Piaget Wallon

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Disciplina: Psicologia da Educação e do Desenvolvimento

Professora: Raquel de Paiva Mano


Psicologia da Educação e do Desenvolvimento

O conceito de Infância
Até a Sociedade Medieval o sentimento de Infância não existia. A criança passava a ser
“adulta” a partir do momento em que tinha condições para não depender diretamente de sua
mãe ou de outros adultos. O conceito de Infância surge a partir do século XVIII, passando a
ser visto como um período de ingenuidade e fragilidade.

Desenvolvimento
O que é o desenvolvimento humano? Quando começa e quando se encerra?

“O desenvolvimento estende-se por toda a vida. Portanto, investiga-se também a vida


adulta, a meia idade, a idade avançada e mesmo a fase de morte iminente.”
(Davidoff, 2001, p. 419)

O entendimento do desenvolvimento é baseado no pressuposto de que, ao aprender, o


ser humano aprimora aquilo que já é inato, avançando no seu desenvolvimento.

As concepções para o Desenvolvimento Humano

• Inatismo
Enfatiza os fatores maturacionais e hereditários, entendendo que o ser humano é um
sujeito fechado em si mesmo, nasce com potencialidades, com dons e aptidões que serão
desenvolvidos de acordo com o amadurecimento biológico.
Dessa forma, não tem possibilidade de mudança, não age efetivamente e nem recebe
interferências significativas do social. Nada depois do nascimento é importante, visto que já
nasce pronto, incluindo a personalidade, valores, hábitos, pensamentos, emoções e conduta
social.
Ambientalismo
Essa concepção está fundamentada na filosofia empirista e positivista.
• Empirista: Ocorre a partir da experiência sensorial e dela deriva.

• Positivista: Se baseia numa suposta harmonia do social. A criança é regida por leis
naturais

Há uma supervalorização do ensino enquanto técnica a ser transmitida. O ser humano é


considerado uma folha em branco e deve receber o maior número de informações para
desempenhar suas funções na vida adulta.

Construtivismo

A psicologia construtivista busca explicar o aparecimento de inovações, mudanças e


transformações de ordem qualitativa que surgem no decorrer do desenvolvimento e os
mecanismos responsáveis por essa evolução. (Leite,1.991:28)

Interacionismo

A psicologia interacionista estuda a contribuição do sujeito nas suas trocas com o


objeto e com o meio e do meio na estruturação do conhecimento e das condutas do sujeito.
(Leite,1.991:25)

Interacionismo e Construtivismo

Os interacionistas e construtivistas destacam que o organismo e meio exercem ação


recíproca. Um influencia o outro e essa interação acarreta mudanças sobre o indivíduo. É,
pois, na interação da criança com o mundo físico e social que as características e
peculiaridades desse mundo vão sendo conhecidas, para cada criança, a construção desse
conhecimento exige elaboração, ou seja, uma ação sobre o mundo.

A concepção interacionista e construtivista de desenvolvimento apoia-se, portanto na


idéia de interação entre organismo e meio e vê a aquisição de conhecimento como um
processo construído pelo indivíduo durante toda a sua vida, não estando pronto ao nascer
nem sendo adquirido passivamente graças às pressões do meio.Experiências anteriores
servem de base para novas construções que dependem, todavia, também da relação que o
indivíduo estabelece com o ambiente numa situação determinada. Especial importância é
atribuída ao fator humano presente no ambiente. É através da interação com outras pessoas,
adultos e crianças que desde o nascimento, o bebê vai construindo suas características (seu
modo de agir, de pensar, de sentir) e sua visão de mundo, seu conhecimento.

Interacionismo

A Relação entre a herança genética e a influência social são consideradas como


fatores no desenvolvimento humano.
“O sujeito é um ser relacional em processo histórico e espacial e está em permanente
desenvolvimento.” (Abranches e Anastácio, 2005, p.85)
A influência da Psicologia na construção do ideário pedagógico, no início do século XX,
teve como cenário o ingresso de uma grande massa de crianças nas escolas nas sociedades
industrializadas, e o advento das idéias evolucionistas, que apontavam a necessidade de um
estudo e compreensão do desenvolvimento infantil.
Alguns autores estudaram a relação entre desenvolvimento e aprendizagem, a
importância da educação para o desenvolvimento do psiquismo e o papel do professor no
processo ensino-aprendizagem.

Alguns dos grandes estudiosos do Desenvolvimento Humano

• J. Piaget

• H. Wallon

• L.S. Vigostsky

1. JEAN PIAGET
Nasceu em 09 de agosto de 1896. Foi um jovem intelectualmente precoce:
• Com 10 anos publica na revista da Sociedade dos Amigos da Natureza de Neuchâtel
um artigo com estudos sobre um pardal branco.
• Aos 19 anos, forma-se em Biologia pela Universidade de Neuchâtel.
• Aos 21 anos já havia publicado 25 trabalhos profissionais.
• Aos 22 anos torna-se doutor. Sua tese foi sobre moluscos.
Muda-se para a Zurique para estudar Psicologia (principalmente psicanálise).
• Passou da biologia para a filosofia e para a psicologia, sendo famoso aos 30 anos por
suas publicações na área. Piaget gostava de ser classificado como EPISTEMÓLOGO
GENÉTICO.

O seu trabalho em biologia o levou a concluir que o desenvolvimento biológico não era
devido apenas à maturação (e hereditariedade), mas também a variáveis do ambiente, e que
o desenvolvimento biológico era um processo de adaptação ao meio, não podendo ser
explicado apenas pela maturação.
Passou da biologia para a filosofia e para a psicologia, sendo famoso aos 30 anos por
suas publicações na área. Piaget gostava de ser classificado como epistemólogo genético
(estuda como o conhecimento é adquirido). Descrição e explicação da origem e do
desenvolvimento das estruturas intelectuais e do conhecimento.
Piaget passou a estudar psicologia, e em 1919 (com 22 anos) trabalhou com Binet,
padronizando testes. Ficou intrigado com as respostas incorretas que as crianças davam às
questões dos testes; começa a trabalhar no exame dos processos de raciocínio subjacentes
às respostas das crianças.
A sua preocupação principal foi com o desenvolvimento cognitivo do indivíduo, com o
“sujeito epistêmico”, em como ocorre os processos de pensamento desde a infância até a
idade adulta. Procurou entender a gênese do conhecimento, ou seja, quais os processos
mentais envolvidos numa situação de resolução de problemas e quais os processos que
ocorreram na criança para possibilitar este tipo de atuação.
Utilizou o método de observação sistemática de seus três filhos – é implícito em sua
teoria que o curso geral do desenvolvimento das estruturas intelectuais é o mesmo em todas
as pessoas. Neste caso, o tamanho da amostra torna-se irrelevante.
Piaget observou que os organismos vivos se adaptam constantemente às mudanças
das condições ambientais. Os atos biológicos são atos de adaptação ao meio físico e
organizações do meio ambiente. A atividade mental não pode ser separada do funcionamento
total do organismo, e também se submete às mesmas leis que governam a atividade
biológica.
A organização e adaptação intelectual são explicadas a partir de 4 conceitos básicos.

1. ESQUEMA: Piaget entende que a mente é dotada de estruturas, da mesma


forma que o corpo. Os esquemas são estruturas mentais pelas quais os
indivíduos intelectualmente se adaptam e organizam o meio. Da mesma forma
que as estruturas físicas, os esquemas são estruturas que se adaptam e se
modificam com o desenvolvimento mental. Esquemas podem ser entendidos
como conceitos, categorias, ou mesmo como um arquivo com suas fichas (ou
esquemas) usados para processar e identificar a entrada de estímulos.

