3.1 Etapas da pré-escrita dos textos individuais em relação à escrita de textos
coletivos e aos tipos de texto trabalhados ...................................................... 134
3.2 Textos coletivos: análise dos graus de intervenção empregados nesta
modalidade de escrita .................................................................................... 139
3.3 Quais os textos orais mais produzidos e suas dificuldades...................... 141
3.4 Planeamento e as fontes de informação que baseiam a escolha de temas e
tipos de textos (ou géneros textuais).............................................................. 146
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16
Lista de Abreviaturas
LP = Língua Portuguesa
LE = Língua estrangeira
17
18
Lista de figuras, tabelas e gráficos
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Gráfico 14: Fontes usadas na seleção de textos quanto ao tema
Gráfico 15: Fontes para a seleção dos tipos de textos (géneros) ao planear
atividades de escrita
Gráfico 16:Tipos de textos mais recorrentes no ensino de línguas em Portugal
Gráfico 17: Percentagem de inquiridos que determinam o tema mas não o tipo
de texto a ser escrito por ordenação de tempo de serviço
21
22
Introdução
A visão usual e prática da língua vem sendo estudada há muitos anos, Bakhtin
(1986), por exemplo, ao tomar a língua como objeto de estudo disse ser
imprescindível que se determine a natureza dos enunciados estudados, para
que o objeto de estudo (a língua) não fique excessivamente abstrato, mas sim,
o mais próximo da vida, ou seja, da sua função social.
23
com uma 1pesquisa, entre 2000 e 2009, a performance dos alunos portugueses
em níveis de leitura aumentou apenas 1% neste período com base nos últimos
resultados apresentados pelo relatório de PISA2.
“Em todo o mundo, a educação, sob as suas diversas formas, tem por missão
criar, entre as pessoas, vínculos sociais que tenham a sua origem em
referências comuns. Os meios utilizados abrangem as culturas e as
circunstâncias mais diversas; em todos os casos, a educação tem como
objetivo essencial o desenvolvimento do ser humano na sua dimensão
social. Define-se como veículo de culturas e de valores, como construção de um
espaço de socialização, e como cadinho de preparação de um projeto comum.”
(Delors, 1996:51) (sublinhado meu).
O ser humano é por natureza um ser social e a educação não pode ignorar
este fato, por isso, este e outros textos e relatórios costumam marcar
constantemente esta premissa. Talvez seja também por tais razões que, nos
dias de hoje, as teorias que, porventura, mais aceitação tem entre os
educadores são as construtivistas ou as sociointeracionistas, baseadas nas
teorias apresentadas, por exemplo, por Piaget (1959) e Vygotsky (1989)
respectivamente. Ambos teóricos estudaram a linguagem, assim como o
processo de ensino e aprendizagem do ponto de vista biológico, social e
psicológico.
1
Pesquisa realizada pelo professor Ulf Fredriksson, PhD. Associate professor Institute of
International Education (IIE) Department of Education in Stockholm University. Resultados
apresentados pelo autor em Conferência na Suécia, Estocolmo em 15 de maio de 2012.
2
PISA (Programme for International Student Assessment) é um estudo internacional realizado
pela OECD (The Organisation for Economic Co-operation and Development) desde 1997. O
principal objetivo do PISA é mostrar em que medida os alunos, no final da escolaridade
obrigatória, estarão preparados para fazer face às novas exigências da sociedade. Ocorre em
sistemas educacionais ao redor do mundo a cada três anos, avaliando competências dos
alunos com 15 anos de idade em disciplinas essenciais: leitura, matemática e ciências. Em
2009 65 países participaram do exame.
24
relatos de suas experiências, para a compreensão que se tem hoje de como os
seres humanos aprendem e por quais fases de aprendizagem passam no
decorrer de seu desenvolvimento. Piaget, através de inúmeras observações de
crianças em diferentes idades, realizando tarefas simples do quotidiano,
classificou o desenvolvimento humano enquanto pensamento e inteligência, em
quatro estágios: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e de
operações formais. Enquanto Vygotsky (1989) classificou o pensamento
enquanto fases: fase pré-linguística do pensamento, pensamento verbal e
linguagem racional e fase pré-intelectual da linguagem. Esses conceitos não
serão aqui profundamente explorados, porém, estão mencionados por sua
relevância nos avanços entre as teorias psicológicas e também educacionais,
de base epistemológica, biológica e social. Ambos os autores e muito outros
como por exemplo, Henri Wallon (2004), contribuíram para a formação das
teorias genéticas de desenvolvimento psicológico dos seres humanos que, por
sua vez, transformaram o pensar em educação, de forma a se contrapor à
pedagogia tradicional que considerava a punição pelos erros e insucessos
cometidos pelos alunos, uma forma eficaz de ensino, com a qual os
professores podiam classificar, rotular e coagir os alunos, não só em relação à
aprendizagem de conteúdos escolares, mas também como ferramenta
ameaçadora para a manutenção da disciplina nas salas de aula.
25
“The fact that some children can perform tasks like these without any apparent
teacher preparation is one factor behind the constructivism notion that Learning
emerges from within the individual and should not be constrained by teacher
instruction.” (Rose e Martin, 2012:10)
27
avaliação, o desempenho dos alunos em Portugal e em outros países continua
desnivelado e apresenta dificuldades em superar seus problemas. Institutos e
universidades portuguesas dedicam parte substancial da sua investigação na
procura de formas sustentáveis para melhorar o desempenho geral dos alunos
e eliminar, ou pelo menos diminuir, a desigualdade nos níveis de
aproveitamento.
28
No segundo capítulo desta dissertação, apresentam-se os dados da amostra
do inquérito realizado, cujo componente principal foi um questionário enviado
(principalmente por via eletrónica) a centenas de professores de línguas,
denominado ‘O conhecimento genológico (sobre géneros textuais) nas práticas
do ensino de línguas’. (Apêndice I) Neste capítulo apresentam-se os dados
recolhidos e alguns comentários prévios sobre os mesmos.
29
30
Capítulo I
Referências Teóricas
31
palavras resulta da relação de diversos fatores e suas interações com o meio.
Halliday (1985, 1994, 2004) estabelece, na sua base teórica, uma relação
sistemática entre a língua e o ambiente. A sua construção teórica relaciona,
pois, a situação social, o texto, o sistema linguístico e o sistema social; por
outras palavras, Halliday descreve o sistema da língua, (no caso, língua
inglesa) e a formas pelas quais esse sistema se relaciona com os textos. Esta
visão da língua em contexto relacionada com o significado (base semântica) e
com o uso (base funcional), com estreita relação ao sistema social, é portanto,
aquela que aqui se considera ser a mais adequada para a obtenção dos
objetivos educacionais maiores, na senda de outros autores como Rothery:
32
“Given the framework of a model with sociocultural orientation to meaning such
as the systemic functional model, there exists the rich possibility for developing
an alternative perspective on language and learning (...) A strong and rich model
of language description enables us to model the curriculum in terms of its literacy
requirements, to map possible paths of development in literacy and learning and
to develop criteria for assessment and evaluation.” (Rothery,1996:87)
33
modo
campo
ideacional
relações interpessoal
Como Halliday (1985, 1994, 2004) considera a língua um recurso para fazer
significados, sua perspectiva gramatical considera o papel dos itens linguísticos
de um texto em relação às suas funções na construção de significados. Por
esta razão, a classificação e nomeação dos itens linguísticos são baseados nas
respectivas funções que realizam.
34
realização social semiótica, dialógica e interativa. Portanto, pode-se dizer que é
uma realização dos tipos de contextos, e consequentemente, da atuação dos
membros culturais envolvidos em dada situação.
35
1.3 Conceito de Género Textual
género
Género
modo
Meta redundância
campo registo (realização)
ideacional
língua
relações
interpessoal
Figura 2: Língua em relação ao registo e género (Martin,1996:307 apud E. Pedro) – trad. minha
36
A cultura, conceito sempre de manuseamento difícil, encontra aqui uma nova
abordagem:
“... os sistemas linguísticos são estruturados pelo uso. E esse uso, enquanto
actividade de produção textual, faz-se em função de e no seio de contextos
particulares (...) De facto, um texto ocorre sempre em dois contextos, um dentro
do outro: o contexto de situação e o contexto de cultura.” (Gouveia, 2009:1-2)
“From time to time, we need to sit down, ponder the possibilities for the harvest,
and change course if we find our present direction is not leading us where we
need to go.” (Rivers,1983:133)
Apesar deste objeto de estudo ser tão flexível, devido à evolução constante das
línguas, acreditamos ser de grande valia investir na classificação e ensino de
37
géneros em contexto escolar, com o intuito de melhorar o nível de formação
académica dos alunos. Uma vez que os géneros servem às necessidades
sociais, ter habilidades para expressar-se através da linguagem permite ao ser
social (aluno) compreender e participar de contextos sociais em que emergem
os diferentes géneros.
38
3
Figura 3 – Estratificação da linguagem segundo a LSF
3
Modelo apresentado em seminário em Lisboa, em 15 de dezembro de 2011.
39
Firth, Hasan, Martin, Christie, Rose entre outros contribuíram para a formação
do que é hoje mais largamente conhecido como ‘Register and Genre Theory’
(R>), (Eggins e Martin, 1997) ou, em português ‘Teoria do Registo e do
Género’ (TR&G) (Avelar, 2008).
40
A aprendizagem da leitura e escrita (literacia), sob este olhar, tem caráter de
processo e não é vista como produto a ser analisado. Essa é uma forma
simplista de explicar o conceito acima; ao refletirmos sobre textos escritos, o
processo pode ocorrer de outras formas, pois o escritor realiza os enunciados
com mais tempo de preparo, do que na fala espontânea; o que queremos
realçar com esta afirmação é que os géneros estão intimamente ligados ao
contexto e aos participantes, ou atores sociais.
