São Tomé e Príncipe - Entrevista A Alda Do Esprito Santo
São Tomé e Príncipe - Entrevista A Alda Do Esprito Santo
São Tomé e Príncipe - Entrevista A Alda Do Esprito Santo
meus pais enviaram-me, miúda, com dez, doze anos, para um colégio
no norte de Portugal. Cresci ligada à terra, mas cresci fora de São
Tomé. E, para se participar no pequeno universo do nosso país, tem
que se abarcar os problemas mundiais.
Houve uma série de acontecimentos muito importantes que
ajudaram os estudantes negros a tomar consciência: o facto de os
negros participarem na Segunda Grande Guerra, as modificações
sociais que houve, as consequências da revolução francesa, da
revolução socialista de Outubro, da criação das Nações Unidas, da
declaração de independência dos povos". Todas essas forças levaram
a dar uma consciência que levou à criação da negritude, que propiciou
a emancipação no sentido lato.
Há pessoas que criticam a negritude. A negritude era uma
afirmação necessária porque os povos africanos eram tidos pelos
outros como povos inferiores. Era necessário que os africanos
tomassem consciência da sua identidade. A diáspora das Américas,
do mundo todo e todas as forças progressistas estavam a favor de um
mundo novo, de uma mudança, e tudo o que demonstrasse que era
abertura, atraía-nos. Por exemplo, eu cresci, durante uns oito anos,
num colégio de freiras, no norte de Portugal, e só quando a minha
mãe chegou a Portugal e nos levou - eu e a minha irmã - para Lisboa,
encontrei um grupo de parentes e amigos africanos. Lá no Norte de
Portugal havia poucos negros. Na rua diziam-nos:
"Preta, mulata, nariz de macaca» e por aí fora outras coisas
disparatadas, mas felizmente nada disso me afectou.
Depois é que tomámos contacto com o mundo. Tínhamos um primo
chamado Arlindo Espírito Santo que andava à descoberta das
pessoas! Ele é que nos levou o Mário de Andrade, o Agostinho Neto -
todo o mundo com que entrámos em contacto. Foi toda uma
descoberta que nos levou a tomar consciência de nós mesmos.
Por exemplo, o conhecimento de Amílcar Cabral deu-se do seguinte
modo: tínhamos ido a um piquenique lá para os lados do Parque de
Monsanto - o Parque de Monsanto não era o que é hoje, era um
parque aberto, onde fomos passar o dia, todos os parentes que
estavam em Lisboa. Ao fim da tarde vimos aparecer um indivíduo
africano, baixinho, que foi ao nosso encontro. Ele tinha chegado há
pouco tempo, estava em agronomia e vivia ali perto. Assim foi o nosso
encontro com Amílcar Cabral!
P. - Por acaso?
romance. °
tribunais se fosse necessário, que não queria ser personagem do
Sum Marky pôs «Aida» em vez de «Alda» e pôs uma
versão de coisas que não têm nada a ver comigo: maneiras de ser,
comportamentos ... E cita pessoas: cita a Maria Amélia, que é a minha
irmã, que faleceu há um ano, fala da minha mãe com o seu nome,
Maria de Jesus Agostinho das Neves! Mas Sum Marky, se ele cita
personagens verdadeiras, não pode romancear... Fez uma mistura
tremenda! Conta coisas que não correspondem à realidade porque ele
romanceia à sua maneira. Francamente, não gostei do livro!