Em qualquer fase, as respostas das crianças refletem a natureza de seus conceitos ou


esquemas disponíveis naquele momento. Portanto, com o crescimento e desenvolvimento
eles mudam.

2. ASSIMILAÇÃO: é o processo cognitivo pela qual uma pessoa integra um novo


dado perceptual, motor ou conceitual nos esquemas ou padrões de
comportamento já existentes. A assimilação não resulta de uma mudança de
esquemas, mas afeta o crescimento deles, sendo parte do desenvolvimento.
A assimilação é parte do processo pelo qual o indivíduo cognitivamente se
adapta ao ambiente e o organiza.

Os esquemas dos adultos são diferentes daquelas das crianças.


Quando a criança é confrontada com um novo estímulo,ela tenta assimilá-lo a esquemas já
existentes. Ocasionalmente um estímulo pode não ser incorporado ou assimilado, pois sua
estrutura cognitiva pode não contar com um esquema no qual ele prontamente se encaixe. A
criança pode então:

1) Criara um novo esquema no qual possa encaixar o estímulo


2) Modificar um esquema prévio de modo que o estímulo pode ser nele incluído.

3. ACOMODAÇÃO. Ambas são formas de acomodação. Acomodação é a criação


de novos esquemas ou a modificação de velhos esquemas.
Durante a assimilação, os estímulos são forçados a se ajustarem à estrutura da
pessoa. Na acomodação ocorre o inverso: a pessoa é forçada a mudar sua estrutura para
acomodar novos estímulos.
Esquemas são construídos sobre as experiências repetidas; refletem o nível atual da
criança, de compreensão e conhecimento do mundo. Suas formas são determinadas pela
assimilação e acomodação da experiência, se tornando, como o passar do tempo, mais
próximas da realidade.
4. EQUILIBRAÇÃO: hipoteticamente, uma pessoa que só assimilou estímulos e nunca
fez acomodações, teria uns poucos esquemas amplos e seria incapaz de detectar
diferenças nas coisas. Inversamente, uma pessoa que só fizesse acomodações e
nunca assimilasse, terá pouca um grande número de esquemas muito pequenos
que teriam pouca generalidade. A maioria das coisas seria vista como muito
diferente, não veria semelhanças. Portanto, um balanço entre assimilação e
acomodação é necessário.

EQUILÍBRIO: é o estado de balanço entre assimilação e acomodação. Equilibração é o


processo de passagem do desequilíbrio para o equilíbrio. É um processo auto-regulador cujos
instrumentos são a assimilação e a acomodação. Quando ocorre desequilíbrio, fornece a
motivação (aquilo que ativa o comportamento) para acriança buscar o equilíbrio – para depois
assimilar ou acomodar.

Qualquer coisa pode ser assimilada por uma criança. Os esquemas que ela usa pode
não estar em harmonia com os do adulto, mas é sempre apropriado ao seu nível de
desenvolvimento. Não há organização errada. Há apenas organizações cada vez melhores, à
medida em que o desenvolvimento intelectual avança;
Frente a um estímulo novo, a criança tenta assimilá-lo em esquemas já existentes. Se
bem sucedida, há o equilíbrio.se não, tenta fazer uma acomodação, modificando um esquema
ou criando um esquema novo. Ocorre então a assimilação do estímulo e o equilíbrio é
alcançado.
Dessa maneira, se processam o crescimento e desenvolvimento cognitivo, em todas as
suas fases, sendo os esquemas do adulto construídos sobre os esquemas das crianças.
Assimilação e acomodação explicam o desenvolvimento das estruturas cognitivas como um
processo de adaptação e organização.

ESTÁGIO SENSÓRIO-MOTOR

Período 1: (0 – 1 mês) Atividade Reflexiva - o bebê assimila todos os estímulos através


dos sistemas reflexos. Poucas semanas após o nascimento observam-se acomodações
simples: comportamento de “busca ativa” do seio (mudança no comportamento reflexo). O
bebê é incapaz de diferenciar entre si mesmo e o meio (não tem o conceito de abjeto) –
qualquer objeto elicia apenas os reflexos. Não tem autopercepção (egocentrismo).
Período 2 (1 – 4 meses): Primeiras diferenciações  Vários comportamentos novos
aparecem: seguir objetos com os olhos (coordenação de visão); chupar o polegar
(coordenação mão-boca); e movimentar a cabeça em direção aos sons (visão-audição). As
mudanças no comportamento, ainda que primitivas, anunciam a organização interna do
ambiente e a adaptação a ele. Começa a manifestar uma consciência de objetos, e busca
visualmente objetos que não estão em seu campo de visão. O afeto é voltado para as próprias
atividades e para o próprio corpo (EU e ambiente somos um só).
Período 3: (4 – 8 meses) Reações circulares  o comportamento da criança orienta-se
progressivamente para outros objetos e eventos além do próprio corpo. Coordenação entre
visão e o tato: pega e manipula objetos que pode alcançar. Atos de pegar e bater – reproduzir
os eventos interessantes  Reações Circulares. Começa a apresentar comportamentos
dirigidos a um fim (intencionalidade). Os fins são estabelecidos depois do comportamento ter
começado. Começa a antecipar as posições pelas quais o objeto irá passar em movimento.
Posição egocêntrica de causalidade: só ela pode causar os eventos.
Período 4 (8 – 12 meses) Coordenação de esquemas  O bebê começa a fazer uso de
meios para alcançar fins: afasta um objeto (meio) para obter outro (fim). Seleção intencional
de meios antes de iniciar o comportamento. Capacidade de antecipação ou de previsão de
ações. Aparecem o conceito de constância de forma e de tamanho de objetos. Causalidade:
inicia a consciência de que outros objetos além dela podem se constituir nas causas das
ações. Afeto: investimento do afeto em outras pessoas (gostar, não gostar).
Período 5 (12 – 18 meses)  Invenção de novos meios (dedução causal). Faz trocas
afetivas importantes com outras pessoas.
Período 6 (18 a 24 meses) Representação  A criança torna-se apta para representar
internamente (mentalmente) objetos e eventos e subseqüentemente torna-se capaz resolver
problemas novos através da experimentação. Ela inventa sem necessidade de
experimentação; ela antecipa mentalmente os fatos. Consegue manter a imagem de um
objeto (representação) quando este está ausente. A criança busca um objeto até encontrá-lo.

ESTÁGIO PRÉ-OPERACIONAL

A criança (2 aos 7 anos) torna-se mais apta a representar eventos internamente (pensamento)
e menos dependente de suas ações sensório-motoras para direcionar seu comportamento.
Características:
Representações: qualquer coisa, que não os objetos e eventos, é usada para representar os
objetos e os eventos. Função simbólica (ou semiótica) uso de símbolos e signos. Símbolos
guardam alguma semelhança com o que representam (desenho, silhuetas, formas); signos
são arbitrários (escrita, números, etc).
Formas de representação:
 Imitação Diferida: copia fielmente um comportamento prévio.
 Desenho: garatujas, desenhos.
 Linguagem falada: som ou palavra usados para representar objeto: - fala egocêntrica
(para ela); fala socializada (para os outros)
 Egocentrismo – a criança vê o mundo apenas do seu ponto de vista, sem consciência
da existência de outros pontos de vista. Todos pensam como ela e pensam a mesma coisa.
Não reflete sobre seus próprios pensamentos, mesmo quando confrontada com evidências
contra o seu pensamento. Quando há uma contradição, conclui que a evidência deve estar
errada, não seus pensamentos. Do seu ponto de vista, seu pensamento é sempre lógico e
correto.
 Realismo: tendência a concretizar os acontecimentos, desejos, pensamentos, a
encará-los como entidades físicas e concretas.
 Animismo: tendência de atribuir aos objetos e acontecimentos físicos características
humanas (dotá-los de vida, consciência e sentimento)
 Artificialismo: tendência a considerar os fenômenos físicos como produtos da criação
humana; tudo foi feito pelo homem.

