22 - As Bestas Do Apocalipse

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22 - As Bestas do Apocalipse

.Não há autoridade que não venha de Deus Ela é ministro de Deus para teu bem. Mas, se
fizeres o mal, teme, pois não traz debalde a espada.
Ela é ministro de Deus, agente da ira para castigar o que pratica o mal.” Rm:13; 1b,4b.

Muita coisa já foi dita e escrita acerca das bestas apresentadas no Apocalipse. Infelizmente,
criou-se todo um folclore acerca desse assunto. Basta que surja algum novo personagem
proeminente no cenário político ou religioso mundial, para que seja considerado um forte
candidato ao posto de Besta Apocalíptica. Homens como Hitler, Mussolini, Kennedy, Reagan, e
até o Papa, são alguns dos que já concorreram a esse indesejável posto. Vamos procurar, à
luz das Escrituras, identificar essas bestas, e saber qual o papel que elas desempenharam na
execução dos propósitos de Deus.

A Besta que emerge do Mar

A primeira Besta vista por João surge do mar. Como já vimos antes, o mar representa os
gentios, como podemos ler em Ap.17:15, onde se diz: “As águas que viste (...) são povos,
multidões, nações e línguas.” O termo “besta” vem do grego “therion”, e significa um grande e
feroz animal que, dentro do simbolismo bíblico, representa um poderoso reino. Daniel fala de
quatro bestas, que representariam os quatro grandes impérios que dominariam o mundo. Já
em Apocalipse, encontramos apenas duas bestas, a que emerge do mar, e a que sobre da
terra. A primeira besta do Apocalipse equivale à quarta besta do Livro de Daniel, isto é, o
poderoso Império Romano. É interessante que, de acordo com as descrições de João, esta
besta possui características inerentes a cada uma das quatro bestas do Livro de Daniel. [1].
1 Dez Chifres - Como a 4a. Besta de Dn.7:7 - Representam os reis das dez províncias
romanas, responsáveis por manter a união da Roma Imperial.

2. Semelhante ao Leopardo - Como a 3a. Besta de Dn.7:6 - Representa a velocidade com


que o reino grego alcançou suas conquistas.

3. Pés como de urso - Como a 2a. Besta em Dn.7:5 - Representa a força, estabilidade e
consolidação, características encontradas no Império Persa.

4. Boca como de leão - Como a 1a. Besta em Dn.7:4 - Representa a ferocidade ameaçadora
da monarquia babilônica.

Como se não bastasse reunir as principais características dos impérios que o antecederam,
João afirma que “o dragão deu-lhe o seu poder, o seu trono e grande autoridade” (Ap.13:2b).
Foi no tempo de Nero que Roma insurgiu-se contra a Igreja pela primeira vez. É interessante
frisar que durante um tempo de seu reinado, Nero parecia um homem sensato, coerente,
seguidor fiel dos ensinos de Sêneca. Repentinamente, Nero ficou irreconhecível,
transformando-se num homem cruel, capaz de mandar executar a sua própria mãe. Era como
se ele houvesse sido possuído pelo próprio Satanás. No documento cristão primitivo conhecido
como Ascensão de Isaías, lemos que Belial[2] “descerá do seu firmamento sob a forma de um
homem, de um rei ímpio, assassino de sua própria mãe”. [3] Roma agora, seria a agência
oficial de Satanás em sua pretensão de dominar a terra, ao mesmo tempo que seria o
instrumento da Justiça Divina sobre o povo rebelde.

João vê “uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas a sua


chaga mortal foi curada”(v.3a). A besta tinha 7 cabeças, que segundo a explicação dada a
João, seriam sete reis, sendo que, cinco já haviam caído, um existia, e outro ainda não era
chegado. Confira a relação dos sete, e identifique o imperador em questão.
1- Augusto
2- Tibério (14-37 d.C.)
3- Calígula (37-41)
4- Cláudio (41-54)
5- Nero (54-68)
6- Vespasiano (69-79)
7- Tito (79-81)

