As Culturas Negras No Novo Mundo
As Culturas Negras No Novo Mundo
As Culturas Negras No Novo Mundo
NO
NOVO MUNDO
O NEGRO BRASILEIRO - III
Série S.ª * B R A S I L I A N A
BIBLIOTECA PEDAGÓGICA BRASILEIRA
* Vol. 249
AR THUR .RAMOS
*
~~S CULTURAS NEGRAS
NO
NOVO MUNDO
1
O NEGRO BRASILEIRO - IlI
*
2.ª edição~ ampliada
1946
COM PANHTA E b .I TORA NACIONAL
S~o1 Paulo - Rio de Janeiro - Bahia -'-- Recife .- Pará --, Pôrto Aleiire ,
DO AUTOR
· O NEGRO BRASILEIRO:
~f~
,_.,..-
> . , ..
~ - . r·;~4
#" ,
~
;i'• • .
IMPRESSO NOS JISTAD()s UNIDOS Po BUSII.
8t8LlOTECA
N. .,. _J ..19
J97:2
;E>REF ACIO
DA Z.ª EDIÇÃO
A.RTJ;IUR RAMOS
,· ARTRU1,l RAMOS .
Rio, junho de 1937. ' ·
PR.IMEIRA PAR.TE
A,S CULTOR.AS
NEGR.O-AFR.ICANAS
CAPfTULO I
O CONTINENTE NEGRO
(3)
pág. 17.
'
Cf. Jacques ·weulersse, L'Afrique noire, Paris, 1934,
(11) " ." . . Der Menschenhandel war fedocl, niemals ein leicht
.:m werant-wortendes Geschiift. Es erforderte eine Rechtfe,-tigimg.
So umrde drr Neger :;11, einem Halbtier "geniacht", einer War,'.
So wurde der Begriff Fetisch (= 'feiticeiro, ein portugiesisches
Wort) ais Symbol einer àfrika11ischen ReligiOIJ erfimden.. Eine
europiiische Fabrikmarke/ lch selbst habe in keinem Teile Neger-
afrikas die Fetischa1ischatttmg bei Negern gefunden.
"Die Vorstellung vom "barbarischm Neger" ist aber eine
Schõpfung Europas, di'e dann rückwirkend .Europa. noch bis in
den A1ifang dieses lahrhundert beherrscht hat" (Leo Frobenius,
Knlturges.chicltte Afrikas, Phaidon Verlag, 1933, pág. 13).
S·
26 ARTHUR RAMO-'
Se1'T1ii48 s H8rnil6s
~-....
;--·"
, "''
""'-.._
'\., __ /
.
/
/ . \
.\
Sudonêses ;' -~ __,....--.,'
,, . )
/Jenfúa .
1 :
'
,. 1/l(l. t
Grupo, huma1101· da .Afrita (imitado de Seligmau),,
I I! III , IV V V1
1 ( - -
1 ···"" "". . -
- I . - - -- · ~
3
- - r"--.
.
4
5
- -
- -
/
- · ' J
--""'
~
· ~"\.·.
-
G-
- - . PIC, 2
Esquema de Goldenweiser. · ·
-
mundo e os algarismos arábicos os estágios de aperfeiçoa-
mento em que se encontram ; as linhas verticais indicam
presença e as horizontais ausência de um estágio em uma .
tribo particular. '
o evolucionismo clássico pressupunha um processo
numa só linha, se êle se processasse numa só tribo, por
exemplo. Mas a evolução realmente não se dá numa só
linha genética; cada um dos estágios pertence a várias sé-
ries históricas. Combatendo ·o evolucionismo linear, po-_
AS CULTURAS NEGRAS NO NOVO MUNDO 45
l
tos entre si:
.Familia · C.
,]
l
F,mm, A Família· B.
aire, et si l'on admet, d'aubre part, que les grands facies mltu-
rels ont conrrespondu, par leurs éléme nts f>ris globalement, aux
deu.x milieux de la forêt et de la savane, il fa1~t attri/Juer /e
patriarcat à l'1m de ces milieux et la matriarcat à l'autre. La
questio» est donc de savoir auquel des de1,.x milieux corresf>ondail
/e patrforcat, et a11q1iel des deux le matriarcat, et e' est ici que .les
aut eurs peiweiit différer, selon les arguments qu'ils invoqucnt (mi
pas oub/ier cef>mdant, que bien. des elément.s peuvei.t chevaucker
plusieurs cultiires) " , ·
(29) Montandon; op. cit., pág. 50. '
(30) B. Ankermann, Kultuikreis und Kulturschichten ilJ
Afrika, Zeit&chrift für Ethnologie, 1905, pág. 83.
