Bardin, Laurence - Analise-De-conteudo-outra Edicao - Libro

Fazer download em pdf ou txt
Fazer download em pdf ou txt
Você está na página 1de 14

Análise da Utilização do Estudo de Caso Qualitativo e Triangulação na

Brazilian Business Review

Adriane Bruchez, Bruno Ciconet, Rejane Remussi, Luana Possamai, Vilmar Antônio
Gonçalves Tondolo

RESUMO
O estudo de caso ganha espaço como estratégia de pesquisa, buscando encontrar soluções
para dificuldades da vida real. Contudo, para que seus resultados sejam considerados válidos,
é necessária a utilização de alguns métodos como, por exemplo, a triangulação. Dessa forma,
o objetivo deste estudo consistiu em verificar a frequência da utilização do método de estudo
de caso qualitativo e da triangulação em artigos publicados entre os anos de 2008 e 2015 na
revista Brazilian Business Review. A metodologia de pesquisa consistiu em uma bibliometria,
exploratória, qualitativa e quantitativa, onde foram selecionados os artigos que, por sua vez,
especificavam o uso do estudo de caso qualitativo como método e a utilização de triangulação
como análise dos dados. Foi possível concluir, que dos 186 artigos analisados, 12 são
caracterizados como estudos de caso qualitativo, dentre os quais 8 não possuem triangulação,
mas buscam a credibilidade de seus resultados por meio de múltiplas fontes ou número de
entrevistas, os quais são fatores importantes no método de estudo de caso, mesmo que, não
dispensem a necessidade da utilização da triangulação (YIN, 2010). Ademais, 4 pesquisas
utilizaram a triangulação de fontes. Os demais tipos de triangulação não foram encontrados
nos estudos.

Palavras-chave: Abordagem qualitativa. Estudo de caso. Triangulação.

1 INTRODUÇÃO
A pesquisa é um procedimento racional e sistemático que objetiva proporcionar
respostas aos problemas propostos, quando não se tem informação, ou quando a informação
disponível está desorganizada, não sendo possível relacioná-la com o problema (GIL, 2010).
A investigação científica fundamenta-se na lógica da metodologia empírica (POPPER, 2003),
visto que é caracterizada como um procedimento sistemático e reflexivo que objetiva a
aquisição do conhecimento através da descoberta de fatos e/ou leis (ANDER-EGG, 1978;
COLLINS; HUSSEY, 2005).
Após definido o que se pretende estudar, busca-se os procedimentos metodológicos
necessários, ou seja, a forma e o instrumental técnico para estruturar a pesquisa (BARROS;
LEHFELD, 1990). As metodologias são esquemas para a resolução de problemas que
diminuem a distância entre a imagem sobre o fenômeno e o próprio fenômeno (MORGAN,
1983). É uma forma instrumental para estabelecer os procedimentos lógicos que foram
utilizados na investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade (GIL, 2008).
Todavia, para assegurar o prestígio e confiabilidade deste processo, é necessária a
adoção de um método de pesquisa adequado, capaz de contemplar da melhor forma possível o
problema de investigação (VERA, 1980). Deste modo, a metodologia das pesquisas
científicas pode ser classificada e definida conforme sua abordagem, finalidade e
procedimentos técnicos empregados (VERGARA, 2006).
A Ciência num determinado período da história acabou sendo mitificada, sendo que
não seguia um padrão que lhe proporcionava confiabilidade e validade científica. Porém,
atualmente, ela é entendida como qualquer assunto que possa ser estudado, utilizando o
Método Científico e outras regras especiais de pensamento, buscando a validade e
confiabilidade dos resultados (OLIVEIRA, 1997).

1
O desenvolvimento de produções científicas só se dá mediante o concurso dos
conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de métodos, técnicas e outros
procedimentos científicos (GIL, 2010). A metodologia estuda os meios ou métodos de
investigação do pensamento correto, e do pensamento verdadeiro, e procura estabelecer a
diferença entre o que é verdadeiro e o que não é, entre o que é real e o que é ficção
(OLIVEIRA, 1997).
Dessa forma, é possível observar a relevância da utilização correta da metodologia nas
pesquisas científicas, pois proporciona confiabilidade e validade aos resultados encontrados,
sem deixar oportunidade de contradições e dúvidas quanto à veracidade das informações
obtidas. A confiabilidade pode ser obtida ainda por meio da utilização de alguns princípios
básicos dentro do estudo de caso, estabelecidos por Yin (2010), dentre os quais está o
conceito de triangulação.
Para tanto, o objetivo deste estudo consistiu em verificar a frequência da utilização do
método de estudo consistiu em verificar a frequência da utilização do método de estudo
qualitativo e da triangulação em artigos publicados entre os anos de 2008 e 2015 na revista
Brazilian Business Review.
Sendo assim, este estudo está estruturado da seguinte forma: a introdução, o
referencial teórico que abrange os conceitos da abordagem qualitativa de pesquisa, bem como
contempla o construto estudo de caso como método de pesquisa e o construto triangulação,
onde são conceituados os tipos de triangulação existentes. Após, é apresentada a metodologia
de pesquisa utilizada para o desenvolvimento do estudo, contendo a descrição detalhada dos
filtros de busca empregados para a realização do mesmo. Posteriormente, elencam-se os
resultados obtidos e confrontasse-os com a teoria. Por fim, apresentam-se as considerações
finais abrangendo as limitações da pesquisa realizada e sugestões para estudos futuros.

2 REFERENCIAL TEÓRICO
A revisão literária é fundamental para sustentar qualquer tipo de pesquisa científica, e
faz-se necessária, principalmente, por agregar confiabilidade ao estudo. Para Creswell (2007),
independentemente de se fazer uso de uma técnica quantitativa, qualitativa ou de métodos
mistos, a elaboração de uma proposta deve começar com uma revisão da literatura acadêmica.