A TR&G foi investigada através da comparação de diversos textos escolares,
na busca de encontrar diferenças e similaridades. Três áreas de investigação
foram utilizadas por Eggins e Martin (1997) com o objetivo de descrever formas
linguísticas (palavras e estruturas) são elas: formalidade textual, expressão da
atitude e conhecimento prévio, em uma primeira etapa da análise. A segunda
etapa constituiu na tentativa de explicar as diferenças linguísticas encontradas
na primeira etapa. Uma das conclusões deste estudo relaciona-se ao contexto:
“Our explanation has highlighted a very important observation about the text: that
each text appears to carry with it some influences from the context in which it was
produced. Context, we could say, gets ‘into’ text by influencing the words and
structures that text-producers use.” (Eggins e Martin, 1997:232)
41
(1985, 1994, 2004): modo, relações e campo, assim como suas respectivas
metafunções: textual, interpessoal e ideacional. Entretanto, como vemos na
figura 4 sugerida por Martin (1992, 1997) há um novo conceito representado
por um círculo que envolve toda a organização da linguagem: o género. Como
pode ser observado no gráfico a seguir.
Figura 4 – Género em relação ao Registo (Eggins and Martin, 1997:243) – trad. minha
“P register and genre variation are two realizational planes in a social semiotic
view of the text. This view is inherently dialogic and interactive: text is both the
42
realization of types of context, and the enactment of what matters to cultural
members in situations.” (Eggins e Martin 1997:251)
“Across a range of learning areas these documents state, not only that language
is learned through use, but it varies according to the context in which it is used.
This approach to language development is in marked contrast to that of earlier
decades where school subject English or Language Arts, was seen to have sole
responsibility for language developmentP” (Rothery,1996:86)
43
Na escola professores e alunos envolvem-se por meio de diferentes tipos de
texto, falados e escritos, em diversos contextos de acordo com as
necessidades dos níveis de escolaridade e da parte do currículo em questão.
Segundo a perspectiva sistémico-funcional, os alunos desenvolvem a escrita
gradualmente, e vão aos poucos, incluindo as características gramaticais
aprendidas em seu discurso argumentativo, até atingirem o nível de escrita
académica, e serem capazes de sintetizar um maior número de informações
em cada frase, adotando as propriedades estruturais e semânticas adequadas.
44
nos sistemas escolares que causam o fracasso de muitos alunos. Segundo
Rothery (1996:107) professores de vários estados australianos que testaram a
pedagogia baseada na TR&G, concluiram, através da prática, que a concepção
da pedagogia linguística com base genológica fornece estratégias para
planeamento, ensino e avaliação das aulas que promovem o desenvolvimento
da aprendizagem e da linguagem.
45
A abordagem de base genológica está estruturada segundo um esquema que
envolve quatro etapas que abaixo sintetizo:
46
Figura 5: Literacy in Society: The teaching cycle (Rothery, 1996:102)
O formato circular do esquema foi assim posto para indicar que há sempre a
possibilidade de voltar a uma ou outra etapa, dependendo do desenvolvimento
dos alunos no tópico (campo), constantemente avaliado pelo professor.
4
A metalinguagem a que nos referimos será apresentada mais adiante na secção 3.2
47
precisam estar familiarizados com o tema que envolverá a produção de textos,
para que sejam capazes de produzir textos de um determinado género de
forma eficaz. Os géneros são previamente escolhidos pois devem estar em
concordância com os objetivos do currículo para cada nível de escolaridade. A
etapa de negociação do campo envolve a construção de conhecimento sobre o
tema entre professor e alunos. É fundamental, nesta etapa, que o professor
conduza as aulas partindo do conhecimento prévio dos alunos e, dependendo
do tema, das suas experiências não escolares para envolve-los na
aprendizagem, além de aos poucos, introduzir o conhecimento curricular,
formal, necessário para a obtenção dos objetivos educacionais. Ao mesmo
tempo, professor e alunos estão construindo o conhecimento do campo e
aprendendo/ensinando a linguagem usada em determinada área de
conhecimento da língua em questão. Nesta etapa o objetivo do professor é
preparar os alunos para a leitura de um texto modelo do género selecionado.
“P as the work progresses the teacher will need to take a more strongly guiding
role in pointing students towards types of texts and areas of knowledge relevant
to understanding the text or texts students need to read in the Deconstruction
stage.” (Rothery, 1996:103)
48
selecionados pelo professor, serão lidos e desconstruídos em conjunto pelo
grupo de alunos e professor. Além de serem, por motivos óbvios, relacionados
ao tema discutido na fase de negociação do campo, os textos modelo devem
ser bons exemplos do género, para que a fase de desconstrução seja
completa. Reservaremos uma secção mais adiante para tratar da seleção de
textos. Esta etapa deve levar em conta o contexto cultural, ou seja, definir o
propósito social do género, quem os utiliza e por quais razões; e também, os
estágios de organização do texto, quanto às suas funções, às características
linguísticas e à relação entre escritor e leitor. Nas atividades e discussões que
envolverão a desconstrução do texto, o professor apresentará a
metalinguagem referente ao género que será de grande importância para a
etapa seguinte do processo, a construção conjunta.
49
independentemente, do quão próximo ou não eles estão do objetivo final da
etapa.
50
respostas dos diversos alunos.
51
integrada na aprendizagem da língua como um meio para atingir um fim. Deve
decidir-se (de forma consciente ou não) que competências, tarefas, actividades e
estratégias, como objectivos ou como meios, deverão ter algum papel no
desenvolvimento de um dado aprendente.” (Conselho da Europa, 2001:29)
52
3. Desenvolvimentos programáticos do pensamento genológico
Este programa teve início há mais de dez anos, envolve professores do ensino
primário, secundário, médio e universitário na Austrália e em outros países, tem
53
por objetivo integrar a leitura e a escrita ao ensino curricular durante todo o
percurso escolar e em todos os níveis. As estratégias incluem avançadas
pesquisas sobre língua e sobre aprendizagem em sala de aula em consonância
com o currículo pré-estabelecido. Acredita-se que seja um modelo digno de ser
apresentado pela sua formatação acessível, prática e que visa atender às
necessidades de professores e estudantes, através de bases linguísticas
sólidas, já que tem a chancela, entre outros, dos linguistas J. Martin e D. Rose.
Um dos procedimentos do programa R2L consiste em desafiar os estudantes
com textos cada vez mais complexos, tendo em conta o nível de cada grupo
e/ou individuo. O programa apresenta-se ambicioso, ao desafiar os alunos a
todo momento com textos mais complexos; todavia, é sustentado numa
pedagogia que dá todo o suporte necessário à aprendizagem dos géneros
textuais escolares, ensinando língua para facilitar a aprendizagem eficaz de
todas as matérias escolares. Isso se dá através de um programa que visa
deixar os alunos continuamente engajados e preparados para superar cada
etapa.
5
Este projeto consiste na exploração da pedagogia linguística baseada num modelo funcional
da língua e terá duração de dois anos, tendo sido recomendado pelo projeto Comenius:
European Core Curriculum for Mainstreamed Second Language – Teacher Education
54
3.1 As famílias genológicas
55
‘descriptive’; ou podem descrever várias coisas ‘classifying or taxonomic’; e
textos que descrevem partes de um todo ‘compositional’. Estes tipos de textos
são comumente encontrados em disciplinas escolares como ciências,
matemática e outras.
‘Instruir’ textos com função instrutiva, por sua vez, podem ser textos que
explicam como realizar uma atividade, ‘procedure’ por exemplo, receitas,
experimentos, algoritmos; textos que informem o que se deve ou não fazer,
‘protocol’ como regras, avisos e leis; e também textos os quais, recontam como
procedimentos foram realizados ‘procedural recount’, por exemplo, um texto
que informe como uma experiência científica tenha sido realizada na prática.
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Tabela 1 – Adaptação do Mapa de géneros na escola “Map of genres in school” (Martin e
Rose, 2012:312) apresentado por D. Rose em Conferência do Projeto Tel4ELE, em Portugal
em 15 de dezembro de 2011.
57
Os estágios sugeridos para cada género são altamente variáveis e não
precisam, necessariamente, aparecer no mesmo parágrafo. Da mesma forma
que todo texto passa por uma série de estágios para atingir seu objetivo final.
Os passos mais facilmente reconhecidos em um texto são denominados
‘stages’ ou seja, estágios. Em uma narrativa, por exemplo, e como se pode
confirmar no quadro 1 os estágios são ‘orientation’, ‘complication’ e ‘resolution’
(orientação, complicação e resolução).
Os estágios são compostos por fases, e todas estas partes do texto que se
permeiam para construir significado foram nomeadas, com objetivos didáticos
para este programa, essa nomeação chama-se metalinguagem e precisa ser
ensinada clara e explicitamente, como descrito a seguir.
58
Isso vem reforçar a ideia da necessidade de oferecer aos professores mais
conhecimentos linguísticos em sua formação, seja na licenciatura, seja em
programas de educação continuada. Se o responsável pelo ensino não tem
pleno domínio da língua que ensina, seja de ensino de língua materna ou não,
não poderá formar leitores e escritores conscientes e capazes de usar a língua
em questão de forma clara e eficiente. Não se trata apenas de conhecer toda a
gramática, estruturas de frases e modelos de texto, trata-se de serem
profissionais tão competentes quanto um linguista, para interpretar, inferir,
discernir, avaliar os textos com os quais trabalha para poder formar cidadãos,
pessoas capazes de ler as entrelinhas, de fazer uso dos recursos linguísticos,
como as metáforas, por exemplo, de forma consciente.
context
patterns
text within
paragraph the text
sentence patterns
within the
word group sentence
word
syllable patterns
letter pattern
within
the word
59
A seta indica que o contexto move-se de cima para baixo, permeando cada
etapa do modelo. Ao pensar o ambiente educacional, o contexto encontra-se
no tópico ou matéria escolar, nos participantes envolvidos no texto, e também
nos propósitos sociais inseridos no texto, ou seja, aquilo que os leitores,
escritores, falantes e ouvintes querem atingir.