AS CULTURAS NEGRAS NO NOVO MUNDO 57
PI() , 3
Arcas de culturas ·a fricanas (de Herskovits. )
(11) ' O, termo '' complexo" não deve ser tomado aqui no
sentido psic;matítico, e sim no sentido antropológico de " foco"
cultural.
64 ARTHUR ~,'\.MOS
CULTURAS · NEGRAS
NA AMÉRICA DO NORTE
CAP1TULO IV
1/IG. 4
Zona de influência negra no Novo Mundo
(esquema do Autor).
84 AR T H U R R A .MOS ·
AS CULTURAS .Nl!GRAS
NA AMÉRICA DO NORTE
7
90 ARTHUR RAMOS
I .
AS CULTURAS NEGRAS NO NOVO MUNDO 95
responsável pelo uso dessas fórmulas, paraphernalia e
prescrições, de . que Zora Hurston ,nos dá exemplos tão
curiosos (.11).
Alguns elementos culturais dás Ilhas Gullah e da Vir-
gínia autorizam a julgar a origem da Costa do Ouro. Os
habitantes das ilhas Gullahs, na costas das Carolintas, cons-
tituem um dos poucos grupos negros que conservaram ·
certa pureza da sua cultura, imune do contacto com os
brancos. Sua organização social, religião, linguagem: ..
conservaram os padrões africanos primitivos (12) .
As religiões negras na Améi'ica do Norte, a não ser
o exemplo isolado das ilhas. Gullahs, perderam ràpidamen-
te as suas características primitivas. Não se conservaram
lá, como nas outras partes do Novo Mundo, nas Antilhas,
'n!as Guianas, no Brasil, formas homogêneas de práticas
religiosas e mágicas de padrões .africanos. Por algum
tempo pensei numa diferença entre o ritual protestante · e
o católico, influindo de modo diverso no sincretismo re-
ligioso: adaptação, pelo catolicismo, dos orixás yorubas,
por exemplo, e reação por parte do culto protestante às
praticas religiosas negras, determinando o seu desapare-
cimento.
Isso corresponde a uma parte da verdade, pois a ra-
iãp é mais complexa (13) . Nos 1EE. UU. os grupos dos
(ll) Id., ibid., págs. 332' e segs.
(12) Vide Herskovits, Social History, etc., cit., pág. 254. -
Sóbre os africanismos da região costeira da Geórgia e Carolina .do
Sul, vide o documentário publicado pelo Georgia Writers' Pro-
jecl, Drttms and Shadows, Swrvival Stlldies · among the Georgia
Coa.stal N egroes, Univ. of Georgia Press, 194-0; sôbre ,05 Gullahs,
págs. 65, 66, 99.
(13) Os argumentos aqui explanados forain resultantes de
uma troca de idéias com o prof. Donald Pierson, da Universidade
de Chicago, que realizou na Bahia uma série de estudos sôbre as
relações de raça e de cultura. Vide o seu ·livro N egroes in Bra-
sil, Chicago, 1942, e a tradução em Português, Brancos e Pretos , ·
na Bahia, S. Paulo, 1945.
96 ARTHUR RAMOS
pour·- li faire mo' salut, faút pas se déranger pou' p' tit misÚe
comme ça! M'a pren.' d'autre chose,_ qui plus facile et mo' ja·
mais embêter # .eiicorel Mo' 'ta_ís levée, pou' /inir saffaire-là,
Quand-qué-cé-çá mo' . 'oir? Là, .ruir tombeau, d côté moin, mo'
'oir 1110' yé relígion! Mo' trappé li vite, et mo' mette li dans
mo' la poche. Li là encarei Mo' tchambo li biml" (23). ·
Creio que estas cerimônias marcam a transição dos
cultos vodus para as reuniões religiosas protestantes.