2.1 ABORDAGEM QUALITATIVA DE PESQUISA


A pesquisa qualitativa pode ser definida como a que se fundamenta principalmente em
análises qualitativas, caracterizando-se, em princípio, pela não utilização de instrumental
estatístico na análise dos dados (VIERA; ZOUAIN, 2006; BARDIN, 2011). Segundo Denzin
e Lincoln (2006), a origem da pesquisa qualitativa está na sociologia, no estudo de vida de
grupos humanos e na antropologia, com o início dos métodos de trabalho de campo. Para
estes autores, a investigação qualitativa deve ser compreendida como um terreno ou uma
arena para a crítica científica social e não apenas como um tipo específico de teoria social,
metodologia ou filosofia.
Godoy (1995) afirma que a pesquisa qualitativa, apesar de ter sido utilizada com certa
regularidade por antropólogos e sociólogos, só nos últimos trinta anos começou a ganhar
reconhecimento em outras áreas, como a psicologia, a educação e a administração de
empresas. A pesquisa qualitativa não busca enumerar ou medir os eventos estudados, não
aplica instrumental estatístico na análise dos dados, mas sim, parte de questões de interesses
amplos, que vão se definindo na medida em que o estudo se desenvolve. “Envolve a obtenção
de dados descritivos sobre pessoas, lugares e processos interativos pelo contato direto do
pesquisador com a situação estudada, procurando compreender os fenômenos segundo a
perspectiva dos sujeitos, ou seja, dos participantes da situação em estudo (GODOY, 1995 p.
58)”.
2
A pesquisa qualitativa não é mais apenas a pesquisa não quantitativa, tendo
desenvolvido sua própria identidade. Busca entender, descrever, explicar os fenômenos
sociais de modos diferentes: analisando experiências de indivíduos ou grupos, examinando
interações e comunicações que estejam se desenvolvendo e investigando documentos (textos,
imagens, filmes ou músicas) ou traços semelhantes de experiências e integrações (FLICK,
2009). A abordagem qualitativa de um problema justifica-se, sobretudo, por ser uma forma
adequada para entender a natureza de um fenômeno social. O aspecto qualitativo de uma
investigação pode estar presente até mesmo nas informações colhidas por estudos
essencialmente quantitativos (RICHARDSON, 1999).
De acordo com Richardson (1999), os estudos que empregam uma metodologia
qualitativa podem descrever a complexidade de determinado problema, analisar a interação de
certas variáveis, compreender e classificar processos dinâmicos vividos por grupos sociais.
Skinner, Tagg e Holloway (2000) descrevem que as técnicas qualitativas focam a experiência
das pessoas e seu respectivo significado em relação a eventos, processos e estruturas inseridos
em cenários sociais.
Os autores, Miles e Huberman (1994) não apresentam uma definição rigorosa do
termo pesquisa qualitativa, mas abordam algumas características recorrentes da pesquisa
naturalística, quais sejam: contato prolongado com o campo ou a situação real, o papel do
pesquisador em garantir uma visão holística do fenômeno e capturar os dados por meio das
percepções dos atores locais, suspendendo seus preconceitos sobre os tópicos pesquisados.
As técnicas qualitativas focalizam a experiência das pessoas e seu relativo significado,
em semelhança a eventos, processos e estruturas, implantados em cenários sociais
(SKINNER; TAGG; HOLLOWAY, 2000). São menos estruturadas, porém mais intensivas do
que uma aplicação de questionários fechados, permitindo maior relacionamento e
flexibilidade, atingindo maior detalhe e riqueza dos dados (AAKER; KUMAR; DAY, 2004).
Permite que o investigador entre em contato direto e prolongado com o indivíduo ou grupos
humanos, com o ambiente e a situação que está sendo investigada (MARCONI; LAKATOS,
2011).
A entrevista individual é a técnica fundamental da pesquisa qualitativa, descrita como
uma conversa oral entre duas pessoas, na qual uma delas é o entrevistador e a outra o
entrevistado, com uma conversação efetuada face a face, de maneira metódica, e que pode
proporcionar resultados satisfatórios e informações necessárias (MARCONI; LAKATOS,
2011). O propósito das entrevistas é descobrir as questões implícitas, onde o respondente é
induzido a comentar sobre suas crenças, atitudes e informações subjacentes ao tema em
estudo (MALHOTRA et al., 2005).
O enfoque qualitativo apresenta as seguintes características: o pesquisador é o
instrumento-chave; o ambiente é a fonte direta dos dados; não requer o uso de técnicas e
métodos estatísticos; tem caráter descritivo; o resultado não é o foco da abordagem, mas sim
o processo e seu significado, ou seja, o principal objetivo é a interpretação do fenômeno ou
objeto de estudo (GODOY, 1995B; SILVA; MENEZES, 2005). Em meio aos estudos
qualitativos, aqueles mais comuns, por serem mais conhecidos e utilizados, são o estudo de
caso, a etnografia e a pesquisa documental (GODOY, 1995), apesar de, pela sua flexibilidade,
não excluírem outras possibilidades de estratégias.
Dessa forma o objetivo fundamental da pesquisa qualitativa não se baseia na produção
de opiniões representativas e objetivamente mensuráveis de um grupo; consiste no
aprofundamento da compreensão de um fenômeno social por meio de entrevistas em
profundidade e análises qualitativas da consciência articulada dos atores envolvidos no
fenômeno (RICHARDSON,1999) com o objetivo de desenvolver teorias empiricamente
fundamentadas (FLICK, 2009).

3
Sob a ótica de Creswell (2007), por sua vez, é importante salientar que o objetivo não
se refere simplesmente às questões de pesquisa – aquelas questões que a coleta de dados vai
tentar responder. Diferentemente, o objetivo estabelece os propósitos, a intenção e a ideia
principal de uma proposta ou estudo.
Segundo Richardson (1999), a validade da pesquisa qualitativa não está relacionada ao
tamanho da amostra, mas pela profundidade com que o estudo é realizado.

