Jesus e O Fim Do Tempo. Thomas Ice

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Este livro é uma coletânea de uma série de artigos.

Copyright © 2012 por Thomas Ice


Tradução: Jamil Abdalla Filho
Revisão: Arthur Reinke, Célia Korzanowski, Ione Haake,
Sérgio Homeni
Edição: Arthur Reinke
Capa e Layout: Tobias Steiger, Roberto Reinke
Passagens da Escritura segundo a versão Almeida Revista e Atualizada (SBB),
exceto quando indicado em contrário: Nova Versão Internacional - NVI, Almeida
Corrigida e Revisada Fiel – ACF ou Almeida Revista e Corrigida – ARC.
Copyright © 2016 – Chamada
Todos os direitos reservados para os países de língua portuguesa.
Obra Missionária Chamada da Meia-Noite
R. Erechim, 978 – B. Nonoai
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Índice

Parte 1 - Uma Interpretação de Mateus 24 e 25


Parte 2 - O Mal-Entendido dos Discípulos
Parte 3 - O Literalismo Preterista
Parte 4 - O Ponto de Vista do Período Interadventos
Parte 5 - Não Se Deixem Enganar
Parte 6 - Falsos Messias
Parte 7 - Ainda Não é o Fim
Parte 8 - Fomes e Terremotos
Parte 9 - Direcionada Para os Judeus
Parte 10 - O Ódio aos Crentes Judeus
Parte 11 - A Multiplicação da Iniquidade
Parte 12 - O Evangelho do Reino
Parte 13 - A Abominação da Desolação
Parte 14 - A Ordem Para Fugir
Parte 15 - A Tribulação
Parte 16 - O Historicismo
Parte 17 - A Abreviação Daqueles Dias
Parte 18 - “Eis Aqui o Cristo!”
Parte 19 - Cuidado Com o Lugar Onde Você Procura
Parte 20 - De Âmbito Mundial, Não Local
Parte 21 - Cadáveres e Abutres
Parte 22 - O Sol, a Lua e as Estrelas
Parte 23 - O Escurecimento do Sol
Parte 24 - A Poesia Hebraica
Parte 25 - Os Poderes dos Céus
Parte 26 - O Sinal do Filho do Homem
Parte 27 - Um Sinal Que Não Dá Sinal?
Parte 28 - Um Ajuntamento Executado Por Anjos
Parte 29 - O Ponto de Vista Pós-Tribulacionista
Parte 30 - A Unidade Das Parábolas
Parte 31 - A Perspectiva Preterista
Parte 32 - Céu e Terra Passarão
Parte 33 - Ninguém Sabe
Parte 34 - Um Será Tomado
Parte 35 - Vigiai
Parte 36 - “Quem é o Servo Fiel e Prudente”?
Parte 37 - A Parábola das Dez Virgens
Parte 38 - A Parábola dos Talentos
Parte 39 - A Volta Gloriosa de Cristo e o Julgamento
Parte 1

Uma Interpretação de
Mateus 24 e 25

O discurso do Monte das Oliveiras, proferido por Jesus imediatamente antes de


Sua crucificação, é a passagem profética isolada mais importante de toda a Bíblia. É
relevante porque procedeu dos lábios de Jesus, logo depois que Ele foi rejeitado por
Seu povo, e porque proporciona um esboço magistral dos acontecimentos que
ocorrerão no fim dos tempos. – Dr. Tim LaHaye1
O discurso do Monte das Oliveiras é um texto fundamental para qualquer
pessoa que deseje desenvolver seu ponto de vista da profecia bíblica. Esse
discurso se compõe do ensinamento do Senhor Jesus sobre a profecia bíblica,
registrado em Mateus 24 e 25, Marcos 13 e Lucas 21. Uma vez que a
interpretação do discurso do Monte das Oliveiras exerce tanta influência a
ponto de determinar se uma pessoa é pré-milenista ou amilenista, se é
futurista ou preterista, se é pré-tribulacionista ou pós-tribulacionista,
procurarei, nesta obra, apresentar uma interpretação exaustiva dos capítulos
24 e 25 de Mateus.
A conjuntura do discurso de Cristo
Pelo menos no caso do Evangelho de Mateus, a conjuntura do discurso do
Monte das Oliveiras se verifica nos acontecimentos que antecederam o
capítulo 24. Cristo se apresentara à nação de Israel como seu Messias, mas
eles O rejeitaram. Tanto o povo quanto os líderes da nação O rejeitaram. Por
conseguinte, Jesus os repreende e desmascara tanto a hipocrisia quanto a
incredulidade deles, segundo está escrito em Mateus 22 e 23. Jesus menciona
que aquela geração de líderes judeus era semelhante às gerações anteriores
que mataram os profetas (23.29-36). Depois disso, Jesus fez a seguinte
declaração aos líderes judeus: “Em verdade vos digo que todas estas coisas
hão de vir sobre a presente geração” (23.36). Que coisas seriam essas? Seria
o juízo calamitoso que viria sobre o povo judeu por intermédio do exército
romano no ano 70 d.C. O Dr. Stanley Toussaint comenta: “Foi-se toda a
esperança de uma volta de Israel para Deus em arrependimento. Ao Rei não
restava outra alternativa senão a de rejeitar aquela nação até o tempo
planejado por Deus para restaurar o Reino a Israel. Constata-se o anúncio de
tal decisão nesses versículos do Evangelho de Mateus”.2
Apesar de o povo judeu merecer o juízo que se aproximava, Jesus Cristo, à
semelhança de um pai carinhoso prestes a aplicar uma disciplina justa,
clamou, dizendo: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas
os que te foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a
galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes!”
(23.37). Jesus deseja reunir o Seu povo (como Ele, de fato, os reunirá; cf.
24.31), mas, em vez disso, Ele os dispersaria por meio do juízo que lhes
sobreviria no ano 70 d.C. (Lc 21.24).
Então Jesus declarou no versículo 38: “Eis que a vossa casa vos ficará
deserta!”. A que “casa” o texto se refere? No contexto dessa passagem, só
pode se referir ao templo judeu. O texto de Mateus 24.1-2 menciona um
debate entre Jesus e Seus discípulos a respeito do templo. Foi nessa hora que
Jesus os surpreendeu ao dizer: “Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo
que não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja derribada” (Mt 24.2). O
que Jesus diz em Mateus 23.38 que ficaria deserto, é descrito com mais
exatidão em 24.2; ambos os versículos se referem à mesma realidade – o
templo.
Em seguida, Cristo afirma: “Declaro-vos, pois, que, desde agora, já não
me vereis, até que venhais a dizer: Bendito o que vem em nome do Senhor!”
(23.39). Esse versículo não apenas transmite a certeza de um juízo que se
aproximava, mas também menciona a promessa final de esperança e benção
vindoura para a nação judaica. Alfred Edersheim, um filho do remanescente
atual de Israel, faz o seguinte comentário sobre essa passagem bíblica:
Ao contemplar em redor aquelas construções do Templo, Ele assegurou que
aquela Casa lhes ficaria deserta! Então, saiu dos pátios do Templo, declarando que
o povo de Israel não O veria novamente até que, passada a noite da incredulidade
deles, os judeus Lhe dessem as boas-vindas na Sua volta, com um “Hosana” melhor
do aquele que bradaram três dias antes, quando O saudaram na Sua entrada triunfal
em Jerusalém. Assim foi a “despedida” e a “partida” do Messias de Israel, na
ocasião em que deixou Israel e seu Templo. Contudo, tratava-se de uma despedida
que prometia um regresso; uma partida que no futuro implicava as boas-vindas
dadas por um povo crente a um Rei gracioso e compassivo.3
Portanto, esse versículo não somente se refere ao juízo que certamente
viria no ano 70 d.C., mas também prediz um tempo futuro de redenção para
Israel, por apresentar o vocábulo “até” que sinaliza uma expectativa vindoura.
O texto de Lucas 21.24 registra outro uso que o Senhor fez da palavra “até”,
ao mencionar que “Cairão a fio de espada e serão levados cativos para todas
as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será
pisada por eles”. O Dr. Arnold Fruchtenbaum, um judeu crente em Cristo e
catedrático na Bíblia, baseia-se em Mateus 23.39 para afirmar que uma das
condições para a Segunda Vinda de Cristo é a de que Israel clame ao Senhor
para que os salve.4 O Dr. Fruchtenbaum explica:
Então Ele declara que eles não O veriam mais até que viessem a dizer: “Bendito o
que vem em nome do Senhor!”. Essa é uma saudação messiânica. Significa que eles
receberão a Jesus como seu Messias.
Nesse caso, Jesus só voltaria à Terra quando os judeus e os líderes de Israel
rogassem que Ele volte. Pois assim como os líderes judeus induziram a nação a
rejeitar a condição messiânica de Jesus, assim também eles, um dia, devem levar a
nação a reconhecer Jesus como seu Messias.5
O Dr. David Cooper ecoa a concepção do Dr. Fruchtenbaum ao dizer:
“Uma vez que Jesus veio em nome do Senhor e que Ele não voltará enquanto
Israel não disser “Bendito o que vem em nome do Senhor”, é evidente que o
povo de Israel ainda há de contemplar e reconhecer que Jesus é o seu
autêntico Messias”.6 Os últimos versículos do capítulo 23 de Mateus denotam
que o juízo estava por vir num futuro próximo, porém, depois desse juízo,
tanto livramento quanto redenção estão previstos para a nação judaica. O
juízo realmente se abateu no ano 70 d.C., mas Mateus faz menção da
redenção de Israel que ainda se cumpriria.
O contexto histórico do discurso de Cristo
O texto de Mateus 24.1-3 nos proporciona o contexto no qual Cristo
profere Seu sermão profético. Nesses versículos constatamos que Jesus
estava no trajeto do templo (cf., 24.1) para o Monte das Oliveiras (cf., 24.3),
dando a entender que Ele provavelmente estivesse passando pelo vale do
ribeiro de Cedrom para subir o Monte das Oliveiras. No momento em que Ele
se retirava do templo, “...se aproximaram dele os seus discípulos para lhe
mostrar as construções do templo” (24.1). Essa frase nos leva a crer que os
discípulos estivessem conversando com Jesus sobre a magnitude da beleza do
complexo do templo, o qual Herodes ainda estava reformando e
remodelando. Tal ênfase se confirma nas referências bíblicas correlatas de
Marcos 13.1-2 e Lucas 21.5-6, quando os discípulos se referiram à beleza das
construções do templo. O Senhor deve ter assustado Seus discípulos com esta
resposta que lhes deu, diante da admiração mundana que eles manifestaram
ao contemplarem as construções do complexo do templo: “Ele, porém, lhes
disse: Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não ficará aqui pedra
sobre pedra que não seja derribada” (Mt 24.2).
A partir do encerramento de Mateus 24.2 com essa afirmação de Cristo, a
sequência da narrativa sofre uma interrupção e só é retomada em 24.3, no
ponto em que diz: “...quando se aproximaram dele os discípulos, em
particular...”. O texto de Marcos 13.3 nos informa que esses discípulos que
O procuraram em particular eram Pedro, Tiago, João e André, bem como
esclarece que eles estavam assentados no Monte das Oliveiras de frente para
o Templo. Seria a mesma vista panorâmica que muitos dos que, atualmente,
visitam a cidade de Jerusalém podem obter a partir do mirante situado no
Monte das Oliveiras, onde se contempla do alto o monte do templo com o
Domo da Rocha nele encravado.
O fato de os discípulos se aproximarem de Cristo em particular se encaixa
com a prática padrão de Jesus, registrada por Mateus, de ensinar somente os
discípulos que nEle criam, uma vez que no capítulo 12 encontra-se a
evidência de que a nação judaica O rejeitou como o Messias que lhes fora
prometido. A partir do capítulo 13, Jesus se dirige publicamente à nação que
O rejeitara usando somente parábolas (Mt 13.10-17). “Por isso, lhes falo por
parábolas; porque, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem entendem”
(Mt 13.13). Contudo, Ele, muitas vezes, explicaria em particular aos Seus
discípulos o significado de uma parábola que proferira publicamente (por
exemplo, Mt 13.10-23). No discurso do Monte das Oliveiras, podemos
observar que Cristo seguiu tal padrão. Essa explicação em particular, que é o
próprio discurso do Monte das Oliveiras, revela que Cristo apresentaria Sua
explanação acerca da história futura, em favor dos crentes.
As perguntas dos discípulos
Enquanto Jesus estava assentado no Monte das Oliveiras, aqueles quatro
discípulos Lhe fizeram as seguintes perguntas: “...Dize-nos quando
sucederão estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do
século” (24.3). Levanta-se, imediatamente, a discussão de se eram duas ou
três as perguntas por eles feitas. Se alguém opta pela primeira hipótese, terá
de convir que a segunda pergunta se compõe de duas partes. Eu
particularmente creio que há duas perguntas básicas nesse versículo, em
virtude da gramática do texto original, como explicou o Dr. Craig Blomberg:
A expressão “...e que sinal haverá da tua vinda e da consumação do século”
numa tradução mais literal da frase grega seria: o sinal da tua vinda e consumação
do século. Ao não repetir o artigo “a” antes de “consumação do século”, Mateus
registra as palavras de Jesus fazendo uma junção da volta de Cristo com a
consumação do século, como um único acontecimento (a regra de Granville
Sharp).7
Isso significa que as duas frases estavam intimamente relacionadas na
mente daqueles discípulos que formularam a pergunta. Eles criam que ambas
estavam estreitamente ligadas.
A primeira pergunta está claramente relacionada com a destruição do
templo, o que se cumpriu na ocasião da invasão romana e destruição de
Jerusalém no ano 70 d.C. Também fica claro que os dois aspectos da segunda
pergunta ainda tinham de ocorrer na história, apesar de alguns quererem
enxergar nesse texto a Segunda Vinda de Cristo (mais por causa da influência
dos erros do preterismo, conforme explicarei no prosseguimento dessa
passagem).
Parece-me que os discípulos provavelmente acreditavam que todos os três
aspectos se cumpririam por ocasião do mesmo acontecimento – a vinda do
Messias. Por que eles pensariam dessa forma? O Dr. Toussaint está correto
em sua observação de que os discípulos estavam influenciados pelos escritos
do profeta Zacarias:
Em suas mentes eles tinham concebido esta sequência cronológica de
acontecimentos proféticos: 1) A partida do Rei; 2) decorrido um período de tempo,
aconteceria a destruição da cidade de Jerusalém; 3) e, logo depois da assolação de
Jerusalém, ocorreria a aparição do Messias. Eles tinham um bom embasamento nas
Escrituras para pensarem dessa forma, já que o texto de Zacarias 14.1-2 descreve a
devastação de Jerusalém. No seguimento dessa mesma passagem, o profeta
descreve a vinda do Senhor para aniquilar as nações que guerrearem contra
Jerusalém (Zc 14.3-8). Depois disso, será estabelecido o reino de mil anos (Zc 14.9-
11).8
Em outras palavras, os discípulos pensavam que todos os três
acontecimentos estavam relacionados com um único evento – a volta do
Messias – conforme indica o texto de Zacarias 14.4. Como constataremos,
eles estavam certos ao considerarem a instrução sobre a volta do Messias,
apresentada nos capítulos 12 a 14 do livro de Zacarias. Porém, os discípulos
se equivocaram ao relacionarem o juízo iminente que estava por vir sobre
Jerusalém e o Templo, com a volta do Messias, conforme pretendo
demonstrar nas próximas etapas desta série de estudos. Maranata!
NOTAS
1
Tim LaHaye e Thomas Ice, Charting the End Times: A Visual Guide to Understanding Bible
Prophecy, Eugene, OR: Harvest House, 2001, p. 35.
2
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multinomah Press, 1980, p.
264-65.
3
Alfred Edersheim, The Life and Times of Jesus the Messiah, 2 vols., Grand Rapids: Eerdmans, 1974
(1883), vol. II, p. 414.
4
Arnold Fruchtenbaum, The Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events,
San Antonio, Ariel Press, 1982, p. 212-15.
5
Fruchtenbaum, The Footsteps, p. 215.
6
David L. Cooper, Messiah: His Final Call to Israel, Los Angeles: Biblical Research Society, 1962,
p. 47.
7
Craig L. Blomberg, “Mathew”, vol. 22, publicado no The New American Commentary, Nashville:
Broadman Press, 1992, p. 353, nota de rodapé nº 37.
8
Toussaint, Behold The King, p. 269.
Parte 2

A indagação dos discípulos, mencionada em Mateus


24.3, se divide em duas partes. A primeira pergunta se
refere à destruição do templo, fato esse que se deu no
ano 70 d.C. A segunda pergunta, composta de duas
partes relacionadas entre si, diz respeito a fatos que
ainda estão por acontecer. Ao que parece, os
discípulos pensavam que todos estes três
acontecimentos – a destruição do templo, o sinal da
vinda de Cristo e a consumação do século –
ocorreriam ao mesmo tempo. Contudo, essa não é a
verdade dos fatos.

O Mal-Entendido dos
Discípulos

Era muito comum Jesus corrigir os mal-entendidos dos discípulos,


equívocos esses que geralmente reproduziam a crença popular de sua época.1
O Dr. J. Dwight Pentecost nos diz o seguinte:
As perguntas demonstravam que eles tinham chegado a algumas conclusões [...]
Para aqueles homens, as palavras de Cristo acerca da destruição de Jerusalém
referiam-se àquilo que profetizara Zacarias ao predizer que a devastação da cidade
antecederia o advento do Messias. Na escatologia judaica, identificavam-se duas
eras: a primeira corresponde à era presente, a era na qual Israel aguarda a vinda do
Messias; a segunda é a era vindoura, a era na qual todas as alianças que Deus fez
com Israel se cumpririam e Israel desfrutaria das bênçãos que lhe foram prometidas
em virtude da chegada do Messias.2
O Dr. Stanley Toussaint reflete esse mesmo conceito:
Essa sequência de acontecimentos já estava tão cristalizada na mentalidade
popular que Lucas registra somente a pergunta concernente à destruição de
Jerusalém (Lucas 21.7). Ou seja, os discípulos trataram a destruição de Jerusalém
como uma realidade absolutamente escatológica. Por isso é que Lucas registra
apenas essa pergunta, como se a destruição de Jerusalém fosse um indicador da
vinda do Rei para reinar. Bruce está correto ao declarar que “os discípulos
inquiridores tomaram por certo que todas estas três situações aconteceriam ao
mesmo tempo: a destruição do templo, o advento do Filho do Homem e o fim do
presente século”3,4
Embora os discípulos tenham juntado esses acontecimentos num um único
evento, Cristo não os relacionou a um único período de tempo. Na realidade,
Mateus e Marcos não tratam da destruição de Jerusalém quando relatam o
discurso do Monte das Oliveiras. Ambos deram ênfase aos dias da futura
tribulação que precederá a volta de Cristo. Somente o registro de Lucas
apresenta o tratamento dado por Cristo a esse assunto (Lc 21.25-36). Por
alguma razão, Mateus e Marcos se concentram exclusivamente na resposta a
esta última pergunta: “...que sinal haverá da tua vinda e da consumação do
século”.
A primeira pergunta
A primeira pergunta que foi feita pelos discípulos é a seguinte: “Dize-nos
quando sucederão estas coisas...[?]” (Mt 24.3). Uma vez que Cristo
dissertara acerca do templo e de uma época em que “...não ficará aqui pedra
sobre pedra que não seja derribada” (Mt 24.2), está mais do que evidente
que Jesus predizia a destruição do templo imposta pelos romanos no ano 70
d.C., quando assolaram Jerusalém. Durante Seu ministério, Jesus,
anteriormente, já tinha predito a destruição da cidade de Jerusalém e do
templo.
Jesus tinha acabado de dizer a Israel: “Eis que a vossa casa [i.e., o templo]
vos ficará deserta” (Mt 23.38). Lucas, à semelhança de Mateus 23.37-39,
menciona outra predição de juízo que sobreviria a Israel, proferida logo
depois que Jesus chorou em lamento pela cidade de Jerusalém (Lucas 19.41).
Essa profecia foi declarada após a entrada triunfal de Cristo em Jerusalém,
naquele “Domingo de Ramos”, e se explica pelo fato de Israel rejeitar a Jesus
como seu Messias (Lucas 19.42). Em Lucas 19.43-44, Jesus profetizou o
seguinte:
“Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão de
trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e aos
teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque não
reconheceste a oportunidade da tua visitação”.
Podemos descobrir muitas coisas a partir dessa profecia. Em primeiro
lugar, a expressão “teus inimigos” incontestavelmente se refere aos romanos
que destruíram a cidade em 70 d.C. Em segundo lugar, a expressão “...te
cercarão de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco” é uma
nítida descrição do cerco usado pelo exército romano para derrotar Jerusalém.
Em terceiro lugar, o sítio romano resultou na completa destruição da cidade e
na morte de todos os que dentro dela se encontravam. Em tempos de guerra,
se há pessoas que geralmente são poupadas do extermínio, são as crianças;
mas, no caso de Jerusalém, a esmagadora maioria delas foi morta. Em quarto
lugar, as mesmas palavras de Cristo relatadas em Mateus 24.2, foram usadas
anteriormente por Ele nessa passagem de Lucas, quando afirmou: “...não
deixarão em ti pedra sobre pedra...”. Em quinto lugar, a razão da destruição
de Jerusalém pelas mãos dos romanos é “...porque não reconheceste a
oportunidade da tua visitação”.
O cumprimento da primeira pergunta
Já que não tratarei especificamente da narrativa feita por Lucas do discurso
do Monte das Oliveiras ao longo de minha exposição, examinarei, agora, o
texto de Lucas 21.20-24, pelo fato de mencionar a profecia que responde à
primeira pergunta feita por aqueles discípulos. Essa passagem bíblica declara
o seguinte:
“Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está
próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os
montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que
estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança,
para se cumprir tudo o que está escrito. Ai das que estiverem grávidas e das
que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e
ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para
todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém
será pisada por eles” (Lucas 21.20-24).
No que diz respeito ao discurso do Monte das Oliveiras, preteristas e
futuristas discordam de opinião na maioria das questões. Porém, no caso da
interpretação de Lucas 21.20-24, nós, futuristas, concordamos com os
preteristas de que se tratava de uma profecia referente ao juízo que estava por
vir e que se cumpriu no ano 70 d.C. O Dr. Kenneth Gentry, um intérprete
preterista das Escrituras, afirma: “O contexto de Lucas requer uma Jerusalém
literal (Lc 21.20), sitiada por exércitos literais (Lc 21.20), e que se localizava
numa Judeia literal (Lc 21.21) – fatos esses que, por registro histórico
incontestável, se deram imediatamente antes do ocorrido no ano 70 d.C.”.5
Contudo, ao comentarem o texto de Lucas 21.25-28, os preteristas recorrem a
doses maciças de interpretação simbólica [i.e., alegórica] na sua tentativa de
achar um cumprimento desses versículos ainda no primeiro século d.C. Já os
futuristas não precisam fazer tais adaptações e mantêm uma interpretação
normal ou literal desse texto. Creio que esse texto de Lucas 21.25-28 seja
uma profecia concisa que estabelece um paralelo com Mateus 24 e Marcos
13, conforme explicarei mais adiante.
A passagem de Lucas 21.20-24 comprova que os preteristas interpretam a
profecia de maneira literal quando tal postura apóia seu ponto de vista.
Todavia, se uma interpretação literal da passagem induz a um ponto de vista
não-preterista, os preteristas passam a alegorizá-la. Por outro lado, os
futuristas têm condições de interpretar literalmente todas as partes do
discurso do Monte das Oliveiras e toda a profecia bíblica.
É evidente que Lucas 21.20-24 retrata a invasão romana de Jerusalém que
se deu no primeiro século. Observe acima, na citação do referido texto, o
destaque em itálico que dei às frases indicadoras de um cumprimento literal
dessa profecia no ano 70 d.C. A passagem repetidamente faz referência ao
juízo e ira que sobreviriam ao povo judeu e à sua santa cidade, tal como
Cristo profetizara em Mateus 24.2 e em outros textos que aludi
anteriormente. Entretanto, quando se faz uma pesquisa em Mateus 24 e em
Marcos 13, percebe-se a ausência dessa terminologia. Em vez de “...grande
aflição na terra e ira contra este povo...”, o capítulo 24 de Mateus menciona
o livramento do povo judeu que estaria em grande angústia (Mt 24.29-31).
Diferenças entre o Templo do ano 70 d.C. e um futuro
Templo
Os preteristas gostam de abusar do texto de Lucas 21.20-24, para dizer que
tudo o que se encontra em Mateus 24 se referia à conquista romana em 70
d.C. O Dr. Randall Price observou seis diferenças marcantes entre o templo
do ano 70 d.C. e o templo do período da Tribulação futura, mencionado em
Mateus 24.
Nessa ocasião Jesus faz alusão a um acontecimento sinalizador relacionado
com o Templo, a saber, sua profanação desoladora causada por um
abominável que fora predito pelo profeta Daniel (Mateus 24.15; Marcos
13.14). A que Templo Jesus se refere nesse texto? Porventura o Templo que
seria profanado era o mesmo Templo que viria a ser destruído? Nessa
passagem existem várias diferenças indicadoras de que Jesus se referia a dois
Templos distintos:
1. O texto não diz que o Templo mencionado em Mateus 24.15 seria
destruído, apenas declara que seria profanado (veja, Apocalipse 11.2). Em
contrapartida, o Templo da época de Jesus (cf., Mateus 24.2) devia ser
totalmente arrasado: “...não ficará aqui pedra sobre pedra que não seja
derribada” (Mateus 24.2; Marcos 13.2; Lucas 19.44).
2. A profanação do Templo seria um sinal para que os judeus escapassem
da destruição (Mateus 24.22), fossem salvos (Mateus 24.22) e
experimentassem a “redenção” que lhes fora prometida (Lucas 21.28). Em
contrapartida, a destruição do Templo aludido em Mateus 24.2 seria um
castigo “...porque não reconheceste a oportunidade da tua visitação [i.e.,
a primeira vinda do Messias]” (Lucas 19.44b), de modo que o Templo
seria arrasado, bem como “...aos teus filhos [i.e., os judeus] dentro de ti”
(Lucas 19.44a).
3. A geração de Judeus que estaria viva na ocasião em que o Templo fosse
profanado, contemplaria a vinda do Messias “logo em seguida à tribulação
daqueles dias...” (Mateus 24.29). Conforme Jesus predisse, tal geração não
passará sem que tudo isso se cumpra (Mateus 24.34). Em contrapartida, a
geração de Judeus que estava para ver a destruição do Templo morreria e
já se passaram (até agora) dois mil anos sem a redenção prometida.
4. O texto sobre a profanação do Templo a que Jesus faz alusão, Daniel
9.27, prediz que o próprio assolador desse Templo será destruído. Em
contrapartida, aqueles que destruíram o Templo no ano 70 d.C. (em
cumprimento do que Jesus predissera) – o imperador romano Vespasiano e
seu filho Tito – não foram aniquilados; ao invés disso, retornaram a Roma
em triunfo, exibindo os utensílios despojados do Templo destruído.
4. No momento “...logo em seguida...” (Mateus 24.29) à profanação do
Templo, se veria o arrependimento de Israel (Mateus 24.30), seguido da
restauração do Templo, segundo sugere Mateus 23.29. Em contrapartida, o
período posterior à destruição do Templo só presenciou um
“endurecimento” que sobreveio “a Israel” e que durará “...até que haja
entrado a plenitude dos gentios” (Romanos 11.25) – decorridos 2.000 anos
até esta data e a contagem continua.
5. Quanto ao Templo que será profanado, a conjuntura é de uma tribulação
de proporções globais, que sobrevirá “...ao mundo” (Lucas 21.26;
compare com Mateus 24.21-22; e Marcos 13.19-20), de um reagrupamento
mundial do povo judeu “...de uma a outra extremidade dos céus” (Mateus
24.31; Marcos 13.27) e de uma aparição universal do Messias no exato
momento de livrar Israel (Mateus 24.30-31; Marcos 13.26; Lucas 21.26-
27). Tal conjuntura está de acordo com o contexto da batalha do final dos
tempos pelo controle de Jerusalém, predita nos capítulos 12–14 de
Zacarias, na qual “...contra ela, se ajuntarão todas as nações da terra”
(Zacarias 12.3). Em contrapartida, a profecia de Lucas 21.20 acerca da
investida contra Jerusalém, previa que a cidade seria atacada por exércitos
de um único império (i.e., Roma), como, de fato, ocorreu no ano 70 d.C.
Portanto, se há dois distintos ataques contra Jerusalém, separados por um
período de mais de 2.000 anos, deve-se, então, admitir que os textos de
Mateus 24.1-2 e Mateus 24.15 fazem alusão a dois Templos diferentes.6
As considerações acima demonstram que as incoerências da interpretação
preterista não podem ser solucionadas pela sua tentativa de meter à força as
profecias de cumprimento ainda futuro dentro de um molde de cumprimento
passado. Os detalhes do capítulo 24 de Mateus não podem ser encaixados
dentro de uma estrutura de cumprimento profético no primeiro século.
Maranata!
NOTAS
1
Veja as seguintes passagens bíblicas que exemplificam a atitude de Cristo em corrigir as crenças
errôneas dos discípulos: Mateus 5–7; 9.1-8; 12.1-8,46-50; 13.10-23; 15.1-20; 16.13-26; 17.1-9; 18.1-
6,21-35; 19.3-12,13-15,27-30; 20.20-28; 21.33-46.
2
J. Dwight Pentecost, The Words and Works of Jesus Christ: A Study of the Life of Christ, Grand
Rapids: Zondervan, 1981, p. 398.
3
Alexander Balmain Bruce, “The Synoptic Gospels”, publicado na obra The Expositor’s Greek
Testament, 5 vols., W. Robertson Nicoll, org., Grand Rapids, Eerdmans, 1976, vol. I, p. 289.
4
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
269-70.
5
Kenneth L. Gentry Jr., Before Jerusalem Fell: Dating the Book of Revelation, Tyler, Texas: Institute
for Christian Economics, 1989, p. 176.
6
Randall Price, Jerusalem in Prophecy: God’s Stage for the Final Drama, Eugene, OR: Harvest
House, 1998, p. 251-55.
Parte 3

Ao continuar a análise das perguntas feitas pelos


discípulos na ocasião do discurso do Monte das
Oliveiras (Mt 24–25; Mc 13; Lc 21), gostaria de
examinar mais detalhadamente a primeira pergunta.
Após observar o templo, Cristo disse aos discípulos:
“...Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo que não
ficará aqui pedra sobre pedra que não seja
derribada” (Mt 24.2). Então os discípulos
perguntaram a Jesus: “Dize-nos quando sucederão
estas coisas e que sinal haverá da tua vinda e da
consumação do século?” (Mt 24.3). Nesse caso, a
primeira pergunta se refere à destruição do templo no
ano 70 d.C.

O Literalismo Preterista

O Dr. Kenneth Gentry, um preterista, declara o seguinte: “O contexto de


Lucas requer uma Jerusalém literal (Lc 21.20), sitiada por exércitos literais
(Lc 21.20), e que se localizava numa Judeia literal (Lc 21.21) – fatos esses
que, por registro histórico incontestável, se deram imediatamente antes do
ocorrido no ano 70 d.C”.1 Isso comprova que os preteristas interpretam as
Escrituras literalmente até o momento em que tal interpretação contradiga as
pressuposições de seu sistema teológico. Então, eles apresentam um
significado mais flexível e espiritualizado [i.e., alegórico] para o texto.
Todavia, já que tanto preteristas quanto futuristas, como eu, crêem que o
texto de Lucas 21.20-24 se refira à Jerusalém do ano 70 d.C., isso pode ser
usado como um exemplo da maneira pela qual as Escrituras fazem alusão à
destruição de Jerusalém ocorrida no século I.
A profecia de Cristo referente ao ano 70 d.C.
Antes de considerarmos a passagem de Lucas 21.20-24, examinarei as
profecias que Jesus enunciou especificamente sobre a destruição de
Jerusalém e do templo, cumpridas literalmente no primeiro século. Observe
predições feitas por Cristo:
“Em verdade vos digo que todas estas coisas hão de vir sobre a presente
geração. Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te
foram enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha
ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o quisestes! Eis que a
vossa casa vos ficará deserta” (Mt 23.36-38; veja tbém Lc 13.34-35).
“Quando ia chegando, vendo a cidade, chorou e dizia: Ah! Se conheceras
por ti mesma, ainda hoje, o que é devido à paz! Mas isto está agora oculto
aos teus olhos. Pois sobre ti virão dias em que os teus inimigos te cercarão
de trincheiras e, por todos os lados, te apertarão o cerco; e te arrasarão e
aos teus filhos dentro de ti; não deixarão em ti pedra sobre pedra, porque
não reconheceste a oportunidade da tua visitação” (Lc 19.41-44).
Nesta predição, Cristo faz nítida referência à destruição de Jerusalém e do
templo. Jesus descreve claramente um cerco nos versículos 43 e 44, porque,
como Ele mesmo disse da nação de Israel, “...não reconheceste a
oportunidade da tua visitação”. Eles haviam rejeitado a Jesus como seu
Messias. Note que, nem por uma vez, Jesus descreve esse fato na condição de
um “juízo vindouro”, como fazem os preteristas.2 Na verdade, o termo “virá”
não é usado em nenhuma dessas profecias referentes ao ano 70 d.C., como foi
usado nas profecias que dizem respeito à volta de Cristo no futuro.
Lucas 21.20-24 e o ano 70 d.C.
Ao considerarmos as palavras usadas por Jesus na profecia sobre a
destruição de Jerusalém e do segundo templo, percebemos que Sua
terminologia denota com muita clareza aquilo que os romanos fizeram no ano
70 d.C.
“Quando, porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está
próxima a sua devastação. Então, os que estiverem na Judeia, fujam para os
montes; os que se encontrarem dentro da cidade, retirem-se; e os que
estiverem nos campos, não entrem nela. Porque estes dias são de vingança,
para se cumprir tudo o que está escrito. Ai das que estiverem grávidas e das
que amamentarem naqueles dias! Porque haverá grande aflição na terra e
ira contra este povo. Cairão a fio de espada e serão levados cativos para
todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém
será pisada por eles” (Lucas 21.20-24).
Repare a maneira pela qual as seguintes palavras e frases respaldam a
concepção de juízo que viria contra Israel no primeiro século:
1) “Jerusalém sitiada por exércitos, sabei que está próxima a sua
devastação”;
2) “Fujam para os montes” (a advertência para fugir, era um indicador de
que Jerusalém estava para ser destruída). Se os judeus estivessem prestes a
vencer os romanos, o melhor lugar para ficar seria do lado de dentro da
cidade protegida por muros.
3) “Estes são dias de vingança”;
4) “Haverá grande aflição na terra”;
5) “Ira contra este povo” (i.e, Israel);
6) “Cairão (i.e., os judeus) a fio de espada”;
7) “Serão (i.e., os judeus) levados cativos para todas as nações”;
8) “Jerusalém será pisada por eles (i.e., os gentios)”.
No texto acima, não existe nenhuma frase que sugira uma interpretação de
cumprimento futuro dessa profecia, pelo fato de que a destruição de
Jerusalém no ano 70 d.C., sem sombra de dúvida, foi um juízo que sobreveio
ao povo judeu por terem rejeitado a Jesus como o Messias que lhes fora
prometido (Lc 19.44; Mt 23.38). Essa passagem é a resposta incontestável
que Jesus deu à primeira pergunta feita pelos discípulos referente à época em
que não ficaria pedra sobre pedra do templo que não fosse derribada. No
entanto, quando comparada com outras partes do discurso do Monte das
Oliveiras, não se encontra a terminologia usada no texto acima (veja, Mt
24.4-31; Mc 13.5-27; Lc 21.25-28). Ao invés disso, a terminologia do
discurso do Monte das Oliveiras, com exceção de Lucas 21.20-24, por via de
regra não faz alusão a Israel sob o juízo disciplinar de Deus, mas refere-se
tanto a Israel sob a ameaça das nações gentílicas, quanto à intervenção de
Deus para livrar o povo judeu. Tal tendência identificada em todo esse texto
se torna ainda mais evidente quando se compara a passagem correlata de
Zacarias 12–14.
“...até...”
O texto de Lucas 21.24 termina com a declaração de que Jerusalém estará
sob domínio gentílico “...até que os tempos dos gentios se completem...”. A
palavrinha “até” indica claramente que haverá um tempo em que o atual
domínio dos gentios sobre Jerusalém chegará ao seu fim. O atual período,
denominado de “tempos dos gentios”, terminará, de fato, em dias ainda
futuros. Portanto, o final do versículo 24 serve como um período de transição
entre a profecia referente ao fato passado ocorrido no ano 70 d.C. (Lc 21.20-
24) e a profecia acerca da Segunda Vinda de Cristo que ainda se cumprirá no
futuro (Lc 21.25-28). Nós, atualmente, vivemos nos “tempos dos gentios”.
Há uma nítida relação do texto de Lucas 21.24, na menção que faz de que a
era atual dos “tempos dos gentios” se cumpriria e chegaria a seu fim, com o
texto de Romanos 11.25, nesta referência: “...até que haja entrado a
plenitude dos gentios”. Ambas as passagens falam da redenção de Israel
(Lucas 21.28; Romanos 11.26-27). Se considerarmos a conjuntura do Antigo
Testamento na sua proposição de que Israel passará pelo período da
tribulação, arrepender-se-á no fim desse período reconhecendo que Jesus é o
Messias, viverá uma conversão nacional, até que finalmente ocorra a
Segunda Vinda de Cristo para livrá-los de seus inimigos, temos de convir que
“...todo o Israel será salvo...” (Romanos 11.26) no que diz respeito à
tribulação. Essa é exatamente a conjuntura da passagem de Lucas 21.25-28.
O intérprete preterista Ken Gentry acredita que a Epístola aos Romanos faça
alusão a uma futura conversão de Israel, apesar de não relacioná-la com o
período da tribulação, como as Escrituras frequentemente o fazem. O Dr.
Gentry declara o seguinte: “A futura conversão dos Judeus consumará o
cumprimento (Rm 11.12-25)”.3 Contudo, somente uma interpretação futurista
harmoniza, de forma honesta, esses textos que obviamente estão
relacionados.
Lucas 21.25-28 e o futuro
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre
as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas;
haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que
sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados. Então, se
verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e grande glória. Ora,
ao começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a vossa cabeça;
porque a vossa redenção se aproxima” (Lucas 21.25-28).
J. C. Ryle, comenta o seguinte sobre o texto acima:
O assunto desse trecho da profecia extraordinária enunciada pelo nosso Senhor é a
Sua Segunda Vinda para julgar o mundo. As expressões marcantes da passagem
parecem inaplicáveis a qualquer acontecimento menos relevante do que esse.
Limitar as palavras que estão diante de nossos olhos à conquista de Jerusalém pelos
romanos, é forçar o sentido natural da linguagem das Escrituras.4
O enfoque do texto de Lucas 21.25-28 revela uma clara mudança em
relação à descrição do primeiro século feita em Lucas 21.20-24. As
diferenças envolvem o foco localizado de Jerusalém na ocasião do juízo
ocorrido no primeiro século versus a perspectiva mundial do futuro período
da tribulação. A tribulação envolverá acontecimentos celestiais e mundiais
que não ocorreram no ano 70 d.C. Se os preteristas, como o Dr. Gentry,
interpretassem os versículos 25-28 da mesma maneira que interpretam os
versículos 20-24, os acontecimentos descritos nos versículos 25-28 seriam
naturalmente entendidos como fatos de proporções mundiais. Nesse caso, tais
fatos não poderiam ter ocorrido no século I. Se não ocorreram no primeiro
século d.C., esses acontecimentos ainda devem se cumprir no futuro. São
acontecimentos que ocorrerão durante o período da tribulação, os quais foram
preditos por nosso Senhor nessa parte do texto.
O sentido do texto de Lucas 21.25-28 é o oposto da noção de juízo de Deus
contra Israel verificada em Lucas 21.20-24. Em vez de juízo, o versículo 28
comunica a Israel que sua “...redenção se aproxima”. A diferença nessa
passagem é da noite (i.e., juízo) nos versículos 20-24 para o dia (i.e., salvação
e livramento) nos versículos 25-28. William Kelly descreve alguns aspectos
das diferenças nesses textos de Lucas:
Por essa razão, o leitor talvez note que, apesar de haver uma quantidade razoável
de correlações nesses textos (já que haverá um cerco futuro a Jerusalém e até
mesmo um duplo ataque à cidade, de modo que um dos ataques terá sucesso parcial
e o outro resultará na destruição dos inimigos de Israel, segundo as informações que
obtemos em Isaías 28–29 e Zacarias 14), existem contrastes gritantes na passagem
em questão. Porquanto o futuro cerco de Jerusalém terminará em livramento
efetuado por Javé e no estabelecimento de Seu reino, ao passo que o cerco ocorrido
no passado terminou em captura e massacre do povo judeu que, desde então, foi
disperso até que se completem os tempos dos gentios. Por conseguinte, nesse
Evangelho não há nenhuma referência ao abominável da desolação, nem à época da
tribulação, além de tudo o que foi ou será; mas obtemos ambas as informações nos
Evangelhos de Mateus e Marcos, nos quais o Espírito registra a perspectiva dos
últimos dias.5

Conclusão
Quando se faz uma análise de todo o discurso do Monte das Oliveiras nos
registros de Mateus 24 e de Marcos 13, constata-se que não há nenhuma
referência de derramamento da ira de Deus ou de juízo contra Israel. Ao invés
disso, Israel é liberto do ataque de seus inimigos invasores, conforme é
mencionado em Mateus 24.31: “E ele enviará os seus anjos, com grande
clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro ventos,
de uma a outra extremidade dos céus” (veja, também, Marcos 13.27).
Levanta-se, então, a seguinte pergunta: “Em que momento o povo de Israel
foi liberto no ano 70 d.C.?”. A resposta é: Em nenhum momento foram eles
salvos da destruição! Todos os acontecimentos descritos em Mateus 24 e em
Marcos 13 (bem como em Lucas 21.25-28) se cumprirão na tribulação que há
de vir no futuro.
Portanto, a primeira pergunta que os discípulos fizeram a Cristo no
discurso do Monte das Oliveiras dizia respeito à destruição de Jerusalém no
ano 70 d.C. O relato do cumprimento dessa predição foi registrado somente
em Lucas 21. Os textos de Mateus 24–25 e Marcos 13 tratam apenas da
última pergunta que os discípulos fizeram a Jesus, cuja resposta profetiza
acontecimentos que, em relação aos dias atuais, ainda são futuros. Maranata!
NOTAS
1
Kenneth L. Gentry, Jr., Before Jerusalem Fell:Dating the Book of Revelation, Tyler, Texas: Institute
for Christian Economics, 1989, p. 176.
2
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 72.
3
Kenneth L. Gentry, Jr., He Shall Have Dominion: A Postmillennial Eschatology, Tyler, Texas:
Institute for Christian Economics, 1992, p. 206.
4
J. C. Ryle, Expository Thoughts on the Gospels: Luke, 2 vols., Cambridge: James Clarke & Co.,
1858, vol. II, p. 374.
5
William Kelly, An Exposition of the Gospel of Luke, Oak Park, IL: Bible Truth Publishers, 1971, p.
332-33.
Parte 4

Após demonstrarmos nas análises anteriores que o


texto de Mateus 24 é uma profecia de cumprimento
futuro referente ao fim dos tempos. A próxima questão
a ser tratada diz respeito ao momento em que os
versículos de 4 a 14 se cumprirão.
Há dois pontos de vista principais que os intérpretes
futuristas, como eu, tendem a adotar. No primeiro
deles, alguns acreditam que os versículos 4-14 se
referem a um período interadventos, ou seja, um
intervalo de tempo entre a primeira vinda de Cristo e o
início da Tribulação. Os defensores do segundo ponto
de vista argumentam que os versículos 4-14,
especialmente os versículos 4-8, dizem respeito à
primeira etapa do período da Tribulação e
correspondem aos primeiros quatro selos de juízo
descritos em Apocalipse 6.1-8. Eu creio que o segundo
ponto de vista é o correto.

O Ponto de Vista do
Período Interadventos

Muitos intérpretes futuristas do discurso do Monte das Oliveiras crêem que


os versículos 4-14 descrevem os sinais gerais do período interadventos. O Dr.
John F. Walvoord, um defensor desse ponto de vista, declara que os
versículos 4-14:
Descrevem as características gerais do período que antecede o fim e, ao mesmo
tempo, reconhecem que as dificuldades previstas para caracterizar todo o período
entre a primeira e a Segunda Vinda de Cristo, se cumprem com mais intensidade à
medida que o período chega ao seu fim.1
O Dr. Walvoord crê que os versículos 15-26 apresentam sinais específicos
que descrevem a Tribulação, ao passo que os versículos 27-31 se referem à
Segunda Vinda de Cristo.2
No ponto de vista do período interadventos há uma variação de opiniões.
Alguns acreditam que os versículos 4-8 mencionam sinais do período
interadventos que precede a Tribulação; enquanto os versículos 9-14 se
referem à primeira metade do período da Tribulação. “Os acontecimentos
relativos à primeira metade da Tribulação estão registrados em Mateus 24.9-
14”, declara o Dr. Arnold Fruchtenbaum. Essa “passagem começa com a
palavra então, como um indicador de que aquilo que Cristo está descrevendo
viria a se cumprir depois que se levantasse nação contra nação e reino contra
reino”.3
Se o ponto de vista do período interadventos é a interpretação correta desse
texto, a implicação é de que guerras, terremotos, fomes e aparições de falsos
Cristos aumentariam à medida que nos aproximássemos do período da
Tribulação. Porém, se tais elementos se referirem à primeira metade da
Tribulação, as guerras, terremotos, fomes e aparições de falsos Cristos que
ocorrerem durante a era da Igreja não constituem sinais proféticos. Essa é a
razão pela qual alguns intérpretes futuristas crêem que o aumento da
incidência de guerras, terremotos, fomes, etc, é um fato profeticamente
relevante, ao passo que outros intérpretes futuristas, como eu, não lhes
atribuem relevância profética, visto que esses versículos fazem referência a
acontecimentos de amplitude mundial que ocorrerão durante os sete anos da
Tribulação.
O ponto de vista da Tribulação
Minha convicção é a de que o texto de Mateus 24.4-41 seja uma descrição
daquele período de sete anos (cf., Dn 9.24-27) que muitos geralmente
denominam de Tribulação. O aparecimento do “abominável da desolação”,
mencionado por Jesus no versículo 15, é o fator que divide ao meio o período
da Tribulação. Nesse caso, os versículos 4-14 dizem respeito à primeira
metade da Tribulação e correspondem aos primeiros cinco selos de juízo
preditos em Apocalipse 6.
Arno Gaebelein sustenta que “se a interpretação exposta é a correta, deve
haver uma perfeita harmonia entre estas três realidades: As profecias do
Antigo Testamento, o texto de Mateus 24.4-44 e os capítulos 6–19 de
Apocalipse”.4 Eu creio que essa harmonia existe, especialmente entre o
discurso do Monte das Oliveiras e o livro de Apocalipse. Isso é o que me
convence de que os versículos 4-14 se referem à primeira metade da
Tribulação. Gaebelein acrescenta:
Se essa é a interpretação correta, se Mateus 24.4-14 diz respeito ao começo do fim
da era vindoura e se Apocalipse 6 faz referência ao mesmo começo do fim, de modo
que as coisas previstas a partir do sexto capítulo conduzam à Grande Tribulação,
deve haver uma perfeita harmonia entre essa parte do discurso do Monte das
Oliveiras, registrada em Mateus 24, e aquela parte de Apocalipse que começa a
partir do sexto capítulo. Esse é exatamente o caso.5
John McLean comenta que “a aceitação desse ponto de vista depende, em
parte, do peso que se atribui às correlações entre os Evangelhos sinóticos e
Apocalipse”.6 Como, até certo ponto, todos os intérpretes futuristas notam
uma relação de paralelismo entre o discurso do Monte das Oliveiras e o livro
de Apocalipse, é razoável que essas duas porções das Escrituras se localizem
cronologicamente no mesmo período de tempo – a Tribulação. O Dr. McLean
mostrou esses relacionamentos no seguinte quadro.7
Paralelos entre o discurso do Monte das Oliveiras e os
selos de juízo no Livro de Apocalipse
Marcos
Apocalipse 6 Mateus 24 Lucas 21
13
Falsos Messias, Falsos profetas 2 5,11 6 8
Guerras 2-4 6-7 7 9
Discórdia Internacional 3-4 7 8 10
Fomes 5-8 7 8 11
Pestes 8 11
Perseguição – Martírio 9-11 9 9-13 12-17
Terremotos 12 7 8 11
Fenômenos Cósmicos 12-14 11

Dores de parto
O texto de Mateus 24.8 denomina os acontecimentos descritos nos
versículos 4-7 de “...o princípio das dores”. A palavra grega ôdinon significa
“dores de parto, trabalho ou contrações de parto”. Dizem tratar-se de uma
“angústia insuportável referente às catástrofes horrendas que, conforme
supunham os judeus, ocorreriam antes da chegada do Messias”.8 Outra
autoridade no assunto concorda com essa definição e faz menção “das
‘aflições Messiânicas’, os horrores e flagelos que antecedem a chegada da
Era Messiânica”.9
É muito provável que nosso Senhor tivesse em mente a referência do
Antigo Testamento às dores de parto feita em Jeremias 30.6-7, que diz:
“Perguntai, pois, e vede se, acaso, um homem tem dores de parto. Por que
vejo, pois, a cada homem com as mãos na cintura, como a que está dando à
luz? E por que se tornaram pálidos todos os rostos? Ah! Que grande é
aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo de angústia para Jacó; ele,
porém, será livre dela”. O Dr. Randall Price explica as dores de parto do
Messias da seguinte maneira:
As dores de parto são importantes na cronologia da Tribulação, como Jesus revela
no discurso do Monte das Oliveiras (Mt 24.8). A declaração de Jesus sobre as
“dores” indica especificamente que os acontecimentos da primeira metade da
Tribulação (v. 4-7) são apenas o “princípio”, gerando uma expectativa de dores de
parto mais intensas na segunda metade (i.e., a Grande Tribulação). Com base nessa
analogia, todo o período da septuagésima semana se compara a dores de parto.
Assim como uma mulher precisa suportar todo o período de trabalho de parto antes
de dar à luz, assim também Israel precisa suportar todo o período de sete anos da
Tribulação. As divisões de tempo da Tribulação também são ilustradas pela figura
utilizada, pois, da mesma forma que o processo natural se intensifica até que cessem
as dores e aconteça o parto, nesse texto, também a Tribulação aumenta
gradativamente rumo à Segunda Vinda (v. 30-31), que se dará “logo em seguida” ao
fim da Tribulação (v. 29). Assim como há duas fases nas dores de parto (o início do
trabalho de parto e o exato momento de dar à luz), assim também os sete anos da
Tribulação se dividem em duas fases, uma de sofrimentos menos severos e outra de
sofrimentos mais severos, resultantes das manifestações terrestres e cósmicas da ira,
tal como foi progressivamente revelado no discurso do Monte das Oliveiras e na
seção de juízos registrada em Apocalipse 6–19.10
Paulo também usa o tema das dores de parto em 1 Tessalonicenses 5.3,
onde declara: “Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes
sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para
dar à luz; e de nenhum modo escaparão”. O contexto dessa passagem se
refere ao período da Tribulação, o que se encaixa com as outras ocorrências
bíblicas do termo dores de parto.
Raphael Patai, em seu utilíssimo livro The Messiah Texts (Os Textos do
Messias), apresenta inúmeras referências a comentários extrabíblicos
provenientes de escritos judaicos, num capítulo intitulado “As Dores dos
Tempos”.11 Patai nos diz: “Pelo que se imagina, as dores de parto dos tempos
Messiânicos têm causas e manifestações tanto terrestres quanto celestiais [...]
As situações chegarão a um ponto tão crítico que as pessoas perderão a
esperança de livramento. Isso durará sete anos. Então, inesperadamente, o
Messias virá”.12 Essa concepção judaica muito difundida se ajusta
perfeitamente à estrutura apresentada por Jesus no discurso do Monte das
Oliveiras. As dores de parto do Messias, também conhecidas como “as
pegadas do Messias”,13 dão apoio à concepção de que o texto de Mateus
24.4-14 se refere ao período da Tribulação que antecede o Segundo Advento
do Messias, já que é identificado como um tempo de Grande Tribulação que
culmina na chegada do Messias à Terra.
Conclusão
Sempre que sou convidado para dar uma entrevista no rádio as pessoas me
perguntam se incidentes como terremotos, fomes, guerras, entre outros, dão a
entender que o fim está próximo. Eu, naturalmente, sempre digo que não.
Minha resposta normalmente surpreende os entrevistadores, pelo fato de que
eles já estão acostumados a ouvir de outros expositores da profecia bíblica
que esses incidentes têm importância profética para os dias atuais. Como
você pode constatar, se tais incidentes não dizem respeito à era da Igreja, eles
só podem se referir à Tribulação vindoura. Embora seja provável que
estejamos no limiar dos acontecimentos que se cumprirão na Tribulação,
ainda não estamos vivendo nesse período de tempo. Se o texto profético de
Mateus 24.4-14 só chegará ao seu cumprimento depois do Arrebatamento da
Igreja e a partir do começo da Tribulação, é um equívoco afirmar que tais
incidentes são profeticamente relevantes para os nossos dias. As dores de
parto só iniciarão quando Israel enfrentar seu tempo de angústia. Maranata!
NOTAS
1
John F. Walvoord, Mathew: Thy Kingdom Come, Chicago: Moody Press, 1974, p. 183.
2
Walvoord, Mathew, p. 183.
3
Arnold Fruchtenbaum, The Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events,
San Antonio: Ariel Press, 1982, p. 439-40. Para conhecer a exposição mais completa que, até hoje,
encontrei desse ponto de vista, veja, a obra de David L. Cooper, Future Events Revealed: According
to Matthew 24 and 25, Los Angeles: David L. Cooper, 1935.
4
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers (1910),
1961, p. 476.
5
Gaebelein, The Gospel of Matthew, p. 481.
6
John McLean, “Chronology and Sequential Structure of John’s Revelation”, publicado na obra de
Thomas Ice e Timothy Demy, When the Trumpet Sounds: Today’s Foremost Authorities Speak Out o
End-Time Controversies, Eugene, OR: Harvest House, 1995, p. 323.
7
McLean, “Chronology and Sequential Structure of John’s Revelation”, p. 326.
8
Joseph Henry Thayer, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Nova York: American Book
Company, 1889, p. 679.
9
William F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 904.
10
J. Randall Price, “Old Testament Tribulation Terms”, publicado na obra de Thomas Ice e Timothy
Demy, When the Trumpet Sounds: Today’s Foremost Authorities Speak Out o End-Time
Controversies, Eugene, OR: Harvest House, 1995, p. 72.
11
Raphael Patai, The Messiah Texts: Jewish Legends of Three Thousand Years, Detroit: Wayne State
University Press, 1979, p. 95-103.
12
Patai, The Messiah Texts, p. 95-6.
13
Price, “Old Testament Tribulation Terms”, p. 450, nota de rodapé 56.
Parte 5

Como demonstrei nos segmentos anteriores, o texto de


Mateus 24.4-14 trata dos acontecimentos que se
cumprirão na primeira metade do período de sete anos
da Tribulação, conhecido como “...o princípio das
dores” (Mt 24.8). Esses acontecimentos mantêm uma
relação de paralelismo com os juízos dos selos e das
trombetas, mencionados em Apocalipse 6, 8 e 9. A
meu ver, nesse discurso de Cristo, “os discípulos eram
os representantes dos judeus que temiam a Deus e
foram advertidos acerca do que sobreviria à sua
nação”.1 Portanto, a passagem bíblica que está diante
de nós se cumprirá no futuro, após o Arrebatamento da
Igreja, por ocasião do começo da Tribulação.

Não Se Deixem Enganar

Visto que a Tribulação começa com a chegada do Anticristo ao cenário


mundial, não é de admirar que esta seção do discurso comece com uma
advertência aos crentes em Cristo sobre a chegada do Anticristo. Jesus inicia
sua resposta à pergunta feita pelos discípulos com um aviso acerca dos falsos
messias. “E ele lhes respondeu: Vede que ninguém vos engane. Porque virão
muitos em meu nome, dizendo: Eu sou o Cristo, e enganarão a muitos”
(Mateus 24.4-5).
Creio que William Kelly esteja correto ao mencionar que essa passagem
das Escrituras não se refere aos crentes em Cristo durante a atual era da
Igreja.
Nas epístolas de Paulo nunca se verifica essa mesma concepção de advertir as
pessoas contra falsos Cristos. Pois, nessas epístolas, o Espírito Santo se dirige a nós
na qualidade de crentes em Cristo e um cristão não pode ser enganado pela
pretensão de um homem ao se passar por Cristo. Tal advertência era apropriada
naquela ocasião do discurso de Jesus, porque, nesse capítulo, os discípulos eram
vistos como representantes, não de nós os crentes em Cristo da atual era, mas dos
judeus tementes a Deus dos tempos futuros.2
A primeira coisa que Jesus lhes diz é para assegurar que ninguém os
enganasse. O primeiro objetivo do Anticristo durante a Tribulação é o de
promover um engano espiritual e, portanto, devia ser o primeiro elemento a
evitar. “Essa advertência foi instigada pela avidez com que os discípulos
buscavam algum sinal. O perigo de ser iludido aumenta ainda mais quando
alguém está entusiasmado ou aguarda alguma indicação simbólica do
acontecimento”.3
A chave para se entender o discurso está nessa primeira frase. Os discípulos
pensavam que a destruição de Jerusalém e de seu grandioso templo seria o
prenúncio da consumação do século. O Senhor desvinculou as duas ideias e
advertiu os discípulos para que não fossem enganados pela destruição de Jerusalém
e por outras catástrofes semelhantes. A devastação do templo e a existência de
guerras e rumores de guerras não significavam obrigatoriamente a proximidade do
fim.4

Muitos falsos cristos


Por que eles deveriam se precaver contra o engano? A vigilância seria
necessária porque durante a Tribulação inúmeros indivíduos reivindicarão ser
o Messias e muitas pessoas acreditarão neles. Contudo, durante a Tribulação,
os crentes judeus não devem permitir que esse caminho enganoso os seduza.
A ênfase do versículo 5 está na palavra “muitos”. Não será apenas uma
pessoa que reivindicará ser o Messias, mas, sim, um bando de indivíduos a
fazer tal reivindicação. Essas muitas reivindicações de messianismo [i.e., a
alegação de ser o Messias] são uma das razões comprobatórias de que essa
passagem não se refere aos fatos que resultaram na destruição de Jerusalém
no ano 70 d.C. A. H. M’Neile declara o seguinte: “Não houve nenhuma
reivindicação objetiva de messianismo até que Bar Kokhba alegasse ser o
Messias, durante o reinado do imperador Adriano”.5 A revolta liderada por
Bar Kokhba foi sufocada pelos romanos em 135 d.C., quando as legiões
romanas, sob o comando de Adriano, destruíram novamente a cidade de
Jerusalém e seus arredores, o que resultou na morte de meio milhão de
judeus.6 Robert Gundry comenta o seguinte:
A falta de provas de que alguém tenha reivindicado o messianismo entre a época
de Jesus e a de Bar Kokhba, num intervalo de aproximadamente cem anos, depõe
contra a hipótese de considerarmos o discurso como um vaticinium ex eventu [i.e., a
predição de um fato após sua ocorrência] relativo à Primeira Revolta Judaica (66 –
73 d.C.). Falsos profetas tiveram participação nessa revolta (cf., Josefo, Guerras
Judaicas, 6.5.2, §285-87; 7.11.1, §437-39; Antiguidades Judaicas, 20.5.1, §97);
ainda que não seja necessário reivindicar o messianismo para que alguém
demonstre ser um falso profeta. Cf., Atos 5.36; 8.9; 21.38.7
James R. Gray afirma que “reivindicações expressas do ofício Messiânico,
no sentido mais estrito do termo, quase não existem na história”.8 Entretanto,
esse texto bíblico nos informa que haverá uma quantidade desenfreada de tais
reivindicações no futuro.
O primeiro selo de juízo
Como já salientei anteriormente, os juízos de Mateus 24.4-11 mantêm uma
relação de paralelismo com os cinco primeiros selos de juízo revelados em
Apocalipse 6.1-11, por sua respectiva ordem. “O primeiro selo retrata um
falso Messias”,9 como se observa em Apocalipse 6.1-2:
“Vi quando o Cordeiro abriu um dos sete selos e ouvi um dos quatro seres
viventes dizendo, como se fosse voz de trovão: Vem! Vi, então, e eis um
cavalo branco e o seu cavaleiro com um arco; e foi-lhe dada uma coroa; e
ele saiu vencendo e para vencer”.
Arno Gaebelein, aquele grande expositor da Bíblia na geração passada, faz
a seguinte declaração sobre tal similaridade:
O cavaleiro que surge montado no cavalo branco após a abertura do primeiro selo
é um impostor. Trata-se de um falso Cristo que sai para conquistar. Sua conquista
acontece sem derramamento de sangue, uma vez que ele só possui um arco. Ele
promove uma falsa paz entre as nações, as quais durante algum tempo estavam
alarmadas pela remoção sobrenatural da Igreja no seu Arrebatamento. O segundo
cavaleiro surge para “tirar a paz da terra”, de onde se conclui que o primeiro
cavaleiro, montado no cavalo branco (a cor branca como um símbolo da paz),
conseguiu estabelecer a paz.
Então, quando voltamos nossa atenção para Mateus 24, descobrimos que a
primeira coisa dita pelo Senhor referia-se aos enganadores que surgirão no começo
da era final, dizendo: “Eu sou o Cristo”; e conseguirão enganar a muitos.10

Qual é a nacionalidade do Anticristo?


Uma crença amplamente difundida ao longo da história da Igreja é a de
que o Anticristo será oriundo de ascendência judaica. Essa concepção ainda é
bastante aceita em nossos dias. No entanto, após um exame mais detalhado
das Escrituras, não encontramos nenhuma base bíblica para tal crença.
Argumentos a favor de uma origem judaica
Há três razões que geralmente são apresentadas para defender o argumento
de que o Anticristo será um judeu.11 Em primeiro lugar, argumenta-se que ele
será um judeu, porque os judeus são responsáveis pelos problemas mundiais.
Logo, se o Anticristo se constituirá no maior problema da história deste
mundo, a conclusão é a de que ele será um judeu. Essa é a razão anti-semita.
Todavia, deve ficar claro que o anti-semitismo é contrário à Bíblia; portanto,
qualquer lógica que se baseie em tal premissa também é antibíblica.
O Dr. Arnold Fruchtenbaum refuta o segundo argumento, denominado por
ele de “O Raciocínio Lógico”. Ele escreve:
Apresentado num silogismo, esse argumento desdobra-se da seguinte maneira:
PREMISSA PRINCIPAL: Os Judeus aceitarão o Anticristo como o Messias;
PREMISSA SECUNDÁRIA: Os Judeus nunca aceitariam um gentio como o Messias;
CONCLUSÃO: Logo, o Anticristo será um judeu.12
São muitas as dificuldades desse argumento, pois, nem de longe, suas duas
proposições podem ser consideradas premissas. Nenhuma das duas premissas
pode ser comprovada na Bíblia. O simples fato dos Judeus firmarem uma
aliança com o Anticristo (Dn 9.27; Is 28.15) não é evidência textual, nem
lógica, de que eles o aceitem como Messias (nem como Anticristo). Além do
mais, se eles não o aceitam como Messias, o fato de ele ser um pacificador
gentio passa a ser irrelevante. Portanto, a conclusão desse argumento não
procede.
Uma tentativa de elaborar um argumento bíblico propõe que o Anticristo
descenderá da tribo de Dã. Ao longo da história da Igreja, desde os
primórdios do cristianismo até os dias atuais, esse ponto de vista tem sido
largamente aceito. O embasamento dessa concepção deriva inadequadamente
de Gênesis 49.17; Deuteronômio 33.22; Jeremias 8.16; Daniel 11.37;
Apocalipse 7.4-8. Embora muitos textos bíblicos sejam citados em defesa
desse argumento, nenhum deles realmente comprova tal ponto de vista, já que
todos são usados fora de seu contexto. Na realidade, somente o texto de
Daniel 11.37 se refere ao Anticristo. Não obstante alguns crerem que a
expressão “ao Deus de seus pais” (ACF), mencionada em Daniel 11.37,
implique uma apostasia judaica, a tradução mais exata dessa expressão, a
partir do texto original, é esta: “aos deuses de seus pais” (ARA). Uma vez
que o Anticristo será um gentio, conforme demonstraremos mais adiante, o
argumento de que seria um descendente da tribo de Dã é infundado. O texto
original hebraico confirma a Versão Almeida Revista e Atualizada, não a
Versão Almeida Corrigida Fiel, numa comprovação de que a apostasia
gerada pelo Anticristo não será de cunho judaico, mas, sim, de cunho
cristão.13
Argumentos a favor de uma origem gentílica
Acabamos de constatar que a Bíblia não mostra que o Anticristo será um
judeu; ao invés disso, as Escrituras demonstram que ele descenderá dos
gentios. Em primeiro lugar, isso pode ser comprovado pela tipologia bíblica.
A maioria dos comentaristas bíblicos concorda que o texto de Daniel 11 faz
alusão a Antíoco Epifânio, um gentio, que tipificava o futuro Anticristo. Se
Antíoco era um gentio, o Anticristo também o será.
Em segundo lugar, as figuras bíblicas apóiam a concepção da origem
gentílica do Anticristo. As Escrituras retratam o Anticristo como uma besta
que emerge do mar (Ap 13.1; 17.15). Na literatura profética, o mar é uma
figura das nações gentílicas. Nesse caso, o Anticristo é descrito como um
descendente dos gentios.
Em terceiro lugar, a natureza dos “tempos dos gentios” (Lc 21.24)
corrobora para um Anticristo gentio. Fruchtenbaum explica:
Todos os pré-milenistas concordam que o período conhecido como os Tempos dos
Gentios só chegará a seu fim na Segunda Vinda de Cristo. Também estão de acordo
com o fato de que o Anticristo será o último governante dos Tempos dos Gentios...
Se esse é o caso, como um judeu poderia ser o último governante de um período no
qual só os gentios podem ter a hegemonia? Afirmar que o Anticristo será um judeu
caracterizaria uma contradição da própria natureza dos Tempos dos Gentios.14
Por fim, a Bíblia não somente informa que o Anticristo será um gentio,
mas também dá a entender que ele será um descendente dos romanos. É o que
está subentendido no texto de Daniel 9.27, onde consta que aquele que fará
aliança com Israel é um representante do império romano revitalizado, pois
foram os romanos que destruíram Jerusalém e o templo no ano 70 d.C. O
Império Romano revitalizado relaciona-se com a segunda fase desse Império
Romano, a saber, “...os pés, em parte, de ferro, em parte, de barro” (Dn
2.33,40-45).
O fato de o Anticristo não ser judeu tem implicações significativas,
segundo ressaltou Gray:
Já que o verdadeiro Anticristo não é um judeu (compare, Daniel 7, 11, Apocalipse
13.1), ele, por conseguinte, não fará nenhuma falsa reivindicação de ser o Messias.
Esses pretensos Messias serão contemporâneos do Anticristo e provavelmente se
oporão a ele. Nessa época, Israel terá muitas opções e oportunidades de seguir
falsos Messias, porém o Anticristo não será um deles. Ele se apresentará como um
benfeitor de Israel, não como um libertador messiânico; um magnífico diplomata
que se transformará num perseguidor dos Judeus. Ele será adorado, não como
Messias, mas como Deus.15

NOTAS
1
William Kelly, Lectures on The Gospel of Matthew, Sunbury, PA: Believers Bookshelf, 1971 (1868),
p. 479.
2
Kelly, Lectures on The Gospel of Matthew, p. 479.
3
Ed Glasscock, Matthew: Moody Gospel Commentary, Chicago: Moody Press, 1997, p. 464.
4
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
270.
5
Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 345.
6
O historiador romano “Dio Cassius relata que os Romanos demoliram 50 fortalezas, destruíram 985
aldeias e mataram 580 mil pessoas, fora as que morreram de fome, por doenças e queimadas pelo
fogo”. Encyclopaedia Judaica, 17 vols., Jerusalém: Keter Publishing House (sem data), vol. 4, p.
233.
7
Robert H. Gundry, Matthew: A Commentary on His Handbook for a Mixed Church under
Persecution, 2ª edição, Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 477.
8
James R. Gray, Prophecy on The Mount: A Dispensational Study of the Olivet Discourse, Chandler,
AZ: Berean Advocate Ministries, 1991, p. 29.
9
Thomas O. Figart, The King of The Kingdom of Heaven: A Verse by Verse Commentary on the
Gospel of Matthew, Lancaster, PA: Eden Press, 1999, p. 438.
10
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers (1910),
1961, p. 481-82.
11
Essas três razões foram coletadas na obra de Arnold Fruchtenbaum, “The Nationality of the Anti-
Christ”, Englewood, NJ: American Board of Missions To The Jews (sem data).
12
Fruchtenbaum, “The Nationality of the Anti-Christ”, p. 8.
13
Fruchtenbaum, “The Nationality of the Anti-Christ”, p. 11-22.
14
Fruchtenbaum, “The Nationality of the Anti-Christ”, p. 24,26.
15
Gray, Prophecy on The Mount, p. 29.
Parte 6

Depois de Sua advertência inicial sobre a apostasia


religiosa (Mt 24.4-5), Cristo, então, volta Sua atenção
para os acontecimentos geopolíticos. Jesus declara:
“E, certamente, ouvireis falar de guerras e rumores
de guerras; vede, não vos assusteis, porque é
necessário assim acontecer, mas ainda não é o fim.
Porquanto se levantará nação contra nação, reino
contra reino, e haverá fomes e terremotos em vários
lugares; porém tudo isto é o princípio das dores” (Mt
24.6-8). Se, como já vimos anteriormente, os
versículos 4-14 se referem à primeira metade da
Tribulação, então os acontecimentos referidos acima
se cumprirão durante esse período, numa correlação
com os juízos dos selos descritos em Apocalipse 6.

