Vida de Nun Alvares 00 Mart
Vida de Nun Alvares 00 Mart
Vida de Nun Alvares 00 Mart
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miunaluares
0Uupíra IJfâartins.
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A VIDA DE NUN'ALVARES
: : •
OBRAS COMPLETAS
I. Historia nacional
I vol.
III. Varia :
A VIDA
DE
NUN'ALVARES
Historia do estabelecimento da dynastia de Apíi
^sstn\iúâ it (&aôanffm
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LISBOA
UVRARIA DE ANTÓNIO MaRIA PeREIRA EDITOR —
5o, 52 —
Rua Augusta 52, 54 —
Vtli( (XXCIfl
fí FEB 7 1968
^
%5ís;ryono^
Advertência
6 oAdvertencia
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I
Carvalho, Chorogr. ii, SSj.
o prior do Hospital 3
I Chron. do Condest., í. —
Destes trinta e dois filhos, os que appa-
recem mencionados nas chronicas são :
caide-mór de Elvas.
4. Lop'alvares, idem,leg. em Portalegre, a 24 de julho (iSgg) i36i.
5. Gonçalo Pereira, idem, id.Atouguia, a i5 de setembro (1405)1367.
6. Vasco Pereira, idem, id. Coimbra, a 8 de setembro Í1407) 1369.
7. Ruy Pereira, idem, id. Villa Viçosa, a 8 de janeiro (141 3) 1375.
8. Fernão Pereira, idem.
9. Aflbnso Pereira, idem ?
Cf. a Mon. lusit. viii ; liv. xxiii, 3. — Santos, errando n'um dia,
põe o nascimento de Nun'alvares a 25 de junho quando o computo ;
caso está em
fazer por elle E peccados ha, dignos de ben-
!
> (}ab. Pereira do Castro, no seu tratado De manii regia (n. 7Ó,
foi. 234) affirma que o direito de apresentação dos bispos pela coroa,
só começou em Portugal no tempo de D. Atfonso v. Na Edade-média,
diz Cunha (Catai, dos Bispos do Porto, part. 11, i5, p. 84) pertenceu
sempre aos papas eleger os bispos porém com o consentimento do
;
o prior do Hospital g
dos, em Salamanca,
que o futuro arcebispo de Braga filhou
Tareja Pires Villarinho, e o fez n'ella. O pae metteu-o
quasi creança no Hospital, cujo mestre era seu tio avô Es-
tevam Vasques Pimentel, irmão da mãe do arcebispo, Ur-
raca A^^asques, da casa dos Pimenteis, casada com o conde
de Trastamara D. Gonçalo Pereira, de quem o filho tirou
o nome. Cresceu D. fr. Álvaro sob o patrocínio do tio, e
quando este morreu, tinha o rapaz dezoito annos, succe-
deu-lhe no priorado da ordem 2, cuja sede era o Crato.
Governando, pois, a ordem do Hospital desde largos
annos, tornára-a como que apanágio da sua familia, tanto
lhe augmentára o poder e a riqueza. As cruzes tloreteadas
do seu brazão viam-se esculpidas num sem numero de cas-
tellos. Tinha construído o da Amieira, forte e mui formoso
os paços do Bomjardim, junto á sua villa da Certan ; a
egreja de Santa Maria, em que Deus fazia muitos milagres;
e além de outras numerosas obras, rematava o castello da
Flôr-da-Rosa ^ o seu mosteiro e egreja, povoando o logar
com colonos adscriptos. Da ordem fundada em 10 por 1 1
2 Chron. do Condestabre, i.
3 Ibid.
:
i6 q4 vida de Nun^ahares
2 Ayala (Cron. d'el-Rey D. Vedro : afio viii c. 11) diz que foi Af-
;
IV, 4Q-5o.
•^
.-Xyala, Chron. etc, an. viii, 2 ; e Nobil.^ etc, xxi.
4 Cf.Romey, Hist. d'Esp.., i3 ; viii, pag. 23o aJ fin.
(iSGgj !
Tal era a verdade do mundo, e a historia de perfídias,
de violências, de traições e de baixezas, de luxuria adu-
bada com sangue, que a larga experiência do prior D. fr.
Álvaro narrava ao filho, no instante em que elle, com a
imaginação cheia pelos sonhos da Cavallaria, ia entrar na
scena em que esperava talhar para si um papel verdadei-
ramente heróico e santo, como o typo creado pela phantasia
do romancista. E com a firmeza dos videntes e a indifle-
rença dos eleitos, Nun'alvares ouvia os casos do tempo,
que mais o convenciam da necessidade impreterível de tra-
var a roda da maldade, estabelecendo o reinado da candi-
dez e da forca heróica.
1
Cf. Romey, tom. ix, i e segg.
Hist. d'Esp., xiv
;
O auctor do —
Nobiliário conta assim a historia de D. Pedro de Castella, depois de
terminado o valimento do senhor de Albuquerque, o do ataúde :
Este rrey dom Pedro foi muy justiçoso e temido dos rreys seus
visinhos e dos do seu rreyno : e depois que sse dei partio dom Jo-
ham Affonso d'Alboquerque e de Medelim que o consselhava muy
bem e verdadeiramente com gram proll dos fidalgos e dos outros do
rrevno ouue priuados que o consselharom muy maU, prazemceando e
dandolhe maaos consselhos por tirarem deli mercêes fezeromno viuer
com grandes peccados filhamdo muitas molheres que lhe foy máa
estamça e matou muitos e boos d'alto linhagem antre os quaes matou
o iffante dom Fernando e o iffante dom Joham seus vassallos filhos
delrrey d"Aragom, e sua madre delles que era sua tia irmãa de seu
padre, e matou três irmãaos seus, filhos delrrey dom Afomsso e ou-
tros muytos grandes homeens. E por estes peccados o desemparou
Deus e alçousse o rreyno comtra elle e juntaromsse gentes ao conde
:
lhas lídimas e dous filhos de manceba, e gramde aver que elle avia
como quer que delle ficasse muito que cobrou o comde dom Anrri-
que e fallou com o prinçepe com muitas lagremas em sa face dizem-
:
que fossem de ssa homrra. E o primçepe doemdosse dei disse que lhe
prazia e veosse logo a Castella com três mil e quinhemtas lamças e :
deitousse logo sobre Toledo por viir lidar elrrey dom l'edro com elle
entemdemdo que el seria mal aiudado dos que com elle vcessem. E
elrrev dom Pedro moueu pêra lá com gram parte dos mouros e doutras
pentes e o comde dom Anrrique quamdo soube que hia pêra la veeo-
:
alli omde esiaua e lamçou mãao deli pêra lhe dar com huma adaga
e dom Pedro lamçou os braços por ell e deitouo no campo ssô ssi
mais nom tiinha já com que lhe dar, ca sse o teuera matarão. E os
seus do comde dom Amrrique talharomlhe a cabeça e devtaromna na
rrua e filharomlhe o corpo e leuaramno ao castello acima das ameas
e poseromno amtre duas tauoas. E matou dom Amrrique todos os
priuados que o mall comselhauam. Este rrev leixou emxempro pêra
os rreys averem boos comsselheyros leaaes e emtemdudos e leterados
de boa comçiençia e sem prazemtêo e amtre estes dous homeens boos
:
Outuhro de 1371.
Jq yí vidã de Nwiahwes
por causa do escândalo. Ella. que não tinha amor pelo rei,
vingava-se do tédio d'esse sacrifício, dando largas á sua
imaginação doentia de mulher nervosa. Tecia intrigas que
se desmanchavam em sangue, como a tragedia do infante
D. João, cujo braço armou para apunhalar sua innocenle
irman. O marido assassino fugiu logo para Castella. A'
inveja e ao escândalo juntavam-se, contra a rainha, o hor-
ror por essa doidice de sangue que parecia inherente aos
costumes patrícios, e o desespero do povo. para o qual era
ella a causa dos males da guerra, outra vez accesa contra
o prior do Hospital 33
3^f.
Q/l vida de Nim' alvares
mosa creatura I
por morador em sua casa. Ficou pois no paço com seu tio
'
Chron. do Condestabre^ n ; v. também Lopes, Chron. c a repro-
2 23 de fevereiro, iSjS.
3 7 de março.
'
vingada em Lisboa.
«minsviaw
II
—
Viuva? ia a dizer subitamente Nun'alvares, mas a
palavra, levantando-se-lhe no peito como um botão de agua
n'uma nascente, morreu antes de lhe chegar aos beiços.
—
Filha de João Pires de Alvim e de D. Branca Pires
Coelho, ainda nossos parentes, em quarto grau. Teem
escudo esquartelado nos dois enxadres, vermelho e ama-
:
2 Ibid.
3 Ibid. III.
.
o fim da dpiastia 41
—
Senhor, fallaes-me de c-asamento. . . Não estava avi-
sado... Porém vos peço, por mercê, que me deis logar
para cuidar. . . Poderei então certamente responder o que
julgar. .
o JÍ7n da drnastia ^
mente amigo, cheio de brandura e carinho K Conformára-se
com a existência incolor que o destino, parecendo mentir
aos vaticinios, lhe preparara. Por vezes recordava melan-
colicamente as suas illusóes perdidas; mas, apertando con-
tra o peito a filhinha, dissipava a saudade das emprezas
sonhadas, glorias entrevistas e fugidas, como nuvens
-^
Ibid., VII.
:
'
29 de maio de iSjS.
2 Cf. Sandoval, Aljubarrota ; Romey, Hist. d'Esp.; ibid.
^6 qA vida de Nuii alvares
(Aragão, Descr. geral, ele. 11, 287) e decuplicando, para obter o valor
relativo.
•1
5o C^ vida de Nun alvares
para com elles vir ao Tejo impor a paz. Foi, com effeito,
e trouxe seis naus a Lisboa; mas foram recebidas a tiros,
sendo forçadas a regressar a Sevilha '"-.
d'Aviz
Eduardo 11 de Inglaterra; a segun-
/no th:s. de Alcob.icaj
da, D. Isabel, filha do castelhano
Pedro-o-cru. Vinha com os pães o filhinho de seis annos,
Eduardo; vinha o condestavel da armada, William Beocap,
mais um bastardo do rei de Inglaterra, mais três mil
homens d"armas e frecheiros. \'inham também os gallegos
banidos de i373, João Atfonso de Beça, Fernão Rodrigues
d'Aça, Martim Paulo, e os outros, com o seu chefe, o
Andeiro, á frente. Era tudo gala e festas. Acto continuo.
I
Lopes, Chron. de D. Fernando^ 107, 12, e 3o. — Cf. Rohrbacher,
Hist. de 1'église cath. xi, liv. 81. — Esta opinião, defendida por D. Ro-
drigo da Cunha, é contradictada por Santos, {Mon. litsit. viii, 42) que
pretende não ter o governo de D. Fernando reconhecido nunca o papa
de Avinhão, Clemente vii allegando que a junta dos prelados portu-
;
accentuando as palavras.
Nun 'alvares conhecia o alcance da phrase sublinhada.
I Chron. do Condestabre, x.
:
desejada vontade !
—
Mas que razão vos movia? perguntava outra vez o
rei, surprehendido por esse espectáculo singular de um
homem pundonoroso.
— Senhor, voltou Nun'alvares disposto a explicar-se,
saiba v. mercê que o meu desejo era servir bem e ser
grato a quem tantas mercês dispensou a meu pae, a minha
linhagem, e a mim próprio. E isto por dois motivos . .
gado dos seus próceres. O povo era uma hoste, com o rei
58 yl vida de !\im'alvarcs
—
Nun^alvares, vejo e entendo bem que a intenção foi
e é muito boa. Agradeço-vos muito. Não me esquecerei.
Bem sei que de tal e tão bom creado, que vos fiz, não
podia sair senão isto e melhor. Confiei sempre em vós . . .
Como era diversa esta sala em que se via, esta mesa a que
se sentava, da Tavola redonda dos cavalleiros presididos
pelo Arthur O Mal, que antes lhe apparecêra abstra-
rei I
o fim da dfnastta 65
5
dQ qA vida de Nun alvares
e rapinas.
em agosto, no tempo das uvas; e os caste-
Estava-se
lhanos desembarcavam quasi todos os dias, talando as
vinhas e os pomares de fructa. No estado de depressão
o fim da d/nasíia 6g
çoava o rei.
A maledicência, porém, não lhe reprimia o desvaira-
mento da paixão. Ardia no amor do escândalo. Um dia ',
entrava o Andeiro com o conde D. Gonçalo Tello, irmão
da rainha, na sala onde esta se achava com as suas aias.
Vinham quentes, transpirando. Era julho. Ella, tirando o
veu, rasgou-o ao meio, e deu a cada qual sua metade, para
se limparem. Emquanto D. Gonçalo esfregava a cara, o
Andeiro, á parte, enxugando a face com a outra metade,
ajoelhou perante a rainha, e dísse-lhe com um riso gaiato
— Preferia um panno mais usado e mais chegado . .
• Julho, i382.
2 Lopes, Chron. de D. Fernando, iSg.
70 C/í rt<ia de Nun alvares
3. D. Fernando Annes. —
Doação de Avi^ (donde o titulo) por
Affonso 11. Era 1249.
4. D. Fernão Rodrigues Monteiro que mudou a sede, de Évora,
pafa Aviz.
5. D. Frei Martim Fernandes que foi na conquista do Algarve por
D. Affonso III.
ô p. ô e segg.
' Ibid. Ill, y, pag. 49 v.
alguma vez tal idéa lhe passava pelo espirito, como succe-
dia a todos os bastardos de reis, a distancia era tanta,
os impedimentos de ordem, que a timidez da sua intel-
tal
: Ibid.
n4 qA Vida de Nun alvares
o Assumar
(do Livro de Duarte d' Armas, no Arch. nac.)
barrota.
So od inda de- Nun' alvares
o Jim da d/na st ta 83
•S>'ií~Ã,-í'^"-^-"»
fé \]Múífm icij^jfnmo
III
"Le roy Ferrand chey (tomba) en langueur qui dura plus d'ua
'
an et mourut.» —
Froissart, Chron.^ iii, 3.°
:
S8 cá vida de Nun'alvares
' «D Fernando foi o primeiro que usou n'este reino fazer a barba e
cortar o cabello : generalisando-se o uso, veiu d'elle os castelhanos
chamarem-nos chamorros, ou tosquiados.» — Santos, Mon. lusit. viii, 5i.
2 22 de outubro de i383.
3 Lopes, Chron. de D. Fernando, 172, diz que o rei morreu com 52
Este erro, apontado pelo sr. P. Chagas na sua Hist. de Portugal (i.^
ed. I, 294, nota) fora já notado por Santos, Mon. lusit. viii, 5i.
o Messias de Lisboa gt
entre sete e outo horas, se finou este nobre Rey D. Fernando, a quem
Deos perdoe, e foi enterrado a sexta feira no mosteiro de São Fran-
cisco de Lisboa he anno de xp.» i383.»