2.2 ESTUDO DE CASO COMO MÉTODO DE PESQUISA


O estudo de caso como método não se refere a uma escolha procedimental apenas, mas
à escolha de um determinado objeto a ser estudado, que pode ser uma pessoa, um programa,
uma instituição, uma empresa ou um determinado grupo de pessoas que compartilham o
mesmo ambiente e a mesma experiência (STAKE, 1994). A principal diferença entre o estudo
de caso e outras possibilidades de pesquisa é o foco de atenção do pesquisador que busca a
“compreensão de um particular caso, em sua idiossincrasia, em sua complexidade” (STAKE,
1994, p.256).
Goode e Hatt (1973) afirmam que o estudo de caso pode ser caracterizado como o
estudo profundo de um objeto, de maneira a permitir amplo e detalhado conhecimento sobre
este, o que seria praticamente inviável através de outros métodos de investigação. Segundo os
autores o estudo de caso caracteriza-se como um meio de organizar dados e reunir
informações, tão numerosas e detalhadas quanto possível, a respeito do objeto de estudo de
maneira a preservar seu caráter unitário. A totalidade do objeto pode ser conservada através
da amplitude e verticalidade dos dados, através de diferentes níveis de análise, da formação de
índices e tipos de dados, bem como da interação entre os dados observados e a dimensão
temporal em que se dá o fenômeno.
Assim, o estudo de caso é definido como “uma investigação empírica que investiga
um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto da vida real, especialmente quando os
limites entre o fenômeno e o contexto não estão claramente definidos” (YIN, 2001, p.32). Sua
principal característica é o estudo aprofundado, levando-se em consideração a compreensão
como um todo do assunto investigado (FACHIN, 2006). Refere-se ao levantamento de
determinado caso ou grupo humano, sob todos os seus aspectos, porém, se restringe ao caso
que estuda. O estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas, valendo-se de
diferentes técnicas de pesquisa, que visam apreender uma determinada situação e descrever a
complexidade de um fato (MARCONI; LAKATOS, 2011).
Segundo Yin (2010), experimentos, levantamentos, pesquisas históricas e análise de
informações em arquivos são alguns exemplos de formas de realizar pesquisas. Yin (2010)
considera o método de análise nas ciências sociais desafiador, com a clara necessidade de
compreender fenômenos sociais complexos. Seu direcionamento é dado na obtenção de uma
descrição e compreensão completas das relações dos fatores em cada caso, sem contar o
número de envolvidos.
Para Gil (2008), o estudo de caso é caracterizado pela investigação profunda e
exaustiva de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir o seu conhecimento amplo e
detalhado, o que mediante os outros tipos de delineamentos é mais difícil de se atingir.
Estudo de caso para Hartley, aplicado na pesquisa organizacional pode ser assim
definido:

[...] consiste de uma investigação detalhada, frequentemente com dados coletados


durante um período de tempo, de uma ou mais organizações, ou grupos dentro das
organizações, visando prover uma análise do contexto e dos processos envolvidos no
fenômeno em estudo (HARTLEY, 1995, p. 208-209).

4
O estudo de caso como estratégia de pesquisa pode ser utilizado para três propósitos:
exploratório, descritivo e explanatório. O estudo de caso pode ser único ou múltiplo, mas a
escolha de caso único é relevante somente quando representa um caso decisivo no teste de
uma teoria bem formulada ou um caso raro, que valha a pena documentar, ou sirva a um
propósito revelador (YIN, 2010). A unidade de análise pode ser um ou mais indivíduos,
grupos, organizações, eventos, países ou regiões. É uma estratégia de pesquisa utilizada em
diversas áreas, inclusive na empresarial, onde o caso é um elemento do profissional, que
permite reunir informações em relação a um determinado evento, produto, fato ou fenômeno
social contemporâneo, localizado em seu contexto específico, com o objetivo de reunir os
dados importantes sobre o objeto, dissolvendo as dúvidas para esclarecer questões pertinentes,
e assim, instruir ações futuras (CHIZZOTTI, 2006; ROESCH, 2005).
O estudo de casos múltiplos, nos quais vários estudos são conduzidos
simultaneamente, proporciona ao desenvolvimento de teorias. Cada caso é cuidadosamente
selecionado para que haja resultados semelhantes, ou seja, uma replicação lógica. O uso de
múltiplos casos garante maior validade ao estudo, e permite a generalização dos resultados
(YIN, 2010).
Hartley (1995) defende a ideia de que é importante contar com uma estrutura teórica
de referência antes de iniciar o trabalho, mas o mesmo deve ser amplo e não constituir um
elemento impeditivo para o aparecimento de novas ideias e conceitos explicativos.
Yin (2010) destaca a importância do tipo de questão proposta para distinguir os
estudos de caso de outras modalidades de pesquisa nas ciências sociais, o autor salienta que
essa estratégia de pesquisa é usada normalmente quando as questões de interesse do estudo
referem-se ao como e ao porquê; quando o pesquisador tem pouco controle sobre os
acontecimentos; e quando o foco se dirige a um fenômeno contemporâneo em um contexto
natural.
O estudo de caso é útil à construção de hipóteses e teorias, visto que suas principais
finalidades são a de descrever o fenômeno, gerar teorias e testá-las. Para a construção de
teorias sustentadas, o estudo de caso precisa atentar-se a dois aspectos: delimitar
adequadamente o escopo do problema e determinar os potenciais fatores ou variáveis que
serão observados (EISENHARDT, 1999). Eisenhardt (1999) destaca a importância de se
fazer a escolha dos dados por razões teóricas (perguntas não respondidas pelas teorias e
incongruências nelas verificadas em confronto com a realidade), uma vez que muitos estudos
de casos são realizados apenas pela facilidade de acesso à organização, e não por haver algo
relevante a ser pesquisado do ponto de vista teórico.

