8 Historiadaeducacao Apostila
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SUMÁRIO
- OBJETIVOS DO CURSO
- UNIDADE I
Os Caminhos da Avaliação na Educação Infantil
- UNIDADE II
A Avaliação no Contexto Escolar
A Avaliação no Contexto da Educação Infantil
- UNIDADE III
A Criança na Sociedade Capitalista
Infância, Criança e Concepção
A preocupação com a pequena infância
- UNIDADE IV
Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil: Educação
Compensatória do Século XXI
Observando o cotidiano
Um encontro com a realidade
UNIDADE V
As Famílias: o que esperam da Educação Infantil?
A reprodução e a produção: um embate constante
Brincando de escolinha
Brincando de casinha
A reprodução das crianças sobre o espaço educativo
- Referências Bibliográficas
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OBJETIVOS
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UNIDADE I
OS CAMINHOS DA AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO
INFANTIL
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educadoras o olhar avaliativo sobre as atitudes, os comportamentos e
o rendimento de suas crianças.
Hoffmann (1999 e 2000) e Bassedas (1999), defendem a
inserção da avaliação mediadora na Educação Infantil com caráter de
acompanhamento do desenvolvimento, englobando reflexões
permanentes da ação da criança em seu cotidiano. Nesta ótica, o
professor assume o papel de mediador da ação da criança,
investigando e compreendendo seu raciocínio e sempre a desafiando
na construção do seu conhecimento. Dessa maneira se exigirá do
educador o conhecimento das reações das crianças, percebendo suas
tentativas, limites e possibilidades, planejando a ação pedagógica a
partir dessas observações e reflexões.
Em contraposição à avaliação mediadora proposta pelas
autoras, verificou-se que a maioria das instituições de Educação
Infantil/Professores pesquisados faz uso de modelos da prática
classificatória da escola tradicional onde a prática avaliativa se reduz
ao preenchimento de fichas ou listagens de comportamentos descritos
ao final do semestre ou do ano letivo.
Ampliar o nosso campo de observação e considerar o aluno não
isoladamente, mas também junto a outros aspectos: as situações de
ensino-aprendizagem que se desenvolvem na aula, a nossa
intervenção e a nossa atitude, o tipo de conteúdos ou as situações
que priorizamos, bem como as situações e as relações dentro do
grupo e na escola - é a meta proposta para uma avaliação mediadora.
Avaliar, no sentido regulador da prática supõe, sobretudo, uma atitude
que conduz observar as crianças em diferentes situações e em
circunstâncias variadas. Os usos dos instrumentos utilizados pelos
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professores ajudam a sistematizar essa atitude, porém não a
substituem.
Sem dúvida é urgente fomentar propostas para analisar o
significado da avaliação no contexto próprio da Educação Infantil,
resgatando seus pressupostos básicos e evitando tenazmente seguir
modelos da prática classificatória do Ensino Fundamental.
Didonet (2006), ao discutir a coerência entre avaliação e
finalidades da Educação Infantil, afirma que o modelo de avaliação
escolhido deve ser estreitamente articulado com o que se está
buscando formar a partir das práticas da Educação Infantil. Cabe
então refletir com sobriedade sobre o caminho para atingir o objetivo
que a Constituição Federal e outras normatizações legais instituem
para a educação: o desenvolvimento integral da criança e a
formação do cidadão.
Concebemos a aprendizagem como resultado de uma
construção pessoal e coletiva, que resulta em compreender, manipular
e reconstruir os objetos do mundo físico e social que cercam nossa
curiosidade e as relações que as pessoas estabelecem entre si. Em
contrapartida, alguns pensam que as crianças formam a mente
recebendo instruções, memorizando e registrando-as num teste tudo
o que foi comunicado como conteúdo de lições.
Podemos então inferir que as estratégias de avaliação utilizadas
pelo professor têm um papel crucial, já que constituem fortes
indicações do que os adultos esperam das crianças. Assim sendo,
como romper com o ideário pedagógico instaurado entre os
educadores da Educação Infantil que assimilaram do ensino regular a
concepção de que a avaliação é uma prática neutra ou
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descontextualizada, onde os professores determinam sentenças sobre
os alunos sem perceber o seu comprometimento com os julgamentos
proferidos?