A “cabeça golpeada de morte”, certamente é uma alusão a Nero, que por não suportar a
pressão sofrida por parte do Senado, que o considerava inimigo público, preferiu suicidar-se,
ferindo-se na garganta com uma espada. Com a morte de Nero, o Império Romano ficou em
frangalhos. Muitos cristãos que sobreviveram à perseguição neroniana, e que agora eram
oficialmente proscritos, devem ter entendido os horrores que sobrevieram a Roma como um
ato de juízo divino. Tudo indicava que Roma estava com os seus dias contados. Eclodiam
revoltadas em várias províncias. As tropas do reino tentaram estabelecer seu comandante,
Vergínio Rufo, como o novo imperador. Foi aí que descobriu-se que “um imperador podia ser
feito fora de Roma”[4] A Guarda Pretoriana posicionou-se a favor de Galba, que ironicamente,
acabou assassinado pelos próprios pretorianos que o exaltaram. Oto, que era governador na
Espanha, cortejando as simpatias das tropas locais, foi declarado imperador. Mas as legiões do
Reno nomearam Vitélio, e marcharam sobre a Itália. Em meio a este tumulto, as províncias
orientais proclamaram Vespasiano como o legítimo imperador de Roma. Antes que se findasse
o ano de 69, as tropas de Vitélio foram derrotadas, e Vespasiano tornou-se o único imperador
de Roma. Enfim, o conturbado Império, como a Fênix, parecia renascer das cinzas. Por isso,
Vespasiano é considerado o sexto imperador, vindo logo após Nero. A Besta se recuperara da
chaga mortal que a atingira na cabeça. Por isso, “toda a terra se maravilhou, seguindo a
besta”(v.3b). Roma voltara a ser o que era antes.
Vespasiano deu origem a uma segunda dinastia em Roma, a Flaviana ( a primeira começou
com Augusto César e terminou com Nero ). Ele foi sucedido por Tito, o mesmo que comandou
a destruição de Jerusalém, que por sua vez foi sucedido por Domiciano, seu irmão.
Ainda sobre o conturbado hiato entre as duas dinastias, representadas por Nero e Vespasiano,
centenas de anos antes, Daniel anteviu tais acontecimentos. Leia atentamente o seu relato:

"Então tive o desejo de conhecer a verdade a respeito do quarto animal, que era diferente de
todos os outros, muito terrível, cujos dentes eram de ferro, e as unhas de bronze - animal que
devorava, e fazia em pedaços, e pisava aos pés o que sobrava. Também tive desejo de
conhecer a verdade a respeito dos dez chifres que tinha na cabeça, e do outro que subia,
diante do qual caíram três, isto é, daquele chifre que tinha olhos, e uma boca que falava com
vanglória, e parecia ser mais robusto do que os seus companheiros (...) Disse-me ele: O quarto
animal será o quarto reino na terra, o qual será diferente de todos os reinos e devorará toda a
terra, e a pisará aos pés, e a fará em pedaços. Quanto aos dez chifres, daquele mesmo reino
se levantarão dez reis. Depois deles se levantará outro, o qual será diferente dos primeiros, e
abaterá três reis.” DANIEL 7:19-20, 23-24.

Para que Vespasiano se firmasse como o único Imperador de Roma, três outros precisariam
ser abatidos, Galba, Oto e Vitélio. Vespasiano trouxe de volta a harmonia ao Império. As
províncias se unificaram novamente, e a Pax Romana revigorou-se.
Tanto Daniel quanto João dizem que a Besta recebeu “uma boca para proferir arrogâncias e
blasfêmias, e deu-se-lhe autoridade para continuar por quarenta e dois meses. E abriu a sua
boca em blasfêmias contra Deus, para blasfemar do seu nome, e do seu tabernáculo e dos que
habitam no céu. Também foi-lhe permitido fazer guerra aos santos, e vencê-los. E deu-se-lhe
poder sobre toda tribo, língua e nação”(Ap.13:5a,6-7 compare com Dn.7:8b, 20-22,25). [5]

A perseguição aos cristãos iniciada por Nero, só foi retomada por Domiciano, o segundo filho
de Vespasiano. Cada um dos atributos apresentados acima são inerentes a ele. Mais adiante,
quando estudarmos o capítulo 17 de Apocalipse, vamos investigar mais a miúde o reinado
desse cruel imperador, que entre muitas coisas, insistia com a idéia absurda de que era “deus”,
e por isso, deveria ser adorado. Aliás, foi esse o estopim que deflagrou uma perseguição sem
precedentes à Igreja Cristã. João nos informa em seu relato, que “todos os que habitam sobre
a terra a adorarão, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida do Cordeiro que foi
morto desde a fundação do mundo. Se alguém tem ouvidos, ouça. Se alguém deve ir para o
cativeiro, para o cativeiro irá. Se alguém deve ser morto à espada, necessário é que à espada
seja morto. Nisto repousa a perseverança e a fidelidade dos santos”(vs.8-10). A partir daí, os
algozes já não seriam os judeus, propriamente, mas a Roma Imperial.