Falsos Messias

Antes de irmos para a próxima etapa de nosso estudo, gostaria de voltar à


questão dos falsos Messias mencionados no versículo 5. Os intérpretes
preteristas costumam dizer que “falsos Messias surgiram com frequência em
Israel”.1 Kenneth Gentry, apesar de ser mais cauteloso em sua declaração, diz
o seguinte: “Há muitos exemplos de tremendos impostores, os quais muito
provavelmente fizeram reivindicações messiânicas”.2 Em suas afirmações,
Gentry e DeMar se referem ao primeiro século d.C. Gentry alista os seguintes
indivíduos, que, segundo ele, reivindicaram ser o Messias: Teudas, em Atos
5.36; Simão, o mágico, em Atos 8.9-10; e “o falso profeta egípcio”.3 DeMar
ainda acrescenta outros nomes a essa lista, ao dizer: “Josefo faz menção de
‘um certo impostor chamado Teudas [...]’; Dositeu, um samaritano, fingiu ser
o legislador predito por Moisés’”.4 DeMar argumenta que todos esses
reivindicaram ser o Messias. Entretanto, quando se faz uma análise detalhada,
constata-se o fato de que nenhum deles realmente alegou ser o Messias.
Alguns deles podem ser considerados falsos profetas, mas não falsos
Messias. Esses intérpretes preteristas não são francos e coerentes na
manipulação dos fatos, porque já investiram demais na sua concepção de que
todas essas coisas se cumpriram no primeiro século. H. A. W. Meyer
esclarece o assunto na seguinte observação:
Não temos nenhum registro histórico de que algum falso Messias tenha surgido
antes da destruição de Jerusalém (Bar Kokhba só apareceu na época do imperador
Adriano); quanto a Simão, o mágico, (Atos 8.9), a Teudas (Atos 5.36), ao Egípcio
(Atos 21.38), a Menandro, e a Dositeu, referidos como exemplos (Teofilato,
Eutímio Zigabeno, Grotius, Calovinus, Bengel), não tinham nenhuma pretensão de
ser o Messias. Compare, Josefo, Antiguidades, XX,5.1; 8.6; Guerras Judaicas,
II,13.5.5
Outros dizem que “o primeiro e segundo séculos d.C. testemunharam
pouquíssimos falsos profetas que se destacaram por fazerem reivindicações
escatológicas”, como mencionei acima. Todavia, mais adiante eles declaram:
“Pelas fontes de informação, não há nenhuma comprovação de que qualquer
deles (i.e., dos anteriores a Bar Kokhba) tenha dito, com todas as letras, ‘Eu
sou o Messias’”.6 Por fim, Leon Morris afirma que “nessa passagem, o
significado mais apropriado é o de que eles reivindicarão para si o título de
Messias, o designativo que é exclusivo de Jesus”. Morris explica:
Isto certamente é uma referência aos últimos dias, pois há pouca evidência de que
algum dos insurgentes, tão ativos antes da queda de Jerusalém, tenha reivindicado
ser o Messias. Alguns alegaram ser profetas, o que é uma coisa bem diferente.7
O Dr. Donald Hagner declara: “A afirmação de que virão ‘em meu nome’,
significa que tais pessoas viriam usando o nome de Jesus ou que elas
chegariam assumindo o messiado de Jesus, como fica expresso na clara
alegação que vem na sequência do texto [...] Nesse contexto, a reivindicação
de ser o Cristo implica a asseveração de ser o Messias escatológico”.8
Ainda que alguns indivíduos do primeiro século d.C. realmente alegassem
ser o Messias, o que de fato não ocorreu, isso não cumpriria a passagem
bíblica em questão. Essa é uma das muitas razões pelas quais esse texto se
refere à Tribulação futura e à manifestação da besta mencionada em
Apocalipse, popularmente conhecida na cristandade como o Anticristo.
Guerras e rumores de guerras
No texto original grego, o versículo 6 começa com uma palavra
interessante – i.e., mellô – que, em geral, não é traduzido para o português,
mas transmite a ideia de “estar prestes a”. Uma vez que esse texto se encontra
em tempo verbal futuro, sua frase inicial tem este sentido: “E vós estareis
prestes a ouvir falar...”.9 De fato, esse é o significado!
A palavra grega polemos normalmente é usada numa referência à guerra e
implica, não somente as batalhas isoladas que constituem uma campanha
militar, mas também “todo o processo de hostilidades”.10 Trata-se de uma
referência a guerras reais nas quais o futuro povo judeu estaria envolvido.
Meyer comenta que essa frase é uma “referência a guerras iminentes e nas
proximidades, cujo estrondo e tumulto realmente já podiam ser ouvidos, e
guerras distantes, das quais nada se sabia, exceto pelos relatos que chegavam
de longe”.11
Aqui temos a correlação com o texto de Apocalipse 6.4 e o futuro juízo do
cavalo vermelho e seu cavaleiro, quando é dito que “...foi-lhe dado tirar a
paz da terra para que os homens se matassem uns aos outros; também lhe foi
dada uma grande espada”. O primeiro selo de juízo mencionado em
Apocalipse 6.2 é o cavaleiro montado num cavalo branco, que é um Cristo
falsificado, o qual corresponde aos versículos 4 e 5 de Mateus 24. Isso
significa que o Anticristo dá início ao período da Tribulação com uma falsa
paz, a qual logo se transforma em várias guerras deflagradas em todo o
planeta. Haverá uma guerra que os habitantes de Jerusalém verão com seus
próprios olhos e outras guerras distantes das quais eles apenas ouvirão falar.
A quem o Senhor dirige Seus comentários nesse discurso? Não creio que
Suas palavras se dirijam à Igreja, mas sim “aos discípulos judeus quanto
àquilo que eles eram na ocasião e quanto ao que viriam a ser”.12 William
Kelly faz uma explanação desse aspecto:
O Senhor faz uma predição acerca do remanescente judeu [...] Isso, porque muitas
coisas ainda devem se cumprir antes que os judeus possam desfrutar de sua benção.
Porém, no que se refere aos cristãos, mesmo na condição atual todas as coisas são
nossas em Cristo; a benção nunca é tirada, embora aguardemos a coroa na Sua
vinda. Todavia, muitos trechos das Escrituras descrevem cenas de angústia antes da
volta do Senhor; outras passagens levam os crentes em Cristo a esperarem pela
volta iminente de Jesus. Esses textos não podem ser violados, nem contradizem um
ao outro; pelo contrário, devem ser entendidos dessa maneira, já que se aplicam ao
mesmo povo.13
Essas guerras que ocorrerão na Tribulação são descritas no versículo 7
como “nação contra nação, reino contra reino”. Tal descrição retrata
diversos conflitos acontecendo em vários níveis; o conflito internacional fará
estragos por toda parte. Nações entrarão em guerra contra nações, como se os
estados nacionais da França e da Alemanha entrassem em guerra um contra o
outro. Reino contra reino, como se a OTAN entrasse em guerra contra as
nações que faziam parte do antigo Pacto de Varsóvia. Esses são os tipos de
conflitos geopolíticos descritos nos livros de Daniel e Apocalipse, os quais
fazem parte da conjuntura de uma futura Tribulação. Não foi isso o que
ocorreu no ano 70 d.C. Roma foi um império que entrou em guerra contra
Israel, uma única nação. Tal situação vivida no primeiro século d.C. não se
assemelha a “nação contra nação, reino contra reino”. M’Neile ressalta o
seguinte: “Os horrores descritos na passagem não são distúrbios locais, mas
se propagam pelo mundo conhecido; nações e reinos manifestarão hostilidade
mútua”.14
Vede, não vos assusteis
Jesus diz a Seus discípulos que eles não deveriam ficar assustados. Na
Bíblia, a palavra grega original traduzida por “assusteis” só ocorre nesse
texto, na passagem correlata de Marcos 8.15 e na Segunda Epístola de Paulo
aos Tessalonicenses 2.2. A. T. Robertson explica que o termo “significa gritar
muito alto, berrar de agonia e, na voz passiva, ficar apavorado com os gritos”.
Robertson traduz esse texto da seguinte forma: “Estejam alertas para as
guerras e rumores de guerras, mas não fiquem apavorados por causa disso”.15
Todos os três usos dessa palavra se encontram no contexto da Tribulação.
É evidente que esse período se projeta como um tempo assustador para
aqueles que não entendem o fato de que Deus está no controle dessas
situações. O apóstolo Paulo faz uma declaração semelhante em 2
Tessalonicenses 2.2, ao escrever: “a que não vos demovais da vossa mente,
com facilidade, nem vos perturbeis, quer por espírito, quer por palavra, quer
por epístola, como se procedesse de nós, supondo tenha chegado o Dia do
Senhor”. Os crentes de Tessalônica chegaram a pensar que já estavam
vivendo o Dia do Senhor, ou seja, a Tribulação. Paulo os orienta para que não
ficassem perturbados, porque eles não estavam no Dia do Senhor.
Por duas vezes, uma proferida por nosso Senhor, outra mencionada por
Paulo, as ocorrências dessa palavra descrevem a reação natural do ser
humano de pensar que já está no período da Tribulação, especialmente
quando é tentado a chorar de dor. Podemos entender a razão pela qual alguém
chegue a pensar dessa forma, ao considerarmos os juízos dos selos preditos
em Apocalipse 6. Percebemos que esse período específico será um tempo no
qual mais de um quarto da população da Terra será morto (Ap. 6.8).
Qual é o antídoto para essa revelação assustadora? O simples
conhecimento de que “é necessário assim acontecer” (Mt 24.6). Meyer diz o
seguinte: “A indicação de que se trata de uma questão de necessidade para a
concretização do propósito divino (Mt 26.54) é mencionada com o intuito de
acalmar e reanimar”.16 Os crentes em Cristo são consolados por saberem que
“se Deus diz que algo vai acontecer, assim deve ser”.17 Morris explica: “Eles
têm uma coisa a seu favor que as pessoas em geral não têm: os crentes sabem
que Deus é soberano sobre tudo e que, no final, o propósito divino alcançará
seu objetivo. Esse é o significado da expressão ‘é necessário’”.18 Essa frase
nos mostra que Deus está no controle daquilo que aparentemente está fora de
controle – Seu julgamento.
O julgamento é uma parte indispensável do plano de Deus porque o mal
está presente no mundo. Antes que Deus inaugure Seu reino – a saber, um
reino de justiça – é necessário que Ele elimine o mal do mundo por meio de
juízo. Tal fato pode ser assustador para quem não conhece a Deus, nem o Seu
plano. O conhecimento do plano predeterminado de Deus é um dos aspectos
que a profecia bíblica proporciona para o povo de Deus, durante aquele
tempo caracterizado pelo distúrbio mundial. Os atos de juízo devem
acontecer porque Deus é um Deus justo que demarcou os limites da Sua
paciência.
Conclusão
James R. Gray apresenta este excelente resumo dessa passagem bíblica:
Os textos de Mateus 24.6 e Apocalipse 6.3-4 são correlatos. O cavalo vermelho
simboliza a guerra. O objetivo do cavaleiro é o de “...tirar a paz da terra para que
os homens se matassem uns aos outros...” (Ap 6.3). Muitos imaginam que a
primeira metade da Tribulação será um tempo de muita paz. Porém, essa não é a
realidade. O Anticristo será tido como um homem tremendamente pacificador em
virtude de sua terrível capacidade de enganar. Na verdade, ele chegará ao poder e se
manterá no governo mundial pela guerra (Dn 7.8,24). A Tribulação provocará
guerras e mais guerras. O livro de Apocalipse prediz muitas guerras, não somente
no capítulo 6, mas também em 16.12-15; 17.14; 19.1ss.; e 20.8. Tais guerras não
são apenas invasões na Palestina (Daniel 2.26-27; 11.40-45; Zacarias 12.2-11;
Apocalipse 12.9-17).19

NOTAS
1
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Power Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 73.
2 Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 46.
3 Gentry, Perilous Times, p. 46-7.
4 DeMar, Last Days Madness, p. 74.
5 Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo, T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 128.
6
W. D. Davies e Dale C. Allison, Jr., A Critical and Exegetical Commentary on The Gospel
According to Saint Matthew, 3 vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1997, vol. 3, p. 338-39.
7
Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, p. 597.
8
Donald A. Hagner, Word Biblical Commentary: Matthew 14–28, vol. 33B, Dallas: Word Books,
1995, p. 690.
9
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, KY: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 277.
10 Richard C. Trench, Synonyms of the New Testament, Grand Rapids: Eerdmans, (1880), 1953, p.
322.
11
Meyer, Handbook to The Gospel of Matthew, vol. 2, p. 129.
12
William Kelly, Lectures on the Gospel of Matthew, Sunbury, PA: Believers Bookshelf, (1868),
1971, p. 482.
13
Kelly, Lectures on the Gospel of Matthew, p. 483.
14
Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 346.
15
A. T. Robertson. Word Pictures in the New Testament, VI vols., Nashville: Broadman Press, 1930,
vol. I, p. 189.
16
Meyer, Handbook to The Gospel of Matthew, vol. 2, p. 129.
17
Davies e Allison, The Gospel According to Saint Matthew, vol. 3, p. 349, nota de rodapé 81.
18
Morris, The Gospel According to Matthew, p. 598.
19
James R. Gray, Prophecy on The Mount: A Dispensational Study of the Olivet Discourse, Chandler,
AZ: Berean Advocate Ministries, 1991, p. 29-30.
Parte 7

O texto de Mateus 24.6 diz: “E, certamente, ouvireis


falar de guerras e rumores de guerras; vede, não vos
assusteis, porque é necessário assim acontecer, mas
ainda não é o fim”. Na análise anterior, tratei da
primeira parte desse versículo; entretanto, a sua
segunda parte contém uma importante declaração.

Ainda Não é o Fim

Uma vez que guerras e rumores de guerras devem acontecer, a tendência


seria a de se pensar que, com a deflagração de conflitos, o fim teria chegado,
mas esse não é o caso. Na realidade, essa advertência da segunda parte do v.6
tem sido ignorada durante toda a história da Igreja. Em face dos conflitos
militares, muitas pessoas com frequência pensaram que a consumação do
século tinha chegado.1 Diante da guerra atual contra o terrorismo na qual os
Estados Unidos e Israel estão envolvidos, alguns talvez sejam tentados a
pensar que isso é um sinal do fim. Embora eu realmente creia que possamos
estar perto do fim da era da Igreja, essa não seria a razão.2
Já demonstrei anteriormente que os versículos 4-31 abrangem um período
de tempo conhecido como a septuagésima semana de Daniel, mais
popularmente chamado de o período da Tribulação. Nesse caso, Cristo está
dizendo a Seus discípulos que, ao constatar-se o princípio das dores [de
parto] – i.e., os primeiros juízos dos selos descritos em Apocalipse 6 – isso
não sinalizaria o fim do período de sete anos da Tribulação; pelo contrário,
indicaria apenas o começo. Muitos outros acontecimentos devem se suceder
antes que alguém possa experimentar o que está escrito em Lucas 21.28:
“olhai para cima e levantai as vossas cabeças, porque a vossa redenção está
próxima” (ARC).
É possível que um ataque iminente dos Estados Unidos contra o Irã
provoque uma série de acontecimentos que culminem com o início da
Tribulação. Quero deixar bem claro o seguinte: Não estou afirmando que
esses acontecimentos atuais vão dar início à Tribulação, apenas disse que é
possível! Não temos condição de saber isso; ainda estamos vivendo a era da
Igreja que só terminará na ocasião do Arrebatamento, antes do começo da
Tribulação. Portanto, a despeito do que ocorra nos próximos meses, não serão
acontecimentos específicos profetizados na Bíblia; as Escrituras não
predizem episódios geopolíticos relativos à era da Igreja.
Nações e reinos se levantam
A primeira parte do texto de Mateus 24.7 diz: “Porquanto se levantará
nação contra nação, reino contra reino...”. Notamos, de imediato, uma
diferença no uso que nosso Senhor faz dos termos “nação” e “reino”. Trata-
se de uma importante distinção, como veremos em breve.
Em primeiro lugar, gostaria de analisar o uso da conjunção “porquanto”. O
termo grego gar se refere ao contexto que o antecede ou ao contexto que o
sucede? Na sua gramática da língua grega, os autores Dana e Mantey nos
informam que a palavra gar “pode expressar: a) um fundamento ou razão;
b) uma explicação; c) uma confirmação ou certeza”.3 Todas as nuances do
uso de gar são o que se pode chamar de resultantes por extensão. Isso
implicaria que o versículo 7 está “apresentando uma razão” ou é
“explicativo”4 da afirmação feita anteriormente no versículo 6. M’Neile alega
que o termo gar “liga o versículo ao versículo anterior”.5 Nesse caso, Cristo
não está apresentando algo totalmente novo no versículo 7. O significado
disso é que as “guerras e rumores de guerras” do versículo 6 estão
acontecendo por causa do versículo 7. Então, o que acontece no versículo 7?
A palavra grega traduzida por “nação” é ethnos; significa apenas “povo”
ou, se usada em referência a um grupo nacional, quer dizer “nação”.6
“Étnico”, uma palavra que consta no vocabulário de nossa língua portuguesa,
derivou dessa palavra grega. Nesse contexto, o fato de ethnos se levantar
contra ethnos implica, obrigatoriamente, que se trata de “uma nação”, como o
Canadá ou o México. Por outro lado, o vocábulo grego traduzido por “reino”
é basileia. Essa palavra simplesmente significa “o território governado por
um rei”.7 James Morison diz o seguinte: “Traduzido literalmente seria ‘sobre
nação’. Uma nação se levantará na sua ira e descerá sobre outra”.8 Mas qual
seria a relação entre nação e reino?
No mínimo, os termos nação e reino são sinônimos de entidades
nacionais. Entretanto, parece-me, pelo contexto, que há uma progressão de
nação (do gr., Ethnos) para uma confederação de nações constituintes de um
reino (do gr., basileia). Morison declara que a concepção de reino pode
incluir “comunidades maiores, ou um império, abarcando dentro de um
mesmo domínio político várias nacionalidades distintas”.9 Se esse for o caso,
a passagem diz que nações guerrearão contra nações e que grupos de nações
guerrearão uns contra os outros. Seria semelhante à aliança que existiu
durante a Guerra Fria, na qual os países membros da OTAN estavam aliados
contra os países que faziam parte do Pacto de Varsóvia. M’Neile comenta
que “os horrores descritos não são distúrbios de âmbito local, mas se
propagam por todo o mundo conhecido; nações e reinos estão em inimizade
uns contra os outros (o que é diferente de estarem divididos contra si
mesmos, como é dito em Mt 12.25; Is 19.2)”.10
A desatenção preterista
Naturalmente o intérprete preterista Gary DeMar crê que isso se cumpriu
no primeiro século. Ele diz o seguinte:
A obra do historiador romano Tácito, Annales [i.e., “Anais”], abrangendo o
período que vai do ano 14 d.C. até a morte de Nero em 68 d.C., descreve a
turbulência desse período através de frases como “Distúrbios na Germânia”,
“tumultos na África”, “tumultos na Trácia”, “revoltas na Gália”, “intrigas entre os
Partos”, “a guerra na Bretanha” e “a guerra na Armênia”. Guerras foram lutadas de
uma extremidade a outra do império. Através dessa descrição podemos identificar
outro cumprimento: “Porquanto se levantará nação contra nação, reino contra
reino” (Mt 24.7).11
Como sempre, quando se faz uma análise mais detalhada do ponto de vista
Preterista sobre determinado assunto, percebe-se que ele não corresponde
àquilo que o texto bíblico realmente está dizendo. Em sua obra, Tácito
descreveu os conflitos internos que estavam acontecendo dentro do Império
Romano, não o que pode ser caracterizado como “nação contra nação e reino
contra reino”. Craig Evans salienta que essa passagem diz respeito à
“expectação de guerra mundial e de caos [...] Contudo, não houve guerras
significativas antes da revolta judaica”.12 Meyer declara: “Quanto às guerras
entre os Partos e às insurreições que aconteceram cerca de dez anos depois na
Gália e na Espanha, não tiveram nenhuma relação com Jerusalém, nem com a
Judeia”.13 O comentarista M. F. Sadler, acertou em cheio quando fez a
seguinte observação sobre o texto correlato de Marcos:
Se esse versículo é uma continuação do versículo anterior, dificilmente pode se
referir ao momento que antecedeu a destruição de Jerusalém, pois naquela época o
governo romano mantinha a paz mundial. Consequentemente, muitos comentaristas
explicam que esse versículo se cumpriu nos diversos tumultos localizados que
ocorreram entre os judeus, quando estes foram dispersos por toda parte, e entre as
diversas nações nas quais eles foram habitar. Contudo, essa explicação de modo
nenhum corresponde a expressões como “nação contra nação” e “reino contra
reino”. Em vez disso, tais expressões parecem se referir a uma época como a que
vivemos na atualidade, quando o mundo civilizado está dividido em muitas nações
distintas.14
Se a conjuntura do nacionalismo já possibilitava essa compreensão, escrita
a uns cento e vinte e cinco anos atrás, que dizer de tal conjuntura nos dias
atuais? Em seu comentário de Lucas, Sadler acrescenta a seguinte observação
da passagem correlata:
Percebi que esses conflitos internacionais parecem ter mais relação com os tempos
modernos, em que a Europa e os territórios adjacentes da Ásia e da África estão
divididos em diversos Estados soberanos independentes, do que com a época em
que havia somente um grande império, que, até certo ponto, mantinha a paz entre as
nações menores a ele sujeitas.15

Cumprimento futuro
Com base nos versículos 6 e 7, pode-se dizer que essa passagem descreve
os acontecimentos futuros que se darão durante a primeira parte da
Tribulação. Pelo fato de estar correlacionado com o juízo do segundo selo
predito em Apocalipse 6.3-4, o texto de 24.6-7 se projeta como parte do
futuro período da Tribulação. Apocalipse 6.4 declara: “E saiu outro cavalo,
vermelho; e ao seu cavaleiro, foi-lhe dado tirar a paz da terra para que os
homens se matassem uns aos outros; também lhe foi dada uma grande
espada”. Portanto, no começo da Tribulação o Anticristo estará envolvido
numa guerra contra nações e reinos (veja, também, Dn 7.8,23-24; 11.36-45).
Robert Cooper, o velho diplomata inglês que auxiliou o primeiro ministro
da Inglaterra, Tony Blair, a conceber seu ponto de vista das relações
internacionais, escreveu um artigo interessante que apresenta uma visão do
motivo pelo qual Blair foi um dos mais ferrenhos defensores do presidente
americano George W. Bush na invasão antecipada do Iraque.16 Em sua visão
da história, Cooper sustenta que, nos últimos séculos, o mundo presenciou a
ascensão do nacionalismo, causador da instabilidade internacional. Ele
acredita que atualmente estejamos no processo de transição para um tempo de
internacionalismo pós-moderno, marcado por coalizões globais tais como a
União Europeia, na qualidade de estágio transitório. Cooper crê que o uso do
poderio militar é justificável quando há países traidores que se neguem a
entrar em cooperação com esse sistema pós-moderno, como no caso do
Iraque. Cooper esclarece:
Qual é a origem dessa mudança básica no sistema governamental? Nesse caso, a
questão essencial é “o desenvolvimento da credibilidade mundial”. Um grande
número dos países mais poderosos não quer mais entrar em guerra, nem conquistar.
É isso que origina tanto o surgimento do mundo pré-moderno quanto do mundo
pós-moderno. O imperialismo, em seu sentido tradicional, está morto, pelo menos
entre as potências ocidentais. 17
Ele prossegue ao dizer que “a União Europeia é o exemplo mais
desenvolvido de sistema pós-moderno”.18
Já que estamos na transição de um mundo pré-moderno para um mundo
pós-moderno, “o desafio do mundo pós-moderno é o de se acostumar com a
ideia do uso de dois modelos”.19 O que ele quer dizer com isso? Se há nações,
como o Iraque, que não querem entrar voluntariamente nessa maravilhosa
comunidade internacional, a solução é lidar com elas à moda antiga – a saber,
pela ação militar. Desse modo, ao contrário do antigo liberalismo com sua
tendência pacifista, o novo liberalismo é seletivamente combativo. Cooper
justifica “um novo tipo de imperialismo” que se constrói alicerçado na
unidade econômica, enquanto lida de modo militar com dissidentes. Essa é a
razão pela qual Cooper conclui seu ensaio com um apelo para a formação de
um “império cooperativo, semelhante a Roma”.20
À medida que observamos o mundo atual em preparação para os
acontecimentos que ocorrerão após o Arrebatamento, não me surpreende o
fato de um intelectual europeu apelar para uma revitalização do Império
Romano, mas revitalizado com um toque excêntrico pós-moderno. Como é
impressionante constatar que a Bíblia prevê uma conjuntura semelhante a
essa durante a Tribulação sob o governo do Anticristo. Ao interpretarmos
coerentemente as passagens bíblicas, podemos verificar que as Escrituras
confirmam a necessidade de um período futuro, tal como é descrito em
Mateus 24.6-7. Não devemos ficar surpresos com o fato de que o mesmo
Deus que escreveu esse texto bíblico é o Deus que conduz tudo o que se
passa no presente para levá-lo ao pleno cumprimento, provavelmente no
futuro próximo. Maranata!
NOTAS
1
Para ter acesso a um estoque interminável de exemplos, veja, Francis X. Gumerlock, The Day and
the Hour: Christianity’s Perennial Fascination with Predicting the End of the World, Powder
Springs, GA: American Vision, 2000.
2
Veja meus pontos de vista em Thomas Ice e Timothy Demy, A Verdade Sobre os Sinais dos Tempos,
Porto Alegre, RS: Actual Edições, 1999, p. 9-77; ou em Thomas Ice e Timothy Demy, Prophecy
Watch: What to Expect in the Days to Come, Eugene, OR: Harvest House, 1998, p. 9-76.
3
H. E. Dana e Julius R. Mantey, A Manual Grammar of the Greek New Testament, Toronto: The
MacMillan Company, (1927) 1955, p. 242.
4
Dana e Mantey, A Manual Grammar, p. 243.
5
Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 345.
6
William F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 217.
7
Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon, p. 134.
8
James Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Mark, Boston: N. J. Bartlett
& Co. 1882, p. 355.
9
Morison, Gospel According to St. Mark, p. 355.
10
M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, p. 346.
11
Gary DeMar, Last Days Madneess: Obsession of the Modern Church, Power Springs, GA:
American Vision, 1999, p. 79. Para ler um ponto de vista semelhante, veja, também, a obra de
Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 47-9.
12
Craig A. Evans, Word Biblical Commentary: Mark 8:27–16:20, vol. 34B, Dallas: Word Books,
2001, p. 307.
13
Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 130.
14 M. F.
Sadler, The Gospel According to St. Mark: with Notes Critical and Practical, Londres: George
Bell and Sons, (1884), 1911, p. 298.
15
M. F. Sadler, The Gospel According to St. Luke: with Notes Critical and Practical, Londres: George
Bell and Sons, (1886), 1911, p. 527-28.
16
Robert Cooper, “The New Liberal Imperialism”, publicado em Observer Worldview Extra,
Londres: 7 de abril de 2002, através deste endereço na Internet:
www.observer.co.uk/international/story/0,6903,680094,00.html.
17
Cooper, “The New Liberal Imperialism”.
18
Cooper, “The New Liberal Imperialism”.
19
Cooper, “The New Liberal Imperialism”.
20
Cooper, “The New Liberal Imperialism”.
Parte 8

Após ter examinado a primeira parte do texto de


Mateus 24.7, analisarei, agora, a segunda parte desse
versículo. A passagem diz o seguinte: “Porquanto se
levantará nação contra nação, reino contra reino, e
haverá fomes e terremotos em vários lugares; porém
tudo isto é o princípio das dores” (Mt 24.7-8). Então,
o que dizer das fomes e terremotos?

Fomes e Terremotos

Em primeiro lugar, já salientei e defendi o fato de que a passagem de


Mateus 24.4-14 abrange o período de sete anos da Tribulação. Se sabemos
que “a abominação da desolação” (Mt 24.15) se cumprirá na metade do
período de sete anos (Dn 9.24-27), então os acontecimentos mencionados
antes do versículo 15 ocorrerão na primeira metade da Tribulação. Isso é
mais uma vez confirmado pela correlação dos principais acontecimentos
descritos em Mateus 24.4-8 com os quatro primeiros juízos dos selos
referidos e descritos em Apocalipse 6.1-8. Isso significa que as fomes e
terremotos, mencionados em Mateus 24.7, dizem respeito, não a qualquer dos
acontecimentos ocorridos durante os últimos 2 mil anos, nem a algum
incidente dos dias atuais, mas, sim, a uma época futura explicada no texto de
Apocalipse 6.5-8.
Não há nenhuma dúvida de que terremotos e fomes ocorreram no primeiro
século d.C. e ao longo de todas as gerações desde então. William Hendriksen
declara: “É praticamente desnecessário acrescentar que não apenas falsos
profetas, guerras, rumores de guerras, terremotos e fomes ficaram registrados
em toda a história da Igreja [...] mas também perseguições e apostasias a
respeito das quais Jesus se referiu nos versículos 9, 10, 12, e 13”.1 O contexto
dessa passagem se reporta a um tempo futuro de Tribulação, quando esses
acontecimentos se concretizarão como parte integrante da expressa ira e juízo
de Deus. Os terremotos e fomes ocorridos, tanto nos dias atuais quanto no
primeiro século d.C., não são o cumprimento dessa profecia, pois o contexto
dessa passagem aponta para um período de tempo ainda futuro. Vamos,
então, analisar juntos o texto bíblico.
Fomes
A palavra grega limos, traduzida por fome, significa apenas “escassez” e,
quando usada no sentido de “morrer de fome”, tem a conotação de “fome”.2
Essa palavra também ocorre em Apocalipse 6.8.
Se Cristo está fazendo alusão a um tempo no transcurso da primeira
metade da Tribulação, a que Ele se refere? Creio que o texto de Apocalipse
6.5-6 seja uma passagem correlata: “Quando abriu o terceiro selo, ouvi o
terceiro ser vivente dizendo: Vem! Então, vi, e eis um cavalo preto e o seu
cavaleiro com uma balança na mão. E ouvi uma como que voz no meio dos
quatro seres viventes dizendo: Uma medida de trigo por um denário; três
medidas de cevada por um denário; e não danifiques o azeite e o vinho”.
Apesar da palavra “fome” não ter sido usada nesse texto, a passagem é uma
descrição muito apropriada da fome e retrata um dos primeiros juízos do
período da Tribulação. Arno C. Gaebelein afirma o seguinte: “E o terceiro
selo revela um cavalo preto, cujo cavaleiro tem uma balança em sua mão; as
palavras proferidas pelo cavaleiro são um claro indício de que ele traz fomes
sobre a terra (Ap 6.5-6)”.3
Tanto o termo “fomes” quanto o termo “terremotos” são governados pela
expressão “em vários lugares”. Lensky declara que “o termo grego
distributivo kata significa “de um lugar para outro”.4 Leon Morris explica:
“Em vários lugares implica que as catástrofes referidas se difundirão com
enorme amplitude”.5
Essa perspectiva global se encaixa com uma interpretação futura da
passagem, pois não se limita apenas ao território de Israel, nem ao que
ocorreu no primeiro século d.C.
Robert Gundry diz o seguinte: “O posicionamento de fomes antes de
terremotos, nesse texto, pode sugerir que as fomes sejam consequências das
guerras mencionadas imediatamente antes (cf., Ap 6.3-6)”.6 Se seguirmos a
ordem descrita em Apocalipse, fica evidente que a fome será uma sequela da
guerra, como geralmente acontece.
Como era de se esperar, os intérpretes preteristas crêem que a profecia de
Cristo referente à fome cumpriu-se, de algum modo, no ano 70 d.C., quando
os romanos destruíram o templo e a cidade de Jerusalém. Ao comentar sobre
“fomes”, Kenneth Gentry, declara: “Também podemos acomodar isso
facilmente no cenário do primeiro século”.7 Seu colega preterista, Gary
DeMar cita o seguinte texto como evidência de que as fomes preditas se
cumpriram no primeiro século d.C.:
Ao começarmos pelo livro de Atos, constatamos que as fomes eram comuns no
período que antecedeu a destruição de Jerusalém em 70 d.C. [...] A fome era uma
dramática evidência de que a profecia enunciada por Jesus estava se cumprindo na
geração daqueles discípulos, exatamente como Ele disse que aconteceria [...]
Historiadores seculares daquela época, tais como Tácito, Suetônio e Josefo,
mencionam outras fomes ocorridas no período que antecedeu ao ano 70 d.C.8
Será que as alegações preteristas procedem? Em virtude do fato de que
fomes ocorrem em todas as gerações, qualquer pessoa pode encontrar alguns
exemplos de fomes. Craig Evans diz o seguinte: “Mais uma vez, os
incidentes ocorridos nas décadas imediatamente anteriores à revolta judaica
mantêm apenas uma fraca relação de paralelismo com essa parte da profecia
de Jesus”.9 A frequente ocorrência de fomes parece obscurecer a exatidão de
tais acontecimentos como prova de um cumprimento distinto dessa profecia
no passado. Meyer refuta a concepção preterista da seguinte meneira:
Por outro lado, nem esse aspecto da predição deve se restringir a alguma situação
específica de fome, como aquela que ocorreu durante o reinado de Cláudio (cf.,
Atos 11.28), data essa muito prematura para o cumprimento do texto em questão,
nem deve se restringir a uma ou duas ocorrências de terremotos que aconteceram
em países distantes, dos quais temos informação pelo registro histórico (como
aquele que ocorreu nos arredores de Colossos [cf., Oros, Hist., Vii. 7; Tácito, Ann.,
Xiv. 27] e aquele outro que ocorreu em Pompeia).10
À semelhança dos detalhes de outros textos que já examinamos dentro
desse mesmo contexto, as fomes mencionadas em Mateus 24 ainda estão por
acontecer. Elas se cumprirão durante a primeira metade do período da
Tribulação. Essas fomes ocorrerão em vários lugares espalhados pelo mundo
todo, como uma provável consequência das guerras preditas para antecedê-
las.
Terremotos
A palavra terremoto no texto original grego é seismos. O sentido básico do
termo é o de “sacudir”. Pode se referir à agitação do mar provocada por uma
tempestade. Entretanto, a palavra ocorre com mais frequência no Novo
Testamento para designar um terremoto.11 Na língua portuguesa, o termo
sismógrafo origina-se dessa raiz grega.
Pelas mesmas razões enunciadas anteriormente, não creio que esses
terremotos que abalarão vários lugares do mundo todo já tenham ocorrido em
tempos passados, nem estejam ocorrendo nos dias atuais. Assim como as
fomes que os precederam na ordem do texto, os terremotos nessa passagem
correspondem àqueles que são descritos como o juízo do quarto selo em
Apocalipse 6.7-8: “Quando o Cordeiro abriu o quarto selo, ouvi a voz do
quarto ser vivente dizendo: Vem! E olhei, e eis um cavalo amarelo e o seu
cavaleiro, sendo este chamado Morte; e o Inferno o estava seguindo, e foi-
lhes dada autoridade sobre a quarta parte da terra para matar à espada,
pela fome, com a mortandade e por meio das feras da terra”. Gaebelein,
mais adiante, apresenta uma explicação, ao dizer: “O quarto cavaleiro
revelado no quarto selo está montado num cavalo amarelo [i.e., pálido]. Seu
nome é ‘Morte’. Ele mata a quarta parte dos habitantes da Terra. Isso
corresponde ao anúncio feito pelo Senhor Jesus de que haveria pestes e
terremotos em diversos lugares”.12
Lucas 21.11, um texto correlato de Mateus 24.7, diz o seguinte: “haverá
grandes terremotos...”. Portanto, os terremotos preditos pelo Senhor não são
comuns; pelo contrário, são terremotos colossais e desmedidos. Tão terríveis
que provocam uma imensidão de mortes no mundo inteiro.
Os intérpretes preteristas Gentry e Demar também acreditam que esse sinal
se cumpriu no primeiro século d.C. DeMar afirma: “O registro histórico de
terremotos que ocorreram antes da destruição de Jerusalém no primeiro
século comprova que a profecia de Jesus se cumpriu ao pé da letra [...] Três
terremotos são mencionados [em Atos] antes da destruição de Jerusalém no
ano 70 d.C.”.13 Gentry acrescenta:
Um tremor excepcionalmente terrível abala Jerusalém no ano 67 d.C. [...] Tácito
faz menção de terremotos em Creta, Roma, Apameia, Frigia, Campânia, Laodiceia
(citada no livro de Apocalipse) e Pompeia no período de tempo imediatamente
anterior à destruição de Jerusalém.14
De novo, diante do fato de existirem esses tipos de terremotos
mencionados pelos preteristas, tremores esses que ocorrem durante o tempo
de vida de toda uma geração, alguém enfrentaria grande dificuldade para citá-
los como prova de que essa profecia se cumpriu no passado. À medida que
examinamos essas partes iniciais do discurso do Monte das Oliveiras,
chegamos à conclusão de que há pouquíssimo embasamento para tantas
alegações dos intérpretes preteristas. Quando analisados em conjunto com os
outros sinais descritos em Mateus 24, os exemplos de terremotos citados
pelos preteristas não provam nada. Morison comenta o seguinte:
Os especialistas têm se ocupado e obtido extraordinário sucesso na busca de
relatos históricos referentes a terremotos que tenham ocorrido antes da destruição de
Jerusalém, bem como têm se esforçado para descobrir relatos de fomes e guerras
[...] Porém, não há nenhum dado significativo em tais relatos históricos
encontrados, nem nos incidentes registrados. O papel desempenhado pelas guerras,
fomes e terremotos ainda não está consumado.15

O início das dores de parto


Eu já tratei dessa passagem bíblica numa análise feita anteriormente.16 A
partir do uso feito pelo Antigo Testamento das dores de parto em Jeremias
30.6-7, Jesus retoma esse tema em Mateus 24, como Paulo também o faz em
1 Tessalonicenses 5.3. No judaísmo rabínico, as dores de parto eram uma
expressão claramente utilizada para se referir à Tribulação. Assim, o tempo
das dores de parto inicia-se no começo do período da Tribulação e culmina na
Segunda Vinda de Cristo. Portanto, os acontecimentos de Mateus 24.4-7 são
descritos como fatos que se cumprirão durante a primeira parte da Tribulação
e não sinalizam o fim, que vem a ser a Segunda Vinda de Cristo (Mt 24.27-
31).
Conclusão
Duas importantes características da primeira parte da Tribulação serão a
ocorrência de fomes e a ocorrência de terremotos, que provavelmente se
sucederão depois de uma época de guerras mundiais entre nações e reinos.
Tais características não podem ser alusões a acontecimentos ocorridos no
passado, nem no presente momento. Como Gaebelein comenta:
As fomes, pestes e terremotos dos últimos vinte e cinco anos têm sido horríveis.
Contudo, elas são insignificantes, se comparadas com aquelas que nosso Senhor
menciona aqui, a saber, os acontecimentos calamitosos que anunciam ao mundo
todo a rápida chegada do dia da ira.17
John MacArthur repercutiu o sentimento transmitido por Gaebelein, ao
afirmar: “O mundo já testemunhou muitos terremotos, fomes, pestilências e,
até mesmo, sinais cósmicos, mas nada disso se compara com as calamidades
previstas para o fim dos tempos. Elas ocorrerão em vários lugares e, pelo
que parece, simultaneamente”.18
Apesar de ter havido fomes e terremotos no passado, todos eles não
passam de um “aquecimento” para aquilo que Deus executará durante o
período da Tribulação vindoura. Quando esses incidentes miraculosos
ocorrerem, não haverá mais nenhuma dúvida de que o texto de Mateus 24 se
cumpriu em todos os seus detalhes. Hoje em dia, estamos presenciando a
montagem do palco para aquele dia em que Deus julgará e removerá o mal
deste mundo para estabelecer o seu reino justo por mil anos. Que esse dia
chegue logo! Maranata!
NOTAS
1
William Hendricksen, The Gospel of Matthew, Grand Rapids: Baker Book House, 1973, p. 853.
2
William F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 476.
3
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, (1910)
1961, p. 483.
4
R. C. H. Lenski, The Interpretation of St. Matthew’s Gospel, Minneapolis: Augsburg Publishing
House, 1943, p. 931.
5
Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, p. 598.
6
Robert H. Gundry, Matthew: A Commentary on His Handbook for a Mixed Church under
Persecution, segunda edição, Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 478.
7
Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 49.
8
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 79.
9
Craig A. Evans, Word Biblical Commentary: Mark 8:27–16:20, vol. 34B, Dallas: Word Books, 2001,
p. 308.
10
Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 131.
11
Arndt e Gingrich. Lexicon, p. 753.
12
Gaebelein, Matthew, p. 483.
13
DeMar, Last Days Madness, p. 80.
14
Gentry, Perilous Times, p. 50.
15
James Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew, Londres: Hodder
and Stoughton, 1883, p. 459.
16
Para ler uma exposição dessa passagem, veja, Pre-Trib Perspectives, Junho 2002, vol. VII; nº 3;
Parte IV.
17 Gaebelein, Matthew, p. 483.
18
John MacArthur, The New Testament Commentary: Matthew 24–28, Chicago: Moody Press, 1989,
p. 21.
Parte 9

“Então, sereis atribulados, e vos matarão. Sereis


odiados de todas as nações, por causa do meu nome”
(Mateus 24.9).
Após retratar vividamente um cenário mundial, Jesus
se volta para as consequências pessoais que se
manifestarão durante a septuagésima semana de
Daniel, mais conhecida como a Tribulação. Na
realidade, essa foi a primeira vez que Cristo usou a
palavra “Tribulação” em Seu discurso. Há uma série
de questões que surgem a partir desta passagem
bíblica, já que ela está relacionada com diferentes
pontos de vista sobre a interpretação do discurso
proferido pelo nosso Senhor.

Direcionada Para os
Judeus

O versículo 9 apresenta mais uma razão pela qual a Tribulação é


direcionada para o remanescente judeu. “No texto original grego, o advérbio
de tempo tote vincula a perseguição, a matança e o ódio com as guerras,
formes e terremotos”.1 James R. Gray explica o significado da palavra
“então” e sua influência sobre a passagem em seu contexto imediato:
Mateus utiliza a palavra “então” ao longo de todo o discurso
(24.9,10,14,16,23,30,40). O termo grego é tote. Mateus faz uso dessa palavra por 90
vezes em seu Evangelho, mais do que o uso total feito por todos os escritores do
Novo Testamento. O termo é um “advérbio demonstrativo de tempo que denota
naquele tempo”.2 A palavra “então” que ocorre no versículo 9 implica uma
simultaneidade com os acontecimentos que ocorrem nos versículos 4-8. Mateus
situa essa perseguição no “princípio das dores”. Isso cria um problema para aqueles
que acreditam que a era da Igreja se interponha entre os versículos 8 e 9 de Mateus
24. Eles consideram Mateus 24.4-8 como fato histórico consumado e tratam o
versículo 9 como uma profecia que ainda se cumprirá no futuro. Entretanto, a
palavra “então” dificulta a sustentação de um ponto de vista como esse. A palavra
não quer dizer depois do “princípio das dores”, mas, sim, ao mesmo tempo ou
simultaneamente com “o princípio das dores”. Logo, o cumprimento do versículo 9
não pode ser projetado para a segunda metade da Tribulação. Não há nenhuma
relação de sequência aqui, pois tal perseguição se dará durante ou ao mesmo tempo
do “princípio das dores”. Além do mais, já verificamos que o princípio das dores é
uma expressão que se refere ao começo do período da Tribulação e corresponde aos
acontecimentos revelados em Apocalipse 6.3
Visto que o enfoque do discurso do Monte das Oliveiras se concentra em
Jerusalém, é muito provável que Jesus tivesse em mente uma perseguição
contra os judeus. Contudo, não há dúvida nenhuma de que crentes em Cristo
de todas as nacionalidades também receberão um duro tratamento durante
esse tempo de Tribulação. Robert Govett declara o seguinte: “Creio que as
pessoas referidas nessa etapa do discurso sejam os judeus que hão de crer em
Jesus durante a Tribulação, os quais ocuparão, em termos espirituais, o lugar
que ‘os doze’ naquele momento ocupavam”.4 Essa frase só ocorre no relato
feito por Mateus do discurso do Monte das Oliveiras, talvez por ser um
Evangelho direcionado para os judeus.
O pronome eles deve se referir àqueles que são descritos no versículo 10,
onde está escrito: “Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e odiar
uns aos outros”. Nesse caso, o termo eles designa os traidores que trairão
seus irmãos e os entregarão para serem mortos. Eles serão julgados por suas
ações no julgamento “dos cabritos e das ovelhas” registrado em Mateus
25.31-46.
Os intérpretes preteristas crêem que essas situações se cumpriram no
primeiro século d.C. porque o pronome da segunda pessoa do plural “vós” foi
utilizado aqui. Gary DeMar diz o seguinte: “Observe quantas vezes Jesus
usou os pronomes da segunda pessoa do plural em Mateus 24 e nas passagens
correlatas de Marcos 13 e Lucas 21”.5 Nesse contexto, o plural “vós” (ou
“vos”, “vossa”) é uma expressão coletiva referente ao povo judeu como um
todo, o que inclui inúmeras gerações. James Morison esclarece: “Quando o
Senhor profere o termo vós, não está limitando Sua aplicação
especificamente a Pedro, Tiago, João e aos outros apóstolos, como
indivíduos. Ele se dirige a eles genericamente, como representantes de todo
o conjunto de Seus discípulos. Se tal fato for desconsiderado, nada do que foi
dito será entendido”.6 O argumento de Morison pode ser bem aplicado aos
preteristas, o quais julgam erroneamente a cronologia do discurso de Cristo,
de modo que, pela perspectiva deles, “nada do que foi dito será entendido”.
O intérprete preterista Gary DeMar alega o seguinte: “‘Tácito diz que Nero
na ocasião do incêndio de Roma perseguiu os cristãos’ [...] porém, entre os
anos 30 d.C. e 70 d.C., a Tribulação que a Igreja sofreu foi um cumprimento
da específica profecia apresentada em Mateus 24.9”. 7 Entretanto, esse não
poderia ser o caso, segundo observou H. A. W. Meyer, ao refutar: “É um erro
supor que temos aqui uma referência à perseguição ordenada por Nero (a
partir de uma interpretação equivocada do famoso ‘odio humani generis’
mencionado por Tácito em Annalis xv.44; veja, Orelli no referido texto)”.8
M. F. Sadler também levanta objeções à concepção de DeMar, quando
questionou: “Será que tais palavras não contemplam muito mais um ódio
mundial de natureza externa e uma decadência generalizada muito mais
difundida dentro da Igreja do que seria possível antes do ano 72 d.C.?”9 Mais
adiante em sua obra, William Hendricksen comenta o seguinte: “A própria
expressão ‘de todas as nações’ demonstra que Jesus não estava considerando
apenas o que aconteceria durante a vida dos apóstolos”.10
O Antigo Testamento mostra que a Tribulação será um tempo de grande
perseguição especificamente contra o povo judeu (Jr 30.7,11,23-24; Ez
20.33-44; 22.17-22; Dn 7.25; 12.1-3; Os 5.15; Sf 1.7–2.3). O Novo
Testamento também repercute esse conceito (Mt 10.17-22; 24.9,15-24; Mc
13.9-20; Lc 21.12-19; Ap 13.7a; 18.24). Todo o capítulo 12 de Apocalipse se
empenha em retratar a futura perseguição contra o remanescente judeu,
durante a segunda metade do período de sete anos da Tribulação, perseguição
essa empreendida pelo próprio Satanás e por seu parceiro no crime – o
Anticristo, conhecido como a besta.
Tribulação
A época programada para o cumprimento dessa passagem bíblica é a
primeira metade do período de sete anos da Tribulação. Gray explica o
cronograma desses acontecimentos desta forma:
Mateus escreve numa linguagem cronológica precisa, de modo que tenhamos
condição de identificar a época dos acontecimentos referidos [...] Primeiro, pela
progressão dos termos usados com o intuito de mostrar uma transição no
pensamento. Essa progressão se constata no uso do termo “Tribulação”. Perceba
que Mateus se desloca da palavra “Tribulação” (v. 9), conforme a Tradução
Brasileira (ARA, “ser atribulado”) para a expressão “grande Tribulação” (v. 21)
até chegar na expressão “logo em seguida à Tribulação” (v. 29). Essa progressão de
pensamento se encaixa com naturalidade nos períodos da septuagésima semana de
Daniel. Daniel predisse que a semana seria dividida em duas metades. O marco
divisor é o momento em que o Anticristo, na metade da semana, rompe a aliança
feita com Israel. A terminologia do discurso sugere que Jesus estava usando a
profecia de Daniel como ponto de referência para Seu pronunciamento. Tanto
Daniel quanto Jesus dividem a semana fazendo uso do mesmo incidente: a
abominação da desolação (v. 15). Mateus faz alusão à primeira metade da referida
semana pelo termo “Tribulação” (v. 9-14); à última metade da referida semana pela
expressão: “Grande Tribulação” (v. 15-28); e, finalmente, aos acontecimentos que
ocorrerão depois da dita semana, pela frase: “logo em seguida à Tribulação” (v. 29-
31).11
O defensor do conceito de Arrebatamento pré-ira12, Marvin Rosenthal
afirma: “Nas quatro vezes que o Senhor se referiu à Tribulação dentro de um
contexto profético, Ele falava da Grande Tribulação, que começa na metade
da septuagésima semana de Daniel – precisamente, três anos e meio de uma
semana de sete anos”.13 As quatro referências bíblicas mencionadas por ele
são: Mateus 24.21,29 e Marcos 13.19,24.14 Por conveniência, Rosenthal
omite o texto de Mateus 24.9. Não há nenhuma dúvida de que Mateus 24.9
está dentro de um contexto profético. Davies e Allison o classificam como
passagem profética.15 Se o texto de Mateus 24.9 se cumpre na primeira
metade da Tribulação, parece óbvio que Rosenthal omitisse esse versículo 9
para encaixar sua alegação na errônea teoria que ele advoga. É evidente que a
palavra “tribulação”, registrada em Mateus 24.9, apresenta-se num contexto
que faz alusão à primeira metade da Tribulação.
Martírio
A perseguição que Mateus menciona nesse trecho reporta-se a uma
situação futura que ocorrerá na primeira metade da Tribulação. O verbo
“trair” é o mesmo que foi usado na referência à traição de Jesus por Judas
(cf., Mt 26.15) e confirma a noção de que essa futura entrega do povo de
Deus à morte será semelhante à do Senhor. John MacArthur afirma que o
termo grego “paradidomi (i.e., entregarão) significa basicamente“entregar” e
era frequentemente usado no sentido especifico de ser preso pela policia ou
pelo exército (ver Mt 4.12)”.16
O martírio, descrito nessa passagem e predito para ocorrer na primeira
metade da Tribulação, deve ser visto em correlação com o quinto selo
revelado em Apocalipse 6.9-11. O texto de Apocalipse 6.9 declara: “Quando
ele abriu o quinto selo, vi, debaixo do altar, as almas daqueles que tinham
sido mortos por causa da palavra de Deus e por causa do testemunho que
sustentavam”. Arno Gaebelein explica essa correlação do seguinte modo:
E agora, guardado sob o quinto selo, não vemos outro cavaleiro; em vez disso,
ouvimos as almas que estavam debaixo do altar, daqueles que tinham sido mortos
por causa da Palavra de Deus e por causa do testemunho que deram, as quais
clamavam em grande voz, dizendo: Até quando? (Ap 6.9-11). Quem são esses? Não
são os santos da Igreja [...] Eles fazem parte do remanescente judeu que começará a
dar testemunho da Palavra de Deus depois que a Igreja partir deste mundo e que
sofrerá o martírio em consequência de seu testemunho fiel. É exatamente a respeito
disso que nosso Senhor trata a seguir em Seu discurso; “Então, sereis atribulados, e
vos matarão. Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome”.17
Essa relação de paralelismo continua a sustentar a concepção de que os
versículos 4-14 de Mateus 24 são correspondentes aos juízos dos selos
anunciados em Apocalipse 6. Tal correlação apóia meu argumento de que os
versículos 4-14 descrevem a primeira metade da Tribulação, que também é
conhecida como a septuagésima semana de Daniel. Portanto, as guerras,
fomes, terremotos e perseguições contra os crentes nos dias atuais não são
sinais do fim dos tempos. Esses acontecimentos profeticamente significativos
se cumprirão durante a primeira metade da Tribulação vindoura.
O motivo de levar os discípulos de Cristo ao martírio durante a Tribulação
será, como disse Jesus, “...por causa do meu nome”. Exatamente como
vemos em Apocalipse 12 que o dragão (i.e., o próprio Satanás) desfere sua
cólera contra o remanescente do povo judeu na segunda metade da
Tribulação por causa de seu ódio a Deus, assim também esses discípulos do
Senhor serão mortos “...por causa do meu nome”. Visto que esses descrentes
não conseguirão atacar o próprio Senhor, eles investirão contra os discípulos
do Senhor.
Conclusão
Depois de examinarmos o texto de Mateus 24.9, constatamos que essa
passagem proporciona muito mais razões para uma interpretação futurista do
discurso do Monte das Oliveiras do que para uma interpretação preterista.
Verificamos, ainda, que nosso entendimento desse versículo também
proporciona outras razões para compreendermos que as “dores” [de parto],
descritas em Mateus 24.4-14, referem-se à primeira metade do período de
sete anos da Tribulação. Outras relações de correspondência entre os
acontecimentos de Mateus 24.4-14 são identificadas na correlação do
versículo 9 com o juízo do quinto selo revelado em Apocalipse 6.9-11.
Maranata!
NOTAS
1
Randolph O. YEAGER, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, KY: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 281.
2
W. E. VINE, Expository Dictionary of New Testament Words, Fleming H. Revell Co,: Old Tappan,
NJ, sem data, p. 123.
3
James R. GRAY, Prophecy on The Mount: A Dispensational Study of the Olivet Discourse, Chandler,
AZ: Berean Advocate Ministries, 1991, p. 54.
4
Robert GOVETT, The Prophecy on Olivet, Miami Springs, FL: Conley & Schoettle Publishing Co.,
(1881) 1985, p. 22.
5
Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA:
American Vision, 1999, p. 58.
6
James MORISON, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew, Londres: Hodder
and Stoughton, 1883, p. 460.
7
DEMAR, Last Days Madness, p. 83.
8
Heinrich August Wilhelm MEYER, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 132.
9
M. F. SADLER, The Gospel According to St. Matthew: with Notes Critical and Practical, Londres:
George Bell and Sons, 1898, p. 356.
10
William HENDRICKSEN, The Gospel of Matthew, Grand Rapids: Baker Book House, 1973, p. 853.
11
GRAY, Prophecy on The Mount, p. 53-4.
12
Eu hesitei em usar o designativo “Arrebatamento pré-ira”, mencionado no ponto de vista de
Rosenthal, pelo fato de que a opinião de nossa organização Pre-Trib Perspectives sem dúvida
também é a de um Arrebatamento pré-ira. Outras nomenclaturas classificam o Arrebatamento pela
época de sua ocorrência em relação ao período de sete anos da Tribulação. Nesse caso, a concepção
de Rosenthal seria mais adequadamente denominada de “O ponto de vista do Arrebatamento aos três
quartos da semana”.
13
Marvin ROSENTHAL, The Pre-Wrath Rapture of The Church, Nashville: Thomas Nelson Publishers,
1990, p. 105.
14
ROSENTHAL, Pre-Wrath Rapture, p. 104-05.
15
W. D. DAVIES e Dale C. ALISSON, Jr., A Critical and Exegetical Commentary on The Gospel
According to Saint Matthew, 3 vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1997, vol. 3, p. 341.
16
John MACARTHUR, The New Testament Commentary: Matthew 24–28, Chicago: Moody Press, 1989,
p. 23.
17
Arno C. GAEBELEIN, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers,
(1910), 1961, p. 483-84.
Parte 10

“Nesse tempo, muitos hão de se escandalizar, trair e


odiar uns aos outros; levantar-se-ão muitos falsos
profetas e enganarão a muitos. E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele,
porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” –
Mateus 24.10-13.
Jesus dá prosseguimento à Sua descrição da primeira
metade da Tribulação, até chegar ao marco que define
a metade desse período de sete anos citado no
versículo 15. Nessa seção de Seu discurso, o Senhor
descreve a condição espiritual dos judeus que estarão
vivendo na terra de Israel (Mt 24.10-13). Do ponto de
vista de Deus a espiritualidade deles não pode ser
considerada boa.