2.3 TRIANGULAÇÃO NO ESTUDO DE CASO


Por estar sujeito à interpretação dos pesquisadores, a questão do rigor e da qualidade
nos estudos de caso qualitativos é alvo de discussões na literatura. Conforme Godoy (2010)
passa pelo entendimento do significado que se atribui aos conceitos de fidedignidade,
validade e generalização neste tipo de pesquisa.
De acordo com Yin (2010), os construtos são considerados válidos quando o
pesquisador utiliza quatro princípios básicos: empregar múltiplas fontes de evidência, ou seja,
realizar a triangulação; criar uma base de dados do estudo de caso; manter o encadeamento de
evidências; e ter cuidado no uso de dados de fontes eletrônicas.
A triangulação, um dos temas desta pesquisa, é definida como a combinação de
metodologias no estudo de fenômenos similares. Por meio da combinação de diferentes
métodos e investigadores no mesmo estudo, os observadores podem, parcialmente, superar as
deficiências que emanam de um único investigador ou método (DENZIN, 1970). Para
Vergara (2006) a triangulação pode ser vista a partir de duas óticas: a estratégia que contribui

5
com a validade de uma pesquisa; e como uma alternativa para a obtenção de novos
conhecimentos, através de novos pontos de vista.
A triangulação é um caminho seguro para a validação da pesquisa. É a alternativa para
se empreender múltiplas práticas metodológicas, perspectivas e observadores em uma mesma
pesquisa, o que garante rigor, riqueza e complexidade ao estudo (DENZIN; LINCOLN,
2006). O uso de múltiplas fontes de evidencia na pesquisa de estudo de caso permite que o
pesquisador aborde uma variação maior de aspectos históricos e comportamentais,
desenvolvendo linhas convergentes de investigação. Dessa forma, qualquer conclusão do
estudo de caso é mais convincente, e precisa ser fundamentada em diversas fontes diferentes
de informação (YIN, 2010).
Denzin e Lincoln apresentam as vantagens da abordagem da triangulação, afirmando
que:

“A triangulação é a exposição simultânea de realidades múltiplas, refratadas. Cada


uma das metáforas age no sentido de criar a simultaneidade, e não o sequencial ou o
linear. Os leitores e as audiências são então convidados a explorarem visões
concorrentes do contexto, a se imergirem e a se fundirem em novas realidades a
serem compreendidas” (2006, p. 20).

Dessa forma, quatro tipos principais de triangulação são mencionados, sendo eles: das
fontes de dados (triangulação de dados); entre os diferentes avaliadores (triangulação do
investigador); de perspectivas para o mesmo conjunto de dados (triangulação da teoria); e dos
métodos (triangulação metodológica); (DENZIN, 1970; PATTON, 2002).

2.3.1 Tipos de Triangulação


O primeiro tipo de triangulação é a de fontes, pela qual as descobertas do estudo de
caso são sustentadas por mais de uma fonte de evidência, permitindo que ocorra a
convergência de evidências e reforçando a validade do constructo. Para Gibbs (2009) trata-se
da análise de diferentes dados, resultantes de entrevistas, observações e documentos.
De acordo com Yin (2010), as fontes mais comumente utilizadas nos estudos de caso
são: documentação, registro em arquivos, entrevistas, observação direta, observação
participante e artefatos físicos. A análise dos documentos pode ser feita por meio de cartas,
memorandos, correspondência eletrônica e outros documentos pessoais, agendas, anúncios e
minutas de reunião, documentos administrativos, estudos formais ou recortes de notícias. Os
registros de arquivos podem ser: arquivos disponibilizados pelos governos federal, estadual e
local; registros de serviços; registros operacionais; mapas e gráficos; dados de levantamento
produzidos por outros sobre o caso. Já as entrevistas, são conversas pelas quais busca-se o
entendimento do entrevistado sobre o assunto, suas vivências e experiências, ou seja, os
insights dos entrevistados. As observações diretas por sua vez, auxiliam no entendimento do
contexto do mundo real, onde o pesquisador somente observa o que está ocorrendo. Enquanto
que, na observação participante, o pesquisador torna-se ativo dentro do contexto observado, e
participa das ações.
Para Creswell (2007) realizar a triangulação de diferentes fontes de informação de
dados é uma estratégia primária, examinando as evidências das fontes e usando-as para criar
uma justificativa coesa para os temas. As múltiplas fontes de evidências proporcionam
diversas avaliações do mesmo fenômeno, e em muitos estudos de caso, o fenômeno de
interesse pode pertencer a um evento comportamental ou social, com a descoberta
convergente assumindo implicitamente uma única realidade, aumentando a precisão dos
resultados (YIN, 2010).
O segundo tipo de triangulação, dos investigadores, significa a aplicação e o
engajamento de diferentes observadores ou entrevistadores para revelar e minimizar vieses
6
oriundos do pesquisador individual (DENZIN, 1970). Para Gibbs (2009), a ótica e a
interpretação de diferentes pesquisadores podem ser realizadas por diversas equipes ou grupos
de pesquisa em locais distintos. A utilização de diversos investigadores no mesmo estudo
permite obter múltiplas observações no campo e também discussões de pontos de vista, o que
contribui para reduzir possíveis enviesamentos. Trata-se de comparar a influência dos vários
investigadores sobre os problemas e os resultados da pesquisa. Neste caso, diferentemente da
triangulação teórica, emprega-se teóricos do mesmo campo de conhecimento (LINCOLN;
GUBA, 1985).
O terceiro tipo de classificação, a triangulação da teoria, se refere a abordar os dados
por meio de múltiplas perspectivas e hipóteses. Os dados que refutariam hipóteses centrais
poderiam ser coletados e poderiam colocar lado a lado vários pontos de vista para avaliar sua
utilidade e relevância (DENZIN, 1970). Esse tipo de triangulação visa usar pesquisadores
com diferentes bagagens teóricas e áreas de conhecimento para analisar o mesmo problema
(GUION, 2002).
O quarto tipo de triangulação é a metodológica, onde existem duas maneiras
diferentes: triangulação dentro de métodos, onde são utilizadas diferentes sub-escalas em um
questionário para tratar da mesma questão; e entre métodos, combinando diferentes métodos
quando a demanda superar as limitações de cada método por meio da combinação de mais de
um deles (FLICK, 2009). Denzin (1970) afirma que, em face das fraquezas e das virtudes de
cada método, a triangulação consiste em um processo complexo de colocar cada método em
confronto com outro para a maximização da sua validade (interna e externa), tendo como
referência o mesmo problema de investigação. Assim, o principal objetivo da integração de
métodos seria a convergência de resultados de investigação, pelo qual, os resultados seriam
válidos se conduzissem às mesmas conclusões. Opostamente, os dados contraditórios eram
interpretados como sinal de invalidade e refutação de um ou de ambos os métodos usados, ou
resultados alcançados.
A aplicação de qualquer um desses métodos implica que os pesquisadores assumam
diferentes perspectivas sobre a questão em estudo ou responder a perguntas de pesquisa. Essas
perspectivas podem ser substanciadas pelo emprego de vários métodos ou em várias
abordagens teóricas (DENZIN, 1970).
Em suma, a triangulação possibilita um excedente de informação, produzindo
conhecimento em diferentes níveis, o que significa que eles vão além daquele possibilitado
por uma única abordagem, e contribui para promover a qualidade na pesquisa (FLICK, 2009).