Barbosa (2004) ao posicionar-se sobre o tema avaliação afirma
que é possível romper, ainda que parcialmente com esta visão errônea
de avaliação se ampliar nossa visão a respeito do processo ensino-
aprendizagem e a postura e responsabilidade social do professor
neste decurso.
Para tanto, a tarefa educativa precisa ser considerada um
processo que necessita ser amplamente documentado e analisado.
Isto porque, neste processo, cada sujeito tem um percurso pessoal, e
seu acompanhamento é a única forma de não valorizar apenas o
produto final.
A rigor, o acompanhamento das aprendizagens e a avaliação na
Educação Infantil, não podem prescindir de uma série de instrumentos
que auxiliem a verificar como está a criança em suas múltiplas formas
de ser, expressar-se, pensar. Dentre eles: a observação, os
anedotários; diário de aula, o livro da vida da turma; as planilhas;
entrevistas; debates; controle coletivo do trabalho; agenda escolar;
auto-avaliação; análise das produções; conselho de classe e trabalhos
de integração e de consolidação dos conhecimentos.
Após os registros, é preciso organizar e analisar as informações
recolhidas. A apreciação qualitativa é a avaliação propriamente dita
dos resultados alcançados, referindo-os às metas fixadas, realizadas
pelos adultos ou pelos adultos juntamente com as crianças, por meio
de relatórios parciais ou dossiês das crianças e do grupo.
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Utilizar novos instrumentos de coleta de dados ou re-significar aqueles
com os quais já trabalhamos constitui um dos caminhos para
superação de concepções avaliativas disciplinadoras, sentencivas e
comparativas que ferem seriamente o respeito à infância.
A avaliação tem servido como instrumento de controle social,
pois produz seletividade e exclusão. Podemos romper, ao menos
parcialmente, com essa visão ao ampliarmos a compreensão acerca
das concepções do processo pedagógico, do acompanhamento da
aprendizagem e também ao repensarmos a ética e a responsabilidade
social que temos com o avaliar, o ensinar e o aprender - este é um dos
caminhos necessários (embora não suficiente), para a construção da
educação infantil que queremos.
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UNIDADE II
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Cabe ressaltar que a avaliação não se restringe ao âmbito
escolar; ao contrário, ela está presente na sociedade, de modo que,
em todos os momentos da nossa vida, somos avaliados. No entanto, o
objetivo desse trabalho é discutir como a avaliação se manifesta
dentro de instituições educativas.
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muito presente na sala de aula, e mais, influencia fortemente o futuro
do aluno no aparato escolar.
É evidente que isso não ocorre por acaso, mas sim devido a
fatores históricos. Se nós voltarmos à história da educação brasileira,
verificaremos que, enquanto o Ensino Fundamental há muito tempo foi
reconhecido e se constituiu em um nível de educação obrigatório, de
dever do Estado e da Família e como um direito da criança, a
Educação Infantil só passou a ser reconhecida como direito a partir da
Constituição de 1988:
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infantil, na prática, ainda não é um direito de todos, já que a oferta de
vagas ainda é baixa.
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parcialmente, não atingiu; muitas vezes, poucas vezes, não
apresentou; muito bom, bom, fraco e; outras.
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mecanismos de seleção e exclusão presentes nesse nível escolar, tão
prejudicial às crianças. Nas palavras da autora:
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Nessa direção, Bufalo (1997) ao estudar as práticas educativas
em um CEMEI da Rede Pública de Campinas, evidenciou que a
creche é um local onde crianças e adultos constroem conhecimentos.
Nas suas palavras:
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A avaliação nessa perspectiva servirá para apontar indicadores
ao professor, de forma a ajudá-lo a conduzir seu trabalho
contemplando positivamente as necessidades, curiosidades e
solicitações das crianças.
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1. Qual a relação entre a expectativa dos professores e o
rendimento dos alunos na Educação Infantil?
O aluno?
O professor?
UNIDADE III
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Assim a escola, ao estar inserida na sociedade, não é um
espaço neutro. Recebe influências em sua organização, bem como
influencia a sociedade, também, por ser um espaço coletivo, de lutas,
de conflitos e contradições. Segundo Dayrell
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É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à
criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à
saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à
cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-las a salvo de toda forma de negligência,
discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
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trabalho pode ser penoso e muitas vezes o é. Crianças quebram pedra
no Ceará, carregam tijolo na construção civil no Amazonas, cuidam de
fornos de carvão em Mato Grosso. Menores não podem trabalhar à
noite, mas a partir das 2 da manhã estão no mercado descarregando
caixotes de frutas e legumes (França e Carvalho, 1995, p. 77).