O Ódio aos Crentes


Judeus

No versículo 9, Jesus prediz que todas as nações do mundo odiarão os


crentes judeus que viverem em Israel durante a Tribulação. Por quê? Porque
essas nações odeiam a Jesus, o Messias! Essa parte do discurso de Cristo
(versículos 9-13) corresponde ao texto de Apocalipse 6.9-11 e ao quinto selo
de juízo. Dessa forma, muitos dos que, num momento mais tranquilo,
professaram sua fé em Jesus, como Messias, agora O negarão e ajudarão a
revelar a identidade dos verdadeiros crentes em Jesus. Essa interpretação da
passagem se harmoniza perfeitamente com o julgamento das “ovelhas e dos
cabritos” descrito em Mateus 25.31-46. A palavra “irmãos”, registrada em
Mateus 25.40, refere-se aos crentes judeus que viverão durante a Tribulação,
aos quais esse trecho de Mateus 24 faz alusão. Só os crentes gentios estarão
dispostos a arriscar sua vida para ajudar o remanescente judeu na Tribulação.
Embora esse texto trate da perseguição contra os crentes durante a primeira
metade da Tribulação, principalmente contra os crentes judeus, todo o
período de sete anos da Tribulação será um tempo de grande perseguição.
O ódio por parte do mundo exterior (versículo 9) exercerá uma pressão
sobre todos os que professarem o nome de Cristo, o que, por sua vez, gerará
um ódio dentro da comunidade de crentes professos durante a Tribulação. A
expressão “nesse tempo” situa os acontecimentos dos versículos 10-13 no
período da Tribulação mencionado no versículo 9. Está mais do que claro que
todas essas coisas ocorrerão durante o mesmo período de tempo. Nesse
tempo, quando a pressão sobrevier, aqueles que não são crentes genuínos
terão as seguintes atitudes: 1) escandalizar-se; 2) trair uns aos outros; e 3)
odiar uns aos outros.
Escandalizar-se
O verbo “escandalizar-se” traz a ideia de “induzir a pecar”, e, na voz
passiva, como ocorre nesse versículo 10, significa “permitir-se ser levado a
pecar”, para, dessa forma, “apostatar da verdade”.1 Esse termo é a forma
verbal do substantivo “pedra de tropeço” e se constitui num verbo de uso
frequente no Evangelho de Mateus (cf., 5.29,30; 6.3; 11.6; 13.21,57; 15.12;
17.27; 18.6,8,9; 26.13,33), embora aqui não tenha este sentido mais
específico do substantivo. Thomas Figart afirma que essa palavra “se refere a
uma armadilha ou arapuca para capturar animais”. Pessoas ardilosas, desse
tipo, dificilmente poderiam ser consideradas como autênticos crentes em
Cristo; ao contrário, elas são exatamente como a semente que caiu naquele
solo rochoso referido em Mt 13.21 [...] Isso leva à traição de uns aos outros,
motivada pelo ódio”.2 Mateus 10.16-23 é uma passagem correlata que
menciona com mais detalhes a mesma perseguição descrita nesta passagem.
Todas essas coisas se cumprirão durante a Tribulação.
Trair uns aos outros
Veja o que diz o texto de Mateus 10.21-22: “Um irmão entregará à morte
outro irmão, e o pai, ao filho; filhos haverá que se levantarão contra os
progenitores e os matarão. Sereis odiados de todos por causa do meu nome;
aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo”. É exatamente a
mesma coisa que está acontecendo aqui em Mateus 24. Em virtude do poder
global do Anticristo e do regime imposto por ele durante a Tribulação, a
pressão será tão grande que até mesmo membros da mesma família se
voltarão uns contra os outros, ao invés de pagarem o preço de não seguir as
determinações do líder mundial. “A maior expressão de apostasia consistia
em trair os outros que estavam dispostos a permanecer fiéis”3 salienta Craig
Keener.
Odiar uns aos outros
Nesse contexto, o ódio de todas as nações (versículo 9) contra os crentes
em Cristo, principalmente contra os crentes judeus (i.e., o remanescente),
gerará uma pressão externa tão intensa que provocará o surgimento de ódio
dentro da própria comunidade dos crentes. Ou seja, falsos crentes professos
odiarão e se voltarão contra os verdadeiros crentes em Cristo. “O uso repetido
da expressão de reciprocidade ‘uns aos outros’ refere-se, neste caso, à traição
(‘hão de... trair’; cf., v. 9) e à hostilidade (‘hão de... odiar’; cf., v. 9) que
surgiriam dentro das próprias fileiras dos seguidores de Jesus”.4 O
remanescente dos judeus crentes em Cristo praticamente não terá alguém que
os possa socorrer. A única fonte terrena na qual eles conseguirão algum tipo
de ajuda serão os crentes gentios. Isso explica a lógica do texto de Mateus
25.31-46 e esclarece o motivo pelo qual haverá um julgamento dos gentios na
ocasião da Segunda Vinda de Cristo, julgamento esse que se baseia no modo
pelo qual eles trataram os judeus crentes em Jesus durante a Tribulação.
Cumprimento passado ou futuro?
Não é de se admirar que encontremos preteristas convictos de que o
versículo 10 já se cumpriu no passado, ainda que com menos veemência do
que em outros versículos.5 Kenneth Gentry declara: “O historiador romano
Tácito faz referência aos cristãos da época de Nero como pessoas ‘odiadas
por seus crimes’ em toda parte”.6 Gentry prossegue, ao dizer: “Nos versículos
10 e 12 identificamos uma consequência da perseguição”.7 Entretanto, Tácito
descreve o que estava acontecendo em Roma, não em Jerusalém, como é o
caso de Mateus 24. Que relação existe, seja ela qual for, entre a citação de
Tácito e o texto de Mateus 24.10? Na realidade, Tácito, nessa mesma parte de
sua obra, escreve que “brotou um sentimento de compaixão”8 em Roma pelos
cristãos perseguidos. Isso dificilmente se harmoniza com o contexto de
Mateus 24.10.
Além disso, já foi mencionado acima que o versículo 9 está ligado ao
versículo 10. O versículo 9 diz: “Então, [vós] sereis atribulados, e vos
matarão. [Vós] Sereis odiados de todas as nações, por causa do meu nome”.
Esses, a quem Jesus se dirige pelos pronomes “vós” e “vos” no versículo 9,
são aludidos no versículo 10 pelos termos “muitos” e “uns aos outros”. Uma
vez que o nosso Senhor faz referência ao mesmo grupo de pessoas (i.e., o
remanescente salvo) em ambos os versículos, tudo o que acontece a elas no
versículo 10 é o mesmo que ocorre àquelas pessoas referidas pelos pronomes
vós e vos no versículo 9. Se, como crêem os intérpretes preteristas, esses
versículos 9 e 10 já se cumpriram na vida daqueles discípulos a quem Jesus
se dirigiu especificamente nessa passagem (em vez de se cumprirem
posteriormente na vida de um grupo de crentes judeus que no futuro habitaria
em Jerusalém), então, esses acontecimentos descritos não podem ter ocorrido
no primeiro século. Quando foi que “muitos” apóstolos traíram “uns aos
outros”?9 Em que ocasião “muitos” apóstolos odiaram “uns aos outros”?
Muito pelo contrário, a verdade é que eles amaram uns aos outros.
Esse versículo, como todos os outros que se encontram em Mateus 24.4-
14, não se refere a um acontecimento passado. Ao invés disso, todos os
versículos desse texto se reportam a um tempo futuro e a um acontecimento
de proporções mundiais que ocorrerá literalmente na cidade de Jerusalém.
Muitos falsos profetas
Na mesma conjuntura dos acontecimentos descritos nos versículos
anteriores, “levantar-se-ão muitos falsos profetas e enganarão a muitos” (v.
11). Isso não ocorreu no primeiro século, ainda que preteristas, como Gentry
e DeMar,10 afirmem que a linguagem desse texto até certo ponto tenha se
cumprido. Falsos profetas não são o mesmo que falsos mestres como alguns
supõem. O uso da expressão “falsos profetas” confirma nossa concepção de
que essa passagem está direcionada para os judeus. Bruce Ware comenta o
seguinte:
Aqui [em 2 Pe 2.1] a expressão “falsos profetas” difere do termo grego
pseudodidaskaloi, a saber, “falsos mestres”. A implicação disso é clara: os falsos
profetas eram um transtorno para o povo de Israel; os falsos mestres são um
problema para a Igreja. Então, o uso que Jesus faz do termo pseudoprophetai [i.e.,
“falsos profetas”] no discurso do Monte das Oliveiras requer um entendimento
judaico do termo na sua normalidade, a menos que alguma evidencia interna no
contexto se interponha em contrário para mostrar que a palavra assumiu um sentido
diferente e incomum. Já que não existe nenhuma evidencia desse tipo no contexto, é
melhor entendermos essa palavra como uma referência aos falsos profetas no
Judaísmo. Mais uma vez, esse “componente judaico” do discurso continua a ser
judaico e não se refere à Igreja.11
Arno Gaebelein reitera a interpretação que Ware dá a essa passagem, ao
declarar:
A era judaica tem falsos profetas; a era Cristã tem falsos mestres. “Assim como,
no meio do povo, surgiram falsos profetas, assim também haverá entre vós falsos
mestres, os quais introduzirão, dissimuladamente, heresias destruidoras, até ao
ponto de renegarem o Soberano Senhor que os resgatou, trazendo sobre si mesmos
repentina destruição” (2 Pe 2.1). Esses falsos profetas que vêm no fim da era
judaica estarão possessos de espíritos malignos. Um caso semelhante a esse ocorreu
durante a terrível apostasia de Israel sob o reinado de Acabe. Naquela ocasião, o
Senhor permitiu que um espírito mentiroso possuísse os falsos profetas, conforme
revelou o profeta Micaías (2 Crônicas 18.18-22).12
O período da Tribulação será um tempo em que a revelação profética será
restabelecida a Israel durante a septuagésima semana de Daniel. Por essa
razão, Jesus adverte a nação de Israel para que tenha discernimento nessa
questão. Mais adiante em sua obra, Ware explica o seguinte:
A quem Jesus estaria advertindo? A advertência obviamente é feita a Israel por
intermédio dos apóstolos (os quais representam sua nação, Israel, nação essa que
espera ansiosamente por seu Messias). Jesus previne os judeus que viveriam durante
a Tribulação para que eles não fossem enganados por falsos Cristos, a despeito dos
sinais e maravilhas e maravilhas que estes realizem. Israel corre o risco de seguir
falsos Cristos, porque ainda não reconheceu o verdadeiro Cristo. Isso, sem sombra
de dúvida, é outro exemplo do componente exclusivamente judaico identificado no
contexto do discurso do Monte das Oliveiras. Constitui-se numa prova, junto com
outros elementos contextuais não analisados por Gundry, de que Jesus se referiu à
nação de Israel e ao futuro dela, de acordo com a intenção das perguntas feitas por
Seus apóstolos.13

Conclusão
Essa passagem bíblica projeta um tempo futuro de grande perseguição e
ódio. Robert Gundry diz: “Ao longo de todo esse texto, percebe-se uma
progressão lógica: a perseguição dos de fora faz com que muitos dentro da
Igreja tentem evitar a perseguição, entregando seus condiscípulos nas mãos
dos perseguidores; e, diante da negligência em condenar essa deplorável falta
de amor fraternal, os falsos profetas ficam à vontade para acentuar, ainda
mais, o problema da traição na irmandade”.14 Os acontecimentos descritos
por nosso Senhor Jesus ocorrerão durante o futuro período da Tribulação. Tal
época exigirá uma enorme perseverança da parte do remanescente judeu.
Maranata!
NOTAS
1
William F. ARNDT e F. W. GINGRICH, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 760.
2
Thomas FIGART, The King of The Kingdom of Heaven: A Commentary of Matthew, sem menção de
editora, 1999, p. 438-39.
3
Craig S. KEENER, A Commentary on The Gospel of Mattew, Grand Rapids: Eerdmans, 1999, p. 571.
4
Donald A. HAGNER, Word Biblical Commentary: Matthew 14–28, vol. 33B, Dallas: Word Books,
1995, p. 694-95.
5
Veja, por exemplo, Gary DEMAR, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Power
Springs, GA: American Vision, 1999, p. 82-85. Kenneth L. GENTRY, Jr., Perilous Times: A Study in
Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant Media Press, 1999, p. 52-53. R. C. SPROUL, The Last
Days According To Jesus, Grand Rapids: Baker, 1998, p. 35.
6
TACITUS, Annals, 15:44.
7
GENTRY, Perilous Times, p. 52.
8
TACITUS, Annals 15:44.
9
Isso não pode ter se cumprido quando Judas traiu Jesus, porque ele era apenas um indivíduo e o texto
diz “muitos”. Além do mais, a deslealdade de Judas ocorreu, pelo menos, 40 anos antes que
Jerusalém fosse destruída no ano 70 d.C.
10
Veja, GENTRY, Perilous Times, p. 53-54 e DEMAR, Last Days Madness, p. 84-85.
11
Bruce A. WARE, “Is the Church in View in Matthew 24–25?” Bibliotheca Sacra, abril-junho de
1981; vol. 138, nº 550, p. 169.
12
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers,
(1910), 1961, p. 484.
13
WARE, “Is the Church in View?” p. 169.
14
Robert H. GUNDRY, Matthew: A Commentary on His Handbook for a Mixed Church under
Persecution, segunda edição, Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 479.
Parte 11

“E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará


de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o
fim, esse será salvo” – Mateus 24.12-13.
Em Mateus 24.9-14, Jesus trata da condição espiritual
daqueles que viverão durante a primeira metade do
período de sete anos da Tribulação. Não é uma cena
agradável. Diante do fato de que os crentes serão
perseguidos e levados à morte, a pressão sobre os
crentes, especialmente sobre os judeus crentes em
Cristo, chegará ao extremo para forçá-los a apostatar
da fé e desistir de servir a Jesus, o Messias.

A Multiplicação da
Iniquidade

O vocábulo grego anomia geralmente é traduzido por “maldade”,


“transgressão” ou “iniquidade”. Ele comunica a ideia de desobedecer
deliberadamente a uma norma estabelecida. No contexto dessa passagem – a
norma estabelecida por Deus. Frequentemente a palavra “maldade” é usada
em oposição a justiça ou boas obras (Mt 23.28; Rm 6.19; 2 Co 6.14; Tt
2.14; Hb 1.9). Arno Gaebelein explica:
“A iniquidade prevalecerá”; ou seja, a absoluta anarquia dominará. Isso também é
nitidamente observado na abertura do sexto selo (Ap 6.12-17). O terremoto, o
escurecimento do sol, o avermelhamento da lua como sangue, a queda das estrelas,
o recolhimento do céu como um pergaminho e o deslocamento de todos os montes e
ilhas são todos símbolos poderosos dos alarmantes acontecimentos políticos que
ocorrerão nos primeiros três anos e meio [...] o reino do terror e da anarquia, pior do
que aquele instaurado pela Revolução Francesa e pela Revolução Russa na
atualidade; todas as classes de seres humanos, os reis, os nobres, os ricos e os
pobres, os escravos e os livres, serão tomados de pavor (...) É o sexto selo e trata-se
exatamente daquilo que o Senhor havia dito: é exatamente o que disse: “A
iniquidade prevalecerá!”.1
Essa época de iniquidade será um tempo incomum em toda a história
humana. Leon Morris diz que ela se caracteriza por “um estilo de vida que se
recusa a aceitar qualquer lei divina, o qual é idêntico ao estilo de vida
mostrado por Mateus no qual o próximo de alguém não tem mais nenhum
direito legal”.2 O Senhor Jesus explanava sobre a natureza qualitativa da
condição espiritual dos descrentes, a qual caracterizará o período da
Tribulação, principalmente a primeira metade desse período. Essa descrição
da iniquidade estabelece um paralelo com a descrição do “homem da
iniquidade”, feita por Paulo em 2 Tessalonicenses 2.3. Essa passagem de
Mateus 24 avança rumo à abominação da desolação (24.15), que será
cometida pelo Anticristo na metade do período da Tribulação. Em 2
Tessalonicenses 2, o apóstolo Paulo associa o homem da iniquidade com o
“abominável da desolação”, ao escrever: “...o homem da iniquidade, o filho
da perdição, o qual se opõe e se levanta contra tudo que se chama Deus ou é
objeto de culto, a ponto de assentar-se no santuário de Deus, ostentando-se
como se fosse o próprio Deus” (2 Ts 2.3b-4). Robert Govett assevera: “É essa
abundância de iniquidade que concede poder ao Anticristo para agir contra os
judeus e contra o templo”.3
O que a expressão “por se multiplicar” significa nesse contexto. Os
comentaristas bíblicos concordam em dizer que essa expressão significa algo
extraordinariamente rápido ou crescimento exponencial. Morris menciona o
seguinte: “O conceito é o de que naqueles dias aos quais Jesus fazia
referência, a iniquidade não apenas cresceria; ela se multiplicaria”.4 James
Morison observa que “em todas as outras passagens onde o verbo (do grego:
plethyno) ocorre, ele é traduzido por ‘multiplicar’”.5 Isso evidentemente se
harmoniza com a noção de um futuro período de Tribulação, no qual a
iniquidade atingirá seu nível mais alto em toda a história humana. Se já
achamos que as coisas estão ruins hoje em dia, é melhor nos animarmos, pois
elas ficarão ainda muito piores durante aquele período incomparável de sete
anos da história deste mundo.
O amor se esfriará
Como consequência da multiplicação da iniquidade, “...o amor se esfriará
de quase todos”. Há uma relação de causa e efeito nesse texto. O termo
original traduzido pela expressão “de quase todos” significa literalmente “de
muitos”. Morris afirma que, “nesse contexto, ‘de muitos’ indica a maioria;
[...] ‘a maioria de vós’”.6 Esta é uma das razões pelas quais eu creio que a
expressão se refira ao mundo descrente, não aos crentes. O restante das
Escrituras não apóia a concepção de que, durante a Tribulação, a maioria dos
crentes será caracterizada pela apostasia; ao contrário, essa é característica
marcante do mundo em geral. Ed Glasscock declara: “Parece que isso tem
mais relação com a condição geral do mundo do que com os seguidores de
Jesus”.7
O que Jesus queria dizer com a expressão “o amor se esfriará”? A
expressão em si é clara e quer dizer: a perda do amor. A principal implicação
é a de identificar a relação de causa e efeito entre a iniquidade e a perda do
amor. Morris explica isso com muita propriedade:
Todavia, a experiência do amor verdadeiro é impossível para uma pessoa iníqua.
O indivíduo iníquo, por definição, é motivado por interesses egoístas, não pelo
cuidado com outras pessoas, nem pelo respeito às normas que governam nossas
relações mútuas. Por isso, com o predomínio da iniquidade, ocorre um esfriamento
do amor. Uma coisa obrigatoriamente gera a outra.8
É precisamente num ambiente como esse que o homem da iniquidade,
citado em 2 Tessalonicenses 2, encontrará facilidade para erigir sua imagem
no templo de Deus reconstruído em Jerusalém. Assim, o presente discurso de
Jesus se encaminha justamente para revelar um ato dessa natureza (cf.,
24.15).
Perseverança até o fim dos tempos
O exato significado e as implicações da frase “...aquele, porém, que
perseverar até o fim, esse será salvo” têm sido alvo de debates acalorados.
Alguns utilizam essa passagem para ensinar uma doutrina cristã conhecida
pelo designativo a perseverança dos santos. Outros, porém, crêem que a
frase se refere a um livramento físico. Eu defendo este último ponto de vista,
primeiramente, porque é única interpretação que faz sentido dentro desse
contexto específico.
A primeira questão que deve ser tratada nesse assunto é a do significado do
termo salvo. Devido ao fato da palavra salvo ser usada no Novo Testamento
para designar o momento em que alguém se torna um crente em Cristo (i.e., o
instante em que ocorre a justificação pela fé), muitos pegam esse significado
e, simplesmente, o conectam ao texto em questão. O mais atual e completo
dicionário de formas léxicas da língua grega afirma que o significado básico
dessa palavra é este: “salvar, livrar de danos, preservar, libertar ou resgatar”.9
Essa palavra pode ser usada em referência à doutrina da salvação (Mt 1.21;
At 16.31; 1 Co 1.18; Ef 2.8-9; Fp 1.19; Tt 3.5; etc) ou pode apenas ser usada
em referência ao livramento físico ou libertação (Mt 8.25; 14.30; 27.49; At
27.31; Hb 5.7; Jd 5, etc). Seu sentido específico é determinado pelo contexto.
Glasscock declara: “O problema começa com uma hermenêutica superficial
que atribui à palavra ‘salvo’ o mesmo significado ele tem em todos os
contextos, o que não se deve fazer com nenhuma palavra. As palavras não
possuem significado específico fora do contexto. Aqui, neste caso, o termo
‘salvo’ (do grego: sozo) significa basicamente ‘livrar’ ou ‘libertar’ – ‘de
quê?’ e ‘como?’ são informações que dependem do contexto”.10
Muitos comentários bíblicos falham na análise dessa passagem por não
considerarem os fatores contextuais antes de começarem a fazer sermões
sobre a perseverança na vida cristã. Eles utilizam uma passagem bíblica que
recomenda a doutrina cristã da perseverança, mas chegam a conclusões que
não podem ser sustentadas pelos elementos específicos encontrados nesse
texto.11 É fato que existe uma doutrina cristã da perseverança demonstrada
nas Epístolas (cf., Rm 12.12; 1 Co 13.7; 2 Tm 2.10,12; Hb 12.3-7; Tg 1.12;
5.11; 1 Pe 2.20). Essa doutrina ensina que a perseverança é uma das muitas
qualidades de caráter que um crente em Cristo dever ter. Por que ela é
importante? Porque a perseverança em meio ao sofrimento produz um caráter
aprovado (Rm 5.3-4). Contudo, nenhuma dessas referências bíblicas que
fundamentam a doutrina cristã da perseverança faz menção de “perseverar
até o fim”. Em contrapartida, todas as passagens bíblicas que fazem menção
de perseverar até o fim ocorrem dentro do mesmo contexto – a Tribulação
(Mt 10.22; 24.13; Mc 13.13; Lc 21.19; Ap 13.10; 14.12). John Walvoord
explica o seguinte:
De forma geral, as pessoas que forem salvas durante o período que culminará com
a vinda de Cristo, aguardarão a promessa feita àqueles que perseverarem até o fim
(Mt 24.13), a saber, a promessa de que os crentes que sobreviverem à Tribulação e
ainda estiverem vivos no fim desse período serão salvos ou preservados pelo
próprio Cristo, em pessoa, na ocasião da Sua Segunda Vinda. Isso não se refere à
salvação do pecado, mas, sim, ao livramento dos sobreviventes no fim daquele
tempo, como, por exemplo, está registrado em Romanos 11.26, onde é mencionado
que o Libertador salvará a nação de Israel de seus perseguidores.12
Esse trecho de Mateus 24 se refere especificamente ao remanescente judeu,
que, se perseverar até o fim, será fisicamente resgatado por Cristo em pessoa,
na ocasião da Sua Segunda Vinda. Esse remanescente judeu, cujos
integrantes ainda estarão com seus corpos mortais, será introduzido no reino
milenar (Mt 25.21,34). William Kelly esclarece: “É evidente que a
linguagem, em seu pleno sentido, aplica-se exclusivamente aos judeus –
judeus crentes em Cristo, sem dúvida, mas, ainda assim, judeus em meio a
uma nação judicialmente castigada por sua deslealdade com Deus e por ter
rejeitado seu próprio Messias [...] Portanto, há um período definido de
perseverança até o fim – um fim que virá tão certo como houve um ‘princípio
das dores’”.13
Passagens bíblicas correlatas
Há uma série de referências bíblicas, correlatas a Mateus 24.13, que
fundamentam minha concepção desse texto. Em primeiro lugar, o texto de
Daniel 12.1, diz: “Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o
defensor dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca
houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será
salvo o teu povo, todo aquele que for achado inscrito no livro”. Miguel
declara a Daniel que esse seria o tempo de Tribulação durante o qual os
judeus eleitos seriam libertos ou resgatados, significado esse mais próximo
do sentido da palavra hebraica traduzida por salvo.
Em segundo lugar, Marcos 13.13, uma passagem bíblica diretamente
correlata a Mateus 24.13, declara: “Sereis odiados de todos por causa do
meu nome; aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo”. A
primeira metade de Marcos 13.13 é uma declaração resumida do texto de
Mateus 24.9-12 e, na sequência de ambas as passagens, vem a exortação
quanto à perseverança. O texto de Lucas 21.18-19, outra passagem correlata,
também diz o seguinte: “Contudo, não se perderá um só fio de cabelo da
vossa cabeça. É na vossa perseverança que ganhareis a vossa alma”. Essa é
afirmação mais clara, quando diz: “ganhareis a vossa alma”. A palavra
grega psyche, traduzida nesse texto por “alma”, também é um termo
normalmente usado em referência à vida física.
Em terceiro lugar, o texto de Mateus 10.22, ainda dentro do contexto da
Tribulação futura, adverte: “Sereis odiados de todos por causa do meu nome;
aquele, porém, que perseverar até ao fim, esse será salvo”. Mais uma vez
percebe-se a ênfase no livramento físico dos Judeus no fim da Tribulação,
após um tempo de perseguição.
Por fim, as duas passagens de Apocalipse (cf., 13.10 e 14.12) que tratam
da “perseverança dos santos”, também fazem referência ao livramento físico.
Ambas as referências bíblicas estão nitidamente dentro do contexto
tribulacionista e fazem alusão ao livramento físico daqueles que
perseverarem até o fim.
Conclusão
Chegamos ao fim de uma das partes do discurso de Cristo. Jesus,
dirigindo-se especificamente aos judeus crentes (i.e., o remanescente) que
passariam pela Tribulação, adverte-os acerca de muitos perigos com os quais
se deparariam durante esse período sem igual da história. Após predizer as
terríveis provações que caracterizarão esse período, Cristo lhes faz a seguinte
promessa: os crentes que sobreviverem fisicamente até o momento de Sua
Segunda Vinda serão preservados com vida para entrar no reino de mil anos
que será estabelecido no fim do período da Tribulação. Maranata!
NOTAS
1
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, (1910),
1961, p. 484-85.
2 Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, Nota de Rodapé
23, p. 600-01.
3
Robert Govett, The Prophecy on Olivet, Miami Springs, FL: Conley & Schoettle Publishing Co.,
(1881), 1985, p. 29.
4
Morris, Matthew, nota de rodapé 22, p. 600.
5 James Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew, Londres: Hodder
and Stoughton, 1883, p. 461.
6
Morris, Matthew, nota de rodapé 24, p. 601.
7 Ed Glasscock, Moody Gospel Commentary: Matthew, Chicago: Moody Press, 1997, p. 466.
8
Morris, Matthew, p. 601.
9
William F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 805.
10
Glasscock, Matthew, p. 466.
11
Para ver um exemplo de expositor que transforma esse trecho bíblico num sermão sobre a
perseverança cristã, consulte a obra de John MacArthur, The New Testament Commentary: Matthew
24–28, Chicago: Moody Press, 1989, p. 28-29.
12 John F. Walvoord, Matthew: Thy Kingdom Come, Chicago: Moody Press, 1974, p. 184.
13
William Kelly, Lectures on The Gospel of Matthew, Sunbury, PA: Believers Bookshelf, 1971,
(1868), p. 484.
Parte 12

“E será pregado este evangelho do reino por todo o


mundo, para testemunho a todas as nações. Então,
virá o fim” – Mateus 24.14.
À medida que o assunto do discurso do Senhor Jesus
se aproxima da metade do período de sete anos da
Tribulação, o versículo 14 provoca várias perguntas
interpretativas: Qual o significado exato da expressão
“evangelho do reino”? Essa pregação seria um
acontecimento ainda futuro? O que significa a frase
“para testemunho a todas as nações”? O que Jesus
queria dizer com a expressão “Então, virá o fim”?

O Evangelho do Reino

Respondendo de forma simples e clara, alguns crêem que “Evangelho do


Reino” é o Evangelho ou a mensagem que proclama o perdão dos pecados
pela fé em Jesus Cristo, como é anunciado nas Epístolas do Novo
Testamento. Outros, como eu, crêem que se trata de um designativo mais
técnico usado para descrever a chegada do reino de Cristo, que nós
conhecemos como o Milênio.
A palavra grega “evangelho” é um termo composto formado pelas
palavras: “boa” e “mensagem”. “Ela, originalmente, significava a
recompensa dada ao mensageiro, mas passou a ser usada para se referir às
boas novas que ele trazia”.1 A palavra, em si, significa simplesmente “boas
notícias”. Mas, boas notícias sobre o quê? Tudo depende daquilo que está
sendo tratado ou falado. Neste contexto, a frase significaria as boas novas
acerca do reino.2 O Dr. J. D. Pentecost explica:
Durante o tempo em que o sistema político-religioso da besta tiver o absoluto
controle global, o Evangelho do Reino será pregado em todo o mundo (Mt 24.14).
O Evangelho do Reino foi outrora pregado tanto por Jesus quanto por João Batista
(Mt 3.2; 4.17). Era a proclamação das boas novas de que o reino estava próximo.
Tal mensagem continha uma ênfase tanto soteriológica quanto escatológica [...] O
Evangelho do Reino pregado terá duas ênfases durante a Tribulação. De um lado, o
Evangelho do Reino anunciará as boas novas de que o advento do Messias está
próximo, momento esse em que Ele inaugurará a era messiânica de benção. De
outro lado, o Evangelho do Reino oferecerá a salvação pela graça, por meio da fé,
com base no sangue de Cristo.3
A palavra reino é usada 51 vezes em Mateus. É um dos principais assuntos
tratados no evangelho judaico de Mateus. O Dr. Stan Toussaint realizou uma
pesquisa exaustiva acerca da maneira pela qual o termo reino é usado em
Mateus e chegou à seguinte conclusão: “Toda vez que o termo reino é usado
teologicamente em Mateus, ele se refere à mesma realidade: O futuro reino a
ser estabelecido neste mundo, que será inaugurado e governado pelo
Messias”.4 O Dr. Toussaint faz este específico comentário sobre o texto de
Mateus 24.14:
O que é o “Evangelho do Reino”? Só podem ser as mesmas boas notícias que
foram descritas em Mateus 3.2; 4.17,23 e 9.35. A entrada no reino vindouro se
baseava no arrependimento; esse era e é o Evangelho do Reino. Contudo, neste
contexto do versículo 14, ele também retrata a proximidade do reino durante o
período da Tribulação.5

O momento exato do cumprimento


Há três pontos de vista básicos acerca do momento em que essa passagem
se cumprirá. Cada um dos três se refere a uma época de cumprimento:
passado, presente e futuro. Naturalmente, o ponto de vista preterista acredita
que esse texto se cumpriu em cerca de 70 d.C. O ponto de vista historicista
acredita que essa passagem diz respeito ao cumprimento da Grande Comissão
durante nossa atual era da Igreja. O ponto de vista futurista crê que esse texto
se cumprirá durante o período de sete anos da Tribulação.
A perspectiva preterista
O intérprete preterista Gary DeMar insiste no seguinte: “O texto de Mateus
24.14 mostra claramente que o Evangelho seria pregado em todo o Império
Romano antes que Jesus voltasse para exercer juízo contra Jerusalém”.6 Ele
ainda alega:
A palavra grega traduzida por “mundo” em Mt 24.24 é oikoumene [...] a melhor
tradução para esse termo seria “terra habitada”, “mundo conhecido”, ou o “Império
Romano” (Atos 11.28; 17.6) [...] Tal tradução nos ajuda a entender que Jesus estava
dizendo que o Evangelho seria pregado em todo o Império Romano antes que Ele
voltasse para exercer juízo contra Jerusalém. Na realidade, foi exatamente isso o
que aconteceu e era isso que a Bíblia predisse que aconteceria.7
Essa passagem não se cumpriu no passado,8 como demonstrarei mais
adiante. O que digo é verdadeiro principalmente porque o contexto de Mateus
24 é futurista, conforme já tenho provado ao longo de toda essa exposição de
Mateus 24.
A perspectiva historicista
O historicista interpreta o texto de Mateus 24.14 como se fora o
cumprimento da Grande Comissão durante nossa atual era da Igreja. A.
Lukyn Williams diz: “Portanto, na presente era, não devemos esperar nada
além do fato de que as missões cristãs alcançarão as regiões mais longínquas
da terra e que todas as nações terão a oferta de salvação, antes da aparição
definitiva de Cristo. O sucesso desses esforços para a evangelização mundial
é um problema lamentável”.9 Esse versículo frequentemente é usado em
conferências missionárias como um elemento de motivação para que alguém
se torne um missionário. Para essa motivação, a Grande Comissão já é mais
do que suficiente, até porque, esse texto se refere à evangelização durante a
Tribulação, não em nossa atual era da Igreja.
A perspectiva futurista
Minha convicção é a de que essa passagem se cumprirá no futuro, não
durante a atual era da Igreja, mas durante a Tribulação. Isso basicamente se
comprova pelo fato de que o contexto confirma um cumprimento futuro, já
que o discurso de Cristo ainda não se cumpriu.
O significado da palavra “mundo”
Apesar de ser verdade que a palavra “mundo” (do grego, oikoumene) seja
usada no Novo Testamento para se referir ao “Império Romano do primeiro
século”, seu significado básico é o de “terra habitada”.10 Esse termo
composto possui o prefixo oikos que significa casa, de onde vem este
conceito: a parte do mundo habitada ou na qual se vive. O mundo habitado
pode se referir ao Império Romano quando o contexto apóia essa
interpretação (por exemplo, Lucas 2.1), visto que a arrogância romana
sustentava a mentalidade de que nada de importante existia fora de seus
domínios. Contudo, tal palavra anteriormente foi “usada em referência ao
mundo cultural grego”.11
Se o significado essencial do termo grego oikoumene é o de mundo
habitado, o escopo de seu significado apresenta diversas possibilidades que
dependem do referencial. Se a referência contextual for romana, o significado
do termo será o Império Romano, como no texto de Lucas 2.1. Entretanto,
se a referência for global (i.e., mundial), o significado do termo será o
mundo inteiro, como no caso de Atos 17.31 que diz: “porquanto
estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça...”. Este texto
certamente faz referência ao mundo todo, uma vez que nenhum indivíduo
escapará do julgamento de Deus. É evidente que a palavra oikoumene pode
ser usada numa amplitude global, mesmo que tenha um sentido ainda mais
restrito. O fator decisivo é o contexto. Nesse caso, se o texto de Mateus 24.14
se cumpriu no ano 70 d.C., o significado da palavra mundo seria mais
específico e localizado, como observou DeMar. Por outro lado, se esse texto
se cumprir no futuro, a palavra mundo quer dizer “todo o mundo habitado em
determinada época futura”, o que obviamente ultrapassaria, em muito, os
limites do antigo Império Romano.
Evangelização por meio de Anjos
Creio que Apocalipse 14.6-7 seja uma passagem correlata de Mateus
24.14. Ambas fazem referência à evangelização mundial, durante os sete anos
da Tribulação que antecede a Segunda Vinda de Cristo ao planeta Terra. John
MacArthur comenta o seguinte:
Imediatamente antes que as taças da ira sejam derramadas e que comece o terrível
holocausto final; antes, ainda, que as contrações de parto, cada vez mais rápidas e
dolorosas, resultem no reino, Deus apresentará sobrenaturalmente o Evangelho a
cada pessoa que estiver habitando na terra. Ele enviará um anjo “...voando pelo
meio do céu, tendo um evangelho eterno para pregar aos que se assentam sobre a
terra, e a cada nação, e tribo, e língua, e povo, dizendo, em grande voz: Temei a
Deus e dai-lhe glória, pois é chegada a hora do seu juízo; e adorai aquele que fez o
céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas” (Ap 14.6-7).12
É interessante que ambas as passagens fazem alusão à metade da
Tribulação. Isso ocorrerá provavelmente naquele momento pelo fato de ser
exatamente no ponto central da Tribulação que a besta exigirá que todo ser
humano seja marcado com o número – seiscentos e sessenta e seis – para que
possa comprar ou vender (Ap 13.16-18). Assim, é importante sabermos que o
testemunho do Evangelho será dado a todas as pessoas, de modo que elas
terão oportunidade de crer em Cristo, antes que façam a opção de receber a
marca ou número da besta. Além disso, o terceiro anjo anuncia a cada pessoa
do mundo que haverá consequências para quem receber o número da besta:
“Seguiu-se a estes outro anjo, o terceiro, dizendo, em grande voz: Se alguém
adora a besta e a sua imagem e recebe a sua marca na fronte ou sobre a
mão, também esse beberá do vinho da cólera de Deus, preparado, sem
mistura, do cálice da sua ira, e será atormentado com fogo e enxofre [...]
pelos séculos dos séculos...” (Ap 14.9-11).
Ao que parece, o período da Tribulação será a época de maior
evangelização que este mundo já viu. Haverá evangelização normal à
semelhança da que é realizada em nossos dias. Também haverá
evangelização através do testemunho dos 144 mil judeus (Ap 7.3-10; 14.1-5)
e evangelização por meio das duas testemunhas (Ap 11.3-13), além da
evangelização por meio de anjos já mencionada. David Cooper esclarece o
seguinte:
“O propósito da pregação do Evangelho durante o período da Grande Tribulação é
duplo: o primeiro é o de conceder a todos os que sinceramente estão na busca da
verdade uma oportunidade de receberem o Senhor Jesus Cristo pela fé e serem
salvos por Ele; o segundo, é o de preparar para julgamento todos aqueles que não
acolheram o amor da verdade, de modo que Deus seja justo em trazer sobre eles os
terríveis juízos preditos em Apocalipse”.13

Então virá o fim


Antes, Jesus havia dito: “...porque é necessário assim acontecer, mas
ainda não é o fim” (Mt 24.6). Agora, Ele declara que, após a pregação bem-
sucedida do Evangelho do reino a todo este planeta, “...então, virá o fim”.
“No fundo de tudo isso está o tema do Antigo Testamento que se refere à
conversão das nações a Javé no fim dos tempos (cf., Is 2.2-4; 45.20-22; 49.6;
55.5; 56.6-8; Mq 4.1-3). Aqui, essa conversão anuncia oficialmente o fim”.14
O fim, mencionado aqui, não é o fim de tudo. Significa o fim da era da
Tribulação na ocasião da Segunda Vinda de Cristo (Mt 24.27-31). A
consumação final ocorrerá mil anos mais tarde, quando o reino milenar
chegar ao seu fim.
Conclusão
Visto que o texto de Mateus 24.14 revela um acontecimento ainda futuro, o
Evangelho será proclamado no mundo todo, conforme está registrado em
Apocalipse 14.6-7. Ambas as passagens estão inseridas em contextos que
apontam para o fato de que essa evangelização mundial acontecerá
imediatamente antes da metade do período de sete anos da Tribulação. Craig
Kenner, afirma: “A alegação de Jesus em Mt 24.14 não quer dizer que todas
as pessoas se converterão, mas, sim, que o reino só chegará em sua plenitude
quando todas as pessoas tiverem a oportunidade de aceitar ou rejeitar o Rei
que será o juiz delas (Mt 25.31-32)”.15 Essa passagem nunca se cumpriu na
época do nascimento da Igreja, da mesma forma que a Grande Comissão
também não se cumpriu. A profecia de Mateus 24.14, como todas as outras
que se encontram nesse contexto, aguarda por seu futuro cumprimento
durante o tempo específico da Tribulação vindoura. Maranata!
NOTAS
1
Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, nota de rodapé 67,
p. 88.
2
Em todo o Novo Testamento, esta exata expressão “evangelho do reino” só é encontrada no
Evangelho de Mateus (4.23; 9.35; 24.14).
3 J. Dwight Pentecost, The Words and Works of Jesus Christ: A Study of the Life of Christ, Grand
Rapids: Zondervan, 1981, p. 400-01.
4
Stanley D. Toussaint, “The Kingdom and Matthew’s Gospel”, publicado na obra de Stanley D.
Toussaint e Charles H. Dyer, Essays in Honor of J. Dwight Pentecost, Chicago: Moody Press, 1986,
p. 19-20.
5
Toussaint, “The Kingdom and Matthew’s Gospel”, p. 33.
6
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 88.
7
Gary DeMar, End Times Fiction: A Biblical Consideration of the Left Behind Theology, Nashville:
Nelson, 2001, p. 82-3.
8
Eu tratei mais profundamente desse assunto em Thomas Ice, “The Global Proclamation of the
Gospel”, Pre-Trib Perspectives, março de 2002, p. 4-5.
9 A. Lukyn Williams, “St. Matthew”, publicado na obra de H. D. M. Spence e Joseph S. Exell, orgs.,
The Pulpit Commentary, 23 vols., Grand Rapids, Eerdmans, 1974, vol. 15, p. 434.
10
William F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 563.
11
Horst Balz e Gerhard Schneider, orgs., Exegetical Dictionary of the New Testament, 3 vols., Grand
Rapids: Eerdmans, 1991, vol. 2, p. 503.
12
John MacArthur, The New Testament Commentary: Matthew 24–28, Chicago: Moody Press, 1989,
p. 29.
13
David L. Cooper, Future Events Revealed: According to Matthew 24 and 25, Los Angeles: David L.
Cooper Publishing, 1935, p. 63.
14
W. D. Davies e Dale C. Allison, Jr., A Critical and Exegetical Commentary on The Gospel
According to Saint Matthew, 3 vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1997, vol. 3, p. 344.
15
Craig S. Kenner, A Commentary on the Gospel of Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1999, p. 572.
Parte 13

“Quando, pois, virdes o abominável da desolação de


que falou o profeta Daniel, no lugar santo (quem lê
entenda)” – Mateus 24.15.
Chegamos, agora, ao ponto intermediário da
Tribulação, na sequência cronológica dessa passagem.
Cristo menciona um acontecimento crucial a partir do
qual a passagem inteira sofre uma alteração, a saber, a
abominação da desolação. A que Ele se referia?

A Abominação da
Desolação

No livro de Daniel, os textos-chave que fazem referência à abominação


da desolação (ou abominação desoladora) são: Daniel 9.27; 11.31; e 12.11.
Trata-se de um termo técnico, ou seja, uma expressão que tem um significado
preciso e constante nessas três passagens bíblicas. A expressão significa um
ato abominável que profana algo ou torna impura alguma coisa, nesse caso, o
templo. O texto de Daniel 11.31 predisse um fato que se cumpriu na história,
antes da Primeira Vinda de Cristo. O Dr. John Walvoord explica:
Em Daniel 11.31, Daniel escreveu uma profecia no sexto século a.C. acerca de um
futuro governante sírio, chamado Antíoco Epifânio, que reinou sobre a Síria de 175
a.C. a 164 a.C., aproximadamente 400 anos depois da predição de Daniel. O
registro histórico evidentemente confirma o reinado desse homem. No versículo 31,
Daniel predisse o que esse governante faria: “Dele sairão forças que profanarão o
santuário, a fortaleza nossa, e tirarão o sacrifício diário, estabelecendo a
abominação desoladora”. Seria muito difícil entender esse texto se não fosse o fato
de que ele já se cumpriu. Qualquer pessoa pode fazer uma pesquisa sobre a história
de Antíoco Epifânio para descobrir o que ele fez, conforme está registrado nos
livros apócrifos de 1 e 2 Macabeus. Ele foi um perseguidor implacável dos filhos de
Israel e empreendeu seus maiores esforços para aniquilar a religião judaica, pois
queria substituí-la pelo culto aos deuses pagãos gregos...
Uma das práticas de Antíoco foi a de interromper o sacrifício de animais no
templo de Jerusalém. Ele ofereceu uma porca, animal considerado impuro pela Lei,
em sacrifício sobre o altar, com o intuito de profaná-lo e torná-lo imundo para o
culto judaico (cf., 1 Macabeus 1.48). O texto de Primeiro de Macabeus 1.54 relata
especificamente que a abominação da desolação foi erigida, cumprindo-se a
predição de Daniel 11.31. Antíoco ergueu a imagem de um deus grego no Santo dos
Santos [...] Conforme foi predito na profecia, os sacrifícios diários foram
interrompidos, o santuário foi profanado, desolado e se tornou uma abominação.1
O Dr. Randall Price é da mesma opinião quando diz: “Em minha própria
análise dessa expressão, dentro do contexto da profanação do Templo,
descobri que ela servia como um termo técnico para designar a introdução de
uma imagem idólatra no Santuário ou para designar um ato de sacrilégio
pagão dentro daquele recinto, práticas essas que acarretam no mais alto nível
de impureza cerimonial, a saber, a desolação do Templo”.2
Essa passagem estabelece o padrão e fornece detalhes sobre o que vem a
ser abominação da desolação. O texto de Daniel 9.27 afirma que essa
abominação se daria na metade de um período de sete anos. A passagem diz:
“...na metade da semana, fará cessar o sacrifício e a oferta de manjares;
sobre a asa das abominações virá o assolador...”. “Em outras palavras, o
futuro príncipe fará naquela ocasião exatamente o mesmo que Antíoco fez no
segundo século a.C.”.3 Todavia, Daniel prossegue para dizer que aquele que
cometer tal ato será destruído três anos e meio depois. O texto de Daniel
12.11 apresenta “ cronologia exata”.4 A passagem diz o seguinte: “Depois do
tempo em que o sacrifício diário for tirado, e posta a abominação
desoladora, haverá ainda mil duzentos e noventa dias”.
Além dessas três passagens encontradas no livro de Daniel, esse
acontecimento ainda é mencionado nas duas referências feitas pelo Senhor
Jesus em Mateus e Lucas, bem como em 2 Tessalonicenses 2.4 e Apocalipse
13.14-15. Portanto, a abominação da desolação implica os seguintes
elementos:
1. Ela ocorreria no Templo Judeu localizado em Jerusalém (Daniel 11.31;
2 Tessalonicenses 2.4).
2. Ela envolve uma pessoa que ergueria uma imagem no lugar onde eram
realizados os sacrifícios regulares dentro do Santo dos Santos (Daniel
11.31; 12.11; Apocalipse 13.14-15).
3. Isso resultaria na cessação do sacrifício regular (Daniel 9.27; 11.31;
12.11).
4. Haveria um intervalo de aproximadamente três anos e meio entre esse
acontecimento e outro acontecimento até que venha o fim do período de
tempo (Daniel 9.27; 12.11).
5. Ela envolve um indivíduo que erigiria uma estátua ou imagem de si
mesmo, para que possa ser adorado em lugar de Deus (Daniel 11.31; 2
Tessalonicenses 2.4; Apocalipse 13.14-15).
6. A imagem que recebe vida (Apocalipse 13.14-15).
7. Dessa forma, seria instituído um sistema de adoração a esse falso deus
(2 Tessalonicenses 2.4; Apocalipse 13.14-15).
8. No fim desse período de tempo, o próprio indivíduo que cometeu o ato
abominável seria destruído (Daniel 9.27).
A interpretação equivocada dos preteristas
Como era de se prever, o Dr. Kenneth Gentry acredita que a famosa
“abominação da desolação”, referida em Mateus 24.15 (cf., Marcos 13.14), se
cumpriu na ocasião da destruição de Jerusalém ainda no primeiro século d.C.5
Embora haja semelhanças entre a destruição de Jerusalém no passado e um
cerco predito para ocorrer no futuro, existem diferenças suficientes para se
distinguir os dois acontecimentos.
A despeito dessa informação específica sobre a abominação da desolação,
o Dr. Gentry simplesmente a identifica como se fora a invasão romana que
redundou na destruição de Jerusalém e do Templo no ano 70 d.C.6 Em vez de
recorrer ao livro de Daniel para compreender aquilo que o Senhor Jesus
queria que o leitor entendesse, Gentry recorre a Lucas 21.20-22, contando
também com uma pequena ajuda do historiador Josefo, para chegar à
conclusão de que Cristo estava advertindo sobre a devastação de Jerusalém
por um ataque militar, não propriamente a profanação do templo por atos
abomináveis”.7 Vejamos se essa interpretação está à altura do esclarecimento
bíblico a respeito da abominação da desolação.
Uma resposta ao preterismo
O texto de Lucas 21.20-24 realmente se refere à destruição de Jerusalém
no ano 70 d.C. Portanto, no momento em que o versículo 20 diz “Quando,
porém, virdes Jerusalém sitiada de exércitos, sabei que está próxima a sua
devastação”, está descrevendo a destruição de Jerusalém em linguagem
clara. Isso se comprova pelo estilo de linguagem do restante do texto,
principalmente do versículo 24: “Cairão a fio de espada e serão levados
cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem,
Jerusalém será pisada por eles”. No contexto em questão, a desolação é a
destruição da cidade de Jerusalém e não um termo técnico que diz respeito ao
templo, como o Dr. Gentry dá a entender.
Em comparação, a passagem de Mateus 24.15 apresenta-se num contexto
peculiar que difere do relato de Lucas. Mateus diz: “Quando, pois, virdes o
abominável da desolação de que falou o profeta Daniel [não Lucas], no
lugar santo (quem lê entenda) (ênfase acrescentada)”. Uma análise
comparada das descrições feitas por Mateus e Daniel com descrição do texto
de Lucas revela diferenças comprobatórias de que os textos comparados
referem-se a acontecimentos distintos. Na ocasião da destruição de Jerusalém
em 70 d.C.:

Nenhuma imagem foi erguida no lugar santo.


Nenhuma adoração à imagem foi exigida.
Não houve nenhum período de três anos e meio entre aquele fato e a
vinda de Cristo. Isso se confirma especialmente pelo fato de que a
destruição de Jerusalém se deu no fim do cerco imposto por Roma. O
cerco acabou em questão de poucos dias. D. A. Carson menciona que
“No momento que os romanos de fato desolaram o templo no ano 70
d.C., já era muito tarde para que alguém fugisse da cidade”.8
Nenhuma imagem recebeu fôlego de vida, nem fez sinais para que os
homens a adorassem.

Josefo informa que Tito não queria que o templo fosse queimado. Contudo,
os soldados romanos estavam tão irritados com os revoltosos judeus que,
mesmo assim, desobedeceram às ordens de seu comandante e puseram fogo
no templo. Tito só conseguir entrar na estrutura do templo e dar uma volta
rápida no lugar santo antes que incendiasse totalmente.9 Isso não é
compatível com o cenário que a Bíblia retrata de uma imagem erigida sobre o
altar do Templo na metade da septuagésima semana de Daniel, provocando a
cessação dos sacrifícios regulares e criando, em lugar disso, um sistema
antagônico de adoração por três anos e meio. O Dr. Stanley Toussaint declara
o seguinte:
Em virtude do fato de Cristo ter relacionado especificamente a profecia da
abominação desoladora com aquilo que Daniel predisse, parece mais razoável
verificar a correspondência entre a abominação desoladora cometida por Antíoco
Epifânio, e aquela abominação desoladora que Cristo predisse. Se esse fosse o caso,
isso acarretaria não apenas a profanação do altar por sacrifícios oferecidos com
impureza de coração, mas também uma adoração de outro deus pela real utilização
do templo como meio de se praticar algo tão vil. Aqueles intérpretes preteristas que
concordam com essa perspectiva alegam que se trata do culto aos símbolos romanos
na área do templo. Entretanto, quando se parte de uma interpretação desse tipo, fica
difícil, para não dizer impossível, explicar o texto de Mateus 24.16-20. A essa
altura, seria tarde demais para que os seguidores do Senhor Jesus escapassem; nesse
meio tempo os romanos já teriam tomado a cidade.
Se o abominável da desolação, mencionado em Daniel 9.27 e 12.11, é prefigurado
por Antíoco Epifânio (11.31), é melhor dizer que se trata de uma profanação
executada por uma pessoa que usa o Templo de forma abominável para promover a
adoração de outro deus em vez de Javé. Isso é o que foi predito em 2
Tessalonicenses 2.10
Outra importante disparidade entre o preterismo de Gentry e o texto de
Mateus 24 é que, segundo Mateus, “nem a cidade, nem o templo são
destruídos, de modo que as duas situações estão em gritante contraste”.11 A
referência de Lucas 21.20-24 relata os dias de vingança que sobreviriam a
Jerusalém. Verifiquemos alguns outros detalhes vinculados ao fato de que o
cumprimento futuro de Mateus 24 é aquele em que Cristo livrará os judeus,
em vez de destruí-los, como ocorreu no ano 70 d.C.
Em primeiro lugar, à medida que Lucas se desloca da destruição de
Jerusalém no ano 70 d.C., registrada em Lucas 21.20-24, para a Segunda
Vinda de Cristo registrada em Lucas 21.25-28, ele relata no versículo 28 o
que Jesus lhes disse: “... exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa
redenção se aproxima”. Trata-se de uma linguagem de livramento da ameaça
imposta pelas nações, não de destruição. Essa linguagem de livramento se
reflete em Zacarias 12-14.12 Esses três capítulos contêm três fatores
importantes: 1) Jerusalém será cercada pelas nações que procurarão destruí-la
(12.2-9; 14.2-7); 2) O Senhor lutará em defesa de Israel e de Jerusalém para
derrotar as nações que impuseram o cerco contra a cidade (14.1-8); 3) Nessa
mesma ocasião, o Senhor também salvará Israel de seus pecados e, assim, a
nação se converterá a Jesus, o Messias (12.9-14).
NOTAS
1
John F. Walvoord, “Christ’s Olivet Discourse on the Time to the End: Signs of the End of the Age”.
Bibliotheca Sacra, vol. 128, nº 512, outubro-dezembro, 1971, p. 318-19.
2 J. Randall Price, “Historical Problems with a First-Century Fulfillment of the Olivet Discourse”,
publicado na obra de Tim LaHaye e Thomas Ice, orgs., The End Times Controversy: The Second
Coming Under Attack, Eugene, OR: Harvest House, 2003, p. 387.
3
Walvoord, “Olivet Discourse”, p. 319.
4
Walvoord, “Olivet Discourse” p. 319.
5
Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 22-6.
6
Gentry, publicado na obra de Thomas Ice e Kenneth L. Gentry,Jr., The Great Tribulation: Past or
Future?, Grand Rapids: Kregel, 1999, p. 47-8.
7
Gentry, publicado na obra de Ice e Gentry, Great Tribulation, p. 47.
8 D. A. Carson, “Matthew”, The Expositor’s Bible Commentary, vol. 8, Grand Rapids: Zondervan
Publishing House, 1984, p. 500.
9
Veja a obra de David Chilton, Paradise Restored: An Eschatology of Dominion, Tyler, TX:
Reconstruction Press, 1985, p. 274-6.
10
Stanley D. Toussaint, “A Critique Of The Preterist View Of The Olivet Discourse”, um ensaio, que
não foi publicado, apresentado ao Pre-Trib Study Group, Dallas, Texas, 1996.
11
Walvoord, “Olivet Discourse”, p. 317.
12
Para saber mais a respeito de Zacarias 12–14 e sobre o fato de que esse texto se cumprirá no futuro,
veja, Arnold G. Fruchtenbaum, “The Little Apocalypse”, publicado em LaHaye e Ice, orgs., The End
Times Controversy, p. 251-81.
Parte 14

“Então, os que estiverem na Judeia fujam para os


montes; quem estiver sobre o eirado não desça a tirar
de casa alguma coisa; e quem estiver no campo não
volte atrás para buscar a sua capa. Ai das que
estiverem grávidas e das que amamentarem naqueles
dias! Orai para que a vossa fuga não se dê no
inverno, nem no sábado” – Mateus 24.16-20.
Vimos, anteriormente, que o versículo 15 descreve um
acontecimento que marcará cronologicamente o ponto
mediano do período de sete anos da Tribulação. Os
versículos 16-20 descrevem a reação aconselhável dos
crentes fiéis ao perceberem a abominação da
desolação em Jerusalém. Eles devem fugir
imediatamente, o mais rápido que puderem. Por quê?
Porque a segunda metade do período da Tribulação
será um tempo de perseguição e grande Tribulação
para o remanescente judeu.

A Ordem Para Fugir

Essa passagem está dizendo que no momento em que o remanescente


judeu (os eleitos ou escolhidos, mencionados nos versículos 22, 24 e 31) vir o
acontecimento que será o divisor de águas, a saber, a abominação da
desolação, eles deverão fugir para os montes da Judeia. Por que eles precisam
escapar imediatamente? Porque, no momento em que a besta (i.e., o
Anticristo) erigir subitamente a abominação desoladora no Templo judeu
reconstruído, o Anticristo passará de protetor a perseguidor de Israel. Outra
razão pela qual o remanescente judeu terá condições de fugir imediatamente,
encontra-se na garantia de que serão supridos e protegidos miraculosamente
no seu trajeto para Petra, onde estarão a salvo por três anos e meio.
O texto de Mateus 24.16-20 apresenta uma série de instruções para o
remanescente judeu. Cristo lhes diz para onde devem ir: os montes da Judeia.
Jesus orienta para que a fuga deles seja imediata. Eles não devem perder nem
um minuto sequer na tentativa de pegar alguns pertences, a exemplo de uma
capa deixada no campo, nem de pegar objetos em casa para a viagem. Ele
adverte que a travessia do terreno montanhoso será difícil para as grávidas e
mulheres que amamentam. Jesus não diz que será impossível, mas, sim, que
será difícil. A dificuldade aumenta se essa fuga ocorrer no inverno ou no
sábado, por causa das limitações que essas duas ocasiões impõem. O inverno
em Israel é a estação chuvosa, o que aumenta os riscos de uma viagem pelas
montanhas da Judeia, visto que córregos e rios se tornam obstáculos somente
nessa estação do ano. O sábado, segundo a Lei, impõe uma limitação de
viagem que não existe nos outros seis dias da semana, o que representa um
problema sério para o judeu praticante. Mas, então, por que o remanescente
judeu deveria estar ciente de uma situação que provocará sua fuga para o
deserto da Judeia e ainda ser informado de que não precisa fazer nenhum
preparativo para aquele momento?
A provisão miraculosa
Enquanto o texto de Mateus 24.16-20 enfoca a recomendação divina
quanto à atitude que o remanescente judeu deve tomar diante da abominação
da desolação, outras passagens bíblicas retratam um quadro mais completo
dessa permanência de três anos e meio no deserto. A passagem correlata de
Apocalipse 12 fornece mais detalhes dessa fuga na metade do período da
Tribulação. Apocalipse 12.6 declara: “A mulher [i.e., Israel], porém, fugiu
para o deserto, onde lhe havia Deus preparado lugar para que nele a
sustentem durante mil duzentos e sessenta dias”. A palavra-chave desse
versículo é “sustentem”. Isso explica a razão pela qual o remanescente judeu
recebe orientação para que fuja sem se preocupar com provisões. Deus
preparou um lugar onde Israel seja sustentado e esteja protegido por três anos
e meio (a segunda metade da Tribulação).
Observe algumas passagens do Antigo Testamento que mencionam
promessa da provisão de Deus para Seu povo durante aquele período de três
anos e meio:
“Os aflitos e necessitados buscam águas, e não as há, e a sua língua se
seca de sede; mas eu, o Senhor, os ouvirei, eu, o Deus de Israel, não os
desampararei. Abrirei rios nos altos desnudos e fontes no meio dos vales;
tornarei o deserto em açudes de águas e a terra seca, em mananciais.
Plantarei no deserto o cedro, a acácia, a murta e a oliveira; conjuntamente,
porei no ermo o cipreste, o olmeiro e o buxo, para que todos vejam e saibam,
considerem e juntamente entendam que a mão do Senhor fez isso, e o Santo
de Israel o criou” – Isaías 41.17-20.
“Certamente, te ajuntarei todo, ó Jacó; certamente, congregarei o restante
de Israel; pô-los-ei todos juntos, como ovelhas no aprisco [a palavra hebraica
é basrah], como rebanho no meio do seu pasto; farão grande ruído, por
causa da multidão dos homens” – Miqueias 2.12.
Em Apocalipse 12.12-13, essa situação dramática ainda é explicada nos
seguintes termos:
“Por isso, festejai, ó céus, e vós, os que neles habitais. Ai da terra e do
mar, pois o diabo desceu até vós, cheio de grande cólera, sabendo que pouco
tempo lhe resta. Quando, pois, o dragão se viu atirado para a terra,
perseguiu a mulher que dera à luz o filho varão”.
A cólera de Satanás se volta contra o remanescente judeu na metade da
Tribulação. Isso vai exigir uma proteção divina especial. Há uma relação de
causa e efeito entre os acontecimentos celestiais (i.e., a expulsão de Satanás
do céu para a terra) e os acontecimentos terrestres (i.e., a abominação da
desolação). Na metade do período da Tribulação, Satanás incorporará e
habitará no Anticristo humano, o qual ficará possesso para iniciar sua
campanha anti-semita e perseguir os judeus com todo o ódio.
Na sequência, o texto de Apocalipse 12.14 diz: “e foram dadas à mulher
as duas asas da grande águia, para que voasse até ao deserto, ao seu lugar,
aí onde é sustentada durante um tempo, tempos e metade de um tempo, fora
da vista da serpente”. Essas “duas asas da grande águia” não se referem à
Força Aérea de Israel, nem dos Estados Unidos. Em vez disso, são uma
figura de linguagem que denota auxílio divino, como aquele auxílio que Deus
prestou a Israel no Êxodo e durante os quarenta anos em que vagueou pelo
deserto. A mesmíssima figura de linguagem foi usada em Êxodo 19.4, numa
referência à provisão miraculosa de Deus para a nação: “Tendes visto o que
fiz aos egípcios, como vos levei sobre asas de águia e vos cheguei a mim”. O
texto de Deuteronômio 32.10-12 retrata uma semelhante provisão miraculosa
que ocorreu no Êxodo, fazendo uso da figura das asas da águia.
Ao “juntarmos as peças”, parece que o remanescente judeu terá condições
de fugir de Jerusalém sem se preocupar com provisões, porque Deus cuidará
deles e os alimentará, como Ele fez com aquela geração do Êxodo,
utilizando-se de meios miraculosos. O Senhor, muito provavelmente,
fornecerá alimento (talvez o maná), água e vestimenta para o Seu
remanescente, tanto para aqueles que estiverem a caminho quanto para os que
estiverem escondidos, a fim de que escapem da perseguição do dragão
durante a metade final da Tribulação.
As objeções preteristas
Os leitores regulares de meus comentários não ficariam surpresos ao saber
que os intérpretes preteristas não concordam com essa interpretação. Era de
se esperar que eles sustentassem a sua crença de que Mateus 24.16-20 se
cumpriu no primeiro século. Gary DeMar diz que “Mateus 24.16-20 mostra
nitidamente as condições de vida em Israel no primeiro século d.C.”.1 Isso
não causa nenhum problema para que o texto se cumpra em tempo ainda
futuro. Na realidade, estive muitas vezes em Jerusalém ao longo dos anos.
Nos limites da cidade antiga, há muitas casas tremendamente velhas que
conservaram vários traços característicos de “Israel no primeiro século d.C.”,
inclusive o fato de que a parte de cima do teto de uma casa [i.e., o “eirado” ou
“terraço”] ainda faz parte da vida diária das pessoas na atual Jerusalém. Para
falar a verdade, uma das melhores maneiras de se percorrer a cidade antiga é
andando por cima dos telhados, ou seja, pelos eirados. Já fiz isso muitas
vezes. DeMar precisa fazer um bom “passeio” pela Jerusalém atual. Os
argumentos que ele levanta para alegar que essa passagem está inserida
obrigatoriamente no contexto do primeiro século d.C. não têm cabimento e é
improvável que sirvam para confirmar qualquer cumprimento dessa
passagem nos dias atuais.
O Dr. Kenneth Gentry fala da alarmante advertência de Cristo para que
fugissem sem voltar atrás (Mt 24.16-18). Assim que o general Tito começou
a sitiar a cidade, não levou muito tempo para que ela estivesse isolada do
mundo externo (Mt 24.16-20)”.2 Quando se tenta fazer com que a concepção
do Dr. Gentry se encaixe com aquilo que aconteceu no ano 70 d.C., surge
uma série de problemas. O Dr. Randall Price apresenta as seguintes objeções
à declaração incoerente do Dr. Gentry:
De acordo com Eusébio, um historiador da Igreja que viveu no quarto século d.C.,
os crentes em Cristo fugiram para Péla em 61-62 d.C., muitos anos antes do começo
da Revolta Judaica em 66 d.C. e bem antes da “abominação da desolação” que
(segundo a interpretação preterista) ocorreu quando o exército romano sitiou
Jerusalém ou entrou na área do Templo no ano 70 d.C. Soma-se a esse problema o
fato de que os romanos assumiram o controle da província da Judeia (à qual
pertence a cidade de Jerusalém) e também controlaram os arredores de Jerusalém
algum tempo antes do cerco da cidade, o que teria tornado a fuga praticamente
impossível tanto para os hierosolimitanos (os habitantes de Jerusalém) quanto para
os moradores dos campos. Tampouco Jesus tinha em mente que uma evasão
acontecesse a partir do começo do cerco, pois, à essa altura, qualquer tentativa de
fuga os levaria a cair nas mãos do inimigo! Além do mais, como observam vários
comentaristas, a ordem bíblica “fujam para os montes” (Mt 24.16; Mc 13.14; cf., Lc
21.21) dificilmente se harmoniza com a situação geográfica de Péla, localizada
pouco acima do nível do mar, no sopé de uma das elevações que formam o vale da
Transjordânia, do outro lado do rio Jordão. Uma vez que Jerusalém é chamada de
“o Santo Monte” (Sl 48.1-2; cf., 87.1-2), de “monte Sião” (Sl 74.2; 78.68-69), e
está cercada de “montes” (Sl 125.1-2; cf., 48.2), a expressão “fujam para os
montes” não pode ser interpretada como uma ordem para que descessem às
elevações mais baixas. É muito mais lógico que os montes, aos quais Jesus se
referiu, fossem aqueles situados imediatamente ao redor da cidade (i.e., os montes
da Judeia, cf., Ez 7.15-16), já que a ordem de Jesus não era para fugir da Judeia,
mas, sim, para se refugiarem dentro dessa província.3

Conclusão
Fica claro que o remanescente judeu fugirá para o deserto da Judeia, onde
os textos do Antigo Testamento (juntamente com Apocalipse 12)
demonstram que ele será miraculosamente protegido durante a segunda
metade da Tribulação. O Antigo Testamento menciona a localidade na qual o
remanescente judeu estará sob proteção: “Porque por mim mesmo jurei, diz o
Senhor, que Bozra será objeto de espanto, de opróbrio, de assolação e de
desprezo; e todas as suas cidades se tornarão em assolações perpétuas. Ouvi
novas da parte do Senhor, e um mensageiro foi enviado às nações, para lhes
dizer: Ajuntai-vos, e vinde contra ela, e levantai-vos para a guerra”
(Jeremias 49.13-14). Bozra é uma região situada a sudoeste do rio Jordão,
onde se localiza a antiga cidade fortificada de Petra. O texto de Isaías 63.1-3
pergunta: “Quem é este que vem de Edom, de Bozra, com vestes de vivas
cores, que é glorioso em sua vestidura, que marcha na plenitude da sua
força? Sou eu que falo em justiça, poderoso para salvar. Por que está
vermelho o traje, e as tuas vestes, como as daquele que pisa uvas no lagar?
O lagar, eu o pisei sozinho, e dos povos nenhum homem se achava comigo;
pisei as uvas na minha ira; no meu furor, as esmaguei, e o seu sangue me
salpicou as vestes e me manchou o traje todo”. Bozra (i.e., Petra) é o lugar
onde, a partir da metade do período da Tribulação, cerca de dois milhões de
judeus se refugiarão quando fugirem da Judeia. O Senhor os alimentará,
durante aqueles três anos e meio, e defenderá esse remanescente judeu que,
na ocasião da Segunda Vinda, há de se converter em massa a Jesus, como seu
Messias prometido. Cristo terá suas vestes manchadas de sangue por sair em
defesa dos judeus contra o exército do Anticristo, cujas tropas se ajuntarão
num lugar chamado Armagedom para atacar os judeus. Tal poderio bélico
posto em ordem de combate contra o povo do Senhor exigirá Sua intervenção
pessoal. É o que Ele vai fazer, começando por Petra. Maranata!
NOTAS
1
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession oh the Modern Church, Powder Springs, GA:
American Vision, 1999, p. 111.
2 Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 61.
3 J. Randall Price, “Historical Problems with a First-Century Fulfillment of the Olivet Discourse”,
publicado na obra de Tim LaHaye e Thomas Ice, orgs, The End Times Controversy: The Second
Coming Under Attack, Eugene, OR: Harvest House, 2003, p. 394.
Parte 15

“Porque nesse tempo haverá grande tribulação, como


desde o princípio do mundo até agora não tem havido
e nem haverá jamais” – Mateus 24.21.
O discurso profético de nosso Senhor prossegue com a
exposição dos acontecimentos que se darão na metade
da Tribulação. Ele diz que o segundo período de três
anos e meio não seria apenas um tempo de
“tribulação”, como se observa na primeira metade (cf.,
Mt 24.9), mas, sim, um tempo de “Grande
Tribulação”. Para falar a verdade, será o tempo de
tribulação mais horrível que já houve e poderia haver
desde o princípio da Criação (cf., Mc 13.19). O
enfoque desse tempo de tribulação girará em torno do
povo judeu e da terra de Israel.

A Tribulação

Esse versículo começa com um termo que o relaciona à seção anterior do


discurso. Ed Glasscock esclarece: “O versículo 21 dá uma explicação (do
grego: gar) das recomendações de urgência que acabaram de ser proferidas e
usa o advérbio grego de tempo tote, traduzido por “nesse tempo”, para ligar
as declarações anteriores com a predição da pior tribulação de todas”.1 Isso
informa ao remanescente judeu que vive em Jerusalém e na Judeia a razão
pela qual eles devem partir imediatamente para os montes, assim que
souberem que a abominação da desolação (Mt 24.15) aconteceu. James Gray
comenta: “É evidente que essa será a última oportunidade de se escapar. Se
eles não fugirem, serão pegos por essa grande e terrível desgraça. Esta
acontecerá de maneira tão súbita que eles não terão tempo nem para juntar
suas coisas e partir”.2
Verificamos, anteriormente, que a palavra “tribulação” foi usada em
referência à primeira metade da septuagésima semana de Daniel (Mt 24.9). O
Dr. J. Dwight Pentecost traz um excelente esclarecimento sobre o uso do
termo “tribulação”:
O termo “tribulação” é usado nas Escrituras de várias maneiras diferentes. É usado
num sentido não-técnico e não-escatológico para se referir a qualquer momento de
sofrimento e provação pelo qual alguém passe. Nesse sentido, a palavra ocorre em
Mateus 13.21; Marcos 4.17; João 16.33; Romanos 5.3; 12.12; 2 Coríntios 1.4; 2
Tessalonicenses 1.4; Apocalipse 1.9. É usado em seu sentido técnico ou
escatológico para se referir a todo o período de sete anos da tribulação, conforme se
observa em Apocalipse 2.22 ou em Mateus 24.29. Ainda é usado em referência à
última metade desse período de sete anos, como ocorre em Mateus 24.21.3
A realidade do período da Tribulação não é uma doutrina exclusiva do
Novo Testamento. O período da Tribulação é um assunto que possui farto
embasamento no Antigo Testamento e os acontecimentos, previstos para esse
tempo, estão voltados para a nação de Israel ou a envolvem. O Antigo
Testamento faz alusão a um tempo de tribulação que Israel está predestinado
a suportar (nos últimos dias). Contudo, passado esse período de tempo, seus
efeitos serão o arrependimento nacional de Israel e o correto relacionamento
dessa nação com o Senhor. Observe alguns textos bíblicos fundamentais
nessa questão:

“Quando estiveres em angústia [i.e., tribulação], e todas estas


coisas te sobrevierem nos últimos dias, e te voltares para o Senhor,
teu Deus, e lhe atenderes a voz” (Deuteronômio 4.30).
“Ah! Que grande é aquele dia, e não há outro semelhante! É tempo
de angústia [i.e., tribulação] para Jacó; ele, porém, será livre dela”
(Jeremias 30.7).
“Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor
dos filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia [i.e.,
“tribulação”], qual nunca houve, desde que houve nação até àquele
tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo, todo aquele que
for achado inscrito no livro” (Daniel 12.1).