:
—
Arch. nac. liv. 11 de D. Fer-
nando^ p. 1 10, traslad. na Hisf. Geneaf. ; Provas^ n, n. 3~.
i Lopes, ibid.
g2 cA vida de Nunahares
—
Arrayal Arrayal por Portugal ^
! !
o Messias de Lisboa gS
fidelidade dynastica e á lealdade que prendia as classes
superiores. O legitimismo ligava a fidalguia a D. Beatriz,
embora com o risco da união a Castella-, e os que punham
acima da fidelidade dynastica a idéa da independência,
appellavam para o filho mais velho d'el-rei D. Pedro e de
D. Ignez de Castro. Mas em Lisboa, onde o espectáculo
da corte diminuirá o respeito, onde vivia a lembrança da
tumulto de 1 371, e o ódio contra Leonor Telles era decla-
rado, o povo agitava-se, repellindo a perspectiva de lhe
ficar sob o governo, e esperando a redempção sem saber
d'onde. Disse-se depois que, em Évora, uma creança ao
nascer, na própria hora da morte de D. Fernando, accla-
mára em altos brados o mestre d'Aviz ; mas milagres
sempre
d'estes se contam depois, para sanccionar os factos
consummados.
Este ódio de Lisboa con-
tra a rainha e o seu valida
foi, portanto, o que pre-
cipitou a revolução, que
talvez, porém, se não ti-
o Messias de Lisboa
gg
Silenciosos, os irmãos seguiram a jornada para Santarém.
Um perguntava a si próprio qual seria o resultado de
tantas voltas; o outro não ousava interromper o silencio,
por ver que a resistência ás ordens da rainha era um pe-
nhor de victoria.
Que fortuna, a d'elle, se podesse converter o irmão á
sua fé
• 5 de dezembro, i383.
2 Lopes, Chroti., ix.
102 qA vida de Nun'alvares
—
E pois, irmão, que é isso ? A que tornastes de vosso
•
caminho ?
I
Parece que esta época marca a transição da cór branca para a
preta nos lutos. O costume antigo portuguez era o burel branco, ou
almarfaga, almaffega, almafegua, pois todas estas formas se encontram.
(Cf. Viterbo, Elucidário^ etc. ad vv.) A' morte de D. João i «el-rei to-
mou doo de preto e os ifantes tomaram burel, segundo sempre até
aqui se costumou.» (Pina, Chron. de D. Duarte^ ii) O burel branco e
grosseiro de que nossos maiores faziam o seu dó — diz a Orden. liv. v,
tit. cxii § I. em
na linguagem dos
Todavia, a palavra dó significa regra,
chronistas do tempo, luto negro, porque, sendo branco diz-se expres-
samente burel. Em Castella era uso o negro. Nas exéquias de D. Fer-
nando em Toledo, «el-rey leuaua hú sayo preto, & a rainha hia em
húas andas vestida dalmafega preta... Os portuguezes que cÕ ella
. :
— Não vou,
respondeu o Tello; fico para vos ajudar.
— Não,
ide; esperae-me para jantar, que eu, querendo
Deus, tanto que isto for feito, logo irei comer comvosco. . .
—
Senhora, respondeu nervoso o Mestre, é mui grande
verdade. Porém fazem isso porque teem guerras a miude,
e poucas vezes paz. Podem-n'o mui bem fazer. Mas a nós
é pelo contrario temos pelo geral paz, e poucas vezes
:
mella.» —
Lopes, Cliron. cxlvii.
: ! .
Saíram, correndo.
O Mestre, sósinho no terraço do palácio, via de longe,
c sem ser visto, o tumulto do povo que se desenroscava
pelas ruas da cidade. Scismava. Era aqucUe o momento
critico da sua vida.
!.
— Deixal-o
não faltam bispos
; !
—
Justiça que manda fazer Nosso Senhor o papa Ur-
bano Sexto a este traidor scismatico e castellão, por não
andar bem com a Santa Madre Egreja. . .
'
I
A Santa Madre Egreja absolveu o crime pelo breve do papa Ur-
bano V, de 2 de novembro do viii anno do pontificado (i385) per-
doando aos cidadãos de Lisboa João da Veiga, Silvestre Esteves, Este-
.vam AfFonso e seus sequazes as penas, pofque «incendidos em zelo de
devoção mataram os schismaticos Martinho, bispo que foi do Algarve,
e Gonçalo Vaz, prior que foi da Egreja de Santa Maria de Guimarães,
da diocese de Braga, que intentavam entregar a cidade de Lisboa nas
mãos dos schismaticos, pela qual traição estavam escondidos nos
tectos da egreja de Lisboa, d'onde os precipitaram no adro da mesma
Egreja.» —
Doe. em Freire de Oliveira, Elem. para a historia do iinin.
de Lisboa, i, 281. Cf. Sylva, Menu de D. João /, iv n. 5.
: . :
ladas. .
laremos no resto.
Impassível, Leonor Telles viu o Mestre ajoelhar perante
ella
— Senhora, só quem não erra, não tem de que pedir
: ;.
—
Boa cousa é de se fallar, posto que já assaz tratada.
Entendo que lhe deveis enviar recado para que o não faça;
e elle, como homem de razão que é, não o fará desde que
lho pedirdes.
— Supponhamos que lho peço, se recusa a e elle fazel-o.
— Em caso havia que juntar as vossas gentes
tal e em-
bargar-lhe á força a vinda.
A rainha soltou uma gargalhada franca :
dade I . . . E
não tendes dó d'esse homem morto com
tamanha Era fidalgo como vós
vilania ! . . Apiedae-
. ! . . .
I
Lopes, Chron., x a xiv,
.
Mas afinal, sem ser ainda rei, nem regente, nem cousa
alguma, inclinando já para a pregão emdireita, lançou um
seu nome, prohibindo assaltar os judeus. Esta primeira
usurpação de poder despegou muitas língoas.
— Tomemos este homem por senhor, c alcemol-o a
rei. .. diziam, quando clle passava nas ruas, montado na
sua mula negra, distribuindo cortczias e carinhos á gente
que se amontoava, seguindo-o.
8
:
2 Ibid.
3 i5 de dezembro.
4 Lopes, Chron.^ xvii, xviii.
o Messias de Lisboa ii5
Quando
esta conversa lhe chegou aos ouvidos, o ex-chan-
vendo o amor que a rainha lhe tinha á cabeça, lar-
celler,
gou de Alemquer a unhas de cavallo. O Tello, impando,
commentava :
nuevos de Toledo^ iii, 7 trad. por Santos, Mon. lusit., viii 23, 8.
; ;
Sandoval. Aljubarrota.
'i
moria, e nelle um letreiro que declarava ter sido o dito Senhor o fun-
dador do tribunal da casa dos Vinte e quatro, cuja fundação fez no
anno de 1422, concedendo logo muitos e grandes privilégios, e no-
meando para primeiro juiz do povo Atíbnso Annes, do officio de
tanoeiro». — Liv. de Reg. da Casa dos Vinte e Quatro^ 11, foi. i. ap.
Oliveira, Elem. etc, i, 28 .^
' Lopes, Chron., xxviii.
«E' ficieron facer un pendon á Quinas de Portugal, é en la vara
2
dei pendon era pintado el infante Don Juan, como estaba preso, cn
cadenas». — Ayala, Chron.
3 Lopes, Chron. xxviti.
722 q4 vida de Niin alvares
de Santarém.
. . : .
— Senhor, respondeu
elle rendido, eu por agora não
— Conde de Ourem.
o Andeiro . . . . .
ha de ir adiante. .
—
Amigos, quero contar-vos um grande e secreto feito
que trago em meu coração. E" isto. Vejo diante de mim . .
.
grande milagre e mercê de Deus E todavia o coração . . .
— Nun'alvares, respondeu
timidamente um, bem sabeis
que somos vossos; mas
de que nos fallaes é assim isto
remos.
— Amigos, o poço fundo e escuro que tenho diante dos
olhos é a grande demanda do Mestre contra el-rei de Cas-
tella,para a defeza do reino. arrisca Quem n'ella entrar,
tudo; nem é de crer que escape senão por graça de Deus.
—
Viste nunca tal sandice do Nuno que eu criei tama-
nino! Deixou o prior, seu irmão, com quem ia, e agora
vae-se a Lisboa, para o Mestre ... 3.
Entraram na cidade, e o mestre de Aviz, exultando de
contentamento por ver a seu lado uma espada, collocou
logo Nun'alvares no conselho.
Dias depois chegava a Lisboa, também, Iria Gonsalves,
vinda de Castella, por via de Portalegre, com recado do
3 Ibid., LX.
!
'
3o dezembro, i383 ; Lopes, Chroii., xli e 11 ; Chron. do Condes-
tabre^ XX.
2 Lopes, Chron .,
lii.
3 i3 de janeiro, 1384.
•1 Lopes, Chron., xlii, v.
9
!
• Lopes, x.-ii'.
2 Ibid.^ XI IV.
Torre de Beja
m\^^i-~H-'
IV
31 gucrrti
— Dize-lhe
lá que sou eu que lhe quero pôr o corpo
A
segunda metade de janeiro passou-se em hesita-
ções. Os
castelhanos não desciam de Santarém os de •,
4 Campo-grande.
Q/l guerra iSj
"
Lopes, Chron. lxxv Cliron. do Condestabre^ xxiv.
;
no Tejo, que ainda estava livre, sete naus, treze galés e uma
galeota, para o defender contra a esquadra castelhana, para
manter por mar communicações com o Porto, para as
manter com o Alemtejo, atravez do rio. Lisboa e o seu
porto tornavam-se, por forma, a chave do plano da cam-
tal
qA guerra 143
qA guerra 145
qA guerra i4g
? Ibid. xciii.
4 Ibid. xci Clirou. do Condestabre, xxvni.
;
taes . . . Em
verdade vos juro que ainda que ahi viesse
meu pae, seria contra elle A' frente da minha ban-! . . .
morte.
Depois, reflectindo, arrependiam-se. A' noite, já o
arrayal dormia, Álvaro Coitado veiu afflicto acordar
Nun'alvares. Eram dois, d'Elvas, que já tinham os cavai-
los sellados para fugir. N'um pulo, Nun'alvares saiu.
— O' irmãos amigos ! dizia-lhes com desolação cari-
nhosa; e para vós é tal obra! Deixares a honra que Deus
vos prepara, faltares ao promettido, e tornares para vossas
casas. .
ireis tão breve que eu, mercê de Deus, não esteja mui
perto. Ide . . .
... «a quem el-rei pagava condas que eram certas rendas com
1
lanças por onde, quando nas historias se ler que iam na hoste tan-
:
'«Onde aqui notae que Nuno Aluarez foi o primeiro que, de me-
moria dos homPes até este tempo, poz batalha em Portugal por terra
«Sc a vrceo». —
Lopes, Chron., cxvi.
i58 qA vida de Niin'ah>ares
Évora.
1 6 de maio.
2 14 de maio.
3 Lopes, Chron. cxii, iii.
j62 Cy4 Vida de Nwialvarcs
Adiante I
0.4 guerra 16
2 Jbid., xLviii.
3 indica a éra de i42i
Ibid., i.xxix =
i383; mas em 3i de março
d'esse anno ainda D.Fernando era vivo. Evidentemente é 1422=1384.
4 Froissart, Chron. iii, Sg «Qui va de toutes ventes et plus sure-
:
seil du roi 'de Portugal on n'y pouvait envover pour le present gens
2 Ibid., xcviii.
3 Campo-grande.
G/í guerra i65
2 Ibid., cxvi.
.
Miralda e deixalda,
Si quisieredes carnero
Qual dieran ai Andero ;
Si quisieredes cabrito,
Qual dieraii ai Arçobispo. . . i
A Lopes, Chron., 1
i68 cA vida de Nwi alvares
—
Que vos parece d'estes estranhos feitos ?
—
Louvado Deus, respondeu Nun'alvares, sem se apeiar
os começos parecem bons. Os fins melhores serão!
. .
4 Princípios de junho.
1^2 0.4 vida de Niin' alvares
I
A dobra de ouro de 92,1 grãos, ou 3o ao marco, do valor de 82
soldos corresponde a 2^']<j'i rs. da nossa moeda. 1000 são 2:793^000,
e multiplicando por dez para ter o valor comparado temos 28 contos
-de réis, para comprar o guerrilheiro. Outros se venderam por rnais, e
«€Mf
J<Dc\zU\\o d-/^rrcii-L.
-v.\:V'
Qã guerra ijj
estos Ingresses muitos tempos com sigo, pagando lhes grande soldo
cada mez em que gastarão muito.» Ibid. —
'«E outrosy acorrerão a El-Rey com as suas mercadorias que
tinham carregadas que lhe derão em Inglaterra dez mil francos com
que mandou vir muitos Ingresses archeiros e homens d'armas pêra
defensão do Reyno.» —
<<E além destas e doutras infindas despezas
que fizerão por ter sua vox lhe emprestaram mil e quinhentos marcos
de prata de que ainda a muitos he devido gram contia.» Ibid. —
2 «Estas livras anumeradas, contheudas com este privilegio, que
12
i'j8 QÁ vida de Nun alvares
-
Martins, o moço.
Terminada a expedição do norte, rematados os equi-
pamentos, esquadra portugueza, reunida no Douro,
a
apressou a partida quando soube da aproximação de
Nun'alvares, segundo vimos. Desceu a costa até Buarcos,
e também ahi se escapou, fugindo ao fronteiro do Alem-
tejo. Eram dezesete naus, c outras tantas galés, sob o
commando do conde D. Gonçalo. O conde D. Pedro ficara
no Porto, ferido, do torneio com o irmão, á volta da
Galliza. As galés vinham bem; as naus, porém, sem gente,
mal equipadas. Traziam a bordo um João Ramalho, mer-
cador rico do Porto, homem entendido nas cousas do
mar. A esquadra deu fundo em Cascaes num domingo. ^
bra ao Conde Dom Gonçalo que tivesse a vox d"El-Rey com quantos
podesse aver e fizerão no vir á Cidade honde lhe davão quanto havia
mister; e por que se hum dia fingio que queria partir por que lhe não
davão poos pêra a cozinha deram-lhe mil libras d'Afonsys.» —
Caria
de D. Duarte ; ibid.
2 Lopes, Chron., cxxv.
qA guejTã i8i.
n'alvares
Logo que Ruy Pereira chegou com a Milheira á altura.
do flanco da armada castelhana, orçou para ella, seguido
pelas quatro naus da vanguarda. Entretanto as galés, á
voga arrancada, e as outras naus com maré e vento de fei-
ção,subiam pelo lado do sul o rio. Vendo porém os inimigos
immoveis, Ruy Pereira arribou, para se reunir á esquadra.
N'esse momento, o almirante castelhano entendeu oppor-
tuno sair, para se prolongar com os navios portuguezes em
linha parallela por barlavento, vedando-lhes a communica-
ção com Lisboa. manobra, Ruy Pereira, para a
Vendo a
impedir, metteu de ló no bordo de norte, e, cortando a
linha castelhana, abordou a nau almirante inimiga S. Juan
de oArena^ fazendo outro tanto as suas outras quatro naus.
Este episodio salvador permittíu ao grosso da esquadra
portugueza escapar, rio acima, sem combater. Mas as cinco
naus, e os navios castelhanos que por todos os lados as
abalroavam, foram, n'um feixe, levados pelo vento e pela
maré, esbarrar no pontal de Cacilhas. A lucta era brava,
mormente na nau Milheira, onde Ruy Pereira, depois
de muito combater, recebia um virote na fronte, caindo
para o lado, morto. Assim acabou o tio de Nun'alva-
res, sacrificando-se para salvar a sua frota. A nau rcndeu-se,v
renderam-se mais duas; mas as outras duas salvaram-se,.
bem como o grosso da esquadra que, subindo o Tejo, en-
calhava na praia, desde as Taracenas até á porta do Mar,.