Estas reuniões, embora copiadas dos cultos Batista e Me-
todista, corp o seu ínevitável pregador negro e a assis-
tência contricta, tinham contudo iniludível facies negro: ·
os cânticos religiosos àcompanhados de palavras e de bater
dos pés, os íntrumentos de percussão como os tamborins,
a possessão pelo Espírito Santo, que se manifestava nas
danças, e revelada pelos "shouts", isto é, nos pulos que
caracterizam o comportamento motor dos serviços religio·
sos negros ..· . ( 24)
As reuniões destas igrejas negras -são quase sempre
à noite. Homens e mulheres vão testemunhar o seu fer-
vor e a sua devoção ao Senhor, the Lord ( em gíria negra:
De Lawd). Os cânticos 'são indispensáveis, ~ acompa-
nhados quase sempre de tan1borim, e, nos templos mais
ricos, de piano, tambbrins, campainhas e címbalos. O
ritmo é ainda marcado pelas palmas e bater dos pés. Os
cânticos, puxados por um solista e respondido pelo côro,
chamam-se spi"rituals (25), de uma beleza que nQo esca-
pou à atenção de estetas e musicólogos.
8
106 A R T. H U R RA M OS
(29) Vide Odum and Johnson, op. cit.; págs. 16 e 5S. Para
o estudo psicanalítico dos mecanismos de compensação e senti-
mentos de amor, ódio, mê<lo, nos spirituals: Billings, lac. cit.,
págs. 429 e segs. '
(30) Henry Edward Krehbiel, Afro-Americaii Folksongs,
cit., págs. 42 e segs.
(31) Vide Alain Locke, The Negro Spirituals in "The New
Negro", New York, 1925, págs. 199 e segs.
( 32) Billings, loc. cit., págs. 426 e segs.
AS CULTURAS NEGRAS NO 'NOVO MUNDO 109
No que concerne às
sobrevivências africanas .entre
os Negros dos E stados Unidos, nota-se que os sociólogos
não concordam com os antropólogos. A maior parte
dos primeiros nega a existência daqueles africanismos,
quer na vida secular, quer ·n a vida religiosa dos Negros
da grande república norte-americana. E' um .fenômeno
sócio-psicológico que Herskovits analisou num livro
recente ( 33) . Herskovits procura provar, à luz de ve-
lhos e de novos documentos, a existência dessas sobrevi-
vências no Novo Mundo. No que concerne a outras par-
tes do Novo Mundo (Cuba, H aiti, Guianas, Pequenas
Antilhas, Brasil ... ) , o fato .tem sido largamente compro-
vado. Mas no que concerne aos Estados Unidos, grande
parte de estudiosos negam a existência daquêles africanis-
mos. No entanto, as evidências são 11\lmerosas.
0
Ili
122 AliTHUR RAMOS
AS CULTURAS NEGRAS
NAS ANTILHAS
CAPITULO VI
'·
rcllé obilá ilia llamé abilá llamé agua eló muf6n 6guede era
ba fun cuecuellé bon fún ba fún mallon mina mallon batrac6 e
mi ni' ach6".,
10
138 AR'tHUR RAMOS
. (12) . '· -.
Ortiz, op. cit., pág. 83.
(13) Vide Ortiz, op. cit., págs. 110 e segs.
AS C~LTURAS NEGRAS NO NOVO MUNDO , 139
11
154 ARTHUR RAM()S
(Le bon Dieu qui fait le soleil qui nous éclaire d'en
haut, qui soule.v e la mer, qui fait gronder l'orage, enten-
dez-nous, vous, <iutres, le bon Dieu est caché dans les
nuages. · Là il naus regarde et voit tout ce que font les
blanés. Le Dieu des blancs commande le crime, le nôtre
sollicite çes bienfaits. Mais ce. Dieu qui est si bo11- (te
nôtre) nous ordonne la vengeance: II va conduire nos
bras et naus donner l'assistance.· Brisez l'image du dieu
des blancs qui a soif de nos .larmes; écoutez en nóus--
mêmes l'appel de la liber,téL . . ).
12
170 A.R.1'fttr_R R.AMóS
DE PROCEDtNCIA HAI,TIANA
Taureau Duchêne Criminel-Petro Guéde l'orage
Ersulie-Balianne J ean-Philippe Petro Roi d' Angole
Femme-chêche Brisé Etc. etc.