Essa criança, e muitas outras, não estão tendo seus direitos ga-
rantidos e respeitados. Direitos básicos, como saúde, alimentação,
educação, lazer, lúdico, e tantos outros. Estão, ainda, submetidas à
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exploração, à crueldade, à discriminação, etc... A vida não
corresponde ao que prescreve nossa Constituição. Além de serem
submetidas ao trabalho, há crianças que mal chegam a frequentar
uma escola. É muito difícil para essas crianças conciliarem trabalho e
escola. Segundo dados do IBGE, citados na reportagem da Revista
Veja,
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é preciso indignar-se não somente com as marcas deixadas pelo
trabalho infantil no corpo da criança, mas também indignar-se com as
marcas de violência moral, afetiva, social e simbólica. É preciso
perceber as marcas que os olhos não veem.
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Parece que as pré-escolas estão incorporando a prática de
trabalho do Ensino Fundamental e, com isso, a criança está "deixando
de ser criança" e tornando-se aluno. Há uma antecipação precoce da
escolarização, e isso traz, provavelmente, as consequências do
modelo escolar para a educação das crianças pequenas, modelo tão
criticado e presente até hoje.
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verificamos que esta tem uma história de mais de cem anos, embora
tenha sido só nas últimas décadas que a Educação Infantil se
expandiu e foi reconhecida como um direito da criança e da família.
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Essa prática destinada às crianças pobres, apontada em muitos
estudos como meramente assistencialista, acaba reduzindo a história
da Educação Infantil a uma sucessão de fatos, como se tivesse uma
evolução linear. Assim, numa primeira fase, a Educação Infantil teria
tido uma função médica, depois assistencial e, hoje, educacional.
UNIDADE IV
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Referencial Curricular Nacional de Educação Infantil: educação
compensatória do século XXI?
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Analisando a estrutura do referencial, verificamos que foi organi-
zada da seguinte maneira: é dividido em três volumes, o primeiro é
introdutório, o segundo foi denominado Formação Pessoal e Social e o
terceiro, Conhecimento do Mundo, sendo este último, dividido em
eixos, de trabalho: movimento, música, artes visuais, linguagem oral e
escrita, natureza e sociedade e matemática.
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correspondência linear entre objetivo, atividade, conteúdo e avaliação,
que fica distante da prática (Parecer 17), (p.38).
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experiência, volumes 2 e 3, e nesse último, ela se apresenta ao final
de cada eixo de trabalho. O único aspecto que difere entre a versão
preliminar e a final é a nomenclatura, pois, na primeira, ela foi
colocada como critérios de avaliação; na segunda; como observação,
registro e avaliação formativa. Além disso, cabe ressaltar que a
avaliação é colocada no documento a partir da faixa etária da criança,
sendo listados critérios de avaliação que deverão ser contemplados
em cada uma dessas faixas etárias. Na versão preliminar, essa divisão
é mais explícita e pode ser vista nos seguintes eixos de trabalho:
música, matemática, linguagem oral e linguagem escrita, enquanto, na
última versão, ela também aparece, mas de uma outra forma. Por
exemplo, no eixo de trabalho com a matemática encontramos a
seguinte referência em relação à avaliação:
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vivência e a autonomia das mesmas, já que não há espaço para essas
manifestações, pois o tempo se reduz à aprendizagem dos eixos de
trabalho. Assim, estamos respeitando a infância ou não?
Observando o cotidiano
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impregnada de significados e conteúdo histórico e, nesse sentido, é
observável. Sobre a importância da observação, Ludke (1986) nos
esclarece que esse método, ao possibilitar um contato direto entre o
professor e a criança revela uma maneira muito boa de aproximação
de ambos. A experiência direta é sem dúvida o melhor teste de
verificação da ocorrência de um determinado fenômeno, acrescenta.
Outro recurso complementar é o uso de desenhos feitos pelas
crianças. Através de desenhos, é possível identificar a representação
que as crianças fazem do espaço escolar, ou seja, como o veem,
pois vivendo e convivendo, a criança vai atribuindo significados e
construindo sua própria imagem em relação às diversas experiências
a que tem acesso. Portanto, acreditamos que a construção dessa
representação se dá a partir da interação dela com o contexto em que
vive.