' Lopes, Chron. cxxxiii. —Cf. Mon. lus.^ viu 22 a 24 Faria, Not. de- ;
Port., II § i5 ;
Quintella, Annaesda mar.port. 1,48 e segg.; bem como
Sandoval, Aljubarrota.
2 Lopes, Chron. cxxxv a vii. — O total das forças navaes castelha-
nas eram 61 naus, ló galés, 1 galeaça e varias carraças.
3 Ibid. cxxxvii. —Almada cahiu nos últimos dias de julho.
4 II de julho. — Lopes, Chron. ibid.
qA guerra j8S
não tinham querido deixar vir a bordo para isso lhe tinham
!
zerme saber que a teimação que havia era em graõo pezar meo e
perdison que el bem poderia avençarme con el-Rey de guisason que
quedasse beê e seê mengoa a minha prol y que de todo volo figesse
saber. O trompeta que veoo volveo com a responça beê e avante soube
ouve grão pesar dello. Non hey mor marteyro que as pregarias das
fêmeas aun que o Bispo le daa bõo consolo com o seu bõo sizo. A
doença he mú grande y por falta de mantença e de agua que temos
vedados os canos dela, mas soo de certo sabedor, naoo he menor a
que jaz no arrabalde inimigo que ha dia em que vaoõ quarenta e tal
mais ao seminteiro. Como lo pedides vai a responça y bem presto pelo
Q/í guetTã i8j
3 27 de agosto.
;:.
qA guerra j8^
2 Ibid. cxxxviu.
qA guerra igi
> 1 ou 2 de setembro.
2 3 de setembro.
3 Lopes, Chron. cl ; Chron. do Condestabre, xxxvl
4 Lopes, ibid. cl; Chron. do Condestabre., ibid. xxxvi.
C^ guerra ig3
I
O relego freletinn) era o direito pelo qual o soberano, nos seus
reguengos, vendia o vinho, com exclusão de outro qualquer, durante
um certo prazo (Orden. vian. liv. ii, tit. 3^). As jugadas, ou censo,
eram a contribuição predial de rendimento, variavelmente fixadas nos
contractos de colónia. (Ibid. liv. ii, tit. 33) A alcavalla que se conser-
vou com este nome em Castella, e cm Portugal passou a chamar-se
siza, era, diz Arguelles «un derecho
(Dicc. de hacienda^ ad. verb.)
que se cobra sobre el valor de todas las cosas muebles, immue-
bles y semovientes que se venden ó permutan;» era o nosso ac-
tual imposto de registo ou transmissão. A açougagem correspondia
ao que chamamos hoje real d'agua imposto de venda sobre géneros
:
q4 guerra igj
*5
CO
03
S
.a
o
Q
^Ji4.jj4-i.i. ai-iuii II j.í-11Jxui.lu.íill:jji.i.j. v.
í 28 de outubro.
2 55 dias; de 3 de setembro a 28 do outubro.
202 qA vida de Nun' alvares
'
19 de novembro.
2 V. a carta (22 ou 23 outubro) cm Sandoval, Aljubarrota^ 60.
3 35oo lanças, 1700 besteiros, 3ooo peóes =
ijico homens. Ibid.
4 Janeiro, IJ85.
5 Entre Tejo e Guadiana obedeciam a Castella : Portel, Villa-Viço-
Lopes, Chron.y clxxt, diz que foi emquanto o Mestre estava sobre
2
bolia uma folha, não luzia uma luz, não soava um mur-
múrio. Era uma calada mortal. Apenas, para os lados
lá
3 Ibid., XI..
2o8 qA vida de Nun alvares
'
lanças.
Ainda a esquadra castelhana não tinha largado do
Tejo, sairá o mestre de Aviz de Lisboa, a vêr se tomava
Cintra, ^ mas voltou acossado por uma tempestade sem
ter conseguido o intento. Depois, no próprio dia em que
os navios inimigos partiram, passou o rio e apoderou-se '-
'
Jbid. cix.x.
:
M
—
ataramno a um esteio onde ardendo fez máo fim da sua vida.» Ibid.
CLXXXIV.
4 Jbid.
5 «Por quanto nos trazia bastecido de morte e treiçam e a condes-
sa era em esto consentydoura.» —
Ibid clxxxv. .,
:
1 I
'^
fevereiro, i385.
2 Chron. do Condestabre^ xli; Lopes, Chron.^ clxx;ii.
!
* *
—
Portugal! Portugal! por el-rei D. João!
—
Em boa hora venha o nosso rei
Lado a lado, o Mestre e Nun"alvares, trocavam olhares
de victoria, e, ao apeiarem-se das mulas, Nun'alvares, com
uma illuminação de fé nas pupillas, disse baixo para o
Mestre : i
—Deus falia pela boca do povo. . .
I 3 de março, i385.
o throno de oAvii 2i3
' Sobre as origens das cortes nos estados da Hespanha, pôde ver-
se a Hist. da Civil, ibérica^ do A. (3.^ ed.) pp. 54-9 e 169-73.
2 12 vogaes do Clero, 72 da 'nobreza e 5o procuradores de villas.
— Cf. Santos, Mon. hisit viii, 23 ; 29 e 33.
.,
-"
Lisboa, Évora, Porto, Coimbra, Silves, Elvas, Thomar, Abrantes,
o throno de oAvi^ 21S
I
Lopes, Chron.y c.i.xxvi.
o throno de 2/ípi^ 221
3 Ibid.^ Cl xxviii.
4 /6íi., CLXXIX.
:
I
Lopes, Chron.^ clxxxvii.
: :
3 Ibid ^ CLxxxix-cxc.
!
— Elejamos
pois rei, voltou o doutor depois de uma
pausa, aquelle que cumpre, para não cairmos na sujeição
'
de nossos inimigos scismaticos.
Aquelle?... mas quem? Não o disse, nem era mister.
O nome estava na boca de todos. Foram d'alli direitos pe-
dir-lhe que acceitasse a coroa. O mestre d'Aviz fez-se
rogado. Allegou a bastardia, defeito de nascença; allegou
os votos que lhe impediam ter mulher. Insistiram: na Egreja
havia remédio para tudo. E quando, terminada a ceremonia,
disse que sim, Nun'alvares, exultando de contentamento
por ver afinal realisada a sua idéa, como o amor generoso
e espontâneo da paternidade ideal, largou a gritar:
—
D'esta vez, meu senhor, o Mestre será rei a prazer
de Deus, e peze a quem pezar
As cortes acclamaram immediatamente o novo soberano
portuguez;^ mas os termos d'essa acclamação mostram
com evidencia o caracter da nova monarchia, que era um
principado popular. O rei formaria o seu conselho com
cidadãos das principaes cidades do reino, escolhidos nas
propostas formuladas em listas tríplices; ouviria os povos
em todos os negócios que lhes tocassem; não lançaria tri-
butos sem os consultar e sem que elle e o conselho bus-
cassem os meios mais suaves de contribuição; não faria a
23; 23-32.
i5
220 QA pida de Nunahares
«... hua nao, & húa barca nas quais vê duzentas lanças & duzen-
tos flecheiros pagados o primeiro quarteiro que se começou sesta fei-
ra ante Ramos. E vem em ella quatrocentos moyos de trigo & muita
farinha & toicinhos.
«... Ahora depois de vespora enuiou Deos vento de sua graça á
barca por a qual razom as gales lhe derão lugar, seguindo para longe
& como amainou junto ao Hospital d'Elrey chegaram as gales e com-
batendo-a com as setas: pêro húa que mais
chegou houue per seu se
barato de não estar muito acerqua delia com salsa pimen- &; partiose
tada que queima bê, ca, segum dizem, o Patró foi morto & outros
muitos. Das outras que arredadas estauão muitos forom mortos & os
demais feridos com flechas que erom lançadas por a galé a longo. .
sa que a náo nom podia bem uir.. Vindo-se a náo para a Villa mui
.
passo ca o vento era muy pequeno chegarom a ella quatro galés com-
:
batendoa muy fortemente & deshi as outras quatro galés por tal gui-
sa que todos os da cidade desesperauam delia & nom ficaua Igreja
que nom fosse chea de companha, hu se faziam muitas inclinações,
promettendo muitos votos de missas, jejuns, romarias, ferindose mui-
tos peitos, cantandose muitas litanias. cada hum chamando o san-
. .
'Chron. do Condestabre^ xi m.
2Ibid. —«. que ainda ao muito honrado senhor conde que então
.
um
magote de quarenta escudeiros portu-
Chegou-lhe
guezes e gallegos com gente de pé bom prenuncio. Ca- :
' —
40D lanças, 200 cavallos, 2000 besteiros e peões. Cf. Sandoval, .4/-
jub arrola.
2 Lopes, Chroíi., xix.
1 14 de junho.
2 Lopes, Cliron., xxu.
3 Ibid.
nha que aterre o animo, nem tão branda que alargue a alma:
o bastante para a enlanguescer, na embriaguez de uma tris-
teza suave. Os choupos e os salgueiros, beijados pelo ven-
to, vão cantando com os rouxinoes; beijados pela agua, vão
chorando, pendentes, com o rio que passa fugindo es-
quivo. Por cima veste as terras o lançol pardo das olivei-
ras; como soluços e interrogações cruéis, erguem-se os vul-
tos negros dos cyprestes, esculcas mysteriosamente enyg-
maticos, de pé, sobre a crista das ribas do sul, cravados no
ceu. Confrangc-se o coração com ternura: a vida vê-se tris-
^Ijuliurrota
oAljiiharrota 245
O
Estatuto, porém, só se publicou depois, porque adiante diz
«Porque em aquellc dia e hora que esto foi ordenado. vespora de . .
Carta de Nun'al'.ares :
tre Davis, é los que con el son quieren venir a la mi merced, non
catando cl mucho deservicio que me han fecho é facen, yo partiré
25o Q/l vida de Nun'alvares
dos no Porto, Coimbra, etc. até Alemquer; 121 h. ahi vindos de Lis-
boa 2:900 h. trazidos por Nunalvares do Alemtejo i :00o h. reunidos,
; ;
oAljubarrota 25r
' II de agosto.
2 Lopes, ibid. ; Chron. do Condestabre^ li.
«Uray est que de premiòre uenue, à cheual, ils sont de grãd vo-
lonté, de grãdbobant & de grande courage & hautain, à leur auantage
& secombattent assez bien à cheual, mais si trestosl qu'ils ont gettc
deux ou trois dards ít donné un coup despée & voyent que leurs
ennemis ne se desconfisent, ils se doutent «S: retournent les treins de
leurs chevaux & se sauve qui sauuoer se peut.»
256 qA vida de Niin alvares
'7
258 qA vida de Nun'alvares
I
Chron. do Condestabre, li.
oAljuharroía 2b g
'
Aljubarrota 189 m. Alcobaça 62 m.; a distancia de um a outro
ponto, em linha recta, é de cerca de 6 kilom.
2 i3,5 kilom. de Leiria; 2,5 da Batalha; 12 de Aljubarrota; 5 de
Porto-de-Moz 19 da costa. Cf. os planos da batalha em Sandoval,
;
— Ayala {Cliron. de D. João /, ann. vii, i3) diz do local que «de las
dos partes era llano e de las otras dos partes avia dos valles.»
2 Lopes, Chron., xxxiii Chron. do Condestabre^ \.\.
;
i Lopes, ibid.
202 qA vida de Niníalvares
I
V. o epitaphio da sua sepultura no convento das freiras de Villa-
nova, Porto. — Cf. Sousa, Hist. de S. Domingos, iv, 5.
3 i356.
;
Aljubarrota 263
I
A egreja de Santa Maria de Ceiça começou-a em iSgS ; a ermida
de S. Jorge existe ainda na aldeia d'esse nome.
;
.
oAljubarrota 265
I
Lopes, Chron.^ xxxiv.
:
Oâljiibavrota 26J
*
* *
au"costé deuers les champs, abbattre les arbres, coucher de trauers, &
à fin que de plain on ne peust sur eux cheuaucher «Sc laisserent un
chemin qui n'estoit pas dentrée trop large & meirêt ce qu'il auoiêt,.
tan d'Archers que d'Arbalestiers sur les deux aelles de ce chemin.»
— Froissart, Chron. iii, 14.
" . . .los quales estaban puestos en un gran recuesto que ende es-
taba, é fecho un muy fuerte palenque ai derredor de su real é fechas-
muchas fosas cubiertas con ramas.» — Sumario
de los Reyes de Es-
pana^ por el dispensero de la revna dofia Leonor; ed. de 1781, de D
Eugénio de Llaguno Amirola.
:
1 looo a i5oo m.
2 Lopes, Chron.^ xlií.
.
vuestras gentes non han hoy comido ni bebido nin tan solamente agoa,
maguer face gran calentura, é estan enojados dei camino que han an-
dado é aun pieza de los Omes de pie Ballesteros y Lanceros no son
;
ordem. -
Da vanguarda castelhana só a terça parte, ao centro,
podia caber na frente de ataque. Diante d'ella estavam
os dezeseis trons. Viam-se ahi os portuguezes inimigos
Diog'alvares, mais João Aífonso Tello, irmão da rainha
Leonor e cúmplice do Mestre no assassinato do Andeiro:
viam-se João de Ria e os irmãos Boil, á testa dos corpos
auxiliares o Mendoza, o prior de S. João, D. Pedro
\
1 «. . .en las batallas que los Reyes de Francia mis senores, el Rey
Don Phelipe é el Rey Don Juan ovieron con el Rey Eduarte de Ingla-
terra é con el Príncipe de Gales su fijo, perdieron las batallas los Reys
de Francia é fué todo por non tener buena ordenanza en su batalla ...»
— Ayala, ibid.
2 «Entonces los mas de los cavalleros que con nosotros estaban,
que se habian visto en otras batallas, acordaban que no diese esta en
aquel dia lo uno porque nuestra gente iba fatigada, y lo otro para
;
mirar la gente Portuguesa como estaba. Mas toda la otra nuestra gente
con la voluntad que habian de pelear fueron se sin nuestro acuerdo alia
y nos bailamos con ellos aunque con mucha flaqueza que habia 14
dias que ibamos camino de litera y por esta causa no podiamos en-
tender ninguna cosa dei campo como cumplia á nuestro servicio.» —
Carta a Murcia, cit. —
Lopes, Chron.^ xxxvi, diz que no conselho foi
João Affonso Tello quem reclamou se combatesse logo e que o rei
ordenou o combate. Não parece exacto, nem é provável.
. : :
Q/lIjubarrota 2^3
3 Ibid.
! :
I
Lopes, Chron.^ xlii.
- Ayala, Chron.^ ann. vir, 14.