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
A metodologia é uma forma instrumental para estabelecer os procedimentos lógicos
que foram utilizados na investigação científica dos fatos da natureza e da sociedade (GIL,
2008). É um processo intelectual para adquirir conhecimentos através da investigação de uma
realidade e a busca de novas verdades sobre um determinado fato. Assim, o objetivo
primordial de uma pesquisa é descobrir respostas para os problemas, mediante o emprego de
procedimentos científicos (FACHIN, 2006).
Dessa forma, esta pesquisa é caracterizada como quantitativa e qualitativa. O estudo é
de caráter quantitativo, que visa identificar a quantidade de artigos que utilizam o
método de estudo de caso qualitativo publicados no período de 2008 a 2015 na revista
Brazilian Business Review. A escolha da revista foi feita por se tratar de um periódico
importante na área da administração, e que está classificado como B1 segundo avaliação
realizada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES). Na
pesquisa quantitativa os resultados podem ser quantificados, e caracterizados como
constituintes de um retrato real de toda a população alvo da pesquisa.

7
A pesquisa quantitativa se centra na objetividade, recorre à linguagem matemática
para descrever as causas de um fenômeno e as relações entre variáveis (FONSECA, 2002). É
aquela em que o investigador usa primeiramente alegações pós-positivistas para
desenvolvimento de conhecimento, ou seja, raciocínio de causa e efeito, redução de variáveis
específicas e hipóteses e questões, uso de mensuração e observação e teste de teorias
(CRESWELL, 2007).
Trata-se também de pesquisa qualitativa, buscando realizar uma análise dos artigos
quanto à utilização da triangulação. A pesquisa qualitativa não se preocupa com
representatividade numérica, mas com o aprofundamento da compreensão de um grupo social
ou de uma organização (GOLDENBERG, 1997). Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao
mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas. O objetivo da amostra qualitativa é
produzir informações aprofundadas, podendo ser pequena ou grande, mas que seja capaz de
produzir novas informações (DESLAURIERS, 1991).
Quanto a seus objetivos, a pesquisa é classificada como exploratória, pois tem como
objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, tornando-o mais explícito ou a
construção de hipóteses. A grande maioria dessas pesquisas envolve levantamento
bibliográfico, entrevistas com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema
pesquisado, ou análise de exemplos que estimulem a compreensão. Esse método é utilizado
normalmente em pesquisas bibliográficas e estudos de caso (GIL, 2010).
Quanto a seus procedimentos, a pesquisa é caracterizada como bibliométrica, pois
realiza o levantamento de referências teóricas publicadas por meios escritos e eletrônicos,
como livros, artigos científicos, ou páginas de web sites. Existem pesquisas científicas que se
baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando referências teóricas publicadas
com o objetivo de recolher informações ou conhecimentos prévios sobre o problema a
respeito do qual se procura a resposta (GIL, 2010).
De acordo com Okubo (1997), entre as aplicações da bibliometria podem ser citadas: a
seleção de livros e publicações periódicas, a identificação das características temáticas da
literatura, a evolução de bibliografias e coleções, entre outros. A análise bibliométrica é um
método flexível para avaliar a tipologia, a quantidade e a qualidade das fontes de informação
citadas em pesquisas. O produto resultante da análise bibliométrica são os indicadores
científicos dessa produção.
Em relação ao objetivo da bibliometria, Rodrigues Sanchez (2008) afirma que:
Não é objetivo da bibliometria em coordenar um sistema matemático disperso e
alheio à dinâmica da comunidade científica, no qual somente se registrem, em forma
de anuário, os tipos de documentos gerados em um sistema de informação (...), é por
isso que definir metodologicamente esses indicadores é complexo, sobretudo a sua
homogeneização internacional (...), pois requerem técnicas advindas das ciências
sociais que permitem reconhecer padrões, qualidades e características a partir de
dados quantitativos; é aqui que se localiza a importância e a complexidade desse tipo
de indicadores, destinados a avaliar resultados de pesquisa em que implicitamente
existem hábitos e comportamentos com sentidos éticos desiguais a respeito de como,
para que e por que se publica e se cita. (RODRÍGUES SANCHEZ, 2008, p. 5).

Para filtrar os artigos com o intuito de identificar quais são caracterizados como
estudos de caso qualitativos, foi realizada a busca pelas palavras “qualitativo” e “estudo de
caso” no resumo e na descrição de metodologia aplicada. A partir disso, quatro pesquisadores
fizeram as análises dos mesmos, através da leitura dos trechos onde estas palavras estavam
presentes, garantindo que este foi o método utilizado. Os artigos que não possuíam as palavras
“qualitativo” e “estudo de caso” foram refutados, pois, ou não especificavam o método, ou
utilizavam as demais formas de metodologia existentes, que não são foco para este estudo.