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UNIDADE V
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As atividades da escola são vistas como "coisa séria", enquanto que
brincar e jogar ficam em um plano secundário”.
Será que não deveria ser o contrário? Será que o trabalho com
crianças pequenas ou não, não deve levar em consideração as
necessidades e interesses da faixa etária? Será que uma criança de
quatro, cinco anos não é mais criança? Será que não precisa brincar?
Na maioria das escolas a vivência das diversas dimensões humanas é
exceção e não a regra na educação das crianças pequenas.
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O controle era grande, as crianças deveriam fazer as atividades
em silêncio, sem brincar e sem sair do lugar. As manifestações que
fugiam à regra estabelecida eram censuradas. A autora destaca
alguns episódios que mostram o controle na sala durante o processo
de trabalho:
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sentarem nas mesas. E foi em direção ao mural onde havia figuras e
palavras sobre o tema família. Nisso disse:
- "ô Ad e o Fe estão conversando. Ô Ad, pode mudar de lugar, fica
sozinho nessa mesa”. (grifo da autora)
Voltou ao mural, falou rapidamente sobre a família e disse que iam co-
meçar a estudar as profissões.
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ções, como a brincadeira, o jogo, o movimento. As crianças que não
seguiam essa ordem eram controladas.
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Assim, o fato de não existir uma avaliação formal não impede a
ocorrência de um outro tipo de avaliação, a avaliação informal, que
pode ser igual ou até mesmo mais dura e cruel para a criança que a
própria avaliação formal. No entanto, o fato de não existir a
legitimação de uma avaliação formal que possa aprovar ou reprovar a
criança na Educação Infantil é muito benéfico, apesar de não garantir
na prática seu real cumprimento.
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- "Para o desenho ficar bonito, tem que ficar com a boquinha fechada".
De repente, começou a chover e uma criança disse:
- "Está chovendo, não vai dar para ir ao parque".
P: - "Se vocês ficarem quietos, eu dou brinquedo para vocês
brincarem aqui na sala".
Enquanto as crianças desenhavam, também conversavam e, de vez
em quando, a professora pedia silêncio. Às vezes, falava:
- "Eu ia dar brinquedo agora, mas com esse barulho"...
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brincarem, dificilmente não permitia. Na maioria das vezes, ela
acabava não cumprindo as ameaças prometidas.
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brinquedos em cima da mesa. Mesmo nesse momento, não havia
liberdade e espaço para conversarem e brincarem à vontade.
Observamos algumas falas da professora nesse momento: "pode
pegar, vamos ficar quieto", "pode ficar com elas, agora vamos
sossegar". Assim, mesmo quando permitia que as crianças
brincassem, havia seu controle e intervenção (as crianças não
deveriam sair do lugar, conversar). Ainda, era ela que determinava
quem ia brincar, com qual brinquedo e o tempo (geralmente era
restrito, ficando apenas ao final de alguma atividade).
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desenho de um rosto, no qual as crianças deveriam escolher um
colega e desenhar seu rosto. (DC, 23/04)
55
O Ad não ligou e começou a falar sobre o seu saquinho que estava
pendurado no varal e tinha os seus trabalhos.
- "Olha é meu" (colocou a mão no saquinho).
Ig: - "Pro, o Ad está mexendo no saquinho".
P:- "Se mexer no saquinho e estragar eu não vou dar outro" (brava).
(DC, 02/06)
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crianças e estão formando uma conduta e uma postura nesses
indivíduos. A postura não é neutra, mas carregada de valores sociais.
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estima, responsabilidade, independência, capacidade de resolução de
problemas, respeitando a bagagem cultural de cada uma e oferecendo-
lhe condições para analisar e avaliar suas ações juntamente com o
grupo.
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Além dos educadores e das crianças, os pais constituem sujeitos
importantes, já que eles participam do processo educativo e possuem
expectativas em relação à educação de seus filhos.
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Essas questões foram sendo colocadas várias vezes, até que,
na segunda reunião de pais, as professoras combinaram que
gostariam que fosse discutido com eles a questão da alfabetização
no pré. Foi decidido que a reunião seria dividida em dois momentos.