Reversibilidade – não consegue reverter o pensamento, ou seja, seguir o linha de raciocínio


de volta ao ponto de partida.
Conservação – refere-se ao conceito de que a quantidade de uma matéria permanece a
mesma independente de quaisquer mudanças em uma dimensão irrelevante (de número, de
área, de líquido).

ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES CONCRETAS (7 – 12 ANOS)

Desenvolve processos de pensamento lógico (operações) que podem ser aplicados a


problemas reais (concretos).

Operações lógicas: sistema internalizado de ações totalmente reversíveis: a ação pode


ocorrer numa direção ou na direção inversa.
Não apresenta dificuldades na solução de problemas de conservação e apresenta
argumentos corretos para suas respostas: toma decisões cognitivas e lógicas em oposição a
decisões perceptuais. Embora desenvolva operações lógicas (reversibilidade, classificação,
etc) elas têm emprego apenas na solução de problemas que envolvam apenas objetos e fatos
concretos (reais, observáveis), no presente. Problemas devem ser concretos e com poucas
variáveis: mais dificuldades com problemas verbais do que concretos.
O estágio operacional concreto pode ser entendido como um estágio de transição entre
o pensamento pré-operacional e lógico-formal. Ausência de egocentrismo: a criança passa a
ter consciência de que os outros podem chegar a conclusões diferentes das suas. Ela busca
a verificação das suas idéias no contato social, na necessidade de compartilhar seus
pensamentos com os dos outros, questionar seus próprios pensamentos e ver algo do ponto
de vista do outro.
Descentração: permite soluções lógicas a problemas concretos. A percepção dos fatos não
mais se centra em um único aspecto do estímulo, levando em conta apenas os traços
importantes do mesmo.
Reversibilidade: o pensamento é reversível, não encontra dificuldades em reverter o
problema e extrair a dedução apropriada.
Conservação: a criança torna-se capaz de operar logicamente sobre os problemas de
conservação e resolvê-los.
Classificação: agrupar mentalmente os objetos de acordo com suas semelhanças.

ESTÁGIO DAS OPERAÇÕES FORMAIS (A PARTIR DE 12 ANOS)


Neste estágio, o adolescente desenvolve o raciocínio e a lógica necessários à solução
de todas as classes de problemas. Emprega os mesmos processos lógicos que o adulto.
Mudanças no pensamento são quantitativas e não mais qualitativas. O conteúdo e a função
da inteligência podem progredir, mas nem todos desenvolvem plenamente as operações
formais.
É bem mais abrangente do que o pensamento operacional concreto, e não mais preso
às experiências acessíveis. Já pode lidar com problemas verbais complexos que envolvem
proposições, problemas hipotéticos, relacionados ao passado, presente e futuro.
Raciocínio Hipotético-Dedutivo: implica em deduzir conclusões de premissas que são
hipóteses em vez de deduzir de fatos que o sujeito tenha realmente verificado. Raciocínio
empregado em hipóteses.
Raciocínio Científico-Dedutivo: vai dos fatos específicos às conclusões gerais. Empregado
pelos cientistas para chegar a generalizações ou a leis científicas. Os adolescentes com as
operações formais, quando confrontados com problemas, são capazes de formular hipóteses,
experimentar, controlar variáveis, registrar efeitos e extrair conclusões sistemáticas dos
resultados. Pode também raciocinar sobre um certo número de variáveis ao mesmo tempo.
Abstração Reflexiva: é um pensamento interno ou reflexão baseada no conhecimento
disponível, podendo resultar num conhecimento novo, uma nova construção. É o principal
mecanismo presente na construção de todo pensamento lógico-matemático. O raciocínio
analógico, por exemplo, só é adquirido no estágio de operações formais.

2. HENRI WALLON

Nasceu na França em 1879. Antes de chegar à psicologia passou pela filosofia e


medicina e ao longo de sua carreira foi cada vez mais explícita a aproximação com a
educação. Em 1902, com 23 anos, formou-se em filosofia pela Escola Normal Superior,
cursou também medicina, formando-se em 1908. Viveu num período marcado por
instabilidade social e turbulência política. As duas guerras mundiais (1914-18 e 1939-45), o
avanço do fascismo no período entre guerras, as revoluções socialistas e as guerras para
libertação das colônias na África atingiram boa parte da Europa e, em especial, a França.
Em 1914 atuou como médico do exército francês, permanecendo vários meses na frente de
combate. O contato com lesões cerebrais de ex-combatentes fez com que revisse posições
neurológicas que havia desenvolvido no trabalho com crianças deficientes. Até 1931 atuou
como médico de instituições psiquiátricas. Paralelamente à atuação de médico e psiquiatra
consolida-se seu interesse pela psicologia da criança. Na 2a guerra atuou na Resistência
Francesa contra os alemães, foi perseguido pela Gestapo, teve que viver na clandestinidade.
De 1920 a 1937, é o encarregado de conferências sobre a psicologia da criança na Sorbonne
e outras instituições de ensino superior. Em 1925 funda um laboratório destinado à pesquisa e
ao atendimento de crianças ditas deficientes. Ainda em 1925 publica sua tese de doutorado “A
Criança Turbulenta”. Inicia um período de intensa produção com todos os livros voltados para
a psicologia da criança. O último livro “Origens do pensamento na criança’, em 1945. Em 1931
viaja para Moscou e é convidado para integrar o Círculo da Rússia Nova, grupo formado por
intelectuais que se reuniam com o objetivo de aprofundar o estudo do materialismo dialético e
de examinar as possibilidades oferecidas por este referencial aos vários campos da ciência.
Neste grupo o marxismo que se discutia não era o sistema de governo, mas a corrente
filosófica. Em 1942, filiou-se ao Partido Comunista, do qual já era simpatizante. Manteve
ligação com o partido até o final da vida. Em 1948 cria a revista ‘Enfance”. Neste periódico,
que ainda hoje tenta seguir a linha editorial inicial, as publicações servem como instrumento
de pesquisa para os pesquisadores em psicologia e fonte de informação para os educadores.
Faleceu em 1962.

A ABORDAGEM DE HENRI WALLON

A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja, "o ser
humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para
se atualizar" (Dantas, 1992). Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de Wallon
é centrada na psicogênese da pessoa completa.

Henri Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento


humano, estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Assim, o
desenvolvimento da criança aparece descontínuo, marcado por contradições e conflitos,
resultado da maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no
seu comportamento em geral.

Wallon realiza um estudo que é centrado na criança contextualizada, onde o ritmo no


qual se sucedem as etapas do desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas,
retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa profundas mudanças nas anteriores.
Nesse sentido, a passagem dos estágios de desenvolvimento não se dá linearmente, por
ampliação, mas por reformulação, instalando-se no momento da passagem de uma etapa a
outra, crises que afetam a conduta da criança.
Conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena quando resultantes dos
desencontros entre as ações da criança e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e
pela cultura e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação nervosa (Galvão,
1995). Esses conflitos são propulsores do desenvolvimento.