8
Posteriormente, foi realizada a análise dos resultados qualitativos da pesquisa,
categorizando os artigos e identificando se houve triangulação ou não, e quais as formas de
triangulação utilizadas. Essa análise foi realizada através da leitura dos artigos filtrados,
caracterizados como estudos de caso qualitativos, buscando pela existência de alguma das
formas citadas por Denzin (1970) e Patton (2002) de triangulação.

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS


Após análise dos artigos, foi possível identificar, que dos 186 artigos publicados entre
o período de 2008 a 2015 na revista Brazilian Business Review, 12 especificavam o uso do
método estudo de caso qualitativo, apresentados no Quadro 1. O quadro 1 apresenta ainda a
síntese da análise dos artigos quanto à utilização da triangulação nos estudos de caso
qualitativos.

Quadro 1 – Análise dos artigos


Métodos de coleta
Arti- Edi- Análise de
Ano Título Autores de dados e tipos de Triangulação
go ção Resultados
caso

O papel de visitas técnicas Felício Ribas 18 entrevistas e


v.5 na aprendizagem e Torres, Tomás de análises Análise de
1 Não
n.1 institucionalização de Aquino documentais caso conteúdo
práticas de controle externo Guimarães único

Análise do Nível de
2008

Transparência das
Elizabeth de
Instituições Financeiras
Almeida Neves Análise documental
v.5 Brasileiras em Relação ao Análise de
2 Di Beneditto, e entrevistas em 3 Não
n.3 Acordo com o Novo Acordo conteúdo
Raimundo Nonato instituições
de Capitais (Basiléia II) -
Sousa da Silva
Um Estudo de Caso
Múltiplo

O Impacto da Formação
Marcelo Perin -
Gerencial no Desempenho 30 entrevista em
v.6 Cláudio Sampaio Análise
2009

3 Organizacional à Luz da profundidade em 3 Não


n.1 - Grace Becker - conteúdo
Abordagem de empresas diferentes
Bruno Fernandes
Competências

Análise
Patricia Amelia documental,
v.7 Gestão cultural em negócios Análise de Triangulação
4 Tomei - Patrícia observação e 23
n.3 familiares conteúdo de fontes
Jaguaribe Ferrari entrevistas. Caso
único
2010

Entrevistas/análise
Rosalia Aldraci
Processo integrador de documental/
Barbosa Lavarda-
formação da estratégia e a observação direta. Combina-
v.7 Maria Teresa Triangulação
5 gestão do trabalho complexo Caso único. Não ção de
n.3 Canet-Giner- de fontes
– uma análise micro especifica Padrões
Fernando Juan
organizacional quantidade de
Peris-Bonet
entrevistas.

18 entrevistas semi-
Processo de inovação no Jonilto Costa
estruturada e
v. 10 contexto organizacional: Sousa, Maria de Análise de
2013

6 análise documental Não


nº 3 uma análise de facilitadores Fátima Bruno- conteúdo
em 3 organizações
e dificultadores Faria
distintas

9
Uma análise das dimensões
Renata 14 entrevistas em Análise
estratégicas críticas para a
Giovinazzo profundidade e longitude-
v. 10 internacionalização das
7 Spers,James análise documental nal e Não
nº 2 empresas brasileiras nos
Terence Coulter em 6 organizações análise
mercados de base da
Wright distintas cruzada
pirâmide (BOP) globais

Participação orçamentária e Carlos Eduardo Observação direta e Análise


v. 10 assimetria informacional: Facin Lavarda, 8 entrevistas Qualitativa
8 Não
nº 2 um estudo em uma empresa Dalci Mendes estruturadas. Caso de
multinacional Almeida único conteúdo

Entrevistas, 6
empresas distintas.
A pesquisa foi
realizada em dois
A Utilização de Sites de Marcos Hideyuki
momentos, Compara-
v. 11 Rede Social no Trabalho: Yokoyama,
9 primeiramente ção com a Não
nº 2 um Estudo de Caso em Tomoki
utilizando uma literatura
Empresas Brasileiras Sekiguchi
forma de
questionário e
2014

posteriormente
aprimorando-o.

Imaginário Organizacional e Marcia Caldas análise documental,


Dimensão Tácita do Pitrowsky, Isabel 13 entrevistas
v. 11 Conhecimento: Estudo de De Sá Affonso Da semiestruturadas e Análise de
10 Não
nº 5 Caso em Empresa do Costa, Denise técnicas projetivas conteúdo
Segmento de Medeiros Ribeiro em workshops, em
Telecomunicações Salles caso único

19 entrevistas
As Influências da Dinâmica
semiestruturadas, Análise de
de Lógicas Institucionais na Maísa Gomide
v. 12 observação não conteúdo, Triangulação
11 Trajetória Organizacional: o Teixeira, Karina
nº 1 participante e Software de fontes
Caso da Cooperativa Veiling De Déa Roglio
análise documental Atlas TI
Holambra
em caso único
2015

14 entrevistas
Redes de Cooperação Lázaro Pereira de
semiestruturadas,
Tecnológica em Bio- Oliveira, Claudio
v. 12 observação não Análise de Triangulação
12 Manguinhos: o Papel das Pitassi, Antônio
nº 3 participante e conteúdo de fontes
Tecnologias de Informação Augusto
análise documental
e Comunicação Gonçalves
em caso único

Fonte: Elaborado pelos autores.