3 Froissart insinua que os castelhanos deixaram de aguentar o ata-
que dos francezes por ódio, perdendo assim a batalha versão que se :
galois, on dit bien que la iournée estoit pour eux.» Chron., iii, i5. —
4 Dois tiros de besta 1000 ou i5oo m.
:
oAljubarrota 2"] 5
1 «Em
passando começaram de se fazer ficadiços uns trás de ou-
tros, assim das azes como das alas de guisa que a sua vanguarda que
era muito mais cumprida, e as alas tão grandes que bem podiam abra-
çar a batalha dos portuguezes, ficou tão curta d'aquella guisa que a
de Portugal tinha já vantagem d'ella e ficou assim grossa e ancha em
;
estaba tan cercada por los arroyos que la tenian ai rededor que no
habia de frente de 340 a 400 lanças. Pêro aunque esto estaba assi y
los nuestros vieron todas estas dificultades no dexaron de acometer
los y por nuestros pecados fuimos vencidos.» —
Carta a Murcia, cit.
3 Lopes (xiji,) mencionando o movimento, diz que as alas «ficarem
dos alas de la batalla dei Rey no pudieron pelear que cada una de e!Ias
falló un valle que no pudo pasar. e en las dos alas de los enemigos
. .
crmu\"i:Dt':$>;^^nirai':
I
I
Lopes, Chron., xi.vi.
Té que uma grossa lança assaz ligeira
Sem se ver donde fora despedida
Derriba em terra o misero Pereira
Que co'o novo mestrado perde a vida.
F. R. Lobo, O ConJesl.ib-e.
0,41 jiibarr Ota 2J'J
'
Carta do Arcebispo ao abbade de Alcobaça, 26 agosto, i42 3=i?85
em Lopes, tbid. ad fin. ; transcr. por Sylva. Memor. etc.
2 Camões, Lusíadas; est. omitt., xl b.
''
Ibid.^ XL a.
4 Ibtd.^ XL d, £>,
f.
5 Ibid.^ XXXV, c.
6 ]bid.^ XXXV, b.
7 Ibid., XXXV, a.
^ Lopes, (^hron., xlv.
o Lobo, donde st abre
2-j8 qA vida de Swi alvares
«Lá venoient Gens-darmes Anglois (si peu qu"il cii y avoit) &
2
avecques eux Portugalois »Sc Lissebonois, eii escriant leur cri, Nos-
tre-Dame de Portugal, qui tenoient en leur poings lances aflilées de
fers de Bordeaux, trenchans Os: persans tout autre qui abbattoyent, &
poulsoyent, »!t nauroyent Chevaliers et Escuyers. Là fut le Sire de
Laiiach de Bearn, abbattu et sa banniere conquise, & íiancé prisonnier,
& de ses gês grande foison morts Ov pris Dautre part Messire Jehan
de Re (Ria), Messire Geoffroy Richon, Messire Geotíroy de Partenay
& tous leur gens, estoient entrez en ce fort, à telle peine q leurs che-
vaux (qui estoiêt naurez du trait des Archers) cheoient dessous eux.
Là estoint Gens-d"armes de leur costé en grand danger, car ils ne
pouuoient aider lun à Tautre, 0\; si ne se pouuoyent élargir pour eux
deffendre, & combattre à leur iS: vous dy que Portugalois (qui
volonté
virent le méchef avenir sur premers requerents) y furent aussi
les
irais, & aussi legers à combíittre, que nulles gens pourroyent cstre.»
— Froissart, Chron., 111, i5.
-^ «E el Rey, ai comienzo de la batalla, como estaba Haco, leva-
oAljubarrota 2jg
tensa em
que as linhas valem por
annos, durara apenas meia ho-
ra. Anoitecia. - A hesitação na
'
» —
Já fogem! já fogem! grita-
vam do lado de cá; e a retirada
te transformava-se n'um debandar
doido, procurando cada qual a
sua besta para correr mais rápido,
lí3^^
m neca, involvendo-se nas dobras do
«Y eut lã enuiron cinq cens Cheualiers & bien autant ou plus d'Es-
cuyers & environ six ou sept mille dautres gens. Dieu en ait les pou-
res ames.» —
Sandoval, Aljubarrota, 23-], calcula assim as perdas :
oAljubarrotã 283
2 Jbid. XI, VI
3 Ibid., e Cliron. do Condestabre, li.
:
cavallo de boas
pernas, e deram o signal da deban-
'
Y si no podeis sobir,
LIegad; sobiros he en brazos.
Poned un pie en el estribo,
Y el otro sobre mis manos
Mirad que carga el gentio:
Aunque yo muera, libradvos,
Un poço es blando de boca
Bien como á tal sofrenadio:
Afirmadvos en Ia silla:
Dadle rienda, picad largo.
No os adeudo com tal fecho
A que me quedeis rairando,
Que tal escatima debe
A su Rey un buen vasalo.
Y si es deuda que os la debo
Non diran que non la pago.
Ni las duenas de mi tierra,
Que maridos fidalgos
á sus
Los dexé en el campo muertos,
Y vivo dei campo salgo.
E encomiendo
a Diagote os
Mirad por el, que es mochacho :
- Lopes, ibid.
3 «A en la ville de Santarém ne savait il pas
cette heuie qu'il entra
encore le grand dommage que il avait eu et reçu, mais 11 le scut le
dimanche, car il envoya ses herauts chercher les morts et cuidait bien
que la greigneur (majeure) partie des barons et des chevaliers que les
hérauts irouverent morts sur la place fussent prisonniers aux Portin-
galois mais non etaient, ainsi comme il apparait. Or fut il durement
;
2 Ibid.
3 Dia i5, de N. Senhora.
«Nos, viendo nuestra gente desbaratada y rota, fuimonos para San-
4
panha.
288 qA pidj. de Nuii'aliKjres
seus olhos que a terra havia de comer. Não havia que du- . .
Par cette belle journée que le roi .lean de Portugal ot sur k roi
oAljiibarroía 28^
19
;
1
A carta de Santarém, a 20 de agostc, fazendo doações novas e
ratificando as antigas, é a seguinte :
prsestimonio omnes redditus & jura quos habemus, &; jure debemus
habere in Civitate de Silvis & Loulé & in suis terminis Data in . . .
verno, ' em
Villa Real, chamou da Beira os Vasques: ne-
cessitava primeiro haver Chaves, que teimava em não
ceder. Pelo Natal começava o cerco. -
Caldeirão de Alcobaça
' Dezembro.
2 Lopes, Chron.^ lxii e iii.
Estandarte do Conde stavel
falícrííc
peões.
3 2 de outubro.
2q6 C/í i^id'^ de Nun\jhares
'
Valverde 297
' 5 de outubro.
- Lopes, Chron.^ i.v; Cliron. do Condestabre^ lii.
3 Ibid.^ Liv.
. . . .
pada.
—Senhor condestavel: o mestre de Santiago, D. Pedro
Munoz, meu amo, ouvindo dizer como sois em sua terra e
lhe fazeis estrago n'ella, vos manda desafiar, e vos envia
esta vara . .
]\ilvcrde 2gg
recebia, disse-lhe:
— Dizei ao mestre, meu senhor e meu amigo, e aos se-
nhores que com elle são, quanto lhes agradeço os seus
desafios. . . e mais ainda as varas que me mandaram. .
Ortg. du droil /rançais, Paris, 1837, pag. 287 e segg. cf. Quadro daí ;
3 i5 OU 36 de outubro.
Valverde 3o3
Valverde Joj
Caiu no êxtase. Em
caiam n'um deses- volta, os seus
pero mudo, misturado de espanto. Que homem singular,
mas seductor
De repente, Nun'alvares, como que acordando, ergueu-se.
O accesso de hypnose passara. Ergueu-se, íirmou-se nos
pés, distendeu os braços, fixou a vista, armou o ouvido a :
disse-lhe
— Vés as bandeiras que estão no cômoro daquelle mon-
te ?.. . a mais alta deve ser a do mestre de Santiago...
vês :
— Senhor, vejo.
— Pois andae lá com essa minha e vamos junto d"ella...
Amigos, avante Cada um seja para quatro
I !
—
Então como se houveram com o condestavel ?
'
O mestre de Santiago ficou entre os mortos no campo da bata-
lha.— Cf. Ayala, Chron.y aiío viii, :8.
- i6 ou 17 de outubro.
^ A 20 de outubro.
3io qA vida de Nun' alvares
O
N.I.Ui-.i.iiiUiiUU 1-1 UiiiJJjqmUiiUiiiik:
TtTílTrTTTTTlTfTmmTTTTTTfffmTTfmiTK
VIII
05 iu0lqcs
- 1 de outubro.
3i/f oâ vida de Nwi' alvares
tella. -^
O
que affectava particularmente os brios castelha-
nos, fazendo-os considerar as derrotas, sobre calamidades,
como ultrages, era a desdenhosa idea que ingenuamente
faziam da força portugueza. Envergonhava os verem-se
vencidos por este punhado de rebeldes occidentaes, corte
subalterna que, dia mais, dia menos, havia de ser absorvi-
da pelo movimento de expansão já declarado como desti-
no ao velho throno reconquistador da Hespanha: o throno
de Leão e Castella. Este sentimento era tão verdadeiro
e intimo que o manifestavam ruidosamente; e foram neces-
sários largos annos, antes de se convencerem da necessidade
de reconhecer a independência do reino portuguez, fa-
liv. VII, 5.
O
papa Clemente VII respondeu ao castelhano conso-
lando-o - o rei de França, temendo que os seus inimigos
•
' « . . mas parece que Deos, por seus occultos mvsterios, não quiz
então (Affonso V, em Toro) nem depois permittir que a coroa delles
(reinos de Castella e Leão) se ajuntasse á de Portugal, porque sepa-
rados estes Reinos, seu santo Nome por cada um delles fosse, como o
cada dia he, mais conhecido, exaltado, e glorificado; o que por indus-
tria e trabalho dos Reys destes dois Reynos, do Oriente ao Occidente
vae em tanto crescimento, que se Deos, por nossos peccados, não qui-
zer fechar à nação Castelhana e Portugueza as portas que lhes, por
sua graça, quiz abrir, dos mares e terras que tem achado, se pode es-
perar que em brevamente o Universo seja descuberto, e n'elle ouvida
e recebida sua santa Fé.» —
Dam. Góes, Chron. do Príncipe D. Joam^
Lv:, ad fin.
2 V. a carta do anti-papa, nov. ou dez. de i38', em Ayala, C/imn.y
etc.^ ano vir, 3.
3 «Todoque yo he es muv presto para su ayuda é para su hon-
lo
ra, é E que yo le fago cierto que luego le enviaré dos
para su placer.
mil lanzas de los mejores Caballeros é Escuderos que yo tcngo e :
que los enviaré con otros capitancs, los quales seran á su manda-
miento, asi como de mi mismo. Otrosi que yo le quiero dar para
sueldo destas dos mil lanzas cien mil francos de oro que luego sean
aqui pagados porque la gente de armas que a el ha de ir non se de-
tenga. E caso quél oviese menester mayor ayuda, yo esto presto para
lo facer, fasta que yo por mi cuerpo lo oviese de cumplir.» Carta, —
ibid.^ 2.
Sylva, (Mem. iv, doe. n. 32); a carta autorisando as pazes com Cas-
tella, de «j dez.; fibid.., n. 33); e a carta de alliança e a renovação, com
Henrique IV, celebradas em Londres por João Gomes da Silva e u
dr. Martim d"Ocem (ibid.., n. 34 e 3.'».)
3i8 'M vida de Niiii\ili'jircs
.^^V
Chaves
fdo Livro de Duarte d' Armas, no Arch. nac.)
- Ibid., Lxix.
3 Doação, em tença, do dizimo da lenha e carvão que vinha a Lis-
boa, a Iria Gonsalves do Carvalhal; i5 janeiro i424=i38<'). —
Sousa,
Hisí. Geneal.y v, 91.
25:ooo homens.
3 Lopes, Chron., i.xxii.
4 Ibid., Lxxiii.
Os mgle:{es 32i
21
j22 G^ ^^'^'^ <^^ Nitn alvares
Os ingleses 323
'
Lopes, (Ihron , i xxvi .
;
Ibid., xc.
'i —
25 de julho.
4 i8o navios, ao todo. «As naus eram de maravilhosa grandesa e
lés castelhanas. A
Corunha entregara-se sem resistir, des-
carregando em paz os navios. Vinham a bordo os duques
de Lencastre e as suas filhas, com uma corte numerosa,
convencidos de que, para obter a coroa castelhana, bastava
estender a mio. Vinha João de Hollanda, conde de Huntin-
gon, irmão do rei de Inglaterra; vinha o duque de Leicester,
e o condestavel britannico; e regressavam á pátria, depois
de mais de três annos de ausência, - os plenipotenciários
portuguezes, Lourenço Annes Fogaça e o mestre de San-
tiago. Este falleceu logo, deixando a filha que houvera de
umaingleza; ^ o primeiro
foi directamente ao Porto ver-se
octiginta. —
Knyghton, De E\>ent. Anglice, col. 2676.) A esquadra por-
tugueza do Furtado constava de 6 galés e 12 naus.
1 Variam os números. Knyghton, ibid., diz 2:000 h. darmas e S:ooo
archeiros: Froissart (Chron., iii, 32) 3 :20o lanças e 3:ood archeiros ;
4 Ibid.
Os inglcycs 32 j
Monção
(do IJvrode Duarte J'Annns, iio Arch. nac.)
'
Lopes, Chron., uwxix.
2 Chron. do Condestabre, lvii
^ Lopes, Chron., xc i.
4 Jhid., xcii ; (Ihron. do Condestjhre.i.vu ; cf. Froissart, Chron., 'n, 3>í.
328 c/l vida de Nwi alvares
õ, tab. 7.
4 Este Dom Johão. Duque de Alencastro, era homem de bem fei-
tos membros, comprido & direitos & nom de tantas carnes como re-
queria a grandeza do seu corpo. . . &
de boa palavra nom muite tri-
gosa misurado & de boas condições.»
: —
Lopes, Chron., lxxxix. —
Cf. Os Jil/ios de D. João /, do A, p. f, 6.
5 Lopes, Chron. xi 11.
7 Lopes, Chron.., x.
i
«Le roi de Portugal au milieu de la lable et le duc de Lancaster
un petit au dessous de lui.» — Froissart., Chi-on. iii, 38.
Os inglesa 33i
também opípara. ^
'i
«Avoit on sur les champs fait feuillées et logis grands et plantu-
reux de la partie du roi de Portugal et là alia diner le duc avecques
le roi.» — Froissart, Chron. iii, 38.
4 «Nuno Alvares Pereira, condestabre de Portugal era alli Veedor.»
— Lopes, Chron. xcvm.
^ «Lequel diner fut três bel et bien ordonné de toutes choses.» —
Froissart m, 38.
<^ Lopes, Chron. xciv. — lo de novembro.
7 Froissart. Chron.., iii, 38.
8 1387.
Os ingle^^es 333
outra, que depois foi rainha de Castella, por esta ser filha
de D. Constança, e poderem vir d'ahi complicações even-
uaes com o reino visinho.
Esta preferencia está-nos revelando o intimo pensa-
mento da politica de D. João I, e explicando o segredo da
sua attitude posteriorcom os alliados. Parece fora de du-
vida que D. João não acreditava no êxito da revindica -
I
5 2 de fevereiro, iSSj.