Os cinco estágios de desenvolvimento do ser humano apresentados por Galvão (1995)


sucedem-se em fases com predominância afetiva e cognitiva:

1. Impulsivo-emocional, que ocorre no primeiro ano de vida. A predominância da


afetividade orienta as primeiras reações do bebê às pessoas, às quais intermediam
sua relação com o mundo físico;
2. Sensório-motor e projetivo, que vai até os três anos. A aquisição da marcha e da
preensão, dão à criança maior autonomia na manipulação de objetos e na
exploração dos espaços. Também, nesse estágio, ocorre o desenvolvimento da
função simbólica e da linguagem. O termo projetivo refere-se ao fato da ação do
pensamento precisar dos gestos para se exteriorizar. O ato mental "projeta-se" em
atos motores. Como diz Dantas (1992), para Wallon, o ato mental se desenvolve a
partir do ato motor;

3. Personalismo, ocorre dos três aos seis anos. Nesse estágio desenvolve-se a
construção da consciência de si mediante as interações sociais, reorientando o
interesse das crianças pelas pessoas;

4. Categorial. Os progressos intelectuais dirigem o interesse da criança para as


coisas, para o conhecimento e conquista do mundo exterior;

5. Predominância funcional. Ocorre nova definição dos contornos da personalidade,


desestruturados devido às modificações corporais resultantes da ação hormonal.
Questões pessoais, morais e existenciais são trazidas à tona.

Na sucessão de estágios há uma alternância entre as formas de atividades e de


interesses da criança, denominada de "alternância funcional", onde cada fase predominante
(de dominância, afetividade, cognição), incorpora as conquistas realizadas pela outra fase,
construindo-se reciprocamente, num permanente processo de integração e diferenciação.
Wallon enfatiza o papel da emoção no desenvolvimento humano, pois, todo o contato
que a criança estabelece com as pessoas que cuidam dela desde o nascimento, é feito de
emoções e não apenas cognições.
Baseou suas idéias em quatro elementos básicos que estão todo o tempo em
comunicação: afetividade, emoções, movimento e formação do eu.

1. AFETIVIDADE - possui papel fundamental no desenvolvimento da pessoa pois é


por meio delas que o ser humano demonstra seus desejos e vontades. As
transformações fisiológicas de uma criança (nas palavras de Wallon, em seu
sistema neurovegetativo) revelam importantes traços de caráter e personalidade.
2. EMOÇÕES - é altamente orgânica, ajuda o ser humano a se conhecer. A raiva, o
medo, a tristeza, a alegria e os sentimentos mais profundos possuem uma
função de grande relevância no relacionamento da criança com o meio.
3. MOVIMENTO - as emoções da organização dos espaços para se
movimentarem. Deste modo, a motricidade tem um caráter pedagógico tanto
pela qualidade do gesto e do movimento, quanto pela maneira com que ele é
representado. A escola ao insistir em manter a criança imobilizada acaba por
limitar o fluir de fatores necessários e importantes para o desenvolvimento
completo da pessoa
4. .FORMAÇÃO DO EU - a construção do eu depende essencialmente do outro.
Com maior ênfase a partir de quando a criança começa a vivenciar a "crise de
oposição", na qual a negação do outro funciona como uma espécie de
instrumento de descoberta de si própria. Isso acontece mais ou menos em torno
dos 3 anos, quando é a hora de saber que "eu" sou. Imitação, manipulação e
sedução em relação ao outro são características comuns nesta fase.

Wallon, deixou-nos uma nova concepção da motricidade, da emotividade, da


inteligência humana e, sobretudo, uma maneira original de pensar a Psicologia infantil
e reformular os seus problemas.

PSICOGÊNESE DA PESSOA COMPLETA

Wallon procura explicar os fundamentos da psicologia como ciência, seus aspectos


epistemológicos, objetivos e metodológicos. Admite o organismo como condição
primeira do pensamento, pois toda a função psíquica supõe um componente orgânico.
No entanto, considera que não é condição suficiente, pois o objeto de ação mental vem
do ambiente no qual o sujeito está inserido, ou seja, de fora. Considera que o homem é
determinado fisiológica e socialmente, sujeito às disposições internas e às situações
exteriores.

PSICOLOGIA GENÉTICA

A psicologia genética estuda os processos psíquicos em sua origem, parte da análise


dos processos primeiros e mais simples, pelos quais cronologicamente passa o sujeito. Para
Wallon essa é a única forma de não dissolver em elementos separados e abstratos a
totalidade da vida psíquica. Wallon propõe a psicogênese da pessoa completa, ou seja, o
estudo integrado do desenvolvimento.
Considera que não é possível selecionar um único aspecto do ser humano e vê o
desenvolvimento nos vários campos funcionais no qual se distribui a atividade infantil (afetivo,
motor e cognitivo).
Para ele o estudo do desenvolvimento humano deve considerar o sujeito como
“geneticamente social” e estudar a criança contextualizada, nas relações com o meio.
Wallon recorreu a outros campos de conhecimento para aprofundar a explicação do fatores de
desenvolvimento (neurologia, psicopatologia, antropologia, psicologia animal).
Para ele a atividade do homem é inconcebível sem o meio social; porém as sociedades
não poderiam existir sem indivíduos que possuam aptidões como a da linguagem que
pressupõe uma conformação determinada do cérebro, haja vista que certas perturbações de
sua integridade, privam o indivíduo da palavra. Vemos então que para ele não é possível
dissociar o biológico do social no homem. Esta é uma das características básicas da sua
Teoria do Desenvolvimento.
De acordo com Dantas (1992) Wallon concebe o homem como sendo genética e
organicamente social e a sua existência se realiza entre as exigências da sociedade e as do
organismo.
Pedagogicamente a reflexão a partir de tais concepções exige uma prática que atenda
as necessidades das crianças nos planos afetivo, cognitivo e motor, além de promover o seu
desenvolvimento em todos os níveis.
O maior objetivo da educação no contexto de sua psicologia genética estaria posto no
desenvolvimento da pessoa e não em seu desenvolvimento intelectual. A inteligência é uma
parte do todo em que a pessoa se constitui.

INTERLOCUÇÃO COM AS TEORIAS DE PIAGET E FREUD.

Destacava na teoria de Piaget as contradições e dessemelhanças entre as suas


teorias, pois considerava esse o melhor procedimento quando se busca o conhecimento. Por
parte de Piaget existia uma constante disposição em buscar a continuidade e
complementaridade de suas obras. Os dois se propunham a análise genética dos processos
psíquicos, no entanto, Wallon pretendia a gênese da pessoa e Piaget a gênese da
inteligência.
Com a psicanálise de Freud mantém uma atitude de interesse e ao mesmo tempo de
reserva. Embora com formação similar (neurologia e medicina) a prática de atuação os levou
a caminhos distintos. Freud abandonando a neurologia para dedicar-se a terapia das
neuroses e Wallon mantém-se ligado a esta devido ao seu trabalho com crianças com
distúrbios de comportamento.
O método adotado por Wallon é o da observação pura. Considera que esta
metodologia permite conhecer a criança em seu contexto, “só podemos entender as atitudes
da criança se entendermos a trama do ambiente no qual está inserida”.

3. L. S. VYGOTSKY

Nasceu em 17 de novembro de 1896 na pequena cidade de Orsha na Bielo-Rússia


(país independente da Rússia desde 1990), filho de uma família judia. Cresceu em um
ambiente bastante propício para o desenvolvimento intelectual, seus pais tinham um bom
nível intelectual e cultural. Casou-se aos 28 anos, e teve duas filhas. Faleceu em Moscou em
11 de junho de 1934, vítima de tuberculose, doença com que conviveu durante quatorze anos.
Estudou Direito, Filosofia e Medicina, escreveu, em sua curta vida, uma ampla e importante
obra, da qual apenas alguns livros foram traduzidos para o português; iniciou-se sob forte
influência do materialismo histórico e dialético de Marx e Engels. No seu trabalho, encontra-se
uma visão de desenvolvimento baseada na concepção de um organismo ativo, cujo
pensamento é construído paulatinamente num ambiente que é histórico e essência social. O
sujeito é herdeiro da evolução filogenética e cultural, e seu desenvolvimento se dá em função
das características do meio social em que vive, portanto sua teoria é considerada sócio-
cultural ou sócio-histórica. Nesta teoria é dado destaque as possibilidades que o indivíduo
dispõe a partir do ambiente em que vive e que dizem respeito ao acesso que o ser humano
tem a “instrumentos físicos”, como a faca, a mesa, etc.(trabalho) e “instrumentos
sociais”(simbólicos), como a cultura, valores, crenças, costumes, tradições, (Signos e
linguagens), desenvolvidos em gerações precedentes.
Uma das principais características da obra de Vygotsky é a riqueza e diversidade dos
assuntos que abordou. Dedicou-se à análise de diversos temas relacionados a seu tema
central, dentre eles, as diferenças entre o psiquismo animal e o humano, a gênese social das
funções psicológica superiores, as relações entre pensamento e linguagem, a questão da
mediação simbólica, as relações entre o desenvolvimento e a aprendizagem dentro do
contexto escolar e extra-escolar, o problema das deficiências física e mental, a questão da
cultura no desenvolvimento humano.