Considerando o contexto escolar, ao comparar a organização tripartida da
língua segundo Halliday com a proposta deste modelo funcional de estudo da
linguagem temos:
O estudo dos padrões na instância das palavras está posto por último, mas é
tão importante quanto os outros para uma comunicação eficaz em qualquer tipo
de género textual. Além da aprendizagem de vocabulário, a instância das
palavras envolve o ensino da ortografia, relação grafia e som, consciência
fonética, acentuação, entre outros, dependendo da língua em questão.
61
A aprendizagem da grafia, fonética, ortografia é mais abstrata, por isso,
aparentemente menos interessante, mas ao perceber a dependência dessa
aprendizagem para conseguir produzir significado, ou seja, produzir textos
compreensíveis a quem os vai ler ou ouvir, a aprendizagem das características
mais minuciosas da língua, sejam elas estruturas gramaticais, fonéticas,
silábicas, ou outras torna-se significativa e indispensável para o processo de
ensino-aprendizagem.
Foi a partir dos propósitos sociais dos textos que se fez o agrupamento de
textos em géneros textuais, e também foi a partir daí, que J. Martin e D. Rose
(2008) definiram os géneros textuais escolares para a língua inglesa. O
contexto da situação primeiramente sugerido foi engobado ainda pelo contexto
da cultura, já que vivemos em um mundo globalizado.
“As línguas são os vetores das nossas experiências, dos nossos contextos
intelectuais e culturais, dos nossos modos de relacionamento com os grupos
humanos, com os nossos sistemas de valores, com os nossos códigos sociais e
sentimentos de pertencimento, tanto no plano coletivo como individual. Sob o
ponto de vista da diversidade cultural, a diversidade linguística reflete a
adaptação criativa dos grupos humanos às mudanças no seu ambiente físico e
social. Nesse sentido, as línguas não são somente um meio de comunicação,
62
mas representam a própria estrutura das expressões culturais e são portadoras
de identidade, valores e concepções de mundo.” (UNESCO, 2009:12)
“Crucial to this is the talk around the text that many parents do with their children,
discussing the meanings in stories as they read. This preparation gives these
children an immense advantage when they start school” (J. Martin, seminário em
Lisboa, dia 15 de dezembro de 2011).
Nos primeiros anos escolares todas as crianças devem ser preparadas para se
tornarem leitores independentes, sejam quais tenham sido as suas
experiências fora da escola; positivas ou negativas, mais ou menos ricas ou
mesmo inexistentes, todas devem chegar o mais próximo possível dos
objetivos curriculares de cada nível escolar. Na segunda fase do ensino básico,
os alunos devem adquirir a habilidade de aprender a aprender através da
leitura, enquanto no ensino secundário a leitura torna-se uma habilidade
fundamental de aprendizagem.
64
“Successful readers spend six years developing their reading and writing skills
across the curriculum, so that they are well prepared for independent study at
university.” (D. Rose, seminário em Lisboa, dia 15 de dezembro de 2011)
65
pano de fundo o conteúdo curricular; iniciá-los na linguagem mais apropriada
para o tópico (conteúdo linguístico) e envolver todos no processo é uma das
exigências principais se colocadas a um professor que abrace esta pedagogia.
Esta estratégia também serve para promover a confiança do grupo, pois ao ter
as perguntas formuladas previamente, o professor já pensou nos seus alunos
que precisarão de apoio, e nos que precisarão ser desafiados, podendo incluir
no seu planeamento ferramentas suficientes para envolver a todos e manter o
grupo disciplinado. Todo o planeamento se faz, portanto, de forma circular,
como representado no gráfico abaixo.
Preparação Tarefa
Elaboração
Figura 7 – Etapas de apoio (Scaffolding learning cycle, apresentado por Martin e Rose em
Conferência do Projeto Tel4ELE, em Portugal em 15 de dezembro de 2011) trad. minha
66
aprendizagem dos conteúdos curriculares ao mesmo tempo que se ensina a
linguagem específica de disciplina. Daí a importância de se pensar o ensino
como algo cíclico, que pode ir e voltar dependendo das necessidades e/ou
barreiras encontradas no caminho em qualquer nível de aprendizagem, de
forma coletiva ou individual. Sendo assim, ao planear uma unidade didática, o
professor deve considerar que a preparação conterá diversas tarefas
elaboradas tanto anteriormente, como no decorrer da unidade e assim por
diante, e que podem ser interrompidas, ou mesmo repetidas, para que todos os
alunos atinjam o objetivo de aprendizagem em todas as unidades.
O mesmo pode ocorrer em uma aula, que geralmente envolve mais de uma
tarefa, para garantir que todos os alunos acompanhem as etapas de realização
de uma tarefa, seja ela de leitura, escrita, interpretação ou que envolva a
aquisição de conhecimentos específicos do conteúdo através das mais
diversas técnicas escolhidas pelos professores para suas turmas, a
flexibilidade cíclica desta forma de ver a sistematização da aprendizagem
ensina ao professor como e quando, pode ou deve, ir e vir dentro do ciclo.
Novamente, a diferença está em planear-se para que todos os alunos se
encontrem preparados para atingir os objetivos específicos de cada tarefa.
Assim que podemos concluir que o trabalho do professor antes das aulas é
bastante maior se feito desta forma, e como tudo o que se aprende na vida,
67
leva tempo de adaptação, esforço e flexibilidade, mas não se pode perder o
foco: diminuir as diferenças de desempenho existentes dentro das salas de
aula.
O projeto R2L inclui três níveis de apoio que podem ser integrados nos
programas de ensino em vários momentos. Este organiza-se em torno de
etapas ou níveis que passo a referir:
68
aplicadas diariamente no ensino primário e semanalmente no ensino
secundário.
Figura 8 – Três níveis de estratégias no programa R2L (Three levels of Strategies in Reading to
Learn) (Martin, 2012:147) – trad. minha
69
As etapas do ciclo devem ser interpretadas de fora para dentro, na figuração,
pelo que a primeira parte será dedicada ao ciclo de cor verde composto pela
preparação antes da leitura ou desconstrução, construção conjunta e escrita
independente. Mais adiante, dedica-se ao segundo ciclo, em vermelho,
designadamente leitura detalhada, escrita conjunta e reescrita individual, e em
seguida, ao terceiro ciclo, amarelo, referente a construção de frases, ortografia
e escrita de frases.
Como se pode observar, há em azul um outro círculo que está ligado aos
restantes, representando os fatores responsáveis pela organização,
sistematização, planeamento e avaliação de pedagogia a que se refere. Este
círculo e suas componentes estão mencionados em cada nível, já que são
interdependentes, e mesmo assim, serão explorados mais adiante na secção
que tratará da avaliação.
70
um texto para que sirva de modelo para a escrita do género a ser aprendido. A
partir deste modelo, os alunos irão construir um texto em conjunto (do mesmo
género).
Este primeiro nível é o que está mais intimamente ligado ao currículo escolar,
ao planeamento das aulas e à seleção dos textos usados para ensinar e avaliar
o que os alunos aprenderam.
71
tanto os alunos mais avançados, quanto os que precisam de maior suporte,
para gradualmente diminuir a distância entre eles.
Após ter o texto todo sublinhado, o professor guiará os alunos para uma
Construção Coletiva deste pequeno excerto de texto. Neste momento, os
alunos vão emprestar, do texto lido, as estruturas sofisticadas que estão lendo,
provavelmente, pela primeira vez. Esta preparação e leitura têm como foco o
género do texto modelo, e as fases e passos de cada estágio. Esta mesma
técnica pode ser usada depois pelos alunos na Escrita Individual.
“In sum, where wordings are comparatively easy to read and understand, they
can be prepared with literal ‘wh’ cues; but where they may not be understood,
they are prepared with synonyms or paraphrases. (P) Any text worthy of
Detailed Reading will involve inferential and interpretative levels of meaning that
are scaffolded in elaborations, even where the literal wordings are apparently
transparent.” (Martin e Rose, 2012:158)
72
por todos os alunos. As estratégias para se chegar ao objetivo desta atividade
vão variar de acordo com a disponibilidade de materiais e com as habilidades
dos diversos grupos de alunos, o importante é que eles sejam capazes de
manipular a língua contida naquelas frases de forma a reconstruí-las utilizando
os mesmos grupos de palavras e mais, que sejam levados a perceber que o
significado das palavras pode mudar, ou não fazer sentido se postos de outra
maneira.
73
contexto e fora de contexto, e de como os autores em um ou outro género
fazem uso das palavras para produzir significados.
74
espera-se que seja um texto interessante e bem escrito, para engajar os alunos
nas atividades
O terceiro critério, não menos importante, é o modo, pois é o que define o nível
da linguagem textual apropriada para cada estágio de aprendizagem, nível
escolar e idade dos alunos. É importante que os textos sejam apropriados ao
nível escolar, mas também, que sejam desafiadores, sugere-se que os textos
trabalhados em sala de aula sejam sempre um nível superior ao nível de leitura
independente da média dos grupos.
75
4.3 Avaliação da leitura e escrita
76
O significado inferencial, por sua vez, não está explícito no texto como o literal,
e pode estar em outros lugares, outras frases ou palavras, secções do texto, ou
mesmo em ilustrações. Este significado envolve também a aprendizagem de
metáforas, expressões idiomáticas, expressões fixas, parábolas, entre outros
recursos linguísticos usados na escrita dos textos. Para a compreensão destes
recursos os alunos precisam aprender como relacionar o significado literal das
palavras e o significado inferencial, ou seja, o que significa, mas não está
necessariamente expresso em palavras.
77
do professor, ao invés de levar os alunos às respostas corretas, pode-se
sugerir que trabalhem em grupos e discutam as respostas antes de as
anotarem. Depois que todos os alunos tenham a compreensão necessária dos
diferentes significados e possam responder perguntas de compreensão de
texto independentemente, em um ou outro género a ser trabalhado, é que se
usa os testes de compreensão da escrita como ferramenta avaliativa.
