13-Defesa Do Estado e Das Instituições Democráticas

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Defesa do Estado e das Instituições Democráticas

1. Estado de defesa e estado de sítio (art. 136, caput e art. 137, I e


II)

A Constituição Federal prevê a aplicação de duas medidas excepcionais


para restauração da ordem em momentos de anormalidade – Estado de defesa e
Estado de sítio, possibilitando inclusive a suspensão de determinar garantias
constitucionais, em lugar específico e por certo tempo, possibilitando ampliação do
poder repressivo do Estado, justificado pela gravidade da perturbação da ordem
pública.

É chamado sistema constitucional das crises, consistente em um conjunto


de normas constitucionais, que informadas pelos princípios da necessidade e da
temporariedade, têm por objeto as situações de crises e por finalidade a
mantença ou o restabelecimento da normalidade constitucional.

A gravidade de ambas as medidas, cuja finalidade será sempre a


superação da crise e o retorno ao status quo ante (situação anterior), exige
irrestrito cumprimento de todas as hipóteses e requisitos constitucionais, sob pena
de responsabilização política, criminal e civil dos agentes políticos usurpadores.
Portanto, mesmo nessas situações o Poder Público ainda deve respeito à
Constituição. O art. 85 determina como crime de responsabilidade do Presidente
da República, sem prejuízo das responsabilidades civis e penais, o desrespeito
dos requisitos e pressupostos constitucionais.

O Estado de defesa é uma modalidade mais branda de estado de sítio e


corresponde às antigas medidas de emergência do direito constitucional anterior e
não exige para sua decretação, por parte do Presidente da República,
autorização do Congresso Nacional. O decreto presidencial deverá determinar o
prazo de sua duração; especificar as áreas abrangidas e indicar as medidas
coercitivas, nos termos e limites constitucionais e legais.

O Estado de sítio corresponde a suspensão temporária e localizada de


garantias constitucionais, apresentando maior gravidade do que o Estado de
defesa e obrigatoriamente o Presidente da República deverá solicitar autorização
da maioria absoluta dos membros da Câmara dos Deputados e do Senado
Federal para decretá-lo.

Em ambas as hipóteses deverão ser ouvidos, sem caráter vinculativo, os


Conselhos da República e da Defesa Nacional, para que aconselhem e opinem ao
Presidente da República. Assim, a opinião dos conselhos não obriga o
Presidente da República a tomar a decisão no mesmo sentido.
A possibilidade do controle jurisdicional do Estado de Defesa e do Estado
de Sítio envolve diversos problemas, mas a doutrina e a jurisprudência
direcionam-se para a possibilidade do controle da legalidade. Assim, será
possível ao Poder Judiciário reprimir eventuais abusos e ilegalidades
cometidas durante a execução das medidas do Estado de Defesa ou de Sítio,
inclusive por meio de mandado de segurança e habeas corpus. pois a
excepcionalidade da medida não possibilita a total supressão dos direitos e
garantias individuais, e tampouco configura um salvo-conduto aos agentes
políticos para total desrespeito à constituição e às leis. Em relação, porém, à
análise do mérito discricionário do Poder Executivo (no caso do Estado de defesa)
e desse juntamente com o Poder Legislativo (no caso do Estado de Sítio), a
doutrina dominante entende impossível por parte do Poder Judiciário, a análise da
conveniência e oportunidade política para a decretação.

1.1 Hipóteses

1.1.1 Estado de Defesa

Nos seguintes casos poderá ser decretado o Estado de Defesa pelo


Presidente da República, ouvidos os Conselhos da República e da Defesa
Nacional:

1. ordem pública ou paz social ameaçada;


2. instabilidade institucional;
3. calamidade natural.

1.1.2 Estado de Sítio

O Estado de Sítio poderá ser decretado pelo Presidente da República,


desde que ouça os Conselhos da República e da Defesa nacional e que solicite ao
Congresso Nacional a autorização, nos casos:

1ºcaso) comoção nacional ou ineficácia do Estado de Defesa;


ou
2º caso) declaração de guerra ou resposta à agressão armada
estrangeira.