PRINCIPAIS INFLUÊNCIAS
 Vygotsky sofreu uma significativa influência de pesquisadores da área da lingüística,
que, a partir de uma abordagem histórica, se dedicavam ao estudo da origem da
linguagem e sua relação com o desenvolvimento do pensamento;
 Também se interessou pelo estudo comparativo entre o comportamento animal e
humano;
 O pensamento marxista também foi para ele uma fonte valiosa. As concepções de
Marx e Engels sobre a sociedade, o trabalho humano,o uso dos instrumentos, e a
interação dialética entre o homem e a natureza serviram como fundamento principal às
suas teses sobre o desenvolvimento humano profundamente enraizado na sociedade e
na cultura.
 Vygotsky também foi influenciado por autores que estudavam o desenvolvimento
humano enquanto fenômeno histórico e socialmente determinado.
 Teve um interesse enorme pelo estudo do desenvolvimento dos processos mentais ao
longo da história da espécie e em diferentes culturas.

A DESCOBERTA DA SUA OBRA PELO MUNDO OCIDENTAL

A partir da 1932, a obra de Vygotsky começou a sofrer severas críticas na sua terra, o
governo de Stalin chegou a considerá-la “idealista”, pois ao contrário do pensamento corrente
da época que afirmava que o ser humano tinha a capacidade de se adaptar ao meio
ambiente, Vygotsky afirmava que o ser humano não só se adaptava, mas também o
modificava. Para ele, a capacidade humana de transformar o mundo ao seu redor, era
superior à simples habilidade de ser adaptar às condições ambientais.
Após a sua morte, a publicação de suas obras ficou proibida entre 1936 a 1956, na
Rússia, o que contribuiu para que o Ocidente só tivesse acesso aos seus trabalhos a partir de
1962, data da primeira edição americana do livro Pensamento e Linguagem. No Brasil, a
primeira publicação de Vygotsky foi em 1984, com o título A formação social da mente. Até
hoje o mundo ocidental não teve acesso à totalidade de sua obra, visto que a tradução do
original russo para o inglês, francês, italiano, português, ainda não se completou.

PROJETO DE TRABALHO
Seu projeto de trabalho era estudar o desenvolvimento humano nas suas dimensão filo e
ontogenética e histórico e social. Deteve-se no estudo das funções psicológicas superiores
típicas da espécie humana. Estas ações são ditas superiores pois são intencionais,
conscientemente controladas e voluntárias (independência em relação ao meio:
 o controle consciente do comportamento;
 a atenção e lembrança voluntária;
 memorização ativa;
 pensamento abstrato;
 raciocínio dedutivo;
 capacidade de planejamento (intenção); etc.

PRINCIPAIS IDÉIAS DE VYGOTSKY

 Relação Indivíduo/Sociedade: as características tipicamente humanas não estão


presentes desde o nascimento do indivíduo, nem são mero resultado das pressões do
meio externo. Elas resultam da interação dialética do homem e do seu meio sócio-
cultural.
 Origem cultural das funções psíquicas: as funções psicológicas especificamente
humanas se originam nas relações dos indivíduos e seu contexto cultural e social. A
cultura é parte constitutiva da natureza humana, já que sua característica psicológica
se dá a partir da internalização dos modos historicamente determinados e
culturalmente organizados da operar com informações.
 Base biológica do funcionamento psicológico: o cérebro é o resultado de uma longa
evolução e ao nascer, o sujeito traz consigo esse substrato material, porém, essa base
inicial não é imutável ou fixo, já que o cérebro é entendido como um “sistema aberto,
de grande plasticidade, cuja estrutura e modos de funcionamento são moldados ao
longo da história da espécie e do desenvolvimento individual”.
 A mediação presente na história humana: são os instrumentos técnicos e os sistemas
de signos,construídos historicamente, que fazem a mediação dos seres humanos entre
si e entre eles e o mundo. A linguagem é um mediador por excelência, pois ela carrega
em si os conceitos generalizados pela cultura humana.

PENSAMENTO E LINGUAGEM
A linguagem é o instrumento mais complexo usado pelo ser humano para as suas trocas
sociais. O pensamento é determinado pela linguagem, ou seja, para que o sujeito se
expresse, ele precisa aprender dentro de um contexto social, a forma de se comunicar com os
outros sujeitos sociais (verbal, gestual e por escrito).

LINGUAGEM
 SISTEMA SIMBÓLICO
 FORMA DE ORGANIZAÇÃO DO REAL
 MEDIAÇÃO ENTRE O SUJEITO E O CONHECIMENTO
É através da linguagem que aprendemos a pensar.

FASES DE AQUISIÇÃO DA LINGUAGEM


Linguagem Social
Linguagem Egocêntrica
Linguagem Internalizada

FUNÇÕES MENTAIS SUPERIORES


São construídas ao longo da história social do homem e de sua relação com o mundo. São
provenientes, portanto, de ações conscientes e intencionais dependentes de processos de
aprendizagem. Têm origens sócio-culturais, e dependem dos processos psicológicos
elementares.

DESENVOLVIMENTO E APRENDIZAGEM
A aprendizagem resulta do desenvolvimento e este não ocorre sem aprendizagem.
A aquisição de conhecimento é mediada pela cultura, não há como ter acesso direto ao
objeto, pois o que aprendemos são recortes sócio-históricos dos eventos que nos cercam
(mediados constantemente). Vygotsky propôs a ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL
para explicar o processo de desenvolvimento e aprendizagem.

ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL (POTENCIAL)


“ZDP é a distância entre o nível de desenvolvimento real que se costuma determinar
através da solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial,
determinado através da orientação de problemas sob a orientação de um adulto ou em
colaboração com companheiros mais capazes.”

 Nível de desenvolvimento real: capacidade intelectual já consolidada pela


criança, resolução de problemas sem auxílio.
 Nível de Desenvolvimento Potencial: capacidade de resolver um problema
com o auxílio de alguém mais experiente.

TEORIAS DE PIAGET E VYGOTSKY

A teoria do conhecimento de Vygotsky e Piaget

Para Vygotsky, as oportunidades que se abrem para cada criança são muitas e
variadas, adquirindo destaque, em sua teoria, as formas pelas quais as condições sociais e as
interações humanas afetam o pensamento e o raciocínio. Os fatores biológicos preponderam
sobre os sociais apenas no início da vida da criança. Gradativamente, as interações sociais
com adultos ou com companheiros mais experientes governam o desenvolvimento do
pensamento e o próprio comportamento da criança.