Além dessas passagens que tratam especificamente da Tribulação, há


também o tema geral que se constata em todo o Antigo Testamento, acerca da
nação e de indivíduos que clamam ao Senhor em tempo de angústia e
tribulação. Esse, por exemplo, é um dos assuntos que marcam o Salmo 107.
O versículo 6 desse salmo diz: “Então, na sua angústia, clamaram ao
Senhor, e ele os livrou das suas tribulações”. Preste atenção nas seguintes
passagens que apresentam um padrão semelhante a esse: Gn 35.3; 1 Sm
10.19; 26.24; 2 Sm 4.9; 1 Rs 1.29; 2 Cr 15.4; Sl 20.1; 25.22; 34.17; 46.1;
50.15; 81.7; 86.7; 107.6,13,19,28; 116.3; 120.1; Is 33.2; Jr 14.8; 16.19; Jn
2.2; Na 1.7.
Na verdade, o apóstolo Paulo escreve sobre o fato de que Israel será liberto
da Tribulação em Romanos 9-11. O texto de Romanos 10.11-15 menciona
que haverá um dia em que Israel invocará o nome do Senhor e será salvo.
Essa redenção de toda a nação de Israel há de ocorrer um dia, durante período
da Tribulação – na Grande Tribulação.
A Grande Tribulação
O texto de Mateus 24.21 discorre sobre a Grande Tribulação. O que vem a
ser a Grande Tribulação? Ela corresponde aos últimos três anos e meio do
período da Tribulação, que se encerrarão com o Segundo Advento de Cristo.
John Walvoord declara o seguinte:
A Grande Tribulação, propriamente dita, é um específico período de tempo que se
iniciará com a abominação da desolação e se encerrará com a Segunda Vinda de
Cristo, segundo foi predito nas profecias de Daniel e confirmado pela referência aos
“quarenta e dois meses”. Nos textos de Apocalipse 11.2 e 13.5, obtém-se a
informação de que a Grande Tribulação é um período definido de três anos e meio
que precede a Segunda Vinda [...] Pelos capítulos 6 a 19 de Apocalipse, percebe-se
claramente que será um tempo de angústia sem precedentes [...] Ao juntarmos todos
esses textos, chega-se à conclusão de que a Grande Tribulação será caracterizada
pela morte de centenas de milhões de pessoas num período relativamente curto de
tempo.4
Além do texto de Mateus 24.21, o Novo Testamento utiliza a expressão
“grande tribulação” em outras três passagens. Mesmo que o texto de Atos
7.11 não se refira à última metade de um período de sete anos ainda por vir,
estas outras duas passagens se referem:

“Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que


com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela
incita” (Apocalipse 2.22).
“Respondi-lhe: meu Senhor, tu o sabes. Ele, então, me disse: São
estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras e as
alvejaram no sangue do Cordeiro” (Apocalipse 7.14).

No livro de Mateus, Jesus declara que a “grande tribulação” será a mais


terrível “...desde o princípio do mundo até agora não tem havido e nem
haverá jamais” para o povo judeu. No texto de Marcos 13.19, está ainda
mais claro o que nosso Senhor diz: “Porque aqueles dias serão de tamanha
tribulação como nunca houve desde o princípio do mundo, que Deus criou,
até agora e nunca jamais haverá”. A frase “desde o princípio do mundo, que
Deus criou”, não deixa a menor dúvida de que esse período de tempo será a
época de Tribulação mais terrível para o povo judeu em toda a sua história.
John MacArthur afirma:
Não houve nenhuma ocasião, nem acontecimento da história de Israel que encaixe
com a descrição que Jesus faz desse holocausto aqui no texto. O pavoroso momento
é descrito com mais alguns detalhes em Apocalipse 6-16, onde os juízos dos selos,
das trombetas e das taças revelam a intensidade cada vez maior da ira de Deus
contra a humanidade rebelde e pecadora. Ambos os livros de Apocalipse e Daniel
deixam claro que o Anticristo tiranizará o mundo por “um tempo, dois tempos e
metade de um tempo” (Dn 7.25; 12.7; Ap 12.14), a saber, um ano, dois anos e
metade de um ano, ou seja, três anos e meio (Ap 11.2; 13.5). Sem dúvida, os
acontecimentos descritos pelo nosso Senhor, por Daniel e pelo apóstolo João devem
se referir ao mesmo holocausto terrível previsto para ocorrer no fim dos tempos, um
pouco antes que o reino milenar seja estabelecido na Terra.5
Cristo, nitidamente, usa a linguagem do texto de Daniel 12.1, que diz:
“Nesse tempo [...] haverá tempo de angústia [i.e., tribulação], qual nunca
houve, desde que houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será
salvo o teu povo...”. O texto de Joel 2.2 também emprega uma linguagem
semelhante ao dizer: “dia de escuridade e densas trevas, dia de nuvens e
negridão! Como a alva por sobre os montes, assim se difunde um povo
grande e poderoso, qual desde o tempo antigo nunca houve, nem depois dele
haverá pelos anos adiante, de geração em geração”.
É importante ressaltar que em ambas as passagens o tempo de Tribulação
resulta em libertação (i.e., redenção) para o povo judeu. Uma libertação
exatamente desse tipo se encontra descrita em Mateus 24.29-31: “Logo em
seguida à tribulação daqueles dias [...] E ele enviará os seus anjos, com
grande clangor de trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos quatro
ventos, de uma a outra extremidade dos céus”.
A eliminação dos rebeldes
Como tenho dito, o propósito da Tribulação, principalmente da Grande
Tribulação, no que diz respeito à nação de Israel é o de prepará-la para sua
redenção final. Isso é demonstrado nos textos bíblicos acima citados, ao
tratarem da libertação de Israel no fim da Tribulação. Em passagens como
Ezequiel 20 e 22, também vemos que o Senhor apresenta um panorama geral
de toda a história de Israel. O profeta várias vezes relembra a história de
desobediência da nação no passado para, então, predizer que chegaria um
tempo no futuro em que a nação finalmente se tornaria obediente ao Senhor.
Em geral, isso normalmente só aconteceria depois que a nação passasse por
um momento de grande provação e tribulação, como podemos verificar em
Ezequiel 20.33-38. Porém, o importante é que a nação, no fim desse
processo, estará sujeita “...à disciplina [no hebr., “vínculo”] da aliança”.
“Tão certo como eu vivo, diz o Senhor Deus, com mão poderosa, com
braço estendido e derramado furor, hei de reinar sobre vós; tirar-vos-ei
dentre os povos e vos congregarei das terras nas quais andais espalhados,
com mão forte, com braço estendido e derramado furor. Levar-vos-ei ao
deserto dos povos e ali entrarei em juízo convosco, face a face. Como entrei
em juízo com vossos pais, no deserto da terra do Egito, assim entrarei em
juízo convosco, diz o Senhor Deus. Far-vos-ei passar debaixo do meu cajado
e vos sujeitarei à disciplina da aliança; separarei dentre vós os rebeldes e os
que transgrediram contra mim; da terra das suas moradas eu os farei sair,
mas não entrarão na terra de Israel; e sabereis que eu sou o Senhor”
(Ezequiel 20.33-38).
Os capítulos 13 e 14 do livro de Zacarias apresentam um cenário parecido
com aquele que pudemos contemplar em muitas passagens do Antigo
Testamento até aqui citadas. Essa passagem menciona o fato de que as nações
enviam exércitos para cercar Jerusalém. Todavia, ao passar por esse tempo de
tribulação, a nação de Israel se converte ao Senhor e é liberta no momento da
volta pessoal e visível de Cristo. O texto a seguir, extraído do capítulo 13 de
Zacarias, menciona que Deus eliminará dois terços de Israel, mas salvará a
terça parte restante:
“Em toda a terra, diz o Senhor, dois terços dela serão eliminados e
perecerão; mas a terceira parte restará nela. Farei passar a terceira
parte pelo fogo, e a purificarei como se purifica a prata, e a provarei
como se prova o ouro; ela invocará o meu nome, e eu a ouvirei; direi:
é meu povo, e ela dirá: O Senhor é meu Deus” (Zacarias 13.8-9).

Conclusão
O texto de Mateus 24 se assemelha a essas passagens do Antigo
Testamento pelo fato de que Cristo prediz que a nação passará pelo tempo da
Grande Tribulação (v.21), mas quando esses acontecimentos se cumprirem,
Jesus voltará para resgatar o remanescente eleito (v. 29-31). O discurso
profético de Jesus, registrado em Mateus, segue o padrão que já estava bem
estabelecido no Antigo Testamento. Uma vez que o capítulo 24 de Mateus
discorre sobre tribulação, seguida imediatamente de libertação (v. 29), a
predição de Jesus só pode se referir a um tempo ainda futuro para nós, pois,
até agora, o povo judeu não passou por uma situação dessa gravidade em toda
a sua história. Maranata!
NOTAS
1
Ed Glasscock, Matthew: Moody Gospel Commentary, Chicago: Moody Press, 1997, p. 470-71.
2 James R. Gray, Prophecy on The Mount: A Dispensational Study of Olivet Discourse, Chandler, AZ:
Berean Advocate Ministries, 1991, p. 78.
3 J. Dwight Pentecost, Things To Come: A Study in Biblical Eschatology, Grand Rapids: Zondervan,
1958, p. 170.
4 John F. Walvoord, Matthew: The Kingdom Come, Chicago: Moody Press, 1974, p. 188.
5 John MacArthur, Jr., The MacArthur New Testament Commentary: Matthew 24–28, Chicago:
Moody Press, 1989, p. 44.
Parte 16

“Porque nesse tempo haverá grande Tribulação,


como desde o princípio do mundo até agora não tem
havido e nem haverá jamais” (Mateus 24.21).
Na parte anterior de nossa análise, examinei algumas
concepções bíblicas sobre a grande Tribulação. Não
seria surpresa para a maioria de vocês se soubessem
que muitos não interpretam a Tribulação como um
tempo ainda futuro. Os historicistas e preteristas crêem
que, se não toda, grande parte da Tribulação já
ocorreu. Por isso, se alguém nega a futuridade da
Tribulação, acaba provocando uma grande distorção
da profecia bíblica.

O Historicismo

O historicismo propõe que os acontecimentos da Tribulação, registrados no


livro de Apocalipse, têm se cumprido durante todos esses 2.000 anos da
vigente era da Igreja. O intérprete historicista, Steve Wohlberg declara: “O
historicismo é a crença de que as profecias de Daniel e de Apocalipse se
cumprem ao longo de toda a história do cristianismo”.1 Eles normalmente
ensinam que os juízos dos seis selos, das seis trombetas e das sete taças são
cíclicos e fazem parte dos sete juízos principais previstos para ocorrer durante
toda a história da Igreja. Em geral, eles crêem que estamos no aguardo da
abertura do sétimo selo, que completará os juízos mencionados em
Apocalipse (i.e., a Tribulação), levará aos acontecimentos relativos ao
Armagedom e, por fim, culminará na Segunda Vinda. Portanto, segundo o
historicismo, o tempo da Tribulação corresponde a tudo o que tem ocorrido
até agora depois de 2.000 anos de história da Igreja, ficando ainda para o
futuro apenas o Armagedom e a Segunda Vinda.
O esquema historicista não funciona se os acontecimentos proféticos forem
interpretados de forma normal e literal. Os intérpretes historicistas precisam
alegorizar muitos aspectos da profecia bíblica para que seu esquema dê a
impressão de explicar as Escrituras. Por exemplo, eles transformam 1.260
dias (Ap 11.3; 12.6) em 1.260 anos; afirmam que o Anticristo não é uma
pessoa, mas, sim, o sistema papal do catolicismo romano e que entidades,
como anjos (i.e., as três testemunhas angelicais descritas em Apocalipse 14),
se apresentam na condição de seres humanos que viveram no passado,
durante a vigente era da Igreja. Na sua maioria, os historicistas consideram
que a crença num cumprimento ainda futuro da Tribulação e da maioria das
profecias bíblicas é fruto de uma conspiração católico-romana instigada pelos
jesuítas no século XVI.2 O historicismo afirma que atualmente estamos na
Tribulação, ainda que a maior parte dela já tenha passado. Tal concepção não
tem nenhum embasamento na explanação que Cristo faz da grande
Tribulação em Mateus 24.
O preterismo
Os preteristas da modernidade vão ainda mais longe que os historicistas
para dizer que o período inteiro da Tribulação já passou há muito tempo,
quando se cumpriu totalmente no ano 70 d.C. O Dr. Kenneth Gentry, um
intérprete preterista, declara: “Creio que a Tribulação ocorreu em nosso
passado remoto do primeiro século d.C.; [...] Considero que a Tribulação
encerra a ordem judaica da antiga e inaugura a ordem da nova aliança (cristã)
que passa a ser a realidade histórico-redentora final”.3 O Dr. Gentry ainda
diz: “Essa declaração feita por Cristo é incontestavelmente clara e determina
que os acontecimentos descritos nos versículos anteriores se cumpram
plenamente no primeiro século d.C., inclusive a Grande Tribulação (v. 21)”.4
Nesse caso, de que maneira o Dr. Gentry interpreta o texto de Mateus 24.21?
Ele afirma: “É uma hipérbole profética”. Mais adiante, o Dr. Gentry explica:
“Sem dúvida, o modo de falar inusitado é a linguagem coloquial na literatura
profética”. Não devemos interpretá-lo de forma estupidamente literal”.5
O que ele quer dizer com “hipérbole profética”? O Dr. Gentry cita os
textos de Êxodo 11.6, Ezequiel 5.9; 7.5-6, e Daniel 9.12, como exemplos de
passagens bíblicas onde também ocorre uma linguagem semelhante.6
Posteriormente, o Dr. Gentry alega que o Dilúvio dos dias de Noé foi um
juízo pior do que aquele que é descrito em Mateus 24, pois “destruiu o
mundo inteiro com exceção de uma família”.7A esta altura, creio que existem
vários erros na concepção do Dr. Gentry e dos preteristas. Em primeiro lugar,
eles generalizam muitos aspectos específicos de determinado texto e acabam
por limitar o alcance dessas realidades descritas. Todas essas passagens
citadas pelos preteristas estão limitadas em seu escopo ou alcance, o que é
bem diferente da maior calamidade de todos os tempos, em todos os aspectos.
Há alguns anos, escrevi para o Dr. Arnold Fruchtenbaum, um erudito cristão
de descendência judaica, e lhe mostrei esses mesmos argumentos
desenvolvidos, anos atrás, pelo Dr. Gentry e por seu colega preterista, Gary
DeMar. Abaixo transcrevo a brilhante resposta que o Dr. Fruchtenbaum me
enviou:
No caso de Êxodo 11.6, o enfoque concentra-se especificamente em um país, a
nação egípcia. Além do mais, o versículo não está dizendo que o ocorrido na
ocasião das dez pragas foi o pior juízo que sobreviria ao Egito em toda a sua
história; nesse caso, a correlação entre 14 milhões e 55 milhões de pessoas não
procede. O texto afirma que não houve um clamor como aquele em toda a terra do
Egito no passado, nem haveria um clamor como aquele em toda a terra do Egito no
futuro. A ênfase do texto não está no juízo em si, mas na reação dos egípcios ao
juízo. O filho primogênito de todas as famílias egípcias morreu, mas o restante da
família foi poupado, de modo que cada família ficou abalada com a situação. Na
Tribulação, não é preciso supor que todas as famílias ficarão abaladas, até porque,
em vez de apenas um ou dois membros da família morrerem, é possível que
famílias inteiras sejam aniquiladas e, consequentemente, não sobrará uma pessoa
que possa chorar pela morte de determinada família. Outra questão é que a Bíblia
diz que a quarta parte da população mundial será destruída, contudo menciona a
população do mundo em geral e não faz aplicação específica de que precisamente
vinte e cinco por cento da população egípcia serão mortos. Em outras palavras, quer
falemos da destruição de vinte e cinco por cento da população da Terra, quer
falemos da destruição de setenta e cinco por cento, o fato é que a maioria dessa
população se encontra distribuída entre nações que estão fora do Oriente Médio e,
portanto, não afetaria o Egito com a mesma intensidade que afetaria, vamos supor, a
América do Norte ou a Europa. Assim, é possível que haja bem menos mortes no
Egito do que em outros lugares e, mesmo assim, o número de mortos ainda poderia
ser menor do que o numero de mortos vitimados pela décima praga. Em suma, o
texto de Êxodo 11.6 não representa um problema tão difícil quanto se supõe.
Por fim, no que diz respeito ao texto de Ezequiel 5.9-10, [...] há duas implicações.
A primeira implicação é a de que o fato ocorrido em 70 d.C. foi muito mais grave
do que o ocorrido em 586 a.C. Isso é fato comprovado. Mas o problema de Ezequiel
5.9 é que Deus, nesse caso, estava para executar um tipo de juízo que não aplicara
antes e que nunca mais aplicaria depois. O juízo consistia em que uma terça parte
morreria de peste e fome; outra terça parte morreria pela espada; e outra terça parte
seria espalhada pelos quatro ventos para ser perseguida e morta [c.f, Ez 5.12]. No
ano 70 d.C. não aconteceu dessa forma e também não acontecerá dessa maneira na
Tribulação. Ezequiel descreve algo que ocorreu exclusivamente naquele momento
em que babilônios destruíram Jerusalém. Os habitantes da cidade foram divididos
em três partes iguais; dois terços morreram por duas causas diferentes e um terço
sobreviveu, mas foi espalhado sob juízo divino. Nenhuma divisão equitativamente
tríplice da população aconteceu no ano 70 d.C. Até mesmo no caso da Tribulação,
em que o texto de Zacarias 13.8-9 menciona o fato de que dois terços morrerão e
um terço sobreviverá, não há nenhuma alusão de que esses dois terços, divididos em
duas metades iguais, morreriam respectivamente de fome e pela espada. Além
disso, a outra terça parte que sobreviver, não será espalhada por causa do juízo
divino, pelo contrário, esse remanescente será salvo e reagrupado. Portanto, as
palavras de Ezequiel podem ser interpretadas literalmente como verdadeiras; o que
ele disse de fato aconteceu com Jerusalém naquele momento exclusivo da
destruição causada pelos babilônios.
A segunda implicação refere-se à declaração que Gentry fez no ponto 4: “O
Dilúvio obviamente foi de maiores proporções do que a Tribulação”. Isso é
verdadeiro quando se trata de Tribulação em geral. Entretanto, aqui estamos lidando
especificamente com o povo judeu e com Jerusalém. O foco do Dilúvio não se
concentrava no povo judeu, até porque a história judaica ainda não tinha começado.
Nem o foco se concentrava em Jerusalém, porque essa cidade ainda não existia. O
Dilúvio dos dias de Noé destruiu o mundo de forma geral e foi o pior Dilúvio que já
ocorreu ou ocorrerá. Porém a profecia de Ezequiel enfoca especificamente o povo
judeu e Jerusalém, a qual não foi nem será destruída por um Dilúvio. E, embora
Deus destrua outra vez a maior parte da humanidade, tal destruição, segundo Isaías
24, não será por meio de água, mas por meio de fogo.
Assim, nenhum desses “problemas” alegados por Gary DeMar se constitui, de
alguma maneira em grande problema. Todos eles são solucionáveis se nos
ativermos ao seu respectivo contexto e nos movermos cuidadosamente através de
suas palavras reais para aquilo a que elas se referem.8
Essas questões não são um problema se alguém presta atenção no contexto
que governa o sentido das palavras nessas passagens. Está mais do que
evidente que, se o texto admite o sentido normal e claro, sustentar uma
interpretação de cumprimento no primeiro século é inaceitável. Os intérpretes
preteristas precisam recorrer ao sofisma para dizerem a razão pela qual o
texto não significa aquilo que na sua normalidade diz, a fim de que eles
possam sugerir um significado que favoreça seu ponto de vista. É interessante
constatar que eles tendem a usar desse expediente apenas com determinadas
passagens bíblicas que não parecem apoiar sua tese, porém interpretam na
sua normalidade e clareza aqueles versículos que favorecem suas concepções,
até mesmo quando há figuras de linguagem embutidas no texto. Não, a
grande Tribulação ainda não ocorreu; entretanto, o mundo se prepara nos dias
atuais para aquele tempo futuro (2 Ts 2.6-7).
O livro de Daniel
Em Mateus 24.21, Cristo faz referência a uma época ainda futura que seria
o pior momento da história deste mundo para o povo judeu. Apesar disso, Ele
livrará desse momento terrível aqueles que vierem a crer nEle como seu
Messias (Mt 24.31). Essas coisas devem se cumprir para que Deus, na
concretização de Seu plano para a história, resolva o problema do bem e do
mal. Como é que sabemos disso? No texto de Mateus 24.21, Jesus faz uma
citação do texto de Daniel 12.1.
O contexto completo de Daniel 12 fornece informação adicional sobre o
que Jesus predisse no texto de Mateus 24.21. Diante da revelação que lhe foi
feita sobre a Tribulação, a reação de Daniel é altamente previsível, como se
pode ler em Daniel 12.8: “Eu ouvi, porém não entendi; então, eu disse: meu
senhor, qual será o fim destas coisas?”. Essa é uma pergunta que com
frequência vem à nossa mente sempre que lemos os acontecimentos previstos
para se cumprir na Tribulação. A resposta de Deus, por intermédio do anjo,
foi a seguinte: “Ele respondeu: Vai, Daniel, porque estas palavras estão
encerradas e seladas até ao tempo do fim. Muitos serão purificados,
embranquecidos e provados; mas os perversos procederão perversamente, e
nenhum deles entenderá, mas os sábios entenderão” (Daniel 12.9-10).
O propósito de Deus com a Tribulação, sobretudo com a grande Tribulação
(i.e., os últimos três anos e meio do período de sete anos), é o de expurgar os
judeus descrentes, mediante os acontecimentos desse período, e levar à fé o
remanescente judeu eleito. Pela história, sabemos que os acontecimentos
descritos tanto em Mateus quanto em Daniel ainda não produziram uma
conversão da totalidade dos judeus, como essas passagens demonstram.
Nenhum crente em Cristo duvidaria de que a conversão dos judeus ainda está
por acontecer. Se a Tribulação antecede e ocasiona a conversão deles, não
pode haver dúvida de que ela também está reservada para um tempo ainda
futuro em relação aos nossos dias. Maranata!
NOTAS
1
Steve Wohlberg, The Antichrist Chronicles: What Prophecy Teachers Aren’t Telling You!, Fort
Worth: Texas Media Center, 2001, p. 86, grafia em itálico original.
2
Veja o capítulo da autoria de Steve Wohlberg, intitulado “The Evil Empire of Jesuit Futurism”,
publicado na obra, The Left Behind Deception: Revealing Dangerous Errors About The Rapture And
The Antichrist, Coldwater, MI: Remnant Publications, 2001, p. 58-74.
3
Kenneth L. Gentry Jr., na obra de Thomas Ice e Kenneth L. Gentry Jr., The Great Tribulation: Past or
Future?, Grand Rapids: Kregel, 1999, p. 12. Trata-se de um livro no qual eu e o Dr. Gentry
debatemos se a Tribulação é uma realidade passada ou futura. Para ler uma refutação mais completa
dos diversos aspectos da perspectiva preterista, veja, Tim LaHaye e Thomas Ice, orgs., The End
Times Controversy: The Second Coming Under Attack, Eugene, OR: Harvest House, 2003.
4 Gentry, Great Tribulation, p. 26-27.
5
Gentry, Great Tribulation, p. 52.
6
Gentry, Great Tribulation, p. 55-56.
7
Gentry, Great Tribulation, p. 56.
8
Arnold Fruchtenbaum, Carta pessoal enviada a Thomas Ice, datada de 16 de setembro de 1994.
Parte 17

“Não tivessem aqueles dias sido abreviados, ninguém


seria salvo; mas, por causa dos escolhidos, tais dias
serão abreviados” – Mateus 24.22.
Em nossa jornada através do discurso do Monte das
Oliveiras, o texto que está diante de nós apresenta uma
série de aspectos interessantes com os quais eu vou
lidar em nossa análise. São eles: 1) A abreviação
daqueles dias; 2) “Ninguém seria salvo”; e 3) Quem
são os escolhidos? Darei continuidade ao nosso estudo
para tratar desses assuntos.

A Abreviação Daqueles
Dias

Marvin Rosenthal, defensor da perspectiva do Arrebatamento após três


quartos da Tribulação, diz o seguinte: “Aqui o Senhor diz que a Grande
Tribulação será abreviada”.1 Ele prossegue para dizer: “A abreviação do
período da Grande Tribulação para menos de três anos e meio é uma das
verdades mais importantes a serem percebidas quando se quer entender a
cronologia dos acontecimentos do fim dos tempos”.2 Será que esse texto
mostra que o Senhor abreviará o número de 1.260 dias preditos em outras
passagens bíblicas (Ap 11.3; 12.6)? Dar-se-ia o caso de o número de dias da
Grande Tribulação ser inferior a 1.260 dias? De modo simples e objetivo, a
resposta é: Não! Então, o que esse texto informa?
Em primeiro lugar, somente o Evangelho de Marcos (cf., 13.20) apresenta
uma passagem correlata à de Mateus, ao passo que Lucas não faz referência.
A omissão desse versículo, por parte de Lucas, talvez se deva ao fato de que
seu enfoque centrava-se naquilo que estava para acontecer no ano 70 d.C.,3
de modo que essa afirmação referente à Tribulação, num futuro mais distante,
não seria relevante para o seu propósito. O texto de Marcos nos informa mais
especificamente que foi “o Senhor” quem abreviara aqueles dias. Ademais,
não há diferenças significativas entre os dois textos.
A palavra grega traduzida por “abreviar” significa primariamente “cortar”,
ou, quando aplicada a tempo, “abreviar”.4 O Dr. Randolph Yeager salienta
que o verbo usado tanto por Mateus quanto por Marcos “significa ‘podados’,
‘mutilados’; ‘encurtar’. Sua ocorrência no Novo Testamento se dá sempre em
sentido cronológico – cf., Mt 24.22; Mc 13.20”.5 É importante notar que
ambos os verbos (tanto no texto de Mateus quanto no de Marcos) “estão
todos no tempo grego aoristo com acréscimo silábico”, declara o Dr. Renald
Showers. “O tempo verbal aoristo não tem implicação temporal, exceto
quando estiver no modo indicativo e apresentar o acréscimo silábico. Nesta
condição de exceção, o aoristo é usado para expressar o tempo passado”.6,7 O
que isso significa?
O Dr. Showers menciona que “em virtude do fato de os dois verbos que
ocorrem em Marcos 13.20 estarem nessa forma verbal, muitos estudiosos
chegaram à conclusão de que essas ocorrências expressam ação no passado e,
portanto, têm grande relevância no significado da afirmação de Jesus”.8 Que
relevância é essa? É a de que nesse texto “os verbos no tempo aoristo
expressam um passado profético – a saber, que Deus já havia tomado a
decisão quanto ao futuro”,9 comenta um erudito. Outro especialista diz: “O
tempo futuro interpreta a expressão anterior ‘tivessem... sido abreviados’
como uma referência ao futuro (semelhante ao tempo ‘Perfeito Profético’ da
língua hebraica)”.10 Isso quer dizer que a abreviação, mencionada pelo
Senhor Jesus tanto no texto de Mateus quanto no de Marcos, é algo que já
tinha ocorrido no passado, quando Deus, antes da criação do mundo,
estabeleceu Seu plano para a história. Ezra Gould conclui: “Os verbos no
tempo aoristo indicam que essa ação ocorreu no passado. A linguagem é
proléptica, pois considera o acontecimento como uma realidade que já existia
no decreto de Deus”.11
A suposição, levantada por Marvin Rosenthal, de que essas passagens
confirmam sua concepção equivocada de uma abreviação dos 1.260 dias
decretados por Deus para a Grande Tribulação, não passa no teste de um
exame mais minucioso do texto bíblico. O Dr. Showers explica o seguinte:
Jesus estava ensinando que Deus, no passado, já havia abreviado a Grande
Tribulação. Ele disse isso no sentido de que, no passado, Deus tomou a decisão de
interrompê-la quando chegasse determinado momento, em vez de deixar que a
Grande Tribulação continuasse indefinidamente. Por Sua onisciência, Deus sabia
que se a Grande Tribulação continuasse indefinidamente, toda carne pereceria da
Terra. Para evitar que isso acontecesse, Deus, no passado, estabeleceu um momento
preciso para encerrar a Grande Tribulação.12
Dito de outra forma, Deus, por Sua onisciência, sabia muito bem que se
deixasse a Grande Tribulação chegar a 1.320 dias (um número escolhido
aleatoriamente a título de ilustração), toda carne seria aniquilada. Por isso,
quando na eternidade passada planejava esse período da história, Deus o
abreviou para 1.260 dias, a fim de que os eleitos realmente fossem salvos.
“Ninguém seria salvo”
Vimos anteriormente que o objetivo de Satanás e do Anticristo com todos
esse acontecimentos é o de destruir o povo judeu. Por que o Diabo quer fazer
isso? Porque ele acredita que se puder destruir os judeus, conseguirá evitar a
Segunda Vinda de Cristo, já que a volta de Jesus acontecerá em resposta ao
pedido de livramento feito pelo remanescente judeu crente. Satanás crê que se
puder evitar um acontecimento imprescindível do plano predeterminado de
Deus para a história, conseguirá difamar a Deus e provar sua calúnia de que
Deus não merece Sua elevada posição. É óbvio que o Diabo não conseguirá
seu intento, porque Deus é fiel em cumprir Sua Palavra.
Mas, então, o que a frase “ninguém seria salvo” (lit., “toda carne não seria
salva”) significa à luz do discurso profético de Cristo? Acredito que há dois
pontos de vista dignos de consideração, os quais giram em torno do
significado da palavra “ninguém”. Será que esse termo se refere ao
remanescente judeu destinado a ser salvo durante a Grande Tribulação ou
Cristo se referia à humanidade toda? Em primeiro lugar, concordo com a
maioria dos comentaristas bíblicos, no seu consenso, de que a salvação dentro
desse contexto significa libertação física, não salvar alguém da condenação
de seus pecados (i.e., justificação), visto que nessa conjuntura o perigo não
será primeiramente espiritual, mas, sim, físico.13
Antes de pesquisar e escrever o presente comentário, eu era do ponto de
vista de que o termo “ninguém” (ou “nenhuma carne”) se referia a Israel.
Todavia, mudei minha concepção, após essa análise, e hoje creio que a frase
acima diz respeito à humanidade toda. Por que mudei minha concepção?
Mudei de ponto de vista fundamentalmente por causa da informação léxica
(i.e., a maneira pela qual uma palavra ou frase é usada em outras situações ou
ocorrências bíblicas). O Dr. Stanley Toussaint esclarece:
O léxico de BAG14 afirma que a expressão grega pasa sarx significa “cada
pessoa” ou “todos”; com a partícula de negação, a expressão significa “nenhuma
pessoa” ou “ninguém”, e cita os textos de Mateus 24.22 e Marcos 13.20 como
exemplos desse significado. Essa expressão pasa sarx é originária da Septuaginta,
que por sua vez, considera o hebraísmo kol basar “toda carne”. Gesenius15 declara
que essa locução hebraica significa “todas as criaturas viventes [...] particularmente,
todos os seres humanos, toda a raça humana...”. Portanto, interpretar a expressão
“toda carne” de Mateus 24.22 e Marcos 13.20 como uma referência aos judeus que
viviam na Judeia no ano 70 d.C. é uma prática exageradamente restritiva. “Toda
carne” é uma expressão que designa a humanidade toda.16
O Dr. Craig Evans também concorda com isso, ao dizer:
A frase reflete uma expressão idiomática semítica (e.g., Gn 9.11: “...não será mais
destruída toda carne por águas de Dilúvio...”; Is 40.5: “...e toda a carne a verá...”)
[...] a advertência de que o período da Tribulação seria tão severo que, se não fosse
abreviado, aniquilaria todas as vidas humanas, prova que a profecia faz alusão a
algo de maior proporção que a Guerra Judaica [...] mas o destino de toda a
humanidade não é colocado na balança.17
Se não fosse a intervenção de Cristo por ocasião de Seu segundo advento,
parece que o esforço de Satanás em destruir os judeus resultaria na
aniquilação de toda a humanidade. Tal fato nos traz um discernimento mais
profundo dos propósitos da volta de Cristo.
Quem são os escolhidos?
Este designativo “os escolhidos” é pronunciado três vezes por Jesus no
discurso do Monte das Oliveiras (Mt 24.22,24,31; também em Marcos
13.20,22,27). Creio que todos os três usos desse designativo se refiram à
mesma realidade em cada uma de suas ocorrências. Pelo contexto, esses usos
claramente se referem a certo grupo de crentes que estará na Tribulação. Uma
vez que a Igreja já terá sido arrebatada antes da Tribulação, o designativo não
pode ser referir a ela. Nesse caso, “os escolhidos” são uma referência aos
judeus e gentios salvos ou se referem apenas ao remanescente judeu? Minha
convicção é a de que esse designativo seja fundamentalmente uma referência
ao remanescente judeu, por fatores contextuais.
Embora seja fato que o designativo “os escolhidos” (ou “os eleitos”) ocorra
nas Epístolas do Novo Testamento em referência aos crentes da Era da Igreja
(i.e., tanto judeus quanto gentios; veja, Rm 8.33; Cl 3.12; 2 Tm 2.10; Tt 1.1),
também é verdade que esse designativo é usado de muitas outras maneiras.
Observe, a seguir, seus diversos usos: Rufo, um homem eleito (Rm 16.13); os
anjos eleitos (1 Tm 5.21); em referência aos judeus crentes em Cristo (1 Pe
1.1; 2.9); Cristo, a pedra angular eleita e preciosa (1 Pe 2.4,6); a senhora
eleita (2 Jo 1) e sua irmã também eleita (2 Jo 13). No Antigo Testamento, o
designativo “escolhido” (ou “eleito”) é usado em referência a Israel nas
seguintes passagens: Isaías 42.1; 43.20; 45.4; 65.9; 65.15; 65.22; Sl 89.3;
105.6,43; 106.5; 1 Crônicas 16.13. A forma verbal “escolher” é usada
inúmeras vezes no Antigo Testamento para se referir a Israel (cf., Dt 7.6).
Embora a maioria das ocorrências bíblicas se refira à Israel, o sentido do
termo sempre deve ser entendido pela maneira na qual é usado dentro de um
determinado contexto. “Nesse contexto, é muito provável que seja usado
numa alusão à nação de Israel”, conclui o Dr. Ed Glasscock. “Daniel
identifica esse período como um tempo determinado ‘sobre o teu povo [i.e., o
povo dele] e sobre a tua [i.e., a dele] santa cidade’, numa indicação de que o
povo de Israel, não a Igreja ou a humanidade em geral, será o alvo central do
sofrimento durante a Tribulação”.18
Acabamos de verificar que o termo “escolhido” (i.e., “eleito”) tem um
vasto campo de uso. Robert Govett explica o seguinte: “Em todas as
dispensações haverá alguns escolhidos por pura misericórdia e soberania de
Deus. Nesse caso, o número de significados específicos do termo equivale ao
número de dispensações”.19 Entretanto, se o foco central dessa passagem é o
povo de Israel, não é nenhum mistério que Cristo tivesse em mente os judeus.
William Kelly declara: “A evidência aponta inequivocamente para um grupo
de crentes judeus no último dia, os quais não viverão dentro dos critérios e
prerrogativas da Igreja, mas alimentarão esperanças judaicas, enquanto
aguardam o Messias”.20 É muito provável que o termo “escolhidos” tenha
sido usado por Cristo numa previsão daqueles que fariam parte do
remanescente judeu, os quais, apesar de ainda não terem crido, já tinham sido
escolhidos e destinados para a salvação por meio da fé que futuramente
manifestariam, a saber, os eleitos. Maranata!
NOTAS
1
Marvin Rosenthal, The Pre-Wrath Rapture of the Church, Nashville: Thomas Nelson Publishers,
1990, p. 108-09.
2 Rosenthal, Pre Wrath Rapture, p. 111.
3 Veja, Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 350.
4 Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature,
traduzido e adaptado por William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, Chicago: The University of
Chicago Press, 1957, p. 442.
5 Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, Ken.: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 301.
6 H. E. Dana e Julius R. Mantey, A Mannual Grammar of the Greek New Testament, Nova York: The
Macmillan Company, 1927, p. 193.
7 Renald Showers, Maranatha: Our Lord, Come! A Definitive Study of the Rapture of the Church,
Ballmawr, NJ: The Friends of Israel Gospel Ministry, Inc., 1995, p. 51.
8 Showers, Maranatha, p. 51.
9 W. D. Davies e Dale C. Allison, Jr., A Critical and Exegetical Commentary on The Gospel
According to Saint Matthew, 3 vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1997, vol. 3, p. 351.
10 Robert H. Gundry, Matthew: A Commentary on His Handbook for a Mixed Church under
Persecution, 2. Ed, Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 484.
11 Ezra P. Gould, A Critical and Exegetical Commentary on The Gospel According to St. Mark,
Edimburgo: T. & T. Clark, 1896, p. 247-48.
12 Showers, Maranatha, p. 51.
13 Veja, Morna D. Hooker, The Gospel According to Saint Mark, Peabody, MA: Hendrickson
Publishers, 1991, p. 316.
14 Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian
Literature, traduzido e adaptado por William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, Chicago: The
University of Chicago Press, 1957.
15 William Gesenius, A Hebrew and English Lexicon of the Old Testament, including the Biblical
Chaldee, 13ª edição, traduzido do original em latim por Edward Robinson, Boston: Houghton,
Mifflin and Company, 1882.
16 Stanley D. Toussaint, “A Critique Of The Preterist View Of The Olivet Discourse”, Ensaio, não-
publicado, apresentado ao The Pre-Trib Study Group, Dez. 1995, sem número de página.
17 Craig A. Evans, Mark 8:27–16:20, publicado no Word Biblical Commentary, 34b, Nashville:
Thomas Nelson, 2001, p. 322.
18 Ed Glasscock, Moody Gospel Commentary: Matthew, Chicago: Moody Press, 1997, p. 472.
19 Robert Govett, The Prophecy on Olivet, Miami Springs, FL: Conley & Schoettle Publishing Co.
(1881), 1985, p. 54.
20 William Kelly, Lectures on The Gospel of Matthew, Sunbury, PA: Believers Bookshelf, (1868),
1971, p. 492.
Parte 18

“Então, se alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! Ou:


Ei-lo ali! Não acrediteis; porque surgirão falsos
cristos e falsos profetas operando grandes sinais e
prodígios para enganar, se possível, os próprios
eleitos. Vede que vo-lo tenho predito” – Mateus
24.23-25.
Apesar de retratar o contexto do mais terrível período
de rebelião e caos da história deste mundo, Jesus
relembra aos Seus discípulos que o aspecto mais
importante da vida de uma pessoa é o seu
relacionamento com Cristo. À medida que o texto
avança na descrição dos acontecimentos que marcarão
a segunda metade da Tribulação, percebe-se que a
prioridade número um dos salvos durante aquele
período será a de evitar que alguém se engane.

“Eis Aqui o Cristo!”

É fundamental cuidar para que ninguém se engane durante a última metade


da Tribulação, porque esse será o tempo em que o Anticristo (também
conhecido como “a besta” de Apocalipse) inaugurará seu governo global e
exigirá que todos portem a marca da besta para que possam comprar ou
vender (Ap 13.17). É um período tão importante da história que Deus enviará
mensageiros angelicais especificamente para proclamar o Evangelho ao
mundo inteiro e para advertir a todos das consequências de aceitarem a marca
da besta (Ap 14.6-13). É um momento decisivo porque as pessoas que
estiverem vivas na ocasião terão de tomar uma decisão quanto ao seu destino
eterno. Tal decisão se baseará na escolha de crer no Evangelho ou de aceitar a
solicitação do Anticristo para estamparem sua marca.
Em geral, os textos de Mateus 24 e Marcos 13 são correlatos nessa
passagem, ao passo que o texto de Lucas 21 a omite por completo. As
passagens de Mateus e Marcos fazem referência a uma Tribulação futura,
enquanto o enfoque de Lucas concentra-se principalmente nos
acontecimentos que ocorreriam no primeiro século d.C. O que Jesus declara
nesse texto?
Nos versículos 23-25, Jesus pronuncia dois aspectos importantes acerca
dos falsos Messias. O primeiro aspecto é o de que o falso Messias não se
apresentaria de forma pública e notória. O segundo aspecto é o de que o falso
Messias realizará milagres com o intuito de iludir e enganar muitas pessoas.
À procura do Messias em todos os lugares errados
O versículo 23 prediz que haverá rumores sobre o aparecimento iminente
do Messias. Aqui, o Senhor Jesus estabelece um contraste entre o falso e o
verdadeiro. A estratégia enganosa do Anticristo será repleta de boatos e
insinuações, porém a autêntica vinda do Messias será evidente a todos (veja o
v. 27). Por que Jesus nessa passagem volta a advertir sobre o perigo do
engano, depois que já tinha tratado dessa questão nos versículos 4, 5 e 11?
Creio que a resposta esteja na terminologia que Ele usou para fazer Sua
advertência. O Dr. Thomas Figart explica o seguinte:
Depois que a Judeia for evacuada, os falsos mensageiros enviados por Satanás
perceberão a necessidade de se infiltrarem no meio daqueles que fugiram para os
montes. A princípio, eles anunciarão que Cristo já voltou, dizendo: “Eis aqui o
Cristo! Ou: Ei-lo ali!” (Mt 24.23). Então, para respaldar seu anúncio, eles
realizarão “grandes sinais [do gr., semeia] e prodígios [do gr., terata]”, dois termos
que também são usados no texto de Atos 2.22 em referência aos milagres de Cristo;
de modo que, “se possível” fora, eles enganariam os próprios eleitos. É óbvio que
eles fracassarão no seu intento, apesar de suas reais tentativas.1
Robert Mounce comenta: “A questão central nos versículos 23-28 é a de
que os crentes em Cristo não devem se deixar enganar por falsos profetas que
alegarão ter informações específicas sobre o paradeiro do Cristo”.2
Tal concepção se enquadra no fluxo de pensamento dessa passagem. No
versículo 15, Jesus dá instruções a Seus discípulos a fim de que fujam para os
montes, tão logo percebam que a abominação da desolação ocorreu no
templo que ainda terá sido reconstruído em Jerusalém. Imediatamente depois
disso, o Anticristo exigirá o uso da marca da besta durante a segunda metade
do período da Tribulação. Com o desenrolar dos acontecimentos no decorrer
da segunda metade da Tribulação, o Anticristo (i.e., a “besta” revelada em
Apocalipse) tentará atrair o remanescente eleito dos judeus para fora de seu
esconderijo no deserto, alegando que o Messias já se encontra secretamente
em Jerusalém e que eles, portanto, devem ir à cidade para vê-lO.
Essa passagem se correlaciona com os escritos do apóstolo Paulo em 2
Tessalonicenses 2 e com as palavras do apóstolo João em Apocalipse 13.
Ambas as passagens fazem alusão aos enganos instigados pelo Anticristo. Se,
por um lado, o texto de Mateus 24.26 afirma que os eleitos não serão
enganados, o texto de 2 Tessalonicenses 2.9-12, por outro lado, assevera que
os não-eleitos serão enganados, como está escrito: “Ora, o aparecimento do
iníquo é segundo a eficácia de Satanás, com todo poder, e sinais, e prodígios
da mentira, e com todo engano de injustiça aos que perecem, porque não
acolheram o amor da verdade para serem salvos. É por este motivo, pois,
que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira, a
fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade; antes,
pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (2 Ts 2.9-12). Arno Gaebelein
esclarece que “a parcela apóstata do povo judeu não é a única que será
ludibriada por esses milagres enganosos; a parcela apóstata da cristandade,
deixada para trás na ocasião do Arrebatamento da Igreja, também será
enganada e assolada pelos terríveis juízos daquele dia que está por vir”.3 É
interessante observar o que Jesus recomenda a Seus discípulos acerca desses
anúncios falsos: “Não acrediteis!”. Isso demonstra que um crente em Jesus
de modo nenhum deveria acreditar em qualquer coisa que surja
espetacularmente à sua frente; pelo contrário, o que importa e faz a diferença
num momento como esse é a sua convicção bíblica.
Falsos cristos e falsos profetas
Assim como existem profetas verdadeiros que preparam o caminho para o
legítimo Messias, Satanás também mobilizará falsos profetas que prepararão
o caminho para seu falso Messias, geralmente conhecido como “o
Anticristo”. É comum dizer-se que o termo “Anticristo” só ocorre na Primeira
Epístola de João (2.18; 4.3), o que, de fato, é verdade. Contudo, o uso do
designativo “falsos cristos” no versículo 24 se assemelha ao modo pelo qual a
palavra Anticristo foi usada em 1 João. Robert Govet diz o seguinte: “Pela
equivalência do termo ‘falso cristo’ com a palavra ‘Anticristo’ (1 Jo 2.18;
4.3), percebe-se o significado da preposição grega anti. ‘Anticristo’ não
significa ‘aquele que se opõe a Cristo’, mas, sim, ‘um falso Messias que
aparenta ser o verdadeiro’”.4 Isso é exemplificado com mais detalhes em
Apocalipse 13, onde a primeira parte do capítulo (v. 1-10) faz uma descrição
da primeira besta, a saber, o Anticristo, enquanto a segunda parte do capítulo
(v. 11-18) explica a função desempenhada pelo falso profeta. Aqui, percebe-
se nitidamente o velho e famigerado casamento da religião com um político,
a qual por este será usada como base de apoio e influência. O falso profeta é
quem usará seu ofício religioso para angariar a lealdade das pessoas à besta e
para influenciá-las a aceitarem a marca da besta sobre a mão ou sobre a
fronte. Aí está a razão pela qual Jesus adverte contra os sinais e prodígios
enganosos no capítulo 24 de Mateus.
Os “falsos cristos” referem-se, obviamente, ao Anticristo, também
chamado de “a besta” (tanto em Daniel quanto em Apocalipse), “o homem da
iniquidade, o filho da perdição” (2 Ts 2). A referência aos “falsos profetas”
implica, certamente, o falso profeta revelado em Apocalipse 13.11-18. O
texto de Apocalipse 19.20 faz um resumo das atividades e do destino final do
falso profeta nos seguintes termos: “Mas a besta foi aprisionada, e com ela o
falso profeta que, com os sinais feitos diante dela, seduziu aqueles que
receberam a marca da besta e eram os adoradores da sua imagem. Os dois
foram lançados vivos dentro do lago de fogo que arde com enxofre”.
Os intérpretes preteristas, a exemplo de Gary DeMar, afirmam que esses
versículos se cumpriram nos acontecimentos que antecederam e culminaram
na destruição de Jerusalém e do Templo, imposta pelos romanos no ano 70
d.C.5 Eles até podem citar alguns exemplos de falsos profetas, já que houve
falsos profetas desde que o Novo Testamento foi escrito (cf., 2 Pe 2.1).
Entretanto, há consenso entre os eruditos de que não surgiram falsos Messias
ou falsos Cristos até cerca de 130 d.C. Para falar a verdade, nem mesmo os
preteristas chegam a citar exemplos de falsos Cristos. Ao que parece, durante
o primeiro século d.C. não houve sequer um caso que sirva de referência. H.
A. W. Meyer explica:
Não temos nenhum registro histórico de que algum falso Messias tenha surgido
antes da destruição de Jerusalém (Bar Kokhba só apareceu na época do imperador
Adriano); quanto a Simão, o mágico, (Atos 8.9), a Teudas (Atos 5.36), ao Egípcio
(Atos 21.38), a Menandro, e a Dositeu, referidos como exemplos (Teofilato,
Eutímio Zigabeno, Grotius, Calovinus, Bengel), não tinham nenhuma pretensão de
ser o Messias. Compare, Josefo, Antiguidades, XX,5.1; 8.6; Guerras Judaicas,
II,13.5.6
Em Seu discurso, Jesus contemplava um tempo que ainda não se cumpriu
na história. Ele previu um tempo de Tribulação durante o qual o
remanescente judeu terá de fugir para os montes, assim que constatar a
abominação da desolação. Os falsos profetas e falsos Messias tentarão atraí-
los para fora de seu esconderijo nos montes, porém os verdadeiros crentes em
Cristo (i.e., os eleitos) não se deixarão enganar, por já terem sido alertados
por Jesus há muito tempo sobre essa cilada.
Sinais e prodígios enganosos
Nesse texto ocorrem as mesmas palavras (i.e., sinais e prodígios) que
foram usadas para descrever os milagres realizados por Cristo e por Seus
apóstolos. Contudo, os milagres, aqui mencionados, serão realizados por
falsos profetas e falsos Messias. Seria isso um sinal de que Satanás é um
mero enganador ilusionista, no sentido de que, “ele induz os seres humanos a
pensarem que estão vendo um autêntico milagre?”7 Ou será que isso deve ser
entendido como “fenômenos que não podem ser meramente explicados pela
mente humana?”8 Prefiro esta última perspectiva de que se tratam de milagres
reais. Sou dessa opinião porque todas as vezes que a Bíblia faz alguma
menção a falsos milagres a linguagem utilizada aponta para o fato de que
seus operadores realmente os fizeram, tal como está escrito nessa passagem:
“...operando grandes sinais e prodígios”. Não conheço nenhum exemplo nas
Escrituras onde a linguagem ilusória seja usada para descrever esses
milagres. Em outras palavras, se a questão fosse iludir as pessoas com
truques de fumaça e espelhos para que elas pensassem estar diante de um
milagre, parece-me que as Escrituras teriam usado uma terminologia que
indicasse isso. Ao invés disso, a Bíblia utiliza palavras e frases que
confirmam o fato de que esses falsos profetas e falsos cristos realmente
operarão essas coisas.
Veja, por exemplo, o capítulo 13 de Apocalipse, onde alguns milagres
satânicos realizados pelo falso profeta são mencionados: “Também opera
grandes sinais, de maneira que até fogo do céu faz descer à terra, diante dos
homens” (v. 13); “Seduz os que habitam sobre a terra por causa dos sinais
que lhe foi dado executar diante da besta, dizendo aos que habitam sobre a
terra que façam uma imagem à besta, àquela que, ferida à espada,
sobreviveu” (v. 14); “e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta,
para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não
adorassem a imagem da besta” (v. 15). A terminologia usada nesses
versículos retrata acontecimentos reais, não truques de mágica.
Parece que Deus concederá poder temporário a esses falsos profetas e
falsos Messias, a fim de que sejam usados, segundo o propósito de Deus, para
seduzir todos os descrentes e atraí-los para si num flagrante de incredulidade.
É o que Paulo queria comunicar em 2 Tessalonicenses 2.9-12, quando
escreveu: “Ora, o aparecimento do iníquo é segundo a eficácia de Satanás,
com todo poder, e sinais, e prodígios da mentira, e com todo engano de
injustiça aos que perecem, porque não acolheram o amor da verdade para
serem salvos” (v. 9-10). O apóstolo ainda nos diz o motivo: “É por este
motivo, pois, que Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à
mentira, a fim de serem julgados todos quantos não deram crédito à verdade;
antes, pelo contrário, deleitaram-se com a injustiça” (v. 11-12). Entretanto,
os eleitos de Deus não serão enganados, porque Jesus já os alertou que
tomem cuidado com esses milagres enganosos. Maranata!
NOTAS
1
Thomas O. Figart, The King of The Kingdom of Heaven: A Commentary of Matthew, Lancaster, PA:
Eden Press, 1999, p. 446.
2 Robert H. Mounce, New International Biblical Commentary: Matthew, Peabody, MA: Hendrickson
Publishing, 1991, p. 225.
3 Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, 1961,
p. 505.
4 Robert Govett, The Prophecy on Olivet, Miami Spring, FL: Conley & Schoettle Publishing, (1881),
1985, p. 56.
5 Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 122-23; e, também, End Times Fiction: A Biblical Consideration of the Left Behind
Theology, Nashville: Nelson, 2001, p. 89-91.
6 Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 128.
7 R. C. H. Lenski, The Interpretation of St. Matthew’s Gospel, Minneapolis: Augsburg Publishing
House, 1943, p. 944.
8 Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, p. 607.
Parte 19

“Portanto, se vos disserem: Eis que ele está no


deserto!, não saiais. Ou: Ei-lo no interior da casa!,
não acrediteis. Porque, assim como o relâmpago sai
do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser
a vinda do Filho do Homem” – Mateus 24.26-27.
Momentos antes, Jesus fazia alusão ao remanescente
judeu que passará pela segunda metade dos sete anos
de Tribulação, advertindo-o para que tome cuidado
com o engano espiritual. Jesus se refere pela segunda
vez aos “eleitos” [ou “escolhidos”], termo esse que é
usado por três vezes nessa passagem e que diz respeito
ao remanescente judeu que se converterá a Cristo
durante a Tribulação. Jesus continua a proferir Suas
instruções e advertências aos “eleitos” nos versículos
26-28.

Cuidado Com o Lugar


Onde Você Procura

Esse trecho (v. 26-28) do Discurso do Monte das Oliveiras só pode ser
encontrado com exclusividade no relato feito por Mateus. Jesus continuava a
dirigir sua advertência aos escolhidos para que estes não fossem ludibriados.
Ele basicamente diz que se alguém no decorrer da Tribulação se dirigir a
você dizendo que o Messias está disfarçado e se escondeu em algum lugar
não acredite no relato dessa pessoa. Por quê? A razão de tanto ceticismo se
deve ao fato de que a volta do Messias será tão visível e notória que não
haverá a menor dúvida de que Ele chegou. Os falsos cristos e falsos profetas
é que aparecerão de modo clandestino e sigiloso com o intuito de enganar.
Não obstante, se existe algo que essa passagem diz, e diz “em alto e bom
som”, é que essa vinda referida por Jesus acontecerá num advento pessoal,
corpóreo e público.
É interessante salientar que a interpretação preterista dessa passagem no
que se refere ao modo pelo qual Cristo voltará é muito próxima daquela com
a qual os eleitos deveriam tomar cuidado, segundo a própria advertência de
Jesus. Se quiser ver um modelo de obscurecimento e prática sofista, observe
estes dois exemplos. O Dr. Kenneth Gentry faz o seguinte comentário sobre
esse texto:
O Senhor, de forma absolutamente enfática, previne os Seus discípulos de que Ele
não voltaria de um modo pessoal e visível naqueles dias. Por duas vezes Ele declara
que qualquer relato de Sua presença corpórea seria falso: [...] Sem dúvida esses
pronunciamentos desencorajaram a expectativa que eles tinham de qualquer volta
visível naquele dia; Ele afirma expressamente que qualquer ordem para procurá-lO
especificamente em determinada localidade seria um equívoco.
Contudo, ocorreria uma “vinda” de Cristo naquele dia (...) Essa, no entanto, seria
uma vinda espiritual para juízo, em vez de ser uma vinda pessoal.1
Seu colega preterista, Gary DeMar, também adota o ponto de vista de que
essa passagem prediz uma vinda impessoal de Jesus, ao dizer o seguinte:
Jesus voltaria “assim como o relâmpago sai do oriente e se mostra até no
ocidente”, ou seja, subitamente e sem aviso prévio (...) O que as pessoas viram foi a
manifestação da vinda do Senhor, ainda que elas de fato não O tenham visto [...]
Será que Deus estava corporalmente presente? Não, Ele não estava. Ele veio? É
claro que sim!...
O texto de Mateus 24.27 revela que Jesus de alguma maneira participou da
destruição de Jerusalém. Essa é exatamente a questão...
Jesus veio “como o relâmpago” para “por fogo em toda a” cidade de Jerusalém.
Caso você se lembre, foi Tito que, como agente representante de Deus, pôs fogo no
templo e arrasou seu prédio...
No ano 70 d.C., Roma foi enviada por Deus para executar uma tarefa semelhante.
“Nosso Senhor previne Seus discípulos de que Sua vinda a esse cenário de juízo
seria distinta e súbita como o relâmpago se mostra numa localização e, ao mesmo
tempo, parece estar em toda parte”.2
As afirmações desses dois intérpretes preteristas são exemplos daquele tipo
de propaganda que os eleitos de Deus devem evitar no decorrer da
Tribulação, conforme Jesus os advertiu. A passagem de Mateus 24.27-31 faz
nítida referência a um segundo advento predito para ocorrer em ocasião ainda
futura. Examinarei, agora, as razões que nos levam a crer que o versículo 27
de fato faz alusão à Segunda Vinda de Cristo.
Um acontecimento futuro
Tanto Gentry quanto DeMar procuram torcer o sentido dessa passagem,
como se ela não confirmasse uma volta pessoal e corpórea de Jesus Cristo.
Essa concepção preterista tem sido adotada apenas por cerca de 1% (se
chegar a isso) dos intérpretes que comentaram essa passagem bíblica ao
longo da história da Igreja. O contexto dessa passagem comprova que Cristo
faz referência à Sua volta pessoal. Em contraste com a volta de Cristo predita
no versículo 27, estão os falsos cristos e falsos profetas preditos nos
versículos 23-24, os quais, sem dúvida, são pessoas que podem ser
fisicamente vistas. A volta de Cristo se justapõe a eles. Cristo não voltará
para se esconder no cômodo dos fundos de algum lugar, enquanto um agente
secreto leva as pessoas até aquele local para encontrá-lO. Pelo contrário, a
volta de Cristo será pública e evidente a todos, fato esse que não se encaixa
com a concepção de “uma vinda em juízo” por intermédio do exército
romano. A despeito do que outras passagens bíblicas possam ensinar em
outros contextos, o contexto de Mateus 24 só respalda a concepção de uma
volta pessoal de Jesus, que tem de ser a futura Segunda Vinda.
No versículo 27, Jesus compara Sua vinda especificamente com a queda de
um raio. Concordo com DeMar quando este diz que na figura usada por Jesus
está inclusa a ideia de presteza ou rapidez. Contudo, visto que a tônica do
contexto (versículo 26) é se Ele aparecerá secretamente (i.e., “no interior da
casa”) ou publicamente (i.e., “como o relâmpago”), isso obviamente aponta
para uma ênfase no aparecimento. Além do mais, a palavra grega traduzida
por “se mostra” tem o sentido de “aparecer, tornar visível, ou revelar”.3
Nesse caso, por tratar-se da aparição de um relâmpago, o termo seria
traduzido de forma idiomática por “reluz”. Quando se refere a uma pessoa,
sempre é traduzido por “aparecer”. Essa é a forma na qual foi usado no
versículo 30: “Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem...”. Para
dizer a verdade, Wycliffe traduz esse termo do versículo 27 em inglês arcaico
com o significado de “aparecer”.4 Quando esse aspecto se junta ao fato de
que em ambos os versículos 27 e 30 aquele que aparece é chamado de “o
Filho do Homem” (um designativo que sempre enfatiza a humanidade de
Cristo), a conclusão óbvia é a de que Cristo anuncia nessa passagem a Sua
volta pessoal e corpórea. Até os preteristas concordam em que Ele não voltou
de forma pessoal e corpórea no ano 70 d.C. Se o texto pretendia falar de uma
volta invisível por intermédio do exército romano, a divindade de Cristo teria
sido enfatizada, não Sua humanidade. Meyer declara o seguinte:
O advento do Messias não será dessa natureza, a ponto de alguém precisar de
orientação para procurar o Messias aqui ou ali; ao invés disso, será como o
relâmpago que, assim que aparece, anuncia, de imediato, sua presença em toda
parte; (...) Isso quer dizer que quando o advento do Messias se cumprir, ele se
mostrará de repente e publicamente, numa gloriosa exibição diante do mundo
inteiro. Ebrard (cp., Schott) está errado em supor que o ponto de comparação se
encontra apenas no fator circunstancial de que o acontecimento seria repentino e
sem aviso prévio. Isso, certamente, não tenderia a demonstrar, como Jesus
realmente pretendia demonstrar, que esta afirmação “Eis que ele está no deserto!’ é
um pretexto injustificável.5
Em todo o seu esforço para dizer a razão pela qual “a vinda do Filho do
Homem” predita em Mateus 24.27 não é uma vinda de Cristo literal, Gentry
falha em não informar a seus leitores que a palavra grega parousia é usada
nesse versículo. Das quatro vezes que a palavra parousia ocorre em Mateus
24, Gentry admite que três delas se referem à Segunda Vinda de Cristo ainda
por acontecer no futuro.6 O dicionário léxico da língua grega, BAG
[organizado por Bauer, Arndt e Gingrich, daí a sigla BAG] declara que o
termo parousia significa “presença, vinda, advento [...] de Cristo, e quase
sempre diz respeito ao Seu Advento Messiânico em glória, para julgar o
mundo no final desta era”.7 O BAG cita todas as quatro ocorrências de
parousia em Mateus 24 como uma referência ao segundo advento de Cristo.
Para falar a verdade, o BAG nem chega a reconhecer o significado proposto
por Gentry ou DeMar como um dos possíveis significados do termo. No caso
em questão, parece que a fonte de referência dos preteristas é a sua própria
necessidade de inventar.
A mãe de todas as obras de estudo de vocábulos da língua grega, o
Dicionário de Kittel, em concordância com o BAG, nos diz que a essência do
sentido dessa palavra é a de “estar presente (...) denota especificamente uma
presença ativa (...) uma aparição”.8 O Dicionário de Kittel descreve parousia
como um termo técnico “para designar a ‘vinda’ de Cristo em glória
Messiânica”.9 Desse modo, o termo parousia transmite a ideia de uma “vinda
em pessoa” antagônica à concepção preterista de uma “vinda impessoal”,
uma vinda invisível. O uso que nosso Senhor fez da palavra parousia implica
obrigatoriamente Sua presença pessoal e corpórea.
Toussaint apresenta mais argumentos a favor de uma interpretação
futurista do termo parousia usado nessa passagem:
“... que sinal haverá da tua vinda...?” (Mt 24.3). O que significa “vinda” (do gr.
parousia)? Esse termo está repleto de significado. É um substantivo que ocorre
quatro vezes no sermão do Monte das Oliveiras (são as únicas ocorrências desse
termo no livro de Mateus e são as únicas ocorrências nos Evangelhos). A primeira
ocorrência se encontra na pergunta levantada pelos discípulos. É muito interessante
constatar que as três ocorrências restantes se encontram em cláusulas idênticas,
“assim há de ser a vinda do Filho do Homem” (...) (Mateus 24.27,37,39). (...) O
problema dessa interpretação localiza-se no significado de parousia antes do
versículo 36 e depois dele. Se a vinda do Filho do Homem em Mateus 24.37,39
corresponde ao Segundo Advento, seria de se esperar que a cláusula idêntica de
24.27 se refira ao mesmo acontecimento. Nesse caso, a palavra teria o mesmo
significado em 24.3. Em cada um desses casos, a palavra tem que se referir ao
Segundo Advento.
Além disso, a palavra parousia em suas ocorrências no Novo Testamento sempre
é usada no sentido de presença real. Pode ser empregada para se referir à presença
de pessoas, como ocorre em: 1 Coríntios 16.17; 2 Coríntios 7.6-7; 10.10; Filipenses
1.26; 2.12 e 2 Tessalonicenses 2.9. Em cada um destes casos, a pessoa está
pessoalmente presente. Em todos os outros casos, o termo parousia é usado em
referência à presença do Senhor na Sua Segunda Vinda. Confira: 1 Coríntios 15.23;
1 Tessalonicenses 2.19; 3.13; 4.15; 5.23; 2 Tessalonicenses 2.1,8; Tiago 5.7,9; 2
Pedro 1.16; 3.4,12; 1 João 2.28. As únicas ocorrências da palavra parousia nos
Evangelhos estão em Mateus 24 e tudo leva a crer que elas também se referem à
volta de Cristo ainda por acontecer no futuro.10
Gentry se aventura a dizer que a descrição do “relâmpago” em Mateus
24.27 “é um sinal que espelha os exércitos romanos marchando do oriente
para o ocidente rumo a Jerusalém”.11 É difícil imaginar que a demorada
marcha dos exércitos romanos seja a correta interpretação dessa passagem.
Mais uma vez, tomo por modelo a explanação que Toussaint faz desse texto:
Então, o que o texto de Mateus 24.27 está dizendo? Diz apenas que as pessoas não
deveriam se deixar enganar por falsos mestres e por Messias impostores que fazem
seus clamores enganosos de algum deserto ou do interior de algum santuário secreto
(24.26). Eles podem até mesmo incrementar suas pretensões pela realização de
milagres fantásticos (24.24). O motivo pelo qual os discípulos do Senhor não
deveriam se deixar seduzir fundamenta-se no fato de que a vinda do Senhor Jesus
será tão espetacular que ninguém deixará de vê-la. Será como um raio reluzente que
risca o céu de uma extremidade à outra do horizonte. Essa é a razão pela qual o
Senhor usou os advérbios gregos correlativos hosper... houtos [i.e., “assim como...
assim também”]; Ele estava simplesmente usando uma analogia ou comparação.
Seu Segundo Advento será tão evidente quanto um relâmpago radiante que percorre
o céu. Assim será o aparecimento real e inconfundível do Senhor Jesus Cristo na
Sua Segunda Vinda à Terra.12
Maranata!
NOTAS
1
Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 71.
2
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 123-25.
3
William F. Arndt e F. W. Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 859.
4
James Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew, Londres: Hodder
and Stoughton, 1883, p. 475.
5
Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 143.
6
Gentry, na obra de Thomas Ice e Kenneth L. Gentry, Jr., The Great Tribulation: Past or Future?,
Grand Rapids: Kregel, 1999, p. 53.
7
Arndt e Gingrich, Greek-English Lexicon, p. 635.
8
Gerhard Kittel e Gerhard Friedrich, eds., Theological Dictionary of The New Testament, X vols.,
Grand Rapids: Eerdmans, 1967, vol. V, p. 859.
9
Kittel e Friedrich, Theological Dictionary, vol. V, p. 865.
10
Stanley D. Toussaint, “A Critique Of The Preterist View Of The Olivet Discourse”, ensaio não-
publicado que foi apresentado ao Pre-Trib Study Group, Dallas, Texas, 1996, sem informações de
editora.
11
Gentry, na obra de Ice e Gentry, Great Tribulation, p. 54.
12 Toussaint, “Critique”, sem informações de editora.
Parte 20

“Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres.


Logo em seguida à Tribulação daqueles dias, o sol
escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados” – Mateus 24.28-29.
Após discorrer sobre a subtaneidade e visibilidade
pública de Sua volta nos versículos 26-27, o Senhor
Jesus acrescenta uma expressão idiomática em forma
de parábola no versículo 28. Ele diz: “Onde estiver o
cadáver, aí se ajuntarão os abutres”. Essa frase
também se encontra num contexto semelhante
registrado em Lucas 17.37. O que isso significa e a
quem se refere? Contudo, antes de responder essa
pergunta, gostaria de fazer uma consideração final
sobre o versículo 27.

