05 O Terceiro Continente Tradução PDF
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http://dx.doi.org/10.14393/ArtC-V19n35-2017-2-01
O terceiro
SÉrgio
Buarque
de
Holanda
continente
Artista e modelo. José Sobral de Almada Negreiros.
José o
Saramag
Tapeçaria. 1953, fotografia (detalhe).
Ivan Jablonka
Doutor em História pela Universidade Paris IV. Professor da Universidade Paris XIII.
Autor, entre outros livros, de Laëtitia ou le fin des hommes. Paris: Seuil, 2016.
[email protected]
O terceiro continente*
The third continent
Ivan Jablonka
Tradução: Alexandre de Sá Avelar**
resumo abstract
Nas últimas décadas, os historiadores In the last decades, historians have ventu-
se aventuraram fora dos caminhos tra- red out of the traditional ways to explore
dicionais para explorar e reconfigurar and reconfigure the relationships between
as relações entre o real, a investigação reality, research, and literature. If the en-
e a literatura. Se o encontro entre os counter between the genders is perceptible
gêneros é perceptível tanto na litera- in the literature as in the social sciences,
tura como nas ciências sociais, isso this does not indicate its disappearance. A
não indica o seu desaparecimento. paradigm shift is imposed as a necessary
Uma mudança de paradigma se impõe condition for the emergence of a new lite-
como condição necessária à emergên- rary and cognitive topography
cia de uma nova topografia literária e
cognitiva.
palavras-chave: literatura; real; ciên- keywords: literature; real; social sciences.
cias sociais.
℘
* O texto aqui apresentado ao
público brasileiro foi original- O mapa-mundi da escrita é preenchido por dois continentes. Em
mente publicado em outono de verde, temos a “literatura”, fecundada pelo romance. São os territórios da
2016 na revista francesa Feuille-
ton. Nesta tradução, optou-se liberdade e do imaginário, jardins suspensos, pomares onde tudo cresce
por manter os títulos das obras facilmente graças a um princípio de ficção-prazer. Nestes espaços mira-
mencionadas segundo a versão
original de Ivan Jablonka. As
culosos, sabemos o que as pessoas pensam e conseguimos ver aquilo que
notas de rodapé, redigidas em não existe.
sua totalidade pelo tradutor, Em cinza, encontram-se os “utilitários”: artigos de imprensa, docu-
contêm a referência dessas
obras, bem como a indicação mentos, blogs, notícias, longos discursos, informações, detalhes a perder
de suas edições brasileiras, de vista. São os terrenos áridos do real e do verídico, cercados por um
quando for o caso. Diante da
existência de mais de uma
grande lago salgado composto pelas ciências sociais: história, sociologia,
edição brasileira, optou-se pela antropologia, economia etc. A paisagem é monótona, mas podemos ter a
mais recente. sorte de perceber, ao longo do percurso, o acontecimento, o social e uma
** Doutor em História pela Uni- camada de fatos irrefutáveis.Estamos falando, desse modo, de uma partilha
versidade Federal Fluminense
(UFF). Professor do Instituto
do mundo: a “literatura”, em que sentimos prazer em nos perder, e uma
de História e do Programa de “literatura cinzenta”, pela qual atravessamos com dificuldade.
Pós-graduação em História Nós poderíamos preencher as páginas seguintes com os nomes de
da Universidade Federal de
Uberlândia (UFU). Pesquisador escritores e de revistas que não encontram lugar no interior dessa carto-
do CNPq. Coorganizador, entre grafia. Na Argentina, Rodolfo Walsh; nos Estados Unidos, Truman Capote,
outros livros, de Afirmação da
história como ciência no século
Norman Mailer, Tom Wolfe, Gay Talese, Joan Didion, Janel Malcom e David
XX: de Arlette Farge a Robert F. Wallace; na Suíça, Nicolas Bouvier; na Polônia, Ryszard Kapuściński; na
Mandrou. Petrópolis: Vozes, Itália, Primo Levi e Nuto Revelli ; na União Soviética, Varlam Chalamov,
2016. alexandre.avelar@uol.
com.br Alexandre Soljenitsyne e Svetlana Alexievitch; na Espanha, Javier Cer-
sendo incapaz de inventar o que conheço do evento para tentar iluminar a realidade
pela ficção, eu me conformei em contá-lo. [...] Este livro é igualmente – e é bom que
eu reconheça desde o início – uma tentativa pretensiosa de transformar o fracasso
do meu romance sobre o 23 de fevereiro em um sucesso, porque ele tem o atrevi-
mento de não renunciar a nada. Ou a quase nada: ele não renuncia a se aproximar
Mudar de sistema