Para que o ensino ocorra em via dupla e através de discussões sobre como
funcionam as línguas, usa-se a metalinguagem funcional, que segundo os
próprios autores não vem substituir os nomes tradicionais das partes do
discurso, mas sim, adicionar-se a eles e organizá-los, para que possam ser
usados de forma consciente e explícita. Além disso, o foco desta
metalinguagem não poderia ser outro que senão, o significado, os reais
significados das estruturas de linguagem que encontramos ao ler e utilizamos
ao escrever.
78
Capítulo II
79
Para o efeito, analiso o inquérito respondido por professores de língua
(materna ou não) que revela elementos significativos para o estabelecimento
de nexos entre as novas propostas curriculares e a praxis. Destaco aqui, três
competências gerais, pregadas pelo Currículo Nacional, aquelas quais
colaboram para a justificação e análise desta pesquisa:
Fazer chegar o questionário aos professores não foi uma tarefa fácil, mas com
a colaboração de colegas ligados ao ILTEC6, professores portugueses do
6
ILTEC: Instituto de Linguística Teórica e Computacional.
80
ensino básico e secundário, e alguns centros de formação de professores
conseguimos atingir o número significativo de 160 respostas.
O questionário teve por objetivo principal indagar sobre o modo como o
conhecimento genológico informa as práticas de ensino das línguas no ensino
básico e secundário, incluindo o ensino de português língua não materna.
As primeiras questões são dedicadas à apresentação dos inquiridos, mesmo
que anónimo, o questionário foi montado de forma a oferecer informações
sobre o contexto de ensino, os ciclos nos quais realizam suas atividades, assim
como, o ano de formação aproximado dos inquiridos.
81
Sabe-se que muitos professores de línguas costumam trabalhar em mais de
um contexto de ensino ao mesmo tempo, por exemplo, professores de
português como língua materna (doravante PLM), podem perfeitamente serem
professores de português como língua não-materna (doravante PLNM) ao
mesmo tempo. Da mesma forma que podem atuar em diferentes ciclos em um
mesmo ano letivo. Sendo assim, os inquiridos puderam assinalar mais de uma
opção quanto ao contexto de ensino e aos ciclos de estudos portugueses,
consequentemente, a percentagem dos dois primeiros gráficos apresentados
pode somar mais do que 100%. Este fato se repetir-se-á ao longo do
questionário, para todas as perguntas de escolha múltipla, cujas respostas,
possam conter mais de uma alternativa assinalada.
Uma primeira arrumação dos inquiridos que importa apreciar é feita a partir do
contexto de ensino em que os inquiridos desenvolvem a sua atividade.
PLNM 39%
62
PLE 19%
30
LE 31%
50
PLM 74%
118
82
necessariamente em escolas regulares, esta percentagem minoritária pode
significar que os professores de PLE em Portugal atendem a uma pequena
parcela de crianças e jovens em idade de escolarização básica e secundária,
ou também, que este último grupo de professores esteja à margem da
formação continuada de professores e do contato com outros professores e
instituições de formação, tendo menores oportunidades de responder ao
questionário.
53%
secundário
84
54%
ciclo 3
86
18%
ciclo 2
28
9%
ciclo 1
14
83
2.1.3 Ordenação por tempo de ensino
64%
mais de 15 anos
106
15%
entre 10 e 15 anos
22
12%
entre 5 e 10 anos
18
9%
5 anos ou menos
14
Nesta secção apresento as repostas que trazem à luz a práxis realizada nas
salas de aula portuguesas, o que revela por um lado, parte7 da formação dos
7
Uso a palavra parte porque a formação de um professor não se limita à formação
linguística.
84
professores, e por outro, abre os caminhos para futuras propostas de formação
continuada, no que concerne ao ensino de línguas.
1; 81%
85
O quadro 1 (apêndice II) contém as justificativas dadas pelos inquiridos em
relação a esta resposta, nomeadamente quais os responsáveis pela autoria do
ensino das línguas e seus porquês. Note que ambas as respostas eram
obrigatórias. As respostas SIM/NÃO da quarta coluna explicam-se: SIM,
considero as aulas de língua, as únicas responsáveis pela aprendizagem do
conteúdo programático da disciplina e NÃO, considero que todos os
professores sejam responsáveis pelo ensino da língua, independentemente da
disciplina que ensinem. Para facilitar o trabalho de análise, as justificativas
foram agrupadas; primeiramente, todas as respostas afirmativas ‘SIM’ e
posteriormente, as negativas ‘NÃO’. Em negrito, no quadro 1, encontram-se as
frases consideradas mais relevantes para futura análise entre as diversas
respostas.
Após descobrir a opinião dos inquiridos quanto à autoria do ensino das línguas
importa verificar quantas vezes por ano os inquiridos desenvolvem projetos
com colegas de outras disciplinas, tendo em vista a formação linguística dos
alunos. A pergunta foi assim elaborada para que os projetos com foco cultural,
de cidadania, entre outros, muito comuns e igualmente importantes, mas que
não contenham ao menos um objetivo linguístico, fossem desconsiderados
pelos inquiridos. Os resultados estão expostos no gráfico a seguir.
Envolvimento em projetos
interdisciplinares
Série2 Série1
8
Gráfico 5: Envolvimento em projetos interdisciplinares.
8
Duas das respostas não foram consideradas por não conter o conteúdo numérico
solicitado.
86
Em linhas gerais, a maioria dos inquiridos (74%) não realiza projetos em
comum com outras disciplinas tendo em vista objetivos de ensino das línguas,
ou então, realiza apenas de um a dois projetos interdisciplinares por ano letivo.
Dado que 81% dos professores acredita que o ensino das línguas possa ser
partilhado entre todos os professores, como foi constatado, essas informações
me parecem um tanto adversas e serão analisadas no capítulo III.
87
Grau de interferência creditada aos
docentes de outras especialidades.
Série2 Série1
6%
NÃO SÃO CAPAZES DE CONTRIBUIR
10
60%
SIM, SÃO CAPAZES DE CONTRIBUIR
96
O quadro 2 combina as duas respostas para facilitar futura análise dos dados,
contendo informações sobre a opinião quanto à autoria do ensino de línguas
em Portugal, representada no gráfico 4; e quanto ao grau de interferência
creditada aos professores de outras especialidades sobre esta questão. O
quadro foi dividido de acordo com as respostas SIM e NÃO respectivamente,
para facilitar a posterior análise.
Depois de obter dados sobre a opinião dos professores, as duas questões que
seguem fornecem informações sobre as fontes utilizadas pelos inquiridos para
a seleção dos textos escritos e orais que utilizam em sala de aula e
consecutivamente, as finalidades pretendidas para o uso de tais textos. O
88
quadro 3 (apêndice IV) traz estes dados, apresentados quanto às diferentes
categorias de tempo de profissionalização, o que será útil para a análise
posterior. Neste momento, apenas apresento os dados gerais.
Dos 160 inquiridos, apenas quatro responderam somente fazer uso de textos
escritos e orais trazidos nos manuais escolares adotados. Todos os outros
professores, eventualmente, obtêm, em outras fontes, textos escritos e orais
que possam ser utilizados em sua prática docente. Ao buscarem modelos de
textos em outras fontes, os inquiridos demonstram que, conscientemente ou
não, há necessidade de fornecer aos alunos vários modelos dos tipos de textos
(géneros) trabalhados.
89
Seleção de textos: finalidades
G 2%
3
F 46%
74
E 55%
88
D 75%
120
C 68%
109
B 68%
108
A 88%
140
Série2 Série1
A resposta mais popular entre os inquiridos foi a primeira, 88% dos inquiridos
buscam textos de outras fontes para que seus alunos tenham mais material de
leitura em relação ao conteúdo que está a ser abordado.
90
Muitos deles, 68% dos inquiridos, fazem uso de tais textos para a reflexão
sobre a estrutura textual e os usam como material de leitura para formação de
modelos autênticos e atuais dos tipos de textos trabalhados. Considero este
um número significativo na obtenção de melhores resultados de aprendizagem
da literacia em Portugal, pois tanto o exercício da reflexão sobre as estruturas,
quanto o uso de modelos autênticos nas salas de aula são etapas
fundamentais para a melhor formação linguística dos professores.
Por fim, há que considerar as três respostas dadas por inquiridos na opção
‘outros’, transcritas a seguir: “Para reescrever criativamente, resumir, sintetizar,
esquematizar, parafrasear e outras transformações de texto (de narrativo para
dramático) ”; “Para alargar horizontes culturais.”; “Fomentar o gosto pela leitura e
escrita.”
91
Os 2 últimos citaram questões importantes, mas que não são tratadas
especificamente nesta dissertação, as questões culturais e o gosto pela leitura,
ambas atuais e necessárias. A primeira entretanto, usa técnicas muito ligadas à
linha de pesquisa aqui apresentada como a reescrita, o parafrasear e o uso,
mesmo que inconsciente de géneros textuais “P de narrativo para dramático.”
92
Número de textos individuais escritos
por ano letivo
Série2 Série1
1Xaula 2%
3
anulados 3%
5
36 textos 3%
4
20 textos 8%
12
18 textos 1%
2
15 textos 4%
6
12 textos 10%
16
10 textos 25%
40
9 textos 4%
6
8 textos 6%
10
6 textos 17%
27
5 textos 8%
12
4 textos 5%
8
3 textos 6%
9
Gráfico 8: Número de textos individuais escritos por ano letivo segundo os inquiridos.
93
2.2.5.1 Atividades de pré-escrita
O gráfico revela 132 inquiridos (83%) que determinam o tema e/ou título do
texto + o tipo de texto, não permitindo ao aluno usar da sua criatividade para a
escolha de um tema na produção dos textos trabalhados; 116 inquiridos (73%)
afirmam fornecer informações sobre o tema sugerido, assim se estes últimos
assinalaram também a primeira alternativa, podemos concluir que trabalha-se
muito com atividades dirigidas para a construção de textos bem específicos, e
94
que se valoriza a necessidade de prover conhecimento sobre o conteúdo a ser
escrito.