6 Lopes, Chron. xcv a viii ; Cf. Os filhos de D. João /, do .-1. p. 7 a 10.
7 Chron do Condestabre., lvii.
Os ingle\es 335
1 25 de março,
2 Lopes, Cliron. xcix e c.
3 3i de marco.
j
Os ingleses 33
Repellidos de Benavente, os invasores proseguiram pe-
los dois valles em que
as cabeceiras do Esla alli se divi-
dem, avançando num
por Matilla até Valderas, n'outro
até Roales, levando por toda a parte o saque e o incên-
dio. Mas, quer n'um, quer noutro ponto, a marcha inva-
sora teve de retroceder perante a resistência que lhe op-
punha o duque de Benavente. Voltaram, pois, ao ponto de
partida, consumidas duas semanas n'estas correrias inúteis,
e, cercando Benavente, conseguiram entral-a. No saque, bri-
garam inglezes e portuguezes. De Benavente, obliquando
ao sul, foram sobre Villalpando que também tomaram;
mas o rei de Castella, deixando Leon, viera pelo interior
com as forças disponíveis reforçar as gLiarnições da linha
do Douro, appoiadas, na retaguarda, sobre Salamanca.
Todos os dias esperava a chegada dos francezes. '
22
.
embriaguez, '
a dysenteria - e a peste -'
collaboravam.
Não estava indicada a retirada ? Fosse a Inglaterra bus-
car novas forças. Havia fome[; os campos que pisavam
tinham-se esgotado. As doenças ferviam, dizimando o exer-
cito; e os que a morte poupava, acabavam assassinados
á traição pelas devezas perdidas. ^ O inimigo não que-
ria Jo^ar a sua sorte n'uma batalha campal. E o casa-
mento de D. Catharina ?
^ «Ceux de Portugal portoient assez bien cette peine car ils sont
durs et secs et faits à Tair de Castille.» — Froissart, Chron. iii,
79.
6 «II n'y avoit si preux, si riche, ni si joli qu'il ne fut en grand ef-
froi de lui-même et qui attendit autre chose que la mort.» — Ibid.
7 Le duc chey en langueur et en maladic. . . três perilleuse.» —
jbid.. 81.
Os ingleies 33g
Marcharam, pois, rapidamente para o sul, sobre o Dou-
ro, que passaram duas legoas acima de Zamora, contra
Santa-Maria-do-Viso. Era meiado de maio.' D'ahi, se-
guindo na mesma direcção, por Corrales, foram cruzar
o Tormes, entre Ledcsma e Salamanca, donde o infan-
te João saiu com trezentas lanças, que Nun'alvares
D.
varreu para longe. - Passado o Tormes, na marcha pa-
rallela á fronteira, dobraram francamente para oeste, em
direcção de Almeida. Quando tinham de cruzar o A^-ue-
da, próximo de Ciudad-Rodrigo, o infante D. João, com
mais forças, intentou cortar em dois o exercito aliiado
na passagem do não o conseguindo, porém, apezar
rio,
4 Ibid., cxiv.
340 QA. vida de Niin alvares
I
CJiron. do (Condestabre^ lvii.
^ «Grande dor de quentura.»— Fins de julho.— Lopes, Chron. cxvi.
3 Ibid.^ cxix,xx.
4 Chron. do Condestabre^ lvii.
í-
Lopes, Chron., cxxxi Chron. do Condestabre,
; lviii.
Os ingleses 34.1
—
Para offerecer a D. Brites os braços, era preciso que
estivessem desarmados, e não convém ainda largar a es-
pada. -^
— Portugal I Portuga!
entraram ás estocadas pelas ruas, assaltando a torre. Ahi
foiNun'alvares ferido n'uma coxa o virote esfarrapou-lhe
:
4 3 de março.
5 i5 de outubro. —
Chron. do Condestabre., lx ; Lopes, Chron., cxu
6 Agosto, 2:, de líSg.
Os ingleses 84^
-I V» .-
1 j . »
JX
;A snfieí)«^c uciun
qA sociedade nova 35
raes, i, 20.
; ; ; ;
I
Chron do C mlesLibre, lxi ; Lopes, C/zro/r, clxii. — Eis aqui o roj
dos donatários :
Maior ;
Pena
19. (jil Vaz Faiam as rendas de Barcellos
:
;
20. Diogo Gil Dayrão, seu alferes Montalegre- com : a terra de Bar-
roso ;
21. V^asco Machado, seu pagem : chaves com todas as suas ren-
das.
2 V. a carta regia de Lisboa, 3o março, 1427-= 1389, em Sylva, Mem.
etc. doe. 29 ; tom. iv.
356 qA vida de Nunalvares
'
Nova Portugal fDa introd. do dir. rom. em Port.; nas Mein.
\illa
de da Acad. de Lisboa; v, 877-420) junta o nome de Guido Pape.
litt.
Não deve ser, porque o author das Decisiones Gratiano politanac {Grc-
noble, 1490) viveu de 1402 a 1477, florescendo na segunda metade do
século XV.
358 Qá vida de Nwi alvares
'
MM-
2 ibid., não menciona o segundo, que talvez só entrasse
Figueiredo,
no conselho por morte do pae, em iSSy. Os Ocens tinham capella
própria no convento de S. Domingos de Santarém. O tumulo do dr»
Gil, que com os mais da familia estão hoje em S. João do Alporão,
egreja convertida em museu districtal, achava-se logo á direita da porta
lateral da egreja. Tem a forma de cofre apainelado, assente sobre leões,
ornado apenas com os escudos e uma facha onde se lê a seguinte ins-
cripção em gothico maiúsculo « -f Aqui jaz o doutor
: dom : : :
: gil dosem
II
caualeiro
: que foe da fala :e do conselho
: : : : :
era de
: mil :e cccc e xx v
: : (1^25=138-) anos
: do mez :
: : :
de : novembro. — »
O filho, Martim d'Ocem, foi, como Lançarote Pessanha, um dos le-
gistas diplomatas de D. João I. Já o pae fora a Castella na embaixada
de iS/i para as pazes. Martim, em 1400, vae com D. João Esteves
d'Azambuja (arcebispo de Lisboa e depois cardeal) e com João Vas-
ques da Cunha, a Segóvia, a negociar a tregoa de dez annos com Cas-
tella ; depois vae, em 1404, por morte de Ricardo II de Inglaterra, a
Londres, ratificar a alliança anglo-portugueza com Henrique iv; de-
pois, em 1405, volta a Inglaterra com João Vaz d'Almada para tratar
o casamento da infanta bastarda D. Beatriz com o conde de Arundel;
depois ainda, em M' '1 ^"^ 1418 e em 1419, é um dos negociadores do
tratado final de paz com Castella.
A d'Ocem diz assim «Aqui jaz o
inscripção do tumulo de Martim :
muy honrado famoso doutor Mty dose do cõselho do mui alto e po-
deroso prTcipe rey dõ Johã e do ifãte eduarte seu filho primogénito e
seu chãcarel moor o qual pelo seu mãda*'" foy põ veses em êbaixada
aos reinos de inglaterra e de castella os quaes fuxe a boa fy foi com
elle na filhada de cepta õde foy p5 Sor. Ifãnte armado caualeiro e asy
36o 2A vida de Nun' alvares
ell como todo seu linhagê foro sêpre mui priuados ebuidores dos rex
destes reinos e finou aos vinte e três dias de fev.° e de mil ^^^ xxxi
anos.» (1431^1:93)
Gil d'Ocem tinha outro filho por nome
João, cuja campa se acha
com estas ; e d'outro ainda Pedro Gil, a quem D. João I
ha noticia :
qA sociedade nora 36
' Essa occasião chegou depressa, pelo seu casamento com D. Leo-
nor da Cunha, filha de Martim Vasques. Bandeando-se este por Cas-
tella em iSgj, quando se renovaram as hostilidades, e confiscando-se-
Ihe os bens, D. João I deu á mulher de João das Regras, Payo Delgado,
Santa Barbara e Santo Eutropio, morgados que eram do pae. Sou- —
sa, Hist. Geneal. xi, 7S8-9; v. a carta de doação nas Provas^ 1. xm, n.»
6.— Enviuvando em 1404, a esposa de João das Regras tornou a casar
com o senhor do Cadaval {Hist. geneal. xi, 785-6). Morreu o chancel-
ler a 3de maio de 1404 e jaz no convento dominico de Bemfica, onde
ainda hoje se lhe pode ver o tumulo descripto por fr. Luiz do Sousa
na sua Hist. de S. Domingos., liv. 11, 17; p. 176 do iii tom, na ed. de
1866.
.
sesmarias, '
reformada porém de modo que só feria o do-
mínio, sem oííender a liberdade pessoal, como no tempo
d'el-reiD. Fernando succedia. -
Tal era o corpo da legislação social que o chanceller
codificara, emquanto se feriam as duras pelejas da guerra
castelhana, O pensamento jurídico da Antiguidade vencia,
e a monarchia nova levantava-se sobre uma sociedade
renovada. O
direito romano servia de texto para os plei-
tos á camará de Lisboa, mandava o rei dois livros com
:
gatar as concessões ?
depois do periodo revolto da guerra, deviam liquidar-se.
Sentenciara-se já contra Nun'alvares o pleito que elle trazia
das doações. Julgamos que a dita cidade aja as jurisdições dos ditos
. .
lugares livremente, e husse delias ssem embargo das cartas das doa-
ções mostradas da parte do dito conde e ssem embargo d'aquillo que
da ssua parte he dito.»
' Portugal, A/cm. cit.
368 Qyi vida de Niin alvares
249 a 52.
Z4 sociedade nova 36g
ouro) a rasão de 2:793 réis (Aragão, Deícr. geral, u, ^Sj) as 7000 dobras
valeriam réis ig.:5i:ooo, ou, decuplicando, 200 contos de réis, em moe-
da, porém, depreciada.
1 Cf. Sylva, Mem., etc, ii, 144.
2 «. . . pura doação deste dia para todo o sem-
lhe fazemos livre e
pre para elle e para todos os seus successores que depois delle vie-
rem em nosso senhorio, assi moveis como raizes, porquanto se foram
para nossos inimigos e o dito Martim Vasque veo á nossa terra des-
servindo nos com elles...» Carta, em Sousa, Hist. geneal.; Provas^
xm, 6.
- 12 de maio.
3 Lopes, Chron.^ clv a vrii ; Chron. do Condestabre^ lxui.
4 Lopes, Chron. ci.ix.
qA sociedade nova 3j3
I
Abril. A enfermidade durou três mezes ; Chron. do Condestabre^
.1.XVII.
^ 38 arinos.
!
não bem
O doente pulou n'outro accesso : deviam tcl-os corrido
elles, pois !
i
Lopes, Chron.^ clxix.
G/í sociedade nopã S'jg
poder.
Então Nun^alvares, vendo que ainda tinha vigor no braço,
apressadamente correu a Évora. Mandou cartas ao mestre
de Santiago, Mem Rodrigues de ^'asconcellos, ao do Hos-
pital, Dom Lourenço Esteves de Góes, ao almirante: a to-
'
4 de maio, 1430= iSqS; Lopes, Cliron., Ci.xix.
2 Ibid.^ Cl XX.
3 Ibid. KA XXI.
u, 727.
' Chron. do Condestabre^ ibid.; Lopes, id.
'ò4 sociedade nopa 38i
'
24, 25 julho; l.opes, C/iron. ci.xxv. A capitulação foi a 26; ibid.,
CLXXII.
2 40 naus e i5 galés; Lopes, ibid., ci.xxiv .
? Ibid., ci.xxiv.
4 Ibid., cixxii.
384 C/^ '^^^'^ '^^ Nun alvares
munto estas cousas q. som contra o serbiso de meu Snor elrey som
bimdo a esta terra por bo las comtrariar co ajuda de Ds; e oje este
dia da feitura desta carta cheguei aqui a castelobranco e embiobolo a
diger p" seredes dello certo e rogobos e pesobos q. nom ajais por nojo
hu pouco bos deter porq. Ds querendo eu serei cõbosco daqui a três
dias pouco mavs ou menos. &» —
Lopes, Chron. ci.xxiv; transcripta
em Sylva, Mem.^ etc, ii, jS'.
- Chron. do Condestabre, i.xix.
C.4 sociedade uoj'a 385
I
Doaçjío de I de setembro, 1436=1 3^8; em Sousa, Hist. Geneal.;
Provas, VI, n." :'t'i.
2.S
386 qA J'ida de Nunalvarcs
4 Lopes, Chron. ci.xxxvi a \iii: cí. Sylva, ALm etc, 11, 934.
,,
•''
Lopes, Chron. ri.xxxix.
<' Henrique III morreu a 25 de dezembro, 1407.
388 qA vida de Nun' alvares
® sniito ^'i>n^fítlUIfl
> i3:3-i:83.
o satito condestavel 3g3
terminante no destino da sua vida dava-lhe força mais que
humana.
Nunca foi vencido, com effeito, durante o longo período de
dezesete annos, '
em que o ardor absorvente dos perigos, e
a febre de uma acção incessante, excitando-lhe instinctiva-
mente todas as energias do temperamento, não lhe con-
sentiam tregoas para hesitar, examinando e comparando a
realidade das cousas e o alcance dos motivos. Como o ani-
mal cego amarrado ao timão de uma nora, ou como o tou-
ro açulado que investe no combate, Nun'alvares, amarrado
também á causa a que se votara, e egualmente açulado, ora
pela hostilidade dos inimigos, ora pela intriga pérfida dos
amigos: umas vezes com a tenacidade paciente do boi de
canga, outras vezes com o impulso violento do touro, pro-
seguira na empreza que agora via rematada, quando com-
pletava quarenta annos, e na face já tinha rugas e
cans por entre os cabellos ruivos.
Mas, durante os dezesete annos dos seus trabalhos de
Hercules, quando a vaga imagem poética do Galaaz da sua
infância Já se lhe dissipara quasi da idéa, e a lembrança
lhe trazia sorrisos aos lábios, pouco a pouco, gradualmen-
te, fora-lhe invadindo a alma um enxame de imagens novas,
• i3s3-i -oo.
3g4 -/? vida de Niin alvares
#
o sauto condestavd 3g5
, L
•È .
^f^é
^J
^
nito. '
O
confirmou esta doação do condestavel. - Assi-
rei
bro de i-jSq — 1401, em Sousa, íbid.^ n. 2 e Sylva, Mem.^ etc.^ iv, n. 12.
;
'
Chron. do Condestabre, lx c i.x\x ; Lopes, Clnon., cci. — Sant-
Anna, Chron. Carni., iii, 9<')0 transcreve a inscripção da capella de S.
Jorge votada á Virgem: «Na era de 1431 (i393) N. condestabre man-
dou fazer esta capella á honra da Virgem Maria e do martyr S. Jorge;
porque em o dia que se fez aqui a batalha que cl-rei de Portugal hou-
ve com el-rei de Castella estava em este logar a bandeira do dito con-
destabre.» —Cf. Jbid., <J<J!.
3gS 0.4 vida de Nwi' alvares
M
•O' í
fmM:
I
Chron. do Condestabre^ lxxx ; Lopes, Chron., cci.
o santo condestavel 401
> i38i.
2 Agosto, i382,
3o de dezembro, i383.
—
8o3.
< . . . hum socom de casas que eu hei em a cidade de Lisboa na
Judiaria Velha, na rua da Ferraria, que partem com casas da See que
trouxe aforadas Jacob Navarro, com casas minhas e com rua publica:
o qual socom vos assi dou em escambo, e em escamba d'este dia para
todo o sempre, como dito he, por um campo e serro em que hora es-
tão o das vossas casas n i dita cidade com o vosso bairro a par do
Morteiro e Igreja que agora mando fazer ao dito logo. Cidade de . .