1.2 Prazos

A duração do Estado de Defesa está previsto para, no máximo, 30 dias,


podendo ser prorrogado uma única vez por mais 30 dias. Já no Estado de sítio,
para o 1º caso, está previsto 30 dias, prorrogável por mais 30 dias de cada vez;
para o 2º caso, é o tempo necessário da guerra ou para repelir a agressão armada
estrangeira.

1.3 Restrições a direitos e garantias individuais

1.3.1 Estado de Defesa

Os direitos que poderão ser restringidos em casos que envolvam a


decretação do Estado de Defesa são:

- sigilo de correspondência e de comunicações telegráficas e


telefônicas (art. 5º, inciso XII, da CF);
- direito de reunião (art. 5º, inciso XVI, da CF); e
- exigibilidade de prisão somente em flagrante delito ou por ordem
da autoridade judicial competente (art. 5º, inciso LXI, da CF).
- ocupação e uso temporário de bens e serviços públicos, na hipótese de
calamidade pública.

1.3.2 Estado de Sítio

O Estado de Sítio é uma situação mais grave que o Estado de Defesa, por
isso exige um maior número de restrições aos direitos do que as previstas para o
Estado de Defesa. Assim, inclui as mesmas restrições previstas para o Estado de
Defesa e outras, como:

- inviolabilidade domiciliar, “busca e apreensão em domicílio” (art. 5º,


inciso XI, da CF);
- direito de propriedade, “requisição de bens” (art. 5º, inciso XXV, da
CF);
- liberdade de manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a
informação (art. 220).
- intervenção nas empresas de serviços públicos.

Já no 2º caso de Estado de Sítio, em caso de guerra e resposta a agressão


armada estrangeira, em tese, todas as garantias constitucionais poderão ser
restringidas, satisfeitos alguns requisitos como: deliberação do Congresso
Nacional e previsão em decreto presidencial.

1.4 Controle político sobre a decretação

1.4.1 Estado de Defesa


O controle político exercido sobre o Estado de Defesa, após a decretação, é
posterior. Decretado o Estado de Defesa ou sua prorrogação, o Presidente da
República, dentro de 24 horas, submeterá o ato com a respectiva justificativa ao
Congresso Nacional, que somente aprovará a decretação por maioria absoluta em
ambas as Casas Legislativas (CF, art. 136, §4º), editando o respectivo Decreto
Legislativo (CF, art. 49, IV).

1.4.2 Estado de Sítio

O controle congressual para o Estado de Sítio é prévio, uma vez que há


necessidade de autorização para que o Presidente o decrete.

1.5 Fiscalização política sobre as medidas

Ambas as medidas, após a decretação e aprovação pelo Congresso,


exigem que a mesa do Congresso Nacional, ouvidos os líderes partidários,
designem Comissão composta de 5 de seus membros para acompanhar e
fiscalizar a execução das medidas referentes ao estado de defesa e ao estado de
sítio.

1.6 Responsabilidade

Cessado o estado de defesa ou o estado de sítio, cessarão também seus


efeitos, sem prejuízo da responsabilidade pelos ilícitos cometidos por seus
executores ou agentes (CF, art. 141, caput).

1.7 Prestação de Contas

Cessada a situação excepcional, as medidas aplicadas em sua vigência


serão relatadas pelo Presidente da República, em mensagem ao Congresso
Nacional, com especificação e justificativa das providências adotadas, com
relação nominal dos atingidos, e indicação das restrições aplicadas (CF, art. 141,
parágrafo único).

2. Forças Armadas

As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela


Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas
com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do
Presidente da República (CF,a rt. 84, XIII), e destinam-se à defesa da Pátria, á
garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer deste, da lei
e da ordem.

Os membros das Forças Armadas são denominados militares e estão sob a


chefia do Presidente da República.

Compete ao Presidente, ainda, a iniciativa de lei para a fixação ou


modificação dos efetivos das Forças Armadas (CF, art. 61, §1º, I) e para as leis
que disponham sobre militares das Forças Armadas, seu regime jurídico,
provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria (CF, art. 61, §1º, II, f).