Atividades de pré-escrita
Série2 Série1
J 10%
16
I 26%
42
H 65%
104
G 24%
38
F 73%
116
E 65%
104
D 64%
102
C 45%
72
B 25%
40
A 83%
132
Gráfico 9: Atividades mais comuns realizadas pelos inquiridos antes da escrita de textos.
Outro dado significativo vem dos 104 inquiridos (65%) que afirmam escrever
textos colectivos para ensinar como devem ser escritos os diversos tipos de
texto (estrutura textual), o mesmo número de inquiridos fornece informações
sobre o tema sugerido. Um número muito próximo a este, de 102 inquiridos
(64%) afirma analisar e desconstruir um modelo do tipo de texto trabalhado.
Considero as três práticas de imenso valor na obtenção de melhores resultados
nacionais para o processo de ensino e aprendizagem das línguas.
Quanto à opção, ‘determino o tipo de texto a ser escrito mas, deixo o tema à
escolha dos alunos’, assinalada por 72 inquiridos (45%) demonstra que alguns
inquiridos têm maior preocupação com a forma do que com o conteúdo,
saberemos adiante se esta visão está misturada entre as categorias de
ordenação do perfil.
95
pesquisem outros modelos do tipo de texto sugerido; escrever textos colectivos
para ensinar quais os propósitos sociais de um certo tipo de texto. Tais práticas
podem revelar avanços no caminho à excelência em ensino de línguas,
promovidas, também, por influência de outras linhas de pesquisas anteriores à
pedagogia linguística, as quais já mencionei no primeiro capítulo.
O dado mais geral é coerente, já que um texto por período pode fazer sentido
dependendo do nível de estudos que representam, e do tipo de texto a ser
trabalhado. Os outros números propostos não me parecem, no momento,
coerentes a nenhuma linha teórica, o que pode se relacionar a muitas variantes
do ensino. Deixo portanto, deixo a discussão mais aprofundada desses dados
para o próximo capítulo.
96
Escrita de textos coletivos
Série4 Série3 Série2 Série1
9% 14
10 textos coletivos
3% 4
8 textos coletivos
8% 12
6 textos coletivos
6% 10
5 textos coletivos
10% 16
4 textos coletivos
26% 42
3 textos coletivos
14% 22
2 textos coletivos
9% 14
1 texto coletivo
16% 26
nenhum texto coletivo
Gráfico 10: Média de textos coletivos escritos por alunos portugueses em um ano letivo
Esta questão não era de resposta obrigatória, uma vez que se os inquiridos
podem não utilizar textos coletivos em suas aulas, por outro lado, a questão
permitia assinalar mais de uma alternativa.
Como previsto os 26 inquiridos que afirmaram não utilizar textos coletivos para
o ensino de línguas nas suas aulas, consequentemente, não responderam a
esta questão. Estes dados podem ser verificados no quadro 5 que contém o
número de textos coletivos escritos por ano letivo e as respectivas respostas
quanto às estratégias de intervenção.
97
Os outros inquiridos dividem-se em 34% de professores que usam, mais
frequentemente, a estratégia de guiar toda a turma na construção de um só
texto coletivo, em percentagem muito próxima, 32% dos inquiridos costumam
pedir a grupos de alunos que construam os textos coletivos e os monitoriza,
auxiliando na construção do tipo de texto pedido.
Textos escritos e textos orais têm o mesmo peso e medida no ensino das
línguas se se adotar uma qualquer das abordagens de ensino
98
contemporaneamente dominantes, designadamente as de base genológica.
Perguntei, portanto, aos inquiridos quais textos orais seus alunos praticam em
aula. Consequentemente, os indaguei sobre as diversas dificuldades
apresentadas pelos alunos na produção destes textos, já que sabemos que
estes, ainda não representam géneros escolares privilegiados, apesar de
aparecerem no Currículo Nacional, diretrizes para as competências do modo
oral no ensino da língua portuguesa (2001:32) e também, através das diretrizes
para a comunicação, expressas repetidamente na parte dedicada ao ensino
das línguas estrangeiras (2001:38-54).
Outro 5%
8
Dramatizações 65%
104
Seminários 16%
26
Apresentação 85%
136
Debate 71%
114
Discurso 35%
56
Entrevistas 51%
82
Diálogos 78%
125
99
O gráfico 12 expõe os dados assinalados pelos professores, revelando maior
preferência pela forma oral de apresentação de pesquisa, 85% dos inquiridos;
seguida pelos diálogos, muito comuns em aulas de LE e PLE, 78% dos
inquiridos; e pela promoção de debates, 71%.
100
O gráfico 13 quantifica as dificuldades mais comuns agrupadas da seguinte
maneira:
A. Vocabulário pobre ou inadequado
B. Incorreção gramatical / dificuldades sintáticas
C. Dificuldades com ortografia, pontuação e acentuação
D. Dificuldades de pronúncia ou fluência
E. Dificuldades quanto ao tema ou quanto ao conteúdo e falta de
criatividade
F. Interferência linguística (entre línguas maternas e não-maternas)
G. Desenvolvimento estrutural do texto, coerência de discurso,
argumentação critica, sistematização das ideias, coesão e coerência
H. Compreensão dos modelos, géneros textuais e das tarefas
I. Desenvoltura e postura na prática oral.
J. Planificação e uso de suporte escrito
J 10%
16
I 29%
46
H 16%
26
G 51%
82
F 4%
6
E 10%
16
D 8%
12
C 19%
30
B 28%
44
A 35%
56
Gráfico 13: Apresentação das dificuldades mais comuns na produção do texto oral.
Observamos que 51% inquiridos mencionam que seus alunos têm dificuldades
ao estruturar os textos orais, assim como com a coerência do discurso, a
101
capacidade de argumentar criticamente, e de sistematizar as ideias, outros
mencionam ainda falta de coesão e coerência.
102
que ensinem PLE, LE ou PLNM, o que será mais largamente analisado no
terceiro capítulo.
103
Fontes para seleção de temas
Série7 Série6 Série5 Série4 Série3 Série2 Série1
15% 24
Outros
44% 70
Q.E.C.R. para o ensino das línguas
35% 56
Plano Nacional de Leitura (ciclos 1/2)
29% 46
Programa de Português do Ensino Básico
21% 34
Currículo Nacional do Ensino Básico
71% 114
Internet
94% 150
Manuais escolares
104
nível de ensino. De certa forma, ao serem interpretadas, tanto a parte dedicada
à língua portuguesa, quanto a parte das línguas estrangeiras direcionam o
planeamento, através de diretrizes traçadas, para a seleção dos tipos de
textos.
Outros textos foram citados como fontes para a seleção de temas, como livros,
revistas, outros programas, planificações, entre outros, que serão melhor
explorados na análise de dados.
De acordo com o gráfico 15, mais uma vez, a maioria dos inquiridos (95%) faz
uso dos manuais escolares para seleccionar os tipos de textos que ensinarão
aos alunos portugueses, colocando uma grande responsabilidade sobre este
recurso. Contudo, existe uma significativa percentagem (80%) de inquiridos
que afirmam fazer uso da internet para a seleção dos tipos de textos (géneros
textuais), o que pode significar que apesar de apoiarem-se nos manuais,
buscam outros géneros na internet para tornar o ensino da literacia mais útil e
significativo sob a perspectiva do alunado.
105
Fontes para seleção de tipos de texto
Série6 Série5 Série4 Série3 Série2 Série1
13%
20
Outros
40%
64
Q.E.C.R. para o ensino das línguas
65%
104
Plano Nacional de Leitura (ciclos 1/2)
53%
84
Programa de Português do Ensino Básico
40%
64
Currículo Nacional do Ensino Básico 2001
80%
128
Internet
95%
152
Manuais escolares
Gráfico 15: Fontes para a seleção dos tipos de textos (géneros) ao planear atividades de
escrita.
Entre as respostas dos inquiridos que afirmam fazer uso de outras fontes para
a seleção de textos destaco livros, artigos de jornais e revistas; textos dos
média, programa de línguas, fontes autênticas, plano nacional de leitura do 3º
ciclo, entre outros que serão abordados na análise dos dados.
106
2.2.9 Os tipos de textos ou géneros escolares mais recorrentes em
Portugal
Antes de partir para a análise mais detalhada dos dados, verificaremos quais
os tipos de textos (ou géneros textuais) que os inquiridos utilizam em sala de
aula com maior frequência. A questão perguntava quais os tipos de texto que
os inquiridos costumam usar no ensino da língua. Foram fornecidas oito
opções e a possibilidade de escrever outros tipos de textos trabalhados, que
não estivessem na lista de escolha múltipla. Mais de uma alternativa podia ser
selecionada. Todas as respostas podem ser verificadas no quadro 8 (apêndice
XIX) e estão quantificadas no gráfico a seguir.
26%
Outros 41
31%
Resenhas 50
74%
Relatos pessoais 118
39%
Relatos históricos 62
80%
Relatos biográficos 128
36%
Relatórios 58
41%
Procedimentos 66
93%
Narrativas 148
84%
Histórias 134
O gráfico 16 mostra que o tipo de texto mais usado pelos professores são as
narrativas (93%), como era esperado, uma vez que os textos narrativos sempre
foram privilegiados no ensino das línguas, desde os tempos da pedagogia
107
tradicional. As histórias são um tipo de texto narrativo, portanto, não poderiam
estar muito atrás, representando 84% da amostra.
Concluímos por ora que certas práticas docentes apresentadas condizem tanto
com as pretensões estatais para o ensino das línguas, quanto para os objetivos
desta dissertação, enquanto outros dados podem significar entraves à
reelaboração da formação continuada dos professores de línguas (e não só),
porém, estes não parecem representar maiorias nesta amostra.