821):
«Ao mui honrado doitor fr. Affonso dalfama, vigário geral do mos-
teiro de Santa Maria de Moura salve Deus. Ante que todo beijo o
vosso santo escapulário dom estremado da madre de Deus que o troa-
va do ceu para defendimento dos seus frayres por a muita feição que
de sua vida lhes houve e desde então lhe prouve que não forades of-
fendidos dos mãos cm terras do estado. Todo esto merecedes por
vosso bom que é pela guiza que praz á bemdita madre do Car-
viver
mo. Sabede que por hora vos faço o rogamento e petição que ja vos
eu dito hei de grão serviço para Deus e para sua santa madre que me
feito tem mui altas graças e favores e por ellos recebidos fazendo es-
;
tou este mosteiro para Santa Maria que a Deus graças abondo vai adi-
ante com os bens que me o mesmo Senhor deu. E como quer que des
o seu começo determinei que estivessem em ello fraires ou freiras a
meu aprazimento, que segundo creo vol-o já contei agora peço-vos e
rogo-vos por mercê que venhades a exalçar o serviço de Nosso Se-
nhor e da sua Madre que de mui alto estarão olhando para tudo o que
lhes em seu amor fizerdes e porém mais rogo-vos que o doutor fr.
;
Gomes que ao certo boa nomeada tem, venha por Prior dos outros
fraires como assim a meu Senhor eliey he de contento e me sobre
isto disse a sua vontade, por em este mosteiro por todolos modos
querer convir com o que de sua ajuda he, segundo minha tenção; e
poderedes trazer os fraires até ao numero que vos ante o tempo disse,
e sejam bons e dos portuguezes de boa fé á pátria enviados pela gui-
za que a vos convir que sondes o mor d"elles na jurisdição. E como
pela vossa ordenação não comedes carne e tenedes jejuns mui com-
pridos não acharedes aqui mengoa de provisão porque fica a meu
carrego dorvos o comer e o vestir a vosso contento, pois que do que
meu é, e do que me Deus e meu Senhor elrey deu, posso fazer mer-
cê e isto é tomar a elle o queme antes prestou e por nenhum acae-
:
'
1404 a 14 14, dos quarenta e quatro aos cincoenta e quatro, na
edade do condestavel.
2 «E aquel Santo Condestabre. por sobejamente se dar aos cui-
. .
'
Chron. do Condestabre^ lxxvii ; a data da morte da condessa igno-
ra-se (Sousa, Hist. Geneal. V., 94) mas, pela coordenação dos aconte-
cimentos na chronica, precede a conquista de Ceuta, 14 15.
' « da qual cousa elle foy tam anojado que se ouuera de per-
. . .
írÚ^'
Wiãf^^ *'"^%^f
f
<^/fV qA vida de Nim'alvares
—E o santo condestavel I
182,3.
- Chron. do (Condestabre ; ibid.
' Sant'Anna, Chron. Carm.., iii, 926.
4 «O brazão do Carmo um
escudo quarteado de branco e preto,
é
no meio, em partes eguaes, duas estrellas de ouro, sendo o escudo
quasi todo branco e no fundo uma mostra preta de modo que pare-
cem as duas partes do escudo duas azas orladura escaqueada de ;
(Isaias, 35 v. 2)» —
Simão Coelho, Pr. p. do comp. da (Jhron. de N.
S. do Carmo i, 2, p. 179.
5 Sant'Anna, (Chron. Carm.., m, 912.
^22 Qyi vida de Niin' alvares
non vos foi respondida non foi mingua de vontade mas de mui pouca
saúde que para ello tube escrever a Fernando, mas abondo vos nos
faça tenerdes vos em o logo de que mas a el que a vos hei de feição,
e se bem lo veredes, acharedes que quantas minutas minhas ha, tantas
são só a renhil-o que bem certo son travesso é; mas vós minha linda
como não havedes que vos possa emendar ávido a lo que mingua ha
dello e não leixo de vos querer com a vida. Agora minha linda o faço
a vos só por darvos contento em que os outros o sintam non leixedes
de fazer o que ata aqui porque sendo los uns e los outros pedaços da
alma em vós o semelho soes de vossa madre em lo que como ella fa-
zeis e no digo ai se não enviarvos la minha bençom e la de Deos vos
cubra minha linda. Carmo xi abril i42q. Nuno de Santa Maria.»
Fr. Nuno de Santa Maria 428
«Ao conde de Barcellos meu senhor. Senhor, antes que todo bejo
'
1
Chron. do (londealabrey Lxxix,; SantAnnn, ibid. o55,(')
O gram condestabre
Em o seu mosteiro
Dá-nos sua sopa
Mai-la sua ropa
Mai-lo seu dinheiro . .
Se comer quereis
Náo vades além
Que mingua não tem :
Ahi lo comereis
Como lo vereis . . .
i
Se comer queredes
Nom vades alem
Dou menga non tem
Ahi lo comeredes
Como lo vedes
A benção de Deus
1
Caiu na caldeira
De Nun'alvares PVeira,
Que tanto 2 cresceo
E todo lo deo. "*
Do Restello a Sacavém
Nem faz mingua, - nem ninguém
Tem semellio ao condestabre,
Que lhe prouve 3 e que lhe praze
O fazer-nos tanto bem. .
E bem ! E bem !
rira a imaginação :
O rapaz da cobertura
Que morre e cae para traz
Já não 4 vae á sepultura :
E bem E bem ! I
Outro acudia :
E bem e bem ! !
3 le prouge.
4-5 nom.
<j
todo.
. .
Ao do moinho do Cubo
Que finou por se atTogar,
Viventa o conde também. .
E bem ! e bem !
E bem ! E bem !
'
orago.
Mas estas festas ecclesiasticas não tinham decerto o en-
canto das romarias populares que vinham de um modo
pagão prestar culto ao epon3aTio da cidade. Na primeira
oitava da Paschoa, quando a terra inteira resuscita engri-
naldada em flores, acudiam as mulheres de Lisboa, coroa-
das de rosas, invadindo a egreja. Na abside, o coro das
romeiras com pandeiros e adufes acompanhava a dança
que em cima da campa gvrava nas rodas, cantando :
O gram Condestabre
Nun'alvares Pereira
Defendeo Portugal
Com sua bandeira,
E com seu pendon' . . .
•
tões e ramos :
Em Aljubarrota
Levou a vanguarda
Com braçal e cota
Os castelhãos mata
E toma o pendon'
Não m'o digaes non',
Que santo é o conde !
1 pendone.
2 No me lo digades, none.
3 Tomou Badajoz.
: : .
A
apotheose, reagindo, tornava, pelo caminho da santi-
dade, commovente a ponto de a tornar thaumaturgica, ao
heroismo do guerreiro, celebrando-lhe asfaçanlias. Era a
resurreição do homem,
levantando-o armado e invicto do
seu tumulo fechado. Excitado pelo ardor da vida, o coro
proseguia
Dentro de Valverde
Vence os castelhãos
Mata bons e máos
Só com sua hoste
E seu esquadron'
Não mo digaes, non'
Que santo é o conde !
Santo Condestabre
Bom Portuguez !
Em campanha sois -^
Santo Condestabre
Bom Portuguez !
Mata os castelhãos
Salva a nossa grei.
E mais outra vez,
E mais outra vez !
Não me lo digaes 6
Que demais o 7 sei :
Livra as ovelhinhas
Do Leão de Castel. ^
1 Boné.
2 De Barcellos, d'Orem.
3 Na campanha somdes.
4 Por faison, i. e. faccion.. ou facção.
5 Todo esto lo fez.
6 No me lo digades.
7 abondo lo.
^ Librou as obelinhas —
Do Leo de Castel.
9 Sant'Anna, Chron. Carm.^ 1019 a 22.
Fr. Swio de Santa Maria 443
os de Restello; depois, pelo São João, no dia em que
Nun^alvares nascera, os de Sacavém, de Camarate, da Po-
voa, de Unhos, trazendo, piedosamente, otfertas de azeite
para a lâmpada do tumulo; depois, pela Assumpção, no
dia sagrado de Aljubarrota e de Ceuta, no dia em que
Nun^alvares professara, vinha de Almada a procissão do
povo com velas accesas, recordando a hora em que o
'
29
APPENDICES
A
CHROXOLOGIA
(1358-1441)
i35S — (abril, ib) Nascimento do filho de D. Pedro i e Theresa Lourenço, D. Joáo, que de-
pois fui mestre d'Aviz e rei.
i36o — (junho, 24). — Nascimento de \'un'alvares Pereira, Bomjardim. tio
i36i — (julho, 24). — Legitimação de Xttn' alvares por el-rei D. Pedro, em Portalegre.
1 306— Profissão de D. Joáo na ordem de Aviz.
1367— Morte de D. Pedro i, successão de D. Fernando no throno de Portugal.
i368 — Casamento de Leonor Telles com João Lourenço da Cunha.
1369— Liga de Portugal ao Aragão, Navarra c Granada contra o novo rei de Castella Hen-
rique n. liivasáo da Galliza, tomada da Corunha, d'onde D. Fernando retira, trazendo
comsigo, entre outros fidalgos gallegos, a João Fernandes Andeiro. Entrada dos caste-
lhanos em Traz osMontes e no Minho : tomada de Bragança e de Braga, cerco de Gui-
marães.
1370 — Continuação da primeira guerra castelhana: cerco de Ciudad-Rodrigo pelos caste-
lhanos, bloqueio do Guadalquivir pelos portuguezes : ambos frustrados.
1371 — imarço, 3i) Pazes (') Contracto de casamento de D. Fernando com a infanta de Cas-
tella, não cumprido pela paixão do rei por Leonor Telles. Rapto d'csta a seu marido.
Revolução de Lisboa : fuga do ;-ei (outubro).
Eleição de D. João ao mestrado de Aviz.
1372 — Declaração da segunda guerra castelhana, com a alliança do duque de Lencastre,
pretendente da coroa de Castella. Captura de cinco naus biscainhas no Tejo. Invasão
castelhana pela Beira tomada de Pmhel, Celorico, Linhares e Vizeu (dezembro). Nas-
;
queima dos navios e arsenaes; assolação dos arredores, (março, 7) Chegada da csquj-
dra castelhana ao Tejo. Entrada de outro exercito inimigo pelo Minho.
Pazes de Vallada, por mediação do Papa. l'roni:ssa de casamento de D. Beatriz, in-
com o conde de Benavente, bastardo de Henrique 11. E.vpul-
fanta herdeira de Portugal,
sáodos immigrados castelhanos ou gallegos de i36<i; sabida do Andeiro para Inglaterra.
(junho) — Tratado de alliança com Duarte iii de Inglaterra, celebrado a i5 por media-
ção do Andeiro. (').
1377-79 — Residência de Niin' alvares no Minho : nascimento da sua filha D. Bcatrii, fu-
tura condessa de Barcellos.
1378 — Morte do prior D. Álvaro, pae de .\'un' alvares. (') (maio) Morte de Henrique 11 de
{') Figanière, no seu Calai, dos mss.portug. exist. no Museu britannico (i853) a p. 55,6
refere a existência de um quarto artigo, alem dos três que se encontram no texto de Rymer
(ai, 2.' p. 202; ed de Haj^aj e de Dumont (Coris Univ. Diplom., 11, i.', p. 84) como consti-
tuindo o tratado de 16 de junho de i373 negociado pelo Andeiro. Não se encontrando o art.
4.*' nos dois textos citados, talvez fosse apenas projecto que não veiu a ter etfectividade.
«Item in speciali, dicus Dominus noster Rex Angliae et Franciae dictos Regem Por-
tugalliae et Algarvii et Dominam Alianorum Reginam et coujugcm suam, dictum regnum
cumplexihus amplexando agris siiicntibus propriis et piopria ne-
1'ortugalliae et Algarvii
cessitate non obstante mandavit in regno suo Angliae et preparavit
in presenti provideri
primum quarterium unius anni completum quod mcipit currere a tempore, qno gentes prae-
dictae versus praedictas partes Portugalliae iter arripient expensis stipendiis sumptibus
prae manibus integre persolutis quo tempore transacto et completo praedictus Dominus
Rex Portugalliae et successor suus quaeJam gentes armorum et saggitarii praedicti stete-
nomine ...»
rint in servitio suo, vice et
Appareceu traduzido em portuguez e junto ao texto do tratado, no Qu.idro elementar,
ele, xiv, p. 54 a 8.
cada no texto. Já depois d'elle impresso, porém, obtive a prova de que o prior do Hospital
viveu pelo menos quatro annos mais, pois em 382 ainda existia. Talvez morresse n'esse 1
anno; em todo o caso deve ter tallecido antes de D. Fernando. O facto é que, na era de
1po, apparece uma doação de fr. Álvaro aos ermitães da Agoa-das-Infantas de uma cova na
egreja de Santa Maria de Portel: é o theor do alvará existente na bibliotheca publica de
Évora, cuja copia devo ao illustre conservador d'esse estabelec. mento, o sr. António Fran-
cisco Barata, e que diz assim :
ÍTesmolla aos pobres jrmjiãaes q ora moram e depois morarem na aguadas liantes pa
|
^ep liua coua e" q"sse enterrem pa senpre na jgreia de sãta Mana de
I
portei ante oaltar |
de sam p." s. Tdereyto da esqua aamaão dereita contra ocroçufixo. e esta lhe faço por
|
amor de ds e por boas obras q aordem e eu recebemos delles e q roge a ds pola my nha
|
I
munho desto lhe mãdey dar este alu* asynaa io p mjnha mãao e asellaado do meu seello
I
fia naagua das Ifantes. xxx dias de mçt> Era de mjl e iiy" e Ibiij annos (1420)
|
fty alu"
pereyra»
.
A. — Chronolugiã 453
i38ol ()
i3So — Correspondência de Leonor Telles co:ti
o Andeiro para trazer os inglezes á allian-
ça portugueza com a esperança
na corôa de Castella. Vinda do Andeiro incógnito a
Portugal conspirações de Estremoz principio dos amores da rainha; volta do agente
; ;
Junho — Missão a Inglaterra para a alliança com os duques, genros de D. Pedro de Castel-
la. Rompimento de relações: a coite em Villa \'içosa; concentração de forças para o
attaque de Badajoz,
julho —Invasão castelhana pela Beira: entrada em Almeida.
7 — Marcha X un' alvares n.i vanguarda. Soccorro
das forças portuguezas de Elvas.
do infante D. João a Badajoz; mallogro da campanha portugueza; dissolução do exer-
cito. Regresso de Nun' alvares a Portalegre, fronteria do irmão.
l3S2
Janeiro —
.Marcham sobre Évora. Ida á corte de Pedr'alvares com o irmão, a .juem o rei
prohibe o duello com o filho do mestre de Santiago. Residência do .Vndeiro em V illa
Viçosa.
Fevereiro — D. Fernando e a corte em Évora.
Março, 7 — Regresso ao lej > da armada castelhana. Desembarques. .Vssolaçáo dos subúr-
bios. Incursões e razzias até Palmella e \'illaNovada-Rainha.
Xomeacão de Tedr' alvares fronteiro de Lisboa: vae com elle Xiin alvares. Escara-
mucam logo á chegada com os castelhanos que voltavam de uma ra^^ia a Cintra.