No primeiro momento, a Orientadora Pedagógica falaria com todos os
pais do pré de cada período e, depois, no segundo, a reunião
continuaria com a professora na sala de aula.
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Nessa idade são necessários os cuidados da mãe;
A criança frequentou escola particular;
A criança não conseguiu vaga.
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Queremos ressaltar que, das respostas colocadas sobre a
preparação da criança para a 1ª série, em duas os pais acrescentaram
a importância da convivência com outras crianças. Ainda, das
respostas sobre a aquisição de conhecimentos, cinco acrescentaram a
convivência, uma, a brincadeira e outra, a disciplina.
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revela que o pré é visto, de uma maneira geral, como um momento
preparatório da criança para seu ingresso no Ensino Fundamental. A
brincadeira foi colocada apenas duas vezes no pré, mostrando que a
criança não está sendo vista como criança e sim como aluno. A
criança está precocemente deixando de ser criança para adquirir os
conhecimentos escolares. Essas respostas apontam que a sociedade
valoriza apenas alguns tipos de conhecimentos.
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Para essa questão apareceram diversas respostas e, dessa
maneira, foram agrupadas em categorias maiores. As respostas foram
agrupadas em quatro categorias: aquisição de conhecimentos
sistematizados, lúdico, valores morais e outros.
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Quanto ao ensino propriamente dito, o que mais se espera é que
as crianças cheguem à 1ª série alfabetizadas. Há, no entanto, uma
parcela de pais que colocam seus filhos nas escolas para serem
orientados, desde o maternal, rumo à faculdade - um caminho de
direção única. Ao sucesso!”.
Brincando de escolinha
As crianças estavam fazendo as atividades. A Pa, a Je e a Sil já tinham
acabado a tarefa. O Da que estava sentado com elas ainda fazia a atividade. A Pa
pega alguns livros de história que havia em cima do armário e leva para a mesa.
Ela diz para os colegas:
- "Eu era a professora. Quem quer esse levanta o braço" (ela começa a
mostrar os livros, fazendo uma votação, como a professora M faz).
Todos levantam o braço, inclusive o Da.
Pa: - "Quem quer esse?" (mostrava outro livro e todos levantavam o
braço). Ela mostrou três livros, depois escolheu um e começou a contar a
história. Começou a falar, de repente o Da diz:
- "O quê?"
A Pa fala alguma coisa para o Da e continua contando a história.
Nisso, a Je e a Sil começam a conversar. Quando a Pa vê, diz brava:
- "Olha gente"( batendo com a mão em cima da mesa). A Je fala: - "Ah,
deixa eu".
Ela estica o braço e pega um lápis do pote.Quando a Pa vê fala brava:
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- "Pára. Se você não quer ouvir, deixa os outros que querem ouvir né,
Je, né” (chama atenção da Je, olha para a Sil e volta a contar a história).
Essa fala sempre é dita pela professora quando está contando
histórias e algumas crianças não prestam atenção.
Ela volta a contar a história. Depois de alguns segundos, fala para a Si
I: - "Vai lá pegar outro".
A Sil se levanta e vai. Quando volta, não traz livro algum. E ela puxa
um dos livros da Pa.
Pa: - "Espera, espera" (tentando puxar de volta). A Sil pega o livro e a
Je pega o outro.
Pa: - "Eu vou pegar mais livros" (levanta e sai).
Ela volta com um livro. A Sil se levanta e vai buscar um livro. Quando
volta a Pa diz: - Deixa eu ver" (olha a capa e tenta ler o título).
Depois pega todos os livros das colegas e fala:
- "Olha, eu deixava ler".
A Je reclama:
- "Você sempre é a professora né?" Fica brava e cruza os braços. Pa: -
"Quem quer esse?" Mostra o livro.
A Sil e o Da levantam o braço e a Je não entra na brincadeira. De
repente, chega a professora e fala:
- "Espera um pouquinho" (pega todos os livros da mesa). A Pa fala:
- "Ô, prooooooo"(cruza os braços) ...
P: - "Olha, escolha um livrinho. Olha as figuras .. ."
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Desde cedo, elas aprendem que é o professor que detém a pala-
vra e o poder na sala. Podemos perceber que a Pa incorpora esses
valores quando se faz passar pela professora. Quando vive esse
personagem, tem como referencial a postura da professora, o modelo,
que aprendeu, pois imita sua fala e suas atitudes.