De Âmbito Mundial, Não


Local

Já estudamos o texto de Mateus 24.27 que diz: “Porque, assim como o


relâmpago sai do oriente e se mostra até no ocidente, assim há de ser a vinda
do Filho do Homem”. Esse versículo salienta uma vinda de proporções
globais. Este versículo faz um contraste com os falsos mestres do versículo
26, os quais afirmarão que o Messias apareceu em determinado local; no
cômodo dos fundos de um lugar qualquer. Vimos que intérpretes preteristas,
como Gary DeMar e Kenneth Gentry, alegam que Jesus voltou num âmbito
local, por intermédio do exército romano no ano 70 d.C. Essa concepção
contradiz o versículo 27 quando este demonstra que a volta do Messias terá
um caráter global. Randolph Yeager faz este comentário sobre o versículo 27:
Assim entendemos a razão pela qual Jesus nos adverte para que não creiamos em
falsos mestres que procurarão identificar a localização do Messias na Sua volta. A
volta do Messias será universalmente contemplada. Ninguém precisará ir a
determinado lugar para vê-Lo, assim como não é necessário procurar um ponto de
observação privilegiado para comprovar que um raio se torna visível – uma coisa
impossível de se não ver. Satanás (i.e., Lúcifer, “aquele que brilha”) caiu do céu
com a rapidez de um relâmpago (cf., Lc 10.18). Cristo voltará à terra com toda a
visibilidade de um relâmpago.1
Percebe-se no ensino dessa passagem que a Segunda Vinda de Cristo é
uma realidade que nenhum ser humano - nem mesmo o Anticristo – será
capaz de falsificar. Será de uma magnitude tal que somente Deus será capaz
de concretizá-la. Será um acontecimento mundial e miraculoso que nem de
longe apresenta a mínima correlação com a destruição de Jerusalém imposta
pelos romanos no ano 70 d.C. Não será um fato que precise ser noticiado pela
mídia, pois Deus o concretizará de uma maneira tal que todos os habitantes
da Terra saberão que aconteceu. Portanto, só pode ser um acontecimento
futuro, em relação aos dias atuais, pois nada semelhante a isso já ocorreu na
história.
O significado da parábola
Existem duas interpretações principais dessa passagem. Uma entende que
esse texto faz alusão ao juízo contra os descrentes. A outra considera esse
texto como uma continuação do tema do contexto que denota subtaneidade e
universalidade. Minha opinião é de que ambas as concepções são preditas no
versículo 28.
Nosso Senhor fala de um “cadáver”, cercado de “águias” ou, mais
propriamente, de “abutres” nesse contexto. O texto apresenta uma ilustração
de juízo. Thomas Figart salienta o seguinte:
Se interpretado literalmente, a frase significa que onde quer que estejam os
cadáveres, ali pousarão sobre eles aquilo que em grego se expressa hoi aetoi (i.e.,
“as águias” ou “os abutres”). Do ponto de vista físico, o enorme amontoado de
cadáveres resultará exatamente nisso. Em termos simbólicos, pode estar relacionado
com a passagem correlata de Lucas 17.37, quando os discípulos perguntaram “Onde
será isso, Senhor?”, numa referência àquele momento em que os crentes serão
separados do meio dos descrentes. A resposta de Jesus foi esta: “Onde estiver o
corpo, aí se ajuntarão também os abutres (do gr., aetoi)”. Isso quer dizer que essas
duas declarações semelhantes se referem ao juízo que virá sobre os descrentes, os
quais não estão preparados para se encontrar com Ele.2
Além de um aviso de juízo que ocorrerá em conjunto com a volta de Jesus
à Terra, a gramática do texto também parece requerer uma ênfase na
subtaneidade global do acontecimento. Heinrich Meyer chama atenção para o
seguinte:
Uma comprovação da verdade acerca do advento que manifestará sua presença em
todos os lugares e que, do ponto de vista da justiça equitativa, manifestará a punição
que Aquele que vem está incumbido de executar em toda parte. A ênfase desse
adágio figurativo se encontra nos termos gregos “hopou ean ê” e “ekeî”: “Onde
quer que a carcaça possa estar, ali se ajuntarão as águias” – em nenhum lugar onde
haja uma carcaça esse ditado falhará; de igual modo, quando o Messias vier, Ele
também se revelará em toda parte com esse aspecto (a saber, como um vingador).3
O contexto que precede esse provérbio confirma que ele tem um aspecto
de globalidade e subtaneidade, como mencionei antes de salientar a volta
súbita e notória de Cristo.
Não é uma referência ao ano 70 d.C.
Os intérpretes preteristas, como já era de se esperar, torcem e transformam
esse versículo num provérbio que apóie sua pressuposição de cumprimento
no primeiro século d.C. O Dr. Kenneth Gentry declara:
Isso parece se referir à terrível devastação imposta por Roma a Israel. Os soldados
furiosos que assolavam o povo com toda a crueldade iriam destruir o Israel nacional
e político. O historiador Josefo menciona várias vezes a violência impiedosa das
tropas romanas: [...] A figura utilizada é bastante familiar a um povo campestre: o
corpo asqueroso de um animal em putrefação, coberto por aves de rapina que
disputam um de seus pedaços.4
Seu colega de preterismo, Gary DeMar, reproduz o ponto de vista do Dr.
Gentry quando diz:
Em virtude de seus rituais mortos, a Jerusalém dos dias de Jesus era uma carcaça
podre, alimento para as aves que reviram o lixo, a saber, os exércitos romanos. Essa
é uma descrição apropriada dos atos abomináveis de Jerusalém. Além do mais,
sabemos que dezenas de milhares foram mortos (Josefo relata que mais de um
milhão) durante o cerco da cidade pelos romanos. Nem mesmo a área do templo foi
poupada. A revolta dos Idumeus e Zelotes deixou um saldo de milhares de mortos
dentro e nos arredores do templo [...] A luz já não estava mais em Jerusalém desde
que o Senhor partira. Como nosso Sumo Sacerdote, Jesus não podia mais
permanecer na cidade por causa de sua profanação. Ela precisava ser queimada com
o fogo da purificação.
Assim como não sobra mais nada depois que os abutres se reúnem ao redor da
carniça, assim também na destruição do templo e na devastação da cidade a sombra
das cousas celestiais desapareceu.5
Já demonstrei pelo contexto que essa passagem em termos gerais se refere
à futura volta de Cristo. Se o contexto imediato aponta para uma futura volta
de Cristo, o que de fato se confirma, essa passagem não pode servir de
referência para um fato que aconteceu no passado. Meyer com toda a
propriedade comenta:
Outros (e.g., Lightfoot, Hammond, Clericus, Wolf, Wetstein) julgaram
erroneamente que a carcaça é uma alusão a Jerusalém ou aos Judeus e que as águias
significavam as legiões romanas com o emblema da águia nos estandartes (Xen.
Anab. I.10.12; Plut. Mar. 23). Contudo, o que está em questão nesse texto é o
advento, pois de acordo com os versículos 23-27, a expressão grega hopou ean ê
não pode ser interpretada como uma referência a qualquer localidade em particular.6
Alan M’Neile repercute a observação de Meyer e declara: “Isso não é uma
descrição (...) das águias estampadas nos estandartes romanos por ocasião do
ataque contra Jerusalém; este último acontecimento não faz parte dos
assuntos tratados em Mateus, nem em Lucas”.7 William Kelly resume a
correta interpretação dessa passagem, ao declarar o seguinte:
Quando se faz uma aplicação a Israel, tudo se torna simples. A carcaça retrata a
parcela apóstata daquela nação; as águias ou abutres são figuras dos juízos que
sobrevirão a Israel. Não será somente nessa ocasião que haverá uma mostra da
atuação de Cristo em juízo, comparada a um relâmpago; ao contrário, os agentes de
Sua ira saberão o lugar e a maneira certa de lidarem com tudo aquilo que é
abominável aos olhos de Deus.8

“Em seguida à Tribulação daqueles dias”


Depois de mencionar Sua Segunda Vinda nos versículos 27-28, referindo-
se ao caráter de Sua aparição (i.e., sigilosa ou pública), Jesus passa a
descrever Sua volta nessa próxima seção do texto (versículos 29-31). A
primeira coisa que Cristo diz é que Sua volta aconteceria “logo em seguida à
Tribulação daqueles dias”, o que significa que os acontecimentos descritos
no restante dos versículos 29-31 ocorrerão imediatamente depois dos
episódios da Tribulação. Chega a ser óbvio demais. Contudo, parece que nem
todos entendem isso.
O intérprete preterista Gary DeMar afirma que a vinda de Cristo foi uma
“vinda em juízo contra Jerusalém no ano 70 d.C.”.9 Se, como afirma DeMar,
os episódios de juízo contra Jerusalém estão descritos nos versículos 4-28 e
ocorreram antes do que está escrito no versículo 29, isso quer dizer que ele
crê que os versículos 29-31 apresentam uma Segunda Vinda diferente
daquela mencionada no versículo 27. É exatamente isso que os preteristas
precisam fazer para sustentar sua visão distorcida do Sermão profético de
Cristo. DeMar admite o seguinte: “A volta de Cristo em juízo contra
Jerusalém (Mt 24.27) e Sua vinda na ocasião em que se dirige “ao Ancião de
Dias” (Dn 7.13) foram dois acontecimentos que ocorreram dentro do período
de tempo da primeira geração de crentes em Cristo. Não há nenhum
cumprimento futuro previsto para esses acontecimentos”.10 Se o próprio
DeMar mostra diversas vindas de Cristo, parece incoerente que ele seja tão
impetuoso e sem papas na língua contra outros que também reconhecem
várias vindas de nosso Senhor, a exemplo dos pré-tribulacionistas. No
entanto, DeMar demonstra um enorme desprezo pelo que ele chama de “uma
volta em dois estágios”.11
Kelly acertadamente faz as seguintes considerações sobre essa estranha
perspectiva preterista:
Dificilmente alguém seria solicitado a considerar o antigo feito histórico para fazer
uma adaptação desses versículos ao triunfo romano sobre Jerusalém. Por falar nesse
fato, será que alguém poderia dizer que ele se deu “logo em seguida à Tribulação
daqueles dias”? Tal fato não seria mais propriamente o ápice da aflição judaica em
vez de ser a gloriosa reversão de seus sofrimentos pelo livramento divino?
Quaisquer que sejam os prodígios que Josefo relate, eles ocorreram durante aquela
Tribulação por ele registrada; em contrapartida, os sinais aqui mencionados, quer
literais quer figurados, devem acontecer depois da “Tribulação daqueles dias” (i.e.,
a futura crise de Jerusalém).12
Se o ponto de vista preterista fosse aprovado, a pergunta “Que sinal haverá
da tua vinda?” (versículo 3), feita pelos discípulos, teria obrigatoriamente
diversas respostas. Entretanto, não é isso que encontramos nesse discurso de
Cristo. Nesse caso, será que a pergunta dos discípulos não deveria ser: “Que
sinais haverá das tuas vindas?”. Visto que, segundo a concepção preterista,
nenhuma volta de Cristo se caracteriza como uma volta pessoal e corpórea,
antes, são voltas espirituais e impessoais, parece que se tem a noção de que
Cristo vem e volta em toda parte. Se o termo “volta” não se refere a um
acontecimento pessoal, corpóreo e real, alguém poderia alegar que a volta de
Cristo acontece todo dia de alguma maneira espiritual. É esse tipo de
raciocínio que um preterista se torna obrigado a desenvolver perante seu
pequeno círculo de adeptos, na tentativa de dar a impressão de que seu
sistema funciona. James Morison faz as seguintes considerações:
O termo “logo” tem sido uma perfeita máquina de tortura para tais expositores, à
medida que se perderam na interpretação do capítulo [...] A dificuldade toda nasce
da pressuposição de que a Tribulação daqueles dias se refere à Tribulação que
estava para ser enfrentada no episódio da destruição de Jerusalém (veja, v. 16-21).
Contudo, não há a menor necessidade de se assumir tal pressuposição. Na verdade,
temos todas as razões para rejeitá-la [...] Esse grande equívoco se baseia, tanto
numa visão limitada e distorcida do propósito geral do Salvador nesse discurso,
quanto numa maneira microscópica inadequada de se examinar objetos
telescópicos.13
Maranata!
NOTAS
1
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, Ken.: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 308.
2 Thomas O. Figart, The King of the Kingdom of Heaven: A Commentary of Matthew, Lancaster, PA:
Eden Press, 1999, p. 447.
3 Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 144.
4 Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 74.
5 Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 127.
6 Meyer, Matthew, p. 144.
7 Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 351.
8 William Kelly, Lectures on The Gospel of Matthew, Sunbury, PA: Believers Bookshelf, (1868),
1971, p. 493-94.
9 DeMar, Last Days Madness, p. 71.
10 DeMar, Last Days Madness, p. 71.
11 Gary DeMar, End Times Fiction: A Biblical Consideration of The Left Behind Theology, Nashville:
Thomas Nelson Publishers, 2001, p. 29.
12 Kelly, Matthew, p. 494.
13 James Morison, A Practical Commentary on the Gospel According to St. Matthew, Londres: Hodder
and Stoughton, 1883, p. 477-78.
Parte 21

“Onde estiver o cadáver, aí se ajuntarão os abutres.


Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol
escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados” – Mateus 24.28-29.
Depois de especificar o fato de Sua volta súbita,
pessoal e gloriosa, Cristo comenta, de passagem, o
aspecto judicial de Seu Advento. Em seguida, os
versículos 29-31 apresentam uma descrição mais
extensa de Sua volta futura ao planeta Terra. A
declaração de Sua volta no versículo 27 conclui uma
discussão na qual Jesus compara a vinda de falsos
messias com Sua genuína Volta. Quando Ele voltar
não haverá nenhuma dúvida. Ninguém precisará ter a
assinatura de alguma fonte especial de notícias que
veicule informações que a mídia atual omite. Nenhum
veículo de mídia será necessário na vinda de Cristo,
pois Sua volta terá um caráter magnífico e glorioso.

Cadáveres e Abutres

Essa frase do versículo 28 também se encontra em Lucas 17.37, mas é


omitida nos textos de Marcos 13 ou de Lucas 21. Não há dúvida de que se
trata de algum tipo de slogan de juízo. O interessante é que no texto de
Apocalipse 19.17-19 temos uma afirmação semelhante, ainda que não seja
literalmente igual, relacionada com a volta de Cristo:
“Então, vi um anjo posto em pé no sol, e clamou com grande voz, falando
a todas as aves que voam pelo meio do céu: Vinde, reuni-vos para a grande
ceia de Deus, para que comais carnes de reis, carnes de comandantes,
carnes de poderosos, carnes de cavalos e seus cavaleiros, carnes de todos,
quer livres, quer escravos, tanto pequenos como grandes. E vi a besta e os
reis da terra, com os seus exércitos, congregados para pelejarem contra
aquele que estava montado no cavalo e contra o seu exército [...] Os
restantes foram mortos com a espada que saía da boca daquele que estava
montado no cavalo. E todas as aves se fartaram das suas carnes”
(Apocalipse 19.17-19,21).
A passagem de Apocalipse 19 retrata a cena de aves que descem e pousam
para se banquetearem nos cadáveres daqueles que estão na iminência de ser
mortos por Cristo, por ocasião da Sua volta. Esse é um uso claro dessa
terminologia no sentido de juízo. Já que tanto o contexto de Mateus 24
quanto o de Lucas são semelhantes, creio que a solidez do contexto exija uma
interpretação referente a juízo. Robert Gundry explica:
O contexto anterior determina que o ditado seja interpretado como uma figura de
juízo contra os ímpios no momento em que chegar o Dia do Filho do Homem. O
cadáver representa os ímpios, os abutres representam o juízo, e a máxima significa
que o juízo atingirá os ímpios onde quer que estejam. Eles não conseguirão escapar;
somente os justos escaparão!1
Interpretado em seu respectivo contexto, o versículo 28 conclui essa seção
do discurso (versículos 23-28) mencionando que quando Jesus subitamente
aparecer na Sua volta, o resultado será não somente o juízo contra os falsos
profetas e falsos messias, mas também a condenação de todos os que se
opõem à Sua vontade. Entretanto, não ficaríamos surpresos em saber que os
preteristas pensam de modo diferente.
Os romanos no ano 70 d.C.?
Intérpretes preteristas, como Gary DeMar e Kenneth Gentry, acreditam que
essa passagem se cumpriu no ano 70 d.C. DeMar afirma: “Em virtude de seus
rituais mortos, a Jerusalém dos dias de Jesus era uma carcaça podre, alimento
para as aves que reviram o lixo, a saber, os exércitos romanos”.2 Gentry, em
concordância com DeMar, declara: “Isso parece se referir à terrível
devastação imposta por Roma a Israel. Os soldados furiosos que assolavam o
povo com toda a crueldade iriam destruir o Israel nacional e político”.3
Tal ponto de vista é insustentável pelo fato de que o contexto apóia a
concepção de que esse acontecimento ainda se dará no futuro – isto é, a volta
pessoal de Cristo – o que desbanca a ideia de que a volta de Cristo tenha
ocorrido no episódio da destruição de Jerusalém no ano 70 d.C. Alan
M’Neile menciona que essa passagem “não é uma descrição do Messias
descendo do céu sobre a nação morta em delitos e pecados, nem dos falsos
Messias e falsos profetas fazendo do povo a sua presa, nem, ainda, das águias
estampadas nos estandartes romanos por ocasião do ataque contra Jerusalém;
este último acontecimento não faz parte dos assuntos tratados em Mateus,
nem em Lucas”.4 Gundry, mais adiante, dá a seguinte explicação em seu
livro:
Alguns têm pensado que [os abutres] se referem às águias das legiões romanas
descendo num vôo rasante contra Jerusalém, durante a primeira revolta judaica
(entre os anos 66 e 73 d.C.); porém, o contexto de Lucas não tem nada que se
relacione com a destruição de Jerusalém, e Mateus concentra sua atenção na vinda
do Filho do Homem, não na destruição da cidade.5
Tanto pelos versículos precedentes quantos pelos versículos seguintes, o
texto de Mateus 24.28 está inserido no contexto da futura volta de Cristo, não
de uma vinda invisível por intermédio dos romanos no ano 70 d.C. Thomas
Figart comenta acertadamente o seguinte: “Isso quer dizer que essas duas
declarações semelhantes se referem ao juízo que virá sobre os descrentes, os
quais não estão preparados para se encontrar com Ele. Eles serão julgados de
modo tão rápido e certo quanto os abutres lançam suas garras sobre os
cadáveres”.6
Logo em seguida à Tribulação
No momento em que a exposição feita por Cristo muda sua temática,
passamos de acontecimentos relativos à Tribulação para um acontecimento
que ocorrerá depois da Tribulação. Apesar de já ter mencionado no versículo
27 o modo pelo qual aconteceria Sua Segunda Vinda, Jesus, agora, enfoca a
relação de Sua volta com a Tribulação. Ele antes vinha discorrendo sobre os
acontecimentos do período da Tribulação (veja, os versículos 9, 21 e Mc
13.19), mas, a partir desse ponto, Cristo muda o curso de sua exposição para
tratar de algo que acontecerá “logo” depois da Tribulação daqueles dias. Esse
acontecimento ainda futuro é a volta pessoal e corpórea de Cristo ao planeta
Terra, conhecida como a Segunda Vinda (versículo 30). O que Cristo
descreve em poucos versículos (cf., 29-31), o apóstolo João explica com mais
detalhes (Ap 19.11-12). Dessa forma podemos perceber que o segundo
advento se dará logo depois de tudo o que acontecerá na Tribulação.
O termo eutheos é um advérbio grego que em geral se traduz pela palavra
“imediatamente”, como é o caso da versão inglesa que eu sempre utilizo The
New American Standard Bible, mas que ainda significa “diretamente, logo,
em seguida”.7 Moulton e Milligan, ao citarem exemplos extraídos dos papiros
gregos, salientam que essa palavra pelos seus usos significa
“imediatamente”.8 Visto que “um advérbio modifica o verbo que lhe está
mais próximo”,9 a expressão “logo em seguida” relaciona-se diretamente com
o verbo “escurecer”. Portanto, os acontecimentos descritos no versículo 29
ocorrerão imediatamente depois da Tribulação, logo em seguida, sem demora
ou qualquer incidente que se interponha.
Isso significa que dentro da cronologia dos acontecimentos da Tribulação
que foram registrados em Apocalipse 4–19, o texto de Mateus 24.29-31 se
cumprirá imediatamente depois do juízo da última taça da ira que se encontra
em Apocalipse 16.17-21. Aí está a explicação desta advertência intercalada
após a descrição do juízo da última taça: “(Eis que venho como vem o ladrão.
Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande
nu, e não se veja a sua vergonha)” (Ap 16.15). Não levará muito tempo
desde o momento em que ocorrer o juízo da sexta taça da ira até a volta de
Cristo. O texto de Apocalipse 17–18 apresenta uma visão geral do juízo
contra a Babilônia, revelando aspectos que se cumprirão ao longo de toda a
Tribulação e na Segunda Vinda. Assim, do ponto de vista cronológico no
livro de Apocalipse, os acontecimentos mencionados no capítulo 16 ocorrem
antes dos acontecimentos mencionados no capítulo 19.
Outro fato interessante é que a palavra “logo” foi usada em Lucas 21.9
para comunicar aos que passarem pelos episódios da Tribulação que “...o fim
não será logo”. De acordo com o texto de Lucas 21.27-28, é somente mais
tarde que “...se verá o Filho do Homem vindo numa nuvem, com poder e
grande glória”, ocasião essa em que se cumprirão as palavras do Senhor
Jesus: “...exultai e erguei a vossa cabeça; porque a vossa redenção se
aproxima”. Essa passagem faz referência ao livramento físico dos crentes
judeus proporcionado no momento da Segunda Vinda de Cristo. Na volta de
Cristo, ocorrerá livramento físico para todos os crentes, contudo, o contexto
se refere mais especificamente aos crentes judeus pelo fato de que eles
estarão sob uma terrível ameaça durante a Tribulação.
Nenhuma das passagens correlatas referentes ao Sermão do Monte das
Oliveiras menciona a palavra “logo”. O capítulo 21 do Evangelho de Lucas
não contém nenhuma declaração que realmente seja correlata do texto de
Mateus 24.29. Porém, o capítulo 13 de Marcos menciona esta declaração que,
de fato, é correlata: “Mas, naqueles dias, após a referida Tribulação, o sol
escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas cairão do
firmamento, e os poderes dos céus serão abalados. Então, verão o Filho do
Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória” (Marcos 13.24-26).
Marcos deixa de usar a expressão de urgência “logo em seguida” e usa a
expressão menos urgente “naqueles dias” para, então, fazer uma declaração
semelhante a de Mateus 24.29 nas coisas que vêm a seguir.
O protesto preterista
Os intérpretes preteristas DeMar e Gentry não explicam o modo pelo qual
a expressão “logo em seguida” do versículo 29 se relaciona com seu ponto de
vista de um cumprimento no primeiro século d.C.10 DeMar gasta mais de uma
página para tratar da expressão “logo em seguida” e conclui que todos os
acontecimentos descritos em Mateus 24 só podem ter se cumprido no ano 70
d.C.11 Isso é importante para a interpretação preterista porque os preteristas
ensinam que a vinda de Cristo no ano 70 d.C. foi uma “vinda em juízo” por
intermédio do exército romano, quando este atacou e finalmente destruiu
Jerusalém e o templo. Gentry a denomina de “uma vinda espiritual em juízo,
em vez de uma vinda pessoal”.12 Gentry relaciona particularmente o versículo
30 com todos os juízos mencionados na passagem, ao dizer o seguinte:
“Cristo aplica esse versículo especificamente àquilo que ocorreu no primeiro
século d.C. [...] Cristo veio em juízo contra Jerusalém entre os anos 67 e 70
d.C.”.13 Dessa forma, Gentry descreve a vinda de Cristo, mencionada no
versículo 30, como um acontecimento que se deu junto com os fatos
ocorridos entre 67-70 d.C., fatos esses que na interpretação preterista vêm a
ser “a Tribulação”.
Tal concepção gera uma enorme contradição com o aquilo que o próprio
Cristo proferiu na passagem de Mateus 24. Quando alguém lê a interpretação
preterista de Mateus 24 descobre que eles combinaram um acontecimento
que aconteceria logo em seguida à Tribulação com outros acontecimentos que
ocorreriam durante a Tribulação, como foi predito por Jesus. Se a vinda de
Jesus referida em Mateus 24.30 é uma vinda em juízo, segundo afirmam os
preteristas, as ocorrências de juízo só podiam ter ocorrido durante aquela
parte de Mateus 24 (v. 4-29) que Jesus denomina de “a Tribulação”.
Entretanto, no versículo 29, Cristo afirma que aconteceria “logo em seguida
à tribulação daqueles dias”. Randolph Yeager explica o seguinte:
A tentativa de mostrar que a profecia de Jesus se cumpriu entre os anos 33 e 70
d.C., desconsidera os versículos 29-31. Nenhum desses acontecimentos se deu
“imediatamente depois” do período turbulento associado com a invasão e saque de
Jerusalém sob o comando de Tito no ano 70 d.C. [...] Esses drásticos transtornos
nos céus darão destaque à Segunda Vinda de Cristo [...] Muitos comentaristas se
esforçam frenética e desvairadamente no tratamento desse texto, por motivo de seu
preconceito contra o ponto de vista que advoga um cumprimento futuro [i.e.,
futurista].14
Apesar do exercício de imaginação (que chega às raias da genialidade) dos
intérpretes preteristas e de outros, já constatamos e prosseguiremos em
verificar, na sequência dessa passagem, que Cristo aqui faz alusão a
acontecimentos que ainda se cumprirão no futuro. Ninguém há de roubar da
Igreja a extraordinária esperança que temos na volta gloriosa de Jesus Cristo
a este mundo, como essa passagem de modo tão maravilhoso apresenta.
Maranata!
NOTAS
1
Robert H. Gundry, Matthew: A Commentary on His Handbook for a Mixed Church under
Persecution, segunda edição, Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 486.
2
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 127.
3
Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 74.
4
Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 351.
5
Gundry, Matthew, p. 487.
6
Thomas O. Figart, The King of The Kingdom of Heaven: A Verse by Verse Commentary on the
Gospel of Matthew, Lancaster, PA: Eden Press, 1999, p. 447.
7
G. Abbott-Smith, A Manual Greek Lexicon of The New Testament, 3ª edição, Edimburgo: T. & T.
Clark, 1937, p. 186.
8
James Hope Moulton e George Milligan, The Vocabulary of the Greek Testament: Illustrated from
the Papyri and Other Non-Literary Sources, Grand Rapids: Eerdmans, 1930, p. 261.
9
Wesley J. Perschbacher, New Testament Greek Syntax: An Illustrated Manual, Chicago: Moody,
1995, p. 23.
10
Veja, p. 75-79 da obra de Gentry, Perilous Times, onde ele analisa a passagem, mas não trata da
expressão “logo em seguida”.
11 DeMar, Last Days Madness, p. 141-42.
12
Gentry, Perilous Times, p. 71.
13
Gentry, Perilous Times, p. 112.
14
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, KY: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 312.
Parte 22

“Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol


escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados” – Mateus 24.29.
Uma das perguntas iniciais que os discípulos fizeram a
Jesus no começo deste discurso foi a seguinte: “...que
sinal haverá da tua vinda...?”. Ele, desde o versículo
23, discorre em resposta a essa pergunta. Após fazer
alusão à Sua vinda no versículo 27, Jesus toma por
base o conceito anterior de que não viria ao mundo de
forma secreta e anuncia que Sua volta será um
acontecimento público e notório, manifesto de forma
súbita. É exatamente esse aparecimento glorioso que
os versículos 29 e 30 descrevem.

O Sol, a Lua e as Estrelas

As predições de nosso Senhor em Mateus 24.29 não se tratam de uma nova


revelação. Textos do Antigo Testamento, como os de Isaías 13.9-10 e Joel
2.31; 3.15, também fazem referência a esse “black-out” (i.e., escurecimento)
seguido do show luminoso que ocorrerá “logo em seguida à tribulação”, em
preparação para a Segunda Vinda de Cristo, como se observa em Mateus
24.30. Essas passagens do Antigo Testamento se referem aos mesmos
acontecimentos futuros que Cristo descreve no versículo 29. Junto com a
volta de Jesus, Israel será libertado de sua Tribulação pelo próprio Senhor
(versículo 31). Vemos que o tema do livramento ligado à volta do Senhor
ganha o reforço do contexto dessas passagens do Antigo Testamento, em
particular dos capítulos 2 e 3 de Joel, mais especificamente, 2.31 e 3.1-2.
É evidente que em Sua declaração sobre o sol e a lua registrada em Mateus
24.39, o Senhor Jesus citou partes do texto de Joel 2.31, quando afirmou:
“Logo em seguida à Tribulação daqueles dias, o sol escurecerá, a lua não
dará a sua claridade”. Ambos os textos tratam do mesmo momento histórico
e dos mesmos acontecimentos – o momento imediatamente posterior à
Tribulação, simultâneo à Volta de Cristo. Nesse caso, é interessante
considerar a passagem de Joel 3.1-2 que apresenta um “referencial
cronológico”, quando diz que o “escurecimento” (Jl 2.31) acontecerá
“...naqueles dias e naquele tempo...” (Jl 3.1). Junto com isso, o texto prediz
um tempo em que o Senhor mudará “a sorte de Judá e de Jerusalém” (Jl
3.1). Esse texto não menciona juízo, mas, sim, livramento, tal como foi
descrito em Mateus 24. Consta que esse acontecimento será a oportunidade
em que o Senhor congregará “todas as nações” (Jl 3.2) e as fará descer ao
vale de Josafá situado ao norte de Jerusalém. Além disso, será um tempo em
que Israel será reagrupado dentre as nações (Jl 3.2). Será esse o momento em
que o sol e a lua escurecerão.
A insensatez preterista
É claro que os preteristas acreditam que esses acontecimentos estão
relacionados com o que aconteceu no primeiro século d.C. Gentry afirma:
“Aqui encontramos extraordinárias alterações cósmicas que parecem muito
catastróficas para se aplicarem ao ano 70 d.C.”. Ele acredita que “isso retrata
um julgamento divino histórico através da figura dramática de uma catástrofe
universal”.1 Como é que ele chegou a essa conclusão? “Para entender isso
corretamente precisamos interpretar o texto de forma aliancista, que quer
dizer biblicamente, em vez de interpretá-lo de acordo com uma pressuposta
literalidade simplista”.2 A declaração de Gentry prossegue sem dizer que todo
texto bíblico deve ser interpretado biblicamente. Mas, então, por que Gentry
se vê forçado a fazer tal afirmação? Ele tem que fazer isso como um preparo
para poder usar uma interpretação não-bíblica. Ele já admitira que esses
acontecimentos não parecem ter ocorrido no primeiro século d.C. Visto que
não pode apresentar uma interpretação textual, Gentry é obrigado a inserir
sua teologia preconcebida para que esta se torne a verdadeira base de seu
entendimento do texto. Ao invés de interpretar a passagem biblicamente, ele
a interpreta teologicamente. A esta altura, o Dr. Gentry utiliza sua
pressuposição preterista como o real parâmetro de sua “interpretação”. Isso
fica muito claro para quem se esforça em lidar com o texto pela correta
perspectiva do método literal, gramatical e contextual de interpretação.
Somente aqueles que já estão compromissados com o preterismo vão se
deixar seduzir por Gentry na sua concepção de que uma interpretação
aliancista equivale à correta interpretação bíblica, a despeito do que o texto
diga.
O Dr. Gentry crê que o versículo 29 “extrai as figuras de linguagem das
passagens do Antigo Testamento referentes a juízo e as usa para dar a
impressão de que são acontecimentos do fim dos tempos”.3 Eu já comentei a
respeito desse relacionamento. O caso não é assunto para debate, porém o
que Gentry faz é típico do modo pelo qual os preteristas tratam
equivocadamente essa relação já conhecida do Antigo Testamento com
passagens do Novo Testamento.
Gentry reconhece que essa passagem dá a impressão de que não se
cumpriu no século I d.C. Com base em seu próprio reconhecimento, percebe-
se que aí está a razão pela qual Gentry precisa inserir sua teologia como um
fator de interpretação desse texto (a propósito, se interpretação aliancista
vem a ser, de fato, sinônima de interpretação bíblica, por que ele precisa
explicar isso na sua afirmação?). Enquanto isso, aqueles que seguem os
parâmetros normais de uma hermenêutica saudável – a saber, o método
histórico, gramatical e contextual de interpretação – não conseguem chegar às
mesmas conclusões do Dr. Gentry sobre essa passagem. O Dr. Gentry é
obrigado a utilizar uma hermenêutica histórica, gramatical e teológica para
esclarecer (ou, talvez, obscurecer) o sentido desse texto. Uma vez que o
intérprete preterista crê erroneamente que esses acontecimentos tinham de
ocorrer no primeiro século d.C., ele se vê forçado a adotar concepções que
não podem ser comprovadas pelas palavras, frases e pelo contexto da
passagem. Se alguém tem permissão para inserir subjetivamente sua teologia
como parte do processo hermenêutico, não seria novidade nenhuma constatar
que tal pessoa chegou à suposta conclusão de que o texto mostra aquilo que
foi pressuposto. Todavia, isso não é o que se pode chamar de autêntica
exegese [N. do T.: A explicação crítica do sentido de um texto a partir do
próprio texto e de seu contexto]; pelo contrário, trata-se de um artifício muito
utilizado, o qual foi pejorativamente denominado de eisegese [N. do T.: A
explicação do “sentido” de um texto a partir da ideia preconcebida daquele
que o interpreta, fazendo do texto um mero pretexto]. Em seu recente
comentário sobre o método de interpretação usado pelo Dr. Gentry, o Dr.
Robert Thomas acerta em cheio ao dizer: “O uso que o Dr. Gentry faz do
simbolismo é incoerente e contraditório. A inclusão de um fator preconcebido
no processo interpretativo inevitavelmente levará a extremos de abuso
hermenêutico inimagináveis”.4 O mesmo pode ser dito de todas as
interpretações preteristas tanto do texto de Mateus 24, quanto de grande parte
das Escrituras.
Lidando com as figuras de linguagem
Quando estudo as figuras de linguagem do Antigo Testamento que,
segundo os preteristas, representam o desaparecimento de um grande poder
político, eu me pergunto: Como é que eles desvendam o significado das
figuras originais do texto? Não vejo nenhuma base textual para uma
concepção preterista no Antigo Testamento nem no texto de Mateus 24. Não
há nenhuma passagem bíblica que fundamente o uso preterista dessas figuras
de linguagem. Em 1857, o reverendo D. D. Buck fez as seguintes
considerações sobre a interpretação de Mateus 24.29 que até hoje são válidas:
1) O uso de linguagem metafórica implica um conhecimento ou conceito daquilo
que seria entendido se tal linguagem fosse empregada literalmente. Ninguém
chegaria a usar uma figura sem ter em mente a realidade literal da qual a figura se
origina (...) Se dissermos que o cristianismo é o sol do mundo, isso implica que
temos um conhecimento prévio da realidade e da natureza do sol.
2) Mas, então, de onde surgiu esse antigo uso figurado do escurecimento dos
luminares? A partir de quando se tornou comum entre os profetas a prática de se
referir a juízos corriqueiros e limitados em linguagem que, todos hão de convir, no
seu sentido literal se aplicaria ao juízo geral? Como foi que passou a ser usual o
costume de se referir metaforicamente ao escurecimento do sol, da lua e das
estrelas, bem como ao desaparecimento dos céus? As figuras são a sombra do que é
literal. Onde está o corpo sólido que origina a sombra? As metáforas pedem
emprestado do modo de falar literal. Onde está o modo de falar literal e a revelação
do conceito literal desse escurecimento da luminosidade dos céus e da decadência
do mundo?
3) Essa questão precisa ser resolvida por aqueles que se apropriam de todas as
referências feitas a esses grandiosos acontecimentos, para articulá-las de modo
figurado. Será que eles poderiam fazer o favor de nos dizer onde existe em toda a
Bíblia um único lugar em que o literalista possa colocar seus pés para se levantar
em defesa da ortodoxia e para explicar a normalidade de tal linguagem que
demonstra se referir ao Dia do Juízo?5

Comparando a Bíblia com a Bíblia


O texto de Lucas 21.24 diz: “Cairão a fio de espada e serão levados
cativos para todas as nações; e, até que os tempos dos gentios se completem,
Jerusalém será pisada por eles”. Essa passagem apresenta um resumo da
história de Jerusalém, desde o momento da destruição da cidade até a
redenção de Israel na Segunda Vinda de Cristo (Lucas 21.25-28). De acordo
com Lucas 21.25, a ocasião em que o sol e a lua escurecerão acontecerá após
se completarem “os tempos dos gentios”. O fato de que o “escurecimento”,
referido em Mateus 24.29, ocorrerá obrigatoriamente no fim dos tempos dos
gentios, “logo em seguida à Tribulação daqueles dias...”, demonstra,
claramente, que esse acontecimento não pode ter se cumprido no primeiro
século d.C., visto que, conforme Lucas 21.24, a destruição da Santa Cidade
pelos romanos marcou o início desse período de tempo que já dura quase
2.000 anos. Esse acontecimento tem de ocorrer no futuro e se dará na mesma
ocasião em que o Senhor, ao invés de executar juízo contra Seu povo (como
aconteceu a Israel no ano 70 d.C.), livrará o povo judeu.
A continuidade de uma interpretação preterista dessa passagem produz
tremendas contradições entre o texto em questão e o registro histórico do
cerco de Jerusalém pelos romanos. O reverendo Richard Shimeall expõe a
incongruência da interpretação preterista nos seguintes termos:
Portanto, o cerco de Jerusalém, em termos históricos, culminou no seguinte:
1) O sumo sacerdote da nação judaica e seus partidários foram mortos; além disso,
todo corpo sacerdotal foi destituído de suas funções e, quando havia alguma
cerimônia religiosa, o culto era dirigido por algum desgraçado que os ladrões
designavam segundo lhes convinha.
2) Seu templo foi transformado em cidadela e fortaleza de um exército formado
pelos homens mais depravados, bem como pelos ladrões e assassinos mais
abomináveis que já desgraçaram a raça humana.
3) Suas “casas sagradas” (i.e., sinagogas) situadas em toda a terra de Israel foram
saqueadas e destruídas pelos Sicários cruéis e sanguinários.
4) Seus juízes e oficiais do templo ou fugiram para não serem mortos pelos
romanos, ou foram assassinados pelas gangues de ladrões da cidade, enquanto seus
nobres e ricos foram dizimados aos milhares. E, finalmente,
5) Quer na capital, quer em todos os limites territoriais da Judeia – norte, sul, leste
e oeste – as instituições religiosas e civis da nação judaica foram exterminadas, de
modo que o país foi subjugado e assolado pelos romanos ou pilhado por criminosos
organizados.
E, assim, caro leitor, a situação continuou até o fim. Esses, repito, foram os fatos
históricos do caso em questão. Contudo, nossos comentaristas relegaram algumas
das partes mais importantes da Bíblia à teoria (o argumento principal que sustenta o
conteúdo de uma hipótese) de que os governos civil e religioso do povo judeu foram
extirpados “depois” da destruição de Jerusalém!
O que este autor acrescentará? Ele alega ter resolvido a questão através de fatos
históricos incontestáveis. Se ainda existe algo a ser dito, que seja na forma do
seguinte apelo à lógica:
1. Se os luminares celestes simbolizam as autoridades civis e religiosas dos
judeus; se o seu escurecimento simboliza a destruição dessas autoridades; e se isso
foi efetuado pelas legiões romanas, segue-se que esse acontecimento deve ter
ocorrido ou antes ou durante a Tribulação que resultou na sua ruína.
2. Contudo, visto que o propósito da guerra foi o sujeitar a nação judaica ao
controle de Roma, ou de levá-la à ruína, tal acontecimento não poderia ter
precedido essa guerra.
3. Portanto, esse acontecimento só pode ter ocorrido durante a guerra. Devo
lembrar que estamos falando do escurecimento do sol, da lua e das estrelas, como se
esse acontecimento significasse a assim chamada Tribulação Judaica pelas mãos
dos romanos. Então, repetimos que esse escurecimento só pode ter acontecido
durante a guerra. Agora, é fato inegável que essa guerra não terminou enquanto seu
propósito não foi alcançado. Também é fato irrefutável que a nação já estava em
ruínas antes que a guerra acabasse. Outro fato, ainda, é que a Tribulação predita não
diminuiu, mas continuou e, de fato, se tornou mais severa até o fim.
Assim, apresentamos a questão resolvida – histórica e logicamente – de que não
foi depois, mas, sim, durante aquele tempo de angústia que os assim chamados
luminares judaicos foram escurecidos. Além do mais, o fator decisivo nessa questão
são aquelas impressionantes palavras de Cristo, “logo em seguida à Tribulação
daqueles dias, o sol escurecerá...”, fator esse que demonstra, conclusivamente, que
nosso Senhor não se referia àquele acontecimento passado no 29º versículo desse
capítulo 24.6

NOTAS
1
Kenneth Gentry, publicado na obra de Thomas Ice e Kenneth L. Gentry, Jr., The Great Tribulation:
Past or Future?, Grand Rapids: Kregel, 1999, p. 55.
2
Gentry, na obra de Ice e Gentry, Great Tribulation, p. 55.
3 Gentry in Ice and Gentry, Great Tribulation, p. 56.
4
Robert L. Thomas, “New Evangelical Hermeneutics and Eschatology”, Um ensaio apresentado no
12º Annual Pre-Trib Study Group, Irving, TX, 8 de dezembro de 2003, p. 32.
5
D. D. Buck, Our Lord’s Great Prophecy, Nashville: South-Western Publishing House, 1857, p. 229.
6 Richard Cunningham Shimeall, Christ’s Second Coming: Is It Pre-Millennial or Post Millennial?,
Nova York: John F. Trow and Richard Brinkerhoff, 1866, p. 157-59.
Parte 23

“Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol


escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados” – Mateus 24.29.
Na continuação de minha exposição do versículo 29, é
importante ressaltar que já verificamos o alto grau de
impossibilidade de que essa passagem tenha se
cumprido há aproximadamente 2.000 anos por ocasião
da destruição de Jerusalém imposta pelos romanos.
Então, a que se referem o escurecimento do sol, da lua
e outros fenômenos cósmicos? Será que Cristo em Sua
descrição fazia alusão a um episódio físico e real ou
simplesmente usava uma linguagem simbólica para
descrever outra realidade?
Precisamos ter em mente que a afirmação de Cristo
nessa passagem contém quatro frases descritivas. A
primeira descreve o escurecimento do sol; a segunda
descreve a lua que cessa de refletir a luz; a terceira
descreve a queda das estrelas do firmamento; e a
quarta, descreve o abalo dos poderes celestiais.

O Escurecimento do Sol

Vimos anteriormente que os intérpretes preteristas, como o Dr. Kenneth


Gentry, não acreditam que o sol referido nesse texto é literalmente o sol no
sentido físico, mas é uma mera figura que simboliza algo que ocorreu no
primeiro século d.C. Ele crê que “isso retrata o histórico juízo divino através
da figura de uma catástrofe universal”.1 Que significado Gentry atribui a essa
figura de linguagem? “Eu alegaria que essa passagem faz referência ao
colapso geopolítico de Israel no ano 70 d.C. (...) à catástrofe nacional descrita
em termos de uma destruição cósmica”.2 Meu contra-argumento naturalmente
é o de que sol, nesse contexto, tem de se referir ao corpo celeste físico que
brilha no céu. Nesse caso, é evidente que acontecimentos descritos no
versículo 29 ainda não se cumpriram na história e devem se referir a um
tempo futuro.
Antes de avançarmos nesta análise, vamos examinar, dentre as 164
ocorrências da palavra “sol” na Bíblia, quantas vezes ela foi usada como um
símbolo ou figura de linguagem e não para designar o sol em seu sentido
físico. Existem cinco usos possíveis do termo “sol” como um símbolo na
Bíblia (Gn 37.9; Sl 84.11; Jr 15.9; Ml 4.2; Ap 12.1). Nos textos de Gênesis
37.9 e Apocalipse 12.1, o sol é usado como um símbolo de Jacó, o patriarca
de Israel. O Salmo 84.11 declara que “...o Senhor Deus é sol e escudo...”,
numa comparação do atributo de Deus com o sol. O profeta Jeremias se
refere à morte de uma mãe e de seus sete filhos durante a invasão do exército
inimigo nos seguintes termos: “...pôs-se-lhe o sol quando ainda era dia...”
(Jr 15.9). O profeta Malaquias descreve o Messias, em Sua vinda, como
Aquele que é “...o sol da justiça, trazendo salvação nas suas asas... (Ml 4.2).
Qualquer pessoa pode comprovar que, em cerca de 97 por cento de suas
ocorrências bíblicas, a palavra “sol” designa o corpo celeste físico que brilha
ininterruptamente no céu. Das cinco vezes em que o termo foi usado
simbólica ou figuradamente, não houve sequer uma que se referisse a
qualquer “catástrofe universal”, como sugeriu o Dr. Gentry. O Dr. Gentry e
outros preteristas, como ele, precisam transformar as descrições de Mateus
24.29, Isaías 13.10, e Joel 2 e 3 em símbolos imateriais, visto que neste
universo criado por Deus tais ocorrências catastróficas não aconteceram
durante os fatos que se deram em 70 d.C. Não há elementos no texto de
Mateus 24 que apóiem essa concepção de que o sol, a lua e as estrelas sejam
meros símbolos de algum outro acontecimento no plano natural. Pelo
contrário, o contexto dessa passagem confirma que os fenômenos físicos
relacionados com o sol, a lua e as estrelas, são alterações cósmicas que
ocorrerão na conjuntura da volta do nosso Senhor.
É razoável que os céus e a terra sejam fisicamente abalados no fim da
história pelo pecado da raça humana, assim como a natureza sofreu alterações
físicas a partir do momento em que o ser humano caiu em pecado no começo
da história. Através da perspectiva de interpretação literal das Escrituras,
chega-se à conclusão de que os livros de Gênesis e Apocalipse relatam
detalhadamente o começo e o fim da história. O livro de Apocalipse
menciona a dimensão do abalo dos céus e da terra sob o juízo de Deus. Assim
como o dilúvio ocorrido nos dias de Noé produziu efeitos físicos, assim
também o juízo da tribulação, antes da volta de Cristo, há de produzir. Franz
Delitzsch com muita propriedade comenta o seguinte: “Até mesmo a natureza
se veste com a cor da ira, uma cor que é absolutamente oposta à luz”.3
Creio que o Dr. Gentry interpreta várias ocorrências da história bíblica,
ainda que de proporções menores, como acontecimentos literais. Obviamente
esses outros acontecimentos não colocam sua concepção preterista em risco.
É preciso levantar a seguinte pergunta: Será que durante a nona praga de
juízo o sol literalmente parou de brilhar sobre a terra do Egito, enquanto na
terra de Gósen havia luz solar (Êx 10.21-29)? É claro que sim! Será que no
caso de Josué, capítulo 10, o sol se deteve literalmente por quase um dia
inteiro? Pode apostar que sim! Será que o Senhor fez o sol retroceder dez
graus no relógio de Acaz durante os dias do rei Ezequias (2 Reis 20)? Sim,
sem sombra de dúvida! Por semelhante modo, durante a crucificação do
Senhor Jesus, será que houve realmente trevas sobre toda a terra de Israel
desde a hora sexta até a hora nona (Lucas 23.44-45)? Certamente que sim!
Foi uma mostra do último escurecimento que se dará junto com o juízo final
na consumação do século. “Quando Ele morreu, o sol se recusou a brilhar (Lc
23.45). Quando Ele voltar, o sol não brilhará (Mt 24.29)”.4 Por que um
fenômeno sobrenatural e grandioso não poderia acontecer junto com a volta
gloriosa do nosso Senhor? Só mesmo uma mentalidade cética afirmaria que o
cumprimento literal de Mateus 24.29 é impossível. Afinal, Deus declarou em
Gênesis 1.14 que um de Seus propósitos para o sol, a lua e as estrelas é o de
servir como “sinais” nos céus. Seria um absurdo considerar que essas
referências ao sol, à lua e às estrelas devem ser interpretadas como meros
símbolos sem nenhuma relação física. Por que Aquele que criou os céus e a
Terra não usaria os céus para refletir Seu juízo global contra um mundo
pecaminoso? O Senhor Jesus Cristo demonstrará Seu efetivo governo sobre
toda a Sua criação, inclusive sobre o sol, a lua e as estrelas, na ocasião da Sua
volta ao planeta Terra. Delitzsch afirma: “Quando Deus se ira, a essência da
ira começa seu curso no mundo natural, com especialidade nos astros que
foram criados ‘para sinais’ (compare Gn 1.14 com Jr 10.2)”.5 Pode haver
objeções nas mentes humanas a essas manifestações celestes, contudo, tal
problema não existe na Bíblia.
Isaías 13.10
Já que a necessidade é a mãe da inventividade, Gentry e outros intérpretes
preteristas precisam criar novos significados para palavras e frases que não
favorecem a concepção preterista em nenhum dos contextos. O Dr. Gentry
declara: “O capítulo 13 de Isaías faz referência a acontecimentos
extraordinários que ocorreram por ocasião da queda de Babilônia na época do
Antigo Testamento”.6 Ele está correto quando diz que o texto de Mateus
24.29 faz alusão ao texto de Isaías 13.10, algo que todos os comentaristas
bíblicos reconhecem. Também está correto em dizer que a profecia de Isaías
se refere à queda de Babilônia. Entretanto, como é típico dos preteristas, ele
se equivoca acerca do momento em que esse acontecimento se cumpriria na
história. Ele acredita que isso já aconteceu nos tempos do Antigo Testamento,
ao passo que eu e a maioria dos futuristas cremos que isso ainda se
desdobrará no contexto dos acontecimentos que marcarão a tribulação
vindoura.
No contexto imediato dessa passagem, Isaías adverte por duas vezes que
“...está perto o Dia do Senhor” (Is 13.6) e que “...vem o Dia do Senhor” (Is
13.9). A cronologia dos acontecimentos descritos no versículo 10 diz respeito
ao momento em que o Dia do Senhor ocorrerá na história. Eu creio que as
Escrituras mostram que o Dia do Senhor acontecerá junto com a
septuagésima semana de Daniel, também conhecida como a Tribulação de
sete anos.7 O entendimento geral que uma pessoa tem sobre o Dia do Senhor
influenciará sua concepção da cronologia de cumprimento desse e de muitos
outros textos bíblicos. Jesus faz referência ao texto de Isaías 13.10 em
Mateus 24.29 (também em Marcos 13.24) e desse modo situa
cronologicamente essa passagem num momento muito próximo da
Tribulação (i.e., “logo em seguida”). Entretanto, o Dr. Gentry situa os
acontecimentos descritos em Isaías 13.2-16 “na época do Antigo
Testamento”, a saber, centenas de anos antes da Primeira Vinda de Cristo.
Isso cria um sério conflito cronológico entre a época em que o Dr. Gentry
acredita que o texto de Isaías 13.2-6 se cumpriu e o momento em que o
Senhor Jesus declarou que esse texto se cumpriria. Eu prefiro ficar do lado de
Jesus nessa questão.
Há outros problemas com a concepção do Dr. Gentry sobre a passagem de
Isaías 13. O texto de Isaías 13.10-11 declara: “Porque as estrelas e
constelações dos céus não darão a sua luz; o sol, logo ao nascer, se
escurecerá, e a lua não fará resplandecer a sua luz. Castigarei o mundo por
causa da sua maldade e os perversos, por causa da sua iniquidade; farei
cessar a arrogância dos atrevidos e abaterei a soberba dos violentos”. Esta
expressão “o sol, logo ao nascer, se escurecerá”, registrada no versículo 10,
no contexto em que se encontra requer uma interpretação literal, não
simbólica. Se esse texto simbolizasse a ruína de uma nação, por que o profeta
mencionaria o nascimento do sol, ainda que o sol se escurecesse logo depois?
Não, esse modo de falar se refere ao autêntico movimento solar e a outros
acontecimentos reais.
Os acontecimentos de proporções mundiais preditos no versículo 10 fazem
sentido porque o versículo 11 afirma que o Senhor castigará “o mundo por
causa da sua maldade”. A palavra hebraica traduzida por mundo é tebel, cujo
significado “transmite a noção cósmica ou global [...] i.e., a Terra inteira ou o
mundo considerado como um único elemento”.8 Delitzch comenta o seguinte:
“Em vez da palavra hebraica eretz, aqui encontramos a palavra tebel que
sempre é usada como um nome próprio (i.e., nunca ocorre com o artigo) para
denotar a terra em toda a sua circunferência”.9 O âmbito dessa passagem
(versículos 2-16) é nitidamente global, o que exige um cumprimento ainda
futuro e desbanca a interpretação do Dr. Gentry de cumprimento local,
simbólico e passado. Ao comentar os versículos 9-13, G. W. Grogan supõe o
seguinte: “A esta altura, essa sentença de juízo, pronunciada contra uma
grande potência mundial do futuro, começa a se expandir para abranger o
mundo inteiro. A passagem de Mateus 24 mostra o modo semelhante pelo
qual Jesus relacionou um juízo local que sobreviria à Jerusalém com os
tremendos acontecimentos que antecederão o Seu segundo advento e a
consumação do século”.10
O versículo 13 é uma declaração significativamente clara que confirma o
sentido não-simbólico [i.e., literal] do versículo 10. “Portanto, farei
estremecer os céus; e a terra será sacudida do seu lugar, por causa da ira do
Senhor dos Exércitos e por causa do dia do seu ardente furor” (Is 13.13). A
expressão “farei estremecer os céus” relembra os feitos do Senhor descritos
no versículo 10, que, por sua vez, são mencionados pelo Senhor Jesus no
texto de Mateus 24.29. Grogan explica isso da seguinte maneira:
O versículo 13 parece ir além do versículo 10 na descrição dos efeitos do juízo
divino sobre o universo físico. É preciso haver uma convulsão geral em toda a
estrutura da criação (cf. 34.4). Nesse sentido, a instabilidade estrutural que perdura
desde a queda do homem no pecado ficará exposta (como se pode ver em vários
sinais da vinda de Cristo preditos em Marcos 13), revelando, assim, a necessidade
daquela ordem eternamente estável que caracterizará o reino de Deus quando aqui
for estabelecido na ocasião da vinda de Cristo.11

Conclusão
Após examinarmos as quatro primeiras afirmações de Mateus 24.29 sobre
a volta do Senhor, percebemos que a esmagadora evidência pesa em favor de
uma interpretação futurista da passagem. Com toda a sinceridade digo que os
intérpretes preteristas não têm nenhuma base de sustentação nesse texto.
Assim como o capítulo 24 de Mateus não significa o que eles afirmam, assim
também o capítulo 13 de Isaías não significa o que eles alegam. O Dr. Gentry
e outros preteristas como ele precisam manipular o texto de Isaías 13 para
criar um tipo imaginário do Antigo Testamento que não encontra nenhum
respaldo no próprio texto. É evidente que se as passagens de Mateus 24 e
Isaías 13 forem interpretadas de acordo com o que era a intenção do autor
bíblico, chegar-se-á à conclusão de que o sentido desses textos é futurista,
não preterista. Maranata!11
NOTAS
1
Kenneth Gentry in Thomas Ice e Kenneth L. Gentry, Jr., The Great Tribulation: Past or Future? ,
Grand Rapids: Kregel, 1999, p. 55.
2 Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 77.
3
F. Delitzsch, “Isaiah”, vol. VII, na obra de C. F. Keil e F. Delitzsch, Commentary on the Old
Testament in Ten Volumes, Grand Rapids: Eerdmans, 1975, p. 299-300.
4
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, Bowling Green: Renaissance Press, 1978,
vol. 3, p. 312.
5
Delitzsch, “Isaiah”, p. 300.
6
Gentry, Perilous Times, p. 77.
7
Para ler uma excelente explicação e defesa de meu ponto de vista, veja, J. Randall Price, “Old
Testament Tribulation Terms”, publicado na obra de Thomas Ice e Timothy Demy, orgs., When the
Trumpet Sounds, Eugene, OR: Harvest House, 1995, p. 57-83. Embora esta última obra não seja
mais publicada, o mesmo artigo pode ser encontrado na obra de Thomas ICE e Timothy Demy, orgs.,
The Return: Understanding Christ’s Second Coming and The End Times, Grand Rapids: Kregel,
1999, p. 27-53.
8 Willem A. VanGemeren, Gen. Ed., New International Dictionary of Old Testament Theology &
Exegesis, 5 vols., Grand Rapids: Zondervan 1997, vol. 4, p. 272-73.
9
Delitzsch, “Isaiah”, p. 300-01.
10
G. W. Grogan, “Isaiah”, The Expositor’s Bible Commentary, vol. 6, Grand Rapids: Zondervan
Publishing House, 1986, p. 101.
11
Grogan, “Isaiah”, p. 102.
Parte 24

“Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol


escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados” – Mateus 24.29.
Eu mencionei que essa passagem apresenta quatro
frases descritivas. A primeira descreve o
escurecimento do sol; a segunda descreve a lua que
não reflete a sua luz; a terceira descreve as estrelas que
caem do céu; a quarta descreve o abalo dos poderes
celestes. Tratamos anteriormente do escurecimento do
sol e vimos que tanto Jesus quanto Isaías (Is 13.10)
pretendiam que os leitores entendessem as referências
feitas nesse texto como acontecimentos físicos, não
como figuras de linguagem que simbolizam
ocorrências espirituais ou metafísicas.

A Poesia Hebraica

Os opositores da interpretação literal frequentemente equiparam o uso


bíblico da estrutura poética com uma interpretação não-literal, o que é uma
concepção errônea.
Eu me lembro de uma aula que tive sobre os profetas menores quando
estava na faculdade. Ao analisarmos o livro de Jonas, meu professor de
tendência liberal afirmou que em virtude do estilo poético do capítulo 2 os
acontecimentos ali descritos não deveriam ser interpretados de modo literal.
Devo salientar que o capítulo 2 do livro de Jonas relata o episódio em que o
profeta Jonas se encontrava no ventre do grande peixe. Essa linha de
argumentação absurda prova ser um equívoco quando se faz uma comparação
com outros textos da própria Bíblia. Há muitos acontecimentos que
ocorreram no passado e outros que ainda ocorrerão no futuro cuja descrição
na Bíblia é feita com o uso de algum estilo poético hebraico. Muitos fatos
históricos são mencionados nos Salmos e sabe-se que todos os Salmos foram
escritos dentro da estrutura da poesia hebraica. Até mesmo no que diz
respeito à história dos Estados Unidos da América, algumas de nossas
maiores obras literárias fazem uso de expressões poéticas para comunicar
fatos históricos. Basta apenas considerar algumas dessa obras, como, por
exemplo, The Midnight Rides of Paul Revere ou Captain, My Captain. O
gênero poético hebraico sempre é mais expressivo e vívido do que a prosa ou
a narrativa, o que não quer dizer que seja menos real ou histórico. Será que o
cântico de Moisés e Miriã (Êx 15) não mencionava fatos históricos que
tinham acabado de ocorrer a Israel no seu Êxodo do Egito, ainda que tenham
sido expressos de forma poética? Só porque o capítulo 13 de Isaías e muitas
outras passagens proféticas referentes ao Dia do Senhor se encontram num
estilo poético, não significa que não tratem de acontecimentos literalmente
históricos.
Sem a claridade da lua
Em Seu discurso, Cristo declara que junto com o escurecimento do sol,
“...a lua não dará a sua claridade”. Do ponto de vista físico isso é coerente,
pois, se o sol não emanar sua luz, a lua obrigatoriamente não brilhará, uma
vez que a lua não possui luz própria, mas simplesmente reflete a luz do sol.
Pela lei física de causa e efeito sabemos que se o sol escurecer, a lua também
escurecerá. Tal fato comprova que a intenção de Jesus em Mateus 24.29 deve
ser interpretada de modo literal. Robert Govett acerta em cheio ao declarar:
“Nenhuma prova se faz necessária por parte daqueles que interpretam essas
palavras literalmente; pelo contrário, o ônus da prova é fundamentalmente
daqueles que afirmam que devemos interpretá-las de modo simbólico”.1
Outro autor sugere que essa descrição deve ser interpretada literalmente
porque “em outra parte do capítulo 24, os dramáticos acontecimentos –
guerras, fomes, terremotos – foram preditos como algo literal”.2
A linha básica de raciocínio e os argumentos que foram usados para
demonstrar que a menção ao sol feita anteriormente por Cristo é uma
referência de natureza física que também se aplica à menção que Ele fez à lua
nesse contexto. Uma vez que o sol e a lua estão intrinsecamente relacionados,
assim como todas essas quatro frases descritivas, a conclusão óbvia é a de
que se o sol deve ser interpretado literalmente, a referência à lua também o
deve ser. Leon Morris comenta o seguinte:
Naquele dia, não haverá nenhuma fonte de luz aqui na terra. Isso é coerente com o
que sucederá ao sol, à lua e às estrelas, visto que “os poderes dos céus serão
abalados” [...] tudo o que esses corpos celestes estiverem fazendo naquele momento
será afetado pelo extraordinário fato da volta do Filho do Homem a este mundo para
por um fim ao atual sistema e inaugurar o reino de Deus sobre toda a Terra.3

A luminosidade das estrelas


A terceira das quatro predições descritivas que se cumprirão “logo em
seguida à tribulação daqueles dias” é a de que “as estrelas cairão do
firmamento”. Todos esses acontecimentos farão parte da preparação para a
Segunda Vinda de Cristo que é descrita no versículo 30. Esse escurecimento
celeste proporcionará um perfeito fundo de cena para o refulgente retorno de
Jesus Cristo ao planeta Terra a fim de estabelecer Seu reino de mil anos.
Os intérpretes preteristas, tais como Gary DeMar, não consideram que essa
passagem descreva o pano de fundo da volta pessoal e física de Cristo a
Jerusalém. “Quando a ‘tribulação daqueles dias’ se consumasse, o fim do
templo e da cidade estaria próximo”, afirmou DeMar. “À medida que a hora
do juízo contra Jerusalém estivesse cada vez mais próxima, alguns outros
sinais se manifestariam. Esses últimos sinais retratam a queda das nações e
dos reinos”.4
Quanto às estrelas referidas nessa passagem, DeMar acredita que elas
“simbolizam povos e nações. O povo de Israel fora representado por estrelas
(Gn 22.17; 26.4; Dt 1.10)”.5 Outra vez, levanta-se a pergunta: Cristo se
referia a um acontecimento literal ou figurado? Mesmo que fosse uma figura
de linguagem, o que eu não creio que seja, a concepção proposta por DeMar
não estaria obrigatoriamente correta. Em tese, as estrelas poderiam ser usadas
figuradamente e ainda assim dizerem respeito ao segundo advento de Cristo.
Por que essa frase descritiva também deve ser interpretada literalmente, como
ocorre no caso do sol e da lua?
A queda das estrelas na terra
O texto diz: “as estrelas cairão do firmamento”. A passagem não
menciona que as estrelas cairão na Terra. Entretanto, essa é a maneira pela
qual DeMar sutilmente tenta associá-la com o texto de Apocalipse 6.13, que
diz: “as estrelas do céu caíram pela terra”. DeMar pergunta: “Como as
estrelas poderiam cair na terra e esta ainda assim sobreviver?”.6
Em primeiro lugar, o termo grego aster, traduzido por “estrela”, pode se
referir a estrelas que se encontram fisicamente no céu (Mt 2.2,7,9-10) ou
pode ser usada no sentido figurado para simbolizar pessoas e anjos (Jd 13; Ap
8.10-11; 9.1). Em segundo lugar, é fato que estrelas literalmente caem na
Terra. Elas se chamam “estrelas cadentes”, “cometas” ou “meteoros”. O
termo grego traduzido por estrela também pode ser usado nesse sentido.7 “A
palavra ‘estrela’ (do grego aster) se refere a qualquer corpo celeste luminoso
além do sol e da lua”.8 As estrelas que caem na terra geralmente se
desintegram queimadas pelo fogo ao passarem pela atmosfera terrestre.
Robert Gundry declarou: “A queda das estrelas se refere a uma chuva de
meteoritos”.9
Diversos comentaristas da Bíblia consideram essas estrelas cadentes como
meteoritos. O erudito em língua grega, Kenneth Wuest, traduz o texto de
Apocalipse 6.13 desta maneira: “Os meteoros do céu caíram na terra”.10
Grant Osborne diz o seguinte: “O fundo de cena é uma imensa chuva de
meteoros”.11 Com relação ao significado do termo “estrela”, Robert Thomas
declara: “Seu significado é suficientemente amplo para incluir objetos
menores que de tempos em tempos se deslocam rapidamente pelo espaço [...]
uma imensa chuva de meteoros que invade a atmosfera terrestre”.12 Kendell
Easley afirma o seguinte: “Nós estamos falando de ‘estrelas cadentes’ ou
‘meteoros incandescentes’ que emanam de uma chuva de meteoros”.13 “A
identificação mais provável é a de que as referidas estrelas cadentes sejam
uma quantidade enorme de asteróides que colidem contra a Terra”, alega
Henry Morris.14
Além disso, a descrição feita em Apocalipse 6.13 da queda das estrelas na
Terra não quer dizer o esvaziamento dos céus pela completa derrubada de
todos os seus componentes estelares. É um acontecimento parcial
demonstrado por esta parte do versículo que diz: “...como a figueira, quando
abalada por vento forte, deixa cair os seus figos verdes”. Robert Govett
explica o seguinte:
Nem todas as estrelas serão derrubadas na Terra, como a figura
comparativa parece demonstrar. A queda dessas estrelas assemelha-se à
queda dos figos prematuros de uma figueira que é fortemente agitada durante
a ventania. O fruto mencionado nesse texto é o figo de inverno que surge com
atraso no verão, quando é tarde demais para amadurecer, e que perde seu
vínculo de sustentação com a árvore durante as rigorosas mudanças
climáticas do fim do ano. Dessa forma, o figo verde é facilmente derrubado
por qualquer vento que agite com mais força os galhos da árvore.15
Pela descrição de Apocalipse 6.12-17, a queda das estrelas na Terra fará
com que as pessoas se escondam nas cavernas.
O sexto selo de juízo, predito nessa passagem, não é uma referência
correlata do texto de Mateus 24.29, embora algumas frases de ambas as
passagens sejam semelhantes. O contexto é totalmente diferente. O sexto selo
de juízo descreve um julgamento parcial que não abrange a Segunda Vinda.
O texto de Mateus 24.29 prediz um black-out total do sol, da lua e das
estrelas, seguido pela Segunda Vinda de Cristo. Ainda que DeMar tente
equiparar essas passagens bíblicas,16 há diferenças mais do que suficientes
para tornar essa correlação injustificável. Apocalipse 6.13 é a única passagem
que faz referência à queda das estrelas na Terra. Os outros textos bíblicos que
fazem alusão a estrelas literais, entre os quais se incluem Mateus 24.29 e
Marcos 13.24-25, declaram apenas que as estrelas cairão do firmamento,
porém não fazem nenhuma referência à sua queda na Terra. É dessa forma
que o juízo do sexto selo se cumprirá literalmente.
Apocalipse 12
DeMar também mostra que Apocalipse 12.4 é uma passagem que se refere
a estrelas literais, tal como cremos. Ao mencionar o grande dragão vermelho
(i.e., Satanás), o texto afirma: “A sua cauda arrastava a terça parte das
estrelas do céu...”. DeMar declara: “Por outro lado, o impacto da ‘terça parte
dos meteoritos do céu’ exerceria um efeito devastador em nosso planeta. A
Terra deixaria de existir. Os cientistas já chegaram a especular que a colisão
de um único meteorito contra a Terra pode ter produzido destroços
suficientes para ‘por fim ao domínio dos dinossauros no planeta’”.17
Não nos surpreende que DeMar utilize uma hipótese evolucionista para
defender sua interpretação naturalista. Contudo, nós intérpretes literalistas
não cremos que o versículo 4 se refira a estrelas no sentido físico. Já
mencionei anteriormente que a palavra “estrela” pode ser usada tanto em
referência a estrelas físicas encontradas no céu quanto como símbolo de uma
entidade pessoal ou personalidade. DeMar omite de seus leitores aquilo que é
dito alguns versículos depois, a saber: “E foi expulso o grande dragão, a
antiga serpente, que se chama diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo,
sim, foi atirado para a terra, e, com ele, os seus anjos” (Apocalipse 12.9). O
texto de Apocalipse 12.4 usa o termo “estrelas” como símbolo de anjos
(conforme também ocorre em Jó 38.7), nesse caso, porém, numa referência a
anjos que caíram em pecado, porque o versículo 9 repete o que foi dito no
versículo 4, mas faz uso do termo não-simbólico “anjos”. Robert Thomas
comenta o seguinte:
As estrelas devem ser uma referência àqueles anjos que caíram em pecado junto
com Satanás na história passada. Isso se comprova pelas semelhanças que existem
entre este versículo e o texto de Daniel 8.10, onde a expressão “o exército dos céus”
é uma nítida referência a anjos. No próprio livro de Apocalipse uma estrela já foi
usada para retratar um anjo (cf., Ap 9.1). Esse fator, junto com a referência aos
anjos de Satanás em Apocalipse 12.8-9, dá mais credibilidade a essa interpretação.18
DeMar obviamente precisa ofuscar e deturpar o ponto de vista dos outros
intérpretes para dar a aparência de que sua opinião a respeito merece algum
crédito. Maranatha!
NOTAS
1
Robert Govett, The Prophecy on Olivet, Miami Springs, FL: Conley & Schoettle Publishing Co.,
(1881), 0
2 W. D. Davies e Dale C. Alisson, Jr., A Critical and Exegetical Commentary on The Gospel
According to Saint Matthew, 3 vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1997, vol. 3, p. 358, nota de rodapé
200.
3 Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992, p. 609-10.
4 Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 142.
5 DeMar, Last Days Madness, p. 143.
6 DeMar, Last Days Madness, p. 142.
7 Henry George Liddell e Robert Scott, A Greek-English Lexicon, Oxford England: Oxford Press,
1968, veja o vocábulo “aster”, p. 261.
8 Henry M. Morris, The Revelation Record, Grand Rapids: Baker, 1983, p. 122.
9 Robert H. Gundry, Matthew: A Commentary on His Handbook for a Mixed Church under
Persecution, 2ª Ed, Grand Rapids: Eerdmans, 1994, p. 487.
10 Kenneth S. Wuest, The New Testament: An Expanded Translation, Grand Rapids: Eerdmans, 1961,
p. 597.
11 Grant R. Osborne, Revelation, Grand Rapids: Baker, 2002, p. 292.
12 Robert L. Thomas, Revelation 1–7: An Exegetical Commentary, Chicago: Moody, 1992, p. 454.
13 Kendell H. Easley, Revelation, Nashville: Holman Reference, 1998, p. 111.
14 Morris, Revelation Record, p. 122.
15 Robert Govett, Govett on Revelation, 2 vols., Hayesville, NC: Schoettle Publishing, (1861), 1981,
vol. 1, p. 216.
16 DeMar, Last Days Madness, p. 142-43.
17 DeMar. Last Days Madness, p. 143.
18
Robert Thomas, Revelation 8–22: An Exegetical Commentary, Chicago: Moody, 1995, p. 124.
Parte 25

“Logo em seguida à tribulação daqueles dias, o sol


escurecerá, a lua não dará a sua claridade, as estrelas
cairão do firmamento, e os poderes dos céus serão
abalados” – Mateus 24.29.
A última frase do versículo 29 diz: “...e os poderes
dos céus serão abalados”. Será que essa frase precisa
ser interpretada literalmente, à exemplo das três frases
anteriores, ou deve-se empregar uma exegese
especulativa para que ela signifique algo diferente do
que diz? A que se refere essa expressão “poderes dos
céus”? Seria uma referência a seres angelicais ou se
refere ao universo físico?