Julho — Nomeação do Andeiro para o condado de Ourem. Escândalo e murmúrios na cor-
te em Évora. Vinda da esposa, da Corunha, para fazer calar a maledicência. Prisão do
mestre de Aviz e de Gonçalo Vasques, accusados por cartas falsas da rainha e alvarás
3o —
Casamento por procuração.
Maio, 14 —
Bodas de Elvas. A
infanta é conduzida pela rainha á fronteira e entregue ao
rei de Castella que viera de Badajoz recebel-a em casamento.
Julho (?) — D. Fernando, enfermo em Salvaterra, trama a morte do Andeiro, que fora a
Castella com a infanta, e cuja vida é também ameaçada pela conspiração dos fidalgos.
Regresso de D. Leonor a Almada, para onde o rei viera.
ràm desiste. Formula o plano da revolução: o principado do mestre d'Ávi^, sobre o ca-
dáver do Andeiro. Cr/nvidado, o Mestre hesita e recusa. Desanimado, Nun' alvares par-
te para Santarém ao encontro do irmão que regressava. Procura convencel-o a que
se pronuncie.
Episodio do Alfageme em Santarém : prognostico do futuro.
Dezembro —
Em Lisboa, o mestre d'Aviz adhere ao plano de Álvaro Paes e decide-se a ma-
tar o Andeiro.
5 —Nomeadopela rainha viuva regente fronteiro do Alemtejo, o mestre de Aviz par-
te de Lisboa segue até ao Tojal onde pára.
e
6 —
Regressa a Lisboa, vae ao paço, e assassina o Andeiro. Tumulto na cidade. .Mor-
te do bispo, e outros na Sé. Tentativa de alliança entre os revoltados e a rainha.
i3— Fuga da rainha e da corte para Alemquer. Abatimento dos ânimos em Lisboa, cujo
castello se não pronunciou. ídéa do Mestre fugir para Inglaterra; intervenção de Álva-
ro Paes. Visita ao oráculo do emparedado da Barroca. Ida de Álvaro Paes a Alemquer
propor á rainha o casamento com o Mestre: recusa.
i5 —
Meeting de S. Domingos, no Rocio, onde o .Mestre é acciamado regedor e defen-
sor do reino, titules da rainha viuva.
iC) — Proclamação do Mestre pelo senado da cidade.
Constituição do governo; creaçáo da casa dos Vmte-e-quatro.
Vinda de Nun' alvares a Lisboa, ao saber da revolução. Abandono dos irmãos. Che-
gada. Sua entrada immediata no conselho do governo.
Vinda de Iria Gonsalves, mãe de Nun alvares, a Lisboa conve>icel-o a abandonar o
Mestre ; parte convertida a buacar o outro filho, Fernando.
Partida de Lourenço Martins e Thomaz Daniel, enviados a Inglaterra, para alistar
gente.
Pronunciamento do Porto pela revohjçáo.
3o —
Occupacão do castello de Lisboa por Xun' alvares.
o i:eRCO de LISBOA
Janeiro, 2 — Partidada rainha Leonor Tel- (?) — Passagem da fronteira pelos reis
les, de Alemquer, para Santarém. de Castella que entram na Guarda.
(?) — Pronunciamento de Extremoz, Por- Carta de Leonor Telles, de Santarém,
talegre, Penella, Beja, pelo governo para que venha defendel-a.
de Lisboa.
II —
Id. de Évora.
i3 —
Chegada dos reis junto de Santa-
Hesitação temor em Lisboa. Voto pela
e rém. Renuncia da regência pela rai-
partida do Mestre a Inglaterra por nha viuva, coacta.
soccorros. Vence Nun'alvares com o Fuga de Lourenço Fogaça para Lisboa.
partido da acção. 14 —
Entrada dos castelhanos em San-
tarém: occupacão da villa e castello.
Occupacão de Almada.
Expedição fnistrada contra Alemquer.
Fevereiro, i —
Arribada ao Tejo de um Questão da successão no rabbinadomór
comboyo de viveres para o exercito de Castella: niptura de Leonor Tel-
castelhano. Tomada dos navios. les com o genro. Defecções que a rai-
8 — Correria de Nun'alvares a Cintra. nha viuva iiciiisiilm.
9 — Avançadas castelhanas no Lumiar:
reconhecimento contra os muros de
Lisboa.
Sortida de Nun'alvarcs os castelhanos
:
retiram.
Debate do commando militar entre os Expedição dos reis a Coimbra para ga-
parciaes do condestavel Álvaro Pires nhar a cidade, cujo castello tinha pela
de Castro e os de Nun'alvares. Coii- irman o conde de Neiva. Conspiração
flicto no conselho, em Almada. com o conde de Trasiamara, denun-
Decisões: armamento da esquadra para ciada ao rei de Castella. Prisão de
o Porto ; nomeação de Nun'alvarcs Leonor Telles, mandada para Torde-
; ;
456 Appendices
20 — Partida de Nun'al-
vares, de Évora sobro 27 —
Assalto frustrado
Palm ^.'1 la. dos castelhanos para
tomarem os navios
portuguezes \arados
na praia.
Propostas de paz, repel-
lidas pelo mestre de
3i — Co rreria de Nu- Aviz. Conspiração
n'alvares sobre Alma- mallograda do D. Pe-
da. dro de Castro em Lis-
boa.
Setembro I — Mudança do quar-
tel real para Almada,
por motivo da peste.
OTERJCOES NO CENTRO
i385
Abril, 2 —
Chegada da frota com soccorros de Inglaterra: combate no Tejo com as galés
castelhanas, repellidas.
6 — Acclamaçáo de D. João pelas cortes. i
Junho
(?) —
Cerco de Meriola pelos portugue-
zes, forçado
a levantar por auxílios
vindos de Sevilha.
Aprisionamento de um combovo portu-
guez entre Évora e Arronches.
(?) — Capitulação do castello de Guima- Concentração das forças castelhanas em
rães. Ciudad-Kodngo, para a invasão pelo
(?) — Expedição de D. João e Nuu'at-
i valle do .Mondego.
vares a Ponte-do-Lima : tomada e in-
cêndio do castello.
A INVASÃO ; OPERAÇÕES
POnTUGLEZAS CASTELHANAS
8 — Partida de D. João i e Nun'alvares
de Braga, na supposição errada de que
o exercito io rei de Castella entrava
pelo Alemteio.
14 —Partida 00 Porto para Coimbra.
(?i ^.Marcha por Thomar sobre Tor-
resNovas que
é tomada.
Descida ao longo do leio desde a Gol-
legan até o vau de Santarém. PassH-
gem do Teio para o sul. Escaramuças
com os destacamentos castelhanos de
Santarém.
Conhecimento do erro em Mugem. Re-
gresso, pelo Cartaxo, ao acampamen-
to de Alemquer, onde o rei concentra
as suas forças.
Expedição de Nun'alvares ao Alemteio
a alliciar tropas, aprazando a iuncção
em Abrantes; ida a Évora e fcxtremòz.
Julho 8 — Passagem da fronteira pelo rei e
II — Checada de D. João i a Abrantes. pelo exercito invasor.
Chamada urgente de Nun'alvares a Entrada por Almeida e Trancoso. Quei-
Extremoz. ma da egreia de S. .Marcos.
i3-2o —
Concentração de forças em Tomada de Celorico.
Abrantes. 21 —
Faz o rei o seu testamento em Ce-
Partida de Nun'alvares, de Fxtremoz. lorico.
para Abrantes.
Agosto I — Partida de Celorico.
(?; — Partida de Nun"alvares de Abran- (?)— Passagem em Coimbra.
para Thomar, só.
tes, 7-8 — Id. em Soure.
7 —
Correspondência entre Xun'alvares
Thomar para
e o rei de Castella, de
Soure.
8 —Juncção de D. João i em Thomar. 9 — Id. em Pombal.
1 —Marcha do exercito reunido sobre II — Checada a Leiria.
Ourem.
12 — Parlamentarios entre Leiria e Ou-
rem. Marcha sobre Porto-de-.Moz. ?l — Entrada da divisão do príncipe de
i3 — Reconhecimento do campo de ba- Navarra pela Beira.
talha por Nun'aivarcs.
14 — Marcha de Porto de-Moz.
14 — Batalha de -Vljubarrota fuga do ;
Setembro 1 1 (?) —
Evacnaçâo da Beira pela divi-
são do principe da Navarra.
14 —Saida da esquadra castelhana do
Tejo: levantamento do bloqueio.
OPERAÇÕES OFFENSIV.AS
AO NORTE AO SUL
i386
Janeiro, (?) —
Partida da esquadra de Affon-
so Furtado, do Porto, a buscar a ex-
pedição do duque de Lencastre.
Fevereiro, (?) —
Chegada dos reforços de
Lisboa.
Abril, 20 ou 3o —
Capitulação de Chaves.
Maio, 9 Convenção anglo-portugueza, assignada em Londres.
Marcha dos exércitos do rei e do condestavel para a
fronteira. Revista ou alardo de Vallariça. Capitula-
ção de Bragança.
Invasão em Castelia, por Ciudad-Rodrigo, que se en-
trega.
Junho Cerco de Coria, mallogrado.
Junho I a i5 — Retirada do exercito
portuguez que entra em Penamacor.
Nun'alvares parte em romaria a Sánta-Maria-do-Meio (Certan) d'ahi a Ourem, e de
la para o Alemtejo.
D. João I vae em romaria a Guimarães e regressa a Lamego.
Morre na excursão o marechal Álvaro Pereira, irmão de Nun'aivarcs.
1887
gressam atravez de Castella com salvo-conducto. Lencastre vae a Coimbra ver a rai-
nha D. Philippa sua filha e de la para o Porto, onde embarca para Bayona. D. João I
tíxa-se em Coimbra. Nun alvares regressa ao Alemtejo.
Agosto, (?) —
Doença grave de D. João I, em Coimbra. Vinda de Nun'alvares a vel-o. He-
gresso a Évora por Ourem.
Dezembro, i —
Tratado de alliança Com Ricardo II de Inglaterra, celebrado em Londres.
(?) — Cortes de Braga onde vão o rei e o condestavel.
9 — Carta do rei de Inglaterra authorisando o seu aliiado portuguez a tratar pazes
com Castelia.
i388
(?) —
Cerco de Melgaço por D. João 1,
mallogrado.
Tomada de Salvatierra. Entrada dos castelhanos em Portugal
Fevereiro (?) — Volta sobre Melgaço. por Campo-de-Uurique.
Março, 3 —
Capitulação de Melgaço. Entrada de Nun'alvares em
Castella:
Volta, por Monção, a Lisboa. correria até Villa-Nueva del-Frenso.
Agosto Juncção do rei e do condestavel em K.\-
tremoz.
Outubro i5 — Tomada de Campo Maior.
Vinda de D. João para Lisboa com Nun'alvares, que vae a Aljubarrota inaugurar a
I
i389
Agosto, 23 —
Cerco e tomada de Tuy por D. João 1.
Novembro. 29 —
Tregoas de Monção, por seis annos.
Volta do rei a Santarém, onde D. Pliilippa teve o seu primeiro filho, Affonso, que mor-
reu em i^oi.
1390
Março 2 —
Cortes em Coimbra,
junho (?) —
Katificação das tregoas.
Outubro 9 —
Morte de D. João I de Castella com 32 annos, e 11 de reinado. Successáo de
Henrique III. São irmans as rainhas de Portugal e Castella.
iSgi
Abril i3 —
Sentença do D. João I, em cana a Lisboa, na questão da Camará com o condes-
tavel sobre ós regutni^os de >acavem, Camarate, Friellas e Charneca.
Dezembro i3 —
Cortes em Vizeu.
i3y2
(?) — Côrtis em Santarém.
1393
Maio i5 —
Renovação das tregoas por onze annos.
(?) —
Considerando feita a paz, Nuifalvarcs reparte as terras de doação com os seu*
companheiros de guerra.
4t2 Appendices
1J94
?j — Cortes de Coimbra.
i397
Maio (?) —
Apresamento de um comboyo naval portuguez pelos castelhanos na costa:
morticínio de 400 prisioneiros.
(?) —
Installação dos frades do Carmo no convento feito porNun'alvares em Lisboa.
Novembro, 28 —
Moratória á camará de Lisboa. Isempção de impostos. Crise provocada
pela guerra.
NO NORTE NO SUL
l3qS
Junho 26 —
Capitulação de Tuy. Volta do
rei ao Porto.
Julho 2 —Regresso de Nun'alvares com õ s:
que a Villa Viçosa.
Marcha immediata de Nun'al vares sobre Castello Branco contra o infante D. l>i-
Vae ao Porto encontrar-se com o rei.
niz que retira.
Setembro, i — Doação das terras de Paiva, Tendães e Louzada, a Nun'alvares.
Outubro, 3i —
Decreto de livre importação de armas.
Dezembro (?) —
Negociação de tregoas cletrez mezes, preliminares da paz, no Porto, por
intermédio do genovez Ambrósio.
Fevereiros —
Encontro dos negociadores em Olivença. Nun'alvares plenipotenciário.
Tregoas por nove mezes.
(?) Cortes de Elvas.
(?) Renovação da alliança com o novo rei de Inglaterra, Henrique IV (1?95-I4i3)
A. — Chronologia 4(33
1400
J ullio — Cortes de Santarém.
Outubro I
'I Ajuste do casamento da fitha de \un' alvares, Beatri^, com o bastardo de D.
João I, Affonso, em Leiria.
20 — Legitimação do bastardo pelo rei.
Novembro i — Escriytitras do casamento em Friellas.
I?) Cortes de Guimarães.
I4c3 — Cortes de Santarém.
14 4 — Id. de Lisboa.
(3 de maio) Morte de João das Regras.
1405 — Morte de Leonor Telles, em Tordesillas.
1406 — Cortes de Santarém.
1407 — (25 dezembro) Morte de Henrique de Castella: II[
Successão de D. João II (22 mezes) com a regência da rainha viuva, irman da de Por-
tugal. Negociações da paz em Escarigo.
140S — Cortes de Évora.
1410 — Id. de Lisboa.
141 1 — (3i de outubro) Tratado de paz c alliança perpetua com Castella.
1412 — Cortes de Lisboa.
1413— Id. Id.
BIBLIOGRAPHIA
Chron-ca dos Carmelitas, etc. por fr. Joseph Pereira de Sant'Anna; Lisboa, 1745.
Vida de T>. Nuno Alvares Pereira, ele. por fr. Domingos Teixeira; Lisboa, 1723.
De vilã et rebus gestis Nonni Alvat-e^ii Pyrenae, etc. aiictore António Rodericio Cos-
tio; Lisboa, 1723.
Historia genealógica da casa real portugne\a, por D. António Caetano de Sousa;
Lisboa 1735-48; tom. v, 93 e segg.
El heroe português, etc. pelo P. fr. António de Escobar, trad. port. de Bernardo José
de Lemos Castello Branco Lisboa, 1744.
;
CANONISACAO DO CONDESTAVEL
Ventilmi-«e esta questão nas cortes de 1674, as ultimas que se reuniram antes da re-
volução de 1820. Privado el-rei D. Artonso VI do governo em lòbj, o regente seu irmão
convocou cortes que se reuniram em 20 de ianeiro de 1674 na sala dos Tudescos do paço
da Ribeira. () braço da nobreza reuniu separadamente, no dia 22, no mosteiro de Santo
Eloy para eleger os trinta tia forma costumada: e eleitos os trinta, passaram aterás
snas sessões ás segundas, quartas e sextas feiras em S. Roque, na capella de N. S. do
Populo. Foi na 12.* sessão, segunda feira 22 de março, que se discutiu a questão da
canonisaçáo de Nun'alvares.