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professora, é ela quem o transmite e a postura das meninas é de
quem tenta romper com isso.
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papel oposto, o de ser professora, o de ter o domínio da situação,
embora isso não possa durar por muito tempo.
Brincando de casinha:
As crianças estavam fazendo a atividade e a professora passava nas
mesas para orientá-las.
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A Je, a Le e a Pa estavam sentadas na mesma mesa e já haviam
terminado a tarefa. Elas estavam conversando e, de repente, a Je pega três
lápis de cor que estavam dentro de um pote em cima da mesa e começa a
brincar. A Le pega um lápis e a Pa fica com a cabeça abaixada olhando as
colegas. A Je diz para a Le: - "Vamos brincar de mamãe e filhinho? Meu filho,
por favor não faça mais isso, meu filhinho e minha filhinha"(ela fala,
segurando os lápis e começa a batê-Ios na mesa como se eles estivessem
andando e conversando).
Le: - "Claro que sim" (segurando o lápis em pé).
Os "personagens" continuaram andando se misturavam e
prosseguiram nesta brincadeira, dando vida e nome aos lápis, personagens
da história.
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outros e com as coisas, os múltiplos sentidos que a realidade física e
social pode adquirir.
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resolução, seguindo as instruções que lhe são dadas. Através da
brincadeira, elas vão criando os personagens, interagindo através dos
diálogos e fazendo descobertas.
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Através desse episódio, foi verificado que havia uma dicotomia
entre jogo e trabalho presente na Educação Infantil. Essa dicotomia
está presente também na sociedade e é incorporada pela escola. Na
sociedade capitalista, a infância é vista como um momento que deve
ser apressado, encurtado. Dessa maneira, o interesse é a formação
de "corpos úteis" e, nesse sentido, não há espaço para o lúdico, que
muitas vezes é visto como algo improdutivo e com menos valor.
Portanto, a criança estaria perdendo tempo se ficasse brincando. Para
nossa sociedade, o tempo do trabalho é diferente do tempo do lúdico e
mais, são vistos como opostos.
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No mundo do trabalho não há espaço para o brincar, considerando
que este nada tem de produtivo na forma que preconiza o capital. O mundo
do trabalho adquiriu dimensões onde não há espaço para o homem
manifestar sua ludicidade. Valoriza-se a produção em detrimento do
processo de humanização.
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apresentam bom comportamento, vão ao parque, caso contrário, ficam
sentadas nesse momento.
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diversas formas de expressão, o imprevisto, os saberes espontâneos
infantis”
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Grupo 3: as crianças de uma maneira geral desenharam a lousa (com ou
sem atividade). O alfabeto pendurado no varal, o calendário, o cartaz de prega e
alguns acrescentaram a mesa da professora.
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cabeçalho e a letra L, e o outro, o caderno de desenho, mostrando
uma imagem de Natal.
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Os desenhos dos grupos 4 e 5 chamaram bastante a atenção
dos pesquisadores, porque ao representarem a sala, se contrapõem.
As crianças mostraram visões diferentes em relação a esse espaço. O
grupo 4 representou o ambiente realmente como está organizado, ou
seja, as mesas estão em grupo e as crianças sentam juntas. Já o
grupo 5 fez uma outra imagem desse espaço: as crianças desenharam
cada colega sentado sozinho em uma mesa. A partir desse fato foi
questionado: Se as crianças sentam juntas por que apareceram
separadas nesses desenhos?
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Apesar de as crianças estarem numa pré-escola, estariam elas
revelando o modelo de organização da escola, ou no fundo, da pré-
escola também? As aparências enganam, pois desde cedo verificou-
se que as crianças eram submetidas a uma organização de poder e
disciplina. A pré-escola não é uma exceção e, portanto, não escapa a
essa regra, já que inicia as crianças a se habituarem com as normas
e condutas presentes na sociedade desde cedo.
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direitos, uma vez que, nesse momento, essa experiência deve fazer
parte de sua vida.
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responsabilidades do mundo adulto. Com isso elas estão deixando de
desfrutar direitos e experiências próprios da infância.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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6. Kaufman, Astedo e Teruggi- Alfabetização de crianças:
construção e intercâmbio. Porto Alegre, Artmed.
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