Ersulie gé rouge Marie-Louise
Damballah-Ouédo cé co'uleve,
18 F
186 ARTHUR RAMOS
AS CULTURAS NEGRAS
NAS DEMAIS ANTILHAS
'
Nas demais Antilhas, as culturas ·negras .também vie-
ram da sub-área ocidental <lo golfo da Guiné (Costa do
Ouro, Costa· dos Escravos ... ) coll} elementos de outra·s
culturas, em proporções muito menores. Negros escravos
foram introduzidos nas Antilhas, desde os primeiros tem-
pos da sua colonização, a princípio pelos Espanhóis, e
depois por Inglêses e Frarl'Cêses. Não se conhece exata-
mente o número de Negros introduzidos. Mas calcula-
se que entre 1680 e 1786, o número de escravos impor-
tados para as índias Ocidentais Inglêsas tenha sido de
mais de dois milhões, continuando o tráfico até 1807. A
história da escravidão nas índiais Ocidentais é a mesma
de outras partes da América, com o mesmo árduo tra-
balho das fainais agrícolas, o mesmo ciclo de sofrimentos,
ati a sua libertação em 1838 ( 1). · · .
A ilha de Jamaica, com uma população total de ..• ·
940.000 habitantes, tem 897.000 Negros. Os estudos de
Bryan Edwards, Les1ie, Lewis, Long, e principalmente
<;>s_ trabalhos recentes de Martha· Beckwith (2) deram-
ou então:
John did baptize, John did baptize
J ohn did baptize into J orda1ú hcaling stream ( 12)
ALFABETO DE COPELAND:
A signify ack ee,1 quarfy fish,
B signify ba.111mie,1 work proper witl, pear
C signify calla foe, 3 eat very nice,
D stand for dumplíng, if it ever tie you'teet'
E is for elephant, bi_q like Tacoama,4
F is for /ungi, it choke f ever,
G is for Goozoo,5 all nigger papa,
H is for H eaven where gran'ma gone.
I is -the pronoun that you must learn,
J is for jackass, plenty go to school,
K is for Katy, - she make me fool,
L is for lau,yer, them never walk straight,
· M is for mo,iey, make yo1t feel first -rate,
N is for Nancy, - that' s a girl Trave a mQ~thl
O favor C but a little more stoitt,
P foi· P unrhNm-watrr,6 let yoit ,fight one ,another,
Q is for Qitashie,7 Quobina oldest brother,
R is for room, let the best man fool,
S is . for s1taar, eat ali you can,
T is for T homas, is very unb(flievfo_q,
U is for Uncle Jacob, is ver~, deceivin_q,
W is for women - f ollow them you fret,
You hear it say La Morris a Tóm-fool man., now what him can do
E-od-e-e, e-do, e-do-e-e, e-do, e-edo-e-e-i,
You hear it ~ay La M orris a Tom-f ool man, now what him can do
CANOE LEAN, OH
Canoe lean, oh, oh, morning star, 1.vallo e,
Canoe lean, oh, oh, morning star watch, oh!
Canoe lean, oh, morning star, wallo e,
Canoe lean, oh, oh, morning star, watch, oh!
Canoe lean, morning star, wallo e.
. AMBA YU (31)
Oh, amba y11,
E-do, oh-o, o-oh, amba yu,
SOMEBODY DEAD
ou ainda
B e bow bended
My story's ended
4n' a two-leg gaul'in' leg" come 01d. She will sing again,
A bill will c,ome out. An' den she will fly 01# de window an'
go ín de pon' an' ketch crab. On'e day more'n ali a· little boy
see her, an' watch her if she is .people or gaul'in', Ai( he
watch hcr, jus' as husban' gone she turs , into gaul'in' agai11,
, an' he watch her. A11' ven his popper come home, he say,
"Po pper, dis wife you have dis ain't wife, dis ga.u l'ín'." Ai~'
say, "Yes, se is ·a gaul'in'. lf yo1i don't believe me, yoti watc/1
Jz er den to-mo,rrer." N e:.' day come. S he cook her husban'
b'akfas', an' her little chi/', dn• she woi1-ld11' eat none. He,-
lmsba11' her why. She say, "I f eel sich. No , no husban', I
don't 1.vant 1ione ". H cr lmsban' gone an' get his gun a,i' p1,t
shot in de gun, and he begin to sing, .-
u Kitty Katty k ee wang wah,
Kitty Katty wang wah wah,
Kitty Katty kee wa11g' u,ah,
Kitty Katty wang wah.
K ee bottom, kee bottom kee pyang,
Kitty Katty kee wang wah, kee piang",
Jus' as he · sing dat, she bus' up to cry. "Do, husban', don't
sing dat. Ev'ry time ,ou sing dat sing, it make me ' memb,r
216 ARTRUR RAMOS.
my dead ma." She ain't want him sing it, because, if he sing
it, she tum into a gaul'in' right where he is.· H e sing it. An'
sing till her bill come out. De ne.'i"' t'ing her foot come out,
den her feders come out, an' den he shot her (33).