A forma como a fala é utilizada na interação social com adultos e colegas mais velhos
desempenha, portanto um papel importante na formação e organização do pensamento
complexo e abstrato, a nível individual. À medida que as crianças crescem, elas internalizam a
ajuda externa que vai-se tornando desnecessária. O pensamento infantil, amplamente guiado
pela fala e pelo comportamento dos mais experientes, gradativamente adquire a capacidade
de se auto-regular.
Através da própria fala, o ambiente físico e social pode ser melhor apreendido,
aquilitado e equacionado: a fala modifica, assim, a qualidade do conhecimento e pensamento
que se tem do mundo em que se encontra. Ao internalizar instruções, as crianças modificam
suas funções psicológicas: percepção, atenção, memória, capacidade para solucionar
problemas. É dessa maneira que formas historicamente determinadas e socialmente
organizadas de operar com informação influenciam o conhecimento individual, a consciência
de si e do mundo.

Ex. A visão de mundo e as conseqüentes formas de interagir com as crianças adotadas pelos
adultos no século XV diferem substancialmente das utilizadas hoje em dia, especialmente se
as compararmos com as do mundo urbano moderno, fortemente influenciado pelos meios de
comunicação de massa. Traduzem formas diferentes de organizar, planejar e atuar sobre a
realidade.

A construção do pensamento complexo e do abstrato

Para Vygotsky, o processo de formação de pensamento é despertado e acentuado pela


vida social e pela constante comunicação que se estabelece entre crianças e adultos, a qual
permite a assimilação da experiência de muitas gerações. A linguagem intervém no processo
de desenvolvimento intelectual da criança desde o nascimento. Quando os adultos nomeiam
objetos, indicando para a criança as várias relações que estes mantém entre si, ela constrói
formas mais complexas e sofisticadas de conceber a realidade. Sozinha, não seria capaz de
adquirir aquilo que obtém por intermédio de sua interação com os adultos e com as outras
crianças, num processo que a linguagem é fundamental.

Assim, as funções mentais superiores, como a capacidade de solucionar problemas, o


armazenamento e o uso adequado da memória, a formação de novos conceitos, o
desenvolvimento da vontade, aparecem, inicialmente, no plano social (interação de pessoas),
e apenas depois elas surgem no plano psicológico (no próprio indivíduo). A construção do real
pela criança, ou seja,a apropriação que esta faz da experiência social, parte, pois, do social
(da interação com os outros) e, paulatinamente, é internalizada por ela..

A palavra dá forma ao pensamento, criando novas modalidades de atenção, memória e


imaginação, além de indicar um objeto do mundo externo, ela também especifica as principais
características desse objeto, abstraindo das características dos demais objetos. Até por volta
dos três anos de idade, a fala acompanha, frequentemente, o comportamento infantil.
É comum a criança de dois anos agir e descrever o que faz, ao mesmo tempo. A partir
de então observa-se que a fala começa a preceder o comportamento, a criança anuncia o que
irá fazer a seguir. A fala adquire uma nova função, que é característica do pensamento
complexo a de planejar a ação, de guiar as atividades da criança.Isto é verificado quando se
observa a modificação do “falar para si em voz alta”, típico de menores. Após a idade de seis
anos, o falar para si mesmo em voz alta, torna-se fragmentado, então é substituído por
sussurros e começa a “desaparecer, tornando-se uma fala interna, aspecto integral do
pensamento e que o direciona.

Portanto para Vygotsky, o pensamento e linguagem são dois círculos interligados.

Desenvolvimento e Aprendizagem

Vygotsky considera que a aprendizagem e desenvolvimento sejam fenômenos distintos


e interdependentes, cada um tornando o outro possível. Questionando a interação entre estes
dois processos, Vygotsky aponta o papel da capacidade do homem de entender e utilizar a
linguagem. Assim, vê a inteligência como habilidade para aprender,desprezando teorias que
concebem a inteligência como resultante de aprendizagens prévias, já realizadas.

Para ele, existe um nível de desenvolvimento, denominado “zona potencial ou


proximal”, que refere-se a distância entre o nível de desenvolvimento atual, determinado
pela capacidade de solução, sem ajuda, de problema, e o nível de potencial de
desenvolvimento, medido através da solução de problemas sob a orientação de adultos ou em
colaboração com as crianças mais experientes ; o conceito de “zona de desenvolvimento
potencial” possibilita compreender funções de desenvolvimento que estão a caminho de se
completar. Tal conceito é de suma importância para um ensino efetivo. Ele pode ser utilizado
tanto para mostrar a forma como a criança organiza a informação, como para verificar o modo
como o seu pensamento opera, apenas conhecendo o que as crianças são capazes de
realizar com e sem ajuda externa é que se pode conseguir planejar as situações de ensino e
avaliar os progressos individuais. Portanto, o papel da educação e, consequentemente, o da
aprendizagem, ganham destaque na teoria de desenvolvimento de Vygotsky, que também
mostra que a qualidade das trocas que se dão no plano verbal entre professor e alunos irá
influenciar decisivamente na forma como as crianças tornam mais complexo o seu
pensamento e processam novas informações.
O processo de desenvolvimento, para Vygotsky, é a apropriação ativa do
conhecimento disponível na sociedade em que a criança nasceu . é preciso que ela
aprenda e integre em sua maneira de pensar o conhecimento da sua cultura. o funcionamento
intelectual mais complexo desenvolve-se graças a regulações realizadas por outras pessoas
que, gradualmente, são substituídas por auto-regulações.

A fala é apresentada, repetida e refinada, acabando por ser internalizada, permitindo à


criança processar informações de uma forma mais elaborada.

Piaget

Jean Piaget :(1.896-1.980) Suiça, é o mais conhecido dos teóricos que defendem a visão
interacionista de desenvolvimento. Formado em Biologia e Filosofia, dedicou-se a investigar
cientificamente como se forma o conhecimento. Ele considerou que se estudasse
cuidadosamente e profundamente a maneira pela qual as crianças constróem as noções
fundamentais de conhecimento lógico, tais como as de tempo, espaço,objeto,
causalidade,etc.,(o nascimento e a evolução do conhecimento humano). Piaget, propôs-se a
investigar como, através de quais mecanismos, a lógica infantil se transforma em lógica
adulta, partindo de uma concepção de desenvolvimento envolvendo um processo contínuo de
trocas entre o organismo vivo e o meio ambiente.

Equilíbrio – Equilibração

A noção de equilíbrio é o alicerce da teoria de Piaget. Todo organismo vivo, para ele,
procura manter um estado de equilíbrio ou de adaptação com o seu meio, agindo de forma a
superar perturbações na relação que ele estabelece com o meio. Para Piaget, o
desenvolvimento cognitivo do indivíduo ocorre através de constantes desequilíbrios e
equilibrações. O aparecimento de uma nova possibilidade orgânica no indivíduo ou a
mudança de alguma característica do meio ambiente, por mínima que seja, provoca a ruptura
do estado de repouso, da harmonia entre o organismo e meio, causando um desequilíbrio.

Dois mecanismos são acionados para alcançar um novo estado de equilíbrio:

1º- Assimilação: o organismo através dele, sem alterar suas estruturas, desenvolve ações
destinadas a atribuir significações, a partir da sua experiência anterior, aos elementos do
ambiente com os quais interage.
2º- Acomodação: o organismo tenta restabelecer um equilíbrio superior com o meio
ambiente, entretanto o organismo é impelido a se modificar, a se transformar para se ajustar
às demandas impostas pelo ambiente.

Assimilação e acomodação são processos distintos e opostos mas que ocorrem ao mesmo
tempo.