Os Poderes dos Céus

A mesma expressão básica ocorre nos três relatos do discurso do Monte


das Oliveiras (Mt 24.29; Mc 13.25; Lc 21.26). É muito provável que a
expressão “poderes dos céus” seja uma alusão “ao sol, à lua, e às estrelas,
feita de maneira resumida”, pelo fato de já terem sido especificamente
mencionados nesse versículo. Leon Morris declara o seguinte: “O termo céu
é usado no singular quando se refere às estrelas, mas ocorre no plural quando
diz respeito a outros corpos celestes”.1 “Dessa forma o Senhor descreve o
abalo dos astros celestes, tal como a Terra é sacudida num terremoto”.2 Em
nenhuma parte da Bíblia a expressão “poderes dos céus” é usada para se
referir a seres angelicais3, nem o contexto dessa passagem apóia tal
concepção. Uma vez que as três frases anteriores estão relacionadas com os
luminares que preenchem o céu, essa última frase é uma síntese do coletivo.
“O que quer que sejam os poderes dos céus, Jesus está dizendo que eles estão
sujeitos a Deus e no momento exato da volta do Filho do Homem à Terra eles
serão abalados”.4 Esses “poderes dos céus” também parecem implicar um
decreto de estabilidade determinado por Deus, através do qual os elementos
celestes funcionam dentro de parâmetros regulares. John MacArthur explica:
Todos os elementos energéticos, aqui denominados de “poderes dos céus” e que
mantêm a estabilidade da ordem de tudo o que se encontra no espaço, sofrerão uma
disfunção. Os corpos celestes ficarão freneticamente desgovernados no espaço, de
modo que todos os meios de navegação, quer sejam magnéticos, solares, estelares,
ou giroscópicos, se tornarão inúteis porque todos os pontos fixos de referência e
todas forças naturais reguladoras deixarão de existir ou não serão mais confiáveis.5

Um abalo celeste
O verbo “abalar” é usado por 15 vezes no Novo Testamento Grego. Em
algumas ocorrências, esse verbo é empregado de forma metafórica, como em
2 Tessalonicenses 2.2: “...a que não vos demovais da vossa mente, com
facilidade...”. Porém, na maioria de seus usos, o termo significa abalar ou
sacudir fisicamente, a exemplo do texto de Atos 16.26: “De repente,
sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-
se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos”. No contexto de
Mateus 24.29 o Senhor Jesus se referiu a um abalo físico dos céus.
Entretanto, intérpretes preteristas como Ken Gentry não acreditam que essa
frase faça alusão a um abalo físico. Gentry declara o seguinte:
Por conseguinte, podemos legitimamente aplicar o texto de Mateus 24.29 à
destruição de Jerusalém ocorrida no ano 70 d.C. Cristo extrai essa figura dos textos
do Antigo Testamento referentes a juízo, os quais soam como se retratassem
acontecimentos da consumação do século. Em certo sentido, é a “consumação do
século” para aquelas nações contra as quais Deus exerce o Seu juízo. Esse foi o caso
de Israel no ano 70 d.C.6
A maioria dos comentaristas bíblicos admite que o abalo dos céus
mencionado nessa passagem é uma alusão derivada de Ageu 2.6, que diz:
“Pois assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda uma vez, dentro em pouco,
farei abalar o céu, a terra, o mar e a terra seca”. O que esse texto quer
dizer? No capítulo 12 de Hebreus já temos um comentário divino que
podemos consultar para saber o significado dessa passagem.
“...aquele, cuja voz abalou, então, a terra; agora, porém, ele promete,
dizendo: Ainda uma vez por todas, farei abalar não só a terra, mas também o
céu. Ora, esta palavra: Ainda uma vez por todas significa a remoção dessas
coisas abaladas, como tinham sido feitas, para que as coisas que não são
abaladas permaneçam. Por isso, recebendo nós um reino inabalável,
retenhamos a graça, pela qual sirvamos a Deus de modo agradável, com
reverência e santo temor” (Hebreus 12.26).
Nesse trecho do capítulo que pronuncia a quinta advertência divina, o autor
da Epístola aos Hebreus compara o primeiro abalo da Terra, um abalo de
natureza física ocorrido na ocasião do Êxodo, com um futuro abalo que
também abrangerá os céus. Ele também considera a passagem de Ageu 2.6. O
futuro abalo será muito mais intenso do que o abalo ocorrido no passado, já
que também envolverá os céus. Ora, se o primeiro abalo verificado na
ocasião do Êxodo foi de natureza física, o segundo também será um abalo
físico, tal como Cristo descreve em Seu discurso profético registrado em
Mateus 24. “O discurso é absolutamente claro”, comenta o intérprete
amilenista, R. C. H. Lenski, na sua concepção de que se trata de um
acontecimento físico ainda futuro. “Todo o espaço sideral entrará em colapso
[...] isso fica claro pela última frase que diz: ‘os poderes dos céus serão
abalados’ ou desconjuntados. Cessará tudo o que mantém os corpos celestes
em suas respectivas órbitas e a condição para que o sol e a lua iluminem a
Terra”.7 H. A. W. Meyer faz a seguinte observação: “Essa convulsão nos
céus, antes que de lá desça o Messias, não deve, até então, ser considerada a
consumação do século, mas apenas um prelúdio da mesma. A Terra ainda
não será destruída por essa desordem celeste”.8
Sinais nos céus
Os Evangelhos de Mateus e Marcos não relatam nenhuma afirmação de
Cristo acerca da reação da humanidade a esses terríveis acontecimentos, mas
Lucas o faz em seu Evangelho. William Kelly declara: “Lucas é o único que
menciona os sinais comportamentais da angústia dos homens apesar dos
enganos e fingimentos que caracterizarão aquele período”.9 Naquele que é
sem dúvida o mesmo contexto verificado em Mateus e Marcos, Jesus declara
o seguinte:
“Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; sobre a terra, angústia entre
as nações em perplexidade por causa do bramido do mar e das ondas;
haverá homens que desmaiarão de terror e pela expectativa das coisas que
sobrevirão ao mundo; pois os poderes dos céus serão abalados” (Lucas
21.25-26).
Somente Lucas denomina de sinais os incidentes que ocorrerão no céu
envolvendo o sol, a lua e as estrelas. Robert Stein comenta: “Os sinais
relacionados com a vinda do Filho do Homem são de natureza cósmica, ao
passo que os sinais relacionados com a destruição de Jerusalém são terrestres,
de modo que Lucas manteve a distinção entre esses dois acontecimentos”.10
Em Sua criação, um dos propósitos para os quais Deus formou o sol, a lua
e as estrelas é o de que eles sejam “...para sinais, para estações, para dias e
anos” (Gn 1.14b). Para quem esses luzeiros seriam sinais? Serão sinais para
aqueles que habitam sobre a Terra. Quando se faz uma análise dos mais
importantes acontecimentos da história, chega-se à conclusão de que em
nenhum outro acontecimento os sinais nos céus seriam tão apropriados
quanto na Segunda Vinda de Cristo em Sua descida do céu para a Terra.
O relato de Lucas
O texto de Lucas claramente se refere à destruição de Jerusalém imposta
pelos romanos no ano 70 d.C. A segunda metade do versículo 24 diz: “...e,
até que os tempos dos gentios se completem, Jerusalém será pisada por eles”
(Lucas 21.24). Também fica evidente que essa última metade do versículo 24
descreve um período de tempo que começou a partir da vitória dos romanos
sobre Jerusalém no primeiro século. Essa específica frase tem um ponto
inicial que começa a partir do ano 70 d.C. Ela evidencia um intervalo de
tempo pela expressão: “...Jerusalém será pisada por eles”. Esse versículo
também mostra o ponto final desse período quando diz: “...até que os tempos
dos gentios se completem”. Não há nenhuma chance de que esse versículo já
tenha se cumprido; além do mais, a passagem prevê um tempo em que os
acontecimentos ocorridos no ano 70 d.C. serão revertidos.
O versículo 24b propicia uma transição textual que passa do ocorrido no
ano 70 d.C. aos acontecimentos que se darão imediatamente antes da segunda
vinda de Cristo. Até mesmo um renomado intérprete preterista como F. W.
Farrar admite que nos versículos 20-24 há uma mudança de assunto que vai
da predição do que aconteceu no ano 70 d.C. para a predição da Segunda
Vinda nos versículos 25-28, a qual ele denomina de “a Última Vinda”.11 E.
H. Plumptre afirma o seguinte:
A partir desse ponto, a profecia assume uma abrangência maior e ultrapassa os
estreitos limites da destruição de Jerusalém para predizer a última vinda do Filho do
Homem, de forma que este último acontecimento é retratado em Mateus como algo
que ocorre “logo em seguida” ao primeiro acontecimento. Por conseguinte, Marcos
identifica o momento de sua ocorrência pela expressão “naqueles dias”. Essas
palavras não tinham nenhum outro significado quando foram ouvidas ou lidas pela
primeira vez.12
Nesse trecho do capítulo 21 de Lucas temos um bom exemplo daquilo que
Tim LaHaye e eu denominamos “Os Picos de Montanha da Profecia” em
nosso livro Charting The End Times [N. do T.: Esse livro foi publicado em
português pela Editora Abba Press sob o título Glorioso Retorno].13 Plumptre
oferece uma excelente explanação desse assunto na seguinte afirmação:
De certa distância, um homem contempla os picos reluzentes de duas montanhas
cobertas de neve que aparentemente estão muito próximas uma da outra, mas não se
dá conta de que, entre essas duas montanhas, há uma extensão de terra que pode
chegar a muitos quilômetros de distância. Assim aconteceu com aqueles cujas
concepções devem ter sido formadas a partir dessa predição, principalmente os
apóstolos e seus discípulos imediatos, os quais, apesar de estarem bastante
conscientes de sua ignorância acerca de “tempos ou épocas” (cf., At 1.7) para
marcarem o dia ou o ano da volta de Cristo, viveram e morreram na expectativa de
que não estava longe de acontecer, convictos de que eles podiam apressar a Sua
vinda através da oração e de seus atos (2 Pe 3.12).14
É evidente que Cristo prediz dois acontecimentos distintos no texto de
Lucas 21. Um que se cumpriu no primeiro século (Lc 21.20) e outro que
ainda aguarda seu cumprimento em tempos futuros (Lc 21.25-28). Contudo,
nem Mateus 24 nem Marcos 13 fazem qualquer menção ao ocorrido no ano
70 d.C., já que nenhuma dessas duas passagens menciona a destruição do
templo ou a destruição de Jerusalém. Pelo contrário, os relatos que Mateus e
Marcos fazem do Discurso do Monte das Oliveiras tratam nitidamente do
livramento do povo judeu, não do juízo que sobreviria a esse povo em 70 d.C.
A maioria dos intérpretes preteristas nem sequer trata desse assunto, muito
menos oferece uma resposta satisfatória ao problema em questão.
Em suma, verificamos que grandes fenômenos sobrenaturais hão de
ocorrer na ocasião da volta de Cristo ao planeta Terra. Será que isso é tão
difícil de imaginar ou de se crer? Ao que parece, para muitos é. Todavia, as
Escrituras Sagradas (tanto no Antigo Testamento quanto no Novo
Testamento) predizem que Israel seria reagrupado na sua própria terra, como
um estado nacional, numa condição de incredulidade (como hoje em dia se
pode constatar). Essa nação passará por um período denominado de “a
tribulação”, durante o qual o remanescente do povo judeu será levado a uma
conversão genuína pela fé em Jesus como seu Messias prometido. Isso, então,
provocará a Segunda Vinda de Cristo para livrar a nação recém-convertida, a
qual suplicará a proteção de Jesus contra os exércitos de todas as nações,
reunidos em Israel para aniquilar os judeus. Antes que isso ocorra, Cristo
voltará e destruirá os inimigos de Israel, dando início a Seu reino de mil anos
sediado em Jerusalém. É isso que a Bíblia declara. Nesse caso, todos aqueles
que professam ser cristãos e crêem na Bíblia deveriam dizer: “Amém!”.
Maranatha!
NOTAS
1
Leon Morris, The Gospel According to Matthew, Grand Rapids: Eerdmans, 1992.
2 Stanley D. Toussaint, Behold the King: A Study of Matthew, Portland, OR: Multnomah, 1980.
3
Ao contrário do que afirma Robert Govett, The Prophecy on Olivet, Miami Springs, FL: Conley &
Schoettle, 1881.
4
Morris, Matthew, p. 609-10. Para conhecer outras razões pelas quais não se deve interpretar esse
texto como uma referência a anjos, veja, Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical
Handbook to the Gospel of Matthew, 2 vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879.
5 John MacArthur, Matthew 24–28, The Macarthur New Testament Commentary, Chicago: Moody,
1989.
6
Kenneth L. Gentry, publicado na obra de Thomas Ice e Kenneth L. Gentry, The Great Tribulation:
Past or Future?, Grand Rapids: Kregel, 1999.
7
R. C. H. Lenski, The Interpretation of St. Matthew’s Gospel, Columbus, OH: The Wartburg Press,
1943, p. 947.
8
Meyer, Matthew, vol. 2, p. 149.
9
William Kelly, An Exposition of the Gospel of Luke, Oak Park, IL: Bible Truth Publishers, 1971.
10
Robert H. Stein, Luke, The New American Commentary, Nashville: Broadman Press, 1992.
11
F. W. Farrar, The Gospel According to St. Luke, with Maps, Notes and Introduction, Cambridge: At
The University Press, 1899.
12
E. H. Plumptre, The Gospel According to St. Luke, 12 vols., vol. 3, Ellicott’s New Testament
Commentary, Londres: Cassell & Company, sem data de publicação.
13
Tim LaHaye e Thomas Ice, Charting the End Times: A Visual Guide to Understanding Bible
Prophecy, Eugene, OR: Harvest House, 2001.
14
Plumptre, Luke, p. 345.
Parte 26

“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem;


todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho
do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória” – Mateus 24.30
A Segunda Vinda de Cristo será um acontecimento
com diversos aspectos e fases. A ideia não é
simplesmente de que Jesus aparecerá no céu e pronto,
mas sim de que haverá muitos acontecimentos
específicos que ocorrerão durante o processo de
concretização desse advento. No texto de Mateus
24.30, Cristo continua a descrever os acontecimentos
que se sucederão nesse período da história. Um dos
importantes acontecimentos que se tornarão públicos e
notórios será “o sinal do Filho do Homem” que
aparecerá no céu.

O Sinal do Filho do
Homem

No começo desse capítulo, em Mateus 24.3, os discípulos de Jesus lhe


perguntaram: “...Dize-nos quando sucederão estas coisas e que sinal haverá
da tua vinda e da consumação do século”. O texto de Mateus 24.30 responde
a pergunta sobre o sinal da vinda de Cristo.
Em primeiro lugar, é preciso salientar que o sinal da Sua vinda e a própria
vinda de Cristo são acontecimentos distintos. Com base no contexto que
antecede esse versículo, sabemos que o cenário para a Sua dramática volta
começa a ser retratado no versículo 29 com um abalo cósmico do sol, da lua e
das estrelas. Isso provocará um blackout no céu que preparará o cenário para
a manifestação do sinal do Filho do Homem, gerando na humanidade uma
reação de lamento e medo que culminará na Segunda Vinda de Cristo.
Em segundo lugar, deve-se atentar para o fato de que essa sequência de
acontecimentos se desdobrará em Jerusalém, na terra de Israel. Essa é a
localidade do planeta Terra na qual está previsto que essas coisas aconteçam,
mesmo que todos esses acontecimentos gerem um impacto mundial.
Em terceiro lugar, eu creio que o sinal do Filho do Homem será alguma
forma de manifestação da Glória Shekiná. Arnold Fruchtenbaum explica o
seguinte:
Em virtude do fato de que esse sinal está ligado à glória de Deus, é evidente que o
resplendor da Glória Shekiná sinalizará a Segunda Vinda do Messias. A Glória
Shekiná é a resposta a esta segunda pergunta feita pelos discípulos: “...que sinal
haverá da tua vinda...?”. Porém, “logo em seguida à tribulação daqueles dias”,
ocorrerá um blackout que impedirá qualquer penetração de luz, seguido de um
clarão súbito e glorioso que dissipará toda a escuridão. Esse resplendor da Glória
Shekiná será o sinal da Segunda Vinda do Messias. Após o clarão, o Messias
pessoalmente voltará à Terra.1

A glória Shekiná
Mas o que é a Glória Shekiná? Em que se baseia minha convicção de que
Jesus tinha isso em mente quando proferiu essas palavras? A Glória Shekiná
é a manifestação visível da presença de Deus, a qual geralmente aparecia na
forma de uma nuvem, de fogo, ou de ambos combinados. O termo hebraico
shekiná não ocorre no texto bíblico. Os rabinos judeus cunharam esta
expressão extra-bíblica “Glória Shekiná” para distinguir as passagens bíblicas
nas quais eles criam que uma nuvem ou luz de glória fisicamente visível
estava presente quando a palavra hebraica traduzida por “glória” foi usada.
Shekiná é uma variação da palavra hebraica que literalmente significa “fazer
habitar ou levar a habitar”, dando a entender que quando a glória de Deus
aparecia dessa forma ocorria uma visitação da presença ou da habitação de
Deus na nuvem de glória. Fruchtenbaum afirma que “a Glória Shekiná é a
manifestação visível da presença de Deus. No Antigo Testamento, a maioria
dessas manifestações visíveis assumiu a forma de luz, ou de fogo, ou de
nuvem, ou ainda, de uma combinação de todos esses elementos. Uma nova
forma aparece no Novo Testamento, a saber: A Palavra que se fez carne”.2 É
necessário fazer um levantamento das aparições da Glória Shekiná no
passado, para que se possa entender seu significado na profecia bíblica de
cumprimento futuro.
Acredita-se que os seguintes acontecimentos são manifestações da Glória
Shekiná ao longo da história:

No jardim do Éden – a presença do Senhor no jardim e a espada


flamejante (Gn 3.8,23-24).
Na Aliança Abraâmica – a tocha chamejante que passou por entre as
metades dos animais sacrificados (Gn 15.12-18).
Na sarça ardente – o fogo não consumia o arbusto (i.e., a sarça; Êx
3.1-5; 13.21-22; 14.19-20,24; 16.6-12).
No Êxodo de Israel – a coluna de nuvem durante o dia e a coluna de
fogo durante a noite (o livro de Êxodo).
No monte Sinai – os dez mandamentos escritos pelo dedo de Deus;
trovões, relâmpagos e uma espessa nuvem (Êx 19.16-20; 24.15-18; Dt
5.22-27).
No encontro especial de Deus com Moisés – o brilho reluzente no
rosto de Moisés em consequência do encontro com o Senhor (Êx
33.17-23; 34.5-9,29-35; 29.42-46; 40.34-38).
No Tabernáculo e na Arca da Aliança – a nuvem de glória da
presença de Deus sempre associada com esses dois elementos (o livro
de Êxodo).
No livro de Levítico – a autenticação da Lei e a habitação da glória
no Santo dos Santos (Lv 9).
No livro de Números – a Glória Shekiná executou juízo contra o
pecado e a desobediência (Nm 13.30–14.45; 16.1-50; 20.5-13).
Na época de Josué e dos Juízes – a habitação contínua da Glória
Shekiná no tabernáculo (1Sm 4.21-22).
No Templo de Salomão – a Glória Shekiná se transferiu do
tabernáculo para o Templo (2 Cr 5.2–7.3).
A descrição da retirada da Glória – Ezequiel observa a Glória
Shekiná no momento em que ela se retira do templo como preparação
para o juízo que sobreviria à nação de Israel (Ez 1.28; 3.12,23; 8.3-4;
9.3; 10.4,18-19; 11.22-23).
No Segundo Templo – a Glória Shekiná não estava presente nesse
templo, mas é feita a promessa de que a glória futura seria maior do
que a glória do passado (Ag 2.3,9).
Na aparição ao pastores – a glória do Senhor brilhou ao redor deles
(Lc 2.8-9).
Na Estrela de Belém – a estrela ou a nuvem de glória que guiou os
magos do Oriente até o local em que Jesus estava (Mt 2.1-12).
Em Jesus – a Glória do Senhor: A encarnação foi uma manifestação
da Glória Shekiná (Jo 1.1-14).
Na transfiguração – a Glória Shekiná apareceu aos três discípulos (Mt
17.1-8; Mc 9.2-8; Lc 9.28-36; Hb 1.1-3; 2 Pe 1.16-18; Ap 1.12-16).
No livro de Atos – as línguas como de fogo apareceram distribuídas;
uma luz que cegava brilhou sobre Paulo no momento da sua
conversão a Cristo (At 2.1-3; 9.3-8; 22.6-11; 26.13-18).
Em Apocalipse – Jesus Cristo está vestido com a Glória Shekiná no
capítulo 1 de Apocalipse (Ap 1.12-16).

O resumo a seguir menciona aqueles acontecimentos futuros que estão


relacionados com a Glória Shekiná:

Na Tribulação – a Glória Shekiná está vinculada ao juízo das taças da


ira (Ap 15.8).
Na Segunda Vinda de Cristo – a Glória Shekiná será o sinal do Filho
do Homem e será a nuvem sobre a qual Ele voltará (Mt 16.27; 24.30;
Mc 13.26; Lc 21.27).
No Milênio – a Glória Shekiná estará presente em sua mais grandiosa
manifestação na história, por causa da presença física de Cristo na
Terra (Ez 43.1-7; 44.1-2; Is 4.5-6; 11.10; 35.1-2; 40.5; 58.8-9; 60.1-3;
Zc 2.4-5; 11.10).
No Estado Eterno – a Glória Shekiná proporcionará luz para a nova
criação na qual o pecado estará totalmente ausente, de modo que Deus
o Pai, Deus o Filho, e Deus o Espírito Santo habitarão em toda a Sua
plenitude com o homem (Ap 21.1-3,10-11,23-24).3
O sinal
No versículo 30, a ordem das palavras encontrada no original grego é a
seguinte: “Então aparecerá o sinal do Filho do Homem no céu”. A
construção na língua grega reforça a probabilidade de que a passagem
signifique que o sinal do Filho do Homem aparecerá no céu ou firmamento.
O intérprete preterista Kenneth Gentry comenta que interpretar isso como um
sinal no céu, visível aos olhos humanos, tal como eu interpreto, “requer uma
reestruturação do texto”.4 O fato é que o texto não requer uma reestruturação,
apesar de muitos intérpretes futuristas darem destaque a traduções que não
conservam a ordem original das palavras. Quando se traduz um texto bíblico
do grego para o inglês (ou para qualquer outra língua) a conservação da
ordem original das palavras não é tão importante quanto fazer uma tradução
exata. Nesse ponto, Gentry utiliza um pretexto para desviar a atenção, numa
tentativa de mudar o verdadeiro significado e sentido dessa passagem. A
diferença reside na expressão “no céu”, se esta diz respeito a um sinal
invisível que ocorrerá na sala do trono de Deus localizada no céu ou se faz
alusão a um sinal que se manifestará no céu e que será visto pela
humanidade. O gramático da língua grega, Nigel Turner, declara que a
formulação de “Mateus 24.30 é ambígua, seja para denotar o sinal que é o
Filho do Homem (no caso apositivo), seja para denotar o sinal que o Filho do
Homem mostrará (no caso possessivo)”.5
Minha convicção é de que o contexto argumenta em favor de uma
interpretação futurista no sentido de que o sinal será visível aos olhos
humanos quando aparecer no firmamento, a saber, no céu. Em primeiro lugar,
o termo grego pode significar tanto “a sala do trono”, quanto o firmamento, a
saber, o céu cósmico que pode ser visto pelos olhos humanos, tal como
entendem os intérpretes futuristas. A maioria das ocorrências desse termo no
Novo Testamento corresponde a este último sentido.6 O mais completo e
atual dicionário léxico da língua grega classifica o termo dando-lhe este
último sentido e diz o seguinte: “Então o sinal do Filho do Homem (que está)
no céu aparecerá; de acordo com o contexto, o sinal consiste em que Ele
aparecerá visivelmente em glória celestial (Mt 24.30)”.7
Em segundo lugar, os versículos que formam o contexto imediato enfocam
desordens meteorológicas celestes (cf., os versículos 27, 29, 30b, e 31) que
serão visíveis aos olhos humanos. A aparição de um sinal no céu cósmico
certamente se harmoniza com a temática do contexto que enfatiza desordens
celestes.
Em terceiro lugar, “pela natureza do caso, esse sinal deve ser luminoso.
Isso fica subentendido pelo termo original traduzido por “aparecerá”.
Entretanto, pode-se ter a certeza de que será luminoso por esta simples
consideração feita pelo reverendo Buck: o sinal aparecerá, ou brilhará, num
momento de total escuridão”. Ele explica: “Antes disso, o sol escurecerá, a
lua e as estrelas não darão mais a sua claridade. Ora, se todos os grandes
luzeiros serão obscurecidos, seja o que for que aparecerá no céu tem de ser
luminoso por natureza”.8
Em quarto lugar, as relações de tempo verificadas nessa passagem
confirmam a interpretação de que esse sinal será visível e que, portanto, ainda
está por acontecer no futuro. O texto de Mateus 24.30 começa com o termo
“então”, reportando-se aos incidentes meteorológicos descritos anteriormente
no versículo 29, os quais ocorrerão “logo em seguida à tribulação daqueles
dias”. Dessa forma, o versículo 30 nos informa que “aparecerá [...] o sinal” e
que “então” haverá uma lamentação da humanidade em reação ao sinal. Em
seguida, acontecerá a gloriosa volta de Cristo. Para surpresa geral, Gentry
afirma que o sinal mencionado no versículo 30 implica que os judeus “devem
fugir daquela região se quiseram salvar suas vidas”.9 Como é que isso pode
acontecer se o sinal é a conquista de Jerusalém pelos exércitos romanos. Seria
tarde demais. Essa tolice não se encaixa com a sequência de fatos ocorridos
no ano 70 d.C., conforme salientou o reverendo Shimeall:
Sim meu caro leitor. Essa é a teoria da Segunda Vinda de nosso Senhor, (...)
Então, no que se refere ao primeiro ramo dessa teoria, atestamos sumariamente que
sua incoerência se tornará evidente pelos seguintes argumentos e fatos:
Se a vinda do Senhor no momento aqui especificado era simplesmente “a chegada
das legiões romanas para destruir Jerusalém e aniquilar os judeus descrentes”,
segue-se que isso necessariamente tem que ter ocorrido ao mesmo tempo, já que, na
verdade, é dito que se trata do mesmo acontecimento.
Além disso, a destruição da igreja judaica, bem como do Estado, da cidade e do
povo judeu, aconteceu em consequência da chegada das tropas romanas e,
obviamente, só pode ter ocorrido depois dessa chegada, porque efeitos sempre são
posteriores às causas que os geraram. Portanto, à medida que nosso bendito Senhor
pronunciava toda essa profecia extraordinária, dando atenção especial à ordem
cronológica dos acontecimentos,
Ele descreve o aparecimento do “sinal” de Sua vinda, o lamento de todos os povos
da Terra e a Sua efetiva volta nas nuvens dos céus como episódios que se darão “...
em seguida à tribulação daqueles dias...”, após o escurecimento do sol, da lua e das
estrelas pela ordem cronológica dos acontecimentos.
Diga-me, leitor, em que devemos acreditar: nos comentários e opiniões dos
homens ou nos ensinos de Cristo?10

NOTAS
1
Arnold Fruchtenbaum, The Footsteps of the Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events,
edição revisada, Tustin, CA: Ariel Ministries, 2003, p. 643.
2 Fruchtenbaum, Footsteps, p. 599.
3
Extraído da obra de Fruchtenbaum, Footsteps, p. 599-628.
4 Gentry, publicado na obra de Thomas Ice e Kenneth L. Gentry, Jr., The Great Tribulation: Past or
Future?, Grand Rapids: Kregel, 1999, p. 58.
5
Nigel Turner, A Grammar of New Testament Greek, vol. III, Syntax, Edimburgo: T. & T. Clark,
1963, p. 214.
6 William F. Arndt e F. W. Gringrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament, Chicago:
University of Chicago Press, 1957, p. 598-600.
7
Arndt e Gingrich, A Greek-English Lexicon, p. 599.
8
D. D. Buck, Our Lord’s Great Prophecy, Nashville: South-Western Publishing House, 1857, p. 292.
9
Gentry, Great Tribulation, p. 60.
10
Richard Cunningham Shimeall, Christ’s Second Coming: Is It Pre-Milleannial or Post-Millennial?,
Nova York: John F. Trow and Richard Brinkerhoff, 1866, p. 159-60.
Parte 27

“Então, aparecerá no céu o sinal do Filho do Homem;


todos os povos da terra se lamentarão e verão o Filho
do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e
muita glória” – Mateus 24.30.
Na seção anterior fiz uma exposição das razões que
fundamentam a alegação de que o contexto dessa
passagem favorece a interpretação futurista, a saber,
que o sinal mencionado será visível aos olhos
humanos e se manifestará no firmamento, isto é, no
céu. A seguir, exponho a última razão que fundamenta
esse ponto de vista.
Em quinto lugar, eu creio que “o sinal” provavelmente
será alguma forma de manifestação da mesma Glória
Shekiná que apareceu ao longo da história. Afinal, o
sinal da Primeira Vinda de Cristo foi a Glória Shekiná,
a qual reluziu na escuridão do céu anunciando Seu
nascimento aos pastores que estavam nos campos. Foi
a estrela da Glória Shekiná que guiou os magos do
Oriente até o local em que Jesus estava. Portanto, o
sinal do Filho do Homem, que será novamente Sua
marca registrada, é este: a nuvem da Glória Shekiná.

Um Sinal Que Não Dá


Sinal?

O intérprete preterista Kenneth Gentry alega que a expressão “...e verão o


Filho do Homem vindo sobre as nuvens...” novamente não se trata de um
sinal visível (porém, percebido pelos olhos da fé), nem de uma vinda visível.1
Ele chega ao ponto de ter uma alucinação exegética quando declara que a
vinda de Cristo “sobre as nuvens do céu” é “na verdade, uma referência à
ascensão de Jesus”.2 A esta altura, os intérpretes preteristas já começam a
confundir vinda com ida. Gentry ainda explica que
O “sinal” mencionado no versículo 30 se deu “quando os romanos devastaram o
templo (os versículos 6 e 15 predisseram isso) e estraçalharam Jerusalém (v. 28).
Ou seja, quando o governo de Israel fosse totalmente arruinado (v. 29) ficaria
evidente que aquele que profetizara sua destruição já estava “no céu”. O “sinal” não
seria um símbolo visível no céu. Em vez disso, o sinal se caracterizava em que o
“Filho do Homem”, rejeitado pelos judeus do primeiro século, estava no céu. A
destruição de Israel é a prova que confirma a inocência de Cristo.3
É difícil acreditar que Gentry pudesse sinceramente apresentar esse ponto
de vista, já que, ao contrário de muitos preteristas, ele interpreta o texto de
Atos 1.11 como uma referência à Segunda Vinda de Cristo.4
“Ditas estas palavras, foi Jesus elevado às alturas, à vista deles, e uma
nuvem o encobriu dos seus olhos. E, estando eles com os olhos fitos no céu,
enquanto Jesus subia, eis que dois varões vestidos de branco se puseram ao
lado deles e lhes disseram: Varões galileus, por que estais olhando para as
alturas? Esse Jesus que dentre vós foi assunto ao céu virá do modo como o
vistes subir” (Atos 1.9-11).
A linguagem do texto de Atos 1, especificamente a do versículo 9, deixa
claro que Jesus estava ascendendo ao céu. Também fica evidente que o
versículo 11 trata da Volta de Cristo como uma descida do céu numa nuvem.
Além disso, o verbo grego que ocorre tanto em Mateus 24.30 quanto em Atos
1.11 e que se traduz por “vir” é erchomai. Nesse caso, uma vez que Cristo
subiu ao céu, Seu próximo movimento não poderia ser para cima, mas
exclusivamente para baixo – numa descida do céu para a Terra. Esse é o
nítido quadro que o Senhor Jesus retrata, não somente nessa passagem
específica (versículo 30), mas também em todo o contexto geral (versículos
27-31). Stanley Toussaint, professor do Dallas Theological Seminary,
acrescenta o seguinte:
Todos hão de convir que a primeira parte de Mateus 24.30 relembra o texto de
Zacarias 12.10. Contudo, é importante salientar que o pranto no livro de Zacarias
12.10 é explicado nos versículos subsequentes. É um choro de arrependimento do
povo de Israel comprovado pelo seu efeito na purificação da nação (Zc 13.10). O
contexto de Zacarias 12.10 é da mais alta relevância. Ao invés de predizer a
destruição de Jerusalém, a passagem prediz exatamente o oposto: “Naquele dia,
procurarei destruir todas as nações que vierem contra Jerusalém” (Zacarias 12.9).
Esse é teor de Zacarias 12.1-8. Esse texto contempla o futuro livramento de Israel
pela intervenção de Deus quando Jerusalém novamente estiver cercada pelos
exércitos inimigos. A expressão “naquele dia” é um referencial profético que alude
a um momento de libertação de Israel, não de juízo. (Repare a constante repetição
da expressão “naquele dia” [12.3,4,6,8 (2 vezes), 9,11; 13.1,2,4]). Está mais do que
claro que o contexto de Zacarias trata de um pranto que resulta em purificação e
livramento para Israel. A despeito do que seja o sinal do Filho do Homem, seu
efeito será o arrependimento nacional de Israel. Isso se relaciona perfeitamente com
aquilo que Paulo escreve em Romanos 11.25-27. Essa explanação de Mateus 24.30a
prepara o terreno para o entendimento da segunda metade do versículo.
Na visão de Daniel 7.13, exatamente como foi traduzido na Versão de Almeida
Revista e Atualizada, o Filho do Homem se dirigiu ao Ancião de Dias a fim de
receber o domínio para governar. Contudo, o verbo hebraico usado nesse texto não
transmite nenhuma ideia de direção; ele simplesmente significa “chegar” ou
“alcançar”. Esse verbo hebraico só é usado no livro de Daniel, num contexto em
que pode se referir a algo que sobe para alcançar determinado nível ou grau, a
exemplo da grandeza de Nabucodonosor mencionada em Dn 4.22, ou pode
descrever algo que desce como no caso dos difamadores de Daniel que foram
lançados de cima para baixo dentro da cova dos leões. O termo não possui nenhum
sentido intrínseco de direção e a preposição que o sucede também não indica
direção. A construção da frase indica simplesmente que o Filho do Homem se
dirigiu ao Ancião de Dias. Mas ainda que descrevesse a subida do Filho do Homem
ao Ancião de Dias, a palavra apenas implicaria a relação hierárquica de Autoridade.
A pergunta que se levanta é esta: Onde a autoridade se manifesta? Keil responde
com muita propriedade ao escrever o seguinte:
Nesse mesmo capítulo de Daniel, antes do uso desse termo, não há nenhuma
expressão nem qualquer insinuação de que o julgamento ocorreria no céu. Não há
menção a nenhum lugar específico. O texto apenas diz que o julgamento tirou o
domínio do quarto animal que chegara ao apogeu através daquele chifre que
proferia palavras insolentes, bem como diz que o animal foi morto e seu corpo foi
queimado. Se aquele que se assemelha ao Filho do Homem vem com as nuvens do
céu para se apresentar ao Ancião de Dias e executar juízo na Terra, fica evidente
que ele só poderia vir do céu para a Terra. Se a intenção do autor fosse a de dizer o
contrário, isso deveria ter sido expresso, uma vez que a vinda com as nuvens dos
céus, em oposição à besta que emerge do mar, indica nitidamente uma descida do
céu. As nuvens são o manto ou a “carruagem” na qual Deus desce do céu para
executar juízo contra Seus inimigos (cf., Sl 17.10ss; 97.2-4; 104.3; Is 19.1; Na 1.3).
Essa passagem estabelece o alicerce para a declaração feita por Cristo acerca de Sua
futura vinda, a qual é descrita nos textos posteriores ao de Daniel 7.13 como uma
vinda do Filho do Homem “com”, “nas” e “sobre” as nuvens do céu (Mt 24.30;
26.64; Mc 13.26; Ap 1.7; 14.14).5
Em suma, o texto de Mateus 24.30 retrata uma manifestação visível do
sinal do Filho do Homem, o arrependimento da nação de Israel e a volta
triunfante de Cristo para estabelecer Seu reino no planeta Terra.6
A informação acima nos mostra a razão pela qual a próxima vinda de Jesus
não será uma vinda identificada por um sinal que não dá sinal, como no caso
do pretenso sinal representado pela chegada do exército romano na
interpretação preterista. Ao invés disso, a volta de Cristo acontecerá de forma
visível, pessoal e corpórea, num reflexo do que ocorreu na ascensão de Jesus
ao céu. O capítulo 24 de Mateus não se refere à destruição de Jerusalém, mas,
sim, à vinda do Senhor. Ninguém registrou a Segunda Vinda de Cristo no ano
70 d.C., nem mesmo o historiador Josefo. O Novo Testamento predisse a
destruição de Jerusalém que ocorreu no ano 70 d.C., mas não faz nenhuma
alusão de que a Segunda Vinda de Cristo tenha se cumprido nessa ocasião.
Todos os povos da terra se lamentarão
Verificamos até aqui que Deus está preparando o palco cósmico para a
exibição do evento mais espetacular de toda a história humana, a saber, a
volta gloriosa de Jesus Cristo ao planeta Terra para reinar por mil anos. Em
primeiro lugar, isso ocorrerá depois dos acontecimentos que se cumprirão na
Tribulação (Mt 24.29). Em segundo lugar, a volta de Cristo interromperá a
campanha militar do Armagedom. Em terceiro lugar, Deus escurecerá o céu
fazendo com que o sol, a lua e as estrelas parem de refletir a sua luz. Em
quarto lugar, nesse cenário de baixa luminosidade resplandecerá o sinal do
Filho do Homem com fulgor e glória reluzente. Por fim, então, e somente
então, o palco estará pronto para que Jesus volte ao planeta Terra e desça
diretamente sobre o Monte das Oliveiras em Jerusalém. É no contexto desses
acontecimentos que Jesus afirma que “todos os povos da terra se
lamentarão”.
A próxima parte do versículo 30 declara: “Então, aparecerá no céu o sinal
do Filho do Homem; e todas as tribos da terra se lamentarão e verão o Filho
do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória”
(ARC). Por que razão todos os povos se lamentariam? Porque eles verão o
sinal incontestável da volta de Cristo. O Dr. Gentry alega que isso se refere
ao lamento das tribos de Israel no ano 70 d.C.7 Não, de modo nenhum! Trata-
se de uma expressão universal usada para se referir aos descrentes do mundo
inteiro. Todas as vezes que essa expressão plural ocorre em outro livro
correlato, ao livro de Apocalipse, refere-se nitidamente aos gentios. Por
exemplo, o texto de Apocalipse 13.7 faz alusão a “...cada tribo, povo, língua
e nação”. Todas as ocorrências da expressão “todas as tribos da terra” no
Antigo Testamento têm um sentido universal na Septuaginta. O Antigo
Testamento usa a expressão “todas as tribos de Israel” (cerca de 25
ocorrências) quando quer se referir às tribos judaicas.
Ainda mais relevante é o fato de que o versículo prossegue para dizer: “...e
verão o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu, com poder e muita
glória”. Se o texto declara que “verão o filho do Homem” está mais do que
evidente que é uma referência à volta visível, pessoal e corpórea de Jesus
Cristo ao planeta Terra! Será que isso aconteceu no ano 70 d.C.? O
historiador Flávio Josefo não registrou nenhum fato dessa natureza. Não há
nenhuma possibilidade de que isso se refira àquela interpretação simbólica e
naturalista de que Jesus, de algum modo, voltou à Terra junto com o exército
romano ainda no primeiro século d.C. Jesus afirmou: “...[todos os povos da
terra] verão o Filho do Homem...”.
A Volta ainda futura de Cristo
Se Jesus voltou no ano 70 d.C., como alegam os intérpretes preteristas,
cumpre-nos perguntar: Em que dia Ele voltou? Já que se trata de um fato
ocorrido no passado, como eles afirmam, deveríamos saber o dia exato em
que Jesus supostamente voltou e cumpriu essa passagem das Escrituras.
Nunca li em nenhum material produzido pelos preteristas qualquer referência
que especificasse com exatidão o dia, o modo ou o momento preciso, a
ocasião precisa, acerca do dia preciso da suposta volta de Cristo no ano 70
d.C. Para falar a verdade, até o século XVII não houve nenhum registro na
história da Igreja de que alguém tivesse sugerido uma interpretação preterista,
relacionando o texto de Mateus 24.27 e 30 com o ocorrido no ano 70 d.C.
Se Cristo tivesse voltado nos termos em que essa passagem descreve a Sua
Vinda, o historiador Josefo certamente teria feito o registro desse fato.
Contudo, nem mesmo o prolixo Josefo relata tal acontecimento, porque, de
fato, nunca ocorreu. Quando a Segunda Vinda de Cristo se cumprir,
conforme foi profeticamente descrita em Mateus 24.27-31, seremos capazes
de registrar o dia e a hora de tal acontecimento. A natureza do relato da volta
de Cristo nessa passagem demonstra o fato de que será um acontecimento
público, presenciado por multidões de pessoas. Sem dúvida alguma, o dia
exato e a hora precisa desse acontecimento não ficarão fora do registro da
história humana. Maranata!
NOTAS
1
Gentry in Thomas Ice e Kenneth L. Gentry, Jr., The Great Tribulation: Past or Future?, Grand
Rapids: Kregel, 1999, p. 58.
2 Gentry, Great Tribulation, p. 57-59.
3 Gentry, Great Tribulation, p. 58.
4 Kenneth L. Gentry, Jr., He Shall Have Dominion: A Postmillennium Eschatology, Tyler, Texas:
Institute for Christian Economics, 1992, p. 275.
5 C. F. Keil e F. Delitzsch, Commentary on the Old Testament, 10 vols., Commentary on the Book of
Daniel, Grand Rapids: Eerdmans, 1975, p. 235-36.
6 Stanley D. Toussaint, “A Critique Of The Preterist View Of The Olivet Discourse”, um ensaio não
publicado que foi apresentado ao Pre-Trib Study Group, Dallas, Texas, 1996, sem número de página.
7 Kenneth l. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 83.
Parte 28

“E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de


trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos
quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus”
– Mateus 24.31.
Vimos que a volta de Jesus ao planeta Terra
acontecerá, conforme Ele mesmo disse, “...sobre as
nuvens do céu”, e será manifesta “...com poder e
muita glória”. No processo dessa volta, o Senhor
Jesus descerá visivelmente do céu e enviará Seu
exército angelical a reunir o remanescente judeu crente
em Cristo a fim de livrá-los da ameaça dos exércitos
do mundo inteiro congregados pelo Anticristo para um
ataque contra Israel e Jerusalém. A passagem de
Mateus 24.31, que agora consideramos, faz uma
descrição desse acontecimento.

Um Ajuntamento
Executado Por Anjos

Em Mateus 23.37 Jesus chora por Jerusalém enquanto pronuncia o juízo


que sobreviria à cidade no ano 70 d.C. e declara: “...Quantas vezes quis eu
reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das
asas, e vós não o quisestes!”. Entretanto, no capítulo 24, esse mesmo Jesus é
descrito na Sua volta, a qual, decorridos até agora cerca de dois mil anos,
ainda aguarda seu cumprimento futuro, num momento em que Jerusalém
estará novamente em perigo. Porém, da próxima vez que isso acontecer, os
judeus reagirão positivamente ao fato de que Jesus é o Messias, de modo que
o Senhor enviará Seus anjos para reunir os Seus escolhidos (a saber, os
judeus salvos que estiverem vivos no fim da Tribulação) procedentes de todas
as partes do mundo, os quais, ao invés de serem espalhados como ocorreu no
ano 70 d.C., serão reagrupados em Jerusalém. Um ajuntamento exatamente
como esse foi predito no Antigo Testamento:
“Quando, pois, todas estas coisas vierem sobre ti, a bênção e a maldição
que pus diante de ti, se te recordares delas entre todas as nações para onde
te lançar o Senhor, teu Deus; e tornares ao Senhor, teu Deus, tu e teus filhos,
de todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres ouvidos à sua voz,
segundo tudo o que hoje te ordeno, então, o Senhor, teu Deus, mudará a tua
sorte, e se compadecerá de ti, e te ajuntará, de novo, de todos os povos entre
os quais te havia espalhado o Senhor, teu Deus. Ainda que os teus
desterrados estejam para a extremidade dos céus, desde aí te ajuntará o
Senhor, teu Deus, e te tomará de lá” (Dt 30.1-4).
“Levantará um estandarte para as nações, ajuntará os desterrados de
Israel e os dispersos de Judá recolherá desde os quatro confins da terra” (Is
11.12).
O único fato, omitido no Antigo Testamento, que o Senhor Jesus
acrescenta ao Seu Discurso é o de que, em vez de a companhia aérea
israelense El Al trazer os judeus de volta à Terra de Israel como atualmente
acontece nas suas idas e vindas, Ele usará os Seus anjos como instrumentos
para trazê-los de volta. O texto de Deuteronômio 30.1-4 revela uma
importante promessa da aliança feita pelo Senhor a Israel, Seu povo. O texto
de Mateus 24.31 mostra que o Senhor Jesus, o mesmo que fez a promessa
registrada em Deuteronômio, há de cumprir na história todas as Suas
promessas, ainda que isso exija uma solução miraculosa.
Certamente ninguém contestaria as implicações sobrenaturais do fato de
anjos ajuntarem seres humanos para trazê-los de volta a Israel. Sabemos que
Elias foi trasladado ao céu sem morrer. O capítulo 2 de 2 Reis relata esse
impressionante acontecimento, enfatizando a maneira pela qual Elias foi
arrebatado ao céu. O texto de 2 Reis 2.1 declara que o Senhor estava para
tomar Elias “ao céu por um redemoinho”. Em 2 Reis 2.11 o redemoinho é
posteriormente descrito como “um carro de fogo, com cavalos de fogo”. Não
há dúvida de que se trata da uma aparição da glória Shekiná de Deus, pois o
texto de Hebreus 1.7 declara: “Ainda, quanto aos anjos, diz: Aquele que a
seus anjos faz ventos, e a seus ministros, labareda de fogo”. Se um único
homem, no caso Elias, foi arrebatado ao céu por anjos (já que meros seres
humanos nunca poderiam ser enviados para cumprir tal missão) por que um
grupo de seres humanos não pode ser arrebatado? Pois é exatamente isso que
se dará num acontecimento de suma importância como a Segunda Vinda de
Cristo.
O texto de Deuteronômio também apresenta uma explicação da razão pela
qual o Senhor Jesus fez uso do termo “escolhidos” em Mateus 24.31 para
caracterizar Seu povo. É porque nesse momento crucial da história os judeus
cumprirão estas exigências de Deuteronômio 30.2: “...tornares ao Senhor,
teu Deus, tu e teus filhos, de todo o teu coração e de toda a tua alma, e deres
ouvidos à sua voz, segundo tudo o que hoje te ordeno”. Essa mesma
exigência também foi feita pelo próprio Senhor Jesus em Mateus 23.39 para
que se cumpra a Sua Segunda Vinda. A passagem bíblica em questão faz
pleno sentido quando interpretada de forma futurista e também se encontra
em perfeita harmonia com aquilo que o Antigo Testamento claramente prediz
sobre Israel, a saber, acerca daquele maravilhoso dia em que os judeus se
converterão ao Messias e receberão a tão esperada benção que lhes foi
prometida. Fruchtenbaum declara o seguinte:
No Novo Testamento, o ajuntamento final dos judeus, predito pelos profetas do
Antigo Testamento, está resumido nos textos de Mateus 24.31 e Marcos 13.27.
Nesta última passagem, Jesus afirmou que os anjos atuarão no reagrupamento
definitivo dos judeus, trazendo-os de volta à terra de Israel. No que se refere à
extensão geográfica, o texto ressalta um reagrupamento de amplitude mundial.
Esses dois textos bíblicos são um simples resumo de tudo aquilo que os profetas
tinham a dizer sobre o segundo aspecto da restauração final de Israel. A passagem
de Mateus se baseia no texto de Isaías 27.12 e a passagem de Marcos se fundamenta
no texto de Deuteronômio 30.4. Seu propósito era esclarecer o fato de que o
reagrupamento mundial dos judeus, predito pelos profetas, só se cumprirá depois da
Segunda Vinda.1
O texto de Isaías 27.12-13 ratifica com exatidão o que Fruchtenbaum
declara; além disso, fica evidente que Jesus tinha o texto de Isaías em mente
quando proferiu as palavras registradas em Mateus 24.31. O profeta Isaías
predisse:
“Naquele dia, em que o Senhor debulhará o seu cereal desde o Eufrates
até ao ribeiro do Egito; e vós, ó filhos de Israel, sereis colhidos um a um.
Naquele dia, se tocará uma grande trombeta, e os que andavam perdidos
pela terra da Assíria e os que forem desterrados para a terra do Egito
tornarão a vir e adorarão ao Senhor no monte santo em Jerusalém”.
Essa passagem de Isaías dá ênfase a um reagrupamento do remanescente
do povo judeu que não estará na terra de Israel, numa ação de restabelecê-los
na sua terra natal. Aí está uma das razões pelas quais o texto de Mateus 24.31
destaca um reagrupamento mundial de judeus salvos em sincronia com a
volta de Jesus ao Monte das Oliveiras em Jerusalém.
Em outra de suas obras, Fruchtenbaum reafirma o seguinte:
A passagem de Mateus é mais propriamente uma síntese elementar de tudo aquilo
que os profetas tinham a dizer acerca do segundo aspecto da restauração final de
Israel. Seu propósito era esclarecer o fato de que o reagrupamento mundial dos
judeus, predito pelos profetas, só se cumprirá depois da Segunda Vinda.2

A Festa das Trombetas


O Dr. Renald Showers realizou um excelente trabalho ao reunir evidências
e argumentar em prol desse ponto de vista.3 Após mencionar que a frase
“...dos quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus” implica que os
“escolhidos oriundos de todas as partes do mundo serão reagrupados na
ocasião da volta de Cristo”,4 o Dr. Showers apresenta estas três frentes de
argumentação que comprovam seu ponto de vista:
Em primeiro lugar, diante da persistente rebeldia de Israel contra Deus, o Senhor
declarou que espalharia os judeus “...a todos os ventos...” (Ez 5.10,12) ou “...em
todas as direções...” (Ez 17.21; na Versão ARC). Em Zacarias 2.6, Deus afirmou
que os espalhara “...como os quatro ventos do céu...”. De fato, Deus espalhou os
judeus pelo mundo inteiro.
Em segundo lugar, Deus também declarou que no futuro ajuntaria Israel desde o
Oriente, o Ocidente, o Norte e o Sul, “...das extremidades da terra” (Is 43.5-7).
Deve-se observar que no contexto dessa promessa, Deus denominou o povo de
Israel de “meu escolhido” (cf. v. 10,20) (...) Assim como Jesus sinalizou que o
ajuntamento de Seus escolhidos oriundos das quatro direções do mundo se dará ao
som de “uma grande trombeta” (i.e., tradução literal do texto original grego de Mt
24.31), assim também o texto de Isaías 27.13 revela que os filhos de Israel dispersos
serão reagrupados em sua terra natal ao toque de “uma grande trombeta” (i.e.,
tradução literal do texto original hebraico).
Gerhard Friedrich escreve que naquele dia escatológico, ainda futuro, “...se tocará
uma grande trombeta” e, mediante esse sinal, os exilados serão trazidos de volta.
Além disso, ele assevera que ao toque da grande trombeta mencionada em Isaías
27.13, “acontecerá o ajuntamento de Israel e o retorno a Sião dos que foram
dispersos”.
É importante salientar que o texto de Isaías 27.13, o qual prediz esse futuro
reagrupamento de Israel, é a única específica referência feita a uma “grande”
trombeta em todo o Antigo Testamento.
Embora o texto de Isaías 11.11-12 não se refira a uma grande trombeta, a
passagem mantém uma relação de paralelismo com o texto de Isaías 27.13 por
referir-se ao mesmo reagrupamento de Israel. O contexto dessa passagem apresenta
indícios de que quando o Messias (i.e., “a raiz de Jessé”, cf., v. 1,10) voltar para
reinar e transformar o mundo em um “estandarte” (i.e., uma bandeira ou flâmula),
Ele ajuntará o disperso remanescente de Seu povo, Israel, “desde os quatro confins
da terra”.5
A descrição feita por Jesus em Mateus 24 e em Marcos 13 é a de um
reagrupamento judaico que cumprirá os aspectos proféticos da Festa das
Trombetas em favor da nação de Israel. Na realidade, até hoje há uma oração
registrada no Jewish Daily Prayer Book (i.e., “Livro de Orações Diárias dos
Judeus”) pelo ajuntamento dos filhos de Israel.6
Os Escolhidos
Em Mateus 24.31, o termo “escolhidos” diz respeito a indivíduos do povo
judeu que virão a crer em Jesus, reconhecendo-O como o Messias de Israel,
na época em que se der o segundo advento de Cristo. As duas referências
anteriores feitas ao termo “escolhidos” no capítulo 24 de Mateus (v. 22,24)
também dizem respeito a indivíduos judeus que virão a crer em Jesus na
qualidade de Messias prometido a Israel. Para dizer a verdade, é exatamente o
que se constata no texto de Daniel 12.1, passagem essa cujo contexto se
refere ao mesmo período da Tribulação vindoura, conforme se lê:
“Nesse tempo, se levantará Miguel, o grande príncipe, o defensor dos
filhos do teu povo, e haverá tempo de angústia, qual nunca houve, desde que
houve nação até àquele tempo; mas, naquele tempo, será salvo o teu povo,
todo aquele que for achado inscrito no livro”.
Esse trecho da profecia de Daniel utiliza a expressão “...todo aquele que
for achado inscrito no livro” para se referir a indivíduos judeus que crerão
em Jesus Cristo durante o período da Tribulação, que é o período de tempo ao
qual o contexto dessa passagem alude. Cristo, que evidentemente tinha esse
texto de Daniel em mente, abrevia a expressão “...todo aquele que for achado
inscrito no livro” pelo designativo “os escolhidos”. Dessa forma, a expressão
“os escolhidos” é uma maneira de designar a pessoa (no contexto em questão,
um judeu) que, segundo a presciência do Senhor, virá a depositar sua fé em
Jesus Cristo. Pelo contexto, fica evidente que o termo não se refere a
qualquer pessoa que venha a crer em Cristo durante a Tribulação, mas
exclusivamente a indivíduos do povo judeu. Isso se confirma no texto de
Daniel 12.1 através da expressão modificadora “teu povo” que ocorre
imediatamente antes da frase “...todo aquele que for achado inscrito no
livro”. A quem se refere a expressão “o teu povo”? O contexto não deixa a
menor dúvida de que faz alusão ao povo de Daniel, a saber, o povo judeu.
Portanto, essa passagem demonstra que concomitantemente à Sua volta ao
planeta Terra, Jesus Cristo dará ordens a Seus anjos para que reúnam todos os
judeus salvos (i.e., o remanescente) e os ajuntem na terra de Israel. Esse
retorno definitivo dos judeus à sua terra natal será uma preparação para que lá
habitem durante os mil anos do reinado de Cristo na terra. Maranata!
NOTAS
1
Arnold Fruchtenbaum, Israelology: The Missing Link In Systematic Theology, edição revisada,
Tustin, CA: Ariel Ministries Press, 1992, p. 798-99.
2
Arnold Fruchtenbaum, The Footsteps of the Messiah, Segunda Edição, San Antonio: Ariel Press,
2003, p. 425.
3
Para obter mais informações que apóiam este ponto de vista, veja: Renald Showers, Maranatha: Our
Lord, Come!, Bellmawr, NJ: The Friends of Israel, 1995, p. 181-84.
4
Showers, Maranatha, p. 182.
5
Showers, Maranatha, p. 182-83.
6
Para conhecer os termos dessa oração, veja: Showers, Maranatha, p. 183.
Parte 29

“E ele enviará os seus anjos, com grande clangor de


trombeta, os quais reunirão os seus escolhidos, dos
quatro ventos, de uma a outra extremidade dos céus”
– Mateus 24.31.
Muitos dos que não são pré-tribulacionistas alegam
que o texto de Mateus 24.31 faz menção a um
Arrebatamento pós-tribulacionista. Todos concordam
que essa passagem trata da Segunda Vinda de Cristo.
Nesse caso, a questão é saber se os textos de Mateus
24.31 e Marcos 13.27 são ou não referências ao
Arrebatamento. Minha convicção é de que essa
passagem em estudo não faz alusão ao Arrebatamento.