Baille la-main.
Baille la-main.
Tout partoitt, tout pa,rtoflff, tout partout,
Baille la-m'ain.
Tout partout, tout partout, , to1.tt partout,
16
234. A~Tlttrk kAMOS
e a outra:
"kri, kra, todos os homens em seus kra-kra" (23),
\
o que significa: todos os homens em seus lugares. As
interrupções no meio da história são ainda muito fre-
qüentes (24).
Ü5 provérbios ( kot' ado) e adivinhas ( le-i-tori) são
também muito apreciados pelos Negros do Surinam. O
seu paralelo com os recolhidos na Af.rica Ocidenttal é
evidente principalmente com os provérbios e adivinhas do
Bush Negro. Os provérbios 'são empregados em tôda e
qualquer situação da vida dos negros da Guiana, tanto os
17
250 ARTHUR RAMOS
. .
. Em Tierra Firme (Venezuela e Colômbia), o Negro ,
foi introduzido para substituir o índio, no trabalho da
mineração e da agricultura. Felipe II concedeu licenças
a particulares para introduzir negros escravos em Tierra
Firme. Em 1560, Sancho Bnicefío levou 200 escravos
para Trujillo, Tocuyo, etc. O procurador Simon de Bo-
livar obteve para a província de ,V enezuela 3.000 licenças.
Outras permissões' especiais foram concedidas. No porto
de Cartágena, em 1663, chegaram-se a contar quatorze
navios negreiros, com 800 a 900 escravos cada um.
Com o tráfico dos portuguêses, no século XVII, Mar-
tin de Guzman obteve em 1692 concessão ,para prover a
Venezuela de escravos durante cinco anos. Depois, com
o monopólio inglês, a Espanha obrigou-se, pelo tratado
de U trecht (1713) a adnútir em suas colônias 4.800 es-
ravos anualmente. E nia segunda metade do. século
XVIII: a Companhia Guipuzcoana introduzia grande
quantidade de Negros na Venezuela (23).
. '
AS CULTURAS NEGRAS
NA AMÉRICA DO SUL: BRASIL
CAPÍTULO JCI
OS NEGROS , NO BRASIL
J't/()ANÊJ"CJ' • ~~
BANTUJ" · ffi\t
FIG. 5
Primitivos focos da entrada de Negros· escravos, no Bras)l.
fl:~ ~etaa indicam as mip-a~õe~ internas posteriorç~.
AS CULTURAS N·EGRAS NO NOVO MUNDO 273
A CULTURA YORUBA
19
282 .' AR.THUR RAMOS
· (10)
-
Vide A. Ramos, op. cit.,. págs. 61 e segs.
(11) Jd., ibid., págs. 249 e segs.
(12) /d., ibid., págs. 69 e segs.
AS CUT.;TURA.S NEGRAS NO NOVO MUNDO 287
Ocú babá
Ocú gêlê
Negro velho
Virou saruê
(Música e letra de
Getúlio Marinho da Silva)
(Letra e música de
Dario Ferreira)
20
298 ..ARTHUR RAMOS
AS CULTURAS DAOMEIANA
E FANTI-ASHANTI
' ' . \
No f olk-lore,· ainda conseguimos identificar . a influên-
cia da cultura daomeiana, em algl.ll11s casos. Certos fes-
tejos como os ternós e ranchos da Bahia. parecem reço-
AS CULTURAS NEGRAS NO .NOVO MUNDO 305
Avún-cê, nôgô-abô,
A vún-cê, mababú,
Avún-cê, aúê-na
A son coticolô kê
·búbúm
(14} Cf. Nina Rodrigues, op. cit., pág. 164. - Para maio-
res dados sôbre os Fanti-Ashanti e os negros Minas no Brasil:
A. Ramos, Introdução à Antropologia Brrasileirà, 1. 0 vol., págs.
'397 e segs ..
(15) Braz do Amaral, por exemplo, descreve em capítulos
separados os Negros Minas e os Ashantis (sic), confessando qué
sôbre êstes últimos lhe " faltam informes especiais" (loc. cit., pág.