Tendo em vista a literatura apresentada, que caracteriza a triangulação como sendo de


fontes, de métodos, de investigadores, e de teoria, foi possível observar que dos 12 artigos
definidos como estudos de caso qualitativos, apenas 4 apresentaram triangulação, sendo todas
elas de fontes. O estudo considerou a triangulação de fontes como análise de diferentes dados,
resultantes de documentação, registro em arquivos, entrevistas, observação direta, observação
participante e artefatos físicos (YIN, 2010).
No artigo 10, foram realizadas entrevistas, análise documental, porém as técnicas de
workshop não constam na literatura como uma fonte de coleta de dados, portanto, não foi
considerado o uso da triangulação para este estudo.
Considerando o uso da triangulação de investigadores, foi possível identificar que
todos os estudos foram realizados por dois ou mais autores, porém, não especificavam em seu
resumo ou metodologia que a coleta de dados tenha sido realizada por investigadores
distintos, portanto, esse tipo de triangulação foi considerado inexistente nas pesquisas.
10
Constatou-se no artigo 9, que a pesquisa foi realizada em dois momentos,
primeiramente sendo utilizada uma forma de questionário e posteriormente aprimorando-o,
porém, esse método não se configura como triangulação metodológica. Como destaca Flick
(2009) são utilizadas diferentes sub-escalas em um roteiro de entrevista para tratar da mesma
questão. Dessa forma, é possível identificar que não foi realizada triangulação no estudo.
Identificou-se que 33,3%, dos estudos realizados com casos únicos utilizaram a
triangulação, e que 66,7%, foram realizados com múltiplos casos ou maior número de
entrevistas, porém, não são apresentados indícios de triangulação pela análise realizada.
De acordo com Yin (2010), é preciso considerar além da triangulação, o tamanho da
amostra que será utilizada, porém, diferentemente dos outros métodos, não existe um ponto de
término claro de coletar dados suficientes para que tenha evidência confirmatória (evidência
de duas ou mais diferentes fontes), e que a evidência inclua tentativas de investigar hipóteses
e explicações rivais importantes. Em contrapartida, Eisenhardt (1989), sugere que 4 a 10 é um
número adequado de casos, mas é necessário considerar a saturação da teoria, ou seja, quando
o processo interativo gera melhorias incrementais mínimas na teoria gerada pela pesquisa.
Assim, é possível observar que utilizar múltiplos casos ou um maior número de
entrevistados não torna a triangulação dispensável para que o estudo tenha validade e
confiabilidade. Esses métodos auxiliam na generalização dos resultados, porém, é preciso que
se tenha mais que entrevistas, por exemplo, que são relatos de indivíduos que podem distorcer
a realidade. Portanto, realizar observações e análises de documentos, por exemplo, como
forma de complementar e testar as informações adquiridas com as entrevistas é de suma
importância quando se trata de estudos de caso.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O estudo objetivou a verificação da utilização do método estudo de caso qualitativo
nos artigos publicados nos anos de 2008 a 2015 na revista Brazilian Business Review, bem
como a apresentação de algum tipo de triangulação. Por meio de bibliometria, pode-se
constatar que dentro da amostra analisada (186 artigos) existe um número pequeno (12) de
estudos fazendo uso da metodologia de estudo de caso, assim como quanto ao uso da
triangulação para reforçar a validade da pesquisa, visto que apenas 4 realizaram a
triangulação.
Como resultado da análise de artigos, constatou-se que, nos artigos publicados nos
referidos anos, 33,3% da produção científica, fez uso de casos únicos fazendo uso da
triangulação. Todavia, 66,7% dos resultados foram realizados com múltiplos casos e
obtiveram percentual maior de entrevistas, porém, não foi utilizada a triangulação. Além
disso, quanto aos tipos de triangulação utilizados, foi possível constatar que houve somente a
utilização da triangulação de fontes, não havendo o uso de triangulação de investigadores,
metodológica ou teórica.
Verificou-se então, que a triangulação ainda é pouco utilizada nos estudos de caso,
sendo necessário que os pesquisadores deem mais atenção para esse detalhe, já que a
triangulação é considerada relevante para a validação e a confiabilidade dos dados obtidos em
pesquisas qualitativas.
Quanto aos objetivos do estudo pode-se dizer que estes foram alcançados, porém, seus
resultados não podem ser generalizados, visto que a análise baseou-se apenas em uma única
revista. Dessa forma, a sugestão para pesquisas futuras é que sejam realizadas análises de
outras revistas brasileiras, considerando-se o mesmo período de tempo, a fim de se verificar
se os percentuais das mesmas se aproximam aos do estudo realizado, e permitindo uma
melhor visualização do cenário científico quanto ao uso do estudo de caso qualitativo e da
triangulação.

11
REFERÊNCIAS
BARDIN, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011.

BARROS, A. J. P.; LEHFELD, A. S. Projeto de pesquisa: propostas metodológicas. 8. Ed.


Petrópolis: Vozes, 1990.

BENEDITTO, E. A. N; SILVA, R. N. S. Análise do Nível de Transparência das Instituições


Financeiras Brasileiras em Relação ao Acordo com o Novo Acordo de Capitais (Basiléia II) -
Um Estudo de Caso Múltiplo. Brazilian Business Review, v.5, n.3, p. 192-208, 2008.

CRESWELL, J. W. Projeto de pesquisa: métodos qualitativo, quantitativo e misto. 2 ed.


Porto Alegre: Artmed, 2007.

DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. Introdução: a disciplina e a prática da pesquisa qualitativa.


In: DENZIN, N. K. e LINCOLN, Y. S. (Orgs.). O planejamento da pesquisa qualitativa:
teorias e abordagens. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 2006.

DENZIN, N. K. The Research Act. Chicago: Aldine, 1970. Disponível em:


https://books.google.com.br/books?id=UjcpxFE0T4cC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false. Acesso em: 28 jul. 2015.

DESLAURIERS J. P. Recherche qualitative: guide pratique. Québec (Ca): McGrawHill,


Éditeurs, 1991.

EISENHARDT, K. M. Building theories from case study research. Academy of Management


Review, v.14, n.4, pp. 532-550, 1999.

FACHIN, O. Fundamentos de metodologia. 5. ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

FLICK, U. Desenho da pesquisa qualitativa. Porto Alegre: Artmed, 2009.

FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila.

GIBBS, G.; COSTA, R. C. Análise de dados qualitativos. Porto Alegre: Artmed, 2009.

GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2010.

GIL, A.C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo, Atlas, 2008.