108
Capítulo III
Inicio esta análise por apreciar os dados do perfil da amostra que obtive nesta
investigação. Os inquiridos representam, como vimos, maioritariamente
professores que ensinam o português como língua materna, mas não só; dos
118 professores que lecionam PLM, 72 também ministram aulas de outras
línguas ou de língua portuguesa (doravante LP) em outros contextos. Estes são
seguidos pelos professores que se dedicam ao ensino de PLNM que somam
62 inquiridos, dentre os quais 46 também lecionam PLM. Isso significa que
apenas 16 professores de PLNM não lecionam PLM, o fator mais provável para
a apresentação deste quadro deve ser o crescente número de imigrantes ou
filhos de imigrantes presentes nas salas de aulas em Portugal.
Apesar de tal questão não ter sido levantada neste inquérito, podemos criar a
hipótese de que este quadro se deve ao crescente número de alunos
estrangeiros dentro das salas de aulas das escolas regulares portuguesas.
109
Sendo assim, os professores que inicialmente atendiam um público que tinha o
português como língua materna, tornaram-se por via das circunstâncias,
professores de português como língua não-materna também. Concluo que já
existe uma considerável preocupação das escolas que atendem alunos do
ensino básico e secundário, cujas línguas maternas podem ser outras que não
a portuguesa, em capacitar professores para ensinar PLNM.
110
Segundo dados do Ministério da Educação, em 2004 havia mais de 81 mil
alunos estrangeiros nas escolas portuguesas. (cf. Jornal Público, 15 de
dezembro de 2006, em www.publico.pt/educação). Estes últimos (alunos de
PLNM) são considerados nos programas LPEB, como especiais e aos quais se
dedica especial atenção.
“Se muitas vezes designamos o Português como língua materna, não o fazemos
certamente por acaso: naquela imagem representa-se bem a noção de que a
língua que aprendemos (e que a escola depois incorpora como matéria central)
está directamente ligada à nossa criação e ao nosso desenvolvimento como
seres humanos. Naturalmente que são diferentes destas as vivências dos alunos
que não têm o Português como língua materna, alunos cuja integração na língua
de acolhimento se processa em termos que, como é óbvio, são distinto e para os
quais existem orientações.” (Ministério da Educação Português, 2008:6)
111
terem sido profissionalizados há mais de 15 anos, ou seja, tiveram sua
formação antes das tendências atuais de ensino e aprendizagem das línguas, e
também da realidade multilingue e multicultural citada acima.
112
Acrescento ainda o facto de apenas 2 dos inquiridos deste grupo trabalhar no
primeiro ciclo, enquanto os outros dividem-se em sua maioria em ensinantes do
terceiro ciclo e secundário, com alguma representatividade no segundo ciclo.
113
equipamentos escolares PTodos estes e antes deles os professores, com a
formação de base que possuem e com formação complementar de que
regularmente carecemP” (Ministério da Educação Português, 2008:6)
9
Conferência Internacional sobre o Ensino do Português realizada em Lisboa, na Universidade
Aberta em 2008.
114
Vale anotar que estas repostas foram dadas por professores profissionalizados
em épocas diferentes, apesar de todos exercerem seu ofício com alunos do
terceiro ciclo e ensino secundário.
Sob outra perspectiva, muitos inquiridos dividiram suas opiniões entre PLM e
PLNM, dando especial atenção aos grupos de alunos em PLNM e afirmando
que este é o público que precisa da colaboração de toda a comunidade
escolar. Torna-se relevante apontar que 18 professores consideram a língua
como um meio para ensinar ou um meio de comunicação essencial para que
ocorra aprendizagem; 10, citam a existência das várias linguagens que
envolvem o ensino curricular em relação ao vocabulário e a uma forma de
acrescentar na formação linguística dos alunos; 24 professores mencionam a
palavra transversal, principalmente em relação à língua materna, o conceito de
língua não fica claro, mas todos eles entendem que a língua transpassa os
outros conteúdos curriculares e este dado é muito positivo, considerando as
intenções deste trabalho.
Por último, verificamos que, assim como alguns professores do primeiro grupo
responderam (SIM), alguns dos que responderam NÃO, também vêem a
responsabilidade dos professores das demais disciplinas limitadas ao uso
correto da língua (10 menções/referências) e à necessidade de correção
gramatical, tanto oral, quanto escrita e em algumas vezes, também como forma
de punição através das avaliações das diversas disciplinas (5 menções).
115
2.1 Comparação ao grau de intervenção creditado aos outros
especialistas
Por outro lado, apenas 34% dos inquiridos mostram preocupação com a
necessidade de formação complementar para a realização de tal tarefa, via
norteadora desta pesquisa. Levanto aqui duas hipóteses: ou boa parte dos
professores de línguas portugueses confiam nos seus colegas, acreditando
serem capazes de o fazer, sem nenhuma capacitação extra, ou então, o
conceito das estruturas e propósitos socias dos diferentes géneros textuais, em
suas diversas especialidades, ainda não esteja bem claro entre os inquiridos.
116
todos os docentes no ensino da literacia. Para facilitar a análise desta
comparação construí o quadro 2 (apêndice III) que compara as respostas
quanto à distribuição de autoria e da capacidade de todos os docentes no
ensino da literacia. Note que as opiniões positivas nas duas colunas possuem o
símbolo ‘•’, enquanto os que não creditam autoria de ensino de línguas a todos
os professores não estão assinalados e as diferentes respostas quanto à
capacidade dos professores em geral, na contribuição ao ensino de línguas
foram copiadas no quadro.
Cerca de 22% dos inquiridos (34) não creditam autoria de ensino das línguas a
outros professores, que não os especialistas da área, entre eles 14 creem na
capacidade dos outros especialistas em poder ensinar línguas, enquanto
apenas 4 afirmam não acreditar nesta possibilidade - todos profissionalizados
há pelo menos mais de 10 anos. Os outros 16 inquiridos mencionam a
necessidade de capacitação linguística para os especialistas de outras
disciplinas. Este grupo de inquiridos está bem distribuído entre os diferentes
níveis de ensino. (destacados em amarelo no quadro 2)
117
Acredito que este resultado positivo abre algumas portas quanto à
possibilidade de implantação de um sistema curricular linguístico que
transpasse todo o currículo.
118
3.1 Tipos de textos (géneros) mais recorrentes no ensino de línguas
em Portugal
Além dos 93% de inquiridos que trabalham as narrativas10, há 84% deles que
também trabalham com histórias, um tipo de texto narrativo, a diferença está no
nível de ensino em que costuma ser empregado, histórias fazem parte de um
género textual, apropriado ao ensino nos primeiros anos de escolarização, no
processo de ensino dos textos narrativos.
Apesar disso, colocamos as duas alternativas de resposta por prever que nem
todos os professores têm consciência desta diferença. O que foi comprovado
pelo elevado número de professores que a selecionaram, muitos mais do que
os 27% de inquiridos que atendem ao público dos dois primeiros ciclos desta
amostra.
10
Exemplo de termo que, seguramente é entendido como domínio retórico e que tem um valor
genológico na definição dos géneros inspirada pela Escola de Sydney.
119
mesmos 86 dizem trabalhar com a narrativa, demonstrando o frágil
conhecimento sobre os diversos géneros textuais. As narrativas, contudo,
foram selecionadas por 22 inquiridos que não trabalham com histórias nestes
níveis de ensino. Entre estes 22 inquiridos 2 dizem ensinar apenas narrativas,
16 também trabalham com relatos biográficos e com relatos pessoais, 8 com
relatórios, 6 com relatórios históricos, 4 com resenhas, 2 com procedimentos.
Concluo que entre os inquiridos que sabem que o género história não é
comumente ensinado nos últimos níveis de escolaridade, a maioria também
ensino os relatos pessoais e biográficos, que representam os tipos de textos
mais populares depois das histórias e narrativas.
A segunda parte do quadro 8 expõe os tipos de textos mais comuns usados por
inquiridos que trabalham no ensino básico (1º, 2º 3º ciclos). Em geral, 34
inquiridos ensinam histórias, 30 narrativas, 26 relatos biográficos, 24 relatos
pessoais, 16 relatos históricos, 12 procedimentos e 8 resenhas.
120
Mais uma vez, os procedimentos e as resenhas são menos ensinados, o que
para o ensino básico pode ser prejudicial, uma vez que alguns procedimentos
como receitas, como utilizar uma ferramenta digital, como jogar um jogo, fazem
parte do quotidiano das crianças atualmente. Assim como, fazer uma resenha
sobre um texto estudado, ensina aos alunos como escrever um resumo
criticamente, e se começarmos a ensinar estes géneros desde o princípio da
escolaridade com textos curtos, de linguagem apropriada ao chegarem no
ensino secundário estes alunos terão menos dificuldades.
121
3.2 Principais finalidades para a seleção de textos de diversas fontes.
122
textos de outras fontes com esta única finalidade. Considerando que ambos
inquiridos se profissionalizaram, no máximo, há 10 anos, esta é uma resposta
que chama atenção para a possibilidade da formação de professores, quanto
às novas propostas educacionais não atingir a todos, via de regra, dado
estatístico comum em qualquer pesquisa.
Por outro lado, os outros inquiridos deste grupo, além de promoverem a leitura
para obtenção de mais informações sobre o conteúdo, também fazem uso dos
textos para outros fins. O mais popular é a ‘leitura para formação de modelos
autênticos e atuais dos tipos de texto trabalhados.’ (14 inquiridos) seguido pela
leitura ‘para reflexão sobre a estrutura do tipo de texto a ser trabalhado.’ (12
inquiridos); ‘desvendar os propósitos sociais do tipo de texto a ser trabalhado.’
(10 inquiridos) e por último ‘para análise e desconstrução de bons modelos do
tipo de texto em questão’. (8 inquiridos). Dois deles assinalaram todas as
opções e nenhum apresenta grande discrepância em relação às escolhas que
fizeram.