A Besta que subiu da Terra

Para identificarmos a segunda besta, precisamos identificar sua origem. Enquanto a primeira
emerge do mar (nações gentílicas), a segunda sobre da terra, que é uma alusão clara a Israel.
Trata-se de uma estrutura de poder originária da nação judaica. Esta besta se apresenta com
dois chifres “semelhantes aos de um cordeiro”, o que denota uma estrutura de apelo religioso.
Se os dez chifres da primeira besta representam dez reis, é plausível inferir que os dois chifres
da segunda besta representem duas autoridades religiosas, ou mais provavelmente, duas
facções religiosas. Se for assim, podemos identificá-los com os dois principais e mais influentes
grupos religiosos da época: os escribas[6] e os fariseus[7].
João diz que aquela besta se apresentava como um cordeiro, “mas falava como dragão”(v.11).
Isso se encaixa bem na descrição que Jesus deu de alguns líderes religiosos judeus de Sua
época. Jesus, o verdadeiro Cordeiro de Deus, afirmou que eles não entendiam a Sua
linguagem. “Vós pertenceis ao vosso pai, o diabo”, declarou Ele, “e quereis executar o desejo
dele. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, pois não há verdade nele.
Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, pois é mentiroso e pai da
mentira”(Jo.8:44). Por trás da aparência de cordeiro, havia uma natureza diabólica. Pele de
cordeiro, voz de dragão! Foi Jesus quem os denunciou, dizendo: “Ai de vós, escribas e
fariseus, hipócritas! Limpais o exterior do copo e do prato, mas o interior está cheio de rapina e
de intemperança (...) Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Sois semelhantes aos sepulcros
caiados, que por fora realmente parecem formosos, mas por dentro estão cheios de ossos de
mortos, e de toda imundícia. Assim também vós exteriormente pareceis justos aos homens,
mas interiormente estais cheios de hipocrisia e de iniquidade (...) Serpentes, raça de víboras!
Como escapareis da condenação do inferno?”(Mt.23:25,27-28,33). Jesus chega a chamá-los
de “filhos do inferno”(Mt.23:15).
Está mais do que claro que a segunda besta nada mais é do que o judaísmo apóstata, com os
seus dois principais partidos religiosos, os escribas e os fariseus.
Sua hipocrisia era tamanha, que eles se diziam defensores dos interesses romanos. Por isso é
dito que a segunda besta “exercia toda a autoridade da primeira besta na sua presença, e fazia
que a terra e os que nela habitavam adorassem a primeira besta, cuja chaga mortal fora
curada”(13:12). Exemplos disso podem ser encontrados em diversos episódios, onde os judeus
afirmavam total lealdade ao poder imperial. Quando Pilatos tentava soltar Jesus, os judeus em
uníssono gritavam: “Se soltares a este, não és amigo de César. Qualquer que se faz rei se
opõe a César”(Jo.19:12b). No dia da preparação da Páscoa, Pilatos tentou pela última vez
dissuadir os judeus. Trazendo Jesus perante eles, disse: “Eis o vosso Rei. Mas eles gritaram:
Fora! Fora! Crucifica-o! Perguntou-lhes Pilatos: Hei de crucificar o vosso Rei? Responderam os
principais sacerdotes: Não temos rei, senão César. Finalmente Pilatos o entregou para ser
crucificado”(vs.14b-16). Quão caro lhes custou tal hipocrisia! [8]

Uma interpretação alternativa plausível seria


identificar os dois chifres daquela besta como sendo “os falsos cristos” e os “falsos profetas”
(Mt.24:24). A diferença entre eles é que, geralmente, os falsos cristos se opunham ao domínio
romano, prometendo liberdade do jugo imperial aos judeus, apresentando-se assim como os
verdadeiros “messias” (2 Pe.2:19). Pedro os chamou de “falsos mestres” (2 Pe.2:1). Já os
“falsos profetas”, geralmente, eram aliados de Roma, e tinham como pretensão promover o
culto ao imperador. Não podemos ignorar que alguns poderiam receber qualquer uma dessas
alcunhas.
Não importa se os dois chifres representavam os escribas e fariseus, ou os falsos cristos e
falsos profetas, ou os dois grupos ao mesmo tempo. O fato é que a segunda besta nada mais é
do que a representação do judaísmo apóstata, responsável direto pela crucificação do Senhor
Jesus.

[1] Isso comprova o que já dissemos antes, que os quatro anjos que comandam o cerco de
Jerusalém (Ap.9:15) representam cada um dos quatro impérios mundiais, e as quatro
qualidades de gafanhotos que destroem a figueira improdutiva (Israel). Roma veio dar
seqüência à destruição iniciada por Nabucodonosor, como instrumento do juízo divino sobre o
povo que rejeitara o seu Deus.
[2] Belial - Um dos nomes pelos quais Satanás é apresentado na Bíblia e na cultura judaica.
[3] Ascensão de Isaías 4:2
[4] CHAMPLIN, R.N., Enciclopédia da Bíblia, Teologia e Filosofia, vol.3, pág.291.
[5] Embora acreditemos que os 42 meses devem ser interpretados, a priori, como sendo
figurativos, é interessante frisar que a perseguição empreendida por Nero aos cristãos teve a
duração de exatos 42 meses.
[6] Escriba - Um erudito ou autoridade na Lei. Os escribas eram ligados ao partido sacerdotal.
Mais tarde, passaram a ser chamados de “rabinos”. Havia escribas sacudeus e fariseus.
[7] Fariseus - Partido religioso judaico extremamente legalista, que diferia dos saduceus quanto
à crença na imortalidade da alma, na existência dos anjos, e na aceitação de todo cânon
judaico (os saduceus só aceitavam o Pentateuco).
[8] Confira ainda Atos 17:7, onde os judeus acusaram Paulo e Silas de procederem contra

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