Por decreto de 17 de )ulho foram as cortes dissolvidas e o braço da nobreza en-
cerrou as suas sessões no dia 20, conforme consta do livro original ms. das actas res-
pectivas, lavradas por D. João Mascarenhas, foi. de i53 folhas (') (numeradas, porém, só
até 60) do qual extractamos em seguida o que se refere ao assumpto d'este appendice.
Logo que esteve por minha conta o governo d'esta provincia de X. Snra do Car-
mo que a este reino trouxe o Condestavel Dom Nuno Avarez Pereira, (') me persuady que
pela mesma corria procurar a sua mayor porque deixando duas familias este
exaltassáo :
insigne varão, hua real ('') que illustrou o mundo, foi outra religiosa que triumphando do
mesmo mundo, se fez gloriosa no céo, elegendo a sy o ínfimo e ultimo lugar em esta mes-
ma provincia de que foi fundador, em este mesmo convento, que com tanta sumptuosida-
de fabricou com que nos poz aos descendentes de sua eleição, c a estes filhos, e irmaons,
que com tanta liberalidade beneficiou, e honrrou, em vida com sua companhia, e enrique-
ceu em morto com o thesouro de seu sancto corpo, em o mayor empenho de lhe procurar
aquellas glorias a que só suas se encaminharão.
Declarou Deus quam aceitas lhe forão e nas muitas e admiráveis maravilhas que obrou
por este seu servo, a cuja sepultura concorrerão muitos annos os fieis com grande frequên-
cia vallendose da sua intercessão para com Deos em os seus mayores trabalhos e mais
apertadas necessidades, e Nosso Senhor mostrou quam eficax era a de tão grande media-
neiro em os prodígios com que (o) honrrou. Consta das chronicas antigas, e manuscriptos
authenticos haver resuscitado onze mortos, e que conseguirão saúde innumeraveis infermo»
de differentes infermidades sem esperança alguma de a poderem adquirir por meyos hu-
manos, e de muvtas appariçoens, com que exhortou a melhorarem de vida e apartarem-se
dos precipícios a que caminhaváo muitos com roina de suas almas.
Muito mavor e muito mais efficax argumento da santidade d'este esclarecido varão te-
mos nas virtudes com que se exercitou, e que nelle resplandecerão; porque a dos sanctos
(') Na livraria do A.
(*) Não é exacto: a ordem extstia já e foi da casa de Moura que Nun'alvares trorxe o
pessoal para o seu convento.
{') A canonisação era também um acto de cortezania.
3o
46 (j Appendiccs
sao seus niayoics milagres a douUiiia e muito sertã que não devemos ademirarnos tanto 'de
suas obras milagrosas que das virtuosas; porque muito mayor cousa lie que lesuscitar hum
morto c viver iium morto ao mundo: muito mais que dar vista a cegos o conheserse a sy
mesmo: e mais que pizar víboras e mandar aos demónios omilharce a todos e sotTrer com
paciência as injurias.
Em o exercício das virtudes he que o conde saiicto se mostrou muito mais milagroso,
hc na omildade que era verdadeiro discípulo da escoUa de Cluisto. He esta virtude funda-
mento das demais e tão supprema que com particularidade se chama virtude de Chris-
lo Senhor Nosso, ussy porque os philosophos e sabios do mundo a ignorarão, e foi neces-
sário que o mesmo Senlior com o seu exemplo nola viesse ensinar do ceo á terra, como
tão bem porque como Mestre que he nosso nos exhorta a que aprendamos delle Com tanta ;
perfeição seguío esta doutrina o conde sancto, que auendo reiumciado a Pompa e grande-
zas que logrou no mundo, não forão bastantes as instancias do Proumcial que então era
desta província para que recebesse o abilto para o Estado de sacerdote; e athe para o de
frade leigo se achou indigno, nem forão etficazes muitas e muy apertadas persuaçoens
para o desuadir a que deixacc receber o de donatto 110 qual estado vi\ eo entre nos muitos
annos neste convento, e iielle acabou sua exemplar e admirável vida.
Ao passo de sua humildade e itpirito forão as demais viitudes, filha da humildade é a
pobreza, e ambas tão parecidas que mal se podem distinguir; e o mesmo enlevo nos fica ;
•em qualquer destas viitudes resplaiideceo esse ensigne varão mais; que de sy mesmo tinha
Ião baixo coi.seito que se persuadia não merecer liuma pobre prisão, em
mesma província
a
•que tinha fundado e em hum convento que fabricou tão generosamente e com tão larga
mão dottou, rezolueu-se a mendigar pelos ters->eiros digo fieis o seu sustento, e paia dis-
suadir desta rezoluvão Eirey Dom Duarte e os I.ifantes seus Irmãos llie assinalarão esmolla
Com que se sustentasse.
Na o:-bediencia foi admirável, c não menos na caridade com os próximos, que exerci-
t;u aindacom os rendidos, quando governava as armas, deixando só para sua pessoa a
crueldade e com esta tiaton a seu corpo como quem o reconhecia por seu mayor inimigo;
cm hum oratório que ainda se conserva nesta nossa serca deixou os sinais dos rios de san-
gue que derramou com as continuas e ásperas disciplinas.
A pureza foi tal que parece excedia a natureza humana, obrigado dos reis se casou c
enviuvando de 22 para 23 annos (') ficandolhe só Inima tilha para succeder em seus gran-
des estados e propondo-lhe de novo as pessoas Reaes muito altos cazameiítos não forão
bastantes ás mais apertadas instancias para que mudasse de estado nunca delle se soube ;
nem antes nem depois de cazado que conhecesse outra molher, era tão rara sua honesti-
dade que só o vello empunha, e cauzaua modéstia, foi muy zelloso de euitar todas as oc-
çazíoens em que Deos pudesse ser otfendido nesta matéria; Nas prassas que ganhaua,
niayo.r cuidado punha na goarda da honrra e honestidade das donzellas que na seguranssa
das mesmas prassas. (')
Teve muy sobrenatural deuoção ao S."" Sacramento c á Virgem nossa Senhora e ain-
da na campanha lhe celebraua com grande solemnidade as suas festas; A quem tanto se
exercitou todas as virtudes, não he muito que o Senhor o haja regallado e enrriquecido
coni^diuinos doeiís; Entre os quais foi muy principal, e como fonte manancial dos demais
a deuoção e oração, e com o continuo uso desta veyo a fazer liuni habitlo de achar a Deos
em todas as cousas, de maneira qiie parece lhe seruiam de oraturio todos os lugares, e as
mayores occupações de recolhimento, em matéria para a mesma oração em campanha e ;
entre o estrondo das armas como em o logar mais retirado; em a occasiâo da batallm de
Aljubarrota quando os nossos est..uão no mayor cuidado, o foram achar de gioilios com as
máos a)fnantiid:is e lhes as'guioii que ainda não (ia tempo, (') e os animou a por em Deos
toda a confiança com que
parece que negociana e consultaua as enprezas que o bem acre-
ditou o serem ellas tão admiiauois, e tão yloiiosos os ttiumfos que alcan^sou para e-te
reino.
E em
reconhecimento da minha obrigação todas estas razões tenlio representado em a
Cúria de Roma donde me
auizão que a primeira e mais efllcax diligencia para se conseguir
o fim que se pretende he a de cartas dos três estados do Reino que acompanhem a deS. A.
que Deos Guarde em que se pessa a Sua San'idade conceda as letras remensoriaes por que
se cometem as informações jurídicas a três Hispos, e que este he o primeiro passo dos mny
lentos que a Igreja costuma dar em as beatificações.
e zello da Nobreza deste Reino confio que estimará a occasião de pojerdar
Da piedade
muitos em do Conde Santo pela vantagem que resultará ao n.esmo Reino de recorrer, co-
a
mo a gloriozo entersessor em o ceo ao que foi seu felicíssimo delfensor em a terra e com ;
muita razão deue esperar o estado da esclarecida Nobreza ter por este obsequio o prenio
de muitos auxillíos, para que do que seguío o exemplo em o zello da defTençáo da pátria, e
do vallor com que offcreceo por ella a uida, e derramou o sangue, ccnçiga a immitação nas
victorias das próprias paixões que são os mais importantes e mais gloriosos trínmphos.
Pello que por meyo de V. Fx.' recorro ao esclarecido Congresso da Nobreza pedin-
dolhe o seu amparo e protecção em huma cauza tão pia e que queirão a favor del'a darme
carta para S. Santidade e passa a minha confiança a pedírihe outra também a favor de si-
milhante pertencão do nosso Venerável Padre Fr. Fsteuão da purificação (cujos prosessos
ha annos que estão em Roma) e ainda vivirão nas Memorias de muitos as mercas que rece-
berão de Deos suas cazas por me3'o d'este sancto varão, e não he pequeno credito o que
rezulta a este Reino em haver nelle muitos que estejão em predicamento da See aquella os
declarar e escreuer em o catalogo dos sanctos.
E poi u'timo digo a V. Ex * que estas cartas não são occaziáo de despeza próxima
mas muy precizas e necessárias para em algum tempo se tratar das cauzas destes seruos
de Deos, todas se goardão em o archivo da sagrada congregaçío de ril:bus; e vem a im-
portar muito a continuação e efficacia delias, a pessoa de V. Ex." guarde Deos como de-
sejo.
este Braço como lhe pareCeo no negocio dos Bispos, e que se faça todo o esforço com Ro-
ma pelo conseguir;
O marques de Gouuea que conuem nestas cartas de nuiito mà uonlaJe e que se dig:>
468 Appeniices
o primeiro descendente seu empenharce neste negocio e darnos licença para escrever ao
memo-
Papa, porque quantas mais forem as cartas, tanto mais se calificará a virtude deste
rável varão, e quetambém se escreva sobre o outro sancto;
O Conde de Villar Mayor que ainda que este negocio he muito pio e a denoção livre,
que pode succeder que tomemos o tempo aos braços para a concluzáo dos mais negócios se
us embarassarmos com este; que ajustados e concluídos se tratará delle ;
Oconde de S. Vicente que se dê a carta porque lhe não parese que se encontra a di-
'"ecçáo dos outros uegocios, e que se pessa a S. A. que escreva e assista como deve e se
propõem
O marques das Minas e o conde da Castanheira que em nenhum cazo vottarião que os
Brassos escrevessem ao Papa nem a outros Príncipes, que a canonização do Conde he muito
boa, porem náo convém empenhar nem divertir com estas migalhanas, que ajustadas as
tempo largo para se tratar desta
contribuições e as mais matérias ficara
O conde de Villa Flor que se dê a carta fazendosse presente a S. A ;
O conde do Sabugalque lhe parece este Congresso mais Consilio Tridentino que acto
de Cortes, que teme que se tratarmos desta canonização que se hão de querer pôr no altar
os vivos c os mortos, e que aos seus joelhos, como ortendidos de gotta, não conveein tan-
tas adorações
O Monteiro Mor que se faça consulta a S. A. com este papel e se lhe pessa mande re-
O marques de Fontes que lhe náo parece que podemos escrever a carta, mas que se
pessa a S. A. mande assestir com toda a legacia para que se couciga esta canonização.
Tristão da Cunha que todos os que escrevem das Juntas, dos Parlamentos e das Cortes
assentão que náo só tem as jurisdiçoens de Conselheiros mas ainda a de Juizes que podem
e devem conheser de todas as couzas úteis e imporlantes ao bem da Republica, e que sendo
doutrina recebida e aprouada, devemos procurar tudo o que convenha a bem do Keino, e
de S. A. e do serviço de Deus principalmente, e que se deve pedir hcensa a S. A. para
escrever esta carta, e as mais cscreua;
Ruy Fernandes de Almada que se de a carta e que se pessa a S. A. para concorrer
com as diligencias mais importantes para que se consiga a canonização do Conde D. Nuno
Alvarez ;
O
conde de Atalaya que pessamos a S. A. mande assestir a este negocio com todo o
empenho que for possível porque não temos a vellocidade (?) para dar cartas de favor ;
O duque do Cadaval que se deve agradecer ao Padre Fr. Joseph de Alancastro o zello
deste negocio que lie muito conforme a sua qualidade e virtude, que S. A. encommenda
aos seus ministros nas suas instruçoens esta mesma canonisaçáo e que se lhe peísa.as re-
pita escrevendo de novo ao Pontiiice com a instancia que nestas cortes fazem os três Bra-
ços delias.
O marques de Fronteira (') que este negocio he muy próprio do concurço de todo o
Keino e muito em particular do estado da Nobreza, e que tem por hum grande mistério
que quando se trata da segurança e defença da Monarchia se attenda á canonização do
•conde Dom Nuno Alvarez Pereira tão grande detfcnsor delia, que convirá muito que S. A.
mande que nestas Ccrtes se tratte por assento que o Reino hade concorrer para a despeza
deste negocio, e que pellas rendas da Gaza de Bragança se nos faça exemplo aplicando al-
^uma concinação que renda para este etteito e que ajustado por este modo o encarregue
b. A. ao Padre Me. Fr. Joseph de Alencastro para que com o titulo de seu ministro e em
nome de toJo o Reino va a Konia com esta deligencia d'onde peia grande auihoridade que
tem com o Pontífice, pelas grandes virtudes e calidades por que he venerado naquella corte
iiáo (so) conseguirá felizmente esta pretençáo, mas ainda poderá ser util para S. A. para
outros negócios de seu serviço.
E sendo assim votada, se venceo por maioria de votos que se representasse a S. A. a
proposta referida do Padre Me. Fr. Joseph de Alencastro e se lhe pedisse fosse servido fa-
zer neste negocio todo o empenho para quese conseguisse, e que se dece licensa a este
Brasso para que em nomeda Nobreza do Reino possa escrever ao Papa na forma que se
apontta na dita Proposta de que fiz este assento que todos assignaráo. S. Roque em 12 de
Março de lóy^. — Dom Joáo Mascarenhas.
O marquez Camareiro Mor; Ruy de Moura o conde de Vai de Reis o Monteiro Mor;
; ;
da Armada; o conde de Vilia Verde; o conde de Villa Flor; Francisco Barreto; Alexandre
de Sousa ; o conde de Monsanto ; o conde de Atalaya.
1 3
'1'
índice
Pag.
Advertência
Capitulo I — O prior do Hospital i
). II —O ^ fim da dynastia Sq
» III —O Messias de Lisboa 87
« IV— A guerra i35
» V—O throno de Aviz '^oi
» VI — Aljubarrota 243
VII — Valverde 2()5
» VIII — Os inglezes 3 1
» B. — Bibliographia 4''4
GRAVURAS
de Leonor Telles 3ã
2 Sello
"*
3 Traçado das muralhiis de Lisboa
4 Capacete e espada de li. João I
'
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5 Vista do Assiimar .
- ''*> V/J' - /•
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^^ ^9ts^^^^aaÊiÊ^mÊÊ
DP Oliveira Martins, Joaquim Pedro
590 A vida de Nun' Alvares
A5
01,5