123
‘leitura para formação de modelos autênticos e atuais dos tipos de texto
trabalhados.’; 10 inquiridos assinalaram ‘desvendar os propósitos sociais do
tipo de texto a ser trabalhado.’; e 10 ‘para análise e desconstrução de bons
modelos do tipo de texto em questão’.
Até o momento, nenhum inquirido havia sugerido outra finalidade para o uso de
textos retirados de outras fontes, que não dos manuais escolares. O que
aparece entre a maioria dos inquiridos profissionalizados a mais de 15 anos. Já
citadas na secção 2.2.4.1 são elas: “Para reescrever criativamente, resumir,
sintetizar, esquematizar, parafrasear e outras transformações de texto (de narrativo
para dramático) ”; “Para alargar horizontes culturais.” e “Fomentar o gosto pela leitura
e escrita.”
124
A primeira, todavia, comenta o uso de técnicas muito ligadas à linha
pedagógica aqui apresentada como a reescrita, o parafrasear e o uso, mesmo
que inconsciente, de géneros textuais “P de narrativo para dramático.” Face a
esta afirmação, vinda de um(a) professor(a) com mais de 15 anos de trabalho,
com alunos do ciclo 3 e do ensino secundário, lecionando em contextos de
PLM e PLNM, sinto-me impelida a considerar que os programas de formação
continuada em Portugal podem, na verdade, estar contribuindo para mudanças
na educação e que uma parcela dos professores representados por esta
pequena amostra pode estar plantando sementes em várias escolas pelo país.
125
Desvendar os propósitos
sociais do tipo de texto a ser
trabalhado.
Atividades de ortografia,
sintaxe, vocabulário, etc.
126
Desvendar os propósitos
sociais do tipo de texto a ser
trabalhado.
Análise e desconstrução de
bons modelos do tipo de texto
em questão.
Análise e desconstrução de
bons modelos do tipo de texto
em questão.
Leitura para
formação de
Atividades de ortografia,
modelos
sintaxe, vocabulário, etc.
autênticos e
atuais dos tipos
de texto Reflexão sobre a estrutura do
trabalhados. tipo de texto a ser trabalhado.
Desvendar os propósitos
sociais do tipo de texto a ser
trabalhado.
127
A outra metade se distingue por não ter selecionado a primeira opção, tendo
em comum outra finalidade, combinada, mais uma vez com diferentes
alternativas expostas no esquema acima.
Outros 10 inquiridos, por sua vez, assinalaram quatro opções. A maioria, mais
uma vez, tem em comum a primeira opção, observe o esquema de
combinações de finalidade
Desvendar os propósitos
sociais do tipo de texto a ser
trabalhado.
Análise e desconstrução de
bons modelos do tipo de texto
em questão.
128
Análise e desconstrução de
bons modelos do tipo de texto
em questão.
Leitura para
formação de
Atividades de ortografia,
modelos
sintaxe, vocabulário, etc.
autênticos e
atuais dos tipos
de texto Reflexão sobre a estrutura do
trabalhados. tipo de texto a ser trabalhado.
Desvendar os propósitos
sociais do tipo de texto a ser
trabalhado.
129
3.3 Sobre a escrita de textos individuais e as etapas da pré-escrita
130
com o primeiro ciclo, pode parecer que não há aqui nenhum avanço, mas ainda
assim, à luz das teorias estudadas considero um bom número para a faixa
etária, porque o ensino de textos na educação básica demanda tempo, e o
segundo ciclo, não deixa de ter a função de consolidar, as primeiras
aprendizagens formais de literacia e dos géneros trabalhados. De acordo com
o CNEB, as competências específicas por ciclo baseiam-se para os dois
primeiros ciclos no desenvolvimento da consciência linguística, alargamento da
compreensão dos diversos géneros, consolidação das técnicas instrumentais
necessárias para a escrita, enfim, o domínio progressivo das competências
necessárias à aprendizagem da literacia. (cf. Ministério da Educação, 2001: 33-
35)
131
é necessário que ocorram muitas etapas prévias à escrita de um texto
individual. O mais interessante notar é que estes mesmos inquiridos dizem
analisar e desconstruir um modelo do texto pedido, assim como, escrever
textos coletivos com foco na estrutura textual, além de fornecer e solicitar
informações sobre o tema. Para que tenham tempo de escrever 36 textos,
imagino que a escrita se limite a poucos géneros, o que configura as práticas
reveladas pelos poucos estudos disponíveis sobre o assunto.
132
Os inquiridos profissionalizados há mais de quinze anos são maioritariamente
professores do 3º ciclo e do ensino secundário, como nos demais grupos, há
poucos representantes do 1º ciclo (4) e do 2º ciclo (26), sendo que quase todos
os professores do segundo ciclo também lecionam nos demais ciclos de
ensino, são professores de PLM, alguns deles também lecionam PLNM, LE ou
PLE, cujas respostas que variam de 8 a 36 textos individuais por anos letivo,
mais uma vez, apresenta-se uma grande discrepância de dados nos primeiros
ciclos e no ensino de PLM.
133
• 4 inquiridos cujos alunos escrevem 9 textos;
• 10 inquiridos cujos alunos escrevem 6 textos;
• 8 inquiridos cujos alunos escrevem 5 textos;
• 8 inquiridos cujos alunos escrevem 3 textos.
A maioria deles, 57 inquiridos, diz que seus alunos escrevem entre 9, 10, 12,
15 e 20 textos que acaba por ser uma média mais razoável para a maioria dos
alunos de PLM neste grupo. Por outro lado, alunos de 26 inquiridos escrevem
apenas de 3 a 6 textos individuais por ano letivo, o que é muito pouco
considerada a faixa etária dos alunos e os objetivos educacionais portugueses
e europeus.
134
• Determino o tipo de texto a ser escrito (ex. história, relatório...) mas,
deixo o tema à escolha dos alunos;
• Forneço informações sobre o tema sugerido;
• Peço aos alunos que pesquisem sobre o tema;
• Escrevemos textos colectivos para ensinar como (estrutura textual)
devem ser escritos os diversos tipos de texto;
• Escrevemos textos colectivos para ensinar quais os propósitos sociais
de um certo tipo de texto.
135
E. Forneço informações sobre o tema sugerido;
F. Peço aos alunos que pesquisem sobre o tema;
G. Peço aos alunos que pesquisem outros modelos do tipo de texto
sugerido;
H. Escrevemos textos colectivos para ensinar como (estrutura textual)
devem ser escritos os diversos tipos de texto;
I. Escrevemos textos colectivos para ensinar quais os propósitos sociais
de um certo tipo de texto.
136
Os outros assinalaram também estratégias como pedir aos alunos que
pesquisem, assim como fornecer informações sobre o tema; alguns escrevem
textos coletivos com o objetivo de ensinar a estrutura textual e de desvendar os
propósitos sociais do tipo de texto a ser trabalhado. Um dos professores deste
grupo que trabalha em contexto de PLM no ensino secundário também sugeriu
outras alternativas, nomeadamente:
137
Determino o tema e/ou título do
texto, mas não especifico o tipo de
texto
Série3 Série2 Série1
Gráfico 17: Percentagem de inquiridos que determinam o tema mas não o tipo
de texto a ser escrito por ordenação de tempo de serviço.
138
primeiro ciclo. Este dado pode ser considerado esperado, do ponto de vista do
tempo de profissionalização, mas por outro lado, evidencia a necessidade de
melhorias na formação continuada da língua.
Como pudemos observar no gráfico 10, 84% dos inquiridos trabalham com
textos coletivos, sendo que entre os alunos dos inquiridos profissionalizados há
menos de 5 anos e entre 5 e 10 anos são escritos de 1 a 6 textos coletivos num
ano letivo. Já nos dois grupos seguintes, profissionalizados entre 10 e 15 anos
e há mais de 15, a variação vai de 1 a 10 textos coletivos, sendo que estes
139
últimos representam, em sua maioria, professores do 3º ciclo e secundário.
Considero os números praticados por estes mais significativos e que os mais
recentemente formados não deveriam aumentar o número de textos coletivos
que escrevem com seus alunos, pelo menos que seja escrito um texto coletivo
para cada género ensinado.
140
Considerando as diversidades culturais, o número de alunos em sala de aula,
entre outros fatores regionais, concluo que o resultado geral é positivo. A
escrita de textos coletivos em grupos pode servir a muitos objetivos
educacionais, como a promoção do trabalho em grupo, a convivência entre
pessoas diferentes, entre outros. Porém, para concretizar objetivos linguísticos,
acredito que a monitorização constante deste trabalho seja imprescindível e
que a melhor estratégia de intervenção na desconstrução e análise de géneros
textos é a construção de um só texto, dando oportunidade a todos os alunos
que participem e tendo a possibilidade de sanar todas as dúvidas a partir das
contribuições individuais, como já mencionamos anteriormente. Ninguém
melhor que o professor para saber administrar o seu grupo de alunos em uma
atividade coletiva, pois este conhece as dificuldades e sucessos de cada um
poderá fazer uso deste conhecimento durante a aplicação da estratégia.
141
quotidiano um tipo de texto oral importante, assim como me espanta saber que
2 professores de PLE, e outros 2 de LE, também têm a mesma opinião. Os
diálogos corriqueiros como, por exemplo, a apresentação de um indivíduo a um
grupo, diálogos sobre o tempo, as horas, profissões, etc. costumam ser os
primeiros textos orais presentes em qualquer manual de ensino de línguas
estrangeiras, seja qual for a língua.
142
Neste grupo há 20 inquiridos que ensinam PLM, especialmente no 3º ciclo e
ensino secundário, porém também tem alguma representatividade no 1º ciclo.