A Constituição Federal prevê que o Congresso Nacional deve editar lei


complementar estabelecendo as normas gerais a serem adotadas na
organização, no preparo e no emprego das Forças Armadas. Porém, desde
logo, determina que o serviço militar é obrigatório nos termos da lei, salvo para as
mulheres e os eclesiásticos, que estarão isentos em tempo de paz, sujeitos,
porém, a outros encargos que a lei lhes atribuir. Compete, ainda, às Forças
Armadas, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz,
após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o
decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se
eximirem de atividades de caráter essencialmente militar (CF,a rt. 5º, VIII – escusa
de consciência).

Anote-se, finalmente, que aos membros das Forças Armadas aplicam-se as


seguintes disposições constitucionais, além do que vier a ser fixado em lei:

- as patentes são conferidas pelo Presidente da República;


- o militar em atividade que tomar posse em cargo ou emprego público
civil permanente será transferido para a reserva, nos termos da lei; se a
atividade for temporária, será agregado ao respectivo quadro, e após 2
anos, transferido para a reserva;
- ao militar são proibidas a sindicalização e a greve;
- o militar, enquanto em serviço ativo, não pode estar filiado a partidos
políticos;
- o oficial só perderá o posto e a patente sefor julgado indigno do
oficialato ou com ele incompatível, por decisão do Tribunal Militar.

3. Segurança pública

A Constituição Federal preceitua que a segurança pública, dever do Estado,


direito e responsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem
pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, sem contudo
reprimir-se abusiva e inconstitucionalmente a livre manifestação de pensamento,
por meio dos seguintes órgãos:

- polícia federal: deve ser instituída por lei como órgão permanente,
organizado e mantido pela União e estruturado em carreira. Destina-se
a: apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em
detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas
entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras
infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e
exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; prevenir e reprimir
o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o
descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos
públicos nas respectivas áreas de competência; exercer as funções de
polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; exercer, com
exclusividade, as funções de polícia judiciária da União.

- polícia rodoviária federal: é órgão permanente, organizado e mantido


pela União estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao
patrulhamento ostensivo das rodovias federais;

- polícia ferroviária federal: órgão permanente, organizado e mantido


pela União estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao
patrulhamento ostensivo das ferrovias federais;

- polícias civis: deverão ser dirigidas por delegados de polícia de


carreira, são incumbidas, ressalvada a competência da União, das
funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto
das infrações militares;

- polícias militares: sua atribuição é de polícia ostensiva, para


preservação da ordem pública;

- corpos de bombeiros militares: além das atribuições definidas em lei,


são incumbidos da execução de atividades de defesa civil.

É usual a classificação da polícia em dois grandes ramos: polícia


administrativa e polícia judiciária. A polícia administrativa é também chamada
de polícia preventiva, e sua função consiste no conjunto de intervenções da
administração, conducentes a impor à livre ação dos particulares a disciplina
exigida pela vida em sociedade.

A multiplicidade dos órgãos de defesa da segurança pública, pela nova


Constituição, teve dupla finalidade: o atendimento aos reclamos sociais e a
redução da possibilidade de intervenção das Forças Armadas na segurança
interna.
O art. 144, §6º, da Constituição Federal localiza as polícias militares e os
corpos de bombeiros militares como forças auxiliares e reserva do Exército,
subordinando-os, juntamente com as polícias civis, aos governadores do
Estados, do Distrito Federal e dos Territórios.

Por fim, a Constituição Federal concedeu aos Municípios a faculdade, por


meio do exercício de suas competências legislativas, de constituição de guardas
municipais destinadas à proteção de seus bens, serviços e instalações,
conforme dispuser a lei, sem, contudo, reconhecer-lhes a possibilidade de
exercício de polícia ostensiva ou judiciária.

O art. 144, §7º, determina que a lei ordinária disciplinará a organização e o


funcionamento dos órgãos responsáveis pela segurança pública, de maneira a
garantir a eficiência de suas atividades.

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