Ex.: A criança pequena, ao pegar uma bola, ocorre assimilação na medida em que ela faz uso
do esquema de pegar, que já lhe é conhecido, atribuindo à bola o significado do “objeto que
se pega”,mas a acomodação também está presente, uma vez que o esquema em questão
precisa ser modificado para se ajustar às características do objeto, por tanto, a abertura dos
dedos e a força empregada para retê-lo são diferentes quando se pega uma bola de gude ou
uma bola de futebol.Ao longo do processo de desenvolvimento, há momentos em que a
assimilação prevalece sobre a acomodação, como ocorre no jogo simbólico infantil e onde o
mesmo esquema é aplicado a diferentes objetos ou diferentes esquemas a um mesmo objeto,
modificando-lhes o significado.

Ex.: A criança utiliza o jornal nas suas brincadeiras de diferentes maneiras ( Bola,
cobertor,avião,etc.), mas ela também pode aplicar o esquema de “jogar para cima”a uma bola
de papel, a uma folha de jornal, a uma boneca, etc..

Mas há momentos em que a acomodação é mais importantes que a assimilação, como


se passa na imitação, onde a criança procura copiar as ações de um modelo, ajustando seus
esquemas aos da pessoa imitada.

Piaget, definiu o desenvolvimento como sendo um processo de equilibrações sucessivas,seu


processo contínuo, é caracterizado por diversas fases, ou etapas, ou períodos. Cada etapa
define um momento de desenvolvimento ao longo do qual a criança constrói certas estruturas
cognitivas. Segundo Piaget, o desenvolvimento passa por quatro etapas distintas:

1º- Etapa Sensoriomotora (0 à 2 anos)

A criança baseia-se em esquemas motores e percepções sensoriais para resolver seus


problemas, que são práticos. Nesse período, muito embora a criança já tenha uma conduta
inteligente, considera-se que ela ainda não possui pensamento, porque não dispõe nesta
idade da capacidade de representar eventos, de evocar o passado e de referir-se ao
futuro.Está presa ao aqui-agora da situação. Atua sobre os objetos de uma forma “pré-lógica”,
lançando mão de esquemas sensoriomotores: jogando, pegando, balançando, mordendo,
colocando um sobre o outro, um dentro do outro, formando os “conceitos sensoriomotores” de
maior, de menor, de objetos que balançam e objetos que não balançam, etc. A criança
também aplica esquemas sensoriomotores para se relacionar e conhecer outros seres
humanos. Tais esquemas, formas de inteligência exteriorizada, vão se modificando com a
experiência, ou seja, os esquemas iniciais dão origem a esquemas conceituais, modos
internalizados de agir para conhecer, que pressupõem pensamento.

A noção de “EU”, se dá nesta etapa, através da qual a criança diferencia o mundo


externo do seu próprio corpo, explorando, percebendo suas diversas partes, experimentando
emoções diferentes, formando a base do seu autoconceito. Ao longo desta etapa, a criança irá
elaborar a sua organização psicológica básica, no aspecto motor, no perceptivo, no afetivo, no
social e no intelectual. Nesse mesmo período, as concepções de espaço, tempo e
causalidade começam a ser construídas, possibilitando à criança novas formas de ação
prática para lidar com o meio.

2º- Etapa Pré - operatória (2 à 6 anos)

É a etapa que marca o início da linguagem oral. Ela permitirá a criança, além de dispor
da inteligência prática construída na fase anterior, da possibilidade de ter esquemas de ação
interiorizado, chamados de esquemas representativos ou simbólicos, ou seja, esquemas que
envolvem uma idéia preexistente a respeito de algo.

Ex.: A criança é capaz de formar, representações de avião, de papai, de sapato, que não se
deve bater em outra criança, etc.

A partir dessas novas possibilidades de lidar com o meio, dos dois anos em diante a
criança poderá tomar um objeto ou uma situação por outra, pode também substituir objetos,
ações, situações e pessoas por símbolos, que são as palavras. Tem origem, o pensamento
sustentado por conceitos.

Ex.: A criança toma um boneco por um bebê; pode agir como se fosse sua mãe com uma
bolsa nos braços; compreende que “papai” refere-se a uma pessoa específica, etc.

O pensamento pré-operatório indica, portanto: inteligência capaz de ações


interiorizadas, ações mentais. Ele é diferente do pensamento adulto, como é fácil de se
constatar, depende das experiências infantis, refere-se a elas; sendo, portanto, um
pensamento que a criança centra em si mesma, chamado de pensamento egocêntrico
( centrado no ego do sujeito): é um pensamento que tem como referência a própria
criança, a qual não se coloca do ponto de vista do outro.

Ex.: Adulto : Quantos irmãos você tem?

Criança: Eu tenho só um irmão.

Adulto : E seu irmão, quantos irmãos tem?

Criança : Meu irmão!? Ora, nenhum...

Outra característica do pensamento desta etapa é o animismo, indica que a criança


empresta “alma” (anima em latim) às coisas e animais, atribuindo-lhes sentimentos e
intenções próprios de ser humano.

Ex.: A cadeira é má quando a criança cai; o vento quer embaraçar o seu cabelo penteado.

Há ainda duas características do pensamento desta etapa, o primeiro bastante


semelhante ao animismo, é o antropomorfismo ou a atribuição de uma forma humana a
objetos e animais.

Ex.: As nuvens são grandes rostos que sopram um hálito forte.

O segundo é a transdedutividade, ao invés da criança partir de um princípio geral


para entender um fato particular, como se faz na dedução, ou de um aspecto particular para
compreender o seu princípio geral de funcionamento, como no caso da indução, a criança
parte do particular para o particular. Isto mostra a enorme dificuldade que as crianças de dois
a sete anos têm, tanto para elaborar leis, princípios e normas gerais a partir de sua
experiência cotidiana, como para julgar, apreciar ou entender a sua vida cotidiana a partir de
prncípios gerais.

O pensamento pré-operatório é também extremamente dependente da percepção


imediata, sofrendo uma série de distorções. A criança, nesta etapa, não tem noção de
conservação, mudando-se a aparência do objeto, muda também a quantidade, o volume, a
massa e o peso do mesmo.

Ex .: OOOOOO

O O O O O O

A criança olha as bolas e considera as duas colunas diferentes, mesmo certificando-se


anteriormente, de que as quantidades eram, em uma e outra fila, absolutamente iguais.

A criança não consegue voltar ao ponto de partida, embora já internalize, ela não
consegue ter reversibilidade (retornar mentalmente ao ponto de partida).

3º- Etapa Operatório-concreta (7 a 12 anos )

É nesta etapa que o pensamento lógico, objetivo, adquire preponderância. Ao longo


dela, as ações interiorizadas vão-se tornando cada vez mais reversíveis e, portanto, móveis e
flexíveis. O pensamento se torna menos egocêntrico, menos centrado no sujeito. A criança,
nesta etapa, é capaz de construir um conhecimento mais compátivel com o mundo que a
rodeia, elaborando a noção de conservação; o pensamento baseia-se mais no raciocínio que
na percepção. Nesta etapa de desenvolvimento o pensamento operatório é denominado
concreto porque a criança só consegue pensar corretamente nesta etapa se os exemplos ou
materiais que ela utiliza para apoiar seu pensamento existem mesmo e podem ser
observados. Nesta fase a criança não consegue pensar abstratamente, apenas com base em
proposições e enunciados.