Estes são seguidos pelos 12 inquiridos em contexto de LE que também
ensinam principalmente alunos dos dois últimos níveis considerados e tem
alguma representatividade do 2º ciclo. Os últimos inquiridos que ensinam PLE
(4) e PLNM (4) seguem o mesmo quadro pois em geral são os mesmos
inquiridos trabalhando em diferentes contextos.
Os textos dramáticos, ensinados por 65% dos inquiridos tem uma boa
dispersão entre os contextos de ensino, os ciclos de estudos e mesmo entre os
diversos inquiridos em suas especialidades e tempo de profissionalização.
143
escolares. As sinopses de filmes e livros são géneros escritos, o que pode ter
sido confundido com comentários ou resumos orais, e por fim, os relatos de
vivências que já foram mencionados como géneros escritos mas ocorrem
frequentemente na forma oral, a ainda pode representar um rico momento de
avaliação das dificuldades dos alunos na oralidade, por ser um género informal.
144
Alguns inquiridos apontam dificuldades na escolha e/ou conhecimento de
vocabulário apropriado aos géneros; outros em relação a dificuldades acerca
de ortografia, pontuação e acentuação. Faz-se necessário explicar porque
considerei estas respostas, já que se trata da análise de textos orais. Alguns
professores citaram a construção de painéis, digitais ou de outros tipos para
apresentações, daí concluo que os erros ortográficos citados sejam
provenientes dos recursos visuais utilizados em geral. Quanto à pontuação e
acentuação, levanto duas hipóteses. Podem os inquiridos estar ainda a
referir-se aos recursos visuais? Podem, também, estar a referir-se às pausas,
entoação, ritmo e outros aspectos próprios do texto oral que se relacionam com
as características de pontuação e acentuação da forma escrita?
Observamos também que uma pequena parcela dos inquiridos, porém não
menos importante, cita dificuldades encontradas na compreensão de
leitura/audição dos modelos oferecidos, e também dos enunciados
apresentados aos alunos; assim como mencionam as dificuldades na
desconstrução dos modelos oferecidos para poderem argumentar criticamente
e de forma consistente.
145
3.4 Planeamento e as fontes de informação para a escolha de temas e
tipos de textos (ou géneros escolares)
Nesta secção trataremos dos dados referentes aos gráficos 14 e 15, fazendo
referência aos dados organizados no quadro 7. Verificamos que os inquiridos,
em sua maioria, fazem uso de vários materiais de diferentes fontes quando
selecionam os textos que a serem trabalhados em suas aulas de ensino das
diversas línguas.
Tanto para a seleção temática quanto para a seleção genológica (tipos dos
textos), quase todos os inquiridos utilizam os manuais escolares e a internet.
Imagino que os manuais escolhidos por cada escola ou pelo governo devam
ser seguidos, pois devem estar de acordo com as novas tendências e leis
educacionais.
Quanto aos demais recursos listados para a seleção temos maiores diferenças
entre os mais frequentemente usados para a seleção de temas e os mais
utilizados para a seleção dos tipos de textos. Isso ocorre porque cada
documento dedica-se a um fim diferente. A partir desta comparação poderemos
inferir sobre o grau de consciência que os professores de línguas têm sobre os
146
documentos oficiais em prol do ensino em Portugal e na Europa. A tabela
abaixo compara os números expostos nos gráficos do capítulo II.
147
O Programa de Português para o ensino básico, assim como, o Programa de
português para o 10º, 11º e 12º anos fornecem diretrizes mais operacionais
para os professores de PLM e alguma referência aos de PLNM. Considerando
que estas são as ordenações por contexto de ensino mais representadas nesta
amostra esperava que o número de utilizadores deste documento fosse maior
do que os 29% e 53% respectivamente, para a seleção de temas e de tipos de
textos.
Programas do ensino
Textos dos mass media
secundário
148
Textos dos mass media
Leituras pessoais
O mais curioso foi notar que muito professores que não trabalham nos dois
primeiros níveis de ensino, utilizem o Plano Nacional de Leitura desenhado
para tais ciclos. No quadro 7 podemos notar que 26 inquiridos que se dedicam
ao ensino do 3º ciclo e secundário fazem uso do Plano na seleção de textos
tendo em vista ambos objetivos.
149
de auxiliar os professores em suas práticas, mas muitas vezes, não atingem
seu objetivo.
150
Capítulo IV
Considerações Finais
As propostas dos autores do R2L são bem simples, mas globais. A forma
circular do esquema pedagógico sugerido permite que se trabalhe em um só
ciclo, por exemplo, partindo da Desconstrução para a Construção Coletiva e
direto para a Escrita Individual. Isso acontece muito nos últimos anos
escolares, no ensino secundário, quando se tem menos tempo para aprofundar
as peculiaridades da língua e há mais conteúdos específicos a serem
estudados.
151
Considerando, aqui, uma escola que inicie este programa no primeiro ano do
primeiro ciclo, provavelmente, poucas dificuldades seriam apresentadas nos
últimos níveis de ensino, pois os alunos nesta idade já estariam acostumados à
pedagogia e saberiam lidar com as dificuldades, inclusivamente, colocando
suas dúvidas quando preciso; e o professor teria total liberdade para realizar as
etapas de Leitura Detalhada e Construção Conjunta ou Reescrita Individual, ou
mesmo usar as estratégias do ciclo amarelo (vide figura 8) sempre que for
necessário, possível ou importante, e isso poderá ser feito com todo o grupo ou
de forma individualizada em todos os níveis escolares.
152
resultados linguísticos dos alunos. Tal constatação sugere a necessidade da
formulação de um currículo consistente e explícito, coerente na construção
interna dos conceitos.
153
maior confiança nas teorias apresentadas, na importância do envolvimento da
linguística na área da educação, mais especificamente, das influências
positivas que a TR&G e a LSF podem oferecer à promoção do ensino em
Portugal. Primeiramente, o ensino de língua, mas que como pudemos
observar, com reflexo por todas as áreas curriculares, uma vez que, a
transversalidade das línguas no ensino formal, além de real, já faz parte do
inconsciente coletivo dos docentes.
154
dos grandes sucessos da abordagem comunicativa para o ensino das línguas,
em especial LE e PLE.
155
156
Referências Bibliográficas
CARBINES, R., WYATT, T. & ROBB, L. (2005) Evaluation of the Years 7-10
English Aboriginal Support Pilot Project, Final Report. Sydney, Office of the
NSW Board of Studies In http://ab-ed.boardofstudies.nsw.edu.au/go/engligh-
literacy-7-10/evaluation-of-the-project
ECO, Umberto. (1997) Como se faz uma tese. São Paulo, Perspectiva.
157
GAVE, Ministério da Educação. PISA 2009 (2010) Competência dos alunos
portugueses. Síntese de resultados. In
http://www.gave.minedu.pt/np3content/?newsId=346&fileName=Sintese_Re
sultados_PISA2009.pdf
158
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO REIS, C. (coord.) (2009) Programa de
Português do Ensino Básico. Lisboa, DGIDC.
http://www.readingtolearn.com.au/
http://www.edtl.com.pt/index.php?option=com_mtree&task=viewlink&link_id
=294&Itemid=2 (Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia)
159
160
Apêndice I
Questionário
• 5 anos ou menos
• entre 5 e 10 anos
• entre 10 e 15 anos
• mais de 15 anos
• SIM
• NÃO
Justifique aqui a resposta da pergunta anterior. *Se sim, porque acredita que
apenas os professores de língua são responsáveis por ensinar as línguas? Ou
se não, porque ou com quem compartilha ou poderia compartilhar esta
responsabilidade?
Quantas vezes por ano desenvolve projetos com colegas de outras disciplinas,
tendo em vista a formação linguística dos alunos? *Pode ser um número
aproximado, caso não desenvolva projetos nesse sentido coloque 0.
162
Quais os tipos de texto que costuma usar no ensino da língua? *Assinale
apenas os que realmente utiliza e use ‘outro’ para adicionar outros tipos de
texto que utilize.
• Histórias
• Narrativas
• Procedimentos
• Relatórios
• Relatos biográficos
• Relatos históricos
• Relatos pessoais
• Resenhas
• Outro:
Além dos textos escritos e orais fornecidos nos manuais adotados, faz uso de
textos retirados de outras fontes? *Responda SIM ou NÃO
Se respondeu sim à questão anterior, com qual finalidade usa tais textos
selecionados de outras fontes? Pode assinalar mais de uma opção.
163
• determino o tema e/ou título do texto + o tipo de texto (e.g. história,
relatório...)
• determino o tema e/ou título do texto, mas não especifico o tipo de texto
• determino o tipo de texto a ser escrito (ex. história, relatório...) mas, deixo o
tema à escolha dos alunos
• analiso e desconstruo um modelo do tipo de texto a ser pedido
• forneço informações sobre o tema sugerido
• peço aos alunos que pesquisem sobre o tema
• peço aos alunos que pesquisem outros modelos do tipo de texto sugerido
• escrevemos textos colectivos para ensinar como (estrutura textual) devem
ser escritos os diversos tipos de texto
• escrevemos textos colectivos para ensinar quais os propósitos sociais de
um certo tipo de texto
• Outro:
Que textos orais praticam os seus alunos em aula? Assinale apenas os que
são praticados pelos seus alunos em sala de aula. Pode ter mais de uma
resposta.
164
• Seminários sobre conteúdo específico
• Dramatizações
• Outro:
• Manuais escolares
• Quadro Europeu Comum de Referência para o ensino das línguas
• Plano Nacional de Leitura (1 e 2 ciclos)
• Internet
• Currículo Nacional do Ensino Básico 2001
• Programa de Português do Ensino Básico de Dezembro de 2008
• Outro:
• Manuais escolares
• Internet
• Currículo Nacional do Ensino Básico 2001
• Programa de Português do Ensino Básico de Dezembro de 2008
• Plano Nacional de Leitura (1 e 2 ciclos)
• Quadro Europeu Comum de Referência para o ensino das línguas
• Outro:
165
Apêndices II a VIII em CD anexado.
166