684). Querino escreveu erradamente que "o vocábulo nagô abran-
ge a5 tribos seguintes: Mina, lorubá, lgechá, Ige-bú, Efo,~, Otá,
Egbá . .. " salada de povos pertencentes à Costa do Ouro e Costa
dos Escravos. Oliveira Vianna persiste no mesmo engano, enu-
merando minas separadamente de ashantís (Vide A. Ramos, O
Negro Brasileiro, pág. 20). E até Gilberto Freyre julgou, mais
recentemente que Minas fossem os mesmos escravos nagôs ( Casa
Çrcmdf! e. Sen.çala, 1.ª ed., pág.
' .. 328; 2,ª ed., pág. 214),. . Esta
'
308 A ~ T H ·U R RA M OS
AS CULTURAS NEGRO-MAOMETANAS
AS CULTURAS BANTUS
23
346 ARTHUR RAMOS
CONCLUSÕES GERAIS.
O PROBLEMA DA ACULTURAÇÃO
CAP1TULO XVI
A ACULTURAÇÃO NEGRA
NO NOVO MUNDO
Obs~rvamos ambos os
processos, no contacto racial
de negros .e brancos no Novo Mundo, desde as barreiras,
consolidadas em legislações particulares nos Estados Uni-
dos, até a quase ausência dessa ba rr.e íra de côr, em outros
pontos do Novo Mu'n'1o, com ,todos os graus interme- .
diários. · ·
Não está nos propósitos dêste livro o exame das
questões de relações de raça, no Novo Mundo, já abor-
dado por alguns estudiosos que se têm dedicado ao assun-
to ( 5). Adiantemos, para o momento, que no Novo
Mundo, todos os contactos possíveis de raça se fizeram:
negros com füancos ( niulatos, do Brasil e de outros paíse~
americanos), negros com índios ( curiboca.s ou e-a-fusos, no
Brasil, za1nbos, na América Espa·n1hola), ao lado de cruza-
mentos de brancos com índios ( 11W111·ielucos ou caboclos,
no ·Brasil, mestiços, na Amerka Espanhola), e de mulatos
com índios ou com ·caboclos, enfim, contacto das três raças
(p(JlYdos, em geral). '
Entre nós, foi o pr ofessor Roquette-Pinto quem mais
procurou estudar a biologia, e a an tropologia física dos
quatro grupos, que êle chamou: 1) LeHcod erm,os (Bran-
cos), 2) Faiodernws (Branco X Negro), 3) Xantodermos
(Branco X Jndio) e 4) Melanodermos (Negros), consi-
derando os demais' tipos (Cafusos , Xibaíos, Caborés . .. )
numericamente insigni ficantes (.6). ~ stes estudos prei- ,
cisa.m ser continuados, no Brasil, e conduzidos sob o ri-
24
362 A:R.T1IUR RA~OS
(16} Vide Hersko.vits, Social History, etc., loc. cit,, pág. 261.
' '
AR'l'HUR !iAMôS
AS CULTURAS NEGRO-AFRICANAS
CA_PiTULO I ~ O Continente Negro.
O Negro no Mundo - Negros africanos e Negros
orientais - O Continente Negro - Histõria da
Africa - As explorações dos séculos XVIII e XIX
- Os povos da Africa - A classificação de Seligman
~ H amitas e Semitas - Os Boschimanos e os Ho-
tentotes - Os Negrilhos - Os Negros propriamente
ditos - Sudanêses e Bantus - A Africa branca e a
Africa negra .•. , .. , ... . . •...... . . ... . • . . . : .. . , . . . . \ 19
SEGUNDA PARTE
TE~CEI RA PARTE
QUARTA PARTE
P D
AS CULTURAS NEGRAS NO NOVO MUNOO 371
SEXTA PARTE
.
.
.~ f
I·
f'·
2. ª edição, ampliada /
\ - . /
. / ~ ~r-:i" .
_,.. .J,' .
.• .
~ ~·_,1 ~-
.r,
(.
.,
. ~
,,,
#Yí .
/i't ' ,!! ' .
t 3 ,,.,· .
t'
. .
/Série 5.ª . tl; .f B R A S I L I A N A , Vol. 249
)B. i b I i o :{~-e-a P e d a ·g o g i e à B r a s i I e i r a
0
AS CULTURAS
NEGRAS NO
NOVO MUNDO
POR
ARTHUR RAMOS
*
Edição da
COMPANHIA EDITORA NACIONAL
São Paulo