4º- Etapa Operatório-formal (após 12 anos)

Nesta etapa, a criança se torna capaz de raciocinar logicamente mesmo se o conteúdo


do seu raciocínio é falso (pensa de modo lógico e correto mesmo com um conteúdo de
pensamento incompátivel com o real), como consequência, a partir dos doze anos, o
raciocínio pode, pela primeira vez levantar hipóteses, visto que estas são possibilidades, o
adolescente de posse dessa faculdade de produzir e operar com base em hipóteses, torna
possível derivar delas todas as consequências lógicas cabíveis, permitindo que ele entenda
seu pensamento até o infinito. A tarefa agora , será apenas a de ajustar, solidificar e estofar as
suas estruturas cognitivas.
Piaget acredita que existem, no desenvolvimento humano, diferentes momentos: um
pensamento, uma maneira de calcular, uma certa conclusão, podem parecer absolutamente
corretos em um determinado período de desenvolvimento e absurdos num outro. As etapas do
desenvolvimento do pensamento são contínua e descontínuas. Contínuas porque sempre se
apóiam na anterior, incorporando-a e transformando-a. Descontínua, porque cada nova etapa
não é um mero prolongamento da que lhe antecedeu: transformações qualitativas radicais
ocorrem no modo de pensar das crianças. As etapas do desenvolvimento encontram-se,
assim, funcionalmente relacionadas dentro de um mesmo processo.

É importante observar que, as faixas etárias previstas para cada etapa não são
rigidamente demarcadas; ao contrário elas se referem apenas às medidas de idade onde
prevalecem determinadas construções de pensamento.Nesse sentido, o modelo piagetiano é
fortemente marcado pela maturação, pois atribui-se a ela o fato de crianças apresentarem
sempre determinadas características psicológicas em uma mesma faixa etária. Piaget,
reconhece que, a despeito de preponderar em determinadas faixas etárias uma forma
específica de pensar e atuar sobre o mundo, podem existir atrasos ou avanços
individuais em relação a norma do grupo. Essa variação pode ser devida, a natureza do
ambiente em que as crianças vivem. Contextos que colocam desafios às crianças são
potencialmente mais estimulantes para o desenvolvimento cognitivo.

A seqüência das etapas é sempre invariável, muito embora, como já foi visto, a época
em que as mesmas são alcançadas possa não ser sempre a mesma para todas as crianças.

· A interação social na teoria piagetiana, tem o menor peso, desta maneira , a educação,
em especial a aprendizagem tem, no entender de Piaget, um impacto reduzido sobre o
desenvolvimento intelectual.. Desenvolvimento cognitivo e aprendizagem não se
confundem.: o primeiro é um processo espontâneo, que se apóia predominantemente
no biológico. Aprendizagem, por outro lado, é encarada como um processo mais
restrito, causado por situações específicas (como a frequência à escola) e subordinado
tanto à equilibração quanto à maturação.

Para maior clareza das contribuições dos principais teóricos em questão- Piaget e
Vygotsky, explicitaremos algumas diferenças e semelhanças entre eles,o que poderá clarear
divergências e convergências entre as duas proposições.
As anotações abaixo forma baseadas em Kramer e Souza( 1991), Isaia e Moskvera
(1987), Kohl de Oliveira (1993), Vygotsky (1987) , La Taille,Kohl de Oliveira e Dantas (1992),
Kramer (1992) e Leite (1987).

PIAGET E VYGOTSKY: DIFERENÇAS E SEMELHANÇAS

Quanto ao papel dos fatores internos e externos no desenvolvimento

Piaget

- privilegia a maturação biológica.

- fatores internos preponderam sobre os externos.

- desenvolvimento segue uma sequência fixa e universal de estágios

Vygotsky

- privilegia o ambiente social.

- variando o ambiente social que a criança nasceu, o desenvolvimento também variará.

-não aceita a visão única, universal, de desenvolvimento humano

Quanto à construção real

Piaget

- os conhecimentos são elaborados espontaneamente pela criança,de acordo com os estágios


de desenvolvimento em que esta se encontra.

- a visão egocêntrica(particular e peculiar) que as crianças tem do mundo vai,


progressivamente, aproximando-se da concepção dos adultos: torna-se socializada, objetiva
(do individual para o social).

Vygotsky
- criança nasce num mundo social, e vai formando uma visão de mundo através da interação
com adultos ou crianças mais experientes.

- construção do real é mediada pelo interpessoal antes de ser internalizada pela criança (do
social para o individual).

Quanto ao papel da aprendizagem

Piaget

- aprendizagem subordina-se ao desenvolvimento e tem pouco impacto sobre ele (minimiza o


papel da interação social).

Vygotsky

- desenvolvimento e aprendizagem são processo que se influenciam reciprocamente (quanto


mais aprendizagem mais desenvolvimento).

Quanto ao papel da linguagem no desenvolvimento e relação entre linguagem e


pensamento

Piaget

- o pensamento aparece antes da linguagem, que é uma das suas formas de expressão.

- a formação do pensamento depende, basicamente, da coordenação dos esquemas


sensoriomotores e não da linguagem.

- a linguagem só ocorre depois que a criança já alcançou um determinado nível de habilidades


mentais; está subordinada aos processos de pensamento.

- as operações cognitivas não podem ser trabalhadas por meio de treinamento específico
feito com o auxílio da linguagem (não se pode ensinar, usando apenas palavras, a classificar,
a seriar, a pensar com reversibilidade).

Vygotsky
- pensamento e linguagem são processos interdependentes, desde o início da vida.

- a aquisição da linguagem pela criança modifica suas funções mentais superiores, dando
uma forma definida ao pensamento, possibilitando o aparecimento da imaginação, o uso da
memória e o planejamento da ação.

- a linguagem sistematiza a experiência direta das crianças e por isso adquire uma função
central no desenvolvimento cognitivo, reorganizando os processo que nele estão em
andamento.

-Coexistem fala egocêntrica e comunicacional, sendo a fala egocêntrica transitória na


evolução da fala oral para a interior, onde predomina o sentido da palavra sobre o significado,
da frase sobre a palavra e do contexto sobre a frase. A fala egocêntrica é o falar para si
mesma e para o outro de seus planos interiores e ações,; tem sentido social.

Contribuições para a educação

Piaget

- coloca ênfase na criança como agente do seu desenvolvimento, responsável pela


construção de seu conhecimento- sujeito da cognição.

- considera os erros das crianças como importantes no processo educativo e para partir dele
compreender seu modo de pensar.

- considera que a função da instrução é a de introduzir formas adultas de pensamento que


entram em conflito com o pensamento da criança.

- insiste que a educação formal ganharia com a utilização sistemática do desenvolvimento


espontâneo da criança.

- secundariza aspectos sócio-culturais o que pode influenciar atitudes discriminatórias.

Vygotsky

- considera que aprendizagem da criança antecede a entrada na escola e que o aprendizado


escolar produz algo novo no desenvolvimento infantil, evidenciando as relações interpessoais.
- apresenta a noção de que o bom aprendizado é aquele que se adianta da criança, isto é,
aquele que considera o nível de desenvolvimento potencial ou proximal.

- a aprendizagem e desenvolvimento humano pressupõe natureza social sendo processo


dialético em que o sujeito transforma e é transformado pela realidade social, física e cultural.

- na construção social, considera as crianças como sujeitos sociais que constróem o


conhecimento socialmente produzido.

Para Piaget e Vygotsky :

- é importante que se respeite o nível da criança na colocação mínima e máxima para cada
ensinamento.

- representam marcos teóricos nas pesquisas da construção do conhecimento, sendo


necessário o diálogo entre ambas teorias para que tenhamos uma teoria do conhecimento
sempre renovada e atual.

- são contra o “associassionismo empirista” e “idealismo racionalista”; se interessam pela


gênese dos processos psicológicos.

- consideram que a imaginação surge da ação, o que é importante na formação da


consciência

- consideram o discurso egocêntrico como ponto de partida do discurso interior.

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DANTAS, Heloysa. A infância da razão. Uma introdução à psicologia da inteligência de Henri
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GALVÃO, Izabel. Uma reflexão sobre o pensamento pedagógico de Henri Wallon. In:
Cadernos Idéias, construtivismo em revista. São Paulo, F.D.E., 1993.
WALLON, Henri. Psicologia. Maria José Soraia Weber e Jaqueline Nadel Brulfert (org.). São
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