O Ponto de Vista Pós-


Tribulacionista

Irwin Baxter, uma das personalidades do rádio que defendem a posição


pós-tribulacionista, acredita que o Arrebatamento e a Segunda Vinda de
Cristo “são o mesmo acontecimento” descrito em Mateus 24.31.1 Baxter
alega: “o texto de Mateus 24.29 mostra que a vinda do Filho do Homem e o
Arrebatamento são o mesmo acontecimento”. Ele chega a essa conclusão pela
comparação do texto de Mateus 24.29-31 com o texto de Apocalipse 19
referente à volta de Cristo. Na referida discussão, Baxter não faz menção ao
texto de 1 Tessalonicenses 4.13-18, uma passagem bíblica que
incontestavelmente se refere ao Arrebatamento e que é fundamental para
defini-lo.
O Dr. Robert Gundry, um eminente defensor do Arrebatamento pós-
tribulacionista, também iguala o Arrebatamento à Segunda Vinda de Cristo
nesse texto de Mateus 24.31. Gundry argumenta que os “pós-tribulacionistas
[...] associam o Arrebatamento àquele ajuntamento dos escolhidos que será
efetuado pelos anjos ao som da trombeta” (Mt 24.31).2 Ao contrário de
Baxter, o Dr. Gundry interage com a passagem que menciona o
Arrebatamento (1 Ts 4.13-18). Ele comenta o seguinte: “Se definirmos
estritamente o Arrebatamento como um rapto, só existe uma passagem em
todo Novo Testamento que possa descrevê-lo. Essa passagem é a de 1
Tessalonicenses 4.13-18”.3
A definição de Arrebatamento
Baxter nem chega a tentar definir o Arrebatamento. Isso evidentemente
permite a Baxter uma flexibilidade para situar o Arrebatamento em Mateus
24.31. Na sua definição de Arrebatamento, o Dr Gundry inclui o conceito de
“um rapto” proveniente do texto de 1 Tessalonicenses 4.13-18. Gundry quer
“ampliar a definição para incluir a ideia de reunião ou recepção”, ideia essa
que se encontra na passagem de Mateus 24.31 e em outros textos.4 Já que a
presente discussão levanta a questão de se a passagem de Mateus 24.31
refere-se ou não ao Arrebatamento, caberia incluir o texto de Mateus 24.31
numa definição preliminar de Arrebatamento.
O texto de 1 Tessalonicenses 4.17 é a única passagem que
indiscutivelmente descreve o Arrebatamento da Igreja. O verbo grego
harpazo (na voz passiva: “ser arrebatado”), do qual se origina o substantivo
“Arrebatamento”, ocorre apenas nessa passagem. A despeito do que se possa
acrescentar ao conceito de Arrebatamento no texto de 1 Tessalonicenses 4.17,
está mais do que claro que a ideia é a de um translado de crentes vivos.
Uma comparação dessas passagens bíblicas
Na tentativa de criar uma equivalência entre Mateus 24.31 e 1
Tessalonicenses 4.17, como textos que se referem ao mesmo acontecimento,
o Dr. Gundry comenta o seguinte: “Paulo usou uma terminologia correlata
para tratar do Arrebatamento da Igreja na Carta aos Tessalonicenses, onde se
lêem os mesmos termos encontrados no Discurso do Monte das Oliveiras, a
saber, uma trombeta, nuvens e uma reunião de crentes”.5 De fato há algumas
semelhanças entre o Arrebatamento e a Segunda Vinda. Também existem
semelhanças entre o primeiro advento de Cristo que se deu há dois mil anos e
Seu segundo advento ainda por acontecer. Nem por isso tais acontecimentos
são considerados idênticos. Verificamos que não se tratam dos mesmos
eventos por causa das diferenças entre eles. Quando se faz uma comparação
entre os textos de Mateus 24.31 e 1 Tessalonicenses 4.17, são as diferenças
que contam. Há diferenças suficientes para que se chegue à conclusão de que
essas duas passagens obrigatoriamente se referem a acontecimentos distintos.
O Dr. Steven McAvoy salienta que “as diferenças entre as afirmações de
Paulo aos Tessalonicenses e o texto de Mateus 24.30-31 têm muito mais
relevância do que quaisquer supostas semelhanças”.6 Ele diz:
Sproule pergunta: Em que texto Paulo menciona o escurecimento do sol (Mt
24.29), a interrupção da claridade da lua (Mt 24.29), a queda das estrelas do
firmamento (Mt 24.29), o abalo dos poderes dos céus (Mt 24.29), o lamento de
todos os povos da terra (Mt 24.30), a vinda do Filho do Homem vista pelos povos
do mundo inteiro (Mt 24.30) ou o envio dos anjos por parte de Deus (Mt 24.31)?7
Feinberg também menciona as diferenças entre os dois relatos:
Observe o que acontece quando se faz uma análise cuidadosa de ambas as
passagens. No texto de Mateus, o Filho do Homem vem sobre as nuvens do céu,
enquanto que no texto de 1 Tessalonicenses 4 os crentes em Cristo se encontrarão
nas nuvens. Na passagem de Mateus 24, os anjos reunirão os escolhidos; na de 1
Tessalonicenses, o próprio Senhor (perceba a ênfase) reunirá os crentes. O texto de
1 Tessalonicenses é o único que menciona a voz do arcanjo. No Discurso do Monte
das Oliveiras não há nenhuma menção à ressurreição, ao passo que nessa passagem
de 1 Tessalonicenses a ressurreição é o elemento central. As diferenças nessas duas
passagens, quanto ao que vai acontecer antes da volta visível de Cristo, são
gritantes. Além disso, o texto de Mateus 24 não faz nenhuma referência à ordem de
subida (ou de ascensão), ao passo que tal ordem de subida se constituiu noutro
componente fundamental da referida epístola de Paulo.8,9
Além das diferenças acima mencionadas, a ordem dos acontecimentos
também difere nessas duas passagens. No texto de 1 Tessalonicenses 4, os
crentes são reunidos nos ares e levados ao céu, enquanto na passagem de
Mateus 24, eles são reunidos após a volta visível de Cristo à Terra. “Para
embasar seu ponto de vista de que o texto de Mateus 24.31 se refere ao
Arrebatamento, Gundry precisa não apenas salientar algumas semelhanças,
mas deve harmonizar as diferenças”.10 Assim, as diferenças nessas duas
passagens fortalecem o argumento de que elas tratam de dois acontecimentos
distintos.
Quem são os escolhidos?
Eu creio que os “escolhidos”, mencionados em Mateus 24, são uma
referência ao remanescente judeu que, durante o período da Tribulação, virá a
crer em Jesus Cristo, como o Messias que lhes fora prometido. Em geral os
comentaristas admitem que “escolhidos” é um termo que “pode se referir a
Israel, à Igreja, ou a ambos”.11 O contexto é o fator determinante em qualquer
esforço de se descobrir o significado específico pretendido pelo autor. Seu
uso no contexto de Mateus fortalece a concepção de que o termo
“escolhidos” seja uma referência a Israel por causa da orientação judaica
verificada nessa passagem. O Dr. Stanley Toussaint comenta que “termos
como “evangelho do reino” (Mt 24.14), “lugar santo” (24.15), “no sábado”
(24.20), e “o Cristo” (o Messias), são indicadores de que o assunto diz
respeito a Israel como nação”.12 O Dr. Renald Showers faz uma explanação
mais objetiva:
Os escolhidos são o remanescente fiel e crente dos israelitas, em contraste com os
pecadores descrentes que fazem parte da nação de Israel. No texto de Isaías 65.7-16,
Deus faz um contraste entre dois grupos e seus respectivos destinos. No versículo 9,
Deus chamou o remanescente crente de “meus eleitos” e nos versículos 17-25 Ele
revelou que esse remanescente eleito da nação de Israel ainda será grandemente
abençoado na Terra quando o Milênio for estabelecido.13
Visto que o termo “escolhidos” foi usado por três vezes em Mateus 24 (v.
22, 24 e 31; ver também Marcos 13.20, 22 e 27), é muito provável que o
autor o empregue para referir-se à mesma realidade em todas as três vezes. O
Dr. McAvoy declara o seguinte: “A regra do contexto não permite que o
termo “escolhidos” (ou “eleitos”), mencionado em Mateus 24.22,24, seja uma
referência a Israel e, nove versículos depois, esse mesmo termo se refira à
Igreja. Se não existe nenhum indicador de transição de um sentido para outro,
o termo “escolhidos”, usado em Mateus 24.31 só pode significar o mesmo
que significa em 24.22,24”.14
Conclusão
Já que a Igreja não é mencionada em Mateus 24, fica mais do que evidente
constatar que o versículo 31 desse capítulo não se refere ao Arrebatamento da
Igreja. Pelo contrário, à medida que se estuda o contexto das passagens do
Antigo Testamento a que o Senhor Jesus faz alusão, fica muito claro que Ele
se refere a um reagrupamento dos eleitos de Israel na consumação dos
séculos, com o objetivo de trazê-los de volta à sua terra para desfrutarem do
Milênio (o Reino de mil anos de Cristo). Na Sua primeira vinda, Cristo
lamentou sobre Jerusalém e expressou Seu desejo de reunir Israel a Si mesmo
“...como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não o
quisestes!” (Mt 23.37). Na ocasião de Sua Segunda Vinda, os eleitos de Israel
olharão para Ele a quem traspassaram (Zc 12.10) e dirão: “Bendito o que vem
em nome do Senhor!” (Sl 118.26; Mt 23.39). Maranata!
NOTAS
1
Essa informação é extraída do site da Internet mantido por Irwin Baxter, www.endtime.com, a partir
do conteúdo que se encontra na seção de Perguntas e Respostas sobre o Arrebatamento. Todas as
citações subsequentes dos escritos de Baxter procedem dessa mesma fonte.
2 Robert H. Gundry, The Church and the Tribulation, Grand Rapids: Zondervan, 1973, p. 135.
3
Robert H. Gundry, First the Antichrist: Why Christ Won’t Come Before the Antichrist Does, Grand
Rapids: Baker, 1997, p. 71.
4
Gundry, First the Antichrist, p. 71.
5
Gundry, The Church and the Tribulation, p. 135.
6
Steven L. McAvoy, “A Critique of Robert Gundry’s Posttribulationalism”, Dissertação de
Doutorado, Dallas Theological Seminary, 1986, p. 136.
7
John A. Sproule, “An Exegetical Defense of Pretribulationism”, Dissertação de Doutorado, Grace
Theological Seminary, 1986, p. 136.
8
Paul D. Feinberg, “Response: Paul D. Feinberg”, publicado na obra The Rapture: Pre-, Mid-, or
Posttribulational?, da autoria de Richard R. Reiter, Grand Rapids: Zondervan, 1984, p. 225.
9
McAvoy, “Critique of Gundry”, p. 137.
10
McAvoy, “Critique of Gundry”, p. 138.
11
Gundry, The Church and the Tribulation, p. 135.
12
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah, 1980, p. 277.
13
Renald Showers, Maranatha: Our Lord, Come!, Bellmawr, NJ: The Friends of Israel, 1995, p. 182.
14
McAvoy, “Critique of Gundry”, p. 140-41.
Parte 30

“Aprendei, pois, a parábola da figueira: quando já os


seus ramos se renovam e as folhas brotam, sabeis que
está próximo o verão. Assim também vós: quando
virdes todas estas coisas, sabei que está próximo, às
portas. Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que tudo isto aconteça. Passará o céu e a
terra, porém as minhas palavras não passarão”. –
Mateus 24.32-35.
Ao concluir Seu discurso profético sobre a Tribulação
e Sua Segunda Vinda, Jesus profere cinco parábolas
que ilustram e demonstram o assunto que Ele acabara
de esclarecer. Em virtude da relação que têm com o
discurso de Cristo que as precede, essas parábolas
proporcionam um importante enfoque parabólico
sobre a instrução escatológica que fora proferida
momentos antes. Todas as cinco parábolas formam um
conjunto. Em outras palavras, essas cinco parábolas só
podem se referir ao mesmo acontecimento, neste caso,
àquele que está registrado nos versículos 4-31. A
implicação disso é a de que não faz sentido interpretar
a primeira parábola como uma referência à destruição
de Jerusalém no ano 70 d.C. e interpretar as outras
quatro parábolas como referentes à volta de Cristo
ainda por acontecer.

A Unidade Das
Parábolas
Kenneth Gentry, um intérprete da Bíblia que assume uma postura
parcialmente preterista, acredita que a primeira dessas cinco parábolas está
relacionada com os versículos 4-31, os quais, na sua concepção, cumpriram-
se no ano 70 d.C. Todavia, ele interpreta as outras quatro parábolas como
referentes ao segundo advento de Cristo ainda por acontecer. Gentry declara:
“Após enunciar Sua profecia sobre a aniquilação do templo, o Senhor Jesus
passa a considerar o Seu glorioso Segundo Advento (Mt 24.36ss.)”. “Ele
afirma que não haveria sinais específicos desse acontecimento que ainda
estava longe de se cumprir”.1 Entretanto, seu colega preterista, Gary DeMar,
acredita que todo o Discurso Profético do Monte das Oliveiras (i.e., os
capítulos de Mateus 24 e 25 na íntegra) já se cumpriu durante os fatos
ocorridos no ano 70 d.C. DeMar comenta o seguinte:
Por semelhante modo, há pouca evidência de que “a vinda do Filho do Homem”,
mencionada em Mateus 24.27,30,39 e 42, seja diferente da “vinda do Filho do
Homem”, referida em Mateus 25.31. Compare esse texto de Mateus 25.31 com o de
Mateus 16.27 que se constituiu numa alusão à destruição de Jerusalém no ano 70
d.C.2
Ao longo desta exposição, já mostrei a razão pela qual nenhuma predição
de Mateus 24.4-31 se cumpriu no primeiro século d.C., todavia, concordo
com DeMar quando ele diz que todo o Discurso Profético do Monte das
Oliveiras, registrado em Mateus 24 e 25, diz respeito ao mesmo período de
tempo. Embora eu creia que DeMar esteja errado em interpretar todo o
Discurso Profético de Cristo como algo que já se cumpriu no passado,
considero a concepção dele mais consistente do que a de seu colega
preterista, Gentry, o qual interrompe a sequência narrativa para interpretar o
texto de Mt 24.35 como uma ocorrência passada e o texto de Mt 24.36 como
um acontecimento ainda futuro.
Todas essas parábolas se relacionam com o ensino de Cristo na seção
anterior de Mateus 24.4-31 e não introduzem nenhum assunto novo no Seu
ensino. O propósito dessas parábolas é o de esclarecer as principais lições à
luz do ensino que acabara de ser proferido. Em termos literários, não faria
nenhum sentido que Cristo ensinasse algo (como, de fato, Ele o fez nos
versículos 4-31) e, em seguida, proferisse parábolas ou ilustrações desse
ensino (a exemplo do que fez nos versículos 32-51), mas mudasse de assunto
na segunda parábola (conforme a opinião de Gentry) para se referir a outro
acontecimento que Ele nem sequer havia apresentado no Seu Discurso
Profético. Não, isso não faz nenhum sentido! Em vez disso, todas as cinco
parábolas ilustram um único ensino de Cristo exposto nos versículos 4-31.
Por que Jesus Cristo, o Mestre por excelência, confundiria Seus alunos
introduzindo um elemento completamente novo durante Sua série de
parábolas, sem ter abordado tal assunto no período de ensino que Ele acabara
de lecionar?
Ao que parece, a interpretação esquizofrênica de Gentry se explica pelo
fato de que ele, apesar de ser um intérprete preterista, não consegue admitir
que certas frases nitidamente alusivas à Segunda Vinda e ao juízo, tenham
alguma relação com os fatos que se deram no primeiro século d.C. DeMar
não possui tal sensibilidade. Com tantas referências feitas à “vinda” no texto
de Mateus 24.36-51, fica difícil, até mesmo para Gentry, encaixá-las nos
acontecimentos que se cumpriram no ano 70 d.C. Mais difícil ainda é forçar,
enfiar, e fazer descer goela abaixo um cumprimento preterista (i.e., passado)
da passagem de Mateus 25.31-46, texto esse que associa o juízo com a vinda
de Cristo. Essa vinda e juízo mencionados só podem se referir a um futuro
acontecimento, pois os que forem julgados “...irão [...] para o castigo eterno,
porém os justos, para a vida eterna” (Mt 25.46).
Cinco ilustrações
Essas parábolas ou ilustrações proferidas por Jesus são as seguintes:
Primeira, a ilustração da figueira (24.32-35); segunda, a comparação
ilustrativa com os dias de Noé (24.36-39); terceira, a comparação ilustrativa
entre os dois homens e entre as duas mulheres (24.40-41); quarta, a ilustração
do pai de família vigilante (24.42-44); e quinta, a ilustração do servo fiel e
prudente (24.45-51).
Essas cinco parábolas são ensinamentos importantes que dizem respeito à
nação de Israel. Na realidade, eu vou ainda mais longe para dizer que todas as
parábolas do Novo Testamento estão diretamente relacionadas com Israel.
Elas geralmente se referem à rejeição de Jesus como Messias por parte de
Israel e mencionam as consequências decorrentes dessa atitude da nação. Em
Mateus 13.10-17, Cristo disse a Seus discípulos que falaria aos ouvidos
“deste povo” para que ficassem cegos em relação à verdade, por terem
rejeitado Jesus como o Messias que lhes fora prometido. Contudo, aqueles
que cressem em Jesus poderiam entender o significado das Suas parábolas,
porque somos receptivos à revelação apresentada por Cristo. Portanto, todas
as parábolas estão relacionadas com Israel de alguma maneira, modo ou
forma, e geralmente nos proporcionam alguma informação sobre o que Deus
planejou para o futuro.
Ao mencionarem uma vinda de Cristo, todas as parábolas proferidas no
Discurso Profético do Monte das Oliveiras se referem à Segunda Vinda, não
ao Arrebatamento da Igreja. Isso se deve ao fato de que tal Discurso Profético
foi inteiramente dirigido a Israel e diz respeito àquele período de tribulação
pelo qual a nação passará, além de se referir à volta de Cristo no fim daquele
período. As verdades referentes ao Arrebatamento da Igreja foram reveladas
exclusivamente nas Epístolas do Novo Testamento, as quais foram
especificamente escritas com o intuito de explicar o propósito e a natureza da
Era da Igreja. A única exceção a isso se encontra no Discurso de Jesus
proferido no cenáculo (João 14.1-3), quando Ele fez a primeira revelação
sobre a esperança da Igreja [i.e., o Arrebatamento], momentos antes de Sua
morte.
A ilustração da figueira
A primeira dessas parábolas, a saber, a lição depreendida da ilustração da
figueira, é uma passagem bíblica que já tem sido vastamente comentada. Meu
grande amigo Hall Lindsey, por exemplo, explica que a figueira representa a
nação de Israel, numa possível implicação de que Cristo voltaria no decorrer
de uma geração, a contar-se da fundação do moderno Estado de Israel. Em
seu famoso livro intitulado The Late Great Planet Earth (publicado em
português sob o título: A Agonia do Grande Planeta Terra), o qual foi a
primeira exposição relevante da profecia bíblica que li em 1970, Hal diz o
seguinte:
Contudo, o sinal mais importante predito em Mateus tem de ser a restauração dos
judeus à sua terra no renascimento de Israel. Até mesmo a “figueira”, como figura
de linguagem, tem sido um símbolo histórico da nação de Israel. Quando o povo
judeu, depois de quase 2000 anos de exílio sob implacável perseguição, veio a se
tornar de novo uma nação em 14 de maio de 1948, a “figueira” brotou suas
primeiras folhas. Jesus disse que isso seria indício de que Ele estava “às portas”,
pronto para voltar. Depois afirmou, “Em verdade vos digo que não passará esta
geração sem que tudo isto aconteça” ( Mt 24.34). Que geração? É óbvio que o
contexto se refere à geração que veria os sinais – sendo o principal deles o
renascimento de Israel. Na Bíblia, uma geração equivale a cerca de quarenta anos.
Então, Se essa dedução estiver correta, dentro de aproximadamente quarenta anos,
contados a partir de 1948, todas essas coisas poderão acontecer. Muitos eruditos que
investiram toda a sua vida no estudo da profecia bíblica acreditam que essa é a
interpretação.3
Eu concordo com Hal Lindsey em grande parte do que ele ensina no
campo da profecia bíblica, porém sou forçado a discordar dele nessa
específica passagem das Escrituras, ainda que no início da década de 1970 eu
tenha adotado o mesmo ponto de vista que Hal defende. Naquela época eu
adotei esse ponto de vista porque o livro sobre profecia bíblica que, até então,
mais me influenciara intitulava-se A Agonia do Grande Planeta Terra, da
autoria de Hal Lindsey (eu ainda creio que esse seja um excelente livro para
alguém que queira começar a estudar a profecia bíblica e o recomendo). Eu
tendo a concordar que a figueira algumas vezes é usada como um símbolo do
Israel nacional (veja: Jz 9.10-11; Jr 8.13; Os 9.10; Hc 3.17; Ag 2.19; Mt
21.19; Mc 11.13,20-21; Lc 13.6-7). Porém, a despeito de a figueira ser ou não
um símbolo da nação de Israel, uma interpretação coerente do texto nos leva
a perceber que esse não é o assunto da passagem em questão, nem é um fator
decisivo para interpretá-la. Eu também concordo com Hal Lindsey na sua
concepção de que a fundação do moderno Estado de Israel em 1948 é
profeticamente significativa, como um indício de que talvez estejamos
próximos do começo da Tribulação, contudo, não creio que a parábola da
figueira seja base para tal ponto de vista.
O problema fundamental da concepção de Hal Lindsey é que ele interpreta
a parábola de Jesus, transformando o que seria uma ilustração numa profecia.
Cristo simplesmente ilustra o fato de que quando alguém visse uma figueira
(no relato que Lucas faz do mesmo episódio, Cristo diz o seguinte em Lc
21.29: “...Vede a figueira e todas as árvores”) cujas folhas começassem a
brotar (i.e., na primavera), deveria saber que a próxima estação do ano (i.e.,
verão) estava chegando. Então Jesus conclui: “Assim também, quando virdes
acontecerem estas coisas, sabei que está próximo o reino de Deus” (21.31).
Portanto, nesse contexto, o Senhor Jesus não enfatiza a simbologia usada para
representar a nação de Israel. Cristo, na realidade, estava dizendo que quando
alguém visse os acontecimentos preditos para se cumprir nos sete anos da
Tribulação, deveria saber que Seu Segundo Advento está próximo.
Hal Lindsey e outros que defendem essa mesma concepção se apropriaram
da ilustração que Cristo usou para demonstrar um ensinamento exposto nos
versículos 4-31 e criaram uma profecia do nada, que nem mesmo existe. Hal
criou a profecia de que a volta de Cristo aconteceria 40 anos depois da
fundação do moderno Estado de Israel. Cristo não tinha a menor intenção de
que Sua ilustração se tornasse uma profecia; era uma ilustração das verdades
reveladas no contexto anterior. Devia estar mais do que claro que esse ponto
de vista de Lindsey está equivocado, principalmente porque já se passaram
mais de 20 anos da data em que se completaram os 40 anos por ele preditos.
Nesse caso, não faz diferença alguma saber o tempo de duração de uma
geração, porque os acontecimentos preditos nos versículos 4-31 ocorrerão
num período delimitado de sete anos. Aquela geração que presenciar os
acontecimentos do período de sete anos da Tribulação “não passará” (em
outras palavras, não levaria centenas de anos, nem um longo período de
tempo) até que ocorra a Segunda Vinda de Cristo (veja, Mt 24.33). Essa
primeira parábola esclarece, pelo uso de ilustração, aquilo que Jesus afirmou
em Mateus 24.29-30: “Logo em seguida à tribulação daqueles dias [...] verão
o Filho do Homem vindo sobre as nuvens do céu...”.
Conclusão
Qual seria a lição a ser aprendida com a parábola da figueira? A lição é a
de que no momento em que figueira atinge certo estágio no ciclo sazonal
(neste caso, quando ela faz com que suas folhas brotem), as pessoas
percebem que já chegaram a certa época do ano (neste caso, elas sabem que o
verão está próximo). A parábola é uma lição por comparação, que parte de
algo conhecido para explicar aquilo que é desconhecido. No caso em questão,
as folhas da figueira que surgem antes do verão seriam uma referência aos
acontecimentos da Tribulação delineados por Cristo nos versículos 4-31.
Dessa forma, quando as pessoas constatarem os acontecimentos preditos,
devem ter consciência de que a volta de Cristo está próxima, “às portas” (Mt
24.33). De que maneira poderão saber que o advento de Cristo se aproxima?
Elas saberão pelo fato de que “...não passará esta geração sem que tudo isto
aconteça” (Mt 24.34). Ou seja, aquele período de tempo no qual os
acontecimentos culminarão na volta de Cristo não ultrapassará os sete anos.
Chegará o dia em que “Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras
não passarão” (Mt 24.35). As palavras de Cristo se cumprirão na íntegra;
elas jamais passarão sem o seu respectivo cumprimento.
NOTAS
1
Kenneth L. Gentry, Jr., Perilous Times: A Study in Eschatological Evil, Texarkana, AR: Covenant
Media Press, 1999, p. 89.
2 Gary DeMar, Last days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 200.
3 Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth, Grand Rapids: Zondervan, 1970, p. 53-54.
Parte 31

“Em verdade vos digo que não passará esta geração


sem que tudo isto aconteça” – Mateus 24.34.
O preterismo propõe que a maior parte (senão todo) do
livro de Apocalipse e do Discurso Profético do Monte
das Oliveiras (Mt 24 - 25; Mc 13; Lc 21) se cumpriu
na ocasião da destruição de Jerusalém imposta pelas
legiões romanas no ano 70 d.C. Se tal concepção fosse
aceita como certa, quase todas as profecias bíblicas
não poderiam predizer o futuro e teriam de ser
interpretadas como fatos históricos que se cumpriram
no passado. O enganoso esquema preterista nasce de
uma interpretação equivocada de Mateus 24.34 (veja,
também, Marcos 13.30; Lc 21.32), pela qual seus
proponentes apresentam uma perspectiva pervertida da
escatologia, que, ao invés de contemplar o futuro, olha
fixamente para o passado.

A Perspectiva Preterista

O intérprete preterista Gary DeMar afirma: “A geração que estava viva


quando Jesus discursou a Seus discípulos não passaria até que se cumprissem
todos os acontecimentos descritos antes do versículo 34”.1 Ao contrário de
seu colega preterista Kenneth Gentry, DeMar acredita que essa passagem
bíblica exige que tudo quanto foi dito em Mateus 24 e 25 tenha se cumprido
de alguma maneira no ano 70 d.C., quando os romanos invadiram Jerusalém
e destruíram tanto a cidade quanto o seu templo.2 DeMar declara: “Todas as
vezes que a expressão ‘esta geração’ é usada no Novo Testamento significa,
sem exceção, a geração à qual Jesus proferia Suas palavras”.3 A afirmação de
DeMar simplesmente não é verdadeira! Em Hebreus 3.10, a expressão “esta
geração” se refere àquela geração de israelitas que vagueou pelo deserto
durante quarenta anos na época do Êxodo.
Outro que recentemente se revelou preterista, Hank Hanegraff, assume
uma postura semelhante no novo romance que escreveu, onde seu
personagem Caleb diz: “Quero lembrar que todos nós estamos de acordo em
que as profecias proferidas por Jesus no Monte das Oliveiras só têm sentido
se, em vez de apenas alguns, todos os acontecimentos preditos já tiverem se
cumprido”.4 Nesse romance, a narrativa subsequente apóia um cumprimento
do Discurso Profético de Cristo no primeiro século d.C., de uma maneira
comumente adotada pelos intérpretes preteristas.5 Numa entrevista recente,
Hanegraaff declarou que “quando Jesus mencionou ‘esta geração’, Ele não
queria dizer ‘aquela geração’...”. “Era uma referência à típica tribulação que
aconteceu no primeiro século d.C.”6
Como encontrar a perspectiva correta?
Mas como é que podemos saber que quase todas as outras ocorrências neo-
testamentárias da expressão “esta geração” se referem aos contemporâneos
de Jesus Cristo? É possível ter essa informação por meio de uma investigação
cuidadosa sobre a maneira pela qual cada ocorrência é usada em seu
contexto. Por exemplo, o texto de Marcos 8.12 diz o seguinte: “Jesus, porém,
arrancou do íntimo do seu espírito um gemido e disse: Por que pede esta
geração um sinal? Em verdade vos digo que a esta geração não se lhe dará
sinal algum”. Por que chegamos à conclusão de que nessa passagem a
expressão “esta geração” se refere aos contemporâneos de Cristo? Porque no
texto em questão Jesus faz alusão àqueles que buscavam um sinal de Sua
parte, a saber, Seus próprios contemporâneos. Portanto, a passagem se refere
aos contemporâneos de Jesus Cristo por causa do contexto imediato como
fator determinante.
Ao interpretar a Bíblia não se pode simplesmente dizer, como DeMar e
tantos outros preteristas afirmam, que se algo significa X..., Y..., ou Z noutras
passagens, tem de significar obrigatoriamente a mesma coisa em determinado
texto.7 Definitivamente, NÃO! É necessário analisar a ocorrência daquele
termo dentro do texto bíblico em questão até chegar ao seu significado
através de uma análise do modo pelo qual foi usado naquele contexto
específico. O contexto é o fator mais importante na determinação do correto
significado do termo em questão.8 É o meio pelo qual se pode compreender
que a maioria das ocorrências da expressão “esta geração” diz respeito aos
contemporâneos de Cristo.
Em Mateus 23.36 está escrito: “Em verdade vos digo que todas essas
[coisas] hão de vir sobre esta geração” (ARC). A quem a expressão “esta
geração” se refere? Pelo embasamento contextual, fica evidente que a
expressão “esta geração” faz referência aos contemporâneos de Cristo. A
locução “esta geração” é regida gramaticalmente pela frase “todas essas
coisas”. A expressão “todas essas coisas” faz alusão aos juízos que Jesus
pronuncia nos capítulos 22 e 23 de Mateus. Por isso, deve-se admitir que, em
cada ocorrência da expressão “esta geração”, o significado é definido a partir
do que essa expressão modifica no seu contexto imediato. A amplitude
semântica de todas as ocorrências da expressão “esta geração” é definida da
mesma maneira.
O mesmo ocorre em Hebreus 3.10, que diz: “Por isso, me indignei contra
essa geração e disse: Estes sempre erram no coração; eles também não
conheceram os meus caminhos”. Como se vê, a locução “esta geração” é
regida gramaticalmente pela referência contextual daqueles que vaguearam
por quarenta anos no deserto durante o Êxodo.
A perspectiva correta
Então, por que a expressão “esta geração” encontrada em Mateus 24.34
(veja, também, Marcos 13.30; Lucas 21.32) não se refere aos
contemporâneos de Cristo? Porque o elemento que rege gramaticalmente a
referida expressão é “todas essas coisas”. Uma vez que Cristo profere um
longo discurso profético sobre acontecimentos futuros, é preciso,
primeiramente, descobrir a natureza de “todas essas coisas” profetizadas nos
versículos de 4 a 31, para, então, concluir a que geração Jesus se referia. Se
“todas essas coisas” preditas não se cumpriram no primeiro século d.C., a
conclusão óbvia é de que Cristo se referia a uma geração ainda futura. Cristo
estava dizendo que a geração que visse “todas essas coisas” ocorrerem não
terminaria até que todos os acontecimentos da tribulação vindoura se
cumprissem. Para ser franco, o texto requer uma interpretação literal, não
uma interpretação de que tudo se cumpriu no primeiro século d.C. Em última
análise, Cristo não fazia alusão a Seus contemporâneos, mas, sim, à geração
que testemunharia os sinais preditos em Mateus 24. O Dr. Darrell Bock
concorda com essa perspectiva ao declarar:
Jesus estava dizendo que a geração que visse o começo do fim também veria a
consumação do fim. Quando os sinais aparecerem, eles se darão rapidamente; não
demorarão por muitas gerações. Tudo se cumprirá no período de uma geração [...]
O ensinamento repercutido em Apocalipse comprova que, quando chegar o fim, a
consumação se dará de forma rápida. Contudo, no contexto do Discurso Profético, a
ressalva vem depois dos comentários que Jesus faz sobre a proximidade do fim em
relação a determinados sinais. Dessa forma, é o assunto dos sinais que domina o
sentido da passagem, o que torna essa perspectiva plausível. Se essa for a correta
interpretação, conclui-se, pela afirmação de Jesus, que quando os sinais do começo
do fim se manifestarem, o próprio fim ocorrerá relativamente rápido, a saber, dentro
de uma geração.9
Os intérpretes preteristas inverteram o processo interpretativo ao
estabelecerem a premissa básica de que a expressão “esta geração” só pode
se referir aos contemporâneos de Jesus, o que levaria à conclusão equivocada
de que todas as coisas mencionadas por Cristo tinham que se cumprir no
primeiro século d.C. Quando alguém chama atenção para o fato de que vários
acontecimentos descritos em Mateus 24 ainda não se cumpriram, os
intérpretes preteristas simplesmente repetem seu “mantra” da expressão “esta
geração”, para dizer que tudo tinha de se cumprir no primeiro século d.C. Na
realidade, quando se faz uma comparação entre o uso da expressão “esta
geração” no início do Discurso Profético em Mateus 23.36 (que é uma
referência incontestável ao ocorrido no ano 70 d.C.) e o uso profético dessa
mesma expressão no texto de Mateus 24.34, a diferença de significado parece
evidente. Jesus faz um contraste entre o livramento de Israel predito em
Mateus 24.34 e o juízo predito em Mateus 23.36.
Minha convicção é a de que nenhum dos acontecimentos mencionados em
Mateus 24.4-31 se cumpriu no primeiro século d.C. Num comentário inicial
do texto de Mateus 24.4-31 já assinalei que nenhum desses acontecimentos se
deu no passado, numa implicação de que, nessa passagem, o Senhor Jesus
prevê um período de tempo ainda futuro.
A perspectiva profética
É muito comum os intérpretes preteristas fazerem menção ao que eles
chamam de “relevância para a audiência”. Com base nisso, os preteristas
acreditam que se o Novo Testamento foi escrito no primeiro século d.C., seu
conteúdo deve estar diretamente relacionado com a audiência original. O Dr.
Kenneth Gentry declara: “O fator da audiência original não pode ser
desconsiderado; a mensagem de Apocalipse tem de ser relevante para aquelas
pessoas”.10 Na continuação de suas palavras, Gentry diz: “Ao enfatizar-se a
peculiaridade da audiência junto com a expectativa de cumprimento iminente
daqueles acontecimentos [...] não consigo vislumbrar nenhuma maneira de se
evitar a interpretação preterista”.11 Esse mesmo raciocínio é frequentemente
aplicado ao Discurso Profético do Monte das Oliveiras. E. B. Elliott faz esta
correta observação: “Não existe nenhum vestígio de testemunho que
corrobore para tal interpretação”.12 Essa concepção não passa de mero
pressuposto, pois se fosse verdadeira, as Escrituras Sagradas estariam
impossibilitadas de fazer qualquer declaração profética que ultrapassasse os
limites (i.e., 40 anos) daquela geração que ouviu a predição.
Eu creio que Jesus fez uso da expressão “esta geração” em Mateus 24.34
como um recurso de ênfase literária. Tal como salientei anteriormente, Jesus
fazia um contraste entre o livramento de Israel, mencionado em Mateus
24.34, e o juízo predito em Mateus 23.36, baseando-se nas reações
antagônicas de duas diferentes gerações de israelitas. Isso proporciona o
alicerce para o contraste que Cristo faz entre as duas gerações – a primeira se
constitui numa geração descrente, enquanto a última vem a ser uma geração
crente.
O sentido futuro da expressão “esta geração” num contexto de juízo abre o
precedente para sua interpretação tanto em contextos jurídicos quanto em contextos
escatológicos. Se a devastação sofrida por “esta geração”, referida em Mateus
23.36, pode ser entendida como um fato de cumprimento futuro que ocorreu cerca
de quarenta anos mais tarde, não deveria ser problema interpretar o juízo da
Tribulação como um acontecimento ainda futuro que sobrevirá à geração que
presenciar a consumação do século. Contudo, a diferença não está em um simples
período de tempo, mas na natureza escatológica desse período. No que tange à
expressão “esta geração” de Mateus 24.34, de Marcos 13.30 e de Lucas 21.32, a
expressão “tudo isto” (ou “todas estas coisas”; Mateus 24.34; Marcos 13.30; Lucas
21.28), em termos contextuais, só pode se referir aos acontecimentos da “grande
tribulação”, ao encerramento dos “tempos dos gentios”, à volta de Cristo em glória,
bem como ao reagrupamento e redenção do povo de Israel, acontecimentos esses
que, na sua totalidade, não somente são preditos por Jesus como eventos futuros em
relação ao momento em que Ele os menciona (Marcos 13.23), mas também são
descritos em linguagem tipicamente escatológica (como, por exemplo, nestas
expressões: “consumação do século”; “como desde o princípio do mundo até agora
não tem havido, e nem haverá jamais”; “os poderes dos céus serão abalados”).13
Em vez de “relevância para a audiência”, é fundamental conhecer a
relevância profética segundo a qual uma profecia é enunciada. Isso significa
que há ocasiões nas quais uma revelação profética é anunciada de acordo com
a conjuntura da época em que a profecia se cumprirá. Isso frequentemente
ocorre no livro de Apocalipse (a exemplo de Ap 21.9-10). O apóstolo João
muitas vezes recebe uma revelação do futuro e fala de uma perspectiva como
se aqueles acontecimentos futuros estivessem se cumprindo no momento em
que ele os observa e faz sua descrição por escrito. No texto de Mateus 24.34,
Jesus pronuncia Seu Discurso Profético do Monte das Oliveiras como se
estivesse numa conjuntura cronológica futura, narrando uma época que ainda
estava por vir; é nesse contexto que Ele diz “esta geração”.
Percebe-se que o mesmo ocorre no Salmo 2.7, onde Deus, o Pai, se dirige
ao Filho dizendo: “Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei”. Essa passagem trata
da encarnação do Filho realizada pelo Pai, a qual, segundo os intérpretes da
Bíblia, aconteceu na Primeira Vinda de Cristo. No entanto, Davi escreveu
esse salmo mil anos antes de Cristo. A pressuposição de uma “relevância para
a audiência” culminaria num erro crasso de interpretação desse salmo
profético. Considerar o salmo pela perspectiva daquele que fala a partir da
conjuntura de um futuro distante, é a única interpretação que faz sentido
dentro do respectivo contexto. É o que também ocorre na menção feita por
Jesus a “esta geração” durante Seu Discurso Profético do Monte das
Oliveiras. Ele fala a partir da conjuntura cronológica de um futuro distante.
Maranata!
NOTAS
1
Gary DeMar, End Times Fiction: A Biblical Consideration of the Left Behind Theology, Nashville:
Thomas Nelson Publishers, 2001, p. 67-68.
2
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Powder Springs, GA: American
Vision, 1999, p. 198-201.
3
DeMar, End Times Fiction, p. 68.
4
Hank Hanegraaff e Sigmund Brouwer, The Last Disciple, Wheaton: Tyndale House Publishers, 2004,
p. 93.
5
Hanegraaff e Brouwer, Disciple, p. 92-96. Nessa obra, o texto de Mateus 24.34 é apresentado com
uma conotação interpretativa preterista logo depois da página de agradecimentos, num esquema que
ocupa duas páginas. A perspectiva do Preterismo é claramente veiculada no epílogo do livro, p. 395.
6
Hank Hanegraaff, veiculado no programa de rádio de concepção preterista, “Voice of Reason”, em 21
de novembro de 2004. O programa é transmitido pela Internet através do site:
www.lighthouseproductionsllc.com/broadcast.htm.
7
Veja: D. A. Carson, Exegetical Fallacies, Grand Rapids: Baker, 1984, p. 65.
8
Veja: Roy B. Zuck, Basic Bible Interpretation: A Practical Guide to Discovering Biblical Truth,
Wheaton, IL: Victor Books, 1991, p. 106-09.
9
Darrell L. Bock, Luke 9:51–24:53, Grand Rapids: Baker, 1996, p. 1691-92.
10
Kenneth L. Gentry, Jr., He Shall Have Dominion: A Postmillennial Eschatology, Tyler, TX: Institute
for Christian Economics, 1992, p. 396.
11
Gentry, He Shall Have Dominion, p. 397.
12
E. B. Elliott, Horae Apocalypticae, edição revisada, 4 vols., Londres: Seeleys, 1851, vol. IV, p. 535.
13
J. Randall Price, “Historical Problems with a First-Century Fulfillment of the Olivet Discourse”,
publicado na obra organizada por LaHaye e Ice, End Times Controversy, p. 379-80.
Parte 32

“Passará o céu e a terra, porém as minhas palavras


não passarão. Mas a respeito daquele dia e hora
ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho,
senão o Pai” – Mateus 24.35-36.
No versículo 34, Jesus declarou que “...que não
passará esta geração sem que tudo isto aconteça”.
Agora, no versículo 35, Ele menciona uma realidade
que há de passar e outra realidade que não passará. O
fim da realidade citada no versículo 34 não se
cumpriria sem que “...tudo isto aconteça”. No
versículo 35, Cristo não usa a expressão “sem que”,
mas faz um pronunciamento acerca de duas realidades,
a saber, “céu e terra” e “minhas palavras”.

Céu e Terra Passarão

O versículo 35 inicia com a expressão de dupla composição “céu e terra”.


Não há nenhuma dúvida de que essa frase remonta ao texto de Gênesis 1.1,
que diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra”. Allen Ross explica o
seguinte:
Aquilo que Deus criou é denominado nesse texto de “céu e terra”, uma expressão
poética (i.e. merisma) que significa todo o universo. Outros exemplos desse recurso
poético se encontram nas expressões “dia e noite” (que quer dizer o tempo todo) e
“homens e animais” (significando todos os seres corpóreos que foram criados).
Portanto, a expressão “céu e terra” não somente faz alusão ao céu e à terra
propriamente ditos, mas também a tudo o que neles existe. O texto de Gênesis 2.4
também usa essa expressão numa reiteração de que a obra da criação se completou
em seis dias.1
A palavra grega traduzida por “passará” é o verbo parerchomai, que, em
geral, significa “subir a”, “passar por”, “findar ou desaparecer”.2 Mas o que
esse termo quer dizer na passagem em questão? Ed Glasscock esclarece:
A partir do momento que essa “grande tribulação” (v. 21) se descortinar e
começar, não passará aquela geração até que tudo o que foi predito se cumpra. Para
dar mais relevância ao que acabara de dizer, o Senhor acrescenta a afirmação de que
Suas palavras são mais duradouras que o próprio universo. O céu e a terra serão
removidos, porém o que Ele declarou durará para sempre.3
O verbo “passar” e a locução grega de dupla negação ou me ocorrem tanto
em Mateus 24.34 quanto em 24.35, de modo que transmitem a mesma ênfase
em ambos os versículos.
A insensatez preterista
Apesar de tamanha clareza na declaração de Jesus, é espantoso constatar as
alegações de muitos intérpretes integralmente preteristas ao afirmarem que
céu e terra não passarão.4 É muito raro ouvir um programa de rádio dirigido
pelo preterista integral John Anderson em que este não diga algo do tipo: “o
mundo durará para sempre e nunca será destruído”.5 Mas, então, que
interpretação os estudiosos integralmente preteristas apresentam para certas
passagens bíblicas como a de Mateus 24.35? Don Preston, outro intérprete
preterista integral, diz:
Quando Jesus se referiu à Sua vinda sobre as nuvens com poder e muita glória, Ele
não estava usando uma linguagem literal. Tal como os profetas de Israel
costumavam fazer, Jesus usava uma hipérbole para descrever o futuro juízo que
sobreviria a Israel. À luz de Sua compatível aplicação figurada do fim do céu e da
terra à destruição da nação de Israel, podemos entender melhor que, quando Jesus
disse “passará o céu e a terra” em Mt 24.35, Ele dava uma resposta às perguntas
feitas pelos discípulos sobre a destruição de Jerusalém (Mt 24.2). O enfoque da
passagem se concentra no mundo de Israel, não na criação física.6 (grifos em itálico
fazem parte do texto original)
Mesmo que pudesse ser provado que os profetas do Antigo Testamento
usaram (por via de regra) essa linguagem a que Preston se refere (o que é
discutível), não há nenhum fundamento para usá-la no caso específico de
Mateus 24.35. Para falar a verdade, não creio que se possa provar
lexicamente que haja uma única ocorrência do uso da expressão “céu e terra”
em sentido figurado e hiperbólico, tal como afirma Preston. A conclusão a
que Preston chega é fruto de mera pressuposição, não de exegese. O único
motivo para que ele adote um ponto de vista como esse se encontra no seu
pressuposto preterista, não no resultado de um estudo do texto bíblico.
Ao fazer-se uma análise das 36 ocorrências da expressão “céu e terra” em
toda a Bíblia, não se encontra sequer uma ocorrência dessa expressão num
uso “figurado do fim do céu e da terra aplicado à destruição da nação de
Israel”. A exemplo de Gênesis 1.1, todos os usos da expressão “céu e terra”
se referem à criação física realizada por Deus,7 com exceção de quatro textos
bíblicos (Dt 4.26; 30.19; 31.28; Jr 51.48). Nessas quatro ocorrências, “céu e
terra” são usados como testemunhas angelicais e humanas. Por exemplo,
Deuteronômio 30.19: “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra
ti...”. Isso não se assemelha em nada ao que Preston sugere.
Uma vez que não há nenhuma base léxica, nem apoio contextual, para se
afirmar que a expressão “céu e terra” de Mateus 24.35 deve ser entendida
em sentido figurado, o ponto de vista integralmente preterista tem de ser
rejeitado como enganoso; para dizer a verdade, trata-se de um erro crasso. A
interpretação preterista não somente anula o verdadeiro sentido dessa
passagem, mas também distorce passagens bíblicas correlatas (Mc 13.31; Lc
21.33) e semelhantes, tais como, Mateus 5.18 e Lucas 16.17. Se, ao invés de
equivocada, a perspectiva preterista fosse verdadeira, o texto de Lucas 16.17
seria lido da seguinte maneira: “E é mais fácil passar o mundo de Israel do
que cair um til sequer da Lei”. Essa concepção é tão absurda que manifesta
incoerência da mitologia preterista em face de uma legítima exegese do
próprio texto.
As palavras de Cristo não passarão
Esse texto bíblico declara explicitamente que, um dia, “passará o céu e a
terra...”, num contraste com as palavras de Cristo que “...não passarão”. No
intuito de dar mais ênfase à absoluta impossibilidade de que Suas palavras
passem, Cristo utiliza não um, mas dois vocábulos gregos que significam
“não” (colocados juntos) para dizer que algo não vai acontecer. Randolph
Yeager salienta que “a locução grega de dupla negação ou me usada com o
subjuntivo se torna uma negação enfática de uso frequente”.8 Lenski
concorda com isso e acrescenta que a locução grega ou me é usada “de modo
abrangente”, denominando-a de “a negação mais forte”.9
Ao se pronunciar com tamanha autoridade, Cristo se identifica como os
profetas do Antigo Testamento, tais como Isaías (40.8) e Zacarias (1.1-6). A
certeza que Cristo transmite sobre o cumprimento de Sua palavra profética só
pode significar que Ele tem o selo da aprovação de Deus em Seu ministério.
Arno Gaebelein esclarece nos seguintes termos:
Sim, céu e terra podem passar, mas as Suas Palavras não passarão. Isso é
tremendamente sério! Aqui ainda lemos as mesmas palavras magníficas e poderosas
que, no passado, foram odiadas por milhares de inimigos de Deus; palavras que têm
sido atacadas e contraditas. Não obstante, o velho inimigo da Palavra escrita continua a
agredir e desprezar essas Palavras através de seus agentes prediletos (Ai, Senhor!
Muitos deles estão infiltrados na igreja institucionalizada de fé meramente nominal).
Porém, tais Palavras permanecem firmes! Elas são tão eternas e divinas, tão infalíveis e
verdadeiras, quanto Aquele de cujos lábios procedem, a saber, o eterno Filho de
Deus.10

O dia e a hora
Há, pelo menos, seis textos bíblicos (se incluíssemos as passagens
correlatas, o total chegaria a oito) que especificamente advertem os crentes
em Jesus contra o perigo de se marcar a data da Segunda Vinda de Cristo e
do Arrebatamento da Igreja. Em primeiro lugar, seria impossível marcar a
data do Arrebatamento pelo fato de que se trata de um acontecimento sem
sinais preditos que o antecedam, ou seja, iminente. Como alguém poderia
apresentar um cronograma com data marcada para o Arrebatamento da Igreja,
se, como crentes, somos exortados a aguardar continuamente a volta do
Senhor Jesus para encontrá-lO a qualquer momento nos ares? Isso explica a
razão pela qual as pessoas que marcaram a data do Arrebatamento nunca
usaram aquelas passagens bíblicas que realmente dizem respeito ao
Arrebatamento como base para seus esquemas cronológicos, pois tais textos
não dão nenhum apoio a alguém que tente se aventurar naquilo que é
proibido. Esses especuladores invariavelmente recorrem a textos bíblicos que
dizem respeito a Israel (não à Igreja) ou a passagens bíblicas nas quais as
pessoas confundem a Segunda Vinda de Cristo com o Arrebatamento.
Basta que algo seja declarado apenas uma vez na Bíblia para que se
comprove como verdade. Entretanto, quando Deus reafirma alguma coisa por
várias vezes, tal ênfase deve dar mais clareza ao que foi declarado. Abaixo,
relaciono especificamente estes textos das Escrituras para que possamos
identificar, sem dificuldade, essas importantes admoestações bíblicas:
Mateus 24.36: “Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe,
nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai”.
Mateus 24.42: “Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem
o vosso Senhor”.
Mateus 24.44: “Por isso, ficai também vós apercebidos; porque, à
hora em que não cuidais, o Filho do Homem virá”.
Mateus 25.13: “Vigiai, pois, porque não sabeis o dia nem a hora”; o
texto de Marcos 13.33-37 é uma passagem correlata.
Atos 1.7: “Respondeu-lhes: Não vos compete conhecer tempos ou
épocas que o Pai reservou pela sua exclusiva autoridade”.
1 Tessalonicenses 5.1-2: “Irmãos, relativamente aos tempos e às
épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos
estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como
ladrão de noite”.

As passagens acima se constituem em proibições terminantes contra a


marcação da data da volta de Cristo. Elas não dizem que nos primórdios da
Igreja era impossível saber a data, mas que nos últimos dias alguns
conheceriam o momento exato. Elas também não dizem que ninguém sabe o
dia e a hora, exceto aqueles que seriam capazes de desvendá-los através de
algum esquema. Não! O dia e a hora da volta de Cristo estão ocultos nos
desígnios de Deus e Ele decidiu não revelá-los, nem mesmo a Jesus Cristo
durante o tempo de Sua humilhação, por ocasião de Seu Primeiro Advento
(Mt 24.36).
A Bíblia mostra que a Palavra de Deus é suficiente em proporcionar tudo o
que é necessário para vivermos uma vida que agrade a Cristo (2 Tm 3.16-17;
2 Pe 1.3-4). Isso implica que se algo não nos é revelado na Bíblia é porque
não é necessário para a concretização do plano de Deus para nossa vida. A
data da volta de Cristo não é declarada na Bíblia, portanto, a despeito do que
alguns possam dizer, o conhecimento do dia e hora da volta de Jesus não é
importante para que vivamos uma vida consagrada a Deus. O Senhor
declarou a Israel: “As coisas encobertas pertencem ao Senhor, nosso Deus,
porém as reveladas nos pertencem, a nós e a nossos filhos, para sempre,
para que cumpramos todas as palavras desta lei” (Deuteronômio 29.29). A
data da volta de Cristo não foi revelada; trata-se de um segredo que pertence
única e exclusivamente a Deus.
Conclusão
Quando alguém não lida corretamente com um texto bíblico, há pelo
menos duas coisas que sempre ocorrem: Em primeiro lugar, a passagem em
questão é distorcida e, consequentemente, não se aprende o ensinamento que
o Autor pretendia transmitir. Em segundo lugar, uma compreensão
equivocada redunda num falso ensino que nunca seria propagado se alguém
não interpretasse determinado texto bíblico de forma incorreta. A partir da
passagem bíblica que está em estudo podemos saber o seguinte: Um dia, céu
e terra passarão, ou, como um amigo meu costuma dizer: “tudo isso vai arder
em chamas”. Podemos igualmente saber que a Palavra de Deus é inerrante,
infalível e digna de confiança. Ela certamente se cumprirá. Esse é o alicerce
sobre o qual toda a profecia bíblica está edificada, pelo que todos os cristãos
que, de fato, confiam na Bíblia podem ser gratos a Deus. Maranata!
NOTAS
1
Allen P. Ross, Creation & Blessing: A Guide to the Study and Exposition of Genesis, Grand Rapids:
Baker Book House, 1988, p. 106.
2
Horst Balz e Gerhard Schneider, orgs., Exegetical Dictionary of the New Testament, 3 vols., Grand
Rapids: Eerdmans, 1993, vol. 3, p. 38.
3
Ed Glasscock, Moody Gospel Commentary: Matthew, Chicago: Moody Press, 1997, p. 475.
4
Os preteristas integrais alegam que todas as profecias bíblicas já se cumpriram no passado e que não
haverá nenhum segundo advento de Cristo no futuro.
5
Confira o seguinte site na Internet: http://www.lighthouseproductionsllc.com/broadcast.htm
6
Don K. Preston, Into All The World: Then Comes The End, Ardmore, OK: Don K. Preston, 1996, p.
90-91.
7
Com base na consulta realizada através do programa de computador Accordance, versão 6.4, as
referências bíblicas feitas à criação física, a exemplo de Gênesis 1.1, são as seguintes: Gn 1.1;
14.19,22; Êx 20.11; 31.17; 2Sm 18.9; 2Rs 19.15; 2Cr 2.12; Ed 5.11; Sl 69.34; 115.15; 121.2; 124.8;
134.3; 146.6; Is 37.16, Jr. 23.24; 32.17; 33.25; Ag 2.6,21; Mt 5.18; 11.25; 24.35; Mc 13.31; Lc 10.21;
16.17; 21.33; At 4.24; 13.15; 17.24; Ap 14.7.
8
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, KY: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 322.
9
R. C. H. Lenski, The Interpretation of St. Matthew’s Gospel, Minneapolis: Augsburg, 1943, p. 953.
10
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, (1910),
1961, p. 514.
Parte 33

“Mas a respeito daquele dia e hora ninguém sabe,


nem os anjos dos céus, nem o Filho, senão o Pai. Pois
assim como foi nos dias de Noé, também será a vinda
do Filho do Homem. Porquanto, assim como nos dias
anteriores ao dilúvio comiam e bebiam, casavam e
davam-se em casamento, até ao dia em que Noé
entrou na arca, e não o perceberam, senão quando
veio o dilúvio e os levou a todos, assim será também a
vinda do Filho do Homem” – Mateus 24.36-39.
Junto com a expressa proibição de se marcar data para
a volta de Cristo, o Senhor Jesus declara abertamente
que ninguém sabe o dia e hora de Sua volta, nem os
anjos, nem o Filho, senão unicamente Deus, o Pai.
Porém, que significado isso tem à luz do fato de que o
texto de Mateus 24.4-31 trata do período de sete anos
(compostos de 360 dias cada) da Tribulação dividido
ao meio pela abominação da desolação? Em outras
palavras, os crentes em Cristo que estiverem atentos
durante a Tribulação devem ser capazes de saber o dia
exato da Segunda Vinda. Eu creio que as pessoas que
se converterem a Cristo durante a Tribulação de fato
serão capazes de identificar o dia da volta de Cristo,
pois o texto de Lucas 21.28 afirma: “Ora, ao
começarem estas coisas a suceder, exultai e erguei a
vossa cabeça; porque a vossa redenção se aproxima”.
Além disso, o texto de Mateus 24.34 faz uma
referência cronológica ao dizer que a geração que
presenciar “tudo isto” (i.e., os acontecimentos que
marcarão o período de sete anos da Tribulação) não
passará até que Cristo volte. Então, qual é o
significado de Mateus 24.36 à luz dessas coisas?

Ninguém Sabe
Nessa passagem, Jesus é referido como “o Filho”. Quando usa termos
como “o Filho” ou “o Filho do Homem”, a exemplo do que ocorre no
versículo subsequente, o Novo Testamento salienta Sua humanidade e
encarnação. Essa passagem não diz “que ninguém nunca há de saber. Isso
Jesus realmente não disse”.1 Concordo com a maioria dos comentaristas ao
afirmarem que, durante o período de Sua encarnação como Filho do Homem,
não foi concedido a Jesus (ou a Ele não foi revelado) saber o tempo exato de
Sua volta. Porém, não tenho a menor dúvida de que, após Sua ascensão ao
céu, Jesus sabe o dia e a hora de Sua volta. John MacArthur comenta o
seguinte:
Portanto, mesmo naquele último dia que antecedeu Sua prisão, o Filho não sabia o
dia e hora precisos em que Ele voltaria à Terra por ocasião da Sua Segunda Vinda.
Durante a encarnação de Cristo, unicamente o Pai exerceu irrestrita onisciência
divina.2
Ed Glasscock repercute essa mesma concepção: “O Senhor Jesus não
procurou exibir Sua divindade; pelo contrário, buscou enfatizar Sua
humanidade. Como um servo obediente na Sua humanidade, Jesus não sabia
o dia nem a hora de Sua volta”.3 Em essência, Jesus diz que não lhes contaria
naquela ocasião o momento da Sua volta. Contudo, isso não quer dizer que
no futuro alguns não seriam capazes de identificar o momento da Sua vinda.
Yeager faz a seguinte observação: “O contexto transmite a ideia de que
naquele momento em que Jesus se dirigiu a Seus discípulos, e mesmo no
atual momento em que estou escrevendo, ninguém sabe o dia e a hora”.4 Tal
condição perdurará até que ocorra o Arrebatamento da Igreja, mas, depois
disso, o relógio profético de Deus voltará a marcar o tempo durante o período
da Tribulação. Aqueles que se converterem a Cristo durante aquele período
serão capazes de precisar pelo menos o dia em que Jesus voltará ao planeta
Terra.
Os dias de Noé
Na segunda ilustração depois de Seu Discurso no Monte das Oliveiras (Mt
24.4-31), Jesus propõe uma comparação parabólica entre Sua Segunda Vinda
e os dias de Noé (Mt 24.37). Apesar de não haver menção ao termo parábola
nessa passagem, o texto apresenta as peculiaridades de uma comparação
parabólica. “A vinda do filho do homem vai ser exatamente como nos dias
de Noé” (grifo do autor). Cristo faz uma comparação entre a Sua volta (Mt
24.36) e os dias antediluvianos de Noé.
Em primeiro lugar, a passagem diz que a Segunda Vinda de Cristo será
“assim como” aconteceu nos dias de Noé. A ordem das palavras na língua
original diz o seguinte: “Pois assim como os dias de Noé, assim será também
a vinda do Filho do Homem”. A partícula intensiva grega hosper (i.e., “assim
como”) é um “marcador de similaridade entre acontecimentos e
circunstâncias”.5 Quando associada ao advérbio demonstrativo grego houtos
(i.e., “assim, desta forma”), expressa a afirmação de Cristo de que os dias de
Noé retratam exatamente o que acontecerá na época da volta de Cristo.
Será que isso significa haver uma extensa lista de aspectos que podem ser
comparados com os dias de Noé? Não creio. Nas parábolas que proferiu,
Cristo sempre enfatizou um único ponto principal. Neste caso, o ponto
principal é a prontidão. Toussaint declara: “A semelhança se identifica na
surpresa da chegada do juízo e no despreparo do mundo para enfrentá-lo.6
Daniel Harrington diz o seguinte: “O cerne da comparação entre os dias de
Noé e a vinda do Filho do Homem é a imprevisibilidade da crise [...] o
dilúvio foi tão inesperado que as pessoas só o reconheceram quando já
estavam sendo atingidas por ele”.7
Em mais de uma ocasião, o Novo Testamento compara a Segunda Vinda
de Cristo ao dilúvio dos dias de Noé (Lucas 17.26-27; 2 Pe 2.4-11) e a outros
juízos, tais como o que ocorreu nos dias de Ló (Lucas 17.28-30). O ponto
central identificado nessas passagens é de que os descrentes não estavam
preparados para o juízo de Deus. Era isso que Cristo também queria dizer
nessa passagem de Mateus 24.
Comiam e bebiam
A falta de prontidão é reiterada pelos exemplos que o Senhor Jesus
menciona. A palavra grega trogo, traduzida aqui por “comer”, não é um
termo comumente utilizado. Ela significa “morder ou mastigar o alimento,
comer (fazendo barulho), e no que se refere aos animais... ruminar, roer,
mastigar ruidosamente”.8 Essa palavra é usada apenas seis vezes no Novo
Testamento Grego; as outras cinco ocorrências desse termo se encontram no
Evangelho de João, geralmente em referência a comer a carne de Cristo. A
palavra normalmente usada no Novo Testamento Grego para denotar o ato de
comer é esthio que ocorre na passagem correlata de Lucas 17.27. Ela é usada
158 vezes no Novo Testamento Grego e significa: “ingerir algo através da
boca, normalmente alimentos sólidos, mas também líquidos; comer”.9 Mas,
então, qual seria o sentido do texto em questão? O sentido parece “implicar
uma vida suntuosa”.10 Os desprevenidos daqueles dias estarão tão obcecados
por satisfazer seus apetites ou, dito de outra maneira, mastigando
ruidosamente seus alimentos, que nem se darão conta de estarem vivendo
numa época incomum, durante a qual seria razoável abandonar as práticas
rotineiras e normais da vida. Alfred Plummer também explica da seguinte
forma:
O elemento especial da analogia não é o de que a geração arrastada pelo dilúvio
foi excessivamente ímpia; nenhuma das práticas mencionadas pode ser considerada
pecaminosa; mas aquela geração estava tão ocupada com suas buscas mundanas que
não deu nenhuma atenção às advertências solenes. Em vez de dizerem: “É certo que
vai acontecer; portanto temos que estar preparados e ficar em constante alerta”, eles
diziam: “Ninguém sabe quando vai acontecer; por isso, ninguém precisa ficar
preocupado com isso ainda. Há outras coisas muito mais urgentes.11
Os acontecimentos que Cristo acabara de descrever (i.e., a Tribulação em
Mt 24.4-31) deviam provocar um interesse pelo desenvolvimento do plano de
Deus na história. Ao invés disso, os descrentes preferem continuar nas
atividades e passatempos da sua rotina diária. Robert Govett explica: “O
amor pelo mundo se evidencia no fato de que os seres humanos estariam
entregues à comida e à bebida. Se eles cressem no anúncio da chegada de um
juízo iminente, jejuariam e chorariam arrependidos”.12 Esse desejo de manter
o status quo é uma manifestação de despreparo.
Casavam e davam-se em casamento
Se a preocupação com o comer e o beber revela o despreparo diário, a
busca de se casar e dar em casamento ilustra a despreocupação numa
perspectiva de longo prazo. Embora o casamento seja bom na qualidade de
instituição criada por Deus, a questão, neste caso, é de que alguém não
deveria se comprometer num planejamento de longo prazo, estando
despreparado para um juízo iminente. Meyer comenta que se trata da
“descrição de um modo de vida despreocupado, sem qualquer pressentimento
de uma catástrofe iminente”.13 Assim como na época de Noé não fazia
sentido alguém planejar um casamento durante os dias que antecederam o
Dilúvio, sem estar preparado para enfrentar o juízo de Deus, assim também
não fará sentido que alguém planeje se casar em face dos acontecimentos do
período da Tribulação que culminarão na Segunda Vinda de Cristo.
Em seus dias, Noé pregara acerca do juízo de Deus que estava por
acontecer (2 Pe 2.5), contudo, ninguém, exceto a família de Noé, prestou
atenção à sua mensagem. Em vez disso, cada um cuidou da sua própria vida e
de seus negócios, como de costume, negligenciando as advertências da
Palavra de Deus. Govett captou o sentido desse texto com muita propriedade
ao dizer:
Portanto, as atividades aqui mencionadas não são por si mesmas malignas, mas
criam um clima de descrédito para as advertências de Deus. Elas só são aceitáveis
enquanto a atual situação perdurar. Acumular bens, quando a vida, as posses e a
posteridade estão na iminência de ser destruídos é tolice.14
Essas práticas dos desprevenidos cessaram no “...dia em que Noé entrou na
arca”, assim como tais práticas hão de cessar no futuro quando Cristo voltar
a este mundo.
E não o perceberam
Talvez a afirmação mais sensata dessa passagem seja: “...e não o
perceberam”. Eles não chegaram a uma conclusão a partir dos fatos. Jesus
disse: “...senão quando veio o dilúvio e os levou a todos”. Em seguida Jesus
inferiu: “...assim será também a vinda do Filho do Homem”. Aqui temos
uma construção semelhante à que já vimos no versículo 37, que é o
“marcador de similaridade entre acontecimentos e circunstâncias”.15
Não apenas as semelhanças devem ser observadas, mas é fundamental que
os contrastes também sejam identificados. É importante notar que os
rejeitadores da Palavra de Deus mencionados no versículo 39 como aqueles
que “...não o perceberam”, estão em justaposição com a advertência feita no
versículo 33, que diz: “Assim também vós: quando virdes todas estas coisas,
sabei que está próximo, às portas”. O verbo grego ginosko é usado em ambas
as passagens, sendo traduzido no versículo 33 pelo termo “sabei” e no
versículo 39 pelo termo “perceberam”. Nesses respectivos contextos, essa
palavra grega significa o seguinte: “captar o significado ou o sentido de
alguma coisa, entender, compreender”.16 A diferença entre aquele que
entende e aquele que não entende, baseia-se respectivamente nas atitudes de
aceitar a Palavra de Deus e não aceitá-la.
Na verdade o versículo 39 afirma claramente que os descrentes da época de
Noé não chegaram a perceber essas coisas. Todavia, eles não perceberam
“senão quando” lhes sobreveio o Dilúvio e arrastou a todos. Esse diferencial
é apenas um dentre muitos que distinguem entre crentes e descrentes. Os
crentes aceitam a Palavra de Deus antes que se cumpram os acontecimentos
preditos, porque confiam no Senhor e em Sua Palavra Profética. Por outro
lado, um descrente só aprende essas coisas pela experiência, no caso em
questão, uma experiência tremendamente amarga. E você? Será que confia
em Deus e em Sua Palavra porque Ele assim declara ou é um daqueles que só
aprende pela experiência? Há uma enorme diferença entre esses dois tipos de
pessoa. Maranata!
NOTAS
1
Randoph O. Yeager, The Renaissance New Testament, Bowling Green: Renaissance Press, 1978, vol.
3, p. 324.
2
John MacArthur, The New Testament Commentary: Matthew 24–28, Chicago: Moody Press, 1989, p.
72.
3
Ed Glasscock, Matthew: Moody Gospel Commentary, Chicago: Moody Press, 1997, p. 476.
4
Yeager, Renaissance, vol. 2, p. 326.
5
Walter Bauer, William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament
and Other Early Christian Literature, terceira edição, revisada por Frederick W. Danker, Chicago:
University of Chicago Press, 2000, p. 1106, abreviado pela sigla BDAG.
6
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
280.
7
Daniel J. Harrington, Sacra Pagina: The Gospel of Matthew, Collegeville, MN: The Liturgical Press,
1991, p. 342.
8
BDAG, p. 1.019.
9
BDAG, p. 396.
10
A. Carr, Cambridge Greek Testament for Schools and Colleges. The Gospel According to St.
Matthew, Cambridge: The University Press, 1896, p. 273.
11
Alfred Plummer, An Exegetical Commentary on the Gospel According to S. Matthew, segunda
edição, Minneapolis: James Family, sem data de publicação, p. 340.
12
Robert Govett, The Prophecy on Olivet, Miami Springs, FL: Conley & Schoettle Publishing Co.,
(1881), 1985, p. 95.
13
Heinrich August Wilhelm Meyer, Critical and Exegetical Handbook to The Gospel of Matthew, 2
vols., Edimburgo: T. & T. Clark, 1879, vol. 2, p. 155.
14
Govett, Prophecy, p. 96.
15
BDAG, p. 1.106.
16
BDAG, p. 201.
Parte 34

“Então, dois estarão no campo, um será tomado, e


deixado o outro; duas estarão trabalhando num
moinho, uma será tomada, e deixada a outra.
Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o
vosso Senhor” – Mateus 24.40-42.
No início da década de 1970, a música talvez mais
conhecida dentro do “Jesus Movement” (o
“Movimento de Jesus”) intitulava-se, “I Wish We’d
All Been Ready” (“Eu queria que todos nós
estivéssemos preparados”), composta por Larry
Norman. Eu estava envolvido nesse movimento
evangélico e dificilmente nos reuníamos sem cantar
esse cântico. A letra dessa música se refere ao
Arrebatamento da Igreja e contém as seguintes frases:
Um homem e sua esposa estão dormindo na sua cama.
Ela ouve um barulho e vira a cabeça para o lado; ele se
foi.
Eu queria que todos nós estivéssemos preparados.
Dois homens estão subindo um morro;
Um desaparece e o outro que fica se encontra quieto.
Eu queria que todos nós estivéssemos preparados.
Embora eu tenha a tendência de gostar das músicas
que tratem do Arrebatamento (em termos gerais, eu
ainda gosto da música que mencionei), não creio que o
texto de Mateus 24.40-42 (compare, Lucas 17.34-37)
seja uma referência ao Arrebatamento da Igreja. Em
vez disso, Jesus tinha em mente a Sua Segunda Vinda.