GODOI, Christiane Kleinübing; BANDEIRA-DE-MELLO, Rodrigo; SILVA, Anielson


Barbosa da (Orgs). Pesquisa qualitativa em estudos organizacionais: paradigmas, estratégias
e métodos. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010.

GODOY, A. S. A pesquisa qualitativa e sua utilização em administração de empresas.


Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 4, p.65-71, jul./ago. 1995A.

GODOY, A. S. Introdução a pesquisa qualitativa e suas possibilidades. Revista de


Administração de Empresas. São Paulo, v. 35, n. 2, Mar./Abr. 1995B, p. 57-63.

12
GOLDENBERG, M. A arte de pesquisar. Rio de Janeiro: Record, 1997.

GOODE, W.; HATT, P. Métodos em pesquisa social. São Paulo, SP: Nacional, 1973.

GUION, L. A. Triangulation: Establishing the validity of qualitative studies. University of


Florida, FCS 6014, Extension. Institute of Food and Agricultural Sciences, 2002.

HARTLEY, J. F. Case Studies Research. In: CASSELL, C. e SYMON, G (Ed.) Qualitative


Methods in Organizational research: a practical guide. London: Sage, 1995.

LAVARDA, C. E. F.; ALMEIDA, D. M. Participação orçamentária e assimetria


informacional: um estudo em uma empresa multinacional. Brazilian Business Review, v. 10,
nº 2, p. 74-96, 2013.

LAVARDA, R. A. B.; CANET-GINER, M. T.; PERIS-BONET, F. J. Processo integrador de


formação da estratégia e a gestão do trabalho complexo – uma análise micro organizacional.
Brazilian Business Review, v.7, n.3, 114-137, 2010.

LINCOLN, Y. S.; GUBA E. G. Naturalistic inquiry. Beverly Hills: Sage, 1985.

MALHOTRA, N.; ROCHA, I.; LAUDISIO, M.C. Introdução à Pesquisa de Marketing. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2005.

MILES, M.B.; HUBERMAN, A. M. Qualitative data analysis: an expanded sourcebook


California: Sage, 1994.

MORGAN, G. Beyond method: strategies for social research. London: Sage, 1983.

OKUBO, Y. Bibliometric indicators and analysis of research systems: methods and


examples. Paris: OCDE/GD, 1997.

OLIVEIRA, L. P.; PITASSI, C.; GONÇALVES, A. A. Redes de Cooperação Tecnológica em


Bio-Manguinhos: o Papel das Tecnologias de Informação e Comunicação. Brazilian Business
Review, v. 12, nº 3, p. 45-69, 2015.

OLIVEIRA, S. L. de. Tratado de Metodologia Científica. São Paulo: Pioneira, 1997.

PATTON, M. Q. Qualitative research and evaluation methods. 3. Ed.Thousand Oaks,


California: Sage, 2002. Disponível em:
<https://books.google.com.br/books?id=FjBw2oi8El4C&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q=triangulation&f=false>. Acesso em:
28 jul. 2015.

PERIN, M. G.; SAMPAIO, C. H.; BECKER, G. V.; FERNANDES, B. H. R. O Impacto da


Formação Gerencial no Desempenho Organizacional à Luz da Abordagem de Competências.
Brazilian Business Review, v.6, n. 1, p. 104-120, 2009.

PITROWSKY, M. C.; COSTA, I. S. A.; SALLES, D. M. R. Imaginário Organizacional e


Dimensão Tácita do Conhecimento: Estudo de Caso em Empresa do Segmento de
Telecomunicações. Brazilian Business Review, v. 11, nº 5, p. 102-123, 2014.
13
RICHARDSON, R. J. Pesquisa Social: Métodos e Técnicas. São Paulo: Atlas, 1999.

RODRÍGUEZ SANCHEZ, Y. Trilogía para la visión cientifica: las publicaciones científicas,


las bases de datos y la bibliometría. Biblios, Lima, n. 31, p. 1-9, abr./jun.2008.

SILVA, E. L.; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 4 ed.


Florianópolis: UFSC, 2005.

SOUZA, J. C.; BRUNO-FARIA, M. F. Processo de inovação no contexto organizacional:


uma análise de facilitadores e dificultadores. Brazilian Business Review, v. 10, nº 3, p. 113-
136, 2013.

SPERS. R. G.; WRIGHT, J. T. C. Uma análise das dimensões estratégicas críticas para a
internacionalização das empresas brasileiras nos mercados de base da pirâmide (BOP)
globais. Brazilian Business Review, v. 10, nº 2, p. 26-50, 2013.

SKINNER, D.; TAGG, C.; HOLLOWAY, J. Managers and research: the pros and cons of
qualitative approaches. Management Learning, v. 31, n. 2, p. 163-179, 2000.

STAKE, R.E. Handbook of qualitative research. London: Sage, 1994.

TEIXEIRA, M. G.; ROGLIO, K. D. As Influências da Dinâmica de Lógicas Institucionais na


Trajetória Organizacional: o Caso da Cooperativa Veiling Holambra. Brazilian Business
Review, v. 12, nº 1, p. 1-37, 2015.

TOMEI, P. A.; FERRARI, P. J. Gestão cultural em negócios familiares. Brazilian Business


Review, v.7, n.3, p. 24-46, 2010.

TORRES, F. R.; GUIMARAES, T. A. O Papel de Visitas Técnicas na Aprendizagem e


Institucionalização de Práticas de Controle Externo. Brazilian Business Review, v.5, n. 1, p.
72-88, 2008.

VIEIRA, M. M. F.; ZOUAIN, D. M. Pesquisa qualitativa em administração. 2. ed. Rio de


Janeiro: FGV, 2006.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

YIN, R. K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 4. Ed. Porto Alegre: Bookman, 2010.

YOKOYAMA, M. H.; SEKIGUCHI, T. A Utilização de Sites de Rede Social no Trabalho:


um Estudo de Caso em Empresas Brasileiras. Brazilian Business Review, v. 11, nº 2, p. 91-
121, 2014.

14

Você também pode gostar