Um Será Tomado
A ilustração usada nessa parábola é clara e direta em ambos os exemplos.
Haverá uma separação na qual uma pessoa será tirada e a outra será deixada
para trás. O contexto também deixa claro que um dos indivíduos é crente e o
outro não. A passagem descreve um nítido processo de separação. A questão
nessa passagem consiste em identificar quem será levado e quem será
deixado. Aqueles que defendem a concepção pré-tribulacionista têm
sustentado as duas interpretações nesta questão: Será que esse texto implica
que o crente será levado e o descrente será deixado para trás, ou é exatamente
o oposto, a saber, que o descrente será levado e o crente será deixado para
que entre no reino de Cristo? Creio que esta última interpretação é a correta.
O descrente é que será levado em juízo.
Em toda esta exposição de Mateus 24, tenho argumentado que o foco do
texto se concentra na Segunda Vinda de Cristo, ao passo que o
Arrebatamento da Igreja não é mencionado em nenhum lugar dessa
passagem. Em Mateus 24, o Senhor Jesus discorre sobre os acontecimentos
que precederão a Sua volta (i.e., os acontecimentos da Tribulação descritos
nos versículos 4-26) e faz uma revelação de Sua Segunda Vinda, para, então,
proferir parábolas que proporcionam uma vívida compreensão do que Ele
acabara de ensinar (v. 32-51). Em minha opinião, seria incoerente que Cristo
enunciasse parábolas sobre o Arrebatamento, quando não ensinou nada
acerca desse acontecimento na referida passagem.1
É fato que quando se der o Arrebatamento haverá uma separação entre
crentes e descrentes no exato momento em que formos arrebatados do planeta
Terra. Também é verdade que estarão dois juntos, quando um será tomado e
outro será deixado, contudo, o contexto de Mateus 24 demonstra que esse
capítulo não se refere ao Arrebatamento. Essas parábolas tratam daquilo que
Cristo ensinou em Mt 24.4-31.
“Tomado” para Juízo ou para Salvação
A palavra grega usada nos versículos 40 e 41 é paralambano, formada pela
raiz verbal lambano que significa “pegar”, “levar” ou “receber”, e pela
preposição para, cujo significado é “ao lado de”. Dessa forma, o significado
desse verbo composto é “associá-lo estreitamente consigo, tomar (para si),
levar consigo”.2 O único texto bíblico no qual pude constatar que essa palavra
foi usada em alusão ao Arrebatamento é o de João 14.3, onde Cristo começa
a revelar esse mistério ao dizer: “...voltarei e vos receberei para mim
mesmo...”. Uma vez que o verbo paralambano não é um termo técnico que
tem o mesmo sentido em todas as suas ocorrências no Novo Testamento, seu
significado deve ser determinado pela maneira na qual é usado em
determinado contexto, tal como acontece com toda palavra em qualquer
língua.
Alguns tentam argumentar que o termo “tomado” nessa passagem se refere
ao Arrebatamento pré-tribulacionista. Há uma pequena minoria de pré-
tribulacionistas que considera esses dois versículos como alusões ao
Arrebatamento.3 Por exemplo, David L. Cooper afirmou o seguinte: “A ideia
dominante é a de que aquele que é um filho de Deus será levado, ao passo
que aquele que nunca fez as pazes com o Senhor será deixado neste mundo
para passar pela Grande Tribulação”.4 Como Louis Barbieri assinalou: “O
Senhor não estava descrevendo o Arrebatamento, pois a remoção da Igreja
não será um juízo contra a mesma. Se esse texto se referisse ao
Arrebatamento, como alguns comentaristas afirmam, o Arrebatamento da
Igreja teria de ser pós-tribulacionista, pois o acontecimento referido ocorre
imediatamente antes da volta do Senhor Jesus em glória”.5
Há quem afirme que o termo paralambano só é usado em alusões
positivas. Porém, isso não se confirma. Essa palavra grega é usada para
descrever a ação dos soldados romanos, quando levaram Jesus embora do
Jardim do Getsêmani para o Pretório e, finalmente, O crucificaram (Mt 27.27;
Jo 19.16). Esse termo foi usado para descrever a atitude do Diabo ao levar
Jesus consigo para mostrar-Lhe todos os reinos do mundo (Mt 4.4,8). Esse
verbo também foi usado para retratar a ação de um demônio que, após ser
expulso de uma pessoa, retorna para a casa vazia, varrida e ornamentada de
onde saíra, e leva consigo outros sete espíritos (Mt 12.45; Lucas 11.26). Stan
Toussaint faz a seguinte análise dessa questão:
Será que esse texto é uma descrição do Arrebatamento da Igreja ou descreve a
ação de levar os ímpios para o juízo? Aqueles que adotam a primeira concepção
alegam que o verbo “levar” (do gr. Paralambano), aqui usado, precisa ser
diferenciado do verbo “levar” (do gr. airo), que ocorre no versículo trinta e nove.
Assevera-se que paralambano significa o ato no qual Cristo recebe para Si aqueles
que Lhe pertencem. Contudo, o verbo paralambano também é usado num mau
sentido (cf. Mateus 4.5,8; João 19.16). Uma vez que o termo usado nessa passagem
está numa relação de paralelismo conceitual com aqueles que foram levados no
juízo do Dilúvio, é melhor que esse verbo seja entendido em referência àqueles que
serão levados no juízo que antecederá o estabelecimento do reino. A diferença no
sentido dos verbos pode ser esclarecida pela exatidão da descrição. A frase “Veio o
dilúvio e os arrastou a todos” é uma boa tradução.6

A consideração do contexto
Em minha opinião, a razão mais forte para se interpretar a separação
retratada nessa passagem como uma referência àqueles que serão levados em
juízo é o próprio contexto. Parece que os versículos 40-41 ilustram o assunto
que foi antes exposto nos versículos 36-39, a saber, que nos dias de Noé, as
pessoas que não estavam preparadas foram levadas em juízo, pelo Dilúvio. O
final do versículo 39 diz: “...assim será também a vinda do Filho do
Homem”. Fica claro que a ênfase desse versículo está nos descrentes sendo
levados no juízo do Dilúvio. Assim, os versículos 40-41 comprovam essa
interpretação, apresentando dois exemplos da futura separação que
acontecerá naquele período de juízo. Arno Gaebelein salienta o seguinte:
Nos dias de Noé, havia duas classes de pessoas. Uma formada por aqueles que não
criam, os quais foram devastados pelo juízo divino. Outra formada por Noé e sua
família. Noé e os seus foram poupados da destruição imposta pelo juízo e deixados
neste mundo. Isso novamente acontecerá na vinda do Filho do Homem. Os
descrentes serão levados no dia do juízo e da ira; os outros serão deixados na terra
para receberem e desfrutarem as bênçãos da era vindoura, ao entrarem no reino que
então será estabelecido.7

O texto bíblico correlato


Outra razão para se interpretar os versículos 40-41 como uma ilustração
daqueles que serão levados em juízo é a passagem bíblica correlata que se
encontra em Lucas 17.24-37. Numa seção anterior (Lc 17.26-30), Cristo faz
alusão à vinda do Filho do Homem como uma realidade semelhante aos dias
de Noé e de Ló. Em ambas as ilustrações, os perversos foram levados em
juízo. Lucas 17.27 declara: “...e veio o dilúvio e destruiu a todos”. Nos
versículos 28 e 29 lemos o seguinte: “O mesmo aconteceu nos dias de Ló [...]
e destruiu a todos” (grifos do autor). Os versículos 34-36 apresentam três
ilustrações aplicáveis à separação de crentes e descrentes. Em seguida, os
discípulos de Jesus Lhe fazem esta pergunta: “Onde será isso, Senhor?”. Será
que essa pergunta diz respeito ao lugar para onde os descrentes serão
levados? Jesus responde: “...Onde estiver o corpo, aí se ajuntarão também os
abutres” (v. 37). Embora algumas versões traduzam o termo original por
“águias”, o contexto implica abutres (ou urubus) que sobrevoam um local,
atraídos pelo cheiro da carniça ou de um cadáver. Desse modo, qualquer um
conseguirá localizar um cadáver, em virtude dos abutres que sobrevoam e
pairam naquele lugar (Ap 17.17-21). Tal linguagem confirma nitidamente a
concepção de que os que forem “tomados” serão levados para juízo.
Maranata!
NOTAS
1
Cristo faz a primeira menção ao Arrebatamento no “Discurso do Cenáculo” registrado em João 13 –
17. Jesus não somente revela a desconhecida realidade do Arrebatamento (João 14.1-3), mas também
mostra muitos outros aspectos referentes à era da Igreja que estava por vir. O Discurso proferido no
cenáculo acentua uma série de assuntos que, conforme Jesus mesmo disse, seriam mais detalhados
posteriormente, quando o Espírito da Verdade viesse sobre os apóstolos (João 14.26; 15.26; 16.7). O
resultado dessa obra do Espírito Santo são as Epístolas do Novo Testamento, nas quais há uma maior
revelação das verdades neo-testamentárias, tais como a do Arrebatamento da Igreja.
2
Walter Bauer, William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New
Testament and Other Early Christian Literature, terceira edição, revisada por Frederick W. Danker,
Chicago: University of Chicago Press, 2000, p. 767, abreviado pela sigla BDAG.
3
Eu encontrei a publicação de um pré-tribulacionista na qual este declara que essa passagem se refere
tanto ao Arrebatamento quanto à Segunda Vinda. Ele denomina isso de referência dual. Veja: Allen
Beechick, The Pre-Tribulation Rapture, Denver: Acent Books, 1980, p. 231-68.
4
David L. Cooper, Future Events Revealed, According to Matthew 24 and 25, Los Angeles: Publicado
por David L. Cooper, 1935, p. 101. Veja, também, Arnold G. Fruchtenbaum, The Footsteps of the
Messiah: A Study of the Sequence of Prophetic Events, edição revisada, Tustin, CA: Ariel Ministries,
(1982), 2002, p. 650; um discípulo de Cooper.
5
Louis A. Barbieri, Jr., “Matthew”, publicado na obra de John F. Walvoord e Roy B. Zuck, The Bible
Knowledge Commentary: New Testament, Wheaton: Victor Books, 1983, p. 79.
6
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
281.
7
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, (1910),
1961, p. 515-16.
Parte 35

“Portanto, vigiai, porque não sabeis em que dia vem o


vosso Senhor. Mas considerai isto: se o pai de família
soubesse a que hora viria o ladrão, vigiaria e não
deixaria que fosse arrombada a sua casa. Por isso,
ficai também vós apercebidos; porque, à hora em que
não cuidais, o Filho do Homem virá” – Mateus 24.42-
44.
Três temas principais se destacam nas parábolas que
finalizam o vigésimo quarto capítulo do Evangelho de
Mateus. A ênfase da parábola da figueira se concentra
na vigilância (Mt 24.32-34). A comparação entre a
volta de Cristo e os dias de Noé enfoca a prontidão
(Mt 24.36-41). A seção que agora passo a analisar (Mt
24.42-51 apresenta duas parábolas que ensinam sobre
a fidelidade em servir ao Senhor. A primeira parábola
nessa seção se encontra nos versículos 42-44. O relato
que o Evangelho de Marcos faz do Discurso do Monte
das Oliveiras não apresenta semelhante parábola,
porém Lucas faz o registro de uma parábola correlata
num contexto diferente (Lc 12.39-40).
Essa parábola nos fala de um homem que recebeu um
aviso sobre um ladrão que estava para arrombar a sua
casa. Se ele sabe de antemão a hora em que o ladrão
está para chegar, esse proprietário responsável se
prepara para uma situação prestes a ocorrer, colocando
um guarda que vigie sua casa e a proteja de uma
possível invasão. O cerne do ensino dessa parábola é
de que se alguém sabe a hora e o lugar em que algo vai
acontecer, a coisa mais sensata que se pode fazer é
tomar providências acerca do que está por ocorrer.

Vigiai
Na sequência imediata dos versículos que afirmam: “um(a) será tomado(a)
e deixado(a) o(a) outro(a)”, Jesus leva à conclusão de que é preciso estar de
prontidão para a Sua vinda. Esse versículo 42 forma uma articulação que liga
o contexto anterior, na sua ênfase à prontidão, ao contexto seguinte que
enfatiza a vigilância à luz daquele dia que há de chegar. James Gray comenta
o seguinte: “Essa é a principal exortação de uma seção de parábolas que se
intercala. É a conclusão da parábola anterior (indicada pela conjunção
‘portanto’) e constitui um estímulo ou ponte de acesso para as parábolas que
ilustram a necessidade de tal vigilância”.1
O verbo grego gregoreo é traduzido por “vigiar” nessa passagem e é usado
22 vezes no Novo Testamento Grego. Em algumas passagens, esse verbo
comunica a ideia de “ficar atento, ser vigilante”.2 A palavra é usada no apelo
que Cristo faz aos Seus discípulos sonolentos quando foi orar no Jardim do
Getsêmani, pouco antes de Sua crucificação (Mt 26.38,40,41; Marcos
14.34,37,38). Também é usada nesse mesmo sentido no próximo versículo
desse capítulo (Mt 24.43). Entretanto, a maioria de seus usos no Novo
Testamento comunica a sutil diferença de “estar em constante prontidão” e
“ficar em estado de alerta”,3 que é o modo pelo qual é usada aqui em Mateus
24.42. John MacArthur salienta que “o termo ‘vigiai’ é a tradução de um
verbo no presente do imperativo, o que assinala uma conclamação para
manter-se em contínua expectativa”.4
Arrebatamento ou Segunda Vinda?
Alguns intérpretes alegam que se alguém é advertido nesse texto para ficar
de prontidão, isso implica que essa passagem e seu contexto imediato não se
referem à Segunda Vinda, mas, sim, ao Arrebatamento. Dave Hunt declara o
seguinte:
Quando Cristo diz, “...assim como foi nos dias de Noé [...] o mesmo aconteceu nos
dias de Ló”, fica absolutamente claro que Ele não descrevia as condições que vão
predominar na época da volta de Cristo. Nesse caso, essas só podem ser as
condições que devem prevalecer imediatamente antes do Arrebatamento, numa
ocasião diferente, e, obviamente, antes da devastação que se dará no período da
Tribulação.5
Não há a menor dúvida de que eu creio piamente no Arrebatamento pré-
tribulacionista, mas não creio que isso era o que Cristo tinha em mente nessa
passagem.
Defendo a concepção de que mesmo que alguém passe pelos graves
acontecimentos da Tribulação, as Escrituras Sagradas mostram que os
descrentes não estarão de prontidão para a volta de Cristo, por causa de
insensibilidade para com as coisas de Deus. Considere outras duas passagens
importantes que fazem uso da palavra grega traduzida por “vigiar”: Em
primeiro lugar, verifique em 1 Tessalonicenses 5 o ensino de Paulo acerca do
modo pelo qual os crentes e os descrentes estão relacionados com o período
da Tribulação ainda por vir. O apóstolo Paulo menciona que os descrentes
nessa época buscarão paz e segurança, mas “...eis que lhes sobrevirá
repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz;
e de nenhum modo escaparão” (1 Ts 5.3). Em contrapartida, sobre os crentes
Paulo diz: “Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como
ladrão vos apanhe de surpresa” (1 Ts 5.4). A explicação que o apóstolo dá
sobre a razão pela qual os crentes não serão pegos de surpresa é: “porquanto
vós todos sois filhos da luz e filhos do dia...”(1 Ts 5.5). Na sequência de seu
raciocínio até este ponto, Paulo conclui: “Assim, pois, não durmamos como
os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios” (1Ts 5.6). Neste texto
ocorre o mesmo termo usado pelo Senhor Jesus em Mateus 24, o qual é
empregado por Paulo em sentido semelhante para denotar constante
prontidão ou vigilância em relação ao “Dia do Senhor”, pois somos “filhos
do dia”. A questão é que os descrentes (os filhos das trevas) estão
adormecidos e não estão vigilantes para as coisas de Deus. Eles serão pegos
desprevenidos porque são descrentes. Sua incredulidade é a causa de seu
despreparo.
O segundo uso significativo do termo “vigiar” se encontra no texto de
Apocalipse 16.15, que diz: “(Eis que venho como vem o ladrão. Bem-
aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu,
e não se veja a sua vergonha.)”. Essa frase é traduzida como uma declaração
parentética intercalada no final da descrição do juízo da sexta taça da cólera
de Deus. É incongruente a lógica daqueles que dizem que a expressão “vem
como ladrão” não é evidência de que os descrentes serão pegos de surpresa.
Até esse momento referido em Apocalipse, já terão ocorrido 18 dos 19 juízos
mais dramáticos do período da Tribulação e a terra estará prestes as ser
destruída junto com mais da metade população mundial. No entanto, o texto
adverte para estar vigilante; sim, porque os descrentes nunca estão atentos ao
que Deus está fazendo. Essa é a questão! O ponto em questão não é se o
mundo estará vivendo um momento de transtorno, mas, sim, se alguém dará
ouvidos à Palavra de Deus e estará apercebido. Nesse tempo, os crentes
estarão em alerta, ao passo que os descrentes, como de costume, não estarão
vigilantes.
O remanescente judeu
O significado dessa parábola é claro e inteligível. Os crentes estarão de
vigia, por entenderem que um ladrão está para chegar durante aquele tempo.
Dessa forma, eles estarão de prontidão e vigilantes. Cristo apresenta o clímax
da parábola no versículo 44, quando diz: “Por isso (tal como afirmara nos
dois versículos anteriores), ficai também vós apercebidos...”. A quem se
refere o pronome “vós”? Eu creio que se refira ao remanescente judeu. Ao
longo de todo o Discurso do Monte das Oliveiras Jesus utiliza o pronome
“vós” em referência ao povo judeu. Uma vez que Ele faz clara alusão aos
crentes no versículo 44, já que só os crentes estarão vigilantes, conclui-se que
essa passagem se refere de modo específico ao remanescente judeu crente
que passará pela Tribulação. Arno Gaebelein declara o seguinte: “Essa
palavra de alerta será entendida e atendida pelo remanescente judeu ao qual
foi dirigida. Eles devem estar vigilantes para a vinda do Filho do Homem;
ao passo que a Igreja deve esperar o seu Senhor”.6
Israel não estava apercebido e vigilante quando Cristo veio pela primeira
vez; contudo, o remanescente judeu estará apercebido e vigilante quando
Jesus voltar. O fato de que Jesus tinha em mente o remanescente judeu ao
dizer essas palavras, ganha mais credibilidade pela constatação de que todas
as parábolas proferidas por Cristo dizem respeito a Israel e à atitude do povo
judeu para com o Messias. John McArthur comenta o seguinte: “Nesse
contexto, estar apercebido parece se referir primordialmente a ser salvo, no
sentido de estar espiritualmente preparado para se encontrar com Cristo como
Senhor e Rei, não como Juiz”.7 Assim, o Senhor Jesus comunica ao povo de
Israel que eles precisam estar apercebidos ou vigilantes para a Sua volta, seja
esta quando for. A pessoa passa a estar pronta e apercebida a partir do
momento que confia em Jesus Cristo como seu Messias. Stanley Toussaint
conclui: “O ensino está evidente. Quando o dono da casa já sabe de modo
geral a hora em que o ladrão está para chegar, fica apercebido e devidamente
preparado. ‘Por isso’, os crentes do período da Tribulação devem estar
vigilantes. Os sinais do fim possibilitarão que esses crentes saibam, de modo
geral, em que ‘vigília’ o Filho do Homem deve voltar”.8
As parábolas proferidas nessa sessão de Mateus 24 preparam o caminho
para os ensinamentos contidos nas parábolas de Mateus 25. Randolph Yeager
resumiu essa sessão nos seguintes termos:
A passagem toda, desde o versículo 36, mostra no seu contexto que: 1) Quando
Jesus esteve neste mundo ninguém sabia a data do Seu segundo advento, senão o
Pai; 2) os dias de Noé foram semelhantes ao que serão os últimos dias; 3) na época
de Noé os perdidos não sabiam quando ocorreria o Dilúvio; 4) os salvos (Noé e sua
família), por conseguinte, já sabiam o momento em que se daria o Dilúvio, no
mínimo com sete dias de antecedência; 5) assim que o Senhor voltar, Ele fará
separação entre os santos e os pecadores perdidos; 6) devemos estar atentos aos
sinais dos tempos que nos proporcionarão indícios de quando Ele voltará, 7) visto
que no presente momento ainda não temos tal informação.9
Maranata!
NOTAS
1
James R. Gray, Prophecy on The Mount: A Dispensational Study of the Olivet Discourse, Chandler,
AZ: Berean Advocate Ministries, 1991, p. 101.
2
Walter Bauer, William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament
and Other Early Christian Literature, terceira edição, revisada por Frederick W. Danker, Chicago:
University of Chicago Press, 2000, p. 209, doravante identificado pela sigla BDAG.
3
BDAG, p. 209.
4
John MacArthur, Matthew 24–28, The MacArthur New Testament Commentary, Chicago: Moody,
1989, p. 75.
5
Dave Hunt, How Close Are We? Compelling Evidence for the Soon Return of Christ, Eugene, OR:
Harvest House, 1993, p. 210-11.
6
Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, (1910),
1961, p. 516, grifo do autor original.
7
MacArthur, Matthew 24-28, p. 77.
8
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
282.
9
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, KY: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 335.
Parte 36

“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, a quem o


senhor confiou os seus conservos para dar-lhes o
sustento a seu tempo? Bem-aventurado aquele servo a
quem seu senhor, quando vier, achar fazendo assim.
Em verdade vos digo que lhe confiará todos os seus
bens. Mas, se aquele servo, sendo mau, disser consigo
mesmo: Meu senhor demora-se, e passar a espancar
os seus companheiros e a comer e beber com ébrios,
virá o senhor daquele servo em dia em que não o
espera e em hora que não sabe e castigá-lo-á,
lançando-lhe a sorte com os hipócritas; ali haverá
choro e ranger de dentes” – Mateus 24.45-51
A última parábola de Cristo registrada em Mateus 24
traz ensinamentos sobre a fidelidade no serviço do
Senhor à luz de Sua volta, como mencionam os
versículos 27-31. Essa parábola, à semelhança de
todas as outras parábolas de Cristo, diz respeito a
Israel, mais especificamente à rejeição do povo judeu
a Jesus como seu Messias prometido. Se todas essas
parábolas concentram sua atenção na volta de Cristo,
esta parábola enfatiza o correto procedimento à luz da
ausência de Jesus no período compreendido entre as
Suas duas vindas. Em seu Evangelho, Marcos não
registra essa parábola, mas Lucas a menciona num
contexto diferente (Lc 12.41-46).

“Quem é o Servo Fiel e


Prudente”?
O servo “fiel e prudente” (Mt 24.45) é uma alusão a Israel, que não
cumpriu suas responsabilidades de um modo fiel e prudente, como se pode
observar em muitas outras parábolas proferidas por Cristo. É claro que esse
modelo que Cristo esperava de Israel pode se aplicar a um servo de Jesus
Cristo, mas o contexto da parábola claramente se refere ao Israel nacional.
Nesse caso, a nação de Israel não agiu como um servo fiel e prudente.
O termo grego phronimos, traduzido por “prudente”, é originária de uma
raiz que denota um “sábio”. A palavra é usada para designar “a faculdade de
perceber associada com discernimento e sabedoria; sábio, prudente,
reflexivo”.1 Das quatorze vezes que esse adjetivo é usado no Novo
Testamento Grego, a metade delas ocorre em Mateus (só no texto de Mateus
25.2,4,8 e 9, o termo ocorre quatro vezes). Nas outras sete ocorrências do
termo no Novo Testamento Grego, duas se encontram no Evangelho de
Lucas, em passagens correlatas de Mateus (Lc 12.42; 16.8). Paulo faz uso
desse termo por cinco vezes em suas Epístolas aos Romanos e aos Coríntios
(Rm 11.25; 12.16; 1 Co 4.10; 10.15; 2 Co 11.19). Todas as distinções
conotativas no uso que Paulo faz do termo implicam uma falsa sabedoria
humana. Entretanto, na passagem em estudo, Cristo utiliza essa palavra de
maneira positiva, quando se refere a um servo que é hábil na administração
da casa de seu senhor.
Nessa parábola, a casa do referido senhor é Israel. O servo fiel e prudente é
uma alusão à liderança do povo de Israel. A tarefa de “...dar-lhes o sustento a
seu tempo” é uma responsabilidade da liderança de Israel. A ênfase desse
versículo se localiza em fazer algo “a seu tempo”. Qual era a incumbência
dos líderes de Israel? Eles tinham o dever de identificar que a ocasião do
aparecimento do Messias chegara. Randolph Yeager comenta o seguinte: “A
conjunção conclusiva é usada aqui numa pergunta direta. Com base nos
versículos 42-44, os quais admoestam para ficar atento aos sinais dos tempos
preditos no cronograma profético de Deus, quem seria considerado fiel e
sábio na qualidade de servo do Senhor?”2 No entanto, os líderes de Israel
levaram o povo a se desviar da verdade, porque conheciam muito pouco do
que suas próprias Escrituras declaravam acerca do tão esperado Messias
judeu. Daí, a comparação com aquele servo mau que diz: “Meu senhor
demora-se...”.
Meu senhor ainda vai demorar
A atenção dessa parábola se volta para o fato de que Cristo preveniu Seus
discípulos sobre esses assuntos. Ele enviara os profetas e outros mensageiros
para advertirem a nação de que seu Messias estava chegando, porém a
maioria nem prestou atenção nessas coisas porque não convinham aos seus
interesses pessoais. Eles não foram bons mordomos e as consequências disso
foram péssimas para a nação de Israel. Aí está a razão pela qual o texto prediz
as consequências que se desencadeiam quando aquele senhor volta e avalia a
fidelidade desses seus servos que testemunham os sinais. Como recompensa,
mais autoridade e poder são concedidos ao servo fiel (Mt 24.46-47), ao passo
que um juízo severo sobrevém ao servo negligente (Mt 24.51). A. H. M’Neile
salienta que “a recompensa pela fidelidade deve ser conferida junto com
maiores responsabilidades; cf., Mt 25.21,23 e Lc 16.10a. Uma vez que a
parábola trata da Parousia, as palavras se aplicam a funções mais importantes
na era vindoura”.3 Esta era vindoura é o reino milenar de Cristo.
O foco dessa parábola se concentra na atitude errada do servo desleal que
diz: “Meu senhor demora-se...” (Mt 24.48). O Dr. J. Dwight Pentecost
comenta o seguinte:
Cristo estava revelando que se as pessoas são infiéis à mordomia que lhes foi
confiada e se elas ignoram os sinais da volta do Senhor Jesus que serão manifestos,
estarão impedidas de participar do reino que será estabelecido na Sua volta. Nessas
parábolas, os servos representam as pessoas da nação de Israel que serão mordomos
de Deus durante a Tribulação. Na ocasião da volta de Cristo, a nação será julgada,
os fiéis entrarão na posse do reino e os infiéis serão excluídos do reino. Aqui, mais
uma vez, a fidelidade brota da fé em Cristo, enquanto a infidelidade resulta da falta
de fé em Cristo. Portanto, à luz dos sinais manifestos a Israel, as pessoas são
exortadas a se manterem vigilantes, apercebidas e fiéis.4
Essa parábola recorda a infidelidade de Israel (talvez enfocando a liderança
do povo), mas olha para o futuro contemplando a Sua volta. O servo infiel
“utiliza sua autoridade com tirania sobre aqueles que não apóiam suas
práticas malignas, mas trata com complacência aqueles que são coniventes
com ele”.5 De que maneira a nação de Israel reagirá a uma segunda chance de
demonstrar fidelidade e sabedoria durante a Tribulação? O ponto crucial
dessa parábola é este: “Bem-aventurado aquele servo a quem seu senhor,
quando vier, achar fazendo assim” (Mt 24.46).
Orientação pelo futuro
A parábola em estudo proporciona um exemplo de que a concepção que o
indivíduo tem do futuro influenciará o comportamento dessa pessoa no
presente. O servo que tem uma correta concepção do futuro considera que seu
senhor pode voltar a qualquer momento. Essa orientação pelo futuro é um
importante fator pelo qual ele age de modo responsável no presente. Por
outro lado, o servo que diz: “Meu senhor demora-se...”, procede de maneira
irresponsável. Portanto, o ponto de vista que uma pessoa tem sobre o futuro é
tremendamente importante, pois influencia seu comportamento no presente.
Com a parábola, Jesus deseja que Israel reflita sobre o futuro e que isso
exerça uma influência sobre eles no presente.
Também há consequências da maneira pela qual um servo administra suas
responsabilidades. Isso provavelmente diz respeito ao papel que Israel
desempenhará no reino, ou talvez esteja relacionado com o papel que os
indivíduos de Israel que são mordomos infiéis não terão no reino vindouro.
Está evidente que muitos ficarão fora do reino, pois o texto refere-se ao servo
infiel nos seguintes termos: “...castigá-lo-á, lançando-lhe a sorte com os
hipócritas; ali haverá choro e ranger de dentes” (Mt 24.51).
O juízo contra os hipócritas
O verbo grego dichotomeo foi traduzido na versão usada acima por
“castigá-lo-á”. O dicionário léxico da língua grega define esse termo assim:
“cortar em duas partes, numa referência ao desmembramento de uma pessoa
condenada”.6 Só existem duas ocorrências dessa palavra no Novo Testamento
(Mateus 25.41 e Lucas 12.46). O dicionário léxico admite que possa se tratar
de uma expressão figurada no sentido de “separá-lo”, contudo não existe
nenhum apoio linguístico que possibilite essa tradução.7 Yeager reconhece
que o termo significa literalmente “cortar em duas partes, numa alusão ao
método mais severo de punição praticado pelos judeus”. Porém ele menciona
que “o texto, tanto em Mateus 24.51 quanto em Lucas 12.46, retrata que a
vítima permanece viva. Por essa razão, supomos que o termo tenha sido
usado no mesmo sentido que se usa quando um vaqueiro “separa ou aparta”
uma vaca do rebanho. Um desmembramento com o intuito de separar dos
outros.8 Entretanto, M’Neile faz a seguinte observação: “trata-se de uma
punição que era literalmente imposta na antiguidade; cf., 1 Cr 20.3, (...) Em
Êxodo 29.17, o verbo foi usado numa referência ao ato de partir o animal do
sacrifício em pedaços”.9 Essa palavra pode estar relacionada com a
infidelidade à aliança, que seria o caso daquelas pessoas de Israel que não
desempenharam corretamente sua responsabilidade de despenseiros.
Aqui temos um caso no qual esse termo, tanto em seu uso denotativo
(evidente ou literal) quanto em seu uso conotativo (figurado), faz sentido no
respectivo contexto. Todavia, eu dou preferência ao uso literal desse termo
por ser esse o modo em que foi usado no Antigo Testamento e na literatura
secular, ao passo que seu uso figurado não se comprova em nenhuma
literatura. Além do mais, quando essa expressão vem acompanhada da frase
“ali haverá choro e ranger de dentes”, que é o caso em questão, parece
apoiar o sentido literal de um juízo final.
A elocução “ali haverá choro e ranger de dentes” exprime a reação do
hipócrita ao sofrer o juízo. Essa pessoa chorará e rangerá seus dentes com
uma raiva amargurada por ter sido um despenseiro imprudente. Stanley
Toussaint afirma o seguinte: “Ao longo de todo o Evangelho de Mateus, essa
frase invariavelmente faz alusão à retribuição punitiva para os que serão
julgados antes que o reino milenar seja estabelecido (Mt 8.12; 13.42,50;
22.13; 25.30)”.10 Esse assunto da mordomia fiel, na sua relação com Israel,
prossegue no capítulo 25 de Mateus. Maranata!
NOTAS
1 WalterBauer, William F. Arndt e F. Wilbur Gingrich, A Greek-English Lexicon of the New Testament
and Other Early Christian Literature, terceira edição, revisada por Frederick W. Danker, Chicago:
University of Chicago Press, 2000, p. 1067, doravante abreviado pela sigla BDAG.
2 Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, 18 vols., Bowling Green, KY: Renaissance
Press, 1978, vol. 3, p. 340.
3 Alan Hugh M’Neile, The Gospel According to St. Matthew, Londres: MacMillan, 1915, p. 358.
4 J. Dwight Pentecost, The Parables of Jesus, Grand Rapids: Zondervan, 1982, p. 151.
5 M’Neile, Matthew, p. 359.
6 BDAG, p. 254.
7 BDAG, p. 254.
8 Yeager, Renaissance New Testament, vol. 3, p. 346.
9 M’Neile, Matthew, p. 359.
10 Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
282.
Parte 37

“Então, o reino dos céus será semelhante a dez


virgens que, tomando as suas lâmpadas, saíram a
encontrar-se com o noivo. Cinco dentre elas eram
néscias, e cinco, prudentes. As néscias, ao tomarem as
suas lâmpadas, não levaram azeite consigo; no
entanto, as prudentes, além das lâmpadas, levaram
azeite nas vasilhas. E, tardando o noivo, foram todas
tomadas de sono e adormeceram. Mas, à meia-noite,
ouviu-se um grito: Eis o noivo! Saí ao seu encontro!
Então, se levantaram todas aquelas virgens e
prepararam as suas lâmpadas. E as néscias disseram
às prudentes: Dai-nos do vosso azeite, porque as
nossas lâmpadas estão-se apagando. Mas as
prudentes responderam: Não, para que não nos falte a
nós e a vós outras! Ide, antes, aos que o vendem e
comprai-o. E, saindo elas para comprar, chegou o
noivo, e as que estavam apercebidas entraram com ele
para as bodas; e fechou-se a porta. Mais tarde,
chegaram as virgens néscias, clamando: Senhor,
senhor, abre-nos a porta! Mas ele respondeu: Em
verdade vos digo que não vos conheço. Vigiai, pois,
porque não sabeis o dia nem a hora” – Mateus 25.1-
13.

A Parábola das Dez


Virgens

Ufa! Estamos dando “tchau!” para o capítulo 24 de Mateus e dizendo


“olá!” para o capítulo 25. Há muitos aspectos que precisam ser tratados à
medida que adentramos o capítulo 25, aspectos esses que influenciarão o
modo pelo qual devemos entender a intenção de Cristo nessa passagem. Se
não compreendermos esses aspectos certamente interpretaremos a passagem
de forma equivocada (a menos que sejamos ilógicos no processo).
Um dos primeiros aspectos a ser reconhecido é o de que as parábolas e
ensinamentos de Jesus em Mateus 25 são uma continuidade do fluxo de
pensamento do capítulo anterior. Jesus ainda não tinha mudado de marcha
para começar a exposição de um assunto totalmente novo quando introduziu
essa seção. Isso significa que essas parábolas dizem respeito a Israel (não à
Igreja), à rejeição de Jesus como Messias por parte da nação no primeiro
século. Além do mais, a vinda, aqui referida, diz respeito à Segunda Vinda de
Cristo e ao julgamento que ocorrerá depois de Sua volta. Stanley Toussaint
explica o seguinte:
Tanto essa parábola quanto a que vem em seguida tratam dos Judeus no período
da Tribulação. Isso se comprova por vários fatores. O contexto apóia esse ponto de
vista (Mateus 24.3,8,14,15,30,31,33,42,44,47,51). O assunto em discussão
considera o final dos tempos, os últimos dias antes do estabelecimento do reino.
Nesse tempo, a Igreja já não estará mais na Terra. Portanto, essa seção de Mateus
versa sobre um período de tempo essencialmente judaico.1
O capítulo 25 realça o fato de que se o povo judeu não compreendeu a
primeira vinda do Messias por sua incredulidade e foi temporariamente
condenado no ano 70 d.C., então os judeus precisam se preparar para a volta
de Jesus a fim de que se livrem do juízo e desfrutem da benção (ou seja, do
reino milenar de Cristo). O Dr. J. Dwight Pentecost declara o seguinte:
Ele [i.e., Jesus] mencionou que depois de Sua volta (Mt 24.30) e do
reagrupamento da nação de Israel na sua terra (v. 31), o povo judeu seria levado a
juízo (Mt 25.1-30). Cristo utilizou duas parábolas para mostrar que a nação
reagrupada passará por juízo com o intuito de definir quem é salvo e quem não é. O
propósito desse juízo é eliminar os descrentes e receber os crentes no reino que Ele
instituirá após Seu segundo advento.2
Jesus alcança Seu objetivo à medida que continua a apresentar Seus
ensinamentos e lições parabólicas sobre o juízo que sucede a Sua volta. O
capítulo 25 de Mateus pode ser dividido nestas três seções: Primeira, a
parábola das dez virgens (25.1-13); segunda, a parábola dos talentos (25.14-
30); e terceira, o julgamento dos gentios (25.31-46).
A parábola
Em certo sentido, o texto de Mateus 24.50-51 levanta a seguinte pergunta:
“Por que critério Israel será julgado?” A resposta, encontrada em Mateus
25.1-13, é prontidão. A parábola das dez virgens apresenta um retrato das
pessoas do povo de Israel que estiverem vivas nos dias finais as quais serão
trazidas de volta à sua terra. Elas passarão por um julgamento que
demonstrará quem está preparado e quem, mais uma vez, não está preparado
para a vinda do Messias. A atenção desse texto está voltada para Israel nos
últimos dias (i.e., o período da Tribulação que acabara de ser descrito em
Mateus 24.4-28). Os que estiverem preparados ou apercebidos entrarão no
reino milenar, ao passo que os despreparados ficarão de fora do Milênio.
As dez virgens representam a nação de Israel como um todo. A nação está
dividida em dois grupos e cada um destes se compõe de cinco virgens. Um
grupo de virgens, o grupo das prudentes, é descrito como virgens de
prontidão à espera da chegada do noivo, as quais levaram azeite sobressalente
para o caso de o noivo tardar a chegar. O primeiro grupo representa o Israel
crente e preparado para a chegada do Messias. O segundo grupo de virgens, o
grupo das néscias, encontra-se despreparado e despercebido, de forma que
representa o Israel descrente. São judeus que não estão prontos para a vinda
do Messias. O Dr. Pentecost afirma:
Apesar do contundente testemunho que será dado à nação de Israel durante a
Tribulação (Mt 24.14), muitas pessoas não estarão preparadas no momento em que
o Rei voltar para instituir Seu reino milenar. Aqueles que estiverem preparados
serão recebidos no reino para desfrutarem sua plena recompensa, porém os que
estiverem despreparados serão impedidos de entrar no Milênio. Assim, essa
parábola demonstra que haverá um julgamento dos israelitas que estiverem vivos
para que seja decretado quem está preparado e quem não está. Trata-se de uma
expressão desta declaração que Cristo fez anteriormente: “...ficai também vós
apercebidos...” (Mt 24.44).3

Algumas implicações do Arrebatamento


Uma vez que essa passagem diz respeito à futura nação de Israel
(provavelmente a nação que hoje existe), não pode ser usada como uma
referência bíblica ao Arrebatamento da Igreja. Isso implica que a parábola das
dez virgens não dá apoio à concepção de um arrebatamento parcial, apesar de
usarem esta e outras passagens como base para tal ponto de vista (Mt 24.40-
51; Mc 13.33-37; Lc 20.34-36; 21.36; Fp 3.10-12; 1 Ts 5.6; 2 Tm 4.8; Tt
2.13; Hb 9.24-28; Ap 3.3,10; 12.1-6). O ponto de vista do arrebatamento
parcial alega que o Arrebatamento da Igreja ocorrerá antes da Tribulação,
contudo, só os crentes “espirituais” serão retirados deste mundo, enquanto os
demais crentes permanecerão na Terra e passarão pela Tribulação. Os
defensores dessa concepção ainda acreditam que vários arrebatamentos
acontecerão ao longo do período de setes anos da Tribulação. Acredita-se que
esse ponto de vista foi desenvolvido por Robert Govett na Inglaterra em
meados do século dezenove, e que foi defendido principalmente por
expositores britânicos, tais como, J. A. Seiss, G. H. Lang e G. H. Pember.4
Se, de modo geral, os pré-tribulacionistas já não consideram que essa
passagem tenha qualquer relação com o Arrebatamento, visto que seu
contexto se refere à nação de Israel, fica ainda muito mais difícil usá-la como
pretexto para um Arrebatamento parcial. Randolph Yeager salienta o
seguinte:
Nós evitamos a ideia de um Arrebatamento parcial porque outras passagens
parecem indicar claramente que todos os membros do Corpo de Cristo serão
arrebatados (2 Ts 4.16-17; 1 Co 15.51-58, etc.). Ao que parece, o Arrebatamento
parcial implica uma mutilação do Corpo de Cristo.5
Para falar com toda a franqueza, a mesma graça que salva cada crente, pela
fé em Cristo, é a graça que retirará cada crente deste mundo na ocasião do
Arrebatamento. Uma pessoa não precisa se qualificar por suas palavras e
obras, nem precisa atingir certo nível de santificação para ser arrebatada.
Estar apto para ser arrebatado não é uma recompensa pela fidelidade; antes,
como ocorre na própria salvação, é um dom gratuito de Deus. O nome de
uma pessoa é incluído automaticamente no “manifesto do Arrebatamento” a
partir do instante em que esse indivíduo confiou em Jesus Cristo como seu
único e suficiente Salvador. Mesmo que um crente em Cristo não acredite no
Arrebatamento pré-tribulacionista, assim será levado por Jesus quando se der
o Arrebatamento, se, de fato, for um crente. Tenho certeza de que alguns
crentes ficarão surpresos ao serem arrebatados e que outros crentes, apesar de
se queixarem e espernearem naquele momento, serão levados ao encontro do
Senhor nos ares.
Os defensores do Arrebatamento parcial afirmam que essa parábola retrata
aquela parte da Igreja que estará vigilante na expectativa da volta do Senhor,
tal como as cinco virgens prudentes que tinham azeite para suas lâmpadas, e
retrata, também, a Igreja carnal que é deixada para trás, à semelhança das
cinco virgens néscias. Dessa forma, aqueles que adotam a concepção do
Arrebatamento parcial acreditam que essa parábola apóia sua teoria.
Para início de conversa, existem três problemas principais em se aplicar
essa parábola à Igreja, uma vez que a intenção do texto está relacionado com
o povo de Israel. Além disso, as figuras empregadas na parábola não se
enquadram com aquilo que alguém poderia chamar de doutrina do
arrebatamento parcial, se é que realmente existe um conceito como esse no
texto. As figuras de linguagem apresentadas na parábola das dez virgens não
são compatíveis com aquelas figuras que outras passagens do Novo
Testamento utilizam para descrever a Igreja. John Walvoord comenta que “a
própria passagem não usa nenhum dos termos característicos que dizem
respeito à Igreja, tais como, noiva, corpo, ou, ainda, a expressão: em Cristo.6
Em vez de serem as próprias noivas, percebe-se que as dez virgens não
passam de damas de honra que participam de um casamento. Se a parábola de
alguma forma retratasse a Igreja, essas dez virgens teriam de ser descritas
como noivas à espera de seu noivo, que, no caso, seria Cristo. Mas não é isso
que se constata na passagem. Mais adiante em seu livro, o Dr. Walvoord
explica o seguinte:
Se a vigilância fosse o requisito necessário para ser digno de participar do
Arrebatamento, como os defensores do Arrebatamento parcial tipicamente
argumentam, nenhuma das dez virgens estaria qualificada, pois “foram todas
tomadas de sono e adormeceram”. Logo, a ordem “vigiai”, registrada no versículo
13, tem o significado específico de estar preparado com azeite, ou seja, ser
genuinamente regenerado em Cristo e habitado pelo Espírito, o que não significa
apresentar uma espiritualidade surpreendente. O ensinamento claro é o de que
vigiar não é o suficiente. Essa passagem serviria para refutar a concepção do
Arrebatamento parcial, não para comprovar tal ponto de vista. Somente pelo poder e
pela presença do Espírito Santo alguém está qualificado para entrar na festa do
casamento, porém, todas as virgens prudentes entram nessa festa.7

NOTAS
1
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
283.
2
J. Dwight Pentecost, The Words and Works of Jesus Christ: A Study of the Life of Christ, Grand
Rapids: Zondervan, 1981, p. 407.
3
J. Dwight Pentecost, The Parables of Jesus, Grand Rapids: Zondervan, 1982, p. 154.
4
Charles C. Ryrie, Basic Theology: A Popular Systematic Guide To Understanding Biblical Truth,
Wheaton: Victor Books, 1986, p. 480.
5
Randolph O. Yeager, The Renaissance New Testament, Bowling Green: Renaissance Press, 1978,
vol. 3, p. 345.
6
John F. Walvoord, The Rapture Question, Revised and Enlarged Edition, Grand Rapids: Zondervan,
1979, (1957), p. 104.
7
Walvoord, The Rapture Question, p. 104.
Parte 38

“Pois será como um homem que, ausentando-se do


país, chamou os seus servos e lhes confiou os seus
bens. A um deu cinco talentos, a outro, dois e a outro,
um, a cada um segundo a sua própria capacidade; e,
então, partiu. O que recebera cinco talentos saiu
imediatamente a negociar com eles e ganhou outros
cinco. Do mesmo modo, o que recebera dois ganhou
outros dois. Mas o que recebera um, saindo, abriu
uma cova e escondeu o dinheiro do seu senhor.
Depois de muito tempo, voltou o senhor daqueles
servos e ajustou contas com eles. Então,
aproximando-se o que recebera cinco talentos,
entregou outros cinco, dizendo: Senhor, confiaste-me
cinco talentos; eis aqui outros cinco talentos que
ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e
fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei;
entra no gozo do teu senhor. E, aproximando-se
também o que recebera dois talentos, disse: Senhor,
dois talentos me confiaste; aqui tens outros dois que
ganhei. Disse-lhe o senhor: Muito bem, servo bom e
fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei;
entra no gozo do teu senhor. Chegando, por fim, o que
recebera um talento, disse: Senhor, sabendo que és
homem severo, que ceifas onde não semeaste e ajuntas
onde não espalhaste, receoso, escondi na terra o teu
talento; aqui tens o que é teu. Respondeu-lhe, porém,
o senhor: Servo mau e negligente, sabias que ceifo
onde não semeei e ajunto onde não espalhei?
Cumpria, portanto, que entregasses o meu dinheiro
aos banqueiros, e eu, ao voltar, receberia com juros o
que é meu. Tirai-lhe, pois, o talento e dai-o ao que tem
dez. Porque a todo o que tem se lhe dará, e terá em
abundância; mas ao que não tem, até o que tem lhe
será tirado. E o servo inútil, lançai-o para fora, nas
trevas. Ali haverá choro e ranger de dentes” – Mateus
25.14-30.
A Parábola dos Talentos

A segunda seção do capítulo 25 de Mateus corresponde a uma das mais


conhecidas parábolas de Jesus. A parábola dos servos fiéis e do servo infiel
dá continuidade aos ensinamentos proferidos para a nação de Israel à luz da
volta de Cristo, fato que já foi observado em Mateus 24. Essa parábola muitas
vezes é pregada em nossos dias sem haver qualquer consideração de que seu
contexto faz alusão à Israel e à volta de Cristo. Quando examinamos outros
registros dessa parábola em textos correlatos (p.ex., Marcos 13.34 e Lucas
19.11-27) verificamos que ambos os relatos também estão inseridos no
contexto da Segunda Vinda e do juízo vindouro. O relato de Mateus contém a
versão mais extensa dessa parábola.
Em harmonia com as parábolas que Jesus proferiu anteriormente em Seu
Discurso, esta parábola lida com a questão da fidelidade. De que maneira um
verdadeiro filho do reino age durante o tempo da ausência do seu senhor?
Será fiel ao seu senhor ou se comportará como um servo inútil? Os servos
eram avaliados com base no modo pelo qual administravam suas
responsabilidades durante a ausência de seu senhor. Após a volta do senhor,
aqueles servos que foram fiéis na execução de suas tarefas eram
recompensados com vultosos benefícios financeiros e com promoções a
cargos de maior responsabilidade no futuro reino daquele rei. O Dr. Toussaint
faz a seguinte observação:
Conforme foi aqui mostrado, os herdeiros do reino receberão mais bênçãos ainda,
ao passo que as pessoas que não o herdaram serão impedidas de qualquer
oportunidade de entrada no reino. Os indivíduos que receberem galardões serão
recompensados de acordo com sua fidelidade, não conforme a dimensão de sua
obra.1
A parábola diz respeito à prestação de contas que Deus requererá de Israel
na ocasião da Segunda Vinda de Cristo, pela mordomia que Ele confiou a
essa nação. O Dr. Toussaint menciona o seguinte:
As últimas três parábolas dão instruções práticas à luz da vinda do Rei para julgar
e reinar. O principio que fundamenta cada parábola é o mesmo que foi proposto no
Sermão do Monte (Mateus 7.16-21). O fruto da fidelidade e da prontidão revelaria o
caráter daqueles que estarão vivos naqueles dias que precederão a Sua vinda. Em
cada parábola, o caráter se manifesta pelas obras. Essa concepção constitui a chave
para a interpretação da passagem que vem em seguida, a qual trata do julgamento
das nações (Mateus 25.31-46).2
Dessa forma, constatamos que as parábolas das dez virgens (Mt 25.1-13) e
dos talentos (Mt 25.14-30) versam sobre a fidelidade de Israel à luz de sua
responsabilidade, ao passo que o restante do capítulo 25 (v. 31-46) aborda o
julgamento das nações executado pelo Messias, julgamento esse cuja base
será o modo pelo qual as nações trataram o remanescente judeu durante a
Tribulação. Tanto no caso de Israel quanto no caso das nações, haverá uma
reação mista. Alguns serão encontrados fiéis e preparados, enquanto outros
(muito provavelmente a maioria) não.
O retrato da realidade dispensacionalista
Na parábola em estudo, Jesus se descreve como o abastado Senhor de uma
casa que está prestes a partir para uma jornada fora do país e delega várias
responsabilidades a seus servos. Essa parábola contém todos os elementos
básicos que, segundo os intérpretes dispensacionalistas,3 dizem respeito ao
teste das diversas eras que compõem o plano de Deus na história.4
Charles Ryrie, um eminente porta-voz do dispensacionalismo, menciona
que o Oxford English Dictionary (Dicionário Oxford da Língua Inglesa)
define uma dispensação teológica como “um estágio na revelação
progressiva, especialmente adaptado às necessidades de uma determinada
nação ou de um período de tempo (...) também pode significar a era ou
período durante o qual um sistema vigorou”.5 A palavra “dispensação” traduz
o substantivo grego oikonomia, que em versões mais modernas é traduzido
pelo termo “administração”. O verbo grego oikonomeo se refere ao ato de
“dirigir os afazeres de uma casa”.6 Ryrie explica o seguinte: “No Novo
Testamento, a palavra dispensação significa gerir ou administrar os negócios
de uma casa, como, por exemplo, na história que Jesus contou do
administrador infiel, registrada em Lucas 16.1-13”.7
A palavra grega oikonomia é um termo composto formado pelas palavras
oikos, que significa “casa”, e pela palavra nomos que significa “lei”. Quando
esses dois termos são aglutinados, “a palavra dispensação comunica a ideia
central de gerenciar ou administrar os afazeres de uma casa”.8
As diversas formas da palavra dispensação ocorrem vinte vezes no Novo
Testamento. A única ocorrência do verbo grego oikonomeo se encontra em Lucas
16.2, onde é traduzido por “ser mordomo”. O substantivo grego oikonomos ocorre
dez vezes (Lc 12.42; 16.1,3,8; Rm 16.23; 1 Co 4.1,2; Gl 4.2; Tt 1.7; 1 Pe 4.10) e
normalmente é traduzido por “mordomo” ou “administrador” (mas, em Romanos
16.23 foi traduzido por “tesoureiro”). O substantivo grego oikonomia é usado nove
vezes (Lc 16.2,3,4; 1 Co 9.17; Ef 1.10; 3.2,9; Cl 1.25; 1 Tm 1.4). Nestas últimas
referências, o termo foi traduzido de forma diversificada (i.e., “administração”,
“responsabilidade de despenseiro”, “dispensação”, “serviço”).9
O Dr. Ryrie elaborou a seguinte definição descritiva de
dispensacionalismo:
O dispensacionalismo contempla o mundo como uma casa de família dirigida por
Deus. Deus gerencia ou administra os negócios desse mundo-casa de acordo com
Sua vontade, em vários estágios de revelação no decorrer do tempo. Esses vários
estágios traçam os limites distintos das diferentes economias na concretização de
Seu pleno propósito. Essas diferentes economias constituem as dispensações. O
entendimento das diferentes economias de Deus é fundamental para uma correta
interpretação de Sua revelação dentro dessas várias economias.10
O Dr. Ryrie salienta estas características de uma dispensação na
perspectiva de um dispensacionalista:

Há sempre duas partes envolvidas


Há responsabilidades específicas
Existe tanto prestação de contas quanto responsabilidade
Uma alteração pode ocorrer no momento em que se constatar
infidelidade na administração vigente
Deus é Aquele a quem os homens devem prestar contas
A fidelidade é requerida da parte subordinada
Uma administração (ou mordomia) pode terminar a qualquer
momento
As dispensações estão relacionadas com os mistérios de Deus
Dispensações e eras são conceitos correlacionados
Há, pelo menos, três dispensações (é provável que existam sete).11

Quando comparamos as dispensações com as características específicas


dessa parábola, constatamos o seguinte: Cada dispensação começa com uma
responsabilidade atribuída ao administrador. Nessa parábola, os
administradores são os servos (Mt 25.14) e sua responsabilidade é a de
realizar uma administração fiel (Mt 25.19). Apesar de a parábola retratar
alguns administradores (ou servos) que foram fiéis, cada dispensação dentro
do plano de Deus termina em fracasso, a exemplo do que é representado pelo
servo infiel (Mt 25.18,26). Desse modo, cada era termina em juízo, porque
Deus responsabiliza Seus administradores por suas ações, o que pode ser
visto na atitude de lançar o servo inútil “para fora, nas trevas” (Mt 25.30).
O enredo dessa parábola proporciona um paradigma da maneira pela qual
Deus gerencia a história humana de acordo com a Sua revelação (i.e., a
Bíblia). A despeito de Satanás e do mundo descrente, Deus sabe muito bem o
que está fazendo ao longo de toda a história. Deus está no controle. Ainda
que vivamos numa época em que Ele permite que a humanidade siga seu
próprio caminho e faça o que bem entende, o dia do juízo há de chegar,
quando Deus exigirá dos seres humanos a prestação de contas pela mordomia
que Ele lhes confiou.
NOTAS
1
Stanley D. Toussaint, Behold The King: A Study of Matthew, Portland: Multnomah Press, 1980, p.
287.
2
Toussaint, Behold The King, p. 288.
3
Para ter acesso a uma explanação do que queremos dizer com o termo dispensacionalista, leia o
capítulo intitulado “What is Dispensationalism?” na obra de Mark Hitchcock e Thomas Ice, The Truth
Behind Left Behind: A Biblical View of the End Times, Sisters, OR: Multnomah Publishers, 2004, p.
178-90.
4
Veja o quadro intitulado “The Dispensations” que diagramamos na obra de Tim LaHaye e Thomas
Ice, Charting The End Times: A Visual Guide to Understanding Bible Prophecy, Eugene, OR: Harvest
House Publishers, 2001, p. 81-83.
5
Charles C. Ryrie, What is Dispensationalism?, folheto publicado pelo Dallas Theological Seminary,
(1980), 1986, p. 1.
6
Walter Bauer, A Greek-English Lexicon of the New Testament and Other Early Christian Literature,
uma tradução e adaptação de William F. Arndt & F. Wilbur Gingrich, Chicago: The University of
Chicago Press, 1957, p. 562.
7
Ryrie, What is Dispensationalism?, p. 1.
8
Charles C. Ryrie, Dispensationalism, Chicago: Moody Press, (1966), 1995, p. 25.
9
Ryrie, Dispensationalism, p. 25.
10
Ryrie, Dispensationalism, p. 29.
11
Ryrie, Dispensationalism, p. 26-27.
Parte 39

“Quando vier o Filho do Homem na sua majestade e


todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da
sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua
presença, e ele separará uns dos outros, como o pastor
separa dos cabritos as ovelhas; e porá as ovelhas à sua
direita, mas os cabritos, à esquerda; então, dirá o Rei
aos que estiverem à sua direita: Vinde, benditos de
meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está
preparado desde a fundação do mundo. Porque tive
fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de
beber; era forasteiro, e me hospedastes; estava nu, e
me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes
ver-me. Então, perguntarão os justos: Senhor, quando
foi que te vimos com fome e te demos de comer? Ou
com sede e te demos de beber? E quando te vimos
forasteiro e te hospedamos? Ou nu e te vestimos? E
quando te vimos enfermo ou preso e te fomos visitar?
O Rei, respondendo, lhes dirá: Em verdade vos afirmo
que, sempre que o fizestes a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes. Então, o Rei dirá
também aos que estiverem à sua esquerda: Apartai-vos
de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o
diabo e seus anjos. Porque tive fome, e não me destes
de comer; tive sede, e não me destes de beber; sendo
forasteiro, não me hospedastes; estando nu, não me
vestistes; achando-me enfermo e preso, não fostes ver-
me. E eles lhe perguntarão: Senhor, quando foi que te
vimos com fome, com sede, forasteiro, nu, enfermo ou
preso e não te assistimos? Então, lhes responderá: Em
verdade vos digo que, sempre que o deixastes de fazer
a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de
fazer. E irão estes para o castigo eterno, porém os
justos, para a vida eterna” – Mateus 25.31-46.
A terceira e última seção do capítulo 25 de Mateus é
uma passagem chave do Novo Testamento que
apresenta o julgamento das ovelhas e dos cabritos
depois da Segunda Vinda de Cristo. Essa última parte
do Discurso do Monte das Oliveiras (registrada
somente no Evangelho de Mateus) é uma passagem
com a qual alguns intérpretes preteristas e pós-
tribulacionistas têm dificuldade de lidar. Entretanto, o
intérprete dispensacionalista não tem problemas em
entender esse texto porque o interpreta exatamente
como está escrito.

A Volta Gloriosa de
Cristo e o Julgamento

Essa passagem é difícil para muitos intérpretes preteristas porque eles


espantosamente acreditam que esse texto referente ao julgamento na ocasião
da Segunda Vinda já se cumpriu no ano 70 d.C. Gary DeMar declara: “Há
pouca evidência de que ‘a vinda do Filho do Homem’, mencionada em
Mateus 24.27,30,39 e 42, seja diferente de ‘quando vier o Filho de Homem’,
mencionado em Mateus 25.31”. Compare o texto de Mateus 25.31 com o de
Mateus 16.27, onde se encontra certa referência à destruição de Jerusalém no
ano 70 d.C.”.1 DeMar falha em não explicar os detalhes da passagem que
trata de uma volta do Filho do Homem em glória “...e todos os anjos com
Ele”. Além do mais, conforme é descrito nessa passagem, em que momento o
Senhor Jesus julgou as nações no ano 70 d.C.? Trata-se claramente de um
acontecimento futuro, de proporções tão grandiosas que é difícil imaginar um
modo pelo qual possa ser confundido com o ocorrido no ano 70 d.C. Arno
Gaebelein diz o seguinte:
É evidente que tais palavras só podem estar relacionadas com o capítulo 24.30,31.
A cena descrita acontecerá após Sua manifestação visível e gloriosa como Filho do
Homem e depois que Seus escolhidos (o remanescente de Seu povo terreno, a saber,
“todo o Israel”) tiverem sido reagrupados. Ao deixarmos a parte central do discurso,
as três parábolas, na relação com a profissão de fé cristã encontramos no capítulo
24.3-41 e no capítulo 25.31-46 uma sequência cronológica de acontecimentos
relativos ao fim da era judaica e ao julgamento que ocorrerá imediatamente depois
que o Senhor voltar.2

O julgamento das ovelhas e dos cabritos


Jesus é o único que menciona o julgamento das nações predito para
acontecer quando Ele se assentar “...no trono da sua glória” (Mt 25.31), logo
depois de Sua Segunda Vinda para estabelecer Seu Reino (Mt 25.31-46). O
processo de separação é identificado no julgamento dos gentios pelo uso da
analogia de ovelhas e cabritos. Os gentios representados pelas ovelhas são
aqueles que agirem de forma bondosa com os judeus durante a Tribulação,
arriscando sua vida para defendê-los, visitando-os na prisão e alimentando-os
naquele período angustioso. Porém, aqueles que perseguirem e rejeitarem os
judeus durante a Tribulação são, analogamente, representados pelos cabritos,
por causa de sua rebelião contra Deus, e serão postos à esquerda do Rei.
Devido à rebeldia deste grupo de gentios, “...irão estes para o castigo
eterno...” (Mt 25.46).
O fato de as ovelhas representarem os que forem bondosos com os judeus
durante o período da Tribulação é sinal evidente de que esses gentios, no
decorrer daquele período, nasceram de novo pela fé em Jesus, cujos
“pequeninos irmãos” eles ajudaram e protegeram (Mt 25.40). Esses
indivíduos procedentes dos gentios favorecerão o povo judeu porque são
“justos” (Mt 25.37), ou seja, eles se tornaram “justos” pela fé no sangue do
Cordeiro e a Sua ressurreição ao terceiro dia. A palavra grega que se traduz
por “justo” é a mesma palavra usada na doutrina da justificação pela fé (o ato
em que a justiça de Cristo é imputada àquele que crê no Senhor Jesus). Eles
serão benignos e compassivos com os judeus pela mesma razão que foram
salvos. John Walvoord afirma que “as obras são apresentadas nessa
passagem, não como a base da salvação, mas como evidência que resulta da
salvação, no mesmo sentido do texto de Tiago 2.26 que diz: ‘...a fé sem obras
é morta’; ou seja, só pode ser fé verdadeira se produzir obras”.3 A Aliança
Abraâmica ainda está em vigor e terá sua continuidade durante o reino
milenar de Cristo [i.e., o milênio]. É preciso lembrar-se das palavras de Jesus
no versículo 46, quando assegurou que essas “ovelhas” (os gentios que
crerem em Cristo no período da Tribulação) “...irão (...) para a vida eterna”.
Há três diferentes grupos de pessoas envolvidos nesse Julgamento das
Nações que decidirá quem entrará no Milênio. O primeiro grupo é o dos
descrentes partidários do Anticristo que ainda estiverem vivos no final da
Tribulação, os quais por Ele são denominados de “cabritos”. O segundo
grupo é o dos crentes que sobreviverem ao tormento da Tribulação,
denominados por Ele de “ovelhas”, os quais demonstrarão “o dom da justiça”
que receberam de Deus pela fé no sangue do Cordeiro. O terceiro grupo é o
dos “pequeninos irmãos” aos quais as ovelhas ajudarão e protegerão. Aqueles
a quem Jesus chama de “meus pequeninos irmãos” são os judeus que se
converterão a Cristo na Tribulação e, pela fé, entrarão no Milênio. Portanto,
verificamos que somente pessoas crentes em Jesus Cristo entrarão no reino
milenar, a saber, gentios crentes e judeus crentes provenientes de “toda a casa
de Israel”.
Um problema para o Pós-Tribulacionismo
Os intérpretes pós-tribulacionistas acreditam que o Arrebatamento e a
Segunda Vinda de Cristo são o mesmo acontecimento ou acontecimentos que
ocorrem praticamente sem nenhum intervalo de tempo entre si. Essa
passagem se constituiu num problema para a concepção pós-tribulacionista,
como assinalou Ron Rhodes na seguinte observação:
Na concepção escatológica pré-milenista, o texto de Mateus 25.31-46 é
devidamente interpretado como uma alusão ao julgamento das nações. As nações
são constituídas de ovelhas e de cabritos, representando respectivamente os salvos e
os perdidos dentre os gentios. De acordo com Mateus 25.32, as ovelhas e os
cabritos estão misturados, o que torna necessário separá-los num julgamento
especial. Esse julgamento acontece depois da Segunda Vinda de Cristo, já que
ocorrerá “quando vier o Filho do Homem na sua majestade e todos os anjos com
ele” (Mt 25.31). Contudo, se o Arrebatamento vai acontecer na mesma ocasião da
Segunda Vinda de Cristo, como afirmam os pós-tribulacionistas, esse julgamento
não parece exequível (muito menos necessário). No caso de um Arrebatamento pós-
tribulacionista, a separação entre salvos e perdidos já se daria naquele momento.
Por isso, a maioria dos intérpretes pós-tribulacionistas desconsidera essa passagem
por completo ou a relaciona com o juízo final após o Milênio.4
As pessoas que crerem no Senhor Jesus durante a Tribulação não serão
trasladadas na ocasião da Segunda Vinda de Cristo; pelo contrário,
desenvolverão atividades costumeiras, tais como o cultivo agrícola, a
construção de casas e a geração de filhos (Is 65.20-25). Isso seria
absolutamente impossível se, como alegam os pós-tribulacionistas, todos os
santos fossem trasladados no momento da Segunda Vinda de Cristo à Terra.
Já para os pré-tribulacionistas, essa passagem não se constitui num problema
porque sua concepção é de que haverá um intervalo de pelo menos sete anos
entre a remoção da Igreja no Arrebatamento e a volta gloriosa de Cristo a este
mundo. Uma vez que milhões de pessoas serão salvas durante esse intervalo
de sete anos, haverá um número suficiente de indivíduos que, ainda com seus
corpos naturais, povoarão a Terra no Milênio, para se cumprir o que foi
predito nas Escrituras.
Se o Arrebatamento e a Segunda Vinda não fossem diferentes
acontecimentos separados por um intervalo de tempo, seria impossível que o
julgamento dos gentios ocorresse depois da Segunda Vinda de Cristo. De que
modo os salvos e os perdidos, ainda com seus corpos naturais, poderiam ser
separados nesse julgamento, se todos os crentes que estiverem vivos fossem
trasladados e transformados na Segunda Vinda? Se o traslado dos salvos
ocorresse na Segunda Vinda de Cristo, tal separação seria impossível, porém
equaciona-se na concepção pré-tribulacionista através de um intervalo de
tempo entre esses dois acontecimentos.
O Dr. Walvoord salienta que se “o traslado acontecesse junto com a
Segunda Vinda de Cristo à Terra, não haveria necessidade de separar as
ovelhas dos cabritos num julgamento posterior, pois tal separação já teria
ocorrido no próprio ato de trasladação dos crentes, antes que Cristo realmente
estabelecesse Seu trono na Terra (Mt 25.31)”.5 Se o pré-tribulacionismo é o
ponto de vista verdadeiro, não há nenhum problema quanto ao modo pelo
qual o Senhor povoará o Milênio com indivíduos mortais. Afinal, aqueles que
forem salvos durante a Tribulação e sobreviverem fisicamente até a volta de
Cristo, seja judeu ou seja gentio, povoarão o reino milenar de Cristo ainda
com seus corpos mortais. Os cristãos que verdadeiramente crêem na Bíblia
também aguardam com muita expectativa esse grandioso acontecimento.
Maranata!
NOTAS
1
Gary DeMar, Last Days Madness: Obsession of the Modern Church, Smyrna, GA: American Vision,
1997, p. 190.
2 Arno C. Gaebelein, The Gospel of Matthew: An Exposition, Neptune, NJ: Loizeaux Brothers, (1910),
1961, p. 539-40.
3 John F. Walvoord, Matthew: Thy Kingdom Come, Chicago: Moody Press, 1974, p. 202.
4 RonRhodes, Posttribulationism and the Sheep/Goat-judgment of Matthew 25–A Summary-Critique of
Robert Gundry’s View, ensaio apresentado ao Pre-Trib Study Group, Dallas, TX, Dezembro 2003, p.
1.
5 John F. Walvoord, The Rapture Question, Grand Rapids: Zondervan, (1957), 1979, p. 274.

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